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TRIBUNAIS
CAPÍTULO 2
Olá, aluno!
Afinal, queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior
aproveitamento, pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para
E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato através do e-mail pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
a gente!
Acreditamos que com esses recursos você estará munido com tudo que precisa para
alcançar a sua aprovação de maneira eficaz. Racionalizar a preparação dos nossos alunos é
mais que um objetivo para o CERS, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos
agora para o estudo da disciplina.
2
Recado para você que está assistindo às videoaulas
Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você
que está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do
nosso CERS Book. Portanto, você deve estar atento que:
Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas,
razão pela qual pode ser eventualmente repetido;
A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se
o capítulo 03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é
baseada no estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público,
por isso, nem todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou
legislativa;
3
CAPÍTULOS
4
SOBRE ESTE CAPÍTULO
Caro Aluno, o Capítulo 2 tratará sobre os pontos mais relevantes aos concursos públicos
jurídica capaz de ajudar o aluno a entender assuntos mais incidentes e complexos. Também,
esse capítulo dará grande base para fundamentos a serem utilizados em provas dissertativas
de todas as carreiras.
O capítulo não é muito extenso, pois foram selecionados apenas pontos considerados
fundamentais. Assim, deve ser lido com muita atenção.
Dê uma ênfase mais especial ao tema “Antinomias Jurídicas”. Acreditamos que com a
explicação do último julgado citado no tópico da jurisprudência, ficará mais claro como os
critérios de resolução dos conflitos de normas são utilizados pelos juízes.
5
SUMÁRIO
DIREITO CIVIL ........................................................................................................................................... 8
Capítulo 2 .................................................................................................................................................. 8
2.1.1 Lei.............................................................................................................................................................................. 10
GABARITO ............................................................................................................................................... 38
6
JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 43
7
DIREITO CIVIL
Capítulo 2
Além do mencionado, serão abordados a evolução do direito civil, a relação atual entre
o direito civil e a Constituição Federal e os valores basilares do Código Civil de 2002.
Não deixe de ler o presente capítulo, ele é essencial à compreensão dos demais.
No sentido que interessa a esse estudo, a expressão “fontes do direito” está relacionada
ao aspecto de fonte criadora do direito.
classificação das fontes do direito, apresentando-se, no presente resumo, algumas das várias
classificações propostas.
As fontes diretas são as que, de per si, têm força suficiente para gerar a regra jurídica.
Segundo o autor, para a doutrina tradicional, as fontes diretas também podem ser
denominadas fontes imediatas ou primárias e, para a maioria dos doutrinadores, nessa
classificação enquadram-se a lei e o costume.
8
As fontes indiretas, chamadas de fontes mediatas ou secundárias, que não têm a
força das diretas, mas esclarecem os espíritos dos aplicadores da lei e servem de
precioso substrato para a compreensão e aplicação global do Direito. Como exemplos
dessas fontes, podem ser citados, sem unanimidade entre os juristas, a doutrina, a
jurisprudência, a analogia, os princípios gerais de direito e a equidade.
As fontes diretas, formais ou imediatas, são constituídas pela lei, pela analogia, pelos
costumes e pelos princípios gerais de direito, referidos no art. 4ª da LINDB. São
fontes independentes que derivam da própria lei, bastando por si para a existência ou
manifestação do direito.
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito1.
1
Vide questões 5, 6 e 7 do material
2
Vide questão 2 do material
9
2.1.1 Lei
SUBSUNÇÃO.
No que tange à classificação das leis, a mais relevante delas é a que trata da sua força
obrigatória:
As normas cogentes (ou de ordem pública) são aquelas que atendem mais
diretamente ao interesse geral, merecendo aplicação obrigatória, eis que são dotadas
de imperatividade absoluta.
ATENÇÃO! As partes não podem, mediante convenção, ilidir a incidência de uma norma
cogente.
Exemplo: normas relacionadas com os direitos da personalidade (arts. 11 a 21
do CC), com os direitos pessoais de família, com a nulidade absoluta dos negócios
jurídicos e com a função social da propriedade e dos contratos (art. 2.035, parágrafo
único, CC).
10
Já as normas dispositivas (também chamadas supletivas, interpretativas ou de ordem
privada) são aquelas que interessam somente aos particulares, podendo ser afastadas
por disposição de vontade. Tais normas funcionam no silêncio dos contratantes,
suprindo a manifestação de vontade porventura faltante.
Exemplo: normas que dizem respeito ao condomínio, ao regime de bens do
casamento e à anulabilidade de um negócio jurídico.
2.1.2 Costumes
Os costumes podem ser conceituados como sendo as práticas e usos reiterados, com
conteúdo lícito e relevância jurídica. Formam-se paulatinamente, de forma quase
imperceptível, até o momento em que aquela prática reiterada é tida por obrigatória.
