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DELEGADO DE

POLÍCIA CIVIL

Direito
Empresarial
Capítulos 1 ao 7
Capítulo 1
Olá, aluno!

Bem-vindo ao estudo para os concursos de Delegado de Polícia Civil. Preparamos todo


esse material para você não só com muito carinho, mas também com muita métrica e
especificidade, garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de
forma inteligente.

Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com


fins de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital.
Afinal, queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior
aproveitamento, pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para
otimizar seu estudo sempre!

Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo


completo que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a
estrutura do PDF Ad Verum foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar
especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada
capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto
com a leitura de jurisprudência selecionada.

E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato conosco. Sua opinião vale ouro para a gente!

Racionalizara preparação dos nossos alunos é mais que um objetivo para Ad Verum,
trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para o estudo da disciplina.
Faça bom uso do seu PDF Ad Verum!

Bons estudos 

1
Abordaremos os assuntos da disciplina de Direito Empresarial da seguinte forma:

CAPÍTULOS

Capítulo 1– Teoria Geral do Direito Empresarial

Capítulo 2– Regime Jurídico da Atividade Empresarial

Capítulo 3– Direito Societário

Capítulo 4 – Crise da Atividade Empresarial

Capítulo 5–Títulos de Crédito

Capítulo 6 – Contratos Empresariais

Capítulo 7– Propriedade Industrial

2
SUMÁRIO
DIREITO EMPRESARIAL, Capítulo 1 ............................................................................................................................ 5

1. Teoria Geral do Direito Empresarial .................................................................................................................. 7

1.1 Evolução Histórica do Direito Empresarial................................................................................................................... 7

1.2 Conceito de empresa ............................................................................................................................................................ 9

1.2.1 Empresa como atividade ...................................................................................................................................................11

1.2.2 Economicidade .......................................................................................................................................................................11

1.2.3 Organização .............................................................................................................................................................................12

1.2.4 Profissionalismo .....................................................................................................................................................................14

1.2.5 Objetivo Específico ...............................................................................................................................................................14

1.3 Fixação de Regime Jurídico ..............................................................................................................................................15

1.4 O Empresário...........................................................................................................................................................................16

1.4.1 Conceito e Espécies .............................................................................................................................................................16

1.4.2 Caracterização .........................................................................................................................................................................18

1.4.3 Empresário Rural ...................................................................................................................................................................22

1.4.4 Empresário Casado ...............................................................................................................................................................22

1.5 Dos requisitos de regularidade.......................................................................................................................................24

1.5.1 Da Inscrição .............................................................................................................................................................................24

1.5.2 Da capacidade ........................................................................................................................................................................24

1.5.3 Ausência de impedimento legal .....................................................................................................................................26

1.6 Da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) ........................................................................28

1.7 Microempreendedor Individual, Microempresa e Empresa de Pequeno Porte........................................30

1.8 Estabelecimento empresarial ...........................................................................................................................................31

1.8.1 Trespasse ...................................................................................................................................................................................34

1.8.2 Eficácia do trespasse............................................................................................................................................................36

1.8.3 Responsabilidade do adquirente e do alienante ....................................................................................................37

1.8.4 Sub-rogação nos contratos de exploração ...............................................................................................................40


3
1.8.5 Aviamento.................................................................................................................................................................................42

1.8.6 Ponto comercial .....................................................................................................................................................................43

1.8.7 Ação Renovatória ..................................................................................................................................................................43

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 46

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 48

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 65

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 69

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 71

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 76

4
SOBRE O CONCURSO

Empresarial não é matéria presente em todos editais para concurso de delegado.


Portanto, não precisa um estudo muito aprofundado na disciplina, a tática é conhecer os
conceitos relacionados aos assuntos destacados no seu edital, bem como saber a letra de lei
do Código Civil. Já que essa matéria não é presente em todos os editais, não se aprofunde
muito nela.

5
RECORRÊNCIA DA DISCIPLINA

Como dito, sabemos que estudar de forma direcionada, com base nos assuntos
objetivamente mais recorrentes nos certames, é essencial! Afinal, uma preparação planejada
pode fazer toda a diferença. Pensando nisso, através de estudo realizado pelo nosso setor de
inteligência com base nas últimas provas, trouxemos os temas mais comentados nessa
disciplina!

Propriedade
Empresarial
20%

Teoria Geral do
Direito Societário
27% Empresário
53%

Empresário Teoria Geral do Direito Societário Propriedade Empresarial

6
DIREITO EMPRESARIAL

Capítulo 1

1. Teoria Geral do Direito Empresarial

1.1 Evolução Histórica do Direito Empresarial

Há um campo específico da Ciência Jurídica estruturado com base na concepção atual


de “empresa”. Essa noção, por sua vez, surgiu a partir da evolução dos critérios utilizados
para definição do objeto do Direito Empresarial.

O desenvolvimento histórico desse ramo jurídico é tão relevante que até mesmo a sua
denominação acompanhou o progresso de seus institutos. Tanto assim que superou a
designação Direito Comercial, antes utilizada para indicar o conjunto de normas, princípios e
práticas aplicáveis às relações entre aqueles que desempenhavam certa atividade econômica: o
comércio.

Pois bem, em um determinado período histórico inexistiu, sequer, nomenclatura para


designar o conjunto de práticas mercantis utilizadas pelos “cônsules” da Idade Média para a
solução de litígios. Dessa constatação, extraem-se dois aspectos elementares da primeira fase
evolutiva do Direito Empresarial: a consuetudinariedade de suas normas e a atuação do
“Juízo Consular”.

Daí se depreendem as seguintes características desse momento evolutivo inicial do


Direito de Empresa: a) costumeiro, em que os usos e costumes geralmente observados pelos
mercadores constituíam a sua principal fonte; b) internacional, uma vez que os usos e
costumes mercantis eram aplicados geralmente em toda a Europa, nas grandes feiras; e c)
corporativo, pois suas normas eram aplicadas pelo tribunal das corporações (juízo consular)
no julgamento das controvérsias existentes entre os seus próprios membros. O Direito
Comercial é, nesse momento, um direito de classe.

7
Percebe-se, assim, que um conjunto de usos e costumes foi esboçado em benefício, tão
somente, da figura do comerciante. Por esta razão, essa incipiente fase foi considerada como
subjetivista.

O cônsul era um comerciante ou um mestre artesão (dono de uma corporação de


ofício) que, em razão de sua maior experiência, dominava melhor os costumes mercantis. Por
isso, era ele quem decidia os dissídios entre mercadores, aplicando tais práticas, tendo-se em
vista a inexistência de normas codificadas.

Em um segundo momento, logo após a Revolução Francesa, buscou-se a sistematização


das normas consuetudinárias em um único diploma legal. O marco histórico dessa segunda
fase do Direito Empresarial foi a edição do Código Comercial Francês de 1807, geralmente,
associado à figura Napoleão Bonaparte.

Nessa etapa, passou a ser considerado como objeto do Direito Comercial todo e
qualquer ato enumerado, taxativamente, como mercancia. Daí falar-se na Teoria dos Atos de
Comércio. Por não se centralizar mais sobre a figura do comerciante, tal teoria imprimiu uma
feição objetivista a essa fase.

Sendo assim, pode-se dizer que essa segunda fase foi marcada pelas seguintes
características: a) clara separação entre Direito Comercial e Direito Civil como ramos
autônomos e independentes; b) especificidade do direito comercial, sendo que o próprio ato
do comércio caracterizava a profissão dos comerciantes; c) caracterização do Direito
Comercial pelo objeto (comércio) e não pelo sujeito (comerciante); d) monopólio da
jurisdição pelo Estado devido à perda da força das corporações de ofício.

Todavia, também o método de delimitação da matéria comercial proposto pela Teoria


dos Atos de Comércio se mostrou insuficiente, vez que não alcançava outros setores da
economia, tais como a indústria e a prestação de serviços.

Diante disso, surgiu, na Itália, nova proposta para estabelecer o alcance do ramo do
direito privado ora examinado, a qual foi marcada como terceira fase evolutiva do Direito
Empresarial. A Teoria da Empresa, recepcionada pelo Código Civil Italiano de 1942 e com

8
grande aceitação por diversos ordenamentos jurídicos, trouxe parâmetros bem mais
sofisticados.

Conforme mencionado acima, os novos critérios provocaram, inclusive, a mudança da


terminologia utilizada para designar o setor do saber jurídico ao qual se aplicavam. Sendo
assim, de Direito Comercial passou-se à denominação Direito Empresarial.

André Luiz Ramos Santa-Cruz, inspirado nas lições de Waldirio Bulgarelli, assim compara
as duas teorias:

Para a teoria da empresa, o direito comercial não se limita a regular apenas as relações
jurídicas em que ocorra a prática de um determinado ato definido em lei como ato de
comércio (mercancia). A teoria da empresa faz com que o direito comercial não se
ocupe apenas com alguns atos, mas com uma forma específica de exercer uma
atividade econômica: a forma empresarial.1

O foco passou, então, para o exercício de atividade econômica, sob a modalidade de


empresa. Isso se dá sempre que é organizada de acordo com os parâmetros eleitos pela lei
como identificadores da atividade empresarial. Daí porque essa fase foi considerada
subjetivista moderna.

1.2 Conceito de empresa

Como vimos, a fase da teoria da empresa, também conhecida como sistema italiano,
teve como ápice o Códice Civile(Código Civil Italiano) de 1942, que pretendeu unificar o
direito privado da Itália. As três fases históricas descritas no tópico anterior espelharam-se no
Brasil, o que pode ser constatado no fluxograma abaixo, o qual demonstra a evolução dessas
teorias conforme seus respectivos marcos legais no direito pátrio.

RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: Método, Rio de Janeiro:
1

Forense, 2019, p. 37 e 38.


9
Regulamento
737 de 1850
“Considera-se
Mercancia”...

Tribunais de Comércio Código Comercial de 1850 Código Civil de 2002

A teoria da empresa acarretou uma ampliação da abrangência do Direito Comercial


(agora Direito Empresarial). Tratando-se do sistema utilizado pelo Código Civil de 2002, com
esta teoria, surgem as ideias de empresa e de empresário. Contam com a proteção das
normas de direito empresarial aqueles que praticarem empresa(atividade econômica,
exercida profissionalmente e organizada para a produção ou circulação de bens ou de
serviços).

O art. 966 do Código Civil definiu o empresário a partir do conceito de empresa,


considerando-a como atividade dotada das seguintes características: economicidade,
profissionalismo, organização e finalidade de produção ou circulação de bens ou serviços2. É
importante mencionar que, embora o dispositivo não tenha contemplado a especulação,
essa também pode ser considerada uma atividade de natureza empresarial, muito embora,
muitas vezes, não repercuta na produção ou circulação de qualquer bem ou serviço.
O quadro abaixo representa os aspectos essenciais para que uma atividade seja
caracterizada como empresária:

Vide questão 1 e questão 8.


2

10
Econômica

Organizada

Empresa = Atividade
Profissional

Industrial, Comercial ou de
Prestação de Serviços

Conforme a mesma norma, a priori, estão excluídas da noção de empresa as atividades


intelectuais de natureza artística, científica ou literária. Mas, por ora, não convém adentrar as
nuances do parágrafo único daquela norma (art. 966. CC), posto que serão melhor abordadas
posteriormente.

1.2.1 Empresa como atividade

A natureza jurídica da empresa é de atividade, porquanto consiste em um conjunto


coordenado de atos voltados à obtenção de um resultado comum. Logo, empresa não é
sujeito nem objeto de direitos. Logo, do ponto de vista jurídico, há uma impropriedade
terminológica existente em expressões como “tenho uma empresa” ou vou na empresa.

1.2.2 Economicidade

Econômica é aquela atividade que tem como fim precípuo a distribuição de lucros ou a
geração de valor. No caso do empresário individual, o lucro se destina a acrescer o próprio
patrimônio. Nas sociedades empresárias, o fim da atividade é a distribuição de lucros aos
sócios. Contudo, a ausência da finalidade lucrativa não descaracteriza uma atividade como
empresária caso ela se destine à circulação de riqueza ou à prestação de serviço remunerado.
É o caso, por exemplo, de uma sociedade empresária criada para objetivos filantrópicos, mas

11
que, para alcançá-los, precisa angariar recursos comercializando bens ou cobrando por
serviços prestados.
Nas palavras de André Luiz Ramos Santa Cruz

Ao destacarmos a expressão atividade econômica, por sua vez, queremos enfatizar que
empresa é uma atividade exercida com intuito lucrativo. Afinal, conforme veremos, é

característica intrínseca das relações empresariais a onerosidade. Mas não é só à ideia de


lucro que a expressão atividade econômica remete. Ela indica também que o empresário,
sobretudo em função do intuito lucrativo de sua atividade, é aquele que assume os seus
riscos técnicos e econômicos.
Entenda-se a ideia de lucro aqui como utilidade. É lucrativa a atividade que produz uma

utilidade, e não somente aquela que se traduz em dinheiro. De qualquer forma, o


critério de economicidade é essencial. A atividade deve produzir o suficiente para, pelo
menos, remunerar os fatores da produção e, dentre eles, o capital investido, de molde a
assegurar, por si mesma, a sua sobrevivência.3

1.2.3 Organização

Vimos que, sob a égide do atual Código Civil Brasileiro, a empresa é tida como
atividade, cuja marca essencial é a obtenção de lucros com o oferecimento ao mercado de
bens ou serviços, gerados mediante a organização dos fatores de produção (força de
trabalho/mão de obra, matéria-prima, capital e tecnologia).4
Asquini dividia a expressão empresa em quatro perfis. Em um perfil subjetivo, empresa
seria sinônimo de empresário. Em um perfil funcional, empresa seria a atividade (utilizado
pela teoria da empresa). Em um perfil objetivo, empresa seria sinônimo de patrimônio
aziendal ou estabelecimento. Por fim, em um perfil corporativo, empresa é instituição, na
medida em que reúne pessoas com propósitos comuns (empresário e empregados).5

RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: Método, Rio de Janeiro:
3

Forense, 2018, p. 37 e 38.


4
MELLO FRANCO, Vera Helena. Manual de direito comercial. 2. ed. São Paulo: RT, 2004. p. 51. v. 1. Resume bem
a professora da USP: “a ideia de organização, assim, deve ser entendida em sentido amplo, de molde a
considerar ‘organizada’ toda atividade realizada de modo profissional, isto é, que não seja extemporânea ou
improvisada, destinada à colocação de bens ou serviços no mercado”.
5ASQUINI, Alberto. Perfis da Empresa. Tradução de Fábio Konder Comparato. Revista de Direito Mercantil,
Industrial, Econômico e Financeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 35, n. 104, p.109-126, out./dez. 1996.
12
Saliente-se que, conforme entendimento majoritário, o Código Civil de 2002 não
unificou o direito privado, mas apenas o direito dos contratos e das obrigações. O
Direito Empresarial permanece autônomo, apesar de o Código Comercial ter sido derrogado
pelo referido diploma (revogado parcialmente, já que a parte sobre comércio marítimo
permanece vigente).
A atividade dos empresários pode ser vista como a de articular (organizar) os fatores
de produção, que, no sistema capitalista, são quatro: capital, mão-de-obra, insumo e
tecnologia. Estruturar a produção ou circulação de bens ou serviços significa reunir os
recursos financeiros (capital), humanos (mão-de-obra), materiais (insumo) e tecnológicos que
viabilizem oferecê-los ao mercado consumidor com preços e qualidade competitivos.
Organização é a reunião desses quatro fatores de produção, assim descritos por Fábio
Ulhoa Coelho:

 Mão-de-obra:é um fato de produção que envolve o auxílio de prepostos do


empresário para a consecução de sua atividade, devendo, necessariamente, ser
um trabalho alheio, seja por contrato de trabalho, seja por prestação de
serviço etc. Ex.: Uma pessoa faz, embrulha e vende trufas com habitualidade e
finalidade lucrativa, mas se não possuir mão de obra contratada não poderá
ser considerada empresária, e sim apenas sociedade simples.
 Insumos (matéria-prima): correspondem aos bens articulados pela empresa;
 Capital: é o montante em dinheiro necessário ao desenvolvimento da
atividade;
 Tecnologia: faz compor a ideia de que o empresário detém as informações
necessárias ao desenvolvimento da atividade a que se propôs explorar.

Segundo o supracitado autor, a ausência de qualquer um dos quatro fatores


descaracteriza a organização e, consequentemente, a pessoa jurídica como sociedade
empresária ou Empresa Individual de Responsabilidade limitada e a pessoa física como
empresário individual6.
André Luiz Ramos é contrário a esse posicionamento, tendo em vista que a
automatização permite a inobservância do requisito da “mão de obra contratada”, sem

COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 13-14.
6

13
descaracterizar, em sua essência, a figura do empresário7. Para ele, estará caracterizada a
organização se a atividade fim tiver de ser exercida com a colaboração de terceiros ou
mediante recursos de terceiros (pessoas ou bens). Assim, uma lavanderia totalmente
computadorizada poderia ser considerada uma atividade empresarial. Pode-se citar também
o caso dos empresários virtuais, que, muitas vezes, atuam completamente sozinhos,
resumindo-se sua atividade à intermediação de produtos ou serviços por meio da internet.

1.2.4 Profissionalismo

O caráter profissional da atividade remete à ideia de exercício com qualificação técnica


e aprimoramento, muito embora, em vários casos, não seja necessária uma formação
específica para desempenho da empresa. Evidente, pois, que, desse somatório de elementos
organizados para exercício da atividade empresária exsurge a ideia de habitualidade na
prática desta função, podendo-se afirmar que somente a atividade praticada com certa
constância pode ser reconhecida como de natureza profissional (REsp 1.539.154 de
25/11/2015).
Se o exercício da atividade econômica se dá de forma esporádica, por exemplo, seu
promovente não será considerado empresário, não sendo abrangido, portanto, pelo regime
jurídico empresarial. Em síntese, “importa que a atividade corresponda a um constante
repetir-se, não podendo tratar-se da realização de um negócio ocasional de compra e venda
ou de mediação”.

1.2.5 Objetivo Específico

Por fim, a produção ou circulação de bens ou serviços demonstra a abrangência da


teoria da empresa, em contraposição à antiga teoria dos atos de comércio, a qual, como
visto, restringia o âmbito de incidência do regime jurídico comercial a determinadas
atividades econômicas elencadas na lei. Para a teoria da empresa, em contrapartida, qualquer
atividade econômica poderá, em princípio, submeter-se ao regime jurídico empresarial,
bastando que seja exercida profissionalmente, de forma organizada e com intuito lucrativo.
Sendo assim, a expressão produção ou circulação de bens ou de serviços deixa claro que

7
123.
14
nenhuma atividade econômica está excluída, em princípio, do âmbito de incidência do direito
empresarial.
Além de denotar a abrangência da teoria da empresa, a expressão em análise também
nos permite concluir que só restará caracterizada a empresa quando a produção ou
circulação de bens ou serviços destinar-se ao mercado, e não ao consumo próprio.

1.3 Fixação de Regime Jurídico

É imperioso enfatizar quais são os desdobramentos da caracterização da atividade de


um sujeito de direitos como empresária, pois dela decorre sua submissão ao conjunto de
regras e princípios do Direito de Empresa (regime jurídico empresarial). Logo, diretrizes e
preceitos civilistas incompatíveis com o regramento empresarialista cederão espaço àquelas
que disciplinam a matéria com maior especificidade.

Sob essa perspectiva, cabe apontar os seguintes efeitos práticos, já os comparando com
as atividades não empresariais, as quais se submetem ao regime jurídico civil:

REGIME CARACTERÍSTICAS PRÓRIA

 Subordinação dos atos ao registro civil

 Sujeição ao procedimento de insolvência civil


Civil

 Impossibilidadede se valer da recuperação (extra) judicial;

 Ilegitimidade para ação renovatória da locação empresarial;

 Subordinação dos atos ao registro empresarial

 Sujeição ao procedimento de execução concursal (falência);


Empresarial

 Possibilidade de se valer da recuperação (extra) judicial;

 Legitimidade para ação renovatóriada locação empresarial;

15
Percebe-se, assim, que a noção de empresa é o principal alicerce de todo o conteúdo
didático da disciplina de Direito Empresarial, pois permite a apreensão de seus institutos
jurídicos peculiares, notadamente, as figuras do empresário e do estabelecimento empresarial.
Em razão disso, é recorrentemente cobrada nas provas de concurso, conforme se pode
verificar na parte de exercícios deste material.

1.4 O Empresário

1.4.1 Conceito e Espécies

O Código Civil de 2002, em seu art. 966, caput, nos traz o conceito de empresário como
sendo aquele que exerce, profissionalmente, atividade econômica organizada para a
produção ou a circulação de bens ou de serviços. A essa atividade exercida se dá o nome
de “empresa”8.

Esse conceito legal será mais bem detalhado a seguir. Por enquanto, é importante
mencionar que a expressão “empresário” pode ser concebida em sentido amplopara abarcar
o empresário pessoa física (empresário individual) e o empresário pessoa jurídica
(sociedade empresária ou empresa individual de responsabilidade limitada - EIRELI). Em
sentido estrito, empresário é a pessoa física que exerce empresa, ou seja, o empresário
individual.

Empresário (em sentido amplo)

Empresa Individual de
Empresário Individual
Responsabilidade
(ou empresário em sentido Sociedade Empresária
Limitada
estrito)
(EIRELI)

Vide questão 10.


8

16
Pessoa Jurídica, formada, em
Pessoa regra, por PLURALIDADE de
JurídicaUNIPESSOAL membros (sócios), cujo
Pessoa Física que exerce
exercente de atividade objeto social se destina ao
atividade econômica organizada,
econômica organizada exercício de atividade
conforme o art. 966 do CC.
de acordo com o art. empresária (art. 966 do CC)
966 do CC. * Exceção: sociedade limitada
com sócio único

Atualmente, a sociedade
Mesmo sendo pessoa física, terá Pode ser simples ou
limitada poderá ser
CNPJ. empresária.
unipessoal

Saliente-se que a própria sociedade é quem é empresária, e não os seus sócios. Isso
porque é ela que organiza, sob sua titularidade, ou seja, em seu nome a atividade de
produção ou circulação de bens ou serviços. Assim, sócio de sociedade empresária não é
considerado empresário, mas sim um empreendedor, quando, além de ter aportado capital,
também colabora com seus serviços na organização da atividade (ex. sócio diretor) ou mero
investidor, caso não participe da condução dos negócios.

Em se tratando do empresário individual, trata-se de pessoa natural que exerce


empresa, tendo responsabilidade direta e ilimitada (todo o seu patrimônio responde por todas
as obrigações, tenha ou não relação com o exercício da atividade). A doutrina entende que o
empresário individual deve responder primeiro com os bens afetados à exploração da empresa
e, apenas subsidiariamente, com os bens não afetados. Nesse sentido:

Enunciado 5 da I Jornada de Direito Comercial:Quanto às obrigações decorrentes de

sua atividade, o empresário individual tipificado no art. 966 do Código Civil responderá
primeiramente com os bens vinculados à exploração de sua atividade econômica, nos
termos do art. 1.024 do Código Civil.

Consigne-se que o fato de ser pessoa natural não impede que o empresário individual
seja inserido no Cadastro Nacional das Pessoas Jurídicas - CNPJ para fins tributários. Assim,
por mais estranho que pareça, um empresário individual terá um número de CNPJ para poder
17
identificar os negócios praticados que se relacionam ao exercício da atividade empresária.

1.4.2 Caracterização

Conforme mencionado anteriormente, o Código Civil Brasileiro de 2002 recepcionou a


Teoria da Empresa e, por isso, adotou o conceito jurídico indeterminado de empresário em
seu artigo 9669.

No entanto, a precisa interpretação desse dispositivo legal requer análise em diferentes


etapas, técnica hermenêutica denominada de “Exegese Quadripartite”10.

Essa técnica hermenêutica se concentra nos seguintes pontos relevantes, sintetizado


pelo fluxograma abaixo em quatro estágios interpretativos:

• Regra (caput):
Art. 966, • Atividade empresarial (indústria, comércio, serviços)
caput

• Exceção (p. u., 1ª parte):


Art. 966, • Atividade intelectual científica, artística e literária
p.u., 1a

• Limites da exceção ou “exceção da exceção! (p.u., parte final):


Art. 966, • "Elemento de Empresa”
p.u., 2a

• Tratamento legal diferenciado (outros dispositivos legais)


Situações • Ex. (art. 1.089, CC/02): cooperativas (sempre civis) e S/As (sempre empresárias)
Especiais

Uma vez visualizadas tais etapas, cabe detalhá-las da seguinte forma:

Vide questão 2.
9

10
PARENTONI, Leonardo Netto et alii. Análise quadripartite do artigo 966 do Código Civil de 2002. Jornal da
Faculdade de Direito da UFMG (O Sino do Samuel). Belo Horizonte, Ano X, n. 78, p. 3, out. 2004.

18
 1ª parte:

O caput dispõe que, em regra, as atividades industriais, comerciais e de prestação de


serviços são empresariais. A contrario sensu, valendo-se da ideia de exclusão, não estando
presentes os elementos da atividade empresária (atividade econômica, exercida de forma
profissional e organizada e direcionada à produção ou à circulação de bens ou serviços), a
atividade exercida será civil.

 2ª parte:

São exceções aquelas decorrentes de “profissão intelectual, de natureza científica,


literária ou artística”, previstas no parágrafo único, ainda que com o concurso de auxiliares.

 3ª parte:

A parte final do parágrafo único considera empresariais atividades que, embora


decorrentes de profissão intelectual, contenham elemento de empresa, situação que se
configura quando a atividade intelectiva for absorvidapela organização dos fatores de
produção, sendo apenas mais um dos elementos da empresa, ou seja, constitui apenas uma
das etapas do processo de produção ou circulação de mercadorias ou serviços.

Sendo assim, apenas o exercício das atividades exclusivamente intelectuais está excluído
do conceito previsto no caput do art. 966. Isso porque a presença do “elemento de empresa”
redireciona a esse preceito a caracterização da atividade, determinando-a como empresária.

Em outras palavras, “elemento de empresa” é conceito legal indeterminado que, uma


vez verificado, remete a atividade intelectual à regra do caput, categorizando-a como atividade
empresária.

Importante considerar o texto dos enunciados 193, 194 e 195 das Jornadas de Direito
Civil do CJF, que, respectivamente estabelecem: “o exercício das atividades de natureza
exclusivamente intelectual está excluído do conceito de empresa”; “os profissionais liberais não

19
são considerados empresários, salvo se a organização dos fatores de produção for mais
importante que a atividade pessoal desenvolvida”; e “a expressão ‘elemento de empresa’
demanda interpretação econômica, devendo ser analisada sob a égide da absorção da
atividade intelectual, de natureza científica, literária ou artística, como um dos fatores da
organização empresarial”.

 4ª parte:

Por disposição legal específica, algumas atividades, ainda que insertas nas hipóteses do
caput ou do parágrafo único, devem sujeitar-se a regime jurídico especial.

São exemplos:

a) cooperativa (art. 4º e 18, § 6º, da Lei nº 5.764/1971);

b) sociedade anônima (art. 1.089, CC/02).

O primeiro jamais poderá praticar atividades empresariais por expressa disposição da


legislação especial enquanto a segunda sempre praticará atividades empresarias, qualquer que
seja seu objeto social. Apesar de registradas na Junta Comercial (art. 18 da Lei nº 5.764/71), as
Cooperativas são sempre sociedades simples, exercendo atividade civil por força de lei (art.
982 do CC/02).11

Sendo assim, não importa se uma cooperativa de produtores rurais pratica a mesma
atividade que uma indústria dedicada ao agronegócio, porque ela sempre será considerada
não empresária. Por outro lado, uma sociedade anônima sempre será considerada empresária,
ainda que tenha como fim social atividade relacionada com a prática de atos filantrópicos.

Infere-se, então, que a natureza intelectual, seja ela artística, científica ou literária,
geralmente, impede o enquadramento como empresário daquele que a pratica. No entanto,
Fábio Ulhoa Coelho invoca exceção que confirma a regra:

Há uma exceção, prevista no mesmo dispositivo legal, em que o profissional intelectual

se enquadra no conceito de empresário. Trata-se da hipótese em que o exercício da

11
Vide questão 4.
20
profissão constitui elemento de empresa. Para compreender o conceito legal, convém
partir de um exemplo. Imagine o médico pediatra recém-formado, atendendo seus

primeiros clientes no consultório. Já contrata pelo menos uma secretária, mas se

encontra na condição geral dos profissionais intelectuais: não é empresário, mesmo que
conte com o auxílio de colaboradores. Nesta fase, os pais buscam seus serviços em
razão, basicamente, de sua competência como médico. Imagine, porém, que, passando o

tempo, este profissional amplie seu consultório, contratando, além de mais pessoal de
apoio (secretária, atendente, copeira etc.), também enfermeiros e outros médicos. Não
chama mais o local de atendimento de consultório, mas de clínica. Nesta fase de
transição, os clientes ainda procuram aqueles serviços de medicina pediátrica, em razão

da confiança que depositam no trabalho daquele médico, titular da clínica. Mas


aclientela se amplia e já há, entre os pacientes, quem nunca foi atendido diretamente
pelo titular, nem o conhece. Numa fase seguinte, cresce mais ainda aquela unidade de

serviços. Não se chama mais clínica, e sim hospital pediátrico. Entre os muitos
funcionários, além dos médicos, enfermeiros e atendentes, há contador, advogado,
nutricionista, administrador hospitalar, seguranças, motoristas e outros. Ninguém mais
procura os serviços ali oferecidos em razão do trabalho pessoal do médico que os

organiza. Sua individualidade se perdeu na organização empresarial. Neste momento,


aquele profissional intelectual tornou-se elemento de empresa. Mesmo que continue
clinicando, sua maior contribuição para a prestação dos serviços naquele hospital
pediátrico é a de organizador dos fatores de produção. Foge, então, da condição geral
dos profissionais intelectuais e deve ser considerado, juridicamente, empresário.12

Outro exemplo seria o do cartunista Maurício Ricardo, que, até pouco tempo produzia
charges eletrônicas para a Rede Globo de Televisão. No início de sua carreira, as produzia de
modo basicamente “artesanal”, e, mesmo tendo colaboradores, não poderia ser considerado
empresário, pois, em sua organização profissional, preponderava o caráter artístico de sua
atividade intelectual. Contudo, ao contratar diversos colaboradores e produzir conteúdos para
diversos clientes (ex. sítio eletrônico da UOL, programa Big Brother da Globo), teve o caráter
artístico de seu trabalho “dissolvido” em meio a diversos outros componentes da atividade
empresarial. Daí porque, nessa última situação, a produção de charges tornou-se tão somente
um dos elementos de atividade empresária de muito maior vulto.

Um último exemplo seria o de uma sociedade que presta serviços publicitários, que

COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial : direito de empresa.23. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. pp.
12

36-40.
21
consistem na consultoria e elaboração de estratégias de marketing, estudos de mercado,
criação de logotipos e slogans, não é empresária, porque esses serviços são de natureza
exclusivamente intelectual. Por outro lado, caso a mesma sociedade, além de prestar os
serviços mencionados, comercialize cartazes, folders, materiais publicitários e espaços em
outdoors, será empresária, por associar elementos de empresa a seus serviços de natureza
intelectual.

Além de denotar a abrangência da teoria da empresa, a expressão em análise também


nos permite concluir que só restará caracterizada a empresa quando a produção ou circulação
de bens ou serviços destinar-se ao mercado, e não ao consumo próprio.

1.1.1 Empresário Rural

O empresário rural tem a faculdade de se registrar ou não perante o Registro


Público de Empresas Mercantis. Se não for registrado, não é considerado empresário,
exercendo atividade civil. Se optar pelo registro na Junta Comercial, equiparar-se-á a
empresário para todos os fins (art. 971 do CC/02). Este registro terá natureza jurídica
constitutiva, sendo exceção à regra de que o registro do empresário na Junta Comercial tem
natureza meramente declaratória (uma vez que, via de regra, considera-se empresário em
razão da atividade exercida, e não em decorrência de registro). O empresário rural só pode
pedir recuperação e falir se for registrado, já que são institutos restritos aos exercentes de
empresa.

1.1.2 Empresário Casado

Duas situações que envolvem o casamento assumem grande relevância para o Direito
Empresarial, são elas:

1. A da possibilidade de cônjuges contratarem sociedade entre si ou com


terceiros; e

2. A do empresário casado e os reflexos na outorga conjugal para


determinados atos.

O art. 977 do CC/02 faculta aos cônjuges contratarem sociedade entre si ou com

22
terceiros, desde que não estejam casados sob o regime de comunhão universal de bens ou no
de separação obrigatória. Essa regra é relevante para o estudo de sociedades empresárias.
Estabelece ser possível que marido e mulher figurem como sócios na mesma sociedade, desde
que não sejam casados na comunhão universal ou separação obrigatória de bens. Há dispensa
de outorga conjugal para alienar ou gravar de ônus reais os imóveis da empresa.

No que tange ao instituto do empresário individual, importante analisar o art. 978 do


CC/02, que estabelece que “o empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal,
qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da
empresa ou gravá-los de ônus real”. Essa regra abrange tão somente o empresário individual,
já que, em se tratando de sociedade empresária, a titular da empresa é a própria sociedade.

No entanto, por indicar condição não prevista na lei, causa certa polêmica o seguinte
enunciado da II Jornada de Direito Comercial da CJF:13

Enunciado 58 da I Jornada de Direito Comercial:O empresário individual casado é o

destinatário da norma do art. 978 do CCB e não depende da outorga conjugal para
alienar ou gravar de ônus real o imóvel utilizado no exercício da empresa, desde que
exista prévia averbação de autorização conjugalà conferência do imóvel ao patrimônio
empresarial no cartório de registro de imóveis, com a consequente averbação do ato à
margem de sua inscrição no registro público de empresas mercantis.

A corrente majoritária entende que o art. 978 é especial em relação ao art. 1.647, I, do
CC/02, podendo o empresário individual casado, sem necessidade de outorga conjugal, em
qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da
empresa ou gravá-los de ônus real. Uma segunda corrente entende que deveria ser feita uma
averbação no Cartório de Registro de Imóveis e na Junta Comercial afetando o bem ao
exercício da atividade, autorizando a sua alienação ou que seja posto ônus real.

Importante consignar que os pactos e declarações antenupciais do empresário serão


arquivados e averbados no Registro Civil e no Registro Público de Empresas Mercantis (art.
979 do CC/02) e que eventual decretação ou homologação da separação judicial do
empresário ou reconciliação não poderá ser oposta a terceiro antes de arquivado e averbado

13
Vide questão 3.
23
no Registro Público de Empresas Mercantis (art. 980 do CC/02).

1.2 Dos requisitos de regularidade

1.2.1 Da Inscrição

A inscrição do empresário antes do início de sua atividade é obrigatória (art. 967 do


CC/02). Para a maioria da doutrina, conforme será melhor especificado em sede de análise dos
Registro Públicos, esse ato tem natureza declaratória. O registro das sociedades empresárias,
por sua vez, assumirá natureza constitutiva14

A inscrição deve ser feita mediante requerimento que contenha: o seu nome,
nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de bens; a firma, com a respectiva
assinatura autógrafa que poderá ser substituída pela assinatura autenticada com certificação
digital ou meio equivalente que comprove a sua autenticidade; o capital; o objeto e a sede da
empresa, conforme art. 968 do CC/02.

A inscrição será tomada por termo no livro próprio do Registro Público de Empresas
Mercantis, e obedecerá a número de ordem contínuo para todos os empresários inscritos. À
margem da inscrição, e com as mesmas formalidades, serão averbadas quaisquer modificações
nela ocorrentes.

1.2.2 Da capacidade

O art. 972 do CC/02 exige que para o exercício da atividade de empresário a pessoa
natural esteja em pleno gozo da capacidade civil (os que não forem incapazes) e não seja
legalmente impedido (falido não reabilitado, magistrados, membros do MP, militares da ativa,
etc.). Tem-se, portanto, os requisitos para que a pessoa física exerça atividade econômica
como empresário individual: a capacidade civile a ausência de impedimentos legais.
No que tange à capacidade civil, a regra é que o incapaz não pode ser empresário
individual, ressalvadas duas situações: a da incapacidade superveniente e do sujeito
incapaz que herda a atividade empresarial.

Vide questão 6 e questão 7.


14

24
Assim, há idade mínima para iniciar a atividade como empresário individual (16 anos,
sendo o exercício da empresa causa de emancipação nos termos do art. 5º, parágrafo único,
inciso V, do Código Civil). Não há, contudo, idade mínima para dar continuidade a uma
empresa anteriormente iniciada por seus pais (que faleceram) ou pelo autor da herança,
devendo o menor ser representado ou assistido (princípio da preservação da empresa) (art.
974 do CC/02). No mesmo sentido, pode o empresário continuar a empresa por ele exercida
enquanto capaz no caso de incapacidade superveniente.

Em tais hipóteses, será necessária autorização judicial, após exame das circunstâncias e
dos riscos da empresa, bem como da conveniência em continuá-la, podendo a autorização ser
revogada pelo juiz, ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do menor ou do
interdito, sem prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros (art. 974, §1º, do CC/02).
A prova da emancipação e da autorização do incapaz e a de eventual revogação desta
serão INSCRITAS ou AVERBADAS NO REGISTRO PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS. O
uso da nova firma caberá, conforme o caso, ao gerente; ou ao representante do incapaz; ou a
este, quando puder ser autorizado (art. 976 do CC/02)
Como forma de proteção ao incapaz, não ficam sujeitos ao resultado da empresa os
bens que ele já possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição, desde que estranhos ao
acervo da empresa, devendo tais fatos constar do alvará que conceder a autorização (art. 974,
§2º, do CC/02).

Não se exige idade mínima para ser sócio ou titular de EIRELI (por analogia às
sociedades limitadas), mas este sócio menor deverá integralizar todo o capital, não poderá ser
administrador e deve estar assistido ou representado.

IDADE MÍNIMA

EMPRESÁRIO INDIVIDUAL Dezesseis anos para iniciar (causa de emancipação).


Não há idade mínima para continuar. Deve estar
representado ou assistido

SÓCIO TITULAR DE EIRELI Não há idade mínima. O menor deve estar


representado ou assistido, não pode ser

25
administrador, todo o capital da sociedade deve ser
integralizado. Se o menor for emancipado, tem plena
capacidade de ser sócio.

No que tange aos sujeitos legalmente impedidosde exercer empresa, trata-se de


situação em que os sujeitos exercem função ou possuem condição incompatível com a
atividade empresarial. Para conhecer esses impedimentos, é necessário conhecer algumas
legislações específicas.
Certas pessoas, como membros do MP e magistrados, não podem ser empresários
individuais, mas podem ser sócias de sociedade empresária, desde que não exerçam
administração. Se exercerem, apesar da proibição, serão responsabilizados pelas obrigações.
No mesmo sentido, as pessoas impedidas de ser empresários podem ser titulares de EIRELI,
desde que não a administrem.A pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de
empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações contraídas (art. 973 do CC/02).
Consigne-se que, acaso incapaz o sujeito, e seu o representante ou assistente for
pessoa que, por disposição de lei, não puder exercer atividade de empresário, deve ser
nomeado, com a aprovação do juiz, um ou mais gerentes. Por exemplo, caso um menor de 16
anos herde a empresa antes exercida por seus pais e o seu tutor seja impedido de exercer
empresa (por ser ele um Promotor de Justiça, por exemplo), ele deverá, com aprovação do
juiz, nomear gerente. Do mesmo modo, será nomeado gerente em todos os casos em que o
juiz entender ser conveniente. Contudo, a aprovação do juiz não exime o representante ou
assistente do menor ou do interdito da responsabilidade pelos atos dos gerentes nomeados
(art. 975 do CC/02).

1.2.3 Ausência de impedimento legal

Há alguns casos previstos expressamente em lei que proíbem a pessoa de exercer


atividade empresarial.

É preciso atentar para o fato de que a proibição é para o exercício de empresa, não
sendo vedado, pois, que alguns impedidos sejam sócios de sociedades empresárias, uma vez
que, nesse caso, quem exerce a atividade empresarial é a própria pessoa jurídica, e não seus
26
sócios. Em suma: os impedimentos se dirigem aos empresários individuais, e não aos sócios
de sociedades empresárias.

Assim, são impedidos de exercer atividade de empresa como empresários individuais:

 Membros do Ministério Público, da Magistratura, Servidores militares da ativa


das Forças Armadas e das Polícias Militares para exercer o comércio individual
ou particular de sociedade comercial, salvo se acionista ou quotista, obstada a
função de administrador;

 Empresários falidos, enquanto não forem reabilitados (Lei de Falências, art.


195);

 Leiloeiros (o art. 36, do Decreto nº 21.891/32 proíbe os leiloeiros de exercerem


a empresa direta ou indiretamente, bem como constituir sociedade empresária,
sob pena de destituição);

 Corretores (art. 20, da Lei 6.530/78);

 Despachantes aduaneiros (art. 10, inciso I, do Decreto nº 646/92);

 Cônsules, nos seus distritos, salvo os não-remunerados (Decreto nº 4.868/82,


art. 11 e Decreto 3.529/89, art. 82);

 Médicos, para o exercício simultâneo da farmácia, drogaria ou laboratórios


farmacêuticos e os farmacêuticos, para o exercício simultâneo da medicina
(Decreto nº 19.606/31 c/c Decreto 20.877/31 e Lei 5.991/73). Segundo o STJ,
para ter farmácia, o médico teria que pedir desligamento do Conselho de
Medicina (REsp 796.560/AL);

 Pessoas condenadas a pena que vede, ainda que temporariamente o acesso a


cargos públicos, ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno,
concussão, peculato ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro
nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de

27
consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da
condenação (art. 1.011, §1º, CC);15

 Servidores públicos civis da ativa (Lei 1.711/52) e servidores federais (Lei


8112/90, art. 117, X, inclusive Ministros de Estado e ocupantes de cargos
públicos comissionados em geral). Aqui é importante observar que o
funcionário público pode participar como sócio cotista, comanditário ou
acionista, sendo obstada a função de administrador;

 Estrangeiros sem visto permanente (art. 98 e 99 da Lei nº 6.815/80 – Estatuto


do Estrangeiro) estão impedidos de serem empresários individuais, mas não
estarão impedidos de participar de sociedade empresária no país;

 Devedores do INSS (art. 95, §2º, da Lei nº 8.212/91).

Destaque-se que o Código Civil estabelece, em seu art. 973, que “a pessoa legalmente
impedida de exercer atividade própria de empresário, se a exercer, responderápelas
obrigações contraídas”. Portanto, as obrigações contraídas por um “empresário” impedido não
são nulas. Ao contrário, elas terão plena validade em relação a terceiros de boa-fé que com
ele contratarem.

1.3 Da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada


(EIRELI)

A EIRELI não é uma sociedade, mas sim pessoa jurídica de direito privado diversa (art.
44,VI, do CC/02). No Direito Brasileiro, as únicas sociedades unipessoais existentes são a
Sociedade Unipessoal de Advogado e a Subsidiária Integral da Sociedade Anônima. A EIRELI
não é sociedade.
A EIRELI será constituída por uma única pessoa, física ou jurídica (Instrução Normativa
nº 38/2017 do Departamento de Registro Empresarial e Integração - DREI), titular da
totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem)

15
Vide questão 5.
28
vezes o maior salário-mínimo vigente no País. A pessoa natural que constituir EIRELI,
contudo, somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade.16
O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão "EIRELI" após a
firma ou a denominação social.
A empresa individual de responsabilidade limitada também poderá resultar da
concentração das quotas de outra modalidade societária em um único sócio,
independentemente das razões que motivaram tal concentração. Em regra, uma sociedade se
dissolve quando ocorrer a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de 180
dias. Não ocorrerá a dissolução, contudo, se o sócio remanescente requerer a transformação
para empresário individual ou para EIRELI.
Poderá ser atribuída à empresa individual de responsabilidade limitada constituída para
a prestação de serviços de qualquer natureza a remuneração decorrente da cessão de direitos
patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que seja detentor o titular da
pessoa jurídica, vinculados à atividade profissional.
Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber, as regras
previstas para as sociedades limitadas.
A limitação da responsabilidadedaquele que exerce atividade econômica por meio de
EIRELI foi reafirmada pela Lei da Liberdade Econômica (Lei 13.874/2019), publicada em
30/04/2019, que incluiu o §7º ao art. 980-A do CC/02, em determinação de que “somente o
patrimônio social da empresa responderá pelas dívidas da empresa individual de
responsabilidade limitada, hipótese em que não se confundirá, em qualquer situação, com o
patrimônio do titular que a constitui, ressalvados os casos de fraude”. Importante consignar
que dispositivo de redação semelhante foi vetado anteriormente (§4º do art. 980-A do CC/02),
sob o argumento de que se aplicariam as regras das sociedades limitadas, inclusive quanto à
separação do patrimônio.

Vide questão 1 e questão 9.


16

29
 EIRELI titularizada por incapaz

No dia 8 de março de 2019, a Instrução Normativa 55 do Departamento Nacional de


Registro Empresarial e Integração - DREI foi publicada no Diário Oficial da União - DOU. Essa
instrução altera o manual de registro da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada -
EIRELI para permitir que incapaz seja titular dessa modalidade de pessoa jurídica, desde que
representado/assistido e sem exercer a administração, que deve ficar a cargo de terceiro.
Perceba que essa norma tudo tem a ver com o §3º do art. 974 do CC/02, pois estabelece as
mesmas exigências impostas para que o incapaz participe de sociedade. Portanto, equipara o
titular da EIRELI a um sócio meramente investidor, muito embora, na EIRELI, ele não ocupe
jamais essa posição, mas, tão somente, de proprietário/titular.

 Pessoa Jurídica como titular de EIRELI

O novo manual instituído pelo Departamento de Registro Empresarial e Integração


(DREI), por meio da publicação da Instrução Normativa n. 38, em 3 de março de 2017, prevê,
expressamente, em seu item 1.2.59, a possibilidade de pessoa jurídica, nacional ou estrangeira,
ser titular de EIRELI. O novo Manual de Registro de Empresa Individual de Responsabilidade
Limitada passou a vigorar em todo o território brasileiro a partir do dia 2 de maio de 2017,
respeitados os 60 dias de vacatio legis.

1.4 Microempreendedor Individual, Microempresa e Empresa


de Pequeno Porte

Não só o empresário e o sócio podem ser classificados, mas também a empresa. Essa,
para efeitos tributários, pode ser categorizada de acordo com o fluxo financeiro que gera.
Tem-se, então, as seguintes qualificações:
30
 Microempresa: para as sociedades empresárias (exceto a anônima) que
percebam receita bruta anual de R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais)
 Empresa de Pequeno Porte: para as sociedades empresárias (exceto a
anônima) que percebam receita bruta anual de R$ 4.800.000,00 (quatro
milhões e oitocentos mil reais) (conforme alteração determinada pela LC
155/2016 sobre a LC 123/2006).
 Microempreendedor Individual: é uma espécie particular de microempresa na
qual pode se enquadrar, tão somente, o empresário individual que não exceda
a receita bruta anual de R$ 81.000,00 (oitenta e um mil reais), cf. § 1º do art.
18-A da LC 123/06.

1.5 Estabelecimento empresarial

Também chamado de estabelecimento comercial, fundo de comércio ou azienda


(artigos 1.142 ao 1.149 do CC). Estabelecimento é todo complexo de bens organizado para
exercício da empresa, pelo empresário ou por sociedade empresária, sendo imprescindível
para o exercício da atividade empresarial.Só fazem parte do estabelecimento os bens que
estão diretamente relacionados à atividade empresarial.
Assim sendo, o estabelecimento não se confunde com a empresa, uma vez que esta,
conforme visto, corresponde a uma atividade. Da mesma forma, o estabelecimento não se
confunde com o empresário, já que este é uma pessoa física ou jurídica que explora essa
atividade empresarial e é o titular dos direitos e obrigações dela decorrentes.
Mas, embora estabelecimento, empresa e empresário sejam noções que não se
confundem, são conceitos que se inter-relacionam, podendo-se dizer, pois, que o
estabelecimento, como complexo de bens usado pelo empresário no exercício de sua
atividade econômica, representa a projeção patrimonial da empresa ou o organismo técnico-
econômico mediante o qual o empresário atua.

 Bens corpóreos ou materiais: móveis, utensílios, mercadoria, maquinários, o


próprio imóvel, veículos e todos os demais bens que o empresário utiliza para
o bom desenvolvimento e organização de sua atividade econômica. Obs.: Bem

31
imóvel não é o estabelecimento, mas sim elemento integrante do
estabelecimento. Isso porque estabelecimento é diferente de patrimônio;

 Bens incorpóreos ou imateriais: compreendem, principalmente, os bens


industriais (registro de desenho industrial, marca registrada, patente de
invenção, de modelo de utilidade, nome empresarial e título de
estabelecimento) e o ponto (local ao qual a atividade econômica é explorada).

O enunciado 7 da I Jornada de Direito Comercial apresenta interessante exemplo de


bem incorpóreo que compõe o estabelecimento empresarial.

Enunciado 7, CJF:O nome de domínio integra o estabelecimento empresarial como bem


incorpóreo para todos os fins de direito.

Estabelecimento não é sujeito de direito, mas objeto de direito. Sujeito de direito é o


empresário individual ou a sociedade empresária.
É objeto unitário de direito (art. 1.143, CC). Por isso o empresário pode vender, arrendar
ou dar em usufruto o estabelecimento, pois trata-se simplesmente de um objeto. Pode o
estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou
constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza.

Art. 1.143. Pode o estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios


jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza.

O estabelecimento comercial tem natureza jurídica de universalidade de fato, sendo


composto de bens, direitos e interesses, materiais e imateriais, necessários, úteis e
efetivamente aplicados ao exercício da empresa.
A reunião de bens do estabelecimento decorre da vontade do empresário ou da
sociedade empresária, e não da vontade da lei. Logo, trata-se de uma universalidade de fato.
O estabelecimento como universalidade de fato constitui um conjunto de bens materiais e
imateriais que serve ao exercício de atividades econômicas.
Universalidade de direito é aquele conjunto de bens que são reunidos por vontade da
lei. Exemplo: herança e massa falida. Não se trata o estabelecimento empresarial, portanto, de
unidade complexa de bens destinados a um fim determinado em lei (universitas juris), mas de

32
um conjunto de bens com finalidade vinculada do seu dono, que é o empresário
(universitasrerum ou facti).
A doutrina brasileira majoritária, seguindo mais uma vez as ideias suscitadas pela
doutrina italiana, sempre considerou o estabelecimento empresarial uma universalidade de
fato, uma vez que os elementos que o compõem formam uma coisa unitária exclusivamente
em razão da destinação que o empresário lhes dá, e não em virtude de disposição legal.
Ao se afirmar que o estabelecimento empresarial não é sujeito de direito, o que se
pretende afastar é a noção de personalização desse complexo de bens, presente em algumas
proposições da segunda metade do século XIX, principalmente na Alemanha, que procuravam
criar um conceito legal capaz de justificar a relativa autonomia entre a empresa e o
empresário. Falava-se na tese da empresa em si.
A tentativa de personalização do estabelecimento, contudo, não logrou êxito, inclusive
no direito brasileiro. Segundo o disposto na legislação brasileira, é um equívoco considerar o
estabelecimento empresarial uma pessoa jurídica. Sujeito de direito é a sociedade empresária,
que, reunindo os bens necessários ou úteis ao desenvolvimento da empresa, organiza um
complexo de características dinâmicas próprias. A ela, e não ao estabelecimento empresarial,
imputam-se as obrigações e asseguram-se os direitos relacionados com a empresa.
No âmbito do direito privado, cujos princípios gerais, à luz do art. 109 do CTN, são
informadores para a definição dos institutos de direito tributário, a filial é uma espécie de
estabelecimento empresarial, fazendo parte do acervo patrimonial de uma única pessoa
jurídica, partilhando dos mesmos sócios, contrato social e firma ou denominação da matriz.
Nessa condição, consiste, conforme doutrina majoritária, em uma universalidade de fato, não
ostentando personalidade jurídica própria, não sendo sujeito de direitos, tampouco uma
pessoa distinta da sociedade empresária. Cuida-se de um instrumento de que se utiliza o
empresário ou sócio para exercer suas atividades (REsp 1.355.812/RS).
Imaginemos a seguinte situação prática: no acervo patrimonial de determinada padaria
há dois imóveis. O primeiro é sede da sociedade empresária, enquanto o segundo, localizado
em outra unidade da federação, encontra-se alugado. Os valores recebidos a título de aluguéis
desse segundo imóvel são aplicados no ativo patrimonial da referida sociedade empresária.
Nessa situação, é correto afirmar que o imóvel alugado não faz parte do
estabelecimento empresarial da mencionada pessoa jurídica.

33
Ora, aquele imóvel faz parte do patrimônio da padaria, mas não integra o
estabelecimento. A padaria possui um patrimônio e dentro dele há um estabelecimento. Isso
porque só faz parte do estabelecimento os bens que estão diretamente relacionados à
atividade empresarial.
Assim, estabelecimento é diferente de patrimônio. O estabelecimento integra o
patrimônio, mas não significa que o estabelecimento é o patrimônio.

PATRIMÔNIO

estabelecimento + outros bens não relacionados diretamente a atividade empresarial

O estabelecimento empresarial não compreende os débitos da empresa. Os débitos


fazem parte do patrimônio da empresa e não do estabelecimento comercial. Sendo o
estabelecimento uma universalidade de fato, ou seja, um complexo de bens organizado pelo
empresário, ele não compreende os contratos, os créditos e as dívidas, por representarem
matéria de direito.
Eis mais uma distinção que pode ser feita, portanto, entre estabelecimento e
patrimônio, uma vez que este, ao contrário daquele, compreende até mesmo as relações
jurídicas – direitos e obrigações – do seu titular.

1.5.1 Trespasse

Trespasse é o nome que se dá para o contrato de compra e venda de


estabelecimento empresarial. O trespasse não se confunde com a cessão de cotas.
Na cessão de cotas, não existe transferência da titularidade do estabelecimento, mas,
tão somente, a transferência das cotas sociais. É alteração apenas do quadro societário.
Na transferência da participação societária, o estabelecimento empresarial não muda de
titular. Tanto antes como após a transação, o estabelecimento pertencia e continua a
pertencer à sociedade empresária, à mesma pessoa jurídica, que apenas tem a sua

34
composição de sócios alterada. Na cessão de cotas ou alienação de controle, o objeto da
venda é a participação societária, ou seja, as cotas ou as ações, conforme a espécie societária.
Trespasse implica a transferência do conjunto de bens organizados pelo alienante ao
adquirente, de modo que este possa prosseguir com a exploração da atividade empresarial.

TRESPASSE CESSÃO DE COTAS

Provoca a transferência da titularidade do Não ocorre a transferência da titularidade


estabelecimento. estabelecimento, mas sim a modificação do
quadro social (alteração dos sócios).

Para que o trespasse produza seus efeitos entre o alienante e o adquirente, não é
necessário nenhum tipo de publicidade. Porém, para que o contrato de trespasse produza
efeitos perante terceiros, é preciso que haja averbação na junta comercial, bem como
publicação na imprensa oficial.

Art. 1.144. O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do
estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado à margem
da inscrição do empresário, ou da sociedade empresária, no Registro Público de

Empresas Mercantis, e de publicado na imprensa oficial.

O art. 1.144 CC estabelece que para o contrato de trespasse produzir efeitos perante
terceiros, será preciso:
 Averbação do contrato na Junta Comercial;

 Publicação na imprensa oficial.

Os prazos para a averbação ou publicação são indeterminados, cabendo ao interesse


das partes do contrato a publicidade imediata, levando em consideração a desoneração de
responsabilidades e efetividade da execução de direitos ou créditos.

35
1.5.2 Eficácia do trespasse

A eficácia do trespasse é garantida pelos bens que permanecem com o devedor, que
devem ser suficientes para saldar sua dívida.
Caso não sejam, deve-se observar a regra do art. 1.145, que estabelece o PAGAMENTO
DE TODOS OS CREDORES ou AUTORIZAÇÃO DE TODOS OS CREDORES.
É feita uma notificação dos credores, para que se manifestem, no prazo de 30 dias,
dizendo se são contra ou a favor do trespasse. O silêncio, aqui, é entendido como
consentimento.

Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a
eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores,

ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua


notificação.

A Súmula 451 do STJ autoriza a penhora da sede do estabelecimento comercial. Porém,


esta medida é excepcional, devendo ocorrer apenas em caso de não se encontrar outros bens
para penhora.

Súmula 451, STJ: É legítima a penhora da sede do estabelecimento comercial.

Segundo definiu o STJ em sede de recurso repetitivo, a penhora de imóvel no qual se


localiza o estabelecimento da empresa é excepcionalmente permitida quando inexistentes
outros bens passíveis de penhora e desde que não seja servil à residência da família (REsp
1.114.767/RS, Rel. Ministro Luiz Fux, Corte Especial, julgado em 02/12/2009, DJe 04/02/2010).
O art. 862 do novo CPC prevê que, “quando a penhora recair em estabelecimento
comercial, industrial ou agrícola [leia-se, genericamente, estabelecimento empresarial] (...), o
juiz nomeará administrador-depositário, determinando-lhe que apresente em 10 (dez) dias o
plano de administração”. Apresentado o referido plano, o juiz ouvirá as partes e decidirá (§1º).
O §2º, porém, prevê que “é lícito às partes ajustar a forma de administração e escolher o
depositário, hipótese em que o juiz homologará por despacho a indicação”.
Corroborando o entendimento jurisprudencial do STJ, no sentido de que a penhora de
estabelecimento empresarial é medida excepcional, o art. 865 do novo CPC determina o

36
seguinte: “a penhora de que trata esta subseção somente será determinada se não houver
outro meio eficaz para a efetivação do crédito”.
A violação do art. 1.145 do CC enseja ato de falência. O credor pode requerer a falência
do empresário que venda bens sem respeitar o art. 1.145 do CC (sem o consentimento de
todos os credores ou não permanecendo com bens suficientes para solver seu passivo), pois
esse ato é considerado como ato de falência, conforme previsto no art. 94, III, “c” da Lei
11.101/05.

1.5.3 Responsabilidade do adquirente e do alienante

O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à


transferência, desde que regularmente contabilizados. Mas atenção: a regra do art. 1.146 não
se aplica para as dívidas trabalhistas ou tributárias.
Com relação às dívidas trabalhistas, aplica-se a regra da sucessão trabalhista, prevista
nos arts. 10 e 448, da CLT.
A responsabilidade pelas dívidas trabalhistas recairá exclusivamente sobre o adquirente.
O alienante só terá responsabilidade solidária se o trespasse houver sido fraudulento (com
base no Código Civil).
Já no que toca às dívidas tributárias, aplica-se a regra do art. 133, do CTN.
Assim, em se tratando de dívidas tributárias ou de dívidas trabalhistas, não se aplica o
disposto no art. 1.146 do Código Civil, uma vez que a sucessão tributária e a sucessão
trabalhista possuem regimes jurídicos próprios, previstos em legislação específica (arts. 133 do
CTN e 448 da CLT, respectivamente).
Exceção: não haverá sucessão trabalhista quando o trespasse decorrer de recuperação
judicial ou falência (arts. 60 e 141 da Lei 11.101/2005). Quando se tratar de compra realizada
no processo de falência ou recuperação judicial (por meio de leilão), o adquirente do
estabelecimento não responde pela falência ou pelas dívidas tributárias, trabalhistas ou
decorrentes de acidente de trabalho, nos termos do art. 141, II da Lei 11.101/05.
O alienante (devedor primitivo) continua solidariamente obrigado, mas apenas no prazo
de um ano, desde que a dívida esteja regularmente contabilizada.
 Caso se trate de dívida vencida, conta-se um ano da DATA DA PUBLICAÇÃO NA
IMPRENSA OFICIAL;

37
 Caso se trate de dívida vincenda, conta-se um ano a partir da DATA DO
VENCIMENTO.

Enunciado 233, CJF: Art. 1.142: A sistemática do contrato de trespasse delineada pelo
Código Civil nos arts. 1.142 e ss., especialmente seus efeitos obrigacionais, aplica-se

somente quando o conjunto de bens transferidos importar a transmissão da


funcionalidade do estabelecimento empresarial.

Ou seja, essa sistemática, sobretudo para efeitos obrigacionais, só se aplica quando o


conjunto de bens transferidos importar a transmissão da funcionalidade do estabelecimento
empresarial. Justificou-se tal posicionamento sob a alegação de que, para se falar em
trespasse de estabelecimento, é necessário que haja transferência de elementos suficientes à
preservação de sua finalidade como tal, ou seja, a universalidade adquirida deve ser idônea a
operar como estabelecimento, ainda que tenham sido decotados alguns de seus elementos
originais.
Difere da situação de transferência de participação em sociedade (transferência de
cotas), onde a responsabilidade do sócio que transferiu perdura por um prazo de 2 anos. Isso
porque o art. 1.003 do CC preconiza que o cedente responde solidariamente com o
cessionário, perante a sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio, até 2
anos depois de averbada a modificação do contrato.

38
1.2. Concorrência

Antes do CC, não havia nenhuma referência legal que impedisse a concorrência.
Portanto, o que acontecia, na prática empresarial, era a confecção de um contrato, onde se
inseria uma cláusula chamada “cláusula de não-restabelecimento”.
Hoje, a cláusula de não-restabelecimento está prevista no art. 1.147 do CC. Assim, a
cláusula de não-restabelecimento está implícita aos contratos de trespasse, na forma do art.
1.147 do CC, de modo que se faz necessária cláusula expressa a fim de que seja possível a
concorrência.
O contrato de trespasse irá definir sobre a possibilidade de concorrência do alienante
do estabelecimento. Na omissão do contrato de trespasse, aplica-se a regra do art. 1.147 do
CC. Ou seja, não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode
fazer concorrência ao adquirente, nos 5 anos subsequentes à transferência.
A cláusula de não restabelecimento fixada por prazo indeterminado é considerada
abusiva.
Segundo o STJ, as partes não podem prever que a cláusula de “não restabelecimento”
será por prazo indeterminado. O ordenamento jurídico pátrio, salvo expressas exceções, não
aceita que cláusulas que limitem ou vedem direitos sejam estabelecidas por prazo
indeterminado (REsp 680.815/PR, Min. Raul Araújo, j. 20/03/2014 – inf. 554).
É possível que seja ampliado, mas ele não pode ser fixado em prazo indeterminado e,
no caso concreto, é possível que tal ampliação seja considerada abusiva se ampliar demais a
restrição. Nesse sentido:

Enunciado 490, CJF: A ampliação do prazo de 5 anos de proibição de concorrência pelo


alienante ao adquirente do estabelecimento, ainda que convencionada no exercício da
autonomia da vontade, pode ser revista judicialmente, se abusiva.

Ainda de acordo com o STJ, é válida a cláusula contratual de não concorrência, desde
que limitada espacial e temporalmente. Isso porque esse tipo de cláusula protege a
concorrência e os efeitos danosos decorrentes de potencial desvio de clientela, sendo esses
valores jurídicos reconhecidos constitucionalmente (REsp 1.203.109/MG, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, julgado em 6/5/2015 – Inf. 561).

39
O limite geográfico dessa limitação deve ser definido casualmente em função da
natureza do comércio. Deve-se analisar se o eventual restabelecimento do alienante configura,
de fato, concorrência ao adquirente. O elemento teleológico da norma referida não é a
proibição do restabelecimento do alienante, e sim a proibição da concorrência desleal ao
adquirente.
Assim, quando a relação estabelecida entre as partes for eminentemente comercial, a
cláusula que estabeleça dever de abstenção de contratação com sociedade empresária
concorrente pode sim irradiar efeitos após a extinção do contrato, desde que por um prazo
certo e em determinado lugar específico (limitada temporária e espacialmente).
Ex.: João resolveu montar um quiosque no shopping para vender celulares, cartões pré-
pagos etc. Para isso, ele fez um contrato com a operadora de celular “XXX” por meio da qual
ele somente iria vender os produtos e serviços dessa operadora e, em troca, ela ofereceria a
ele preços diferenciados, consultoria e treinamento para abrir a loja. No contrato assinado
com a operadora, havia uma cláusula dizendo que João estava proibido, por 6 meses após a
extinção do contrato, de contratar com qualquer empresa concorrente naquela cidade. Essa
cláusula de não concorrência é válida.
No caso de arrendamento ou usufruto do estabelecimento, a proibição prevista
persistirá durante o prazo do contrato (art. 1.147, parágrafo único).

1.5.4 Sub-rogação nos contratos de exploração

É preciso entender que o contrato de trespasse não garante a clientela, que é mera
situação de fato. A clientela não é elemento integrante do estabelecimento empresarial. Por
conta disso, a fim de que a clientela se mantenha, o trespasse gera a sub-rogação automática
do adquirente nos contratos estipulados para a exploração do estabelecimento, se não tiverem
caráter pessoal.
Havendo justa causa, os terceiros podem rescindir o contrato em 90 dias, contados da
publicação da transferência. Assim dispõe o art. 1.148:

Art. 1.148. Salvo disposição em contrário, a transferência importa a sub-rogação do


adquirente nos contratos estipulados para exploração do estabelecimento, se não
tiverem caráter pessoal, podendo os terceiros rescindir o contrato em 90 dias a contar

40
da publicação da transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso, a
responsabilidade do alienante.

O art. 1.148 do CC traz uma regra importante: o adquirente terá a garantia que todos
os contratados de exploração do estabelecimento continuarão em vigor.
A jurisprudência e o Enunciado 234 do CJF entendem que nos contratos de trespasse
ocorre a sub-rogação automática de todos os contratos, exceto o contrato de locação, em
respeito ao art. 13 da Lei de Inquilinato (Lei 8.245/91).

Enunciado 234, CJF: Art. 1.148: Quando do trespasse do estabelecimento empresarial, o


contrato de locação do respectivo ponto não se transmite automaticamente ao

adquirente. Fica cancelado o enunciado nº 64.

A Lei de Locação (art. 13) prevê a anuência por escrito do locador do imóvel objeto da
transferência do contrato de locação.
O STJ entende que o contrato de locação, fugindo a regra do art. 1.148, não é
transferido automaticamente, dependendo da anuência do locador.

STJ: Transferência do fundo de comércio. Trespasse. Efeitos: continuidade do processo


produtivo; manutenção dos postos de trabalho; circulação de ativos econômicos.
Contrato de locação. Locador. Avaliação de características individuais do futuro inquilino.

Capacidade financeira e idoneidade moral. Inspeção extensível, também, ao eventual

prestador da garantia fidejussória. Natureza pessoal do contrato de locação.


Desenvolvimento econômico. Aspectos necessários: proteção ao direito de propriedade e
a segurança jurídica. Afigura-se destemperado o entendimento de que o art. 13 da Lei
do Inquilinato não tenha aplicação às locações comerciais, pois, prevalecendo este
posicionamento, o proprietário do imóvel estaria ao alvedrio do inquilino, já que
segundo a conveniência deste, o locador se veria compelido a honrar o ajustado com
pessoa diversa daquela constante do instrumento, que não rara as vezes, não possuirá as
qualidades essenciais exigidas pelo dono do bem locado (capacidade financeira e
idoneidade moral) para o cumprir o avençado. Liberdade de contratar. As pessoas em
geral possuem plena liberdade na escolha da parte com quem irão assumir obrigações
e, em contrapartida, gozar de direitos, sendo vedada qualquer disposição que obrigue o

sujeito a contratar contra a sua vontade. Aluguéis. Fonte de renda única ou


complementar para inúmeros cidadãos. Necessidade de proteção especial pelo
ordenamento jurídico (REsp 1.202.077/MS, rel. Ministro Vasco Della Giustina –
desembargador convocado do TJ/RS – DJe 10/03/2011).

41
A cessão dos créditos referentes ao estabelecimento transferido produzirá efeito em
relação aos respectivos devedores, desde o momento da publicação da transferência, mas o
devedor ficará exonerado se de boa-fé pagar ao cedente (art. 1.149 do CC).

1.5.5 Aviamento

Aviamento é nome dado pelo mercado ao valor agregado pela articulação dos bens
que compõem o estabelecimento, na exploração de uma atividade econômica. Desta forma,
aviamento não é integrante do estabelecimento, mas sim um ATRIBUTO seu.
Em outras palavras, aviamento, ou goodwillof trade, é o potencial de lucratividade.
O aviamento é justamente a aptidão para gerar lucro do estabelecimento. Quanto mais
eficiente for a organização dos elementos do estabelecimento, mais aviado será o
estabelecimento.
Trata-se de um atributo do estabelecimento empresarial, resultado do conjunto e vários
fatores de ordem material ou imaterial que lhe conferem capacidade ou aptidão de gerar
lucros. Cada estabelecimento possui um aviamento maior ou menor. Diz-se que o aviamento é
pessoal ou subjetivo quando a capacidade de gerar lucros resulta substancialmente de
qualidades do titular da empresa; será real ou objetivo se decorrente da qualidade do
estabelecimento empresarial.
A clientela é resultante do aviamento, e este existe graças a ela – um decorre do outro.
Ambos, por não serem considerados bens, não estão sujeitos a uma proteção direta, nos
moldes do que ocorre com o patrimônio material ou imaterial da empresa.

Clientela não se confunde com freguesia

CLIENTELA FREGUESIA

42
Conjunto de pessoas que mantém com o Conjunto de pessoas que passam em frente
empresário ou sociedade empresária ao ponto do negócio, em razão da sua
relações jurídicas constantes; localização estratégica.

1.5.6 Ponto comercial

É um bem incorpóreo que integra o estabelecimento empresarial. Ponto comercial é o


local onde o empresário realiza sua atividade empresarial. O ponto é muito importante para o
estabelecimento comercial, daí porque goza de proteção legal. Essa proteção se dá através da
chamada ação renovatória.
Quando o empresário se estabelece em um ponto alugado e permanece naquele local
um determinado tempo, ele faz investimentos para ganhar o respeito dos consumidores,
passar a ser conhecido e a adquirir, consequentemente, uma clientela fiel. Por essa razão, o
regime jurídico-empresarial reconhece a esse empresário o chamado direito de inerência ao
ponto, consubstanciado na prerrogativa de permanecer naquele local mesmo na hipótese de o
locador não pretender mais a renovação do contrato locatício.

1.5.7 Ação Renovatória

A ação renovatória tem por objetivo a renovação compulsória do contrato de locação


empresarial. A ação está prevista na Lei nº 8.245/91, nos artigos 51 a 55.
Nas locações destinadas ao comércio, o locatário terá direito a renovação compulsória
do contrato, por igual prazo, desde que, cumulativamente:

 Requisito formal: o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com
prazo determinado;
 Requisito temporal: prazo mínimo de 5 anos de relação contratual contínua.
O prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos
contratos escritos deve ser de 5 anos;
 Requisito material: o locatário esteja explorando seu comércio, NO MESMO
RAMO, pelo prazo mínimo e ininterrupto de 3 anos.

43
O direito assegurado neste artigo poderá ser exercido pelos cessionários ou sucessores
da locação.
A lei não está protegendo o locador, nem o locatário, mas sim o ponto comercial.
Faltando um dos requisitos, não há como se ajuizar a ação renovatória. Presentes todos os
requisitos da ação renovatória, poderá ela ser ajuizada, pois o empresário passa a ter o
intitulado direito de inerência ao ponto.
Imaginemos a seguinte situação: empresário tinha realizado um contrato de locação por
cinco anos, de modo que nos três primeiros anos possuía uma padaria no ponto e, nos
últimos dois, uma farmácia. Pode ele ajuizar a renovatória? Não, porque não permaneceu na
mesma atividade nos últimos três anos do contrato.
A propositura da referida ação renovatória, segundo o disposto no art. 51, §5º, da Lei
8.245/1991, deve ser feita “no interregno de um ano, no máximo, até seis meses, no mínimo,
anteriores à data da finalização do prazo do contrato em vigor”. Dizendo de outra forma, a
ação renovatória deve ser ajuizada nos seis primeiros meses do último ano do contrato de
aluguel.
Sendo assim, faltando um ano para o término do contrato, deve o empresário locatário,
se pretender permanecer no ponto, procurar o locador para iniciar as tratativas acerca da
renovação da relação contratual. Caso o locador demonstre o interesse de retomar o ponto,
não renovando o contrato, cabe ao locatário tomar as providências necessárias ao ajuizamento
da ação renovatória, sob pena de ver decair o seu o direito à renovação compulsória da
relação locatícia.

44
Destaque-se que a legislação admite a propositura de ação renovatória nos contratos
de locação de espaços em shopping centers. Nesse caso, previu a lei que não cabe alegar,
para a retomada do imóvel, a necessidade do bem para uso próprio, nem para transferência
de estabelecimento empresarial existente há mais de um ano cuja maioria do capital seja de
sua titularidade ou de seu cônjuge, ascendente ou descendente (art. 52, §2º, da Lei
8.245/1991).
Diga-se ainda que, em tese, não é abusiva a previsão, em normas gerais de
empreendimento de shopping center ("estatuto"), da denominada "cláusula de raio", segundo
a qual o locatário de um espaço comercial se obriga – perante o locador – a não exercer
atividade similar à praticada no imóvel objeto da locação em outro estabelecimento situado a
um determinado raio de distância contado a partir de certo ponto do terreno do shopping
center (STJ, REsp 1.535.727/RS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 10/5/2016 – inf. 585).
No caso de sublocação do imóvel, a ação renovatória é de competência exclusiva do
sublocatário já que esta ação, como dito, se propõe a proteger o ponto comercial (art. 51,
§1º).

O teto de receita bruta (faturamento) para enquadramento no Simples Nacional foi


majorado de R$ 3.600.000,00 para R$4.800.000,00 (Empresa de Pequeno Porte).

O Microempreendedor Individual (MEI) passa de um limite de R$ 60 mil para R$ 81 mil


por ano, uma média mensal de R$ 6,75mil, e a Empresa de Pequeno Porte (EPP) passa de R$
3,6 milhões para R$ 4,8 milhões anuais, média mensal de R$ 400mil.

Mas, cuidado! Persiste um “sublimite” para cálculo de ICMS e ISS. As EPPs que
ultrapassarem o valor anterior, de R$ 3,6 milhões de faturamento, terão o ICMS e o ISS

45
calculados fora da tabela do Simples Nacional, conforme regras estabelecidas pela lei
complementar 155/2016.

QUADRO SINÓTICO

QUADRO ASSOCIATIVO

(classificações de três diferentes ramos do Direito)

DIREITO CIVIL DIREITO TRIBUTÁRIO


DIREITO EMPRESARIAL
Pessoa (art. 1º, Empresa/Atividade (art. 3º, LCP
Empresário (art. 966, CC/02)
CC/02) 123/06)

Pessoa Física Empresário Individual

Empresa Individual de Microempresa (ME)


Responsabilidade Limitada
R.B.A. até R$ 360.000,00
(EIRELI)
ou
Pessoa Jurídica Sociedades Empresárias (ex.
Empresa de Pequeno Porte
Ltda)
(EPP)
* Exceto as sociedades por
R.B.A. até R$ 4.800.000,00
ações

Enquadramento possível somente para o * Microempreendedor Individual


Empresário Individual => (MEI)

46
(ou “pequeno empresário”)

R.B.A. até R$ 81.000,00

Requisitos: ME + Pessoa Física

47
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(OAB – XXVII EOU | 2018): Roberto desligou-se de seu emprego e decidiu investir na
construção de uma hospedagem do tipo pousada no terreno que possuía em Matinhos.
Roberto contratou um arquiteto para mobiliar a pousada, fez cursos de hotelaria e, com os
ensinamentos recebidos, contratou empregados e os treinou. Ele também contratou um
desenvolvedor de sites de Internet e um profissional de marketing para divulgar sua pousada.
Desde então, Roberto dedica-se exclusivamente à pousada, e os resultados são promissores. A
pousada está sempre cheia de hóspedes, renovando suas estratégias de fidelização; em breve,
será ampliada em sua capacidade.
Considerando a descrição da atividade econômica explorada por Roberto, assinale a afirmativa
correta.
A) A atividade não pode ser considerada empresa em razão da falta tanto de
profissionalismo de seu titular quanto de produção de bens.
B) A atividade não pode ser considerada empresa em razão de a prestação de serviços
não ser um ato de empresa.
C) A atividade pode ser considerada empresa, mas seu titular somente será empresário a
partir do registro na Junta Comercial.
D) A atividade pode ser considerada empresa e seu titular, empresário, independentemente
de registro na Junta Comercial.

Comentários:

A questão versa, essencialmente, sobre os elementos característicos do empresário, associados


à obrigação de registro a esse imposta.

48
Para responder à questão, é importante lembrar que os requisitos para a configuração do
empresário são extraídos do conceito apresentado no art. 966 do CC: “Considera-se
empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção
ou a circulação de bens ou de serviços”.

Assim, presentes os elementos constitutivos (exercício de atividade econômica;


profissionalidade; organização dos fatores de produção; produção e/ou circulação de bens e
serviços), a pessoa será considerada empresária.

O registro na Junta Comercial, por si só, não constitui o empresário. Trata-se de obrigação do
empresário, prevista no art. 967 do CC, de observância exigida para a sua regularidade.

Desse modo, uma vez preenchidos os requisitos extraídos do art. 966 do CC, a pessoa é
considerada empresária, independentemente de seu registro na Junta Comercial. Contudo,
para a sua regularidade, exige-se o devido registro.

A partir dos elementos jurídicos trazidos, passa-se a analisar as assertivas.

Alternativa A: INCORRETA

Não apenas aqueles que exploram atividade de produção de bens exercem empresa. Também
são considerados atos de empresa a circulação de bens, bem como a prestação de serviços,
sendo incorreta a assertiva em análise.

Além disso, outro erro da alternativa é a afirmação de que Roberto não desenvolve atividade
com profissionalismo. Ao contrário do afirmado, o enunciado narrou a profissionalidade,
demonstrando a habitualidade no exercício da atividade, além de outros elementos necessário
ao enquadramento de Roberto como empresário.

Alternativa B: INCORRETA

Conforme se extrai do art. 966 do CC, a prestação de serviço é considerada ato de empresa,
sim, tornando errada a alternativa ora avaliada.

Alternativa C: INCORRETA

49
O registro na Junta Comercial não é requisito para o enquadramento da pessoa como
empresário. Trata-se de obrigação empresária, prevista no art. 967 do CC, exigida para a
regularidade do empresário. Contudo, não tem caráter constitutivo.

Assim, a alternativa em exame está errada.

Alternativa D: CORRETA

Conforme explicado, Roberto preenche os elementos necessários para a sua configuração


como empresário. Assim, será considerado empresário, independentemente de registro na
Junta Comercial. Esse registro é requisito de regularidade do empresário, e não constitutivo.

Questão 2

(VUNESP - 2018 - PGE-SP - PROCURADOR) Sobre a figura do empresário, é correto afirmar:


A) considera-se empresário aquele que exerce profissionalmente atividade econômica
organizada destinada à produção ou circulação de bens ou serviços, afastadas as atividades de
natureza intelectual, por serem tipicamente civis.
B) pessoa física prestadora de serviços de natureza artística, os quais constituam elemento de
empresa, deverá necessariamente inscrever-se no Registro Público de Empresas Mercantis
antes do início das suas atividades.
C) menor relativamente capaz, devidamente assistido, tem capacidade para requerer inscrição
originária como empresário, com a ressalva de que não poderá exercer a administração de
sociedade.
D) empresário casado poderá alienar imóvel que integre o patrimônio da empresa desde que
haja outorga conjugal, exceto se o matrimônio se submeter ao regime da separação
convencional de bens.
E) cônjuges casados sob o regime da comunhão universal ou da separação convencional de
bens não poderão contratar, entre si, sociedade.

Comentários:

Nem sempre uma atividade intelectual é tipicamente civil. É o que se depreende dos
seguintes dispositivos do Código Civil de 2002:
50
Código Civil, art. 966, parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou
colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.

Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas


Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade.

Alternativas “c”: conforme os seguintes dispositivos do CC:

Art. 974, § 3º O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais
deverá registrar contratos ou alterações contratuais de sociedade que envolva sócio

incapaz, desde que atendidos, de forma conjunta, os seguintes pressupostos:

I – o sócio incapaz não pode exercer a administração da sociedade;

II – o capital social deve ser totalmente integralizado;

III – o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente incapaz deve ser
representado por seus representantes legais.

Alternativas “d”: conforme o seguinte dispositivo do CC:

Art. 978. O empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer

que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou
gravá-los de ônus real.

Alternativas “e”: conforme o seguinte dispositivo do CC:

Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde
que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação
obrigatória.

Questão 3

(CESPE - 2017 - TJPR – JUIZ SUBSTITUTO) A empresária casada sob o regime de comunhão
universal não precisa da outorga conjugal para alienar os imóveis que integrem o patrimônio
da empresa.

51
Comentários:

Questão polêmica. O CESPE decidiu considerar tal assertiva correta, tendo em vista o que
estabelece o art. 978 do CC. De acordo com o art. 978 do Código Civil, “o empresário casado
pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os
imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real”.

Sobre esse dispositivo legal, foi aprovado o Enunciado 6, da I Jornada de Direito Comercial do
CJF, o qual foi substituído na II Jornada pelo Enunciado 58.

Enunciado 58, CJF: O empresário individual casado é o destinatário da norma do art.


978 do CCB e não depende da outorga conjugal para alienar ou gravar de ônus real o

imóvel utilizado no exercício da empresa, desde que exista prévia averbação de


autorização conjugal à conferência do imóvel ao patrimônio empresarial no cartório de

registro de imóveis, com a consequente averbação do ato à margem de sua inscrição


no registro público de empresas mercantis.

Logo, ao que indica o gabarito da recentíssima questão, o CESPE tende a considerar correta a
literalidade do art. 978 do CC, mormente o posicionamento doutrinário constante no referido
enunciado.

Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde que
não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação
obrigatória.

Questão 4

(CESPE - 2019 - TJ-PR - Juiz Substituto) Conforme o Código Civil, equipara-se à condição de
pessoa empresária
A) um grupo de pessoas que pretenda constituir uma cooperativa para intermediar a venda de
produtos fabricados em determinada comunidade.
B) um casal que resolva criar um instituto exclusivamente para difundir informações sobre
determinada causa social.

52
C) um empresário rural cuja principal atividade seja a agricultura e que esteja devidamente
inscrito no Registro Público de Empresas Mercantis.
D) um artista plástico famoso que angarie grandes valores com a venda de obras plásticas por
ele confeccionadas.

Comentários:

A) A sociedade cooperativa NUNCA será empresária; sempre terá natureza de sociedade


simples.

Art. 982. [...]

Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade


por ações; e, simples, a cooperativa.

B) um casal que resolva criar um instituto exclusivamente para difundir informações sobre
determinada causa social. (INCORRETO)

Para ser considerado empresário é preciso que a atividade seja econômica, isto é, que tenha
finalidade lucrativa.

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica

organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.

C) um empresário rural cuja principal atividade seja a agricultura e que esteja devidamente
inscrito no Registro Público de Empresas Mercantis. (CORRETO)

Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode,
observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer
inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que,

depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a


registro.

D) um artista plástico famoso que angarie grandes valores com a venda de obras plásticas por
ele confeccionadas. (INCORRETO)

Atividade artística não tem natureza empresarial.

53
Exceção: se exercício da profissão constituir elemento de empresa, a atividade artística poderá
ser empresária, o que não é o caso da alternativa.

Art. 966. [...]

Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de


natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou

colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.

Questão 5

(AGU - 2015–ESAF–Procurador da Fazenda Nacional) Condenados por crime falimentar ou


contra a economia popular não podem figurar como sócios em sociedade limitada, ainda que
sem função de gerência ou administração.

Comentários:

(ERRADO) Justificativa: Conforme o § 1º do art. 1.010 do CC, o impedimento se aplica tão


somente quanto ao exercício da função de gerência ou administração de sociedade
empresária.

Art. 1.011. O administrador da sociedade deverá ter, no exercício de suas funções, o


cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na
administração de seus próprios negócios.

§ 1º Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os
condenados apena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos;
ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou
contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de
defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública oua propriedade,
enquanto perdurarem os efeitos da condenação.

54
Questão 6

(CESPE - 2016 – PGE-AM – PROCURADOR DO ESTADO) Dado o princípio constitucional de


livre iniciativa, é permitido ao empresário iniciar suas atividades comerciais concomitantemente
com o pedido de sua inscrição no registro público de empresas mercantis.

Comentários:

(ERRADO) O registro é a obrigação legal imposta a todo e qualquer empresário (empresário


individual ou sociedade empresária) de se inscrever na Junta Comercial antes de iniciar a
atividade, sob pena de começar a exercer a empresa irregularmente. Trata-se de obrigação
legal prevista no art. 967 do Código Civil:

Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas


Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade.

Diga-se ainda, que para o empresário comum o registro é mera condição de regularidade. Ou
seja, se o empresário não fizer o registro, ele não deixa de ser empresário, mas será
considerado empresário irregular, sofrendo, por isso, algumas consequências (por exemplo: a
impossibilidade de requerer recuperação judicial).

A ausência do registro não subtrai o regime empresarial, apenas sujeita o empresário às


sanções decorrentes do descumprimento da norma. O empresário não registrado é um
empresário irregular. Portanto, o art. 967 não adota o sistema subjetivo de direito comercial
ou empresarial.

Enunciado 198, CJF: Art. 967: A inscrição do empresário na Junta Comercial não é
requisito para a sua caracterização, admitindo-se o exercício da empresa sem tal

providência. O empresário irregular reúne os requisitos do art. 966, sujeitando-se às


normas do Código Civil e da legislação comercial, salvo naquilo em que forem
incompatíveis com a sua condição ou diante de expressa disposição em contrário.

Enunciado 199, CJF: Art. 967: A inscrição do empresário ou sociedade empresária é


requisito delineador de sua regularidade, e não de sua caracterização.

55
Exceção: quando se tratar de atividade rural, nos termos do art. 971 do CC, o registro é
facultativo, já que a lei usa a expressão “pode fazer o registro”. O empresário rural não tem
obrigatoriedade de registro.

Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode,
observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer

inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que,


depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a
registro.

Empresário rural é a pessoa física ou jurídica que exerce atividade agrária, seja ela agrícola,
pecuária, agroindustrial ou extrativa (vegetal ou mineral), procurando conjugar, de forma
racional, organizada e econômica, os fatores terra, trabalho e capital.

Diante disso, temos que o registro do empresário rural é constitutivo. Só será considerado
empresário se tiver registro na junta comercial.

Enunciado 202, CJF: Arts. 971 e 984: O registro do empresário ou sociedade rural na
Junta Comercial é facultativo e de natureza constitutiva, sujeitando-o ao regime jurídico
empresarial. É inaplicável esse regime ao empresário ou sociedade rural que não exercer
tal opção.

Questão 7

(CESPE - 2016 – PGE-AM – PROCURADOR DO ESTADO) Sociedade empresária poderá ser


registrada tanto nos órgãos de registro de comércio quanto nos cartórios de títulos, devendo
a sociedade simples ser obrigatoriamente registrada em cartório de registro de pessoas
jurídicas.

Comentário:

(ERRADO). A assertiva contraria o seguinte dispositivo do Código Civil de 2002:

Art. 1.150, CC. O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público


de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao Registro

56
Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele
registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade empresária.

Questão 8

(VUNESP - 2017 - TJ-SP - Juiz Substituto) Quais dos elementos indicados a seguir são
considerados indispensáveis para a existência de uma empresa?
A) Lucro, sociedade e aviamento.
B) Produção racional, comercialização dos produtos e função social.
C) Eficiência, registro no órgão competente e estabilidade.
D) Atividade, empresário e estabelecimento.

Comentários:

Não se deve confundir pois, empresa com sociedade empresária ou om a figura do


empresário individual. Aquela, na verdade, é uma pessoa jurídica que exerce empresa, ou seja,
que exerce uma atividade econômica organizada enquanto este é a pessoa física. Empresa e
empresário são noções, portanto, que se relacionam, mas não se confundem. Também não se
deve confundir, por exemplo, empresa com estabelecimento empresarial. Este é o complexo
de bens que o empresário usa para exercer uma empresa, isto é, para exercer uma atividade
econômica organizada.

Questão 9

(FCC - 2017 - TJ-SC - Juiz Substituto) A empresa individual de responsabilidade limitada


A) não é pessoa jurídica, porque instituída por uma única pessoa titular da totalidade do
capital social, não se admitindo que o sujeito possua mais de um patrimônio.
B) é pessoa jurídica constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social,
devidamente integralizado, inferior a cem vezes o maior salário mínimo vigente no país.

57
C) é pessoa jurídica constituída por uma única pessoa, titular da totalidade do capital social,
devidamente integralizado, não inferior a cem vezes o maior salário mínimo vigente no país.
D) é pessoa jurídica resultante exclusivamente da resolução parcial de uma sociedade, quando
remanescer apenas um sócio.
E) é pessoa jurídica constituída por uma única pessoa, titular da totalidade do capital social
devidamente integralizado de qualquer valor, aplicando-lhe subsidiariamente as regras
previstas para as sociedades simples.

Comentários:

Todas as alternativas podem ser analisadas com base no texto do art. 980-A do Código Civil
de 2002, sendo verdadeira apenas a letra B:

Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma
única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não
será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País. (Incluído pela Lei
nº 12.441, de 2011) (Vigência)

§1º O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão " EIRELI " após a

firma ou a denominação social da empresa individual de responsabilidade limitada.


(Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011) (Vigência)

§2º A pessoa natural que constituir empresa individual de responsabilidade limitada


somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade. (Incluído pela Lei nº
12.441, de 2011) (Vigência)

§3º A empresa individual de responsabilidade limitada também poderá resultar da


concentração das quotas de outra modalidade societária num único sócio,
independentemente das razões que motivaram tal concentração. (Incluído pela Lei nº
12.441, de 2011) (Vigência)

§4º ( VETADO) . (Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011) (Vigência)

§5º Poderá ser atribuída à empresa individual de responsabilidade limitada constituída


para a prestação de serviços de qualquer natureza a remuneração decorrente da cessão
de direitos patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que seja

detentor o titular da pessoa jurídica, vinculados à atividade profissional. (Incluído pela Lei
nº 12.441, de 2011) (Vigência)

58
§ 6º Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber, as
regras previstas para as sociedades limitadas. (Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011)

(Vigência)

§ 7º Somente o patrimônio social da empresa responderá pelas dívidas da empresa


individual de responsabilidade limitada, hipótese em que não se confundirá, em
qualquer situação, com o patrimônio do titular que a constitui, ressalvados os casos de
fraude. (Incluído pela Medida Provisória nº 881, de 2019)

§7º Somente o patrimônio social da empresa responderá pelas dívidas da empresa


individual de responsabilidade limitada, hipótese em que não se confundirá, em
qualquer situação, com o patrimônio do titular que a constitui, ressalvados os casos de

fraude. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

Questão 10

(FCC - 2017 - ARTESP - Especialista em Regulação de Transporte I - Direito) De acordo


com o disposto no Código Civil Brasileiro, considera-se empresário quem exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou
de serviços. O mesmo diploma legal estabelece, contudo, alguns requisitos, bem como
vedações ou limitações ao exercício da atividade empresária e, nesse sentido,
A) não considera empresário aquele que exerça profissão intelectual ou artística, ainda que o
exercício constitua elemento de empresa.
B) obriga o empresário casado sob o regime da comunhão universal a obter outorga conjugal
para alienar ou gravar bens que integram o patrimônio da empresa.
C) veda a realização de atividade científica sob o regime de empresa, obrigando que a mesma
seja exercida, ainda que com finalidade econômica, na forma de associação ou fundação.
D) obriga a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva
sede, dispensando o registro de filial, sucursal ou agência.
E) aquele que estiver legalmente impedido de exercer atividade própria de empresário, ainda
assim, se o fizer, responde pelas obrigações contraídas perante terceiros.

59
Comentários:

As alternativas da questão podem ser confrontadas com os seguintes dispositivos legais:

A) Incorreta, veja o que o Código Civil dispõe acerta do elemento de empresa:

Art. 966. (...) Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares

ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.

B) Incorreta, pois contraria o seguinte dispositivo do Código Civil de 2002:

Art. 978 O empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que
seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou

gravá-los de ônus real.

C) Incorreta, vez que contraria o seguinte preceito legal:

Art. 966 - Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão

intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares


ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.

D) Incorreta, pois o Código Civil dispõe que:

Art. 969. O empresário que instituir sucursal, filial ou agência, em lugar sujeito à
jurisdição de outro Registro Público de Empresas Mercantis, neste deverá também
inscrevê-la, com a prova da inscrição originária.

E) Está correta, conforme o seguinte dispositivo legal:

Art. 973. A pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de empresário, se a


exercer, responderá pelas obrigações contraídas.

Questão 11

(CESPE / CEBRASPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia)

60
Determinada sociedade empresária, enquadrada como empresa de pequeno porte e optante
pelo Simples Nacional, instituiu representante legal para solicitar ao órgão competente o
registro e o arquivamento da sua última alteração do contrato social consolidada. Na
oportunidade, a sociedade não anexou à documentação a ser apresentada à junta comercial a
certidão negativa de débitos (CND) relativa aos tributos federais e à dívida ativa da União,
administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (SRF) e pela Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional (PGFN).

Com referência a essa situação hipotética, julgue o item que se segue.

Embora a ausência da CND/SRF não impeça o registro da alteração do contrato social, essa
certidão atribui efeito suspensivo ao pedido de arquivamento.

( ) Certo

( ) Errado

Comentários:

Errado – Com base LC 123/06:

Art. 9 O registro dos atos constitutivos, de suas alterações e extinções (baixas), referentes a
empresários e pessoas jurídicas em qualquer órgão dos 3 (três) âmbitos de governo ocorrerá
independentemente da regularidade de obrigações tributárias, previdenciárias ou trabalhistas,
principais ou acessórias, do empresário, da sociedade, dos sócios, dos administradores ou de
empresas de que participem, sem prejuízo das responsabilidades do empresário, dos titulares,
dos sócios ou dos administradores por tais obrigações, apuradas antes ou após o ato de
extinção.

§ 1 O arquivamento, nos órgãos de registro, dos atos constitutivos de empresários, de


sociedades empresárias e de demais equiparados que se enquadrarem como microempresa
ou empresa de pequeno porte bem como o arquivamento de suas alterações são dispensados
das seguintes exigências:

61
I - certidão de inexistência de condenação criminal, que será substituída por declaração do
titular ou administrador, firmada sob as penas da lei, de não estar impedido de exercer
atividade mercantil ou a administração de sociedade, em virtude de condenação criminal;

II - prova de quitação, regularidade ou inexistência de débito referente a tributo ou


contribuição de qualquer natureza.

Questão 12

(CESPE / CEBRASPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia)

Determinada sociedade empresária, enquadrada como empresa de pequeno porte e optante


pelo Simples Nacional, instituiu representante legal para solicitar ao órgão competente o
registro e o arquivamento da sua última alteração do contrato social consolidada. Na
oportunidade, a sociedade não anexou à documentação a ser apresentada à junta comercial a
certidão negativa de débitos (CND) relativa aos tributos federais e à dívida ativa da União,
administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (SRF) e pela Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional (PGFN).

Com referência a essa situação hipotética, julgue o item que se segue.

O pedido de registro e arquivamento deverá ser rejeitado: é necessário provar, quando da


protocolização do requerimento, a inexistência de lançamentos de débitos tributários da
empresa junto à PGFN.

( ) Certo

( ) Errado

Comentários:

Errado - STJ. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA.

ARQUIVAMENTO NA JUNTA COMERCIAL. EXIGÊNCIA DE APRESENTAÇÃO DE CERTIDÕES


NEGATIVAS DE DÉBITOS. DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.
62
1. A exigência de certidões negativas de débitos tributários, para fins de registro de alteração
contratual perante a Junta Comercial, não está prevista na lei de regência (Lei 8.934/94), nem
no decreto regulamentador (Decreto 1.800/96), sendo ilegítima sua previsão em instrumento
normativo estadual. 2. A Segunda Seção analisou a antinomia entre a Lei 8.934/94 e as leis
tributárias anteriores e, diante do conflito entre os critérios cronológico e da especialidade,
predominou o entendimento de que há de prevalecer o critério cronológico, pois o enunciado
normativo "nenhum outro documento será exigido", contido na Lei 8.934/94, tem conteúdo
nitidamente derrogatório, excluindo a possibilidade de subsistirem leis anteriores em sentido
contrário. Assim, somente podem ser exigidos documentos expressamente previstos na Lei
8.934/94, ou em leis posteriores, como a exigência de certidão negativa do INSS, inserida por
força da Lei 9.032/95 (REsp 1.393.724/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Rel. p/ acórdão
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/10/2015, DJe de
04/12/2015) 3. Agravo interno não provido. (AgInt no REsp 1175043/RS, Rel. Ministro LÁZARO
GUIMARÃES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO), QUARTA TURMA, julgado
em 20/02/2018, DJe 27/02/2018).

Questão 13

(CESPE / CEBRASPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia)

A respeito das condições para o exercício de atividade comercial, julgue o item subsequente.

É vedado transformar registro de empresário individual em registro de sociedade empresária.

( ) Certo

( ) Errado

Comentários:

Errado - Com base noCódigo Civil. Art. 968, § 3º Caso venha a admitir sócios, o empresário
individual poderá solicitar ao Registro Público de Empresas Mercantis a transformação de seu

63
registro de empresário para registro de sociedade empresária, observado, no que couber, o
disposto nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código.

Enunciado 465 CJF. A "transformação de registro" prevista no art. 968, § 32, e no art. 1.033,
parágrafo único, do Código Civil não se confunde com a figura da transformação de pessoa
jurídica.

Fique ligado na recente alteração do CC/02:

Art. 1.052.Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas
quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social.

§ 1º A sociedade limitada pode ser constituída por 1 (uma) ou mais pessoas. (Incluído pela Lei
nº 13.874, de 2019); §
2º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento de constituição do sócio único, no que
couber, as disposições sobre o contrato social. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019).

64
GABARITO

Questão 1 - D

Questão 2 -B

Questão 3 -Correta

Questão 4 -C

Questão 5 -Errado

Questão 6 - Errado

Questão 7 - Errado

Questão 8 - Certo

Questão 9 - B

Questão 10 - Errado

Questão 11 -Errado

Questão 12 -Errado

Questão 13 - Errado

65
QUESTÃO DESAFIO

Há diversas normas de direito público que impedem determinadas


pessoas de exercer a atividade empresarial. Tais impedimentos
dizem respeito ao exercício de empresa e a possibilidade de serem
sócios de sociedades empresárias?

Máximo de 5 linhas

66
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

Não, o fato de haver proibição para o exercício de empresa não causa necessariamente
proibição de atuação como sócio, já que os sócios de uma sociedade empresária não são
empresários.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Não é proibição para ser sócio

O Código Civil traz apenas o art. 1.011, §1º com impedimentos para administradores, quais
sejam: os condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos
públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou
contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa
da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto
perdurarem os efeitos da condenação.

A maioria dos impedimentos ao exercício de empresa está em leis especiais, e não proíbem as
pessoas impedidas de serem sócios de sociedade empresária, como explica o autor André
Santa Cruz (CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. 8. ed. São Paulo: Método, 2020. p. 179-
179.): “É preciso atentar para o fato de que a proibição é para o exercício de empresa, não
sendo vedado, pois, que alguns impedidos sejam sócios de sociedades empresárias, uma vez
que, nesse caso, quem exerce a atividade empresarial é a própria pessoa jurídica, e não seus
sócios.”.

 Sócio não é empresário

É necessário se atentar ao fato de que os sócios de uma sociedade não são empresários. O
autor André Santa Cruz explica (CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. 8. ed. São Paulo:
Método, 2020. p. 179-179.): “Quando pessoas (naturais) unem seus esforços para, em
sociedade, ganhar dinheiro com a exploração empresarial de uma atividade econômica, elas
não se tornam empresárias. A sociedade por elas constituída, uma pessoa jurídica com
personalidade autônoma, sujeito de direito independente, é que será empresária, para todos
os efeitos legais. Os sócios da sociedade empresária são empreendedores ou investidores, de
acordo com a colaboração dada à sociedade (...). As regras que são aplicáveis ao empresário
individual não se aplicam aos sócios da sociedade empresária – é muito importante aprender
isto.”.

67
São exemplos de leis que impedem determinadas pessoas de exercerem a atividade
empresarial: o art. 117, X, da Lei 8.112/1990, relativo aos servidores públicos federais; o art. 36,
I, da LC 35/1979 – Lei Orgânica da Magistratura Nacional –, relativo aos magistrados; o art. 44,
III, da Lei 8.625/1993, relativo aos membros do Ministério Público; o art. 29 da Lei 6.880/1980,
relativo aos militares.

