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CERS TRIBUNAIS

TRIBUNAIS

DIREITO CIVIL

CAPÍTULO 9
Olá, aluno!

Bem-vindo ao estudo para os concursos de Tribunais. Preparamos todo esse material


para você não só com muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade,

garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma


inteligente.

O CERS Book é um material em PDF desenvolvido especificadamente para a sua


carreira. O material tem o objetivo de ser autossuficiente e totalmente direcionado, dando

prioridade aos pontos mais importantes de cada disciplina!

Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com


fins de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital.

Afinal, queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior
aproveitamento, pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para

otimizar seu estudo sempre!

Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo


completo que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a
estrutura do CERS Book foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar
especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada
capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto
com a leitura de jurisprudência selecionada.

E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou

comentários, entre em contato através do e-mail pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
a gente!

O que você vai encontrar aqui?

 Recorrência da disciplina e de cada assunto dentro dela


 Questões comentadas
1
 Questão desafio para aprendizagem proativa
 Jurisprudência comentada
 Indicação da legislação compilada para leitura
 Quadro sinótico para revisão
 Mapa mental para fixação

Acreditamos que com esses recursos você estará munido com tudo que precisa para
alcançar a sua aprovação de maneira eficaz. Racionalizar a preparação dos nossos alunos é

mais que um objetivo para o CERS, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos
agora para o estudo da disciplina.

Faça bom uso do seu PDF!

2
Recado para você que está assistindo às videoaulas

Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você
que está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do
nosso CERS Book. Portanto, você deve estar atento que:

O CERS book foi desenvolvido para complementar a aula do professor e te dar um


suporte nas revisões!

Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas,
razão pela qual pode ser eventualmente repetido;

A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se
o capítulo 03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é

baseada no estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público,
por isso, nem todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou
legislativa;

Esperamos que goste do conteúdo!

3
Assim, os assuntos de Direito Civil estão distribuídos da seguinte forma:

CAPÍTULOS

Capítulo 1 – LINDB - Lei de Introdução às Normas do Direito



Brasileiro
Capítulo 2 – Teoria Geral do Direito 
Capítulo 3 – Pessoa Jurídica 

Capítulo 4 – Direitos da Personalidade 


Capítulo 5 – Domicílio 
Capítulo 6 – Bens Jurídicos 
Capítulo 7 – Teoria do ato, fato e negócio jurídico 

Capítulo 8 – Defeitos do Negócio Jurídico 

Capítulo 9 (você está aqui!) – Prescrição e Decadência 

Capítulo 10 – Introdução, elementos e classificação das Obrigações 


Capítulo 11 - Transmissão, Adimplemento, Extinção e Inadimplemento

das Obrigações

Capítulo 12 – Responsabilidade Civil 


Capítulo 13 – Teoria Geral dos Contratos 
Capítulo 14 – Contratos em espécie I 
Capítulo 15 – Contratos em espécie II 
Capítulo 16 – Posse e Direitos Reais 
Capítulo 17 – Direito de família 
Capítulo 18 – Direito sucessório 

4
SOBRE ESTE CAPÍTULO

O presente capítulo tratará sobre a prescrição e decadência no Direito Civil, sendo este
tema o último da parte geral. Entender os conceitos e as diferenças entre prescrição e
decadência é muito relevante.

No entanto, o que mais se cobra em provas objetivas são os prazos previstos em lei e
as causas impeditivas da prescrição. Deste modo, essa parte do Código Civil, principalmente
os artigos dos prazos prescricionais, vocês deverão reler muito perto da prova, para estarem

frescos na cabeça.

A jurisprudência dos tribunais superiores, como vocês irão ver, é extensa, devendo ser
lida com muita atenção. Os desdobramentos jurisprudenciais que derivam da prescrição e da

decadência são inúmeros, devendo, inclusive, o aluno se atentar para a parte processual do
tema.

Ademais, o Código de Defesa do Consumidor também traz diferenciações

específicas sobre a prescrição e a decadência, devendo o aluno entender em que campo o


tema se encaixa, no Direito Civil ou no Direito do Consumidor, para, assim, saber qual prazo
deve ser aplicado ao caso concreto.

Sendo um tema em que, predominantemente, é cobrada a de letra da lei,


principalmente quando falamos de carreias de Tribunais, este capítulo não é extenso.

Contudo, as questões objetivas sobre o tema são consideradas de nível fácil, devendo ser
acertadas para que o concurseiro tenha uma nota alta na prova.

Força, foco e café, vamos ao que interessa!

5
SUMÁRIO

DIREITO CIVIL ........................................................................................................................................... 7

Capítulo 9 .................................................................................................................................................. 7

9. Prescrição e Decadência .................................................................................................................. 7

9.1 Prescrição.................................................................................................................................................................. 7

9.1.1 Prazos da Prescrição................................................................................................................................ 8

9.1.2 Características .......................................................................................................................................... 11

9.1.3 Hipóteses que Impedem ou Suspendem a Prescrição: ........................................................ 13

9.2 Decadência............................................................................................................................................................ 17

9.2.1 Decadência legal x convencional .................................................................................................... 18

9.2.2 Características da Decadência .......................................................................................................... 19

QUADRO SINÓTICO .............................................................................................................................. 24

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 25

GABARITO ............................................................................................................................................... 36

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 37

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 38

LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 40

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 42

MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 61

6
DIREITO CIVIL

Capítulo 9

Acertar se um prazo é prescricional ou decadencial é uma dificuldade de muitos


operadores do direito. Iremos aqui, destrinchar os temas, finalizando com uma comparação

entre eles, para que fique mais claro para vocês.

9. Prescrição e Decadência

9.1 Prescrição

Quando um direito é violado, o titular deste direito pode agir juridicamente para
garanti-lo, isto é o que chamamos pretensão (a pretensão à ação). A prescrição é justamente
o que extingue esta pretensão, é o decurso do tempo hábil, que dispunha a pessoa, para

utilizar-se da pretensão à ação.

Prescrição é instituto de ordem pública e seus casos estão taxativamente elencados


nos artigos 205 e 206 do CC.

A prescrição pode ser extintiva ou aquisitiva. A prescrição extintiva conduz à perda do


direito de pretensão a ação por seu titular negligente, ao fim de certo lapso de tempo.
Enquanto a prescrição aquisitiva (usucapião) consiste na aquisição do direito real pelo

decurso de tempo, um modo de se adquirir a propriedade pela posse prolongada. Tal direito
é conferido em favor daquele que possuir, com ânimo de dono, o exercício de fato das

faculdades inerentes ao domínio ou a outro direito real, no tocante a coisas móveis e imóveis,
pelo período de tempo que é fixado pelo legislador.

Portanto, a prescrição é a perda da ação atribuída a um direito e, também, de toda a


sua capacidade defensiva, em consequência do não uso, decorrido determinado período de

7
tempo. Os elementos comuns a prescrição extintiva e aquisitiva são o tempo e a inércia do

titular.

São requisitos da prescrição:

 Existência de ação exercitável é o objeto da prescrição. Tendo em vista a violação

de um direito, a ação tem por fim eliminar os efeitos dessa violação. A ação
prescreverá se o interessado não a promover. Logo que surge o direito de ação, já

começa a correr o prazo da prescrição.

 Inércia do titular da ação pelo seu não exercício, ou seja, o titular do direito nada

faz para proteger seu direito. A inércia é, pois, o não exercício da ação, logo após a
violação do direito. E esta cessa com a propositura da ação, ou com qualquer ato

que a lei admita e que demostre que a pessoa irá defender o seu direito.

 Continuidade dessa inércia durante certo lapso de tempo é o fator principal da

prescrição. A inércia exigida para configurar a prescrição é aquela continuada, não a

momentânea.

 Ausência de fato ou ato impeditivo, suspensivo ou interruptivo do curso da

prescrição. Existem casos que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.

A regra geral é de que toda pretensão é prescritível, entretanto, não é absoluta, uma

vez que existem direitos que por sua natureza, são incompatíveis com o instituto da
prescrição.

Desse modo, não se acham sujeitos a limites de tempo e não se extinguem pela

prescrição, por exemplo, os direitos de personalidade; o estado da pessoa; as ações referentes


ao estado de família; os bens públicos (CC art.102); os direitos facultativos ou potestativos; a

exceção de nulidade.

9.1.1 Prazos da Prescrição

Os arts. 205 e 206 do CC estabelecem os prazos da prescrição.

8
A regra geral é que ocorre a prescrição dez anos, quando a lei não lhe haja fixado

prazo menor.

 Em um ano:

 A pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a


consumo no próprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou

dos alimentos;

 A pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele.

 A pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais,

árbitros e peritos, pela percepção de emolumentos, custas e honorários;

 A pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a

formação do capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da

assembléia que aprovar o laudo;

 A pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os

liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de encerramento da

liquidação da sociedade.

 Em dois anos:

 A pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se

vencerem.

 Em três anos:

 A pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;

 A pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou

vitalícias;

A pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações


acessórias, pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com capitalização
ou sem ela;

9
 A pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;

 A pretensão de reparação civil;

 A pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé,

correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuição;

 A pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou do

estatuto, contado o prazo: a) para os fundadores, da publicação dos atos


constitutivos da sociedade anônima; b) para os administradores, ou fiscais, da

apresentação, aos sócios, do balanço referente ao exercício em que a violação


tenha sido praticada, ou da reunião ou assembléia geral que dela deva tomar
conhecimento; e c) para os liquidantes, da primeira assembléia semestral

posterior à violação;

 A pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do

vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial;

 A pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado,

no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório.

 Em quatro anos:

 A pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas.

 Em cinco anos:

 A pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento

público ou particular;

 A pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais,


curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo da

conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato;

 A pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo.

10
9.1.2 Características

Nesse momento, faz-se necessário que continuemos com a análise de alguns artigos
referentes à prescrição:

 De acordo com o art. 190, a exceção prescreve no mesmo prazo em que a


pretensão. Ou seja, os prazos aplicados às pretensões são os mesmos aplicados as

defesas e exceções correspondentes1.

 O art. 191, por sua vez, dispõe que a renúncia da prescrição pode ser expressa ou

tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se
consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado,

incompatíveis com a prescrição2.

Renúncia à prescrição nada mais é que a desistência, por parte do titular, isto é, do

devedor, de invocá-la. Existem limites a essa renúncia, quais sejam: (i) a capacidade do
renunciante, uma vez que constitui renúncia de patrimônio; (ii) não prejuízo a terceiros, sob

pena de fraude; (iii) a renúncia só é possível à prescrição que já se consumou, pois ninguém
pode dar aquilo que não é. Não pode ser antecipada, ou seja, não se pode renunciá-la antes

de consumada. Além disso, é ato pessoal do agente, afeta apenas o renunciante ou seus
herdeiros.

 De acordo com o art. 192, os prazos de prescrição não podem ser alterados por

acordo das partes3.

 De acordo com o art. 193, a prescrição pode ser alegada em qualquer grau de

jurisdição, pela parte a quem aproveita4.

1
Vide questão 3 do material
2
Vide questão 9 do material
3
Vide questão 4 do material
4
Vide questão 10 do material
11
Em sede de recurso extraordinário e especial, a prescrição somente pode ser reconhecida se
houver o prequestionamento da matéria. Há, contudo, a divergência quanto a necessidade
do prequestionamento específico da prescrição ou se aplica-se o efeito expansivo

(translativo) dos recursos, isto é, caso o recurso seja admitido no tribunal superior por outro
prequestionamento, há a abertura da jurisdição, podendo toda e qualquer questão de mérito

ser conhecida e decidida. Tradicionalmente, o STF e o STJ entendem que é necessário o


prequestionamento específico de cada matéria. Contudo, o CPC/15 em seu artigo 1034,

§único parece ir de encontro com o entendimento doutrinário, no qual há a consagração do


efeito translativo. Trata-se, portanto, de questão ainda polêmica.

 De acordo com o art. 195, os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm

ação contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem causa à

prescrição, ou não a alegarem oportunamente.