Note que nem todo uso é costume, já que o costume é um uso considerado
juridicamente obrigatório. O costume deve constituir-se em hábito arraigado, bem
11
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do
lugar de sua celebração.
§ 1º A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o sentido que:
I - for confirmado pelo comportamento das partes posterior à celebração do negócio;
II - corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas ao tipo de
negócio;
III - corresponder à boa-fé;
IV - for mais benéfico à parte que não redigiu o dispositivo, se identificável; e
V - corresponder à qual seria a razoável negociação das partes sobre a questão
discutida, inferida das demais disposições do negócio e da racionalidade econômica das
partes, consideradas as informações disponíveis no momento de sua celebração.
§ 2º As partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de preenchimento
de lacunas e de integração dos negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei.
Observação: tenha muita atenção ao ler o §1º do art. 113, já que ele foi
incluído em 2019, pela Lei nº 13.874 (mais conhecida como Lei da Liberdade
Econômica)!
Art. 965. Goza de privilégio geral, na ordem seguinte, sobre os bens do devedor:
Art. 1.297. O proprietário tem direito a cercar, murar, valar ou tapar de qualquer modo
o seu prédio, urbano ou rural, e pode constranger o seu confinante a proceder com ele
à demarcação entre os dois prédios, a aviventar rumos apagados e a renovar marcos
destruídos ou arruinados, repartindo-se proporcionalmente entre os interessados as
respectivas despesas.
12
§ 1º Os intervalos, muros, cercas e os tapumes divisórios, tais como sebes vivas, cercas
de arame ou de madeira, valas ou banquetas, presumem-se, até prova em contrário,
pertencer a ambos os proprietários confinantes, sendo estes obrigados, de
conformidade com os costumes da localidade, a concorrer, em partes iguais,para as
despesas de sua construção e conservação.
Por último, conforme vimos no capítulo anterior, os costumes podem ser secundum
legem (há referência expressa aos costumes no texto legal, razão pela qual não se fala em
integração, mas sim em subsunção, eis que a própria norma jurídica é aplicada), praeter
legem (costume integrativo, serve para preencher lacunas quando a lei for omissa) ou contra
legem3 (opõe-se ao dispositivo de uma lei e não podem ser admitidos, por gerarem
instabilidade do sistema)4.
2.1.3 Analogia5
Aluno, lembre-se que já vimos esse tema no capítulo anterior, quando tratamos do art.
4º, da LINDB.
Legal ou legis (o aplicador do Direito busca uma norma que se aplica a casos
semelhantes);
3
Vide questões 3 e 9 do material
4
Observe que mesmo aqueles que admitem o costume ab-rogatório procedem em caráter de exceção. Clóvis
Beviláqua, por exemplo, afirma que o costume contra legem seria inconveniente por tirar do aparelho jurídico a
supremacia da lei e a certeza das prescrições legais, mas conclui que “se o legislador for imprevidente em
desenvolver a legislação nacional de harmonia com as transformações econômicas, intelectuais e morais operadas
no país, casos excepcionais haverá em que, apesar da declaração peremptória da ineficácia ab-rogatória do
costume, este prevaleça contra legem, porque a desídia ou a incapacidade do poder legislativo determinou um
regresso parcial da sociedade da época, em que o costume exercia, em sua plenitude, a função de revelar o
direito, e porque as forças vivas da nação se divorciam, nesse caso, das normas estabelecidas na lei escrita”.
5
Vide questões 4, 8 e 10 do material
13
Jurídica ou iuris (não encontrando um texto semelhante para aplicar ao caso em
exame, o juiz tenta extrair do pensamento dominante em um conjunto de normas uma
conclusão particular para o caso).
Maria Helena Diniz, por exemplo, entende que os princípios são cânones não ditados,
explicitamente, pelo elaborador da norma, mas que estão contidos de forma imanente no
ordenamento jurídico. Tratam-se de regras de conduta que não se encontram positivadas no
sistema normativo, mas norteiam o juiz na interpretação da norma, do ato ou do negócio
jurídico.
2.1.5 Doutrina
tão utilizada ou tão citada nas decisões quanto antes de nossa codificação ou em seus
primórdios. Porém, não restam dúvidas de que o Direito inspira-se na doutrina, ora aclarando
2.1.6 Jurisprudência
similares sobre uma mesma matéria. Pode ser considerada o próprio “direito ao vivo”,
cabendo-lhe o papel de preencher lacunas do ordenamento nos casos concretos.
14
Um dos papéis da jurisprudência é atualizar o entendimento acerca da lei, dando-lhe
uma interpretação atual, que atenda às necessidades do momento do julgamento. Por isso,
trata-se de instituto dinâmico.
A importância dos precedentes judiciais aumentou muito com o CPC/2015, o qual, tem,
15
2.2.2 Classificação das antinomias
Antinomia de 1º Grau (Aparente): Conflito entre normas que envolve apenas UM dos
critérios acima expostos. É aparente pois pode ser resolvida por um dos critérios,
facilmente.
