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CERS TRIBUNAIS

TRIBUNAIS

DIREITO CIVIL

CAPÍTULO 10
Olá, aluno!

Bem-vindo ao estudo para os concursos de Tribunais. Preparamos todo esse material


para você não só com muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade,

garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma


inteligente.

O CERS Book é um material em PDF desenvolvido especificadamente para a sua


carreira. O material tem o objetivo de ser autossuficiente e totalmente direcionado, dando

prioridade aos pontos mais importantes de cada disciplina!

Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com


fins de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital.

Afinal, queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior
aproveitamento, pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para

otimizar seu estudo sempre!

Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo


completo que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a
estrutura do CERS Book foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar
especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada
capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto
com a leitura de jurisprudência selecionada.

E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou

comentários, entre em contato através do e-mail pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
a gente!

O que você vai encontrar aqui?

 Recorrência da disciplina e de cada assunto dentro dela


 Questões comentadas
1
 Questão desafio para aprendizagem proativa
 Jurisprudência comentada
 Indicação da legislação compilada para leitura
 Quadro sinótico para revisão
 Mapa mental para fixação

Acreditamos que com esses recursos você estará munido com tudo que precisa para
alcançar a sua aprovação de maneira eficaz. Racionalizar a preparação dos nossos alunos é

mais que um objetivo para o CERS, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos
agora para o estudo da disciplina.

Faça bom uso do seu PDF!

2
Recado para você que está assistindo às videoaulas

Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você
que está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do
nosso CERS Book. Portanto, você deve estar atento que:

O CERS book foi desenvolvido para complementar a aula do professor e te dar um


suporte nas revisões!

Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas,
razão pela qual pode ser eventualmente repetido;

A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se
o capítulo 03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é

baseada no estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público,
por isso, nem todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou
legislativa;

Esperamos que goste do conteúdo!

3
CAPÍTULOS

Capítulo 1 – LINDB - Lei de Introdução às Normas do Direito



Brasileiro
Capítulo 2 – Teoria Geral do Direito 
Capítulo 3 – Pessoa Jurídica 

Capítulo 4 – Direitos da Personalidade 


Capítulo 5 – Domicílio 
Capítulo 6 – Bens Jurídicos 
Capítulo 7 – Teoria do ato, fato e negócio jurídico 

Capítulo 8 – Prescrição e Decadência 

Capítulo 9 – Prova do Negócio Jurídico 

Capítulo 10 (você está aqui!) – Teoria Geral das Obrigações 

Capítulo 11 – Adimplemento, extinção e inadimplemento das



obrigações

Capítulo 12 – Responsabilidade Civil 


Capítulo 13 – Teoria Geral dos Contratos 
Capítulo 14 – Contratos em espécie I 
Capítulo 15 – Contratos em espécie II 
Capítulo 16 – Posse e Direitos Reais 
Capítulo 17 – Direito de família 
Capítulo 18 – Direito sucessório 

4
SOBRE ESTE CAPÍTULO

Finalmente começamos a parte especial do Código Civil! Iremos tratar aqui sobre as

obrigações no direito civil, então, tenham muita atenção, pois este tema é fundamental tanto
por si só, como para compreender os Contratos do Direito Civil.

Este assunto será divido em dois capítulos, nesse Capítulo 10 vamos tratar da

introdução à teoria das obrigações, de seus elementos, de suas classificações e das suas
formas de transmissão.

Atente-se, aluno, principalmente às diferentes espécies de obrigações e as suas

particularidades, pois é o que mais é cobrado nas provas. Dê atenção redobrada à


solidariedade. Você deve saber esse tema sem pestanejar, principalmente para os concursos

de magistraturas estaduais e federais.

Muitos dizem que o tema das obrigações é o coração do Direito Civil. Portanto, por
mais extenso que sejam os próximos capítulos, é hora de muita concentração.

A leitura da lei seca é (como sempre) essencial, para provas da Carreira de Tribunais.

Sabendo a letra da lei vocês responderão a maioria das questões de provas objetivas.
Contudo, nunca esqueça da importância das decisões de nossos Tribunais Superiores;

separamos as decisões mais importantes e atuais sobre o tema para vocês.

Pegue seu Vade Mecum, seus marca textos e vamos aos estudos!

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SUMÁRIO

DIREITO CIVIL ........................................................................................................................................... 8

Capítulo 10 ................................................................................................................................................ 8

10. Teoria Geral das Obrigações .......................................................................................................... 8

10.1 Conceito .......................................................................................................................................................... 9

10.2 Elementos Constitutivos................................................................................................................................ 9

10.2.1 Elemento Subjetivo.............................................................................................................................................. 9

10.2.2 Elemento Objetivo (ou material) ................................................................................................................ 11

10.2.3 Elemento Imaterial ou Vínculo Jurídico ................................................................................................... 11

10.3 Fontes das Obrigações................................................................................................................................ 13

10.4 Classificação das Obrigações ..................................................................................................................... 13

10.4.1 Obrigação de Dar.............................................................................................................................................. 13

10.4.2 Obrigação de Fazer .......................................................................................................................................... 19

10.4.3 Obrigação de Não Fazer (artigo 250 e 251 CC) .................................................................................. 21

10.4.4 Obrigações quanto a seus elementos ..................................................................................................... 22

10.4.5 Outras Modalidades de Obrigação: .......................................................................................................... 30

10.4.6 Outras Classificações ....................................................................................................................................... 34

10.5 Espécies de Obrigações segundo a Doutrina .......................................................................................... 37

10.5.1 Obrigações Propter Rem ............................................................................................................................... 37

10.5.2 Obrigações Naturais ........................................................................................................................................ 37

QUADRO SINÓTICO .............................................................................................................................. 45

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 50

GABARITO ............................................................................................................................................... 57

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 58

6
GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 59

LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 61

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 63

MAPAS MENTAIS ................................................................................................................................... 72

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 74

7
DIREITO CIVIL

Capítulo 10

Preparados para adentrar o Direito das Obrigações? Para os capítulos 10 e 11, leia
primeiro os artigos referentes ao tema no Código Civil. Acreditamos que isso vai facilitar o

entendimento de vocês!

Pronto? Leram? Então, mãos à obra!

10. Teoria Geral das Obrigações

No âmbito do Direito Civil, as obrigações consistem no vínculo de direito, que

subordina determinada pessoa (devedor) em benefício de outra (credor) a dar-lhe alguma


coisa ou fazer ou, ainda, não fazer algo, com abordagem nos artigos 233 a 420 do Código

Civil.

Tem-se, assim, que a relação jurídica obrigacional é uma relação pessoal e horizontal,
pois vincula pessoas (credor e devedor) horizontalmente. Diferentemente, a relação jurídica

real, disciplinada pelos direitos reais é vertical, vinculando um sujeito a uma coisa.

Vejamos as diferenças entre os direitos reais e obrigacionais a fim de esclarecimento:

8
10.1 Conceito

Obrigação é a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e

credor e cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa,
devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento (cumprimento) através de

seu patrimônio.

Ou seja, obrigação nada mais é que o direito do credor contra o devedor; confere-se
ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de
determinada prestação, sendo que no caso de descumprimento poderá o credor satisfazer-se
no patrimônio do devedor (art. 391, CC).

A palavra obrigação, em sentido estrito, significa dever jurídico, confundindo-se com


Schuld. Mas em sentido amplo, obrigação pode traduzir a própria relação jurídica que une
credor e devedor.

10.2 Elementos Constitutivos

10.2.1 Elemento Subjetivo

São os sujeitos (ou as partes) da obrigação:

9
 Sujeito Ativo: É o credor, o beneficiário da obrigação; pessoa (física ou jurídica) a

quem a prestação (positiva ou negativa) é devida, tendo o direito de exigir o seu

cumprimento.

 Sujeito Passivo: é o devedor; aquele que deve cumprir a obrigação, de efetuar a

prestação, sob pena de responder com seu patrimônio.

Quanto a esse elemento subjetivo, os sujeitos da obrigação devem ser determinados

ou ao menos determináveis. Vale ressaltar, que essa indeterminabilidade subjetiva é sempre


relativa ou temporária.

Um exemplo de indeterminabilidade subjetiva relativa ativa (credores) seria um título


ao portador e a promessa de recompensa; em ambos os casos o devedor é certo, mas o

credor é indeterminado temporariamente. Por sua vez, um exemplo de indeterminabilidade


subjetiva passiva (devedor) é a obrigação de pagar taxa de condomínio, uma vez que não
importando quem é o dono do imóvel, mas quem for o proprietário irá pagar. Ou seja, não se

tem certeza permanente do devedor.

Em cada um desses polos (ativo ou passivo) pode haver mais de um credor ou devedor.

Além disso, estas posições nem sempre são estáticas. Ex.: em uma compra e venda ambos
são credores e devedores simultaneamente: o comprador é credor da coisa, mas é devedor do

dinheiro; já o vendedor é credor do dinheiro, mas devedor da coisa. É a chamada relação

complexa.

10
10.2.2 Elemento Objetivo (ou material)

É o objeto de uma obrigação. Para a maioria da doutrina, o objeto da obrigação é a


prestação imediata, que é sempre uma conduta humana. Esta pode ser positiva (ação:

obrigação de dar ou fazer) ou negativa (omissão: obrigação de não fazer).

Ainda, há o objeto mediato, que é o bem, propriamente dito. Ex.: “A” deve entregar um
quadro a “B”. O objeto imediato, que é a prestação, é a obrigação de dar. Já o quadro é o

bem sobre o qual recai o direito, sendo considerado como o objeto mediato.

O objeto (prestação), para ser válido, deve ser lícito, possível (física e juridicamente),
determinado ou determinável e economicamente apreciável.

É admissível a obrigação que tenha por objeto um bem não econômico, desde que seja

digno de tutela o interesse das partes.

10.2.3 Elemento Imaterial ou Vínculo Jurídico1

Trata-se do vínculo que liga os sujeitos ao objeto da obrigação; é o elo que sujeita o
devedor a determinada prestação (positiva ou negativa) em favor do credor (Ex: um acidente

de trânsito gera um ato ilícito; um acordo de vontades produz o contrato).

Abrange o dever da pessoa obrigada (debitum) e sua responsabilidade em caso de


não cumprimento (obligatio).

Quanto ao tema, o alemão Alois Brinz desenvolveu a teoria dualista do vínculo dos
elementos que compõem a obrigação. De acordo com a teoria, a essência da obrigação está

1
Vide questão 3 do material
11
na responsabilidade, de maneira que o devedor deve ser responsável, com o seu patrimônio,

pela realização da prestação obrigacional. Para o autor, os elementos que compõem a


obrigação são:

 Haftung: responsabilidade;

 Shuld: débito, dever.

Regra geral, a responsabilidade e o dever (haftung e shuld) estão ligados ao devedor,


o patrimônio do devedor responderá pelas dívidas que eventualmente contrair.

Dever jurídico é o dever que o devedor tem de espontaneamente cumprir o objeto

imediato da obrigação (dar, fazer ou não fazer). Não cumprindo este dever jurídico, surge a
responsabilidade civil. A responsabilidade civil não está à parte, mas passa a integrar o
conceito de obrigação. Ou seja, esta é consequência jurídica e patrimonial do

descumprimento do dever jurídico; é a possibilidade se de exercer uma pretensão em juízo.

Excepcionalmente, a responsabilidade (haftung) sobre o débito recai sobre outra


pessoa, como nos casos de fiadores, por exemplo. Os contratantes poderão firmar vínculo

para exigir obrigações de: dar (coisa certa ou incerta), fazer, não fazer e obrigações
alternativas.

Quais os efeitos das obrigações?

Nessa senda, pode-se afirmar que as obrigações produzem efeitos DIRETOS e INDIRETOS:

 Os diretos são o adimplemento (é o efeito desejável), o inadimplemento e o atraso


no adimplemento (ambos são efeitos indesejáveis).

12
 Os indiretos são os direitos conferidos pela Lei ao credor para obter o adimplemento
preciso da obrigação ou o ressarcimento por perdas e danos, ou os dois ao mesmo
tempo.

