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TRIBUNAIS
CAPÍTULO 6
Olá, aluno!
Afinal, queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior
aproveitamento, pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para
E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato através do e-mail pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
a gente!
Acreditamos que com esses recursos você estará munido com tudo que precisa para
alcançar a sua aprovação de maneira eficaz. Racionalizar a preparação dos nossos alunos é
mais que um objetivo para o CERS, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos
agora para o estudo da disciplina.
2
Recado para você que está assistindo às videoaulas
Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você
que está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do
nosso CERS Book. Portanto, você deve estar atento que:
Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas,
razão pela qual pode ser eventualmente repetido;
A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se
o capítulo 03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é
baseada no estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público,
por isso, nem todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou
legislativa;
3
CAPÍTULOS
4
SOBRE ESTE CAPÍTULO
No presente Capítulo vamos falar sobre os bens jurídicos e suas principais classificações.
Continuamos aqui, aprendendo sobre a Parte Geral do Direito Civil, ou seja, conceitos que
formam a base jurídica de todo concurseiro.
Como no capítulo anterior, a importância do presente tema é indireta, pois ele será
cobrado como conhecimento base para a resolução de outras questões, sendo que a
incidência direta dele é baixa, principalmente em provas de Tribunais. Porém, caso haja uma
questão que peça somente a classificação dos bens, está deverá ser acertada, pois é
considerada de nível fácil.
O tema de principal importância nesse capítulo é o bem de família. Vocês verão que há
um número muito maior de jurisprudência sobre esse tema que os anteriores, pois é uma
celeuma muito discutida nos tribunais superiores.
Outro tema de alta relevância são os bens públicos, o qual apenas mencionaremos e
daremos os conceitos presentes no Código Civil, mas que será tratado com profundidade em
Direito Administrativo.
A letra da lei é fundamental, uma vez que traz as diferenças de classificações entre os
5
SUMÁRIO
Capítulo 6 .................................................................................................................................................. 8
GABARITO ............................................................................................................................................... 40
6
LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 44
JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 45
7
DIREITO CIVIL
Capítulo 6
Você deve estar se perguntando o porquê essa classificação de bens é tão importante,
para ser tratada sozinha em um capítulo. Explicamos. Classifica-se porque a cada espécie
corresponde um regime jurídico próprio, em outras palavras, classificar é ordenar segundo
critérios próprios. Cada bem, deste modo, tem estabelecido regras próprias, distintas das
outras espécies.
6. Bens jurídicos
6.1 Conceito
Bens jurídicos são valores materiais ou imateriais que podem ser objeto de uma
relação de direito. Assim, o objeto da relação jurídica é todo bem que possa ser submetido
ao poder das pessoas, sejam elas naturais ou jurídicas.
CC).
Ocorre que com avanço da engenharia e da ciência em geral esse conceito perdeu
Por Natureza (ou por essência): É o solo (terreno) e tudo quanto se lhe
incorporar naturalmente (árvores, frutos pendentes, etc.), mais adjacências
9
podendo removê-lo sem destruição, modificação ou dano. Abrange os bens
móveis que, incorporados ao solo pelo trabalho do homem, passam a ser bens
imóveis. Ex: um caminhão de tijolos, cimento, caibros etc. São bens móveis.
lhe incorporar natural ou artificialmente"1, constante da parte final do art. 79 do Código Civil.
Não perdem o caráter de imóvel (ou seja, continuam sendo imóveis - art. 81 CC ):
Edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas
para outro local (ex: “casa pré-fabricada” transportada de uma localidade para outra).
1
Vide questão 3 do material
10
Por Acessão Intelectual (destinação do proprietário): São os bens móveis
que aderem a um bem imóvel pela vontade do dono, para dar maior utilidade
ao imóvel. Trata-se de uma ficção jurídica. Ex: um trator destinado a uma
Trata-se, também, de uma ficção jurídica. São eles: Direito à sucessão aberta,
Direitos reais sobre os imóveis, penhor agrícola e as ações que o asseguram,
176, CF/88).
Bens Móveis (art. 82, CC): São aqueles que podem ser removidos, transportados,
de um lugar para outro, por força própria ou estranha, sem alteração da substância
ou da destinação econômico-social.
Móveis por Natureza: São os bens que podem ser transportados de um local
para outro sem a sua destruição por força alheia, ou que possuem movimento
próprio.
11
Deslocam-se com força alheia os bens móveis propriamente ditos - carro, cadeira, livro, etc.
Deslocam-se com força própria (suscetíveis de movimento próprio)2 – os semoventes, ou
entanto se ela pode ser plantada especialmente para corte futuro (fábrica de
papel, transformação em lenha, etc.). Portanto, embora imóvel ela tem uma
Móveis por Determinação Legal: O art. 83, CC considera como bens móveis
para efeitos legais:
As energias que tenham valor econômico – a energia elétrica, embora não seja um bem
corpóreo, é considerada pela lei como sendo um bem móvel. Observem que o art. 155, §3°
do Código Penal também a equipara a energia um bem móvel, podendo ser objeto do
crime de furto.
Direitos reais sobre bens móveis e as ações correspondentes - ex: direito de propriedade
2
Vide questão 4 do material
12
Direitos pessoais de caráter patrimonial e as respectivas ações.
personalizados. Ex: imóveis de uma forma geral, veículos, um quadro famoso etc.
Fungíveis: São os bens móveis que podem ser substituídos por outros da mesma
arroz, uma resma de papel, gêneros alimentícios de uma forma geral, dinheiro.