Antinomia de 2º Grau (Real)6: Choque de normas válidas que envolve DOIS dos
critérios analisados, ou, quando não houver a possibilidade de solucionar um
conflito pelos critérios acima, haverá uma antinomia de 2º grau.
ANTINOMIAS DE 2º GRAU
Conflito de normas diante de um caso Solução (qual norma será aplicada)
concreto prevalece?
Prevalece a primeira (norma especial e
Norma especial e anterior vs. norma geral
anterior), em razão da especialidade, que é
posterior
mais forte do que o critério cronológico.
(critérios da especialidade vs. cronológico)
Aplicar-se à a norma especial.
Prevalece a primeira (norma superior
anterior), em razão do critério hierárquico,
Norma superior anterior vs. norma inferior que é mais forte do que o critério
posterior cronológico.
(critérios hierárquico vs. cronológico) Aplicar-se-á a norma superior.
(exemplo: norma constitucional prevalece
sobre uma norma legal).
6
Vide questão 1 do material
16
Para N. Bobbio, prevalece a primeira (norma
geral superior), em razão do critério
hierárquico, que é mais forte do que o
critério da especialidade.
Norma geral superior vs. norma especial
Assim, para ele, aplicar-se-á, sempre, a norma
inferior (critérios hierárquicos vs.
superior.
especialidade)
Atenção! Pois, para alguns autores, como
Maria Helena Diniz, não há uma metarregra
geral de solução, devendo-se verificar o caso
concreto7.
solidificada a divisão entre Direito Público e Privado, onde estava um, não poderia estar o
outro. O Código Civil da Alemanha - BGB, promulgado em 1896, seguiu a mesma linha:
ambos são individualistas e patrimonialistas, tendo a propriedade privada e o pacta sunt
No decorrer do século XX, o Direito Civil passou por uma releitura, que chamamos de
filtragem constitucional. O que isso significa? A separação entre direito público e privado
tornou-se mais branda, e o Direito Civil passou a ser interpretado à luz dos princípios
7 Para defender a aplicação da lei especial, deve-se lembrar do princípio da isonomia, consagrado no art. 5º, da
CF, pelo qual a lei deve tratar de maneira igual os iguais, e de maneira desigual os desiguais.
17
constitucionais, valores fundamentais, como a dignidade da pessoa humana, a igualdade
O Código civil de 1916 era bastante conservador, sobretudo nas regras sobre a
família, pois havia em seu conteúdo certa rejeição quanto aos aspectos sociais, abordava-se
principalmente regras sobre as relações privadas. Além disso, seus preceitos foram escritos
1988.
Atividade Econômica, a Organização da Família, passando a existir, assim, uma nova ordem
constitucional.
importância de se possuir um Código que estivesse de acordo com a sociedade vigente, que
regulasse as relações jurídicas entre as pessoas, buscasse uma situação de equilíbrio de
18
pudesse ser compatibilizado com o texto constitucional, sem, contudo, alterar a substância
O Código Civil de 2002 foi criado com o objetivo de superar o modelo trazido pelo
Código de 1916, baseado na “Era dos Direitos” e que buscava um direito que pudesse
direta dos princípios expressos na CF/88, Miguel Reale, ao idealizar o Código de 2002,
baseou-se em três pilares básicos (diretrizes):
19
Busca-se, com a eticidade, preservar a relação jurídica, priorizando a boa-fé das
partes em detrimento de elementos meramente formais.
Aluno, isso é muito importante. A boa-fé objetiva, conforme veremos em outro capítulo,
possui 3 funções: função de interpretação (art. 113, do CC)8, função de controle (art. 187, do
CC)9, função de integração (art. 422, do CC)10.
relações, de modo que todas elas devem ser voltadas aos pilares do convívio comum,
prevalecendo os valores coletivos aos individuais e respeitando-se os direitos
fundamentais dos seres humanos. Foi atribuído valor social aos institutos. São
exemplos: a função social do contrato (art. 421, CC)11, da propriedade (art. 1.228, CC) e
8 Art. 113 do CC: “Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua
celebração”.
9 Art. 187 do CC: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”.
10 Art. 422 do CC: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua
execução, os princípios de probidade e boa-fé”.
11 A liberdade de contratar está condicionada ao atendimento da função social do contrato, que são os fins
econômicos e sociais do contrato, proporcionando uma melhor circulação de riquezas. Os interesses
individuais das partes do contrato devem ser exercidos em consonância com os interesses sociais, não
podendo apresentar conflitos, pois nessa hipótese prevalecem os interesses sociais. Ademais, a liberdade de
contratar está limitada também por não poder contrariar os preceitos de ordem pública, que vedam a convenção
entre as partes que seja contrária aos bons costumes, preceitos que fixam os interesses da coletividade, bem
como sustentam as bases fundamentais da ordem econômica e moral da sociedade. Essa limitação consiste
também na finalidade de evitar as desigualdades contratuais, evitar o predomínio contratual do economicamente
forte sobre o economicamente fraco. (Silmara Juny Chinellato, Código Civil Interpretado - Artigo Por Artigo,
Parágrafo Por Parágrafo - Costa Machado, 2017, p. 366).