68
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Teoria Geral do Direito Empresarial:

 CC/02: arts. 966-980-A

Empresário

 Enunciado58, CJF

O empresário individual casado é o destinatário da norma do art. 978 do CCB e não depende
da outorga conjugal para alienar ou gravar de ônus real o imóvel utilizado no exercício da
empresa, desde que exista prévia averbação de autorização conjugal à conferência do imóvel
ao patrimônio empresarial no cartório de registro de imóveis, com a consequente averbação
do ato à margem de sua inscrição no registro público de empresas mercantis.

 Enunciado 195, CJF

Art. 966: A expressão “elemento de empresa” demanda interpretação econômica, devendo ser
analisada sob a égide da absorção da atividade intelectual, de natureza científica, literária ou
artística, como um dos fatores da organização empresarial.

 Enunciado 197, CJF

A pessoa natural, maior de 16 e menor de 18 anos, é reputada empresário regular se satisfizer


os requisitos dos arts. 966 e 967; todavia, não tem direito a concordata preventiva, por não
exercer regularmente a atividade por mais de dois anos.

 Enunciado 203, CJF

O exercício de empresa por empresário incapaz, representado ou assistido, somente é possível


nos casos de incapacidade superveniente ou incapacidade do sucessor na sucessão por morte.

69
 Enunciado 204, CJF

Art. 977: A proibição de sociedade entre pessoas casadas sob o regime da comunhão
universal ou da separação obrigatória só atinge as sociedades constituídas após a vigência do
Código Civil de 2002.

 Enunciado 205, CJF

Art. 977: Adotar as seguintes interpretações ao art. 977: (1) a vedação à participação de
cônjuges casados nas condições previstas no artigo refere-se unicamente a uma mesma
sociedade; (2) o artigo abrange tanto a participação originária (na constituição da sociedade)
quanto a derivada, isto é, fica vedado o ingresso de sócio casado em sociedade de que já
participa o outro cônjuge.

 Enunciado 198, CJF

A inscrição do empresário ou sociedade empresária é requisito delineador de sua


regularidade, e não da sua caracterização.

 Enunciado 199, CJF

A inscrição do empresário na Junta Comercial não é requisito para a sua caracterização,


admitindo-se o exercício da empresa sem tal providência. O empresário irregular reúne os
requisitos do art. 966, sujeitando-se às normas do Código Civil e da legislação comercial, salvo
naquilo em que forem incompatíveis com a sua condição ou diante de expressa disposição em
contrário.

 Enunciado 202, CJF

O registro do empresário ou sociedade rural na Junta Comercial é facultativo e de natureza


constitutiva, sujeitando-o ao regime jurídico empresarial. É inaplicável esse regime ao
empresário ou sociedade rural que não exercer tal opção.

70
JURISPRUDÊNCIA

Sociedade Empresária

 STJ, 1ª Turma. REsp 1358410/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão. julgado em
04/08/2016.

Mesmo diante de contrato locatício celebrado entre o sócio e o empreendedor (locador) de


shopping center, há legitimidade ativa concorrente do sócio (pessoa física) e da sociedade
(pessoa jurídica) para pleitear indenização causada por danos ao estabelecimento situado em
shopping center. Em um contrato de shopping center, a sociedade empresária tem
legitimidade ativa "ad causam", em concorrência com o locatário - pessoa física -, para
demandar o empreendedor nas causas em que houver interesses relativos ao estabelecimento
empresarial, desde que, no contrato firmado entre as partes, haja a expressa destinação do
espaço para a realização das atividades empresariais da sociedade da qual faça parte.

 STJ, 1ª Turma. REsp 1.227.240/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão. julgado em
09/06/2015.

De acordo com o Código Civil, as sociedades podem ser de duas categorias: simples e
empresárias. Ambas exploram atividade econômica e objetivam o lucro. A diferença entre elas
reside no fato de a sociedade simples explorar atividade não empresarial, tais como as
atividades intelectuais, enquanto a sociedade empresária explora atividade econômica
empresarial, marcada pela organização dos fatores de produção (art. 982, CC). A sociedade
simples é formada por pessoas que exercem profissão do gênero intelectual, tendo como
espécie a natureza científica, literária ou artística, e mesmo que conte com a colaboração de
auxiliares, o exercício da profissão não constituirá elemento de empresa (III Jornada de Direito
Civil, Enunciados n. 193, 194 e 195). As sociedades de advogados são sociedades simples

71
marcadas pela inexistência de organização dos fatores de produção para o desenvolvimento
da atividade a que se propõem. Os sócios, advogados, ainda que objetivem lucro, utilizem-se
de estrutura complexa e contem com colaboradores nunca revestirão caráter empresarial,
tendo em vista a existência de expressa vedação legal (arts. 15 a 17, Lei n. 8.906/1994).
Impossível que sejam levados em consideração, em processo de dissolução de sociedade
simples, elementos típicos de sociedade empresária, tais como bens incorpóreos, como a
clientela e seu respectivo valor econômico e a estrutura do escritório.

 STJ. REsp 1682989/ RS 2017/0144466-0. T2. Rel Min. Herman Benjamin. DJ


19/09/2017, DJP 09/10/2017

AGRAVO DE INSTRUMENTO. TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. EMPRESÁRIO INDIVIDUAL.


REDIRECIONAMENTO. 1. A controvérsia cinge-se à responsabilidade patrimonial do empresário
individual e as formalidades legais para sua inclusão no polo passivo de execução de débito
da firma da qual era titular. 2. O acórdão recorrido entendeu que o empresário individual atua
em nome próprio, respondendo com seu patrimônio pessoal pelas obrigações assumidas no
exercício de suas atividades profissionais, sem as limitações de responsabilidade aplicáveis às
sociedades empresárias e demais pessoas jurídicas. 3. A jurisprudência do STJ já fixou o
entendimento de que "a empresa individual é mera ficção jurídica que permite à pessoa
natural atuar no mercado com vantagens próprias da pessoa jurídica, sem que a titularidade
implique distinção patrimonial entre o empresário individual e a pessoa natural titular da firma
individual" (REsp 1.355.000/SP, Rel. Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em
20/10/2016, DJe 10/11/2016) e de que "o empresário individual responde pelas obrigações
adquiridas pela pessoa jurídica, de modo que não há distinção entre pessoa física e jurídica,
para os fins de direito, inclusive no tange ao patrimônio de ambos" (AREsp 508.190, Rel. Min.
Marco Buzzi, Publicação em 4/5/2017). 4. Sendo assim, o empresário individual responde pela
dívida da firma, sem necessidade de instauração do procedimento de desconsideração da
personalidade jurídica (art. 50 do CC/2002 e arts. 133 e 137 do CPC/2015), por ausência de
separação patrimonial que justifique esse rito. 5. O entendimento adotado pelo Tribunal de
origem guarda consonância com a jurisprudência do STJ, o que já seria suficiente para se
rejeitar a pretensão recursal com base na Súmula 83/STJ. O referido verbete sumular aplica-se
aos recursos interpostos tanto pela alínea "a" quanto pela alínea "c" do permissivo

72
constitucional. Nesse sentido: REsp 1.186.889/DF, Segunda Turma, Relator Ministro Castro
Meira, DJe de 2.6.2010. 6. Não obstante isso, não se constata o preenchimento dos requisitos
legais e regimentais para a propositura do Recurso Especial pela alínea "c" do art. 105 da CF.
7. A apontada divergência deve ser comprovada, cabendo a quem recorre demonstrar as
circunstâncias que identificam ou assemelham os casos confrontados, com a indicação da
similitude fática e jurídica entre eles. 8. In casu, o recorrente não se desincumbiu do ônus de
demonstrar que os casos comparados tratam da mesma situação fática: empresário individual.
Ao revés, limitou-se a transcrever ementas e trechos que versam sobre sociedade empresarial
cuja diferença em relação ao caso dos autos foi suficientemente explanada neste julgado. 9.
Recurso Especial não conhecido.)

Direitos Fundamentais

As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios podem requisitar diretamente das instituições financeiras informações sobre as
movimentações bancárias dos contribuintes. Esta possibilidade encontra-se prevista no art. 6º
da LC 105/2001, que foi considerada constitucional pelo STF. Isso porque esta previsão não se
caracteriza como "quebra" de sigilo bancário, ocorrendo apenas a “transferência de sigilo” dos
bancos ao Fisco.

 STF. Plenário. RE 603616/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4 e


5/11/2015 (repercussão geral) (Info 806).

A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno,
quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas “a posteriori”, que indiquem
que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade
disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade, e de nulidade dos atos praticados.

 STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 31/8/2016 (Info
837)

É inconstitucional a expressão “em horário diverso do autorizado” contida no art. 254 do ECA.
"Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo em horário diverso do
autorizado ou sem aviso de sua classificação: Pena - multa de vinte a cem salários de

73
referência; duplicada em caso de reincidência a autoridade judiciária poderá determinar a
suspensão da programação da emissora por até dois dias." O Estado não pode determinar
que os programas somente possam ser exibidos em determinados horários. Isso seria uma
imposição, o que é vedado pelo texto constitucional por configurar censura. O Poder Público
pode apenas recomendar os horários adequados. A classificação dos programas é indicativa (e
não obrigatória).

Mandado de Segurança

 STF. RMS 32487, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em
07/11/2017

O termo inicial para a formalização de mandado de segurança pressupõe a ciência do


impetrante, nos termos dos artigos 3º e 26 da Lei nº 9.784/1999, quando o ato impugnado
surgir no âmbito de processo administrativo do qual seja parte. MANDADO DE SEGURANÇA –
DILAÇÃO PROBATÓRIA – PRESCINDIBILIDADE. Instruído o processo com documentos
suficientes ao exame da pretensão veiculada na petição inicial, descabe suscitar a
inadequação da via mandamental.

 STJ. AgInt no RMS 42.563/MG, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 23/05/2017, DJe 29/05/2017

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ORDINÁRIO EM


MANDADO DE SEGURANÇA. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE.
PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA. INOBSERVÂNCIA DO PISO SALARIAL ESTABELECIDO
EM LEI FEDERAL. MANDADO DE SEGURANÇA. ILEGITIMIDADE PASSIVA. TEORIA DA
ENCAMPAÇÃO. APLICABILIDADE. ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR A
DECISÃO ATACADA. I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada
em 09.03.2016, o regime recursal será determinado pela data da publicação do provimento
jurisdicional impugnado. In casu, aplica-se o Código de Processo Civil de 2015. II - A
jurisprudência desta Corte firmou entendimento segundo o qual, a aplicação da teoria da
encampação, que mitiga a indicação errônea da autoridade coatora em mandado de
segurança, tem lugar quando presentes os seguintes requisitos: (i) vínculo hierárquico entre a
autoridade que prestou as informações e aquela que determinou a prática do ato; (ii)
74
manifestação sobre o mérito nas informações prestadas, e; (iii) ausência de modificação na
competência constitucionalmente estabelecida. III - In casu, observo ser cabível a aplicação da
teoria da encampação, porquanto: (i) existe vínculo hierárquico entre a autoridade apontada
no mandamus e aquela que seria legitimada a figurar no polo passivo (Governador do Estado
e Secretário Estadual de Planejamento e Gestão); (ii) a autoridade Impetrada, em suas
informações, manifestou-se sobre o mérito do mandamus (fl. 111e), e; (iii) conforme o art. 106,
I, c, da Constituição do Estado de Minas Gerais, não há modificação da competência do
Tribunal de Justiça. IV - O Agravante não apresenta, no agravo, argumentos suficientes para
desconstituir a decisão recorrida. V - Agravo Interno improvido.

 STF. MS 25097, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em


28/03/2017

Mandado de Segurança. 2. Ato do TCU. Suposta cumulação indevida de proventos. Suspensão


dos pagamentos. 3. Decadência. Verificação de impetração do mandamus em data posterior
ao prazo de 120 dias da ciência do ato impugnado. Superação. Medida liminar concedida há
mais de doze anos. Preservação da segurança jurídica. Precedentes do STF. 4. Cumulação de
proventos e pensões. Cargos públicos inacumuláveis em atividade. Regimes civil e militar.
Concessão anterior à Emenda Constitucional 20/1998. Possibilidade. Precedentes. 5. Segurança
concedida.

75
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2016.

FAZZIO JUNIOR, WALDO. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2017.

MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. São Paulo: Atlas, 2017.

PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição.
São Paulo: Editora JusPodivm, 2017.

PENANTE JR, Francisco. LAURINDO, Felipe. Prática empresarial. Recife: Armador, 2016.

76
Capítulo 2
SUMÁRIO

DIREITO EMPRESARIAL .................................................................................................................................................... 2

2. Regime Jurídico da Atividade Empresarial ..................................................................................................... 2


2.1 Registro Empresarial ............................................................................................................................................. 2
2.1.1 SINREM.................................................................................................................................................................. 5
2.1.2 Atos de registro ..................................................................................................................................................... 8
2.1.3 Escrituração......................................................................................................................................................... 13

QUADRO SINÓTICO ....................................................................................................................................................... 33

QUESTÕES COMENTADAS .......................................................................................................................................... 35

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 45

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 49

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................... 50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 56

1
DIREITO EMPRESARIAL

Capítulo 2

2. Regime Jurídico da Atividade Empresarial

Atenção Futuro Delta! Dê mais ênfase nos assuntos registro empresarial, nome
empresarial e prepostos do empresário.Muito importante aqui estudo da lei seca.

2.1 Registro Empresarial

Conforme previsão, o Registro Público de Empresas Mercantis é exercido em todo o


território nacional, de forma sistêmica, por órgãos federais, estaduais e distrital e detém as
seguintes finalidades1:

I - dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das
empresas mercantis, submetidos a registro na forma desta lei;
II - cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em funcionamento no País e manter
atualizadas as informações pertinentes;
III - proceder à matrícula dos agentes auxiliares do comércio, bem como ao seu
cancelamento.

A inscrição na Junta Comercial antes de iniciar a atividade é obrigação legal imposta a


todo e qualquer empresário (empresário individual ou sociedade empresária), sob pena de
começar a exercer a empresa irregularmente2

Tal obrigação decorre do comando do art. 967 do Código Civil:

Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas


Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade.

Recorde-se que, para o empresário comum, o registro é mera condição de regularidade.


Nessa linha, o enunciado 199 do CJF, conferindo interpretação ao art. 967 do CC, determina
que “a inscrição do empresário ou sociedade empresária é requisito delineador de sua

1
Vide questão 9.
2
Vide questão 8.
2
regularidade, e não de sua caracterização”. Ou seja, se o empresário não fizer o registro, ele
não deixa de ser empresário, mas será considerado empresário irregular, sofrendo, por isso,
algumas consequências (por exemplo: a impossibilidade de requerer recuperação judicial).

Contudo, quanto ao ruralista, tal registro é indispensável para que se caracterize como
empresário, pois a lei permite que, mesmo que pratique atividade nos moldes do art. 966 do
CC, opte por não aderir ao regime jurídico empresarial, não efetivando seu registro na Junta
Comercial.

O empresário rural é a pessoa física ou jurídica que exerce atividade agrária, seja ela
agrícola, pecuária, agroindustrial ou extrativa (vegetal ou mineral), procurando conjugar, de
forma racional, organizada e econômica, os fatores terra, trabalho e capital.

Nessa linha, tem-se o art. 971 do Código Civil:

Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode,
observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer
inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que,
depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a
registro.

Diante desse contexto, forçoso é concluir que, para o rurícola, o registro empresarial é
facultativo e constitutivo, como pode ser inferido do seguinte enunciado do CJF:

Enunciado 202, CJF: Arts. 971 e 984: O registro do empresário ou sociedade rural na
Junta Comercial é facultativo e de natureza constitutiva, sujeitando-o ao regime
jurídico empresarial. É inaplicável esse regime ao empresário ou sociedade rural que não
exercer tal opção.

Retornando-se ao art. 967, pode dizer-se que ele não adota o sistema subjetivo de
direito comercial ou empresarial, tal como na primeira fase evolutiva desse ramo do direito.
Nesta, para ser comerciante, era necessário o registro nas corporações de ofício, instituições
que criavam regras aplicáveis somente aos que nelas estavam escritos.

Conforme o regramento atual, a ausência do registro não subtrai o sujeito do regime


empresarial, mas somente o submete às sanções decorrentes do descumprimento da norma.
O empresário não registrado é um empresário irregular.

Nesse sentido, tem-se o seguinte enunciado do CJF:


3
Enunciado 198, CJF: Art. 967: A inscrição do empresário na Junta Comercial não é
requisito para a sua caracterização, admitindo-se o exercício da empresa sem tal
providência. O empresário irregular reúne os requisitos do art. 966, sujeitando-se às
normas do Código Civil e da legislação comercial, salvo naquilo em que forem
incompatíveis com a sua condição ou diante de expressa disposição em contrário.

A obrigatoriedade do registro deflui do art. 969 do Código Civil:

Art. 969. O empresário que instituir sucursal, filial ou agência, em lugar sujeito à
jurisdição de outro Registro Público de Empresas Mercantis, neste deverá também
inscrevê-la, com a prova da inscrição originária.
Parágrafo único. Em qualquer caso, a constituição do estabelecimento secundário
deverá ser averbada no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede.

Pode-se definir filial, juridicamente, como a sociedade empresária que atua sob a
direção e administração de outra, chamada de matriz, mas mantém sua personalidade jurídica
e o seu patrimônio, bem como preserva sua autonomia diante da lei e do público. Agência,
por sua vez, pode ser conceituada como empresa especializada em prestação de serviços que
atua especificamente como intermediária. E sucursal, por fim, é o ponto de negócio acessório
e distinto do ponto principal, responsável por tratar dos negócios deste e a ele subordinado
administrativamente3.

Observe-se, contudo, que o Superior Tribunal de Justiça inclui no conceito de filial o


estabelecimento empresarial que não constitui sede dos negócios:

Verifica-se, portanto, que a filial, na condição de espécie de estabelecimento, é um


bem, um instrumento, uma universalidade de fato que integra o patrimônio da
sociedade empresária e não uma pessoa distinta desta. Destarte, a discriminação do
patrimônio da empresa, mediante a criação de filiais, não afasta a unidade patrimonial
da pessoa jurídica, que, na condição de devedora, deve responder com todo o ativo do
patrimônio social por suas dívidas, à luz de regra de direito processual prevista no art.
591 do Código de Processo Civil, segundo a qual “o devedor responde, para o
cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as
restrições estabelecidas em lei”. (STJ, 2ª Turma, AgRgREsp 1544571/SC, Relator: Ministro
Mauro Campbell Marques, julgado em 6/10/2015, DJe 16/10/2015.)

O tema do estabelecimento e de suas respectivas filiais, sucursais ou agências também


é relevante para se saber qual é o domicílio do empresário individual e da sociedade

3
Vide questão 2 e 8.
4
empresária, visto que será o local indicado em seus atos constitutivos, quando do registro na
Junta Comercial.

Observe-se, no entanto, que o Código de Processo Civil de 2015 estabelece como foro
competente quanto às obrigações que a pessoa jurídica contraiu, o lugar onde se acha sua
agência ou sucursal (art. 53, III, b). O Código Civil, por sua vez, em seu art. 75, §1º, estabelece
que, “tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles
será considerado domicílio para os atos nele praticados”.

Nessa mesma linha, o texto da súmula 363 do STF ao considerar que a pessoa jurídica
de direito privado, gênero do qual a sociedade empresária é espécie,“pode ser demandada no
domicílio da agência, ou estabelecimento, em que se praticou o ato”. Nesse sentido é também
a norma do art. 75, §1º, do Código Civil.

2.1.1 SINREM

SINREMé o Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis e foi instituído pela


Lei nº 8.934/94 (art. 3º). Destina-se ao registro público de serviços mercantis, sendo que esse
sistema é composto por dois órgãos:

 Departamento de Registro Empresarial e Integração ou DREI (antigo DNRC).

 Junta Comercial (órgão estadual e executor);

O Departamento Nacional de Registro de Comércio (DNRC) foi extinto pelo Decreto


8.001/2013, que criou o Departamento de Registro Empresarial e Integração (DREI). Tem
natureza jurídica de órgão federal vinculado ao Ministério da Economia, encarregado de
normatizar e fiscalizar os atos de registro.

A Junta Comercial é responsável pela execução e administração dos atos de registro.


Sua natureza jurídica é de autarquia estadual, integrante da estrutura administrativa dos
Estados-membros. Cada unidade federativa possui uma Junta Comercial, segundo disposição
constante do art. 5º da lei.

5
Por fazerem parte da estrutura administrativa dos Estados, mas, ao mesmo tempo,
sujeitarem-se, no planotécnico, às normas e diretrizes baixadas pelo DREI, diz-se que as juntas
comerciais têm subordinação hierárquica híbrida.

Sendo assim, somente a Junta Comercial do Distrito Federal se submete, tanto técnica
como administrativamente, ao DREI, conforme preceitua o art. 6º, parágrafo único, da Lei
8.934/1994.

Sobre a subordinação hierárquica híbrida das Juntas Comerciais, André Luiz Santa Cruz
Ramos explica:

Em razão desse caráter híbrido de subordinação das Juntas Comerciais (ao Estado-
membro respectivo e ao DREI), o Superior Tribunal de Justiça consolidou entendimento
de que há uma divisão de competência para apreciar ações judiciais em que a Junta
Comercial seja parte. Tratando-se de matéria administrativa, a competência para
processar e julgar as ações em que a Junta figure num dos polos da demanda é da
Justiça comum estadual. Em contrapartida, em se tratando de matéria técnica, relativa
ao registro de empresa, a competência passa a ser da Justiça Federal, em virtude do
interesse na causa do DREI, conforme preceitua o art. 109, inciso I, da Constituição
Federal.

Assim, se no processo se discute, por exemplo, o reajuste de servidores da Junta


Comercial, a competência será da Justiça Estadual, porque nesse caso a lide versa sobre
matéria eminentemente administrativa.

Porém, se a Junta Comercial indeferir o pedido de arquivamento de contrato social de


uma determinada sociedade limitada, com base numa Instrução Normativa do DREI, e essa
sociedade resolver impetrar mandado de segurança contra tal decisão, deverá fazê-lo perante
a Justiça Federal, porque, nesse caso, a Junta agiu sob orientação de um ente federal, o DREI4.

Contudo, o autor supramencionado assinala que o próprio STJ alterou esse


posicionamento, passando a entender que a Justiça Federal é competente para julgar os
processos em que figura como parte a Junta Comercial somente nos casos em que se discute
a lisura do ato praticado pela Junta ou nos casos de mandado de segurança impetrado contra

4
Vide questão 4.
6
ato de seu presidente. (REsp 678.405/RJ, 3.ª Turma, Rel. Min. Castro Filho, j. 16.03.2006, DJ
10.04.2006, p. 179).

Dessa forma, quando se tratar de demanda que envolvasomente questões particulares,


como conflitos societários, a competência será da Justiça Estadual, ainda que no processo
esteja sendo discutido um ato ou registro praticado pela Junta Comercial.

Ministério da
Estado-Membro
Economia Su
bo
Vinculação rdi
na
çã
SINREM o
Ad
mi
Órgãos nis
tra

Junta
DREI Subordinação técnica
Comercial

Muito embora tenha sido investido nas funções de órgão central disciplinador, fiscalizador e
supervisor do registro de empresas, o DREI não dispõe de instrumentos de intervenção nas
Juntas comerciais, caso não adotem suas diretrizes ou deixem de acatar recomendações de
correção. A lei estabelece, apenas, que o DREI pode representar às autoridades competentes
as irregularidades que identificar (ex. Governador, Ministério Público Estadual etc).

7
2.1.2 Atos de registro

Quanto aos atos de registro, podemos resumi-los nos seguintes:

 Autenticação: se relaciona à escrituração do empresário (livros), sendo condição de

regularidade desses documentos. Assim, um livro comercial deve ser levado à Junta

Comercial para autenticação e, neste ato, terá todos os requisitos extrínsecos que

devem ser observados na escrituração. Conforme o art. 39 da Lei 8.934/1994, “as

juntas comerciais autenticarão: I – os instrumentos de escrituração das empresas

mercantis e dos agentes auxiliares do comércio; II – as cópias dos documentos

assentados”. Contudo, não se pode olvidar o que se encontra previsto nos arts. 39-

A e 39-B, inseridos pela Lei Complementar 147/2014: “a autenticação dos

documentos de empresas de qualquer porte realizada por meio de sistemas

públicos eletrônicos dispensa qualquer outra” (art. 39-A); e “a comprovação da

autenticação de documentos e da autoria de que trata esta Lei poderá ser realizada

por meio eletrônico, na forma do regulamento” (art. 39-B).

 Matrícula: relaciona-se aos auxiliares do comércio tais comoleiloeiros, tradutores

públicos, trapicheiros etc. Consiste em uma condição para que eles possam exercer,

regularmente, tais atividades paracomerciais.

 Arquivamento:se refere aos atos de constituição (registro em sentido estrito),

modificação e extinção (averbação, para tudo que vem depois da constituição);

correspondem, por sua vez, ao registro dos empresários individuais, sociedades

empresárias e cooperativas.5

No que se refere ao arquivamento, alguns pontos merecem ser esclarecidos.

De acordo com o art. 32, inciso II, da Lei 8.934/1994, estão sujeitos ao arquivamento:

 Os documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e extinção de

firmasmercantis individuais, sociedades mercantis e cooperativas;

5
Vide questão 5.
8
 Os atos relativos a consórcio e grupo de sociedadede que trata a Lei 6.404, de 15

de dezembro de 1976;

 Os atos concernentes a empresas mercantis estrangeiras autorizadas a funcionar

no Brasil;

 Asdeclarações de microempresa;

 Atos ou documentos que, por determinação legal, sejam atribuídos ao Registro

Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins ou daqueles que possam

interessar ao empresário e às empresas mercantis.

O art. 35 da referida Lei, por sua vez, enuncia uma série de atos que não devem se

sujeitar ao arquivamento:

I - os documentos que não obedecerem às prescrições legais ou regulamentares ou que


contiverem matéria contrária aos bons costumes ou à ordem pública, bem como os que
colidirem com o respectivo estatuto ou contrato não modificado anteriormente;
II - os documentos de constituição ou alteração de empresas mercantis de qualquer
espécie ou modalidade em que figure como titular ou administrador pessoa que esteja
condenada pela prática de crime cuja pena vede o acesso à atividade mercantil;
III - os atos constitutivos de empresas mercantis que, além das cláusulas exigidas em lei,
não designarem o respectivo capital, bem como a declaração precisa de seu objeto, cuja
indicação no nome empresarial é facultativa;
IV - a prorrogação do contrato social, depois de findo o prazo nele fixado;
V - os atos de empresas mercantis com nome idêntico ou semelhante a outro já
existente;
VI - a alteração contratual, por deliberação majoritária do capital social, quando houver
cláusula restritiva;
VII - os contratos sociais ou suas alterações em que haja incorporação de imóveis à
sociedade, por instrumento particular, quando do instrumento não constar:
a) a descrição e identificação do imóvel, sua área, dados relativos à sua titulação, bem
como o número da matrícula no registro imobiliário;
b) a outorga uxória ou marital, quando necessária;
VIII - os contratos ou estatutos de sociedades mercantis, ainda não aprovados pelo
Governo, nos casos em que for necessária essa aprovação, bem como as posteriores
alterações, antes de igualmente aprovadas.
Parágrafo único. A junta não dará andamento a qualquer documento de alteração de
firmas individuais ou sociedades, sem que dos respectivos requerimentos e instrumentos
conste o Número de Identificação de Registro de Empresas (Nire).

9
No que diz respeito às sociedades cooperativas, durante muito tempo, houve polêmica
sobre onde deveriam ser registradas. Se, por um lado, o Código Civil as considera como
sociedade simples (art. 982, parágrafo único), o que atrairia a competência do Oficial de
Registro de Pessoas Jurídicas (art. 1.150), a lei específica dessas instituições determina que seu
registro ocorra na Junta Comercial (art. 18 da Lei5.764/1971).

Nesse sentido, o art. 1.093 do CC estipula que “a sociedade cooperativa reger-se-á pelo
disposto no presente Capítulo, ressalvada a legislação especial”. O enunciado 69 do CJF, por
sua vez, consolida a interpretação daquele preceito legal da seguinte forma: “as sociedades
cooperativas são sociedades simples sujeitas à inscrição nas juntas comerciais”.

O empresário individualarquiva na Junta Comercial sua declaração de que exerce


atividade nos moldes do art. 966. Por este motivo se diz que seu registro tem natureza
declaratória. Excepciona-se, contudo, o rurícola que, como visto, se constitui como
empresário mediante o registro na Junta Comercial.

Por outro lado, o registro da sociedade empresária ou da EIRELI têm natureza


constitutiva, haja vista a criação da pessoa jurídica por meio do registro (art. 45, CC).

Observe, entretanto, que, tanto no caso do empresário individual como no caso da


sociedade empresária, o ato sujeito a registro deverá ter o visto de advogado (art. 1º, § 2ºda
Lei 8.934/1994), salvo no caso de microempresa ou empresa de pequeno porte (art. 9º, § 2º
da LC 123/2006).

É importante mencionar que, segundo o art. 1.154 do Código Civil, o ato sujeito a
registro não pode ser oposto a terceiros antes do cumprimento das formalidades exigidas,
salvo se houver prova de que o terceiro o conhecia.

Conforme André Luiz Santa cruz Ramos:

A norma é plenamente justificável, e possui outros dispositivos correlatos, que


representam verdadeiro desdobramento do seu conteúdo normativo (por exemplo, arts.
1.015, parágrafo único, II, e 1.174, ambos do Código Civil).
Com efeito, se as Juntas Comerciais são o órgão de registro público dos empresários e
das sociedades empresárias, sua função precípua é tornar públicos os atos desses
agentes econômicos, a fim de se tornarem conhecidos de terceiros e a eles poderem ser
opostos.

10
A ausência do registro provoca, dentre outros efeitos, a ilegitimidade ativa para pedido
de falência de terceiro e pedido de recuperação judicial. Nesse diapasão, vale destacar
que,muito embora possa ter sua falência requerida, a sociedade empresária que,
irregularmente, não mantém registro,não pode pedir a falência alheia. Isso porque o art. 97,
§ 1º, da Lei 11.101/2005 (Lei de Falências) exige que o credor empresário comprove a
regularidade de suas atividades, por meio da apresentação de certidão do Registro Público de
Empresas, para que possa requerer a falência do devedor.

Interessante notar que o art. 105 da Lei 11.101/2005 admite que uma sociedade
empresária não registrada faça o pedido de autofalência, bastando que prove, por outros
documentos, quem são os seus sócios, com os respectivos endereços e relação de bens
pessoais.

Outras implicações da falta de registro consistem na impossibilidade de se inscrever no


cadastro nacional de pessoas jurídicas (CNPJ), de obter certidão negativa de débitos tributários
e, por consequência,de participar de licitação.

No que tange à sociedade ou à EIRELI, o mais grave efeito da ausência de registro diz
respeito ao regime da responsabilidade de seus integrantes, que será ilimitada. E isso em
virtude de, em tais situações, aplicar-se o regramento das sociedades em comum (arts.986 a
990 do CC).

Conforme o art. 36 da Lei 8.934/1994, “os documentos referidos no inciso II do art. 32


deverão ser apresentados a arquivamento na junta, dentro de 30 (trinta) dias contados de sua
assinatura, a cuja data retroagirá os efeitos do arquivamento; fora desse prazo, o
arquivamento só terá eficácia a partir do despacho que o conceder”.

O Código Civil dispõe no mesmo sentido em seu art. 1.151, §§ 1.º e 2.º, preceituando,
no § 3.º, que “as pessoas obrigadas a requerer o registro responderão por perdas e danos, em
caso de omissão ou demora”.

Daí se conclui a relevância de que, por exemplo, uma alteração de contrato social seja
levada a registro na Junta Comercial dentro de 30 (trinta) contados da sua efetiva realização.
Se isso não ocorrer, tal alteração contratual só será considerada eficaz perante terceiros após

11
o deferimento do registro. Por outro lado, se o registro for feito no prazo legal, a alteração do
contrato retroagirá seus efeitos desde a data em que foi decidida pelos sócios.

Em síntese,“se o ato é levado a registro dentro do prazo legal de trinta dias, o registro
opera efeitos extunc, retroagindo à data da sua efetiva realização. Em contrapartida, se o ato
é levado a registro fora do prazo legal de trinta dias, produz efeitos ex nunc, ou seja, só se
torna eficaz a partir do seu deferimento”.

O art. 1.151 afasta qualquer dúvida a respeito dessa conclusão:

Art. 1.151. O registro dos atos sujeitos à formalidade exigida no artigo antecedente será
requerido pela pessoa obrigada em lei, e, no caso de omissão ou demora, pelo sócio ou
qualquer interessado.
§ 1º Os documentos necessários ao registro deverão ser apresentados no prazo de trinta
dias, contado da lavratura dos atos respectivos.
§ 2º Requerido além do prazo previsto neste artigo, o registro somente produzirá efeito
a partir da data de sua concessão.

Nesse sentido, a Ministra Nancy Andrighi decidiu pela concessão de efeitos retroativos
para alteração de quadro societário, cuja data da confecção e assinatura do respectivo acordo
ocorreu antes do registro, mas este foi efetivado dentro dos 30 (trinta) dias seguintes
(REsp1.381.719 – BA).

Em síntese, podemos ilustrar os efeitos retroativos dos registro com o seguinte


esquema:

Com efeito retroativo


(extunc)

Registro

Dentro de 30 dias
Data da
Elaboração
Após 30 dias

sem efeito Retroativo(exnunc)


Registro

12
O art. 37 da Lei 8.934/1994 relaciona os documentos que devem instruir os pedidos de
arquivamento de atos constitutivos e suas respectivas alterações. O seu parágrafo único, por
sua vez, determina que, além daqueles que o artigo expressamente elenca, nenhum outro
documento será exigido das firmas individuais e sociedades referidas nas alíneas a, b e d do
inciso II do art. 32”. Na mesma esteira, o Decreto 1.800/1996, que regulamentou a Lei
8.934/1994, deixa claro em seu art. 34, parágrafo único, que outros documentos só podem ser
exigidos se houver “expressa determinação legal”.

Ocorre que, costuma ser comum a exigência de apresentação de certidão de


regularidade fiscal por decretos estaduais, que sequer possuem leis estaduais respectivas. Em
face disso, o Superior Tribunal de Justiça tem decretado, reiteradamente, a ilegalidade destes
decretos, considerando ilegítima a referida exigência, por considerá-la incompatível com o
princípio constitucional da livre-iniciativa.

2.1.3 Escrituração

Escriturar significa registrar ou anotar as contas de uma atividade empresarial. Consiste


em lançar nos livros (instrumentos de escrituração) adequados, com base em documento
hábil, as operações que o empresário realiza no desenvolvimento de suas atividades e os
reflexos que delas decorrem.

Em primeiro lugar, é importante estabelecer a distinção entre livro obrigatório e


facultativo, pois a falta de escrituração deste último não constitui ilegalidade ao passo que
isso ocorrerá no caso de omissão do dever de escriturar quanto ao primeiro.

 Obrigatório:é aquele que sua escrituração é imposta ao empresário e que a sua

ausência traz consequência sancionadora. Pode ser comum ou especial. O livro

obrigatório especial só é exigível de alguns empresários, como é o caso do livro de

registro de duplicata para aqueles que emitem essa espécie de título. O livro

obrigatório comum está previsto no art. 1.180, CC, sendo que seu único exemplo é

o livro diário, que pode ser substituído por fichas, no caso de ser adotada

escrituração mecanizada ou eletrônica6.

6
Vide questão 3.
13
 Facultativo:é aquele que tem para o empresário uma função de controle de seus

negócios, de modo que sua falta não importa em irregularidade ou lhe gera

qualquer tipo de sanção.São exemplos o livro caixa, livro razão, livro conta-corrente,

estoque, dentre outros.

É importante salientar que o Código Civil de 2002 admitiu a escrituração eletrônica:

Art. 1.180. Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que pode
ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica.
Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado para o
lançamento do balanço patrimonial e do de resultado econômico.

Os livros, antes do seu uso, devem, necessariamente, ser autenticados pela Junta
Comercial (Art. 1181 do CC/02), mas somente podem ser autenticados os livros do empresário
regular (p.u. do art. 1181 do CC/02).

14
O art. 1179, §2º dispensa da escrituração o pequeno empresário mencionado no art.
970. Cuidado! Nas provas falam em microempresa e empresa de pequeno porte. Não é a
mesma coisa. De acordo com a doutrina e a jurisprudência, o “pequeno empresário” é, tão
somente, o microempreendedor individual (MEI).

Recorde a figura do Microempreendedor Individual a partir da tabela abaixo:

Empresa de Pequeno Porte Pequeno empresário


Micro empresa (ME)
(EPP) (MEI)

Empresário Individual Empresário Individual APENASempresário individual


Sociedade Empresária Sociedade Empresária (pessoa física).
Sociedade Simples Sociedade Simples Logo, pessoa jurídica não pode
EIRELI EIRELI ser pequeno empresário.

Não é um tipo de Não é um tipo de Não é um tipo de empresário.


empresário. empresário.

É uma classificação que se dá É uma classificação que se É uma classificação que se dá


para aqueles tipos de dá para aqueles tipos de para um tipo de empresário.
empresários. Trata-se de um empresários. Trata-se de um Trata-se de um mero
mero enquadramento. Logo, mero enquadramento. Logo, enquadramento. Logo, não é
não é um novo tipo de não é um novo tipo de um novo tipo de empresa.
empresa. empresa.

A classificação se dá para fins A classificação se dá para Na prática, é o conhecido


fiscais e outras vantagens. fins de benefícios fiscais e Micro empreendedor
outras vantagens. individual (MEI).

15
Receita Bruta anual inferior a Receita Bruta anual superior Receita Bruta anual igual ou
R$ 360.000,000. a R$ 360.000,00 e igual ou inferior a R$ 60.000,00.
inferior a R$ 4.800.000,000.

Não está dispensado da Não está dispensado da Somente o MEI está


escrituração dos livros. escrituração dos livros. dispensado da escrituração
dos livros.

Os requisitosintrínsecos da escrituração são observados quando ela é feita em idioma


e moeda corrente nacionais e em forma contábil, por ordem cronológica de dia, mês e ano,
sem intervalos em branco, nem entrelinhas, borrões, rasuras, emendas ou transportes para as
margens. Por outro lado, os requisitos extrínsecos, concernentes à segurança dos livros,
referem-se à sua autenticação pela Junta Comercial.

Tais requisitos são essências para determinação da eficácia probatória dos livros
empresariais. O art. 417 do CPC/2015 preceitua que “os livros empresariais provam contra o
seu autor, sendo lícito ao empresário, todavia, demonstrar, por todos os meios permitidos em
direito, que os lançamentos não correspondem à verdade dos fatos”.

Conforme o referido comando legal, a eficácia probatória do livro empresarial contra o


empresário independe de sua correta escrituração. Isso significa que consubstancia presunção
relativa (juris tantum) contra o empresário. Nada impede, contudo, que o empresário
demonstre, por outros meios de prova, que os lançamentos constantes da escrituração que
lhe é desfavorável não correspondem à verdade.

Em contrapartida, para que os livros provem a favor do empresário, é preciso que


estejam regularmente escriturados, conforme impõe o art. 418 do CPC/2015: “os livros
empresariais, que preencham os requisitos exigidos por lei, provam também a favor do seu
autor no litígio entre empresas”.

16
Embora não estejam elencados como títulos executivos, o que, em tese, autorizaria o
acesso à via executiva, quando devidamente escriturados, terão valor probatório em uma ação
ordinária de conhecimento, inclusive, no caso de ação monitória.

O art. 419 do CPC/2015 esclarece que a escrituração contábil é indivisível e, se dos


seus lançamentos uma parte for favorável a seu autor e outra desfavorável, ambas serão
consideradas em conjunto, como unidade.

Como último tema relevante para a escrituração empresarial, tem-se o sigilo


empresarial, o qual deve ser compreendido a partir de certas premissas.

Em primeiro lugar, convém ter em mente que o princípio da sigilosidade da escrituração


orienta a atividade empresarial e significa que as informações contidas nos livros são
relevantes e confidenciais (art. 1.190, CC). Seu escopo é inibir a concorrência desleal, de modo
que nenhuma autoridade pode determinar a apresentação dos livros do empresário, salvo os
casos previstos em lei.

Nessa orientação, o art. 1.190 do CC dispõe que:

Art. 1.190. Ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autoridade, juiz ou tribunal,
sob qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para verificar se o empresário
ou a sociedade empresária observam, ou não, em seus livros e fichas, as formalidades
prescritas em lei.

Percebe-se, assim, que a exibição dos livros empresariais poderá ser determinada,
judicialmente e em certos casos previstos em lei. Além disso, existem situações que se permite
que o magistrado determine, de ofício, a exibição dos livros empresariais e outros em que isso
somente poderá ocorrer:

EXIBIÇÃO INTEGRAL EXIBIÇÃO PARCIAL


(art. 417, CPC c/c art. 1.191, caput, CC) (art. 418, CPC c/c art. 1.191, § 1º, CC)

Possível somente me certos casos, como, por


exemplo, sucessão, falência, sociedade ou
Cabível em qualquer ação judicial.
comunhão de interesses e administração ou
gestão à conta de outrem

17
Somente por requerimento da parte De ofício ou mediante requerimento

No caso de sociedade anônima, a norma aplicável é a seguinte:

Art. 105. A exibição por inteiro dos livros da companhia pode ser ordenada
judicialmente sempre que, a requerimento de acionistas que representem, pelo menos,
5% (cinco por cento) do capital social, sejam apontados atos violadores da lei ou do
estatuto, ou haja fundada suspeita de graves irregularidades praticadas por qualquer dos
órgãos da companhia.

Importante ressaltar que, em todo e qualquer caso de ordem judicial para exibição dos
livros empresariais deverá estar presente o interesse de agir (súmula 260, STF), o qual se
afigura, por exemplo, quando houver pertinência quanto às transações entre as partes.

Convém pontuar que o fato de um livro não ser obrigatório não exime o empresário de
apresentá-lo às autoridades fiscais. Se, mesmo não sendo obrigado, ele o escriturou a
consequência é que deverá disponibilizá-lo. Nesse sentido, a súmula 439 do Supremo Tribunal
Federal enuncia que “estão sujeitos à fiscalização tributária ou previdenciária quaisquer livros
comerciais, limitado o exame aos pontos objeto da investigação.” Na mesma linha, o art. 1.193
determina que o sigilo empresarial não pode ser oposto às autoridades fazendárias, no
exercício da fiscalização do pagamento de impostos, nos termos estritos das respectivas leis
especiais

18
A prova resultante dos livros e fichas não é bastante nos casos em que a lei exige
escritura pública, ou escrito particular revestido de requisitos especiais, visto que pode ser
ilidida pela comprovação da falsidade ou inexatidão dos lançamentos.

Sobre a escrituração dos livros empresariais, convém apresentar três consequências que
se relacionam à:

 Ausência de escrituração: além da inviabilidade de utilizar os livros como forma de

prova, o empresário, sociedade empresária ou EIRELI que tiver sua falência

decretada, a concessão de recuperação judicial ou homologação de plano de

recuperação extrajudicial (art. 178 da Lei nº 11.101/2005) praticará crime falimentar,

o que aplica tão somente em relação aos livros obrigatórios (comuns ou especiais).

 Ausência de apresentação: O art. 104, IIda Lei 11.101/05 determina que, após

decretada a falência, o empresário deposite os livros obrigatórios em cartório, que

serão entregues ao administrador judicial. A não apresentação pode gerar o crime

de desobediência, previsto no art. 104, parágrafo único. Da mesma maneira, quando

a apresentação for obrigatória (ex. inventário), o juiz poderá determinar a busca e

apreensão do livro. Além disso, os fatos narrados que estão diretamente

relacionados à prova do livro não apresentado serão reputados como verdadeiros.

Obviamente, essa presunção é relativa, pois o parágrafo único do art. 1192

estabelece que esse tipo de presunção ficta pode ser elidida por prova documental

em contrário. (art. 1192, caput, CC).

19
 Falsificação dos livros comerciais:esse ato importa em crime de falsificação de

documento público (art. 297, §2º, CP), vez que os livros comerciais são equiparados

a documentos públicos. É caso de falsificação de documento público por

equiparação.7

2.2 Registro Empresarial

2.2.1 Conceito e função

Na lição de Dylson Doria (1995:110), o nome comercial é aquele “adotado pela pessoa
física ou jurídica para o exercício do comércio e por cujo meio se identifica”. Sob a mesma
perspectiva, o Decreto n. 916, de 24 de outubro de 1890, ao conceituá-lo, enfatizou seu
caráter funcional, considerando-o “o nome sob o qual o comerciante ou sociedade exerce
ocomércio e assina-se nos atos a ele referentes”.

Em sentido semelhante, o Código Civil, em seu art. 1.155, assim definiu nome comercial:
“considera-se nomeempresarial a firma ou a denominação adotada, de conformidade com
este Capítulo, para o exercício de empresa”.

A doutrina indica duas importantes funções para o nome empresarial. A primeira,


considerada como subjetiva, tem por fim identificar e individualizar o sujeito. A segunda,
chamada de objetiva, se relaciona à capacidade de garantir fama, renome, reputação.

2.2.2 Natureza Jurídica do Nome Empresarial

Ricardo Negrão explica que o nome empresarial e suas subespécies, dentre elas as
firmas e as denominações, não integram o estabelecimento empresarial, sendo, antes,
atributos pessoais do empresário ou da sociedade empresária. Diante disso, o autor conclui
que “sua função primordial é a identificação pessoal do titular, seja ele constituído sob a
forma coletiva ou individual”.

7
Vide questão 10.
20
No entanto, o nome empresarial possui, além da qualidade de identificação de uma
pessoa, outra, denatureza patrimonial, o que leva os doutrinadores a divergirem sobre sua
natureza.

Para uma primeira corrente, ele seria um direito de propriedade industrial8. Esse
entendimento é incompatível com o ordenamento jurídico brasileiro, pois, no atual estágio de
desenvolvimento doutrinário e legislativo, o nome não pode ser considerado direito
depropriedade industrial, vez que este consiste em propriedade imaterial e se constitui coisa
incorpórea, como ocorrecom as marcas, patentes e desenhos industriais, que, após sua criação
intelectual, ganham força de direito autônomoao da personalidade de seu criador.

O nome empresarial, por sua vez,não dispõe dessa autonomia em razão de sua
indissociabilidade dafigura humana que o detém. É o que ocorre, por exemplo, com as
firmas, “constituídas de nomes pessoais do empresário ou dos sócios dasociedade empresária,
e, ainda, porque não pode ser alienado mesmo quando se tratar de sua forma
denominativa,não vinculada a nomes pessoais (art. 1.164 do Código Civil).” (NEGRÃO,
2018:156).

Segundo outra corrente doutrinária e jurisprudencial, o nome empresarial tem natureza


de direito pessoal. Para defender esse posicionamento, Karin Grau-Kuntz (1993:63) afirma que
o sistema do direito brasileiro concedepersonalidade a todas as pessoas jurídicas e considera,
como condição para sua concessão,a adoção do nome empresarial, impedindo que ele seja
objeto decessão ou transferência, o que faz dele objeto de um direito pessoal.

Como um dos grandes expoentes do direito empresarial brasileiro que se afilia a este
entendimento, tem-se Carvalho de Mendonça (2000, 2:175-176):

O nome do comerciante não é propriedade. Pode, é certo, constituir uma riqueza se a


casa comercial adquiriu fama e crédito, graças ao trabalho, à inteligência e à probidade
do seu fundador, mas isso está longe de constituí-lo em coisa, em objeto de comércio.
Ele não tem valor patrimonial, inestimabilisrest est e assim: a) não figura no ativo do

8
Nesse sentido, Spencer Vampré (1922:180): “o nome comercial constitui uma verdadeira propriedade industrial, e cria relações
jurídicas, análogas às das marcas de fábrica, das patentes de invenção, e da propriedade literária, artística, ou industrial. (...) Daí
se segue que o nome:a) é suscetível de apreciação monetária, pois a indicação do estabelecimento, pela notoriedade, honradez,
e boa escolha dos artigos, exerce decisiva influência na massa das populações; b) é sujeito a danificação, quando, por exemplo,
um concorrente o usurpa, ou, ainda, o difama. A lesão, que daí decorre, não recai sobre a personalidade, mas sobre o
estabelecimento, sobre o conjunto de coisas, que o compõem, inclusive o seu crédito e reputação; c) pode ser alienado,
isoladamente, ou com o estabelecimento a que foi aposto; d) adquire-se pelo uso legítimo, e se perde pelo desuso”
21
balanço da casa comercial; é inalienável e intransmissível, porque é inerente à pessoa e
não pode ser considerado distintamente desta, pelo que não pode ser objeto de
contrato, nem pode ser legado, doado, ou cedido; b) não é suscetível de penhora em
execução; c) não entra na falência, nem a massa creditória dele dispõe; d) não pode
constituir quota social; e) não é desapropriável. Ainda mais o nome é imprescritível
(Clovis, Código Civil, 2ª edição, v. 1. p. 424). Pelo fato de ser a firma comercial exclusiva
de quem a inscreveu no registro não se conclui constituir objeto de propriedade. O
direito de quem inscreveu a firma é meramente pessoal. É direito pessoal absoluto, diz-
nos Clovis Bevilacqua. O exclusivismo é instituído em benefício do comércio para evitar
fraudes e, portanto, no interesse público. É a concorrência desleal que se procura
combater.

A terceira e última corrente doutrinária que pretende explicar a natureza jurídica do


nome empresarial o considera como direito pessoal derivado da concorrência desleal,
qualificando-o a partir de sua utilidade. Nessa linha, Gabriel Leonardos (1994:45) verifica que
tal instituto não constitui propriedade autônoma, tal como ocorre com a marca ou a patente,
mas, a despeito disso, incorpora-se ao fundo do comércio da empresa, com todas as
consequências decorrentes. Tanto assim, que tem como finalidade “proteger os investimentos
feitos para se formar a reputação de um nome, a par de proteger os consumidores que se
habituaram a associar uma determinada qualidade a um dado nome”.

Em face das três correntes apresentadas, a que mais se conforma com o direito
brasileiro é aquela que o considera como direito pessoal. Isso porque, o próprio texto
constitucional o erige à classe dos direitosindividuais, de criação intelectual (art. 5º, XXIX da
CRFB). E isso, a despeito de ser tutelado contra a concorrência desleal, o que se faz visando ao
interesse social e ao desenvolvimento tecnológico e econômico do país.

Ricardo Negrão apresenta relevante distinção entre o nome empresarial, a marca, o


título de estabelecimento e a insígnia (NEGRÃO, 2018:158). Segundo o magistério do autor

(...) o nomeé atributo da personalidade, por meio do qual o empresário exerce sua
atividade; a marca é sinal distintivo de um produto ou de um serviço; título de
estabelecimento é a designação de um objeto de direito – o estabelecimento
empresarial; e insígnia é um sinal, emblema, formado por figuras, desenhos, símbolos,
conjugados ou não a expressões nominativas. Esta e o título do estabelecimento têm em
comum sua idêntica destinação: designar o estabelecimento do empresário; na forma,
contudo, diferem: a insígnia utiliza a forma emblemática, e o título, a nominativa. (...)
A confusão muitas vezes se estabelece em virtude da possibilidade de utilização do
núcleo de um nomeempresarial como marca ou título de estabelecimento. (...)
22
A natureza jurídica de cada um desses elementos é distinta: a primeira – marca – tem
caráter de propriedade imaterial, protegida mediante registro no Instituto Nacional da
Propriedade Industrial, e, como tal, integra o estabelecimento empresarial; o segundo –
título de estabelecimento – é direito intelectual, amparado contra uso indevido, sem
necessidade de qualquer registro; e o último é nome empresarial, atributo do
empresário ou da sociedade empresária, regido pelas disposições dos arts. 1.155 a 1.168
do Código Civil de 2002.

Valendo-se de exemplo oferecido pelo autor, é possível utilizara expressão lingüística


“Brinquedo Asteroide” como marca de produtos fabricados no estabelecimento industrial
“Fábrica de BrinquedosAsteroide”. Considerando que este, por sua vez, pertença ao empresário
“José Asteroide & Cia. Ltda.”, tem-se que o núcleo “Asteróide” é o nome civil de uma pessoal
natural, que foi utilizado para compor os três elementos distintivos do exercício da empresa.

Por outro lado, imagine que a sociedade empresária “Icecream S/A” possua como
proteção de seus produtos as marcas parasorvete “Tutti Geli” e para bolo “Gostogel”. Nesse
caso, nada impede que, na cidade de Campinas, seu estabelecimento use o título (fantasia)
“Casa do Sorvete d’Itália” e a insígnia formada por essas palavras e pela figura de um sorvete,
na formada torre que tornou famosa a cidade de Pisa.

Por outro lado, imagine que a sociedade empresária “Icecream S/A” possua como
proteção de seus produtos as marcas parasorvete “Tutti Geli” e para bolo “Gostogel”. Nesse
caso, nada impede que, na cidade de Campinas, seu estabelecimento use o título (fantasia)
“Casa do Sorvete d’Itália” e a insígnia formada por essas palavras e pela figura de um sorvete,
na formada torre que tornou famosa a cidade de Pisa.

23
2.2.3 Características do nome empresarial

O art. 34 da Lei 8934/94 permite deduzir dois princípios norteadores do nome


empresarial:

 Inalienável:não há como transferir a propriedade do nome empresarial,

objetivamente, o nome empresarial não pode ser objeto de alienação (art. 1164,

caput, CC). No entanto, é possível que o adquirente do estabelecimento comercial

continue usando o antigo nome empresarial do alienante, precedido do seu e com

a qualificação do sucessor, desde que o contrato de trespasse permita (art. 1.164,

p.u., CC). Anote-se, contudo, que pode ser alienado o título de estabelecimento,

também chamado de apelido, nome de fantasia ou nome da placa. Se Gomes e

Silva Ltda é o nome da pessoa jurídica proprietária de um posto gasolina, ele mas o

termo “Posto Fazendão”, seu nome fantasia, pode.

 Imprescritível:aquele que for lesado pelo uso indevido do nome empresarial pode,

a qualquer tempo, ajuizar ação para anular a inscrição de nome empresarial feita

com violação da lei ou do contrato (art. 1.167, CC). Conforme a jurisprudência, antes

de se determinar a anulação do nome empresarial, deve ser dada a oportunidade,

geralmente no prazo de 30 (trinta) dia, para que o réu modifique o nome.

2.2.4 Princípios

O art. 34 da Lei 8934/94 permite deduzir dois princípios norteadores do nome


empresarial:

 Princípio a veracidade: também chamado de autenticidade, impõe que a firma

individual ou social seja composta a partir do nome do empresário, da EIRELI ou

dos sócios respectivamente. Por isso, na firma social, é obrigatória a presença de

nome de sócio que compõe a sociedade, não se admitindo nome fictício ou de

pessoa que não fizer parte da sociedade.Outra consequência desse princípio está na

necessidade de que seja retirado da firma social o nome de sócio que venha a

falecer, for excluído ou se retirar da sociedade (art. 1.165, CC). Por outro lado, a
24
denominação não deve conter nome de sócio, salvo para homenagear, como forma

de honraria, esteja ele vivo ou morto. É o que ocorre, por exemplo na sociedade

anônima, porque, ainda que conste o nome do fundador, acionista ou pessoa. Por

último, um dos mais relevantes efeitos do princípio da veracidade reside no fato de

que a omissão da palavra limitada torna os sócios responsáveis solidários e

ilimitados9.

 Princípio da novidade:significa que não poderão coexistir, na mesma unidade

federativa, dois nomes empresariais e idênticos ou semelhantes, prevalecendo

aquele já protegido pelo prévio arquivamento. Aqui dentro há ainda ao princípio da

especificidade, pois o caráter inovador do nome alcança, em regra, apenas o ramo

da atividade exercida pelo empresário. Ou seja, podem coexistirnomes, desde que

em atividades diferentes, como é o caso da denominação “Primavera”, que pode ser

imobiliária, seguradora, transportadora, floricultura etc. Outro exemplo seria a

denominação “Churrascaria Garfo de Ouro” para uma churrascaria, o que não

impede, em tese, que uma empresa que venda talheres e pratos funcione com o

nome “Garfo de Ouro Presentes”.

Conforme o Superior Tribunal de Justiça que havendo a mudança do nome empresarial,


é necessária nova procuração aos advogados da sociedade.

2.2.5 Extensão da proteção do nome empresarial

O princípio da especialidade deve ser considerado para se determinar o titular do


direito de uso exclusivo do nome empresarial. Tanto assim que o Código Civil procurou
solucionar os conflitos gerados pelas colidências entre titulares de nomes empresariais, cujas
atividades são distintas, exigindo o acréscimo do objeto na constituição da denominação
adotada pelas sociedades limitadas, anônimas e em comandita por ações (arts. 1.158, § 2º,
1.160 e 1.161).

No que tange à firma individual, o Código tornou facultativa a inclusão do objeto ou


gênero de atividade (art. 1.156), omitindo-se em relação às firmas sociais. A jurisprudência, por

9
Vide questão 7.
25
outro lado, é no sentido de garantir a proteção dos nomes empresariais nos limites de sua
atividade, isto é, do objeto social, cuja designação se torna obrigatória para as denominações.

Dessa forma, conclui-se que a proteção do nome empresarial não é absoluta (erga
omnes), de modo a impedir o uso dele para qualquer empreendimento. Aplica-se, na verdade,
o princípio da especialidade, concedendo-se tutela relativa, porquanto limitada ao ramo de
atividade do seu titular.

Em caso de exercício de atividade idêntica por titular de nome empresarial e detentor


de direito de marca, o Superior Tribunal de Justiça tem se orientado por dois critérios, a
especificidade e a novidade (ou precedência do registro). Assim, na hipótese de colidência
entre empresários de um mesmo ramo, impõe-se atentar primeiramente à anterioridade de
cada um dos registros, prevalecendo o princípio da novidade (REsp: 262643 SP).

Por outro lado, no que diz respeito ao nome de domínio, salvo hipótese de usurpação
de direito de marca ou nome empresarial, a anterioridade do registro destes não assegura,
por si só, o direito de exigir a abstenção de uso do nome de domínio na rede mundial de
computadores (internet) por aquele que ostenta direitos acerca do mesmo signo distintivo.
Isso porque, “no Brasil, o registro de nomes de domínio é regido pelo princípio "First Come,
FirstServed ", segundo o qual é concedido o domínio ao primeiro requerente que satisfizer as
exigências para o registro” (REsp 658.789/RS).

À luz do princípio da novidade, o art. 61 do Decreto n. 916, de 24 de outubro de 1890,


determina que “toda firma nova deverá se distinguir de qualquer outra que exista inscrita no
registro do lugar”, mas restringe a proteção dos nomes ao âmbito de atuação do órgão de
registro. Essa é a posição encontrada no Decreto n. 1.800/96,que regulamentou a Lei de
Registro de Empresas Mercantis (Lei n. 8.934/94) e circunscreveu a proteção à unidade
federativa de jurisdição da Junta Comercial na qual se procedeu ao arquivamento respectivo
(Decreto n. 1.800/96, art. 61). Permite-se, contudo, que tal proteção seja estendida a outras
unidades a pedido do interessado, desde que observada instrução normativa do
Departamento de Registro Empresarial e Integração.

Essa proteção absoluta dentro dos limites da unidade federativa é reconhecida pelo STJ
(REsp nº 1673450) e se encontra prevista no art. 1.166 do Código Civil de 2002, o qual dispõe

26
que “inscrição do empresário, ou dos atos constitutivos das pessoas jurídicas, ou as respectivas
averbações, no registro próprio, asseguram o uso exclusivo do nome nos limites do respectivo
Estado”. O parágrafo único desse mesmo dispositivo também consigna a possibilidade de
extensão a todo o território nacional, se registrado na forma da lei especial.

2.2.6 Espécies de nome empresarial

O quadro abaixo permite visualizar os dois tipos de nome empresarial (NEGRÃO,


2018:160):

NOME EMPRESARIAL DESCRIÇÃO

“É o nome adotado pelo empresário e pela empresa individual de


responsabilidade limitada no exercício de suas atividades, mediante
o qual se identificam no mundo empresarial, sendo composto pelo
nome civil (do empresário individual ou do titular da empresa)
Firma Individual
completo ou abreviado, acrescido ou não de designação precisa de
sua pessoa ou do gênero de sua atividade. Na empresa individual
de responsabilidade limitada exige-se, ainda, a inclusão, após o
nome escolhido, da expressão ‘EIRELI’”.

“É o nome adotado pela sociedade empresária para o exercício de


sua atividade, pelo qual se identifica no mundo empresarial, sendo
composto pelos nomes civis ou partes destes, de um, alguns ou
todos os sócios da sociedade, sendo exigidos, em sua formação,
Firma Social
acréscimos de expressões indicadoras da espécie societária
(limitada ou comandita por ações) e/ou da existência de sócios que
não deram nome à sociedade (e companhia), por extenso ou
abreviadamente.”

“É o nome adotado pela empresa individual de responsabilidade


limitada e pela sociedade empresária para o exercício de suas
atividades, pelo qual essas pessoas jurídicas se identificam no
Denominação mundo empresarial; no primeiro caso é formado por expressão
linguística que contenha o objeto social e deve ser acrescida da
expressão EIRELI ou, quando se tratar de sociedade, do tipo
societário escolhido. Observamos, quanto à empresa individual de

27
responsabilidade limitada, que a autorização decorre do disposto
no § 1º do art. 980-A do Código Civil, reforçando àquele com que
ela contratar a ciência de que a responsabilidade patrimonial de
seu parceiro negocial limita-se ao capital registrado.”

O quadro acima permite extrair as seguintes conclusões a respeito da aplicação e da


composição dos nomes empresariais:

 Firma individual:

 Aplicação: Empresário Individual

 Composição (art. 1.156): nome civil do empresário (completo ou abreviado),

podendo ser acrescentado o ramo da atividade ou designação mais precisa de

sua pessoa (facultativo). Ex. Roberto Justus, R. Justus ou Roberto Justus Joalheiro.

 Firma social ou razão social

 Aplicação: sociedade que possui, ao menos, um sócio com responsabilidade

ilimitada (ex. sociedade em nome coletivo). É o caso da sociedade em nome

coletivo, da sociedade em comandita simples e da sociedade em comandita por

ações. Isso porque, se o sócio pode responder pelas dívidas da sociedade, o

credor tem o direito de saber quem ele é, por isso é necessário ter o seu nome

presente. Tanto assim que, se um sócio que não integrar a firma praticar um ato

de gestão, ele ficará solidariamente obrigado.

 Composição: nome ou nomes dos sócios (completo ou abreviado), sendo

facultativo o acréscimo do ramo da atividade (R. Justus&E. Batista petrolífera). É

possível acrescentar a Cia ao final para indicar que a sociedade tem outro ou

outros sócios. Observe-se, contudo, que a expressão Cia no início ou no meio de

um nome empresarial significa que se trata de sociedade anônima.

28
 Denominação:

 Aplicação: destinada, em regra, à sociedade que possui sócio com

responsabilidade limitada e à EIRELI. Ex. sociedade anônima, limitada e em

comandita por ações.

 Composição: expressão linguística, ou seja, termos, palavras, frases, letras. Ex.

Bola Sete buffet infantil, Nana Nenê roupas infantis, Divina Gula restaurante, etc.

Na denominação o ramo da atividade passa a ser obrigatório, salvo para ME e

EPP. Como regra geral, o nome do sócio não pode estar na denominação, mas o

Código Civil autoriza, excepcionalmente, quando for para homenagem, honraria.

Em 8 de março de 2018 o Diretor do Departamento de Registro Empresarial e


Integração - DREI, no uso das atribuições legais, publicou a Instrução Normativa DREI Nº 45
de 07/03/2018 regulamentando o fim das designações de porte "Microempresa" ou "Empresa
de Pequeno Porte", e suas respectivas abreviações, "ME" ou "EPP".Tais designações, constantes
do nome empresarial das empresas optantes pelo Simples Nacional, foram introduzidas pelo
art. 72 da Lei Complementar 123/2006 como obrigatórias, todavia, dentre as várias mudanças
no sistema, levadas a efeito pela Lei Complementar nº 155, de 27 de outubro de 2016 (art. 10,
inciso V), houve a revogação do mencionado art. 72 e, portanto, das designações de porte
"Microempresa" ou "Empresa de Pequeno Porte", e suas respectivas abreviações, "ME" ou
"EPP".É importante ressaltar que tal mudança atinge apenas o nome empresarial e não o

enquadramento de porte.

29
2.2.7 Direitos decorrentes do nome empresarial

A proteção do nome empresarial decorre da iniciativa do titular da empresa de levar


seus atos constitutivos para o registro no órgão de Registro Público das Empresas Mercantis –
a Junta Comercial. Isso porque o art. 33 da Lei n. 8.934/1994 determina que “a proteção ao
nome empresarial decorre automaticamente do arquivamento dos atos constitutivos de firma
individual e de sociedades, ou de suas alterações”.

Muito embora não possa ser registrado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial
(INPI), órgão incumbido de conceder privilégios industriais e registros de marcas e desenhos
industriais. Entretanto, a própria Lei da Propriedade Industrial protege o nome contra usos
indevidos ou imitações, dentro de sua dimensão concorrencial.

É possível dividir as ações protetivas da tutela do nome empresarial em três categorias


(FRANÇA; 1994:1048):

 Reclamação, que assiste ao titular quando este “é recusado por parte de outrem”;

 Contestação, se o nome de modo ilícito, for usado pessoalmente por parte de

outrem”;

 De proibição, na ocorrência de seu uso ilícito “de maneira não pessoal”.

Na esfera administrativa, a proteção se dá por oposição ao INPI ou mediante ações de


proibição ou indenizatórias.

A tutela jurídica abrange, entre outros, os seguintes direitos:

 Não pode ter seu elemento característico ou diferenciador reproduzido ou imitado

em marcas a ponto de causar confusão ou associação indevida (art. 124, V, da Lei n.

9.279/96).Elemento característico ou diferenciador do nome empresarial é qualquer

parte deste capaz de causar engano no mercado consumidor.

Karin Grau-Kuntz (1998:102-103) discute a aplicação da tutela concorrencial do nome


civil:

Se não houver confusão de identidade entre o nome civil empregado para formar a
marca e a pessoa de um terceiro homônimo, o emprego civil na marca deverá ser

30
suportado por todos os terceiros homônimos, mesmo que por uma razão qualquer tal
uso não lhes seja agradável ou conveniente. O mesmo raciocínio se empregará nos
casos em que o nome civil coincida com uma expressão de fantasia. Assim, o membro
da família ‘Coelho’, ‘Lobo’, ‘Leite’, ‘Café’ etc. só poderá impedir que um terceiro
empregue uma dessas expressões de fantasia em sua marca, que por mero acaso
coincidem com seu patronímico, se provar que aquela marca reporta à sua identidade.

 Não pode ser usado indevidamente em produto destinado à venda, em exposição

ou em estoque (art. 195, V, da Lei n. 9.279/96).

 Na hipótese de violação por atos de concorrência desleal, cabe indenização ao seu

titular (art. 209 da Lei n. 9.279/96).

 Permite ação para anulação de inscrição de nome empresarial feita com violação da

lei ou do contrato (art. 1.167 do Código Civil).

2.2.8 Alteração do nome empresarial

Em decorrência dos princípios da veracidade e da novidade, a alteração das firmas


torna-se obrigatória nas seguintes situações

 No caso de retirada, exclusão ou morte de sócio cujo nome civil constava da firma

social (art. 1.165);

 Na alteração da categoria de sócio figurante na firma social, para as sociedades de

capital e indústria, em comandita simples e por ações (interpretação do art. 1.157,

parágrafo único);

 Na alienação do estabelecimento empresarial por ato entre vivos, facultando-se,

entretanto, se o contrato de alienação permitir, ao novo adquirente aditar o antigo

nome ao seu, precedendo-o: “Fulano de Tal & Cia., sucessor de Primeira Firma

Social”.

31
Conforme o Superior Tribunal de Justiça, é necessário emitir nova procuração para seu
representante na hipótese de alteração do nome empresarial. O Tribunal Superior do trabalho
adota o mesmo entendimento, exigindo nova procuração caso, no meio de um processo, uma
empresa modifique o nome com o qual se identifica. E isso, sob pena dos advogados ficarem
impedidos de atuar no processo.

2.2.9 Cancelamento de nome empresarial

As hipóteses estão no art. 1168 CC:

 Cessar a atividade empresarial (inatividade). O empresário pode declarar na junta

a cessação e dará baixa na empresa. Essa inatividade pode ser presumida na

hipótese do art. 60 da lei 8934/94 – aquela que não proceder a qualquer

arquivamento por dez anos consecutivos, deve informar à junta comercial que

deseja manter-se em funcionamento. Na ausência dessa comunicação, ela será

considerada inativa, promovendo, a junta, o cancelamento do registro com a perda

automática da proteção ao nome empresarial.

 Liquidação/dissolução da sociedade

 Expirado o prazo de vigência da sociedade por tempo determinado

32
QUADRO SINÓTICO

REGRAS ESPECÍFICAS PARA FORMAÇÃO DO NOME EMPRESARIAL

TIPO EMPRESÁRIO ELEMENTOS/ACRÉSCIMOS

Obrigatório: nome civil complete ouabreviado


Empresário Individual e designaçãoprecisa (art. 1.163 – homônimo)

(art. 1.156) Facultativo: designaçãopessoal/ramo de


atividade

FIRMA Obrigatório: nome dos sócios +


(individual ou Sociedadeem Nome Coletivo
e/&Companhia (& Cia)
social) (art. 1.157)
Facultativo: designação do ramo de atividade

SociedadeemComandita Obrigatório: nomecomanditado +


Simples e/&Companhia (& Cia)

(art. 1.157) Facultativo: designação do ramo de atividade

Obrigatório: denominação do objeto social +


sociedadeanônima (S/A) oucompanhia (Cia). *
Vedado o uso da últimaao final
SociedadeAnônima Facultativo: admitido o uso do nome do
DENOMINAÇÃO
(art. 1.160) sóciofundadorououtremquetenhacontribuído
para o êxito da empresa

Obrigatório: EIRELI ao final


FIRMA Empresa Individual de
- Firma: nome do únicosócio
OU Responsabilidade Limitada
- Denominação: nome de sócio(s)
DENOMINAÇÃO (art. 980-A, § 1º)
ouexpressãolinguística

33
Facultativo: designação do ramo de atividade

Obrigatório: limitada (Ltda) ao final


- Firma: nome de um oumaissócios + “e
SociedadeLimitada companhia”
(art. 1.158) - Denominação: nome de sócio(s)
ouexpressãolinguística + designação do
objeto da sociedade

Obrigatório: Companhia (Cia) +


SociedadeemComanditaporA
comanditaporações, após o nome dos sócios;
ções (art. 1.161)
ou&Comanditaporações +objeto social

34
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(CESPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia): Determinada sociedade empresária,


enquadrada como empresa de pequeno porte e optante pelo Simples Nacional, instituiu
representante legal para solicitar ao órgão competente o registro e o arquivamento da sua
última alteração do contrato social consolidada. Na oportunidade, a sociedade não anexou à
documentação a ser apresentada à junta comercial a certidão negativa de débitos (CND)
relativa aos tributos federais e à dívida ativa da União, administrados pela Secretaria da
Receita Federal do Brasil (SRF) e pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN).

Com referência a essa situação hipotética, julgue o item que se segue.

Embora a ausência da CND/SRF não impeça o registro da alteração do contrato social, essa
certidão atribui efeito suspensivo ao pedido de arquivamento.

Comentário:

A ausência da Certidão negativa de débitos CND/SRF não impede o registro da alteração do


contrato social e nem atribui efeito suspensivo ao pedido de arquivamento das empresas de
pequeno porte10. Nesse sentido, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça:

STJ. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE


SEGURANÇA.ARQUIVAMENTO NA JUNTA COMERCIAL. EXIGÊNCIA DE APRESENTAÇÃO
DE CERTIDÕES NEGATIVAS DE DÉBITOS. DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.1.
A exigência de certidões negativas de débitos tributários, para fins de registro de
alteração contratual perante a Junta Comercial, não está prevista na lei de regência (Lei
8.934/94), nem no decreto regulamentador (Decreto 1.800/96), sendo ilegítima sua
previsão em instrumento normativo estadual. 2. A Segunda Seção analisou a antinomia
entre a Lei 8.934/94 e as leis tributárias anteriores e, diante do conflito entre os

10
Vide questão 1.
35
critérios cronológico e da especialidade, predominou o entendimento de que há de
prevalecer o critério cronológico, pois o enunciado normativo "nenhum outro
documento será exigido", contido na Lei 8.934/94, tem conteúdo nitidamente
derrogatório, excluindo a possibilidade de subsistirem leis anteriores em sentido
contrário. Assim, somente podem ser exigidos documentos expressamente previstos
na Lei 8.934/94, ou em leis posteriores, como a exigência de certidão negativa do INSS,
inserida por força da Lei 9.032/95 (REsp 1.393.724/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, Rel. p/ acórdão Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 28/10/2015, DJe de 04/12/2015) 3. Agravo interno não provido. (AgInt no
REsp 1175043/RS, Rel. Ministro LÁZARO GUIMARÃES (DESEMBARGADOR CONVOCADO
DO TRF 5ª REGIÃO), QUARTA TURMA, julgado em 20/02/2018, DJe 27/02/2018)

Questão 2

(CESPE - 2019 - DPE-DF - Defensor Público)Amélia, casada sob o regime de comunhão


universal de bens, exerce empresa na qualidade de empresária individual. Ela pretende
formalizar a colaboração de seu filho, maior de idade, que a ajuda informalmente, tornando-o
sócio. Uma vez em sociedade, pretende instituir filial em cidade vizinha sujeita à jurisdição de
outro registro público de empresas mercantis. Para tanto, planeja vender um imóvel que
integra o patrimônio da empresa. Contudo, Amélia desconhece os requisitos legais para essas
providências.
Considerando essa situação hipotética, julgue o seguinte item.

Para instituir filial em cidade vizinha sujeita à jurisdição de outro registro público, Amélia
deverá inscrever tal filial neste registro, com a prova da inscrição originária, e averbar a
constituição da filial no registro público de empresas mercantis da sede empresarial.

Comentário:

Conforme o art. 969, do Código Civil:

Art. 969. O empresário que instituir sucursal, filial ou agência, em lugar sujeito à
jurisdição de outro Registro Público de Empresas Mercantis, neste deverá também
inscrevê-la, com a prova da inscrição originária. Parágrafo único. Em qualquer caso, a
constituição do estabelecimento secundário deverá ser averbada no Registro Público
de Empresas Mercantis da respectiva sede.

36
Questão 3

(FGV - 2015 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XVI - Primeira Fase)Uma das obrigações
da sociedade empresária é seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base
na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva,
e levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico.A partir do exposto,
assinale a afirmativa correta.
A) A ausência de autenticação dos instrumentos de escrituração na Junta Comercial não
impede que os livros da sociedade empresária sejam utilizados em juízo como prova
documental a seu favor.
B) Em razão da evolução tecnológica, passou a ser vedada a escrituração manual do Livro
Diário, devendo a sociedade empresária adotar livros digitais para a escrituração de suas
operações.
C) O balanço patrimonial deverá exprimir, com fidelidade e clareza, a situação real da empresa
e indicará o ativo e o passivo distintamente.
D) Os assentos lançados nos livros da sociedade empresária, por qualquer dos contabilistas
encarregados de sua escrituração, não obrigam a pessoa jurídica, se tais livros não estiverem
autenticados na Junta Comercial.

Comentário:

A lei faculta ao empresário a utilização de escrituração mecanizada ou não (art. 1.179),


não havendo qualquer vedação à escrituração manual do livro diário, sendo claro o
comando do art. 1.180 nesse sentido:

Art. 1.180. Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que pode
ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica.

Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado para o
lançamento do balanço patrimonial e do resultado econômico.

37
Questão 4

(FGV - 2016 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XIX - Primeira Fase) Servidor da Junta
Comercial verificou que o requerimento de alteração contratual de uma sociedade limitada
com vinte e dois sócios e sede no município de Solidão não foi assinado pelo administrador,
mas por mandatário da sociedade, com poderes específicos. O requerimento foi instruído com
uma nova versão do contrato social desacompanhada da ata da deliberação que a aprovou. O
referido servidor determinou que fosse sanada a pretensa irregularidade.
Com base nessas informações, assinale a afirmativa correta.
A) O servidor não agiu corretamente porque cumpre à autoridade competente, antes de
efetivar o registro, fiscalizar apenas a observância das formalidades extrínsecas ao ato, e não
formalidades intrínsecas relativas aos documentos apresentados; portanto, a alteração deveria
ser arquivada.
B) O servidor agiu corretamente porque cumpre à autoridade competente, antes de efetivar o
registro, fiscalizar a observância das prescrições legais concernentes ao ato ou aos
documentos apresentados; havendo irregularidades, deve ser notificado o requerente para
saná-las.
C) O servidor não agiu corretamente porque as irregularidades apresentadas no enunciado são
insanáveis por se referirem a requisitos substanciais e de validade do documento, bem como
de representação da pessoa jurídica.
D) O servidor agiu corretamente porque somente o administrador, como órgão da pessoa
jurídica, tem legitimidade para pleitear o arquivamento da alteração contratual; havendo
irregularidades, deve ser notificado o requerente para saná-las.

Comentário:

O servidor agiu respaldado pela seguinte norma do Código Civil:


Art. 1.153. Cumpre à autoridade competente, antes de efetivar o registro, verificar a
autenticidade e a legitimidade do signatário do requerimento, bem como fiscalizar a
observância das prescrições legais concernentes ao ato ou aos documentos
apresentados.

38
Parágrafo único. Das irregularidades encontradas deve ser notificado o requerente,
que, se for o caso, poderá saná-las, obedecendo às formalidades da lei.

Questão 5

(FGV - 2017 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XXII - Primeira Fase) Fagundes e Pilar
são noivos e pretendem se casar adotando o regime de separação de bens mediante
celebração de pacto antenupcial. Fagundes é empresário individual e titular do
estabelecimento Borracharia Dona Inês Ltda. ME. Celebrado o pacto antenupcial entre os
nubentes, o advogado contratado por Fagundes providenciará o arquivamento e a averbação
do documento
A) no Registro Público de Empresas Mercantis e a publicação na imprensa oficial.
B) no Registro Público de Empresas Mercantis e no Registro Civil de Pessoas Naturais.
C) no Registro Civil de Pessoas Naturais e a publicação na imprensa oficial.
D) no Registro Público de Empresas Mercantis e no Registro Civil de Títulos e Documentos.

Comentário:

Considerando que Fagundes é empresário individual, seu patrimônio pessoal não se distingue
do patrimônio envolvido na atividade empresária. Desse modo, os atos que venham a
interferir em sua esfera patrimonial devem ser averbados tanto no Registro Civil de Pessoas
Naturais quanto no Registro Público de Empresas Mercantis. Seu casamento será sob o regime
de separação de bens, de maneira que somente o patrimônio de Fagundes responderá por
eventuais dívidas contraídas na atividade empresarial. Daí porque o registro no Junta
Comercial se mostra imprescindível, conforme exige o seguinte preceito normativo do Código
Civil:

Art. 979. Além de no Registro Civil, serão arquivados e averbados, no Registro Público
de Empresas Mercantis, os pactos e declarações antenupciais do empresário, o título
de doação, herança, ou legado, de bens clausulados de incomunicabilidade ou
inalienabilidade.

39
Questão 6

(FGV - 2019 - OAB - Exame de Ordem Unificado XXIX - Primeira Fase) Luzia Betim
pretende iniciar uma sociedade empresária em nome próprio. Para tanto, procura assessoria
jurídica quanto à necessidade de inscrição no Registro Empresarial para regularidade de
exercício da empresa.Na condição de consultor(a), você responderá que a inscrição do
empresário individual é
A) dispensada até o primeiro ano de início da atividade, sendo obrigatória a partir de então.
B) obrigatória antes do início da atividade.
C) dispensada, caso haja opção pelo enquadramento como microempreendedor individual.
D) obrigatória, se não houver enquadramento como microempresa ou empresa de pequeno
porte.

Comentário:

O examinador tentou confundir o candidato ao tratar especificamente do empresário


individual. Contudo, o empresário individual se enquadra na descrição do art. 966 do
Código Civil, devendo a ele ser aplicado o dispositivo abaixo:

Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas


Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade.

Questão 7

(CESPE – TJ-AM/2016) Em observância ao princípio da veracidade, o nome do sócio que


falecer não pode ser conservado na firma social.

Comentário:

O princípio da veracidade ou da autenticidade impõe que a firma individual ou social seja


composta a partir do nome do empresário ou dos sócios, respectivamente.Tanto na firma

40
individual, como na firma social, só poderá ser utilizado o nome daqueles que são realmente
sócios, ou daquele que realmente é o empresário. O nome tem que ser verdadeiro. O nome
empresarial também deve ser atual, de modo que o nome de sócio que vier a falecer, for
excluído ou se retirar, não pode ser conservado na firma social (art. 1.165, CC).

Questão 8

(CESPE – TJ-PR/2017) Para instituir sucursal em lugar sujeito à competência de outro registro
público de empresas mercantis, bastará ao empresário averbar a constituição do
estabelecimento secundário no registro público de empresas mercantis da respectiva sede.

Comentário:

A assertiva contraria o seguinte dispositivo do Código Civil

Art. 969, CC. O empresário que instituir sucursal, filial ou agência, em lugar sujeito à
jurisdição de outro Registro Público de Empresas Mercantis, neste deverá também
inscrevê-la, com a prova da inscrição originária.
Parágrafo único. Em qualquer caso, a constituição do estabelecimento secundário
deverá ser averbada no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede.

Questão 9

(COPEVE-UFAL - 2019 - Prefeitura de Porto Calvo - AL - Procurador Jurídico) Dadas as


afirmativas sobre o registro público de empresas mercantis e atividades afins, conforme a Lei
nº 8.934/94,
I. O registro público de empresas mercantis e atividades afins será exercido em todo o
território nacional, de forma sistêmica, por órgãos federais e estaduais.
II. Uma das finalidades do registro público de empresa é dar garantia, publicidade,
autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das empresas mercantis.
III. O registro público serve para cadastrar tanto as empresas nacionais como as estrangeiras
em funcionamento no País e manter atualizadas as informações pertinentes.

41
IV. Através do registro público, é possível proceder à matrícula dos agentes auxiliares do
comércio, bem como ao seu cancelamento.
Verifica-se que estão corretas
A) I e II, apenas.
B) I e III, apenas.
C) II e IV, apenas.
D) III e IV, apenas.
E) I, II, III e IV.

Comentário:

Todas as alternativas podem ser analisadas com base no texto do art. 980-A do Código
Civil de 2002, sendo verdadeira apenas a letra B:

Lei 8.934/94

Art. 1º O Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins, observado o


disposto nesta Lei, será exercido em todo o território nacional, de forma sistêmica, por
órgãos federais, estaduais e distrital, com as seguintes finalidades:
I - dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das
empresas mercantis, submetidos a registro na forma desta lei;
II - cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em funcionamento no País e manter
atualizadas as informações pertinentes;
III - proceder à matrícula dos agentes auxiliares do comércio, bem como ao seu
cancelamento.

Questão 10

(CESPE – AGU – Advogado da União – 2015) Acerca dos impedimentos, direitos e deveres
do empresário, julgue o item que se segue de acordo com a legislação vigente. Os livros
mercantis são equiparados a documento público para fins penais, sendo tipificada como crime
a falsificação, no todo ou em parte, de escrituração comercial.

Comentário:

É o que dispõe o art. 297 do Código Penal:

42
Código Penal

Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento


público verdadeiro: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.(...)
§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de
entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de
sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular.

Questão 11

(CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-SE Prova: CESPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia)

A respeito das condições para o exercício de atividade comercial, julgue o item subsequente.

Condenado por crime falimentar não pode se registrar na junta comercial como empresário
individual, mas pode figurar como sócio de responsabilidade limitada, desde que sem poderes
de gerência ou administração.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

Certo - "O Código Civil de 2002 não trouxe nenhum dispositivo normativo semelhante ao art.
2.º do Código Comercial de 1850, que arrolava diversos casos de impedimento legal ao
exercício do comércio. Pode-se mencionar apenas o art. 1.011, § 1.º, do Código Civil, o qual
prevê que “não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os
condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por
crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a
economia popular, contra o sistemafinanceiro nacional, contra as normas de defesa da
concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto
perdurarem os efeitos da condenação”. Não obstante o dispositivo se referir aos
administradores de sociedades, há autores que estendem esses impedimentos aos
empresários individuais." "É preciso atentar para o fato de que

43
a proibição é para o exercício de empresa, não sendo vedado, pois, que alguns impedidos
sejam sócios de sociedades empresárias, uma vez que, nesse caso, quem exerce a atividade
empresarial é a própria pessoa jurídica, e não seus sócios. Em suma: os impedimentos se
dirigem aos empresários individuais, e não aos sócios de sociedades empresárias. Nesse
sentido, pode-se afirmar então que os impedidos não podem se registrar na Junta Comercial
como empresários individuais (pessoas físicas que exercem atividade empresarial),
não significando, em princípio, que eles não possam participar de uma sociedade empresária
como quotistas ou acionistas, por exemplo. No entanto, a possibilidade de os impedidos
participarem de sociedades empresárias não é absoluta, somente podendo ocorrer se forem
sócios de responsabilidade limitada e, ainda assim, se não exercerem funções de gerência ou
administração."André Luiz Santa Cruz Ramos, livro Direito Empresarial (2017).

Questão 12

(CESPE / CEBRASPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia)

A respeito das condições para o exercício de atividade comercial, julgue o item subsequente.

O incapaz é impedido de iniciar atividade empresarial individual, mas poderá,


excepcionalmente, ser autorizado a dar continuidade a atividade empresária preexistente.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

Certo -Incapacidade superveniente: o incapaz não pode, tão somente, iniciar a atividade. O
Código Civil, em seu art. 974, autoriza o incapaz a continuar com a atividade já existente. O
que se busca com esse dispositivo é a preservação da empresa, não a proteção do incapaz.

44
GABARITO

Questão 1 - D

Questão 2 -Correta

Questão 3 -C

Questão 4 -B

Questão 5 -B

Questão 6 -B

Questão 7 -Correta

Questão 8 -Errada

Questão 9 -E

Questão 10 -Correta

Questão 11 - Certo

Questão 12 -Certo

45
QUESTÃO DESAFIO

Como é feito o cálculo que resulta na receita bruta anual para fins
de enquadramento de uma sociedade como microempresa e de
empresa de pequeno porte?

Máximo de 5 linhas

46
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

Segundo o art. 3, §1º da LC de LC 123/2006, considera-se receita bruta o produto da


venda de bens e serviços nas operações de conta própria, o preço dos serviços prestados
e o resultado nas operações em conta alheia, não incluídas as vendas canceladas e os
descontos incondicionais concedidos.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 O produto da venda de bens e serviços

O art. 3, I, da Lei Complementar 123/2006 afirma que considera-se microempresa a sociedade


empresária, a sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o
empresário a que se refere o art. 966 da Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código
Civil) que aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00
(trezentos e sessenta mil reais). E considera-se empresa de pequeno porte a sociedade
simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o empresário a que se refere o
art. 966 da Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) que aufira, em cada ano-
calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou
inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais).

Sobre a forma de calcular tais valores, o autor André Santa Cruz afirma (CRUZ, André Santa.
Direito Empresarial. 8. ed. São Paulo: Método, 2018. p. 1450-1450.): “Destaque-se ainda que o
cálculo da receita bruta anual, para efeito de enquadramento, é obtido com “o produto da
venda de bens e serviços nas operações de conta própria, o preço dos serviços prestados e o
resultado nas operações em conta alheia, não incluídas as vendas canceladas e os descontos
incondicionais concedidos” (art. 3.º, § 1.º). Também nesse sentido dispunha a legislação
antecedente.”.

 Cita o art. 3, §1º da LC 123/2006

Sobre a Lei Complementar 123/2006, o autor André Santa Cruz comenta (CRUZ, André Santa.
Direito Empresarial. 8. ed. São Paulo: Método, 2018. p. 1447-1447.): Conforme já destacamos,
obedecendo ao disposto nos arts. 179 e 146, III, d, da Constituição da República foi editada a
Lei Complementar 123/2006, que estabeleceu normas gerais relativas ao tratamento
diferenciado e favorecido a ser dispensado às microempresas e empresas de pequeno porte
no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,

47
especialmente no que se refere, conforme o seu art. 1.º: “I – à apuração e recolhimento dos
impostos e contribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
mediante regime único de arrecadação, inclusive obrigações acessórias; II – ao cumprimento
de obrigações trabalhistas e previdenciárias, inclusive obrigações acessórias; III – ao acesso a
crédito e ao mercado, inclusive quanto à preferência nas aquisições de bens e serviços pelos
Poderes Públicos, à tecnologia, ao associativismo e às regras de inclusão; IV – ao cadastro
nacional único de contribuintes a que se refere o inciso IV do parágrafo único do art. 146, in
fine, da Constituição Federal”.

O §1º do art. 3 da referida Lei Complementar explica como deve ser feito a o cálculo para
chegar no valor da receita bruta anual, utilizado como parâmetro para enquadramento como
microempresa e de empresa de pequeno porte.

48
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Teoria Geral do Direito Empresarial:

 CC/02: arts. 1.155-1.195

Empresário

 Enunciado 1, CJF

Decisão judicial que considera ser o nome empresarial violador do direito de marcanão implica a anulação do
respectivo registro no órgão próprio nem lhe retira os efeitos,preservado o direito de o empresário alterá-lo.

 Enunciado 2, CJF

A vedação de registro de marca que reproduza ou imite elemento característico ou diferenciador de nome

empresarial de terceiros, suscetível de causar confusão ou associação (art. 124, V, da Lei n. 9.279/1996), deve ser
interpretada restritivamente e em consonância com o art. 1.166 do Código Civil

 Súmula 363, STF

A pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada no domicílio da agência, ou estabelecimento, em que

se praticou o ato.

 Súmula 439, STF

Estão sujeitos à fiscalização tributária ou previdenciária quaisquer livros comerciais, limitado o exame aos pontos
objeto da investigação.

 Súmula 260, STF

O exame de livros comerciais, em ação judicial, fica limitado as transações entre os litigantes.

49
JURISPRUDÊNCIA

Registro Empresarial

 STJ. CC 119.576-BA, Terceira Seção, DJe 21.6.2012; CC 81.261-BA, Terceira Secão, DJe 16.3.2009.
CC 130.516-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/2/2014.

Compete à Justiça Estadual processar e julgar a suposta prática de delito de falsidade ideológica praticado contra
Junta Comercial. O art. 6º da Lei 8.934/1994 prescreve que as Juntas Comerciais subordinam-se

administrativamente ao governo da unidade federativa de sua jurisdição e, tecnicamente, ao Departamento


Nacional de Registro do Comércio, órgão federal. Ao interpretar esse dispositivo legal, a jurisprudência do STJ

sedimentou o entendimento de que, para se firmar a competência para processamento de demandas que

envolvem Junta Comercial de um estado, é necessário verificar a existência de ofensa direta a bens, serviços ou
interesses da União, conforme determina o art. 109, IV, da CF. Caso não ocorra essa ofensa, como na hipótese
em análise, deve-se reconhecer a competência da Justiça Estadual.

 STJ. REsp 1.393.724/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. p/ Acórdão Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, Segunda Seção, j. 28.10.2015, DJe 04.12.2015.

Exigência, por Junta Comercial, de certidões negativas tributárias como condição para o arquivamento de ato de
transformação de sociedade simples em sociedade empresária. Antinomia jurídica entre a Lei 8.934/94, ao
regular o registro público de empresas mercantis e atividades afins, e leis tributárias específicas
anteriores.Possibilidade de aplicação do critério cronológico ou do critério da especialidade, caracterizando um
conflito qualificado como “antinomia de segundo grau”. Prevalência excepcional do critério cronológico.
Precedente da Terceira Turma. 5. Derrogação tácita dos dispositivos de leis tributárias anteriores que
condicionavam o ato de arquivamento na Junta Comercial à apresentação de certidão negativa de débitos. 6.
Interpretação condizente com o princípio constitucional da livre-iniciativa.

 STJ. REsp 1.103.009/RS, Rel. Min. Luiz Fux, 1.ª Seção, j. 09.12.2009, DJe 01.02.2010

A inscrição e modificação dos dados no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ devem ser garantidas a
todas as empresas legalmente constituídas, mediante o arquivamento de seus estatutos e suas alterações na

Junta Comercial Estadual, sem a imposição de restrições infralegais, que obstaculizem o exercício da livre-
iniciativa e desenvolvimento pleno de suas atividades econômicas. A Lei n.º 5.614/70, que versa sobre o cadastro

50
federal de contribuintes, outorgou ao Ministro da Fazenda o dever de regular o instrumento de registro, para
dotar o sistema de normas procedimentais para viabilizar a inscrição e atualização dos dados, sem permitir que

imposições limitadoras da livre-iniciativa restassem veiculadas sob o jugo da mencionada lei. As turmas da
Primeira Seção desta Corte já assentaram que é ilegítima a criação de empecilhos, mediante norma infralegal,

para a inscrição e alteração dos dados cadastrais no CNPJ. Precedentes: REsp. 760.320/RS, DJU 01.02.07; REsp.
662.972/RS, DJU 05.10.06; REsp. 411.949/PR, DJU 14.08.06; REsp. 529.311/RS, DJU 13.10.03 e; RMS 8.880/CE, DJU
08.02.00. 4. Conforme cediço, “o sócio de empresa que está inadimplente não pode servir de empecilho para a
inscrição de nova empresa pelo só motivo de nele figurar o remisso como integrante”

 STJ. REsp 678.405/RJ, 3.ª Turma, Rel. Min. Castro Filho, j. 16.03.2006, DJ 10.04.2006.

A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça tem decidido pela competência da Justiça Federal, nos
processos em que figuram como parte a Junta Comercial do Estado, somente nos casos em que se discute a
lisura do ato praticado pelo órgão, bem como nos mandados de segurança impetrados contra seu presidente,
por aplicação do artigo 109, VIII, da Constituição Federal, em razão de sua atuação delegada. 2. Em casos em que
particulares litigam acerca de registros de alterações societárias perante a Junta Comercial, esta Corte vem
reconhecendo a competência da justiça comum estadual, posto que uma eventual decisão judicial de anulação
dos registros societários, almejada pelos sócios litigantes, produziria apenas efeitos secundários para a Junta
Comercial do Estado, fato que obviamente não revela questão afeta à validade do ato administrativo e que,
portanto, afastaria o interesse da Administração e, consequentemente, a competência da Justiça Federal para
julgamento da causa.

 STJ. REsp 1.743.088-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 12/03/2019, DJe
22/03/2019

O registro do título translativo no Cartório Registro de Imóveis, como condição imprescindível à transferência de
propriedade de bem imóvel entre vivos, propugnada pela lei civil, não se confunde, tampouco pode ser

substituído para esse efeito, pelo registro do contrato social na Junta Comercial.A questão controvertida está em
saber se a constituição de sociedade empresarial, registrada em Junta Comercial, com a estipulação de
integralização do capital social por meio de imóveis, indicados pelo sócio, é suficiente para operar a transferência
da propriedade. Assinala-se, inicialmente, que o estabelecimento do capital social — assim compreendido como

os recursos a serem expendidos pelos sócios para a formação do primeiro patrimônio social, necessários para a
constituição da sociedade —, e o modo pelo qual se dará a sua integralização, consubstanciam elementos
essenciais à confecção do contrato social (art. 997, III e IV, do Código Civil). A integralização do capital social da
empresa, ademais, pode se dar por meio da realização de dinheiro ou bens — móveis ou imóveis —, havendo de

se observar, necessariamente, o modo pelo qual se dá a transferência de titularidade de cada qual. Em se


tratando de imóvel, a incorporação do bem à sociedade empresarial haverá de observar, detidamente, os ditames
do art. 1.245 do Código Civil, que dispõe: transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título

translativo no Registro de Imóveis. Nesse sentido, já se pode antever que o registro do título translativo no
Registro de Imóveis, como condição imprescindível à transferência de propriedade de bem imóvel entre vivos,
51
propugnada pela lei civil, não se confunde, tampouco pode ser substituído para esse efeito, pelo registro do
contrato social na Junta Comercial. De fato, a inscrição do contrato social no Registro Público de Empresas

Mercantis, a cargo das Juntas Comercias, destina-se, primordialmente, à constituição formal da sociedade
empresarial, conferindo-se-lhe personalidade jurídica própria, absolutamente distinta dos sócios dela integrantes.

Explicitado, nesses termos, as finalidades dos registros em comento, pode-se concluir que o contrato social, que
estabelece a integralização do capital social por meio de imóvel indicado pelo sócio, devidamente inscrito no
Registro Público de Empresas Mercantis, não promove a incorporação do bem à sociedade; constitui, sim, título
translativo hábil para proceder à transferência da propriedade, mediante registro, perante o Cartório de Registro

de Imóveis em que se encontra registrada a matrícula do imóvel. Portanto, enquanto não operado o registro do
título translativo — no caso, o contrato social registrado perante a Junta Comercial — no Cartório de Registro de

Imóveis, o bem, objeto de integralização, não compõe o patrimônio da sociedade empresarial.

 STJ. REsp 1.393.724-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 28/10/2015, DJe 4/12/2015.

Para efetuar o registro e o arquivamento de alteração contratual, a fim de promover a transformação de

sociedade civil em empresária, não é exigível a apresentação de certidões negativas de débitos com o FGTS e
com a União, exigindo-se, contudo, certidão negativa de débito com o INSS. Realmente, o Decreto-Lei n.
1.715/1979 e a Lei n. 8.036/1990 exigem, para o registro e o arquivamento de alteração contratual como a aqui
analisada, a apresentação de certidões negativas de débitos com o FGTS e com a União. Ocorre que a Lei n.

8.934/1994 - que entrou em vigor posteriormente a esses mencionados diplomas normativos - estabeleceu, no
parágrafo único do seu art. 37, que, para instruir os pedidos de arquivamento, além dos referidos nesse artigo
(dentre os quais não constam certidões negativas de débitos com o FGTS ou com a União), "nenhum outro

documento será exigido das firmas individuais e sociedades referidas nas alíneas a, b e d do inciso II do art. 32".
Nesse contexto, a Terceira Turma, no REsp 1.290.954-SC (DJe 25/2/2014), firmou entendimento no sentido de que
Lei n. 8.934/1994 derrogou os dispositivos de leis anteriores que estabeleciam outras exigências para o
arquivamento de atos societários nas Juntas Comerciais. No referido julgado, confrontou-se a Lei n. 8.934/1994
com as leis tributárias anteriores, identificando-se uma antinomia de segundo grau, em que há conflito entre os
critérios cronológico e da especialidade. Concluiu-se, então, que há de prevalecer o critério cronológico, pois o

enunciado normativo "nenhum outro documento será exigido", contido na Lei n. 8.934/1994, tem conteúdo
nitidamente derrogatório, excluindo a possibilidade de subsistirem leis anteriores em sentido contrário. Portanto,

não mais subsistem as exigências de certidões negativas de débitos com o FGTS e com a União, porque previstas
em leis anteriores (Decreto-Lei n. 1.715/1979 e Lei n. 8.036/1990). Prevalece, apenas, a exigência de certidão

negativa do INSS, pois inserida na Lei n. 8.212/1991 por força da Lei n. 9.032/1995, que é posterior à Lei n.
8.934/1994. Além disso, cabe ressaltar que, de fato, o parágrafo único do art. 34 do Decreto n. 1.800/1996 afirma

que, obrigatoriamente, para instruir os pedidos de arquivamento, "Nenhum outro documento, além dos referidos
neste Regulamento, será exigido das firmas mercantis individuais e sociedades mercantis, salvo expressa
determinação legal, reputando-se como verdadeiras, até prova em contrário, as declarações feitas perante os

52
órgãos do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins". Percebe-se, desse modo, que o Decreto
foi bastante claro, diversamente da lei, quanto à possibilidade de se exigirem outros documentos por

determinação legal. Deve-se indagar, entretanto, se o Decreto extrapolou as balizas da Lei. Ademais, uma
interpretação sistemática dos arts. 32 da Lei n. 8.934/1994 e 11 da LC n. 123/2006 poderia conduzir ao

entendimento de que não teria havido derrogação de dispositivos de leis anteriores à Lei n. 8.934/1994. Todavia,
o entendimento do aludido REsp 1.290.954-SC, da Terceira Turma do STJ, deve ser reafirmado. Isso porque a
interpretação da lei deve privilegiar o sentido que mais se harmoniza com os princípios constitucionais, pois estes
se encontram no vértice da pirâmide normativa, de onde emanam normas fundamentais que se irradiam por

todo ordenamento jurídico, alcançando inclusive as relações jurídicas de direito privado. Com esse entendimento,
a interpretação do caso em análise deve ser conduzida pelos princípios fundamentais da ordem econômica,

especialmente o da livre iniciativa, previsto no art. 170 da CF. Sob a ótica da livre iniciativa, o Estado deve
respeitar a autonomia de vontade dos sócios de uma sociedade, não podendo impedir que estes criem,
modifiquem ou extingam sociedades empresárias, salvo nos casos expressamente previstos em lei. A regra no
direito brasileiro, portanto, é a livre iniciativa e a autonomia da vontade dos sócios, sendo exceção a interferência

estatal. Nesse passo, verifica-se que a norma do art. 37 da Lei n. 8.934/1994, ao impor exigências para a
concretização da vontade dos sócios, apresenta natureza excepcional num sistema jurídico regido pela livre
iniciativa, devendo, pois, receber interpretação restritiva. Desse modo, o trecho "nenhum outro documento será

exigido" (art. 37, parágrafo único, da Lei n. 8.934/1994) não pode receber interpretação extensiva, para que se
admitam outras restrições à autonomia de vontade dos sócios, previstas em leis anteriores. De mais a mais,

ressalte-se que, além de a dispensa de certidões negativas não alterar em nada o crédito tributário - que
permanece ativo, podendo ser redirecionado contra a nova sociedade (que surgiu por transformação da

sociedade simples em sociedade empresária), conforme o disposto no art. 132 do CTN -, a Fazenda, nos casos

excepcionais em que a transformação societária seja implementada com o objetivo deliberado de frustrar a
satisfação do crédito tributário, poderá se valer da desconsideração da personalidade jurídica ou da cautelar fiscal
para proteger seus interesses.

