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POLÍCIA CIVIL
Direito
Empresarial
Capítulos 1 ao 7
Capítulo 1
Olá, aluno!
E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato conosco. Sua opinião vale ouro para a gente!
Racionalizara preparação dos nossos alunos é mais que um objetivo para Ad Verum,
trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para o estudo da disciplina.
Faça bom uso do seu PDF Ad Verum!
Bons estudos
1
Abordaremos os assuntos da disciplina de Direito Empresarial da seguinte forma:
CAPÍTULOS
2
SUMÁRIO
DIREITO EMPRESARIAL, Capítulo 1 ............................................................................................................................ 5
1.4 O Empresário...........................................................................................................................................................................16
GABARITO ........................................................................................................................................................................... 65
LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 69
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 71
4
SOBRE O CONCURSO
5
RECORRÊNCIA DA DISCIPLINA
Como dito, sabemos que estudar de forma direcionada, com base nos assuntos
objetivamente mais recorrentes nos certames, é essencial! Afinal, uma preparação planejada
pode fazer toda a diferença. Pensando nisso, através de estudo realizado pelo nosso setor de
inteligência com base nas últimas provas, trouxemos os temas mais comentados nessa
disciplina!
Propriedade
Empresarial
20%
Teoria Geral do
Direito Societário
27% Empresário
53%
6
DIREITO EMPRESARIAL
Capítulo 1
O desenvolvimento histórico desse ramo jurídico é tão relevante que até mesmo a sua
denominação acompanhou o progresso de seus institutos. Tanto assim que superou a
designação Direito Comercial, antes utilizada para indicar o conjunto de normas, princípios e
práticas aplicáveis às relações entre aqueles que desempenhavam certa atividade econômica: o
comércio.
7
Percebe-se, assim, que um conjunto de usos e costumes foi esboçado em benefício, tão
somente, da figura do comerciante. Por esta razão, essa incipiente fase foi considerada como
subjetivista.
Nessa etapa, passou a ser considerado como objeto do Direito Comercial todo e
qualquer ato enumerado, taxativamente, como mercancia. Daí falar-se na Teoria dos Atos de
Comércio. Por não se centralizar mais sobre a figura do comerciante, tal teoria imprimiu uma
feição objetivista a essa fase.
Sendo assim, pode-se dizer que essa segunda fase foi marcada pelas seguintes
características: a) clara separação entre Direito Comercial e Direito Civil como ramos
autônomos e independentes; b) especificidade do direito comercial, sendo que o próprio ato
do comércio caracterizava a profissão dos comerciantes; c) caracterização do Direito
Comercial pelo objeto (comércio) e não pelo sujeito (comerciante); d) monopólio da
jurisdição pelo Estado devido à perda da força das corporações de ofício.
Diante disso, surgiu, na Itália, nova proposta para estabelecer o alcance do ramo do
direito privado ora examinado, a qual foi marcada como terceira fase evolutiva do Direito
Empresarial. A Teoria da Empresa, recepcionada pelo Código Civil Italiano de 1942 e com
8
grande aceitação por diversos ordenamentos jurídicos, trouxe parâmetros bem mais
sofisticados.
André Luiz Ramos Santa-Cruz, inspirado nas lições de Waldirio Bulgarelli, assim compara
as duas teorias:
Para a teoria da empresa, o direito comercial não se limita a regular apenas as relações
jurídicas em que ocorra a prática de um determinado ato definido em lei como ato de
comércio (mercancia). A teoria da empresa faz com que o direito comercial não se
ocupe apenas com alguns atos, mas com uma forma específica de exercer uma
atividade econômica: a forma empresarial.1
Como vimos, a fase da teoria da empresa, também conhecida como sistema italiano,
teve como ápice o Códice Civile(Código Civil Italiano) de 1942, que pretendeu unificar o
direito privado da Itália. As três fases históricas descritas no tópico anterior espelharam-se no
Brasil, o que pode ser constatado no fluxograma abaixo, o qual demonstra a evolução dessas
teorias conforme seus respectivos marcos legais no direito pátrio.
RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: Método, Rio de Janeiro:
1
10
Econômica
Organizada
Empresa = Atividade
Profissional
Industrial, Comercial ou de
Prestação de Serviços
1.2.2 Economicidade
Econômica é aquela atividade que tem como fim precípuo a distribuição de lucros ou a
geração de valor. No caso do empresário individual, o lucro se destina a acrescer o próprio
patrimônio. Nas sociedades empresárias, o fim da atividade é a distribuição de lucros aos
sócios. Contudo, a ausência da finalidade lucrativa não descaracteriza uma atividade como
empresária caso ela se destine à circulação de riqueza ou à prestação de serviço remunerado.
É o caso, por exemplo, de uma sociedade empresária criada para objetivos filantrópicos, mas
11
que, para alcançá-los, precisa angariar recursos comercializando bens ou cobrando por
serviços prestados.
Nas palavras de André Luiz Ramos Santa Cruz
Ao destacarmos a expressão atividade econômica, por sua vez, queremos enfatizar que
empresa é uma atividade exercida com intuito lucrativo. Afinal, conforme veremos, é
1.2.3 Organização
Vimos que, sob a égide do atual Código Civil Brasileiro, a empresa é tida como
atividade, cuja marca essencial é a obtenção de lucros com o oferecimento ao mercado de
bens ou serviços, gerados mediante a organização dos fatores de produção (força de
trabalho/mão de obra, matéria-prima, capital e tecnologia).4
Asquini dividia a expressão empresa em quatro perfis. Em um perfil subjetivo, empresa
seria sinônimo de empresário. Em um perfil funcional, empresa seria a atividade (utilizado
pela teoria da empresa). Em um perfil objetivo, empresa seria sinônimo de patrimônio
aziendal ou estabelecimento. Por fim, em um perfil corporativo, empresa é instituição, na
medida em que reúne pessoas com propósitos comuns (empresário e empregados).5
RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: Método, Rio de Janeiro:
3
COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 13-14.
6
13
descaracterizar, em sua essência, a figura do empresário7. Para ele, estará caracterizada a
organização se a atividade fim tiver de ser exercida com a colaboração de terceiros ou
mediante recursos de terceiros (pessoas ou bens). Assim, uma lavanderia totalmente
computadorizada poderia ser considerada uma atividade empresarial. Pode-se citar também
o caso dos empresários virtuais, que, muitas vezes, atuam completamente sozinhos,
resumindo-se sua atividade à intermediação de produtos ou serviços por meio da internet.
1.2.4 Profissionalismo
7
123.
14
nenhuma atividade econômica está excluída, em princípio, do âmbito de incidência do direito
empresarial.
Além de denotar a abrangência da teoria da empresa, a expressão em análise também
nos permite concluir que só restará caracterizada a empresa quando a produção ou
circulação de bens ou serviços destinar-se ao mercado, e não ao consumo próprio.
Sob essa perspectiva, cabe apontar os seguintes efeitos práticos, já os comparando com
as atividades não empresariais, as quais se submetem ao regime jurídico civil:
15
Percebe-se, assim, que a noção de empresa é o principal alicerce de todo o conteúdo
didático da disciplina de Direito Empresarial, pois permite a apreensão de seus institutos
jurídicos peculiares, notadamente, as figuras do empresário e do estabelecimento empresarial.
Em razão disso, é recorrentemente cobrada nas provas de concurso, conforme se pode
verificar na parte de exercícios deste material.
1.4 O Empresário
O Código Civil de 2002, em seu art. 966, caput, nos traz o conceito de empresário como
sendo aquele que exerce, profissionalmente, atividade econômica organizada para a
produção ou a circulação de bens ou de serviços. A essa atividade exercida se dá o nome
de “empresa”8.
Esse conceito legal será mais bem detalhado a seguir. Por enquanto, é importante
mencionar que a expressão “empresário” pode ser concebida em sentido amplopara abarcar
o empresário pessoa física (empresário individual) e o empresário pessoa jurídica
(sociedade empresária ou empresa individual de responsabilidade limitada - EIRELI). Em
sentido estrito, empresário é a pessoa física que exerce empresa, ou seja, o empresário
individual.
Empresa Individual de
Empresário Individual
Responsabilidade
(ou empresário em sentido Sociedade Empresária
Limitada
estrito)
(EIRELI)
16
Pessoa Jurídica, formada, em
Pessoa regra, por PLURALIDADE de
JurídicaUNIPESSOAL membros (sócios), cujo
Pessoa Física que exerce
exercente de atividade objeto social se destina ao
atividade econômica organizada,
econômica organizada exercício de atividade
conforme o art. 966 do CC.
de acordo com o art. empresária (art. 966 do CC)
966 do CC. * Exceção: sociedade limitada
com sócio único
Atualmente, a sociedade
Mesmo sendo pessoa física, terá Pode ser simples ou
limitada poderá ser
CNPJ. empresária.
unipessoal
Saliente-se que a própria sociedade é quem é empresária, e não os seus sócios. Isso
porque é ela que organiza, sob sua titularidade, ou seja, em seu nome a atividade de
produção ou circulação de bens ou serviços. Assim, sócio de sociedade empresária não é
considerado empresário, mas sim um empreendedor, quando, além de ter aportado capital,
também colabora com seus serviços na organização da atividade (ex. sócio diretor) ou mero
investidor, caso não participe da condução dos negócios.
sua atividade, o empresário individual tipificado no art. 966 do Código Civil responderá
primeiramente com os bens vinculados à exploração de sua atividade econômica, nos
termos do art. 1.024 do Código Civil.
Consigne-se que o fato de ser pessoa natural não impede que o empresário individual
seja inserido no Cadastro Nacional das Pessoas Jurídicas - CNPJ para fins tributários. Assim,
por mais estranho que pareça, um empresário individual terá um número de CNPJ para poder
17
identificar os negócios praticados que se relacionam ao exercício da atividade empresária.
1.4.2 Caracterização
• Regra (caput):
Art. 966, • Atividade empresarial (indústria, comércio, serviços)
caput
Vide questão 2.
9
10
PARENTONI, Leonardo Netto et alii. Análise quadripartite do artigo 966 do Código Civil de 2002. Jornal da
Faculdade de Direito da UFMG (O Sino do Samuel). Belo Horizonte, Ano X, n. 78, p. 3, out. 2004.
18
1ª parte:
2ª parte:
3ª parte:
Sendo assim, apenas o exercício das atividades exclusivamente intelectuais está excluído
do conceito previsto no caput do art. 966. Isso porque a presença do “elemento de empresa”
redireciona a esse preceito a caracterização da atividade, determinando-a como empresária.
Importante considerar o texto dos enunciados 193, 194 e 195 das Jornadas de Direito
Civil do CJF, que, respectivamente estabelecem: “o exercício das atividades de natureza
exclusivamente intelectual está excluído do conceito de empresa”; “os profissionais liberais não
19
são considerados empresários, salvo se a organização dos fatores de produção for mais
importante que a atividade pessoal desenvolvida”; e “a expressão ‘elemento de empresa’
demanda interpretação econômica, devendo ser analisada sob a égide da absorção da
atividade intelectual, de natureza científica, literária ou artística, como um dos fatores da
organização empresarial”.
4ª parte:
Por disposição legal específica, algumas atividades, ainda que insertas nas hipóteses do
caput ou do parágrafo único, devem sujeitar-se a regime jurídico especial.
São exemplos:
Sendo assim, não importa se uma cooperativa de produtores rurais pratica a mesma
atividade que uma indústria dedicada ao agronegócio, porque ela sempre será considerada
não empresária. Por outro lado, uma sociedade anônima sempre será considerada empresária,
ainda que tenha como fim social atividade relacionada com a prática de atos filantrópicos.
Infere-se, então, que a natureza intelectual, seja ela artística, científica ou literária,
geralmente, impede o enquadramento como empresário daquele que a pratica. No entanto,
Fábio Ulhoa Coelho invoca exceção que confirma a regra:
11
Vide questão 4.
20
profissão constitui elemento de empresa. Para compreender o conceito legal, convém
partir de um exemplo. Imagine o médico pediatra recém-formado, atendendo seus
encontra na condição geral dos profissionais intelectuais: não é empresário, mesmo que
conte com o auxílio de colaboradores. Nesta fase, os pais buscam seus serviços em
razão, basicamente, de sua competência como médico. Imagine, porém, que, passando o
tempo, este profissional amplie seu consultório, contratando, além de mais pessoal de
apoio (secretária, atendente, copeira etc.), também enfermeiros e outros médicos. Não
chama mais o local de atendimento de consultório, mas de clínica. Nesta fase de
transição, os clientes ainda procuram aqueles serviços de medicina pediátrica, em razão
serviços. Não se chama mais clínica, e sim hospital pediátrico. Entre os muitos
funcionários, além dos médicos, enfermeiros e atendentes, há contador, advogado,
nutricionista, administrador hospitalar, seguranças, motoristas e outros. Ninguém mais
procura os serviços ali oferecidos em razão do trabalho pessoal do médico que os
Outro exemplo seria o do cartunista Maurício Ricardo, que, até pouco tempo produzia
charges eletrônicas para a Rede Globo de Televisão. No início de sua carreira, as produzia de
modo basicamente “artesanal”, e, mesmo tendo colaboradores, não poderia ser considerado
empresário, pois, em sua organização profissional, preponderava o caráter artístico de sua
atividade intelectual. Contudo, ao contratar diversos colaboradores e produzir conteúdos para
diversos clientes (ex. sítio eletrônico da UOL, programa Big Brother da Globo), teve o caráter
artístico de seu trabalho “dissolvido” em meio a diversos outros componentes da atividade
empresarial. Daí porque, nessa última situação, a produção de charges tornou-se tão somente
um dos elementos de atividade empresária de muito maior vulto.
Um último exemplo seria o de uma sociedade que presta serviços publicitários, que
COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial : direito de empresa.23. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. pp.
12
36-40.
21
consistem na consultoria e elaboração de estratégias de marketing, estudos de mercado,
criação de logotipos e slogans, não é empresária, porque esses serviços são de natureza
exclusivamente intelectual. Por outro lado, caso a mesma sociedade, além de prestar os
serviços mencionados, comercialize cartazes, folders, materiais publicitários e espaços em
outdoors, será empresária, por associar elementos de empresa a seus serviços de natureza
intelectual.
Duas situações que envolvem o casamento assumem grande relevância para o Direito
Empresarial, são elas:
O art. 977 do CC/02 faculta aos cônjuges contratarem sociedade entre si ou com
22
terceiros, desde que não estejam casados sob o regime de comunhão universal de bens ou no
de separação obrigatória. Essa regra é relevante para o estudo de sociedades empresárias.
Estabelece ser possível que marido e mulher figurem como sócios na mesma sociedade, desde
que não sejam casados na comunhão universal ou separação obrigatória de bens. Há dispensa
de outorga conjugal para alienar ou gravar de ônus reais os imóveis da empresa.
No entanto, por indicar condição não prevista na lei, causa certa polêmica o seguinte
enunciado da II Jornada de Direito Comercial da CJF:13
destinatário da norma do art. 978 do CCB e não depende da outorga conjugal para
alienar ou gravar de ônus real o imóvel utilizado no exercício da empresa, desde que
exista prévia averbação de autorização conjugalà conferência do imóvel ao patrimônio
empresarial no cartório de registro de imóveis, com a consequente averbação do ato à
margem de sua inscrição no registro público de empresas mercantis.
A corrente majoritária entende que o art. 978 é especial em relação ao art. 1.647, I, do
CC/02, podendo o empresário individual casado, sem necessidade de outorga conjugal, em
qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da
empresa ou gravá-los de ônus real. Uma segunda corrente entende que deveria ser feita uma
averbação no Cartório de Registro de Imóveis e na Junta Comercial afetando o bem ao
exercício da atividade, autorizando a sua alienação ou que seja posto ônus real.
13
Vide questão 3.
23
no Registro Público de Empresas Mercantis (art. 980 do CC/02).
1.2.1 Da Inscrição
A inscrição deve ser feita mediante requerimento que contenha: o seu nome,
nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de bens; a firma, com a respectiva
assinatura autógrafa que poderá ser substituída pela assinatura autenticada com certificação
digital ou meio equivalente que comprove a sua autenticidade; o capital; o objeto e a sede da
empresa, conforme art. 968 do CC/02.
A inscrição será tomada por termo no livro próprio do Registro Público de Empresas
Mercantis, e obedecerá a número de ordem contínuo para todos os empresários inscritos. À
margem da inscrição, e com as mesmas formalidades, serão averbadas quaisquer modificações
nela ocorrentes.
1.2.2 Da capacidade
O art. 972 do CC/02 exige que para o exercício da atividade de empresário a pessoa
natural esteja em pleno gozo da capacidade civil (os que não forem incapazes) e não seja
legalmente impedido (falido não reabilitado, magistrados, membros do MP, militares da ativa,
etc.). Tem-se, portanto, os requisitos para que a pessoa física exerça atividade econômica
como empresário individual: a capacidade civile a ausência de impedimentos legais.
No que tange à capacidade civil, a regra é que o incapaz não pode ser empresário
individual, ressalvadas duas situações: a da incapacidade superveniente e do sujeito
incapaz que herda a atividade empresarial.
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Assim, há idade mínima para iniciar a atividade como empresário individual (16 anos,
sendo o exercício da empresa causa de emancipação nos termos do art. 5º, parágrafo único,
inciso V, do Código Civil). Não há, contudo, idade mínima para dar continuidade a uma
empresa anteriormente iniciada por seus pais (que faleceram) ou pelo autor da herança,
devendo o menor ser representado ou assistido (princípio da preservação da empresa) (art.
974 do CC/02). No mesmo sentido, pode o empresário continuar a empresa por ele exercida
enquanto capaz no caso de incapacidade superveniente.
Em tais hipóteses, será necessária autorização judicial, após exame das circunstâncias e
dos riscos da empresa, bem como da conveniência em continuá-la, podendo a autorização ser
revogada pelo juiz, ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do menor ou do
interdito, sem prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros (art. 974, §1º, do CC/02).
A prova da emancipação e da autorização do incapaz e a de eventual revogação desta
serão INSCRITAS ou AVERBADAS NO REGISTRO PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS. O
uso da nova firma caberá, conforme o caso, ao gerente; ou ao representante do incapaz; ou a
este, quando puder ser autorizado (art. 976 do CC/02)
Como forma de proteção ao incapaz, não ficam sujeitos ao resultado da empresa os
bens que ele já possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição, desde que estranhos ao
acervo da empresa, devendo tais fatos constar do alvará que conceder a autorização (art. 974,
§2º, do CC/02).
Não se exige idade mínima para ser sócio ou titular de EIRELI (por analogia às
sociedades limitadas), mas este sócio menor deverá integralizar todo o capital, não poderá ser
administrador e deve estar assistido ou representado.
IDADE MÍNIMA
25
administrador, todo o capital da sociedade deve ser
integralizado. Se o menor for emancipado, tem plena
capacidade de ser sócio.
É preciso atentar para o fato de que a proibição é para o exercício de empresa, não
sendo vedado, pois, que alguns impedidos sejam sócios de sociedades empresárias, uma vez
que, nesse caso, quem exerce a atividade empresarial é a própria pessoa jurídica, e não seus
26
sócios. Em suma: os impedimentos se dirigem aos empresários individuais, e não aos sócios
de sociedades empresárias.
27
consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da
condenação (art. 1.011, §1º, CC);15
Destaque-se que o Código Civil estabelece, em seu art. 973, que “a pessoa legalmente
impedida de exercer atividade própria de empresário, se a exercer, responderápelas
obrigações contraídas”. Portanto, as obrigações contraídas por um “empresário” impedido não
são nulas. Ao contrário, elas terão plena validade em relação a terceiros de boa-fé que com
ele contratarem.
A EIRELI não é uma sociedade, mas sim pessoa jurídica de direito privado diversa (art.
44,VI, do CC/02). No Direito Brasileiro, as únicas sociedades unipessoais existentes são a
Sociedade Unipessoal de Advogado e a Subsidiária Integral da Sociedade Anônima. A EIRELI
não é sociedade.
A EIRELI será constituída por uma única pessoa, física ou jurídica (Instrução Normativa
nº 38/2017 do Departamento de Registro Empresarial e Integração - DREI), titular da
totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem)
15
Vide questão 5.
28
vezes o maior salário-mínimo vigente no País. A pessoa natural que constituir EIRELI,
contudo, somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade.16
O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão "EIRELI" após a
firma ou a denominação social.
A empresa individual de responsabilidade limitada também poderá resultar da
concentração das quotas de outra modalidade societária em um único sócio,
independentemente das razões que motivaram tal concentração. Em regra, uma sociedade se
dissolve quando ocorrer a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de 180
dias. Não ocorrerá a dissolução, contudo, se o sócio remanescente requerer a transformação
para empresário individual ou para EIRELI.
Poderá ser atribuída à empresa individual de responsabilidade limitada constituída para
a prestação de serviços de qualquer natureza a remuneração decorrente da cessão de direitos
patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que seja detentor o titular da
pessoa jurídica, vinculados à atividade profissional.
Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber, as regras
previstas para as sociedades limitadas.
A limitação da responsabilidadedaquele que exerce atividade econômica por meio de
EIRELI foi reafirmada pela Lei da Liberdade Econômica (Lei 13.874/2019), publicada em
30/04/2019, que incluiu o §7º ao art. 980-A do CC/02, em determinação de que “somente o
patrimônio social da empresa responderá pelas dívidas da empresa individual de
responsabilidade limitada, hipótese em que não se confundirá, em qualquer situação, com o
patrimônio do titular que a constitui, ressalvados os casos de fraude”. Importante consignar
que dispositivo de redação semelhante foi vetado anteriormente (§4º do art. 980-A do CC/02),
sob o argumento de que se aplicariam as regras das sociedades limitadas, inclusive quanto à
separação do patrimônio.
29
EIRELI titularizada por incapaz
Não só o empresário e o sócio podem ser classificados, mas também a empresa. Essa,
para efeitos tributários, pode ser categorizada de acordo com o fluxo financeiro que gera.
Tem-se, então, as seguintes qualificações:
30
Microempresa: para as sociedades empresárias (exceto a anônima) que
percebam receita bruta anual de R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais)
Empresa de Pequeno Porte: para as sociedades empresárias (exceto a
anônima) que percebam receita bruta anual de R$ 4.800.000,00 (quatro
milhões e oitocentos mil reais) (conforme alteração determinada pela LC
155/2016 sobre a LC 123/2006).
Microempreendedor Individual: é uma espécie particular de microempresa na
qual pode se enquadrar, tão somente, o empresário individual que não exceda
a receita bruta anual de R$ 81.000,00 (oitenta e um mil reais), cf. § 1º do art.
18-A da LC 123/06.
31
imóvel não é o estabelecimento, mas sim elemento integrante do
estabelecimento. Isso porque estabelecimento é diferente de patrimônio;
32
um conjunto de bens com finalidade vinculada do seu dono, que é o empresário
(universitasrerum ou facti).
A doutrina brasileira majoritária, seguindo mais uma vez as ideias suscitadas pela
doutrina italiana, sempre considerou o estabelecimento empresarial uma universalidade de
fato, uma vez que os elementos que o compõem formam uma coisa unitária exclusivamente
em razão da destinação que o empresário lhes dá, e não em virtude de disposição legal.
Ao se afirmar que o estabelecimento empresarial não é sujeito de direito, o que se
pretende afastar é a noção de personalização desse complexo de bens, presente em algumas
proposições da segunda metade do século XIX, principalmente na Alemanha, que procuravam
criar um conceito legal capaz de justificar a relativa autonomia entre a empresa e o
empresário. Falava-se na tese da empresa em si.
A tentativa de personalização do estabelecimento, contudo, não logrou êxito, inclusive
no direito brasileiro. Segundo o disposto na legislação brasileira, é um equívoco considerar o
estabelecimento empresarial uma pessoa jurídica. Sujeito de direito é a sociedade empresária,
que, reunindo os bens necessários ou úteis ao desenvolvimento da empresa, organiza um
complexo de características dinâmicas próprias. A ela, e não ao estabelecimento empresarial,
imputam-se as obrigações e asseguram-se os direitos relacionados com a empresa.
No âmbito do direito privado, cujos princípios gerais, à luz do art. 109 do CTN, são
informadores para a definição dos institutos de direito tributário, a filial é uma espécie de
estabelecimento empresarial, fazendo parte do acervo patrimonial de uma única pessoa
jurídica, partilhando dos mesmos sócios, contrato social e firma ou denominação da matriz.
Nessa condição, consiste, conforme doutrina majoritária, em uma universalidade de fato, não
ostentando personalidade jurídica própria, não sendo sujeito de direitos, tampouco uma
pessoa distinta da sociedade empresária. Cuida-se de um instrumento de que se utiliza o
empresário ou sócio para exercer suas atividades (REsp 1.355.812/RS).
Imaginemos a seguinte situação prática: no acervo patrimonial de determinada padaria
há dois imóveis. O primeiro é sede da sociedade empresária, enquanto o segundo, localizado
em outra unidade da federação, encontra-se alugado. Os valores recebidos a título de aluguéis
desse segundo imóvel são aplicados no ativo patrimonial da referida sociedade empresária.
Nessa situação, é correto afirmar que o imóvel alugado não faz parte do
estabelecimento empresarial da mencionada pessoa jurídica.
33
Ora, aquele imóvel faz parte do patrimônio da padaria, mas não integra o
estabelecimento. A padaria possui um patrimônio e dentro dele há um estabelecimento. Isso
porque só faz parte do estabelecimento os bens que estão diretamente relacionados à
atividade empresarial.
Assim, estabelecimento é diferente de patrimônio. O estabelecimento integra o
patrimônio, mas não significa que o estabelecimento é o patrimônio.
PATRIMÔNIO
1.5.1 Trespasse
34
composição de sócios alterada. Na cessão de cotas ou alienação de controle, o objeto da
venda é a participação societária, ou seja, as cotas ou as ações, conforme a espécie societária.
Trespasse implica a transferência do conjunto de bens organizados pelo alienante ao
adquirente, de modo que este possa prosseguir com a exploração da atividade empresarial.
Para que o trespasse produza seus efeitos entre o alienante e o adquirente, não é
necessário nenhum tipo de publicidade. Porém, para que o contrato de trespasse produza
efeitos perante terceiros, é preciso que haja averbação na junta comercial, bem como
publicação na imprensa oficial.
Art. 1.144. O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do
estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado à margem
da inscrição do empresário, ou da sociedade empresária, no Registro Público de
O art. 1.144 CC estabelece que para o contrato de trespasse produzir efeitos perante
terceiros, será preciso:
Averbação do contrato na Junta Comercial;
35
1.5.2 Eficácia do trespasse
A eficácia do trespasse é garantida pelos bens que permanecem com o devedor, que
devem ser suficientes para saldar sua dívida.
Caso não sejam, deve-se observar a regra do art. 1.145, que estabelece o PAGAMENTO
DE TODOS OS CREDORES ou AUTORIZAÇÃO DE TODOS OS CREDORES.
É feita uma notificação dos credores, para que se manifestem, no prazo de 30 dias,
dizendo se são contra ou a favor do trespasse. O silêncio, aqui, é entendido como
consentimento.
Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a
eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores,
36
seguinte: “a penhora de que trata esta subseção somente será determinada se não houver
outro meio eficaz para a efetivação do crédito”.
A violação do art. 1.145 do CC enseja ato de falência. O credor pode requerer a falência
do empresário que venda bens sem respeitar o art. 1.145 do CC (sem o consentimento de
todos os credores ou não permanecendo com bens suficientes para solver seu passivo), pois
esse ato é considerado como ato de falência, conforme previsto no art. 94, III, “c” da Lei
11.101/05.
37
Caso se trate de dívida vincenda, conta-se um ano a partir da DATA DO
VENCIMENTO.
Enunciado 233, CJF: Art. 1.142: A sistemática do contrato de trespasse delineada pelo
Código Civil nos arts. 1.142 e ss., especialmente seus efeitos obrigacionais, aplica-se
38
1.2. Concorrência
Antes do CC, não havia nenhuma referência legal que impedisse a concorrência.
Portanto, o que acontecia, na prática empresarial, era a confecção de um contrato, onde se
inseria uma cláusula chamada “cláusula de não-restabelecimento”.
Hoje, a cláusula de não-restabelecimento está prevista no art. 1.147 do CC. Assim, a
cláusula de não-restabelecimento está implícita aos contratos de trespasse, na forma do art.
1.147 do CC, de modo que se faz necessária cláusula expressa a fim de que seja possível a
concorrência.
O contrato de trespasse irá definir sobre a possibilidade de concorrência do alienante
do estabelecimento. Na omissão do contrato de trespasse, aplica-se a regra do art. 1.147 do
CC. Ou seja, não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode
fazer concorrência ao adquirente, nos 5 anos subsequentes à transferência.
A cláusula de não restabelecimento fixada por prazo indeterminado é considerada
abusiva.
Segundo o STJ, as partes não podem prever que a cláusula de “não restabelecimento”
será por prazo indeterminado. O ordenamento jurídico pátrio, salvo expressas exceções, não
aceita que cláusulas que limitem ou vedem direitos sejam estabelecidas por prazo
indeterminado (REsp 680.815/PR, Min. Raul Araújo, j. 20/03/2014 – inf. 554).
É possível que seja ampliado, mas ele não pode ser fixado em prazo indeterminado e,
no caso concreto, é possível que tal ampliação seja considerada abusiva se ampliar demais a
restrição. Nesse sentido:
Ainda de acordo com o STJ, é válida a cláusula contratual de não concorrência, desde
que limitada espacial e temporalmente. Isso porque esse tipo de cláusula protege a
concorrência e os efeitos danosos decorrentes de potencial desvio de clientela, sendo esses
valores jurídicos reconhecidos constitucionalmente (REsp 1.203.109/MG, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, julgado em 6/5/2015 – Inf. 561).
39
O limite geográfico dessa limitação deve ser definido casualmente em função da
natureza do comércio. Deve-se analisar se o eventual restabelecimento do alienante configura,
de fato, concorrência ao adquirente. O elemento teleológico da norma referida não é a
proibição do restabelecimento do alienante, e sim a proibição da concorrência desleal ao
adquirente.
Assim, quando a relação estabelecida entre as partes for eminentemente comercial, a
cláusula que estabeleça dever de abstenção de contratação com sociedade empresária
concorrente pode sim irradiar efeitos após a extinção do contrato, desde que por um prazo
certo e em determinado lugar específico (limitada temporária e espacialmente).
Ex.: João resolveu montar um quiosque no shopping para vender celulares, cartões pré-
pagos etc. Para isso, ele fez um contrato com a operadora de celular “XXX” por meio da qual
ele somente iria vender os produtos e serviços dessa operadora e, em troca, ela ofereceria a
ele preços diferenciados, consultoria e treinamento para abrir a loja. No contrato assinado
com a operadora, havia uma cláusula dizendo que João estava proibido, por 6 meses após a
extinção do contrato, de contratar com qualquer empresa concorrente naquela cidade. Essa
cláusula de não concorrência é válida.
No caso de arrendamento ou usufruto do estabelecimento, a proibição prevista
persistirá durante o prazo do contrato (art. 1.147, parágrafo único).
É preciso entender que o contrato de trespasse não garante a clientela, que é mera
situação de fato. A clientela não é elemento integrante do estabelecimento empresarial. Por
conta disso, a fim de que a clientela se mantenha, o trespasse gera a sub-rogação automática
do adquirente nos contratos estipulados para a exploração do estabelecimento, se não tiverem
caráter pessoal.
Havendo justa causa, os terceiros podem rescindir o contrato em 90 dias, contados da
publicação da transferência. Assim dispõe o art. 1.148:
40
da publicação da transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso, a
responsabilidade do alienante.
O art. 1.148 do CC traz uma regra importante: o adquirente terá a garantia que todos
os contratados de exploração do estabelecimento continuarão em vigor.
A jurisprudência e o Enunciado 234 do CJF entendem que nos contratos de trespasse
ocorre a sub-rogação automática de todos os contratos, exceto o contrato de locação, em
respeito ao art. 13 da Lei de Inquilinato (Lei 8.245/91).
A Lei de Locação (art. 13) prevê a anuência por escrito do locador do imóvel objeto da
transferência do contrato de locação.
O STJ entende que o contrato de locação, fugindo a regra do art. 1.148, não é
transferido automaticamente, dependendo da anuência do locador.
41
A cessão dos créditos referentes ao estabelecimento transferido produzirá efeito em
relação aos respectivos devedores, desde o momento da publicação da transferência, mas o
devedor ficará exonerado se de boa-fé pagar ao cedente (art. 1.149 do CC).
1.5.5 Aviamento
Aviamento é nome dado pelo mercado ao valor agregado pela articulação dos bens
que compõem o estabelecimento, na exploração de uma atividade econômica. Desta forma,
aviamento não é integrante do estabelecimento, mas sim um ATRIBUTO seu.
Em outras palavras, aviamento, ou goodwillof trade, é o potencial de lucratividade.
O aviamento é justamente a aptidão para gerar lucro do estabelecimento. Quanto mais
eficiente for a organização dos elementos do estabelecimento, mais aviado será o
estabelecimento.
Trata-se de um atributo do estabelecimento empresarial, resultado do conjunto e vários
fatores de ordem material ou imaterial que lhe conferem capacidade ou aptidão de gerar
lucros. Cada estabelecimento possui um aviamento maior ou menor. Diz-se que o aviamento é
pessoal ou subjetivo quando a capacidade de gerar lucros resulta substancialmente de
qualidades do titular da empresa; será real ou objetivo se decorrente da qualidade do
estabelecimento empresarial.
A clientela é resultante do aviamento, e este existe graças a ela – um decorre do outro.
Ambos, por não serem considerados bens, não estão sujeitos a uma proteção direta, nos
moldes do que ocorre com o patrimônio material ou imaterial da empresa.
CLIENTELA FREGUESIA
42
Conjunto de pessoas que mantém com o Conjunto de pessoas que passam em frente
empresário ou sociedade empresária ao ponto do negócio, em razão da sua
relações jurídicas constantes; localização estratégica.
Requisito formal: o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com
prazo determinado;
Requisito temporal: prazo mínimo de 5 anos de relação contratual contínua.
O prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos
contratos escritos deve ser de 5 anos;
Requisito material: o locatário esteja explorando seu comércio, NO MESMO
RAMO, pelo prazo mínimo e ininterrupto de 3 anos.
43
O direito assegurado neste artigo poderá ser exercido pelos cessionários ou sucessores
da locação.
A lei não está protegendo o locador, nem o locatário, mas sim o ponto comercial.
Faltando um dos requisitos, não há como se ajuizar a ação renovatória. Presentes todos os
requisitos da ação renovatória, poderá ela ser ajuizada, pois o empresário passa a ter o
intitulado direito de inerência ao ponto.
Imaginemos a seguinte situação: empresário tinha realizado um contrato de locação por
cinco anos, de modo que nos três primeiros anos possuía uma padaria no ponto e, nos
últimos dois, uma farmácia. Pode ele ajuizar a renovatória? Não, porque não permaneceu na
mesma atividade nos últimos três anos do contrato.
A propositura da referida ação renovatória, segundo o disposto no art. 51, §5º, da Lei
8.245/1991, deve ser feita “no interregno de um ano, no máximo, até seis meses, no mínimo,
anteriores à data da finalização do prazo do contrato em vigor”. Dizendo de outra forma, a
ação renovatória deve ser ajuizada nos seis primeiros meses do último ano do contrato de
aluguel.
Sendo assim, faltando um ano para o término do contrato, deve o empresário locatário,
se pretender permanecer no ponto, procurar o locador para iniciar as tratativas acerca da
renovação da relação contratual. Caso o locador demonstre o interesse de retomar o ponto,
não renovando o contrato, cabe ao locatário tomar as providências necessárias ao ajuizamento
da ação renovatória, sob pena de ver decair o seu o direito à renovação compulsória da
relação locatícia.
44
Destaque-se que a legislação admite a propositura de ação renovatória nos contratos
de locação de espaços em shopping centers. Nesse caso, previu a lei que não cabe alegar,
para a retomada do imóvel, a necessidade do bem para uso próprio, nem para transferência
de estabelecimento empresarial existente há mais de um ano cuja maioria do capital seja de
sua titularidade ou de seu cônjuge, ascendente ou descendente (art. 52, §2º, da Lei
8.245/1991).
Diga-se ainda que, em tese, não é abusiva a previsão, em normas gerais de
empreendimento de shopping center ("estatuto"), da denominada "cláusula de raio", segundo
a qual o locatário de um espaço comercial se obriga – perante o locador – a não exercer
atividade similar à praticada no imóvel objeto da locação em outro estabelecimento situado a
um determinado raio de distância contado a partir de certo ponto do terreno do shopping
center (STJ, REsp 1.535.727/RS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 10/5/2016 – inf. 585).
No caso de sublocação do imóvel, a ação renovatória é de competência exclusiva do
sublocatário já que esta ação, como dito, se propõe a proteger o ponto comercial (art. 51,
§1º).
Mas, cuidado! Persiste um “sublimite” para cálculo de ICMS e ISS. As EPPs que
ultrapassarem o valor anterior, de R$ 3,6 milhões de faturamento, terão o ICMS e o ISS
45
calculados fora da tabela do Simples Nacional, conforme regras estabelecidas pela lei
complementar 155/2016.
QUADRO SINÓTICO
QUADRO ASSOCIATIVO
46
(ou “pequeno empresário”)
47
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
(OAB – XXVII EOU | 2018): Roberto desligou-se de seu emprego e decidiu investir na
construção de uma hospedagem do tipo pousada no terreno que possuía em Matinhos.
Roberto contratou um arquiteto para mobiliar a pousada, fez cursos de hotelaria e, com os
ensinamentos recebidos, contratou empregados e os treinou. Ele também contratou um
desenvolvedor de sites de Internet e um profissional de marketing para divulgar sua pousada.
Desde então, Roberto dedica-se exclusivamente à pousada, e os resultados são promissores. A
pousada está sempre cheia de hóspedes, renovando suas estratégias de fidelização; em breve,
será ampliada em sua capacidade.
Considerando a descrição da atividade econômica explorada por Roberto, assinale a afirmativa
correta.
A) A atividade não pode ser considerada empresa em razão da falta tanto de
profissionalismo de seu titular quanto de produção de bens.
B) A atividade não pode ser considerada empresa em razão de a prestação de serviços
não ser um ato de empresa.
C) A atividade pode ser considerada empresa, mas seu titular somente será empresário a
partir do registro na Junta Comercial.
D) A atividade pode ser considerada empresa e seu titular, empresário, independentemente
de registro na Junta Comercial.
Comentários:
48
Para responder à questão, é importante lembrar que os requisitos para a configuração do
empresário são extraídos do conceito apresentado no art. 966 do CC: “Considera-se
empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção
ou a circulação de bens ou de serviços”.
O registro na Junta Comercial, por si só, não constitui o empresário. Trata-se de obrigação do
empresário, prevista no art. 967 do CC, de observância exigida para a sua regularidade.
Desse modo, uma vez preenchidos os requisitos extraídos do art. 966 do CC, a pessoa é
considerada empresária, independentemente de seu registro na Junta Comercial. Contudo,
para a sua regularidade, exige-se o devido registro.
Alternativa A: INCORRETA
Não apenas aqueles que exploram atividade de produção de bens exercem empresa. Também
são considerados atos de empresa a circulação de bens, bem como a prestação de serviços,
sendo incorreta a assertiva em análise.
Além disso, outro erro da alternativa é a afirmação de que Roberto não desenvolve atividade
com profissionalismo. Ao contrário do afirmado, o enunciado narrou a profissionalidade,
demonstrando a habitualidade no exercício da atividade, além de outros elementos necessário
ao enquadramento de Roberto como empresário.
Alternativa B: INCORRETA
Conforme se extrai do art. 966 do CC, a prestação de serviço é considerada ato de empresa,
sim, tornando errada a alternativa ora avaliada.
Alternativa C: INCORRETA
49
O registro na Junta Comercial não é requisito para o enquadramento da pessoa como
empresário. Trata-se de obrigação empresária, prevista no art. 967 do CC, exigida para a
regularidade do empresário. Contudo, não tem caráter constitutivo.
Alternativa D: CORRETA
Questão 2
Comentários:
Nem sempre uma atividade intelectual é tipicamente civil. É o que se depreende dos
seguintes dispositivos do Código Civil de 2002:
50
Código Civil, art. 966, parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou
colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.
Art. 974, § 3º O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais
deverá registrar contratos ou alterações contratuais de sociedade que envolva sócio
III – o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente incapaz deve ser
representado por seus representantes legais.
Art. 978. O empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer
que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou
gravá-los de ônus real.
Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde
que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação
obrigatória.
Questão 3
(CESPE - 2017 - TJPR – JUIZ SUBSTITUTO) A empresária casada sob o regime de comunhão
universal não precisa da outorga conjugal para alienar os imóveis que integrem o patrimônio
da empresa.
51
Comentários:
Questão polêmica. O CESPE decidiu considerar tal assertiva correta, tendo em vista o que
estabelece o art. 978 do CC. De acordo com o art. 978 do Código Civil, “o empresário casado
pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os
imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real”.
Sobre esse dispositivo legal, foi aprovado o Enunciado 6, da I Jornada de Direito Comercial do
CJF, o qual foi substituído na II Jornada pelo Enunciado 58.
Logo, ao que indica o gabarito da recentíssima questão, o CESPE tende a considerar correta a
literalidade do art. 978 do CC, mormente o posicionamento doutrinário constante no referido
enunciado.
Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde que
não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação
obrigatória.
Questão 4
(CESPE - 2019 - TJ-PR - Juiz Substituto) Conforme o Código Civil, equipara-se à condição de
pessoa empresária
A) um grupo de pessoas que pretenda constituir uma cooperativa para intermediar a venda de
produtos fabricados em determinada comunidade.
B) um casal que resolva criar um instituto exclusivamente para difundir informações sobre
determinada causa social.
52
C) um empresário rural cuja principal atividade seja a agricultura e que esteja devidamente
inscrito no Registro Público de Empresas Mercantis.
D) um artista plástico famoso que angarie grandes valores com a venda de obras plásticas por
ele confeccionadas.
Comentários:
B) um casal que resolva criar um instituto exclusivamente para difundir informações sobre
determinada causa social. (INCORRETO)
Para ser considerado empresário é preciso que a atividade seja econômica, isto é, que tenha
finalidade lucrativa.
C) um empresário rural cuja principal atividade seja a agricultura e que esteja devidamente
inscrito no Registro Público de Empresas Mercantis. (CORRETO)
Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode,
observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer
inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que,
D) um artista plástico famoso que angarie grandes valores com a venda de obras plásticas por
ele confeccionadas. (INCORRETO)
53
Exceção: se exercício da profissão constituir elemento de empresa, a atividade artística poderá
ser empresária, o que não é o caso da alternativa.
Questão 5
Comentários:
§ 1º Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os
condenados apena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos;
ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou
contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de
defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública oua propriedade,
enquanto perdurarem os efeitos da condenação.
54
Questão 6
Comentários:
Diga-se ainda, que para o empresário comum o registro é mera condição de regularidade. Ou
seja, se o empresário não fizer o registro, ele não deixa de ser empresário, mas será
considerado empresário irregular, sofrendo, por isso, algumas consequências (por exemplo: a
impossibilidade de requerer recuperação judicial).
Enunciado 198, CJF: Art. 967: A inscrição do empresário na Junta Comercial não é
requisito para a sua caracterização, admitindo-se o exercício da empresa sem tal
55
Exceção: quando se tratar de atividade rural, nos termos do art. 971 do CC, o registro é
facultativo, já que a lei usa a expressão “pode fazer o registro”. O empresário rural não tem
obrigatoriedade de registro.
Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode,
observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer
Empresário rural é a pessoa física ou jurídica que exerce atividade agrária, seja ela agrícola,
pecuária, agroindustrial ou extrativa (vegetal ou mineral), procurando conjugar, de forma
racional, organizada e econômica, os fatores terra, trabalho e capital.
Diante disso, temos que o registro do empresário rural é constitutivo. Só será considerado
empresário se tiver registro na junta comercial.
Enunciado 202, CJF: Arts. 971 e 984: O registro do empresário ou sociedade rural na
Junta Comercial é facultativo e de natureza constitutiva, sujeitando-o ao regime jurídico
empresarial. É inaplicável esse regime ao empresário ou sociedade rural que não exercer
tal opção.
Questão 7
Comentário:
56
Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele
registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade empresária.
Questão 8
(VUNESP - 2017 - TJ-SP - Juiz Substituto) Quais dos elementos indicados a seguir são
considerados indispensáveis para a existência de uma empresa?
A) Lucro, sociedade e aviamento.
B) Produção racional, comercialização dos produtos e função social.
C) Eficiência, registro no órgão competente e estabilidade.
D) Atividade, empresário e estabelecimento.
Comentários:
Questão 9
57
C) é pessoa jurídica constituída por uma única pessoa, titular da totalidade do capital social,
devidamente integralizado, não inferior a cem vezes o maior salário mínimo vigente no país.
D) é pessoa jurídica resultante exclusivamente da resolução parcial de uma sociedade, quando
remanescer apenas um sócio.
E) é pessoa jurídica constituída por uma única pessoa, titular da totalidade do capital social
devidamente integralizado de qualquer valor, aplicando-lhe subsidiariamente as regras
previstas para as sociedades simples.
Comentários:
Todas as alternativas podem ser analisadas com base no texto do art. 980-A do Código Civil
de 2002, sendo verdadeira apenas a letra B:
Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma
única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não
será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País. (Incluído pela Lei
nº 12.441, de 2011) (Vigência)
§1º O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão " EIRELI " após a
detentor o titular da pessoa jurídica, vinculados à atividade profissional. (Incluído pela Lei
nº 12.441, de 2011) (Vigência)
58
§ 6º Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber, as
regras previstas para as sociedades limitadas. (Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011)
(Vigência)
Questão 10
59
Comentários:
Art. 966. (...) Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares
Art. 978 O empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que
seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou
Art. 966 - Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão
Art. 969. O empresário que instituir sucursal, filial ou agência, em lugar sujeito à
jurisdição de outro Registro Público de Empresas Mercantis, neste deverá também
inscrevê-la, com a prova da inscrição originária.
Questão 11
60
Determinada sociedade empresária, enquadrada como empresa de pequeno porte e optante
pelo Simples Nacional, instituiu representante legal para solicitar ao órgão competente o
registro e o arquivamento da sua última alteração do contrato social consolidada. Na
oportunidade, a sociedade não anexou à documentação a ser apresentada à junta comercial a
certidão negativa de débitos (CND) relativa aos tributos federais e à dívida ativa da União,
administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (SRF) e pela Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional (PGFN).
Embora a ausência da CND/SRF não impeça o registro da alteração do contrato social, essa
certidão atribui efeito suspensivo ao pedido de arquivamento.
( ) Certo
( ) Errado
Comentários:
Art. 9 O registro dos atos constitutivos, de suas alterações e extinções (baixas), referentes a
empresários e pessoas jurídicas em qualquer órgão dos 3 (três) âmbitos de governo ocorrerá
independentemente da regularidade de obrigações tributárias, previdenciárias ou trabalhistas,
principais ou acessórias, do empresário, da sociedade, dos sócios, dos administradores ou de
empresas de que participem, sem prejuízo das responsabilidades do empresário, dos titulares,
dos sócios ou dos administradores por tais obrigações, apuradas antes ou após o ato de
extinção.
61
I - certidão de inexistência de condenação criminal, que será substituída por declaração do
titular ou administrador, firmada sob as penas da lei, de não estar impedido de exercer
atividade mercantil ou a administração de sociedade, em virtude de condenação criminal;
Questão 12
( ) Certo
( ) Errado
Comentários:
Questão 13
A respeito das condições para o exercício de atividade comercial, julgue o item subsequente.
( ) Certo
( ) Errado
Comentários:
Errado - Com base noCódigo Civil. Art. 968, § 3º Caso venha a admitir sócios, o empresário
individual poderá solicitar ao Registro Público de Empresas Mercantis a transformação de seu
63
registro de empresário para registro de sociedade empresária, observado, no que couber, o
disposto nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código.
Enunciado 465 CJF. A "transformação de registro" prevista no art. 968, § 32, e no art. 1.033,
parágrafo único, do Código Civil não se confunde com a figura da transformação de pessoa
jurídica.
Art. 1.052.Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas
quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social.
§ 1º A sociedade limitada pode ser constituída por 1 (uma) ou mais pessoas. (Incluído pela Lei
nº 13.874, de 2019); §
2º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento de constituição do sócio único, no que
couber, as disposições sobre o contrato social. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019).
64
GABARITO
Questão 1 - D
Questão 2 -B
Questão 3 -Correta
Questão 4 -C
Questão 5 -Errado
Questão 6 - Errado
Questão 7 - Errado
Questão 8 - Certo
Questão 9 - B
Questão 10 - Errado
Questão 11 -Errado
Questão 12 -Errado
Questão 13 - Errado
65
QUESTÃO DESAFIO
Máximo de 5 linhas
66
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO
Não, o fato de haver proibição para o exercício de empresa não causa necessariamente
proibição de atuação como sócio, já que os sócios de uma sociedade empresária não são
empresários.
O Código Civil traz apenas o art. 1.011, §1º com impedimentos para administradores, quais
sejam: os condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos
públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou
contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa
da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto
perdurarem os efeitos da condenação.
A maioria dos impedimentos ao exercício de empresa está em leis especiais, e não proíbem as
pessoas impedidas de serem sócios de sociedade empresária, como explica o autor André
Santa Cruz (CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. 8. ed. São Paulo: Método, 2020. p. 179-
179.): “É preciso atentar para o fato de que a proibição é para o exercício de empresa, não
sendo vedado, pois, que alguns impedidos sejam sócios de sociedades empresárias, uma vez
que, nesse caso, quem exerce a atividade empresarial é a própria pessoa jurídica, e não seus
sócios.”.
É necessário se atentar ao fato de que os sócios de uma sociedade não são empresários. O
autor André Santa Cruz explica (CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. 8. ed. São Paulo:
Método, 2020. p. 179-179.): “Quando pessoas (naturais) unem seus esforços para, em
sociedade, ganhar dinheiro com a exploração empresarial de uma atividade econômica, elas
não se tornam empresárias. A sociedade por elas constituída, uma pessoa jurídica com
personalidade autônoma, sujeito de direito independente, é que será empresária, para todos
os efeitos legais. Os sócios da sociedade empresária são empreendedores ou investidores, de
acordo com a colaboração dada à sociedade (...). As regras que são aplicáveis ao empresário
individual não se aplicam aos sócios da sociedade empresária – é muito importante aprender
isto.”.
67
São exemplos de leis que impedem determinadas pessoas de exercerem a atividade
empresarial: o art. 117, X, da Lei 8.112/1990, relativo aos servidores públicos federais; o art. 36,
I, da LC 35/1979 – Lei Orgânica da Magistratura Nacional –, relativo aos magistrados; o art. 44,
III, da Lei 8.625/1993, relativo aos membros do Ministério Público; o art. 29 da Lei 6.880/1980,
relativo aos militares.
68
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Empresário
Enunciado58, CJF
O empresário individual casado é o destinatário da norma do art. 978 do CCB e não depende
da outorga conjugal para alienar ou gravar de ônus real o imóvel utilizado no exercício da
empresa, desde que exista prévia averbação de autorização conjugal à conferência do imóvel
ao patrimônio empresarial no cartório de registro de imóveis, com a consequente averbação
do ato à margem de sua inscrição no registro público de empresas mercantis.
Art. 966: A expressão “elemento de empresa” demanda interpretação econômica, devendo ser
analisada sob a égide da absorção da atividade intelectual, de natureza científica, literária ou
artística, como um dos fatores da organização empresarial.
69
Enunciado 204, CJF
Art. 977: A proibição de sociedade entre pessoas casadas sob o regime da comunhão
universal ou da separação obrigatória só atinge as sociedades constituídas após a vigência do
Código Civil de 2002.
Art. 977: Adotar as seguintes interpretações ao art. 977: (1) a vedação à participação de
cônjuges casados nas condições previstas no artigo refere-se unicamente a uma mesma
sociedade; (2) o artigo abrange tanto a participação originária (na constituição da sociedade)
quanto a derivada, isto é, fica vedado o ingresso de sócio casado em sociedade de que já
participa o outro cônjuge.
70
JURISPRUDÊNCIA
Sociedade Empresária
STJ, 1ª Turma. REsp 1358410/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão. julgado em
04/08/2016.
STJ, 1ª Turma. REsp 1.227.240/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão. julgado em
09/06/2015.
De acordo com o Código Civil, as sociedades podem ser de duas categorias: simples e
empresárias. Ambas exploram atividade econômica e objetivam o lucro. A diferença entre elas
reside no fato de a sociedade simples explorar atividade não empresarial, tais como as
atividades intelectuais, enquanto a sociedade empresária explora atividade econômica
empresarial, marcada pela organização dos fatores de produção (art. 982, CC). A sociedade
simples é formada por pessoas que exercem profissão do gênero intelectual, tendo como
espécie a natureza científica, literária ou artística, e mesmo que conte com a colaboração de
auxiliares, o exercício da profissão não constituirá elemento de empresa (III Jornada de Direito
Civil, Enunciados n. 193, 194 e 195). As sociedades de advogados são sociedades simples
71
marcadas pela inexistência de organização dos fatores de produção para o desenvolvimento
da atividade a que se propõem. Os sócios, advogados, ainda que objetivem lucro, utilizem-se
de estrutura complexa e contem com colaboradores nunca revestirão caráter empresarial,
tendo em vista a existência de expressa vedação legal (arts. 15 a 17, Lei n. 8.906/1994).
Impossível que sejam levados em consideração, em processo de dissolução de sociedade
simples, elementos típicos de sociedade empresária, tais como bens incorpóreos, como a
clientela e seu respectivo valor econômico e a estrutura do escritório.
72
constitucional. Nesse sentido: REsp 1.186.889/DF, Segunda Turma, Relator Ministro Castro
Meira, DJe de 2.6.2010. 6. Não obstante isso, não se constata o preenchimento dos requisitos
legais e regimentais para a propositura do Recurso Especial pela alínea "c" do art. 105 da CF.
7. A apontada divergência deve ser comprovada, cabendo a quem recorre demonstrar as
circunstâncias que identificam ou assemelham os casos confrontados, com a indicação da
similitude fática e jurídica entre eles. 8. In casu, o recorrente não se desincumbiu do ônus de
demonstrar que os casos comparados tratam da mesma situação fática: empresário individual.
Ao revés, limitou-se a transcrever ementas e trechos que versam sobre sociedade empresarial
cuja diferença em relação ao caso dos autos foi suficientemente explanada neste julgado. 9.
Recurso Especial não conhecido.)
Direitos Fundamentais
As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios podem requisitar diretamente das instituições financeiras informações sobre as
movimentações bancárias dos contribuintes. Esta possibilidade encontra-se prevista no art. 6º
da LC 105/2001, que foi considerada constitucional pelo STF. Isso porque esta previsão não se
caracteriza como "quebra" de sigilo bancário, ocorrendo apenas a “transferência de sigilo” dos
bancos ao Fisco.