Nesse ponto, vale a pena antecipar a correlação que o tema faz com a seara contratual,
tema que veremos mais detalhadamente adiante. O empréstimo de bens fungíveis chama-se
mútuo (transfere-se a propriedade), enquanto o empréstimo de bens infungíveis chama-se
3
Conforme vimos no Capítulo sobre Direitos da Personalidade, os direitos autorais são bem móveis.
4
Vide questão 2 do material
13
Consumíveis: São bens móveis, cujo uso normal importa na destruição imediata
da própria coisa. Admitem um uso apenas. Ex: gêneros alimentícios, bebidas, lenha,
cigarro, giz, dinheiro, gasolina etc5.
automóvel, casa etc., ainda que haja possibilidade de sua destruição em decorrência
do tempo.
folha de papel, uma quantidade de arroz, milho etc. Se repartirmos uma saca de
arroz, cada metade conservará as mesmas qualidades do produto.
Indivisíveis: São os bens que não podem ser fracionados em porções, pois
deixariam de formar um todo perfeito. Ex: uma joia, um anel, um par de sapatos etc.
No entanto a indivisibilidade pode ser subclassificada em:
café. Em tese é uma obrigação divisível (eu poderia entregar 50 sacas hoje e
5
Vide questão 10 do material
6
Vide questão 5 do material
14
50 na semana que vem). Mas pode ser pactuado no contrato a indivisibilidade
Bens Singulares ou Individuais: Os bens que, embora possam estar reunidos, são
mesma pessoa e ter destinação unitária (fim específico). Ex: biblioteca (livros),
pinacoteca (quadros), rebanho (bovino, ovino, suíno, caprino, etc.).
7
Vide questão 1 do material
8
Vide questão 7 do material
15
Principais: São os que existem por si, abstrata ou concretamente,
Acessórios: São aqueles cuja existência pressupõe a existência de outro bem; sua
existência e finalidade dependem de um bem principal. Ex: um fruto em relação à
árvore, uma árvore em relação ao solo, um prédio em relação ao solo, os juros etc.
É interessante esclarecer que esta regra não está mais explícita no atual Código Civil.
No entanto a doutrina é unânime em considerar que a mesma ainda prevalece em nosso
direito. Por essa razão, quem for o proprietário do principal, em regra, será também o do
acessório. Outro efeito: a natureza do principal será também a do acessório. Ex: se o solo é
imóvel, a árvore nele plantada também o será. É o chamado “princípio da gravitação jurídica”.
mantém intacta a substância do bem que as gera. Podem ser naturais (produz
por si mesma, independentemente do esforço humano), industriais (as
16
Produtos: São as utilidades que se retiram da coisa, alterando a sua
Os frutos e os produtos, mesmo que não separados do bem principal, já podem ser
objeto de negócio jurídico (art. 95, CC). Ex: posso vender uma possível safra de laranjas que
ainda estão ligadas ao principal, por ser prematura a sua colheita no momento do contrato.
viadutos etc.).
Pertenças: Segundo o art. 93, CC, são bens que se acrescem, como acessórios,
ao bem principal destinados, de modo duradouro, a conservar ou facilitar o
uso ou prestar serviço ou, ainda, servir de adorno ao bem principal, sem ser
parte integrante. Apesar de acessórios, conservam a sua individualidade e
17
autonomia. Ex: a moldura de um quadro; acessórios de um veículo; um trator
são indenizáveis.
bem se deteriore (art. 96, §3º, CC); se elas não forem feitas, a coisa pode
perecer. Ex: reforços em alicerces, reforma de telhados, substituição de
vigamento podre, desinfecção de pomar etc.
o Úteis: São as que aumentam ou facilitam o uso da coisa (art. 96, §2º,
CC); elas não são indispensáveis, mas se forem feitas darão um maior
aproveitamento à coisa. Ex: construção de uma garagem, de um lavabo
Porém, quando você compra e manda colocar, é pertença. Quando você empresta o carro e o
comodatário coloca o Toca CD é benfeitoria.
Por fim, vale dizer que a grande diferença entre benfeitorias e construções é que
Pertenças X Benfeitorias
9
Vide questão 8 do material
19
A classificação quanto às espécies de benfeitorias não é absoluta, pois uma mesma
Obs. informações mais aprofundadas sobre os bens públicos estão no caderno de direito administrativo.
20
6.5 Bem de Família
No Brasil a regra é que o devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações,
com todos os seus bens, presentes ou futuros, salvo as exceções previstas em lei. O bem de
Em nosso atual sistema coexistem duas espécies de bem de família: bem de família
voluntário (art. 1.711 e segs., CC) e bem de família legal (Lei n.º 8.009/90). Vejamos:
Parágrafo único. O terceiro poderá igualmente instituir bem de família por testamento
ou doação, dependendo a eficácia do ato da aceitação expressa de ambos os cônjuges
beneficiados ou da entidade familiar beneficiada.
21
Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com suas
pertenças e acessórios, destinando-se em ambos os casos a domicílio familiar, e poderá
abranger valores mobiliários, cuja renda será aplicada na conservação do imóvel e no
sustento da família.
Assim, gera dois efeitos principais: a impenhorabilidade por dívidas futuras (art. 1715,
No que tange à dívida tributária relativa ao prédio, veja esse recentíssimo julgado10 do
Superior Tribunal de Justiça, que pode ser objeto de questionamento na sua prova: para a
aplicação da exceção à impenhorabilidade do bem de família prevista no art. 3º, IV, da Lei nº
8.009/90 é preciso que o débito de natureza tributária seja proveniente do próprio imóvel que
se pretende penhorar. As hipóteses de exceção à regra da impenhorabilidade do bem de
Súmula 486 do STJ: “É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja
locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência
Por fim, os artigos 1721 e 1722 tratam da extinção do Bem de família voluntário,
dispondo o seguinte:
10
STJ. 3ª Turma. REsp 1332071-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 18/02/2020 (Info 665).
