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Olá, futuro(a) Defensor(a) Público(a) do Rio de Janeiro! Nesse material nós vamos revisar os pontos
mais importantes da sua peça cível, lembrando que não há motivo algum para desespero, ainda que seja sua
primeira prova de 2ª fase. #JÁDEUCERTO.
Antes de iniciarmos, gostaria de ressaltar que o nosso objetivo aqui não é esgotar o conteúdo de
prática cível, mas apenas oferecer dicas, orientações gerais e modelos das peças mais cobradas em provas
de Defensoria Pública.
Caso haja dúvidas adicionais, não hesitem em consultar um material próprio sobre prática cível
(sugestões: TARTUCE, Fernanda; DELLORE, Luiz, Manual de Prática Civil - 14ª edição, editora Método, 2018 e
AZEVEDO, Júlio Camargo de. Manual de Prática Cível para Defensoria Pública. 2ª Edição, editora CEI, 2019).
Vamos começar?
SUMÁRIO
DICAS GERAIS
Percebam que o estudo que vocês fizeram até hoje não foi “apenas para a primeira fase”. O estudo
é completo e integrado. A informação, por exemplo, de que o prazo para a impetração do mandado de
segurança, de 120 dias, não é processual (e sim material, pois decadencial), não sendo computado em dias
úteis, serve tanto para resolver uma questão objetiva como para sustentar um tópico de tempestividade em
uma peça de 2ª etapa.
O que muda a partir de agora é a atenção que passará a ser dada à estrutura e à forma de exposição
do conhecimento que vocês já adquiriram durante a sua trajetória. Lembrando que o conhecimento jurídico
que vai ser demandado de vocês no enunciado da peça vocês já possuem (podem até, nesse momento, achar
que não, mas na prova vem a luz, acreditem!).
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Por Amanda Mineiro, Gustavo Ferreira e Matheus Nascimento.
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É muito importante conhecer os dispositivos do NCPC, saber onde estão os artigos que dizem
respeito à estrutura das peças, os artigos específicos de determinados procedimentos especiais, os
dispositivos relacionados à Defensoria.
Dessa forma, o nosso melhor amigo vai ser O NOSSO VADE MECUM. Ir mapeando artigos que
contenham, por exemplo, os requisitos de uma petição inicial (art. 319 do NCPC), a imposição de atribuição
de valor à causa (art. 291), os artigos que dizem respeito às tutelas provisórias (artigos 294 e seguintes) para
não esquecer de colocar esses itens que são comuns a quase todas as peças, conforme veremos também ao
longo de nossos treinos, vão certamente nos ajudar a estruturar com mais organização a nossa resposta e a
não esquecer nenhum detalhe formal.
Mas, atenção: não se preocupem em sair marcando os artigos todos de uma vez! Ao longo do nosso
estudo vamos percebendo aqueles que são mais essenciais, então vamos com calma que antes da prova já
teremos muito mais intimidade com nosso Vadinho e ele estará devidamente marcado de forma a facilitar
seu manuseio na hora da prova.
Lembrando que devemos sempre respeitar as disposições do edital – não podemos rasurar muito
o Vade ou fazer anotações fora do permitido. Para isso, muita atenção na leitura do art. 47 do regulamento,
o qual contém os materiais de uso proibido na hora da prova:
Art. 47, §2° – É vedada a consulta a qualquer compilação de conclusões extraídas de encontros de discussão
de Defensores Públicos, Membros da Magistratura ou do Ministério Público, ou de profissionais da área do
direito em geral, independentemente da denominação dada aos textos resultantes.
Essa permissão de marcação das leis, além de nos ajudar demais a economizar tempo na hora da
resolução da prova, vai fazer com que não nos esqueçamos de detalhes importantes que a banca costuma
pontuar.
Então partiu criar ainda mais intimidade com o nosso Vade, pois lá encontraremos a maior parte
dos requisitos formais de nossas peças, o que nos trará muita segurança na hora da prova. #JÁDEUCERTO
#MAPEAROVADEÉVIDA.
1º PASSO: Ler a questão com muita atenção e sublinhar as informações mais importantes.
Tudo o que é apresentado no caso da prova é importante (não há nada em vão no enunciado).
Desenvolvam a habilidade e a sensibilidade para saber o que o examinador quer aferir em vocês. É preciso
ser curioso e investigar o enunciado para identificar (sublinhem!) as pistas deixadas pelo examinador. Isso se
adquire com a prática e a leitura de espelhos de resposta. Portanto, aproveitem ao máximo os treinos
durante o curso e, quem tiver outros materiais de segunda fase, revise!
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Façam o esqueleto da peça, o que é diferente de rascunho. Para montar o esqueleto, basta dispor
e organizar em tópicos os argumentos que serão utilizados para responder a cada um dos itens necessários,
utilizando como roteiro o que foi destacado no enunciado da questão.
Separem em tópicos tudo que vocês entendem pertinente a ser abordado na sua resposta (sempre
de acordo com a pergunta, ok?! Nada de responder o que não foi questionado, mesmo que a informação
esteja correta!), para que a peça fique organizada e o examinador não tenha dificuldades para encontrar os
pontos do espelho. Quando falta organização, vocês passam a depender da disposição e boa vontade do
examinador para procurar os seus argumentos, correndo o risco de passar algo despercebido e ter que
recorrer depois.
Falando em disposição e boa vontade, evitem encher linguiça nas peças! Primeiro, porque o espaço
geralmente não é suficiente para a resposta, e, segundo, porque isso só vai criar mais uma dificuldade para
o examinador localizar os pontos do espelho, considerando que são muitas correções a fazer e o trabalho é
muito cansativo.
ATENÇÃO: muitos de vocês ficam ansiosos nessa etapa de fazer esqueleto. Querem começar logo a escrever,
com medo de não dar tempo. Respirem e tenham paciência. Um bom esqueleto, além de garantir nota alta,
vai facilitar MUITO na hora que vocês começarem a escrever. Vai evitar, por exemplo, ficar lembrando
informações no meio da resposta, o que torna o processo mais difícil e demorado, pois vocês terão que
arrumar um jeito de encaixar aquela informação de qualquer forma, prejudicando a clareza do texto.
Muitos candidatos ficam com pânico de começar a escrever e perdem muito tempo tentando
romper esse obstáculo inicial, somente conseguindo deslanchar quando o desespero bate.
Em primeiro lugar, saibam que esse medo é normal, mas pode ser superado com o treino. Uma dica
que ajuda bastante é já ter um começo “pré-moldado” para cada tipo de petição ou mesmo um começo
“coringa”.
Isso pode ajudar a destravar o início da peça, pois só de escrever o cabeçalho, qualificação, nome
da peça e prerrogativas da Defensoria, quando você se der conta, já terá escrito algumas linhas. Isso gera
confiança ao ver que a resposta já começou e está ganhando forma. Agora é só continuar no embalo!
Caprichem nos fundamentos, esclareçam os motivos do que está sendo alegado e conceituem os
institutos citados (ERRO COMUM: CITA, MAS NÃO EXPLICA). Se for exigido o prazo processual, demonstrem
como vocês chegaram àquela data. Porém, não esqueçam que o limite de linhas geralmente é bem curto,
logo não queiram doutrinar em cada tópico da peça (deixem essa parte para prova oral), tentem expor o
fundamento jurídico de forma simples e objetiva, mas sem aprofundar demais, se não você corre o risco de
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#ATENÇÃO: Cuidado com o endereçamento em petições iniciais. Prestem atenção se a matéria não exige um
direcionamento específico como para a Vara de Família, Vara da Infância e Adolescência ou Vara da Fazenda
Pública, por exemplo. Nos recursos, cuidado com a peça de interposição e peça de razões, lembrando que
a primeira normalmente é endereçada ao juízo “a quo” e as razões para o juízo “ad quem” (#EXCEÇÃO: no
Agravo de Instrumento, as duas peças são direcionadas ao juízo “ad quem”).
2. Correção
Como muitos de vocês ainda não tiveram a oportunidade de fazer uma prova de segunda fase,
trago aqui um exemplo de espelho de pontuação de peça cível da penúltima prova da DPE-RJ:
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Percebam que objetividade e clareza são muito importantes para que o examinador perceba que o
candidato colocou as informações necessárias, explicando brevemente cada uma delas, para poder atribuir-
lhe uma boa pontuação. Vamos juntos #DEVAGARESEMPRE que em breve estaremos habituados a montar
um bom esqueleto, sem que isso consuma todo o nosso tempo. Importante também manter em mente que
não precisamos “falar bonito” demais, no sentido de que é mais interessante colocar mais informações e
explicá-las de forma mais direta que passar muito tempo explicando uma coisa só, ainda que tenhamos mais
coisas para falar sobre aquele assunto.
Por exemplo, ao elaborar uma ação de indenização contra o Estado, requerendo danos morais para
o nosso assistido por conta do estado de coisas inconstitucional em que se encontram nossos presídios, é
importante que coloquemos no espelho, na parte “do direito”, as palavras-chave: a violação reiterada e
sistêmica dos direitos humanos dos presos, resultante de uma omissão deliberada das autoridades em
solucionar a situação caótica de nossas penitenciárias, as quais impõe condições subhumanas aos detentos,
demandando uma ação integrada de todos os poderes de forma a sanar essa falha estrutural de ineficiência
estatal (#ajudamarcinho #dizerodireito: “Estado de Coisas Inconstitucional ocorre quando....
Após, devemos expor que o STF já decidiu no sentido de entender devida a indenização por danos
morais ao custodiado que foi obrigado a passar por esse sistema degradante, estigmatizador e
inconstitucional (Considerando que é dever do Estado, imposto pelo sistema normativo, manter em seus
presídios os padrões mínimos de humanidade previstos no ordenamento jurídico, é de sua responsabilidade,
nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição, a obrigação de ressarcir os danos, inclusive morais,
comprovadamente causados aos detentos em decorrência da falta ou insuficiência das condições legais de
encarceramento. STF. Plenário. RE 580252/MS, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 16/2/2017 (repercussão geral) (Info 854).
Com isso, em 3 ou 4 linhas expomos as principais informações acerca do tema, ainda que não o
esgotemos, garantindo a nossa pontuação e deixando tempo o suficiente para avançarmos nas demais
questões. O ideal é expor o nosso conhecimento, mas se o tópico não for determinante para a peça/questão,
não devemos nos demorar muito nele, economizando, assim, tempo e espaço. Mas calma que ficaremos
craques.
Essa objetividade na escrita também previne que a banca desconte muitos pontos por conta de
“erros de português”, tanto por deslizes ortográficos, (todo mundo comete! Não se preocupem tanto com
essa parte!) quanto por errinhos de coesão/coerência. Frases mais curtas e objetivas e palavras menos
“rebuscadas” são uma aposta mais certeira para que a banca não tenha essa desculpa.
Pessoal, quero aqui frisar mais uma coisa muito importante: geralmente o que é pontuado não é
apenas aquilo que se almeja com a interposição da peça (ex: deve ser imposta o réu a obrigação de pagar
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Feitas essas considerações iniciais, vamos dar uma olhada nas peças que podem cair na nossa
prova?
A) PETIÇÃO INICIAL
II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no
Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e
a residência do autor e do réu;
V - o valor da causa;
VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;
§ 1o Caso não disponha das informações previstas no inciso II, poderá o autor, na petição inicial, requerer ao
juiz diligências necessárias a sua obtenção.
§ 2o A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de informações a que se refere o inciso II, for
possível a citação do réu.
§ 3o A petição inicial não será indeferida pelo não atendimento ao disposto no inciso II deste artigo se a
obtenção de tais informações tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça.
- Requisitos da Petição Inicial: art. 319 – atenção para a QUALIFICAÇÃO das partes, que agora inclui
a afirmação da existência de união estável e o endereço eletrônico. Ademais, o autor deve indicar se deseja
ou não a realização da audiência de conciliação ou mediação.
#ATENÇÃO: ao relatar os fatos, é importante ser sucinto para não gastar linhas com algo que não é pontuado.
Destinem, portanto, no máximo, 1 ou 2 parágrafos, isto é, no máximo 10 linhas para os fatos. Indiquem
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- NUNCA, JAMAIS INOVEM na indicação dos fatos. Trabalhem com o que está na prova.
- Lembrem-se que, em alguns procedimentos, é necessário o pedido de citação por edital, como
no caso da ação de USUCAPIÃO (arts. 256 e 259, do NCPC);
- Importante mencionar, logo no início, se o processo tem prioridade de tramitação, nos termos
do art. 1.048, do CPC/2015:
Art. 1.048. Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou tribunal, os procedimentos judiciais:
I - em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou
portadora de doença grave, assim compreendida qualquer das enumeradas no art. 6º, inciso XIV, da Lei nº
7.713, de 22 de dezembro de 1988 ;
III - em que figure como parte a vítima de violência doméstica e familiar, nos termos da Lei nº 11.340, de 7 de
agosto de 2006 (Lei Maria da Penha). (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019)
IV - em que se discuta a aplicação do disposto nas normas gerais de licitação e contratação a que se refere
o inciso XXVII do caput do art. 22 da Constituição Federal. (Incluído pela Lei nº 14.133, de 2021)
- #NÃOSEESQUEÇA: a Lei nº 13.466/2017 criou, dentro das prioridades conferidas aos idosos, uma
“super prioridade” para as pessoas com 80 anos ou mais.
§ 5º Dentre os processos de idosos, dar-se-á prioridade especial aos maiores de oitenta anos. (Incluído pela
Lei nº 13.466/2017)
- Depois de concluídos os pedidos, deixem um espaço entre o último pedido e a data, local e
assinatura, de modo que, durante o restante da prova, caso se recordem de algo, o espaço poderá ser usado
para acrescentar alguma coisa.
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Tutela cautelar
Tutela de urgência
Tutela provisória Tutela antecipada
- Lembrem-se de que a tutela de urgência pode ser concedida liminarmente (art. 300, § 2º, do
NCPC), assim como a tutela de evidência prevista nos incisos II e III do art. 311 do NCPC (conforme o
parágrafo único deste dispositivo).
#MODELODEPEÇA
AÇÃO DE MANUTENÇÃO DE POSSE C/C PEDIDO LIMINAR E DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E
MATERIAIS
A autora, nos termos do art. 98 do Código de Processo Civil, não possui recursos suficientes para arcar com
as despesas do processo. Requer, portanto, na forma do art. 99 do mesmo Código, a gratuidade da justiça,
presumindo-se verdadeira a alegação de insuficiência, de acordo com o §3º, do citado artigo.
Em atenção ao disposto no inc. VII, do art. 319, do CPC, registre-se a opção da autora pela não realização de
audiência de conciliação ou de mediação.
Em obediência à norma do §2º, do art. 73, do CPC, encontra-se, em anexo, a autorização do Sr. Lauro, cônjuge
da autora, para a sua propositura desta ação, que trata de composse.
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Dessa forma, tendo em vista que a turbação ainda está vigente, deve-se aplicar o rito do art. 560 e seguintes
do CPC, nos termos do art. 558.
São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública, nos termos dos arts. 83 e 87 da Lei Complementar
Estadual 06/77, bem como do art. 128 da Lei Complementar Federal n. 80/94, dentre outras:
a) receber, mediante entrega dos autos com vista, intimação pessoal em qualquer processo e grau de
jurisdição ou instância administrativa, contando-se-lhes em dobro todos os prazos;
b) representar a parte, em feito administrativo ou judicial, independentemente de mandato,
ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;
c) ter o mesmo tratamento reservado aos Magistrados e demais titulares dos cargos das funções
essenciais à justiça;
2 DOS FATOS
(RESUMO DO ENUNCIADO)
3 DO DIREITO
3.1 Da posse da autora e de sua manutenção, dos atos de turbação e da possibilidade de defesa da
posse de bem público
Desde o ano de 2004, a autora e seu cônjuge, o Senhor Lauro, usam e fruem do bem imóvel. Por terem, de
fato, o exercício pleno desses poderes inerentes à propriedade (o uso e o gozo do bem), e não se acharem
em relação de dependência com qualquer outra pessoa, são a autora e seu cônjuge possuidores do bem
(arts. 1.196 e 1.198 do Código Civil).
Ademais, a posse do casal é considerada justa (eis que sem violência, clandestinidade ou precariedade) e de
boa-fé (pois ignoram o obstáculo à aquisição da coisa).
Os documentos anexos (contrato particular de compra e venda, recibos, contas de água, luz, telefone, boletos
e correspondências), além das testemunhas arroladas, são capazes de comprovar a posse e suas
características.
No entanto, como relatado, desde janeiro de 2016, a ré vem turbando a posse da autora, tendo, inclusive,
destruído parte do muro do imóvel. Trata-se de turbação, pois a autora se mantém na posse do imóvel,
apesar dos atos abusivos da ré, que perturbam o exercício da posse.
Os atos de turbação, que se mantém até hoje, consistem na passagem, com máquinas pesadas, por dentro
do imóvel, a partir do muro destruído, durante vários dias na semana, com a finalidade de diminuir a distância
percorrida pelos empregados da ré, na construção de um condomínio nas proximidades.
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Embora se trate de bem público, segundo entendimento do STJ (REsp 1.296.964-DF, julgado em 18/10/2016),
é possível o manejo de ações possessórias por particular contra particular em defesa da posse de bem
público.
Como exposto no item 1.4 supra, aplica-se, ao presente caso, o rito especial das ações possessórias, regido
pelos arts. 560 a 566 do CPC.
Os documentos juntados a esta petição inicial (contrato de compra e venda, correspondências e contas de
água, luz, telefone, no endereço do imóvel, além das várias fotos e vídeos) provam a posse, a turbação, pela
requerida, e, também, a manutenção da posse.
Estando a inicial devidamente instruída e levando-se em consideração o risco enfrentado pela requerente e
seus familiares, bem como a violação a sua intimidade e tranquilidade, faz-se necessária, nos termos do art.
562, do CPC, que seja deferida, antes mesmo da oitiva do réu, a expedição do mandado liminar de
manutenção de posse.
Além disso, nos termos do parágrafo único, do art. 555, do CPC, que autoriza o requerimento, pelo autor, da
imposição de medida necessária e adequada para evitar nova turbação, requer-se, também:
Dispõe o art. 555, inc. I, do CPC, que, nas ações possessórias, é lícito ao autor cumular, ao pedido possessório,
o de condenação em perdas e danos.
Os danos morais consistem nas violências sofridas pela autora em sua moral e dignidade, que ultrapassam
meros aborrecimentos. A invasão de privacidade sua e de sua família, com funcionários da ré circulando pelo
terreno de onde mora, com acesso a janelas, às áreas de lazer da residência; o sofrimento de ver sua filha
lesionada, com o pé quebrado; a preocupação de ter a filha novamente machucada, por uma máquina
pesada.
Tudo isso fundamenta a condenação da ré na indenização por danos morais, que devem ser fixados em
R$20.000,00 (vinte mil reais).
A autora também sofreu danos materiais, como demonstram os documentos anexos. O muro do imóvel fora
parcialmente destruído, o gramado de boa parte do terreno foi desgastado e as plantas foram mortas,
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Os danos materiais, portanto, somam R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais), que poderão ser reduzidos,
caso a ré cumpra com a medida de reconstrução do muro, requerida a título de tutela de urgência.
4 DOS PEDIDOS
a) A concessão dos benefícios da justiça gratuita, por ser a autora pobre, na forma da lei;
- Seja determinado que ré a reconstrua o muro por ela derrubado, inclusive como forma de dificultar novas
invasões no terreno;
- Seja determinado que a ré instrua todos os funcionários envolvidos na obra que respeitem o direito de
posse da autora, ainda que aumente a carga de trabalho deles;
- Que seja fixada multa de R$1.000,00 (mil reais) por cada novo ato de turbação, bem como por cada dia de
descumprimento das determinações dos itens anteriores.
c) Concedida a liminar, requeremos, desde já, a citação da ré, no endereço de sua sede;
- A abster-se de praticar novos atos de turbação, sob pena de multa, por cada ato de turbação, no valor de
R$1.000,00 (mil reais);
- A indenizar a autora, no valor de R$3.500,00 (três mil e quinhentos reais) a título de danos materiais,
abatendo-se do valor a construção do muro, caso cumprida a determinação do item “b”, i, acima;
- A indenizar a autora, no valor de R$20.000,00 (vinte mil reais), pelos danos morais sofridos;
f) Requer-se, ainda, a produção de todas as provas em direito admitidas, em especial, a oitiva das
testemunhas arroladas, a juntada das provas já anexas e de novos documentos e diligências.
Dá-se à causa do valor de R$28.500,00 (vinte e oito mil e quinhentos reais), referentes à soma do proveito
econômico advindo da manutenção na posse com a indenização pleiteada a título de danos morais e
materiais.
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Cidade, data.
Defensor Público.
#RECAPITULANDO #TABELAAMIGA
FUNDAMENTO
CABIMENTO ENDEREÇAMENTO PRAZO PEDIDOS
LEGAL
Diante do exposto, requer-
se:
1) tutela provisória, sob pena
de multa
2) Citação (sob pena de
revelia e confissão)
3) Contestados ou não, sejam
julgados procedentes os
pedidos para que (pedidos de
mérito)
Procedimento Art. 319 e
Juiz Não 4) Produção de provas
Ordinário seguintes do CPC
5) Concessão de Justiça
Gratuita
6) condenação em custas
processuais e honorários
advocatícios (sucumbência).
Pedidos facultativos:
Tramitação prioritária;
Intimação do MP (art. 178 do
CPC)
Procedimento do
Juizado Especial
a) causas até 40 Não formular pedido de
salários; condenação em sucumbência
b) matérias do art. Art. 14 da Lei (salvo má-fé).
275, II, do CPC/73; 9.099/95 c/c art. Juizado Não Se deve requerer a citação do
c) despejo p/ uso 319 do NCPC. réu apenas para que
próprio; compareça à audiência de
d) possessórias conciliação.
sobre bens imóveis
de até 40 salários.
OBSERVAÇÕES GERAIS
- Endereçamento;
-Qualificação das partes, exige a afirmação da existência de união estável e o endereço eletrônico;
- Fatos e fundamentos jurídicos do pedido;
- Pedido;
- Valor da causa;
- As provas a serem produzidas;
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Essa peça é a cara da Defensoria Pública, especialmente em razão da alteração da Lei da Ação Civil
Pública que incluiu a Defensoria Pública entre os seus legitimados, e do julgamento do STF declarando a
constitucionalidade deste dispositivo (ADI nº 3943).2
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https://www.dizerodireito.com.br/2015/05/stf-decide-que-defensoria-publica-pode.html
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- A Lei n° 11.448/07 incluiu no rol de legitimados a Defensoria Pública. A instituição será legitimada sempre
que houver interesses de necessitados, em sentido amplo, não se limitando aos necessitados econômicos,
conforme definido pelo STF e STJ. Será legitimada para a tutela dos direitos difusos, coletivos em sentido
estrito e individuais homogêneos. A existência de pessoas não necessitadas no grupo não elide a
legitimação da defensoria, mas a ausência de interesses de necessitados é causa de ausência de
legitimação.