Nome Empresarial

 STJ. REsp 1.804.960-SP, Rel. Min. MouraRibeiro, Terceira Turma, pormaioria, julgadoem
24/09/2019, DJe 02/10/2019

O registro de uma expressão como marca, ainda que de alto renome, não afasta a possibilidade de utilizá-la no
nome de um empreendimento imobiliário.A marca é um sinal distintivo que tem por funções principais identificar
a origem e distinguir produtos ou serviços de outros idênticos, semelhantes ou afins. Os nomes atribuídos aos
edifícios e empreendimentos imobiliários não gozam de exclusividade, sendo comum receberem idêntica
denominação. Estes nomes, portanto, não qualificam produtos ou serviços, apenas conferem uma denominação
para o fim de individualizar o bem, sendo assim de livre atribuição pelos seus titulares e não requer criatividade
ou capacidade inventiva. Dessa forma, o registro de uma expressão como marca, ainda que de alto renome, não

53
afasta a possibilidade de utilizá-la no nome de um edifício. A exclusividade conferida pelo direito marcário se
limita às atividades empresariais, sem atingir os atos da vida civil.

 STJ. REsp 1.420.396-PR, Rel. Min. Sérgio Kukina, por unanimidade, julgado em 19/09/2017, DJe
29/09/2017

A controvérsia jurídica está em definir se os Conselhos Regionais de Contabilidade, no exercício de seu poder de
polícia, detêm ou não a prerrogativa de fiscalizar a atuação de seus associados, sobretudo mediante o exame dos
livros e documentos contábeis de sua clientela, bem assim, se tal agir configuraria violação à garantia da
privacidade e do sigilo profissional. Conforme se depreende do art. 1.190 do Código Civil, apenas nos casos
previstos em lei poderá a autoridade, juiz ou tribunal requisitar livros e fichas contábeis do empresário ou

sociedade empresária para verificar a observância das formalidades legais. Na hipótese, o Presidente do Conselho
Regional de Contabilidade, autoridade administrativa que é, possui ostensivo respaldo em lei para o exercício da
atividade fiscalizatória sob crítica. De fato, tal licença fiscalizatória advém do Decreto-Lei n. 9.295/46, que criou o
Conselho Federal de Contabilidade e os Conselhos Regionais de Contabilidade. Já no art. 2º desse diploma vem
assinalado que "A fiscalização do exercício da profissão contábil, assim entendendo-se os profissionais habilitados
como contadores e técnicos em contabilidade, será exercida pelo Conselho Federal de Contabilidade e pelos
Conselhos Regionais de Contabilidade a que se refere o art. 1º". No mesmo diapasão, seu art. 10, letra "c",
preconiza ser atribuição dos Conselhos Regionais "fiscalizar o exercício das profissões de contador e guarda-
livros, impedindo e punindo as infrações, e bem assim, enviando às autoridades competentes minuciosos e

documentados relatórios sobre fatos que apurem, e cuja solução ou repressão não seja de sua alçada". Dessa

forma, como de fato existe previsão legal específica para o exercício fiscalizatório pelos Conselhos de
Contabilidade, pode-se concluir que a salvaguarda empresarial prevista no reportado art. 1.190 do Código Civil

está sendo respeitada. Por fim, assevera-se que a fiscalização exercida tem por foco central verificar, não o mérito

em si, mas os aspectos relacionados à forma, ou seja, atestar se o profissional da contabilidade, na sua rotina de
trabalho, observa as normas técnicas concernentes à atividade contábil. Sendo esse o propósito primeiro da
fiscalização desenvolvida pela entidade classista, não se antevê afronta à privacidade e ao sigilo profissional dos
escritórios fiscalizados e da escrituração contábil de seus clientes.

 STJ. REsp 1184867/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
15/05/2014, DJe 06/06/2014

Com fundamento no princípio da territorialidade, a simples preexistência do registro do nome empresarial em

Junta Comercial do Estado não lhe confere proteção, em âmbito nacional, em face de marca ulteriormente
registrada no INPI. Para que a reprodução ou imitação de nome empresarial de terceiro constitua óbice a registro
de marca, à luz do princípio da territorialidade, faz-se necessário que a proteção ao nome empresarial não goze
de tutela restrita a um Estado, mas detenha a exclusividade sobre o uso em todo o território nacional. Porém, é
incontroverso da moldura fática que o registro dos atos constitutivos da autora foi feito apenas na Junta
Comercial de Blumenau/SC. A Convenção da União de Paris de 1883 - CUP deu origem ao sistema internacional
de propriedade industrial com o objetivo de harmonizar o sistema protetivo relativo ao tema nos países
54
signatários, do qual faz parte o Brasil (). É verdade que o art. 8º da dita Convenção estabelece que "O nome
comercial será protegido em todos os países da União, sem obrigação de depósito ou de registro, quer faça ou

não parte de uma marca de fábrica ou de comércio." Não obstante, o escopo desse dispositivo é assegurar a
proteção do nome empresarial de determinada sociedade em país diverso do de sua origem, que seja signatário

da CUP, e não em seu país natal, onde deve-se atentar às leis locais. O artigo 124, XIX, da Lei da Propriedade
Industrial veda o registro de marca que reproduza outra preexistente, ainda que em parte e com acréscimo
"suscetível de causar confusão ou associação com marca alheia". Sob o enfoque pelo ângulo do direito marcário,
a possibilidade de confusão e/ou associação entre as marcas é notória, por possuírem identidade fonética e

escrita quanto ao elemento nominativo e ambas se destinarem ao segmento mercadológico médico. Assim, é
inviável admitir a coexistência de tais marcas. Logo, a simples preexistência do registro do nome empresarial em

Junta Comercial do Estado não lhe confere proteção, em âmbito nacional, em face de marca ulteriormente
registrada no INPI

55
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2019.

FAZZIO JUNIOR, WALDO. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2019.

MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. São Paulo: Atlas, 2019.

PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora

JusPodivm, 2019.

PENANTE JR, Francisco. LAURINDO, Felipe. Prática empresarial. Recife: Armador, 2019.

56
Capítulo 3
SUMÁRIO

DIREITO EMPRESARIAL .................................................................................................................................................... 2

3. Da Sociedade ............................................................................................................................................................. 2

3.1 Disposições Gerais ........................................................................................................................................... 2

3.2 Da sociedade não personificada .................................................................................................................. 3

3.3 Da sociedade comum...................................................................................................................................... 3

3.4 Da sociedade em conta de participação ................................................................................................... 4

3.5 Da sociedade personificada .......................................................................................................................... 5

3.6 Desconsideração da personalidade jurídica da sociedade empresária............................................. 9

3.7 Da distinção entre sociedade empresária e não empresária............................................................. 11

3.8 Da classificação das sociedades ................................................................................................................. 12

3.9 Das sociedades de pessoas ......................................................................................................................... 14

3.10 Da sociedade simples ................................................................................................................................... 15

3.11 Da sociedade limitada .................................................................................................................................. 20

3.12 Da sociedade anônima ................................................................................................................................. 26

QUESTÕES .......................................................................................................................................................................... 46

GABARITO COMENTADO .......................................................................................................................................... 68

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 71

LEGISLAÇÃO COMPILADA ......................................................................................................................................... 74

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................................................. 75

1
DIREITO EMPRESARIAL

Capítulo 3
Neste capítulo, futuro Delta, estudaremos o Direito Societário. Aqui é importante dar
mais ênfase na classificação, nas características e distinções das sociedades. Leitura da lei seca
é ponto crucial nesse assunto, portanto, fique ligado no regramento do CC/02.

3. Da Sociedade
3.1 Disposições Gerais

As sociedades são pessoas jurídicas de direito privado, nos termos do art. 44, II, do
Código Civil. Dependendo do seu objeto, podem ser simples, quando tem por fim o exercício
de atividade civil, ou empresária, quando se destinam ao desenvolvimento de atividade
empresarial.
A diferença entre sociedade simples e empresária está no modo de exploração de seu
objeto social. Se essa exploração for feita mediante a organização dos fatores de produção
(capital, insumos, mão-de-obra e tecnologia), nos moldes do art. 966 do Código Civil, será
empresária. Se feita sem essa organização, será considerada simples. Os serviços antes
estavam ligados à sociedade civil, que não se sujeitava à falência; atualmente, como os
serviços também são prestados por sociedades empresárias, é cabível a falência.
Contudo, é importante observar, desde já, que as regras das sociedades simples são
aplicadas subsidiariamente às normas que regem as sociedades empresárias. Logo, sempre
que ausente disposição normativa sobre estas, aplicar-se-ão os preceitos que regem aquelas,
contanto que compatíveis com o regime jurídico empresarial.
Conforme art. 981 do Código Civil, celebram contrato de sociedade as pessoas que
reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de
atividade econômica e a partilhados resultados entre si.

2
As pessoas que compõem a sociedade, em regra, podem ser físicas ou jurídicas, elas
podem contribuir com bens ou serviços e a atividade a ser desenvolvida pode estar restrita à
realização de um ou mais negócios (art. 981, parágrafo único, CC/02).

3.2 Da sociedade não personificada

As sociedades podem ter ou não personalidade jurídica. As sociedades sem


personalidade jurídica (sociedades não personificadas) são aquelas que, apesar de já
desenvolverem atividade econômica organizada, não tiveram seus atos constitutivos
registrados. Essas sociedades podem exercer atividades empresariais ou civis.

As sociedades sem personalidade jurídica, que podem ser sociedade em comumou


sociedade em conta de participação, são representadas em juízo pela pessoa a que couber a
administração de seus bens (art. 75, inciso IX, do Código de Processo Civil).

3.3 Da sociedade comum


É a sociedade que não possui ato constitutivo devidamente registrado. A sociedade
será em comum enquanto o ato constitutivo não for arquivado, exceto em relação às
sociedades por ações que estão em fase de organização (que são sempre sociedades
empresárias, mesmo que o ato constitutivo ainda não tenha sido arquivado). Aplicam-se às
sociedades em comum, de modo subsidiário, a disciplina das sociedades simples. A doutrina
considera sociedade em comum irregularaquela que o ato constitutivo não foi levado a
registro e sociedade em comum de fatoa que sequer conta com ato constitutivo.
A prova da existência da sociedade por terceiros, se dá de qualquer modo, mas entre os
sócios entre si ou com os terceiros se dá apenas por meio documental.
O patrimônio especial da sociedade em comum é o conjunto de bens afetados ao
exercício da atividade, do qual são titulares todos os sócios.
Os bens sociais respondem pelos atos de gestão praticados por qualquer dos sócios,
salvo pacto expresso limitativo de poderes, que somente terá eficácia contra o terceiro que o
conheça ou deva conhecer.
Todos os sócios respondem solidáriaeilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído
do benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade.

3
3.4 Da sociedade em conta de participação
Ainda que registrada, permanece se personalidade jurídica. Diante de sua natureza
secreta, nunca possuirá nome empresarial. Aplicam-se subsidiariamente as regras das
sociedades simples.
Sócio ostensivoaporta capital e administra. O Sócio participantesomente aporta
capital, permanecendo oculto. Responderão frente a terceiros apenas os sócios ostensivos,
respondendo os sócios participantes se praticarem ato de gestão.
A sociedade em conta de participação não pode ser declarada falida, sem embargo, os
sócios ostensivos e participantes podem falir.
De personificada que é, a sociedade em conta de participação não possui autonomia
patrimonial. Interessante notar que, ainda que conte com um ato constitutivo e este seja
levado a registro, ainda assim não irá contar com personalidade jurídica. O registro da
sociedade em conta de participação terá o condão de, unicamente, formalizar a sua
constituição e dirimir eventuais dúvidas em relação ao conteúdo da convenção social.
Ademais, a existência de um contrato social da sociedade em conta de participação
produzirá efeitos unicamente entre os seus signatários.

A sociedade em conta de participação independe de qualquer formalidade para sua


constituição, bastando a existência da affectio societatis (vontade de formar sociedade),
podendo provar-se por todos os meios de direito.
A sociedade em conta de participação é integrada por duas classes de sócios: a dos
sócios ostensivos e dos sócios participantes (ou ocultos), podendo ser constituída por pessoa
jurídica.
Na conta de participação, osócio ostensivoé o empreendedor que entra com capital e
capacidade laboral, enquanto o sócioparticipantetem atuação restrita à entrega do capital
para a consecução do fim social, participando ao final dos resultados correspondentes.
Desse modo, a partir da contribuição das duas classes de sócios, forma-se o patrimônio
especial da sociedade, que é exatamente o fundo social constituído para o desenvolvimento
da atividade.
Em matéria de responsabilidade pelos negócios jurídicos da sociedade, obriga-se
perante terceiros tão somente o sócio ostensivo e, exclusivamente perante este, o sócio
participante (limitada ou ilimitadamente, dependendo do que dispuser a convenção). Isto

4
porque, considerando não estarem dotadas de personalidade jurídica, as sociedades em conta
de participação não podem assumir obrigações em nome próprio, exercendo unicamente o
sócio ostensivo (em seu nome individual), a atividade constitutiva do objeto social,
respondendo direta e ilimitadamente pelas obrigações sociais (apenas os sócios ostensivos
podem exercer a atividade constitutiva do objeto social). Sem embargo, se porventura houver
participação conjunta de sócios ostensivos e participantes na celebração de negócios, todos
serão solidariamente responsáveis perante o terceiro com quem efetivaram contrato em nome
da sociedade.
Ainda que investido de poder para condução da sociedade, ao sócio ostensivo é
vedado admitir novo sócio sem o consentimento expresso dos demais, salvo disposição em
contrário.
Enquanto a sua liquidação, rege-se sociedade em conta de participação pelas normas
relativas à prestação de contas.
No que concerne à falência, cumpre destacar que, uma vez decretada a falência de
sócio ostensivo, haverá a dissolução da sociedade e a liquidação da respectiva conta, cujo
saldo constituirá crédito quirografário. Por outro lado, na hipótese de falência de sócio
participante, o contrato social ficará sujeito às normas que regulem os efeitos da falência nos
contratos bilaterais do falido.

A sociedade em conta de participação, ainda que tenha seu ato constitutivo levado a registro,
não terá personalidade jurídica(art. 993 do Código Civil).

3.5 Da sociedade personificada

As sociedades dotadas de personalidade jurídica (sociedades personificadas) são


aquelas cujos atos constitutivos foram objeto de registro nos órgãos competentes e, por
força de lei, são consideradas pessoas jurídicas. A sociedade existe desde o momento em que

5
há o acordo de vontades, mas a personalidade jurídica é adquirida apenas com o registro dos
atos constitutivos da sociedade no respectivo órgão.
Como supedâneo da personalidade jurídica que possuem, à sociedade são atribuídas as
autonomiasnegociais (capacidade da sociedade para, em nome próprio, celebrar os negócios
jurídicos necessários ao desenvolvimento de seu objeto social), processual(capacidade da
sociedade para, em nome próprio, defender seus interesses em juízo) e patrimonial
(capacidade da sociedade para, em nome próprio, ser titular de patrimônio. Permite a
separação entre o patrimônio da sociedade e o patrimônio pessoal dos sócios).

A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de empresário rural e
seja constituída, ou transformada, de acordo com um dos tipos de sociedade empresária,
pode, preenchidos os requisitos legais, requerer a inscrição na Junta Comercial. Depois de
inscrita, a sociedade será equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária. Se a
sociedade em comento já estiver constituída, o pedido de registro estará subordinado às
regras de transformação (art. 984 do CC/02). Nesse sentido, importante frisar que esse registro
é facultativo; uma vez feito, equipara-se a sociedade a sociedade empresária para fins legais.

Oportunamente, frise-se três espécies de sociedades personificadas previstas no CC/02.

I. Sociedade em nome coletivo:

A sociedade em nome coletivo é regida de forma direta pelo Código Civil (art. 1.039 ao
1.044), aplicando-se subsidiariamente as normas da sociedade simples (art. 997 ao 1.038).
Trata-se de sociedade de pessoas.
A sociedade em análise é personificada e formada exclusivamente por pessoas físicas,
tendo como ato constitutivo um contrato social.
Todos os sócios respondem de forma solidária e ilimitada pelas obrigações sociais.
Sem prejudicar a responsabilidade perante terceiros, os sócios podem, no ato constitutivo ou
por convenção posterior unânime, limitar entre si a responsabilidade cada um (art. 1.039 do
6
CC/02). Essa possibilidade de limitar a responsabilidade por disposição contratual só produz
efeitos entre os sócios.
Em razão da inconteste existência de responsabilidade ilimitada dos sócios, o Código
Civil estabelece que o credor particular de sócio não pode, antes de dissolver-se a sociedade,
pretender a liquidação de quota do devedor. O Diploma salienta que o credor particular só
poderá fazê-lo quando a sociedade tiver sido prorrogada tacitamente e quando, diante de
prorrogação contratual, haja acolhimento judicial da oposição do credor, que deve ser
levantada no prazo de noventa dias contado da publicação do ato dilatório (art. 1.043 do
CC/02).
A administração da sociedade em nome coletivo pode ser exercida apenas por quem
for sócio.
No caso de falecimento de sócio, se o contrato social da sociedade não dispuser a
respeito, opera-se a liquidação das quotas do de cujus. Para que os sucessores do sócio
falecido possam ingressar na sociedade, ainda que contra a vontade dos sobreviventes, será
indispensável expressa previsão no contrato social.

II. Sociedade em comandita simples:

A sociedade em comandita simples é regida pelo Código Civil (art. 1.045 ao 1.051),
aplicando-se subsidiariamente as normas da sociedade em nome coletivo (1.039 ao 1.044).
Também consubstancia sociedade de pessoas.
Trata-se de uma sociedade personificada, que tem como ato constitutivo um contrato
social, sendo formada por duas classes de sócios: a dos sócios comanditados(que
respondem ilimitadamente pelas obrigações sociais) e a dos sócios comanditários(que
respondem limitadamente pelas obrigações sociais).
Os sócios comanditadosdevem ser pessoas físicas, entrando com trabalho e capital,
assumindo a administração da sociedadee, portanto, respondendo de forma ilimitada pelas
obrigações sociais. Os sócios comanditários, por sua vez, podem ser pessoas físicas ou
jurídicas, não exercendo função de administração e, portanto, respondendo apenas pela
integralização das quotas adquiridas (ou seja, de forma limitada).

7
Apenas os sócios comanditados podem ser administradores das sociedades em
comandita simples. Não obstante, os sócios comanditários poderão receber poderes especiais
por meio de procuração para a realização de negócios determinados.

Conta com o benefício de ordem (art. 1.024, CC), respondendo em primeira mão, o
patrimônio social. Caso este não seja suficiente para satisfazer as obrigações assumidas,
poderá ser acionado o patrimônio pessoal dos sócios comanditários, de forma ilimitada. Os
sócios comanditários são responsáveis apenas pelo valor das suas quotas.
Da mesma forma que os sócios comanditados, os sócios comanditários têm o direito de
participar da distribuição dos lucros da sociedade, na medida de suas respectivas quotas. Têm,
ainda, o direito de participar das deliberações da sociedade, assim como o direito de fiscalizar
a sua administração.
No caso de falecimento de um sócio comanditado, dar-se-á a dissolução parcial da
sociedade, salvo previsão no contrato social que autorize o ingresso de sucessores. No caso
de falecimento de um sócio comanditário, em princípio, não haverá dissolução (art. 1.050, CC).

III. Sociedade em comandita por ações:

A sociedade em comandita por ações é regida pela Lei 6.404/76 (art. 280 a art. 284) e
pelos arts. 1.090 a 1.092 do Código Civil.
Trata-se de uma sociedade empresária personificada, com capital social dividido em
ações. É uma sociedade de capital, sendo livre o ingresso de terceiros estranhos ao seu
quadro social. Portanto, há livre circulação de ações.
Tem como ato constitutivo um estatuto social, sendo formada por duas classes de
sócios. Os sócios diretoressão os que exercem cargo de administração, respondendo de
forma subsidiária (dado o benefício de ordem) e ilimitada pelas obrigações sociais, e os
sócios comuns, que não exercem cargo de administração e respondem de forma limitada
pelas obrigações sociais.
8
Somente sócio ou acionista podem ocupar cargo de administração nas sociedades em
comandita por ações. Os diretores serão nomeados no ato constitutivo da sociedade, sem
limitação de tempo, e somente poderão ser destituídos por deliberação dos acionistas que
representem no mínimo 2/3 do capital social. O diretor destituído ou exonerado continua,
durante dois anos, responsável pelas obrigações sociais contraídas sob sua administração.
Os acionistas, reunidos em Assembleia geral, nãopodem(mesmo com aprovação
assemblear), sem o consentimento dos diretores da sociedade, mudar o objeto social,
prorrogar o prazo de duração da sociedade, aumentar ou diminuir o capital social nem criar
debêntures ou partes beneficiárias.
Em que pese às sociedades em comandita por ações seguirem as disposições
concernentes às sociedades anônimas, a elas não se aplicam as regras sobre o Conselho de
Administração, a autorização estatutária de aumento de capital, e a emissão de bônus de
subscrição.

3.6 Desconsideração da personalidade jurídica da sociedade


empresária

A teoria desconsideração da personalidade jurídica, também chamada de teoria da


penetração, teoria da superação e disregard of legal entity doctrine, busca afastar,
temporariamente, a personalidade da pessoa jurídica para atingir o patrimônio das pessoas
físicas que a integram. Nesse sentido, tem como efeito a desconsideração da personalidade no
caso concreto, não havendo que se falar em desfazimento da pessoa jurídica.
Existem, em síntese, duas teorias que buscam a sua aplicação, quais sejam a teoria
maior e a teoria menor.
A Teoria Maior, adotada pelo art. 50 do Código Civil, dispõe ser possível a
desconsideração quando houver abuso da personalidade jurídica, seja pelo desvio de
finalidade(teoria maior subjetiva, como quando a personalidade jurídica tem sido utilizada
para fins diversos, como para esconder patrimônio dos sócios), seja pela confusão
patrimonial(teoria maior objetiva, como quando os sócios utilizam os bens sociais como se
seus fossem).

9
A Teoria Menor, adotada pelo art. 28 do Código de Defesa do Consumidor, pelo art. 4º
da Lei nº 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais) e pelo art. 34 da Lei nº 12.529/2011 (Lei de
Defesa da Concorrência e da Ordem Econômica), prevê que a desconsideração pode ocorrer
ainda que não haja abuso da personalidade jurídica, bastando a simples inexistência de
ativos.
A desconsideração da personalidade jurídica pode se dar por meio de pedido em
petição inicial ou por meio de incidente no processo. É cabível em todas as fases do processo
de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo
extrajudicial (art. 134 do CPC/15).
Fala-se, ainda, em situação inversa, que ocorre quando a pessoa física passa os seus
bens para a pessoa jurídica para se livrar de dívidas particulares, sendo possível desconsiderar
a personalidade da pessoa jurídica de forma inversa, para buscar os bens integrantes da
pessoa jurídica e quitar as dívidas da pessoa física. Antes, a desconsideração inversa se dava
por meio da interpretação teleológica do art. 50 do CC/02. No entanto, com o advento do
CPC/15, tal instituto reverenciado pelo art. 133, §2º, do CPC/15.

Após a publicação da Medida Provisória n.º 881, de 30 de abril de 2019, passaram a vigorar
novas regras referentes à desconsideração da personalidade jurídica, com alteração do art. 50
do CC e inserção de diversos parágrafos no dispositivo, sendo importante o conhecimento do
aluno acerca do tema. Destaque-se que o tema deverá ser submetido à análise do Congresso
Nacional, observadas as regras do art. 62 da CF/88.

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de


finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os
efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens
particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou
indiretamente pelo abuso.
§ 1º Para fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização dolosa da
pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de
qualquer natureza.

10
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os
patrimônios, caracterizada por:
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador
ou vice-versa;
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto o de
valor proporcionalmente insignificante; e
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.
§ 3º O disposto no caput e nos § 1º e § 2º também se aplica à extensão das obrigações
de sócios ou de administradores à pessoa jurídica.
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata
o caput não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.
§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade
original da atividade econômica específica da pessoa jurídica.

3.7 Da distinção entre sociedade empresária e não empresária

Conforme mencionado inicialmente, denomina-se sociedade empresáriaaquela que


desenvolve empresa (atividade empresária). A seu turno, as sociedades simplessão
sociedades personificadas para o exercício de atividades civis(não empresárias), como no
caso, por exemplo, de uma sociedade de advogados.
As sociedades simplestêm como ato constitutivo um contrato social, que deve
materializar as cláusulas e requisitos dispostos no art. 997 do CC e ter a sua inscrição
requerida ao Registro Civil de Pessoas Jurídicas (RCPJ) nos trinta dias subsequentes a sua
celebração (art. 998 do Código Civil), com vistas ao nascimento de sua personalidade jurídica.
A sociedade empresária, por sua vez, deve ser registrada na Junta Comercial, tendo
como ato constitutivo o contrato/estatuto social. As sociedades empresárias podem ser
classificadas segundo a responsabilidade dos sócios, o regime de constituição e dissolução e
segundo a composição. Tais elementos serão analisados no decorrer deste capítulo.

A diferença básica entre as sociedades simples e as empresárias está no modo de exploração


do seu objeto social, ou seja, na qualificação ou não da atividade exercida como empresária.

11
Se essa exploração for feita com organização profissional dos fatores de produção, será
empresária, se não, será simples.

Algumas sociedades serão simples ou empresárias independentemente de seu objeto social.


As cooperativas, por previsão em lei específica, são registradas nas Juntas Comerciais, mas
são consideradas sociedades simples. As sociedades por ações(sociedade anônima e
sociedade em comandita por ações) são consideradas sempre empresárias, conforme art. 982,
parágrafo único, do Código Civil.

SOCIEDADES SIMPLES SOCIEDADES EMPRESÁRIAS

Sociedade simples pura Sociedade em nome coletivo;

*Sociedade cooperativa (sempre


simples, regida pela Lei n. 5.764/71);

Sociedade simples impura Sociedade em comandita simples;

*Sociedades que devem adotar um tipo


societário por determinação legal;

Sociedade limitada;

Sociedade anônima;

Sociedade em comandita por ações;

3.8 Da classificação das sociedades

I. Quanto ao ato constitutivo:

12
As sociedades podem ser contratuais ou estatutárias (também conhecidas como
institucionais). São contratuais as sociedades constituídas por contrato social, o qual se
caracteriza pela existência de um duplo vínculo (um vínculo dos sócios entre si e outro vínculo
dos sócios para com a sociedade). Seu capital social é dividido em quotas, sendo os titulares
denominados cotistas. São sociedades contratuais as sociedades em nome coletivo, em
comandita simples e limitada.

São estatutárias as sociedades constituídas por estatuto social, o qual se caracteriza


pela existência de um único vínculo (dos sócios para com a sociedade), não havendo vínculos
dos sócios entre si. Seu capital social está dividido em ações, sendo os titulares denominados
acionistas. São sociedades estatutárias as sociedades anônimas e as em comandita por ações.
II. Quanto à responsabilidade dos sócios:

Quanto a sua responsabilidade, os sócios podem responder de forma limitada ou


ilimitada, a depender do tipo societário empresário adotado. Não obstante, importante aclarar
que, quando se fala na responsabilidade dos sócios em razão do tipo societário, está se
referindo ao patrimônio pessoal dos sócios, tendo em vista que, o patrimônio social,
independentemente do tipo societário, responderá sempre de forma ilimitada.
É de destacar-se também que, em relação às sociedades personificadas, como regra, o
patrimônio pessoal será alcançado apenas diante da impossibilidade de o patrimônio social
solver as obrigações sociais, respondendo de forma subsidiária, respeitados os parâmetros
legais.
Sendo ilimitada a responsabilidade, o patrimônio pessoal dos sócios responde
subsidiária. Sendo limitada a responsabilidade, o patrimônio pessoal dos sócios não será
atingido, salvo hipótese excepcional de desconsideração da personalidade jurídica e na
integralização das quotas do sócio remisso na sociedade limitada.

Há ainda sociedades nas quais parte dos sócios responde LIMITADAMENTE pelas obrigações

13
sociais e parte ILIMITADAMENTE (responsabilidade mista), nos casos das sociedades em
comandita.

3.9 Das sociedades de pessoas

As sociedades de pessoas integram outra classificação das sociedades, aquela elaborada


quanto às condições para alienação da participação societária. Nesse sentido, as sociedades
podem ser de pessoas ou de capital.

SOCIEDADES DE PESSOAS SOCIEDADES DE CAPITAL

Foco nos atributos pessoais dos sócios Foco na contribuição financeira dos sócios (Foco
no capital)
(Foco nas pessoas)

Como regra, o ingresso de terceiros Basta à subscrição para o ingresso de terceiros no


no quadro social depende de quadro social.
autorização unânime dos sócios.
Acionistas não podem opor-se a entrada de
Atenção:Na sociedade limitada, não outros sócios (prevalece princípio da livre
dispondo o contrato social sobre a circulaçãode ações)
possibilidade de cessão de quotas,
será possível cedê-las a terceiros
estranhos, desde que não haja
oposição por parte de sócios que
representem mais de ¼ do capital
social, nos termos do art. 1.057, CC.
Dado seu caráter pessoal, não há livre
circulaçãode quotas.

Reunião de pessoas Reunião de bens e valores

São sociedades de pessoas: N/C e C/S São sociedades de capital: C/A e S/A

14
A doutrina admite apenas a penhora dos direitos patrimoniais resultantes das quotas,
como lucros e haveres, mas não a transferência da cota em si.
Com a morte de um sócio, na sociedade de pessoas haverá a dissolução das quotas
correspondentes entre os sócios, no caso dos sócios sobreviventes não concordarem com o
ingresso do sucessor. Na sociedade de capital a sucessão ocorrerá normalmente,
independentemente da aquiescência dos demais sócios.
A sociedade limitada é um tipo societário híbrido, ou seja, poderá assumir tanto a
forma de sociedade de pessoas, como a de sociedade de capital, devendo tal opção estar
refletida no contrato social. Sem embargo, na ausência de cláusula contratual expressa
indicando tratar-se de uma sociedade de pessoas ou de capital, algumas cláusulas poderão
indicar se a LTDA assumiu uma ou outra forma. Na hipótese de silêncio do contrato sobre a
questão, a limitada deverá ser tratada como uma sociedade de pessoas, afinal, é da essência
das sociedades contratuais a condição de sociedade de pessoas.
Embora, como regra geral, o ingresso de terceiro estranho nas sociedades de pessoas
dependa de autorização unânime dos sócios, nas sociedades limitadas, diante da omissão do
contrato, poderá o sócio ceder sua quota a outro sócio sem a anuência dos demais ou a
terceiro estranho, se não houver oposição de titulares de mais de ¼ (ou seja, de mais de 25%)
do capital social (art. 1.057, caput do CC). 1

3.10 Da sociedade simples


I. Noções Gerais

Embora contem com regime próprio (arts. 997-1.038, do Código Civil), as sociedades
simples podem adotar tipos societários empresários, exceto os tipos por ações (conforme
arts. 983 e 982, parágrafo único, do Código Civil).
As sociedades simples regidas por suas normas própriassão doutrinariamente
conhecidas como sociedades simples puras (sociedades simples), ao passo que aquelas que
optam por um dos tipos societários empresários possíveis(nome coletivo, em comandita
simples ou limitada), são nominadas sociedades simples impuras (ex. sociedade simples

1
FAZZIO JUNIOR, Waldo. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2017. p. 147.
15
limitada)e serão regidas pelas regras do tipo societário adotado, havendo a aplicação
subsidiária das normas da sociedade simples.2
Importante ressaltar que a adoção de um tipo societário empresário por uma
sociedade simples não a converte em sociedade empresária.
Os sócios devem contribuir para a formação do capital social, o qual corresponde ao
primeiro patrimônio da empresa, constituído pela somatória das integralizações feitas pelos
sócios com bens, direitos e serviços (incisos III a V do artigo 997).
Logo, nas sociedades simples pode haver a contribuição de sócio apenas a partir de
prestação de serviço. Neste caso, deverá o sócio dedicar-se exclusivamenteà atividade
exercida pela sociedade, não se empregando em outra, sob pena de ser privado de seus
lucros e dela excluído (art. 1.006 do CC/02).
Contudo, só há dois casos em que a integralização pode ser feita por prestação de
serviço: a) se constituída sob a forma de sociedade simples pura e; b) caso constituído como
sociedade cooperativa (Enunciado 206 do CJF).
Também é importante destacar que, “quando se tratar de sócio de serviço, não poderá
haver penhora das verbas descritas no art. 1.026, se de caráter alimentar” (Enunciado 389, CJF).
A verba será considerada alimentar quando os lucros retirados da sociedade se destinem à
sobrevivência do sócio e de sua família, o que faz com que tal rendimento se equipare a
salário, para fins de impenhorabilidade.
A subscrição da cota consiste no comprometimento em efetivar seu pagamento,
enquanto a integralização importa no próprio pagamento. A integralização pode ser feita em
dinheiro, crédito, bens (móveis e imóveis), transferência de crédito e, como já mencionado, em
prestação de serviços. A integralização por serviços só é permitida na sociedade simples e na
cooperativa. O sócio responde pela evicção de bem integralizado e pela insolvência do
devedor no caso de crédito transferido.
Vale ressaltar que inexiste obrigação de pagamento de Imposto sobre Transmissão de
Bens Imóveis (ITBI) no caso de transferência da propriedade de imóvel para a sociedade no
ato de integralização. Isso porque há uma imunidade especial prevista no texto da
Constituição da República:

2
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora
jus podivm, 2017. p. 80.
16
Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:
II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por
natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem
como cessão de direitos a sua aquisição;
§ 2º - O imposto previsto no inciso II:
I - não incide sobre a transmissão de bens ou direitos incorporados ao patrimônio
de pessoa jurídica em realização de capital, nem sobre a transmissão de bens ou
direitos decorrente de fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, salvo se,
nesses casos, a atividade preponderante do adquirente for a compra e venda desses
bens ou direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento mercantil;

Numa sociedade simples, o capital social é dividido em cotas que ostentam um duplo
aspecto:

 Direito patrimonial: a cota lhe assegura direito de percepção de lucros

 Direito pessoal: garante o status de sócios, podendo votar, fiscalizar, ter direito de

preferência, pode participar das deliberações

É nula qualquer estipulação que exclua sócio de participar dos lucros e das perdas (art.
1.008 do CC/02). A participação nos lucros e nas perdas, salvo estipulado de modo diverso,
considera a proporção das quotas do respectivo sócio. Mas, aquele cuja contribuição consistir
em serviço, apenas participa dos lucros na proporção da média do valor das quotas (art. 1.007
do CC/02).

II. Regras aplicáveis subsidiariamente às sociedades empresárias

Qualquer sociedade, seja ela simples ou empresária, tem origem com o registro de seu
ato constitutivo (art. 45, CC). No entanto, o art. 998 do Código Civil, muito embora localizado,
topograficamente, no capítulo do diploma civilista que se destina a disciplinar as sociedades
simples, é plenamente aplicável às sociedades empresárias. Isso porque o registro, se realizado
dentro dos trinta dias seguintes à conclusão do ato constitutivo (contrato ou estatuto), surtirá
efeitos retroativos.

Art. 998. Nos trinta dias subsequentes à sua constituição, a sociedade deverá requerer a
inscrição do contrato social no Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua sede.
§ 1º O pedido de inscrição será acompanhado do instrumento autenticado do contrato,
e, se algum sócio nele houver sido representado por procurador, o da respectiva

17
procuração, bem como, se for o caso, da prova de autorização da autoridade
competente.
§ 2º Com todas as indicações enumeradas no artigo antecedente, será a inscrição
tomada por termo no livro de registro próprio, e obedecerá a número de ordem
contínua para todas as sociedades inscritas.

Todavia, por força do art. 36 da Lei 8.934/94, o órgão competente para o registro dos
atos constitutivos das sociedades empresárias é a Junta Comercial, e não o Oficial do Registro
Civil das Pessoas Jurídicas.
Outra norma que também se aplica às sociedades empresárias com as devidas
adaptações é o art. 997 do Código Civil, cujo texto dispõe que:

Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que,
além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:
I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas
naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;
II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;
III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer
espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária;
IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;
V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços;
VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e
atribuições;
VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;
VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais.
Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto separado, contrário ao
disposto no instrumento do contrato.

Embora as cláusulas necessárias para constituição da sociedade simples se encontrem


previstas no art. 997 do CC/02, outras podem ser estipuladas pelos contratantes. Além disso,
“as indicações contidas no art. 997 não são exaustivas, aplicando-se outras exigências contidas
na legislação pertinente para fins de registro” (Enunciado 214 do CJF).
O enunciado 222 da III Jornada de Direito Civil do Conselho de Justiça Federal
condensa a primeira ressalva que deve ser feita a dispositivo supracitado ao estatuir que “não
se aplica o art. 997, V, à sociedade limitada na hipótese de regência supletiva pelas regras das
sociedades simples”. Assim, não se admite na sociedade empresária sócio cuja contribuição
consista em serviços, tal qual se admitia na antiga “sociedade de capital e indústria”.

18
O inciso VIII do referido dispositivo também merece especial consideração, visto que, na
sociedade simples pura (sociedade simples), a responsabilidade dos sócios será sempre
subsidiária. Isso porque sua interpretação deve se dar à luz do art. 1.023 do Código Civil, cujo
texto dispõe que, “se os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respondem os sócios
pelo saldo, na proporção em que participem das perdas sociais, salvo cláusula de
responsabilidade solidária.”
Diante disso, forçoso é concluir que a responsabilidade dos sócios da sociedade simples
pura, por decorrer de lei – mais precisamente, do enunciado do artigo 1.023 do Código Civil –,
será sempre subsidiária, ilimitada e proporcional, salvo se os sócios da sociedade simples pura
desejarem agravar o regime deresponsabilidade e estabelecer a solidariedade.
Nesse sentido, o professor Alfredo Gonçalves Neto apresenta interessante raciocínio que
permite estende a compreensão do referido dispositivo legal:

(…) como já salientei nos comentários ao art. 977 (n. 115 supra), a regra de isenção de
responsabilidade solidária só será admissível quando o tipo societário adotado o
permitir. Ou seja, se os sócios da sociedade simples quiserem eliminar ou limitar sua
responsabilidade subsidiária pelas dívidas sociais, devem adotar o tipo que
comporte esse desiderato, submetendo, assim, a sociedade por eles avençada ao
respectivo regime jurídico(art. 983), isso a significar que o malsinado inciso VIII daquele
artigo não afeta o enunciado do art. 1.023, compatibilizando-se com ele, por admitir
cláusula de isenção quando: (i) A sociedade simples se revestir do tipo de sociedade
limitada (arts. 1.052 e 1.055, § 1º) (ii) se tratar de sociedade cooperativa que opte pela
limitação da responsabilidade dos sócios ao valor das quotas-partes (art. 1.095, § 1º); e
(iii) se tratar de sociedade em comandita simples, exclusivamente em relação ao sócio
comanditário.3

Em acréscimo, vale mencionar os seguintes enunciados do CJF:

Enunciado 479, CJF. Art. 997, VII: Na sociedade simples pura (SIMPLES – SIMPLES) (art.
983, parte final, do CC/2002), a responsabilidade dos sócios depende de previsão
contratual. Em caso de omissão, será ilimitada e subsidiária, conforme o disposto nos
arts. 1.023 e 1.024 do CC/2002.

Enunciado 61, CJF. Art. 1.023: o termo “subsidiariamente” constante do inc. VIII do art.
997 do Código Civil deverá ser substituído por “solidariamente” a fim de compatibilizar
esse dispositivo com o art. 1.023 do mesmo Código

3
GONÇALVES NETO, Alfredo. Direito de Empresa – Comentários aos artigos 966 a 1.195 do Código Civil, 4.
Edição, p. 261
19
O ato constitutivo pode ser feito por instrumento público ou particular, mas, em
qualquer dos casos, as alterações contratuais ou estatutárias poderão ser efetivadas por mero
instrumento particular (art. 53 da Lei 8.934/94).

3.11 Da sociedade limitada

A sociedade limitada é regida diretamente pelo Código Civil (art. 1.052 – 1.087),
aplicando-se supletivamente as normas da sociedade simples (art. 997 – 1.038) ou, se o
contrato tiver previsão expressa, as disposições da Lei 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas),
conforme consta do art. 1.053, CC.
Trata-se de uma sociedade contratual personificada, podendo assumir a forma de
sociedade de pessoas ou de capital(natureza híbrida), circunstância que deverá ser aclarada
por seu contrato social.

A partir da publicação da Medida Provisória n.º 881, de 30 de abril de 2019, está em vigor
norma que permite a constituição da sociedade limitada por apenas uma pessoa, hipótese
em que se aplicarão ao documento de constituição do sócio único, no que couber, as
disposições sobre o contrato social, consoante dispõe o parágrafo único inserido no art. 1.052
do CC.

1. A flexibilidade para livre circulação de quotas, como no caso da existência de cláusula


autorizando a entrada de terceiros estranhos à sociedade, sem a necessidade de
aquiescência dos demais sócios, indica tratar-se de uma sociedade de capital. Já o
controle quanto à entrada de novos sócios indica tratar-se de uma sociedade de
pessoas. Na ausência de qualquer indicativo no contrato social que permita qualificá-
la como sociedade de pessoas ou de capital, deve considerar-se a limitada como
sociedade de pessoas, afinal, trata-se de sociedade contratual e é da essência das
sociedades contratuais a forma das sociedades de pessoas.

20
Na sociedade limitada, via de regra, apenas o patrimônio social responde pelas
dívidas da pessoa jurídica. O patrimônio dos sócios poderá ser atingido apenas nos casos de
desconsideração da personalidade jurídica e pela integralização do capital restante. Ainda,
deliberando de modo contrário ao disposto em lei ou no contrato, responderão de forma
ilimitada os sócios que a aprovaram (os sócios dissidentes ou ausentes, apenas vincular-se-ão
às decisões tomadas de acordo com a lei e o contrato social).

Cada sócio responde pelo capital que subscrever. Entretanto, haverá solidariedade entre os
sócios até o limite do capital total subscrito e não integralizado. Sendo assim, caso o total
subscrito já tenha sido integralizado, a princípio, o patrimônio pessoal dos sócios da
sociedade limitada não poderá ser alcançado.
O capital socialda sociedade limitada é dividido em quotas, iguais ou desiguais,
devendo todos os sócios contribuir para a sua formação com bens, dinheiro ou crédito, não
sendo admitida a contribuição que consista exclusivamente em prestação de serviços.
Havendo contribuição com bens, será necessária uma avaliação dos sócios ou de
terceiros, para que possam ser valorados. Nesse caso, pela exata estimação atribuída aos bens
entregues para a formação do capital social, responderão solidariamente todos os sócios, pelo
prazo de 5 anos, a contar da data do registro da sociedade.
Como os sócios respondem solidariamente pela integralização do capital social, não
integralizada a quota por um sócio (sócio remisso), os outros podem, sem prejuízo da
responsabilização pelo dano emergente da mora e da possibilidade de optar a maioria dos
demais sócios pela redução da quota ao montante integralizado, tomá-la para si ou transferi-
la a terceiros, excluindo o primitivo titular e devolvendo-lhe o que houver pago, deduzidos os
juros da mora, as prestações estabelecidas no contrato mais as despesas.
A quota é indivisível em relação à sociedade, salvo para efeito de transferência, quando,
sendo omisso o contrato social, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem
seja sócio, independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver

21
oposição de titulares de mais de 1/4 (um quarto) do capital social, tendo eficácia a cessão a
partir da averbação do respectivo instrumento, subscrito pelos sócios anuentes.
Ao se tratar do capital social, embora não se possa ignorar o princípio da
intangibilidade do capital social (ou princípio da integridade do capital social), pelo qual se
protege os interesses dos credores da sociedade ao impedir a distribuição de lucros fictícios,
com o desfalque do capital social, para concessão de benefício aos sócios, mostra-se
importante destacar a possibilidade de aumento ou redução do capital social, conforme
ensinam os arts. 1.081 a 1.084 do CC. Sendo assim, o princípio em comento não visa impedir
a redução do capital social, mas sim garantir que só poderão ser distribuídos entre os sócios
valores que correspondam a lucros reais.
O aumento do capital socialpode ocorrer, com a respectiva alteração no contrato
social aprovada por assembléia, desde que todas as quotas já tenham sido integralizadas. Até
trinta dias após a deliberação pelo aumento do capital, terão os sócios preferência para
participar do aumento, na proporção das quotas de que sejam titulares.
A redução do capital social, a seu turno, se restringe às hipóteses de perdas
irreparáveis uma vez integralizado o capital social ou se excessivo em relação ao objeto social.
Na sociedade limitada, o controle ou poder de decisão da sociedade é exercido por
aquele que detiver o maior número de quotas. Na eventualidade de empate, a definição se
dará a partir da quantidade de sócios. Persistindo o empate, caberá ao juiz resolver.
A sociedade limitada pode ser administrada por uma ou mais pessoas, sócios ou não
sócios, constantes do contrato social ou de ato em separado. O administrador, nomeado por
instrumento em separado, deve averbá-lo à margem da inscrição da sociedade, e, pelos atos
que praticar, antes de requerer a averbação, responde pessoal e solidariamente com a
sociedade.

Os poderes conferidos a administrador sócio são irrevogáveis (desde que previstos no


contrato social, excetuada a justa causa); mas os atribuídos a administrador não sócio são
revogáveis (art. 1.019, CC).
22
A designação de administradores não sócios dependerá de aprovação de todos os
sócios (enquanto o capital não estiver integralizado) e de, no mínimo, 2/3 dos sócios após a
integralização.
Ademais, importante destacar que, se a administração da sociedade limitada for
atribuída no contrato social a todos os sócios, a condição de administrador não se estenderá
aos que posteriormente adquirirem essa qualidade (quem ingressar depois na sociedade).
No silêncio do contrato, os administradores podem praticar todos os atos pertinentes à
gestão da sociedade; não constituindo objeto social, a oneração ou a venda de bens imóveis
depende do que a maioria dos sócios decidir.
Como sabido, o administrador, no exercício de suas funções, deve atuar na medida dos
interesses da sociedade, sempre pautando a sua conduta no cuidado e diligência que todo
homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios (art.
1.011, CC). Nesse sentido, ao respeitar o limite dos poderes que lhe foram regularmente
conferidos, os atos do administrador obrigam a pessoa jurídica (art. 47, CC). No entanto, se
contrariamente, ao praticar atos de gestão, o administrador vier a violar os poderes a ele
conferidos pelo contrato social, tais atos não poderão ser imputados à sociedade. É a
chamada teoria ultra vires societatis(além do conteúdo da sociedade), que visa a proteção da
pessoa jurídica. Desse modo, a sociedade ficará isenta de qualquer responsabilidade frente
a terceiros pelos atos ultra vires, a menos que tenha se beneficiado com a prática deles.
O excesso por parte dos administradores somente pode ser oposto a terceiros se
ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses:

1. Se a limitação de poderes do administrador estiver inscrita ou averbada no registro


próprio da sociedade;
2. Provando-se que a limitação dos poderes do administrador era conhecida do terceiro;
3. Tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade.

23
Segundo o Enunciado 219 da III Jornada de Direito Civil do Conselho de Justiça Federal, não
se aplica a teoria ultra vires societatis às sociedades por ações, em razão da existência de
regra específica traçada pelo art. 158, II da Lei 6.404/76.
Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os
condenados à pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por
crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a
economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da
concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto
perdurarem os efeitos da condenação.
Se o contrato social for silente quanto à pessoa do administrador da sociedade limitada,
suas funções serão exercidas por cada um dos sócios separadamente. Sem embargo, o
administrador que realizar operações, sabendo ou devendo saber que estava agindo em
desacordo com a maioria, responderá por perdas e danos perante a sociedade.
As decisões em uma sociedade limitada serão tomadas em reuniãoou em assembleia,
as quais serão convocadas pelos administradores nos casos previstos em lei ou no contrato.
Nas sociedades limitadas compostas por mais de dez sócios, as deliberações deverão ocorrer
obrigatoriamente através de assembléia.
Quando os administradores retardarem a convocação por mais de sessenta dias, a
reunião ou assembleia poderá também ser convocada por sócio, ou por titulares de mais de
20% do capital social, quando não atendido, no prazo de oito dias, pedido de convocação
fundamentado.
Ordinariamente, nas sociedades limitadas, as decisões devem ser tomadas a partir da
maioria de votos considerado o capital socialdo qual detém cada sócio. Contudo, só
poderão ser tomadas havendo unanimidade(1)a decisão sobre a dissolução da sociedade com
prazo determinado e (2)a decisão sobre a designação de administrador não sócio, enquanto o
capital social não estiver integralizado.
Será necessária a aceitação de 3/4do capital social para (1)a alteração do contrato
social e (2)a aprovação de fusão, incorporação e dissolução.
Para designação de administrador não sócio se o capital social estiver totalmente
integralizado, será necessária a concordância de 2/3do capital social.

24
No que tange à destituição de sócio nomeado administrador no contrato, exige-se a
aprovação de titulares de quotas correspondentes a mais de metade do capital social, salvo
disposição contratual diversa, conforme alteração realizada pela Lei 13.792/19 no §1º do art.
1.063 do CC/02.
Será necessária a concordância da maioria absoluta do capital social(mais da metade
do total do capital) para (1)a designação de sócio administrador realizada em ato separado,
(2)definir a remuneração de administradores e (3)determinar a exclusão de sócio por justa
causa.
Será necessária a concordância de maioria simples do capital social(mais da metade
do capital considerando os sócios presentes) para (1)a aprovação da prestação de contas dos
administradores e (2) nos demais casos previstos na lei ou no contrato, se não exigir quórum
maior.
Aos sócios da sociedade limitada é garantido o direito de fiscalizar a sua administração.
Nesse sentido, o conselho fiscal, órgão de formação facultativa, composto de três ou mais
membros e respectivos suplentes, sócios ou não, residentes no país e eleitos em assembleia,
uma vez constituído, tem como atribuições as previstas no art. 1.069 do Código Civil, que se
indica uma leitura atenta e minuciosa.
A dissolução da sociedadepode ser total ou parcial. A dissolução totalimplica na
desconstituição da sociedade, culminando na desvinculação de todos os sócios. Já na
dissolução parcial, há desvinculação de algum sócio do quadro social, o que não gera a
desconstituição da sociedade, que prossegue com suas atividades. Assim, na dissolução
parcial, a sociedade não se extingue, nem mesmo perde a sua personalidade.4
A dissolução será total nas seguintes hipóteses: (1) consenso unânime dos sócios, (2)
fim do prazo de duração nas de prazo determinado, (3) deliberação dos sócios, por maioria
absoluta, se de prazo indeterminado, (4) falência, (5) impossibilidade de execução do objeto
social, (6) falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo legal de 180 dias
(sabendo que nesse prazo o sócio remanescente pode optar pela transformação em EIRELI ou
em empresário individual), (7) extinção da autorização para funcionar, (8) por determinação
judicial, (9) a requerimento de qualquer dos sócios, (10) se houve anulação de sua

4
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora
jus podivm, 2017. p. 91.
25
constituição, (11) se houver exaurimento do fim social e (12) outras causas previstas no
contrato.
A dissolução seráparcial (resolução da sociedade em relação a um sócio) nos casos de
(1) morte do sócio, (2) retirada do sócio ou (3) exclusão do sócio.
Restando demonstrado que um ou mais sócios estão pondo em risco a sobrevivência
da empresa, pela prática de atos que vão de encontro à lei ou aos objetivos sociais, estes
poderão ser excluídos da sociedade pela vontade da maioria dos sócios, representativa de
mais da metade do capital social, desde que cumpridos os requisitos legais do art. 1.085 do
CC/02).
Trata-se de hipótese de exclusão extrajudicial, que não pode ser confundida com a
exclusão judicial prevista no art. 1.030, CC. Nesta, a exclusão poderá operar-se mediante
iniciativa da maioria dos sócios, não se levando em consideração o volume da participação
deles no capital social.

1. Não é possível a exclusão de sócio majoritário de forma extrajudicial, dada a redação


do art. 1.085 do CC/02, mas é possível que ela ocorra judicialmente uma vez
demonstrada a prática de ato de inegável gravidade de que fala o art. 1.030 do CC/02.
2. O simples rompimento da affectio societatis (vontade de permanecer em sociedade)
não é razão capaz de ensejar a exclusão de sócio.

3.12 Da sociedade anônima

As sociedades anônimas são espécies de sociedades estatutárias, também chamadas de


“institucionais”. Isso porque se constituem por meio de um estatuto sociale seu capital está
dividido em frações denominadas ações. Cada sócio é titular de determinado número de
ações, sendo chamado de acionista.

26
Modesto Carvalhosa conceitua este tipo de sociedade como pessoa jurídica de direito
privado, cuja natureza é essencialmente “mercantil, em que o capital se divide em ações de
livre negociabilidade, limitando-se a responsabilidade dos subscritores ou acionistas ao preço
de emissão das ações por eles subscritas ou adquiridas”5.
Também chamada de companhia, a S/A é regulamentada por uma lei própria, a Lei
6.404/76. O art. 1.089 do CC/02 esclarece essa circunstância, dispondo que: “a sociedade
anônima rege-se por lei especial, aplicando-se-lhe, nos casos omissos, as disposições deste
Código”. Nesse sentido, tem-se o seguinte enunciado do Conselho de Justiça Federal:

Enunciado 68 do CJF: Arts. 1.088 e 1.089: suprimir os arts. 1.088 e 1.089 do novo
Código Civil em razão de estar a matéria regulamentada em lei especial.

Devido à impessoalidade oriunda da fácil modificação das posições acionárias, a


companhia, via de regra, tem caráter de sociedade de capital. Ou seja, a ênfase de seu
funcionamento recai no aporte dos investimentos e não nas características pessoais de cada
sócio6.
Por conseguinte, conforme já enfatizado, o vínculo entre os acionistas e a pessoa
jurídica guarda natureza institucional e não contratual7. E isso porque a adesão ao regime
legal e estatutário decorre da mera aquisição de participação acionária e não do encontro das

5
CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei das Sociedades Anônimas. V. 1, São Paulo: Saraiva, 2002, p. 153. O
conceito apresentado por este autor se baseia nos arts. 1º da Lei 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas – LSA) e
1.088 do Código Civil de 2002 (CC/02). A LSA constitui verdadeiro Código do Direito Societário Brasileiro,
porquanto se aplica subsidiariamente a todos os demais tipos societários. (CORRÊA-LIMA, Osmar Brina. Sociedade
anônima. 2. ed., Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 12).
6
Sobre a existência excepcional de affectio societatis em companhias, consulte-se: ZETTEL, Fabiano Campos. Os
efeitos da affectio societatis nas sociedades de capitais e nos acordos de acionistas. 2004. 98f. Dissertação
(Mestrado em Direito Comercial). Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
2004.
7
Registre-se a opinião contrária do professor João Eunápio Borges: “não vemos motivo para atribuir ao ato
de constituição de uma sociedade anônima natureza diferente da que tem o de qualquer outra sociedade. Por
mais numerosos que sejam os atos preliminares – a partir da iniciativa dos fundadores, redação do projeto de
estatutos até a realização da assembléia constitutiva – a sociedade surgirá sempre de um acordo de vontades
que se manifesta a cada subscrição de ação e se confirma afinal na manifestação da assembleia constitutiva” [...].
“O nome pouco importa: contrato, contrato plurilateral, ato complexo, ato coletivo, negócio coletivo, a essência, a
substância do ato é sempre a mesma.” (BORGES, João Eunápio. Curso de direito comercial terrestre. Belo
Horizonte: Forense,1976, p. 409).
27
vontades dos diversos sócios, o que faz com que as relações entre eles não se articulem nos
moldes de acordo plurilateral.
O nome empresarial da companhia deve ser sempre formado por denominação8. Nessa
linha:
“As sociedades anônimas, por sua vez, constituem o único tipo societário que,
necessariamente, deve adotar denominação como nome empresarial.(...)
Obrigatoriamente, deverá constar na denominação o objeto social. As denominações das
sociedades anônimas devem vir integradas pelas expressões “sociedade anônima” ou
“companhia”, ou abreviadamente como “S.A” ou “Cia”.” (Sinopses Jurídicas, vol. 21, p. 52
– com modificações).

O termo “sociedade anônima” ou sua abreviatura pode vir no início, meio ou fim da
denominação. O termo “companhia” ou sua abreviatura não pode ser usado no fim (art. 3º da
LSA). Permite-se que na denominação conste o nome do fundador, acionista ou pessoa que
tenha concorrido para o bom êxito da formação da empresa, mas ainda assim será tratado
como denominação.

Enunciado 71 do CJF – Arts. 1.158 e 1.160:suprimir o artigo 1.160 do Código Civil por
estar a matéria regulada mais adequadamente no art. 3º da Lei n. 6.404/76
(disciplinadora das S.A.) e dar nova redação ao § 2º do art. 1.158 [Sociedade Limitada],
de modo a retirar a exigência da designação do objeto da sociedade.
Enunciado 79 do CJF – Art. 2.031: não havendo a revogação do art 1.160 do Código
Civil nem a modificação do § 2º do art. 1.158 do mesmo diploma, é de interpretar-se
este dispositivo no sentido de não aplicá-lo à denominação das sociedades anônimas e
sociedades Ltda., já existentes, em razão de se tratar de direito inerente à sua
personalidade.

8
“Art. 5º Observado o Princípio da Veracidade: [...] III - a denominação é formada com palavras de uso comum
ou vulgar na língua nacional ou estrangeira e ou com expressões de fantasia, com a indicação do objeto da
sociedade, sendo que: [...] b) na sociedade anônima, deverá ser acompanhada da expressão ‘companhia’ ou
‘sociedade anônima’, por extenso ou abreviadas, vedada a utilização da primeira ao final.” (BRASIL. Departamento
Nacional do Registro do Comércio. Instrução Normativa 99 de 21 de dezembro de 2005. Disponível em:
<http://www.dnrc.gov.br/Legislacao/normativa/in99.htm>. Acesso em: 14 jan. 2020).
28
Enunciado 395 do CJF – A sociedade registrada antes da vigência do Código Civil não
está obrigada a adaptar seu nome às novas disposições. [Vem ratificar o enunciado 79
do CJF]

Todavia,
A companhia jamais é anônima. Toda sociedade anônima deve possuir uma
denominação. E esta é uma das espécies de nome empresarial, ao lado da firma ou
razão.
A companhia não pode ter firma ou razão social. Esta, devido ao princípio da veracidade,
sempre deve mencionar o nome de um, algum ou todos os sócios atuais. Daí ser a
companhia chamada sociedade anônima.
A expressão “anônima” liga-se também ao fato de que a companhia, potencialmente,
congrega uma coletividade indefinida de sócios, cujo número pode atingir a cifra dos
milhares ou milhões. Nesse quadro social de intensa e incontrolável rotatividade, será
impossível constatar, em determinado momento, e com precisão, os nomes de todos os
acionistas, quem é acionista agora poderá já não sê-lo no instante seguinte. Para isso,
basta que aliene suas ações a outra pessoa, em bolsa ou fora dela, em operação que
refoge inteiramente ao controle ou interveniência da companhia9.

Dessa forma, a contínua mudança dos componentes do quadro social se deve ao


fenômeno chamado por Rubens Requião de “Revolução do Acionariato”, que decorre da
separação das prerrogativas inerentes ao direito de propriedade10. Ensina o autor que, desde o
direito romano, admite-se que, da propriedade, emanam os direitos de usar, fruir e dispor do
bem objeto da relação jurídica real11.
Contudo, o mesmo não ocorre com o acionista, pois, quando subscreve ou adquire sua
ação, ele pode dispensar o direito de administrar a organização social mediante o exercício do
direito de voto (ex. acionista preferencialista). E anui, com isso, que os órgãos da sociedade
(diretores ou administradores) realizem a gestão dos recursos por ele injetados na companhia.
Deste modo, o sistema do acionariato inovou ao dissociar a “gestão e a fruição dos
bens, proporcionando ao proprietário o gozo dos frutos, mas tirando-lhe a administração ou a
gestão dos bens investidos”12.

9
CORRÊA-LIMA, Osmar Brina. Sociedade anônima.2. ed., Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 15 e 16, grifos nossos.
10
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. v. 2, São Paulo: Saraiva, 1995, p. 57
11
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. v. 2, São Paulo: Saraiva, 1995, p. 57
12
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. v. 2, São Paulo: Saraiva, 1995, p. 57. Excepcionam-se os casos
em que um ou mais sócios detém poder de controle e/ou participam do Conselho de Administração da
companhia.
29
Noutro viés, as sociedades anônimas se classificam como abertas quando devidamente
habilitadas a negociar seus valores mobiliários na bolsa de valores ou mercado de balcão;
e fechadas caso isso não seja possível (art. 4º da LSA e 22 da Lei 6.835/76).
Inúmeros efeitos práticos decorrem da caracterização da companhia como aberta. No
sistema jurídico brasileiro, o mais importante deles é que devem se submeter ao registro
perante a CVM, bem como às suas instruções normativas destinadas a regular a legislação
aplicável às sociedades anônimas e seus valores mobiliários (art. 4º A, § 4º da LSA e arts. 5º e
8º da Lei 6.835/76)13.
Outro importante efeito é que a sociedade anônima de capital aberto tem suas ações
comercializadas mediante complexo sistema de intermediação, a cargo de agentes
econômicos autorizados a operar no mercado de bolsa.
A sociedade anônima é sempre empresáriapor força lei, independentemente do seu
objeto social. Caberá ao estatuto social da companhia a definição precisa e completa do seu
objeto social. Por serem sociedades institucionais ou estatutárias, elas serão sempre
sociedades de capital.

CC/02, Art. 1.160. A sociedade anônima opera sob denominação designativa do objeto
social, integrada pelas expressões "sociedade anônima" ou "companhia", por extenso ou
abreviadamente.
Parágrafo único. Pode constar da denominação o nome do fundador, acionista, ou
pessoa que haja concorrido para o bom êxito da formação da empresa.

Uma das principais características das sociedades anônimas é a limitação da


responsabilidade dos sócios. Como dispõe o art. 1º da LSA, “a companhia ou sociedade
anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será
limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas” (regra repetida pelo art.
1.088 do CC/02). Ex.: o credor aciona a sociedade (sem bens), depois aciona os sócios,
somente será acionado cada um que tenha subscrito e não integralizado o capital, não há
solidariedade entre os sócios.

13
Algumas formalidades burocráticas concernentes ao registro da companhia, assim como das emissões de
valores mobiliários perante a CVM são indispensáveis para que a sociedade anônima possa ter seus valores
mobiliários admitidos à negociação no mercado de capitais (arts. 4º , p.u., 170, § 6º e 82 da LSA).
30
Há duas modalidades de constituição das companhias: por subscrição pública ou por
subscrição particular. Enquanto esta se dirige aos próprios acionistas da companhia ou a
investidores predeterminados, aquela se volta a toda comunidade de pessoas do mercado.
Nesse sentido, Fábio Ulhoa Coelho explica que:
A subscrição pode ser particular ou pública. Na primeira, as ações emitidas são
apresentadas como opção de investimento a investidores procurados diretamente pela
companhia emissora ou por seus agentes. Não existe, nessa modalidade, uma oferta aos
investidores em geral. Claro que também será particular a subscrição realizada para
atender determinado investidor que houvera tomado a iniciativa de apresentar proposta
de investimento atraente aos olhos da sociedade. O decisivo, para caracterizar como
particular a subscrição, é a ausência de acessibilidade dos investidores em geral à
emissão. Já a subscrição pública é, exatamente, a que apresenta essa ampla
acessibilidade: a ação é apresentada como alternativa de investimento à generalidade
dos investidores e demais agentes que operam no mercado de capitais. A sociedade
anônima fechada somente pode emitir ações para subscrição particular. Se pretender
alargar o universo de pessoas às quais apresentará a ação como opção atraente, terá de
abrir o seu capital, solicitando os registros hábeis junto à CVM. Já a sociedade anônima
aberta pode optar pela realização da emissão de ações para subscrição particular ou
pública, procedendo também aos registros cabíveis na CVM14.

Além disso, convém sublinhar que a subscrição pública pode acontecer tanto na
constituição quanto no aumento do capital social da companhia aberta. No entanto, nesta
espécie de sociedade anônima, a subscrição particular somente é possível para se realizar o
aumento de capital social, hipótese que tem por finalidade o depósito das ações na [B]³.
E isso é assim porque, para que o referido depósito ocorra, é necessário que a
companhia emissora já tenha obtido seu registro junto à CVM na época em que foi
constituída mediante subscrição pública ou quando efetuou o procedimento de abertura de
seu capital15. Logo, não há como uma companhia aberta se valer da subscrição particular com
o fim de promover sua constituição.

14
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. v. 2, 10. ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p.
117.
15
Conforme o jargão econômico, a operação pela qual uma companhia fechada acessa o mercado pela primeira
vez é designada pela sigla IPO (Initial Public Offer – Oferta Pública Inicial). Esse procedimento atende a um dos
principais objetivos do mercado de capitais, qual seja: permitir o acesso das sociedades anônimas à poupança
popular, afastando as desvantagens ocasionadas pelos empréstimos bancários. Essa premissa torna imprescindível
um sistema adequado à proteção do investidor, que tenha como pilar a eficiente política de divulgação e
transparência das informações. No Brasil, tal política é implementada mediante a exigência de registro prévio na
31
Com base nestas informações, os procedimentos de subscrição pública e particular das
ações de companhia aberta são representados pelo seguinte organograma:

São requisitos preliminares para a constituição de uma sociedade anônima,


independentemente da modalidade de constituição:

1. subscrição de pelo menos duas pessoas, de todas as ações em que se divide o seu
capital social. A subscrição é irretratável.
2. Realização, como entrada, em dinheiro, de 10%, no mínimo, do preço de emissão das
ações subscritas. Nas instituições financeiras essa porcentagem é de 50%. O fundador

CVM quanto às ofertas de valores mobiliários que se dirijam ao público em geral. Para deferimento deste
registro, não compete à CVM qualquer exame a respeito da qualidade dos títulos ofertados, nem quanto às
características da empresa emissora, ou mesmo, quanto à conveniência do momento escolhido para a oferta
pública. A única exceção se verifica na hipótese de exame substantivo referente à constituição de companhia por
subscrição pública prevista no art. 82 da LSA. Vale observar que há situações, porém, em que não se justifica
exigir o prévio registro na CVM da oferta de venda das ações. Isso ocorre quando esta não transcende os limites
de uma operação de cunho eminentemente privado, dirigindo-se a pessoas específicas e previamente
determinadas. Nestes casos, não há o apelo à poupança popular, tal como acontece quando os investidores,
mesmo sem o controle proporcionado pela intervenção da CVM e da BM&FBOVESPA, têm acesso a informações
que lhes permitam uma tomada de decisão consciente. (EIZIRIK, Nelson. A oferta pública de distribuição de
valores mobiliários. WALD, Arnoldo; GONÇALVES, Fernando; CASTRO, Moema Augusta Soares de (coord.);
FREITAS, Bernardo Vianna; CARVALHO, Mário Tavernard Martins de (org.). Sociedades anônimas e mercado de
capitais. São Paulo: Quartier Latin, 2011, p. 30 e 31)
32
terá 5 dias, contados do recebimento das quantias, em nome do subscritor e a favor
da sociedade, para fazer o depósito no estabelecimento bancário autorizado pela
CVM.
3. Arquivamento do estatuto social da empresa na Junta comercial e publicação pela
imprensa de seus atos constitutivos;
4. Transferência para a companhia, por transcrição no registro público competente, dos
bens com que o subscritor tenha contribuído para a formação do capital social.

Quando se trata das companhias, um tema bastante recorrente em provas de concursos


diz respeitos aos valores mobiliários, que consistem em bens móveis representantes de
direitos contra a companhia. No caso das ações, tais direitos representam frações do capital
social.
As ações são indivisíveis em relação à companhia e, dependendo do critério adotado,
assumem os seguintes valores:

1. Valor nominal: valor indicado no estatuto social.


2. Valor ou preço de emissão: é aquele pago por quem subscreve a ação e é fixado
pelos fundadores no momento da constituição da empresa.
3. Valores de mercado: valor da negociação.
4. Valor patrimonial:valor da ação em relação ao patrimônio. Patrimônio dividido pelo
número de ações. Esse valor será pago em caso de dissolução total ou parcial da
sociedade.

Dependendo da forma como são transferidas para outros acionistas ou terceiros, as


ações podem ser:

1. Ações Nominativas. Para a transferência destas, bastará o termo lavrado no livro de


Transferência de Ações Nominativas datado e assinado pelo cedente e pelo cessionário,
ou por seus representantes. Em verdade, todas as ações de uma sociedade anônima
devem ser nominais, haja vista que a Lei n. 8.021/90 vedou a emissão de títulos ao
portador.
2. Escriturais: elas não deixam de ser nominativas, visto que são identificados seus
titulares. Entretanto, diferenciam-se quanto a forma de transferência, uma vez que esta

33
ocorre por contas de depósito. Aqui, uma instituição financeira autorizada pela CVM,
manterá contas de depósitos em nome dos titulares das ações.

As ações, conforme a natureza dos direitos ou vantagens conferidas aos seus titulares
poderão ser:

1. Ordinárias:conferem aos acionistas os direitos comuns, como o direito a voto e de


participação nos lucros. São ações de emissão obrigatória por todas as companhias.
2. Preferenciais:conferem aos acionistas certas vantagens, que podem consistir em:
a)prioridade na distribuição de dividendo fixo (obtido lucro pela sociedade,o
estatuto prevê qual o percentual fixo que será recebido pelos acionistas preferenciais,o
que sobrar será dividido entre os ordinários), mínimo (se ocorrendo determinado lucro,
os preferencialistas recebem o mínimo fixado, o que sobrar vai servir para pagar a
mesma quantidade aos portadores das ações ordinárias; sobrando ainda nova partilha
é feita entre os preferencialistas) ou cumulativos (se a sociedade não divide os lucros,
eles serão cumulados para o próximo ano);
b) prioridade no reembolso do capital, com prêmio ou sem ele. O estatuto poderá
deixar de conferir às ações preferenciais alguns dos direitos reconhecidos às ações
ordinárias ou conferi-los com restrição. O número de ações preferenciais sem direito
de voto ou sujeitas a restrições não poderá ultrapassar 50% do total das ações
emitidas
3. Gozo ou fruição:São aquelas distribuídas aos acionistas titulares de ações ordinárias
ou preferenciais em substituição dessas ações que já foram amortizadas. A
amortização consiste na distribuição aos acionistas, a título de antecipação e sem
redução do capital social, da quantia a que teriam direito em caso de liquidação da
companhia.

Sobre as debêntures, é importante mencionar que são valores mobiliários que conferem
a seus titulares direito de crédito contra a companhia, nas condições constantes da escritura
de emissão e, se houver, do certificado. São títulos emitidos pela S/A para negociar junto ao
público, levantando capital para sociedade, é como se fosse um empréstimo feito para a

34
Sociedade (captação de recursos). É título executivo extrajudicial elencado no CPC/2015 (artigo
784, I).
Existem quatro espécies de debêntures (art. 58):

1. com garantia real: aquelas atreladas a um bem pertencente ou não à sociedade;


2. com garantia flutuante: aquelas que asseguram a seus titulares privilégio geral sobre
o ativo da companhia, mas não impedem a negociação dos bens que compõem esse
ativo. Em caso de liquidação, essas debêntures têm preferência sobre os créditos
quirografários;
3. quirografárias: aquelas sem qualquer garantia ou privilégio, que concorrem com os
demais créditos quirografários da companhia na hipótese de liquidação;
4. subordinadas ou subquirografárias: aquelas com preferência apenas sobre os
acionistas da companhia em caso de liquidação.

As debêntures podem ser, tais como as ações, nominativas e escriturais, bem como
conversíveis em ações.
Outros valores mobiliários também podem ser emitidos pelas companhias. É o caso, por
exemplo, das partes beneficiárias, que são títulos negociáveis, sem valor nominal e estranhos
ao capital social. São emitidos para captar recursos ou remunerar serviço prestado. É um
direito de crédito eventual, até um limite de 10% do lucro da empresa, dependendo da
existência ou não de obtenção de lucro pela sociedade. Somente podem ser emitidas por
sociedades fechadas (Lei 10.303/01).
Os bônus de subscrição, por sua vez, são valores mobiliários que conferem ao titular,
nas condições constantes do certificado, o direito de preferência para subscrever novas ações
por ocasião do aumento do capital social autorizado no estatuto, antes de qualquer outro.
Não é um direito de crédito, é, simplesmente, um direito de preferência, que precede inclusive
o acionista.
Já o “commercial paper” é uma espécie de nota promissória que serve para captação
de recursos no mercado de capital, sendo restituídos aos investidores em curto prazo. Esse
prazo é de, no mínimo, 30 e, no máximo, 180 dias, para a restituição dos valores recebidos em
mercado pela companhia. Tais títulos somente se transferem por endosso em preto e com a
cláusula “sem garantia”.

35
Os principais órgãos das sociedades anônimas são: a Assembleia, o Conselho de
Administração, a Diretoria e o Conselho Fiscal.
As Assembleias são órgãos de deliberação colegiados formados por todos os acionistas
que tenham ou não direito a voto. A Assembleia Geral é o órgão supremo da companhia e
pode ser das seguintes espécies:

1. AssembleiaGeral Ordinária (AGO): deverá ocorrer anualmente, nos quatro primeiros


meses seguintes ao término do exercício social da empresa, e deverá abranger as
seguintes matérias: a) tomada de contas dos administradores, exame, discussão e
votação das demonstrações financeiras; b) deliberação sobre a destinação do lucro
líquido do exercício e distribuição de dividendo; c) eleição dos administradores e dos
membros do Conselho Fiscal, quando for o caso; d) aprovação de correção da
expressão monetária do capital social.
2. Assembleia Geral Extraordinária (AGE): pode ocorrer a qualquer tempo, e serve para
a deliberação de qualquer outra matéria que não seja de competência privativa da
assembléia geral ordinária. A AGE que tiver por objeto a reforma do estatuto somente
se instalará com a presença de acionistas que representem 2/3, no mínimo, do capital
com direito a voto. Em segunda convocação, instalar-se-á com qualquer número.

O Conselho de Administraçãoé um órgão de deliberação colegiada a quem compete,


principalmente, fixar a orientação geral dos negócios da companhia e fiscalizar a gestão dos
diretores. É composto por, no mínimo, 3 membros, acionistas, eleitos pela AGE e por ela
destituíveis a qualquer tempo, com mandato de no máximo 3 anos, permitida a
reeleição.Somenteé obrigatório nas sociedades anônimas abertas (que negociam suas ações
na bolsa ou no mercado de capitais), nas de capital autorizado (têm autorização de aumento
de capital no estatuto, sem necessidade de assembleia para deliberação) e nas sociedades de
economia mista.
A Diretoria, por sua vez, é a responsável pela representação da companhia e pela
prática dos atos necessários ao seu funcionamento regular. É obrigatória em todas as
sociedades anônimas. Os diretores podem ou não ser acionistas, exigindo a lei que se trate de
pessoa residente no país e que sejam pessoas naturais. Ela é composta por dois ou mais
diretores, eleitos e destituíveis a qualquer tempo pelo Conselho de Administração, ou se,

36
inexistente, pela assembleia geral, com mandato nunca superior a 3 anos, permitida a
reeleição.
O Conselho Fiscalé obrigatório de existência nas sociedades anônimas, mas, o seu
funcionamento pode não ser permanente, restringindo-se aos exercícios sociais em que for
instalado a pedido dos acionistas. Sua atribuição é a fiscalização dos atos de administração da
sociedade. Os conselheiros podem ou não ser acionistas. Serão, no mínimo, 03 e no máximo,
05 conselheiros.
O principal dever de um acionista é o de integralizar as ações subscritas, sob pena de
se tornar acionista remisso, com a consequência de ser executado ou ter suas ações
negociadas em bolsa. Para a cobrança judicial, podem ser utilizados o boletim de subscrição
ou o aviso de chamada de capital, que são títulos executivos extrajudiciais.

Sobre a execução judicial do sócio remisso, é importante frisar que o aviso de chamada
de capital deve ser publicado pelo menos por 03 vezes em jornal de grande circulação e deve
ser dado o prazo de 30 dias para comparecimento do acionista remisso. O Estatuto Social não
é titulo executivo. Além disso, a execução será feita com base no valor que deveria integralizar
mais os valores referentes aos prejuízos causados pela mora na transferência dos montantes
aos quais o acionista se comprometeu (juros, correção, multa.) Além disso, a execução e a
negociação das ações são medidas que podem ser adotadas simultaneamente pela sociedade.
Em havendo êxito em um dos caminhos o outro será suspenso. Mesmo a S/A fechada pode
negociar as ações do remisso na bolsa, cujos valores serão suportados pelo remisso.
São considerados direitos essenciais dos acionistas por não poderem ser deles retirados:

1. Participação nos lucros:qualquer cláusula que retire esse direito é nula, sendo
chamada de cláusula leonina; entretanto esse direito pode ser reduzido ou ampliado.
2. Preferência na subscrição de novas ações: contudo, há uma mitigação desse direito
no caso de existirem bônus de subscrição emitidos pela companhia.

37
3. Fiscalização:podem os acionistas fiscalizar a administração da sociedadepor meio do
Conselho Fiscal e por meio da Assembleia Geral, que é responsável pela aprovação das
contas da sociedade).
4. Participação no acervo societário: em caso de liquidação da sociedade, que consiste
na apuração do ativo para pagar o passivo, o que resta deve ser dividido entre todos
os acionistas, com base no valor patrimonial das suas ações.
5. Retirada:o acionista pode sair da sociedade; não a qualquer tempo, mas, sim, se
houver dissidência com relação às deliberações constantes do art. 137 da Lei 6.404/76,
sendo reembolsado pela sociedade, pelo valor nominal das ações.

O direito de voto é dessa natureza, tanto que existem ações sem esse direito garantido.

Como regra, não é o simples desejo de sair da sociedade, pelo fim da “affectio
societas”,caso isso ocorra deve procurar negociar suas ações). No entanto, há entendimento
majoritário do Superior Tribunal de Justiça no sentido “da possibilidade jurídica da
dissolução parcial de sociedade anônima fechada, em que prepondere o liame subjetivo
entre os sócios, ao fundamento de quebra da affectio societatis”.

Sobre o direito de retirada (ou direito de recesso), vale ressaltar que existem duas
formas de uma pessoa se desligar da sociedade empresária de que participa: a) alienando a
sua participação societária ou; b) exercendo seu direito de retirada.

38
Na sociedade anônima, dada a facilidade de alienação da participação societária, as
hipóteses de exercício do direito de retirada são limitadas, estando disciplinadas
especificamente em lei.
O exercício do direito de retirada se dá mediante reembolso, que consistem em
operação pela qual, nos casos previstos em lei, a companhia paga o valor patrimonial das
ações aos acionistas dissidentes de deliberação da assembleia-geral o valor de suas ações.
Podem ser elencadas as seguintes hipóteses de direito de reembolso:

1. Criação de ações preferenciais ou aumento de classe de ações preferenciais


existentes, sem guardar proporção com as demais classes de ações
preferenciais, salvo se já previstos ou autorizados pelo estatuto;
2. Alteração nas preferências, vantagens e condições de resgate ou amortização de
uma ou mais classes de ações preferenciais, ou criação de nova classe mais
favorecida;
3. Redução do dividendo obrigatório;
4. Fusão da companhia, ou sua incorporação em outra;
5. Participação em grupo de sociedades (art. 265);
6. Mudança do objeto da companhia;
7. Cisão da companhia;
8. Transformação da sociedade anônima em limitada (quando há autorização no
estatuto para transformação da sociedade por decisão não unânime) – art. 221
9. Operações societárias que resultem no fechamento da companhia – art. 223
10. Incorporação de ações (quando se torna subsidiária integral de outra) – art. 252
11. Transferência do controle acionário ao Poder Público, em razão de
desapropriação – art. 236
12. Compra do controle de qualquer sociedade por uma companhia aberta – art.
256

39
Com fundamento no art. 205 da Lei nº 6.404/76, o Superior Tribunal de Justiça entende
que não faz jus ao recebimento de dividendos o sócio que manteve essa condição durante o
exercício financeiro sobre o qual é apurado o lucro, mas se desliga da empresa, por alienação
de suas ações, em data anterior ao ato de declaração do benefício. Imagine que um acionista
possuía 40 mil ações ordinárias da sociedade anônima e, em fevereiro de 2019, ele vendeu
suas ações. Em abril/2019, a S.A. realizou Assembleia Geral Ordinária e deliberou pagar aos
acionistas da companhia os dividendos apurados no ano anterior (2018). Tal acionista não terá
direito ao recebimento porque, na data do ato de declaração do dividendo (data da
Assembleia), ele já não mais fazia parte do quadro de acionistas da Companhia. STJ. 4ª Turma.
REsp 1.326.281-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/8/2017 (Info 610).
São considerados administradoresda companhia os membros do Conselho de
Administração e da Diretoria. Eles têm como deveres: diligência, lealdade e informação.
Diligência (artigo 153) consiste em cuidar do negócio como se fosse seu. Lealdade (artigo 155)
não pode utilizar as informações privilegiadas em benefício próprio ou alheio. Informação
(artigo 156) desde a nomeação deve informar a sua participação no capital social da
sociedade administrativa e em outras sociedades por ela controladas.
O acionista controlador é a pessoa natural ou jurídica, ou grupo de pessoas vinculadas
por acordo de voto, ou sob controle comum, que seja titular de direitos de sócio que lhe
assegurem, de modo permanente, a maioria dos votos nas deliberações da assembleia geral e
o poder de eleger a maioria dos administradores, e que usa efetivamente esse poder para
dirigir e orientar o funcionamento do órgãos da companhia. Ele responde pelos danos
causados por atos praticados com abuso de poder e que impliquem danos ou prejuízos aos
demais acionistas, à companhia ou à sociedade.
No que tange à dissolução, à liquidação e à extinção das sociedades anônimas, convém
enfatizar que ela poderá ocorrer:

 De pleno direito:
40
a) Término do prazo de duração;
b) Em qualquer caso específico previsto no estatuto;
c) Por deliberação da assembleia geral;
d) Pela existência de um único acionista, verificada em AGO, se no mínimo de dois
não for reconstituído até à do ano seguinte;
e) E pela extinção, na forma da lei, da autorização para funcionar.

 Por decisão judicial:

a) For anulada a sua constituição em ação proposta por qualquer acionista;


b) For provado que não poderá alcançar o seu objetivo em ação proposta por
acionistas que representem 5% ou mais do capital social;
c) For decretada a falência, na forma da respectiva lei.

 Por decisão da autoridade administrativa competente:

a) Nos casos e na forma prevista em lei especial;


b) Na falta de autorização devida para a negociação de ações no mercado de
capitais.

Após a dissolução terá início a liquidação, que poderá ser extrajudicial (competindo à
assembleia geral deliberar o seu modo e nomear o liquidante) ou judicial. A companhia
dissolvida conserva a sua personalidade jurídica até a sua extinção, para que possa ser
efetuada a liquidação. O liquidante tem os mesmos deveres e responsabilidades do
administrador.

O Superior Tribunal de Justiça admite a dissolução parcial da sociedade anônima que


não está gerando lucros. Para a corte, é possível que sociedade anônima de capital fechado,

41
ainda que não formada por grupos familiares, seja dissolvida parcialmente quando, a despeito
de não atingir seu fim – consubstanciado no aferimento de lucros e na distribuição de
dividendos aos acionistas –, restar configurada a viabilidade da continuação dos negócios da
companhia. STJ. 3ª Turma. REsp 1.321.263-PR, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 6/12/2016
(Info 595). Além disso, a Terceira Turma do STJ, no REsp 1.400.264/RS, decidiu que "a
legitimidade passiva ad causam em ação de dissolução parcial de sociedade anônima fechada
é da própria companhia, não havendo litisconsórcio necessário com todos os acionistas".
Segundo a relatora, Ministra Nancy Andrighi, "os contornos concretos do litígio dizem respeito
unicamente à dissolução parcial da companhia, com a retirada dos recorridos, acionistas
minoritários. Esse dado é relevante porque o resultado útil do processo, na perspectiva dos
autores da demanda, cinge-se à sua retirada da sociedade com a respectiva apuração de
haveres, portanto, eventual acolhimento do pedido formulado na petição inicial não conduz à
absoluta inviabilidade de manutenção da empresa por dissolução total".
Por fim, cabe tratar das operações societárias, que consistem em alterações no tipo ou
na estrutura da sociedade empresária. Compreendem a transformação, incorporação, fusão e
cisão.Se essas operações envolverem uma sociedade institucional (anônima ou comandita por
ações) seguem a disciplina prevista na LSA (arts. 220 a 234). Do contrário, aplicam-se as regras
previstas no Código Civil.
Nesse sentido, tem-se o seguinte enunciado do Conselho de Justiça Federal.

Enunciado 230 do CJF – Art. 1.089: A fusão e a incorporação de sociedade anônima


continuam reguladas pelas normas previstas na Lei n. 6.404/76, não revogadas pelo
Código Civil (art. 1.089), quanto a esse tipo societário. [A comandita por ações segue o
mesmo regime da S.A – Vide 1.090 do CC/02 e o Enunciado 232 do CJF abaixo
transcrito]

Em breve descrição, é possível elencar as seguintes operações societárias mais


relevantes:

 Transformação: ocorre quando há mudança de tipo societário, ou seja, de uma S/A

para LTDA ou vice-versa, independentemente, de dissolução e liquidação de um tipo

para outro. Também há transformação caso haja alteração de aberta para fechada

ou vice-versa. A transformação não prejudica os direitos dos credores, que

42
continuarão, até o pagamento integral dos seus créditos, com as mesmas garantias

que o tipo anterior de sociedades lhes oferecia.

 Fusão: ocorre quando duas ou mais sociedades se unem, as quais se extinguem,

para formar uma nova sociedade, que lhes sucederá em todos os direitos e

obrigações. O sócio dissidente da sociedade em que ocorreu a fusão tem direito de

retirada da companhia. Segerar concentração de mercado, haverá apreciação de

CADE (20% do mercado).

 Incorporação: uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhe sucede

em todos os direitos e obrigações. As sociedades absorvidas extinguem-se. O sócio

dissidente da sociedade em que ocorreu a incorporação também tem direito de

retirada da companhia, a não ser que seja titular de ação de espécie ou classe que

tenha liquidez e dispersão no mercado, hipótese em que não lhe é assegurado esse

direito. O sócio da companhia incorporadora não tem direito de retirada. Se houver

concentração de mercado, haverá apreciação do CADE (20% do mercado).

 Cisão:é a operação pela qual a companhia transfere parcela do seu patrimônio para

uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes, extinguindo-se

a companhia cindida, se houver a transferência de todo o seu patrimônio (total), ou

dividindo-se o seu capital (parcial). Na cisão com extinção da companhia cindida, as

sociedades que absorverem parcelas do seu patrimônio responderão solidariamente

pelas obrigações da companhia extinta. Já a companhia cindida que subsistir e as

que absorverem parcelas do seu patrimônio responderão solidariamente pelas

obrigações da primeira anteriores à cisão. O sócio da companhia cindida tem direito

de retirada. Tal como na fusão, a cisão poderá estar condicionada à aprovação pelo

CADE se as sociedades resultantes possuírem 20% ou mais do mercado relevante

daquele setor ou se qualquer dos participantes tiver registrado faturamento bruto

anual no último balanço equivalente ou superior a quatrocentos milhões de reais.

43
QUADRO SINÓTICO

Sociedades SNC SCP Ltda S/A SCA SCS

Personalidade Não
Personificada Personificada Personificada Personificada Personificada
Jurídica Personificada

44
Mista:
Mista:
Ostensivo: Limitada, mas Limitada, mas Mista:
Comanditado
Responsabilidade Direta e solidária pela solidária pela Diretor
Ilimitada
dos sócios por Ilimitada Ilimitada integralização integralização Ilimitada
Comanditário
obrigações sociais Participante: do capital do capital Investidor
(comandante)
Subsidiária e social social Limitada
Limitada
Limitada
Unidade de
participação Quotas Quotas Quotas Ações Ações Quotas
societária
Quanto à natureza
do ato Contratual Contratual Contratual Institucional Contratual Contratual
constitutivo
De capital ou
Quanto à natureza
* de pessoas
da relação entre De pessoas De pessoas De pessoas De pessoas De pessoas
(S/A fechadas
os sócios
e familiares)
Compete à
Sócios ou não Compete aos
Diretoria ou
sócios diretores
Próprios Sócio ao Conselho
Administração autorizados escolhidos no Comanditados
sócios Ostensivo de
pelo contrato ato
Administração,
social constitutivo
se houver
Por não ter
personalidade,
Firma ou Firma ou
Nome Empresarial Firma Social não tem Denominação Firma Social
Denominação Denominação
nome
empresarial

45
QUESTÕES

Questão 1

OAB – XXVI EOU | 2018: Leandro, Alcides e Inácio pretendem investir recursos oriundos de
investimentos no mercado de capitais para constituir uma companhia fechada por subscrição
particular do capital. A sociedade será administrada por Inácio e sua irmã, que não será sócia.

Considerando-se o tipo societário e a responsabilidade legal dos sócios a ele inerente, assinale
a afirmativa correta.

A) Leandro, Alcides e Inácio responderão limitadamente até o preço de emissão das


ações por eles subscritas.
B) Leandro, Alcides e Inácio responderão limitadamente até o valor das quotas por eles
subscritas, mas solidariamente pela integralização do capital.
C) Leandro, Alcides e Inácio responderão ilimitada, solidária e subsidiariamente pelas
obrigações sociais.
D) Leandro e Alcides responderão limitadamente até o preço de emissão das ações por
eles subscritas, e Inácio, como administrador, ilimitada e subsidiariamente, pelas
obrigações sociais.

Comentário:

Resposta correta: alternativa “A”.

Alternativa A: CORRETA

46
Conforme previsão expressa do art. 1º da Lei n.º 6.404/1976: “Art. 1º A companhia ou
sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou
acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas.”.

Alternativa B:INCORRETA

A Sociedade constituída por Leandro, Alcides e Inácio tem seu capital social dividido em
ações, e não em quotas, ao contrário do que se afirma na assertiva em análise.

Essa alternativa descreve a responsabilidade dos sócios de uma sociedade limitada (“Art.
1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de
suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital
social.”)

Alternativa C:INCORRETA

Descreve a responsabilidade dos sócios nas sociedades em nome coletivo, e não numa
Sociedade Anônima (“Art. 1.039. Somente pessoas físicas podem tomar parte na
sociedade em nome coletivo, respondendo todos os sócios, solidária e ilimitadamente,
pelas obrigações sociais.”).

Alternativa D:INCORRETA

Descreve a responsabilidade dos sócios nas Sociedades em Comandita por Ações, nas
quais o acionista-diretor (que administra a sociedade) tem responsabilidade subsidiária
e ilimitada pelas obrigações da sociedade (art. 1.091 do CC; arts. 281 e 282 da Lei n.º
6.404/1976), enquanto a responsabilidade dos demais sócios (não diretores) é limitada
ao preço de emissão das ações por ele subscritas (art. 1.045 do CC, aplicado
subsidiariamente às Sociedades em Comandita por Ações; art. 280 da Lei n.º
6.404/1976).

47
Questão 2
FGV – 2018 SEFIN-RO | Auditor Fiscal de Tributos Estaduais:Companhia aberta, por meio de
deliberação em assembleia geral ordinária e sem posição de qualquer acionista presente,
deliberou a distribuição de dividendo inferior ao obrigatório a seus acionistas. A justificativa foi
a necessidade de captação de recursos por meio da emissão de debêntures não conversíveis
em ações.

J. Teixeira, acionista ausente da deliberação, questiona sua validade por se tratar de


pagamento de dividendo inferior ao obrigatório, que, a seu ver, dependeria de alteração
estatutária, o que, de fato, não ocorreu.

Acerca dessa situação e da deliberação assemblear, assinale a afirmativa correta.

A) A deliberação é nula, por ter violado o direito essencial do acionista de participar dos
lucros sociais.
B) A deliberação é válida, porque qualquer companhia, aberta ou fechada, pode distribuir
dividendo inferior ao obrigatório.
C) A deliberação é anulável, por se tratar de violação a direito patrimonial de cunho
disponível de acionista.
D) A deliberação é válida quanto aos acionistas que a aprovaram, porém ineficaz quanto
aos acionistas ausentes.
E) A deliberação é válida, por ter sido aprovada por todos os presentes e estar motivada
na emissão de debêntures não conversíveis em ações.

Comentário:

Resposta correta: alternativa “E”.

A questão exigia o conhecimento do texto do art. 202 da LSA. In verbis:

48
Art. 202. Os acionistas têm direito de receber como dividendo obrigatório, em cada
exercício, a parcela dos lucros estabelecida no estatuto ou, se este for omisso, a
importância determinada de acordo com as seguintes normas:

I - metade do lucro líquido do exercício diminuído ou acrescido dos seguintes valores:

a) importância destinada à constituição da reserva legal (art. 193); e

b) importância destinada à formação da reserva para contingências (art. 195) e reversão


da mesma reserva formada em exercícios anteriores;

II - o pagamento do dividendo determinado nos termos do inciso I poderá ser limitado


ao montante do lucro líquido do exercício que tiver sido realizado, desde que a
diferença seja registrada como reserva de lucros a realizar (art. 197);

III - os lucros registrados na reserva de lucros a realizar, quando realizados e se não


tiverem sido absorvidos por prejuízos em exercícios subseqüentes, deverão ser
acrescidos ao primeiro dividendo declarado após a realização.

§ 1º O estatuto poderá estabelecer o dividendo como porcentagem do lucro ou do


capital social, ou fixar outros critérios para determiná-lo, desde que sejam regulados
com precisão e minúcia e não sujeitem os acionistas minoritários ao arbítrio dos órgãos
de administração ou da maioria.

§ 2o Quando o estatuto for omisso e a assembleia-geral deliberar alterá-lo para


introduzir norma sobre a matéria, o dividendo obrigatório não poderá ser inferior a 25%
(vinte e cinco por cento) do lucro líquido ajustado nos termos do inciso I deste artigo.

§ 3o A assembleia-geral pode, desde que não haja oposição de qualquer acionista


presente, deliberar a distribuição de dividendo inferior ao obrigatório, nos termos deste
artigo, ou a retenção de todo o lucro líquido, nas seguintes sociedades:

I - companhias abertas exclusivamente para a captação de recursos por debêntures não


conversíveis em ações;

II - companhias fechadas, exceto nas controladas por companhias abertas que não se
enquadrem na condição prevista no inciso I.

§ 4º O dividendo previsto neste artigo não será obrigatório no exercício social em que
os órgãos da administração informarem à assembleia-geral ordinária ser ele incompatível
com a situação financeira da companhia. O conselho fiscal, se em funcionamento, deverá
dar parecer sobre essa informação e, na companhia aberta, seus administradores
encaminharão à Comissão de Valores Mobiliários, dentro de 5 (cinco) dias da realização
da assembleia-geral, exposição justificativa da informação transmitida à assembleia.

49
§ 5º Os lucros que deixarem de ser distribuídos nos termos do § 4º serão registrados
como reserva especial e, se não absorvidos por prejuízos em exercícios subseqüentes,
deverão ser pagos como dividendo assim que o permitir a situação financeira da
companhia.

§ 6o Os lucros não destinados nos termos dos arts. 193 a 197 deverão ser distribuídos
como dividendos.

AlternativaA:INCORRETA

AlternativaB:INCORRETA

AlternativaC:INCORRETA

AlternativaD:INCORRETA

Alternativa E: CORRETA

Conforme art. 202, §3º, I, da LSA, a assembleia-geral pode, desde que não haja
oposição de qualquer acionista PRESENTE, deliberar a distribuição de dividendo
inferior ao obrigatório ou a retenção de todo o lucro líquido, nas companhias
abertas exclusivamente para a captação de recursos por debêntures não
conversíveis em ações.

Questão 3
FGV – 2016 Prefeitura de Cuiabá-MT | Auditor Fiscal de Tributário da Receita
Municipal:Em uma sociedade do tipo simples, constituída por prazo indeterminado, formada
pelos sócios Rita, Antônio e José, o segundo sócio veio a falecer em decorrência de um
acidente.

Sabendo-se que o contrato é omisso quanto à sucessão por morte do sócio, assinale a
afirmativa correta.

50
A) Diante da morte do sócio Antônio, a sociedade terá continuidade com seu sucessor,
em razão da ausência de disposição contratual em sentido contrário.
B) A sociedade deverá proceder à liquidação da quota titularizada por Antônio, não
podendo haver acordo dos sócios com os herdeiros para substituição do sócio
falecido.
C) A sociedade poderá permanecer em atividade com os sócios remanescentes por até
180 dias, contados da data do óbito, prazo para que seja substituído o sócio falecido,
sob pena de dissolução de pleno direito.
D) A sociedade será dissolvida de pleno direito com a morte do sócio, em razão de sua
natureza personalista (intuitu personae), da quebra de affectio societatis e da omissão
no contrato assegurando sua continuidade.
E) A morte de qualquer sócio enseja a resolução da sociedade em relação ao de cujus,
operando-se sua dissolução parcial e apuração de haveres com base no balanço
patrimonial especial à data da resolução (balanço de determinação).

Comentário:

Resposta correta: alternativa “E”.

AlternativaA:INCORRETA

Da leitura do art. 1.028 do CC/02 extrai-se que, via de regra, a morte do sócio
implica na liquidação de sua cota em favor dos herdeiros, ressalvadas as hipóteses
trazidas nos incisos do dispositivo. Dessa regra não dá para depreender que os
herdeiros substituiriam o sócio na sociedade, salvo se acordado (inciso III do art.
1.028 do CC/02).

AlternativaB:INCORRETA

Conforme explicado em sede de análise da “alternativa A” é possível acordar a


substituição do sócio falecido, nos termos do art. 1.028, III, do CC/02.

51
AlternativaC:INCORRETA

Conforme art. 1.033, IV, do CC/02, dissolve-se a sociedade quando estiver diante da
falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias.
Nesse sentido, diante da existência de três sócios, a morte de um não faria incidir
na hipótese desse dispositivo.

AlternativaD:INCORRETA

A questão não traz situação que gere a dissolução total da sociedade, razão pela
qual a alternativa está completamente errada.

