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CERS TRIBUNAIS

TRIBUNAIS

CAPÍTULO 7
Olá, aluno!

Bem-vindo ao estudo para os concursos de Tribunais. Preparamos todo esse material


para você não só com muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade,
garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente.

O CERS Book é um material em PDF desenvolvido especificadamente para a sua carreira.


O material tem o objetivo de ser autossuficiente e totalmente direcionado, dando prioridade

aos pontos mais importantes de cada disciplina!

Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins
de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal,
queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento,
pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo

sempre!

Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo


completo que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a
estrutura do CERS Book foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar

especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada


capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto

com a leitura de jurisprudência selecionada.

E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou

comentários, entre em contato através do e-mail pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
a gente!

O que você vai encontrar aqui?

 Recorrência da disciplina e de cada assunto dentro dela


 Questões comentadas

1
 Questão desafio para aprendizagem proativa
 Jurisprudência comentada
 Indicação da legislação compilada para leitura
 Quadro sinótico para revisão
 Mapa mental para fixação

Acreditamos que com esses recursos você estará munido com tudo que precisa para alcançar
a sua aprovação de maneira eficaz. Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que
um objetivo para o CERS, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para

o estudo da disciplina.

Faça bom uso do seu PDF!

2
Recado para você que está assistindo às videoaulas

Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você que está
assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do nosso CERS Book.
Portanto, você deve estar atento que:

O CERS book foi desenvolvido para complementar a aula do professor e te dar um suporte nas

revisões!

Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas, razão pela
qual pode ser eventualmente repetido;

A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se o capítulo
03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é baseada no estudo dos

principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público, por isso, nem todos os assuntos
apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou legislativa;

Esperamos que goste do conteúdo!

3
CAPÍTULOS

Capítulo 1 – LINDB - Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro 


Capítulo 2 – Teoria Geral do Direito 
Capítulo 3 – Pessoa Jurídica 

Capítulo 4 – Direitos da Personalidade 


Capítulo 5 – Domicílio 
Capítulo 6 – Bens Jurídicos 

Capítulo 7 (você está aqui!) – Teoria do ato, fato e negócio



jurídico

Capítulo 8 – Defeitos do Negócio Jurídico 

Capítulo 9 – Prescrição e Decadência 

Capítulo 10 – Introdução, elementos e classificação das Obrigações 


Capítulo 11 - Transmissão, Adimplemento, Extinção e

Inadimplemento das Obrigações

Capítulo 12 – Responsabilidade Civil 


Capítulo 13 – Teoria Geral dos Contratos 
Capítulo 14 – Contratos em espécie I 
Capítulo 15 – Contratos em espécie II 
Capítulo 16 – Posse e Direitos Reais 
Capítulo 17 – Direito de família 
Capítulo 18 – Direito sucessório 

4
SOBRE ESTE CAPÍTULO

O presente capítulo não é extenso. Ele tratará sobre dois temas relacionados:
principalmente, a Teoria do Ato, Fato e Negócio Jurídico e a Escada Ponteana, com foco nos

pontos mais incidentes nos certames por nós analisados.

Os assuntos doutrinários, como a escada ponteana e a diferença entre ato jurídico stricto
sensu, ato fato e negócio jurídico, não são considerados de fácil compreensão. Quanto aos

artigos do Código Civil acerca dos negócios jurídicos, a atenção deve ser redobrada no estudo
para provas objetivas de Tribunais, pois seus detalhes costumam ser muito cobrados, conforme

veremos nos testes deste e dos próximos dois capítulos.

Não há diferenciação quanto à sua cobrança nos certames analisados. Percebeu-se que
o negócio jurídico, por estar na Parte Geral do Código Civil, é cobrado de maneira recorrente e

em todas as carreiras jurídicas. A cobrança resume-se mais à letra seca dos artigos do Código
Civil correspondentes. Portanto, é fundamental que o aluno acompanhe o presente capítulo com
a lei e sempre a leia e a releia.

Recomenda-se que o aluno revise antes do certame, principalmente, a parte do Código


Civil que se refere aos elementos acidentais do negócio jurídico.

Vamos então começar o estudo do negócio jurídico! Pegue seu vade mecum e mãos à

obra!

5
SUMÁRIO

Capítulo 7 .................................................................................................................................................. 7

7. Fatos, Atos e Negócios Jurídicos .................................................................................................. 7

7.1 Conceito de Fato e Ato Jurídico..................................................................................................................... 7

7.1.1 Fato Jurídico ............................................................................................................................................................ 7

7.1.2 Ato Jurídico .............................................................................................................................................................. 8

7.1.3 Escada Ponteana................................................................................................................................................. 10

7.2 Negócio Jurídico................................................................................................................................................. 12

7.2.1 Classificação dos Negócios Jurídicos ........................................................................................................ 13

7.2.2 Elementos do Negócio Jurídico ................................................................................................................... 15

7.2.3 Elementos acessórios (acidentais) do Negócio Jurídico ................................................................... 19

7.2.3.1 Condição ............................................................................................................................................................ 19

7.2.3.2 Termo................................................................................................................................................................... 21

7.2.3.3 Encargo ou Modo .......................................................................................................................................... 22

7.2.4 Manifestação de vontade .............................................................................................................................. 23

QUADRO SINÓPTICO ............................................................................................................................ 25

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 29

GABARITO ............................................................................................................................................... 39

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 40

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 41

LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 43

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 44

MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 48


6
DIREITO CIVIL

Capítulo 7

Apesar de o presente capítulo ser bastante teórico, ele contribuirá muito para a

compreensão de temas posteriores. Então, não deixe de fazer uma leitura atenta e gravar ao
menos a diferença entre os principais institutos, com destaque aos elementos acidentais do
negócio jurídico e à escada ponteana.

Estão prontos para estudar como o Direito trata fatos da vida real e em quais categorias
eles se inserem?

7. Fatos, Atos e Negócios Jurídicos

7.1 Conceito de Fato e Ato Jurídico

7.1.1 Fato Jurídico


O Fato Jurídico é um acontecimento para o qual uma norma jurídica, atribui um efeito
jurídico. Ou seja, há repercussão no mundo jurídico, existe conexão entre o fato ocorrido e a
lei. Este efeito, decorrente do fato, poderá ser: a aquisição; a conservação; a transferência; a

modificação; e a extinção de direitos.

O fato jurídico (em sentido amplo) costuma ser dividido em:

● Fato Jurídico Natural (ou em sentido estrito): Independe da vontade humana. E


se subdivide em:
 Originário (o simples decurso do tempo os provoca, exemplos: o nascimento,
a morte, a maioridade, prescrição);

7
 Extraordinário (são os fatos do acaso, a exemplo do caso fortuito, ou força
maior, das tempestades e dos terremotos que ocasionem danos às pessoas).
● Fato Jurídico Humano ou Fato Jurígeno: Decorre de um ato humano (Ex:
reconhecimento da paternidade, um contrato, uma doação).

Ato Fato é um fato jurídico que se caracteriza através de um ato ou comportamento humano

em que não há qualquer vontade, ou não fora levada em consideração pelo autor. Assim, a
vontade não integra o suporte fático, apesar de produzir efeitos normalmente. Em outras

palavras o Ato Fato é desprovido de voluntariedade e consciência em direção ao resultado


jurídico existente.

Exemplos: Criança de 5 anos indo comprar bala em um bar, ou criança que pesca um peixe e,

se torna dono do peixe, e, também, descobrimento de tesouro por alguém, sem querer.

7.1.2 Ato Jurídico


O ato é a ação humana e poderá ser lícito (aquele que cumpre o ordenamento jurídico,

sendo regido pelas regras do negócio jurídico) e ilícito (aquele que viole o ordenamento
jurídico, ou seja, todo aquele que viole direito e cause danos a outrem, ainda que

exclusivamente moral, comete ato ilícito).