A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno,
quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas “a posteriori”, que indiquem
que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade
disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade, e de nulidade dos atos praticados.
STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 31/8/2016 (Info
837)
É inconstitucional a expressão “em horário diverso do autorizado” contida no art. 254 do ECA.
"Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo em horário diverso do
autorizado ou sem aviso de sua classificação: Pena - multa de vinte a cem salários de
73
referência; duplicada em caso de reincidência a autoridade judiciária poderá determinar a
suspensão da programação da emissora por até dois dias." O Estado não pode determinar
que os programas somente possam ser exibidos em determinados horários. Isso seria uma
imposição, o que é vedado pelo texto constitucional por configurar censura. O Poder Público
pode apenas recomendar os horários adequados. A classificação dos programas é indicativa (e
não obrigatória).
Mandado de Segurança
STF. RMS 32487, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em
07/11/2017
STJ. AgInt no RMS 42.563/MG, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 23/05/2017, DJe 29/05/2017
75
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2016.
FAZZIO JUNIOR, WALDO. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2017.
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição.
São Paulo: Editora JusPodivm, 2017.
PENANTE JR, Francisco. LAURINDO, Felipe. Prática empresarial. Recife: Armador, 2016.
76
Capítulo 2
SUMÁRIO
GABARITO ........................................................................................................................................................................... 45
LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 49
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................... 50
1
DIREITO EMPRESARIAL
Capítulo 2
Atenção Futuro Delta! Dê mais ênfase nos assuntos registro empresarial, nome
empresarial e prepostos do empresário.Muito importante aqui estudo da lei seca.
I - dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das
empresas mercantis, submetidos a registro na forma desta lei;
II - cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em funcionamento no País e manter
atualizadas as informações pertinentes;
III - proceder à matrícula dos agentes auxiliares do comércio, bem como ao seu
cancelamento.
1
Vide questão 9.
2
Vide questão 8.
2
regularidade, e não de sua caracterização”. Ou seja, se o empresário não fizer o registro, ele
não deixa de ser empresário, mas será considerado empresário irregular, sofrendo, por isso,
algumas consequências (por exemplo: a impossibilidade de requerer recuperação judicial).
Contudo, quanto ao ruralista, tal registro é indispensável para que se caracterize como
empresário, pois a lei permite que, mesmo que pratique atividade nos moldes do art. 966 do
CC, opte por não aderir ao regime jurídico empresarial, não efetivando seu registro na Junta
Comercial.
O empresário rural é a pessoa física ou jurídica que exerce atividade agrária, seja ela
agrícola, pecuária, agroindustrial ou extrativa (vegetal ou mineral), procurando conjugar, de
forma racional, organizada e econômica, os fatores terra, trabalho e capital.
Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode,
observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer
inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que,
depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a
registro.
Diante desse contexto, forçoso é concluir que, para o rurícola, o registro empresarial é
facultativo e constitutivo, como pode ser inferido do seguinte enunciado do CJF:
Enunciado 202, CJF: Arts. 971 e 984: O registro do empresário ou sociedade rural na
Junta Comercial é facultativo e de natureza constitutiva, sujeitando-o ao regime
jurídico empresarial. É inaplicável esse regime ao empresário ou sociedade rural que não
exercer tal opção.
Retornando-se ao art. 967, pode dizer-se que ele não adota o sistema subjetivo de
direito comercial ou empresarial, tal como na primeira fase evolutiva desse ramo do direito.
Nesta, para ser comerciante, era necessário o registro nas corporações de ofício, instituições
que criavam regras aplicáveis somente aos que nelas estavam escritos.
Art. 969. O empresário que instituir sucursal, filial ou agência, em lugar sujeito à
jurisdição de outro Registro Público de Empresas Mercantis, neste deverá também
inscrevê-la, com a prova da inscrição originária.
Parágrafo único. Em qualquer caso, a constituição do estabelecimento secundário
deverá ser averbada no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede.
Pode-se definir filial, juridicamente, como a sociedade empresária que atua sob a
direção e administração de outra, chamada de matriz, mas mantém sua personalidade jurídica
e o seu patrimônio, bem como preserva sua autonomia diante da lei e do público. Agência,
por sua vez, pode ser conceituada como empresa especializada em prestação de serviços que
atua especificamente como intermediária. E sucursal, por fim, é o ponto de negócio acessório
e distinto do ponto principal, responsável por tratar dos negócios deste e a ele subordinado
administrativamente3.
3
Vide questão 2 e 8.
4
empresária, visto que será o local indicado em seus atos constitutivos, quando do registro na
Junta Comercial.
Observe-se, no entanto, que o Código de Processo Civil de 2015 estabelece como foro
competente quanto às obrigações que a pessoa jurídica contraiu, o lugar onde se acha sua
agência ou sucursal (art. 53, III, b). O Código Civil, por sua vez, em seu art. 75, §1º, estabelece
que, “tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles
será considerado domicílio para os atos nele praticados”.
Nessa mesma linha, o texto da súmula 363 do STF ao considerar que a pessoa jurídica
de direito privado, gênero do qual a sociedade empresária é espécie,“pode ser demandada no
domicílio da agência, ou estabelecimento, em que se praticou o ato”. Nesse sentido é também
a norma do art. 75, §1º, do Código Civil.
2.1.1 SINREM
5
Por fazerem parte da estrutura administrativa dos Estados, mas, ao mesmo tempo,
sujeitarem-se, no planotécnico, às normas e diretrizes baixadas pelo DREI, diz-se que as juntas
comerciais têm subordinação hierárquica híbrida.
Sendo assim, somente a Junta Comercial do Distrito Federal se submete, tanto técnica
como administrativamente, ao DREI, conforme preceitua o art. 6º, parágrafo único, da Lei
8.934/1994.
Sobre a subordinação hierárquica híbrida das Juntas Comerciais, André Luiz Santa Cruz
Ramos explica:
Em razão desse caráter híbrido de subordinação das Juntas Comerciais (ao Estado-
membro respectivo e ao DREI), o Superior Tribunal de Justiça consolidou entendimento
de que há uma divisão de competência para apreciar ações judiciais em que a Junta
Comercial seja parte. Tratando-se de matéria administrativa, a competência para
processar e julgar as ações em que a Junta figure num dos polos da demanda é da
Justiça comum estadual. Em contrapartida, em se tratando de matéria técnica, relativa
ao registro de empresa, a competência passa a ser da Justiça Federal, em virtude do
interesse na causa do DREI, conforme preceitua o art. 109, inciso I, da Constituição
Federal.
4
Vide questão 4.
6
ato de seu presidente. (REsp 678.405/RJ, 3.ª Turma, Rel. Min. Castro Filho, j. 16.03.2006, DJ
10.04.2006, p. 179).
Ministério da
Estado-Membro
Economia Su
bo
Vinculação rdi
na
çã
SINREM o
Ad
mi
Órgãos nis
tra
Junta
DREI Subordinação técnica
Comercial
Muito embora tenha sido investido nas funções de órgão central disciplinador, fiscalizador e
supervisor do registro de empresas, o DREI não dispõe de instrumentos de intervenção nas
Juntas comerciais, caso não adotem suas diretrizes ou deixem de acatar recomendações de
correção. A lei estabelece, apenas, que o DREI pode representar às autoridades competentes
as irregularidades que identificar (ex. Governador, Ministério Público Estadual etc).
7
2.1.2 Atos de registro
regularidade desses documentos. Assim, um livro comercial deve ser levado à Junta
Comercial para autenticação e, neste ato, terá todos os requisitos extrínsecos que
assentados”. Contudo, não se pode olvidar o que se encontra previsto nos arts. 39-
autenticação de documentos e da autoria de que trata esta Lei poderá ser realizada
públicos, trapicheiros etc. Consiste em uma condição para que eles possam exercer,
empresárias e cooperativas.5
De acordo com o art. 32, inciso II, da Lei 8.934/1994, estão sujeitos ao arquivamento:
5
Vide questão 5.
8
Os atos relativos a consórcio e grupo de sociedadede que trata a Lei 6.404, de 15
de dezembro de 1976;
no Brasil;
Asdeclarações de microempresa;
O art. 35 da referida Lei, por sua vez, enuncia uma série de atos que não devem se
sujeitar ao arquivamento:
9
No que diz respeito às sociedades cooperativas, durante muito tempo, houve polêmica
sobre onde deveriam ser registradas. Se, por um lado, o Código Civil as considera como
sociedade simples (art. 982, parágrafo único), o que atrairia a competência do Oficial de
Registro de Pessoas Jurídicas (art. 1.150), a lei específica dessas instituições determina que seu
registro ocorra na Junta Comercial (art. 18 da Lei5.764/1971).
Nesse sentido, o art. 1.093 do CC estipula que “a sociedade cooperativa reger-se-á pelo
disposto no presente Capítulo, ressalvada a legislação especial”. O enunciado 69 do CJF, por
sua vez, consolida a interpretação daquele preceito legal da seguinte forma: “as sociedades
cooperativas são sociedades simples sujeitas à inscrição nas juntas comerciais”.
É importante mencionar que, segundo o art. 1.154 do Código Civil, o ato sujeito a
registro não pode ser oposto a terceiros antes do cumprimento das formalidades exigidas,
salvo se houver prova de que o terceiro o conhecia.
10
A ausência do registro provoca, dentre outros efeitos, a ilegitimidade ativa para pedido
de falência de terceiro e pedido de recuperação judicial. Nesse diapasão, vale destacar
que,muito embora possa ter sua falência requerida, a sociedade empresária que,
irregularmente, não mantém registro,não pode pedir a falência alheia. Isso porque o art. 97,
§ 1º, da Lei 11.101/2005 (Lei de Falências) exige que o credor empresário comprove a
regularidade de suas atividades, por meio da apresentação de certidão do Registro Público de
Empresas, para que possa requerer a falência do devedor.
Interessante notar que o art. 105 da Lei 11.101/2005 admite que uma sociedade
empresária não registrada faça o pedido de autofalência, bastando que prove, por outros
documentos, quem são os seus sócios, com os respectivos endereços e relação de bens
pessoais.
No que tange à sociedade ou à EIRELI, o mais grave efeito da ausência de registro diz
respeito ao regime da responsabilidade de seus integrantes, que será ilimitada. E isso em
virtude de, em tais situações, aplicar-se o regramento das sociedades em comum (arts.986 a
990 do CC).
O Código Civil dispõe no mesmo sentido em seu art. 1.151, §§ 1.º e 2.º, preceituando,
no § 3.º, que “as pessoas obrigadas a requerer o registro responderão por perdas e danos, em
caso de omissão ou demora”.
Daí se conclui a relevância de que, por exemplo, uma alteração de contrato social seja
levada a registro na Junta Comercial dentro de 30 (trinta) contados da sua efetiva realização.
Se isso não ocorrer, tal alteração contratual só será considerada eficaz perante terceiros após
11
o deferimento do registro. Por outro lado, se o registro for feito no prazo legal, a alteração do
contrato retroagirá seus efeitos desde a data em que foi decidida pelos sócios.
Em síntese,“se o ato é levado a registro dentro do prazo legal de trinta dias, o registro
opera efeitos extunc, retroagindo à data da sua efetiva realização. Em contrapartida, se o ato
é levado a registro fora do prazo legal de trinta dias, produz efeitos ex nunc, ou seja, só se
torna eficaz a partir do seu deferimento”.
Art. 1.151. O registro dos atos sujeitos à formalidade exigida no artigo antecedente será
requerido pela pessoa obrigada em lei, e, no caso de omissão ou demora, pelo sócio ou
qualquer interessado.
§ 1º Os documentos necessários ao registro deverão ser apresentados no prazo de trinta
dias, contado da lavratura dos atos respectivos.
§ 2º Requerido além do prazo previsto neste artigo, o registro somente produzirá efeito
a partir da data de sua concessão.
Nesse sentido, a Ministra Nancy Andrighi decidiu pela concessão de efeitos retroativos
para alteração de quadro societário, cuja data da confecção e assinatura do respectivo acordo
ocorreu antes do registro, mas este foi efetivado dentro dos 30 (trinta) dias seguintes
(REsp1.381.719 – BA).
Registro
Dentro de 30 dias
Data da
Elaboração
Após 30 dias
12
O art. 37 da Lei 8.934/1994 relaciona os documentos que devem instruir os pedidos de
arquivamento de atos constitutivos e suas respectivas alterações. O seu parágrafo único, por
sua vez, determina que, além daqueles que o artigo expressamente elenca, nenhum outro
documento será exigido das firmas individuais e sociedades referidas nas alíneas a, b e d do
inciso II do art. 32”. Na mesma esteira, o Decreto 1.800/1996, que regulamentou a Lei
8.934/1994, deixa claro em seu art. 34, parágrafo único, que outros documentos só podem ser
exigidos se houver “expressa determinação legal”.
2.1.3 Escrituração
registro de duplicata para aqueles que emitem essa espécie de título. O livro
obrigatório comum está previsto no art. 1.180, CC, sendo que seu único exemplo é
o livro diário, que pode ser substituído por fichas, no caso de ser adotada
6
Vide questão 3.
13
Facultativo:é aquele que tem para o empresário uma função de controle de seus
negócios, de modo que sua falta não importa em irregularidade ou lhe gera
qualquer tipo de sanção.São exemplos o livro caixa, livro razão, livro conta-corrente,
Art. 1.180. Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que pode
ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica.
Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado para o
lançamento do balanço patrimonial e do de resultado econômico.
Os livros, antes do seu uso, devem, necessariamente, ser autenticados pela Junta
Comercial (Art. 1181 do CC/02), mas somente podem ser autenticados os livros do empresário
regular (p.u. do art. 1181 do CC/02).
14
O art. 1179, §2º dispensa da escrituração o pequeno empresário mencionado no art.
970. Cuidado! Nas provas falam em microempresa e empresa de pequeno porte. Não é a
mesma coisa. De acordo com a doutrina e a jurisprudência, o “pequeno empresário” é, tão
somente, o microempreendedor individual (MEI).
15
Receita Bruta anual inferior a Receita Bruta anual superior Receita Bruta anual igual ou
R$ 360.000,000. a R$ 360.000,00 e igual ou inferior a R$ 60.000,00.
inferior a R$ 4.800.000,000.
Tais requisitos são essências para determinação da eficácia probatória dos livros
empresariais. O art. 417 do CPC/2015 preceitua que “os livros empresariais provam contra o
seu autor, sendo lícito ao empresário, todavia, demonstrar, por todos os meios permitidos em
direito, que os lançamentos não correspondem à verdade dos fatos”.
16
Embora não estejam elencados como títulos executivos, o que, em tese, autorizaria o
acesso à via executiva, quando devidamente escriturados, terão valor probatório em uma ação
ordinária de conhecimento, inclusive, no caso de ação monitória.
Art. 1.190. Ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autoridade, juiz ou tribunal,
sob qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para verificar se o empresário
ou a sociedade empresária observam, ou não, em seus livros e fichas, as formalidades
prescritas em lei.
Percebe-se, assim, que a exibição dos livros empresariais poderá ser determinada,
judicialmente e em certos casos previstos em lei. Além disso, existem situações que se permite
que o magistrado determine, de ofício, a exibição dos livros empresariais e outros em que isso
somente poderá ocorrer:
17
Somente por requerimento da parte De ofício ou mediante requerimento
Art. 105. A exibição por inteiro dos livros da companhia pode ser ordenada
judicialmente sempre que, a requerimento de acionistas que representem, pelo menos,
5% (cinco por cento) do capital social, sejam apontados atos violadores da lei ou do
estatuto, ou haja fundada suspeita de graves irregularidades praticadas por qualquer dos
órgãos da companhia.
Importante ressaltar que, em todo e qualquer caso de ordem judicial para exibição dos
livros empresariais deverá estar presente o interesse de agir (súmula 260, STF), o qual se
afigura, por exemplo, quando houver pertinência quanto às transações entre as partes.
Convém pontuar que o fato de um livro não ser obrigatório não exime o empresário de
apresentá-lo às autoridades fiscais. Se, mesmo não sendo obrigado, ele o escriturou a
consequência é que deverá disponibilizá-lo. Nesse sentido, a súmula 439 do Supremo Tribunal
Federal enuncia que “estão sujeitos à fiscalização tributária ou previdenciária quaisquer livros
comerciais, limitado o exame aos pontos objeto da investigação.” Na mesma linha, o art. 1.193
determina que o sigilo empresarial não pode ser oposto às autoridades fazendárias, no
exercício da fiscalização do pagamento de impostos, nos termos estritos das respectivas leis
especiais
18
A prova resultante dos livros e fichas não é bastante nos casos em que a lei exige
escritura pública, ou escrito particular revestido de requisitos especiais, visto que pode ser
ilidida pela comprovação da falsidade ou inexatidão dos lançamentos.
Sobre a escrituração dos livros empresariais, convém apresentar três consequências que
se relacionam à:
o que aplica tão somente em relação aos livros obrigatórios (comuns ou especiais).
Ausência de apresentação: O art. 104, IIda Lei 11.101/05 determina que, após
estabelece que esse tipo de presunção ficta pode ser elidida por prova documental
19
Falsificação dos livros comerciais:esse ato importa em crime de falsificação de
documento público (art. 297, §2º, CP), vez que os livros comerciais são equiparados
equiparação.7
Na lição de Dylson Doria (1995:110), o nome comercial é aquele “adotado pela pessoa
física ou jurídica para o exercício do comércio e por cujo meio se identifica”. Sob a mesma
perspectiva, o Decreto n. 916, de 24 de outubro de 1890, ao conceituá-lo, enfatizou seu
caráter funcional, considerando-o “o nome sob o qual o comerciante ou sociedade exerce
ocomércio e assina-se nos atos a ele referentes”.
Em sentido semelhante, o Código Civil, em seu art. 1.155, assim definiu nome comercial:
“considera-se nomeempresarial a firma ou a denominação adotada, de conformidade com
este Capítulo, para o exercício de empresa”.
Ricardo Negrão explica que o nome empresarial e suas subespécies, dentre elas as
firmas e as denominações, não integram o estabelecimento empresarial, sendo, antes,
atributos pessoais do empresário ou da sociedade empresária. Diante disso, o autor conclui
que “sua função primordial é a identificação pessoal do titular, seja ele constituído sob a
forma coletiva ou individual”.
7
Vide questão 10.
20
No entanto, o nome empresarial possui, além da qualidade de identificação de uma
pessoa, outra, denatureza patrimonial, o que leva os doutrinadores a divergirem sobre sua
natureza.
Para uma primeira corrente, ele seria um direito de propriedade industrial8. Esse
entendimento é incompatível com o ordenamento jurídico brasileiro, pois, no atual estágio de
desenvolvimento doutrinário e legislativo, o nome não pode ser considerado direito
depropriedade industrial, vez que este consiste em propriedade imaterial e se constitui coisa
incorpórea, como ocorrecom as marcas, patentes e desenhos industriais, que, após sua criação
intelectual, ganham força de direito autônomoao da personalidade de seu criador.
O nome empresarial, por sua vez,não dispõe dessa autonomia em razão de sua
indissociabilidade dafigura humana que o detém. É o que ocorre, por exemplo, com as
firmas, “constituídas de nomes pessoais do empresário ou dos sócios dasociedade empresária,
e, ainda, porque não pode ser alienado mesmo quando se tratar de sua forma
denominativa,não vinculada a nomes pessoais (art. 1.164 do Código Civil).” (NEGRÃO,
2018:156).
Como um dos grandes expoentes do direito empresarial brasileiro que se afilia a este
entendimento, tem-se Carvalho de Mendonça (2000, 2:175-176):
8
Nesse sentido, Spencer Vampré (1922:180): “o nome comercial constitui uma verdadeira propriedade industrial, e cria relações
jurídicas, análogas às das marcas de fábrica, das patentes de invenção, e da propriedade literária, artística, ou industrial. (...) Daí
se segue que o nome:a) é suscetível de apreciação monetária, pois a indicação do estabelecimento, pela notoriedade, honradez,
e boa escolha dos artigos, exerce decisiva influência na massa das populações; b) é sujeito a danificação, quando, por exemplo,
um concorrente o usurpa, ou, ainda, o difama. A lesão, que daí decorre, não recai sobre a personalidade, mas sobre o
estabelecimento, sobre o conjunto de coisas, que o compõem, inclusive o seu crédito e reputação; c) pode ser alienado,
isoladamente, ou com o estabelecimento a que foi aposto; d) adquire-se pelo uso legítimo, e se perde pelo desuso”
21
balanço da casa comercial; é inalienável e intransmissível, porque é inerente à pessoa e
não pode ser considerado distintamente desta, pelo que não pode ser objeto de
contrato, nem pode ser legado, doado, ou cedido; b) não é suscetível de penhora em
execução; c) não entra na falência, nem a massa creditória dele dispõe; d) não pode
constituir quota social; e) não é desapropriável. Ainda mais o nome é imprescritível
(Clovis, Código Civil, 2ª edição, v. 1. p. 424). Pelo fato de ser a firma comercial exclusiva
de quem a inscreveu no registro não se conclui constituir objeto de propriedade. O
direito de quem inscreveu a firma é meramente pessoal. É direito pessoal absoluto, diz-
nos Clovis Bevilacqua. O exclusivismo é instituído em benefício do comércio para evitar
fraudes e, portanto, no interesse público. É a concorrência desleal que se procura
combater.
Em face das três correntes apresentadas, a que mais se conforma com o direito
brasileiro é aquela que o considera como direito pessoal. Isso porque, o próprio texto
constitucional o erige à classe dos direitosindividuais, de criação intelectual (art. 5º, XXIX da
CRFB). E isso, a despeito de ser tutelado contra a concorrência desleal, o que se faz visando ao
interesse social e ao desenvolvimento tecnológico e econômico do país.
(...) o nomeé atributo da personalidade, por meio do qual o empresário exerce sua
atividade; a marca é sinal distintivo de um produto ou de um serviço; título de
estabelecimento é a designação de um objeto de direito – o estabelecimento
empresarial; e insígnia é um sinal, emblema, formado por figuras, desenhos, símbolos,
conjugados ou não a expressões nominativas. Esta e o título do estabelecimento têm em
comum sua idêntica destinação: designar o estabelecimento do empresário; na forma,
contudo, diferem: a insígnia utiliza a forma emblemática, e o título, a nominativa. (...)
A confusão muitas vezes se estabelece em virtude da possibilidade de utilização do
núcleo de um nomeempresarial como marca ou título de estabelecimento. (...)
22
A natureza jurídica de cada um desses elementos é distinta: a primeira – marca – tem
caráter de propriedade imaterial, protegida mediante registro no Instituto Nacional da
Propriedade Industrial, e, como tal, integra o estabelecimento empresarial; o segundo –
título de estabelecimento – é direito intelectual, amparado contra uso indevido, sem
necessidade de qualquer registro; e o último é nome empresarial, atributo do
empresário ou da sociedade empresária, regido pelas disposições dos arts. 1.155 a 1.168
do Código Civil de 2002.
Por outro lado, imagine que a sociedade empresária “Icecream S/A” possua como
proteção de seus produtos as marcas parasorvete “Tutti Geli” e para bolo “Gostogel”. Nesse
caso, nada impede que, na cidade de Campinas, seu estabelecimento use o título (fantasia)
“Casa do Sorvete d’Itália” e a insígnia formada por essas palavras e pela figura de um sorvete,
na formada torre que tornou famosa a cidade de Pisa.
Por outro lado, imagine que a sociedade empresária “Icecream S/A” possua como
proteção de seus produtos as marcas parasorvete “Tutti Geli” e para bolo “Gostogel”. Nesse
caso, nada impede que, na cidade de Campinas, seu estabelecimento use o título (fantasia)
“Casa do Sorvete d’Itália” e a insígnia formada por essas palavras e pela figura de um sorvete,
na formada torre que tornou famosa a cidade de Pisa.
23
2.2.3 Características do nome empresarial
objetivamente, o nome empresarial não pode ser objeto de alienação (art. 1164,
p.u., CC). Anote-se, contudo, que pode ser alienado o título de estabelecimento,
Silva Ltda é o nome da pessoa jurídica proprietária de um posto gasolina, ele mas o
Imprescritível:aquele que for lesado pelo uso indevido do nome empresarial pode,
a qualquer tempo, ajuizar ação para anular a inscrição de nome empresarial feita
com violação da lei ou do contrato (art. 1.167, CC). Conforme a jurisprudência, antes
2.2.4 Princípios
pessoa que não fizer parte da sociedade.Outra consequência desse princípio está na
necessidade de que seja retirado da firma social o nome de sócio que venha a
falecer, for excluído ou se retirar da sociedade (art. 1.165, CC). Por outro lado, a
24
denominação não deve conter nome de sócio, salvo para homenagear, como forma
de honraria, esteja ele vivo ou morto. É o que ocorre, por exemplo na sociedade
anônima, porque, ainda que conste o nome do fundador, acionista ou pessoa. Por
ilimitados9.
impede, em tese, que uma empresa que venda talheres e pratos funcione com o
9
Vide questão 7.
25
outro lado, é no sentido de garantir a proteção dos nomes empresariais nos limites de sua
atividade, isto é, do objeto social, cuja designação se torna obrigatória para as denominações.
Dessa forma, conclui-se que a proteção do nome empresarial não é absoluta (erga
omnes), de modo a impedir o uso dele para qualquer empreendimento. Aplica-se, na verdade,
o princípio da especialidade, concedendo-se tutela relativa, porquanto limitada ao ramo de
atividade do seu titular.
Por outro lado, no que diz respeito ao nome de domínio, salvo hipótese de usurpação
de direito de marca ou nome empresarial, a anterioridade do registro destes não assegura,
por si só, o direito de exigir a abstenção de uso do nome de domínio na rede mundial de
computadores (internet) por aquele que ostenta direitos acerca do mesmo signo distintivo.
Isso porque, “no Brasil, o registro de nomes de domínio é regido pelo princípio "First Come,
FirstServed ", segundo o qual é concedido o domínio ao primeiro requerente que satisfizer as
exigências para o registro” (REsp 658.789/RS).
Essa proteção absoluta dentro dos limites da unidade federativa é reconhecida pelo STJ
(REsp nº 1673450) e se encontra prevista no art. 1.166 do Código Civil de 2002, o qual dispõe
26
que “inscrição do empresário, ou dos atos constitutivos das pessoas jurídicas, ou as respectivas
averbações, no registro próprio, asseguram o uso exclusivo do nome nos limites do respectivo
Estado”. O parágrafo único desse mesmo dispositivo também consigna a possibilidade de
extensão a todo o território nacional, se registrado na forma da lei especial.
27
responsabilidade limitada, que a autorização decorre do disposto
no § 1º do art. 980-A do Código Civil, reforçando àquele com que
ela contratar a ciência de que a responsabilidade patrimonial de
seu parceiro negocial limita-se ao capital registrado.”
Firma individual:
sua pessoa (facultativo). Ex. Roberto Justus, R. Justus ou Roberto Justus Joalheiro.
credor tem o direito de saber quem ele é, por isso é necessário ter o seu nome
presente. Tanto assim que, se um sócio que não integrar a firma praticar um ato
possível acrescentar a Cia ao final para indicar que a sociedade tem outro ou
28
Denominação:
Bola Sete buffet infantil, Nana Nenê roupas infantis, Divina Gula restaurante, etc.
EPP. Como regra geral, o nome do sócio não pode estar na denominação, mas o
enquadramento de porte.
29
2.2.7 Direitos decorrentes do nome empresarial
Muito embora não possa ser registrado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial
(INPI), órgão incumbido de conceder privilégios industriais e registros de marcas e desenhos
industriais. Entretanto, a própria Lei da Propriedade Industrial protege o nome contra usos
indevidos ou imitações, dentro de sua dimensão concorrencial.
Reclamação, que assiste ao titular quando este “é recusado por parte de outrem”;
outrem”;
Se não houver confusão de identidade entre o nome civil empregado para formar a
marca e a pessoa de um terceiro homônimo, o emprego civil na marca deverá ser
30
suportado por todos os terceiros homônimos, mesmo que por uma razão qualquer tal
uso não lhes seja agradável ou conveniente. O mesmo raciocínio se empregará nos
casos em que o nome civil coincida com uma expressão de fantasia. Assim, o membro
da família ‘Coelho’, ‘Lobo’, ‘Leite’, ‘Café’ etc. só poderá impedir que um terceiro
empregue uma dessas expressões de fantasia em sua marca, que por mero acaso
coincidem com seu patronímico, se provar que aquela marca reporta à sua identidade.
Permite ação para anulação de inscrição de nome empresarial feita com violação da
No caso de retirada, exclusão ou morte de sócio cujo nome civil constava da firma
parágrafo único);
nome ao seu, precedendo-o: “Fulano de Tal & Cia., sucessor de Primeira Firma
Social”.
31
Conforme o Superior Tribunal de Justiça, é necessário emitir nova procuração para seu
representante na hipótese de alteração do nome empresarial. O Tribunal Superior do trabalho
adota o mesmo entendimento, exigindo nova procuração caso, no meio de um processo, uma
empresa modifique o nome com o qual se identifica. E isso, sob pena dos advogados ficarem
impedidos de atuar no processo.
arquivamento por dez anos consecutivos, deve informar à junta comercial que
Liquidação/dissolução da sociedade
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QUADRO SINÓTICO
33
Facultativo: designação do ramo de atividade
34
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
Embora a ausência da CND/SRF não impeça o registro da alteração do contrato social, essa
certidão atribui efeito suspensivo ao pedido de arquivamento.
Comentário:
10
Vide questão 1.
35
critérios cronológico e da especialidade, predominou o entendimento de que há de
prevalecer o critério cronológico, pois o enunciado normativo "nenhum outro
documento será exigido", contido na Lei 8.934/94, tem conteúdo nitidamente
derrogatório, excluindo a possibilidade de subsistirem leis anteriores em sentido
contrário. Assim, somente podem ser exigidos documentos expressamente previstos
na Lei 8.934/94, ou em leis posteriores, como a exigência de certidão negativa do INSS,
inserida por força da Lei 9.032/95 (REsp 1.393.724/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, Rel. p/ acórdão Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 28/10/2015, DJe de 04/12/2015) 3. Agravo interno não provido. (AgInt no
REsp 1175043/RS, Rel. Ministro LÁZARO GUIMARÃES (DESEMBARGADOR CONVOCADO
DO TRF 5ª REGIÃO), QUARTA TURMA, julgado em 20/02/2018, DJe 27/02/2018)
Questão 2
Para instituir filial em cidade vizinha sujeita à jurisdição de outro registro público, Amélia
deverá inscrever tal filial neste registro, com a prova da inscrição originária, e averbar a
constituição da filial no registro público de empresas mercantis da sede empresarial.
Comentário:
Art. 969. O empresário que instituir sucursal, filial ou agência, em lugar sujeito à
jurisdição de outro Registro Público de Empresas Mercantis, neste deverá também
inscrevê-la, com a prova da inscrição originária. Parágrafo único. Em qualquer caso, a
constituição do estabelecimento secundário deverá ser averbada no Registro Público
de Empresas Mercantis da respectiva sede.
36
Questão 3
(FGV - 2015 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XVI - Primeira Fase)Uma das obrigações
da sociedade empresária é seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base
na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva,
e levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico.A partir do exposto,
assinale a afirmativa correta.
A) A ausência de autenticação dos instrumentos de escrituração na Junta Comercial não
impede que os livros da sociedade empresária sejam utilizados em juízo como prova
documental a seu favor.
B) Em razão da evolução tecnológica, passou a ser vedada a escrituração manual do Livro
Diário, devendo a sociedade empresária adotar livros digitais para a escrituração de suas
operações.
C) O balanço patrimonial deverá exprimir, com fidelidade e clareza, a situação real da empresa
e indicará o ativo e o passivo distintamente.
D) Os assentos lançados nos livros da sociedade empresária, por qualquer dos contabilistas
encarregados de sua escrituração, não obrigam a pessoa jurídica, se tais livros não estiverem
autenticados na Junta Comercial.
Comentário:
Art. 1.180. Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que pode
ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica.
Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado para o
lançamento do balanço patrimonial e do resultado econômico.
37
Questão 4
(FGV - 2016 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XIX - Primeira Fase) Servidor da Junta
Comercial verificou que o requerimento de alteração contratual de uma sociedade limitada
com vinte e dois sócios e sede no município de Solidão não foi assinado pelo administrador,
mas por mandatário da sociedade, com poderes específicos. O requerimento foi instruído com
uma nova versão do contrato social desacompanhada da ata da deliberação que a aprovou. O
referido servidor determinou que fosse sanada a pretensa irregularidade.
Com base nessas informações, assinale a afirmativa correta.
A) O servidor não agiu corretamente porque cumpre à autoridade competente, antes de
efetivar o registro, fiscalizar apenas a observância das formalidades extrínsecas ao ato, e não
formalidades intrínsecas relativas aos documentos apresentados; portanto, a alteração deveria
ser arquivada.
B) O servidor agiu corretamente porque cumpre à autoridade competente, antes de efetivar o
registro, fiscalizar a observância das prescrições legais concernentes ao ato ou aos
documentos apresentados; havendo irregularidades, deve ser notificado o requerente para
saná-las.
C) O servidor não agiu corretamente porque as irregularidades apresentadas no enunciado são
insanáveis por se referirem a requisitos substanciais e de validade do documento, bem como
de representação da pessoa jurídica.
D) O servidor agiu corretamente porque somente o administrador, como órgão da pessoa
jurídica, tem legitimidade para pleitear o arquivamento da alteração contratual; havendo
irregularidades, deve ser notificado o requerente para saná-las.
Comentário:
38
Parágrafo único. Das irregularidades encontradas deve ser notificado o requerente,
que, se for o caso, poderá saná-las, obedecendo às formalidades da lei.
Questão 5
(FGV - 2017 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XXII - Primeira Fase) Fagundes e Pilar
são noivos e pretendem se casar adotando o regime de separação de bens mediante
celebração de pacto antenupcial. Fagundes é empresário individual e titular do
estabelecimento Borracharia Dona Inês Ltda. ME. Celebrado o pacto antenupcial entre os
nubentes, o advogado contratado por Fagundes providenciará o arquivamento e a averbação
do documento
A) no Registro Público de Empresas Mercantis e a publicação na imprensa oficial.
B) no Registro Público de Empresas Mercantis e no Registro Civil de Pessoas Naturais.
C) no Registro Civil de Pessoas Naturais e a publicação na imprensa oficial.
D) no Registro Público de Empresas Mercantis e no Registro Civil de Títulos e Documentos.
Comentário:
Considerando que Fagundes é empresário individual, seu patrimônio pessoal não se distingue
do patrimônio envolvido na atividade empresária. Desse modo, os atos que venham a
interferir em sua esfera patrimonial devem ser averbados tanto no Registro Civil de Pessoas
Naturais quanto no Registro Público de Empresas Mercantis. Seu casamento será sob o regime
de separação de bens, de maneira que somente o patrimônio de Fagundes responderá por
eventuais dívidas contraídas na atividade empresarial. Daí porque o registro no Junta
Comercial se mostra imprescindível, conforme exige o seguinte preceito normativo do Código
Civil:
Art. 979. Além de no Registro Civil, serão arquivados e averbados, no Registro Público
de Empresas Mercantis, os pactos e declarações antenupciais do empresário, o título
de doação, herança, ou legado, de bens clausulados de incomunicabilidade ou
inalienabilidade.
39
Questão 6
(FGV - 2019 - OAB - Exame de Ordem Unificado XXIX - Primeira Fase) Luzia Betim
pretende iniciar uma sociedade empresária em nome próprio. Para tanto, procura assessoria
jurídica quanto à necessidade de inscrição no Registro Empresarial para regularidade de
exercício da empresa.Na condição de consultor(a), você responderá que a inscrição do
empresário individual é
A) dispensada até o primeiro ano de início da atividade, sendo obrigatória a partir de então.
B) obrigatória antes do início da atividade.
C) dispensada, caso haja opção pelo enquadramento como microempreendedor individual.
D) obrigatória, se não houver enquadramento como microempresa ou empresa de pequeno
porte.
Comentário:
Questão 7
Comentário:
40
individual, como na firma social, só poderá ser utilizado o nome daqueles que são realmente
sócios, ou daquele que realmente é o empresário. O nome tem que ser verdadeiro. O nome
empresarial também deve ser atual, de modo que o nome de sócio que vier a falecer, for
excluído ou se retirar, não pode ser conservado na firma social (art. 1.165, CC).
Questão 8
(CESPE – TJ-PR/2017) Para instituir sucursal em lugar sujeito à competência de outro registro
público de empresas mercantis, bastará ao empresário averbar a constituição do
estabelecimento secundário no registro público de empresas mercantis da respectiva sede.
Comentário:
Art. 969, CC. O empresário que instituir sucursal, filial ou agência, em lugar sujeito à
jurisdição de outro Registro Público de Empresas Mercantis, neste deverá também
inscrevê-la, com a prova da inscrição originária.
Parágrafo único. Em qualquer caso, a constituição do estabelecimento secundário
deverá ser averbada no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede.
Questão 9
41
IV. Através do registro público, é possível proceder à matrícula dos agentes auxiliares do
comércio, bem como ao seu cancelamento.
Verifica-se que estão corretas
A) I e II, apenas.
B) I e III, apenas.
C) II e IV, apenas.
D) III e IV, apenas.
E) I, II, III e IV.
Comentário:
Todas as alternativas podem ser analisadas com base no texto do art. 980-A do Código
Civil de 2002, sendo verdadeira apenas a letra B:
Lei 8.934/94
Questão 10
(CESPE – AGU – Advogado da União – 2015) Acerca dos impedimentos, direitos e deveres
do empresário, julgue o item que se segue de acordo com a legislação vigente. Os livros
mercantis são equiparados a documento público para fins penais, sendo tipificada como crime
a falsificação, no todo ou em parte, de escrituração comercial.
Comentário:
42
Código Penal
Questão 11
(CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-SE Prova: CESPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia)
A respeito das condições para o exercício de atividade comercial, julgue o item subsequente.
Condenado por crime falimentar não pode se registrar na junta comercial como empresário
individual, mas pode figurar como sócio de responsabilidade limitada, desde que sem poderes
de gerência ou administração.
( ) Certo
( ) Errado
Comentário:
Certo - "O Código Civil de 2002 não trouxe nenhum dispositivo normativo semelhante ao art.
2.º do Código Comercial de 1850, que arrolava diversos casos de impedimento legal ao
exercício do comércio. Pode-se mencionar apenas o art. 1.011, § 1.º, do Código Civil, o qual
prevê que “não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os
condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por
crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a
economia popular, contra o sistemafinanceiro nacional, contra as normas de defesa da
concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto
perdurarem os efeitos da condenação”. Não obstante o dispositivo se referir aos
administradores de sociedades, há autores que estendem esses impedimentos aos
empresários individuais." "É preciso atentar para o fato de que
43
a proibição é para o exercício de empresa, não sendo vedado, pois, que alguns impedidos
sejam sócios de sociedades empresárias, uma vez que, nesse caso, quem exerce a atividade
empresarial é a própria pessoa jurídica, e não seus sócios. Em suma: os impedimentos se
dirigem aos empresários individuais, e não aos sócios de sociedades empresárias. Nesse
sentido, pode-se afirmar então que os impedidos não podem se registrar na Junta Comercial
como empresários individuais (pessoas físicas que exercem atividade empresarial),
não significando, em princípio, que eles não possam participar de uma sociedade empresária
como quotistas ou acionistas, por exemplo. No entanto, a possibilidade de os impedidos
participarem de sociedades empresárias não é absoluta, somente podendo ocorrer se forem
sócios de responsabilidade limitada e, ainda assim, se não exercerem funções de gerência ou
administração."André Luiz Santa Cruz Ramos, livro Direito Empresarial (2017).
Questão 12
A respeito das condições para o exercício de atividade comercial, julgue o item subsequente.
( ) Certo
( ) Errado
Comentário:
Certo -Incapacidade superveniente: o incapaz não pode, tão somente, iniciar a atividade. O
Código Civil, em seu art. 974, autoriza o incapaz a continuar com a atividade já existente. O
que se busca com esse dispositivo é a preservação da empresa, não a proteção do incapaz.
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GABARITO
Questão 1 - D
Questão 2 -Correta
Questão 3 -C
Questão 4 -B
Questão 5 -B
Questão 6 -B
Questão 7 -Correta
Questão 8 -Errada
Questão 9 -E
Questão 10 -Correta
Questão 11 - Certo
Questão 12 -Certo
45
QUESTÃO DESAFIO
Como é feito o cálculo que resulta na receita bruta anual para fins
de enquadramento de uma sociedade como microempresa e de
empresa de pequeno porte?
Máximo de 5 linhas
46
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO
Sobre a forma de calcular tais valores, o autor André Santa Cruz afirma (CRUZ, André Santa.
Direito Empresarial. 8. ed. São Paulo: Método, 2018. p. 1450-1450.): “Destaque-se ainda que o
cálculo da receita bruta anual, para efeito de enquadramento, é obtido com “o produto da
venda de bens e serviços nas operações de conta própria, o preço dos serviços prestados e o
resultado nas operações em conta alheia, não incluídas as vendas canceladas e os descontos
incondicionais concedidos” (art. 3.º, § 1.º). Também nesse sentido dispunha a legislação
antecedente.”.
Sobre a Lei Complementar 123/2006, o autor André Santa Cruz comenta (CRUZ, André Santa.
Direito Empresarial. 8. ed. São Paulo: Método, 2018. p. 1447-1447.): Conforme já destacamos,
obedecendo ao disposto nos arts. 179 e 146, III, d, da Constituição da República foi editada a
Lei Complementar 123/2006, que estabeleceu normas gerais relativas ao tratamento
diferenciado e favorecido a ser dispensado às microempresas e empresas de pequeno porte
no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
47
especialmente no que se refere, conforme o seu art. 1.º: “I – à apuração e recolhimento dos
impostos e contribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
mediante regime único de arrecadação, inclusive obrigações acessórias; II – ao cumprimento
de obrigações trabalhistas e previdenciárias, inclusive obrigações acessórias; III – ao acesso a
crédito e ao mercado, inclusive quanto à preferência nas aquisições de bens e serviços pelos
Poderes Públicos, à tecnologia, ao associativismo e às regras de inclusão; IV – ao cadastro
nacional único de contribuintes a que se refere o inciso IV do parágrafo único do art. 146, in
fine, da Constituição Federal”.
O §1º do art. 3 da referida Lei Complementar explica como deve ser feito a o cálculo para
chegar no valor da receita bruta anual, utilizado como parâmetro para enquadramento como
microempresa e de empresa de pequeno porte.
48
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Empresário
Enunciado 1, CJF
Decisão judicial que considera ser o nome empresarial violador do direito de marcanão implica a anulação do
respectivo registro no órgão próprio nem lhe retira os efeitos,preservado o direito de o empresário alterá-lo.
Enunciado 2, CJF
A vedação de registro de marca que reproduza ou imite elemento característico ou diferenciador de nome
empresarial de terceiros, suscetível de causar confusão ou associação (art. 124, V, da Lei n. 9.279/1996), deve ser
interpretada restritivamente e em consonância com o art. 1.166 do Código Civil
A pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada no domicílio da agência, ou estabelecimento, em que
se praticou o ato.
Estão sujeitos à fiscalização tributária ou previdenciária quaisquer livros comerciais, limitado o exame aos pontos
objeto da investigação.
O exame de livros comerciais, em ação judicial, fica limitado as transações entre os litigantes.
49
JURISPRUDÊNCIA
Registro Empresarial
STJ. CC 119.576-BA, Terceira Seção, DJe 21.6.2012; CC 81.261-BA, Terceira Secão, DJe 16.3.2009.
CC 130.516-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/2/2014.
Compete à Justiça Estadual processar e julgar a suposta prática de delito de falsidade ideológica praticado contra
Junta Comercial. O art. 6º da Lei 8.934/1994 prescreve que as Juntas Comerciais subordinam-se
sedimentou o entendimento de que, para se firmar a competência para processamento de demandas que
envolvem Junta Comercial de um estado, é necessário verificar a existência de ofensa direta a bens, serviços ou
interesses da União, conforme determina o art. 109, IV, da CF. Caso não ocorra essa ofensa, como na hipótese
em análise, deve-se reconhecer a competência da Justiça Estadual.
STJ. REsp 1.393.724/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. p/ Acórdão Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, Segunda Seção, j. 28.10.2015, DJe 04.12.2015.
Exigência, por Junta Comercial, de certidões negativas tributárias como condição para o arquivamento de ato de
transformação de sociedade simples em sociedade empresária. Antinomia jurídica entre a Lei 8.934/94, ao
regular o registro público de empresas mercantis e atividades afins, e leis tributárias específicas
anteriores.Possibilidade de aplicação do critério cronológico ou do critério da especialidade, caracterizando um
conflito qualificado como “antinomia de segundo grau”. Prevalência excepcional do critério cronológico.
Precedente da Terceira Turma. 5. Derrogação tácita dos dispositivos de leis tributárias anteriores que
condicionavam o ato de arquivamento na Junta Comercial à apresentação de certidão negativa de débitos. 6.
Interpretação condizente com o princípio constitucional da livre-iniciativa.
STJ. REsp 1.103.009/RS, Rel. Min. Luiz Fux, 1.ª Seção, j. 09.12.2009, DJe 01.02.2010
A inscrição e modificação dos dados no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ devem ser garantidas a
todas as empresas legalmente constituídas, mediante o arquivamento de seus estatutos e suas alterações na
Junta Comercial Estadual, sem a imposição de restrições infralegais, que obstaculizem o exercício da livre-
iniciativa e desenvolvimento pleno de suas atividades econômicas. A Lei n.º 5.614/70, que versa sobre o cadastro
50
federal de contribuintes, outorgou ao Ministro da Fazenda o dever de regular o instrumento de registro, para
dotar o sistema de normas procedimentais para viabilizar a inscrição e atualização dos dados, sem permitir que
imposições limitadoras da livre-iniciativa restassem veiculadas sob o jugo da mencionada lei. As turmas da
Primeira Seção desta Corte já assentaram que é ilegítima a criação de empecilhos, mediante norma infralegal,
para a inscrição e alteração dos dados cadastrais no CNPJ. Precedentes: REsp. 760.320/RS, DJU 01.02.07; REsp.
662.972/RS, DJU 05.10.06; REsp. 411.949/PR, DJU 14.08.06; REsp. 529.311/RS, DJU 13.10.03 e; RMS 8.880/CE, DJU
08.02.00. 4. Conforme cediço, “o sócio de empresa que está inadimplente não pode servir de empecilho para a
inscrição de nova empresa pelo só motivo de nele figurar o remisso como integrante”
STJ. REsp 678.405/RJ, 3.ª Turma, Rel. Min. Castro Filho, j. 16.03.2006, DJ 10.04.2006.
A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça tem decidido pela competência da Justiça Federal, nos
processos em que figuram como parte a Junta Comercial do Estado, somente nos casos em que se discute a
lisura do ato praticado pelo órgão, bem como nos mandados de segurança impetrados contra seu presidente,
por aplicação do artigo 109, VIII, da Constituição Federal, em razão de sua atuação delegada. 2. Em casos em que
particulares litigam acerca de registros de alterações societárias perante a Junta Comercial, esta Corte vem
reconhecendo a competência da justiça comum estadual, posto que uma eventual decisão judicial de anulação
dos registros societários, almejada pelos sócios litigantes, produziria apenas efeitos secundários para a Junta
Comercial do Estado, fato que obviamente não revela questão afeta à validade do ato administrativo e que,
portanto, afastaria o interesse da Administração e, consequentemente, a competência da Justiça Federal para
julgamento da causa.
STJ. REsp 1.743.088-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 12/03/2019, DJe
22/03/2019
O registro do título translativo no Cartório Registro de Imóveis, como condição imprescindível à transferência de
propriedade de bem imóvel entre vivos, propugnada pela lei civil, não se confunde, tampouco pode ser
substituído para esse efeito, pelo registro do contrato social na Junta Comercial.A questão controvertida está em
saber se a constituição de sociedade empresarial, registrada em Junta Comercial, com a estipulação de
integralização do capital social por meio de imóveis, indicados pelo sócio, é suficiente para operar a transferência
da propriedade. Assinala-se, inicialmente, que o estabelecimento do capital social — assim compreendido como
os recursos a serem expendidos pelos sócios para a formação do primeiro patrimônio social, necessários para a
constituição da sociedade —, e o modo pelo qual se dará a sua integralização, consubstanciam elementos
essenciais à confecção do contrato social (art. 997, III e IV, do Código Civil). A integralização do capital social da
empresa, ademais, pode se dar por meio da realização de dinheiro ou bens — móveis ou imóveis —, havendo de
translativo no Registro de Imóveis. Nesse sentido, já se pode antever que o registro do título translativo no
Registro de Imóveis, como condição imprescindível à transferência de propriedade de bem imóvel entre vivos,
51
propugnada pela lei civil, não se confunde, tampouco pode ser substituído para esse efeito, pelo registro do
contrato social na Junta Comercial. De fato, a inscrição do contrato social no Registro Público de Empresas
Mercantis, a cargo das Juntas Comercias, destina-se, primordialmente, à constituição formal da sociedade
empresarial, conferindo-se-lhe personalidade jurídica própria, absolutamente distinta dos sócios dela integrantes.
Explicitado, nesses termos, as finalidades dos registros em comento, pode-se concluir que o contrato social, que
estabelece a integralização do capital social por meio de imóvel indicado pelo sócio, devidamente inscrito no
Registro Público de Empresas Mercantis, não promove a incorporação do bem à sociedade; constitui, sim, título
translativo hábil para proceder à transferência da propriedade, mediante registro, perante o Cartório de Registro
de Imóveis em que se encontra registrada a matrícula do imóvel. Portanto, enquanto não operado o registro do
título translativo — no caso, o contrato social registrado perante a Junta Comercial — no Cartório de Registro de
STJ. REsp 1.393.724-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 28/10/2015, DJe 4/12/2015.
sociedade civil em empresária, não é exigível a apresentação de certidões negativas de débitos com o FGTS e
com a União, exigindo-se, contudo, certidão negativa de débito com o INSS. Realmente, o Decreto-Lei n.
1.715/1979 e a Lei n. 8.036/1990 exigem, para o registro e o arquivamento de alteração contratual como a aqui
analisada, a apresentação de certidões negativas de débitos com o FGTS e com a União. Ocorre que a Lei n.
8.934/1994 - que entrou em vigor posteriormente a esses mencionados diplomas normativos - estabeleceu, no
parágrafo único do seu art. 37, que, para instruir os pedidos de arquivamento, além dos referidos nesse artigo
(dentre os quais não constam certidões negativas de débitos com o FGTS ou com a União), "nenhum outro
documento será exigido das firmas individuais e sociedades referidas nas alíneas a, b e d do inciso II do art. 32".
Nesse contexto, a Terceira Turma, no REsp 1.290.954-SC (DJe 25/2/2014), firmou entendimento no sentido de que
Lei n. 8.934/1994 derrogou os dispositivos de leis anteriores que estabeleciam outras exigências para o
arquivamento de atos societários nas Juntas Comerciais. No referido julgado, confrontou-se a Lei n. 8.934/1994
com as leis tributárias anteriores, identificando-se uma antinomia de segundo grau, em que há conflito entre os
critérios cronológico e da especialidade. Concluiu-se, então, que há de prevalecer o critério cronológico, pois o
enunciado normativo "nenhum outro documento será exigido", contido na Lei n. 8.934/1994, tem conteúdo
nitidamente derrogatório, excluindo a possibilidade de subsistirem leis anteriores em sentido contrário. Portanto,
não mais subsistem as exigências de certidões negativas de débitos com o FGTS e com a União, porque previstas
em leis anteriores (Decreto-Lei n. 1.715/1979 e Lei n. 8.036/1990). Prevalece, apenas, a exigência de certidão
negativa do INSS, pois inserida na Lei n. 8.212/1991 por força da Lei n. 9.032/1995, que é posterior à Lei n.
8.934/1994. Além disso, cabe ressaltar que, de fato, o parágrafo único do art. 34 do Decreto n. 1.800/1996 afirma
que, obrigatoriamente, para instruir os pedidos de arquivamento, "Nenhum outro documento, além dos referidos
neste Regulamento, será exigido das firmas mercantis individuais e sociedades mercantis, salvo expressa
determinação legal, reputando-se como verdadeiras, até prova em contrário, as declarações feitas perante os
52
órgãos do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins". Percebe-se, desse modo, que o Decreto
foi bastante claro, diversamente da lei, quanto à possibilidade de se exigirem outros documentos por
determinação legal. Deve-se indagar, entretanto, se o Decreto extrapolou as balizas da Lei. Ademais, uma
interpretação sistemática dos arts. 32 da Lei n. 8.934/1994 e 11 da LC n. 123/2006 poderia conduzir ao
entendimento de que não teria havido derrogação de dispositivos de leis anteriores à Lei n. 8.934/1994. Todavia,
o entendimento do aludido REsp 1.290.954-SC, da Terceira Turma do STJ, deve ser reafirmado. Isso porque a
interpretação da lei deve privilegiar o sentido que mais se harmoniza com os princípios constitucionais, pois estes
se encontram no vértice da pirâmide normativa, de onde emanam normas fundamentais que se irradiam por
todo ordenamento jurídico, alcançando inclusive as relações jurídicas de direito privado. Com esse entendimento,
a interpretação do caso em análise deve ser conduzida pelos princípios fundamentais da ordem econômica,
especialmente o da livre iniciativa, previsto no art. 170 da CF. Sob a ótica da livre iniciativa, o Estado deve
respeitar a autonomia de vontade dos sócios de uma sociedade, não podendo impedir que estes criem,
modifiquem ou extingam sociedades empresárias, salvo nos casos expressamente previstos em lei. A regra no
direito brasileiro, portanto, é a livre iniciativa e a autonomia da vontade dos sócios, sendo exceção a interferência
estatal. Nesse passo, verifica-se que a norma do art. 37 da Lei n. 8.934/1994, ao impor exigências para a
concretização da vontade dos sócios, apresenta natureza excepcional num sistema jurídico regido pela livre
iniciativa, devendo, pois, receber interpretação restritiva. Desse modo, o trecho "nenhum outro documento será
exigido" (art. 37, parágrafo único, da Lei n. 8.934/1994) não pode receber interpretação extensiva, para que se
admitam outras restrições à autonomia de vontade dos sócios, previstas em leis anteriores. De mais a mais,
ressalte-se que, além de a dispensa de certidões negativas não alterar em nada o crédito tributário - que
permanece ativo, podendo ser redirecionado contra a nova sociedade (que surgiu por transformação da
sociedade simples em sociedade empresária), conforme o disposto no art. 132 do CTN -, a Fazenda, nos casos
excepcionais em que a transformação societária seja implementada com o objetivo deliberado de frustrar a
satisfação do crédito tributário, poderá se valer da desconsideração da personalidade jurídica ou da cautelar fiscal
para proteger seus interesses.
