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SERVIDOES PREDIAIS

Definiçao: Direito e encargo. Prédio servente (afetado) prédio dominante (beneficiario).

O DIREITO

CODIGO CIVIL

TÍTULO VI
Das servidões prediais
CAPÍTULO I
Disposições gerais
Artigo 1543.º
(Noção)
Servidão predial é o encargo imposto num prédio em proveito exclusivo de outro
prédio pertencente a dono diferente; diz-se serviente o prédio sujeito à servidão e
dominante o que dela beneficia.
Artigo 1544.º
(Conteúdo)
Podem ser objecto da servidão quaisquer utilidades, ainda que futuras ou eventuais,
susceptíveis de ser gozadas por intermédio do prédio dominante, mesmo que não
aumentem o seu valor.
Artigo 1545.º
(Inseparabilidade das servidões)
1. Salvas as excepções previstas na lei, as servidões não podem ser separadas dos
prédios a que pertencem, activa ou passivamente.
2. A afectação das utilidades próprias da servidão a outros prédios importa sempre a
constituição de uma servidão nova e a extinção da antiga.
Artigo 1546.º
(Indivisibilidade das servidões)
As servidões são indivisíveis: se o prédio serviente for dividido entre vários donos,
cada porção fica sujeita à parte da servidão que lhe cabia; se for dividido o prédio
dominante, tem cada consorte o direito de usar da servidão sem alteração nem
mudança.
CAPÍTULO II
Constituição das servidões
Artigo 1547.º
(Princípios gerais)
1. As servidões prediais podem ser constituídas por contrato, testamento, usucapião
ou destinação do pai de família.
2. As servidões legais, na falta de constituição voluntária, podem ser constituídas por
sentença judicial ou por decisão administrativa, conforme os casos.
Artigo 1548.º
(Constituição por usucapião)
1. As servidões não aparentes não podem ser constituídas por usucapião.
2. Consideram-se não aparentes as servidões que não se revelam por sinais visíveis
e permanentes.
Artigo 1549.º
(Constituição por destinação do pai de família)
Se em dois prédios do mesmo dono, ou em duas fracções de um só prédio, houver
sinal ou sinais visíveis e permanentes, postos em um ou em ambos, que revelem
serventia de um para com outro, serão esses sinais havidos como prova da servidão
quando, em relação ao domínio, os dois prédios, ou as duas fracções do mesmo
prédio, vierem a separar-se, salvo se ao tempo da separação outra coisa se houver
declarado no respectivo documento.
CAPÍTULO III
Servidões legais
SECÇÃO I
Servidões legais de passagem
Artigo 1550.º
(Servidão em benefício de prédio encravado)
1. Os proprietários de prédios que não tenham comunicação com a via pública, nem
condições que permitam estabelecê-la sem excessivo incómodo ou dispêndio, têm a
faculdade de exigir a constituição de servidões de passagem sobre os prédios
rústicos vizinhos.
2. De igual faculdade goza o proprietário que tenha comunicação insuficiente com a
via pública, por terreno seu ou alheio.
Artigo 1551.º
(Possibilidade de afastamento da servidão)
1. Os proprietários de quintas muradas, quintais, jardins ou terreiros adjacentes a
prédios urbanos podem subtrair-se ao encargo de ceder passagem, adquirindo o
prédio encravado pelo seu justo valor.
2. Na falta de acordo, o preço é fixado judicialmente; sendo dois ou mais os
proprietários interessados, abrir-se-á licitação entre eles, revertendo o excesso para o
alienante.
Artigo 1552.º
(Encrave voluntário)
1. O proprietário que, sem justo motivo, provocar o encrave absoluto ou relativo do
