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MANUAL DE PEÇAS CÍVEIS | SEGUNDA FASE – DPE/RJ


Ciclos Método
MANUAL PRÁTICO DE PEÇAS CÍVEIS1

Olá, futuro(a) Defensor(a) Público(a) do Rio de Janeiro! Nesse material nós vamos revisar os pontos
mais importantes da sua peça cível, lembrando que não há motivo algum para desespero, ainda que seja sua
primeira prova de 2ª fase. #JÁDEUCERTO.

Antes de iniciarmos, gostaria de ressaltar que o nosso objetivo aqui não é esgotar o conteúdo de
prática cível, mas apenas oferecer dicas, orientações gerais e modelos das peças mais cobradas em provas
de Defensoria Pública.

Caso haja dúvidas adicionais, não hesitem em consultar um material próprio sobre prática cível
(sugestões: TARTUCE, Fernanda; DELLORE, Luiz, Manual de Prática Civil - 14ª edição, editora Método, 2018 e
AZEVEDO, Júlio Camargo de. Manual de Prática Cível para Defensoria Pública. 2ª Edição, editora CEI, 2019).

Vamos começar?

SUMÁRIO

1. Como devo começar a peça? ............................................................................................................... 3


2. Correção............................................................................................................................................. 5
3. Estrutura das peças ............................................................................................................................. 9
A) PETIÇÃO INICIAL ................................................................................................................................. 9
B) AÇÃO CIVIL PÚBLICA ......................................................................................................................... 16
C) CONTESTAÇÃO ................................................................................................................................. 22
D) EMBARGOS À EXECUÇÃO ................................................................................................................. 30
E) AGRAVO DE INSTRUMENTO .............................................................................................................. 41
F) APELAÇÃO ........................................................................................................................................ 49
G) RECURSO ESPECIAL .......................................................................................................................... 57
H) RECURSO EXTRAORDINÁRIO ............................................................................................................ 69
I) AGRAVO EM RESP E REXT .................................................................................................................. 82
J) RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL............................................................................................ 90
K) MANDADO DE SEGURANÇA .............................................................................................................. 97

DICAS GERAIS

Percebam que o estudo que vocês fizeram até hoje não foi “apenas para a primeira fase”. O estudo
é completo e integrado. A informação, por exemplo, de que o prazo para a impetração do mandado de
segurança, de 120 dias, não é processual (e sim material, pois decadencial), não sendo computado em dias
úteis, serve tanto para resolver uma questão objetiva como para sustentar um tópico de tempestividade em
uma peça de 2ª etapa.

O que muda a partir de agora é a atenção que passará a ser dada à estrutura e à forma de exposição
do conhecimento que vocês já adquiriram durante a sua trajetória. Lembrando que o conhecimento jurídico
que vai ser demandado de vocês no enunciado da peça vocês já possuem (podem até, nesse momento, achar
que não, mas na prova vem a luz, acreditem!).

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Por Amanda Mineiro, Gustavo Ferreira e Matheus Nascimento.
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Bom, vamos hoje revisar o que devemos fazer numa peça cível, lembrando sempre de expor o
máximo de conhecimento possível, mas de maneira estruturada e coerente, sem desperdiçar pontos com
falhas bobas por descuido ou desorganização, o que pode acontecer, por exemplo, quando tentamos abarcar
todos os pontos do espelho, mas acabamos comprometendo a clareza e fluidez do texto.

É muito importante conhecer os dispositivos do NCPC, saber onde estão os artigos que dizem
respeito à estrutura das peças, os artigos específicos de determinados procedimentos especiais, os
dispositivos relacionados à Defensoria.

Dessa forma, o nosso melhor amigo vai ser O NOSSO VADE MECUM. Ir mapeando artigos que
contenham, por exemplo, os requisitos de uma petição inicial (art. 319 do NCPC), a imposição de atribuição
de valor à causa (art. 291), os artigos que dizem respeito às tutelas provisórias (artigos 294 e seguintes) para
não esquecer de colocar esses itens que são comuns a quase todas as peças, conforme veremos também ao
longo de nossos treinos, vão certamente nos ajudar a estruturar com mais organização a nossa resposta e a
não esquecer nenhum detalhe formal.

Importante destacarmos que é essencial mencionarmos todos os dispositivos legais e


constitucionais pertinentes nas nossas peças, pois costumam constar no espelho.

Mas, atenção: não se preocupem em sair marcando os artigos todos de uma vez! Ao longo do nosso
estudo vamos percebendo aqueles que são mais essenciais, então vamos com calma que antes da prova já
teremos muito mais intimidade com nosso Vadinho e ele estará devidamente marcado de forma a facilitar
seu manuseio na hora da prova.

Lembrando que devemos sempre respeitar as disposições do edital – não podemos rasurar muito
o Vade ou fazer anotações fora do permitido. Para isso, muita atenção na leitura do art. 47 do regulamento,
o qual contém os materiais de uso proibido na hora da prova:

Art. 47, §2° – É vedada a consulta a qualquer compilação de conclusões extraídas de encontros de discussão
de Defensores Públicos, Membros da Magistratura ou do Ministério Público, ou de profissionais da área do
direito em geral, independentemente da denominação dada aos textos resultantes.

Essa permissão de marcação das leis, além de nos ajudar demais a economizar tempo na hora da
resolução da prova, vai fazer com que não nos esqueçamos de detalhes importantes que a banca costuma
pontuar.

Então partiu criar ainda mais intimidade com o nosso Vade, pois lá encontraremos a maior parte
dos requisitos formais de nossas peças, o que nos trará muita segurança na hora da prova. #JÁDEUCERTO
#MAPEAROVADEÉVIDA.

1. Como devo começar a peça?

1º PASSO: Ler a questão com muita atenção e sublinhar as informações mais importantes.

Tudo o que é apresentado no caso da prova é importante (não há nada em vão no enunciado).
Desenvolvam a habilidade e a sensibilidade para saber o que o examinador quer aferir em vocês. É preciso
ser curioso e investigar o enunciado para identificar (sublinhem!) as pistas deixadas pelo examinador. Isso se
adquire com a prática e a leitura de espelhos de resposta. Portanto, aproveitem ao máximo os treinos
durante o curso e, quem tiver outros materiais de segunda fase, revise!

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2º PASSO: Organizar o esqueleto da peça #MUITO IMPORTANTE!

Façam o esqueleto da peça, o que é diferente de rascunho. Para montar o esqueleto, basta dispor
e organizar em tópicos os argumentos que serão utilizados para responder a cada um dos itens necessários,
utilizando como roteiro o que foi destacado no enunciado da questão.

Separem em tópicos tudo que vocês entendem pertinente a ser abordado na sua resposta (sempre
de acordo com a pergunta, ok?! Nada de responder o que não foi questionado, mesmo que a informação
esteja correta!), para que a peça fique organizada e o examinador não tenha dificuldades para encontrar os
pontos do espelho. Quando falta organização, vocês passam a depender da disposição e boa vontade do
examinador para procurar os seus argumentos, correndo o risco de passar algo despercebido e ter que
recorrer depois.

Falando em disposição e boa vontade, evitem encher linguiça nas peças! Primeiro, porque o espaço
geralmente não é suficiente para a resposta, e, segundo, porque isso só vai criar mais uma dificuldade para
o examinador localizar os pontos do espelho, considerando que são muitas correções a fazer e o trabalho é
muito cansativo.

#DICADEOURO: Depois de montar o seu esqueleto de resposta, faça um checklist entre as


informações dadas pelo examinador e aquilo que você pretende desenvolver em sua resposta. Se alguma
informação ficar “sem par”, isto é, sem correspondente, é porque algo ainda está faltando no seu esqueleto.
Respire, leia novamente, reflita e se pergunte por que o examinador lhe deu aquela bendita informação:
BINGO. Chegou? Ok. Mais um termo do espelho que você achou nas entrelinhas do enunciado. Meta atingida.

ATENÇÃO: muitos de vocês ficam ansiosos nessa etapa de fazer esqueleto. Querem começar logo a escrever,
com medo de não dar tempo. Respirem e tenham paciência. Um bom esqueleto, além de garantir nota alta,
vai facilitar MUITO na hora que vocês começarem a escrever. Vai evitar, por exemplo, ficar lembrando
informações no meio da resposta, o que torna o processo mais difícil e demorado, pois vocês terão que
arrumar um jeito de encaixar aquela informação de qualquer forma, prejudicando a clareza do texto.

3º PASSO: Começar a escrever

Muitos candidatos ficam com pânico de começar a escrever e perdem muito tempo tentando
romper esse obstáculo inicial, somente conseguindo deslanchar quando o desespero bate.

Em primeiro lugar, saibam que esse medo é normal, mas pode ser superado com o treino. Uma dica
que ajuda bastante é já ter um começo “pré-moldado” para cada tipo de petição ou mesmo um começo
“coringa”.

Isso pode ajudar a destravar o início da peça, pois só de escrever o cabeçalho, qualificação, nome
da peça e prerrogativas da Defensoria, quando você se der conta, já terá escrito algumas linhas. Isso gera
confiança ao ver que a resposta já começou e está ganhando forma. Agora é só continuar no embalo!

Caprichem nos fundamentos, esclareçam os motivos do que está sendo alegado e conceituem os
institutos citados (ERRO COMUM: CITA, MAS NÃO EXPLICA). Se for exigido o prazo processual, demonstrem
como vocês chegaram àquela data. Porém, não esqueçam que o limite de linhas geralmente é bem curto,
logo não queiram doutrinar em cada tópico da peça (deixem essa parte para prova oral), tentem expor o
fundamento jurídico de forma simples e objetiva, mas sem aprofundar demais, se não você corre o risco de

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ficar sem linhas para escrever outros tópicos de mesma (ou maior) importância e também os pedidos, que
são fundamentais (pois constituem requisito obrigatório) em qualquer peça e apresentam uma pontuação
elevada.

#ATENÇÃO: Cuidado com o endereçamento em petições iniciais. Prestem atenção se a matéria não exige um
direcionamento específico como para a Vara de Família, Vara da Infância e Adolescência ou Vara da Fazenda
Pública, por exemplo. Nos recursos, cuidado com a peça de interposição e peça de razões, lembrando que
a primeira normalmente é endereçada ao juízo “a quo” e as razões para o juízo “ad quem” (#EXCEÇÃO: no
Agravo de Instrumento, as duas peças são direcionadas ao juízo “ad quem”).

2. Correção

Como muitos de vocês ainda não tiveram a oportunidade de fazer uma prova de segunda fase,
trago aqui um exemplo de espelho de pontuação de peça cível da penúltima prova da DPE-RJ:

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Percebam que há uma série de pontos a serem abordados e que devem estar dispostos de forma
ORGANIZADA na peça, combinado?

Percebam que objetividade e clareza são muito importantes para que o examinador perceba que o
candidato colocou as informações necessárias, explicando brevemente cada uma delas, para poder atribuir-
lhe uma boa pontuação. Vamos juntos #DEVAGARESEMPRE que em breve estaremos habituados a montar
um bom esqueleto, sem que isso consuma todo o nosso tempo. Importante também manter em mente que
não precisamos “falar bonito” demais, no sentido de que é mais interessante colocar mais informações e
explicá-las de forma mais direta que passar muito tempo explicando uma coisa só, ainda que tenhamos mais
coisas para falar sobre aquele assunto.

Por exemplo, ao elaborar uma ação de indenização contra o Estado, requerendo danos morais para
o nosso assistido por conta do estado de coisas inconstitucional em que se encontram nossos presídios, é
importante que coloquemos no espelho, na parte “do direito”, as palavras-chave: a violação reiterada e
sistêmica dos direitos humanos dos presos, resultante de uma omissão deliberada das autoridades em
solucionar a situação caótica de nossas penitenciárias, as quais impõe condições subhumanas aos detentos,
demandando uma ação integrada de todos os poderes de forma a sanar essa falha estrutural de ineficiência
estatal (#ajudamarcinho #dizerodireito: “Estado de Coisas Inconstitucional ocorre quando....

- verifica-se a existência de um quadro de violação generalizada e sistêmica de direitos


fundamentais,
- causado pela inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em
modificar a conjuntura,
- de modo que apenas transformações estruturais da atuação do Poder Público e a atuação de uma
pluralidade de autoridades podem alterar a situação inconstitucional. -
https://www.dizerodireito.com.br/2015/09/entenda-decisao-do-stf-sobre-o-sistema.html)

Após, devemos expor que o STF já decidiu no sentido de entender devida a indenização por danos
morais ao custodiado que foi obrigado a passar por esse sistema degradante, estigmatizador e
inconstitucional (Considerando que é dever do Estado, imposto pelo sistema normativo, manter em seus
presídios os padrões mínimos de humanidade previstos no ordenamento jurídico, é de sua responsabilidade,
nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição, a obrigação de ressarcir os danos, inclusive morais,
comprovadamente causados aos detentos em decorrência da falta ou insuficiência das condições legais de
encarceramento. STF. Plenário. RE 580252/MS, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 16/2/2017 (repercussão geral) (Info 854).

Com isso, em 3 ou 4 linhas expomos as principais informações acerca do tema, ainda que não o
esgotemos, garantindo a nossa pontuação e deixando tempo o suficiente para avançarmos nas demais
questões. O ideal é expor o nosso conhecimento, mas se o tópico não for determinante para a peça/questão,
não devemos nos demorar muito nele, economizando, assim, tempo e espaço. Mas calma que ficaremos
craques.

Essa objetividade na escrita também previne que a banca desconte muitos pontos por conta de
“erros de português”, tanto por deslizes ortográficos, (todo mundo comete! Não se preocupem tanto com
essa parte!) quanto por errinhos de coesão/coerência. Frases mais curtas e objetivas e palavras menos
“rebuscadas” são uma aposta mais certeira para que a banca não tenha essa desculpa.

Pessoal, quero aqui frisar mais uma coisa muito importante: geralmente o que é pontuado não é
apenas aquilo que se almeja com a interposição da peça (ex: deve ser imposta o réu a obrigação de pagar

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alimentos gravídicos), mas, principalmente, os fundamentos jurídicos que embasam essa pretensão (ex: a
exposição dos requisitos necessários para a concessão dos alimentos gravídicos – necessidade/possibilidade
+ indícios de paternidade). Por isso, é necessário equilíbrio: objetividade e clareza + abordagem dos
fundamentos teóricos/técnicos que justificam as nossas pretensões.

Feitas essas considerações iniciais, vamos dar uma olhada nas peças que podem cair na nossa
prova?

3. Estrutura das peças

A) PETIÇÃO INICIAL

Art. 319. A petição inicial indicará:

I - o juízo a que é dirigida;

II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no
Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e
a residência do autor e do réu;

III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;

IV - o pedido com as suas especificações;

V - o valor da causa;

VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;

VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação.

§ 1o Caso não disponha das informações previstas no inciso II, poderá o autor, na petição inicial, requerer ao
juiz diligências necessárias a sua obtenção.

§ 2o A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de informações a que se refere o inciso II, for
possível a citação do réu.

§ 3o A petição inicial não será indeferida pelo não atendimento ao disposto no inciso II deste artigo se a
obtenção de tais informações tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça.

#ATENÇÃO: Algumas mudanças foram trazidas pelo NCPC!

- Requisitos da Petição Inicial: art. 319 – atenção para a QUALIFICAÇÃO das partes, que agora inclui
a afirmação da existência de união estável e o endereço eletrônico. Ademais, o autor deve indicar se deseja
ou não a realização da audiência de conciliação ou mediação.

- Causa de pedir: teoria da substanciação – fato jurídico e fundamento.

#ATENÇÃO: ao relatar os fatos, é importante ser sucinto para não gastar linhas com algo que não é pontuado.
Destinem, portanto, no máximo, 1 ou 2 parágrafos, isto é, no máximo 10 linhas para os fatos. Indiquem

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apenas os pontos essenciais. E leiam com atenção a parte final do enunciado, pois em algumas provas é
comum o examinador dispensar a síntese dos fatos, o que já lhe dá algumas linhas a mais para serem
utilizadas para angariar mais pontos. #TODALINHACONTA

- NUNCA, JAMAIS INOVEM na indicação dos fatos. Trabalhem com o que está na prova.

- Atenção aos absolutamente incapazes, que devem ser representados. E os relativamente


incapazes, assistidos. #DEOLHONOSTERMOS

- Lembrem-se de mencionar, desde o início, todas as prerrogativas da Defensoria, como o prazo


em dobro, a intimação pessoal e a atuação independente de procuração, com fundamentação legal tanto
na LC 80/94 quanto na lei estadual. #SANGUEVERDE

- Lembrem-se que, em alguns procedimentos, é necessário o pedido de citação por edital, como
no caso da ação de USUCAPIÃO (arts. 256 e 259, do NCPC);

- Importante mencionar, logo no início, se o processo tem prioridade de tramitação, nos termos
do art. 1.048, do CPC/2015:

Art. 1.048. Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou tribunal, os procedimentos judiciais:

I - em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou
portadora de doença grave, assim compreendida qualquer das enumeradas no art. 6º, inciso XIV, da Lei nº
7.713, de 22 de dezembro de 1988 ;

II - regulados pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente) .

III - em que figure como parte a vítima de violência doméstica e familiar, nos termos da Lei nº 11.340, de 7 de
agosto de 2006 (Lei Maria da Penha). (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019)

IV - em que se discuta a aplicação do disposto nas normas gerais de licitação e contratação a que se refere
o inciso XXVII do caput do art. 22 da Constituição Federal. (Incluído pela Lei nº 14.133, de 2021)

- #NÃOSEESQUEÇA: a Lei nº 13.466/2017 criou, dentro das prioridades conferidas aos idosos, uma
“super prioridade” para as pessoas com 80 anos ou mais.

Estatuto do Idoso. Art. 71 (...)

§ 5º Dentre os processos de idosos, dar-se-á prioridade especial aos maiores de oitenta anos. (Incluído pela
Lei nº 13.466/2017)

- Depois de concluídos os pedidos, deixem um espaço entre o último pedido e a data, local e
assinatura, de modo que, durante o restante da prova, caso se recordem de algo, o espaço poderá ser usado
para acrescentar alguma coisa.

- Tenham pronto um parágrafo para pedir a tutela provisória.

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GÊNERO ESPÉCIES SUBESPÉCIES

Tutela cautelar
Tutela de urgência
Tutela provisória Tutela antecipada

Tutela de evidência (vocês podem


fazer pedido subsidiário com essa _____
tutela).

- Lembrem-se de que a tutela de urgência pode ser concedida liminarmente (art. 300, § 2º, do
NCPC), assim como a tutela de evidência prevista nos incisos II e III do art. 311 do NCPC (conforme o
parágrafo único deste dispositivo).

#MODELODEPEÇA

AO JUÍZO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE ___________

AÇÃO DE MANUTENÇÃO DE POSSE C/C PEDIDO LIMINAR E DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E
MATERIAIS

GABRYELA, nacionalidade, casada, profissão, portadora do RG n. (número do documento), inscrita no CPF


sob o n. (número do documento), com endereço na (endereço), endereço eletrônico, representada pela
Defensoria Pública do Estado de..., por intermédio de seu presentante, que abaixo subscreve, vem propor a
presente ação, em face da CONSTRUTORA MEIRELES MELLO (nome de fantasia), com sede na (endereço),
nos termos do art. 554 e seguintes, do Código de Processo Civil (Lei n. 13.105/2015), e de acordo com o que
segue:

1 DAS CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1.1 Da justiça gratuita

A autora, nos termos do art. 98 do Código de Processo Civil, não possui recursos suficientes para arcar com
as despesas do processo. Requer, portanto, na forma do art. 99 do mesmo Código, a gratuidade da justiça,
presumindo-se verdadeira a alegação de insuficiência, de acordo com o §3º, do citado artigo.

1.2 Da opção pela realização ou não de audiência de conciliação ou mediação

Em atenção ao disposto no inc. VII, do art. 319, do CPC, registre-se a opção da autora pela não realização de
audiência de conciliação ou de mediação.

1.3 Do consentimento do outro cônjuge para propositura desta ação

Em obediência à norma do §2º, do art. 73, do CPC, encontra-se, em anexo, a autorização do Sr. Lauro, cônjuge
da autora, para a sua propositura desta ação, que trata de composse.

1.4 Do rito processual

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Embora o primeiro ato de turbação tenha ocorrido há mais de ano e dia, verifica-se que todos os atos estão
ligados entre si, em um mesmo contexto, configurando uma única turbação.

Dessa forma, tendo em vista que a turbação ainda está vigente, deve-se aplicar o rito do art. 560 e seguintes
do CPC, nos termos do art. 558.

1.5 Das prerrogativas dos membros da Defensoria Pública

São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública, nos termos dos arts. 83 e 87 da Lei Complementar
Estadual 06/77, bem como do art. 128 da Lei Complementar Federal n. 80/94, dentre outras:

a) receber, mediante entrega dos autos com vista, intimação pessoal em qualquer processo e grau de
jurisdição ou instância administrativa, contando-se-lhes em dobro todos os prazos;
b) representar a parte, em feito administrativo ou judicial, independentemente de mandato,
ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;
c) ter o mesmo tratamento reservado aos Magistrados e demais titulares dos cargos das funções
essenciais à justiça;

2 DOS FATOS
(RESUMO DO ENUNCIADO)

Em razão dos fatos apresentados, fez-se necessário o ajuizamento desta demanda.

3 DO DIREITO

3.1 Da posse da autora e de sua manutenção, dos atos de turbação e da possibilidade de defesa da
posse de bem público

Desde o ano de 2004, a autora e seu cônjuge, o Senhor Lauro, usam e fruem do bem imóvel. Por terem, de
fato, o exercício pleno desses poderes inerentes à propriedade (o uso e o gozo do bem), e não se acharem
em relação de dependência com qualquer outra pessoa, são a autora e seu cônjuge possuidores do bem
(arts. 1.196 e 1.198 do Código Civil).

Ademais, a posse do casal é considerada justa (eis que sem violência, clandestinidade ou precariedade) e de
boa-fé (pois ignoram o obstáculo à aquisição da coisa).

Os documentos anexos (contrato particular de compra e venda, recibos, contas de água, luz, telefone, boletos
e correspondências), além das testemunhas arroladas, são capazes de comprovar a posse e suas
características.

No entanto, como relatado, desde janeiro de 2016, a ré vem turbando a posse da autora, tendo, inclusive,
destruído parte do muro do imóvel. Trata-se de turbação, pois a autora se mantém na posse do imóvel,
apesar dos atos abusivos da ré, que perturbam o exercício da posse.

Os atos de turbação, que se mantém até hoje, consistem na passagem, com máquinas pesadas, por dentro
do imóvel, a partir do muro destruído, durante vários dias na semana, com a finalidade de diminuir a distância
percorrida pelos empregados da ré, na construção de um condomínio nas proximidades.

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Diante dos atos de turbação, e tendo em consideração que um dos efeitos da posse é o direito de o possuidor
ser nela mantido (art. 1.210, do CC), mostra-se cabível e necessário o ajuizamento desta ação possessória,
para impedir que a ré continue praticando os já narrados atos de turbação.

Embora se trate de bem público, segundo entendimento do STJ (REsp 1.296.964-DF, julgado em 18/10/2016),
é possível o manejo de ações possessórias por particular contra particular em defesa da posse de bem
público.

3.2 Da concessão de liminar de manutenção de posse

Como exposto no item 1.4 supra, aplica-se, ao presente caso, o rito especial das ações possessórias, regido
pelos arts. 560 a 566 do CPC.

Os documentos juntados a esta petição inicial (contrato de compra e venda, correspondências e contas de
água, luz, telefone, no endereço do imóvel, além das várias fotos e vídeos) provam a posse, a turbação, pela
requerida, e, também, a manutenção da posse.

Estando a inicial devidamente instruída e levando-se em consideração o risco enfrentado pela requerente e
seus familiares, bem como a violação a sua intimidade e tranquilidade, faz-se necessária, nos termos do art.
562, do CPC, que seja deferida, antes mesmo da oitiva do réu, a expedição do mandado liminar de
manutenção de posse.

Além disso, nos termos do parágrafo único, do art. 555, do CPC, que autoriza o requerimento, pelo autor, da
imposição de medida necessária e adequada para evitar nova turbação, requer-se, também:

A) Que seja obrigada a requerida a reconstruir o muro do imóvel, parcialmente destruído;


B) Seja determinado que a ré instrua todos os funcionários envolvidos na obra que respeitem o direito
de posse da autora, ainda que aumente a carga de trabalho deles;
C) Que seja fixada multa de R$1.000,00 (mil reais) por cada novo ato de turbação, bem como por cada
dia de descumprimento das determinações dos itens anteriores.

3.3 Dos danos morais e materiais

Dispõe o art. 555, inc. I, do CPC, que, nas ações possessórias, é lícito ao autor cumular, ao pedido possessório,
o de condenação em perdas e danos.

Foram sofridos pela autora danos morais e materiais. Senão vejamos:

Os danos morais consistem nas violências sofridas pela autora em sua moral e dignidade, que ultrapassam
meros aborrecimentos. A invasão de privacidade sua e de sua família, com funcionários da ré circulando pelo
terreno de onde mora, com acesso a janelas, às áreas de lazer da residência; o sofrimento de ver sua filha
lesionada, com o pé quebrado; a preocupação de ter a filha novamente machucada, por uma máquina
pesada.

Tudo isso fundamenta a condenação da ré na indenização por danos morais, que devem ser fixados em
R$20.000,00 (vinte mil reais).

A autora também sofreu danos materiais, como demonstram os documentos anexos. O muro do imóvel fora
parcialmente destruído, o gramado de boa parte do terreno foi desgastado e as plantas foram mortas,

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gerando um prejuízo de R$2.000,00 (dois mil reais). Além disso, os buracos feitos no chão, pelo tráfego das
máquinas e equipamentos, fizeram a filha do casal, de poucos anos de vida, quebrar o pé, passando vários
meses para se recuperar e acumulando gastos médicos no montante de R$1.500,00 (mil e quinhentos reais).

Os danos materiais, portanto, somam R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais), que poderão ser reduzidos,
caso a ré cumpra com a medida de reconstrução do muro, requerida a título de tutela de urgência.

4 DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, requer-se:

a) A concessão dos benefícios da justiça gratuita, por ser a autora pobre, na forma da lei;

b) Antes mesmo da citação da ré e independentemente de audiência de justificação, que seja expedido


o mandado liminar de manutenção de posse e, ainda, como forma de evitar nova turbação:

- Seja determinado que ré a reconstrua o muro por ela derrubado, inclusive como forma de dificultar novas
invasões no terreno;
- Seja determinado que a ré instrua todos os funcionários envolvidos na obra que respeitem o direito de
posse da autora, ainda que aumente a carga de trabalho deles;

- Que seja fixada multa de R$1.000,00 (mil reais) por cada novo ato de turbação, bem como por cada dia de
descumprimento das determinações dos itens anteriores.

c) Concedida a liminar, requeremos, desde já, a citação da ré, no endereço de sua sede;

d) Deixa-se de requerer a intimação do Ministério Público diante da ausência de interesse de incapaz,


ou mesmo de litígio coletivo pela posse de terra;

e) A total procedência da ação, condenando-se a ré:

- A abster-se de praticar novos atos de turbação, sob pena de multa, por cada ato de turbação, no valor de
R$1.000,00 (mil reais);

- A indenizar a autora, no valor de R$3.500,00 (três mil e quinhentos reais) a título de danos materiais,
abatendo-se do valor a construção do muro, caso cumprida a determinação do item “b”, i, acima;

- A indenizar a autora, no valor de R$20.000,00 (vinte mil reais), pelos danos morais sofridos;

- Ao pagamento de custas e despesas processuais e honorários advocatícios, revertidos em favor do Fundo


de Aparelhamento da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, nos termos da Lei Complementar nº 06/77 e do
art. 4º, inciso XXI, da Lei Complementar nº 80 de 1994.

f) Requer-se, ainda, a produção de todas as provas em direito admitidas, em especial, a oitiva das
testemunhas arroladas, a juntada das provas já anexas e de novos documentos e diligências.

Dá-se à causa do valor de R$28.500,00 (vinte e oito mil e quinhentos reais), referentes à soma do proveito
econômico advindo da manutenção na posse com a indenização pleiteada a título de danos morais e
materiais.

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Ciclos Método

São os termos nos quais se postula deferimento.

Cidade, data.
Defensor Público.

#RECAPITULANDO #TABELAAMIGA
FUNDAMENTO
CABIMENTO ENDEREÇAMENTO PRAZO PEDIDOS
LEGAL
Diante do exposto, requer-
se:
1) tutela provisória, sob pena
de multa
2) Citação (sob pena de
revelia e confissão)
3) Contestados ou não, sejam
julgados procedentes os
pedidos para que (pedidos de
mérito)
Procedimento Art. 319 e
Juiz Não 4) Produção de provas
Ordinário seguintes do CPC
5) Concessão de Justiça
Gratuita
6) condenação em custas
processuais e honorários
advocatícios (sucumbência).

Pedidos facultativos:
Tramitação prioritária;
Intimação do MP (art. 178 do
CPC)
Procedimento do
Juizado Especial
a) causas até 40 Não formular pedido de
salários; condenação em sucumbência
b) matérias do art. Art. 14 da Lei (salvo má-fé).
275, II, do CPC/73; 9.099/95 c/c art. Juizado Não Se deve requerer a citação do
c) despejo p/ uso 319 do NCPC. réu apenas para que
próprio; compareça à audiência de
d) possessórias conciliação.
sobre bens imóveis
de até 40 salários.

OBSERVAÇÕES GERAIS
- Endereçamento;
-Qualificação das partes, exige a afirmação da existência de união estável e o endereço eletrônico;
- Fatos e fundamentos jurídicos do pedido;
- Pedido;
- Valor da causa;
- As provas a serem produzidas;

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- O requerimento para citação do réu.
- Instruída com os documentos indispensáveis a propositura da ação.
- Autor/ Réu
- Indicar se deseja ou não a audiência de conciliação ou mediação;
- Absolutamente incapazes são REPRESENTADOS.
- Relativamente incapazes são ASSISTIDOS.
- Prioridade de tramitação nos termos do art. 1.048/15 (maior de 60 anos, portadora de doença grave ou
ECA)
Art. 71 do Estatuto da Pessoa Idosa (prioridade especial aos maiores de 80 anos)
- Requerer a desconsideração da personalidade jurídica (se for o caso – art. 133).

#ATENÇÃO: Não esquecer do valor da causa!

B) AÇÃO CIVIL PÚBLICA

Essa peça é a cara da Defensoria Pública, especialmente em razão da alteração da Lei da Ação Civil
Pública que incluiu a Defensoria Pública entre os seus legitimados, e do julgamento do STF declarando a
constitucionalidade deste dispositivo (ADI nº 3943).2

#ATENÇÃO À LEGITIMIDADE DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA A PROPOSITURA DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA: no


julgamento da ADI 3943, o STF afirmou que a Defensoria Pública é legitimada para a propositura de ACP
desde o advento da CR∕88, quando foi criada. Isto porque, o artigo 5° da Lei 7.347∕85, já previa a legitimidade
da União, dos Estados e do Distrito Federal, de maneira que, sendo a Defensoria Pública órgão pertencente
a esses entes federativos, restava demonstrada sua legitimidade. Ocorre que, com o advento da Lei
11.448∕07, a instituição foi incluída expressamente no rol de legitimados (artigo 5°, II, da Lei 7.347∕85),
restando incontroversa possibilidade de atuação. É necessário que o candidato tenha muita atenção aos
marcos legislativos que relacionam a Defensoria Pública à defesa dos direitos coletivos, diante da
importância do tema.

LEGITIMIDADE DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA A PROPOSITURA DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA:


• ADI 3943 – Legitimidade desde a promulgação da CR∕88, quando a Defensoria
Pública foi criada;
• Lei 11.448∕07 – Inclusão expressa da Defensoria Pública como legitimada, conforme
artigo 5°, II, da Lei 7.347∕85.
• Lei Complementar 132∕09 – alterou a LC 80∕94 para incluir expressamente, como
função institucional da Defensoria Pública, a defesa dos direitos e interesses difusos e
coletivos dos sujeitos necessitados;
• Emenda Constitucional 80∕94 – alterou o artigo 134 da CR∕88 para incluir
expressamente em seu texto a defesa, judicial e extrajudicial, de todos os direitos coletivos;
• Lei 13.105∕2015 (Novo Código de Processo Civil) – dispôs de capítulo específico para
a Defensoria pública, afirmando expressamente sua função de defesa dos direitos dos
necessitados.
• REsp 1.264.116 – Decisão de relatoria da Ministra Laurita Vaz que afirmou a
legitimidade da Defensoria Pública para a propositura de ACP para a defesa de todos os
sujeitos hipervulneráveis, adotando a interpretação mais ampla ao termo “necessitados”,
sendo todo e qualquer necessitado organizacional.

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https://www.dizerodireito.com.br/2015/05/stf-decide-que-defensoria-publica-pode.html
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#ATENÇÃO para a legitimidade da Defensoria Pública na ACP. Conhecer as funções típicas e atípicas da
Defensoria Pública (aspecto subjetivo) e os direitos que podem ser tutelados (aspecto objetivo).

- A Lei n° 11.448/07 incluiu no rol de legitimados a Defensoria Pública. A instituição será legitimada sempre
que houver interesses de necessitados, em sentido amplo, não se limitando aos necessitados econômicos,
conforme definido pelo STF e STJ. Será legitimada para a tutela dos direitos difusos, coletivos em sentido
estrito e individuais homogêneos. A existência de pessoas não necessitadas no grupo não elide a
legitimação da defensoria, mas a ausência de interesses de necessitados é causa de ausência de
legitimação.

Como saber se a questão realmente pede uma ACP?

1) O enunciado deve indicar violação a direito difuso, coletivo ou individual homogêneo.

2) O polo ativo deve ser uma coletividade. Se a peça apontar uma pessoa física no polo ativo, não
é caso de ACP, por ausência de legitimidade.