10.3 Fontes das Obrigações

São três as fontes das obrigações:

 Negócio Jurídico Bilateral: duas pessoas criam obrigações entre si. Ex: os

contratos de uma forma geral (compra e venda; locação, etc.). É a principal e maior

fonte de obrigação.

 Negócio Jurídico Unilateral: nestes casos só há uma vontade, ou seja, apenas uma
pessoa se obriga. Ex: promessa de recompensa.

 Atos Ilícitos: quem comete um ato ilícito (art. 186, CC) fica obrigado a reparar o

dano (art. 927, CC) dele decorrente.

A doutrina ainda acrescenta a lei como fonte de obrigação, uma vez que em nosso direito
ela é a fonte primária ou imediata de qualquer obrigação (“Ninguém é obrigado a fazer ou

deixar de fazer senão em virtude de lei”).

10.4 Classificação das Obrigações

10.4.1 Obrigação de Dar

É aquela em que o devedor se compromete a entregar alguma coisa (certa ou


incerta). A obrigação de dar confere ao credor somente o direito pessoal e não o direito real.

13
Isto é, o contrato cria apenas a obrigação, mas não opera a transferência da propriedade.

Esta somente se concretiza com a tradição (entrega - bens móveis) ou pelo registro (bens
imóveis).

A palavra DAR, juridicamente tem mais de um sentido. Dar pode significar transferir a

posse e a propriedade da coisa, como também, haverá obrigação de dar, quando apenas a
posse é transferida. Na locação, o locador tem a obrigação de dar a posse.

Também haverá a prestação de dar, na situação de devolução ou restituição da coisa,

exemplo: contrato de depósito ou empréstimo de livro em biblioteca, deixar carro em


estacionamento pago.

Ela pode ser dividida em:

 Específica: Obrigação de dar coisa certa (artigo 233 CC; ex: uma joia, um carro, um

livro, etc.);

 Genérica: Obrigação de dar coisa incerta (artigo 243 CC; ex: a obrigação de dar um

boi, dentre uma boiada).

10.4.1.1 Obrigação de Dar Coisa Certa

O devedor se obriga a entregar uma coisa certa e determinada, perfeitamente

individualizada (ex: a vaca “Mimosa” ou a camisa do Pelé), podendo ser móvel ou imóvel. A
regra básica é a de que o credor não é obrigado a receber outra coisa, ainda que mais valiosa

(art. 313, CC)2. Abrange a obrigação de transferir a propriedade (ex: compra e venda), ou a
de entregar a posse (ex: locador ou comodante que deve entregar a coisa).

Se a coisa a ser entregue tiver um acessório, a obrigação abrange também os

acessórios (acessório segue o principal), salvo se as partes estipularem de modo diverso (art.
233, CC). Ex: vendo a chácara “Alegria”, mas estabeleço que posso retirar todos os bens

móveis da chácara.

2
Vide questão 5 do material
14
O devedor deve conservar adequadamente a coisa que irá entregar ao credor, bem

como defendê-la contra terceiros, como se fosse sua. Mas mesmo assim a coisa pode se
perder. Até a entrega da coisa, essa ainda pertence ao devedor.

Assim, nas obrigações de dar coisa certa, o objeto é individualizado, sendo


caracterizado pelo seu gênero, qualidade e quantidade.

Por ser prestação específica, de conteúdo certo, o credor não se obriga a aceitar
prestação diversa da que lhe é devida (Princípio da identidade física da prestação), ainda

que de maior valor, sendo sua faculdade decidir se a aceita ou não.

O cumprimento da obrigação de dar coisa certa, por se tratar de direito pessoal, se


consuma com a tradição do bem. Diante disso, no caso de haver perda ou deterioração da

coisa antes da tradição , são possíveis duas soluções:

 SEM CULPA DO DEVEDOR (artigo 234 e 235 CC)3: não sendo culpado o devedor,

poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatida do seu preço o


valor que se perdeu.

 COM CULPA DO DEVEDOR (artigo 236 CC): se a coisa se perdeu por culpa do
devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em
que se acha, com direito de reclamar, indenização por perdas e danos.

Sempre que houver o descumprimento de uma obrigação por culpa do devedor, poderá ser

exigida indenização por perdas e danos. LEMBREM-SE: CULPA → PERDAS E DANOS. Por sua

vez, quando não há culpa do devedor, NÃO HÁ obrigação de perdas e danos.

3
Vide questão 2 do material
15
Qual a diferença entre perda e deterioração? A última é a redução da funcionalidade

ou valor agregado de uma coisa, de modo que ela ainda exista, mas tenha um valor reduzido
no mercado. Já, com a perda a coisa não mais possui utilidade, função ou valor algum.

OBRIGAÇÃO DE DAR
SEM CULPA COM CULPA
RESOLVE A VALOR EQUIVALENTE
PERDA
OBRIGAÇÃO PARA +
AS PARTES PERDAS E DANOS
RESOLVE A
OBRIGAÇÃO VALOR EQUIVALENTE
OU +
DETERIORAÇÃO ACEITA A COISA PERDAS E DANOS
COM
ABATIMENTO DO (Em qualquer dos casos)
PREÇO
OBRIGAÇÃO DE RESTITUIR
SEM CULPA COM CULPA
RESOLVE A VALOR EQUIVALENTE
PERDA
OBRIGAÇÃO PARA +
AS PARTES PERDAS E DANOS
VALOR EQUIVALENTE
CREDOR RECEBE A
OU
COISA NO
DETERIORAÇÃO ACEITAR A COISA COM O ABATIMENTO
ESTADO EM QUE
DO PREÇO
SE ENCONTRAR
+

16
PERDAS E DANOS (em qualquer dos casos)

Assim, na responsabilidade de dar coisa certa se verifica a existência de dois princípios a


depender da situação:

 Res perit domino: o dono é o único a sofrer as perdas oriundas de caso fortuito,
pois neste caso não se constata a existência de culpa.

 Reparação integral: constatada a culpa ou dolo, deverá a parte causadora reparar


todo e qualquer prejuízo decorrente de sua atividade.

10.4.1.2 Obrigação de Dar Coisa Incerta

Coisa incerta indica que a coisa não é única, singular e exclusiva, como na obrigação
de dar coisa certa. O objeto é indicado apenas de forma genérica no início da obrigação. No

entanto, o objeto deve ser determinável pelo gênero e quantidade, faltando determinar a
qualidade. Ex: entregar dez bois. A princípio parece ser uma obrigação de dar coisa certa. No
entanto se eu tenho uma boiada de mil bois e devo entregar dez, quais os dez bois que eu

irei entregar se eles ainda não foram individualizados? Por isso chamados de obrigação de dar
a coisa incerta (ou genérica).

Assim, coisa incerta não quer dizer “qualquer coisa”, mas sim coisa sujeita a

determinação futura. Observem que já há determinação quanto ao gênero (bois). E também


quanto à quantidade (dez). Falta individualizar quais os bois que serão entregues. A coisa está

indeterminada, porém será suscetível de determinação futura. O estado de indeterminação


é só transitório.

A individualização se faz pela escolha da coisa devida, pela média qualidade, ou seja,

não deverá ser escolhida a melhor e nem a de pior qualidade, respeitando o princípio da boa-
fé. Trata-se de um ato jurídico unilateral, também chamado de concentração de débito ou

17
concentração da prestação devida, que se exterioriza pela pesagem, medição, contagem, etc. A

escolha cabe, em regra ao devedor, salvo se for estabelecido de modo diverso no contrato
(neste caso, por exceção, a escolha caberá ao credor ou a uma terceira pessoa estranha ao

negócio).

Realizada a escolha acaba a incerteza. A obrigação genérica, inicialmente de dar a coisa


incerta, se transforma em obrigação de dar a coisa certa, havendo a individualização da

prestação, aplicando-se todas as regras do art. 245, CC.

Segundo o art. 246, CC, antes da escolha não pode o devedor alegar perda ou

deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito (genus nunquam perit - o
gênero nunca perece). Ex.: Se “A” deve cem laranjas a “B” não pode deixar de cumprir a

obrigação alegando que as laranjas se estragaram, pois cem laranjas são cem laranjas, e se a
plantação de “A” se perdeu ele pode comprar as frutas em outra fazenda. No entanto, após a
escolha, caso as laranjas se percam (ex: incêndio no armazém) a obrigação se extingue,

voltando as partes ao estado anterior, devolvendo-se eventual preço pago, sem se exigir
perdas e danos.

Na falta de disposição contratual, estabelece a lei que o devedor não poderá dar a coisa pior,

nem ser obrigado a prestar melhor (art. 244, CC).

10.4.1.3 Obrigação Pecuniária

Obrigação pecuniária ou obrigação de solver dívida em dinheiro é uma espécie de


obrigação de dar que abrange prestação em dinheiro, reparação de danos e pagamento de

juros.
18
Segundo o art. 315, CC, o pagamento em dinheiro será feito em moeda corrente. Deve

ser realizado no lugar do cumprimento da obrigação e pelo seu valor nominal, ou seja, em
real (que é nossa unidade monetária atual). São nulas as convenções de pagamento em ouro

ou em moeda estrangeira, salvo os contratos e títulos referentes à importação e exportação


(art. 318, CC).

Outras formas de pagamento (ex: cheque, cartão de crédito ou débito, etc.) são

facultativas, podendo o comerciante (fornecedor) optar em não os receber.

10.4.2 Obrigação de Fazer

Obrigação de Fazer consiste na prestação de uma atividade (prestação de um serviço

ou execução de uma tarefa) positiva (material ou imaterial) e lícita do devedor (ex:


trabalho manual, intelectual, científico ou artístico, etc.). Assim, enquanto na obrigação de dar

o objeto da prestação é uma coisa, na obrigação de fazer o objeto da prestação é um serviço


feito pelo próprio devedor (ex: professor ministrar uma aula, cantor fazer um show, pedreiro

construir um muro, etc.).

Imagine a seguinte situação: Se eu quero comprar um quadro e encomendo a um artista, a


obrigação será de fazer ou de dar? Se o quadro já estiver pronto a obrigação será de dar,

porém se ele ainda for ser confeccionado a obrigação será de fazer.

A impossibilidade do devedor de cumprir a obrigação de fazer, bem como a recusa


em executá-la, acarretam o inadimplemento contratual (não cumprimento do contrato). Nos

termos do art. 248, CC, se não houver culpa (força maior ou caso fortuito) resolve-se a

19
obrigação sem indenização. Ex: cantor que ficou afônico, mercadoria que deveria ser

entregue não é mais achada no mercado, etc. Repõem-se as partes no estado anterior da
obrigação. Por outro lado, se o próprio devedor criou a impossibilidade, ele responderá por

perdas e danos. A recusa voluntária induz culpa do devedor.

As espécies de obrigação de fazer são:

10.4.2.1 Obrigação de Fazer Fungível

Fungível quer dizer que a prestação do ato pode ser realizada pelo devedor ou por
terceira pessoa, sem prejuízo para o credor (ex: obrigação de pintar um muro – em tese
qualquer pessoa pode pintar um muro, por isso é uma obrigação fungível).

Se houver recusa ou mora (que é o atraso, a demora) no cumprimento da obrigação,


sem prejuízo da cabível ação de indenização por perdas e danos, o credor pode mandar
executar o serviço à custa do devedor. O credor está interessado no resultado da atividade

do devedor, não se exigindo capacidade especial deste para realizar o serviço. Trata-se da
aplicação do art. 249 do Código Civil.

10.4.2.2 Obrigação de Fazer Infungível (personalíssima ou intuitu

personae)

A prestação só pode ser executada pelo próprio devedor ante a sua natureza

(aptidões ou qualidades especiais do devedor) ou disposição contratual; não há a


possibilidade de substituição da pessoa que irá cumprir a obrigação, pois esta pessoa,

contratualmente falando, é insubstituível. Ex: contrato um artista famoso para pintar um


quadro; ou um cirurgião especialista para realizar uma operação, etc.