Nome Empresarial
STJ. REsp 1.804.960-SP, Rel. Min. MouraRibeiro, Terceira Turma, pormaioria, julgadoem
24/09/2019, DJe 02/10/2019
O registro de uma expressão como marca, ainda que de alto renome, não afasta a possibilidade de utilizá-la no
nome de um empreendimento imobiliário.A marca é um sinal distintivo que tem por funções principais identificar
a origem e distinguir produtos ou serviços de outros idênticos, semelhantes ou afins. Os nomes atribuídos aos
edifícios e empreendimentos imobiliários não gozam de exclusividade, sendo comum receberem idêntica
denominação. Estes nomes, portanto, não qualificam produtos ou serviços, apenas conferem uma denominação
para o fim de individualizar o bem, sendo assim de livre atribuição pelos seus titulares e não requer criatividade
ou capacidade inventiva. Dessa forma, o registro de uma expressão como marca, ainda que de alto renome, não
53
afasta a possibilidade de utilizá-la no nome de um edifício. A exclusividade conferida pelo direito marcário se
limita às atividades empresariais, sem atingir os atos da vida civil.
STJ. REsp 1.420.396-PR, Rel. Min. Sérgio Kukina, por unanimidade, julgado em 19/09/2017, DJe
29/09/2017
A controvérsia jurídica está em definir se os Conselhos Regionais de Contabilidade, no exercício de seu poder de
polícia, detêm ou não a prerrogativa de fiscalizar a atuação de seus associados, sobretudo mediante o exame dos
livros e documentos contábeis de sua clientela, bem assim, se tal agir configuraria violação à garantia da
privacidade e do sigilo profissional. Conforme se depreende do art. 1.190 do Código Civil, apenas nos casos
previstos em lei poderá a autoridade, juiz ou tribunal requisitar livros e fichas contábeis do empresário ou
sociedade empresária para verificar a observância das formalidades legais. Na hipótese, o Presidente do Conselho
Regional de Contabilidade, autoridade administrativa que é, possui ostensivo respaldo em lei para o exercício da
atividade fiscalizatória sob crítica. De fato, tal licença fiscalizatória advém do Decreto-Lei n. 9.295/46, que criou o
Conselho Federal de Contabilidade e os Conselhos Regionais de Contabilidade. Já no art. 2º desse diploma vem
assinalado que "A fiscalização do exercício da profissão contábil, assim entendendo-se os profissionais habilitados
como contadores e técnicos em contabilidade, será exercida pelo Conselho Federal de Contabilidade e pelos
Conselhos Regionais de Contabilidade a que se refere o art. 1º". No mesmo diapasão, seu art. 10, letra "c",
preconiza ser atribuição dos Conselhos Regionais "fiscalizar o exercício das profissões de contador e guarda-
livros, impedindo e punindo as infrações, e bem assim, enviando às autoridades competentes minuciosos e
documentados relatórios sobre fatos que apurem, e cuja solução ou repressão não seja de sua alçada". Dessa
forma, como de fato existe previsão legal específica para o exercício fiscalizatório pelos Conselhos de
Contabilidade, pode-se concluir que a salvaguarda empresarial prevista no reportado art. 1.190 do Código Civil
está sendo respeitada. Por fim, assevera-se que a fiscalização exercida tem por foco central verificar, não o mérito
em si, mas os aspectos relacionados à forma, ou seja, atestar se o profissional da contabilidade, na sua rotina de
trabalho, observa as normas técnicas concernentes à atividade contábil. Sendo esse o propósito primeiro da
fiscalização desenvolvida pela entidade classista, não se antevê afronta à privacidade e ao sigilo profissional dos
escritórios fiscalizados e da escrituração contábil de seus clientes.
STJ. REsp 1184867/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
15/05/2014, DJe 06/06/2014
Junta Comercial do Estado não lhe confere proteção, em âmbito nacional, em face de marca ulteriormente
registrada no INPI. Para que a reprodução ou imitação de nome empresarial de terceiro constitua óbice a registro
de marca, à luz do princípio da territorialidade, faz-se necessário que a proteção ao nome empresarial não goze
de tutela restrita a um Estado, mas detenha a exclusividade sobre o uso em todo o território nacional. Porém, é
incontroverso da moldura fática que o registro dos atos constitutivos da autora foi feito apenas na Junta
Comercial de Blumenau/SC. A Convenção da União de Paris de 1883 - CUP deu origem ao sistema internacional
de propriedade industrial com o objetivo de harmonizar o sistema protetivo relativo ao tema nos países
54
signatários, do qual faz parte o Brasil (). É verdade que o art. 8º da dita Convenção estabelece que "O nome
comercial será protegido em todos os países da União, sem obrigação de depósito ou de registro, quer faça ou
não parte de uma marca de fábrica ou de comércio." Não obstante, o escopo desse dispositivo é assegurar a
proteção do nome empresarial de determinada sociedade em país diverso do de sua origem, que seja signatário
da CUP, e não em seu país natal, onde deve-se atentar às leis locais. O artigo 124, XIX, da Lei da Propriedade
Industrial veda o registro de marca que reproduza outra preexistente, ainda que em parte e com acréscimo
"suscetível de causar confusão ou associação com marca alheia". Sob o enfoque pelo ângulo do direito marcário,
a possibilidade de confusão e/ou associação entre as marcas é notória, por possuírem identidade fonética e
escrita quanto ao elemento nominativo e ambas se destinarem ao segmento mercadológico médico. Assim, é
inviável admitir a coexistência de tais marcas. Logo, a simples preexistência do registro do nome empresarial em
Junta Comercial do Estado não lhe confere proteção, em âmbito nacional, em face de marca ulteriormente
registrada no INPI
55
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2019.
FAZZIO JUNIOR, WALDO. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2019.
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora
JusPodivm, 2019.
PENANTE JR, Francisco. LAURINDO, Felipe. Prática empresarial. Recife: Armador, 2019.
56
Capítulo 3
SUMÁRIO
3. Da Sociedade ............................................................................................................................................................. 2
QUESTÕES .......................................................................................................................................................................... 46
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 71
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................................................. 75
1
DIREITO EMPRESARIAL
Capítulo 3
Neste capítulo, futuro Delta, estudaremos o Direito Societário. Aqui é importante dar
mais ênfase na classificação, nas características e distinções das sociedades. Leitura da lei seca
é ponto crucial nesse assunto, portanto, fique ligado no regramento do CC/02.
3. Da Sociedade
3.1 Disposições Gerais
As sociedades são pessoas jurídicas de direito privado, nos termos do art. 44, II, do
Código Civil. Dependendo do seu objeto, podem ser simples, quando tem por fim o exercício
de atividade civil, ou empresária, quando se destinam ao desenvolvimento de atividade
empresarial.
A diferença entre sociedade simples e empresária está no modo de exploração de seu
objeto social. Se essa exploração for feita mediante a organização dos fatores de produção
(capital, insumos, mão-de-obra e tecnologia), nos moldes do art. 966 do Código Civil, será
empresária. Se feita sem essa organização, será considerada simples. Os serviços antes
estavam ligados à sociedade civil, que não se sujeitava à falência; atualmente, como os
serviços também são prestados por sociedades empresárias, é cabível a falência.
Contudo, é importante observar, desde já, que as regras das sociedades simples são
aplicadas subsidiariamente às normas que regem as sociedades empresárias. Logo, sempre
que ausente disposição normativa sobre estas, aplicar-se-ão os preceitos que regem aquelas,
contanto que compatíveis com o regime jurídico empresarial.
Conforme art. 981 do Código Civil, celebram contrato de sociedade as pessoas que
reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de
atividade econômica e a partilhados resultados entre si.
2
As pessoas que compõem a sociedade, em regra, podem ser físicas ou jurídicas, elas
podem contribuir com bens ou serviços e a atividade a ser desenvolvida pode estar restrita à
realização de um ou mais negócios (art. 981, parágrafo único, CC/02).
3
3.4 Da sociedade em conta de participação
Ainda que registrada, permanece se personalidade jurídica. Diante de sua natureza
secreta, nunca possuirá nome empresarial. Aplicam-se subsidiariamente as regras das
sociedades simples.
Sócio ostensivoaporta capital e administra. O Sócio participantesomente aporta
capital, permanecendo oculto. Responderão frente a terceiros apenas os sócios ostensivos,
respondendo os sócios participantes se praticarem ato de gestão.
A sociedade em conta de participação não pode ser declarada falida, sem embargo, os
sócios ostensivos e participantes podem falir.
De personificada que é, a sociedade em conta de participação não possui autonomia
patrimonial. Interessante notar que, ainda que conte com um ato constitutivo e este seja
levado a registro, ainda assim não irá contar com personalidade jurídica. O registro da
sociedade em conta de participação terá o condão de, unicamente, formalizar a sua
constituição e dirimir eventuais dúvidas em relação ao conteúdo da convenção social.
Ademais, a existência de um contrato social da sociedade em conta de participação
produzirá efeitos unicamente entre os seus signatários.
4
porque, considerando não estarem dotadas de personalidade jurídica, as sociedades em conta
de participação não podem assumir obrigações em nome próprio, exercendo unicamente o
sócio ostensivo (em seu nome individual), a atividade constitutiva do objeto social,
respondendo direta e ilimitadamente pelas obrigações sociais (apenas os sócios ostensivos
podem exercer a atividade constitutiva do objeto social). Sem embargo, se porventura houver
participação conjunta de sócios ostensivos e participantes na celebração de negócios, todos
serão solidariamente responsáveis perante o terceiro com quem efetivaram contrato em nome
da sociedade.
Ainda que investido de poder para condução da sociedade, ao sócio ostensivo é
vedado admitir novo sócio sem o consentimento expresso dos demais, salvo disposição em
contrário.
Enquanto a sua liquidação, rege-se sociedade em conta de participação pelas normas
relativas à prestação de contas.
No que concerne à falência, cumpre destacar que, uma vez decretada a falência de
sócio ostensivo, haverá a dissolução da sociedade e a liquidação da respectiva conta, cujo
saldo constituirá crédito quirografário. Por outro lado, na hipótese de falência de sócio
participante, o contrato social ficará sujeito às normas que regulem os efeitos da falência nos
contratos bilaterais do falido.
A sociedade em conta de participação, ainda que tenha seu ato constitutivo levado a registro,
não terá personalidade jurídica(art. 993 do Código Civil).
5
há o acordo de vontades, mas a personalidade jurídica é adquirida apenas com o registro dos
atos constitutivos da sociedade no respectivo órgão.
Como supedâneo da personalidade jurídica que possuem, à sociedade são atribuídas as
autonomiasnegociais (capacidade da sociedade para, em nome próprio, celebrar os negócios
jurídicos necessários ao desenvolvimento de seu objeto social), processual(capacidade da
sociedade para, em nome próprio, defender seus interesses em juízo) e patrimonial
(capacidade da sociedade para, em nome próprio, ser titular de patrimônio. Permite a
separação entre o patrimônio da sociedade e o patrimônio pessoal dos sócios).
A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de empresário rural e
seja constituída, ou transformada, de acordo com um dos tipos de sociedade empresária,
pode, preenchidos os requisitos legais, requerer a inscrição na Junta Comercial. Depois de
inscrita, a sociedade será equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária. Se a
sociedade em comento já estiver constituída, o pedido de registro estará subordinado às
regras de transformação (art. 984 do CC/02). Nesse sentido, importante frisar que esse registro
é facultativo; uma vez feito, equipara-se a sociedade a sociedade empresária para fins legais.
A sociedade em nome coletivo é regida de forma direta pelo Código Civil (art. 1.039 ao
1.044), aplicando-se subsidiariamente as normas da sociedade simples (art. 997 ao 1.038).
Trata-se de sociedade de pessoas.
A sociedade em análise é personificada e formada exclusivamente por pessoas físicas,
tendo como ato constitutivo um contrato social.
Todos os sócios respondem de forma solidária e ilimitada pelas obrigações sociais.
Sem prejudicar a responsabilidade perante terceiros, os sócios podem, no ato constitutivo ou
por convenção posterior unânime, limitar entre si a responsabilidade cada um (art. 1.039 do
6
CC/02). Essa possibilidade de limitar a responsabilidade por disposição contratual só produz
efeitos entre os sócios.
Em razão da inconteste existência de responsabilidade ilimitada dos sócios, o Código
Civil estabelece que o credor particular de sócio não pode, antes de dissolver-se a sociedade,
pretender a liquidação de quota do devedor. O Diploma salienta que o credor particular só
poderá fazê-lo quando a sociedade tiver sido prorrogada tacitamente e quando, diante de
prorrogação contratual, haja acolhimento judicial da oposição do credor, que deve ser
levantada no prazo de noventa dias contado da publicação do ato dilatório (art. 1.043 do
CC/02).
A administração da sociedade em nome coletivo pode ser exercida apenas por quem
for sócio.
No caso de falecimento de sócio, se o contrato social da sociedade não dispuser a
respeito, opera-se a liquidação das quotas do de cujus. Para que os sucessores do sócio
falecido possam ingressar na sociedade, ainda que contra a vontade dos sobreviventes, será
indispensável expressa previsão no contrato social.
A sociedade em comandita simples é regida pelo Código Civil (art. 1.045 ao 1.051),
aplicando-se subsidiariamente as normas da sociedade em nome coletivo (1.039 ao 1.044).
Também consubstancia sociedade de pessoas.
Trata-se de uma sociedade personificada, que tem como ato constitutivo um contrato
social, sendo formada por duas classes de sócios: a dos sócios comanditados(que
respondem ilimitadamente pelas obrigações sociais) e a dos sócios comanditários(que
respondem limitadamente pelas obrigações sociais).
Os sócios comanditadosdevem ser pessoas físicas, entrando com trabalho e capital,
assumindo a administração da sociedadee, portanto, respondendo de forma ilimitada pelas
obrigações sociais. Os sócios comanditários, por sua vez, podem ser pessoas físicas ou
jurídicas, não exercendo função de administração e, portanto, respondendo apenas pela
integralização das quotas adquiridas (ou seja, de forma limitada).
7
Apenas os sócios comanditados podem ser administradores das sociedades em
comandita simples. Não obstante, os sócios comanditários poderão receber poderes especiais
por meio de procuração para a realização de negócios determinados.
Conta com o benefício de ordem (art. 1.024, CC), respondendo em primeira mão, o
patrimônio social. Caso este não seja suficiente para satisfazer as obrigações assumidas,
poderá ser acionado o patrimônio pessoal dos sócios comanditários, de forma ilimitada. Os
sócios comanditários são responsáveis apenas pelo valor das suas quotas.
Da mesma forma que os sócios comanditados, os sócios comanditários têm o direito de
participar da distribuição dos lucros da sociedade, na medida de suas respectivas quotas. Têm,
ainda, o direito de participar das deliberações da sociedade, assim como o direito de fiscalizar
a sua administração.
No caso de falecimento de um sócio comanditado, dar-se-á a dissolução parcial da
sociedade, salvo previsão no contrato social que autorize o ingresso de sucessores. No caso
de falecimento de um sócio comanditário, em princípio, não haverá dissolução (art. 1.050, CC).
A sociedade em comandita por ações é regida pela Lei 6.404/76 (art. 280 a art. 284) e
pelos arts. 1.090 a 1.092 do Código Civil.
Trata-se de uma sociedade empresária personificada, com capital social dividido em
ações. É uma sociedade de capital, sendo livre o ingresso de terceiros estranhos ao seu
quadro social. Portanto, há livre circulação de ações.
Tem como ato constitutivo um estatuto social, sendo formada por duas classes de
sócios. Os sócios diretoressão os que exercem cargo de administração, respondendo de
forma subsidiária (dado o benefício de ordem) e ilimitada pelas obrigações sociais, e os
sócios comuns, que não exercem cargo de administração e respondem de forma limitada
pelas obrigações sociais.
8
Somente sócio ou acionista podem ocupar cargo de administração nas sociedades em
comandita por ações. Os diretores serão nomeados no ato constitutivo da sociedade, sem
limitação de tempo, e somente poderão ser destituídos por deliberação dos acionistas que
representem no mínimo 2/3 do capital social. O diretor destituído ou exonerado continua,
durante dois anos, responsável pelas obrigações sociais contraídas sob sua administração.
Os acionistas, reunidos em Assembleia geral, nãopodem(mesmo com aprovação
assemblear), sem o consentimento dos diretores da sociedade, mudar o objeto social,
prorrogar o prazo de duração da sociedade, aumentar ou diminuir o capital social nem criar
debêntures ou partes beneficiárias.
Em que pese às sociedades em comandita por ações seguirem as disposições
concernentes às sociedades anônimas, a elas não se aplicam as regras sobre o Conselho de
Administração, a autorização estatutária de aumento de capital, e a emissão de bônus de
subscrição.
9
A Teoria Menor, adotada pelo art. 28 do Código de Defesa do Consumidor, pelo art. 4º
da Lei nº 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais) e pelo art. 34 da Lei nº 12.529/2011 (Lei de
Defesa da Concorrência e da Ordem Econômica), prevê que a desconsideração pode ocorrer
ainda que não haja abuso da personalidade jurídica, bastando a simples inexistência de
ativos.
A desconsideração da personalidade jurídica pode se dar por meio de pedido em
petição inicial ou por meio de incidente no processo. É cabível em todas as fases do processo
de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo
extrajudicial (art. 134 do CPC/15).
Fala-se, ainda, em situação inversa, que ocorre quando a pessoa física passa os seus
bens para a pessoa jurídica para se livrar de dívidas particulares, sendo possível desconsiderar
a personalidade da pessoa jurídica de forma inversa, para buscar os bens integrantes da
pessoa jurídica e quitar as dívidas da pessoa física. Antes, a desconsideração inversa se dava
por meio da interpretação teleológica do art. 50 do CC/02. No entanto, com o advento do
CPC/15, tal instituto reverenciado pelo art. 133, §2º, do CPC/15.
Após a publicação da Medida Provisória n.º 881, de 30 de abril de 2019, passaram a vigorar
novas regras referentes à desconsideração da personalidade jurídica, com alteração do art. 50
do CC e inserção de diversos parágrafos no dispositivo, sendo importante o conhecimento do
aluno acerca do tema. Destaque-se que o tema deverá ser submetido à análise do Congresso
Nacional, observadas as regras do art. 62 da CF/88.
10
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os
patrimônios, caracterizada por:
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador
ou vice-versa;
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto o de
valor proporcionalmente insignificante; e
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.
§ 3º O disposto no caput e nos § 1º e § 2º também se aplica à extensão das obrigações
de sócios ou de administradores à pessoa jurídica.
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata
o caput não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.
§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade
original da atividade econômica específica da pessoa jurídica.
11
Se essa exploração for feita com organização profissional dos fatores de produção, será
empresária, se não, será simples.
Sociedade limitada;
Sociedade anônima;
12
As sociedades podem ser contratuais ou estatutárias (também conhecidas como
institucionais). São contratuais as sociedades constituídas por contrato social, o qual se
caracteriza pela existência de um duplo vínculo (um vínculo dos sócios entre si e outro vínculo
dos sócios para com a sociedade). Seu capital social é dividido em quotas, sendo os titulares
denominados cotistas. São sociedades contratuais as sociedades em nome coletivo, em
comandita simples e limitada.
Há ainda sociedades nas quais parte dos sócios responde LIMITADAMENTE pelas obrigações
13
sociais e parte ILIMITADAMENTE (responsabilidade mista), nos casos das sociedades em
comandita.
Foco nos atributos pessoais dos sócios Foco na contribuição financeira dos sócios (Foco
no capital)
(Foco nas pessoas)
São sociedades de pessoas: N/C e C/S São sociedades de capital: C/A e S/A
14
A doutrina admite apenas a penhora dos direitos patrimoniais resultantes das quotas,
como lucros e haveres, mas não a transferência da cota em si.
Com a morte de um sócio, na sociedade de pessoas haverá a dissolução das quotas
correspondentes entre os sócios, no caso dos sócios sobreviventes não concordarem com o
ingresso do sucessor. Na sociedade de capital a sucessão ocorrerá normalmente,
independentemente da aquiescência dos demais sócios.
A sociedade limitada é um tipo societário híbrido, ou seja, poderá assumir tanto a
forma de sociedade de pessoas, como a de sociedade de capital, devendo tal opção estar
refletida no contrato social. Sem embargo, na ausência de cláusula contratual expressa
indicando tratar-se de uma sociedade de pessoas ou de capital, algumas cláusulas poderão
indicar se a LTDA assumiu uma ou outra forma. Na hipótese de silêncio do contrato sobre a
questão, a limitada deverá ser tratada como uma sociedade de pessoas, afinal, é da essência
das sociedades contratuais a condição de sociedade de pessoas.
Embora, como regra geral, o ingresso de terceiro estranho nas sociedades de pessoas
dependa de autorização unânime dos sócios, nas sociedades limitadas, diante da omissão do
contrato, poderá o sócio ceder sua quota a outro sócio sem a anuência dos demais ou a
terceiro estranho, se não houver oposição de titulares de mais de ¼ (ou seja, de mais de 25%)
do capital social (art. 1.057, caput do CC). 1
Embora contem com regime próprio (arts. 997-1.038, do Código Civil), as sociedades
simples podem adotar tipos societários empresários, exceto os tipos por ações (conforme
arts. 983 e 982, parágrafo único, do Código Civil).
As sociedades simples regidas por suas normas própriassão doutrinariamente
conhecidas como sociedades simples puras (sociedades simples), ao passo que aquelas que
optam por um dos tipos societários empresários possíveis(nome coletivo, em comandita
simples ou limitada), são nominadas sociedades simples impuras (ex. sociedade simples
1
FAZZIO JUNIOR, Waldo. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2017. p. 147.
15
limitada)e serão regidas pelas regras do tipo societário adotado, havendo a aplicação
subsidiária das normas da sociedade simples.2
Importante ressaltar que a adoção de um tipo societário empresário por uma
sociedade simples não a converte em sociedade empresária.
Os sócios devem contribuir para a formação do capital social, o qual corresponde ao
primeiro patrimônio da empresa, constituído pela somatória das integralizações feitas pelos
sócios com bens, direitos e serviços (incisos III a V do artigo 997).
Logo, nas sociedades simples pode haver a contribuição de sócio apenas a partir de
prestação de serviço. Neste caso, deverá o sócio dedicar-se exclusivamenteà atividade
exercida pela sociedade, não se empregando em outra, sob pena de ser privado de seus
lucros e dela excluído (art. 1.006 do CC/02).
Contudo, só há dois casos em que a integralização pode ser feita por prestação de
serviço: a) se constituída sob a forma de sociedade simples pura e; b) caso constituído como
sociedade cooperativa (Enunciado 206 do CJF).
Também é importante destacar que, “quando se tratar de sócio de serviço, não poderá
haver penhora das verbas descritas no art. 1.026, se de caráter alimentar” (Enunciado 389, CJF).
A verba será considerada alimentar quando os lucros retirados da sociedade se destinem à
sobrevivência do sócio e de sua família, o que faz com que tal rendimento se equipare a
salário, para fins de impenhorabilidade.
A subscrição da cota consiste no comprometimento em efetivar seu pagamento,
enquanto a integralização importa no próprio pagamento. A integralização pode ser feita em
dinheiro, crédito, bens (móveis e imóveis), transferência de crédito e, como já mencionado, em
prestação de serviços. A integralização por serviços só é permitida na sociedade simples e na
cooperativa. O sócio responde pela evicção de bem integralizado e pela insolvência do
devedor no caso de crédito transferido.
Vale ressaltar que inexiste obrigação de pagamento de Imposto sobre Transmissão de
Bens Imóveis (ITBI) no caso de transferência da propriedade de imóvel para a sociedade no
ato de integralização. Isso porque há uma imunidade especial prevista no texto da
Constituição da República:
2
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora
jus podivm, 2017. p. 80.
16
Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:
II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por
natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem
como cessão de direitos a sua aquisição;
§ 2º - O imposto previsto no inciso II:
I - não incide sobre a transmissão de bens ou direitos incorporados ao patrimônio
de pessoa jurídica em realização de capital, nem sobre a transmissão de bens ou
direitos decorrente de fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, salvo se,
nesses casos, a atividade preponderante do adquirente for a compra e venda desses
bens ou direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento mercantil;
Numa sociedade simples, o capital social é dividido em cotas que ostentam um duplo
aspecto:
Direito pessoal: garante o status de sócios, podendo votar, fiscalizar, ter direito de
É nula qualquer estipulação que exclua sócio de participar dos lucros e das perdas (art.
1.008 do CC/02). A participação nos lucros e nas perdas, salvo estipulado de modo diverso,
considera a proporção das quotas do respectivo sócio. Mas, aquele cuja contribuição consistir
em serviço, apenas participa dos lucros na proporção da média do valor das quotas (art. 1.007
do CC/02).
Qualquer sociedade, seja ela simples ou empresária, tem origem com o registro de seu
ato constitutivo (art. 45, CC). No entanto, o art. 998 do Código Civil, muito embora localizado,
topograficamente, no capítulo do diploma civilista que se destina a disciplinar as sociedades
simples, é plenamente aplicável às sociedades empresárias. Isso porque o registro, se realizado
dentro dos trinta dias seguintes à conclusão do ato constitutivo (contrato ou estatuto), surtirá
efeitos retroativos.
Art. 998. Nos trinta dias subsequentes à sua constituição, a sociedade deverá requerer a
inscrição do contrato social no Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua sede.
§ 1º O pedido de inscrição será acompanhado do instrumento autenticado do contrato,
e, se algum sócio nele houver sido representado por procurador, o da respectiva
17
procuração, bem como, se for o caso, da prova de autorização da autoridade
competente.
§ 2º Com todas as indicações enumeradas no artigo antecedente, será a inscrição
tomada por termo no livro de registro próprio, e obedecerá a número de ordem
contínua para todas as sociedades inscritas.
Todavia, por força do art. 36 da Lei 8.934/94, o órgão competente para o registro dos
atos constitutivos das sociedades empresárias é a Junta Comercial, e não o Oficial do Registro
Civil das Pessoas Jurídicas.
Outra norma que também se aplica às sociedades empresárias com as devidas
adaptações é o art. 997 do Código Civil, cujo texto dispõe que:
Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que,
além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:
I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas
naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;
II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;
III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer
espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária;
IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;
V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços;
VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e
atribuições;
VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;
VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais.
Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto separado, contrário ao
disposto no instrumento do contrato.
18
O inciso VIII do referido dispositivo também merece especial consideração, visto que, na
sociedade simples pura (sociedade simples), a responsabilidade dos sócios será sempre
subsidiária. Isso porque sua interpretação deve se dar à luz do art. 1.023 do Código Civil, cujo
texto dispõe que, “se os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respondem os sócios
pelo saldo, na proporção em que participem das perdas sociais, salvo cláusula de
responsabilidade solidária.”
Diante disso, forçoso é concluir que a responsabilidade dos sócios da sociedade simples
pura, por decorrer de lei – mais precisamente, do enunciado do artigo 1.023 do Código Civil –,
será sempre subsidiária, ilimitada e proporcional, salvo se os sócios da sociedade simples pura
desejarem agravar o regime deresponsabilidade e estabelecer a solidariedade.
Nesse sentido, o professor Alfredo Gonçalves Neto apresenta interessante raciocínio que
permite estende a compreensão do referido dispositivo legal:
(…) como já salientei nos comentários ao art. 977 (n. 115 supra), a regra de isenção de
responsabilidade solidária só será admissível quando o tipo societário adotado o
permitir. Ou seja, se os sócios da sociedade simples quiserem eliminar ou limitar sua
responsabilidade subsidiária pelas dívidas sociais, devem adotar o tipo que
comporte esse desiderato, submetendo, assim, a sociedade por eles avençada ao
respectivo regime jurídico(art. 983), isso a significar que o malsinado inciso VIII daquele
artigo não afeta o enunciado do art. 1.023, compatibilizando-se com ele, por admitir
cláusula de isenção quando: (i) A sociedade simples se revestir do tipo de sociedade
limitada (arts. 1.052 e 1.055, § 1º) (ii) se tratar de sociedade cooperativa que opte pela
limitação da responsabilidade dos sócios ao valor das quotas-partes (art. 1.095, § 1º); e
(iii) se tratar de sociedade em comandita simples, exclusivamente em relação ao sócio
comanditário.3
Enunciado 479, CJF. Art. 997, VII: Na sociedade simples pura (SIMPLES – SIMPLES) (art.
983, parte final, do CC/2002), a responsabilidade dos sócios depende de previsão
contratual. Em caso de omissão, será ilimitada e subsidiária, conforme o disposto nos
arts. 1.023 e 1.024 do CC/2002.
Enunciado 61, CJF. Art. 1.023: o termo “subsidiariamente” constante do inc. VIII do art.
997 do Código Civil deverá ser substituído por “solidariamente” a fim de compatibilizar
esse dispositivo com o art. 1.023 do mesmo Código
3
GONÇALVES NETO, Alfredo. Direito de Empresa – Comentários aos artigos 966 a 1.195 do Código Civil, 4.
Edição, p. 261
19
O ato constitutivo pode ser feito por instrumento público ou particular, mas, em
qualquer dos casos, as alterações contratuais ou estatutárias poderão ser efetivadas por mero
instrumento particular (art. 53 da Lei 8.934/94).
A sociedade limitada é regida diretamente pelo Código Civil (art. 1.052 – 1.087),
aplicando-se supletivamente as normas da sociedade simples (art. 997 – 1.038) ou, se o
contrato tiver previsão expressa, as disposições da Lei 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas),
conforme consta do art. 1.053, CC.
Trata-se de uma sociedade contratual personificada, podendo assumir a forma de
sociedade de pessoas ou de capital(natureza híbrida), circunstância que deverá ser aclarada
por seu contrato social.
A partir da publicação da Medida Provisória n.º 881, de 30 de abril de 2019, está em vigor
norma que permite a constituição da sociedade limitada por apenas uma pessoa, hipótese
em que se aplicarão ao documento de constituição do sócio único, no que couber, as
disposições sobre o contrato social, consoante dispõe o parágrafo único inserido no art. 1.052
do CC.
20
Na sociedade limitada, via de regra, apenas o patrimônio social responde pelas
dívidas da pessoa jurídica. O patrimônio dos sócios poderá ser atingido apenas nos casos de
desconsideração da personalidade jurídica e pela integralização do capital restante. Ainda,
deliberando de modo contrário ao disposto em lei ou no contrato, responderão de forma
ilimitada os sócios que a aprovaram (os sócios dissidentes ou ausentes, apenas vincular-se-ão
às decisões tomadas de acordo com a lei e o contrato social).
Cada sócio responde pelo capital que subscrever. Entretanto, haverá solidariedade entre os
sócios até o limite do capital total subscrito e não integralizado. Sendo assim, caso o total
subscrito já tenha sido integralizado, a princípio, o patrimônio pessoal dos sócios da
sociedade limitada não poderá ser alcançado.
O capital socialda sociedade limitada é dividido em quotas, iguais ou desiguais,
devendo todos os sócios contribuir para a sua formação com bens, dinheiro ou crédito, não
sendo admitida a contribuição que consista exclusivamente em prestação de serviços.
Havendo contribuição com bens, será necessária uma avaliação dos sócios ou de
terceiros, para que possam ser valorados. Nesse caso, pela exata estimação atribuída aos bens
entregues para a formação do capital social, responderão solidariamente todos os sócios, pelo
prazo de 5 anos, a contar da data do registro da sociedade.
Como os sócios respondem solidariamente pela integralização do capital social, não
integralizada a quota por um sócio (sócio remisso), os outros podem, sem prejuízo da
responsabilização pelo dano emergente da mora e da possibilidade de optar a maioria dos
demais sócios pela redução da quota ao montante integralizado, tomá-la para si ou transferi-
la a terceiros, excluindo o primitivo titular e devolvendo-lhe o que houver pago, deduzidos os
juros da mora, as prestações estabelecidas no contrato mais as despesas.
A quota é indivisível em relação à sociedade, salvo para efeito de transferência, quando,
sendo omisso o contrato social, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem
seja sócio, independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver
21
oposição de titulares de mais de 1/4 (um quarto) do capital social, tendo eficácia a cessão a
partir da averbação do respectivo instrumento, subscrito pelos sócios anuentes.
Ao se tratar do capital social, embora não se possa ignorar o princípio da
intangibilidade do capital social (ou princípio da integridade do capital social), pelo qual se
protege os interesses dos credores da sociedade ao impedir a distribuição de lucros fictícios,
com o desfalque do capital social, para concessão de benefício aos sócios, mostra-se
importante destacar a possibilidade de aumento ou redução do capital social, conforme
ensinam os arts. 1.081 a 1.084 do CC. Sendo assim, o princípio em comento não visa impedir
a redução do capital social, mas sim garantir que só poderão ser distribuídos entre os sócios
valores que correspondam a lucros reais.
O aumento do capital socialpode ocorrer, com a respectiva alteração no contrato
social aprovada por assembléia, desde que todas as quotas já tenham sido integralizadas. Até
trinta dias após a deliberação pelo aumento do capital, terão os sócios preferência para
participar do aumento, na proporção das quotas de que sejam titulares.
A redução do capital social, a seu turno, se restringe às hipóteses de perdas
irreparáveis uma vez integralizado o capital social ou se excessivo em relação ao objeto social.
Na sociedade limitada, o controle ou poder de decisão da sociedade é exercido por
aquele que detiver o maior número de quotas. Na eventualidade de empate, a definição se
dará a partir da quantidade de sócios. Persistindo o empate, caberá ao juiz resolver.
A sociedade limitada pode ser administrada por uma ou mais pessoas, sócios ou não
sócios, constantes do contrato social ou de ato em separado. O administrador, nomeado por
instrumento em separado, deve averbá-lo à margem da inscrição da sociedade, e, pelos atos
que praticar, antes de requerer a averbação, responde pessoal e solidariamente com a
sociedade.
23
Segundo o Enunciado 219 da III Jornada de Direito Civil do Conselho de Justiça Federal, não
se aplica a teoria ultra vires societatis às sociedades por ações, em razão da existência de
regra específica traçada pelo art. 158, II da Lei 6.404/76.
Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os
condenados à pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por
crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a
economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da
concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto
perdurarem os efeitos da condenação.
Se o contrato social for silente quanto à pessoa do administrador da sociedade limitada,
suas funções serão exercidas por cada um dos sócios separadamente. Sem embargo, o
administrador que realizar operações, sabendo ou devendo saber que estava agindo em
desacordo com a maioria, responderá por perdas e danos perante a sociedade.
As decisões em uma sociedade limitada serão tomadas em reuniãoou em assembleia,
as quais serão convocadas pelos administradores nos casos previstos em lei ou no contrato.
Nas sociedades limitadas compostas por mais de dez sócios, as deliberações deverão ocorrer
obrigatoriamente através de assembléia.
Quando os administradores retardarem a convocação por mais de sessenta dias, a
reunião ou assembleia poderá também ser convocada por sócio, ou por titulares de mais de
20% do capital social, quando não atendido, no prazo de oito dias, pedido de convocação
fundamentado.
Ordinariamente, nas sociedades limitadas, as decisões devem ser tomadas a partir da
maioria de votos considerado o capital socialdo qual detém cada sócio. Contudo, só
poderão ser tomadas havendo unanimidade(1)a decisão sobre a dissolução da sociedade com
prazo determinado e (2)a decisão sobre a designação de administrador não sócio, enquanto o
capital social não estiver integralizado.
Será necessária a aceitação de 3/4do capital social para (1)a alteração do contrato
social e (2)a aprovação de fusão, incorporação e dissolução.
Para designação de administrador não sócio se o capital social estiver totalmente
integralizado, será necessária a concordância de 2/3do capital social.
24
No que tange à destituição de sócio nomeado administrador no contrato, exige-se a
aprovação de titulares de quotas correspondentes a mais de metade do capital social, salvo
disposição contratual diversa, conforme alteração realizada pela Lei 13.792/19 no §1º do art.
1.063 do CC/02.
Será necessária a concordância da maioria absoluta do capital social(mais da metade
do total do capital) para (1)a designação de sócio administrador realizada em ato separado,
(2)definir a remuneração de administradores e (3)determinar a exclusão de sócio por justa
causa.
Será necessária a concordância de maioria simples do capital social(mais da metade
do capital considerando os sócios presentes) para (1)a aprovação da prestação de contas dos
administradores e (2) nos demais casos previstos na lei ou no contrato, se não exigir quórum
maior.
Aos sócios da sociedade limitada é garantido o direito de fiscalizar a sua administração.
Nesse sentido, o conselho fiscal, órgão de formação facultativa, composto de três ou mais
membros e respectivos suplentes, sócios ou não, residentes no país e eleitos em assembleia,
uma vez constituído, tem como atribuições as previstas no art. 1.069 do Código Civil, que se
indica uma leitura atenta e minuciosa.
A dissolução da sociedadepode ser total ou parcial. A dissolução totalimplica na
desconstituição da sociedade, culminando na desvinculação de todos os sócios. Já na
dissolução parcial, há desvinculação de algum sócio do quadro social, o que não gera a
desconstituição da sociedade, que prossegue com suas atividades. Assim, na dissolução
parcial, a sociedade não se extingue, nem mesmo perde a sua personalidade.4
A dissolução será total nas seguintes hipóteses: (1) consenso unânime dos sócios, (2)
fim do prazo de duração nas de prazo determinado, (3) deliberação dos sócios, por maioria
absoluta, se de prazo indeterminado, (4) falência, (5) impossibilidade de execução do objeto
social, (6) falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo legal de 180 dias
(sabendo que nesse prazo o sócio remanescente pode optar pela transformação em EIRELI ou
em empresário individual), (7) extinção da autorização para funcionar, (8) por determinação
judicial, (9) a requerimento de qualquer dos sócios, (10) se houve anulação de sua
4
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora
jus podivm, 2017. p. 91.
25
constituição, (11) se houver exaurimento do fim social e (12) outras causas previstas no
contrato.
A dissolução seráparcial (resolução da sociedade em relação a um sócio) nos casos de
(1) morte do sócio, (2) retirada do sócio ou (3) exclusão do sócio.
Restando demonstrado que um ou mais sócios estão pondo em risco a sobrevivência
da empresa, pela prática de atos que vão de encontro à lei ou aos objetivos sociais, estes
poderão ser excluídos da sociedade pela vontade da maioria dos sócios, representativa de
mais da metade do capital social, desde que cumpridos os requisitos legais do art. 1.085 do
CC/02).
Trata-se de hipótese de exclusão extrajudicial, que não pode ser confundida com a
exclusão judicial prevista no art. 1.030, CC. Nesta, a exclusão poderá operar-se mediante
iniciativa da maioria dos sócios, não se levando em consideração o volume da participação
deles no capital social.
26
Modesto Carvalhosa conceitua este tipo de sociedade como pessoa jurídica de direito
privado, cuja natureza é essencialmente “mercantil, em que o capital se divide em ações de
livre negociabilidade, limitando-se a responsabilidade dos subscritores ou acionistas ao preço
de emissão das ações por eles subscritas ou adquiridas”5.
Também chamada de companhia, a S/A é regulamentada por uma lei própria, a Lei
6.404/76. O art. 1.089 do CC/02 esclarece essa circunstância, dispondo que: “a sociedade
anônima rege-se por lei especial, aplicando-se-lhe, nos casos omissos, as disposições deste
Código”. Nesse sentido, tem-se o seguinte enunciado do Conselho de Justiça Federal:
Enunciado 68 do CJF: Arts. 1.088 e 1.089: suprimir os arts. 1.088 e 1.089 do novo
Código Civil em razão de estar a matéria regulamentada em lei especial.
5
CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei das Sociedades Anônimas. V. 1, São Paulo: Saraiva, 2002, p. 153. O
conceito apresentado por este autor se baseia nos arts. 1º da Lei 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas – LSA) e
1.088 do Código Civil de 2002 (CC/02). A LSA constitui verdadeiro Código do Direito Societário Brasileiro,
porquanto se aplica subsidiariamente a todos os demais tipos societários. (CORRÊA-LIMA, Osmar Brina. Sociedade
anônima. 2. ed., Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 12).
6
Sobre a existência excepcional de affectio societatis em companhias, consulte-se: ZETTEL, Fabiano Campos. Os
efeitos da affectio societatis nas sociedades de capitais e nos acordos de acionistas. 2004. 98f. Dissertação
(Mestrado em Direito Comercial). Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
2004.
7
Registre-se a opinião contrária do professor João Eunápio Borges: “não vemos motivo para atribuir ao ato
de constituição de uma sociedade anônima natureza diferente da que tem o de qualquer outra sociedade. Por
mais numerosos que sejam os atos preliminares – a partir da iniciativa dos fundadores, redação do projeto de
estatutos até a realização da assembléia constitutiva – a sociedade surgirá sempre de um acordo de vontades
que se manifesta a cada subscrição de ação e se confirma afinal na manifestação da assembleia constitutiva” [...].
“O nome pouco importa: contrato, contrato plurilateral, ato complexo, ato coletivo, negócio coletivo, a essência, a
substância do ato é sempre a mesma.” (BORGES, João Eunápio. Curso de direito comercial terrestre. Belo
Horizonte: Forense,1976, p. 409).
27
vontades dos diversos sócios, o que faz com que as relações entre eles não se articulem nos
moldes de acordo plurilateral.
O nome empresarial da companhia deve ser sempre formado por denominação8. Nessa
linha:
“As sociedades anônimas, por sua vez, constituem o único tipo societário que,
necessariamente, deve adotar denominação como nome empresarial.(...)
Obrigatoriamente, deverá constar na denominação o objeto social. As denominações das
sociedades anônimas devem vir integradas pelas expressões “sociedade anônima” ou
“companhia”, ou abreviadamente como “S.A” ou “Cia”.” (Sinopses Jurídicas, vol. 21, p. 52
– com modificações).
O termo “sociedade anônima” ou sua abreviatura pode vir no início, meio ou fim da
denominação. O termo “companhia” ou sua abreviatura não pode ser usado no fim (art. 3º da
LSA). Permite-se que na denominação conste o nome do fundador, acionista ou pessoa que
tenha concorrido para o bom êxito da formação da empresa, mas ainda assim será tratado
como denominação.
Enunciado 71 do CJF – Arts. 1.158 e 1.160:suprimir o artigo 1.160 do Código Civil por
estar a matéria regulada mais adequadamente no art. 3º da Lei n. 6.404/76
(disciplinadora das S.A.) e dar nova redação ao § 2º do art. 1.158 [Sociedade Limitada],
de modo a retirar a exigência da designação do objeto da sociedade.
Enunciado 79 do CJF – Art. 2.031: não havendo a revogação do art 1.160 do Código
Civil nem a modificação do § 2º do art. 1.158 do mesmo diploma, é de interpretar-se
este dispositivo no sentido de não aplicá-lo à denominação das sociedades anônimas e
sociedades Ltda., já existentes, em razão de se tratar de direito inerente à sua
personalidade.
8
“Art. 5º Observado o Princípio da Veracidade: [...] III - a denominação é formada com palavras de uso comum
ou vulgar na língua nacional ou estrangeira e ou com expressões de fantasia, com a indicação do objeto da
sociedade, sendo que: [...] b) na sociedade anônima, deverá ser acompanhada da expressão ‘companhia’ ou
‘sociedade anônima’, por extenso ou abreviadas, vedada a utilização da primeira ao final.” (BRASIL. Departamento
Nacional do Registro do Comércio. Instrução Normativa 99 de 21 de dezembro de 2005. Disponível em:
<http://www.dnrc.gov.br/Legislacao/normativa/in99.htm>. Acesso em: 14 jan. 2020).
28
Enunciado 395 do CJF – A sociedade registrada antes da vigência do Código Civil não
está obrigada a adaptar seu nome às novas disposições. [Vem ratificar o enunciado 79
do CJF]
Todavia,
A companhia jamais é anônima. Toda sociedade anônima deve possuir uma
denominação. E esta é uma das espécies de nome empresarial, ao lado da firma ou
razão.
A companhia não pode ter firma ou razão social. Esta, devido ao princípio da veracidade,
sempre deve mencionar o nome de um, algum ou todos os sócios atuais. Daí ser a
companhia chamada sociedade anônima.
A expressão “anônima” liga-se também ao fato de que a companhia, potencialmente,
congrega uma coletividade indefinida de sócios, cujo número pode atingir a cifra dos
milhares ou milhões. Nesse quadro social de intensa e incontrolável rotatividade, será
impossível constatar, em determinado momento, e com precisão, os nomes de todos os
acionistas, quem é acionista agora poderá já não sê-lo no instante seguinte. Para isso,
basta que aliene suas ações a outra pessoa, em bolsa ou fora dela, em operação que
refoge inteiramente ao controle ou interveniência da companhia9.
9
CORRÊA-LIMA, Osmar Brina. Sociedade anônima.2. ed., Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 15 e 16, grifos nossos.
10
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. v. 2, São Paulo: Saraiva, 1995, p. 57
11
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. v. 2, São Paulo: Saraiva, 1995, p. 57
12
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. v. 2, São Paulo: Saraiva, 1995, p. 57. Excepcionam-se os casos
em que um ou mais sócios detém poder de controle e/ou participam do Conselho de Administração da
companhia.
29
Noutro viés, as sociedades anônimas se classificam como abertas quando devidamente
habilitadas a negociar seus valores mobiliários na bolsa de valores ou mercado de balcão;
e fechadas caso isso não seja possível (art. 4º da LSA e 22 da Lei 6.835/76).
Inúmeros efeitos práticos decorrem da caracterização da companhia como aberta. No
sistema jurídico brasileiro, o mais importante deles é que devem se submeter ao registro
perante a CVM, bem como às suas instruções normativas destinadas a regular a legislação
aplicável às sociedades anônimas e seus valores mobiliários (art. 4º A, § 4º da LSA e arts. 5º e
8º da Lei 6.835/76)13.
Outro importante efeito é que a sociedade anônima de capital aberto tem suas ações
comercializadas mediante complexo sistema de intermediação, a cargo de agentes
econômicos autorizados a operar no mercado de bolsa.
A sociedade anônima é sempre empresáriapor força lei, independentemente do seu
objeto social. Caberá ao estatuto social da companhia a definição precisa e completa do seu
objeto social. Por serem sociedades institucionais ou estatutárias, elas serão sempre
sociedades de capital.
CC/02, Art. 1.160. A sociedade anônima opera sob denominação designativa do objeto
social, integrada pelas expressões "sociedade anônima" ou "companhia", por extenso ou
abreviadamente.
Parágrafo único. Pode constar da denominação o nome do fundador, acionista, ou
pessoa que haja concorrido para o bom êxito da formação da empresa.
13
Algumas formalidades burocráticas concernentes ao registro da companhia, assim como das emissões de
valores mobiliários perante a CVM são indispensáveis para que a sociedade anônima possa ter seus valores
mobiliários admitidos à negociação no mercado de capitais (arts. 4º , p.u., 170, § 6º e 82 da LSA).
30
Há duas modalidades de constituição das companhias: por subscrição pública ou por
subscrição particular. Enquanto esta se dirige aos próprios acionistas da companhia ou a
investidores predeterminados, aquela se volta a toda comunidade de pessoas do mercado.
Nesse sentido, Fábio Ulhoa Coelho explica que:
A subscrição pode ser particular ou pública. Na primeira, as ações emitidas são
apresentadas como opção de investimento a investidores procurados diretamente pela
companhia emissora ou por seus agentes. Não existe, nessa modalidade, uma oferta aos
investidores em geral. Claro que também será particular a subscrição realizada para
atender determinado investidor que houvera tomado a iniciativa de apresentar proposta
de investimento atraente aos olhos da sociedade. O decisivo, para caracterizar como
particular a subscrição, é a ausência de acessibilidade dos investidores em geral à
emissão. Já a subscrição pública é, exatamente, a que apresenta essa ampla
acessibilidade: a ação é apresentada como alternativa de investimento à generalidade
dos investidores e demais agentes que operam no mercado de capitais. A sociedade
anônima fechada somente pode emitir ações para subscrição particular. Se pretender
alargar o universo de pessoas às quais apresentará a ação como opção atraente, terá de
abrir o seu capital, solicitando os registros hábeis junto à CVM. Já a sociedade anônima
aberta pode optar pela realização da emissão de ações para subscrição particular ou
pública, procedendo também aos registros cabíveis na CVM14.
Além disso, convém sublinhar que a subscrição pública pode acontecer tanto na
constituição quanto no aumento do capital social da companhia aberta. No entanto, nesta
espécie de sociedade anônima, a subscrição particular somente é possível para se realizar o
aumento de capital social, hipótese que tem por finalidade o depósito das ações na [B]³.
E isso é assim porque, para que o referido depósito ocorra, é necessário que a
companhia emissora já tenha obtido seu registro junto à CVM na época em que foi
constituída mediante subscrição pública ou quando efetuou o procedimento de abertura de
seu capital15. Logo, não há como uma companhia aberta se valer da subscrição particular com
o fim de promover sua constituição.
14
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. v. 2, 10. ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p.
117.
15
Conforme o jargão econômico, a operação pela qual uma companhia fechada acessa o mercado pela primeira
vez é designada pela sigla IPO (Initial Public Offer – Oferta Pública Inicial). Esse procedimento atende a um dos
principais objetivos do mercado de capitais, qual seja: permitir o acesso das sociedades anônimas à poupança
popular, afastando as desvantagens ocasionadas pelos empréstimos bancários. Essa premissa torna imprescindível
um sistema adequado à proteção do investidor, que tenha como pilar a eficiente política de divulgação e
transparência das informações. No Brasil, tal política é implementada mediante a exigência de registro prévio na
31
Com base nestas informações, os procedimentos de subscrição pública e particular das
ações de companhia aberta são representados pelo seguinte organograma:
1. subscrição de pelo menos duas pessoas, de todas as ações em que se divide o seu
capital social. A subscrição é irretratável.
2. Realização, como entrada, em dinheiro, de 10%, no mínimo, do preço de emissão das
ações subscritas. Nas instituições financeiras essa porcentagem é de 50%. O fundador
CVM quanto às ofertas de valores mobiliários que se dirijam ao público em geral. Para deferimento deste
registro, não compete à CVM qualquer exame a respeito da qualidade dos títulos ofertados, nem quanto às
características da empresa emissora, ou mesmo, quanto à conveniência do momento escolhido para a oferta
pública. A única exceção se verifica na hipótese de exame substantivo referente à constituição de companhia por
subscrição pública prevista no art. 82 da LSA. Vale observar que há situações, porém, em que não se justifica
exigir o prévio registro na CVM da oferta de venda das ações. Isso ocorre quando esta não transcende os limites
de uma operação de cunho eminentemente privado, dirigindo-se a pessoas específicas e previamente
determinadas. Nestes casos, não há o apelo à poupança popular, tal como acontece quando os investidores,
mesmo sem o controle proporcionado pela intervenção da CVM e da BM&FBOVESPA, têm acesso a informações
que lhes permitam uma tomada de decisão consciente. (EIZIRIK, Nelson. A oferta pública de distribuição de
valores mobiliários. WALD, Arnoldo; GONÇALVES, Fernando; CASTRO, Moema Augusta Soares de (coord.);
FREITAS, Bernardo Vianna; CARVALHO, Mário Tavernard Martins de (org.). Sociedades anônimas e mercado de
capitais. São Paulo: Quartier Latin, 2011, p. 30 e 31)
32
terá 5 dias, contados do recebimento das quantias, em nome do subscritor e a favor
da sociedade, para fazer o depósito no estabelecimento bancário autorizado pela
CVM.
3. Arquivamento do estatuto social da empresa na Junta comercial e publicação pela
imprensa de seus atos constitutivos;
4. Transferência para a companhia, por transcrição no registro público competente, dos
bens com que o subscritor tenha contribuído para a formação do capital social.
33
ocorre por contas de depósito. Aqui, uma instituição financeira autorizada pela CVM,
manterá contas de depósitos em nome dos titulares das ações.
As ações, conforme a natureza dos direitos ou vantagens conferidas aos seus titulares
poderão ser:
Sobre as debêntures, é importante mencionar que são valores mobiliários que conferem
a seus titulares direito de crédito contra a companhia, nas condições constantes da escritura
de emissão e, se houver, do certificado. São títulos emitidos pela S/A para negociar junto ao
público, levantando capital para sociedade, é como se fosse um empréstimo feito para a
34
Sociedade (captação de recursos). É título executivo extrajudicial elencado no CPC/2015 (artigo
784, I).
Existem quatro espécies de debêntures (art. 58):
As debêntures podem ser, tais como as ações, nominativas e escriturais, bem como
conversíveis em ações.
Outros valores mobiliários também podem ser emitidos pelas companhias. É o caso, por
exemplo, das partes beneficiárias, que são títulos negociáveis, sem valor nominal e estranhos
ao capital social. São emitidos para captar recursos ou remunerar serviço prestado. É um
direito de crédito eventual, até um limite de 10% do lucro da empresa, dependendo da
existência ou não de obtenção de lucro pela sociedade. Somente podem ser emitidas por
sociedades fechadas (Lei 10.303/01).
Os bônus de subscrição, por sua vez, são valores mobiliários que conferem ao titular,
nas condições constantes do certificado, o direito de preferência para subscrever novas ações
por ocasião do aumento do capital social autorizado no estatuto, antes de qualquer outro.
Não é um direito de crédito, é, simplesmente, um direito de preferência, que precede inclusive
o acionista.
Já o “commercial paper” é uma espécie de nota promissória que serve para captação
de recursos no mercado de capital, sendo restituídos aos investidores em curto prazo. Esse
prazo é de, no mínimo, 30 e, no máximo, 180 dias, para a restituição dos valores recebidos em
mercado pela companhia. Tais títulos somente se transferem por endosso em preto e com a
cláusula “sem garantia”.
35
Os principais órgãos das sociedades anônimas são: a Assembleia, o Conselho de
Administração, a Diretoria e o Conselho Fiscal.
As Assembleias são órgãos de deliberação colegiados formados por todos os acionistas
que tenham ou não direito a voto. A Assembleia Geral é o órgão supremo da companhia e
pode ser das seguintes espécies:
36
inexistente, pela assembleia geral, com mandato nunca superior a 3 anos, permitida a
reeleição.
O Conselho Fiscalé obrigatório de existência nas sociedades anônimas, mas, o seu
funcionamento pode não ser permanente, restringindo-se aos exercícios sociais em que for
instalado a pedido dos acionistas. Sua atribuição é a fiscalização dos atos de administração da
sociedade. Os conselheiros podem ou não ser acionistas. Serão, no mínimo, 03 e no máximo,
05 conselheiros.
O principal dever de um acionista é o de integralizar as ações subscritas, sob pena de
se tornar acionista remisso, com a consequência de ser executado ou ter suas ações
negociadas em bolsa. Para a cobrança judicial, podem ser utilizados o boletim de subscrição
ou o aviso de chamada de capital, que são títulos executivos extrajudiciais.