#ATENÇÃO: A ação civil pública exige algumas PRELIMINARES obrigatórias:

a. Do cabimento da ACP: a LACP traz, em seu artigo 1º, as hipóteses de cabimento dessa ação coletiva. É
essencial o domínio desse dispositivo para correta identificação do cabimento da ACP. Além disso, é
imprescindível a preliminar de cabimento dessa ação coletiva, explicando que o caso trazido pela questão se
adequa a este dispositivo legal.

b. Da legitimidade da Defensoria Pública para propor ACPs: como exposto acima, recentemente foi
consolidada a legitimidade da Defensoria para a propositura de ACPs, de forma que você também fazer uma
preliminar na peça tratando sobre essa questão.

c. Da competência do foro do local do dano: lembrem-se que o local para propositura da ACP é o local onde
ocorrer o dano, conforme previsão legal expressa do artigo 2º, da LACP.3

d. Da dispensa de adiantamento das custas e emolumentos: a LACP, em seu artigo 18, traz previsão legal
expressa sobre a desnecessidade do pagamento antecipado de qualquer custa ou emolumento para
propositura dessa ação coletiva.4

#SELIGA: A ATUAÇÃO DA DEFENSORIA COMO Custus Vulnerabilis

Antes de mais nada, o tema é simples e a ideia aqui é a emancipação da atuação da Defensoria
dentro do sistema de justiça sempre que houver a existência de qualquer espécie de vulnerabilidade
envolvida.

3
Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência
funcional para processar e julgar a causa.

4
Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e
quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de
advogado, custas e despesas processuais. (Redação dada pela Lei nº 8.078, de 1990)
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Especificamente em relação à defesa dos necessitados, cumpre observar quais os limites dessa
atribuição, e, em paralelo a isto, deve-se considerar quais as imbricações do contido no art. 5º, LXXIV da
CF/88, que determina a prestação de assistência jurídica aos que comprovarem insuficiência de recurso.

Talvez uma leitura apressada possa levar a uma interpretação de que a atuação da Defensoria
Pública estaria limitada àqueles casos em que presente indivíduos economicamente necessitados. Não, né?
A vulnerabilidade/hipossuficiência/necessidade transcende ao aspecto meramente econômico.

Vislumbra-se, assim, diversas categorias de necessitados constitucionais sem qualquer relação


com eventual condição econômica. Veja-se, por exemplo: o consumidor (art. 5º, XXXII); a criança, o
adolescente e o jovem (art. 227, caput); o idoso (art. 230, caput); o indígena (art. 231, caput); etc.

Não por outra razão, é garantido o acesso a toda criança e adolescente aos serviços da Defensoria
Pública e não só de toda criança e adolescente economicamente desprovidos (art. 141, caput, do ECA). A
mesma situação ocorre em relação à mulher vítima de violência doméstica, à qual é garantida a assistência
da Defensoria Pública, independentemente de sua situação financeira (art. 28, da L. 11.340/06). Aliás, a
atuação da defensoria, nestes casos, é apontada pela Lei Orgânica da Defensoria Pública como efetiva
atribuição institucional (art. 4º, XI, da Lei Complementar 80/94).

Assim, trata-se de perceber, neste aspecto, que o texto normativo traz em si um compromisso a
tornar juridicamente equivocado qualquer entendimento que limite a atuação da Defensoria Pública a
situações de simples carência de recursos financeiros.

A Defensoria Pública, enquanto Custos Vulnerabilis, atua na qualidade de interveniente no


cumprimento de suas atribuições e interesses constitucionalmente previstos.

QUALIDADE DE INTERVENIENTE ATRIBUIÇÕES E INTERESSES CONSTITUCIONALMENTE PREVISTOS

O Estado-Defensor é o Custos Vulnerabilis (“guardião dos vulneráveis” ou “fiscal da efetivação dos


direitos dos vulneráveis”) na Constituição.

#ATENÇÃO: TUTELA DE URGÊNCIA.

Sempre que possível analise atentamente o caso e avalie a necessidade de pedir algumas das tutelas
provisórias previstas nos artigos. 300 e seguintes do CPC. Observem também o artigo 12 da Lei 7.347/85
(LACP).

#ATENÇÃO: Não esquecer do valor da causa!

#MODELODEPEÇA

AO JUÍZO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE ______________/RJ

A DEFENSORIA PÚBLICA DO RIO DE JANEIRO, neste ato presentada pelo Defensor Público que esta subscreve,
com sede na rua ..., endereço eletrônico ..., vem propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE TUTELA DE
URGÊNCIA, com fundamento nos artigos 1º, inciso III, 134 e 196 da CF/88, art. 4º, VII, da LC 80/94, da LC
06/77 e do artigo 1º, inciso IV, da Lei 7.347/95, em face do RIO DE JANEIRO, pessoa jurídica de direito
público, com sede na rua ..., representada pelo Exmo. Governador e, em juízo, pelo seu procurador (art. 75,

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II, CPC), a quem incumbe receber citações e intimações por meio eletrônico, pelas razões de fato e de direito
a seguir aduzidas.

I- DOS FATOS

Dispensados.

II – DA COMPETÊNCIA

Consoante o art. 21, da Lei da Ação Civil Pública, a competência para julgamento de ações coletivas está
relacionada com o local e extensão do dano. Portanto, o juízo competente para processar e julgar a causa é
o Juízo de uma das Varas da Fazenda Pública do Rio de Janeiro.

III - DA LEGITIMIDADE ATIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA

A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação


jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do artigo 5º, LXXIV da Constituição Federal.

A presente petição inicial tem como causa de pedir questão atinente à saúde pública urgente, em razão da
falta de leitos de UTI. Tal questão, sem dúvida, insere-se dentre as atribuições da Defensoria Pública. O direito
à saúde possui natureza difusa, sendo que a Defensoria Pública possui legitimidade para a propositura de
ação civil pública a fim de promover a tutela judicial de direitos difusos e coletivos de que sejam titulares, em
tese, pessoas necessitadas.

A legitimidade da Defensoria Pública para ajuizar ação civil pública é prevista expressamente no artigo 134
da CF/88, no artigo 5º, II, da Lei 7.347/85 e no artigo 4º, VII e X, da LC 80/94 e é reforçada pela jurisprudência
dos Tribunais Superiores.

IV – DA LEGITIMIDADE PASSIVA DO RIO DE JANEIRO

A legitimidade passiva do Rio de Janeiro decorre da CF/88, segundo a qual a competência quanto aos
cuidados da saúde é comum entre os entes federativos (art. 23, II, e art. 196 da CF/88), bem como da Lei
8.080/90 que disciplina a organização, direção e gestão do Sistema Único de Saúde.

No caso da oferta de assistência intensiva, a responsabilidade está direcionada ao Rio de Janeiro, o qual deve
figurar como parte legitimada passiva, uma vez que a decisão projetará efeitos diretos sobre sua respectiva
esfera jurídica.

V - DA ISENÇÃO DE CUSTAS

A Defensoria Pública é isenta de custas e eventuais honorários advocatícios sucumbenciais, nos termos do
artigo 18 da Lei 7.374/85.

VI- DAS PRERROGATIVAS DOS MEMBROS DA DEFENSORIA PÚBLICA

Pugna-se pela observância das prerrogativas processuais conferidas à Defensoria, sobretudo o prazo em
dobro e a intimação pessoal, bem como a dispensa de mandato para atuação (artigo 128, I e XI, da LC 80/94
e art. 186, CPC).

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VII – DO DIREITO

VII.1 – Do direito fundamental à saúde

Por ser indissociável do direito à vida e do princípio da dignidade da pessoa humana (1º, III, da CF/88), o
direito à saúde possui o caráter de direito fundamental, bem como é direito subjetivo do indivíduo. Integra
não apenas os direitos sociais (CF/88, art. 6°), mas também o grupo de direitos que compõem o mínimo
existencial. Outrossim, o direito à saúde se inclui entre os direitos de segunda geração, os quais são
caracterizados por demandarem prestações positivas por parte do Estado.

Os fundamentos básicos do direito fundamental à saúde estão elencados nos arts. 196 a 200 da CF/88. Em
nível infraconstitucional, o direito à saúde é tutelado e garantido pela Lei 8.080/90, que dispõe sobre as
condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde. Segundo o art. 2º da referida lei, a saúde é
um direito fundamental do ser humano, de modo que é dever do Estado prover as condições indispensáveis
à sua plena fruição.

De acordo com o artigo 7º, inciso I e II, da Lei 8.080/90, as ações e serviços públicos que integram o SUS
devem observar os princípios da universalidade e integralidade de assistência, sendo dever do Estado
garantir os serviços assistenciais a todos, sem distinção de qualquer natureza, para a recuperação de
pacientes de baixa, média e de alta complexidade.

Todavia, no presente caso, conforme documentos em anexo, o Estado se abstém de cumprir seu dever de
garantir um adequado serviço de saúde pública, permitindo que pessoas faleçam diariamente por falta de
leitos de UTI. As pessoas acometidas de grave doença são submetidas a restrições que agravam sua situação
e, consequentemente, viola-se o princípio fundamental da dignidade humana e macula-se a garantia
constitucional à saúde.

Não obstante a Defensoria Pública ter recomendado ao Rio de Janeiro a reativação imediata dos 25 leitos de
UTI, o Poder Público não se propôs a reverter a situação e alegou restrições orçamentárias. Em caso de
omissão estatal na garantia do direito à saúde, tal como preconizado pela normativa constitucional e legal,
abre-se a possibilidade de exigência de prestações positivas por parte do Estado.

Comprovada a imprescindibilidade da dispensação do tratamento devido aos pacientes que necessitam de


cuidados intensivos, é inequívoca a responsabilidade do Rio de Janeiro. Neste sentido, deve ser garantido o
direito dos pacientes que necessitam de cuidados intensivos ao tratamento integral, conferindo concretude
ao direito à vida.

VII.2 – Do mínimo existencial

Sob outro viés, registre-se que, por detrás da escusa de realizar as políticas públicas garantidas pela CF/88,
figura um sutil argumento correntemente utilizado: a falta de recursos financeiros. Contudo, a jurisprudência
do STF é assente no sentido de que a reserva do possível não é oponível aos direitos que configuram o
chamado mínimo existencial.

O mínimo existencial é capaz de conviver produtivamente com a reserva do possível. A definição das políticas
públicas deve estar dirigida, com prioridade, à efetivação dos direitos fundamentais individuais e coletivos,
não se admitindo qualquer escusa de ordem orçamentária, mormente quando se referir aos direitos à vida e
à saúde. Nesse sentido é a jurisprudência dos Tribunais Superiores.

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Por esse motivo, não havendo comprovação objetiva da incapacidade econômico-financeira da pessoa
estatal, inexistirá empecilho jurídico para que o Judiciário determine ao Rio de Janeiro a reabertura imediata
de 25 leitos de UTI no Hospital X.

VIII – DA TUTELA DE URGÊNCIA

A probabilidade do direito restou demonstrada pelo exposto acima, sendo evidente a violação ao direito
fundamental à saúde e à dignidade da pessoa humana. O perigo de dano, por sua vez, reside na omissão por
parte do Rio de Janeiro em adotar providências efetivas tendentes a evitar os riscos à vida e à saúde dos
pacientes que necessitam de leitos de UTI.

Dessa forma, considerando as circunstâncias acima referidas, a Defensoria Pública, na forma dos artigos 12
da LACP e 297 e 300 c/c 497, do CPC, requer a concessão de tutela de urgência, inaudita altera parte, para
que o Rio de Janeiro proceda à imediata reabertura de 25 leitos de UTI no Hospital X.

IX- DOS PEDIDOS


Diante do exposto, a Defensoria Pública requer:
a) seja conhecida e processada a presente demanda;
b) sejam respeitadas as prerrogativas dos membros da Defensoria Pública (artigo 128, I, LC 80/94 e art. 186,
CPC);
c) a concessão da tutela de urgência de natureza antecipada, inaudita altera parte, para determinar ao Rio
de Janeiro que proceda à imediata reabertura de 25 leitos de UTI no Hospital X (artigo 300 do CPC e artigos
4º e 12 da Lei 7374/85);
d) a fixação de multa diária em caso de desobediência da decisão (artigo 11 da Lei 7.374/8), no valor de R$
1.000,00 (mil reais);
e) a citação dos réus para, querendo, oferecerem resposta no prazo legal, sob pena de revelia;
f) no mérito, a confirmação da liminar para condenar o Rio de Janeiro em proceder à imediata reabertura de
25 leitos de UTI no Hospital X;
g) a condenação do Rio de Janeiro em custas e honorários advocatícios que serão destinados ao Fundo de
Aparelhamento da Defensoria Pública do Rio de Janeiro (artigo 4º, XXI, da LC 80/94);
h) a intimação do Ministério Público para funcionar como fiscal da ordem jurídica (artigo 5º, §1º, Lei 7.374/85
e art. 178, I, do CPC).

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidas em direito.

Dá-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais).

Termos em que pede deferimento.


Local, data.
Defensor Público

#RECAPITULANDO #TABELAAMIGA

FUNDAMENTO OBSERVAÇÕES
CABIMENTO ENDEREÇAMENTO PEDIDOS
LEGAL GERAIS
Tutelar direitos a) concessão de Tópico sobre
difusos, coletivos e Art. 1º e seguintes Foro do local onde antecipação de tutela Legitimidade
individuais da Lei 7.347/85. ocorrer o dano com cominação de concorrente e
homogêneos. astreintes; disjuntiva da

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b) intimação do MP; Defensoria
c) citação do réu; Pública;
d) condenação do réu
ao pagamento de Identificar o tipo
indenização a título de de direito
danos morais à coletivo
coletividade; Se for empresa
e) condenação em privada, citar
danos materiais a ser também o órgão
apurada em liquidação público para que
de sentença exerça o Poder
f) condenação a de Polícia
obrigação de fazer/ não
fazer consistente em ... Valor da Causa
sob pena de multa
diária.
g) produção de provas;
h) condenação do réu
nas verbas
sucumbenciais.

C) CONTESTAÇÃO

Vamos analisar uma peça que, apesar de não ter sido cobrada nas últimas provas de Defensoria
Pública, terá enorme importância na sua vida prática: a Contestação.

Art. 335. O réu poderá oferecer contestação, por petição, no prazo de 15 (quinze) dias, cujo termo inicial será
a data:

I - da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última sessão de conciliação, quando qualquer parte


não comparecer ou, comparecendo, não houver autocomposição;

II - do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de conciliação ou de mediação apresentado pelo


réu, quando ocorrer a hipótese do art. 334, § 4o, inciso I;

III - prevista no art. 231, de acordo com o modo como foi feita a citação, nos demais casos.

§ 1o No caso de litisconsórcio passivo, ocorrendo a hipótese do art. 334, § 6o, o termo inicial previsto no inciso
II será, para cada um dos réus, a data de apresentação de seu respectivo pedido de cancelamento da
audiência.

§ 2o Quando ocorrer a hipótese do art. 334, § 4o, inciso II, havendo litisconsórcio passivo e o autor desistir da
ação em relação a réu ainda não citado, o prazo para resposta correrá da data de intimação da decisão que
homologar a desistência.

Art. 336. Incumbe ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de defesa, expondo as razões de fato e de
direito com que impugna o pedido do autor e especificando as provas que pretende produzir.

Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:

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I - inexistência ou nulidade da citação;

II - incompetência absoluta e relativa;

III - incorreção do valor da causa;

IV - inépcia da petição inicial;

V - perempção;

VI - litispendência;

VII - coisa julgada;

VIII - conexão;

IX - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização;

X - convenção de arbitragem;

XI - ausência de legitimidade ou de interesse processual;

XII - falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar;

XIII - indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça.

§ 1o Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada quando se reproduz ação anteriormente ajuizada.

§ 2o Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo
pedido.

§ 3o Há litispendência quando se repete ação que está em curso.

§ 4o Há coisa julgada quando se repete ação que já foi decidida por decisão transitada em julgado.

§ 5o Excetuadas a convenção de arbitragem e a incompetência relativa, o juiz conhecerá de ofício das


matérias enumeradas neste artigo.

§ 6o A ausência de alegação da existência de convenção de arbitragem, na forma prevista neste Capítulo,


implica aceitação da jurisdição estatal e renúncia ao juízo arbitral.

#ATENÇÃO! Algumas mudanças foram trazidas pelo NCPC:

- O prazo é de 15 dias ÚTEIS (art.219 c/c 335); - na contagem de prazo, não inventem fatos que não
foram mencionados no caso;

- Para melhor organização, dividam os requisitos formais da contestação em preliminares e mérito;

- Utilize o princípio da eventualidade e ordene a argumentação de forma lógica;

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- Atenção ao ônus da impugnação específica dos fatos. Apesar de o artigo 341, parágrafo único,
dispensá-lo para os defensores públicos, em provas de concursos públicos devemos rebater todos os
argumentos apresentados na questão.

#ATENÇÃO: É essencial abrir tópicos acerca da tempestividade e justiça gratuita.

- Vícios formais a serem arguidos em preliminares:

Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:

I - inexistência ou nulidade da citação;

II - incompetência absoluta e relativa;

III - incorreção do valor da causa;

IV - inépcia da petição inicial;

V - perempção;

VI - litispendência;

VII - coisa julgada;

VIII - conexão;

IX - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização;

X - convenção de arbitragem;

XI - ausência de legitimidade ou de interesse processual;

XII - falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar;

XIII - indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça.

- Atentem à questão da impugnação da concessão indevida do benefício da gratuidade de justiça.

- Prestem atenção nos requisitos específicos das ações possessórias, pois, numa eventual
contestação, vocês podem ter que argumentar: a falta de citação por edital, a ausência de ampla
publicidade, a falta de intimação da Defensoria quando envolver pessoas em situação de hipossuficiência
econômica.

#ATENÇÃO: Não deixe de se manifestar acerca do pedido de tutela de urgência (ou tutela de evidência) do
autor, rebatendo a existência dos requisitos para a concessão.

#CUIDADO: Atenção às hipóteses de reconvenção ou pedido contraposto, pode ser que o examinador exija
a inclusão destas na contestação.

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Art. 343. Na contestação, é lícito ao réu propor reconvenção para manifestar pretensão própria, conexa com
a ação principal ou com o fundamento da defesa.

#MODELODEPEÇA

AO JUÍZO DA __ VARA DE FAMÍLIA DA COMARCA DE ______ DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CONTESTAÇÃO C/C PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA

Autos de Carta Precatória n. ______.


TRAMITAÇÃO PRIORITÁRIA - ALIENAÇÃO PARENTAL
(ART. 4º DA LEI N. 12.318/2010)

LUÍZA MARIANA, nacionalidade, convivente em união estável, profissão, portadora do RG n. (número do


documento), inscrita no CPF sob o n. (número do documento), com endereço na (endereço), representada
pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro, por intermédio de seu presentante, que abaixo subscreve, vem
contestar a demanda proposta contra si por JOANA CRISTINA, nacionalidade, convivente em união estável,
profissão, portadora do RG n. (número do documento), inscrita no CPF sob o n. (número do documento),
com endereço na (endereço), e de acordo com o que segue:

1 DAS CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1.1 Da justiça gratuita

A requerida, nos termos do art. 98 do Código de Processo Civil, não possui recursos suficientes para arcar
com as despesas do processo. Requer, portanto, na forma do art. 99 do mesmo Código, a gratuidade da
justiça, presumindo-se verdadeira a alegação de insuficiência, de acordo com o §3º, do citado artigo.

1.2 Da não realização de audiência de conciliação ou mediação e do início do prazo para contestar

Verifica-se que, em sua petição inicial, a autora externou sua opção pela não realização de audiência de
conciliação ou de mediação.

Esta Defensoria Pública, no dia 16 de outubro deste ano já peticionou nos autos de origem informando
desinteresse na realização da referida audiência e pedindo seu cancelamento.

Diante do exposto, na forma do inc. I, do §4º, do art. 334, do CPC, no presente caso, não será realizada a
audiência de mediação ou conciliação, iniciando-se o prazo para apresentação de contestação a partir do
protocolo do pedido de cancelamento dessa audiência (inc. II, do art. 335, do CPC).

1.3 Das prerrogativas dos membros da Defensoria Pública

São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública, nos termos do arts. 83 e 87 da Lei Complementar
Estadual 06/77, com redação dada pelas Emendas de números 61/12 e 86/15, bem como do art. 128 da Lei
Complementar Federal n. 80/94, dentre outras:

a) receber, mediante entrega dos autos com vista, intimação pessoal em qualquer processo e grau de
jurisdição ou instância administrativa, contando-se-lhes em dobro todos os prazos;

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b) representar a parte, em feito administrativo ou judicial, independentemente de mandato,
ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;
c) ter o mesmo tratamento reservado aos Magistrados e demais titulares dos cargos das funções
essenciais à justiça;

2 DA PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA

Determina o art. 147, do Estatuto da Criança e do Adolescente que a competência será determinada pelo
domicílio dos pais ou responsável. Interpretando referida norma, recentemente, entendeu o STJ que o foro
competente para julgar controvérsias sobre a guarda de criança ou adolescente é o domicílio de quem detém
sua guarda de fato (REsp 1597194/GO).

Trata-se, inclusive, de regra de competência absoluta.

Não obstante a guarda de fato da criança seja exercida pela requerida, desde a separação, e ambos (filho e
mãe) serem domiciliadas no ________-RJ, a presente demanda foi proposta perante a 6ª Vara de Família de
Curitiba – PR.

Nítida, portanto, a incompetência do Juízo da 6ª Vara de Família de Curitiba, devendo o processo ser
remetido para este juízo, onde foi distribuída a Carta Precatória.

Ademais, constata-se que o Código de Processo Civil autoriza a apresentação de contestação, em havendo
alegação de incompetência, relativa ou absoluta, no foro de domicílio do réu. No presente caso, protocolada
a contestação nos autos da carta precatória, deverá ser feita sua remessa ao juiz da causa (art. 340, caput e
§1º).

3 DOS FATOS

(RESUMO DO ENUNCIADO)

Entretanto, os fatos narrados na inicial não correspondem à realidade, conforme será visto a seguir:
(RESUMO DAS ALEGAÇÕES FEITAS PELA ASSISTIDA E REQUERIDA)

4 DO DIREITO

4.1 Da ocorrência de alienação parental

A requerente, desde a separação do casal, influencia negativamente a criança, realizando campanha de


desclassificação da requerida, como demonstram as conversas com o filho, por meio do Whatsapp, juntadas
na própria inicial.

Nas conversas, a requerente culpa a requerida pela separação, dizendo ao filho que ela não seria a pessoa
ideal para exercer sua guarda e que, inicialmente, nem mesmo desejava sua adoção.

Trata-se de conduta amoldada ao exemplo do inc. I, do parágrafo único, do art. 2º, da Lei n. 12.318/10, que
dispõe sobre a alienação parental:

Parágrafo único: São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz
ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros:

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I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou


maternidade;

Nos termos do art. 3º da referida lei, na alienação parental, há violação do direito fundamental da criança e
do adolescente a uma convivência familiar saudável, restando prejudicada a realização de afeto nas relações
com a genitora e com o grupo familiar. Tal prática constitui abuso moral contra a criança e adolescente e
descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda.

Por tais motivos, a prática de ato de alienação parental deve ser urgentemente reprimida, evitando-se
maiores prejuízos na relação entre a genitora alienada e a criança vítima das interferências. Para tanto, no
presente caso, de acordo com o art. 6ª, da citada lei 12.318, deve-se, cumulativamente e sem prejuízo da
responsabilidade civil e criminal da requerente:

a) declarar a ocorrência de alienação parental e advertir a alienadora;


b) estipular multa à alienadora;
c) determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial da criança;

4.2 Da guarda e das visitas

O instituto da guarda encontra-se implicitamente previsto na Constituição Federal em seus artigos 227 e 229,
que estabelece as responsabilidades dos pais para com os filhos e assegura ainda o direito a toda adolescente
a ter um guardião para protegê-la, prestando-lhe toda assistência na ausência dos genitores.

Nos termos do citado art. 227, da Constituição:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade,
o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

O art. 1.584, §2º, do Código Civil, com redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014, conferiu prioridade ao
regime compartilhado de guarda, reservando a unilateralidade apenas para situações excepcionais:

Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho, encontrando-se ambos os genitores
aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a guarda compartilhada, salvo se um dos genitores declarar
ao magistrado que não deseja a guarda do menor.

Segundo entendimento do STJ, não impede a determinação do compartilhamento da guarda a existência de


desavenças entre os cônjuges separados, não se submetendo tal regime, ainda, à transigência dos genitores
(REsp 1591161/SE).

Assim, não possui razão a requerente ao pretender a concessão da guarda unilateral da criança, devendo-se
determinar o compartilhamento da guarda entre ambas as genitoras.

Além disso, tendo em vista que, há mais de dois anos, a guarda de fato do filho vem sendo exercida pela
requerida, que consegue, exemplarmente, tutelar seus direitos e interesses, como atestam os documentos
anexos, e, ainda, a prática de alienação parental pela requerente, deverá o domicílio da criança ser fixado
junto à requerida.

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Dessa forma, serão evitadas alterações bruscas na rotina e no estilo de vida da criança, sendo mais benéfica
a manutenção de sua atual situação. Portanto, deve-se julgar improcedente o pedido da autora.

Por fim, o contato da criança com a outra genitora será garantido por meio das visitas, que nunca foram
obstadas pela requerida, respeitando-se a norma do art. 1.589, do CC. Pretende-se que elas sejam realizadas
quinzenalmente, por parte da requerente.

4.3 Da tutela de urgência

Requereu a autora, na petição inicial, tutela de urgência para concessão da guarda unilateral da criança. No
entanto, o pedido não merece prosperar, diante da ausência dos pressupostos do art. 300, do CPC: não há,
na inicial, elementos que evidenciem a probabilidade do direito. Pelo contrário, demonstra a própria autora
a ocorrência de alienação parental e atenta contra a literalidade da norma do art. 1.584, §2º, do Código Civil,
ao pleitear a guarda unilateral ao invés da guarda compartilhada. Também deixou de comprovar que,
conforme alegado, exerce a guarda de fato do filho do casal. Por fim, não demonstrou a autora o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo, tendo conhecimento da localização do filho e, inclusive, sendo-
lhe assegurado o direito de visitas.

De forma diversa, no presente caso, encontram-se preenchidos os requisitos para concessão de tutela de
urgência em favor da requerida. Senão vejamos:

a) a probabilidade do direito restou evidenciada pelos documentos juntados, que demonstram a


filiação, o exercício da guarda de fato (eis que juntados documentos escolares, médicos e declarações), bem
como a tutela exemplar dos direitos da criança, que se encontra matriculada, com boas notas e frequência,
e recebe atenção médica quando necessário.

b) O perigo de dano consiste na possibilidade de alteração abrupta na rotina da criança, caso a


requerente venha a exercer sua guarda de fato. Além disso, a conduta da requerente, alienando o filho, trará
sérios prejuízos à requerida e à criança, caso passe a conviver com essa genitora, em local distante.

Em razão do exposto, mostra-se necessária a concessão de tutela de urgência, determinando-se o


compartilhamento da guarda entre as genitoras e fixando o domicílio da criança junto à requerida,
determinando-se o regime de convivência por meio de visitas quinzenais por parte da requerente.

5 DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, requer-se:

a) A concessão dos benefícios da justiça gratuita, por ser a requerida pobre, na forma da lei;

b) Seja esta contestação remetida ao juízo da causa, juntamente com a carta precatória por ele
expedida;

c) Seja reconhecida a incompetência do juízo da 6ª Vara de Família de Curitiba, remetendo-se o


processo para o juízo que processou a carta precatória e se tornou prevento;

d) Seja declarada a ocorrência de alienação parental, com advertência da alienadora (requerente),


estipulação de multa e determinação de acompanhamento psicológico ou biopsicossocial da criança;

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e) Seja denegado o pedido de tutela de urgência feito pela autora;

f) A concessão de tutela de urgência, determinando-se o compartilhamento da guarda da criança entre


ambas as genitoras, fixando-se seu domicílio junto à requerida e determinando-se a realização de visitas
quinzenais por parte da requerente;

g) Ao final, que seja a ação julgada improcedente, determinando-se o compartilhamento da guarda da


criança entre ambas as partes, fixando-se seu domicílio junto à requerida e regulamentando-se as visitas,
que serão realizadas quinzenalmente, pela autora;

h) Que seja a autora condenada ao pagamento de custas e despesas processuais e honorários advocatícios,
revertidos em favor do Fundo de Aparelhamento da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, nos termos da Lei
Complementar Estadual nº 06/77 e do art. 4º, inciso XXI, da Lei Complementar nº 80 de 1994;

h) Requer-se, ainda, a produção de todas as provas em direito admitidas, em especial, a oitiva de


testemunhas, a juntada das provas já anexas e de novos documentos, bem como a realização de estudo
multidisciplinar com a criança e ambas as genitoras.

São os termos nos quais se postula deferimento.

Cidade, data.
Defensor Público.

#RECAPITULANDO #TABELAAMIGA
FUNDAMENTO ENDEREÇAMEN
CABIMENTO PRAZO PEDIDOS
LEGAL TO
Pedidos específicos quanto as
preliminares (Ex: remessa dos
autos ao juízo competente,
extinção do processo sem
resolução do mérito, extinção
do processo com resolução do
Juízo em que mérito);
Art. 335 a 343 do
Resposta do réu corre o 15 dias úteis Sejam julgados improcedentes
NCPC
processo os pedidos formulados na
inicial;
Produção de provas;
Concessão de benefícios da
justiça gratuita.

OBSERVAÇÕES GERAIS
Alegar a tempestividade da peça apresentada.
Preliminares: inexistência ou nulidade da citação; incompetência absoluta e relativa; incorreção do valor da
causa; inépcia da petição inicial; perempção: litispendência; coisa julgada; conexão; incapacidade da parte,
defeito de representação ou falta de autorização; convenção de arbitragem; ausência de legitimidade ou de
interesse processual; falta de caução ou de prestação que a lei exige como preliminar; indevida concessão
do benefício da gratuidade da justiça.

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- Apontar as provas a serem produzidas


- Pedir a condenação do autor nas verbas de sucumbência.
- Propor reconvenção (art. 343)

Ações possessórias (art. 554) argumentar:


-falta de citação por edital
- ausência de ampla publicidade
- falta de intimação da DP quando envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica

D) EMBARGOS À EXECUÇÃO

Os embargos à execução são a peça defensiva do executado no processo de execução de título


extrajudicial. Assemelham-se bastante a uma contestação. Com o CPC/15 sai de cena a nomenclatura
"Embargos do Devedor" e ratifica-se o "TÍTULO III – DOS EMBARGOS À EXECUÇÃO".

No processo de execução, o executado pode se defender por meio de dois instrumentos: a)


exceção (ou objeção) de pré-executividade; e b) embargos do executado. Em ambos os casos, a defesa pode
ser feita sem que haja necessidade de o devedor assegurar o juízo, ou seja, antes ou sem que ocorra a
garantia do juízo pela penhora ou depósito. A exceção (ou objeção) de pré-executividade é meio de
defesa stricto sensu. Para opor embargos, que tem natureza mista de ação conhecimento e meio de defesa
(defesa lato sensu), o executado não precisa assegurar o juízo pela penhora ou depósito.

A peça deve ser endereçada ao próprio juiz responsável pela execução. Além disso, deve-se pedir a
distribuição por dependência aos autos principais, o que pode ser feito logo após o endereçamento com o
seguinte dizer: “distribuição por dependência ao processo...”.

Na execução por carta, os embargos podem ser apresentados tanto no juízo deprecante como no
deprecado. A competência para julgá-los, em regra, é do juízo deprecante. Será, todavia, competente o juízo
deprecado para julgá-los, se os embargos versarem exclusivamente sobre vícios ou defeitos da penhora,
avaliação ou alienação dos bens, isto é, sobre vícios atinentes aos atos praticados no juízo deprecado. É o
que dispõe o art. 914, §2º do CPC.

Note que o §2º é uma exceção à regra geral do §1º do artigo 914, o qual indica que os embargos
devem ser distribuídos por dependência ao processo de execução.

Artigo 914, § 1o Os embargos à execução serão distribuídos por dependência, autuados em apartado e
instruídos com cópias das peças processuais relevantes, que poderão ser declaradas autênticas pelo próprio
advogado, sob sua responsabilidade pessoal.

Os embargos deverão ser distribuídos por dependência ao juízo da execução, que tem competência
funcional (absoluta) para processá-los e julgá-los. Serão autuados em autos apartados e instruídos com as
cópias das peças processuais relevantes para a compreensão da lide. Ainda que sejam autuados em apartado
e corram no juízo da execução, têm autonomia processual e procedimental, razão pela qual eventual
apelação interposta da sentença que os julgue só poderá ser examinada e decidida pelo tribunal ad quem se
estiverem, nos autos apartados, os documentos essenciais e relevantes para o entendimento do caso.

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#SELIGA A norma do art. 914, §2º se limita a prever a competência para o julgamento dos embargos e não o
foro em que deva ser protocolado, de forma que, independente da matéria alegada, o protocolo poderá
ocorrer indistintamente perante o juízo deprecante ou deprecado.

#IMPORTANTE: Não esquecer de mencionar o pedido de gratuidade de justiça!

→TEMPESTIVIDADE: os Embargos possuem prazo de 15 dias (CPC, 915, §2º, II) contado em dobro para a
Defensoria Pública (CPC, 186; LC 80/94, 128, I).

→TESES DEFENSIVAS: Quanto às teses que podem ser levantadas, sabe-se que, como não houve
previamente um processo, basicamente qualquer uma pode ser suscitada, tanto que o CPC prevê uma
cláusula geral para qualquer tese defensiva:

I - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;

II - penhora incorreta ou avaliação errônea;

III - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;

IV - retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de execução para entrega de coisa certa;

V - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;

VI - qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de conhecimento.

#ATENÇÃO AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO: É interessante inserir sesse tópico por se tratar de tema afeto à
Defensoria Pública, bem como por ser uma das diretrizes do atual CPC. Aproveite para analisar os artigos 3º,
§3º; 250, IV e 319, VII c/c 771, parágrafo único, todos do CPC e artigos 3-A, II da LONDP (LC 80/94).

→DO EFEITO SUSPENSIVO: Note que com o CPC, para opor os embargos, não precisa mais da garantia ao
Juízo. Esse requisito, na verdade, deixou de ser existir com a Lei 11.382/2006, que alterou o antigo art. 737,
I do CPC/1973.

