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CERS TRIBUNAIS

TRIBUNAIS

CAPÍTULO 6
Olá, aluno!

Bem-vindo ao estudo para os concursos de Tribunais. Preparamos todo esse material


para você não só com muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade,

garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma


inteligente.

O CERS Book é um material em PDF desenvolvido especificadamente para a sua


carreira. O material tem o objetivo de ser autossuficiente e totalmente direcionado, dando

prioridade aos pontos mais importantes de cada disciplina!

Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com


fins de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital.

Afinal, queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior
aproveitamento, pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para

otimizar seu estudo sempre!

Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo


completo que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a
estrutura do CERS Book foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar
especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada
capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto
com a leitura de jurisprudência selecionada.

E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou

comentários, entre em contato através do e-mail pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
a gente!

O que você vai encontrar aqui?

 Recorrência da disciplina e de cada assunto dentro dela


 Questões comentadas
1
 Questão desafio para aprendizagem proativa
 Jurisprudência comentada
 Indicação da legislação compilada para leitura
 Quadro sinótico para revisão
 Mapa mental para fixação

Acreditamos que com esses recursos você estará munido com tudo que precisa para
alcançar a sua aprovação de maneira eficaz. Racionalizar a preparação dos nossos alunos é

mais que um objetivo para o CERS, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos
agora para o estudo da disciplina.

Faça bom uso do seu PDF!

2
Recado para você que está assistindo às videoaulas

Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você
que está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do
nosso CERS Book. Portanto, você deve estar atento que:

O CERS book foi desenvolvido para complementar a aula do professor e te dar um


suporte nas revisões!

Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas,
razão pela qual pode ser eventualmente repetido;

A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se
o capítulo 03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é

baseada no estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público,
por isso, nem todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou
legislativa;

Esperamos que goste do conteúdo!

3
CAPÍTULOS

Capítulo 1 – LINDB - Lei de Introdução às Normas do Direito



Brasileiro
Capítulo 2 – Teoria Geral do Direito 
Capítulo 3 – Pessoa Jurídica 

Capítulo 4 – Direitos da Personalidade 


Capítulo 5 – Domicílio 

Capítulo 6 (você está aqui!) – Bens Jurídicos 

Capítulo 7 – Teoria do ato, fato e negócio jurídico 

Capítulo 8 – Prescrição e Decadência 

Capítulo 9 – Prova do Negócio Jurídico 

Capítulo 10 – Teoria Geral das Obrigações 


Capítulo 11 – Adimplemento, extinção e inadimplemento das

obrigações

Capítulo 12 – Responsabilidade Civil 


Capítulo 13 – Teoria Geral dos Contratos 
Capítulo 14 – Contratos em espécie I 
Capítulo 15 – Contratos em espécie II 
Capítulo 16 – Posse e Direitos Reais 
Capítulo 17 – Direito de família 
Capítulo 18 – Direito sucessório 

4
SOBRE ESTE CAPÍTULO

No presente Capítulo vamos falar sobre os bens jurídicos e suas principais classificações.

Continuamos aqui, aprendendo sobre a Parte Geral do Direito Civil, ou seja, conceitos que
formam a base jurídica de todo concurseiro.

Como no capítulo anterior, a importância do presente tema é indireta, pois ele será

cobrado como conhecimento base para a resolução de outras questões, sendo que a
incidência direta dele é baixa, principalmente em provas de Tribunais. Porém, caso haja uma

questão que peça somente a classificação dos bens, está deverá ser acertada, pois é
considerada de nível fácil.

O tema de principal importância nesse capítulo é o bem de família. Vocês verão que há

um número muito maior de jurisprudência sobre esse tema que os anteriores, pois é uma
celeuma muito discutida nos tribunais superiores.

Outro tema de alta relevância são os bens públicos, o qual apenas mencionaremos e

daremos os conceitos presentes no Código Civil, mas que será tratado com profundidade em
Direito Administrativo.

A letra da lei é fundamental, uma vez que traz as diferenças de classificações entre os

bens. Contudo, a jurisprudência não pode ser esquecida!

Sem mais delongas, vamos aos estudos!

5
SUMÁRIO

DIREITO CIVIL ........................................................................................................................................... 8

Capítulo 6 .................................................................................................................................................. 8

6. Bens jurídicos .................................................................................................................................... 8

6.1 Conceito .................................................................................................................................................................... 8

6.2 Classificação Doutrinária .................................................................................................................................... 8

6.3 Classificação legal ................................................................................................................................................. 9

6.3.1 Bens considerados em si mesmos................................................................................................................. 9

6.3.1.1 Bens quanto à mobilidade........................................................................................................................ 9

6.3.1.2 Bens quanto à Fungibilidade ................................................................................................................ 13

6.3.1.3 Bens quanto à Consuntibilidade ......................................................................................................... 13

6.3.1.4 Bens quanto à sua Divisibilidade ........................................................................................................ 14

6.3.1.5 Bens quanto à individualidade ............................................................................................................ 15

6.3.2 Bens reciprocamente considerados ........................................................................................................... 15

6.4 Bens Públicos ....................................................................................................................................................... 20

6.5 Bem de Família.................................................................................................................................................... 21

6.5.1 Bem de Família Voluntário (arts. 1711 do CC e ss) ............................................................................ 21

6.5.2 Bem de Família Legal (Lei nº 8.009/90) ................................................................................................... 23

6.6 Bens Gravados com Cláusula de Inalienabilidade ............................................................................... 29

QUADRO SINÓPTICO ............................................................................................................................ 30

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 33

GABARITO ............................................................................................................................................... 40

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 41

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 42

6
LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 44

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 45

MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 58

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 60

7
DIREITO CIVIL

Capítulo 6

A noção de bem jurídico é genérica, abrangendo utilidades materiais (coisas), bem


como utilidades ideais (honra ou própria vida).

Você deve estar se perguntando o porquê essa classificação de bens é tão importante,

para ser tratada sozinha em um capítulo. Explicamos. Classifica-se porque a cada espécie
corresponde um regime jurídico próprio, em outras palavras, classificar é ordenar segundo
critérios próprios. Cada bem, deste modo, tem estabelecido regras próprias, distintas das
outras espécies.

6. Bens jurídicos

6.1 Conceito
Bens jurídicos são valores materiais ou imateriais que podem ser objeto de uma

relação de direito. Assim, o objeto da relação jurídica é todo bem que possa ser submetido
ao poder das pessoas, sejam elas naturais ou jurídicas.

O que é o patrimônio jurídico? É a soma dos bens corpóreos e incorpóreos de um

sujeito apreciável economicamente.

6.2 Classificação Doutrinária


Existem diversas classificações para os bens. Explanaremos as consideradas mais

importantes. Comecemos pela doutrinária que os classifica em:

 Corpóreos (materiais, tangíveis ou concretos): os que possuem existência física;


podem ser tocados e são visíveis, ou seja, percebidos pelos sentidos. Ex: terrenos,

edificações, joias, veículos, dinheiro, livros, etc.


8
 Incorpóreos (imateriais, intangíveis ou abstratos): são os que não existem

fisicamente (possuem uma existência abstrata) mas podem ser traduzidos em


dinheiro. Ex: programas de computador (software), propriedade literária e/ou

científica, direitos autorais, propriedade industrial (marcas de propaganda, logotipos,


patentes de fabricação), concessões obtidas para a exploração de serviços públicos,

fundo de comércio (ponto comercial), etc.

Na prática, os bens corpóreos são objetos de contrato de compra e venda, enquanto


os bens incorpóreos são objetos de contratos de cessão (transferência a outrem). Mas
ambos podem integrar o patrimônio de uma pessoa.

6.3 Classificação legal


Quanto à classificação legal temos:

6.3.1 Bens considerados em si mesmos

6.3.1.1 Bens quanto à mobilidade


 Bens Imóveis: São aqueles que não podem ser removidos ou transportados de
um lugar para o outro sem a sua destruição ou alteração em sua substância (art. 79,

CC).
Ocorre que com avanço da engenharia e da ciência em geral esse conceito perdeu

parte de sua força. Atualmente há modalidades de imóveis que não se amoldam


perfeitamente a este conceito (ex: edificações que, separadas do solo, conservam sua unidade,
podendo ser removida para outro local – arts. 81, I e 83, CC).

Os bens imóveis podem ser divididos em:

 Por Natureza (ou por essência): É o solo (terreno) e tudo quanto se lhe
incorporar naturalmente (árvores, frutos pendentes, etc.), mais adjacências

(espaço aéreo e subsolo).


 Por Acessão Física, industrial ou artificial: Trata-se de tudo quanto o homem
incorporar permanentemente (o que não significa eternamente) ao solo, não

9
podendo removê-lo sem destruição, modificação ou dano. Abrange os bens

móveis que, incorporados ao solo pelo trabalho do homem, passam a ser bens
imóveis. Ex: um caminhão de tijolos, cimento, caibros etc. São bens móveis.

Quando se realiza uma construção, sendo incorporados ao solo pela aderência


física, passam a ser imóveis, pois não podem ser retirados se causar dano à

construção onde estão.

Enunciado 11 da I Jornada de Direito Civil: Não persiste no novo sistema legislativo a


categoria dos bens imóveis por acessão intelectual, não obstante a expressão "tudo quanto se

lhe incorporar natural ou artificialmente"1, constante da parte final do art. 79 do Código Civil.

Não perdem o caráter de imóvel (ou seja, continuam sendo imóveis - art. 81 CC ):

Edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas
para outro local (ex: “casa pré-fabricada” transportada de uma localidade para outra).

Materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem (telhas


retiradas de uma casa para reforma do telhado, sendo reempregado posteriormente).

1
Vide questão 3 do material
10
 Por Acessão Intelectual (destinação do proprietário): São os bens móveis

que aderem a um bem imóvel pela vontade do dono, para dar maior utilidade
ao imóvel. Trata-se de uma ficção jurídica. Ex: um trator destinado a uma

melhor exploração de propriedade agrícola, máquinas de uma fábrica têxtil,


para aumentar a produtividade da empresa, veículos, animais e até objetos de

decoração de uma residência. Seguindo a doutrina moderna sobre o tema, o


Código qualifica esses bens como pertenças, onde a coisa deve ser colocada a

serviço do imóvel e não da pessoa, constituindo, portanto, a categoria de bens


acessórios.
 Por Disposição Legal (art. 80, CC): São bens que são considerados imóveis

pois o legislador assim resolveu enquadrá-los, possibilitando, como regra,


receber maior segurança e proteção jurídica nas relações que os envolve.

Trata-se, também, de uma ficção jurídica. São eles: Direito à sucessão aberta,
Direitos reais sobre os imóveis, penhor agrícola e as ações que o asseguram,

jazidas e as quedas d’água com aproveitamento para energia hidráulica são


consideradas bens distintos do solo onde se encontram (arts.20, inciso IX e

176, CF/88).

 Bens Móveis (art. 82, CC): São aqueles que podem ser removidos, transportados,

de um lugar para outro, por força própria ou estranha, sem alteração da substância
ou da destinação econômico-social.