20
OPERABILIDADE: é a simplificação do Direito Civil. As normas devem ser escritas de
conteúdo da norma, a fim de serem aplicadas aos casos apresentados. Então, o Direito
Civil não é mais a norma fechada, aplicada exatamente ao caso descrito pela lei,
Veja abaixo o esquema dos valores basilares do CC de 2002, bem como um exemplo
de uso cada um:
OPERABILIDADE -
cláusulas gerais
Diretrizes do
Código Civil
de 2002
21
Conceito aberto ou conceito jurídico indeterminado: traduz simplesmente um
preceito normativo vago ou indeterminado a ser preenchido pelo juiz no caso
concreto, mas que já tem as suas consequências de aplicação previamente
estabelecidas pelo legislador. Exemplos: “justa causa”, “atividade de risco”, “família” e
“onerosidade excessiva”.
Tal teoria defende que a norma geral, como por exemplo, o Código Civil, deve ser
aplicada em uma relação privada regida por norma especial, como, por exemplo, o CDC,
sempre que a primeira for mais favorável (no caso, mais favorável ao consumidor).
24
direito ordenamento. Exemplo: “a boa-fé se presume”
Doutrina Estudo dos juristas.
Conjunto de decisões dos tribunais. Ganhou maior importância
Jurisprudência
com o CPC/2015.
Critérios de solução em ordem decrescente: hierárquico >
especialidade > cronológico
Antinomia de 1º Grau (Aparente)
Antinomia de 2º Grau (Real)
Norma especial e anterior vs. norma geral posterior:
ANTINOMIAS prevalece a especial e anterior.
JURÍDICAS Norma superior anterior vs. norma inferior posterior:
prevalece a superior anterior
Norma geral superior vs. norma especial inferior: para
N. Bobbio, prevalece a geral superior, mas há
divergências: parte da doutrina entende que não há
solução, devendo ser analisado o caso concreto.
1. 1804 - Code de France e 1896 - BGB (principais influências
do CC/1916): são individualistas e patrimonialistas, tendo a
EVOLUÇÃO DO
propriedade privada e o pacta sunt servanda grande
DIREITO CIVIL
importância.
2. Século XX: filtragem constitucional do Direito Civil
1. CC/1916: conservador, regras sobretudo sobre relações
privadas, individualista, excesso de abstração.
DIREITO CIVIL E 2. CF/1988: busca da igualdade material, dignidade da pessoa
CONSTITUIÇÃO humana, preocupação com valores sociais.
3. CC/2002: deve ser interpretado com base nos princípios e
fundamentos da CF/1988.
ETICIDADE: aplicação do princípio da boa-fé objetiva e
preservação das relações jurídicas.
Funções da boa-fé objetiva: interpretação, controle,
integração.
VALORES BASILARES
SOCIALIDADE: direitos coletivos devem prevalecer. Exemplo:
DO CC/2002
função social do contrato (art. 421, CC).
OPERABILIDADE: simplificação do Direito Civil, que não é mais
fechado. E Direito Civil mais palatável ao homem médio.
Exemplos:
25
Conceito aberto ou conceito jurídico indeterminado:
preceito normativo vago. A dúvida encontra-se em seu
significado e não em sua aplicação. Exemplo: atividade
de risco.
Cláusulas gerais: dão mobilidade ao sistema. São
janelas abertas, sendo que o juiz, diante do caso
concreto, define o seu alcance. Exemplos: boa-fé
objetiva, função social da propriedade.
Aplicação do CC (geral) às relações consumeristas quando o CC
for mais favorável ao consumidor do que o CDC. Ocorre de
forma episódica (não sempre). Espécies:
Diálogo sistemático de coerência: uma lei serve para
DIÁLOGO DAS base conceitual de outra. Exemplo: alguns prazos
FONTES prescricionais do CC aplicados em relações de consumo.
Diálogo de complementariedade e subsidiariedade:
aplicação coordenada de duas leis.
Diálogo e influências recíprocas sistemáticas: influência
do sistema geral no especial e vice-versa.
26
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2020 - TJ-PA - Oficial de Justiça - Avaliador) O conflito entre
uma norma especial anterior e uma norma geral posterior classifica-se como
A) antinomia de primeiro grau real e deve ser resolvido pelo critério hierárquico.
B) antinomia de primeiro grau aparente e deve ser resolvido pelo critério temporal.
C) antinomia de segundo grau real e somente pode ser resolvido por decisão de corte
constitucional.
D) antinomia de segundo grau aparente e deve ser resolvido pelo critério da especialidade.