A recusa ao cumprimento da obrigação resolve-se, tradicionalmente, em perdas e

danos (art. 247, CC), pois não se pode constranger fisicamente o devedor a executá-la. No
entanto, atualmente, admite-se a execução específica da obrigação. Isto é, pode ser imposta

pelo Juiz (e somente pelo Juiz), uma multa periódica (chamada de astreinte).

20
10.4.3 Obrigação de Não Fazer (artigo 250 e 251 CC)

Obrigação de não fazer é aquela pela qual o devedor se compromete a não praticar
certo ato que até poderia livremente praticar se não houvesse se obrigado. Seu conteúdo

é uma omissão ou abstenção, um ato negativo. Ex: proprietário se obriga a não construir um
muro acima de certa altura para não obstruir a visão do vizinho; inquilino se obriga a não

trazer animais domésticos para o cômodo alugado, etc. Estas obrigações podem ser bem
variadas, mas é evidente que as imorais e antissociais, ou que sacrifiquem a liberdade das

pessoas são proibidas.

Além disso, pode haver um limite temporal para a obrigação. Se a pessoa praticar o
ato que se obrigou a não praticar, tornar-se-á inadimplente e o credor poderá exigir o

desfazimento do que foi realizado.

Entretanto há casos em que somente resta o caminho da indenização. Ex: pessoa se


obriga a não revelar um segredo industrial. A obrigação de não fazer é sempre uma obrigação

pessoal e só pode ser cumprida pelo próprio devedor (personalíssima e indivisível). Por isso se
“A” se comprometer a não elevar o muro a certa altura e depois de algum tempo ele vender a

propriedade, quem comprou não terá essa obrigação (a menos que se faça um novo
contrato).

21
10.4.4 Obrigações quanto a seus elementos

 Obrigações Simples (ou Singulares): são as que se apresentam com um sujeito


ativo, um sujeito passivo e um único objeto, destinando-se a produzir um único

efeito.

 Obrigações Compostas (Complexas ou Plurais): são as que apresentam uma

pluralidade de objetos (obrigações cumulativas ou alternativas) ou uma

pluralidade de sujeitos (obrigações solidárias – ativa ou passiva).

 Obrigações Cumulativas (ou Conjuntivas): São as compostas pela


multiplicidade de prestações; o devedor deve entregar dois ou mais objetos,
decorrentes da mesma causa ou do mesmo título (ex: obrigação de dar um
carro e um apartamento). O inadimplemento de uma prestação envolve o
descumprimento total da obrigação; o devedor só se desonera dela cumprindo
todas as prestações.

22
 Obrigações Alternativas (ou Disjuntivas): Também são compostas pela
multiplicidade de prestações, porém estas estão ligadas pela disjuntiva “ou”.
Assim, embora a obrigação tenha duas ou mais prestações, apenas uma delas
será cumprida como pagamento. O devedor se desonera com o cumprimento
de qualquer uma delas. Ex: obrigo-me a entregar um touro ou dois cavalos;
vendo a casa por cem mil ou troco por dois terrenos na praia.

 Obrigações Facultativas: São variantes das obrigações alternativas, aceitas pela


doutrina, mas não previstas em lei. A obrigação inicialmente é simples (há
apenas uma prestação), mas há a possibilidade para o devedor em substituir o
objeto. Exemplo: agência de viagens que oferece determinado brinde, mas se
reserva no direito de substituí-lo por outro.

Na obrigação facultativa (ao contrário da alternativa), o credor nunca terá a opção, só

podendo exigir a prestação principal; somente o devedor é que pode optar pela prestação

facultativa.

 Obrigações Solidárias: Ocorrem quando há pluralidade de credores ou


devedores (ou de ambos), sendo que eles têm direitos e/ou obrigações pelo
total da dívida.

Havendo vários devedores cada um responde pela dívida inteira, como se fosse um

único devedor. O credor pode escolher qualquer um e exigir a dívida toda. Mas, se houver
vários credores, qualquer um deles pode exigir a prestação integral, como se fosse único
credor (art. 264, CC).

23
Aluno, muita atenção aqui! A solidariedade NUNCA PODE SER PRESUMIDA. Nos termos do

artigo 265, ela resulta da lei ou das vontades das partes, devendo sempre estar expressa (ou
na lei ou no acordo). Assim, em uma questão fique atento se é uma hipótese legal de

solidariedade, se não o for, e a pergunta nada falar sobre a solidariedade, nunca a presuma.

Nota-se, portanto, três espécies de obrigações solidárias:

10.4.4.1 Solidariedade Ativa:

Ocorre quando há pluralidade de credores. Ex.: mandado outorgado a vários

advogados, sendo que qualquer um deles poderá exigir os honorários integralmente do


cliente.

Nas obrigações solidárias ativa, cada um dos credores solidários tem o direito de

exigir do devedor comum o cumprimento da prestação por inteiro, assim, enquanto alguns
dos credores solidários não demandarem o devedor comum, o devedor poderá pagar a

qualquer um dos credores (artigos 267 e 268, do Código Civil).

Porém, importante destacar que tal regra aplica-se apenas antes de haver uma
demanda judicial, podendo, assim, o devedor pagar para quem quiser e como quiser.

Contudo, após o ingresso de demanda judicial por qualquer dos credores, o pagamento deve
ser feito àquele que demandou, a fim de prevenir judicialmente a dívida.

Uma característica muito importante é que as condições da obrigação solidária são

divisíveis, sendo possível, portanto, estabelecer condições diferentes para um ou alguns dos
credores.

24
Segundo o art. 269, do Código Civil, o pagamento feito a um dos credores solidários

extingue a dívida até o montante do que foi pago. Porém, mesmo quem recebeu
parcialmente, pode cobrar o restante da dívida, já que a relação externa entre credores e

devedor é una.

Ainda, conforme dispõe o art. 272, do Código Civil, é possível que o credor que tiver
remita, ou seja, perdoe a dívida do devedor, e sendo assim, ou recebendo o pagamento, este

credor responderá perante os outros pelas quotas correspondentes. Isso ocorre porque a
relação interna entre os credores é fracionável (presunção de divisão igualitária).

Pelo que dispõe o art. 270 do Código Civil, se um dos credores solidários falecer

deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que
corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível. Assim, em caso

de falecimento, haverá o desaparecimento da solidariedade em relação àquele que faleceu


(refração do crédito), permanecendo, porém, entre os credores sobreviventes.

Não há transmissão da solidariedade por herança nas obrigações divisíveis, uma vez

que, nesse caso, os credores/devedores que falecerem deixando herdeiros, cada um deles só
poderá exigir e receber/pagar a quota do crédito correspondente ao seu quinhão
hereditário.

Essa regra, porém, não se aplica quando se tratar de obrigação indivisível, pois, em se
tratando de obrigação indivisível, lembre-se que não há como fracionar a prestação e,
portanto, deve-se cumpri-la de maneira integral. Ex.: a obrigação é de entregar um animal.

Nesse caso, não pode ser dividida em relação às quotas da herança, devendo qualquer um

deles cumprir a prestação na integralidade (entregar o animal).

25
Outra característica importante da solidariedade ativa, é que, conforme previsto no art.

271 do Código Civil, convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os
efeitos, a solidariedade, se diferenciando, assim, da indivisibilidade.

Nas obrigações solidárias ativas, não há oponibilidade das exceções pessoais, ou seja,

não é possível arguir defesas personalíssimas. Ademais, o julgamento contrário a um dos


credores solidários não atinge os demais, contudo o julgamento favorável aproveita-lhes,

sem prejuízo da exceção pessoal que o devedor tenha direito de invocar em relação a
qualquer deles (credores).

10.4.4.2 Solidariedade Passiva:

Ocorre quando há pluralidade de devedores. Ex.: art. 585, CC: “Se duas ou mais
pessoas forem simultaneamente comodatárias de uma coisa, ficarão solidariamente

responsáveis para com o comodante”.

Nas obrigações solidárias passiva, o credor tem direito a exigir e receber de um ou de


alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum, normalmente, ingressando a

cobrança contra quem tem mais patrimônio, para garantir a dívida.

Aqui, na mesma proporção que na solidariedade ativa, se o pagamento tiver sido


parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto.

Ademais, não há renúncia da solidariedade no caso de propositura de ação pelo credor


contra um ou alguns dos devedores, visto que o mesmo tem a possibilidade de exigir de
qualquer um dos credores.

Portanto, mesmo aquele devedor que paga uma parte da dívida pode ser cobrado pelo
restante, pois, na solidariedade passiva, a relação externa é una, conforme dispõe o art. 275,

caput e parágrafo único, do Código Civil.

26
Enunciado 348, da IV Jornada de Direito Civil do STJ: O pagamento parcial não
implica, por si só, renúncia à solidariedade, a qual deve derivar dos termos expressos da

quitação ou, inequivocamente, das circunstâncias do recebimento da prestação pelo credor.

Enunciado 349, da IV Jornada de Direito Civil do STJ. Com a renúncia da


solidariedade quanto a apenas um dos devedores solidários, o credor só poderá cobrar do

beneficiado a sua quota na dívida; permanecendo a solidariedade quanto aos demais


devedores, abatida do débito a parte correspondente aos beneficiados pela renúncia.

Assim, o credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos


os devedores, portanto, se o credor exonerar da solidariedade um ou mais devedores,

subsistirá a dos demais, devendo abater a quota do beneficiado pela renúncia à


solidariedade. Ademais, o beneficiário não fica exonerado da sua obrigação junto ao credor,

podendo ser cobrado apenas nos limites da sua quota parte, transformando-se em devedor
fracionário.

Não confundir renúncia à solidariedade com remissão (perdão), porque, neste último
caso, o beneficiado com fica totalmente liberado do vínculo obrigacional, conforme dispõe o

art. 388, do Código Civil:

A remissão concedida a um dos co-devedores extingue a dívida na parte a ele


correspondente; de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os
outros, já lhes não pode cobrar o débito sem dedução da parte remitida.

27
No caso de solidariedade passiva, se um dos devedores solidários falecer deixando
herdeiros (refração do débito), cada um destes será obrigado a pagar a quota que

corresponder ao seu quinhão hereditário, neste caso, extingue-se a solidariedade, até os


limites da herança, conforme dispõe art. 1.792, do Código Civil.

Exceção (art. 276, CC): se a obrigação for indivisível, poderá ser exigida por inteiro; e os
herdeiros reunidos serão considerados um só devedor solidário em relação aos demais

devedores.

Em caso de pagamento parcial feito por um dos devedores e em caso de remissão


obtida por um deles, tal situação aproveita aos outros devedores, até à concorrência da

quantia paga ou perdoada.

Em caso de impossibilidade de cumprir a prestação por culpa de um dos devedores


solidários, subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente à prestação; mas pelas

perdas e danos só responde o culpado, diferenciando-se da indivisibilidade.

Por fim, o devedor que satisfaz a dívida por inteiro pode exigir dos outros
codevedores as suas quotas, já que há a presunção relativa de divisão igualitária. Assim, na

solidariedade passiva, a relação interna entre devedores é fracionável. Em sentido contrário,


caso a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, ele responderá por
toda a dívida para a quem pagar.

28
o Solidariedade Mista (ou recíproca): Neste caso há uma pluralidade de

devedores e de credores.

Regra básica: “A solidariedade não se presume, resultando da lei (solidariedade legal)

ou da vontade das partes (solidariedade convencional)” (art. 265, CC). Ex.: o fiador em
relação ao devedor principal quando convencionar a solidariedade com o afiançado, já que,

em regra o fiador é devedor subsidiário (benefício de ordem previsto no art. 827, do Código
Civil c/c art. 828, do Código Civil).