Alternativa E: CORRETA

Art. 1.031, do CC/02. Nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um


sócio, o valor da sua quota, considerada pelo montante efetivamente realizado,
liquidar-se-á, salvo disposição contratual em contrário, com base na situação
patrimonial da sociedade, à data da resolução, verificada em balanço
especialmente levantado.

Questão 4

CESPE - 2019 - TJ-PA - Juiz de Direito Substituto:Abel, Breno e Celso são sócios de uma
sociedade simples que exerce atividade não empresarial. Do contrato social dessa sociedade,
regularmente redigido e inscrito no registro civil das pessoas jurídicas, consta exclusivamente
como administrador o não sócio Danilo. No exercício de suas atribuições sociais, o
administrador Danilo distribui lucros ilícitos aos sócios Breno e Celso, que recebem os valores
com total conhecimento da ilicitude. Abel não recebe lucro algum nem conhece a distribuição
ilegítima.

Acerca da responsabilidade civil pela distribuição de lucros ilícitos nessa situação hipotética,
assinale a opção correta.

52
A) Apenas Breno, Celso e Danilo serão solidariamente responsáveis pela distribuição dos
lucros ilícitos.
B) Apenas Danilo deverá ser responsabilizado pela distribuição dos lucros ilícitos, pois a
responsabilização por essa conduta deve afetar quem a realizou, e não quem recebeu
os lucros.
C) A responsabilidade pela distribuição dos lucros ilícitos é restrita aos sócios da
sociedade, que serão responsabilizados na proporção de suas quotas sociais, havendo
direito de regresso contra Danilo.
D) Danilo responderá de maneira direta, enquanto Breno e Celso serão subsidiariamente
responsáveis pela distribuição dos lucros ilícitos, pois detinham conhecimento da
ilegitimidade e receberam os valores distribuídos.
E) Abel, por ser sócio, poderá ser responsabilizado pela distribuição dos lucros ilícitos,
mesmo não possuindo conhecimento da ilegitimidade da distribuição.

Comentário:

Resposta correta: alternativa “A”.

Pelo enunciado podemos verificar que Abel encontra-se de boa-fé, pois nada sabe da
distribuição ilícita dos lucros, já que nada recebeu. Portanto, deve responder apenas o
administrador (sócio ou não) e os sócios que receberam os lucros e que conheciam do ilícito.
Nesse sentido, o seguinte dispositivo do Código Civil:

Art. 1.009. A distribuição de lucros ilícitos ou fictícios acarreta responsabilidade


solidária dos administradores que a realizarem e dos sócios que os receberem,
conhecendo ou devendo conhecer-lhes a ilegitimidade.

Questão 5
INAZ do Pará - 2018 - Prefeitura de São João do Araguaia - PA - Procurador Municipal:Na
sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva do objeto social é exercida
unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva

53
responsabilidade, participando os demais dos resultados correspondentes da sociedade. Assim
dispõe o artigo 991 do Código Civil/2002.Fonte: ANGHER, A. J. (Org.); 2017.

Com base na afirmação do texto acima, em qual alternativa consta a forma de constituição do
patrimônio da sociedade em conta de participação?

A) A formação do patrimônio especial da sociedade em conta de participação se constitui


com a agregação do patrimônio do sócio participante ao ingressar na sociedade.
B) Constitui-se o patrimônio especial da sociedade quando o sócio ostensivo faz a
contribuição para a formação da sociedade e efetua o devido registro no órgão
competente.
C) O patrimônio especial da sociedade é formado a partir da primeira contribuição do
sócio participante e comprovado através de sua declaração do imposto de renda.
D) A contribuição do sócio participante constitui, com a do sócio ostensivo, patrimônio
especial, objeto da conta de participação relativa aos negócios sociais e produz efeitos
em relação aos sócios.

Comentário:

Resposta correta: alternativa “D”.

É o que determina o seguinte dispositivo do Código Civil:

Art. 994. A contribuição do sócio participante constitui, com a do sócio ostensivo,


patrimônio especial, objeto da conta de participação relativa aos negócios sociais.

§ 1 A especialização patrimonial somente produz efeitos em relação aos sócios.

Questão 6
MPE-SP - 2019 - MPE-SP - Promotor de Justiça Substituto:No tocante às sociedades
empresárias, assinale a alternativa correta.

54
A) Na omissão do contrato social, o sócio pode ceder total ou parcialmente suas quotas a
quem seja sócio, independentemente da audiência dos outros, ou a estranho, se não
houver oposição de titulares de mais de 1/4 do capital social.
B) Nas sociedades limitadas, o capital social pode ser dividido em quotas iguais ou
desiguais, pode ser formado por bens corpóreos ou incorpóreos, bem como serviços.
C) Para a alteração do contrato social de uma sociedade limitada, a lei determina que as
deliberações sejam tomadas pelos votos correspondentes a mais da metade do capital
do social.
D) O administrador da sociedade limitada pode ser nomeado no contrato social ou por ato
separado, sendo que uma das consequências dessa distinção é que o administrador
nomeado em contrato deve ser sócio.
E) A inscrição do contrato social no órgão competente não confere personalidade jurídica
às sociedades, exceto às sociedades em conta de participação.

Comentário:

Alternativa A: CORRETA

Nas sociedades empresárias, na omissão do contrato social, o sócio pode ceder total ou
parcialmente suas quotas a quem seja sócio, independentemente da audiência dos outros, ou
a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de 1/4 do capital social (caput do art.
1.057, do CC).

Alternativa B:INCORRETA

Nas sociedades empresárias, do tipo limitada, o capital social pode ser dividido em quotas
iguais ou desiguais, pode ser formado por bens corpóreos ou incorpóreos, mas não com
serviços.De acordo com o caput do art. 1.055, do CC, nas sociedades limitadas, o capital social
pode ser dividido em quotas iguais ou desiguais. E, de acordo com o inciso III, do art. 997, do
CC, nas sociedades limitadas o capital social pode ser formado por bens corpóreos ou
incorpóreos, desde que suscetíveis de avaliação patrimonial. Contudo, de acordo com o

55
parágrafo 2°, do art. 1.055, do CC, não se admite, na sociedade limitada, contribuição ao
capital com serviços.

AlternativaC:INCORRETA

Nas sociedades limitadas, para a alteração do contrato social, a lei determina que as
deliberações sejam tomadas pelos votos correspondentes, no mínimo, a 3/4 do capital do
social (inciso I, do art. 1.076, do CC).

AlternativaD:INCORRETA

O administrador da sociedade limitada pode ser nomeado no contrato social ou por ato
separado, sendo que não é uma das consequências dessa distinção que o administrador
nomeado em contrato deva ser sócio. Conforme o caput do art. 1.060, do CC, a sociedade
limitada é administrada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato
separado. Não se exige que o administrador nomeado em contrato seja sócio. Essa distinção,
portanto, não traz nenhuma consequência prática. A única observação pertinente, de acordo
com o caput do art. 1.061, do CC, é que a designação, seja em contrato ou em ato separado,
de administradores não sócios, enquanto o capital não estiver integralizado, dependerá da
aprovação da unanimidade dos sócios, e de, no mínimo, 2/3 dos sócios, após a integralização.

AlternativaE:INCORRETA

A inscrição do contrato social no órgão competente confere personalidade jurídica às


sociedades, exceto às sociedades em conta de participação. Nesse sentido, o art. 985, do CC, a
sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro próprio e na forma da
lei, dos seus atos constitutivos. O mesmo não ocorre com a sociedade em conta de
participação, que, de acordo com o caput do art. 993, do CC, não possui personalidade
jurídica ainda que o seu contrato social venha a ser registrado.

Questão 7
VUNESP - 2019 - Prefeitura de Guarulhos - SP - Inspetor Fiscal de Rendas -
Conhecimentos Gerais:Um conjunto de pessoas dedicadas à atividade rural se obriga
56
reciprocamente a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e
a partilha, entre si, dos resultados. Nesse contexto, assinale a alternativa correta.

A) O acordo entre tais pessoas constitui contrato de sociedade, sendo que os sócios
deverão escolher um tipo societário dentre aqueles previstos no Código Civil ou
legislação esparsa. Independentemente do tipo societário escolhido, referida sociedade
poderá optar por qualificar-se como sociedade empresária, sujeita à inscrição no
Registro Público de Empresas Mercantis, ou sociedade simples, sujeita à inscrição no
Registro Civil das Pessoas Jurídicas.
B) A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de empresário rural
deve obrigatoriamente inscrever-se no Registro Público de Empresas Mercantis da sua
sede.
C) O acordo entre tais pessoas constitui contrato de sociedade, sendo que os sócios
deverão escolher um tipo societário dentre aqueles previstos no Código Civil ou
legislação esparsa. Caso optem por uma cooperativa, a sociedade será simples (não
empresária), regendo-se pela legislação que lhe é própria e, no seu silêncio, pelas
disposições do Código Civil referentes à sociedade simples.
D) Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto por ações
em organização, pelas normas da sociedade simples.
E) Se a atividade rural, objeto da sociedade, configurar exercício profissional de atividade
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, a
sociedade será necessariamente qualificada como sociedade empresária sujeita a
registro.

Comentário:

AlternativaA:INCORRETA

O tipo societário escolhido irá influenciar na forma como a sociedade empresária irá se
qualificar e em qual órgão deverá ser feito o registro.

57
Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem
por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art.
967); e, simples, as demais.

Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a


sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.

AlternativaB:INCORRETA

A alternativa contraria o seguinte dispositivo do Código Civil:

Art. 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de
empresário rural e seja constituída, ou transformada, de acordo com um dos tipos
de sociedade empresária, pode, com as formalidades do art. 968, requerer inscrição
no Registro Público de Empresas Mercantis da sua sede, caso em que, depois de
inscrita, ficará equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária.

Alternativa C: CORRETA

Ao optar pela estrutura jurídica da Cooperativa, a sociedade, obrigatoriamente, será uma


sociedade simples, nos termos do art. 982 do CC. Caso não faça a opção pela cooperativa,
será considerado uma sociedade simples (lembrar que, em regra, a atividade rural é regida
pelas disposições da sociedade simples, salvo se optar pelo regime da sociedade empresária
ao fazer a opção e registrá-la na Junta Comercial).

AlternativaD:INCORRETA

Nesse sentido, o seguinte preceito normativo:

Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto
por ações em organização, pelo disposto neste Capítulo (Sociedade em Comum),
observadas, subsidiariamente e no que com ele forem compatíveis, as normas da
sociedade simples.

AlternativaE:INCORRETA

58
Art. 983. A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos
regulados nos arts. 1.039 a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de
conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às normas que
lhe são próprias.

Questão 8
CS-UFG - 2018 - Prefeitura de Jataí - GO - Procurador Jurídico:O direito brasileiro disciplina
diferentes tipos de sociedades empresariais caracterizados por formas diversas de
responsabilidade. Assim, na sociedade

A) Em conta de participação, somente o sócio participante obriga-se perante terceiros.


B) Em nome coletivo, a responsabilidade dos sócios é solidária perante terceiros e pode
ser limitada entre si.
C) Em comandita, somente o sócio comanditário obriga-se perante terceiros.
D) Limitada, a responsabilidade dos sócios pela integralização do capital é restrita ao valor
de suas quotas.

Comentário:

AlternativaA:INCORRETA

Na verdade, na sociedade em conta de participação,quem se obriga perante terceiros é o


sócio ostensivo.

Art. 991. Na sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva do objeto


social é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual e sob
sua própria e exclusiva responsabilidade, participando os demais dos resultados
correspondentes.

Parágrafo único. Obriga-se perante terceiro tão-somente o sócio ostensivo; e,


exclusivamente perante este, o sócio participante, nos termos do contrato social.

Alternativa B: CORRETA
59
É possível a limitação da responsabilidade entre os sócios na sociedade em nome coletivo.

Art. 1.039. Somente pessoas físicas podem tomar parte na sociedade em nome
coletivo, respondendo todos os sócios, solidária e ilimitadamente, pelas obrigações
sociais.

Parágrafo único. Sem prejuízo da responsabilidade perante terceiros, podem os


sócios, no ato constitutivo, ou por unânime convenção posterior, limitar entre si a
responsabilidade de cada um.

AlternativaC:INCORRETA

Art. 1.045. Na sociedade em comandita simples tomam parte sócios de duas


categorias: os comanditados, pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente
pelas obrigações sociais; e os comanditários, obrigados somente pelo valor de sua
quota.

AlternativaD:INCORRETA

Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao


valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do
capital social.

Questão 9
COPS-UEL - 2019 - Prefeitura de Londrina - PR - Procurador do Município:Nas sociedades
limitadas, de acordo com as regras do Direito de Empresa, a responsabilidade dos sócios
quanto às dívidas da empresa

A) É limitada ao total do capital social desde que esteja totalmente integralizado.


B) É ilimitada, podendo o sócio que exerce a administração responder pessoalmente com
seu patrimônio particular.
C) É proporcional à quota parte de cada um dos sócios, independentemente do capital
social estar ou não integralizado.

60
D) Não pode ultrapassar a participação de cada sócio na formação do capital social.
E) Será distribuída em razão da solidariedade que existe entre os sócios.

Comentário:

Alternativa A: CORRETA

Art. 1.055 – O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma
ou diversas a cada sócio.

§1° Pela exata estimação de bens conferidos ao capital social respondem


solidariamente todos os sócios pelo capital subscrito e não integralizado (mesmo
aqueles que já tenham integralizado sua quota), até o prazo de 5 anos da data do
registro da sociedade.

Parágrafo único. Obriga-se perante terceiro tão-somente o sócio ostensivo; e,


exclusivamente perante este, o sócio participante, nos termos do contrato social.

AlternativaB:INCORRETA

A responsabilidade é limitada e não ilimitada.

AlternativaC:INCORRETA

A integralização do capital interfere no regime da responsabilidade dos sócios.

AlternativaD:INCORRETA

Em razão da solidariedade, poderá ultrapassar a participação de cada sócio na formação do


capital social, caso o capital não esteja todo integralizado.

AlternativaE:INCORRETA

Inexiste a distribuição da responsabilidade mencionada na alternativa.

61
Questão 10
IESES - 2019 - SCGás - Advogado:É certo afirmar:

I. Embora com o nome sincopado de sociedade limitada esse tipo societário tem
responsabilidade plena pelo cumprimento das obrigações sociais que assumir ou que lhes
forem atribuídas; a expressão “limitada”, com que é identificado, diz respeito à
responsabilidade de seus sócios.

II. Diante das peculiares características da sociedade limitada o seu capital social não
apresenta função relevante, obedecendo mais por um comando legal do que por uma
finalidade materialmente perceptível.

III. O registro é um pressuposto para o desempenho da atividade empresária, individualmente


ou por meio de uma sociedade empresária; nessa última hipótese, o registro dos atos
constitutivos é elemento essencial para a criação da pessoa jurídica, mas, prevendo a lei que
começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a assinatura dos seus
sócios no seu contrato ou estatuto social.

IV. A sociedade limitada possui regime próprio estabelecido pelo Código Civil, que é
complementado pelas disposições da sociedade simples, mas, dada a sua natureza híbrida, é
admitida sua regência supletiva pelas normas da sociedade anônima, se o contrato social
assim denominar.

Analisando as proposições, pode-se afirmar:

A) Somente as proposições I e IV estão corretas.


A) Somente as proposições II e IV estão corretas.
B) Somente as proposições I e III estão corretas.
C) Somente as proposições II e III estão corretas.

62
Comentário:

Item I:CORRETO

Está correta porque a sociedade limitada, como pessoa jurídica, tem responsabilidade pelas
dívidas contraídas no exercício da atividade empresária

ItemII:INCORRETO

O capital social não é mera formalidade, tendo função relevante na constituição da empresa.
Como exemplo, tem-se o fato de que a responsabilidade dos sócios não será solidária quando
o capital estiver integralizado.

ItemIII:INCORRETO

Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a
inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário,
de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as
alterações por que passar o ato constitutivo.

Item IV:CORRETO

Art. 1.053. A sociedade limitada rege-se, nas omissões deste Capítulo, pelas normas
da sociedade simples.

Parágrafo único. O contrato social poderá prever a regência supletiva da sociedade


limitada pelas normas da sociedade anônima.

Questão 11
(CESPE / CEBRASPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia)

Determinada sociedade por quotas de responsabilidade limitada compra peças de uma


sociedade em comum e as utiliza na montagem do produto que revende.

63
Considerando essa situação, julgue o item a seguir, com base no Código de Defesa do
Consumidor (CDC) e nas normas de direito civil e empresarial.

O contrato social da sociedade limitada pode prever regência supletiva pelas normas das
sociedades anônimas, mas, se não o fizer, serão aplicadas as regras das sociedades simples no
caso de omissões de normas específicas da sociedade limitada.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

Certo- Havendo omissão do capítulo específico, aplicam-se as normas da Sociedade Simples:

 Sociedade em Conta de Participação.

 Sociedade em Comum.

 Sociedade em Nome Coletivo.

 A Sociedade em Comandita Simples rege-se, prioritariamente, na omissão, pelas


regras da Sociedade em Nome Coletivo, aplicando-se em seguida as normas
da Sociedade Simples.

 A Sociedade Limitada pode reger-se tanto pelas normas da Sociedade


Simples como pelas normas da Sociedade Anônima (S/A), se assim previsto
expressamente.

 As Cooperativas regem-se pelo disposto no CC, para si, e pela legislação especial
e, no que a lei for omissa, pelas disposições da Sociedade Simples.

 A Sociedade Anônima (S/A) rege-se pela legislação especial (Lei 6.404/76),


aplicando-se a ela, nos casos omissos, a legislação do CC/2002.

64
Questão 12

(CESPE / CEBRASPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia)

A empresa Soluções Indústria de Eletrônicos Ltda. veiculou propaganda considerada enganosa


relativa a determinado produto: as especificações eram distintas das indicadas no material
publicitário. Em razão do anúncio, cerca de duzentos mil consumidores compraram o produto.
Diante desse fato, uma associação de defesa do consumidor constituída havia dois anos
ajuizou ação civil pública com vistas a obter indenização para todos os lesados.

Com referência a essa situação hipotética, julgue o item seguinte.

Na situação apresentada, a empresa ré é uma sociedade limitada que optou por nome
empresarial do tipo denominação.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

Certo - É o que se afirma no Art. 1.158. "Pode a sociedade limitada adotar firma ou
denominação, integradas pela palavra final "limitada" ou a sua abreviatura".

Questão 13

(UEG - 2018 - PC-GO - Delegado de Polícia)

Quanto à sociedade limitada:

A) A responsabilidade de cada sócio é limitada à integralização das quotas sociais por ele
subscritas ou adquiridas.

65
B) Apenas pode ter conselho fiscal se o contrato social previr a regência supletiva pelas
normas da sociedade anônima.
C) Seus atos constitutivos podem ser registrados em junta comercial ou em registro civil
de pessoas jurídicas, a depender do objeto social.
D) Pode nomear pessoa jurídica como administrador, desde que a designação seja feita
pelo contrato social.
E) A omissão do termo “limitada” no nome empresarial não acarreta a responsabilidade
ilimitada dos sócios se a cláusula de limitação de responsabilidade constar do contrato
social.

Comentário:

ALTERNATIVA A: A responsabilidade de cada sócio é limitada à integralização das quotas


sociais por ele subscritas ou adquiridas. INCORRETO

CC, Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de
suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social.

ALTERNATIVA B: Apenas pode ter conselho fiscal se o contrato social previr a regência
supletiva pelas normas da sociedade anônima. INCORRETO

CC, Art. 1.066. Sem prejuízo dos poderes da assembléia dos sócios, pode o contrato instituir
conselho fiscal composto de três ou mais membros e respectivos suplentes, sócios ou não,
residentes no País, eleitos na assembléia anual prevista no art. 1.078. Mesmo que o contrato
não preveja a regência supletiva pelas normas da sociedades anônimas, poderá constituir
conselho fiscal.

ALTERNATIVA C: Seus atos constitutivos podem ser registrados em junta comercial ou em


registro civil de pessoas jurídicas, a depender do objeto social. CERTO

Para abertura, registro e legalização da sociedade empresária limitada, é necessário registro


na Junta Comercial

Já no caso da Sociedade Simples Limitada será feito no Cartório de Registro Civil de Pessoas
Jurídicas.

66
ALTERNATIVA D: Pode nomear pessoa jurídica como administrador, desde que a designação
seja feita pelo contrato social. INCORRETO

Pela conjugação do art. 997, VI c/c art. 1.060 do CC, a maioria da doutrina entende que a
administração de sociedades cabe somente à pessoa natural.

Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além
de cláusulas estipuladas pelas partes,mencionará:

VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e


atribuições;

Art. 1.060. A sociedade limitada é administrada por uma ou mais pessoas designadas no
contrato social ou em ato separado.

Parágrafo único. A administração atribuída no contrato a todos os sócios não se estende de


pleno direito aos que posteriormente adquiram essa qualidade.

Art. 1.053. A sociedade limitada rege-se, nas omissões deste Capítulo, pelas normas da
sociedade simples.

ALTERNATIVA E: A omissão do termo “limitada” no nome empresarial não acarreta a


responsabilidade ilimitada dos sócios se a cláusula de limitação de responsabilidade constar
do contrato social. INCORRETO

A omissão da palavra "limitada" gera a responsabilidade SOLIDÁRIA e ILIMITADA dos sócios


por quebra de expectativa dos terceiros, que não sabiam que a responsabilidade da empresa
seria limitada.

CC, art. 1.1158, § 3o , CC - A omissão da palavra "limitada" determina a responsabilidade


solidária e ilimitada dos administradores que assim empregarem a firma ou a denominação da
sociedade.

67
GABARITO COMENTADO

Questão 1 - A

Questão 2 - E

Questão 3 - E

Questão 4 - A

Questão 5 - D

Questão 6 - A

Questão 7 - C

Questão 8 - B

Questão 9 - A

Questão 10 - A

Questão 11 - Certo

Questão 12 - Certo

Questão 13 - C

68
QUESTÃO DESAFIO

Deve ocorrer deliberação em assembleia dos sócios sempre que


houver intenção de alterar contrato social de Sociedade Limitada?

Máximo de 5 linhas

69
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

Não, a deliberação em assembleia, nos casos das sociedades limitadas, será obrigatória
apenas se o número de sócios for superior a 10 (dez), conforme art. 1.072, §1º do Código
Civil.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Número de sócios superior a 10

O art. 1.071 do Código Civil lista quais decisões dependem da deliberação dos sócios. O autor
André Santa Cruz comenta (CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. 8. ed. São Paulo: Método,
2018. p. 370-370.): “Em regra, as decisões mais corriqueiras, as decisões menores da sociedade
limitada são tomadas unipessoalmente por aqueles que têm poderes para administrar a
sociedade, ou seja, pelo(s) administrador(es). No entanto, aquelas decisões mais complexas –
como, por exemplo, a relativa à alteração do contrato social ou a referente à fusão com outra
sociedade – exigem uma deliberação colegiada.”.

É o artigo seguinte que disciplina a obrigatoriedade da realização de assembleia, excetuando a


regra os casos de sociedades limitadas com menos de 10 (dez) sócios.

 Citar o art. 1.072, §1º do Código Civil

O art. 1.072 do Código Civil trata das deliberações dos sócios, que devem ser tomadas em
reunião ou em assembleia. O §1º, por sua vez, afirma que a deliberação em assembléia será
obrigatória se o número dos sócios for superior a dez. Dessa forma, quando o número de
sócios não for superior a 10 (dez) pode ser feita deliberação em reunião de sócios.

Sobre o assunto, o autor André Santa Cruz explica: “O órgão específico responsável pela
tomada das deliberações sociais é a assembleia dos sócios. Todavia, o Código Civil trouxe,
nessa matéria, uma interessante regra: nas sociedades limitadas menores, de até 10 sócios, o
Código previu que o regime de assembleia pode ser substituído pelo de reunião de
sócios.”. (CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. 8. ed. São Paulo: Método, 2018. p. 370-370.)

70
JURISPRUDÊNCIA

 STJ. REsp 1653421/MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
10/10/2017, DJe 13/11/2017

RECURSO ESPECIAL. DIREITO SOCIETÁRIO. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE. NEGATIVA DE


PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA.CERCEAMENTO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA. SÓCIO
MAJORITÁRIO. PRÁTICA DE FALTA GRAVE. EXCLUSÃO. ART. 1.030 DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. SÓCIOS
MINORITÁRIOS. INICIATIVA. POSSIBILIDADE.1. Controvérsia limitada a definir se é possível a exclusão judicial

de sócio majoritário de sociedade limitada por falta grave no cumprimento de suas obrigações, mediante
iniciativa da maioria dos demais sócios.2. Nos termos do Enunciado nº 216/CJF, aprovado na III Jornada de
Direito Civil,o quórum de deliberação previsto no art. 1.030 do Código Civil de 2002 é de maioria
absoluta do capital representado pelas quotas dos demais sócios.3. Na apuração da maioria absoluta do
capital social para fins de exclusão judicial de sócio de sociedade limitada, consideram-se apenas as

quotas dos demais sócios, excluídas aquelas pertencentes ao sócio que se pretende excluir, não

incidindo a condicionante prevista no art. 1.085 do Código Civil de 2002, somente aplicável na hipótese
de exclusão extrajudicial de sócio por deliberação da maioria representativa de mais da metade do

capital social, mediante alteração do contrato social.4. Recurso especial não provido.

 (STJ. REsp 1642118/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Rel. p/ Acórdão Ministro
MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 12/09/2017, DJe 20/02/2018)

RECURSO ESPECIAL. DIREITO EMPRESARIAL. AÇÃO REGRESSIVA. CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE


DIFERENÇA DE AÇÕES. DEBÊNTURES CONVERSÍVEIS EM AÇÃO PREFERENCIAL. AUMENTO DE CAPITAL
SOCIAL. CISÃO PARCIAL. DÍVIDAS PRÓPRIAS DE NATUREZA SOCIETÁRIA. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.1.
Recurso especial em que se discute a possibilidade de ação de regresso para ressarcimento de condenação
suportada exclusivamente por empresa cindidida contra a empresa que absorveu parcela de seu patrimônio

líquido.2. Para admissão da ação de regresso não se discute a responsabilidade solidária por dívidas, mas tão
somente a titularidade da obrigação na condição de devedor. 3. A transmissão das obrigações da empresa
cindida é, em regra, objeto de livre contratação entre as empresas, desde que satisfeitas as condições
legais estabelecidas de forma distinta para as obrigações cíveis e aquelas de natureza societária, interna
corporis.
4. Inexistindo anuência de todos os acionistas, inclusive aqueles sem direito a voto (art. 229, § 5º, da LSA)
quanto à atribuição de proporção societária diferenciada, a obrigação de emissão das ações decorrentes de

71
opção de debenturistas é obrigação eminentemente societária, a qual somente seria cumprida mediante a
emissão de ações correspondentes pelas empresas cindendas.5. In casu, não houve a referida deliberação, de

modo que a empresa cindenda é devedora da obrigação, que foi convertida em perdas e danos e
suportada integralmente pela cindida, sendo, portanto, devida a recomposição proporcional ao
patrimônio líquido por ela absorvido.6. Recurso especial provido.

 REsp 1393724/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Rel. p/ Acórdão Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/10/2015, DJe 04/12/2015

RECURSO ESPECIAL. CIVIL E EMPRESARIAL. JUNTA COMERCIAL. EXIGÊNCIA DE CERTIDÃO NEGATIVA


TRIBUTÁRIA. ANTINOMIA JURÍDICA DE SEGUNDO GRAU.CONFLITO ENTRE O CRITÉRIO CRONOLÓGICO E O
DA ESPECIALIDADE. HIPÓTESE DE PREVALÊNCIA DO CRITÉRIO CRONOLÓGICO. PREVALÊNCIA DA LIVRE

INICIATIVA.1. Exigência, por Junta Comercial, de certidões negativas tributárias como condição para o
arquivamento de ato de transformação de sociedade simples em sociedade empresária.2. Antinomia
jurídica entre a Lei 8.934/94, ao regular o registro público de empresas mercantis e atividades afins, e

leis tributárias específicas anteriores.3. Possibilidade de aplicação do critério cronológico ou do critério


da especialidade, caracterizando um conflito qualificado como "antinomia de segundo grau".4.
Prevalência excepcional do critério cronológico. Precedente da Terceira Turma.5. Derrogação tácita dos
dispositivos de leis tributárias anteriores que condicionavam o ato de arquivamento na Junta Comercial

à apresentação de certidão negativa de débitos.6. Interpretação condizente com o princípio

constitucional da livre iniciativa.7. RECURSO ESPECIAL PROVIDO, EM PARTE.

 REsp 1729554/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 08/05/2018,
DJe 06/06/2018

RECURSO ESPECIAL. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.


CPC/2015. PROCEDIMENTO PARA DECLARAÇÃO. REQUISITOS PARA A INSTAURAÇÃO. OBSERVÂNCIA DAS
REGRAS DE DIREITO MATERIAL.DESCONSIDERAÇÃO COM BASE NO ART. 50 DO CC/2002. ABUSO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA. DESVIO DE FINALIDADE. CONFUSÃO PATRIMONIAL.INSOLVÊNCIA DO DEVEDOR.
DESNECESSIDADE DE SUA COMPROVAÇÃO. 1. A desconsideração da personalidade jurídica não visa à sua
anulação, mas somente objetiva desconsiderar, no caso concreto, dentro de seus limites, a pessoa
jurídica, em relação às pessoas ou bens que atrás dela se escondem, com a declaração de sua ineficácia
para determinados efeitos, prosseguindo, todavia, incólume para seus outros fins legítimos.2. O
CPC/2015 inovou no assunto prevendo e regulamentando procedimento próprio para a operacionalização do
instituto de inquestionável relevância social e instrumental, que colabora com a recuperação de crédito,
combate à fraude, fortalecendo a segurança do mercado, em razão do acréscimo de garantias aos credores,
apresentando como modalidade de intervenção de terceiros (arts. 133 a 137) 3. Nos termos do novo
regramento, o pedido de desconsideração não inaugura ação autônoma, mas se instaura
incidentalmente, podendo ter início nas fases de conhecimento, cumprimento de sentença e executiva,
opção, inclusive, há muito admitida pela jurisprudência, tendo a normatização empreendida pelo novo
diploma o mérito de revestir de segurança jurídica a questão.4. Os pressupostos da desconsideração da

72
personalidade jurídica continuam a ser estabelecidos por normas de direito material, cuidando o
diploma processual tão somente da disciplina do procedimento. Assim, os requisitos da desconsideração
variarão de acordo com a natureza da causa, seguindo-se, entretanto, em todos os casos, o rito
procedimental proposto pelo diploma processual.6. Nas causas em que a relação jurídica subjacente ao
processo for cível-empresarial, a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica será regulada pelo art.
50 do Código Civil, nos casos de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou
pela confusão patrimonial.7. A inexistência ou não localização de bens da pessoa jurídica não é condição
para a instauração do procedimento que objetiva a desconsideração, por não ser sequer requisito para
aquela declaração, já que imprescindível a demonstração específica da prática objetiva de desvio de
finalidade ou de confusão patrimonial.8. Recurso especial provido.

73
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Neste capítulo, faz-se necessário ler:

 CC/02: art. 44; 50; 981-985; 997-1.141;


 Lei 6.404/76: art. 44; 50; 981-985; 997-1.141;

74
BIBLIOGRAFIA

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2020.

FAZZIO JUNIOR, WALDO. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2020.

MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. São Paulo: Atlas, 2020.

PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição.
São Paulo: Editora JusPodivm, 2020.

75
Capítulo 4
SUMÁRIO
CAPÍTULOS ............................................................................................................... Erro! Indicador não definido.

DIREITO EMPRESARIAL .................................................................................................................................................... 2

Capítulo 4 ............................................................................................................................................................................. 2

4. Da Recuperação Judicial, Extrajudicial e da Falência ........................................................................... 2

4.1 Introdução .......................................................................................................................................................... 2

4.2 Disposições comuns ........................................................................................................................................ 8

4.2.1 Administrador Judicial ........................................................................................................................ 8

4.2.2 Assembleia Geral de Credores........................................................................................................ 10

4.2.3 Comitê de Credores ........................................................................................................................... 11

4.3 Recuperação Judicial ..................................................................................................................................... 12

4.4 Recuperação Judicial Especial..................................................................................................................... 17

4.5 Recuperação Extrajudicial ............................................................................................................................ 19

4.6 Falência ............................................................................................................................................................. 21

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 47

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 48

GABARITO .......................................................................................................................................................................... 67

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 70

LEGISLAÇÃO COMPILADA ......................................................................................................................................... 72

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................................................................. 73

1
DIREITO EMPRESARIAL

Capítulo 4

Neste capítulo, futuro Delta, estudaremos o Direito Falimentar e Recuperacional, aqui dê mais
ênfase nos conceitos e no processamento de forma geral. Importante também dáuma lida no
processo de falência.

4. Da Recuperação Judicial, Extrajudicial e da Falência


4.1 Introdução

Quanto à questão da origem etimológica, falir vem da palavra latina fallere que significa
enganar, faltar com a palavra.
Falência é um processo de execução coletiva, no qual todo o patrimônio de um
empresário declarado falido (pessoa física ou jurídica) é arrecadado, visando o pagamento da
universalidade de credores. É um processo judicial complexo que compreende a arrecadação
dos bens, sua administração e conservação, bem como a verificação e o acertamento dos
créditos, para posterior liquidação dos bens e rateio entre os credores. Compreende também a
punição de atos criminosos praticados pelo devedor falido.
Para os devedores insolventes, portanto, estabelece o arcabouço normativo de uma
execução especial, na qual todos os credores deverão ser reunidos em um único processo,
para a execução conjunta do devedor. Em vez de se submeter a uma execução individual, pois,
o devedor insolvente deverá se submeter a uma execução concursal, em obediência ao
princípio da par condiciocreditorum, segundo o qual deve ser conferido tratamento isonômico
aos credores.
Imaginemos que um credor entra com ação de falência contra o devedor. Se o juiz
decretar a falência, todos os bens do falido serão arrecadados. Depois de arrecadados os bens
serão vendidos. Com essa venda se consegue dinheiro. Mas esse dinheiro será utilizado para

2
pagamento de todos credores, e não somente aquele que ajuizou a ação. O juiz, ao declarar a
falência, declara o estado de insolvência do devedor.
Para que se efetue o pagamento dos credores, é preciso observar uma ordem de
classificação e aquele que ajuizou a ação pode estar no final da fila e não conseguir receber
nada. O pagamento é de todos os credores, não só daquele que ajuizou a ação, por isso que
a falência é chamada de execução coletiva.
A partir do momento em que o devedor não possui mais meios de superar a crise de
sua atividade e suas dívidas se tornam incontornáveis, instaura-se um processo de execução
coletiva, visando garantir os credores com o patrimônio do devedor. Se o devedor exerce
atividade não empresarial, este procedimento é a insolvência civil; se empresário, teremos a
falência.

Cuidado! As insolvência civil permanece regulada pelo derrogado Código de Processo


Civil de 1973, por força de seu artigo 1.052, que conferiu ultratividade ao regime jurídico da
insolvência civil por ele disciplinado. Segundo tal preceito, “até a edição de lei específica, as
execuções contra devedor insolvente, em curso ou que venham a ser propostas, permanecem
reguladas pelo Livro II, Título IV, da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973.”

Note-se que, a falência não decorre da insolvência econômica (ativo insuficiente


para solver o passivo), mas da insolvência jurídica, que se caracteriza nas hipóteses do art.
94, I, II e III.
Como dito, o princípio do par condiciocreditorum preconiza que os credores do
devedor que não possuem condições de saldar integralmente todas as suas obrigações devem
receber do direito um tratamento parificado, dando-se aos que integram uma mesma
categoria iguais chances de efetivação de seus créditos. Por isto se instaura uma execução
coletiva.

3
Não há como deixar de reconhecer, pois, o caráter híbrido ou complexo da falência,
diante da confluência de normas processuais e materiais no arcabouço jurídico-falimentar. Em
razão disso, a Lei 11.101/2005 é considerada como um microssistema jurídico.
Em relação à vigência intertemporal da Lei nº 11.101/05, já decidiu o STJ a possível
ocorrência de três situações diferentes (REsp 1.105.176/MG):

• Em falência ajuizada e decretada antes da vigência da nova lei, aplica-se o antigo

Decreto-Lei 7.661/45, em decorrência da interpretação pura e simples do art. 192,

caput;

• Em falência ajuizada e decretada após a vigência da nova lei, esta será integralmente

aplicada em virtude do entendimento a contrário sensu do art. 192, caput;

• Em falência ajuizada antes da lei nova, mas decretada após a sua vigência, aplica-se o

Decreto-Lei 7.661/45 até a sentença e a Lei 11.101/05 a partir desse momento

(sentença), em consequência da exegese do art. 192, §4º.

A lei nº 11.101/05 (Lei de Recuperação Judicial e Falência – LFREF) trata da recuperação


judicial(substituta da concordata preventiva, embora os processos de concordata já iniciados
continuem regidos pela legislação anterior), da recuperação extrajudicial(inovação da nova
lei, já que na legislação anterior a chamada “concordata branca” era considerado ato
falimentar) e da falência.
A LFREF está fundada na teoria da empresa, se aplicando apenas a quem exerça
atividade empresária (empresário individual, sociedade empresarial e EIRELI). A sociedade
simples, por exemplo, não pode recorrer à recuperação judicial ou ser declarada falida.
A Lei nº 11.101/05 não se aplica a empresa pública e a sociedade de economia
mista (inaplicabilidade absoluta).Também não se aplica à instituição financeira pública ou
privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade
operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização
e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores (inaplicabilidade relativa, podendo
acontecer se houve previsão na legislação específica, como prevê a Lei 6.024/74 para os
bancos).

4
Segundo a letra “b” do art. 21 da Lei 6.024/74, à vista do relatório ou da proposta
previstos no artigo 11, apresentados pelo liquidante, o Banco Central do Brasil poderá
autorizá-lo a requerer a falência da entidade, quando o seu ativo não for suficiente para cobrir
pelo menos a metade do valor dos créditos quirografários, ou quando houver fundados
indícios de crimes falimentares.Tal procedimento aplica-se, tão somente, à instituições
financeiras, definidas pela Lei 4.595/64 como:

Art. 17. Consideram-se instituições financeiras as pessoas jurídicas, públicas ou privadas,


que tenham como atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação
de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a
custódia de valor de propriedade de terceiros.

As cooperativas de crédito, por sua vez, são consideradas instituições financeiras, por
força da Lei Complementar n. 130/20091. Daí existirem diversas decisões no sentido da
possibilidade de decretação da falência dessas instituições2. No entanto, há posições

1
Apesar de não se sujeitar à falência, a cooperativa exerce atividade empresarial, pois atua produzindo bens e
serviços para o mercado. Nesse sentido, WaldírioBulgarelli, Tratado de Direito Empresarial, 4ª ed. São Paulo: Atlas,
2000, p. 268-270; do mesmo autor, As sociedades cooperativas e sua disciplina jurídica. Rio de Janeiro: Renovar,
1998, p. 178-179; Rachel Sztajn, Código Civil comentado, v. XI. Coord. Álvaro Villaça Azevedo. São Paulo: Atlas,
2008, p. 142-143; RoniePreuss Duarte, Teoria da empresa à luz do Código Civil brasileiro. São Paulo: Método,
2004, p. 101. Em sentido contrário, Walfrido Jorge Warde Júnior, Tratado de direito empresarial, v. I. 2ª ed.,
Coord. Modesto Carvalhosa. São Paulo: RT, 2019, p.147-149. Sobre o caráter societário da cooperativa (que
alguns consideram uma associação), vide a resenha de Jorge Manuel Coutinho de Abreu, Curso de direito
comercial. Das sociedades, v. II, 6ª ed. Coimbra: Almedina, 2019, p. 46-47, esp. nota 76. Para Haroldo Verçosa,
Curso de direito comercial, v. 2. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 546, "as cooperativas ficam a meio caminho entre
as sociedades civis e as sociedades empresárias, cabendo-lhes a natureza jurídica de ente híbrido, ou de
sociedade sui generis...". Friedrich Kübler, Derecho de Sociedade, 5ª ed., trad. espanhola. Madrid: Fundación
Cultural del Notariado, p. 245, afirma que a cooperativa é um "empresário formal", pois opera no mercado com
sua própria denominação social.
2
Acolhendo o entendimento de que as Sociedades Cooperativas de Crédito podem ser submetidas à falência,
desde que estejam incluídas nas hipóteses previstas na Lei 6.024/74, tem-se os seguintes julgados:
COOPERATIVA DE CRÉDITO RURAL DE NOVA FRIBURGO LTDA. - Em Liquidação Extrajudicial - (CNPJ
5
doutrinárias em contrário, que se respaldam na existência de um regime próprio de
intervenção e liquidação extrajudicial para as cooperativas, Por esta razão, em que pesem
alguns recentes entendimentos em sentido contrário, doutrinadores de renome sustentam que
as cooperativas não podem se submeter à execução concursal do empresário, pois
prestam atividade econômica não-empresarial, além de possuírem legislação própria para
tratar da liquidação.
Nesse sentido, Humberto Theodoro Júnior esclarece que:

Há certas sociedades cuja natureza civil é inconteste e até mesmo reconhecida por
disposição expressa de lei, mas cujo regime de liquidação, por vontade também do
legislador, é especial, fugindo tanto do concurso falimentar como do concurso civil.
Assim, as cooperativas, definidas pela Lei 5.764, de 16/12/71 como sociedades civis,
podem ser liquidadas extrajudicialmente, mediante intervenção de órgão executivo
federal, nos termos do artigo 75 daquele diploma legal

O Superior Tribunal de Justiça já expediu decisões na mesma linha da opinião do autor:

(…) As sociedades cooperativas não se sujeitam à falência, dada a sua natureza civil e
atividade não empresária, devendo prevalecer a forma de liquidação extrajudicial prevista
na Lei 5.764/71, (…). 2. A Lei de Falências vigente à época – Decreto­lei nº 7.661/45 – em
seu artigo 1º, considerava como sujeito passivo da falência o comerciante, assim como a
atual Lei 11.101/05, que a revogou, atribui essa condição ao empresário e à sociedade
empresária, no que foi secundada pelo Código Civil de 2002 no seu artigo 982, § único
c/c artigo 1.093, corroborando a natureza civil das referidas sociedades, e, a fortiori,
configurando a inaplicabilidade dos preceitos da Lei de Quebras às cooperativas. (…)
(AgRg no REsp 999.134/PR, Rel. Min. LUIZ FUX, 1.ª Turma, j. 18.08.2009, DJe 21.09.2009)

86.811.130/0001- 20) - Decretação da falência da sociedade, por sentença em 18.10.2000, pelo MM. Juiz de
Direito da Primeira Vara Cível da Comarca de Nova Friburgo (RJ), publicada no Diário Oficial do Estado do Rio de
Janeiro em 25.10.2000; COOPERATIVA DE CRÉDITO RURAL DE ARACAJU LTDA. (CGC nº 00.377.854/0001-91) -
Decretação da falência da sociedade, por sentença em 30.09.98, pela MM. Juíza de Direito da 14. Vara Cível da
Comarca de Aracaju (SE), publicada no Diário de Justiça do Estado de Sergipe em 07.10.98; COOPERATIVA DE
CRÉDITO RURAL DE MACAE LTDA - CREDI-NORTE (CGC nº 73.634.503/0001-92) - Decretação da falência da
sociedade, por sentença em 31.07.97, pelo MM. Juiz de Direito da Primeira Vara da Comarca de Macaé (RJ),
publicada no Jornal "O DEBATE" da cidade de Macaé (RJ), em 02.08.97; COOPERATIVA DE CRÉDITO DOS
PLANTADORES DE CANA DE PERNAMBUCO LTDA. (CGC nº 10.853.810/0001-44) - Decretação da falência da
sociedade, por sentença em 25.02.97, pelo MM. Juiz de Direito da Vara Privativa de Falências e Concordatas da
Comarca de Recife (PE), publicada no Diário Oficial do Estado de Pernambuco em 20.03.97;

6
TRIBUTÁRIO – EXECUÇÃO FISCAL CONTRA COOPERATIVA EM LIQUIDAÇÃO JUDICIAL –
INAPLICABILIDADE DA LEI DE FALÊNCIAS – REMESSA DO PRODUTO DA ARREMATAÇÃO
AO JUÍZO DA LIQUIDAÇÃO – INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. 1. As sociedades
cooperativas não estão sujeitas à falência, uma vez que não possuem natureza
empresarial, devendo, portanto, prevalecer a forma de liquidação prevista na Lei
5.764/71. (…) 3. Agravo regimental não provido. (AgRg no AgRg nos EDcl no REsp
1129512/SP, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/12/2013,
DJe 10/12/2013)

TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


COOPERATIVA EM LIQUIDAÇÃO. CARÁTER NÃO EMPRESARIAL. LEI DE FALÊNCIAS.
INAPLICABILIDADE. APLICAÇÃO DA LEI 5.764/71. ENTENDIMENTO PACÍFICO DO STJ. 1. A
jurisprudência desta Corte Superior tem entendimento pacífico no sentido da
inaplicabilidade da legislação falimentar às cooperativas em liquidação, pois estas não
possuem características empresariais, sendo a elas aplicáveis as disposições previstas na
Lei 5.764/71. Precedentes: AgRg no Ag 1.385.428/MG, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki,
Primeira Turma, DJe 13/09/2011; AgRg no REsp 999.134/PR, Rel. Ministro Luiz Fux,
Primeira Turma, DJe 21/09/2009; REsp 1.202.225/SP, Rel. Ministro Mauro Campbell
Marques, Segunda Turma, DJe 06/10/2010. 2. (…) (AgRg no REsp 1109103/SP, Rel.
Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 25/11/2014, DJe 02/12/2014)

TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL CONTRA COOPERATIVA EM LIQUIDAÇÃO JUDICIAL.


INAPLICABILIDADE DA LEI DE FALÊNCIAS. MANUTENÇÃO DA MULTA E DOS JUROS
MORATÓRIOS. 1. O aresto recorrido adotou tese em conformidade com a jurisprudência
deste Tribunal, no sentido de que as cooperativas não estão sujeitas à falência por
possuírem natureza civil e praticarem atividades não-empresárias, devendo prevalecer a
forma de liquidação prevista na Lei 5.764/71. (…) (REsp 1202225/SP, Rel. Ministro
MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 14/09/2010, DJe
06/10/2010)

Uma sociedade limitada não registrada (Sociedade em Comum), também não poderá
requerer a falência dos seus devedores ou mesmo requerer o benefício da recuperação
judicial, embora possa figurar no polo passivo de uma ação falimentar, visto que, como ensina
o brocardo jurídico: “a aquisição de direitos depende da observância da norma, mas a
imposição de deveres existirá sempre”. Ora, não seria razoável que, pelo fato de não haver
cumprido a obrigação do registro, a sociedade em comum ficasse protegida contra pedidos

7
de decretação de falência. De tal modo, as sociedades irregulares poderão sim figurar no polo
passivo de pedidos de falência.3
O juízo competentena recuperação e na falência é o do local do principal
estabelecimento, qual seja o local onde o devedor concentra o maior volume de negócios
(aquele estabelecimento economicamente mais importante, embora parte da doutrina entenda
ser o estabelecimento onde se encontra a administração do empresário).
Nesse sentido, determina o seguinte enunciado do CJF:

Enunciado 466. Para fins do Direito Falimentar, o local do principal estabelecimento é


aquele de onde partem as decisões empresariais, e não necessariamente a sede indicada
no registro público.

4.2 Disposições comuns

O Ministério Público pode atuar como parte, em legitimação extraordinária (substituto


processual, defendendo interesse de terceiro em nome próprio), ou como fiscal da lei (custos
legis). Não há vedação à inclusão do crédito alimentício nos processos falimentares (se eram
descontados em folha, por exemplo)4.
São 3 os órgãos auxiliares do Juízo: o Administrador Judicial, a Assembleia Geral de
Credores e o Comitê de Credores.

4.2.1 Administrador Judicial


A antiga figura do síndico foi substituída pelo administrador judicial. Trata-se de um
dos órgãos auxiliares do juízo na RJ e na F, com função eminentemente executória,
servindo como elo entre o juízo e a massa falida(na falência) e o juízo e a empresa em
recuperação(na recuperação judicial), zelando pelo cumprimento da LFREF e apoiando o juízo
na prática de uma série de procedimentos administrativos, tais como os previstos no art. 22
da LFREF, cuja leitura se recomenda.

Decretada a falência, todas as ações sobre bens, interesses ou negócios do falido


prosseguirão com o administrador judicial, que será intimado para representar a massa.
Nomeado pelo juiz, o administrador judicial pode ser pessoa física idônea,

3
PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora
jus podivm, 2017. p. 192.
4
Vide questão 10.
8
preferencialmenteadvogado, economista, administrador ou contador, ou pessoa jurídica
especializada, devendo ser informado o nome do profissional por ela responsável, que não
poderá ser substituído senão por autorização judicial.
Na recuperação judicial, o administrador judicial é nomeado no despacho de
processamento, mas na falência a nomeação se dá na sentença que decretá-la.
Uma vez nomeado, o administrador será intimado pessoalmente para, em 48h, assinar,
na sede do juízo, termo de compromisso para o bom e fiel desempenho da função,
assumindo com sua assinatura todas as responsabilidades a ela inerentes. Caso não assine o
termo no prazo, o juiz nomeará outro administrador. A função de administrador é indelegável,
vedando a lei qualquer espécie de substituição, excetuada a hipótese de autorização legal.

Não poderáexercer a função de administrador judicial a pessoa que, nos últimos 5 anos, no
exercício do cargo de administrador judicial em falência ou recuperação judicial anterior,
houver sido destituída, deixado de prestar contas dentro dos prazos legais ou tido a prestação
de contas desaprovada. Da mesma forma, também estarão impedidos de exercer a função de
administrador judicial aqueles que tiverem relação de parentesco ou afinidade até o terceiro
grau com o devedor, seus administradores, controladores ou representantes legais, ou
deles for amigo, inimigo ou dependente.

Qualquer interessado, qualquer credor ou mesmo o Ministério Público poderá requerer


ao juiz a sua substituição se a nomeação foi contrária à lei, o qual deverá decidir a questão no
prazo de 24h do recebimento do requerimento. Por outro lado, a lei não define prazo para
apresentação do pedido de substituição.
A substituição do administrador judicial, uma vez não possuir caráter sancionatório, não
impede que aquele receba a remuneração correspondente ao período anterior à substituição,
assim como não implica em impedimento ao exercício da função em outro processo. Não
obstante, o administrador que for substituído em razão de renúncia injustificada da função,
não terá direito a remuneração.

9
A destituição poderá ser requerida por qualquer interessado, qualquer credor ou pelo
Ministério Público. O juiz poderá destituir o administrador que descumprir os seus deveres,
for omisso ou negligente, ou praticar atos lesivos ao devedor ou a terceiros, como na
hipótese da não apresentação, dentro do prazo legal, das contas ou relatórios a que está
obrigado. Logo, diferentemente da substituição, a destituição possui caráter sancionatório,
aplicando-se àqueles administradores que não agirem de forma diligente. Em razão de seu
caráter, traz como consequências a vedação para novo exercício da função de administrador
judicial pelo período de 5 anos e a perda do direito a remuneração. A lei também não define
prazo para o pedido de destituição.
O administrador também pode renunciar, ainda que sem motivo, mas neste caso não
terá direito a remuneração.
Responderá o administrador judicial pelos prejuízos eventualmente causados ao
devedor, à massa falida ou aos credores sempre que atuar com dolo ou culpa.
A remuneraçãodo administrador levará em conta a capacidade de pagamento do
devedor, o grau de complexidade do trabalho e os valores praticados no mercado para
atividades afins. Na recuperação judicial, o valor da remuneração do administrador judicial
fixada pelo juiz não poderá ultrapassar a 5% do montante devido aos credores, pago a
critério do juiz. Na falência, o valor da remuneração do administrador judicial fixada pelo juiz
não poderá ultrapassar a 5%do valor dos bens vendidos, pago 60% da remuneração fixada
pelo juiz por ocasião da venda dos bens do falido e os 40% restantes deverão ser pagos ao
final, após a prestação de contas pelo administrador judicial e a sua aprovação (não fará jus à
remuneração o administrador judicial que tiver as suas contas desaprovadas. Tratando-se de
microempresa ou empresa de pequeno porte, a remuneração fica restrita a 2%.

4.2.2 Assembleia Geral de Credores

É o órgão que agrega todos aqueles que têm crédito contra o empresário individual,
sociedade empresária ou EIRELI, constituindo-se em uma instância auxiliar. Será organizada
em quatro classes, estando composta por titulares de créditos derivados da legislação do
trabalho ou decorrentes de acidente do trabalho; de créditos com garantia real; de créditos

10
quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados; e de créditos
enquadrados como microempresa ou empresa de pequeno porte.
Desse modo, os titulares de créditos de outra natureza (tributários e decorrentes de
multas e penas pecuniárias) não integrarão a assembleia. Tais créditos não estão sujeitos à
habilitação, bem como o processo de execução fiscal não se suspende5.
A assembleia geral conspira a favor da esperada celeridade dos procedimentos
falimentares, haja vista que, uma vez considerados isoladamente, cada credor defenderia seu
próprio interesse, o que certamente inviabilizaria o processo.
Dentre as atribuições da assembleia geral, destacam-se deliberar sobre a aprovação,
rejeição ou modificação do plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor, deliberar
sobre a possível adoção de outras modalidades de liquidação do ativo na falência e deliberar
sobre a conveniência da constituição do comitê de credores, assim como sobre qualquer
matéria de interesse dos credores.
Presidida pelo administrador judicial e convocada pelo juiz, será instalada, em primeira
convocação, a partir da presença de credores que sejam titulares de mais da metade dos
valores dos créditos de cada classe, e em segunda convocação, com qualquer número.
Via de regra, o voto do credor será proporcional ao valor de seu crédito, mas em
relação à classe dos titulares de créditos trabalhistas e decorrentes de acidente do trabalho
a proposta deverá ser aprovada por maioria simples dos credores presentes,
independentemente do valor de seus créditos. Nas deliberações sobre o plano de
recuperação judicial, todas as classes da assembleia geral de credores deverão aprovar a
proposta, sob pena de inviabilizar a recuperação.

4.2.3 Comitê de Credores

É um órgão facultativo que atua no dia a dia do processo, na proteção dos interesses
da assembleia geral de credores, sendo dotado de natureza fiscalizatória. É composto por
apenas quatro membros, cada qual com direito a dois suplentes, sendo um membro indicado
pela classe dos credores trabalhistas, um membro indicado pela classe dos credores com

5
Vide questão 1.
11
garantia real ou privilégios especiais e um membro indicado pela classe de credores
quirografários e com privilégios gerais e um membro indicado pela classe de credores
representantes de microempresas e empresas de pequeno porte.

São atribuições do comitê de credores, entre outras, fiscalizar as atividades e examinar


as contas do administrador judicial, zelar pelo bom andamento do processo e pelo
cumprimento da lei, requerer ao juiz a convocação da assembleia geral de credores e fiscalizar
a execução do plano de recuperação judicial.
A falta de indicação de representante por qualquer classe não prejudicará a constituição
do Comitê, o qual poderá funcionar mesmo com número inferior.
Se o Comitê não for formado, suas funções serão exercidas pelo administrador judicial
ou pelo juiz, em caso de incompatibilidade daquele. Os membros do comitê de credores não
têm direito à remuneração, mas apenas o ressarcimento das despesas comprovadas, após
autorização judicial e havendo disponibilidade em caixa.
Os membros do comitê de credores responderão pelos prejuízos eventualmente
causados ao devedor, à massa falida ou aos credores por atuarem com dolo ou culpa.
Da mesma forma que em relação ao administrador judicial, não poderáser membro do
comitê de credores a pessoa que, nos últimos 5 anos, no exercício do cargo de administrador
judicial anterior, houver sido destituída, deixado de prestar contas dentro dos prazos legais ou
tido a prestação de contas desaprovada. No mesmo sentido, também não poderá ser membro
do comitê de credores a pessoa que tiver relação de parentesco ou afinidade até o terceiro
grau com o devedor, seus administradores, controladores ou representantes legais, ou deles
for amigo, inimigo ou dependente.

4.3 Recuperação Judicial

4.3.1 Conceito

Trata-se de medida excepcional, que tem por objetivo viabilizar a superação da crise
econômico-financeira do empresário individual, da sociedade empresária e da EIRELI ao prever

12
um verdadeiro plano de reestruturação, com diversas medidas de ordem financeira, jurídica e
econômica, conferindo assim efetivas chances de superação do quadro de crise.
A recuperação judicial tem por objetivos a manutenção da fonte produtora, a
manutenção do emprego dos trabalhadores, e a garantia dos interesses dos credores. A ideia
é proteger a função social da empresae o princípio da preservação da empresa.

4.3.2 Legitimidade

Têm legitimidade ad causam ativa ordinária o empresário individual, a sociedade


empresária e a EIRELI. Têm legitimidade ativa extraordinária o cônjuge supérstite, herdeiros do
devedor, inventariante, ou ainda pelo sócio remanescente da sociedade empresária6.

4.3.3 Cabimento

A recuperação judicial poderá ser pedida diretamente, diante de quadro de crise


econômico-financeira do devedor, ou ainda no prazo da defesa/contestação contra pedido de
falência.

4.3.4 Pressuposto Processual

O art. 48 da LFREF traz os requisitos para a recuperação judicial, quais sejam:

Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido,
exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos
seguintes requisitos, cumulativamente:
I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em
julgado, as responsabilidades daí decorrentes;
II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial;
III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com
base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo;
IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador,
pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.

Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido,


tanto vencidos quanto vincendos (a vencer). Como exceção à regra geral, não são exigíveis

6
Vide questão 2.
13
do devedor as obrigações a título gratuito, as despesas com habilitação ou impugnação do
crédito(salvo as custas judiciais decorrentes de litígio do qual o devedor saiu vencido) e
também não se submetem aos efeitos da recuperação judicial os credores titulares de
posição de proprietários fiduciários de bens móveis ou imóveis, arrendadores mercantis
(credores no contrato de “leasing”), proprietários ou promitentes vendedores de bens
imóveis, cujos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou
irretratabilidade(inclusive em incorporações imobiliárias), proprietários em contrato de
venda com reserva de domínio, credor no adiantamento de contrato de câmbio para
exportação(ACC), desde que o prazo total da operação, inclusive eventuais prorrogações, não
exceda o previsto nas normas específicas da autoridade responsável.
Os créditos não incluídos no plano de recuperação serão recebidos pelos credores
segundo a forma originalmente contratada. Os credores de empresa em recuperação
conservam seus direitos e privilégios contra coobrigados, independentemente do que foi
planificado pelo devedor. Portanto, o credor com garantia de terceiro, ainda que sujeito aos
efeitos da recuperação judicial, poderá executar o garantidor.
O empresário individual, a sociedade empresária e a EIRELI, que atendendo aos
requisitos do art. 48 da LFREF, enfrentem crise econômico-financeira, estarão legitimados a
pedir a recuperação judicial. Trata-se de meio de superação do seu estado de crise, que deve
ser materializado em petição inicial que demonstre ao juiz a realidade econômica, financeira e
patrimonial da empresa, bem como sua importância no contexto local, regional ou nacional,
deixando patente a sua efetiva capacidade de reestruturação, e observando os demais
elementos que devem instruir a petição inicial.

4.3.5 Pedido de Recuperação

Nos termos do art. 51 da LFREF:

Art. 51. A petição inicialde recuperação judicial será instruída com:


I – a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da
crise econômico-financeira;
II – as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as
levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância
da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de:
a) balanço patrimonial;
14
b) demonstração de resultados acumulados;
c) demonstração do resultado desde o último exercício social;
d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção;
III – a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer
ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o
valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos
vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente;
IV – a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários,
indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de
competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento;
V – certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato
constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores;
VI – a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do
devedor;7
VII – os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais
aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou
em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras;
VIII – certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do
devedor e naquelas onde possui filial;
IX – a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure
como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores
demandados.

4.3.6 Processamento

Após a distribuição do pedido de recuperação judicial, o devedor não poderá alienar ou


onerar bens ou direitos de seu ativo permanente, salvo se houver evidente utilidade
reconhecida pelo juiz, com exceção dos atos previamente relacionados no plano. Estando tudo
certo na petição inicial, restará ao juiz deferir o processamento.
O despacho de processamento é um despacho de mero prosseguimento, que permite
que as demais fases sejam realizadas. No despacho, o juiz também nomeará o administrador
judicial, determinará a dispensa da apresentação das certidões negativas para que o devedor
exerça as suas atividades (exceto para a contratação com o Poder Público ou para o
recebimento de benefícios fiscais ou creditícios), ordenará a suspensão de todas as ações e
execuções contra o devedor, pelo prazo improrrogável de 180 dias8, contado do deferimento

7
Vide questão 7.
8
Vide questão 4.
15
do processamento, ressalvadas as ações que demandarem quantia ilíquida, de natureza
trabalhista, de execuções fiscais e as promovidas por credores não sujeitos à recuperação.
Determinará ao devedor a apresentação de contas demonstrativas mensais enquanto perdurar
a recuperação e ordenará a intimação do MP e comunicação por cartas às Fazendas.
Ainda que não sujeitos à recuperação, se os bens objeto da constrição forem essenciais
à atividade empresarial do devedor, não poderão ser retirados ou vendidos no prazo de 180
dias a contar do deferimento do processamento.
O devedor não poderá desistir do pedido após o deferimento do seu processamento,
salvo se obtiver a aprovação da desistência na assembleia geral de credores.

4.3.7 Plano de Recuperação Judicial

O plano de recuperação judicialé o projeto desenvolvido pelo devedor para


superação da crise econômico-financeira. Poderá ser baseado em uma ou várias das
medidas previstas no rol do art. 50 da LFREF, que se aconselha a leitura atenta.
O plano deve ser apresentado pelo devedor ao juízo no prazo improrrogável de 60 dias,
a contar da publicação da decisão que deferiu o seu processamento, sob pena de convolação
em falência.
O plano não poderá prever prazo superior a 1(um) ano para pagamento dos créditos
derivados da legislação trabalhista ou decorrentes de acidente de trabalho, vencidos até a
data do pedido. Não poderá prever, ainda, prazo superior a 30 dias para pagamento, até o
limite de 5 salários mínimos por trabalhador, dos créditos de natureza estritamente salarial,
vencidos nos 3 meses anteriores ao pedido.
Aprovado o plano pela assembleia geral de credores (anuência expressa ao plano), ou
não tendo havido votação em razão da ausência de objeções por parte dos credores
(anuência tácita ao plano), o juiz proferirá decisão concedendo a recuperação, decisão contra a
qual caberá agravo de instrumento.

4.3.8 Efeitos da Recuperação

Com a decisão concessiva, deverá o juiz determinar ao registro público de empresas


mercantis a anotação da recuperação judicial no registro correspondente, sendo assim

16
acrescida ao seu nome empresarial a expressão “em Recuperação Judicial”. A decisão que
concede a recuperação judicial constitui título executivo judicial.
Deferida a recuperação, permanecerá o devedor em recuperação até que se cumpram
todas as obrigações previstas no plano para os primeiros 2 anos.
Ressalvadas as hipóteses elencadas no art. 64 da LFREF, que se aconselha leitura atenta,
permanecerá o devedor (ou seus administradores) à frente da empresa.
Após o período de 2 anos, ocorrerá o encerramento da recuperação desde que todas a
obrigações previstas para esse período tenham sido cumpridas, presumindo-se que conseguirá
cumprir as demais.
A recuperação judicial poderá ser convertida em falência, dando-se de imediato
prosseguimento ao feito nos próprios autos. São hipóteses de convolação:

a) Por deliberação da assembleia geral de credores;


b) Pela não apresentação tempestiva, pelo devedor, do plano de recuperação;
c) Pela rejeição da assembleia geral de credores ao plano apresentado pelo devedor; e
d) Pelo descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano durante o período de
2 anos.

4.4 Recuperação Judicial Especial

As microempresas e as empresas de pequeno portetêm tratamento favorecido através


do chamado plano especial de recuperação judicial da ME e da EPP9.
Estão legitimados a requerer a recuperação judicial com base no plano especial
empresário individual, a sociedade empresária e a EIRELI que se encaixem na definição de ME
e EPP e estejam devidamente registrados como tal. Trata-se de faculdade, podendo a ME ou
EPP optar pelo procedimento comum, devendo haver a opção expressa, na petição inicial, se
escolhido o plano especial.
A decisão que defere o processamento da recuperação especial estabiliza o processo,
não podendo, a partir daquele momento, haver a desistência do pedido ou mesmo a
alteração do pedido da forma comum para a forma especial ou vice-versa. Portanto, antes do
despacho de processamento, poderá haver a desistência.

9
Vide questão 05.
17
O plano especial deve ser apresentado pelo devedor, informando os meios através dos
quais pretende suplantar a crise. O prazo para a apresentação do plano especial é de 60 dias
a contar da publicação da decisão que deferir o processamento.
A inicial deverá ser instruída com os documentos arrolados pelo art. 51 da LFRE, com a
exceção daqueles apontados pelo inciso II (balanço patrimonial, relatório de fluxo de caixa,
etc.), podendo assim apresentar livros e escrituração contábil simplificados, nos termos da
legislação específica.
Os requisitos são os da recuperação ordinária, previstos no art. 48 da LFREF.
Estão sujeitos a recuperação judicial com base no plano especial todos os créditos
existentes na data do pedido, ainda que não vencidos, excetuados os decorrentes de repasse
de recursos oficiais, os fiscais, e os previstos nos §§ 3º e 4º do art. 49 (crédito do proprietário
fiduciário de bens móveis ou imóveis; o crédito do arrendador mercantil; o crédito do
proprietário ou promitente vendedor de bem imóvel cujo contrato esteja gravado com
cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias; de
proprietário em contrato de venda com reserva de domínio e do credor no adiantamento de
contrato de câmbio)10.
O plano especial preverá parcelamento em até 36 parcelas mensais, iguais e sucessivas,
acrescidas de juros equivalentes à taxa Sistema Especial de Liquidação e de Custódia – SELIC,
podendo conter ainda a proposta de abatimento do valor das dívidas. Preverá o pagamento
da 1ª parcela no prazo máximo de 180 dias, contado da distribuição do pedido, e estabelecerá
a necessidade de autorização judicial para o aumento de despesas ou contratação de
empregados. O planonãoacarreta a suspensão do curso da prescrição, nem das ações e
execuções por créditos não abrangidos pelo plano.
A recuperação com base no plano especial é concedida pelo juiz se atendidas às
exigências legais, independentemente de convocação da assembleia geral de credorespara
deliberação sobre o plano.
Apesar de não haver convocação específica para tal fim, é possível que os credores
tomem a iniciativa de se reunir e, caso haja objeção de mais da metade dos credores titulares
de créditos quirografários, o juiz julgará improcedente o pedido e decretará a falência.

10
Vide questão 3.
18
4.5 Recuperação Extrajudicial

A Recuperação Extrajudicial é instituto novo, caracterizado pela possibilidade de o


devedor convocar os seus credores para apresentar proposta de renegociação.
Os credores são chamados para acordar, podendo o Estado ser chamado apenas
acessoriamente para aferir se estão presentes os requisitos legais para a concessão do
benefício e para chancelar a posição a que chegaram as partes, garantindo assim a
executividade do que foi deliberado (com a homologação).
As regras pertinentes à recuperação extrajudicial não impedem a realização de outras
formas de acordos privados entre o devedor e os seus credores, fato que representa um
importante diferencial. A legitimidade é a mesma.
Os requisitos para homologação são os mesmos da recuperação judicial, acrescidos de
o devedor não poder ter pendente pedido de recuperação judicial, ou haver obtido a
concessão de recuperação judicial ou a homologação de outro plano de recuperação
extrajudicial há menos de 2 anos (art. 161, §3º, LFRE).
A sentença de homologação do plano de recuperação extrajudicial constitui título
executivo judicial.
Não estão sujeitos à recuperação extrajudicial os titulares de créditos tributários,
trabalhistas ou decorrentes de acidente do trabalho, assim como aqueles relacionados no art.
49, parágrafos 3º e 4º da LFRE (proprietários fiduciários de bens móveis ou imóveis;
arrendadores mercantis; proprietários ou promitentes vendedores de bens imóveis, cujos
contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em
incorporações imobiliárias; proprietários nos contratos de venda com reserva de domínio,
assim como os credores em contrato de adiantamento de câmbio – ACC). Podem, contudo,
voluntariamente aderir a ele.
O pedido de homologação não acarreta a suspensão de direitos, ações ou execuções
em face do devedor, nem a impossibilidade do pedido de decretação da falência para os
credores que não estejam sujeitos à recuperação extrajudicial.
Quanto à adesão dos credores ao plano, a RE pode apresentar-se por duas perspectivas
diferentes:

19
a) Recuperação extrajudicial ordinária (REO): Traduz a adesão voluntária de todos os
credores elencados no plano, produzindo efeitos unicamente entre os seus
signatários.
b) Recuperação extrajudicial extraordinária (REE): Faculta-se ao devedor requerer a
homologação de plano de RE assinado por credores que representem mais de 3/5
de todos os créditos de cada espécie por ele abrangidos, hipótese na qual dita
homologação, atendidos os requisitos legais, obrigará a todos os credores
abrangidos pelo plano, mesmo aqueles que não tenham aderido ao acordo.

Uma vez distribuído o pedido de homologação, veda a lei que os credores desistam da
adesão ao plano. Assim, a menos que haja a anuência expressa dos demais signatários,
incluído o devedor e todos os demais credores, não será possível a desistência após a
distribuição do pedido de homologação.
Recebido o pedido de homologação do plano, o juiz ordenará a publicação de edital
convocando todos os credores para eventual apresentação de impugnações, no prazo de 30
dias, a contar da publicação do edital. A lei restringe as matérias que podem ser objeto de
impugnação. São elas o não preenchimento do percentual mínimo de mais de 3/5 dos
créditos de cada espécie pelo plano abrangidos, a prática de ato de falência nos termos do
art. 94, III da LFRE, ou ato revogável nos termos do art. 130 da LFRE, ou o descumprimento de
qualquer requisito ou exigência legal.
Apresentada a impugnação, abre-se prazo de 5 dias para que o devedor se manifeste
sobre ela. Em seguida, os autos serão imediatamente conclusos ao juiz para apreciação, o qual
decidirá, também em 5 dias, acerca do plano, homologando-o por sentença se entender não
haver irregularidades ou indeferindo o pedido se houver prova de irregularidade. Rejeitado o
plano, os créditos mantêm as condições originalmente contratadas.
A sentença de homologação do plano constitui título executivo judicial. Assim, não
sendo cumpridas as suas disposições, poderão os credores buscar a sua execução específica
ou pedir a falência do devedor.

20
4.6 Falência

4.6.1 Hipóteses de Decretação

Diferentemente do que pode parecer à primeira vista, a simples condição de credor não
é suficiente para que seja acolhido o pedido de decretação da falência contra o devedor
inadimplente. São 3 as justificativaspara a falência:

a) Impontualidade injustificada: Quando o devedor, sem relevante razão de direito,


não pagar, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos
executivos protestados, cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários mínimos,
na data do pedido de falência.
b) Execução frustrada: Quando o devedor, executado por qualquer quantia líquida,
não paga, não deposita e não nomeia penhora, bens suficientes e dentro do prazo
legal. Ainda que o devedor não nomeie bens à penhora dentro do prazo legal, mas
se tais bens forem efetivamente constritos (seja por indicação do exequente, seja
por indicação do oficial de justiça), não há de falar-se em frustração da execução.
Frustrada a execução, o exequente deve munir-se de certidão judicial expedida pelo
juízo em que se processou o feito, demonstrando que o executado não pagou, nem
depositou os valores devidos e tampouco nomeou bens suficientes a penhora,
dentro do prazo legal.
c) Prática de atos de falência: São aqueles normalmente praticados por devedor
insolvente, e que deverão ser demonstrados por aqueles que requerem a
decretação da falência durante a instrução do processo. Assim, comete ato de
falência, ficando sujeito a sua decretação, o devedor que:
i. Procede à liquidação precipitada de seus ativos, ou lança mão de
meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos;
ii. Realiza, ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de
retardar pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou
alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou
não;

21
iii. Transfere estabelecimento a terceiro(s), credor(es) ou não, sem o
consentimento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes
para solver o seu passivo;11
iv. Simula a transferência de seu principal estabelecimento com o
objetivo de burlar a legislação ou fiscalização ou para prejudicar o(s)
credor(es);
v. Dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente,
sem ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para honrar o
seu passivo.
vi. Ausentar-se sem deixar representante habilitado e com recursos
suficientes para pagar os credores, abandona o estabelecimento ou
tenta ocultar-se do seu domicílio, do local de sua sede ou de seu
principal estabelecimento;
vii. Deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no
plano de recuperação judicial.

Na hipótese de pedido com base na prática de atos de falência, a petição inicial deve
descrever os fatos que o caracterizam, juntando-se as provas que houver e especificando-se as
que serão produzidas.
Na impontualidade injustificadae na execução frustrada, as provas são pré-
constituídas, bastando juntar os documentos comprobatórios do alegado, ou seja, os títulos
executivos acompanhados dos respectivos instrumentos de protesto, no caso da
impontualidade; e os títulos executivos, assim como a certidão do juízo da execução, na
execução frustrada.
Já na hipótese de decretação da falência com base na prática de ato falimentar, a
situação modifica-se profundamente, haja vista que, nela, o pedido de falência é apresentado
a partir de fatos que dependem da dilação probatória regular, ou seja, a petição inicial deverá
estar instruída com todos os documentos necessários a comprovação do fato que está sendo
alegado.

11
Vide questão 8.
22
4.6.2 Legitimidade para decretação da falência

Em matéria falimentar, têm legitimidade para o requerimento da falência qualquer


credor, o próprio devedor (autofalência), o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do
devedor ou ainda o inventariante (sucessores causa mortis), o cotista ou acionista do devedor,
na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade (sócio)12.

4.6.3 Procedimento

Decretada a falência, o juiz ordenará a publicação de edital contendo a íntegra da


decisão que a decretou e a relação de credores. Publicado o edital, os credores terão prazo de
15 dias para apresentar ao administrador judicial suas habilitações ou divergênciasquanto
aos créditos relacionados. Findo este prazo e com base nas informações e documentos
colhidos, o administrador judicial terá o prazo de 45 dias para fazer publicar novo edital
contendo a relação de credores que servirá de base para o quadro-geral de credores. No
prazo de 10 dias, contado da publicação do novo edital contendo a relação de credores, o
Comitê, qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou ainda o Ministério Público, podem
apresentar ao juiz impugnação contra a relação de credores, apontando a ausência de
qualquer crédito ou se manifestando contra a legitimidade, importância ou classificação do
crédito relacionado13. Da decisão judicial sobre a impugnação caberá agravo de instrumento.
Não observado o prazo de 15 dias para apresentação pelos credores ao administrador
judicial de suas habilitações ou divergências quanto aos créditos relacionados, as habilitações
de crédito serão recebidas como retardatárias.
Incumbirá ao administrador judicial a consolidação do quadro-geral de credores, a ser
homologado pelo juiz, com base na relação de credores do novo edital e nas decisões
proferidas nas impugnações oferecidas.
Requerida a falência, o devedor será citado para apresentar a sua defesa (contestação
no prazo de 10 diasa contar da citação, podendo, nos casos de pedido fundamentado na
impontualidade injustificada e na execução frustrada, depositar a quantia devida atualizada (é
o chamado depósito elisivo).

12
Vide questão 9.
13
Vide questão 6.
23
A sentença que decretar a falência responderá também, dentre outros, pela fixação do
termo legal da falência (período de até 90 dias, contados do pedido ou do primeiro protesto
por falta de pagamento, excluindo-se, para esta finalidade, os protestos que tenham sido
cancelados), nomeação do administrador judicial, ordem para que o falido apresente, dentro
de 5 dias, a relação dos credores, explicitação do prazo para habilitação dos credores,
determinação da suspensão de todas as ações execuções contra o falido e determinação para
a convocação da assembleia geral de credores, quando conveniente, a fim de formar o Comitê
de Credores.
Da decisão que decreta a falência(chamada “sentença”) cabe agravo de instrumento, e
da sentença que julga a improcedência do pedidocabe apelação.

4.6.4 Classes de Credores

As classes na falênciasão as seguintes:

 Dos créditos trabalhistas e decorrentes de acidente do trabalho;


 Dos créditos com garantia real;
 Dos créditos tributários;
 Dos créditos com privilégio especial;
 Dos créditos com privilégio geral;
 Dos créditos quirografários;
 Dos créditos decorrentes de multas contratuais e penas pecuniárias;
 Dos créditos subordinados.

Aconselha-se a leitura atenta dos artigos 83 e 84 da LFREF sobre a classificação dos


créditos e quais fazem parte de cada espécie.
As dívidas feitas pela massa, após a declaração de falência têm preferência em relação
às dívidas anteriores (primazia dos créditos extraconcursais), nos termos do art. 84 da LFREF:
Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursaise serão pagos com precedência
sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, os relativos a:
I – remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e créditos derivados
da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços
prestados após a decretação da falência;
II – quantias fornecidas à massa pelos credores;

24
III – despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição do seu
produto, bem como custas do processo de falência;

IV – custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha sido
vencida;

V – obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação


judicial, nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação da falência, e tributos
relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a ordem
estabelecida no art. 83 desta Lei.

Como já visto, por ocasião da falência, deve haver a arrecadação do patrimônio ativo do
devedor, visando a sua realização (venda) e pagamento do coletivo de credores. Ocorre que,
como também já comentado, certamente o produto da realização do patrimônio do devedor
não será suficiente para a satisfação de todo o passivo da empresa falida, de modo que é
preciso imprimir-se alto grau de eficiência ao processo, de modo a maximizar em todo o
possível o valor auferido e minimizar o impacto social decorrente da quebra.
Nesse sentido, os incisos do art. 140 da LFRE estabelecem a ordem de preferêncianas
formas de alienação dos bens do devedor como sendo:

I. Alienação da empresa, com a venda de seus estabelecimentos em bloco;


II. Alienação da empresa, com a venda de suas filiais ou unidades produtivas
isoladamente;
III. Alienação em bloco dos bens que integram cada um dos estabelecimentos do
devedor;
IV. Alienação dos bens individualmente considerados.

Concluída a realização de todo o ativo, e distribuído o produto entre os credores, o


administrador judicial apresentará as suas contas ao juiz no prazo de 30 dias. Julgadas as
contas do administrador judicial, ele apresentará relatório final da falência no prazo de 10 dias,
indicando o valor do ativo e o do produto de sua realização, o valor do passivo e o dos
pagamentos feitos aos credores, e especificará justificadamente as responsabilidades com que
continuará o falido.

25
Apresentado o relatório final, o juiz encerrará a falência por sentença, a qual reveste-se
de caráter meramente processual, subsistindo a ela, portanto, todas as obrigações ainda não
adimplidas pelo devedor.

4.6.5 Uso do pedido de falência como meio de cobrança

A severidade do sistema da impontualidade fez com que a ação de falência fosse


utilizada, diversas vezes, como mero instrumento de cobrança de dívidas não pagas. Como a
legislação falimentar anterior era muito severa, o devedor empresário que era citado em um
processo falimentar ficava muitas vezes desesperado, optando por pagar a dívida ou depositar
o seu valor para elidir a sua falência, ainda que para ele essa dívida, eventualmente, pudesse
ser contestada.
Contribuía para tanto o fato de o prazo de resposta, na lei anterior, ser extremamente
exíguo: apenas 24 horas. Com um prazo tão curto, o devedor muitas vezes não conseguia se
organizar bem para elaborar sua defesa, comprovando eventualmente a ilegitimidade da
dívida questionada. Tudo isso sempre fez do pedido de falência um eficiente instrumento de
cobrança de dívidas, mas também servia para trazer insegurança e mesmo para admitir a
abertura de processos falimentares contra empresários viáveis, que atravessavam apenas um
momento de crise transitória.
As novas tendências do direito falimentar, todavia, permitiram que a jurisprudência, em
alguns casos, repelisse esse uso da ação falimentar. Com efeito, o Superior Tribunal de Justiça,
em homenagem aos ideais de preservação da empresa, firmou em alguns julgados
entendimento segundo o qual a ação de falência não poderia ser utilizada como substitutivo
da ação de cobrança. Por todos, cite-se o que segue:
STJ: Falência. Instrumento de coação para cobrança de dívidas. Incompatibilidade. Não
havendo real fundamento para o requerimento da falência, que, de procedimento
indispensável à liquidação de patrimônio de empresa insolvente, transmuda-se em
instrumento de coação para a cobrança de dívidas, a quitação do débito,
descaracterizando o estado de insolvência, mormente quando comunicado ao juízo o
desinteresse do credor único no prosseguimento do processo falimentar, impõe a
extinção do processo. Recurso especial conhecido e provido (REsp 399.644/SP, Rel. Min.
Castro Filho, DJ 17/06/2002, p. 259).

26
O próprio STJreafirmou tal posicionamento pontuando que o pedido de falência não
pode ser utilizado como simples substituto das vias executivas ordinárias(3ª Turma. AgRg
no REsp 949.576/MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 05/08/2013).
Esse entendimento foi construído na época em que vigorava a antiga Lei de Falências
(Decreto-Lei nº 7.661/45), considerando que este diploma legal permitia que fossem
formulados pedidos de falência sem que houvesse um limite mínimo do valor da dívida. Em
outras palavras, mesmo dívidas de valores ínfimos poderiam, pelo DL, servir para instruir um
pedido de falência. Dessa forma, a jurisprudência criou este entendimento (de que a falência
não pode servir como substituto da ação de cobrança) como uma forma de evitar situações
absurdas e a utilização indevida da falência, que é uma medida extrema porque tem o
potencial de gerar o fim da empresa.
Ocorre que a Lei nº 11.101/2005 (atual Lei de Falências) impôs um valor mínimo no art.
94, I para que fique caracterizada a impontualidade. Assim, a dívida deverá ser superior a 40
salários-mínimos.
Vale ressaltar, no entanto, que a Lei nº 11.101/2005 não exigiu que o autor demonstre
indícios de que o devedor está em situação de insolvência. Pela Lei, basta a impontualidade
do devedor no pagamento de dívida de valor superior a 40 salários-mínimos (STJ. 3ª Turma.
REsp 1.532.154-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/10/2016 – inf. 596).
Assim, para Fábio Ulhoa Coelho e André Luiz Ramos, por exemplo, seria possível o
uso da ação falimentar como espécie de cobrança judicial de dívidas.
Aliás, além de parte da doutrina, o próprio Superior Tribunal de Justiçatambém já
firmou entendimento, em alguns acórdãos, no sentido de permitir o uso da ação de
falência como meio de cobrança de dívidas.
STJ: Falência. Requerimento. Pequeno credor. Licitude. Indeferimento. Substituição do
processo executivo. Abuso inexistente. 1. O Ordenamento jurídico põe à disposição do

credor lesado por inadimplemento de comerciante, dois caminhos, absolutamente lícitos,


a saber: a) o primeiro – linear e barato – que é requerer a declaração da falência
materializada pelo inadimplemento. Esta via, apesar de mais cômoda, é mais arriscada.

De fato, se o devedor por descuido ou falta de dinheiro, não pagar no prazo assinalado,
instaura-se o processo falimentar e a nota promissória perde a força executiva, para
tornar-se reles título quirografário, despido de qualquer preferência; b) a segunda via é a
cobrança executiva. Para percorrê-la, o credor é obrigado a localizar bens do devedor,

27
indicá-los à penhora, pagar o oficial de justiça, para que efetue a citação e, depois, para
que consume a penhora. Depois, com o processo suspenso, o exequente é obrigado a

esperar o julgamento dos embargos. Por último, decorridos vários anos, é compelido a
despender mais dinheiro, para os editais de praça ou leilão. Como se vê, este segundo

caminho é consideravelmente lento e dispendioso. Obrigar o pequeno credor a segui-lo


é colocar o Poder Judiciário a serviço do mau pagador, em patente injustiça. 2. Para
obviar a declaração de falência o comerciante solvente e decente deve resgatar seus
títulos, no próprio dia do vencimento. Em caso de protesto, honra a obrigação

imediatamente, ou informa ao oficial de protesto, os motivos que justificam o não


pagamento. Por exigir decência de todos os comerciantes, o Direito Positivo enxerga na

inadimplência um sinal inconfundível de insolvência. 3. Em constatando que o


comerciante “sem relevante razão de direito” não pagou, no vencimento, obrigação
líquida, constante de título que legitime ação executiva, cumpre ao juiz declarar a
falência. Não lhe é lícito furtar-se à declaração, a pretexto de que o credor está usando

o pedido de falência, como substitutivo da ação de execução (REsp 515.285/SC, Rel. Min.
Castro Filho, Rel. p/ Acórdão Min. Humberto Gomes de Barros, DJ 07/06/2004, p. 220).

Vê-se, pois, que o próprio STJ é vacilante sobre o assunto, ora entendendo não ser
possível o uso da ação falimentar como meio de cobrança, ora entendendo de forma
contrária. André Luiz Ramos entende que é possível o uso da ação falimentar como espécie de
cobrança judicial de dívidas.

O art. 101 da LFRE responsabiliza aquele que, por dolo requerer a falência de outrem,
sujeitando-o a ser condenado, na própria sentença que julgar improcedente o pedido, a
indenizar o devedor, apurando-se as perdas e danos em liquidação de sentença.
Para coibir a abertura temerária de processo de falência, dispendendo,
desnecessariamente, recursos do Poder Judiciário, na hipótese em que aquele que requerer a
falência de outrem não encontrar patrimônio, sequer, para quitar os honorários do
administrador judicial, o STJ atribuiu ao credor indiligente a responsabilidade pelo pagamento
da sua remuneração.

28
RECURSO ESPECIAL. FALÊNCIA. NOMEAÇÃO DE ADMINISTRADOR JUDICIAL. CAUÇÃO
DA REMUNERAÇÃO. RESPONSABILIDADE. ART. 25 DA LEI nº 11.101/2005. EFEITO

SUSPENSIVO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Inviável a apreciação do pedido de efeito suspensivo


a recurso especial feito nas próprias razões do recurso. Precedentes. 2. O art. 25 da Lei

nº 11.101/2005 é expresso ao indicar o devedor ou a massa falida como responsável


pelas despesas relativas à remuneração do administrador judicial. 3. Na hipótese, o ônus
de providenciar a caução da remuneração do administrador judicial recaiu sobre o
credor, porque a empresa ré não foi encontrada, tendo ocorrido citação por edital, além

de não se saber se os bens arrecadados serão suficientes a essa remuneração. 4. É


possível a aplicação do art. 19 do Código de Processo Civil ao caso em apreço, pois

deve a parte litigante agir com responsabilidade, arcando com as despesas dos atos
necessários, e por ela requeridos, para reaver seu crédito. 5. Recurso especial não
provido. (REsp 1526790/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 10/03/2016, DJe 28/03/2016)

4.6.6 Efeitos da Decretação da Falência

Já se destacou que a sentença que decreta a falência do devedor tem natureza


constitutiva, uma vez que constitui o devedor em estado falimentar e inicia o processo de
execução concursal dos seus bens.
Assim, decretada a falência, instaura-se um novo regime jurídico aplicável ao devedor,
que repercutirá em toda a sua esfera jurídica e patrimonial. A falência produz efeitos, pois,
quanto à pessoa do falido, quanto aos seus bens, quanto aos seus contratos, quanto aos seus
credores etc.
É preciso destacar que na imensa maioria dos casos os processos falimentares dizem
respeito a sociedades empresárias, e não a empresários individuais. Todavia, o texto legal da
LRE, seguindo defeito da legislação falimentar anterior, continua utilizando o empresário
pessoa física como referência para a redação de suas normas, o que gera confusão na
interpretação de diversos dispositivos.

 Efeitos da falência quanto à pessoa do falido

 Dissolução da sociedade

29
Haverá o encerramento da atividade empresarial e a consequente liquidação do
patrimônio social para o posterior pagamento dos credores. Trata-se do efeito principal da
decretação da falência.
FALÊNCIA. AÇÃO AJUIZADA PELA SOCIEDADE FALIDA. A sociedade empresária falida não
tem legitimidade para o ajuizamento de ação cujo objetivo seja o recebimento de valor

que, segundo alega, deveria ter sido exigido pela massa falida, mas não o fora. Depois
que é decretada a falência, a sociedade empresária falida não mais possui personalidade
jurídica e não pode postular, em nome próprio, direitos da massa falida (REsp

1.330.167/SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 5/2/2013).

 Os membros que compõem a sociedade empresária falida em que a


responsabilidade dos sócios é ilimitada também serão atingidos

Tratando-se de sociedade em que a responsabilidade dos sócios é ilimitada, prevê o art.


81 que a decisão que decreta a falência da sociedade com sócios ilimitadamente responsáveis
também acarreta a falência destes, que ficam sujeitos aos mesmos efeitos jurídicos produzidos
em relação à sociedade falida e, por isso, deverão ser citados para apresentar contestação, se
assim o desejarem.
Em se tratando, em contrapartida, de sociedade em que os sócios respondem de forma
limitada, eles em princípio não se submetem aos efeitos da falência, uma vez que quem faliu
foi a sociedade, pessoa jurídica com existência e patrimônio distintos da pessoa dos sócios.
Não obstante, caberá ao juízo da falência apurar eventual responsabilidade pessoal dos
quotistas e administradores, conforme regra estabelecida no art. 82 da LRE. Essa ação para
responsabilizar pessoalmente os sócios prescreve em dois anos, contados do trânsito em
julgado da sentença que encerra a falência (art. 82, §1º).
Quanto ao titular da EIRELI, entende-se que se deve aplicar o art. 82, já que a ela se
aplicam, subsidiariamente, as normas da sociedade limitada (art. 980-A, §6º, do CC).
Sobre o art. 82, foi aprovado o Enunciado nº 48 da I Jornada de Direito Comercial do
CJF:
Enunciado 48, CJF:A apuração da responsabilidade pessoal dos sócios, controladores e
administradores feita independentemente da realização do ativo e da prova da sua
insuficiência para cobrir o passivo, prevista no art. 82 da Lei nº 11.101/2005, não se
refere aos casos de desconsideração da personalidade jurídica.

30
Segundo esse entendimento, o juízo da falência poderia determinar a desconsideração
da personalidade jurídica da sociedade falida nos próprios autos do processo falimentar, sem
necessidade, pois, de ação autônoma. A partir da vigência do novo CPC, porém, terá que ser
observado o procedimento previsto em seus arts. 133 a 137.

 Inabilitação do falido para exercer atividade empresarial (art. 102)

O artigo 102 da Lei no 11.101/2005 assevera que “o falido fica inabilitado para exercer
qualquer atividade empresarial a partir da decretação da falência e até a sentença que
extingue suas obrigações”.
Logo, o empresário individual que vai à falência ou o sócio de responsabilidade
ilimitada de uma sociedade que tem sua falência decretada, por exemplo, ficam impedidos de
exercer qualquer atividade empresarial até que suas obrigações sejam consideradas extintas
por sentença transitada em julgado.
Ressalte-se que essa inabilitação é automática, iniciando-se com a decretação da
falência e terminando com a sentença de encerramento do processo falimentar (art. 156 da
LRE). No entanto, deve-se ressalvar a hipótese de o falido ser condenado por crime falimentar,
caso em que referida condenação também lhe impõe a pena acessória de inabilitação
empresarial, e nesse caso essa inabilitação só cessará cinco anos após a extinção da
punibilidade, nos termos do art. 181 da LRE.
Assim, no art. 102 a LRE trata tão somente da inabilitação decorrente da sentença que
decreta a falência. Nesse caso, assim que o juiz comunicar a Junta Comercial da sua decisão,
nos termos do art. 99, VIII, ela deve anotar tal fato junto aos atos constitutivos do devedor,
fazendo deles constar a expressão “falido”, acompanhada da data da decretação e da
informação de que, a partir de então, o empresário individual falido (ou, por exemplo, os
sócios de responsabilidade ilimitada de uma sociedade empresária falida) está inabilitado para
o exercício de empresa, nos termos do dispositivo ora em exame.

 O falido perde o direito a administração e disponibilidade dos seus bens (art.


103)

31
O falido não pode mais dispor dos seus bens (não pode mais vender, alugar etc.). Caso
a falência não esteja sendo bem administrada, não são apenas os credores que serão
prejudicados, mas também o próprio devedor, que tem a legítima expectativa de ver suas
dívidas rapidamente honradas, na medida do possível, para que possa pedir no futuro a
extinção de suas obrigações e voltar, eventualmente, a exercer atividade empresarial.
Ademais, quanto à sua possibilidade de intervir nos processos em que a massa seja
parte, muitas vezes é fundamental essa atuação do devedor, porque ele, presume-se, conhece
melhor do que qualquer pessoa os fatos que envolvem as demandas em que a massa é parte.

Segundo o STJ(4ª Turma, AgRg no REsp 1.229.579-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado
em 18/12/2012 – inf. 513), é possível a extensão dos efeitos da falência às sociedades do
mesmo grupo, sempre que houver evidências de utilização da personalidade jurídica da falida
com abuso de direito, para fraudar a lei ou prejudicar terceiros, e desde que:
a) Seja demonstrada a existência de vínculo societário no âmbito do grupo

econômico;

b) Seja oportunizado o contraditório à sociedade empresária a ser afetada.

Ainda segundo o STJ, esta extensão dos efeitos da falência às sociedades integrantes do
mesmo grupo da falida encontra respaldo na teoria da desconsideração da personalidade
jurídica.
Enunciado 50, CJF: A extensão dos efeitos da quebra a outras pessoas jurídicas e físicas
confere legitimidade à massa falida para figurar nos polos ativo e passivo das ações nas
quais figurem aqueles atingidos pela falência.

Por fim, cabe elencar como outros efeitos da decretação da falência sobre a pessoa do
falido.

 Impossibilidade de o falido se ausentar do lugar da falência sem autorização


do juiz
 Dever de comparecimento a todos os atos de falência
32
 Dever de colaboração com a administração da falência
 Suspensão do direito ao sigilo de correspondência e ao livre exercício da
profissão
 A decretação da falência das concessionárias de serviços públicos implica
extinção da concessão, na forma da lei (art. 195)
 Efeitos da falência quanto aos bens do devedor (massa falida objetiva)

É efeito específico da falência a ARRECADAÇÃO DE TODOS OS BENS DO DEVEDOR,


com exceção dos absolutamente impenhoráveis (art. 108, §4º). Aqui surge a chamada MASSA
FALIDA OBJETIVA.
A arrecadação dos bens será formalizada através da lavratura do auto de arrecadação
(art. 110), o qual será composto do inventário e do laudo de avaliação dos bens.
Os bens atingidos pela instauração da execução concursal, em princípio, são os bens da
sociedade, e não os dos sócios que a integram. Porém, ainda que se trate de sociedade cuja
responsabilidade dos sócios é limitada, eles podem vir a ter seu patrimônio pessoal atingido,
conforme previsto no art. 82 da Lei 11.101/2005.

 Efeitos da falência quanto às obrigações do falido

A partir da instauração do processo falimentar, todos os credores se sujeitarão às suas


regras, e só poderão exercer os seus direitos sobre os bens do falido na forma que a LFRE
prescrever. É o que dispõe o art. 115 da LFRE.
De acordo com o art. 116 da LFRE, “a decretação da falência suspende: I – o exercício
do direito de retençãosobre os bens sujeitos à arrecadação, os quais deverão ser entregues
ao administrador judicial; II – o exercício do direito de retirada ou de recebimento do valor
de suas quotas ou ações, por parte dos sócios da sociedade falida”.
A sentença declaratória gera o vencimento antecipado de toda a dívida do falido. O art.
77 da LFRE preconiza que “a decretação da falência determina o vencimento antecipado das
dívidas do devedor e dos sócios ilimitada e solidariamente responsáveis, com o
abatimento proporcional dos juros, e converte todos os créditos em moeda estrangeira para a
moeda do País, pelo câmbio do dia da decisão judicial”.
Ocorrerá também a limitação de compensação de dívidas do devedor até o dia da
decretação da falência. De acordo com o art. 122 da LFRE, “compensam-se, com

33
preferênciasobre todos os demais credores, as dívidas do devedor vencidas até o dia da
decretação da falência, provenha o vencimento da sentença de falência ou não, obedecidos
os requisitos da legislação civil”.
A regra do art. 122, todavia, não é absoluta, uma vez que o seu parágrafo único
estabelece que “não se compensam: I – os créditos transferidos após a decretação da
falência, salvo em caso de sucessão por fusão, incorporação, cisão ou morte; ou II – os
créditos, ainda que vencidos anteriormente, transferidos quando já conhecido o estado de
crise econômico-financeira do devedor ou cuja transferência se operou com fraude ou dolo”.
Por fim, com a sentença haverá a suspensão da fluência de juros. Determina o art. 124
da LFRE que “contra a massa falida não são exigíveis juros vencidos após a decretação da
falência, previstos em lei ou em contrato, se o ativo apurado não bastar para o pagamento
dos credores subordinados”. Assim, em princípio, fica suspensa a fluência de juros contra o
devedor falido.
Todavia, uma vez realizado o ativo e verificando-se que a massa possui recursos
suficientes para saldar todos os seus credores, inclusive os subordinados, computam-se os
juros normalmente e a massa deve pagá-los, conforme entendimento pacífico do Superior
Tribunal de Justiça.

STJ: [...] Os juros moratórios devidos pela massa falida obedecem ao seguinte regime: (i)
antes da decretação da falência, são devidos os juros de mora, independentemente da
existência de ativo suficiente para pagamento do principal; (ii) após a decretação da
falência, a incidência dos juros fica condicionada à suficiência do ativo para
pagamentodo principal (REsp 760.752/SC, Rel. Min. Luiz Fux, DJ 02/04/2007).

 Efeitos sobre os contratos do falido

Ao contrário do que se possa imaginar, os contratos do devedor falido não se


extinguem de pleno direito em razão da decretação da falência (art. 117).
Segundo Fábio Ulhôa Coelho, embora a redação do art. 117 da LFRE não seja clara,
refere-se apenas aos contratos bilateraisque ainda não tiveram sua execução iniciada por
qualquer uma das partes contratantes.
Em contrapartida, se a execução do contrato já foi iniciada por alguma das partes, ou
por ambas, não poderá ser resolvido o contrato, não se aplicando, nesse caso, a regra do art.
117.

34
Ocorrendo essa situação, segundo o referido autor, a solução dependerá da posição
assumida pelo devedor falido na relação contratual: (i) se ele é credor, caberá ao
administrador judicial tomar as providências necessárias ao recebimento do crédito, que se
incorporará à massa; (ii) se ele é devedor, caberá à parte contratante adversa habilitar o seu
crédito no processo falimentar, a fim de receber o que lhe for devido no momento oportuno.
As regras dos arts. 117 e 118 são excepcionadas quando o contrato possuir a chamada
cláusula de resolução por falência. Nesse caso, a decretação da quebra implicará a resolução
imediata do contrato, o que acontecerá, frise-se, não por força da sentença de falência ou de
regras do direito falimentar, mas tão somente em obediência à vontade das partes
contratantes, manifestada em cláusula contratual expressa nesse sentido.

 Efeitos da falência quanto aos credores do falido

 Instauração do Juízo Universal

Conforme, inicialmente, mencionado, trata-se de um processo de execução coletiva


contra devedor insolvente empresário. Nela se congregam todos os credores, através da
chamada vis attractiva do juízo falimentar (poder de atração exercido pelo juízo universal da
falênciasobre todas as ações que versem sobre bens e direitos do devedor), de modo a
permitir a centralização das discussões no juízo uno e indivisível da falência.
Conforme previsão do art. 115, a atuação dos credores com o fim de receber seu
crédito fica sujeita ao regramento da Lei de Falência.
O principal objetivo do processo falimentar é a reunião de todos os credores do
devedor e de todos os seus bens, para que, vendidos estes, sejam pagos aqueles, na ordem
de preferência dos seus respectivos créditos.
Assim, enquanto a arrecadação dos bens dá origem à chamada massa falida objetiva, a
reunião dos credores forma a denominada MASSA FALIDA SUBJETIVA (corpus creditorum),
que concorrerá ao produto da venda dos bens do falido segundo a ordem de classificação
estabelecida na própria lei, em obediência ao princípio da par condiciocreditorum.
Em razão do exposto acima, um dos efeitos da falência é, justamente, a instauração do
juízo universal e a consequente suspensão do curso de todas as ações e execuções em face
do devedor, com algumas exceções.