E) antinomia insuperável e somente pode ser resolvido por solução do Poder Legislativo.
Comentário:
A fim de encontrarmos a resposta correta, iremos analisar cada uma das alternativas a
seguir:
determinado caso concreto" (TARTUCE, Flavio. Direito Civil. Lei de Introdução e Parte
Geral. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. v. 1. p. 70). Percebe-se, através do conceito,
que não estamos diante da revogação das normas, mas de eventuais conflitos que
podem existir entre elas.
27
Devem ser levados em conta, para a solução dos conflitos, três critérios:
Ressalte-se que o critério da hierarquia é considerado o mais forte de todos, por conta
da importância da Constituição Federal. Em seguida, vem o critério da especialidade,
b) 2º grau, onde o choque de normas válidas envolve dois dos critérios analisados.
b) Real, em que a situação não pode ser resolvida de acordo com os metacritérios antes
expostos.
28
Vejamos, agora, as hipóteses de antinomias de segundo grau aparente:
Portanto, o conflito entre uma norma especial anterior e uma norma geral posterior
classifica-se como antinomia de segundo grau aparente e deve ser resolvido pelo
critério da especialidade.
primeira assertiva.
Questão 2
(Banca: IESES - 2019 - TJ-SC - Serviços de Notas e de Registros) Quando a lei for omissa, o
juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
( ) CERTO
( ) ERRADO
29
Comentário:
CERTO. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito.
Questão 3
Administrativa) Acerca da vigência, aplicação, interpretação e integração das leis bem como
da sua eficácia no tempo e no espaço, julgue o item a seguir.
Comentário:
ERRADO. Costumes contra a lei (contra legem) – incidem quando a aplicação dos
costumes contraria o que dispõe a lei. Entendemos que, pelo que consta no Código
Civil em vigor, especificamente pela proibição do abuso de direito (art. 187 do CC), não
se pode admitir, em regra, a aplicação dos costumes contra legem. [...]”
Questão 4
direito, ao estender o preceito legal aos casos não compreendidos em seu dispositivo, vale-se
da
A) interpretação teleológica.
30
B) socialidade da lei.
C) interpretação extensiva.
D) analogia.
E) interpretação sistemática.
Comentário:
da referida lei, que assim dispõe: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a
que ela se destina e às exigências do bem comum” (Gonçalves, Carlos Roberto. Direito
civil brasileiro, volume 1 : parte geral. 11.ed. – São Paulo : Saraiva, 2013).
Direito civil brasileiro, volume 1 : parte geral. 11.ed. – São Paulo : Saraiva, 2013).
situações. (Gonçalves, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1 : parte geral.
11.ed. – São Paulo : Saraiva, 2013).
concreto, não está apartando-se da lei, mas aplicando à hipótese não prevista em lei
um dispositivo legal relativo a caso semelhante. Nisso se resume o emprego da
analogia, que consiste em aplicar a caso não previsto a norma legal concernente a uma
31
hipótese análoga prevista e, por isso mesmo, tipificada48. (Gonçalves, Carlos Roberto.
Direito civil brasileiro, volume 1 : parte geral. 11.ed. – São Paulo: Saraiva, 2013).
E) ERRADA. A interpretação sistemática parte do pressuposto de que uma lei não existe
isoladamente e deve ser interpretada em conjunto com outras pertencentes à mesma
Questão 5
acordo com a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, o juiz decidirá o caso de
acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito quando a lei
A) for injusta.
B) for omissa.
D) tiver sido revogada por outra que haja regulado inteiramente a matéria.
Comentário:
B) CORRETA. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia,
os costumes e os princípios gerais de direito.
32
C) ERRADA. Vide comentário da alternativa "B".
Questão 6
(Banca: IBFC - 2014 - TRE-AM - Analista Judiciário - Área Judiciária) De acordo com a Lei
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, se determinada lei for omissa, o juiz decidirá o
caso de acordo com:
Comentário:
A) ERRADA. Diz o legislador, no art. 4º da LINDB, que “quando a lei for omissa, o juiz
decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de
direito". O legislador traz a proibição do “non liquet", ou seja, não pode o juiz deixar de
julgar por não saber como decidir. Caso a lei seja omissa, deverá se socorrer dessas
fontes diretas secundárias.
A lei é considerada fonte formal, direta ou imediata primária, enquanto a analogia, os
costumes e os princípios gerais são considerados fontes formais, diretas ou imediatas
secundárias.
No que toca a equidade, trata-se de uma fonte não formal indireta ou mediata, sendo
conceituada como “o uso do bom senso, a justiça do caso particular, mediante a
adaptação razoável da lei ao caso concreto" (TARTUCE, Flavio. Direito Civil. Lei de
Introdução e Parte Geral. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. v. 1. p. 37). Dai, temos a
33
equidade legal, cuja aplicação vem prevista no próprio texto legal, como, por exemplo,
no caso do art. 413 do CC; e a equidade judicial, quando a lei determina que o juiz
decida por equidade o caso concreto, como no § ú do art. 140 do CPC.