Sobre a execução judicial do sócio remisso, é importante frisar que o aviso de chamada
de capital deve ser publicado pelo menos por 03 vezes em jornal de grande circulação e deve
ser dado o prazo de 30 dias para comparecimento do acionista remisso. O Estatuto Social não
é titulo executivo. Além disso, a execução será feita com base no valor que deveria integralizar
mais os valores referentes aos prejuízos causados pela mora na transferência dos montantes
aos quais o acionista se comprometeu (juros, correção, multa.) Além disso, a execução e a
negociação das ações são medidas que podem ser adotadas simultaneamente pela sociedade.
Em havendo êxito em um dos caminhos o outro será suspenso. Mesmo a S/A fechada pode
negociar as ações do remisso na bolsa, cujos valores serão suportados pelo remisso.
São considerados direitos essenciais dos acionistas por não poderem ser deles retirados:
1. Participação nos lucros:qualquer cláusula que retire esse direito é nula, sendo
chamada de cláusula leonina; entretanto esse direito pode ser reduzido ou ampliado.
2. Preferência na subscrição de novas ações: contudo, há uma mitigação desse direito
no caso de existirem bônus de subscrição emitidos pela companhia.
37
3. Fiscalização:podem os acionistas fiscalizar a administração da sociedadepor meio do
Conselho Fiscal e por meio da Assembleia Geral, que é responsável pela aprovação das
contas da sociedade).
4. Participação no acervo societário: em caso de liquidação da sociedade, que consiste
na apuração do ativo para pagar o passivo, o que resta deve ser dividido entre todos
os acionistas, com base no valor patrimonial das suas ações.
5. Retirada:o acionista pode sair da sociedade; não a qualquer tempo, mas, sim, se
houver dissidência com relação às deliberações constantes do art. 137 da Lei 6.404/76,
sendo reembolsado pela sociedade, pelo valor nominal das ações.
O direito de voto é dessa natureza, tanto que existem ações sem esse direito garantido.
Como regra, não é o simples desejo de sair da sociedade, pelo fim da “affectio
societas”,caso isso ocorra deve procurar negociar suas ações). No entanto, há entendimento
majoritário do Superior Tribunal de Justiça no sentido “da possibilidade jurídica da
dissolução parcial de sociedade anônima fechada, em que prepondere o liame subjetivo
entre os sócios, ao fundamento de quebra da affectio societatis”.
Sobre o direito de retirada (ou direito de recesso), vale ressaltar que existem duas
formas de uma pessoa se desligar da sociedade empresária de que participa: a) alienando a
sua participação societária ou; b) exercendo seu direito de retirada.
38
Na sociedade anônima, dada a facilidade de alienação da participação societária, as
hipóteses de exercício do direito de retirada são limitadas, estando disciplinadas
especificamente em lei.
O exercício do direito de retirada se dá mediante reembolso, que consistem em
operação pela qual, nos casos previstos em lei, a companhia paga o valor patrimonial das
ações aos acionistas dissidentes de deliberação da assembleia-geral o valor de suas ações.
Podem ser elencadas as seguintes hipóteses de direito de reembolso:
39
Com fundamento no art. 205 da Lei nº 6.404/76, o Superior Tribunal de Justiça entende
que não faz jus ao recebimento de dividendos o sócio que manteve essa condição durante o
exercício financeiro sobre o qual é apurado o lucro, mas se desliga da empresa, por alienação
de suas ações, em data anterior ao ato de declaração do benefício. Imagine que um acionista
possuía 40 mil ações ordinárias da sociedade anônima e, em fevereiro de 2019, ele vendeu
suas ações. Em abril/2019, a S.A. realizou Assembleia Geral Ordinária e deliberou pagar aos
acionistas da companhia os dividendos apurados no ano anterior (2018). Tal acionista não terá
direito ao recebimento porque, na data do ato de declaração do dividendo (data da
Assembleia), ele já não mais fazia parte do quadro de acionistas da Companhia. STJ. 4ª Turma.
REsp 1.326.281-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/8/2017 (Info 610).
São considerados administradoresda companhia os membros do Conselho de
Administração e da Diretoria. Eles têm como deveres: diligência, lealdade e informação.
Diligência (artigo 153) consiste em cuidar do negócio como se fosse seu. Lealdade (artigo 155)
não pode utilizar as informações privilegiadas em benefício próprio ou alheio. Informação
(artigo 156) desde a nomeação deve informar a sua participação no capital social da
sociedade administrativa e em outras sociedades por ela controladas.
O acionista controlador é a pessoa natural ou jurídica, ou grupo de pessoas vinculadas
por acordo de voto, ou sob controle comum, que seja titular de direitos de sócio que lhe
assegurem, de modo permanente, a maioria dos votos nas deliberações da assembleia geral e
o poder de eleger a maioria dos administradores, e que usa efetivamente esse poder para
dirigir e orientar o funcionamento do órgãos da companhia. Ele responde pelos danos
causados por atos praticados com abuso de poder e que impliquem danos ou prejuízos aos
demais acionistas, à companhia ou à sociedade.
No que tange à dissolução, à liquidação e à extinção das sociedades anônimas, convém
enfatizar que ela poderá ocorrer:
De pleno direito:
40
a) Término do prazo de duração;
b) Em qualquer caso específico previsto no estatuto;
c) Por deliberação da assembleia geral;
d) Pela existência de um único acionista, verificada em AGO, se no mínimo de dois
não for reconstituído até à do ano seguinte;
e) E pela extinção, na forma da lei, da autorização para funcionar.
Após a dissolução terá início a liquidação, que poderá ser extrajudicial (competindo à
assembleia geral deliberar o seu modo e nomear o liquidante) ou judicial. A companhia
dissolvida conserva a sua personalidade jurídica até a sua extinção, para que possa ser
efetuada a liquidação. O liquidante tem os mesmos deveres e responsabilidades do
administrador.
41
ainda que não formada por grupos familiares, seja dissolvida parcialmente quando, a despeito
de não atingir seu fim – consubstanciado no aferimento de lucros e na distribuição de
dividendos aos acionistas –, restar configurada a viabilidade da continuação dos negócios da
companhia. STJ. 3ª Turma. REsp 1.321.263-PR, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 6/12/2016
(Info 595). Além disso, a Terceira Turma do STJ, no REsp 1.400.264/RS, decidiu que "a
legitimidade passiva ad causam em ação de dissolução parcial de sociedade anônima fechada
é da própria companhia, não havendo litisconsórcio necessário com todos os acionistas".
Segundo a relatora, Ministra Nancy Andrighi, "os contornos concretos do litígio dizem respeito
unicamente à dissolução parcial da companhia, com a retirada dos recorridos, acionistas
minoritários. Esse dado é relevante porque o resultado útil do processo, na perspectiva dos
autores da demanda, cinge-se à sua retirada da sociedade com a respectiva apuração de
haveres, portanto, eventual acolhimento do pedido formulado na petição inicial não conduz à
absoluta inviabilidade de manutenção da empresa por dissolução total".
Por fim, cabe tratar das operações societárias, que consistem em alterações no tipo ou
na estrutura da sociedade empresária. Compreendem a transformação, incorporação, fusão e
cisão.Se essas operações envolverem uma sociedade institucional (anônima ou comandita por
ações) seguem a disciplina prevista na LSA (arts. 220 a 234). Do contrário, aplicam-se as regras
previstas no Código Civil.
Nesse sentido, tem-se o seguinte enunciado do Conselho de Justiça Federal.
para outro. Também há transformação caso haja alteração de aberta para fechada
42
continuarão, até o pagamento integral dos seus créditos, com as mesmas garantias
para formar uma nova sociedade, que lhes sucederá em todos os direitos e
Incorporação: uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhe sucede
retirada da companhia, a não ser que seja titular de ação de espécie ou classe que
tenha liquidez e dispersão no mercado, hipótese em que não lhe é assegurado esse
Cisão:é a operação pela qual a companhia transfere parcela do seu patrimônio para
de retirada. Tal como na fusão, a cisão poderá estar condicionada à aprovação pelo
43
QUADRO SINÓTICO
Personalidade Não
Personificada Personificada Personificada Personificada Personificada
Jurídica Personificada
44
Mista:
Mista:
Ostensivo: Limitada, mas Limitada, mas Mista:
Comanditado
Responsabilidade Direta e solidária pela solidária pela Diretor
Ilimitada
dos sócios por Ilimitada Ilimitada integralização integralização Ilimitada
Comanditário
obrigações sociais Participante: do capital do capital Investidor
(comandante)
Subsidiária e social social Limitada
Limitada
Limitada
Unidade de
participação Quotas Quotas Quotas Ações Ações Quotas
societária
Quanto à natureza
do ato Contratual Contratual Contratual Institucional Contratual Contratual
constitutivo
De capital ou
Quanto à natureza
* de pessoas
da relação entre De pessoas De pessoas De pessoas De pessoas De pessoas
(S/A fechadas
os sócios
e familiares)
Compete à
Sócios ou não Compete aos
Diretoria ou
sócios diretores
Próprios Sócio ao Conselho
Administração autorizados escolhidos no Comanditados
sócios Ostensivo de
pelo contrato ato
Administração,
social constitutivo
se houver
Por não ter
personalidade,
Firma ou Firma ou
Nome Empresarial Firma Social não tem Denominação Firma Social
Denominação Denominação
nome
empresarial
45
QUESTÕES
Questão 1
OAB – XXVI EOU | 2018: Leandro, Alcides e Inácio pretendem investir recursos oriundos de
investimentos no mercado de capitais para constituir uma companhia fechada por subscrição
particular do capital. A sociedade será administrada por Inácio e sua irmã, que não será sócia.
Considerando-se o tipo societário e a responsabilidade legal dos sócios a ele inerente, assinale
a afirmativa correta.
Comentário:
Alternativa A: CORRETA
46
Conforme previsão expressa do art. 1º da Lei n.º 6.404/1976: “Art. 1º A companhia ou
sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou
acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas.”.
Alternativa B:INCORRETA
A Sociedade constituída por Leandro, Alcides e Inácio tem seu capital social dividido em
ações, e não em quotas, ao contrário do que se afirma na assertiva em análise.
Essa alternativa descreve a responsabilidade dos sócios de uma sociedade limitada (“Art.
1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de
suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital
social.”)
Alternativa C:INCORRETA
Descreve a responsabilidade dos sócios nas sociedades em nome coletivo, e não numa
Sociedade Anônima (“Art. 1.039. Somente pessoas físicas podem tomar parte na
sociedade em nome coletivo, respondendo todos os sócios, solidária e ilimitadamente,
pelas obrigações sociais.”).
Alternativa D:INCORRETA
Descreve a responsabilidade dos sócios nas Sociedades em Comandita por Ações, nas
quais o acionista-diretor (que administra a sociedade) tem responsabilidade subsidiária
e ilimitada pelas obrigações da sociedade (art. 1.091 do CC; arts. 281 e 282 da Lei n.º
6.404/1976), enquanto a responsabilidade dos demais sócios (não diretores) é limitada
ao preço de emissão das ações por ele subscritas (art. 1.045 do CC, aplicado
subsidiariamente às Sociedades em Comandita por Ações; art. 280 da Lei n.º
6.404/1976).
47
Questão 2
FGV – 2018 SEFIN-RO | Auditor Fiscal de Tributos Estaduais:Companhia aberta, por meio de
deliberação em assembleia geral ordinária e sem posição de qualquer acionista presente,
deliberou a distribuição de dividendo inferior ao obrigatório a seus acionistas. A justificativa foi
a necessidade de captação de recursos por meio da emissão de debêntures não conversíveis
em ações.
A) A deliberação é nula, por ter violado o direito essencial do acionista de participar dos
lucros sociais.
B) A deliberação é válida, porque qualquer companhia, aberta ou fechada, pode distribuir
dividendo inferior ao obrigatório.
C) A deliberação é anulável, por se tratar de violação a direito patrimonial de cunho
disponível de acionista.
D) A deliberação é válida quanto aos acionistas que a aprovaram, porém ineficaz quanto
aos acionistas ausentes.
E) A deliberação é válida, por ter sido aprovada por todos os presentes e estar motivada
na emissão de debêntures não conversíveis em ações.
Comentário:
48
Art. 202. Os acionistas têm direito de receber como dividendo obrigatório, em cada
exercício, a parcela dos lucros estabelecida no estatuto ou, se este for omisso, a
importância determinada de acordo com as seguintes normas:
II - companhias fechadas, exceto nas controladas por companhias abertas que não se
enquadrem na condição prevista no inciso I.
§ 4º O dividendo previsto neste artigo não será obrigatório no exercício social em que
os órgãos da administração informarem à assembleia-geral ordinária ser ele incompatível
com a situação financeira da companhia. O conselho fiscal, se em funcionamento, deverá
dar parecer sobre essa informação e, na companhia aberta, seus administradores
encaminharão à Comissão de Valores Mobiliários, dentro de 5 (cinco) dias da realização
da assembleia-geral, exposição justificativa da informação transmitida à assembleia.
49
§ 5º Os lucros que deixarem de ser distribuídos nos termos do § 4º serão registrados
como reserva especial e, se não absorvidos por prejuízos em exercícios subseqüentes,
deverão ser pagos como dividendo assim que o permitir a situação financeira da
companhia.
§ 6o Os lucros não destinados nos termos dos arts. 193 a 197 deverão ser distribuídos
como dividendos.
AlternativaA:INCORRETA
AlternativaB:INCORRETA
AlternativaC:INCORRETA
AlternativaD:INCORRETA
Alternativa E: CORRETA
Conforme art. 202, §3º, I, da LSA, a assembleia-geral pode, desde que não haja
oposição de qualquer acionista PRESENTE, deliberar a distribuição de dividendo
inferior ao obrigatório ou a retenção de todo o lucro líquido, nas companhias
abertas exclusivamente para a captação de recursos por debêntures não
conversíveis em ações.
Questão 3
FGV – 2016 Prefeitura de Cuiabá-MT | Auditor Fiscal de Tributário da Receita
Municipal:Em uma sociedade do tipo simples, constituída por prazo indeterminado, formada
pelos sócios Rita, Antônio e José, o segundo sócio veio a falecer em decorrência de um
acidente.
Sabendo-se que o contrato é omisso quanto à sucessão por morte do sócio, assinale a
afirmativa correta.
50
A) Diante da morte do sócio Antônio, a sociedade terá continuidade com seu sucessor,
em razão da ausência de disposição contratual em sentido contrário.
B) A sociedade deverá proceder à liquidação da quota titularizada por Antônio, não
podendo haver acordo dos sócios com os herdeiros para substituição do sócio
falecido.
C) A sociedade poderá permanecer em atividade com os sócios remanescentes por até
180 dias, contados da data do óbito, prazo para que seja substituído o sócio falecido,
sob pena de dissolução de pleno direito.
D) A sociedade será dissolvida de pleno direito com a morte do sócio, em razão de sua
natureza personalista (intuitu personae), da quebra de affectio societatis e da omissão
no contrato assegurando sua continuidade.
E) A morte de qualquer sócio enseja a resolução da sociedade em relação ao de cujus,
operando-se sua dissolução parcial e apuração de haveres com base no balanço
patrimonial especial à data da resolução (balanço de determinação).
Comentário:
AlternativaA:INCORRETA
Da leitura do art. 1.028 do CC/02 extrai-se que, via de regra, a morte do sócio
implica na liquidação de sua cota em favor dos herdeiros, ressalvadas as hipóteses
trazidas nos incisos do dispositivo. Dessa regra não dá para depreender que os
herdeiros substituiriam o sócio na sociedade, salvo se acordado (inciso III do art.
1.028 do CC/02).
AlternativaB:INCORRETA
51
AlternativaC:INCORRETA
Conforme art. 1.033, IV, do CC/02, dissolve-se a sociedade quando estiver diante da
falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias.
Nesse sentido, diante da existência de três sócios, a morte de um não faria incidir
na hipótese desse dispositivo.
AlternativaD:INCORRETA
A questão não traz situação que gere a dissolução total da sociedade, razão pela
qual a alternativa está completamente errada.
Alternativa E: CORRETA
Questão 4
CESPE - 2019 - TJ-PA - Juiz de Direito Substituto:Abel, Breno e Celso são sócios de uma
sociedade simples que exerce atividade não empresarial. Do contrato social dessa sociedade,
regularmente redigido e inscrito no registro civil das pessoas jurídicas, consta exclusivamente
como administrador o não sócio Danilo. No exercício de suas atribuições sociais, o
administrador Danilo distribui lucros ilícitos aos sócios Breno e Celso, que recebem os valores
com total conhecimento da ilicitude. Abel não recebe lucro algum nem conhece a distribuição
ilegítima.
Acerca da responsabilidade civil pela distribuição de lucros ilícitos nessa situação hipotética,
assinale a opção correta.
52
A) Apenas Breno, Celso e Danilo serão solidariamente responsáveis pela distribuição dos
lucros ilícitos.
B) Apenas Danilo deverá ser responsabilizado pela distribuição dos lucros ilícitos, pois a
responsabilização por essa conduta deve afetar quem a realizou, e não quem recebeu
os lucros.
C) A responsabilidade pela distribuição dos lucros ilícitos é restrita aos sócios da
sociedade, que serão responsabilizados na proporção de suas quotas sociais, havendo
direito de regresso contra Danilo.
D) Danilo responderá de maneira direta, enquanto Breno e Celso serão subsidiariamente
responsáveis pela distribuição dos lucros ilícitos, pois detinham conhecimento da
ilegitimidade e receberam os valores distribuídos.
E) Abel, por ser sócio, poderá ser responsabilizado pela distribuição dos lucros ilícitos,
mesmo não possuindo conhecimento da ilegitimidade da distribuição.
Comentário:
Pelo enunciado podemos verificar que Abel encontra-se de boa-fé, pois nada sabe da
distribuição ilícita dos lucros, já que nada recebeu. Portanto, deve responder apenas o
administrador (sócio ou não) e os sócios que receberam os lucros e que conheciam do ilícito.
Nesse sentido, o seguinte dispositivo do Código Civil:
Questão 5
INAZ do Pará - 2018 - Prefeitura de São João do Araguaia - PA - Procurador Municipal:Na
sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva do objeto social é exercida
unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva
53
responsabilidade, participando os demais dos resultados correspondentes da sociedade. Assim
dispõe o artigo 991 do Código Civil/2002.Fonte: ANGHER, A. J. (Org.); 2017.
Com base na afirmação do texto acima, em qual alternativa consta a forma de constituição do
patrimônio da sociedade em conta de participação?
Comentário:
Questão 6
MPE-SP - 2019 - MPE-SP - Promotor de Justiça Substituto:No tocante às sociedades
empresárias, assinale a alternativa correta.
54
A) Na omissão do contrato social, o sócio pode ceder total ou parcialmente suas quotas a
quem seja sócio, independentemente da audiência dos outros, ou a estranho, se não
houver oposição de titulares de mais de 1/4 do capital social.
B) Nas sociedades limitadas, o capital social pode ser dividido em quotas iguais ou
desiguais, pode ser formado por bens corpóreos ou incorpóreos, bem como serviços.
C) Para a alteração do contrato social de uma sociedade limitada, a lei determina que as
deliberações sejam tomadas pelos votos correspondentes a mais da metade do capital
do social.
D) O administrador da sociedade limitada pode ser nomeado no contrato social ou por ato
separado, sendo que uma das consequências dessa distinção é que o administrador
nomeado em contrato deve ser sócio.
E) A inscrição do contrato social no órgão competente não confere personalidade jurídica
às sociedades, exceto às sociedades em conta de participação.
Comentário:
Alternativa A: CORRETA
Nas sociedades empresárias, na omissão do contrato social, o sócio pode ceder total ou
parcialmente suas quotas a quem seja sócio, independentemente da audiência dos outros, ou
a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de 1/4 do capital social (caput do art.
1.057, do CC).
Alternativa B:INCORRETA
Nas sociedades empresárias, do tipo limitada, o capital social pode ser dividido em quotas
iguais ou desiguais, pode ser formado por bens corpóreos ou incorpóreos, mas não com
serviços.De acordo com o caput do art. 1.055, do CC, nas sociedades limitadas, o capital social
pode ser dividido em quotas iguais ou desiguais. E, de acordo com o inciso III, do art. 997, do
CC, nas sociedades limitadas o capital social pode ser formado por bens corpóreos ou
incorpóreos, desde que suscetíveis de avaliação patrimonial. Contudo, de acordo com o
55
parágrafo 2°, do art. 1.055, do CC, não se admite, na sociedade limitada, contribuição ao
capital com serviços.
AlternativaC:INCORRETA
Nas sociedades limitadas, para a alteração do contrato social, a lei determina que as
deliberações sejam tomadas pelos votos correspondentes, no mínimo, a 3/4 do capital do
social (inciso I, do art. 1.076, do CC).
AlternativaD:INCORRETA
O administrador da sociedade limitada pode ser nomeado no contrato social ou por ato
separado, sendo que não é uma das consequências dessa distinção que o administrador
nomeado em contrato deva ser sócio. Conforme o caput do art. 1.060, do CC, a sociedade
limitada é administrada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato
separado. Não se exige que o administrador nomeado em contrato seja sócio. Essa distinção,
portanto, não traz nenhuma consequência prática. A única observação pertinente, de acordo
com o caput do art. 1.061, do CC, é que a designação, seja em contrato ou em ato separado,
de administradores não sócios, enquanto o capital não estiver integralizado, dependerá da
aprovação da unanimidade dos sócios, e de, no mínimo, 2/3 dos sócios, após a integralização.
AlternativaE:INCORRETA
Questão 7
VUNESP - 2019 - Prefeitura de Guarulhos - SP - Inspetor Fiscal de Rendas -
Conhecimentos Gerais:Um conjunto de pessoas dedicadas à atividade rural se obriga
56
reciprocamente a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e
a partilha, entre si, dos resultados. Nesse contexto, assinale a alternativa correta.
A) O acordo entre tais pessoas constitui contrato de sociedade, sendo que os sócios
deverão escolher um tipo societário dentre aqueles previstos no Código Civil ou
legislação esparsa. Independentemente do tipo societário escolhido, referida sociedade
poderá optar por qualificar-se como sociedade empresária, sujeita à inscrição no
Registro Público de Empresas Mercantis, ou sociedade simples, sujeita à inscrição no
Registro Civil das Pessoas Jurídicas.
B) A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de empresário rural
deve obrigatoriamente inscrever-se no Registro Público de Empresas Mercantis da sua
sede.
C) O acordo entre tais pessoas constitui contrato de sociedade, sendo que os sócios
deverão escolher um tipo societário dentre aqueles previstos no Código Civil ou
legislação esparsa. Caso optem por uma cooperativa, a sociedade será simples (não
empresária), regendo-se pela legislação que lhe é própria e, no seu silêncio, pelas
disposições do Código Civil referentes à sociedade simples.
D) Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto por ações
em organização, pelas normas da sociedade simples.
E) Se a atividade rural, objeto da sociedade, configurar exercício profissional de atividade
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, a
sociedade será necessariamente qualificada como sociedade empresária sujeita a
registro.
Comentário:
AlternativaA:INCORRETA
O tipo societário escolhido irá influenciar na forma como a sociedade empresária irá se
qualificar e em qual órgão deverá ser feito o registro.
57
Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem
por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art.
967); e, simples, as demais.
AlternativaB:INCORRETA
Art. 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de
empresário rural e seja constituída, ou transformada, de acordo com um dos tipos
de sociedade empresária, pode, com as formalidades do art. 968, requerer inscrição
no Registro Público de Empresas Mercantis da sua sede, caso em que, depois de
inscrita, ficará equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária.
Alternativa C: CORRETA
AlternativaD:INCORRETA
Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto
por ações em organização, pelo disposto neste Capítulo (Sociedade em Comum),
observadas, subsidiariamente e no que com ele forem compatíveis, as normas da
sociedade simples.
AlternativaE:INCORRETA
58
Art. 983. A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos
regulados nos arts. 1.039 a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de
conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às normas que
lhe são próprias.
Questão 8
CS-UFG - 2018 - Prefeitura de Jataí - GO - Procurador Jurídico:O direito brasileiro disciplina
diferentes tipos de sociedades empresariais caracterizados por formas diversas de
responsabilidade. Assim, na sociedade
Comentário:
AlternativaA:INCORRETA
Alternativa B: CORRETA
59
É possível a limitação da responsabilidade entre os sócios na sociedade em nome coletivo.
Art. 1.039. Somente pessoas físicas podem tomar parte na sociedade em nome
coletivo, respondendo todos os sócios, solidária e ilimitadamente, pelas obrigações
sociais.
AlternativaC:INCORRETA
AlternativaD:INCORRETA
Questão 9
COPS-UEL - 2019 - Prefeitura de Londrina - PR - Procurador do Município:Nas sociedades
limitadas, de acordo com as regras do Direito de Empresa, a responsabilidade dos sócios
quanto às dívidas da empresa
60
D) Não pode ultrapassar a participação de cada sócio na formação do capital social.
E) Será distribuída em razão da solidariedade que existe entre os sócios.
Comentário:
Alternativa A: CORRETA
Art. 1.055 – O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma
ou diversas a cada sócio.
AlternativaB:INCORRETA
AlternativaC:INCORRETA
AlternativaD:INCORRETA
AlternativaE:INCORRETA
61
Questão 10
IESES - 2019 - SCGás - Advogado:É certo afirmar:
I. Embora com o nome sincopado de sociedade limitada esse tipo societário tem
responsabilidade plena pelo cumprimento das obrigações sociais que assumir ou que lhes
forem atribuídas; a expressão “limitada”, com que é identificado, diz respeito à
responsabilidade de seus sócios.
II. Diante das peculiares características da sociedade limitada o seu capital social não
apresenta função relevante, obedecendo mais por um comando legal do que por uma
finalidade materialmente perceptível.
IV. A sociedade limitada possui regime próprio estabelecido pelo Código Civil, que é
complementado pelas disposições da sociedade simples, mas, dada a sua natureza híbrida, é
admitida sua regência supletiva pelas normas da sociedade anônima, se o contrato social
assim denominar.
62
Comentário:
Item I:CORRETO
Está correta porque a sociedade limitada, como pessoa jurídica, tem responsabilidade pelas
dívidas contraídas no exercício da atividade empresária
ItemII:INCORRETO
O capital social não é mera formalidade, tendo função relevante na constituição da empresa.
Como exemplo, tem-se o fato de que a responsabilidade dos sócios não será solidária quando
o capital estiver integralizado.
ItemIII:INCORRETO
Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a
inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário,
de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as
alterações por que passar o ato constitutivo.
Item IV:CORRETO
Art. 1.053. A sociedade limitada rege-se, nas omissões deste Capítulo, pelas normas
da sociedade simples.
Questão 11
(CESPE / CEBRASPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia)
63
Considerando essa situação, julgue o item a seguir, com base no Código de Defesa do
Consumidor (CDC) e nas normas de direito civil e empresarial.
O contrato social da sociedade limitada pode prever regência supletiva pelas normas das
sociedades anônimas, mas, se não o fizer, serão aplicadas as regras das sociedades simples no
caso de omissões de normas específicas da sociedade limitada.
( ) Certo
( ) Errado
Comentário:
Sociedade em Comum.
As Cooperativas regem-se pelo disposto no CC, para si, e pela legislação especial
e, no que a lei for omissa, pelas disposições da Sociedade Simples.
64
Questão 12
Na situação apresentada, a empresa ré é uma sociedade limitada que optou por nome
empresarial do tipo denominação.
( ) Certo
( ) Errado
Comentário:
Certo - É o que se afirma no Art. 1.158. "Pode a sociedade limitada adotar firma ou
denominação, integradas pela palavra final "limitada" ou a sua abreviatura".
Questão 13
A) A responsabilidade de cada sócio é limitada à integralização das quotas sociais por ele
subscritas ou adquiridas.
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B) Apenas pode ter conselho fiscal se o contrato social previr a regência supletiva pelas
normas da sociedade anônima.
C) Seus atos constitutivos podem ser registrados em junta comercial ou em registro civil
de pessoas jurídicas, a depender do objeto social.
D) Pode nomear pessoa jurídica como administrador, desde que a designação seja feita
pelo contrato social.
E) A omissão do termo “limitada” no nome empresarial não acarreta a responsabilidade
ilimitada dos sócios se a cláusula de limitação de responsabilidade constar do contrato
social.
Comentário:
CC, Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de
suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social.
ALTERNATIVA B: Apenas pode ter conselho fiscal se o contrato social previr a regência
supletiva pelas normas da sociedade anônima. INCORRETO
CC, Art. 1.066. Sem prejuízo dos poderes da assembléia dos sócios, pode o contrato instituir
conselho fiscal composto de três ou mais membros e respectivos suplentes, sócios ou não,
residentes no País, eleitos na assembléia anual prevista no art. 1.078. Mesmo que o contrato
não preveja a regência supletiva pelas normas da sociedades anônimas, poderá constituir
conselho fiscal.
Já no caso da Sociedade Simples Limitada será feito no Cartório de Registro Civil de Pessoas
Jurídicas.
66
ALTERNATIVA D: Pode nomear pessoa jurídica como administrador, desde que a designação
seja feita pelo contrato social. INCORRETO
Pela conjugação do art. 997, VI c/c art. 1.060 do CC, a maioria da doutrina entende que a
administração de sociedades cabe somente à pessoa natural.
Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além
de cláusulas estipuladas pelas partes,mencionará:
Art. 1.060. A sociedade limitada é administrada por uma ou mais pessoas designadas no
contrato social ou em ato separado.
Art. 1.053. A sociedade limitada rege-se, nas omissões deste Capítulo, pelas normas da
sociedade simples.
67
GABARITO COMENTADO
Questão 1 - A
Questão 2 - E
Questão 3 - E
Questão 4 - A
Questão 5 - D
Questão 6 - A
Questão 7 - C
Questão 8 - B
Questão 9 - A
Questão 10 - A
Questão 11 - Certo
Questão 12 - Certo
Questão 13 - C
68
QUESTÃO DESAFIO
Máximo de 5 linhas
69
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO
Não, a deliberação em assembleia, nos casos das sociedades limitadas, será obrigatória
apenas se o número de sócios for superior a 10 (dez), conforme art. 1.072, §1º do Código
Civil.
O art. 1.071 do Código Civil lista quais decisões dependem da deliberação dos sócios. O autor
André Santa Cruz comenta (CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. 8. ed. São Paulo: Método,
2018. p. 370-370.): “Em regra, as decisões mais corriqueiras, as decisões menores da sociedade
limitada são tomadas unipessoalmente por aqueles que têm poderes para administrar a
sociedade, ou seja, pelo(s) administrador(es). No entanto, aquelas decisões mais complexas –
como, por exemplo, a relativa à alteração do contrato social ou a referente à fusão com outra
sociedade – exigem uma deliberação colegiada.”.
O art. 1.072 do Código Civil trata das deliberações dos sócios, que devem ser tomadas em
reunião ou em assembleia. O §1º, por sua vez, afirma que a deliberação em assembléia será
obrigatória se o número dos sócios for superior a dez. Dessa forma, quando o número de
sócios não for superior a 10 (dez) pode ser feita deliberação em reunião de sócios.
Sobre o assunto, o autor André Santa Cruz explica: “O órgão específico responsável pela
tomada das deliberações sociais é a assembleia dos sócios. Todavia, o Código Civil trouxe,
nessa matéria, uma interessante regra: nas sociedades limitadas menores, de até 10 sócios, o
Código previu que o regime de assembleia pode ser substituído pelo de reunião de
sócios.”. (CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. 8. ed. São Paulo: Método, 2018. p. 370-370.)
70
JURISPRUDÊNCIA
STJ. REsp 1653421/MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
10/10/2017, DJe 13/11/2017
de sócio majoritário de sociedade limitada por falta grave no cumprimento de suas obrigações, mediante
iniciativa da maioria dos demais sócios.2. Nos termos do Enunciado nº 216/CJF, aprovado na III Jornada de
Direito Civil,o quórum de deliberação previsto no art. 1.030 do Código Civil de 2002 é de maioria
absoluta do capital representado pelas quotas dos demais sócios.3. Na apuração da maioria absoluta do
capital social para fins de exclusão judicial de sócio de sociedade limitada, consideram-se apenas as
quotas dos demais sócios, excluídas aquelas pertencentes ao sócio que se pretende excluir, não
incidindo a condicionante prevista no art. 1.085 do Código Civil de 2002, somente aplicável na hipótese
de exclusão extrajudicial de sócio por deliberação da maioria representativa de mais da metade do
capital social, mediante alteração do contrato social.4. Recurso especial não provido.
(STJ. REsp 1642118/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Rel. p/ Acórdão Ministro
MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 12/09/2017, DJe 20/02/2018)
líquido.2. Para admissão da ação de regresso não se discute a responsabilidade solidária por dívidas, mas tão
somente a titularidade da obrigação na condição de devedor. 3. A transmissão das obrigações da empresa
cindida é, em regra, objeto de livre contratação entre as empresas, desde que satisfeitas as condições
legais estabelecidas de forma distinta para as obrigações cíveis e aquelas de natureza societária, interna
corporis.
4. Inexistindo anuência de todos os acionistas, inclusive aqueles sem direito a voto (art. 229, § 5º, da LSA)
quanto à atribuição de proporção societária diferenciada, a obrigação de emissão das ações decorrentes de
71
opção de debenturistas é obrigação eminentemente societária, a qual somente seria cumprida mediante a
emissão de ações correspondentes pelas empresas cindendas.5. In casu, não houve a referida deliberação, de
modo que a empresa cindenda é devedora da obrigação, que foi convertida em perdas e danos e
suportada integralmente pela cindida, sendo, portanto, devida a recomposição proporcional ao
patrimônio líquido por ela absorvido.6. Recurso especial provido.
REsp 1393724/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Rel. p/ Acórdão Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/10/2015, DJe 04/12/2015
INICIATIVA.1. Exigência, por Junta Comercial, de certidões negativas tributárias como condição para o
arquivamento de ato de transformação de sociedade simples em sociedade empresária.2. Antinomia
jurídica entre a Lei 8.934/94, ao regular o registro público de empresas mercantis e atividades afins, e
REsp 1729554/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 08/05/2018,
DJe 06/06/2018
72
personalidade jurídica continuam a ser estabelecidos por normas de direito material, cuidando o
diploma processual tão somente da disciplina do procedimento. Assim, os requisitos da desconsideração
variarão de acordo com a natureza da causa, seguindo-se, entretanto, em todos os casos, o rito
procedimental proposto pelo diploma processual.6. Nas causas em que a relação jurídica subjacente ao
processo for cível-empresarial, a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica será regulada pelo art.
50 do Código Civil, nos casos de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou
pela confusão patrimonial.7. A inexistência ou não localização de bens da pessoa jurídica não é condição
para a instauração do procedimento que objetiva a desconsideração, por não ser sequer requisito para
aquela declaração, já que imprescindível a demonstração específica da prática objetiva de desvio de
finalidade ou de confusão patrimonial.8. Recurso especial provido.
73
LEGISLAÇÃO COMPILADA
74
BIBLIOGRAFIA
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2020.
FAZZIO JUNIOR, WALDO. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2020.
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição.
São Paulo: Editora JusPodivm, 2020.
75
Capítulo 4
SUMÁRIO
CAPÍTULOS ............................................................................................................... Erro! Indicador não definido.
Capítulo 4 ............................................................................................................................................................................. 2
GABARITO .......................................................................................................................................................................... 67
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 70
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................................................................. 73
1
DIREITO EMPRESARIAL
Capítulo 4
Neste capítulo, futuro Delta, estudaremos o Direito Falimentar e Recuperacional, aqui dê mais
ênfase nos conceitos e no processamento de forma geral. Importante também dáuma lida no
processo de falência.
Quanto à questão da origem etimológica, falir vem da palavra latina fallere que significa
enganar, faltar com a palavra.
Falência é um processo de execução coletiva, no qual todo o patrimônio de um
empresário declarado falido (pessoa física ou jurídica) é arrecadado, visando o pagamento da
universalidade de credores. É um processo judicial complexo que compreende a arrecadação
dos bens, sua administração e conservação, bem como a verificação e o acertamento dos
créditos, para posterior liquidação dos bens e rateio entre os credores. Compreende também a
punição de atos criminosos praticados pelo devedor falido.
Para os devedores insolventes, portanto, estabelece o arcabouço normativo de uma
execução especial, na qual todos os credores deverão ser reunidos em um único processo,
para a execução conjunta do devedor. Em vez de se submeter a uma execução individual, pois,
o devedor insolvente deverá se submeter a uma execução concursal, em obediência ao
princípio da par condiciocreditorum, segundo o qual deve ser conferido tratamento isonômico
aos credores.
Imaginemos que um credor entra com ação de falência contra o devedor. Se o juiz
decretar a falência, todos os bens do falido serão arrecadados. Depois de arrecadados os bens
serão vendidos. Com essa venda se consegue dinheiro. Mas esse dinheiro será utilizado para
2
pagamento de todos credores, e não somente aquele que ajuizou a ação. O juiz, ao declarar a
falência, declara o estado de insolvência do devedor.
Para que se efetue o pagamento dos credores, é preciso observar uma ordem de
classificação e aquele que ajuizou a ação pode estar no final da fila e não conseguir receber
nada. O pagamento é de todos os credores, não só daquele que ajuizou a ação, por isso que
a falência é chamada de execução coletiva.
A partir do momento em que o devedor não possui mais meios de superar a crise de
sua atividade e suas dívidas se tornam incontornáveis, instaura-se um processo de execução
coletiva, visando garantir os credores com o patrimônio do devedor. Se o devedor exerce
atividade não empresarial, este procedimento é a insolvência civil; se empresário, teremos a
falência.
3
Não há como deixar de reconhecer, pois, o caráter híbrido ou complexo da falência,
diante da confluência de normas processuais e materiais no arcabouço jurídico-falimentar. Em
razão disso, a Lei 11.101/2005 é considerada como um microssistema jurídico.
Em relação à vigência intertemporal da Lei nº 11.101/05, já decidiu o STJ a possível
ocorrência de três situações diferentes (REsp 1.105.176/MG):
caput;
• Em falência ajuizada e decretada após a vigência da nova lei, esta será integralmente
• Em falência ajuizada antes da lei nova, mas decretada após a sua vigência, aplica-se o
4
Segundo a letra “b” do art. 21 da Lei 6.024/74, à vista do relatório ou da proposta
previstos no artigo 11, apresentados pelo liquidante, o Banco Central do Brasil poderá
autorizá-lo a requerer a falência da entidade, quando o seu ativo não for suficiente para cobrir
pelo menos a metade do valor dos créditos quirografários, ou quando houver fundados
indícios de crimes falimentares.Tal procedimento aplica-se, tão somente, à instituições
financeiras, definidas pela Lei 4.595/64 como:
As cooperativas de crédito, por sua vez, são consideradas instituições financeiras, por
força da Lei Complementar n. 130/20091. Daí existirem diversas decisões no sentido da
possibilidade de decretação da falência dessas instituições2. No entanto, há posições
1
Apesar de não se sujeitar à falência, a cooperativa exerce atividade empresarial, pois atua produzindo bens e
serviços para o mercado. Nesse sentido, WaldírioBulgarelli, Tratado de Direito Empresarial, 4ª ed. São Paulo: Atlas,
2000, p. 268-270; do mesmo autor, As sociedades cooperativas e sua disciplina jurídica. Rio de Janeiro: Renovar,
1998, p. 178-179; Rachel Sztajn, Código Civil comentado, v. XI. Coord. Álvaro Villaça Azevedo. São Paulo: Atlas,
2008, p. 142-143; RoniePreuss Duarte, Teoria da empresa à luz do Código Civil brasileiro. São Paulo: Método,
2004, p. 101. Em sentido contrário, Walfrido Jorge Warde Júnior, Tratado de direito empresarial, v. I. 2ª ed.,
Coord. Modesto Carvalhosa. São Paulo: RT, 2019, p.147-149. Sobre o caráter societário da cooperativa (que
alguns consideram uma associação), vide a resenha de Jorge Manuel Coutinho de Abreu, Curso de direito
comercial. Das sociedades, v. II, 6ª ed. Coimbra: Almedina, 2019, p. 46-47, esp. nota 76. Para Haroldo Verçosa,
Curso de direito comercial, v. 2. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 546, "as cooperativas ficam a meio caminho entre
as sociedades civis e as sociedades empresárias, cabendo-lhes a natureza jurídica de ente híbrido, ou de
sociedade sui generis...". Friedrich Kübler, Derecho de Sociedade, 5ª ed., trad. espanhola. Madrid: Fundación
Cultural del Notariado, p. 245, afirma que a cooperativa é um "empresário formal", pois opera no mercado com
sua própria denominação social.
2
Acolhendo o entendimento de que as Sociedades Cooperativas de Crédito podem ser submetidas à falência,
desde que estejam incluídas nas hipóteses previstas na Lei 6.024/74, tem-se os seguintes julgados:
COOPERATIVA DE CRÉDITO RURAL DE NOVA FRIBURGO LTDA. - Em Liquidação Extrajudicial - (CNPJ
5
doutrinárias em contrário, que se respaldam na existência de um regime próprio de
intervenção e liquidação extrajudicial para as cooperativas, Por esta razão, em que pesem
alguns recentes entendimentos em sentido contrário, doutrinadores de renome sustentam que
as cooperativas não podem se submeter à execução concursal do empresário, pois
prestam atividade econômica não-empresarial, além de possuírem legislação própria para
tratar da liquidação.
Nesse sentido, Humberto Theodoro Júnior esclarece que:
Há certas sociedades cuja natureza civil é inconteste e até mesmo reconhecida por
disposição expressa de lei, mas cujo regime de liquidação, por vontade também do
legislador, é especial, fugindo tanto do concurso falimentar como do concurso civil.
Assim, as cooperativas, definidas pela Lei 5.764, de 16/12/71 como sociedades civis,
podem ser liquidadas extrajudicialmente, mediante intervenção de órgão executivo
federal, nos termos do artigo 75 daquele diploma legal
(…) As sociedades cooperativas não se sujeitam à falência, dada a sua natureza civil e
atividade não empresária, devendo prevalecer a forma de liquidação extrajudicial prevista
na Lei 5.764/71, (…). 2. A Lei de Falências vigente à época – Decretolei nº 7.661/45 – em
seu artigo 1º, considerava como sujeito passivo da falência o comerciante, assim como a
atual Lei 11.101/05, que a revogou, atribui essa condição ao empresário e à sociedade
empresária, no que foi secundada pelo Código Civil de 2002 no seu artigo 982, § único
c/c artigo 1.093, corroborando a natureza civil das referidas sociedades, e, a fortiori,
configurando a inaplicabilidade dos preceitos da Lei de Quebras às cooperativas. (…)
(AgRg no REsp 999.134/PR, Rel. Min. LUIZ FUX, 1.ª Turma, j. 18.08.2009, DJe 21.09.2009)
86.811.130/0001- 20) - Decretação da falência da sociedade, por sentença em 18.10.2000, pelo MM. Juiz de
Direito da Primeira Vara Cível da Comarca de Nova Friburgo (RJ), publicada no Diário Oficial do Estado do Rio de
Janeiro em 25.10.2000; COOPERATIVA DE CRÉDITO RURAL DE ARACAJU LTDA. (CGC nº 00.377.854/0001-91) -
Decretação da falência da sociedade, por sentença em 30.09.98, pela MM. Juíza de Direito da 14. Vara Cível da
Comarca de Aracaju (SE), publicada no Diário de Justiça do Estado de Sergipe em 07.10.98; COOPERATIVA DE
CRÉDITO RURAL DE MACAE LTDA - CREDI-NORTE (CGC nº 73.634.503/0001-92) - Decretação da falência da
sociedade, por sentença em 31.07.97, pelo MM. Juiz de Direito da Primeira Vara da Comarca de Macaé (RJ),
publicada no Jornal "O DEBATE" da cidade de Macaé (RJ), em 02.08.97; COOPERATIVA DE CRÉDITO DOS
PLANTADORES DE CANA DE PERNAMBUCO LTDA. (CGC nº 10.853.810/0001-44) - Decretação da falência da
sociedade, por sentença em 25.02.97, pelo MM. Juiz de Direito da Vara Privativa de Falências e Concordatas da
Comarca de Recife (PE), publicada no Diário Oficial do Estado de Pernambuco em 20.03.97;
6
TRIBUTÁRIO – EXECUÇÃO FISCAL CONTRA COOPERATIVA EM LIQUIDAÇÃO JUDICIAL –
INAPLICABILIDADE DA LEI DE FALÊNCIAS – REMESSA DO PRODUTO DA ARREMATAÇÃO
AO JUÍZO DA LIQUIDAÇÃO – INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. 1. As sociedades
cooperativas não estão sujeitas à falência, uma vez que não possuem natureza
empresarial, devendo, portanto, prevalecer a forma de liquidação prevista na Lei
5.764/71. (…) 3. Agravo regimental não provido. (AgRg no AgRg nos EDcl no REsp
1129512/SP, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/12/2013,
DJe 10/12/2013)
Uma sociedade limitada não registrada (Sociedade em Comum), também não poderá
requerer a falência dos seus devedores ou mesmo requerer o benefício da recuperação
judicial, embora possa figurar no polo passivo de uma ação falimentar, visto que, como ensina
o brocardo jurídico: “a aquisição de direitos depende da observância da norma, mas a
imposição de deveres existirá sempre”. Ora, não seria razoável que, pelo fato de não haver
cumprido a obrigação do registro, a sociedade em comum ficasse protegida contra pedidos
7
de decretação de falência. De tal modo, as sociedades irregulares poderão sim figurar no polo
passivo de pedidos de falência.3
O juízo competentena recuperação e na falência é o do local do principal
estabelecimento, qual seja o local onde o devedor concentra o maior volume de negócios
(aquele estabelecimento economicamente mais importante, embora parte da doutrina entenda
ser o estabelecimento onde se encontra a administração do empresário).
Nesse sentido, determina o seguinte enunciado do CJF:
3
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora
jus podivm, 2017. p. 192.
4
Vide questão 10.
8
preferencialmenteadvogado, economista, administrador ou contador, ou pessoa jurídica
especializada, devendo ser informado o nome do profissional por ela responsável, que não
poderá ser substituído senão por autorização judicial.
Na recuperação judicial, o administrador judicial é nomeado no despacho de
processamento, mas na falência a nomeação se dá na sentença que decretá-la.
Uma vez nomeado, o administrador será intimado pessoalmente para, em 48h, assinar,
na sede do juízo, termo de compromisso para o bom e fiel desempenho da função,
assumindo com sua assinatura todas as responsabilidades a ela inerentes. Caso não assine o
termo no prazo, o juiz nomeará outro administrador. A função de administrador é indelegável,
vedando a lei qualquer espécie de substituição, excetuada a hipótese de autorização legal.
Não poderáexercer a função de administrador judicial a pessoa que, nos últimos 5 anos, no
exercício do cargo de administrador judicial em falência ou recuperação judicial anterior,
houver sido destituída, deixado de prestar contas dentro dos prazos legais ou tido a prestação
de contas desaprovada. Da mesma forma, também estarão impedidos de exercer a função de
administrador judicial aqueles que tiverem relação de parentesco ou afinidade até o terceiro
grau com o devedor, seus administradores, controladores ou representantes legais, ou
deles for amigo, inimigo ou dependente.
9
A destituição poderá ser requerida por qualquer interessado, qualquer credor ou pelo
Ministério Público. O juiz poderá destituir o administrador que descumprir os seus deveres,
for omisso ou negligente, ou praticar atos lesivos ao devedor ou a terceiros, como na
hipótese da não apresentação, dentro do prazo legal, das contas ou relatórios a que está
obrigado. Logo, diferentemente da substituição, a destituição possui caráter sancionatório,
aplicando-se àqueles administradores que não agirem de forma diligente. Em razão de seu
caráter, traz como consequências a vedação para novo exercício da função de administrador
judicial pelo período de 5 anos e a perda do direito a remuneração. A lei também não define
prazo para o pedido de destituição.
O administrador também pode renunciar, ainda que sem motivo, mas neste caso não
terá direito a remuneração.
Responderá o administrador judicial pelos prejuízos eventualmente causados ao
devedor, à massa falida ou aos credores sempre que atuar com dolo ou culpa.
A remuneraçãodo administrador levará em conta a capacidade de pagamento do
devedor, o grau de complexidade do trabalho e os valores praticados no mercado para
atividades afins. Na recuperação judicial, o valor da remuneração do administrador judicial
fixada pelo juiz não poderá ultrapassar a 5% do montante devido aos credores, pago a
critério do juiz. Na falência, o valor da remuneração do administrador judicial fixada pelo juiz
não poderá ultrapassar a 5%do valor dos bens vendidos, pago 60% da remuneração fixada
pelo juiz por ocasião da venda dos bens do falido e os 40% restantes deverão ser pagos ao
final, após a prestação de contas pelo administrador judicial e a sua aprovação (não fará jus à
remuneração o administrador judicial que tiver as suas contas desaprovadas. Tratando-se de
microempresa ou empresa de pequeno porte, a remuneração fica restrita a 2%.
É o órgão que agrega todos aqueles que têm crédito contra o empresário individual,
sociedade empresária ou EIRELI, constituindo-se em uma instância auxiliar. Será organizada
em quatro classes, estando composta por titulares de créditos derivados da legislação do
trabalho ou decorrentes de acidente do trabalho; de créditos com garantia real; de créditos
10
quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados; e de créditos
enquadrados como microempresa ou empresa de pequeno porte.
Desse modo, os titulares de créditos de outra natureza (tributários e decorrentes de
multas e penas pecuniárias) não integrarão a assembleia. Tais créditos não estão sujeitos à
habilitação, bem como o processo de execução fiscal não se suspende5.
A assembleia geral conspira a favor da esperada celeridade dos procedimentos
falimentares, haja vista que, uma vez considerados isoladamente, cada credor defenderia seu
próprio interesse, o que certamente inviabilizaria o processo.
Dentre as atribuições da assembleia geral, destacam-se deliberar sobre a aprovação,
rejeição ou modificação do plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor, deliberar
sobre a possível adoção de outras modalidades de liquidação do ativo na falência e deliberar
sobre a conveniência da constituição do comitê de credores, assim como sobre qualquer
matéria de interesse dos credores.
Presidida pelo administrador judicial e convocada pelo juiz, será instalada, em primeira
convocação, a partir da presença de credores que sejam titulares de mais da metade dos
valores dos créditos de cada classe, e em segunda convocação, com qualquer número.
Via de regra, o voto do credor será proporcional ao valor de seu crédito, mas em
relação à classe dos titulares de créditos trabalhistas e decorrentes de acidente do trabalho
a proposta deverá ser aprovada por maioria simples dos credores presentes,
independentemente do valor de seus créditos. Nas deliberações sobre o plano de
recuperação judicial, todas as classes da assembleia geral de credores deverão aprovar a
proposta, sob pena de inviabilizar a recuperação.
É um órgão facultativo que atua no dia a dia do processo, na proteção dos interesses
da assembleia geral de credores, sendo dotado de natureza fiscalizatória. É composto por
apenas quatro membros, cada qual com direito a dois suplentes, sendo um membro indicado
pela classe dos credores trabalhistas, um membro indicado pela classe dos credores com
5
Vide questão 1.
11
garantia real ou privilégios especiais e um membro indicado pela classe de credores
quirografários e com privilégios gerais e um membro indicado pela classe de credores
representantes de microempresas e empresas de pequeno porte.
4.3.1 Conceito
Trata-se de medida excepcional, que tem por objetivo viabilizar a superação da crise
econômico-financeira do empresário individual, da sociedade empresária e da EIRELI ao prever
12
um verdadeiro plano de reestruturação, com diversas medidas de ordem financeira, jurídica e
econômica, conferindo assim efetivas chances de superação do quadro de crise.
A recuperação judicial tem por objetivos a manutenção da fonte produtora, a
manutenção do emprego dos trabalhadores, e a garantia dos interesses dos credores. A ideia
é proteger a função social da empresae o princípio da preservação da empresa.
4.3.2 Legitimidade
4.3.3 Cabimento
Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido,
exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos
seguintes requisitos, cumulativamente:
I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em
julgado, as responsabilidades daí decorrentes;
II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial;
III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com
base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo;
IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador,
pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.
6
Vide questão 2.
13
do devedor as obrigações a título gratuito, as despesas com habilitação ou impugnação do
crédito(salvo as custas judiciais decorrentes de litígio do qual o devedor saiu vencido) e
também não se submetem aos efeitos da recuperação judicial os credores titulares de
posição de proprietários fiduciários de bens móveis ou imóveis, arrendadores mercantis
(credores no contrato de “leasing”), proprietários ou promitentes vendedores de bens
imóveis, cujos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou
irretratabilidade(inclusive em incorporações imobiliárias), proprietários em contrato de
venda com reserva de domínio, credor no adiantamento de contrato de câmbio para
exportação(ACC), desde que o prazo total da operação, inclusive eventuais prorrogações, não
exceda o previsto nas normas específicas da autoridade responsável.
Os créditos não incluídos no plano de recuperação serão recebidos pelos credores
segundo a forma originalmente contratada. Os credores de empresa em recuperação
conservam seus direitos e privilégios contra coobrigados, independentemente do que foi
planificado pelo devedor. Portanto, o credor com garantia de terceiro, ainda que sujeito aos
efeitos da recuperação judicial, poderá executar o garantidor.
O empresário individual, a sociedade empresária e a EIRELI, que atendendo aos
requisitos do art. 48 da LFREF, enfrentem crise econômico-financeira, estarão legitimados a
pedir a recuperação judicial. Trata-se de meio de superação do seu estado de crise, que deve
ser materializado em petição inicial que demonstre ao juiz a realidade econômica, financeira e
patrimonial da empresa, bem como sua importância no contexto local, regional ou nacional,
deixando patente a sua efetiva capacidade de reestruturação, e observando os demais
elementos que devem instruir a petição inicial.
4.3.6 Processamento
7
Vide questão 7.
8
Vide questão 4.
15
do processamento, ressalvadas as ações que demandarem quantia ilíquida, de natureza
trabalhista, de execuções fiscais e as promovidas por credores não sujeitos à recuperação.
Determinará ao devedor a apresentação de contas demonstrativas mensais enquanto perdurar
a recuperação e ordenará a intimação do MP e comunicação por cartas às Fazendas.
Ainda que não sujeitos à recuperação, se os bens objeto da constrição forem essenciais
à atividade empresarial do devedor, não poderão ser retirados ou vendidos no prazo de 180
dias a contar do deferimento do processamento.
O devedor não poderá desistir do pedido após o deferimento do seu processamento,
salvo se obtiver a aprovação da desistência na assembleia geral de credores.
16
acrescida ao seu nome empresarial a expressão “em Recuperação Judicial”. A decisão que
concede a recuperação judicial constitui título executivo judicial.
Deferida a recuperação, permanecerá o devedor em recuperação até que se cumpram
todas as obrigações previstas no plano para os primeiros 2 anos.