2) O polo ativo deve ser uma coletividade. Se a peça apontar uma pessoa física no polo ativo, não
é caso de ACP, por ausência de legitimidade.
a. Do cabimento da ACP: a LACP traz, em seu artigo 1º, as hipóteses de cabimento dessa ação coletiva. É
essencial o domínio desse dispositivo para correta identificação do cabimento da ACP. Além disso, é
imprescindível a preliminar de cabimento dessa ação coletiva, explicando que o caso trazido pela questão se
adequa a este dispositivo legal.
b. Da legitimidade da Defensoria Pública para propor ACPs: como exposto acima, recentemente foi
consolidada a legitimidade da Defensoria para a propositura de ACPs, de forma que você também fazer uma
preliminar na peça tratando sobre essa questão.
c. Da competência do foro do local do dano: lembrem-se que o local para propositura da ACP é o local onde
ocorrer o dano, conforme previsão legal expressa do artigo 2º, da LACP.3
d. Da dispensa de adiantamento das custas e emolumentos: a LACP, em seu artigo 18, traz previsão legal
expressa sobre a desnecessidade do pagamento antecipado de qualquer custa ou emolumento para
propositura dessa ação coletiva.4
Antes de mais nada, o tema é simples e a ideia aqui é a emancipação da atuação da Defensoria
dentro do sistema de justiça sempre que houver a existência de qualquer espécie de vulnerabilidade
envolvida.
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Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência
funcional para processar e julgar a causa.
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Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e
quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de
advogado, custas e despesas processuais. (Redação dada pela Lei nº 8.078, de 1990)
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Talvez uma leitura apressada possa levar a uma interpretação de que a atuação da Defensoria
Pública estaria limitada àqueles casos em que presente indivíduos economicamente necessitados. Não, né?
A vulnerabilidade/hipossuficiência/necessidade transcende ao aspecto meramente econômico.
Não por outra razão, é garantido o acesso a toda criança e adolescente aos serviços da Defensoria
Pública e não só de toda criança e adolescente economicamente desprovidos (art. 141, caput, do ECA). A
mesma situação ocorre em relação à mulher vítima de violência doméstica, à qual é garantida a assistência
da Defensoria Pública, independentemente de sua situação financeira (art. 28, da L. 11.340/06). Aliás, a
atuação da defensoria, nestes casos, é apontada pela Lei Orgânica da Defensoria Pública como efetiva
atribuição institucional (art. 4º, XI, da Lei Complementar 80/94).
Assim, trata-se de perceber, neste aspecto, que o texto normativo traz em si um compromisso a
tornar juridicamente equivocado qualquer entendimento que limite a atuação da Defensoria Pública a
situações de simples carência de recursos financeiros.
Sempre que possível analise atentamente o caso e avalie a necessidade de pedir algumas das tutelas
provisórias previstas nos artigos. 300 e seguintes do CPC. Observem também o artigo 12 da Lei 7.347/85
(LACP).
#MODELODEPEÇA
A DEFENSORIA PÚBLICA DO RIO DE JANEIRO, neste ato presentada pelo Defensor Público que esta subscreve,
com sede na rua ..., endereço eletrônico ..., vem propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE TUTELA DE
URGÊNCIA, com fundamento nos artigos 1º, inciso III, 134 e 196 da CF/88, art. 4º, VII, da LC 80/94, da LC
06/77 e do artigo 1º, inciso IV, da Lei 7.347/95, em face do RIO DE JANEIRO, pessoa jurídica de direito
público, com sede na rua ..., representada pelo Exmo. Governador e, em juízo, pelo seu procurador (art. 75,
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I- DOS FATOS
Dispensados.
II – DA COMPETÊNCIA
Consoante o art. 21, da Lei da Ação Civil Pública, a competência para julgamento de ações coletivas está
relacionada com o local e extensão do dano. Portanto, o juízo competente para processar e julgar a causa é
o Juízo de uma das Varas da Fazenda Pública do Rio de Janeiro.
A presente petição inicial tem como causa de pedir questão atinente à saúde pública urgente, em razão da
falta de leitos de UTI. Tal questão, sem dúvida, insere-se dentre as atribuições da Defensoria Pública. O direito
à saúde possui natureza difusa, sendo que a Defensoria Pública possui legitimidade para a propositura de
ação civil pública a fim de promover a tutela judicial de direitos difusos e coletivos de que sejam titulares, em
tese, pessoas necessitadas.
A legitimidade da Defensoria Pública para ajuizar ação civil pública é prevista expressamente no artigo 134
da CF/88, no artigo 5º, II, da Lei 7.347/85 e no artigo 4º, VII e X, da LC 80/94 e é reforçada pela jurisprudência
dos Tribunais Superiores.
A legitimidade passiva do Rio de Janeiro decorre da CF/88, segundo a qual a competência quanto aos
cuidados da saúde é comum entre os entes federativos (art. 23, II, e art. 196 da CF/88), bem como da Lei
8.080/90 que disciplina a organização, direção e gestão do Sistema Único de Saúde.
No caso da oferta de assistência intensiva, a responsabilidade está direcionada ao Rio de Janeiro, o qual deve
figurar como parte legitimada passiva, uma vez que a decisão projetará efeitos diretos sobre sua respectiva
esfera jurídica.
V - DA ISENÇÃO DE CUSTAS
A Defensoria Pública é isenta de custas e eventuais honorários advocatícios sucumbenciais, nos termos do
artigo 18 da Lei 7.374/85.
Pugna-se pela observância das prerrogativas processuais conferidas à Defensoria, sobretudo o prazo em
dobro e a intimação pessoal, bem como a dispensa de mandato para atuação (artigo 128, I e XI, da LC 80/94
e art. 186, CPC).
19
415.743.458-77
Por ser indissociável do direito à vida e do princípio da dignidade da pessoa humana (1º, III, da CF/88), o
direito à saúde possui o caráter de direito fundamental, bem como é direito subjetivo do indivíduo. Integra
não apenas os direitos sociais (CF/88, art. 6°), mas também o grupo de direitos que compõem o mínimo
existencial. Outrossim, o direito à saúde se inclui entre os direitos de segunda geração, os quais são
caracterizados por demandarem prestações positivas por parte do Estado.
Os fundamentos básicos do direito fundamental à saúde estão elencados nos arts. 196 a 200 da CF/88. Em
nível infraconstitucional, o direito à saúde é tutelado e garantido pela Lei 8.080/90, que dispõe sobre as
condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde. Segundo o art. 2º da referida lei, a saúde é
um direito fundamental do ser humano, de modo que é dever do Estado prover as condições indispensáveis
à sua plena fruição.
De acordo com o artigo 7º, inciso I e II, da Lei 8.080/90, as ações e serviços públicos que integram o SUS
devem observar os princípios da universalidade e integralidade de assistência, sendo dever do Estado
garantir os serviços assistenciais a todos, sem distinção de qualquer natureza, para a recuperação de
pacientes de baixa, média e de alta complexidade.
Todavia, no presente caso, conforme documentos em anexo, o Estado se abstém de cumprir seu dever de
garantir um adequado serviço de saúde pública, permitindo que pessoas faleçam diariamente por falta de
leitos de UTI. As pessoas acometidas de grave doença são submetidas a restrições que agravam sua situação
e, consequentemente, viola-se o princípio fundamental da dignidade humana e macula-se a garantia
constitucional à saúde.
Não obstante a Defensoria Pública ter recomendado ao Rio de Janeiro a reativação imediata dos 25 leitos de
UTI, o Poder Público não se propôs a reverter a situação e alegou restrições orçamentárias. Em caso de
omissão estatal na garantia do direito à saúde, tal como preconizado pela normativa constitucional e legal,
abre-se a possibilidade de exigência de prestações positivas por parte do Estado.
Sob outro viés, registre-se que, por detrás da escusa de realizar as políticas públicas garantidas pela CF/88,
figura um sutil argumento correntemente utilizado: a falta de recursos financeiros. Contudo, a jurisprudência
do STF é assente no sentido de que a reserva do possível não é oponível aos direitos que configuram o
chamado mínimo existencial.
O mínimo existencial é capaz de conviver produtivamente com a reserva do possível. A definição das políticas
públicas deve estar dirigida, com prioridade, à efetivação dos direitos fundamentais individuais e coletivos,
não se admitindo qualquer escusa de ordem orçamentária, mormente quando se referir aos direitos à vida e
à saúde. Nesse sentido é a jurisprudência dos Tribunais Superiores.
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415.743.458-77
A probabilidade do direito restou demonstrada pelo exposto acima, sendo evidente a violação ao direito
fundamental à saúde e à dignidade da pessoa humana. O perigo de dano, por sua vez, reside na omissão por
parte do Rio de Janeiro em adotar providências efetivas tendentes a evitar os riscos à vida e à saúde dos
pacientes que necessitam de leitos de UTI.
Dessa forma, considerando as circunstâncias acima referidas, a Defensoria Pública, na forma dos artigos 12
da LACP e 297 e 300 c/c 497, do CPC, requer a concessão de tutela de urgência, inaudita altera parte, para
que o Rio de Janeiro proceda à imediata reabertura de 25 leitos de UTI no Hospital X.
#RECAPITULANDO #TABELAAMIGA
FUNDAMENTO OBSERVAÇÕES
CABIMENTO ENDEREÇAMENTO PEDIDOS
LEGAL GERAIS
Tutelar direitos a) concessão de Tópico sobre
difusos, coletivos e Art. 1º e seguintes Foro do local onde antecipação de tutela Legitimidade
individuais da Lei 7.347/85. ocorrer o dano com cominação de concorrente e
homogêneos. astreintes; disjuntiva da
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415.743.458-77
C) CONTESTAÇÃO
Vamos analisar uma peça que, apesar de não ter sido cobrada nas últimas provas de Defensoria
Pública, terá enorme importância na sua vida prática: a Contestação.
Art. 335. O réu poderá oferecer contestação, por petição, no prazo de 15 (quinze) dias, cujo termo inicial será
a data:
III - prevista no art. 231, de acordo com o modo como foi feita a citação, nos demais casos.
§ 1o No caso de litisconsórcio passivo, ocorrendo a hipótese do art. 334, § 6o, o termo inicial previsto no inciso
II será, para cada um dos réus, a data de apresentação de seu respectivo pedido de cancelamento da
audiência.
§ 2o Quando ocorrer a hipótese do art. 334, § 4o, inciso II, havendo litisconsórcio passivo e o autor desistir da
ação em relação a réu ainda não citado, o prazo para resposta correrá da data de intimação da decisão que
homologar a desistência.
Art. 336. Incumbe ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de defesa, expondo as razões de fato e de
direito com que impugna o pedido do autor e especificando as provas que pretende produzir.
22
415.743.458-77
V - perempção;
VI - litispendência;
VIII - conexão;
X - convenção de arbitragem;
XII - falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar;
§ 2o Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo
pedido.
§ 4o Há coisa julgada quando se repete ação que já foi decidida por decisão transitada em julgado.
- O prazo é de 15 dias ÚTEIS (art.219 c/c 335); - na contagem de prazo, não inventem fatos que não
foram mencionados no caso;
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415.743.458-77
- Atenção ao ônus da impugnação específica dos fatos. Apesar de o artigo 341, parágrafo único,
dispensá-lo para os defensores públicos, em provas de concursos públicos devemos rebater todos os
argumentos apresentados na questão.
V - perempção;
VI - litispendência;
VIII - conexão;
X - convenção de arbitragem;
XII - falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar;
- Prestem atenção nos requisitos específicos das ações possessórias, pois, numa eventual
contestação, vocês podem ter que argumentar: a falta de citação por edital, a ausência de ampla
publicidade, a falta de intimação da Defensoria quando envolver pessoas em situação de hipossuficiência
econômica.
#ATENÇÃO: Não deixe de se manifestar acerca do pedido de tutela de urgência (ou tutela de evidência) do
autor, rebatendo a existência dos requisitos para a concessão.
#CUIDADO: Atenção às hipóteses de reconvenção ou pedido contraposto, pode ser que o examinador exija
a inclusão destas na contestação.
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415.743.458-77
#MODELODEPEÇA
A requerida, nos termos do art. 98 do Código de Processo Civil, não possui recursos suficientes para arcar
com as despesas do processo. Requer, portanto, na forma do art. 99 do mesmo Código, a gratuidade da
justiça, presumindo-se verdadeira a alegação de insuficiência, de acordo com o §3º, do citado artigo.
1.2 Da não realização de audiência de conciliação ou mediação e do início do prazo para contestar
Verifica-se que, em sua petição inicial, a autora externou sua opção pela não realização de audiência de
conciliação ou de mediação.
Esta Defensoria Pública, no dia 16 de outubro deste ano já peticionou nos autos de origem informando
desinteresse na realização da referida audiência e pedindo seu cancelamento.
Diante do exposto, na forma do inc. I, do §4º, do art. 334, do CPC, no presente caso, não será realizada a
audiência de mediação ou conciliação, iniciando-se o prazo para apresentação de contestação a partir do
protocolo do pedido de cancelamento dessa audiência (inc. II, do art. 335, do CPC).
São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública, nos termos do arts. 83 e 87 da Lei Complementar
Estadual 06/77, com redação dada pelas Emendas de números 61/12 e 86/15, bem como do art. 128 da Lei
Complementar Federal n. 80/94, dentre outras:
a) receber, mediante entrega dos autos com vista, intimação pessoal em qualquer processo e grau de
jurisdição ou instância administrativa, contando-se-lhes em dobro todos os prazos;
25
415.743.458-77
Determina o art. 147, do Estatuto da Criança e do Adolescente que a competência será determinada pelo
domicílio dos pais ou responsável. Interpretando referida norma, recentemente, entendeu o STJ que o foro
competente para julgar controvérsias sobre a guarda de criança ou adolescente é o domicílio de quem detém
sua guarda de fato (REsp 1597194/GO).
Não obstante a guarda de fato da criança seja exercida pela requerida, desde a separação, e ambos (filho e
mãe) serem domiciliadas no ________-RJ, a presente demanda foi proposta perante a 6ª Vara de Família de
Curitiba – PR.
Nítida, portanto, a incompetência do Juízo da 6ª Vara de Família de Curitiba, devendo o processo ser
remetido para este juízo, onde foi distribuída a Carta Precatória.
Ademais, constata-se que o Código de Processo Civil autoriza a apresentação de contestação, em havendo
alegação de incompetência, relativa ou absoluta, no foro de domicílio do réu. No presente caso, protocolada
a contestação nos autos da carta precatória, deverá ser feita sua remessa ao juiz da causa (art. 340, caput e
§1º).
3 DOS FATOS
(RESUMO DO ENUNCIADO)
Entretanto, os fatos narrados na inicial não correspondem à realidade, conforme será visto a seguir:
(RESUMO DAS ALEGAÇÕES FEITAS PELA ASSISTIDA E REQUERIDA)
4 DO DIREITO
Nas conversas, a requerente culpa a requerida pela separação, dizendo ao filho que ela não seria a pessoa
ideal para exercer sua guarda e que, inicialmente, nem mesmo desejava sua adoção.
Trata-se de conduta amoldada ao exemplo do inc. I, do parágrafo único, do art. 2º, da Lei n. 12.318/10, que
dispõe sobre a alienação parental:
Parágrafo único: São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz
ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros:
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415.743.458-77
Nos termos do art. 3º da referida lei, na alienação parental, há violação do direito fundamental da criança e
do adolescente a uma convivência familiar saudável, restando prejudicada a realização de afeto nas relações
com a genitora e com o grupo familiar. Tal prática constitui abuso moral contra a criança e adolescente e
descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda.
Por tais motivos, a prática de ato de alienação parental deve ser urgentemente reprimida, evitando-se
maiores prejuízos na relação entre a genitora alienada e a criança vítima das interferências. Para tanto, no
presente caso, de acordo com o art. 6ª, da citada lei 12.318, deve-se, cumulativamente e sem prejuízo da
responsabilidade civil e criminal da requerente:
O instituto da guarda encontra-se implicitamente previsto na Constituição Federal em seus artigos 227 e 229,
que estabelece as responsabilidades dos pais para com os filhos e assegura ainda o direito a toda adolescente
a ter um guardião para protegê-la, prestando-lhe toda assistência na ausência dos genitores.
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade,
o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
O art. 1.584, §2º, do Código Civil, com redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014, conferiu prioridade ao
regime compartilhado de guarda, reservando a unilateralidade apenas para situações excepcionais:
Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho, encontrando-se ambos os genitores
aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a guarda compartilhada, salvo se um dos genitores declarar
ao magistrado que não deseja a guarda do menor.
Assim, não possui razão a requerente ao pretender a concessão da guarda unilateral da criança, devendo-se
determinar o compartilhamento da guarda entre ambas as genitoras.
Além disso, tendo em vista que, há mais de dois anos, a guarda de fato do filho vem sendo exercida pela
requerida, que consegue, exemplarmente, tutelar seus direitos e interesses, como atestam os documentos
anexos, e, ainda, a prática de alienação parental pela requerente, deverá o domicílio da criança ser fixado
junto à requerida.
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415.743.458-77
Dessa forma, serão evitadas alterações bruscas na rotina e no estilo de vida da criança, sendo mais benéfica
a manutenção de sua atual situação. Portanto, deve-se julgar improcedente o pedido da autora.
Por fim, o contato da criança com a outra genitora será garantido por meio das visitas, que nunca foram
obstadas pela requerida, respeitando-se a norma do art. 1.589, do CC. Pretende-se que elas sejam realizadas
quinzenalmente, por parte da requerente.
Requereu a autora, na petição inicial, tutela de urgência para concessão da guarda unilateral da criança. No
entanto, o pedido não merece prosperar, diante da ausência dos pressupostos do art. 300, do CPC: não há,
na inicial, elementos que evidenciem a probabilidade do direito. Pelo contrário, demonstra a própria autora
a ocorrência de alienação parental e atenta contra a literalidade da norma do art. 1.584, §2º, do Código Civil,
ao pleitear a guarda unilateral ao invés da guarda compartilhada. Também deixou de comprovar que,
conforme alegado, exerce a guarda de fato do filho do casal. Por fim, não demonstrou a autora o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo, tendo conhecimento da localização do filho e, inclusive, sendo-
lhe assegurado o direito de visitas.
De forma diversa, no presente caso, encontram-se preenchidos os requisitos para concessão de tutela de
urgência em favor da requerida. Senão vejamos:
5 DOS PEDIDOS
a) A concessão dos benefícios da justiça gratuita, por ser a requerida pobre, na forma da lei;
b) Seja esta contestação remetida ao juízo da causa, juntamente com a carta precatória por ele
expedida;
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h) Que seja a autora condenada ao pagamento de custas e despesas processuais e honorários advocatícios,
revertidos em favor do Fundo de Aparelhamento da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, nos termos da Lei
Complementar Estadual nº 06/77 e do art. 4º, inciso XXI, da Lei Complementar nº 80 de 1994;
Cidade, data.
Defensor Público.
#RECAPITULANDO #TABELAAMIGA
FUNDAMENTO ENDEREÇAMEN
CABIMENTO PRAZO PEDIDOS
LEGAL TO
Pedidos específicos quanto as
preliminares (Ex: remessa dos
autos ao juízo competente,
extinção do processo sem
resolução do mérito, extinção
do processo com resolução do
Juízo em que mérito);
Art. 335 a 343 do
Resposta do réu corre o 15 dias úteis Sejam julgados improcedentes
NCPC
processo os pedidos formulados na
inicial;
Produção de provas;
Concessão de benefícios da
justiça gratuita.
OBSERVAÇÕES GERAIS
Alegar a tempestividade da peça apresentada.
Preliminares: inexistência ou nulidade da citação; incompetência absoluta e relativa; incorreção do valor da
causa; inépcia da petição inicial; perempção: litispendência; coisa julgada; conexão; incapacidade da parte,
defeito de representação ou falta de autorização; convenção de arbitragem; ausência de legitimidade ou de
interesse processual; falta de caução ou de prestação que a lei exige como preliminar; indevida concessão
do benefício da gratuidade da justiça.
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415.743.458-77
D) EMBARGOS À EXECUÇÃO
A peça deve ser endereçada ao próprio juiz responsável pela execução. Além disso, deve-se pedir a
distribuição por dependência aos autos principais, o que pode ser feito logo após o endereçamento com o
seguinte dizer: “distribuição por dependência ao processo...”.
Na execução por carta, os embargos podem ser apresentados tanto no juízo deprecante como no
deprecado. A competência para julgá-los, em regra, é do juízo deprecante. Será, todavia, competente o juízo
deprecado para julgá-los, se os embargos versarem exclusivamente sobre vícios ou defeitos da penhora,
avaliação ou alienação dos bens, isto é, sobre vícios atinentes aos atos praticados no juízo deprecado. É o
que dispõe o art. 914, §2º do CPC.
Note que o §2º é uma exceção à regra geral do §1º do artigo 914, o qual indica que os embargos
devem ser distribuídos por dependência ao processo de execução.
Artigo 914, § 1o Os embargos à execução serão distribuídos por dependência, autuados em apartado e
instruídos com cópias das peças processuais relevantes, que poderão ser declaradas autênticas pelo próprio
advogado, sob sua responsabilidade pessoal.
Os embargos deverão ser distribuídos por dependência ao juízo da execução, que tem competência
funcional (absoluta) para processá-los e julgá-los. Serão autuados em autos apartados e instruídos com as
cópias das peças processuais relevantes para a compreensão da lide. Ainda que sejam autuados em apartado
e corram no juízo da execução, têm autonomia processual e procedimental, razão pela qual eventual
apelação interposta da sentença que os julgue só poderá ser examinada e decidida pelo tribunal ad quem se
estiverem, nos autos apartados, os documentos essenciais e relevantes para o entendimento do caso.
30
415.743.458-77
→TEMPESTIVIDADE: os Embargos possuem prazo de 15 dias (CPC, 915, §2º, II) contado em dobro para a
Defensoria Pública (CPC, 186; LC 80/94, 128, I).
→TESES DEFENSIVAS: Quanto às teses que podem ser levantadas, sabe-se que, como não houve
previamente um processo, basicamente qualquer uma pode ser suscitada, tanto que o CPC prevê uma
cláusula geral para qualquer tese defensiva:
IV - retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de execução para entrega de coisa certa;
VI - qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de conhecimento.
#ATENÇÃO AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO: É interessante inserir sesse tópico por se tratar de tema afeto à
Defensoria Pública, bem como por ser uma das diretrizes do atual CPC. Aproveite para analisar os artigos 3º,
§3º; 250, IV e 319, VII c/c 771, parágrafo único, todos do CPC e artigos 3-A, II da LONDP (LC 80/94).
→DO EFEITO SUSPENSIVO: Note que com o CPC, para opor os embargos, não precisa mais da garantia ao
Juízo. Esse requisito, na verdade, deixou de ser existir com a Lei 11.382/2006, que alterou o antigo art. 737,
I do CPC/1973.