Denomina-se analogia quando estivermos diante de uma situação fática, ou seja, diante
de um caso concreto e não haja lei, de maneira que o legislador irá se socorrer de uma
norma próxima ou de um conjunto de normas próximas. Exemplo: art. 499 do CC, que
se aplica, também aos companheiros.
Costume é a prática reiterada de atos lícitos com relevância jurídica. Exemplo: cheque
pós-datado no comércio. Sabe-se que o cheque é um título de crédito e uma ordem de
pagamento à vista, mas vamos pensar em uma pessoa que não tenha cartão de crédito
e queira comprar uma roupa. Como ela não dispõe de meios para realizar o pagamento
à vista, o vendedor sugere que ela emita três cheques, parcelando a compra e se
compromete a descontar cada título no dia dez de cada mês subsequente.
Princípios gerais do direito são regramentos básicos que auxiliam aplicador do direito
na busca da justiça e pacificação social. Exemplos: socialidade, operabilidade, função
social.
Doutrina moderna rechaça a ideia que seja estabelecida um ordem preferencial e
taxativa entre as fontes, pois temos outras: doutrina e jurisprudência, bem como a
equidade. No mais, ela não considera princípios como fontes secundárias. Desde a CF
de 1988, tem-se as regras, cujas espécies são normas jurídicas e princípios, sendo o
principio também considerado como fonte primaria, ao lado das regras.
B) ERRADA. Conforme explicado na assertiva anterior, “quando a lei for omissa, o juiz
decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de
direito". A jurisprudência é o conjunto de decisões reiteradas de um mesmo tribunal.
C) CORRETA. Em harmonia com o art. 4º da LINDB.
D) ERRADA. Conforme explicado na assertiva anterior, “quando a lei for omissa, o juiz
decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de
direito".
Questão 7
(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2014 - TJ-SE - Técnico Judiciário - Área Judiciária) No que se
refere aos dispositivos da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro e à vigência,
aplicação, interpretação e integração das leis, julgue os seguintes itens.
34
Conforme previsão expressa da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, nas
hipóteses de omissão legislativa, serão aplicados a analogia, os costumes, a equidade e os
princípios gerais de direito.
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comentário:
ERRADO. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito.
Questão 8
(Banca: FCC - 2014 - TRT - 16ª REGIÃO (MA) - Analista Judiciário - Oficial de Justiça
Avaliador) Quando, não havendo norma prevista para a solução do caso concreto, o juiz
decide utilizando um conjunto de normas próximas do próprio ordenamento jurídico. Neste
caso, está aplicando
A) os costumes.
B) a analogia.
C) os princípios gerais de Direito.
D) a equidade legal.
E) a equidade judicial.
Comentário:
35
A) ERRADA. Vide comentário da alternativa "B".
B) CORRETA. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia,
os costumes e os princípios gerais de direito. A analogia consiste na aplicação de
dispositivos legais relativos a outro caso distinto, porém semelhante, ante a ausência de
normas que regulem o caso concreto apresentado à apreciação jurisdicional. A doutrina
costuma classificar a analogia em: a) legal: aplica-se ao caso omisso, uma norma
próxima já existente, como no exemplo fornecido acima, retirado do próprio Código
Civil (sobre o testamento e a doação); b) jurídica: aplica-se ao caso omisso um conjunto
de normas próximas existentes para extrair elementos que possibilitem a sua
aplicabilidade a um caso concreto não previsto, mas parecido com outro que está
previsto (esta é a que se refere o cabeçalho da questão).
C) ERRADA. Vide comentário da alternativa "B".
D) ERRADA. Vide comentário da alternativa "B".
E) ERRADA. Vide comentário da alternativa "B".
Questão 9
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comentário:
ERRADA. A doutrina majoritária não aceita o costume contra a lei em nosso Direito.
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Questão 10
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comentário:
ERRADO. Tanto a analogia legal como a analogia jurídica são usadas como forma de
integração da norma jurídica.
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GABARITO
Questão 1 - D
Questão 2 - CERTO
Questão 3 - ERRADO
Questão 4 - D
Questão 5 - B
Questão 6 - C
Questão 7 - ERRADO
Questão 8 - B
Questão 9 - ERRADO
Questão 10 - ERRADO
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QUESTÃO DESAFIO
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GABARITO QUESTÃO DESAFIO
Normas jurídicas.
O Direito Objetivo é o conjunto de normas jurídicas impostas pelo Estado (“ ius est
norma agendi”, ou seja, direito é a norma de agir), de caráter geral, a cuja inobservância os
indivíduos podem ser compelidos mediante coerção. Assim, segundo ensinamento do
professor Elpídio Donizetti: “O conteúdo do art. 1º do Código Civil, que é uma norma jurídica,
tem natureza de direito objetivo, assim como o Direito Civil como um todo, por englobar um
conjunto de normas. Vale lembrar que o conceito de norma abrange tanto as regras
(comando concretos) quanto os princípios (diretrizes abstratas).” (Donizetti, Elpídio. Curso
didático de direito civil – 6. Ed. rev. e atual. – São Paulo: Atlas, 2017, p. 3).