22
A dissolução da sociedade conjugal não extingue o bem de família.
Dissolvida a sociedade conjugal pela morte de um dos cônjuges, o sobrevivente
poderá pedir a extinção do bem de família, se for o único bem do casal.
Extingue-se, igualmente, o bem de família com a morte de ambos os cônjuges e a
maioridade dos filhos (capazes), desde que não sujeitos a curatela.
23
Art. 5º Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei, considera-se
residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia
permanente.
Ainda, a lei protegerá apenas o bem de menor valor, caso o casal ou entidade familiar
possua mais de um imóvel utilizado como residência. Desta forma, em caso de diversos
imóveis residenciais, a proteção automática legal do art. 5º, da Lei nº 8.009/90 abrangerá
apenas o imóvel de menor valor, portanto, caso o indivíduo queira proteger o bem de maior
valor, será necessária a instituição do bem de família voluntário conforme os arts. 1711 do
CC e ss.
Mas, atenção! O simples fato de o imóvel ser de luxo ou de elevado valor, por si só,
não afasta a proteção prevista na Lei nº 8.009/90. Assim, prevalece a proteção legal ao bem
de família, independentemente de seu padrão. O intérprete não pode fazer uma releitura da
lei a fim de excluir o imóvel da proteção do bem de família pelo simples fato de ela ser de
elevado valor11.
Súmula 205, STJ: a lei 8.009/90 aplica-se a penhora realizada antes de sua vigência.
11
STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 1199556/PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/06/2018.
24
Ademais, o STJ 12 admite a interpretação do parágrafo único do artigo 1º, que para
A regra de impenhorabilidade do bem de família trazida pela Lei nº 8.009/90 deve ser
examinada à luz do princípio da boa-fé objetiva, que, além de incidir em todas as relações
jurídicas, constitui diretriz interpretativa para as normas do sistema jurídico pátrio. Assim, se
pode conviver, tolerar e premiar a atuação dos devedores em desconformidade com a boa-fé
objetiva13.
Nos termos da súmula 449 do STJ, a vaga de garagem que possui matrícula própria no
registro de imóveis não constitui bem de família para efeito de penhora.
(art. 3º):
12
REsp. 968.907/RS.
13
STJ. 3ª Turma. REsp 1575243/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/03/2018. STJ. 2ª Turma. AgRg no
AREsp 510970/SC, Rel. Min. Aussete Magalhães, julgado em 18/04/2018.
25
VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal
condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.
VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.
14
STJ. 3ª Turma. REsp 1186265/RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 04/09/2012
15
RE 439.003/SP
16
AgRg no REsp 137.4805/SP
17
AgRg no Ag 115.2734/SP, AgRg no AREsp 72.620/DF, REsp 988.915/SP.
18
AgRg no REsp 813.546/DF, REsp 875.687/RS.
19
STJ. 3ª Turma. REsp 1.455.554-RN, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 14/6/2016 (Info 585).
26
A exceção prevista no art. 3º, inciso V, da Lei nº 8009/90, deve ser interpretada
restritivamente, somente atinge os bens que foram dados em garantia de dívidas contraídas
em benefício da própria família, não abrangendo bens dados em garantia de terceiros. (STJ.
Ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal
condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens: o bem
adquirido com produto de crime é penhorável mesmo que tenha havido extinção
da punibilidade pelo cumprimento do SURSIS processual. Na execução civil
movida pela vítima, não é oponível a impenhorabilidade do bem de família
adquirido com produto do crime, ainda que a punibilidade do acusado tenha sido
extinta em razão do cumprimento das condições estipuladas para a suspensão
condicional do processo20.
Obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação: de acordo
com STJ, é constitucional e possível a penhora do bem de família do fiador na
locação geral. Mesmo que o fiador renuncie ao benefício de ordem, sua obrigação
é subsidiária. Se a pessoa tem um imóvel familiar, ele é impenhorável, enquanto o
do fiador não. Atenção, Aluno!!! Não é penhorável o bem de família do fiador no
caso de contratos de locação comercial. Em outras palavras, não é possível a
penhora de bem de família do fiador em contexto de locação comercial 21.
20
Informativo 575, STJ
21
STF. 1ª Turma. RE 605709/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, red. p/ ac. Min. Rosa Weber, julgado em 12/6/2018 (Info
906).
27
O Superior Tribunal de Justiça sumulou o entendimento que o conceito de bem de
família abrange o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas (Súmula 364).
Ademais, a Súmula 486 do mesmo tribunal dispõe que se estende, ainda, ao único imóvel do
devedor, ainda que este se ache locado a terceiros, por gerar frutos que possibilitam à família
constituir moradia em outro bem alugado.
Súmula 549 do STJ: É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato
de locação.
Aluno, lembre-se que essa súmula somente vale para quando a fiança é realizada em
contrato de locação residencial. Caso seja um contrato de locação empresarial, irá prevalecer o
Contudo, mais uma vez a lei traz uma exceção: no caso de imóvel locado, a
impenhorabilidade aplica-se aos bens móveis quitados que guarneçam a residência e que
sejam de propriedade do locatário, observado o disposto neste artigo.
28
6.6 Bens Gravados com Cláusula de Inalienabilidade
São aqueles que se tornam inalienáveis pela vontade humana, por meio de uma
cláusula temporária ou vitalícia, nos casos previstos em lei, por ato inter vivos (ex: doação)
Ex: um pai, percebendo que seu filho irá dilapidar o patrimônio, faz um testamento,
com essa cláusula especial, a fim de que os bens não saiam do patrimônio do filho,
O art. 1.911, CC determina que “a cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por
justa causa para essa sua decisão de tornar o bem inalienável (art. 1.848, CC), ou seja, deverá
justificar o porquê desta medida. Um caso justificável é a prodigalidade do filho.