O CPC/15, em seu art. 914, continua afastando a garantia do juízo como condição de admissibilidade
dos embargos à execução. No entanto, a regra é que os embargos não possuem efeito suspensivo. É o que
dispõe o art. 919, caput do CPC.
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#SANGUEVERDE2 É importante sempre verificar se a execução não trata de bem de família, permitindo que
se levante sua impenhorabilidade. Especial atenção deve ser dada, ainda, ao bem de família do fiador de
contrato de aluguel: ainda que o STF tenha considerado constitucional sua penhorabilidade, é importante
sustentar o contrário, com base no direito à moradia.
Vamos ao que diz o Código de Processo Civil acerca dos embargos à execução?
Art. 914. O executado, independentemente de penhora, depósito ou caução, poderá se opor à execução por
meio de embargos.
§ 1o Os embargos à execução serão distribuídos por dependência, autuados em apartado e instruídos com
cópias das peças processuais relevantes, que poderão ser declaradas autênticas pelo próprio advogado, sob
sua responsabilidade pessoal.
§ 2o Na execução por carta, os embargos serão oferecidos no juízo deprecante ou no juízo deprecado, mas a
competência para julgá-los é do juízo deprecante, salvo se versarem unicamente sobre vícios ou defeitos da
penhora, da avaliação ou da alienação dos bens efetuadas no juízo deprecado.
Art. 915. Os embargos serão oferecidos no prazo de 15 (quinze) dias, contado, conforme o caso, na forma do
art. 231.
§ 1o Quando houver mais de um executado, o prazo para cada um deles embargar conta-se a partir da
juntada do respectivo comprovante da citação, salvo no caso de cônjuges ou de companheiros, quando será
contado a partir da juntada do último.
I - da juntada, na carta, da certificação da citação, quando versarem unicamente sobre vícios ou defeitos da
penhora, da avaliação ou da alienação dos bens;
II - da juntada, nos autos de origem, do comunicado de que trata o § 4o deste artigo ou, não havendo este,
da juntada da carta devidamente cumprida, quando versarem sobre questões diversas da prevista no inciso I
deste parágrafo.
§ 3o Em relação ao prazo para oferecimento dos embargos à execução, não se aplica o disposto no art. 229.
§ 4o Nos atos de comunicação por carta precatória, rogatória ou de ordem, a realização da citação será
imediatamente informada, por meio eletrônico, pelo juiz deprecado ao juiz deprecante.
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IV - retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de execução para entrega de coisa certa;
VI - qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de conhecimento.
§ 1o A incorreção da penhora ou da avaliação poderá ser impugnada por simples petição, no prazo de 15
(quinze) dias, contado da ciência do ato.
IV - o exequente, sem cumprir a prestação que lhe corresponde, exige o adimplemento da prestação do
executado;
§ 3o Quando alegar que o exequente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à do título, o
embargante declarará na petição inicial o valor que entende correto, apresentando demonstrativo
discriminado e atualizado de seu cálculo.
I - serão liminarmente rejeitados, sem resolução de mérito, se o excesso de execução for o seu único
fundamento;
II - serão processados, se houver outro fundamento, mas o juiz não examinará a alegação de excesso de
execução.
§ 5o Nos embargos de retenção por benfeitorias, o exequente poderá requerer a compensação de seu valor
com o dos frutos ou dos danos considerados devidos pelo executado, cumprindo ao juiz, para a apuração dos
respectivos valores, nomear perito, observando-se, então, o art. 464.
§ 6o O exequente poderá a qualquer tempo ser imitido na posse da coisa, prestando caução ou depositando
o valor devido pelas benfeitorias ou resultante da compensação.
33
415.743.458-77
§ 1o O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos embargos quando
verificados os requisitos para a concessão da tutela provisória e desde que a execução já esteja garantida por
penhora, depósito ou caução suficientes.
§ 2o Cessando as circunstâncias que a motivaram, a decisão relativa aos efeitos dos embargos poderá, a
requerimento da parte, ser modificada ou revogada a qualquer tempo, em decisão fundamentada.
§ 3o Quando o efeito suspensivo atribuído aos embargos disser respeito apenas a parte do objeto da
execução, esta prosseguirá quanto à parte restante.
§ 4o A concessão de efeito suspensivo aos embargos oferecidos por um dos executados não suspenderá a
execução contra os que não embargaram quando o respectivo fundamento disser respeito exclusivamente ao
embargante.
§ 5o A concessão de efeito suspensivo não impedirá a efetivação dos atos de substituição, de reforço ou de
redução da penhora e de avaliação dos bens.
#MODELODEPEÇA5
EMBARGOS À EXECUÇÃO
PEDIDOS DE CONCESSÃO DE EFEITOS SUSPENSIVOS
DISTRIBUIÇÃO POR DEPENDÊNCIA na forma do art. 914, §1º do CPC.
Prioridade na tramitação nos termos do art. art. 71, §5º do Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03) embargante
maior de 80 anos de idade.
Autos nº. X
nos autos da EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL acima identificada, em trâmite perante esse juízo, que
lhe move Banco Lula Molusco S/A., já devidamente qualificada na peça exordial, com base nos artigos 914
c/c 919, §1º do CPC pelos fundamentos de fato e de direito que seguem:
01 - DA JUSTIÇA GRATUITA
Inicialmente, requer sejam deferidos os benefícios da justiça gratuita na forma dos artigos 98, §1º, I e 99 do
CPC, considerando que o Embargante é hipossuficiente e não tem condições econômicas de arcar com o
pagamento das custas judiciais, bem como com dos honorários advocatícios sem prejuízo de seu próprio
sustento e de sua família.
5
Peça apresentada no curso Ciclos para a 2ª fase da DPE-SC.
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Requer sejam observadas as prerrogativas da Defensoria Pública de Santa Catarina, notadamente em relação
à intimação pessoal e do prazo em dobro na forma dos artigos 186 do CPC, 128, I da LC 80/94 (LONDP).
03 – DA TEMPESTIVIDADE
Importa destacar que o prazo para apresentação dos presentes Embargos (915, §2º, II e §4º do CPC c/c 186
do CPC e 128, I da LC 80/94) não começou a fluir, considerando que a citação no processo de execução não
se deu na pessoa do Embargante. (CPC, 242)
Desse modo, apresentam-se os presentes Embargos dentro do seu prazo legal, comparecendo a parte
espontaneamente ao feito (processo distribuído por dependência) na forma do art. 239, §1º do CPC.
04 – DAS PRELIMINARES
Antes de discutir o mérito (CPC, 337, I c/c 771, p único e 917, VI), ainda que como defesa dilatória, o
Embargante noticia que a citação feita no processo de execução (no qual estes Embargos foi está sendo
distribuído por dependência) foi inválida, eis que não fora realizada na pessoa do Executado, ora embargante
(CPC, 242), razão pela qual caso alguma alegação ou documento não sejam juntados na presente peça, requer
devolução do prazo (15 dias em dobro) para apresentação dos embargos.
Ainda, antes de se discutir o mérito, requer seja declarada a incompetência deste Juízo de Brusque/SC com
base nos artigos 781, I e 917, V do CPC, considerando que o domicílio do executado/embargante é na cidade
de Florianópolis.
Desse modo, requer sejam os autos de execução remetidos para o Juízo de Florianópolis, devendo os
presentes Embargos acompanhá-lo na forma do art. 64, §3º do CPC.
Observadas as questões preliminares ao mérito, passamos a este.
6 - DOS FATOS
O embargante (...)
6 - DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA
Caracterizada a relação de consumo, ambas as partes devem agir com equidade e boa-fé, a fim de se obter
o equilíbrio contratual, especialmente o fornecedor da prestação do serviço, pois é quem detém as maiores
vantagens, seja sob o aspecto de informações, seja sob o aspecto econômico, preservando a igualdade entre
os contratantes. Por essas razões, é vedado ao fornecedor o cometimento de práticas abusivas, devidamente
exemplificadas no Código de Defesa do Consumidor a partir do artigo 39, uma vez que a sua ocorrência
provoca um desequilíbrio contratual, deixando ainda mais vulnerável o consumidor.
35
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Essa análise devida pela instituição concedente do crédito permite projetar a real condição do consumidor
de adimplir a dívida futura, verificando se este possui rendimentos suficientes para pagar o crédito
contratado, sem prejudicar sua capacidade de custear as despesas ordinárias para sua subsistência e de sua
família, vislumbrado, assim, princípios constitucionais como a dignidade da pessoa humana e o mínimo
existencial.
De acordo com o art. 39, inciso IV, do Código de Defesa do Consumidor, o fornecedor não pode prevalecer-
se da fraqueza ou ignorância do consumidor tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição
social, a fim de forçá-lo a adquirir seus serviços.
Verificado a ocorrência de práticas abusivas pelo requerente, passa-se a observar a incidência de cláusulas
abusivas.
O valor originário do crediário era de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais). Ocorrido o inadimplemento, já que
o executado/embargante não possuía as condições financeiras para arcar com as prestações, o valor
originário saltou para o suposto patamar de R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais) em virtude de
praticamente 03 meses (últimos três meses) de atraso.
Sendo assim, é facilmente observável tratar-se de uma obrigação abusiva, que coloca o consumidor numa
situação de desvantagem exagerada diante da prestação de serviço ofertada. O Código de Defesa do
Consumidor determina que são nulas de pleno direito a cláusula contratual que estabelece uma obrigação
considerada iníqua, abusiva, que coloque o consumidor em desvantagem exagerada, incompatível com a
boa-fé e equidade, nos termos do art. 51, inciso IV.
No sentido de proteger o consumidor, a própria Constituição Federal estabelece que um dos princípios
norteadores da ordem econômica é a defesa do consumidor, conforme o art. 170, inciso V. Corroborando
com esta intenção, o Código de Defesa do Consumidor estabeleceu o capítulo da política nacional de relações
de consumo, no qual deve prevalecer a harmonização, juntamente com a proteção do consumidor,
baseando-se na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores, de acordo com o art.
4°, inciso III.
O valor originário apenas chegou nesta quantia suntuosa em razão da incidência de juros abusivos e
consequentemente ilegais, e decorrente da situação de incapacidade econômica do embargante e da má
prestação de serviços de crédito por parte da instituição financeira.
36
415.743.458-77
Neste sentido, conforme bem entende o E. STJ, sem previsão contratual expressa configura-se como abusiva
a capitalização mensal de juros:
A capitalização de juros, seja qual for a sua periodicidade, somente será considerada válida se estiver
expressamente pactuada no contrato. STJ. 2ª Seção. REsp 1.388.972-SC, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em
8/2/2017 (recurso repetitivo) (Info 599).
(STJ - AgRg no AREsp: 502099 MS 2014/0085637-1, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de
Julgamento: 13/05/2014, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 22/05/2014)
Em face de tais situações, e sendo cobrado encargos abusivos durante o período de normalidade contratual,
necessário se mostra afastar a mora, conforme entendimento pacífico de nossos tribunais:
Tal posicionamento, aliás, está consolidado no STJ, definido, inclusive, em sede de julgamento de recursos
repetitivos, no Resp 1.061.530/RS.
Dessa maneira, a prática em comento, demonstra-se claramente abusiva, pois encontra-se em desacordo
com o sistema de proteção ao consumidor, razão pela qual é nula de pleno direito, nos termos do art. 51,
inciso XV do Código de defesa do Consumidor. Conforme o mesmo artigo, em seu parágrafo 1° e incisos, que
se presumem exageradas as vantagens que:
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II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar
seu objeto ou equilíbrio contratual;
Ainda, denota-se que houve cobrança de comissão de permanência juntamente com juros remuneratórios e
moratórios, indo de encontro ao entendimento sumulado do STJ, conforme indicado abaixo:
Súmula 472: A cobrança de comissão de permanência – cujo valor não pode ultrapassar a soma dos encargos
remuneratórios e moratórios previstos no contrato – exclui a exigibilidade dos juros remuneratórios,
moratórios e da multa contratual
Portanto, pelas razões anteriormente fundamentadas, de rigor ser declarada nula tal capitalização, uma vez
que o embargado sabia que a embargante não tinha condições de saldar as prestações fixadas no
Instrumento Particular. Assim, declarada a nulidade, deve ser afastada a mora e seus encargos, já que a sua
incidência provoca uma vantagem exagerada ao autor e uma obrigação excessivamente onerosa a requerida.
Por consequência, ante a ausência de mora imputável ao devedor, necessário se reconhecer a nulidade da
execução, posto que estamos diante de dívida inexigível, nos termos do art. 803 do CPC:
Assim, imperioso se faz a extinção da execução em apenso, nos termos do art. 924, III, do CPC.
7- DA POSSIBILIDADE DE TRANSAÇÃO
A transação, no caso sub judice, é perfeitamente possível tratando-se a lide de direitos patrimoniais de
caráter privado (Artigos. 840 e 841 do Código Civil).
Desse modo, requer seja designada audiência de conciliação na forma dos artigos 3º, §3º; 250, IV e 319, VII
c/c 771, parágrafo único, todos do CPC e artigos 3-A, II da LONDP (LC 80/94).
Por fim, a embargante vem, nesta oportunidade, requerer o efeito suspensivo aos embargos nos termos do
artigo 919, §1º do CPC.
À vista da documentação apresentada, e levando em conta a assistência jurídica prestada pela Defensoria
Pública, a embargante é pessoa hipossuficiente na acepção jurídica do termo, não possuindo condições
financeiras de oferecer qualquer tipo de caução.
No ponto, é importante observar que o art. 98, §1º, VII, concede isenção de depósito relativo a atos
processuais inerentes ao exercício da ampla defesa e do contraditório, como é o caso do ajuizamento desta
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415.743.458-77
Cumpre destacar que se mostra necessário atribuir efeito suspensivo à presente ação incidental, uma vez
que o prosseguimento deste feito por retro mencionada quantia poderá causar a embargante dano de difícil
ou incerta reparação, consistente na indevida penhora de seus bens por valor excessivo.
Portanto, é imperiosa a concessão de efeito suspensivo, com base no art. 919, § 1º do CPC.
9 - DOS PEDIDOS
a) A concessão dos benefícios da justiça gratuita à embargante, uma vez que esta é usuária dos serviços de
assistência jurídica integral prestada pela Defensoria Público do Estado de Santa Catarina, fazendo jus ao
direito à justiça gratuita inerente a tal assistência;
b) A observância de todas as prerrogativas conferidas aos membros da Defensoria Pública, conforme indicado
em tópico específico;
c) A distribuição por dependência dos presentes embargos por dependência ao processo de execução n. x
que pende perante a _ª Vara Cível de Brusque/SC;
d) A concessão de efeitos suspensivos aos presentes embargos e, assim, suspender os autos da execução em
apenso até o deslinde do presente feito;
e) A intimação do embargado na pessoa de seu procurador, para responder aos presentes embargos, sob
pena de presunção de veracidade dos fatos aqui articulados;
g) Caso impossível a solução amistosa da lide, que seja julgado totalmente procedente os presentes
embargados, para que seja extinta a execução nos termos do art. 924, III, do CPC;
h) Seja dada prioridade na tramitação do feito, tendo em vista a idade superior a 80 anos do Embargante na
forma do art. 71, §5º do Estatuto do Idoso;
Florianópolis/SC, data.
Defensor Público
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FUNDAMENTO MATÉRIA DE
CABIMENTO ENDEREÇAMENTO PRAZO
LEGAL DEFESA
I - inexequibilidade
do título ou
inexigibilidade da
obrigação;
II - penhora
incorreta ou
avaliação errônea;
III - excesso de
execução ou
cumulação
indevida de
execuções;
IV - retenção por
benfeitorias
Defesa do
Art. 914 e necessárias ou
executado contra a Juiz 15 dias úteis
seguintes do CPC úteis, nos casos de
execução.
execução para
entrega de coisa
certa;
V - incompetência
absoluta ou
relativa do juízo da
execução;
VI - qualquer
matéria que lhe
seria lícito deduzir
como defesa em
processo de
conhecimento.
OBSERVAÇÕES GERAIS
O efeito suspensivo não é automático (art. 919, caput, NCPC).
O efeito suspensivo poderá ser atribuído no caráter ope judice. Existem critérios (cumulativos) para ter
efeito suspensivo (art. 919, § 1º):
- Requerimento do embargante;
- Verificar os requisitos da tutela provisória;
- Garantia do juízo por penhora, depósito ou caução. Assim, a garantia do juízo só é exigida para obter
efeito suspensivo.
O embargo interposto com o objetivo apenas de protelar a execução ou dificultar que a prestação seja
adimplida será punido quando o juiz assim o identificar.
Art. 918. O juiz rejeitará liminarmente os embargos:
III - manifestamente protelatórios.
Parágrafo único. Considera-se conduta atentatória à dignidade da justiça o oferecimento de embargos
manifestamente protelatórios.
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Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
XII - (VETADO);
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase
de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de
inventário.
INCISO II – DECISÃO QUE JULGA O MÉRITO DA CAUSA: Esse inciso consagra o entendimento de
que existe decisão interlocutória de mérito. São as decisões interlocutórias em que o juiz profere o
julgamento antecipado parcial do mérito, previsto no art. 356 do CPC. O julgamento do mérito pode, no
sistema atual, ser desmembrado. Se um ou algum dos pedidos ou parte deles estiver em condições de
julgamento, o juiz proferirá o julgamento antecipado parcial, no qual, em cognição exauriente e definitiva,
examinará uma ou algumas das pretensões, ou parte delas. A não interposição do agravo de instrumento,
nessas situações, implicará não preclusão, mas coisa julgada material.
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INCISO VII – EXCLUSÃO DE LITISCONSORTE: trata-se de decisão que precisa ser reexaminada de
imediato, não podendo ser relegada para a fase de apelação, sob pena de irreparável prejuízo à marcha do
processo. A redação do inciso, conjugada com a do inciso seguinte, leva à conclusão de que só caberá agravo
de instrumento se a decisão excluir o litisconsorte. Se o mantiver, a impugnação deverá ser feita como
preliminar na apelação ou nas contrarrazões.
INCISO XI – REDISTRIBUIR O ÔNUS DA PROVA NOS TERMOS DO ART. 381, §1º: é a hipótese de
redistribuição do ônus fundada em lei ou em determinação judicial. A decisão do juiz que aprecia a
redistribuição do ônus desafia agravo de instrumento. O agravo será cabível tanto da decisão que defere a
redistribuição quanto da que a indefere, já que, em ambos os casos, a decisão versará, positiva ou
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INCISO XIII – OUTROS CASOS EXPRESSAMENTE REFERIDOS EM LEI: A lei pode criar outros casos de
cabimento de agravo de instrumento. São exemplos o que pode ser interposto contra sentença declaratória
de falência.
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA:
O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de agravo de
instrumento quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da questão no recurso de
apelação. STJ. Corte Especial. REsp 1704520-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/12/2018 (recurso
repetitivo) (Info 639). Obs: a tese jurídica fixada e acima explicada somente se aplica às decisões
interlocutórias proferidas após a publicação do REsp 1704520/MT, o que ocorreu no DJe 19/12/2018.
O agravo de instrumento é dirigido para o Tribunal, sendo dele a competência para o seu
julgamento:
CPC, art. 1.016: O agravo de instrumento será dirigido diretamente ao tribunal competente, por meio de
petição com os seguintes requisitos:
Peça obrigatórias e facultativas: De acordo com o art. 1.017 do CPC, a petição do agravo de
instrumento deve ser instruída, obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição
que ensejou a decisão agravada, da própria decisão agravada, da certidão da respectiva intimação ou outro
documento oficial que comprove a tempestividade e das procurações outorgadas aos advogados do
agravante e do agravado; com a declaração de inexistência de qualquer dos documentos mencionados, feita
pelo advogado do agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal; facultativamente, com outras peças
que o agravante reputar úteis. Assim, vocês devem abrir um parágrafo para informar que o agravo de
instrumento foi instruído com as peças obrigatórias, uma vez que isso certamente constará no espelho.
Tempestividade: O CPC/15 responsável pela unificação dos prazos recursais, isso significa que com
exceção dos embargos de declaração, cujo prazo é de 5 dias, todos os recursos devem ser interpostos no
prazo de 15 dias (art. 1.003, § 5.º, do CPC/2015). Lembrem sempre do prazo em dobro para a Defensoria
Pública!
Motivação: Todo recurso deverá conter as razões pelas quais entende a parte recorrente haver a
necessidade de reforma ou anulação do ato recorrido. Na prática, tal motivação recursal é denominada
“razões” (ou “minuta” para o caso de agravo) e, consequentemente, a resposta do recorrido é denominada
“contrarrazões” (ou “contraminuta” para o caso de agravo).
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1.017, § 1o: Acompanhará a petição o comprovante do pagamento das respectivas custas e do porte de
retorno, quando devidos, conforme tabela publicada pelos tribunais. Porém, lembrem-se que a Defensoria
Pública é dispensada do recolhimento de preparo, na forma do art. 1.007, §1º do CPC:
Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação
pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção.
§ 1o São dispensados de preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, os recursos interpostos pelo
Ministério Público, pela União, pelo Distrito Federal, pelos Estados, pelos Municípios, e respectivas
autarquias, e pelos que gozam de isenção legal. (...)
Art. 1.018. O agravante poderá requerer a juntada, aos autos do processo, de cópia da petição do agravo
de instrumento, do comprovante de sua interposição e da relação dos documentos que instruíram o
recurso.
§ 1o Se o juiz comunicar que reformou inteiramente a decisão, o relator considerará prejudicado o agravo de
instrumento.
§ 2o Não sendo eletrônicos os autos, o agravante tomará a providência prevista no caput, no prazo de 3 (três)
dias a contar da interposição do agravo de instrumento.
§ 3o O descumprimento da exigência de que trata o § 2o, desde que arguido e provado pelo agravado,
importa inadmissibilidade do agravo de instrumento.
Desse modo, é importante que vocês redijam um parágrafo mencionando que providenciarão a
juntada da cópia da petição do agravo nos autos do processo em primeira instância, para que o juiz seja
devidamente informado e possa reformar a decisão. #ATENÇÃO não seria necessário a se a questão
mencionar que o processo é eletrônico.
CPC, art. 1.019: “(...) I – poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação de tutela,
total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão; (...)”.
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Mas, se o juiz de primeiro grau não concedeu a medida, e a parte tem urgência em obtê-la, pode
pedir ao relator que conceda efeito ativo (ou suspensivo ativo, que corresponde à tutela antecipada da
pretensão recursal), deferindo a liminar, que o juízo a quo negou.
Os requisitos para a concessão da tutela de urgência são: PROBABILIDADE DO DIREITO + PERIGO DE DANO
ou RISCO AO RESULTADO ÚTIL DO PROCESSO
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
§1º Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória
idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a
parte economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.
§2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.
§3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de
irreversibilidade dos efeitos da decisão.
Art. 301. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante arresto, sequestro,
arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea para
asseguração do direito.