O CPC/15, em seu art. 914, continua afastando a garantia do juízo como condição de admissibilidade
dos embargos à execução. No entanto, a regra é que os embargos não possuem efeito suspensivo. É o que
dispõe o art. 919, caput do CPC.

Há exceção, no entanto, caso preenchidos requisitos, de se conseguir o efeito suspensivo aos


embargos na forma do art. 919, §1º do CPC. Para aplicação do efeito suspensivo, é necessária a presença dos
requisitos para a concessão da tutela provisória, mas desde que a execução esteja garantida via penhora,
caução ou depósito.

#SANGUEVERDE Devemos pedir a dispensa dessa garantia, em virtude da hipossuficiência econômica do


usuário dos serviços da Defensoria Pública na forma do art. 98, §1º, VII do CPC. Isso decorre do fato de que
incumbe ao Estado proporcionar ao jurisdicionado, enquanto beneficiário da justiça gratuita, todos os
mecanismos necessários para o exercício do direito de acesso à justiça, não podendo obstruí-lo em razão da
sua condição financeira, sob pena de conferir o direito pela “metade”.

Nesse sentido, não é outro o posicionamento de nossos tribunais:

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PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. PESSOA


POBRE E DOENTE. POSSIBILIDADE. INEXIGÊNCIA DE CAUÇÃO. 1. Sendo a requerente
pobre, estando atualmente com 81 anos, a não concessão de tutela acarretará
danos de difícil reparação. 2. Tratando-se de miserável, não há que se exigir
caução legal. 3. Agravo a que se nega provimento (TRF 1 - AG 2003.01.00.003438-
6/BA, Rel. Desembargador Federal Tourinho Neto, Segunda Turma, DJ p.25 de
07/11/2003).

#SANGUEVERDE2 É importante sempre verificar se a execução não trata de bem de família, permitindo que
se levante sua impenhorabilidade. Especial atenção deve ser dada, ainda, ao bem de família do fiador de
contrato de aluguel: ainda que o STF tenha considerado constitucional sua penhorabilidade, é importante
sustentar o contrário, com base no direito à moradia.

Vamos ao que diz o Código de Processo Civil acerca dos embargos à execução?

Art. 914. O executado, independentemente de penhora, depósito ou caução, poderá se opor à execução por
meio de embargos.

§ 1o Os embargos à execução serão distribuídos por dependência, autuados em apartado e instruídos com
cópias das peças processuais relevantes, que poderão ser declaradas autênticas pelo próprio advogado, sob
sua responsabilidade pessoal.

§ 2o Na execução por carta, os embargos serão oferecidos no juízo deprecante ou no juízo deprecado, mas a
competência para julgá-los é do juízo deprecante, salvo se versarem unicamente sobre vícios ou defeitos da
penhora, da avaliação ou da alienação dos bens efetuadas no juízo deprecado.

Art. 915. Os embargos serão oferecidos no prazo de 15 (quinze) dias, contado, conforme o caso, na forma do
art. 231.

§ 1o Quando houver mais de um executado, o prazo para cada um deles embargar conta-se a partir da
juntada do respectivo comprovante da citação, salvo no caso de cônjuges ou de companheiros, quando será
contado a partir da juntada do último.

§ 2o Nas execuções por carta, o prazo para embargos será contado:

I - da juntada, na carta, da certificação da citação, quando versarem unicamente sobre vícios ou defeitos da
penhora, da avaliação ou da alienação dos bens;

II - da juntada, nos autos de origem, do comunicado de que trata o § 4o deste artigo ou, não havendo este,
da juntada da carta devidamente cumprida, quando versarem sobre questões diversas da prevista no inciso I
deste parágrafo.

§ 3o Em relação ao prazo para oferecimento dos embargos à execução, não se aplica o disposto no art. 229.

§ 4o Nos atos de comunicação por carta precatória, rogatória ou de ordem, a realização da citação será
imediatamente informada, por meio eletrônico, pelo juiz deprecado ao juiz deprecante.

Art. 917. Nos embargos à execução, o executado poderá alegar:

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I - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;

II - penhora incorreta ou avaliação errônea;

III - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;

IV - retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de execução para entrega de coisa certa;

V - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;

VI - qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de conhecimento.

§ 1o A incorreção da penhora ou da avaliação poderá ser impugnada por simples petição, no prazo de 15
(quinze) dias, contado da ciência do ato.

§ 2o Há excesso de execução quando:

I - o exequente pleiteia quantia superior à do título;

II - ela recai sobre coisa diversa daquela declarada no título;

III - ela se processa de modo diferente do que foi determinado no título;

IV - o exequente, sem cumprir a prestação que lhe corresponde, exige o adimplemento da prestação do
executado;

V - o exequente não prova que a condição se realizou.

§ 3o Quando alegar que o exequente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à do título, o
embargante declarará na petição inicial o valor que entende correto, apresentando demonstrativo
discriminado e atualizado de seu cálculo.

§ 4o Não apontado o valor correto ou não apresentado o demonstrativo, os embargos à execução:

I - serão liminarmente rejeitados, sem resolução de mérito, se o excesso de execução for o seu único
fundamento;

II - serão processados, se houver outro fundamento, mas o juiz não examinará a alegação de excesso de
execução.

§ 5o Nos embargos de retenção por benfeitorias, o exequente poderá requerer a compensação de seu valor
com o dos frutos ou dos danos considerados devidos pelo executado, cumprindo ao juiz, para a apuração dos
respectivos valores, nomear perito, observando-se, então, o art. 464.

§ 6o O exequente poderá a qualquer tempo ser imitido na posse da coisa, prestando caução ou depositando
o valor devido pelas benfeitorias ou resultante da compensação.

§ 7o A arguição de impedimento e suspeição observará o disposto nos arts. 146 e 148.

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Art. 919. Os embargos à execução não terão efeito suspensivo.

§ 1o O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos embargos quando
verificados os requisitos para a concessão da tutela provisória e desde que a execução já esteja garantida por
penhora, depósito ou caução suficientes.

§ 2o Cessando as circunstâncias que a motivaram, a decisão relativa aos efeitos dos embargos poderá, a
requerimento da parte, ser modificada ou revogada a qualquer tempo, em decisão fundamentada.

§ 3o Quando o efeito suspensivo atribuído aos embargos disser respeito apenas a parte do objeto da
execução, esta prosseguirá quanto à parte restante.

§ 4o A concessão de efeito suspensivo aos embargos oferecidos por um dos executados não suspenderá a
execução contra os que não embargaram quando o respectivo fundamento disser respeito exclusivamente ao
embargante.

§ 5o A concessão de efeito suspensivo não impedirá a efetivação dos atos de substituição, de reforço ou de
redução da penhora e de avaliação dos bens.

#MODELODEPEÇA5

AO JUÍZO DA _ VARA CÍVEL DA COMARCA DE....

EMBARGOS À EXECUÇÃO
PEDIDOS DE CONCESSÃO DE EFEITOS SUSPENSIVOS
DISTRIBUIÇÃO POR DEPENDÊNCIA na forma do art. 914, §1º do CPC.
Prioridade na tramitação nos termos do art. art. 71, §5º do Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03) embargante
maior de 80 anos de idade.
Autos nº. X

Bob Esponja, brasileiro, convivente, portador do RG x e CPF nº x, residente e domiciliado na rua x,


Florianópolis/SC/PR, vem, através do membro da DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE ..., que esta
subscreve, com mandato ex lege nos termos do art. 128, XI, da LC 80/1994, com endereço profissional X,
onde recebe intimações em geral, apresentar

EMBARGOS À EXECUÇÃO COM PEDIDO DE EFEITO SUSPENSIVO

nos autos da EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL acima identificada, em trâmite perante esse juízo, que
lhe move Banco Lula Molusco S/A., já devidamente qualificada na peça exordial, com base nos artigos 914
c/c 919, §1º do CPC pelos fundamentos de fato e de direito que seguem:

01 - DA JUSTIÇA GRATUITA

Inicialmente, requer sejam deferidos os benefícios da justiça gratuita na forma dos artigos 98, §1º, I e 99 do
CPC, considerando que o Embargante é hipossuficiente e não tem condições econômicas de arcar com o
pagamento das custas judiciais, bem como com dos honorários advocatícios sem prejuízo de seu próprio
sustento e de sua família.

5
Peça apresentada no curso Ciclos para a 2ª fase da DPE-SC.
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02 – DAS PRERROGATIVAS DA DEFENSORIA PÚBLICA

Requer sejam observadas as prerrogativas da Defensoria Pública de Santa Catarina, notadamente em relação
à intimação pessoal e do prazo em dobro na forma dos artigos 186 do CPC, 128, I da LC 80/94 (LONDP).

03 – DA TEMPESTIVIDADE

Importa destacar que o prazo para apresentação dos presentes Embargos (915, §2º, II e §4º do CPC c/c 186
do CPC e 128, I da LC 80/94) não começou a fluir, considerando que a citação no processo de execução não
se deu na pessoa do Embargante. (CPC, 242)

Desse modo, apresentam-se os presentes Embargos dentro do seu prazo legal, comparecendo a parte
espontaneamente ao feito (processo distribuído por dependência) na forma do art. 239, §1º do CPC.

04 – DAS PRELIMINARES

4.1.DA CITAÇÃO INVÁLIDA NO PROCESSO DE EXECUÇÃO

Antes de discutir o mérito (CPC, 337, I c/c 771, p único e 917, VI), ainda que como defesa dilatória, o
Embargante noticia que a citação feita no processo de execução (no qual estes Embargos foi está sendo
distribuído por dependência) foi inválida, eis que não fora realizada na pessoa do Executado, ora embargante
(CPC, 242), razão pela qual caso alguma alegação ou documento não sejam juntados na presente peça, requer
devolução do prazo (15 dias em dobro) para apresentação dos embargos.

4.2. DA INCOMPETÊNCIA RELATIVA DO JUÍZO DE BRUSQUE

Ainda, antes de se discutir o mérito, requer seja declarada a incompetência deste Juízo de Brusque/SC com
base nos artigos 781, I e 917, V do CPC, considerando que o domicílio do executado/embargante é na cidade
de Florianópolis.

Desse modo, requer sejam os autos de execução remetidos para o Juízo de Florianópolis, devendo os
presentes Embargos acompanhá-lo na forma do art. 64, §3º do CPC.
Observadas as questões preliminares ao mérito, passamos a este.

6 - DOS FATOS

O embargante (...)

6 - DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

6.1. DA RELAÇÃO DE CONSUMO E INCIDÊNCIA DE PRÁTICAS ABUSIVAS

Caracterizada a relação de consumo, ambas as partes devem agir com equidade e boa-fé, a fim de se obter
o equilíbrio contratual, especialmente o fornecedor da prestação do serviço, pois é quem detém as maiores
vantagens, seja sob o aspecto de informações, seja sob o aspecto econômico, preservando a igualdade entre
os contratantes. Por essas razões, é vedado ao fornecedor o cometimento de práticas abusivas, devidamente
exemplificadas no Código de Defesa do Consumidor a partir do artigo 39, uma vez que a sua ocorrência
provoca um desequilíbrio contratual, deixando ainda mais vulnerável o consumidor.

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O comportamento responsável pelo detentor do conhecimento técnico na relação consumerista,
especialmente na relação bancária, possibilita que o fornecedor tenha mais garantias do adimplemento
contratual pelo consumidor, que, por seu turno, não será vitimado por compromissos desarrazoados e
desproporcionais, que não consiga honrar.

Essa análise devida pela instituição concedente do crédito permite projetar a real condição do consumidor
de adimplir a dívida futura, verificando se este possui rendimentos suficientes para pagar o crédito
contratado, sem prejudicar sua capacidade de custear as despesas ordinárias para sua subsistência e de sua
família, vislumbrado, assim, princípios constitucionais como a dignidade da pessoa humana e o mínimo
existencial.

De acordo com o art. 39, inciso IV, do Código de Defesa do Consumidor, o fornecedor não pode prevalecer-
se da fraqueza ou ignorância do consumidor tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição
social, a fim de forçá-lo a adquirir seus serviços.

O exequente/embargado sabia que o executado/embargante não tinha o conhecimento nem a condição


social e econômica para celebrar um empréstimo no valor e prazo estipulados, eis que compromete a
totalidade da renda mensal do Embargante, conforme triagem socioeconômica realizada por esta Defensoria
Pública.

Verificado a ocorrência de práticas abusivas pelo requerente, passa-se a observar a incidência de cláusulas
abusivas.

6.2. A VERIFICAÇÃO DE ABUSIVIDADE QUANTO A INCIDÊNCIA DE JUROS CAPITALIZADOS E SUA NULIDADE


DE PLENO DIREITO

O valor originário do crediário era de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais). Ocorrido o inadimplemento, já que
o executado/embargante não possuía as condições financeiras para arcar com as prestações, o valor
originário saltou para o suposto patamar de R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais) em virtude de
praticamente 03 meses (últimos três meses) de atraso.

Sendo assim, é facilmente observável tratar-se de uma obrigação abusiva, que coloca o consumidor numa
situação de desvantagem exagerada diante da prestação de serviço ofertada. O Código de Defesa do

Consumidor determina que são nulas de pleno direito a cláusula contratual que estabelece uma obrigação
considerada iníqua, abusiva, que coloque o consumidor em desvantagem exagerada, incompatível com a
boa-fé e equidade, nos termos do art. 51, inciso IV.

No sentido de proteger o consumidor, a própria Constituição Federal estabelece que um dos princípios
norteadores da ordem econômica é a defesa do consumidor, conforme o art. 170, inciso V. Corroborando
com esta intenção, o Código de Defesa do Consumidor estabeleceu o capítulo da política nacional de relações
de consumo, no qual deve prevalecer a harmonização, juntamente com a proteção do consumidor,
baseando-se na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores, de acordo com o art.
4°, inciso III.

O valor originário apenas chegou nesta quantia suntuosa em razão da incidência de juros abusivos e
consequentemente ilegais, e decorrente da situação de incapacidade econômica do embargante e da má
prestação de serviços de crédito por parte da instituição financeira.

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Ainda, denota-se a prática de ilegal anatocismo no presente caso.

Neste sentido, conforme bem entende o E. STJ, sem previsão contratual expressa configura-se como abusiva
a capitalização mensal de juros:

A capitalização de juros, seja qual for a sua periodicidade, somente será considerada válida se estiver
expressamente pactuada no contrato. STJ. 2ª Seção. REsp 1.388.972-SC, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em
8/2/2017 (recurso repetitivo) (Info 599).

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO -


CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS REMUNERATÓRIOS - LEGITIMIDADE - PREVISÃO CONTRATUAL. AGRAVO
REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. "É permitida a capitalização de juros com periodicidade
inferior a um ano em contratos celebrados após 31.3.2000, data da publicação da Medida Provisória n. 1.963-
17/2000 (em vigor como MP 2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada." (REsp nº 973.827/RS,
Rel. Min. LUIS FELIPE SALOMÃO, Rel. p/ acórdão a Minª. MARIA ISABEL GALLOTTI, DJe de 24/9/2012). 2. Ao
repisar os fundamentos do recurso especial, a parte agravante não trouxe, nas razões do agravo regimental,
argumentos aptos a modificar a decisão agravada, que deve ser mantida por seus próprios e jurídicos
fundamentos. 3. Agravo regimental a que se nega provimento.

(STJ - AgRg no AREsp: 502099 MS 2014/0085637-1, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de
Julgamento: 13/05/2014, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 22/05/2014)

Em face de tais situações, e sendo cobrado encargos abusivos durante o período de normalidade contratual,
necessário se mostra afastar a mora, conforme entendimento pacífico de nossos tribunais:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. CUMULAÇÃO COM OUTROS


ENCARGOS. IMPOSSIBILIDADE. ENCARGOS ABUSIVOS NO PERÍODO DA NORMALIDADE.
DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA. REPETIÇÃO DO INDÉBITO. PROVA DE ERRO. DESNECESSIDADE.
MANUTENÇÃO DE POSSE. AFASTAMENTO. 1. A comissão de permanência - cuja cobrança é admitida no
período da inadimplência - não pode ser cumulada com correção monetária, juros moratórios, multa
contratual ou juros remuneratórios. 2. Resta descaracterizada a mora do devedor pela cobrança de
encargos abusivos no período de normalidade. 3. "A compensação de valores e a repetição de indébito são
cabíveis sempre que verificado o pagamento indevido, em repúdio ao enriquecimento ilícito de quem o
receber, independentemente da comprovação do erro" (AgRg no REsp 647559/RS, Rel. Min. HÉLIO QUAGLIA
BARBOSA, Quarta Turma, DJ de 30.10.2006). 4. A decisão agravada, em contraposição ao entendimento
esposado pela Corte de origem e sem recurso da parte interessada, determinou a manutenção do bem na
posse do devedor. Ao assim proceder, incorreu em reformatio in pejus, amplamente vedada. 5. AGRAVO
REGIMENTAL PARCIALMENTE PROVIDO. (STJ - AgRg no REsp: 921453 RS 2007/0020142-6, Relator: Ministro
PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Data de Julgamento: 18/11/2010, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de
Publicação: DJe 01/12/2010)

Tal posicionamento, aliás, está consolidado no STJ, definido, inclusive, em sede de julgamento de recursos
repetitivos, no Resp 1.061.530/RS.

Dessa maneira, a prática em comento, demonstra-se claramente abusiva, pois encontra-se em desacordo
com o sistema de proteção ao consumidor, razão pela qual é nula de pleno direito, nos termos do art. 51,
inciso XV do Código de defesa do Consumidor. Conforme o mesmo artigo, em seu parágrafo 1° e incisos, que
se presumem exageradas as vantagens que:

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I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;

II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar
seu objeto ou equilíbrio contratual;

III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do


contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.

Ainda, denota-se que houve cobrança de comissão de permanência juntamente com juros remuneratórios e
moratórios, indo de encontro ao entendimento sumulado do STJ, conforme indicado abaixo:
Súmula 472: A cobrança de comissão de permanência – cujo valor não pode ultrapassar a soma dos encargos
remuneratórios e moratórios previstos no contrato – exclui a exigibilidade dos juros remuneratórios,
moratórios e da multa contratual

Portanto, pelas razões anteriormente fundamentadas, de rigor ser declarada nula tal capitalização, uma vez
que o embargado sabia que a embargante não tinha condições de saldar as prestações fixadas no
Instrumento Particular. Assim, declarada a nulidade, deve ser afastada a mora e seus encargos, já que a sua
incidência provoca uma vantagem exagerada ao autor e uma obrigação excessivamente onerosa a requerida.

Por consequência, ante a ausência de mora imputável ao devedor, necessário se reconhecer a nulidade da
execução, posto que estamos diante de dívida inexigível, nos termos do art. 803 do CPC:

Art. 803. É nula a execução se:

I - o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquida e exigível;

Assim, imperioso se faz a extinção da execução em apenso, nos termos do art. 924, III, do CPC.

7- DA POSSIBILIDADE DE TRANSAÇÃO

A transação, no caso sub judice, é perfeitamente possível tratando-se a lide de direitos patrimoniais de
caráter privado (Artigos. 840 e 841 do Código Civil).

Desse modo, requer seja designada audiência de conciliação na forma dos artigos 3º, §3º; 250, IV e 319, VII
c/c 771, parágrafo único, todos do CPC e artigos 3-A, II da LONDP (LC 80/94).

8 - DA ATRIBUIÇÃO DE EFEITOS SUSPENSIVOS AOS PRESENTES EMBARGOS

Por fim, a embargante vem, nesta oportunidade, requerer o efeito suspensivo aos embargos nos termos do
artigo 919, §1º do CPC.

Quanto ao requisito da segurança do juízo, impõe-se a sua dispensa no presente caso.

À vista da documentação apresentada, e levando em conta a assistência jurídica prestada pela Defensoria
Pública, a embargante é pessoa hipossuficiente na acepção jurídica do termo, não possuindo condições
financeiras de oferecer qualquer tipo de caução.

No ponto, é importante observar que o art. 98, §1º, VII, concede isenção de depósito relativo a atos
processuais inerentes ao exercício da ampla defesa e do contraditório, como é o caso do ajuizamento desta

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demanda incidental.

Cumpre destacar que se mostra necessário atribuir efeito suspensivo à presente ação incidental, uma vez
que o prosseguimento deste feito por retro mencionada quantia poderá causar a embargante dano de difícil
ou incerta reparação, consistente na indevida penhora de seus bens por valor excessivo.

Portanto, é imperiosa a concessão de efeito suspensivo, com base no art. 919, § 1º do CPC.

9 - DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer:

a) A concessão dos benefícios da justiça gratuita à embargante, uma vez que esta é usuária dos serviços de
assistência jurídica integral prestada pela Defensoria Público do Estado de Santa Catarina, fazendo jus ao
direito à justiça gratuita inerente a tal assistência;

b) A observância de todas as prerrogativas conferidas aos membros da Defensoria Pública, conforme indicado
em tópico específico;

c) A distribuição por dependência dos presentes embargos por dependência ao processo de execução n. x
que pende perante a _ª Vara Cível de Brusque/SC;

d) A concessão de efeitos suspensivos aos presentes embargos e, assim, suspender os autos da execução em
apenso até o deslinde do presente feito;

e) A intimação do embargado na pessoa de seu procurador, para responder aos presentes embargos, sob
pena de presunção de veracidade dos fatos aqui articulados;

f) A designação de audiência de conciliação;

g) Caso impossível a solução amistosa da lide, que seja julgado totalmente procedente os presentes
embargados, para que seja extinta a execução nos termos do art. 924, III, do CPC;

h) Seja dada prioridade na tramitação do feito, tendo em vista a idade superior a 80 anos do Embargante na
forma do art. 71, §5º do Estatuto do Idoso;

i) Seja a parte embargada condenada ao pagamento de custas processuais e honorários sucumbenciais a


serem revertidos ao Fundo de Aparelhamento da Defensoria Pública do Estado de Santa Catarina;

j) Pugna-se prova o alegado por todos os meios em prova admitidos;

Dá-se como valor da causa a quantia de R$ 45.000,00

São os termos nos quais se postula deferimento.

Florianópolis/SC, data.
Defensor Público

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#RECAPITULANDO #TABELAAMIGA

FUNDAMENTO MATÉRIA DE
CABIMENTO ENDEREÇAMENTO PRAZO
LEGAL DEFESA
I - inexequibilidade
do título ou
inexigibilidade da
obrigação;
II - penhora
incorreta ou
avaliação errônea;
III - excesso de
execução ou
cumulação
indevida de
execuções;
IV - retenção por
benfeitorias
Defesa do
Art. 914 e necessárias ou
executado contra a Juiz 15 dias úteis
seguintes do CPC úteis, nos casos de
execução.
execução para
entrega de coisa
certa;
V - incompetência
absoluta ou
relativa do juízo da
execução;
VI - qualquer
matéria que lhe
seria lícito deduzir
como defesa em
processo de
conhecimento.

OBSERVAÇÕES GERAIS
O efeito suspensivo não é automático (art. 919, caput, NCPC).
O efeito suspensivo poderá ser atribuído no caráter ope judice. Existem critérios (cumulativos) para ter
efeito suspensivo (art. 919, § 1º):
- Requerimento do embargante;
- Verificar os requisitos da tutela provisória;
- Garantia do juízo por penhora, depósito ou caução. Assim, a garantia do juízo só é exigida para obter
efeito suspensivo.
O embargo interposto com o objetivo apenas de protelar a execução ou dificultar que a prestação seja
adimplida será punido quando o juiz assim o identificar.
Art. 918. O juiz rejeitará liminarmente os embargos:
III - manifestamente protelatórios.
Parágrafo único. Considera-se conduta atentatória à dignidade da justiça o oferecimento de embargos
manifestamente protelatórios.

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E) AGRAVO DE INSTRUMENTO

Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:

I - tutelas provisórias;

II - mérito do processo;

III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;

IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;

V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação;

VI - exibição ou posse de documento ou coisa;

VII - exclusão de litisconsorte;

VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;

IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;

X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução;

XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1o;

XII - (VETADO);

XIII - outros casos expressamente referidos em lei.

Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase
de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de
inventário.

Vamos relembrar cada uma das hipóteses de cabimento do agravo de instrumento?

INCISO I – TUTELAS PROVISÓRIAS: Sejam elas de natureza cautelar ou antecipada, de urgência ou


de evidência, antecedentes ou incidentais. São aquelas tratadas nos arts. 294 a 311 do CPC, deferidas em
cognição superficial. Também as liminares previstas em procedimentos especiais, como o das ações
possessórias e dos embargos de terceiro.

INCISO II – DECISÃO QUE JULGA O MÉRITO DA CAUSA: Esse inciso consagra o entendimento de
que existe decisão interlocutória de mérito. São as decisões interlocutórias em que o juiz profere o
julgamento antecipado parcial do mérito, previsto no art. 356 do CPC. O julgamento do mérito pode, no
sistema atual, ser desmembrado. Se um ou algum dos pedidos ou parte deles estiver em condições de
julgamento, o juiz proferirá o julgamento antecipado parcial, no qual, em cognição exauriente e definitiva,
examinará uma ou algumas das pretensões, ou parte delas. A não interposição do agravo de instrumento,
nessas situações, implicará não preclusão, mas coisa julgada material.

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INCISO III – REJEIÇÃO DA ALEGAÇÃO DE CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM: Cabe AI da decisão
interlocutória que rejeitar a alegação de convenção de arbitragem. Exemplo: o réu alegou a convenção de
arbitragem e o juiz não acolheu. Se o juiz tivesse acolhido, seria uma sentença e, portanto, apelável. Mas
como não acolheu, é uma decisão interlocutória agravável

INCISO IV – INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA: É aquele previsto


nos arts. 133 a 137. O incidente constitui forma de intervenção de terceiros provocada, em que o juiz
verificará se estão preenchidos ou não os requisitos da desconsideração direta ou inversa. Da decisão que
apreciar o incidente caberá o agravo de instrumento.

INCISO V – REJEIÇÃO DO PEDIDO DE GRATUIDADE DA JUSTIÇA OU ACOLHIMENTO DO PEDIDO DE


SUA REVOGAÇÃO: não caberá agravo de instrumento da decisão que deferir a gratuidade ou rejeitar o
pedido de revogação, caso em que a decisão só poderá ser questionada como preliminar de apelação ou nas
contrarrazões. O agravo caberá quando a gratuidade for indeferida ou revogada, já que nesse caso caberia
à parte recolher de imediato as custas e despesas processuais. Para evitar eventual prejuízo irreparável do
litigante é que a lei admite o agravo de instrumento nesse caso.

INCISO VI – EXIBIÇÃO OU POSSE DE DOCUMENTO OU COISA: trata-se da decisão que aprecia o


incidente de exibição de documento ou coisa, previsto no art. 396 e ss.

INCISO VII – EXCLUSÃO DE LITISCONSORTE: trata-se de decisão que precisa ser reexaminada de
imediato, não podendo ser relegada para a fase de apelação, sob pena de irreparável prejuízo à marcha do
processo. A redação do inciso, conjugada com a do inciso seguinte, leva à conclusão de que só caberá agravo
de instrumento se a decisão excluir o litisconsorte. Se o mantiver, a impugnação deverá ser feita como
preliminar na apelação ou nas contrarrazões.

INCISO VIII – REJEIÇÃO DO PEDIDO DE LIMITAÇÃO DO LITISCONSÓRCIO: em caso de litisconsórcio


multitudinário, o juiz, de ofício ou a requerimento do réu, poderá limitar o número de participantes,
determinando o desmembramento do processo. Se ele rejeitar o pedido e indeferir o desmembramento do
processo, todos os litisconsortes originários serão mantidos e caberá o agravo de instrumento, com fulcro
nesse inciso. Já se o juiz acolher o pedido de limitação, ele excluirá parte dos litisconsortes originários,
determinando o desmembramento do processo, e caberá também agravo de instrumento, mas com fulcro
no inciso anterior.

INCISO IX – ADMISSÃO OU INADMISSÃO DE INTERVENÇÃO DE TERCEIROS: caráter amplo deste


inciso torna despiciendo o inciso IV, já que o incidente de desconsideração da personalidade jurídica é uma
das formas de intervenção de terceiro. Caberá agravo de instrumento tanto da decisão que deferir quando
da que indeferir a intervenção. A exceção é a admissão do amicus curiae, já que o art. 138, regra especial,
estabelece que a decisão judicial é irrecorrível.

INCISO X – CONCESSÃO, MODIFICAÇÃO OU REVOGAÇÃO DO EFEITO SUSPENSIVO AOS


EMBARGOS À EXECUÇÃO: os embargos, em regra, não têm efeito suspensivo, mas o juiz, excepcionalmente,
preenchidos os requisitos legais, poderá concedê-lo. Da decisão que defere, indefere, modifica ou revoga o
efeito suspensivo, cabe agravo de instrumento.

INCISO XI – REDISTRIBUIR O ÔNUS DA PROVA NOS TERMOS DO ART. 381, §1º: é a hipótese de
redistribuição do ônus fundada em lei ou em determinação judicial. A decisão do juiz que aprecia a
redistribuição do ônus desafia agravo de instrumento. O agravo será cabível tanto da decisão que defere a
redistribuição quanto da que a indefere, já que, em ambos os casos, a decisão versará, positiva ou

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negativamente, sobre a redistribuição e, também em ambos, a questão precisa ser reexaminada desde logo
pelo tribunal, porque repercutirá sobre o comportamento de uma ou outra parte na fase de instrução.

INCISO XIII – OUTROS CASOS EXPRESSAMENTE REFERIDOS EM LEI: A lei pode criar outros casos de
cabimento de agravo de instrumento. São exemplos o que pode ser interposto contra sentença declaratória
de falência.

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA:
O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de agravo de
instrumento quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da questão no recurso de
apelação. STJ. Corte Especial. REsp 1704520-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/12/2018 (recurso
repetitivo) (Info 639). Obs: a tese jurídica fixada e acima explicada somente se aplica às decisões
interlocutórias proferidas após a publicação do REsp 1704520/MT, o que ocorreu no DJe 19/12/2018.

O agravo de instrumento é dirigido para o Tribunal, sendo dele a competência para o seu
julgamento:

CPC, art. 1.016: O agravo de instrumento será dirigido diretamente ao tribunal competente, por meio de
petição com os seguintes requisitos:

I - os nomes das partes;

II - a exposição do fato e do direito;

III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão e o próprio pedido;

IV - o nome e o endereço completo dos advogados constantes do processo.

Desse modo, o agravo de instrumento é interposto no Tribunal, e endereçado ao seu Presidente.

Peça obrigatórias e facultativas: De acordo com o art. 1.017 do CPC, a petição do agravo de
instrumento deve ser instruída, obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição
que ensejou a decisão agravada, da própria decisão agravada, da certidão da respectiva intimação ou outro
documento oficial que comprove a tempestividade e das procurações outorgadas aos advogados do
agravante e do agravado; com a declaração de inexistência de qualquer dos documentos mencionados, feita
pelo advogado do agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal; facultativamente, com outras peças
que o agravante reputar úteis. Assim, vocês devem abrir um parágrafo para informar que o agravo de
instrumento foi instruído com as peças obrigatórias, uma vez que isso certamente constará no espelho.

Tempestividade: O CPC/15 responsável pela unificação dos prazos recursais, isso significa que com
exceção dos embargos de declaração, cujo prazo é de 5 dias, todos os recursos devem ser interpostos no
prazo de 15 dias (art. 1.003, § 5.º, do CPC/2015). Lembrem sempre do prazo em dobro para a Defensoria
Pública!

Motivação: Todo recurso deverá conter as razões pelas quais entende a parte recorrente haver a
necessidade de reforma ou anulação do ato recorrido. Na prática, tal motivação recursal é denominada
“razões” (ou “minuta” para o caso de agravo) e, consequentemente, a resposta do recorrido é denominada
“contrarrazões” (ou “contraminuta” para o caso de agravo).

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Preparo. Equivale à obrigação da parte recorrente de comprovar, no ato da interposição do recurso,
o pagamento: • das custas judiciais: corresponde à taxa judiciária, que é estabelecida por cada órgão
jurisdicional; • do porte de remessa e de retorno.

De acordo com o art. 1.017, §1º, o agravante deverá recolher o preparo:

1.017, § 1o: Acompanhará a petição o comprovante do pagamento das respectivas custas e do porte de
retorno, quando devidos, conforme tabela publicada pelos tribunais. Porém, lembrem-se que a Defensoria
Pública é dispensada do recolhimento de preparo, na forma do art. 1.007, §1º do CPC:

Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação
pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção.

§ 1o São dispensados de preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, os recursos interpostos pelo
Ministério Público, pela União, pelo Distrito Federal, pelos Estados, pelos Municípios, e respectivas
autarquias, e pelos que gozam de isenção legal. (...)

Juntada em primeira instância: De acordo com o CPC:

Art. 1.018. O agravante poderá requerer a juntada, aos autos do processo, de cópia da petição do agravo
de instrumento, do comprovante de sua interposição e da relação dos documentos que instruíram o
recurso.

§ 1o Se o juiz comunicar que reformou inteiramente a decisão, o relator considerará prejudicado o agravo de
instrumento.

§ 2o Não sendo eletrônicos os autos, o agravante tomará a providência prevista no caput, no prazo de 3 (três)
dias a contar da interposição do agravo de instrumento.

§ 3o O descumprimento da exigência de que trata o § 2o, desde que arguido e provado pelo agravado,
importa inadmissibilidade do agravo de instrumento.

Desse modo, é importante que vocês redijam um parágrafo mencionando que providenciarão a
juntada da cópia da petição do agravo nos autos do processo em primeira instância, para que o juiz seja
devidamente informado e possa reformar a decisão. #ATENÇÃO não seria necessário a se a questão
mencionar que o processo é eletrônico.

Prerrogativas da Defensoria Pública: Não se esqueçam de sempre requerer a observância das


prerrogativas processuais da Defensoria Pública, em especial a dispensa de mandato, intimação pessoal e a
concessão de prazo em dobro em todos os atos do feito, nos termos do artigo 128, I e XI, da LC 80/94 e art.
186, CPC.

Efeito suspensivo e antecipação de tutela em grau recursal (efeito suspensivo ativo):

CPC, art. 1.019: “(...) I – poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação de tutela,
total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão; (...)”.