35
O juízo universal, nas palavras de Fábio Ulhôa, é a aptidão atrativa do juízo falimentar,
ao qual a lei conferiu a competência para conhecer e julgar todas as medidas judiciais de
conteúdo patrimonial referentes ao falido ou à massa falida – vis attractiva.
Desta feita, vislumbram-se as seguintes exceções ao juízo universal:
a) Ações não reguladas pela Lei de Falências de que seja autora ou litisconsorte

ativa a massa falida;

b) Ações que demandam quantia ilíquida (art. 6º, §1º), até que o valor devido seja

devidamente apurado e liquidado;

c) Ações de execução fiscal: o STJ já decidiu, sob a égide da Lei 11.101/2005, que a

execução fiscal contra a massa falida não se suspende;

d) Ações trabalhistas: cabe à própria justiça trabalhista processar e julgar a ação, até

que seja definido e liquidado o respectivo crédito para, somente então, a

execução desse crédito ser submetida ao juízo falimentar;

e) Ações em que forem parte a União ou entidade federal.

 A suspensão da prescrição e das ações e execuções contra o devedor falido

No mesmo sentido da regra do art. 76 da LFRE, que estabelece a formação do juízo


universal da falência, o art. 6º determina que “a decretação da falência ou o deferimento do
processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e
execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário”.
Essa suspensão será decretada na própria sentença que decreta a falência, conforme
determinação do art. 99, V, da LFRE.
Embora a lei diga que a decretação da falência suspende a prescrição e o curso de
“todas” as ações e execuções contra o devedor, a verdade é que não são todas as ações e
execuções que se submetem a essa regra. São exceções:
a) Ações que demandem quantia ilíquida (ativo ou passivo);

b) Reclamações trabalhistas;

c) Execuções fiscais.

A primeira exceção é referente às ações que demandam quantia ilíquida, esteja a massa
falida no polo ativo ou no polo passivo da relação processual. Como a falência é um processo

36
de execução – execução concursal de devedor empresário insolvente –, seu rito é incompatível
com o de ações que demandam quantia ilíquida, razão pela qual essas ações, obviamente, não
se suspendem nem são atraídas para o juízo falimentar, devendo prosseguir na vara em que
tramitam até que o valor devido seja devidamente apurado e liquidado.
A segunda exceção se refere às demandas em curso na Justiça do Trabalho, que são,
basicamente, as reclamações trabalhistas. Nesse caso, cabe à própria justiça trabalhista
processar e julgar a ação, até que seja definido e liquidado o respectivo crédito. Somente
então deverá ser remetida a execução desse crédito ao juízo falimentar, que o incluirá na
ordem correspondente, assegurando-lhe a preferência que a legislação falimentar confere.
Nesse sentido, confiram-se os acórdãos do Superior Tribunal de Justiça, anteriores à LFRE, mas
que manifestaram entendimento que se mantém atual.

STJ: [...] uma vez decretada a quebra, as reclamações trabalhistas anteriormente


intentadas devem ser ultimadas pela Justiça do Trabalho, que é absolutamente
competente para o respectivo julgamento (art. 114 da CF). Entretanto, definitivamente
julgados e liquidados os créditos trabalhistas, a respectiva execução deles deve ser
remetida ao juízo universal da falência, a quem compete classificar os créditos de acordo
com ordem legal, em respeito a par condiciocreditorum (STJ, CC 37.680/PR, Rel. Min.
Jorge Scartezzini, DJ 07/03/2005).

Portanto, as ações que demandam quantia ilíquida e as reclamações trabalhistas não se


suspendem, continuando a tramitar no respectivo juízo até que se apure o valor do crédito.
Todavia, pode ser que a demora na definição dos créditos discutidos nessas ações
comprometa o direito dos respectivos credores, sobretudo se o processo de falência tramitar
rapidamente. Pensando nisso, previu a LFRE, no §3º do art. 6º.
Outra exceção prevista à regra de suspensão das ações e execuções contra o devedor
falido é relativa às execuções fiscais (Lei 6.830/1980), uma vez que a Fazenda Pública, segundo
o art. 187 do Código Tributário Nacional, não se sujeita a nenhum tipo de concurso de
credores.
Quanto a esse ponto, cumpre destacar que a LFRE trouxe, segundo alguns autores, uma
importante inovação, ao prever que as execuções fiscais não se suspendem apenas nos casos
de recuperação judicial, conforme dispõe o art. 6º, §7º, da LFRE:

Art. 6º [...]

37
§7º As execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da recuperação
judicial, ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do Código Tributário
Nacional e da legislação ordinária específica.
Segundo esses autores, pela interpretação a contrario sensu desse dispositivo, a
decretação da falência suspende o curso da execução fiscal.
No entanto, já na vigência da LFRE, o STJ decidiu que a execução fiscal contra a massa
falida não se suspende, podendo correr normalmente perante o juízo no qual foi
proposta, mesmo que o juízo falimentar esteja situado em outra circunscrição. O crédito
fiscal deve, porém, respeitar a ordem de classificação dos créditos prevista na legislação
falimentar – art. 83 da LFRE (CC 63.919/PE, Rel. Min. Humberto Martins, DJ 12/02/2007).

De fato, a execução fiscal não deve ser suspensa em razão da decretação da falência do
devedor, tendo em vista o disposto no art. 5º da Lei de Execuções Fiscais (a competência para
processar e julgar a execução da Dívida Ativa da Fazenda Pública exclui a de qualquer outro
Juízo, inclusive o da falência, da concordata, da liquidação, da insolvência ou do inventário).
Nesse sentido já se posicionou o STJ (AgRg no AREsp 526.303/MG, Rel. Ministro Napoleão
Nunes Maia Filho, 1ª Turma, j. 20/11/2014, DJe 04/12/2014).
No entanto, embora a execução fiscal não se suspenda, isso não permite que o juízo da
execução fiscal determine medidas constritivas contra o patrimônio do devedor após a sua
falência, pois isso significaria excluir o crédito tributário da execução concursal falimentar, em
clara violação do art. 83, III, da LFRE e do princípio da par conditio creditorum. Assim,
tomando conhecimento da decretação da quebra, o juízo da execução fiscal deve apenas
comunicar ao juízo universal da falência o crédito tributário exequendo, a fim de que seja
devidamente incluso no quadro-geral de credores.

 O tratamento dado às execuções com atos de constrição já realizados

Sob a égide da antiga legislação falimentar, que continha regra específica sobre o
assunto, o STJ entendia que a execução com penhora já realizada deveria prosseguir, com a
realização da hasta pública e a consequente venda do bem.
No entanto, o produto resultante da alienação dos bens, os quais foram penhorados
antes da decretação da falência, deve ser remetido ao juízo universal da falência, a fim de que
neste se proceda aos pagamentos de acordo com a ordem legal de preferência dos créditos.

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A atual legislação, todavia, não contém regra específica. O STJ, em acórdão proferido já
na vigência da nova lei, entende que deve se manter a mesma orientação da legislação
anterior.
Em suma: decretada a falência, a execução de quaisquer créditos contra o devedor
falido deve ser feita no juízo universal da falência, ainda que se trate de crédito trabalhista ou
tributário. Admite-se o prosseguimento da execução, excepcionalmente, apenas para que se
ultimem alguns atos executórios já iniciados, em homenagem aos princípios da economia e
celeridade processuais. Mesmo assim, o produto arrecadado deve ser remetido ao juízo
falimentar, que o incorporará à massa e pagará os credores segundo a ordem de preferência
determinada em lei.

STJ: [...] Embora as execuções fiscais não se suspendam com o deferimento da falência,
caso realizados atos de constrição judicial anteriormente à quebra, devem ser liquidados
e, somente após auferidos, os valores deverão ser revertidos à massa falida para
apuração da ordem legal de classificação creditícia (AgRg no CC 137.123/PR, Rel.
Ministro João Otávio de Noronha, Segunda Seção, j. 28/10/2015, DJe 03/11/2015).

 Efeitos da falência sobre os bens do falido

 Arrecadação de bens do falido

É efeito específico da falência a arrecadação de todos os bens do devedor – com


exceção dos bens absolutamente impenhoráveis (art. 108, §4º, da LFRE) –, os quais deverão ser
vendidos para que o produto da venda seja utilizado para o pagamento dos credores. Os
bens arrecadados constituem, pois, a chamada MASSA FALIDA OBJETIVA, que corresponde,
então, ao ativo do devedor submetido à execução concursal falimentar.
Arrecadados os bens, ou seja, formada a massa falida objetiva, estes “ficarão sob a
guarda do administrador judicial ou de pessoa por ele escolhida, sob responsabilidade
daquele, podendo o falido ou qualquer de seus representantes ser nomeado depositário dos
bens” (art. 108, §1º, da LFRE). Caso seja necessário, para facilitar os trabalhos de arrecadação, o
juiz poderá até mesmo determinar a lacração do estabelecimento (art. 109 da LFRE).
A arrecadação será formalizada por meio da lavratura do auto de arrecadação (art. 110
da LFRE), que será composto do inventário e do laudo de avaliação dos bens, os quais,
sempre que possível, deverão ser individualizados.

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 Restituição de bens

Sabe-se que a arrecadação dos bens do devedor, como medida que visa à definição do
seu ativo, com a consequente formação da massa falida objetiva, é procedimento que
determina que o administrador judicial arrecade todos os bens do falido, ficando estes sob os
seus cuidados. Assim, o administrador judicial se responsabilizará pela sua guarda e
conservação até o momento da realização da venda, cujo produto será usado para pagamento
dos credores.
O procedimento de arrecadação abrange tanto os bens de propriedade do devedor
falido quanto os bens que apenas se encontram na sua posse, como, por exemplo, bens dos
quais ele é mero locatário ou comodatário. Sendo assim, pode ser, eventualmente, que a
arrecadação atinja bens de terceiros, os quais, logicamente, não poderão de forma alguma ser
utilizados para pagamento dos credores do falido.
Portanto, para que se complete a correta definição do ativo que será executado no
processo falimentar, é preciso proceder, após a arrecadação, à restituição de alguns bens aos
seus reais proprietários.
O primeiro caso de restituição de bens arrecadados está consagrado no art. 85 da LRE,
segundo o qual “o proprietário de bem arrecadado no processo de falência ou que se
encontre em poder do devedor na data da decretação da falência poderá pedir sua
restituição”. Tem-se, aqui, caso em que o bem arrecadado é de propriedade de terceiro. Pode
ser, por exemplo, que o bem tivesse sido entregue ao falido em comodato.
O segundo caso está previsto no art. 85, parágrafo único, da LRE, que dispõe o
seguinte: “também pode ser pedida a restituição de coisa vendida a crédito e entregue ao
devedor nos 15 dias anteriores ao requerimento de sua falência, se ainda não alienada”.
Aqui a situação é um pouco diferente. Trata-se de bem que foi vendido a crédito ao
falido, entregue a este até 15 dias antes da decretação de sua quebra e ainda não alienado. O
objetivo do legislador, nesse caso, foi proteger o terceiro de boa-fé que contratou com o
falido às vésperas de sua falência.
Afinal, nos 15 dias anteriores à quebra é bastante provável que o empresário devedor
ou os administradores da sociedade devedora soubessem da situação de crise da empresa,
fato que deveria fazer com que não adquirissem mercadorias a crédito, haja vista a grande
possibilidade de não poderem honrar o compromisso assumido.
40
A terceira hipótese de restituição, por sua vez, está assegurada pelo art. 86, II, da LRE,
que faz referência a outro dispositivo normativo. Com efeito, prevê a norma em comento que
caberá a restituição em dinheiro da importância entregue ao devedor, em moeda corrente
nacional, decorrente de adiantamento a contrato de câmbio para exportação.
O STJ entende que os valores referentes a ADIANTAMENTO A CONTRATO DE CÂMBIO
devem mesmo ser restituídos, e não habilitados junto aos demais créditos para recebimento
posterior.

Súmula 307, STJ:A restituição de adiantamento de contrato de câmbio, na falência, deve


ser atendida antes de qualquer crédito.
Súmula 36, STJ:A correção monetária integra o valor da restituição, em caso de
adiantamento de câmbio, requerida em concordata ou falência.

Há ainda uma quarta hipótese de restituição, prevista no art. 86, III, da LRE, que está
disciplinada no art. 136 da LRE. Trata-se da situação em que o juiz declara a ineficácia de ato
praticado pelo falido antes da decretação da quebra, caso em que “as partes retornarão ao
estado anterior, e o contratante de boa-fé terá direito à restituição dos bens ou valores
entregues ao devedor”. Nesse caso a restituição também será feita em dinheiro.
Nos processos de falência, o INSS reivindicará os valores descontados pela empresa de
seus empregados e ainda não recolhidos (art. 51, parágrafo único, da Lei 8.212/91).

[...] os valores recolhidos dos empregados a título de contribuição previdenciária não


podem incorporar-se à massa falida porque não fazem parte do ativo da empresa.
Sequer há que se falar em preferência de créditos trabalhistas, pois há, sim, a não
incorporação ao patrimônio do falido, que é mero intermediário entre empregados e o
INSS (REsp 596.797/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, j. 11/05/2004).
Por outro lado, no que tange aos valores relativos à contribuição social, devidos pelo
falido na condição de contribuinte, deverá o INSS proceder da forma ordinária (execução
fiscal).
Quanto aos valores de correntistas de instituições financeiras que eventualmente tenham
a sua falência decretada, deverão tais correntistas requerer habilitação de seu crédito, na
classe de credores quirografários.
[...]
Os valores existentes em contas correntes administradas por instituição financeira que
tenha a sua falência decretada não podem ser restituídos, uma vez que, com o depósito
destes valores, ocorre a transferência da sua titularidade à instituição bancária, ficando o
correntista apenas com o direito ao crédito correspondente. Assim, no caso de falência,

41
deverão tais correntistas requerer habilitação de seu crédito, na classe de credores
quirografários (AgRg no REsp 660.762/MG, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ 13/06/2005).

O pedido de restituição suspende a disponibilidade coisa até o seu trânsito em julgado


e a massa só poderá ser condenada em honorários advocatícios se apresentar contestação.

 Restituição em dinheiro

A restituição, em geral, poderá ser feita em dinheiro ou por meio da devolução do


próprio bem. Destaque-se o seguinte entendimento sumular do STF:

Súmula 417, STF:Pode ser objeto de restituição, na falência, dinheiro em poder do


falido, recebido em nome de outrem, ou do qual, por lei ou contrato, não tivesse ele a
disponibilidade.

A restituição em dinheiro não é a regra, devendo ocorrer apenas nas hipóteses do art.
86 da Lei nº 11.101/2005 (ex.: se a coisa ainda existir, a restituição não será em dinheiro).
Ocorrerá em 3 situações:
a) Quando a coisa não mais existir ao tempo do pedido de restituição, hipótese em

que o requerente receberá o valor da avaliação do bem, ou, no caso de ter

ocorrido sua venda, o respectivo preço, em ambos os casos no valor atualizado

(art. 86, I);

b) Quando se tratar de restituição de valores adiantados em decorrência de

adiantamento a contrato de câmbio para exportação, na forma do art. 75, §§ 3º e

4º, da Lei 4.728/1965 (art. 86, II);

c) Quando se tratar de restituição dos valores entregues ao devedor pelo

contratante de boa-fé na hipótese de revogação ou ineficácia do contrato,

conforme disposto no art. 136 desta Lei (art. 86, III).

Essas hipóteses de restituição em dinheiro somente serão efetuadas após o pagamento


previsto no art. 151 da LRE (art. 86, parágrafo único). O art. 151, por sua vez, determina que os
créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 meses anteriores à
decretação da falência, até o limite de 5 salários mínimos por trabalhador, serão pagos tão
logo haja disponibilidade em caixa.

42
Não é cabível a restituição de quantia em dinheiro que se encontra depositada em
conta corrente de banco falido, em razão de contrato de trust.

Massa falida do banco depositário. Arrecadação de saldo. Cabimento. Pedido de


restituição de quantia depositada por correntista. Patrimônio de Afetação. Art. 119, inciso
IX, da Lei n. 11.101/2005. Contrato de trust. Ausência de previsão legal. Inaplicabilidade
da Súmula 417/STF. (REsp 1.438.142-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, por
unanimidade, julgado em 15/05/2018, DJe 09/08/2018)

 Ineficácia e revogação dos atos do falido

 Ineficácia Objetiva

Através da ação revocatória, pode-se pleitear a ineficácia de certas transações.Trata-se


do que a doutrina chama de ATOS OBJETIVAMENTE INEFICAZES, uma vez que o
reconhecimento de sua ineficácia independe da demonstração de fraude do devedor ou de
conluio com o terceiro que com ele contratou.
Cabe frisar que os atos objetivamente ineficazes estão previstos em rol taxativo e sua
prática, em geral, ocorreu em certo lapso temporal específico – que muitas vezes é justamente
o denominado período suspeito, delimitado a partir da fixação do termo legal da falência.
São ineficazes em relação à massa falida (ineficácia objetiva), tenha ou não o
contratante conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor, seja ou não
intenção destefraudar credores (art. 129, LFRE).
a) O pagamento de dívidas não vencidas realizado pelo devedor dentro do termo

legal, por qualquer meio extintivo do direito de crédito, ainda que pelo desconto

do próprio título;

b) O pagamento de dívidas vencidas e exigíveis realizado dentro do termo legal, por

qualquer forma que não seja a prevista pelo contrato;

c) A constituição de direito real de garantia, inclusive a retenção, dentro do termo

legal, tratando-se de dívida contraída anteriormente; se os bens dados em

hipoteca forem objeto de outras posteriores, a massa falida receberá a parte que

devia caber ao credor da hipoteca revogada;

d) A prática de atos a título gratuito, desde 2 anos antes da decretação da falência;

e) A renúncia à herança ou a legado, até 2 anos antes da decretação da falência;

43
f) A venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento expresso

ou o pagamento de todos os credores, a esse tempo existentes, não tendo

restado ao devedor bens suficientes para solver o seu passivo, salvo se, no prazo

de 30 (trinta) dias, não houver oposição dos credores, após serem devidamente

notificados, judicialmente ou pelo oficial do registro de títulos e documentos;

g) Os registros de direitos reais e de transferência de propriedade entre vivos, por

título oneroso ou gratuito, ou a averbação relativa a imóveis realizados após a

decretação da falência, salvo se tiver havido pré notação anterior.

A ineficácia poderá ser declarada DE OFÍCIO PELO JUIZ, ALEGADA EM DEFESA ou


PLEITEADA MEDIANTE AÇÃO PRÓPRIA ou INCIDENTALMENTE NO CURSO DO PROCESSO (art.
129, parágrafo único, da LRE).
A oneração ou alienação de bem imóvel só se aperfeiçoa depois de registrada em
cartório de registro de imóveis. Ora, se até a decretação não tinha sido levado a efeito o
registro, ele será completamente ineficaz perante a massa se feito depois da sentença de
quebra, salvo se houver pré notação anterior (art. 129, VII, LRE).
A contrario sensu, a simples operação de venda de bens imóveis do devedor ou a mera
constituição de garantia sobre eles, antes da decretação de sua falência – ainda que dentro do
período suspeito –, é plenamente válida e eficaz.

STJ: [...] Não ocorrendo demonstração de fraude, é eficaz em relação à massa falida a
alienação de imóvel de sua propriedade ocorrida dentro do termo legal da falência,
também denominado período suspeito, mas anteriormente à declaração da quebra (REsp
681.798/PR, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 22/08/2005).

O que a regra preceitua é que se a venda foi feita, mas o registro respectivo não foi
efetuado, não se poderá fazê-lo depois da sentença de quebra.
Desta feita, descoberta a prática de um dos atos acima descritos nos incisos do art. 129,
“a ineficácia poderá ser declarada de ofício pelo juiz, alegada em defesa ou pleiteada
mediante ação própria ou incidentalmente no curso do processo” (art. 129, parágrafo único,
da LRE). Trata-se de novidade interessantíssima trazida pela nova legislação falimentar, uma
vez que na vigência da legislação anterior o reconhecimento da ineficácia objetiva se submetia
ao procedimento da ação revocatória, hoje restrita às hipóteses de ineficácia subjetiva.

44
Além dos atos objetivamente ineficazes, previstos no rol exaustivo do art. 129 da LRE,
ela também prevê, no seu art. 130, que “são revogáveis os atos praticados com a intenção de
prejudicar credores, provando-se o conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que com
ele contratar e o efetivo prejuízo sofrido pela massa falida”.
Trata o dispositivo em questão, pois, dos atos com ineficácia subjetiva, os quais só terão
reconhecida a sua ineficácia se forem provados (i) a intenção de prejudicar os credores, (ii) o
conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que contratou com ele e (iii) o real prejuízo
da massa.
Perceba-se ainda que, no caso dos atos subjetivamente ineficazes, não há a previsão
específica de condutas típicas do devedor nem a utilização de nenhum marco temporal como
referência. Em princípio, portanto, qualquer ato do devedor que os credores julguem encaixar-
se na previsão do art. 130 da LRE, independentemente da época de sua prática, pode ser
questionado com o requerimento de declaração da sua ineficácia perante a massa
Ao contrário do que ocorre com os atos de ineficácia objetiva previstos no art. 129 da
LRE, a declaração de ineficácia subjetiva não poderá ser reconhecida de ofício pelo juiz,
alegada em defesa ou pleiteada incidentalmente. Nesse caso, será necessário o ajuizamento
de ação própria, a chamada ação revocatória, a qual, segundo o art. 132 da LRE, “deverá ser
proposta pelo administrador judicial, por qualquer credor ou pelo Ministério Público no prazo
de 3 (três) anos contado da decretação da falência”.
Aqui houve mais uma novidade importante trazida pela legislação falimentar atual. É
que na lei anterior o prazo para a sua propositura era de apenas 1 (um) ano, e a legitimidade
ativa, no primeiro mês, era exclusiva do síndico. Na LRE, além de o prazo ter sido aumentado
para três anos, a legitimidade, desde o início, é concorrente entre administrador judicial,
credores e Ministério Público.
A ação revocatória, que corre perante o juízo universal da falência e segue o rito
comum do Novo Código de Processo Civil (art. 134 da LRE), pode ser ajuizada contra: (i) todos
os que figuraram no ato ou que por efeito dele foram pagos, garantidos ou beneficiados; (ii)
os terceiros adquirentes, se tiveram conhecimento, ao se criar o direito, da intenção do
devedor de prejudicar os credores; (iii) os herdeiros ou legatários das pessoas indicadas nos
dois casos ora mencionados (art. 133 da LRE).

45
Julgada procedente a ação revocatória pelo juiz da falência, este “determinará o retorno
dos bens à massa falida em espécie, com todos os acessórios, ou o valor de mercado,
acrescidos das perdas e danos” (art. 135 da LRE). Esses bens ou valores obtidos por meio da
ação revocatória, é óbvio, servirão no futuro para pagamento de todos os credores, respeitada
a ordem de preferência de cada um deles. Da sentença proferida na ação revocatória cabe
apelação (art. 135, parágrafo único).
Ressalte-se ainda que durante o curso da ação revocatória o juiz pode, exercendo o seu
poder geral de cautela, “a requerimento do autor da ação, ordenar, como medida preventiva,
na forma da lei processual civil, o sequestro dos bens retirados do patrimônio do devedor que
estejam em poder de terceiros”.
Por fim, o ato objetivamente ou subjetivamente ineficaz pode assim ser reconhecido
“ainda que praticado com base em decisão judicial, observado o disposto no art. 131 desta
Lei” (art. 138 da LRE). Nesse caso, “ficará rescindida a sentença que o motivou” (art. 138,
parágrafo único).

 Ineficácia Subjetiva

São revogáveis os atos praticados com a intenção de prejudicar credores, provando-se


o conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que com ele contratar e o efetivo prejuízo
sofrido pela massa falida (revocatória por fraude ou subjetiva).

46
QUADRO SINÓTICO

Fase pré-falimentar

Pedido de Recuperação:

47
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

OAB – XXVII EOU | 2018: A Fazenda Pública do Estado de Pernambuco ajuizou ação de
execução fiscal em face de sociedade empresária. No curso da demanda, houve o
processamento da recuperação judicial da sociedade.

Em relação à execução fiscal em curso, assinale a afirmativa correta.

A) Fica suspensa com o processamento da recuperação até seu encerramento.


B) Não é suspensa com o processamento da recuperação judicial.
C) Fica suspensa com o processamento da recuperação judicial até o máximo de 180 (cento
e oitenta) dias.
D) É extinta com o processamento da recuperação judicial.

Comentário:

Resposta correta: alternativa “B”.

A questão exigiu do candidato a aplicação direta do texto legal, no caso, do art. 6º, § 7º, da
Lei n.º 11.10/2005.

De fato, o deferimento do processamento da recuperação judicial, conforme previsto no caput


do art. 6º da citada lei, suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em
face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário.

Contudo, o § 7º do mesmo artigo ressalva as execuções de natureza fiscal, que não serão
suspensas com o deferimento do processamento da recuperação judicial, salvo na hipótese

48
de concessão de parcelamento nos termos do Código Tributário Nacional e da legislação
ordinária específica, não sendo o caso.

Assim, tem-se por correta a alternativa “B”.

Questão 2

OAB – EOU | 2007.3: Não tem legitimidade ativa para requerer a falência do devedor:

A) O empresário irregular.
B) O credor com garantia real.
C) O herdeiro do devedor.
D) O próprio devedor.

Comentário:

Resposta correta: alternativa “A”.

Conforme instruído neste material, o empresário que não registra seus atos constitutivos,
estando em situação irregular, não pode pedir a falência de seu devedor. Qualquer outro
credor, herdeiro do devedor ou ele próprio terá legitimidade para requerer a falência,
conforme art. 97 da Lei 11.101/2005.

Questão 3

OAB – XXV EOU:A Lei 11.101/2005 prevê a possibilidade de o empresário renegociar seus
débitos mediante os institutos da recuperação judicial e da recuperação extrajudicial. Acerca
das semelhanças e diferenças entre ambos os institutos, assinale a opção correta.

49
A) Diferentemente do previsto para a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial
limita-se a procedimento negocial entre o devedor e os respectivos credores, excluída
a participação do Poder Judiciário em qualquer uma de suas fases.
B) Ambos os procedimentos envolvem a negociação de todos os créditos oponíveis ao
devedor, sendo a recuperação extrajudicial reservada apenas às microempresas e
empresas de pequeno porte.
C) Ambos os procedimentos exigem que o devedor apresente plano de recuperação, o
qual somente vinculará os envolvidos se devidamente aprovado em assembleia geral
de credores.
D) Diferentemente do previsto para a recuperação extrajudicial, o pedido de recuperação
judicial poderá acarretar a suspensão de ações e execuções contra o devedor antes
que o plano de recuperação do empresário seja apresentado aos credores.

Comentário:

Resposta correta: alternativa “D”.

Alternativa A: INCORRETA

O acordo de recuperação extrajudicial deve ser apresentado perante o Poder


Judiciário para homologação, atingindo os credores que não tenham concordado,
nos termos dos arts. 162 e 163 da Lei 11.101/2005;

Alternativa B: INCORRETA

Nos procedimentos estabelecidos para recuperação judicial e extrajudicial há


débitos que não podem ser incluídos na lista, conforme se depreende da leitura dos
arts. 49, § 4º e 161, § 1º, da Lei 11.101/2005. Consigne-se ainda que a recuperação
extrajudicial está aberta a qualquer tipo de empresa que preencha as exigências
legais.

Alternativa C: INCORRETA

50
O plano de recuperação judicial, ainda que não obtenha o quórum para aprovação
na assembleia geral de credores estabelecido em lei, pode vir a ser concedido pelo
juiz se atendidas exigências do art. 58, § 1º, da Lei 11.101/2005. Conforme art. 164
da Lei 11.101/2005, o plano de recuperação extrajudicial, por sua vez, não é
submetido à apreciação de assembleia geral de credores, de modo que caberá a
estes tão somente impugnar o pedido de homologação diretamente em juízo;

ALTERNATIVA D: CORRETA

Do art. 52, III, da Lei 11.101/2005, extrai-se que o deferimento do processamento da


recuperação judicial pelo juiz tem o poder de suspender as ações e execuções
movidas contra o devedor, de modo que o plano somente será apresentado aos
credores posteriormente

Questão 4

FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2019 - Prefeitura de Contagem - MG - Procurador:Sobre


a falência e a recuperação judicial dos empresários, analise as afirmativas a seguir e assinale
com V as verdadeiras e com F as falsas.

( ) Frustrada a Execução Fiscal, a Fazenda Pública é legitimada a pedir a falência do devedor


empresário.

( ) Em atenção ao princípio da preservação da empresa, a jurisprudência do Superior Tribunal


de Justiça tem admitido, excepcionalmente, a prorrogação do prazo de suspensão das ações e
execuções em face da recuperanda para além do limite de 180 (cento e oitenta) dias previsto
no Art. 6º, §4º, da Lei nº 11.101/2005.

( ) A recuperação judicial do devedor principal impede o prosseguimento das ações e


execuções ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por
garantia cambial, real ou fidejussória.

51
( ) A falência de Sociedades de Economia Mista submete-se às regras da Lei nº 11.101/2005,
diferentemente da falência de Empresas Públicas, que é regida por lei própria.

Assinale a sequência correta.

A) V F V F
B) F V F V
C) V F V V
D) F V F F

Comentário:

Resposta correta: alternativa “D”.

( F ) Frustrada a Execução Fiscal, a Fazenda Pública é legitimada a pedir a falência do devedor


empresário.

Enunciado 56 da I Jornada de Direito Comercial: A Fazenda Pública não possui


legitimidade ou interesse de agir para requerer a falência do devedor empresário.

( V ) Em atenção ao princípio da preservação da empresa, a jurisprudência do Superior


Tribunal de Justiça tem admitido, excepcionalmente, a prorrogação do prazo de suspensão das
ações e execuções em face da recuperanda para além do limite de 180 (cento e oitenta) dias
previsto no Art. 6º, §4º, da Lei nº 11.101/2005.

" STJ pacifica entendimento de que o simples decurso do prazo de suspensão de


180 dias, de que trata a lei de recuperação judicial e falência, não enseja a retomada
automática das execuções individuais. Renata Almeida Alves (...) Ao proferir essa
decisão, o STJ pacificou o entendimento, trazendo maior segurança jurídica, tanto
aos credores quanto às empresas em recuperação judicial, e deu fim à duas
discussões: primeiramente, sobre a possibilidade de prorrogação do prazo de
suspensão de 180 dias, visto que a lei trata como “improrrogável”...

( F ) A recuperação judicial do devedor principal impede o prosseguimento das ações e


execuções ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por
garantia cambial, real ou fidejussória.
52
“A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das
execuções nem induz suspensão ou extinção de ações ajuizadas contra terceiros
devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou
fidejussória, pois não se lhes aplicam a suspensão prevista nos arts. 6º, caput, e 52,
inciso III, ou a novação a que se refere o art. 59, caput, por força do que dispõe o
art. 49, § 1º, todos da Lei n. 11.101/2005”. Tese Julgada de acordo com o art. 543-C
do CPC/1973 – TEMA 885. Jurisprudência em Teses – Edição nº 37.

"Segundo decisão da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, a Fazenda


Pública não tem legitimidade nem interesse processual para requerer falência dos
contribuintes que deixam de saldar os débitos inscritos na dívida ativa.

A EGON alegou que a lei de falências não inclui a Fazenda Pública entre os que
podem requerer a quebra da empresa. Argumentou, também, que isso poderia
representar coação moral com a transformação do processo de falência em balcão
para a cobrança de dívidas.

Como as alegações foram acatadas em todas as instâncias, o Estado recorreu ao


Superior Tribunal de Justiça.

No entender do ministro Ruy Rosado de Aguiar - relator do processo - conferir ao


Estado uma medida judicial desse potencial aniquilador seria contrariar os princípios
de igualdade, liberdade de iniciativa e livre concorrência que orientam a ordem
econômica no país. Também estaria sendo consagrada uma coação reprovável pela
moral e pela política (RESP 138868-MG)", disponível em
https://www.conjur.com.br/1998-fev-
26/fazenda_publica_nao_requerer_falencia_devedores.

( F ) A falência de Sociedades de Economia Mista submete-se às regras da Lei nº 11.101/2005,


diferentemente da falência de Empresas Públicas, que é regida por lei própria.

Lei 11. 101. Art. 2º Esta Lei não se aplica a:

I – empresa pública e sociedade de economia mista;O acordo de recuperação


extrajudicial deve ser apresentado perante o Poder Judiciário para homologação,

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atingindo os credores que não tenham concordado, nos termos dos arts. 162 e 163
da Lei 11.101/2005;

Questão 5

FCC - 2020 - TJ-MS - Juiz Substituto:De acordo com a atual redação da Lei n° 11.101/2005,
o pedido de recuperação judicial, com base em plano especial para microempresas e
empresas de pequeno porte,

A) abrange exclusivamente os créditos quirografários.


B) é obrigatório para as microempresas e facultativo para as empresas de pequeno porte.
C) acarreta a suspensão das execuções movidas contra o devedor, ainda que fundadas
em créditos não abrangidos pelo plano.
D) dispensa a convocação de assembleia-geral de credores para deliberar sobre o plano.
E) só será julgado procedente se houver a concordância expressa de mais da metade dos
credores sujeitos ao plano.

Comentário:

Resposta correta: alternativa “D”.

A questão trata da recuperação judicial de microempresas e empresas de pequeno porte.


Recuperação judicial é o processo judicial utilizado para evitar a falência de empresas em
dificuldades. No entanto, o plano especial diz respeito às empresas de menor porte, não de
grandes empresas, atendendo-se ao mandamento constitucional de dar tratamento
diferenciado para as ME e EPPs.

Alternativa A: INCORRETA

Quirografário vem do grego "χέρι" (quéri), que significa "mão". Esse radical aparece em outras
palavras como quiropraxia, quiromante (quem lê as mãos) ou, se alguém vem da área da

54
Química, os termos quiral e aquiral da estereoquímica. Aqui a ideia, salvo melhor juízo, é que
o crédito quirografário é aquele que vem apenas da assinatura - daí o termo quirografário. Ou
seja, quirografário seria aquele crédito que resulta apenas da vontade das partes, que
assinaram o acordo. Essa era a ideia por trás do termo, de forma a diferencia-lo dos créditos
reais, que decorriam de bens, não da vontade. Com o tempo, entretanto, o significado foi
sendo ampliado, de forma que hoje o termo não é tão simples assim, tendo um sentido mais
técnico e específico, como créditos sem preferência (grosso modo). E o que isso importa
para a questão? Ora, sabendo que os créditos quirografários são aqueles que sem preferência,
então estariam excluídos créditos trabalhistas, créditos reais (tais como os garantidos por
hipoteca, penhor, etc.), créditos tributários, etc. Será que faria sentido fazer uma recuperação
judicial deixando de fora os créditos os valores da hipoteca do imóvel onde a empresa
funciona? Certamente que não, por diversas razões: complexidade em se apurar em conjunto
os valores, falta de unidade para o juízo da recuperação, etc. Logo o item é incorreto.
Observação: apesar da lógica acima explicada, a lei afirmava exatamente o que diz o item A
até 2014, quando resolveram dar efetividade ao plano especial das MEs e EPPs, aumentando o
rol dos créditos incluídos no plano especial.

Alternativa B: INCORRETA

As EPPs e MEscontam com regras diferenciadas em relação às grandes empresas.


Primeiramente, não há dever legal de impetrar pedido de falência, por exemplo. Em segundo
lugar, se a empresa quiser entrar com pedido de recuperação "normal", como se fosse uma
grande empresa, poderá fazê-lo, já que a lei afirma que as empresas "poderão" e não que
"deverão". Assim é o entendimento majoritário da doutrina e jurisprudência. Logo, item
errado.

Alternativa C: INCORRETA

No processo de recuperação judicial das grandes empresas, há um período no qual há a


suspensão de 180 dias para a prescrição de todas as ações e execuções em face do devedor,
chamado de stayperiod. Entretanto, no plano especial das ME/EPPs não existe tal previsão.
Dessa forma, todas as ações e execuções relativas a créditos não abrangidos pelo plano
especial terão prosseguimento regular em suas respectivas varas, não sofrendo paralisação.

55
Por qual razão? Provavelmente por questões políticas. Explico - os créditos que ficaram de
fora do plano especial são os seguintes: créditos advindos de recursos oficiais (BNDES sendo
o grande exemplo); créditos fiscais (federal, estadual e municipal); créditos de arrendador
mercantil (leasing), proprietário fiduciário, promitente vendedor de imóvel cujos contratos
contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, proprietário em contrato de
venda com reserva de domínio e créditos decorrentes de importâncias entregues ao devedor
como adiantamento em contrato de câmbio para exportação. Provavelmente, não se previu
a suspensão das ações envolvendo esses créditos para não prejudicar a Fazenda e os grandes
bancos que emprestam dinheiro para as pequenas empresas. Súmula 581 STJ.

ALTERNATIVA D: CORRETA

Correta, conforme art. 72 da Lei de Falências

Alternativa E: INCORRETA

Não será convocada assembleia-geral de credores para deliberar sobre o plano, e o juiz
concederá a recuperação judicial se atendidas as demais exigências da Lei de Falências (art. 72,
caput). Mas, cuidado! O parágrafo único do art. 72 trata de hipótese na qual o juiz julgará
improcedente o pedido de recuperação judicial e, consequentemente, decretará a falência, se
houver objeções de credores titulares de mais da metade de qualquer uma das classes de
créditos previstos no art. 83, computados na forma do art. 45, todos da Lei de Falências

Questão 6

MPE-SC - 2019 - MPE-SC - Promotor de Justiça - Vespertina:Segundo redação da Lei n.


11.101/2005 (Lei da Recuperação Judicial), o administrador judicial, o Comitê, qualquer credor
ou o representante do Ministério Público poderá, até o encerramento da recuperação judicial
ou da falência, observado, no que couber, o procedimento ordinário previsto no Código de
Processo Civil, pedir a exclusão, outra classificação ou a retificação de qualquer crédito, nos
casos de descoberta de falsidade, dolo, simulação, fraude, erro essencial ou, ainda,

56
documentos ignorados na época do julgamento do crédito ou da inclusão no quadro-geral de
credores.

Comentário:

Correta

Lei 11.101/2005. Art. 19. O administrador judicial, o Comitê, qualquer credor ou o


representante do Ministério Público poderá, até o encerramento da recuperação judicial ou da
falência, observado, no que couber, o procedimento ordinário previsto no Código de Processo
Civil, pedir a exclusão, outra classificação ou a retificação de qualquer crédito, nos casos de
descoberta de falsidade, dolo, simulação, fraude, erro essencial ou, ainda, documentos
ignorados na época do julgamento do crédito ou da inclusão no quadro-geral de credores.

Questão 7

CESPE - 2019 - DPE-DF - Defensor Público:Uma sociedade limitada que possuía um único
sócio-administrador sofreu várias condenações judiciais para pagamento de dívidas. Na ação
de execução de uma dessas dívidas, não pagou, nem depositou os valores que estavam sendo
executados, nem nomeou bens à penhora. A pedido de um credor, foi decretada a falência da
sociedade. A partir dessa situação hipotética, julgue o item que se segue.

Se o capital social estiver integralizado, apenas o sócio-administrador responderá pelas


obrigações civis da falida, subsidiariamente.

Comentário:

Errada.

Fundamentação da própria banca CESPE: O sócio-administrador não responde pelas


obrigações sociais, que ficam a cargo apenas da sociedade. Em relação à responsabilidade civil

57
pelas obrigações da sociedade, não há nenhuma diferença entre os sócios relacionada ao
exercício de funções administrativas ou de representação legal. Tanto os sócios diretores,
administradores ou liquidantes quanto os que apenas prestaram capital para o negócio
respondem pelas obrigações sociais na mesma extensão. Quando se trata de sociedade
limitada, se o capital social está inteiramente integralizado, os sócios não têm responsabilidade
pelas obrigações sociais, ou seja, seus bens pessoais não são envolvidos, de nenhum modo,
no processo falimentar.

“Os dois sistemas de execução por concurso universal existentes no direito pátrio – insolvência
civil e falência -, entre outras diferenças, distanciam-se um do outro no tocante à concepção
do que seja estado de insolvência, necessário em ambos. O sistema falimentar, ao contrário da
insolvência civil (art. 748 do CPC), não tem alicerce na insolvência econômica. 2. O pressuposto
para a instauração de processo de falência é a insolvência jurídica, que é caracterizada a partir
de situações objetivamente apontadas pelo ordenamento jurídico. No caso do direito
brasileiro, caracteriza a insolvência jurídica, nos termos do art. 94 da Lei n. 11.101/2005, a
impontualidade injustificada (inciso I), execução frustrada (inciso II) e a prática de atos de
falência (inciso III). (…).” (STJ, REsp 1433652/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 18/09/2014, DJe 29/10/2014)

Questão 8

CESPE - 2019 - DPE-DF - Defensor Público:Uma sociedade limitada que possuía um único
sócio-administrador sofreu várias condenações judiciais para pagamento de dívidas. Na ação
de execução de uma dessas dívidas, não pagou, nem depositou os valores que estavam sendo
executados, nem nomeou bens à penhora. A pedido de um credor, foi decretada a falência da
sociedade. A partir dessa situação hipotética, julgue o item que se segue.

Infere-se da situação apresentada que o passivo da sociedade é maior que seu ativo, daí a
correta decretação da falência.

58
Comentário:

Correta

Fundamentação da própria banca CESPE: Não é possível afirmar que há insolvência econômica.
A sociedade pode ter o ativo maior que o passivo, mas não ter liquidez para pagar as dívidas
no vencimento. No caso, conforme o enunciado, a decretação da falência ocorreu não por
insolvência econômica (passivo maior que ativo), mas por insolvência jurídica (execução
frustrada – LRF, art. 94, II): “Art. 94. Será decretada a falência do devedor que: (...) II executado
por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens
suficientes dentro do prazo legal;”

Questão 9

CESPE - 2019 - DPE-DF - Defensor Público:Uma sociedade limitada que possuía um único
sócio-administrador sofreu várias condenações judiciais para pagamento de dívidas. Na ação
de execução de uma dessas dívidas, não pagou, nem depositou os valores que estavam sendo
executados, nem nomeou bens à penhora. A pedido de um credor, foi decretada a falência da
sociedade. A partir dessa situação hipotética, julgue o item que se segue.

Como efeito da decretação da falência, haverá a inabilitação empresarial de todos os sócios.

Comentário:

Errada.

Fundamentação da própria banca CESPE: Haverá a inabilitação empresarial apenas do único


sócio-administrador (havia apenas um, conforme enunciado). Os demais sócios — sem
poderes de administração — não serão afetados, conforme o disposto nos arts. 81, § 2º, e 82,
da Lei de Responsabilidade Fiscal, e no Enunciado 49 da I Jornada de Direito Comercial
CJF/STJ, reproduzidos a seguir. “Enunciado 49. Os deveres impostos pela Lei n.º 11.101/2005

59
ao falido, sociedade limitada, recaem apenas sobre os administradores, não sendo cabível
nenhuma restrição à pessoa dos sócios não administradores.”“Art. 81. A decisão que decreta a
falência da sociedade com sócios ilimitadamente responsáveis também acarreta a falência
destes, que ficam sujeitos aos mesmos efeitos jurídicos produzidos em relação à sociedade
falida e, por isso, deverão ser citados para apresentar contestação, se assim o desejarem.§ 1.º
O disposto no caput deste artigo aplica-se ao sócio que tenha se retirado voluntariamente ou
que tenha sido excluído da sociedade, há menos de 2 anos, quanto às dívidas existentes na
data do arquivamento da alteração do contrato, no caso de não terem sido solvidas até a data
da decretação da falência.§ 2.º As sociedades falidas serão representadas na falência por seus
administradores ou liquidantes, os quais terão os mesmos direitos e, sob as mesmas penas,
ficarão sujeitos às obrigações que cabem ao falido.Art. 82. A responsabilidade pessoal dos
sócios de responsabilidade limitada, dos controladores e dos administradores da sociedade
falida, estabelecida nas respectivas leis, será apurada no próprio juízo da falência,
independentemente da realização do ativo e da prova da sua insuficiência para cobrir o
passivo, observado o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil.”

Enunciado 49, I Jornada Dir. Comercial CJF - Os deveres impostos pela Lei n. 11.101/2005 ao
falido, [na] sociedade limitada, recaem apenas sobre os administradores, não sendo cabível
nenhuma restrição à pessoa dos sócios não administradores.

Questão 10

CESPE - 2018 - MPE-PI - Analista Ministerial - Área Processual:Acerca dos direitos do


consumidor e da falência e recuperação judicial, julgue o item que se segue.

De acordo com a legislação que rege a falência e a recuperação judicial, o Ministério Público
possui legitimidade para apresentar ao magistrado impugnação contra a relação de credores,
oportunidade em que pode apontar a ausência de qualquer crédito ou se manifestar contra a
legitimidade, a importância ou a classificação de determinado crédito.

60
Comentário:

Correta.

Lei 11.101/2005: Art. 8º No prazo de 10 (dez) dias, contado da publicação da relação referida
no art. 7o, § 2o, desta Lei, o Comitê, qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou o
Ministério Público podem apresentar ao juiz impugnação contra a relação de credores,
apontando a ausência de qualquer crédito ou manifestando-se contra a legitimidade,
importância ou classificação de crédito relacionado.

Questão 11

(CESPE / CEBRASPE- 2018 - Polícia Federal - Delegado de Polícia Federal)

Julgue o item seguinte, relativos a institutos complementares do direito empresarial, teoria


geral dos títulos de crédito, responsabilidade dos sócios, falência e recuperação empresarial.

A sentença que decreta a falência ou concede a recuperação judicial é condição objetiva de


punibilidade das infrações penais previstas na Lei de Recuperação de Empresas.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

Certo – Com base na lei 11.101/05 - Regula a Recuperação Judicial, a extrajudicial e a falência
do empresário e da sociedade empresária. Com fulcro no art. 180 da referida lei, a sentença
que decreta a falência é condição objetiva de punibilidade das infrações penais cometidas.
Válida também leitura do artigo179. Na falência, na recuperação judicial e na recuperação

61
extrajudicial de sociedades, os seus sócios, diretores, gerentes, administradores e conselheiros,
de fato ou de direito, bem como o administrador judicial, equiparam-se ao devedor ou falido
para todos os efeitos penais decorrentes desta Lei, na medida de sua culpabilidade.

Questão 12

(UEG - 2018 - PC-GO - Delegado de Polícia)

Dispõe a Lei n. 11.101/2005, sobre a recuperação judicial, que:

A) O plano de recuperação judicial aprovado e homologado implica novação de todos os


créditos constituídos até a data da homologação.
B) O deferimento da recuperação judicial não afasta o devedor ou seu administrador da
posse e da gestão da empresa.
C) A alienação pelo devedor em recuperação de bem objeto de garantia real, a supressão
da garantia ou sua substituição serão admitidas mesmo sem expressa concordância do
respectivo credor.
D) Distribuindo o pedido de recuperação judicial, o devedor não pode alienar ou onerar
bens ou direitos de seu ativo permanente, salvo evidente utilidade reconhecida pelo
administrador judicial.
E) O devedor em recuperação deve ostentar em seu nome empresarial a expressão “em
recuperação judicial” desde a propositura da ação até a homologação do plano de
recuperação aprovado pelos credores.

Comentário:

A) o plano de recuperação judicial aprovado e homologado implica novação de todos os


créditos constituídos até a data da homologação. → ERRADA

Há créditos que não se sujeitam à recuperação judicial, como os créditos com garantia
fiduciária.

62
Art. 49. § 3º Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis
ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos
respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em
incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com reserva de
domínio, seu crédito não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os
direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação
respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere o § 4o
do art. 6o desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital
essenciais a sua atividade empresarial.

B) o deferimento da recuperação judicial não afasta o devedor ou seu administrador da posse


e da gestão da empresa. →CORRETA

Art. 64. Durante o procedimento de recuperação judicial, o devedor ou seus administradores


serão mantidos na condução da atividade empresarial, sob fiscalização do Comitê, se houver, e
do administrador judicial, salvo se qualquer deles: (...)

C) a alienação pelo devedor em recuperação de bem objeto de garantia real, a supressão da


garantia ou sua substituição serão admitidas mesmo sem expressa concordância do
respectivo credor. → ERRADA

Art. 50, § 1º Na alienação de bem objeto de garantia real, a supressão da garantia ou sua
substituição somente serão admitidas mediante aprovação expressa do credor titular da
respectiva garantia.

D) distribuindo o pedido de recuperação judicial, o devedor não pode alienar ou onerar bens
ou direitos de seu ativo permanente, salvo evidente utilidade reconhecida pelo administrador
judicial. → ERRADA

Art. 66. Após a distribuição do pedido de recuperação judicial, o devedor não poderá alienar
ou onerar bens ou direitos de seu ativo permanente, salvo evidente utilidade reconhecida
pelo juiz, depois de ouvido o Comitê, com exceção daqueles previamente relacionados no
plano de recuperação judicial.

E) o devedor em recuperação deve ostentar em seu nome empresarial a expressão “em


recuperação judicial” desde a propositura da ação até a homologação do plano de
recuperação aprovado pelos credores. → ERRADA

63
Art. 61. Proferida a decisão prevista no art. 58 desta Lei, o devedor permanecerá em
recuperação judicial até que se cumpram todas as obrigações previstas no plano que se
vencerem até 2 (dois) anos depois da concessão da recuperação judicial.

Art. 63. Cumpridas as obrigações vencidas no prazo previsto no caput do art. 61 desta Lei, o
juiz decretará por sentença o encerramento da recuperação judicial e determinará:

V – a comunicação ao Registro Público de Empresas para as providências cabíveis.

64
Questão 13

(NUCEPE - 2018 - PC-PI - Delegado de Polícia Civil)

Considerando as disposições contidas na Lei nº 11.101/2005, Lei de Falências e Recuperação


de Empresas, assinale a alternativa CORRETA.

A) O mandato conferido pelo devedor, antes da falência, para a realização de negócios,


cessará seus efeitos com a decretação da falência, cabendo ao mandatário prestar
contas de sua gestão. Idêntico destino terá o mandato conferido para representação
judicial do devedor.
B) O administrador judicial poderá alugar bens da massa falida, com o objetivo de
produzir renda para a massa falida, mediante autorização do Comitê. Se o contrato
houver sido celebrado por prazo determinado, o bem alugado somente poderá ser
alienado ao término do prazo, ou, a qualquer tempo, mediante pagamento de
multa.
C) Ato contínuo à assinatura do termo de compromisso, o administrador judicial
efetuará a arrecadação dos bens e documentos e a avaliação dos bens,
separadamente ou em bloco, no local em que se encontrem, requerendo ao juiz,
para esses fins, as medidas necessárias. Os bens arrecadados não poderão ser
removidos, ficando sob a guarda e responsabilidade do administrador judicial.
D) A decretação da falência suspende o exercício do direito de retenção sobre os bens
sujeitos à arrecadação, os quais deverão ser entregues ao administrador judicial,
bem como o exercício do direito de retirada ou de recebimento do valor de suas
quotas ou ações, por parte dos sócios da sociedade falida.
E) Entre os atos considerados ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o
contratante conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor, seja
ou não intenção deste fraudar credores está a prática de atos gratuitos, desde 3
(três) anos antes da decretação da falência.

65
Comentário:

A) Art. 120. O mandato conferido pelo devedor, antes da falência, para a realização de
negócios, cessará seus efeitos com a decretação da falência, cabendo ao mandatário prestar
contas de sua gestão - ERRADA

§ 1º O mandato conferido para representação judicial do devedor continua em vigor até


que seja expressamente revogado pelo administrador judicial.

§ 2º Para o falido, cessa o mandato ou comissão que houver recebido antes da falência, salvo
os que versem sobre matéria estranha à atividade empresarial.

B) Art. 114. O administrador judicial poderá alugar ou celebrar outro contrato referente aos
bens da massa falida, com o objetivo de produzir renda para a massa falida, mediante
autorização do Comitê - ERRADA

§ 1º O contrato disposto no caput deste artigo não gera direito de preferência na compra e
não pode importar disposição total ou parcial dos bens.

§ 2º O bem objeto da contratação poderá ser alienado a qualquer


tempo, independentemente do prazo contratado, rescindindo-se, sem direito a multa, o
contrato realizado, salvo se houver anuência do adquirente.

C) Art. 112. Os bens arrecadados poderão ser removidos, desde que haja necessidade de
sua melhor guarda e conservação, hipótese em que permanecerão em depósito sob
responsabilidade do administrador judicial, mediante compromisso. - ERRADA

D) CORRETA

E) Art. 129. São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante
conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor, seja ou não intenção
deste fraudar credores:

IV – a prática de atos a título gratuito, desde 2 (dois) anos antes da decretação da falência;
- ERRADA

66
GABARITO

Questão 1 - B

Questão 2 - A

Questão 3 - D

Questão 4 - D

Questão 5 - D

Questão 6 - Correta

Questão 7 - Errada

Questão 8 - Correta

Questão 9 - Errada

Questão 10 - Correta

Questão 11 -Certo

Questão 12 -B

Questão 13 -D

67
QUESTÃO DESAFIO

O administrador judicial, o Comitê, qualquer credor ou o


representante do Ministério Público poderá, até o encerramento da
recuperação judicial, pedir a exclusão, outra classificação ou a
retificação de qualquer crédito, nos casos de descoberta de
falsidade, dolo, simulação, fraude, erro essencial ou, ainda,
documentos ignorados na época do julgamento do crédito ou da
inclusão no quadro-geral de credores. Esse pedido deve ser feito
por qual tipo de procedimento?

Máximo de 5 linhas

68
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

O procedimento para pedir a exclusão, outra classificação ou a retificação de qualquer


crédito, nos casos em questão é a ação ordinária prevista no Código de Processo Civil,
segundo o art. 19 da Lei 11.101 de 2005.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Ação Ordinária

O quadro geral de créditos homologado judicialmente pode ser retificado por meio de
procedimento de ação ordinária, previsto no Código de Processo Civil, conforme art. 19 da Lei
11.101 de 2005.

O autor Ricardo Negrão afirma sobre o dispositivo (NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito
Empresarial. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. p. 360-360.): Natureza da ação – o dispositivo
abrange duas espécies distintas de ações: rescisória de sentença (quando referir-se a título
judicial, julgamento de crédito retardatário ou de impugnação de crédito) ou anulação de ato
judicial (homologação do quadro geral, sem que tenha havido impugnações dos credores). O
rito de ambas as ações é ordinário.

 Cite o art. 19 da Lei 11.101 de 2005

O art. 19 da Lei 11.101 de 2005 ainda acrescenta, em seu §1º, que a ação prevista neste artigo
será proposta exclusivamente perante o juízo da recuperação judicial ou da falência ou, nas
hipóteses previstas no art. 6º, §§ 1º e 2º, desta Lei, perante o juízo que tenha originariamente
reconhecido o crédito.

Sobre a competência, o autor Ricardo Negrão acrescenta (NEGRÃO, Ricardo. Manual de


Direito Empresarial. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. p. 360-360.): “Competência: é competente
o juízo universal, salvo se a falsidade, dolo, simulação etc. ocorreu em outro juízo, como é o
caso de sentenças trabalhistas e das ações que demandem obrigação ilíquida, tenham sido
promovidas antes da falência e julgadas em juízo diverso ao da quebra ou da recuperação
judicial.”.

69
JURISPRUDÊNCIA

 STJ. REsp 1799041/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 02/04/2019, DJe
04/04/2019

RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. CLASSIFICAÇÃO DE CRÉDITOS.


ACIDENTE DE TRÂNSITO. INCAPACIDADE DEFINITIVA PARA O TRABALHO.PENSIONAMENTO. NATUREZA
ALIMENTAR. EQUIPARAÇÃO A CRÉDITO DERIVADO DA LEGISLAÇÃO LABORAL.1. Impugnação de crédito
apresentada em 28/3/2016. Recurso especial interposto em 7/8/2017. Autos conclusos à Relatora em
28/11/2018.2. O propósito recursal é definir se créditos concernentes a pensionamento fixado em sentença
judicial podem ser equiparados àqueles derivados da legislação trabalhista para fins de inclusão no quadro geral
de credores de sociedade em recuperação judicial.3. O Superior Tribunal de Justiça tem entendido que
créditos de natureza alimentar, ainda que não decorram especificamente de relação jurídica submetida aos
ditames da legislação trabalhista, devem receber tratamento análogo para fins de classificação em
processos de execução concursal.4. Versando a hipótese sobre valores que ostentam indubitável natureza
alimentar, pois se referem à pensão fixada em decorrência de perda definitiva da capacidade laboral do
recorrido, deve ser observado, quanto a esses, o tratamento conferido aos créditos derivados da legislação do
trabalho.RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO.

 STJ. REsp 1634844/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
12/03/2019, DJe 15/03/2019

RECURSO ESPECIAL. EMPRESARIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PARIDADE.CREDORES. CRIAÇÃO. SUBCLASSES.


PLANO DE RECUPERAÇÃO. POSSIBILIDADE.PARÂMETROS. 1. Recurso especial interposto contra acórdão
publicado na vigência do Código de Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).2. Cinge-se
a controvérsia a definir se é possível a criação de subclasses de credores dentro de uma mesma classe no plano
de recuperação judicial. 3. Em regra, a deliberação da assembleia de credores é soberana, reconhecendo-se
aos credores, diante da apresentação de laudo econômico-financeiro e de demonstrativos e pareceres
acerca da viabilidade da empresa, o poder de decidir pela conveniência de se submeter ao plano de
recuperação judicial ou pela realização do ativo com a decretação da quebra, o que decorre da rejeição da
proposta. A interferência do magistrado fica restrita ao controle de legalidade do ato jurídico. Precedentes.4.
A Lei de Recuperação de Empresas e Falências consagra o princípio da paridade entre credores. Apesar de
se tratar de um princípio norteador da falência, seus reflexos se irradiam na recuperação judicial, permitindo
o controle de legalidade do plano de recuperação sob essa perspectiva. 5. A criação de subclasses entre os
credores da recuperação judicial é possível desde que seja estabelecido um critério objetivo, justificado no
plano de recuperação judicial, abrangendo credores com interesses homogêneos, ficando vedada a
estipulação de descontos que impliquem verdadeira anulação de direitos de eventuais credores isolados ou
minoritários.6. Na hipótese, ficou estabelecida uma distinção entre os credores quirografários, reconhecendo-se

70
benefícios aos fornecedores de insumos essenciais ao funcionamento da empresa, prerrogativa baseada em
critério objetivo e justificada no plano aprovado pela assembleia geral de credores.7. A aplicação do cramdown
exige que o plano de recuperação judicial não implique concessão de tratamento diferenciado entre os
credores de uma mesma classe que tenham rejeitado a proposta, hipótese da qual não se cogita no
presente caso.8. Recurso especial não provido.

 STJ. REsp 1700700/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/02/2019, DJe
08/02/2019

RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. HONORÁRIOS DO ADMINISTRADOR JUDICIAL. RESERVA DE 40%.


ARTS. 24, § 2º, DA LFRE. INAPLICABILIDADE NO ÂMBITO DOS PROCESSOS DE SOERGUIMENTO. 1. Recuperação
judicial requerida em 15/12/2015. Recurso especial interposto em 24/3/2017 e concluso ao Gabinete em
11/12/2017. 2. O propósito recursal é definir se a regra do art. 24, § 2º, da Lei 11.101/05 - que trata da reserva
de honorários do administrador judicial - aplica-se também aos processos de recuperação ou apenas às ações de
falência. 3. O art. 24, § 2º, da LFRE faculta a reserva de 40% dos honorários do administrador judicial para
pagamento posterior, providência que se condiciona, segundo a mesma norma, à verificação e à realização
de procedimentos relativos estritamente a processos de falência - (i) prestação de contas (após a realização
do ativo e a distribuição do produto entre os credores); e (ii) apresentação do relatório final da falência,
indicando valores patrimoniais e pagamentos feitos, bem como as responsabilidades com que continuará o
falido. 4. Diante disso, uma vez que as condições a que se sujeita o pagamento diferido guardam relação com
procedimentos específicos de processos falimentares, não se pode considerar tal providência aplicável às ações
de recuperação judicial. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

 STJ. REsp 1727771/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/05/2018, DJe
18/05/2018

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. DEVEDOR EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL NÃO VERIFICADA. CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO. EVENTO DANOSO
OCORRIDO EM MOMENTO ANTERIOR AO PEDIDO RECUPERACIONAL. SUBMISSÃO AOS SEUS EFEITOS.
SENTENÇA CONDENATÓRIA PROFERIDA POSTERIORMENTE.IRRELEVÂNCIA.1. Ação ajuizada em 20/5/2013.
Recurso especial interposto em 27/9/2017 e concluso ao Gabinete em 8/3/2018.2. O propósito recursal é definir
se o crédito de titularidade das recorridas, decorrente de sentença condenatória transitada em julgado após o
pedido de recuperação judicial do devedor, deve sujeitar-se ao plano de soerguimento.3. Devidamente analisadas
e discutidas as questões controvertidas, e suficientemente fundamentado o acórdão recorrido, não há como
reconhecer a ocorrência de negativa de prestação jurisdicional.4. Para os fins do art. 49, caput, da Lei
11.101/05, a constituição do crédito discutido em ação de responsabilidade civil não se condiciona ao
provimento judicial que declare sua existência e determine sua quantificação. Precedente.5. Na hipótese,
tratando-se de crédito derivado de fato ocorrido em momento anterior àquele em que requerida a recuperação
judicial, deve ser reconhecida sua sujeição ao plano de soerguimento da sociedade devedora.6. Recurso
especial provido.

71
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Neste capítulo, faz-se necessária a leitura dos seguintes Diplomas e súmulas:

 Lei 11.101/05;

 Súmulas do STJ: 8, 25, 29, 36, 133, 219, 248, 264, 305, 307, 361, 581;

 Súmulas do STF:190 (superada), 191 (cancelada), 192 (superada), 193.

72
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2020.

FAZZIO JUNIOR, WALDO. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2020.

MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. São Paulo: Atlas, 2020.

PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição.
São Paulo: Editora JusPodivm, 2020.

73
Capítulo 5
SUMÁRIO

DIREITO EMPRESARIAL .................................................................................................................................................... 3

Capítulo 5 ............................................................................................................................................................................. 3

5. Dos Títulos de Crédito .......................................................................................................................................... 3

5.1 Introdução ............................................................................................................ Erro! Indicador não definido.

5.2 Classificação dos títulos de crédito ............................................................................................................ 9

5.2.1 Quanto ao modelo............................................................................................................................... 9

5.2.2 Quanto à estrutura ............................................................................................................................ 10

5.2.3 Quanto à circulação ........................................................................................................................... 10

5.2.4 Quanto à emissão .............................................................................................................................. 11

5.3 Títulos de crédito em espécie .................................................................................................................... 11

5.3.1 Letra de câmbio .................................................................................................................................. 11

 Aceite ...................................................................................................................................................... 13
 Aval.......................................................................................................................................................... 15
 Endosso ................................................................................................................................................... 17
 Prescrição ................................................................................................................................................ 22
 Protesto extrajudicial .............................................................................................................................. 23

5.3.2 Nota promissória................................................................................................................................ 24

5.3.3 Cheque .................................................................................................................................................. 25

 Aval.......................................................................................................................................................... 27
 Endosso ................................................................................................................................................... 27
 Prescrição ................................................................................................................................................ 27

5.3.4 Duplicata ............................................................................................................................................... 28

 Aceite ...................................................................................................................................................... 30
 Prescrição ................................................................................................................................................ 31
 Protesto ................................................................................................................................................... 32

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 34

1
QUESTÕES .......................................................................................................................................................................... 36

GABARITO .......................................................................................................................................................................... 52

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 56

LEGISLAÇÃO COMPILADA ......................................................................................................................................... 60

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................................................. 61

2
DIREITO EMPRESARIAL

Capítulo 5

Neste capítulo, futuro Delta,estudaremos Direito Cambiário, tema de baixa incidência nos
concursos de Delegado Civil. Porém, nos editais que trazem o referido assunto é importante
focar nas peculiaridades de cada título.

5. Dos Títulos de Crédito

5.1 Origem histórica

Os títulos de créditos originaram-se, na Idade Média, tendo em vista que os


comerciantes italianos não mais desejavam levar em suas viagens grandes quantidades de
moeda e ao fato de que cada cidade podia cunhar a sua própria.
Esses comerciantes, então, depositavam o valor de que necessitavam em um banco e
este emitia documentos que consubstanciavam promessa ou ordem de pagamento e que,
apresentados ao seu correspondente, autorizavam o recebimento da quantia neles
mencionada, na moeda corrente no lugar da apresentação.
Surgiu, assim, o Direito Cambiário, definido como o ramo do Direito Empresarial que
disciplina os títulos de crédito. Quanto à sua disciplina legal no Direito Brasileiro, deve ser
observada a seguinte sequência, passando-se ao seguinte caso não haja o anterior ou se este
for omisso:
 1) Leis especiais;
 2) LUG;
 3) Decreto nº 2.044/1908;
 4) CC/02.

5.2 Conceito

O conceito mais recorrentemente cobrado em provas é o idealizado por Cesare Vivante.

3
O jurista italiano o definiu como o documento necessário para o exercício do direito, literal e
autônomo, nele mencionado.
Tal conceito foi adotado pelo Código Civil, que em seu art. 887 dispõe que “o título de
crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido,
somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei”.
Assim, deste conceito, devemos destacar:
 O título é um documento;
 O título é literal, isto é,os valores exigidos só podem ser aqueles ali,
expressamente firmados;
 O título é autônomo, isto é,se desvincula da relação que lhe deu origem.
Diga-se ainda, que o disposto no CC não se aplica aos títulos de crédito que possuem
legislação específica (típicos). Isto é, as normas do CC são de aplicação supletiva, destinadas a
suprir lacunas em regramentos jurídicos específicos.
Títulos de crédito típicos/próprios são aqueles que possuem legislação específica
(duplicata, letra de câmbio, nota promissória e cheque).
Já os títulos de crédito atípicos não possuem lei específica, aplicando-se a teoria geral
dos títulos de crédito existente no CC.

Enunciado 464, CJF: As disposições relativas aos títulos de crédito do


Código Civil aplicam-se àqueles regulados por leis especiais, no caso de
omissão ou lacuna.

Sendo assim, também conhecidos como cártulas, os títulos de crédito constituem


documentos representativos de uma obrigação pecuniária, necessários ao exercício de um
direito literal e autônomo, que têm como principal função a circulação de riquezas.
O rol dos títulos de crédito é taxativo (numerus clausus) e está definido em lei
(princípio da tipicidade), embora haja a possibilidade de criação de títulos de crédito atípicos
e inominados.
Os títulos de crédito que, de maneira destacada, interessam a prática empresarial, estão
elencados no art. 784 do Código de Processo Civil como título executivos extrajudiciais. São
eles: a letra de câmbio, a nota promissória, o cheque e a duplicata. Tais títulos contam com
legislação especial, a qual, por ser mais especializada, tem aplicação direta, sendo que o
Código Civil exerce função supletiva.
As principais características dos títulos de crédito são a negociabilidade(capacidade de

4
circulação) e executividade (constituem título executivo).

Títulos de crédito têm natureza jurídica de coisas móveis.Os princípios ourequisitos


fundamentaisdos títulos de crédito são cartularidade (ou incorporação, significando que o
direito de crédito dependerá da apresentação do título, via de regra), literalidade1 (os títulos
de crédito são documentos escritos e literais) e autonomia (o portador do título tem um
direito autônomo em relação à relação de que se originou).

Do requisito da autonomiaadvêm os da abstração(o título de crédito passa a circular sem


qualquer vinculação com a causa que lhe deu origem)2 e da inoponibilidade de exceções
pessoais aos terceiros de boa-fé(eventual vício que tenha atingido a relação jurídica que deu
causa ao título não pode ser oposta a terceiro de boa-fé, como um endossatário de um
cheque, já que exerce direito próprio, embora a ele possam ser opostos vícios formais).
Há ainda autores
que tratam do princípio da independência, segundo o qual são independentes os títulos de
crédito que não dependem de qualquer documento para a sua efetividade e não
independentes, por sua vez, aqueles que dependem.3

1
Vide questão 6.
2
Vide questão 7.
3 PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora

jus podivm, 2017. p. 140.


5
CARTULARIDADE LITERALIDADE AUTONOMIA

O crédito posto no O título de crédito só O título consubstancia


título só poderá ser valerá pelo que nele direito novo, estando
exigido pela pessoa que está escrito; desvinculado da relação
está na posse legítima que o originou;
da cártula;

5.3 Características

São 9 as características cambiárias: 1. Executoriedade; 2. Negociabilidade; 3.


Circulabilidade; 4. “Pro solvendo”; 5. Para resgate; 6. Querable/Quesível: 7. Bem móvel; 8.
Formal; 9. Eficácia processual abstrata. A seguir serão analisadas cada uma das características.
A seguir veremos cada uma:

a) EXECUTORIEDADE Os títulos de crédito são títulos executivos extrajudiciais,


dotados de certeza e liquidez (ver art. 784, I CPC).
b) NEGOCIABILIDADE Faz-se negócios com os títulos de crédito. Não há necessidade
de aguardar o vencimento. É um crédito negociável.
c) CIRCULABILIDADE É da essência dos títulos de crédito a circulação.
d) “PRO SOLVENDO” Significa “para pagamento”. O correto não é decorar que é para
pagamento para explicar “pro solvendo”, a expressão “subsistir” é a chave para o
conceito, ou seja, subsiste um relacionamento gigante que não cessa com o
pagamento do título.
e) PARA RESGATE É o sonho de cada título de crédito, isto é, o adimplemento, sua
transformação em dinheiro.

6
f) QUERABLE/QUESÍVEL É o credor que vai em direção ao devedor para receber o seu
dinheiro, como regra.
g) BEM MÓVEL: Conforme a doutrina, jurisprudência e lei
h) FORMAL: Como regra, devem ser indicados no título o nome, o local do
pagamento e a assinatura.
i) EFICÁCIA PROCESSUAL ABSTRATA:Pode ser considerada a característica mais
importante. Por ela compreende-se que quando se vai a juízo não há necessidade
de discutir a causa debendi que envolve o título.

5.4 Princípios

5.4.1 Literalidade

Sendo o título de crédito um documento, somente aquilo que nele estiver


circunstanciado valerá como obrigação, sua data, valor, titular, entre outros dados, ou seja, só
vale no título o que estiver nele escrito. Se João é beneficiário de um cheque emitido por
Maria no valor de R$ 10.000,00, não poderá alegar que o valor correto a lhe ser pago pela
instituição financeira seria de R$ 15.000,00, pois, pelo princípio da literalidade, só vale no
cheque o que estiver nele contido.
Existe uma frase que traduz bem este princípio: o que não está escrito no título não
existe no mundo cambiário. Portanto, qualquer outro ato mencionado em documento à parte
não terá nenhum valor.

5.4.2 Cartularidade

Pelo princípio da cartularidade, o direito à cobrança somente pode ser exercido


mediante a apresentação do título. Ainda, no mesmo exemplo citado acima, imagine-se que o
cheque não foi pago, por insuficiência de fundos. Todavia, João perdeu o documento. Porém,
astuto que é, providenciou a fotocópia do título.
Nesse caso, não poderá promover a cobrança com a apresentação de cópia, pois
segundo o princípio da cartularidade, deve-se apresentar o documento para se exercer o
direito.
Em matéria de títulos de crédito, tendo em vista o princípio da cartularidade, compete
ao credor a iniciativa de dirigir-se ao lugar do pagamento, procurando pelo devedor, para que
este quite o débito, conferindo-se a natureza quesível às obrigações cambiárias, à exceção da
7
duplicata que pelos costumes gera uma obrigação portável, pois é o próprio devedor que, na
prática, dirige-se à Instituição Financeira para efetuar o pagamento, ao invés de esta ir ao
encontro dele.
A doutrina vem apontando o princípio da cartularidade como um daqueles que vem
sofrendo ligeira relativização, dada a crescente utilização de títulos eletrônicos. De todo o
modo, o que há, na verdade, é a substituição de títulos "manuais" pelos eletrônicos (Ex.
duplicata virtual - STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 1559824/MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 03/12/2015.).

5.4.3 Autonomia

Cada relação jurídica existente no título é autônoma uma da outra, ou seja, o eventual
vício existente em uma relação não contamina as demais. As relações, portanto, serão
formadas separadamente, como se formassem obrigações e direitos separados. O legítimo
portador do título pode exercer seu direito de crédito sem depender das demais relações que
o antecederam, estando completamente imune aos vícios ou defeitos que eventualmente as
acometeram.
Quando se diz que os títulos de créditos são autônomos, tal autonomia não se refere à
relação de débito e crédito que lhe deu origem, e sim ao relacionamento entre o devedor e
terceiros. Há uma independência dos diversos e sucessivos possuidores dos títulos de crédito
em relação a cada um dos outros.
Assim, se X emite uma nota promissória a favor de Y, que a transfere a Z, por meio de
endosso, Z será seu legítimo beneficiário, podendo receber o valor na data do vencimento.
Não poderá X, no vencimento do título, alegar contra Z que não a paga por ser Y seu devedor
de igual ou superior soma, pois, uma vez sendo os títulos cambiários autônomos, o possuidor
de boa-fé exercita um direito próprio, que não pode ser restringido ou desconfigurado em
virtude das relações existentes entre os anteriores possuidores e o devedor.
Assim, temos que cada obrigação que deriva do título é autônoma em relação às
demais. O princípio da autonomia, por seu turno, se desdobra em outros dois:
 Abstração
Segundo o subprincípio da abstração, entende-se que quando o título circula, ele se
desvincula da relação que lhe deu origem. Assim, no exemplo dado anteriormente, quando Y
endossou o título para Z, fazendo-o circular, tal título se desvinculou da operação que lhe deu
origem. A abstração significa, portanto, a completa desvinculação do título em relação à causa
que originou sua emissão.
Veja-se que enquanto a relação cambial é travada entre os próprios sujeitos que

8
participaram da relação que originou o título, existe uma vinculação entre esta relação e o
título dela originado. No mesmo exemplo já mencionado, se Y não circula o título para Z, há
uma vinculação entre o título emitido e a relação de compra e venda que acarretou sua
emissão.
Resta claro, portanto, que a circulação do título é fundamental para que se opere a sua
abstração, ou seja, para que o título se desvincule completamente do seu negócio originário.
Posto em circulação, o título passará a vincular outras pessoas, que não participaram da
relação originária, e que por isso assumem obrigações e direitos tão somente em função do
título, representado pela cártula.
Essa abstração desaparecerá com a prescrição do título, que opera não apenas a perda
da executividade, mas também a perda da sua cambiaridade, ou seja, o título perde as suas
características intrínsecas de título de crédito.
Por isso, o STJ entende que caberá ao credor, na cobrança de título prescrito,
demonstrar a origem da dívida, o locupletamento ilícito do devedor (REsp 457.556/SP, Rel.
Min. Nancy Andrighi, DJ 16/12/2002,).

 lnoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé


Uma vez que as relações cambiais são autônomas entre si, não pode o devedor original
do título alegar em juízo as exceções (defesas) pessoais que possui contra o credor original,
opondo-as ao portador de boa-fé (arts. 915 e 916, CC). Logo, o devedor somente poderá
formular defesa pessoal contra o legitimo credor se este e o devedor participaram da mesma
relação causal que deu origem ao título.
Assim, o devedor só pode apresentar exceção pessoal para o credor primitivo (aquele
que deu origem à emissão do título), não podendo apresentar exceção pessoal ao credor
terceiro de boa-fé.
O título chega a ele completamente livre dos vícios que eventualmente adquiriu em
relações pretéritas.

5.5 Classificação dos títulos de crédito

5.5.1 Quanto ao modelo

 De modelo livre– não contam com padrão legal predefinido. São exemplos de
títulos de modelo livre a letra de câmbio e a nota promissória.
 De modelo vinculado– devem seguir padrão previamente fixado por lei, do que
9
depende inclusive a sua válida produção de efeitos, como o cheque.

5.5.2 Quanto à estrutura

 Ordem de pagamento– respondem pela formação de três posições jurídicas: a


do sacador (emitente do título), a do sacado (contra quem se emite o título) e a
do tomador (favorecido do título). É o caso da letra de câmbio e do cheque. Mas
podem formar também duas posições jurídicas: a do sacador (emitente/credor) e
a do sacado (contra quem se emite o título/devedor). É o caso das duplicatas. A
letra, o cheque e a duplicata são ordens de pagamento.

 Promessa de pagamento– forma duas posições jurídicas: a do promitente-


sacador(emitente do título que promete pagar valor determinado) e a do
tomador (beneficiário do título). É o caso da nota promissória.

5.5.3 Quanto à circulação

 Ao portador: é aquele que não indica a pessoa a quem se transfere, sendo


transmitido, portanto, pela simples tradição (entrega). A Lei 8.021/90 e o Código
Civil proibiram a emissão de títulos ao portador. No entanto, a regra está
excepcionada pela Lei 9.069/95, ao permitir a emissão de cheques ao portador,
desde que com valor igual ou inferior a R$ 100,00 (cem reais).
 Nominativo: é aquele que indica ou nomina a pessoa do credor, operando-se a
transferência mediante a escrituração do nome daquele em livro próprio do
devedor, que só terá a obrigação de pagar o título à pessoa nominada.
a) À ordem: são aqueles emitidos em favor de pessoa determinada, mas
que podem ser transferidos por endosso. Não se confundem com os
nominativos, uma vez que sua transferência não está subordinada a
escrituração, dependendo apenas do endosso.
b) Não à ordem: são aqueles que, embora emitidos em favor de pessoa
determinada, em razão da existência de cláusula “não à ordem”, não
podem ser endossados, sendo transferidos apenas através de cessão civil
de crédito.

10
A diferença entre endosso e cessão civil é que o primeiro garante a existência e o
pagamento do título, enquanto que o segundo garante apenas a existência. O tema será mais
detalhadamente estudado adiante.

5.5.4 Quanto à emissão

 Causais: são aqueles que só podem ser emitidos quando da ocorrência de fatos
determinados por lei como causas para a sua emissão. Nesse sentido, a duplicata
trata-se de título causal, uma vez que só pode ser emitida a partir de uma
compra e venda mercantil ou prestação de serviço.
 Não causais: são aqueles que podem ser emitidos a partir de qualquer evento,
considerando que a lei não determina causas específicas ensejadoras de sua
emissão. É o caso da letra de câmbio, da nota promissória e do cheque.

5.6 Títulos de crédito em espécie

5.6.1 Letra de câmbio

A letra de câmbio ou simplesmente letra, é título de crédito que estabelece uma ordem
de pagamento (“à ordem”), criado mediante “saque” (emissão), que responde pela formação
de três posições jurídicas, quais sejam sacador (emitente do título), sacado (aquele contra
quem se emite o título) e tomador (o beneficiário do título).
O sacador, ao emitir uma letra de câmbio, dá uma ordem ao sacado para que pague o
valor constante do título ao tomador.
Nada obsta, entretanto, que uma mesma pessoa ocupe duas posições nessa relação,
sendo, assim, sacador e sacado ou sacador e tomador simultaneamente.
A letra transfere-se por endosso, completa-se pelo aceite (facultativo na letra de
câmbio) e garante-se pelo aval.

11
 Requisitos formais da letra de câmbio:
Os requisitos formais da letra de câmbio estão previstos no art. 1º do Decreto-Lei nº
57.663/66 (Lei Uniforme de Genebra):

Art. 1º. A letra contém:


1. a palavra "letra" inserta no próprio texto do título e expressa na língua
empregada para a redação desse título;
2. o mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada;
3. o nome daquele que deve pagar (sacado);
4. a época do pagamento;
5. a indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento;
6. o nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga;
7. a indicação da data em que, e do lugar onde a letra é passada;
8. a assinatura de quem passa a letra (sacador).

Se a indicação da quantia a satisfazer se achar feita por extenso e em algarismos, havendo


divergência entre uma e outra, prevalece a que estiver feita por extenso. Se a indicação da
quantia se achar feita por mais de uma vez, quer por extenso, quer por algarismo, e houver
divergência entre as diversas indicações, prevalecerá a que se achar feita pela quantia inferior.
12
Dispõe a súmula 387 do STFque “A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em
branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto”. No
mesmo sentido está o art. 891 do Código Civil.4

 Aceite:
Ao receber das mãos do sacador a letra de câmbio, o tomador deve procurar o sacado
para apresentar-lhe o título e consultá-lo sobre a aceitação da ordem. Aceitando a letra, o
sacado se compromete a pagar o valor constante do título ao seu beneficiário na data do
vencimento. Assim, a declaração do aceite torna o sacado/aceitante devedor principal.5
Observe-se que o sacado não se encontra obrigado a pagar o título contra a sua
vontade. Ao contrário. Na verdade, enquanto aquele (sacado) não manifestar a sua
concordância por meio do aceite, não terá qualquer obrigação cambial. Sendo assim, fica claro
que a letra de câmbio é passível de aceite, mas que ele é umato facultativo.
A recusa do aceite na letra de câmbio pode ensejar o vencimento antecipado do título
contra o sacador (emitente).

O vencimento antecipado da letra de câmbio contra o sacador depende do protesto, que


deverá ser promovido pelo tomador no primeiro dia útil subsequente a recusa de aceite por
parte do sacado.Logo, se o sacado não aceitar o título, haverá o seu vencimento antecipado
apenas se observado tempestivamente o protesto, podendo assim o tomador cobrar do
sacador e dos demais coobrigados cambiários (endossantes e respectivos avalistas), se

4
Vide questões 3 e 5.
5
Vide questão 9.
13
houverem, o valor constante da letra. Não promovido o protesto tempestivo, perderá o
tomador o direito de acionar, antecipadamente, o sacador e demais coobrigados cambiários.6

Se a letra de câmbio contiver a cláusula “sem protesto” ou “sem despesas”, ficará o


portador do título dispensado do protesto para que possa cobrar o seu valor dos
coobrigados cambiários.

Em termos práticos, o aceite decorre da simples assinatura do sacado no anverso


(frente) da letra de câmbio.
O aceite deve ser puro e simples, ou seja, incondicionado, mas pode ser parcial. Nesse
caso, o sacado fica obrigado nos termos do seu aceite (até o limite e no prazo que aceitou),
não estando impedido, todavia, que o tomador proceda ao protesto pela parte não aceita,
uma vez que o aceite parcial equivale à recusa do aceite (embora vincule o aceitante
parcialmente), como forma de garantir seu direito de acionar os demais coobrigados
cambiários pela totalidade do débito.
Se, como visto, na letra de câmbio o aceite é facultativo, ou seja, se o sacado pode
recusar-se a aceitar o pagamento do valor total da letra, ele também poderá recusar-se de
forma parcial. Assim, o aceite pode ser:
 Aceite limitativo: O sacado reduz o valor da obrigação que assume.
 Aceite modificativo:O sacado introduz mudança nas condições de pagamento da
letra, postergando o seu vencimento, por exemplo.
Considerando que nas duas espécies de recusa parcial do aceite está caracterizada a
negativa do sacado (ainda que parcial), poderá operar-se o vencimento antecipado da cártula
(desde que promovido o seu protesto tempestivo), fato que irá gerar no tomador o direito de

6
Vide questão 8.
14
executá-la, de imediato e pela totalidade, contra o sacador.
Para evitar a antecipação provocada pela recusa do aceite, a lei possibilita ao sacador a
introdução da cláusula “não aceitável” ou expressão equivalente. Inserida a cláusula “não
aceitável", o tomador somente poderá apresentar o título ao sacado na data designada para o
seu vencimento, protegendo assim o sacador e demais coobrigados cambiários contra o risco
de vencimento antecipado do título. Contudo, ainda que presente a cláusula “não aceitável”,
caso o sacado aceite a letra antes do seu vencimento, este será válido.

A cláusula “não aceitável” não exonera a responsabilidade do sacador, que responderá


sempre pela ordem, evitando apenas o vencimento antecipado da cártula.

 Aval:
O pagamento de título de crédito pode ser garantido por aval que é uma garantia
cambial firmada por um avalista (que pode ser um terceiro estranho ao título ou mesmo
alguém a este já atrelado) ao avalizado (pessoa cuja obrigação é garantida), garantindo o
pagamento do título.7
Segundo o STJ, o aval, por ser instituto típico do direito cambiário, é dotado de
autonomia substancial, de sorte que a sua existência, validade e eficácia não estão jungidas à
da obrigação avalizada.

STJ: PROCESSUAL CIVIL E COMERCIAL. NOTA PROMISSÓRIA. EXECUÇÃO


DE SÓCIO-AVALISTA. EMPRESA AVALIZADA COM FALÊNCIA DECRETADA.
SUSPENSÃO DA AÇÃO. NÃO CABIMENTO. INEXISTÊNCIA DE
SOLIDARIEDADE ENTRE SÓCIO E SOCIEDADE FALIDA. Como instituto
típico do direito cambiário, o aval é dotado de autonomia substancial, de
sorte que a sua existência, validade e eficácia não estão jungidas à da
obrigação avalizada. Diante disso, o fato do sacador de nota promissória
vir a ter sua falência decretada, em nada afeta a obrigação do avalista do

7
Vide questão 1.
15
título, que, inclusive, não pode opor em seu favor qualquer dos efeitos
decorrentes da quebra do avalizado (REsp 883.859/SC, Rel. Min. Nancy
Andrighi, 3ª Turma, j. 10/03/2009, DJe 23/03/2009).

O aval será escrito na própria letra ou em uma folha anexa e, se não indicada a pessoa
por quem se dá, ou seja, em prol de quem se presta o aval (aval em branco), entende-se que
foi dado a favor do sacador (aval em branco= aval em favor do sacador). Chama-se aval em
preto o que indica o favorecido.

Admite-se o aval parcial em relação à letra de câmbio, nota promissória e cheque, dada a
previsão nas leis específicas, mas não se permite em relação à duplicata e demais títulos, aplicando-se
a regra geral que o veda (art. 897, parágrafo único, do Código Civil).

O aval se difere da fiança:

AVAL FIANÇA

Garante títulos de crédito (garantia Garante contratos (garantia civil)


cambial)

Constitui-se pela simples assinatura Constituição depende de cláusula


no título contratual

Obrigação autônoma Obrigação acessória

Responsabilidade solidária Responsabilidade subsidiária

Não admite exceções pessoais Admite exceções pessoais

O aval pode ser aposto antes ou após o vencimento do título, produzindo em ambos os
casos o mesmo efeito. A simples assinatura do doador aposta na face anterior da letra, salvo
se trata das assinaturas do sacado ou do sacador, considera-se como aval.
A menos que o regime matrimonial seja o de separação total de bens, a constituição do

16
aval dependerá de outorga conjugal.
Os avais simultâneos, também denominados de coavais, ocorrem quando duas ou mais
pessoas avalizam um título conjuntamente, garantindo a mesma obrigação cambial. Assim, nos
avais simultâneos os avalistas são considerados uma só pessoa, razão pela qual assumem
responsabilidade solidária regida pelas regras do direito civil. Em suma: eles dividem a dívida,
razão pela qual se um deles pagá-la integralmente ao credor, terá direito de regresso contra o
devedor principal relativo ao total da dívida, mas terá direito de regresso contra o outro
avalista apenas em relação à sua parte – se forem apenas dois avalistas, por exemplo, terá
direito de regresso em relação a apenas metade da dívida.
Os avais sucessivos, por sua vez, também chamados de aval de aval, ocorrem quando
alguém avaliza um outro avalista. Nesse caso, todos os eventuais avalistas dos avalistas terão a
mesma responsabilidade do avalizado, ou seja, aquele que pagar a dívida terá direito de
regresso em relação ao total da dívida, e não apenas em relação a uma parte dela.

Súmula 26, STJ: O avalista do título de crédito vinculado a contrato de


mútuo também responde pelas obrigações pactuadas, quando no
contrato figurar como devedor solidário.

 Endosso:
O endosso é uma forma de transferência do direito ao valor constante do título, a partir
da assinatura do seu possuidor no próprio título (embora na letra de câmbio o endosso possa
ser lançado no próprio título ou em uma declaração anexa, quando falte espaço na cártula).
O endosso responde pela formação de duas posições jurídicas: a do endossante (pessoa
que transfere o título) e a do endossatário (pessoa para a qual o título é transferido).
É vedado o endosso parcial, ou seja, aquele que diga respeito apenas a uma parte do
valor constante do título. Se lançada cláusula nesse sentido, será nula. Com o endosso, ocorre
a transferência integral do crédito contido no título.
Ademais da propriedade do título, o endosso transfere também a garantia do seu
adimplemento. Por isso, diz-se que o endosso normalmente produz dois efeitos: transfere o
título ao endossatário (1º efeito) e vincula o endossante ao seu pagamento (2º efeito).
Contudo, se não for intuito do endossante assumir a responsabilidade pelo pagamento do
título, e com isso concordar o endossatário, poderá operar-se a exoneração de sua
responsabilidade através da cláusula “sem garantia”, que apenas o endosso admite.
Por exemplo, A deve a B R$ 200. O título é representado por uma lera de câmbio. O

17
título de crédito foi feito para circular. B endossa esse título para C, que coloca a cláusula
“sem garantia” e transfere para D.
É importante observar que o endosso sem garantia não tem forma. É o caso de, no
verso do título, C escrever algo que referencie à cláusula “sem garantia” e entregue o título
para D. Ao fazer isso, C se exime de responsabilidade, não garante a D e os demais que
vierem na cadeia cambiária. D, nesse caso, poderá cobrar dos demais integrantes da cadeia
cambiária ou dos avalistas.
Ademais, se D transferiu para outrem, este poderá cobrar de qualquer um da cadeia
cambiária, bem como dos avalistas, menos de C, que não garantirá o valor a D e aos demais
que virão após dele na cadeia cambiária.

Quem coloca essa cláusula no título se exime de responsabilidade que de uma cadeia
cambiária. O devedor principal, “A”, jamais poderá fazer uso do endosso sem garantia, porque
ele é o emitente, e antes dele não tem ninguém, não tem como abandonar o barco.

Toda letra de câmbio, ainda que não traga expressa a cláusula “à ordem”, é endossável,
uma vez que é da própria natureza da letra a capacidade de circulação. Se houver a intenção
de impedir o endosso, deve ser lançada no título a cláusula “não à ordem”. Nesta hipótese, a
letra só será transmissível pela forma e com os efeitos de uma cessão civil de créditos, não
estando sua circulação sujeita ao regime jurídico-cambial, mas sim ao Direito Civil.8

ENDOSSO CESSÃO CIVIL

Confere direito autônomo ao Confere direito derivado ao


endossatário cessionário

Endossante é codevedor solidário Cedente não é codevedor solidário

8 PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora
jus podivm, 2017. p. 155.
18
do título (salvo “sem garantia”) do título

Da mesma forma, o endosso realizado após o protestodo título produz apenas efeitos
de uma cessão civil de crédito. É o chamado endosso tardio ou póstumo.
O endosso pode ser em preto(completo) ou em branco(incompleto). Será em preto
quando trouxer a indicação do beneficiário (endossatário) do crédito que se transfere, ou
em branco quando trouxer a simples assinatura do endossante, sem a indicação do
beneficiário do crédito, hipótese na qual se cria a possibilidade de livre circulação do título (o
converte em título ao portador).
Outra forma de endosso é o endosso impróprio, do qual são espécies o endosso-
mandato e o endosso-caução(ouendosso-garantia ou endosso-pignoratício). O endosso-
mandatoé aquele através do qual o credor do título pode constituir um representante
(endossatário-mandatário) para o exercício dos direitos que dele emanam, ou seja, para que
este possa realizar a cobrança do título em nome do endossante (credor). O endosso-caução,
por sua vez, é aquele no qual o título é usado como garantia de uma obrigação assumida
pelo endossante.9
O art. 12 da LUG (Lei Uniforme de Genebra – Decreto 57.663) trata do endosso
condicionado:

Artigo 12: O endosso deve ser puro e simples. Qualquer condição a que
ele seja subordinado considera-se como não escrita. O endosso parcial é
nulo. O endosso ao portador vale como endosso em branco.

Imagine que a endossará determinado título de crédito a B, desde que B faça algo
estipulado por A. B pode “chutar o balde” não fazer nada e o título mesmo assim será dele.
Tal condição é desconsiderada.
Essa declaração cambiária, o endosso Condicionado é válido? Tem efeitos? Sim, o título
será de B (conforme ex.), gera efeito de endosso normal, porque a condição é considerada
não escrita, é ignorada.
Também é possível efetivar um endosso proibindo-se um novo endosso. Considere
que A deve a B R$ 100. O título é representado por uma letra de câmbio. Então, B endossa

9 PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora
jus podivm, 2017. p. 156.
19
para C, que coloca a cláusula que proíbe um novo endosso e transfere para D.
No verso do título, C escreve algo que referencie a proibição (não há forma
predeterminada) que faça alusão à cláusula que proíbe um novo endosso e entrega o título
para D. Conclui-se, assim, que o endosso que proíbe um novo endosso não tem forma.
Aquele que coloca uma cláusula que proíbe um novo endosso tenta impedir a
circulação do título de crédito. O que se pretende é que não apareça nenhum estranho
cobrando o título. Entretanto, não tem o poder de impedir a circulação do título de crédito.
Caso D queira, entregará o título a outrem que, se quiser, entregará o título a qualquer outra
pessoa.
Haverá circulação, mas com efeito de cessão de crédito e não com efeito de endosso.
Criou-se, então, alguns obstáculos a essa circulação, dentre eles a garantia quanto aos
próximos da cadeia cambiária.
A diferença entre esta cláusula e a do endosso sem garantia (mencionada
anteriormente) é que, no endosso com cláusula “sem garantia” C não garante a D e aos
demais o valor contido no título de crédito. Já no endosso que proíbe um novo endosso há
essa garantia. Porém, essa garantia será apenas para D e não para os demais que virão na
cadeia cambiária.
Outra forma sui generis de endosso é aquela com cláusula de não protesto. São
expressões sinônimas do endosso com cláusula de não protesto: “endosso com cláusula sem
protesto” ou “endosso com a cláusula sem despesas”.
Ex: C endossa para D com “cláusula de não protesto”. A forma desse endosso é livre,
isto é, não há formalidade preestabelecida. Quem coloca essa cláusula no título não quer ser
protestado, prefere ser executado diretamente.
Motivos: o indivíduo vai participar de uma grande negociação ou licitação e não pode
ter o “nome sujo”, o que pode prejudicar sua habilitação e seu poder de negociação. Caso D
queira cobrar de C, ele não irá protestar o título, cobrará diretamente por meio de uma
execução de título de crédito extrajudicial.
Caso D leve o título a protesto a única consequência é que ele terá que pagar os custos
(emolumentos). Em regra, quando se protesta o título de alguém no Cartório de Títulos e
Documentos, quem paga as despesas é o devedor (no caso, C).
Ocorre que, se o protesto for indevido quem pagará às custas do cartório será o credor,
no caso, D. Esta será a única penalidade, pois ao inserir a cláusula de não protesto, C avisou
que não pagaria as despesas cartorárias, caso houvesse protesto.
Endosso póstumo ou tardio é o endosso que acontece depois do vencimento do
título, conforme previsto no art. 8º, parágrafo 3º do Decreto 2.044/08.

20
Art. 8º O endosso transmite a propriedade da letra de câmbio. Para a
validade do endosso, é suficiente a simples assinatura do próprio punho
do endossador ou do mandatário especial, no verso da letra.

O endossatário pode completar este endosso.

§ 1º A cláusula “por procuração”, lançada no endosso, indica o mandato


com todos os poderes, salvo o caso de restrição, que deve ser expressa
no mesmo endosso.
§ 2º O endosso posterior ao vencimento da letra tem o efeito de cessão
civil.
§ 3º É vedado o endosso parcial.

Em regra, terá efeito de endosso. Porém, excepcionalmente, terá efeito de cessão


quando ocorrer:
1. Depois de um protesto;
2. Depois de acabar o prazo para protestar/ Depois do fim do prazo do protesto O
prazo para protestar uma duplicata é de 30 (trinta) dias depois do seu vencimento. Já o prazo
para protestar a letra de câmbio e a nota promissória é o primeiro dia útil seguinte ao
vencimento. Para entender os exemplos abaixo é necessário saber que o prazo para protestar
a duplicata é de 30 (trinta) dias.
Ex1: O vencimento 30/06 de uma determinada duplicata. O Endosso ocorreu 03/07. Este
endosso será póstumo ou tardio. Não ocorreu protesto antes e o prazo para protestar não
findou. Dessa forma, o endosso será válido.
Ex2: O vencimento do título ocorreu em 30/06. O endosso póstumo ou tardio ocorreu
em 03/07. Contudo, em 02/07 houve protesto. Dessa forma, a transferência valerá como
cessão e não como endosso.
Ex3: O vencimento do título ocorreu em 30/06. O endosso póstumo ou tardio ocorreu
em 30/10, isto é, após o término para protestar. Então, essa transferência valerá como cessão
e não como endosso.
O título que circula depois do vencimento tem efeitos? Sim. Contudo, não sabemos se é
de endosso ou cessão, pois isso irá depender da situação.

21
No que diz respeito ao cheque, o prazo para protesto é até o término do prazo de
execução. Nele, primeiro vem o prazo de apresentação (30 dias ou 60 dias, em caso de
praça/município diferente). Com o término desse prazo, inicia-se o prazo de execução (6
meses). Então, o prazo para protestar o cheque é até terminar o prazo de executar o mesmo
(conta-se o prazo de apresentação + o prazo de execução).

O endosso retornoacontece nos casos em que o título retorna às mãos do credor


principal, isto é, quando se tem a confusão de devedor e credor principal. Então, quando se
encontra na cadeia cambiária devedor e credor em uma mesma pessoa, em razão da
circulação do título, haverá endosso retorno.
O reendossoocorre quando a mesma pessoa endossa mais de uma vez o título na
mesma cadeia cambiária. Trata-se de um endosso por diversas vezes realizado por uma
mesma pessoa.

Não é possível o endosso fora do título, em virtude do princípio da literalidade. Mas


pode haver uma “folha em anexo”, que é forma de extensão do título, um endosso neste
anexo é um endosso no título e respeita a literalidade.

 Prescrição:
Os prazos prescricionais na letra de câmbio são:

I. As ações contra o aceitanteda letra de câmbio prescrevem em 3 (três)


anos, a contar do seu vencimento;
II. As ações contra os endossantes e contra o sacadorprescrevem em 1 (um)

22
ano, a contar da data do protesto tempestivoou da data do
vencimento(letra com cláusula “sem protesto”).
III. As ações dos endossantes uns contra os outros e contra o sacador
prescrevem em 6 (seis) meses, a contar do dia em que o endossante
pagou a letra ou em que ele próprio foi acionado (ação de regresso).

A interrupção da prescrição só produz efeito em relação à pessoa para quem a interrupção foi feita.

 Protesto extrajudicial:
É o ato formal e solene através do qual se apresenta publicamente o título ao devedor,
para que este promova o seu pagamento ou o aceite, servindo como prova da inadimplência
o descumprimento de obrigação originada em títulos (como uma letra de câmbio) ou outros
documentos de dívida (como um contrato de aluguel), (art. 1º da Lei 9.492/1997 – Lei de
Protesto de Títulos e outros documentos de dívida).

O protesto é realizado pelo tabelião de protesto de títulos, a requerimento do portador


do título, do seu credor ou respectivo procurador.
O protesto por falta de aceitesomente poderá ser efetuado antes do vencimento da
obrigação e após o decurso do prazo legal para o aceite ou a devolução. Após o vencimento,
será efetuado sempre protesto por falta de pagamento.
Já o protesto por falta de devolução se dará quando o sacado retiver a letra de
câmbio ou a duplicata enviada para aceite, não procedendo a sua devolução no prazo legal.
Nesse caso, o protesto poderá operar-se com base na segunda via da letra ou nas indicações
da duplicata.
Os títulos poderão ser protestados a qualquer tempo, haja vista não constituir
obrigação do tabelião de protesto examinar os prazos prescricionais dos títulos. Nos termos
do art. 202, III, do Código Civil, o protesto interrompe a prescrição.

23
5.6.2 Nota promissória

A nota promissória é uma promessa de pagamento, a partir da qual uma pessoa se


compromete a pagar quantia determinada a outra.10
Seu saque gera duas posições jurídicas: a do sacador (emitente, subscritor, promitente),
que se compromete a pagar quantia determinada ao tomador (beneficiário,favorecido do
título, também chamado “sacado”).
A nota promissória não é passível de aceite, afinal, não se emite a nota promissória
para o pagamento por um terceiro. No que concerne ao endosso, direito de ação por falta
de pagamento, aval, prescrição, e demais elementos apontados pelo art. 77 da Lei
Uniforme, são aplicáveis à nota promissória, desde que compatíveis com sua natureza, às
disposições relativas às letras de câmbio.