Podemos classificá-los em:

 Móveis por Natureza: São os bens que podem ser transportados de um local

para outro sem a sua destruição por força alheia, ou que possuem movimento
próprio.

11
Deslocam-se com força alheia os bens móveis propriamente ditos - carro, cadeira, livro, etc.
Deslocam-se com força própria (suscetíveis de movimento próprio)2 – os semoventes, ou

seja, os animais de uma forma geral (bois, cavalos, carneiros, etc.).

 Móveis por Antecipação: A vontade humana pode mobilizar bens imóveis em


função da sua finalidade econômica. Ex: uma árvore é um bem imóvel; no

entanto se ela pode ser plantada especialmente para corte futuro (fábrica de
papel, transformação em lenha, etc.). Portanto, embora imóvel ela tem uma

finalidade última como bem móvel. Assim, mesmo que temporariamente


imóvel isto não lhe retira o seu caráter de bem móvel, em razão de sua

finalidade. Outros exemplos: Os frutos de um pomar que ainda estão no pé,


mas destinados à venda (safra futura); pedras e metais aderentes ao imóvel etc.

 Móveis por Determinação Legal: O art. 83, CC considera como bens móveis
para efeitos legais:

As energias que tenham valor econômico – a energia elétrica, embora não seja um bem
corpóreo, é considerada pela lei como sendo um bem móvel. Observem que o art. 155, §3°

do Código Penal também a equipara a energia um bem móvel, podendo ser objeto do
crime de furto.

Direitos reais sobre bens móveis e as ações correspondentes - ex: direito de propriedade

e de usufruto sobre bens móveis etc.

2
Vide questão 4 do material
12
Direitos pessoais de caráter patrimonial e as respectivas ações.

Direitos autorais3, propriedade industrial (direitos oriundos do poder de criação e

invenção da pessoa), quotas e ações de capital em sociedades etc.

6.3.1.2 Bens quanto à Fungibilidade

 Infungíveis: São os bens que possuem alguma característica especial, que os


tornam distintos dos demais, não podendo ser substituídos por outros, mesmo

que da mesma espécie, qualidade e quantidade 4. São bens considerados em sua


específica individualidade, pois, de alguma forma, estão devidamente

personalizados. Ex: imóveis de uma forma geral, veículos, um quadro famoso etc.
 Fungíveis: São os bens móveis que podem ser substituídos por outros da mesma

espécie, qualidade e quantidade. São as coisas que se contam, se medem ouse


pesam e não se consideram objetivamente como individualidades. Ex: uma saca de

arroz, uma resma de papel, gêneros alimentícios de uma forma geral, dinheiro.

Nesse ponto, vale a pena antecipar a correlação que o tema faz com a seara contratual,

tema que veremos mais detalhadamente adiante. O empréstimo de bens fungíveis chama-se
mútuo (transfere-se a propriedade), enquanto o empréstimo de bens infungíveis chama-se

comodato (transfere-se apenas a posse).

6.3.1.3 Bens quanto à Consuntibilidade

3
Conforme vimos no Capítulo sobre Direitos da Personalidade, os direitos autorais são bem móveis.
4
Vide questão 2 do material
13
 Consumíveis: São bens móveis, cujo uso normal importa na destruição imediata

da própria coisa. Admitem um uso apenas. Ex: gêneros alimentícios, bebidas, lenha,
cigarro, giz, dinheiro, gasolina etc5.

 Inconsumíveis: São os que proporcionam reiterados usos, permitindo que se retire


toda a sua utilidade, sem atingir sua integridade. Ex: roupas de uma forma geral,

automóvel, casa etc., ainda que haja possibilidade de sua destruição em decorrência

do tempo.

6.3.1.4 Bens quanto à sua Divisibilidade

 Divisíveis: São os bens que podem se fracionar em porções reais e distintas,


formando cada qual um todo perfeito, sem alteração em sua substância,
diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam6. Ex: uma

folha de papel, uma quantidade de arroz, milho etc. Se repartirmos uma saca de
arroz, cada metade conservará as mesmas qualidades do produto.

 Indivisíveis: São os bens que não podem ser fracionados em porções, pois

deixariam de formar um todo perfeito. Ex: uma joia, um anel, um par de sapatos etc.
No entanto a indivisibilidade pode ser subclassificada em:

 Por natureza: Ex: um cavalo, um relógio, um quadro etc.


 Por determinação legal: Alguns bens poderiam ser divididos fisicamente. No
entanto é a lei que os torna indivisíveis. O exemplo clássico é o da herança

(artigo 1.791 do CC). Outros exemplos: o módulo rural (art. 65 do Estatuto da


Terra), os lotes urbanos, a hipoteca etc.

 Por vontade das partes (convencional): Um bem fisicamente é divisível, mas


pode se tornar indivisível por força de um contrato. Ex: entregar 100 sacas de

café. Em tese é uma obrigação divisível (eu poderia entregar 50 sacas hoje e

5
Vide questão 10 do material
6
Vide questão 5 do material
14
50 na semana que vem). Mas pode ser pactuado no contrato a indivisibilidade

da prestação: ou seja, todas as 100 sacas devem ser entregues hoje.

6.3.1.5 Bens quanto à individualidade

 Bens Singulares ou Individuais: Os bens que, embora possam estar reunidos, são

considerados de modo individual, independentemente dos demais. Ex: um cavalo,


uma casa, um carro, uma joia, um livro etc7.

 Bens Coletivos ou Universais: Universalidade é a pluralidade de bens singulares


autônomos que, embora ainda conservem sua identidade, são consideradas em seu

conjunto, formando um todo único (universitas rerum), passando a ter


individualidade própria, distinta da dos seus objetos componentes. Trata-se de um
gênero que tem como espécies:

 Universalidade de Fato: É a pluralidade de bens singulares, corpóreos e


homogêneos, ligados entre si pela vontade humana. Devem pertencer à

mesma pessoa e ter destinação unitária (fim específico). Ex: biblioteca (livros),
pinacoteca (quadros), rebanho (bovino, ovino, suíno, caprino, etc.).

 Universalidade de Direito: É a pluralidade de bens singulares, corpóreos e


heterogêneos ou até incorpóreos, a que a norma jurídica, com a intenção de

produzir certos efeitos, dá unidade; é o complexo de relações jurídicas de uma


pessoa, dotadas de valor econômico. Exemplo: o patrimônio; a herança (ou

espólio), a massa falida etc8.

6.3.2 Bens reciprocamente considerados

Esta forma de classificação é feita a partir de uma comparação entre os bens.

7
Vide questão 1 do material
8
Vide questão 7 do material
15
 Principais: São os que existem por si, abstrata ou concretamente,

independentemente de outros; exercem função e finalidades autônomas. Ex: o solo,


um crédito, uma joia etc.

 Acessórios: São aqueles cuja existência pressupõe a existência de outro bem; sua
existência e finalidade dependem de um bem principal. Ex: um fruto em relação à

árvore, uma árvore em relação ao solo, um prédio em relação ao solo, os juros etc.

Regra: o bem acessório segue o principal (salvo disposição especial em contrário) –

acessorium sequitur suum principale.

É interessante esclarecer que esta regra não está mais explícita no atual Código Civil.
No entanto a doutrina é unânime em considerar que a mesma ainda prevalece em nosso

direito. Por essa razão, quem for o proprietário do principal, em regra, será também o do
acessório. Outro efeito: a natureza do principal será também a do acessório. Ex: se o solo é

imóvel, a árvore nele plantada também o será. É o chamado “princípio da gravitação jurídica”.

São Bens Acessórios:

 Frutos (naturais, industriais e civis): São as utilidades que a coisa principal


produz periodicamente; nascem e renascem da coisa e sua percepção

mantém intacta a substância do bem que as gera. Podem ser naturais (produz
por si mesma, independentemente do esforço humano), industriais (as

utilidades provêm da coisa, mas com a contribuição necessária do trabalho do


homem) e civis (quando, por uma extensão gerada pela capacidade humana

de abstração, os rendimentos ou benefícios são tirados de uma coisa utilizada


por outrem).

16
 Produtos: São as utilidades que se retiram da coisa, alterando a sua

substância, com a diminuição da quantidade até o seu esgotamento. Ex: pedras


de uma pedreira, minerais de uma jazida, carvão mineral, lençol petrolífero, etc.

A maior parte da doutrina entende que o usufrutuário só pode perceber os


frutos, e não os produtos, uma vez que a percepção dos produtos poderia

abalar a própria substância do bem.

Os frutos e os produtos, mesmo que não separados do bem principal, já podem ser

objeto de negócio jurídico (art. 95, CC). Ex: posso vender uma possível safra de laranjas que

ainda estão ligadas ao principal, por ser prematura a sua colheita no momento do contrato.

 Rendimentos: Na verdade eles são os próprios frutos civis ou prestações

periódicas em dinheiro, decorrentes da concessão do uso e gozo de um bem


(ex: aluguel).

 Produtos orgânicos da superfície da terra: Ex: vegetais, animais etc.

 Obras de aderência: Obras que são realizadas acima ou abaixo da superfície


da terra (ex: uma casa, um prédio de apartamentos, o metrô, pontes, túneis,

viadutos etc.).

 Pertenças: Segundo o art. 93, CC, são bens que se acrescem, como acessórios,
ao bem principal destinados, de modo duradouro, a conservar ou facilitar o
uso ou prestar serviço ou, ainda, servir de adorno ao bem principal, sem ser
parte integrante. Apesar de acessórios, conservam a sua individualidade e

17
autonomia. Ex: a moldura de um quadro; acessórios de um veículo; um trator

destinado a uma melhor exploração de propriedade agrícola etc. Em regra, a


pertença não segue o bem principal, salvo se resultar da lei, manifestação da

vontade ou circunstâncias do acaso. Segundo o Enunciado nº 535 da VI


Jornada de Direito Civil, para a existência da pertença, não se exige o elemento

subjetivo como requisito para o ato de destinação.

 Acessões (de modo implícito): Aumento do valor ou do volume da


propriedade devido a forças externas (fatos fortuitos, como: formação de ilhas,
aluvião, avulsão, abandono de álveo, construções e plantações). Em regra, não

são indenizáveis.

 Benfeitorias: São obras ou despesas que se fazem em um bem móvel ou


imóvel, para conservá-lo, melhorá-lo ou embelezá-lo. As benfeitorias são

bens acessórios, introduzidos no principal pelo homem. Se for realizado pela


natureza não é considerado como benfeitoria. Dividem-se as benfeitorias em

(art. 96, CC):

o Necessárias: São as que têm por finalidade conservar ou evitar que o

bem se deteriore (art. 96, §3º, CC); se elas não forem feitas, a coisa pode
perecer. Ex: reforços em alicerces, reforma de telhados, substituição de
vigamento podre, desinfecção de pomar etc.
o Úteis: São as que aumentam ou facilitam o uso da coisa (art. 96, §2º,

CC); elas não são indispensáveis, mas se forem feitas darão um maior
aproveitamento à coisa. Ex: construção de uma garagem, de um lavabo

dentro da casa, instalação de aparelho hidráulico moderno etc.

o Voluptuárias: São as de mero embelezamento, recreio ou deleite, que


não aumentam o uso habitual do bem, mas o torna mais agradável,
aumentando o seu valor comercial (art. 96, §1º, CC). Ex: construção de
18
uma piscina, uma churrasqueira, uma pintura artística, um jardim com

flores exóticas etc.