Vejamos, então, esquematicamente, as características das obrigações solidárias:

CARACTERÍTICAS
Qualquer um dos credores pode exigir a dívida por inteiro a
RESPONDEM COMO SE qualquer um dos devedores, que têm o dever de pagar a
FOSSEM UM SÓ SUJEITO dívida toda, a qualquer um dos credores, havendo
solidariedade em ambos os polos da relação.
NÃO PRESUNÇÃO DA A solidariedade só pode resultar da LEI (solidariedade legal)
SOLIDARIEDADE ou da AUTONOMIA DA VONTADE (solidariedade
convencional).
Se for realizado por qualquer um dos credores, extingue-se
PAGAMENTO INTEGRAL até o valor que foi pago. Assim, caso haja o pagamento
EXTINGUE A DÍVIDA parcial, o credor poderá cobrar o restante da dívida a
qualquer um dos devedores, inclusive do devedor já pagante.
NÃO TRANSMISSÃO DA Nesse caso, os credores/devedores que falecerem deixando
SOLIDARIEDADE POR herdeiros, cada um deles só poderá exigir e receber/pagar a
HERANÇA NAS quota do crédito correspondente ao seu quinhão hereditário.
OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS
CONVERSÃO EM PERDAS E Permanece a solidariedade para todos os efeitos, ao
DANOS contrário das obrigações indivisíveis, que perderão tal
característica, tornando-se divisíveis.
Aquele credor que perdoou ficará responsável em pagar, aos
demais credores, o valor de suas quotas correspondentes e

29
REMISSÃO DA DÍVIDA aquele que obteve o perdão não extingue aos demais, que
deverão pagar o valor restante, caso o pagamento tenha sido
parcial.
As defesas de mérito existentes contra determinado sujeito
NÃO OPONIBILIDADE DAS apenas vinculam a este, ou seja, são personalíssimas, não
EXCEÇÕES PESSOAIS podendo abranger os demais. Nesse sentido, as exceções que
podem abranger os demais são aquelas comuns a todos, a
exemplo da prescrição da dívida.
PRINCÍPIO DA Impossibilidade de agravar a posição dos credores/devedores
RELATIVIDADE DOS EFEITOS sem o consentimento dos demais, gerando efeitos apenas
CONTRATUAIS inter partes
CULPA NA Subsiste para todos os devedores solidários o encargo de
IMPOSSIBILIDADE DE pagar o equivalente, mas apenas o DEVEDOR CULPADO será
CUMPRIMENTO DA obrigado a pagar as perdas e danos.
OBRIGAÇÃO
A solidariedade pode ser renunciada de maneira parcial, em
RENÚNCIA À favor de apenas um devedor, por exemplo, subsistindo em
SOLIDARIEDADE relação às demais, ou total, de modo a exonerá-los da
solidariedade.

10.4.5 Outras Modalidades de Obrigação:

 Obrigações quanto ao Conteúdo

 Obrigações de Resultado (ou de fim): quando só se considera cumprida


com a obtenção de um resultado, geralmente oferecido pelo próprio
devedor. Ex: contrato de transporte (levar o passageiro a seu destino são e
salvo); a doutrina costuma também citar o exemplo do médico especialista em
“cirurgia plástica-estética”. Na obrigação de resultado o devedor responde
independentemente de culpa (há, portanto, responsabilidade objetiva).
Porém, é possível a demonstração de que o resultado não foi alcançado por
fator alheio à atuação do devedor (ex: caso fortuito, força maior, culpa
exclusiva do credor, etc.).

30
 Obrigações de Meio (ou de diligência): quando o devedor só é obrigado a
empenhar-se para conseguir o resultado, mesmo que este não seja
alcançado. Ex: o advogado em relação ao cliente; ele não se obriga a vencer a
causa, mas trabalhar com empenho para ganhá-la. Se o resultado visado não
for alcançado só poderá ser considerado o inadimplemento do devedor se se
provar a sua falta de diligência (ou seja, a sua culpa – responsabilidade
subjetiva). O mesmo ocorre com um médico para salvar a vida de um
paciente.

Exemplo de Obrigação de Meio: advogado, não tem como garantir o resultado final. Até
quando é parecerista. Médico tampouco, exceto cirurgias estéticas.

Exemplo de Obrigação de Resultado - engenheiro.

Regra geral na relação entre médico e paciente: obrigação de meio

Segundo o entendimento do STJ, a relação entre médico e paciente é CONTRATUAL e


encerra, de modo geral, OBRIGAÇÃO DE MEIO, salvo em casos de cirurgias plásticas de
natureza exclusivamente estética (REsp 819.008/PR).

A exceção é a cirurgia meramente estética: obrigação de resultado

31
A obrigação nas cirurgias meramente estéticas é de resultado, comprometendo-se o

médico com o efeito embelezador prometido.

Cirurgia meramente estética: responsabilidade subjetiva ou objetiva?

Vale ressaltar que, embora a obrigação seja de resultado, a responsabilidade do médico

no caso de cirurgia meramente estética permanece sendo SUBJETIVA, no entanto, com


inversão do ônus da prova, cabendo ao médico comprovar que os danos suportados pelo
paciente advieram de fatores externos e alheios à sua atuação profissional. Trata-se, portanto,

de responsabilidade subjetiva com culpa presumida. NÃO é caso de responsabilidade


objetiva4.

A responsabilidade com culpa presumida permite que o devedor (no caso, o cirurgião

plástico), prove que ocorreu um fato imponderável que fez com que ele não pudesse atingir o
resultado pactuado. Conseguindo provar esta circunstância, ele se exime do dever de

indenizar.

Como é a responsabilidade do médico nos casos de cirurgia que seja tanto reparadora
como também estética?

Nas cirurgias de natureza mista (estética e reparadora), como no caso de redução de

mama, a responsabilidade do médico não pode ser generalizada, devendo ser analisada de
forma fracionada, conforme cada finalidade da intervenção. Assim, a responsabilidade do

médico será de resultado em relação à parcela estética da intervenção e de meio em relação à


sua parcela reparadora (STJ. 3ª Turma, REsp 1.097.955-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado

em 27/9/2011).

4
Vide jurisprudência comentada.
32
 Obrigações de Garantia: seu objetivo é uma estipulação em um contrato de
uma garantia pessoal (ex: fiança).

 Obrigações quanto à Divisibilidade

 Obrigações Divisíveis: são as que comportam fracionamento, quer quanto à


prestação, quer quanto ao próprio objeto, sem prejuízo de sua substância ou
de seu valor. Havendo pluralidade de credores ou devedores será feito um
rateio (ou concurso) entre eles (“as partes se satisfazem pelo concurso”).

 Obrigações Indivisíveis: são aquelas em que a prestação é única. Devido à


convenção das partes (ex: pagamento à vista) ou, dada a natureza do objeto
(ex: um cavalo, um touro), não admitem cisão na prestação. Ainda que o
objeto seja divisível (ex: dinheiro), não pode o credor ser obrigado a receber
em partes, se assim não se ajustou.

Vejamos, esquematicamente, a diferença entre Solidariedade e Indivisibilidade:

SOLIDARIEDADE INDIVISIBILIDADE

A solidariedade se caracteriza quando, na A obrigação é indivisível quando uma coisa ou


mesma obrigação, concorrer mais de um um fato não seja suscetível de divisão.
credor ou mais de um devedor.
Solidariedade não se presume, sendo Havendo mais de um devedor, se a obrigação
decorrente da lei ou da vontade das partes. for indivisível, todos respondem por sua
integralidade.
Na solidariedade, cada um dos credores O devedor que paga a dívida sub-roga-se nos
solidários poderá exigir o cumprimento direitos do credor em relação aos outros
da prestação por inteiro. coobrigados.
Se um dos credores solidários falecer Havendo pluralidade de credores, cada um
deixando herdeiros, cada um destes só destes poderá exigir a dívida toda, se
terá direito de exigir a quota do quinhão responsabilizado quanto ao ressarcimento dos
correspondente ao seu quinhão outros.

33
hereditário, salvo se a obrigação for
indivisível.
As exceções pessoais de um credor, não Se um dos credores extinguir a dívida, aos
podem ser opostas aos outros. outros remanesce o direito, mas deverá ser
abatida a quota do credor que desobrigou o
devedor.
Na solidariedade passiva, o credor poderá A obrigação indivisível não se converte em
exigir de qualquer dos devedores o perdas e danos. Assim, convertendo-se a
cumprimento da obrigação, não obrigação em perdas e danos ela perderá a
importando renúncia à solidariedade o qualidade de indivisível.
ajuizamento de ação em face de apenas
um ou alguns dos devedores solidários.
No caso de falecimento do devedor A indivisibilidade decorre da natureza da
solidário, os herdeiros só respondem pelo prestação, o que a distingue da solidariedade,
quinhão correspondente à dívida deste, que apenas é resultante de lei ou da vontade
nos limites da herança, salvo se a das partes.
obrigação for indivisível.
Todos os devedores solidários respondem
pelos prejuízos de mora, mas o culpado
será responsável pelo acréscimo do
aumento pago pelos outros.
Convertendo-se a obrigação em perdas e
danos, subsiste para todos os efeitos a
solidariedade.

10.4.6 Outras Classificações

 Quanto aos Elementos Acidentais

 Obrigações Puras e Simples: são as que não estão sujeitas a nenhum


elemento acidental, como a condição, o termo ou o encargo.

34
 Obrigações Condicionais: são as que contêm cláusula que subordina seu
efeito a evento futuro e incerto para atingir seus efeitos (ex: ganhar um
carro quando passar no vestibular).

 Obrigações a Termo: são aquelas que contêm cláusula que subordina seu
efeito a evento futuro e certo (ex: ganhar um carro quando completar 18
anos).

 Obrigações Modais: são as oneradas de um encargo, um ônus, à pessoa


contemplada pela relação jurídica (ex: dou-lhe dois terrenos, mas em um deles
deve ser construída uma escola).

 Quanto à Independência

 Obrigações Principais: são as que independem de qualquer outra para ter


validade (ex: compra e venda, locação, etc.).

 Obrigações Acessórias: são as que têm sua existência subordinada a outra


relação jurídica (ex: a fiança é uma obrigação acessória em relação ao
contrato de locação; da mesma forma a multa contratual é acessória em
relação a uma obrigação qualquer, etc).

A extinção, ineficácia, nulidade ou prescrição da obrigação principal reflete-se na

acessória. Lembre-se da regra segundo a qual o acessório segue a sorte do principal


(princípio da gravitação jurídica). O inverso, porém, não é verdadeiro, pois se houver algum

vício na obrigação acessória, em nada afetará a principal.

 Quanto à Liquidez

35
 Obrigações Líquidas: são aquelas certas quanto à existência e determinadas
quanto ao objeto. Ex: entregar uma casa; entregar R$1.000,00, etc. Nelas se
acham especificadas, de modo expresso, a quantidade, a qualidade e a
natureza do objeto devido. O inadimplemento de obrigação positiva e líquida
constitui o devedor em mora.

 Obrigações Ilíquidas: são aquelas incertas quanto à sua quantidade;


dependem de uma apuração prévia, posto que o montante da prestação ainda
é indeterminado.

 Quanto ao Momento Para o Cumprimento

 Obrigações Instantâneas: são as que são cumpridas no momento em que o


negócio é celebrado (ex: compra e venda à vista).

 Obrigações Fracionadas: quando o objeto do pagamento é fracionado em


prestações. A obrigação de pagar o preço é uma só, mas a execução de cada
uma delas é feita ao longo do tempo (ex: compro um terreno por 10 mil,
pagando mil por mês, durante dez meses).

 Obrigações Diferidas: quando a execução é realizada por um único ato, em


momento posterior ao surgimento da obrigação (ex: compra e venda com
pagamento à vista, mas a entrega da coisa se dará em 30 dias).

 Obrigações de trato sucessivo (ou periódicas ou execução continuada): são


as que se resolvem em intervalos de tempo (regulares ou não). Ex: compra e
venda a prazo ou em prestações periódicas; obrigação do inquilino em pagar
aluguel; do condômino em pagar as despesas condominiais. Quando uma
parcela é paga a obrigação está quitada. Mas neste instante inicia-se a
formação de outra prestação que deverá ser paga no fim do próximo período.

36
10.5 Espécies de Obrigações segundo a Doutrina

10.5.1 Obrigações Propter Rem

São obrigações híbridas, ou seja, parte direito real, parte direito pessoal. Elas recaem
sobre uma pessoa (daí ser um direito pessoal), mas por força de um direito real (como por
exemplo, a propriedade). Ex: obrigação de um proprietário de não prejudicar a segurança,

sossego e saúde dos vizinhos; a do condômino de contribuir para a conservação da coisa


comum ou de não alterar a fachada externa do edifício; adquirente de imóvel hipotecado de

pagar o débito que o onera, etc.