Desse modo, a pessoa diante da norma jurídica deve saber o que se define como lícito,
para seguir, e ilícito, para evitar. No entanto, a pessoa possui a faculdade de agir conforme
Para o doutrinador Caio Mário da Silva Pereira, o direito subjetivo significa “o poder de
ação contido na norma, a faculdade de exercer em favor do indivíduo o comando emanado
do Estado, definindo-se “ius est facultas agendi” (“o direito é a norma de agir”, isto é, o
conjunto de regras das ações). Neste sentido declara-se que “o proprietário tem o direito de
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repelir a agressão à coisa”.” (Pereira, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil:
introdução ao direito civil. Teoria geral do direito civil – Vol. I. – 33. ed. rev. e atual. – Rio de
Janeiro: Forense, 2020, p. 11).
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LEGISLAÇÃO COMPILADA
Percebam que o presente capítulo não possui uma norma de base, diferente do
FONTES DO DIREITO
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JURISPRUDÊNCIA
Princípios Basilares do CC
STJ. 4ª Turma. REsp 1.447.247-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/04/2018 (Info 627).
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Comentários:
Houve, nesse julgado, a aplicação do princípio da eticidade (um dos vetores
basilares do CC), uma vez que se aplicou o artigo 413 do CC, isto é, a boa-fé subjetiva.
Melhor explicando, como a obrigação derivada do contrato do caso em concreto havia
sido parcialmente cumprida, pelo princípio da boa-fé subjetiva, não seria certo a parte receber
toda a cláusula penal, já que seu prejuízo não foi total, mas sim parcial. Assim, decidiu o juiz,
equitativamente, pela diminuição a cláusula penal, para que não houvesse enriquecimento
ilícito de uma das partes.
O controle judicial da cláusula penal abusiva consiste, portanto, em uma norma de
ordem pública, que tem como objetivo impor o paradigma da eticidade aos negócios
jurídicos.
Existem dois enunciados doutrinários sobre o tema:
Enunciado 356 - CJF: “Nas hipóteses previstas no art. 413 do Código Civil, o juiz
deverá reduzira cláusula penal de ofício”.
Enunciado 355 - CJF: “Não podem as partes renunciar à possibilidade de redução da
cláusula penal se ocorrer qualquer das hipóteses previstas no art. 413 do Código Civil, por se
tratar de preceito de ordem pública”.
(REsp 1804965/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/05/2020, DJe
01/06/2020)
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5. Em virtude da mutualidade ínsita ao contrato de seguro, o risco coberto é previamente delimitado e, por
conseguinte, limitada é também a obrigação da seguradora de indenizar; mas o exame dessa limitação não pode
perder de vista a própria causa do contrato de seguro, que é a garantia do interesse legítimo do segurado.
6. Assim como tem o segurado o dever de veracidade nas declarações prestadas, a fim de possibilitar a correta
avaliação do risco pelo segurador, a boa-fé objetiva impõe ao segurador, na fase pré-contratual, o dever, dentre
outros, de dar informações claras e objetivas sobre o contrato, para permitir que o segurado compreenda, com
exatidão, o verdadeiro alcance da garantia contratada, e, nas fases de execução e pós-contratual, o dever de
evitar subterfúgios para tentar se eximir de sua responsabilidade com relação aos riscos previamente
determinados.
7. Esse dever de informação do segurador ganha maior importância quando se trata de um contrato de adesão -
como, em regra, são os contratos de seguro -, pois se trata de circunstância que, por si só, torna vulnerável a
posição do segurado.
8. A necessidade de se assegurar, na interpretação do contrato, um padrão mínimo de qualidade do
consentimento do segurado, implica o reconhecimento da abusividade formal das cláusulas que desrespeitem ou
comprometam a sua livre manifestação de vontade, enquanto parte vulnerável.
9. No âmbito do SFH, o seguro habitacional ganha conformação diferenciada, uma vez que integra a política
nacional de habitação, destinada a facilitar a aquisição da casa própria, especialmente pelas classes de menor
renda da população, tratando-se, pois, de contrato obrigatório que visa à proteção da família e à salvaguarda do
imóvel que garante o respectivo financiamento imobiliário, resguardando, assim, os recursos públicos
direcionados à manutenção do sistema.
