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CERS TRIBUNAIS

TRIBUNAIS

CAPÍTULO 3
Olá, aluno!

Bem-vindo ao estudo para os concursos de Tribunais. Preparamos todo esse material


para você não só com muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade,

garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma


inteligente.

O CERS Book é um material em PDF desenvolvido especificadamente para a sua


carreira. O material tem o objetivo de ser autossuficiente e totalmente direcionado, dando

prioridade aos pontos mais importantes de cada disciplina!

Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com


fins de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital.

Afinal, queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior
aproveitamento, pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para

otimizar seu estudo sempre!

Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo


completo que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a
estrutura do CERS Book foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar
especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada
capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto
com a leitura de jurisprudência selecionada.

E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou

comentários, entre em contato através do e-mail pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
a gente!

O que você vai encontrar aqui?

 Recorrência da disciplina e de cada assunto dentro dela


 Questões comentadas
1
 Questão desafio para aprendizagem proativa
 Jurisprudência comentada
 Indicação da legislação compilada para leitura
 Quadro sinótico para revisão
 Mapa mental para fixação

Acreditamos que com esses recursos você estará munido com tudo que precisa para
alcançar a sua aprovação de maneira eficaz. Racionalizar a preparação dos nossos alunos é

mais que um objetivo para o CERS, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos
agora para o estudo da disciplina.

Faça bom uso do seu PDF!

2
Recado para você que está assistindo às videoaulas

Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você
que está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do
nosso CERS Book. Portanto, você deve estar atento que:

O CERS book foi desenvolvido para complementar a aula do professor e te dar um


suporte nas revisões!

Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas,
razão pela qual pode ser eventualmente repetido;

A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se
o capítulo 03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é

baseada no estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público,
por isso, nem todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou
legislativa;

Esperamos que goste do conteúdo!

3
CAPÍTULOS

Capítulo 1 – LINDB - Lei de Introdução às Normas do Direito



Brasileiro
Capítulo 2 – Teoria Geral do Direito 

Capítulo 3 (você está aqui!) – Pessoa Jurídica 

Capítulo 4 – Direitos da Personalidade 


Capítulo 5 – Domicílio 
Capítulo 6 – Bens Jurídicos 
Capítulo 7 – Teoria do ato, fato e negócio jurídico 

Capítulo 8 – Prescrição e Decadência 

Capítulo 9 – Prova do Negócio Jurídico 

Capítulo 10 – Teoria Geral das Obrigações 


Capítulo 11 – Adimplemento, extinção e inadimplemento das

obrigações

Capítulo 12 – Responsabilidade Civil 


Capítulo 13 – Teoria Geral dos Contratos 
Capítulo 14 – Contratos em espécie I 
Capítulo 15 – Contratos em espécie II 
Capítulo 16 – Posse e Direitos Reais 
Capítulo 17 – Direito de família 
Capítulo 18 – Direito sucessório 

4
SOBRE ESTE CAPÍTULO

Prezados Alunos,

Neste capítulo trataremos sobre o Título I e II do Código Civil, chamados Das Pessoas
Naturais e Das Pessoas Jurídicas, com a exceção do capítulo sobre os direitos da
personalidade, o qual será estudado no Capítulo 4.

Os temas aqui explicados são de fundamental conhecimento pelo aluno, pois, quando
cobrados em provas objetivas de Tribuanis, as questões são consideradas de nível fácil em
sua grande maioria. Nesses assuntos, por não serem de grande complexidade, não pode haver
perda de pontuação na prova.

A leitura e memorização de tais Títulos do Código Civil, ou seja, da letra da lei, é


essencial, uma vez que dificilmente as perguntas fogem de sua literalidade.

Preste atenção nas diferenciações entre as espécies de pessoas jurídicas, porque além
de serem base para a Parte Geral do Direito Civil, têm implicação em outras matérias,
principalmente no direito empresarial e no direito tributário.

Outra parte que merece ênfase é a desconsideração da personalidade jurídica. Você


deve ser capaz de diferenciar suas espécies e requisitos respectivos com facilidade.

Sem mais delongas, vamos aos estudos!

5
SUMÁRIO

DIREITO CIVIL ........................................................................................................................................... 8

Capítulo 3 .................................................................................................................................................. 8

3. Pessoas físicas e jurídicas ............................................................................................................... 8

3.1 Personalidade.......................................................................................................................................................... 8

3.2 Pessoa física ou natural................................................................................................................................... 11

3.2.1 O nascituro........................................................................................................................................................... 12

3.2.2 Capacidade e incapacidade .......................................................................................................................... 18

 Capacidade e o Estatuto da Pessoa com Deficiência ....................................................................... 19

 Maioridade e emancipação ........................................................................................................................... 25

 Casamento ............................................................................................................................................................ 28

3.2.3 Extinção de Personalidade da Pessoa Natural ..................................................................................... 29

 Morte presumida com decretação da ausência .................................................................................. 30

3.2.4 Comoriência......................................................................................................................................................... 32

3.3 Pessoa Jurídica .................................................................................................................................................... 33

3.3.1 Teorias explicativas e criação da pessoa jurídica ................................................................................ 34

3.3.2 Classificações das pessoas jurídicas .......................................................................................................... 37

 Pessoas Jurídicas de Direito Público Interno ......................................................................................... 37

 Pessoas jurídicas de Direito Público Externo ......................................................................................... 37

 Pessoas Jurídicas de Direito Privado ......................................................................................................... 38

3.3.3 Administração da Pessoa Jurídica ............................................................................................................... 39

3.3.4 Desconsideração da Personalidade jurídica ........................................................................................... 39

 Teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica ......................................................... 40

 Teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica ........................................................ 44

6
 Incidente de desconsideração de personalidade jurídica ................................................................ 45

 Modalidades de desconsideração da personalidade jurídica ......................................................... 46

3.3.5 Dissolução da Pessoa Jurídica ...................................................................................................................... 48

3.3.6 Associações ........................................................................................................................................................... 49

 Características das associações .................................................................................................................... 49

 Constituição da associação ............................................................................................................................ 50

 Exclusão dos associados ................................................................................................................................. 50

3.3.7 Fundações ............................................................................................................................................................. 51

 Conceito e Finalidades ..................................................................................................................................... 51

 Procedimentos para a Criação de uma Fundação .............................................................................. 52

 Fiscalização e Requisitos para alteração do estatuto......................................................................... 53

 Término das fundações ................................................................................................................................... 53

QUADRO SINÓPTICO ............................................................................................................................ 55

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 60

GABARITO ............................................................................................................................................... 76

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 77

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 78

LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 80

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 81

MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 85

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 86

7
DIREITO CIVIL

Capítulo 3

Alunos, vamos aprender no presente capítulo a base do Direito Civil, isto é, o que são
as pessoas, físicas e jurídicas. Vamos começar com uma diferença essencial: o que é a

personalidade? E a capacidade?

3. Pessoas físicas e jurídicas

3.1 Personalidade

A personalidade é um atributo universal, consiste na a aptidão genérica para se


titularizar direitos e contrair obrigações na órbita jurídica. Ter personalidade jurídica é

merecer uma proteção elementar, diferenciada, caracterizada pelos direitos da personalidade.

Segundo Clóvis Beviláqua, em sua Teoria do Direito Civil, mais do que um processo
psíquico é um conceito jurídico fundamental. Tanto a pessoa física quanto a jurídica é

dotada de personalidade.

Então, não esqueça! Os direitos da personalidade são aplicados às pessoas jurídicas no que

couber (art. 52, CC). Além disso, a pessoa jurídica pode sofrer dano moral (Súmula 227 do
STJ). No entanto, conforme o STJ, entende que apenas pessoas jurídicas de direto privado

8
podem sofrer dano moral (empresas), as pessoa jurídica de direito público não podem

sofrer danos morais (Informativo 534).

O artigo 1º do Código Civil resume o atributo da personalidade: “toda pessoa é capaz

de direitos e deveres na ordem civil ”.

 Perspectiva clássica de personalidade: é um atributo pelo qual se garante a qualidade


de sujeito de direitos, de onde provêm todos os direitos e obrigações a que se submete
o indivíduo.
 Perspectiva contemporânea de personalidade: com o CC de 2002, houve uma releitura
da personalidade, devido a a despatrimonialização e constitucionalização do Direito
Civil. Neste sentido, a personalidade jurídica passou a ser considerada uma proteção
fundamental, através dos direitos da personalidade, que são irrenunciáveis, inalienáveis e
intransmissíveis.

A lei seca costuma ser bastante cobrado nesse ponto. Vejamos.

CAPÍTULO II

Dos Direitos da Personalidade

Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da

personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu


exercício sofrer limitação voluntária.

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da

personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções


previstas em lei.

Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer

a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer


parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.

9
Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do

próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade


física, ou contrariar os bons costumes.

Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de

transplante, na forma estabelecida em lei especial.

Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição


gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte1.

Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a


qualquer tempo.

Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de

vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.

Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o


prenome e o sobrenome.

Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em

publicações ou representações que a exponham ao desprezo público,


ainda quando não haja intenção difamatória.

Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em

propaganda comercial.

Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção


que se dá ao nome.2

Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça

ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a


transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da

imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem

1
Vide questões 2 e 8 do material
2
Vide questão 9 do material
10
prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama

ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. (Vide ADIN


4815)

Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes

legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os


descendentes.

Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a

requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para


impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma

Veremos com mais detalhes os direitos da personalidade no próximo capítulo.

3.2 Pessoa física ou natural

Segundo Orlando Gomes3, o estado da pessoa natural é a noção técnica destinada a

caracterizar as situações jurídicas dos indivíduos nos mais diversos contextos sociais. Há três
modalidades básicas de estados civis, são elas:

(i) estado político: considera a situação jurídica do indivíduo em face do Estado

nacional, ou seja, se ele é nacional, estrangeiro ou apátrida;

(ii) estado individual: é definido de acordo com características físicas, psicológicas,


etárias e comportamentais, classificando-os em: maiores e menores, do sexo feminino e

masculino, capazes e incapazes;

(iii) estado familiar: analisa a posição ocupada pelo indivíduo em uma família, não
somente sob a perspectiva do matrimônio, mas também em relação ao parentesco. Cumpre

destacar que essa modalidade de estado civil deve ser definida sob a perspectiva de um
conceito de família aberto e eudemonista.

Em que momento a pessoa física ou natural adquire personalidade jurídica?

3 GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil - 6. ed - Rio de Janeiro: Forense, 1979, pp. 161,162.

11
Essa resposta, aparentemente, encontra-se na primeira parte do artigo 2º do Código

Civil, que diz: “a personalidade civil da pessoa começa no nascimento com vida”. Nascendo,
portanto, com vida, considerar-se-ia adquirida a personalidade.

Quando se dá o nascimento com vida? Ocorre com o funcionamento do aparelho

cardiorrespiratório do bebê, após a sua retirada do útero da mãe. Mesmo se o recém-


nascido respirar uma vez e, em seguida, vir a falecer, ele não é considerado natimorto.

Uma das formas de constatar se houve a respiração do recém-nascido, é através de um

exame chamado docimasia hidrostática de Galeno.

Nesse exame, coloca-se os pulmões do feto em um vasilhame com água: se os


pulmões flutuarem é porque o feto respirou e houve nascimento com vida; por outro lado, se

os pulmões não flutuarem (afundarem) é porque o feto não respirou e, portanto, não houve
nascimento com vida.

3.2.1 O nascituro

O nascituro é aquele que está por nascer, mas já concebido no ventre materno (é o
ente com vida intrauterina).

O nascituro dispõe de direitos da personalidade, recebendo, assim, uma proteção


jurídica fundamental, que “só será afastada diante da comprovação, por exames específicos, da
inexistência ou inviabilidade de atividade cerebral naquele ser" (NEVES, Thiago Ferreira

Cardoso. O nascituro e os direitos da personalidade. Rio de Janeiro: GZ editora, 2012, p. 156).


O legislador, na segunda parte do art. 2º do CC, confirma, ao dispor que “a lei põe a salvo,

desde a concepção, os direitos do nascituro".4

4
Vide questão 3 do material
12
Cabe observar que o embrião congelado não é nascituro. Ele apenas se torna nascituro

quando é implantado no útero materno.

Ademais, o nascituro não pode ser confundido com o natimorto, ou seja, o nascido

morto (que não respirou ao sair do útero), assim como não pode ser confundido com o
concepturo, ou seja, aquele que ainda não foi concebido (prole eventual).

O Enunciado nº 1 da I Jornada de Direito Civil confere proteção ao natimorto: “A


proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos

da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura”.

Como o natimorto também goza de proteção jurídica, entende a jurisprudência que ele

não pode ser descartado, tendo direito a uma sepultura.

Mas afinal, o nascituro tem ou não personalidade jurídica?

Existem teorias que versam sobre o início da personalidade e que tentam explicar a
natureza jurídica do nascituro, as principais são a natalista, a concepcionista e a condicional.

 Teoria natalista: a personalidade somente seria adquirida a partir do nascimento com


vida, independentemente da forma humana e de um tempo mínimo de sobrevida, de
maneira que o nascituro, por não ser considerado pessoa, teria mera expectativa de
direito.
 Se o nascituro morre dentro do útero, ele não adquire direitos sucessórios.
 Exemplos de autores adeptos à teoria natalista: Vicente Ráo, Sílvio Rodrigues,
Eduardo Espínola.
 Atenção! Conforme dito, a aquisição da personalidade independe da forma
humana ou de um tempo mínimo de sobrevida5. Essa interpretação mostra
claramente a constitucionalização do direito civil, pois feita com base no princípio
da dignidade da pessoa humana e na eficácia horizontal dos direitos
fundamentais.

5 Curiosidade: O art. 30 do Código Civil da Espanha experimentou uma recente reforma para afastar o que violava a dignidade humana). O
antigo artigo dizia que só teria vida se houvesse forma humana e 24 horas de vida.

13
 Teoria concepcionista: considera o nascituro pessoa desde a concepção, inclusive
para adquirir direitos patrimoniais. O nascimento apenas serve par consolidar direitos
que já existem.
 Por exemplo, pode-se fazer uma doação ao nascituro, e quando ele nascer essa doação
é será consolidada.
 Essa teoria ganhou grande força a partir da aprovação da Lei n.º 11.804/08 - Lei dos
alimentos gravídicos – na medida em que o nascituro é, expressa e imediatamente,
contemplado por um importante direito material, mesmo não tendo ainda nascido com
vida.
 Exemplos de autores adeptos à teoria condicional: Clóvis Beviláqua, Silmara
Chinelato e a grande maioria da doutrina.