O exemplo mais comum é o das taxas de condomínio.

Por último, cabe ressaltar o seguinte entendimento sumulado do STJ, “as obrigações

ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível cobrá-las do proprietário ou


possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor” (Súm. 623 do STJ).

10.5.2 Obrigações Naturais

Também chamadas de imperfeitas ou incompletas, são aquelas em que o credor não


possui instrumento judicial para exigir a prestação do devedor. A dívida existe: há um
credor e um devedor, mas falta a garantia jurídica por meio da qual o devedor seria
compelido a pagar. O devedor só paga se quiser, pois não há um direito de ação protegendo
o credor.

No entanto, tais obrigações podem gerar efeitos, pois, se o devedor capaz pagar a
dívida, o pagamento é considerado válido e irretratável, não podendo pedir de volta o que foi
pago. Ex.: dívida prescrita; dívidas resultantes de jogo e apostas não permitidas legalmente

(arts. 814 e 815, CC: não é obrigatório o seu pagamento; mas se o devedor pagar é
considerado válido).

37
“A cobrança de dívida de jogo contraída por brasileiro em cassino que funciona legalmente
no exterior é juridicamente possível e não ofende a ordem pública, os bons costumes e a

soberania nacional”, segundo entendimento do STJ (REsp 1.628.974-SP, Info 610), por força
da aplicação do art. 9º da LINDB (aplica-se à obrigação constituída no exterior a legislação do

pais em que aquela se constituiu), em homenagem ao princípio da boa-fé e da vedação ao


enriquecimento ilícito.

Já comentamos esse julgado na jurisprudência comentada do capítulo 1.

10.6 Da transmissão das obrigações

10.6.1 Cessão de crédito (artigo 286 a 298)5

O credor poderá ceder seu crédito a outro, se isso não opuser à natureza da obrigação,

à lei ou à convenção com o devedor, podendo configurar tanto alienação onerosa quanto
alienação gratuita.

Por se tratar de transferência de crédito, não se sujeita à anuência do devedor para se

consumar, mas este deverá ser comunicado, sob pena de adimplemento, pelo pagamento
putativo. O devedor poderá ser comunicado por escrito, público ou particular.

5
Vide questões 6, 7, 8, 9 e 10
38
Nos termos do artigo 286 do CC, toda cessão é permitida, EXCETO se houver:

 Proibição decorrente da natureza da obrigação (ex: crédito alimentar, o direito dos


alimentos não pode ser cedido, tampouco o direito ao salário pode ser cedido);
 Proibição pela lei (ex: artigo 1.749, III, CC – a lei proíbe que o tutor se torne cessionário
credor do tutelado);
 Proibição por convenção com o devedor (o artigo 286, CC afirma que a proibição
pode decorrer de estipulação convencional entre o credor e devedor).

São sujeitos na cessão de crédito:

 Cessionário/Terceiro: a quem o credor transfere sua posição na relação


obrigacional, independentemente da anuência do devedor, é estranho ao

negócio original;

 Cedente: credor que transfere seus direitos;

 Devedor/Cedido: não participa necessariamente da cessão, que pode ser


realizada sem a sua anuência. Deve ser, no entanto, comunicado da cessão para

que possa solver a obrigação ao legítimo detentor do crédito. Só para esse fim
se lhe comunica a cessão, uma vez que sua anuência ou intervenção é

dispensável.

O contrato de cessão é simplesmente consensual, pois torna-se perfeito e acabado


com o acordo de vontades entre cedente e cessionário, não exigindo a tradição do
documento para se aperfeiçoar.

São espécies de cessão de crédito:


39
 Quanto à origem:

 Convencional: a cessão de crédito resulta, em regra, da declaração de vontade entre


cedente e cessionário.

o Título oneroso: hipótese em que o cedente garante a existência e titularidade do

crédito no momento da transferência;

o Título gratuito, em que o cedente só é responsável se houver procedido de má-


fé (CC, art. 295)6;

o Total, abrangendo a totalidade do crédito; e

o Parcial, em que o cedente retém parte do crédito, permanecendo na relação

obrigacional, salvo se ceder também a parte remanescente a outrem. Caso o


crédito seja cedido a mais de um cessionário, dividir-se-á em dois,

independentes um do outro.

 Legal: opera-se por força de lei, como no caso do devedor de obrigação solidária que
satisfez a dívida por inteiro, sub-rogando-se no crédito (CC, art. 283), ou do fiador que

pagou integralmente a dívida, ficando sub-rogado nos direitos do credor (CC, art. 831).

 Judicial: a transmissão do crédito é determinada pelo juiz, como sucede na adjudicação,


aos credores de um acervo, de sua dívida ativa e na prolação de sentença destinada a

suprir declaração de cessão por parte de quem era obrigado a fazê-la. Ex.: art. 298 do
Código Civil.

 Quanto à responsabilidade do cedente em relação ao cedido, a cessão

de crédito pode ser:

 Pro soluto: o cedente apenas garante a existência do crédito, sem responder, todavia,
pela solvência do devedor;

6
Vide questão 4 do material
40
 Pro solvendo: o cedente obriga-se a pagar se o devedor cedido for insolvente. Assim, o

cedente assume o risco da insolvência do devedor.

Desta forma, o cedente será responsável pela existência e legalidade do crédito, mas
não será responsável pela solvência do devedor (cessão pro soluto), salvo estipulação em

contrário (cessão pro solvendo). Caso decidam pela responsabilidade do cedente, na hipótese
de insolvência do devedor, a responsabilidade será auferida apenas pelo quantum recebido no

momento da cessão, acrescidos das despesas que o cessionário houver feito com a cobrança.

Havendo diversas cessões de créditos, prevalecerá a que se consumar com a entrega


do título do crédito cedido.

10.6.2 Assunção de dívida (Artigos 299 a 303)

A lei autoriza que terceiro assuma a obrigação do devedor, desde que haja
consentimento expresso do credor. É também conhecida como cessão de débito. Neste caso,

o devedor primitivo será extinto da obrigação, salvo se o terceiro era insolvente à época da
assunção e o credor ignorava.

Trata-se, conforme dispõe a doutrina, de um negócio jurídico bilateral, por meio do

qual o devedor, com anuência expressa do credor, transfere a um terceiro, que o substitui,
os encargos obrigacionais, de modo que este assume sua posição na relação obrigacional,

responsabilizando-se pela dívida, que subsiste com os seus acessórios.

Por se tratar de débito, o silêncio do credor, caso não se manifeste no prazo designado,

não importará aceitação. O silêncio é interpretado como recusa.

41
Há uma hipótese excepcional de consentimento tácito previsto no art. 303 do Código Civil,

em que se admite a aceitação tácita do credor: “O adquirente de imóvel hipotecado pode


tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor, notificado, não impugnar

em trinta dias a transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento.”

Com relação às garantias concedidas pelo devedor originário, após a assunção de


dívida, estas se consideram extintas, exceto no caso de acordo distinto com o credor.

O novo devedor não poderá opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao
devedor primitivo.

São espécies de assunção de dívida:

 Expromissão: contrato entre o terceiro e o credor, sem a participação ou anuência


do devedor;

 Delegação: mediante acordo entre terceiro e o devedor, com a concordância do


credor;

Por sua vez, tanto a expromissão e delegação podem ser:

 Liberatória: se houver integral sucessão no débito pela substituição do devedor


na relação obrigacional pelo expromitente/delegado, ficando exonerado o devedor
primitivo, exceto se o terceiro que assumiu sua dívida era insolvente e o credor o
ignorava.

 Cumulativa: quando o expromitente/delegado ingressar na obrigação como novo


devedor ao lado do devedor primitivo, passando a ser devedor solidário, mediante
declaração expressa nesse sentido (CC, art. 265), podendo o credor, nesse caso,
reclamar o pagamento de qualquer um deles.

São efeitos da assunção de dívida:

 Substituição do devedor na relação obrigacional: o principal efeito da assunção


de dívida é a substituição do devedor na relação obrigacional, que permanece a

42
mesma. Há modificação apenas no polo passivo, com liberação, em regra, do
devedor originário. Somente se o devedor primitivo quiser, ele continua garantindo
a obrigação.

 Extinção das garantias especiais: extinção das garantias especiais originariamente


dadas pelo devedor primitivo ao credor, salvo assentimento expresso daquele (CC,
art. 300). As garantias especiais, prestadas em atenção à pessoa do devedor, como
as dadas por terceiros sob a modalidade de fiança, aval e hipoteca, que não são da
essência da dívida, só subsistirão se houver concordância expressa do devedor
primitivo e dos referidos terceiros. No entanto, as garantias reais prestadas pelo
próprio devedor originário não são atingidas pela assunção e continuam válidas, a
não ser que o credor abra mão delas expressamente.

 Anulação da substituição do devedor: se a substituição do devedor vier a ser


anulada, restaura-se o débito, com todas as suas garantias, salvo as garantias
prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vício que inquinava a obrigação”.

 Não impugnação do credor hipotecário à transferência do débito: o adquirente


de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido;
se o credor, notificado, não impugnar em trinta dias a transferência do débito,
entender-se-á dado o assentimento”. Com efeito, se a assunção do débito pelo
terceiro adquirente do imóvel possibilita a permanência da garantia real, pouca ou
nenhuma diferença fará ao credor se o devedor será este ou aquele nos casos em
que o valor da hipoteca for superior ao débito. Se, no entanto, não for esta a
hipótese, ou seja, se o referido valor for inferior à dívida, haverá interesse do credor
em impugnar a transferência de crédito nos trinta dias de sua ciência para
manutenção do devedor primitivo na relação obrigacional

43
CESSÃO DE CRÉDITO ASSUNÇÃO DE DÍVIDA
A autorização é necessária.
Autorização do CREDOR O credor participa do ato Silêncio configura RECUSA
(exceto na hipoteca)
Não, mas ele deve ser
Autorização do DEVEDOR O devedor participa do ato
informado (boa-fé objetiva)
O devedor original fica
exonerado, exceto se o
PRO SOLUTO (podendo ser
Responsabilidade do novo devedor já era
pro solvendo se
CEDENTE insolvente ao tempo da
determinado)
assunção e o credor não
sabia.
Devedor pode opor as que NÃO pode opor as que
Oposição de exceções tinha contra o credor competiam ao devedor
originário primitivo.

44
QUADRO SINÓTICO

DIREITO DAS OBRIGAÇÕES


É a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor e cujo
objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida
CONCEITO
pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento (cumprimento) através de
seu patrimônio. Lembre-se: não é um direito real.
ELEMENTO SUBJETIVO
SUJEITO ATIVO É o credor, o beneficiário da obrigação
SUJEITO PASSIVO É o devedor; aquele que deve cumprir a obrigação
Caso se torne credor, haverá uma relação complexa.
ELEMENTO OBJETIVO (OU MATERIAL)
É o objeto de uma obrigação. Para a maioria da doutrina, o objeto da obrigação é a
ELEMENTOS
prestação imediata, que é sempre uma conduta humana positiva ou negativa.
CONSTITUTIVOS  Objeto mediato, que é o bem, propriamente dito
 Objeto imediato, que é a prestação (a obrigação de dar).
 Objeto (prestação), deve ser válido deve ser lícito, possível (física e
juridicamente), determinado ou determinável e economicamente apreciável.
 Pode ser não econômico.
ELEMENTO IMATERIAL OU VÍNCULO JURÍDICO
É o vínculo que liga os sujeitos ao objeto da obrigação; é o elo. Abrange o dever da
pessoa obrigada (debitum) e responsabilidade em caso de não cumprimento
(obligatio).

EFEITOS Efeitos DIRETOS e INDIRETOS:


 Os diretos são o adimplemento, o inadimplemento e o atraso.
 Os indiretos são os direitos conferidos pela Lei ao credor para obter ou o
adimplemento preciso da obrigação ou o ressarcimento por perdas e danos, ou
os dois ao mesmo tempo.