10. A interpretação fundada na boa-fé objetiva, contextualizada pela função socioeconômica que
desempenha o contrato de seguro habitacional obrigatório vinculado ao SFH, leva a concluir que a restrição
de cobertura, no tocante aos riscos indicados, deve ser compreendida como a exclusão da responsabilidade
da seguradora com relação aos riscos que resultem de atos praticados pelo próprio segurado ou do uso e
desgaste natural e esperado do bem, tendo como baliza a expectativa de vida útil do imóvel, porque
configuram a atuação de forças normais sobre o prédio.
11. Os vícios estruturais de construção provocam, por si mesmos, a atuação de forças anormais sobre a
edificação, na medida em que, se é fragilizado o seu alicerce, qualquer esforço sobre ele - que seria naturalmente
suportado acaso a estrutura estivesse íntegra - é potencializado, do ponto de vista das suas consequências,
porque apto a ocasionar danos não esperados na situação de normalidade de fruição do bem.
12. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido”. (negritamos)
Comentários:
No julgado acima, temos a discussão quanto o alcance ou não de um contrato de
seguro, mais especificamente o contrato de seguro vinculado ao SFH (Sistema Financeiro de
Habitação), a uma situação de prejuízo para o segurado.
Quanto às expectativas do segurado ao aderir a esse seguro obrigatório para aquisição
da casa própria, é a de receber o bem imóvel próprio e adequado ao uso a que se destina.
Correspondente a essa expectativa legítima temos a de o segurado ser indenizado pelos
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prejuízos suportados na ocorrência de danos que ocorram durante a vigência do contrato
e geradores de riscos cobertos pela seguradora, conforme expresso na apólice.
Deste modo, interpretando o contrato com a boa-fé objetiva e com a função social
do contrato em tela, temos que os vícios apresentados pela construção estão acobertados
pelo seguro habitacional.
ANTINOMIAS
REsp 1842066/RS, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 09/06/2020, DJe
15/06/2020.
EMENTA: “CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO NCPC. AÇÃO
INDENIZATÓRIA. TRANSPORTE AÉREO INTERNACIONAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. EXTRAVIO DE BAGAGEM.
PEDIDO DE REPARAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. NORMAS E TRATADOS INTERNACIONAIS.
CONVENÇÃO DE MONTREAL. LIMITAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL DA TRANSPORTADORA APENAS
QUANTO AOS DANOS MATERIAIS. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR EM RELAÇÃO AOS
DANOS MORAIS. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO. 1. Aplica-se o NCPC a este recurso ante os termos do
Enunciado Administrativo nº 3, aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de 9/3/2016: Aos recursos interpostos
com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos
os requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC.
2. O STF, no julgamento do RE nº 636.331/RJ, com repercussão geral reconhecida, fixou a seguinte tese jurídica:
Nos termos do artigo 178 da Constituição da República, as normas e os tratados internacionais limitadores da
responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as Convenções de Varsóvia e
Montreal, têm prevalência em relação ao Código de Defesa do Consumidor. 3. Referido entendimento tem
aplicação apenas aos pedidos de reparação por danos materiais. 4. As indenizações por danos morais
decorrentes de extravio de bagagem e de atraso de voo não estão submetidas à tarifação prevista na Convenção
de Montreal, devendo-se observar, nesses casos, a efetiva reparação do consumidor preceituada pelo CDC. 5.
Recurso especial não provido.” (negritamos)
Comentários:
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Primeiramente, aluno, para entender esse julgado do STJ, devemos relembrar o famoso
acórdão do STF, julgado em sede de repercussão geral, o qual determinou que, nos termos do
No julgado do STF foi discutido que havia um conflito de normas a ser aplicada ao
caso em tela (indenização por danos materiais em viagem de avião internacional), quais sejam,
ou o Código de Defesa do Consumidor – o qual afirma que o fornecedor deve indenizar a
tendo em vista que a Convenção de Varsóvia teve uma última alteração que foi promulgada
no ordenamento brasileiro somente no ano de 1999, esta é mais recente que o CDC brasileiro,
O STF, deste modo, decidiu que para ações que visem indenizações por danos
Importante ressaltar, que tal entendimento serve somente para voos internacionais,
Por sua vez, no julgado do STJ acima, foi ventilado o entendimento quanto aos danos
morais sofridos em uma viagem aérea internacional – tema não discutido pelo STF.
12 STF. Plenário. RE 636331/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes e ARE 766618/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 25/05/2017
(Repercussão Geral – Tema 210) (Info 866).
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No tocante aos danos morais, restou claro no julgado do STJ, que não há um conflito
de normas a serem aplicadas, pois a Convenção Internacional não regula os danos morais.
Assim, o STJ entendeu que tanto em viagens nacionais, como nas internacionais,
ações que visem indenização por danos morais deverão ser reguladas pelo CDC brasileiro.
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MAPA MENTAL
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FARIAS, Cristiano Chaves de. Manual de Direito Civil – Volume Único – 2. ed. atual. e ampl. – Salvador:
JusPodivm, 2018.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – Volume Único - 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: parte geral v. 1. 10. ed. – São Paulo: Atlas, 2010.
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