 Requisitos formais da nota promissória:


Os requisitos formais da nota promissória estão previstos no art. 75 da Lei Uniforme de
Genebra, quais sejam:
Art. 75. A nota promissória contém:
1. denominação "nota promissória" inserta no próprio texto do título e expressa na
língua empregada para a redação desse título;
2. a promessa pura e simples de pagar uma quantia determinada;
3. a época do pagamento [se não possuir, presume-se que foi emitida à vista];
4. a indicação do lugar em que se efetuar o pagamento;
5. o nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga;
6. a indicação da data em que e do lugar onde a nota promissória é passada;

10
Vide questão 2.
24
7. a assinatura de quem passa a nota promissória (subscritor).

 Prescrição:
A prescrição da nota promissória possui os seguintes prazos:

I. Do portador contra emitente e avalista: 3 anos a contar do vencimento;


II. Do portador contra endossantes e respectivos avalistas: 1 ano, a contar da data
do protesto tempestivo ou da data do vencimento (nota com cláusula “sem
protesto”);
III. Dos endossantes, uns contra os outros, ou seus avalistas: 6 meses, a contar do
dia em que o endossante pagou o título ou em que ele foi acionado.

5.6.3 Cheque

É uma ordem de pagamento em dinheiro e à vista (natureza do cheque), sacada


contra um banco ou instituição financeira. Trata-se de um título padronizado, considerado
válido apenas quando emitido por um banco ou instituição financeira com a forma
determinada.

Tem como vantagem de sua utilização a possibilidade de substituição de moeda


(dinheiro “vivo”) pelo papel representativo do cheque, possibilitando assim o pagamento à
distância sem a necessidade de transporte de numerário.
O saque do cheque, tal como na letra de câmbio, dá origem a três posições jurídicas
distintas: a do sacador (emitente, subscritor), que dá uma ordem de pagamento à vista contra
o sacado (que será sempre um banco ou instituição financeira), para que este pague a quantia
referida no cheque ao beneficiário ou tomador do título, que pode ser um terceiro ou o
próprio sacador.

25
Importante deixar claro que, no cheque, o banco ou instituição financeira (sacado) não
possui qualquer obrigação cambial, visto que não garante o pagamento da cártula, não
podendo ser responsabilizado ou mesmo executado pelo credor em razão da falta ou
insuficiência de fundos, atuando como mero intermediador na relação.
Considera-se como não escrita a cláusula inserida no cheque para pagamento em forma
que não seja à vista. A espécie cheque pós-datado, muito utilizado na prática comercial
brasileira, não encontra respaldo na Lei do Cheque. Assim, se um cheque é apresentado em
data anterior à indicada como “boa para pagamento”, ele deverá ser pago imediatamente pelo
banco ou instituição financeira, afinal, tem a natureza de uma ordem de pagamento à vista.
Portanto, fica patente que a apresentação futura do cheque, decorrente de acordo neste
sentido (cheque pós-datado), dependerá sempre do cumprimento do acordo pelo portador do
cheque.11

A Súmula 370 do STJ - Reconhece a ocorrência de dano moral quando da apresentação


de cheque em data anterior a data convencionada pelas partes. A Súmula 388 do STJ - Aduz

11
Vide questão 10.
26
que a simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral, independentemente de
prova do prejuízo sofrido pela vítima (dano in re ipsa).

Podemos, ainda, ressaltar a importância de três modalidade de cheques. O cheque


cruzado é aquele no qual o emitente, mediante a colocação de dois traços paralelos e
transversais no anverso (frente) do título, faz com que o cheque só possa ser pago
mediante crédito em conta. Cheque visado é aquele cuja suficiência de fundos para
cobertura foi atestada pelo banco sacado. Cheque administrativoé o emitido e liquidado
pelo próprio banco sacado.

 Requisitos formais do cheque:


O cheque possui seus requisitos formais previstos no art. 1º da Lei 7.357/85:

Art. 1º O cheque contém:


I - a denominação ‘’cheque’’ inscrita no contexto do título e expressa na língua em que
este é redigido;
II - a ordem incondicional de pagar quantia determinada;
III - o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado);
IV - a indicação do lugar de pagamento;
V - a indicação da data e do lugar de emissão;
VI - a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com poderes especiais.

 Aval:
O cheque também poderá ser garantido, no todo ou em parte, por aval. O único que
não pode ser avalista é o sacado.
O aval poderá ser em branco ou em preto. O aval em preto é aquele que indica o
avalizado. O aval em branco é aquele que não o indica e, neste caso, considerar-se-á
avalizado o emitente do cheque.

 Endosso:
Os cheques são transmitidos por endosso, que pode ser feito pelo próprio sacador
(emitente) ou por terceiro. Poderá ser feito em preto ou em branco.
 Prescrição:
Os prazos prescricionais são:

I. A execução fundada em cheque prescreve no prazo de 6 meses, do portador

27
contra o sacador, endossantes e respectivos avalistas, contados da expiração do
seu prazo de apresentação, que poderá ser de 30 dias (quando o cheque houver
de ser pago na mesma cidade em que foi emitido) ou 60 dias (quando o cheque
houver de ser pago em cidade diferente daquela de emissão).
II. A ação de enriquecimento ilícitocontra o emitente ou outros obrigados, que se
locupletaram injustamente com o não pagamento do cheque prescreve em 2
anos, contados do dia em que se consumar o prazo prescricional da execução
fundada em cheque.
III. Prescritas a ação executiva e de enriquecimento ilícito, é possível ainda o
oferecimento de ação monitória, cabível para cobrança de documentos que
perderam a sua força executiva. Nesse sentido, a Súmula 299 do STJ estabelece
que caberá ação monitória nos casos de cheque prescrito.

Segundo a súmula 531 do STJ, “Em ação monitória fundada em cheque prescrito ajuizada
contra o emitente, é dispensável a menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da
cártula.”

5.6.4 Duplicata

A duplicata é título de crédito causal(diferentemente da letra de câmbio, da nota


promissória e do cheque), tendo em vista que só pode ser emitida na compra e venda
mercantilou na prestação de serviços.12
De tal sorte, em todo o contrato de compra e venda mercantil, entre partes
domiciliadas no Brasil, com prazo não inferior a 30 dias, contado da data de entrega ou
despacho das mercadorias, emitirá o vendedor a respectiva fatura para apresentação ao
comprador. No ato de emissão da fatura, dela poderá ser extraída duplicata para circulação
(duplicata mercantil) (arts. 1º e 2º, Lei 5.474/68). As empresas, individuais ou coletivas,

12
Vide questão 4.
28
fundações ou sociedades civis, que se dediquem à prestação de serviços, poderão, também,
emitir fatura e duplicata (duplicata de serviços) (art. 20, Lei 5.474/68).

Na hipótese de compra e venda mercantil, entre partes domiciliadas no Brasil, com


prazo não inferior a 30 (trinta) dias, contado da data da entrega ou despacho das
mercadorias, a extração da fatura e sua apresentação ao comprador é obrigatória (art. 1º
da Lei n.º 5.474/1968); já na compra e venda inferior a 30 (trinta) dias, ou no caso de
prestação de serviços de qualquer valor, essa emissão é facultativa.

A duplicata responde pela formação de 2 posições jurídicas, o sacador (emitente,


credor, vendedor ou prestador de serviço) e o sacado (devedor, comprador ou tomador do
serviço), consistindo em uma ordem de pagamento emitida pelo próprio credor, em razão
de mercadorias vendidas ou serviços prestados.
Extraída a duplicata, esta deverá ser apresentada ao devedor no prazo de 30 dias a
contar de sua emissão, devendo o devedor, quando a duplicata não for à vista, devolvê-la ao
apresentante no interregno de 10 dias, contados da data de sua apresentação, devidamente
assinada ou acompanhada de declaração, por escrito, contendo as razões da falta do aceite

29
(art. 7º, Lei 5.474/68).
Na grande maioria dos casos, o sacador negocia suas duplicatas com instituições
financeiras, recebendo adiantado uma quantia um pouco menor. Na data do vencimento das
duplicatas, as instituições financeiras recebem o valor do sacado (considerando a pontualidade
no pagamento).

 Requisitos formais da duplicata:


Os requisitos formais da duplicata estão previstos no art. 2º, §1º, da Lei nº 5.474/68,
quais sejam:
Art. 2º § 1º A duplicata conterá:
I - a denominação "duplicata", a data de sua emissão e o número de ordem;
II - o número da fatura;
III - a data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à vista;
IV - o nome e domicílio do vendedor e do comprador;
V - a importância a pagar, em algarismos e por extenso;
VI - a praça de pagamento;
VII - a cláusula à ordem;
VIII - a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, a ser
assinada pelo comprador, como aceite, cambial;
IX - a assinatura do emitente.
A duplicata está submetida às disciplinas do endosso, aceite e aval, na medida em que
se transmite pelo endosso, completa-se pelo aceite e garante-se pelo aval.
 Aceite:
Como regra, o aceite na duplicata é obrigatório, de modo que a sua falta sem justo
motivo enseja no credor o direito de protestá-la (art. 2º, §1º, VIII, Lei das Duplicatas). Neste
sentido, para que seja possível a sua execução, deverá estar acompanhada do comprovante de
entrega das mercadorias ou da prestação dos serviços (art. 15, Lei 5.474/68).
Não obstante a regra da obrigatoriedade do aceite, o comprador pode deixar de aceitar
a duplicata por motivo de (art. 8º, Lei 5.474/68):

I. Avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues
por sua conta e risco;
II. Vícios, defeitos, e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias,
devidamente comprovados;
III. Divergências nos prazos ou nos preços ajustados.

30
Aduz a Súmula 248 do STJque “Comprovada a prestação dos serviços, a duplicata não
aceita, mas protestada, é título hábil para instruir pedido de falência”.

A duplicata é protestável por falta de aceite, de devolução ou de pagamento. A falta de


devolução do título pelo devedor permite que o credor emita triplicata e realize o protesto
por simples indicações. O portador que não tirar o protesto da duplicata, em forma regular e
dentro do prazo de 30 dias, contado da data de seu vencimento, perderá o direito de
regresso contra os coobrigados (endossantes e avalistas).
 Prescrição:
A pretensão à execução da duplicata prescreve:

I. Contra o sacado e respectivos avalistas, em 3 anos, contados da data do


vencimento do título;
II. Contra endossante e seus avalistas, em 1 ano, contado da data do protesto;
III. De qualquer dos coobrigados contra os demais, em 1 ano, contado da data
em que haja sido efetuado o pagamento do título.

Em 2018, foi publicada a Lei n.º 13.775, disciplinando a duplicata sob a forma
escritural, também conhecida como duplicata virtual ou eletrônica. Trata-se de duplicata
(mercantil ou de serviços, conforme Lei n.º 5.474/1968) emitida mediante lançamento em
sistema eletrônico de escrituração, gerido por quaisquer das entidades que, autorizadas por
órgão ou entidade da administração federal direta ou indireta, exerçam a atividade de
escrituração de duplicadas escriturais, nos moldes descritos na Lei n.º 13.775/2018 (arts. 1º a

31
3º). Antes mesmo da edição da Lei n.º 13.775/2018, a duplicada virtual já era pacificamente
aceita no ordenamento jurídico brasileiro, conforme entendimento do STJ (EREsp 1024691/PR).

Diferentemente das duplicatas disciplinadas pela Lei n.º 5.474/1968 (com emissão de
fatura e duplicata em papel), a duplicata escritural é operacionalizada por meio magnético
(internet), com o envio, pelo vendedor ou prestador de serviços (emitente, sacador, credor),
dos dados referentes ao negócio jurídico à uma instituição financeira. Com base nas
informações recebidas, a instituição financeira encaminha para o comprador ou tomador de
serviços (devedor, sacado) um boleto bancário para pagamento da obrigação decorrente do
contrato.
A duplicata, nesse caso, não existe fisicamente, mas apenas em meio virtual.

Até regulamentação por órgão ou entidade da administração federal, a apresentação


da duplicata virtual deve ser feita em até 02 (dois) dias úteis, contados de sua emissão, em
meio eletrônico (art. 12, § 1º, da Lei n.º 13.775/2018). O devedor pode recusar a duplicata,
também por meio eletrônico, observando o prazo, as condições e os motivos previstos nos
arts. 7º e 8º da Lei n.º 5.474/1968, ou aceitá-lano mesmo prazo acrescido de sua metade (art.
12, § 2º, da Lei n.º 13.775/2018).

 Protesto:

Se, até o dia do vencimento, não for cumprida a obrigação, as indicações do negócio
jurídico serão encaminhadas ao Tabelionato, pelo credor ou instituição financeira encarregada
da cobrança, para protesto do título por indicações (também por meio magnético).
Após o protesto, persistindo a inadimplência, o credor ou o banco poderão ajuizar ação
de execução de título extrajudicial em face do devedor, apresentando os seguintes
documentos: boleto de cobrança bancária; instrumento de protesto por indicação;
comprovante de entrega da mercadoria ou da prestação dos serviços (art. 7º da Lei n.º
13.775/2018).
32
Importante destacar que, para fins de protesto, considera-se praça de pagamentodas
duplicatas escriturais o domicílio do devedor (estabelecido conforme art. 75 do CC), salvo
acordo expresso entre as partes fixando local diverso (art. 12, § 3º, da Lei n.º 13.775/2018; art.
327 do CC).
Segundo o art. 10 da Lei n.º 13.775/2018, “são nulas de pleno direito as cláusulas
contratuais que vedam, limitam ou oneram, de forma direta ou indireta, a emissão ou a
circulação de duplicatas emitidas sob a forma cartular ou escritural”.
Ainda, “constituirá prova de pagamento, total ou parcial, da duplicata emitida sob a
forma escritural a liquidação do pagamento em favor do legítimo credor, utilizando-se
qualquer meio de pagamento existente no âmbito do Sistema de Pagamentos Brasileiro.” (art.
5º, caput, da Lei n.º 13.775/2018).

33
QUADRO SINÓTICO

LETRA DE NOTA DUPLICATA


CHEQUE
CÂMBIO PROMISSÓRIA

ACEITE X X

ENDOSSO X
X X X

AVAL
X X X X

TÍTULO À
X X X
ORDEM

ORDEM
X X X
PAGAMENTO

ABSTRAÇÃO
X
(EMISSÃO) X X

34
REGIME JURÍDICO CAMBIÁRIO REGIME JURÍDICO CIVIL

Aval => garantia cambial Fiança => garantia contratual

* específica para títulos de crédito * específica para contratos

Instrumento: próprio título Instrumento: pode ser em negócio separado

Obrigação acessória (total ou parcial)


Obrigação equivalente (total ou parcial)

Admite benefício de ordem


Não comporta benefício de ordem

35
QUESTÕES

Questão 1

OAB – XXVI EOU | 2018: Três Coroas Comércio de Artigos Eletrônicos Ltda. subscreveu nota
promissória em favor do Banco Dois Irmãos S.A. com vencimento a dia certo. Após o
vencimento, foi aceita uma proposta de moratória feita pelo devedor por 120 (cento e vinte)
dias, sem alteração da data de vencimento indicada no título. O beneficiário exigiu dois
avalistas simultâneos, e o devedor apresentou Montenegro e Bento, que firmaram avais em
preto no título.

Sobre esses avais e a responsabilidade dos avalistas simultâneos, assinale a afirmativa correta.

A) Por ser vedado, no direito brasileiro, o aval póstumo, os avais simultâneos são
considerados não escritos, inexistindo responsabilidade cambial dos avalistas.
B) O aval lançado na nota promissória após o vencimento ou o protesto tem efeito de
fiança, respondendo os avalistas subsidiariamente perante o portador.
C) O aval póstumo produz os mesmos efeitos do anteriormente dado, respondendo os
avalistas solidariamente e autonomamente perante o portador.
D) O aval póstumo é nulo, mas sua nulidade não se estende à obrigação firmada pelo
subscritor (avalizado), em razão do princípio da autonomia.

Comentário:

Resposta correta: alternativa “C”.

36
A questão versa sobre o aval, com destaque para duas espécies: o aval póstumo e o aval
simultâneo.

O aval póstumo é aquele realizado após o vencimento do título. Embora haja divergência
doutrinária acerca da sua validade, o Código Civil reconhece a sua existência e a ele atribui
todos os efeitos do aval dado antes do vencimento do título, conforme art. 900 do CC.

Por aval simultâneo entende-se aquele em que duas ou mais pessoas avalizam um título de
crédito em conjunto, garantindo uma mesma obrigação cambial, pela qual se obrigam
solidariamente.

Feitos os devidos esclarecimentos, observa-se que a situação narrada no enunciado é de aval


simultâneo e póstumo. Assim, ainda que dado após o vencimento do título, o aval em questão
é válido e produz todos os efeitos do anteriormente dado, de modo que os avalistas
simultâneos estão solidariamente obrigados perante o portador.

Questão 2

OAB – XXVI EOU | 2018: Assinale a afirmativa incorreta.

A) O comprador poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de avaria ou não


recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por sua conta
e risco; vícios, desfeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias,
devidamente comprovados; divergência nos prazos ou nos preços ajustados.
B) A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de
autonomia em razão de iliquidez do título que a originou.
C) Uma nota promissória pode ser sacada à vista, a um certo termo de vista, a um certo
termo de data e pagável num dia fixado, com vencimentos diferentes e sucessivos;
D) O avalista do título de crédito tem direito de regresso para cobrar o valor pago em
face de qualquer obrigado anterior, em razão da solidariedade do direito cambiário.
E) O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato da conta
corrente, não é título executivo.

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Comentário:

Resposta correta: alternativa “C”.

AlternativaA:CORRETA

Art. 8º da Lei 5.474/68.

AlternativaB:CORRETA

Sum. 258 do STJ;

Alternativa C:INCORRETA

A promissória não pode ter vencimentos diferentes e sucessivos, sob pena de


nulidade, conforme art. 33 e 77 da LUG;

AlternativaD:CORRETA

O avalista que paga o título tem direito de regresso contra o avalizado e qualquer
coobrigado anterior, conforme art. 899, §1º, do CC/02;

Alternativa E:CORRETA

Sum. 233 do STJ.

Questão 3

OAB – XXII EOU | 2018: Em relação aos títulos de crédito, assinale a afirmativa incorreta.

A) O título de crédito emitido em branco ou incompleto pode ser completado pelo


credor de boa-fé, antes da ação de execução ou protesto.
B) O endosso parcial é considerado como não escrito.

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C) O saque de uma letra de câmbio é considerado declaração originária e necessária à
constituição do crédito.
D) O endosso parcial é considerado nulo.
E) O endosso impróprio transfere o exercício dos direitos inerentes à cambial.

Comentário:

Resposta correta: alternativa “B”.

AlternativaA:CORRETA

Observar a sum. 387 do STF e o art. 891 do CC/02;

Alternativa B:INCORRETA

O endosso parcial é nulo, conforme art. 912, parágrafo único, do CC e art. 12 da


LUG;

AlternativaC:CORRETA

Considerar que o saque corresponde à emissão do título.

AlternativaD:CORRETA

Nos termos do art. 912, parágrafo único, do CC/02 e art. 12 da LUG;

AlternativaE: CORRETA

O endosso impróprio diz respeito ao endosso-mandato e ao endosso-caução,


conforme art. 18 e 19 da LUG;

39
Questão 4

FCC - 2020 - TJ-MS - Juiz Substituto: De acordo com a Lei n° 5.474/1968, que dispõe sobre
as duplicatas,

A) É vedado ao comprador resgatar a duplicata antes de aceitá-la.


B) O pagamento da duplicata poderá ser assegurado por aval, mas o aval dado
posteriormente ao vencimento do título não produz efeitos.
C) Não se incluirão, no valor total da duplicata, os abatimentos de preços das
mercadorias feitas pelo vendedor até o ato do faturamento, desde que constem da
fatura.
D) A duplicata não admite reforma ou prorrogação do prazo de vencimento.
E) As fundações, mesmo que se dediquem à prestação de serviços, não podem emitir
duplicata.

Comentário:

Resposta correta: alternativa “C”.

AlternativaA:INCORRETA

Lei 5.474/68: Art. 9º É lícito ao comprador resgatar a duplicata antes de aceitá-la ou


antes da data do vencimento.

AlternativaB:INCORRETA

Lei 5.474/68: Art. 12. O pagamento da duplicata poderá ser assegurado por aval,
sendo o avalista equiparado àquele cujo nome indicar; na falta da indicação, àquele
abaixo de cuja firma lançar a sua; fora dêsses casos, ao comprador.

Parágrafo único. O aval dado posteriormente ao vencimento do título produzirá


os mesmos efeitos que o prestado anteriormente àquela ocorrência.

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Alternativa C:CORRETA

Lei 5.474/68: Art. 3º, § 1º Não se incluirão no valor total da duplicata os


abatimentos de preços das mercadorias feitas pelo vendedor até o ato do
faturamento, desde que constem da fatura.

AlternativaD:INCORRETA

Art. 11. A duplicata admite reforma ou prorrogação do prazo de vencimento,


mediante declaração em separado ou nela escrita, assinada pelo vendedor ou
endossatário, ou por representante com poderes especiais.

Parágrafo único. A reforma ou prorrogação de que trata este artigo, para manter a
coobrigação dos demais intervenientes por endosso ou aval, requer a anuência
expressa destes.

AlternativaE: INCORRETA

Art. 20. As empresas, individuais ou coletivas, fundações ou sociedades civis, que se


dediquem à prestação de serviços, poderão, também, na forma desta lei, emitir
fatura e duplicata.

Questão 5

FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2018 - INB - Advogado: Quanto aos títulos de crédito, é
correto afirmar:

A) Os títulos de crédito podem ser à ordem ou não à ordem. Os primeiros circulam pela
tradição com mera cessão civil de crédito; os últimos, mediante tradição com endosso,
sendo certo que a cláusula não à ordem precisa ser explicitada.
B) Na nota promissória, intervêm fundamentalmente três pessoas: sacador ou emissor,
que é a pessoa que dá a ordem de pagamento; sacado, pessoa que, aceitando a nota,
deve pagar seu valor; e tomador, que é a pessoa que recebe a nota promissória do

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sacador e pode cobrá-la no vencimento, ou seja, a pessoa a quem a nota deve ser
paga.
C) O cheque é uma ordem de pagamento à vista ou a prazo, sobre quantia determinada,
emitida contra um banco, com base em provisão de fundos depositados pelo emitente
ou oriundos de abertura de crédito.
D) A omissão, pelo devedor, de quaisquer indicações pode ser completada pelo portador,
até o momento de fazer valer publicamente o título, ou seja, no fim da circulação ou
no momento de ingressar em juízo para a cobrança executiva.

Comentário:

Resposta correta: alternativa “C”.

AlternativaA:INCORRETA

A assertiva inverteu os conceitos. Os títulos de crédito à ordem circulam mediante


tradição com endosso (assinatura no verso ou anverso do título); já os títulos não à
ordem circulam pela tradição com mera cessão civil de crédito.

AlternativaB:INCORRETA

A assertiva se refere à letra de câmbio e não à nota promissória.

AlternativaC:INCORRETA

O cheque é ordem de pagamento à vista e não a prazo

Alternativa D:conforme entendimento da Súmula 387 do STF: "a cambial emitida ou aceita
com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança
ou do protesto".

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Questão 6

VUNESP - 2019 - TJ-RJ - Juiz Substituto: Considere a seguinte situação hipotética:

Eva comprou mercadorias em uma loja popular e emitiu um cheque do Banco Bradesco em 10
de outubro, preenchendo a data de emissão correta, mas combinando oralmente com a
vendedora que ela deveria depositá-lo apenas em 01 de novembro do mesmo ano. A
vendedora endossa o cheque emitido por Eva a um de seus fornecedores, sem mencionar o
que fora verbalmente combinado. O endossatário apresenta o título ao Banco Bradesco antes
de 01 de novembro. O cheque é devolvido por insuficiência de fundos, e o nome de Eva é
inserido no Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF) pelo Banco do Brasil, gestor
do referido cadastro, sem que este a notifique previamente.

Diante do exposto, assinale a alternativa correta.

A) A devolução do cheque por insuficiência de fundos implica em responsabilização tanto


da vendedora perante Eva, quanto do Banco do Brasil, pela inserção do nome de Eva
no CCF sem prévia notificação.
B) A apresentação do cheque ao Banco Bradesco pelo fornecedor antes da data
combinada entre Eva e a vendedora caracteriza dano moral imputável ao fornecedor.
C) As ações do Banco do Brasil e do fornecedor endossatário não caracterizam dano
moral.
D) A devolução do cheque por insuficiência de fundos não implica em responsabilização
do Banco Bradesco por dano moral, mas a inserção do nome de Eva no CCF sem
prévia notificação pelo Banco do Brasil caracteriza dano moral, imputável a este.
E) A devolução do cheque por insuficiência de fundos pelo Banco Bradesco foi indevida,
caracterizando dano moral.

Comentário:

Resposta correta: alternativa “C”.

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AlternativaA:INCORRETA

A segunda parte da assertiva segunda parte que fala da responsabilidade do Banco


do Brasil, o que contraria a súmula 572 do STJ: “O Banco do Brasil, na condição de
gestor do Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF), não tem a
responsabilidade de notificar previamente o devedor acerca da sua inscrição no
aludido cadastro, tampouco legitimidade passiva para as ações de reparação de
danos fundadas na ausência de prévia comunicação.”

AlternativaB:INCORRETA

o fornecedor endossatário (que é aquele a quem o título foi endossado) não


participou da relação contratual entre a Eva e a Loja e nem tomou conhecimento do
acordo verbal feito entre elas.

Alternativa C:A pré-datação não constava escrita no título (literalidade) e o fornecedor


endossatário não tinha o conhecimento do acordo oral feito entre a Eva e a loja. Logo, em
razão da boa-fé, o fornecedor endossatário não poderia ser responsabilizado, em virtude do
princípio da literalidade. Conforme mencionado, também, não há responsabilidade do Banco
do Brasil, Súmula 572 do STJ.

AlternativaD:INCORRETA

Vide súmula 572 do STJ mencionada no comentário da letra a.

AlternativaE:INCORRETA

A devolução do cheque pelo Bradesco, por si só, não caracteriza dano moral, uma
vez que não existiam fundos suficientes na conta do correntista, razão pela qual se
tem como legítima da devolução do cheque. Contudo, com base no princípio da
boa-fé objetiva, poderia haver responsabilização civil do lojista, exclusivamente, uma
vez que o acordo para apresentação do cheque foi feito de forma oral, não
contendo qualquer menção a ele na literalidade da cártula.

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Questão 7

CESPE - 2016 - PGE-AM - Procurador do Estado: No que concerne ao direito empresarial em


sentido amplo, julgue o item a seguir.

A doutrina relativa ao direito cambiário trata do princípio da abstração, um subprincípio


derivado do princípio da autonomia, que destaca a ligação entre o título de crédito e o fato
jurídico que deu origem à obrigação que ele representa.

Comentário:

Resposta correta: alternativa “Certo”.

Conforme Fábio Ulhôa Coelho, "O subprincípio da abstração é uma formulação derivada do
princípio da autonomia, que dá relevância à ligação entre o título de crédito e a relação, ato
ou fato jurídico que deram origem à obrigação por ele representada."

Questão 8

CESPE - 2016 - PGE-AM - Procurador do Estado: No que concerne ao direito empresarial em


sentido amplo, julgue o item a seguir.

A promoção prévia de protesto válido do título é condição para que o credor de título de
crédito válido mova uma ação de execução contra o devedor principal.

Comentário:

Resposta correta: assertiva “Errada”.

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Para o credor exigir judicialmente do aceitante ou do seu avalista a dívida cambiária não é
necessário o prévio protesto do título. Esse é o entendimento da jurisprudência, vez que o
protesto aqui é facultativo ou probatório, interessa apenas para provar a mora do
sacado/avalista.

Questão 9

CESPE - 2015 - Telebras - Advogado: Acerca da letra de câmbio, julgue o item a seguir.

A regra de que o aceite na letra seja somente praticado pelo sacado não é absoluta, uma vez
que a Lei Uniforme acata o aceite por intervenção, diante da falta ou recusa do aceite pelo
sacado, após o protesto; um terceiro, não nomeado pelo sacado, poderá́ aceitar a letra, desde
que o portador da letra concorde.

Comentário:

Resposta correta: assertiva “Certa”.

A responsabilidade cambial do interveniente mencionado na assertiva é equiparada à do


sacado que aceita. Nesse sentido, DL 2.044, art. 24: “no ato do protesto pela falta ou recusa
do aceite, a letra pode ser aceita por terceiro, mediante a aquiescência do detentor ou
portador.”

Questão 10

CESPE - 2013 - DPF – Delegado: De acordo com a legislação empresarial vigente, julgue o
item a seguir.

O denominado cheque pré-datado, apesar de usual no comércio brasileiro, não está previsto
na legislação, segundo a qual o cheque é uma ordem de pagamento à vista, estando a
instituição bancária obrigada a pagá-lo no ato de sua apresentação, de modo que a instituição

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não pode ser responsabilizada pelo pagamento imediato de cheques datados com lembrete
de desconto para data futura.

Comentário:

Resposta correta: assertiva “Certa”.

A Lei 7.357/85, no art. 32, determina que o cheque é uma ordem de pagamento à vista,
considerando-se não escrita qualquer cláusula em sentido diverso. Por isso, a instituição
financeira deve pagar o título a qualquer momento. Nesse sentido, o STJ entende que a
Súmula 370, cujo enunciado diz que “caracteriza dano moral a apresentação antecipada do
cheque pré-datado”, não é aplicável à instituição financeira que realizou o regular pagamento
e sim ao apresentante (credor) do cheque.

Questão 11
(UEG - 2018 - PC-GO - Delegado de Polícia)Cheque é título de crédito sacado contra
instituição financeira e que:

A) Para a execução contra o emitente, tem prazo prescricional de 6 meses a contar de sua
emissão.
B) Para execução contra o emitente, depende de prévio protesto por falta de pagamento.
C) Depois de prescrito, não pode estribar ação monitória relativa ao respectivo crédito.
D) Depois de prescrito, pode ser objeto de ação de locupletamento contra o emitente.
E) Pode ter o pagamento pelo banco sacado sujeito a termo, mas não a condição.

Comentário:

Letra D - Com a prescrição do cheque, ele não mais poderá ser executado. Nesse
caso, restam ainda três opções de cobrança contra o emitente:

1- A ação de locupletamento (enriquecimento ilícito);


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2- A ação de cobrança;
3- A ação monitória.

Questão 12

(VUNESP - 2018 - PC-SP - Delegado de Polícia)

Cesare Vivante definiu Título de Crédito como sendo o documento necessário para o exercício
do direito, literal e autônomo, nele mencionado. Sobre o tema, assinale a alternativa correta.

A)De acordo com a legislação vigente no país, o aval parcial é vedado, porém, a mesma

legislação estabelece que o endosso parcial é válido.

B) Considera-se lugar de emissão e de pagamento, quando não indicado no título de crédito,


o lugar onde a obrigação deve ser resolvida ou, subsidiariamente, o domicílio do emissor.

C) Ressalvada cláusula expressa em contrário, constante do endosso, responde o endossante


pelo cumprimento da prestação constante do título.

D) O Código Civil estabelece que é considerado como título à ordem aquele emitido em favor
de pessoa cujo nome conste no registro do emitente.

E) A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua validade como título de
crédito, não implica a invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem.

Comentário:

A) Aval parcial é vedado e endosso parcial é nulo - ERRADA

B) Lugar de emissão e pagamento: domicílio do emitente – ERRADA

C) Art. 914. Não responde o endossante pelo cumprimento da prestação constante do título -
ERRADA

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D) Art. 921. Trata-se de título nominativo - ERRADA

E) CORRETA.

Questão 13

(VUNESP - 2015 - PC-CE - Delegado de Polícia Civil de 1a Classe)

Assinale a alternativa correta sobre os títulos de crédito, de acordo com as disposições do


Código Civil de 2002.

A) Não se admite mais de um aval para garantir o pagamento do mesmo título.


B) No vencimento, o credor não pode recusar-se ao recebimento do pagamento, ainda
que parcial.
C) É nulo o endosso translativo nos títulos de crédito nominativos.
D) Em caso de endosso-mandato, o endossatário responde pelo protesto indevido, ainda
que tenha agido nos limites de seus poderes.
E) Em regra, o endossante é solidariamente responsável pelo cumprimento da obrigação
constante no título.

Comentário:

A) “AVAL. AVAIS EM BRANCO E SUPERPOSTOS SE PRESUMEM SIMULTANEOS E NÃO


SUCESSIVOS, SEGUNDO JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. O AVALISTA
PAGANTE PODE PROPOR AÇÃO DE REEMBOLSO CONTRA OS OUTROS AVALISTAS, NA
PROPORÇÃO DA RESPECTIVA COTA, POIS, DIVIDE-SE ENTRE ELES A RESPONSABILIDADE PELO
DÉBITO CAMBIAL QUE GARANTIRAM.” (STF - RECURSO EXTRAORDINÁRIO: RE 51443,
Relator(a): GONCALVES DE OLIVEIRA, Julgamento: 31/12/1969, Órgão Julgador: PRIMEIRA

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TURMA, Publicação: ADJ DATA 02-05-1963 PP-00249 EMENT VOL-00530-02 PP-00663 RTJ
VOL-00027-01 PP-00079) - ERRADA

B) Art. 902. Não é o credor obrigado a receber o pagamento antes do vencimento do título, e
aquele que o paga, antes do vencimento, fica responsável pela validade do pagamento. -
CORRETA

§ 1o No vencimento, não pode o credor recusar pagamento, ainda que parcial.

C) Art. 923. O título nominativo também pode ser transferido por endosso que contenha o
nome do endossatário.- ERRADA

D) Súmula 476 STJ: “O endossatário de título de crédito por endosso-mandato só responde


por danos decorrentes de protesto indevido se extrapolar os poderes de mandatário”. -
ERRADA

E) Art. 914. Ressalvada cláusula expressa em contrário, constante do endosso, não responde o
endossante pelo cumprimento da prestação constante do título.-ERRADA

Questão 14

(CESPE / CEBRASPE - 2013 - Polícia Federal - Delegado)

Com relação aos títulos de crédito, julgue o item abaixo.

O devedor que, como forma de pagamento de um negócio celebrado, transfere ao credor, por
simples tradição, títulos de crédito emitidos por terceiros, sem endossá-los, não possui
responsabilidade solidária pelo pagamento da cártula.

( ) Certo

( ) Errado

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Comentário:

CERTO - Conforme o art. 914 do CC o endossante, em regra, não responde pelo pagamento
do título de crédito:

Art. 914. Ressalvada cláusula expressa em contrário, constante do endosso, não responde o
endossante pelo cumprimento da prestação constante do título.

§ 1º Assumindo responsabilidade pelo pagamento, o endossante se torna devedor solidário.

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GABARITO

Questão 1 - B

Questão 2 - A

Questão 3 - B

Questão 4 - C

Questão 5 - D

Questão 6 - C

Questão 7 - Certa

Questão 8 - Errada

Questão 9 - Certa

Questão 10 - Certa

Questão 11 -D

Questão 12 -E

Questão 13 -B

Questão 14 - Certo

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QUESTÃO DESAFIO

A autonomia está entre as principais características dos títulos de


crédito. É correto afirmar que essa característica nos cheque é
relativa?

Máximo de 5 linhas

53
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

Sim, a jurisprudência dos tribunais superiores entende que o cheque possui a


característica da autonomia, mas tal característica é relativa, sendo possível, em algumas
situações, a discussão da causa debendi.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Autonomia relativa

Segundo o art. 887 do Código Civil, são três as características dos títulos de crédito:
cartularidade, autonomia e literalidade.

Sobre a autonomia, o autor Ricardo Negrão explica (NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito
Empresarial. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. p. 293-293.): “A autonomia é a característica dos
títulos de crédito que garante a independência obrigacional das relações jurídicas subjacentes,
simultâneas ou sobrejacentes à sua criação e circulação e impede que eventual vício existente
em uma relação se comunique às demais ou invalide a obrigação literal inscrita na cártula.”.

Nos casos dos cheques essa característica está presente, mas não absoluta, já que em alguns
casos vícios nas relações pode afetar a cártula.

 Cite a Jurisprudência dos Tribunais Superiores

Os Tribunais Superiores têm diversos julgados com o entendimento de que a autonomia, nos
casos dos cheques, não é absoluta.

Vejamos um desses julgados: “Comercial e processual civil. Cheque. Investigação da causa


debendi. Circunstâncias especiais, que o permitem. Lei n. 7.357/85. Exegese. Honorários.
Fixação equitativa. CPC, Art. 20, § 4.º. I. A autonomia do cheque não é absoluta, permitida, em
certas circunstâncias especiais, como a prática de ilícito pelo vendedor de mercadoria não
entregue, após fraude notória na praça, a investigação da causa subjacente e o esvaziamento
do título pré-datado em poder de empresa de “factoring”, que o recebeu por endosso. II.
Honorários advocatícios já fixados em valor módico, não cabendo ainda maior redução. III.
Recurso especial não conhecido.” (STJ, REsp 434.433/MG, Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, DJ
23.06.2003, p. 378).

54
O autor André Santa Cruz também comenta (CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. 8. ed.
São Paulo: Método, 2018. p. 590-590.): “Também é característica especial do cheque a sua, por
assim dizer, autonomia relativa. É que, segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça, a submissão do cheque ao princípio da autonomia não deve ser entendida de forma
absoluta, permitindo-se, em situações excepcionais, que o devedor discuta a causa debendi.”.

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JURISPRUDÊNCIA

 REsp 1346584/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 09/10/2018, DJe
22/11/2018

RECURSO ESPECIAL. PROTESTO LEGÍTIMO. CANCELAMENTO. INCUMBÊNCIA.


DEVEDOR. REQUERIMENTO DE DOCUMENTO PARA CANCELAMENTO. NECESSIDADE.
COGITAÇÃO DE INÉRCIA DO OUTRORA CREDOR ANTES MESMO DA SOLICITAÇÃO.
INVIABILIDADE. 1. Consoante tese firmada pela Segunda Seção, em sede de recurso repetitivo, REsp n.
1.339.436/SP, no regime próprio da Lei n. 9.492/1997, legitimamente protestado o título de crédito ou outro
documento de dívida, salvo inequívoca pactuação em sentido contrário, incumbe ao devedor, após a quitação,
providenciar o cancelamento do protesto. 2. Bem pondera e adverte a abalizada doutrina que a legislação não
estabeleceu parâmetros ou standards de conduta que servissem de auxílio para determinação do conteúdo da
cláusula geral de boa-fé, mas é certo que impõe a colaboração somente para aqueles interesses objetivamente
extraídos do próprio negócio. Com efeito, essa tarefa demanda o prudente exame do julgador, a quem caberá
analisar o comportamento usual dos agentes naquele campo específico, a honestidade e a lealdade que se
esperam das partes em relações semelhantes.3. Por um lado, o art. 26, § 1º, da Lei do Protesto estabelece que o
cancelamento do registro do protesto será solicitado diretamente ao Tabelionato de Protesto de Títulos, por
qualquer interessado, mediante apresentação do documento protestado, e que apenas na impossibilidade
de apresentação do original do título ou do documento de dívida protestado será exigida a declaração de
anuência. Por outro lado, como o pagamento do título de crédito, em regra, implica o resgate da cártula,
cogitar ser dever do credor enviar, sem qualquer provocação do interessado, o próprio título de crédito,
seria providência inusual e claramente temerária para os interesses do próprio devedor e eventuais
coobrigados.4. Assim, como qualquer interessado pode requerer o cancelamento do protesto - e, evidentemente,
quitar a dívida -, em princípio, o mais prudente é o credor aguardar provocação daquele que quitou em nome
próprio ou de comum acordo com os demais coobrigados0 para entregar-lhe o título protestado ou a carta de
anuência. 5. O acolhimento da tese da recorrente acerca de que o credor deve, sem provocação, enviar o
documento hábil ao cancelamento do protesto, representaria tacitamente impor o dever de manutenção e o
de permanente atualização de cadastro dos coobrigados enquanto subsistisse o protesto, o qual, consoante
o art. 27 da Lei de Regência, não deve ter nenhuma limitação temporal, visto "que abrangerão o período
mínimo dos cinco anos anteriores, contados da data do pedido".6. No caso em exame, consta da exordial que
desde sempre o banco demandado se dispôs a entregar para a autora, ora recorrente, a carta de anuência hábil
ao requerimento de cancelamento do protesto, e que foi prontamente efetuada assim que formalmente solicitada
na agência bancária do recorrido. Portanto, não há falar em reparação de danos morais, em vista de que o réu
agiu em exercício regular de direito, não havendo negligência que pudesse lhe ser imputada.7. Recurso
especial não provido.

56
 STJ. REsp 1677772/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/11/2017, DJe
20/11/2017

DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE PROTESTO C/C
PEDIDO DE COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS.
PROTESTO DE CHEQUES PRESCRITOS. IRREGULARIDADE. HIGIDEZ DA DÍVIDA.
POSSIBILIDADE DE MANEJO DE AÇÃO DE COBRANÇA FUNDADA NA RELAÇÃO CAUSAL E DE AÇÃO MONITÓRIA.
ABALO DE CRÉDITO INEXISTENTE. DANO MORAL NÃO CARACTERIZADO.1. Ação ajuizada em 27/07/2007.
Recurso especial interposto em 28/07/2011 e distribuído em 22/09/2016. Julgamento: Aplicação do CPC/73.2. O
propósito recursal reside em definir se o protesto de cheques prescritos é ilegal e se enseja dano moral
indenizável.3. O protesto cambial apresenta, por excelência, natureza probante, tendo por finalidade
precípua servir como meio de prova da falta ou recusa do aceite ou do pagamento de título de crédito.4. De
acordo com o disposto no art. 1º da Lei 9.492/97 ("Lei do Protesto Notarial"), são habilitados ao protesto
extrajudicial os títulos de crédito e "outros documentos de dívida", entendidos estes como instrumentos que
caracterizem prova escrita de obrigação pecuniária líquida, certa e exigível, ou seja, documentos que propiciem o
manejo da ação de execução.5. Especificamente quanto ao cheque, o apontamento a protesto mostra-se
viável dentro do prazo da execução cambial - que é de 6 (seis) meses contados da expiração do prazo de
apresentação -, desde que indicados os devedores principais (emitente e seus avalistas).Em relação aos
coobrigados (endossantes e respectivos avalistas), o art. 48 da Lei 7.347/85 impõe que o aponte a protesto
seja realizado no prazo para apresentação do título ao sacado.6. Consoante decidido pela 2ª Seção no REsp
1.423.464/SC, submetido ao rito dos recursos especiais repetitivos, "sempre será possível, no prazo para a
execução cambial, o protesto cambiário de cheque, com a indicação do emitente como devedor" (tema 945).7.
Na hipótese dos autos, os protestos dos cheques foram irregulares, na medida em que efetivados cerca de 4
(quatro) anos após a data da emissão dos títulos.8. Cuidando-se de protesto irregular de título de crédito, o
reconhecimento do dano moral está atrelado à ideia do abalo do crédito causado pela publicidade do ato
notarial, que, naturalmente, faz associar ao devedor a pecha de "mau pagador" perante a praça.9. Todavia, na
hipótese em que o protesto é irregular por estar prescrita a pretensão executória do credor, havendo,
porém, vias alternativas para a cobrança da dívida consubstanciada no título, não há se falar em abalo de
crédito, na medida em que o emitente permanece na condição de devedor, estando, de fato, impontual no
pagamento.10. Prescrita a ação executiva do cheque, assiste ao credor a faculdade de ajuizar a ação cambial
por locupletamento ilícito, no prazo de 2 (dois) anos (art. 61 da Lei 7.357/85); ação de cobrança fundada na
relação causal (art. 62 do mesmo diploma legal) e, ainda, ação monitória, no prazo de 5 (cinco) anos, nos
termos da Súmula 503/STJ.11. Nesse contexto, embora, no particular, tenham sido indevidos os protestos, pois
extemporâneos, a dívida consubstanciada nos títulos permanecia hígida, não estando caracterizado, portanto,
abalo de crédito apto a ensejar a caracterização do dano moral.12. Recurso especial parcialmente provido,
apenas para se determinar o cancelamento dos protestos.

 STJ. REsp 1526560/MG, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em
16/03/2017, DJe 16/05/2017

RECURSO ESPECIAL. DIREITO CAMBIÁRIO. AVAL. OUTORGA UXÓRIA OU MARITAL. INTERPRETAÇÃO DO ART.
1647, INCISO III, DO CCB, À LUZ DO ART. 903 DO MESMO ÉDITO E, AINDA, EM FACE DA NATUREZA SECULAR
DO INSTITUTO CAMBIÁRIO DO AVAL. REVISÃO DO ENTENDIMENTO DESTE RELATOR.1. O Código Civil de 2002
estatuiu, em seu art. 1647, inciso III, como requisito de validade da fiança e do aval, institutos bastante diversos,
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em que pese ontologicamente constituam garantias pessoais, o consentimento por parte do cônjuge do
garantidor.2. Essa norma exige uma interpretação razoável sob pena de descaracterização do aval como típico
instituto cambiário.3. A interpretação mais adequada com o referido instituto cambiário, voltado a fomentar
a garantia do pagamento dos títulos de crédito, à segurança do comércio jurídico e, assim, ao fomento da
circulação de riquezas, é no sentido de limitar a incidência da regra do art.1647, inciso III, do CCB aos avais
prestados aos títulos inominados regrados pelo Código Civil, excluindo-se os títulos nominados regidos por
leis especiais.4. Precedente específico da Colenda 4ª Turma.5. Alteração do entendimento deste relator e desta
Terceira Turma.6. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.

 STJ. REsp 1633399/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 10/11/2016,
DJe 01/12/2016

DIREITO CAMBIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. REVELIA.


EFEITOS RELATIVOS. AVAL. NECESSIDADE DE OUTORGA UXÓRIA OU MARITAL.
DISPOSIÇÃO RESTRITA AOS TÍTULOS DE CRÉDITO INOMINADOS OU ATÍPICOS.
ART. 1.647, III, DO CC/2002. INTERPRETAÇÃO QUE DEMANDA OBSERVÂNCIA À RESSALVA EXPRESSA DO ART.
903 DO CC E AO DISPOSTO NA LUG ACERCA DO AVAL. REVISÃO DO ENTENDIMENTO DO COLEGIADO.
COGITAÇÃO DE APLICAÇÃO DA REGRA NOVA PARA AVAL DADO ANTES DA VIGÊNCIA DO NOVO CC.
MANIFESTA INVIABILIDADE. 1. Os efeitos da revelia - presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor -
são relativos e não conduzem, necessariamente, ao julgamento de procedência dos pedidos, devendo o juiz
atentar-se para os elementos probatórios presentes nos autos, para formação de sua convicção. 2. Diversamente
do contrato acessório de fiança, o aval é ato cambiário unilateral, que propicia a salutar circulação do crédito,
ao instituir, dentro da celeridade necessária às operações a envolver títulos de crédito, obrigação autônoma
ao avalista, em benefício da negociabilidade da cártula. Por isso, o aval "considera-se como resultante da
simples assinatura" do avalista no anverso do título (art. 31 da LUG), devendo corresponder a ato
incondicional, não podendo sua eficácia ficar subordinada a evento futuro e incerto, porque dificultaria a
circulação do título de crédito, que é a sua função precípua.3. É imprescindível proceder-se à interpretação
sistemática para a correta compreensão do art. 1.647, III, do CC/2002, de modo a harmonizar os dispositivos do
Diploma civilista. Nesse passo, coerente com o espírito do Código Civil, em se tratando da disciplina dos títulos
de crédito, o art. 903 estabelece que "salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo
disposto neste Código". 4. No tocante aos títulos de crédito nominados, o Código Civil deve ter uma
aplicação apenas subsidiária, respeitando-se as disposições especiais, pois o objetivo básico da
regulamentação dos títulos de crédito, no novel Diploma civilista, foi permitir a criação dos denominados
títulos atípicos ou inominados, com a preocupação constante de diferençar os títulos atípicos dos títulos de
crédito tradicionais, dando aos primeiros menos vantagens.5. A necessidade de outorga conjugal para o
aval em títulos inominados - de livre criação - tem razão de ser no fato de que alguns deles não asseguram
nem mesmo direitos creditícios, a par de que a possibilidade de circulação é, evidentemente, deveras
mitigada. A negociabilidade dos títulos de crédito é decorrência do regime jurídico-cambial, que estabelece
regras que dão à pessoa para quem o crédito é transferido maiores garantias do que as do regime civil.6. As
normas das leis especiais que regem os títulos de crédito nominados, v.g., letra de câmbio, nota promissória,
cheque, duplicata, cédulas e notas de crédito, continuam vigentes e se aplicam quando dispuserem diversamente
do Código Civil de 2002, por força do art. 903 do Diploma civilista. Com efeito, com o advento do Diploma
civilista, passou a existir uma dualidade de regramento legal: os títulos de crédito típicos ou nominados

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continuam a ser disciplinados pelas leis especiais de regência, enquanto os títulos atípicos ou inominados
subordinam-se às normas do novo Código, desde que se enquadrem na definição de título de crédito constante
no art. 887 do Código Civil. 7. Recurso especial não provido.

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LEGISLAÇÃO COMPILADA

Faz-se premente a leitura dos seguintes diplomas e súmulas:

 Decreto-Lei nº 57.663/66 (Lei Uniforme de Genebra): arts. 1º-18.


 Lei 7.357/85: arts. 5º-42.;
 Lei n.º 5.474/68:arts. 8º-33.;
 Lei n.º 13.775/18:art. 1º-13;
 CC: art. 887-926;
 CPC: art. 784, I;
 Súmulas do STJ: 16, 26, 60, 93, 258, 475, 476;
 Súmulas do STF: 189, 190 (superada), 191 (cancelada), 192 (superada), 387, 600;

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BIBLIOGRAFIA

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2020.

FAZZIO JUNIOR, WALDO. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2020.

MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. São Paulo: Atlas, 2020.

PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição.
São Paulo: Editora JusPodivm, 2020.

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Capítulo 6
SUMÁRIO

DIREITO EMPRESARIAL .................................................................................................................................................... 2

6. Teoria Geral do Direito Empresarial .................................................................................................................. 2


6.1 Noções Gerais ....................................................................................................................................................... 2
6.2 Particularidades Principiológicas .......................................................................................................................... 4
6.3 Factoring ............................................................................................................................................................... 9
6.4 Compra e venda mercantil .................................................................................................................................. 11
6.4.1 Classificação do contrato de compra e venda .................................................................................................... 12
6.4.2 Elementos Essenciais .......................................................................................................................................... 12
6.4.3 Efeitos da Compra e venda ................................................................................................................................. 14
6.4.4 Situações Específicas da Compra e Venda .......................................................................................................... 15
6.4.5 Cláusulas acessórias/especiais ............................................................................................................................ 16
6.5 Franchising .......................................................................................................................................................... 18
6.6 Leasing ................................................................................................................................................................ 21
6.7 Alienação Fiduciária ............................................................................................................................................ 24
6.8 Contratos de Colaboração .................................................................................................................................. 24
6.8.1 Agência ou Representação Comercial ................................................................................................................ 26
6.8.2 Distribuição ......................................................................................................................................................... 28
6.8.3 Corretagem ......................................................................................................................................................... 29
6.8.4 Concessão Mercantil ........................................................................................................................................... 31
6.8.5 Comissão Mercantil............................................................................................................................................. 31
6.8.6 Mandato Mercantil ............................................................................................................................................. 36
6.9 Contratos bancários ............................................................................................................................................ 37

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 39

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 41

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 67

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 71

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 73

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 77

1
DIREITO EMPRESARIAL

Capítulo 1

6. Teoria Geral do Direito Empresarial

Atenção! Futuro Delta, dê mais ênfase nateoria geral e nos princípios.

6.1 Noções Gerais

O contrato corresponde ao vínculo obrigacional existente entre duas partes, em que


uma deve prestação à outra, e esta, em contrapartida, deve à primeira uma contraprestação,
ou seja, o contrato é um acordo de vontades que tem por fim criar, modificar ou extinguir
direitos.

Na exploração da atividade empresarial a que se dedica, o empresário individual ou a


sociedade empresária celebram vários contratos diferentes. Pode-se dizer que combinar os
fatores de produção é contrair e executar obrigações nascidas principalmente de contratos.
Lembrem-se os fatores: capital, insumos, mão de obra e tecnologia.

Pois bem, investir capital pressupõe a celebração de contrato bancário, pelo menos o
de depósito. Para obter insumos, é necessário contratar a aquisição de matéria-prima,
eletricidade ou mercadorias para revender. Articular na empresa o trabalho significa contratar
empregados (CLT), prestadores de serviços autônomos ou empresa de fornecimento de mão
de obra (terceirizada). A aquisição ou criação de tecnologia faz-se por contratos industriais
(licença ou cessão de patente, transferência de know-how). Além desses, para organizar o
estabelecimento, por vezes o empresário loca o imóvel, faz leasing de veículos e
equipamentos, acautela-se com seguro. Ao oferecer os bens ou serviços que produz ou

2
circula, ele igualmente celebra contratos com consumidores ou outros empresários. Ao
conceder crédito, normalmente negocia-o com bancos, mediante descontos ou factoring.

São, enfim, diversos os contratos que os empresários individuais e as sociedades


empresárias celebram no exercício diário de suas atividades econômicas. Estes contratos,
perceba-se, podem ser estritamente empresariais, quando firmados entre empresários – é o
caso do leasing feito entre a indústria e o banco para a aquisição de novas máquinas –, ou
não, caso em que se sujeitarão a disciplina especial – são os casos dos contratos de trabalho
com empregados, dos contratos com consumidores e dos contratos com a Administração
Pública. O Direito Empresarial cuida e trata dos contratos estritamente empresarias.

Um contrato, portanto, será mercantil quando os dois contratantes forem empresários,


ou seja, quando ambos exercerem, profissionalmente, atividade econômica organizada para a
produção ou circulação de bens e serviços (art. 966, CC/02).

Os contratos empresariais podem estar sujeitos ao Código Civil ou ao Código de Defesa


do Consumidor (CDC), dependendo das condições dos contratantes para isso. Se os
empresários são iguais, sob o ponto de vista da condição econômica (quer dizer, ambos
podem contratar advogados e outros profissionais antes de assinarem o instrumento
contratual, de forma que, ao fazê-lo, estão plenamente informados sobre a extensão dos
direitos e obrigações contratados), o contrato empresarial está sujeito ao CC; se desiguais os
contratantes (ou seja, um deles está em situação de vulnerabilidade técnica, econômica ou
jurídica frente ao outro), o contrato empresarial será regido pelo CDC.

Além dessas situações de vulnerabilidade, o STJ tem entendido que um empresário ou


uma sociedade empresária não são considerados consumidores quando adquirem produtos
ou serviços que são utilizados, direta ou indiretamente, na atividade econômica que exercem.
Para o STJ nesses casos há uma relação empresarial, e não uma relação de consumo (AgInt no
REsp 1.216.570/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, j. 13/09/2016, DJe
19/09/2016).

Nesse sentido, é o Enunciado 20 da I Jornada de Direito Comercial do CJF:

3
Enunciado 20, CJF: Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor aos contratos
celebrados entre empresários em que um dos contratantes tenha por objetivo suprir-se
de insumos para sua atividade de produção, comércio ou prestação de serviços.

No entanto, quando o empresário individual ou a sociedade empresária adquirem


produtos ou serviços na qualidade de destinatários finais econômicos deles, o STJ entende
configurada a relação de consumo, aplicando-se o CDC (REsp 1.025.472/SP, Rel. Min. Francisco
Falcão, 1ª Turma, j. 03/04/2008, DJe 30/04/2008 e CC 41.056/SP, Rel. Min. Aldir Passarinho
Junior, Rel. p/ Acórdão Min. Nancy Andrighi, 2ª Seção, j. 23/06/2004, DJ 20/09/2004, p. 181).

O STJ também tem admitido a aplicação do CDC a relações entre empresários quando
fica caracterizada a vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica de uma das partes (AgRg
no AREsp 626.223/RN, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, j. 08/09/2015, DJe
15/09/2015).

Portanto, pode-se concluir que, nas relações entre empresários:

(i) em regra: não se aplica o CDC, porque, geralmente, nenhuma das partes assume
a condição de destinatário final, já que os produtos ou serviços que são utilizados, direta ou
indiretamente, na atividade econômica que exercem;

(ii) em regra: aplica-se o CDC quando uma das partes, ainda que seja um empresário
individual, EIRELI ou sociedade empresária, assuma a condição de destinatário final econômico
do produto ou serviço; e

(iii) excepcionalmente: aplica-se o CDC, ainda que nenhuma das partes seja
destinatária final do bem, mas ostente vulnerabilidade técnica, econômica ou jurídica em
relação à outra.

6.2 Particularidades Principiológicas

Desde a sua formação, passando pela sua execução e até a sua definitiva resolução, o
contrato se submete a uma série de características básicas e princípios norteadores,
atualmente disciplinados pelo Código Civil, dentre os quais se destacam, por exemplo, a boa-
fé objetiva, a força obrigatória e a autonomia da vontade.

No entanto, é necessário atentar para determinadas particularidades relacionadas à

4
aplicação dos princípios no âmbito dos contratos empresariais.

O princípio fundamental da teoria geral do direito contratual é o da autonomia da


vontade das partes contratantes, que assegura às pessoas a liberdade de contratar, desde que
respeitada a chamada função social dos contratos, conforme determina o art. 421 do Código
Civil: “a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do
contrato”. Assim, as partes são livres, em princípio, para (i) escolher com quem vão manter
relações contratuais, (ii) delimitar o que vai ser objeto da relação contratual e (iii) fixar o
conteúdo dessa mesma relação.

Contudo, é importante observar que o ordenamento jurídico, hoje, tem procurado


cada vez mais assegurar o equilíbrio contratual entre as partes contratantes apesar da
autonomia que elas possuem, razão pela qual a própria legislação estipula limites, não raro, à
autonomia da vontade, o que se convencionou chamar de dirigismo contratual.

No entanto, percebe-se clara mitigação de tal dirigismo a partir da edição da


Declaração dos Direitos de Liberdade Econômica que alterou o artigo 421 do Código Civil e
inseriu o art. 421-A no mesmo diploma legal:

Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato.
(Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019)
Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da
intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão contratual. (Incluído pela Lei nº
13.874, de 2019)
Art. 421-A. Os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e simétricos até a
presença de elementos concretos que justifiquem o afastamento dessa presunção,
ressalvados os regimes jurídicos previstos em leis especiais, garantido também que:
(Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
I - as partes negociantes poderão estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação
das cláusulas negociais e de seus pressupostos de revisão ou de resolução; (Incluído pela
Lei nº 13.874, de 2019)
II - a alocação de riscos definida pelas partes deve ser respeitada e observada; e
(Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
III - a revisão contratual somente ocorrerá de maneira excepcional e limitada. (Incluído
pela Lei nº 13.874, de 2019)

Ocorre que no âmbito do direito empresarial, o norte interpretativo deve ser sempre a
autonomia da vontade das partes. Caso contrário, o que se instaura é a insegurança jurídica,
que se manifesta especificamente nas atividades econômicas como um obstáculo ao
desenvolvimento. Portanto, nos contratos empresariais, o dirigismo contratual deve ser

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mitigado, tendo em vista a simetria natural das relações interempresariais.

Atente-se para os seguintes enunciados:

Enunciado 21, CJF: Nos contratos empresariais, o dirigismo contratual deve ser
mitigado, tendo em vista a simetria natural das relações interempresariais.
Enunciado 28, CJF: Em razão do profissionalismo com que os empresários devem
exercer sua atividade, os contratos empresariais não podem ser anulados pelo vício da
lesão fundada na inexperiência.

No que tange ao princípio da atipicidade dos contratos empresarias, pode-se também analisar
o princípio da autonomia da vontade sob outra perspectiva, relativa à possibilidade conferida
às partes para a criação de contratos atípicos, isto é, não compreendidos nas modalidades
típicas expressamente reguladas pelo ordenamento jurídico. Essa possibilidade, frise-se, está
expressamente consagrada no atual Código Civil, em seu art. 425, segundo o qual “é lícito às
partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código”.

De acordo com o princípio do consensualismo ou do consentimento, basta para a


constituição do vínculo contratual o acordo de vontade entre as partes, sendo, pois,
desnecessária qualquer outra condição para que se aperfeiçoe o contrato.

Fogem a essa regra os contratos reais, para os quais, além do consentimento, é


imprescindível, para o aperfeiçoamento da relação contratual, a entrega de uma determinada
coisa. É o que ocorre, por exemplo, no mútuo, no depósito, no comodato etc.

Da mesma forma, fogem à regra da necessidade do mero consentimento das partes os


contratos solenes, que se submetem a formalidades específicas, sem as quais a relação
contratual não se aperfeiçoa.

Segundo o princípio da relatividade dos contratos, entende-se que a relação contratual


produz efeitos somente entre as partes contratantes – bem como aos seus herdeiros, salvo se
o contrato é personalíssimo – e não se estende além do objeto da avença.
6
Tal princípio, entretanto, não é absoluto, existindo algumas exceções quanto à sua
aplicação, ou seja, há contratos que, excepcionalmente, produzem efeitos em relação a
terceiros não vinculados à relação contratual. É o que ocorre, por exemplo, no contrato de
seguro em favor de terceiro.

Teoria da aparência:discussão bastante interessante diz respeito àquelas situações aparentes,


que iludem contratantes de boa-fé. Imagine-se um comerciante que, no decorrer de alguns
anos, tivesse mantido reiteradas negociações com certo atacadista por meio de determinado
representante deste. Rompido o vínculo de representação, sem o conhecimento do
comerciante, os negócios posteriormente realizados por meio do antigo representante
vincularão o atacadista.É o que propõe a teoria da aparência, segundo a qual uma situação
aparente pode gerar obrigações para terceiros quando o contratante, de boa-fé, tinha razões
efetivas para tomá-la por real. Esta teoria é mais comumente aplicada nas hipóteses de
excesso de mandato, continuação de fato de mandato findo, inobservância de diretrizes do
representado pelo representante etc.

Considerando que os contratos só geram direitos e deveres entre as partes


contratantes, salvo em situações excepcionais, cumpre destacar que esses direitos e deveres
assumidos valem como lei entre essas partes. Trata-se da aplicação do princípio da força
obrigatória dos contratos, representado pela conhecida cláusula pacta sunt servanda, implícita
em qualquer relação contratual.

Em outros termos, pode-se dizer ainda que o princípio da força obrigatória tem uma
manifestação especial, relativa à impossibilidade de uma das partes contratantes se retratar ou
alterar, unilateralmente, as condições acordadas. Assim, em consequência da força obrigatória,

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há nos contratos, implicitamente, uma cláusula geral de irretratabilidade e de intangibilidade,
fundamental para a garantia da segurança jurídica das relações contratuais.

Teoria da imprevisão: A teoria da imprevisão, representada pela cláusula rebus sic stantibus,
determina que os direitos e deveres assumidos em um determinado contrato podem ser
revisados se houver uma alteração significativa e imprevisível nas condições econômicas que
originaram a constituição do vínculo contratual. Ocorrendo tal alteração, pode acontecer de o
cumprimento das obrigações contratuais assumidas se tornaremdemasiadamente oneroso para
uma das partes, o que rompe o equilíbrio contratual e autoriza a revisão do contrato. Em
síntese, a cláusula rebus sic stantibus determina que a obrigatoriedade do contrato só deverá
ser observada se as condições existentes no momento da celebração da avença se mantiverem
inalteradas ou, pelo menos, sofrerem alterações que não afetem o equilíbrio contratual.

O princípio da boa-fé, no âmbito doscontratos empresariais, está relacionado, em um


primeiro aspecto, a uma questão de interpretação dos negócios jurídicos. Nesse sentido,
entende-se que não se deve fazer prevalecer, sobre a real intenção das partes, apenas o que
está eventualmente escrito no acordo firmado. Assim, em todos os contratos há certas regras
implícitas, decorrentes da própria natureza da relação contratual firmada.

Mas esse princípio pode ser ainda visualizado sob outro aspecto, o da necessidade de
as partes contratantes atuarem com boa-fé na celebração do contrato, bem como na sua
execução, algo que é defendido há bastante tempo pela doutrina contratualista e que o
Código Civil expressamente consagrou em seu art. 422: “Os contratantes são obrigados a
guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade
e boa-fé”. Este dispositivo incorporou ao ordenamento jurídico-contratual brasileiro, conforme
aponta a doutrina, o chamado princípio da boa-fé objetiva.

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Para finalizar este tópico sobre a teoria geral do direito contratual, importante destacar
a importância da consagração da chamada exceção do contrato não cumprido (exceptio non
adimpleti contractus – arts. 476 e 477 do CC), segundo a qual uma parte contratante não
pode exigir o cumprimento da obrigação da outra parte se não cumpriu também a sua
obrigação respectiva.

Por meio da teoria do adimplemento substancial, defende-se que, se o adimplemento


da obrigação foi muito próximo ao resultado final, a parte credora não terá direito de pedir a
resolução do contrato porque isso violaria a boa-fé objetiva, já que seria exagerado,
desproporcional, iníquo (reconhece-se o adimplemento substancial, por exemplo, quando,
num financiamento de 36 meses, o devedor pagou 30 parcelas ou mais, aproximadamente).

Enunciado 361, CJF: O adimplemento substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer

preponderar a função social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva, balizando a aplicação do art. 475.

6.3 Factoring

Também conhecido como contrato de faturização ou de fomento mercantil, é espécie


de contrato oneroso e bilateral, através do qual o faturizado (cedente) cede ao faturizador ou
factuador (cessionário) os seus créditos provenientes de vendas a prazo, recebendo deste os
respectivos valores, descontada remuneração (fator de compra).

Dentro do factoring está contido uma cessão de crédito, razão pela qual lhe são
aplicáveis os dispositivos correlatos do Código Civil (artigos 286 a 298).

O faturizado não garante o pagamento dos créditos transferidos, correndo por conta do
faturizador os riscos decorrentes da insolvência do devedor dos títulos antecipados.

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Para o faturizado, o contrato é vantajoso, uma vez que maximiza as vendas ao oferecer
a modalidade de venda a prazo, garantindo assim a clientela e propiciando condições para
enfrentamento da concorrência. Também garante o capital de giro, ao possibilitar o
recebimento à vista das vendas a prazo, evita despesas com a cobrança do comprador,
permitindo concentração de forças na atividade objeto do negócio, e repassa à faturizadora os
riscos da inadimplência Inadimplido o título, não é dado a faturizadora o direito de regresso
contra a faturizada, mas tão somente o direito de cobrar do devedor/sacado. Por outro lado, a
faturizada garante afaturizadora contra os riscos de nulidade ou vício do crédito, como nas
hipóteses de evicção ou vícios redibitórios dos bens que vendeu.

A cessão só terá eficácia frente ao devedor/sacado se este for notificado (art. 290, CC).
Se o devedor/sacado, antes de tomar conhecimento da cessão, insciente da operação,
portanto, pagar ao credor primitivo (faturizado), ficará desobrigado frente ao faturizador, o
qual deverá buscar a satisfação do seu crédito junto ao faturizado. São três as principais
modalidades de factoring.

 ”Conventional factoring”(há antecipação de valores): modalidade em que o


faturizador antecipa os valores referentes aos créditos recebidos do faturizado,
assumindo o risco do negócio. É bastante assemelhada ao contrato de desconto
bancário, visto que, em ambos, há transferência de um título em troca do
recebimento antecipado do seu respectivo valor. A diferença entre tais modalidades
contratuais reside no fato de que, no contrato de desconto bancário, o cedente
pode ser acionado pelo banco, em regresso, em caso de inadimplemento por parte
do terceiro devedor.

 “Maturity factoring” (não há antecipação de valores): Nessa modalidade o


faturizador paga os valores ao faturizado em dia determinado, nunca antes do
vencimento dos créditos cedidos. Assim, a remuneração da faturizadora será uma
comissão, considerando que não há juros pelo adiantamento dos pagamentos.

 “Trustee” (acompanhamento dos negócios): Ao lado do contrato de faturização, as


empresas de fomento mercantil prestam o“trustee”, que consiste no
acompanhamento dos negócios dos clientes através da administração de suas

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contas a receber e a pagar, e pela cobrança de títulos resultantes de suas vendas
mercantis ou prestações de serviço.

O Banco Central do Brasil (BACEN) não proíbe a celebração de contratos de faturização


por parte de quem não seja instituição financeira, estando à atividade liberada a qualquer
sociedade empresária, independentemente de autorização. As empresas que operam com
“factoring” não se incluem no âmbito do sistema financeiro nacional, afinal, a faturização não
é operação de crédito.

As empresas que operam com “factoring” não se incluem no âmbito do sistema


financeiro nacional, afinal, a faturização não é operação de crédito.

6.4 Compra e venda mercantil

De acordo com o art. 481 do CC, “pelo contrato de compra e venda um dos
contratantes se obriga a transferir o domínio de coisa certa, e o outro, a pagar-lhe certo preço
em dinheiro”.
O contrato de compra e venda, por si só, não implica em aquisição de propriedade,
gerando apenas obrigações recíprocas (obrigação de pagar o preço e obrigação de transferir
o domínio) – natureza meramente obrigacional. Como a compra e venda caracteriza uma
relação puramente obrigacional, o adquirente apenas adquire a propriedade pela tradição ou
pelo registro em cartório (caso o bem seja móvel ou imóvel, respectivamente). Isso é
importante por dois motivos:
 Teoria dos riscos: a coisa perece para o dono (res peret domino): na medida em
que o contrato, por si só, não transfere a propriedade, o risco corre por conta do
vendedor até que o transfira por meio da tradição.

 Tutela processual da compra e venda por instrumentos obrigacionais: se o


comprador pagou e o vendedor não quer entregar a coisa, não é cabível o manejo
de ações reais, mas apenas pessoais, pois o direito em questão é meramente
obrigacional.

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6.4.1 Classificação do contrato de compra e venda

 Contrato bilateral, já que ambas as partes assumem obrigações;

 Consensual: se aperfeiçoa com a simples manifestação de vontade das partes; não


é, portanto, um contrato solene (a forma não integra a substância desse contrato),
exceto nos casos previstos em lei.

 Oneroso, pois gera vantagens econômicas para ambas as partes.

 Comutativo, o que significa que suas prestações são sabidas.

Em alguns casos, contudo, a compra e venda será aleatória:


a. Compra e venda de coisa incerta
b. Compra e venda a contento ou sujeita à prova
c. Compre a venda de coisa futura O contrato poderá ser:
Emptio spei: é a compra e venda da esperança propriamente dita (esperança quanto à
existência da coisa).
Emptio rei speratae: diz respeito a uma esperança não da existência da coisa, mas sim da
quantidade da coisa adquirida.

6.4.2 Elementos Essenciais

I. Consentimento

As partes precisam ser capazes e a manifestação de vontade livre e


desembaraçada. Havendo vício na manifestação de vontade, o contrato se torna anulável. Em
determinadas hipóteses, o ordenamento exige um requisito específico, a legitimação.
ORLANDO GOMES dizia: a legitimação é um plus na capacidade (é algo a mais, exigido às

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pessoas capazes), um requisito específico para a prática de um ato específico. Exemplos:
necessidade de outorga uxória das pessoas casadas, exceto no regime da separação
obrigatória de bens.
II. Preço

Deve ser sério, idôneo e, principalmente, determinado ou determinável. Tem de ser


expresso em moeda, sob pena de configurar troca ou permuta. A indeterminabilidade absoluta
do preço ou o arbítrio exclusivo de uma das partes, na sua fixação, torna nulo o contrato.
Permite o CC que o preço esteja submetido a taxa de mercado, bolsa de valores ou índices
econômicos (arts. 486 e 487). O preço também pode ser indicado por terceiro (as partes
podem convencionar neste sentido). O preço atrai o direito à informação.
O preço deve ser indicado em moeda brasileira. Só existem dois casos em que o preço
pode estar submetido a moeda estrangeira:
a) Produtos ou serviços originados de importação
b) Compra e venda feita no exterior
Na forma do art. 315 do CC-02, todo preço, toda e qualquer venda em dinheiro está
submetido ao princípio do nominalismo, pelo qual toda dívida em dinheiro deve ser paga pelo
seu valor nominal (o STJ pacificou que ele contempla a correção monetária).
A depender do momento em que o preço se torne injusto, estará afetada a validade ou
a eficácia do contrato:
i) Se o preço era injusto no momento da celebração do contrato, estará afetada a
validade, havendo anulabilidade (relação comum) ou nulidade (se a relação for de consumo).
ii) Se o preço se tornar injusto depois da formação do contrato, afeta a eficácia do
contrato. Neste caso, a hipótese será de revisão ou resolução contratual.

III. Coisa (qualquer bem alienável - móvel, imóvel, corpóreo ou incorpóreo, etc).

Exige-se que a coisa seja economicamente apreciável. Só não podem ser objeto da
compra e venda bens personalíssimos, herança de pessoa viva e coisas fora do comércio
(chamados de bens clausulados – inalienabilidade, incomunicabilidade e impenhorabilidade). O
art. 1911, CC dispõe que a cláusula de inalienabilidade gera a presunção da existência das

13
demais; a recíproca, contudo, não é verdadeira. O art. 1848, CC permite que o juiz da vara de
registros públicos promova o levantamento da cláusula.

Na venda de bem litigioso, não incide a garantia da evicção.


A venda a non domino é a venda de um bem que não pertence ao devedor. Nesse
caso, a eficácia do negócio fica condicionada a aquisição superveniente da coisa.
Quando a compra e venda tiver por objeto um bem incorpóreo, é dada a ela o nome
de cessão onerosa.

6.4.3 Efeitos da Compra e venda

O efeito da compra e venda é a responsabilidade civil do vendedor:


i. Vícios redibitórios, sob pena de ação edilícia  trata-se de ação de natureza
constitutiva-negativa. São espécies de ações edilícias:
a) Ação redibitória: objetiva enjeitar a coisa, ou seja, devolvê-la.
b) Ação estimatória ou (quanti minoris): o comprador objetiva ficar com o bem e
obter o abatimento do preço.
c) Ação ex empto: é ação para retificação de área.
ii. Evicção: é a responsabilidade que se impõe ao alienante pela perda da coisa
adquirida pela adquirente em decorrência de uma decisão judicial ou administrativa em favor
de um terceiro.

Art. 125. É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes:
I - ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao
denunciante, a fim de que possa exercer os direitos que da evicção lhe resultam;

14
II - àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação
regressiva, o prejuízo de quem for vencido no processo.
§ 1º O direito regressivo será exercido por ação autônoma quando a denunciação da
lide for indeferida, deixar de ser promovida ou não for permitida.
§ 2º Admite-se uma única denunciação sucessiva, promovida pelo denunciado, contra
seu antecessor imediato na cadeia dominial ou quem seja responsável por indenizá-lo,
não podendo o denunciado sucessivo promover nova denunciação, hipótese em que
eventual direito de regresso será exercido por ação autônoma.

Depreende-se desse artigo que, após o CPC/2015, a denunciação à lide não é mais
obrigatória, podendo o evicto demandar, posteriormente, ação regressiva contra o alienante.
Ademais, não são mais permitidas denunciações sucessivas, permitindo-se apenas que ocorra
uma vez.
Deve-se observar, ainda, que não há mais previsão da denunciação per saltum,
percebam que o inciso I apenas prevê denunciação ao alienante imediato, não mais a
qualquer dos anteriores.

iii. Riscos do perecimento da coisa (res perit domino). O vendedor se responsabiliza


pela perda não culposa da coisa antes da tradição.
iv. Responsabilidade pelas despesas da compra e venda. Correm por conta do
vendedor as despesas da tradição, e por conta do comprador as despesas do registro, salvo
disposição em contrário.

6.4.4 Situações Específicas da Compra e Venda

i. Compra e venda por amostra (art. 484 do CC)


a) O vendedor se responsabiliza pela qualidade do objeto, que deve ser correspondente
à amostra/protótipo/modelo.
b) Havendo divergência entre a amostra e a coisa, prevalece a amostra.
ii. Compra e venda ad corpus e ad mensuram
Ad corpus é a venda de uma coisa tomada pelo todo, ou seja, considerada sua
inteireza. Já a compra e venda ad mensuram é a venda da coisa por medida. Se a venda é ad
mensuram, o vendedor se responsabiliza pela extensão da coisa, sendo cabível a chamada
ação ex emptio(ação de complementação de área). Não cabe ação edilícia para reclamar
15
medida (venda ad mensuram) quando a diferença encontrada não for superior a 1/20 da área
total enunciada (5%).

6.4.5 Cláusulas acessórias/especiais

Devem ser expressas e são meramente exemplificativas.

I. Retrovenda (art. 505 do CC)

Retrovenda é a cláusula acessória expressa pela qual o vendedor reserva a si e a seus


sucessores o direito de recomprar o IMÓVEL de volta, no prazo máximo de 3 anos (prazo
decadencial), pagando o preço tanto por tanto.
O valor tanto por tanto inclui: i) o valor do negócio; ii) as despesas do registro; iii) a
indenização pelas benfeitorias úteis e necessárias (pois realizadas por possuidor de boa-fé); iv)
indenização pelas acessões.
A retrovenda estabelece um caso típico de propriedade resolúvel, pois durante o prazo
máximo de 3 anos, a qualquer momento, a propriedade do comprador pode se extinguir,
quando o vendedor exercer o seu direito de retrovenda.
Registre-se que a retrovenda é direito potestativo do vendedor. Trata-se de uma
condição resolutiva de propriedade, pois se o vendedor quiser recomprar, extingue-se
automaticamente a propriedade do vendedor.
Apesar de a retrovenda possuir natureza obrigacional, ela produz efeitos em relação a
terceiros (oponibilidade erga omnes). Essa cláusula, portanto, tem eficácia real, na medida em
que vincula a terceiros e permite ao vendedor exercer seu direito potestativo contra quem
eventualmente adquiriu a coisa do comprador. Exatamente por isso, toda cláusula de
retrovenda precisa ser expressa e registrada.

II. Cláusula de preferência (preempção ou prelação)

Cuida-se da cláusula acessória que obriga o comprador a ofertar o bem primeiramente


a quem lhe vendeu, quando resolver vendê-lo. A natureza desse direito de preferência é
meramente obrigacional.
O prazo máximo de vigência do direito de preferência é de:

16
a) 180 dias: Se o bem é móvel.
b) 2 anos: Se imóvel.
c) Já o prazo que se confere a quem vendeu para que diga se vai querer ou não
exercer o dinheiro de preferência – 3 dias se móvel e 60 dias se imóvel.

III. Cláusula de reserva de domínio

Cláusula de reserva de domínio é aquela pela qual o vendedor reserva para si a


propriedade do bem, enquanto o preço não for integralmente pago.
Nos termos do art. 521 do CC, a cláusula de reserva de domínio é exclusiva para coisa
móvel. Ocorre que a Lei 9.514/97 expressamente prevê a alienação fiduciária sobre bem
imóvel, razão pela qual, fazendo-se uma interpretação sistêmica, é perfeitamente possível a
cláusula de reserva de domínio sobre bem imóvel.

IV. Venda a contento (ad gustum) e venda sujeita a prova (arts. 509 e 510)

A venda a contento e a venda sujeita à prova são vendas que submetem os efeitos do
negócio a uma condição suspensiva, qual seja, o agrado/gosto do comprador.

V. Pacto de melhor comprador (não tem previsão no CC)

O pacto de melhor comprador é uma cláusula acessória que torna o negócio resolúvel,
porque permite ao vendedor desfazer o negócio no prazo máximo de um ano, se encontrar
proposta mais vantajosa.

VI. Pacto comissório (não tem previsão no CC)

A doutrina também alude ao pacto/cláusula comissório. Cuida-se da cláusula que


permite o desfazimento do contrato, pelo descumprimento do dever de pagar o preço pelo
comprador.

17
6.5 Franchising

Também conhecido como contrato de franqueamento ou franquia, é espécie de


contrato oneroso e bilateral em que uma das partes (franqueador) cede à outra (franqueado)
o direito de comercializar produtos ou marcas de sua propriedade (geralmente já consagradas
no mercado), mediante remuneração previamente ajustada, sem que estejam ligadas por um
vínculo de subordinação. O contrato era regido pela Lei 8.955/94, revogada pela Lei nº 13.966,
de 26.12.2019.
Nessa modalidade contratual, há cessão do aviamento empresarial, permitindo que o
empresário, em lugar de desenvolver um aviamento próprio, contrate a sua cessão jurídica. O
franqueador é o titular do aviamento, tendo, como obrigação inerente a sua posição
contratual, o dever de zelar pelo aperfeiçoamento e evolução positiva do franqueado.
Conforme art. 1º da Lei nº 13.966/2019, franquia empresarial é o sistema de franquia
empresarial, pelo qual um franqueador autoriza por meio de contrato um franqueado a usar
marcas e outros objetos de propriedade intelectual, sempre associados ao direito de produção
ou distribuição exclusiva ou não exclusiva de produtos ou serviços e também ao direito de uso
de métodos e sistemas de implantação e administração de negócio ou sistema operacional
desenvolvido ou detido pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta, sem
caracterizar relação de consumo ou vínculo empregatício em relação ao franqueado ou a seus
empregados, ainda que durante o período de treinamento.
O franqueador fica obrigado, por exemplo, a disponibilizar os produtos, garantir a
exclusividade de exploração sobre determinada área quando prevista em contrato (um
shopping center, um bairro, uma cidade), entregar ao franqueado a Circular de Oferta de
Franquia (COF), oferecer assistência técnica e, muitas vezes, publicidade, etc., tudo nos termos
do convencionado.

18
A respeito da Circular de Oferta de Franquia, a Lei 13.966/2019 trouxe as seguintes
disposições:
 Relação dos franqueados:o COF deve conter o contato de todos os franqueados
da rede, incluindo os que a deixaram dos últimos 24 meses;

 Regras de concorrência: o franqueador deve especificar as principais regras de


concorrência da rede. Com isso, deve estipular a área de atuação, se há
exclusividade e etc. para unidades próprias e franqueadas;

 Valores de investimento: o documento deve conter a estimativa de todos os


valores de investimento com os quais o franqueado terá que arcar. Isso inclui valor
da taxa de franquia, entre outras.

 Questões de sucessão: obrigação de esclarecimento de regras para transferência do


contrato, caso seja possível e quais as políticas a serem seguidas para este caso;

 Atribuições ao contrato: ou seja, informações sobre validade de contrato. Isso


inclui quais os procedimentos a serem realizados em caso de prazo determinado e
as punições se houver descumprimento das regras;

 Estabelecimento de cotas: o franqueador deve informar ao franqueado se há cotas


mínimas de compras e em quais situações o investidor poderá recusar a cota;

 Conselhos ou associações: o contrato deve estipular se a rede detém um conselho


ou associação de franqueados;

 Treinamento: as especificações de treinamentos passam a ser obrigatórias,


necessitando informar duração, conteúdo e custos.

19
O franqueado, por sua vez, deverá pagar ao franqueador a remuneração ajustada,
adquirir os seus produtos ou serviços, atuar com exclusividade e seguir as instruções daquele
quanto à comercialização dos bens, etc., conforme o conteúdo do contrato.
Em regra, o franqueador recebe uma remuneração inicial a título de filiação do
franqueado (conhecida como entrada ou taxa de franquia) e um valor periódico (chamado de
taxa periódica de franquia ou royalties), que pode ser uma quantia determinada ou mesmo
um percentual sobre os lucros obtidos. Pode ser prevista ainda uma taxa de publicidade, que
permite a formação de um fundo comum para desenvolvimento de estratégias publicitárias
comuns.
A independência do franqueado constitui uma das principais características do contrato
de franquia, uma vez que o franqueado não guarda qualquer relação de subordinação frente
ao franqueador, inexistindo vínculo empregatício. Desse modo, a franqueada possui autonomia
jurídica, administrativa e financeira. Franqueador e franqueado têm personalidadesjurídicas
distintas, com existência própria e patrimônio jurídico próprio, embora contratualmente
vinculados em relação ao objeto do contrato de franquia.
A locação do ponto pode ser feita pelo franqueador, colocando o franqueado como
sublocador. Desse modo, caso o franqueado se retire, o ponto continuará em posse do
locador original. Nesse estado, o aluguel pode ser pago tanto por locador quanto pelo
sublocador.
Não obstante o exposto, embora os membros dessa rede (franqueador e franqueado)
sejam independentes entre si, atuam como unidade, já que, para o mercado consumidor,
exibem-se pela identidade comum da rede. Nesse sentido, pode-se sustentar que dita
autonomia é relativa, haja vista depender o franqueado da estrutura fornecida pelo
franqueador para a manutenção de sua padronização.
Sempre que o empresário estiver interessado em conceder franquia, deverá fornecer ao
interessado em tornar-se franqueado a chamada Circular de Oferta de Franquia (COF),
documento que deverá conter os dados previstos no art. 2º da Nova Lei de Franquias.
A Circular de Oferta de Franquia deverá ser entregue ao candidato a franqueado no
mínimo 10 dias antes da assinatura do contrato ou pré-contrato de franquia ou ainda do
pagamento de qualquer tipo de taxa pelo franqueado ao franqueador.

20
Na hipótese de não cumprimento do disposto no § 1º, o franqueado poderá arguir
anulabilidade ou nulidade, conforme o caso, e exigir a devolução de todas e quaisquer
quantias já pagas ao franqueador, ou a terceiros por este indicados, a título de filiação ou de
royalties, corrigidas monetariamente.
A extinção do contrato de franquia pode se dar pelo término do prazo avençado, por
livre acordo entre as partes ou pelo descumprimento de cláusula contratual.
Em caso de estabelecimento de um contrato internacional, o franqueador tem a
obrigação de o prover traduzido na língua portuguesa. A lei prevê que nos contratos
internacionais a rede obtém deveres jurídicos em ambos os países. Portanto, a parte
domiciliada no exterior deve deter representante legal com pleno poder para a representar
administrativamente e judicialmente.

6.6 Leasing

Regulado pela Lei nº 6.099/74, o arrendamento mercantil ou “leasing” é contrato


oneroso e bilateral, segundo o qual uma pessoa jurídica (arrendador) arrenda a uma pessoa
física ou jurídica (arrendatário), por tempo determinado e mediante o pagamento de
prestações periódicas, um bem comprado pela primeira de acordo com as indicações da
segunda, cabendo ao arrendatário a opção de adquirir o bem arrendado ao final do contrato,
mediante o pagamento de um preço residual previamente acertado.
Portanto, trata-se de contrato cuja finalidade é permitir ao arrendatário o uso de certo
bem, sem que tenha que arcar com seu preço total. Assim, incumbirá ao arrendador à
aquisição da propriedade daquele bem móvel ou imóvel que interessa ao arrendatário, ao
qual será transferida a sua posse direta, garantindo-lhe o livre uso, mediante pagamento
periódico de certo valor, e com a opção ao final de: 1) compra do bem; 2) devolução do bem;
ou 3) renovação do contrato (é a chamada tríplice opção, característica mais marcante do
contrato de arrendamento mercantil).
Durante a vigência do contrato, a propriedade do bem arrendado permanece em nome
do arrendador.
O leasing financeiro é a modalidade pura de arrendamento mercantil, que envolve três
partes. O arrendatário indica o bem a ser comprado e fará uso do objeto mediante o
pagamento de prestações periódicas, com opção final de compra, renovação ou devolução,
21
podendo ser pessoa física ou pessoa jurídica. O arrendador compra o bem e o cede em
arrendamento ao arrendatário. O fornecedor é aquele de quem o arrendador adquire o bem.
O leasing operacional é a espécie de arrendamento em que o bem objeto do contrato
já pertence à arrendadora, que o cede em arrendamento ao arrendatário. O lease back ou
leasing de retorno, a seu turno, é aquele no qual o proprietário de um bem o vende ao
arrendador, que por sua vez, o arrenda ao antigo proprietário. Esse tipo de contrato é
realizado quando o arrendatário está precisando de capital de giro. De acordo com as normas
do BACEN, o arrendamento mercantil somente pode ser contratado por companhias ou por
instituições financeiras que tenham sido previamente autorizadas.
O Superior Tribunal de Justiça, no mês de maio de 2003, cancelou a Súmula 263,
segundo a qual os contratos de leasing que preveem cobrança antecipada do Valor Residual
Garantido – VRG ficam descaracterizados. De acordo com dita súmula, esse tipo de contrato
deveria ser entendido como uma compra e venda, já que a cobrança antecipada do resíduo
tornava a compra obrigatória. Para aos Ministros do STJ, a opção de compra só estaria
garantida se o valor residual fosse cobrado ao final do contrato e não acrescido das
prestações pagas mensalmente. Ao cancelar a súmula, portanto, entenderam que deve vigorar
o princípio da livre convenção entre as partes.
Assim, hoje, o valor residual garantido pode ser cobrado a qualquer momento sem
descaracterizar o leasing, ou, nos termos da Súmula 293 do STJ, que diz que a cobrança
antecipada do valor residual garantido não descaracteriza o contrato de arrendamento
mercantil.

LEASINGFINANCEIRO LEASING DE RETORNO


LEASINGOPERACIONAL
Previsto no art. 5º da (LEASE BACK)
Previsto no art. 6º da
Resolução 2.309/96 – Sem previsão na Resolução
Resolução 2.309/96 – BACEN
BACEN 2.309/96 – BACEN

É a forma típica e clássica do Ocorre quando a arrendadora Ocorre quando determinada


leasing. já é proprietária do bem e o pessoa, precisando se
Ocorre quando uma pessoa aluga ao arrendatário, capitalizar, aliena seu bem à
jurídica (arrendadora) compra comprometendo-se também a empresa de leasing, que

22
o bem solicitado por uma prestar assistência técnica em arrenda de volta o bem ao
pessoa física ou jurídica relação ao maquinário. antigo proprietário a fim de
(arrendatária) para, então, Aqui, a LOCAÇÃO desponta que ele continue utilizando a
alugá-lo à arrendatária. como negócio jurídico coisa.
Aqui, prepondera o SERVIÇO principal. Em outras palavras, a pessoa
de intermediação de crédito. vende seu bem e celebra um
contrato de arrendamento
com o comprador,
continuando na posse direta.

Ex.: determinada empresa Ex.: a Boeing Capital Ex.: em 2001, a Varig, a fim
(arrendatária) quer utilizar Corporation (arrendadora) de se recapitalizar, vendeu
uma nova máquina em sua celebra contrato de algumas aeronaves à Boeing
linha de produção, mas não arrendamento para alugar 5 e os alugou de volta por
tem recursos suficientes para aeronaves à GOL meio de um contrato de
realizar a aquisição. Por esse (arrendatária) a fim de que lease back.
motivo, celebra contrato de esta utilize os aviões em seus O nome completo desse
leasing financeiro com um voos. A arrendadora também negócio jurídico, em inglês, é
Banco (arrendador), que ficará responsável pela sale and lease back (venda e
compra o bem e o arrenda manutenção dos aviões. arrendamento de volta).
para que a empresa utilize o
maquinário.

Normalmente, a intenção da Normalmente, a intenção da Em geral, é utilizado como


arrendatária é, ao final do arrendatária é, ao final do uma forma de obtenção de
contrato, exercer seu direito contrato, NÃO exercer seu capital de giro.
de compra do bem. direito de compra do bem.

23
6.7 Alienação Fiduciária

Habitualmente vinculado ao contrato de mútuo, trata-se de espécie contratual que


possibilita aquisição de um bem móvel ou imóvel por uma pessoa que, querendo adquiri-lo,
não quer ou não conta com as condições necessárias para sua compra à vista.
O adquirente recebe o bem do comprador, ficando com sua posse para que dele se
utilize, comprometendo-se a pagar parceladamente o valor acordado ao credor, que deterá a
propriedade resolúvel do bem. Caso o devedor pague a dívida, tomará o domínio pleno do
bem. Caso se torne inadimplente, o bem será vendido pelo credor para que possa ser
ressarcido.
Nada impede que o fiduciante já seja proprietário do bem. Nesse caso, precisando de
recursos, contrata com o fiduciário no sentido de passar a este a propriedade fiduciária do
bem, para, em contrapartida, receber determinado valor, devendo este ser devolvido em
parcelas. Nesse sentido a Súmula 28 do STJ: “O contrato de alienação fiduciária em garantia
pode ter por objeto bem que já integrava o patrimônio do devedor”.
A natureza bancária do contrato de alienação fiduciária é discutível. Apesar de sua
considerável utilização, sobretudo, por empresários que exploram a atividade bancária, os
demais empresários também podem celebrá-lo. Exemplo: consórcios de automóveis.

6.8 Contratos de Colaboração

O contrato de colaboração define-se por uma obrigação particular, em que um dos


contratantes (colaborador), assume, em relação aos produtos e serviços do outro (fornecedor),
a obrigação de criação ou ampliação do mercado.
Fábio Ulhoa Coelho explica que são duas as formas de colaboração empresarial no
escoamento de mercadorias. Na primeira, um dos empresários contratantes (o colaborador)
compra, em circunstâncias especiais, a mercadoria fabricada ou comercializada pelo outro (o
fornecedor) para revendê-la.
Nesse grupo, inserem-se os contratos de distribuição-intermediação e de concessão
mercantil. O distribuído ou o concedente vendem seus produtos, respectivamente, ao
distribuidor ou ao concessionário, e estes, por sua vez, os revendem aos consumidores. Tal
primeira modalidade de articulação de esforços empresariais realiza-se por intermediação, isto

24
é, as partes do contrato de colaboração ocupam elos distintos da cadeia de circulação de
mercadorias.
Já na segunda forma de colaboração, os contratantes não realizam contratos de compra
e venda mercantil; o colaborador busca empresários interessados em adquirir as mercadorias
fabricadas ou comercializadas pelo fornecedor. É o caso dos contratos de mandato, comissão
mercantil, agência, distribuição-aproximação e representação comercial autônoma. Tomando-
se este último como exemplo: a compra e venda mercantil é realizada entre o representado e
o terceiro, cujo interesse no negócio foi motivado ou identificado pela modalidade de
colaboração empresarial, esta não se manifesta pela intermediação econômica, mas por
aproximação, ou seja, só uma das partes (o mandante, comitente ou representado) é elo da
cadeia de circulação de mercadorias.1

CONTRATOS DE COLABORAÇÃO EMPRESARIAL

Colaboração por Intermediação Colaboração por Aproximação

Colaborador ocupa um dos elos da Colaborador e fornecedor não


cadeia produtiva, adquirindo o produto e realizam contrato de compra e venda, pois
revendendo: aquele apenasprocura empresários
O fornecedor não realiza contrato de interessados em adquirir produtos ou serviços
compra e venda diretamente com o oferecidos por esse.
varejista ou o consumidor final. Quem contrata a comprae venda com
Fornecedor e consumidor ocupam o fornecedor é o interessado localizado pelo
elos distintos da cadeia produtiva. (venda colaborador
indireta). Somente uma das partes (mandante,
Não há comissão, pois a comitente ou representado) é o elo da
remuneração advém do lucro obtido com cadeia de circulação de mercadorias. O
a revenda do produto por preço superior colaborador recebe comissão.
ao adquirido.

1
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. V. 3, 8. ed., São Paulo, Saraiva, 2008, p. 93 e 94
25
6.8.1 Agência ou Representação Comercial

Trata-se de uma espécie de contrato oneroso e bilateral, em que uma das partes (o
representante comercial), que deve ser um empresário (pessoa física ou jurídica), se obriga,
mediante remuneração, a angariar, com habitualidade, negócios mercantis, como a compra e
venda deprodutos fabricados ou comercializados pelo representado em uma zona geográfica
delimitada, inexistindo entre eles vínculo de subordinação.
Nos termos do art. 710 do Código Civil, pelo contrato de agência, uma pessoa assume,
em caráter não eventual e sem vínculo de dependência, a obrigação de promover, à conta da
outra, mediante retribuição, a realização de certos negócios, em zona determinada.
Para Rubens Requião, o representante comercial é a pessoa que, “em caráter
profissional, realiza, numa determinada zona, os atos de comércio peculiares à promoção e
conclusão de negócios por conta e em nome de uma ou mais empresas. Na concepção do
autor, “o reconhecimento da legitimidade da representação nos atos jurídicos, fundamenta o
instituto da representação comercial, pois constitui um imperativo de ordem prática
imprescindível nas normais relações jurídicas na sociedade moderna.”2.
Humberto Theodoro Júnior adverte que não é correto o entendimento no sentido de
que o artigo 710 do Código Civil disciplinou

tanto a representação comercial como a concessão comercial. O dispositivo cuidou


exclusivamente do contrato de agência, como negócio que anteriormente se
denominava contrato de representação comercial. A distribuição de que cogita o art. 710
é aquela que, eventualmente, pode ser autorizada ao agente, mas nunca como revenda,

2
REQUIÃO, Rubens. Aspectos jurídicos da representação comercial. Dissertação (Livre Docência). Curitiba, 1950. 64 f.
Faculdade de Direito, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1950, p. 57.
26
e sempre como simples ato complementar do agenciamento. Dentro da sistemática da
preposição que é inerente ao contrato de agência, as mercadorias de propriedade do
comitente são postas à disposição do agente-distribuidor para entrega aos compradores,
mas tudo se faz em nome e por conta do representado.3

Segundo o art. 31 da Lei 4.886/1965, a exclusividade de representação não se presume,


podendo o representado, portanto, contratar uma ou mais representantes. O art. 711 do CC,
contudo, derrogando disposição daquele artigo, oferece uma solução distinta, fazendo
presumir a exclusividade.
Segundo ele, a ausência de exclusividade está circunscrita aos negócios de natureza
diversa, pois, a menos que haja disposição em contrário, não pode o representado constituir
mais de um agente (1), ao mesmo tempo (2) para atuar na mesma zona (3) e com idêntica
incumbência (4), assim como o agente não pode assumir o encargo de tratar de negócios do
mesmo gênero (considerado mesmo gênero quando houver conflito de interesses), de
diferentes proponentes, na mesma zona. Neste sentido, importante ainda salientar que não há
vedação a intermediação pelo representante de negócios de outras empresas, se diferentes os
ramos de negócio.
Não há vínculo de subordinação do representante em relação ao representado.
Portanto, faculta-se a contratação de representantes comerciais sem vínculo empregatício, ou
seja, pessoas naturais ou jurídicas cuja função é mediar à realização de negócios, agenciando
propostas ou pedidos e transmitindo-os ao representado.
O representante comercial autônomo deve ser registrado no órgão profissional
correspondente, ou seja, o Conselho Regional dos Representantes Comerciais, ficando sujeito
a regras éticas e técnicas elaboradas por esse Conselho. Se for pessoa jurídica, deve ser
também registrado na JC.
Segundo previsão do art. 31 da Lei 4.886/65, a remuneração devida ao representante é
uma comissão, em percentual ajustado entre as partes, sobre o valor total dos produtos que
tenham sido negociados com a sua intermediação. É a chamada cláusula de sucesso, segundo
a qual a participação do representante acompanha o sucesso da representada na área de
representação (ainda que não tenha efetivamente interferido na sua realização, salvo ajuste em
contrário, conforme ensina o art. 714 do CC).

3
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Do Contrato de agência e distribuição no novo Código Civil. Re-vista dos tribunais. São Paulo:
RT, v. 92, n. 812, p. 22 a 40, jun., 2003, p. 34
27
Se o representado, sem justa causa, cessar o atendimento das propostas ou reduzi-las
tanto que se torne antieconômica a continuação do contrato, terá o agente direito a uma
indenização (art. 715, CC), cujo patamar mínimo é de 1/12 (um doze avos) do total da
retribuição auferida durante o tempo em que exerceu a representação. Também fará o
representante jus à remuneração, se o negócio deixar de ser realizado por fato imputável ao
representado, ou em virtude de força maior (arts. 716 e 719, CC).
Se dispensado sem justa causa, terá o representante direito a ser remunerado pelos
serviços úteis prestados, debitados os valores dos eventuais prejuízos que tenha causado (art.
717, CC).
Salvo estipulação em contrário, o representante comercial custeia as próprias despesas.
Sendo assim, nos termos do art. 713 do CC, todas as despesas com a agência correm a cargo
do agente, salvo estipulação em contrário. O trabalho em si que é remunerado, mas sim o seu
resultado.