Ressalvadas as hipóteses elencadas no art. 64 da LFREF, que se aconselha leitura atenta,
permanecerá o devedor (ou seus administradores) à frente da empresa.
Após o período de 2 anos, ocorrerá o encerramento da recuperação desde que todas a
obrigações previstas para esse período tenham sido cumpridas, presumindo-se que conseguirá
cumprir as demais.
A recuperação judicial poderá ser convertida em falência, dando-se de imediato
prosseguimento ao feito nos próprios autos. São hipóteses de convolação:
9
Vide questão 05.
17
O plano especial deve ser apresentado pelo devedor, informando os meios através dos
quais pretende suplantar a crise. O prazo para a apresentação do plano especial é de 60 dias
a contar da publicação da decisão que deferir o processamento.
A inicial deverá ser instruída com os documentos arrolados pelo art. 51 da LFRE, com a
exceção daqueles apontados pelo inciso II (balanço patrimonial, relatório de fluxo de caixa,
etc.), podendo assim apresentar livros e escrituração contábil simplificados, nos termos da
legislação específica.
Os requisitos são os da recuperação ordinária, previstos no art. 48 da LFREF.
Estão sujeitos a recuperação judicial com base no plano especial todos os créditos
existentes na data do pedido, ainda que não vencidos, excetuados os decorrentes de repasse
de recursos oficiais, os fiscais, e os previstos nos §§ 3º e 4º do art. 49 (crédito do proprietário
fiduciário de bens móveis ou imóveis; o crédito do arrendador mercantil; o crédito do
proprietário ou promitente vendedor de bem imóvel cujo contrato esteja gravado com
cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias; de
proprietário em contrato de venda com reserva de domínio e do credor no adiantamento de
contrato de câmbio)10.
O plano especial preverá parcelamento em até 36 parcelas mensais, iguais e sucessivas,
acrescidas de juros equivalentes à taxa Sistema Especial de Liquidação e de Custódia – SELIC,
podendo conter ainda a proposta de abatimento do valor das dívidas. Preverá o pagamento
da 1ª parcela no prazo máximo de 180 dias, contado da distribuição do pedido, e estabelecerá
a necessidade de autorização judicial para o aumento de despesas ou contratação de
empregados. O planonãoacarreta a suspensão do curso da prescrição, nem das ações e
execuções por créditos não abrangidos pelo plano.
A recuperação com base no plano especial é concedida pelo juiz se atendidas às
exigências legais, independentemente de convocação da assembleia geral de credorespara
deliberação sobre o plano.
Apesar de não haver convocação específica para tal fim, é possível que os credores
tomem a iniciativa de se reunir e, caso haja objeção de mais da metade dos credores titulares
de créditos quirografários, o juiz julgará improcedente o pedido e decretará a falência.
10
Vide questão 3.
18
4.5 Recuperação Extrajudicial
19
a) Recuperação extrajudicial ordinária (REO): Traduz a adesão voluntária de todos os
credores elencados no plano, produzindo efeitos unicamente entre os seus
signatários.
b) Recuperação extrajudicial extraordinária (REE): Faculta-se ao devedor requerer a
homologação de plano de RE assinado por credores que representem mais de 3/5
de todos os créditos de cada espécie por ele abrangidos, hipótese na qual dita
homologação, atendidos os requisitos legais, obrigará a todos os credores
abrangidos pelo plano, mesmo aqueles que não tenham aderido ao acordo.
Uma vez distribuído o pedido de homologação, veda a lei que os credores desistam da
adesão ao plano. Assim, a menos que haja a anuência expressa dos demais signatários,
incluído o devedor e todos os demais credores, não será possível a desistência após a
distribuição do pedido de homologação.
Recebido o pedido de homologação do plano, o juiz ordenará a publicação de edital
convocando todos os credores para eventual apresentação de impugnações, no prazo de 30
dias, a contar da publicação do edital. A lei restringe as matérias que podem ser objeto de
impugnação. São elas o não preenchimento do percentual mínimo de mais de 3/5 dos
créditos de cada espécie pelo plano abrangidos, a prática de ato de falência nos termos do
art. 94, III da LFRE, ou ato revogável nos termos do art. 130 da LFRE, ou o descumprimento de
qualquer requisito ou exigência legal.
Apresentada a impugnação, abre-se prazo de 5 dias para que o devedor se manifeste
sobre ela. Em seguida, os autos serão imediatamente conclusos ao juiz para apreciação, o qual
decidirá, também em 5 dias, acerca do plano, homologando-o por sentença se entender não
haver irregularidades ou indeferindo o pedido se houver prova de irregularidade. Rejeitado o
plano, os créditos mantêm as condições originalmente contratadas.
A sentença de homologação do plano constitui título executivo judicial. Assim, não
sendo cumpridas as suas disposições, poderão os credores buscar a sua execução específica
ou pedir a falência do devedor.
20
4.6 Falência
Diferentemente do que pode parecer à primeira vista, a simples condição de credor não
é suficiente para que seja acolhido o pedido de decretação da falência contra o devedor
inadimplente. São 3 as justificativaspara a falência:
21
iii. Transfere estabelecimento a terceiro(s), credor(es) ou não, sem o
consentimento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes
para solver o seu passivo;11
iv. Simula a transferência de seu principal estabelecimento com o
objetivo de burlar a legislação ou fiscalização ou para prejudicar o(s)
credor(es);
v. Dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente,
sem ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para honrar o
seu passivo.
vi. Ausentar-se sem deixar representante habilitado e com recursos
suficientes para pagar os credores, abandona o estabelecimento ou
tenta ocultar-se do seu domicílio, do local de sua sede ou de seu
principal estabelecimento;
vii. Deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no
plano de recuperação judicial.
Na hipótese de pedido com base na prática de atos de falência, a petição inicial deve
descrever os fatos que o caracterizam, juntando-se as provas que houver e especificando-se as
que serão produzidas.
Na impontualidade injustificadae na execução frustrada, as provas são pré-
constituídas, bastando juntar os documentos comprobatórios do alegado, ou seja, os títulos
executivos acompanhados dos respectivos instrumentos de protesto, no caso da
impontualidade; e os títulos executivos, assim como a certidão do juízo da execução, na
execução frustrada.
Já na hipótese de decretação da falência com base na prática de ato falimentar, a
situação modifica-se profundamente, haja vista que, nela, o pedido de falência é apresentado
a partir de fatos que dependem da dilação probatória regular, ou seja, a petição inicial deverá
estar instruída com todos os documentos necessários a comprovação do fato que está sendo
alegado.
11
Vide questão 8.
22
4.6.2 Legitimidade para decretação da falência
4.6.3 Procedimento
12
Vide questão 9.
13
Vide questão 6.
23
A sentença que decretar a falência responderá também, dentre outros, pela fixação do
termo legal da falência (período de até 90 dias, contados do pedido ou do primeiro protesto
por falta de pagamento, excluindo-se, para esta finalidade, os protestos que tenham sido
cancelados), nomeação do administrador judicial, ordem para que o falido apresente, dentro
de 5 dias, a relação dos credores, explicitação do prazo para habilitação dos credores,
determinação da suspensão de todas as ações execuções contra o falido e determinação para
a convocação da assembleia geral de credores, quando conveniente, a fim de formar o Comitê
de Credores.
Da decisão que decreta a falência(chamada “sentença”) cabe agravo de instrumento, e
da sentença que julga a improcedência do pedidocabe apelação.
24
III – despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição do seu
produto, bem como custas do processo de falência;
IV – custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha sido
vencida;
Como já visto, por ocasião da falência, deve haver a arrecadação do patrimônio ativo do
devedor, visando a sua realização (venda) e pagamento do coletivo de credores. Ocorre que,
como também já comentado, certamente o produto da realização do patrimônio do devedor
não será suficiente para a satisfação de todo o passivo da empresa falida, de modo que é
preciso imprimir-se alto grau de eficiência ao processo, de modo a maximizar em todo o
possível o valor auferido e minimizar o impacto social decorrente da quebra.
Nesse sentido, os incisos do art. 140 da LFRE estabelecem a ordem de preferêncianas
formas de alienação dos bens do devedor como sendo:
25
Apresentado o relatório final, o juiz encerrará a falência por sentença, a qual reveste-se
de caráter meramente processual, subsistindo a ela, portanto, todas as obrigações ainda não
adimplidas pelo devedor.
26
O próprio STJreafirmou tal posicionamento pontuando que o pedido de falência não
pode ser utilizado como simples substituto das vias executivas ordinárias(3ª Turma. AgRg
no REsp 949.576/MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 05/08/2013).
Esse entendimento foi construído na época em que vigorava a antiga Lei de Falências
(Decreto-Lei nº 7.661/45), considerando que este diploma legal permitia que fossem
formulados pedidos de falência sem que houvesse um limite mínimo do valor da dívida. Em
outras palavras, mesmo dívidas de valores ínfimos poderiam, pelo DL, servir para instruir um
pedido de falência. Dessa forma, a jurisprudência criou este entendimento (de que a falência
não pode servir como substituto da ação de cobrança) como uma forma de evitar situações
absurdas e a utilização indevida da falência, que é uma medida extrema porque tem o
potencial de gerar o fim da empresa.
Ocorre que a Lei nº 11.101/2005 (atual Lei de Falências) impôs um valor mínimo no art.
94, I para que fique caracterizada a impontualidade. Assim, a dívida deverá ser superior a 40
salários-mínimos.
Vale ressaltar, no entanto, que a Lei nº 11.101/2005 não exigiu que o autor demonstre
indícios de que o devedor está em situação de insolvência. Pela Lei, basta a impontualidade
do devedor no pagamento de dívida de valor superior a 40 salários-mínimos (STJ. 3ª Turma.
REsp 1.532.154-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/10/2016 – inf. 596).
Assim, para Fábio Ulhoa Coelho e André Luiz Ramos, por exemplo, seria possível o
uso da ação falimentar como espécie de cobrança judicial de dívidas.
Aliás, além de parte da doutrina, o próprio Superior Tribunal de Justiçatambém já
firmou entendimento, em alguns acórdãos, no sentido de permitir o uso da ação de
falência como meio de cobrança de dívidas.
STJ: Falência. Requerimento. Pequeno credor. Licitude. Indeferimento. Substituição do
processo executivo. Abuso inexistente. 1. O Ordenamento jurídico põe à disposição do
De fato, se o devedor por descuido ou falta de dinheiro, não pagar no prazo assinalado,
instaura-se o processo falimentar e a nota promissória perde a força executiva, para
tornar-se reles título quirografário, despido de qualquer preferência; b) a segunda via é a
cobrança executiva. Para percorrê-la, o credor é obrigado a localizar bens do devedor,
27
indicá-los à penhora, pagar o oficial de justiça, para que efetue a citação e, depois, para
que consume a penhora. Depois, com o processo suspenso, o exequente é obrigado a
esperar o julgamento dos embargos. Por último, decorridos vários anos, é compelido a
despender mais dinheiro, para os editais de praça ou leilão. Como se vê, este segundo
o pedido de falência, como substitutivo da ação de execução (REsp 515.285/SC, Rel. Min.
Castro Filho, Rel. p/ Acórdão Min. Humberto Gomes de Barros, DJ 07/06/2004, p. 220).
Vê-se, pois, que o próprio STJ é vacilante sobre o assunto, ora entendendo não ser
possível o uso da ação falimentar como meio de cobrança, ora entendendo de forma
contrária. André Luiz Ramos entende que é possível o uso da ação falimentar como espécie de
cobrança judicial de dívidas.
O art. 101 da LFRE responsabiliza aquele que, por dolo requerer a falência de outrem,
sujeitando-o a ser condenado, na própria sentença que julgar improcedente o pedido, a
indenizar o devedor, apurando-se as perdas e danos em liquidação de sentença.
Para coibir a abertura temerária de processo de falência, dispendendo,
desnecessariamente, recursos do Poder Judiciário, na hipótese em que aquele que requerer a
falência de outrem não encontrar patrimônio, sequer, para quitar os honorários do
administrador judicial, o STJ atribuiu ao credor indiligente a responsabilidade pelo pagamento
da sua remuneração.
28
RECURSO ESPECIAL. FALÊNCIA. NOMEAÇÃO DE ADMINISTRADOR JUDICIAL. CAUÇÃO
DA REMUNERAÇÃO. RESPONSABILIDADE. ART. 25 DA LEI nº 11.101/2005. EFEITO
deve a parte litigante agir com responsabilidade, arcando com as despesas dos atos
necessários, e por ela requeridos, para reaver seu crédito. 5. Recurso especial não
provido. (REsp 1526790/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 10/03/2016, DJe 28/03/2016)
Dissolução da sociedade
29
Haverá o encerramento da atividade empresarial e a consequente liquidação do
patrimônio social para o posterior pagamento dos credores. Trata-se do efeito principal da
decretação da falência.
FALÊNCIA. AÇÃO AJUIZADA PELA SOCIEDADE FALIDA. A sociedade empresária falida não
tem legitimidade para o ajuizamento de ação cujo objetivo seja o recebimento de valor
que, segundo alega, deveria ter sido exigido pela massa falida, mas não o fora. Depois
que é decretada a falência, a sociedade empresária falida não mais possui personalidade
jurídica e não pode postular, em nome próprio, direitos da massa falida (REsp
30
Segundo esse entendimento, o juízo da falência poderia determinar a desconsideração
da personalidade jurídica da sociedade falida nos próprios autos do processo falimentar, sem
necessidade, pois, de ação autônoma. A partir da vigência do novo CPC, porém, terá que ser
observado o procedimento previsto em seus arts. 133 a 137.
O artigo 102 da Lei no 11.101/2005 assevera que “o falido fica inabilitado para exercer
qualquer atividade empresarial a partir da decretação da falência e até a sentença que
extingue suas obrigações”.
Logo, o empresário individual que vai à falência ou o sócio de responsabilidade
ilimitada de uma sociedade que tem sua falência decretada, por exemplo, ficam impedidos de
exercer qualquer atividade empresarial até que suas obrigações sejam consideradas extintas
por sentença transitada em julgado.
Ressalte-se que essa inabilitação é automática, iniciando-se com a decretação da
falência e terminando com a sentença de encerramento do processo falimentar (art. 156 da
LRE). No entanto, deve-se ressalvar a hipótese de o falido ser condenado por crime falimentar,
caso em que referida condenação também lhe impõe a pena acessória de inabilitação
empresarial, e nesse caso essa inabilitação só cessará cinco anos após a extinção da
punibilidade, nos termos do art. 181 da LRE.
Assim, no art. 102 a LRE trata tão somente da inabilitação decorrente da sentença que
decreta a falência. Nesse caso, assim que o juiz comunicar a Junta Comercial da sua decisão,
nos termos do art. 99, VIII, ela deve anotar tal fato junto aos atos constitutivos do devedor,
fazendo deles constar a expressão “falido”, acompanhada da data da decretação e da
informação de que, a partir de então, o empresário individual falido (ou, por exemplo, os
sócios de responsabilidade ilimitada de uma sociedade empresária falida) está inabilitado para
o exercício de empresa, nos termos do dispositivo ora em exame.
31
O falido não pode mais dispor dos seus bens (não pode mais vender, alugar etc.). Caso
a falência não esteja sendo bem administrada, não são apenas os credores que serão
prejudicados, mas também o próprio devedor, que tem a legítima expectativa de ver suas
dívidas rapidamente honradas, na medida do possível, para que possa pedir no futuro a
extinção de suas obrigações e voltar, eventualmente, a exercer atividade empresarial.
Ademais, quanto à sua possibilidade de intervir nos processos em que a massa seja
parte, muitas vezes é fundamental essa atuação do devedor, porque ele, presume-se, conhece
melhor do que qualquer pessoa os fatos que envolvem as demandas em que a massa é parte.
Segundo o STJ(4ª Turma, AgRg no REsp 1.229.579-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado
em 18/12/2012 – inf. 513), é possível a extensão dos efeitos da falência às sociedades do
mesmo grupo, sempre que houver evidências de utilização da personalidade jurídica da falida
com abuso de direito, para fraudar a lei ou prejudicar terceiros, e desde que:
a) Seja demonstrada a existência de vínculo societário no âmbito do grupo
econômico;
Ainda segundo o STJ, esta extensão dos efeitos da falência às sociedades integrantes do
mesmo grupo da falida encontra respaldo na teoria da desconsideração da personalidade
jurídica.
Enunciado 50, CJF: A extensão dos efeitos da quebra a outras pessoas jurídicas e físicas
confere legitimidade à massa falida para figurar nos polos ativo e passivo das ações nas
quais figurem aqueles atingidos pela falência.
Por fim, cabe elencar como outros efeitos da decretação da falência sobre a pessoa do
falido.
33
preferênciasobre todos os demais credores, as dívidas do devedor vencidas até o dia da
decretação da falência, provenha o vencimento da sentença de falência ou não, obedecidos
os requisitos da legislação civil”.
A regra do art. 122, todavia, não é absoluta, uma vez que o seu parágrafo único
estabelece que “não se compensam: I – os créditos transferidos após a decretação da
falência, salvo em caso de sucessão por fusão, incorporação, cisão ou morte; ou II – os
créditos, ainda que vencidos anteriormente, transferidos quando já conhecido o estado de
crise econômico-financeira do devedor ou cuja transferência se operou com fraude ou dolo”.
Por fim, com a sentença haverá a suspensão da fluência de juros. Determina o art. 124
da LFRE que “contra a massa falida não são exigíveis juros vencidos após a decretação da
falência, previstos em lei ou em contrato, se o ativo apurado não bastar para o pagamento
dos credores subordinados”. Assim, em princípio, fica suspensa a fluência de juros contra o
devedor falido.
Todavia, uma vez realizado o ativo e verificando-se que a massa possui recursos
suficientes para saldar todos os seus credores, inclusive os subordinados, computam-se os
juros normalmente e a massa deve pagá-los, conforme entendimento pacífico do Superior
Tribunal de Justiça.
STJ: [...] Os juros moratórios devidos pela massa falida obedecem ao seguinte regime: (i)
antes da decretação da falência, são devidos os juros de mora, independentemente da
existência de ativo suficiente para pagamento do principal; (ii) após a decretação da
falência, a incidência dos juros fica condicionada à suficiência do ativo para
pagamentodo principal (REsp 760.752/SC, Rel. Min. Luiz Fux, DJ 02/04/2007).
34
Ocorrendo essa situação, segundo o referido autor, a solução dependerá da posição
assumida pelo devedor falido na relação contratual: (i) se ele é credor, caberá ao
administrador judicial tomar as providências necessárias ao recebimento do crédito, que se
incorporará à massa; (ii) se ele é devedor, caberá à parte contratante adversa habilitar o seu
crédito no processo falimentar, a fim de receber o que lhe for devido no momento oportuno.
As regras dos arts. 117 e 118 são excepcionadas quando o contrato possuir a chamada
cláusula de resolução por falência. Nesse caso, a decretação da quebra implicará a resolução
imediata do contrato, o que acontecerá, frise-se, não por força da sentença de falência ou de
regras do direito falimentar, mas tão somente em obediência à vontade das partes
contratantes, manifestada em cláusula contratual expressa nesse sentido.
35
O juízo universal, nas palavras de Fábio Ulhôa, é a aptidão atrativa do juízo falimentar,
ao qual a lei conferiu a competência para conhecer e julgar todas as medidas judiciais de
conteúdo patrimonial referentes ao falido ou à massa falida – vis attractiva.
Desta feita, vislumbram-se as seguintes exceções ao juízo universal:
a) Ações não reguladas pela Lei de Falências de que seja autora ou litisconsorte
b) Ações que demandam quantia ilíquida (art. 6º, §1º), até que o valor devido seja
c) Ações de execução fiscal: o STJ já decidiu, sob a égide da Lei 11.101/2005, que a
d) Ações trabalhistas: cabe à própria justiça trabalhista processar e julgar a ação, até
b) Reclamações trabalhistas;
c) Execuções fiscais.
A primeira exceção é referente às ações que demandam quantia ilíquida, esteja a massa
falida no polo ativo ou no polo passivo da relação processual. Como a falência é um processo
36
de execução – execução concursal de devedor empresário insolvente –, seu rito é incompatível
com o de ações que demandam quantia ilíquida, razão pela qual essas ações, obviamente, não
se suspendem nem são atraídas para o juízo falimentar, devendo prosseguir na vara em que
tramitam até que o valor devido seja devidamente apurado e liquidado.
A segunda exceção se refere às demandas em curso na Justiça do Trabalho, que são,
basicamente, as reclamações trabalhistas. Nesse caso, cabe à própria justiça trabalhista
processar e julgar a ação, até que seja definido e liquidado o respectivo crédito. Somente
então deverá ser remetida a execução desse crédito ao juízo falimentar, que o incluirá na
ordem correspondente, assegurando-lhe a preferência que a legislação falimentar confere.
Nesse sentido, confiram-se os acórdãos do Superior Tribunal de Justiça, anteriores à LFRE, mas
que manifestaram entendimento que se mantém atual.
Art. 6º [...]
37
§7º As execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da recuperação
judicial, ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do Código Tributário
Nacional e da legislação ordinária específica.
Segundo esses autores, pela interpretação a contrario sensu desse dispositivo, a
decretação da falência suspende o curso da execução fiscal.
No entanto, já na vigência da LFRE, o STJ decidiu que a execução fiscal contra a massa
falida não se suspende, podendo correr normalmente perante o juízo no qual foi
proposta, mesmo que o juízo falimentar esteja situado em outra circunscrição. O crédito
fiscal deve, porém, respeitar a ordem de classificação dos créditos prevista na legislação
falimentar – art. 83 da LFRE (CC 63.919/PE, Rel. Min. Humberto Martins, DJ 12/02/2007).
De fato, a execução fiscal não deve ser suspensa em razão da decretação da falência do
devedor, tendo em vista o disposto no art. 5º da Lei de Execuções Fiscais (a competência para
processar e julgar a execução da Dívida Ativa da Fazenda Pública exclui a de qualquer outro
Juízo, inclusive o da falência, da concordata, da liquidação, da insolvência ou do inventário).
Nesse sentido já se posicionou o STJ (AgRg no AREsp 526.303/MG, Rel. Ministro Napoleão
Nunes Maia Filho, 1ª Turma, j. 20/11/2014, DJe 04/12/2014).
No entanto, embora a execução fiscal não se suspenda, isso não permite que o juízo da
execução fiscal determine medidas constritivas contra o patrimônio do devedor após a sua
falência, pois isso significaria excluir o crédito tributário da execução concursal falimentar, em
clara violação do art. 83, III, da LFRE e do princípio da par conditio creditorum. Assim,
tomando conhecimento da decretação da quebra, o juízo da execução fiscal deve apenas
comunicar ao juízo universal da falência o crédito tributário exequendo, a fim de que seja
devidamente incluso no quadro-geral de credores.
Sob a égide da antiga legislação falimentar, que continha regra específica sobre o
assunto, o STJ entendia que a execução com penhora já realizada deveria prosseguir, com a
realização da hasta pública e a consequente venda do bem.
No entanto, o produto resultante da alienação dos bens, os quais foram penhorados
antes da decretação da falência, deve ser remetido ao juízo universal da falência, a fim de que
neste se proceda aos pagamentos de acordo com a ordem legal de preferência dos créditos.
38
A atual legislação, todavia, não contém regra específica. O STJ, em acórdão proferido já
na vigência da nova lei, entende que deve se manter a mesma orientação da legislação
anterior.
Em suma: decretada a falência, a execução de quaisquer créditos contra o devedor
falido deve ser feita no juízo universal da falência, ainda que se trate de crédito trabalhista ou
tributário. Admite-se o prosseguimento da execução, excepcionalmente, apenas para que se
ultimem alguns atos executórios já iniciados, em homenagem aos princípios da economia e
celeridade processuais. Mesmo assim, o produto arrecadado deve ser remetido ao juízo
falimentar, que o incorporará à massa e pagará os credores segundo a ordem de preferência
determinada em lei.
STJ: [...] Embora as execuções fiscais não se suspendam com o deferimento da falência,
caso realizados atos de constrição judicial anteriormente à quebra, devem ser liquidados
e, somente após auferidos, os valores deverão ser revertidos à massa falida para
apuração da ordem legal de classificação creditícia (AgRg no CC 137.123/PR, Rel.
Ministro João Otávio de Noronha, Segunda Seção, j. 28/10/2015, DJe 03/11/2015).
39
Restituição de bens
Sabe-se que a arrecadação dos bens do devedor, como medida que visa à definição do
seu ativo, com a consequente formação da massa falida objetiva, é procedimento que
determina que o administrador judicial arrecade todos os bens do falido, ficando estes sob os
seus cuidados. Assim, o administrador judicial se responsabilizará pela sua guarda e
conservação até o momento da realização da venda, cujo produto será usado para pagamento
dos credores.
O procedimento de arrecadação abrange tanto os bens de propriedade do devedor
falido quanto os bens que apenas se encontram na sua posse, como, por exemplo, bens dos
quais ele é mero locatário ou comodatário. Sendo assim, pode ser, eventualmente, que a
arrecadação atinja bens de terceiros, os quais, logicamente, não poderão de forma alguma ser
utilizados para pagamento dos credores do falido.
Portanto, para que se complete a correta definição do ativo que será executado no
processo falimentar, é preciso proceder, após a arrecadação, à restituição de alguns bens aos
seus reais proprietários.
O primeiro caso de restituição de bens arrecadados está consagrado no art. 85 da LRE,
segundo o qual “o proprietário de bem arrecadado no processo de falência ou que se
encontre em poder do devedor na data da decretação da falência poderá pedir sua
restituição”. Tem-se, aqui, caso em que o bem arrecadado é de propriedade de terceiro. Pode
ser, por exemplo, que o bem tivesse sido entregue ao falido em comodato.
O segundo caso está previsto no art. 85, parágrafo único, da LRE, que dispõe o
seguinte: “também pode ser pedida a restituição de coisa vendida a crédito e entregue ao
devedor nos 15 dias anteriores ao requerimento de sua falência, se ainda não alienada”.
Aqui a situação é um pouco diferente. Trata-se de bem que foi vendido a crédito ao
falido, entregue a este até 15 dias antes da decretação de sua quebra e ainda não alienado. O
objetivo do legislador, nesse caso, foi proteger o terceiro de boa-fé que contratou com o
falido às vésperas de sua falência.
Afinal, nos 15 dias anteriores à quebra é bastante provável que o empresário devedor
ou os administradores da sociedade devedora soubessem da situação de crise da empresa,
fato que deveria fazer com que não adquirissem mercadorias a crédito, haja vista a grande
possibilidade de não poderem honrar o compromisso assumido.
40
A terceira hipótese de restituição, por sua vez, está assegurada pelo art. 86, II, da LRE,
que faz referência a outro dispositivo normativo. Com efeito, prevê a norma em comento que
caberá a restituição em dinheiro da importância entregue ao devedor, em moeda corrente
nacional, decorrente de adiantamento a contrato de câmbio para exportação.
O STJ entende que os valores referentes a ADIANTAMENTO A CONTRATO DE CÂMBIO
devem mesmo ser restituídos, e não habilitados junto aos demais créditos para recebimento
posterior.
Há ainda uma quarta hipótese de restituição, prevista no art. 86, III, da LRE, que está
disciplinada no art. 136 da LRE. Trata-se da situação em que o juiz declara a ineficácia de ato
praticado pelo falido antes da decretação da quebra, caso em que “as partes retornarão ao
estado anterior, e o contratante de boa-fé terá direito à restituição dos bens ou valores
entregues ao devedor”. Nesse caso a restituição também será feita em dinheiro.
Nos processos de falência, o INSS reivindicará os valores descontados pela empresa de
seus empregados e ainda não recolhidos (art. 51, parágrafo único, da Lei 8.212/91).
41
deverão tais correntistas requerer habilitação de seu crédito, na classe de credores
quirografários (AgRg no REsp 660.762/MG, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ 13/06/2005).
Restituição em dinheiro
A restituição em dinheiro não é a regra, devendo ocorrer apenas nas hipóteses do art.
86 da Lei nº 11.101/2005 (ex.: se a coisa ainda existir, a restituição não será em dinheiro).
Ocorrerá em 3 situações:
a) Quando a coisa não mais existir ao tempo do pedido de restituição, hipótese em
42
Não é cabível a restituição de quantia em dinheiro que se encontra depositada em
conta corrente de banco falido, em razão de contrato de trust.
Ineficácia Objetiva
legal, por qualquer meio extintivo do direito de crédito, ainda que pelo desconto
do próprio título;
hipoteca forem objeto de outras posteriores, a massa falida receberá a parte que
43
f) A venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento expresso
restado ao devedor bens suficientes para solver o seu passivo, salvo se, no prazo
de 30 (trinta) dias, não houver oposição dos credores, após serem devidamente
STJ: [...] Não ocorrendo demonstração de fraude, é eficaz em relação à massa falida a
alienação de imóvel de sua propriedade ocorrida dentro do termo legal da falência,
também denominado período suspeito, mas anteriormente à declaração da quebra (REsp
681.798/PR, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 22/08/2005).
O que a regra preceitua é que se a venda foi feita, mas o registro respectivo não foi
efetuado, não se poderá fazê-lo depois da sentença de quebra.
Desta feita, descoberta a prática de um dos atos acima descritos nos incisos do art. 129,
“a ineficácia poderá ser declarada de ofício pelo juiz, alegada em defesa ou pleiteada
mediante ação própria ou incidentalmente no curso do processo” (art. 129, parágrafo único,
da LRE). Trata-se de novidade interessantíssima trazida pela nova legislação falimentar, uma
vez que na vigência da legislação anterior o reconhecimento da ineficácia objetiva se submetia
ao procedimento da ação revocatória, hoje restrita às hipóteses de ineficácia subjetiva.
44
Além dos atos objetivamente ineficazes, previstos no rol exaustivo do art. 129 da LRE,
ela também prevê, no seu art. 130, que “são revogáveis os atos praticados com a intenção de
prejudicar credores, provando-se o conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que com
ele contratar e o efetivo prejuízo sofrido pela massa falida”.
Trata o dispositivo em questão, pois, dos atos com ineficácia subjetiva, os quais só terão
reconhecida a sua ineficácia se forem provados (i) a intenção de prejudicar os credores, (ii) o
conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que contratou com ele e (iii) o real prejuízo
da massa.
Perceba-se ainda que, no caso dos atos subjetivamente ineficazes, não há a previsão
específica de condutas típicas do devedor nem a utilização de nenhum marco temporal como
referência. Em princípio, portanto, qualquer ato do devedor que os credores julguem encaixar-
se na previsão do art. 130 da LRE, independentemente da época de sua prática, pode ser
questionado com o requerimento de declaração da sua ineficácia perante a massa
Ao contrário do que ocorre com os atos de ineficácia objetiva previstos no art. 129 da
LRE, a declaração de ineficácia subjetiva não poderá ser reconhecida de ofício pelo juiz,
alegada em defesa ou pleiteada incidentalmente. Nesse caso, será necessário o ajuizamento
de ação própria, a chamada ação revocatória, a qual, segundo o art. 132 da LRE, “deverá ser
proposta pelo administrador judicial, por qualquer credor ou pelo Ministério Público no prazo
de 3 (três) anos contado da decretação da falência”.
Aqui houve mais uma novidade importante trazida pela legislação falimentar atual. É
que na lei anterior o prazo para a sua propositura era de apenas 1 (um) ano, e a legitimidade
ativa, no primeiro mês, era exclusiva do síndico. Na LRE, além de o prazo ter sido aumentado
para três anos, a legitimidade, desde o início, é concorrente entre administrador judicial,
credores e Ministério Público.
A ação revocatória, que corre perante o juízo universal da falência e segue o rito
comum do Novo Código de Processo Civil (art. 134 da LRE), pode ser ajuizada contra: (i) todos
os que figuraram no ato ou que por efeito dele foram pagos, garantidos ou beneficiados; (ii)
os terceiros adquirentes, se tiveram conhecimento, ao se criar o direito, da intenção do
devedor de prejudicar os credores; (iii) os herdeiros ou legatários das pessoas indicadas nos
dois casos ora mencionados (art. 133 da LRE).
45
Julgada procedente a ação revocatória pelo juiz da falência, este “determinará o retorno
dos bens à massa falida em espécie, com todos os acessórios, ou o valor de mercado,
acrescidos das perdas e danos” (art. 135 da LRE). Esses bens ou valores obtidos por meio da
ação revocatória, é óbvio, servirão no futuro para pagamento de todos os credores, respeitada
a ordem de preferência de cada um deles. Da sentença proferida na ação revocatória cabe
apelação (art. 135, parágrafo único).
Ressalte-se ainda que durante o curso da ação revocatória o juiz pode, exercendo o seu
poder geral de cautela, “a requerimento do autor da ação, ordenar, como medida preventiva,
na forma da lei processual civil, o sequestro dos bens retirados do patrimônio do devedor que
estejam em poder de terceiros”.
Por fim, o ato objetivamente ou subjetivamente ineficaz pode assim ser reconhecido
“ainda que praticado com base em decisão judicial, observado o disposto no art. 131 desta
Lei” (art. 138 da LRE). Nesse caso, “ficará rescindida a sentença que o motivou” (art. 138,
parágrafo único).
Ineficácia Subjetiva
46
QUADRO SINÓTICO
Fase pré-falimentar
Pedido de Recuperação:
47
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
OAB – XXVII EOU | 2018: A Fazenda Pública do Estado de Pernambuco ajuizou ação de
execução fiscal em face de sociedade empresária. No curso da demanda, houve o
processamento da recuperação judicial da sociedade.
Comentário:
A questão exigiu do candidato a aplicação direta do texto legal, no caso, do art. 6º, § 7º, da
Lei n.º 11.10/2005.
Contudo, o § 7º do mesmo artigo ressalva as execuções de natureza fiscal, que não serão
suspensas com o deferimento do processamento da recuperação judicial, salvo na hipótese
48
de concessão de parcelamento nos termos do Código Tributário Nacional e da legislação
ordinária específica, não sendo o caso.
Questão 2
OAB – EOU | 2007.3: Não tem legitimidade ativa para requerer a falência do devedor:
A) O empresário irregular.
B) O credor com garantia real.
C) O herdeiro do devedor.
D) O próprio devedor.
Comentário:
Conforme instruído neste material, o empresário que não registra seus atos constitutivos,
estando em situação irregular, não pode pedir a falência de seu devedor. Qualquer outro
credor, herdeiro do devedor ou ele próprio terá legitimidade para requerer a falência,
conforme art. 97 da Lei 11.101/2005.
Questão 3
OAB – XXV EOU:A Lei 11.101/2005 prevê a possibilidade de o empresário renegociar seus
débitos mediante os institutos da recuperação judicial e da recuperação extrajudicial. Acerca
das semelhanças e diferenças entre ambos os institutos, assinale a opção correta.
49
A) Diferentemente do previsto para a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial
limita-se a procedimento negocial entre o devedor e os respectivos credores, excluída
a participação do Poder Judiciário em qualquer uma de suas fases.
B) Ambos os procedimentos envolvem a negociação de todos os créditos oponíveis ao
devedor, sendo a recuperação extrajudicial reservada apenas às microempresas e
empresas de pequeno porte.
C) Ambos os procedimentos exigem que o devedor apresente plano de recuperação, o
qual somente vinculará os envolvidos se devidamente aprovado em assembleia geral
de credores.
D) Diferentemente do previsto para a recuperação extrajudicial, o pedido de recuperação
judicial poderá acarretar a suspensão de ações e execuções contra o devedor antes
que o plano de recuperação do empresário seja apresentado aos credores.
Comentário:
Alternativa A: INCORRETA
Alternativa B: INCORRETA
Alternativa C: INCORRETA
50
O plano de recuperação judicial, ainda que não obtenha o quórum para aprovação
na assembleia geral de credores estabelecido em lei, pode vir a ser concedido pelo
juiz se atendidas exigências do art. 58, § 1º, da Lei 11.101/2005. Conforme art. 164
da Lei 11.101/2005, o plano de recuperação extrajudicial, por sua vez, não é
submetido à apreciação de assembleia geral de credores, de modo que caberá a
estes tão somente impugnar o pedido de homologação diretamente em juízo;
ALTERNATIVA D: CORRETA
Questão 4
51
( ) A falência de Sociedades de Economia Mista submete-se às regras da Lei nº 11.101/2005,
diferentemente da falência de Empresas Públicas, que é regida por lei própria.
A) V F V F
B) F V F V
C) V F V V
D) F V F F
Comentário:
A EGON alegou que a lei de falências não inclui a Fazenda Pública entre os que
podem requerer a quebra da empresa. Argumentou, também, que isso poderia
representar coação moral com a transformação do processo de falência em balcão
para a cobrança de dívidas.
53
atingindo os credores que não tenham concordado, nos termos dos arts. 162 e 163
da Lei 11.101/2005;
Questão 5
FCC - 2020 - TJ-MS - Juiz Substituto:De acordo com a atual redação da Lei n° 11.101/2005,
o pedido de recuperação judicial, com base em plano especial para microempresas e
empresas de pequeno porte,
Comentário:
Alternativa A: INCORRETA
Quirografário vem do grego "χέρι" (quéri), que significa "mão". Esse radical aparece em outras
palavras como quiropraxia, quiromante (quem lê as mãos) ou, se alguém vem da área da
54
Química, os termos quiral e aquiral da estereoquímica. Aqui a ideia, salvo melhor juízo, é que
o crédito quirografário é aquele que vem apenas da assinatura - daí o termo quirografário. Ou
seja, quirografário seria aquele crédito que resulta apenas da vontade das partes, que
assinaram o acordo. Essa era a ideia por trás do termo, de forma a diferencia-lo dos créditos
reais, que decorriam de bens, não da vontade. Com o tempo, entretanto, o significado foi
sendo ampliado, de forma que hoje o termo não é tão simples assim, tendo um sentido mais
técnico e específico, como créditos sem preferência (grosso modo). E o que isso importa
para a questão? Ora, sabendo que os créditos quirografários são aqueles que sem preferência,
então estariam excluídos créditos trabalhistas, créditos reais (tais como os garantidos por
hipoteca, penhor, etc.), créditos tributários, etc. Será que faria sentido fazer uma recuperação
judicial deixando de fora os créditos os valores da hipoteca do imóvel onde a empresa
funciona? Certamente que não, por diversas razões: complexidade em se apurar em conjunto
os valores, falta de unidade para o juízo da recuperação, etc. Logo o item é incorreto.
Observação: apesar da lógica acima explicada, a lei afirmava exatamente o que diz o item A
até 2014, quando resolveram dar efetividade ao plano especial das MEs e EPPs, aumentando o
rol dos créditos incluídos no plano especial.
Alternativa B: INCORRETA
Alternativa C: INCORRETA
55
Por qual razão? Provavelmente por questões políticas. Explico - os créditos que ficaram de
fora do plano especial são os seguintes: créditos advindos de recursos oficiais (BNDES sendo
o grande exemplo); créditos fiscais (federal, estadual e municipal); créditos de arrendador
mercantil (leasing), proprietário fiduciário, promitente vendedor de imóvel cujos contratos
contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, proprietário em contrato de
venda com reserva de domínio e créditos decorrentes de importâncias entregues ao devedor
como adiantamento em contrato de câmbio para exportação. Provavelmente, não se previu
a suspensão das ações envolvendo esses créditos para não prejudicar a Fazenda e os grandes
bancos que emprestam dinheiro para as pequenas empresas. Súmula 581 STJ.
ALTERNATIVA D: CORRETA
Alternativa E: INCORRETA
Não será convocada assembleia-geral de credores para deliberar sobre o plano, e o juiz
concederá a recuperação judicial se atendidas as demais exigências da Lei de Falências (art. 72,
caput). Mas, cuidado! O parágrafo único do art. 72 trata de hipótese na qual o juiz julgará
improcedente o pedido de recuperação judicial e, consequentemente, decretará a falência, se
houver objeções de credores titulares de mais da metade de qualquer uma das classes de
créditos previstos no art. 83, computados na forma do art. 45, todos da Lei de Falências
Questão 6
56
documentos ignorados na época do julgamento do crédito ou da inclusão no quadro-geral de
credores.
Comentário:
Correta
Questão 7
CESPE - 2019 - DPE-DF - Defensor Público:Uma sociedade limitada que possuía um único
sócio-administrador sofreu várias condenações judiciais para pagamento de dívidas. Na ação
de execução de uma dessas dívidas, não pagou, nem depositou os valores que estavam sendo
executados, nem nomeou bens à penhora. A pedido de um credor, foi decretada a falência da
sociedade. A partir dessa situação hipotética, julgue o item que se segue.
Comentário:
Errada.
57
pelas obrigações da sociedade, não há nenhuma diferença entre os sócios relacionada ao
exercício de funções administrativas ou de representação legal. Tanto os sócios diretores,
administradores ou liquidantes quanto os que apenas prestaram capital para o negócio
respondem pelas obrigações sociais na mesma extensão. Quando se trata de sociedade
limitada, se o capital social está inteiramente integralizado, os sócios não têm responsabilidade
pelas obrigações sociais, ou seja, seus bens pessoais não são envolvidos, de nenhum modo,
no processo falimentar.
“Os dois sistemas de execução por concurso universal existentes no direito pátrio – insolvência
civil e falência -, entre outras diferenças, distanciam-se um do outro no tocante à concepção
do que seja estado de insolvência, necessário em ambos. O sistema falimentar, ao contrário da
insolvência civil (art. 748 do CPC), não tem alicerce na insolvência econômica. 2. O pressuposto
para a instauração de processo de falência é a insolvência jurídica, que é caracterizada a partir
de situações objetivamente apontadas pelo ordenamento jurídico. No caso do direito
brasileiro, caracteriza a insolvência jurídica, nos termos do art. 94 da Lei n. 11.101/2005, a
impontualidade injustificada (inciso I), execução frustrada (inciso II) e a prática de atos de
falência (inciso III). (…).” (STJ, REsp 1433652/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 18/09/2014, DJe 29/10/2014)
Questão 8
CESPE - 2019 - DPE-DF - Defensor Público:Uma sociedade limitada que possuía um único
sócio-administrador sofreu várias condenações judiciais para pagamento de dívidas. Na ação
de execução de uma dessas dívidas, não pagou, nem depositou os valores que estavam sendo
executados, nem nomeou bens à penhora. A pedido de um credor, foi decretada a falência da
sociedade. A partir dessa situação hipotética, julgue o item que se segue.
Infere-se da situação apresentada que o passivo da sociedade é maior que seu ativo, daí a
correta decretação da falência.
58
Comentário:
Correta
Fundamentação da própria banca CESPE: Não é possível afirmar que há insolvência econômica.
A sociedade pode ter o ativo maior que o passivo, mas não ter liquidez para pagar as dívidas
no vencimento. No caso, conforme o enunciado, a decretação da falência ocorreu não por
insolvência econômica (passivo maior que ativo), mas por insolvência jurídica (execução
frustrada – LRF, art. 94, II): “Art. 94. Será decretada a falência do devedor que: (...) II executado
por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens
suficientes dentro do prazo legal;”
Questão 9
CESPE - 2019 - DPE-DF - Defensor Público:Uma sociedade limitada que possuía um único
sócio-administrador sofreu várias condenações judiciais para pagamento de dívidas. Na ação
de execução de uma dessas dívidas, não pagou, nem depositou os valores que estavam sendo
executados, nem nomeou bens à penhora. A pedido de um credor, foi decretada a falência da
sociedade. A partir dessa situação hipotética, julgue o item que se segue.
Comentário:
Errada.
59
ao falido, sociedade limitada, recaem apenas sobre os administradores, não sendo cabível
nenhuma restrição à pessoa dos sócios não administradores.”“Art. 81. A decisão que decreta a
falência da sociedade com sócios ilimitadamente responsáveis também acarreta a falência
destes, que ficam sujeitos aos mesmos efeitos jurídicos produzidos em relação à sociedade
falida e, por isso, deverão ser citados para apresentar contestação, se assim o desejarem.§ 1.º
O disposto no caput deste artigo aplica-se ao sócio que tenha se retirado voluntariamente ou
que tenha sido excluído da sociedade, há menos de 2 anos, quanto às dívidas existentes na
data do arquivamento da alteração do contrato, no caso de não terem sido solvidas até a data
da decretação da falência.§ 2.º As sociedades falidas serão representadas na falência por seus
administradores ou liquidantes, os quais terão os mesmos direitos e, sob as mesmas penas,
ficarão sujeitos às obrigações que cabem ao falido.Art. 82. A responsabilidade pessoal dos
sócios de responsabilidade limitada, dos controladores e dos administradores da sociedade
falida, estabelecida nas respectivas leis, será apurada no próprio juízo da falência,
independentemente da realização do ativo e da prova da sua insuficiência para cobrir o
passivo, observado o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil.”
Enunciado 49, I Jornada Dir. Comercial CJF - Os deveres impostos pela Lei n. 11.101/2005 ao
falido, [na] sociedade limitada, recaem apenas sobre os administradores, não sendo cabível
nenhuma restrição à pessoa dos sócios não administradores.
Questão 10
De acordo com a legislação que rege a falência e a recuperação judicial, o Ministério Público
possui legitimidade para apresentar ao magistrado impugnação contra a relação de credores,
oportunidade em que pode apontar a ausência de qualquer crédito ou se manifestar contra a
legitimidade, a importância ou a classificação de determinado crédito.
60
Comentário:
Correta.
Lei 11.101/2005: Art. 8º No prazo de 10 (dez) dias, contado da publicação da relação referida
no art. 7o, § 2o, desta Lei, o Comitê, qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou o
Ministério Público podem apresentar ao juiz impugnação contra a relação de credores,
apontando a ausência de qualquer crédito ou manifestando-se contra a legitimidade,
importância ou classificação de crédito relacionado.
Questão 11
( ) Certo
( ) Errado
Comentário:
Certo – Com base na lei 11.101/05 - Regula a Recuperação Judicial, a extrajudicial e a falência
do empresário e da sociedade empresária. Com fulcro no art. 180 da referida lei, a sentença
que decreta a falência é condição objetiva de punibilidade das infrações penais cometidas.
Válida também leitura do artigo179. Na falência, na recuperação judicial e na recuperação
61
extrajudicial de sociedades, os seus sócios, diretores, gerentes, administradores e conselheiros,
de fato ou de direito, bem como o administrador judicial, equiparam-se ao devedor ou falido
para todos os efeitos penais decorrentes desta Lei, na medida de sua culpabilidade.
Questão 12
Comentário:
Há créditos que não se sujeitam à recuperação judicial, como os créditos com garantia
fiduciária.
62
Art. 49. § 3º Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis
ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos
respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em
incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com reserva de
domínio, seu crédito não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os
direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação
respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere o § 4o
do art. 6o desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital
essenciais a sua atividade empresarial.
Art. 50, § 1º Na alienação de bem objeto de garantia real, a supressão da garantia ou sua
substituição somente serão admitidas mediante aprovação expressa do credor titular da
respectiva garantia.
D) distribuindo o pedido de recuperação judicial, o devedor não pode alienar ou onerar bens
ou direitos de seu ativo permanente, salvo evidente utilidade reconhecida pelo administrador
judicial. → ERRADA
Art. 66. Após a distribuição do pedido de recuperação judicial, o devedor não poderá alienar
ou onerar bens ou direitos de seu ativo permanente, salvo evidente utilidade reconhecida
pelo juiz, depois de ouvido o Comitê, com exceção daqueles previamente relacionados no
plano de recuperação judicial.
63
Art. 61. Proferida a decisão prevista no art. 58 desta Lei, o devedor permanecerá em
recuperação judicial até que se cumpram todas as obrigações previstas no plano que se
vencerem até 2 (dois) anos depois da concessão da recuperação judicial.
Art. 63. Cumpridas as obrigações vencidas no prazo previsto no caput do art. 61 desta Lei, o
juiz decretará por sentença o encerramento da recuperação judicial e determinará:
64
Questão 13
65
Comentário:
A) Art. 120. O mandato conferido pelo devedor, antes da falência, para a realização de
negócios, cessará seus efeitos com a decretação da falência, cabendo ao mandatário prestar
contas de sua gestão - ERRADA
§ 2º Para o falido, cessa o mandato ou comissão que houver recebido antes da falência, salvo
os que versem sobre matéria estranha à atividade empresarial.
B) Art. 114. O administrador judicial poderá alugar ou celebrar outro contrato referente aos
bens da massa falida, com o objetivo de produzir renda para a massa falida, mediante
autorização do Comitê - ERRADA
§ 1º O contrato disposto no caput deste artigo não gera direito de preferência na compra e
não pode importar disposição total ou parcial dos bens.
C) Art. 112. Os bens arrecadados poderão ser removidos, desde que haja necessidade de
sua melhor guarda e conservação, hipótese em que permanecerão em depósito sob
responsabilidade do administrador judicial, mediante compromisso. - ERRADA
D) CORRETA
E) Art. 129. São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante
conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor, seja ou não intenção
deste fraudar credores:
IV – a prática de atos a título gratuito, desde 2 (dois) anos antes da decretação da falência;
- ERRADA
66
GABARITO
Questão 1 - B
Questão 2 - A
Questão 3 - D
Questão 4 - D
Questão 5 - D
Questão 6 - Correta
Questão 7 - Errada
Questão 8 - Correta
Questão 9 - Errada
Questão 10 - Correta
Questão 11 -Certo
Questão 12 -B
Questão 13 -D
67
QUESTÃO DESAFIO
Máximo de 5 linhas
68
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO
Ação Ordinária
O quadro geral de créditos homologado judicialmente pode ser retificado por meio de
procedimento de ação ordinária, previsto no Código de Processo Civil, conforme art. 19 da Lei
11.101 de 2005.
O autor Ricardo Negrão afirma sobre o dispositivo (NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito
Empresarial. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. p. 360-360.): Natureza da ação – o dispositivo
abrange duas espécies distintas de ações: rescisória de sentença (quando referir-se a título
judicial, julgamento de crédito retardatário ou de impugnação de crédito) ou anulação de ato
judicial (homologação do quadro geral, sem que tenha havido impugnações dos credores). O
rito de ambas as ações é ordinário.
O art. 19 da Lei 11.101 de 2005 ainda acrescenta, em seu §1º, que a ação prevista neste artigo
será proposta exclusivamente perante o juízo da recuperação judicial ou da falência ou, nas
hipóteses previstas no art. 6º, §§ 1º e 2º, desta Lei, perante o juízo que tenha originariamente
reconhecido o crédito.
69
JURISPRUDÊNCIA
STJ. REsp 1799041/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 02/04/2019, DJe
04/04/2019
STJ. REsp 1634844/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
12/03/2019, DJe 15/03/2019
70
benefícios aos fornecedores de insumos essenciais ao funcionamento da empresa, prerrogativa baseada em
critério objetivo e justificada no plano aprovado pela assembleia geral de credores.7. A aplicação do cramdown
exige que o plano de recuperação judicial não implique concessão de tratamento diferenciado entre os
credores de uma mesma classe que tenham rejeitado a proposta, hipótese da qual não se cogita no
presente caso.8. Recurso especial não provido.
STJ. REsp 1700700/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/02/2019, DJe
08/02/2019
STJ. REsp 1727771/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/05/2018, DJe
18/05/2018
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. DEVEDOR EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL NÃO VERIFICADA. CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO. EVENTO DANOSO
OCORRIDO EM MOMENTO ANTERIOR AO PEDIDO RECUPERACIONAL. SUBMISSÃO AOS SEUS EFEITOS.
SENTENÇA CONDENATÓRIA PROFERIDA POSTERIORMENTE.IRRELEVÂNCIA.1. Ação ajuizada em 20/5/2013.
Recurso especial interposto em 27/9/2017 e concluso ao Gabinete em 8/3/2018.2. O propósito recursal é definir
se o crédito de titularidade das recorridas, decorrente de sentença condenatória transitada em julgado após o
pedido de recuperação judicial do devedor, deve sujeitar-se ao plano de soerguimento.3. Devidamente analisadas
e discutidas as questões controvertidas, e suficientemente fundamentado o acórdão recorrido, não há como
reconhecer a ocorrência de negativa de prestação jurisdicional.4. Para os fins do art. 49, caput, da Lei
11.101/05, a constituição do crédito discutido em ação de responsabilidade civil não se condiciona ao
provimento judicial que declare sua existência e determine sua quantificação. Precedente.5. Na hipótese,
tratando-se de crédito derivado de fato ocorrido em momento anterior àquele em que requerida a recuperação
judicial, deve ser reconhecida sua sujeição ao plano de soerguimento da sociedade devedora.6. Recurso
especial provido.
71
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Lei 11.101/05;
Súmulas do STJ: 8, 25, 29, 36, 133, 219, 248, 264, 305, 307, 361, 581;
72
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2020.
FAZZIO JUNIOR, WALDO. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2020.
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição.
São Paulo: Editora JusPodivm, 2020.
73
Capítulo 5
SUMÁRIO
Capítulo 5 ............................................................................................................................................................................. 3
Aceite ...................................................................................................................................................... 13
Aval.......................................................................................................................................................... 15
Endosso ................................................................................................................................................... 17
Prescrição ................................................................................................................................................ 22
Protesto extrajudicial .............................................................................................................................. 23
Aval.......................................................................................................................................................... 27
Endosso ................................................................................................................................................... 27
Prescrição ................................................................................................................................................ 27
Aceite ...................................................................................................................................................... 30
Prescrição ................................................................................................................................................ 31
Protesto ................................................................................................................................................... 32
1
QUESTÕES .......................................................................................................................................................................... 36
GABARITO .......................................................................................................................................................................... 52
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 56
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................................................. 61
2
DIREITO EMPRESARIAL
Capítulo 5
Neste capítulo, futuro Delta,estudaremos Direito Cambiário, tema de baixa incidência nos
concursos de Delegado Civil. Porém, nos editais que trazem o referido assunto é importante
focar nas peculiaridades de cada título.
5.2 Conceito
3
O jurista italiano o definiu como o documento necessário para o exercício do direito, literal e
autônomo, nele mencionado.
Tal conceito foi adotado pelo Código Civil, que em seu art. 887 dispõe que “o título de
crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido,
somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei”.
Assim, deste conceito, devemos destacar:
O título é um documento;
O título é literal, isto é,os valores exigidos só podem ser aqueles ali,
expressamente firmados;
O título é autônomo, isto é,se desvincula da relação que lhe deu origem.
Diga-se ainda, que o disposto no CC não se aplica aos títulos de crédito que possuem
legislação específica (típicos). Isto é, as normas do CC são de aplicação supletiva, destinadas a
suprir lacunas em regramentos jurídicos específicos.
Títulos de crédito típicos/próprios são aqueles que possuem legislação específica
(duplicata, letra de câmbio, nota promissória e cheque).
Já os títulos de crédito atípicos não possuem lei específica, aplicando-se a teoria geral
dos títulos de crédito existente no CC.
4
circulação) e executividade (constituem título executivo).
1
Vide questão 6.
2
Vide questão 7.