O art. 97 do CC prevê que não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou


acréscimos sobrevindos ao bem sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor 9.

A leitura do dispositivo deve ser feita como intervenção do proprietário direta ou

indireta. Se o proprietário intervém diretamente, é pertença, se indiretamente (ex.: locou o


bem), é benfeitoria. Ex.: Toca CD é parte integrante do veículo quando já vem de fábrica.

Porém, quando você compra e manda colocar, é pertença. Quando você empresta o carro e o
comodatário coloca o Toca CD é benfeitoria.

Por fim, vale dizer que a grande diferença entre benfeitorias e construções é que

aquelas são melhoramentos sobre algo preexistentes, enquanto as construções representam a


edificação de algo novo.

Pertenças X Benfeitorias

A melhor diferenciação entre pertença e benfeitoria voluptuária é a de que a primeira é


uma incorporação realizada pelo proprietário, enquanto a segunda é uma incorporação
realizada por quem não é proprietário.

9
Vide questão 8 do material
19
A classificação quanto às espécies de benfeitorias não é absoluta, pois uma mesma

benfeitoria pode enquadrar-se em uma ou outra espécie, dependendo de uma circunstância


concreta. Ex: uma pintura pode ser necessária em uma casa de praia para evitar uma

infiltração ou voluptuária se for apenas para embelezá-la.

6.4 Bens Públicos


O art. 99 do Código Civil classifica os bens públicos de acordo com a sua destinação
(ou afetação):

Obs. informações mais aprofundadas sobre os bens públicos estão no caderno de direito administrativo.

a) Bens de uso comum


b) Bens de uso especial c) Bens dominicais
do povo

São aqueles destinados à São aqueles que não


São aqueles utilizados pela
utilização geral pelos estão sendo utilizados
Administração para a
indivíduos, podendo ser para nenhuma destinação
prestação dos serviços
utilizados por todos em pública (estão
administrativos e dos
igualdade de condições, desafetados), abrangendo
serviços públicos em
independentemente de o denominado domínio
geral, ou seja, utilizados
consentimento privado do Estado.
pela Administração para a
individualizado por parte Exs: terras devolutas,
satisfação de seus
do Poder Público (uso terrenos de marinha,
objetivos.
coletivo). prédios públicos
Exs: prédio onde funciona
Exs: ruas, praças, rios, desativados, móveis
um órgão público.
praias etc. inservíveis, dívida ativa etc.

20
6.5 Bem de Família
No Brasil a regra é que o devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações,
com todos os seus bens, presentes ou futuros, salvo as exceções previstas em lei. O bem de

família é um dos bens excepcionados pela lei.

Em nosso atual sistema coexistem duas espécies de bem de família: bem de família
voluntário (art. 1.711 e segs., CC) e bem de família legal (Lei n.º 8.009/90). Vejamos:

6.5.1 Bem de Família Voluntário (arts. 1711 do CC e ss)


Trata-se de instituto disciplinado no art. 1711 do CC, que é instituído por ato de

vontade (por escritura pública ou testamento), por meio de registro imobiliário.

Suas principais características serão elencadas a seguir, porém é importante fazer a


leitura dos artigos 1.711 a 1.722, CC. Vejamos:

 Ato voluntário – deve ser registrado.

 Deve representar no máximo um terço do patrimônio líquido da pessoa que está


registrando.

 Acarreta inalienabilidade e impenhorabilidade do bem.


 Não entra em inventário, nem é partilhado enquanto nele residirem o cônjuge
sobrevivente ou filhos menores.

 Admitem-se apenas duas exceções: dívidas decorrentes de condomínio e as


dívidas tributárias que recaem sobre o bem.
Art. 1.711. Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura pública ou
testamento, destinar parte de seu patrimônio para instituir bem de família, desde que
não ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição,
mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial estabelecida em lei
especial.

Parágrafo único. O terceiro poderá igualmente instituir bem de família por testamento
ou doação, dependendo a eficácia do ato da aceitação expressa de ambos os cônjuges
beneficiados ou da entidade familiar beneficiada.

21
Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com suas
pertenças e acessórios, destinando-se em ambos os casos a domicílio familiar, e poderá
abranger valores mobiliários, cuja renda será aplicada na conservação do imóvel e no
sustento da família.

Assim, gera dois efeitos principais: a impenhorabilidade por dívidas futuras (art. 1715,

CC), salvo as que provierem de tributos relativos ao prédio, ou de despesas de condomínio, e


a inalienabilidade relativa do referido imóvel (art. 1716, CC).

No que tange à dívida tributária relativa ao prédio, veja esse recentíssimo julgado10 do

Superior Tribunal de Justiça, que pode ser objeto de questionamento na sua prova: para a
aplicação da exceção à impenhorabilidade do bem de família prevista no art. 3º, IV, da Lei nº

8.009/90 é preciso que o débito de natureza tributária seja proveniente do próprio imóvel que
se pretende penhorar. As hipóteses de exceção à regra da impenhorabilidade do bem de

família são taxativas, não comportando interpretação extensiva.

Súmula 486 do STJ: “É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja

locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência

ou a moradia da sua família”.

O artigo 1720 trata da administração do bem de família voluntário, estabelecendo que a


administração do bem de família compete a ambos os cônjuges, resolvendo o juiz em caso

de divergência. Ainda, com o falecimento de ambos os cônjuges, a administração passará ao


filho mais velho, se for maior, e, do contrário, a seu tutor.

Por fim, os artigos 1721 e 1722 tratam da extinção do Bem de família voluntário,

dispondo o seguinte:

10
STJ. 3ª Turma. REsp 1332071-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 18/02/2020 (Info 665).
22
 A dissolução da sociedade conjugal não extingue o bem de família.
 Dissolvida a sociedade conjugal pela morte de um dos cônjuges, o sobrevivente
poderá pedir a extinção do bem de família, se for o único bem do casal.
 Extingue-se, igualmente, o bem de família com a morte de ambos os cônjuges e a
maioridade dos filhos (capazes), desde que não sujeitos a curatela.

6.5.2 Bem de Família Legal (Lei nº 8.009/90)

É a segunda espécie de bem de família, prevista na Lei nº 8.009/90, que visa a

proteção ao patrimônio mínimo, conforme estabelecido em plano constitucional.

Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável


e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou
de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus
proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.

Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a


construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os
equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa,
desde que quitados.

Vejamos as características do Bem de Família Legal:

 Este independe de valor;


 Prescinde (dispensa) a individualização em escritura e registro cartorário;
 Ocorre uma impenhorabilidade do bem de família derivada automaticamente da
lei;
 Não há inalienabilidade.

Assim, observa-se que a proteção legal é extremamente ampla, sendo, inclusive,


considerado pela lei como residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade
familiar para moradia permanente. Veja-se:

23
Art. 5º Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei, considera-se
residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia
permanente.

Parágrafo único. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários


imóveis utilizados como residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor
valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no Registro de Imóveis e na
forma do art. 1711 do Código Civil.

Ainda, a lei protegerá apenas o bem de menor valor, caso o casal ou entidade familiar

possua mais de um imóvel utilizado como residência. Desta forma, em caso de diversos
imóveis residenciais, a proteção automática legal do art. 5º, da Lei nº 8.009/90 abrangerá

apenas o imóvel de menor valor, portanto, caso o indivíduo queira proteger o bem de maior
valor, será necessária a instituição do bem de família voluntário conforme os arts. 1711 do
CC e ss.

Mas, atenção! O simples fato de o imóvel ser de luxo ou de elevado valor, por si só,
não afasta a proteção prevista na Lei nº 8.009/90. Assim, prevalece a proteção legal ao bem
de família, independentemente de seu padrão. O intérprete não pode fazer uma releitura da

lei a fim de excluir o imóvel da proteção do bem de família pelo simples fato de ela ser de
elevado valor11.

Súmula 205, STJ: a lei 8.009/90 aplica-se a penhora realizada antes de sua vigência.

11
STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 1199556/PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/06/2018.
24
Ademais, o STJ 12 admite a interpretação do parágrafo único do artigo 1º, que para

evitar abuso de direito, em situações justificadas, o desmembramento do imóvel para efeito de


penhora, desde que não haja prejuízo para a área residencial.

A regra de impenhorabilidade do bem de família trazida pela Lei nº 8.009/90 deve ser

examinada à luz do princípio da boa-fé objetiva, que, além de incidir em todas as relações
jurídicas, constitui diretriz interpretativa para as normas do sistema jurídico pátrio. Assim, se

ficou caracterizada fraude à execução na alienação do único imóvel dos executados, em


evidente abuso de direito e má-fé, afasta-se a norma protetiva do bem de família, que não

pode conviver, tolerar e premiar a atuação dos devedores em desconformidade com a boa-fé
objetiva13.

Segundo o STJ, a impenhorabilidade a fração do imóvel indivisível atinge a totalidade

do bem, impedindo sua alienação em hasta pública.

Nos termos da súmula 449 do STJ, a vaga de garagem que possui matrícula própria no
registro de imóveis não constitui bem de família para efeito de penhora.

A própria lei prevê algumas exceções à impenhorabilidade do bem de família legal

(art. 3º):

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal,


previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:
II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à
aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do
respectivo contrato;
III - pelo credor de pensão alimentícia;
IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em
função do imóvel familiar;
V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal
ou pela entidade familiar;

12
REsp. 968.907/RS.
13
STJ. 3ª Turma. REsp 1575243/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/03/2018. STJ. 2ª Turma. AgRg no
AREsp 510970/SC, Rel. Min. Aussete Magalhães, julgado em 18/04/2018.
25
VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal
condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.
VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.

Vejamos cada hipótese individualmente:

 Titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à


aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do
respectivo contrato: exemplo, compra de apartamento financiado. Nesses casos, não
se pode arguir bem de família, já que a dívida foi contraída em prol da entidade
familiar;
 Credor de pensão alimentícia: a impenhorabilidade do bem de família não pode
ser oposta pelo devedor ao credor de pensão alimentícia decorrente de indenização
por ato ilícito14. Também se aplica para dívidas de pensão alimentícia familiar;
 Cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em
função do imóvel familiar: a cobrança da taxa condominial também pode levar à
penhora do imóvel15. Contudo, o STJ tem entendido que contribuições criadas por
associação de moradores não se equiparam a despesas de condomínio, para efeito
de penhora16;
 Execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou
pela entidade familiar: nesse caso, o devedor não poderá, com base no princípio
da confiança e da regra proibitiva do venire contra factum proprium, pretender
voltar atrás posteriormente, alegando a proteção do bem de família, tendo que
provar que a família foi beneficiada 17
. Contudo, o próprio STJ invoca a
irrenunciabilidade da proteção legal, e admite que o devedor possa voltar atrás
invocando a proteção ao bem de família, caso haja apenas indicado o bem à
penhora18. Ademais, o fato de a hipoteca não ter sido registrada não pode ser
utilizado como argumento pelo devedor para evitar a penhora do bem de família 19.