Essa expressão é utilizada para designar a possibilidade de o relator, liminarmente, conceder a


tutela antecipada da pretensão recursal, concedendo à medida que foi negada pela primeira instância. Se o

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juízo a quo concedeu a liminar, e a parte prejudicada teme que seja executada, cabe a ela agravar de
instrumento e postular a concessão de efeito suspensivo, para paralisar o cumprimento da medida.

Mas, se o juiz de primeiro grau não concedeu a medida, e a parte tem urgência em obtê-la, pode
pedir ao relator que conceda efeito ativo (ou suspensivo ativo, que corresponde à tutela antecipada da
pretensão recursal), deferindo a liminar, que o juízo a quo negou.

#ATENÇÃO: Tutela de urgência antecipada.

Os requisitos para a concessão da tutela de urgência são: PROBABILIDADE DO DIREITO + PERIGO DE DANO
ou RISCO AO RESULTADO ÚTIL DO PROCESSO

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

§1º Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória
idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a
parte economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.

§2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.

§3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de
irreversibilidade dos efeitos da decisão.

Art. 301. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante arresto, sequestro,
arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea para
asseguração do direito.

Art. 302. Independentemente da reparação por dano processual, a parte responde pelo prejuízo que a
efetivação da tutela de urgência causar à parte adversa, se:

I - a sentença lhe for desfavorável;

II - obtida liminarmente a tutela em caráter antecedente, não fornecer os meios necessários para a citação
do requerido no prazo de 5 (cinco) dias;

III - ocorrer a cessação da eficácia da medida em qualquer hipótese legal;

IV - o juiz acolher a alegação de decadência ou prescrição da pretensão do autor.

Parágrafo único. A indenização será liquidada nos autos em que a medida tiver sido concedida, sempre que
possível.

#MODELODEPEÇA

À PRESIDÊNCIA DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO


Autos nº
Agravante: Defensoria Pública do Rio de Janeiro
Agravado: Empresa Light

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Ciclos Método
A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, já qualificada nos autos em epígrafe, vem, com
fulcro no art. 1.015, I, II e XI do CPC, interpor AGRAVO DE INSTRUMENTO, COM PEDIDO DE TUTELA
ANTECIPADA EM GRAU RECURSAL, em face da decisão proferida às fls., nos autos do processo que move em
face da EMPRESA LIGHT, pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas. Para tanto, informa que:

1) O agravo de instrumento foi instruído com as cópias obrigatórias e das procurações outorgadas aos
advogados do agravante (dispensada por ser a Defensoria Pública) e do agravado, conforme o art. 1.017 do
CPC;
2) O juízo de origem foi comunicado da interposição do presente recurso para fins de retratação (art.
1.018, §2º e §3º do CPC).
3) Deixa de comprovar o recolhimento de preparo (1.017, §1º), na forma do art. 1.007, §1º do CPC;
4) Por fim, requer sejam observadas as prerrogativas processuais da DPE, sobretudo a intimação
pessoal com remessa dos autos e o prazo em dobro, nos termos do art. 128, I e XI, da LC 80/94 e art. 186,
CPC.
Local, data
Defensor Público

RAZÕES DO AGRAVO DE INSTRUMENTO

EGRÉGIO TRIBUNAL, COLENDA CÂMARA, ÍNCLITOS DESEMBARGADORES

I-SÍNTESE FÁTICA

Dispensada.

II - CABIMENTO E TEMPESTIVIDADE

O presente recurso é cabível para impugnar os capítulos da decisão interlocutória proferida pelo juízo “a
quo”, que indeferiu o pedido de tutela provisória (art. 1.015, I, CPC), o pedido de danos morais coletivos (art.
1.015, II, CPC) e o pedido de inversão do ônus da prova (art. 1.015, XI, CPC). Aponta-se, ainda, que a decisão
foi exarada no dia X, sendo, portanto, tempestivo o recurso nos termos dos artigos 186, CPC c/c 128, I da LC
80/94 e 1.003, §5º do CPC.

III – RAZÕES PARA REFORMA

III.1 – Tutela de urgência antecipada

Pugna-se pela reforma do capítulo da decisão que indeferiu a tutela de urgência antecipada, haja vista que
estão presentes seus requisitos (artigos 12 da LACP e 297 e 300 c/c 497, do CPC). A probabilidade do direito
restou demonstrada, por tratar-se de relação de consumo, sendo aplicado o CDC, sobretudo o seu art. 22, o
qual determina que as concessionárias de serviços públicos são obrigadas a fornecer serviços adequados,
eficientes, seguros e, em relação aos essenciais, como é o caso da energia elétrica, contínuos. Ademais, em
que pese o juízo “a quo” ter mencionado a necessidade de comprovação de culpa, deve ser aplicado o
entendimento do STJ, bem como as disposições do CDC (art. 14) e da CF/88 (art. 37, §6º da CF/88), os quais
dispõem que a responsabilidade pela reparação de danos, no caso, é objetiva, sendo despicienda a
demonstração de culpa, já que a empresa Light é prestadora de serviço público.

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Ciclos Método
Por sua vez, o perigo de dano reside na violação aos direitos fundamentais dos consumidores de energia
elétrica em caso de cortes em seu fornecimento, colocando em risco seu direito à vida, à saúde, ao
patrimônio, entre outros.

Portanto, a tutela de urgência de natureza antecipada é medida necessária e urgente, a fim de que sejam
evitados novos danos aos consumidores e habitantes do Município de Niterói. Ante o exposto, a DPE/RJ
requer a concessão, pelo relator, da tutela antecipada em grau recursal, com a sua posterior confirmação
pelo colegiado (art. 1.019, I, do CPC).

III.2 – Danos morais coletivos

O CPC/2015 não mais prevê a possibilidade jurídica do pedido como uma das condições da ação, passando
esse requisito a integrar questão de mérito, ou seja, à sua procedência ou improcedência, com resolução do
mérito (art. 487, CPC). Ademais, o CPC dispõe acerca das hipóteses em que poderá haver improcedência
liminar do pedido, em rol onde não consta a hipótese de impossibilidade jurídico do pedido.

Cumpre ressaltar que o pedido de reparação por danos morais coletivos é plenamente cabível. A
jurisprudência mais recente do STJ tem admitido a existência de dano extrapatrimonial coletivo e o
correspondente dever de repará-lo. Nesse sentido, a reparação do dano moral tem previsão constitucional
(art. 5.º, inciso X) e o artigo 6º, VI, do CDC é explícito ao possibilitar o cabimento de indenização por danos
morais aos consumidores, tanto de ordem individual quanto coletivamente. De igual modo, o artigo 1º da
LACP, admite a pretensão reparatória por danos extrapatrimoniais causados a qualquer interesse difuso ou
coletivo.

Assim, o STJ entende que é possível a configuração de dano moral coletivo sempre que a lesão ou a ameaça
de lesão levada a efeito pela parte demandada atingir valores e interesses fundamentais do grupo,
afigurando-se, pois, descabido negar a essa coletividade o ressarcimento de seu patrimônio imaterial
aviltado.

No presente caso, os consumidores vêm sofrendo violações reiteradas a seu direito à continuidade do serviço
público essencial, ensejando a condenação por danos morais coletivos. Portanto, a decisão deve ser anulada
para que a agravada seja citada a fim de se manifestar quanto ao pedido de dano moral coletivo.

III.3 – Inversão do ônus da prova

Em relação ao capítulo da decisão agravada que indeferiu a inversão do ônus da prova, deve ser reconhecida
sua nulidade, por falta de fundamentação adequada (arts. 12 e 489, §1º, III, CPC).

Foram preenchidos os requisitos para ser concedida a inversão do ônus da prova, segundo o art. 6º, inciso
VIII, do CDC. Estão presentes a verossimilhança das alegações e a hipossuficiência da agravante: a agravada
é dotada de poderio econômico e conhecimento técnico, o que lhe garante posição de vantagem na
produção probatória; a agravante é hipossuficiente, uma vez que age em nome e no interesse dos direitos
coletivos em sentido amplo.

Além disso, segundo o CPC, em seu art. 373, §1º, a agravada possui maior facilidade de obtenção da prova
do fato, sendo cabível a inversão do ônus da prova, conforme a teoria da carga dinâmica da prova.

IV – DOS PEDIDOS

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Ciclos Método
Ante o exposto, requer que seja recebido, conhecido e provido o recurso, para que:

a) Seja reformada a decisão que indeferiu a tutela de urgência antecipada, com a concessão, de forma
monocrática, pelo relator, de tutela antecipada em grau recursal, e a sua confirmação, ao final, em decisão
do colegiado;

b) Seja anulada a decisão de improcedência liminar do pedido de danos morais coletivos, para que a
agravante seja citada a fim de se manifestar quanto ao pedido de dano moral coletivo;

c) Seja anulada a decisão que indeferiu a inversão do ônus da prova;

d) Seja a agravada intimada, a fim de que, querendo, apresente as contrarrazões no prazo legal;

e) Sejam observadas todas as prerrogativas conferidas aos membros da Defensoria Pública,


especialmente a do prazo em dobro e da intimação pessoal com entrega de autos na sede da instituição
(art.128, I da LC 80/94, e art. 186 do CPC).

Local, data.
Defensor Público

#RECAPITULANDO #TABELAAMIGA
FUNDAMENTO ENDEREÇAMENT
CABIMENTO PRAZO MATÉRIA DE DEFESA
LEGAL O
Decisão interlocutória nos
Interposição:
casos expressos do art.
Pedir que o recurso seja
1.015 (versem sobre):
processado com a
- tutelas provisórias;
intimação do agravado
- mérito do processo;
para apresentar
- rejeição da alegação de
contraminuta e
convenção de arbitragem;
encaminhado ao
- incidente de
Desembargador Relator
desconsideração da
para que seja dado
personalidade jurídica;
provimento.
- rejeição do pedido de
Interposição: Intimação do MP se
gratuidade da justiça ou
Presidente do necessário
acolhimento do pedido de Art. 1015 e 15 dias
Tribunal
sua revogação; seguintes do CPC úteis
Razões:
- exibição ou posse de
Razões: Tribunal Tópico sobre o
documento ou coisa;
cabimento;
- exclusão de litisconsorte;
Tempestividade;
- rejeição do pedido de
Pedir o imediato
limitação de litisconsórcio;
provimento pelo relator
- admissão ou inadmissão
se estiver presente
de intervenção de
alguma das hipóteses
terceiros;
do art. 932, V;
-concessão, modificação ou
Antecipação dos efeitos
revogação do efeito
da tutela ou concessão
suspensivo aos embargos à
de efeito suspensivo
execução;

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- redistribuição do ônus da Provimento do recurso
prova nos termos do art. com o pedido de nova
373, §1º, decisão ou invalidação
- outros casos da decisão agravada.
expressamente referidos
em lei
-decisões interlocutórias
proferidas na fase de
liquidação de sentença ou
de cumprimento de
sentença no processo de
execução e no processo de
inventário
- decisão parcial de mérito
(art. 356, §5º)
OBSERVAÇÕES GERAIS
Em regra, não tem efeito suspensivo.
Interposição:
Informar da ausência do preparo.
Deve conter o nome e endereço completo dos advogados constantes do processo.
Informar que está instruída com as peças obrigatórias e facultativas (art. 1017), salvo processo eletrônico
(art. 1017, §5º). Informar que vai promover a comunicação do juízo de primeiro grau no prazo do art.
1.018.

F) APELAÇÃO

A apelação é o recuso cabível contra a sentença e contra decisões interlocutórias das quais não
caiba o agravo de instrumento. Vamos fazer uma breve revisão acerca de alguns pontos importantes.

É preciso verificar se a impugnação será contra alguma nulidade ou contra o mérito:

Decisão inválida: error in procedendo. Tribunal anula a decisão e remete ao 1º grau para que outra
seja produzida.

Defeito de conteúdo: error in judicando. O Tribunal reforma a decisão.

Em regra, a apelação é recebida no efeito devolutivo e no suspensivo, exceto nos casos previstos
nos incisos do § 1º do art. 1.012. Confira a legislação:

Art. 1.009. Da sentença cabe apelação.

§ 1o As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de
instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação,
eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões.

§ 2o Se as questões referidas no § 1o forem suscitadas em contrarrazões, o recorrente será intimado para,


em 15 (quinze) dias, manifestar-se a respeito delas.

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§ 3o O disposto no caput deste artigo aplica-se mesmo quando as questões mencionadas no art. 1.015
integrarem capítulo da sentença.

Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau, conterá:

I - os nomes e a qualificação das partes;

II - a exposição do fato e do direito;

III - as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade;

IV - o pedido de nova decisão.

§ 1o O apelado será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias.

§ 2o Se o apelado interpuser apelação adesiva, o juiz intimará o apelante para apresentar contrarrazões.

§ 3o Após as formalidades previstas nos §§ 1o e 2o, os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz,
independentemente de juízo de admissibilidade.

Art. 186, NCPC: A Defensoria Pública gozará de prazo em dobro para todas as suas manifestações
processuais.

§ 1o O prazo tem início com a intimação pessoal do defensor público, nos termos do art. 183, § 1o.

§ 2o A requerimento da Defensoria Pública, o juiz determinará a intimação pessoal da parte patrocinada


quando o ato processual depender de providência ou informação que somente por ela possa ser realizada ou
prestada.

§ 3o O disposto no caput aplica-se aos escritórios de prática jurídica das faculdades de Direito reconhecidas
na forma da lei e às entidades que prestam assistência jurídica gratuita em razão de convênios firmados com
a Defensoria Pública.

§ 4o Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei estabelecer, de forma expressa, prazo
próprio para a Defensoria Pública.

TEMPESTIVIDADE: 15 dias úteis.

JUÍZO DE RETRATAÇÃO: em regra, não há efeito regressivo (juízo de retratação), exceto:

- Indeferimento da inicial (art. 331);


- Extinção sem resolução do mérito (art. 485, §7º); e
- Improcedência liminar (art. 332, §3º).

O JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE é feito apenas pelo Tribunal.

Art. 1.010, § 3o Após as formalidades previstas nos §§ 1o e 2o, os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz,
independentemente de juízo de admissibilidade.

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Em regra, a interposição da apelação já suspende o efeito da decisão judicial. Entretanto, o CPC
lista algumas hipóteses em que o efeito suspensivo não é automático, podendo ser requerido na apelação.

Art. 1.012. A apelação terá efeito suspensivo.

§ 1o Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente após a sua
publicação a sentença que:

I - homologa divisão ou demarcação de terras;

II - condena a pagar alimentos;

III - extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado;

IV - julga procedente o pedido de instituição de arbitragem;

V - confirma, concede ou revoga tutela provisória;

VI - decreta a interdição.

§ 2o Nos casos do § 1o, o apelado poderá promover o pedido de cumprimento provisório depois de publicada
a sentença.

§ 3o O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses do § 1o poderá ser formulado por requerimento
dirigido ao:

I - tribunal, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua distribuição, ficando o relator
designado para seu exame prevento para julgá-la;

II - relator, se já distribuída a apelação.

§ 4o Nas hipóteses do § 1o, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se o apelante demonstrar
a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano
grave ou de difícil reparação.

TEORIA DA CAUSA MADURA (supressão de instância):

Art. 1.013, § 3o Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde
logo o mérito quando:

I - reformar sentença fundada no art. 485 (sem julgamento do mérito);

II - decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de
pedir;

III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo;

IV - decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação. (art. 489, parágrafo 1º, do CPC).

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#ATENÇÃO É possível alegar fato novo quando este não foi apresentado por motivos de força maior.

Art. 1.014. As questões de fato não propostas no juízo inferior poderão ser suscitadas na apelação, se a parte
provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior.

#DEOLHONAJURIS: A extensão do efeito devolutivo da apelação é definida pelo pedido do recorrente e


qualquer julgamento fora desse limite não pode comprometer a efetividade do contraditório, ainda que se
pretenda aplicar a teoria da causa madura. STJ. 4ª Turma. REsp 1909451-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 23/03/2021 (Info 690).

Visto isso, passemos para a análise de algumas formalidades da peça processual:

ENDEREÇAMENTO: juízo de 1º grau.

Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau.

Logo abaixo do endereçamento, devemos colocar o número do processo.

Qualificação: simplificada, pois já existe a qualificação completa nos autos do processo, com
indicação de interposição do recurso de apelação, com fundamento no art. 1.009 e seguintes do CPC.

Requerimento da peça de interposição: requerimento de que o juízo de 1º grau intime outra parte
para que apresente contrarrazões e posteriormente o envie ao Tribunal.

#RECAPITULANDO: Na petição de interposição, dirigida ao juiz de 1º grau (1.010, caput), vocês devem
colocar o pedido de conhecimento do recurso, a indicação dos efeitos, o encaminhamento ao tribunal
competente, a tempestividade e o pedido de retratação, se cabível.

RAZÕES DO RECURSO: cabeçalho + dos fatos + do direito. É interessante abrir um tópico por
capítulo da sentença.

Preâmbulo: dados do processo e saudações aos julgadores;


Breve síntese dos fatos;
Do direito: primeiro as preliminares e depois o mérito.
Pedido de nova decisão: anulação ou reforma – ou ambos, subsidiariamente.

#ATENÇÃO para a DECISÃO PARCIAL DE MÉRITO (art. 487, I) – o recurso cabível é o AGRAVO DE
INSTRUMENTO (art. 356, §5º).

#DEOLHONAJURIS: Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos
formulados ou parcela deles: I - mostrar-se incontroverso; II - estiver em condições de imediato julgamento,
nos termos do art. 355. Situação hipotética: João foi vítima de um acidente de carro. Ele ajuizou ação de
indenização por danos morais e materiais contra a empresa causadora. O juiz condenou a ré a pagar R$ 50
mil de indenização por danos morais. Por outro lado, negou o pedido para que a empresa pagasse pensão
mensal vitalícia ao autor em razão da perda da capacidade laborativa. O pedido foi indeferido mesmo sem
ter sido realizada perícia médica. Tanto João como a empresa interpuseram apelação. O Tribunal de Justiça,
ao julgar o recurso: a) manteve a condenação por danos morais; b) quanto ao pedido de fixação de pensão
por redução da capacidade laborativa, o TJ entendeu que as provas produzidas eram insuficientes e afirmou
ser necessária a produção de perícia. Em razão disso, com fundamento no art. 356 do CPC/2015, o TJ apenas

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anulou a sentença nesse tópico, determinando o retorno dos autos à origem para a complementação da
prova. O STJ afirmou que isso era possível. STJ. 3ª Turma. REsp 1845542/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 11/05/2021 (Info 696).

#MODELODEPEÇA6

AO JUÍZO DA 1ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA DO ....


Autos nº
APELANTES:
APELADO:

OS APELANTES vêm, por intermédio da DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO..., com fundamento nos
artigos 1.009 e seguintes do Código de Processo Civil, interpor

APELAÇÃO

Em face da sentença proferida pelo Juízo da 1ª Vara da Fazenda Pública do Município de Alegrete, que julgou
improcedente a ação de indenização por danos morais, pelas razões que passa a expor nos termos que
seguem.

Com base no art. 1.010 e seus parágrafos, requer que o apelado seja intimado para apresentar contrarrazões
no prazo de 15 (quinze) dias. Em seguida, que os autos sejam remetidos ao tribunal pelo juiz,
independentemente de juízo de admissibilidade.

Nesta oportunidade, requer-se também, com esteio no artigo 98 e 99, do Código de Processo civil, a
concessão aos Apelantes dos benefícios da Justiça Gratuita, porquanto, em razão de sua hipossuficiência,
não poderão arcar com as custas e despesas do processo sem prejuízo do sustento próprio e de sua família.

Termos em que pede deferimento.


Local, data.
Defensor(a) Público(a)

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ...


COLENDA CÂMARA,
EMERITOS JULGADORES,

Maria e João, já devidamente qualificados nos autos do processo em epígrafe, vêm, por intermédio da
Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul, apresentar as RAZÕES DE APELAÇÃO, interposta em
face da sentença proferida pelo juízo da 1ª Vara da Fazenda Pública, que julgou improcedente a ação de
indenização por danos morais.

1. DOS FATOS (dispensado)

2. DA TEMPESTIVIDADE

O presente recurso de apelação é tempestivo. Considerando o art. 1.003, parágrafo 5º, do CPC que
estabelece o prazo de 15 dias úteis para a apresentação do recurso de apelação, contando-se da data em

6
Peça apresentada no curso Ciclos para 2ª fase da DPE/RS.
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que a Defensoria Pública é intimada da decisão, associado ao art. 186 do CPC que concede o prazo em dobro
para todas as manifestações da Defensoria Pública, resta evidenciada a tempestividade do apelo recursal.

3. DO DIREITO

Trata-se de demanda indenizatória por danos morais em que os autores sustentam a responsabilidade do
ente público em decorrência da morte de detento (seu filho), vítima de agressões praticadas pelos demais
presos.

De pronto, cumpre referir que a responsabilidade da Fazenda Pública, em se tratando de atos praticados
contra detentos, é objetiva, ou seja, prescinde-se a demonstração da culpa, bastado ao postulante provar o
nexo de causalidade e o dano para que surja o dever de reparar. Sobre o tema, é da jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal:

Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Morte de detento sob custódia da
Administração Pública. Responsabilidade objetiva do Estado. Art. 37, § 6º, da Constituição Federal. Missão
do Estado de zelar pela integridade física do preso. Precedentes do STF. 3. Discussão acerca da existência de
culpa do Estado. Necessidade do reexame do conjunto fático-probatório. Súmula 279. 4. Agravo regimental
a que se nega provimento. (ARE 662563 AgR, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em
20/03/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-066 DIVULG 30-03-2012 PUBLIC 02-04-2012 – grifos meus.)

E é igualmente o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça:

ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO


ESTADO. MORTE DE DETENTO NAS DEPENDÊNCIAS DE PRESÍDIO. NEXO CAUSAL E REVISÃO DO QUANTUM
FIXADO A TÍTULO DE DANOS MORAIS. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO FÁTICO
PROBATÓRIO. SÚMULA 7/STJ. DANOS MATERIAIS. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ.
PENSÃO. AUSÊNCIA DE COMANDO NORMATIVO. SÚMULA 284/STF.

1. A jurisprudência desta Corte é no sentido de que a responsabilidade civil do ente público é objetiva, no
que se refere a morte de detento sob custódia do Estado.
(...) (AgRg no AREsp 729.565/PE, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em
22/09/2015, DJe 28/09/2015 – grifos meus.)
ADMINISTRATIVO E CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. MORTE DE DETENTO EM
UNIDADE PRISIONAL. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO ESTADO. DANO MORAL. ALEGAÇÃO DE
INEXISTÊNCIA DE NEXO CAUSAL E DESCARACTERIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL POR CONDUTA
CULPOSA DOS AGENTES PENITENCIÁRIOS. NECESSIDADE DE REEXAME DO CONTEXTO FÁTICO E
PROBATÓRIO. SÚMULA Nº 7 DO STJ. TESE DE EXORBITÂNCIA DO VALOR DOS DANOS MORAIS SEM
INDICAÇÃO DO DISPOSITIVO VIOLADO. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF.
1. "A jurisprudência do STJ reconhece a responsabilidade objetiva do Estado nos casos de morte de preso
custodiado em unidade prisional" (AgRg no AREsp 346.952/PE, Relator Ministro Og Fernandes, Segunda
Turma, DJe 23/10/2013).
(...) (AgRg no AREsp 528.911/MA, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF
1ª REGIÃO), PRIMEIRA TURMA, julgado em 16/06/2015, DJe 25/06/2015 – grifos meus.)

Na espécie, o Estado refere a ausência de responsabilidade de sua parte mencionando que não existe nexo
de causalidade entre o fato e a omissão dos seus agentes, que os atos foram praticados por terceiros. Diz
que não houve omissão de sua parte.

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No entanto, amparando-se nos julgados acima referidos, cumpre estabelecer a responsabilidade do ente
público demandado a partir da falha no dever de vigilância e incolumidade do indivíduo sobre o qual lhe foi
conferida a guarda, permitindo que detentos praticassem agressão, atentando contra a vida do preso, filho
dos ora demandantes, mostrando-se, por consequência, falho o serviço público.

A entrada de armas brancas no presídio evidencia a omissão na fiscalização e falha na prestação do serviço.

Além disso, a vítima já havia informado à administração do presídio que estava sofrendo ameaças de morte,
sendo que nenhuma medida foi tomada. Fica evidente que o Poder Público podia e devia ter agido em defesa
do seu custodiado para evitar o evento danoso.

É dever do Estado atuar no sentido de proteger a integridade física das pessoas que estavam sob seus
cuidados, não permitindo as agressões praticadas.

Houve omissão do Estado diante da existência de arma branca no interior do presídio e em posse dos presos
ali encontrados, o que demonstra a falha na prestação do serviço pelo ente estatal, o qual não cumpriu com
seu dever de propiciar um ambiente saudável e seguro.

Com relação aos danos morais, têm-se por presunção, ou seja, in re ipsa, a partir do próprio evento morte
de familiar dos autores, sendo desnecessária a prova do prejuízo para a sua configuração. A violação do
direito da personalidade motiva a reparação do dano moral.

Da jurisprudência desta Corte, podemos referir:

Ementa: RESPONSABILIDADE CIVIL. CIDADÃO ATINGIDO POR FACA QUANDO ESTAVA SOB CUSTÓDIA DO
ESTADO. DEVER DE INDENIZAR CONFIGURADO. - Segundo o STF, responde objetivamente o Estado
pela morte de preso [ou tentativa] em estabelecimento carcerário. Dever de zelar pela integridade física do
apenado. Art. 5º, XLIX, da Constituição Federal. - O Estado é responsável pela segurança das pessoas que
estão sob sua custódia. Situação em que o autor, recolhido a presídio estadual, foi atacado por outro
detento com golpes de faca, resultando em risco de morte. - Dano moral ocorrente por presunção.
Inexistindo critérios objetivos de fixação do valor para indenizar o dano moral, cabe ao magistrado delimitar
quantias ao caso concreto. Valor fixado em sentença mantido [R$ 13.200,00]. - Dano estético não
comprovado. Sentença modificada, no ponto. PROVERAM EM PARTE A APELAÇÃO E DESPROVERAM O
RECURSO ADESIVO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70070691258, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Jorge Alberto Schreiner Pestana, Julgado em 14/12/2016)

Ementa: RESPONSABILIDADE CIVIL. ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. PRISÃO. MORTE DE APENADO. ASFIXIA.
DANO MORAL. O Estado é responsável pela morte de preso ocorrida no interior de presídio. Presente o dever
de manter a integridade física do detento. A violação do direito da personalidade motiva a reparação do dano
moral. O dano moral deve ser estabelecido com razoabilidade, de modo a servir de lenitivo ao sofrimento da
vítima. No caso, a irmã é a única parente mais próxima do apenado, o qual teria sido vítima de homicídio
dentro da casa prisional. Presente o dever de indenizar. Valor majorado. Apelo da autora provido em parte.
Apelo do Estado não provido. (Apelação Cível Nº 70068614106, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Marcelo Cezar Muller, Julgado em 02/06/2016)

Dessa forma, cabível a responsabilização objetiva do Poder Público com base na omissão específica do
Estado, diante do alegado dever especial de agir para impedir a ocorrência do evento danoso noticiado nos
autos.

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4. DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto, requer-se:

a) a concessão do benefício da gratuidade da justiça, nos termos do art. 98 e 99 do CPC;

b) o PROVIMENTO da presente Apelação, a fim de reformar a decisão do juízo a quo, com a condenação do
apelado ao pagamento de indenização por danos morais.

c) a inversão do ônus da sucumbência.

d) a condenação do apelado ao pagamento de honorários advocatícios à Defensoria Pública.

Nesses termos, pede deferimento.

Local, data.
Defensor(a) Público(a)

#RECAPITULANDO #TABELAAMIGA
FUNDAMENTO ENDEREÇAMENT
CABIMENTO PRAZO PEDIDOS
LEGAL O
Interposição:
-Intimação da parte contrária
para querendo apresentar
contrarrazões;
-Informar que deixa de
recolher o preparo da
Decisão que apelação haja vista o apelante
efetivamente ser beneficiário da justiça
resolve o mérito gratuita;
(art. 487) ou que -Após as formalidades legais,
põe fim ao remessa dos autos ao TJ
processo sem Interposição: - Pedido de retratação, se
julgamento de juízo do primeiro cabível (indeferimento da
mérito (art. Art. 1.009 do CPC grau 15 dias úteis inicial – art. 331 – extinção s/
485). resolução do mérito – art. 485,
Razões: Tribunal §7º - improcedência liminar –
No juizado: art. 332, §3º)
Recurso
Inominado no Razões:
prazo de 10 Tópico sobre a
dias. Tempestividade
Conhecimento e provimento
do recurso para:
Reconhecer a nulidade da
sentença em virtude de... e
remeter ao juízo de 1º grau
para que outra decisão seja

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proferida (error in
procedendo)
Reformar a sentença ... (error
in judicando)
Informar que deixa de
recolher o preparo por ser
beneficiário da justiça gratuita
Pedir efeito suspensivo se a
apelação não tiver.
OBSERVAÇÕES GERAIS
Pedir dispensa do preparo.
Pedir o recebimento no duplo efeito
Não terá efeito suspensivo ope legis (art. 1.012): homologa a divisão ou demarcação de terras; condena a
pagar alimentos; extingue sem resolução de mérito ou julga improcedentes os embargos do executado;
julga procedente o pedido de instituição de arbitragem e confirma, concede ou revoga tutela provisória;
decreta a interdição (mas deve requerer o efeito suspensivo – art. 1.012, §3º e 4º).

G) RECURSO ESPECIAL

Os últimos dois recursos que abordaremos a seguir não possuem tanta incidência em provas para
concursos, mas, como o seguro morreu de velho, achei pertinente abordar: o Recurso Especial e o Recurso
Extraordinário. Vamos dar uma olhada?

Art. 105, CF: Compete ao Superior Tribunal de Justiça:

III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais
Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:

a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;

b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal;

c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.

Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na Constituição Federal, serão
interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do tribunal recorrido, em petições distintas que
conterão:

I - a exposição do fato e do direito;

II - a demonstração do cabimento do recurso interposto;

III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão recorrida.

§ 1o Quando o recurso fundar-se em dissídio jurisprudencial, o recorrente fará a prova da divergência com a
certidão, cópia ou citação do repositório de jurisprudência, oficial ou credenciado, inclusive em mídia
eletrônica, em que houver sido publicado o acórdão divergente, ou ainda com a reprodução de julgado
disponível na rede mundial de computadores, com indicação da respectiva fonte, devendo-se, em qualquer
caso, mencionar as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados.

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§ 3o O Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça poderá desconsiderar vício formal de
recurso tempestivo ou determinar sua correção, desde que não o repute grave.

§ 4o Quando, por ocasião do processamento do incidente de resolução de demandas repetitivas, o presidente


do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça receber requerimento de suspensão de
processos em que se discuta questão federal constitucional ou infraconstitucional, poderá, considerando
razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, estender a suspensão a todo o território
nacional, até ulterior decisão do recurso extraordinário ou do recurso especial a ser interposto.

§ 5o O pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário ou a recurso especial poderá ser
formulado por requerimento dirigido:

I – ao tribunal superior respectivo, no período compreendido entre a publicação da decisão de admissão do


recurso e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-lo;

II - ao relator, se já distribuído o recurso;

III – ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, no período compreendido entre a interposição


do recurso e a publicação da decisão de admissão do recurso, assim como no caso de o recurso ter sido
sobrestado, nos termos do art. 1.037.

#GOLDENTIPS #NOVIDADELEGISLATIVA Art. 105 da CF § 2º No recurso especial, o recorrente deve


demonstrar a relevância das questões de direito federal infraconstitucional discutidas no caso, nos termos
da lei, a fim de que a admissão do recurso seja examinada pelo Tribunal, o qual somente pode dele não
conhecer com base nesse motivo pela manifestação de 2/3 (dois terços) dos membros do órgão competente
para o julgamento. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 125, de 2022)

§ 3º Haverá a relevância de que trata o § 2º deste artigo nos seguintes casos: (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 125, de 2022)

I - ações penais; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 125, de 2022)

II - ações de improbidade administrativa; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 125, de 2022)

III - ações cujo valor da causa ultrapasse 500 (quinhentos) salários mínimos; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 125, de 2022)

IV - ações que possam gerar inelegibilidade; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 125, de 2022)

V - hipóteses em que o acórdão recorrido contrariar jurisprudência dominante do Superior Tribunal de


Justiça; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 125, de 2022)

VI - outras hipóteses previstas em lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 125, de 2022)

Segundo Fernanda Tartuce, o recurso especial (REsp) não busca apenas a rediscussão da matéria
anteriormente decidida (como ocorre com a apelação e o agravo). Com o REsp, busca-se a unidade na

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aplicação do direito federal (infraconstitucional), que deve ser aplicado de forma semelhante por todos os
Tribunais pátrios (o mesmo se passa com o recurso extraordinário – RE – em relação à Constituição). Por essa
razão, tais recursos são chamados recursos excepcionais, ou recursos de direito estrito. Por isso, este
recurso analisa somente matéria de direito, não se atentando para os aspectos fáticos da demanda, já
estabelecidos nos juízos inferiores.7

#DEOLHONASSÚMULAS:
SUMULA 5, STJ: A simples interpretação de cláusula contratual não enseja Recurso Especial.
SUMULA 7, STJ: A pretensão de simples reexame de prova não enseja Recurso Especial.
SUMULA 13, STJ: A divergência entre julgados do mesmo tribunal não enseja Recurso Especial.

Inicialmente, assim como a maioria dos recursos, o RE deve conter uma peça de interposição e
outra com as razões. A peça de interposição do REsp deve ser dirigida, em regra, ao Presidente do Tribunal
em que foi proferida a decisão. Após a qualificação das partes, deve-se requerer a admissão do recurso e o
encaminhamento das razões ao Superior Tribunal de Justiça.

Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na Constituição Federal, serão
interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do tribunal recorrido, em petições distintas que
conterão:

I - a exposição do fato e do direito;

II - a demonstração do cabimento do recurso interposto;

III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão recorrida.

Com relação ao cabimento do REsp, lembrem que tal recurso só é cabível no caso de acórdãos
proferidos por Tribunais (ou seja, as decisões do JEC não dão ensejo ao REsp), em última ou única instância,
que não podem ser atacados por outro recurso (CF, art. 105, III).