Art. 302. Independentemente da reparação por dano processual, a parte responde pelo prejuízo que a
efetivação da tutela de urgência causar à parte adversa, se:
II - obtida liminarmente a tutela em caráter antecedente, não fornecer os meios necessários para a citação
do requerido no prazo de 5 (cinco) dias;
Parágrafo único. A indenização será liquidada nos autos em que a medida tiver sido concedida, sempre que
possível.
#MODELODEPEÇA
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1) O agravo de instrumento foi instruído com as cópias obrigatórias e das procurações outorgadas aos
advogados do agravante (dispensada por ser a Defensoria Pública) e do agravado, conforme o art. 1.017 do
CPC;
2) O juízo de origem foi comunicado da interposição do presente recurso para fins de retratação (art.
1.018, §2º e §3º do CPC).
3) Deixa de comprovar o recolhimento de preparo (1.017, §1º), na forma do art. 1.007, §1º do CPC;
4) Por fim, requer sejam observadas as prerrogativas processuais da DPE, sobretudo a intimação
pessoal com remessa dos autos e o prazo em dobro, nos termos do art. 128, I e XI, da LC 80/94 e art. 186,
CPC.
Local, data
Defensor Público
I-SÍNTESE FÁTICA
Dispensada.
II - CABIMENTO E TEMPESTIVIDADE
O presente recurso é cabível para impugnar os capítulos da decisão interlocutória proferida pelo juízo “a
quo”, que indeferiu o pedido de tutela provisória (art. 1.015, I, CPC), o pedido de danos morais coletivos (art.
1.015, II, CPC) e o pedido de inversão do ônus da prova (art. 1.015, XI, CPC). Aponta-se, ainda, que a decisão
foi exarada no dia X, sendo, portanto, tempestivo o recurso nos termos dos artigos 186, CPC c/c 128, I da LC
80/94 e 1.003, §5º do CPC.
Pugna-se pela reforma do capítulo da decisão que indeferiu a tutela de urgência antecipada, haja vista que
estão presentes seus requisitos (artigos 12 da LACP e 297 e 300 c/c 497, do CPC). A probabilidade do direito
restou demonstrada, por tratar-se de relação de consumo, sendo aplicado o CDC, sobretudo o seu art. 22, o
qual determina que as concessionárias de serviços públicos são obrigadas a fornecer serviços adequados,
eficientes, seguros e, em relação aos essenciais, como é o caso da energia elétrica, contínuos. Ademais, em
que pese o juízo “a quo” ter mencionado a necessidade de comprovação de culpa, deve ser aplicado o
entendimento do STJ, bem como as disposições do CDC (art. 14) e da CF/88 (art. 37, §6º da CF/88), os quais
dispõem que a responsabilidade pela reparação de danos, no caso, é objetiva, sendo despicienda a
demonstração de culpa, já que a empresa Light é prestadora de serviço público.
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Portanto, a tutela de urgência de natureza antecipada é medida necessária e urgente, a fim de que sejam
evitados novos danos aos consumidores e habitantes do Município de Niterói. Ante o exposto, a DPE/RJ
requer a concessão, pelo relator, da tutela antecipada em grau recursal, com a sua posterior confirmação
pelo colegiado (art. 1.019, I, do CPC).
O CPC/2015 não mais prevê a possibilidade jurídica do pedido como uma das condições da ação, passando
esse requisito a integrar questão de mérito, ou seja, à sua procedência ou improcedência, com resolução do
mérito (art. 487, CPC). Ademais, o CPC dispõe acerca das hipóteses em que poderá haver improcedência
liminar do pedido, em rol onde não consta a hipótese de impossibilidade jurídico do pedido.
Cumpre ressaltar que o pedido de reparação por danos morais coletivos é plenamente cabível. A
jurisprudência mais recente do STJ tem admitido a existência de dano extrapatrimonial coletivo e o
correspondente dever de repará-lo. Nesse sentido, a reparação do dano moral tem previsão constitucional
(art. 5.º, inciso X) e o artigo 6º, VI, do CDC é explícito ao possibilitar o cabimento de indenização por danos
morais aos consumidores, tanto de ordem individual quanto coletivamente. De igual modo, o artigo 1º da
LACP, admite a pretensão reparatória por danos extrapatrimoniais causados a qualquer interesse difuso ou
coletivo.
Assim, o STJ entende que é possível a configuração de dano moral coletivo sempre que a lesão ou a ameaça
de lesão levada a efeito pela parte demandada atingir valores e interesses fundamentais do grupo,
afigurando-se, pois, descabido negar a essa coletividade o ressarcimento de seu patrimônio imaterial
aviltado.
No presente caso, os consumidores vêm sofrendo violações reiteradas a seu direito à continuidade do serviço
público essencial, ensejando a condenação por danos morais coletivos. Portanto, a decisão deve ser anulada
para que a agravada seja citada a fim de se manifestar quanto ao pedido de dano moral coletivo.
Em relação ao capítulo da decisão agravada que indeferiu a inversão do ônus da prova, deve ser reconhecida
sua nulidade, por falta de fundamentação adequada (arts. 12 e 489, §1º, III, CPC).
Foram preenchidos os requisitos para ser concedida a inversão do ônus da prova, segundo o art. 6º, inciso
VIII, do CDC. Estão presentes a verossimilhança das alegações e a hipossuficiência da agravante: a agravada
é dotada de poderio econômico e conhecimento técnico, o que lhe garante posição de vantagem na
produção probatória; a agravante é hipossuficiente, uma vez que age em nome e no interesse dos direitos
coletivos em sentido amplo.
Além disso, segundo o CPC, em seu art. 373, §1º, a agravada possui maior facilidade de obtenção da prova
do fato, sendo cabível a inversão do ônus da prova, conforme a teoria da carga dinâmica da prova.
IV – DOS PEDIDOS
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a) Seja reformada a decisão que indeferiu a tutela de urgência antecipada, com a concessão, de forma
monocrática, pelo relator, de tutela antecipada em grau recursal, e a sua confirmação, ao final, em decisão
do colegiado;
b) Seja anulada a decisão de improcedência liminar do pedido de danos morais coletivos, para que a
agravante seja citada a fim de se manifestar quanto ao pedido de dano moral coletivo;
d) Seja a agravada intimada, a fim de que, querendo, apresente as contrarrazões no prazo legal;
Local, data.
Defensor Público
#RECAPITULANDO #TABELAAMIGA
FUNDAMENTO ENDEREÇAMENT
CABIMENTO PRAZO MATÉRIA DE DEFESA
LEGAL O
Decisão interlocutória nos
Interposição:
casos expressos do art.
Pedir que o recurso seja
1.015 (versem sobre):
processado com a
- tutelas provisórias;
intimação do agravado
- mérito do processo;
para apresentar
- rejeição da alegação de
contraminuta e
convenção de arbitragem;
encaminhado ao
- incidente de
Desembargador Relator
desconsideração da
para que seja dado
personalidade jurídica;
provimento.
- rejeição do pedido de
Interposição: Intimação do MP se
gratuidade da justiça ou
Presidente do necessário
acolhimento do pedido de Art. 1015 e 15 dias
Tribunal
sua revogação; seguintes do CPC úteis
Razões:
- exibição ou posse de
Razões: Tribunal Tópico sobre o
documento ou coisa;
cabimento;
- exclusão de litisconsorte;
Tempestividade;
- rejeição do pedido de
Pedir o imediato
limitação de litisconsórcio;
provimento pelo relator
- admissão ou inadmissão
se estiver presente
de intervenção de
alguma das hipóteses
terceiros;
do art. 932, V;
-concessão, modificação ou
Antecipação dos efeitos
revogação do efeito
da tutela ou concessão
suspensivo aos embargos à
de efeito suspensivo
execução;
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F) APELAÇÃO
A apelação é o recuso cabível contra a sentença e contra decisões interlocutórias das quais não
caiba o agravo de instrumento. Vamos fazer uma breve revisão acerca de alguns pontos importantes.
Decisão inválida: error in procedendo. Tribunal anula a decisão e remete ao 1º grau para que outra
seja produzida.
Em regra, a apelação é recebida no efeito devolutivo e no suspensivo, exceto nos casos previstos
nos incisos do § 1º do art. 1.012. Confira a legislação:
§ 1o As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de
instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação,
eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões.
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Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau, conterá:
§ 2o Se o apelado interpuser apelação adesiva, o juiz intimará o apelante para apresentar contrarrazões.
§ 3o Após as formalidades previstas nos §§ 1o e 2o, os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz,
independentemente de juízo de admissibilidade.
Art. 186, NCPC: A Defensoria Pública gozará de prazo em dobro para todas as suas manifestações
processuais.
§ 1o O prazo tem início com a intimação pessoal do defensor público, nos termos do art. 183, § 1o.
§ 3o O disposto no caput aplica-se aos escritórios de prática jurídica das faculdades de Direito reconhecidas
na forma da lei e às entidades que prestam assistência jurídica gratuita em razão de convênios firmados com
a Defensoria Pública.
§ 4o Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei estabelecer, de forma expressa, prazo
próprio para a Defensoria Pública.
Art. 1.010, § 3o Após as formalidades previstas nos §§ 1o e 2o, os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz,
independentemente de juízo de admissibilidade.
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§ 1o Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente após a sua
publicação a sentença que:
VI - decreta a interdição.
§ 2o Nos casos do § 1o, o apelado poderá promover o pedido de cumprimento provisório depois de publicada
a sentença.
§ 3o O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses do § 1o poderá ser formulado por requerimento
dirigido ao:
I - tribunal, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua distribuição, ficando o relator
designado para seu exame prevento para julgá-la;
§ 4o Nas hipóteses do § 1o, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se o apelante demonstrar
a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano
grave ou de difícil reparação.
Art. 1.013, § 3o Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde
logo o mérito quando:
II - decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de
pedir;
III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo;
IV - decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação. (art. 489, parágrafo 1º, do CPC).
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Art. 1.014. As questões de fato não propostas no juízo inferior poderão ser suscitadas na apelação, se a parte
provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior.
Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau.
Qualificação: simplificada, pois já existe a qualificação completa nos autos do processo, com
indicação de interposição do recurso de apelação, com fundamento no art. 1.009 e seguintes do CPC.
Requerimento da peça de interposição: requerimento de que o juízo de 1º grau intime outra parte
para que apresente contrarrazões e posteriormente o envie ao Tribunal.
#RECAPITULANDO: Na petição de interposição, dirigida ao juiz de 1º grau (1.010, caput), vocês devem
colocar o pedido de conhecimento do recurso, a indicação dos efeitos, o encaminhamento ao tribunal
competente, a tempestividade e o pedido de retratação, se cabível.
RAZÕES DO RECURSO: cabeçalho + dos fatos + do direito. É interessante abrir um tópico por
capítulo da sentença.
#ATENÇÃO para a DECISÃO PARCIAL DE MÉRITO (art. 487, I) – o recurso cabível é o AGRAVO DE
INSTRUMENTO (art. 356, §5º).
#DEOLHONAJURIS: Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos
formulados ou parcela deles: I - mostrar-se incontroverso; II - estiver em condições de imediato julgamento,
nos termos do art. 355. Situação hipotética: João foi vítima de um acidente de carro. Ele ajuizou ação de
indenização por danos morais e materiais contra a empresa causadora. O juiz condenou a ré a pagar R$ 50
mil de indenização por danos morais. Por outro lado, negou o pedido para que a empresa pagasse pensão
mensal vitalícia ao autor em razão da perda da capacidade laborativa. O pedido foi indeferido mesmo sem
ter sido realizada perícia médica. Tanto João como a empresa interpuseram apelação. O Tribunal de Justiça,
ao julgar o recurso: a) manteve a condenação por danos morais; b) quanto ao pedido de fixação de pensão
por redução da capacidade laborativa, o TJ entendeu que as provas produzidas eram insuficientes e afirmou
ser necessária a produção de perícia. Em razão disso, com fundamento no art. 356 do CPC/2015, o TJ apenas
52
415.743.458-77
#MODELODEPEÇA6
OS APELANTES vêm, por intermédio da DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO..., com fundamento nos
artigos 1.009 e seguintes do Código de Processo Civil, interpor
APELAÇÃO
Em face da sentença proferida pelo Juízo da 1ª Vara da Fazenda Pública do Município de Alegrete, que julgou
improcedente a ação de indenização por danos morais, pelas razões que passa a expor nos termos que
seguem.
Com base no art. 1.010 e seus parágrafos, requer que o apelado seja intimado para apresentar contrarrazões
no prazo de 15 (quinze) dias. Em seguida, que os autos sejam remetidos ao tribunal pelo juiz,
independentemente de juízo de admissibilidade.
Nesta oportunidade, requer-se também, com esteio no artigo 98 e 99, do Código de Processo civil, a
concessão aos Apelantes dos benefícios da Justiça Gratuita, porquanto, em razão de sua hipossuficiência,
não poderão arcar com as custas e despesas do processo sem prejuízo do sustento próprio e de sua família.
Maria e João, já devidamente qualificados nos autos do processo em epígrafe, vêm, por intermédio da
Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul, apresentar as RAZÕES DE APELAÇÃO, interposta em
face da sentença proferida pelo juízo da 1ª Vara da Fazenda Pública, que julgou improcedente a ação de
indenização por danos morais.
2. DA TEMPESTIVIDADE
O presente recurso de apelação é tempestivo. Considerando o art. 1.003, parágrafo 5º, do CPC que
estabelece o prazo de 15 dias úteis para a apresentação do recurso de apelação, contando-se da data em
6
Peça apresentada no curso Ciclos para 2ª fase da DPE/RS.
53
415.743.458-77
3. DO DIREITO
Trata-se de demanda indenizatória por danos morais em que os autores sustentam a responsabilidade do
ente público em decorrência da morte de detento (seu filho), vítima de agressões praticadas pelos demais
presos.
De pronto, cumpre referir que a responsabilidade da Fazenda Pública, em se tratando de atos praticados
contra detentos, é objetiva, ou seja, prescinde-se a demonstração da culpa, bastado ao postulante provar o
nexo de causalidade e o dano para que surja o dever de reparar. Sobre o tema, é da jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal:
Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Morte de detento sob custódia da
Administração Pública. Responsabilidade objetiva do Estado. Art. 37, § 6º, da Constituição Federal. Missão
do Estado de zelar pela integridade física do preso. Precedentes do STF. 3. Discussão acerca da existência de
culpa do Estado. Necessidade do reexame do conjunto fático-probatório. Súmula 279. 4. Agravo regimental
a que se nega provimento. (ARE 662563 AgR, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em
20/03/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-066 DIVULG 30-03-2012 PUBLIC 02-04-2012 – grifos meus.)
1. A jurisprudência desta Corte é no sentido de que a responsabilidade civil do ente público é objetiva, no
que se refere a morte de detento sob custódia do Estado.
(...) (AgRg no AREsp 729.565/PE, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em
22/09/2015, DJe 28/09/2015 – grifos meus.)
ADMINISTRATIVO E CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. MORTE DE DETENTO EM
UNIDADE PRISIONAL. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO ESTADO. DANO MORAL. ALEGAÇÃO DE
INEXISTÊNCIA DE NEXO CAUSAL E DESCARACTERIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL POR CONDUTA
CULPOSA DOS AGENTES PENITENCIÁRIOS. NECESSIDADE DE REEXAME DO CONTEXTO FÁTICO E
PROBATÓRIO. SÚMULA Nº 7 DO STJ. TESE DE EXORBITÂNCIA DO VALOR DOS DANOS MORAIS SEM
INDICAÇÃO DO DISPOSITIVO VIOLADO. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF.
1. "A jurisprudência do STJ reconhece a responsabilidade objetiva do Estado nos casos de morte de preso
custodiado em unidade prisional" (AgRg no AREsp 346.952/PE, Relator Ministro Og Fernandes, Segunda
Turma, DJe 23/10/2013).
(...) (AgRg no AREsp 528.911/MA, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF
1ª REGIÃO), PRIMEIRA TURMA, julgado em 16/06/2015, DJe 25/06/2015 – grifos meus.)
Na espécie, o Estado refere a ausência de responsabilidade de sua parte mencionando que não existe nexo
de causalidade entre o fato e a omissão dos seus agentes, que os atos foram praticados por terceiros. Diz
que não houve omissão de sua parte.
54
415.743.458-77
A entrada de armas brancas no presídio evidencia a omissão na fiscalização e falha na prestação do serviço.
Além disso, a vítima já havia informado à administração do presídio que estava sofrendo ameaças de morte,
sendo que nenhuma medida foi tomada. Fica evidente que o Poder Público podia e devia ter agido em defesa
do seu custodiado para evitar o evento danoso.
É dever do Estado atuar no sentido de proteger a integridade física das pessoas que estavam sob seus
cuidados, não permitindo as agressões praticadas.
Houve omissão do Estado diante da existência de arma branca no interior do presídio e em posse dos presos
ali encontrados, o que demonstra a falha na prestação do serviço pelo ente estatal, o qual não cumpriu com
seu dever de propiciar um ambiente saudável e seguro.
Com relação aos danos morais, têm-se por presunção, ou seja, in re ipsa, a partir do próprio evento morte
de familiar dos autores, sendo desnecessária a prova do prejuízo para a sua configuração. A violação do
direito da personalidade motiva a reparação do dano moral.
Ementa: RESPONSABILIDADE CIVIL. CIDADÃO ATINGIDO POR FACA QUANDO ESTAVA SOB CUSTÓDIA DO
ESTADO. DEVER DE INDENIZAR CONFIGURADO. - Segundo o STF, responde objetivamente o Estado
pela morte de preso [ou tentativa] em estabelecimento carcerário. Dever de zelar pela integridade física do
apenado. Art. 5º, XLIX, da Constituição Federal. - O Estado é responsável pela segurança das pessoas que
estão sob sua custódia. Situação em que o autor, recolhido a presídio estadual, foi atacado por outro
detento com golpes de faca, resultando em risco de morte. - Dano moral ocorrente por presunção.
Inexistindo critérios objetivos de fixação do valor para indenizar o dano moral, cabe ao magistrado delimitar
quantias ao caso concreto. Valor fixado em sentença mantido [R$ 13.200,00]. - Dano estético não
comprovado. Sentença modificada, no ponto. PROVERAM EM PARTE A APELAÇÃO E DESPROVERAM O
RECURSO ADESIVO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70070691258, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Jorge Alberto Schreiner Pestana, Julgado em 14/12/2016)
Ementa: RESPONSABILIDADE CIVIL. ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. PRISÃO. MORTE DE APENADO. ASFIXIA.
DANO MORAL. O Estado é responsável pela morte de preso ocorrida no interior de presídio. Presente o dever
de manter a integridade física do detento. A violação do direito da personalidade motiva a reparação do dano
moral. O dano moral deve ser estabelecido com razoabilidade, de modo a servir de lenitivo ao sofrimento da
vítima. No caso, a irmã é a única parente mais próxima do apenado, o qual teria sido vítima de homicídio
dentro da casa prisional. Presente o dever de indenizar. Valor majorado. Apelo da autora provido em parte.
Apelo do Estado não provido. (Apelação Cível Nº 70068614106, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Marcelo Cezar Muller, Julgado em 02/06/2016)
Dessa forma, cabível a responsabilização objetiva do Poder Público com base na omissão específica do
Estado, diante do alegado dever especial de agir para impedir a ocorrência do evento danoso noticiado nos
autos.
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415.743.458-77
b) o PROVIMENTO da presente Apelação, a fim de reformar a decisão do juízo a quo, com a condenação do
apelado ao pagamento de indenização por danos morais.
Local, data.
Defensor(a) Público(a)
#RECAPITULANDO #TABELAAMIGA
FUNDAMENTO ENDEREÇAMENT
CABIMENTO PRAZO PEDIDOS
LEGAL O
Interposição:
-Intimação da parte contrária
para querendo apresentar
contrarrazões;
-Informar que deixa de
recolher o preparo da
Decisão que apelação haja vista o apelante
efetivamente ser beneficiário da justiça
resolve o mérito gratuita;
(art. 487) ou que -Após as formalidades legais,
põe fim ao remessa dos autos ao TJ
processo sem Interposição: - Pedido de retratação, se
julgamento de juízo do primeiro cabível (indeferimento da
mérito (art. Art. 1.009 do CPC grau 15 dias úteis inicial – art. 331 – extinção s/
485). resolução do mérito – art. 485,
Razões: Tribunal §7º - improcedência liminar –
No juizado: art. 332, §3º)
Recurso
Inominado no Razões:
prazo de 10 Tópico sobre a
dias. Tempestividade
Conhecimento e provimento
do recurso para:
Reconhecer a nulidade da
sentença em virtude de... e
remeter ao juízo de 1º grau
para que outra decisão seja
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415.743.458-77
G) RECURSO ESPECIAL
Os últimos dois recursos que abordaremos a seguir não possuem tanta incidência em provas para
concursos, mas, como o seguro morreu de velho, achei pertinente abordar: o Recurso Especial e o Recurso
Extraordinário. Vamos dar uma olhada?
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais
Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.
Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na Constituição Federal, serão
interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do tribunal recorrido, em petições distintas que
conterão:
§ 1o Quando o recurso fundar-se em dissídio jurisprudencial, o recorrente fará a prova da divergência com a
certidão, cópia ou citação do repositório de jurisprudência, oficial ou credenciado, inclusive em mídia
eletrônica, em que houver sido publicado o acórdão divergente, ou ainda com a reprodução de julgado
disponível na rede mundial de computadores, com indicação da respectiva fonte, devendo-se, em qualquer
caso, mencionar as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados.
57
415.743.458-77
§ 5o O pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário ou a recurso especial poderá ser
formulado por requerimento dirigido:
§ 3º Haverá a relevância de que trata o § 2º deste artigo nos seguintes casos: (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 125, de 2022)
III - ações cujo valor da causa ultrapasse 500 (quinhentos) salários mínimos; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 125, de 2022)
IV - ações que possam gerar inelegibilidade; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 125, de 2022)
VI - outras hipóteses previstas em lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 125, de 2022)
Segundo Fernanda Tartuce, o recurso especial (REsp) não busca apenas a rediscussão da matéria
anteriormente decidida (como ocorre com a apelação e o agravo). Com o REsp, busca-se a unidade na
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415.743.458-77
#DEOLHONASSÚMULAS:
SUMULA 5, STJ: A simples interpretação de cláusula contratual não enseja Recurso Especial.
SUMULA 7, STJ: A pretensão de simples reexame de prova não enseja Recurso Especial.
SUMULA 13, STJ: A divergência entre julgados do mesmo tribunal não enseja Recurso Especial.
Inicialmente, assim como a maioria dos recursos, o RE deve conter uma peça de interposição e
outra com as razões. A peça de interposição do REsp deve ser dirigida, em regra, ao Presidente do Tribunal
em que foi proferida a decisão. Após a qualificação das partes, deve-se requerer a admissão do recurso e o
encaminhamento das razões ao Superior Tribunal de Justiça.
Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na Constituição Federal, serão
interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do tribunal recorrido, em petições distintas que
conterão:
Com relação ao cabimento do REsp, lembrem que tal recurso só é cabível no caso de acórdãos
proferidos por Tribunais (ou seja, as decisões do JEC não dão ensejo ao REsp), em última ou única instância,
que não podem ser atacados por outro recurso (CF, art. 105, III).
O prazo do REsp é de 15 dias, contado em dobro para a Defensoria Pública. Também não podemos
esquecer de justificar na interposição a não realização do preparo por ser beneficiário da justiça gratuita.
Artigo 1003, § 5o Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para responder-
lhes é de 15 (quinze) dias.
#NEVERFORGET: O REsp deve conter o pedido de gratuidade de justiça (reiteração do pedido feito em
instâncias anteriores).
Em regra, o REsp somente possui efeito devolutivo, conforme previsão do artigo 995, NCPC.
Art. 995. Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido
diverso.
Parágrafo único. A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do relator, se da imediata
produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar demonstrada
a probabilidade de provimento do recurso.
7
TARTUCE, Fernanda; DELLORE, Luiz, Manual de Prática Civil - 14ª edição, editora Método, 2018, p. 339-340.
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Artigo 1029, § 5o O pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário ou a recurso especial
poderá ser formulado por requerimento dirigido:
Art. 1.036. Sempre que houver multiplicidade de recursos extraordinários ou especiais com fundamento em
idêntica questão de direito, haverá afetação para julgamento de acordo com as disposições desta Subseção,
observado o disposto no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal e no do Superior Tribunal de Justiça.
#ATENÇÃO: Além de comprovar uma das hipóteses de cabimento anteriormente indicadas, deve
existir o prequestionamento. Lembrem que o NCPC aceita o prequestionamento ficto:
Art. 1.025. Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins de pré-
questionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o tribunal
superior considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade.
#MODELODEPEÇA89
8
Peça obtida no site da DPE-RJ. Disponível em:
ttp://www.defensoria.rj.def.br/uploads/arquivos/7dec795dc07c4325bcbd531d32722836.doc.
9
Não deixem de primar pela melhor técnica e de acordo com o NCPC, dirigindo, conforme os demais modelos de peça
neste material, ao JUÍZO e não ao JUIZ.
60
415.743.458-77
para o EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, com fulcro no artigo 105, inciso III, alínea “a” da
Constituição da República e artigos 1.029 e seguintes do NCPC, pelos fundamentos que passam a expor na
forma de suas RAZÕES em anexo.
Nestes termos,
P.Deferimento.
Mat.: 811.561-0
RECURSO ESPECIAL
RECORRENTE: MARIA JOSÉ PEREIRA DE CARVALHO e CEJUR DA DPGE-RJ
RECORRIDO: MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES
RAZÕES DE RECORRENTE
Colendo Superior Tribunal de Justiça,
A expedição da intimação eletrônica para ciência acerca do acórdão ocorreu no dia 02/06/2016 (conforme
se depreende do Portal de Serviços deste Egrégio Tribunal de Justiça – indexador 00604), tendo se efetivado
a intimação pessoal automática no dia 12/06/2016, nos termos do que dispõe o artigo 5º, § 3º da Lei 11.419
de 2006, in verbis:
Art. 5o As intimações serão feitas por meio eletrônico em portal próprio aos que se cadastrarem na forma do
art. 2o desta Lei, dispensando-se a publicação no órgão oficial, inclusive eletrônico.
§ 1o Considerar-se-á realizada a intimação no dia em que o intimando efetivar a consulta eletrônica ao teor
da intimação, certificando-se nos autos a sua realização.
§ 2o Na hipótese do § 1o deste artigo, nos casos em que a consulta se dê em dia não útil, a intimação será
considerada como realizada no primeiro dia útil seguinte.
§ 3o A consulta referida nos §§ 1o e 2o deste artigo deverá ser feita em até 10 (dez) dias corridos contados
da data do envio da intimação, sob pena de considerar-se a intimação automaticamente realizada na data
do término desse prazo.
Assim, é tempestivo o presente recurso, tendo em vista que a Defensora Pública em atuação neste órgão foi
intimada tacitamente, por via eletrônica, do acórdão recorrido em 12/06/2016, domingo, fluindo, a partir do
primeiro dia útil seguinte, o prazo recursal em dobro, ou seja, 13/06/2016.
61
415.743.458-77
Inicialmente requer, no âmbito desta Corte, que de toda e qualquer decisão proferida, seja dada CIÊNCIA
PESSOAL AO DEFENSOR PÚBLICO, assegurando-lhe as prerrogativas elencadas no Artigo 128, inciso I, da Lei
Complementar nº 80/94.
Trata-se de ação de obrigação de fazer, através da qual objetiva MARIA JOSÉ PEREIRA DE CARVALHO a
condenação dos réus – Estado do Rio de Janeiro e município de Campos dos Goytacazes a fornecerem os
medicamentos e exames necessários ao seu tratamento de saúde, vez que é portadora de diabetes,
hipertrigliceridemia e infarto agudo do miocárdio.
Através de sentença que consta do indexador 00210, o pedido foi julgado procedente, confirmando-se os
termos da decisão que antecipou os termos da tutela final, sendo os réus condenados ao pagamento de
honorários advocatícios, fixados em R$1.500,00.
Inconformado, o Estado do Rio de Janeiro interpôs recurso de apelação, que foi provido parcialmente para
afastar a sua condenação ao pagamento dos honorários advocatícios e taxa judiciária, reduzindo a
condenação do município de Campos dos Goytacazes ao pagamento de verba honorária para R$440,00,
correspondente a meio salário mínimo nacional.
Interposto Agravo Interno pelo ora Recorrente, combateu-se a deliberação de reduzir do valor recebido pela
Defensoria Pública a título de honorários advocatícios, suscitando a violação dos art. 20, §§ 3º e 4º, CPC, atual
85, §§ 2º e 3º da lei 13.105/2015.
Através do acórdão de fl.s 330/343, o recurso foi desprovido por unanimidade, desafiando a oposição de
embargos de declaração (fls. 367/372), ante a existência de omissão e com a finalidade de
prequestionamento da matéria federal.
Assim, alternativa não resta aos Recorrentes senão a interposição do presente Recurso Especial, para ver
assegurada a observância dos artigos infraconstitucionais que patentemente foram violados.
I) DO CABIMENTO DO RECURSO ESPECIAL COM RESPALDO NA ALÍNEA “a” DO INCISO III, DO ARTIGO 105
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
O art. 105, III, a C.R atribui ao Egrégio Superior Tribunal de Justiça julgar, via Recurso Especial, causa decidida
em única ou última instância, que contrarie tratado ou lei federal, ou que lhes negue vigência.
No caso sob exame foi efetivamente o que ocorreu, pois o v. acórdão hostilizado, ao rejeitar o agravo interno
interposto, acabou por infringir o art. 85, §§ 2º e 3º do CPC/2015, como demonstrar-se-á a seguir.
No mais, a matéria possui relevância, nos termos do art. 105, §2°, da CF, haja vista (...)
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415.743.458-77
V- DO PREQUESTIONAMENTO
Compulsando-se os presentes autos, é possível concluir que as violações à legislação federal aduzidas neste
recurso foram devidamente prequestionadas, conforme se depreende, em especial das razões dos embargos
de declaração, de cujos termos se extraem a explícita indicação do artigo 20, §§ 3º e 4º CPC.
Nesse sentido, convém ressaltar que, reiteradas vezes, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a finalidade
de prequestionamento dos Embargos Declaratórios. Tal entendimento, perfeitamente aplicável ao recurso
especial, se pode apreender da interpretação a contrario sensu da Súmula 356 do STF, in verbis:
Súmula 356 do STF “O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios,
não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento”.
Ainda que assim não se entenda, a jurisprudência do STJ tem admitido o prequestionamento implícito, de
forma que, apesar dos dispositivos tidos por violados eventualmente não constarem do acórdão recorrido,
se a matéria controvertida foi debatida e apreciada no Tribunal de origem à luz da legislação federal
pertinente, tem-se como preenchido o requisito da admissibilidade. Nesse sentido:
Outrossim, o art. 85, §§ 2º e 3º do CPC/2015 passou a regular a matéria, cuja aplicabilidade é imediata, tendo
sido mencionado expressamente nos embargos de declaração.
Destarte, o requisito do prequestionamento está plenamente atendido, pelo que, inaplicável o enunciado
sumular 211 do STJ.
Por outro lado, antes de adentrar-se ao mérito recursal, há que se salientar a inaplicabilidade da Súmula 07
deste Egrégio STJ, no tocante à alegação de ofensa ao artigo supracitado, uma vez que a matéria é de índole
processual (fixação de honorários em valor ínfimo).
De fato, a jurisprudência desta Corte tem admitido a revisão dos valores fixados a título de honorários
advocatícios, afastando a incidência do enunciado sumular 7/STJ, quando sejam os mesmos módicos ou
exorbitantes.
63
415.743.458-77
Por outro lado, os honorários fixados inobservaram a nova ordem processual, consubstanciada no artigo 85,
§§ 2º e 3º, CPC, configurando expressa violação de lei, para o que não se faz necessário o exame de fatos e
provas, bastando o confronto da lei com a verba fixada a título de honorários advocatícios e o valor da causa.
O tribunal local reformou a r. Sentença, em reexame necessário, para diminuir o quantum arbitrado a título
de honorários advocatícios para R$ 440,00 (trezentos e noventa reais), valor este que se revela módico e não
atende ao disposto ao art. 20, § 4º, do CPC.
Ao minorar o valor fixado a título de honorários advocatícios, o órgão colegiado declarou que o valor estava
em desconformidade com o enunciado nº 182 da súmula do Tribunal de Justiça Fluminense ( nas ações que
versem sobre a prestação unificada de saúde, a verba honorária arbitrada em favor do Centro de Estudos
Jurídicos da Defensoria Pública não deve exceder ao valor correspondente a meio salário mínimo nacional),
desconsiderando por completo os requisitos insertos no art. 20, §§ 3º e 4º, CPC.
De fato, a súmula nº 182 da jurisprudência do Egrégio Tribunal de Justiça fluminense, ao fixar como teto
máximo da verba honorária arbitrada em favor do CEJUR da DPGE, a quantia equivalente a meio salário
mínimo, contraria e nega vigência às disposições legais contidas nos parágrafos 3º e 4º do art. 20 do Código
de Processo Civil que estabelecem para as ações em que for vencida a Fazenda Pública, que os honorários
advocatícios serão fixados em consonância com o grau de zelo do profissional, o lugar de prestação do
serviço, a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu
serviço.
Não há qualquer tabelamento ou limite prefixado nos parágrafos 3º e 4º do art. 20 do CPC. A fixação deve
atender ao critério subjetivo do magistrado, caso a caso e não deve ser módica, data vênia, pena de
menosprezo da atividade defensória.
Certo que são repetitivas as demandas envolvendo a obrigação de fazer consistente na entrega de
medicamentos para as pessoas carentes. No entanto, cuida-se de lides extremamente relevantes sob o
prisma valorativo. É direito fundamental de máxima importância que está em jogo, o direito à saúde e à
própria vida.
Não se pode ignorar que esses recursos financeiros, destinados, exclusivamente, ao aparelhamento da
Defensoria Pública e a capacitação profissional de seus membros e servidores são indispensáveis à
estruturação da Defensoria no Brasil, onde se estima que 14 dentre seus 27 Estados apresentam rendimento
domiciliar per capita inferior ao salário mínimo10, sendo compostos, portanto, em sua maioria, por cidadãos
potencialmente necessitados dos serviços público de acesso à justiça.
10
Disponível em: http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/salta-numero-de-acoes-movidas-por-pacientes-contra-
governos-para-obter-tratamentos-17350029. Data de acesso: 14/09/2015.
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Registre-se a propósito que até o ano de 2008 quase 60% das Defensorias estaduais não receberam o repasse
das cotas mensais destinadas ao seu orçamento e que o percentual de comarcas atendidas pela instituição
em todo o país era inferior a 50%.12 Até 2013 apenas 59,5% de todos os cargos de defensores existentes no
país estavam providos e, inacreditavelmente, nenhum concurso para Defensor Público ainda havia sido
realizado no estado da Paraíba13. No âmbito da DPU, pesquisa realizada em 2014 demonstra que a instituição
possui uma defasagem de 66% no quadro de seus defensores públicos e abrange a demanda de apenas 58%
dos municípios brasileiros.14
O problema orçamentário da Defensoria Pública é ainda mais flagrante quando comparado com os números
do Poder Judiciário e do Ministério Público, seja no âmbito da União ou dos Estados. A lei orçamentária da
União em 201515 prevê para a Justiça Federal verba superior a dez bilhões de reais; para o Ministério Público
da União dotação superior a cinco bilhões; enquanto serão destinados à Defensoria Pública da União apenas
530 milhões. Também é assim nos Estados, como exemplificativamente, se constata nos dois com maior PIB.
Em São Paulo, a lei orçamentaria de 201516 destina ao Judiciário estadual verba superior a 9 bilhões de reais;
ao Ministério Público quantia superior a 1 bilhão e 800 milhões de reais; mas para a Defensoria Pública
quantia inferior a 750 milhões de reais. No Rio de Janeiro, enquanto o Judiciário estadual irá receber quantia
superior a 4 bilhões de reais e o Ministério Público dotação maior do que 1 bilhão e 300 milhões, a Defensoria
Pública terá dotação orçamentaria inferior a 600 milhões.17
Dessa forma, uma verba advocatícia de apenas R$440,00 mostra-se, data maxima venia, absolutamente
irrisória, diante da gravidade dos valores em jogo.
Aduza-se que demandas como a presente costumam gerar uma grande carga de trabalho para a Defensoria,
por conta do comportamento recalcitrante dos órgãos públicos, forçando inúmeros requerimentos, ao longo
dos processos propostos, de medidas subrogatórias e coercitivas para garantir a efetividade do provimento
judicial.
11
MOREIRA, José Carlos Barbosa. O Direito à assistência jurídica. Revista de Direito do Estado do Rio de Janeiro. V. 4, n.
5, 1991.Pp. 122-137.
12
Diagnóstico da Defensoria Pública no Brasil. Disponível em:
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/repositorio/0/III%20Diagn%C3%B3stico%20Defensoria%20P%C3%BAblica%2
0no%20Brasil.pdf. Data de acesso: 13/09/2015.
13
Mapa da Defensoria Pública no Brasil. Disponível em:
https://www.anadep.org.br/wtksite/mapa_da_defensoria_publica_no_brasil_impresso_.pdf . Data de acesso:
13/09/2015.
14
Um panorama da atuação da Defensoria Pública da União. Disponível em: http://s.conjur.com.br/dl/guia-dpu-
nacional.pdf . Data de acesso: 15/09/2015.
15
BRASIL. Lei nº 13.115, anexo II, de 20 de abril de 2015. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/atividade-
legislativa/orcamentobrasil/loa/loa-2015/lei-orcamentaria-anual-para-2015/loa2015. Data de acesso: 29/09/2015.
16
SÃO PAULO (Estado). Lei nº 15.646, de 23 de dezembro de 2014. Disponível em:
http://www.al.sp.gov.br/norma/?id=173890. Data de acesso: 29/09/2015.
17
RIO DE JANEIRO (Estado). Lei nº 6.955, de 13 de janeiro de 2015. Disponível em:
http://www.rj.gov.br/web/seplag/exibeconteudo?article-id=186183. Data de acesso: 29/09/2015.
65
415.743.458-77
A posição adotada nega, portanto, vigência ao referido dispositivo haja vista que ignorou, por completo, o
grau de zelo do profissional, o lugar de prestação do serviço, a natureza e importância da causa, o trabalho
realizado pelo defensor público e o tempo exigido para o seu serviço.
Desta maneira, o Colegiado deixou de observar os requisitos insertos nas alíneas a, b e c do § 3º do art. 20,
CPC, em evidente menosprezo ao trabalho exercido pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro na
defesa e garantia do tratamento da saúde da população carente do Estado do Rio de Janeiro, agravada com
o ônus de buscar a sua proteção e efetivação por intermédio da propositura de elevado número de ações
judiciais.
É evidente que não há equidade, muito menos razoabilidade, na fixação de verba advocatícia tão reduzida,
que positivamente não é compatível com o trabalho desenvolvido pela Defensoria Pública, sendo certo
afirmar-se que o valor fixado pelo juízo a quo revela-se condizente com os requisitos estabelecidos nos
parágrafos do dispositivo indicado como violado.
Tal entendimento é corroborado pela jurisprudência do colendo STJ. Confiram-se julgados recentes:
66
415.743.458-77
Não há dúvida nenhuma de que está caracterizada a agressão ao art. 20, §§ 3º e 4º, do CPC, motivo pelo qual
merece ser conhecido e provido o presente recurso especial.
Outrossim, imperioso destacar a redação do artigo 85, §§ 2º e 3º do novo CPC – lei 13.105/2015, que
estabelece que os honorários advocatícios deverão ser fixados sobre o valor da condenação, do proveito
econômico obtido ou, não sendo possível, sobre o valor atualizado da causa, observados os requisitos já
mencionados no antigo código, reproduzidos no § 2º.
Em sendo a Fazenda Pública parte, os honorários igualmente devem observar os critérios estabelecidos no §
2º, sendo o percentual mínimo, em ações cujo valor da causa, ou proveito econômico alcance até 200
salários mínimos (hipótese dos autos), correspondente a 10%.
§ 2o Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da
condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado
da causa, atendidos:
67
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§ 3o Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários observará os critérios
estabelecidos nos incisos I a IV do § 2o e os seguintes percentuais:
I - mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico
obtido até 200 (duzentos) salários-mínimos;
II - mínimo de oito e máximo de dez por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido
acima de 200 (duzentos) salários-mínimos até 2.000 (dois mil) salários-mínimos;
III - mínimo de cinco e máximo de oito por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico
obtido acima de 2.000 (dois mil) salários-mínimos até 20.000 (vinte mil) salários-mínimos;
IV - mínimo de três e máximo de cinco por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico
obtido acima de 20.000 (vinte mil) salários-mínimos até 100.000 (cem mil) salários-mínimos;
V - mínimo de um e máximo de três por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido
acima de 100.000 (cem mil) salários-mínimos.
Como se vê, o valor fixado na r. sentença, R$1.500,00, equivalente a 15% sobre o valor da causa
(R$10.000,00), está em consonância com o novo ordenamento processual civil, revestindo-se de critérios
de razoabilidade e proporcionalidade, pelo que, deve ser restabelecido.
Outrossim, o valor fixado na decisão monocrática, ratificada pelo acórdão embargado - a pretexto de
observar entendimento sumulado, que limita o valor da verba a meio salário mínimo - contraria
expressamente o novo texto de lei processual, equivalendo a menos de 5% do valor da causa e revela-se
irrisório, sendo incompatível com o trabalho desenvolvido pela Defensoria Pública.
Não se pode olvidar que as normas processuais têm aplicabilidade imediata, inclusive em relação aos
processos pendentes, nos termos do que dispõe o art. 1046, CPC.
Destarte, fica evidente a violação pelo acórdão recorrido, do art. 85, §§ 2º e 3º, CPC, pois ao julgar os
embargos de declaração opostos pelo recorrente – já na vigência da nova ordem processual -, entendeu por
manter a decisão que aplicou súmula do TJRJ, absolutamente contrária à novel ordem processual e portanto,
superada.
VIII- DO PEDIDO
Defensor Público
Cidade, data
68
415.743.458-77
H) RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a
decisão recorrida:
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.
69
415.743.458-77
§ 1o Quando o recurso fundar-se em dissídio jurisprudencial, o recorrente fará a prova da divergência com a
certidão, cópia ou citação do repositório de jurisprudência, oficial ou credenciado, inclusive em mídia
eletrônica, em que houver sido publicado o acórdão divergente, ou ainda com a reprodução de julgado
disponível na rede mundial de computadores, com indicação da respectiva fonte, devendo-se, em qualquer
caso, mencionar as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados.
§ 3o O Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça poderá desconsiderar vício formal de
recurso tempestivo ou determinar sua correção, desde que não o repute grave.
§ 5o O pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário ou a recurso especial poderá ser
formulado por requerimento dirigido:
Conforme ensinamento de Tartuce, o RE, de forma similar ao REsp, tem por objetivo não a simples
rediscussão da matéria objeto do recurso (como no caso da apelação e dos demais recursos, ditos ordinários).
Neste recurso, a finalidade é a observância – e unidade na aplicação – dos ditames constitucionais por
todos os Tribunais pátrios. É um recurso de estrito direito, portanto. Com o RE, o STF busca zelar pela
supremacia da Constituição em todo o território nacional. Portanto, somente o STF julga o RE (CF, art. 102,
III).18
Com relação ao cabimento do RE, são passíveis de serem atacadas por tal recurso as causas
decididas em única ou última instância. Observem que o RE não repete a menção do REsp a “Tribunais”,
de forma que é cabível RE para atacar decisões de turmas recursais de Juizados.
18
TARTUCE, Fernanda; DELLORE, Luiz, Manual de Prática Civil - 14ª edição, editora Método, 2018, p. 350-351.
70
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Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a
decisão recorrida:
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.
Assim como o REsp, o RE é interposto na origem (juízo a quo) e julgado no STF, dessa forma, a peça
de interposição também é endereçada ao Presidente do Tribunal a quo e as razões são direcionadas ao
Supremo Tribunal Federal.
Artigo 1.003, § 5o Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para responder-
lhes é de 15 (quinze) dias.
#NEVERFORGET: O RE deve conter o pedido gratuidade de justiça (reiteração do pedido feito em instâncias
anteriores).
Art. 1.035. O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do recurso extraordinário
quando a questão constitucional nele versada não tiver repercussão geral, nos termos deste artigo.
§ 1o Para efeito de repercussão geral, será considerada a existência ou não de questões relevantes do ponto
de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem os interesses subjetivos do processo.
§ 2o O recorrente deverá demonstrar a existência de repercussão geral para apreciação exclusiva pelo
Supremo Tribunal Federal.
71
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#MODELODEPEÇA19
A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, (...) com fundamento no artigo 102, III, “a”, da
Constituição Federal, vem interpor
RECURSO EXTRAORDINÁRIO
diante das razões anexas, requerendo seja o mesmo remetido à apreciação do Egrégio Supremo Tribunal
Federal e, ao final, provido.
DA TEMPESTIVIDADE:
Conforme o disposto no artigo 5º, parágrafo 5º, da Lei 1.060/50 e no artigo 128, inciso I, da Lei Complementar
no. 80/94, são pessoais as intimações dos Defensores Públicos, assim como também se lhes contam em
dobro todos os prazos processuais.
No presente caso a intimação da Defensoria Pública ocorreu no (...), de maneira que a interposição do
Recurso é Tempestiva.
DA PRETENSÃO RECURSAL:
Presentes os requisitos objetivos e subjetivos do Recurso Extraordinário, espera-se, pelas razões antes
expendidas, seja ele conhecido e provido em reconhecimento da vulneração do art. 134, caput, e parágrafos
2º e 4º da Constituição, garantindo-se à Defensoria Pública o acesso aos honorários sucumbenciais devidos
pelo Estado.