14
STJ. 3ª Turma. REsp 1186265/RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 04/09/2012
15
RE 439.003/SP
16
AgRg no REsp 137.4805/SP
17
AgRg no Ag 115.2734/SP, AgRg no AREsp 72.620/DF, REsp 988.915/SP.
18
AgRg no REsp 813.546/DF, REsp 875.687/RS.
19
STJ. 3ª Turma. REsp 1.455.554-RN, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 14/6/2016 (Info 585).
26
A exceção prevista no art. 3º, inciso V, da Lei nº 8009/90, deve ser interpretada

restritivamente, somente atinge os bens que foram dados em garantia de dívidas contraídas
em benefício da própria família, não abrangendo bens dados em garantia de terceiros. (STJ.

3ª Turma. REsp 1115265/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 24/04/2012.)

 Ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal
condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens: o bem
adquirido com produto de crime é penhorável mesmo que tenha havido extinção
da punibilidade pelo cumprimento do SURSIS processual. Na execução civil
movida pela vítima, não é oponível a impenhorabilidade do bem de família
adquirido com produto do crime, ainda que a punibilidade do acusado tenha sido
extinta em razão do cumprimento das condições estipuladas para a suspensão
condicional do processo20.
 Obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação: de acordo
com STJ, é constitucional e possível a penhora do bem de família do fiador na
locação geral. Mesmo que o fiador renuncie ao benefício de ordem, sua obrigação
é subsidiária. Se a pessoa tem um imóvel familiar, ele é impenhorável, enquanto o
do fiador não. Atenção, Aluno!!! Não é penhorável o bem de família do fiador no
caso de contratos de locação comercial. Em outras palavras, não é possível a
penhora de bem de família do fiador em contexto de locação comercial 21.

20
Informativo 575, STJ
21
STF. 1ª Turma. RE 605709/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, red. p/ ac. Min. Rosa Weber, julgado em 12/6/2018 (Info
906).
27
O Superior Tribunal de Justiça sumulou o entendimento que o conceito de bem de

família abrange o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas (Súmula 364).
Ademais, a Súmula 486 do mesmo tribunal dispõe que se estende, ainda, ao único imóvel do

devedor, ainda que este se ache locado a terceiros, por gerar frutos que possibilitam à família
constituir moradia em outro bem alugado.

O STJ reconheceu, também, a impenhorabilidade do único imóvel onde reside a família

do sócio, apesar de ser de propriedade da empresa executada, tendo em vista que a


empresa é eminentemente familiar.

Súmula 549 do STJ: É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato
de locação.

Aluno, lembre-se que essa súmula somente vale para quando a fiança é realizada em

contrato de locação residencial. Caso seja um contrato de locação empresarial, irá prevalecer o

direito a moradia, conforme o STJ.

Ademais, de acordo com o art. 2º, estão excluídos, também, da impenhorabilidade os


veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos.

Contudo, mais uma vez a lei traz uma exceção: no caso de imóvel locado, a

impenhorabilidade aplica-se aos bens móveis quitados que guarneçam a residência e que
sejam de propriedade do locatário, observado o disposto neste artigo.

28
6.6 Bens Gravados com Cláusula de Inalienabilidade
São aqueles que se tornam inalienáveis pela vontade humana, por meio de uma
cláusula temporária ou vitalícia, nos casos previstos em lei, por ato inter vivos (ex: doação)

ou causa mortis (ex: testamento).

Ex: um pai, percebendo que seu filho irá dilapidar o patrimônio, faz um testamento,
com essa cláusula especial, a fim de que os bens não saiam do patrimônio do filho,

protegendo esses bens do próprio filho, impedindo que os atos de irresponsabilidade ou má


administração possam levar o filho à insolvência - dívidas superiores aos créditos.

O art. 1.911, CC determina que “a cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por

ato de liberalidade, implica impenhorabilidade e incomunicabilidade”. Atualmente essa


cláusula tem valor um pouco mais restrito, pois o testador deve apontar expressamente a

justa causa para essa sua decisão de tornar o bem inalienável (art. 1.848, CC), ou seja, deverá
justificar o porquê desta medida. Um caso justificável é a prodigalidade do filho.

29
QUADRO SINÓPTICO

BENS
Bens são valores materiais ou imateriais que podem ser objeto de uma relação de
CONCEITO
direito.
Corpóreos (materiais, tangíveis ou concretos): os que possuem
existência física;
DOUTRINÁRIA
Incorpóreos (imateriais, intangíveis ou abstratos): são os que não
existem fisicamente (possuem uma existência abstrata);
BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS
BENS QUANTO À MOBILIDADE

 BENS IMÓVEIS: por Natureza (ou por essência): é o solo (terreno)


e tudo quanto se lhe incorporar naturalmente; por Acessão Física,
industrial ou artificial: Trata-se de tudo quanto o homem
incorporar permanentemente; por Acessão Intelectual (destinação
do proprietário vontade do dono; por Disposição Legal
 BENS MÓVEIS: móveis por Natureza; móveis por Antecipação;
móveis por Determinação Legal
CLASSIFICAÇÃO
BENS QUANTO À FUNGIBILIDADE
LEGAL
 INFUNGÍVEIS: possuem alguma característica especial
 FUNGÍVEIS: podem ser substituídos por outros da mesma espécie,
qualidade e quantidade.
BENS QUANTO À CONSUNTIBILIDADE

 CONSUMÍVEIS: cujo uso normal importa na destruição imediata


 INCONSUMÍVEIS: retire toda a sua utilidade, sem atingir sua
integridade
 DIVISÍVEIS: podem se fracionar em porções reais e distintas
 INDIVISÍVEIS: não podem ser fracionados em porções (por
natureza; por determinação legal; por vontade das partes
(convencional)

30
BENS QUANTO À INDIVIDUALIDADE

 BENS SINGULARES (ou individuais): independentemente dos


demais;
 BENS COLETIVOS OU UNIVERSAIS: consideradas em seu
conjunto:
 Universalidade de Fato - pela vontade humana;
 Universalidade de Direito - norma jurídica
BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS
Regra: o bem acessório segue o principal
 PRINCIPAIS: são os que existem por si,
 ACESSÓRIOS: existência pressupõe a existência de outro bem;
 Frutos (naturais, industriais e civis);
 Produtos;
 Rendimentos;
 Produtos orgânicos da superfície da terra;
 Obras de aderência;
 Pertenças;
 Acessões (de modo implícito);
 Benfeitorias:
o Necessárias: conservar ou evitar que o bem se deteriore
o Úteis: aumentam ou facilitam o uso
Voluptuárias: mero embelezamento, recreio ou deleite
BENS PÚBLICOS
 BENS DE USO COMUM DO POVO: São aqueles destinados à
utilização geral pelos indivíduos, podendo ser utilizados por todos
em igualdade de condições, independentemente de consentimento
individualizado por parte do Poder Público (uso coletivo).

 BENS DE USO ESPECIAL: São aqueles utilizados pela


Administração para a prestação dos serviços administrativos e dos
serviços públicos em geral, ou seja, utilizados pela Administração
para a satisfação de seus objetivos.

 BENS DOMINICAIS: São aqueles que não estão sendo utilizados


para nenhuma destinação pública (estão desafetados), abrangendo
o denominado domínio privado do Estado.

Ato voluntário – deve ser registrado.


BEM DE
VOLUNTÁRIO Deve representar no máximo um terço do patrimônio líquido da
FAMÍLIA pessoa que está registrando.

31
Acarreta inalienabilidade e impenhorabilidade do bem.
Admitem-se apenas duas exceções: dívidas decorrentes de
condomínio e as dívidas tributárias que recaem sobre o bem.
Este independe de valor;
Prescinde (dispensa) a individualização em escritura e registro
cartorário;
Ocorre uma impenhorabilidade do bem de família derivada
automaticamente da lei;
Não há inalienabilidade.
EXCEÇÕES À IMPENHORABILIDADE (ART. 3º):
 Titular do crédito decorrente do financiamento destinado à
construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e
LEGAL acréscimos constituídos em função do respectivo contrato;
 Credor de pensão alimentícia;
 Cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições
devidas em função do imóvel familiar;
 Execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real
pelo casal ou pela entidade familiar;
 Adquirido com produto de crime ou para execução de sentença
penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de
bens.
 Obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.

32
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1
(Banca: FGV - 2020 - TJ-RS - Oficial de Justiça) De acordo com o Código Civil brasileiro, é

correto afirmar que os bens singulares incluem os que se consideram de per si


independentemente dos demais, embora reunidos.

( ) CERTO

( ) ERRADO

Comentário:

CERTO. São singulares os bens que, embora reunidos, se consideram de per si,

independentemente dos demais" (art. 89 do CC). Exemplo: o livro é um bem singular.


Vários livros formam uma biblioteca.

Questão 2
(Banca: FGV - 2020 - TJ-RS - Oficial de Justiça) De acordo com o Código Civil brasileiro, é
correto afirmar que os bens fungíveis e móveis podem ser substituídos por outros de mesma

espécie e quantidade.

( ) CERTO

( ) ERRADO

33
Comentário:

ERRADO. Art. 85. São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da
mesma espécie, qualidade e quantidade.

Questão 3
(Banca: FGV - 2020 - TJ-RS - Oficial de Justiça) De acordo com o Código Civil brasileiro, é

correto afirmar que os bens imóveis incluem tudo que for incorporado ao solo, desde que seja
de forma natural, inclusive o próprio solo.

( ) CERTO

( ) ERRADO

Comentário:

ERRADO. Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou
artificialmente.

Questão 4
(Banca: FGV - 2020 - TJ-RS - Oficial de Justiça) De acordo com o Código Civil brasileiro, é
correto afirmar que os bens móveis são suscetíveis de movimento próprio sem alteração da
substância ou destinação econômica e social, exceto os bens de remoção por força alheia.

( ) CERTO

( ) ERRADO
34
Comentário:

ERRADO. Tratam-se dos bens móveis por natureza, que se dividem em semoventes, que

são os animais, e bens móveis propriamente ditos, que admitem remoção por força
alheia, sem dano, como os objetos inanimados (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito

Civil Brasileiro. Parte Geral. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 1. p. 290).

Questão 5
(Banca: FGV - 2020 - TJ-RS - Oficial de Justiça) De acordo com o Código Civil brasileiro, é
correto afirmar que os bens divisíveis podem ser fracionados sem alterar sua substância,

mesmo com diminuição considerável de valor, desde que sem prejuízo do uso a que se
destina.