prédio só pode constituir a servidão mediante o pagamento de indemnização
agravada.
2. A indemnização agravada é fixada, de harmonia com a culpa do proprietário, até ao
dobro da que normalmente seria devida.
Artigo 1553.º
(Lugar da constituição da servidão)
A passagem deve ser concedida através do prédio ou prédios que sofram menor
prejuízo, e pelo modo e lugar menos inconvenientes para os prédios onerados.
Artigo 1554.º
(Indemnização)
Pela constituição da servidão de passagem é devida a indemnização correspondente
ao prejuízo sofrido.
Artigo 1555.º
(Direito de preferência na alienação do prédio encravado)
1. O proprietário de prédio onerado com a servidão legal de passagem, qualquer que
tenha sido o título constutivo, tem direito de preferência, no caso de venda, dação em
cumprimento ou aforamento do prédio dominante.
2. É aplicável a este caso o disposto nos artigos 416.º a 418.º e 1410.º
3. Sendo dois ou mais os preferentes, abrir-se-á entre eles licitação, revertendo o
excesso para o alienante.
Artigo 1556.º
(Servidões de passagem para o aproveitamento de águas)
1. Quando para seus gastos domésticos os proprietários não tenham acesso às
fontes, poços e reservatórios públicos destinados a esse uso, bem como às correntes
de domínio público, podem ser constituídas servidões de passagem nos termos
aplicáveis dos artigos anteriores.
2. Estas servidões só serão constituídas depois de se verificar que os proprietários
que as reclamam não podem haver água suficiente de outra proveniência, sem
excessivo incómodo ou dispêndio.
SECÇÃO II
Servidões legais de águas
Artigo 1557.º
(Aproveitamento de águas para gastos domésticos)
1. Quando não seja possível ao proprietário, sem excessivo incómodo ou dispêndio,
obter água para seus gastos domésticos pela forma indicada no artigo anterior, os
proprietários vizinhos podem ser compelidos a permitir, mediante indemnização, o
aproveitamento das águas sobrantes das suas nascentes ou reservatórios, na medida
do indispensável para aqueles gastos.
2. Estão isentos da servidão os prédios urbanos e os referidos no n.º 1 do artigo
1551.º
Artigo 1558.º
(Aproveitamento de águas para fins agrícolas)
1. O proprietário que não tiver nem puder obter, sem excessivo incómodo ou
dispêndio, água suficiente para a irrigação do seu prédio, tem a faculdade de
aproveitar as águas dos prédios vizinhos, que estejam sem utilização, pagando o seu
justo valor.
2. O disposto no número anterior não é aplicável às águas provenientes de concessão
nem faculta a exploração de águas subterrâneas em prédio alheio.
Artigo 1559.º
(Servidão legal de presa)
Os proprietários e os donos de estabelecimentos industriais, que tenham direito ao
uso de águas particulares existentes em prédio alheio, podem fazer neste prédio as
obras necessárias ao represamento e derivação da respectiva água, mediante o
pagamento da indemnização correspondente ao prejuízo que causarem.
Artigo 1560.º
(Servidão legal de presa para o aproveitamento de águas públicas)
1. A servidão de presa para o aproveitamento de águas públicas só pode ser imposta
coercivamente nos casos seguintes:
a) Quando os proprietários, ou os donos de estabelecimentos industriais, sitos na
margem de uma corrente não navegável nem flutuável, só possam aproveitar a água
a que tenham direito fazendo presa, açude ou obra semelhante que vá travar no
prédio fronteiro;
b) Quando a água tenha sido objecto de concessão.