 De acordo com o art. 196, a prescrição iniciada contra uma pessoa continua a

correr contra o seu sucessor5.

A prescrição pode ser declarada de ofício pelo juiz?

5
Vide questão 5 do material
12
Conforme entendimento do CPC (artigo 487, §único) e do STJ, de acordo com o

princípio da cooperatividade e do princípio da vedação da decisão surpresa, entende-se


que o juiz deve intimar as partes para se manifestarem, antes de declarar a ocorrência da

prescrição, para que, deste modo, estas tenham oportunidade de demonstrar que o prazo
ainda não se esgotou ou que houve a renúncia desta.

9.1.3 Hipóteses que Impedem ou Suspendem a


Prescrição:

As causas impeditivas prescricionais são:

Não corre a prescrição (artigo 197 CC):

 Entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal6;

 Entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;

 Entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela


ou curatela.

As causas suspensivas são todas NÃO JUDICIAIS:

Também não corre a prescrição (artigo 198 CC):

 Contra os incapazes de que trata o art. 3o; (absolutamente incapazes)

 Contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos


Municípios;

 Contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de


guerra.

Não corre igualmente a prescrição (artigo 199 CC):

6
REsp 1660947-TO (vide julgado comentado).
13
 Pendendo condição suspensiva;

 Não estando vencido o prazo;

 Pendendo ação de evicção

Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitam os

outros se a obrigação for indivisível. O prazo prescricional se suspenso volta a correr quando
cessada a causa da suspensão.

Por sua vez, as causas interruptivas são todas JUDICIAIS. Com exceção do protesto

cambial e protesto em cartório E da confissão por dívida, as quais são não judiciais. Essas
causas interruptivas podem, conforme o artigo 202 do CC, somente, ocorrer uma única vez.

A interrupção da prescrição (artigo 202 CC), que somente poderá ocorrer uma vez,

dar-se-á:

 Por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o


interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;

 Por protesto, nas condições do inciso antecedente;

 Por protesto cambial;

 Pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em


concurso de credores;

 Por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;

 Por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe


reconhecimento do direito pelo devedor.

A prescrição interrompida recomeça a correr da data do dia seguinte ao ato que a


interrompeu (causas interruptivas não judiciais), ou do último ato do processo para a

interromper (ou seja, retorna na integralidade). A prescrição pode ser interrompida por
qualquer interessado.

14
A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros;

semelhantemente, a interrupção operada contra o codevedor, ou seu herdeiro, não prejudica


aos demais coobrigados (artigo 204 CC).

A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim como a

interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros (artigo
204, §1º CC).

A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica os

outros herdeiros ou devedores, senão quando se trate de obrigações e direitos indivisíveis


(artigo 204, §2º CC).

A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador (artigo 204, §3º

CC).

O impedimento e a suspensão da prescrição fazem cessar, temporariamente, seu curso.

Nos casos de suspensão, nos quais a causa é superveniente, uma vez desaparecida
esta, o prazo prescricional retoma seu curso normal, computando-se o tempo verificado

antes da suspensão.

Na interrupção a situação é diversa, pois verificada alguma das causas interruptivas,


perde-se por completo o tempo decorrido. O lapso prescricional iniciar-se-á novamente

(passa a contar o prazo desde o início, recomeça). O tempo precedente decorrido fica

totalmente inutilizado.

Nos termos do artigo 203 do CC: o titular do direito é o maior interessado em


interromper a prescrição, geralmente é ele quem a promove. O representante legal também

15
pode promover a interrupção, assim como o assistente dos menores relativamente capazes

(contra os absolutamente incapazes não corre a prescrição).

Geralmente, os efeitos da prescrição são pessoais, de maneira que a interrupção da


prescrição feita por um credor não aproveita aos outros, assim como aquela promovida contra

um devedor não prejudica aos demais.

Existe no direito civil a prescrição intercorrente?

Em regra, não há. Uma vez que não poderia o particular ser prejudicado pela demora
estatal na prestação jurisdicional. A prescrição intercorrente é, em linha de princípio,

incompatível com a natureza privada do Direito Civil.

EXCEÇÕES:

 LEF (artigo 40, §4º) e CTN (artigo 174, I) -> aqui o titular da pretensão é também o
mesmo julgador.
 STJ REsp 474.771/SP – a partir desse “leading case”, o STJ passou a admitir a
prescrição intercorrente, quando o autor da ação abandona o processo (art. 485 III
CPC), apesar de intimado pessoalmente (artigo 485, § 1º CPC) e o juiz deixa de proferir
sentença de extinção do processo sem resolução de mérito pelo tempo suficiente para
ocorrer a prescrição (ou seja, o processo era para ter sido extinto pelo abandono, mas
não foi). Nesse caso, ao pegar futuramente o processo, o juiz não deve extinguir o feito
sem resolução por abandono, mas sim com resolução por prescrição intercorrente, caso
já tenha passado o tempo que levaria à prescrição pela pretensão.

 Súmula 264 STF: “Verifica-se a prescrição intercorrente pela paralisação da ação


rescisória por mais de cinco anos”.

16
 Execução por título judicial, quando o credor deixa de praticar ato necessário
caracterizando prescrição intercorrente da pretensão executiva.

O que é a prescrição de trato sucessivo e a prescrição do fundo do direito?

A prescrição de trato sucessivo só atinge algumas parcelas de seu direito de crédito.

Há apenas perda das parcelas anteriores há 5 anos. Exemplo: um servidor julga ter direito a
uma gratificação, mas nunca requereu seu pagamento à administração, ou pleiteou, mas esta

nunca decidiu sobre seu requerimento -> nesses casos, poderá a qualquer momento pleitear
a verba judicialmente, mas não receberá pagamento retroativo anterior há 5 anos da data da

propositura da ação. Nessa hipótese não há a negativa expressa do direito.

Por outro lado, a prescrição do fundo de direito se dá com a perda de TODAS as


prestações, ou seja, perda integral de próprio direito. Exemplo: servidor requereu na

administração o pagamento de determinada verba. A administração negou expressamente o


pedido. Aqui, nasceu o prazo de 05 anos para o servidor impugnar a decisão. Se não o fizer,

perde o próprio direito.

9.2 Decadência

A decadência é a extinção do direito, tendo em vista a inércia do seu titular. Ela dá-se
quando um direito potestativo não é exercido extrajudicialmente ou judicialmente dentro

do prazo. Seu objeto é o próprio direito. Também é conhecida como CADUCIDADE.

O que é direito potestativo? Esse não tem conteúdo prestacional, se ele tivesse,
violaria direito e nasceria a pretensão, sendo assim, seria prescrição e não decadência. Quando
se exerce um direito potestativo não está se esperando uma contraprestação correspondente.

17
Este é um direito de interferência, ou seja, traduz uma prerrogativa ou poder que, quando

exercido interfere na esfera jurídica de terceiro sem que este nada possa fazer.

Há direitos potestativo sem prazo para o exercício, como o direito que se tem na
condição de advogado de renunciar ao mandado que lhe foi outorgado. Contudo, quando

houver prazo, este será sempre decadencial.

Enquanto a prescrição atinge diretamente a ação e por via oblíqua faz desaparecer o
direito por ela tutelado, a decadência, ao contrário, atinge diretamente o direito material e

por via oblíqua acaba por atingir a ação.

Agora vejamos alguns dispositivos legais do Código Civil que trata da decadência
(artigos 207 a 211).

 Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas


que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.
 Seus prazos estão previstos ao longo de todo o código. Ex.: art. 178 do CC;
 É nula a renúncia à decadência fixada em lei7.
 Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência, quando estabelecida por lei8.
 Se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la
em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação9.

De acordo com o artigo 208 do CC, aplica-se à decadência o disposto nos artigos 195

e 198, I do CC, sendo assim a decadência somente não corre contra os absolutamente
incapazes.

9.2.1 Decadência legal x convencional


DECANDÊNCIA LEGAL DECADÊNCIA CONVENCIONAL
Advém de previsão das partes em negócio
Advém de expressa previsão de lei
jurídico

7
Vide questão 6 do material
8
Vide questão 8 do material
9
Vide questão 7 do material
18
Ordem Pública Ordem Privada
Não cabe renúncia Cabe renúncia
Pode ser declarada de ofício10 Não pode ser declarada de ofício

Aluno, lembrar que se não estiver expresso, o prazo decadencial geral será de DOIS ANOS e

o prazo prescricional geral será de 10 ANOS.

Em que momento começa a fluir os prazos da prescrição e decadência?

 Decadência: a partir do momento em que o titular poderia ter exercido seu direito.
 Prescrição: em regra, a partir da data da violação do direito subjetivo, ou seja, a partir
do momento em que a prestação não é cumprida voluntariamente, surgindo
consequente pretensão.

Entretanto, nem sempre essa data coincide com a data na qual o titular toma

conhecimento da violação. Em virtude disso, o STJ reconheceu a tese da actio nata, segundo
a qual os prazos extintivos (prescricional e decadencial) começam a fluir da data do

conhecimento do fato e não de sua efetiva ocorrência. Assim, essa tese estabelece que o
início da fluência do prazo somente ocorre com o conhecimento da violação ao direito.
Certamente é uma tese que homenageia a boa-fé objetiva e a eticidade (princípio basilar do

CC).

No CDC, a tese actio nata veio expressa em seu artigo 27, o qual dispõe que o prazo
prescricional de 5 anos inicia sua contagem a partir do conhecimento do dano e de sua

autoria.

Nesse sentido, a Súmula 278 do STJ: “O termo inicial do prazo prescricional, na ação de
indenização, é a data em que o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral.”.

9.2.2 Características da Decadência

10
Exceções: a decadência legal contra os absolutamente incapazes pode ser suspensa (art. 208 CC) e há suspensão no CDC.
19
 Não admite renúncia a decadência legal. Por sua vez, a decadência convencional
admite.
 Pode ser conhecida a qualquer tempo ou grau de jurisdição: nas instâncias ordinárias.
Nos tribunais superiores, somente se houver prequestionamento ou por força do efeito
translativo dos recursos (conforme explicado no item de prescrição).
 Os prazos da decadência por serem de ordem pública, não admitem suspensão e
interrupção: lembrar da exceção do direito do consumidor.
 Os prazos legais da decadência não podem ser alterados pela vontade das partes,
somente os convencionais podem.
 O juiz deve reconhecer de ofício a decadência legal. Quanto a convencional, uma vez
que essa é criada pelas partes em negócio jurídico, é de interesse privado e oponível
intrapartes, não podendo ser reconhecida pelo juiz de ofício.
 Existindo decadência convencional e legal, concomitantemente, o prazo desta só
começa a fluir depois de exaurido o prazo da convencional.

Ação declaratória: vira a mera certificação de uma relação jurídica -> Toda ação declaratória é

imprescritível (sem exceção).

Ação constitutiva: se tiver prazo em lei, o prazo é decadencial. Se não houver prazo em lei,
não admite a extinção do direito.

Ação condenatória: Todas se submetem a prazo prescricional.

Exemplos:

 Investigação de paternidade -> qual sua natureza? Declaratória, logo é imprescritível;


 Usucapião -> qual a sua natureza? Declaratória, logo imprescritível.

20
 Anulação de contrato -> qual a sua natureza? Desconstitutiva com prazo, logo é prazo
decadencial (artigo 178 e 179 CC);
 Separação e divórcio -> qual a sua natureza? Desconstitutiva sem prazo, logo o direito
potestativo não pode ser extinto.
 Reparação de dano moral e material -> qual a sua natureza? Condenatória, logo é
prescritível.
 Cobrança de seguro -> qual a sua natureza? Condenatória, logo é prescritível.

Aluno, analise a súmula abaixo:

Sumula 494 STF: “A ação para anular venda de ascendente a


descendente, sem consentimento dos demais, prescreve em vinte
anos, contados da data do ato, revogada a súmula 152.”