O prazo do REsp é de 15 dias, contado em dobro para a Defensoria Pública. Também não podemos
esquecer de justificar na interposição a não realização do preparo por ser beneficiário da justiça gratuita.

Artigo 1003, § 5o Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para responder-
lhes é de 15 (quinze) dias.

#NEVERFORGET: O REsp deve conter o pedido de gratuidade de justiça (reiteração do pedido feito em
instâncias anteriores).

Em regra, o REsp somente possui efeito devolutivo, conforme previsão do artigo 995, NCPC.

Art. 995. Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido
diverso.

Parágrafo único. A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do relator, se da imediata
produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar demonstrada
a probabilidade de provimento do recurso.

7
TARTUCE, Fernanda; DELLORE, Luiz, Manual de Prática Civil - 14ª edição, editora Método, 2018, p. 339-340.
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Contudo, é possível requerer efeito suspensivo no REsp (art. 1.029, §5º). Atentem a quem tal
requerimento deverá ser dirigido, a depender do momento processual:

Artigo 1029, § 5o O pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário ou a recurso especial
poderá ser formulado por requerimento dirigido:

I – ao tribunal superior respectivo, no período compreendido entre a publicação da decisão de admissão do


recurso e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-lo;

II - ao relator, se já distribuído o recurso;

III – ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, no período compreendido entre a interposição


do recurso e a publicação da decisão de admissão do recurso, assim como no caso de o recurso ter sido
sobrestado, nos termos do art. 1.037.

#IMPORTANTE: Lembrar de pedir que, no caso de ser reconhecida a aplicação do regime de


julgamento de casos repetitivos, o recurso seja enviado ao STJ como paradigma (art. 1.036, do NCPC):

Art. 1.036. Sempre que houver multiplicidade de recursos extraordinários ou especiais com fundamento em
idêntica questão de direito, haverá afetação para julgamento de acordo com as disposições desta Subseção,
observado o disposto no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal e no do Superior Tribunal de Justiça.

§ 1o O presidente ou o vice-presidente de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal selecionará 2


(dois) ou mais recursos representativos da controvérsia, que serão encaminhados ao Supremo Tribunal
Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça para fins de afetação, determinando a suspensão do trâmite de
todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitem no Estado ou na região, conforme o
caso.

#ATENÇÃO: Além de comprovar uma das hipóteses de cabimento anteriormente indicadas, deve
existir o prequestionamento. Lembrem que o NCPC aceita o prequestionamento ficto:

Art. 1.025. Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins de pré-
questionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o tribunal
superior considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade.

#MODELODEPEÇA89

EXMO SR DESEMBARGADOR TERCEIRO VICE-PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO


DO RIO DE JANEIRO

Recurso Especial: 0048851-09.2012.8.19.0014

8
Peça obtida no site da DPE-RJ. Disponível em:
ttp://www.defensoria.rj.def.br/uploads/arquivos/7dec795dc07c4325bcbd531d32722836.doc.

9
Não deixem de primar pela melhor técnica e de acordo com o NCPC, dirigindo, conforme os demais modelos de peça
neste material, ao JUÍZO e não ao JUIZ.

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MARIA JOSÉ PEREIRA DE CARVALHO E CENTRO DE ESTUDOS JURÍDICOS DA DEFENSORIA PÚBLICA DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO, por intermédio da Defensora Pública em exercício perante a 22ª Câmara Cível
do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, nos autos do Recurso Especial em epígrafe, em que figura como
Recorrente, e como Recorrido o MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES, inconformados, data venia,
com o r. Acórdão de eJUD 00330, proferido pela Colenda 22ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de
Janeiro, vêm, interpor o presente
RECURSO ESPECIAL

para o EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, com fulcro no artigo 105, inciso III, alínea “a” da
Constituição da República e artigos 1.029 e seguintes do NCPC, pelos fundamentos que passam a expor na
forma de suas RAZÕES em anexo.

Nestes termos,
P.Deferimento.

Rio de Janeiro, 13 de junho de 2016.


Defensor Público

Mat.: 811.561-0
RECURSO ESPECIAL
RECORRENTE: MARIA JOSÉ PEREIRA DE CARVALHO e CEJUR DA DPGE-RJ
RECORRIDO: MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES

RAZÕES DE RECORRENTE
Colendo Superior Tribunal de Justiça,

I- DA TEMPESTIVIDADE DO PRESENTE RECURSO

A expedição da intimação eletrônica para ciência acerca do acórdão ocorreu no dia 02/06/2016 (conforme
se depreende do Portal de Serviços deste Egrégio Tribunal de Justiça – indexador 00604), tendo se efetivado
a intimação pessoal automática no dia 12/06/2016, nos termos do que dispõe o artigo 5º, § 3º da Lei 11.419
de 2006, in verbis:

Art. 5o As intimações serão feitas por meio eletrônico em portal próprio aos que se cadastrarem na forma do
art. 2o desta Lei, dispensando-se a publicação no órgão oficial, inclusive eletrônico.

§ 1o Considerar-se-á realizada a intimação no dia em que o intimando efetivar a consulta eletrônica ao teor
da intimação, certificando-se nos autos a sua realização.

§ 2o Na hipótese do § 1o deste artigo, nos casos em que a consulta se dê em dia não útil, a intimação será
considerada como realizada no primeiro dia útil seguinte.

§ 3o A consulta referida nos §§ 1o e 2o deste artigo deverá ser feita em até 10 (dez) dias corridos contados
da data do envio da intimação, sob pena de considerar-se a intimação automaticamente realizada na data
do término desse prazo.

Assim, é tempestivo o presente recurso, tendo em vista que a Defensora Pública em atuação neste órgão foi
intimada tacitamente, por via eletrônica, do acórdão recorrido em 12/06/2016, domingo, fluindo, a partir do
primeiro dia útil seguinte, o prazo recursal em dobro, ou seja, 13/06/2016.

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II- DA INTIMAÇÃO PESSOAL

Inicialmente requer, no âmbito desta Corte, que de toda e qualquer decisão proferida, seja dada CIÊNCIA
PESSOAL AO DEFENSOR PÚBLICO, assegurando-lhe as prerrogativas elencadas no Artigo 128, inciso I, da Lei
Complementar nº 80/94.

III- SÍNTESE DOS FATOS E DA DEMANDA

Trata-se de ação de obrigação de fazer, através da qual objetiva MARIA JOSÉ PEREIRA DE CARVALHO a
condenação dos réus – Estado do Rio de Janeiro e município de Campos dos Goytacazes a fornecerem os
medicamentos e exames necessários ao seu tratamento de saúde, vez que é portadora de diabetes,
hipertrigliceridemia e infarto agudo do miocárdio.

Através de sentença que consta do indexador 00210, o pedido foi julgado procedente, confirmando-se os
termos da decisão que antecipou os termos da tutela final, sendo os réus condenados ao pagamento de
honorários advocatícios, fixados em R$1.500,00.

Inconformado, o Estado do Rio de Janeiro interpôs recurso de apelação, que foi provido parcialmente para
afastar a sua condenação ao pagamento dos honorários advocatícios e taxa judiciária, reduzindo a
condenação do município de Campos dos Goytacazes ao pagamento de verba honorária para R$440,00,
correspondente a meio salário mínimo nacional.

Interposto Agravo Interno pelo ora Recorrente, combateu-se a deliberação de reduzir do valor recebido pela
Defensoria Pública a título de honorários advocatícios, suscitando a violação dos art. 20, §§ 3º e 4º, CPC, atual
85, §§ 2º e 3º da lei 13.105/2015.

Através do acórdão de fl.s 330/343, o recurso foi desprovido por unanimidade, desafiando a oposição de
embargos de declaração (fls. 367/372), ante a existência de omissão e com a finalidade de
prequestionamento da matéria federal.

Os embargos foram desprovidos por intermédio do acórdão de fls. 379/384.

Assim, alternativa não resta aos Recorrentes senão a interposição do presente Recurso Especial, para ver
assegurada a observância dos artigos infraconstitucionais que patentemente foram violados.

IV- DAS RAZÕES RECURSAIS

I) DO CABIMENTO DO RECURSO ESPECIAL COM RESPALDO NA ALÍNEA “a” DO INCISO III, DO ARTIGO 105
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.

O art. 105, III, a C.R atribui ao Egrégio Superior Tribunal de Justiça julgar, via Recurso Especial, causa decidida
em única ou última instância, que contrarie tratado ou lei federal, ou que lhes negue vigência.

No caso sob exame foi efetivamente o que ocorreu, pois o v. acórdão hostilizado, ao rejeitar o agravo interno
interposto, acabou por infringir o art. 85, §§ 2º e 3º do CPC/2015, como demonstrar-se-á a seguir.

No mais, a matéria possui relevância, nos termos do art. 105, §2°, da CF, haja vista (...)

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Dessa forma, perfeitamente cabível o Recurso Especial, conforme preceitua o art. 105, inciso III, alínea “a”
da Carta Magna.

V- DO PREQUESTIONAMENTO

O que se entende por prequestionamento é objeto de grande divergência doutrinária e jurisprudencial.


Existem aqueles que, como Theotonio Negrão, entendem que se trata do ato da parte de trazer ao debate a
matéria constitucional ou federal, sendo desimportante que o órgão jurisdicional a quem tenha sido dirigida
tal manifestação tenha se pronunciado sobre o assunto; os que sustentam a necessidade de pronunciamento
judicial sobre o assunto; e, ainda, a corrente eclética que conjuga os aspectos dos posicionamentos
anteriores.

Compulsando-se os presentes autos, é possível concluir que as violações à legislação federal aduzidas neste
recurso foram devidamente prequestionadas, conforme se depreende, em especial das razões dos embargos
de declaração, de cujos termos se extraem a explícita indicação do artigo 20, §§ 3º e 4º CPC.

Nesse sentido, convém ressaltar que, reiteradas vezes, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a finalidade
de prequestionamento dos Embargos Declaratórios. Tal entendimento, perfeitamente aplicável ao recurso
especial, se pode apreender da interpretação a contrario sensu da Súmula 356 do STF, in verbis:

Súmula 356 do STF “O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios,
não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento”.

Ainda que assim não se entenda, a jurisprudência do STJ tem admitido o prequestionamento implícito, de
forma que, apesar dos dispositivos tidos por violados eventualmente não constarem do acórdão recorrido,
se a matéria controvertida foi debatida e apreciada no Tribunal de origem à luz da legislação federal
pertinente, tem-se como preenchido o requisito da admissibilidade. Nesse sentido:

“Para o atendimento do requisito do prequestionamento, é desnecessário que o acórdão recorrido mencione


expressamente os preceitos legais tidos como contrariados nas razões do Recurso Especial, sendo suficiente
que a questão federal tenha sido apreciada pelo Tribunal local.” (AgRg no REsp 1092919 de 23/02/2011).

Outrossim, o art. 85, §§ 2º e 3º do CPC/2015 passou a regular a matéria, cuja aplicabilidade é imediata, tendo
sido mencionado expressamente nos embargos de declaração.

Destarte, o requisito do prequestionamento está plenamente atendido, pelo que, inaplicável o enunciado
sumular 211 do STJ.

VI- DO AFASTAMENTO DA SÚMULA 07 DO STJ

Por outro lado, antes de adentrar-se ao mérito recursal, há que se salientar a inaplicabilidade da Súmula 07
deste Egrégio STJ, no tocante à alegação de ofensa ao artigo supracitado, uma vez que a matéria é de índole
processual (fixação de honorários em valor ínfimo).

De fato, a jurisprudência desta Corte tem admitido a revisão dos valores fixados a título de honorários
advocatícios, afastando a incidência do enunciado sumular 7/STJ, quando sejam os mesmos módicos ou
exorbitantes.

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Esta é exatamente a hipótese dos autos, uma vez que os honorários foram fixados em valor ínfimo, de modo
que afastado está o óbice da mencionada súmula.

Por outro lado, os honorários fixados inobservaram a nova ordem processual, consubstanciada no artigo 85,
§§ 2º e 3º, CPC, configurando expressa violação de lei, para o que não se faz necessário o exame de fatos e
provas, bastando o confronto da lei com a verba fixada a título de honorários advocatícios e o valor da causa.

VII- DA CONTRARIEDADE À LEI FEDERAL

A) DA VIOLAÇÃO DO ARTIGO 20, §§ 3º e 4º DO CPC/73.

O tribunal local reformou a r. Sentença, em reexame necessário, para diminuir o quantum arbitrado a título
de honorários advocatícios para R$ 440,00 (trezentos e noventa reais), valor este que se revela módico e não
atende ao disposto ao art. 20, § 4º, do CPC.

Ao minorar o valor fixado a título de honorários advocatícios, o órgão colegiado declarou que o valor estava
em desconformidade com o enunciado nº 182 da súmula do Tribunal de Justiça Fluminense ( nas ações que
versem sobre a prestação unificada de saúde, a verba honorária arbitrada em favor do Centro de Estudos
Jurídicos da Defensoria Pública não deve exceder ao valor correspondente a meio salário mínimo nacional),
desconsiderando por completo os requisitos insertos no art. 20, §§ 3º e 4º, CPC.

De fato, a súmula nº 182 da jurisprudência do Egrégio Tribunal de Justiça fluminense, ao fixar como teto
máximo da verba honorária arbitrada em favor do CEJUR da DPGE, a quantia equivalente a meio salário
mínimo, contraria e nega vigência às disposições legais contidas nos parágrafos 3º e 4º do art. 20 do Código
de Processo Civil que estabelecem para as ações em que for vencida a Fazenda Pública, que os honorários
advocatícios serão fixados em consonância com o grau de zelo do profissional, o lugar de prestação do
serviço, a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu
serviço.

Não há qualquer tabelamento ou limite prefixado nos parágrafos 3º e 4º do art. 20 do CPC. A fixação deve
atender ao critério subjetivo do magistrado, caso a caso e não deve ser módica, data vênia, pena de
menosprezo da atividade defensória.

Certo que são repetitivas as demandas envolvendo a obrigação de fazer consistente na entrega de
medicamentos para as pessoas carentes. No entanto, cuida-se de lides extremamente relevantes sob o
prisma valorativo. É direito fundamental de máxima importância que está em jogo, o direito à saúde e à
própria vida.

Não se pode ignorar que esses recursos financeiros, destinados, exclusivamente, ao aparelhamento da
Defensoria Pública e a capacitação profissional de seus membros e servidores são indispensáveis à
estruturação da Defensoria no Brasil, onde se estima que 14 dentre seus 27 Estados apresentam rendimento
domiciliar per capita inferior ao salário mínimo10, sendo compostos, portanto, em sua maioria, por cidadãos
potencialmente necessitados dos serviços público de acesso à justiça.

As responsabilidades da Defensoria Pública estão no caminho ascendente na normatização Constitucional, o


que foi notado por Barbosa Moreira, que, então, lecionou: “Ela (a Defensoria Pública) é essencial não apenas

10
Disponível em: http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/salta-numero-de-acoes-movidas-por-pacientes-contra-
governos-para-obter-tratamentos-17350029. Data de acesso: 14/09/2015.
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à justiça, mas a algo que transcende o próprio serviço da justiça, que é a promoção social do povo brasileiro.
”11
Entretanto, o alargamento das suas funções e a centralidade que passou a ocupar no novo ordenamento
constitucional não foram, ainda, acompanhados pelo correspondente e necessário avanço orçamentário.

Registre-se a propósito que até o ano de 2008 quase 60% das Defensorias estaduais não receberam o repasse
das cotas mensais destinadas ao seu orçamento e que o percentual de comarcas atendidas pela instituição
em todo o país era inferior a 50%.12 Até 2013 apenas 59,5% de todos os cargos de defensores existentes no
país estavam providos e, inacreditavelmente, nenhum concurso para Defensor Público ainda havia sido
realizado no estado da Paraíba13. No âmbito da DPU, pesquisa realizada em 2014 demonstra que a instituição
possui uma defasagem de 66% no quadro de seus defensores públicos e abrange a demanda de apenas 58%
dos municípios brasileiros.14

O problema orçamentário da Defensoria Pública é ainda mais flagrante quando comparado com os números
do Poder Judiciário e do Ministério Público, seja no âmbito da União ou dos Estados. A lei orçamentária da
União em 201515 prevê para a Justiça Federal verba superior a dez bilhões de reais; para o Ministério Público
da União dotação superior a cinco bilhões; enquanto serão destinados à Defensoria Pública da União apenas
530 milhões. Também é assim nos Estados, como exemplificativamente, se constata nos dois com maior PIB.

Em São Paulo, a lei orçamentaria de 201516 destina ao Judiciário estadual verba superior a 9 bilhões de reais;
ao Ministério Público quantia superior a 1 bilhão e 800 milhões de reais; mas para a Defensoria Pública
quantia inferior a 750 milhões de reais. No Rio de Janeiro, enquanto o Judiciário estadual irá receber quantia
superior a 4 bilhões de reais e o Ministério Público dotação maior do que 1 bilhão e 300 milhões, a Defensoria
Pública terá dotação orçamentaria inferior a 600 milhões.17

Dessa forma, uma verba advocatícia de apenas R$440,00 mostra-se, data maxima venia, absolutamente
irrisória, diante da gravidade dos valores em jogo.

Aduza-se que demandas como a presente costumam gerar uma grande carga de trabalho para a Defensoria,
por conta do comportamento recalcitrante dos órgãos públicos, forçando inúmeros requerimentos, ao longo
dos processos propostos, de medidas subrogatórias e coercitivas para garantir a efetividade do provimento
judicial.

11
MOREIRA, José Carlos Barbosa. O Direito à assistência jurídica. Revista de Direito do Estado do Rio de Janeiro. V. 4, n.
5, 1991.Pp. 122-137.
12
Diagnóstico da Defensoria Pública no Brasil. Disponível em:
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/repositorio/0/III%20Diagn%C3%B3stico%20Defensoria%20P%C3%BAblica%2
0no%20Brasil.pdf. Data de acesso: 13/09/2015.
13
Mapa da Defensoria Pública no Brasil. Disponível em:
https://www.anadep.org.br/wtksite/mapa_da_defensoria_publica_no_brasil_impresso_.pdf . Data de acesso:
13/09/2015.
14
Um panorama da atuação da Defensoria Pública da União. Disponível em: http://s.conjur.com.br/dl/guia-dpu-
nacional.pdf . Data de acesso: 15/09/2015.
15
BRASIL. Lei nº 13.115, anexo II, de 20 de abril de 2015. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/atividade-
legislativa/orcamentobrasil/loa/loa-2015/lei-orcamentaria-anual-para-2015/loa2015. Data de acesso: 29/09/2015.
16
SÃO PAULO (Estado). Lei nº 15.646, de 23 de dezembro de 2014. Disponível em:
http://www.al.sp.gov.br/norma/?id=173890. Data de acesso: 29/09/2015.
17
RIO DE JANEIRO (Estado). Lei nº 6.955, de 13 de janeiro de 2015. Disponível em:
http://www.rj.gov.br/web/seplag/exibeconteudo?article-id=186183. Data de acesso: 29/09/2015.
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Ciclos Método
Não obstante, o Colegiado sem atentar para os parâmetros estabelecidos no artigo 20 § 4º do CPC que
orientam o julgador no momento da fixação do valor dos honorários sucumbenciais, limitou-se, à guisa de
fundamentação, a aplicar as recorrentes decisões do Tribunal Local em que toma por base a orientação de
fixar no máximo em meio salário mínimo a verba honorária devida pelos entes públicos municipais ao Centro
de Estudos Jurídicos da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro.

A posição adotada nega, portanto, vigência ao referido dispositivo haja vista que ignorou, por completo, o
grau de zelo do profissional, o lugar de prestação do serviço, a natureza e importância da causa, o trabalho
realizado pelo defensor público e o tempo exigido para o seu serviço.

Desta maneira, o Colegiado deixou de observar os requisitos insertos nas alíneas a, b e c do § 3º do art. 20,
CPC, em evidente menosprezo ao trabalho exercido pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro na
defesa e garantia do tratamento da saúde da população carente do Estado do Rio de Janeiro, agravada com
o ônus de buscar a sua proteção e efetivação por intermédio da propositura de elevado número de ações
judiciais.

Consequentemente, o exame do pleito de majoração dos honorários advocatícios sucumbenciais postulado


pela Recorrente em face do ente público municipal deve atentar para os parâmetros estabelecidos no artigo
20 §§ 3° e 4° do CPC, o que não ocorreu no caso em tela.

É evidente que não há equidade, muito menos razoabilidade, na fixação de verba advocatícia tão reduzida,
que positivamente não é compatível com o trabalho desenvolvido pela Defensoria Pública, sendo certo
afirmar-se que o valor fixado pelo juízo a quo revela-se condizente com os requisitos estabelecidos nos
parágrafos do dispositivo indicado como violado.

Tal entendimento é corroborado pela jurisprudência do colendo STJ. Confiram-se julgados recentes:

“PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. REVISÃO. VALOR NOTORIAMENTE


IRRISÓRIO. POSSIBILIDADE. 1. Em princípio, descabe ao STJ revisar valores de sucumbência fixados nas
instâncias ordinárias, tendo em conta serem eles arbitrados em consideração àquilo que se desenvolveu no
processo e por intermédio de juízos de equidade, circunstâncias que não podem ser reavaliadas nesta Corte,
nos termos da Súmula n.º 7/STJ. 2. Entretanto, em situações excepcionalíssimas, o STJ tem afastado o rigor
do enunciado da Súmula n.º 7 para exercer juízo de valor sobre o quantum fixado a título de honorários
advocatícios, com vistas a decidir se são eles irrisórios ou exorbitantes. 3. Hipótese em que o Tribunal, em
ação de conhecimento relacionada a fornecimento de medicamento, fixou os honorários em apenas R$
200,00 (duzentos reais), o que enseja a elevação do seu valor. 4. Recurso especial provido. (REsp 1.363.090,
rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, julgamento unânime em 20/06/13).”
“PROCESSUAL CIVIL. HONORÁRIOS. VALOR IRRISÓRIO. MAJORAÇÃO. 1. Hipótese em que o Tribunal a quo
concluiu que o direito à educação infantil constitui direito fundamental social, que deve ser assegurado pelo
município, garantindo-se o atendimento em creche ou pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade.
2. Aquela Corte reduziu o valor dos honorários advocatícios da Defensoria Pública para R$ 100,00 (cem reais).
3. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem entendido que rever o posicionamento exarado pelo
Tribunal de origem quanto à questão dos honorários esbarra no óbice da Súmula 7/STJ. Em hipóteses
excepcionais, quando manifestamente evidenciado que o arbitramento da verba honorária se fez de modo
irrisório ou excessivo, o STJ tem entendido cuidar-se de questão de direito, e não de matéria fática. Não incide,
portanto, a Súmula 07/STJ. 4. Recurso Especial provido. (REsp 1.355.694, rel. Min. Herman Benjamin, Segunda
Turma, julgamento unânime em 05/03/13).”

OBS: no caso os honorários da Defensoria foram majorados para R$ 3.000,00.

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“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. VERBA
HONORÁRIA MAJORADA PARA SE ADEQUAR ÀS CARACTERÍSTICAS DA DEMANDA (R$ 1.000,00).
CONDENAÇÃO DO MUNICÍPIO AO PAGAMENTO DE HONORÁRIOS À DEFENSORIA PÚBLICA ESTADUAL.
CABIMENTO. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. Firmou-se a orientação, nesta Corte Superior, de que a
revisão dos honorários advocatícios fixados pelas instâncias ordinárias somente é admissível em situações
excepcionais, quando o valor revelar-se manifestamente irrisório ou excessivo. Constatada a irrisoriedade ou
a excessividade, é possível o julgamento do Recurso Especial pelo Relator, nos termos do art. 544, § 4o., II, c,
ou do art 557, § 1o.-A, ambos do CPC. 2. In casu, o valor estabelecido pela Corte a quo (R$ 275,00) mostrou-
se desarrazoado em face do trabalho profissional advocatício efetivamente prestado, inapto a refletir o nível
de responsabilidade do advogado, motivo pelo qual foi majorado para a quantia de R$ 1.000,00. 3. No
julgamento do Recurso Especial 1.108.013/RJ, submetido à sistemática prevista no art. 543-C do CPC,
entendeu esta Corte Superior de Justiça que são devidos honorários advocatícios à Defensoria Pública quando
a atuação se dá em face de ente federativo diverso do qual é parte integrante (Rel. Min. ELIANA CALMON,
DJe 22.6.2009). Cabível, portanto, a condenação do Município de Nova Iguaçu ao pagamento da verba
honorária à Defensoria do Estado do Rio de Janeiro. 4. Agravo Regimental do Município de Nova Iguaçu
desprovido. (AgRg no AREsp 229.274, rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, julgamento
unânime em 18/12/12)”

Não há dúvida nenhuma de que está caracterizada a agressão ao art. 20, §§ 3º e 4º, do CPC, motivo pelo qual
merece ser conhecido e provido o presente recurso especial.

B) DA VIOLAÇÃO AO ART. 85, §§ 2º E 3º DO CPC/2015.

Outrossim, imperioso destacar a redação do artigo 85, §§ 2º e 3º do novo CPC – lei 13.105/2015, que
estabelece que os honorários advocatícios deverão ser fixados sobre o valor da condenação, do proveito
econômico obtido ou, não sendo possível, sobre o valor atualizado da causa, observados os requisitos já
mencionados no antigo código, reproduzidos no § 2º.

Em sendo a Fazenda Pública parte, os honorários igualmente devem observar os critérios estabelecidos no §
2º, sendo o percentual mínimo, em ações cujo valor da causa, ou proveito econômico alcance até 200
salários mínimos (hipótese dos autos), correspondente a 10%.

Vale transcrever a redação do art. 85 do novo CPC, in verbis:

Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.

§ 1o São devidos honorários advocatícios na reconvenção, no cumprimento de sentença, provisório ou


definitivo, na execução, resistida ou não, e nos recursos interpostos, cumulativamente.

§ 2o Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da
condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado
da causa, atendidos:

I - o grau de zelo do profissional;

II - o lugar de prestação do serviço;

III - a natureza e a importância da causa;

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IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.

§ 3o Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários observará os critérios
estabelecidos nos incisos I a IV do § 2o e os seguintes percentuais:

I - mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico
obtido até 200 (duzentos) salários-mínimos;

II - mínimo de oito e máximo de dez por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido
acima de 200 (duzentos) salários-mínimos até 2.000 (dois mil) salários-mínimos;

III - mínimo de cinco e máximo de oito por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico
obtido acima de 2.000 (dois mil) salários-mínimos até 20.000 (vinte mil) salários-mínimos;

IV - mínimo de três e máximo de cinco por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico
obtido acima de 20.000 (vinte mil) salários-mínimos até 100.000 (cem mil) salários-mínimos;

V - mínimo de um e máximo de três por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido
acima de 100.000 (cem mil) salários-mínimos.

Como se vê, o valor fixado na r. sentença, R$1.500,00, equivalente a 15% sobre o valor da causa
(R$10.000,00), está em consonância com o novo ordenamento processual civil, revestindo-se de critérios
de razoabilidade e proporcionalidade, pelo que, deve ser restabelecido.

Outrossim, o valor fixado na decisão monocrática, ratificada pelo acórdão embargado - a pretexto de
observar entendimento sumulado, que limita o valor da verba a meio salário mínimo - contraria
expressamente o novo texto de lei processual, equivalendo a menos de 5% do valor da causa e revela-se
irrisório, sendo incompatível com o trabalho desenvolvido pela Defensoria Pública.

Não se pode olvidar que as normas processuais têm aplicabilidade imediata, inclusive em relação aos
processos pendentes, nos termos do que dispõe o art. 1046, CPC.

Destarte, fica evidente a violação pelo acórdão recorrido, do art. 85, §§ 2º e 3º, CPC, pois ao julgar os
embargos de declaração opostos pelo recorrente – já na vigência da nova ordem processual -, entendeu por
manter a decisão que aplicou súmula do TJRJ, absolutamente contrária à novel ordem processual e portanto,
superada.

VIII- DO PEDIDO

Diante do exposto, uma vez presentes os pressupostos infraconstitucionais, regimentais e jurisprudenciais


para o cabimento deste Recurso Especial, requerem que seja o mesmo CONHECIDO, ADMITIDO E PROVIDO
para que seja majorada a verba honorária a ser destinada ao Centro de Estudos Jurídicos – CEJUR da
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, restabelecendo-se o quantum fixado na r. sentença,
compatível com a nova ordem processual civil.
Rio de Janeiro, 13 de junho de 2016.

Defensor Público
Cidade, data

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#RECAPITULANDO #TABELAAMIGA
FUNDAMENTO ENDEREÇAMENT
CABIMENTO PRAZO PEDIDOS
LEGAL O
Interposição:
recebimento, intimação
do recorrido para
Art. 105. Compete ao STJ: contrarrazoar e após o
III - julgar, em recurso encaminhamento para o
especial, as causas STJ.
decididas, em única ou
última instância, pelos TRF Razões: conhecimento e
ou pelos TJ, quando a provimento para que seja
Interposição:
decisão recorrida: 15 dias anulado/ reformado o
Art. 105, III, a, b Presidente do
a) contrariar tratado ou lei úteis acórdão...
ou c, CF/88 e TJ/TRF
federal, ou negar-lhes (interpo
1.029 e seguintes
vigência; sição + Tópico sobre cabimento,
do CPC. Razões: STJ
b) julgar válido ato de razões) tempestividade e
(Turma)
governo local contestado prequestionamento
em face de lei federal; (possibilidade de
c) der a lei federal prequestionamento ficto
interpretação divergente – art. 1.025 CPC).
da que lhe haja atribuído
outro tribunal. Se for pela alínea c,
cotejar minunciosamente
a decisão recorrida com o
acórdão paradigma.
OBSERVAÇÕES GERAIS
Na interposição justificar a não realização do preparo por ser beneficiário da justiça gratuita.
Prequestionamento.
Pedir efeito suspensivo (art. 1.029, §5º CPC)
Informar que interpôs simultaneamente recurso extraordinário (Súmula 283 do STF)
Pedir que no caso de ser reconhecida a aplicação do regime de julgamento dos casos repetitivos, o recurso
seja enviado ao STJ como paradigma (art. 1.036 CPC)
Obs: não cabe no rito do juizado especial

H) RECURSO EXTRAORDINÁRIO

Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:

III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a
decisão recorrida:

a) contrariar dispositivo desta Constituição;

b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;

c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.

d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.

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Ciclos Método
Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na Constituição Federal, serão
interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do tribunal recorrido, em petições distintas que
conterão:

I - a exposição do fato e do direito;

II - a demonstração do cabimento do recurso interposto;

III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão recorrida.

§ 1o Quando o recurso fundar-se em dissídio jurisprudencial, o recorrente fará a prova da divergência com a
certidão, cópia ou citação do repositório de jurisprudência, oficial ou credenciado, inclusive em mídia
eletrônica, em que houver sido publicado o acórdão divergente, ou ainda com a reprodução de julgado
disponível na rede mundial de computadores, com indicação da respectiva fonte, devendo-se, em qualquer
caso, mencionar as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados.

§ 3o O Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça poderá desconsiderar vício formal de
recurso tempestivo ou determinar sua correção, desde que não o repute grave.

§ 4o Quando, por ocasião do processamento do incidente de resolução de demandas repetitivas, o presidente


do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça receber requerimento de suspensão de
processos em que se discuta questão federal constitucional ou infraconstitucional, poderá, considerando
razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, estender a suspensão a todo o território
nacional, até ulterior decisão do recurso extraordinário ou do recurso especial a ser interposto.

§ 5o O pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário ou a recurso especial poderá ser
formulado por requerimento dirigido:

I – ao tribunal superior respectivo, no período compreendido entre a publicação da decisão de admissão do


recurso e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-lo;

II - ao relator, se já distribuído o recurso;

III – ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, no período compreendido entre a interposição


do recurso e a publicação da decisão de admissão do recurso, assim como no caso de o recurso ter sido
sobrestado, nos termos do art. 1.037.

Conforme ensinamento de Tartuce, o RE, de forma similar ao REsp, tem por objetivo não a simples
rediscussão da matéria objeto do recurso (como no caso da apelação e dos demais recursos, ditos ordinários).
Neste recurso, a finalidade é a observância – e unidade na aplicação – dos ditames constitucionais por
todos os Tribunais pátrios. É um recurso de estrito direito, portanto. Com o RE, o STF busca zelar pela
supremacia da Constituição em todo o território nacional. Portanto, somente o STF julga o RE (CF, art. 102,
III).18

Com relação ao cabimento do RE, são passíveis de serem atacadas por tal recurso as causas
decididas em única ou última instância. Observem que o RE não repete a menção do REsp a “Tribunais”,
de forma que é cabível RE para atacar decisões de turmas recursais de Juizados.

18
TARTUCE, Fernanda; DELLORE, Luiz, Manual de Prática Civil - 14ª edição, editora Método, 2018, p. 350-351.
70
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Ciclos Método
O RE deve versar sobre alguma matéria constitucional e deve ficar demonstrada a violação a uma
norma constitucional. Assim, indiquem sempre o fundamento com base no inciso III, do art. 102, da CF e
demonstrem qual dispositivo foi violado.

Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:

III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a
decisão recorrida:

a) contrariar dispositivo desta Constituição;

b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;

c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.

d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.

Assim como o REsp, o RE é interposto na origem (juízo a quo) e julgado no STF, dessa forma, a peça
de interposição também é endereçada ao Presidente do Tribunal a quo e as razões são direcionadas ao
Supremo Tribunal Federal.

O prazo do RE também é de 15 dias, contado em dobro para a Defensoria Pública. Lembrem,


ademais, de justificar na interposição a não realização do preparo por ser beneficiário da justiça gratuita.

Artigo 1.003, § 5o Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para responder-
lhes é de 15 (quinze) dias.

#NEVERFORGET: O RE deve conter o pedido gratuidade de justiça (reiteração do pedido feito em instâncias
anteriores).

Com relação ao prequestionamento, à aplicação do regime de julgamento de casos repetitivos e


ao pedido de efeito suspensivo, valem as mesmas observações feitas anteriormente para o REsp.