Atenção aqui, pois há corrente doutrinária que entende que o Ato Ilícito não é ato
jurídico, pois para os autores adeptos a essa corrente, a licitude é um elemento do ato jurídico.

Ex: Flávio Tartuce, Pablo Stolze e Zeno Veloso.

Da primeira corrente, a qual os atos ilícitos são considerados jurídicos, tem-se Pontes de
Miranda, Silvo Venosa e Moreira Alves.

8
O ATO LÍCITO LATO SENSU subdivide-se:

● Ato jurídico em sentido estrito: O ato jurídico em sentido estrito (meramente lícito)
é não negocial. Seus efeitos estão previstos em lei, não importando a vontade das
partes, não há a chamada autonomia privada. Ou seja, há uma manifestação de
vontade, mas os efeitos são gerados independentemente de serem perseguidos
diretamente pelo agente. Exemplos: ocupação de um imóvel, pagamento de uma
obrigação, a confissão ou reconhecimento espontâneo de filho.

● Negócio jurídico: é o ato que tem como consequência efeitos jurídicos desejados
pelas partes. É ato negocial. Estará presente a autonomia privada. O contrato é o
principal exemplo de um negócio jurídico.

A doutrina diverge quanto à natureza jurídica do pagamento. Tem autores que falam

que é negócio jurídico bilateral ou unilateral, ato jurídico, etc. Em concurso se recomenda que
considere como ato jurídico stricto sensu, pois no CC não se anula pagamento por vício do
negócio jurídico.

Sendo assim, o negócio jurídico é fato humano, voluntário, que tende a provocar efeitos
jurídicos por meio de determinado ato. Os efeitos são desejados pelas partes (é ato negocial).

Por sua vez, ATO ILÍCITO é todo comportamento humano que viola o ordenamento

jurídico (lei, moral, ordem pública e bons costumes), podendo ser civil, administrativo ou penal.
É regido pelos arts. 186 a 188 e tem relação direta com o instituto da responsabilidade civil.

Assim, o ato ilícito civil é caracterizado pela presença do dano ou abuso de direito,

conforme prevê o art. 186, caracterizando a regra da responsabilidade subjetiva. Sobre o tema,
trataremos de maneira mais aprofundada em capítulo posterior.

9
“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes”.

O art. 188, por sua vez, dispõe sobre os Excludentes de Responsabilidade:

“Art. 188. Não constituem atos ilícitos:


I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover
perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as
circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do
indispensável para a remoção do perigo”.

7.1.3 Escada Ponteana

Plano de eficácia
Plano de
Plano de existência
validade

INEXISTENTE INVÁLIDO – NULO/ANULÁVEL INEFICAZ

Teoria divulgada no Brasil por F. C. Pontes de Miranda, explica os diferentes níveis de


um negócio jurídico, também de um ato ou fato jurídicos. O CC menciona apenas os planos da
validade e da eficácia, no entanto a doutrina também trata do plano da existência, primeiro

plano a ser analisado.


O plano da existência é o plano do ser. Nele entram todos os fatos jurídicos lícitos ou
ilícitos. Um evento ocorre no mundo dos fatos. Para entrar no mundo jurídico, ele deve estar ,
de alguma forma, abstratamente previsto em alguma norma.
10
Ao sofrer a incidência da norma jurídica, o fato é transportado para o mundo jurídico,
ingressando no plano da existência. Como saber quanto do fato, ato ou negócio se mostra

relevante para o Direito? Por meio do SUPORTE FÁTICO, o qual delimita a extensão da
incidência da norma. O suporte fático não se confunde com a norma jurídica. Ele é um

conceito do mundo dos fatos, trata-se da hipótese fática abstratamente prevista,


condicionante da existência do fato jurídico.

Assim, apenas parte do fato do mundo dos fatos ingressa para o mundo jurídico. E a
existência desse fato constitui premissa de que decorrem todas as demais situações que podem

ocorrer no mundo jurídico.


É muito relevante saber que no plano da existência deve haver a presença dos elementos
mínimos do negócio jurídico, que são os agentes ou partes, o objeto, forma e vontade.

Por sua vez, no plano da validade passa-se à análise, uma vez que haja expressão da
vontade humana nesse fato jurídico, do que é perfeito, isto é, que não tem qualquer vício

invalidante. Os atos jurídicos lícitos que não tem vontade como elemento (fato jurídico stricto
sensu, atos-fatos jurídicos e os fatos ilícitos), não estão sujeitos ao plano da validade, pois não

podem ser nulos ou anuláveis.


A nulidade ou anulabilidade (graus da invalidade) prendem-se à deficiência de

elementos complementares do suporte fático relacionados ao sujeito (capaz), ao objeto (lícito,


possível, determinável ou determinado) ou à forma (prescrita ou não defesa em lei) do ato
jurídico.

Por fim, o plano da eficácia é a parte do mundo jurídico onde os fatos jurídicos
produzem os seus efeitos. Este plano, do mesmo modo que o anterior, pressupõe que o fato

jurídico tenha passado pelo plano da existência, contudo, não, essencialmente, pelo plano de
validade.

Isto, pois, os fatos jurídicos stricto sensu, ato fato jurídico e fatos ilícitos para que tenham
acesso ao plano da eficácia, bastam que existam.

Já, o ato jurídico válido, em regra, tem entrada imediata no plano da eficácia, com
exceção dos que mesmo válidos são ineficazes. Os atos anuláveis entram, de logo, na eficácia

e irradiam seus efeitos, mas interimisticamente (interimístico = provisórios que podem se

11
tornar definitivos), pois poderão ser desconstituídos caso sobrevenha a decretação de sua
anulabilidade. Os seus efeitos, contudo, podem se tornar definitivos, caso haja a sanação da

anulabilidade, inclusive pela decadência da pretensão anulatória.


Ademais, os atos nulos, em regra, não produzem sua plena eficácia. Acontece, no

entanto, que há casos, embora poucos, em que o ato jurídico nulo produz, plena e
definitivamente, efeitos jurídicos que lhe são atribuídos (exemplo: casamento putativo).

7.2 Negócio Jurídico


Aprofundando o estudo sobre o negócio jurídico é preciso ter em mente que o mesmo
é uma declaração privada de vontade que visa a produzir determinado efeito jurídico, relativo
a direitos e obrigações. Assim, o negócio jurídico apresenta-se como uma norma concreta

estabelecida pelas partes. Sua característica primordial é que ele constitui um ato de vontade
que atua no sentido de obtenção de um fim pretendido.

Deste modo, no negócio jurídico temos uma declaração de vontade, emitida segundo

princípio de autonomia privada, pela qual o agente, nos limites da função social e da boa-
fé objetiva, disciplina efeitos jurídicos possíveis escolhidos segundo a sua própria liberdade

negocial.

Atualização legislativa em 2019: Os §1º e 2º do artigo 113 do CC foram incluídos pela


Lei 13.874/19, os quais dispõem:

“Artigo 113 (...)

§ 1º A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o sentido que:

I - for confirmado pelo comportamento das partes posterior à celebração do


negócio;

12
II - corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas ao tipo de
negócio;

III - corresponder à boa-fé;

IV - for mais benéfico à parte que não redigiu o dispositivo, se identificável; e

V - corresponder a qual seria a razoável negociação das partes sobre a questão


discutida, inferida das demais disposições do negócio e da racionalidade econômica
das partes, consideradas as informações disponíveis no momento de sua celebração.

§ 2º As partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de


preenchimento de lacunas e de integração dos negócios jurídicos diversas daquelas
previstas em lei”.(grifamos)

Lembre-se que a declaração de vontade é elemento essencial do negócio jurídico, ou


seja, é seu pressuposto. A declaração de vontade, além de condição de validade, constitui

elemento do próprio conceito e, portanto, da própria existência do negócio jurídico.