6.8.2 Distribuição

O contrato de distribuição é aquele em que uma pessoa assume, em caráter não


eventual e sem vínculos de dependência, a obrigação de promover, à conta de outra,
mediante retribuição, a realização de certos negócios, em zona determinada, dispondo, neste
caso, o próprio agente da coisa a ser negociada (essa disposição da coisa diferencia esse
contrato do contrato de agência).
O parágrafo único do artigo 710 estabelece que o proponente pode conferir poderes
ao agente para que este o represente na conclusão dos contratos. Neste caso, fica
caracterizado o contrato de representação comercial que é regulado pela Lei 4.886/65.
O agente atua como promotor de negócios em favor de uma ou várias empresas em
determinada praça. Não se trata de corretor pois não conclui o negócio. Não é mandatário,
nem procurador. O proponente pode conferir poderes ao agente para que este o represente
na conclusão dos contratos.
Salvo ajuste, o proponente não pode constituir, ao mesmo tempo, mais de um agente,
na mesma zona, com idêntica incumbência; nem pode o agente assumir o encargo de nela
tratar de negócios do mesmo gênero, à conta de outros proponentes.

28
O agente, no desempenho que lhe foi cometido, deve agir com toda diligência, atendo-
se às instruções recebidas do proponente.
Salvo estipulação diversa, todas as despesas com a agência ou distribuição correm a
cargo do agente ou distribuidor.
Salvo ajuste, o agente ou distribuidor terá direito à remuneração correspondente aos
negócios concluídos dentro de sua zona, AINDA QUE SEM A SUA INTERFERÊNCIA. A
remuneração será devida ao agente também quando o negócio deixar de ser realizado por
fato imputável ao proponente. Se o agente não puder continuar o trabalho por motivo de
força maior, terá direito à remuneração correspondente aos serviços realizados, cabendo esse
direito aos herdeiros no caso de morte.
O agente ou distribuidor tem direito à indenização se o proponente, sem justa causa,
cessar o atendimento das propostas ou reduzi-lo tanto que se torna antieconômica a
continuação do contrato. Ainda que dispensado por justa causa, terá o agente direito a ser
remunerado pelos serviços úteis prestados ao proponente, sem embargo de haver este perdas
e danos pelos prejuízos sofridos.
Se a dispensa se der sem culpa do agente, terá ele direito à remuneração até então
devida, inclusive sobre os negócios pendentes, além das indenizações previstas em lei especial.
Se o contrato for por tempo indeterminado qualquer das partes poderá resolvê-lo,
mediante aviso prévio de 90 (noventa) dias, desde que transcorrido prazo compatível com a
natureza e o vulto do investimento exigido do agente. No caso de divergência entre as partes,
o juiz decidirá da razoabilidade do prazo e do valor devido.
Não se aplicam analogicamente as leis 4.886/65 e 6.729/76, que disciplinam,
respectivamente, os contratos de representação comercial e as relações entre os produtores e
distribuidores de veículos aos contratos de concessão comercial; deve-se aplicar as normas de
direito civil (REsp 513.048, j. 16.03.2010, 4ª T.) Aplicam-se ao contrato de agência e
distribuição, no que couber, as regras concernentes ao mandato (CC, artigos 653 a 692) e à
comissão (CC, artigos 693 a 709) e as constantes de lei especial.

6.8.3 Corretagem

César Augusto de Castro Fiúza explica que:

29
corretagem é o contrato pelo qual uma pessoa encarrega outra de angariar-lhe
negócios, mediante remuneração. Em simples palavras, essa seria a definição. Na
verdade, o corretor servirá como intermediário, agenciando negócios para o comitente e
recebendo, por isso, certo percentual. É o caso dos corretores de imóveis e dos
corretores de títulos e valores mobiliários, tais como ações.”

Regulado pelo art. 722 do Código Civil, o contrato de corretagem é aquele em que um
agente comete a outrem a obtenção de um resultado útil de certo negócio, esperando-se que
o corretor faça aproximação entre um terceiro e o comitente;
A natureza jurídica do contrato de corretagem é de contrato bilateral, acessório,
consensual, oneroso e aleatório:
 bilateral, porque dele emergem obrigações para ambas as partes, embora possa
também onerar apenas uma delas;

 acessório, porque serve de instrumento para conclusão de outro negócio, tratando-


se de contrato preparatório com universo negocial amplo;

 consensual, porque depende unicamente do consentimento, sem outro


procedimento;

 de forma livre, a regra geral é não depender o contrato de corretagem de forma,


podendo ser verbal ou escrito;

 oneroso, porque pressupõe eventual remuneração do corretor;

 aleatório, porque depende de acontecimento falível para que essa remuneração


seja exigível, qual seja, a concretização do negócio principal, subordinando-se ao
implemento de condição suspensiva.

Na corretagem, existe uma obrigação de resultado que condiciona o direito à


remuneração (art. 725). Os corretores oficiais são aqueles investidos de ofício público,
disciplinado por lei, assim se colocam os corretores de mercadorias, de navios, de operação de
câmbio, de seguros, de valores em Bolsa etc., todos com regulamentação particular; –
corretores livres são os que exercem a intermediação sem designação oficial, podendo, nesse
caso, atuar todos os que estejam na plenitude de sua capacidade civil.

30
A profissão de corretor de imóveis, por exemplo, é disciplinada pela Lei n o 6.530/78,
regulamentada pelo Decreto n o 81.871/78; – o exercício da profissão de corretor de imóveis é
deferido ao possuidor de título técnico em transações imobiliárias, inscrito no Conselho
Regional de Corretores de Imóveis (Creci) da jurisdição.

6.8.4 Concessão Mercantil

É contrato no qual um empresário (concessionário) se obriga a comercializar, com ou


sem exclusividade, com ou sem cláusula de territorialidade, os produtos fabricados por outro
empresário (concedente). Disciplina apenas a concessão comercial referente ao comércio de
veículos automotores terrestres, como os automóveis, caminhões, ônibus, tratores,
motocicletas e similares, sendo regulada pela Lei Ferrari Lei 6.729/70.
Quando tem por objeto o comércio de qualquer outra mercadoria, a concessão
comercial é um contrato atípico, ou seja, não sujeito a uma determinada disciplina legal,
sendo também chamado de “contrato de distribuição”.
O concedente se obriga a permitir, gratuitamente, o uso de suas marcas pelo
concessionário; vender ao concessionário os veículos de sua fabricação na quantidade prevista
no contrato; não vender, diretamente, os veículos de sua fabricação na área operacional de
uma concessionária, salvo, a título de exemplo, à Administração Pública e ao Corpo
Diplomático.
O concessionário se obriga a respeitar a cláusula de exclusividade, se houver, não
comercializando com nenhum outro veículo senão os fabricados pelo concedente; comprar do
concedente os veículos na quantidade prevista no contrato, entre outras obrigações
estipuladas. Em matéria de acessórios, pode o concessionário comercializar livremente os
produtos que considerar comercialmente interessantes.
Os preços dos veículos ao consumidor são fixados pelo concessionário, e não pelo
concedente.

6.8.5 Comissão Mercantil

Regido pelo Código Civil entre os arts. 693 e 709, é espécie contratual em que um dos
contratantes (comissário) adquire ou vende bens em nome próprio e sob sua
responsabilidade, mas por ordem e conta (em proveito) de um terceiro (comitente).Segundo o
31
mencionado art. 693, “o contrato de comissão tem por objeto a aquisição ou a venda de bens
pelo comissário, em seu próprio nome, por conta do comitente”4.
Nota-se, portanto, que quem se obriga para com terceiros com quem contrata (CC, art.
693) é o comissário,assumindo a responsabilidade em caso de insolvência do comitente.
.5 Observe-se, ainda, que neste tipo de contrato as partes podem ser pessoas naturais
ou jurídicas.
Humberto Theodoro Júnior após expor, sucintamente, as razões histórico-evolutivas do
contrato de comissão, observa que tais contratos possibilitavam aos mercadores contratar em
praças distantes e superar as “dificuldades relativas às precisas informações sobre pessoas e
hábitos locais e os riscos de cometer funções e encargos a desconhecidos”6. Além disso, em
sua origem, a comissão admitia a concessão de crédito ao comitente pelo comerciante local
(comissário), assim como ocorre com a conta margem oferecida pela sociedade corretora em
favor do investidor.
Para Orlando Gomes a comissão é “uma modalidade de mandato sem representação,
que produz efeitos análogos aos deste contrato, mas se distingue pelo modo de agir do
representante. No mandato, o representante age em nome do representado; na comissão, em
nome próprio. Distinguem-se pelo modo de agir e não pelo modo de produção dos efeitos,
embora a expressão ‘representação indireta’ tenha significação mais próxima do último critério
distintivo. Num e noutro necessidade não há de novo ato para transmissão dos efeitos ao
representado.7
No sistema do antigo Código Comercial do Império (arts. 165 a 190), o comissário
deveria ser obrigatoriamente um comerciante e o objeto da avença teria que se voltar,
exclusivamente, à realização de negócios mercantis. Com a nova disciplina legal determinada
pelo Código Civil de 2002, essa particularidade perdeu o interesse, vez que o contrato de
comissão pode ser ou não de natureza empresarial.
O traço distintivo deste tipo contratual reside na circunstância de que o comissário age
em seu próprio nome. E é justamente por isso que ele fica diretamente obrigado com as

4
BRASIL. Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406 compilada.htm>. Acesso em: 14 jan. 2020.
5
Diniz (2003:383)
6
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Do contrato de comissão no novo Código Civil. Revista dos tribunais.São
Paulo: RT, v. 92, n. 814, p. 26 a 43, ago., 2003, p. 26.
7
GOMES, Orlando. THEODORO JÚNIOR, Humberto (atual.). Contratos. 18. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 358
32
pessoas com quem contrata. Por consequência, essas não têm ação contra o comitente e nem
este contra elas, salvo ocorrência de cessão de direitos entre qualquer das partes (art. 694,
CC).
Assim, com base nesse modelo contratual, permitiu-se que um comerciante
encarregasse terceiro da importante missão de praticar atos de comércio e celebrar negócios
em seu benefício ou por sua conta. Ao mesmo tempo, também se admitiu que essas
contratações fossem realizadas em nome do próprio comissário, sem que o comitente se
obrigasse perante terceiros, tal como ocorreria se tivesse de lançar mão do mandato. Em
última análise, toda essa dinâmica representou significativa redução de custos e despesas para
o comitente, pois serviu, em muitos casos, para contornar as regras proibitivas de mercancia
por estrangeiros.
Com fundamento em tais constatações, o professor da Faculdade de Direito da
Universidade Federal de Minas Gerais conclui que

A despeito do declínio do uso do instituto nos tempos atuais, a manutenção de sua


regulamentação legal nos códigos do presente século é prova de que ele continua a
prestar serviços ao comércio, seja tal como previsto no texto legal, seja amoldado às
necessidades e peculiaridades de cada ramo ou atividade mercantil, seja, ainda, como
negócio integrante de contratos atípicos coligados ou complexos, fruto da criação ágil
da mente inventiva dos homens do comércio.
[...]
Por fim, observa-se que a comissão ganhou especificidades em determinadas atividades,
dando origem a tipos contratuais amplamente difundidos, tais como a comissão bursátil

e a comissão bancária na compra e venda de títulos e ações8.

Sob o mesmo viés, tanto Waldírio Bulgarelli9 como Gustavo Tepedino10 observam que,
hoje em dia, o contrato de comissão não possui a mesma importância de outrora, pois sua
celebração se deslocou para certas atividades específicas. É o caso das operações efetuadas
nas Bolsas de Valores (comissão bursátil) ou no mercado bancário (comissão bancária).

8
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Do contrato de comissão no novo Código Civil. Revista dos tribunais. São Paulo: RT, v. 92, n.
814, p. 26 a 43, ago., 2003, p. 27 e 28, grifos nossos.
9
BULGARELLI, Waldirio. Contratos Mercantis. 13 ed. São Paulo: Atlas, 2000,p. 492.
10
O autor atribui o declínio dessa modalidade contratual “às características da vida contemporânea, marcada
pela facilidade dos meios de comunicação e de transporte, e pelo crescente interesse das empresas em abrir filiais e
agências.” TEPEDINO, Gustavo. TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo de (Coord.). Comentários ao novo Código Civil: das
várias espécies de contrato, do mandato, da comissão, da agência e distribuição, da corretagem, do transporte. V. X,
Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 215.
33
Comissão é a remuneração calculada por meio de um percentual aplicado sobre as
vendas. Não estipulada a remuneração devida ao comissário, será ela arbitrada segundo os
usos correntes no lugar (CC, art.701).
Comissário ou comissionado é a pessoa que, em um negócio, age por ordem de
outrem e recebe comissão em decorrência da prática do ato. Quanto a estas determinações e
ordens a serem cumpridas, salvo disposição em contrário, pode o comitente, a qualquer
tempo, alterar as instruções dadas ao comissário, entendendo-se por elas regidos também os
negócios pendentes.
Comitente é a pessoa que encarrega outra (comissário) de fazer qualquer ato, mediante
o pagamento de uma comissão.
O comissário obriga-se, portanto, perante terceiros em seu próprio nome, figurando no
contrato como parte. Neste, em geral não consta o nome do comitente, porque o comissário
age em nome próprio11.
Embora o comissário desempenhe sua atividade em seu próprio nome, não tem
liberdade absoluta. Está ele obrigado a agir de conformidade com as ordens e instruções do
comitente. Na hipótese de não dispor das orientações e determinações do comitente, ainda
assim, não poderá agir arbitrariamente, devendo nestes casos, proceder segundo os usos em
casos semelhantes.
Ainda quanto à conduta do comissário, além da obrigação evidente de não praticar atos
ilícitos na exercício de sua atividade, deverá, no desempenho das suas incumbências, agir com
cuidado e diligência, não só para evitar qualquer prejuízo ao comitente, mas ainda para lhe
proporcionar o lucro que razoavelmente se podia esperar do negócio. Assim, responderá o
comissário, salvo motivo de força maior, por qualquer prejuízo que, por ação ou omissão,
ocasionar ao comitente. Por outro lado como regra, o comissário não responde pela
insolvência das pessoas com quem tratar, exceto em caso de culpa ou se do contrato de
comissão constar a cláusula del credere (responderá o comissário solidariamente com as
pessoas com que houver tratado em nome do comitente, caso em que, salvo estipulação em
contrário, o comissário tem direito a remuneração mais elevada, para compensar o ônus
assumido).

11
Entretanto, segundo Venosa, pode haver interesse mercadológico na divulgação do comitente, como fator de dinamização das
vendas ou negócios em geral.
34
Parte da doutrina entende que a comissão é um mandato sem representação,
considerando que o comissário negocia em seu próprio nome, embora à conta do comitente.
O contrato de comissão é bilateral, consensual, oneroso e não solene.
A remuneração poderá ser parcial obedecendo critérios proporcionais. No caso de morte do
comissário, ou, quando, por motivo de força maior, não puder concluir o negócio, será devida
pelo comitente uma remuneração proporcional aos trabalhos realizados (CC, art.702). Havendo
rescisão do contrato, ainda que tenha dado motivo à dispensa, terá o comissário direito a ser
remunerado pelos serviços úteis prestados ao comitente, ressalvado a este o direito de exigir
do comissário eventuais prejuízos provocados por ele.
Se houver a RESCISÃO DO CONTRATO (dispensa do comissário) sem justa causa, o
comitente terá direito a ser remunerado pelos trabalhos prestados, bem como a ser ressarcido
pelas perdas e danos resultantes de sua dispensa.
No que se refere à movimentação financeira entre os dois quanto à exigência de juros,
assemelha-se ao contrato de mútuo com finalidade econômica. Assim, de acordo com o artigo
706, o comitente e o comissário são obrigados a pagar juros um ao outro; o primeiro pelo
que o comissário houver adiantado para cumprimento de suas ordens; e o segundo pela mora
na entrega dos fundos que pertencerem ao comitente. Destaque-se ainda que, para
reembolso das despesas feitas, bem como para recebimento das comissões devidas, tem o
comissário direito de retenção sobre os bens e valores em seu poder em virtude da comissão.
Por fim, são aplicáveis à comissão, no que couber, as regras sobre mandato (CC, artigos 798 e
709).

Entretanto, não se pode ignorar a possibilidade de estar presente no contrato cláusula


del credere, que determinará que o risco relativo a insolvência de terceiro será dividido entre
o comissário e o contratado, trazendo para ambos a solidariedade na solvência do contratado.
Com base no Código Comercial de 1850, Carlos Alberto Bittar explica o conteúdo da
comissão del credere nos seguintes termos:

35
Na comissão normal, prospera o regime descrito na codificação, com as normas
compatíveis que as partes estipulem em concreto. Na comissão del credere
(principalmente, bancária), configura-se assunção da condição de garante pelo
comissário, que assim responde solidariamente, perante o comitente, pela pontualidade
e solvabilidade do contratante, caso em que descabe reclamação; mas, se não ajustada
por escrito e existia a aquiescência do comitente, com impugnação do quantitativo,
regula-se o valor pelos usos da praça, ou se fixa por meio de arbitradores (art. 179). Na
comissão com cláusula de negociação consigo mesmo, pode o comissário adquirir para
si os bens, considerando-se ínsita nos contratos sobre títulos versados em Bolsa
(comissão de bolsa). Nessa hipótese, celebra o comissário contrato consigo mesmo,
agindo na conjugação dos dois interesses. Mas pode também ser vedada a prática, por
cláusula expressa nesse sentido12

Desse modo, a cláusula del credere consiste em cláusula acessória ao contrato de


comissão, no qual o comissário assume o gravame de responder solidariamente pela
insolvência das pessoas com quem contratar em nome do comitente (art. 698, CC).

6.8.6 Mandato Mercantil

Regulado pelo Código Civil entre os arts. 653 e 691, trata-se de espécie contratual na
qual alguém (mandatário) recebe de outrem (mandante) poderes para, em seu nome, praticar
atos ou administrar interesses.
O mandato mercantil pode revestir-se de forma onerosa ou gratuita, podendo ser
aperfeiçoado por instrumento particular ou público.
O contrato de mandato poderá contemplar todos os negócios do mandante, ou apenas
parte deles. Mas, ainda que dotado de caráter geral, omandatário não poderá realizar
negócios que exijam a outorga de poderes especiais (art. 660, CC).
A responsabilidade pelos negócios formalizados entre o mandatário e terceiros será do
mandante, vez que aquele age em nome deste. Mesmo que o mandatário tenha agido com
excesso de poderes, responderá o mandante junto aos terceiros de boa-fé. Contudo, nesse
caso, o mandante terá direito de regresso contra o mandatário.
Ainda que o mandatário celebre negócio jurídico após a revogação do instrumento de
mandato, responderá o mandante junto aos terceiros de boa-fé. Nesse caso, igualmente,

12
BITTAR, Carlos Alberto. BITTAR FILHO, Carlos Alberto (atual.). Contratos comerciais. 5. ed., Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2008, p. 69.
36
poderá o mandante reaver junto a mandatário o ônus decorrente das perdas e danos que haja
experimentado (art. 686, CC).
Comunicado o mandatário da outorga de poderes a novo mandatário, para o mesmo
negócio, considerar-se-á automaticamente revogado o anterior.

6.9 Contratos bancários

São aqueles nos quais um banco ou instituição financeira figura em um dos polos da
relação contratual.
Entre as inúmeras operações bancárias, merecem destaque os seguintes:

 Contrato de conta corrente: nele o banco se compromete a fazer operações de

crédito e débito na conta bancária do cliente, a partir de suas determinações,

manifestadas a partir da emissão de cheques, depósitos, saques, etc.

 Contrato de Mútuo: contrato através do qual a instituição financeira empresta

quantia determinada em dinheiro ao mutuário, o qual se obriga a restituir o valor

emprestado com os juros e demais encargos contratados;

 Contrato de Abertura de Crédito: acordo pelo qual o banco coloca à disposição

do cliente certo valor, por prazo determinado ou indeterminado, que poderá utilizá-

lo total ou parcialmente, mediante o pagamento de juros pelo período usado.

Segundo a Súmula 233 do STJ, o contrato de abertura de crédito, ainda que

acompanhado de extrato de contracorrente, não é título executivo.Importante ainda

destacar a Súmula 247 do STJ, segundo a qual o contrato de abertura de crédito em

conta corrente, acompanhado do demonstrativo de débito, constitui documento

hábil para o ajuizamento da ação monitória. A súmula 322 do STJ, por sua vez,

determina que, “para a repetição de indébito, nos contratos de abertura de crédito

em conta corrente, não se exige a prova do erro”.

 Contrato de desconto bancário: Contrato através do qual a instituição financeira

antecipa o valor de um crédito contra terceiro e a favor de seu cliente, descontando

a sua remuneração.

37
 Contrato de depósito bancário: Trata-se de contrato bancário próprio que se enquadra

na categoria de operações passivas, ou seja, naquelas em que o banco assume o polo

passivo da relação contratual. Noutros termos, o banco é o devedor. No depósito

bancário, uma pessoa (depositante) entrega ao banco (depositário) uma determinada

quantia em dinheiro, cabendo ao banco restituí-la, na mesma espécie, em data

predeterminada ou quando o depositante solicitar. No linguajar comum, chamamos

esse contrato de conta. Assim, vê-se claramente que o depósito bancário é o mais

importante dos contratos bancários, uma vez que quase todos, atualmente, possuem

conta em banco, ou seja, firmam um contrato de depósito com um banco no intuito de

manter nele recursos monetários e sacá-los quando for preciso. Esse saque é feito, por

exemplo, por meio da emissão de cheque, da realização de DOC/TED ou do uso dos

conhecidos cartões de débito, muito comuns na atualidade. O depósito bancário é

contrato real, isto é, somente se aperfeiçoa com a entrega do dinheiro à instituição

financeira depositária.

Existem três espécies de depósito bancário:

 Depósito à vista, no qual o banco deve restituir imediatamente a quantia

solicitada pelo depositante;

 Depósito a pré-aviso, no qual a restituição, quando solicitada, deve ser feita pelo

banco em um prazo contratualmente estipulado;

 Depósito a prazo fixo, no qual a restituição só pode ser solicitada após uma

determinada data fixada no contrato (trata-se da conhecida poupança)., ou seja,

naquelas em que o banco assume o polo passivo da relação contratual. Noutros

termos, o banco é o devedor.

38
QUADRO SINÓTICO

Princípios Contratuais

Confere liberdade de contratar e a liberdade contratual, mas é

Autonomia da vontade mitigada pelo dirigismo contratual (o contrato deve atender a sua
função social e nao pode contrariar preceitos de ordem pública)

O mero acordo de vontades é suficiente para a formação dos


Consensualismo
contratos. É excepcionado nos contratos solenes e reais.

O contrato só vale entre as partes (aspecto subjetivo) e não se

Relatividade estende além de seu objeto (aspecto objetivo) – é relativizado pela


boa-fé objetiva.

As partes podem exigir, uma da outra, que cumpram a prestação


prometida. Mas esta é limitada pela cláusula “rebus sic standibus”,
que sintetiza a teoria da imprevisão, nos contratos comutativos. Os
Força obrigatória contratos bilaterais contêm, implícita, a cláusula da “exceptio non
adimpleti contractus”, pela qual uma parte não pode exigir o
cumprimento do contrato pela outra, se estiver em mora em relação
à sua própria prestação.

As partes devem agir com probidade e todo contrato gera deveres


Boa –fé implícitos, decorrentes da sua própria natureza. A boa-fé objetiva foi
expressamente prevista no CC.

39
Contratos de Colaboração Empresarial

Colaboração por Intermediação Colaboração por Aproximação

Agência e Distribuição
Contrato de Corretagem
Distribuição-Intermediação
Contrato de Comissão
Concessão Mercantil
Distribuição-Aproximação
Representação comercial autônoma

40
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(VUNESP – PGESP – PROCURADOR DO ESTADO/2018): Quanto à proteção aos direitos do


consumidor em contratos bancários, assinale a alternativa correta.
A) A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica
exigência de vantagem econômica excessiva pela instituição financeira.
B) Os juros moratórios nos contratos bancários não regulados por legislação especial poderão
ser pactuados livremente pelas partes, não caracterizando exigência de vantagem econômica
excessiva.
C) Propositura de ação revisional de contrato bancário, a pretexto de conter cláusulas
contratuais abusivas, suspende os efeitos da mora do devedor, por revelar exercício regular do
direito básico do consumidor à facilitação da defesa dos seus direitos em juízo, inclusive com
inversão do ônus da prova.
D) Pode o magistrado, de ofício, reconhecer a nulidade de cláusulas contratuais abusivas
inseridas em contrato de mútuo bancário submetido ao seu exame.

Comentário:

A questão aborda única e exclusivamente o conhecimento de entendimentos sumulados pelo


Superior Tribunal de Justiça:

ALTERNATIVA A: CORRETA

Súmula 382/STJ: A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si


só, não indica abusividade.

Alternativa B: INCORRETA
41
Súmula 379/STJ: Nos contratos bancários não regidos por legislação específica, os juros
moratórios poderão ser convencionados até o limite de 1% ao mês.

Alternativa C: INCORRETA

Súmula 380/STJ: A simples propositura da ação de revisão de contrato não inibe a


caracterização da mora do autor.

Alternativa D: INCORRETA

Súmula 381/STJ: “Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da


abusividade das cláusulas”.

Alternativa E: INCORRETA

Súmula 294/STJ: Não é potestativa a cláusula contratual que prevê a comissão de


permanência, calculada pela taxa média de mercado apurada pelo Banco Central do
Brasil, limitada à taxa do contrato. Súmula 472/STJ: A cobrança de comissão de
permanência – cujo valor não pode ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e
moratórios previstos no contrato – exclui a exigibilidade dos juros remuneratórios,
moratórios e da multa contratual.

Questão 2

(VUNESP - 2018 - PGE-SP - PROCURADOR)Sobre a figura do empresário, é correto afirmar:


(CESPE – PGESE – Procurador do Estado/2017): Em relação aos contratos mercantis, julgue
os itens a seguir.
I O atraso longo e habitual no pagamento das parcelas do prêmio ajustado em contrato de
seguro é suficiente para a constituição da mora, ainda que não haja notificação prévia da
seguradora.
II A cobrança antecipada do valor residual garantido não descaracteriza o contrato de
arrendamento mercantil.

42
III As cláusulas de exclusividade e de territorialidade são típicas de um contrato de factoring.
IV Na hipótese de inadimplemento no contrato de alienação fiduciária em garantia, o credor
poderá vender a coisa a terceiros, independentemente de leilão, hasta pública, avaliação prévia
ou medida judicial.
Estão certos apenas os itens
A) I e II.
B) I e III.
C) II e III.
D) III e IV.
E) I, II e IV.

Comentário:

ItemI: CORRETO

Nas obrigações contratuais líquidas, como é o caso do seguro, o devedor é constituído


em mora no momento em que vence a obrigação (artigo 397 CC). Se a obrigação fosse
contratual ilíquida é que necessitaria do devedor ser constituído em mora, com a citação
para o processo judicial, por exemplo (artigo 405 do CC) ou a própria notificação
extrajudicial.

Contudo, cabe observar que a destoa dessa interpretação:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO


SECURITÁRIA - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE DEU PROVIMENTO AO RECURSO DE
BENEFICIÁRIA DE SEGURO DE VIDA - ATRASO NO PAGAMENTO DE PRESTAÇÕES -
AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO - NÃO CONFIGURAÇÃO DA MORA. SÚMULA 83/STJ -
INSURGÊNCIA DA SEGURADORA.1. O atraso no pagamento de prestações do prêmio do
seguro não determina a resolução automática do contrato de seguro, exigindo-se a
prévia constituição em mora do contratante pela seguradora, mostrando-se indevida a
negativa de pagamento da indenização correspondente. Incidência da súmula 83/STJ.2.
Agravo regimental desprovido.(AgRg no Ag 1381183/SP, Rel. Ministro MARCO BUZZI,
QUARTA TURMA, julgado em 03/10/2017, DJe 11/10/2017) Código Civil, art. 966,
parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de
natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou
colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.

ItemII: CORRETO

43
Súmula 293 STJ - A cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não
descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil.

ItemIII: INCORRETO

Cláusula de territorialidade não é uma cláusula típica do contrato de leasing.

"Dentre as cláusulas típicas do contrato de factoring, podemos citar as seguintes:

a)Cláusula de exclusividade, por meio da qual o facturizado se compromete a não


contratar outro facturizador, servindo ela para impedir, por exemplo, que sejam cedidos
os créditos bons a um facturizador, e os ruins a outro;

b)Cláusula de totalidade, em que o facturizado transmite todos os seus créditos ao


facturizador, cabendo a este escolher os que garantirá;

c)Cláusula da Globalidade, que consiste num prévio acordo com a entidade financeira
relativamente aos créditos que o facturizado possivelmente adquirirá sobre algumas
empresas – sejam suas devedoras atualmente, ou as potencialmente devedoras –
contidos em uma lista anexada ao contrato, obrigando-se o fator a aceitar essas cessões,
desde que respeitados os termos fixados em contrato.

d)Cláusula de aprovação prévia pelo facturizador."

ItemIV: CORRETO

Decreto-Lei 911/69:

Art. 2º No caso de inadimplemento ou mora nas obrigações contratuais garantidas


mediante alienação fiduciária, o proprietário fiduciário ou credor poderá vender a coisa
a terceiros, independentemente de leilão, hasta pública, avaliação prévia ou qualquer
outra medida judicial ou extrajudicial, salvo disposição expressa em contrário prevista
no contrato, devendo aplicar o preço da venda no pagamento de seu crédito e das
despesas decorrentes e entregar ao devedor o saldo apurado, se houver, com a devida
prestação de contas. (Redação dada pela Lei nº 13.043, de 2014)

44
Questão 3

(CESPE - 2020 - MPE-CE - Promotor de Justiça de Entrância Inicial)Determinada sociedade


empresária realizou, na qualidade de arrendadora, contrato de arrendamento mercantil
financeiro com um particular, tendo havido o pagamento de diversas prestações mensais que,
além do principal, incluíam também valor adiantado a título de valor residual garantido (VRG).
Posteriormente, em razão de inadimplemento do arrendatário, a sociedade ajuizou ação de
reintegração de posse do bem objeto do contrato.
Acerca dessa situação hipotética, assinale a opção correta, de acordo com a jurisprudência do
STJ.
A) A cobrança antecipada do valor residual garantido descaracteriza o contrato de
arrendamento mercantil, portanto se trata de compra e venda à prestação, não sendo possível
a retomada da posse pela arrendadora.
B) Caso haja a retomada de posse direta do bem pela arrendadora, o total já pago a título de
VRG deverá ser impreterivelmente devolvido, de forma integral, ao arrendatário.
C) Caso haja a retomada de posse direta do bem pela arrendadora, o total já pago a título de
VRG deverá ser parcialmente devolvido, tendo o arrendatário a garantia legal de receber, no
mínimo, metade do valor adiantado, devidamente corrigido.
D) Deferida a reintegração de posse e alienado o bem a terceiro, se a soma da importância
antecipada a título de VRG com o valor da venda do bem ultrapassar o total do VRG previsto
contratualmente, o arrendatário deverá receber a respectiva diferença, cabendo o desconto de
outras despesas que tenham sido pactuadas contratualmente.
E) Deferida a reintegração de posse e alienado o bem a terceiro, se a soma da importância
antecipada a título de VRG com o valor da venda do bem ultrapassar o total do VRG previsto
contratualmente, o arrendatário deverá receber a respectiva diferença, sendo vedado o
desconto de outras despesas, ainda que tenham sido pactuadas contratualmente.

45
Comentário:

A resposta da questão consiste no texto da Súmula 564 do STJ:

"Súmula 564: No caso de reintegração de posse em arrendamento mercantil financeiro,


quando a soma da importância antecipada a título de valor residual garantido (VRG)
com o valor da venda do bem ultrapassar o total do VRG previsto contratualmente, o
arrendatário terá direito de receber a respectiva diferença, cabendo, porém, se
estipulado no contrato, o prévio desconto de outras despesas ou encargos pactuados."

Questão 4

(VUNESP - 2019 - TJ-RJ - Juiz Substituto) A empresa Kero celebrou um contrato de


arrendamento mercantil financeiro, mas, após várias parcelas adimplidas, entra em crise
financeira e interrompe o pagamento dos valores devidos à arrendadora, que toma as
medidas necessárias para a reintegração de posse do bem arrendado. Em vista disso, é correto
afirmar que
A) a arrendatária não tem direito ao recebimento de eventuais diferenças entre as parcelas
vencidas e o valor total da venda, pois esse montante será entregue à arrendante a título de
valor residual garantido.
B) caso o total pago a título de valor residual da opção de compra for superior ao total do
valor residual garantido previsto contratualmente, a arrendatária terá direito de receber a
respectiva diferença.
C) se a soma da importância antecipada a título de valor residual garantido com o valor da
venda do bem ultrapassar o total do valor residual garantido previsto contratualmente, a
arrendatária terá direito de receber essa diferença, deduzidos eventuais descontos previstos no
respectivo contrato.
D) o pagamento do valor residual garantido de modo fracionado ao longo do contrato
descaracteriza o arrendamento mercantil, devendo o caso em tela ser considerado como
inadimplemento de compra e venda antecipada.

46
E) o contrato de arrendamento mercantil poderá prever o fracionamento do valor residual
garantido e o valor residual da opção de compra sem que isso implique em sua
descaracterização.

Comentário:

Alternativa A: INCORRETA

O VRG não se confunde com a opção de compra, sendo valores pagos em virtude de
fatos distintos — a opção de compra representa, em regra, o próprio preço do bem, de
maneira que, ao natural, será superior ao valor total do VRG, que é um valor mínimo.

Súmula nº 564/STJ

No caso de reintegração de posse em arrendamento mercantil financeiro, quando a


soma da importância antecipada a título de valor residual garantido (VRG) com o valor
da venda do bem ultrapassar o total do VRG previsto contratualmente, o arrendatário
terá direito de receber a respectiva diferença, cabendo, porém, se estipulado no
contrato, o prévio desconto de outras despesas ou encargos pactuados.

Alternativa C: INCORRETA

Tal assertiva contraria a súmula mencionada na alternativa anterior.

Alternativa D: INCORRETA

Embora o Valor Residual Garantido possa ser fracionado, o valor residual da opção de
compra NÃO pode. Nesse sentido, o seguinte julgado:

“No contrato de leasing, o ‘valor residual’ é o preço contratual estipulado para o


exercício da opção de compra, enquanto o ‘valor residual garantido’ é obrigação
assumida pelo arrendatário, quando da contratação do arrendamento mercantil, no
sentido de garantir que o arrendador receba, ao final do contrato, a quantia mínima
final de liquidação do negócio, em caso de o arrendatário optar por não exercer seu
direito de compra e, também, não desejar que o contrato seja prorrogado. (…).” (STJ,
REsp 249.340/SP, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA,
julgado em 18/05/2000, DJ 07/08/2000, p. 116) (E) Incorreta.

Alternativa E: INCORRETA

47
Segundo a Súmula nº 293/STJ, “a cobrança antecipada do valor residual garantido
(VRG) não descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil.” (Súmula nº 293/STJ)

Questão 5

(VUNESP - 2019 - Prefeitura de Arujá - SP - Encarregado de Fiscalização): No que se refere


ao contrato de franquia, assinale a alternativa correta.
A) Para ter validade entre as partes, o contrato de franquia deve ser levado a registro junto ao
Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
B) O contrato de franquia implica em pagamentos periódicos de royalties do franqueador ao
franqueado, que variarão conforme o volume do faturamento.
C) Após sua assinatura, o contrato de franquia deve ser submetido ao Conselho Administrativo
de Defesa Econômica (CADE) para análise do impacto do negócio para o público consumidor.
D) No mínimo dez dias antes da assinatura do contrato, de pré-contrato ou de qualquer
pagamento, deve ser entregue ao candidato a franqueado a Circular de Oferta de Franquia.
E) É um contrato em que uma das partes se obriga a promover a realização de negócios por
conta de outra, não atuando em seu próprio nome.

Comentário:

Em relação à letra "a", o INPI fará o registro dos contratos que impliquem transferência
de tecnologia, contratos de franquia e similares para produzirem efeitos em relação a
terceiros.

Conforme a Lei 13.966/2019 (Nova Lei de Franquia)

Art. 2º Para a implantação da franquia, o franqueador deverá fornecer ao interessado


Circular de Oferta de Franquia, escrita em língua portuguesa, de forma objetiva e
acessível, contendo obrigatoriamente:

§ 1º A Circular de Oferta de Franquia deverá ser entregue ao candidato a franqueado,


no mínimo, 10 (dez) dias antes da assinatura do contrato ou pré-contrato de franquia
ou, ainda, do pagamento de qualquer tipo de taxa pelo franqueado ao franqueador ou
a empresa ou a pessoa ligada a este, salvo no caso de licitação ou pré-qualificação
48
promovida por órgão ou entidade pública, caso em que a Circular de Oferta de
Franquia será divulgada logo no início do processo de seleção.

Questão 6

(IESES - 2019 - TJ-SC - Titular de Serviços de Notas e de Registros - Provimento): Segundo


o Decreto-Lei n. 911/69:
I. A mora nas obrigações contratuais garantidas por alienação fiduciária decorre do simples
vencimento do prazo para pagamento e poderá ser comprovada por carta registrada com
aviso de recebimento, não se exigindo que a assinatura constante do referido aviso seja a do
próprio destinatário.
II. A disciplina quanto à aplicação do valor obtido com a venda da coisa alienada
fiduciariamente, e bem assim a sistemática para constituição em mora do devedor fiduciário,
aplicam-se às operações de arrendamento mercantil.
III. Da sentença proferida no respectivo procedimento cabe apelação apenas no efeito
devolutivo.
IV. O pedido de recuperação judicial ou extrajudicial pelo devedor nos termos da Lei n.
11.101/05 não impede a busca e apreensão do bem.
É correto o que se afirma em:
A) Apenas I.
B) Apenas I, II e III.
C) I, II, III e IV.
D) Apenas I e II.

Comentário:

Item I: CORRETO

Nesse sentido, o Decreto-Lei n. 911/69:

Art. 2º, § 2º. A mora decorrerá do simples vencimento do prazo para pagamento e
poderá ser comprovada por carta registrada com aviso de recebimento, não se

49
exigindo que a assinatura constante do referido aviso seja a do próprio destinatário.
(Redação dada pela Lei nº 13.043, de 2014)

Item II: CORRETO

Nessa linha, o Decreto-Lei n. 911/69:

Art. 2º, § 4º. Os procedimentos previstos no caput e no seu § 2º aplicam-se às


operações de arrendamento mercantil previstas na forma da Lei no 6.099, de 12 de
setembro de 1974.

Item III: CORRETO

É o que dispõe o Decreto-Lei n. 911/69:

Art. 3º, § 5º. Da sentença cabe apelação apenas no efeito devolutivo.

Item IV: CORRETO

É o que dispõe o Decreto-Lei n. 911/69:

Art. 6º-A. O pedido de recuperação judicial ou extrajudicial pelo devedor nos termos da
Lei no 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, não impede a distribuição e a busca e
apreensão do bem.

Questão 7

2. (FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2019 - DPE-MG - Defensor Público): Considere que


em 2 de janeiro de 2018, Vinhal Frodeno adquiriu veículo seminovo, mediante financiamento
bancário, intermediado por correspondente bancário.A respeito do contrato bancário e sua
interpretação dada pelos Tribunais Superiores, analise as afirmativas a seguir.
I. É abusiva cláusula contratual que prevê a cobrança de ressarcimento de serviços prestados
por terceiros, sem a especificação do serviço a ser efetivamente prestado.
II. Não é abusiva cláusula contratual que prevê o ressarcimento pelo consumidor da comissão
do correspondente bancário.
III. Tendo sido o bem dado em alienação fiduciária em garantia, a cláusula contratual que
prevê a remuneração do agente financeiro pela avaliação do bem não é abusiva.

50
IV. É abusiva cláusula contratual que imponha a contratação de seguro de proteção financeira.
Está correto o que se afirma em:
A) I, II e III, apenas.
B) I, II e IV, apenas.
C) I, III e IV, apenas.
D) II, III e IV, apenas.

Comentário:

Item I: CORRETO

É abusiva a cláusula que prevê a cobrança de ressarcimento de serviços prestados por


terceiros, sem a especificação do serviço a ser efetivamente prestado. STJ. 2ª Seção. REsp
1578553-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 28/11/2018 (recurso
repetitivo) (Info 639).

ItemII:INCORRETO

É abusiva a cláusula que prevê o ressarcimento pelo consumidor da comissão do


correspondente bancário, em contratos celebrados a partir de 25/02/2011, data de
entrada em vigor da Resolução CMN 3.954/2011, sendo válida a cláusula no período
anterior a essa resolução, ressalvado o controle da onerosidade excessiva. STJ. 2ª Seção.
REsp 1578553-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 28/11/2018 (recurso
repetitivo) (Info 639).

Item III: CORRETO

É válida a tarifa de avaliação do bem dado em garantia, bem como da cláusula que
prevê o ressarcimento de despesa com o registro do contrato, ressalvadas: • a
abusividade da cobrança por serviço não efetivamente prestado; e • a possibilidade de
controle da onerosidade excessiva, em cada caso concreto. STJ. 2ª Seção. REsp 1578553-
SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 28/11/2018 (recurso repetitivo) (Info
639).

51
Obs.: Tarifa de avaliação do bem dado em garantia consiste no valor cobrado do banco
para remunerar o especialista que realiza a avaliação do preço de mercado do bem dado
em garantia.

Item IV: CORRETO

A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ao julgar sob o rito dos (Tema
972) o REsp 1.639.320 e o REsp 1.639.259, ambos de relatoria do ministro Paulo de Tarso
Sanseverino, firmou a tese de que “nos contratos bancários em geral, o consumidor não
pode ser compelido a contratar seguro com a instituição financeira ou com seguradora
por ela indicada”.

Questão 8

(CESPE - 2019 - CGE - CE - Auditor de Controle Interno - Área de Correição): A respeito de


contratos bancários, é correto afirmar que
A) um dos polos da relação contratual deve ser uma instituição bancária.
B) a alienação fiduciária em garantia pode ter por objeto bem imóvel que já integre o
patrimônio do devedor.
C) o fornecedor do capital envolvido deve ser uma instituição bancária.
D) o mútuo bancário é uma espécie de contrato bancário de empréstimo de coisas infungíveis.
E) o arrendamento mercantil pressupõe o direito de compra, ao final do contrato, a critério da
arrendadora.

Comentário:

Alternativa A: INCORRETA

De acordo com André Luiz Santa Cruz Ramos, os contratos bancários são aquelas
modalidades contratuais formalizadas pelos bancos no exercício de atividade bancária, ou
seja, com a finalidade de coletar, intermediar ou aplicar recursos junto aos agentes

52
econômicos.Perceba-se que nos contratos bancários sempre estará presente um banco,
mas isso não significa que todo contrato firmado por um banco mereça a qualificação de
contrato bancário.Só receberão essa qualificação aqueles contratos:

(i) firmados por bancos e

(ii) que se insiram no conceito de atividade bancária.

Tem-se, portanto, que os contratos bancários são aqueles em que, necessariamente, uma
das partes é uma instituição financeira (e não bancária), ou seja, ela exerce uma função
econômica relacionada ao exercício da atividade bancária, de acordo com o art. 17 da Lei
4.595/1964.

Alternativa B: CORRETA

Nesse sentido, a súmula 28 do Superior Tribunal de Justiça:

Súmula 28, STJ: O contrato de alienação fiduciária em garantia pode ter por objeto bem
que já integrava o patrimônio do devedor.

Alternativa C: INCORRETA

No contrato de depósito, é o cliente quem entrega ao banco determinada quantia em


dinheiro à instituição financeira e não o inverso. Nas lições de André Luiz Ramos Santa
Cruz, "no depósito bancário, uma pessoa (depositante) entrega ao banco (depositário)
umadeterminada quantia em dinheiro, cabendo ao banco restituí-la, na mesma espécie,
em data predeterminada ou quando o depositante solicitar." (pág. 714, ed. 2018).

Alternativa D: INCORRETA

Na lição de André Luiz Ramos Santa Cruz, "mútuo consiste, como dito acima, em um
empréstimo, ou seja, é o contrato bancário por meio do qual o banco disponibiliza para
o cliente determinada quantia (dinheiro = fungível) , cabendo a este pagar ao banco o
valor correspondente, com os acréscimos legais, no prazo contratualmente estipulado."
(Pág. 715, ed. 2018).

Alternativa E: INCORRETA

53
A escolha não cabe à arrendatária/locatária. Conforme André Luiz Ramos Santa Cruz, "o
contrato de arrendamento mercantil, também chamado de leasing, como um contrato
especial de locação que assegura ao locatário a prerrogativa de adquirir o bem alugado
ao final da avença, pagando, nesse caso, uma diferença chamada de valor residual." (pág.
724, ed. 2018)

Questão 9

(CESPE - 2019 - CGE - CE - Auditor de Controle Interno - Área de Correição): Em relação


aos contratos mercantis, é correto afirmar que
A) o contrato de seguro caracteriza-se como um contrato de adesão, comutativo e consensual.
B) a constituição de vínculo contratual depende de ato solene.
C) o falido é impedido de fiscalizar contrato mercantil firmado pelo administrador judicial.
D) a relação contratual não se resolve pela confusão entre credor e devedor.
E) o contrato mercantil não pode ser considerado de natureza consumerista.

Comentário:

Alternativa A: CORRETA

De acordo com André Luiz Ramos Santa Cruz, o acordo de vontades no contrato de
seguro se dá pela simples adesão do segurado às cláusulas previamente estabelecidas
pelo segurador, uma vez que se trata de contrato deadesão (pág. 737, ed. 2018).

Comutativos são os“contratos” de prestações certas e determinadas. As partes podem


antever as vantagens e os sacrifícios, que geralmente se equivalem, decorrentes de sua
celebração, porque não envolvem nenhum risco. Daí se dizer que os contratos de seguro
são comutativos

O contrato de seguro se aperfeiçoa pelo mero acordo de vontade entre as partes,


conforme ensina o art. 758 do Código Civil - "O contrato de seguro prova-se com a

54
exibição da apólice ou do bilhete do seguro, e, na falta deles, por documento
comprobatório do pagamento do respectivo prêmio”.

Assim, a apólice ou bilhete de seguro são instrumento que provam o contrato de seguro,
mas não constituem o contrato, visto que o contrato é “consensual”. Ele é apenas
provado pela apólice e pelo bilhete.

Alternativa B: INCORRETA

O fundamento está descrito na letra A, quando se trata da consensualidade, visto que,


para a constituição do vínculo contratual, é suficiente a manifestação de vontade das
partes.

Alternativa C: INCORRETA

Lei 11.101/05:

Art. 103. Desde a decretação da falência ou do seqüestro, o devedor perde o direito de


administrar os seus bens ou deles dispor. Parágrafo único. O falido poderá, contudo,
fiscalizar a administração da falência, requerer as providências necessárias para a
conservação de seus direitos ou dos bens arrecadados e intervir nos processos em que
a massa falida seja parte ou interessada, requerendo o que for de direito e interpondo
os recursos cabíveis..

Alternativa D: INCORRETA

Código Civil de 2002:

Art. 381. Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as


qualidades de credor e devedor.

Alternativa E: INCORRETA

Por regra, nós sabemos que, de fato, não se aplica o CDC às relações entre os
empresários. Entretanto, é preciso lembrar da mitigação da teoria finalista feita pelo STJ,
sobretudo quando restar caracterizada a vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica
de uma das partes.

55
Questão 10

(CESPE – Câmara dos Deputados – Analista/2014): A instituição financeira é considerada


devedora em operações bancárias passivas caracterizadas como contratos de captação de
recursos, como, por exemplo, depósito bancário e conta corrente bancária

Comentário:

Depósito bancário e conta corrente bancárias entram na categoria de operações


passivas, ou seja, naquelas em que o banco assume o polo passivo da relação contratual.
Noutros termos, o banco é o devedor.

Questão 11

(CESPE – Câmara dos Deputados – Analista Legislativo/2014): Comumente, a doutrina


apresenta três modalidades de contrato de arrendamento mercantil, o leasing financeiro, o
leasing back e o leasing operacional; no caso do leasing operacional, o próprio fabricante ou
importador do bem é o arrendante.

Comentário:

Item:Certo

O item descreve as três formas de leasing existentes no direito brasileiro.

56
Questão 12

(CESPE – DPE-PE/2015 – DEFENSOR PÚBLICO ESTADUAL): Determinada sociedade


empresária resolveu recorrer ao instituto da alienação fiduciária em garantia, para aquisição de
alguns bens móveis e imóveis. À vista do inadimplemento, quando se tratar de contrato de
alienação fiduciária de bem imóvel, a reversão do bem deverá ser processada pelo oficial do
cartório de registro de imóveis, independendo, portanto, de ação judicial para a satisfação
desse direito do credor.

Comentário:

Item: Certo

Na alienação fiduciária de imóvel, a reversão do bem deverá ser processada


independentemente de ação judicial, ocorrendo de forma administrativa perante o
Registro de Imóveis. O procedimento está previsto nos art.26 e 27 da Lei 9.514/97.

Questão 13

(CESPE – DPE-PE/2015): No contrato de alienação fiduciária de bem móvel, a mora de


qualquer das obrigações contratuais por parte do fiduciante facultará ao fiduciário o
vencimento antecipado da dívida, independentemente de aviso ou notificação.

Comentário:

Item: Certo

Decreto Lei 911/69 com alteração realizada pela lei 13.043/14:

57
Art. 2º No caso de inadimplemento ou mora nas obrigações contratuais garantidas
mediante alienação fiduciária, o proprietário fiduciário ou credor poderá vender a coisa
a terceiros, independentemente de leilão, hasta pública, avaliação prévia ou qualquer
outra medida judicial ou extrajudicial, salvo disposição expressa em contrário prevista
no contrato, devendo aplicar o preço da venda no pagamento de seu crédito e das
despesas decorrentes e entregar ao devedor o saldo apurado, se houver, com a devida
prestação de contas.
§ 3º A mora e o inadimplemento de obrigações contratuais garantidas por alienação
fiduciária, ou a ocorrência legal ou convencional de algum dos casos de antecipação de
vencimento da dívida facultarão ao credor considerar, de pleno direito, vencidas tôdas
as obrigações contratuais, independentemente de aviso ou notificação judicial ou
extrajudicial.

Questão 14

(CESPE – SERPRO – Analista/2013): Em razão da simetria natural das relações


interempresariais, não é possível se falar em mitigação do dirigismo contratual nos contratos
empresariais.

Comentário:

Item:Errado

O princípio fundamental da teoria geral do direito contratual é o da autonomia da


vontade das partes contratantes, que assegura às pessoas a liberdade de contratar, desde
que respeitada a chamada função social dos contratos, conforme determina o art. 421 do
Código Civil: “a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função
social do contrato”. Assim, as partes são livres, em princípio, para (i) escolher com quem
vão manter relações contratuais, (ii) delimitar o que vai ser objeto da relação contratual e
(iii) fixar o conteúdo dessa mesma relação.

Contudo, é importante observar que o ordenamento jurídico, hoje, tem procurado cada
vez mais assegurar o equilíbrio contratual entre as partes contratantes apesar da
autonomia que elas possuem, razão pela qual a própria legislação estipula limites, não
raro, à autonomia da vontade, o que se convencionou chamar de dirigismo contratual.
58
Ocorre que no âmbito do direito empresarial, o norte interpretativo deve ser sempre a
autonomia da vontade das partes. Caso contrário, o que se instaura é a insegurança
jurídica, que se manifesta especificamente nas atividades econômicas como um obstáculo
ao desenvolvimento. Portanto, nos contratos empresariais, o dirigismo contratual deve
ser mitigado, tendo em vista a simetria natural das relações interempresariais.

Enunciado 21, CJF: Nos contratos empresariais, o dirigismo contratual deve ser
mitigado, tendo em vista a simetria natural das relações interempresariais.

Questão 15

(CESPE – EBC – Analista/2011): Ana, pretendendo adquirir um automóvel, firmou contrato de


arrendamento mercantil com certa instituição financeira e, após alguns meses, deixou de
efetuar o pagamento das prestações devidas. Nessa situação, é prescindível a notificação
prévia de Ana, a fim de constituí-la em mora.

Comentário:

Item:Errado

Sumula 369, STJ: No contrato de arrendamento mercantil (leasing), ainda que haja
cláusula resolutiva expressa, é necessária a notificação prévia do arrendatário para
constituí-lo em mora.

Questão 16

(CESPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia)

A respeito das condições para o exercício de atividade comercial, julgue o item subsequente.

É vedado transformar registro de empresário individual em registro de sociedade empresária.

59
( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

Errado - Código Civil. Art. 968, § 3º Caso venha a admitir sócios, o empresário individual
poderá solicitar ao Registro Público de Empresas Mercantis a transformação de seu registro de
empresário para registro de sociedade empresária, observado, no que couber, o disposto
nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código.

Enunciado 465 CJF. A "transformação de registro" prevista no art. 968, § 32, e no art. 1.033,
parágrafo único, do Código Civil não se confunde com a figura da transformação de pessoa
jurídica.

"Não se deve confundir a 'transformação' do empresário individual em sociedade empresária


com a transformação de pessoa jurídica, operação societária típica regulada nos arts. 220 da
Lei n. 6.404/1976 e 1.113 do CC/2002. Nesta, ocorre a mera mudança de tipo societário.
Naquela, há constituição de uma nova sociedade, passando o antigo empresário individual a
ser um de seus sócios. Assim, a transferência de bem imóvel de sua propriedade para a
sociedade é feita a título de integralização do capital social, razão pela qual não prescinde do
registro para transmissão do domínio". (STJ, AgRg no REsp 703.419/DF, Rel. Ministro
ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, DJe 16/04/2013).

Questão 17

(NUCEPE - 2018 - PC-PI - Delegado de Polícia Civil)

Sobre o registro empresarial, assinale a alternativa CORRETA.

60
A) Não poderão as juntas comerciais se recusar a registrar contrato social ou alterações
contratuais de sociedade limitada que envolva sócio incapaz, desde que atendidos, de
forma conjunta, os seguintes pressupostos: o sócio incapaz não pode exercer a
administração da sociedade; o capital social deve ser totalmente integralizado; o sócio
relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente incapaz deve ser
representado.
B) Nas juntas comerciais, o Pedido de Reconsideração terá por objeto obter a revisão de
despachos singulares ou de Turmas que formulem exigências para o deferimento do
arquivamento e será apresentado no prazo para cumprimento da exigência para
apreciação pela autoridade recorrida em 5 (cinco) dias úteis ou 8 (oito) dias úteis,
respectivamente.
C) Qualquer pessoa, desde que prove interesse especifico, poderá, gratuitamente,
mediante autorização judicial, consultar os assentamentos existentes nas juntas
comerciais e obter certidões.
D) A sociedade que não proceder a qualquer arquivamento no período de 5 (cinco) anos
consecutivos será considerada inativa e, automaticamente, terá o seu registro cancelado
E) O exercício de atividade empresarial sem o devido registro na junta comercial tem,
como uma de suas consequências, a não sujeição do exercente à falência, ficando
submetido à insolvência civil.

Comentário:

A) Correta- texto do artigo 974 do Código Civil, a questão, porém, deixa de lado mais um
requisito: "precederá autorização judicial", o que gera confusão, já que o texto da questão fala
de "conjunto" de requisitos;

B) Errada- texto do artigo 45 da Lei 8934/94 - O Pedido de Reconsideração terá por objeto
obter a revisão de despachos singulares ou de Turmas que formulem exigências para o
deferimento do arquivamento e será apresentado no prazo para cumprimento da exigência
para apreciação pela autoridade recorrida em 3 (três) dias úteis ou 5 (cinco) dias úteis,
respectivamente. (Redação dada pela Lei nº 11.598, de 2007);

C) Errada - texto do artigo 29 da LEI 8.934/1994 - "Qualquer pessoa, sem necessidade de


provar interesse, poderá consultar os assentamentos existentes nas juntas comerciais e obter
certidões, mediante pagamento do preço devido";

61
D) Errada - texto do artigo 60 da Lei 8.934/1994 e seu §1º

"Art. 60. A firma individual ou a sociedade que não proceder a qualquer arquivamento no
período de dez anos consecutivos deverá comunicar à junta comercial que deseja manter-se
em funcionamento.

§ 1º Na ausência dessa comunicação, a empresa mercantil será considerada inativa,


promovendo a junta comercial o cancelamento do registro, com a perda automática da
proteção ao nome empresarial".

E) Errada - artigo 105 da Lei 11.101/2005 (Lei de Falência) permite que o devedor peça sua
falência e, ao elencar os documento necessários para isso dispõe, no inciso VI, que o devedor
apresente "prova da condição de empresário, contrato social ou estatuto em vigor ou, se não
houver, a indicação de todos os sócios, seus endereços e a relação de seus bens pessoais".
Portanto, já que pode haver o pedido sem o contrato ou estatuto, que são os atos
constitutivos que devem ser registrados, não é necessário o registro para pedir falência.

62
Questão 18

(VUNESP - 2018 - PC-BA - Delegado de Polícia)

Com relação ao estabelecimento empresarial, assinale a alternativa correta.

A) O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do


estabelecimento, só produzirá efeitos quanto às partes e a terceiros depois de averbado
à margem da inscrição do empresário, ou da sociedade empresária, no Registro Público
de Pessoas Jurídicas, e de publicado na imprensa local.
B) O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à
transferência, mesmo não contabilizados, continuando o devedor primitivo
subsidiariamente obrigado, pelo prazo de três anos, a partir, quanto aos créditos
vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento.
C) A transferência do estabelecimento importa a sub-rogação do adquirente nos contratos
estipulados para exploração do estabelecimento, se não tiverem caráter pessoal,
podendo os terceiros rescindir o contrato em noventa dias a contar da publicação da
transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso, a responsabilidade do
alienante.
D) Não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer
concorrência ao adquirente, nos dez anos subsequentes à transferência; no caso de
arrendamento ou usufruto do estabelecimento, a proibição persistirá durante o prazo
contratual, não podendo ser superior a cinco anos.
E) A cessão dos créditos referentes ao estabelecimento transferido produzirá efeito em
relação aos respectivos devedores, desde o momento da assinatura do contrato, e, a
partir da publicação da transferência, o devedor que pagar ao cedente, mesmo de boa-
fé, terá que pagar novamente ao adquirente.

63
Comentário:

A)Errada - A averbação e a publicação na imprensa oficial são necessários apenas para que o
contrato de alienação, usufruto ou arrendamento do estabelecimento faça efeitos contra
terceiros. Em relação às partes, a lei nada dispõe. Art. 1.444, CC.

B) Errada - Os débitos precisam estar contabilizados para que o adquirente por eles responda;
o devedor primitivo fica solidariamente responsável por estes débitos pelo prazo de um ano,
contabilizado da publicação dos créditos vencidos e, quanto aos outros, da data do
vencimento. Art. 1.146, CC.

C) Correta- Art. 1.148, CC.

D)Errada - O prazo é de 10 anos, não cinco. Art. 1.147, CC.

E) Errada - O devedor ficará exonerado se de boa-fé pagar ao cedente. Art. 1.149, CC.

Questão 19

(FUNCAB - 2016 - PC-PA - Delegado de Polícia Civil - Reaplicação)

No que concerne à caracterização da atividade empresarial segundo o direito brasileiro, pode


se afirmar que:

A) O empresário que tenha a atividade rural como sua principal profissão não pode
requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede.
B) Marido e mulher podem contratar sociedade, entre si ou com terceiros, mesmo que
tenham se casado no regime da comunhão universal de bens.
C) O termo empresário refere-se ao sócio da sociedade empresária.
D) Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica,
literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o
exercício da profissão constituir elemento de empresa.

64
E) A pessoa legalmente impedida de exercer a atividade empresária, caso a exerça, não
responderá pelas obrigações que contrair.

Comentário:

A) Errada - Art. 971 CC. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão,
pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer
inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois
de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro.

B) Errada – O art. 978 CC - os cônjuges podem contratar entre si e perante terceiros, desde
que não tenha casado em regime de comunhão universal de bens, ou separação obrigatória;

C) Errada - O Termo "empresa" no Código Civil é empregado no sentido de produção ou


circulação de bens ou serviços, ou seja sinônimo a atividade empresária.

D) Correta – O art. 966 § único - descrição do artigo

E) Errada - O art. 973 - caso a pessoa legalmente impedida exerça atividade, responderá pelas
obrigações contraídas.

Questão 20

(CESPE - 2016 - PC-PE - Delegado de Polícia)

A respeito de estabelecimento empresarial, aviamento e clientela, assinale a opção correta.

Estabelecimento empresarial corresponde a um complexo de bens corpóreos organizados ao


exercício de determinada empresa.

A) O estabelecimento empresarial não é suscetível de avaliação econômica e, por


consequência, não pode ser alienado.
B) Aviamento refere-se à aptidão que determinado estabelecimento empresarial possui
para gerar lucros.
65
C) De acordo com a doutrina, aviamento e clientela são sinônimos.
D) Na legislação vigente, não há mecanismos de proteção legal à clientela.

Comentário:

A) Errada - Na verdade, o conceito está incompleto: O estabelecimento comercial engloba


todo o complexo de bens corpóreos e incorpóreos organizados pelo empresário ou sociedade
empresária para o exercício da empresa, nos termos do art. 1.142 do CC.

B) Errada -Pelo contrário, o estabelecimento empresarial é sim suscetível de avaliação


econômica e, por consequência, pode ser alienado. O contrato de compra e venda de
estabelecimento denomina-se trespasse.

C) Certo- De fato, o aviamento é a aptidão que determinado estabelecimento possui para


gerar lucros ao exercente da empresa. É atributo do estabelecimento diretamente responsável
por sua valoração econômica. Por sua vez, na conceituação de André Luiz Santa Cruz Ramos,
em eu "Direito empresarial esquematizado", clientela é a "manifestação externa do Aviamento,
significando todo conjunto de pessoas que se relacionam constantemente com o empresário".

D) Errada - Vide comentário da assertiva C.

E) Certo - Item explicitamente falso, visto que há uma série de mecanismos legais de
proteção à clientela, até mesmo porque a clientela é um atributo do estabelecimento.

66
GABARITO

Questão 1 - A

Questão 2 -E

Questão 3 -E

Questão 4 -B

Questão 5 -D

Questão 6 -C

Questão 7 -C

Questão 8 -B

Questão 9 -A

Questão 10 -Certo

Questão 11 -Certo

Questão 12 -Certo

Questão 13 -Certo

Questão 14 - Errado

Questão 15 -Errado

Questão 16 -Errado

Questão 17 -A

Questão 18 -C

Questão 19 -D

Questão 20 - C

67
QUESTÃO DESAFIO

O fato de haver necessidade de constar expressamente na nota


promissória a possível vinculação da mesma a um contrato
bancário retira do referido título de crédito sua abstração e
executoriedade?

Máximo de 5 linhas

68
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

Conter expressamente na nota promissória constatação de vinculação da mesma a um


contrato bancário retira apenas sua abstração, mas não necessariamente sua
executoriedade, conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Não retira a executoriedade

Nota promissória emitida com vinculação a um contrato seja ele bancário ou não, precisa
conter expressamente tal vinculação, como explica o autor André Santa Cruz (CRUZ, André
Santa. Direito Empresarial. 8. ed. São Paulo: Método, 2020. p. 899-900.): “Inicialmente, cumpre
destacar que quando a nota promissória for emitida com vinculação a um determinado
contrato – não apenas contratos bancários, o que é mais comum, mas qualquer contrato –, tal
fato deve constar expressamente do título, uma vez que este pode circular, e o terceiro que
recebê-lo por endosso deve ter conhecimento da relação contratual à qual o título está
atrelado.”.

O fato de constar tal vinculação retira a característica da abstração dos títulos de crédito, já
que o terceiro que receber o endosso passa a ter conhecimento do negócio ocorrido
anteriormente.

Porém, não se pode afirmar que se perde necessariamente a executoriedade, salvo se a


relação contratual anterior não espelhe dívida líquida. É o que explica parte do seguinte
julgado: “2. Entretanto, a vinculação de uma nota promissória a um contrato retira a
autonomia de título cambial, mas não, necessariamente, a sua executoriedade. Assim, quando
a relação jurídica subjacente estiver consubstanciada em contrato que espelhe uma dívida
líquida, como no caso, não há empecilho ao prosseguimento da execução. Diversamente, se
estiver amparada em contrato que não espelhe dívida líquida, como se verifica do contrato de
abertura de crédito, não será possível a execução. Dessa forma, este Tribunal tem admitido a
execução de nota promissória vinculada a contrato de mútuo que contenha valor
determinado, por se entender que o contrato traduz a existência de dívida líquida e certa.”.
(STJ, REsp 259.819-PR, Rel. Min. Jorge Scartezzini, DJ 05.02.2007, p. 237)

 Cite o entendimento do STJ

69
O Superior Tribunal de Justiça entende que só o fato de a nota promissória estar vinculada a
um contrato de mútuo não a descaracteriza como título executivo, como no REsp 777.912/RS,
quando afirmou: “a nota promissória, ainda que vinculada a contrato de mútuo bancário, não
perde a sua executoriedade. Precedentes do STJ” (AgRg no REsp 777.912/RS, Rel. Min. Nancy
Andrighi, DJ 28.11.2005, p. 289)

O autor André Santa Cruz detalha (CRUZ, André Santa. Direito Empresarial. 8. ed. São Paulo:
Método, 2020. p. 901-901.): “A questão merece explicação mais detalhada. A nota promissória
vinculada a um contrato específico, com expressa menção no título a este fato, tem a sua
abstração e autonomia, pode-se dizer, relativizada. Isso se dá porque o título passa a ter uma
ligação intrínseca com o contrato que o originou, podendo-se então aplicar, grosso modo, a
máxima de que o acessório (a nota) segue o principal (o contrato). Portanto, se o contrato a
que está ligada a nota promissória não descaracterizar a sua liquidez, ela continuará
ostentando a característica de título executivo extrajudicial, nos termos do art. 784 do Código
de Processo Civil, e poderá fundamentar ação executiva contra o devedor.”.

70
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Teoria Geral do Direito Empresarial:

 CC/02: arts. 421-742;


 Lei n. 13.874/201913
 Lei n. 13.966/201914
 Lei Complementar n° 123/06: art. 16
 Lei 9.514/9715
 Decreto-Lei n. 911/69:arts. 1º ao 8º

Contratos Empresariais

 Súmula Vinculante 25:

É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.

 Súmula 489, STF:

A compra e venda de automóvel não prevalece contra terceiros, de boa-fé, se o contrato não foi transcrito no
registro de títulos e documentos.

 Súmula 28, STJ:

O contrato de alienação fiduciária em garantia pode ter por objeto bem que já integrava o patrimônio do
devedor.

 Súmula 72, STJ:

A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente.

 Súmula 92, STJ:

13
Tal norma foi designada como “Declaração dos Direitos da Liberdade Econômica”, razão pela qual é importante a leitura e
todos os seus dispositivos.
14
Referida norma consiste na Nova Lei de Franquia e possui poucos dispositivos, daí a relevância de sua leitura na totalidade.
15
Essa lei disciplina a alienação fiduciária de coisa imóvel, recomendando-se que se faça uma leitura focada nos dispositivos
alterados pela Lei 13.465/17.
71
A terceiro de boa-fé não é oponível a alienação fiduciária não anotada no Certificado de Registro do veículo
automotor.

 Súmula 233, STJ

O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato de conta corrente não é título executivo.

 Súmula 245, STJ:

A notificação destinada a comprovar a mora nas dívidas garantidas por alienação fiduciária dispensa a indicação
do valor do débito.

 Súmula 247, STJ

O contrato de abertura de crédito em conta corrente, acompanhado do demonstrativo de débito, constitui


documento hábil ao ajuizamento da ação monitória.

 Súmula 284, STJ:

A purga da mora, nos contratos de alienação fiduciária, só é permitida quando já pagos pelo menos 40% do
valor financiado.

 Súmula 293, STJ

A cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não descaracteriza o contrato de arrendamento

mercantil.

 Súmula 322, STJ

Para a repetição de indébito, nos contratos de abertura de crédito em conta corrente, não se exige a prova do

erro.

 Súmula 380, STJ:

A simples propositura da ação de revisão de contrato não inibe a caracterização da mora do autor.

 Súmula 384, STJ:

Cabe ação monitória para haver saldo remanescente oriundo de venda extrajudicial de bem alienado
fiduciariamente em garantia.

 Súmula 564, STJ

No caso de reintegração de posse em arrendamento mercantil financeiro, quando a soma da importância

antecipada a título de valor residual garantido (VRG) com o valor da venda do bem ultrapassar o total do VRG
previsto contratualmente, o arrendatário terá direito de receber a respectiva diferença, cabendo, porém, se
estipulado no contrato, o prévio desconto de outras despesas ou encargos pactuados.

72
JURISPRUDÊNCIA

Contrato de Abertura de Crédito

 STJ, 3ª Turma. REsp 1781959/SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva. julgado em 11/02/2020

De acordo com as normas aplicáveis às operações ativas e passivas de que trata a Resolução nº 1.143/1986, do
Conselho Monetário Nacional, não há óbice em se adotar as taxas de juros praticadas nas operações de

depósitos interfinanceiros como base para o reajuste periódico das taxas flutuantes, desde que calculadas com
regularidade e amplamente divulgadas ao público.O depósito interfinanceiro (DI) é o instrumento por meio do

qual ocorre a troca de recursos exclusivamente entre instituições financeiras, de forma a conferir maior liquidez
ao mercado bancário e permitir que as instituições que têm recursos sobrando possam emprestar àquelas que
estão em posição deficitária.Nos depósitos interbancários, como em qualquer outro tipo de empréstimo, a
instituição tomadora paga juros à instituição emitente. A denominada Taxa CDI, ou simplesmente DI, é calculada
com base nas taxas aplicadas em tais operações, refletindo, portanto, o custo de captação de moeda suportado
pelos bancos.

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de que é potestativa a cláusula que deixa ao
arbítrio das instituições financeiras, ou associação de classe que as representa, o cálculo dos encargos cobrados

nos contratos bancários.Não é potestativa a cláusula que estipula os encargos financeiros de contrato de abertura

de crédito em percentual sobre a taxa média aplicável aos Certificados de Depósitos Interbancários (CDIs), visto
que tal indexador é definido pelo mercado, a partir das oscilações econômico-financeiras, não se sujeitando a
manipulações que possam atender aos interesses das instituições financeiras.Eventual abusividade deve ser
verificada no julgamento do caso concreto em função do percentual fixado pela instituição financeira, comparado
às taxas médias de mercado regularmente divulgadas pelo Banco Central do Brasil para as operações de mesma
espécie, conforme decidido em precedentes desta Corte julgados sob o rito dos recursos repetitivos, o que não
se verifica na espécie.

Contrato de Representação Comercial

 STJ, 3ª Turma.REsp 1831947/PR. Rel. Min. Nancy Andrighi. julgado em 10/12/2019

A Lei 4.886/65, em seu art. 27, "j", estabelece que o representante deve ser indenizado caso o contrato de
representação comercial seja rescindido sem justo motivo por iniciativa do representado.O pagamento

antecipado, em conjunto com a remuneração mensal devida ao representante comercial, desvirtua a finalidade da
indenização prevista no art. 27, "j", da Lei 4.886/65, pois o evento, futuro e incerto, que autoriza sua incidência é
a rescisão unilateral imotivada do contrato.Essa forma de pagamento subverte o próprio conceito de indenização.
73
Como é sabido, o dever de reparar somente se configura a partir da prática de um ato danoso. No particular,
todavia, o evento que desencadeou tal dever não havia ocorrido - nem era possível saber se, de fato, viria a

ocorrer - ao tempo em que efetuadas as antecipações mensais.O princípio da boa-fé impede que as partes de
uma relação contratual exercitem direitos, ainda que previstos na própria avença de maneira formalmente lícita,

quando, em sua essência, esse exercício representar deslealdade ou gerar consequências danosas para a
contraparte.
A cláusula que extrapola o que o ordenamento jurídico estabelece como padrão mínimo para garantia do
equilíbrio entre as partes da relação contratual deve ser declarada inválida.

Contrato de Conta Corrente

 STJ, 3ª Turma.REsp 1696214/SP. Rel. Min. Marco Aurélio Belizze. julgado em 16/10/2018

O serviço bancário de conta-corrente afigura-se importante no desenvolvimento da atividade empresarial de


intermediação de compra e venda de bitcoins, desempenhada pela recorrente, conforme ela própria consigna,

mas sem repercussão alguma na circulação e na utilização dessas moedas virtuais, as quais não dependem de
intermediários, sendo possível a operação comercial e/ou financeira direta entre o transmissor e o receptor da

moeda digital. Nesse contexto, tem-se, a toda evidência, que a utilização de serviços bancários, especificamente o

de abertura de conta-corrente, pela insurgente, dá-se com o claro propósito de incrementar sua atividade
produtiva de intermediação, não se caracterizando, pois, como relação jurídica de consumo mas sim de insumo ,
a obstar a aplicação, na hipótese, das normas protetivas do Código de Defesa do Consumidor. O encerramento
do contrato de conta-corrente, como corolário da autonomia privada, consiste em um direito subjetivo exercitável
por qualquer das partes contratantes, desde que observada a prévia e regular notificação. 3.1 A esse propósito,

destaca-se que a Lei n.4.595/1964, recepcionada pela Constituição Federal de 1988 com status de lei
complementar e regente do Sistema Financeiro Nacional, atribui ao Conselho Monetário Nacional competência

exclusiva para regular o funcionamento das instituições financeiras (art. 4º, VIII). E, no exercício dessa

competência, o Conselho Monetário Nacional, por meio da edição de Resoluções do Banco Central do Brasil que
se seguiram, destinadas a regulamentar a atividade bancária, expressamente possibilitou o encerramento do

contrato de conta de depósitos, por iniciativa de qualquer das partes contratantes, desde que observada a
comunicação prévia. A dicção do art. 12 da Resolução BACEN/CMN n. 2.025/1993, com a redação conferida pela
Resolução BACEN/CMN n. 2.747/2000, é clara nesse sentido.Atendo-se à natureza do contrato bancário,
notadamente o de conta-corrente, o qual se afigura intuitu personae, bilateral, oneroso, de execução continuada,
prorrogando-se no tempo por prazo indeterminado, não se impõe às instituições financeiras a obrigação de

contratar ou de manter em vigor específica contratação, a elas não se aplicando o art. 39, II e IX, do Código de
Defesa do Consumidor. Revela-se, pois, de todo incompatível com a natureza do serviço bancário fornecido, que
conta com regulamentação específica, impor-se às instituições financeiras o dever legal de contratar, quando

delas se exige, para atuação em determinado seguimento do mercado financeiro, profunda análise de aspectos
mercadológico e institucional, além da adoção de inúmeras medidas de segurança que lhes demandam o

74
conhecimento do cliente bancário e de reiterada atualização do seu cadastro de clientes, a fim de minorar os
riscos próprios da atividade bancária.

4.1 Longe de encerrar abusividade, tem-se por legítima, sob o aspecto institucional, a recusa da instituição
financeira recorrida em manter o contrato de conta-corrente, utilizado como insumo, no desenvolvimento da

atividade empresarial, desenvolvida pela recorrente, de intermediação de compra e venda de moeda virtual, a
qual não conta com nenhuma regulação do Conselho Monetário Nacional (em tese, porque não possuiriam
vinculação com os valores mobiliários, cuja disciplina é dada pela Lei n. 6.385/1976). De igual modo, sob o
aspecto mercadológico, também se afigura lídima a recusa em manter a contratação, se, conforme sustenta a

própria insurgente, sua atividade empresarial se apresenta, no mercado financeiro, como concorrente direta e
produz impacto no faturamento da instituição financeira recorrida. Desse modo, o proceder levado a efeito pela

instituição financeira não configura exercício abusivo do direito.Não se exclui, naturalmente, do crivo do Poder
Judiciário a análise, casuística, de eventual desvirtuamento no encerramento do ajuste, como o inadimplemento
dos deveres de informação e de transparência, ou a extinção de uma relação contratual longeva, do que, a toda
evidência, não se cuida na hipótese ora vertente.

Contrato de Leasing

 STJ. 2ª Turma. REsp 1569840/MT. Rel Min. Francisco Falcão. Julgadoem16/08/2018

AGRAVO DE INSTRUMENTO. TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. EMPRESÁRIO INDIVIDUAL. REDIRECIONAMENTO. 1.


A controvérsia cinge-se à responsabilidade patrimonial do empresário individual e as formalidades legais para sua
inclusão no polo passivo de execução de débito da firma da qual era titular. 2. O acórdão recorrido entendeu
que o empresário individual atua em nome próprio, respondendo com seu patrimônio pessoal pelas obrigações

assumidas no exercício de suas atividades profissionais, sem as limitações de responsabilidade aplicáveis às


sociedades empresárias e demais pessoas jurídicas. 3. A jurisprudência do STJ já fixou o entendimento de que "a
empresa individual é mera ficção jurídica que permite à pessoa natural atuar no mercado com vantagens próprias
da pessoa jurídica, sem que a titularidade implique distinção patrimonial entre o empresário individual e a pessoa
natural titular da firma individual" (REsp 1.355.000/SP, Rel. Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em
20/10/2016, DJe 10/11/2016) e de que "o empresário individual responde pelas obrigações adquiridas pela
pessoa jurídica, de modo que não há distinção entre pessoa física e jurídica, para os fins de direito, inclusive no
tange ao patrimônio de ambos" (AREsp 508.190, Rel. Min. Marco Buzzi, Publicação em 4/5/2017). 4. Sendo assim,
o empresário individual responde pela dívida da firma, sem necessidade de instauração do procedimento de
desconsideração da personalidade jurídica (art. 50 do CC/2002 e arts. 133 e 137 do CPC/2015), por ausência de
separação patrimonial que justifique esse rito. 5. O entendimento adotado pelo Tribunal de origem guarda

consonância com a jurisprudência do STJ, o que já seria suficiente para se rejeitar a pretensão recursal com base
na Súmula 83/STJ. O referido verbete sumular aplica-se aos recursos interpostos tanto pela alínea "a" quanto pela
alínea "c" do permissivo constitucional. Nesse sentido: REsp 1.186.889/DF, Segunda Turma, Relator Ministro
Castro Meira, DJe de 2.6.2010. 6. Não obstante isso, não se constata o preenchimento dos requisitos legais e

75
regimentais para a propositura do Recurso Especial pela alínea "c" do art. 105 da CF. 7. A apontada divergência
deve ser comprovada, cabendo a quem recorre demonstrar as circunstâncias que identificam ou assemelham os

casos confrontados, com a indicação da similitude fática e jurídica entre eles. 8. In casu, o recorrente não se
desincumbiu do ônus de demonstrar que os casos comparados tratam da mesma situação fática: empresário

individual. Ao revés, limitou-se a transcrever ementas e trechos que versam sobre sociedade empresarial cuja
diferença em relação ao caso dos autos foi suficientemente explanada neste julgado. 9. Recurso Especial não
conhecido.)

76
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2020.

CRUZ, André Santa. Direito Empresarial - 8ª Ed. - Saraiva, 2020.

FAZZIO JUNIOR, WALDO. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2020.

MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. 13ª Ed. São Paulo: Atlas, 2020.

PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora jus
podivm, 2017.

PENANTE JR, Francisco. LAURINDO, Felipe. Prática empresarial. Recife: Armador, 2020.

77
Capítulo 7
SUMÁRIO

DIREITO EMPRESARIAL .................................................................................................................................................... 3

7. Propriedade Industrial ............................................................................................................................................. 3


7.1 Noções Gerais ....................................................................................................................................................... 3
7.1.1 Direito de Propriedade Intelectual ....................................................................................................................... 3
7.1.1 Legislação Aplicável............................................................................................................................................... 5
7.1.2 O Instituto Nacional de Propriedade Industrial .................................................................................................. 12
7.2 Da Invenção......................................................................................................................................................... 16
7.3 Do Modelo de Utilidade ...................................................................................................................................... 17
7.4 Desenho industrial (design) ................................................................................................................................ 18
7.5 Marca .................................................................................................................................................................. 19
7.6 “Trade Dress” ...................................................................................................................................................... 23
7.7 Segredo de empresa ........................................................................................................................................... 25
7.7.1 Conceito e finalidade .......................................................................................................................................... 25
7.7.2 O segredo de empresa e a nova Lei de Proteção de Dados................................................................................ 26
Art. 18. 28
7.8 Patenteabilidade de invenção e de modelo de utilidade ................................................................................... 29
7.8.1 Requisitos de concessão ..................................................................................................................................... 29
7.8.2 Duração de patente ............................................................................................................................................ 31
7.8.3 Nulidade da patente ........................................................................................................................................... 33
7.8.4 Licença de uso ou exploração de patente........................................................................................................... 37
7.8.5 Patentes “Pipeline” ............................................................................................................................................. 38
7.9 Registrabilidade de desenho industrial e de marca ............................................................................................ 39
7.9.1 Registro de desenho industrial ........................................................................................................................... 39
7.1.1 Registro de marca ............................................................................................................................................... 40
7.2 Extinção da propriedade industrial ..................................................................................................................... 45

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 46

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 47

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 64

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 68

1
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 71

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 73

2
DIREITO EMPRESARIAL

Capítulo 1

7. Propriedade Industrial

Neste capítulo,futuro Delta, estudaremos a propriedade industrial.Este tema é pouco


cobrado em carreiras estaduais, portanto, é importante dar mais ênfase nas noções gerais de
invenção, modelo de utilidade, desenho industrial, marcas e patentes.

7.1 Noções Gerais

7.1.1 Direito de Propriedade Intelectual

Denomina-se propriedade intelectual o conjunto de bens imateriais do


estabelecimento comercial, constituído pela propriedade industriale a propriedade autoral.
O Direito Autoral é estudado pelo Direito Civil, ficando o estudo do Direito Industrial a cargo
do Direito Empresarial.1
O direito de propriedade industrial compreende o conjunto de regras e princípios que
conferem tutela jurídica específica aos elementos imateriais do estabelecimento empresarial.
Especificamente, confere proteção às marcas e desenhos industriais registrados e às invenções
e modelos de utilidade patenteados, além de reprimir as falsas indicações geográficas e a
concorrência desleal.
O direito de propriedade intelectual é gênero, que tem como espécie o direito de
propriedade industrial, o direito autoral, outros direitos sobre bens imateriais e, segundo
alguns doutrinadores, ainda, o direito antitruste.

1COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016. p. 169.
3
PROPRIEDADE INTELECTUAL =BENS IMATERIAIS DO ESTABELECIMENTO COMERCIAL =
PROPRIEDADE INDUSTRIAL + PROPRIEDADE AUTORAL

O direito de exclusividade na exploração do bem imaterial conferida pelo direito


industrial decorre de um ato administrativo(expedição de patente ou de certificado de
registro pelo INPI), que tem natureza constitutiva(o direito surge com o ato).
O direito de exclusividadena exploração do bem imaterial conferida pelo direito
autoral(obra científica, artística, literária ou de programa de computador) não decorre de
algum ato administrativo concessivo, mas da criação da mesma. Eventual registro serve
apenas como prova da anterioridade da criação. Mesmo que o registro de programas de
computador seja feito pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial - INPI, não tem
natureza constitutiva, visto que se cuida de direito autoral.

O direito de propriedade industrial e o direito autoral são distintos, principalmente


quanto ao regime de proteção jurídica aplicável, uma vez que o direito autoral protege a obra
em si, enquanto o direito de propriedade industrial protege uma técnica.

Podemos citar as seguintes diferenças entre o direito de propriedade industrial e o


direito autoral:

DIFERENÇAS BÁSICAS

PROPRIEDADE INDUSTRIAL DIREITO AUTORAL

- ato administrativo - Não decorre de ato administrativo

- Natureza constitutiva - Natureza meramente declaratória

- A proteção depende de registro - A proteção independe de registro

4
- Protege a forma exterior + técnica (ideia) - Protege a forma exterior

- Prazos: - Prazo: 70 anos


i) invenção (20 anos);
ii) modelo de utilidade (15 anos);
iii) marca (10 anos) * sempre renovável
iv) desenho industrial (10 anos)

7.1.1 Legislação Aplicável

A Constituição Federal de 1988. no art. 5º XXIX dispõe, reconhece a propriedade


industrial como direito fundamental:

Art. 5º, XXIX.A lei assegurará aos autores de inventos industriais


privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações
industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros
signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento
tecnológico e econômico do País” (grifo nosso).

A Lei 9.279/96, por sua vez, regula os direitos e obrigações relativos à Propriedade
Industrial no plano infraconstitucional. No art. 2º, incisos I a III, o legislador protegeu quatro
espécies de bens imaterias: a patente de invenção; a patente de modelo de utilidade; o
desenho industrial; a marca.

Nos incisos IV e V do mesmo artigo, a referida lei garantiu a repressão à falsas


indicações geográficas;à concorrência desleal2.O registro dos bens industriais deve ser
requerido no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI – autarquia federal) e, somente
após o ato concessivo correspondente, é que nasce o direito à exploração econômica com
exclusividade.

Esses bens integrarão o patrimônio do seu titular, em regra o empresário, que terá não
só o direito de explorá-los economicamente, com inteira exclusividade, mas também de
aliená-los por ato inter vivos ou mortis causa, ou ainda impedir sua utilização pela
concorrência.

2
Vide questão 10.
5
Para que um terceiro explore bem industrial patenteado ou registrado (invenção,
modelo, desenho ou marca) ele necessita de autorização ou licença do titular do bem.

A Convenção da União de Paris foi o primeiro acordo internacional relativo à


Propriedade Intelectual, assinado em 1883 em Paris, e continua em vigor em sua versão de
Estocolmo, inclusive por força do Acordo TRIPs. Ela foi elaborada visando permitir razoável
grau de flexibilidade às legislações nacionais, desde que respeitados princípios fundamentais.

Criou-se um território da União, constituído pelos países contratantes, onde se aplicam


os princípios gerais de proteção aos Direitos de Propriedade Industrial, cujo conteúdo vale
detalhar:

I. Princípio do tratamento nacional


Esse princípio estabelece que os nacionais de cada um dos países membros gozam, em
todos os outros países membros a União, da mesma proteção, vantagens e direitos
concedidos pela legislação do país a seus nacionais, sem que nenhuma condição de domicílio
ou de estabelecimento seja exigida, está consagrado no Art. 2º da Convenção de Paris.

Com efeito, os domiciliados ou os que possuem estabelecimentos industriais ou


comerciais efetivos no território de um dos países membros da Convenção são equiparados
aos nacionais do país onde foi requerida a patente ou o desenho industrial.

A Convenção faz ressalva, todavia, em relação às disposições das legislações nacionais


no que tange aos processos judicial e administrativo, à competência, à escolha de domicílio ou
de estabelecimento no país ou à designação de mandatário.

A legislação brasileira faz uso, em especial, dessa última ressalva no art. 217, da Lei n.º
9.279/96 – LPI:

Art. 217. A pessoa domiciliada no exterior deverá constituir e manter


procurador devidamente qualificado e domiciliado no País, com poderes
para representá-la administrativa e judicialmente, inclusive para receber
citações.

II. Princípio da prioridade unionista

6
Esse princípio dispõe que o primeiro pedido de patente ou desenho industrial
depositado em um dos países membros serve de base para depósitos subsequentes
relacionados à mesma matéria, efetuados pelo mesmo depositante ou seus sucessores legais
(art. 4ª da Convenção de Paris).

Confere ao depositante um direito de prioridade, desde que esses depósitos de pedidos


de patente futuros sejam feitos nos outros países dentro de 12 meses (invenção) e 6 meses
(desenho industrial).

III. Princípio da independência dos direitos


Tal princípio, consentâneo com o Princípio da Territorialidade, estatui que as patentes
concedidas ou pedidos depositados em quaisquer dos países membros da Convenção, são
independentes das patentes concedidas ou dos pedidos depositados correspondentes, em
qualquer outro País signatário ou não da Convenção.

A independência está relacionada às causas de nulidade e de caducidade, como


também do ponto de vista da vigência.

IV. Princípio da territorialidade


Esse princípio estabelece que a proteção conferida pelo estado através da patente ou
do registro do desenho industrial tem validade somente nos limites territoriais do país que a
concede.

V. Acordo TRIPS
O Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados ao
Comércio (Acordo TRIPS) é um tratado Internacional, integrante do conjunto de acordos
assinados em 1994 que encerrou a Rodada Uruguai e criou a Organização Mundial do
Comércio.

Surgiu da necessidade de uniformização das regras entre os diversos países, tendência


de internacionalização do direito de propriedade industrial, que se iniciou com a Convenção
da União de Paris.

O Brasil ratificou o Acordo TRIPS por meio do Decreto Legislativo 30/1994 e o


promulgou pelo Decreto presidencial 1.355/1994.

7
Tal acordo estabelece padrões mínimos de proteção a serem observados pelos
Membros, com relação a direito autoral, marcas, indicações geográficas, desenhos industriais,
patentes, circuitos integrados e informação confidencial. Ele incorpora os principais
dispositivos substantivos da Convenção de Paris para a Proteção da Propriedade Intelectual e
da Convenção de Berna para a Proteção de Trabalhos Literários e Artísticos (com exceção dos
direitos morais), ambos negociados no âmbito da OMPI.

Conflitos entre Membros da OMC envolvendo o cumprimento das obrigações de TRIPS


estão sujeitos ao mecanismo de solução de controvérsias da OMC. O Conselho de TRIPS, o
qual normalmente se reúne três vezes ao ano, é responsável pelo monitoramento da
implementação do Acordo, e, em particular, pela maneira como os Membros observam suas
obrigações sob este Acordo.

Segundo o texto do acordo, sua vigência ficaria postergada por cinco anos nos países
em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. No entanto, o Superior Tribunal de Justiça
(REsp 661.536/RJ) entendeu que a aplicação do Acordo TRIPS no Brasil foi imediata, em razão
de nosso país não ter optado expressamente pela postergação de cinco anos prevista no texto
do tratado.

Posteriormente, o STJ alterou seu entendimento, afirmando que o próprio texto do


Acordo TRIPS prevê que nos países em desenvolvimento sua vigência será prorrogada por
cinco anos, independentemente de manifestação expressa do país nesse sentido.

Recurso especial. Propriedade industrial. Prorrogação do prazo de patente


concedida nos termos da Lei n. 5.772/71 por mais cinco anos. Acordo
TRIPS. Vigência no Brasil. I. O Acordo Internacional TRIPS – inserido no
ordenamento jurídico brasileiro pelo Decreto n. 1.355/94 –, na parte que
prevê a prorrogação do prazo de patente de 15 anos – nos termos da Lei
n. 5.772/71 – para 20 anos, não tem aplicação imediata, ficando
submetida a observância de suas normas a pelo menos duas restrições,
em se tratando de países em desenvolvimento, como o caso do Brasil: a)
prazo geral de um ano, a contar do início da vigência do Acordo no país
(art. 65.1); b) prazo especial de mais quatro anos para os países em
desenvolvimento (art. 65.2), além do prazo geral. II – A ausência de
manifestação legislativa expressa, no sentido de postergar a vigência do
8
Acordo no plano do direito interno por mais cinco anos (na modalidade 1
+ 4), não pode ser interpretada como renúncia à faculdade oferecida pelo
art. 65 às nações em desenvolvimento, uma vez que não havia nenhum
dispositivo obrigando o país a declarar sua opção pelo prazo de
transição. Precedente: REsp 960.728/RJ, Rel.ª Min.ª NANCY ANDRIGHI, DJ
17.3.09. Recurso Especial provido (REsp 806.147/RJ, Rel. Min. Sidnei Beneti,
3.ª Turma, j. 15.12.2009, DJe 18.12.2009).
Comercial. Recurso especial. Mandado de segurança. Patentes. Pedido de
prorrogação, por mais cinco anos, de patente concedida na vigência da
Lei n.º 5.772/71, em face da adesão do Brasil ao Acordo TRIPS. Natureza
do Acordo. Exame das cláusulas relativas às possíveis prorrogações de
prazo de vigência do TRIPS para os países em desenvolvimento e das
discussões legislativas no Congresso brasileiro durante a adesão ao
Acordo. – Quando o STJ acatou, em precedentes anteriores, a
prorrogação do prazo de 15 anos previsto na anterior Lei n.º 5.772/71
para 20 anos, com base no acordo TRIPS, tomou por premissa necessária
um fundamento que não chegou a ser questionado e que está longe de
ser pacífico, segundo o qual tal Acordo, no momento de sua recepção
pelo Estado brasileiro, passou a produzir efeitos sobre as relações
jurídicas privadas que tinham em um dos polos detentores de patentes
ainda em curso de fruição. – Em reexame da questão, verifica-se, porém,
que o TRIPS não é uma Lei Uniforme; em outras palavras, não é um
tratado que foi editado de forma a propiciar sua literal aplicação nas
relações jurídicas de direito privado ocorrentes em cada um dos Estados
que a ele aderem, substituindo de forma plena a atividade legislativa
desses países, que estaria então limitada à declaração de sua recepção. –
O argumento de que o Brasil não demonstrou interesse em fazer valer o
prazo extra de quatro anos, como Nação em desenvolvimento, para
aplicação do TRIPS desconsidera a existência de dois prazos de carência
no corpo do Acordo, pois é nítida a diferença entre as redações dos §§
2.º e 4.º do art. 65. Com efeito, o § 2.º, quando cria o prazo geral de
aplicação de cinco anos (na modalidade 1 + 4) fala expressamente que tal
prazo é um direito do Estado em desenvolvimento; porém, ao tratar do
segundo prazo adicional, no § 4.º, a redação muda substancialmente,
estando ali consignado que um Estado nas condições do Brasil “poderá

9
adiar” a aplicação do Acordo em alguns pontos por mais 5 anos. A
segunda ressalva é uma mera possibilidade, ao contrário da primeira. – O
Brasil, conforme demonstram as transcrições das discussões legislativas
juntadas aos autos, abriu mão do segundo prazo especial e facultativo de
mais cinco anos constante no art. 65.4, prazo esse destinado à extensão
da proteção a setores tecnológicos ainda não protegidos pelas antigas
Leis de Patentes; mas não do primeiro prazo, porque, em relação a este e
pelos próprios termos do Acordo, qualquer manifestação de vontade era
irrelevante. – Em resumo, não se pode, realmente, pretender a aplicação
do prazo previsto no art. 65.4 do TRIPS, por falta de manifestação
legislativa adequada nesse sentido; porém, o afastamento deste prazo
especial não fulmina, de forma alguma, o prazo genérico do art. 65.2, que
é um direito concedido ao Brasil e que, nesta qualidade, não pode sofrer
efeitos de uma pretensa manifestação de vontade por omissão, quando
nenhum dispositivo obrigava o país a manifestar interesse neste ponto
como condição da eficácia de seu direito. Recurso especial não conhecido
(REsp 960.728/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 17.03.2009, DJe
15.04.2009).

A Lei n. 5.772/71 estabelecia o prazo de 15 anos para patentes de invenção, e a atual


Lei de Propriedade Industrial aumentou esse prazo para 20 anos. Esse aumento do prazo
ocorreu para adequar a legislação ao Acordo TRIPS. Assim, surgiu o questionamento se o
novo prazo da Lei de Propriedade Industrial seria aplicável para as patentes concedidas na
vigência da lei antiga.

O STJ entendeu que o Acordo TRIPS não teve aplicação imediata, uma vez que seu próprio
texto estabelece que, para os países em desenvolvimento, sua vigência seria postergada
por cinco anos.Esseentendimento acima é direcionado às chamadas patentes “mailbox”
10
(guardadas numa caixa”, pois se referem à uma regra de transição do acordo TRIPS e a Lei de
Propriedade Industrial, mas tenha em mente que o prazo de proteção deste tipo de patente
não excede 20 anos.

Para melhor compreensão, vale a transcrição de artigo publicado no site “migalhas”, que
destaca os trechos específicos do voto da Ministra Nancy sobre o tema
(https://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI278848,11049Prazo+de+patente+mailbox+e+de+
ate+20+anos+contados+do+dia+em+que):

Após abordar as particularidades do sistema “mailbox” (“mecanismo transitório adotado para


salvaguarda de pedidos de patentes relacionadas a produtos farmacêuticos e produtos
agroquímicos”), a ministra Nancy considerou que a LPI estabeleceu regra expressa
assegurando proteção, a partir da data da respectiva concessão, limitada ao prazo
remanescente previsto no caput do seu art. 40, qual seja, 20 anos contados do dia do
depósito.Tal circunstância, asseverou, afasta a possibilidade de incidência do prazo excepcional
do respectivo parágrafo único, de 10 anos a partir da concessão. Nas suas próprias palavras:

“A norma que prescreve que o prazo de vigência de patente de invenção


não deve ser inferior a 10 anos da data de sua concessão está inserida
em capítulo da LPI que versa sobre regras gerais, aplicáveis ao sistema
ordinário de concessão de patentes, de modo que, à míngua de remição
legal específica, não irradia efeitos sobre matéria a qual foi conferido
tratamento especial pela mesma lei.”

Em arremate, diante da divergência das legislações sobre o tema, no âmbito


internacional, o Acordo TRIPS estabeleceu que os países-membros poderão negar a proteção
patentária às seguintes invenções biotecnológicas: métodos diagnósticos, terapêuticos e
cirúrgicos para o tratamento de seres humanos ou de animais; plantas e animais, exceto
micro-organismos e processos essencialmente biológicos para a produção de plantas ou
animais, excetuando-se os processos não biológicos e microbiológicos3. Não obstante, os
Membros concederão proteção a variedades vegetais, seja por meio de patentes, seja por
meio de um sistema sui generis eficaz, seja por uma combinação de ambos.

3
Vide questão 3.
11
7.1.2 O Instituto Nacional de Propriedade Industrial

O Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) é uma autarquia federal, vinculada


ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que tem por finalidade
executar, no âmbito nacional, as normas que regulam a Propriedade Industrial, tendo em vista
a sua função social, econômica, jurídica e técnica4. Também lhe compete pronunciar-se quanto
à conveniência de assinatura, ratificação e denúncia de convenções, tratados, convênios e
acordos sobre propriedade industrial.

Lei 5.648/1970
Art. 2ºO INPI tem por finalidade principal executar, no âmbito nacional,
as normas que regulam a propriedade industrial, tendo em vista a sua
função social, econômica, jurídica e técnica, bem como pronunciar-se
quanto à conveniência de assinatura, ratificação e denúncia de
convenções, tratados, convênios e acordos sobre propriedade industrial.

De acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, as ações contra o INPI


são de competência da Justiça Federal, por se tratar de autarquia federal, e devem ser
ajuizadas na seção judiciária do Rio de Janeiro, local da sede do instituto.
Entretanto, havendo pluralidade de réus, como ocorre nos casos em que a ação é
ajuizada contra o INPI e, também, contra um particular, o STJ já decidiu que cabe ao autor da
ação ajuizá-la no Rio de Janeiro ou no foro do domicílio do outro réu, in verbis:

Processual civil. Recurso especial. Ação na qual o INPI figura como parte.
Foro competente para julgamento. O foro competente para julgamento
de ação em que o INPI figure como parte é o de sua sede, a princípio.
Contudo, o Código de Processo Civil faculta que o autor ajuize a ação no
foro do domicílio do outro demandado na hipótese de pluralidade de
réus, se assim preferir. Inteligência do art. 94, § 4.º, do CPC (REsp
346.628/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 13.11.2001, DJ
04.02.2002, p. 355).

Ademais, a ação de indenização por perdas e danos contra particular por infração de
direito de propriedade industrial, no caso em que o INPI não é parte, deverá ser ajuizada na

4
Vide questão 7.
12
justiça estadual, sendo vedada sua cumulação com a ação anulatória de registro no INPI,
uma vez que a cumulação só é admitida pelo Código de Processo Civil quando o mesmo
juízoé competente para conhecer todos os pedidos.5
Nesse sentido é o entendimento do STJ:

Direito marcário e processual civil. Recurso especial. Competência para


julgar pedido de perdas e danos decorrentes do uso da marca, cujo
registro pretende-se a anulação. Lide que não envolve a União, autarquia,
fundação ou empresa pública federal. Competência da justiça estadual.
Registro da marca “Cheese.ki.tos”, em que pese a preexistência do
registro da marca “Chee.tos”, ambas assinalando salgadinhos “snacks”,
comercializados no mesmo mercado.Impossibilidade, visto que a
coexistência das marcas tem o condão de propiciar confusão ou
associação ao consumidor. 1. A autora pretende cumular duas ações: a
primeira a envolver a nulidade do registro marcário, obtido pela
empresa ré e efetuado pelo INPI, e a segunda buscando a reparação
dos danos alegadamente causados pela sociedade ré, isto é, lide que
não envolve a autarquia.Destarte, como o artigo 292, § 1º, II, do CPC
restringe a possibilidade de cumulação de pedidos, admitindo-a
apenas quando o mesmo juízo é competente para conhecer de todos
e o artigo 109, I, da Constituição Federal prevê que compete aos
juízes federais processar e julgar as causas em que a União, entidade
autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição
de autoras, rés, assistentes ou opoentes, é descabida a cumulação, sob
pena de usurpação da competência residual da justiça estadual.(…)7.
Recurso especial parcialmente provido (REsp 1188105/RJ, Rel. Ministro
Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 05.03.2013, DJe
12.04.2013).