29
QUADRO SINÓPTICO
BENS
Bens são valores materiais ou imateriais que podem ser objeto de uma relação de
CONCEITO
direito.
Corpóreos (materiais, tangíveis ou concretos): os que possuem
existência física;
DOUTRINÁRIA
Incorpóreos (imateriais, intangíveis ou abstratos): são os que não
existem fisicamente (possuem uma existência abstrata);
BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS
BENS QUANTO À MOBILIDADE
30
BENS QUANTO À INDIVIDUALIDADE
31
Acarreta inalienabilidade e impenhorabilidade do bem.
Admitem-se apenas duas exceções: dívidas decorrentes de
condomínio e as dívidas tributárias que recaem sobre o bem.
Este independe de valor;
Prescinde (dispensa) a individualização em escritura e registro
cartorário;
Ocorre uma impenhorabilidade do bem de família derivada
automaticamente da lei;
Não há inalienabilidade.
EXCEÇÕES À IMPENHORABILIDADE (ART. 3º):
Titular do crédito decorrente do financiamento destinado à
construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e
LEGAL acréscimos constituídos em função do respectivo contrato;
Credor de pensão alimentícia;
Cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições
devidas em função do imóvel familiar;
Execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real
pelo casal ou pela entidade familiar;
Adquirido com produto de crime ou para execução de sentença
penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de
bens.
Obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.
32
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
(Banca: FGV - 2020 - TJ-RS - Oficial de Justiça) De acordo com o Código Civil brasileiro, é
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comentário:
CERTO. São singulares os bens que, embora reunidos, se consideram de per si,
Questão 2
(Banca: FGV - 2020 - TJ-RS - Oficial de Justiça) De acordo com o Código Civil brasileiro, é
correto afirmar que os bens fungíveis e móveis podem ser substituídos por outros de mesma
espécie e quantidade.
( ) CERTO
( ) ERRADO
33
Comentário:
ERRADO. Art. 85. São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da
mesma espécie, qualidade e quantidade.
Questão 3
(Banca: FGV - 2020 - TJ-RS - Oficial de Justiça) De acordo com o Código Civil brasileiro, é
correto afirmar que os bens imóveis incluem tudo que for incorporado ao solo, desde que seja
de forma natural, inclusive o próprio solo.
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comentário:
ERRADO. Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou
artificialmente.
Questão 4
(Banca: FGV - 2020 - TJ-RS - Oficial de Justiça) De acordo com o Código Civil brasileiro, é
correto afirmar que os bens móveis são suscetíveis de movimento próprio sem alteração da
substância ou destinação econômica e social, exceto os bens de remoção por força alheia.
( ) CERTO
( ) ERRADO
34
Comentário:
ERRADO. Tratam-se dos bens móveis por natureza, que se dividem em semoventes, que
são os animais, e bens móveis propriamente ditos, que admitem remoção por força
alheia, sem dano, como os objetos inanimados (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito
Civil Brasileiro. Parte Geral. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 1. p. 290).
Questão 5
(Banca: FGV - 2020 - TJ-RS - Oficial de Justiça) De acordo com o Código Civil brasileiro, é
correto afirmar que os bens divisíveis podem ser fracionados sem alterar sua substância,
mesmo com diminuição considerável de valor, desde que sem prejuízo do uso a que se
destina.
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comentário:
ERRADO. Bens divisíveis são os que se podem fracionar SEM alteração na sua
substância, DIMINUIÇÃO CONSIDERÁVEL DE VALOR, ou prejuízo do uso a que se
destinam" (art. 87 do CC). Exemplo: sacas de café, que podem ser divididas sem
Questão 6
35
(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2020 - TJ-PA - Oficial de Justiça - Avaliador) O Código Civil
classifica os bens públicos como de uso comum, de uso especial e dominicais. Entre esses,
apenas os dominicais estão sujeitos a usucapião, por seguirem o regime de direito privado.
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comentário:
ERRADO. Nos termos do artigo 102 do Código Civil, os bens públicos não estão sujeitos
a usucapião. Conforme lições de Flávio Tartuce: "A expressão contida no dispositivo
legal engloba tanto os bens de uso comum do povo como os de uso especial e
dominicais".
Questão 7
(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2019 - TJ-AM - Analista Judiciário - Oficial de Justiça
Avaliador) De acordo com o Código Civil, julgue o próximo item, acerca de classes de bens,
associações, fundações, prova do fato jurídico e atos jurídicos.
O espólio e a massa falida são exemplos de bens coletivos classificados como universalidade
de fato.
( ) CERTO
( ) ERRADO
36
Comentário:
independentemente das demais (CC, art. 89). As coisas singulares poderão ser simples
ou compostas. Serão simples se formarem um todo homogêneo, cujas partes
componentes estão unidas em virtude da própria natureza ou da ação humana, sem
reclamar quaisquer regulamentações especiais por norma jurídica. Podem ser materiais
(pedra, caneta-tinteiro, folha de papel, cavalo) ou imateriais (crédito). As coisas
compostas são aquelas cujas partes heterogêneas são ligadas pelo engenho humano,
hipótese em que há objetos independentes que se unem num só todo sem que
desapareça a condição jurídica de cada parte. P. ex.: materiais de construção que estão
ligados à edificação de uma casa.
relações jurídicas), a que a norma jurídica, com o intuito de produzir certos efeitos, dá
unidade, por serem dotados de valor econômico, como, p. ex., o patrimônio, a herança
Assim, é errado afirmar que o espólio e a massa falida são exemplos de bens coletivos
classificados como universalidade de fato, pois os mesmos são classificados como uma
universalidade de direito.