2. No caso da alínea a) do número anterior e no de concessão de interesse privado,
não estão sujeitas à servidão as casas de habitação, nem os quintais, jardins ou
terreiros que lhes sejam contíguos; no caso de concessão de utilidade pública, estes
prédios só estão sujeitos ao encargo se no respectivo processo administrativo se tiver
provado a impossibilidade material ou económica de executar as obras sem a sua
utilização.
3. No caso da alínea b) do n.º 1, a servidão considera-se constituída em
consequência da concessão, mas a indemnização, na falta de acordo, é fixada pelo
tribunal.
4. Se o proprietário do prédio fronteiro sujeito à servidão de travamento quiser utilizar
a obra realizada, pode torná-la comum, provando que tem direito a aproveitar-se da
água e pagando uma parte da despesa proporcional ao benefício que receber.
Artigo 1561.º
(Servidão legal de aqueduto)
1. Em proveito da agricultura ou da indústria, ou para gastos domésticos, a todos é
permitido encanar, subterrâneamente ou a descoberto, as águas particulares a que
tenham direito, através de prédios rústicos alheios, não sendo quintais, jardins ou
terreiros contíguos a casas de habitação, mediante indemnização do prejuízo que da
obra resulte para os ditos prédios; as quintas muradas só estão sujeitas ao encargo
quando o aqueduto seja construído subterrâneamente.
2. O proprietário do prédio serviente tem, a todo o tempo, o direito de ser também
indemnizado do prejuízo que venha a resultar da infiltração ou erupção das águas ou
da deterioração das obras feitas para a sua condução.
3. A natureza, direcção e forma do aqueduto serão as mais convenientes para o
prédio dominante e as menos onerosas para o prédio serviente.
4. Se a água do aqueduto não for toda necessária ao seu proprietário, e o proprietário
do prédio serviente quiser ter parte no excedente, ser-lhe-á concedida essa parte a
todo o tempo, mediante prévia indemnização, e pagando ele, além disso, a quota
proporcional à despesa feita com a sua condução até ao ponto donde pretende
derivá-la.
Artigo 1562.º
(Servidão legal de aqueduto para o aproveitamento de águas públicas)
1. Para o aproveitamento de águas públicas, a constituição forçada de servidão de
aqueduto só é admitida no caso de haver concessão da água.
2. É aplicável a esta servidão o disposto nos n.os 2 e 3 do artigo 1560.º
Artigo 1563.º
(Servidão legal de escoamento)
1. A constituição forçada da servidão de escoamento é permitida, precedendo
indemnização do prejuízo:
a) Quando, por obra do homem, e para fins agrícolas ou industriais, nasçam águas
em algum prédio ou para ele sejam conduzidas de outro prédio;
b) Quando se pretenda dar direcção definida a águas que seguiam o seu curso
natural;
c) Em relação às águas provenientes de gaivagem, canos falsos, valas, guarda-
matos, alcorcas ou qualquer outro modo de enxugo de prédios;
d) Quando haja concessão de águas públicas, relativamente às sobejas.
2. Aos proprietários onerados com a servidão de escoamento é aplicável o disposto
no artigo 1391.º
3. Na liquidação da indemnização será levado em conta o valor dos benefícios que
para o prédio serviente advenham do uso da água, nos termos do número anterior; e,
no caso da alínea b) do n.º 1, será atendido o prejuízo que já resultava do decurso
natural das águas.
4. Só estão sujeitos à servidão de escoamento os prédios que podem ser onerados
com a servidão legal de aqueduto.