Aluno, as duas teorias mencionadas (natalista e concepcionista) são as principais,


sendo essencial seu conhecimento, principalmente para Concursos de Tribunais. Também há
uma terceira teoria, que, no entanto, é bastante criticada por um pouco confusa. Trata-se da

teoria da personalidade condicional:

 Teoria da personalidade condicional: o nascituro goza de uma


personalidade material para titularizar direitos personalíssimos (a exemplo do direito
à vida). No entanto, somente consolidará direitos econômicos ou patrimoniais
quando nascer com vida (respirar). Em outras palavras, há uma condição suspensiva
para o nascituro consolidar sua plena personalidade: o nascimento com vida.
 Exemplos de autores adeptos à teoria condicional: Serpa Lopes e Maria Helena
Diniz.
 Maria Helena Diniz afirma que o nascituro tem uma personalidade material (tem
relação com direitos patrimoniais e o nascituro só a adquire com o nascimento
com vida) e uma personalidade formal (relacionada com os direitos da
personalidade, o que o nascituro já tem desde a concepção).

14
 Da mesma forma que a teoria natalista, se o nascituro morre dentro do útero, ele não
adquire direitos sucessórios.
 A diferença quanto à teoria natalista, é que esta nega qualquer direito ao nascituro,
caso não haja nascimento com vida, sendo que a condicional garante os direitos, mas
desde que haja o nascimento com vida.
 Principal crítica: essa teoria é confusa, pois considera o nascituro pessoa para certos
direitos e para outros não.

Qual é a teoria adotada pelo Código Civil brasileiro?

Trata-se de um questionamento ainda permeado por uma muita polêmica.

Prevalece que o CC adota a teoria natalista, o que fica evidente pela leitura da primeira
parte do art. 2º. No entanto, sofre inequívoca influência concepcionista 6.

Qual é a teoria adotada pela jurisprudência?

Não há consenso, alguns autores, como Flávio Tartuce, afirmam que o STJ adota a

teoria concepcionista.

É mais seguro afirmar que nos últimos anos a teoria concepcionista (que considera o
nascituro pessoa) vem ganhando força no direito brasileiro, o que não significa que ela é

adotada amplamente.

Veja alguns fatos que corroboram com o crescimento da teoria concepcionista:

 O nascituro é titular de direitos personalíssimos (como o direito à vida, à proteção

pré-natal, etc.);
 O nascituro tem direito à imagem;
 A morte culposa do nascituro (por exemplo, o atropelamento da mãe) gera o direito à

indenização aos pais, que na verdade é um direito do próprio nascituro7;

6 A regra do Código Civil que trata do nascituro (art. 2º) é extremamente semelhante à regra do código anterior (art. 4º). Clóvis Beviláqua, em
seus comentários ao Código Civil dos Estados Unidos do Brasil (Ed. Rio, 1975, pág. 178), afirmava que a Teoria Concepcionista teria os
melhores argumentos, mas o CC teria adotado a Natalista “por parecer mais prática”.

15
 No que tange a direitos existenciais, o nascituro já os goza, mas as relações

patrimoniais ficam condicionadas;


 Os embriões de laboratório não têm direitos da personalidade, mas têm direito à

herança.
 O nascituro tem direito aos alimentos gravídicos;

 O Código Penal tipifica o crime de aborto (tutelando a vida do nascituro);


 O nascituro tem direito à realização do exame de DNA, para efeito de aferição da

paternidade;
 Pode ser nomeado curador para a defesa dos interesses do nascituro.
 É o que prevê o art. 1.779 do CC: “dar-se-á curador ao nascituro, se o pai falecer

estando grávida a mulher, e não tendo o poder familiar”.


o Esse tipo de curatela visa garantir os direitos do nascituro assim como propõe

a segunda parte art. 2º do CC8. Apesar de o 1.779, CC não expressar com


detalhes, não é necessário o pai falecer, bastando ser ele desconhecido,

ausente ou incapaz para caber tal nomeação. E no caso da gestante se


encontrar interditada, seu curador será também o curador do nascituro (art.

1.779, parágrafo único).

O exemplo abaixo mostra que a teoria concepcionista está crescendo, mas ainda não é
adotada amplamente, veja o exemplo abaixo:

7 Veja na coletânea de jurisprudência desse capítulo o julgado acerca de o nascituro ter direito ao seguro obrigatório DPVAT.
8 Em termos de nomenclatura, tenha atenção! Na verdade, não existe um motivo claro para a nomeação de curador visto que o nascituro é
menor incapaz e seria mais adequado nomear um tutor.

16
 João vai para o carnaval de rua no Rio de Janeiro, se encanta por Maria e tem relações
sexuais com ela. Volta para o Paraná, seu domicílio, e, 5 meses depois, descobre a
gravidez de Maria. João, então, decide ir visitá-la e no caminho para o aeroporto,
morre. João era muito rico. Quem herdará a sua herança dele? O nascituro já existe
quando da morte do pai. Portanto, pode ser beneficiado por herança, caso nasça
com vida.

 E se no oitavo mês de gestação, ocorrer um aborto espontâneo? Quem herdará a


herança de João? No atual estágio do nosso direito, é necessário nascer com vida
para consolidar o direito à herança. Assim, ainda não se admite a
transmissibilidade direta para a mãe do nascituro, de modo que ocorrendo o
aborto, os pais de João serão os herdeiros.

Para facilitar a fixação das três teorias mencionadas, veja o quadro abaixo:

NATALISTA PERSONALIDADE CONDICIONAL CONCEPCIONISTA

A personalidade jurídica se inicia


com a concepção, muito embora
A personalidade jurídica só se A personalidade civil começa com alguns direitos só possam ser
inicia com o nascimento. O o nascimento com vida, mas o plenamente exercitáveis com o
nascituro não pode ser nascituro titulariza direitos nascimento.
considerado pessoa. Só será submetidos à condição O nascituro é pessoa desde o
pessoa quando nascer com vida. suspensiva (ou direitos eventuais). momento em que ele é concebido
(o nascituro é um sujeito de
direitos).

O nascituro tem apenas O nascituro possui direitos sob


O nascituro possui direitos.
expectativas de direitos. condição suspensiva.

Sílvio Rodrigues, Caio Mário, Sílvio Washington de Barros Monteiro, Silmara Chinellato e a grande
Venosa. Arnaldo Rizzardo. maioria da doutrina

17
Em resumo, perceba que o ordenamento jurídico resguarda diversos direitos próprios

do nascituro. Pode-se dizer então, que, conforme o estágio atual do direito civil, há o
reconhecimento da existência do nascituro, mas não ainda como pessoa.

3.2.2 Capacidade e incapacidade

Inicialmente, vale distinguir a capacidade e a legitimação.

A capacidade é um conceito amplo, que nos conduz a uma aptidão geral reconhecida

em lei para atuar na vida jurídica.

A capacidade subdivide-se em:

 capacidade de direito (capacidade de gozo), que é a aptidão para titularizar


direitos e contrair obrigações na ordem jurídica, de modo que toda pessoa a
possui, de forma genérica. Basta o nascimento com vida.
 capacidade de fato (capacidade de exercício), é conhecida como a medida da
personalidade. Nem toda pessoa a possui. Trata-se da capacidade de exercer,
pessoalmente, os atos da vida civil.

Capacidade Capacidade Capacidade


de Direito de Fato Plena

18
A incapacidade só pode ser de fato, pois toda pessoa, ente personalizado, tem capacidade

de direito.

Já a legitimação é um conceito mais específico, traduzindo uma pertinência subjetiva

para a prática de certos e determinados atos. Uma pessoa pode ser CAPAZ, mas não ter
LEGITIMAÇÃO para a prática de certo ato. Seria o caso de dois irmãos que, a despeito de

serem maiores e capazes, não podem casar entre si.

Além disso, não confunda legitimação com legitimidade. Legitimação é capacidade


especial para realizar determinado ato ou negócio jurídico. Já a legitimidade é capacidade

processual, um dos pressupostos processuais, nos moldes do CPC (art. 17).

Por último, cabe destacar a peculiar situação dos entes despersonalizados, como os
condomínios ou órgãos da Administração Pública. Tais entes, por não terem personalidade,

não possuem capacidade de direito e a eles não são atribuídos direitos da personalidade. No
entanto, gozam de capacidade jurídica, que é a possibilidade de defender seus direitos em

juízo.

 Capacidade e o Estatuto da Pessoa com Deficiência

O Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n.º 13.146 de 06 de julho de 2015),

também chamado de EPD, reconstruiu a teoria da capacidade civil.

Até antes do EPD, os arts. 3o e 4o do Código Civil, dispondo sobre incapacidade


absoluta e relativa, respectivamente, inseriam a deficiência como causa de incapacidade civil.

19
O EPD quebrou o paradigma de que a pessoa com deficiência tinha a presunção de

incapacidade. A partir de sua entrada em vigor, as pessoas que eram rotuladas de incapazes,
passam a ser consideradas legalmente capazes, independente do seu grau de deficiência e

ainda que necessite de um representante ou curador para praticar os atos da vida social.

Reforçando: a pessoa com deficiência (art. 2o do EPD9) passou a ser considerada


legalmente capaz, ainda que para atuar necessite do auxílio de institutos

protetivos/assistenciais, tais como a tomada de decisão apoiada e a curatela (arts. 6º e 84 10 do


EPD).

9 “Art. 2o Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual o u
sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igu aldade de
condições com as demais pessoas.
§ 1o A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar e considerará:
I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo;
II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;
III - a limitação no desempenho de atividades; e
IV - a restrição de participação.
§ 2º O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da deficiência”.
10 “Art. 6º A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para:
I - casar-se e constituir união estável;
II - exercer direitos sexuais e reprodutivos;
III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar;
IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;
V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e
VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais
pessoas”.
“Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua capacidade legal em igualdade de condições com as demais
pessoas.
§ 1º Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela, conforme a lei.
§ 2º É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo de tomada de decisão apoiada.
§ 3º A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva extraordinária, proporcional às necessidade s e às
circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível.
§ 4º Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas de sua administração ao juiz, apresentando o balanço do respectivo ano”.

20
Cabe, no momento fazer um parênteses para analisar os institutos supramencionados, da

curatela e da tomada de decisão apoiada. Tenha muita atenção, pois eles estão caindo nas
provas.

O artigo 84, §1º, do EPD prevê que quando necessário, a pessoa com deficiência será

submetida à curatela. Há possibilidade de se nomear mais de um curador para a mesma


pessoa (curatela compartilhada), como, por exemplo, a nomeação de pai e mãe curadores de
um filho maior com deficiência.

A curatela constitui medida protetiva extraordinária, que só será aplicada quando


rigorosamente necessário conforme o caso concreto, devendo durar o menor tempo possível

(artigo 84, §3º, EPD), e os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas de sua
administração ao Juiz (artigo 84, §4º, EPD).

A curatela é limitada à prática de atos patrimoniais ou negociais, como a venda de um

imóvel. Veja o que dispõe o art. 85, EPD:

“Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza
patrimonial e negocial.

§ 1o A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao


matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto.

§ 2o A curatela constitui medida extraordinária, devendo constar da sentença as razões


e motivações de sua definição, preservados os interesses do curatelado.

§ 3o No caso de pessoa em situação de institucionalização, ao nomear curador, o juiz


deve dar preferência a pessoa que tenha vínculo de natureza familiar, afetiva ou
comunitária com o curatelado”. (negritamos)

21
Por outro lado, o artigo 84, §2º, do EPD dispõe ser facultado à pessoa com deficiência

a adoção de processo de tomada de decisão apoiada. O art. 1.783-A, CC (acrescentado em


2015 ao CC pelo EPD) disciplina tal instituto. Leia-o com atenção, pois por ser um instituto

relativamente novo, o disposto sobre a tomada de decisão apoiada na letra da lei vem caindo
muito nas provas objetivas:

Art. 1.783-A. “A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com
deficiência elege pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha
vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão
sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para
que possa exercer sua capacidade.

§ 1º Para formular pedido de tomada de decisão apoiada, a pessoa com deficiência e os


apoiadores devem apresentar termo em que constem os limites do apoio a ser
oferecido e os compromissos dos apoiadores, inclusive o prazo de vigência do acordo
e o respeito à vontade, aos direitos e aos interesses da pessoa que devem apoiar.
§ 2º O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido pela pessoa a ser
apoiada, com indicação expressa das pessoas aptas a prestarem o apoio previsto no
caput deste artigo.
§ 3º Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada de decisão apoiada, o juiz,
assistido por equipe multidisciplinar, após oitiva do Ministério Público, ouvirá
pessoalmente o requerente e as pessoas que lhe prestarão apoio.
§ 4º A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre terceiros, sem
restrições, desde que esteja inserida nos limites do apoio acordado.
§ 5º Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha relação negocial pode solicitar que
os apoiadores contra-assinem o contrato ou acordo, especificando, por escrito, sua
função em relação ao apoiado.
§ 6º Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo relevante, havendo
divergência de opiniòes entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz,
ouvido o Ministério Público, decidir sobre a questão.
§ 7º Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão indevida ou não adimplir as
obrigaçòes assumidas, poderá a pessoa apoiada ou qualquer pessoa apresentar
denúncia ao Ministério Público ou ao juiz.
§ 8º Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e nomeará, ouvida a pessoa
apoiada e se for de seu interesse, outra pessoa para prestação de apoio.
§ 9º A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término de acordo firmado
em processo de tomada de decisão apoiada.
§ 10 O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua participação do processo de
tomada de decisão apoiada, sendo seu desligamento condicionado à manifestação do
juiz sobre a matéria.

22
§ 11 Aplicam-se à tomada de decisão apoiada, no que couber, as disposições
referentes ã prestação de contas na curatela.” (negritamos)

Voltando à análise do instituto da capacidade, agora vamos tratar das incapacidades.

A incapacidade consiste na restrição legal para determinados atos da vida civil. Todas as

incapacidades estão previstas em lei, sendo assim a capacidade da pessoa natural é a regra,
enquanto que a incapacidade é a exceção.

Com o EPD, passaram a ser considerados, absolutamente incapazes apenas os


menores de 16 anos (art. 3º, CC).