FONTES São três fontes das obrigações (ou quatro):


 Negócio Jurídico Bilateral: duas pessoas criam obrigações entre si.
 Negócio Jurídico Unilateral: nestes casos só há uma vontade
 Ato ilícito fica obrigado a reparar o dano (art. 927, CC) dele decorrente.
 A doutrina ainda acrescenta a lei como fonte de obrigação.

CLASSIFICAÇÃO OBRIGAÇÃO DE DAR


OBRIGAÇÃO DE O devedor se obriga a entregar uma coisa certa e determinada,
DAR COISA CERTA perfeitamente individualizada.
Perda ou deterioração da coisa antes da tradição:

45
 Sem culpa do devedor: o credor resolve a obrigação,
ou aceita a coisa, abatido do seu preço.
 Com culpa do devedor: poderá o credor exigir o
equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se
acha, com direito de reclamar indenização.
OBRIGAÇÃO DE O objeto é indicado só de forma genérica, no início.Deve ser
DAR COISA determinável pelo gênero e quantidade. A escolha da coisa,
INCERTA em regra, cabe ao devedor. Antes da escolha, o devedor não
pode alegar perda ou deterioração.
OBRIGAÇÃO Prestação em dinheiro, reparação de danos e pagamento de
PECUNIÁRIA juros.
OBRIGAÇÃO DE FAZER
Trata-se da prestação de uma atividade (prestação de um serviço ou execução de
uma tarefa) positiva (material ou imaterial) e lícita do devedor.
OBRIGAÇÃO DE Pode ser realizada pelo devedor ou por terceira pessoa, sem
FAZER FUNGÍVEL prejuízo para o credor.
OBRIGAÇÃO DE
FAZER INFUNGÍVEL A prestação só pode ser executada pelo próprio devedor ante a
(PERSONALÍSSIMA sua natureza (aptidões ou qualidades especiais do devedor) ou
OU INTUITU disposição contratual.
PERSONAE)
OBRIGAÇÃO DE O devedor se compromete a não praticar certo ato que até
NÃO FAZER poderia livremente praticar se não houvesse se obrigado
OBRIGAÇÕES QUANTO A SEUS ELEMENTOS
OBRIGAÇÕES
SIMPLES Um sujeito ativo, um sujeito passivo e um único objeto
OBRIGAÇÕES
COMPOSTAS Pluralidade de objetos, pluralidade de sujeitos
OBRIGAÇÕES
CUMULATIVAS Multiplicidade de prestações
OBRIGAÇÕES
ALTERNATIVAS Apenas uma delas será cumprida como pagamento.
OBRIGAÇÕES A obrigação inicialmente é simples, mas há a possibilidade de o
FACULTATIVAS devedor substituir o objeto.
Pluralidade de credores e devedores, há direitos e/ou obrigações
pelo total da dívida. A solidariedade nunca se presume.
SOLIDARIEDADE ATIVA Ocorre quando há pluralidade de
credores. Se um deles falecer deixando
OBRIGAÇÕES herdeiros, cada um destes só poderá

46
SOLIDÁRIAS exigir e receber a quota do crédito
que corresponder ao seu quinhão,
salvo se a obrigação for indivisível.
Não há transmissão da solidariedade
por herança nas obrigações divisíveis.
SOLIDARIEDADE Ocorre quando há pluralidade de
PASSIVA devedores. Se a obrigação for
indivisível, poderá ser exigida por
inteiro; e os herdeiros reunidos serão
considerados um só devedor solidário.
SOLIDARIEDADE Pluralidade de devedores e de
MISTA credores.
OUTRAS MODALIDADES DE OBRIGAÇÃO
OBRIGAÇÕES QUANTO AO CONTEÚDO

OBRIGAÇÕES DE Quando só se considera cumprida com a obtenção de um


RESULTADO (OU resultado. Em regra, o devedor responde independentemente
DE FIM) de culpa.
OBRIGAÇÕES DE Quando o devedor só é obrigado a empenhar-se para conseguir
MEIO (OU DE o resultado, mesmo que este não seja alcançado.
DILIGÊNCIA)
OBRIGAÇÕES DE Seu objetivo é uma estipulação em um contrato de uma
GARANTIA garantia pessoal (ex.: fiança).
OBRIGAÇÕES QUANTO À DIVISIBILIDADE
OBRIGAÇÕES Comportam fracionamento da prestação.
DIVISÍVEIS
OBRIGAÇÕES São aquelas em que a prestação é única (veja a tabela de
INDIVISÍVEIS distinção entre indivisibilidade e solidariedade).
OUTRAS CLASSIFICAÇÕES
QUANTO AOS ELEMENTOS ACIDENTAIS
OBRIGAÇÕES Não estão sujeitas a nenhum elemento acidental (como a
PURAS E SIMPLES condição e o termo).
OBRIGAÇÕES
CONDICIONAIS Efeito a evento futuro e incerto para atingir seus efeitos.

OBRIGAÇÕES A Efeito a evento futuro e certo.


TERMO
OBRIGAÇÕES São as oneradas de um encargo, um ônus.
MODAIS

47
QUANTO À INDEPENDÊNCIA
OBRIGAÇÕES Independem de qualquer outra para terem validade.
PRINCIPAIS
OBRIGAÇÕES Sua existência subordinada a outra relação jurídica (ex.: fiança).
ACESSÓRIAS
QUANTO À LIQUIDEZ
OBRIGAÇÕES São aquelas certas quanto à existência e determinadas quanto
LÍQUIDAS ao objeto.
OBRIGAÇÕES São aquelas incertas quanto à sua quantidade.
ILÍQUIDAS
QUANTO AO MOMENTO PARA O CUMPRIMENTO
OBRIGAÇÕES São as que são cumpridas no momento em que o negócio é
INSTANTÂNEAS celebrado

OBRIGAÇÕES Objeto do pagamento é fracionado em prestações.


FRACIONADAS

OBRIGAÇÕES A execução é feita por um único ato, em momento posterior


DIFERIDAS ao surgimento da obrigação.

OBRIGAÇÕES DE
TRATO SUCESSIVO
(OU PERIÓDICAS São as que se resolvem em intervalos de tempo.
OU EXECUÇÃO
CONTINUADA)
OBRIGAÇÕES São obrigações híbridas, ou seja, parte direito real, parte direito
ESPÉCIES (DOUTRINA) PROPTER REM pessoal. Exemplo: condomínio.
OBRIGAÇÕES Também chamadas de imperfeitas ou incompletas, são aquelas
NATURAIS em que o credor não possui instrumento judicial para exigir a
prestação do devedor. Ex.: dívida prescrita.
O credor poderá ceder seu crédito a outro, podendo
CESSÃO DE configurar tanto alienação onerosa quanto alienação gratuita.
CRÉDITO Por se tratar de transferência de crédito, não se sujeita à
TRANSMISSÃO anuência do devedor para se consumar, mas este deverá ser
comunicado.
 Pro soluto: o cedente apenas garante a existência do
crédito, sem responder, todavia, pela solvência do
devedor;
 Pro solvendo: o cedente assume o risco da insolvência
do devedor.

48
A lei autoriza que terceiro assuma a obrigação do devedor,
desde que haja consentimento expresso do credor.
ASSUNÇÃO DE Por se tratar de débito, o silêncio do credor, caso não se
DÍVIDA manifeste no prazo designado, não importará aceitação. O
silêncio é interpretado como recusa.

49
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2021 - TCE-RJ - Analista de Controle Externo - Especialidade:


Direito) De acordo com a jurisprudência do STJ acerca da responsabilidade civil, julgue o item
subsequente.

Na hipótese de condenação judicial em ação de danos morais decorrentes de

responsabilidade extracontratual, a contagem dos juros da mora se inicia da data do evento


danoso.

( ) Certo
( ) Errado

Comentário:

CERTO. Exige-se conhecimento sobre o entendimento do STJ acerca do termo inicial


para fluência de juros em caso de responsabilidade civil extracontratual. Vejamos a

Súmula 54 do referido Tribunal Superior: “Na hipótese de condenação judicial em ação


de danos morais decorrentes de responsabilidade extracontratual, a contagem dos juros
da mora se inicia da data do evento danoso".

Questão 2

50
(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2021 - TCE-RJ - Analista de Controle Externo - Especialidade:

Direito) No que concerne a obrigações civis, contratos e prova do fato jurídico, julgue o item
que se segue.

Em contrato de compra e venda de bem móvel com pagamento antecipado do preço, caso o

objeto se perca antes da tradição, sem culpa do devedor, a obrigação ficará resolvida para
ambas as partes.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário

CERTO. Deve-se identificar o que a lei (Código Civil) prevê para o caso de perecimento

de um bem quando há obrigação de dar coisa certa (neste caso, especificamente da


venda de um bem móvel).

Vejamos o que dispõe o art. 234 que está situado justamente na seção que trata da

obrigação de dar coisa certa:

“Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor,
antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para

ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo


equivalente e mais perdas e danos".

Ou seja, antes de o devedor (vendedor) entregar a coisa ao credor (comprador) –

tradição, caso ela se perca, a obrigação fica resolvida para ambas as partes,
independentemente de ter havido ou não pagamento antecipado.

51
Obs. Não confundam! Perda do objeto e deterioração. A perda é a destruição total, a

deterioração (art. 235) é a perda parcial.

Questão 3

(Banca: IBFC - 2020 - TRE-PA - Analista Judiciário - Judiciária) O vínculo imaterial ou


espiritual da obrigação consiste no vínculo jurídico existente entre as partes na relação

obrigacional, ou seja, o elo que sujeita o devedor à determinada prestação, seja ela positiva
ou negativa, em favor do credor.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

CERTA. A assertiva está em harmonia com o conceito trazido pela doutrina: “o elemento

imaterial e cerne da obrigação é o vínculo jurídico estabelecido entre os sujeitos. Trata-


se do liame abstrato que une as partes (credor e devedor), possibilitando a um deles
exigir do outro o objeto da prestação, sob pena de excussão patrimonial através do

Poder judiciário" (FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito
Civil. Obrigações. 11. ed. Bahia: Jus Podivm. 2017. v. 2, p. 81).

Questão 4

(Banca: IBFC - 2020 - TRE-PA - Analista Judiciário - Judiciária) Na cessão por título oneroso,

o cedente, ainda que não se responsabilize, fica responsável ao cessionário pela existência do

52
crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por

título gratuito, se tiver procedido de má-fé.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

CERTA. Em harmonia com o art. 295 do CC: “Na cessão por título oneroso, o cedente,
ainda que não se responsabilize, fica responsável ao cessionário pela existência do

crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões
por título gratuito, se tiver procedido de má-fé".

Questão 5

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2017 - TRE-TO - Analista Judiciário - Área Judiciária) Caso

seja ofertada prestação diversa da que lhe é devida, o credor deverá consentir em recebê-la,
desde que seja mais valiosa que a original.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

ERRADO. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida,
ainda que mais valiosa.

53
Questão 6

(Banca: FAURGS - 2017 - TJ-RS - Analista Judiciário) A cláusula proibitiva da cessão poderá

ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação.

( ) Certo
( ) Errado

Comentário:

ERRADO. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da
obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não

poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da


obrigação. A cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-
fé, se não constar do instrumento da obrigação.

Questão 7

(Banca: FAURGS - 2017 - TJ-RS - Analista Judiciário) Salvo disposição em contrário, na

cessão de um crédito não são abrangidos os seus acessórios.

( ) Certo
( ) Errado

Comentário:

54
ERRADO. Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abrangem-se todos os

seus acessórios.

Questão 8

(Banca: FAURGS - 2017 - TJ-RS - Analista Judiciário) A cessão do crédito tem eficácia em
relação ao devedor, independentemente de notificação.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

ERRADO. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a
este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou

particular, se declarou ciente da cessão feita.

Questão 9

(Banca: FAURGS - 2017 - TJ-RS - Analista Judiciário) Ocorrendo várias cessões do mesmo
crédito, prevalece a que se completar com a tradição do título do crédito cedido.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

55
CERTO. Ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece a que se completar com

a tradição do título do crédito cedido.