Além disso, a vontade obrigatoriamente precisa ser manifestada. Esta exteriorização


pode se dar de forma expressa, quando assume a forma escrita ou a falada; ou de forma tácita

quando a declaração de vontade resultar apenas do comportamento do agente. Ambas as


formas (expressa e tácita) são reconhecidas pelo ordenamento jurídico como válidas.

Há casos em que será necessária a forma expressa e, além disso, no modo escrito. Exemplos:

artigos. 108, 1806 do CC.

7.2.1 Classificação dos Negócios Jurídicos


Abordaremos as classificações consideradas mais importantes.

13
● Quanto ao número de partes e processos de formação:
 Unilaterais: O aperfeiçoamento do ato se dá com uma única manifestação de

vontade.
 Bilaterais: Há sempre a manifestação de duas vontades diferentes, porém

recíprocas, concordantes e coincidentes, sobre o mesmo objeto. Ex: os


contratos. Importante salientar que os atos bilaterais se subdividem em

simples (há vantagens para uma das partes e ônus para a outra, ex: o comodato
e a doação) e sinalagmáticos (haverá ônus e vantagens recíprocos, ex: o

aluguel e a compra e venda).


 Plurilaterais: manifestações de vontade emanadas de mais de duas posições
diferentes, mas que não são, propriamente, opostas, convergem sobre o

mesmo objeto. Exemplo: contrato de constituição de sociedade. Não é

necessária a presença de mais de dois lados.

Se o número de partes envolvidas for superior a duas, o negócio será plurilateral.

● Quanto às partes e ao tempo em que produzem efeitos:

 Inter vivo: As consequências jurídicas ocorrem durante a vida dos


interessados (ex.: doação, troca, mandato, compra e venda, locação).
 Mortis causa: Regulam relações após a morte do sujeito, do declarante (ex.:
testamento, legado). Assim, a eficácia depende da morte, e esta compõe o
suporte fático.

● Quanto ao seu conteúdo:

 Patrimoniais: Originam direitos e obrigações de conteúdo econômico,


suscetíveis de aferição econômica. São obrigacionais os negócios jurídicos de

14
direito das obrigações e outros ramos, exceto os que não envolvam atribuição

patrimonial, exemplo: compra e venda, doação, locação.

 Extrapatrimoniais ou pessoais: São aqueles relacionados aos direitos

personalíssimos e ao direito da família. Apresentam conteúdo não econômico.

Exemplo: adoção e casamento.

● Quanto à forma:

 Formais (solenes): Exigem forma especial, prescrita em lei (ex.: testamento;


negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou

renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior

salário mínimo vigente no País – artigo 108 do CC).

 Não formais (não solenes): Não exigem solenidades ou forma especial (a


forma é livre). Podem, por exemplo, ser efetivados de forma verbal. Para tanto,

observe:

7.2.2 Elementos do Negócio Jurídico


O negócio jurídico para ser válido requer (art. 104, do CC):

● Manifestação de vontade livre e de boa-fé;

● Agente capaz e legitimado,

● Objeto lícito, possível,

● Determinado ou determinável e

● Observada a forma para o cumprimento do ato, nos termos da lei (forma prescrita
ou não defesa em lei).

Assim, para a validade do ato, o Código Civil exige agente capaz. Tal capacidade deve
ser aferida no momento do ato, ou seja, a pessoa nesse momento deve ser dotada de
consciência e vontade. Além disso, deve ser reconhecida por lei como apta a exercer por si
mesma os atos da vida civil.

15
As pessoas absolutamente incapazes serão representadas pelos seus representantes
legais e as

relativamente incapazes serão assistidas. Assim, será nulo o ato praticado diretamente
por pessoa absolutamente incapaz e anulável o realizado por pessoa relativamente incapaz.

A parte não poderá se valer da incapacidade relativa do outro para se beneficiar, salvo
se for indivisível e se tratar de objeto do direito ou coisa comum.

Em segundo lugar o Código Civil estabelece que o objeto seja possível, afastando, deste

modo, os negócios que tiverem prestações tanto fisicamente quanto juridicamente impossíveis.

A impossibilidade, a que se refere o legislador, pode ser absoluta, ou seja, comum a todas
as pessoas, ou pode ser relativa, alcançando apenas o agente.

Nos termos do artigo 106 do CC, a impossibilidade inicial do objeto não invalida o
negócio jurídico se ela for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver
subordinado. Exemplo: vender o carro antes do dinheiro ser entregue.

O objeto também deve ser determinado, ou ao menos determinável, e lícito.

A licitude do objeto é regulada pela forma negativa, ou seja, chegamos à compreensão

do objeto lícito pelo conceito que temos de ilicitude.

A lei impõe limitações ao objeto do negócio, que não gozará de proteção legal quando
for contrário às leis de ordem pública, ou aos bons costumes. A sanção quanto ao objeto

inidôneo, conforme art. 166, inciso II, é a nulidade do ato.

16
Por fim, é requisito de validade dos negócios jurídicos obedecerem à forma prescrita
ou, então, não adotarem a forma proibida pela lei. A regra é que a forma seja livre, como

dispõe o artigo 107 do CC.

Ademais, importante observar que a manifestação de vontade é elemento essencial do


negócio jurídico e subsiste (mantém-se) mesmo que a pessoa que a manifestou tenha feito

reserva mental.

Reserva mental 1 é uma declaração não querida em seu conteúdo, tendo por objetivo
enganar o destinatário, sendo que a vontade declarada não coincide com a vontade real do

declarante. O declarante oculta a sua verdadeira intenção.

Superada essa análise, partiremos para o estudo de alguns pontos importantes:

● O silêncio importa anuência, ou seja, a concordância, mas são duas as condições


necessárias: as circunstâncias ou os usos assim devem autorizar; e a declaração de
vontade na forma expressa não pode ser necessária. (art. 111 do CC);

● Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do


que ao sentido literal da linguagem, ou seja, a intenção dos contratantes prevalece
sobre o sentido literal do texto (art. 112 do CC)2;

● Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar


de sua celebração (art. 113 do CC)3;

1
Vide Questão 10
2
Vide questão 7 do material
3
Vide questão 5 do material
17
● Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente4. Os
negócios jurídicos benéficos (ou gratuitos) são aqueles nos quais uma das partes
obtém benefícios sem qualquer contraprestação, apenas uma das partes aufere
benefício enquanto a outra parte assume a obrigação (exemplo: a doação pura). Este
tipo de negócio jurídico, assim como a renúncia, deve ser interpretado estritamente,
ou seja, no momento da interpretação o magistrado deve restringir-se ao alcance da
lei, portanto, sem ampliá-la. (art. 114 do CC).

● Se não há vontade (há coação física, por exemplo) o negócio é inexistente. Porém,
se há vontade, mas esta não é totalmente livre, pois houve coação moral, então o
negócio é inválido. Em outras palavras, com a coação física não existe vontade, e,
consequentemente, o negócio não existe, porém a coação moral embaralha a plena
vontade (ela existe, mas não é válida), nesse caso o negócio é inválido.

4
Vide questão 3 do material
18
O art. 108, do CC, dispõe sobre a necessidade de escritura pública para a validade de
negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de

direitos reais sobre imóveis de valor acima de 30 salários mínimos (maior salário mínimo
vigente).

Mas a promessa de compra e venda não precisa de escritura pública, podendo ser
celebrada por instrumento particular. Os negócios garantidos por alienação fiduciária de imóveis

também não exigem escritura pública, nem a aquisição de imóveis pelo SFH.

7.2.3 Elementos acessórios (acidentais) do Negócio Jurídico


Os elementos acidentais fazem parte do plano da eficácia, podendo ou não ocorrer.
Estes elementos são facultativos, porém uma vez inseridos no negócio, passam a integrá-lo,

tornando-se, de certa forma, essenciais. São chamados de facultativos (acidentais, acessórios),


porque tecnicamente o negócio pode sobreviver sem eles.