Com relação aos relativamente incapazes, existem alguns atos que podem praticar
sozinhos, por isso se entende que possuem discernimento reduzido. O artigo 4º, CC manteve
as seguintes hipóteses:

 Maiores de 16 e menores de 18 anos;


 Ébrios habituais e os viciados em tóxicos;
 Aqueles que, por causa transitória ou permanente não puderem exprimir sua
vontade;
 Pródigos.

Para esse tópico, a lei seca costuma ser bastante cobrado, então é importante

separar um tempo específico para o estudo da lei em si!

O pródigo é aquele que desordenadamente gasta, acaba com seu patrimônio,


atentando contra sua própria subsistência. Ele só é relativamente incapaz quando houver
sentença que o reconheça como pródigo. Com a sua interdição, ele será privado

23
exclusivamente, dos atos que possam comprometer seu patrimônio. Portanto, não poderá,

sem a assistência de seu curador (artigo 1.767, V do CC), alienar, emprestar, dar quitação,
transigir, hipotecar, agir em juízo e praticar, em geral, atos que não sejam de mera

administração (artigo 1.782 do CC).

O suprimento da incapacidade absoluta se dá através do instituto da representação,


enquanto a incapacidade relativa é suprida através da assistência.

O relativamente incapaz é assistido (Bizu: RIA), já o absolutamente incapaz é

representado (Bizu: AIR - o contrário de RIA).

O artigo 4º, parágrafo único, do Código Civil trata dos índios. A capacidade dos

indígenas será regulada por legislação especial. Por exemplo, o art. 8o da Lei 6.001/1973
(Estatuto do Índio) reza que são nulos os atos praticados entre o índio não integrado e

qualquer pessoa estranha à comunidade indígena quando não tenha havido assistência do
órgão tutelar competente.

Outro ponto digno de nota é no sentido de que a idade avançada, por si só, não é

causa de incapacidade civil. Inclusive, a partir do Estatuto da Pessoa com Deficiência, se


juntamente com a idade avançada, houver deficiência mental ou intelectual, não será caso de

incapacidade civil (a pessoa continuará sendo legalmente capaz).

24
Assim, por exemplo, se o pai de João, o Sr. Joaquim, tem 93 anos e é portador de uma

deficiência mental, ainda assim é considerado legalmente capaz. No entanto, pode ser
nomeado um curador para auxiliá-lo nos atos negociais ou patrimoniais.

O surdo-mudo também não é incapaz. Ele pode praticar atos da vida civil, com

exceção dos que exijam a fala, que devem ser adaptados à forma escrita conforme prevê a lei
e de acordo com as especificidades do caso concreto.

 Maioridade e emancipação

Tanto a maioridade quanto a emancipação são responsáveis de cessação da

incapacidade absoluta.

O art. 5º, caput, do Código Civil estabelece que a maioridade é atingida aos 18
(dezoito) anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da

vida civil. A maioridade é alcançada no primeiro instante do dia do aniversário, sendo


definida, portanto, por um critério biológico (a idade).

Já a emancipação não é definida apenas pelo critério biológico, conforme o art. 5º,

parágrafo único, do Código Civil. A emancipação é classificada da seguinte forma:

 Emancipação voluntária (art. 5º, parágrafo único, inciso I, primeira parte, CC): é
aquela concedida pelo ato de ambos os pais ou de um deles, na falta do outro, de
forma irrevogável, mediante instrumento público, independentemente de
homologação judicial, desde que o menor tenha, pelo menos, 16 anos completos.
 Essa emancipação também poderá ser concedida pelo juiz, quando houver
discordância dos pais acerca da autorização do ato. Assim, o magistrado
analisará, no caso concreto, qual é o maior benefício ao infante.
 Importante! A emancipação pelos pais não os isenta da responsabilidade no
caso de eventual responsabilidade civil por ilícito do filho emancipado11.

11 Embora o CC seja silente, o STJ entende que na emancipação voluntária, diversamente da legal, os pais permanecem solidariamente responsáveis pelos
ilícitos cometidos pelo filho emancipado até que complete 18 anos de idade (REsp 122573/PR, AgRg AG 123957/RJ).

25
 Emancipação judicial (art. 5º, parágrafo único, inciso I, segunda parte, CC): trata-se da
emancipação concedida pelo juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver, pelo menos, 16

anos completos.
 Quando o adolescente maior de 16 anos estiver sob tutela, a emancipação apenas
poderá ser concedida por autorização judicial.
 De acordo com o art. 91 da Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/1973), o juiz deve
comunicar a emancipação concedida ao oficial de registro no prazo de oito dias; a partir
desse registro cartorário o ato produzirá efeitos.

Conforme com o Enunciado 397 - Jornada de Direito Civil, a emancipação por concessão dos pais

ou por sentença do juiz está sujeita à desconstituição por vício de vontade. Veremos em capítulo

posterior quais podem ser os vícios da vontade.

Emancipação legal ( art. 5º, parágrafo único, incisos II a V):

 Pelo casamento;
 Pelo exercício de emprego público efetivo;
 Pela colação de grau em curso de ensino superior;
 Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de
emprego, desde que, em função deles, o menor com 16 anos completos tenha
economia própria12.

12
Vide questão 5 do material
26
O menor de 18 anos, ainda que emancipado, não pode ser responsabilizado
penalmente. A emancipação não antecipa a sua imputabilidade penal. No entanto, o menor

emancipado pode ser preso por dívida de alimentos. Isso porque não se trata de uma prisão
criminal, mas de um meio coercitivo de cumprimento da obrigação.

Então, em resumo, a maioridade é a aquisição da capacidade plena, aos 18 anos.


Alguns de seus efeitos são a incidência do Código Penal e a interrupção da aplicação do
Estatuto da Criança do Adolescente (ECA), por exemplo.

A emancipação é a cessação da incapacidade de fato, o sujeito já pode praticar


sozinho os atos da vida civil. Porém a emancipação não gera a maioridade. Ao emancipado
ainda é aplicado o ECA13 e ele não poderá, por exemplo, obter a Carteira Nacional de

Habilitação.

Depois que uma pessoa é emancipada ela não poderá voltar ao seu estado anterior de
incapacidade. A emancipação uma vez concedida é irrevogável. É, também, definitiva, a

pessoa não pode desistir dela. Sendo assim, mesmo que haja viuvez, separação ou divórcio,
o emancipado não retorna à incapacidade.

Entretanto, se houver alguma falha na condição exigida por lei nos casos de

emancipação legal, estaremos diante de uma nulidade ou de uma anulabilidade (dependendo


do caso).

Por exemplo: se no caso de emancipação pelo casamento, verificar-se, depois da

cerimônia, que a autorização dos pais era falsa, haverá nulidade do ato. A sentença que

13 Sobre o assunto, vale mencionar o importante Enunciado 530 da VI Jornada de Direito Civil: "A emancipação, por si só, não elide a
incidência do Estatuto da Criança e do Adolescente". Isso porque, como dito, a emancipação não antecipa a maioridade.

27
invalida o casamento o atinge ab initio, de maneira que, por consequência, a emancipação perderá

a eficácia. Ressalva-se a hipótese de casamento putativo, em que o menor estava de boa-fé, sendo,
nesse caso, mantidos os efeitos, e, portanto, a emancipação.

 Casamento

Conforme vimos, o casamento pode ser uma das causas de emancipação legal (art. 5º,
II, CC).

A idade núbil (idade mínima para casar) é de 16 anos, conforme artigo 1.517, do

Código Civil. Antes da mudança realizada pela Lei 13.811/2018, essa regra suportava algumas
exceções, que não são mais possíveis.

Atenção ao histórico da mudança:

A Lei nº 13.811/2018 alterou o CC/02, para suprimir as exceções legais permissivas do


casamento infantil. Assim, atualmente, não existe mais possibilidade de casamento de

pessoa menor de 16 anos.

Vamos analisar com calma. A redação anterior do art. 1.520 do CC era a seguinte:

“Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil
(art. 1517), para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez”.

Veja que, pela literalidade da lei, havia duas hipóteses excepcionais em que seria
permitido o casamento de pessoa menor de 16 anos.

28
Prevalece, contudo, o entendimento de que, desde a Lei nº 11.106/2005, a despeito da

literalidade do art. 1.520 do CC, havia somente uma hipótese na qual era permitido o
casamento de pessoa menor de 16 anos (abaixo da idade núbil): em caso de gravidez.

O mais importante é lembrar que, com a alteração de 2018, não há mais nenhuma
hipótese que permite o casamento de menor de 16 anos.

Art. 1.520. “Não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não atingiu
a idade núbil, observado o disposto no art. 1.517 deste Código”.

Assim, importante fixar:

IDADE NÚBIL: 16 anos


Existe exceção? Existe alguma hipótese na qual se possa casar antes dos 16 anos de
idade?
Antes da Lei 13.811/2019: SIM Atualmente: NÃO
Excepcionalmente, era permitido o A Lei nº 13.811/2019 alterou o art. 1.520 do
casamento da pessoa que ainda não havia CC e agora não é mais possível, em
alcançado a idade núbil (ou seja, o menor nenhuma hipótese, o casamento de
de 16 anos) em caso de gravidez. pessoa menor de 16 anos.

3.2.3 Extinção de Personalidade da Pessoa Natural

A extinção da pessoa natural se opera com a morte, nos termos do art. 6º do CC.

Trata-se de um assunto de alta complexidade. O critério que a comunidade científica


mundial tem utilizado para a definição do óbito é a morte encefálica (resoluções 1480/97 e
1826/2007 do Conselho Federal de Medicina).

Vale lembrar, nos termos do art. 77 da Lei de Registros Públicos, que a morte deve ser
declarada por um médico e, onde não houver, por duas testemunhas. Essa declaração é
registrada no Livro de Óbitos do Cartório de Registro Civil.

29
Porém, em alguns casos, é difícil precisar se a morte de fato ocorreu, por exemplo, no

caso de pessoas desaparecidas ou ausentes.

Observe o que dispõe o artigo 6º do CC: “A existência da pessoa natural termina com a
morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de

sucessão definitiva”.

A morte pode ser:

 Real: quando existe um corpo, é declarada por médico ou duas testemunhas;

 Ficta ou presumida: quando não existe corpo.

Será presumida a morte:

 Com a decretação da ausência: quando cumpridos os trâmites legais e a lei autorizar a

abertura da sucessão definitiva;

 Sem a decretação da ausência (há indícios de morte) - art. 7º, CC

 Quando for extremamente provável a morte, quando a pessoa estava em situação

de perigo;

 No caso de desaparecido ou prisioneiro, se a pessoa não for encontrada até dois


anos, após o término da guerra.

A declaração da morte presumida, nesses casos (sem a decretação da ausência),

somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a


sentença fixar a data provável do falecimento.

A morte ficta, pode ocorrer, portanto, sem processo de ausência (art. 7º do CC) ou

com processo de ausência (arts. 22 a 39 do CC).

 Morte presumida com decretação da ausência

Aluno, no tocante ao procedimento da decretação da ausência, o que costuma cair em

provas é a letra da lei, então, fique atento aos artigos 22 a 39, CC.
30
A ausência ocorre quando uma pessoa desaparece sem, provavelmente, estar em risco de

vida.

Ela será declarada quando alguém desaparecer sem deixar notícias, se não deixar
representante ou procurador para administrar seus bens. Deixando mandatário, também será

decretada a ausência se este não quiser ou não puder continuar exercendo as funções.

A declaração será feita judicialmente, ouvido o Ministério Público, ato em que o juiz
nomeará curador.

São três as fases sobre os bens do ausente.

1ª: curadoria do ausente

2ª: sucessão provisória

3ª: sucessão definitiva

A curadoria dos bens do ausente inicia-se a partir de uma petição inicial de qualquer

interessado ou do MP, na situação acima explicada. Serão publicados, durante 1 ano, editais
a cada 2 meses.

Esse processo para se atingir a morte presumida possui 3 fases:

 1ª FASE: ARRECADAÇÃO E NOMEAÇÃO DE CURADOR: Configura-se após


decorrido 1 ano do desparecimento ou 3 anos, se o ausente tiver deixado
procurador representando-o.
 2ª FASE: DECLARAÇÃO DA SUCESSÃO PROVISÓRIA: abre-se provisoriamente o
inventário e o patrimônio arrecadado é dado aos herdeiros com uma condição:
que os herdeiros recebam o patrimônio oferecendo uma garantia em troca. Essa
fase dura 10 anos, a não ser que o ausente tenha mais de 80 anos, quando a fase
durará apenas 5 anos.
 A sentença que autoriza a sucessão provisória só produz efeitos 180 dias após
sua publicação, mas, com o seu trânsito em julgado, abre-se o testamento e o

31
inventário, como se o ausente fosse falecido. Se, após 30 dias do trânsito em
julgado, não aparecerem interessados ou herdeiro, para requer a abertura do
inventário, os bens do ausente serão considerados herança jacente.
 Os herdeiros que não foram cônjuge, ascendente ou descente do ausente, para
se imitirem na posse dos bens deverão prestar garantia pignoratícia ou
hipotecária.
 O cônjuge, ascendente ou descente sucessor provisório do ausente fará seus os
frutos e rendimentos dos bens que lhe cabe.
 Os demais sucessores deverão capitalizar metade desses frutos e rendimentos,
de acordo com o MP e prestando contas anuais ao juiz.
 3ª FASE: ABERTURA DA SUCESSÃO DEFINITIVA (art. 6º do CC, última parte): a partir
desse momento decreta-se a morte do ausente.
 Será declarada a morte após o lapso de 10 anos da abertura da sucessão
provisória ou se comprovado que o ausente tem oitenta anos e que suas últimas
notícias datam mais de cinco anos.
 Com o trânsito em julgado da sentença da abertura da sucessão definitiva,
declara-se a morte presumida.

3.2.4 Comoriência

De acordo com o art. 8º do Código Civil, se dois ou mais indivíduos falecerem na

mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos
outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.

Ressalta-se, no entanto, que a presunção de morte simultância é relativa, podendo ser

ilidida com provas em contrário.

Assim, a comoriência é importante quando há a morte de duas ou mais pessoas, na


mesma ocasião e por força do mesmo evento, sendo elas reciprocamente herdeiras umas

das outras.

32
A morte tem que ocorrer no mesmo lugar? Não. Apenas na mesma ocasião, e

também não precisa que seja do mesmo modo. A comoriência é compatível com a morte
presumida, sem a decretação de ausência.