E. Deferimento.
(Local, data)
I – SÍNTESE:
(...)
O Acórdão local decidiu, em última instância, pelo descabimento de condenação do Estado ao pagamento
de honorários sucumbenciais à Defensoria Pública, contrariando, assim, o art. 134, caput e parágrafos 2º e
4º da Constituição Federal.
19
Peça adaptada a partir de recurso extraordinário obtido no site da DPE-RJ. Disponível em:
http://www.defensoria.rj.def.br/uploads/arquivos/3e15e0e0e36f42f18b7438932f4965a1.docx
72
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O registro inicial é de que a questão constitucional aqui tratada ostenta repercussão geral, pois é relevante
do ponto de vista econômico, político, social e jurídico e ultrapassa os interesses subjetivos das partes.
Preenche, sob essa análise, o requisito estabelecido no art. 102, §3º, CF e art. 1.035 do CPC.
É oportuno reconhecer que a repercussão geral desta matéria foi objetada pelo STF no julgamento do RE
592.730, da relatoria do Ministro Menezes Direito, em julgamento de 06.11.2008, assim ementado:
20
DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro. Curso de Direito Processual Civil: volume 3. 7ª ed. Bahia: Jus
Podvim, 2009. Pp. 334-335.
73
415.743.458-77
“Assim, para permitir o debate sobre eventual revisão da tese, determino à Presidência do TRF da 1ª Região
que, por ora, não inadmita o recurso extraordinário interposto pela parte reclamante no processo de
origem (nº 0036974-16.2010.4.01.3300), desde que não haja óbice diverso da negativa de repercussão
geral do tema no RE 592.730.” (destaque no original).
De fato, a questão é de relevo. Do ponto de vista político e econômico transborda aos interesses exclusivos
da recorrente porque afeta todas as Defensorias Públicas do país e a da União, além de todos os Estados da
Federação e, também, a própria União. Atinge, assim, a organização administrativa e orçamentária de todos
esses entes, o que é complexo e importante, a um só tempo e não se restringe em um debate local.
Agregue-se que o alcance das Defensorias Públicas à população brasileira está estimado em 142 milhões de
brasileiros21, o que aponta a sobrelevada importância social que suas fontes de financiamento previstas na
Constituição e na Lei representam.
Do ponto de vista jurídico, interessa a todos a perfeita compreensão sobre o significado concreto e correto
da autonomia administrativa, funcional e orçamentária outorgada pelo texto Constitucional a uma
instituição. A propósito, essa questão também ultrapassa os interesses exclusivos da Defensoria Pública e
encontra ressonância em outras instituições dotadas das mesmas garantias, como o Ministério Público e o
Poder Judiciário.
Por fim, também importa reconhecer que o tratamento orçamentário conferido às Defensorias Públicas é
absolutamente desprestigioso quando comparado com o do Ministério Público e o do Poder Judiciário, muito
embora as arquiteturas institucionais estabelecidas na Constituição sejam semelhantes. Este tema, pela
importância, será aprofundado mais adiante na defesa de mérito, mas não é dispensado para a análise e o
reconhecimento da repercussão geral.
É manifesto, portanto, o interesse maior traduzido na questão, o que deve ser reconhecido pelo STF em
revisão de jurisprudência.
A matéria em exame atinge diretamente o texto Constitucional, especialmente em seu artigo 134, §§ 2º e
4º, porque se desenvolve sobre a compreensão da independência administrativa, funcional e orçamentária
da Defensoria Pública em relação ao seu ente federativo de origem, o que é tratado expressamente no texto
maior.
21
Uma Panorama da Atuação da Defensoria Pública da União. Disponível em: http://s.conjur.com.br/dl/guia-dpu-
nacional.pdf. Data de acesso: 15/09/2015.
74
415.743.458-77
Sucede que após as mutações determinadas pelas Emendas 45/2004, 74/2013 e 80/2014, a Constituição
passou a firmar expressamente a independência institucional da Defensoria Pública, reconhecendo, como
princípio, seu autogoverno administrativo, funcional e orçamentário. E o entendimento sobre a existência de
confusão patrimonial deixou de se harmonizar com o novo cenário positivado na Carta republicana.
Sob essa perspectiva, interpretar se a fonte de custeio “honorários sucumbenciais” da Defensoria Pública
pode ser arrecadada do próprio ente federativo do qual se origina é questão que desafia compreensão direta
da norma Constitucional, o que garante a admissão do apelo nobre quanto a este requisito.
(...)
Atendendo ao requisito próprio do recurso extraordinário é preciso registrar que a matéria foi devidamente
prequestionada, porque debatida no acórdão recorrido da seguinte forma:
(...)
Da mesma maneira, este apelo extremo pleiteia reversão do julgado local propondo nova compreensão da
matéria apenas no seu campo jurídico, sem demandar, portanto, qualquer incursão no cenário fático ou
probatório.
A ratio do enunciado se baseia na interpretação de que existe confusão patrimonial entre os cofres da
Defensoria Pública e de seu Estado de origem (art. 381 do Código Civil) e foi firmada a partir do julgamento
do Recurso Especial n. 1.108.013–RJ, Rel. Min. Eliana Calmon, Dje 22.06.2009. Eis a Ementa:
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL SUBMETIDO À SISTEMÁTICA PREVISTA NO ART. 543-C DO CPC (atual
artigo 1036, NCPC). HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. DEFENSORIA PÚBLICA. CÓDIGO CIVIL, ART. 381
(CONFUSÃO). PRESSUPOSTOS.
1. Segundo noção clássica do direito das obrigações, ocorre confusão quando uma mesma pessoa reúne as
qualidades de credor e devedor.
2. Em tal hipótese, por incompatibilidade lógica e expressa previsão legal extingue-se a obrigação.
3. Com base nessa premissa, a jurisprudência desta Corte tem assentado o entendimento de que não são
devidos honorários advocatícios à Defensoria Pública quando atua contra a pessoa jurídica de direito público
da qual é parte integrante.
75
415.743.458-77
“O texto constitucional é intuitivo quanto à existência de Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e
dos Territórios, além da dos Estados, constituindo, sob a ótica do Direito Administrativo, órgãos desses entes
da Federação. Assim, na relação jurídica processual contra o poder público ou por ele iniciada, em que um
dos pólos se encontra um juridicamente necessitado, surge o cenário propício ao aparecimento da confusão,
no que toca aos honorários advocatícios, a depender da sucumbência.” (RE 1.108.013 – RJ; Rel. Min. Eliana
Calmon)
Importa que esta interpretação, realizada com claro enfoque Constitucional, não se alinha mais com o que
consta da Carta atualmente. Vejamos o texto em vigor:
Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação
jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos
individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º
desta Constituição Federal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014)
§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios e
prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe
inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da
inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais. (Renumerado do
parágrafo único pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
A Doutrina deu a devida importância ao tema e tratou de classificar como órgãos independentes os que, por
expressa disciplina constitucional, atuam sem subordinação, sendo controlados apenas pelo sistema de
76
415.743.458-77
Com a costumeira acuidade o professor Paulo Gustavo Gonet, em obra produzida em coautoria com o
Eminente Min. Gilmar Mendes percebeu que a independência da Defensoria também se afere a partir de
como estão posicionados os artigos de sua regulamentação no texto maior23. Não estão dentro dos capítulos
que descrevem os três poderes clássicos, mas em capítulo próprio intitulado “Das funções essenciais à
Justiça”, reforçando a concepção de que essa autonomia é fruto de induvidosa decisão de política
Constitucional.
No ponto, já em 1992, Siqueira Castro 24 defendia que as instituições que tutelam direitos e valores
fundamentais por força de disposição constituinte caracterizam-se como “instituições quase-poder”, ou seja,
apesar de não terem se aperfeiçoado como um “poder orgânico da soberania”, assumem traços inerentes
aos três Poderes clássicos de organização do Estado, como a estruturação básica de funcionamento através
do texto constitucional, a definição expressiva da autonomia técnica, da independência orgânico funcional
em face dos poderes clássicos e o conjunto de especiais prerrogativas e garantias. É exatamente o caso da
Defensoria Pública.
No campo jurisprudencial são numerosos os julgados do próprio STF a afirmar e reafirmar a independência
da Defensoria Pública em relação aos poderes classicamente estabelecidos. Confira-se:
EMENTA: Arguição de descumprimento de preceito fundamental. Medida cautelar. Referendo. Ato do Poder
Executivo do Estado da Paraíba. Redução, no Projeto de Lei Orçamentária de 2014 encaminhado pelo
Governador do Estado da Paraíba à Assembleia Legislativa, da proposta orçamentária da Defensoria Pública
do Estado. Cabimento da ADPF. Mérito. Violação de preceito fundamental contido no art. 134, § 2º, da
Constituição Federal. Autonomia administrativa e financeira das Defensorias Públicas estaduais. Medida
cautelar confirmada. (...)
“2. A autonomia administrativa e financeira da Defensoria Pública qualifica-se como preceito fundamental,
ensejando o cabimento de arguição de descumprimento de preceito fundamental, pois constitui garantia
densificadora do dever do Estado de prestar assistência jurídica aos necessitados e do próprio direito que a
esses corresponde. Trata-se de norma estruturante do sistema de direitos e garantias fundamentais, sendo
também pertinente à organização do Estado.” (ADPF 307; Rel. Min. Dias Toffoli)
“Daí se tira, sem grande esforço, que a autonomia outorgada no art. 134, § 2°, da Constituição da República,
como meio ou instrumento necessário para o correto e frutuoso desempenho das atribuições institucionais,
pressupõe, no âmbito destas, correspondente liberdade de atuação funcional e administrativa, cuja limitação
ou desnaturamento por norma subalterna tipifica situação de clara inconstitucionalidade.
(...)
Torna-se imperioso reconhecer – e é preciso que se o diga – que a ausência da autonomia financeira constitui
fator apto a comprometer a própria autonomia funcional e administrativa assegurada,
constitucionalmente...” (ADI 126; Rel. Min. Octavio Gallotti; voto Min. Celso de Mello)
22
ARAGÃO, Alexandre Santos de. Curso de Direito Administrativo. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013. P. 242.
23
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional.8ª ed. São Paulo: Saraiva,
2013.
24
CASTRO, Carlos Roberto Siqueira. A Constituição e a Defensoria Pública. Revista de Direito da Defensoria Pública do
Estado do Rio de Janeiro. V. 5, n. 6,1992. Pp.15-26.
77
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E na mesma temática cabe o registro do julgamento da ADI 3.965-MG, relatoria da Eminente Ministra Cármen
Lúcia:
EMENTA: CONSTITUCIONAL. ARTS. 7º, VII, 16, CAPUT E PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 8.559/2006, DO ESTADO
DO MARANHÃO, QUE INSEREM A DEFENSORIA PÚBLICA DAQUELA UNIDADE DA FEDERAÇÃO NA ESTRUTURA
DO PODER EXECUTIVO LOCAL. OFENSA AO ART. 134, § 2º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ADI PROCEDENTE.
“Com as mudanças estabelecidas pela EC 45/2004, o Poder Constituinte Derivado buscou incrementar a
capacidade de autogoverno da Defensoria Pública, assegurando-lhe, ao lado da autonomia funcional a
administrativa, a financeira, conforme decorre de menções expressas feitas pelo texto magno à iniciativa
para elaboração de sua proposta orçamentária.” (ADI 4056; Rel. Min. Ricardo Lewandowski)
A Defensoria Pública, portanto, e na forma do art. 134 da Constituição, com disciplina outorgada pelas
emendas de n. 45/2004, 74/2013 e 80/2014, passa a instituição com dotação orçamentária própria, a ser
autonomamente administrada. E isso também determina que para atingir sua atividade fim, que é o que
importa à sociedade, sua estruturação deva ser financiada adequadamente, pelas fontes previstas nas Leis e
que atentem aos anseios da Constituição. São os meios estruturantes para o alcance de sua atividade fim25.
E por lógica, se há independência institucional entre a Defensoria e o ente federativo de sua origem, não
pode haver confusão patrimonial, que só se sustentaria pela já ultrapassada tese da vinculação orgânica,
orçamentária e financeira.
Essa é a compreensão da doutrina mais especializada na matéria, declarada por Franklyn Roger Alves Silva e
Diogo Esteves, para quem: “Se a Defensoria Pública e o ente federativo que a mantém não compõem um
mesmo todo unitário, não se pode afirmar a ocorrência da confusão (art. 381 do CC/2002) entre os dois
sujeitos. (…). Quando o ente federativo é condenado ao pagamento de honorários sucumbenciais em favor
da Defensoria, não há concentração das qualidades de credor e devedor na mesma figura; a pluralidade de
situações jurídicas subsiste em virtude da existência de dois sujeitos substancialmente distintos entre si.
Portanto, não haverá, na hipótese, pagamento para si mesmo, mas pagamento à Instituição autônoma e
desvinculada da estrutura do ente federativo devedor”.26
Os honorários sucumbenciais, por sua vez, se apresentam como uma das fontes de financiamento
institucional da Defensoria, porque destinados ao seu aparelhamento e à capacitação profissional dos seus
membros, como anuncia o art. 4º, XXI da LC 80/94. Por essa razão, não podem ser contingenciados ou
apropriados pelo Poder Executivo, porque isso configura violação da autonomia proclamada na Lei maior
(art. 134). Vejamos o texto legal:
25
ARAGÃO, Alexandre Santos de. Curso de Direito Administrativo. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013. P. 223.
26
ESTEVES, Diogo; SILVA, Franklyn Roger Alves. Princípios Institucionais da Defensoria Pública. Rio de Janeiro: Forense,
2014. p. 387.
78
415.743.458-77
XXI – executar e receber as verbas sucumbenciais decorrentes de sua atuação, inclusive quando devidas por
quaisquer entes públicos, destinando-as a fundos geridos pela Defensoria Pública e destinados,
exclusivamente, ao aparelhamento da Defensoria Pública e à capacitação profissional de seus membros e
servidores; (Incluído pela Lei Complementar nº 132, de 2009).
Mas é exatamente o que ocorre quando se aplica a súmula 421 do STJ e o instituto da confusão patrimonial
em relação aos honorários sucumbenciais devidos pelo Estado à Defensoria. A fonte de receita da Defensoria
Pública, nesse caso, não lhe é entregue pelo Estado, que, por via indireta, dela se apropria e passa a gerenciá-
la, enriquecendo de forma ilícita pelo orçamento alheio. A prática é contrária à independência institucional
firmada na Constituição.
E não se pode ignorar que esses recursos financeiros são indispensáveis à estruturação da Defensoria no
Brasil, onde se estima que 14 dentre seus 27 Estados apresentam rendimento domiciliar per capita inferior
ao salário mínimo27, sendo compostos, portanto, em sua maioria, por cidadãos potencialmente necessitados
dos serviços públicos de acesso à justiça.
Entretanto, o alargamento das suas funções e a centralidade que passou a ocupar no novo ordenamento
constitucional não foram, ainda, acompanhados pelo correspondente e necessário avanço orçamentário.
Registre-se a propósito que até o ano de 2008 quase 60% das Defensorias estaduais não receberam o repasse
das cotas mensais destinadas ao seu orçamento e que o percentual de comarcas atendidas pela instituição
em todo o país era inferior a 50%.29 Até 2013 apenas 59,5% de todos os cargos de defensores existentes no
país estavam providos e, inacreditavelmente, nenhum concurso para Defensor Público ainda havia sido
realizado no estado da Paraíba30. No âmbito da DPU, pesquisa realizada em 2014 demonstra que a instituição
possui uma defasagem de 66% no quadro de seus defensores públicos e abrange a demanda de apenas 58%
dos municípios brasileiros.31
O problema orçamentário da Defensoria Pública é ainda mais flagrante quando comparado com os números
do Poder Judiciário e do Ministério Público, seja no âmbito da União, do Distrito Federal ou dos Estados. A
27
Disponível em: http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/salta-numero-de-acoes-movidas-por-pacientes-contra-
governos-para-obter-tratamentos-17350029. Data de acesso: 14/09/2015.
28
MOREIRA, José Carlos Barbosa. O Direito à assistência jurídica. Revista de Direito do Estado do Rio de Janeiro. V. 4, n.
5, 1991.Pp. 122-137.
29
Diagnóstico da Defensoria Pública no Brasil. Disponível em:
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/repositorio/0/III%20Diagn%C3%B3stico%20Defensoria%20P%C3%BAblica%2
0no%20Brasil.pdf. Data de acesso: 13/09/2015.
30
Mapa da Defensoria Pública no Brasil. Disponível em:
https://www.anadep.org.br/wtksite/mapa_da_defensoria_publica_no_brasil_impresso_.pdf . Data de acesso:
13/09/2015.
31
Um panorama da atuação da Defensoria Pública da União. Disponível em: http://s.conjur.com.br/dl/guia-dpu-
nacional.pdf . Data de acesso: 15/09/2015.
79
415.743.458-77
Não pense que essa também não é a realidade da DPE-DF, pois ela, como todas as demais Defensorias do
País estão nessa mesma situação.
É claro que esse cenário político tem extrema relevância e repercute na questão jurídica, pois revela a maior
dificuldade que a Defensoria Pública enfrenta para concretizar o direito fundamental de acesso à justiça aos
necessitados - o seu subdimensionamento orçamentário. O relevo extremado da questão foi muito bem
capturado pelo Eminente Ministro Roberto Barroso, no já mencionado julgamento da liminar da Reclamação
n. 20.628. Confira-se:
“Além disso, nada obstante a garantia normativa de autonomia, é fato notório que a maior parte das
Defensorias Públicas enfrenta graves problemas de estruturação de seus órgãos, situação que, em muitos
Estados, não corresponde ao grau de aparelhamento do judiciário e do Ministério Público, a indicar a
existência de um desfavorecimento da instituição na escolha das prioridades orçamentárias. Essa situação,
inegavelmente, compromete a atuação constitucional da Defensoria e poderia ser atenuada pelo
recebimento de honorários (...)” (Rcl 20628, Rel. Min, Roberto Barroso)
Desse modo, e certamente reconhecendo a questão, o legislador estabeleceu como uma das fontes de
financiamento e custeio das atividades da Defensoria Pública as verbas sucumbenciais, “inclusive quando
devidas por quaisquer entes públicos” (LC 80/94, art. 4º, XXI), que devem ser destinadas “ao aparelhamento
da Defensoria Pública e à capacitação profissional de seus membros e servidores”. Mas a despeito da clareza
da lei, a jurisprudência tem negado o acesso da Defensoria a essa verba.
Portanto, a correta análise jurídica da questão deve ser completa, de modo a perceber as boas razões que
trouxeram a Defensoria Pública ao patamar de instituição autônoma e, também, a inclusão dos honorários
sucumbenciais como uma das suas fontes de custeio, inclusive, quando oriundos do próprio Estado de sua
origem.
A compreensão desejada é a de aplicação concreta da nova concepção da Defensoria, que não admite, por
claro desalinho textual, lógico e teleológico, a apropriação, pelo Estado, de fonte de receita de instituição
que lhe é independente, no caso, a própria Defensoria.
Também não se deve ignorar que a verba sucumbencial, além de remunerar, serviria a compensar,
minimamente, ou repor, ainda que parcialmente, o enorme dispêndio orçamentário que a Defensoria realiza
32
BRASIL. Lei nº 13.115, anexo II, de 20 de abril de 2015. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/atividade-
legislativa/orcamentobrasil/loa/loa-2015/lei-orcamentaria-anual-para-2015/loa2015. Data de acesso: 29/09/2015.
33
SÃO PAULO (Estado). Lei nº 15.646, de 23 de dezembro de 2014. Disponível em:
http://www.al.sp.gov.br/norma/?id=173890. Data de acesso: 29/09/2015.
34
RIO DE JANEIRO (Estado). Lei nº 6.955, de 13 de janeiro de 2015. Disponível em:
http://www.rj.gov.br/web/seplag/exibeconteudo?article-id=186183. Data de acesso: 29/09/2015.
80
415.743.458-77
Então, diante da reconhecida autonomia institucional que a Constituição estabeleceu como princípio de
regência do relacionamento entre o Estado e a Defensoria Pública, que não admite a apropriação ou a gestão
de seus recursos pelo Executivo, postula-se a condenação deste ao pagamento dos honorários de
sucumbência, de modo a resgatar a correta aplicação do art. 134 e parágrafos da Constituição.
VII - CONCLUSÃO:
Presentes os requisitos objetivos e subjetivos do Recurso Extraordinário, espera-se, pelas razões antes
expendidas, seja ele conhecido e provido em reconhecimento da vulneração à Constituição Federal,
garantindo-se à Defensoria Pública o acesso aos honorários sucumbenciais devidos pelo Estado.
E. deferimento.
#RECAPITULANDO #TABELAAMIGA
FUNDAMENTO ENDEREÇAM
CABIMENTO PRAZO PEDIDOS
LEGAL ENTO
Art. 102. Compete ao STF,
precipuamente, a guarda
da Constituição, cabendo- Interposição:
lhe: recebimento, intimação
III - julgar, mediante do recorrido para
recurso extraordinário, as contrarrazoar e após o
causas decididas em encaminhamento para o
única ou última instância, STF.
quando a Interposição:
decisão recorrida: Art. 102, III, a, b, c Presidente Razões: conhecimento e
15 dias úteis
a) contrariar dispositivo ou d, CF/88 e do TJ/ TRF provimento para que seja
(interposição +
desta Constituição; 1.029 e seguintes reformado o acórdão...
razões)
b) declarar a do CPC. Razões: STF
inconstitucionalidade de (Turma) Tópico sobre cabimento,
tratado ou lei federal; tempestividade,
c) julgar válida lei ou ato prequestionamento
de governo local (possibilidade de
contestado em face desta prequestionamento ficto
Constituição. – art. 1.025 CPC).
d) julgar válida lei local e repercussão geral.
contestada em face de lei
federal.
OBSERVAÇÕES GERAIS
Na interposição justificar a não realização do preparo.
Repercussão Geral (art. 102, §3º da CF/88 e 1.035, §2º CPC)
Prequestionamento.
Pedir efeito suspensivo (art. 1.029, §5º CPC)
81
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Para finalizar, junto uma tabela elaborada por Tartuce, para ajudar vocês no caso de existirem
dúvidas sobre o cabimento de cada recurso35:
Se o Tribunal de Justiça ou o Tribunal Regional Federal proferirem acórdão em matéria penal, contra esta
decisão cabe, em tese, Recurso Especial e Extraordinário. A parte que deseja interpor um Recurso
Extraordinário ou Recurso Especial deve protocolizá-lo no juízo a quo (recorrido) e não diretamente no juízo
ad quem (STF/STJ), nos termos do art. 1.029 do CPC.
O Presidente (ou Vice) do Tribunal de origem poderá fazer o juízo negativo de admissibilidade com
base em dois fundamentos:
35
TARTUCE, Fernanda; DELLORE, Luiz, Manual de Prática Civil - 14ª edição, editora Método, 2018, p. 354.
