Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
www.gde.mj.pt/jtrc.nsf/8fe0e606d8f56b22802576c0005637dc/198dec6fae67b1d58025857b003b5477?OpenDocument 1/14
19/04/23, 12:45 Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra
www.gde.mj.pt/jtrc.nsf/8fe0e606d8f56b22802576c0005637dc/198dec6fae67b1d58025857b003b5477?OpenDocument 2/14
19/04/23, 12:45 Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra
www.gde.mj.pt/jtrc.nsf/8fe0e606d8f56b22802576c0005637dc/198dec6fae67b1d58025857b003b5477?OpenDocument 4/14
19/04/23, 12:45 Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra
-Tais obras têm vindo a ser efetuadas pelo 1º R., com inicio há cerca de
4 anos a esta parte e ainda hoje se verificam e sem que o mesmo se
tenha munido das necessárias cautelas no sentido de evitar infiltrações
e fugas de água, não só das canalizações como dos canos de esgoto, na
fração imediatamente inferior, ou seja, a fração referida no art. 1º da
presente acção e que é propriedade dos A.A. (art.º 12.º da PI).
- Que o estado da habitação dos AA. seja devido à atuação do 1.º R
(art.º 13.º da PI).
- O 1º R. tem-se recusado sistematicamente a franquear a sua fração no
sentido de serem vistoriadas as referidas obras que se encontram
diretamente relacionadas com os estragos acima referidos e
ocasionados na fração dos A.A.( art.º 14.º da PI)
-Para a reparação dos danos causados na fração dos A.A. estimam-se os
mesmos, a preços actuais, em cerca de 10.000,00€ (dez mil euros) (art.º
15.º da PI).
-Com efeito, ambos os A.A. têm-se socorrido de ansiolíticos e anti
depressivos para poderem ultrapassar todo este estado de coisas, para o
qual não contribuíram minimamente art.º 20.º da PI).
- O 2.º sinistro ocorrido na fração do 2.ª R. foi em virtude de obras
ocorridas na fração de desse proprietário, as quais foram realizadas com
falta de zelo e diligência ( art.º 38.º da contestação da 3.ª R).
- Ou seja, nas obras levadas a cabo no 2º. Esquerdo, foram causados
danos no 1º. Esquerdo em virtude de negligência dos empreiteiros que
realizaram tais obras (art.º 39.º da contestação da 3.ª R.).»
*
4 - FUNDAMENTAÇÃO DE DIREITO
Cumpre entrar diretamente na apreciação da questão substantiva/de
mérito supra enunciada, a saber, a de que houve desacerto da decisão
recorrida de absolvição do 1º Réu [nomeadamente porque a não
contestação podia ser encarada como confissão dos factos, cfr. art. 567º
CPC].
Ora – e ressalvado o juízo antecipatório! – importa efetivamente
reconhecer razão aos AA./recorrentes, ainda que não pela ordem de
razões por eles eleita como argumento primordial.
Senão vejamos.
Na argumentação dos AA./recorrentes, que segue a linha do invocado
na p.i., os danos que constituíam a causa de pedir da ação haviam sido
causados pelas obras realizadas na fracção do 1º Réu, ao nível das
canalizações que servem a mesma.
Sendo que nesta sede recursiva invocam mais concretamente que é ao
1º Réu J (…) que compete reparar os danos causados na habitação deles
www.gde.mj.pt/jtrc.nsf/8fe0e606d8f56b22802576c0005637dc/198dec6fae67b1d58025857b003b5477?OpenDocument 8/14
19/04/23, 12:45 Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra
www.gde.mj.pt/jtrc.nsf/8fe0e606d8f56b22802576c0005637dc/198dec6fae67b1d58025857b003b5477?OpenDocument 10/14
19/04/23, 12:45 Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra
Ora se assim é, temos que já foi doutamente sustentado para este efeito
o seguinte:
«I- A responsabilidade pelos danos resultantes de infiltrações de água
provenientes de fracção superior à do lesado é regulada, não pelo artº.
492º do Cód. Civil, mas sim pelo artº. 493 do mesmo diploma.
II- Preceito este último que estabelece a inversão do ónus da prova,
cabendo pois ao lesante encarregado da vigilância do seu imóvel, para
se eximir à sua responsabilidade, ilidir a sua presunção de culpa.»[2]
E bem assim que:
«Os detentores de uma fracção de um prédio em propriedade horizontal
são responsáveis pela reparação dos danos produzidos na fracção
inferior, a título de culpa presumida, uma vez que sendo os danos
provocados por uma inundação de águas provindas do andar de cima,
sempre se tem que considerar portadoras de intrínseca eficiência
danosa, as canalizações, tubagens e peças sanitárias que equipam esse
andar.»[3]
Com efeito, e concretizando esse princípio geral já foi igualmente
sublinhado o seguinte:
«I - Se o autor prova que as águas que inundaram e danificaram o seu
apartamento provieram do interior do apartamento dos réus, mostra-se
preenchido o ónus da prova (art. 342.º do CC) de que o facto danoso
teve origem ou causa na coisa sob vigilância dos réus (art. 493.º, n.º 1,
do CC), não lhe cumprindo provar ainda a razão (sub-causa) da
inundação (uma eventual ruptura da canalização, uma torneira deixada
a correr por mera incúria ou distracção, etc.).
II - O proprietário que tenha o imóvel em seu poder tem o dever de
vigiar o seu estado de conservação e responde pelos danos originados
no imóvel (infiltrações de águas, incêndios, etc.) salvo se provar que
nenhuma culpa houve da sua parte ou que os danos se teriam
igualmente produzido ainda que não houvesse culpa (art. 493.º, n.º 1,
do CC).
III - O princípio da reconstituição natural constante do art. 562.º do CC
não impõe que o lesado se obrigue a deduzir pedido de reconstituição
natural e subsidiariamente pedido de indemnização, podendo deduzir
este último a título principal; tal princípio não obsta a que o lesante
declare oportunamente a sua vontade de reparar os danos por
reconstituição natural.»[4]
Sendo certo que bem se compreende o princípio geral vindo de
enunciar nesta matéria.
Com efeito, estando basicamente em causa a responsabilidade delitual
[e não pelo risco ou objetiva], recai sobre aquele que reclama a
indemnização o ónus de alegação e prova da origem, proveniência ou
causa do facto danoso, e que este ocorreu no interior da fracção
www.gde.mj.pt/jtrc.nsf/8fe0e606d8f56b22802576c0005637dc/198dec6fae67b1d58025857b003b5477?OpenDocument 11/14
19/04/23, 12:45 Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra
Fernando Monteiro
Ana Márcia Vieira
www.gde.mj.pt/jtrc.nsf/8fe0e606d8f56b22802576c0005637dc/198dec6fae67b1d58025857b003b5477?OpenDocument 14/14