Em nosso Código Civil, temos três modalidades de elementos acidentais: condição, termo

e encargo (modo).

7.2.3.1 Condição
Seu conceito encontra-se no art. 121 do CC: “Art. 121 Considera-se condição a cláusula

que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a
evento futuro e incerto.5”

Da leitura desse artigo temos que a condição deve referir-se a fato futuro. Fato passado

ou presente não pode constituir-se em condição. Também deve relacionar-se a fato incerto. A
condição é elemento da vontade e somente opera porque os interessados no negócio jurídico

assim desejaram, deste modo, no negócio jurídico não há condição derivada de lei. Sendo assim,
enquanto a condição não se realizar, os efeitos do ato não podem ser ainda exigidos.

5
Vide questão 8 do material
19
A eficácia do negócio jurídico dependerá da condição. Porém, há certos atos que não
admitem condição (são denominados atos puros), como, por exemplo, no caso dos direitos de

família e direitos personalíssimos. Assim, o casamento, o reconhecimento de filho, a adoção,


dentre outros, não admitem condição.

Ademais, há determinadas condições que invalidam os negócios jurídicos. Elas

encontram-se previstas no art. 123 do CC6:

I. Condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas;

II. Condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;

III. Condições incompreensíveis ou contraditórias.

É importante registrar, ainda, que a condição é classificada quanto ao modo de atuação

em: condição suspensiva e condição resolutiva.

● Condição suspensiva (art. 125 e 126 CC): ocorre quando as partes protelam a
eficácia do negócio jurídico. Este só terá sua eficácia após o implemento de uma

condição, um acontecimento futuro e incerto. A condição suspensiva deverá atender


ao art. 123, inciso I, ou seja, ela não pode ser fisicamente ou juridicamente impossível,

porque se o for o negócio será nulo. Enquanto ainda não verificada a condição, não
há direito e obrigações recíprocos. E, ademais, a condição suspensiva suspende a

exigibilidade e a aquisição do direito 7.

● Condição resolutiva (artigo 127 e 128 CC): É quando se subordina a ineficácia do

negócio jurídico a um evento futuro e incerto. Enquanto este evento não ocorrer,
vigorará o negócio jurídico. Além disso, uma vez verificada a condição, se extingue o

direito que a ela se opõe. Assim, essa condição desfaz os efeitos jurídicos que estavam

sendo produzidos pelo negócio.

6
Vide questão 1 do material
7
Vide questão 2 do material
20
Condição puramente potestativa – depende de mero capricho, sujeitando todo o efeito do

ato ao arbítrio exclusivo de uma das partes. Portanto, é ilícita, visto que se caracteriza como
abuso de poder econômico e/ou desrespeito ao princípio da boa-fé objetiva, acarretando o

desaparecimento de qualquer vínculo volitivo entre as partes.

Condição simplesmente potestativa – são admitidas pois não dependem apenas da


manifestação de vontade de uma das partes, mas também de algum acontecimento ou

circunstância exterior que escapa ao seu controle, não caracterizando qualquer forma de abuso
de poder.

Excepcionalmente, o ordenamento jurídico admite, situações em que a vontade

exclusiva de uma das partes prevalece interferindo na eficácia jurídica do negócio jurídico,

como por exemplo, o direito de arrependimento, previsto no artigo. 49 do CDC.

7.2.3.2 Termo
O momento de início ou do fim da eficácia do negócio e que será determinado pelas
partes ou fixada pelo agente. Chama-se de termo inicial (ou suspensivo) o dia a partir do
qual se pode exercer o direito e chama-se termo final (ou extintivo) aquele no qual se encerra
a produção de efeitos dos negócios jurídicos. Assim, o termo inicial suspende a eficácia de um
negócio até a sua ocorrência, enquanto o termo final resolve seus efeitos.

O termo se aproxima muito das condições suspensivas e resolutivas. A diferença entre os


dois institutos, é que o termo é modalidade do negócio jurídico que tem por escopo suspender
a execução ou o efeito de uma obrigação, até um momento determinado, ou o advento de um
evento futuro e certo. Já a condição se refere a evento futuro e incerto, desse modo, o
implemento da condição pode vir a falhar e o direito nunca vir a se consumar.

21
Apesar de o termo ser sempre certo, o momento de sua ocorrência pode ser
indeterminado (incerto). É por isso que surge a denominação de termo certo (determinado) e

termo incerto (indeterminado). A obrigação a termo certo constitui o devedor em mora,


enquanto a de termo incerto, necessita de interpelação do devedor.

No termo inicial, não se impede a aquisição de seu direito, apenas se retarda seu exercício.

O que se depreende é que a existência do termo inicial suspende o exercício, ou seja, o


exercício ficará suspenso até a ocorrência do termo (ele ainda não ocorreu). Lembrando que a

aquisição (parte final do artigo) é imediata (artigo 131 CC). O direito que se adquire a termo
surge no momento do negócio jurídico, pois não há uma pendência (é diferente de condição),

aqui o evento é futuro e certo.

Existem atos que não admitem a colocação de termo, como nos casos de direitos de
personalidade, nas relações de família e nos direitos que, por sua própria natureza, requerem

execução imediata. Portanto, não se admite termo: a emancipação, o casamento, a adoção, o


reconhecimento de filho, a aceitação ou a renúncia.

Por fim, vale ressaltar o artigo 135 do CC, o qual dispõe que ao termo inicial e final,

aplicam-se, no que couber, as disposições relativas à condição suspensiva e resolutiva.

7.2.3.3 Encargo ou Modo


É uma restrição a certa liberalidade que foi concedida, ou melhor é um ônus. Por

exemplo, quando uma mãe dá um dinheiro de presente a um filho, mas diz que ele precisa usar
parte dele para comprar material escolar. Obs.: Geralmente o encargo é colocado em doações,

mas nada impede que se refira a qualquer ato de índole gratuita (liberalidades).

Desse modo, podemos perceber que o encargo apresenta–se como cláusula acessória
às liberalidades, quer estabelecendo uma finalidade ao objeto do negócio, quer impondo uma

obrigação ao favorecido, em benefício do instituidor, ou de terceiros, ou mesmo da coletividade.


Porém, não deve o encargo se configurar em contraprestação, ou seja, não pode ser visto

22
como contrapartida ao benefício concedido. Se o encargo não for cumprido a liberalidade
poderá ser revogada.

O encargo, assim como ocorre na condição, deve estar em obrigação lícita e possível. De
acordo com o art.137 do CC, a ilicitude ou impossibilidade do encargo torna-o não escrito,
exceto se for determinante da liberalidade e, neste caso, será inválido o negócio jurídico.

Também se o ato é fisicamente irrealizável, tem-se por não escrito.

Ademais, importante registrar que o não cumprimento do encargo poderá resolver a


liberalidade, mas a posteriori. O encargo obriga, mas não suspende, o exercício do direito.

CONDIÇÃO SUSPENSIVA
TERMO “QUANDO” ENCARGO “PARA QUE”
“SE”

Suspende a aquisição e Suspende o exercício, Não suspende a

o exercício do direito. mas não a aquisição do aquisição nem o

Não tem direito direito. Tem direito exercício do direito. Tem

adquirido. adquirido. direito adquirido.

7.2.4 Manifestação de vontade

Levando-se em conta a boa-fé que deve reger os negócios jurídicos, a manifestação de

vontade deve também ser interpretada observando a finalidade a que se destina o negócio.

23
Assim, ela subsistirá ainda que o autor haja feito reserva mental de não querer o que
manifestou, salvo se o destinatário do ato tinha consciência disto (artigo 110 CC)8.