A presunção da comoriência somente é aplicada se realmente não se puder indicar a


ordem cronológica das mortes. Só há interesse se forem da mesma família, inserindo-se

numa questão sucessória. Exemplo: se um morreu primeiro, ele passa todo o patrimônio para
o que morreu depois. Havendo morte simultânea, no entanto, abrem-se cadeias sucessórias

autônomas e distintas, de modo que um comoriente nada herda do outro.

3.3 Pessoa Jurídica

Esse é tema costuma ser cobrado para concursos de Tribunais, então fique atento!

Pessoa jurídica é toda entidade dotada de personalidade, ou seja, assim como a

pessoa física, pode exercer direitos e deveres e participar da vida civil.

Pode ser entendida, ainda, como uma reunião de bens (patrimônio) afetados
(fundações), ou como uma reunião de pessoas sem fins econômicos (associações) ou com fins

econômicos (sociedades). Por sua vez, a reunião de pessoas com fins econômicos pode ter
fins lucrativos (sociedade empresária) ou fins não lucrativos (sociedade simples).

As pessoas jurídicas podem se constituir pelo agrupamento de pessoas (universitas


personarum) ou de um patrimônio com destinação específica (universitas bonorum).

33
Vale acrescer, que as necessidades da sociedade contemporânea também exigiram a

criação de pessoas jurídicas peculiares, como a Empresa Individual de Responsabilidade


Limitada (EIRELI).

Questões acerca da EIRELI têm despencado em provas objetivas. O tema será melhor

estudado em direito empresarial, mas já é importante ter em mente o que ensina o Enunciado
469 da V Jornada de Direito Civil: “a empresa individual de responsabilidade limitada

(EIRELI) não é sociedade, mas novo ente jurídico personificado”.

3.3.1 Teorias explicativas e criação da pessoa jurídica

Há três principais teorias que explicam a existência e natureza da pessoa jurídica: da

ficção, da realidade objetiva e da realidade técnica.

 Teoria da ficção: a pessoa jurídica teria uma existência meramente abstrata ou ideal
fruto da técnica do direito. Pecava por não reconhecer a existência objetiva e social da
pessoa jurídica.
 Principais autores: Windscheid, Savigny.

 Teoria da realidade objetiva ou organicista: oriunda especialmente do cientificismo


sociológico reverenciado pelos positivistas como Beviláqua, avançou em relação à teoria
da ficção ao reconhecer que a pessoa jurídica tem uma existência objetiva e uma
dimensão social, mas incorreu no exagero oposto de negar-lhe a influência da técnica
do direito, reduzindo a pessoa jurídica a um fenômeno meramente sociológico.
 Principais autores: Cunha Gonçalves, Clóvis Beviláqua

 Teoria da realidade técnica (Saleilles): essa teoria consegue conjugar o que há de


melhor nas duas anteriores. Para essa teoria a pessoa jurídica teria uma existência
objetiva e dimensão social, e a sua personificação seria fruto da técnica do direito.
 Principal autor: Saleilles.
 Foi a teoria adotada pelo art. 45, do CC:
o “Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado
com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida,

34
quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo,
averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato
constitutivo.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das
pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o
prazo da publicação de sua inscrição no registro”.

Observe que o registro de uma pessoa física ou natural é meramente declaratório da

sua personalidade, adquirida pelo nascimento com vida (art. 2º, do CC). Diferentemente, nos
termos do art. 45, do CC, o registro de uma pessoa jurídica é constitutivo de sua

personalidade. A pessoa jurídica, portanto, adquire personalidade com o registro de seu ato
constitutivo (contrato social ou estatuto).

Em harmonia com o art. 46, do CC, o registro deve conter, obrigatoriamente, os

requisitos arrolados abaixo:

Art. 46. O registro declarará:

I - a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social,


quando houver14;

II - o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores, e dos


diretores;

III - o modo por que se administra e representa, ativa e passivamente,

judicial e extrajudicialmente;

IV - se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração, e de


que modo;

V - se os membros respondem, ou não, subsidiariamente, pelas

obrigações sociais;

14
Vide questão 4 do material
35
VI - as condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu

patrimônio, nesse caso.

O ato constitutivo deve ser registrado na Junta Comercial ou no Cartório de Registro

de Pessoas Jurídicas, a depender se a pessoa jurídica é ou não empresarial, o que será


melhor estudado em capítulo próprio da matéria Direito Empresarial.

Excepcionalmente, algumas pessoas jurídicas, para se constituírem e terem existência

legal demandam uma autorização específica do Poder Executivo, a exemplo dos bancos e
das seguradoras.

A regra geral é que toda pessoa jurídica tenha CNPJ, mas fique atento(a), pois o fato

de uma pessoa ou ente ter CNPJ não significa, necessariamente, que estaremos diante de
uma pessoa jurídica.

Por último, cabe um último questionamento: existem entes que não realizam o

registro nem na Junta Comercial, nem no Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas acima
mencionados? Sim, são os chamados entes despersonalizados.

Os entes despersonalizados existem no mundo dos fatos, porém não são pessoas

físicas nem jurídicas. Exemplos: as sociedades de fato, espólio, massa falida, condomínio,
herança jacente ou vacante, família.

36
Os entes despersonalizados não possuem capacidade de direito, mas podem atuar em

relações processuais (podem demandar e serem demandados em ações judiciais). Conforme


vimos, gozam de capacidade jurídica, podendo defender seus direitos em juízo.

Nesse âmbito, destacamos a Súmula 525, STJ: “A Câmara de vereadores não possui
personalidade jurídica, apenas personalidade judiciária, somente podendo demandar em

juízo para defender os seus direitos institucionais”.

3.3.2 Classificações das pessoas jurídicas

O artigo 40 do CC estabelece que as pessoas jurídicas podem ser de direito público,

interno ou externo, e de direito privado.

 Pessoas Jurídicas de Direito Público Interno

Conforme prevê o art. 41 do CC, são pessoas jurídicas de direito público interno:

 A União;

 Os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;

 Os Municípios;

 As autarquias, inclusive as associações públicas;

 As demais entidades de caráter público criadas por lei.

 Pessoas jurídicas de Direito Público Externo

O art. 42 do CC é claro ao estabelecer que são pessoas jurídicas de direito público

externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito
internacional público.

37
Ou seja, são regulamentadas pelo Direito Internacional.

 Pessoas Jurídicas de Direito Privado

São pessoas jurídicas de direito privado, conforme o art. 44 do CC:

 I. As associações15;
 II. As sociedades;
 III. As fundações;
 IV. As organizações religiosas;
 V. Os partidos políticos.
 VI. As empresas individuais de responsabilidade limitada.

Os sindicatos, embora não mencionados expressamente no art. 44, CC, possuem

natureza de associação civil, portanto são consideradas pessoas jurídicas de direito privado.

As fundações, embora genericamente listadas entre as pessoas jurídicas de direito

privado, se tiverem atuação pública, assemelham-se às autarquias. Nesse caso, possuem


personalidade jurídica de direito público (Fundações Públicas).

15
Vide questões 6 e 10 do material
38
As organizações religiosas (igrejas, por exemplo), que são pessoas jurídicas de direito

privado, podem ser livremente criadas, independentemente de qualquer autorização estatal,


em virtude do direito fundamental da liberdade religiosa (art. 5º, VI, CF).

3.3.3 Administração da Pessoa Jurídica

Todas as decisões tomadas pelo administrador dentro dos poderes estatutários serão

vinculantes para a pessoa jurídica.

Se a administração for coletiva (pluralidade de administradores) cabe ao estatuto


deliberar o quórum para que sejam tomadas as decisões. Se o estatuto for omisso, as

decisões serão tomadas por maioria simples (maioria dos votos dos presentes).

Decisões tomadas pelo administrador carregadas de vício, ilegalidades ou fraudes


serão anuláveis. Decai em três anos o direito de anular as decisões quando violarem a lei ou

estatuto, ou forem eivadas de erro, dolo, simulação ou fraude.

Caso ocorra destituição dos administradores (eles forem expulsos) o juiz, a


requerimento de qualquer interessado, nomeará um administrador provisório.

3.3.4 Desconsideração da Personalidade jurídica

A pessoa jurídica traduz uma realidade técnica (ou orgânica). Isso quer dizer que a

pessoa jurídica tem autonomia, ou seja, não se confunde com seus membros.

Essa autonomia é mostrada pelo art. 49-A do CC, veja sua transcrição abaixo:

 “Art. 49-A. A pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios, associados,
instituidores ou administradores.

39
Parágrafo único. A autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é um
instrumento lícito de alocação e segregação de riscos, estabelecido pela lei
com a finalidade de estimular empreendimentos, para a geração de empregos,
tributo, renda e inovação em benefício de todos”.

No entanto, se abusos são praticados por sócios e administradores da pessoa


jurídica, é possível que seja realizada a “desconsideração da personalidade jurídica”

(disregard doctrine), havendo a quebra da autonomia da pessoa jurídica em relação aos


seus membros, os quais, como resultado, têm seu patrimônio atingido.

Assim, todas as vezes que a pessoa jurídica for utilizada para encobrir atividades

ilícitas, sua personalidade deve ser afastada (desconsiderada), com o objetivo de atacar os
bens dos sócios ou administradores. Eles respondem com seus bens particulares pelas
dívidas assumidas pela pessoa jurídica.

Não confunda desconsideração com despersonificação da pessoa jurídica.

 Na desconsideração há a quebra da regra de que a pessoa jurídica não se confunde


com seus membros. Há, portanto, uma ampliação de responsabilidades, sem que a
pessoa jurídica seja extinta.
 A despersonificação ou despersonalização é a dissolução da pessoa jurídica; ela é,
portanto, extinta.
 Observação: antes de ser extinta completamente, a pessoa jurídica continua existindo
para fins de liquidação. A liquidação é um conjunto de atos preparatórios da
extinção da pessoa jurídica, destinados a realizar o ativo, pagar o passivo e distribuir
entre os membros o saldo remanescente. Após a conclusão da liquidação, ocorre a
despersonificação (art. 51, CC).

 Teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica

O Código Civil adota a teoria maior de desconsideração da personalidade jurídica,


sendo essencial o cumprimento dos requisitos para que seja declarada. Dessa maneira, será

40
desconsiderada a personalidade jurídica no caso de abuso da personalidade, sempre que

caracterizar desvio de finalidade ou confusão patrimonial.

Assim, a desconsideração se configura quando ocorre abuso da personalidade por:

 Desvio de finalidade (por exemplo, uma sociedade que serve como “fachada” para

lavagem de dinheiro);

 Confusão Patrimonial (exemplo: sócio que utiliza o dinheiro da PJ para pagar a conta
do almoço dele e da família; sócio que utiliza o carro da empresa para viajar no final de

semana com a família; sócio que guarda em apenas uma conta bancária o dinheiro dele
e o dinheiro da empresa). São casos em há uma mistura irregular do patrimônio da
pessoa física com o patrimônio da pessoa jurídica.

O artigo 50 foi alterado pela Lei nº 13.874, de 20 de setembro de 2019 (antes MP


881/19) que institui a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica.

Destacamos que, em abril de 2019, foi editada a medida provisória 881/19, que teve

por objetivo instituir a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica, estabelecer garantias


de livre mercado, análise de impacto regulatório, além de dar outras providências. A Medida

Provisória visou precipuamente trazer dinamismo no mundo das relações econômicas,


sendo apresentada como “Declaração de Direitos de Liberdade Econômica”.

No que tange à desconsideração da personalidade jurídica, para que a medida da

desconsideração seja implementada, a medida provisória dispôs acerca de pressupostos que


devem ser preenchidos e comprovados.

Veja a nova redação do artigo 50 do CC


41
“Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de
finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os
efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens
particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou
indiretamente pelo abuso.

§ 1º Para fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização dolosa da


pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de
qualquer natureza.
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os
patrimônios, caracterizada por:
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador
ou vice-versa;
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto o de
valor proporcionalmente insignificante; e
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.
§ 3º O disposto no caput e nos § 1º e § 2º também se aplica à extensão das obrigações
de sócios ou de administradores à pessoa jurídica.
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que
trata o caput não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.
§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da
finalidade original da atividade econômica específica da pessoa jurídica.”16
(negritamos)

Dentre as alterações, destaca-se:

 O credor passa a ter que comprovar que o devedor se beneficiou do abuso na


utilização da personalidade jurídica a que integra;

 Passa a ser necessária a comprovação do dolo do devedor, ou seja, a sua intenção de


lesar o credor mediante a utilização de sua pessoa jurídica;

 A confusão patrimonial passa a ser caracterizada pela análise de critérios objetivos;

 A existência de grupo econômico, por si só, não mais caracteriza a confusão

patrimonial, cabendo ao credor preencher os requisitos acima.

16
Vide questão 1 do material
42
Para Flávio Tartuce17, a lei passaria a possibilitar a desconsideração da personalidade

jurídica tão somente quanto ao sócio ou administrador que, direta ou indiretamente, for
beneficiado pelo abuso. O autor há tempos defende tal posição, para que o instituto não

seja utilizado de forma desproporcional e desmedida, atingindo pessoa natural que não
tenha praticado o ato tido como abusivo.

Os parágrafos propostos sugerem critérios para o preenchimento dos requisitos da

desconsideração da personalidade jurídica prevista para as relações civis em geral,


consagradora da chamada teoria maior da desconsideração, quais sejam o desvio de

finalidade ou a confusão patrimonial.

Vale lembrar, que tais requisitos não são cumulativos, mas alternativos para que a
categoria seja aplicada, quebrando-se a autonomia da pessoa jurídica.

É muito importante destacar que, quanto ao desvio de finalidade, a nova norma passa

a estabelecer como requisito o elemento doloso ou intencional na prática da lesão ao


direito de outrem ou de atos ilícitos, para que o instituto seja aplicado.

Para que se caracterize a confusão patrimonial, conforme vimos quando da leitura do

art. 50, §2º, CC, são parâmetros propostos pela alteração:

 o cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador


ou vice-versa;
 a transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de
valor proporcionalmente insignificante; e
 outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.

Sobre a primeira previsão, Flávio Tartuce sugere que seja retirada a palavra “repetitivo”,

pois a confusão patrimonial pode estar configurada por um único ato lesivo.