Questão 10

(Banca: FAURGS - 2017 - TJ-RS - Analista Judiciário) Salvo estipulação em contrário, o


cedente responde pela solvência do devedor.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

ERRADO. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do

devedor.

56
GABARITO

Questão 1 - CERTO

Questão 2 - CERTO

Questão 3 - CERTO

Questão 4 - CERTO

Questão 5 - ERRADO

Questão 6 - ERRADO

Questão 7 - ERRADO

Questão 8 - ERRADO

Questão 9 - CERTO

Questão 10 - ERRADO

57
QUESTÃO DESAFIO

Ítalo emprestou para José, Manuel e Tiago o valor de R$


900.000,00 (novecentos mil reais), instituindo no contrato a
solidariedade passiva. No entanto, José veio a falecer antes do
vencimento, deixando três herdeiras, Maria, Joana e Paula. Desse
modo, pergunta-se:

Como Ítalo poderá exigir o pagamento das herdeiras de José?


Fundamente.

58
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

Conforme o art. 276 do CC, Ítalo poderá cobrar de duas formas: I – de maneira individual,

onde não existirá solidariedade e cada uma responde até o seu quinhão hereditário; II –
de forma coletiva, onde as herdeiras, reunidas, são consideradas um devedor solidário em
relação aos demais codevedores.

 Individual

A primeira parte do art. 276 do CC estabelece que: “Se um dos devedores solidários falecer

deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao
seu quinhão hereditário;” Ou seja, em caso de falecimento de um dos devedores solidários, o

credor pode exigir individualmente dos herdeiros a obrigação assumida pelo falecido, porém,
responderão somente até os limites da herança e de seus quinhões correspondentes. No caso,
Ítalo poderia cobrar apenas R$ 100.000,00 (cem mil) de cada herdeira se fizesse dessa forma,

desde que respeitado os limites da herança, pelo que estabelece o art. 1.792 do CC.

Importante observar que essa regra não vale para as obrigações indivisíveis. Nas palavras de
Flávio Tartuce: “estando um dos herdeiros com o touro reprodutor, sempre mencionado como
exemplo de objeto na obrigação indivisível, este deverá entregar o animal, permanecendo a
solidariedade.” (Tartuce, Flávio. Direito Civil: Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil –

v. 2. – 14. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 137).

 Coletiva

Já a segunda parte do art. 276 do CC prevê a cobrança de forma coletiva, vejamos: “mas

todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais
devedores.” Assim, caso Maria, Joana e Paula venham a ser cobradas conjuntamente, elas

serão consideradas como um único devedor solidário em relação aos demais devedores
(Manuel e Tiago), estando, portanto, obrigadas a pagar toda a dívida, ressalvado o posterior
direito de regresso em face dos outros devedores.

59
Nesse caso, é como se houvesse uma simples substituição entre José, que faleceu, e suas

herdeiras. No entanto, conforme os doutrinadores Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona Filho


ensinam: “o pagamento total da dívida pelos herdeiros reunidos não poderá, obviamente,

ultrapassar as forças da herança, uma vez que não seria lícito admitir que os referidos
sucessores diminuíssem o seu patrimônio pessoal para cumprir uma obrigação a que não

deram causa.” (Gagliano, Pablo Stolze; Pamplona Filho, Rodolfo. Novo curso de direito civil,
volume 2: obrigações Filho. – 20. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019. p. 147).

60
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Das modalidades das obrigações

 Código Civil:Artigos 233 a 285.

Da transmissão das obrigações

 Código Civil: Artigos 286 a 303.

Artigos mais incidentes em provas objetivas: 234, 235, 236, 259, 260, 265, 275, 276, 277,
278, 279, 280, 283, 285, 296.

 Súmula 623, STJ

As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível cobrá-las do proprietário ou
possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor.

 Súmula n.º 54, STJ.

Na hipótese de condenação judicial em ação de danos morais decorrentes de responsabilidade extracontratual, a


contagem dos juros da mora se inicia da data do evento danoso 7.

 Súmula n.º 159, STF.

Cobrança excessiva, mas de boa fé, não dá lugar às sanções do art. 1.531 do Código Civil.

 Súmula n.º 245, STJ.

A notificação destinada a comprovar a mora nas dívidas garantidas por alienação fiduciária dispensa a indicação
do valor do débito.

 Súmula n.º 298, STJ.

7
Vide questão 1 do material
61
O alongamento de dívida originada de crédito rural não constitui faculdade da instituição financeira, mas, direito
do devedor nos termos da lei.

62
JURISPRUDÊNCIA

É VALIDA A CLÁUSULA CONTRATUAL INSERIDA EM CONTRATO DE


CESSÃO DE CRÉDITO CELEBRADO COM UM FIDC QUE CONSAGRA
A RESPONSABILIDADE DO CEDENTE PELA SOLVÊNCIA DO
DEVEDOR (CESSÃO DE CRÉDITO PRO SOLVENDO)

 STJ. 3ª Turma. REsp 1909459-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/05/2021 (Info 697).

Situação hipotética: PW Ltda é uma loja de roupas. Na sua atividade empresarial, ela faz muitas vendas à crédito.
Para tanto, os clientes assinam notas promissórias se comprometendo a pagar as dívidas em 90, 120 e 180 dias.
Ocorre que a loja não pode aguardar todo esse tempo e precisa de dinheiro para pagar suas despesas e comprar
mercadorias. A empresa resolveu, então, “vender” seus créditos, recebendo à vista o dinheiro, com deságio, ou
seja, com desconto. Para tanto, PW celebrou contrato de cessão de créditos com um Fundo de Investimento em
Direitos Creditórios – FIDC. Por meio desse contrato, a PW cedeu para o Fundo diversas notas promissórias
(títulos de crédito) que iriam vencer apenas em 180 dias. A soma desses créditos totalizava R$ 100 mil. Como
contrapartida, o Fundo pagou, à vista, R$ 80 mil para a PW, ficando com o direito de cobrar dos devedores os R$
100 mil. Ocorre que esses Fundos se cercam das mais diversas garantias possíveis. Desse modo, havia uma
cláusula nesse contrato dizendo que, se os devedores das notas promissórias cedidas não pagassem a dívida, o
FIDC poderia cobrar a quantia da loja de roupas (que cedeu os títulos de créditos). Essa cláusula contratual é
válida. Obs: se, em vez de um FIDC, o contrato tivesse sido celebrado entre a loja e uma empresa de factoring,
não seria possível essa cláusula (REsp 1711412-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 04/05/2021. Info
695).

Comentário: FIDC é a sigla para Fundo de Investimento em Direitos Creditórios. Trata-se de


um fundo de investimento no qual os valores serão aplicados, no mínimo, 50% em direitos
creditórios (títulos de crédito). Assim, as pessoas interessadas investem um determinado valor
no fundo, que é administrado por especialistas. Este fundo aplica o valor dos investidores e,
depois, divide entre os participantes as receitas que conseguir, abatidas as despesas
necessárias para o negócio. A peculiaridade deste fundo é o fato de ele ter que aplicar pelo
menos metade dos recursos em direitos creditórios (daí o seu nome).

63
É CABÍVEL O PEDIDO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO EM DOBRO,
PREVISTO NO ART. 940 DO CC/2002, EM SEDE DE EMBARGOS
MONITÓRIOS

 STJ. 3ª Turma. REsp 1877292-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/10/2020 (Info 682).

O réu, citado na ação monitória, pode apresentar embargos monitórios, que são uma forma de defesa,
semelhante à contestação (art. 702 do CPC). Os embargos podem se fundar em qualquer matéria que poderia ser
alegada como defesa no procedimento comum (§ 1º do art. 702). Assim, o réu pode, nos embargos monitórios,
alegar que a dívida já está paga e pedir a repetição de indébito em dobro, nos termos do art. 940 do CC. A
condenação ao pagamento em dobro do valor indevidamente cobrado pode ser formulada em qualquer via
processual, inclusive, em sede de embargos à execução, embargos monitórios e ou reconvenção, até mesmo
reconvenção, prescindindo de ação própria para tanto.

Comentário: Súmula 159-STF: Cobrança excessiva, mas de boa fé, não dá lugar às sanções do
art. 1.531 do Código Civil (atual art. 940).

NA HIPÓTESE EM QUE PACTUADA A CAPITALIZAÇÃO DIÁRIA DE


JUROS REMUNERATÓRIOS, É DEVER DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA
INFORMAR AO CONSUMIDOR ACERCA DA TAXA DIÁRIA APLICADA

 STJ. 2ª Seção. REsp 1826463-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 14/10/2020 (Info
682).

Se o contrato, ao tratar sobre os encargos, menciona a taxa de juros mensal e anual, mas não prevê qual é a taxa
diária dos juros, há abusividade. Viola o dever de informação, o contrato que somente prevê uma cláusula
genérica de capitalização diária, sem informar a taxa diária de juros remuneratórios. A informação acerca da
capitalização diária, sem indicação da respectiva taxa diária, subtrai do consumidor a possibilidade de estimar
previamente a evolução da dívida, e de aferir a equivalência entre a taxa diária e as taxas efetivas mensal e anual.
A falta de previsão da taxa diária, portanto, dificulta a compreensão do consumidor acerca do alcance da
capitalização diária, o que configura descumprimento do dever de informação trazido pelo art. 46 do CDC.

64
Comentário: Súmula 159-STF: Cobrança excessiva, mas de boa fé, não dá lugar às sanções do
art. 1.531 do Código Civil (atual art. 940).

O FIDC, AO ADQUIRIR DO CONDOMÍNIO CRÉDITOS DE COTAS


CONDOMINIAIS NÃO-PAGAS, SUB-ROGA-SE E PASSA A TER OS
MESMOS DIREITOS QUE O CONDOMÍNIO POSSUÍA, COM AS
MESMAS PRERROGATIVAS NO MOMENTO DE COBRAR OS
INADIMPLENTES

 STJ. 3ª Turma. REsp 1570452-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/09/2020 (Info
680).

Situação concreta: vários condôminos estavam inadimplentes com as taxas condominiais. O condomínio cedeu
esses créditos para um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC).
O FIDC, ao adquirir do condomínio esses créditos, sub-roga-se e passa a ter os mesmos direitos que o
condomínio possuía, com as mesmas prerrogativas.
A cessão de crédito não implica a alteração da natureza do crédito cedido.
Na atividade de securitização de créditos condominiais, os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios
(FIDCs) valem-se do instituto da cessão de créditos e, ao efetuarem o pagamento das cotas condominiais
inadimplidas, sub-rogam-se na mesma posição do condomínio cedente, com todas as prerrogativas legais a ele
conferidas.

Comentário: Direitos creditórios são direitos derivados de créditos que uma empresa tem a
receber, como, por exemplo, cheques, aluguéis, duplicatas, parcelas de cartão de crédito etc.
Assim, a empresa tem esses créditos para receber no futuro, mas como precisa de capital de
giro, aceita “vender” esses créditos para um terceiro, recebendo à vista menos do que eles
valem. Ex: a empresa tinha um cheque “pós-datado” para receber em 90 dias no valor de R$ 1
mil; ela aceita “vender” esse crédito por R$ 800,00 recebendo à vista a quantia.

INSTITUIÇÃO NÃO FINANCEIRA - DEDICADA AO COMÉRCIO


VAREJISTA - NÃO PODE ESTIPULAR, EM SUAS VENDAS A CRÉDITO,
PAGAS EM PRESTAÇÕES, JUROS REMUNERATÓRIOS SUPERIORES A
1% AO MÊS, OU A 12% AO ANO
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 STJ. 3ª Turma. REsp 1720656-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/04/2020 (Info 671).

A cobrança de juros remuneratórios superiores aos limites estabelecidos pelo Código Civil é excepcional e deve
ser interpretada restritivamente. Apenas às instituições financeiras, submetidas à regulação, controle e fiscalização
do Conselho Monetário Nacional, é permitido cobrar juros acima do teto legal. A previsão do art. 2º da Lei nº
6.463/77 faz referência a um sistema obsoleto, em que a aquisição de mercadorias a prestação dependia da
atuação do varejista como instituição financeira e no qual o controle dos juros estava sujeito ao escrutínio dos
próprios consumidores e à regulação e fiscalização do Ministério da Fazenda. O art. 2º da Lei 6.463/77 não
possui mais suporte fático apto a sua incidência, sendo, portanto, ineficaz, não podendo ser interpretado
extensivamente para permitir a equiparação dos varejistas a instituições financeiras e não autorizando a cobrança
de encargos cuja exigibilidade a elas é restrita.