O Código deixou claro que, quanto à manifestação de vontade, prevalecerá a vontade


real do agente, devendo a atenção ser voltada mais à intenção do agente, do que às palavras

literais expressas. No que diz respeito ao silêncio, ele será considerado como anuência se, as
circunstâncias autorizarem e a anuência expressa não for necessária.

IMPORTANTE, pois isso despenca nas provas objetivas: serão interpretados de forma
restritiva os negócios jurídicos benéficos e a renúncia.

8
Vide questão 4 do material
24
QUADRO SINÓPTICO

TEORIA DO ATO, FATO E NEGÓCIO JURÍDICO


 Fato jurídico natural (ou em sentido estrito)
 Originário: o simples decurso do tempo os provoca, ex: morte.
FATO JURÍDICO  Extraordinário: são os fatos do acaso, ex: terremoto.
 Fato Jurídico Humano ou Fato Jurígeno: ato humano.

É um fato jurídico onde há um ato humano em que não há qualquer


Ato Fato Jurídico vontade, ou essa não fora levada em consideração pelo autor.
A vontade não integra o suporte fático.
Pode ser lícito ou ilícito.
O ato jurídico LÍCITO lato sensu subdivide-se em:
 Ato jurídico em sentido estrito: efeitos estão previstos em lei.
ATO JURÍDICO  Negócio jurídico: tem como consequência efeitos jurídicos
desejados pelas partes. Existe autonomia privada.

Teoria divulgada no Brasil por F. C. Pontes de Miranda


ESCADA PONTEANA
PLANO DA EXISTÊNCIA: plano do ser.
Presença dos elementos mínimos do negócio jurídico: agentes ou
Plano da existência
partes, o objeto, forma e vontade.
 Analisa se os elementos não têm qualquer vicio invalidante.
 Os atos jurídicos lícitos que não tem vontade como elemento não
estão sujeitos ao plano da validade, pois não podem ser nulos ou
anuláveis.
Plano da validade
 A nulidade ou anulabilidade indicam a deficiência de elementos
complementares do suporte fático relacionados ao sujeito (capaz), ao
objeto (lícito, possível, determinável ou determinado) ou à forma
(prescrita ou não defesa em lei) do ato jurídico.
 Pressupõe que o fato tenha passado pelo plano da existência,
contudo, não, essencialmente, pelo plano de validade. Por exemplo:
o ato fato jurídico para tenham eficácia, basta que exista.
Plano da eficácia  Os atos anuláveis entram, de logo, na eficácia e irradiam seus efeitos,
mas provisoriamente, pois poderão ser desconstituídos caso
sobrevenha a decretação de sua anulabilidade.
 Os atos nulos, em regra, não produzem sua plena eficácia.

25
 Há poucos casos, no entanto, que o ato jurídico nulo produz,
plena e definitivamente, efeitos jurídicos que lhe são atribuídos
(exemplo: casamento putativo).
 Constitui um ato de vontade que atua no sentido de obtenção de
um fim pretendido.
 Importante! Incidência do princípio de autonomia privada. As
NEGÓCIO JURDICO
partes disciplinam efeitos jurídicos possíveis escolhidos segundo a
sua própria liberdade negocial.

● Quanto ao número de partes e processos de formação:

 Unilaterais: única manifestação de vontade.


 Bilaterais: manifestação de duas vontades diferentes, porém
recíprocas, concordantes. Ex: os contratos.
Importante salientar que os atos bilaterais se subdividem em:
o simples (vantagens para uma das partes e ônus para a
outra, ex: doação) e
o sinalagmáticos (ônus e vantagens recíprocos, ex: aluguel).
 Plurilaterais: manifestações de vontade emanadas de mais de
Classificação dos duas posições diferentes. Ex: constituição de sociedade.
negócios jurídicos ● Quanto às partes e ao tempo em que produzem efeitos:

 Inter vivos: consequências jurídicas ocorrem durante a vida


dos interessados (ex.: doação, troca, mandato, compra e
venda).

 Mortis causa: regulam relações após a morte do declarante


(ex.: testamento). Assim, a eficácia depende da morte.

 Quanto ao seu conteúdo:


 Patrimoniais: Originam direitos e obrigações de conteúdo
econômico. Exemplos: compra e venda, doação, locação.
 Extrapatrimoniais ou pessoais: relacionados aos direitos
personalíssimos e ao direito da família. Exemplo: adoção.

 Quanto à forma:
 Formais (solenes): Exigem forma especial, prescrita em lei
(ex.: testamento, etc).

26
 Não formais (não solenes): Não exigem forma especial (a
forma é livre). Podem ser efetivados de forma verbal.

O negócio jurídico para ser válido requer (art. 104, do CC):

 Manifestação de vontade livre e de boa-fé;


 Agente capaz e legitimado,
 Objeto lícito, possível, determinado ou determinável e
Elementos do Negócio
 Observada a forma para o cumprimento do ato, nos termos
Jurídico
da lei (forma prescrita ou não defesa em lei).

Obs.: é requisito de validade dos negócios jurídicos obedecerem à


forma prescrita ou, então, não adotarem a forma proibida pela lei. A
regra é que a forma seja livre, como dispõe o artigo 107 do CC.
 Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas
consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.
 Se não há vontade (há coação física, por exemplo) o negócio é
inexistente. Porém, se há vontade, mas esta não é totalmente livre,
Pontos relevantes acerca
pois houve coação moral, então o negócio é inválido.
dos negócios jurídicos
 é necessária escritura pública para a validade de negócios
jurídicos que visem à transferência de direitos reais sobre imóveis
de valor acima de 30 salários mínimos (maior salário mínimo
vigente).
Fazem parte do plano da eficácia e são facultativos. Porém uma vez
inseridos no negócio, passam a integrá-lo.

CONDIÇÕES
Há CONDIÇÕES que sempre invalidam os negócios jurídicos:
 Condições física ou juridicamente impossíveis, quando
suspensivas;
 Condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;
 Condições incompreensíveis ou contraditórias.
ELEMENTOS ACIDENTAIS
DO NEGÓCIO JURÍDICO Diferenças entre condição suspensiva e resolutivas:
 Condição suspensiva: negócio só terá eficácia após o
implemento de uma condição (acontecimento FUTURO e
INCERTO). A condição suspensiva suspende a exigibilidade e a
aquisição do direito.
 Condição resolutiva: quando se subordina a ineficácia do
negócio jurídico a um evento FUTURO e INCERTO.

27
Enquanto esse evento não ocorrer, vigorará o negócio jurídico.

 Condição puramente potestativa - sujeita o efeito do ato ao arbítrio


exclusivo de uma das partes. É ilícita.
 Condição simplesmente potestativa – são admitidas pois não
dependem apenas da manifestação de vontade de uma das partes.

TERMO
Chama-se de termo inicial (ou suspensivo) o dia a partir do qual se
pode exercer o direito e chama-se termo final (ou extintivo) aquele no
qual se encerra a produção de efeitos.
O direito que se adquire a termo surge no momento do negócio
jurídico, pois aqui o evento é futuro e certo.

ENGARGO ou MODO
É uma restrição a certa liberalidade que foi concedida (é um ônus).
Porém, não deve o encargo se configurar em contraprestação,
IMPORTANTE: O encargo obriga, mas não suspende, o exercício do
direito.
A manifestação subsistirá ainda que o autor haja feito reserva mental
de não querer o que manifestou.
Silêncio: será considerado como anuência se, as circunstâncias
Manifestação da vontade autorizarem e a anuência expressa não for necessária.

IMPORTANTE! Serão interpretados de forma restritiva os negócios


jurídicos benéficos e a renúncia (muito incidente em prova!)

28
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2020 - TJ-PA - Oficial de Justiça - Avaliador) Os itens a seguir

apresentam condições mencionadas na legislação civil, isto é, cláusulas que, derivando


exclusivamente da vontade das partes, subordinam o efeito do negócio jurídico a evento futuro
e incerto.