A ideia do art. 50, §4º já estava presente no Enunciado 406 da V Jornada de Direito Civil
do Conselho da Justiça Federal: “a desconsideração da personalidade jurídica alcança os

17https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI301612,41046-A+MP+88119+liberdade+economica+e+as+alteracoes+do+Codigo+Civil

43
grupos de sociedade quando estiverem presentes os pressupostos do art. 50 do Código

Civil e houver prejuízo para os credores até o limite transferido entre as sociedades”.

A grande vantagem da mudança foi positivar a possibilidade de ampliação de


responsabilidades de uma pessoa jurídica a outra, o que configura a desconsideração

econômica, indireta ou a sucessão ente empresas para as obrigações existentes no âmbito


civil, o que veremos em tópico posterior.

Por último, quanto ao § 5º do art. 50, nota-se, mais uma vez, uma valorização do

elemento subjetivo para a desconsideração, ao prever que não constitui desvio de finalidade
a mera expansão ou a alteração da finalidade original da atividade econômica específica da

pessoa jurídica.

 Teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica

Alguns diplomas normativos adotam a chamada teoria menor, que não exige prova de

fraude ou abuso de direito para que desconsidere a personalidade jurídica da sociedade.

Para referida teoria, basta que o credor demonstre seu prejuízo, traduzido na
inexistência de bens da pessoa jurídica para saldar a dívida.

A teoria menor é aplicada, por exemplo, no direito ambiental e no direito do


consumidor, o que podemos depreender da leitura do art.4º, Lei nº 9605/1998 e do artigo 28
caput e §5º do Código de Defesa do Consumidor:

“Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for
obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente”.

“Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em


detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei,
fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração
também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento
ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.

44
§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade
for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos
consumidores.”

Em resumo,

TEORIA MAIOR (art. 50, CC) TEORIA MENOR (art. 4º, L. 9.605/98 e 28, CDC)
Requisitos: Requisito:
1. abuso da personalidade jurídica: Basta o prejuízo ao credor
 desvio de finalidade ou
 confusão patrimonial; e
2. prejuízo ao credor.

 Incidente de desconsideração de personalidade jurídica

Tal tema será estudado com mais detalhe em Processo Civil, mais especificamente na

parte que trata sobre a intervenção de terceiros. No entanto, é essencial que o aluno saiba
como a desconsideração da personalidade na prática. Assim, leia os dispositivos do CPC

abaixo, referentes ao incidente de desconsideração de personalidade jurídica (que não


existiam no CPC/1973), os quais despencam em provas objetivas de Tribunais? Fiquem

ligados:

“Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a


pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo.

§ 1º O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os pressupostos


previstos em lei.

§ 2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da


personalidade jurídica.

Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de


conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título
executivo extrajudicial.

§ 1º A instauração do incidente será imediatamente comunicada ao distribuidor para as


anotações devidas.

45
§ 2º Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade
jurídica for requerida na petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a
pessoa jurídica.

§ 3º A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipótese do § 2º.

§ 4º O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais


específicos para desconsideração da personalidade jurídica.

Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-
se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias.

Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão
interlocutória.

Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo interno.

Art. 137. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens,


havida em fraude de execução, será ineficaz em relação ao requerente”.

Cabe dizer, baseado no CPC, que a desconsideração pela teoria maior não é pode ser
realizada de ofício: pressupõe requerimento da parte interessada ou do Ministério Público

nas causas em que ele deve intervir.

Porém, no caso da teoria menor tem-se entendido que a desconsideração de ofício é


possível.

 Modalidades de desconsideração da personalidade jurídica

Além da modalidade direta de desconsideração da personalidade jurídica, outras


modalidades foram criadas com o objetivo de ampliar o cumprimento das obrigações.

Neste sentido, são modalidades de desconsideração:

 Direta (regular): conforme estudamos, com a desconsideração, os bens dos sócios ou


administradores respondem por dívidas da pessoa jurídica (prevista, por exemplo, no
art. 50, CC; art. 28, CDC; art. 4º, Lei nº 9605/1998).

 Inversa: o devedor principal é o sócio e será desconsiderada a personalidade jurídica


para atingir o patrimônio da pessoa jurídica em que o sócio transferiu patrimônio

46
próprio com a finalidade de enganar seus credores. Exemplo: sócios ou o administrador

colocam bens em nome da empresa, visando frustrar a partilha dos bens em eventual
divórcio.

 O tema é tratado no Enunciado n. 283 CJF/STJ esclarece que: “É cabível a

desconsideração da personalidade jurídica denominada inversa para alcançar bens


de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais,

com prejuízo a terceiros”.

 Ademais, vale dizer que a desconsideração inversa é a anos adotada pela


jurisprudência e está amparada em lei, prevista no artigo 133, §2º, CPC.

 Indireta: ocorre quando há fraude e abuso de uma empresa que é a controladora,


por meio da controlada ou coligada. Esta é utilizada como longa manus da empresa
controladora. Nestes casos, poderá ser determinada a desconsideração da
personalidade da empresa controlada com o objetivo de atingir o patrimônio da
controladora. A doutrina utiliza o termo levantar o véu da empresa controlada, como
forma de expor a fraude gerada pela empresa controladora.

 Expansiva: é possível estender os efeitos da desconsideração da personalidade jurídica


aos ‘sócios ocultos’ para responsabilizar aquele indivíduo que coloca sua empresa em
nome de um terceiro ou para alcançar empresas de um mesmo grupo

econômico.

Veja abaixo um pequeno resumo sobre as modalidades diversas de desconsideração da

personalidade jurídica:

Desconsideração Desconsideração
Desconsideração INDIRETA
INVERSA/INVERTIDA EXPANSIVA

Uma empresa controladora Sócio ou administrador Visa atingir patrimônio do

47
comete fraudes por meio esconde patrimônio na sócio oculto da sociedade

de empresa controlada ou sociedade para prejudicar ou de empresas do


coligada. Atinge-se o credores. mesmo grupo.

patrimônio da controlada.

3.3.5 Dissolução da Pessoa Jurídica

A dissolução da pessoa jurídica pode ocorrer das seguintes maneiras:

 Convencional: deliberada por vontade dos sócios.

 Judicial: por decisão do juiz. Decorre dos casos de dissolução previstos em lei ou no
estatuto, principalmente quando a sociedade se desviar dos fins para os quais foi

constituída ou em caso de falência.

 Administrativa: por decisão do poder público que caça a autorização de


funcionamento, quando a PJ pratica atos nocivos ou contrários aos seus fins. Exemplo: o

MEC em relação a algumas faculdades.

 Natural: quando os sócios morrem e não são substituídos.

 Legal: em razão da lei (art. 1.034 do CC).

Alguns trâmites precisam ser seguidos para a extinção da pessoa jurídica (nesta ordem):

 Averbação da dissolução: os sócios se dirigem ao cartório e lá averbam (publicam) a

dissolução de sua PJ. O fato se torna público e notório.

 Liquidação (art. 51, CC): conforme vimos, é a solução das questões patrimoniais
pendentes, como pagar impostos, recolher dívidas trabalhistas, compensar cheques. A

liquidação da pessoa jurídica ocorrerá nos casos de dissolução ou de cassação de


autorização para funcionamento.

 Cancelamento da Inscrição da PJ

48
3.3.6 Associações

A associação consiste na reunião de pessoas, sem fins econômicos. Isso significa que

não se pode distribuir dividendos entre os associados, caso contrário existiria um desvio de
finalidade, deixando de ser uma associação para se tornar uma sociedade.

A relação que se deve ter em uma associação não é entre os associados e sim entre o

associado e a associação.

 Características das associações

Veja abaixo as principais características das associações, o que não dispensa a leitura

atenta, pelo aluno, dos artigos 53 a 60 do Código Civil:

 Não há entre os associados direitos e obrigações recíprocos (art. 53, §único, CC) -
atenção! Isso despenca nas provas objetivas de Tribunais!
 Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto pode estabelecer categorias
com vantagens especiais (art. 55, CC).
 A qualidade de associado é intransmissível, salvo disposição contrária do estatuto (art.
56, caput, CC).
 Compete privativamente à Assembleia Geral a destituição dos administradores e
alteração do estatuto (art. 59, CC).
 A exclusão de associado só é havendo justa causa (art. 57, CC). Aqui se evidencia a
eficácia horizontal dos direitos fundamentais.
 A convocação dos órgãos deliberativos far-se-á na forma do estatuto, garantindo a
um quinto dos associados o direito de promovê-la (art. 60, CC).
 Dissolvida a associação, em regra, seu patrimônio residual será destinado a entidade
de fins não econômicos designada no estatuto, ou à instituição municipal, estadual ou
federal de fins idênticos ou semelhantes, por deliberação dos associados, no caso de
omissão do estatuto (art. 61, CC).

49
A associação até pode obter lucro, no entanto, este lucro deverá ser reinvestido na própria

entidade. A associação não pode ter o lucro como finalidade essencial e nem o distribuís
entre seus associados.

 Constituição da associação

A associação é constituída a partir de um estatuto que é levado à registro.

No artigo 54 do CC estão enumerados os requisitos obrigatórios que devem constar


nos estatutos de toda e qualquer associação. Outras disposições podem ser acrescentadas,

porém os requisitos dispostos na lei são essências, sob pena de nulidade.

O artigo 55 do CC reza que os associados devem ter iguais direitos, ou seja, eles
estão, a priori, em pé de igualdade para com a associação. Dessa forma, em regra, toda

associação deve garantir os direitos mínimos aos associados, sendo as vantagens medida
excepcional a algumas categorias.

Em regra, a qualidade de associado não se transmite nem entre vivos (cessão), nem

por causa morte (herança), salvo se o estatuto não dispuser o contrário. É o que nos informa o
artigo 56 do CC.

 Exclusão dos associados

Uma vez admitido o associado, a sua exclusão somente será possível, conforme vimos,
por justa causa, obedecido o estatuto.

Portanto, deve-se indicar o evento que culminou na exclusão do associado e


comprovar a existência da situação. Além disso, a exclusão de um associado deve ser

50
precedida, necessariamente, sob pena de nulidade, ilegalidade, reintegração do associado,

das garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditório

É o estatuto ou a lei que estabelecem os limites ao exercício de direito ou função por


parte do associado, nos termos do artigo 58 do CC.

3.3.7 Fundações

As fundações são pessoas jurídicas constituídas de um patrimônio destinado a um fim.

 Conceito e Finalidades

O candidato deve atentar às hipóteses previstas no rol do parágrafo único, do artigo


62, que é TAXATIVO e estabelece os fins pelo qual poderão ser constituídas fundações.

Observe o que nos diz o artigo 62, caput, do CC:

 “Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou
testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e
declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.

As fundações possuem as seguintes finalidades, expostas no parágrafo único do artigo 62


do CC:

 Assistência social;
 Cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;
 Educação;
 Saúde;
 Segurança alimentar e nutricional;
 Defesa preservação e conservação do meio ambiente e promoção do
desenvolvimento sustentável;
 Pesquisa cientifica, desenvolvimento tecnológico, modernização de sistemas de
gestão, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e
científicos;

51
 Promoção da ética,
 Da cidadania, da democracia, e dos direitos humanos;
 Atividades religiosas.

Aluno, essas possíveis finalidades das fundações despencam que prova de Tribunais.

Gravem bem!

 Procedimentos para a Criação de uma Fundação

São 4 as fases de constituição da fundação (art. 62, CC):

1. Dotação ou instituição: é a separação de um patrimônio, que pode ser: por


escritura pública (em vida), por testamento (para depois da morte do fundador). A
dotação deve trazer uma relação de bens livres e desembaraçados; também deve
trazer a especificação do fim.

2. Elaboração do Estatuto: serve para lançar as bases da fundação, sua organização,


estrutura. O estatuto pode ser realizado pelo fundador ou por pessoa que ele

credenciar para tanto. Toda vez que o fundador delegar a incumbência para outra
pessoa, o estatuto deve ser concluído no prazo assinado pelo fundador. O prazo será

de 180 dias se o instituidor não determinar outro diverso. Se o prazo transcorrer sem o
aperfeiçoamento do estatuto, a incumbência passa para o Ministério Público.

3. Aprovação por órgão do Ministério Público

4. Registro da escritura de instituição em cartório.

52
Se o Ministério Público não aprovar o estatuto, será cabível o suprimento judicial, ou
seja, o interessado vai à justiça e pede para o magistrado suprir a denegação do Ministério
Público.

O que acontece quando os bens são insuficientes para constituir a fundação? Deve ser
realizado o disposto no artigo 63, CC18: os bens existentes são incorporados em outra
fundação que se proponha a fim igual ou semelhante.19

 Fiscalização e Requisitos para alteração do estatuto

A fiscalização da fundação é realizada pelo Ministério Público. Veja que o Ministério

Público possui grande importância no âmbito das fundações.

Para a alteração do estatuto da fundação, é necessário, de acordo com o art. 67, CC:

 Que seja deliberado por dois terços dos competentes para gerir e representar a
entidade.
 Que não contrarie a sua finalidade.
 Que haja aprovação do Ministério Público, no prazo máximo de 45 dias.

Cumpre esclarecer, por último, que se a alteração não for aprovada por unanimidade,

a minoria vencida poderá requerer a impugnação no prazo de 10 dias, conforme estabelece


o artigo 68 do CC.

 Término das fundações

Ocorre quando seu fim se torna ilícito, impossível ou inútil, ou ainda, quando acaba o
prazo de sua duração.

18 “Art. 63. Quando insuficientes para constituir a fundação, os bens a ela destinados serão, se de outro modo não dispuser o instituidor,
incorporados em outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante.“

19
Vide questão 7 do material;
53
Quem poderá extingui-la é qualquer interessado ou o Ministério Público.

Uma vez extinta a fundação, os bens remanescentes, se houver, salvo disposição em


contrário, passarão para outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante.

