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Código Civil Brasileiro

Direito de Vizinhança
Análise de Caso

Das Partes: A) Denominada por ora RODRIGO, domiciliado na Rua Francelino Reis nº 151,
imóvel cujo piso está localizado geograficamente em nível inferior ao imóvel de B)
denominado por ora TEGNE, domiciliado no Rua Francelino Reis, nº 147.

Recentemente a parte B realizou reformas significativas em seu imóvel sem a


devida supervisão técnica de autoridade particular e/ou da administração pública. A
empreitada provocou graves consequências imóvel da parte A, dentre as quais estão a
formação de rachaduras nas paredes da sala e garagem, infiltração e minação de água na
parede do quarto.
Dentre as reformas realizadas no imóvel da parte B está a instalação de um
novo telhado, com dimensão aproximada de 60m² e inclinação negativa para o imóvel da parte
A. O madeiramento desse telhado está apoiado e ocupando integralmente o muro de divisa.
Para captação das águas de chuva que escorrem nesse telhado, a parte B instalou uma calha
cujas faces estão apoiadas sobre o muro de divisa e na parede do imóvel da parte A, já
invadindo a propriedade vizinha.
As águas da chuva que são colhidas por esse telhado do imóvel da parte B, são
despejadas em uma área de terra exposta, de medidas aproximadas 5m x 1,6m, que se
encontra em desnível com o restante do terreno. Segundo informações da própria parte B,
parte das águas colhidas ficam ali represadas provocando alagamento, que por sua vez,
dependendo do volume de chuvas, perdura por dias.
Segundo dados do instituto Climatempo, só entre os dias 09 e 10 de outubro
de 2021 foi registrado um volume 91,8mm de chuvas na Região de Ribeirão Preto. Isso
significa dizer que para cada m² de solo, foram preciptados 91,8 litros de chuva. Dessa forma,
um telhado com 60m² de área captou 5.508 litros de chuva.
A física dos líquidos explica que essa água que escoa sofre pressão
gravitacional e penetra no solo. No entanto, os indícios já apresentados indicam que a área
reservada pela parte B tem se mostrado insuficiente para o escoamento adequado, o que vem
acarretando diversos prejuízos financeiros à parte A. Além de estragar o acabamento das
paredes com formação de bolhas e mofo, a água que mina abundantemente já provocou
danos irreversíveis em móveis e equipamentos eletrônicos.
Além disso, nas condições de alagamento, todo o excedente de água que
permanece nas camadas mais superficiais do solo, exerce pressão longitudinal nas paredes do
imóvel da parte A, situação agravada nos dias de clima quente, onde o calor provoca dilatação
e expansão de volume desse líquido, comprometendo a estrutura do prédio vizinho e
colocando em risco a vida de seus habitantes.
1. Sobre infiltração na parede e concomitante desembocamento de fluxo
de água em cômodo da casa inferior, causada por escoamento irregular
sistema de captação de água pluvial da casa superior.

1.1. Do Embasamento Jurídico


Art. 1.288. O dono ou o possuidor do prédio inferior é obrigado a receber as águas
que correm naturalmente do superior, não podendo realizar obras que embaracem o
seu fluxo; porém a condição natural e anterior do prédio inferior não pode ser
agravada por obras feitas pelo dono ou possuidor do prédio superior.

Art. 1.289. Quando as águas, artificialmente levadas ao prédio superior, ou aí


colhidas, correrem dele para o inferior, poderá o dono deste reclamar que se
desviem, ou se lhe indenize o prejuízo que sofrer. Parágrafo único. Da indenização
será deduzido o valor do benefício obtido.

Art. 1.299. O proprietário pode levantar em seu terreno as construções que lhe
aprouver, salvo o direito dos vizinhos e os regulamentos administrativos.

Art. 1.308. Não é lícito encostar à parede divisória chaminés, fogões, fornos ou
quaisquer aparelhos ou depósitos suscetíveis de produzir infiltrações ou
interferências prejudiciais ao vizinho.