I resolutiva e impossível

II suspensiva e juridicamente impossível


III de não fazer coisa impossível

IV de fazer coisa ilícita

De acordo com o Código Civil, invalidam os negócios jurídicos que lhes sejam subordinados,
caso estejam presentes, as condições citadas apenas nos itens

A) I e II.
B) II e IV.

C) III e IV.
D) I, II e III.

E) I, III e IV.

Comentário:

I. ERRADA. A condição, o termo e o encargo são elementos acidentais do negócio jurídico.


Decorrem, pois, da vontade das partes. A condição nada mais é do que o evento futuro
e incerto. Dispõe o art. 124 do CC que “têm-se por inexistentes as condições impossíveis,

29
quando resolutivas, e as de não fazer coisa impossível", ou seja, a condição resolutiva e
impossível é considerada não escrita, de maneira que o negócio jurídico permanece

VÁLIDO e EFICAZ.
II. CORRETA. De acordo com o art. 123, I do CC, “INVALIDAM os negócios jurídicos que

lhes são subordinados: I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando


suspensivas". Exemplo: se você der a volta ao mundo a pé, essa casa será sua. Assim, o

negócio jurídico será considerado NULO (art. 123, I c/c art. 166, VII do CC).
III. ERRADA. Voltando ao art. 124 do CC, diz o legislador que “têm-se por INEXISTENTES

as condições impossíveis, quando resolutivas, e as de não fazer coisa impossível".


Portanto, não é hipótese de invalidade do negócio jurídico, mas de inexistência do
elemento acidental.

IV. CORRETA. De acordo com o art. 123, II do CC, “invalidam os negócios jurídicos que
lhes são subordinados: II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita".

Questão 2

(Banca: FCC - 2019 - TJ-MA - Analista Judiciário - Direito) Subordinando-se a eficácia do


negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o

direito, a que ele visa.

( ) CERTO
( ) ERRADO

Comentário:

30
CERTO. Prevê o artigo 125 do Código Civil: Art. 125. Subordinando-se a eficácia do
negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá

adquirido o direito, a que ele visa.


Sobre o tema, vejamos o que diz ainda a civilista Regina Beatriz Tavares Silva:

"Condição suspensiva: Será suspensiva a condição se as partes protelarem,


temporariamente, a eficácia do negócio até a realização do acontecimento futuro e

incerto.
Efeito da condição suspensiva pendente: Pendente a condição suspensiva não se terá

direito adquirido, mas expectativa de direito ou direito eventual. Só se adquire o direito


após o implemento da condição. A eficácia do ato negocial ficará suspensa até que se
realize o evento futuro e incerto. A condição se diz realizada quando o acontecimento

previsto se verificar. Ter-se-á, então, o aperfeiçoamento do ato negocial, operando-se ex


tunc, ou seja, desde o dia de sua celebração, se inter vivos, e à data da abertura da

sucessão, se causa mortis, daí ser retroativo."

Questão 3

(Banca: FCC - 2019 - TJ-MA - Analista Judiciário - Direito) Os negócios jurídicos benéficos e
a renúncia interpretam-se ampliativamente.

( ) CERTO

( ) ERRADO

Comentário:

ERRADO. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia deverão ser interpretados sempre

restritivamente, isto é, o juiz não poderá dar a esses atos negociais interpretação

31
ampliativa, devendo limitar-se, unicamente, aos contornos traçados pelos contraentes,
vedada a interpretação com dados alheios ao seu texto.

Questão 4

(Banca: FCC - 2019 - TJ-MA - Analista Judiciário - Direito) Os negócios jurídicos benéficos e

a renúncia interpretam-se ampliativamente.

( ) CERTO
( ) ERRADO

Comentário:

ERRADO. Estabelece o artigo 110 do Código Civil: Art. 110. A manifestação de vontade

subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou,
salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.
Consoante exposto, a regra é a de que a manifestação de vontade subsiste ainda que o

seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o
destinatário tinha conhecimento.

Questão 5

(Banca: FCC - 2018 - TRT - 15ª Região (SP) - Analista Judiciário - Área Judiciária - Oficial de
Justiça Avaliador Federal) De acordo com o Código Civil, os negócios jurídicos devem ser
interpretados

32
A) somente de acordo com a lei, defeso que os usos e princípios sejam utilizados para esse fim.
B) conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.

C) de acordo com a moral e os bons costumes, além da lei, vedado que os usos sejam
considerados, uma vez que nosso ordenamento jurídico não é consuetudinário.

D) se benéficos ou se houver renúncia, ampliativamente, para tornar efetivo o benefício ao


favorecido pela avença.

E) sempre literalmente, para evitar obscuridades ou contradições.

Comentário:

A) ERRADA. De acordo com o art. 113 do CC “Os negócios jurídicos devem ser

interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração". Em complemento,


temos o Enunciado 409 do CJF: “Os negócios jurídicos devem ser interpretados não só

conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração, mas também de acordo com as
práticas habitualmente adotadas entre as partes".

B) CORRETA. Em conformidade com o que dispõe o art. 113 do CC. Os usos, naturalmente,
podem variar conforme o lugar e um bom exemplo disso é o alqueire, que varia de região

para região.
C) ERRRADA. Vide argumentos anteriores.
D) ERRADA. Dispõe o art. 114 do CC que se interpretam restritivamente os negócios

jurídicos benéficos e a renúncia. Negócio jurídico benéfico ou gratuito são aqueles que
envolvem uma liberalidade, em que somente um dos contratantes obriga-se, enquanto o

outro só experimenta vantagem. Exemplo: doação.


E) ERRADA. Vide argumentos anteriores.

33
Questão 6

(Banca: INSTITUTO AOCP - 2018 - TRT - 1ª REGIÃO (RJ) - Analista Judiciário - Área

Judiciária) Referente aos temas Negócio Jurídico, Condição e Termo, assinale a alternativa
correta.

A) Tem-se por termo o acontecimento futuro e incerto que subordina a eficácia do negócio
jurídico.

B) Apesar de subordinarem a eficácia do negócio jurídico, tanto o termo quanto a condição não
possuem o condão de suspender a exigibilidade de título executivo extrajudicial.

C) A existência de apenas condições contraditórias ou incompreensíveis não são suficientes para


invalidar o negócio jurídico.
D) Diante de condição suspensiva ou resolutiva, o direito eventual não é passível de atos de

conservação praticados por aquele que o detém, sendo possível tal prática apenas por aquele
que possui a obrigação de transferência do direito, em razão de ainda não tê-lo transferido.

E) Os negócios jurídicos entre vivos que não possuam prazo estipulado podem ser exequíveis
desde logo.

Comentário:

A) ERRADA. Termo é o evento futuro e certo. Exemplo: quando você completar 18 anos,

ganhará um carro. Evento futuro e incerto é a condição (art. 121 do CC). Exemplo: se você
passar no vestibular ganhará um carro.

B) ERRADA. Termo, condição e encargo são elementos acidentais do negócio jurídico e


que se encontram dentro do plano de eficácia. Temos a condição suspensiva, que
suspende o exercício e a aquisição do direito (art. 125 do CC), subordinando a eficácia
do negócio jurídico a evento futuro e incerto; e o termo inicial ou suspensivo, que

34
suspende o exercício, mas não a aquisição do direito, subordinando a eficácia do negócio
jurídico ao evento futuro e certo (art. 131 do CC).

C) ERRADA. As condições contraditórias ou incompreensíveis invalidam o negócio jurídico,


de acordo com o inciso III do art. 123 do CC. Exemplo: instituir A como meu herdeiro

universal, se B for meu herdeiro universal (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil
Brasileiro. Parte Geral. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 1. p. 388).