CAPÍTULO IV
Exercício das servidões
Artigo 1564.º
(Modo de exercício)
As servidões são reguladas, no que respeita à sua extensão e exercício, pelo
respectivo título; na insuficiência do título, observar-se-á o disposto nos artigos
seguintes.
Artigo 1565.º
(Extensão da servidão)
1. O direito de servidão compreende tudo o que é necessário para o seu uso e
conservação.
2. Em caso de dúvida quanto à extensão ou modo de exercício, entender-se-á
constituída a servidão por forma a satisfazer as necessidades normais e previsíveis
do prédio dominante com o menor prejuízo para o prédio serviente.
Artigo 1566.º
(obras no prédio serviente)
1. É lícito ao proprietário do prédio dominante fazer obras no prédio serviente, dentro
dos poderes que lhe são conferidos no artigo anterior, desde que não torne mais
onerosa a servidão.
2. As obras devem ser feitas no tempo e pela forma que sejam mais convenientes
para o proprietário do prédio serviente.
Artigo 1567.º
(Encargo das obras)
1. As obras são feitas à custa do proprietário do prédio dominante, salvo se outro
regime tiver sido convencionado.
2. Sendo diversos os prédios dominantes, todos os proprietários são obrigados a
contribuir, na proporção da parte que tiverem nas vantagens da servidão, para as
despesas das obras; e só poderão eximir-se do encargo renunciando à servidão em
proveito dos outros.
3. Se o proprietário do prédio serviente também auferir utilidades da servidão, é
obrigado a contribuir pela forma estabelecida no número anterior.
4. Se o proprietário do prédio serviente se houver obrigado a custear as obras, só lhe
será possível eximir-se desse encargo pela renúncia ao seu direito de propriedade em
benefício do proprietário do prédio dominante, podendo a renúncia, no caso de a
servidão onerar apenas uma parte do prédio, limitar-se a essa parte; recusando-se o
proprietário do prédio dominante a aceitar a renúncia, não fica, por isso, dispensado
de custear as obras.
Artigo 1568.º
(Mudança de servidão)
1. O proprietário do prédio serviente não pode estorvar o uso da servidão, mas pode,
a todo o tempo, exigir a mudança dela para sítio diferente do primitivamente assinado,
ou para outro prédio, se a mudança lhe for conveniente e não prejudicar os interesses
do proprietário do prédio dominante, contanto que a faça à sua custa; com o
consentimento de terceiro pode a servidão ser mudada para o prédio deste.
2. A mudança também pode dar-se a requerimento e à custa do proprietário do prédio
dominante, se dela lhe advierem vantagens e com ela não for prejudicado o
proprietário do prédio serviente.
3. O modo e o tempo de exercício da servidão serão igualmente alterados, a pedido
de qualquer dos proprietários, desde que se verifiquem os requisitos referidos nos
números anteriores.
4. As faculdades conferidas neste artigo não são renunciáveis nem podem ser
limitadas por negócio jurídico.
CAPÍTULO V
Extinção das servidões
Artigo 1569.º
(Casos de extinção)
1. As servidões extinguem-se:
a) Pela reunião dos dois prédios, dominante e serviente, no domínio da mesma
pessoa;
b) Pelo não uso durante vinte anos, qualquer que seja o motivo;
c) Pela aquisição, por usucapião, da liberdade do prédio;
d) Pela renúncia;
e) Pelo decurso do prazo, se tiverem sido constituídas temporariamente.
2. As servidões constituídas por usucapião serão judicialmente declaradas extintas, a
requerimento do proprietário do prédio serviente, desde que se mostrem
desnecessárias ao prédio dominante.
3. O disposto no número anterior é aplicável às servidões legais, qualquer que tenha
sido o título da sua constituição; tendo havido indemnização, será esta restituída, no
todo ou em parte, conforme as circunstâncias.
4. As servidões referidas nos artigos 1557.º e 1558.º também podem ser remidas
judicialmente, mostrando o proprietário do prédio serviente que pretende fazer da
água um aproveitamento justificado; no que respeita à restituição da indemnização, é
aplicável o disposto anteriormente, não podendo, todavia, a remição ser exigida antes
de decorridos dez anos sobre a constituição da servidão.
5. A renúncia a que se refere a alínea d) do n.º 1 não requer aceitação do proprietário
do prédio serviente.
Artigo 1570.º
(Começo do prazo para a extinção pelo não uso)
1. O prazo para a extinção das servidões pelo não uso conta-se a partir do momento
em que deixaram de ser usadas; tratando-se de servidões para cujo exercício não é
necessário o facto do homem, o prazo corre desde a verificação de algum facto que
impeça o seu exercício.
2. Nas servidões exercidas com intervalos de tempo, o prazo corre desde o dia em
que poderiam exercer-se e não foi retomado o seu exercício.
3. Se o prédio dominante pertencer a vários proprietários, o uso que um deles fizer da
servidão impede a extinção relativamente aos demais.
Artigo 1571.º
(Impossibilidade de exercício)
A impossibilidade de exercer a servidão não importa a sua extinção, enquanto não
decorrer o prazo da alínea b) do n.º 1 do artigo 1569.º
Artigo 1572.º
(Exercício parcial)
A servidão não deixa de considerar-se exercida por inteiro, quando o proprietário do
prédio dominante aproveite apenas uma parte das utilidades que lhe são inerentes.
Artigo 1573.º
(Exercício em época diversa)
O exercício da servidão em época diferente da fixada no título não impede a sua
extinção pelo não uso, sem prejuízo da possibilidade de aquisição de uma nova
servidão por usucapião.
Artigo 1574.º
(«Usucapio libertatis»)
1. A aquisição, por usucapião, da liberdade do prédio só pode dar-se quando haja, por
parte do proprietário do prédio serviente, oposição ao exercício da servidão.
2. O prazo para a usucapião só começa a contar-se desde a oposição.
Artigo 1575.º
(Servidões constituídas pelo usufrutuário ou enfiteuta)
As servidões activas adquiridas pelo usufrutário não se extinguem pela cessação do
usufruto, como também se não extinguem pela devolução do prazo ao senhorio as
servidões, activas ou passivas, constituídas pelo enfiteuta.