3 PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora
5.3 Características
6
f) QUERABLE/QUESÍVEL É o credor que vai em direção ao devedor para receber o seu
dinheiro, como regra.
g) BEM MÓVEL: Conforme a doutrina, jurisprudência e lei
h) FORMAL: Como regra, devem ser indicados no título o nome, o local do
pagamento e a assinatura.
i) EFICÁCIA PROCESSUAL ABSTRATA:Pode ser considerada a característica mais
importante. Por ela compreende-se que quando se vai a juízo não há necessidade
de discutir a causa debendi que envolve o título.
5.4 Princípios
5.4.1 Literalidade
5.4.2 Cartularidade
5.4.3 Autonomia
Cada relação jurídica existente no título é autônoma uma da outra, ou seja, o eventual
vício existente em uma relação não contamina as demais. As relações, portanto, serão
formadas separadamente, como se formassem obrigações e direitos separados. O legítimo
portador do título pode exercer seu direito de crédito sem depender das demais relações que
o antecederam, estando completamente imune aos vícios ou defeitos que eventualmente as
acometeram.
Quando se diz que os títulos de créditos são autônomos, tal autonomia não se refere à
relação de débito e crédito que lhe deu origem, e sim ao relacionamento entre o devedor e
terceiros. Há uma independência dos diversos e sucessivos possuidores dos títulos de crédito
em relação a cada um dos outros.
Assim, se X emite uma nota promissória a favor de Y, que a transfere a Z, por meio de
endosso, Z será seu legítimo beneficiário, podendo receber o valor na data do vencimento.
Não poderá X, no vencimento do título, alegar contra Z que não a paga por ser Y seu devedor
de igual ou superior soma, pois, uma vez sendo os títulos cambiários autônomos, o possuidor
de boa-fé exercita um direito próprio, que não pode ser restringido ou desconfigurado em
virtude das relações existentes entre os anteriores possuidores e o devedor.
Assim, temos que cada obrigação que deriva do título é autônoma em relação às
demais. O princípio da autonomia, por seu turno, se desdobra em outros dois:
Abstração
Segundo o subprincípio da abstração, entende-se que quando o título circula, ele se
desvincula da relação que lhe deu origem. Assim, no exemplo dado anteriormente, quando Y
endossou o título para Z, fazendo-o circular, tal título se desvinculou da operação que lhe deu
origem. A abstração significa, portanto, a completa desvinculação do título em relação à causa
que originou sua emissão.
Veja-se que enquanto a relação cambial é travada entre os próprios sujeitos que
8
participaram da relação que originou o título, existe uma vinculação entre esta relação e o
título dela originado. No mesmo exemplo já mencionado, se Y não circula o título para Z, há
uma vinculação entre o título emitido e a relação de compra e venda que acarretou sua
emissão.
Resta claro, portanto, que a circulação do título é fundamental para que se opere a sua
abstração, ou seja, para que o título se desvincule completamente do seu negócio originário.
Posto em circulação, o título passará a vincular outras pessoas, que não participaram da
relação originária, e que por isso assumem obrigações e direitos tão somente em função do
título, representado pela cártula.
Essa abstração desaparecerá com a prescrição do título, que opera não apenas a perda
da executividade, mas também a perda da sua cambiaridade, ou seja, o título perde as suas
características intrínsecas de título de crédito.
Por isso, o STJ entende que caberá ao credor, na cobrança de título prescrito,
demonstrar a origem da dívida, o locupletamento ilícito do devedor (REsp 457.556/SP, Rel.
Min. Nancy Andrighi, DJ 16/12/2002,).
De modelo livre– não contam com padrão legal predefinido. São exemplos de
títulos de modelo livre a letra de câmbio e a nota promissória.
De modelo vinculado– devem seguir padrão previamente fixado por lei, do que
9
depende inclusive a sua válida produção de efeitos, como o cheque.
10
A diferença entre endosso e cessão civil é que o primeiro garante a existência e o
pagamento do título, enquanto que o segundo garante apenas a existência. O tema será mais
detalhadamente estudado adiante.
Causais: são aqueles que só podem ser emitidos quando da ocorrência de fatos
determinados por lei como causas para a sua emissão. Nesse sentido, a duplicata
trata-se de título causal, uma vez que só pode ser emitida a partir de uma
compra e venda mercantil ou prestação de serviço.
Não causais: são aqueles que podem ser emitidos a partir de qualquer evento,
considerando que a lei não determina causas específicas ensejadoras de sua
emissão. É o caso da letra de câmbio, da nota promissória e do cheque.
A letra de câmbio ou simplesmente letra, é título de crédito que estabelece uma ordem
de pagamento (“à ordem”), criado mediante “saque” (emissão), que responde pela formação
de três posições jurídicas, quais sejam sacador (emitente do título), sacado (aquele contra
quem se emite o título) e tomador (o beneficiário do título).
O sacador, ao emitir uma letra de câmbio, dá uma ordem ao sacado para que pague o
valor constante do título ao tomador.
Nada obsta, entretanto, que uma mesma pessoa ocupe duas posições nessa relação,
sendo, assim, sacador e sacado ou sacador e tomador simultaneamente.
A letra transfere-se por endosso, completa-se pelo aceite (facultativo na letra de
câmbio) e garante-se pelo aval.
11
Requisitos formais da letra de câmbio:
Os requisitos formais da letra de câmbio estão previstos no art. 1º do Decreto-Lei nº
57.663/66 (Lei Uniforme de Genebra):
Aceite:
Ao receber das mãos do sacador a letra de câmbio, o tomador deve procurar o sacado
para apresentar-lhe o título e consultá-lo sobre a aceitação da ordem. Aceitando a letra, o
sacado se compromete a pagar o valor constante do título ao seu beneficiário na data do
vencimento. Assim, a declaração do aceite torna o sacado/aceitante devedor principal.5
Observe-se que o sacado não se encontra obrigado a pagar o título contra a sua
vontade. Ao contrário. Na verdade, enquanto aquele (sacado) não manifestar a sua
concordância por meio do aceite, não terá qualquer obrigação cambial. Sendo assim, fica claro
que a letra de câmbio é passível de aceite, mas que ele é umato facultativo.
A recusa do aceite na letra de câmbio pode ensejar o vencimento antecipado do título
contra o sacador (emitente).
4
Vide questões 3 e 5.
5
Vide questão 9.
13
houverem, o valor constante da letra. Não promovido o protesto tempestivo, perderá o
tomador o direito de acionar, antecipadamente, o sacador e demais coobrigados cambiários.6
6
Vide questão 8.
14
executá-la, de imediato e pela totalidade, contra o sacador.
Para evitar a antecipação provocada pela recusa do aceite, a lei possibilita ao sacador a
introdução da cláusula “não aceitável” ou expressão equivalente. Inserida a cláusula “não
aceitável", o tomador somente poderá apresentar o título ao sacado na data designada para o
seu vencimento, protegendo assim o sacador e demais coobrigados cambiários contra o risco
de vencimento antecipado do título. Contudo, ainda que presente a cláusula “não aceitável”,
caso o sacado aceite a letra antes do seu vencimento, este será válido.
Aval:
O pagamento de título de crédito pode ser garantido por aval que é uma garantia
cambial firmada por um avalista (que pode ser um terceiro estranho ao título ou mesmo
alguém a este já atrelado) ao avalizado (pessoa cuja obrigação é garantida), garantindo o
pagamento do título.7
Segundo o STJ, o aval, por ser instituto típico do direito cambiário, é dotado de
autonomia substancial, de sorte que a sua existência, validade e eficácia não estão jungidas à
da obrigação avalizada.
7
Vide questão 1.
15
título, que, inclusive, não pode opor em seu favor qualquer dos efeitos
decorrentes da quebra do avalizado (REsp 883.859/SC, Rel. Min. Nancy
Andrighi, 3ª Turma, j. 10/03/2009, DJe 23/03/2009).
O aval será escrito na própria letra ou em uma folha anexa e, se não indicada a pessoa
por quem se dá, ou seja, em prol de quem se presta o aval (aval em branco), entende-se que
foi dado a favor do sacador (aval em branco= aval em favor do sacador). Chama-se aval em
preto o que indica o favorecido.
Admite-se o aval parcial em relação à letra de câmbio, nota promissória e cheque, dada a
previsão nas leis específicas, mas não se permite em relação à duplicata e demais títulos, aplicando-se
a regra geral que o veda (art. 897, parágrafo único, do Código Civil).
AVAL FIANÇA
O aval pode ser aposto antes ou após o vencimento do título, produzindo em ambos os
casos o mesmo efeito. A simples assinatura do doador aposta na face anterior da letra, salvo
se trata das assinaturas do sacado ou do sacador, considera-se como aval.
A menos que o regime matrimonial seja o de separação total de bens, a constituição do
16
aval dependerá de outorga conjugal.
Os avais simultâneos, também denominados de coavais, ocorrem quando duas ou mais
pessoas avalizam um título conjuntamente, garantindo a mesma obrigação cambial. Assim, nos
avais simultâneos os avalistas são considerados uma só pessoa, razão pela qual assumem
responsabilidade solidária regida pelas regras do direito civil. Em suma: eles dividem a dívida,
razão pela qual se um deles pagá-la integralmente ao credor, terá direito de regresso contra o
devedor principal relativo ao total da dívida, mas terá direito de regresso contra o outro
avalista apenas em relação à sua parte – se forem apenas dois avalistas, por exemplo, terá
direito de regresso em relação a apenas metade da dívida.
Os avais sucessivos, por sua vez, também chamados de aval de aval, ocorrem quando
alguém avaliza um outro avalista. Nesse caso, todos os eventuais avalistas dos avalistas terão a
mesma responsabilidade do avalizado, ou seja, aquele que pagar a dívida terá direito de
regresso em relação ao total da dívida, e não apenas em relação a uma parte dela.
Endosso:
O endosso é uma forma de transferência do direito ao valor constante do título, a partir
da assinatura do seu possuidor no próprio título (embora na letra de câmbio o endosso possa
ser lançado no próprio título ou em uma declaração anexa, quando falte espaço na cártula).
O endosso responde pela formação de duas posições jurídicas: a do endossante (pessoa
que transfere o título) e a do endossatário (pessoa para a qual o título é transferido).
É vedado o endosso parcial, ou seja, aquele que diga respeito apenas a uma parte do
valor constante do título. Se lançada cláusula nesse sentido, será nula. Com o endosso, ocorre
a transferência integral do crédito contido no título.
Ademais da propriedade do título, o endosso transfere também a garantia do seu
adimplemento. Por isso, diz-se que o endosso normalmente produz dois efeitos: transfere o
título ao endossatário (1º efeito) e vincula o endossante ao seu pagamento (2º efeito).
Contudo, se não for intuito do endossante assumir a responsabilidade pelo pagamento do
título, e com isso concordar o endossatário, poderá operar-se a exoneração de sua
responsabilidade através da cláusula “sem garantia”, que apenas o endosso admite.
Por exemplo, A deve a B R$ 200. O título é representado por uma lera de câmbio. O
17
título de crédito foi feito para circular. B endossa esse título para C, que coloca a cláusula
“sem garantia” e transfere para D.
É importante observar que o endosso sem garantia não tem forma. É o caso de, no
verso do título, C escrever algo que referencie à cláusula “sem garantia” e entregue o título
para D. Ao fazer isso, C se exime de responsabilidade, não garante a D e os demais que
vierem na cadeia cambiária. D, nesse caso, poderá cobrar dos demais integrantes da cadeia
cambiária ou dos avalistas.
Ademais, se D transferiu para outrem, este poderá cobrar de qualquer um da cadeia
cambiária, bem como dos avalistas, menos de C, que não garantirá o valor a D e aos demais
que virão após dele na cadeia cambiária.
Quem coloca essa cláusula no título se exime de responsabilidade que de uma cadeia
cambiária. O devedor principal, “A”, jamais poderá fazer uso do endosso sem garantia, porque
ele é o emitente, e antes dele não tem ninguém, não tem como abandonar o barco.
Toda letra de câmbio, ainda que não traga expressa a cláusula “à ordem”, é endossável,
uma vez que é da própria natureza da letra a capacidade de circulação. Se houver a intenção
de impedir o endosso, deve ser lançada no título a cláusula “não à ordem”. Nesta hipótese, a
letra só será transmissível pela forma e com os efeitos de uma cessão civil de créditos, não
estando sua circulação sujeita ao regime jurídico-cambial, mas sim ao Direito Civil.8
8 PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora
jus podivm, 2017. p. 155.
18
do título (salvo “sem garantia”) do título
Da mesma forma, o endosso realizado após o protestodo título produz apenas efeitos
de uma cessão civil de crédito. É o chamado endosso tardio ou póstumo.
O endosso pode ser em preto(completo) ou em branco(incompleto). Será em preto
quando trouxer a indicação do beneficiário (endossatário) do crédito que se transfere, ou
em branco quando trouxer a simples assinatura do endossante, sem a indicação do
beneficiário do crédito, hipótese na qual se cria a possibilidade de livre circulação do título (o
converte em título ao portador).
Outra forma de endosso é o endosso impróprio, do qual são espécies o endosso-
mandato e o endosso-caução(ouendosso-garantia ou endosso-pignoratício). O endosso-
mandatoé aquele através do qual o credor do título pode constituir um representante
(endossatário-mandatário) para o exercício dos direitos que dele emanam, ou seja, para que
este possa realizar a cobrança do título em nome do endossante (credor). O endosso-caução,
por sua vez, é aquele no qual o título é usado como garantia de uma obrigação assumida
pelo endossante.9
O art. 12 da LUG (Lei Uniforme de Genebra – Decreto 57.663) trata do endosso
condicionado:
Artigo 12: O endosso deve ser puro e simples. Qualquer condição a que
ele seja subordinado considera-se como não escrita. O endosso parcial é
nulo. O endosso ao portador vale como endosso em branco.
Imagine que a endossará determinado título de crédito a B, desde que B faça algo
estipulado por A. B pode “chutar o balde” não fazer nada e o título mesmo assim será dele.
Tal condição é desconsiderada.
Essa declaração cambiária, o endosso Condicionado é válido? Tem efeitos? Sim, o título
será de B (conforme ex.), gera efeito de endosso normal, porque a condição é considerada
não escrita, é ignorada.
Também é possível efetivar um endosso proibindo-se um novo endosso. Considere
que A deve a B R$ 100. O título é representado por uma letra de câmbio. Então, B endossa
9 PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora
jus podivm, 2017. p. 156.
19
para C, que coloca a cláusula que proíbe um novo endosso e transfere para D.
No verso do título, C escreve algo que referencie a proibição (não há forma
predeterminada) que faça alusão à cláusula que proíbe um novo endosso e entrega o título
para D. Conclui-se, assim, que o endosso que proíbe um novo endosso não tem forma.
Aquele que coloca uma cláusula que proíbe um novo endosso tenta impedir a
circulação do título de crédito. O que se pretende é que não apareça nenhum estranho
cobrando o título. Entretanto, não tem o poder de impedir a circulação do título de crédito.
Caso D queira, entregará o título a outrem que, se quiser, entregará o título a qualquer outra
pessoa.
Haverá circulação, mas com efeito de cessão de crédito e não com efeito de endosso.
Criou-se, então, alguns obstáculos a essa circulação, dentre eles a garantia quanto aos
próximos da cadeia cambiária.
A diferença entre esta cláusula e a do endosso sem garantia (mencionada
anteriormente) é que, no endosso com cláusula “sem garantia” C não garante a D e aos
demais o valor contido no título de crédito. Já no endosso que proíbe um novo endosso há
essa garantia. Porém, essa garantia será apenas para D e não para os demais que virão na
cadeia cambiária.
Outra forma sui generis de endosso é aquela com cláusula de não protesto. São
expressões sinônimas do endosso com cláusula de não protesto: “endosso com cláusula sem
protesto” ou “endosso com a cláusula sem despesas”.
Ex: C endossa para D com “cláusula de não protesto”. A forma desse endosso é livre,
isto é, não há formalidade preestabelecida. Quem coloca essa cláusula no título não quer ser
protestado, prefere ser executado diretamente.
Motivos: o indivíduo vai participar de uma grande negociação ou licitação e não pode
ter o “nome sujo”, o que pode prejudicar sua habilitação e seu poder de negociação. Caso D
queira cobrar de C, ele não irá protestar o título, cobrará diretamente por meio de uma
execução de título de crédito extrajudicial.
Caso D leve o título a protesto a única consequência é que ele terá que pagar os custos
(emolumentos). Em regra, quando se protesta o título de alguém no Cartório de Títulos e
Documentos, quem paga as despesas é o devedor (no caso, C).
Ocorre que, se o protesto for indevido quem pagará às custas do cartório será o credor,
no caso, D. Esta será a única penalidade, pois ao inserir a cláusula de não protesto, C avisou
que não pagaria as despesas cartorárias, caso houvesse protesto.
Endosso póstumo ou tardio é o endosso que acontece depois do vencimento do
título, conforme previsto no art. 8º, parágrafo 3º do Decreto 2.044/08.
20
Art. 8º O endosso transmite a propriedade da letra de câmbio. Para a
validade do endosso, é suficiente a simples assinatura do próprio punho
do endossador ou do mandatário especial, no verso da letra.
21
No que diz respeito ao cheque, o prazo para protesto é até o término do prazo de
execução. Nele, primeiro vem o prazo de apresentação (30 dias ou 60 dias, em caso de
praça/município diferente). Com o término desse prazo, inicia-se o prazo de execução (6
meses). Então, o prazo para protestar o cheque é até terminar o prazo de executar o mesmo
(conta-se o prazo de apresentação + o prazo de execução).
Prescrição:
Os prazos prescricionais na letra de câmbio são:
22
ano, a contar da data do protesto tempestivoou da data do
vencimento(letra com cláusula “sem protesto”).
III. As ações dos endossantes uns contra os outros e contra o sacador
prescrevem em 6 (seis) meses, a contar do dia em que o endossante
pagou a letra ou em que ele próprio foi acionado (ação de regresso).
A interrupção da prescrição só produz efeito em relação à pessoa para quem a interrupção foi feita.
Protesto extrajudicial:
É o ato formal e solene através do qual se apresenta publicamente o título ao devedor,
para que este promova o seu pagamento ou o aceite, servindo como prova da inadimplência
o descumprimento de obrigação originada em títulos (como uma letra de câmbio) ou outros
documentos de dívida (como um contrato de aluguel), (art. 1º da Lei 9.492/1997 – Lei de
Protesto de Títulos e outros documentos de dívida).
23
5.6.2 Nota promissória
10
Vide questão 2.
24
7. a assinatura de quem passa a nota promissória (subscritor).
Prescrição:
A prescrição da nota promissória possui os seguintes prazos:
5.6.3 Cheque
25
Importante deixar claro que, no cheque, o banco ou instituição financeira (sacado) não
possui qualquer obrigação cambial, visto que não garante o pagamento da cártula, não
podendo ser responsabilizado ou mesmo executado pelo credor em razão da falta ou
insuficiência de fundos, atuando como mero intermediador na relação.
Considera-se como não escrita a cláusula inserida no cheque para pagamento em forma
que não seja à vista. A espécie cheque pós-datado, muito utilizado na prática comercial
brasileira, não encontra respaldo na Lei do Cheque. Assim, se um cheque é apresentado em
data anterior à indicada como “boa para pagamento”, ele deverá ser pago imediatamente pelo
banco ou instituição financeira, afinal, tem a natureza de uma ordem de pagamento à vista.
Portanto, fica patente que a apresentação futura do cheque, decorrente de acordo neste
sentido (cheque pós-datado), dependerá sempre do cumprimento do acordo pelo portador do
cheque.11
11
Vide questão 10.
26
que a simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral, independentemente de
prova do prejuízo sofrido pela vítima (dano in re ipsa).
Aval:
O cheque também poderá ser garantido, no todo ou em parte, por aval. O único que
não pode ser avalista é o sacado.
O aval poderá ser em branco ou em preto. O aval em preto é aquele que indica o
avalizado. O aval em branco é aquele que não o indica e, neste caso, considerar-se-á
avalizado o emitente do cheque.
Endosso:
Os cheques são transmitidos por endosso, que pode ser feito pelo próprio sacador
(emitente) ou por terceiro. Poderá ser feito em preto ou em branco.
Prescrição:
Os prazos prescricionais são:
27
contra o sacador, endossantes e respectivos avalistas, contados da expiração do
seu prazo de apresentação, que poderá ser de 30 dias (quando o cheque houver
de ser pago na mesma cidade em que foi emitido) ou 60 dias (quando o cheque
houver de ser pago em cidade diferente daquela de emissão).
II. A ação de enriquecimento ilícitocontra o emitente ou outros obrigados, que se
locupletaram injustamente com o não pagamento do cheque prescreve em 2
anos, contados do dia em que se consumar o prazo prescricional da execução
fundada em cheque.
III. Prescritas a ação executiva e de enriquecimento ilícito, é possível ainda o
oferecimento de ação monitória, cabível para cobrança de documentos que
perderam a sua força executiva. Nesse sentido, a Súmula 299 do STJ estabelece
que caberá ação monitória nos casos de cheque prescrito.
Segundo a súmula 531 do STJ, “Em ação monitória fundada em cheque prescrito ajuizada
contra o emitente, é dispensável a menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da
cártula.”
5.6.4 Duplicata
12
Vide questão 4.
28
fundações ou sociedades civis, que se dediquem à prestação de serviços, poderão, também,
emitir fatura e duplicata (duplicata de serviços) (art. 20, Lei 5.474/68).
29
(art. 7º, Lei 5.474/68).
Na grande maioria dos casos, o sacador negocia suas duplicatas com instituições
financeiras, recebendo adiantado uma quantia um pouco menor. Na data do vencimento das
duplicatas, as instituições financeiras recebem o valor do sacado (considerando a pontualidade
no pagamento).
I. Avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues
por sua conta e risco;
II. Vícios, defeitos, e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias,
devidamente comprovados;
III. Divergências nos prazos ou nos preços ajustados.
30
Aduz a Súmula 248 do STJque “Comprovada a prestação dos serviços, a duplicata não
aceita, mas protestada, é título hábil para instruir pedido de falência”.
Em 2018, foi publicada a Lei n.º 13.775, disciplinando a duplicata sob a forma
escritural, também conhecida como duplicata virtual ou eletrônica. Trata-se de duplicata
(mercantil ou de serviços, conforme Lei n.º 5.474/1968) emitida mediante lançamento em
sistema eletrônico de escrituração, gerido por quaisquer das entidades que, autorizadas por
órgão ou entidade da administração federal direta ou indireta, exerçam a atividade de
escrituração de duplicadas escriturais, nos moldes descritos na Lei n.º 13.775/2018 (arts. 1º a
31
3º). Antes mesmo da edição da Lei n.º 13.775/2018, a duplicada virtual já era pacificamente
aceita no ordenamento jurídico brasileiro, conforme entendimento do STJ (EREsp 1024691/PR).
Diferentemente das duplicatas disciplinadas pela Lei n.º 5.474/1968 (com emissão de
fatura e duplicata em papel), a duplicata escritural é operacionalizada por meio magnético
(internet), com o envio, pelo vendedor ou prestador de serviços (emitente, sacador, credor),
dos dados referentes ao negócio jurídico à uma instituição financeira. Com base nas
informações recebidas, a instituição financeira encaminha para o comprador ou tomador de
serviços (devedor, sacado) um boleto bancário para pagamento da obrigação decorrente do
contrato.
A duplicata, nesse caso, não existe fisicamente, mas apenas em meio virtual.
Protesto:
Se, até o dia do vencimento, não for cumprida a obrigação, as indicações do negócio
jurídico serão encaminhadas ao Tabelionato, pelo credor ou instituição financeira encarregada
da cobrança, para protesto do título por indicações (também por meio magnético).
Após o protesto, persistindo a inadimplência, o credor ou o banco poderão ajuizar ação
de execução de título extrajudicial em face do devedor, apresentando os seguintes
documentos: boleto de cobrança bancária; instrumento de protesto por indicação;
comprovante de entrega da mercadoria ou da prestação dos serviços (art. 7º da Lei n.º
13.775/2018).
32
Importante destacar que, para fins de protesto, considera-se praça de pagamentodas
duplicatas escriturais o domicílio do devedor (estabelecido conforme art. 75 do CC), salvo
acordo expresso entre as partes fixando local diverso (art. 12, § 3º, da Lei n.º 13.775/2018; art.
327 do CC).
Segundo o art. 10 da Lei n.º 13.775/2018, “são nulas de pleno direito as cláusulas
contratuais que vedam, limitam ou oneram, de forma direta ou indireta, a emissão ou a
circulação de duplicatas emitidas sob a forma cartular ou escritural”.
Ainda, “constituirá prova de pagamento, total ou parcial, da duplicata emitida sob a
forma escritural a liquidação do pagamento em favor do legítimo credor, utilizando-se
qualquer meio de pagamento existente no âmbito do Sistema de Pagamentos Brasileiro.” (art.
5º, caput, da Lei n.º 13.775/2018).
33
QUADRO SINÓTICO
ACEITE X X
ENDOSSO X
X X X
AVAL
X X X X
TÍTULO À
X X X
ORDEM
ORDEM
X X X
PAGAMENTO
ABSTRAÇÃO
X
(EMISSÃO) X X
34
REGIME JURÍDICO CAMBIÁRIO REGIME JURÍDICO CIVIL
35
QUESTÕES
Questão 1
OAB – XXVI EOU | 2018: Três Coroas Comércio de Artigos Eletrônicos Ltda. subscreveu nota
promissória em favor do Banco Dois Irmãos S.A. com vencimento a dia certo. Após o
vencimento, foi aceita uma proposta de moratória feita pelo devedor por 120 (cento e vinte)
dias, sem alteração da data de vencimento indicada no título. O beneficiário exigiu dois
avalistas simultâneos, e o devedor apresentou Montenegro e Bento, que firmaram avais em
preto no título.
Sobre esses avais e a responsabilidade dos avalistas simultâneos, assinale a afirmativa correta.
A) Por ser vedado, no direito brasileiro, o aval póstumo, os avais simultâneos são
considerados não escritos, inexistindo responsabilidade cambial dos avalistas.
B) O aval lançado na nota promissória após o vencimento ou o protesto tem efeito de
fiança, respondendo os avalistas subsidiariamente perante o portador.
C) O aval póstumo produz os mesmos efeitos do anteriormente dado, respondendo os
avalistas solidariamente e autonomamente perante o portador.
D) O aval póstumo é nulo, mas sua nulidade não se estende à obrigação firmada pelo
subscritor (avalizado), em razão do princípio da autonomia.
Comentário:
36
A questão versa sobre o aval, com destaque para duas espécies: o aval póstumo e o aval
simultâneo.
O aval póstumo é aquele realizado após o vencimento do título. Embora haja divergência
doutrinária acerca da sua validade, o Código Civil reconhece a sua existência e a ele atribui
todos os efeitos do aval dado antes do vencimento do título, conforme art. 900 do CC.
Por aval simultâneo entende-se aquele em que duas ou mais pessoas avalizam um título de
crédito em conjunto, garantindo uma mesma obrigação cambial, pela qual se obrigam
solidariamente.
Questão 2
37
Comentário:
AlternativaA:CORRETA
AlternativaB:CORRETA
Alternativa C:INCORRETA
AlternativaD:CORRETA
O avalista que paga o título tem direito de regresso contra o avalizado e qualquer
coobrigado anterior, conforme art. 899, §1º, do CC/02;
Alternativa E:CORRETA
Questão 3
OAB – XXII EOU | 2018: Em relação aos títulos de crédito, assinale a afirmativa incorreta.
38
C) O saque de uma letra de câmbio é considerado declaração originária e necessária à
constituição do crédito.
D) O endosso parcial é considerado nulo.
E) O endosso impróprio transfere o exercício dos direitos inerentes à cambial.
Comentário:
AlternativaA:CORRETA
Alternativa B:INCORRETA
AlternativaC:CORRETA
AlternativaD:CORRETA
AlternativaE: CORRETA
39
Questão 4
FCC - 2020 - TJ-MS - Juiz Substituto: De acordo com a Lei n° 5.474/1968, que dispõe sobre
as duplicatas,
Comentário:
AlternativaA:INCORRETA
AlternativaB:INCORRETA
Lei 5.474/68: Art. 12. O pagamento da duplicata poderá ser assegurado por aval,
sendo o avalista equiparado àquele cujo nome indicar; na falta da indicação, àquele
abaixo de cuja firma lançar a sua; fora dêsses casos, ao comprador.
40
Alternativa C:CORRETA
AlternativaD:INCORRETA
Parágrafo único. A reforma ou prorrogação de que trata este artigo, para manter a
coobrigação dos demais intervenientes por endosso ou aval, requer a anuência
expressa destes.
AlternativaE: INCORRETA
Questão 5
FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2018 - INB - Advogado: Quanto aos títulos de crédito, é
correto afirmar:
A) Os títulos de crédito podem ser à ordem ou não à ordem. Os primeiros circulam pela
tradição com mera cessão civil de crédito; os últimos, mediante tradição com endosso,
sendo certo que a cláusula não à ordem precisa ser explicitada.
B) Na nota promissória, intervêm fundamentalmente três pessoas: sacador ou emissor,
que é a pessoa que dá a ordem de pagamento; sacado, pessoa que, aceitando a nota,
deve pagar seu valor; e tomador, que é a pessoa que recebe a nota promissória do
41
sacador e pode cobrá-la no vencimento, ou seja, a pessoa a quem a nota deve ser
paga.
C) O cheque é uma ordem de pagamento à vista ou a prazo, sobre quantia determinada,
emitida contra um banco, com base em provisão de fundos depositados pelo emitente
ou oriundos de abertura de crédito.
D) A omissão, pelo devedor, de quaisquer indicações pode ser completada pelo portador,
até o momento de fazer valer publicamente o título, ou seja, no fim da circulação ou
no momento de ingressar em juízo para a cobrança executiva.
Comentário:
AlternativaA:INCORRETA
AlternativaB:INCORRETA
AlternativaC:INCORRETA
Alternativa D:conforme entendimento da Súmula 387 do STF: "a cambial emitida ou aceita
com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança
ou do protesto".
42
Questão 6
Eva comprou mercadorias em uma loja popular e emitiu um cheque do Banco Bradesco em 10
de outubro, preenchendo a data de emissão correta, mas combinando oralmente com a
vendedora que ela deveria depositá-lo apenas em 01 de novembro do mesmo ano. A
vendedora endossa o cheque emitido por Eva a um de seus fornecedores, sem mencionar o
que fora verbalmente combinado. O endossatário apresenta o título ao Banco Bradesco antes
de 01 de novembro. O cheque é devolvido por insuficiência de fundos, e o nome de Eva é
inserido no Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF) pelo Banco do Brasil, gestor
do referido cadastro, sem que este a notifique previamente.
Comentário:
43
AlternativaA:INCORRETA
AlternativaB:INCORRETA
AlternativaD:INCORRETA
AlternativaE:INCORRETA
A devolução do cheque pelo Bradesco, por si só, não caracteriza dano moral, uma
vez que não existiam fundos suficientes na conta do correntista, razão pela qual se
tem como legítima da devolução do cheque. Contudo, com base no princípio da
boa-fé objetiva, poderia haver responsabilização civil do lojista, exclusivamente, uma
vez que o acordo para apresentação do cheque foi feito de forma oral, não
contendo qualquer menção a ele na literalidade da cártula.
44
Questão 7
Comentário:
Conforme Fábio Ulhôa Coelho, "O subprincípio da abstração é uma formulação derivada do
princípio da autonomia, que dá relevância à ligação entre o título de crédito e a relação, ato
ou fato jurídico que deram origem à obrigação por ele representada."
Questão 8
A promoção prévia de protesto válido do título é condição para que o credor de título de
crédito válido mova uma ação de execução contra o devedor principal.
Comentário:
45
Para o credor exigir judicialmente do aceitante ou do seu avalista a dívida cambiária não é
necessário o prévio protesto do título. Esse é o entendimento da jurisprudência, vez que o
protesto aqui é facultativo ou probatório, interessa apenas para provar a mora do
sacado/avalista.
Questão 9
CESPE - 2015 - Telebras - Advogado: Acerca da letra de câmbio, julgue o item a seguir.
A regra de que o aceite na letra seja somente praticado pelo sacado não é absoluta, uma vez
que a Lei Uniforme acata o aceite por intervenção, diante da falta ou recusa do aceite pelo
sacado, após o protesto; um terceiro, não nomeado pelo sacado, poderá́ aceitar a letra, desde
que o portador da letra concorde.
Comentário:
Questão 10
CESPE - 2013 - DPF – Delegado: De acordo com a legislação empresarial vigente, julgue o
item a seguir.
O denominado cheque pré-datado, apesar de usual no comércio brasileiro, não está previsto
na legislação, segundo a qual o cheque é uma ordem de pagamento à vista, estando a
instituição bancária obrigada a pagá-lo no ato de sua apresentação, de modo que a instituição
46
não pode ser responsabilizada pelo pagamento imediato de cheques datados com lembrete
de desconto para data futura.
Comentário:
A Lei 7.357/85, no art. 32, determina que o cheque é uma ordem de pagamento à vista,
considerando-se não escrita qualquer cláusula em sentido diverso. Por isso, a instituição
financeira deve pagar o título a qualquer momento. Nesse sentido, o STJ entende que a
Súmula 370, cujo enunciado diz que “caracteriza dano moral a apresentação antecipada do
cheque pré-datado”, não é aplicável à instituição financeira que realizou o regular pagamento
e sim ao apresentante (credor) do cheque.
Questão 11
(UEG - 2018 - PC-GO - Delegado de Polícia)Cheque é título de crédito sacado contra
instituição financeira e que:
A) Para a execução contra o emitente, tem prazo prescricional de 6 meses a contar de sua
emissão.
B) Para execução contra o emitente, depende de prévio protesto por falta de pagamento.
C) Depois de prescrito, não pode estribar ação monitória relativa ao respectivo crédito.
D) Depois de prescrito, pode ser objeto de ação de locupletamento contra o emitente.
E) Pode ter o pagamento pelo banco sacado sujeito a termo, mas não a condição.
Comentário:
Letra D - Com a prescrição do cheque, ele não mais poderá ser executado. Nesse
caso, restam ainda três opções de cobrança contra o emitente:
Questão 12
Cesare Vivante definiu Título de Crédito como sendo o documento necessário para o exercício
do direito, literal e autônomo, nele mencionado. Sobre o tema, assinale a alternativa correta.
A)De acordo com a legislação vigente no país, o aval parcial é vedado, porém, a mesma
D) O Código Civil estabelece que é considerado como título à ordem aquele emitido em favor
de pessoa cujo nome conste no registro do emitente.
E) A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua validade como título de
crédito, não implica a invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem.
Comentário:
C) Art. 914. Não responde o endossante pelo cumprimento da prestação constante do título -
ERRADA
48
D) Art. 921. Trata-se de título nominativo - ERRADA
E) CORRETA.
Questão 13
Comentário:
49
TURMA, Publicação: ADJ DATA 02-05-1963 PP-00249 EMENT VOL-00530-02 PP-00663 RTJ
VOL-00027-01 PP-00079) - ERRADA
B) Art. 902. Não é o credor obrigado a receber o pagamento antes do vencimento do título, e
aquele que o paga, antes do vencimento, fica responsável pela validade do pagamento. -
CORRETA
C) Art. 923. O título nominativo também pode ser transferido por endosso que contenha o
nome do endossatário.- ERRADA
E) Art. 914. Ressalvada cláusula expressa em contrário, constante do endosso, não responde o
endossante pelo cumprimento da prestação constante do título.-ERRADA
Questão 14
O devedor que, como forma de pagamento de um negócio celebrado, transfere ao credor, por
simples tradição, títulos de crédito emitidos por terceiros, sem endossá-los, não possui
responsabilidade solidária pelo pagamento da cártula.
( ) Certo
( ) Errado
50
Comentário:
CERTO - Conforme o art. 914 do CC o endossante, em regra, não responde pelo pagamento
do título de crédito:
Art. 914. Ressalvada cláusula expressa em contrário, constante do endosso, não responde o
endossante pelo cumprimento da prestação constante do título.
51
GABARITO
Questão 1 - B
Questão 2 - A
Questão 3 - B
Questão 4 - C
Questão 5 - D
Questão 6 - C
Questão 7 - Certa
Questão 8 - Errada
Questão 9 - Certa
Questão 10 - Certa
Questão 11 -D
Questão 12 -E
Questão 13 -B
Questão 14 - Certo
52
QUESTÃO DESAFIO
Máximo de 5 linhas
53
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO
Autonomia relativa
Segundo o art. 887 do Código Civil, são três as características dos títulos de crédito:
cartularidade, autonomia e literalidade.
Sobre a autonomia, o autor Ricardo Negrão explica (NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito
Empresarial. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. p. 293-293.): “A autonomia é a característica dos
títulos de crédito que garante a independência obrigacional das relações jurídicas subjacentes,
simultâneas ou sobrejacentes à sua criação e circulação e impede que eventual vício existente
em uma relação se comunique às demais ou invalide a obrigação literal inscrita na cártula.”.
Nos casos dos cheques essa característica está presente, mas não absoluta, já que em alguns
casos vícios nas relações pode afetar a cártula.
Os Tribunais Superiores têm diversos julgados com o entendimento de que a autonomia, nos
casos dos cheques, não é absoluta.
54
O autor André Santa Cruz também comenta (CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. 8. ed.
São Paulo: Método, 2018. p. 590-590.): “Também é característica especial do cheque a sua, por
assim dizer, autonomia relativa. É que, segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça, a submissão do cheque ao princípio da autonomia não deve ser entendida de forma
absoluta, permitindo-se, em situações excepcionais, que o devedor discuta a causa debendi.”.
55
JURISPRUDÊNCIA
REsp 1346584/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 09/10/2018, DJe
22/11/2018
56
STJ. REsp 1677772/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/11/2017, DJe
20/11/2017
DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE PROTESTO C/C
PEDIDO DE COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS.
PROTESTO DE CHEQUES PRESCRITOS. IRREGULARIDADE. HIGIDEZ DA DÍVIDA.
POSSIBILIDADE DE MANEJO DE AÇÃO DE COBRANÇA FUNDADA NA RELAÇÃO CAUSAL E DE AÇÃO MONITÓRIA.
ABALO DE CRÉDITO INEXISTENTE. DANO MORAL NÃO CARACTERIZADO.1. Ação ajuizada em 27/07/2007.
Recurso especial interposto em 28/07/2011 e distribuído em 22/09/2016. Julgamento: Aplicação do CPC/73.2. O
propósito recursal reside em definir se o protesto de cheques prescritos é ilegal e se enseja dano moral
indenizável.3. O protesto cambial apresenta, por excelência, natureza probante, tendo por finalidade
precípua servir como meio de prova da falta ou recusa do aceite ou do pagamento de título de crédito.4. De
acordo com o disposto no art. 1º da Lei 9.492/97 ("Lei do Protesto Notarial"), são habilitados ao protesto
extrajudicial os títulos de crédito e "outros documentos de dívida", entendidos estes como instrumentos que
caracterizem prova escrita de obrigação pecuniária líquida, certa e exigível, ou seja, documentos que propiciem o
manejo da ação de execução.5. Especificamente quanto ao cheque, o apontamento a protesto mostra-se
viável dentro do prazo da execução cambial - que é de 6 (seis) meses contados da expiração do prazo de
apresentação -, desde que indicados os devedores principais (emitente e seus avalistas).Em relação aos
coobrigados (endossantes e respectivos avalistas), o art. 48 da Lei 7.347/85 impõe que o aponte a protesto
seja realizado no prazo para apresentação do título ao sacado.6. Consoante decidido pela 2ª Seção no REsp
1.423.464/SC, submetido ao rito dos recursos especiais repetitivos, "sempre será possível, no prazo para a
execução cambial, o protesto cambiário de cheque, com a indicação do emitente como devedor" (tema 945).7.
Na hipótese dos autos, os protestos dos cheques foram irregulares, na medida em que efetivados cerca de 4
(quatro) anos após a data da emissão dos títulos.8. Cuidando-se de protesto irregular de título de crédito, o
reconhecimento do dano moral está atrelado à ideia do abalo do crédito causado pela publicidade do ato
notarial, que, naturalmente, faz associar ao devedor a pecha de "mau pagador" perante a praça.9. Todavia, na
hipótese em que o protesto é irregular por estar prescrita a pretensão executória do credor, havendo,
porém, vias alternativas para a cobrança da dívida consubstanciada no título, não há se falar em abalo de
crédito, na medida em que o emitente permanece na condição de devedor, estando, de fato, impontual no
pagamento.10. Prescrita a ação executiva do cheque, assiste ao credor a faculdade de ajuizar a ação cambial
por locupletamento ilícito, no prazo de 2 (dois) anos (art. 61 da Lei 7.357/85); ação de cobrança fundada na
relação causal (art. 62 do mesmo diploma legal) e, ainda, ação monitória, no prazo de 5 (cinco) anos, nos
termos da Súmula 503/STJ.11. Nesse contexto, embora, no particular, tenham sido indevidos os protestos, pois
extemporâneos, a dívida consubstanciada nos títulos permanecia hígida, não estando caracterizado, portanto,
abalo de crédito apto a ensejar a caracterização do dano moral.12. Recurso especial parcialmente provido,
apenas para se determinar o cancelamento dos protestos.
STJ. REsp 1526560/MG, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em
16/03/2017, DJe 16/05/2017
RECURSO ESPECIAL. DIREITO CAMBIÁRIO. AVAL. OUTORGA UXÓRIA OU MARITAL. INTERPRETAÇÃO DO ART.
1647, INCISO III, DO CCB, À LUZ DO ART. 903 DO MESMO ÉDITO E, AINDA, EM FACE DA NATUREZA SECULAR
DO INSTITUTO CAMBIÁRIO DO AVAL. REVISÃO DO ENTENDIMENTO DESTE RELATOR.1. O Código Civil de 2002
estatuiu, em seu art. 1647, inciso III, como requisito de validade da fiança e do aval, institutos bastante diversos,
57
em que pese ontologicamente constituam garantias pessoais, o consentimento por parte do cônjuge do
garantidor.2. Essa norma exige uma interpretação razoável sob pena de descaracterização do aval como típico
instituto cambiário.3. A interpretação mais adequada com o referido instituto cambiário, voltado a fomentar
a garantia do pagamento dos títulos de crédito, à segurança do comércio jurídico e, assim, ao fomento da
circulação de riquezas, é no sentido de limitar a incidência da regra do art.1647, inciso III, do CCB aos avais
prestados aos títulos inominados regrados pelo Código Civil, excluindo-se os títulos nominados regidos por
leis especiais.4. Precedente específico da Colenda 4ª Turma.5. Alteração do entendimento deste relator e desta
Terceira Turma.6. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.
STJ. REsp 1633399/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 10/11/2016,
DJe 01/12/2016
58
continuam a ser disciplinados pelas leis especiais de regência, enquanto os títulos atípicos ou inominados
subordinam-se às normas do novo Código, desde que se enquadrem na definição de título de crédito constante
no art. 887 do Código Civil. 7. Recurso especial não provido.
59
LEGISLAÇÃO COMPILADA
60
BIBLIOGRAFIA
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2020.
FAZZIO JUNIOR, WALDO. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2020.
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição.
São Paulo: Editora JusPodivm, 2020.
61
Capítulo 6
SUMÁRIO
GABARITO ........................................................................................................................................................................... 67
LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 71
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 73
1
DIREITO EMPRESARIAL
Capítulo 1
Pois bem, investir capital pressupõe a celebração de contrato bancário, pelo menos o
de depósito. Para obter insumos, é necessário contratar a aquisição de matéria-prima,
eletricidade ou mercadorias para revender. Articular na empresa o trabalho significa contratar
empregados (CLT), prestadores de serviços autônomos ou empresa de fornecimento de mão
de obra (terceirizada). A aquisição ou criação de tecnologia faz-se por contratos industriais
(licença ou cessão de patente, transferência de know-how). Além desses, para organizar o
estabelecimento, por vezes o empresário loca o imóvel, faz leasing de veículos e
equipamentos, acautela-se com seguro. Ao oferecer os bens ou serviços que produz ou
2
circula, ele igualmente celebra contratos com consumidores ou outros empresários. Ao
conceder crédito, normalmente negocia-o com bancos, mediante descontos ou factoring.
3
Enunciado 20, CJF: Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor aos contratos
celebrados entre empresários em que um dos contratantes tenha por objetivo suprir-se
de insumos para sua atividade de produção, comércio ou prestação de serviços.
O STJ também tem admitido a aplicação do CDC a relações entre empresários quando
fica caracterizada a vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica de uma das partes (AgRg
no AREsp 626.223/RN, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, j. 08/09/2015, DJe
15/09/2015).
(i) em regra: não se aplica o CDC, porque, geralmente, nenhuma das partes assume
a condição de destinatário final, já que os produtos ou serviços que são utilizados, direta ou
indiretamente, na atividade econômica que exercem;
(ii) em regra: aplica-se o CDC quando uma das partes, ainda que seja um empresário
individual, EIRELI ou sociedade empresária, assuma a condição de destinatário final econômico
do produto ou serviço; e
(iii) excepcionalmente: aplica-se o CDC, ainda que nenhuma das partes seja
destinatária final do bem, mas ostente vulnerabilidade técnica, econômica ou jurídica em
relação à outra.
Desde a sua formação, passando pela sua execução e até a sua definitiva resolução, o
contrato se submete a uma série de características básicas e princípios norteadores,
atualmente disciplinados pelo Código Civil, dentre os quais se destacam, por exemplo, a boa-
fé objetiva, a força obrigatória e a autonomia da vontade.
4
aplicação dos princípios no âmbito dos contratos empresariais.
Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato.
(Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019)
Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da
intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão contratual. (Incluído pela Lei nº
13.874, de 2019)
Art. 421-A. Os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e simétricos até a
presença de elementos concretos que justifiquem o afastamento dessa presunção,
ressalvados os regimes jurídicos previstos em leis especiais, garantido também que:
(Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
I - as partes negociantes poderão estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação
das cláusulas negociais e de seus pressupostos de revisão ou de resolução; (Incluído pela
Lei nº 13.874, de 2019)
II - a alocação de riscos definida pelas partes deve ser respeitada e observada; e
(Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
III - a revisão contratual somente ocorrerá de maneira excepcional e limitada. (Incluído
pela Lei nº 13.874, de 2019)
Ocorre que no âmbito do direito empresarial, o norte interpretativo deve ser sempre a
autonomia da vontade das partes. Caso contrário, o que se instaura é a insegurança jurídica,
que se manifesta especificamente nas atividades econômicas como um obstáculo ao
desenvolvimento. Portanto, nos contratos empresariais, o dirigismo contratual deve ser
5
mitigado, tendo em vista a simetria natural das relações interempresariais.
Enunciado 21, CJF: Nos contratos empresariais, o dirigismo contratual deve ser
mitigado, tendo em vista a simetria natural das relações interempresariais.
Enunciado 28, CJF: Em razão do profissionalismo com que os empresários devem
exercer sua atividade, os contratos empresariais não podem ser anulados pelo vício da
lesão fundada na inexperiência.
No que tange ao princípio da atipicidade dos contratos empresarias, pode-se também analisar
o princípio da autonomia da vontade sob outra perspectiva, relativa à possibilidade conferida
às partes para a criação de contratos atípicos, isto é, não compreendidos nas modalidades
típicas expressamente reguladas pelo ordenamento jurídico. Essa possibilidade, frise-se, está
expressamente consagrada no atual Código Civil, em seu art. 425, segundo o qual “é lícito às
partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código”.
Em outros termos, pode-se dizer ainda que o princípio da força obrigatória tem uma
manifestação especial, relativa à impossibilidade de uma das partes contratantes se retratar ou
alterar, unilateralmente, as condições acordadas. Assim, em consequência da força obrigatória,
7
há nos contratos, implicitamente, uma cláusula geral de irretratabilidade e de intangibilidade,
fundamental para a garantia da segurança jurídica das relações contratuais.
Teoria da imprevisão: A teoria da imprevisão, representada pela cláusula rebus sic stantibus,
determina que os direitos e deveres assumidos em um determinado contrato podem ser
revisados se houver uma alteração significativa e imprevisível nas condições econômicas que
originaram a constituição do vínculo contratual. Ocorrendo tal alteração, pode acontecer de o
cumprimento das obrigações contratuais assumidas se tornaremdemasiadamente oneroso para
uma das partes, o que rompe o equilíbrio contratual e autoriza a revisão do contrato. Em
síntese, a cláusula rebus sic stantibus determina que a obrigatoriedade do contrato só deverá
ser observada se as condições existentes no momento da celebração da avença se mantiverem
inalteradas ou, pelo menos, sofrerem alterações que não afetem o equilíbrio contratual.
Mas esse princípio pode ser ainda visualizado sob outro aspecto, o da necessidade de
as partes contratantes atuarem com boa-fé na celebração do contrato, bem como na sua
execução, algo que é defendido há bastante tempo pela doutrina contratualista e que o
Código Civil expressamente consagrou em seu art. 422: “Os contratantes são obrigados a
guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade
e boa-fé”. Este dispositivo incorporou ao ordenamento jurídico-contratual brasileiro, conforme
aponta a doutrina, o chamado princípio da boa-fé objetiva.
8
Para finalizar este tópico sobre a teoria geral do direito contratual, importante destacar
a importância da consagração da chamada exceção do contrato não cumprido (exceptio non
adimpleti contractus – arts. 476 e 477 do CC), segundo a qual uma parte contratante não
pode exigir o cumprimento da obrigação da outra parte se não cumpriu também a sua
obrigação respectiva.
Enunciado 361, CJF: O adimplemento substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer
preponderar a função social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva, balizando a aplicação do art. 475.
6.3 Factoring
Dentro do factoring está contido uma cessão de crédito, razão pela qual lhe são
aplicáveis os dispositivos correlatos do Código Civil (artigos 286 a 298).
O faturizado não garante o pagamento dos créditos transferidos, correndo por conta do
faturizador os riscos decorrentes da insolvência do devedor dos títulos antecipados.
9
Para o faturizado, o contrato é vantajoso, uma vez que maximiza as vendas ao oferecer
a modalidade de venda a prazo, garantindo assim a clientela e propiciando condições para
enfrentamento da concorrência. Também garante o capital de giro, ao possibilitar o
recebimento à vista das vendas a prazo, evita despesas com a cobrança do comprador,
permitindo concentração de forças na atividade objeto do negócio, e repassa à faturizadora os
riscos da inadimplência Inadimplido o título, não é dado a faturizadora o direito de regresso
contra a faturizada, mas tão somente o direito de cobrar do devedor/sacado. Por outro lado, a
faturizada garante afaturizadora contra os riscos de nulidade ou vício do crédito, como nas
hipóteses de evicção ou vícios redibitórios dos bens que vendeu.
A cessão só terá eficácia frente ao devedor/sacado se este for notificado (art. 290, CC).
Se o devedor/sacado, antes de tomar conhecimento da cessão, insciente da operação,
portanto, pagar ao credor primitivo (faturizado), ficará desobrigado frente ao faturizador, o
qual deverá buscar a satisfação do seu crédito junto ao faturizado. São três as principais
modalidades de factoring.
10
contas a receber e a pagar, e pela cobrança de títulos resultantes de suas vendas
mercantis ou prestações de serviço.
De acordo com o art. 481 do CC, “pelo contrato de compra e venda um dos
contratantes se obriga a transferir o domínio de coisa certa, e o outro, a pagar-lhe certo preço
em dinheiro”.
O contrato de compra e venda, por si só, não implica em aquisição de propriedade,
gerando apenas obrigações recíprocas (obrigação de pagar o preço e obrigação de transferir
o domínio) – natureza meramente obrigacional. Como a compra e venda caracteriza uma
relação puramente obrigacional, o adquirente apenas adquire a propriedade pela tradição ou
pelo registro em cartório (caso o bem seja móvel ou imóvel, respectivamente). Isso é
importante por dois motivos:
Teoria dos riscos: a coisa perece para o dono (res peret domino): na medida em
que o contrato, por si só, não transfere a propriedade, o risco corre por conta do
vendedor até que o transfira por meio da tradição.
11
6.4.1 Classificação do contrato de compra e venda
I. Consentimento
12
pessoas capazes), um requisito específico para a prática de um ato específico. Exemplos:
necessidade de outorga uxória das pessoas casadas, exceto no regime da separação
obrigatória de bens.
II. Preço
III. Coisa (qualquer bem alienável - móvel, imóvel, corpóreo ou incorpóreo, etc).
Exige-se que a coisa seja economicamente apreciável. Só não podem ser objeto da
compra e venda bens personalíssimos, herança de pessoa viva e coisas fora do comércio
(chamados de bens clausulados – inalienabilidade, incomunicabilidade e impenhorabilidade). O
art. 1911, CC dispõe que a cláusula de inalienabilidade gera a presunção da existência das
13
demais; a recíproca, contudo, não é verdadeira. O art. 1848, CC permite que o juiz da vara de
registros públicos promova o levantamento da cláusula.
Art. 125. É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes:
I - ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao
denunciante, a fim de que possa exercer os direitos que da evicção lhe resultam;
14
II - àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação
regressiva, o prejuízo de quem for vencido no processo.
§ 1º O direito regressivo será exercido por ação autônoma quando a denunciação da
lide for indeferida, deixar de ser promovida ou não for permitida.
§ 2º Admite-se uma única denunciação sucessiva, promovida pelo denunciado, contra
seu antecessor imediato na cadeia dominial ou quem seja responsável por indenizá-lo,
não podendo o denunciado sucessivo promover nova denunciação, hipótese em que
eventual direito de regresso será exercido por ação autônoma.
Depreende-se desse artigo que, após o CPC/2015, a denunciação à lide não é mais
obrigatória, podendo o evicto demandar, posteriormente, ação regressiva contra o alienante.
Ademais, não são mais permitidas denunciações sucessivas, permitindo-se apenas que ocorra
uma vez.
Deve-se observar, ainda, que não há mais previsão da denunciação per saltum,
percebam que o inciso I apenas prevê denunciação ao alienante imediato, não mais a
qualquer dos anteriores.
16
a) 180 dias: Se o bem é móvel.
b) 2 anos: Se imóvel.
c) Já o prazo que se confere a quem vendeu para que diga se vai querer ou não
exercer o dinheiro de preferência – 3 dias se móvel e 60 dias se imóvel.
IV. Venda a contento (ad gustum) e venda sujeita a prova (arts. 509 e 510)
A venda a contento e a venda sujeita à prova são vendas que submetem os efeitos do
negócio a uma condição suspensiva, qual seja, o agrado/gosto do comprador.
O pacto de melhor comprador é uma cláusula acessória que torna o negócio resolúvel,
porque permite ao vendedor desfazer o negócio no prazo máximo de um ano, se encontrar
proposta mais vantajosa.