Se a ação visa anular um contrato, ela é desconstitutiva, e deste modo, o prazo é


decadencial e não prescricional. O prazo geral da decadência, nos termos do artigo 205 do
CC, é de 2 anos. Ou seja, a ação referida na Súmula DECAI em DOIS ANOS.

Agora, analise o artigo 745 do Código Civil:

Art. 745. Em caso de informação inexata ou falsa descrição no


documento a que se refere o artigo antecedente, será o
transportador indenizado pelo prejuízo que sofrer, devendo a ação
respectiva ser ajuizada no prazo de cento e vinte dias, a contar
daquele ato, sob pena de decadência.

Qual a ação desse artigo? Como podemos ver, o transportador será indenizado pelo
prejuízo que sofrer, sendo assim, uma ação indenizatória, isto é, condenatória. Conforme
vimos acima as ações condenatórias possuem prazos PRESCRICIONAIS, assim, há um erro no

artigo. Essa ação, portanto, possui um prazo prescricional excepcional, fora dos artigos 205 e
206 do código e em dias.

21
O art. 2.028 do CC/02 trouxe uma redução de inúmeros prazos, o que deve ser analisado

principalmente se prazo analisado já estiver em curso, ou seja, trata de Direito Intertemporal.


Assim, conforme dispõe o art. 2028, tendo transcorrido mais da metade do prazo, a lei velha

continua a ser aplicada; contudo, por outro lado, transcorrido menos da metade, será
aplicada a lei nova. Ainda, de acordo com o STJ11, este novo prazo deve ser contado a partir

da entrada em vigor do próprio CC, e não a partir da data do fato.

PRESCRIÇÃO DECADÊNCIA
Objeto Extingue a pretensão. Extingue o direito.
Prazo É fixado pela lei. Pode ser estabelecida pela LEI ou
pela VONTADE das partes.
Pode ser suspenso, impedido ou Corre contra todos, não admitindo
interrompido. as causas de interrupção,
suspensão ou impedimento
(exceção: art. 198, I, CC –
incapacidade absoluta).
Contagem Apenas em anos. Pode ser em dias, meses ou anos.

11
REsp 848 161/MT.
22
Análise pelo juiz O juiz pode reconhecer de ofício, O juiz pode reconhecer de ofício a
desde que intime as partes decadência legal, desde que intime
antes para se manifestarem (art. as partes antes para se
487, §1º, CPC). manifestarem (art. 487, §1º, CPC). A
caducidade convencional não pode
ser reconhecida de ofício.
Arguição Só pode ser invocada em A decadência legal só pode ser
instâncias ordinárias. Em invocada em instâncias ordinárias.
instância especial, caso não haja Em instância especial, caso não haja
prequestionamento, não pode ser prequestionamento, não pode ser
alegada. alegada.
A decadência convencional deve
ser alegada na primeira
oportunidade, sob pena de
preclusão.
Renúncia Após a consumação, pode ser A decadência legal não admite
renunciada, desde que não renúncia, nem após a sua
prejudique terceiros. consumação.

DICA: todos os prazos prescricionais de prescrição estão nos artigos 205 e 206 do CC.

Qualquer outro prazo do CC será decadencial. Isso é uma manifestação do princípio da


operabilidade do Código Civil.

23
QUADRO SINÓTICO

PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
Extingue a PRETENSÃO de um direito (ação), prazos legais
(Geral: 10 anos, Especiais: 1, 2, 3, 4 e 5 anos – vide art.
PRESCRIÇÃO 205 c/c 206, CC), conhecimento ex officio, não cabe
alegação pela parte, possui causas interruptivas, impeditivas,
suspensivas.
Extingue o DIREITO, prazos legais (decadência legal) ou por
DECADÊNCIA convenção das partes (decadência convencional). Não há
causas impeditivas, suspensivas ou interruptivas, regra geral.
Exceção: 198, I, CC (absolutamente incapazes).
Decadência legal: conhecida ex officio, irrenunciável. Não
existe, pela doutrina, prazo geral e os prazos especiais são
estabelecidos em dias, meses e anos ao longo de todo o
Código Civil de 2002.
Prazo decadencial geral: 2 anos.
Decadência convencional: apenas reconhecida pelas partes
e pode ser renunciada após a sua consumação.

24
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2021 - TCE-RJ - Analista de Controle Externo - Especialidade:


Direito) De acordo com a jurisprudência do STJ acerca da responsabilidade civil, julgue o item
subsequente.

Ação de responsabilidade civil decorrente de inadimplemento contratual ou extracontratual

sujeita-se, em regra, ao prazo prescricional trienal.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

ERRADA. A questão cobra conhecimento sobre o entendimento do STJ em relação à

prescrição de reparação civil decorrente de inadimplemento contratual.

Vejamos: “(...) Versando o presente caso sobre responsabilidade civil decorrente de


possível descumprimento de contrato de compra e venda e prestação de serviço entre

empresas, está sujeito à prescrição decenal (art. 205, do Código Civil)". (EREsp 1.281.594
– SP. Relator Ministro Benedito Gonçalves, julgado em 15 de maio de 2019).

Na ocasião, o STJ consignou que embora o artigo 206, §3º, I, do Código Civil disponha

que "prescreve em três anos a pretensão de reparação civil", sem fazer distinção entre
responsabilidade extracontratual e contratual, o prazo aplicável à responsabilidade

contratual é de10 anos.

25
Ou seja, a regra para a responsabilidade civil extracontratual é que é de 3 anos, sendo

que, conforme esposado acima, para a responsabilidade civil contratual, o prazo


prescricional é de 10 anos.

Logo, a afirmativa está errada ao trazer que para ambos os casos (responsabilidade civil

contratual e extracontratual) a regra é o prazo prescricional trienal.

Questão 2

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2021 - TCE-RJ - Analista de Controle Externo - Especialidade:


Direito) De acordo com a jurisprudência do STJ acerca da responsabilidade civil, julgue o item

subsequente.

No caso de ação de indenização civil em que a demanda civil se baseie em fato que esteja em
apuração no juízo criminal, o prazo prescricional da ação de indenização não transcorrerá
enquanto não for prolatada a sentença penal definitiva.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

CORRETA. Trata-se de questão que aborda o tema prescrição.

Mais especificamente exige-se conhecimento sobre as "causas que impedem ou


suspendem a prescrição".

Convém lembrar que a suspensão dos prazos prescricionais implica em que eles deixem

de correr por um tempo. Ou seja, uma vez ocorrida a causa suspensiva, o prazo é
estagnado por um período, e volta a correr de onde parou.

26
Já as causas que impedem a prescrição sequer deixam que o prazo prescricional

comece a correr.

Pois bem, vejamos o que dispõe o art. 200 do Código Civil:

"Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal,

não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva".

Logo, verifica-se que um fato que dependa de apuração no juízo criminal, a prescrição
sequer começará a correr, conforme previsão do art. 200, o que demonstra que a
assertiva está correta.

Questão 3

(Banca: IBFC - 2020 - TRE-PA - Analista Judiciário - Administrativa) A exceção prescreve no

mesmo prazo em que a pretensão.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

CORRETA. Em harmonia com a previsão do art. 190 do CC: “A exceção prescreve no

mesmo prazo em que a pretensão".

Questão 4

(Banca: IBFC - 2020 - TRE-PA - Analista Judiciário - Administrativa) Os prazos de prescrição


não podem ser alterados por acordo das partes.

27
( ) Certo
( ) Errado

Comentário:

CORRETA. Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das
partes.

Questão 5

(Banca: IBFC - 2020 - TRE-PA - Analista Judiciário - Administrativa) Os prazos de prescrição


não podem ser alterados por acordo das partes.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

CORRETA. A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu
sucessor.

Questão 6

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2020 - TJ-PA - Oficial de Justiça - Avaliador) Diferentemente

do que ocorre com a decadência convencional, a decadência legal, caso consumada, não pode
ser objeto de renúncia pelo interessado.

28
( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

CORRETA. Conforme o Art. 209. É nula a renúncia à decadência fixada em lei.

Questão 7

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2020 - TJ-PA - Oficial de Justiça - Avaliador) A decadência


convencional é nula de pleno direito, porque somente a lei pode estabelecer prazos

decadenciais.

( ) Certo
( ) Errado

Comentário:

ERRADA. Conforme o Art. 211, do CC, se a decadência for convencional, a parte a quem

aproveita pode alegá-la em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a
alegação.

29
Questão 8

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2020 - TJ-PA - Oficial de Justiça - Avaliador) Ambas as

modalidades de decadência, caso consumadas, devem ser reconhecidas de ofício pelo


magistrado.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

ERRADA. Dispõe o legislador, no art. 210 do CC, que “deve o juiz, de ofício, conhecer da
decadência, quando estabelecida por lei". O art. 211 prevê que “se a decadência for
convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em qualquer grau de jurisdição,
mas o juiz não pode suprir a alegação". Portanto, a decadência convencional não pode
ser reconhecida de ofício pelo juiz.

Questão 9

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2020 - TJ-PA - Auxiliar Judiciário) De acordo com o Código
Civil, assinale a opção correta, a respeito da prescrição.

A) A prescrição extingue o direito e sempre pode ser reconhecida de ofício pelo juiz.

B) É possível que o devedor renuncie a prescrição prevista em lei.


C) O prazo geral para a prescrição é de vinte anos.

30
D) O incapaz não tem direito de ação contra seus representantes que tenham dado causa à

prescrição.
E) Havendo mais de um credor, a interrupção da prescrição por um credor aproveita ao(s)

outro(s) credor(es).

Comentário:

A) ERRADA. A decadência é que extingue o direito. A prescrição extingue a pretensão.

Assim, diante da violação de um direito subjetivo, nasce para o particular uma


pretensão, sujeita a um prazo prescricional dos arts. 205 ou 206 do CC, sendo o
decurso dele necessário para que se consolidem os direitos e se estabilizem as relações
sociais. A prescrição torna a obrigação desprovida de exigibilidade. Após o decurso do

prazo prescricional, o direito permanece incólume, mas há a extinção da pretensão. O


Direito não socorre aos que dormem.

De fato, a prescrição pode e deve ser reconhecida de ofício pelo juiz, dispondo o art.
332, § 1º do CPC que o “juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o
pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição". Assim,

tanto a decadência quanto a prescrição são matérias de ordem pública e, por tal razão,
devem ser conhecidas de ofício pelo juiz. Antes do juiz julgar improcedente o pedido

liminarmente, ele deverá ouvir o autor da ação, haja vista que este pode demonstrar, à
título de exemplo, a existência de eventual causa interruptiva.

Outros doutrinadores defendem que a prescrição não é matéria de ordem pública, por
envolver direitos patrimoniais, estando relacionada à ordem privada; contudo, a

celeridade processual o é, sendo considerado como direito fundamental o razoável


andamento do processo e a celeridade das ações pelo art. 5º, LXXVIII da CRFB.
B) CORRETA. A assertiva está em harmonia com a previsão do art. 191 do CC: “A

renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem
prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se

presume de fatos do interessado, incompatíveis com a prescrição".

31
“Renúncia é ato de vontade abdicativo, de despojamento, de abandono de um direito

por parte do titular. Trata-se de ato totalmente dependente da vontade do renunciante,


sem necessidade de aprovação ou aceitação de terceiro. É ato unilateral, não receptício,

portanto" (VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. Parte Geral. 17. ed. São Paulo: Atlas,
2017. v. 1. p. 563).

C) ERRADA. O prazo geral é de dez anos, conforme previsão do art. 205 do CC: “A
prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor". É o caso,

por exemplo, da ação de petição de herança, em que o legislador não dispôs de prazo
prescricional próprio, bem como ação de sonegados (art. 1.992 e seguintes do CC).
D) ERRADA. Contra o absolutamente incapaz não corre a prescrição (art. 198, I do CC).

No que toca ao relativamente incapaz, este tem, sim, ação contra seus representantes
que tenham dado causa à prescrição, por força do art. 195 do CC: “Os relativamente

incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus assistentes ou representantes


legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente".