D) ERRADA. Vejamos o que dispõe art. 130 do CC “Ao titular do direito eventual, nos
casos de condição suspensiva ou resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a

conservá-lo".
E) CORRETA. Cuida-se da redação do art. 134 do CC. Por este dispositivo, chegamos à
conclusão de que o negócio jurídico é, em regra, instantâneo. Acontece que alguns atos

dependem de certo tempo, seja porque deverão ser praticados em lugar diverso, seja por
conta da sua própria natureza. Exemplo: na compra de uma safra, o prazo necessário será

a época da colheita (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Parte Geral. 10.
ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 1. p. 395).

Questão 7

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2017 - TRE-PE - Analista Judiciário - Área Judiciária) Nas
declarações de vontade, prevalece o sentido literal da linguagem em detrimento da intenção
nelas consubstanciada.

( ) CERTO
( ) ERRADO

Comentário:

35
ERRADA. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada
do que ao sentido literal da linguagem.

Questão 8

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2017 - TRE-PE - Analista Judiciário - Área Judiciária) A validade

do negócio jurídico pode subordinar-se, se convencionado pelas partes, a evento futuro e


incerto, mediante condição.

( ) CERTO
( ) ERRADO

Comentário:

ERRADA. Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das


partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto.

Questão 9

(Banca: FCC - 2017 - TRT - 11ª Região (AM e RR) - Técnico Judiciário - Área Administrativa)

Rafael vendeu uma fazenda para Valdir, estabelecendo que o comprador só entrará na posse
do imóvel quando tiver construído uma igreja para os colonos. Tal negócio está sujeito à

condição suspensiva.

36
( ) CERTO
( ) ERRADO

Comentário:

CERTA. Conforme o Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição

suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa.
Subordina a eficácia do negócio jurídico a evento futuro e incerto. Ocorrendo o evento,

adquire-se o direito visado no negócio jurídico.

Questão 10

(CESPE - 2020 - TJ-PA - Oficial de Justiça - Avaliador) No que concerne ao tratamento dado

pelo Código Civil aos bens e aos negócios jurídicos, julgue os itens a seguir.

I - O Código Civil classifica os bens públicos como de uso comum, de uso especial e dominicais.
Entre esses, apenas os dominicais estão sujeitos a usucapião, por seguirem o regime de direito

privado.

II - Exceto se houver manifestação das partes em sentido contrário, o negócio jurídico realizado
quanto ao bem principal inclui as pertenças, essenciais ou não essenciais, e os acessórios.

III - Situação hipotética: Marcela e Marina realizaram determinado negócio jurídico em que a

declaração de vontade emitida por Marina era diversa de sua real intenção. Assertiva: A reserva
mental somente torna inválido o negócio jurídico se dela possuir conhecimento a destinatária

Marcela.

Assinale a opção correta

A) Apenas o item II está certo.

B) Apenas o item III está certo.


37
C) Apenas os itens I e II estão certos.

D) Apenas os itens I e III estão certos.

E) Todos os itens estão certos.

Comentário:

A questão cobrou nos dois primeiros itens a letra seca da lei, no último item, sua
adequação ao caso concreto.

I - Incorreta. Conforme vimos no capítulo 6, os bens públicos são classificados em: bens de uso

comum, de uso especial e dominicais, porém, nenhum bem público está sujeito a usucapião.

Lembre-se do art. 102, CC e da Súmula 340 do STF:

Art.102, CC: “Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião”.


Súmula 340 do STF: “Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os
demais bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião”.

II - Incorreta. De acordo com o art. 94, CC, os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem

principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de


vontade, ou das circunstâncias do caso.

III - Correta. De acordo com o art. 110, CC, “a manifestação de vontade subsiste ainda que o

seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o
destinatário tinha conhecimento”. Quando o destinatário conhece o blefe, o ato não não pode
subsistir, uma vez que ambas as partes estavam sabendo que não havia intenção de produzir

efeitos jurídicos.

Assim, como apenas o item III está correto, o gabarito é a letra B.

38
GABARITO

Questão 1 - B

Questão 2 - CERTA

Questão 3 - ERRADA

Questão 4 - ERRADA

Questão 5 - B

Questão 6 - E

Questão 7 - ERRADA

Questão 8 - ERRADA

Questão 9 - CERTA

Questão 10 - B

39
QUESTÃO DESAFIO

Joaquim é dono de uma grande fazenda no Estado da Bahia e, em


razão de um problema de saúde da sua mãe, se vê obrigado a
vendê-la o mais rápido possível. Assim, Joaquim coloca à venda a
fazenda avaliada em R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais) por
R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), visando obter, de forma
rápida, valores necessários para o pagamento do tratamento de
saúde da sua mãe. Desse modo, pergunta-se: Caso um comprador
decida adquirir esse imóvel, mesmo sem a intenção de auferir um
ganho exagerado na compra e nem causar prejuízo ao vendedor,
apenas aproveitando o que considera um excelente negócio, esse
negócio jurídico é válido? Fundamente. Ademais, esse negócio
jurídico pode ser convalidado?

Responda em até 5 linhas

40
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

De acordo com o art. 157 do CC, trata-se de um negócio jurídico com eivado pelo
vício da lesão, o que torna o negócio jurídico anulável. Quanto à possibilidade de

convalidação, o § 2º do art. 157 do CC prevê a sua possibilidade caso o comprador concorde


em suplementar o valor anteriormente pago.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Negócio jurídico anulável.

O art. 157 do CC fundamenta a ocorrência da lesão, vejamos: “Ocorre a lesão quando


uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação
manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.” Nesses termos, a lesão
caracteriza-se pela conjugação de dois elementos. O primeiro, de natureza subjetiva, é o
constrangimento à vontade da parte declarante derivada de premente necessidade ou
inexperiência. É chamada dolo de aproveitamento. O segundo, de natureza objetiva, é a
desproporção manifesta entre a obrigação assumida pela parte declarante e a prestação oposta,
já que uma parte haverá de ter um lucro exagerado em detrimento do outro.

Ademais, o respeitável doutrinador Silvio de Salvo Venosa nos ensina o momento em que
se observado o requisito objetivo da lesão: “A desproporção das prestações deve ser aferida no

momento de contratar. Quando surge posteriormente ao negócio, é irrelevante, pois, nessa


hipótese, estaríamos no campo da cláusula rebus sic stantibus (teoria da imprevisão). A

desproporção do preço deve ser apurada pela técnica pericial, devidamente ponderada pelo
julgador.” (Venosa, Sílvio de Salvo. Código Civil interpretado; coautora Cláudia Rodrigues. – 4.

ed., – São Paulo: Atlas, 2019, p. 471).

 Art. 157, § 2º, do CC.

De acordo com o art. 157, § 2º, do CC: “Não se decretará a anulação do negócio, se for
oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.”

41
Sobre essa possibilidade de convalidação do negócio jurídico, o professor Fábio Ulhoa Coelho
aduz: “se partir dela uma proposta de proporcionalização das prestações negociais – por meio

de suficiente suplemento do devido ou redução do proveito –, importando esta no reequilíbrio


do negócio jurídico, preservar-se-á sua validade. Nessa hipótese, deveras, desaparecido o

elemento objetivo, descaracteriza-se a lesão.” (Coelho, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil: parte
geral I, volume 1 – 2. ed. – São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020, p. 212).

Assim, a menos que o comprador concorde em pagar os R$ 4.500.000,00 (quatro milhões

e quinhentos mil reais) pelo imóvel, o negócio é anulado. Retornará o bem ao patrimônio de
Joaquim, que deve restituir os R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) ao comprador.

42
LEGISLAÇÃO COMPILADA

FATO, ATO E NEGÓCIO JURÍDICO

 Código Civil: art. 104 a 137


 Atenção especial para o artigo 113, no qual houve a adição de parágrafos em 2019.

Não há súmulas correspondentes aos assuntos estudados.