54
QUADRO SINÓPTICO

PESSOA FÍSICA
É a aptidão genérica para se titularizar direitos e contrair obrigações
PERSONALIDADE
na órbita jurídica. Merece uma proteção diferenciada.
Teoria natalista: personalidade se inicia no momento do nascimento
com vida, portanto o nascituro possui mera expectativa de direito.
 O nascimento com vida pode ser verificado por meio da docimasia
hidrostática de Galeno.
 Por enquanto, prevalece que é a teoria adotada pelo CC/2002, mas
há o crescimento da adoção da teoria concepcionista no STJ.
INÍCIO DA
Teoria concepcionista: a personalidade se inicia desde a concepção,
PERSONALIDADE
ou seja, o nascituro já seria sujeito de direitos.
Teoria condicional: defende que o nascituro tem determinados direitos,
sujeitos a uma condição suspensiva: o nascimento com vida. O
nascituro teria apenas uma personalidade formal, o que lhe permitiria
gozar de direitos personalíssimos, enquanto os direitos patrimoniais só
seriam adquiridos com o nascimento com vida.
 Nascituro é o já concebido e dentro do útero materno.
 Embrião congelado não é nascituro.
NASCITURO  O nascituro tem direito aos alimentos gravídicos;
 Pode ser nomeado curador para a defesa dos interesses do
nascituro, etc.
Capacidade de direito (capacidade de gozo): capacidade jurídica que
qualquer pessoa tem, de forma genérica.
CAPACIDADE
CAPACIDADE DE Capacidade de fato (capacidade de exercício), que é a capacidade de
DIREITO + CAPACIDADE exercer, pessoalmente, os atos da vida civil. Nem toda pessoa a
DE FATO = CAPACIDADE possui.
PLENA
 A incapacidade só pode ser de fato, pois toda pessoa, ente
personalizado, tem capacidade de direito.
 Capacidade é um conceito amplo, que nos conduz a uma aptidão
geral reconhecida em lei para atuar na vida jurídica. Dividida em
capacidade de direito e de fato.
Capacidade VS.
 Legitimação é um conceito específico. É a pertinência subjetiva
Legitimação
para a prática de certos e determinados atos. Uma pessoa pode ser
CAPAZ, mas não ter LEGITIMAÇÃO para a prática de certo ato. Ex.:
casamento entre dois irmãos.

55
 Difere-se de legitimidade: esta é a capacidade processual, um
dos pressupostos processuais (art. 17, CPC).
Incapacidade Absoluta (artigo 3º do CC): menores de 16 (dezesseis)
anos. É suprida pela representação.
Incapacidade Relativa (artigo 4º do CC): os maiores de 16 e menores
INCAPACIDADES
de 18 anos; os ébrios habituais e os viciados em tóxicos; aqueles que,
por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua
vontade; os pródigos. É suprida pela assistência.
Maioridade: a menoridade cessa aos 18 anos completos, quando a
pessoa fica habilitada a prática de todos os atos da vida civil.
Emancipação:
• Pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante
instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou
por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver 16 anos
CESSAÇÃO DA completos;
INCAPACIDADE • Pelo casamento (menor de 16 anos nunca pode casar: art. 1.520,
CC);
• Pelo exercício de emprego público efetivo;
• Pela colação de grau em curso de ensino superior;
• Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de
relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com 16
anos completos tenha economia própria.
Real: com a morte, quando existe um corpo. A definição do óbito é a
morte encefálica é declarada por médico ou duas testemunhas;
Presumida ou ficta: quando não existe corpo.
 Com a decretação da ausência: a pessoa desaparece sem estar em
risco de vida. Ocorre quando cumpridos os trâmites legais e a lei
EXTINÇÃO DA
autorizar a abertura da sucessão definitiva (arts. 22 a 39, CC).
PERSONALIDADE
 Sem a decretação da ausência (há indícios de morte): art. 7º, CC
 Quando for extremamente provável a morte, quando a pessoa
estava em situação de perigo;
 No caso de desaparecido ou prisioneiro, se a pessoa não for
encontrada até dois anos, após o término da guerra.
Quando dois ou mais indivíduos falecem na mesma ocasião, não se
podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros,
COMORIÊNCIA
presumir-se-ão simultaneamente mortos. Trata-se de presunção
relativa, podendo ser ilidida com provas em contrário.

56
PESSOA JURÍDICA
Agrupamento de pessoas (universitas personarum) ou de um
patrimônio com destinação específica (universitas bonorum).
CONCEITO  Teoria adotada pelo art. 45, CC: Teoria da realidade técnica (autor:
Saleilles). A pessoa jurídica tem uma existência objetiva e dimensão
social, e a sua personificação seria fruto da técnica do direito.
Pessoas jurídicas de direito público:
 Interno: União, Estados, o Distrito Federal e os Territórios, Municípios,
autarquias, inclusive as associações públicas, as demais entidades de
caráter público criadas por lei.
CLASSIFICAÇÃO  Externo: Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas
pelo direito internacional público.
Pessoas jurídica de direito privado: associações; sociedades;
fundações, organizações religiosas; partidos políticos; empresas
individuais de responsabilidade limitada (EIRELI).
Começa com a inscrição (registro) do ato constitutivo na Junta
Comercial ou no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas (art.
INÍCIO DA PESSOA 45 do CC) - o registro é um ato constitutivo.
JURÍDICA Excepcionalmente, algumas pessoas jurídicas, para se constituírem e
demandam uma autorização específica do Poder Executivo, a exemplo
dos bancos e das seguradoras.
A pessoa jurídica traduz uma realidade técnica (ou orgânica). Isso quer
dizer que a pessoa jurídica tem autonomia, ou seja, não se confunde
com seus membros (art. 49-A, CC). A desconsideração ocorre quando o
véu da personalidade é levantado, ou seja, há a perda da autonomia
patrimonial, sem que a pessoa jurídica se extingua.
Desconsideração Direta: se abusos são praticados por sócios e
administradores da pessoa jurídica, é possível que seja realizada a
desconsideração havendo a quebra da autonomia da pessoa jurídica
DESCONSIDERAÇÃO DA em relação aos seus membros, os quais, como resultado, têm seu
PERSONALIDADE patrimônio atingido
JURÍDICA  No caso do art. 50, CC - teoria maior: há abuso da personalidade,
caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão
patrimonial.
 No caso do art. 4º, Lei nº 9605/1998 e do art. 28 caput e §5º,
CDC - teoria menor: não exige prova de fraude ou abuso de
direito para que desconsidere a personalidade jurídica. Basta que o
credor demonstre seu prejuízo, traduzido na inexistência de bens
da pessoa jurídica para saldar a dívida.
Desconsideração Inversa: devedor principal é o sócio e será

57
desconsiderada a personalidade jurídica para atingir o patrimônio da
pessoa jurídica em que o sócio transferiu patrimônio próprio com a
finalidade de enganar seus credores.
Desconsideração Indireta: ocorre quando há fraude e abuso de uma
empresa que é controladora, por meio da controlada ou coligada.
Desconsideração Expansiva: para responsabilizar aquele indivíduo que
coloca sua empresa em nome de um terceiro (laranja) ou para alcançar
empresas de um mesmo grupo econômico.
 Convencional: deliberada por vontade dos sócios.
 Judicial: por decisão do juiz, decorre dos casos de dissolução
previstos em lei ou no estatuto, principalmente quando a sociedade
se desviar dos fins para os quais foi constituída. Ex: em caso de
falência.
 Administrativa: por decisão do poder público que caça a
autorização de funcionamento, quando a PJ pratica atos nocivos ou
DISSOLUÇÃO DA contrários aos seus fins. Ex.: o MEC em relação a algumas
PESSOA JURÍDICA
faculdades.
 Natural: quando os sócios morrem e não são substituídos.
 Legal: em razão da lei (art. 1.034 do CC)
 Averbação da dissolução: os sócios se dirigem ao cartório e lá
averbam (publicam) a dissolução de sua PJ. O fato se torna público
e notório.
 Liquidação (art. 51, CC): é a solução das questões patrimoniais
pendentes
 Cancelamento da Inscrição da PJ
 É a reunião de pessoas, sem fins econômicos. Não se pode
distribuir dividendos entre os associados, caso contrário existiria
um desvio de finalidade, deixando de ser uma associação para se
tornar uma sociedade.
ASSOCIAÇÕES  Não há entre os associados direitos e obrigações recíprocos (art.
53, §único, CC) .
 Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto pode
estabelecer categorias com vantagens especiais (art. 55, CC).

São pessoas jurídicas constituídas de um patrimônio destinado a um


fim.
 Art. 62, caput, CC: Para criar uma fundação, o seu instituidor fará
FUNDAÇÕES
(obrigatório), por escritura pública ou testamento, dotação
especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e
declarando, se quiser (facultado), a maneira de administrá-la.

58
Finalidades - rol taxativo do art. 62, §único, CC:
I. Assistência social; II. Cultura, defesa e conservação do patrimônio
histórico e artístico; III. Educação; IV. Saúde; V. Segurança alimentar e
nutricional; VI. Defesa preservação e conservação do meio ambiente e
promoção do desenvolvimento sustentável; VII. Pesquisa científica,
desenvolvimento tecnológico, modernização de sistemas de gestão,
produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e
científicos; VIII. Promoção da ética, Da cidadania, da democracia, e dos
direitos humanos; IX. Atividades religiosas.

59
QUESTÕES COMENTADAS

Em virtude da escassez de questões atualizadas da carreira de tribunais, acrescentamos questões


referente a outras carreiras.

Questão 1

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2021 - TCE-RJ - Analista de Controle Externo - Especialidade:

Direito) Conforme as disposições legais sobre vigência e aplicação das leis, prescrição, pessoas
naturais e jurídicas, julgue o item a seguir.

Segundo o Código Civil em vigor, a alteração da finalidade original da atividade econômica


específica de pessoa jurídica é, por si só, indicativo de desvio de finalidade para efeito de

desconsideração da personalidade jurídica.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

ERRADA. Conforme o art. 50, § 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou
a alteração da finalidade original da atividade econômica específica da pessoa jurídica.

60
Questão 2

(Banca: FCC - 2020 - TJ-MS - Juiz Substituto) Luiz Antônio, sentindo-se perto da morte, por
meio de testamento, dispõe gratuitamente do próprio corpo em prol da Universidade Federal

de Mato Grosso do Sul, para estudos em curso médico. Excepciona porém o coração, em
relação ao qual pleiteia seja enterrado no túmulo de sua família. Esse ato

A) não é válido, porque a disposição do próprio corpo após a morte não se encontra na
discricionariedade do indivíduo, tratando-se de direito indisponível.
B) não é válido, porque a disposição gratuita do próprio corpo só pode ter objetivo altruístico

e não científico.
C) não é válido, pois a disposição gratuita do próprio corpo, embora seja possível para fins

científicos, não pode ocorrer de forma parcial, mas apenas no todo.


D) é válido porque a disposição do próprio corpo após a morte é ato discricionário do

indivíduo, para qualquer finalidade ou objetivo, gratuitamente ou não.


E) é válido, por ter objetivo científico, ser gratuito e por não ser defesa a disposição parcial do

corpo após a morte.

Comentário:

A) ERRADA. Vide comentário da alternativa "E".

B) ERRADA. Vide comentário da alternativa "E".

C) ERRADA. Vide comentário da alternativa "E".

D) ERRADA. Vide comentário da alternativa "E".

E) CORRETA. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do

próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.

61
Questão 3

(Banca: FGV - 2020 - TJ-RS - Oficial de Justiça) Maria, grávida de 5 meses, preocupa-se com

a proteção dos direitos do seu futuro bebê. O marido de Maria, pai da criança, está
hospitalizado em quadro de saúde gravíssimo e a relação de Maria com a família do seu

marido não é harmoniosa. A afirmação que melhor reflete a situação do nascituro é:

A) nascituro goza de proteção jurídica;

B) nascituro tem personalidade civil plena;


C) nascituro não é titular de direitos subjetivos;

D) embrião e nascituro têm o mesmo tratamento legal;


E) material genético humano congelado é um nascituro.

Comentário:

A) CORRETA. O nascituro dispõe de direitos da personalidade, recebendo, assim, uma

proteção jurídica fundamental, que “só será afastada diante da comprovação, por
exames específicos, da inexistência ou inviabilidade de atividade cerebral naquele ser"
(NEVES, Thiago Ferreira Cardoso. O nascituro e os direitos da personalidade. Rio de
Janeiro: GZ editora, 2012, p. 156). O legislador, na segunda parte do art. 2º do CC,

confirma, ao dispor que “a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro".

B) ERRADA. Interessante são as lições da Professora Maria Helena Diniz, que classifica a
personalidade jurídica em formal e material. A personalidade jurídica formal estaria

relacionada com os direitos da personalidade e o nascituro já os teria desde a


concepção. A personalidade jurídica material, por sua vez, mantém relação com os
direitos patrimoniais e o nascituro só a adquire diante do nascimento com vida (DINIZ,

Maria Helena. Código Civil anotado. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 10). Dentro
desde contexto, de fato, é possível concluir que o nascituro não tem personalidade civil

plena. Tem, pois, a personalidade formal, mas não a material.


62
C) ERRADA. Diz o legislador, no art. 2º do CC, que “a personalidade civil da pessoa

começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos
do nascituro".

O art. 542 do CC dispõe que “a doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu

representante legal".

O caput do art. 1.779 do CC prevê que “dar-se-á curador ao nascituro, se o pai falecer
estando grávida a mulher, e não tendo o poder familiar".

O art. 1.798 do CC informa que “legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já


concebidas no momento da abertura da sucessão".

O art. 1.799, por sua vez, diz que “na sucessão testamentária podem ainda ser

chamados a suceder: I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo


testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão".

Estes dispositivos retratam, claramente, que o nascituro não tem mera expectativa, mas

é verdadeiro titular de direitos subjetivos, confirmando a teoria concepcionalista.

D) ERRADA. De acordo com Maria Helena Diniz, o nascituro é aquele que foi concebido,
mas ainda não nasceu e o embrião diferencia-se dele por ter vida extra uterina. “O
período embrionário termina na 8ª semana depois da fecundação, quando o concepto
passa a ser denominado de feto" (SNUSTAD, Peter; SIMMONS, Michael J. Fundamentos
de Genética. Rio de Janeiro: Uanabara Koogan, 2ª ed, 2001, p. 102).

A questão é altamente polêmica, mas a maioria da doutrina entende que o embrião


está em situação jurídica diferente em relação ao nascituro. Exemplo: apesar de ter
personalidade jurídica formal, não teria a personalidade jurídica material (direitos

patrimoniais), e só seria herdeiro por força de disposição testamentária. Flavio Tartuce


compartilhava desta opinião, tendo mudado seu entendimento recentemente,

defendendo, atualmente, que ao embrião deve ser reconhecida a personalidade civil


plena, inclusive no tocante à tutela sucessória, assim como acontece com o nascituro

63
(TARTUCE, Flavio. Direito Civil. Direito das Sucessões. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense,

2019. v. 6. p. 122-123).