A JURISPRUDENCIA

De harmonia com a máxima, servitus fundus utililis, esse debet, as servidões prediais
traduzem, vincadamente, uma relação entre prédios: a servidão deve traduzir uma
utilidade real de um prédio em favor de outro, ampliando as qualidades naturais de um
prédio – o serviente – para outro - o dominante (artºs 1543º e 1544º do Código Civil)
[2]. Sendo a servidão um direito real, ainda que menor, é, evidentemente, inerente à
coisa, acompanhando-o em todas as suas vicissitudes. Daí que não possa ser
separada dos prédios a que pertence (artº 1545º, nºs 1 e 2 do Código Civil). Além de
inseparáveis, as servidões prediais estão ainda sujeitas ao princípio da indivisibilidade:
a servidão onera todo o prédio dominado a favor de todo o prédio dominante (artº
1546º do Código Civil). Descritivamente, a classificação mais relevante das servidões
prediais é a que as cinde em legais e voluntárias; as primeiras derivam da lei; 6 / 22 as
segundas são constituídas no exercício da autonomia privada (artº 1547º, nº 2 do
Código Civil). As servidões legais, porque podem ser constituídas, na falta de
constituição voluntária, por sentença judicial ou decisão administrativa, dizem-se
coactivas ou judiciais. Note-se que as servidões legais não resultam imediatamente da
lei. A expressão servidão legal, não designa casos em que a servidão é um efeito da
lei, sem o concurso de um acto jurídico – mas sim os casos em que a lei concede ao
titular do prédio dominante o direito – potestativo – de exigir a constituição da servidão.
Neste caso, uma de duas: ou o titular do prédio serviente colabora na constituição da
servidão ou se recusa – mas em ambos os casos, se fala de servidão legal. A recusa
de colaboração do prédio dominado pode ser ultrapassada por recurso ao tribunal, ou,
nalguns casos, às entidades administrativas (artº 1547º, nº 2 do Código Civil). Quer
dizer: servidão legal é aquela que pode ser coactivamente imposta – mesmo que o
não tenha sido. Se as partes, por contrato, por exemplo, regularem a situação, a lei
não deixa de considerar existente uma servidão legal, como comprovadamente
decorre da circunstância da extinção por desnecessidade das servidões legais,
qualquer que tenha sido o título da sua constituição (artº 1569º, nº 3 do Código Civil).
Significa isto que, verificando-se os pressupostos que permitam a imposição de uma
servidão legal, a servidão que se constituir se deve sempre considerar legal, mesmo
que não tenha sido coactivamente actuada. Em termos técnicos, pode assentar-se que
na servidão legal de passagem, surgem dois momentos distintos: o direito potestativo
de, por recurso à via judicial, fazer surgir a servidão; a servidão, propriamente dita,
uma vez constituída. Na falta de constituição voluntária, a servidão surgirá por via
coactiva. Exemplo de servidão legal é a servidão de passagem. Esta deriva da
faculdade que os titulares de prédios que não tenha comunicação com a via pública,
nem condições que permitam estabelecê-la, têm de exigir a sua constituição sobre os
prédios rústicos vizinhos (artº 1550º, nº 1 do Código Civil). Quando não haja
materialmente comunicação com a via pública, o encrave dizse absoluto; é relativo
quando essa comunicação exista, mas seja economicamente inviável. 7 / 22 Em
qualquer dos casos, para o efeito de lhe conceder a servidão legal de passagem, o
prédio considera-se encravado. O problema do encrave, e dos direitos de passagem
que dele emergem, dão lugar a limitações sérias ao direito de propriedade e a conflitos
graves entre titulares daquele direito real. Um traço importante da constituição das
servidões legais é a indemnização devida ao proprietário do prédio dominado. Esta
indemnização pode ser simples ou agravada, conforme o encrave tenha sido
involuntário ou não (artºs 1552º e 1554º do Código Civil). Contudo, o dever de
indemnizar do proprietário do prédio dominante só existe perante a constituição judicial
ou equivalente da servidão.