17
6.5 Franchising
18
A respeito da Circular de Oferta de Franquia, a Lei 13.966/2019 trouxe as seguintes
disposições:
Relação dos franqueados:o COF deve conter o contato de todos os franqueados
da rede, incluindo os que a deixaram dos últimos 24 meses;
19
O franqueado, por sua vez, deverá pagar ao franqueador a remuneração ajustada,
adquirir os seus produtos ou serviços, atuar com exclusividade e seguir as instruções daquele
quanto à comercialização dos bens, etc., conforme o conteúdo do contrato.
Em regra, o franqueador recebe uma remuneração inicial a título de filiação do
franqueado (conhecida como entrada ou taxa de franquia) e um valor periódico (chamado de
taxa periódica de franquia ou royalties), que pode ser uma quantia determinada ou mesmo
um percentual sobre os lucros obtidos. Pode ser prevista ainda uma taxa de publicidade, que
permite a formação de um fundo comum para desenvolvimento de estratégias publicitárias
comuns.
A independência do franqueado constitui uma das principais características do contrato
de franquia, uma vez que o franqueado não guarda qualquer relação de subordinação frente
ao franqueador, inexistindo vínculo empregatício. Desse modo, a franqueada possui autonomia
jurídica, administrativa e financeira. Franqueador e franqueado têm personalidadesjurídicas
distintas, com existência própria e patrimônio jurídico próprio, embora contratualmente
vinculados em relação ao objeto do contrato de franquia.
A locação do ponto pode ser feita pelo franqueador, colocando o franqueado como
sublocador. Desse modo, caso o franqueado se retire, o ponto continuará em posse do
locador original. Nesse estado, o aluguel pode ser pago tanto por locador quanto pelo
sublocador.
Não obstante o exposto, embora os membros dessa rede (franqueador e franqueado)
sejam independentes entre si, atuam como unidade, já que, para o mercado consumidor,
exibem-se pela identidade comum da rede. Nesse sentido, pode-se sustentar que dita
autonomia é relativa, haja vista depender o franqueado da estrutura fornecida pelo
franqueador para a manutenção de sua padronização.
Sempre que o empresário estiver interessado em conceder franquia, deverá fornecer ao
interessado em tornar-se franqueado a chamada Circular de Oferta de Franquia (COF),
documento que deverá conter os dados previstos no art. 2º da Nova Lei de Franquias.
A Circular de Oferta de Franquia deverá ser entregue ao candidato a franqueado no
mínimo 10 dias antes da assinatura do contrato ou pré-contrato de franquia ou ainda do
pagamento de qualquer tipo de taxa pelo franqueado ao franqueador.
20
Na hipótese de não cumprimento do disposto no § 1º, o franqueado poderá arguir
anulabilidade ou nulidade, conforme o caso, e exigir a devolução de todas e quaisquer
quantias já pagas ao franqueador, ou a terceiros por este indicados, a título de filiação ou de
royalties, corrigidas monetariamente.
A extinção do contrato de franquia pode se dar pelo término do prazo avençado, por
livre acordo entre as partes ou pelo descumprimento de cláusula contratual.
Em caso de estabelecimento de um contrato internacional, o franqueador tem a
obrigação de o prover traduzido na língua portuguesa. A lei prevê que nos contratos
internacionais a rede obtém deveres jurídicos em ambos os países. Portanto, a parte
domiciliada no exterior deve deter representante legal com pleno poder para a representar
administrativamente e judicialmente.
6.6 Leasing
22
o bem solicitado por uma prestar assistência técnica em arrenda de volta o bem ao
pessoa física ou jurídica relação ao maquinário. antigo proprietário a fim de
(arrendatária) para, então, Aqui, a LOCAÇÃO desponta que ele continue utilizando a
alugá-lo à arrendatária. como negócio jurídico coisa.
Aqui, prepondera o SERVIÇO principal. Em outras palavras, a pessoa
de intermediação de crédito. vende seu bem e celebra um
contrato de arrendamento
com o comprador,
continuando na posse direta.
Ex.: determinada empresa Ex.: a Boeing Capital Ex.: em 2001, a Varig, a fim
(arrendatária) quer utilizar Corporation (arrendadora) de se recapitalizar, vendeu
uma nova máquina em sua celebra contrato de algumas aeronaves à Boeing
linha de produção, mas não arrendamento para alugar 5 e os alugou de volta por
tem recursos suficientes para aeronaves à GOL meio de um contrato de
realizar a aquisição. Por esse (arrendatária) a fim de que lease back.
motivo, celebra contrato de esta utilize os aviões em seus O nome completo desse
leasing financeiro com um voos. A arrendadora também negócio jurídico, em inglês, é
Banco (arrendador), que ficará responsável pela sale and lease back (venda e
compra o bem e o arrenda manutenção dos aviões. arrendamento de volta).
para que a empresa utilize o
maquinário.
23
6.7 Alienação Fiduciária
24
é, as partes do contrato de colaboração ocupam elos distintos da cadeia de circulação de
mercadorias.
Já na segunda forma de colaboração, os contratantes não realizam contratos de compra
e venda mercantil; o colaborador busca empresários interessados em adquirir as mercadorias
fabricadas ou comercializadas pelo fornecedor. É o caso dos contratos de mandato, comissão
mercantil, agência, distribuição-aproximação e representação comercial autônoma. Tomando-
se este último como exemplo: a compra e venda mercantil é realizada entre o representado e
o terceiro, cujo interesse no negócio foi motivado ou identificado pela modalidade de
colaboração empresarial, esta não se manifesta pela intermediação econômica, mas por
aproximação, ou seja, só uma das partes (o mandante, comitente ou representado) é elo da
cadeia de circulação de mercadorias.1
1
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. V. 3, 8. ed., São Paulo, Saraiva, 2008, p. 93 e 94
25
6.8.1 Agência ou Representação Comercial
Trata-se de uma espécie de contrato oneroso e bilateral, em que uma das partes (o
representante comercial), que deve ser um empresário (pessoa física ou jurídica), se obriga,
mediante remuneração, a angariar, com habitualidade, negócios mercantis, como a compra e
venda deprodutos fabricados ou comercializados pelo representado em uma zona geográfica
delimitada, inexistindo entre eles vínculo de subordinação.
Nos termos do art. 710 do Código Civil, pelo contrato de agência, uma pessoa assume,
em caráter não eventual e sem vínculo de dependência, a obrigação de promover, à conta da
outra, mediante retribuição, a realização de certos negócios, em zona determinada.
Para Rubens Requião, o representante comercial é a pessoa que, “em caráter
profissional, realiza, numa determinada zona, os atos de comércio peculiares à promoção e
conclusão de negócios por conta e em nome de uma ou mais empresas. Na concepção do
autor, “o reconhecimento da legitimidade da representação nos atos jurídicos, fundamenta o
instituto da representação comercial, pois constitui um imperativo de ordem prática
imprescindível nas normais relações jurídicas na sociedade moderna.”2.
Humberto Theodoro Júnior adverte que não é correto o entendimento no sentido de
que o artigo 710 do Código Civil disciplinou
2
REQUIÃO, Rubens. Aspectos jurídicos da representação comercial. Dissertação (Livre Docência). Curitiba, 1950. 64 f.
Faculdade de Direito, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1950, p. 57.
26
e sempre como simples ato complementar do agenciamento. Dentro da sistemática da
preposição que é inerente ao contrato de agência, as mercadorias de propriedade do
comitente são postas à disposição do agente-distribuidor para entrega aos compradores,
mas tudo se faz em nome e por conta do representado.3
3
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Do Contrato de agência e distribuição no novo Código Civil. Re-vista dos tribunais. São Paulo:
RT, v. 92, n. 812, p. 22 a 40, jun., 2003, p. 34
27
Se o representado, sem justa causa, cessar o atendimento das propostas ou reduzi-las
tanto que se torne antieconômica a continuação do contrato, terá o agente direito a uma
indenização (art. 715, CC), cujo patamar mínimo é de 1/12 (um doze avos) do total da
retribuição auferida durante o tempo em que exerceu a representação. Também fará o
representante jus à remuneração, se o negócio deixar de ser realizado por fato imputável ao
representado, ou em virtude de força maior (arts. 716 e 719, CC).
Se dispensado sem justa causa, terá o representante direito a ser remunerado pelos
serviços úteis prestados, debitados os valores dos eventuais prejuízos que tenha causado (art.
717, CC).
Salvo estipulação em contrário, o representante comercial custeia as próprias despesas.
Sendo assim, nos termos do art. 713 do CC, todas as despesas com a agência correm a cargo
do agente, salvo estipulação em contrário. O trabalho em si que é remunerado, mas sim o seu
resultado.
6.8.2 Distribuição
28
O agente, no desempenho que lhe foi cometido, deve agir com toda diligência, atendo-
se às instruções recebidas do proponente.
Salvo estipulação diversa, todas as despesas com a agência ou distribuição correm a
cargo do agente ou distribuidor.
Salvo ajuste, o agente ou distribuidor terá direito à remuneração correspondente aos
negócios concluídos dentro de sua zona, AINDA QUE SEM A SUA INTERFERÊNCIA. A
remuneração será devida ao agente também quando o negócio deixar de ser realizado por
fato imputável ao proponente. Se o agente não puder continuar o trabalho por motivo de
força maior, terá direito à remuneração correspondente aos serviços realizados, cabendo esse
direito aos herdeiros no caso de morte.
O agente ou distribuidor tem direito à indenização se o proponente, sem justa causa,
cessar o atendimento das propostas ou reduzi-lo tanto que se torna antieconômica a
continuação do contrato. Ainda que dispensado por justa causa, terá o agente direito a ser
remunerado pelos serviços úteis prestados ao proponente, sem embargo de haver este perdas
e danos pelos prejuízos sofridos.
Se a dispensa se der sem culpa do agente, terá ele direito à remuneração até então
devida, inclusive sobre os negócios pendentes, além das indenizações previstas em lei especial.
Se o contrato for por tempo indeterminado qualquer das partes poderá resolvê-lo,
mediante aviso prévio de 90 (noventa) dias, desde que transcorrido prazo compatível com a
natureza e o vulto do investimento exigido do agente. No caso de divergência entre as partes,
o juiz decidirá da razoabilidade do prazo e do valor devido.
Não se aplicam analogicamente as leis 4.886/65 e 6.729/76, que disciplinam,
respectivamente, os contratos de representação comercial e as relações entre os produtores e
distribuidores de veículos aos contratos de concessão comercial; deve-se aplicar as normas de
direito civil (REsp 513.048, j. 16.03.2010, 4ª T.) Aplicam-se ao contrato de agência e
distribuição, no que couber, as regras concernentes ao mandato (CC, artigos 653 a 692) e à
comissão (CC, artigos 693 a 709) e as constantes de lei especial.
6.8.3 Corretagem
29
corretagem é o contrato pelo qual uma pessoa encarrega outra de angariar-lhe
negócios, mediante remuneração. Em simples palavras, essa seria a definição. Na
verdade, o corretor servirá como intermediário, agenciando negócios para o comitente e
recebendo, por isso, certo percentual. É o caso dos corretores de imóveis e dos
corretores de títulos e valores mobiliários, tais como ações.”
Regulado pelo art. 722 do Código Civil, o contrato de corretagem é aquele em que um
agente comete a outrem a obtenção de um resultado útil de certo negócio, esperando-se que
o corretor faça aproximação entre um terceiro e o comitente;
A natureza jurídica do contrato de corretagem é de contrato bilateral, acessório,
consensual, oneroso e aleatório:
bilateral, porque dele emergem obrigações para ambas as partes, embora possa
também onerar apenas uma delas;
30
A profissão de corretor de imóveis, por exemplo, é disciplinada pela Lei n o 6.530/78,
regulamentada pelo Decreto n o 81.871/78; – o exercício da profissão de corretor de imóveis é
deferido ao possuidor de título técnico em transações imobiliárias, inscrito no Conselho
Regional de Corretores de Imóveis (Creci) da jurisdição.
Regido pelo Código Civil entre os arts. 693 e 709, é espécie contratual em que um dos
contratantes (comissário) adquire ou vende bens em nome próprio e sob sua
responsabilidade, mas por ordem e conta (em proveito) de um terceiro (comitente).Segundo o
31
mencionado art. 693, “o contrato de comissão tem por objeto a aquisição ou a venda de bens
pelo comissário, em seu próprio nome, por conta do comitente”4.
Nota-se, portanto, que quem se obriga para com terceiros com quem contrata (CC, art.
693) é o comissário,assumindo a responsabilidade em caso de insolvência do comitente.
.5 Observe-se, ainda, que neste tipo de contrato as partes podem ser pessoas naturais
ou jurídicas.
Humberto Theodoro Júnior após expor, sucintamente, as razões histórico-evolutivas do
contrato de comissão, observa que tais contratos possibilitavam aos mercadores contratar em
praças distantes e superar as “dificuldades relativas às precisas informações sobre pessoas e
hábitos locais e os riscos de cometer funções e encargos a desconhecidos”6. Além disso, em
sua origem, a comissão admitia a concessão de crédito ao comitente pelo comerciante local
(comissário), assim como ocorre com a conta margem oferecida pela sociedade corretora em
favor do investidor.
Para Orlando Gomes a comissão é “uma modalidade de mandato sem representação,
que produz efeitos análogos aos deste contrato, mas se distingue pelo modo de agir do
representante. No mandato, o representante age em nome do representado; na comissão, em
nome próprio. Distinguem-se pelo modo de agir e não pelo modo de produção dos efeitos,
embora a expressão ‘representação indireta’ tenha significação mais próxima do último critério
distintivo. Num e noutro necessidade não há de novo ato para transmissão dos efeitos ao
representado.7
No sistema do antigo Código Comercial do Império (arts. 165 a 190), o comissário
deveria ser obrigatoriamente um comerciante e o objeto da avença teria que se voltar,
exclusivamente, à realização de negócios mercantis. Com a nova disciplina legal determinada
pelo Código Civil de 2002, essa particularidade perdeu o interesse, vez que o contrato de
comissão pode ser ou não de natureza empresarial.
O traço distintivo deste tipo contratual reside na circunstância de que o comissário age
em seu próprio nome. E é justamente por isso que ele fica diretamente obrigado com as
4
BRASIL. Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406 compilada.htm>. Acesso em: 14 jan. 2020.
5
Diniz (2003:383)
6
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Do contrato de comissão no novo Código Civil. Revista dos tribunais.São
Paulo: RT, v. 92, n. 814, p. 26 a 43, ago., 2003, p. 26.
7
GOMES, Orlando. THEODORO JÚNIOR, Humberto (atual.). Contratos. 18. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 358
32
pessoas com quem contrata. Por consequência, essas não têm ação contra o comitente e nem
este contra elas, salvo ocorrência de cessão de direitos entre qualquer das partes (art. 694,
CC).
Assim, com base nesse modelo contratual, permitiu-se que um comerciante
encarregasse terceiro da importante missão de praticar atos de comércio e celebrar negócios
em seu benefício ou por sua conta. Ao mesmo tempo, também se admitiu que essas
contratações fossem realizadas em nome do próprio comissário, sem que o comitente se
obrigasse perante terceiros, tal como ocorreria se tivesse de lançar mão do mandato. Em
última análise, toda essa dinâmica representou significativa redução de custos e despesas para
o comitente, pois serviu, em muitos casos, para contornar as regras proibitivas de mercancia
por estrangeiros.
Com fundamento em tais constatações, o professor da Faculdade de Direito da
Universidade Federal de Minas Gerais conclui que
Sob o mesmo viés, tanto Waldírio Bulgarelli9 como Gustavo Tepedino10 observam que,
hoje em dia, o contrato de comissão não possui a mesma importância de outrora, pois sua
celebração se deslocou para certas atividades específicas. É o caso das operações efetuadas
nas Bolsas de Valores (comissão bursátil) ou no mercado bancário (comissão bancária).
8
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Do contrato de comissão no novo Código Civil. Revista dos tribunais. São Paulo: RT, v. 92, n.
814, p. 26 a 43, ago., 2003, p. 27 e 28, grifos nossos.
9
BULGARELLI, Waldirio. Contratos Mercantis. 13 ed. São Paulo: Atlas, 2000,p. 492.
10
O autor atribui o declínio dessa modalidade contratual “às características da vida contemporânea, marcada
pela facilidade dos meios de comunicação e de transporte, e pelo crescente interesse das empresas em abrir filiais e
agências.” TEPEDINO, Gustavo. TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo de (Coord.). Comentários ao novo Código Civil: das
várias espécies de contrato, do mandato, da comissão, da agência e distribuição, da corretagem, do transporte. V. X,
Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 215.
33
Comissão é a remuneração calculada por meio de um percentual aplicado sobre as
vendas. Não estipulada a remuneração devida ao comissário, será ela arbitrada segundo os
usos correntes no lugar (CC, art.701).
Comissário ou comissionado é a pessoa que, em um negócio, age por ordem de
outrem e recebe comissão em decorrência da prática do ato. Quanto a estas determinações e
ordens a serem cumpridas, salvo disposição em contrário, pode o comitente, a qualquer
tempo, alterar as instruções dadas ao comissário, entendendo-se por elas regidos também os
negócios pendentes.
Comitente é a pessoa que encarrega outra (comissário) de fazer qualquer ato, mediante
o pagamento de uma comissão.
O comissário obriga-se, portanto, perante terceiros em seu próprio nome, figurando no
contrato como parte. Neste, em geral não consta o nome do comitente, porque o comissário
age em nome próprio11.
Embora o comissário desempenhe sua atividade em seu próprio nome, não tem
liberdade absoluta. Está ele obrigado a agir de conformidade com as ordens e instruções do
comitente. Na hipótese de não dispor das orientações e determinações do comitente, ainda
assim, não poderá agir arbitrariamente, devendo nestes casos, proceder segundo os usos em
casos semelhantes.
Ainda quanto à conduta do comissário, além da obrigação evidente de não praticar atos
ilícitos na exercício de sua atividade, deverá, no desempenho das suas incumbências, agir com
cuidado e diligência, não só para evitar qualquer prejuízo ao comitente, mas ainda para lhe
proporcionar o lucro que razoavelmente se podia esperar do negócio. Assim, responderá o
comissário, salvo motivo de força maior, por qualquer prejuízo que, por ação ou omissão,
ocasionar ao comitente. Por outro lado como regra, o comissário não responde pela
insolvência das pessoas com quem tratar, exceto em caso de culpa ou se do contrato de
comissão constar a cláusula del credere (responderá o comissário solidariamente com as
pessoas com que houver tratado em nome do comitente, caso em que, salvo estipulação em
contrário, o comissário tem direito a remuneração mais elevada, para compensar o ônus
assumido).
11
Entretanto, segundo Venosa, pode haver interesse mercadológico na divulgação do comitente, como fator de dinamização das
vendas ou negócios em geral.
34
Parte da doutrina entende que a comissão é um mandato sem representação,
considerando que o comissário negocia em seu próprio nome, embora à conta do comitente.
O contrato de comissão é bilateral, consensual, oneroso e não solene.
A remuneração poderá ser parcial obedecendo critérios proporcionais. No caso de morte do
comissário, ou, quando, por motivo de força maior, não puder concluir o negócio, será devida
pelo comitente uma remuneração proporcional aos trabalhos realizados (CC, art.702). Havendo
rescisão do contrato, ainda que tenha dado motivo à dispensa, terá o comissário direito a ser
remunerado pelos serviços úteis prestados ao comitente, ressalvado a este o direito de exigir
do comissário eventuais prejuízos provocados por ele.
Se houver a RESCISÃO DO CONTRATO (dispensa do comissário) sem justa causa, o
comitente terá direito a ser remunerado pelos trabalhos prestados, bem como a ser ressarcido
pelas perdas e danos resultantes de sua dispensa.
No que se refere à movimentação financeira entre os dois quanto à exigência de juros,
assemelha-se ao contrato de mútuo com finalidade econômica. Assim, de acordo com o artigo
706, o comitente e o comissário são obrigados a pagar juros um ao outro; o primeiro pelo
que o comissário houver adiantado para cumprimento de suas ordens; e o segundo pela mora
na entrega dos fundos que pertencerem ao comitente. Destaque-se ainda que, para
reembolso das despesas feitas, bem como para recebimento das comissões devidas, tem o
comissário direito de retenção sobre os bens e valores em seu poder em virtude da comissão.
Por fim, são aplicáveis à comissão, no que couber, as regras sobre mandato (CC, artigos 798 e
709).
35
Na comissão normal, prospera o regime descrito na codificação, com as normas
compatíveis que as partes estipulem em concreto. Na comissão del credere
(principalmente, bancária), configura-se assunção da condição de garante pelo
comissário, que assim responde solidariamente, perante o comitente, pela pontualidade
e solvabilidade do contratante, caso em que descabe reclamação; mas, se não ajustada
por escrito e existia a aquiescência do comitente, com impugnação do quantitativo,
regula-se o valor pelos usos da praça, ou se fixa por meio de arbitradores (art. 179). Na
comissão com cláusula de negociação consigo mesmo, pode o comissário adquirir para
si os bens, considerando-se ínsita nos contratos sobre títulos versados em Bolsa
(comissão de bolsa). Nessa hipótese, celebra o comissário contrato consigo mesmo,
agindo na conjugação dos dois interesses. Mas pode também ser vedada a prática, por
cláusula expressa nesse sentido12
Regulado pelo Código Civil entre os arts. 653 e 691, trata-se de espécie contratual na
qual alguém (mandatário) recebe de outrem (mandante) poderes para, em seu nome, praticar
atos ou administrar interesses.
O mandato mercantil pode revestir-se de forma onerosa ou gratuita, podendo ser
aperfeiçoado por instrumento particular ou público.
O contrato de mandato poderá contemplar todos os negócios do mandante, ou apenas
parte deles. Mas, ainda que dotado de caráter geral, omandatário não poderá realizar
negócios que exijam a outorga de poderes especiais (art. 660, CC).
A responsabilidade pelos negócios formalizados entre o mandatário e terceiros será do
mandante, vez que aquele age em nome deste. Mesmo que o mandatário tenha agido com
excesso de poderes, responderá o mandante junto aos terceiros de boa-fé. Contudo, nesse
caso, o mandante terá direito de regresso contra o mandatário.
Ainda que o mandatário celebre negócio jurídico após a revogação do instrumento de
mandato, responderá o mandante junto aos terceiros de boa-fé. Nesse caso, igualmente,
12
BITTAR, Carlos Alberto. BITTAR FILHO, Carlos Alberto (atual.). Contratos comerciais. 5. ed., Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2008, p. 69.
36
poderá o mandante reaver junto a mandatário o ônus decorrente das perdas e danos que haja
experimentado (art. 686, CC).
Comunicado o mandatário da outorga de poderes a novo mandatário, para o mesmo
negócio, considerar-se-á automaticamente revogado o anterior.
São aqueles nos quais um banco ou instituição financeira figura em um dos polos da
relação contratual.
Entre as inúmeras operações bancárias, merecem destaque os seguintes:
do cliente certo valor, por prazo determinado ou indeterminado, que poderá utilizá-
hábil para o ajuizamento da ação monitória. A súmula 322 do STJ, por sua vez,
a sua remuneração.
37
Contrato de depósito bancário: Trata-se de contrato bancário próprio que se enquadra
esse contrato de conta. Assim, vê-se claramente que o depósito bancário é o mais
importante dos contratos bancários, uma vez que quase todos, atualmente, possuem
manter nele recursos monetários e sacá-los quando for preciso. Esse saque é feito, por
financeira depositária.
Depósito a pré-aviso, no qual a restituição, quando solicitada, deve ser feita pelo
Depósito a prazo fixo, no qual a restituição só pode ser solicitada após uma
38
QUADRO SINÓTICO
Princípios Contratuais
Autonomia da vontade mitigada pelo dirigismo contratual (o contrato deve atender a sua
função social e nao pode contrariar preceitos de ordem pública)
39
Contratos de Colaboração Empresarial
Agência e Distribuição
Contrato de Corretagem
Distribuição-Intermediação
Contrato de Comissão
Concessão Mercantil
Distribuição-Aproximação
Representação comercial autônoma
40
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
Comentário:
ALTERNATIVA A: CORRETA
Alternativa B: INCORRETA
41
Súmula 379/STJ: Nos contratos bancários não regidos por legislação específica, os juros
moratórios poderão ser convencionados até o limite de 1% ao mês.
Alternativa C: INCORRETA
Alternativa D: INCORRETA
Alternativa E: INCORRETA
Questão 2
42
III As cláusulas de exclusividade e de territorialidade são típicas de um contrato de factoring.
IV Na hipótese de inadimplemento no contrato de alienação fiduciária em garantia, o credor
poderá vender a coisa a terceiros, independentemente de leilão, hasta pública, avaliação prévia
ou medida judicial.
Estão certos apenas os itens
A) I e II.
B) I e III.
C) II e III.
D) III e IV.
E) I, II e IV.
Comentário:
ItemI: CORRETO
ItemII: CORRETO
43
Súmula 293 STJ - A cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não
descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil.
ItemIII: INCORRETO
c)Cláusula da Globalidade, que consiste num prévio acordo com a entidade financeira
relativamente aos créditos que o facturizado possivelmente adquirirá sobre algumas
empresas – sejam suas devedoras atualmente, ou as potencialmente devedoras –
contidos em uma lista anexada ao contrato, obrigando-se o fator a aceitar essas cessões,
desde que respeitados os termos fixados em contrato.
ItemIV: CORRETO
Decreto-Lei 911/69:
44
Questão 3
45
Comentário:
Questão 4
46
E) o contrato de arrendamento mercantil poderá prever o fracionamento do valor residual
garantido e o valor residual da opção de compra sem que isso implique em sua
descaracterização.
Comentário:
Alternativa A: INCORRETA
O VRG não se confunde com a opção de compra, sendo valores pagos em virtude de
fatos distintos — a opção de compra representa, em regra, o próprio preço do bem, de
maneira que, ao natural, será superior ao valor total do VRG, que é um valor mínimo.
Súmula nº 564/STJ
Alternativa C: INCORRETA
Alternativa D: INCORRETA
Embora o Valor Residual Garantido possa ser fracionado, o valor residual da opção de
compra NÃO pode. Nesse sentido, o seguinte julgado:
Alternativa E: INCORRETA
47
Segundo a Súmula nº 293/STJ, “a cobrança antecipada do valor residual garantido
(VRG) não descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil.” (Súmula nº 293/STJ)
Questão 5
Comentário:
Em relação à letra "a", o INPI fará o registro dos contratos que impliquem transferência
de tecnologia, contratos de franquia e similares para produzirem efeitos em relação a
terceiros.
Questão 6
Comentário:
Item I: CORRETO
Art. 2º, § 2º. A mora decorrerá do simples vencimento do prazo para pagamento e
poderá ser comprovada por carta registrada com aviso de recebimento, não se
49
exigindo que a assinatura constante do referido aviso seja a do próprio destinatário.
(Redação dada pela Lei nº 13.043, de 2014)
Art. 6º-A. O pedido de recuperação judicial ou extrajudicial pelo devedor nos termos da
Lei no 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, não impede a distribuição e a busca e
apreensão do bem.
Questão 7
50
IV. É abusiva cláusula contratual que imponha a contratação de seguro de proteção financeira.
Está correto o que se afirma em:
A) I, II e III, apenas.
B) I, II e IV, apenas.
C) I, III e IV, apenas.
D) II, III e IV, apenas.
Comentário:
Item I: CORRETO
ItemII:INCORRETO
É válida a tarifa de avaliação do bem dado em garantia, bem como da cláusula que
prevê o ressarcimento de despesa com o registro do contrato, ressalvadas: • a
abusividade da cobrança por serviço não efetivamente prestado; e • a possibilidade de
controle da onerosidade excessiva, em cada caso concreto. STJ. 2ª Seção. REsp 1578553-
SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 28/11/2018 (recurso repetitivo) (Info
639).
51
Obs.: Tarifa de avaliação do bem dado em garantia consiste no valor cobrado do banco
para remunerar o especialista que realiza a avaliação do preço de mercado do bem dado
em garantia.
A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ao julgar sob o rito dos (Tema
972) o REsp 1.639.320 e o REsp 1.639.259, ambos de relatoria do ministro Paulo de Tarso
Sanseverino, firmou a tese de que “nos contratos bancários em geral, o consumidor não
pode ser compelido a contratar seguro com a instituição financeira ou com seguradora
por ela indicada”.
Questão 8
Comentário:
Alternativa A: INCORRETA
De acordo com André Luiz Santa Cruz Ramos, os contratos bancários são aquelas
modalidades contratuais formalizadas pelos bancos no exercício de atividade bancária, ou
seja, com a finalidade de coletar, intermediar ou aplicar recursos junto aos agentes
52
econômicos.Perceba-se que nos contratos bancários sempre estará presente um banco,
mas isso não significa que todo contrato firmado por um banco mereça a qualificação de
contrato bancário.Só receberão essa qualificação aqueles contratos:
Tem-se, portanto, que os contratos bancários são aqueles em que, necessariamente, uma
das partes é uma instituição financeira (e não bancária), ou seja, ela exerce uma função
econômica relacionada ao exercício da atividade bancária, de acordo com o art. 17 da Lei
4.595/1964.
Alternativa B: CORRETA
Súmula 28, STJ: O contrato de alienação fiduciária em garantia pode ter por objeto bem
que já integrava o patrimônio do devedor.
Alternativa C: INCORRETA
Alternativa D: INCORRETA
Na lição de André Luiz Ramos Santa Cruz, "mútuo consiste, como dito acima, em um
empréstimo, ou seja, é o contrato bancário por meio do qual o banco disponibiliza para
o cliente determinada quantia (dinheiro = fungível) , cabendo a este pagar ao banco o
valor correspondente, com os acréscimos legais, no prazo contratualmente estipulado."
(Pág. 715, ed. 2018).
Alternativa E: INCORRETA
53
A escolha não cabe à arrendatária/locatária. Conforme André Luiz Ramos Santa Cruz, "o
contrato de arrendamento mercantil, também chamado de leasing, como um contrato
especial de locação que assegura ao locatário a prerrogativa de adquirir o bem alugado
ao final da avença, pagando, nesse caso, uma diferença chamada de valor residual." (pág.
724, ed. 2018)
Questão 9
Comentário:
Alternativa A: CORRETA
De acordo com André Luiz Ramos Santa Cruz, o acordo de vontades no contrato de
seguro se dá pela simples adesão do segurado às cláusulas previamente estabelecidas
pelo segurador, uma vez que se trata de contrato deadesão (pág. 737, ed. 2018).
54
exibição da apólice ou do bilhete do seguro, e, na falta deles, por documento
comprobatório do pagamento do respectivo prêmio”.
Assim, a apólice ou bilhete de seguro são instrumento que provam o contrato de seguro,
mas não constituem o contrato, visto que o contrato é “consensual”. Ele é apenas
provado pela apólice e pelo bilhete.
Alternativa B: INCORRETA
Alternativa C: INCORRETA
Lei 11.101/05:
Alternativa D: INCORRETA
Alternativa E: INCORRETA
Por regra, nós sabemos que, de fato, não se aplica o CDC às relações entre os
empresários. Entretanto, é preciso lembrar da mitigação da teoria finalista feita pelo STJ,
sobretudo quando restar caracterizada a vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica
de uma das partes.
55
Questão 10
Comentário:
Questão 11
Comentário:
Item:Certo
56
Questão 12
Comentário:
Item: Certo
Questão 13
Comentário:
Item: Certo
57
Art. 2º No caso de inadimplemento ou mora nas obrigações contratuais garantidas
mediante alienação fiduciária, o proprietário fiduciário ou credor poderá vender a coisa
a terceiros, independentemente de leilão, hasta pública, avaliação prévia ou qualquer
outra medida judicial ou extrajudicial, salvo disposição expressa em contrário prevista
no contrato, devendo aplicar o preço da venda no pagamento de seu crédito e das
despesas decorrentes e entregar ao devedor o saldo apurado, se houver, com a devida
prestação de contas.
§ 3º A mora e o inadimplemento de obrigações contratuais garantidas por alienação
fiduciária, ou a ocorrência legal ou convencional de algum dos casos de antecipação de
vencimento da dívida facultarão ao credor considerar, de pleno direito, vencidas tôdas
as obrigações contratuais, independentemente de aviso ou notificação judicial ou
extrajudicial.
Questão 14
Comentário:
Item:Errado
Contudo, é importante observar que o ordenamento jurídico, hoje, tem procurado cada
vez mais assegurar o equilíbrio contratual entre as partes contratantes apesar da
autonomia que elas possuem, razão pela qual a própria legislação estipula limites, não
raro, à autonomia da vontade, o que se convencionou chamar de dirigismo contratual.
58
Ocorre que no âmbito do direito empresarial, o norte interpretativo deve ser sempre a
autonomia da vontade das partes. Caso contrário, o que se instaura é a insegurança
jurídica, que se manifesta especificamente nas atividades econômicas como um obstáculo
ao desenvolvimento. Portanto, nos contratos empresariais, o dirigismo contratual deve
ser mitigado, tendo em vista a simetria natural das relações interempresariais.
Enunciado 21, CJF: Nos contratos empresariais, o dirigismo contratual deve ser
mitigado, tendo em vista a simetria natural das relações interempresariais.
Questão 15
Comentário:
Item:Errado
Sumula 369, STJ: No contrato de arrendamento mercantil (leasing), ainda que haja
cláusula resolutiva expressa, é necessária a notificação prévia do arrendatário para
constituí-lo em mora.
Questão 16
A respeito das condições para o exercício de atividade comercial, julgue o item subsequente.
59
( ) Certo
( ) Errado
Comentário:
Errado - Código Civil. Art. 968, § 3º Caso venha a admitir sócios, o empresário individual
poderá solicitar ao Registro Público de Empresas Mercantis a transformação de seu registro de
empresário para registro de sociedade empresária, observado, no que couber, o disposto
nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código.
Enunciado 465 CJF. A "transformação de registro" prevista no art. 968, § 32, e no art. 1.033,
parágrafo único, do Código Civil não se confunde com a figura da transformação de pessoa
jurídica.
Questão 17
60
A) Não poderão as juntas comerciais se recusar a registrar contrato social ou alterações
contratuais de sociedade limitada que envolva sócio incapaz, desde que atendidos, de
forma conjunta, os seguintes pressupostos: o sócio incapaz não pode exercer a
administração da sociedade; o capital social deve ser totalmente integralizado; o sócio
relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente incapaz deve ser
representado.
B) Nas juntas comerciais, o Pedido de Reconsideração terá por objeto obter a revisão de
despachos singulares ou de Turmas que formulem exigências para o deferimento do
arquivamento e será apresentado no prazo para cumprimento da exigência para
apreciação pela autoridade recorrida em 5 (cinco) dias úteis ou 8 (oito) dias úteis,
respectivamente.
C) Qualquer pessoa, desde que prove interesse especifico, poderá, gratuitamente,
mediante autorização judicial, consultar os assentamentos existentes nas juntas
comerciais e obter certidões.
D) A sociedade que não proceder a qualquer arquivamento no período de 5 (cinco) anos
consecutivos será considerada inativa e, automaticamente, terá o seu registro cancelado
E) O exercício de atividade empresarial sem o devido registro na junta comercial tem,
como uma de suas consequências, a não sujeição do exercente à falência, ficando
submetido à insolvência civil.
Comentário:
A) Correta- texto do artigo 974 do Código Civil, a questão, porém, deixa de lado mais um
requisito: "precederá autorização judicial", o que gera confusão, já que o texto da questão fala
de "conjunto" de requisitos;
B) Errada- texto do artigo 45 da Lei 8934/94 - O Pedido de Reconsideração terá por objeto
obter a revisão de despachos singulares ou de Turmas que formulem exigências para o
deferimento do arquivamento e será apresentado no prazo para cumprimento da exigência
para apreciação pela autoridade recorrida em 3 (três) dias úteis ou 5 (cinco) dias úteis,
respectivamente. (Redação dada pela Lei nº 11.598, de 2007);
61
D) Errada - texto do artigo 60 da Lei 8.934/1994 e seu §1º
"Art. 60. A firma individual ou a sociedade que não proceder a qualquer arquivamento no
período de dez anos consecutivos deverá comunicar à junta comercial que deseja manter-se
em funcionamento.
E) Errada - artigo 105 da Lei 11.101/2005 (Lei de Falência) permite que o devedor peça sua
falência e, ao elencar os documento necessários para isso dispõe, no inciso VI, que o devedor
apresente "prova da condição de empresário, contrato social ou estatuto em vigor ou, se não
houver, a indicação de todos os sócios, seus endereços e a relação de seus bens pessoais".
Portanto, já que pode haver o pedido sem o contrato ou estatuto, que são os atos
constitutivos que devem ser registrados, não é necessário o registro para pedir falência.
62
Questão 18
63
Comentário:
A)Errada - A averbação e a publicação na imprensa oficial são necessários apenas para que o
contrato de alienação, usufruto ou arrendamento do estabelecimento faça efeitos contra
terceiros. Em relação às partes, a lei nada dispõe. Art. 1.444, CC.
B) Errada - Os débitos precisam estar contabilizados para que o adquirente por eles responda;
o devedor primitivo fica solidariamente responsável por estes débitos pelo prazo de um ano,
contabilizado da publicação dos créditos vencidos e, quanto aos outros, da data do
vencimento. Art. 1.146, CC.
E) Errada - O devedor ficará exonerado se de boa-fé pagar ao cedente. Art. 1.149, CC.
Questão 19
A) O empresário que tenha a atividade rural como sua principal profissão não pode
requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede.
B) Marido e mulher podem contratar sociedade, entre si ou com terceiros, mesmo que
tenham se casado no regime da comunhão universal de bens.
C) O termo empresário refere-se ao sócio da sociedade empresária.
D) Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica,
literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o
exercício da profissão constituir elemento de empresa.
64
E) A pessoa legalmente impedida de exercer a atividade empresária, caso a exerça, não
responderá pelas obrigações que contrair.
Comentário:
A) Errada - Art. 971 CC. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão,
pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer
inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois
de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro.
B) Errada – O art. 978 CC - os cônjuges podem contratar entre si e perante terceiros, desde
que não tenha casado em regime de comunhão universal de bens, ou separação obrigatória;
E) Errada - O art. 973 - caso a pessoa legalmente impedida exerça atividade, responderá pelas
obrigações contraídas.
Questão 20
Comentário:
E) Certo - Item explicitamente falso, visto que há uma série de mecanismos legais de
proteção à clientela, até mesmo porque a clientela é um atributo do estabelecimento.
66
GABARITO
Questão 1 - A
Questão 2 -E
Questão 3 -E
Questão 4 -B
Questão 5 -D
Questão 6 -C
Questão 7 -C
Questão 8 -B
Questão 9 -A
Questão 10 -Certo
Questão 11 -Certo
Questão 12 -Certo
Questão 13 -Certo
Questão 14 - Errado
Questão 15 -Errado
Questão 16 -Errado
Questão 17 -A
Questão 18 -C
Questão 19 -D
Questão 20 - C
67
QUESTÃO DESAFIO
Máximo de 5 linhas
68
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO
Nota promissória emitida com vinculação a um contrato seja ele bancário ou não, precisa
conter expressamente tal vinculação, como explica o autor André Santa Cruz (CRUZ, André
Santa. Direito Empresarial. 8. ed. São Paulo: Método, 2020. p. 899-900.): “Inicialmente, cumpre
destacar que quando a nota promissória for emitida com vinculação a um determinado
contrato – não apenas contratos bancários, o que é mais comum, mas qualquer contrato –, tal
fato deve constar expressamente do título, uma vez que este pode circular, e o terceiro que
recebê-lo por endosso deve ter conhecimento da relação contratual à qual o título está
atrelado.”.
O fato de constar tal vinculação retira a característica da abstração dos títulos de crédito, já
que o terceiro que receber o endosso passa a ter conhecimento do negócio ocorrido
anteriormente.
69
O Superior Tribunal de Justiça entende que só o fato de a nota promissória estar vinculada a
um contrato de mútuo não a descaracteriza como título executivo, como no REsp 777.912/RS,
quando afirmou: “a nota promissória, ainda que vinculada a contrato de mútuo bancário, não
perde a sua executoriedade. Precedentes do STJ” (AgRg no REsp 777.912/RS, Rel. Min. Nancy
Andrighi, DJ 28.11.2005, p. 289)
O autor André Santa Cruz detalha (CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. 8. ed. São Paulo:
Método, 2020. p. 901-901.): “A questão merece explicação mais detalhada. A nota promissória
vinculada a um contrato específico, com expressa menção no título a este fato, tem a sua
abstração e autonomia, pode-se dizer, relativizada. Isso se dá porque o título passa a ter uma
ligação intrínseca com o contrato que o originou, podendo-se então aplicar, grosso modo, a
máxima de que o acessório (a nota) segue o principal (o contrato). Portanto, se o contrato a
que está ligada a nota promissória não descaracterizar a sua liquidez, ela continuará
ostentando a característica de título executivo extrajudicial, nos termos do art. 784 do Código
de Processo Civil, e poderá fundamentar ação executiva contra o devedor.”.
70
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Contratos Empresariais
É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.
A compra e venda de automóvel não prevalece contra terceiros, de boa-fé, se o contrato não foi transcrito no
registro de títulos e documentos.
O contrato de alienação fiduciária em garantia pode ter por objeto bem que já integrava o patrimônio do
devedor.
13
Tal norma foi designada como “Declaração dos Direitos da Liberdade Econômica”, razão pela qual é importante a leitura e
todos os seus dispositivos.
14
Referida norma consiste na Nova Lei de Franquia e possui poucos dispositivos, daí a relevância de sua leitura na totalidade.
15
Essa lei disciplina a alienação fiduciária de coisa imóvel, recomendando-se que se faça uma leitura focada nos dispositivos
alterados pela Lei 13.465/17.
71
A terceiro de boa-fé não é oponível a alienação fiduciária não anotada no Certificado de Registro do veículo
automotor.
O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato de conta corrente não é título executivo.
A notificação destinada a comprovar a mora nas dívidas garantidas por alienação fiduciária dispensa a indicação
do valor do débito.
A purga da mora, nos contratos de alienação fiduciária, só é permitida quando já pagos pelo menos 40% do
valor financiado.
A cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não descaracteriza o contrato de arrendamento
mercantil.
Para a repetição de indébito, nos contratos de abertura de crédito em conta corrente, não se exige a prova do
erro.
A simples propositura da ação de revisão de contrato não inibe a caracterização da mora do autor.
Cabe ação monitória para haver saldo remanescente oriundo de venda extrajudicial de bem alienado
fiduciariamente em garantia.
antecipada a título de valor residual garantido (VRG) com o valor da venda do bem ultrapassar o total do VRG
previsto contratualmente, o arrendatário terá direito de receber a respectiva diferença, cabendo, porém, se
estipulado no contrato, o prévio desconto de outras despesas ou encargos pactuados.
72
JURISPRUDÊNCIA
STJ, 3ª Turma. REsp 1781959/SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva. julgado em 11/02/2020
De acordo com as normas aplicáveis às operações ativas e passivas de que trata a Resolução nº 1.143/1986, do
Conselho Monetário Nacional, não há óbice em se adotar as taxas de juros praticadas nas operações de
depósitos interfinanceiros como base para o reajuste periódico das taxas flutuantes, desde que calculadas com
regularidade e amplamente divulgadas ao público.O depósito interfinanceiro (DI) é o instrumento por meio do
qual ocorre a troca de recursos exclusivamente entre instituições financeiras, de forma a conferir maior liquidez
ao mercado bancário e permitir que as instituições que têm recursos sobrando possam emprestar àquelas que
estão em posição deficitária.Nos depósitos interbancários, como em qualquer outro tipo de empréstimo, a
instituição tomadora paga juros à instituição emitente. A denominada Taxa CDI, ou simplesmente DI, é calculada
com base nas taxas aplicadas em tais operações, refletindo, portanto, o custo de captação de moeda suportado
pelos bancos.
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de que é potestativa a cláusula que deixa ao
arbítrio das instituições financeiras, ou associação de classe que as representa, o cálculo dos encargos cobrados
nos contratos bancários.Não é potestativa a cláusula que estipula os encargos financeiros de contrato de abertura
de crédito em percentual sobre a taxa média aplicável aos Certificados de Depósitos Interbancários (CDIs), visto
que tal indexador é definido pelo mercado, a partir das oscilações econômico-financeiras, não se sujeitando a
manipulações que possam atender aos interesses das instituições financeiras.Eventual abusividade deve ser
verificada no julgamento do caso concreto em função do percentual fixado pela instituição financeira, comparado
às taxas médias de mercado regularmente divulgadas pelo Banco Central do Brasil para as operações de mesma
espécie, conforme decidido em precedentes desta Corte julgados sob o rito dos recursos repetitivos, o que não
se verifica na espécie.
A Lei 4.886/65, em seu art. 27, "j", estabelece que o representante deve ser indenizado caso o contrato de
representação comercial seja rescindido sem justo motivo por iniciativa do representado.O pagamento
antecipado, em conjunto com a remuneração mensal devida ao representante comercial, desvirtua a finalidade da
indenização prevista no art. 27, "j", da Lei 4.886/65, pois o evento, futuro e incerto, que autoriza sua incidência é
a rescisão unilateral imotivada do contrato.Essa forma de pagamento subverte o próprio conceito de indenização.
73
Como é sabido, o dever de reparar somente se configura a partir da prática de um ato danoso. No particular,
todavia, o evento que desencadeou tal dever não havia ocorrido - nem era possível saber se, de fato, viria a
ocorrer - ao tempo em que efetuadas as antecipações mensais.O princípio da boa-fé impede que as partes de
uma relação contratual exercitem direitos, ainda que previstos na própria avença de maneira formalmente lícita,
quando, em sua essência, esse exercício representar deslealdade ou gerar consequências danosas para a
contraparte.
A cláusula que extrapola o que o ordenamento jurídico estabelece como padrão mínimo para garantia do
equilíbrio entre as partes da relação contratual deve ser declarada inválida.
STJ, 3ª Turma.REsp 1696214/SP. Rel. Min. Marco Aurélio Belizze. julgado em 16/10/2018
mas sem repercussão alguma na circulação e na utilização dessas moedas virtuais, as quais não dependem de
intermediários, sendo possível a operação comercial e/ou financeira direta entre o transmissor e o receptor da
moeda digital. Nesse contexto, tem-se, a toda evidência, que a utilização de serviços bancários, especificamente o
de abertura de conta-corrente, pela insurgente, dá-se com o claro propósito de incrementar sua atividade
produtiva de intermediação, não se caracterizando, pois, como relação jurídica de consumo mas sim de insumo ,
a obstar a aplicação, na hipótese, das normas protetivas do Código de Defesa do Consumidor. O encerramento
do contrato de conta-corrente, como corolário da autonomia privada, consiste em um direito subjetivo exercitável
por qualquer das partes contratantes, desde que observada a prévia e regular notificação. 3.1 A esse propósito,
destaca-se que a Lei n.4.595/1964, recepcionada pela Constituição Federal de 1988 com status de lei
complementar e regente do Sistema Financeiro Nacional, atribui ao Conselho Monetário Nacional competência
exclusiva para regular o funcionamento das instituições financeiras (art. 4º, VIII). E, no exercício dessa
competência, o Conselho Monetário Nacional, por meio da edição de Resoluções do Banco Central do Brasil que
se seguiram, destinadas a regulamentar a atividade bancária, expressamente possibilitou o encerramento do
contrato de conta de depósitos, por iniciativa de qualquer das partes contratantes, desde que observada a
comunicação prévia. A dicção do art. 12 da Resolução BACEN/CMN n. 2.025/1993, com a redação conferida pela
Resolução BACEN/CMN n. 2.747/2000, é clara nesse sentido.Atendo-se à natureza do contrato bancário,
notadamente o de conta-corrente, o qual se afigura intuitu personae, bilateral, oneroso, de execução continuada,
prorrogando-se no tempo por prazo indeterminado, não se impõe às instituições financeiras a obrigação de
contratar ou de manter em vigor específica contratação, a elas não se aplicando o art. 39, II e IX, do Código de
Defesa do Consumidor. Revela-se, pois, de todo incompatível com a natureza do serviço bancário fornecido, que
conta com regulamentação específica, impor-se às instituições financeiras o dever legal de contratar, quando
delas se exige, para atuação em determinado seguimento do mercado financeiro, profunda análise de aspectos
mercadológico e institucional, além da adoção de inúmeras medidas de segurança que lhes demandam o
74
conhecimento do cliente bancário e de reiterada atualização do seu cadastro de clientes, a fim de minorar os
riscos próprios da atividade bancária.
4.1 Longe de encerrar abusividade, tem-se por legítima, sob o aspecto institucional, a recusa da instituição
financeira recorrida em manter o contrato de conta-corrente, utilizado como insumo, no desenvolvimento da
atividade empresarial, desenvolvida pela recorrente, de intermediação de compra e venda de moeda virtual, a
qual não conta com nenhuma regulação do Conselho Monetário Nacional (em tese, porque não possuiriam
vinculação com os valores mobiliários, cuja disciplina é dada pela Lei n. 6.385/1976). De igual modo, sob o
aspecto mercadológico, também se afigura lídima a recusa em manter a contratação, se, conforme sustenta a
própria insurgente, sua atividade empresarial se apresenta, no mercado financeiro, como concorrente direta e
produz impacto no faturamento da instituição financeira recorrida. Desse modo, o proceder levado a efeito pela
instituição financeira não configura exercício abusivo do direito.Não se exclui, naturalmente, do crivo do Poder
Judiciário a análise, casuística, de eventual desvirtuamento no encerramento do ajuste, como o inadimplemento
dos deveres de informação e de transparência, ou a extinção de uma relação contratual longeva, do que, a toda
evidência, não se cuida na hipótese ora vertente.
Contrato de Leasing
consonância com a jurisprudência do STJ, o que já seria suficiente para se rejeitar a pretensão recursal com base
na Súmula 83/STJ. O referido verbete sumular aplica-se aos recursos interpostos tanto pela alínea "a" quanto pela
alínea "c" do permissivo constitucional. Nesse sentido: REsp 1.186.889/DF, Segunda Turma, Relator Ministro
Castro Meira, DJe de 2.6.2010. 6. Não obstante isso, não se constata o preenchimento dos requisitos legais e
75
regimentais para a propositura do Recurso Especial pela alínea "c" do art. 105 da CF. 7. A apontada divergência
deve ser comprovada, cabendo a quem recorre demonstrar as circunstâncias que identificam ou assemelham os
casos confrontados, com a indicação da similitude fática e jurídica entre eles. 8. In casu, o recorrente não se
desincumbiu do ônus de demonstrar que os casos comparados tratam da mesma situação fática: empresário
individual. Ao revés, limitou-se a transcrever ementas e trechos que versam sobre sociedade empresarial cuja
diferença em relação ao caso dos autos foi suficientemente explanada neste julgado. 9. Recurso Especial não
conhecido.)
76
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2020.
FAZZIO JUNIOR, WALDO. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2020.
MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. 13ª Ed. São Paulo: Atlas, 2020.
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora jus
podivm, 2017.
PENANTE JR, Francisco. LAURINDO, Felipe. Prática empresarial. Recife: Armador, 2020.
77
Capítulo 7
SUMÁRIO
GABARITO ........................................................................................................................................................................... 64
LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 68
1
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 71
2
DIREITO EMPRESARIAL
Capítulo 1
7. Propriedade Industrial
1COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016. p. 169.
3
PROPRIEDADE INTELECTUAL =BENS IMATERIAIS DO ESTABELECIMENTO COMERCIAL =
PROPRIEDADE INDUSTRIAL + PROPRIEDADE AUTORAL
DIFERENÇAS BÁSICAS
4
- Protege a forma exterior + técnica (ideia) - Protege a forma exterior
A Lei 9.279/96, por sua vez, regula os direitos e obrigações relativos à Propriedade
Industrial no plano infraconstitucional. No art. 2º, incisos I a III, o legislador protegeu quatro
espécies de bens imaterias: a patente de invenção; a patente de modelo de utilidade; o
desenho industrial; a marca.
Esses bens integrarão o patrimônio do seu titular, em regra o empresário, que terá não
só o direito de explorá-los economicamente, com inteira exclusividade, mas também de
aliená-los por ato inter vivos ou mortis causa, ou ainda impedir sua utilização pela
concorrência.
2
Vide questão 10.
5
Para que um terceiro explore bem industrial patenteado ou registrado (invenção,
modelo, desenho ou marca) ele necessita de autorização ou licença do titular do bem.
A legislação brasileira faz uso, em especial, dessa última ressalva no art. 217, da Lei n.º
9.279/96 – LPI:
6
Esse princípio dispõe que o primeiro pedido de patente ou desenho industrial
depositado em um dos países membros serve de base para depósitos subsequentes
relacionados à mesma matéria, efetuados pelo mesmo depositante ou seus sucessores legais
(art. 4ª da Convenção de Paris).
V. Acordo TRIPS
O Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados ao
Comércio (Acordo TRIPS) é um tratado Internacional, integrante do conjunto de acordos
assinados em 1994 que encerrou a Rodada Uruguai e criou a Organização Mundial do
Comércio.
7
Tal acordo estabelece padrões mínimos de proteção a serem observados pelos
Membros, com relação a direito autoral, marcas, indicações geográficas, desenhos industriais,
patentes, circuitos integrados e informação confidencial. Ele incorpora os principais
dispositivos substantivos da Convenção de Paris para a Proteção da Propriedade Intelectual e
da Convenção de Berna para a Proteção de Trabalhos Literários e Artísticos (com exceção dos
direitos morais), ambos negociados no âmbito da OMPI.
Segundo o texto do acordo, sua vigência ficaria postergada por cinco anos nos países
em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. No entanto, o Superior Tribunal de Justiça
(REsp 661.536/RJ) entendeu que a aplicação do Acordo TRIPS no Brasil foi imediata, em razão
de nosso país não ter optado expressamente pela postergação de cinco anos prevista no texto
do tratado.
9
adiar” a aplicação do Acordo em alguns pontos por mais 5 anos. A
segunda ressalva é uma mera possibilidade, ao contrário da primeira. – O
Brasil, conforme demonstram as transcrições das discussões legislativas
juntadas aos autos, abriu mão do segundo prazo especial e facultativo de
mais cinco anos constante no art. 65.4, prazo esse destinado à extensão
da proteção a setores tecnológicos ainda não protegidos pelas antigas
Leis de Patentes; mas não do primeiro prazo, porque, em relação a este e
pelos próprios termos do Acordo, qualquer manifestação de vontade era
irrelevante. – Em resumo, não se pode, realmente, pretender a aplicação
do prazo previsto no art. 65.4 do TRIPS, por falta de manifestação
legislativa adequada nesse sentido; porém, o afastamento deste prazo
especial não fulmina, de forma alguma, o prazo genérico do art. 65.2, que
é um direito concedido ao Brasil e que, nesta qualidade, não pode sofrer
efeitos de uma pretensa manifestação de vontade por omissão, quando
nenhum dispositivo obrigava o país a manifestar interesse neste ponto
como condição da eficácia de seu direito. Recurso especial não conhecido
(REsp 960.728/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 17.03.2009, DJe
15.04.2009).