E) ERRADA. Em regra, a interrupção da prescrição por um credor não aproveita ao(s)


outro(s) credor(es), dando a lei um caráter personalíssimo ao ato interruptivo. Acontece

que, quando a obrigação for solidária, a interrupção por um dos credores solidários
aproveitará aos outros. É nesse sentido o caput e o § 1º do art. 204 do CC:
“A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; semelhantemente,

a interrupção operada contra o co-devedor, ou seu herdeiro, não prejudica aos demais
coobrigados.
§ 1º A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim como a
interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros".

Questão 10

(Banca: FCC - 2019 - TJ-MA - Analista Judiciário - Direito) Em relação à prescrição,

considere:

32
I. Por implicar perda de direito, a renúncia da prescrição só pode ser expressa, vedada a

renúncia tácita.
II. A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita.

III. Os prazos da prescrição, por se tratar de direitos disponíveis, podem ser alterados por
acordo das partes.

IV. A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu sucessor.

Está correto o que consta APENAS em

A) III e IV.
B) I, II e IV.

C) I, II e III.
D) I e III.

E) II e IV.

Comentário:

I. ERRADA. Por implicar perda de direito, a renúncia da prescrição só pode ser expressa,

vedada a renúncia tácita.


Estabelece o artigo 191 do Código Civil:

Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita,
sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia

quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis com a prescrição.


Destarte, somente depois de consumada a prescrição, desde que não haja prejuízo de
terceiro, é que poderá haver renúncia expressa ou tácita por parte do interessado.

Como se vê, não se permite a renúncia prévia ou antecipada à prescrição, a fim de não
destruir sua eficácia prática, caso contrário, todos os credores poderiam impô-la aos

devedores; portanto, somente o titular poderá renunciar à prescrição após a

33
consumação do lapso previsto em lei. Na renúncia expressa, o prescribente abre mão da

prescrição de modo explícito, declarando que não a quer utilizar, e na tácita, pratica
atos incompatíveis com a prescrição, p. ex., se pagar dívida prescrita.

II. CORRETA. Prevê o artigo 193 do Código Civilista:

Art. 193. A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a
quem aproveita.

Pela leitura do referido artigo, temos que a prescrição poderá ser arguida em qualquer
de jurisdição, ou seja, na primeira instância, que está sob a direção de um juiz singular,
e na segunda instância, que se encontra em mãos de um colegiado de juízes superiores.

Ademais, pode ser invocada em qualquer fase processual: na contestação, na audiência


de instrução e julgamento, nos debates, em apelação, em embargos infringentes, sendo

que no processo em fase de execução não é cabível a arguição da prescrição, exceto se


superveniente à sentença transitada em julgado.

Por fim, há que se registrar que a prescrição somente poderá ser invocada por quem
ela aproveite, seja pessoa física ou jurídica, p. ex., o herdeiro do prescribente, o credor

do prescribente, o fiador, o codevedor em obrigação solidária, o coobrigado em


obrigação indivisível, desde que se beneficiem com a decretação da prescrição.

III. ERRADA. Assim dispõe o CC/02: Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser
alterados por acordo das partes.
Tanto as pessoas naturais como as jurídicas sujeitam-se aos efeitos da prescrição ativa
ou passivamente, ou seja, podem invocá-la em seu proveito ou sofrer suas

consequências quando alegada ex adverso, sendo que o prazo prescricional fixado


legalmente não poderá ser alterado por acordo das partes.

IV. CORRETA. Determina o artigo 196 do Código Civilista: Art. 196. A prescrição iniciada
contra uma pessoa continua a correr contra o seu sucessor.

34
Veja que a prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu

sucessor, a título universal ou singular, salvo se for absolutamente incapaz. Logo,


continuará a correr contra o herdeiro, o cessionário ou o legatário.

35
GABARITO

Questão 1 - ERRADA

Questão 2 - CORRETA

Questão 3 - CORRETA

Questão 4 - CORRETA

Questão 5 - CORRETA

Questão 6 - CORRETA

Questão 7 - ERRADA

Questão 8 - ERRADA

Questão 9 - B

Questão 10 - E

36
QUESTÃO DESAFIO

João e Maria foram casados durante 5 anos, porém, após


desentendimentos, resolveram se separar, apenas de fato, já que a
sociedade não aceitava muito bem o divórcio. Após 30 anos da
separação de fato, João decide ajuizar a ação de divórcio com
intuito de partilhar o bem imóvel (imóvel esse adquirido na
constância da relação, antas da separação de fato) que ele deixou
com Maria. Dito isso, pergunta-se: Essa partilha poderá ser
realizada? Fundamente.
Responda em até 5 linhas

37
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

Em regra, de acordo com o art. 197, I, do CC, o prazo prescricional não corre entre

cônjuges, na constância do casamento. No entanto, o STJ decidiu que a separação de fato


por tempo razoável não impede a prescrição, tornando a partilha do bem prescrito.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Art. 197, I, do CC.

O art. 197, I, do CC é categórico ao estabelecer o impedimento/suspenção do prazo


prescricional entre os cônjuges na constância do matrimônio. Assim, em relação a esse inciso,
parte da doutrina classifica-a como uma causa impeditiva, que, nas palavras do doutrinador
Silvio de Salvo Venoso: “mantém-se o prazo prescricional íntegro, pelo tempo de duração do
impedimento, para que seu curso somente tenha início com o término da causa impeditiva.”
(Venosa, Sílvio de Salvo. Código Civil interpretado; coautora Cláudia Rodrigues. – 4. ed., – São
Paulo: Atlas, 2019, p. 566).

Porém, também poderá ser uma causa suspensiva do prazo prescricional se o prazo já estava
em curso antes do casamento, como, por exemplo, no caso de um acidente de trânsito em
que a vítima e o causador do dano venham se casar. O prazo de três anos, previsto no § 3º, V,
do art. 206, começa a correr da ocorrência do dano, porém, com o casamento, o prazo
prescricional ficará suspenso na constância do matrimônio.

 Separação de fato não impede a prescrição.

O art. 1.571 do CC trata das causas de dissolução da sociedade conjugal, estabelecendo


apenas 4 causas, vejamos: “I - pela morte de um dos cônjuges; II - pela nulidade ou anulação
do casamento; III - pela separação judicial; IV - pelo divórcio.” Assim, analisando esse artigo
conjuntamente com o art. 197, I do CC, presume-se que, como não há separação judicial ou
divórcio, o prazo para a partilha sequer teria se iniciado. No entanto, o STJ, analisando um
caso similar, decidiu da seguinte forma:

38
“CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RECURSO ESPECIAL INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DO NCPC. FAMÍLIA.
DIVÓRCIO. PRETENSÃO DE PARTILHA DE BENS COMUNS APÓS 30 (TRINTA) ANOS DA
SEPARAÇÃO DE FATO. PRESCRIÇÃO. REGRA DO ART. 197, I, DO CC/02. OCORRÊNCIA DA
PRESCRIÇÃO. EQUIPARAÇÃO DOS EFEITOS DA SEPARAÇÃO JUDICIAL COM A DE FATO.
RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO. 1. Aplicabilidade das disposições do NCPC, no que se
refere aos requisitos de admissibilidade do recurso especial ao caso concreto ante os termos
do Enunciado Administrativo nº 3, aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de 9/3/2016: Aos
recursos interpostos com fundamento no CPC/15 (relativos a decisões publicadas a partir de
18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade na forma do novo CPC.
2. Na linha da doutrina especializada, razões de ordem moral ensejam o impedimento da
fluência do curso do prazo prescricional na vigência da sociedade conjugal (art. 197, I, do
CC/02), cuja finalidade consistiria na preservação da harmonia e da estabilidade do
matrimônio. 3. Tanto a separação judicial (negócio jurídico), como a separação de fato (fato
jurídico), comprovadas por prazo razoável, produzem o efeito de pôr termo aos deveres de
coabitação, de fidelidade recíproca e ao regime matrimonial de bens (elementos objetivos), e
revelam a vontade de dar por encerrada a sociedade conjugal (elemento subjetivo). 3.1. Não
subsistindo a finalidade de preservação da entidade familiar e do respectivo patrimônio
comum, não há óbice em considerar passível de término a sociedade de fato e a sociedade
conjugal. Por conseguinte, não há empecilho à fluência da prescrição nas relações com tais
coloridos jurídicos. 4. Por isso, a pretensão de partilha de bem comum após mais de 30 (trinta)
anos da separação de fato e da partilha amigável dos bens comuns do ex-casal está fulminada
pela prescrição. 5. Recurso especial não provido.” (REsp 1660947/TO, Rel. Ministro MOURA
RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/11/2019, DJe 07/11/2019).

Desse modo, o prazo para requerimento da partilha de bens, que é de 10 anos (art. 205 do
CC), inicia-se da separação de fato por tempo razoável, e não apenas pela separação judicial
(que não mais existe) ou pelo o divórcio. Logo, a partilha do bem de João e Maria não será
realizada, já que essa se encontra prescrita, ficando Maria como única proprietária do imóvel.

39
LEGISLAÇÃO COMPILADA

DECADÊNCIA

 Código Civil: Artigos 207 a 211 (todos têm grande incidência)


 Código de Processo Civil: Artigo 487, § único.

PRESCRIÇÃO

 Código Civil. Artigos 207 a 211 (todos têm grande incidência)

Súmulas12

 Súmula 154, STF

Simples vistoria não interrompe a prescrição.

 Súmula 264, STF

Verifica-se a prescrição intercorrente pela paralisação da ação rescisória por mais de cinco anos.

 Súmula 106, STJ

Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo
da justiça, não justifica o acolhimento da arguição de prescrição ou decadência.

 Súmula 143, STJ

Prescreve em cinco anos a ação de perdas e danos pelo uso de marca comercial.

 Súmula 278-STJ

O termo inicial do prazo prescricional, na ação de indenização, é a data em que o segurado teve ciência
inequívoca da incapacidade laboral.

 Súmula 405-STJ

A ação de cobrança do seguro obrigatório DPVAT prescreve em três anos.

 Súmula 412-STJ

12
Algumas súmulas não foram citadas anteriormente pois se referem a outro campo de estudo, como a Súmula 143, STJ, que é
sobre prescrição, mas o assunto será analisado em direito empresarial.
40
A ação de repetição de indébito de tarifas de água e esgoto sujeita-se ao prazo prescricional estabelecido no
Código Civil.

 Súmula 547-STJ

Nas ações em que se pleiteia o ressarcimento dos valores pagos a título de participação financeira do
consumidor no custeio de construção de rede elétrica, o prazo prescricional é de vinte anos na vigência do
Código Civil de 1916. Na vigência do Código Civil de 2002, o prazo é de cinco anos se houver previsão
contratual de ressarcimento e de três anos na ausência de cláusula nesse sentido, observada a regra de transição
disciplinada em seu art. 2.028.

 Súmula 573-STJ

Nas ações de indenização decorrentes de seguro DPVAT, a ciência inequívoca do caráter permanente da
invalidez, para fins de contagem do prazo prescricional, depende de laudo médico, exceto nos casos de invalidez
permanente notória ou naqueles em que o conhecimento anterior resulte comprovado na fase de instrução.

41
JURISPRUDÊNCIA

Muitos dos prazos acerca de prazos prescricionais referem-se ao direito do consumidor,

portanto, selecionamos apenas os mais relevantes.

É DE 10 ANOS O PRAZO PRESCRICIONAL PARA PRETENSÃO


INDENIZATÓRIA DECORRENTE DE VÍCIO CONSTRUTIVO.

 STJ. 3ª Turma. AgInt-REsp 1.889.229, Rel. Min. Ricardo Villas Boas Cueva, julgado em 15/06/2021.

Imagine a situação em que uma pessoa ingressa com uma ação de indenização contra a construtora pleiteando a
condenação da ré ao pagamento de danos materiais em virtude da metragem a menor da vaga de garagem, do
que foi previsto no contrato de compra e venda. Há incidência de prazo prescricional ou decadencial? De quanto
seria o prazo para ingressar com a ação? A pretensão seria de natureza indenizatória (de ressarcimento pelo
prejuízo decorrente dos vícios do imóvel), não havendo incidência de prazo decadencial, sujeitando-se a ação ao
prazo de prescrição. Assim, a orientação do Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de se aplicar o prazo
prescricional disposto no art. 205 do Código Civil à pretensão indenizatória decorrente do vício construtivo.