82
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Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente do tribunal recorrido que inadmitir
recurso extraordinário ou recurso especial (nas hipóteses genéricas do inciso V do art. 1.030), salvo quando
fundada na aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de
recursos repetitivos (situação do inciso I do art. 1.030, quando caberá agravo interno).
#SELIGANOMODELO36
A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, por intermédio dos/as Defensores/as Públicos/as
signatários/as, no exercício de suas respectivas atribuições legais, vem, com fulcro no artigo 1.042 do Código
de Processo Civil, noticiar a interposição de AGRAVO CONTRA DECISÃO DENEGATÓRIA DE RECURSO
ESPECIAL, nos termos das razões anexas, em face da decisão dos autos em epígrafe. Requer o regular
processamento do presente recurso, visando à devida remessa destes autos ao E. Superior Tribunal de
Justiça.
36
Modelo retirado no site da Defensoria Pública do Estado de São Paulo.
83
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Defensor(a) Público(a)
Unidade de XXXXXXXXX
RAZÕES DE AGRAVO
Eméritos Julgadores,
1. DA TEMPESTIVIDADE DO RECURSO
De acordo com o inciso I do artigo 128 da Lei Complementar 80/94 c/c artigo 186 do Código de Processo Civil,
Lei nº 13.105/2015, a Defensoria Pública conta com o direito à intimação pessoal de todos os atos processuais
e a contagem em dobro dos prazos legais.
Conforme disposto no art. 1003, §5º cc art. 994, VIII, do CPC, o prazo para interposição de Agravo em Recurso
Extraordinário é de 15 (quinze) dias úteis. Assim, a Defensoria Pública dispõe do prazo de 30 (trinta) dias,
que se conta a partir de 30 de novembro de 2020, que foi o dia em que a Defensoria Pública retirou os
autos em carga.
Dessa forma, temos que o prazo para a Defensoria Pública começou a fluir em 30/11/2020 (segunda-feira).
Na contagem do prazo, é importante notar que não houve expediente forense nos dias 7 e 8 de dezembro.
O De acordo com o artigo 220 do CPC, “suspende-se o curso do prazo processual nos dias compreendidos
entre 20 de dezembro e 20 de janeiro, inclusive”.
A contagem dos prazos é retomada, assim, em 21 de janeiro de 2021 (quinta-feira), de forma que o prazo de
30 (trinta) dias úteis vence somente em 01/02/2021.
2. SÍNTESE DO PROCESSADO
Em xxxxxxxx, xxxxxxxxxx, conhecido como “xxxx” ou “xxxx”, pessoa com deficiência mental, foi encontrado
decapitado e com as mãos decepadas em local próximo à Av. xxxxxxxxxxxx.
xxxxxxxx era conhecido por “xxxxxxxxx” devido a atividades manuais que realizava, tais como conserto de
bicicletas e pintura de paredes. Além da deficiência mental, também possuía deficiência cognitiva, estando,
portanto, em condição de extrema vulnerabilidade. Ingênuo e infantil, repetira primeira série do ensino
fundamental quatro vezes. Embora tivesse mais de trinta anos na data dos fatos, não tinha a correta
percepção do tempo, de modo que afirmava ter 17 anos.
84
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De acordo com o Laudo nº xxxxxxx, referente ao local onde o corpo fora encontrado, xxxxxxxxxx apresentava
uma extensa lesão na região abdominal, atingindo toda a musculatura e expondo as vísceras, de modo que
sua identificação somente foi possível por meio de exame de DNA.
Junto com a vítima foram encontrados, no mesmo período, outros três corpos decapitados, sob fortes
indícios de terem sido vítimas de ação encabeçada por policiais militares ligados ao grupo de extermínio do
xxxº Batalhão da Polícia Militar, conhecidos como “xxxxxxxxx”.
Restou devidamente comprovado que os policiais militares xxxxxxxxxx, integrantes da equipe da Força Tática
xxxxxx, do xxxxxº Batalhão da Polícia Militar, efetuaram abordagem a pessoa com deficiência mental na data
do desaparecimento da vítima, sendo certo que o corpo de xxxxxxxxxx foi encontrado no dia seguinte à ação
policial.
Após conduzidas todas as investigações, os policiais militares foram submetidos a julgamento perante o
Tribunal do Júri da 1ª Vara do Júri da Comarca xxxxxxxxxx, tendo sido condenados por homicídio duplamente
qualificado, cometido por motivo torpe e com emprego de recurso que impossibilitou a defesa da vítima (fls.
xxxxxxxxxxx).
O Tribunal acolheu a preliminar alegada pela defesa dos réus, sem adentrar no mérito do recurso, dando
provimento ao apelo (fls. xxxxxxxxxx). Designada nova sessão plenária, o segundo E. Conselho de Sentença
julgou a ação penal improcedente, sob a tese de negativa de autoria, absolvendo os réus da imputação
originária.
O Ministério Público de São Paulo, reiterado pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo, na qualidade
de assistente da acusação, recorreu ao Tribunal de Justiça de São Paulo, pugnando pela realização de nova
sessão de julgamento, visto que a decisão do segundo Tribunal do Júri não encontra amparo no extenso
acervo probatório produzido.
Soma-se a isso a ocorrência de nulidade durante a sessão plenária, uma vez que os advogados de defesa dos
réus violaram a regra do artigo 479 do Código de Processo Penal, lendo aos jurados documento não constante
dos autos, o qual, certamente, interferiu na formação da íntima convicção dos jurados, uma vez que os réus
foram absolvidos dos crimes que lhes foram imputados.
A apelação foi desprovida pela 10ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Foram opostos embargos de declaração contra o acórdão, os quais foram, também, rejeitados.
Foram então interpostos Recursos Especial e Extraordinário, os quais foram inadmitidos, dando ensejo ao
presente agravo em Recurso Especial (assim como será interposto também agravo em Recurso
Extraordinário).
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Contudo, o Exmo. Senhor Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo inadmitiu ambos os recursos
interpostos. Particularmente quanto ao Recurso Especial, entendeu pelo seu não cabimento nos seguintes
termos (fls. xxxxxxxx):
Com efeito, no que tange à alegada contrariedade ao Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos; à
Convenção das Nações Unidas Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes; à Convenção Americana sobre Direitos Humanos de 1969 (Pacto de São José da Costa Rica);
bem como à Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as
Pessoas Portadoras de Deficiência; importante salientar o entendimento firmado pelo Colendo Superior
Tribunal de Justiça de que: ‘(...) O cabimento do recurso especial é limitado às hipóteses constitucionalmente
previstas, sendo via destinada estritamente à interpretação da lei federal. Assim, norma infraconstitucional,
mesmo com caráter supralegal, não tem o condão de ampliar ou modificar a destinação constitucional do
recurso especial, para que se transforme em meio para reexame do conjunto fático-probatório, providência
que, caso realizada, também acarretaria a extrapolação, pelo Superior Tribunal de Justiça, da competência
que lhe foi conferida no texto constitucional.’”
Por outro lado, as discussões trazidas à baila no recurso, quer quanto à impugnação da decisão como
manifestamente contrária à prova dos autos, com a demanda de nova valoração dos elementos probatórios
sob os diversos enfoques trazidos no reclamo; quer quanto à alegada nulidade pela leitura de documento
não constante dos autos, implicam, para alcançar solução contrária àquela constante do aresto combatido,
na incidência, ao caso, do óbice contido no Enunciado Sumular de nº 7 do STJ, (...).”
Referida decisão não pode prosperar, pelas razões que serão demonstradas a seguir.
3. DO DIREITO
Conforme transcrito acima, constou da decisão recorrida que o recurso especial interposto – ao invocar
contrariedade ao Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos; à Convenção das Nações Unidas contra
Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes; à Convenção Americana sobre
Direitos Humanos de 1969; bem como à Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas
de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência – não poderia ser admitido, já que “o
cabimento do recurso especial é limitado às hipóteses constitucionalmente previstas, sendo via destinada
estritamente à interpretação da lei federal”.
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Ora, todos os Pactos e Convenções citados na decisão que negou seguimento ao recurso especial são
tratados internacionais de direitos humanos que foram, todos, assinados, ratificados e internalizados pelo
Brasil, ou seja, são tratados que foram incorporados à legislação brasileira pela promulgação por meio dos
respectivos decretos do Executivo, que tornaram públicos seus textos e determinaram sua execução.
Ademais também não se pretende, com o presente recurso, reexame do conjunto fático-probatório.
Diferentemente do que assevera o MM. Juízo a quo, o que se almeja com este recurso é a revaloração dos
critérios jurídicos utilizados para concluir que a decisão do Tribunal do Júri foi arbitrária ao desprezar a
única versão verossímil dos autos, devendo, portanto, ser invalidada.
Demonstrar-se-á, a seguir, as alegadas violações ao direito federal para, assim, evidenciar que este recurso
traz à apreciação do Superior Tribunal de Justiça matéria de direito, a qual independe do revolvimento da
matéria fática sub judice.
Por disposição expressa do artigo 105, III, alínea a, da Constituição Federal de 1988, caberá Recurso Especial
ao Superior Tribunal de Justiça quando a decisão recorrida contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes
vigência.
- Artigo 6º do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (Decreto nº 592, de 6 de julho de 1992), que
protege o direito à vida, visto que, para além da violência perpetrada à vítima, esta foi cometida por agentes
públicos, o que exige do Estado uma obrigação ainda maior em coibir tais práticas. Conforme Comentário
Geral nº 36 do Comitê de Direitos Humanos ao referido artigo 6º, “a perda de vida que ocorre sob custódia,
em circunstâncias não naturais, cria uma presunção de privação arbitrária da vida pelas autoridades do
Estado, que só podem ser refutadas com base em uma investigação adequada que estabeleça o cumprimento
por parte do Estado de suas obrigações nos termos do artigo 6”.
- Artigos 1º e 16 da Convenção das Nações Unidas Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos ou Degradantes (Decreto nº 40, de 15 de fevereiro de 1991), os quais vedam a prática de
tratamentos cruéis, por parte de agentes do Estado, contra cidadãos. Considerando a existência de uma
condenação anterior, anulada, e todas as provas produzidas, esperar-se-ia que o Estado brasileiro, por meio
do Judiciário, valorasse, adequadamente, todas provas produzidas.
- Artigo 3º, inciso I, item “a” da “Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência” (Decreto nº 3.956 de 8 de outubro de 2001),
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Além da violação direta a tais dispositivos, estes também não foram interpretados à luz do que dispõem
outras normativas internacionais, dentre as quais destacam-se os artigos 1º 2º e 5º do “Código de Conduta
da ONU para os Policiais”.
Como claramente se nota dos registros do julgamento pelo Tribunal do Júri, os advogados de defesa dos réus
leram aos jurados documento que não constava nos autos. Sendo assim, há latente desrespeito à regra do
artigo 479 do Código de Processo Penal.
O v. acórdão reconhece que houve a leitura aos jurados de documento que não constava dos autos, mas
aduz que não há certeza sobre a influência de tal documento na formação da convicção pelos julgadores:
Na medida em que não se sabe qual o conteúdo de tal documento, também não se pode dizer que ele teria
influenciado, de algum modo, na formação do convencimento dos jurados. Ademais, é certo que o Parquet
ou, mesmo, seu assistente não indicou qualquer prejuízo concreto que teria decorrido de sua leitura, de
modo que a matéria preliminar deve ser afastada, passando-se ao mérito do recurso.
O simples fato de ter sido lido documento não constante dos autos já é suficiente para invalidar o
julgamento, constituindo nulidade processual que não pode ser escusada sob o argumento de não se ter
certeza sobre eventual influência nos jurados.
O artigo 479 do Código de Processo Penal é claro no sentido de que “durante o julgamento não será permitida
a leitura de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência
mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte”. E ainda dispõe seu parágrafo único que
“Compreende-se na proibição deste artigo a leitura de jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição
de vídeos, gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro meio assemelhado, cujo
conteúdo versar sobre a matéria de fato submetida à apreciação e julgamento dos jurados”.
Como se vê, o dispositivo em questão não faz qualquer ressalva para permitir a leitura de documentos que
não tenham sido previamente juntados aos autos. É irrelevante, para fins de caracterização da nulidade
processual, que o documento lido tenha ou não influenciado os jurados.
Sobre o ponto, é de rigor frisar que a primeira decisão proferida pelo Tribunal do Júri, que impusera a
condenação aos réus policiais, foi anulada justamente sob o argumento de que fora utilizada camiseta com
a foto da vítima. Naquela oportunidade, o mesmo Tribunal de Justiça de São Paulo entendeu que aquele fato
seria motivo suficiente para ensejar a anulação do julgamento. Na nova sessão de julgamento pelo Tribunal
do Júri, os advogados de defesa dos réus leram documento aos jurados que não constava dos autos e, dessa
vez, o Tribunal de Justiça de São Paulo entendeu que isso não seria suficiente para anular o julgamento. Como
se vê, o E. Tribunal a quo, data maxima venia, utiliza-se de dois pesos e de duas medidas: sendo um peso
e uma medida para anular o julgamento que condenara os policiais e outro peso e outra medida para
manter o julgamento que os inocentou.
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O prejuízo é evidente quando se verifica a votação apertada que reconheceu a absolvição: a defesa dos réus
leu o documento como se fosse prova dos autos, sendo que, quando questionada da origem, disse que
tinha se confundido. Mais do que um documento novo, era um documento que foi trazido como suposta
prova nos autos, dando mais força e credibilidade ao documento lido pela defesa dos réus.
É evidente que a leitura de documento estranho aos autos – fato devidamente registrado nos autos – enseja
nulidade do julgamento, como medida necessária para a garantia das regras processuais penais
determinadas por nosso ordenamento. Trata-se, portanto, apenas de reconhecer a violação ao artigo 479
do Código de Processo Penal.
3.3. NEGATIVA DE VIGÊNCIA AO ARTIGO 593, III, “D” DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
Conforme já se aludiu, o Recurso Especial não tem a finalidade de discutir o teor das provas juntadas aos
autos, em razão da vedação da Súmula 7 desta Corte Especial, de modo que o intuito é o de tão-somente
revisar a validade da conclusão a que chegou o Tribunal a quo, ao entender que a decisão dos jurados não
afrontou as provas produzidas nos autos.
Em outros termos, não se cuida de reexame da prova, mas de revaloração dos critérios jurídicos utilizados
para concluir que a decisão do Tribunal do Júri não foi arbitrária. A propósito da possibilidade de revaloração
dos critérios jurídicos, via Recurso Especial, há jurisprudência consolidada nesta Corte.
Duas e antagônicas versões foram apresentadas ao Conselho de Sentença, que optou por uma delas, mas,
assim o fazendo, não se pode dizer que decidiu de forma arbitrária, única hipótese em que se permite a
anulação do julgamento. Por óbvio, não se ignora a existência de elementos probatórios sugestivos da
autoria delitiva dos recorridos, como bem explicitado nas razões recursais. De todo modo, compulsando os
autos, também fica claro que a versão exculpatória dos acusados encontra respaldo em outros elementos
amealhados, em especial, as testemunhas que confirmam a abordagem de Antonio Marcos no mesmo
horário em que, em tese, o ofendido teria sido levado por uma viatura da Força Tática da Polícia Militar. A
decisão absolutória, destarte, não foi manifestamente contrária à prova dos autos.
O Conselho de Sentença, valorando a prova colhida, optou pela absolvição dos apelados, respaldado em
elementos de convicção constantes dos autos, devendo ser respeitado o princípio constitucional da
soberania do Júri.
Não há, data venia, duas versões válidas, sendo que os jurados teriam optado por uma delas. E isso porque
as versões das testemunhas apresentadas em plenária não se sustentam pois são absolutamente contrárias
às demais provas dos autos. Os próprios réus mudaram diversas vezes suas versões, primeiro alegando que
não abordaram ninguém, pois chovia (fls. xxxxxx), depois teriam “encontrado testemunhas”, mudando
completamente suas versões em plenária. O relatório das pessoas abordadas, confeccionados pelos próprios
réus (fls. xxxxxxxx) demonstra que o horário em que a testemunha Lusilene afirmou que os réus ficaram em
sua casa não coincide com o aludido relatório.
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Decerto que o fato de as testemunhas de acusação não terem comparecido na segunda plenária
influenciaram sobremaneira a convicção dos jurados, que tiveram contato apenas naquele momento com
um processo instruído por 16 volumes, não se atentando aos incontestes indícios de autoria, considerando
como válida a versão sem qualquer respaldo produzida em plenária.
Conclui-se, destarte, que a decisão absolutória proferida pelo Júri deu-se ignorando as provas produzidas
durante todo o processo, baseando-se nos relatos das testemunhas de defesa, sendo que há sérias dúvidas
a respeito da veracidade dos álibis apresentados pelos réus (fls. xxxxxxxx).
Repita-se que as discussões trazidas à baila no Recurso Especial não implicam reexame de matéria fático-
probatória. Ao revés: a apelação foi interposta, também, com fulcro no artigo 593, III, “d”, o que foi
devidamente reconhecido nos autos, também o sendo a própria contrariedade da decisão absolutória com
a prova produzida.
4. DOS PEDIDOS
A partir de toda essa exposição, fica evidente que o Recurso Especial teve sua admissibilidade erroneamente
negada pela v. decisão atacada, uma vez que restaram perfeitamente demonstradas e especificadas as
violações ao direito federal perpetradas pelo acórdão que desproveu a apelação desta Defensoria.
Conforme o exposto, a análise que se pretende com o referido Recurso Especial não implica reexame de
provas, visto que o desacerto do veredicto é evidente. Com fundamento no que dispõe a legislação federal
e convencional sobre o assunto, requer seja feita a análise da valoração das provas emanadas dos autos
para a formação da íntima convicção dos jurados, uma vez que a decisão não encontra amparo no acervo
probatório produzido.
Pede-se, pois, a reconsideração do juízo de admissibilidade do Recurso Especial interposto para que seja
conhecido e provido, a partir de uma devida análise do mérito nele alegado.
Defensor(a) Público(a)
Unidade de XXXXXXXXX
O nosso bom e velho ROC já foi cobrado em provas anteriores de Defensoria Pública, mais
especificamente na DPE-MA e derrubou muita gente do concurso! Mais recentemente tivemos situação
parecida da DPE-SP em que muitos alunos elaboraram um ROC numa situação de prova que pode ter sido
90
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Por isso, vamos analisar as suas hipóteses de cabimento e estrutura para não escorregar em casca
de banana na hora da prova, combinado? Vamos lá.
O Recurso Ordinário Constitucional encontra fundamento no art. 105, inc. II, b, da CF/88, art.
1.027, inc. II, a, do CPC/15 e art.18 da Lei nº 12.016/2009 (Lei do Mandado de Segurança).
No julgamento do recurso ordinário, os tribunais superiores (STJ E STF) atuam como órgão de
segundo grau de jurisdição, garantido no caso concreto a aplicação do princípio do duplo grau de jurisdição.
As hipóteses de cabimento estão no texto constitucional. Então, não esqueçam de fundamentar a peça de
vocês com os artigos previstos na CF/88!
Na CF/88, o fundamento normativo está no e art. 102, inc. II, “a” (STF) e art. 105, inc. II, b (STJ). No
CPC, as previsões estão nos artigos 1.027, I (STF) e 1.027, II, ‘a’ (STJ).
• ROC contra decisão de única instância denegatória de MS, quando o acórdão recorrido tiver sido proferido
pelos tribunais superiores (STJ, TSE, TST, STM). Quem julga? STF.
• ROC contra decisão de única instância denegatória de MS, quando o acórdão recorrido tiver sido proferido
pelo tribunal de segundo grau (TJ ou TRF). Quem julga? STJ.
O termo “denegação” do MS tem interpretação ampla. Abrange tanto o julgamento do mérito, com
a denegação da ordem, como a decisão terminativa, com o julgamento do MS sem a resolução do mérito.
Havendo parcial improcedência do pedido, caberá ROC somente do capítulo denegatório.
As mesmas considerações feitas sobre ROC em MS valem aqui. A única distinção e digna de nota é
a seguinte: a competência aqui é só do STF. Então, o ROC é cabível para o STF apenas das decisões
denegatória de habeas data e mandado de injunção proferidas por um dos Tribunais Superiores.
Fundamento: art. 105, II, “c” da CF/88 e art. 1.027, II, ‘b’, do CPC.
37
O STJ entende ser erro grosseiro, afastando o princípio da fungibilidade (STJ, 6ª Turma, AgRg no RMS 15.126/SC) caso
haja interposição de ROC no lugar de REsp e RExt.
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Gente, nesse caso aqui a demanda seguirá em primeiro grau de jurisdição na Justiça Federal,
conforme o art. 109, II, CF/88. #ABREOOLHO! Aqui, sendo proferida sentença de qualquer natureza
(terminativa ou definitiva) e qualquer que seja o resultado (procedência, improcedência ou homologatória),
será cabível o ROC, afastando a regra geral do art. 1.009 do CPC.39 Gente, aqui a decisão é do Juiz Federal e
o recurso vai ser julgado pelo STJ. O TRF fica de fora da jogada!
Essa hipótese não está no CPC, mas pode cair na sua prova de processo penal. Apesar de na prática
ser bastante comum a impetração de HC do indeferimento de HC, o famoso HC substitutivo de recurso, sendo
que o recurso cabível seria o ROC. #ATENÇÃO o HC precisa ter sido julgado por um Tribunal para desafiar o
ROC.
-ROC no STJ (art. 105, inc. II, “a”, CF/88) os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos
Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a
decisão for denegatória; #SELIGA diferente do MS, em relação ao HC é cabível o ROC caso tenha sido decidido
em única ou última instância, então também é cabível quando o Tribunal aprecia um HC em grau de
recurso!!!
-ROC no STF (art. 102, inc. II, a) o habeas corpus decidido em única instância pelos Tribunais Superiores, se
denegatória a decisão. Aqui, novamente tem que ser decidido em única instância.
#ATENÇÃO Caso fosse um MS denegado pelo juízo de 1º grau o recurso cabível seria a apelação.
→ADEQUAÇÃO FORMAL
Peça de interposição: caso o enunciado não dispense expressamente, é necessário fazer a petição
de interposição.
Por uma questão prática, a distinção entre petição de interposição e razões recursais, é necessária
apenas quando o recurso é interposto em órgão diferente daquele em que é julgado. No ROC, por exemplo,
o recurso é interposto no Tribunal de origem e, posteriormente, encaminhado ao tribunal superior (STJ ou
STF) para o julgamento. Nesse caso, por haver distinção de juízos de interposição e julgamento, é necessária
a elaboração de petição de interposição. A contrario sensu, sendo o recurso interposto no mesmo órgão em
que será julgado, é dispensada a petição de interposição.
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Exemplos: ONU, BID, UNESCO, ETC.
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Art. 1.009. Da sentença cabe apelação
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Tempestividade: Sempre que falamos em recursos, é necessário abrir um tópico para demonstrar
a tempestividade, no presente caso havia uma preocupação ainda maior com isso, pois a questão exigia que
fosse datado no último dia do prazo recursal.