#IMPORTANTE: Há um requisito específico do RE: a demonstração da REPERCUSSÃO GERAL das


questões constitucionais (art. 102, §3º, da CF e art. 1.035, §2º, do NCPC). Para isso, é suficiente apontar, em
preliminar do RE, que o caso se adequa a uma das situações abaixo:

Art. 1.035. O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do recurso extraordinário
quando a questão constitucional nele versada não tiver repercussão geral, nos termos deste artigo.

§ 1o Para efeito de repercussão geral, será considerada a existência ou não de questões relevantes do ponto
de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem os interesses subjetivos do processo.

§ 2o O recorrente deverá demonstrar a existência de repercussão geral para apreciação exclusiva pelo
Supremo Tribunal Federal.

§ 3o Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar acórdão que:

I - contrarie súmula ou jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal;

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Ciclos Método
III - tenha reconhecido a inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal, nos termos do art. 97 da
Constituição Federal.

#MODELODEPEÇA19

EXMO. SR. DR. DESEMBARGADOR 3º VICE-PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE


JANEIRO
Ref:

A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, (...) com fundamento no artigo 102, III, “a”, da
Constituição Federal, vem interpor
RECURSO EXTRAORDINÁRIO
diante das razões anexas, requerendo seja o mesmo remetido à apreciação do Egrégio Supremo Tribunal
Federal e, ao final, provido.

DA TEMPESTIVIDADE:
Conforme o disposto no artigo 5º, parágrafo 5º, da Lei 1.060/50 e no artigo 128, inciso I, da Lei Complementar
no. 80/94, são pessoais as intimações dos Defensores Públicos, assim como também se lhes contam em
dobro todos os prazos processuais.

No presente caso a intimação da Defensoria Pública ocorreu no (...), de maneira que a interposição do
Recurso é Tempestiva.

DA PRETENSÃO RECURSAL:
Presentes os requisitos objetivos e subjetivos do Recurso Extraordinário, espera-se, pelas razões antes
expendidas, seja ele conhecido e provido em reconhecimento da vulneração do art. 134, caput, e parágrafos
2º e 4º da Constituição, garantindo-se à Defensoria Pública o acesso aos honorários sucumbenciais devidos
pelo Estado.
E. Deferimento.
(Local, data)

Recorrente: DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


Recorrido: ESTADO DO RIO DE JANEIRO

EXMO. MINISTRO RELATOR


EXCMOS. MINISTROS DO EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
RAZÕES DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO

I – SÍNTESE:

(...)

II – DO CABIMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO:

O Acórdão local decidiu, em última instância, pelo descabimento de condenação do Estado ao pagamento
de honorários sucumbenciais à Defensoria Pública, contrariando, assim, o art. 134, caput e parágrafos 2º e
4º da Constituição Federal.

19
Peça adaptada a partir de recurso extraordinário obtido no site da DPE-RJ. Disponível em:
http://www.defensoria.rj.def.br/uploads/arquivos/3e15e0e0e36f42f18b7438932f4965a1.docx
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Desse modo, é cabível o presente Recurso Extraordinário, com arrimo no art. 102, III, “a” da Carta
Republicana, para postular a reforma do julgado.

III - PRELIMINAR DE REPERCUSSÃO GERAL:

O registro inicial é de que a questão constitucional aqui tratada ostenta repercussão geral, pois é relevante
do ponto de vista econômico, político, social e jurídico e ultrapassa os interesses subjetivos das partes.
Preenche, sob essa análise, o requisito estabelecido no art. 102, §3º, CF e art. 1.035 do CPC.

É oportuno reconhecer que a repercussão geral desta matéria foi objetada pelo STF no julgamento do RE
592.730, da relatoria do Ministro Menezes Direito, em julgamento de 06.11.2008, assim ementado:

“DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DEFENSORIA PÚBLICA REPRESENTANDO LITIGANTE VENCEDOR EM DEMANDA


AJUIZADA CONTRA O PRÓPRIO ESTADO AO QUAL O REFERIDO ÓRGÃO ESTÁ VINCULADO. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. CONDENAÇÃO INCABÍVEL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.”
A despeito disso, já se passaram vários anos daquele julgamento e a ele sobrevieram as Emendas
Constitucionais de n. 74/2013 e 80/2014, que robusteceram a relevância da controvérsia. A revisitação
jurisprudencial do STF, que é possível20, tornou-se recomendável, como, inclusive, anunciou o Eminente Min.
Roberto Barroso no recente julgamento da liminar da Reclamação n. 20.628, que trata da mesma matéria:
(...)
“Embora o afastamento do art. 4º, XXI, da LC nº 80/1994 pareça não ter se baseado na Constituição, isto não
significa que a discussão não tenha caráter constitucional, ou que não haja argumentos constitucionais
invocáveis pela parte recorrente para reverter a decisão.
A matéria discutida no feito que deu origem à presente reclamação já foi objeto de apreciação pelo Supremo
Tribunal Federal em recurso extraordinário, ao qual foi negada repercussão geral, por acórdão assim
ementado pelo saudoso Min. Menezes Direito (RE 592.730):
(...)
No caso, julgado em 06.11.2008, foi reconhecido o caráter constitucional da controvérsia, embora se tenha
negado sua relevância jurídica, econômica, social e política, como exposto pelo eminente relator:(destaque
no original)
(...)
Embora se tenha reconhecido o caráter constitucional da controvérsia, o quadro acima descrito tem
impedido a subida de novos recursos extraordinários sobre o tema, de forma condizente com a lógica de
uma manifestação negativa quanto à repercussão geral. Ocorre que o próprio CPC prevê a possibilidade de
revisão da tese, a fim de não engessar a jurisprudência à vista de novas necessidades ou de uma mudança
de perspectiva com o passar do tempo. Dispõe o Código:
(...)
Depois do julgamento do RE 592.730, em 06.11.2008, o papel institucional da Defensoria Pública e sua
autonomia funcional, administrativa e orçamentária foram reforçados pelas Emendas Constitucionais nº
74/2013 e 80/2014. Consideradas todas as alterações, a redação do art. 134 da Constituição hoje em vigor é
a seguinte:
(...)
Esse novo quadro permite uma atuação de maior destaque da Defensoria, inclusive contra entes públicos, e
notadamente em ações coletivas, como assentado em recente julgamento desta Corte na ADI 3.943, Rel.
Min. Cármen Lúcia, j. 07.05.2015 (acórdão não publicado).
(...)

20
DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro. Curso de Direito Processual Civil: volume 3. 7ª ed. Bahia: Jus
Podvim, 2009. Pp. 334-335.
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Eventual revisão da jurisprudência da Corte em sede de reclamação não é novidade neste Tribunal, haja vista
o julgamento da Rcl 4.374, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 18.04.2013, em que foram revistas as conclusões
alcançadas na ADI 1.232, em 17.08.1998. Naquele feito, consignou-se que a reclamação pode servir como
“instrumento de (re)interpretação da decisão proferida em controle de constitucionalidade abstrato. (…) Com
base na alegação de afronta a determinada decisão do STF, o Tribunal poderá reapreciar e redefinir o
conteúdo e o alcance de sua própria decisão. E, inclusive, poderá ir além, superando total ou parcialmente a
decisão parâmetro da reclamação, se entender que, em virtude de evolução hermenêutica, tal decisão não
se coaduna mais com a interpretação atual da Constituição.””

E depois de expor, decidiu que:

“Assim, para permitir o debate sobre eventual revisão da tese, determino à Presidência do TRF da 1ª Região
que, por ora, não inadmita o recurso extraordinário interposto pela parte reclamante no processo de
origem (nº 0036974-16.2010.4.01.3300), desde que não haja óbice diverso da negativa de repercussão
geral do tema no RE 592.730.” (destaque no original).

De fato, a questão é de relevo. Do ponto de vista político e econômico transborda aos interesses exclusivos
da recorrente porque afeta todas as Defensorias Públicas do país e a da União, além de todos os Estados da
Federação e, também, a própria União. Atinge, assim, a organização administrativa e orçamentária de todos
esses entes, o que é complexo e importante, a um só tempo e não se restringe em um debate local.

Agregue-se que o alcance das Defensorias Públicas à população brasileira está estimado em 142 milhões de
brasileiros21, o que aponta a sobrelevada importância social que suas fontes de financiamento previstas na
Constituição e na Lei representam.

Do ponto de vista jurídico, interessa a todos a perfeita compreensão sobre o significado concreto e correto
da autonomia administrativa, funcional e orçamentária outorgada pelo texto Constitucional a uma
instituição. A propósito, essa questão também ultrapassa os interesses exclusivos da Defensoria Pública e
encontra ressonância em outras instituições dotadas das mesmas garantias, como o Ministério Público e o
Poder Judiciário.

Por fim, também importa reconhecer que o tratamento orçamentário conferido às Defensorias Públicas é
absolutamente desprestigioso quando comparado com o do Ministério Público e o do Poder Judiciário, muito
embora as arquiteturas institucionais estabelecidas na Constituição sejam semelhantes. Este tema, pela
importância, será aprofundado mais adiante na defesa de mérito, mas não é dispensado para a análise e o
reconhecimento da repercussão geral.

É manifesto, portanto, o interesse maior traduzido na questão, o que deve ser reconhecido pelo STF em
revisão de jurisprudência.

IV – DA VIOLAÇÃO DIRETA AO TEXTO CONSTITUCIONAL

A matéria em exame atinge diretamente o texto Constitucional, especialmente em seu artigo 134, §§ 2º e
4º, porque se desenvolve sobre a compreensão da independência administrativa, funcional e orçamentária
da Defensoria Pública em relação ao seu ente federativo de origem, o que é tratado expressamente no texto
maior.

21
Uma Panorama da Atuação da Defensoria Pública da União. Disponível em: http://s.conjur.com.br/dl/guia-dpu-
nacional.pdf. Data de acesso: 15/09/2015.
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A rejeição de acesso da Defensoria Pública aos honorários sucumbenciais devidos pelo Estado se dá a par da
aplicação da súmula 421 do STJ. Essa fundamentação se explica no instituto da confusão, previsto no art. 381
do C. Civ, e tem como premissa o entendimento de que a Defensoria é órgão público dependente do Estado
de sua origem.

Sucede que após as mutações determinadas pelas Emendas 45/2004, 74/2013 e 80/2014, a Constituição
passou a firmar expressamente a independência institucional da Defensoria Pública, reconhecendo, como
princípio, seu autogoverno administrativo, funcional e orçamentário. E o entendimento sobre a existência de
confusão patrimonial deixou de se harmonizar com o novo cenário positivado na Carta republicana.

Sob essa perspectiva, interpretar se a fonte de custeio “honorários sucumbenciais” da Defensoria Pública
pode ser arrecadada do próprio ente federativo do qual se origina é questão que desafia compreensão direta
da norma Constitucional, o que garante a admissão do apelo nobre quanto a este requisito.

V - DO PREQUESTIONAMENTO E DA MATÉRIA EXCLUSIVAMENTE DE DIREITO:

(...)

Atendendo ao requisito próprio do recurso extraordinário é preciso registrar que a matéria foi devidamente
prequestionada, porque debatida no acórdão recorrido da seguinte forma:

(...)

Da mesma maneira, este apelo extremo pleiteia reversão do julgado local propondo nova compreensão da
matéria apenas no seu campo jurídico, sem demandar, portanto, qualquer incursão no cenário fático ou
probatório.

VI – DOS FUNDAMENTOS DE MÉRITO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO: Violação ao disposto no artigo 134,


caput e parágrafos 2º e 4º da Constituição da República:

A decisão recorrida nega à Defensoria Pública o percebimento de honorários sucumbenciais do ente


federativo do qual se origina. Conforma-se em consenso jurisprudencial no Superior Tribunal de Justiça,
inclusive sumulado no verbete n. 421, segundo o qual: “Os honorários advocatícios não são devidos à
Defensoria Pública quando ela atua contra a pessoa jurídica de direito público à qual pertença.”

A ratio do enunciado se baseia na interpretação de que existe confusão patrimonial entre os cofres da
Defensoria Pública e de seu Estado de origem (art. 381 do Código Civil) e foi firmada a partir do julgamento
do Recurso Especial n. 1.108.013–RJ, Rel. Min. Eliana Calmon, Dje 22.06.2009. Eis a Ementa:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL SUBMETIDO À SISTEMÁTICA PREVISTA NO ART. 543-C DO CPC (atual
artigo 1036, NCPC). HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. DEFENSORIA PÚBLICA. CÓDIGO CIVIL, ART. 381
(CONFUSÃO). PRESSUPOSTOS.
1. Segundo noção clássica do direito das obrigações, ocorre confusão quando uma mesma pessoa reúne as
qualidades de credor e devedor.
2. Em tal hipótese, por incompatibilidade lógica e expressa previsão legal extingue-se a obrigação.
3. Com base nessa premissa, a jurisprudência desta Corte tem assentado o entendimento de que não são
devidos honorários advocatícios à Defensoria Pública quando atua contra a pessoa jurídica de direito público
da qual é parte integrante.

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4. A contrario sensu, reconhece-se o direito ao recebimento dos honorários advocatícios se a atuação se dá
em face de ente federativo diverso, como, por exemplo, quando a Defensoria Pública Estadual atua contra
Município.
5. Recurso especial provido. Acórdão sujeito à sistemática prevista no art. 543-C do CPC (atual artigo 1036,
NCPC) e à Resolução nº 8/2008-STJ.

A premissa adotada é a de que a Defensoria Pública é órgão pertencente e vinculado à estrutura


administrativa direta do Estado e a consequência é que se confundem seus cofres. A propósito, cabe o
destaque da fundamentação constante do acórdão acima referido:

“O texto constitucional é intuitivo quanto à existência de Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e
dos Territórios, além da dos Estados, constituindo, sob a ótica do Direito Administrativo, órgãos desses entes
da Federação. Assim, na relação jurídica processual contra o poder público ou por ele iniciada, em que um
dos pólos se encontra um juridicamente necessitado, surge o cenário propício ao aparecimento da confusão,
no que toca aos honorários advocatícios, a depender da sucumbência.” (RE 1.108.013 – RJ; Rel. Min. Eliana
Calmon)

Importa que esta interpretação, realizada com claro enfoque Constitucional, não se alinha mais com o que
consta da Carta atualmente. Vejamos o texto em vigor:

Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação
jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos
individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º
desta Constituição Federal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014)

§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios e
prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe
inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da
inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais. (Renumerado do
parágrafo único pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

§ 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia funcional e administrativa e a iniciativa


de sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e
subordinação ao disposto no art. 99, § 2º. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

§ 3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias Públicas da União e do Distrito Federal. (Incluído pela


Emenda Constitucional nº 74, de 2013)

§ 4º São princípios institucionais da Defensoria Pública a unidade, a indivisibilidade e a independência


funcional, aplicando-se também, no que couber, o disposto no art. 93 e no inciso II do art. 96 desta
Constituição Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014)

A Constituição expressamente afirmou a independência administrativa, funcional e orçamentária como


princípio de relacionamento a se estabelecer entre a Defensoria Pública e seu ente federado de origem.

A Doutrina deu a devida importância ao tema e tratou de classificar como órgãos independentes os que, por
expressa disciplina constitucional, atuam sem subordinação, sendo controlados apenas pelo sistema de

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freios e contrapesos, tal como os próprios entes federativos. 22 E é nesse espectro que se enquadra a
Defensoria Pública desde as reformas constitucionais que alteraram seus princípios institucionais,
propiciadas pelas emendas 45/2004, 74/2013 e 80/2014.

Com a costumeira acuidade o professor Paulo Gustavo Gonet, em obra produzida em coautoria com o
Eminente Min. Gilmar Mendes percebeu que a independência da Defensoria também se afere a partir de
como estão posicionados os artigos de sua regulamentação no texto maior23. Não estão dentro dos capítulos
que descrevem os três poderes clássicos, mas em capítulo próprio intitulado “Das funções essenciais à
Justiça”, reforçando a concepção de que essa autonomia é fruto de induvidosa decisão de política
Constitucional.

No ponto, já em 1992, Siqueira Castro 24 defendia que as instituições que tutelam direitos e valores
fundamentais por força de disposição constituinte caracterizam-se como “instituições quase-poder”, ou seja,
apesar de não terem se aperfeiçoado como um “poder orgânico da soberania”, assumem traços inerentes
aos três Poderes clássicos de organização do Estado, como a estruturação básica de funcionamento através
do texto constitucional, a definição expressiva da autonomia técnica, da independência orgânico funcional
em face dos poderes clássicos e o conjunto de especiais prerrogativas e garantias. É exatamente o caso da
Defensoria Pública.

No campo jurisprudencial são numerosos os julgados do próprio STF a afirmar e reafirmar a independência
da Defensoria Pública em relação aos poderes classicamente estabelecidos. Confira-se:

EMENTA: Arguição de descumprimento de preceito fundamental. Medida cautelar. Referendo. Ato do Poder
Executivo do Estado da Paraíba. Redução, no Projeto de Lei Orçamentária de 2014 encaminhado pelo
Governador do Estado da Paraíba à Assembleia Legislativa, da proposta orçamentária da Defensoria Pública
do Estado. Cabimento da ADPF. Mérito. Violação de preceito fundamental contido no art. 134, § 2º, da
Constituição Federal. Autonomia administrativa e financeira das Defensorias Públicas estaduais. Medida
cautelar confirmada. (...)
“2. A autonomia administrativa e financeira da Defensoria Pública qualifica-se como preceito fundamental,
ensejando o cabimento de arguição de descumprimento de preceito fundamental, pois constitui garantia
densificadora do dever do Estado de prestar assistência jurídica aos necessitados e do próprio direito que a
esses corresponde. Trata-se de norma estruturante do sistema de direitos e garantias fundamentais, sendo
também pertinente à organização do Estado.” (ADPF 307; Rel. Min. Dias Toffoli)

Da notória sabedoria do Ministro Decano, Celso de Mello, se extrai:

“Daí se tira, sem grande esforço, que a autonomia outorgada no art. 134, § 2°, da Constituição da República,
como meio ou instrumento necessário para o correto e frutuoso desempenho das atribuições institucionais,
pressupõe, no âmbito destas, correspondente liberdade de atuação funcional e administrativa, cuja limitação
ou desnaturamento por norma subalterna tipifica situação de clara inconstitucionalidade.
(...)
Torna-se imperioso reconhecer – e é preciso que se o diga – que a ausência da autonomia financeira constitui
fator apto a comprometer a própria autonomia funcional e administrativa assegurada,
constitucionalmente...” (ADI 126; Rel. Min. Octavio Gallotti; voto Min. Celso de Mello)

22
ARAGÃO, Alexandre Santos de. Curso de Direito Administrativo. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013. P. 242.
23
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional.8ª ed. São Paulo: Saraiva,
2013.
24
CASTRO, Carlos Roberto Siqueira. A Constituição e a Defensoria Pública. Revista de Direito da Defensoria Pública do
Estado do Rio de Janeiro. V. 5, n. 6,1992. Pp.15-26.
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E na mesma temática cabe o registro do julgamento da ADI 3.965-MG, relatoria da Eminente Ministra Cármen
Lúcia:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO


PÚBLICA. DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS. LEIS DELEGADAS N. 112 E 117, AMBAS DE
2007.
(...)
3. O art. 134, § 2º, da Constituição da República, é norma de eficácia plena e aplicabilidade imediata.
4. A Defensoria Pública dos Estados tem autonomia funcional e administrativa, incabível relação de
subordinação a qualquer Secretaria de Estado. Precedente.
5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.
Também nessa questão há julgado da lavra do Eminente Ministro Ricardo Lewandowski:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. ARTS. 7º, VII, 16, CAPUT E PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 8.559/2006, DO ESTADO
DO MARANHÃO, QUE INSEREM A DEFENSORIA PÚBLICA DAQUELA UNIDADE DA FEDERAÇÃO NA ESTRUTURA
DO PODER EXECUTIVO LOCAL. OFENSA AO ART. 134, § 2º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ADI PROCEDENTE.
“Com as mudanças estabelecidas pela EC 45/2004, o Poder Constituinte Derivado buscou incrementar a
capacidade de autogoverno da Defensoria Pública, assegurando-lhe, ao lado da autonomia funcional a
administrativa, a financeira, conforme decorre de menções expressas feitas pelo texto magno à iniciativa
para elaboração de sua proposta orçamentária.” (ADI 4056; Rel. Min. Ricardo Lewandowski)
A Defensoria Pública, portanto, e na forma do art. 134 da Constituição, com disciplina outorgada pelas
emendas de n. 45/2004, 74/2013 e 80/2014, passa a instituição com dotação orçamentária própria, a ser
autonomamente administrada. E isso também determina que para atingir sua atividade fim, que é o que
importa à sociedade, sua estruturação deva ser financiada adequadamente, pelas fontes previstas nas Leis e
que atentem aos anseios da Constituição. São os meios estruturantes para o alcance de sua atividade fim25.
E por lógica, se há independência institucional entre a Defensoria e o ente federativo de sua origem, não
pode haver confusão patrimonial, que só se sustentaria pela já ultrapassada tese da vinculação orgânica,
orçamentária e financeira.

Essa é a compreensão da doutrina mais especializada na matéria, declarada por Franklyn Roger Alves Silva e
Diogo Esteves, para quem: “Se a Defensoria Pública e o ente federativo que a mantém não compõem um
mesmo todo unitário, não se pode afirmar a ocorrência da confusão (art. 381 do CC/2002) entre os dois
sujeitos. (…). Quando o ente federativo é condenado ao pagamento de honorários sucumbenciais em favor
da Defensoria, não há concentração das qualidades de credor e devedor na mesma figura; a pluralidade de
situações jurídicas subsiste em virtude da existência de dois sujeitos substancialmente distintos entre si.

Portanto, não haverá, na hipótese, pagamento para si mesmo, mas pagamento à Instituição autônoma e
desvinculada da estrutura do ente federativo devedor”.26

Os honorários sucumbenciais, por sua vez, se apresentam como uma das fontes de financiamento
institucional da Defensoria, porque destinados ao seu aparelhamento e à capacitação profissional dos seus
membros, como anuncia o art. 4º, XXI da LC 80/94. Por essa razão, não podem ser contingenciados ou
apropriados pelo Poder Executivo, porque isso configura violação da autonomia proclamada na Lei maior
(art. 134). Vejamos o texto legal:

25
ARAGÃO, Alexandre Santos de. Curso de Direito Administrativo. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013. P. 223.
26
ESTEVES, Diogo; SILVA, Franklyn Roger Alves. Princípios Institucionais da Defensoria Pública. Rio de Janeiro: Forense,
2014. p. 387.
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Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:

XXI – executar e receber as verbas sucumbenciais decorrentes de sua atuação, inclusive quando devidas por
quaisquer entes públicos, destinando-as a fundos geridos pela Defensoria Pública e destinados,
exclusivamente, ao aparelhamento da Defensoria Pública e à capacitação profissional de seus membros e
servidores; (Incluído pela Lei Complementar nº 132, de 2009).

Mas é exatamente o que ocorre quando se aplica a súmula 421 do STJ e o instituto da confusão patrimonial
em relação aos honorários sucumbenciais devidos pelo Estado à Defensoria. A fonte de receita da Defensoria
Pública, nesse caso, não lhe é entregue pelo Estado, que, por via indireta, dela se apropria e passa a gerenciá-
la, enriquecendo de forma ilícita pelo orçamento alheio. A prática é contrária à independência institucional
firmada na Constituição.

E não se pode ignorar que esses recursos financeiros são indispensáveis à estruturação da Defensoria no
Brasil, onde se estima que 14 dentre seus 27 Estados apresentam rendimento domiciliar per capita inferior
ao salário mínimo27, sendo compostos, portanto, em sua maioria, por cidadãos potencialmente necessitados
dos serviços públicos de acesso à justiça.

As responsabilidades da Defensoria Pública estão no caminho ascendente na normatização Constitucional, o


que foi notado por Barbosa Moreira, que, então, lecionou: “Ela (a Defensoria Pública) é essencial não apenas
à justiça, mas a algo que transcende o próprio serviço da justiça, que é a promoção social do povo brasileiro.
”28

Entretanto, o alargamento das suas funções e a centralidade que passou a ocupar no novo ordenamento
constitucional não foram, ainda, acompanhados pelo correspondente e necessário avanço orçamentário.

Registre-se a propósito que até o ano de 2008 quase 60% das Defensorias estaduais não receberam o repasse
das cotas mensais destinadas ao seu orçamento e que o percentual de comarcas atendidas pela instituição
em todo o país era inferior a 50%.29 Até 2013 apenas 59,5% de todos os cargos de defensores existentes no
país estavam providos e, inacreditavelmente, nenhum concurso para Defensor Público ainda havia sido
realizado no estado da Paraíba30. No âmbito da DPU, pesquisa realizada em 2014 demonstra que a instituição
possui uma defasagem de 66% no quadro de seus defensores públicos e abrange a demanda de apenas 58%
dos municípios brasileiros.31

O problema orçamentário da Defensoria Pública é ainda mais flagrante quando comparado com os números
do Poder Judiciário e do Ministério Público, seja no âmbito da União, do Distrito Federal ou dos Estados. A

27
Disponível em: http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/salta-numero-de-acoes-movidas-por-pacientes-contra-
governos-para-obter-tratamentos-17350029. Data de acesso: 14/09/2015.
28
MOREIRA, José Carlos Barbosa. O Direito à assistência jurídica. Revista de Direito do Estado do Rio de Janeiro. V. 4, n.
5, 1991.Pp. 122-137.
29
Diagnóstico da Defensoria Pública no Brasil. Disponível em:
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/repositorio/0/III%20Diagn%C3%B3stico%20Defensoria%20P%C3%BAblica%2
0no%20Brasil.pdf. Data de acesso: 13/09/2015.
30
Mapa da Defensoria Pública no Brasil. Disponível em:
https://www.anadep.org.br/wtksite/mapa_da_defensoria_publica_no_brasil_impresso_.pdf . Data de acesso:
13/09/2015.
31
Um panorama da atuação da Defensoria Pública da União. Disponível em: http://s.conjur.com.br/dl/guia-dpu-
nacional.pdf . Data de acesso: 15/09/2015.
79
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lei orçamentária da União em 2015 32, como exemplo, prevê para a Justiça Federal verba superior a dez
bilhões de reais; para o Ministério Público da União dotação superior a cinco bilhões; enquanto serão
destinados à Defensoria Pública da União apenas 530 milhões. Também é assim nos Estados, como
exemplificativamente, se constata nos dois com maior PIB. Em São Paulo, a lei orçamentaria de 2015 33
destina ao Judiciário estadual verba superior a 9 bilhões de reais; ao Ministério Público quantia superior a 1
bilhão e 800 milhões de reais; mas para a Defensoria Pública quantia inferior a 750 milhões de reais. No Rio
de Janeiro, enquanto o Judiciário estadual irá receber quantia superior a 4 bilhões de reais e o Ministério
Público dotação maior do que 1 bilhão e 300 milhões, a Defensoria Pública terá dotação orçamentaria inferior
a 600 milhões.34

Não pense que essa também não é a realidade da DPE-DF, pois ela, como todas as demais Defensorias do
País estão nessa mesma situação.

É claro que esse cenário político tem extrema relevância e repercute na questão jurídica, pois revela a maior
dificuldade que a Defensoria Pública enfrenta para concretizar o direito fundamental de acesso à justiça aos
necessitados - o seu subdimensionamento orçamentário. O relevo extremado da questão foi muito bem
capturado pelo Eminente Ministro Roberto Barroso, no já mencionado julgamento da liminar da Reclamação
n. 20.628. Confira-se:

“Além disso, nada obstante a garantia normativa de autonomia, é fato notório que a maior parte das
Defensorias Públicas enfrenta graves problemas de estruturação de seus órgãos, situação que, em muitos
Estados, não corresponde ao grau de aparelhamento do judiciário e do Ministério Público, a indicar a
existência de um desfavorecimento da instituição na escolha das prioridades orçamentárias. Essa situação,
inegavelmente, compromete a atuação constitucional da Defensoria e poderia ser atenuada pelo
recebimento de honorários (...)” (Rcl 20628, Rel. Min, Roberto Barroso)

Desse modo, e certamente reconhecendo a questão, o legislador estabeleceu como uma das fontes de
financiamento e custeio das atividades da Defensoria Pública as verbas sucumbenciais, “inclusive quando
devidas por quaisquer entes públicos” (LC 80/94, art. 4º, XXI), que devem ser destinadas “ao aparelhamento
da Defensoria Pública e à capacitação profissional de seus membros e servidores”. Mas a despeito da clareza
da lei, a jurisprudência tem negado o acesso da Defensoria a essa verba.

Portanto, a correta análise jurídica da questão deve ser completa, de modo a perceber as boas razões que
trouxeram a Defensoria Pública ao patamar de instituição autônoma e, também, a inclusão dos honorários
sucumbenciais como uma das suas fontes de custeio, inclusive, quando oriundos do próprio Estado de sua
origem.

A compreensão desejada é a de aplicação concreta da nova concepção da Defensoria, que não admite, por
claro desalinho textual, lógico e teleológico, a apropriação, pelo Estado, de fonte de receita de instituição
que lhe é independente, no caso, a própria Defensoria.

Também não se deve ignorar que a verba sucumbencial, além de remunerar, serviria a compensar,
minimamente, ou repor, ainda que parcialmente, o enorme dispêndio orçamentário que a Defensoria realiza

32
BRASIL. Lei nº 13.115, anexo II, de 20 de abril de 2015. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/atividade-
legislativa/orcamentobrasil/loa/loa-2015/lei-orcamentaria-anual-para-2015/loa2015. Data de acesso: 29/09/2015.
33
SÃO PAULO (Estado). Lei nº 15.646, de 23 de dezembro de 2014. Disponível em:
http://www.al.sp.gov.br/norma/?id=173890. Data de acesso: 29/09/2015.
34
RIO DE JANEIRO (Estado). Lei nº 6.955, de 13 de janeiro de 2015. Disponível em:
http://www.rj.gov.br/web/seplag/exibeconteudo?article-id=186183. Data de acesso: 29/09/2015.
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na administração dos numerosos processos judiciais aforados contra o próprio Estado, que dá causa ao
grande contingente de demandas pelas violações dos direitos fundamentais de seus cidadãos humildes, mas
se isenta da consequência processual, pela equivocada interpretação descrita na súmula 421 do STJ.

Então, diante da reconhecida autonomia institucional que a Constituição estabeleceu como princípio de
regência do relacionamento entre o Estado e a Defensoria Pública, que não admite a apropriação ou a gestão
de seus recursos pelo Executivo, postula-se a condenação deste ao pagamento dos honorários de
sucumbência, de modo a resgatar a correta aplicação do art. 134 e parágrafos da Constituição.

VII - CONCLUSÃO:

Presentes os requisitos objetivos e subjetivos do Recurso Extraordinário, espera-se, pelas razões antes
expendidas, seja ele conhecido e provido em reconhecimento da vulneração à Constituição Federal,
garantindo-se à Defensoria Pública o acesso aos honorários sucumbenciais devidos pelo Estado.
E. deferimento.

Rio de Janeiro, data.


Defensor Público

#RECAPITULANDO #TABELAAMIGA
FUNDAMENTO ENDEREÇAM
CABIMENTO PRAZO PEDIDOS
LEGAL ENTO
Art. 102. Compete ao STF,
precipuamente, a guarda
da Constituição, cabendo- Interposição:
lhe: recebimento, intimação
III - julgar, mediante do recorrido para
recurso extraordinário, as contrarrazoar e após o
causas decididas em encaminhamento para o
única ou última instância, STF.
quando a Interposição:
decisão recorrida: Art. 102, III, a, b, c Presidente Razões: conhecimento e
15 dias úteis
a) contrariar dispositivo ou d, CF/88 e do TJ/ TRF provimento para que seja
(interposição +
desta Constituição; 1.029 e seguintes reformado o acórdão...
razões)
b) declarar a do CPC. Razões: STF
inconstitucionalidade de (Turma) Tópico sobre cabimento,
tratado ou lei federal; tempestividade,
c) julgar válida lei ou ato prequestionamento
de governo local (possibilidade de
contestado em face desta prequestionamento ficto
Constituição. – art. 1.025 CPC).
d) julgar válida lei local e repercussão geral.
contestada em face de lei
federal.
OBSERVAÇÕES GERAIS
Na interposição justificar a não realização do preparo.
Repercussão Geral (art. 102, §3º da CF/88 e 1.035, §2º CPC)
Prequestionamento.
Pedir efeito suspensivo (art. 1.029, §5º CPC)

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Para finalizar, junto uma tabela elaborada por Tartuce, para ajudar vocês no caso de existirem
dúvidas sobre o cabimento de cada recurso35:

I) AGRAVO EM RESP E REXT

Se o Tribunal de Justiça ou o Tribunal Regional Federal proferirem acórdão em matéria penal, contra esta
decisão cabe, em tese, Recurso Especial e Extraordinário. A parte que deseja interpor um Recurso
Extraordinário ou Recurso Especial deve protocolizá-lo no juízo a quo (recorrido) e não diretamente no juízo
ad quem (STF/STJ), nos termos do art. 1.029 do CPC.

Se o juízo de admissibilidade for POSITIVO Se o juízo de admissibilidade for NEGATIVO


Significa que o Presidente (ou Vice) do Tribunal
Significa que o Presidente (ou Vice) do Tribunal
entendeu que os pressupostos do REsp estavam
entendeu que algum pressuposto do REsp não
preenchidos e, então, remeterá o recurso para o
estava presente e, então, não admitirá o recurso.
STF.
Contra esta decisão, não cabe recurso, considerando
Contra esta decisão, a parte prejudicada poderá
que o STF ainda irá reexaminar novamente esta
interpor recurso.
admissibilidade.