Quanto à possibilidade de a justiça comum estadual declarar, incidentalmente, a


nulidade de patente ou registro de marca e desenho industrial, em recente decisão, em ação
de abstenção de uso de marca e desenho industrial, a 3ª Turma do STJ, em entendimento
contrário ao da 4ª Turma (Agravo 526.187, de 2007), decidiu que o juiz estadual não pode,
nem mesmo incidentalmente, considerar inválido um registro vigente:

5
Vide questão 5.
13
Processo civil e direito de propriedade intelectual. Registro de desenho
industrial e de marca. Alegada contrafação. Propositura de ação de
abstenção de uso. Nulidade do registro alegado em matéria de defesa.
Reconhecimento pelo tribunal, com revogação de liminar concedida em
primeiro grau. Impossibilidade. Revisão do julgamento. Nulidade de
patente, marca ou desenho deve ser alegada em ação própria, para a
qual é competente a Justiça Federal. Recurso provido.1. A alegação de
que é inválido o registro, obtido pela titular de marca, patente ou
desenho industrial perante o INPI, deve ser formulada em ação própria,
para a qual é competente a Justiça Federal. Ao juiz estadual não é
possível, incidentalmente, considerar inválido um registro vigente, perante
o INPI.Precedente.2. A impossibilidade de reconhecimento incidental da
nulidade do registro não implica prejuízo para o exercício do direito de
defesa do réu de uma ação de abstenção. Nas hipóteses de registro
irregular de marca, patente ou desenho, o terceiro interessado em
produzir as mercadorias indevidamente registradas deve, primeiro, ajuizar
uma ação de nulidade perante a Justiça Federal, com pedido de
antecipação dos efeitos da tutela. Assim, todo o peso da demonstração
do direito recairia sobre o suposto contrafeitor que, apenas depois de
juridicamente respaldado, poderia iniciar a comercialização do produto.3.
Autorizar que o produto seja comercializado e que apenas depois, em
matéria de defesa numa ação de abstenção, seja alegada a nulidade pelo
suposto contrafeitor, implica inverter a ordem das coisas. O peso de
demonstrar os requisitos da medida liminar recairia sobre o titular da
marca e cria-se, em favor do suposto contrafeitor, um poderoso fato
consumado: eventualmente o prejuízo que ele experimentaria com a
interrupção de um ato que sequer deveria ter se iniciado pode impedir a
concessão da medida liminar em favor do titular do direito.4. Recurso
especial provido, com o restabelecimento da decisão proferida em
primeiro grau (REsp 1.132.449, DJ 23.03.2012).

Por fim, em decisão ainda mais recente, o Superior Tribunal de Justiça se posicionou
favoravelmente quanto à possibilidade de o INPI analisar as cláusulas dos contratos de
transferência de tecnologia, que são submetidos a seu registro:

14
ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. INPI. CONTRATO DE
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA. AVERBAÇÃO. ALTERAÇÃO DE
CLÁUSULA POR PARTE DA AUTARQUIA. DESCABIMENTO. LEI N. 4.131/62.
MATÉRIA NÃO PREQUESTIONADA. ART. 50 DA LEI N. 8.383/91.
ROYALTIES. DEDUÇÃO E PAGAMENTO. QUESTÃO DE FUNDO. ATUAÇÃO
DO INPI. ARTIGO 240 DA LEI 9.279/96. INTERPRETAÇÃO ADEQUADA.
VALORAÇÃO DA CLÁUSULA GERAL DE ATENDIMENTO DAS FUNÇÕES
SOCIAL, ECONÔMICA, JURÍDICA E TÉCNICA. FINALIDADES PÚBLICAS
PRESERVADAS. PRECEDENTES. DENEGAÇÃO DA ORDEM. RECURSO
PARCIALMENTE CONHECIDO E NEGADO PROVIMENTO.I - Ação
mandamental impetrada na origem, na qual empresas voltaram-se contra
ato administrativo praticado pelo INPI que, ao averbar contratos de
transferência de tecnologia por elas celebrados, alterou cláusulas, de
forma unilateral, fazendo-os passar de onerosos para gratuitos.II -
Ausência de pré questionamento em relação às matérias constantes nos
invocados artigos da Lei n. 4.131/62. Incidência das Súmulas ns. 282/STF e
211/STJ.III - A discussão acerca de possível violação do art. 50 da Lei n.
8.383/91 diz respeito à questão de deduções de pagamento de royalties,
matéria de fundo dos contratos, que não interfere na deliberação dos
autos, restritos à análise de limite de atuação administrativa do INPI,
matéria atinente à Primeira Seção desta Corte.IV - A supressão operada
na redação originária do art. 2º da Lei n. 5.648/70, em razão do advento
do artigo 240 da Lei 9.279/96, não implica, por si só, em uma conclusão
mecânica restritiva da capacidade de intervenção do INPI.
Imprescindibilidade de conformação das atividades da autarquia federal
com a cláusula geral de resguardo das funções social, econômica, jurídica
e técnica.V - Possibilidade do INPI intervir no âmbito negocial de
transferência de tecnologia, diante de sua missão constitucional e
infraconstitucional de regulamentação das atividades atinentes à
propriedade industrial. Inexistência de extrapolação de atribuições.VI -
Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, negado
provimento.(REsp 1200528/RJ, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO,
SEGUNDA TURMA, julgado em 16/02/2017, DJe 08/03/2017)

O que respalda o entendimento do julgado citado é que o art. 2º Lei 5.648/70, que foi
alterado pelo advento da Lei de Propriedade Industrial – LPI que incluiu nas atribuições do

15
INPI o zelo pela função social, econômica, jurídica e técnica a partir de 1996 ( Lei 9279/96 –
LPI), antes disso o INPI não detinha esta atribuição.

O INPI, quando patenteia uma invenção ou registra desenho industrial ou marca, pratica ato
de natureza constitutiva, fundado no direito industrial. Quando registra um logiciário
(software), pratica ato declaratório, relacionado ao direito autoral. 6

Ademais, o direito industrial protege não apenas a forma exterior do objeto, como a
própria ideia inventiva, ao passo que o direito autoral apenas protege a forma exterior. Se
alguém apresentar ao INPI um pedido de patente, descrevendo de maneira diferente invenção
já patenteada, ele não receberá o direito industrial que pleiteia (já que a própria ideia
inventiva está protegida). É possível, contudo, que se retrate determinada obra de arte sem se
infringir direitos autorais.7
A vigente Lei da Propriedade Industrial - LPI (Lei nº 9.279/1996) aplica-se às invenções,
aos modelos de utilidade, aos desenhos industriais e às marcas, mas não ao nome
empresarial, que resta disciplinado pela Lei do Registro de Empresas (Lei nº 8.934/1994) e pelo
Código Civil de 2002.

7.2 Da Invenção

O direito de exploração com exclusividade de determinada invenção se materializa no


ato de concessão da respectiva patente, documentado pela carta-patente. É o único bem
industrial cujo conceito não definido pela Lei, como é tradicionalmente tratado nos diversos
ordenamentos em razão da extrema dificuldade em se conceituar o instituto (embora todos
saibam intuitivamente o que é uma invenção). Por esta razão, a LPI adota um critério de

6 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016. pp. 176-177.
7 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista

dos Tribunais, 2016. p. 178.


16
exclusão, elencando o que não se considera invenção nem, tampouco, modelo de utilidade
(um aperfeiçoamento da invenção). É fundamental, contudo, que haja atividade inventiva.8
Destarte, o art. 10 da LPI não considera invenção9:

b) As descobertas e teorias científicas (como a teoria da relatividade);


c) Métodos matemáticos (como o cálculo infinitesimal de Newton);
d) Concepções puramente abstratas (como a lógica heterodoxa de Newton da Costa,
que aduz que uma sentença e a sua negação podem ser ambas verdadeiras);
e) Esquemas, planos, princípios ou métodos comerciais, contábeis, financeiros,
educativos, publicitários, de sorteio e de fiscalização;
f) Obras literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer criação estética e
programas de computador (tutelados pelo direito autoral, e não industrial);
g) Apresentaçãode informações, regras de jogo, técnicas e métodos operatórios ou
cirúrgicos, terapêuticos ou de diagnostico, e os seres vivos naturais.

7.3 Do Modelo de Utilidade

Foi mencionado que o direito de exploração com exclusividade se materializa no ato de


concessão da respectiva patente, documentado pela carta-patente. Também são patenteáveis
os modelos de utilidade. Trata-se de um aperfeiçoamento da invenção, tendo outrora sido
denominado pequena invenção. Como consequência lógica, o que não se considera invenção,
também não se considerará modelo de utilidade.
Os recursos agregados às invenções, para, de um modo não evidente a um técnico no
assunto, ampliar as possibilidades de sua utilização, são modelos de utilidade. Para se
considerar modelo de utilidade, o aperfeiçoamento deve revelar a atividade inventiva de seu
criador. Se não representar um avanço que os técnicos no assunto reputem engenhoso, será
mera adição de invenção(um aperfeiçoamento ou desenvolvimento introduzido no objeto da
invenção sem atividade inventiva). Se houver dúvida se determinada criação seria invenção ou
modelo de utilidade, deve-se considerar o objeto uma invenção.

8 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016. p. 169.
9
Vide questão 2.
17
A LPI define modelo de utilidade em seu art. 9º como o objeto de uso prático, ou
parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição,
envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu uso ou em sua
fabricação. Se houver dúvida se determinada criação seria invenção ou modelo de utilidade,
deve-se considerar o objeto uma invenção.

7.4 Desenho industrial (design)

O direito de exploração com exclusividade se materializa no ato de concessão do


respectivo registro, documentado pelo certificado. Trata-se da alteração da forma dos
objetos. Está definido no art. 95 da LPI como a forma plástica ornamental de um objeto ou o
conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando
resultado visual novo e original na sua configuração externa e que possa servir de tipo de
fabricação industrial.
Sua principal característica diferenciadora dos demais bens de propriedade industrial
patenteáveis é a futilidade, uma vez que não amplia a utilidade do objeto (não sendo modelo
de utilidade e nem sequer adição inventiva), mas apenas o reveste de aspecto diferente. O
objeto revestido tem inicialmente função utilitária, sendo o desenho industrial nele utilizado
mero revestimento estético.10
Em suma, o objeto tem função utilitária, como uma cadeira, mas o desenho industrial
nela empregado não lhe amplia esta função. Não há desenho industrial, contudo, em uma
escultura, já que desprovida de qualquer de função utilitária.
Tanto o designer (no desenho industrial) quanto o artista (na obra de arte) não
contribuem para o aumento das utilidades que o homem pode esperar dos objetos, mas o
desenho industrial recai sobre objeto que já possui função utilitária. Não é considerado
desenho industrial, mas sim obra de arte, aquela de caráter exclusivamente artístico (sendo
tutelado pelo direito autoral, e não o industrial).
A obra de arte é totalmente fútil, servindo apenas para funções estéticas e publicitárias
(demonstração de poder). O desenho industrial também é fútil, mas está atrelado a um objeto
principal necessariamente útil.

10COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016. p. 170.
18
As joias, apesar de não possuírem utilidade prática, provêm de atividade criativa
tutelada pelo direito industrial.

Havendo atividade inventiva, a alteração utilitária será considerada invençãoquando


for independentee modelo de utilidadequando acessória de uma invenção. Não havendo
atividade inventiva, a alteração utilitária será adição de invenção. Não havendo nem atividade
inventiva nem alteração utilitária sobre objeto que já possuía função utilitária, ter-se-á
desenho industrial.11
Pode-se sintetizar a diferença entre invenção, modelo de utilidade, adição de invenção e
desenho industrial da seguinte forma:

ATIVIDADE ALTERAÇÃO INDEPENDÊNCIA


INVENTIVA UTILITÁRIA

INVENÇÃO X X X

MODELO DE UTILIDADE X X -

ADIÇÃO DE INVENÇÃO - X -

DESENHO INDUSTRIAL - - -

7.5 Marca

O direito de exploração com exclusividade se materializa no ato de concessão do


respectivo registro, documentado pelo certificado. Marca é o sinal distintivo, suscetível de

11COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016. p. 171.
19
percepção visual, que identifica, direta ou indiretamente, produtos ou serviços, não
compreendidos nas proibições legais.12
A identificação diretaocorre quando o sinal distintivo está relacionado especificamente
ao produto ou serviço, servindo para individuá-lo de outro idêntico, sendo esta marca
chamada de marca de produto ou serviço.
Há, ainda, possibilidade de identificação indiretado produto ou serviço através de
outras duas espécies de marca. Amarca de certificaçãoindividualiza o produto/serviço
atestando a sua conformidade com normas ou especificações técnicas (como o ISSO 9001). A
marca coletivaindividualiza o produto/serviço informando ser ele fornecido por empresário
filiado a certa entidade (com a unilever).
Asmarcas coletiva e decertificação têm comoelementos comuns:
 Transmitirem ao consumidor a informação de que o produto/serviço tem uma

qualidade destacada, seja em razão de o empresário participar de conceituada

associação empresarial, seja por terem sidos atendidos determinados padrões de

qualidade;

 Transmitirem ao consumidor a informação de que o produto/serviço tem uma

qualidade destacada, seja em razão de o empresário participar de conceituada

associação empresarial, seja por terem sidos atendidos determinados padrões de

qualidade;

 A existência de um regulamento de uso, indispensável ao registro no INPI, que

estabelece as condições pelas quais um empresário tem direito de usá-las, bem como

hipóteses em que perde o direito; e;

 A desnecessidade de licença para uso da marca, bastando cumprir com o que exige o

respectivo regulamento de uso.13

Na marca coletiva, o titular do registro será sempre uma associação empresarial, que
congrega determinada classe de empresário (empresários ecológicos, cristãos, etc.), que tem
interesse direto no produto ou serviço.

12 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016. p. 171.
13 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista

dos Tribunais, 2016. p. 171.


20
Na marca de certificação, o titular é um agente econômico, normalmente um
empresário, cuja atividade é avaliar e controlar a produção ou circulação de bens ou serviços
de outrem, não podendo ser requerido por pessoa com interesse direto no produto ou serviço
atestado.
Se alguém usar a marca coletiva ou de certificação sem atender às condições do
regulamento de uso, as medidas de coibição e reparação cabem exclusivamente ao titular da
marca, mas nunca ao usuário legal da marca (que só pode cobrar providências do titular da
marca e, se este permanecer inerte, representar ao INPI pela extinção do registro).

Marca de Alto Renomeé a registrada no INPIe reconhecida amplamente em território


nacional e pelo público em geral. É protegida em todos os ramos ou classes de atividade
(art. 125, LPI). Marca Notoriamente Conhecidagoza de proteção em território nacional, ainda
que não registrada no Brasil. É protegida apenas no próprio ramo de atividade (art. 126,
LPI).

No Brasil, sinais sonoros, ainda que originais e exclusivos, embora também possam
individualizar produtos e serviços, não são suscetíveis de registro como marca. Também não
são marcas as características de cheiro, gosto ou tato14. Os signos não visuais são tutelados
pela disciplina jurídica da concorrência, na medida em que sua usurpação sirva de meio
fraudulento para desviar clientela.
Apesar de inútil, uma vez que as marcas terão a mesma proteção, segundo a doutrina
podem ser classificadas em:
a) Nominativas:São as marcas compostas exclusivamente por palavras, que não
apresentam uma particular forma de letras.
b) Figurativas: São as marcas consistentes em desenhos ou logotipos, exclusivamente.

14
Vide questão 1.
21
c) Mistas: São as marcas escritas com letras revestidas de forma particular ou
inseridas em logotipos.
d) Tridimensional: São as marcas nas quais a forma do produto é o próprio sinal
distintivo. É o que ocorre, por exemplo, com o formato da garrafa da Coca-Cola.

Pedido de registro da marca coronavírus testa Lei da Propriedade Industrial


O termo "coronavírus" talvez seja o de maior alcance recente no mundo. Suas consequências
econômicas e sanitárias, em pandemia que já infectou quase 2 milhões de pessoas,
aumentaram seu alcance. Não à toa há pelo menos 57 pedidos de registros de marcas
relacionadas à Covid-19, sendo um deles no Brasil. A análise será feita com base na Lei da
Propriedade Industrial.
Coronavírus e Covid-19 são termos alvo de tentativa de registro como marca
Jerome Cronenberger O pedido foi submetido ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial
(INPI) no início de março por uma empresa de cosméticos e atualmente aguarda prazo de
apresentação de oposição.
Apesar de legalmente possível, o pedido levanta a discussão sobre a possibilidade de se
aproveitar comercialmente da nomenclatura de um vírus causador de doença. "O INPI, no
passado, já permitiu o registro como marca de termos que, assim como coronavírus, dão
nome a enfermidades. Nesse sentido, não é de todo impossível que a marca venha a ser
registrada, apesar de existirem claros impedimentos legais para tanto", afirma o advogado
Robert Daniel-Shores, sócio da Daniel Advogados.
A Lei 9.279/96, que trata de propriedade industrial, traz em seu artigo 124 um total de 23
situações que tornam uma marca não registrável. Dentre elas, pelo menos três podem
enquadrar o termo coronavírus, segundo o advogado: expressões contrárias à moral e aos
bons costumes; expressões de caráter genérico, comum ou vulgar; ou termos técnicos
usados na indústria ou na ciência.
"A tendência é a de que expressões como estas não alcancem registro por serem
consideradas de uso comum não podendo ser apropriadas com exclusividade, seja por não
22
funcionarem como marca, seja em nome do interesse público subjacente à concessão do
registro que vedaria essa apropriação", opina a advogada Roberta Arantes, sócia na Daniel
Advogados.15

7.6 “Trade Dress”

Recentemente, a jurisprudência passou a reconhecer proteção ao Conjunto-Imagem (ou


“Trade Dress”), o qual consiste em “cores dispostas ou combinadas de modo peculiar e
distintivo”. O fundamento para tal proteção se encontra no dever geral de garantia de livre
mercado – ou seja, “no dever estatal de assegurar o funcionamento saudável do mercado, de
forma a expurgar condutas desleais tendentes a criar distorções de concorrência”.
Contudo, por ainda não existir a previsão dos requisitos necessários para sua proteção
ou a previsão clara de sanção na hipótese de eventual lesão, a Terceira Turma do Superior
Tribunal de Justiça manifestou entendimento de que a intervenção do Judiciário deve ser
pontual, analisando as circunstâncias caso a caso.
Segundo o Ministro Marco Aurélio Belizze, os limites concorrenciais introduzem
conceitos imprescindíveis para a definição da amplitude da proteção da propriedade industrial,
mas, ainda assim, “não se pode admitir que a pretexto de se proteger o conjunto-imagem de
um produto, se assegure o uso exclusivo e indeterminado de uma determinada funcionalidade
não registrada, por exemplo”. (REsp 1.353.451)
Exemplos de caracterização do Trade Dress ocorreram nos casos das marcas de algodão Apolo
e também na marca de comida mineira “Uai in box” Veja as ilustrações abaixo:

15
Texto extraído de: https://www.conjur.com.br/2020-abr-18/pedido-registro-marca-coronavirus-testa-lei-brasileira
23
Por outro lado, analisando a vedação da utilização das cores, no caso em que a Brahma
tentava impedir a Itaipava de comercializar cervejas em latas vermelhas, alegando que isso
confundiria o consumidor e diluiria os efeitos de sua campanha publicitária, o STJ, entendeu
que “por força do art. 124, VIII, da Lei n. 9.279/1996 (LPI), a identidade de cores de
embalagens, principalmente com variação de tons, de um produto em relação a outro, sem
constituir o conjunto da imagem ou trade dressda marca do concorrente – isto é, cores
“dispostas ou combinadas de modo peculiar e distintivo” –, não é hipótese legalmente
capitulada como concorrência desleal ou parasitária.”
Muito embora o trade dress seja uma novidade que já foi bem difundida dentre aqueles
que se preparam para as provas de concurso público, há peculiaridades que não podem ser
desconsideradas pelo aluno que pretende alcançar alto desempenho nas provas.
Uma dessas nuances diz respeito aos recentes posicionamentos no STJ no sentido de
que para analisar se houve imitação de trade dress, é indispensável a prova pericial:
Nesse sentido, decidiu, recentemente, o STJ:

RECURSO ESPECIAL. USO INDEVIDO DE MARCA. PROPRIEDADE


INDUSTRIAL.CONJUNTO-IMAGEM (TRADE DRESS). COMPARAÇÃO
NECESSIDADE DE PRODUÇÃO DE PROVA TÉCNICA. ACÓRDÃO
RECORRIDO FUNDAMENTADO EM SIMPLES OBSERVAÇÃO DAS
EMBALAGENS DOS PRODUTOS EM CONFRONTO. DIREITO À PRODUÇÃO
DE PROVA.
1. A fim de se concluir pela existência de concorrência desleal
decorrente da utilização indevida do conjunto-imagem de produto da
concorrente é necessária a produção de prova técnica (CPC/73, art.
145). O indeferimento de perícia oportunamente requerida para tal
fim caracteriza cerceamento de defesa 2. Recurso especial provido.
(REsp 1778910/SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA
TURMA, julgado em 06/12/2018, DJe 19/12/2018)

A outra particularidade acerca do “trade dress” foi, recentemente, objeto de tese


firmada pelo Superior Tribunal de Justiça para efeito de interpretação do art. 1.036 do
CPC/2015 (art. 543-C do CPC/1973):

24
“As questões acerca do trade dress (conjunto-imagem)dos produtos,
concorrência desleal e outras demandas afins, por não envolver registro
no INPI e cuidando de ação judicial entre particulares, é inequivocamente
de competência da justiça estadual, já que não afeta interesse
institucional da autarquia federal. No entanto, compete à Justiça Federal,
em ação de nulidade de registro de marca, com a participação do INPI,
impor ao titular a abstenção do uso, inclusive no tocante à tutela
provisória.” (REsp 1527232/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 13/12/2017, DJe 05/02/2018)

7.7 Segredo de empresa

7.7.1 Conceito e finalidade

O inventor (ou criador de modelo de utilidade) deve estar atento ao fato de que, se
patentear a invenção/modelo de utilidade, todos passarão a ter conhecimento das inovações
que realizou, em seus detalhes.
Realizado o pedido de patente, ele será mantido em sigilo por 18 meses, contados da
data do depósito ou da prioridade mais antiga (quando houver), após o que será
publicado(pela Revista da Propriedade Industrial), garantido irrestrito acesso aos interessados
ao relatório descritivo, reivindicações, resumo e desenhos correspondentes. A publicação pode
ser antecipada a pedido do depositante e é condição para a concessão da patente.
Só não haverá publicação se a invenção for de interesse à defesa nacional, que será
processado em caráter sigiloso. Recebido o pedido, o INPI encaminha ao órgão responsável
do Poder Executivo para que se manifeste sobre o sigilo no prazo de 60 dias. Decorrido o
prazo sem manifestação, o pedido será processado da forma normal. A invenção que interesse
à defesa nacional não pode ser depositada no exterior ou divulgado de qualquer forma, salvo
autorização do órgão competente.
Uma vez divulgados pelo INPI os detalhes da invenção, caberá exclusivamente ao
depositante zelar para que terceiros não se utilizem de sua criação industrial. Deve o inventor
ponderar, portanto, se é menos desvantajoso controlar a invenção depositada e divulgada ou
explorá-la sigilosamente.

25
Se optar por manter para si a sua criação, a Lei de Propriedade Industrial protege o
criador tipificando a violação do sigilo como crime de concorrência desleal, gerando
responsabilidade penal a par da responsabilidade civil com fundamento na disciplina jurídica
da concorrência16. A proteção ao segredo de empresa, contudo, não dá ensejo à
exclusividade de exploração da invenção, o que só ocorre com a patente. Quem patentear
a invenção, pode impedir que os demais continuem a explorá-la.

7.7.2 O segredo de empresa e a nova Lei de Proteção de Dados17

A Lei n. 13.709/2018 (Lei de Proteção de Dados) alterou a Lei federal n. 12.965/2014,


criada um biênio atrás para estabelecer “princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da
Internet no Brasil”.
Contendo 64 artigos, a norma denominada de “Lei de Proteção de Dados” dispõe sobre
o “tratamento de dados pessoais, inclusive nos meios digitais, por pessoa natural ou por
pessoa jurídica de direito público ou privado, com o objetivo de proteger os direitos
fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da
pessoa natural”, estabelecendo fundamentos básicos para a regulamentação de dados, dentre
os quais estão o respeito à privacidade, a inviolabilidade da intimidade e imagem, bem como
a liberdade de expressão (art. 2º).
Salvo algumas exceções, a Lei se aplica a pessoas jurídicas (públicas ou privadas) ou
físicas que realizem tratamento de dados no país onde estejam localizados os dados ou sede
da entidade. Em suma, se a entidade realiza coleta de dados no país, realiza tratamento de
dados em nossa área ou oferta serviços e bens que demandem o tratamento de dados de
pessoas em território brasileiro, esta encontra-se submetida à Lei sob análise.
Para tais sujeitos, foram estabelecidos 10 princípios básicos para o tratamento de dados
pessoais, que devem ser estritamente observados, listados a seguir:

Art. 6º As atividades de tratamento de dados pessoais deverão observar


a boa-fé e os seguintes princípios:

16
Vide questão 9.
17
Tópico inspirado no texto disponível em: https://lucasbz.jusbrasil.com.br/artigos/599389630/compreendendo-a-lei-de-
protecao-de-dados-pessoais-pl-53-2018
26
I – finalidade:realização do tratamento para propósitos legítimos,
específicos, explícitos e informados ao titular, sem possibilidade de
tratamento posterior de forma incompatível com essas finalidades;
II – adequação: compatibilidade do tratamento com as finalidades
informadas ao titular, de acordo com o contexto do tratamento;
III – necessidade: limitação do tratamento ao mínimo necessário para a
realização das suas finalidades, com 7 abrangência dos dados pertinentes,
proporcionais e não excessivos em relação às finalidades do tratamento
de dados;
IV – livre acesso: garantia aos titulares de consulta facilitada e gratuita
sobre a forma e a duração do tratamento, bem como sobre a
integralidade dos seus dados pessoais;
V – qualidade dos dados: garantia aos titulares de exatidão, clareza,
relevância e atualização dos dados, de acordo com a necessidade e para
o cumprimento da finalidade de seu tratamento;
VI – transparência: garantia aos titulares de informações claras, precisas e
facilmente acessíveis sobre a realização do tratamento e os respectivos
agentes de tratamento, observados os segredos comercial e industrial;
VII – segurança: utilização de medidas técnicas e administrativas aptas a
proteger os dados pessoais de acessos não autorizados e de situações
acidentais ou ilícitas de destruição, perda, alteração, comunicação ou
difusão;
VIII – prevenção: adoção de medidas para prevenir a ocorrência de
danos em virtude do tratamento de dados pessoais;
IX – não discriminação: impossibilidade de realização do tratamento para
fins discriminatórios ilícitos ou abusivos; e
X – responsabilização e prestação de contas: demonstração pelo agente
da adoção de medidas eficazes e capazes de comprovar a observância e
o cumprimento das normas de proteção de dados pessoais, inclusive da
eficácia

Todo o conteúdo legal destina-se a regulamentar o tratamento e uso de dados com


base nesses princípios, de forma a assegurar ao usuário que este tenha o real conhecimento,
de forma clara, adequada e ostensiva, sobre o tratamento que está sendo dado aos seus
dados.

27
A lei prevê algumas inovações jurídicas interessantes, tais como a criação da categoria
dos “dados sensíveis”, que são os que tratam sobre “origem racial ou étnica, as convicções
religiosas, as opiniões políticas, a filiação a sindicatos ou a organizações de caráter religioso,
filosófico ou político, dados referentes à saúde ou à vida sexual, dados genéticos ou
biométricos, quando vinculados a uma pessoa natural” (art. 5º, II). Por força normativa, tais
dados tiveram o seu tratamento vedado, salvo em situações específicas listadas, como o
cumprimento de obrigação legal pelo responsável; ou diante do fornecimento de
consentimento específico pelo titular, desde que para finalidades pontuais.
A norma aborda ainda em seu conteúdo o tratamento que deverá ser adotado para os
dados de crianças e adolescentes, realizado, doravante, sempre com a autorização de pais
ou responsável legal, e com consentimento específico. Prossegue abordando quanto ao
término do tratamento dos dados, bem como sobre o procedimento a ser adotado pelo
poder público no trato com dados pessoais. Algumas discussões mais técnicas também são
abordadas na Lei, como a transferência internacional, a descrição dos agentes de tratamento,
e da fiscalização e sigilo dos dados pessoais.
Dois tópicos desenvolvidos chamam a atenção no conteúdo legal. Um deles consta no
capítulo III, que trata dos direitos do titular, no qual é garantido expressamente a titularidade
dos direitos pessoais, com base nos princípios constitucionais da liberdade, intimidade e
privacidade.
Em decorrência dessa garantia, assegura-se ainda ao titular dos direitos pessoais a
prerrogativa de realizar as seguintes requisições ao portador dos seus dados:

Art. 18. O titular dos dados pessoais tem direito a obter do responsável,
em relação aos dados do titular por ele tratados, a qualquer momento e
mediante requisição:
I –confirmação da existência de tratamento;
II –acesso aos dados;
III – correção de dados incompletos, inexatos ou desatualizados;
IV –anonimização, bloqueio ou eliminação de dados desnecessários,
excessivos ou tratados em desconformidade com o disposto nesta Lei;
V –portabilidade dos dados pessoais a outro fornecedor de serviço ou
produto, mediante requisição expressa e observados os segredos

28
comercial e industrial, de acordo com a regulamentação do órgão
responsável;
VI –eliminação dos dados pessoais tratados com o consentimento do
titular, exceto nas hipóteses previstas no art. 16 desta Lei; 19
VII – informação das entidades públicas e privadas com as quais o
responsável realizou uso compartilhado de dados;
VIII – informação sobre a possibilidade de não fornecer o consentimento
e sobre as consequências da negativa; IX – revogação do consentimento
nos termos do § 5º do art. 8º desta Lei.”.

Por sua vez, a criação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados representa outro
ponto positivo (art. 55). Esse órgão, integrante da Administração Pública federal indireta, e
vinculado ao Ministério da Justiça, terá como objetivo zelar pela proteção de dados
pessoais e dos segredos industriais e comerciais, bem como executar inúmeras outras
funções listadas no art. 56 da referida Lei.
Assim, a sanção da norma mencionada propiciará ao Brasil o avanço na proteção dos
dados, estimulando o desenvolvimento da economia digital de nosso país, com marcos
regulatórios bem fundamentados, e semelhantes aos adotados em outras nações que
fomentam o desenvolvimento tecnológico. Simultaneamente, observa-se a preocupação
constante em resguardar os dados de seus cidadãos, assegurando a proteção aos direitos
constitucionais básicos como o da intimidade e privacidade.

7.8 Patenteabilidade de invenção e de modelo de utilidade

7.8.1 Requisitos de concessão

Para a concessão da patente sobre invenção ou modelo de utilidade, a lei prevê as


seguintes condições:

I. Novidade (art. 11 da LPI):


Considera-se nova a invenção que é desconhecida dos cientistas ou pesquisadores
especializados. A invenção é considerada nova, portanto,quando não compreendida no
estado da técnica.

29
O estado da técnica é constituído por tudo aquilo tornado acessível ao público antes da
data de depósito do pedido de patente, por qualquer meio, no Brasil ou no exterior. Também
constitui estado da técnica o conteúdo completo de pedido depositado no Brasil e ainda não
publicado, a partir da data de depósito ou da prioridade reivindicada, desde que venha a ser
publicado, ainda que subsequentemente, bem como se o pedido for internacional segundo
tratado ou convenção em vigor no Brasil e que siga processamento nacional.18
O estado da técnica compreende todos os conhecimentos difundidos no meio científico,
acessível a qualquer pessoa, e dos os reivindicados regularmente por um inventor, por meio
de depósito de patente, mesmo que ainda não tornados públicos.
Não se considera estado da técnica a divulgaçãode invenção ou modelo de utilidade
nos 12 meses anteriores à data de depósito ou da prioridade do pedido de patente
(período de graça)se promovida pelo próprio inventor, pelo INPI em razão de fraude ou por
terceiro que não tinha autorização para fazê-lo.
Toda invenção é original, considerada como a qualidade da concepção, no momento
em que ela passa de desconhecida para conhecida no espírito de uma pessoa em razão de
seu esforço próprio, mas nem toda invenção é nova (uma vez que outrem pode ter pensado
nela antes).

II. Inventividade/ non-obviousness (art. 13 da LPI):


A invenção é dotada de atividade inventiva sempre que, para um técnico no assunto,
não decorra de maneira evidente ou óbvia do estado da técnica. O modelo de utilidade é
dotado de ato inventivo sempre que, para um técnico no assunto, não decorra de maneira
comum ou vulgar do estado da técnica.A invenção ou o modelo de utilidade não pode derivar
de forma simples dos conhecimentos reunidos no estado da técnica.

III. Industriabilidade (art. 15 da LPI):


A invenção e o modelo de utilidade são considerados suscetível de aplicação industrial
quando possam ser utilizados ou produzidos em qualquer tipo de indústria (em sentido
amplíssimo).

A doutrina, antigamente, defendia que esse requisito servia para excluir do campo das
criações patenteáveis as puras concepções intelectuais. Esse entendimento não mais guarda

18COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016. p. 181.
30
sintonia com a lei vigente, uma vez que não mais se enquadram as concepções puramente
teóricas no conceito de invenção. Invenção, ainda que não patenteável, não pode ser
puramente abstrata, devendo ter efeitos práticos. Segundo melhor doutrina, não têm o
requisito da industriabilidade (não podendo ser patenteáveis) as invenções que não podem ser
fabricadas ainda (como uma máquina de teletransporte) e as que não têm utilidade para o
homem (como remédio placebo). Ou seja, as muito avançadas e as inúteis.19
A inexistência de condições econômicas para a fabricação em escala industrial não
impede a patenteabilidade da invenção. O que impede é a inexistência de conhecimentos
técnicos indispensáveis à fabricação do invento.

IV. Desimpedimento (art. 18 da LPI):


Invenções não patenteáveis em razão de ordem pública (único requisito extrínseco à
invenção), sendo elas:

 Invenções contrárias à moral, aos bons costumes, à segurança, à ordem e à saúde


públicas;

 Substâncias, matérias, misturas, elementos ou produtos resultantes de


transformação do núcleo atômico, bem como a modificação de suas
propriedades e os processos respectivos;

 Seres vivos, ou parte deles, ressalvada a possibilidade de se conferir patente para


a transformação genética introduzida pelo homem em micro-organismo
(transgênicos) que preencha os demais requisitos e que não seja mera
descoberta.20

7.8.2 Duração de patente

A patente tem prazo de duração de 20 anospara a invenção e de 15 anos para o


modelo de utilidade, contados do depósito do pedido de patente, ou seja, da data em que o
pedido de patente foi protocolado no INPI (art. 40, LPI)21. Ao longo de todo este período,
estará proibida a exploração do objeto da patente por qualquer terceiro sem a autorização do

19 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016. p. 184.
20
Vide questão 4.
21
Vide questão 8.
31
seu titular.

Foram ajuizadas Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIn 5.061 e ADIn 5.596) contra o
art. 40, parágrafo único, da Lei de Propriedade Industrial, pois, na hipótese de demora do
Executivo em analisar pedidos de concessão de patente, haveria uma prorrogação por
prazo indeterminado.Além disso, caso tal demora seja considerável, ainda será concedido
um prazo mínimo de 10 (dez) ou 7 (sete) anos, o que configuraria um período
demasiadamente extenso de proteção. A ADIn 5.061 foi extinta por falta de legitimidade da
entidade autora enquanto a ADIn 5.596 permanece em andamento, vez que foi promovida
pelo Ministério Público da União.

Para garantir tempo razoável de utilização da invenção ou modelo, o prazo de duração


do direito industrial não pode ser inferior a 10 anos para as invenções e de 7 para os
modelos, contado da expedição da patente. Atendidas essas regras, não haverá, em nenhuma
hipótese, a prorrogação do prazo de duração da patente. Desse modo, finalizado o prazo de
duração da patente, seja ela de invenção, seja de modelo de utilidade, passam estas ao
domínio público.22
Finalmente, no que concerne a invenção ou modelo de utilidade realizado por
empregado ou prestador de serviço, tem-se que:

EMPREGADO CONTRATADO PARA EMPREGADO DESENVOLVEU COM EMPREGADO DESENVOLVEU


O DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS DO EMPREGADOR, SOZINHO A INVENÇÃO, SEM
ATIVIDADE INVENTIVA EMBORA NÃO TENHA SIDO UTILIZAR RECURSOS DO
CONTRATADO PARA TAL EMPREGADOR

Invenção pertence exclusivamente ao A patente será comum, em partes A patente será exclusiva do
empregador (art. 88, LPI); iguais para empregado e empregado (art. 90, LPI);
empregador (art. 91, LPI);

22PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora
jus podivm, 2017. pp. 128-129.
32
7.8.3 Nulidade da patente

Segundo o art. 48 da LPI, o reconhecimento administrativo da nulidade da patente


produz efeitos extunc, ou seja, seus efeitos retroagem até a data do depósito do pedido.
O art. 50 da LPI disciplina as hipóteses de nulidade:
a) não tiver sido atendido qualquer dos requisitos legais;
b) o relatório e as reivindicações não atenderem ao disposto nos arts. 24 e 25,
respectivamente;
c) o objeto da patente se estenda além do conteúdo do pedido originalmente
depositado; ou
d) no seu processamento, tiver sido omitida qualquer das formalidades essenciais,
indispensáveis à concessão.
Não havendo requerimento do interessado, o INPI pode, de ofício, instaurar o processo
administrativo com essa finalidade.
O titular será intimado para se manifestar no prazo de 60 (sessenta) dias. Após, o INPI
emitirá parecer, intimando o titular e o requerente para se manifestarem no prazo comum de
60 (sessenta) dias.
Decorrido o prazo fixado, mesmo que não apresentadas as manifestações, o processo
será decidido pelo Presidente do INPI.
Os arts. 56 e 57 da LPI dispõem sobre a ação judicial de nulidade:

Art. 56.A ação de nulidade poderá ser proposta a qualquer tempo da


vigência da patente, pelo INPI ou por qualquer pessoa com legítimo
interesse.
§ 1º A nulidade da patente poderá ser argüida, a qualquer tempo, como
matéria de defesa.
§ 2º O juiz poderá, preventiva ou incidentalmente, determinar a
suspensão dos efeitos da patente, atendidos os requisitos processuais
próprios.
Art. 57. A ação de nulidade de patente será ajuizada no foro da Justiça
Federal e o INPI, quando não for autor, intervirá no feito.
§ 1º O prazo para resposta do réu titular da patente será de 60 (sessenta)
dias.

33
§ 2º Transitada em julgado a decisão da ação de nulidade, o INPI
publicará anotação, para ciência de terceiros.

Assim como a decretação de nulidade das patentes, a nulidade do registro de marca


também produz efeitos extunc, retroagindo à data do depósito do pedido, nos termos do art.
167 da LPI.
Os arts. 165 e seguintes consignam regramento da nulidade do registro:

Art. 165. É nulo o registro que for concedido em desacordo com as


disposições desta Lei.
Parágrafo único. A nulidade do registro poderá ser total ou parcial, sendo
condição para a nulidade parcial o fato de a parte subsistente poder ser
considerada registrável.
Art. 166. O titular de uma marca registrada em país signatário da
Convenção da União de Paris para Proteção da Propriedade Industrial
poderá, alternativamente, reivindicar, através de ação judicial, a
adjudicação do registro, nos termos previstos no art. 6º septies (1)
daquela Convenção.
Art. 167. A declaração de nulidade produzirá efeito a partir da data do
depósito do pedido.
Art. 168. A nulidade do registro será declarada administrativamente
quando tiver sido concedida com infringência do disposto nesta Lei.
Art. 169. O processo de nulidade poderá ser instaurado de ofício ou
mediante requerimento de qualquer pessoa com legítimo interesse, no
prazo de 180 (cento e oitenta) dias contados da data da expedição do
certificado de registro.
Art. 170. O titular será intimado para se manifestar no prazo de 60
(sessenta) dias.
Art. 171. Decorrido o prazo fixado no artigo anterior, mesmo que não
apresentada a manifestação, o processo será decidido pelo Presidente do
INPI, encerrando-se a instância administrativa.
Art. 172. O processo de nulidade prosseguirá ainda que extinto o
registro.

34
Art. 173. A ação de nulidade poderá ser proposta pelo INPI ou por
qualquer pessoa com legítimo interesse.
Parágrafo único.O juiz poderá, nos autos da ação de nulidade,
determinar liminarmente a suspensão dos efeitos do registro e do uso da
marca, atendidos os requisitos processuais próprios.
Art. 174. Prescreve em 5 (cinco) anos a ação para declarar a nulidade do
registro, contados da data da sua concessão.
Art. 175. A ação de nulidade do registro será ajuizada no foro da justiça
federal e o INPI, quando não for autor, intervirá no feito.
§ 1º O prazo para resposta do réu titular do registro será de 60 (sessenta)
dias.
§ 2º Transitada em julgado a decisão da ação de nulidade, o INPI
publicará anotação, para ciência de terceiros.

Segundo o STJ (Súmula 143), o prazo prescricional da ação de perdas e danos pelo uso
indevido de marca comercial é de 5 (cinco) anos. Entretanto, se, porventura, o titular de uma
marca autorizar outrem a utilizá-la e depois revogar sua anuência, a prescrição para reclamar
exclusividade de marca não correrá durante prazo de uso permitido, iniciando-se, tão
somente, com a solicitação de seu não uso (REsp 1631874). Esse entendimento foi reafirmado
em julgado de maio de 2019, proferido por aquela corte, no qual consolidou entendimento no
sentido de que, ainda que sob o prisma da teoria dualista do sistema de nulidades (nulidade e
anulabilidade), ainda assim aplica-se o prazo prescricional de 5 anos, ou seja, ainda que o ato
administrativo do registro perante o INPI seja NULO, é prescritível a ação de declaração de
perdas e danos decorrente do uso indevido de marca.A imprescritibilidade não constitui
regra no direito brasileiro, sendo admitida somente em hipóteses excepcionalíssimas que
envolvem direitos da personalidade, estado das pessoas, bens públicos. Os demais casos
devem se sujeitar aos prazos prescricionais do Código Civil ou das leis especiais.(Info 648).23

23
Fonte: CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A prescritibilidade do direito de alegar a nulidade de registro de marca, conforme
previsto no art. 174 da Lei nº 9.279/96, não pode ser afastada por meio de aplicação da teoria dualista das nulidades. Buscador
Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
35
No caso de propositura de ação de nulidade de marca em que o INPI não oferece
oposição, a autarquia não será condenada ao pagamento de honorários advocatícios (Tese de
recurso repetitivo do STJ).Segundo com a jurisprudência do STJ a simples contrafação de
marca gera direito à indenização por danos materiais, mesmo que o produto não tenha
sido comercializado.

Ressalta-se que caso terceiro de boa-fé explore o objeto desta patente, anteriormente à
data de depósito do pedido de patente, a LPI lhe assegura o direito de continuar a
exploração, sem ônus, na forma e condição anteriores, art. 45:

Art. 45.À pessoa de boa-fé que, antes da data de depósito ou de


prioridade de pedido de patente, explorava seu objeto no País, será
assegurado o direito de continuar a exploração, sem ônus, na forma e
condição anteriores.
§ 1º O direito conferido na forma deste artigo só poderá ser cedido
juntamente com o negócio ou empresa, ou parte desta que tenha direta
relação com a exploração do objeto da patente, por alienação ou
arrendamento.
§ 2º O direito de que trata este artigo não será assegurado a pessoa que
tenha tido conhecimento do objeto da patente através de divulgação na
forma do art. 12, desde que o pedido tenha sido depositado no prazo de
1 (um) ano, contado da divulgação.
Recomenda-se muita atenção com o dispositivo acima, pois ele
excepciona o direito de exploração exclusiva conferido pela patente assim
como o princípio da prioridade do registro. Daí porque tem sido objeto
de questionamentos reiterados em provas de concursos.

<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/e4d8163c7a068b65a64c89bd745ec360>. Acesso em:


05/11/2019
36
7.8.4 Licença de uso ou exploração de patente

A licença para uso ou exploração da patente pode ser obtida de modo voluntário ou de
modo compulsório.
A licença voluntáriaé autorização dada voluntariamente pelo titular da patente, para
que os licenciados possam explorá-la através o pagamento de royalties. Para que produza
efeitos frente a terceiros, o pacto que formaliza a licença voluntaria deverá ser averbado no
INPI.
A licença compulsóriase concede em situações nas quais o titular da patente está
obrigado a licenciar terceiros na exploração da invenção ou modelo de utilidade24. Isto porque
o direito considera a prevalência do interesse social. Sendo assim, se o titular da patente não
está exercendo o seu direito de forma a atender regular e convenientemente o mercado,
outros empresários poderão explorá-la por meio da chamada licença compulsória.
Evidentemente, os licenciados deverão remunerar o dono da patente.25
Concedida a primeira licença compulsória, terá o licenciado o prazo de 2 anos para que
a exploração econômica da invenção ou modelo de utilidade seja feita e forma satisfatória.
Caso isso não ocorra, caducará a patente, perdendo o inventor todos os direitos industriais de
que era titular, caindo a invenção ou modelo em domínio público. É possível a licença
compulsória quando:
e) Os direitos decorrentes da patente foram usados de forma abusiva, ou por meio de
abuso de poder econômico, a partir de uma decisão administrativa ou judicial (art.
68, caput, LPI);
f) Da não exploração do objeto da patente no território nacional por falta de
fabricação ou fabricação incompleta do produto, ou ainda, a falta de uso integral do
processo patenteado (ressalvados os casos de inviabilidade econômica, quando será
admitida a importação) (art. 68, I, LPI);
g) A comercialização do objeto da patente não satisfizer às necessidades do mercado
(art. 68, II, LPI);

24
Vide questão 6.
25PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora
jus podivm, 2017. p. 129.
37
h) Houver emergência nacional ou interesse público, declarados em ato do Poder
Executivo Federal, desde que o titular da patente ou seu licenciado não atenda a
essa necessidade, poderá ser concedida, de ofício, licença compulsória, temporária e
não exclusiva, para exploração da patente, sem prejuízo dos direitos do respectivo
titular (art. 71, LPI).

7.8.5 Patentes “Pipeline”

A licença para uso ou exploração da patente pode ser obtida de modo voluntário ou de
modo compulsório.
A patente pipeline, também chamada patente de importação ou patente de
revalidação, é uma revalidação, no Brasil, de uma patente já registrada no exterior,
conhecida por se manter vinculada a patente originária estrangeira.A patente pipeline
apenas surgiu após a previsão legal nos artigos 230 e 231 da Lei 9.279/96 (LPI), os quais
possibilitaram depósitos de patentes em campos tecnológicos para os quais o Brasil não
concedia patentes.
A legislação brasileira anterior (Lei 5.772/1971) não permitia a patente de produtos
farmacêuticos e alimentícios. Aqueles que, não obstante a proibição antiga, fizeram tais
pedidos, puderam convertê-los em pedidos de pipeline.
A matéria é bastante controvertida, diante da forma diferenciada no processo de
solicitação de tais patentes, pois passam apenas por uma análise formal e seguem os termos
da patente concedida no exterior, não se submetendo a uma análise técnica dos requisitos de
patenteabilidade pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
Parte da doutrina entende pela inconstitucionalidade da patente pipeline, e a
questão será decidida pelo Supremo Tribunal Federal, já que em 2009 foi ajuizada Ação Direta
de Inconstitucionalidade contra os arts. 230 e 231 da LPI (ADIn 4.234).
O Superior Tribunal de Justiça (STJ)já proferiu algumas decisões entendendo pela
legitimidade das regras dos arts. 230 e 231 da LPI. Confira na seção Jurisprudência deste
material tais decisões.
O fato é que muitos titulares de patentes pipeline – geralmente laboratórios – tentam
estender o prazo de vigência da respectiva patente no Brasil, nos casos em que tais prazos, no
país de origem da patente, são mais longos ou prorrogados por algum motivo específico. O
38
STJ tem rechaçado sistematicamente essas tentativas, conforme se vê dos acórdãos acima
transcritos, entendendo que as patentes pipeline revalidadas no Brasil vigoram pelo prazo
remanescente do país de origem, mas limitado ao prazo máximo previsto em nossa legislação
(art. 40 da LPI: 20 anos para patentes de invenção e 15 anos para patentes de modelo de
utilidade).
Por fim, vale ressaltar que nas patentes pipeline, por ocorrer apenas uma revalidação,
no Brasil, de uma patente já registrada no exterior, a sua concessão dispensa a comprovação
dos requisitos da “novidade”, da “atividade inventiva” e da “aplicação industrial”, uma vez
que eles já foram analisados na jurisdição de origem.
A propósito, confira-se o seguinte julgado do STJ:

Direito empresarial. Requisitos de validade de patente de revalidação.


Uma patente pipeline concedida no exterior e revalidada no Brasil não
pode ser anulada ao fundamento de falta de um dos requisitos de mérito
do art. 8º da Lei 9.279/1996 (Lei de Propriedade Industrial – LPI), mas
apenas por ausência de requisito especificamente aplicável a ela (como,
por exemplo, por falta de pagamento da anuidade no Brasil) ou em razão
de irregularidades formais. Da leitura dos arts. 230 e 231 da LPI e de
acordo com doutrina especializada, uma vez concedida a patente pipeline
por outra jurisdição, ela não poderá ser anulada invocando-se a ausência
de um dos requisitos de mérito previstos no art. 8º da LPI para a
concessão das patentes ordinárias (novidade, atividade inventiva e
aplicação industrial). Precedentes citados: REsp 1.145.637-RJ, Terceira
Turma, DJe 08.02.2010; e REsp 1.092.139-RJ, Terceira Turma, DJe
04.11.2010. REsp 1.201.454-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, J.
14.10.2014.

7.9 Registrabilidade de desenho industrial e de marca

7.9.1 Registro de desenho industrial

O registro de desenho industrial possui três requisitos: novidade, originalidade e


desimpedimento. O INPI apenas analisa o requisito do desimpedimento e, se restar
demonstrado o desatendimento dos outros requisitos, instaura de ofício o processo de
nulidade do registro concedido.
39
a. Novidade:
Um desenho industrial é novo quando não compreendido no estado da técnica. O
estado da técnica é constituído por tudo aquilo tornado acessível ao público antes da data de
depósito do pedido, no Brasil ou no exterior, por uso ou por qualquer meio.

Também constitui estado da técnica o conteúdo completo de pedido depositado no


Brasil e ainda não publicado, a partir da data de depósito ou da prioridade reivindicada, desde
que venha a ser publicado, ainda que subsequentemente.
Não se considera estado da técnica a divulgação de desenho industrial nos 180 dias
anteriores à data de depósito ou da prioridade do pedido de registro (período de graça)se
promovida pelo próprio inventor, pelo INPI em razão de fraude ou por terceiro que não tinha
autorização para fazê-lo.

b. Originalidade:
O desenho industrial é original quando dele resulte uma configuração visual distintiva
em relação a outros objetos anteriores.

c. Desimpedimento:
Não podem ser registrados como desenhos industriais (1)o desenho que tenha
natureza puramente artística, (2)o desenho que ofenda a moral e os bons costumes, a honra
ou a imagem de pessoas, ou atente contra a liberdade de consciência, crença, culto religioso,
ou contra ideias ou sentimentos dignos de respeito e veneração, (3)desenhos que apresentem
forma necessária, comum, vulgar ou determinada essencialmente por considerações técnicas e
funcionais.

7.1.1 Registro de marca

O registro da marca está sujeito a três condições: a novidade relativa, a não colidência
com marca notoriamente conhecida e desimpedimento.
a) Novidade relativa:
É exigido para que a marca cumpra a sua finalidade de identificar, direta ou
indiretamente, produtos ou serviços, destacando-os de seus concorrentes. Não se exige que o
requerente tenha criado o sinal (novidade absoluta), mas apenas que se dê a ele uma nova
utilização.
40
Em razão do caráter relativo da novidade, a proteção da marca registrada é restrita ao
seguimento dos produtos ou serviços a que pertence o objeto marcado (princípio da
especificidade). O INPI classifica os produtos e serviços adotando a Classificação Internacional
de Produtos e Serviços (Classificação de Nice).
Consoante jurisprudência consolidada do STJ, a proteção conferida à marca submete-se
ao princípio da especialidade, ou seja, sua proteção jurídica é restrita ao(s) ramo(s) de
atividade em que o seu titular atua:

Marca. Uso. Empresas. Ramos diversos. A marca “Olímpica” foi registrada


pela recorrente no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), na
classe 25 (relativa a roupas e acessórios de vestuários) e na classe 28
(relativa a jogos, brinquedos, passatempos e artigos para ginástica,
esporte, caça e pesca). A recorrida, empresa de refrigerante, em
campanha promocional, veiculada apenas durante os jogos olímpicos de
Atlanta, divulgou que os participantes que juntassem tampas de garrafa
de sua marca e mais dois reais ganhariam uma pequena bola de espuma,
grafada com a marca do refrigerante e a expressão “minibola olímpica”.
Conforme o registro do INPI, a marca “Olímpica” está restrita a produtos
desportivos, não havendo empecilho de seu uso no comércio, indústria
ou serviço em geral. Ademais, as empresas envolvidas exercem atividades
distintas e seus produtos são de classes diversas, dirigidas a públicos
diferentes, impossibilitando a confusão. A proteção à marca visa impedir a
concorrência desleal, no intuito de evitar que o consumidor adquira um
determinado produto, pensando ser outro. Com esse entendimento, a
Turma não conheceu do recurso (REsp 550.092-SP, Rel. Min. Fernando
Gonçalves, j. 22.03.2005, Informativo 240/2005). Propriedade industrial.
Direito de marca. Pretensão à exclusividade. O direito de exclusividade de
uso de marca, decorrente do registro no INPI, é limitado à classe de
atividade para o qual foi deferido. O acórdão recorrido declarou que a
proteção legal alcança a marca, independente de classe para a qual o
registro foi concedido, pouco importando que as atividades das empresas
litigantes sejam diversas. Assim procedendo, contrariou o art. 59 do
Código de Propriedade Industrial, bem como a jurisprudência desta Corte.
Precedentes citados: REsp 14.367-PR, DJ 21/9/1992, e REsp 9.380-SP, DJ
10/6/1991 (REsp 142.954-SP, Rel. Min. Barros Monteiro, j. 21.09.1999,

41
Informativo 33/99). Recurso especial. Propriedade industrial. Direito
marcário. Pretensão de impedir a utilização da marca registrada “crescer”.
Princípio da especificidade. Atividades distintas enquadradas dentro da
mesma classe. Serviços de educação. Serviços complementares.
Finalidades idênticas e mesmos canais de comercialização. Grande risco
de confusão no consumidor. 1. Pretensão da recorrente de impedir a
utilização, por parte da recorrida, da marca registrada “Crescer”, da qual
detém a titularidade. 2. Como corolário do princípio da especificidade, o
direito à exclusividade da marca se pressupõe dentro da classe de
serviços na qual foi registrada. 3. Atividades da recorrente e da
recorrida que, embora não sejam idênticas, se enquadram na mesma
classe “serviços de ensino”. 4. Grande risco de confusão no mercado
de consumo, por tratar-se de atividades complementares, com
finalidades idênticas, que envolvem os mesmos canais de
comercialização. 5. Direito à utilização exclusiva da marca registrada
que deve ser garantido. 6. Recurso especial provido (REsp 1.309.665/SP,
Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, 3.ª Turma, j. 04.09.2014, DJe
15.09.2014).

A única exceção ao princípio da especificidade é a marca de alto renome, que tem


proteção em todos os ramos de atividade. O titular de marca registrada numa ou mais classes
pode requerer ao INPI que lhe atribua a qualidade de alto renome, segundo a Resolução
107/2013 do INPI. A proteção da marca de alto renome dura por 10 anos, exceto se extinguir-
se o registro da marca ou ela perder a qualidade de alto renome.26
Quando se trata de marca comum, o titular está protegido contra reproduções e
semelhanças dentro do mesmo segmento, mas não pode impedir o uso de signos e
expressões linguísticas comuns aos concorrentes (débeisou frágeis), ainda que tenha sido o
primeiro a ostentá-los em sua marca. Por exemplo, o titular de uma marca de remédio não
pode impedir que outrem utilize o prefixo da substância que o compõe. Se a marca for de
alto renome, tem proteção até em relação ao uso de sinos e expressões linguísticas comuns
inerentes à marca.27

26 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016. p. 189.
27 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista

dos Tribunais, 2016. p. 189.


42
b) Não colidência com marca notoriamente conhecida:

O INPI tem poderes para indeferir de ofício o pedido de registro de marca que
reproduza ou imite, ainda que de forma parcial, uma outra que notoriamente não pertence ao
solicitante. A proteção dada à marca notoriamente reconhecida independe de registro no INPI
e é restrita ao ramo de atividade. Demonstrada a notoriedade da marca, o empresário poderá
requerer ao INPI a nulidade do registro anterior e a concessão do direito industrial em seu
nome.

Em relação a conflito entre nome empresarial e marca, a jurisprudência tem buscado


verificar a possibilidade de convivência entre ambos, com base nas seguintes diretrizes: em
princípio, o nome empresarial é protegido apenas no território do Estado da Junta Comercial
na qual foi registrado, já a marca é protegida apenas no ramo de atividade referente ao
produto ou serviço que identifica. No caso de confusão entre consumidores, com potencial
desvio de clientela, soluciona-se a questão com base no critério da anterioridade do registro.
Contudo, cabe obtemperar que a precedência do registro do nome empresarial não implica,
necessariamente, o direito ao registro de marca. Nesse sentido, o seguinte julgado do STJ
contém síntese dos principais entendimentos que vem sendo adotados pela corte:

(...) 3. A tutela ao nome comercial se circunscreve à unidade federativa de


competência da junta comercial em que registrados os atos constitutivos
da empresa, podendo ser estendida a todo o território nacional desde
que seja feito pedido complementar de arquivamento nas demais juntas
comerciais. Por sua vez, a proteção à marca obedece ao sistema
atributivo, sendo adquirida pelo registro validamente expedido pelo
Instituto Nacional da Propriedade Industrial - INPI, que assegura ao titular
seu uso exclusivo em todo o território nacional, nos termos do art. 129,
caput, e § 1º da Lei n. 9.279/1996.4. O entendimento desta Corte é no
sentido de que eventual colidência entre nome empresarial e marca não é
resolvido tão somente sob a ótica do princípio da anterioridade do
43
registro, devendo ser levado em conta ainda os princípios da
territorialidade, no que concerne ao âmbito geográfico de proteção, bem
como o da especificidade, quanto ao tipo de produto e serviço. (REsp
1359666/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado
em 28/05/2013, DJe 10/06/2013).5. No caso concreto, equivoca-se o
Tribunal de origem ao afirmar que deve ser dada prioridade ao nome
empresarial em detrimento da marca, se o arquivamento na junta
comercial ocorreu antes do depósito desta no INPI. Para que a
reprodução ou imitação de nome empresarial de terceiro constitua óbice
a registro de marca, à luz do princípio da territorialidade, faz-se
necessário que a proteção ao nome empresarial não goze de tutela
restrita a um Estado, mas detenha a exclusividade sobre o uso em todo o
território nacional. Porém, é incontroverso da moldura fática que o
registro dos atos constitutivos da autora foi feito apenas na Junta
Comercial de Blumenau/SC.6. A Convenção da União de Paris de 1883 -
CUP deu origem ao sistema internacional de propriedade industrial com o
objetivo de harmonizar o sistema protetivo relativo ao tema nos países
signatários, do qual faz parte o Brasil (). É verdade que o art. 8º da dita
Convençãoestabelece que "O nome comercial será protegido em todos
os países da União, sem obrigação de depósito ou de registro, quer faça
ou não parte de uma marca de fábrica ou de comércio." Não obstante, o
escopo desse dispositivo é assegurar a proteção do nome empresarial
de determinada sociedade em país diverso do de sua origem, que seja
signatário da CUP, e não em seu país natal, onde deve-se atentar às
leis locais.7. O artigo 124, XIX, da Lei da Propriedade Industrial veda o
registro de marca que reproduza outra preexistente, ainda que em parte e
com acréscimo "suscetível de causar confusão ou associação com marca
alheia". Sob o enfoque pelo ângulo do direito marcário, a possibilidade
de confusão e/ou associação entre as marcas é notória, por possuírem
identidade fonética e escrita quanto ao elemento nominativo e ambas se
destinarem ao segmento mercadológico médico. Assim, é inviável admitir
a coexistência de tais marcas.(...)9. A desconstituição do registro por ação
própria é necessária para que possa ser afastada a garantia da
exclusividade em todo o território nacional. (REsp 325158/SP, Rel. Ministra
NANCY ANDRIGHI, Rel. p/ Acórdão Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES

44
DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/08/2006, DJ 09/10/2006, p.
284 e REsp 1189022/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 25/02/2014, DJe 02/04/2014).(REsp 1184867/SC, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
15/05/2014, DJe 06/06/2014)

c) Desimpedimento:
O impedimento legal obsta o registro do signo como marca, mas não a sua utilização
na identificação de produtos e serviços (como a bandeira do Brasil). Aconselha-se a leitura
atenta ao art. 124 da LPI, no qual estão listados os casos não registráveis como marca.

7.2 Extinção da propriedade industrial

São hipóteses de extinção da propriedade industrial:


 Término do prazo de duração;
 Caducidade;
 Renúncia aos direitos industriais (que somente poderá ser feita se não houver
prejuízo para terceiros, como por exemplo aos licenciados);

 Falta e pagamento da taxa devida ao INPI, denominada retribuição anual; e


 Falta de representante no Brasil, quando o titular for domiciliado no exterior.28

28PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora
jus podivm, 2017. p. 132.
45
QUADRO SINÓTICO

PROPRIEDADE INDUSTRIAL

Direito Autoral Propriedade Industrial Proteção Sui Generis

Invenção
Modelo de Utilidade
Desenho Industrial
Direito de Autor Cultivar
Marca
Direitos Conexos Topografia de Circuito Integrado
Indicação Geográfica
Programas de Computador Conhecimento Tradicional
Segredo Industrial e
Repressão à
Concorrência Desleal

46
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

OAB/ Exame Unificado – 2015: São registráveis como marca:

A) Letra, algarismo e data, ainda que isoladamente, quando revestidos de suficiente forma
distintiva.
B) Termos técnicos que, usados na indústria, na ciência e na arte, tenham relação com o
produto ou serviço a distinguir.
C) Bandeira pública ou oficial, nacional, estrangeira ou internacional, bem como a respectiva
designação, figura ou imitação.
D) Sinais ou expressões empregados apenas como meio de propaganda.

Comentário:

Resposta correta: Alternativa “A”.

Alternativa A:CORRETA

Todas as letras do quesito encontram correspondência no no rol do art. 124 da Lei


9.279/1996, que estabelece símbolos ou termos não registráveis como marca, exceto
a alternativa A. O Diploma em comento proíbe o registro de simples letra, algarismo
ou data que não contenha qualquer elemento identificador. Nesse sentido, em se
tratando de letra, algarismo ou data expressado de forma que permita sua
individualização, desenvolvida por meio da criatividade humana, será registrável
conforme o art. 124, II, da Lei 9.279/1996.

AlternativaB:INCORRETA

47
AlternativaC:INCORRETA

AlternativaD:INCORRETA

Questão 2
FGV -2018: Assinale a afirmativa correta:

A) O prazo de vigência da patente de invenção não pode ser inferior a quinze anos, a contar
da data de concessão, ressalvada a hipótese de INPI estar impedido de proceder ao exame
do mérito do pedido por pendência judicial comprovada ou por motivo de força maior.
B) A patente de invenção vigora pelo prazo de vinte anos, contados da data do depósito.
C) A proteção dos direitos relativos à propriedade industrial é assegurada em todo o
território brasileiro mediante o ato de protocolo do pedido das patentes e marcas do
Instituto Nacional de Propriedade Industrial.
D) É patenteável a invenção que atenda aos requisitos da novidade e atividade inventiva,
sendo dispensável sua aplicação industrial.
E) Os programas de computados são considerados invenções ou modelos de utilidade,
podendo seu autor obter a patente no Instituto Nacional de Propriedade Industrial.

Comentário:

Resposta correta: Alternativa “B”.

AlternativaA:INCORRETA

O prazo mínimo de vigência deve ser contado a partir da patente de invenção. Esse
prazo é dez anos, não de quinze anos, como sugere a assertiva. Nesse sentido, art.
40, parágrafo único, da Lei 9.279/96.

Alternativa B:CORRETA

O prazo de vigência da patente de invenção contado desde a data do depósito é


de vinte anos, conforme art. 40 da Lei 9.279/96;

48
AlternativaC: INCORRETA

A proteção de direitos referentes à propriedade industrial se dá por meio da


concessão de patentes de invenção e de modelo de utilizada e concessão de
registros de desenho industrial e de marca. Nesse sentido, não é simplesmente
mediante o ato de protocolo do pedido, como induz a assertiva. Nesse sentido, art.
2º da Lei 9.279/96.

AlternativaD:INCORRETA

Para ser patenteável, a invenção deve atender aos requisitos da novidade, da


atividade inventiva e ao da aplicação industrial, conforme art. 8º da Lei 9.279/96.

AlternativaE:INCORRETA

O programa de computador não é considerado invenção nem modelo de utilidade.

Questão 3
OAB/ Exame Unificado – 2008.2: De acordo com as leis brasileiras, considera-se criação passível
de ser objeto de direito de patente:

A) A pintura em que se retrata a imagem de um grupo de pessoas.


B) O livro científico em que se descrevem aplicações de medicamentos.
C) O método cirúrgico de transplante de coração em animais.
D) Um processo de fabricação de tinta.

Comentário:

Resposta correta: Alternativa “D”.

AlternativaA:INCORRETA

AlternativaB:INCORRETA

AlternativaC:INCORRETA
49
Alternativa D:CORRETA

As obras artísticas ou científicas não podem ser objeto de patente, assim como
qualquer método cirúrgico, conforme art. 10 da Lei 9.279/1996. O processo de
fabricação de tinta é patenteável, desde que seja considerado que, para receber a
proteção legal, deve atender aos requisitos da novidade, atividade inventiva e
industriabilidade.

Questão 4

(CESPE - 2019 - TJ-PR - Juiz Substituto) Considere as seguintes proposições acerca da


propriedade industrial:
I. Não são patenteáveis o todo ou parte dos seres vivos, com exceção dos microrganismos
transgênicos que atendam aos requisitos legais de patenteabilidade e que não sejam mera
descoberta.
II. À pessoa de boa-fé que, antes da data de depósito ou de prioridade de pedido de patente,
explorava seu objeto no País, será assegurado o direito de continuar a exploração, sem ônus,
na forma e condição anteriores.
III. Se dois ou mais autores tiverem realizado a mesma invenção ou modelo de utilidade, de
forma independente, o direito de obter patente será assegurado àquele cuja invenção ou
criação for mais antiga, independentemente da data do depósito.
IV. Quando se tratar de invenção ou de modelo de utilidade realizado conjuntamente por
duas ou mais pessoas, a patente somente poderá ser requerida por todas elas, em conjunto,
vedado o requerimento individual.
V. É patenteável a invenção que atenda aos requisitos de novidade e atividade inventiva, ainda
que desprovida de aplicação industrial.
De acordo com a atual redação da Lei n° 9.279/1996, está correto o que se afirma APENAS em
A) A I e II.
B) I e III.
C) II e IV.
D) III e V.
50
E) IV e V.

Comentário:

Resposta correta: Alternativa “A”.

Fundamentação: Lei 9.279/96

ItemI:CORRETO

Art. 18. Não são patenteáveis:


III - o todo ou parte dos seres vivos, exceto os microorganismos
transgênicos que atendam aos três requisitos de patenteabilidade -
novidade, atividade inventiva e aplicação industrial - previstos no art. 8º e
que não sejam mera descoberta.

ItemII:CORRETO

Art. 45. À pessoa de boa fé que, antes da data de depósito ou de


prioridade de pedido de patente, explorava seu objeto no País, será
assegurado o direito de continuar a exploração, sem ônus, na forma e
condição anteriores.

ItemIII:INCORRETO

Art. 7º Se dois ou mais autores tiverem realizado a mesma invenção ou


modelo de utilidade, de forma independente, o direito de obter patente
será assegurado àquele que provar o depósito mais antigo,
independentemente das datas de invenção ou criação.

ItemIV:INCORRETO

Art. 6º, § 3º Quando se tratar de invenção ou de modelo de utilidade


realizado conjuntamente por duas ou mais pessoas, a patente poderá ser
requerida por todas ou qualquer delas, mediante nomeação e qualificação
das demais, para ressalva dos respectivos direitos.

ItemV:INCORRETO

51
Art. 8º É patenteável a invenção que atenda aos requisitos de novidade,
atividade inventiva e aplicação industrial.

Questão 5

VUNESP – FAPESP-PROCURADOR/2018: Em 2010, uma empresa obteve o registro de


patente de um determinado medicamento com uma grande lista de reinvidicações. Ocorre
que a empresa descobriu que sua patente estava sofrendo violação em 2011 mas, devido a
questões internas com a matriz, deu entrada nas medidas legais em 2018. Sendo assim, sobre
o caso, é correto afirmar que:
A) após a concessão ao titular da patente é assegurado o direito de obter indenização pela
exploração indevida do seu objeto, inclusive em relação à exploração ocorrida antes da
data da publicação do pedido da patente conforme reza o artigo 44 da Lei n° 9.279/96.
B) a extensão da proteção da patente não é determinada pelo teor das reinvidicações
estando limitada apenas ao produto objeto da patente.
C) mesmo tendo dado entrada após um lapso de tempo, independentemente da concessão,
ainda assim é possível pleitear a reparação do dano causado visto que o direito de
propriedade industrial é protegido por 20 (vinte) anos se patente de invenção e por 15
(quinze) anos se modelo de utilidade a contar da data do depósito pelo artigo 40 da Lei
n° 9.279/96.
D) apesar de a empresa ter os direitos de patente, segundo o artigo 225 da Lei n° 9.279/96,
prescreve em 5 (cinco) anos a ação para reparação de dano causado ao direito de
propriedade industrial, não sendo mais possível solicitar o ressarcimento.
E) o tempo que a empresa demorou para dar entrada na ação é irrelevante, devendo ser
considerada a data de início das violações apenas para fins de apuração do valor
indenizatório.

Comentário:

Resposta correta: alternativa “D”.

Todas as alternativas podem ser analisadas com base na Lei 9279/1996


52
AlternativaA:INCORRETA

Art. 44. Ao titular da patente é assegurado o direito de obter indenização


pela exploração indevida de seu objeto, inclusive em relação à exploração
ocorrida entre a data da publicação do pedido e a da concessão da
patente.

AlternativaB:INCORRETA

Art. 41. A extensão da proteção conferida pela patente será determinada


pelo teor das reivindicações, interpretado com base no relatório descritivo
e nos desenhos.

AlternativaC:INCORRETA

Art. 225. Prescreve em 5 (cinco) anos a ação para reparação de dano


causado ao direito de propriedade industrial.

Alternativa D:CORRETA

Art. 40. A patente de invenção vigorará pelo prazo de 20 (vinte) anos e a


de modelo de utilidade pelo prazo 15 (quinze) anos contados da data de
depósito.
Parágrafo único. O prazo de vigência não será inferior a 10 (dez) anos
para a patente de invenção e a 7 (sete) anos para a patente de modelo
de utilidade, a contar da data de concessão, ressalvada a hipótese de o
INPI estar impedido de proceder ao exame de mérito do pedido, por
pendência judicial comprovada ou por motivo de força maior.

AlternativaE:INCORRETA

Art. 225. Prescreve em 5 (cinco) anos a ação para reparação de dano


causado ao direito de propriedade industrial.

Questão 6

CESPE - 2016–PGE-AM–PROCURADOR DO ESTADO: Julgue o item a seguir, a respeito de


empresa de pequeno porte e de propriedade industrial. Ao requerente de licença compulsória

53
que invoque abuso de direitos patentários ou abuso de poder econômico será concedida, pelo
Instituto Nacional da Propriedade Industrial, licença com iguais privilégios concedidos ao
inventor, como, por exemplo, a exclusividade para a exploração da licença.

Comentário:

Resposta correta: assertiva “ERRADA”

O quesito está errado ao afirmar que será concedida a licença compulsória com
exclusividade.

A licença compulsória ou obrigatória de patentes significa uma suspensão temporária do


direito de exclusividade do titular de uma patente. Com essa suspensão será permitida a
produção, uso, venda ou importação do produto ou processo patenteado, por um
terceiro, sem necessidade da autorização do titular da patente.

Nesse sentido dispõe a Lei de Propriedade Industrial n. 7.279/1996 (LPI):

Art. 68. O titular ficará sujeito a ter a patente licenciada compulsoriamente


se exercer os direitos dela decorrentes de forma abusiva, ou por meio
dela praticar abuso de poder econômico, comprovado nos termos da lei,
por decisão administrativa ou judicial.

Esse instrumento é acionado pelo governo do país que concede a patente, intervindo
sobre o monopólio de sua exploração. Essa licença é um mecanismo de defesa contra
possíveis abusos cometidos pelo detentor de uma patente, ou, para os casos de interesse
público.

Fonte: Coleção Sinopses para concursos da Editora Juspodivm. Estefânia Rossignoli.


Página: 88.

Questão 7

CESPE – INPI/2013: Acerca do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), julgue o


item subsequente.O INPI é uma empresa pública federal, com personalidade jurídica de direito

54
privado, incumbida da execução das normas da propriedade industrial, como o processamento
e o exame dos pedidos de patente ou de registro.

Comentário:

Resposta correta: assertiva “ERRADA”.

O INPI é uma autarquia federal, com personalidade jurídica própria, vinculada ao


Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), tendo por
finalidade executar as normas que regulam a propriedade industrial, bem como
pronunciar-se quanto à conveniência de assinatura, ratificação e denúncia de convenções,
tratados, convênios e acordos sobre propriedade industrial.

Sua natureza jurídica pode ser aferida pelos seguintes dispositivos legais:

Lei n. 5.648/70
Art 1º Fica criado o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI),
autarquia federal, vinculada ao Ministério da Indústria e do Comércio,
com sede e foro no Distrito Federal.
Art. 2º O INPI tem por finalidade principal executar, no âmbito nacional,
as normas que regulam a propriedade industrial, tendo em vista a sua
função social, econômica, jurídica e técnica, bem como pronunciar-se
quanto à conveniência de assinatura, ratificação e denúncia de
convenções, tratados, convênios e acordos sobre propriedade industrial.
DL n. 200/67
Art. 4° A Administração Federal compreende:
II - A Administração Indireta, que compreende as seguintes categorias de
entidades, dotadas de personalidade jurídica própria:
a) Autarquias;

55
Questão 8

CESPE – INPI/2014: Com referência à proteção conferida às patentes, às respectivas licenças e


aos modelos de utilidade realizados por empregado, cada um do próximo item apresenta uma
situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada.Adalgisa requereu ao INPI pedido
de patente de invenção em 14/6/2013, tendo a patente sido concedida em 3/1/2014. No mês
de outubro de 2013, ou seja, no curso do processo de concessão da patente, ocorreu
exploração indevida da referida invenção. Nessa situação, a despeito de a exploração indevida
ter ocorrido em data anterior à da concessão da patente, é possível que Adalgisa obtenha
indenização pela referida exploração indevida.

Comentário:

Resposta correta: assertiva “CERTA”

No momento da publicação do pedido de patente de invenção, já nasce a proteção da


patente. Assim, a partir da publicação, não é possível a alegação de desconhecimento
por terceiro, sendo cabível o pedido de indenização, em virtude da exploração indevida.

Vale ainda registrar que a prescrição começa a contar, como regra geral, da publicação
do pedido, sendo concedida tal proteção anteriormente ao momento da concessão da
patente em si.

Lei n. 7.279/1996:
Art. 44. Ao titular da patente é assegurado o direito de obter indenização
pela exploração indevida de seu objeto, inclusive em relação à exploração
ocorrida entre a data da publicação do pedido e a da concessão da
patente.
§ 3º O direito de obter indenização por exploração indevida, inclusive
com relação ao período anterior à concessão da patente, está limitado ao
conteúdo do seu objeto, na forma do art. 41.

56
Questão 9

CESPE –CÂMARA DOS DEPUTADOS – ANALISTA LEGISLATIVO/2014: Julgue o seguinte item,


acerca de crimes relacionados a arma de fogo e à propriedade industrial. Quem reproduzir,
sem autorização do titular, no todo ou em parte, marca registrada praticará o crime descrito
como crime contra a patente ou invenção.

Comentário:

Resposta correta: assertiva “ERRADA”

O crime descrito não trata de crime contra patente ou invenção. A patente é um ato de
proteção à invenção. O crime em questão trata de crimes cometidos por meio de marca,
título de estabelecimento e sinal de propaganda e não de crimes contra a patente, que
está em capítulo diverso da LPI:

Lei n. 9.279/96
Art. 191. Reproduzir ou imitar, de modo que possa induzir em erro ou
confusão, armas, brasões ou distintivos oficiais nacionais, estrangeiros ou
internacionais, sem a necessária autorização, no todo ou em parte, em
marca, título de estabelecimento, nome comercial, insígnia ou sinal de
propaganda, ou usar essas reproduções ou imitações com fins
econômicos.
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa.

Questão 10

CESPE – AGU – PROCURADOR FEDERAL/2007: A BMX Indústria de Móveis Ltda., fabricante


de móveis para escritório, possui marca registrada no Instituto Nacional de Propriedade
Industrial (INPI) para a cadeira giratória de sua fabricação denominada Sincronya. A MOB
Móveis para escritório Ltda., que atua no mesmo ramo de mercado da BMX Indústria de
Móveis Ltda., protocolizou requerimento perante o INPI, com o objetivo de registrar a marca

57
Sincronia para sua cadeira, mediante expressa autorização de sua concorrente. Nessa situação,
em conformidade com as normas atinentes à propriedade industrial, o INPI deve efetuar o
registro de marca solicitado pela MOB Móveis para escritório Ltda.

Comentário:

Resposta correta: assertiva “ERRADA”

A proteção de marcas não visa apenas proteger o proprietário da marca, mas também
evitar que os consumidores sejam lesados com a possível confusão ao adquirirem
produtos.

Assim, apesar da autorização da concorrente, detentora da marca, se o novo pedido de


registro tem potencialidade de trazer prejuízos a sociedade, compete ao INPI indeferi-lo.

Nesse sentido dispõe a Lei nº 9.279/96:

Art. 2º A proteção dos direitos relativos à propriedade industrial,


considerado o seu interesse social e o desenvolvimento tecnológico e
econômico do País, efetua-se mediante:
V - repressão à concorrência desleal.
Seção II
Dos Sinais Não Registráveis Como Marca
Art. 124. Não são registráveis como marca:
XIX - reprodução ou imitação, no todo ou em parte, ainda que com
acréscimo, de marca alheia registrada, para distinguir ou certificar produto
ou serviço idêntico, semelhante ou afim, suscetível de causar confusão ou
associação com marca alheia;

Com efeito, além do impedimento em razão da função social descrita no art 2º da LPI, há
vedação expressa pela lei de regência (art. 124, inc. XIX).

58
Questão 11

(NUCEPE - 2018 - PC-PI - Delegado de Polícia Civil)

Sobre as marcas, assinale a alternativa CORRETA.

A) Somente podem requerer registro de marca o empresário individual, a EIRELI e as


sociedades empresárias.

B) O registro da marca vigorará pelo prazo de quinze anos, contados da data da concessão do
registro, prorrogável por períodos iguais e sucessivos.

C) A proteção de uma marca depende, invariavelmente, do prévio registro no Instituto


Nacional da Propriedade Industrial.

D) A marca não pode ser objeto de alienação. Entretanto, o adquirente de estabelecimento,


por ato entre vivos, pode, se o contrato o permitir, usar a marca do alienante, precedida da
sua, com a qualificação de sucessor.

E) À marca registrada no Brasil considerada de alto renome será assegurada proteção especial,
em todos os ramos de atividade. Cuida-se, assim, de exceção à especialidade da proteção das
marcas.

Comentário:

A) Errada - Art. 128. Podem requerer registro de marca as pessoas físicas ou jurídicas de
direito público ou de direito privado.

B) Errada - Art. 133. O registro da marca vigorará pelo prazo de 10 (dez) anos, contados da
data da concessão do registro, prorrogável por períodos iguais e sucessivos.

59
C) Errada- Art. 122. São suscetíveis de registro como marca os sinais distintivos visualmente
perceptíveis, não compreendidos nas proibições legais. (não são todas as marcas que podem
ser protegidas por registro) - vide art. 124.

D) Errada - Art. 134. O pedido de registro e o registro poderão ser cedidos, desde que o
cessionário atenda aos requisitos legais para requerer tal registro.

E) Certa - Art. 125. À marca registrada no Brasil considerada de alto renome será assegurada
proteção especial, em todos os ramos de atividade.

Questão 12

(FUNCAB - 2016 - PC-PA - Delegado de Polícia Civil - Prova Anulada)

Sobre a tutela da Propriedade Industrial, é correto afirmar que:

A) A declaração de caducidade do registro de marca opera efeitos jurídicos retroativos -


ex tunc.

B) Cabe ao INPI e não ao Poder Judiciário analisar os requisitos necessários à qualificação da


marca como de alto renome.

C) A proteção especial da marca de alto renome, em todos os ramos de atividade prescinde


de procedimento administrativo junto ao INPI.

D) Para a tutela da marca não basta a mera possibilidade de confusão, exige-se prova de
efetivo engano por parte de clientes ou consumidores específicos.

E) O termo inicial da prescrição da ação indenizatória por uso indevido de marca surge a
partir da violação do direito e não se prolonga no tempo nos casos de violações permanentes
ou continuadas.

60
Comentário:

A) ERRADO - A declaração de caducidade do registro de marca tem efeitos jurídicos a partir


de sua declaração (ex nunc), e não efeitos retroativos (ex tunc). REsp 1080074/RS,Rel. Ministro
LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, Julgado em 26/02/2013,DJE 13/03/2013

B) CERTO -Cabe ao INPI e não ao Poder Judiciário analisar os requisitos necessários à


qualificação da marca como de alto renome. AgRg no REsp 1165653/RJ,Rel. Ministro SIDNEI
BENETI, TERCEIRA TURMA, Julgado em 17/09/2013,DJE 02/10/2013

C)ERRADO -Para se conceder a proteção especial da marca de alto renome, em todos os


ramos de atividade, (art. 125 da LPI) é necessário procedimento administrativo junto ao INPI.
AgRg no AgRg no REsp 1116854/RJ,Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA,Julgado
em 20/09/2012,DJE 02/10/2012

D) ERRADO - Para a tutela da marca basta a possibilidade de confusão, não se exigindo


prova de efetivo engano por parte de clientes ou consumidores específicos. REsp
1450143/RJ,Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, Julgado em 19/08/2014,DJE
02/09/2014

E) ERRADO-O termo inicial da prescrição da ação indenizatória por uso indevido de marca
surge a partir da violação do direito, prolongando-se no tempo nos casos de violações
permanentes ou continuadas. REsp 1282969/SC,Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
TERCEIRA TURMA,Julgado em 21/08/2014,DJE 08/09/2014.

Questão 13

(VUNESP - 2014 - PC-SP - Delegado de Polícia)

Referente à Lei de proteção da propriedade intelectual de programa de computador,


entendendo-se este como um conjunto organizado de instruções em linguagem natural ou
codificada, o regime de proteção é o conferido às obras

61
A) Científicas e similares vigentes no Brasil.

B) Com direito de arena e similares vigentes no Brasil.

C) Artísticas e conexos vigentes no País.

D) Literárias e conexos vigentes no País.

E) Com direito de arena e conexos vigentes no Brasil.

Comentário:

Correta: Letra D– Conforme a lei9609/98:

Art. 2º O regime de proteção à propriedade intelectual de programa de computador é o


conferido às obras literárias pela legislação de direitos autorais e conexos vigentes no País,
observado o disposto nesta Lei.

Questão 14

(MS CONCURSOS - 2012 - PC-PA - Delegado de Polícia)

Segundo a Lei n° 9.609, de 19 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre a proteção da


propriedade intelectual de programa de computador, sua comercialização no país, e dá outras
providências, programa de computador é a expressão de um conjunto organizado de
instruções em linguagem natural ou codificada, contida em suporte físico de qualquer
natureza, de emprego necessário em máquinas automáticas de tratamento da informação,
dispositivos, instrumentos ou equipamentos periféricos, baseados em técnica digital ou
análoga, para fazê-los funcionar de modo e para fins determinados. Com base nessas
informações, assinale a alternativa incorreta:

A) O regime de proteção à propriedade intelectual de programa de computador é o conferido

às obras literárias pela legislação de direitos autorais e conexos vigentes no País.


62
B) Não se aplicam ao programa de computador as disposições relativas aos direitos morais,
ressalvado, a qualquer tempo, o direito do autor de reivindicar a paternidade do programa de
computador e o direito do autor de opor-se a alterações não-autorizadas, quando estas
impliquem deformação, mutilação ou outra modificação do programa de computador, que
prejudiquem a sua honra ou a sua reputação.

C) Fica assegurada a tutela dos direitos relativos a programa de computador pelo prazo de
cinquenta anos, contados a partir de 1° de janeiro do ano subsequente ao da sua publicação
ou, na ausência desta, da sua criação.

D) A proteção aos direitos referentes à propriedade intelectual de programa de computador


depende de registro.

E)Os direitos atribuídos pela Lei n° 9.609/98 ficam assegurados aos estrangeiros domiciliados
no exterior, desde que o país de origem do programa conceda, aos brasileiros e estrangeiros
domiciliados no Brasil, direitos equivalentes.

Comentário:

Letra D – Conforme o artigo 2º, §3º da Lei 9.609/98:

A proteção aos direitos referentes à propriedade intelectual de programa de computador NÃO


DEPENDE DE REGISTRO, evidente que o melhor será REGISTRAR para OBTENÇÃO, com maior
facilidade e propriedade, dos direitos.

63
GABARITO

Questão 1 - A

Questão 2 -B

Questão 3 -D

Questão 4 -A

Questão 5 -D

Questão 6 - Errado

Questão 7 - Errado

Questão 8 - Certo

Questão 9 -Errada

Questão 10 - Errado

Questão 11 - E

Questão 12 - B

Questão 13 -D

Questão 14 - D

64
QUESTÃO DESAFIO

Como é feito o cálculo que resulta na receita bruta anual para fins
de enquadramento de uma sociedade como microempresa e de
empresa de pequeno porte?

Máximo de 5 linhas

65
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

Segundo o art. 3, §1º da LC de LC 123/2006, considera-se receita bruta o produto da


venda de bens e serviços nas operações de conta própria, o preço dos serviços prestados
e o resultado nas operações em conta alheia, não incluídas as vendas canceladas e os
descontos incondicionais concedidos.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 O produto da venda de bens e serviços

O art. 3, I, da Lei Complementar 123/2006 afirma que considera-se microempresa a sociedade


empresária, a sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o
empresário a que se refere o art. 966 da Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código
Civil) que aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00
(trezentos e sessenta mil reais). E considera-se empresa de pequeno porte a sociedade
simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o empresário a que se refere o
art. 966 da Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) que aufira, em cada ano-
calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou
inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais).

Sobre a forma de calcular tais valores, o autor André Santa Cruz afirma (CRUZ, André Santa.
Direito Empresarial. 8. ed. São Paulo: Método, 2018. p. 1450-1450.): “Destaque-se ainda que o
cálculo da receita bruta anual, para efeito de enquadramento, é obtido com “o produto da
venda de bens e serviços nas operações de conta própria, o preço dos serviços prestados e o
resultado nas operações em conta alheia, não incluídas as vendas canceladas e os descontos
incondicionais concedidos” (art. 3.º, § 1.º). Também nesse sentido dispunha a legislação
antecedente.”.

 Art. 3, §1º da LC 123/2006

Sobre a Lei Complementar 123/2006, o autor André Santa Cruz comenta (CRUZ, André Santa.
Direito Empresarial. 8. ed. São Paulo: Método, 2018. p. 1447-1447.): Conforme já destacamos,
obedecendo ao disposto nos arts. 179 e 146, III, d, da Constituição da República foi editada a
Lei Complementar 123/2006, que estabeleceu normas gerais relativas ao tratamento
diferenciado e favorecido a ser dispensado às microempresas e empresas de pequeno porte
no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,

66
especialmente no que se refere, conforme o seu art. 1.º: “I – à apuração e recolhimento dos
impostos e contribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
mediante regime único de arrecadação, inclusive obrigações acessórias; II – ao cumprimento
de obrigações trabalhistas e previdenciárias, inclusive obrigações acessórias; III – ao acesso a
crédito e ao mercado, inclusive quanto à preferência nas aquisições de bens e serviços pelos
Poderes Públicos, à tecnologia, ao associativismo e às regras de inclusão; IV – ao cadastro
nacional único de contribuintes a que se refere o inciso IV do parágrafo único do art. 146, in
fine, da Constituição Federal”.

O §1º do art. 3 da referida Lei Complementar explica como deve ser feito a o cálculo para
chegar no valor da receita bruta anual, utilizado como parâmetro para enquadramento como
microempresa e de empresa de pequeno porte.

67
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Propriedade Industrial

 Lei 9.279/96: arts. 1º-144

Marcas e Patentes

 Súmula 143, STJ

A vedação de registro de marca que reproduza ou imite elemento característico ou diferenciador de nome

empresarial de terceiros, suscetível de causar confusão ou associação (art. 124, V, da Lei n. 9.279/1996), deve ser
interpretada restritivamente e em consonância com o art. 1.166 do Código Civil.

 Enunciado 1, CJF, I Jornada de Direito Comercial

Decisão judicial que considera ser o nome empresarial violador do direito de marca não implica a anulação do

respectivo registro no órgão próprio nem lhe retira os efeitos, preservado o direito de o empresário alterá-lo.

 Enunciado 2, CJF, I Jornada de Direito Comercial

A vedação de registro de marca que reproduza ou imite elemento característico ou diferenciador de nome
empresarial de terceiros, suscetível de causar confusão ou associação (art. 124, V, da Lei n. 9.279/1996), deve ser

interpretada restritivamente e em consonância com o art. 1.166 do Código Civil.

 Enunciado 108, CJF, II Jornada de Direito Comercial

Não cabe a condenação do INPI em sucumbência, nos termos do art. 85 do CPC, quando a matéria não for de
seu conhecimento prévio e não houver resistência judicial posterior

 Enunciado 109, CJF, II Jornada de Direito Comercial

Os pedidos de abstenção de uso e indenização, quando cumulados com açãovisando anular um direito de
propriedade industrial, são da competência da Justiça Federal, emface do art. 55 do CPC.

 Enunciado 111, CJF, II Jornada de Direito Comercial

68
Não cabe a condenação do INPI em sucumbência, nos termos do art. 85 do CPC, quando a matéria não for de
seu conhecimento prévio e não houver resistência judicial posterior

 Enunciado 113, CJF, II Jornada de Direito Comercial

Em ações que visam anular um direito de propriedade industrial, a citação do INPI para se manifestar sobre os
pedidos deve ocorrer apenas após a contestação do titular do direito de propriedade industrial.

 Enunciado 107, CJF, III Jornada de Direito Comercial

O fato gerador do parágrafo único do art. 40 da Lei n. 9.279/96 não engloba a hipótese de mora administrativa
havida em concausa ou perpetrada pelo depositante do pedido de patente, desde que demonstrada conduta
abusiva deste.

 Enunciado 108, CJF, III Jornada de Direito Comercial

Não cabe a condenação do INPI em sucumbência, nos termos do art. 85 do CPC, quando a matéria não for de

seu conhecimento prévio e não houver resistência judicial posterior.

 Enunciado 109, CJF, III Jornada de Direito Comercial

Os pedidos de abstenção de uso e indenização, quando cumulados com ação visando anular um direito de

propriedade industrial, são da competência da Justiça Federal, em face do art. 55 do CPC.

 Enunciado 110, CJF, III Jornada de Direito Comercial

Aplicam-se aos negócios jurídicos de propriedade intelectual o disposto sobre a função social dos contratos,

probidade e boa-fé.

 Enunciado 111, CJF, III Jornada de Direito Comercial

Nas ações de nulidade de indeferimento de pedido de registro de marca, o titular do registro marcário apontado
como anterioridade impeditiva é litisconsorte passivo necessário, à luz do que dispõe o art. 115 do CPC.

 Enunciado 112, CJF, III Jornada de Direito Comercial

O termo inicial do prazo de 30 dias previsto no parágrafo único do art. 162 da Lei n. 9.279/96 é o primeiro dia
útil subsequente ao término in albis do prazo de 60 dias previsto no caput do mesmo artigo.

 Enunciado 113, CJF, III Jornada de Direito Comercial

Em ações que visam anular um direito de propriedade industrial, a citação do INPI para se manifestar sobre os
pedidos deve ocorrer apenas após a contestação do titular do direito de propriedade industrial.

 Enunciado 114, CJF, III Jornada de Direito Comercial

A proteção jurídica ao conjunto-imagem de um produto ou serviço não se estende à funcionalidade técnica.

69
 Enunciado 115, CJF, III Jornada de Direito Comercial

As limitações de direitos autorais estabelecidas nos arts. 46, 47 e 48 da Lei de Direitos Autorais devem ser

interpretadas extensivamente, em conformidade com os direitos fundamentais e a função social da propriedade


estabelecida no art. 5º, XXIII, da CF/88.

70
JURISPRUDÊNCIA

Patentes Pipeline

 STJ, 3ª Turma. REsp 1145637/RJ, Rel. MinVasco Della Giustina. julgado em 08/02/2010.

O regime de patente pipeline, ou de importação, ou equivalente é uma criação excepcional, de caráter


temporário, que permite a revalidação, em território nacional, observadas certas condições, de patente concedida

ou depositada em outro país. Para a concessão da patente pipeline, o princípio da novidade é mitigado, bem
como não são examinados os requisitos usuais de patenteabilidade. Destarte, é um sistema de exceção, não

previsto em tratados internacionais, que deve ser interpretado restritivamente, seja por contrapor ao sistema
comum de patentes, seja por restringir a concorrência e a livre iniciativa. Quando se tratar da vigência da patente
pipeline, o termo inicial de contagem do prazo remanescente à correspondente estrangeira, a incidir a partir da
data do pedido de revalidação no Brasil, é o dia em que foi realizado o depósito no sistema de concessão
original, ou seja, o primeiro depósito no exterior, ainda que abandonado, visto que a partir de tal fato já surgiu
proteção ao invento (v.g.: prioridade unionista). Interpretação sistemática dos arts. 40 e 230, § 4.º, da Lei 9.279/96,

33 do TRIPS e 4.º bis da CUP. Nem sempre a data da entrada em domínio público da patente pipeline no Brasil
vai ser a mesma da correspondente no exterior. Incidência do princípio da independência das patentes, que se

aplica, de modo absoluto, tanto do ponto de vista das causas de nulidade e de caducidade patentárias como do

ponto de vista da duração normal. Consoante o art. 5.º, XXIX, da CF, os direitos de propriedade industrial devem
ter como norte, além do desenvolvimento tecnológico e econômico do país, o interesse social. Outrossim, na
aplicação da lei, o juiz deverá atender aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum (art. 5.º
da LICC).

“Trade Dress”

 STJ, 3ª Turma. REsp 1.353.451/MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze. julgado em 28/09/2017.

O indeferimento de prova técnica, para utilizar-se de máximas da experiência como substitutivo de prova, é
conduta que cerceia o direito de ampla defesa das partes.O conjunto-imagem (trade dress) é a soma de
elementos visuais e sensitivos que traduzem uma forma peculiar e suficientemente distintiva, vinculando-se à sua

identidade visual, de apresentação do bem no mercado consumidor. Não se confunde com a patente, o desenho
industrial ou a marca, apesar de poder ser constituído por elementos passíveis de registro, a exemplo da
composição de embalagens por marca e desenho industrial. Embora não disciplinado na Lei n. 9.279/1996, o

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conjunto-imagem de bens e produtos é passível de proteção judicial quando a utilização de conjunto similar
resulte em ato de concorrência desleal, em razão de confusão ou associação com bens e produtos concorrentes

(art. 209 da LPI). No entanto, por não ser sujeito a registro - ato atributivo do direito de exploração exclusiva -
sua proteção não pode servir para ampliar direito que seria devido mediante registro, de modo que não será

suficiente o confronto de marca a marca para caracterizar a similaridade notória e presumir o risco de confusão.
A confusão que caracteriza concorrência desleal é questão fática, sujeita a exame técnico, a fim de averiguar o
mercado em que inserido o bem e serviço e o resultado da entrada de novo produto na competição, de modo a
se alcançar a imprevisibilidade da conduta anticompetitiva aos olhos do mercado.

 Colisão de Marcas
 STJ, 3ª Turma. REsp 1340933/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino. julgado em 17/03/2015.

Mesmo que de classes diferente do produto já registrado, produtos que guardam relação de afinidade, inserindo-
se no mesmo nicho comercial, visando a um público consumidor semelhante e utilizando os mesmos canais de

comercialização não podem ter sua marca registrada se essa colidir com outro já existente. (ex. pedido de
registro de bolacha recheada com a marca TIC-TAC conflita com a bala já registrada sob a mesma marca). A

aplicação do princípio da especialidade não deve se ater de forma mecânica à Classificação Internacional de

Produtos e Serviços, podendo extrapolar os limites de uma classe sempre que, pela relação de afinidade dos
produtos, houver possibilidade de se gerar dúvida no consumidor. Caso concreto em que a concessão do
registro pleiteado pela autora ensejaria, no consumidor, uma provável e inverídica associação dos biscoitos
recheados com as pastilhas TIC TAC comercializadas pelas rés. Indeferimento do registro mantido, à luz do art.
124, XIX, da Lei n. 9.279/96.Registre-se, entretanto, que nem sempre a mera afinidade entre as classes de

produtos ensejará a impossibilidade de convivência entre marcas iguais ou semelhantes. Deve-se levar em conta,
principalmente, a possibilidade de os consumidores serem levados a erro e a probabilidade de o titular da marca

anteriormente registrada sofrer prejuízos. Não ocorrendo isso, deve-se permitir a coexistência das marcas.

 STJ, 3ª Turma. AgRg no REsp 1.346.089/RJ, Rel. Min. Moura Ribeiro. julgado em 14/05/2015.

Para a caracterização da infringência de marca, não é suficiente que se demonstrem a semelhança dos sinais e a
sobreposição ou afinidade das atividades. É necessário que a coexistência das marcas seja apta a causar confusão
no consumidor ou prejuízo ao titular da marca anterior, configurando concorrência desleal.A doutrina criou

parâmetros para a aplicação do [art.] 124, XIX, da Lei nº 9.279/96 ao caso concreto, listando critérios para a
avaliação da possibilidade de confusão de marcas: a) grau de distintividade intrínseca das marcas; b) grau de
semelhança das marcas; c) legitimidade e fama do suposto infrator; d) tempo de convivência das marcas no
mercado; e) espécie dos produtos em cotejo; f) especialização do público-alvo; e) diluição. Com base nos

elementos fático-probatórios dos autos o Tribunal de origem concluiu pela possibilidade de coexistência no
mercado da marca nominativa Chester e da marca mista Chester Cheetah. A primeira é um produto derivado de
uma ave para festas; a outra, um produto do ramo de salgadinhos.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2020.

FAZZIO JUNIOR, WALDO. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2020.

MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. São Paulo: Atlas, 2020.

PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora

JusPodivm, 2020.

PENANTE JR, Francisco. LAURINDO, Felipe. Prática empresarial. Recife: Armador, 2020.

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