Questão 8
37
(Banca: FCC - 2018 - TRT - 15ª Região (SP) - Analista Judiciário - Área Judiciária) Em
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comentário:
(aluvião, avulsão, formação de ilhas e abandono de álveo). Não são indenizáveis por não
decorrerem do esforço do possuidor ou do detentor do imóvel, mas da própria
Questão 9
(Banca: FCC - 2018 - TRT - 15ª Região (SP) - Analista Judiciário - Área Judiciária) Os
materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam sua
qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolição de algum
prédio.
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comentário:
38
CERTO. Art. 84. Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem
Questão 10
(Banca: FCC - 2018 - TRT - 15ª Região (SP) - Analista Judiciário - Área Judiciária) São
consumíveis os bens móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade
e quantidade.
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comentário:
ERRADO. Art. 86. São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata
da própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação.
39
GABARITO
Questão 1 - CERTO
Questão 2 - ERRADO
Questão 3 - ERRADO
Questão 4 - ERRADO
Questão 5 - ERRADO
Questão 6 - ERRADO
Questão 7 - ERRADO
Questão 8 - ERRADO
Questão 9 - CERTO
Questão 10 - ERRADO
40
QUESTÃO DESAFIO
41
GABARITO QUESTÃO DESAFIO
impenhorável, já que o imóvel residencial locado a terceiro pode ser considerado “bem de
família”. E, em relação ao bem de Luiz, ele será “bem de família”, já que a
impenhorabilidade atinge o imóvel de pessoas solteiras.
Quanto à penhora do bem de José, como renda obtida com a locação está sendo
revertida em proveito do seu sustento ou da família, o imóvel não perderá a condição de bem
de família, a teor do disposto na súmula 486, STJ, sendo, portanto, impenhorável. De acordo
com a súmula 486 do STJ: “É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja
locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência
ou a moradia da sua família”. Assim, de acordo com a lição de Flávio Tartuce, o STJ: “nada
mais faz do que proteger a moradia de forma indireta, conforme ordena o art. 6.º da CF/1988.
A situação pode ser denominada como do bem de família indireto.” (Tartuce, Flávio. Direito
civil: lei de introdução e parte geral – v. 1 – 15. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 489).
Por outro lado, quanto ao bem de Luiz, a penhora fora indevida, haja vista que o
Pamplona Filho são bastantes categóricos ao concordarem com tal posicionamento, vejamos:
“à luz da regra de ouro do art. 5.º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (“na
aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem
comum”), não se pode aceitar que uma interpretação restritiva negue o benefício da lei aos
componentes remanescentes de uma família, que, por infelicidade ou por força do próprio
destino, acabou se desfazendo ao longo dos anos. Dentro desse raciocínio, como negar o
42
amparo ao devedor solteiro, que resida com sua tia, viúva, e que nunca se casou ou teve
filhos? Não haveria uma comunidade de existência entre tia e sobrinho digna de proteção?
Como negar o benefício – e nesse ponto já há algum avanço na jurisprudência – à viúva cujos
filhos já foram levados pela vida, e que mora sozinha em sua casa, único bem que lhe restou?
Deverá ser posta para fora do seu último abrigo, para que a sociedade a ampare?” (Gagliano,
Pablo Stolze; Pamplona Filho, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 1: parte geral – 21.
ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 418).
Desse modo, pouco importa se o proprietário é casado, solteiro, viúvo, será considerado
bem de família o bem imóvel que a lei resguarda com os característicos de inalienabilidade e
impenhorabilidade, em benefício da constituição e permanência de uma moradia.
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LEGISLAÇÃO COMPILADA
Bens
É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida
com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua família.
O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras,
separadas e viúvas.
A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis não constituir bem de família para efeito
de penhora.
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JURISPRUDÊNCIA
STJ. 3ª Turma. REsp 1667227-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/06/2018 (Info
629).
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para se chegar a compreensão de que foi o devedor fiduciário o responsável por sua colocação no caminhão por
ele financiado. 3. Recurso especial provido”. (negritamos)
Comentário:
restituir o bem ao credor fiduciante, o motorista pôde retirar e ficar com o equipamento de
monitoramento que havia acrescentado ao caminhão, uma vez que este foi considerado
STJ. 4ª Turma. REsp 1305183-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info
594).
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Comentário:
O presente julgado traz hipótese semelhante ao caso anterior. De acordo com o STJ, os
instrumentos de adaptação para condução veicular por deficiente físico, em relação ao
carro principal, onde estão acoplados, enquanto bens, classificam-se como pertenças. Assim,
se o devedor fiduciante tiver que entregar o bem principal, ele poderá retirar os aparelhos de
Bem de família
STJ. REsp 1.182.108-MS, Rel Min. Aldir Passarinho Júnior, 4a Turma, julgado em 12/04/2011.
Comentário:
De acordo com o STJ, apesar de os honorários advocatícios terem natureza
alimentícia, sua cobrança não justifica a penhora do bem de família. O STJ fez, no caso,
uma interpretação literal do art. 3º da Lei 8.00/1990, e afirmou que não cabe ao magistrado
realizar uma interpretação extensiva.
STJ. REsp 950.663-SC, Min. Rel. Luis Felipe Salomão, 4a Turma, julgado em 23/04/2012.
EMENTA: “PROCESSO CIVIL. DIREITO CIVIL. EXECUÇÃO. LEI 8.009/90. PENHORA DE BEM DE FAMÍLIA. DEVEDOR
NÃO RESIDENTE EM VIRTUDE DE USUFRUTO VITALÍCIO DO IMÓVEL EM BENEFÍCIO DE SUA GENITORA. DIREITO
À MORADIA COMO DIREITO FUNDAMENTAL. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. ESTATUTO DO IDOSO.