O Presidente (ou Vice) do Tribunal de origem poderá fazer o juízo negativo de admissibilidade com
base em dois fundamentos:

35
TARTUCE, Fernanda; DELLORE, Luiz, Manual de Prática Civil - 14ª edição, editora Método, 2018, p. 354.
82
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Inciso I do art. 1.030 Inciso V do art. 1.030
O Presidente (ou Vice) negará seguimento ao Este inciso V é utilizado para todas as demais
recurso (especial ou extraordinário) com base neste hipóteses de inadmissibilidade. Exs: cabimento,
inciso se o acórdão atacado estiver em legitimidade, tempestividade, interesse,
conformidade com entendimento do STJ exarado regularidade formal etc.
em recurso repetitivo ou repercussão geral.
Ex: o STF, em um recurso sob o rito da repercussão Ex: o recorrente interpôs o recurso
geral, disse que a reincidência é um instituto extraordinário, mas o Presidente do Tribunal
compatível com a CF/88. No caso dos autos, o TJ recorrido negou seguimento afirmando que não
aplicou a reincidência e disse que ela é houve prequestionamento. A decisão será com
constitucional. O réu não se conformou e interpôs base no inciso V do art. 1.030.
RE alegando que é inconstitucional. O Presidente do
TJ negará seguimento ao recurso.
Recurso cabível contra esta decisão: agravo interno, Recurso cabível contra esta decisão: agravo em
que será julgado pelo próprio Tribunal de origem. recurso especial e extraordinário (art. 1.042).

Veja o que diz o art. 1.042:

Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente do tribunal recorrido que inadmitir
recurso extraordinário ou recurso especial (nas hipóteses genéricas do inciso V do art. 1.030), salvo quando
fundada na aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de
recursos repetitivos (situação do inciso I do art. 1.030, quando caberá agravo interno).

Qual é o prazo deste agravo?

Antes do CPC/2015: 5 dias Depois do CPC/2015: 15 dias


Fundamento: art. 28 da Lei nº 8.038/90 Fundamento: art. 1.003, § 5º, do novo CPC.
Súmula 699-STF: O prazo para interposição de O CPC/2015 revogou expressamente o art. 38 da
agravo, em processo penal, é de cinco dias, de acordo Lei nº 8.038/90. Logo, o argumento de que havia
com a Lei 8.038/90, não se aplicando o disposto a um prazo especial para os agravos envolvendo
respeito nas alterações da Lei 8.950/94 ao Código de recurso extraordinário em matéria criminal deixou
Processo Civil. de existir. A Súmula 699 do STF está superada.

#SELIGANOMODELO36

À PRESIDÊNCIA DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Recurso Especial - Autos nº xxxxx


10ª Câmara de Direito Criminal

A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, por intermédio dos/as Defensores/as Públicos/as
signatários/as, no exercício de suas respectivas atribuições legais, vem, com fulcro no artigo 1.042 do Código
de Processo Civil, noticiar a interposição de AGRAVO CONTRA DECISÃO DENEGATÓRIA DE RECURSO
ESPECIAL, nos termos das razões anexas, em face da decisão dos autos em epígrafe. Requer o regular
processamento do presente recurso, visando à devida remessa destes autos ao E. Superior Tribunal de
Justiça.

36
Modelo retirado no site da Defensoria Pública do Estado de São Paulo.
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Termos em que pede deferimento.

São Paulo, xxxxx

Defensor(a) Público(a)
Unidade de XXXXXXXXX

RAZÕES DE AGRAVO

Agravante: Defensoria Pública do Estado de São Paulo


Agravado: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
Recurso Especial – Processo nº xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Origem: xxxxxxxxª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

Egrégio Superior Tribunal de Justiça,

Eméritos Julgadores,

1. DA TEMPESTIVIDADE DO RECURSO

De acordo com o inciso I do artigo 128 da Lei Complementar 80/94 c/c artigo 186 do Código de Processo Civil,
Lei nº 13.105/2015, a Defensoria Pública conta com o direito à intimação pessoal de todos os atos processuais
e a contagem em dobro dos prazos legais.

Conforme disposto no art. 1003, §5º cc art. 994, VIII, do CPC, o prazo para interposição de Agravo em Recurso
Extraordinário é de 15 (quinze) dias úteis. Assim, a Defensoria Pública dispõe do prazo de 30 (trinta) dias,
que se conta a partir de 30 de novembro de 2020, que foi o dia em que a Defensoria Pública retirou os
autos em carga.

Dessa forma, temos que o prazo para a Defensoria Pública começou a fluir em 30/11/2020 (segunda-feira).
Na contagem do prazo, é importante notar que não houve expediente forense nos dias 7 e 8 de dezembro.
O De acordo com o artigo 220 do CPC, “suspende-se o curso do prazo processual nos dias compreendidos
entre 20 de dezembro e 20 de janeiro, inclusive”.

A contagem dos prazos é retomada, assim, em 21 de janeiro de 2021 (quinta-feira), de forma que o prazo de
30 (trinta) dias úteis vence somente em 01/02/2021.

Tempestivo, pois, o agravo ora interposto.

2. SÍNTESE DO PROCESSADO

Em xxxxxxxx, xxxxxxxxxx, conhecido como “xxxx” ou “xxxx”, pessoa com deficiência mental, foi encontrado
decapitado e com as mãos decepadas em local próximo à Av. xxxxxxxxxxxx.

xxxxxxxx era conhecido por “xxxxxxxxx” devido a atividades manuais que realizava, tais como conserto de
bicicletas e pintura de paredes. Além da deficiência mental, também possuía deficiência cognitiva, estando,
portanto, em condição de extrema vulnerabilidade. Ingênuo e infantil, repetira primeira série do ensino
fundamental quatro vezes. Embora tivesse mais de trinta anos na data dos fatos, não tinha a correta
percepção do tempo, de modo que afirmava ter 17 anos.

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Suas palavras eram pronunciadas com dificuldade, de maneira que apenas os familiares conseguiam
compreendê-las. Justamente por sua dificuldade em se comunicar, era suscetível a atos de perversidade,
tendo apanhado diversas vezes de policiais militares que achavam que ele estava sob efeito de drogas ou
zombando dos policiais.

De acordo com o Laudo nº xxxxxxx, referente ao local onde o corpo fora encontrado, xxxxxxxxxx apresentava
uma extensa lesão na região abdominal, atingindo toda a musculatura e expondo as vísceras, de modo que
sua identificação somente foi possível por meio de exame de DNA.

Junto com a vítima foram encontrados, no mesmo período, outros três corpos decapitados, sob fortes
indícios de terem sido vítimas de ação encabeçada por policiais militares ligados ao grupo de extermínio do
xxxº Batalhão da Polícia Militar, conhecidos como “xxxxxxxxx”.

Restou devidamente comprovado que os policiais militares xxxxxxxxxx, integrantes da equipe da Força Tática
xxxxxx, do xxxxxº Batalhão da Polícia Militar, efetuaram abordagem a pessoa com deficiência mental na data
do desaparecimento da vítima, sendo certo que o corpo de xxxxxxxxxx foi encontrado no dia seguinte à ação
policial.

Após conduzidas todas as investigações, os policiais militares foram submetidos a julgamento perante o
Tribunal do Júri da 1ª Vara do Júri da Comarca xxxxxxxxxx, tendo sido condenados por homicídio duplamente
qualificado, cometido por motivo torpe e com emprego de recurso que impossibilitou a defesa da vítima (fls.
xxxxxxxxxxx).

Inconformados, interpuseram recurso de Apelação, arguindo, preliminarmente, nulidade do julgamento,


haja vista a exibição, por parte da acusação, de camiseta com fotografia da vítima com os dizeres: “doente
mental assassinado por PM’s da Força Tática”, objeto não autorizado previamente pelo juízo.

O Tribunal acolheu a preliminar alegada pela defesa dos réus, sem adentrar no mérito do recurso, dando
provimento ao apelo (fls. xxxxxxxxxx). Designada nova sessão plenária, o segundo E. Conselho de Sentença
julgou a ação penal improcedente, sob a tese de negativa de autoria, absolvendo os réus da imputação
originária.

O Ministério Público de São Paulo, reiterado pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo, na qualidade
de assistente da acusação, recorreu ao Tribunal de Justiça de São Paulo, pugnando pela realização de nova
sessão de julgamento, visto que a decisão do segundo Tribunal do Júri não encontra amparo no extenso
acervo probatório produzido.

Soma-se a isso a ocorrência de nulidade durante a sessão plenária, uma vez que os advogados de defesa dos
réus violaram a regra do artigo 479 do Código de Processo Penal, lendo aos jurados documento não constante
dos autos, o qual, certamente, interferiu na formação da íntima convicção dos jurados, uma vez que os réus
foram absolvidos dos crimes que lhes foram imputados.

A apelação foi desprovida pela 10ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Foram opostos embargos de declaração contra o acórdão, os quais foram, também, rejeitados.

Foram então interpostos Recursos Especial e Extraordinário, os quais foram inadmitidos, dando ensejo ao
presente agravo em Recurso Especial (assim como será interposto também agravo em Recurso
Extraordinário).

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A interposição do recurso especial se fundamenta no art. 105, III, “a” da Constituição Federal, já que o
acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo contrariou tratado e lei federal e negou-lhes vigência. Com
efeito, houve violação e/ou negativa de vigência aos seguintes dispositivos: arts. 1º e 16 da Convenção das
Nações Unidas Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (Decreto
nº 40, de 15 de fevereiro de 1991); art. 6º do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (Decreto nº 592,
de 6 de julho de 1992); arts. 4º e 5º da Convenção Interamericana de Direitos Humanos (Decreto nº 678, de
6 de novembro de 1992); art. 3º, itens “a”, “b” e “d” da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência e seu Protocolo Facultativo (Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009); art. 3º, inciso I,
item “a” da Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as
Pessoas Portadoras de Deficiência (Decreto nº 3.956 de 8 de outubro de 2001); e arts. 479 e 593, inciso III,
alínea d, do Código de Processo Penal (Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941).

Contudo, o Exmo. Senhor Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo inadmitiu ambos os recursos
interpostos. Particularmente quanto ao Recurso Especial, entendeu pelo seu não cabimento nos seguintes
termos (fls. xxxxxxxx):

“Verifico a existência de óbice processual que implica na inadmissão do reclamo.

Com efeito, no que tange à alegada contrariedade ao Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos; à
Convenção das Nações Unidas Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes; à Convenção Americana sobre Direitos Humanos de 1969 (Pacto de São José da Costa Rica);
bem como à Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as
Pessoas Portadoras de Deficiência; importante salientar o entendimento firmado pelo Colendo Superior
Tribunal de Justiça de que: ‘(...) O cabimento do recurso especial é limitado às hipóteses constitucionalmente
previstas, sendo via destinada estritamente à interpretação da lei federal. Assim, norma infraconstitucional,
mesmo com caráter supralegal, não tem o condão de ampliar ou modificar a destinação constitucional do
recurso especial, para que se transforme em meio para reexame do conjunto fático-probatório, providência
que, caso realizada, também acarretaria a extrapolação, pelo Superior Tribunal de Justiça, da competência
que lhe foi conferida no texto constitucional.’”

Por outro lado, as discussões trazidas à baila no recurso, quer quanto à impugnação da decisão como
manifestamente contrária à prova dos autos, com a demanda de nova valoração dos elementos probatórios
sob os diversos enfoques trazidos no reclamo; quer quanto à alegada nulidade pela leitura de documento
não constante dos autos, implicam, para alcançar solução contrária àquela constante do aresto combatido,
na incidência, ao caso, do óbice contido no Enunciado Sumular de nº 7 do STJ, (...).”

Referida decisão não pode prosperar, pelas razões que serão demonstradas a seguir.

3. DO DIREITO

Conforme transcrito acima, constou da decisão recorrida que o recurso especial interposto – ao invocar
contrariedade ao Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos; à Convenção das Nações Unidas contra
Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes; à Convenção Americana sobre
Direitos Humanos de 1969; bem como à Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas
de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência – não poderia ser admitido, já que “o
cabimento do recurso especial é limitado às hipóteses constitucionalmente previstas, sendo via destinada
estritamente à interpretação da lei federal”.

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Contudo, data máxima venia, não parece correto o entendimento esposado na r. decisão combatida. Isso
porque o recurso especial interposto no caso vertente está dentro das hipóteses constitucionalmente
previstas. Com efeito, o artigo 105, III, “a” da Constituição Federal dispõe que o recurso especial é cabível
quando a decisão recorrida “contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência”. Vale dizer: cabe
recurso especial quando a decisão violar direito federal.

Ora, todos os Pactos e Convenções citados na decisão que negou seguimento ao recurso especial são
tratados internacionais de direitos humanos que foram, todos, assinados, ratificados e internalizados pelo
Brasil, ou seja, são tratados que foram incorporados à legislação brasileira pela promulgação por meio dos
respectivos decretos do Executivo, que tornaram públicos seus textos e determinaram sua execução.

Ademais também não se pretende, com o presente recurso, reexame do conjunto fático-probatório.

Diferentemente do que assevera o MM. Juízo a quo, o que se almeja com este recurso é a revaloração dos
critérios jurídicos utilizados para concluir que a decisão do Tribunal do Júri foi arbitrária ao desprezar a
única versão verossímil dos autos, devendo, portanto, ser invalidada.

Demonstrar-se-á, a seguir, as alegadas violações ao direito federal para, assim, evidenciar que este recurso
traz à apreciação do Superior Tribunal de Justiça matéria de direito, a qual independe do revolvimento da
matéria fática sub judice.

3.1. DA CONTRARIEDADE AOS TRATADOS INTERNACIONAIS INCORPORADOS À LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

Por disposição expressa do artigo 105, III, alínea a, da Constituição Federal de 1988, caberá Recurso Especial
ao Superior Tribunal de Justiça quando a decisão recorrida contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes
vigência.

Em síntese, o v. acórdão que negou provimento ao recurso de apelação do MP e da Defensoria Pública


(assistente de acusação) nega vigência aos seguintes dispositivos internacionais:

- Artigo 6º do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (Decreto nº 592, de 6 de julho de 1992), que
protege o direito à vida, visto que, para além da violência perpetrada à vítima, esta foi cometida por agentes
públicos, o que exige do Estado uma obrigação ainda maior em coibir tais práticas. Conforme Comentário
Geral nº 36 do Comitê de Direitos Humanos ao referido artigo 6º, “a perda de vida que ocorre sob custódia,
em circunstâncias não naturais, cria uma presunção de privação arbitrária da vida pelas autoridades do
Estado, que só podem ser refutadas com base em uma investigação adequada que estabeleça o cumprimento
por parte do Estado de suas obrigações nos termos do artigo 6”.

- Artigos 1º e 16 da Convenção das Nações Unidas Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos ou Degradantes (Decreto nº 40, de 15 de fevereiro de 1991), os quais vedam a prática de
tratamentos cruéis, por parte de agentes do Estado, contra cidadãos. Considerando a existência de uma
condenação anterior, anulada, e todas as provas produzidas, esperar-se-ia que o Estado brasileiro, por meio
do Judiciário, valorasse, adequadamente, todas provas produzidas.

- Artigos 4º e 5º da “Convenção Interamericana de Direitos Humanos” (Decreto nº 678, de 6 de novembro


de 1992), os quais reiteram o dever de proteção à vida e à integridade física dos cidadãos.

- Artigo 3º, inciso I, item “a” da “Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência” (Decreto nº 3.956 de 8 de outubro de 2001),

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que determina a tomada das medidas de caráter legislativo, social, educacional, trabalhista ou de qualquer
outra natureza, que sejam necessárias para a eliminação da discriminação contra as pessoas com deficiência,
além disso, afirma a necessidade das autoridades governamentais de adotar medidas para eliminar,
progressivamente, a discriminação, que em seu desdobramento mais grave pode resultar na privação
arbitrária da vida, como é o presente caso;

Além da violação direta a tais dispositivos, estes também não foram interpretados à luz do que dispõem
outras normativas internacionais, dentre as quais destacam-se os artigos 1º 2º e 5º do “Código de Conduta
da ONU para os Policiais”.

3.2. NEGATIVA DE VIGÊNCIA AO ARTIGO 479 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Como claramente se nota dos registros do julgamento pelo Tribunal do Júri, os advogados de defesa dos réus
leram aos jurados documento que não constava nos autos. Sendo assim, há latente desrespeito à regra do
artigo 479 do Código de Processo Penal.

O v. acórdão reconhece que houve a leitura aos jurados de documento que não constava dos autos, mas
aduz que não há certeza sobre a influência de tal documento na formação da convicção pelos julgadores:

Na medida em que não se sabe qual o conteúdo de tal documento, também não se pode dizer que ele teria
influenciado, de algum modo, na formação do convencimento dos jurados. Ademais, é certo que o Parquet
ou, mesmo, seu assistente não indicou qualquer prejuízo concreto que teria decorrido de sua leitura, de
modo que a matéria preliminar deve ser afastada, passando-se ao mérito do recurso.

O simples fato de ter sido lido documento não constante dos autos já é suficiente para invalidar o
julgamento, constituindo nulidade processual que não pode ser escusada sob o argumento de não se ter
certeza sobre eventual influência nos jurados.

O artigo 479 do Código de Processo Penal é claro no sentido de que “durante o julgamento não será permitida
a leitura de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência
mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte”. E ainda dispõe seu parágrafo único que
“Compreende-se na proibição deste artigo a leitura de jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição
de vídeos, gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro meio assemelhado, cujo
conteúdo versar sobre a matéria de fato submetida à apreciação e julgamento dos jurados”.

Como se vê, o dispositivo em questão não faz qualquer ressalva para permitir a leitura de documentos que
não tenham sido previamente juntados aos autos. É irrelevante, para fins de caracterização da nulidade
processual, que o documento lido tenha ou não influenciado os jurados.

Sobre o ponto, é de rigor frisar que a primeira decisão proferida pelo Tribunal do Júri, que impusera a
condenação aos réus policiais, foi anulada justamente sob o argumento de que fora utilizada camiseta com
a foto da vítima. Naquela oportunidade, o mesmo Tribunal de Justiça de São Paulo entendeu que aquele fato
seria motivo suficiente para ensejar a anulação do julgamento. Na nova sessão de julgamento pelo Tribunal
do Júri, os advogados de defesa dos réus leram documento aos jurados que não constava dos autos e, dessa
vez, o Tribunal de Justiça de São Paulo entendeu que isso não seria suficiente para anular o julgamento. Como
se vê, o E. Tribunal a quo, data maxima venia, utiliza-se de dois pesos e de duas medidas: sendo um peso
e uma medida para anular o julgamento que condenara os policiais e outro peso e outra medida para
manter o julgamento que os inocentou.

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Na apelação do Ministério Público (fl. xxxxx), explica o Parquet que o documento lido pelos advogados de
defesa dos réus era de outro processo, mas foi apresentado aos jurados como sendo documento constante
daquele mesmo processo, como prova em favor dos réus policiais.

O prejuízo é evidente quando se verifica a votação apertada que reconheceu a absolvição: a defesa dos réus
leu o documento como se fosse prova dos autos, sendo que, quando questionada da origem, disse que
tinha se confundido. Mais do que um documento novo, era um documento que foi trazido como suposta
prova nos autos, dando mais força e credibilidade ao documento lido pela defesa dos réus.

É evidente que a leitura de documento estranho aos autos – fato devidamente registrado nos autos – enseja
nulidade do julgamento, como medida necessária para a garantia das regras processuais penais
determinadas por nosso ordenamento. Trata-se, portanto, apenas de reconhecer a violação ao artigo 479
do Código de Processo Penal.

3.3. NEGATIVA DE VIGÊNCIA AO ARTIGO 593, III, “D” DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Conforme já se aludiu, o Recurso Especial não tem a finalidade de discutir o teor das provas juntadas aos
autos, em razão da vedação da Súmula 7 desta Corte Especial, de modo que o intuito é o de tão-somente
revisar a validade da conclusão a que chegou o Tribunal a quo, ao entender que a decisão dos jurados não
afrontou as provas produzidas nos autos.

Em outros termos, não se cuida de reexame da prova, mas de revaloração dos critérios jurídicos utilizados
para concluir que a decisão do Tribunal do Júri não foi arbitrária. A propósito da possibilidade de revaloração
dos critérios jurídicos, via Recurso Especial, há jurisprudência consolidada nesta Corte.

O acórdão ora combatido entendeu que:

Duas e antagônicas versões foram apresentadas ao Conselho de Sentença, que optou por uma delas, mas,
assim o fazendo, não se pode dizer que decidiu de forma arbitrária, única hipótese em que se permite a
anulação do julgamento. Por óbvio, não se ignora a existência de elementos probatórios sugestivos da
autoria delitiva dos recorridos, como bem explicitado nas razões recursais. De todo modo, compulsando os
autos, também fica claro que a versão exculpatória dos acusados encontra respaldo em outros elementos
amealhados, em especial, as testemunhas que confirmam a abordagem de Antonio Marcos no mesmo
horário em que, em tese, o ofendido teria sido levado por uma viatura da Força Tática da Polícia Militar. A
decisão absolutória, destarte, não foi manifestamente contrária à prova dos autos.

O Conselho de Sentença, valorando a prova colhida, optou pela absolvição dos apelados, respaldado em
elementos de convicção constantes dos autos, devendo ser respeitado o princípio constitucional da
soberania do Júri.

Não há, data venia, duas versões válidas, sendo que os jurados teriam optado por uma delas. E isso porque
as versões das testemunhas apresentadas em plenária não se sustentam pois são absolutamente contrárias
às demais provas dos autos. Os próprios réus mudaram diversas vezes suas versões, primeiro alegando que
não abordaram ninguém, pois chovia (fls. xxxxxx), depois teriam “encontrado testemunhas”, mudando
completamente suas versões em plenária. O relatório das pessoas abordadas, confeccionados pelos próprios
réus (fls. xxxxxxxx) demonstra que o horário em que a testemunha Lusilene afirmou que os réus ficaram em
sua casa não coincide com o aludido relatório.

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Ademais, a pessoa supostamente abordada, xxxxxxxxx, evidentemente, não é pessoa com deficiência, sendo
que a versão das testemunhas de defesa, trazidas apenas na data da plenária, não encontra respaldo nas
demais provas produzidas nos autos.

Decerto que o fato de as testemunhas de acusação não terem comparecido na segunda plenária
influenciaram sobremaneira a convicção dos jurados, que tiveram contato apenas naquele momento com
um processo instruído por 16 volumes, não se atentando aos incontestes indícios de autoria, considerando
como válida a versão sem qualquer respaldo produzida em plenária.

Conclui-se, destarte, que a decisão absolutória proferida pelo Júri deu-se ignorando as provas produzidas
durante todo o processo, baseando-se nos relatos das testemunhas de defesa, sendo que há sérias dúvidas
a respeito da veracidade dos álibis apresentados pelos réus (fls. xxxxxxxx).

Repita-se que as discussões trazidas à baila no Recurso Especial não implicam reexame de matéria fático-
probatória. Ao revés: a apelação foi interposta, também, com fulcro no artigo 593, III, “d”, o que foi
devidamente reconhecido nos autos, também o sendo a própria contrariedade da decisão absolutória com
a prova produzida.

Portanto, deve este ser conhecido e julgado pela Corte Superior.

4. DOS PEDIDOS

A partir de toda essa exposição, fica evidente que o Recurso Especial teve sua admissibilidade erroneamente
negada pela v. decisão atacada, uma vez que restaram perfeitamente demonstradas e especificadas as
violações ao direito federal perpetradas pelo acórdão que desproveu a apelação desta Defensoria.

Conforme o exposto, a análise que se pretende com o referido Recurso Especial não implica reexame de
provas, visto que o desacerto do veredicto é evidente. Com fundamento no que dispõe a legislação federal
e convencional sobre o assunto, requer seja feita a análise da valoração das provas emanadas dos autos
para a formação da íntima convicção dos jurados, uma vez que a decisão não encontra amparo no acervo
probatório produzido.

Pede-se, pois, a reconsideração do juízo de admissibilidade do Recurso Especial interposto para que seja
conhecido e provido, a partir de uma devida análise do mérito nele alegado.

Termos em que pede deferimento.

São Paulo, xxxxxxxxx.

Defensor(a) Público(a)
Unidade de XXXXXXXXX

J) RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL

O nosso bom e velho ROC já foi cobrado em provas anteriores de Defensoria Pública, mais
especificamente na DPE-MA e derrubou muita gente do concurso! Mais recentemente tivemos situação
parecida da DPE-SP em que muitos alunos elaboraram um ROC numa situação de prova que pode ter sido

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interpretada como Apelação ou ROC (como as provas ainda não foram disponibilizadas não temos como nos
posicionar).

Por isso, vamos analisar as suas hipóteses de cabimento e estrutura para não escorregar em casca
de banana na hora da prova, combinado? Vamos lá.

O Recurso Ordinário Constitucional encontra fundamento no art. 105, inc. II, b, da CF/88, art.
1.027, inc. II, a, do CPC/15 e art.18 da Lei nº 12.016/2009 (Lei do Mandado de Segurança).

Vamos revisar as hipóteses de cabimento do ROC?

No julgamento do recurso ordinário, os tribunais superiores (STJ E STF) atuam como órgão de
segundo grau de jurisdição, garantido no caso concreto a aplicação do princípio do duplo grau de jurisdição.
As hipóteses de cabimento estão no texto constitucional. Então, não esqueçam de fundamentar a peça de
vocês com os artigos previstos na CF/88!

A – Recurso ordinário em Mandado de Segurança

Na CF/88, o fundamento normativo está no e art. 102, inc. II, “a” (STF) e art. 105, inc. II, b (STJ). No
CPC, as previsões estão nos artigos 1.027, I (STF) e 1.027, II, ‘a’ (STJ).

• ROC contra decisão de única instância denegatória de MS, quando o acórdão recorrido tiver sido proferido
pelos tribunais superiores (STJ, TSE, TST, STM). Quem julga? STF.

• ROC contra decisão de única instância denegatória de MS, quando o acórdão recorrido tiver sido proferido
pelo tribunal de segundo grau (TJ ou TRF). Quem julga? STJ.

O termo “denegação” do MS tem interpretação ampla. Abrange tanto o julgamento do mérito, com
a denegação da ordem, como a decisão terminativa, com o julgamento do MS sem a resolução do mérito.
Havendo parcial improcedência do pedido, caberá ROC somente do capítulo denegatório.

#NÃOCONFUNDA Para o cabimento do ROC, o MS será necessariamente de competência originária do


tribunal que proferiu a decisão. Eventual decisão de tribunal que julga MS em sede recursal não é recorrível
por ROC, mas por REsp ou RExt.37

B – Recurso ordinário em habeas data e mandado de injunção

As mesmas considerações feitas sobre ROC em MS valem aqui. A única distinção e digna de nota é
a seguinte: a competência aqui é só do STF. Então, o ROC é cabível para o STF apenas das decisões
denegatória de habeas data e mandado de injunção proferidas por um dos Tribunais Superiores.

C - Os processos em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo internacional e, de


outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País. (STJ)

Fundamento: art. 105, II, “c” da CF/88 e art. 1.027, II, ‘b’, do CPC.

37
O STJ entende ser erro grosseiro, afastando o princípio da fungibilidade (STJ, 6ª Turma, AgRg no RMS 15.126/SC) caso
haja interposição de ROC no lugar de REsp e RExt.
91
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Cabe ROC contra sentença proferida em processo em que forem partes de um lado, Estado
estrangeiro ou organismo internacional38 e, de outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País.

O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA que irá julgar esse ROC.

Gente, nesse caso aqui a demanda seguirá em primeiro grau de jurisdição na Justiça Federal,
conforme o art. 109, II, CF/88. #ABREOOLHO! Aqui, sendo proferida sentença de qualquer natureza
(terminativa ou definitiva) e qualquer que seja o resultado (procedência, improcedência ou homologatória),
será cabível o ROC, afastando a regra geral do art. 1.009 do CPC.39 Gente, aqui a decisão é do Juiz Federal e
o recurso vai ser julgado pelo STJ. O TRF fica de fora da jogada!

D – Recurso ordinário em habeas corpus.

Essa hipótese não está no CPC, mas pode cair na sua prova de processo penal. Apesar de na prática
ser bastante comum a impetração de HC do indeferimento de HC, o famoso HC substitutivo de recurso, sendo
que o recurso cabível seria o ROC. #ATENÇÃO o HC precisa ter sido julgado por um Tribunal para desafiar o
ROC.

-ROC no STJ (art. 105, inc. II, “a”, CF/88) os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos
Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a
decisão for denegatória; #SELIGA diferente do MS, em relação ao HC é cabível o ROC caso tenha sido decidido
em única ou última instância, então também é cabível quando o Tribunal aprecia um HC em grau de
recurso!!!

-ROC no STF (art. 102, inc. II, a) o habeas corpus decidido em única instância pelos Tribunais Superiores, se
denegatória a decisão. Aqui, novamente tem que ser decidido em única instância.

#ATENÇÃO Caso fosse um MS denegado pelo juízo de 1º grau o recurso cabível seria a apelação.

→ADEQUAÇÃO FORMAL

Peça de interposição: caso o enunciado não dispense expressamente, é necessário fazer a petição
de interposição.

Por uma questão prática, a distinção entre petição de interposição e razões recursais, é necessária
apenas quando o recurso é interposto em órgão diferente daquele em que é julgado. No ROC, por exemplo,
o recurso é interposto no Tribunal de origem e, posteriormente, encaminhado ao tribunal superior (STJ ou
STF) para o julgamento. Nesse caso, por haver distinção de juízos de interposição e julgamento, é necessária
a elaboração de petição de interposição. A contrario sensu, sendo o recurso interposto no mesmo órgão em
que será julgado, é dispensada a petição de interposição.

#IMPORTANTE: no processo civil as razões recursais sempre serão apresentadas no momento da


interposição do recurso, sob pena de não conhecimento por insuficiência ou inexistência de motivação.

38
Exemplos: ONU, BID, UNESCO, ETC.

39
Art. 1.009. Da sentença cabe apelação
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Vejamos o procedimento: O ROC contra o acórdão (CPC, 1.028, §2º) é interposto perante o tribunal
de origem. O seu presidente ou vice-presidente intima o recorrido e manda o processo para o tribunal ad
quem. Aqui, o juízo a quo não faz juízo de admissibilidade (CPC, 1.028, §3º).

Tempestividade: Sempre que falamos em recursos, é necessário abrir um tópico para demonstrar
a tempestividade, no presente caso havia uma preocupação ainda maior com isso, pois a questão exigia que
fosse datado no último dia do prazo recursal.

O Código de Processo Civil de 2015 foi responsável pela unificação dos prazos recursais, isso
significa que com exceção dos embargos de declaração, cujo prazo é de 5 dias, todos os recursos devem ser
interpostos no prazo de 15 dias (art. 1.003, § 5.º, do CPC/2015). Mas não podemos esquecer que a Defensoria
Pública goza de prazo em dobro. Então são 30 DIAS ÚTEIS!!!

#NOVOCPC: Não custa relembrar que com a edição do Novo Código de Processo Civil de 2015, a Defensoria
Pública foi tratada de forma inovadora e prestigiada, inclusive com a inclusão de um capítulo próprio que
trata de algumas regras processuais pertinentes à instituição. Importante notar que a prerrogativa de prazo
em dobro também foi regulada pelo NCPC no art. 186, deixando agora de ser uma prerrogativa prevista
apenas na lei complementar nacional da DP (DP cada vez ganhando espaço! #OLHAELA).

#ATENÇÃO: A prerrogativa estabelecida em favor da Defensoria Pública se restringe aos prazos processuais,
ou seja, àqueles que podem ensejar o efeito jurídico conhecido como preclusão. Não engloba, por
conseguinte, os prazos prescricionais ou decadenciais. Por isso, não cabe prazo em dobro no MS ou na ação
rescisória, por exemplo. Também prevalece que não se aplica o prazo em dobro nos juizados especiais.

Cabimento: outro ponto importante quando a peça for um recurso, é demonstrar o cabimento
daquela espécie recursal, ou seja, justificar o motivo para a escolha daquele recurso, apontando o
fundamento legal.

Prerrogativas da Defensoria Pública: Em relação às prerrogativas processuais da DP, tenham


sempre em mente um modelo para utilizar em quaisquer das peças, pleiteando a observância das
prerrogativas processuais da Defensoria Pública, sobretudo a dispensa de mandato, intimação pessoal e a
concessão de prazo em dobro em todos os atos do feito, nos termos do artigo 128, I e XI, da LC 80/94 e art.
186, CPC.

Fatos e fundamentos jurídicos do pedido: Inicialmente é importante verificar se o enunciado


dispensou ou não os fatos. Caso não tenha dispensado, sejam sucintos para não perderem linhas preciosas
com isso. Os fundamentos jurídicos são o próprio mérito do nosso recurso e conversaremos sobre isso mais
na frente.

Antecipação dos efeitos da tutela: O novo CPC permite expressamente a antecipação dos efeitos
da tutela em grau recursal e no presente caso era extremamente necessário, pois o próprio trabalho da
Defensoria estava prejudicado. Sempre que pedirmos tutela de urgência é necessário abrir um tópico próprio
para demonstrar os seus requisitos: probabilidade do direito + perigo de dano ou risco ao resultado útil do
processo.

#ATENÇÃO Não basta apenas citar que há probabilidade do direito + perigo de dano, é essencial
apresentar, no caso concreto, quais são esses requisitos e porque eles resultam na probabilidade do direito
e no perigo de dano. #NÃOESQUEÇA

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Pedido: Atenção para o pedido ele deve ser um resumo do seu recurso, constando de forma
analítica tudo o que foi requerido. #SELIGA lembrem de ao fazer a peça deixarem espaço no final para fazer
os pedidos com calma, por vezes os pedidos constam como um tópico com pontuação própria no espelho.

#SELIGA: Para finalizar vamos ver mais alguns detalhes processuais sobre o ROC:

- Tem teoria da causa madura para o ROC? Tem sim senhor! Art. 1.027, §2º, CPC

- O ROC tem efeito suspensivo ope legis/efeito suspensivo próprio? Os artigos 1.027 e 1.028 não tratam do
efeito suspensivo. Desse modo, não é automático o efeito suspensivo coma mera interposição do ROC. Mas
calminha que nada impede de vocês pedirem no caso concreto a aplicação do efeito suspensivo, desde que
fundamentem, ok? Aqui, falamos em efeito suspensivo ope iudicis/efeito suspensivo indireto. A forma
procedimental para o pedido do efeito suspensivo é a mesma existente para os recursos especial e
extraordinário (CPC 1.029, §5º) e para apelação (CPC, 1.012, §3º).

-Principais diferenças do ROC para o REsp e RExt:

1) No ROC, não existe fundamentação vinculada, admitindo-se ao recorrente a alegação de qualquer matéria
desde que respeite os limites objetivos da demanda; além disso, ao ROC não se aplica o duplo juízo de
admissibilidade, conferido ao RE e ao Resp (art. 1.030, V, do CPC). #PARARELEMBRAR: Com o NCPC os
recursos possuem o juízo de admissibilidade apenas no órgão ad quem, salvo o RE e Resp. Assim, mesmo que
direcionado ao STF ou STJ, a regra quanto ao juízo de admissibilidade do ROC e a mesma que a dos demais
recursos.