Art. 1.311. Não é permitida a execução de qualquer obra ou serviço suscetível de


provocar desmoronamento ou deslocação de terra, ou que comprometa a segurança
do prédio vizinho, senão após haverem sido feitas as obras acautelatórias.
Parágrafo único. O proprietário do prédio vizinho tem direito a ressarcimento pelos
prejuízos que sofrer, não obstante haverem sido realizadas as obras acautelatórias.

Art. 1.300. O proprietário construirá de maneira que o seu prédio não despeje
águas, diretamente, sobre o prédio vizinho.

Art. 1.313. O proprietário ou ocupante do imóvel é obrigado a tolerar que o vizinho


entre no prédio, mediante prévio aviso, para: I – dele temporariamente usar,
quando indispensável à reparação, construção, reconstrução ou limpeza de sua
casa ou do muro divisório; II – apoderar-se de coisas suas, inclusive animais que aí se
encontrem casualmente. § 1o O disposto neste artigo aplica-se aos casos de limpeza
ou reparação de esgotos, goteiras, aparelhos higiênicos, poços e nascentes e ao
aparo de cerca viva. § 2o Na hipótese do inciso II, uma vez entregues as coisas
buscadas pelo vizinho, poderá ser impedida a sua entrada no imóvel. § 3o Se do
exercício do direito assegurado neste artigo provier dano, terá o prejudicado direito a
ressarcimento

1.2. Da Proposição de Solução:


1.2.1. Amigável. O vizinho (B) cumpre o compromisso de realizar a instalação de piso
cimentício e sistema adequado de vazão da água .

1.2.2. Litigiosa. A parte ofendida (A) faz denúncia das irregularidades na Secretaria Municipal
de Obras, evoca o artigo 1.313 do CC para promoção de serviço paliativo, ingressa com Ação
Judicial com fins de responsabilizar e exigir Indenização por danos morais e materiais, bem
como Honorários Sucumbenciais.

2. Sobre telhado construído de forma irregular em parede divisória


2.1. Do Embasamento Jurídico

Art. 1.304. Nas cidades, vilas e povoados cuja edificação estiver adstrita a
alinhamento, o dono de um terreno pode nele edificar, madeirando na parede
divisória do prédio contíguo, se ela suportar a nova construção; mas terá de
embolsar ao vizinho metade do valor da parede e do chão correspondentes.

Art. 1.305. O confinante, que primeiro construir, pode assentar a parede divisória
até meia espessura no terreno contíguo, sem perder por isso o direito a haver
meio valor dela se o vizinho a travejar, caso em que o primeiro fixará a largura e a
profundidade do alicerce. Parágrafo único. Se a parede divisória pertencer a um
dos vizinhos, e não tiver capacidade para ser travejada pelo outro, não poderá
este fazer-lhe alicerce ao pé sem prestar caução àquele, pelo risco a que expõe a
construção anterior.

Art. 1.306. O condômino da parede-meia pode utilizá-la até ao meio da


espessura, não pondo em risco a segurança ou a separação dos dois prédios, e
avisando previamente o outro condômino das obras que ali tenciona fazer; não
pode sem consentimento do outro, fazer, na parede-meia, armários, ou obras
semelhantes, correspondendo a outras, da mesma natureza, já feitas do lado
oposto.

Art. 1.300. O proprietário construirá de maneira que o seu prédio não despeje
águas, diretamente, sobre o prédio vizinho.

Art. 1.312. Todo aquele que violar as proibições estabelecidas nesta Seção (“Do
Direito de Construir – arts. de 1.299 a 1.313”) é obrigado a demolir as
construções feitas, respondendo por perdas e danos.

2.2. Da Proposição de Solução:


2.2.1. Amigável. A parte responsável (B) desfaz as irregularidades.

2.2.2. Litigiosa. A parte ofendida (A) faz Denúncia de irregularidade na Secretaria Municipal
de Obras, evoca o artigo 1.312 para saneamento da irregularidade, ingressa com Ação
Judicial com fins de responsabilizar e exigir Indenização por danos morais e materiais, bem
como Honorários Sucumbenciais.

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