IMPENHORABILIDADE DO IMÓVEL. 1. A Lei 8.009/1990 institui a impenhorabilidade do bem de família como um
dos instrumentos de tutela do direito constitucional fundamental à moradia e, portanto, indispensável à
composição de um mínimo existencial para vida digna, sendo certo que o princípio da dignidade da pessoa
humana constitui-se em um dos baluartes da República Federativa do Brasil (art. 1º da CF/1988), razão pela qual
deve nortear a exegese das normas jurídicas, mormente aquelas relacionadas a direito fundamental. 2. A Carta
Política, no capítulo VII, intitulado "Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso", preconizou
especial proteção ao idoso, incumbindo desse mister a sociedade, o Estado e a própria família, o que foi
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regulamentado pela Lei 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), que consagra ao idoso a condição de sujeito de todos
os direitos fundamentais, conferindo-lhe expectativa de moradia digna no seio da família natural, e situando o
idoso, por conseguinte, como parte integrante dessa família. 3. O caso sob análise encarta a peculiaridade de a
genitora do proprietário residir no imóvel, na condição de usufrutuária vitalícia, e aquele, por tal razão,
habita com sua família imóvel alugado. Forçoso concluir, então, que a Constituição Federal alçou o direito à
moradia à condição de desdobramento da própria dignidade humana, razão pela qual, quer por considerar
que a genitora do recorrido é membro dessa entidade familiar, quer por vislumbrar que o amparo à mãe idosa
é razão mais do que suficiente para justificar o fato de que o nu-proprietário habita imóvel alugado com
sua família direta, pessoa estreme de dúvidas que o seu único bem imóvel faz jus à proteção conferida pela
Lei 8.009/1990. 4. Ademais, no caso ora sob análise, o Tribunal de origem, com ampla cognição fático-
probatória, entendeu pela impenhorabilidade do bem litigioso, consignando a inexistência de propriedade sobre
outros imóveis. Infirmar tal decisão implicaria o revolvimento de fatos e provas, o que é defeso a esta Corte ante
o teor da Súmula 7 do STJ. 5. Recurso especial não provido ” (negritamos).
Comentário:
No caso acima, temos a seguinte situação jurídica: há um imóvel sobre o qual incide um
usufruto, em que o filho é o nu-proprietário e a mãe, usufrutuária. O filho não mora na
propriedade, quem lá reside é sua genitora.
Este imóvel poderia ser penhorado? Melhor dizendo, caso o filho estivesse sendo
executado em um processo e o exequente pedisse a penhora dessa propriedade, isso seria
possível? O STJ decidiu que, em regra, a nua propriedade é suscetível de constrição
judicial, salvo se o imóvel do executado for considerado bem de família.
Assim, em tese, a penhora poderia ter sido aceita. No entanto, a penhora não foi
admitida porque o imóvel é utilizado como bem de família pela mãe do executado.
No caso, então, a proteção conferida pela lei nº 8009/1990 foi estendida ao imóvel do
executado, pois a Constituição Federal alçou o direito à moradia à condição de
desdobramento da própria dignidade humana. Ainda, a Carta Magna, em especial, conferiu
ao idoso expectativa de moradia digna no seio da família natural e foi aplicado o Estatuto do
Idoso.
STJ. REsp 1417629/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, 3ª Turma, julgado em 10/12/2013.
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TERRENO NÃO CONSTRUÍDO. INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA DAS IMPENHORABILIDADES. NATUREZA DE BEM
DE FAMÍLIA NÃO COMPROVADA. ARTS. ANALISADOS: 1º E 5º, LEI 8.009/90. 1. Ação de execução de título
extrajudicial, distribuída em 1986, da qual foi extraído o presente recurso especial, concluso ao Gabinete em
13/05/2013. 2. Discute-se se o único imóvel do espólio - terreno alugado para empresa que nele explora serviço
de estacionamento - pode ser considerado bem de família dos herdeiros, e, portanto, insuscetível de penhora
para garantir o pagamento de dívidas do falecido. 3. Para que fique caracterizada a negativa de prestação
jurisdicional, a omissão apontada deve ser relevante para o deslinde da controvérsia, do contrário não há falar
em violação do art. 535 do CPC. 4. A interposição de recurso especial não é cabível por suposta violação de
dispositivo constitucional ou de qualquer ato normativo que não se enquadre no conceito de lei federal,
conforme disposto no art. 105, III, "a" da CF/88. 5. Os dispositivos indicados como violados não foram objeto de
expresso prequestionamento pelo Tribunal de origem, o que importa na incidência do óbice da Súmula 282/STF.
6. O fato de se tratar de terreno não edificado é circunstância que, por si só, não obsta sua qualificação
como bem de família, na medida em que tal qualificação pressupõe a análise, caso a caso, da finalidade
realmente atribuída ao imóvel (interpretação teleológica das impenhorabilidades). 7. No particular,
evidenciado que o recorrente se vale da alegada proteção ao bem de família apenas para tentar preservar o
valioso imóvel do espólio, o reconhecimento da impenhorabilidade do bem constitui, numa ponderação de
valores, verdadeira afronta ao direito fundamental do credor à tutela executiva e, em maior grau, ao acesso à
ordem jurídica justa - célere, adequada e eficaz -, que tanto se busca, na moderna concepção do devido
processo legal. 8. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, desprovido .” (negritamos)
Comentário:
De acordo com esse julgado, o STJ decidiu que o terreno não edificado também pode
ser considerado bem de família, dependendo do caso concreto.