-Existe derecho a servidao? Cumpre or requisitos?

-JA está constituida ou nao?

3.4. Concretização. Na petição inicial, os recorridos invocaram a titularidade do direito


real menor de servidão de passagem.

A determinação da indemnização em casos de constituição de servidão de passagem


predial pode depender de vários fatores e circunstâncias específicas do caso.
Geralmente, a indemnização é estabelecida com base em uma avaliação equitativa
dos prejuízos causados à propriedade serviente devido à constituição da servidão.
Aqui estão alguns fatores que podem influenciar a determinação da indemnização:

Avaliação do Impacto na Propriedade Serviente:

A magnitude do impacto causado à propriedade serviente, como a interferência no uso


normal da terra, a diminuição do valor da propriedade ou qualquer dano físico causado
pela constituição da servidão.

Valor do Uso da Servidão para o Dominante:

O valor que a servidão agrega à propriedade dominante pode influenciar a


indemnização. Se a servidão for fundamental para a utilidade da propriedade
dominante, isso pode ser considerado na avaliação.

Negociações entre as Partes:

Em alguns casos, as partes envolvidas podem negociar diretamente os termos da


indemnização. Se houver um acordo mútuo, a indemnização pode ser estabelecida
com base nessas negociações.

Apreciação Judicial:

Se as partes não chegarem a um acordo, um tribunal pode ser encarregado de


determinar a indemnização. O tribunal considerará as evidências apresentadas por
ambas as partes, bem como os fatores relevantes para determinar uma compensação
justa.

Profissionalismo Pericial:
Em alguns casos, peritos profissionais, como avaliadores de propriedades, podem ser
envolvidos para avaliar o impacto financeiro da servidão na propriedade serviente e
ajudar na determinação da indemnização.

É fundamental destacar que a legislação específica de cada país ou região pode


estabelecer regras específicas para a determinação da indemnização em casos de
servidão. Por isso, é aconselhável consultar um advogado especializado em direito
imobiliário para obter orientação específica sobre as leis locais aplicáveis ao seu caso.

Quantitativo da indemnização a atribuir aos réus, em consequência da


constituição da servidão legal de passagem, declarada constituída na sentença
recorrida.
Como acima já referido, os réus, ora recorrentes, apenas se insurgem contra a
sentença recorrida, na parte em que, nesta, se fixou a indemnização ora em apreço,
na quantia de 1.080,00 €, considerando que deve ser arbitrada a quantia de 5.000,00
€, com o fundamento em que se encontram de relações cortadas com os autores e
têm de os ver a passar na serventia em causa, o que lhes causa sofrimento.
Na sentença recorrida, atribuiu-se, a tal título, a quantia de 1.080,00 €, com base na
fundamentação que se segue:
“8.11 – “Pela constituição da servidão de passagem é devida indemnização
correspondente ao incómodo sofrido” – artigo 1554º CC. Tal indemnização,
correspondente ao prejuízo sofrido, decorre de facto lícito, devendo ser atendidas no
seu cálculo as regras gerais – cfr. artigos 552º CC e Ac RL de 5/5/201624
24 Proferido no processo nº 314/10.1TCFUN.L2-2, disponível em www.dgsi.pt
A servidão, em face da factualidade apurada será estabelecida para um comprimento
de 120 metros e uma largura de 3, adequada ao trânsito de veículos automóveis.
Sendo inequívoco que a constituição de servidão de passagem gera uma
desvalorização do valor da propriedade, julgamos que a indemnização a fixar não
deve efetuar uma ponderação puramente aritmética do valor atribuído ao metro do
terreno dos réus, nos termos seguintes: (120mx3m)x€3,35. Efetivamente, não está em
causa a venda da faixa de terreno por onde se vai estabelecer a servidão, mas apenas
a sua oneração. Certo é que a constituição da servidão legal de passagem
determinará que também os réus a utilizem para o trânsito no respetivo prédio, o que
também terá que ser ponderado no valor indemnizatório a fixar. Assim, julga-se
adequado atribuir ao m2 de terreno que ficará onerado com a servidão o valor de €
3,00. Consequentemente, por estar em causa uma área de 360 m2, fixa-se a
indemnização a pagar pelos autores aos réus E... e D... em € 1.080,00.”.