( ) CERTO

( ) ERRADO

Comentário:

ERRADO. Bens divisíveis são os que se podem fracionar SEM alteração na sua
substância, DIMINUIÇÃO CONSIDERÁVEL DE VALOR, ou prejuízo do uso a que se
destinam" (art. 87 do CC). Exemplo: sacas de café, que podem ser divididas sem

qualquer destruição. Diferente de um relógio.

Questão 6

35
(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2020 - TJ-PA - Oficial de Justiça - Avaliador) O Código Civil

classifica os bens públicos como de uso comum, de uso especial e dominicais. Entre esses,
apenas os dominicais estão sujeitos a usucapião, por seguirem o regime de direito privado.

( ) CERTO

( ) ERRADO

Comentário:

ERRADO. Nos termos do artigo 102 do Código Civil, os bens públicos não estão sujeitos
a usucapião. Conforme lições de Flávio Tartuce: "A expressão contida no dispositivo
legal engloba tanto os bens de uso comum do povo como os de uso especial e

dominicais".

Questão 7
(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2019 - TJ-AM - Analista Judiciário - Oficial de Justiça

Avaliador) De acordo com o Código Civil, julgue o próximo item, acerca de classes de bens,
associações, fundações, prova do fato jurídico e atos jurídicos.

O espólio e a massa falida são exemplos de bens coletivos classificados como universalidade

de fato.

( ) CERTO

( ) ERRADO

36
Comentário:

ERRADO. Inicialmente, para fins de ampla compreensão do candidato, mister se faz


compreender a conceituação de bens singulares e coletivos. Neste sentido, vejamos:

As coisas singulares são as que, embora reunidas, se consideram de per si,

independentemente das demais (CC, art. 89). As coisas singulares poderão ser simples
ou compostas. Serão simples se formarem um todo homogêneo, cujas partes
componentes estão unidas em virtude da própria natureza ou da ação humana, sem

reclamar quaisquer regulamentações especiais por norma jurídica. Podem ser materiais
(pedra, caneta-tinteiro, folha de papel, cavalo) ou imateriais (crédito). As coisas

compostas são aquelas cujas partes heterogêneas são ligadas pelo engenho humano,
hipótese em que há objetos independentes que se unem num só todo sem que

desapareça a condição jurídica de cada parte. P. ex.: materiais de construção que estão
ligados à edificação de uma casa.

Já as coisas coletivas são as constituídas por várias coisas singulares, formando um

todo, que passa a ter individualidade própria, apresentando-se como universalidade de


fato (CC, art. 90) ou de direito (CC, art. 91), sendo esta um conjunto de bens singulares,

corpóreos e homogêneos, ligados entre si pela vontade humana para a consecução de


um fim (p. ex., uma biblioteca, um rebanho, uma galeria de quadros), e aquela,
constituída por bens singulares corpóreos heterogêneos ou incorpóreos (complexo de

relações jurídicas), a que a norma jurídica, com o intuito de produzir certos efeitos, dá
unidade, por serem dotados de valor econômico, como, p. ex., o patrimônio, a herança

ou o espólio, o FGTS, o estabelecimento empresarial, a massa falida etc.

Assim, é errado afirmar que o espólio e a massa falida são exemplos de bens coletivos
classificados como universalidade de fato, pois os mesmos são classificados como uma

universalidade de direito.

Questão 8

37
(Banca: FCC - 2018 - TRT - 15ª Região (SP) - Analista Judiciário - Área Judiciária) Em

relação aos bens, consideram-se como benfeitorias mesmo os melhoramentos ou acréscimos


sobrevindos ao bem sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor.

( ) CERTO

( ) ERRADO

Comentário:

ERRADO. Dispõe o art. 97 do CC que “Não se consideram benfeitorias os


melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem sem a intervenção do proprietário,
possuidor ou detentor". Esses acréscimos são as acessões naturais do art. 1.248 do CC

(aluvião, avulsão, formação de ilhas e abandono de álveo). Não são indenizáveis por não
decorrerem do esforço do possuidor ou do detentor do imóvel, mas da própria

natureza. Assim, quem lucra é o proprietário do imóvel.

Questão 9
(Banca: FCC - 2018 - TRT - 15ª Região (SP) - Analista Judiciário - Área Judiciária) Os

materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam sua
qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolição de algum

prédio.

( ) CERTO

( ) ERRADO

Comentário:

38
CERTO. Art. 84. Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem

empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os


provenientes da demolição de algum prédio.

Questão 10
(Banca: FCC - 2018 - TRT - 15ª Região (SP) - Analista Judiciário - Área Judiciária) São
consumíveis os bens móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade

e quantidade.

( ) CERTO

( ) ERRADO

Comentário:

ERRADO. Art. 86. São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata
da própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação.

39
GABARITO

Questão 1 - CERTO

Questão 2 - ERRADO

Questão 3 - ERRADO

Questão 4 - ERRADO

Questão 5 - ERRADO

Questão 6 - ERRADO

Questão 7 - ERRADO

Questão 8 - ERRADO

Questão 9 - CERTO

Questão 10 - ERRADO

40
QUESTÃO DESAFIO

José e Luiz são réus em processos distintos, onde ambos


respondem em razão de empréstimos que não foram adimplidos.
Assim, ambos foram condenados ao pagamento das dívidas e, na
fase de cumprimento de sentença, o juiz determinou a penhora dos
respectivos bens imóveis destinados à residência dos executados. O
magistrado fundamentou a decisão de penhorar os imóveis
residenciais sob a ótica de que os mesmos não poderiam ser
considerados "bem de família". O de José, em virtude do fato de
que o imóvel estava locado a um terceiro, mesmo sendo seu único
imóvel e o aluguel lhe ajude no seu sustento; e o de Luiz, pelo fato
de que o mesmo, por ser solteiro, não poderia ter imóvel que
levasse a característica de “bem de família". Desse modo,
pergunta-se: O Juiz agiu corretamente em não declarar os bens “de
família”? Fundamente.

Responda em até 5 linhas

41
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

O Juiz se equivocou em ambas as situações. Em relação ao bem de José, ele será

impenhorável, já que o imóvel residencial locado a terceiro pode ser considerado “bem de
família”. E, em relação ao bem de Luiz, ele será “bem de família”, já que a
impenhorabilidade atinge o imóvel de pessoas solteiras.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Impenhorabilidade do bem em locação.

Quanto à penhora do bem de José, como renda obtida com a locação está sendo
revertida em proveito do seu sustento ou da família, o imóvel não perderá a condição de bem
de família, a teor do disposto na súmula 486, STJ, sendo, portanto, impenhorável. De acordo
com a súmula 486 do STJ: “É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja
locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência
ou a moradia da sua família”. Assim, de acordo com a lição de Flávio Tartuce, o STJ: “nada
mais faz do que proteger a moradia de forma indireta, conforme ordena o art. 6.º da CF/1988.
A situação pode ser denominada como do bem de família indireto.” (Tartuce, Flávio. Direito
civil: lei de introdução e parte geral – v. 1 – 15. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 489).

 Impenhorabilidade do bem de pessoa solteira.

Por outro lado, quanto ao bem de Luiz, a penhora fora indevida, haja vista que o

conceito de impenhorabilidade abrange o imóvel pertencente a pessoas solteira, separadas e


viúvas, nos termos da súmula 364, STJ. Sobre o tema, os doutrinadores Pablo Stolze e Rodolfo

Pamplona Filho são bastantes categóricos ao concordarem com tal posicionamento, vejamos:
“à luz da regra de ouro do art. 5.º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (“na
aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem

comum”), não se pode aceitar que uma interpretação restritiva negue o benefício da lei aos
componentes remanescentes de uma família, que, por infelicidade ou por força do próprio
destino, acabou se desfazendo ao longo dos anos. Dentro desse raciocínio, como negar o

42
amparo ao devedor solteiro, que resida com sua tia, viúva, e que nunca se casou ou teve

filhos? Não haveria uma comunidade de existência entre tia e sobrinho digna de proteção?
Como negar o benefício – e nesse ponto já há algum avanço na jurisprudência – à viúva cujos

filhos já foram levados pela vida, e que mora sozinha em sua casa, único bem que lhe restou?
Deverá ser posta para fora do seu último abrigo, para que a sociedade a ampare?” (Gagliano,

Pablo Stolze; Pamplona Filho, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 1: parte geral – 21.
ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 418).

Desse modo, pouco importa se o proprietário é casado, solteiro, viúvo, será considerado

bem de família o bem imóvel que a lei resguarda com os característicos de inalienabilidade e
impenhorabilidade, em benefício da constituição e permanência de uma moradia.

43
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Bens

 CC: Arts. 79 a 103;

 Lei nº 8.009/90: integral, com maior mais ate o art. 3º.

Colacionamos, abaixo, o teor das súmulas mencionadas neste capítulo:

 Súmula 486 do STJ:

É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida
com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua família.

 Súmula 549 do STJ:

É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação.

 Súmula 205 do STJ:

A Lei 8.009/90 aplica-se à penhora realizada antes de sua vigência.

 Súmula 364 STJ:

O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras,
separadas e viúvas.

 Súmula 449 do STJ:

A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis não constituir bem de família para efeito
de penhora.

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JURISPRUDÊNCIA

DOS BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS

 STJ. 3ª Turma. REsp 1667227-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/06/2018 (Info
629).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO DE CAMINHÃO, DADO EM GARANTIA


FIDUCIÁRIA EM CONTRATO DE EMPRÉSTIMO. PROCEDÊNCIA, DECORRENTE DO INADIMPLEMENTO. PEDIDO DE
RESTITUIÇÃO DO EQUIPAMENTO DE MONITORAMENTO ACOPLADO AO CAMINHÃO. PERTENÇA.
RESTITUIÇÃO AO DEVEDOR FIDUCIÁRIO. NECESSIDADE. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Ainda que se
aplique aos bens acessórios a máxima de direito, segundo a qual "o acessório segue o principal", o Código Civil
conferiu tratamento distinto e específico às pertenças, as quais, embora tidas como bens acessórios, pois,
destinadas, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de um bem principal, sem dele fazer
parte integrante, não seguem a sorte deste, salvo se houver expressa manifestação de vontade nesse sentido, se
a lei assim dispuser ou se, a partir das circunstâncias do caso, tal solução for a indicada. 2. O equipamento de
monitoramento acoplado ao caminhão consubstancia uma pertença, a qual atende, de modo duradouro, à
finalidade econômico-social do referido veículo, destinando-se a promover a sua localização e, assim, reduzir os
riscos de perecimento produzidos por eventuais furtos e roubos, a que, comumente, estão sujeitos os veículos
utilizados para o transporte de mercadorias, caso dos autos. Trata-se, indiscutivelmente, de "coisa ajudante"
que atende ao uso do bem principal. Enquanto concebido como pertença, a destinação fática do equipamento
de monitoramento em servir o caminhão não lhe suprime a individualidade e autonomia o que permite,
facilmente, a sua retirada, tampouco exaure os direitos sobre ela incidentes, como o direito de propriedade,
outros direitos reais ou o de posse. 2.1 O inadimplemento do contrato de empréstimo para aquisição de
caminhão dado em garantia, a despeito de importar na consolidação da propriedade do mencionado
veículo nas mãos do credor fiduciante, não conduz ao perdimento da pertença em favor deste. O
equipamento de monitoramento, independentemente do destino do caminhão, permanece com a
propriedade de seu titular, o devedor fiduciário, ou em sua posse, a depender do título que ostente, salvo se
houver expressa manifestação de vontade nesse sentido, se a lei assim dispuser ou se, a partir das circunstâncias
do caso, tal solução for a indicada, exceções de que, no caso dos autos, não se cogita. 2.3 O contrato de
financiamento de veículo, garantido por alienação fiduciária, ao descrever o veículo, objeto da avença, não
faz nenhuma referência à existência do aludido equipamento e, por consectário, não poderia tecer
consideração alguma quanto ao seu destino. Por sua vez, o auto de busca e apreensão, ao descrever o veículo,
aponta a existência do equipamento de monitoramento, o que, considerada a circunstância anterior, é suficiente