Comentário: O prazo prescricional para pedir indenização por falhas aparentes de construção
em imóvel vendido na planta é de dez anos. A decisão é da 3ª Turma do Superior Tribunal de
Justiça. Prazo para pedido de indenização por falhas aparentes de construção em imóvel
vendido na planta é de 10 anos, define STJ: Segundo o colegiado, na falta de um prazo
específico no Código de Defesa do Consumidor para o caso, aplica-se o prazo geral de dez
anos fixado pelo artigo 205 do Código Civil de 2002.

PRAZO PRESCRICIONAL PARA O IMPORTADOR PLEITEAR


INDENIZAÇÃO DO TRANSPORTADOR MARÍTIMO EM RAZÃO DE
EXTRAVIO, PERDA OU AVARIA DA CARGA TRANSPORTADA: 1 ANO

 STJ. 3ª Turma. REsp 1893754/MA, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/03/2021 (Info 688).

42
O prazo prescricional da pretensão indenizatória decorrente de extravio, perda ou avaria de cargas transportadas
por via marítima é de 1 (um) ano. Fundamento: art. 8º do Decreto-Lei nº 116/67.

Comentário: O Decreto-Lei 116/67 dispõe, especificamente, sobre as operações inerentes ao


transporte de mercadorias por via d'água nos portos brasileiros, delimitando suas
responsabilidades e tratando das faltas e avarias eventualmente ocorridas.

PRAZOS PRESCRICIONAIS DIVERSOS

 STJ. 2ª Seção. EREsp 1280825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

EMENTA: “EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. PRESCRIÇÃO DA


PRETENSÃO. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL. PRAZO DECENAL. INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA. REGIMES
JURÍDICOS DISTINTOS. UNIFICAÇÃO.IMPOSSIBILIDADE. ISONOMIA. OFENSA. AUSÊNCIA. 1. Ação ajuizada em
14/08/2007. Embargos de divergência em recurso especial opostos em 24/08/2017 e atribuído a este gabinete
em 13/10/2017. 2. O propósito recursal consiste em determinar qual o prazo de prescrição aplicável às hipóteses
de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual, especificamente, se nessas hipóteses o período é
trienal (art. 206, §3, V, do CC/2002) ou decenal (art. 205 do CC/2002). 3. Quanto à alegada divergência sobre o
art. 200 do CC/2002, aplica-se a Súmula 168/STJ ("Não cabem embargos de divergência quando a jurisprudência
do Tribunal se firmou no mesmo sentido do acórdão embargado"). 4. O instituto da prescrição tem por finalidade
conferir certeza às relações jurídicas, na busca de estabilidade, porquanto não seria possível suportar uma
perpétua situação de insegurança. 5. Nas controvérsias relacionadas à responsabilidade contratual, aplica-se a
regra geral (art. 205 CC/02) que prevê dez anos de prazo prescricional e, quando se tratar de
responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/02, com prazo de três
anos. 6. Para o efeito da incidência do prazo prescricional, o termo "reparação civil" não abrange a
composição da toda e qualquer consequência negativa, patrimonial ou extrapatrimonial , do descumprimento
de um dever jurídico, mas, de modo geral, designa indenização por perdas e danos, estando associada às
hipóteses de responsabilidade civil, ou seja, tem por antecedente o ato ilícito. 7. Por observância à lógica e à
coerência, o mesmo prazo prescricional de dez anos deve ser aplicado a todas as pretensões do credor nas
hipóteses de inadimplemento contratual, incluindo o da reparação de perdas e danos por ele causados. 8. Há
muitas diferenças de ordem fática, de bens jurídicos protegidos e regimes jurídicos aplicáveis entre
responsabilidade contratual e extracontratual que largamente justificam o tratamento distinto atribuído pelo
legislador pátrio, sem qualquer ofensa ao princípio da isonomia . 9. Embargos de divergência parcialmente
conhecidos e, nessa parte, não providos.” (negritamos) 13

13
Vide questão 1 do material
43
Comentário: Aluno, esse julgado é muito importante, fique atento!
É adequada a distinção dos prazos prescricionais da pretensão de reparação civil
advinda de responsabilidades contratual e extracontratual.
Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de
forma restritiva, abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade
civil extracontratual.
Resumindo:
• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art.206, § 3º, V, do
CC);
• Responsabilidade contratual (inadimplemento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).

 STJ. Corte Especial. EREsp 1.281.594-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Rel. Acd. Min. Felix Fischer,
julgado em 15/05/2019 (Info 649).

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL. DISSENSO CARACTERIZADO.


PRAZO PRESCRICIONAL INCIDENTE SOBRE A PRETENSÃO DECORRENTE DA RESPONSABILIDADE CIVIL
CONTRATUAL. INAPLICABILIDADE DO ART. 206, § 3º, V, DO CÓDIGO CIVIL. SUBSUNÇÃO À REGRA GERAL DO
ART. 205, DO CÓDIGO CIVIL, SALVO EXISTÊNCIA DE PREVISÃO EXPRESSA DE PRAZO DIFERENCIADO. CASO
CONCRETO QUE SE SUJEITA AO DISPOSTO NO ART. 205 DO DIPLOMA CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA
PROVIDOS. I - Segundo a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, os embargos de divergência tem
como finalidade precípua a uniformização de teses jurídicas divergentes, o que, in casu, consiste em definir o
prazo prescricional incidente sobre os casos de responsabilidade civil contratual. II - A prescrição, enquanto
corolário da segurança jurídica, constitui, de certo modo, regra restritiva de direitos, não podendo assim
comportar interpretação ampliativa das balizas fixadas pelo legislador. III - A unidade lógica do Código Civil
permite extrair que a expressão "reparação civil" empregada pelo seu art. 206, § 3º, V, refere-se unicamente
à responsabilidade civil aquiliana, de modo a não atingir o presente caso, fundado na responsabilidade civil
contratual. IV - Corrobora com tal conclusão a bipartição existente entre a responsabilidade civil contratual e
extracontratual, advinda da distinção ontológica, estrutural e funcional entre ambas, que obsta o tratamento
isonômico. V - O caráter secundário assumido pelas perdas e danos advindas do inadimplemento contratual,
impõe seguir a sorte do principal (obrigação anteriormente assumida). Dessa forma, enquanto não prescrita a
pretensão central alusiva à execução da obrigação contratual, sujeita ao prazo de 10 anos (caso não exista
previsão de prazo diferenciado), não pode estar fulminado pela prescrição o provimento acessório relativo à
responsabilidade civil atrelada ao descumprimento do pactuado. VI - Versando o presente caso sobre
responsabilidade civil decorrente de possível descumprimento de contrato de compra e venda e prestação de

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serviço entre empresas, está sujeito à prescrição decenal (art. 205, do Código Civil). Embargos de divergência
providos.” (negritamos)

Comentário:
Caso semelhante ao exposto acima, manteve o entendimento de que o prazo
prescricional para ação de reparação civil, definido no art. 206, §3º, V, CC, aplica-se apenas às
ações de responsabilidade civil aquiliana.
A pretensão indenizatória decorrente do inadimplemento contratual sujeita-se ao
prazo prescricional decenal (art. 205 do Código Civil), se não houver previsão legal de
prazo diferenciado.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1660947-TO, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 05/11/2019 (Info 660)

EMENTA: “CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RECURSO ESPECIAL INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DO NCPC. FAMÍLIA.
DIVÓRCIO. PRETENSÃO DE PARTILHA DE BENS COMUNS APÓS 30 (TRINTA) ANOS DA SEPARAÇÃO DE
FATO. PRESCRIÇÃO. REGRA DO ART. 197, I, DO CC/02. OCORRÊNCIA DA PRESCRIÇÃO. EQUIPARAÇÃO DOS
EFEITOS DA SEPARAÇÃO JUDICIAL COM A DE FATO. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO.
1. Aplicabilidade das disposições do NCPC, no que se refere aos requisitos de admissibilidade do recurso especial
ao caso concreto ante os termos do Enunciado Administrativo nº 3, aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de
9/3/2016: Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/15 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de
março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade na forma do novo CPC. 2. Na linha da doutrina
especializada, razões de ordem moral ensejam o impedimento da fluência do curso do prazo prescricional na
vigência da sociedade conjugal (art. 197, I, do CC/02), cuja finalidade consistiria na preservação da harmonia e
da estabilidade do matrimônio. 3. Tanto a separação judicial (negócio jurídico), como a separação de fato
(fato jurídico), comprovadas por prazo razoável, produzem o efeito de pôr termo aos deveres de coabitação,
de fidelidade recíproca e ao regime matrimonial de bens (elementos objetivos), e revelam a vontade de dar por
encerrada a sociedade conjugal (elemento subjetivo). 3.1. Não subsistindo a finalidade de preservação da
entidade familiar e do respectivo patrimônio comum, não há óbice em considerar passível de término a
sociedade de fato e a sociedade conjugal. Por conseguinte, não há empecilho à fluência da prescrição nas
relações com tais coloridos jurídicos. 4. Por isso, a pretensão de partilha de bem comum após mais de 30
(trinta) anos da separação de fato e da partilha amigável dos bens comuns do ex-casal está fulminada pela
prescrição. 5. Recurso especial não provido.” (negritamos)

Comentário:

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Muitas vezes a literalidade da lei não mais condiz com a realidade. Nesse julgado, o STJ
relativizou a regra do art. 197, I, CC. Conforme vimos, esse dispositivo reza que “não corre a
prescrição entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal”.
O STJ decidiu que mesmo se ainda houver a sociedade conjugal, é possível correr o
prazo prescricional se os cônjuges, na prática, estiverem separados há muito tempo.
No caso analisado, o casal estava separado de fato há aproximadamente 30 anos (a
separação não foi documentada, mas, na prática ocorreu), quando um dos cônjuges ingressou
com ação de divórcio, pedindo a partilha dos bens comuns.
O outro cônjuge alegou, em contestação, que a pretensão do direito à partilha havia já
prescrito, pois apesar de não documentada, houve a dissolução do vínculo conjugal, não faz
sentido o prazo ficar suspenso por tantos anos. Assim, tal ex-cônjuge não precisaria dividir o
valor do imóvel que com ele ficou.
O argumento da contestação prevaleceu. Foi decidido que: se o casal estiver separado
de fato há muitos anos não deve ser aplicado o art. 197, I, CC, pois a norma não mais
estará cumprindo sua finalidade.
Em suma, se os ex-cônjuges estão separados de fato há muitos anos, considera-se que
houve a dissolução do vínculo conjugal. Em consequência, o prazo prescricional da
pretensão para pedir a partilha de bens flui normalmente, sendo mitigada a regra do art.
197, I, CC.