2) A exigência de prequestionamento presente nos recursos extraordinário e especial não existe no ROC;

3) A devolução do ROC é ampla, abrangendo tanto matéria de direito (constitucional, federal e legal, quanto
matéria de fato.

-Semelhanças do ROC com a Apelação:

1) Prazo de 15 dias;

2) Mesmo o procedimento dividido num primeiro momento em órgão prolator da decisão impugnada (órgão
ao quo) e num segundo momento perante o órgão competente para o julgamento do recurso (órgão ad
quem);

3) Mesmos efeitos, inclusive com ausência de efeito suspensivo no recurso ordinário em mandado de
segurança e em mandado de injunção.

-Diferenças entre ROC e Apelação:

1) Não cabe recurso adesivo no ROC;

2) Não cabe a técnica de julgamento que substituiu o recurso de embargos infringentes prevista no art. 942
do NCPC;

3) O procedimento perante o órgão julgador do recurso é diferente, seguindo a apelação o CPC, enquanto o
ROC segue o Regimento Interno do tribunal superior.

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Por fim, vejam esse modelo de ROC que foi elaborado para uma das Rodadas do curso Reta Final
DPE-MA:

À PRESIDÊNCIA DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO MARANHÃO– MA

A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO MARANHÃO, por intermédio do Defensor Público que esta
subscreve, vem, com fundamento no art. 134 da CF/88 e art. 4º, inc. IX, da Lei Complementar Federal nº
80/94 e no art. 8º da Lei Complementar Estadual nº 19/94 e art. 105, inc. II, CF/88 c/c art. 18 da Lei nº
12.016/2009 e art. 1027 do NCPC, interpor o presente,

RECURSO ORDINÁRIO

contra a decisão que denegou a ordem no mandado de segurança impetrado contra o SECRETÁRIO DE
SAÚDE DO ESTADO DO MARANHÃO e o ESTADO DO MARANHÃO, já qualificados nos autos do mandado de
segurança em epígrafe, pelos motivos de fato e direito que passa a expor.

Pugna-se pelo recebimento do presente recurso ordinário e, após a intimação do Recorrido para apresentar
as contrarrazões, conforme o § 2º do artigo 1.028, o seu encaminhamento para o Superior Tribunal de Justiça
(STJ), a fim de que seja reformada a decisão que negou a segurança do presente remédio constitucional.
Termos em que pede deferimento

São Luís, 27 de fevereiro de 2019.


Defensor(a) Público(a)

EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA


COLENDA TURMA
EMINENTES MINISTROS
RAZÕES DO RECURSO ORDINÁRIO

1. DA TEMPESTIVIDADE:

Inicialmente, cumpre ressaltar a tempestividade do presente recurso, uma vez que a Defensoria Pública foi
intimada da decisão em 17 de dezembro de 2018 (segunda-feira), possuindo o prazo de 30 dias úteis para
recurso, pois goza de prazo em dobro para manifestações processuais (art. 128, inc. I da LC 80/94 e art. 186
do NCPC), bem como houve suspensão dos prazos entre os dias 20 de dezembro e 20 de janeiro, conforme
art. 220 do NCPC.

2. DO CABIMENTO:

É cabível, no presente caso, o Recurso Ordinário Constitucional ao Superior Tribunal de Justiça, por se tratar
de decisão denegatória de Mandado de Segurança decidido em única instância pelo Tribunal de Justiça do
Estado do Maranhão, a teor do art. 205, inc. II da CF/88.

3. DAS PRERROGATIVAS DOS MEMBROS DA DEFENSORIA PÚBLICA:

Para a sua atuação institucional, os membros da Defensoria Pública gozam das prerrogativas estabelecidas
pelos artigos 128, I e XI, da LC 80/94 e 186, CPC). Portanto, pugna-se pela observância das prerrogativas
processuais conferidas à Defensoria, sobretudo o prazo em dobro e a intimação pessoal.

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4. DA SÍNTESE DOS FATOS:

A Defensoria Pública do Maranhão impetrou Mandado de Segurança, objetivando, em síntese, a garantia de


seu direito líquido e certo de acessar e vistoriar os estabelecimentos públicos estaduais de saúde, que foi
impedido por ato ilícito do Secretário Estadual de Saúde do Estado do Maranhão/MA.

A ação foi julgada improcedente pelo Tribunal de Justiça.

5. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS– DO DIREITO LÍQUIDO E CERTO DA DEFENSORIA PÚBLICA DE ACESSAR


E VISTORIAR OS ESTABELECIMENTOS PÚBLICOS ESTADUAIS DE SAÚDE:

A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional, incumbindo-lhe, como expressão e


instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos
humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma
integral e gratuita, aos necessitados, assim considerados na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição
Federal, conforme preconiza o caput do artigo 134, da CF/88, com a redação conferida pela Emenda
Constitucional nº 80, de 2014.

É função institucional da Defensoria Pública propiciar a tutela adequada dos direitos difusos, coletivos ou
individuais homogêneos, quando o resultado da demanda puder beneficiar grupo de pessoas vulneráveis.

Assim, não resta dúvidas sobre a necessidade de que a instituição possa acessar, fiscalizar e vistorias
estabelecimentos públicos estaduais de saúde, sobretudo porque vinculados ao Sistema Único de Saúde
(SUS) que têm como principais destinatários pessoas hipossuficientes.

No entanto, de forma abusiva, o secretário estadual de saúde publicou ato proibindo a entrada e vistoria por
parte de equipes à serviço da DPE/MA nas unidades estaduais de saúde. O ato ilegal desafiou Mandado de
Segurança que foi injustamente denegado pelo órgão a quo.

Registra-se que há nítida violação a direito líquido e certo previsto no art. 129, inc. X, da Lei Complementar
Federal nº 80/94 que prevê como prerrogativa dos Defensores Públicos estaduais requisitar de autoridade
pública ou de seus agentes exames, certidões, perícias, vistorias, diligências, processos, documentos,
informações, esclarecimentos e providências necessárias ao exercício de suas atribuições.

Da mesma forma, a Lei Complementar estadual nº 19/94, que dispõe sobre a organização e funcionamento
da Defensoria Pública do Estado do Maranhão, estabelece como prerrogativa dos membros ter livre acesso
e trânsito em estabelecimentos públicos ou particulares, no exercício de suas funções.

Registra-se que tais prerrogativas foram instituídas para que o Defensor Público, agente político, possa
exercer a missão constitucional que lhe foi outorgada pelo artigo 134 da CF/88, sob pena de frustração do
exercício do múnus constitucional que lhe foi conferido e decorrem também da aplicação da Teoria dos
Poderes Implícitos, segundo a qual a Constituição Federal, ao outorgar atribuições a determinado órgão, lhe
confere, implicitamente, os poderes necessários para a sua execução.

Assim, para que a Defensoria Pública possa, de fato, velar pelo direito à vida e à saúde da população
hipossuficiente do Estado do Maranhão, faz-se necessária a reforma da decisão para que haja a concessão
da segurança e seja declarada a nulidade do ato emitidos pela Secretaria Estadual de Saúde, garantindo-se o
respeito às prerrogativas institucionais da Defensoria Pública

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6. DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA PRETENDIDA:

Finalmente, considerando que se encontram preenchidos os requisitos do artigo 300 do Código de Processo
Civil e art. 7º da Lei nº 12.016/2009, busca-se a imediata tutela jurisdicional para suspender a decisão do
secretário estadual de saúde e permitir que a Defensoria do Estado do Maranhão volte a realizar visitas e
vistorias nas unidades hospitalares.

A probabilidade do direito está fartamente demonstrada, através da flagrante violação das prerrogativas
institucionais. Já o perigo da demora é evidente em razão de se tratar de direito à saúde dos assistidos da
Defensoria Pública.

7. DOS PEDIDOS

Diante do exposto, a Defensoria Pública requer:

a) seja o presente recurso conhecido e provido, determinando a reforma da decisão do Tribunal a quo,
para que seja proferida nova decisão, concedendo a segurança e determinando a anulação do ato que
impede a entrada e vistoria da Defensoria Pública nas unidades estaduais de saúde;

b) A concessão da tutela de urgência consistente na imediata suspensão da decisão do Secretário de


Saúde, possibilitando que a Defensoria Pública retorne imediatamente as visitas nas unidades de saúde, sob
pena de multa diária no valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) por dia de descumprimento;

c) Sejam respeitadas as prerrogativas dos membros da Defensoria Pública (artigo 128, I, LC 80/94 e art.
186, CPC).
São Luís, 27 de fevereiro de 2019.
Defensor Público

K) MANDADO DE SEGURANÇA

O Mandado de Segurança é petição essencial quando o assistido do defensor público possui


demandas em face do poder público que demandam uma solução rápida, havendo prova de seu direito
líquido e certo.

O mandado de segurança é garantia constitucional contra ato de autoridade que lese direito líquido
e certo, nos exatos termos do art. 5.º, LXIX, da CF/1988 (cujo conteúdo foi levado também para o art. 1.º da
Lei 12.016/2009):

“(…) LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado
por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade
pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.”

Assim, para o cabimento do mandado de segurança será necessário:

- Ato de autoridade – pessoa no exercício de uma função pública e, nos termos do art. 1.º da Lei
12.016/2009 serão equiparadas às autoridades os representantes ou órgãos de partidos políticos e os
administradores de entidades autárquicas, bem como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas
naturais no exercício de atribuições do poder público, somente no que disser respeito a essas atribuições;

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- Lesão ou ameaça a direito – cabível na forma repressiva (lesão consumada) ou preventiva (diante
da ameaça de lesão);

- Direito líquido e certo – é o direito em relação a um fato que pode ser demonstrado de plano,
sem a necessidade de dilação probatória (tutela da evidência);

- Não cabimento de outra garantia constitucional – o mandado de segurança tem caráter residual,
pois, sendo caso de tutela à liberdade de locomoção caberá a impetração de habeas corpus ou, na violação
do direito de informação pessoal, caberá habeas data.

#SENTAQUELÁVEMAHISTÓRIA: Doutrina brasileira do habeas corpus

Muitos de vocês já devem saber, mas o mandado de segurança surgiu no Brasil para restringir o âmbito de
incidência do habeas corpus, que abarcava muito mais que a proteção da liberdade do paciente. Nesse
sentido, a lição do Ministro Gilmar Mendes:

A Constituição de 1891 estabeleceu no art. 72, §22: “dar-se-á habeas corpus sempre que o indivíduo sofrer
violência, ou coação, por ilegalidade, ou abuso de poder”.

A formulação ampla do texto constitucional deu ensejo a uma interpretação que permitia o uso do habeas
corpus para anular até mesmo ato administrativo que determinara o cancelamento de aluno em escola
pública, para garantir a realização de comícios eleitorais, o exercício de profissão, dentre outras
possibilidades.

[...] Esse desenvolvimento foi cognominado de “doutrina brasileira do habeas corpus”.

[...] A crise que produziu a revisão da “doutrina brasileira do habeas corpus”, com a reforma constitucional
de 1926, que alterou o §22 do art. 72, associando de forma expressa aquela ação à “prisão ou
constrangimento ilegal” à liberdade de locomoção, tornou evidente a necessidade de adoção de um
instrumento processual-constitucional adequado para a proteção judicial contra lesões a direitos subjetivos
públicos não protegidos pelo habeas corpus. Assim, a Constituição de 1934 consagrou, ao lado do habeas
corpus, e com o mesmo processo deste, o mandado de segurança para a proteção de “direito certo e
incontestável, ameaçado ou violado por ato manifestamente inconstitucional ou ilegal de qualquer
autoridade40.

Em resumo, antes de 1934, o HC abarcava a hipótese de cabimento do MS, que foi previsto em todas as
constituições posteriores, salvo a de 1937.

Importante observar que a própria Lei 12.016/2009 determina em seu art. 5º situações de não
cabimento do mandado de segurança, em especial, nas seguintes hipóteses:

- Contra ato administrativo passível de recurso com efeito suspensivo e independentemente de


caução;
- Contra ato judicial que tenha cabimento recurso processual com efeito suspensivo;
- Contra ato judicial com trânsito em julgado;

Além disso, a jurisprudência sumulou entendimento do não cabimento do mandado de segurança:

40
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 13ª ed. São Paulo: Saraiva,
2018, p. 443 e 459.
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- Contra lei em tese (como forma de controle da constitucionalidade) – Súmula 266 do STF;
- Para substituir ação popular – Súmula 101 do STF.

CLASSIFICAÇÕES DO MANDADO DE SEGURANÇA

Quanto ao momento Preventivo – diante da ameaça


do ato coator Repressivo – diante da lesão
Individual – situação em que o próprio titular do direito, em nome próprio,
Quanto à legitimidade demanda em juízo
ativa Coletivo – o ente legitimado à propositura da ação não é o titular do direito,
agindo, assim, como substituto processual – art. 21 da Lei 12.016/2009

→COMPETÊNCIA PARA O MANDADO DE SEGURANÇA

É determinada em função da autoridade. Em se tratando de autoridade federal, a competência será


da Justiça Federal, por outro lado, sendo a autoridade de âmbito estadual ou municipal, o mandamus será
impetrado perante a Justiça do Estado correspondente.

Um cuidado especial deverá ser tomado a esse respeito, pois determinadas autoridades possuem
juízo privilegiado, podendo o mandado de segurança ser de competência originária dos tribunais, conforme
o seguinte quadro41 (destacamos aqueles de competência da Justiça Estadual – 1ª ou 2ª instância):

AUTORIDADE COMPETÊNCIA
Presidente da República
Ministro do STF
Supremo Tribunal Federal
Presidente da Mesa da Câmara
Art. 102, I, d, CF/1988
Presidente da Mesa do Senado
Súmula 623 do STF
Presidente do Tribunal de Contas da União
Procurador-geral da República
Ministro de Estado (salvo se for ato de órgão
colegiado) Superior Tribunal de Justiça
Súmula 177 do STJ Art. 105, I, b, da CF/1988
Comandante da Marinha, Aeronáutica e Exército Súmula 624 do STF
Ministro do STJ
Competência do próprio Tribunal a que pertence
Desembargador federal ou estadual (membro de
o magistrado
Tribunal)
Súmula 41 do STJ
Competência do Tribunal ao qual o magistrado
Juiz de primeira instância
estiver vinculado
Governador de Estado Tribunal de Justiça do Estado como regra, nas
Mesa de Assembleia Legislativa Constituições dos Estados

41
Retirado de: BARROSO, Darlan; ROSSATO, Luciano Alves. Mandado de segurança. São Paulo: RT, 2009, p. 58-60.
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Procurador-geral de Justiça Por exemplo, art. 74, III da Constituição de SP


Atos relacionados com a jurisdição da Justiça do Justiça do Trabalho
Trabalho Art. 114, IV, da CF/1988
Autoridade federal – ato suportado pela União ou Juízo Federal
entidade por ela controlada Art. 109, VIII, da CF/1988
Juízo (Justiça estadual)
Autoridade estadual ou municipal
Constituições Estaduais
Colégio Recursal ou Turma recursal
Juiz do Juizado Especial
Súmula 376 do STJ
Ato do Juizado contestando a competência desse Tribunal de Justiça do Estado
órgão jurisdicional REsp 17.524/BA

→PRAZO DECADENCIAL

O art. 23 da Lei 12.016/2009 determina que o direito de impetrar o mandado de segurança decai
após 120 dias contados da data em que o interessado tomou ciência do ato coator.

Evidentemente, o prazo decadencial apenas tem aplicação no mandado de segurança repressivo,


já que na modalidade preventiva não ocorreu a prática ou ciência de ato.

→CONTRADITÓRIO NO MANDADO DE SEGURANÇA

A autoridade coatora é notificada para, no prazo de 10 dias, apresentar suas informações acerca
dos fatos narrados na inicial do mandado de segurança.

Observe-se que as informações não têm a natureza da contestação do processo comum. Sua falta
não gera confissão ou revelia. A diferença está na natureza desse ato de notificação – no mandado de
segurança a autoridade tem o dever de prestar as informações, sob pena de responsabilidade penal e
administrativa, o que não ocorre no processo comum com o réu, já que para este a legislação conferiu o ônus
da defesa (em caso de não haver contestação, o réu é revel).

No mandado de segurança, o representante judicial da pessoa jurídica de direito público é intimado


da impetração da ação e também das decisões proferidas na ação, isso para permitir que o ente público possa
intervir na ação e inclusive interpor recurso contra aos atos judiciais que lhe cause prejuízo.

→FORMA DA PETIÇÃO INICIAL DO MANDADO DE SEGURANÇA

O mandado de segurança é ação civil, típica modalidade de processo de conhecimento com rito
especial. Desta forma, não podemos deixar de destacar que, como regra, a inicial observará os requisitos do
art. 319 do CPC/2015.

Importante mencionar que a Lei 12.016/2009 regulamentou o procedimento do mandado de


segurança, revogando as leis anteriores que tratavam dessa modalidade de ação (Leis 1.533/1951 e
4.348/1964).

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Ciclos Método
A Lei do Mandado de Segurança prevê que a inicial do mandado de segurança deverá observar as
seguintes regras:

#MONTANDOOESQUELETO

a) competência – determinada em função da autoridade (conforme quadro anterior);


b) preâmbulo – deverá indicar o impetrante e sua qualificação, bem como a autoridade impetrada e a
pessoa jurídica de direito público a qual a autoridade está vinculada, por exemplo: Sr. Secretário de Estado
da Saúde, órgão do Estado;
c) caberá pedido de liminar com a demonstração de preenchimento dos requisitos do fundamento
relevante e do perigo de dano;
d) direito líquido e certo – o mandado de segurança tem cabimento diante de ato de autoridade que
seja lesivo à direito líquido e certo não amparado por outra garantia, assim, toda a fundamentação da peça
(Do Direito) será baseada na demonstração do principal requisito para a impetração e obtenção da
segurança;
e) pedido – formulado no sentido de que seja procedente para concessão da segurança;
f) requerimento de provas – não deve ser formulado no mandado de segurança, já que é modalidade
de ação que exige prova pré-constituída. No mandado de segurança não há dilação probatória para, por
exemplo, ouvir testemunhas ou realizar perícia. Excepcionalmente, o art. 6.º, § 1.º da Lei 12.016/2009 admite
apenas que seja realizada a requisição de documentos que se encontrem em poder de autoridade ou
repartição;
g) formação do contraditório – o impetrante deverá requerer a notificação da autoridade para prestar
as informações e a cientificação (ou intimação) do representante judicial da pessoa jurídica de direito público
que suportará os efeitos da ação. Importante: no mandado de segurança não é usado o termo citação;
h) intimação do Ministério Público – após a manifestação das partes, o juiz deverá encaminhar os autos
para manifestação do Ministério Público;
i) valor da causa – seguir a regra dos arts. 291 e 292 do CPC/2015. Importante que, como o mandado
de segurança não tem fim econômico direto, a regra é que o valor da causa será estimado pelo Impetrante.

No mandado de segurança coletivo, como trata a Constituição e a Lei 12.016/2009, a legitimidade


é concentrada apenas em algumas pessoas, assim, por se tratar de situação que foge à regra, a sugestão é
que o impetrante faça um capítulo ou item preliminar informando da legitimidade extraordinária.

→RECURSOS NO MANDADO DE SEGURANÇA

INSTÂNCIA PRONUNCIAMENTO RECURSO EFEITO


Suspensivo ou
Liminar (deferimento ou tutela antecipada
Agravo de instrumento
indeferimento) recursal (art. 1.019,
1ª instância I, do CPC/2015)
Duplo efeito
Sentença Apelação
Apenas devolutivo
Agravo para o órgão
MS Impetrado
Julgamento do pedido de colegiado – art. 16, Sem efeito
diretamente no
liminar pelo relator parágrafo único, da Lei suspensivo
Tribunal
12.016/2009

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(competência Recurso ordinário


originária) Julgamento do mérito – constitucional – art. 102, II, Duplo efeito
Acórdão denegatório – a e art. 105, II, b da CF/1988 (devolutivo e
recurso do impetrante e art. 1.027, I e II, a, do suspensivo)
CPC/2015.
Julgamento do mérito –
Acórdão concessivo da Recursos especial e Apenas efeito
segurança – recurso do ente extraordinário devolutivo
público

#SURRADEJURIS #AJUDAMARCINHO

Súmula 628-STJ: A teoria da encampação é aplicada no mandado de segurança quando presentes,


cumulativamente, os seguintes requisitos: a) existência de vínculo hierárquico entre a autoridade que
prestou informações e a que ordenou a prática do ato impugnado; b) manifestação a respeito do mérito nas
informações prestadas; e c) ausência de modificação de competência estabelecida na Constituição Federal.
O rito procedimental do mandado de segurança é incompatível com a intervenção de terceiros, conforme se
extrai do art. 24 da Lei nº 12.016/09, ainda que na modalidade de assistência litisconsorcial. STJ. 1ª Seção.
AgInt na PET no MS 23.310/DF, Rel. Min. Aussete Magalhães, julgado em 28/04/2020. STF. 2ª Turma. RExt-
AgR-ED 1.046.278/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJE 06/11/2020.
É incabível mandado de segurança contra decisão judicial transitada em julgado (art. 5º, III, da Lei nº
12.016/2009 e Súmula nº 268-STF). No entanto, se a impetração do mandado de segurança for anterior ao
trânsito em julgado da decisão questionada, mesmo que venha a acontecer, posteriormente, o mérito do MS
deverá ser julgado, não podendo ser invocado o seu não cabimento ou a perda de objeto. STJ. Corte Especial.
EDcl no MS 22.157-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/03/2019 (Info 650).
O mandado de segurança não é o instrumento processual adequado para o controle abstrato de
constitucionalidade de leis e atos normativos. STF. 2ª Turma. RMS 32.482/DF, rel. orig. Min. Teori Zavaski,
red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 21/8/2018 (Info 912).
Se no curso de um processo administrativo federal é praticado ato contrário aos interesses da parte, o prazo
de 120 dias para impetração de mandado de segurança somente se inicia quando a parte for intimada
diretamente, na forma do § 3º do art. 26 da Lei nº 9.784/99. O termo inicial para a formalização de mandado
de segurança pressupõe a ciência do impetrante, nos termos dos arts. 3º e 26 da Lei nº 9.784/99, quando o
ato impugnado surgir no âmbito de processo administrativo do qual seja parte. Ex: o Ministro da Justiça
negou o pedido de anistia política formulado por João; esta decisão foi publicada no Diário Oficial; o prazo
para o MS não se iniciou nesta data; isso porque, como há um processo administrativo, seria necessária a
intimação do interessado, na forma do art. 26, § 3º da Lei nº 9.784/99; somente a partir daí se inicia o prazo
decadencial do MS. STF. 1ª Turma. RMS 32487/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 7/11/2017 (Info 884).
Não cabe a fixação de honorários recursais (art. 85, § 11, do CPC/2015) em caso de recurso interposto no
curso de processo cujo rito exclua a possibilidade de condenação em honorários. Em outras palavras, não é
possível fixar honorários recursais quando o processo originário não preveja condenação em honorários.
Assim, suponha que foi proposta uma ação que não admite fixação de honorários advocatícios. Imagine que
uma das partes, no bojo deste processo, interponha recurso extraordinário. O STF, ao julgar este RE, não
fixará honorários recursais, considerando que o rito aplicável ao processo originário não comporta
condenação em honorários advocatícios. Como exemplo desta situação, podemos citar o mandado de
segurança, que não admite condenação em honorários advocatícios (art. 25 da Lei nº 12.016/2009, súmula
105-STJ e súmula 512-STF). Logo, se for interposto um recurso ordinário constitucional ou um recurso
extraordinário neste processo, o Tribunal não fixará honorários recursais. Assim, pode-se dizer que o art. 25
da Lei nº 12.016/2009, que veda a condenação em honorários advocatícios "no processo mandamental",

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afasta a incidência do regime do art. 85, § 11, do CPC/2015. STJ. 2ª Turma. RMS 52024-RJ, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, julgado em 6/10/2016 (Info 592).

#ATENÇÃO MÁXIMA!

O Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade de dispositivos da lei do mandado de segurança


(Lei 12.016/09) que restringiam as hipóteses de concessão de medida liminar. A decisão foi tomada pelo
Plenário da Corte, na sessão desta quarta-feira (9/6).

Um dos dispositivos declarados inconstitucionais é o parágrafo 2º do art. 7º, segundo o qual não se deve
conceder liminar, em sede de mandado de segurança, "que tenha por objeto a compensação de créditos
tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de
servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer
natureza".

A decisão do STF foi tomada em sede de ação direta de inconstitucionalidade proposta pelo Conselho Federal
da Ordem dos Advogados do Brasil.

O STF também declarou inconstitucional o parágrafo 2º do art. 22 da lei; ele determina que, no mandado de
segurança coletivo, a liminar só poderia ser concedida após a audiência do representante judicial da pessoa
jurídica de direito público, que deverá se pronunciar no prazo de 72 horas. O ministro Alexandre de Moraes
será o redator do acórdão, por ter proferido o voto vencedor.

Por fim, usem esse modelo de mandado de segurança como exemplo para montar seu esqueleto
de peça:

AO JUÍZO DE UMA DAS VARAS DA FAZENDA PÚBLICA DO RIO DE JANEIRO/RJ

NOME DO(A) AUTOR(A), (nacionalidade), (estado civil), (profissão), portador(a) do RG n. (número


do documento) e inscrito(a) no CPF sob o n. (número do documento), neste ato representado(a) por seu(sua)
genitor (a), NOME DO(A) GENITOR(A), (nacionalidade), (estado civil), (profissão), portador(a) do RG n.
(número do documento) e inscrito(a) no CPF sob o n. (número do documento), ambos(as) residentes e
domiciliados(as) na (endereço completo), por meio da DEFENSORIA PÚBLICA DO RIO DE JANEIRO,
presentada pelo Defensor Público que esta subscreve, vem, com fundamento no art. 5º, LXIX da CF/88 e na
Lei nº 12.016/2009, impetrar o presente

MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO DE LIMINAR

em face de ato do SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO, pessoa jurídica de direito público, inscrita
no CNPJ sob o n. (número do documento), com sede na (endereço completo), pelos motivos de fato e direito
que passa a expor.

1.DAS CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1.1 Da justiça gratuita

O(A) impetrante, nos termos do art. 98 do Código de Processo Civil, não possui recursos suficientes
para arcar com as despesas do processo. Requer, portanto, na forma do art. 99 do mesmo Código, a

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gratuidade da justiça, presumindo-se verdadeira a alegação de insuficiência, de acordo com o §3º, do citado
artigo42.

1.2.Das prerrogativas dos membros da Defensoria Pública

São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, nos termos do art. 88, da
Lei Complementar Federal n. 80/94 e do art.186 do CPC dentre outras receber, mediante entrega dos autos
com vista, intimação pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição ou instância administrativa,
contando-se-lhes em dobro todos os prazos. Requer-se, desde já, sua observância.

1.3. Da tempestividade.

Nos termos do art. 23 da Lei 12.016/09, o prazo decadencial para impetração de mandado de
segurança é de 120 (cento e vinte) dias. Considerando que a denegação de matrícula do(a) autor ocorreu em
15/03/2019, verifica-se que o presente writ foi apresentado antes do decurso de tal prazo.

2. DO CABIMENTO:

É cabível, no presente caso, o mandado de segurança por se tratar de ação constitucional movida
em face da negativa por Secretário de Educação do Município de Belo Horizonte de matrícula em escola
pública, havendo, nos termos de normas constitucionais, convencionais e legais, o direito líquido e certo de
matrícula de alunos com deficiência no sistema público de ensino, enquadrando-se a demanda em comento
na hipótese de cabimento de mandado de segurança, nos termos do art. 5º, LXIX, da CF e 1º e seguintes da
Lei 12.016/09.

3. DA SÍNTESE DOS FATOS:

Em 15/03/2019, o Secretário Municipal de Educação do Município de Belo Horizonte indeferiu a


matrícula do impetrante, criança com oito anos, sob a justificativa de que a Escola Paulo Freire, em que
cursaria o autor o ensino fundamental, não possui professores e assistentes capazes de lidar com alunos com
deficiência intelectual severa, nem tem estrutura para tanto. Não restando outra alternativa, foi necessário
que o impetrante movesse o presente mandamus, por meio da Defensoria Pública, para que fosse
assegurado seu direito líquido e certo.

4. DO DIREITO:

O direito à educação é direito social fundamental positivado na Constituição, em tratados


internacionais de direitos humanos e na legislação infraconstitucional, conforme se pode verificar, por
exemplo, da leitura dos art. 6º e 205, ambos da Constituição, art. 26 da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos e art. 2º da Lei 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB).

Para crianças e adolescentes, o direito à educação é um dos mais básicos, sendo essencial ao seu
desenvolvimento e formação pessoal e profissional. Nesse sentido, há vasta legislação protetiva: art. 227 da
CF; art. 53 e seguintes do ECA; art. 18 da Convenção sobre os Direitos da Criança.

Toda essa normativa prevê como dever do poder público de conferir educação nos níveis básicos
de forma gratuita a crianças e adolescentes. No presente caso, ademais, há uma peculiaridade: o(a) autor(a)

42
Lembre-se, porém, que o mandado de segurança é, em regra, uma ação gratuita. A utilidade desse pedido de
gratuidade, porém, decorre da possibilidade de interposição de recursos.
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é criança com deficiência intelectual, necessitando de especial atenção para que possa acompanhar as
atividades letivas, assegurando suas necessidades específicas.

As normas de proteção às pessoas com deficiência também apregoam que, para a real inclusão e
integração dessa minoria na sociedade, o direito à educação deve ser assegurado (vide art. 227, §1º, II, da
CF; art. 23 da Convenção sobre os Direitos da Criança; art. 54, III, do ECA; e arts. 8º, 27 e seguintes da Lei
13.146/15 – Estatuto da Pessoa com Deficiência - EPD).

Ademais, a jurisprudência pátria é unânime em admitir a importância da inclusão de alunos com


deficiência nas escolas. Inclusive, em sede de controle de constitucionalidade, o Supremo Tribunal Federal
reafirmou a obrigação, inclusive das escolas particulares, de promover a igualdade substancial por meio da
integração de crianças e adolescentes com deficiência sem quaisquer custos extras.

Por todo o exposto, é líquido e certo o direito do(a) autor(a) a exercer seu direito à educação na
Escola Paulo Freire, próxima ao seu endereço residencial, não se admitindo que o impetrado venha a arguir
teses como a da reserva do possível, separação de poderes ou ativismo judicial frente a um caso de cristalina
infringência a normas de ordem constitucional, convencional e legal.

5. DA CONCESSÃO DE LIMINAR

O art. 7º, III, da Lei 12.016/09 permite a concessão de liminar quando presente o fumus boni juris e
o periculum in mora. Pois bem. A probabilidade do direito está fartamente demonstrada, através da
flagrante violação do direito à educação em favor de crianças com deficiência, conforme toda a normativa
exposta anteriormente. Já o perigo da demora é evidente em razão de o ano letivo já estar em curso, sem
poder o impetrante comparecer às aulas, prejudicando seu desenvolvimento.

7. DOS PEDIDOS43

Diante do exposto, o(a) impetrante requer:

a) a observância das prerrogativas dos membros da Defensoria Pública, mormente as de intimação pessoal
mediante vista dos autos e prazo em dobro para quaisquer manifestações;

b) a tramitação com prioridade, nos termos do art. 9º, VII, da Lei 13.146/15;

c) a concessão de liminar para garantir a matrícula do impetrante na Escola Paulo Freire no presente ano
letivo;

d) a notificação da autoridade coatora para apresentação de informações no prazo legal;

e) a ciência da impetração desse writ à Procuradoria Geral do Município de Belo Horizonte para, querendo,
ingressar no feito;

f) a intimação do Ministério Público para ofertar parecer (art. 12 da Lei 12.016/09);

g) a procedência da ação, confirmando-se a liminar deferida, para garantir matrícula do impetrante na Escola
Paulo Freire no presente ano letivo.

43
Preste bastante atenção aos pedidos do MS!

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Dá-se à causa o valor de R$ ___ (valor por extenso), para fins fiscais.

Nesses termos, pede deferimento.

Cidade, (data).

Defensor Público

#RECAPITULANDO #TABELAAMIGA
FUNDAMENTO OBSERVAÇÕES
CABIMENTO ENDEREÇAMENTO PEDIDOS
LEGAL GERAIS
a) a concessão de - Prestar
liminar, nos termos do bastante atenção
art. 7º, III, da Lei se autoridade
Proteger direito 12.016/09; coatora detém
líquido e certo, não b) notificação da prerrogativa de
amparado por habeas autoridade coatora foro (e se não é
corpus ou habeas para apresentação de federal);
data, sempre que, informações no prazo - Fazer tópico
Art. 5º, LXIX da
ilegalmente ou com legal (art. 7º, I); sobre cabimento
CF/88 e na Lei Depende da
abuso de poder, c) a ciência da e legitimidade
nº 12.016/2009 autoridade
qualquer pessoa física impetração do writ ao passiva;
(MS individual) coatora
ou jurídica sofrer órgão de representação - Tópico para
(vide tabela
violação ou houver judicial da pessoa concessão de
Art. 5º, LXX e anterior sobre
justo receio de sofrê-la jurídica interessada liminar;
art. 21 da Lei competência para
por parte de para, querendo, - Prestar atenção
12.016/09 MS)
autoridade, seja de ingressar no feito (art. aos pedidos.
(MS coletivo)
que categoria for e 7º, II); - Valor da causa
sejam quais forem as d) a intimação do para efeitos
funções que exerça. Ministério Público para fiscais.
(art. 1º da Lei ofertar parecer (art. OBS: Não há
12.016/09) 12); pedido de
e) a procedência da condenação em
ação. custas e
honorários.

Com isso finalizamos o nosso Manual de Peças Cíveis para a 2ª fase do concurso da Defensoria
Pública do Rio de Janeiro. Espero que esse material o(a) ajude a alcançar os seus sonhos!

Um abraço,
Equipe Ciclos.

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