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para se chegar a compreensão de que foi o devedor fiduciário o responsável por sua colocação no caminhão por
ele financiado. 3. Recurso especial provido”. (negritamos)

Comentário:

O STJ considerou pertença o equipamento de monitoramento acoplado em

caminhão. No caso, o motorista do caminhão comprou o bem dando o próprio caminhão em


garantia (contrato de alienação fiduciária). Ao não pagar as parcelas do caminhão e ter de

restituir o bem ao credor fiduciante, o motorista pôde retirar e ficar com o equipamento de
monitoramento que havia acrescentado ao caminhão, uma vez que este foi considerado

pertença, não seguindo, assim, a sorte do bem principal.

 STJ. 4ª Turma. REsp 1305183-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info
594).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO.


APARELHOS DE ADAPTAÇÃO PARA CONDUÇÃO VEICULAR POR DEFICIENTE FÍSICO OU COM MOBILIDADE
REDUZIDA. PERTENÇAS QUE NÃO SEGUEM O DESTINO DO PRINCIPAL (CARRO). DIREITO DE RETIRADA DAS
ADAPTAÇÕES. SOLIDARIEDADE SOCIAL. CF/1988 E LEI N. 13.146/2015. 1. Segundo lição de conceituada doutrina
e a partir da classificação feita pelo Código Civil de 2002, bem principal é o que existe por si, exercendo sua
função e finalidade, independentemente de outro; e acessório é o que supõe um principal para existir
juridicamente. 3. Os instrumentos de adaptação para condução veicular por deficiente físico, em relação ao carro
principal, onde estão acoplados, enquanto bens, classificam-se como pertenças, e por não serem parte integrante
do bem principal, não devem ser alcançados pelo negócio jurídico que o envolver, a não ser que haja imposição
legal, ou manifestação das partes nesse sentido. 4. É direito do devedor fiduciante retirar os aparelhos de
adaptação para direção por deficiente físico, se anexados ao bem principal, por adaptação, em momento
posterior à celebração do pacto fiduciário. 5. O direito de retirada dos equipamentos se fundamenta, da mesma
forma, na solidariedade social verificada na Constituição Brasileira de 1988 e na Lei n. 13.146 de 2015, que previu
o direito ao transporte e à mobilidade da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, assim como no
preceito legal que veda o enriquecimento sem causa.6. Recurso especial provido ”. (negritamos)

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Comentário:

O presente julgado traz hipótese semelhante ao caso anterior. De acordo com o STJ, os
instrumentos de adaptação para condução veicular por deficiente físico, em relação ao

carro principal, onde estão acoplados, enquanto bens, classificam-se como pertenças. Assim,
se o devedor fiduciante tiver que entregar o bem principal, ele poderá retirar os aparelhos de

adaptação para direção por deficiente físico.

Bem de família

 STJ. REsp 1.182.108-MS, Rel Min. Aldir Passarinho Júnior, 4a Turma, julgado em 12/04/2011.

EMENTA: “PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CRÉDITO ORIUNDO DE CONTRATO DE HONORÁRIOS.


RECONHECIMENTO JUDICIAL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. PENHORA DE BEM DE FAMÍLIA. INEXISTÊNCIA DE
EXCEÇÃO. LEI N. 8.009/1990, ART. 3º, E INCISOS. I. O crédito resultante de contrato de honorários advocatícios
(art. 24 da Lei n. 8.906/1994), não se assemelha à pensão alimentícia, de sorte que não se encontra entre as
exceções à benesse da Lei n. 8.009/1990, de modo a preservar-se a impenhorabilidade do bem de família. II.
Recurso especial conhecido em parte, e parcialmente provido”. (negritamos)

Comentário:
De acordo com o STJ, apesar de os honorários advocatícios terem natureza
alimentícia, sua cobrança não justifica a penhora do bem de família. O STJ fez, no caso,
uma interpretação literal do art. 3º da Lei 8.00/1990, e afirmou que não cabe ao magistrado
realizar uma interpretação extensiva.

 STJ. REsp 950.663-SC, Min. Rel. Luis Felipe Salomão, 4a Turma, julgado em 23/04/2012.

EMENTA: “PROCESSO CIVIL. DIREITO CIVIL. EXECUÇÃO. LEI 8.009/90. PENHORA DE BEM DE FAMÍLIA. DEVEDOR
NÃO RESIDENTE EM VIRTUDE DE USUFRUTO VITALÍCIO DO IMÓVEL EM BENEFÍCIO DE SUA GENITORA. DIREITO
À MORADIA COMO DIREITO FUNDAMENTAL. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. ESTATUTO DO IDOSO.
IMPENHORABILIDADE DO IMÓVEL. 1. A Lei 8.009/1990 institui a impenhorabilidade do bem de família como um
dos instrumentos de tutela do direito constitucional fundamental à moradia e, portanto, indispensável à
composição de um mínimo existencial para vida digna, sendo certo que o princípio da dignidade da pessoa
humana constitui-se em um dos baluartes da República Federativa do Brasil (art. 1º da CF/1988), razão pela qual
deve nortear a exegese das normas jurídicas, mormente aquelas relacionadas a direito fundamental. 2. A Carta
Política, no capítulo VII, intitulado "Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso", preconizou
especial proteção ao idoso, incumbindo desse mister a sociedade, o Estado e a própria família, o que foi
47
regulamentado pela Lei 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), que consagra ao idoso a condição de sujeito de todos
os direitos fundamentais, conferindo-lhe expectativa de moradia digna no seio da família natural, e situando o
idoso, por conseguinte, como parte integrante dessa família. 3. O caso sob análise encarta a peculiaridade de a
genitora do proprietário residir no imóvel, na condição de usufrutuária vitalícia, e aquele, por tal razão,
habita com sua família imóvel alugado. Forçoso concluir, então, que a Constituição Federal alçou o direito à
moradia à condição de desdobramento da própria dignidade humana, razão pela qual, quer por considerar
que a genitora do recorrido é membro dessa entidade familiar, quer por vislumbrar que o amparo à mãe idosa
é razão mais do que suficiente para justificar o fato de que o nu-proprietário habita imóvel alugado com
sua família direta, pessoa estreme de dúvidas que o seu único bem imóvel faz jus à proteção conferida pela
Lei 8.009/1990. 4. Ademais, no caso ora sob análise, o Tribunal de origem, com ampla cognição fático-
probatória, entendeu pela impenhorabilidade do bem litigioso, consignando a inexistência de propriedade sobre
outros imóveis. Infirmar tal decisão implicaria o revolvimento de fatos e provas, o que é defeso a esta Corte ante
o teor da Súmula 7 do STJ. 5. Recurso especial não provido ” (negritamos).

Comentário:
No caso acima, temos a seguinte situação jurídica: há um imóvel sobre o qual incide um
usufruto, em que o filho é o nu-proprietário e a mãe, usufrutuária. O filho não mora na
propriedade, quem lá reside é sua genitora.
Este imóvel poderia ser penhorado? Melhor dizendo, caso o filho estivesse sendo
executado em um processo e o exequente pedisse a penhora dessa propriedade, isso seria
possível? O STJ decidiu que, em regra, a nua propriedade é suscetível de constrição
judicial, salvo se o imóvel do executado for considerado bem de família.
Assim, em tese, a penhora poderia ter sido aceita. No entanto, a penhora não foi
admitida porque o imóvel é utilizado como bem de família pela mãe do executado.
No caso, então, a proteção conferida pela lei nº 8009/1990 foi estendida ao imóvel do
executado, pois a Constituição Federal alçou o direito à moradia à condição de
desdobramento da própria dignidade humana. Ainda, a Carta Magna, em especial, conferiu
ao idoso expectativa de moradia digna no seio da família natural e foi aplicado o Estatuto do
Idoso.

 STJ. REsp 1417629/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, 3ª Turma, julgado em 10/12/2013.

EMENTA: “CIVIL E PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO


JURISDICIONAL. INEXISTÊNCIA. ALEGADA VIOLAÇÃO DE DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. DESCABIMENTO.
AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚM. 282/STF. PENHORA RECAÍDA SOBRE O ÚNICO IMÓVEL DO ESPÓLIO.

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TERRENO NÃO CONSTRUÍDO. INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA DAS IMPENHORABILIDADES. NATUREZA DE BEM
DE FAMÍLIA NÃO COMPROVADA. ARTS. ANALISADOS: 1º E 5º, LEI 8.009/90. 1. Ação de execução de título
extrajudicial, distribuída em 1986, da qual foi extraído o presente recurso especial, concluso ao Gabinete em
13/05/2013. 2. Discute-se se o único imóvel do espólio - terreno alugado para empresa que nele explora serviço
de estacionamento - pode ser considerado bem de família dos herdeiros, e, portanto, insuscetível de penhora
para garantir o pagamento de dívidas do falecido. 3. Para que fique caracterizada a negativa de prestação
jurisdicional, a omissão apontada deve ser relevante para o deslinde da controvérsia, do contrário não há falar
em violação do art. 535 do CPC. 4. A interposição de recurso especial não é cabível por suposta violação de
dispositivo constitucional ou de qualquer ato normativo que não se enquadre no conceito de lei federal,
conforme disposto no art. 105, III, "a" da CF/88. 5. Os dispositivos indicados como violados não foram objeto de
expresso prequestionamento pelo Tribunal de origem, o que importa na incidência do óbice da Súmula 282/STF.
6. O fato de se tratar de terreno não edificado é circunstância que, por si só, não obsta sua qualificação
como bem de família, na medida em que tal qualificação pressupõe a análise, caso a caso, da finalidade
realmente atribuída ao imóvel (interpretação teleológica das impenhorabilidades). 7. No particular,
evidenciado que o recorrente se vale da alegada proteção ao bem de família apenas para tentar preservar o
valioso imóvel do espólio, o reconhecimento da impenhorabilidade do bem constitui, numa ponderação de
valores, verdadeira afronta ao direito fundamental do credor à tutela executiva e, em maior grau, ao acesso à
ordem jurídica justa - célere, adequada e eficaz -, que tanto se busca, na moderna concepção do devido
processo legal. 8. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, desprovido .” (negritamos)

Comentário:

De acordo com esse julgado, o STJ decidiu que o terreno não edificado também pode
ser considerado bem de família, dependendo do caso concreto.