E) ERRADA. Sêmens e óvulo são exemplos de material genético humano e que podem
ser congelados e eles não se confundem com o nascituro (pessoa humana concebida,

mas não nascida, de acordo com a teoria da concepção).

Questão 4

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2020 - TJ-PA - Auxiliar Judiciário) Acerca do início da


existência legal das pessoas jurídicas de direito privado, assinale a opção correta.

A) A pessoa jurídica de direito privado passa a existir a partir da data da inscrição do seu ato
constitutivo no respectivo registro, desde que previamente autorizado pelo Poder Judiciário.

B) O registro da pessoa jurídica de direito privado deve conter, obrigatoriamente, a

denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social, quando houver.

C) O ato constitutivo da pessoa jurídica de direito privado não é reformável no tocante a sua
administração.

D) O registro da pessoa jurídica de direito privado deve conter o nome de seus fundadores, e,

opcionalmente, pode conter o nome de seus instituidores e diretores.

E) Dispensa-se, em qualquer caso, prévia aprovação do Poder Executivo para que pessoa
jurídica de direito privado passe a existir legalmente.

Comentário:

64
A) ERRADA. A existência legal das pessoas jurídicas de direito privado ocorre diante do

registro do seu ato constitutivo no órgão competente. Para as sociedades empresárias,


este registro ocorre na Junta Comercial, enquanto para as demais pessoas jurídicas é no

Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas (art. 1.150 do CC e art. 114 e seguintes
da Lei 6.015). Ressalte-se que, em algumas situações, a lei exige a previa autorização ou

aprovação do Executivo, como acontece, por exemplo, com as sociedades seguradoras.

B) CORRETA. Em harmonia com o art. 46, I do CC. O registro deve conter,


obrigatoriamente, os requisitos arrolados nos incisos ao art. 46 do CC, sob pena de não

valer a constituição.

C) ERRADA. O registro declarará: se o ato constitutivo é reformável no tocante à


administração, e de que modo.

D) ERRADA. O registro declarará: o nome e a individualização dos fundadores ou

instituidores, e dos diretores" (art. 46, II do CC). Assim, o registro da pessoa jurídica de
direito privado deve conter o nome de seus fundadores, instituidores e diretores.

E) ERRADA. Conforme explicado na assertiva A, em algumas situações a lei exige a

previa autorização ou aprovação do Executivo.

Questão 5

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2020 - TJ-PA - Auxiliar Judiciário) Segundo regra geral do
Código Civil, a menoridade cessa a partir do momento em que o sujeito completa dezoito

anos de idade, podendo a incapacidade cessar antes disso. A incapacidade do(a) menor com
dezesseis anos de idade completos cessará se houver

65
A) autorização dos pais mediante instrumento público, desde que homologado pelo Poder

Judiciário.

B) nomeação do(a) menor para o exercício de emprego público efetivo.

C) estabelecimento civil ou comercial em função do qual ele(a) tenha economia própria.

D) casamento, desde que seja resultante de gravidez.

E) comprovação de conclusão do ensino médio.

Comentário:

A) ERRADA. Art. 5 o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa
fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.

Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:

I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento


público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido

o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;

B) ERRADA. A incapacidade do(a) menor com dezesseis anos de idade completos


cessará pelo EXERCÍCIO de emprego público efetivo (inciso III) e não por conta da

simples nomeação.

C) CORRETA. Em harmonia com o inciso V. Se Caio, de 16 anos de idade, possui relação


de emprego com uma empresa, razão pela qual possui economia própria, sua

emancipação independerá de instrumento público ou de homologação judicial.

D) ERRADA. A incapacidade do menor com dezesseis anos de idade completos cessará


pelo CASAMENTO, ainda que não resulte de gravidez, pois o inciso II não faz qualquer

ressalva. Lembre-se que 16 anos é a idade núbil para casamento (art. 1.517 do CC).

66
E) ERRADA. A incapacidade do(a) menor com dezesseis anos de idade completos

cessará pela COLAÇÃO DE GRAU EM CURSO DE ENSINO SUPERIOR (inciso IV).

Questão 6

(Banca: TJ-AP - 2019 - Direito) São pessoas jurídicas de direito privado:

A) A União;

B) Os estados-membros;

C) As autarquias;

D) As associações.

Comentário:

A) ERRADA. A União é pessoa jurídica de direito público interno (art. 41, I do CC).

B) ERRADA. Os estados-membros são pessoas jurídicas de direito público interno (art.

41, II do CC).

C) ERRADA. As autarquias são pessoas jurídicas de direito público interno (art. 41, IV do
CC).

D) CORRETA. As associações são pessoas jurídicas de direito privado (art. 44, I do CC).

67
Questão 7

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2019 - TJ-BA - Juiz Leigo) Com a finalidade de realizar atos de

assistência social, João resolveu instituir pessoa jurídica e, para tanto, reuniu patrimônio.
Entretanto, o seu acervo de bens foi considerado insuficiente para a constituição da referida

pessoa jurídica. De acordo com o Código Civil, a pessoa jurídica pretendida por João
caracteriza-se como

A) associação, podendo João instituí-la ainda que os seus bens sejam insuficientes.

B) fundação, podendo João instituí-la ainda que os seus bens sejam insuficientes.

C) associação, cabendo a João incorporar seus bens a outra associação que tenha finalidade

igual ou semelhante.

D) sociedade, cabendo a João incorporar seus bens a outra sociedade que tenha finalidade
igual ou semelhante.

E) fundação, cabendo a João incorporar seus bens a outra fundação que tenha finalidade igual
ou semelhante.

Comentário:

A) ERRADA. Pois nas associações (CF/88, art. 5º, XVII a XXI), embora não haja fim
lucrativo, o patrimônio é formado com a contribuição de seus membros para a

obtenção de fins culturais, educacionais, esportivos, religiosos, recreativos, morais etc,


sendo certo que deverá conter no seu estatuto as fontes de recursos para a sua

manutenção.

B) ERRADA. Pois a lei prevê a possibilidade de haver bens insuficientes para a


constituição da fundação, doados por escritura pública ou deixados por via

68
testamentária, ordenando, então, que sejam incorporados em outra fundação que vise

igual ou semelhante objetivo, exceto se outra coisa não houver disposto o instituidor.

C) ERRADA. Pois a associação deverá conter no seu estatuto as fontes de recursos para
a sua manutenção, sob pena de nulidade, nos termos do artigo 54, inciso IV, do Código

Civil.

D) ERRADA. Pois segundo determina o artigo 981 do Código Civil, celebram contrato de
sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou

serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados.
Logo, não há que se falar em referido instituto.

E) CORRETA. Pois a lei prevê a possibilidade de haver bens insuficientes para a

constituição da fundação, doados por escritura pública ou deixados por via


testamentária, ordenando, então, que sejam incorporados em outra fundação que vise

igual ou semelhante objetivo, exceto se outra coisa não houver disposto o instituidor.

Questão 8

(Banca: CESPE / 2019 - TJ-BA - Juiz Leigo) De acordo com o Código Civil, o ato de dispor
do próprio corpo é

A) permitido sem indicação médica, mesmo que culmine em redução permanente da

integridade física.

B) proibido para depois da morte se por finalidade altruística.

C) proibido na hipótese de transplante.

D) permitido para depois da morte se para fins científicos.

E) permitido em qualquer hipótese, não sendo passível de revogação.

69
Comentário:

A) ERRADA. Somente por exigência médica será possível suprimir partes do corpo
humano para preservação da vida ou da saúde do paciente.

B) ERRADA. Consoante artigo 14 do CC, é válida, com objetivo científico, ou altruístico, a

disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.

C) ERRADA. Encontra-se em desacordo com a previsão do parágrafo único, artigo 13 do


CC:

Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo,

quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons


costumes.

Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na

forma estabelecida em lei especial.

D) CORRETA. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do


próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.

E) ERRADA. Pois quem vier a dispor para depois de sua morte do próprio corpo, no

todo ou em parte, tem o direito de, a qualquer tempo, revogar livremente essa doação
post mortem.

Questão 9

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2019 - TJ-BA - Conciliador) A respeito de nome civil, assinale a

opção correta, conforme o Código Civil.

70
A) O nome da pessoa pode ser utilizado em propaganda comercial, mesmo sem a sua

autorização.

B) A utilização do nome de uma pessoa por outrem em publicação cujo conteúdo a expõe a
desprezo público não é ilegal.

C) Pseudônimo adotado para o exercício de atividades lícitas não possui proteção.

D) Pseudônimo adotado para o exercício de atividades lícitas possui a mesma proteção


assegurada ao nome.

E) O nome da pessoa não pode ser utilizado em propaganda comercial, mesmo com a sua

autorização.

Comentário:

A) ERRADA. “Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda

comercial" (art. 18 do CC). Em consonância com o art. 18 do CC, temos, ainda, o


Enunciado 278 do CJF: “A publicidade que divulgar, sem autorização, qualidades

inerentes a determinada pessoa, ainda que sem mencionar seu nome, mas sendo capaz
de identificá-la, constitui violação a direito da personalidade".

B) ERRADA. “O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações

ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja


intenção difamatória" (art. 17 do CC). E mais: alguns doutrinadores, entre eles o Flavio

Tartuce e a Silmara Chinellato, consideram este dispositivo um retrocesso, pois, ainda


que não haja exposição da pessoa ao desprezo público, caberá a tutela do nome
quando este for utilizado indevidamente (TARTUCE, Flavio. Direito Civil. Lei de

Introdução e Parte Geral. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. v. 1. p. 288).

Este dispositivo protege tanto o nome das pessoas físicas, quanto das pessoas jurídicas.
No mais, os elementos que compõe o nome encontram-se arrolados no art. 16 do CC.

71
Vejamos um acórdão do STJ: “O direito ao nome é parte integrante dos direitos de

personalidade tanto das pessoas físicas quanto das pessoas jurídicas, constituindo o
motivo pelo qual o nome (empresarial ou fantasia) de pessoa jurídica não pode ser

empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao


desprezo público nem tampouco utilizado por terceiro, sem sua autorização prévia, em

propaganda comercial" (REsp 1481124 / SC, Relator RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, DJe
13/04/2015).

C) ERRADA. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá

ao nome" (art. 19 do CC). Pseudônimo, segundo a definição da doutrina, é o “nome


atrás do qual se esconde um autor de obra artística, literária ou cientifica" (TARTUCE,

Flavio. Direito Civil. Lei de Introdução e Parte Geral. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2017. v. 1. p. 194). A proteção restringe-se a atividades lícitas.

D) CORRETA. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá

ao nome.

E) ERRADA. Conforme já explicado na assertiva A, “sem autorização, não se pode usar o


nome alheio em propaganda comercial" (art. 18 do CC).

Questão 10

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2019 - TJ-BA - Conciliador) Com base nas disposições do

Código Civil referentes a pessoas jurídicas, assinale a opção correta.

A) As sociedades são pessoas jurídicas de direito privado criadas por meio de lei.

B) As fundações são pessoas jurídicas de direito privado cuja criação é livre e independe de
registro.

C) Os partidos políticos são pessoas jurídicas de direito público criadas por meio de lei.
72
D) As associações são pessoas jurídicas de direito privado cuja existência legal depende de

inscrição do ato constitutivo no respectivo registro.

E) As organizações religiosas são pessoas jurídicas de direito público cuja criação é


condicionada ao reconhecimento de sua existência pelo poder público.

Comentário:

A) ERRADA. As sociedades são pessoas jurídicas de direito privado, conforme previsão

do art. 44, II do CC; contudo, não são criadas por meio de lei, como acontece com as
autarquias (art. 37, XIX da CRFB), mas a partir da união de pessoas, que celebram
contrato de sociedade e, reciprocamente, obrigam-se a contribuir com bens ou serviços

para o exercício de atividade econômica e a partilha dos resultados.

B) ERRADA. As fundações são pessoas jurídicas de direito privado (art. 44, III do CC) e,
para a sua criação, “o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação

especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a


maneira de administrá-la" (art. 62 do CC).

Ressalte-se que, ao contrário das associações e das sociedades, as fundações não

resultam da união de pessoas, mas da união de bens, em que o seu instituidor, seja por
escritura pública ou testamento, especifica o seu fim. São constituídas para fins nobres,

não se falando em lucro.

C) ERRADA. Os partidos políticos são pessoas jurídicas de direito privado (art. 44, V do
CC), sendo que o § 3º do referido dispositivo legal dispõe que serão regidos por lei

específica (Lei 9.096/95). Tanto os partidos políticos quanto as organizações religiosas


não constavam no rol do art. 44 do CC, pois eram considerados espécies de associações

(art. 44, I).

73
Posteriormente, a Lei 10.825/2003 acrescentou ao art. 44 os incisos IV e V, organizações

religiosas e partidos políticos respectivamente. Com isso, podemos concluir que, após a
edição da lei, os partidos políticos e organizações religiosas deixaram de ser

considerados espécies de associações. No mais, partidos políticos não se enquadram


dentro do conceito de associação do art. 53 do CC, haja vista não terem fim assistencial,

cultural, moral e nem religioso (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro.
Parte Geral. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 1. p. 247/249).

É importante ressaltar que esse não é o entendimento pacífico na doutrina, pois temos

o Enunciado 142 do CJF, que é no sentido de serem, sim, as organizações religiosas e


os partidos políticos espécies de associações: “Os partidos políticos, os sindicatos e as

associações religiosas possuem natureza associativa, aplicando-se-lhes o Código Civil".


Nesse contexto, os partidos políticos seriam criados pela união de indivíduos.

Adquirem personalidade jurídica com o registro de seus estatutos mediante

requerimento ao cartório competente do Registro Civil das pessoas jurídicas da capital


federal e ao Tribunal Superior Eleitoral.

D) CORRETA. As associações são pessoas jurídicas de direito privado (art. 44, I do CC).

“Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do
ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou
aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que

passar o ato constitutivo".

A existência legal das pessoas jurídicas de direito privado ocorre diante do registro do
seu ato constitutivo no órgão competente, de acordo com o art. 45 do CC. Para as

sociedades empresárias, esse registro ocorre na Junta Comercial, enquanto para as


demais pessoas jurídicas é no Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas (art. 1.150

do CC e art. 114 e seguintes da Lei 6.015). Ressalte-se que, em algumas situações, a lei
exige a previa autorização ou aprovação do Executivo, como acontece, por exemplo,
com as sociedades seguradoras.