 STJ. 4ª Turma. REsp 1076571-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 11/3/2014 (Info 538).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. PRAZO PRESCRICIONAL. AÇÃO DE COBRANÇA. BOLETO BANCÁRIO. RELAÇÃO
CONTRATUAL. DÍVIDA LÍQUIDA. INSTRUMENTO PÚBLICO OU PARTICULAR. PRAZO QUINQUENAL. CORREÇÃO
MONETÁRIA. JUROS DE MORA. TERMO INICIAL. VENCIMENTO DA OBRIGAÇÃO. 1. Recurso especial interposto
contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e
3/STJ). 2. Cinge-se a controvérsia a discutir a) o prazo prescricional aplicável à pretensão de cobrança,
materializada em boleto bancário, ajuizada por operadora do plano de saúde contra empresa que contratou
o serviço de assistência a médico-hospitalar para seus empregados e b) o termo inicial da correção monetária
e dos juros de mora. 3. Não se aplica a prescrição ânua (art. 206, § 1º, II, do Código Civil às ações que discutem
direitos oriundos de planos ou seguros de saúde. Precedentes. 4. Conforme disposição expressa do art. 205 do
Código Civil, o prazo de 10 (dez) anos é residual, devendo ser aplicado apenas quando não houver regra
específica prevendo prazo inferior. 5. Na hipótese, apesar de existir relação contratual entre as partes, a
cobrança está amparada em boleto bancário, hipótese que atrai a incidência do disposto no inciso I do § 5º do

46
art. 206 do Código Civil, que prevê o prazo prescricional de 5 (cinco) anos para a pretensão de cobrança de
dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular. 6. Nas dívidas líquidas com vencimento
certo, a correção monetária e os juros de mora incidem a partir da data do vencimento da obrigação, mesmo
quando se tratar de obrigação contratual. Precedentes.7. Recurso especial não provido.”. (negritamos)

Comentário:
Aluno, tenha muita atenção a esse julgado, ele pode cair em prova como uma
pegadinha. No Código Civil, o prazo prescricional da pretensão do segurado contra o
segurador, ou a deste contra aquele, nos casos do art. 206, §1º, é de 1 ano.
No entanto, conforme vimos, nem sempre o prazo prescricional será de 1 ano para a
operadora do plano de saúde acionar o seu cliente, ou o contrário.
Nesse caso concreto, o STJ decidiu que operadora de plano de saúde têm 5 anos
para cobrar a dívida da empresa a contratou, se o pagamento for por meio de boleto
bancário.
No caso concreto, a empresa “X” contratou e ficou responsável pelo pagamento dos
boletos emitidos pela operadora de plano de saúde “Y”. Em resumo, a operadora emitia
boletos mensais e a empresa que pagava o plano de saúde de seus empregados. Há alguns
anos a empresa esqueceu de pagar um dos boletos.
Conforme o STJ, a operadora do plano de saúde pode cobrar a dívida em até cinco
anos do seu vencimento, com base no art. 206, §5º, I, CC: “Prescreve: (...) § 5º Em cinco anos:I
- a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou
particular;”.
Atente-se a dois pontos:
a) O STJ entende que não se aplica o prazo prescricional de um ano ( art. 206, § 1º, II,
do CC) no caso de ações que discutem direitos oriundos de planos ou seguros de saúde.
b) Nesse caso específico, a prescrição também não é de 10 anos (prazo estabelecido
pelo STJ para casos de inadimplemento contratual). Isso porque o prazo de 10 anos é residual
(art. 205, CC) e o boleto trata de uma dívida líquida, devendo ser aplicado o art. 206, § 5º, I,
do CC, que possui prazo menor.

 STJ. Corte Especial. EAREsp 738991-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 20/02/2019 (Info 651).

EMENTA: “EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CIVIL.


PROCESSUAL CIVIL. TELEFONIA FIXA. COBRANÇA INDEVIDA. AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO DE TARIFAS.
APLICAÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL DECENAL DO CÓDIGO CIVIL (ART. 205 DO CÓDIGO CIVIL).

47
CONHECIMENTO, EM PARTE. PROVIMENTO. 1. Trata-se de embargos de divergência interpostos contra acórdão
em que se discute o lapso prescricional cabível aos casos de repetição de indébito por cobrança indevida de
valores referentes a serviços não contratados, promovida por empresa de telefonia. Discute-se, ainda, acerca
da necessidade de comprovação da má-fé pelo consumidor para aplicação do art. 42, parágrafo único, do Código
de Defesa do Consumidor. 2. A suposta divergência apresentada em relação à aplicação do art. 42, parágrafo
único, do Código de Defesa do Consumidor, não se mostra existente, pois já está pacificado o entendimento
acerca do cabimento da repetição em dobro apenas nos casos em que demonstrada a má-fé do credor. Incide,
pois, a Súmula 168/STJ: "Não cabem embargos de divergência, quando a jurisprudência do Tribunal se firmou no
mesmo sentido do acórdão embargado." 3. A Primeira Seção, no julgamento do REsp 1.113.403/RJ, de relatoria
do Min. Teori Albino Zavascki (DJe 15/9/2009), submetido ao regime dos recursos repetitivos do art. 543-C do
Código de Processo Civil e da Resolução STJ 8/2008, firmou o entendimento de que, ante a ausência de
disposição específica acerca do prazo prescricional aplicável à prática comercial indevida de cobrança excessiva, é
de rigor a incidência das normas gerais relativas à prescrição insculpidas no Código Civil na ação de repetição de
indébito de tarifas de água e esgoto. Assim, tem-se prazo vintenário, na forma estabelecida no art. 177 do
Código Civil de 1916, ou decenal, de acordo com o previsto no art. 205 do Código Civil de 2002. Diante da
mesma conjuntura, não há razões para adotar solução diversa nos casos de repetição de indébito dos serviços de
telefonia. 4. A tese adotada, no âmbito do acórdão recorrido, de que a pretensão de repetição de indébito por
cobrança indevida de valores referentes a serviços não contratados, promovida por empresa de telefonia,
configuraria enriquecimento sem causa e, portanto, estaria abrangida pelo prazo fixado no art. 206, § 3º, IV, do
Código Civil, não parece a melhor. A pretensão de enriquecimento sem causa (ação in rem verso) possui como
requisitos: enriquecimento de alguém; empobrecimento correspondente de outrem; relação de causalidade entre
ambos; ausência de causa jurídica; inexistência de ação específica. Trata-se, portanto, de ação subsidiária que
depende da inexistência de causa jurídica. A discussão acerca da cobrança indevida de valores constantes de
relação contratual e eventual repetição de indébito não se enquadra na hipótese do art. 206, § 3º, IV, do
Código Civil, seja porque a causa jurídica, em princípio, existe (relação contratual prévia em que se debate a
legitimidade da cobrança), seja porque a ação de repetição de indébito é ação específica. Doutrina. 5.
Embargos de divergência conhecidos, em parte, e providos, de sorte a vingar a tese de que a repetição de
indébito por cobrança indevida de valores referentes a serviços não contratados, promovida por empresa de
telefonia, deve seguir a norma geral do lapso prescricional (10 anos - art. 205 do Código Civil), a exemplo do
que decidido e sumulado (súmula 412/STJ) no que diz respeito ao lapso prescricional para repetição de
indébito de tarifas de água e esgoto.” (negritamos)

Comentário:
Por meio da ação de restituição (ou repetição) de indébito, o autor pede de volta o
valor que pagou de forma indevida.

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Um indivíduo, revendo o pagamento de suas contas, percebeu que, nos últimos sete
anos, foi cobrado por empresa de telefonia fixa para pagar um serviço que não foi contratado.
Ele poderá ajuizar ação de repetição de indébito contra a empresa pedindo o valor excedente
pago durante 7 anos? Ou essa pretensão já está prescrita?
O STJ decidiu que não há prazo prescricional específico previsto no art. 206, CC para
o indivíduo ajuizar a ação de repetição de indebito. Portanto, aplica-se o prazo residual de
10 anos do art. 205, CC e, consequentemente, no caso concreto, o indivíduo pode pedir o
valor pago indevidamente dos últimos 7 anos.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1432999-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 16/5/2017(Info 605).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE LOCAÇÃO. PAGAMENTO DO DÉBITO PELO FIADOR. SUB-
ROGAÇÃO. DEMANDA REGRESSIVA AJUIZADA CONTRA OS LOCATÁRIOS INADIMPLENTES. MANUTENÇÃO DOS
MESMOS ELEMENTOS DA OBRIGAÇÃO ORIGINÁRIA, INCLUSIVE O PRAZO PRESCRICIONAL. ARTS. 349 E 831 DO
CÓDIGO CIVIL. PRESCRIÇÃO TRIENAL (CC, ART. 206, § 3º, I). OCORRÊNCIA. RECURSO PROVIDO. 1. O fiador que
paga integralmente o débito objeto de contrato de locação fica sub-rogado nos direitos do credor originário
(locador), mantendo-se todos os elementos da obrigação primitiva, inclusive o prazo prescricional. 2. No
caso, a dívida foi quitada pela fiadora em 9/12/2002, sendo que, por não ter decorrido mais da metade do
prazo prescricional da lei anterior (5 anos - art. 178, § 10, IV, do CC/1916), aplica-se o prazo de 3 (três)
anos, previsto no art. 206, § 3º, I, do CC/2002, a teor do art. 2.028 do mesmo diploma legal. Logo,
considerando que a ação de execução foi ajuizada somente em 7/8/2007, verifica-se o implemento da prescrição,
pois ultrapassado o prazo de 3 (três) anos desde a data da entrada em vigor do Código Civil de 2002, em
11/1/2003. 3. Recurso especial provido.” (negritamos)

Comentário:
É trienal o prazo de prescrição para fiador que pagou integralmente dívida objeto
de contrato de locação pleitear o ressarcimento dos valores despendidos contra os
locatários inadimplentes. O termo inicial deste prazo é a data em que houve o pagamento
do débito pelo fiador, considerando que é a partir daí que ocorre a sub-rogação.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.534.831-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 20/02/2018 (Info 620).

EMENTA: “DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS. PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO,
CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. AUSÊNCIA. ACÓRDÃO RECORRIDO. FUNDAMENTAÇÃO ADEQUADA.

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DEFEITOS APARENTES DA OBRA. METRAGEM A MENOR. PRAZO DECADENCIAL. INAPLICABILIDADE. PRETENSÃO
INDENIZATÓRIA. SUJEIÇÃO À PRESCRIÇÃO. PRAZO DECENAL. ART. 205 DO CÓDIGO CIVIL. 1. O propósito
recursal, para além da negativa de prestação jurisdicional, é o afastamento da prejudicial de decadência em
relação à pretensão de indenização por vícios de qualidade e quantidade no imóvel adquirido pela consumidora.
2. Ausentes os vícios de omissão, contradição ou obscuridade, é de rigor a rejeição dos embargos de declaração.
3. Devidamente analisadas e discutidas as questões de mérito, e fundamentado corretamente o acórdão
recorrido, de modo a esgotar a prestação jurisdicional, não há que se falar em violação do art. 458 do CPC/73. 4.
É de 90 (noventa) dias o prazo para o consumidor reclamar por vícios aparentes ou de fácil constatação no
imóvel por si adquirido, contado a partir da efetiva entrega do bem (art. 26, II e § 1º, do CDC). 5. No referido
prazo decadencial, pode o consumidor exigir qualquer das alternativas previstas no art. 20 do CDC, a saber: a
reexecução dos serviços, a restituição imediata da quantia paga ou o abatimento proporcional do preço. Cuida-se
de verdadeiro direito potestativo do consumidor, cuja tutela se dá mediante as denominadas ações constitutivas,
positivas ou negativas. 6. Quando, porém, a pretensão do consumidor é de natureza indenizatória (isto é, de
ser ressarcido pelo prejuízo decorrente dos vícios do imóvel) não há incidência de prazo decadencial. A
ação, tipicamente condenatória, sujeita-se a prazo de prescrição. 7. À falta de prazo específico no CDC que
regule a pretensão de indenização por inadimplemento contratual, deve incidir o prazo geral decenal previsto
no art. 205 do CC/02, o qual corresponde ao prazo vintenário de que trata a Súmula 194/STJ, aprovada ainda na
vigência do Código Civil de 1916 ("Prescreve em vinte anos a ação para obter, do construtor, indenização por
defeitos na obra"). 8. Recurso especial conhecido e parcialmente provido.” (negritamos)

Comentário:
A ação de indenização por danos materiais proposta por consumidor contra
construtora em virtude de vícios de qualidade e de quantidade do imóvel adquirido tem
prazo prescricional de 10 anos, com fundamento no art. 205 do CC/2002. Não se aplica o
prazo decadencial do art. 26 do CDC. O art. 26 trata do prazo que o consumidor possui para
exigir uma das alternativas previstas no art. 20 do CDC, o que é prazo decadencial. Não se
aplica o prazo do art. 27 do CDC porque este se refere apenas a fato do produto.