O Código de Processo Civil de 2015 foi responsável pela unificação dos prazos recursais, isso
significa que com exceção dos embargos de declaração, cujo prazo é de 5 dias, todos os recursos devem ser
interpostos no prazo de 15 dias (art. 1.003, § 5.º, do CPC/2015). Mas não podemos esquecer que a Defensoria
Pública goza de prazo em dobro. Então são 30 DIAS ÚTEIS!!!
#NOVOCPC: Não custa relembrar que com a edição do Novo Código de Processo Civil de 2015, a Defensoria
Pública foi tratada de forma inovadora e prestigiada, inclusive com a inclusão de um capítulo próprio que
trata de algumas regras processuais pertinentes à instituição. Importante notar que a prerrogativa de prazo
em dobro também foi regulada pelo NCPC no art. 186, deixando agora de ser uma prerrogativa prevista
apenas na lei complementar nacional da DP (DP cada vez ganhando espaço! #OLHAELA).
#ATENÇÃO: A prerrogativa estabelecida em favor da Defensoria Pública se restringe aos prazos processuais,
ou seja, àqueles que podem ensejar o efeito jurídico conhecido como preclusão. Não engloba, por
conseguinte, os prazos prescricionais ou decadenciais. Por isso, não cabe prazo em dobro no MS ou na ação
rescisória, por exemplo. Também prevalece que não se aplica o prazo em dobro nos juizados especiais.
Cabimento: outro ponto importante quando a peça for um recurso, é demonstrar o cabimento
daquela espécie recursal, ou seja, justificar o motivo para a escolha daquele recurso, apontando o
fundamento legal.
Antecipação dos efeitos da tutela: O novo CPC permite expressamente a antecipação dos efeitos
da tutela em grau recursal e no presente caso era extremamente necessário, pois o próprio trabalho da
Defensoria estava prejudicado. Sempre que pedirmos tutela de urgência é necessário abrir um tópico próprio
para demonstrar os seus requisitos: probabilidade do direito + perigo de dano ou risco ao resultado útil do
processo.
#ATENÇÃO Não basta apenas citar que há probabilidade do direito + perigo de dano, é essencial
apresentar, no caso concreto, quais são esses requisitos e porque eles resultam na probabilidade do direito
e no perigo de dano. #NÃOESQUEÇA
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#SELIGA: Para finalizar vamos ver mais alguns detalhes processuais sobre o ROC:
- Tem teoria da causa madura para o ROC? Tem sim senhor! Art. 1.027, §2º, CPC
- O ROC tem efeito suspensivo ope legis/efeito suspensivo próprio? Os artigos 1.027 e 1.028 não tratam do
efeito suspensivo. Desse modo, não é automático o efeito suspensivo coma mera interposição do ROC. Mas
calminha que nada impede de vocês pedirem no caso concreto a aplicação do efeito suspensivo, desde que
fundamentem, ok? Aqui, falamos em efeito suspensivo ope iudicis/efeito suspensivo indireto. A forma
procedimental para o pedido do efeito suspensivo é a mesma existente para os recursos especial e
extraordinário (CPC 1.029, §5º) e para apelação (CPC, 1.012, §3º).
1) No ROC, não existe fundamentação vinculada, admitindo-se ao recorrente a alegação de qualquer matéria
desde que respeite os limites objetivos da demanda; além disso, ao ROC não se aplica o duplo juízo de
admissibilidade, conferido ao RE e ao Resp (art. 1.030, V, do CPC). #PARARELEMBRAR: Com o NCPC os
recursos possuem o juízo de admissibilidade apenas no órgão ad quem, salvo o RE e Resp. Assim, mesmo que
direcionado ao STF ou STJ, a regra quanto ao juízo de admissibilidade do ROC e a mesma que a dos demais
recursos.
2) A exigência de prequestionamento presente nos recursos extraordinário e especial não existe no ROC;
3) A devolução do ROC é ampla, abrangendo tanto matéria de direito (constitucional, federal e legal, quanto
matéria de fato.
1) Prazo de 15 dias;
2) Mesmo o procedimento dividido num primeiro momento em órgão prolator da decisão impugnada (órgão
ao quo) e num segundo momento perante o órgão competente para o julgamento do recurso (órgão ad
quem);
3) Mesmos efeitos, inclusive com ausência de efeito suspensivo no recurso ordinário em mandado de
segurança e em mandado de injunção.
2) Não cabe a técnica de julgamento que substituiu o recurso de embargos infringentes prevista no art. 942
do NCPC;
3) O procedimento perante o órgão julgador do recurso é diferente, seguindo a apelação o CPC, enquanto o
ROC segue o Regimento Interno do tribunal superior.
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Por fim, vejam esse modelo de ROC que foi elaborado para uma das Rodadas do curso Reta Final
DPE-MA:
A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO MARANHÃO, por intermédio do Defensor Público que esta
subscreve, vem, com fundamento no art. 134 da CF/88 e art. 4º, inc. IX, da Lei Complementar Federal nº
80/94 e no art. 8º da Lei Complementar Estadual nº 19/94 e art. 105, inc. II, CF/88 c/c art. 18 da Lei nº
12.016/2009 e art. 1027 do NCPC, interpor o presente,
RECURSO ORDINÁRIO
contra a decisão que denegou a ordem no mandado de segurança impetrado contra o SECRETÁRIO DE
SAÚDE DO ESTADO DO MARANHÃO e o ESTADO DO MARANHÃO, já qualificados nos autos do mandado de
segurança em epígrafe, pelos motivos de fato e direito que passa a expor.
Pugna-se pelo recebimento do presente recurso ordinário e, após a intimação do Recorrido para apresentar
as contrarrazões, conforme o § 2º do artigo 1.028, o seu encaminhamento para o Superior Tribunal de Justiça
(STJ), a fim de que seja reformada a decisão que negou a segurança do presente remédio constitucional.
Termos em que pede deferimento
1. DA TEMPESTIVIDADE:
Inicialmente, cumpre ressaltar a tempestividade do presente recurso, uma vez que a Defensoria Pública foi
intimada da decisão em 17 de dezembro de 2018 (segunda-feira), possuindo o prazo de 30 dias úteis para
recurso, pois goza de prazo em dobro para manifestações processuais (art. 128, inc. I da LC 80/94 e art. 186
do NCPC), bem como houve suspensão dos prazos entre os dias 20 de dezembro e 20 de janeiro, conforme
art. 220 do NCPC.
2. DO CABIMENTO:
É cabível, no presente caso, o Recurso Ordinário Constitucional ao Superior Tribunal de Justiça, por se tratar
de decisão denegatória de Mandado de Segurança decidido em única instância pelo Tribunal de Justiça do
Estado do Maranhão, a teor do art. 205, inc. II da CF/88.
Para a sua atuação institucional, os membros da Defensoria Pública gozam das prerrogativas estabelecidas
pelos artigos 128, I e XI, da LC 80/94 e 186, CPC). Portanto, pugna-se pela observância das prerrogativas
processuais conferidas à Defensoria, sobretudo o prazo em dobro e a intimação pessoal.
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É função institucional da Defensoria Pública propiciar a tutela adequada dos direitos difusos, coletivos ou
individuais homogêneos, quando o resultado da demanda puder beneficiar grupo de pessoas vulneráveis.
Assim, não resta dúvidas sobre a necessidade de que a instituição possa acessar, fiscalizar e vistorias
estabelecimentos públicos estaduais de saúde, sobretudo porque vinculados ao Sistema Único de Saúde
(SUS) que têm como principais destinatários pessoas hipossuficientes.
No entanto, de forma abusiva, o secretário estadual de saúde publicou ato proibindo a entrada e vistoria por
parte de equipes à serviço da DPE/MA nas unidades estaduais de saúde. O ato ilegal desafiou Mandado de
Segurança que foi injustamente denegado pelo órgão a quo.
Registra-se que há nítida violação a direito líquido e certo previsto no art. 129, inc. X, da Lei Complementar
Federal nº 80/94 que prevê como prerrogativa dos Defensores Públicos estaduais requisitar de autoridade
pública ou de seus agentes exames, certidões, perícias, vistorias, diligências, processos, documentos,
informações, esclarecimentos e providências necessárias ao exercício de suas atribuições.
Da mesma forma, a Lei Complementar estadual nº 19/94, que dispõe sobre a organização e funcionamento
da Defensoria Pública do Estado do Maranhão, estabelece como prerrogativa dos membros ter livre acesso
e trânsito em estabelecimentos públicos ou particulares, no exercício de suas funções.
Registra-se que tais prerrogativas foram instituídas para que o Defensor Público, agente político, possa
exercer a missão constitucional que lhe foi outorgada pelo artigo 134 da CF/88, sob pena de frustração do
exercício do múnus constitucional que lhe foi conferido e decorrem também da aplicação da Teoria dos
Poderes Implícitos, segundo a qual a Constituição Federal, ao outorgar atribuições a determinado órgão, lhe
confere, implicitamente, os poderes necessários para a sua execução.
Assim, para que a Defensoria Pública possa, de fato, velar pelo direito à vida e à saúde da população
hipossuficiente do Estado do Maranhão, faz-se necessária a reforma da decisão para que haja a concessão
da segurança e seja declarada a nulidade do ato emitidos pela Secretaria Estadual de Saúde, garantindo-se o
respeito às prerrogativas institucionais da Defensoria Pública
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Finalmente, considerando que se encontram preenchidos os requisitos do artigo 300 do Código de Processo
Civil e art. 7º da Lei nº 12.016/2009, busca-se a imediata tutela jurisdicional para suspender a decisão do
secretário estadual de saúde e permitir que a Defensoria do Estado do Maranhão volte a realizar visitas e
vistorias nas unidades hospitalares.
A probabilidade do direito está fartamente demonstrada, através da flagrante violação das prerrogativas
institucionais. Já o perigo da demora é evidente em razão de se tratar de direito à saúde dos assistidos da
Defensoria Pública.
7. DOS PEDIDOS
a) seja o presente recurso conhecido e provido, determinando a reforma da decisão do Tribunal a quo,
para que seja proferida nova decisão, concedendo a segurança e determinando a anulação do ato que
impede a entrada e vistoria da Defensoria Pública nas unidades estaduais de saúde;
c) Sejam respeitadas as prerrogativas dos membros da Defensoria Pública (artigo 128, I, LC 80/94 e art.
186, CPC).
São Luís, 27 de fevereiro de 2019.
Defensor Público
K) MANDADO DE SEGURANÇA
O mandado de segurança é garantia constitucional contra ato de autoridade que lese direito líquido
e certo, nos exatos termos do art. 5.º, LXIX, da CF/1988 (cujo conteúdo foi levado também para o art. 1.º da
Lei 12.016/2009):
“(…) LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado
por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade
pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.”
- Ato de autoridade – pessoa no exercício de uma função pública e, nos termos do art. 1.º da Lei
12.016/2009 serão equiparadas às autoridades os representantes ou órgãos de partidos políticos e os
administradores de entidades autárquicas, bem como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas
naturais no exercício de atribuições do poder público, somente no que disser respeito a essas atribuições;
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- Direito líquido e certo – é o direito em relação a um fato que pode ser demonstrado de plano,
sem a necessidade de dilação probatória (tutela da evidência);
- Não cabimento de outra garantia constitucional – o mandado de segurança tem caráter residual,
pois, sendo caso de tutela à liberdade de locomoção caberá a impetração de habeas corpus ou, na violação
do direito de informação pessoal, caberá habeas data.
Muitos de vocês já devem saber, mas o mandado de segurança surgiu no Brasil para restringir o âmbito de
incidência do habeas corpus, que abarcava muito mais que a proteção da liberdade do paciente. Nesse
sentido, a lição do Ministro Gilmar Mendes:
A Constituição de 1891 estabeleceu no art. 72, §22: “dar-se-á habeas corpus sempre que o indivíduo sofrer
violência, ou coação, por ilegalidade, ou abuso de poder”.
A formulação ampla do texto constitucional deu ensejo a uma interpretação que permitia o uso do habeas
corpus para anular até mesmo ato administrativo que determinara o cancelamento de aluno em escola
pública, para garantir a realização de comícios eleitorais, o exercício de profissão, dentre outras
possibilidades.
[...] A crise que produziu a revisão da “doutrina brasileira do habeas corpus”, com a reforma constitucional
de 1926, que alterou o §22 do art. 72, associando de forma expressa aquela ação à “prisão ou
constrangimento ilegal” à liberdade de locomoção, tornou evidente a necessidade de adoção de um
instrumento processual-constitucional adequado para a proteção judicial contra lesões a direitos subjetivos
públicos não protegidos pelo habeas corpus. Assim, a Constituição de 1934 consagrou, ao lado do habeas
corpus, e com o mesmo processo deste, o mandado de segurança para a proteção de “direito certo e
incontestável, ameaçado ou violado por ato manifestamente inconstitucional ou ilegal de qualquer
autoridade40.
Em resumo, antes de 1934, o HC abarcava a hipótese de cabimento do MS, que foi previsto em todas as
constituições posteriores, salvo a de 1937.
Importante observar que a própria Lei 12.016/2009 determina em seu art. 5º situações de não
cabimento do mandado de segurança, em especial, nas seguintes hipóteses:
40
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 13ª ed. São Paulo: Saraiva,
2018, p. 443 e 459.
98
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- Contra lei em tese (como forma de controle da constitucionalidade) – Súmula 266 do STF;
- Para substituir ação popular – Súmula 101 do STF.
Um cuidado especial deverá ser tomado a esse respeito, pois determinadas autoridades possuem
juízo privilegiado, podendo o mandado de segurança ser de competência originária dos tribunais, conforme
o seguinte quadro41 (destacamos aqueles de competência da Justiça Estadual – 1ª ou 2ª instância):
AUTORIDADE COMPETÊNCIA
Presidente da República
Ministro do STF
Supremo Tribunal Federal
Presidente da Mesa da Câmara
Art. 102, I, d, CF/1988
Presidente da Mesa do Senado
Súmula 623 do STF
Presidente do Tribunal de Contas da União
Procurador-geral da República
Ministro de Estado (salvo se for ato de órgão
colegiado) Superior Tribunal de Justiça
Súmula 177 do STJ Art. 105, I, b, da CF/1988
Comandante da Marinha, Aeronáutica e Exército Súmula 624 do STF
Ministro do STJ
Competência do próprio Tribunal a que pertence
Desembargador federal ou estadual (membro de
o magistrado
Tribunal)
Súmula 41 do STJ
Competência do Tribunal ao qual o magistrado
Juiz de primeira instância
estiver vinculado
Governador de Estado Tribunal de Justiça do Estado como regra, nas
Mesa de Assembleia Legislativa Constituições dos Estados
41
Retirado de: BARROSO, Darlan; ROSSATO, Luciano Alves. Mandado de segurança. São Paulo: RT, 2009, p. 58-60.
99
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→PRAZO DECADENCIAL
O art. 23 da Lei 12.016/2009 determina que o direito de impetrar o mandado de segurança decai
após 120 dias contados da data em que o interessado tomou ciência do ato coator.
A autoridade coatora é notificada para, no prazo de 10 dias, apresentar suas informações acerca
dos fatos narrados na inicial do mandado de segurança.
Observe-se que as informações não têm a natureza da contestação do processo comum. Sua falta
não gera confissão ou revelia. A diferença está na natureza desse ato de notificação – no mandado de
segurança a autoridade tem o dever de prestar as informações, sob pena de responsabilidade penal e
administrativa, o que não ocorre no processo comum com o réu, já que para este a legislação conferiu o ônus
da defesa (em caso de não haver contestação, o réu é revel).
O mandado de segurança é ação civil, típica modalidade de processo de conhecimento com rito
especial. Desta forma, não podemos deixar de destacar que, como regra, a inicial observará os requisitos do
art. 319 do CPC/2015.
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#MONTANDOOESQUELETO
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#SURRADEJURIS #AJUDAMARCINHO
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#ATENÇÃO MÁXIMA!
Um dos dispositivos declarados inconstitucionais é o parágrafo 2º do art. 7º, segundo o qual não se deve
conceder liminar, em sede de mandado de segurança, "que tenha por objeto a compensação de créditos
tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de
servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer
natureza".
A decisão do STF foi tomada em sede de ação direta de inconstitucionalidade proposta pelo Conselho Federal
da Ordem dos Advogados do Brasil.
O STF também declarou inconstitucional o parágrafo 2º do art. 22 da lei; ele determina que, no mandado de
segurança coletivo, a liminar só poderia ser concedida após a audiência do representante judicial da pessoa
jurídica de direito público, que deverá se pronunciar no prazo de 72 horas. O ministro Alexandre de Moraes
será o redator do acórdão, por ter proferido o voto vencedor.
Por fim, usem esse modelo de mandado de segurança como exemplo para montar seu esqueleto
de peça:
em face de ato do SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO, pessoa jurídica de direito público, inscrita
no CNPJ sob o n. (número do documento), com sede na (endereço completo), pelos motivos de fato e direito
que passa a expor.
O(A) impetrante, nos termos do art. 98 do Código de Processo Civil, não possui recursos suficientes
para arcar com as despesas do processo. Requer, portanto, na forma do art. 99 do mesmo Código, a
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São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, nos termos do art. 88, da
Lei Complementar Federal n. 80/94 e do art.186 do CPC dentre outras receber, mediante entrega dos autos
com vista, intimação pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição ou instância administrativa,
contando-se-lhes em dobro todos os prazos. Requer-se, desde já, sua observância.
1.3. Da tempestividade.
Nos termos do art. 23 da Lei 12.016/09, o prazo decadencial para impetração de mandado de
segurança é de 120 (cento e vinte) dias. Considerando que a denegação de matrícula do(a) autor ocorreu em
15/03/2019, verifica-se que o presente writ foi apresentado antes do decurso de tal prazo.
2. DO CABIMENTO:
É cabível, no presente caso, o mandado de segurança por se tratar de ação constitucional movida
em face da negativa por Secretário de Educação do Município de Belo Horizonte de matrícula em escola
pública, havendo, nos termos de normas constitucionais, convencionais e legais, o direito líquido e certo de
matrícula de alunos com deficiência no sistema público de ensino, enquadrando-se a demanda em comento
na hipótese de cabimento de mandado de segurança, nos termos do art. 5º, LXIX, da CF e 1º e seguintes da
Lei 12.016/09.
4. DO DIREITO:
Para crianças e adolescentes, o direito à educação é um dos mais básicos, sendo essencial ao seu
desenvolvimento e formação pessoal e profissional. Nesse sentido, há vasta legislação protetiva: art. 227 da
CF; art. 53 e seguintes do ECA; art. 18 da Convenção sobre os Direitos da Criança.
Toda essa normativa prevê como dever do poder público de conferir educação nos níveis básicos
de forma gratuita a crianças e adolescentes. No presente caso, ademais, há uma peculiaridade: o(a) autor(a)
42
Lembre-se, porém, que o mandado de segurança é, em regra, uma ação gratuita. A utilidade desse pedido de
gratuidade, porém, decorre da possibilidade de interposição de recursos.
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As normas de proteção às pessoas com deficiência também apregoam que, para a real inclusão e
integração dessa minoria na sociedade, o direito à educação deve ser assegurado (vide art. 227, §1º, II, da
CF; art. 23 da Convenção sobre os Direitos da Criança; art. 54, III, do ECA; e arts. 8º, 27 e seguintes da Lei
13.146/15 – Estatuto da Pessoa com Deficiência - EPD).
Por todo o exposto, é líquido e certo o direito do(a) autor(a) a exercer seu direito à educação na
Escola Paulo Freire, próxima ao seu endereço residencial, não se admitindo que o impetrado venha a arguir
teses como a da reserva do possível, separação de poderes ou ativismo judicial frente a um caso de cristalina
infringência a normas de ordem constitucional, convencional e legal.
5. DA CONCESSÃO DE LIMINAR
O art. 7º, III, da Lei 12.016/09 permite a concessão de liminar quando presente o fumus boni juris e
o periculum in mora. Pois bem. A probabilidade do direito está fartamente demonstrada, através da
flagrante violação do direito à educação em favor de crianças com deficiência, conforme toda a normativa
exposta anteriormente. Já o perigo da demora é evidente em razão de o ano letivo já estar em curso, sem
poder o impetrante comparecer às aulas, prejudicando seu desenvolvimento.
7. DOS PEDIDOS43
a) a observância das prerrogativas dos membros da Defensoria Pública, mormente as de intimação pessoal
mediante vista dos autos e prazo em dobro para quaisquer manifestações;
b) a tramitação com prioridade, nos termos do art. 9º, VII, da Lei 13.146/15;
c) a concessão de liminar para garantir a matrícula do impetrante na Escola Paulo Freire no presente ano
letivo;
e) a ciência da impetração desse writ à Procuradoria Geral do Município de Belo Horizonte para, querendo,
ingressar no feito;
g) a procedência da ação, confirmando-se a liminar deferida, para garantir matrícula do impetrante na Escola
Paulo Freire no presente ano letivo.
43
Preste bastante atenção aos pedidos do MS!
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Cidade, (data).
Defensor Público
#RECAPITULANDO #TABELAAMIGA
FUNDAMENTO OBSERVAÇÕES
CABIMENTO ENDEREÇAMENTO PEDIDOS
LEGAL GERAIS
a) a concessão de - Prestar
liminar, nos termos do bastante atenção
art. 7º, III, da Lei se autoridade
Proteger direito 12.016/09; coatora detém
líquido e certo, não b) notificação da prerrogativa de
amparado por habeas autoridade coatora foro (e se não é
corpus ou habeas para apresentação de federal);
data, sempre que, informações no prazo - Fazer tópico
Art. 5º, LXIX da
ilegalmente ou com legal (art. 7º, I); sobre cabimento
CF/88 e na Lei Depende da
abuso de poder, c) a ciência da e legitimidade
nº 12.016/2009 autoridade
qualquer pessoa física impetração do writ ao passiva;
(MS individual) coatora
ou jurídica sofrer órgão de representação - Tópico para
(vide tabela
violação ou houver judicial da pessoa concessão de
Art. 5º, LXX e anterior sobre
justo receio de sofrê-la jurídica interessada liminar;
art. 21 da Lei competência para
por parte de para, querendo, - Prestar atenção
12.016/09 MS)
autoridade, seja de ingressar no feito (art. aos pedidos.
(MS coletivo)
que categoria for e 7º, II); - Valor da causa
sejam quais forem as d) a intimação do para efeitos
funções que exerça. Ministério Público para fiscais.
(art. 1º da Lei ofertar parecer (art. OBS: Não há
12.016/09) 12); pedido de
e) a procedência da condenação em
ação. custas e
honorários.
Com isso finalizamos o nosso Manual de Peças Cíveis para a 2ª fase do concurso da Defensoria
Pública do Rio de Janeiro. Espero que esse material o(a) ajude a alcançar os seus sonhos!
Um abraço,
Equipe Ciclos.
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