O STJ entendeu que o Acordo TRIPS não teve aplicação imediata, uma vez que seu próprio
texto estabelece que, para os países em desenvolvimento, sua vigência seria postergada
por cinco anos.Esseentendimento acima é direcionado às chamadas patentes “mailbox”
10
(guardadas numa caixa”, pois se referem à uma regra de transição do acordo TRIPS e a Lei de
Propriedade Industrial, mas tenha em mente que o prazo de proteção deste tipo de patente
não excede 20 anos.
Para melhor compreensão, vale a transcrição de artigo publicado no site “migalhas”, que
destaca os trechos específicos do voto da Ministra Nancy sobre o tema
(https://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI278848,11049Prazo+de+patente+mailbox+e+de+
ate+20+anos+contados+do+dia+em+que):
3
Vide questão 3.
11
7.1.2 O Instituto Nacional de Propriedade Industrial
Lei 5.648/1970
Art. 2ºO INPI tem por finalidade principal executar, no âmbito nacional,
as normas que regulam a propriedade industrial, tendo em vista a sua
função social, econômica, jurídica e técnica, bem como pronunciar-se
quanto à conveniência de assinatura, ratificação e denúncia de
convenções, tratados, convênios e acordos sobre propriedade industrial.
Processual civil. Recurso especial. Ação na qual o INPI figura como parte.
Foro competente para julgamento. O foro competente para julgamento
de ação em que o INPI figure como parte é o de sua sede, a princípio.
Contudo, o Código de Processo Civil faculta que o autor ajuize a ação no
foro do domicílio do outro demandado na hipótese de pluralidade de
réus, se assim preferir. Inteligência do art. 94, § 4.º, do CPC (REsp
346.628/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 13.11.2001, DJ
04.02.2002, p. 355).
Ademais, a ação de indenização por perdas e danos contra particular por infração de
direito de propriedade industrial, no caso em que o INPI não é parte, deverá ser ajuizada na
4
Vide questão 7.
12
justiça estadual, sendo vedada sua cumulação com a ação anulatória de registro no INPI,
uma vez que a cumulação só é admitida pelo Código de Processo Civil quando o mesmo
juízoé competente para conhecer todos os pedidos.5
Nesse sentido é o entendimento do STJ:
5
Vide questão 5.
13
Processo civil e direito de propriedade intelectual. Registro de desenho
industrial e de marca. Alegada contrafação. Propositura de ação de
abstenção de uso. Nulidade do registro alegado em matéria de defesa.
Reconhecimento pelo tribunal, com revogação de liminar concedida em
primeiro grau. Impossibilidade. Revisão do julgamento. Nulidade de
patente, marca ou desenho deve ser alegada em ação própria, para a
qual é competente a Justiça Federal. Recurso provido.1. A alegação de
que é inválido o registro, obtido pela titular de marca, patente ou
desenho industrial perante o INPI, deve ser formulada em ação própria,
para a qual é competente a Justiça Federal. Ao juiz estadual não é
possível, incidentalmente, considerar inválido um registro vigente, perante
o INPI.Precedente.2. A impossibilidade de reconhecimento incidental da
nulidade do registro não implica prejuízo para o exercício do direito de
defesa do réu de uma ação de abstenção. Nas hipóteses de registro
irregular de marca, patente ou desenho, o terceiro interessado em
produzir as mercadorias indevidamente registradas deve, primeiro, ajuizar
uma ação de nulidade perante a Justiça Federal, com pedido de
antecipação dos efeitos da tutela. Assim, todo o peso da demonstração
do direito recairia sobre o suposto contrafeitor que, apenas depois de
juridicamente respaldado, poderia iniciar a comercialização do produto.3.
Autorizar que o produto seja comercializado e que apenas depois, em
matéria de defesa numa ação de abstenção, seja alegada a nulidade pelo
suposto contrafeitor, implica inverter a ordem das coisas. O peso de
demonstrar os requisitos da medida liminar recairia sobre o titular da
marca e cria-se, em favor do suposto contrafeitor, um poderoso fato
consumado: eventualmente o prejuízo que ele experimentaria com a
interrupção de um ato que sequer deveria ter se iniciado pode impedir a
concessão da medida liminar em favor do titular do direito.4. Recurso
especial provido, com o restabelecimento da decisão proferida em
primeiro grau (REsp 1.132.449, DJ 23.03.2012).
Por fim, em decisão ainda mais recente, o Superior Tribunal de Justiça se posicionou
favoravelmente quanto à possibilidade de o INPI analisar as cláusulas dos contratos de
transferência de tecnologia, que são submetidos a seu registro:
14
ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. INPI. CONTRATO DE
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA. AVERBAÇÃO. ALTERAÇÃO DE
CLÁUSULA POR PARTE DA AUTARQUIA. DESCABIMENTO. LEI N. 4.131/62.
MATÉRIA NÃO PREQUESTIONADA. ART. 50 DA LEI N. 8.383/91.
ROYALTIES. DEDUÇÃO E PAGAMENTO. QUESTÃO DE FUNDO. ATUAÇÃO
DO INPI. ARTIGO 240 DA LEI 9.279/96. INTERPRETAÇÃO ADEQUADA.
VALORAÇÃO DA CLÁUSULA GERAL DE ATENDIMENTO DAS FUNÇÕES
SOCIAL, ECONÔMICA, JURÍDICA E TÉCNICA. FINALIDADES PÚBLICAS
PRESERVADAS. PRECEDENTES. DENEGAÇÃO DA ORDEM. RECURSO
PARCIALMENTE CONHECIDO E NEGADO PROVIMENTO.I - Ação
mandamental impetrada na origem, na qual empresas voltaram-se contra
ato administrativo praticado pelo INPI que, ao averbar contratos de
transferência de tecnologia por elas celebrados, alterou cláusulas, de
forma unilateral, fazendo-os passar de onerosos para gratuitos.II -
Ausência de pré questionamento em relação às matérias constantes nos
invocados artigos da Lei n. 4.131/62. Incidência das Súmulas ns. 282/STF e
211/STJ.III - A discussão acerca de possível violação do art. 50 da Lei n.
8.383/91 diz respeito à questão de deduções de pagamento de royalties,
matéria de fundo dos contratos, que não interfere na deliberação dos
autos, restritos à análise de limite de atuação administrativa do INPI,
matéria atinente à Primeira Seção desta Corte.IV - A supressão operada
na redação originária do art. 2º da Lei n. 5.648/70, em razão do advento
do artigo 240 da Lei 9.279/96, não implica, por si só, em uma conclusão
mecânica restritiva da capacidade de intervenção do INPI.
Imprescindibilidade de conformação das atividades da autarquia federal
com a cláusula geral de resguardo das funções social, econômica, jurídica
e técnica.V - Possibilidade do INPI intervir no âmbito negocial de
transferência de tecnologia, diante de sua missão constitucional e
infraconstitucional de regulamentação das atividades atinentes à
propriedade industrial. Inexistência de extrapolação de atribuições.VI -
Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, negado
provimento.(REsp 1200528/RJ, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO,
SEGUNDA TURMA, julgado em 16/02/2017, DJe 08/03/2017)
O que respalda o entendimento do julgado citado é que o art. 2º Lei 5.648/70, que foi
alterado pelo advento da Lei de Propriedade Industrial – LPI que incluiu nas atribuições do
15
INPI o zelo pela função social, econômica, jurídica e técnica a partir de 1996 ( Lei 9279/96 –
LPI), antes disso o INPI não detinha esta atribuição.
O INPI, quando patenteia uma invenção ou registra desenho industrial ou marca, pratica ato
de natureza constitutiva, fundado no direito industrial. Quando registra um logiciário
(software), pratica ato declaratório, relacionado ao direito autoral. 6
Ademais, o direito industrial protege não apenas a forma exterior do objeto, como a
própria ideia inventiva, ao passo que o direito autoral apenas protege a forma exterior. Se
alguém apresentar ao INPI um pedido de patente, descrevendo de maneira diferente invenção
já patenteada, ele não receberá o direito industrial que pleiteia (já que a própria ideia
inventiva está protegida). É possível, contudo, que se retrate determinada obra de arte sem se
infringir direitos autorais.7
A vigente Lei da Propriedade Industrial - LPI (Lei nº 9.279/1996) aplica-se às invenções,
aos modelos de utilidade, aos desenhos industriais e às marcas, mas não ao nome
empresarial, que resta disciplinado pela Lei do Registro de Empresas (Lei nº 8.934/1994) e pelo
Código Civil de 2002.
7.2 Da Invenção
6 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016. pp. 176-177.
7 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista
8 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016. p. 169.
9
Vide questão 2.
17
A LPI define modelo de utilidade em seu art. 9º como o objeto de uso prático, ou
parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição,
envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu uso ou em sua
fabricação. Se houver dúvida se determinada criação seria invenção ou modelo de utilidade,
deve-se considerar o objeto uma invenção.
10COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016. p. 170.
18
As joias, apesar de não possuírem utilidade prática, provêm de atividade criativa
tutelada pelo direito industrial.
INVENÇÃO X X X
MODELO DE UTILIDADE X X -
ADIÇÃO DE INVENÇÃO - X -
DESENHO INDUSTRIAL - - -
7.5 Marca
11COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016. p. 171.
19
percepção visual, que identifica, direta ou indiretamente, produtos ou serviços, não
compreendidos nas proibições legais.12
A identificação diretaocorre quando o sinal distintivo está relacionado especificamente
ao produto ou serviço, servindo para individuá-lo de outro idêntico, sendo esta marca
chamada de marca de produto ou serviço.
Há, ainda, possibilidade de identificação indiretado produto ou serviço através de
outras duas espécies de marca. Amarca de certificaçãoindividualiza o produto/serviço
atestando a sua conformidade com normas ou especificações técnicas (como o ISSO 9001). A
marca coletivaindividualiza o produto/serviço informando ser ele fornecido por empresário
filiado a certa entidade (com a unilever).
Asmarcas coletiva e decertificação têm comoelementos comuns:
Transmitirem ao consumidor a informação de que o produto/serviço tem uma
qualidade;
qualidade;
estabelece as condições pelas quais um empresário tem direito de usá-las, bem como
A desnecessidade de licença para uso da marca, bastando cumprir com o que exige o
Na marca coletiva, o titular do registro será sempre uma associação empresarial, que
congrega determinada classe de empresário (empresários ecológicos, cristãos, etc.), que tem
interesse direto no produto ou serviço.
12 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016. p. 171.
13 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista
No Brasil, sinais sonoros, ainda que originais e exclusivos, embora também possam
individualizar produtos e serviços, não são suscetíveis de registro como marca. Também não
são marcas as características de cheiro, gosto ou tato14. Os signos não visuais são tutelados
pela disciplina jurídica da concorrência, na medida em que sua usurpação sirva de meio
fraudulento para desviar clientela.
Apesar de inútil, uma vez que as marcas terão a mesma proteção, segundo a doutrina
podem ser classificadas em:
a) Nominativas:São as marcas compostas exclusivamente por palavras, que não
apresentam uma particular forma de letras.
b) Figurativas: São as marcas consistentes em desenhos ou logotipos, exclusivamente.
14
Vide questão 1.
21
c) Mistas: São as marcas escritas com letras revestidas de forma particular ou
inseridas em logotipos.
d) Tridimensional: São as marcas nas quais a forma do produto é o próprio sinal
distintivo. É o que ocorre, por exemplo, com o formato da garrafa da Coca-Cola.
15
Texto extraído de: https://www.conjur.com.br/2020-abr-18/pedido-registro-marca-coronavirus-testa-lei-brasileira
23
Por outro lado, analisando a vedação da utilização das cores, no caso em que a Brahma
tentava impedir a Itaipava de comercializar cervejas em latas vermelhas, alegando que isso
confundiria o consumidor e diluiria os efeitos de sua campanha publicitária, o STJ, entendeu
que “por força do art. 124, VIII, da Lei n. 9.279/1996 (LPI), a identidade de cores de
embalagens, principalmente com variação de tons, de um produto em relação a outro, sem
constituir o conjunto da imagem ou trade dressda marca do concorrente – isto é, cores
“dispostas ou combinadas de modo peculiar e distintivo” –, não é hipótese legalmente
capitulada como concorrência desleal ou parasitária.”
Muito embora o trade dress seja uma novidade que já foi bem difundida dentre aqueles
que se preparam para as provas de concurso público, há peculiaridades que não podem ser
desconsideradas pelo aluno que pretende alcançar alto desempenho nas provas.
Uma dessas nuances diz respeito aos recentes posicionamentos no STJ no sentido de
que para analisar se houve imitação de trade dress, é indispensável a prova pericial:
Nesse sentido, decidiu, recentemente, o STJ:
24
“As questões acerca do trade dress (conjunto-imagem)dos produtos,
concorrência desleal e outras demandas afins, por não envolver registro
no INPI e cuidando de ação judicial entre particulares, é inequivocamente
de competência da justiça estadual, já que não afeta interesse
institucional da autarquia federal. No entanto, compete à Justiça Federal,
em ação de nulidade de registro de marca, com a participação do INPI,
impor ao titular a abstenção do uso, inclusive no tocante à tutela
provisória.” (REsp 1527232/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 13/12/2017, DJe 05/02/2018)
O inventor (ou criador de modelo de utilidade) deve estar atento ao fato de que, se
patentear a invenção/modelo de utilidade, todos passarão a ter conhecimento das inovações
que realizou, em seus detalhes.
Realizado o pedido de patente, ele será mantido em sigilo por 18 meses, contados da
data do depósito ou da prioridade mais antiga (quando houver), após o que será
publicado(pela Revista da Propriedade Industrial), garantido irrestrito acesso aos interessados
ao relatório descritivo, reivindicações, resumo e desenhos correspondentes. A publicação pode
ser antecipada a pedido do depositante e é condição para a concessão da patente.
Só não haverá publicação se a invenção for de interesse à defesa nacional, que será
processado em caráter sigiloso. Recebido o pedido, o INPI encaminha ao órgão responsável
do Poder Executivo para que se manifeste sobre o sigilo no prazo de 60 dias. Decorrido o
prazo sem manifestação, o pedido será processado da forma normal. A invenção que interesse
à defesa nacional não pode ser depositada no exterior ou divulgado de qualquer forma, salvo
autorização do órgão competente.
Uma vez divulgados pelo INPI os detalhes da invenção, caberá exclusivamente ao
depositante zelar para que terceiros não se utilizem de sua criação industrial. Deve o inventor
ponderar, portanto, se é menos desvantajoso controlar a invenção depositada e divulgada ou
explorá-la sigilosamente.
25
Se optar por manter para si a sua criação, a Lei de Propriedade Industrial protege o
criador tipificando a violação do sigilo como crime de concorrência desleal, gerando
responsabilidade penal a par da responsabilidade civil com fundamento na disciplina jurídica
da concorrência16. A proteção ao segredo de empresa, contudo, não dá ensejo à
exclusividade de exploração da invenção, o que só ocorre com a patente. Quem patentear
a invenção, pode impedir que os demais continuem a explorá-la.
16
Vide questão 9.
17
Tópico inspirado no texto disponível em: https://lucasbz.jusbrasil.com.br/artigos/599389630/compreendendo-a-lei-de-
protecao-de-dados-pessoais-pl-53-2018
26
I – finalidade:realização do tratamento para propósitos legítimos,
específicos, explícitos e informados ao titular, sem possibilidade de
tratamento posterior de forma incompatível com essas finalidades;
II – adequação: compatibilidade do tratamento com as finalidades
informadas ao titular, de acordo com o contexto do tratamento;
III – necessidade: limitação do tratamento ao mínimo necessário para a
realização das suas finalidades, com 7 abrangência dos dados pertinentes,
proporcionais e não excessivos em relação às finalidades do tratamento
de dados;
IV – livre acesso: garantia aos titulares de consulta facilitada e gratuita
sobre a forma e a duração do tratamento, bem como sobre a
integralidade dos seus dados pessoais;
V – qualidade dos dados: garantia aos titulares de exatidão, clareza,
relevância e atualização dos dados, de acordo com a necessidade e para
o cumprimento da finalidade de seu tratamento;
VI – transparência: garantia aos titulares de informações claras, precisas e
facilmente acessíveis sobre a realização do tratamento e os respectivos
agentes de tratamento, observados os segredos comercial e industrial;
VII – segurança: utilização de medidas técnicas e administrativas aptas a
proteger os dados pessoais de acessos não autorizados e de situações
acidentais ou ilícitas de destruição, perda, alteração, comunicação ou
difusão;
VIII – prevenção: adoção de medidas para prevenir a ocorrência de
danos em virtude do tratamento de dados pessoais;
IX – não discriminação: impossibilidade de realização do tratamento para
fins discriminatórios ilícitos ou abusivos; e
X – responsabilização e prestação de contas: demonstração pelo agente
da adoção de medidas eficazes e capazes de comprovar a observância e
o cumprimento das normas de proteção de dados pessoais, inclusive da
eficácia
27
A lei prevê algumas inovações jurídicas interessantes, tais como a criação da categoria
dos “dados sensíveis”, que são os que tratam sobre “origem racial ou étnica, as convicções
religiosas, as opiniões políticas, a filiação a sindicatos ou a organizações de caráter religioso,
filosófico ou político, dados referentes à saúde ou à vida sexual, dados genéticos ou
biométricos, quando vinculados a uma pessoa natural” (art. 5º, II). Por força normativa, tais
dados tiveram o seu tratamento vedado, salvo em situações específicas listadas, como o
cumprimento de obrigação legal pelo responsável; ou diante do fornecimento de
consentimento específico pelo titular, desde que para finalidades pontuais.
A norma aborda ainda em seu conteúdo o tratamento que deverá ser adotado para os
dados de crianças e adolescentes, realizado, doravante, sempre com a autorização de pais
ou responsável legal, e com consentimento específico. Prossegue abordando quanto ao
término do tratamento dos dados, bem como sobre o procedimento a ser adotado pelo
poder público no trato com dados pessoais. Algumas discussões mais técnicas também são
abordadas na Lei, como a transferência internacional, a descrição dos agentes de tratamento,
e da fiscalização e sigilo dos dados pessoais.
Dois tópicos desenvolvidos chamam a atenção no conteúdo legal. Um deles consta no
capítulo III, que trata dos direitos do titular, no qual é garantido expressamente a titularidade
dos direitos pessoais, com base nos princípios constitucionais da liberdade, intimidade e
privacidade.
Em decorrência dessa garantia, assegura-se ainda ao titular dos direitos pessoais a
prerrogativa de realizar as seguintes requisições ao portador dos seus dados:
Art. 18. O titular dos dados pessoais tem direito a obter do responsável,
em relação aos dados do titular por ele tratados, a qualquer momento e
mediante requisição:
I –confirmação da existência de tratamento;
II –acesso aos dados;
III – correção de dados incompletos, inexatos ou desatualizados;
IV –anonimização, bloqueio ou eliminação de dados desnecessários,
excessivos ou tratados em desconformidade com o disposto nesta Lei;
V –portabilidade dos dados pessoais a outro fornecedor de serviço ou
produto, mediante requisição expressa e observados os segredos
28
comercial e industrial, de acordo com a regulamentação do órgão
responsável;
VI –eliminação dos dados pessoais tratados com o consentimento do
titular, exceto nas hipóteses previstas no art. 16 desta Lei; 19
VII – informação das entidades públicas e privadas com as quais o
responsável realizou uso compartilhado de dados;
VIII – informação sobre a possibilidade de não fornecer o consentimento
e sobre as consequências da negativa; IX – revogação do consentimento
nos termos do § 5º do art. 8º desta Lei.”.
Por sua vez, a criação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados representa outro
ponto positivo (art. 55). Esse órgão, integrante da Administração Pública federal indireta, e
vinculado ao Ministério da Justiça, terá como objetivo zelar pela proteção de dados
pessoais e dos segredos industriais e comerciais, bem como executar inúmeras outras
funções listadas no art. 56 da referida Lei.
Assim, a sanção da norma mencionada propiciará ao Brasil o avanço na proteção dos
dados, estimulando o desenvolvimento da economia digital de nosso país, com marcos
regulatórios bem fundamentados, e semelhantes aos adotados em outras nações que
fomentam o desenvolvimento tecnológico. Simultaneamente, observa-se a preocupação
constante em resguardar os dados de seus cidadãos, assegurando a proteção aos direitos
constitucionais básicos como o da intimidade e privacidade.
29
O estado da técnica é constituído por tudo aquilo tornado acessível ao público antes da
data de depósito do pedido de patente, por qualquer meio, no Brasil ou no exterior. Também
constitui estado da técnica o conteúdo completo de pedido depositado no Brasil e ainda não
publicado, a partir da data de depósito ou da prioridade reivindicada, desde que venha a ser
publicado, ainda que subsequentemente, bem como se o pedido for internacional segundo
tratado ou convenção em vigor no Brasil e que siga processamento nacional.18
O estado da técnica compreende todos os conhecimentos difundidos no meio científico,
acessível a qualquer pessoa, e dos os reivindicados regularmente por um inventor, por meio
de depósito de patente, mesmo que ainda não tornados públicos.
Não se considera estado da técnica a divulgaçãode invenção ou modelo de utilidade
nos 12 meses anteriores à data de depósito ou da prioridade do pedido de patente
(período de graça)se promovida pelo próprio inventor, pelo INPI em razão de fraude ou por
terceiro que não tinha autorização para fazê-lo.
Toda invenção é original, considerada como a qualidade da concepção, no momento
em que ela passa de desconhecida para conhecida no espírito de uma pessoa em razão de
seu esforço próprio, mas nem toda invenção é nova (uma vez que outrem pode ter pensado
nela antes).
A doutrina, antigamente, defendia que esse requisito servia para excluir do campo das
criações patenteáveis as puras concepções intelectuais. Esse entendimento não mais guarda
18COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016. p. 181.
30
sintonia com a lei vigente, uma vez que não mais se enquadram as concepções puramente
teóricas no conceito de invenção. Invenção, ainda que não patenteável, não pode ser
puramente abstrata, devendo ter efeitos práticos. Segundo melhor doutrina, não têm o
requisito da industriabilidade (não podendo ser patenteáveis) as invenções que não podem ser
fabricadas ainda (como uma máquina de teletransporte) e as que não têm utilidade para o
homem (como remédio placebo). Ou seja, as muito avançadas e as inúteis.19
A inexistência de condições econômicas para a fabricação em escala industrial não
impede a patenteabilidade da invenção. O que impede é a inexistência de conhecimentos
técnicos indispensáveis à fabricação do invento.
19 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016. p. 184.
20
Vide questão 4.
21
Vide questão 8.
31
seu titular.
Foram ajuizadas Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIn 5.061 e ADIn 5.596) contra o
art. 40, parágrafo único, da Lei de Propriedade Industrial, pois, na hipótese de demora do
Executivo em analisar pedidos de concessão de patente, haveria uma prorrogação por
prazo indeterminado.Além disso, caso tal demora seja considerável, ainda será concedido
um prazo mínimo de 10 (dez) ou 7 (sete) anos, o que configuraria um período
demasiadamente extenso de proteção. A ADIn 5.061 foi extinta por falta de legitimidade da
entidade autora enquanto a ADIn 5.596 permanece em andamento, vez que foi promovida
pelo Ministério Público da União.
Invenção pertence exclusivamente ao A patente será comum, em partes A patente será exclusiva do
empregador (art. 88, LPI); iguais para empregado e empregado (art. 90, LPI);
empregador (art. 91, LPI);
22PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora
jus podivm, 2017. pp. 128-129.
32
7.8.3 Nulidade da patente
33
§ 2º Transitada em julgado a decisão da ação de nulidade, o INPI
publicará anotação, para ciência de terceiros.
34
Art. 173. A ação de nulidade poderá ser proposta pelo INPI ou por
qualquer pessoa com legítimo interesse.
Parágrafo único.O juiz poderá, nos autos da ação de nulidade,
determinar liminarmente a suspensão dos efeitos do registro e do uso da
marca, atendidos os requisitos processuais próprios.
Art. 174. Prescreve em 5 (cinco) anos a ação para declarar a nulidade do
registro, contados da data da sua concessão.
Art. 175. A ação de nulidade do registro será ajuizada no foro da justiça
federal e o INPI, quando não for autor, intervirá no feito.
§ 1º O prazo para resposta do réu titular do registro será de 60 (sessenta)
dias.
§ 2º Transitada em julgado a decisão da ação de nulidade, o INPI
publicará anotação, para ciência de terceiros.
Segundo o STJ (Súmula 143), o prazo prescricional da ação de perdas e danos pelo uso
indevido de marca comercial é de 5 (cinco) anos. Entretanto, se, porventura, o titular de uma
marca autorizar outrem a utilizá-la e depois revogar sua anuência, a prescrição para reclamar
exclusividade de marca não correrá durante prazo de uso permitido, iniciando-se, tão
somente, com a solicitação de seu não uso (REsp 1631874). Esse entendimento foi reafirmado
em julgado de maio de 2019, proferido por aquela corte, no qual consolidou entendimento no
sentido de que, ainda que sob o prisma da teoria dualista do sistema de nulidades (nulidade e
anulabilidade), ainda assim aplica-se o prazo prescricional de 5 anos, ou seja, ainda que o ato
administrativo do registro perante o INPI seja NULO, é prescritível a ação de declaração de
perdas e danos decorrente do uso indevido de marca.A imprescritibilidade não constitui
regra no direito brasileiro, sendo admitida somente em hipóteses excepcionalíssimas que
envolvem direitos da personalidade, estado das pessoas, bens públicos. Os demais casos
devem se sujeitar aos prazos prescricionais do Código Civil ou das leis especiais.(Info 648).23
23
Fonte: CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A prescritibilidade do direito de alegar a nulidade de registro de marca, conforme
previsto no art. 174 da Lei nº 9.279/96, não pode ser afastada por meio de aplicação da teoria dualista das nulidades. Buscador
Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
35
No caso de propositura de ação de nulidade de marca em que o INPI não oferece
oposição, a autarquia não será condenada ao pagamento de honorários advocatícios (Tese de
recurso repetitivo do STJ).Segundo com a jurisprudência do STJ a simples contrafação de
marca gera direito à indenização por danos materiais, mesmo que o produto não tenha
sido comercializado.
Ressalta-se que caso terceiro de boa-fé explore o objeto desta patente, anteriormente à
data de depósito do pedido de patente, a LPI lhe assegura o direito de continuar a
exploração, sem ônus, na forma e condição anteriores, art. 45:
A licença para uso ou exploração da patente pode ser obtida de modo voluntário ou de
modo compulsório.
A licença voluntáriaé autorização dada voluntariamente pelo titular da patente, para
que os licenciados possam explorá-la através o pagamento de royalties. Para que produza
efeitos frente a terceiros, o pacto que formaliza a licença voluntaria deverá ser averbado no
INPI.
A licença compulsóriase concede em situações nas quais o titular da patente está
obrigado a licenciar terceiros na exploração da invenção ou modelo de utilidade24. Isto porque
o direito considera a prevalência do interesse social. Sendo assim, se o titular da patente não
está exercendo o seu direito de forma a atender regular e convenientemente o mercado,
outros empresários poderão explorá-la por meio da chamada licença compulsória.
Evidentemente, os licenciados deverão remunerar o dono da patente.25
Concedida a primeira licença compulsória, terá o licenciado o prazo de 2 anos para que
a exploração econômica da invenção ou modelo de utilidade seja feita e forma satisfatória.
Caso isso não ocorra, caducará a patente, perdendo o inventor todos os direitos industriais de
que era titular, caindo a invenção ou modelo em domínio público. É possível a licença
compulsória quando:
e) Os direitos decorrentes da patente foram usados de forma abusiva, ou por meio de
abuso de poder econômico, a partir de uma decisão administrativa ou judicial (art.
68, caput, LPI);
f) Da não exploração do objeto da patente no território nacional por falta de
fabricação ou fabricação incompleta do produto, ou ainda, a falta de uso integral do
processo patenteado (ressalvados os casos de inviabilidade econômica, quando será
admitida a importação) (art. 68, I, LPI);
g) A comercialização do objeto da patente não satisfizer às necessidades do mercado
(art. 68, II, LPI);
24
Vide questão 6.
25PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora
jus podivm, 2017. p. 129.
37
h) Houver emergência nacional ou interesse público, declarados em ato do Poder
Executivo Federal, desde que o titular da patente ou seu licenciado não atenda a
essa necessidade, poderá ser concedida, de ofício, licença compulsória, temporária e
não exclusiva, para exploração da patente, sem prejuízo dos direitos do respectivo
titular (art. 71, LPI).
A licença para uso ou exploração da patente pode ser obtida de modo voluntário ou de
modo compulsório.
A patente pipeline, também chamada patente de importação ou patente de
revalidação, é uma revalidação, no Brasil, de uma patente já registrada no exterior,
conhecida por se manter vinculada a patente originária estrangeira.A patente pipeline
apenas surgiu após a previsão legal nos artigos 230 e 231 da Lei 9.279/96 (LPI), os quais
possibilitaram depósitos de patentes em campos tecnológicos para os quais o Brasil não
concedia patentes.
A legislação brasileira anterior (Lei 5.772/1971) não permitia a patente de produtos
farmacêuticos e alimentícios. Aqueles que, não obstante a proibição antiga, fizeram tais
pedidos, puderam convertê-los em pedidos de pipeline.
A matéria é bastante controvertida, diante da forma diferenciada no processo de
solicitação de tais patentes, pois passam apenas por uma análise formal e seguem os termos
da patente concedida no exterior, não se submetendo a uma análise técnica dos requisitos de
patenteabilidade pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
Parte da doutrina entende pela inconstitucionalidade da patente pipeline, e a
questão será decidida pelo Supremo Tribunal Federal, já que em 2009 foi ajuizada Ação Direta
de Inconstitucionalidade contra os arts. 230 e 231 da LPI (ADIn 4.234).
O Superior Tribunal de Justiça (STJ)já proferiu algumas decisões entendendo pela
legitimidade das regras dos arts. 230 e 231 da LPI. Confira na seção Jurisprudência deste
material tais decisões.
O fato é que muitos titulares de patentes pipeline – geralmente laboratórios – tentam
estender o prazo de vigência da respectiva patente no Brasil, nos casos em que tais prazos, no
país de origem da patente, são mais longos ou prorrogados por algum motivo específico. O
38
STJ tem rechaçado sistematicamente essas tentativas, conforme se vê dos acórdãos acima
transcritos, entendendo que as patentes pipeline revalidadas no Brasil vigoram pelo prazo
remanescente do país de origem, mas limitado ao prazo máximo previsto em nossa legislação
(art. 40 da LPI: 20 anos para patentes de invenção e 15 anos para patentes de modelo de
utilidade).
Por fim, vale ressaltar que nas patentes pipeline, por ocorrer apenas uma revalidação,
no Brasil, de uma patente já registrada no exterior, a sua concessão dispensa a comprovação
dos requisitos da “novidade”, da “atividade inventiva” e da “aplicação industrial”, uma vez
que eles já foram analisados na jurisdição de origem.
A propósito, confira-se o seguinte julgado do STJ:
b. Originalidade:
O desenho industrial é original quando dele resulte uma configuração visual distintiva
em relação a outros objetos anteriores.
c. Desimpedimento:
Não podem ser registrados como desenhos industriais (1)o desenho que tenha
natureza puramente artística, (2)o desenho que ofenda a moral e os bons costumes, a honra
ou a imagem de pessoas, ou atente contra a liberdade de consciência, crença, culto religioso,
ou contra ideias ou sentimentos dignos de respeito e veneração, (3)desenhos que apresentem
forma necessária, comum, vulgar ou determinada essencialmente por considerações técnicas e
funcionais.
O registro da marca está sujeito a três condições: a novidade relativa, a não colidência
com marca notoriamente conhecida e desimpedimento.
a) Novidade relativa:
É exigido para que a marca cumpra a sua finalidade de identificar, direta ou
indiretamente, produtos ou serviços, destacando-os de seus concorrentes. Não se exige que o
requerente tenha criado o sinal (novidade absoluta), mas apenas que se dê a ele uma nova
utilização.
40
Em razão do caráter relativo da novidade, a proteção da marca registrada é restrita ao
seguimento dos produtos ou serviços a que pertence o objeto marcado (princípio da
especificidade). O INPI classifica os produtos e serviços adotando a Classificação Internacional
de Produtos e Serviços (Classificação de Nice).
Consoante jurisprudência consolidada do STJ, a proteção conferida à marca submete-se
ao princípio da especialidade, ou seja, sua proteção jurídica é restrita ao(s) ramo(s) de
atividade em que o seu titular atua:
41
Informativo 33/99). Recurso especial. Propriedade industrial. Direito
marcário. Pretensão de impedir a utilização da marca registrada “crescer”.
Princípio da especificidade. Atividades distintas enquadradas dentro da
mesma classe. Serviços de educação. Serviços complementares.
Finalidades idênticas e mesmos canais de comercialização. Grande risco
de confusão no consumidor. 1. Pretensão da recorrente de impedir a
utilização, por parte da recorrida, da marca registrada “Crescer”, da qual
detém a titularidade. 2. Como corolário do princípio da especificidade, o
direito à exclusividade da marca se pressupõe dentro da classe de
serviços na qual foi registrada. 3. Atividades da recorrente e da
recorrida que, embora não sejam idênticas, se enquadram na mesma
classe “serviços de ensino”. 4. Grande risco de confusão no mercado
de consumo, por tratar-se de atividades complementares, com
finalidades idênticas, que envolvem os mesmos canais de
comercialização. 5. Direito à utilização exclusiva da marca registrada
que deve ser garantido. 6. Recurso especial provido (REsp 1.309.665/SP,
Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, 3.ª Turma, j. 04.09.2014, DJe
15.09.2014).
26 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016. p. 189.
27 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista
O INPI tem poderes para indeferir de ofício o pedido de registro de marca que
reproduza ou imite, ainda que de forma parcial, uma outra que notoriamente não pertence ao
solicitante. A proteção dada à marca notoriamente reconhecida independe de registro no INPI
e é restrita ao ramo de atividade. Demonstrada a notoriedade da marca, o empresário poderá
requerer ao INPI a nulidade do registro anterior e a concessão do direito industrial em seu
nome.
44
DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/08/2006, DJ 09/10/2006, p.
284 e REsp 1189022/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 25/02/2014, DJe 02/04/2014).(REsp 1184867/SC, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
15/05/2014, DJe 06/06/2014)
c) Desimpedimento:
O impedimento legal obsta o registro do signo como marca, mas não a sua utilização
na identificação de produtos e serviços (como a bandeira do Brasil). Aconselha-se a leitura
atenta ao art. 124 da LPI, no qual estão listados os casos não registráveis como marca.
28PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora
jus podivm, 2017. p. 132.
45
QUADRO SINÓTICO
PROPRIEDADE INDUSTRIAL
Invenção
Modelo de Utilidade
Desenho Industrial
Direito de Autor Cultivar
Marca
Direitos Conexos Topografia de Circuito Integrado
Indicação Geográfica
Programas de Computador Conhecimento Tradicional
Segredo Industrial e
Repressão à
Concorrência Desleal
46
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
A) Letra, algarismo e data, ainda que isoladamente, quando revestidos de suficiente forma
distintiva.
B) Termos técnicos que, usados na indústria, na ciência e na arte, tenham relação com o
produto ou serviço a distinguir.
C) Bandeira pública ou oficial, nacional, estrangeira ou internacional, bem como a respectiva
designação, figura ou imitação.
D) Sinais ou expressões empregados apenas como meio de propaganda.
Comentário:
Alternativa A:CORRETA
AlternativaB:INCORRETA
47
AlternativaC:INCORRETA
AlternativaD:INCORRETA
Questão 2
FGV -2018: Assinale a afirmativa correta:
A) O prazo de vigência da patente de invenção não pode ser inferior a quinze anos, a contar
da data de concessão, ressalvada a hipótese de INPI estar impedido de proceder ao exame
do mérito do pedido por pendência judicial comprovada ou por motivo de força maior.
B) A patente de invenção vigora pelo prazo de vinte anos, contados da data do depósito.
C) A proteção dos direitos relativos à propriedade industrial é assegurada em todo o
território brasileiro mediante o ato de protocolo do pedido das patentes e marcas do
Instituto Nacional de Propriedade Industrial.
D) É patenteável a invenção que atenda aos requisitos da novidade e atividade inventiva,
sendo dispensável sua aplicação industrial.
E) Os programas de computados são considerados invenções ou modelos de utilidade,
podendo seu autor obter a patente no Instituto Nacional de Propriedade Industrial.
Comentário:
AlternativaA:INCORRETA
O prazo mínimo de vigência deve ser contado a partir da patente de invenção. Esse
prazo é dez anos, não de quinze anos, como sugere a assertiva. Nesse sentido, art.
40, parágrafo único, da Lei 9.279/96.
Alternativa B:CORRETA
48
AlternativaC: INCORRETA
AlternativaD:INCORRETA
AlternativaE:INCORRETA
Questão 3
OAB/ Exame Unificado – 2008.2: De acordo com as leis brasileiras, considera-se criação passível
de ser objeto de direito de patente:
Comentário:
AlternativaA:INCORRETA
AlternativaB:INCORRETA
AlternativaC:INCORRETA
49
Alternativa D:CORRETA
As obras artísticas ou científicas não podem ser objeto de patente, assim como
qualquer método cirúrgico, conforme art. 10 da Lei 9.279/1996. O processo de
fabricação de tinta é patenteável, desde que seja considerado que, para receber a
proteção legal, deve atender aos requisitos da novidade, atividade inventiva e
industriabilidade.
Questão 4
Comentário:
ItemI:CORRETO
ItemII:CORRETO
ItemIII:INCORRETO
ItemIV:INCORRETO
ItemV:INCORRETO
51
Art. 8º É patenteável a invenção que atenda aos requisitos de novidade,
atividade inventiva e aplicação industrial.
Questão 5
Comentário:
AlternativaB:INCORRETA
AlternativaC:INCORRETA
Alternativa D:CORRETA
AlternativaE:INCORRETA
Questão 6
53
que invoque abuso de direitos patentários ou abuso de poder econômico será concedida, pelo
Instituto Nacional da Propriedade Industrial, licença com iguais privilégios concedidos ao
inventor, como, por exemplo, a exclusividade para a exploração da licença.
Comentário:
O quesito está errado ao afirmar que será concedida a licença compulsória com
exclusividade.
Esse instrumento é acionado pelo governo do país que concede a patente, intervindo
sobre o monopólio de sua exploração. Essa licença é um mecanismo de defesa contra
possíveis abusos cometidos pelo detentor de uma patente, ou, para os casos de interesse
público.
Questão 7
54
privado, incumbida da execução das normas da propriedade industrial, como o processamento
e o exame dos pedidos de patente ou de registro.
Comentário:
Sua natureza jurídica pode ser aferida pelos seguintes dispositivos legais:
Lei n. 5.648/70
Art 1º Fica criado o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI),
autarquia federal, vinculada ao Ministério da Indústria e do Comércio,
com sede e foro no Distrito Federal.
Art. 2º O INPI tem por finalidade principal executar, no âmbito nacional,
as normas que regulam a propriedade industrial, tendo em vista a sua
função social, econômica, jurídica e técnica, bem como pronunciar-se
quanto à conveniência de assinatura, ratificação e denúncia de
convenções, tratados, convênios e acordos sobre propriedade industrial.
DL n. 200/67
Art. 4° A Administração Federal compreende:
II - A Administração Indireta, que compreende as seguintes categorias de
entidades, dotadas de personalidade jurídica própria:
a) Autarquias;
55
Questão 8
Comentário:
Vale ainda registrar que a prescrição começa a contar, como regra geral, da publicação
do pedido, sendo concedida tal proteção anteriormente ao momento da concessão da
patente em si.
Lei n. 7.279/1996:
Art. 44. Ao titular da patente é assegurado o direito de obter indenização
pela exploração indevida de seu objeto, inclusive em relação à exploração
ocorrida entre a data da publicação do pedido e a da concessão da
patente.
§ 3º O direito de obter indenização por exploração indevida, inclusive
com relação ao período anterior à concessão da patente, está limitado ao
conteúdo do seu objeto, na forma do art. 41.
56
Questão 9
Comentário:
O crime descrito não trata de crime contra patente ou invenção. A patente é um ato de
proteção à invenção. O crime em questão trata de crimes cometidos por meio de marca,
título de estabelecimento e sinal de propaganda e não de crimes contra a patente, que
está em capítulo diverso da LPI:
Lei n. 9.279/96
Art. 191. Reproduzir ou imitar, de modo que possa induzir em erro ou
confusão, armas, brasões ou distintivos oficiais nacionais, estrangeiros ou
internacionais, sem a necessária autorização, no todo ou em parte, em
marca, título de estabelecimento, nome comercial, insígnia ou sinal de
propaganda, ou usar essas reproduções ou imitações com fins
econômicos.
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa.
Questão 10
57
Sincronia para sua cadeira, mediante expressa autorização de sua concorrente. Nessa situação,
em conformidade com as normas atinentes à propriedade industrial, o INPI deve efetuar o
registro de marca solicitado pela MOB Móveis para escritório Ltda.
Comentário:
A proteção de marcas não visa apenas proteger o proprietário da marca, mas também
evitar que os consumidores sejam lesados com a possível confusão ao adquirirem
produtos.
Com efeito, além do impedimento em razão da função social descrita no art 2º da LPI, há
vedação expressa pela lei de regência (art. 124, inc. XIX).
58
Questão 11
B) O registro da marca vigorará pelo prazo de quinze anos, contados da data da concessão do
registro, prorrogável por períodos iguais e sucessivos.
E) À marca registrada no Brasil considerada de alto renome será assegurada proteção especial,
em todos os ramos de atividade. Cuida-se, assim, de exceção à especialidade da proteção das
marcas.
Comentário:
A) Errada - Art. 128. Podem requerer registro de marca as pessoas físicas ou jurídicas de
direito público ou de direito privado.
B) Errada - Art. 133. O registro da marca vigorará pelo prazo de 10 (dez) anos, contados da
data da concessão do registro, prorrogável por períodos iguais e sucessivos.
59
C) Errada- Art. 122. São suscetíveis de registro como marca os sinais distintivos visualmente
perceptíveis, não compreendidos nas proibições legais. (não são todas as marcas que podem
ser protegidas por registro) - vide art. 124.
D) Errada - Art. 134. O pedido de registro e o registro poderão ser cedidos, desde que o
cessionário atenda aos requisitos legais para requerer tal registro.
E) Certa - Art. 125. À marca registrada no Brasil considerada de alto renome será assegurada
proteção especial, em todos os ramos de atividade.
Questão 12
D) Para a tutela da marca não basta a mera possibilidade de confusão, exige-se prova de
efetivo engano por parte de clientes ou consumidores específicos.
E) O termo inicial da prescrição da ação indenizatória por uso indevido de marca surge a
partir da violação do direito e não se prolonga no tempo nos casos de violações permanentes
ou continuadas.
60
Comentário:
E) ERRADO-O termo inicial da prescrição da ação indenizatória por uso indevido de marca
surge a partir da violação do direito, prolongando-se no tempo nos casos de violações
permanentes ou continuadas. REsp 1282969/SC,Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
TERCEIRA TURMA,Julgado em 21/08/2014,DJE 08/09/2014.
Questão 13
61
A) Científicas e similares vigentes no Brasil.
Comentário:
Questão 14
C) Fica assegurada a tutela dos direitos relativos a programa de computador pelo prazo de
cinquenta anos, contados a partir de 1° de janeiro do ano subsequente ao da sua publicação
ou, na ausência desta, da sua criação.
E)Os direitos atribuídos pela Lei n° 9.609/98 ficam assegurados aos estrangeiros domiciliados
no exterior, desde que o país de origem do programa conceda, aos brasileiros e estrangeiros
domiciliados no Brasil, direitos equivalentes.
Comentário:
63
GABARITO
Questão 1 - A
Questão 2 -B
Questão 3 -D
Questão 4 -A
Questão 5 -D
Questão 6 - Errado
Questão 7 - Errado
Questão 8 - Certo
Questão 9 -Errada
Questão 10 - Errado
Questão 11 - E
Questão 12 - B
Questão 13 -D
Questão 14 - D
64
QUESTÃO DESAFIO
Como é feito o cálculo que resulta na receita bruta anual para fins
de enquadramento de uma sociedade como microempresa e de
empresa de pequeno porte?
Máximo de 5 linhas
65
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO
Sobre a forma de calcular tais valores, o autor André Santa Cruz afirma (CRUZ, André Santa.
Direito Empresarial. 8. ed. São Paulo: Método, 2018. p. 1450-1450.): “Destaque-se ainda que o
cálculo da receita bruta anual, para efeito de enquadramento, é obtido com “o produto da
venda de bens e serviços nas operações de conta própria, o preço dos serviços prestados e o
resultado nas operações em conta alheia, não incluídas as vendas canceladas e os descontos
incondicionais concedidos” (art. 3.º, § 1.º). Também nesse sentido dispunha a legislação
antecedente.”.
Sobre a Lei Complementar 123/2006, o autor André Santa Cruz comenta (CRUZ, André Santa.
Direito Empresarial. 8. ed. São Paulo: Método, 2018. p. 1447-1447.): Conforme já destacamos,
obedecendo ao disposto nos arts. 179 e 146, III, d, da Constituição da República foi editada a
Lei Complementar 123/2006, que estabeleceu normas gerais relativas ao tratamento
diferenciado e favorecido a ser dispensado às microempresas e empresas de pequeno porte
no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
66
especialmente no que se refere, conforme o seu art. 1.º: “I – à apuração e recolhimento dos
impostos e contribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
mediante regime único de arrecadação, inclusive obrigações acessórias; II – ao cumprimento
de obrigações trabalhistas e previdenciárias, inclusive obrigações acessórias; III – ao acesso a
crédito e ao mercado, inclusive quanto à preferência nas aquisições de bens e serviços pelos
Poderes Públicos, à tecnologia, ao associativismo e às regras de inclusão; IV – ao cadastro
nacional único de contribuintes a que se refere o inciso IV do parágrafo único do art. 146, in
fine, da Constituição Federal”.
O §1º do art. 3 da referida Lei Complementar explica como deve ser feito a o cálculo para
chegar no valor da receita bruta anual, utilizado como parâmetro para enquadramento como
microempresa e de empresa de pequeno porte.
67
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Propriedade Industrial
Marcas e Patentes
A vedação de registro de marca que reproduza ou imite elemento característico ou diferenciador de nome
empresarial de terceiros, suscetível de causar confusão ou associação (art. 124, V, da Lei n. 9.279/1996), deve ser
interpretada restritivamente e em consonância com o art. 1.166 do Código Civil.
Decisão judicial que considera ser o nome empresarial violador do direito de marca não implica a anulação do
respectivo registro no órgão próprio nem lhe retira os efeitos, preservado o direito de o empresário alterá-lo.
A vedação de registro de marca que reproduza ou imite elemento característico ou diferenciador de nome
empresarial de terceiros, suscetível de causar confusão ou associação (art. 124, V, da Lei n. 9.279/1996), deve ser
Não cabe a condenação do INPI em sucumbência, nos termos do art. 85 do CPC, quando a matéria não for de
seu conhecimento prévio e não houver resistência judicial posterior
Os pedidos de abstenção de uso e indenização, quando cumulados com açãovisando anular um direito de
propriedade industrial, são da competência da Justiça Federal, emface do art. 55 do CPC.
68
Não cabe a condenação do INPI em sucumbência, nos termos do art. 85 do CPC, quando a matéria não for de
seu conhecimento prévio e não houver resistência judicial posterior
Em ações que visam anular um direito de propriedade industrial, a citação do INPI para se manifestar sobre os
pedidos deve ocorrer apenas após a contestação do titular do direito de propriedade industrial.
O fato gerador do parágrafo único do art. 40 da Lei n. 9.279/96 não engloba a hipótese de mora administrativa
havida em concausa ou perpetrada pelo depositante do pedido de patente, desde que demonstrada conduta
abusiva deste.
Não cabe a condenação do INPI em sucumbência, nos termos do art. 85 do CPC, quando a matéria não for de
Os pedidos de abstenção de uso e indenização, quando cumulados com ação visando anular um direito de
Aplicam-se aos negócios jurídicos de propriedade intelectual o disposto sobre a função social dos contratos,
probidade e boa-fé.
Nas ações de nulidade de indeferimento de pedido de registro de marca, o titular do registro marcário apontado
como anterioridade impeditiva é litisconsorte passivo necessário, à luz do que dispõe o art. 115 do CPC.
O termo inicial do prazo de 30 dias previsto no parágrafo único do art. 162 da Lei n. 9.279/96 é o primeiro dia
útil subsequente ao término in albis do prazo de 60 dias previsto no caput do mesmo artigo.
Em ações que visam anular um direito de propriedade industrial, a citação do INPI para se manifestar sobre os
pedidos deve ocorrer apenas após a contestação do titular do direito de propriedade industrial.
69
Enunciado 115, CJF, III Jornada de Direito Comercial
As limitações de direitos autorais estabelecidas nos arts. 46, 47 e 48 da Lei de Direitos Autorais devem ser
70
JURISPRUDÊNCIA
Patentes Pipeline
STJ, 3ª Turma. REsp 1145637/RJ, Rel. MinVasco Della Giustina. julgado em 08/02/2010.
ou depositada em outro país. Para a concessão da patente pipeline, o princípio da novidade é mitigado, bem
como não são examinados os requisitos usuais de patenteabilidade. Destarte, é um sistema de exceção, não
previsto em tratados internacionais, que deve ser interpretado restritivamente, seja por contrapor ao sistema
comum de patentes, seja por restringir a concorrência e a livre iniciativa. Quando se tratar da vigência da patente
pipeline, o termo inicial de contagem do prazo remanescente à correspondente estrangeira, a incidir a partir da
data do pedido de revalidação no Brasil, é o dia em que foi realizado o depósito no sistema de concessão
original, ou seja, o primeiro depósito no exterior, ainda que abandonado, visto que a partir de tal fato já surgiu
proteção ao invento (v.g.: prioridade unionista). Interpretação sistemática dos arts. 40 e 230, § 4.º, da Lei 9.279/96,
33 do TRIPS e 4.º bis da CUP. Nem sempre a data da entrada em domínio público da patente pipeline no Brasil
vai ser a mesma da correspondente no exterior. Incidência do princípio da independência das patentes, que se
aplica, de modo absoluto, tanto do ponto de vista das causas de nulidade e de caducidade patentárias como do
ponto de vista da duração normal. Consoante o art. 5.º, XXIX, da CF, os direitos de propriedade industrial devem
ter como norte, além do desenvolvimento tecnológico e econômico do país, o interesse social. Outrossim, na
aplicação da lei, o juiz deverá atender aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum (art. 5.º
da LICC).
“Trade Dress”
STJ, 3ª Turma. REsp 1.353.451/MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze. julgado em 28/09/2017.
O indeferimento de prova técnica, para utilizar-se de máximas da experiência como substitutivo de prova, é
conduta que cerceia o direito de ampla defesa das partes.O conjunto-imagem (trade dress) é a soma de
elementos visuais e sensitivos que traduzem uma forma peculiar e suficientemente distintiva, vinculando-se à sua
identidade visual, de apresentação do bem no mercado consumidor. Não se confunde com a patente, o desenho
industrial ou a marca, apesar de poder ser constituído por elementos passíveis de registro, a exemplo da
composição de embalagens por marca e desenho industrial. Embora não disciplinado na Lei n. 9.279/1996, o
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conjunto-imagem de bens e produtos é passível de proteção judicial quando a utilização de conjunto similar
resulte em ato de concorrência desleal, em razão de confusão ou associação com bens e produtos concorrentes
(art. 209 da LPI). No entanto, por não ser sujeito a registro - ato atributivo do direito de exploração exclusiva -
sua proteção não pode servir para ampliar direito que seria devido mediante registro, de modo que não será
suficiente o confronto de marca a marca para caracterizar a similaridade notória e presumir o risco de confusão.
A confusão que caracteriza concorrência desleal é questão fática, sujeita a exame técnico, a fim de averiguar o
mercado em que inserido o bem e serviço e o resultado da entrada de novo produto na competição, de modo a
se alcançar a imprevisibilidade da conduta anticompetitiva aos olhos do mercado.
Colisão de Marcas
STJ, 3ª Turma. REsp 1340933/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino. julgado em 17/03/2015.
Mesmo que de classes diferente do produto já registrado, produtos que guardam relação de afinidade, inserindo-
se no mesmo nicho comercial, visando a um público consumidor semelhante e utilizando os mesmos canais de
comercialização não podem ter sua marca registrada se essa colidir com outro já existente. (ex. pedido de
registro de bolacha recheada com a marca TIC-TAC conflita com a bala já registrada sob a mesma marca). A
aplicação do princípio da especialidade não deve se ater de forma mecânica à Classificação Internacional de
Produtos e Serviços, podendo extrapolar os limites de uma classe sempre que, pela relação de afinidade dos
produtos, houver possibilidade de se gerar dúvida no consumidor. Caso concreto em que a concessão do
registro pleiteado pela autora ensejaria, no consumidor, uma provável e inverídica associação dos biscoitos
recheados com as pastilhas TIC TAC comercializadas pelas rés. Indeferimento do registro mantido, à luz do art.
124, XIX, da Lei n. 9.279/96.Registre-se, entretanto, que nem sempre a mera afinidade entre as classes de
produtos ensejará a impossibilidade de convivência entre marcas iguais ou semelhantes. Deve-se levar em conta,
principalmente, a possibilidade de os consumidores serem levados a erro e a probabilidade de o titular da marca
anteriormente registrada sofrer prejuízos. Não ocorrendo isso, deve-se permitir a coexistência das marcas.
STJ, 3ª Turma. AgRg no REsp 1.346.089/RJ, Rel. Min. Moura Ribeiro. julgado em 14/05/2015.
Para a caracterização da infringência de marca, não é suficiente que se demonstrem a semelhança dos sinais e a
sobreposição ou afinidade das atividades. É necessário que a coexistência das marcas seja apta a causar confusão
no consumidor ou prejuízo ao titular da marca anterior, configurando concorrência desleal.A doutrina criou
parâmetros para a aplicação do [art.] 124, XIX, da Lei nº 9.279/96 ao caso concreto, listando critérios para a
avaliação da possibilidade de confusão de marcas: a) grau de distintividade intrínseca das marcas; b) grau de
semelhança das marcas; c) legitimidade e fama do suposto infrator; d) tempo de convivência das marcas no
mercado; e) espécie dos produtos em cotejo; f) especialização do público-alvo; e) diluição. Com base nos
elementos fático-probatórios dos autos o Tribunal de origem concluiu pela possibilidade de coexistência no
mercado da marca nominativa Chester e da marca mista Chester Cheetah. A primeira é um produto derivado de
uma ave para festas; a outra, um produto do ramo de salgadinhos.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2020.
FAZZIO JUNIOR, WALDO. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2020.
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora
JusPodivm, 2020.
PENANTE JR, Francisco. LAURINDO, Felipe. Prática empresarial. Recife: Armador, 2020.
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