74
E) ERRADA. São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o

funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes


reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento"

(art. 44, § 1º do CC). Em complemento, temos o Enunciado 143 do CJF: “A liberdade de


funcionamento das organizações religiosas não afasta o controle de legalidade e

legitimidade constitucional de seu registro, nem a possibilidade de reexame, pelo


Judiciário, da compatibilidade de seus atos com a lei e com seus estatutos".

75
GABARITO

Questão 1 – ERRADA

Questão 2 – E

Questão 3 – A

Questão 4 – B

Questão 5 – C

Questão 6 – D

Questão 7 – A

Questão 8 – D

Questão 9 – D

Questão 10 - D

76
QUESTÃO DESAFIO

Qual a diferença entre a desconsideração da personalidade jurídica e a

despersonificação da pessoa jurídica? Fundamente.

Responda em até 5 linhas

77
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

Na despersonificação da Pessoa Jurídica, prevista no art. 51, do CC, a pessoa

jurídica é extinta (dissolvida), com a apuração do ativo e do passivo. Já a desconsideração


da Pessoa Jurídica, previsto nos arts. 50, do CC, e 28, do CDC, a pessoa jurídica não é
extinta, havendo apenas uma ampliação de responsabilidades.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Na despersonificação, a PJ é dissolvida.

O art. 51 do CC aduz: “Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a


autorização para seu funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se

conclua.” Assim, a despersonificação ou despersonalização nada mais é do que extinção da


pessoa jurídica, como a morte é a extinção da pessoa natural. Os doutrinadores Pablo Stolze e

Rodolfo Pamplona Filho classificam a dissolução da pessoa jurídica por três meios: “a)
convencional – é aquela deliberada entre os próprios integrantes da pessoa jurídica,

respeitado o estatuto ou o contrato social; b) administrativa – resulta da cassação da


autorização de funcionamento, exigida para determinadas sociedades se constituírem e
funcionarem; c) judicial – nesse caso, observada uma das hipóteses de dissolução previstas em

lei ou no estatuto, o juiz, por iniciativa de qualquer dos sócios, poderá, por sentença,
determinar a sua extinção.” (Gagliano, Pablo Stolze; Pamplona Filho, Rodolfo. Novo curso de

direito civil, volume 1: parte geral – 21. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 362-363).

 Na desconsideração: ampliação de responsabilidades

De acordo com o art. 50, do CC: “Em caso de abuso da personalidade jurídica,
caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a

requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo,


desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam
estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica

78
beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso.” Ademais, o art. 28, do CDC, também prevê

a utilização desse instituto: “O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade


quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração

da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração
também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou

inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.” Assim, segundo lição de


Flávio Tartuce: “Devido a essa possibilidade de exclusão da responsabilidade dos sócios, a

pessoa jurídica, por vezes, desviou-se de seus princípios e fins, cometendo fraudes e lesando à
sociedade ou a terceiros, provocando reações na doutrina e na jurisprudência. Visando a coibir
tais abusos, surgiu a figura da teoria da desconsideração da personalidade jurídica, teoria do

levantamento do véu ou teoria da penetração na pessoa física (disregard of the legal entity).
Com isso, alcançam-se pessoas e bens que se escondem dentro de uma pessoa jurídica para

fins ilícitos ou abusivos.” (Tartuce, Flávio. Direito civil: lei de introdução e parte geral – v. 1 –
15. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 403).

Desse modo, tal instituto permite ao juiz não mais considerar os efeitos da

personificação da sociedade (que assegura a distinção entre a pessoa jurídica e seus sócios)
para atingir e vincular responsabilidades dos sócios, com intuito de impedir a consumação de

fraudes e abusos cometidos pelos mesmos, desde que causem prejuízos e danos a terceiros,
principalmente aos credores da empresa. Dessa forma, há uma ampliação das

responsabilidades dos sócios, onde seus bens particulares podem responder pelos danos
causados a terceiros.

79
LEGISLAÇÃO COMPILADA

É imprescindível a leitura dos dispositivos do Código Civil indicados abaixo. Eles são

fáceis e garantem questões em diversas provas e todas as Carreiras Jurídicas.

PESSOA FÍSICA

 Código Civil: arts. 1 a 8; 22 a 39.

PESSOA JURÍDICA

 Código Civil: arts. 40 a 69;

 Súmula 227, STJ: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”.

 Súmula 525, STJ: “A Câmara de vereadores não possui personalidade jurídica, apenas
personalidade judiciária, somente podendo demandar em juízo para defender os seus direitos
institucionais”.

80
JURISPRUDÊNCIA

É CONSTITUCIONAL A EXIGÊNCIA DE QUE O CAPITAL SOCIAL DA


EIRELI NÃO SEJA INFERIOR A 100 VEZES O MAIOR SALÁRIO-
MÍNIMO VIGENTE NO PAÍS (ART. 980-A DO CÓDIGO CIVIL)
 STF. Plenário. ADI 4637/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/12/2020 (Info 1001).

A exigência de integralização do capital social por empresas individuais de responsabilidade limitada (EIRELI), no
montante previsto no art. 980-A do Código Civil, com redação dada pelo art. 2º da Lei nº 12.441/2011, não viola
a regra constitucional que veda a vinculação do salário-mínimo para qualquer fim e também não configura
impedimento ao livre exercício da atividade empresarial. O art. 980-A do Código Civil exige que o capital social
da empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) não seja inferior a 100 vezes o maior salário-mínimo
vigente no País. Essa previsão é constitucional. Não há violação ao art. 7º, IV, da CF/88 porque não existe, no art.
980-A, qualquer forma de vinculação que possa interferir ou prejudicar os reajustes periódicos do salário mínimo.
Não há afronta ao art. 170 da CF/88 (livre iniciativa) porque essa exigência de capital social mínimo tem por
objetivo proteger os interesses de eventuais credores, além do que não impede que a pessoa exerça a livre
iniciativa, sendo apenas um requisito para a constituição de EIRELI.

Comentário: Os requisitos para a constituição da EIRELI são os seguintes: a) Uma única pessoa, que é
o titular da totalidade do capital social; b) O capital social deve estar devidamente integralizado; c) O
capital social não pode ser inferior a 100 (cem) vezes o salário-mínimo; d) A pessoa natural que
constituir EIRELI somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade. Assim, para evitar
fraudes, ninguém pode ser titular de duas empresas individuais de responsabilidade limitada.

FICAM SUSPENSAS AS AÇÕES JUDICIAIS PROPOSTAS CONTRA


COOPERATIVA QUE ESTEJA EM LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL; ESTA
SUSPENSÃO, CONTUDO, NÃO PODE SER SUPERIOR A 1 ANO,
PRORROGÁVEL POR MAIS 1 ANO
 STJ. 3ª Turma. REsp 1833613-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
17/11/2020 (Info 683).

Quando a assembleia-geral aprova a liquidação extrajudicial da cooperativa, isso acarreta a sustação de qualquer
ação judicial contra a entidade, pelo prazo de 1 ano (art. 76 da Lei nº 5.764/71). Esse prazo pode ser prorrogado
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por mais 1 ano. Não é possível ampliar essa suspensão para além do limite legal de 2 anos, não sendo possível
aplicar, por analogia, a regra de prorrogação do stay period da recuperação judicial (art. 6º, § 4º, da Lei nº
11.101/2005). O art. 76 da Lei nº 5.764/71 possui caráter excepcional porque atribui atribuir a uma deliberação
privada o condão de suspender a prestação da atividade jurisdicional. Em suma: não é cabível a suspensão do
cumprimento de sentença contra cooperativa em regime de liquidação extrajudicial para além do prazo de 1 ano,
prorrogável por mais 1 ano.

Comentário: Quando a assembleia-geral aprova a liquidação extrajudicial da cooperativa, isso


acarreta a sustação de qualquer ação judicial contra a entidade, pelo prazo de 1 ano. Nesse sentido é
o caput do art. 76 da Lei nº 5.764/71 (Lei das Cooperativas): Art. 76. A publicação no Diário Oficial, da
ata da Assembleia Geral da sociedade, que deliberou sua liquidação, ou da decisão do órgão executivo
federal quando a medida for de sua iniciativa, implicará a sustação de qualquer ação judicial contra a
cooperativa, pelo prazo de 1 (um) ano, sem prejuízo, entretanto, da fluência dos juros legais ou
pactuados e seus acessórios.

A RESPONSABILIDADE DO EX-COOPERADO PELO RATEIO DOS


PREJUÍZOS ACUMULADOS NÃO SE LIMITA AO PRAZO DE 2 ANOS
CONTADOS DO DESLIGAMENTO DA COOPERATIVA, PREVISTO NO
ART. 1.003, PARÁGRAFO ÚNICO, E NO ART. 1.032, DO CÓDIGO
CIVIL
 STJ. 3ª Turma. REsp 1774434-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/09/2020 (Info
682).

Exemplo: João fazia parte de uma cooperativa e saiu formalmente em 2010. Em 2014, a cooperativa ajuizou ação
contra João cobrando o pagamento de parte proporcional de prejuízo que a entidade sofreu em 2009.

O STJ afirmou o ex-cooperado pode responder porque não se aplica o limite de prazo de 2 anos, previsto no art.
1.003, parágrafo único e no art. 1.032, do Código Civil:

Art. 1.003 (...) Parágrafo único. Até dois anos depois de averbada a modificação do contrato, responde o cedente
solidariamente com o cessionário, perante a sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio.

Art. 1.032. A retirada, exclusão ou morte do sócio, não o exime, ou a seus herdeiros, da responsabilidade pelas
obrigações sociais anteriores, até dois anos após averbada a resolução da sociedade; nem nos dois primeiros
casos, pelas posteriores e em igual prazo, enquanto não se requerer a averbação.

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Esses dispositivos mencionados pertencem ao regime das sociedades simples e somente se aplicariam às
cooperativas caso a lei fosse omissa (art. 1.096 do CC). Ocorre que o art. 89 da Lei nº 5.764/71 trata sobre o
tema e não estipula prazo.

Por fim, vale mencionar que o prazo prescricional para cobrança de ato cooperativo é de 10 anos, nos temos do
art. 205 do CC.

Comentário: O art. 89 da Lei nº 5.764/71 (Lei das Cooperativas) trata sobre o tema e não estipula
prazo a partir do qual o cooperado que deixou a entidade fica liberado do pagamento.

NÃO HÁ CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EM


INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
 STJ. 3ª Turma. REsp 1845536-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 26/05/2020 (Info 673).

Em regra, não é cabível a condenação em honorários advocatícios em qualquer incidente processual, ressalvados
os casos excepcionais. Tratando-se de incidente de desconsideração da personalidade jurídica, não cabe a
condenação nos ônus sucumbenciais em razão da ausência de previsão legal. Logo, é irrelevante apurar quem
deu causa ou foi sucumbente no julgamento final do incidente.

Comentário: A desconsideração da personalidade jurídica, no âmbito das relações civis gerais, está
disciplinada no art. 50 do CC.

MEMBROS DO CONSELHO FISCAL DE UMA COOPERATIVA NÃO


PODEM SER ATINGIDOS PELA DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA SE NÃO PRATICARAM NENHUM ATO
DE ADMINISTRAÇÃO
 STJ. 3ª Turma. REsp 1766093-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 12/11/2019 (Info 661).

A desconsideração da personalidade jurídica, ainda que com fundamento na Teoria Menor, não pode atingir o
patrimônio pessoal de membros do Conselho Fiscal sem que haja a mínima presença de indícios de que estes
contribuíram, ao menos culposamente e com desvio de função, para a prática de atos de administração. Caso
concreto: consumidor comprou um imóvel de um cooperativa habitacional, mas este nunca foi entregue; o
consumidor ajuizou ação de cobrança contra a cooperativa, tendo o pedido sido julgado procedente para
devolver os valores pagos; durante o cumprimento de sentença, o juiz, com base na teoria menor, fez a
desconsideração da personalidade jurídica para atingir o patrimônio pessoal dos membros do Conselho Fiscal da

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cooperativa; o STJ afirmou que eles não poderiam ter sido atingidos. A despeito de não se exigir prova de abuso
ou fraude para fins de aplicação da Teoria Menor da desconsideração da personalidade jurídica, tampouco de
confusão patrimonial, o § 5º do art. 28 do CDC não dá margem para admitir a responsabilização pessoal de
quem jamais atuou como gestor da empresa.

Comentário: A desconsideração da personalidade jurídica, no âmbito das relações civis gerais, está
disciplinada no art. 50 do CC.

SE UM COOPERADO PEDE PARA SAIR OU É EXPULSO DA


COOPERATIVA ELE NÃO TERÁ DIREITO DE RECEBER UMA QUOTA-
PARTE DO FATES, QUE É UM FUNDO INDIVISÍVEL
 STJ. 3ª Turma. REsp 1562184-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/11/2019
(Info 661).

Não se partilha a verba do Fundo de Reserva e Assistência Técnica Educacional e Social - FATES - com o
associado excluído ou que se retira do quadro social da cooperativa. O percentual obrigatoriamente pago ao
FATES, no percentual mínimo de 5% das sobras líquidas apuradas ao final do exercício social não é disponível e
seu destino independe da vontade dos cooperados.

Comentário: A Lei prevê que as cooperativas são obrigadas a formar um fundo para a assistência dos
associados, familiares e dos empregados. Isso é o FATES: Fundo de Assistência Técnica, Educacional e
Social. Veja a redação do art. 28, II, da Lei nº 5.764/71: Art. 28. As cooperativas são obrigadas a
constituir:

(...)

II - Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social, destinado a prestação de assistência aos


associados, seus familiares e, quando previsto nos estatutos, aos empregados da cooperativa,
constituído de 5% (cinco por cento), pelo menos, das sobras líquidas apuradas no exercício.

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MAPA MENTAL

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FARIAS, Cristiano Chaves de. Manual de Direito Civil - Volume Único - 2. ed. atual. e ampl. - Salvador:
JusPodivm, 2018.

GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil - 6. ed - Rio de Janeiro: Forense, 1979.

TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único - Volume Único - 8. ed. rev, atual. e ampl. - Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: parte geral v. 1. 10. ed. - São Paulo: Atlas, 2010.

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