 STJ. 4ª Turma.STJ. 4ª Turma. REsp 1.276.778-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 28/3/2017 (Info 602).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE LOCAÇÃO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA ENTRE LOCATÁRIA E


FIADORES. PROPOSITURA DE EXECUÇÃO APENAS EM RELAÇÃO AOS FIADORES. CITAÇÃO. INTERRUPÇÃO DA
PRESCRIÇÃO QUE NÃO PREJUDICA O DEVEDOR PRINCIPAL. EXCEÇÃO DO § 3° DO ART. 204 CC/02.
IMPOSSIBILIDADE DE EXTENSÃO EM SENTIDO INVERSO. 1. O Código Civil, em seu art. 204, caput, prevê, como
regra, o caráter pessoal do ato interruptivo da prescrição, haja vista que somente aproveitará a quem o
50
promover ou prejudicará aquele contra quem for dirigido (persona ad personam non fit interruptio). 2. Entre
as exceções, previu o normativo que, interrompida a prescrição contra o devedor afiançado, ipso facto, estará
interrompida a pretensão acessória contra o garante fidejussório (princípio da gravitação jurídica), nos termos
do art. 204, § 4°, do CC. 3. A interrupção operada contra o fiador não prejudica o devedor afiançado (a
recíproca não é verdadeira), haja vista que o principal não acompanha o destino do acessório e, por
conseguinte, a prescrição continua correndo em favor deste. 4. Como disposição excepcional, a referida norma
deve ser interpretada restritivamente, e, como o legislador previu, de forma específica, apenas a interrupção em
uma direção - a interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador -, não seria de boa
hermenêutica estender a exceção em seu caminho inverso. 5. No entanto, a interrupção em face do fiador
poderá, sim, excepcionalmente, acabar prejudicando o devedor principal, nas hipóteses em que a referida
relação for reconhecida como de devedores solidários, ou seja, caso renuncie ao benefício ou se obrigue como
principal pagador ou devedor solidário, a sua obrigação, que era subsidiária, passará a ser solidária, e, a partir de
então, deverá ser norteada por essa sistemática (CC, arts. 204, § 1°, e 275 a 285). 6. Na hipótese, o credor, num
primeiro momento, ajuizou execução tão somente em face dos fiadores e, em razão da limitação da
responsabilidade destes, num segundo momento, intentou nova execução contra a devedora principal para a
execução do saldo restante. Dessarte, a interrupção da prescrição efetivada em relação aos fiadores não pode vir
a prejudicar a principal devedora, sendo que a análise de eventual renúncia à fiança ou da obrigação solidária
dos fiadores como devedores solidários demandaria a interpretação de cláusula contratual e o revolvimento
fático-probatório, o que é vedado no âmbito desta Corte, pela incidência das Súmulas 5 e 7 do STJ. 7. Recurso
especial não provido.” (negritamos)

Comentário:
A interrupção do prazo prescricional operada contra o devedor principal prejudica o
fiador. No entanto, o contrário não se aplica.
Em regra, o ato interruptivo da prescrição apresenta caráter pessoal e somente
aproveitará a quem o promover ou prejudicará aquele contra quem for dirigido (persona ad
personam non fit interruptio). Isso está previsto no art. 204 do CC.
Exceção a esta regra: interrompida a prescrição contra o devedor afiançado, por via de
consequência, estará interrompida a prescrição contra o fiador em razão do princípio da
gravitação jurídica (o acessório segue o principal), nos termos do art. 204, § 3º, do CC: § 3º
A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador.
Por sua vez, a interrupção do prazo prescricional operada contra o fiador não
prejudica o devedor afiançado, salvo nas hipóteses em que os devedores sejam solidários,
ou seja, caso o fiador tenha renunciado ao benefício ou se obrigue como principal pagador
ou devedor solidário.

51
 STF. Plenário. RE 636331/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes e ARE 766618/SP, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgados em 25/05/2017 (repercussão geral) (Info 866).

Ementa: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. TRANSPORTE DE MERCADORIAS.


INDENIZAÇÃO TARIFADA. PREPONDERÂNCIA DAS CONVENÇÕES DE VARSÓVIA E MONTREAL EM RELAÇÃO AO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA PELO STF. RE N. 636.331/RJ (TEMA
210/STF). JUÍZO DE RETRATAÇÃO. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. 1. No julgamento do RE n. 636.331/RJ, o
Supremo Tribunal Federal, reconhecendo a repercussão geral da matéria (Tema 210/STF), firmou a tese de que,
"nos termos do art. 178 da Constituição da República, as normas e os tratados internacionais limitadores da
responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as Convenções de Varsóvia e
Montreal, têm prevalência em relação ao Código de Defesa do Consumidor ". 2. Recurso especial desprovido,
em juízo de retratação, nos termos do art. 1.040, inciso II, do CPC/2015.” (negritamos)

Comentário:
Qual é o prazo prescricional da ação de responsabilidade civil no caso de acidente
aéreo em voo doméstico? 5 anos, segundo entendimento do STJ, aplicando-se o CDC.
Qual é o prazo prescricional da ação de responsabilidade civil no caso de acidente
aéreo em voo internacional? 2 anos, com base no art. 29 da Convenção de Varsóvia.
Nos termos do art. 178 da Constituição da República, as normas e os tratados
internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros,
especialmente as Convenções de Varsóvia e Montreal, têm prevalência em relação ao
Código de Defesa do Consumidor.
Atente-se: o STF atualizou a tese fixada no RE 636331/RJ em 2020, fixando que o
entendimento visto acima aplica-se apenas ao pedido de reparação por danos materiais.
Assim, em relação ao pedido de indenização por danos morais advindos de extravio de
bagagem e de atraso de voo internacional, aplica-se o CDC. (STJ. 3ª Turma. REsp 1842066-RS,
Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 09/06/2020 - Info 673).

 STJ. 3ª Turma. REsp 1504969-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/3/2015 (Info
557).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. CIVIL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. PARCERIA PROFISSIONAL. ARBITRAMENTO E


COBRANÇA. PROPORCIONALIDADE. PRESCRIÇÃO. VÍNCULO ENTRE ADVOGADOS. INAPLICABILIDADE DA LEI Nº
8.906/1994 E DO ART. 206, § 5º, II, DO CÓDIGO CIVIL. ART. 205 DO CÓDIGO CIVIL. INCIDÊNCIA. AUSÊNCIA DE
DISPOSIÇÃO LEGAL ESPECÍFICA. TERMO INICIAL. 1. Trata-se de ação nominada de arbitramento de honorários

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cumulada com cobrança referente à demanda judicial na qual se alega prestação laboral de serviços advocatícios
em parceria com outro patrono. 2. O prazo prescricional de 5 (cinco) anos previsto nos artigos 25, V, da Lei
nº 8.906/1994 e 206, § 5º, II, do Código Civil é aplicável na relação advogado-cliente, o que afasta sua
incidência no caso dos autos. 3. A prescrição para cobrança entre advogados de honorários proporcionais
aos serviços prestados é regulada pelo prazo decenal disposto no art. 205 do Código Civil, ante a ausência
de regra específica. 4. O termo inicial para contagem da prescrição está submetida ao princípio da actio nata
consagrado no art. 189 do Código Civil, que na hipótese se deu com o recebimento dos honorários
sucumbenciais. 5. Recurso especial não provido.” (negritamos)

Comentário:
Prescreve em dez anos a pretensão do advogado autônomo de cobrar de outro
advogado o valor correspondente à divisão de honorários advocatícios contratuais e de
sucumbência referentes à ação judicial na qual ambos trabalharam em parceria.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1546114-ES, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 17/11/2015 (Info
574)

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. PRESCRIÇÃO. AÇÃO DE COBRANÇA DE SERVIÇOS.
MECÂNICO DE AUTOMÓVEL. NÃO ENQUADRAMENTO COMO PROFISSIONAL LIBERAL, MAS COMO AUTÔNOMO.
LEGITIMIDADE PASSIVA DO CONTRATANTE DO SERVIÇO. INOCORRÊNCIA DE CERCEAMENTO DE DEFESA.
SÚMULAS 07 E 211/STJ. 1 - Ação de cobrança de serviços de mecânica de automóvel prestados em junho de
2003, sendo a demanda proposta em fevereiro de 2010. 2 - A prescrição da pretensão de cobrança de serviço de
conserto de veículo por mecânico autônomo, por não se enquadrar na categoria de profissional liberal, atrai a
incidência da regra geral do art. 205 do CC (dez anos). 3 - A regra especial do inciso II do parágrafo 5º do
artigo 206 do CC (cinco anos) tem interpretação restritiva, regulando apenas prazo de prescrição dos
serviços prestados por profissionais liberais . 4 - Considera-se profissional liberal aquela pessoa que exerce
atividade especializada de prestação de serviço de natureza predominantemente intelectual e técnica. 5 -
Afastada pelo Tribunal de origem a condição de profissional liberal do prestador de serviços como
mecânico autônomo, incide a regra geral da prescrição decenal (art. 205 do CC) . 6 - Legitimidade passiva do
diretor de empresa que contrata diretamente os serviços de conserto de veículo de propriedade da pessoa
jurídica, em especial, no caso concreto, em que se trata de mecânico autônomo. Súmulas 211 e 07/STJ. 7 -
Inocorrência de cerceamento de defesa. Sendo o juízo o destinatário da prova (art. 130 e 131 do CPC), deve ele
avaliar a sua necessidade, considerando, inclusive, ter sido apresentada intempestivamente a contestação. 8 -
Incontroversos a realização do contrato verbal de prestação de serviço e o inadimplemento da obrigação de
pagamento do preço, desnecessária dilação probatória para o desfecho da lide. Súmula 07/STJ. 9 - RECURSO
ESPECIAL DESPROVIDO.” (negritamos)

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Comentário:
Prescreve em 10 anos (artigo 205 do CC) a pretensão de cobrar dívida decorrente de
conserto de automóvel por mecânico que não tenha conhecimento técnico e formação
intelectual suficiente para ser qualificado como profissional liberal.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1277724-PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 26/5/2015 (Info
563).

EMENTA: “RESPONSABILIDADE CIVIL. CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO PRESTADORA DE SERVIÇO DE


TRANSPORTE. PRAZO PRESCRICIONAL. REVISÃO DA JURISPRUDÊNCIA. ART. 1º-C DA LEI N. 9.494/97. PRINCÍPIO
DA ESPECIALIDADE. ART. 97 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SÚMULA VINCULANTE N. 10/STF. PRESCRIÇÃO
QUINQUENAL. 1. O prazo de prescrição das ações indenizatórias movidas em desfavor de pessoa jurídica de
direito privado prestadora de serviços públicos de transporte é quinquenal, consoante o disposto no art. 1º-C
da Lei n. 9.494/97. 2. Entendimento consagrado a partir da aplicação da regra da especialidade do disposto no
art. 97 da Constituição Federal, que prevê a cláusula de reserva de plenário, bem como da Súmula Vinculante n.
10 do STF, que vedam ao julgador negar a aplicação de norma que não foi declarada inconstitucional. 3. Recurso
especial provido”. (negritamos)

Comentário:
É quinquenal o prazo para a propositura da ação indenizatória ajuizada por vítima de
acidente de trânsito contra concessionária de serviço público de transporte coletivo.
Como se trata de uma ação contra um ente público, deve-se aplicar o prazo específico
de 5 anos previsto no art. 1º-C, da Lei 9.494/1997, que disciplina a aplicação da tutela
antecipada contra a Fazenda Pública, em detrimento do prazo estabelecido pelo CC.

 STJ. 2ª Seção. REsp 1.551.956-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em

24/8/2016 (recurso repetitivo).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA.