43
JURISPRUDÊNCIA

Aluno, conforme já mencionado, o presente capítulo é bastante doutrinário. Por isso, há


abaixo apenas dois julgados que demonstram sua aplicação prática. Não deixe de lê-los, para

compreender melhor os temas estudados.

ESCADA PONTEANA

 STJ, 4ª Turma, REsp 1190372/DF, Rel. Min.Luis Felipe Salomão, julgado em 15/10/2015, publicado em
27/10/2015)

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. NÃO
OCORRÊNCIA. TRADIÇÃO DO VEÍCULO. CONTRATO DE NATUREZA REAL. REQUISITO DE VALIDADE DO NEGÓCIO
JURÍDICO. ESCADA PONTEANA. ELEMENTOS ESSENCIAIS DO CONTRATO. NEGLIGÊNCIA DA PARTE AUTORA. MÁ-
FÉ DA EMPRESA ALIENANTE. MATÉRIAS QUE DEMANDAM REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7/STJ. VEDAÇÃO AO
COMPORTAMENTO CONTRADITÓRIO. VALIDADE DO CONTRATO. REGISTRO EM CARTÓRIO. ANOTAÇÃO NO
CERTIFICADO DE REGISTRO DO VEÍCULO. NECESSIDADE APENAS PARA PRESERVAR DIREITOS DE TERCEIRO.
SÚMULA 83/STJ. MORA DO DEVEDOR. NOTIFICAÇÃO PESSOAL. DESNECESSIDADE. ALEGAÇÃO DE
VULNERABILIDADE E CABIMENTO DE INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. SÚMULA 7/STJ. RECURSO NÃO PROVIDO.
1. Não há falar em violação ao art. 535 do CPC quando o acórdão recorrido resolve todas as questões pertinentes
ao litígio, tornando-se dispensável que venha a examinar todos os argumentos trazidos pelas partes. 2. Em negócio
de alienação fiduciária em garantia, por se tratar de contrato de natureza real, a tradição constitui requisito de
validade do negócio jurídico. 3. A análise da pretensão recursal sobre a alegada ausência dos elementos essenciais
do contrato, negligência da parte autora e má-fé da empresa alienante demandaria a alteração das premissas
fático-probatórias estabelecidas pelo acórdão recorrido, com o revolvimento das provas carreadas aos autos, o que
é vedado em sede de recurso especial, nos termos do enunciado da Súmula 7/STJ. 4. Impõe-se, no caso, a aplicação
da máxima venire contra factum proprium, tendo em vista que parte recorrente primeiro anuiu ao prosseguimento
do contrato e, em seguida, de modo oposto ao primeiro comportamento, questionou sua validade e existência. 5.
A exigência de registro do contrato de alienação fiduciária em garantia no cartório de título e documentos e
a respectiva anotação do gravame no órgão de trânsito não constitui requisito de validade do negócio, tendo
apenas o condão de torna-lo eficaz perante terceiros. 6. Nos casos envolvendo contrato de alienação fiduciária,
a mora deve ser comprovada por meio de notificação extrajudicial realizada por intermédio do cartório de títulos
e documentos, a ser entregue no domicílio do devedor, sendo dispensada sua notificação pessoal. 7. A alegação

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de vulnerabilidade e da presença dos requisitos necessários ao deferimento da inversão do ônus da prova
encontram óbice na Súmula 7/STJ. 8. Recurso especial não provido” (negritamos).

Comentário:
No julgado acima, temos um exemplo de julgado em que é usado o termo “escada
ponteana” pelo STJ, mais especificamente, pelo relator do caso Min. Luis Felipe Salomão.
O tema desse julgado (que segue um entendimento há anos adotado pelo STJ) tornou-
se uma jurisprudência em tese do STJ, acerca do direito notarial e registral.
A tese fixada foi a seguinte: “a exigência de registro do contrato de alienação fiduciária
em garantia no cartório de título e documentos e a respectiva anotação do gravame no órgão
de trânsito não constituem requisitos de validade do negócio, tendo apenas o condão de
torná-lo eficaz perante terceiros”.
Veja que o STJ trata exatamente da “escada ponteana” que estudamos no presente
capítulo. Portanto, apesar de o tema ser bastante teórico, ele também é relevante na prática.
Ainda iremos analisar a alienação fiduciária de forma mais aprofundada, mas já é
importante saber que o se não houver seu registro no cartório, tal contrato continua valendo
entre as partes. O registro desse contrato, portanto, não é um requisito de validade.

 STJ. 4ª Turma. REsp 1099480-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 2/12/2014 (Info 562)

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL - PROCEDIMENTO DE DÚVIDA SUSCITADO PELO OFICIAL DO CARTÓRIO DE


REGISTRO DE IMÓVEIS - DISCUSSÃO SOBRE A INTERPRETAÇÃO DO ART. 108 DO CC - PROCEDÊNCIA DA DÚVIDA
NAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS - ENTENDIMENTO PELA NECESSIDADE DE ESCRITURA PÚBLICA PARA REGISTRO DE
CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL CUJO VALOR DA AVALIAÇÃO PELO FISCO FOI SUPERIOR A TRINTA
SALÁRIOS MÍNIMOS, AINDA QUE O VALOR DO NEGÓCIO DECLARADO PELAS PARTES TENHA SIDO INFERIOR.
INSURGÊNCIA DA EMPRESA REQUERENTE DO REGISTRO. Hipótese em que o Oficial do Cartório de Registro de
Imóveis suscitou dúvida ao Poder Judiciário, referente à interpretação do art. 108 do CC. O oficial cartorário e a
empresa requerente do registro divergem quanto ao valor a ser considerado para fins de incidência da regra legal
em questão: para aquele, a escritura de compra e venda deve ser feita por instrumento público, já que o fisco
municipal avaliou o imóvel em valor superior a 30 (trinta) salários mínimos; para esta, a escritura de compra e
venda pode ser feita por instrumento particular, pois o valor do negócio declarado pelas partes no contrato foi
inferior a 30 (trinta) salários mínimos. As instâncias ordinárias entenderam que o valor a ser considerado, para fins
de aferição da necessidade de escritura pública no caso concreto, não deve ser aquele declarado pelas partes, mas
o da avaliação realizada pelo fisco, destacadamente quando o propósito dos interessados e a finalidade precípua

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do instrumento é a transferência de propriedade do bem, e não apenas o de retratar uma mera transação. 1. A
interpretação dada ao art. 108 do CC pelas instâncias ordinárias é mais consentânea com a finalidade da referida
norma, que é justamente conferir maior segurança jurídica aos negócios que envolvem a transferência da
titularidade de bens imóveis. 2. O art. 108 do CC se refere ao valor do imóvel, e não ao preço do negócio. Assim,
havendo disparidade entre ambos, é aquele que deve ser levado em conta para efeito de aplicação da ressalva
prevista na parte final desse dispositivo legal. 3. A avaliação feita pela Fazenda Pública para atribuição do valor
venal do imóvel é baseada em critérios objetivos previstos em lei, refletindo, de forma muito mais consentânea
com a realidade do mercado imobiliário, o verdadeiro valor do imóvel objeto do negócio. 4. Recurso especial
desprovido” (negritamos).

Comentário:
Durante o presente capítulo estudamos, além de outros dispositivos, o art. 108, CC.
Lembre-se de sua redação: “não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à
validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia
de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente
no País”.
Como saber se o imóvel vale ou não mais do que 30 vezes o maior salário mínimo
vigente no país? Conforme o STJ, deve-se levar em conta o valor venal do imóvel calculado
pelo Fisco e não o preço do imóvel atribuído pelas partes.

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MAPA MENTAL

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FARIAS, Cristiano Chaves de. Manual de Direito Civil - Volume Único - 2. ed. atual. e ampl. - Salvador: JusPodivm,
2018.

TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único - Volume Único - 8. ed. rev, atual. e ampl. - Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018.

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