 STJ. REsp 1.455.554-RN, Rel. Min. João Otávio de Noronha, 3ª Turma, julgado em 14/6/2016
(Info 585).

EMENTA: “CIVIL. DIREITO REAL DE GARANTIA. HIPOTECA. VALIDADE. AVERBAÇÃO NO CARTÓRIO DE REGISTRO
DE IMÓVEIS. NÃO OCORRÊNCIA. BEM DE FAMÍLIA. EXCEÇÃO À REGRA DA IMPENHORABILIDADE. HIPÓTESE
CONFIGURADA. 1. Nos termos do art. 3º, V, da Lei n. 8.009/90, ao imóvel dado em garantia hipotecária não
se aplica a impenhorabilidade do bem de família na hipótese de dívida constituída em favor da entidade
familiar. 2. A hipoteca se constitui por meio de contrato (convencional), pela lei (legal) ou por sentença
(judicial) e desde então vale entre as partes como crédito pessoal. Sua inscrição no cartório de registro de
imóveis atribui a tal garantia a eficácia de direito real oponível erga omnes. 3. A ausência de registro da

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hipoteca não afasta a exceção à regra de impenhorabilidade prevista no art. 3º, V, da Lei n. 8.009/90;
portanto, não gera a nulidade da penhora incidente sobre o bem de família ofertado pelos proprietários como
garantia de contrato de compra e venda por eles descumprido. 4. Recurso especial provido” (negritamos).

Comentário:

No presente julgado, o STJ decidiu pela possibilidade da penhora do bem de família

com base no art. 3º, V, da Lei nº 8.009/90, mesmo sem a hipoteca estar registrada no
cartório de Registro de Imóveis.

Assim, o fato de a hipoteca não ter sido registrada não pode ser utilizado como

argumento pelo devedor para evitar a penhora do seu bem de família.

 STJ. REsp 1091236-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, 4ª Turma, julgado em 15/12/2015 (Info 575).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL - EXECUÇÃO DE SENTENÇA CONDENATÓRIA, PROFERIDA EM DEMANDA NA


QUAL SE PLEITEAVA A RESTITUIÇÃO DE VALORES DESVIADOS INDEVIDAMENTE PELA INSURGENTE DA EMPRESA
ORA RECORRIDA. EMBARGOS DO EXECUTADO - PENHORA - BEM DE FAMÍLIA - EXCEÇÃO DO ART. 3º, INCISO
VI, LEI N. 8.009/90 - IMÓVEL ADQUIRIDO COM PRODUTO DE CRIME - EXCEÇÃO À IMPENHORABILIDADE
RECONHECIDA - POSSIBILIDADE. INSURGÊNCIA DA EXECUTADA. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO.
1. Não se pode conhecer da violação ao artigo 535 do CPC, pois as alegações que fundamentaram a pretensa
ofensa são genéricas, sem discriminação dos pontos efetivamente omissos, contraditórios ou obscuros. Incide, no
caso, a Súmula 284 do STF, por analogia. 2. Embargos de declaração manifestados com o intento de
prequestionar a matéria. Aplicável ao caso o teor da Súmula 98 do STJ: "Embargos de declaração manifestados
com notório propósito de prequestionamento não tem caráter protelatório" 3. A Lei n. 8.009/90 elenca em seu
artigo 3º, inciso VI, exceção à impenhorabilidade do bem de família nas hipóteses de bem adquirido com
produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento
de bens. 3.1. Entre os bens jurídicos em discussão, de um lado a preservação da moradia do devedor e, de
outro, o dever de ressarcir os prejuízos sofridos pelo credor em virtude de conduta ilícita criminalmente
apurada, preferiu o legislador privilegiar o ofendido, em detrimento do infrator, criando tais exceções à
impenhorabilidade do bem de família. 3.2. A exceção, na hipótese de bem adquirido com produto de crime,
não pressupõe a existência de sentença penal condenatória, sendo suficiente a prática de conduta definida como
crime e que o bem tenha sido adquirido com produto da ação criminosa. 3.3. No caso concreto, faz-se possível
a penhora do bem de família, nos moldes do artigo 3º, inciso VI, primeira parte, da Lei 8.009/90, haja vista
que o imóvel em questão fora adquirido com produto de crime. 4. Recurso especial parcialmente provido, apenas
50
para afastar a multa aplicada com fulcro no artigo 538, parágrafo único, do Código de Processo Civil.”
(negritamos)

Comentário:

No caso concreto, o agente “A” cometeu estelionato contra a empresa “Z”, comprando

uma casa com o dinheiro auferido. O Ministério Público ofereceu denúncia contra o acusado e
ele aceitou a proposta de suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei nº 9.099/95).

Após o cumprimento de todas as condições, a punibilidade do acusado foi extinta.

A empresa “Z” não se conformou em ter ficado com o prejuízo advindo do estelionato
e ajuizou uma ação na seara cível, cobrando os R$200.000,00 que havia perdido, o que só

poderia ser efetivado pela penhora da casa comprada com o produto do crime.

“A” alegou que a casa que ele comprou com os 200 mil reais é bem de família, não
podendo, portanto, ser penhorada. Além disso, afirmou que, em seu caso, não pode ocorrer

a penhora pois não houve uma sentença criminal transitada em julgado, já que ele cumpriu
todos os requisitos da suspensão condicional do processo.

A tese de “A” não foi aceita, diante do que dispõe o art. 3º, VI, Lei 8.009/90. A

primeira parte do inciso VI (“adquirido com produto de crime”) não exige a prévia existência
de sentença penal condenatória. Esta só é exigida realmente na segunda hipótese do
dispositivo.

Assim, em resumo, o STJ entendeu que não é necessária a sentença penal


condenatória para que o produto do crime possa ser penhorado.

 STJ. 3ª Turma. AgRg no AREsp 806.099/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
08/03/2016.

EMENTA: “AGRAVO REGIMENTAL. PROCESSO CIVIL E CIVIL. EXECUÇÃO DE SENTENÇA. COMPROMISSO DE


COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. BEM DE FAMÍLIA. PENHORABILIDADE. DÍVIDA ORIUNDA DE NEGÓCIO
ENVOLVENDO O PRÓPRIO IMÓVEL. APLICAÇÃO, POR ANALOGIA, DA EXCEÇÃO PREVISTA NO ART. 3º, II, DA LEI
N. 8.009/90. 1. A exceção prevista no art. 3º, II, da Lei n. 8.009/90 - possibilidade de se penhorar bem de

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família - deve ser estendida também aos casos em que o proprietário firma contrato de promessa de
compra e venda do imóvel e, após receber parte do preço ajustado, se recusa a adimplir com as obrigações
avençadas ou a restituir o numerário recebido, e não possui outro bem passível de assegurar o juízo da
execução. 2. Agravo regimental desprovido”. (negritamos)

Comentário:
Primeiro, cabe destacar a exceção à impenhorabilidade do bem de família contida no
art. 3º, II, da Lei nº 8.009/90. De acordo com tal dispositivo é possível a penhora do bem de
família para a cobrança de “crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à
aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo
contrato”.
De acordo com o STJ, essa exceção pode ser aplicada também aos imóvel objeto do
contrato de promessa de compra e venda não cumprido.
Por exemplo, se o proprietário (promitente vendedor) de um imóvel, que firmou um
contrato de promessa de compra e venda, após receber parte do valor do imóvel do
comprador, recusa-se a cumprir sua parte do contrato ou a restituir o valor já pago.

 STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1619189/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
25/10/2016.

EMENTA: “AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. ACIDENTE DE TRÂNSITO.


CONDENAÇÕES CÍVEL E CRIMINAL. IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA. EXCEÇÃO APLICÁVEL SOMENTE
À VERBA ALIMENTAR. ACÓRDÃO A QUO EM HARMONIA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE SUPERIOR.
AGRAVO DESPROVIDO.
1. A pensão alimentícia está prevista expressamente no art. 3º, III, da Lei n. 8.009/1990 como hipótese de exceção
à impenhorabilidade do bem de família, sendo irrelevante a origem dessa prestação, se decorrente de relação
familiar ou de ato ilícito. "De outra parte, não é possível ampliar o alcance da norma prevista no art. 3.º, inciso
VI, do mesmo diploma legal, para afastar a impenhorabilidade de bem de família em caso de indenização por
ilícito civil, desconsiderando a exigência legal expressa de que haja 'sentença penal condenatória'" (REsp
711889/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 22/06/2010, DJe 01/07/2010).
2. Agravo interno desprovido”. (negritamos)

Comentário:

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De acordo com o STJ, cabe a penhora do bem de família para pagamento de dívidas de
pensão decorrente de vínculo familiar ou de ato ilícito (art. 3º, III, da Lei nº 8.009/90). Por
outro lado, não é cabível a penhora de bem de família para o pagamento de indenização por
ato ilícito, por exemplo, se uma pessoa bate no carro de outra e deve ressarcir o dano
causado ao carro. No entanto, se o dano é decorrente de ato ilícito previamente reconhecido
como crime na esfera penal, é cabível a penhora do bem de família, de acordo com o art.
3º, VI, 8.009/90.

 STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1669123/RS, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador convocado
do TRF 5ª Região), julgado em 15/03/2018.

EMENTA: “AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE IMPENHORABILIDADE DE BEM


DE FAMÍLIA. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA EM OUTRA AÇÃO QUE NÃO AFASTA A
IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA. NÃO OCORRÊNCIA DE COISA JULGADA MATERIAL. IMÓVEL
CONSIDERADO DE ALTO PADRÃO. IRRELEVÂNCIA. DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.
1. A questão da impenhorabilidade do bem de família não foi examinada nos autos da ação de responsabilização
solidária dos sócios e diretores do grupo empresarial familiar. Decisão interlocutória não se submete aos efeitos
da coisa julgada material, ocorrendo apenas o fenômeno da preclusão, que impede a discussão no mesmo
processo. 2. O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento de que a desconsideração da personalidade
jurídica, por si só, não afasta a impenhorabilidade do bem de família, inclusive no âmbito da falência, não se
podendo, por analogia ou esforço hermenêutico, superar a proteção conferida à entidade familiar, pois as
exceções legais à impenhorabilidade devem ser interpretadas restritivamente. 3. A existência de outros bens
imóveis não impede o reconhecimento da impenhorabilidade do imóvel utilizado como residência.
Precedentes. 4. A jurisprudência desta Corte assegura a prevalência da proteção legal ao bem de família,
independentemente de seu padrão. A legislação é bastante razoável e prevê inúmeras exceções à garantia
legal, de modo que o julgador não deve fazer uma releitura da lei, alegando que sua interpretação atende
melhor ao escopo do diploma legal. 5. As premissas fáticas estão bem delineadas no acórdão recorrido, não
sendo necessário o revolvimento de fatos e provas. Superado o juízo de admissibilidade, cumpre ao Tribunal
julgar a causa, aplicando o direito à espécie (art. 257 do RISTJ; Súmula 456 do STF). 6. Agravo interno não
provido”. (negritamos)

Comentário:
O STJ firmou, neste julgado, que o fato de o imóvel ser de elevado valor não o faz,
por si só, penhorável. Deve-se avaliar se é caso ou não de bem de família. Se for bem de
família, o imóvel estará protegido pela impenhorabilidade prevista pela Lei 8.009/1990. O

53
juiz não pode interpretar a lei de forma diversa do que ela dispõe, sob pena de se imiscuir na

função do Poder Legislativo.

 STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1518503/PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
21/09/2017.

EMENTA: “AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. ARTIGO 535 DO CPC/1973.
VIOLAÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. MULTA. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. SÚMULA Nº 7/STJ. FUNDAMENTO NÃO
ATACADO. SÚMULA Nº 283/STF. ENCARGOS CONTRATUAIS. INCIDÊNCIA. EFETIVO PAGAMENTO. BEM DE
FAMÍLIA. IMPENHORABILIDADE. PRECLUSÃO. 1. Não há falar em negativa de prestação jurisdicional se o tribunal
de origem motiva adequadamente sua decisão, solucionando a controvérsia com a aplicação do direito que
entende cabível à hipótese, apenas não no sentido pretendido pela parte. 2. O afastamento da multa por
litigância de má-fé depende, na hipótese, da análise do conteúdo fático da demanda, providência que esbarra no
óbice da Súmula nº 7/STJ. 3. Na hipótese, a ausência de impugnação de fundamento suficiente para a
manutenção da multa por litigância de má-fé atrai a incidência da Súmula nº 283/STF. 4. De acordo com a firme
jurisprudência desta Corte, os encargos contratuais continuam a incidir até o efetivo pagamento. 5. A
impenhorabilidade de bem de família pode ser alegada a qualquer tempo e grau de jurisdição. No entanto,
uma vez decidido o tema, não pode ser reeditado, pois acobertado pela preclusão. Precedentes. 6. Agravo
interno não provido”. (negritamos)

Comentário:

Conforme o STJ, se a impenhorabilidade do bem de família foi alegada no processo

(o que pode ocorrer a qualquer tempo e grau de jurisdição) e já houve uma decisão sobre
isso, o tema não poderá mais ser rediscutido, pois abarcado pela preclusão consumativa.

 STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 510970/SC, Rel. Min. Aussete Magalhães, julgado em 18/04/2018.

EMENTA: “DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. APLICAÇÃO DO CPC/1973. EMBARGOS À


ADJUDICAÇÃO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. NÃO
INDICAÇÃO. FUNDAMENTAÇÃO. DEFICIENTE. SÚMULA 284/STF. ALEGAÇÃO DE IMPENHORABILIDADE DO
BEM DE FAMÍLIA. FRAUDE À EXECUÇÃO ANTERIORMENTE RECONHECIDA. INAPLICABILIDADE DA NORMA
PROTETIVA. 1. Embargos à adjudicação opostos em 18/06/2012. Recurso especial interposto em 14/08/2014 e
atribuído a esta Relatora em 02/09/2016. 2. Aplicação do CPC/73, a teor do Enunciado Administrativo n.
2/STJ. 3. O propósito recursal, para além da análise da negativa de prestação jurisdicional, consiste em definir

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se o reconhecimento de fraude à execução, pela alienação do único imóvel dos executados a um de seus
parentes, é causa de afastamento da garantia de impenhorabilidade do bem de família. 4. A ausência de
expressa indicação de obscuridade, omissão ou contradição nas razões recursais enseja o não conhecimento
da alegada violação do art. 535 do CPC/73. 5. A indicação de violação genérica à lei federal, sem
particularização dos dispositivos que teriam sido afrontados pelo acórdão recorrido, implica deficiência na
fundamentação do recurso especial e atrai a incidência da Súmula 284/STF. 6. A regra de impenhorabilidade
do bem de família trazida pela Lei 8.009/90 deve ser examinada à luz do princípio da boa-fé objetiva,
que, além de incidir em todas as relações jurídicas, constitui diretriz interpretativa para as normas do
sistema jurídico pátrio. 7. Nesse contexto, caracterizada fraude à execução na alienação do único imóvel
dos executados, em evidente abuso de direito e má-fé, afasta-se a norma protetiva do bem de família,
que não pode conviver, tolerar e premiar a atuação dos devedores em desconformidade com o cânone
da boa-fé objetiva. Precedentes. 8. Recurso especial parcialmente conhecido, e, nessa extensão, não
provido”. (negritamos)

Afasta-se a proteção conferida pela Lei nº 8.009/90 ao bem de família, quando caracterizado abuso do direito
de propriedade, violação da boa-fé objetiva e fraude à execução. A regra de impenhorabilidade do bem de
família trazida pela Lei nº 8.009/90 deve ser examinada à luz do princípio da boa-fé objetiva, que, além de
incidir em todas as relações jurídicas, constitui diretriz interpretativa para as normas do sistema jurídico
pátrio. Assim, se ficou caracterizada fraude à execução na alienação do único imóvel dos executados, em
evidente abuso de direito e má-fé, afasta-se a norma protetiva do bem de família, que não pode conviver,
tolerar e premiar a atuação dos devedores em desconformidade com a boa-fé objetiva.

 Informativo 635, STJ:


Os direitos do devedor fiduciante sobre imóvel objeto de contrato de alienação fiduciária em garantia possuem a
proteção da impenhorabilidade do bem de família legal. Ex: João fez um contrato de alienação fiduciária para
aquisição de uma casa; ele está morando no imóvel enquanto paga as prestações; enquanto não terminar de
pagar, a casa pertence ao banco; apesar disso, ou seja, a despeito de possuir apenas a posse, os direitos de João
sobre o imóvel não podem ser penhorados porque incide a proteção do bem de família. STJ. 3ª Turma. REsp
1.677.079-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/09/2018 (Info 635).

 REsp 1.616.475-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016, DJe 11/10/2016.

EMENTA: “PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. IMPENHORABILIDADE. IMÓVEL COMERCIAL UTILIZADO PARA
O PAGAMENTO DA LOCAÇÃO DE SUA RESIDÊNCIA. CARACTERIZAÇÃO COMO BEM DE FAMÍLIA. 1. O STJ
pacificou a orientação de que não descaracteriza automaticamente o instituto do bem de família, previsto na Lei

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8.009/1990, a constatação de que o grupo familiar não reside no único imóvel de sua propriedade. Precedentes:
AgRg no REsp 404.742/RS, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 19/12/2008 e AgRg no REsp
1.018.814/SP, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJe 28/11/2008. 2. A Segunda Turma também possui
entendimento de que o aluguel do único imóvel do casal não o desconfigura como bem de família. Precedente:
REsp 855.543/DF, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJ 03/10/2006. 3. Em outra oportunidade,
manifestei o meu entendimento da impossibilidade de penhora de dinheiro aplicado em poupança, por se
verificar sua vinculação ao financiamento para aquisição de imóvel residencial. 4. Adaptado o julgamento à
questão presente, verifico que o Tribunal de origem concluiu estar o imóvel comercial diretamente vinculado ao
pagamento da locação do imóvel residencial, tornando-o impenhorável. 5. Recurso Especial não provido”.
(negritamos)

Em regra, o imóvel comercial não se enquadra na hipótese de impenhorabilidade da Lei nº 8.009/90, no


entanto há uma exceção expressamente mencionada pelo STJ em julgado recentíssimo: É impenhorável o único
imóvel comercial do devedor quando o aluguel daquele está destinado unicamente ao pagamento de
locação residencial por sua entidade familiar. Inicialmente, registre-se que o STJ pacificou a orientação de que
não descaracteriza automaticamente o instituto do bem de família, previsto na Lei nº 8.009/1990, a constatação
de que o grupo familiar não reside no único imóvel de sua propriedade (AgRg no REsp 404.742-RS, Segunda
Turma, DJe 19/12/2008; e AgRg no REsp 1.018.814-SP, Segunda Turma, DJe 28/11/2008). A Segunda Turma
também possui entendimento de que o aluguel do único imóvel do casal não o desconfigura como bem de
família (REsp 855.543-DF, Segunda Turma, DJ 3/10/2006). Ainda sobre o tema, há entendimento acerca da
impossibilidade de penhora de dinheiro aplicado em poupança, por se verificar sua vinculação ao financiamento
para aquisição de imóvel residencial.

 STJ. 4ª Turma. REsp 1473484-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/06/2018 (Info
631).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE DO CONDOMÍNIO POR DANOS A


TERCEIRO. OBRIGAÇÃO DO CONDÔMINO PELAS DESPESAS CONDOMINIAIS, NA MEDIDA DE SUA COTA-PARTE.
FATO ANTERIOR À CONSTITUIÇÃO DA PROPRIEDADE. DÍVIDA PROPTER REM. PENHORABILIDADE DO BEM DE
FAMÍLIA. POSSIBILIDADE. LEI N. 8.009/1990, ART. 3º, IV. 1. Constitui obrigação de todo condômino concorrer para
as despesas condominiais, na proporção de sua cota-parte, dada a natureza de comunidade singular do
condomínio, centro de interesses comuns, que se sobrepõe ao interesse individual. 2. As despesas condominiais,
inclusive as decorrentes de decisões judiciais, são obrigações propter rem e, por isso, será responsável pelo seu
pagamento, na proporção de sua fração ideal, aquele que detém a qualidade de proprietário da unidade
imobiliária ou seja titular de um dos aspectos da propriedade (posse, gozo, fruição), desde que tenha
estabelecido relação jurídica direta com o condomínio, ainda que a dívida seja anterior à aquisição do imóvel. 3.

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Portanto, uma vez ajuizada a execução em face do condomínio, se inexistente patrimônio próprio para
satisfação do crédito, podem os condôminos ser chamados a responder pela dívida, na proporção de sua
fração ideal. 4. O bem residencial da família é penhorável para atender às despesas comuns de condomínio,
que gozam de prevalência sobre interesses individuais de um condômino, nos termos da ressalva inserta na
Lei n. 8.009/1990 (art. 3º, IV). 6. Recurso especial não provido”. (negritamos)
O STJ decidiu que é possível a penhora de bem de família de condômino, na proporção de sua fração
ideal, se inexistente patrimônio próprio do condomínio para responder por dívida oriunda de danos a terceiros.

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MAPA MENTAL

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FARIAS, Cristiano Chaves de. Manual de Direito Civil - Volume Único - 2. ed. atual. e ampl. - Salvador:
JusPodivm, 2018.

TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único - Volume Único - 8. ed. rev, atual. e ampl. - Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018.

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