VENDA DE UNIDADES AUTÔNOMAS EM ESTANDE DE VENDAS. CORRETAGEM. SERVIÇO DE ASSESSORIA
TÉCNICO-IMOBILIÁRIA (SATI). CLÁUSULA DE TRANSFERÊNCIA DA OBRIGAÇÃO AO CONSUMIDOR PRESCRIÇÃO
TRIENAL DA PRETENSÃO. ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA. 1. TESE PARA OS FINS DO ART. 1.040 DO CPC/2015:
1.1. Incidência da prescrição trienal sobre a pretensão de restituição dos valores pagos a título de comissão
de corretagem ou de serviço de assistência técnico-imobiliária (SATI), ou atividade congênere (art. 206, § 3º,
IV, CC). 1.2. Aplicação do precedente da Segunda Seção no julgamento do Recurso Especial n. 1.360.969/RS,

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concluído na sessão de 10/08/2016, versando acerca de situação análoga. 2. CASO CONCRETO: 2.1.
Reconhecimento do implemento da prescrição trienal, tendo sido a demanda proposta mais de três anos depois
da celebração do contrato. 2.2. Prejudicadas as demais alegações constantes do recurso especial. 3. RECURSO
ESPECIAL PROVIDO.” (negritamos)

Comentário:
Prescreve em 3 anos a pretensão do promitente-comprador de restituição dos valores
pagos a título de comissão de corretagem ou de serviço de assistência técnico-imobiliária
(SATI), ou atividade congênere (art. 206, § 3º, IV, CC).

 STJ. 2ª Seção. REsp 1.483.930-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 23/11/2016 (recurso
repetitivo) (Info 596)

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. DIREITO CIVIL. COBRANÇA DE TAXAS


CONDOMINIAIS. DÍVIDAS LÍQUIDAS, PREVIAMENTE ESTABELECIDAS EM DELIBERAÇÕES DE ASSEMBLEIAS GERAIS,
CONSTANTES DAS RESPECTIVAS ATAS. PRAZO PRESCRICIONAL. O ART. 206, § 5º, I, DO CÓDIGO CIVIL DE 2002,
AO DISPOR QUE PRESCREVE EM 5 (CINCO) ANOS A PRETENSÃO DE COBRANÇA DE DÍVIDAS LÍQUIDAS
CONSTANTES DE INSTRUMENTO PÚBLICO OU PARTICULAR, É O QUE DEVE SER APLICADO AO CASO. 1. A tese a
ser firmada, para efeito do art. 1.036 do CPC/2015 (art. 543-C do CPC/1973), é a seguinte: Na vigência do Código
Civil de 2002, é quinquenal o prazo prescricional para que o Condomínio geral ou edilício (vertical ou
horizontal) exercite a pretensão de cobrança de taxa condominial ordinária ou extraordinária, constante em
instrumento público ou particular, a contar do dia seguinte ao vencimento da prestação. 2. No caso
concreto, recurso especial provido.” (negritamos)

Comentário:
Aluno, esse julgado é muito relevante, já que julgado em sede de recurso repetitivo
pelo STJ.
Na vigência do Código Civil de 2002, é quinquenal o prazo prescricional para que o
condomínio geral ou edilício (vertical ou horizontal) exercite a pretensão de cobrança de
taxa condominial ordinária ou extraordinária, constante em instrumento público ou
particular, a contar do dia seguinte ao vencimento da prestação. Deve ser aplicado o prazo do
art. 206, § 5º, I do CC, já que as cotas condominiais são dívidas líquidas, definidas pela
assembleia geral de condôminos.

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 STJ. 2ª Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1267721-PR, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 11/12/2012
(Info 513).

EMENTA: “PROCESSUAL CIVIL. COBRANÇA DE ANUIDADES. OAB. PRAZO PRESCRICIONAL DE CINCO ANOS. 1.
Enquanto vigorava o Código Civil de 1916, o prazo prescricional aplicável à cobrança das anuidades da OAB era
o vintenário, diante da falta de norma específica a regular essa espécie de pretensão. 2. Com a entrada em vigor
do Código Civil de 2003, em 11.1.2003, deve incidir a prescrição quinquenal na cobrança dessas anuidades,
uma vez que esses créditos são exigidos após formação de título executivo extrajudicial. Este é espécie de
instrumento particular, que veicula dívida líquida, segundo preceitua o art. 206, § 5º, I, do Código Civil.
Precedentes. 3. Agravo regimental não provido.” (negritamos)

Comentário:
Prazo prescricional para a de cobrança de anuidades pela OAB: 5 anos.

 STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1337319-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 6/12/2012
(Info 515).

EMENTA: “PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO MONITÓRIA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. HONORÁRIOS PERICIAIS.
SUCUMBENTE BENEFICIÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA. PRESCRIÇÃO. PRAZO QUINQUENAL. ART. 12 DA LEI
1.060/1950 E ART. 1º DO DECRETO 20.910/1932. 1. A jurisprudência do STJ é firme no sentido de que o prazo
prescricional para a cobrança de honorários periciais arbitrados em processo judicial em que a parte é
beneficiária da gratuidade da justiça é de cinco anos, seja em razão do art. 12 da Lei 1.060/1950, seja por força
do art. 1º do Decreto 20.910/1932, o qual deve prevalecer sobre os prazos prescricionais estipulados pelo Código
Civil. Precedentes: REsp 1.219.016/MG, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe 21.3.2012; REsp
1.285.932/RS, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 13.6.2012; e AgRg no REsp
1.274.518/MG, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 7.3.2012. 2. Agravo Regimental não provido.”
(negritamos)

Comentário:
Conforme o STJ, o prazo prescricional para cobrança de honorários periciais em
processo no qual a parte ré é beneficiária da gratuidade da justiça é de 5 anos, com base
no art. 12, Lei 1.060/1950 e no art. 1º do Decreto 20.910/32. Assim, por conta da especialidade
dessas leis, nesse caso, não é aplicado o prazo determinado pelo art. 206, §1º, III, CC.

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TEORIA DA ACTIO NATA

 STJ. 3ª Turma. REsp 1368960-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 7/6/2016 (Info 585).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. SEGURO


DPVAT. TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO. CIÊNCIA INEQUÍVOCA DO CARÁTER PERMANENTE DA INVALIDEZ.
NECESSIDADE DE LAUDO MÉDICO. 1. Para fins do art. 543-C do CPC: 1.1. O termo inicial do prazo prescricional,
na ação de indenização, é a data em que o segurado teve ciência inequívoca do caráter permanente da
invalidez. 1.2. Exceto nos casos de invalidez permanente notória, a ciência inequívoca do caráter permanente
da invalidez depende de laudo médico, sendo relativa a presunção de ciência. 2. Caso concreto: Inocorrência de
prescrição, não obstante a apresentação de laudo elaborado quatro anos após o acidente. 3. RECURSO ESPECIAL
DESPROVIDO.” (negritamos)

Comentário:
O caso trata sobre DPVAT (seguro obrigatório para cobrir Danos Pessoais Causados por
Veículos Automotores de Via Terrestre) e é muito relevante, pois foi julgado em sede de
recurso repetitivo.
No tocante à matéria desse capítulo, segundo a teoria da actio nata, o início do prazo
precricional flui a partir do conhecimento da violação do direito, nascendo assim a
pretensão.
O STJ decidiu que no caso da pretensão para cobrar o seguro DPVAT, o termo inicial
da prescrição deve fluir a partir do conhecimento inequívoco da lesão permanente sofrida
pelo segurado, e não da data em que ele sofreu o acidente automotor.
Mas quando ocorre esse conhecimento inequívoco? Em regra, de acordo com o STJ, a
partir do laudo médico que constata a invalidez permanente. Mas há exceções, ou seja,
casos em que a prescrição se inicia mesmo sem o laudo médico, são elas:
a) quando for notória permanência da invalidez, no caso, por exemplo, de a vítima ter
perdido sua perna em um acidente automobilístico;
b) se, na fase de instrução do pedido de DPVAT, já restar comprovada a invalidez.
Esse julgado do STJ deu origem à seguinte tese: “exceto nos casos de invalidez
permanente notória, ou naqueles em que o conhecimento anterior resulte comprovado na
fase de instrução, a ciência inequívoca do caráter permanente da invalidez depende de
laudo médico”.

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 STJ. 3ª Turma.REsp 1.645.746-BA, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 6/6/2017 (Info
609).

RECURSOS ESPECIAIS. DIREITO DO AUTOR. PLÁGIO. PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. PRAZO TRIENAL. DATA DA
CIÊNCIA. UTILIZAÇÃO. IDEIAS. PARÁFRASES. INEXISTÊNCIA. REPRODUÇÃO. OBRA ORIGINÁRIA. DANOS
MATERIAIS E MORAIS. SÚMULA Nº 7/STJ. RESPONSABILIDADE DO EDITOR. SOLIDARIEDADE LEGAL. 1. Cuida-se
de recursos especiais interpostos pelo acusado do plágio e pelo editor da obra literária, em que se discutem as
seguintes teses: i) termo inicial do prazo prescricional de 3 (três) anos para demandas indenizatórias por
plágio; ii) sentido e alcance da proteção autoral a obra literária, prevista na Lei nº 9.610/1998; iii) redução do
montante fixado a título de danos materiais e morais; iv) ilegitimidade do editor para responder por plágio e v)
cabimento da responsabilidade subjetiva na hipótese. 2. O surgimento da pretensão ressarcitória nos casos de
plágio se dá quando o autor originário tem comprovada ciência da lesão a seu direito subjetivo e de sua
extensão. A data da publicação da obra não serve, por si só, como presunção de conhecimento do dano. 3. A
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, em casos envolvendo o termo inicial da prescrição das
demandas indenizatórios por dano extracontratual, tem prestigiado o acesso à justiça em detrimento da
segurança jurídica, ao afastar a data do dano como marco temporal. Precedentes. 4. Segundo preveem os
arts. 8º, I, e 47 da Lei nº 9.610/1998, não são objeto de proteção como direito autoral as ideias, sendo livre a
utilização das paráfrases, desde que não configurem reprodução literal ou impliquem descrédito à obra originária.
5. Hipótese em que ficou evidenciado o plágio, com propósito de dissimulação, ante as inúmeras reproduções
literais da obra originária, com apropriação de suas estruturas argumentativas. 6. A reparação dos danos materiais
engloba os danos emergentes e a diminuição potencial causada pelo plágio ao patrimônio do autor e do editor
da obra originária. 7. Esta Corte tem entendimento firmado no sentido de afastar a incidência da Súmula nº 7/STJ
e reexaminar o montante fixado pelas instâncias ordinárias a título de danos morais apenas quando irrisório ou
abusivo, circunstâncias inexistentes no presente caso.8. A editora, nos termos do art. 104 da Lei nº 9.610/1998,
pode ser considerada solidariamente responsável pela prática de plágio, sendo desinfluente, pelo menos para
aferição de sua legitimidade passiva, o exame da real extensão de sua contribuição para a prática ofensiva aos
direitos autorais. 9. No caso de reprodução de obra com fraude, a Lei nº 9.610/1998, no seu art. 104, na esteira
de outras leis especiais, estipula a responsabilidade solidária de modo a privilegiar a reparação do dano.
Estabelece que aquele que vender, expuser à venda, distribuir e/ou tiver em depósito obra reproduzida com
fraude, com finalidade de obter lucro, condutas nas quais se insere a do editor, responderá solidariamente com o
contrafator. 10. Recursos especiais não providos.” (negritamos)

Comentário:
Nesse julgado percebemos um claro exemplo da aplicação do princípio da actio nata.
O termo inicial da pretensão de ressarcimento nas hipóteses de plágio se dá quando o
autor originário tem comprovada ciência da lesão a seu direito subjetivo e de sua

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extensão, não servindo a data da publicação da obra plagiária, por si só, como presunção
de conhecimento do dano.

59
MAPA MENTAL

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FARIAS, Cristiano Chaves de. Manual de Direito Civil - Volume Único - 2. ed. atual. e ampl. - Salvador:
JusPodivm, 2018.

TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único - Volume Único - 8. ed. rev, atual. e ampl. - Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018.

ROSENVALD, Nelson. CHAVES DE FARIAS, Cristiano. Curso Geral de Direito Civil - Vol. 1 - Parte Geral e LINDB -
13. ed. atual. e ampl. - São Paulo: Atlas, 2015.

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