STJ. REsp 1.455.554-RN, Rel. Min. João Otávio de Noronha, 3ª Turma, julgado em 14/6/2016
(Info 585).
EMENTA: “CIVIL. DIREITO REAL DE GARANTIA. HIPOTECA. VALIDADE. AVERBAÇÃO NO CARTÓRIO DE REGISTRO
DE IMÓVEIS. NÃO OCORRÊNCIA. BEM DE FAMÍLIA. EXCEÇÃO À REGRA DA IMPENHORABILIDADE. HIPÓTESE
CONFIGURADA. 1. Nos termos do art. 3º, V, da Lei n. 8.009/90, ao imóvel dado em garantia hipotecária não
se aplica a impenhorabilidade do bem de família na hipótese de dívida constituída em favor da entidade
familiar. 2. A hipoteca se constitui por meio de contrato (convencional), pela lei (legal) ou por sentença
(judicial) e desde então vale entre as partes como crédito pessoal. Sua inscrição no cartório de registro de
imóveis atribui a tal garantia a eficácia de direito real oponível erga omnes. 3. A ausência de registro da
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hipoteca não afasta a exceção à regra de impenhorabilidade prevista no art. 3º, V, da Lei n. 8.009/90;
portanto, não gera a nulidade da penhora incidente sobre o bem de família ofertado pelos proprietários como
garantia de contrato de compra e venda por eles descumprido. 4. Recurso especial provido” (negritamos).
Comentário:
com base no art. 3º, V, da Lei nº 8.009/90, mesmo sem a hipoteca estar registrada no
cartório de Registro de Imóveis.
Assim, o fato de a hipoteca não ter sido registrada não pode ser utilizado como
STJ. REsp 1091236-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, 4ª Turma, julgado em 15/12/2015 (Info 575).
Comentário:
No caso concreto, o agente “A” cometeu estelionato contra a empresa “Z”, comprando
uma casa com o dinheiro auferido. O Ministério Público ofereceu denúncia contra o acusado e
ele aceitou a proposta de suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei nº 9.099/95).
A empresa “Z” não se conformou em ter ficado com o prejuízo advindo do estelionato
e ajuizou uma ação na seara cível, cobrando os R$200.000,00 que havia perdido, o que só
poderia ser efetivado pela penhora da casa comprada com o produto do crime.
“A” alegou que a casa que ele comprou com os 200 mil reais é bem de família, não
podendo, portanto, ser penhorada. Além disso, afirmou que, em seu caso, não pode ocorrer
a penhora pois não houve uma sentença criminal transitada em julgado, já que ele cumpriu
todos os requisitos da suspensão condicional do processo.
A tese de “A” não foi aceita, diante do que dispõe o art. 3º, VI, Lei 8.009/90. A
primeira parte do inciso VI (“adquirido com produto de crime”) não exige a prévia existência
de sentença penal condenatória. Esta só é exigida realmente na segunda hipótese do
dispositivo.
STJ. 3ª Turma. AgRg no AREsp 806.099/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
08/03/2016.
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família - deve ser estendida também aos casos em que o proprietário firma contrato de promessa de
compra e venda do imóvel e, após receber parte do preço ajustado, se recusa a adimplir com as obrigações
avençadas ou a restituir o numerário recebido, e não possui outro bem passível de assegurar o juízo da
execução. 2. Agravo regimental desprovido”. (negritamos)
Comentário:
Primeiro, cabe destacar a exceção à impenhorabilidade do bem de família contida no
art. 3º, II, da Lei nº 8.009/90. De acordo com tal dispositivo é possível a penhora do bem de
família para a cobrança de “crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à
aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo
contrato”.
De acordo com o STJ, essa exceção pode ser aplicada também aos imóvel objeto do
contrato de promessa de compra e venda não cumprido.
Por exemplo, se o proprietário (promitente vendedor) de um imóvel, que firmou um
contrato de promessa de compra e venda, após receber parte do valor do imóvel do
comprador, recusa-se a cumprir sua parte do contrato ou a restituir o valor já pago.
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1619189/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
25/10/2016.
Comentário:
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De acordo com o STJ, cabe a penhora do bem de família para pagamento de dívidas de
pensão decorrente de vínculo familiar ou de ato ilícito (art. 3º, III, da Lei nº 8.009/90). Por
outro lado, não é cabível a penhora de bem de família para o pagamento de indenização por
ato ilícito, por exemplo, se uma pessoa bate no carro de outra e deve ressarcir o dano
causado ao carro. No entanto, se o dano é decorrente de ato ilícito previamente reconhecido
como crime na esfera penal, é cabível a penhora do bem de família, de acordo com o art.
3º, VI, 8.009/90.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1669123/RS, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador convocado
do TRF 5ª Região), julgado em 15/03/2018.
Comentário:
O STJ firmou, neste julgado, que o fato de o imóvel ser de elevado valor não o faz,
por si só, penhorável. Deve-se avaliar se é caso ou não de bem de família. Se for bem de
família, o imóvel estará protegido pela impenhorabilidade prevista pela Lei 8.009/1990. O
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juiz não pode interpretar a lei de forma diversa do que ela dispõe, sob pena de se imiscuir na
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1518503/PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
21/09/2017.
EMENTA: “AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. ARTIGO 535 DO CPC/1973.
VIOLAÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. MULTA. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. SÚMULA Nº 7/STJ. FUNDAMENTO NÃO
ATACADO. SÚMULA Nº 283/STF. ENCARGOS CONTRATUAIS. INCIDÊNCIA. EFETIVO PAGAMENTO. BEM DE
FAMÍLIA. IMPENHORABILIDADE. PRECLUSÃO. 1. Não há falar em negativa de prestação jurisdicional se o tribunal
de origem motiva adequadamente sua decisão, solucionando a controvérsia com a aplicação do direito que
entende cabível à hipótese, apenas não no sentido pretendido pela parte. 2. O afastamento da multa por
litigância de má-fé depende, na hipótese, da análise do conteúdo fático da demanda, providência que esbarra no
óbice da Súmula nº 7/STJ. 3. Na hipótese, a ausência de impugnação de fundamento suficiente para a
manutenção da multa por litigância de má-fé atrai a incidência da Súmula nº 283/STF. 4. De acordo com a firme
jurisprudência desta Corte, os encargos contratuais continuam a incidir até o efetivo pagamento. 5. A
impenhorabilidade de bem de família pode ser alegada a qualquer tempo e grau de jurisdição. No entanto,
uma vez decidido o tema, não pode ser reeditado, pois acobertado pela preclusão. Precedentes. 6. Agravo
interno não provido”. (negritamos)
Comentário:
(o que pode ocorrer a qualquer tempo e grau de jurisdição) e já houve uma decisão sobre
isso, o tema não poderá mais ser rediscutido, pois abarcado pela preclusão consumativa.
STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 510970/SC, Rel. Min. Aussete Magalhães, julgado em 18/04/2018.
54
se o reconhecimento de fraude à execução, pela alienação do único imóvel dos executados a um de seus
parentes, é causa de afastamento da garantia de impenhorabilidade do bem de família. 4. A ausência de
expressa indicação de obscuridade, omissão ou contradição nas razões recursais enseja o não conhecimento
da alegada violação do art. 535 do CPC/73. 5. A indicação de violação genérica à lei federal, sem
particularização dos dispositivos que teriam sido afrontados pelo acórdão recorrido, implica deficiência na
fundamentação do recurso especial e atrai a incidência da Súmula 284/STF. 6. A regra de impenhorabilidade
do bem de família trazida pela Lei 8.009/90 deve ser examinada à luz do princípio da boa-fé objetiva,
que, além de incidir em todas as relações jurídicas, constitui diretriz interpretativa para as normas do
sistema jurídico pátrio. 7. Nesse contexto, caracterizada fraude à execução na alienação do único imóvel
dos executados, em evidente abuso de direito e má-fé, afasta-se a norma protetiva do bem de família,
que não pode conviver, tolerar e premiar a atuação dos devedores em desconformidade com o cânone
da boa-fé objetiva. Precedentes. 8. Recurso especial parcialmente conhecido, e, nessa extensão, não
provido”. (negritamos)
Afasta-se a proteção conferida pela Lei nº 8.009/90 ao bem de família, quando caracterizado abuso do direito
de propriedade, violação da boa-fé objetiva e fraude à execução. A regra de impenhorabilidade do bem de
família trazida pela Lei nº 8.009/90 deve ser examinada à luz do princípio da boa-fé objetiva, que, além de
incidir em todas as relações jurídicas, constitui diretriz interpretativa para as normas do sistema jurídico
pátrio. Assim, se ficou caracterizada fraude à execução na alienação do único imóvel dos executados, em
evidente abuso de direito e má-fé, afasta-se a norma protetiva do bem de família, que não pode conviver,
tolerar e premiar a atuação dos devedores em desconformidade com a boa-fé objetiva.
REsp 1.616.475-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016, DJe 11/10/2016.
EMENTA: “PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. IMPENHORABILIDADE. IMÓVEL COMERCIAL UTILIZADO PARA
O PAGAMENTO DA LOCAÇÃO DE SUA RESIDÊNCIA. CARACTERIZAÇÃO COMO BEM DE FAMÍLIA. 1. O STJ
pacificou a orientação de que não descaracteriza automaticamente o instituto do bem de família, previsto na Lei
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8.009/1990, a constatação de que o grupo familiar não reside no único imóvel de sua propriedade. Precedentes:
AgRg no REsp 404.742/RS, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 19/12/2008 e AgRg no REsp
1.018.814/SP, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJe 28/11/2008. 2. A Segunda Turma também possui
entendimento de que o aluguel do único imóvel do casal não o desconfigura como bem de família. Precedente:
REsp 855.543/DF, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJ 03/10/2006. 3. Em outra oportunidade,
manifestei o meu entendimento da impossibilidade de penhora de dinheiro aplicado em poupança, por se
verificar sua vinculação ao financiamento para aquisição de imóvel residencial. 4. Adaptado o julgamento à
questão presente, verifico que o Tribunal de origem concluiu estar o imóvel comercial diretamente vinculado ao
pagamento da locação do imóvel residencial, tornando-o impenhorável. 5. Recurso Especial não provido”.
(negritamos)
STJ. 4ª Turma. REsp 1473484-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/06/2018 (Info
631).
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Portanto, uma vez ajuizada a execução em face do condomínio, se inexistente patrimônio próprio para
satisfação do crédito, podem os condôminos ser chamados a responder pela dívida, na proporção de sua
fração ideal. 4. O bem residencial da família é penhorável para atender às despesas comuns de condomínio,
que gozam de prevalência sobre interesses individuais de um condômino, nos termos da ressalva inserta na
Lei n. 8.009/1990 (art. 3º, IV). 6. Recurso especial não provido”. (negritamos)
O STJ decidiu que é possível a penhora de bem de família de condômino, na proporção de sua fração
ideal, se inexistente patrimônio próprio do condomínio para responder por dívida oriunda de danos a terceiros.
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MAPA MENTAL
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FARIAS, Cristiano Chaves de. Manual de Direito Civil - Volume Único - 2. ed. atual. e ampl. - Salvador:
JusPodivm, 2018.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único - Volume Único - 8. ed. rev, atual. e ampl. - Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018.
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