Comentário: Instituição não financeira - dedicada ao comércio varejista em geral - não pode
estipular, em suas vendas a crédito, pagas em prestações, juros remuneratórios superiores a
1% ao mês, ou a 12% ao ano.

NO PAGAMENTO DIFERIDO EM PARCELAS, NÃO HAVENDO


DISPOSIÇÃO CONTRATUAL EM CONTRÁRIO, É LEGAL A
IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO PRIMEIRAMENTE NOS JUROS

 STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1843073-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 30/03/2020
(Info 669).

A imputação dos pagamentos primeiramente nos juros é instituto que, via de regra, alcança todos os contratos
em que o pagamento é diferido em parcelas. O objetivo de fazer isso é o de diminuir a oneração do devedor. Ao
impedir que os juros sejam integrados ao capital para, só depois dessa integração, ser abatido o valor das
prestações, evita que sobre eles (juros) incida novo cômputo de juros.

Comentário: Imputação do pagamento consiste na indicação da dívida a ser quitada quando


o devedor se encontra obrigado por dois ou mais débitos a um mesmo credor e efetua
pagamento não suficiente para saldar todas as dívidas.

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SE O FIDC FOR CESSIONÁRIO DE TÍTULO DE CRÉDITO DE UM
BANCO, ELE PODE COBRAR A MESMA TAXA DE JUROS PORQUE
ESSE FUNDO SE AMOLDA À DEFINIÇÃO LEGAL DE INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA

 STJ. 4ª Turma. REsp 1634958-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 06/08/2019 (Info 655).

Os Fundos de Investimento em Direito Creditório - FIDCs amoldam-se à definição legal de instituição financeira e
não se sujeitam à incidência da limitação de juros da Lei da Usura.

Comentário: De acordo com o art. 2º, I, da Instrução CVM nº 356/2001, os direitos creditórios
são os direitos e títulos representativos de crédito, originários de operações realizadas nos
segmentos financeiro, comercial, industrial, imobiliário, de hipotecas, de arrendamento
mercantil e de prestação de serviços, e os warrants, contratos e títulos referidos no § 8º do art.
40 dessa Instrução.

DETERMINADA EMPRESA DEU AO CREDOR UM TERRENO COMO


PAGAMENTO DA DÍVIDA (DAÇÃO EM PAGAMENTO); SE NÃO FOI
FEITA NENHUMA RESSALVA, PRESUME-SE QUE A TRANSFERÊNCIA
DO IMÓVEL INCLUIU A PLANTAÇÃO ALI EXISTENTE

 STJ. 4ª Turma. REsp 1567479-PR, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 11/06/2019 (Info 651).

Na dação em pagamento de imóvel sem cláusula que disponha sobre a propriedade das árvores de
reflorestamento, a transferência do imóvel inclui a plantação.

Comentário: Dação em pagamento é o ato pelo qual o devedor quita uma dívida vencida
entregando ao credor uma prestação diferente daquela que era a prevista inicialmente, desde
que o credor concorde com isso (art. 356 do Código Civil).

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EM REGRA, A CLÁUSULA PENAL MORATÓRIA NÃO PODE SER
CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR LUCROS CESSANTES

 STJ. 2ª Seção. REsp 1498484-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/05/2019 (recurso
repetitivo) (Info 651).

A cláusula penal moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da obrigação, e, em regra,
estabelecida em valor equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação com lucros cessantes. STJ. 2ª Seção. REsp
1498484-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/05/2019 (recurso repetitivo) (Info 651). Observação: Em
28/12/2018, entrou em vigor a Lei nº 13.786/2018, que dispõe sobre a resolução do contrato por
inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária. A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 43-A na Lei nº
4.591/64 para tratar sobre o inadimplemento (parcial ou absoluto) em contratos de compra e venda, promessa
de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária ou de
loteamento. As regras da Lei nº 13.786/2018 não podem ser aplicadas os contratos anteriores à sua vigência. A
nova lei só poderá atingir contratos celebrados posteriormente à sua entrada em vigor. Observação 2 (se não
houver cláusula penal): O atraso na entrega do imóvel enseja pagamento de indenização por lucros cessantes
durante o período de mora do promitente vendedor, sendo presumido o prejuízo do promitente comprador. Os
lucros cessantes serão devidos ainda que não fique demonstrado que o promitente comprador tinha finalidade
negocial na transação.

Comentário: A cláusula penal também pode ser chamada de multa convencional, multa
contratual ou pena convencional. A cláusula penal é uma obrigação acessória, referente a uma
obrigação principal. Pode estar inserida dentro do contrato (como uma cláusula) ou prevista
em instrumento separado.

O INSTRUMENTO DE CESSÃO FIDUCIÁRIA DE DIREITOS


CREDITÓRIOS DEVE INDICAR, DE MANEIRA PRECISA, O CRÉDITO, E
NÃO O TÍTULO OBJETO DE CESSÃO

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.797.196-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 09/04/2019 (Info
646).

Na cessão fiduciária de direitos creditórios, para a perfectibilização do negócio fiduciário, o correlato instrumento
deve indicar, de maneira precisa, o crédito objeto de cessão e não os títulos representativos do crédito. O objeto
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da cessão fiduciária são os direitos creditórios que devem estar devidamente especificados no instrumento
contratual (e não o título objeto da cessão, que apenas os representa).

OBRIGAÇÃO NATURAL

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.406.487-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/8/2015 (Info
566).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DÍVIDA DE JOGO. CASA DE BINGOS. FUNCIONAMENTO COM AMPARO EM
LIMINARES. PAGAMENTO MEDIANTE CHEQUE. DISTINÇÃO ENTRE JOGO PROIBIDO, LEGALMENTE PERMITIDO E
TOLERADO. EXIGIBILIDADE APENAS NO CASO DE JOGO LEGALMENTE PERMITIDO, CONFORME PREVISTO NO
ART. 815, § 2º DO CÓDIGO CIVIL. 1. Controvérsia acerca da exigibilidade de vultosa dívida de jogo contraída em
Casa de Bingo mediante a emissão de cheques por pessoa diagnosticada com estado patológico de jogadora
compulsiva. 2. Incidência do óbice da Súmula 284/STF no que tange à alegação de abstração da causa do título
de crédito, tendo em vista a ausência de indicação do dispositivo de lei federal violado ou objeto de divergência
jurisprudencial. 3. "As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento" (art. 814, caput), sendo que "o
preceito contido neste artigo tem aplicação, ainda que se trate de jogo não proibido, só se excetuando os
jogos e apostas legalmente permitidos." (art. 814, § 2º, do Código Civil). 4. Distinção entre jogo proibido,
tolerado e legalmente permitido, somente sendo exigíveis as dívidas de jogo nessa última hipótese. Doutrina
sobre o tema. 5. Caráter precário da liminar que autorizou o funcionamento da casa de bingos, não se
equiparando aos jogos legalmente autorizados. 6. Inexigibilidade da obrigação, na espécie, tratando-se de mera
obrigação natural. 7. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.” (negritamos)

Comentário:
A dívida de jogo contraída em casa de bingo é inexigível, ainda que seu
funcionamento tenha sido autorizado pelo Poder Judiciário.
A lei exige mais do que uma aparência de licitude, exige autorização legal, o que não se
verifica na hipótese em tela. Ademais, as decisões liminares, como se sabe, têm caráter
precário, correndo por conta e risco do requerente os danos decorrentes da reversibilidade da
medida, não havendo falar, portanto, em direito adquirido.

OBRIGAÇÃO DE RESULTADO

 STJ. 4ª Turma. REsp 985888-SP, Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/2/2012 (Info 491).

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EMENTA: “DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO. CIRURGIA PLÁSTICA. OBRIGAÇÃO DE
RESULTADO. SUPERVENIÊNCIA DE PROCESSO ALÉRGICO. CASO FORTUITO. ROMPIMENTO DO NEXO DE
CAUSALIDADE. 1. O requisito do prequestionamento é indispensável, por isso inviável a apreciação, em sede de
recurso especial, de matéria sobre a qual não se pronunciou o Tribunal de origem, incidindo, por analogia, o
óbice das Súmulas 282 e 356 do STF. 2. Em procedimento cirúrgico para fins estéticos, conquanto a obrigação
seja de resultado, não se vislumbra responsabilidade objetiva pelo insucesso da cirurgia, mas mera
presunção de culpa médica, o que importa a inversão do ônus da prova, cabendo ao profissional elidi-la de
modo a exonerar-se da responsabilidade contratual pelos danos causados ao paciente, em razão do ato cirúrgico.
3. No caso, o Tribunal a quo concluiu que não houve advertência a paciente quanto aos riscos da cirurgia, e
também que o médico não provou a ocorrência de caso fortuito, tudo a ensejar a aplicação da súmula 7/STJ,
porque inviável a análise dos fatos e provas produzidas no âmbito do recurso especial. 4. Recurso especial não
conhecido.” (negritamos)

Comentário:
Aluno, esse julgado é muito importante!
Já vimos o seu conteúdo quando do estudo das obrigações de resultado. O STJ firmou
que o fato de uma obrigação de resultado não torna a responsabilidade de seu devedor
necessariamentre objetiva.
No caso em tela, o cirurgião plástico assume uma obrigação de resultado, qual seja:
entregar o efeito prometido. Se algo não sair como planejado na cirurgia e o paciente decidir
acioná-lo por perdas e danos, a culpa do médico será presumida.
Assim, há a inversão do ônus da prova. Isso significa que o paciente não precisa
comprovar a culpa do médico. Pelo contrário, é o cirurgião plástico que deve demonstrar nos
autos que tomou todas as cautelas e não teve culpa de o resultado não sair perfeito.
Em suma, o mais importante a gravar é que a responsabilidade do médico que presta
uma obrigação de resultado não é objetiva.

TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES

CESSÃO DE CRÉDITO

 STF. Plenário. RE 631537, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/05/2020 (Repercussão Geral – Tema
361) (Info 980 – clipping).

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EMENTA: “PRECATÓRIO – CRÉDITO – CESSÃO – NATUREZA. A cessão de crédito não implica alteração da
natureza.” (negritamos)

Comentário:
Aluno, a ementa é pequena mesmo!
Esse julgado encontra-se no campo do Direito Administrativo. Porém, como é muito
atual e relevante, já que dele resultou um tema de repercussão geral, decidimos abordá-lo.
Nesse acórdão o STF trata do regime de precatórios, disciplinado pelo art. 100 da CF.
Em resumo, se um indivíduo ganha uma ação contra a Fazenda Pública, uma das formas desta
paga-lo é por meio do precatório. Esse indivíduo entra em uma “fila” e com o tempo, receberá
do Poder Poder Público o que lhe é devido.
O artigo 100, §1º, CF reza que os débitos de natureza alimentícia têm preferência nessa
“fila de precatórios”. Um exemplo: débitos decorrentes de salários que o Poder Público não
pagou.
Imagine que X ganhou uma ação contra o Estado de São Paulo no valor de 120 mil
reais correspondentes a salários atrazados.
X pode ceder seu crédito a um terceiro para obter o dinheiro imediatamente e não
precisar aguardar na fila. Obviamente, o comprador (cessionário) de seu crédito pagará menos
por ele a X e aguardará na fila em seu lugar.
O STF decidiu que o cessionário, ou seja, a pessoa que “entrou no lugar” de “X” poderá
continuar na mesma colocação na fila preferencial (do art. 100, §1º, CF), já que o crédito
originariamente é de natureza alimentícia.
Assim, foi fixada a seguinte tese (tema 361) pelo STF: “A cessão de crédito não implica
alteração da natureza”.

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MAPAS MENTAIS

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2018.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos Contratos – 10. ed. – São
Paulo: Atlas, 2010.

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