15/14.1TBCNF.C1

Nº Convencional:JTRCRelator:ARLINDO OLIVEIRADescritores:SERVIDÃO DE
PASSAGEM
INDEMNIZAÇÃO Data do Acordão:04/04/2017Votação:UNANIMIDADETribunal
Recurso:COMARCA DE VISEU, VISEU, JUÍZO CENTRAL CÍVELTexto Integral:S
Meio Processual:APELAÇÃODecisão:CONFIRMADALegislação
Nacional:ARTIGO 1554º DO CÓDIGO CIVIL Sumário:1. Pela constituição da
servidão de passagem é devida a indemnização correspondente ao prejuízo
sofrido, para fixação de cujo montante valem as regras gerais aplicáveis à
obrigação de indemnizar, abrangendo o dano a considerar tanto o dano
emergente como os lucros cessantes do proprietário do prédio onerado e que
abarcam tanto os prejuízos resultantes da constituição, como os provenientes
do exercício da servidão mas, deixando de fora, não cobrindo, as vantagens ou
lucros obtidos pelo proprietário do prédio dominante com a constituição da
servidão.

2. Deste modo, são relevantes os danos resultantes da constituição da servidão


e os provenientes do seu exercício, independentemente do proprietário do
prédio dominante ser ou não do agrado do proprietário do prédio/prédios
serviente(s), pelo que os danos decorrentes da situação de um mau
relacionamento entre os proprietários dos prédios dominantes e servientes não
influem na quantificação da indemnização a atribuir.

Decisão Texto Integral:

Acordam no Tribunal da Relação de Coimbra

Os autores A... , B... , e C... instauraram a presente ação, declarativa de condenação,


com processo comum contra os réus D... e marido E... , F... e esposa G... , já todos
identificados nos autos.
Para tanto, alegaram os autores serem donos de determinados prédios, aos quais
sempre se acedeu por determinado caminho que confronta com os prédios dos réus,
caminho esse que foi intervencionado por forma a consentir a passagem de veículos
de tração animal e mecânica, e que sempre foi utilizado pelo público em geral. Sucede
que os réus, sem qualquer fundamento para tal, passaram a impedir a livre circulação
por tal caminho.
Subsidiariamente, e para a hipótese de tal caminho não ser considerado público,
alegaram os autores, ter sido constituída, em benefício dos respetivos prédios e a
onerar o prédio dos réus, uma servidão de passagem, por usucapião, relativamente ao
dito caminho que constitui a única forma de acederem aos respetivos prédios. Assim,
estando estes encravados, mesmo que se considere não existir ainda a servidão com
o traçado pretendido, sempre a sua constituição deveria ser declarada por via da
presente ação.
Mais alegaram os autores que o comportamento dos réus, ao obstruírem a dita
passagem, lhes tem causado inúmeros prejuízos.
Concluíram os autores, solicitando que:
- seja declarado o direito de propriedade dos autores e dos réus sobre os prédios que
identificaram na petição inicial;
- seja declarada a existência de uma faixa de terreno que atravessa o prédio dos réus
que configura o dito caminho, e que tem natureza pública;
- sejam os réus condenados a absterem-se de praticar quaisquer atos que impeçam o
trânsito pelo dito caminho, a pé, com ou sem animais, com tratores e com todos os
veículos automóveis;
- sejam os réus condenados a reporem o caminho nas condições em que se
encontrava antes da intervenção, executando as obras que identificaram no petitório;
Para o caso de o invocado caminho não ser considerado no todo ou em parte público,
solicitaram os autores:
- a declaração da existência de uma servidão de passagem, em benefício dos prédios
dos autores e a onerar os prédios dos réus para trânsito a pé, com animais, com
carros de bois e com tratores;
- a condenação dos réus a absterem-se de obstaculizar o trânsito dos réus pela dita
passagem, a pé, com ou sem animais, com carros de bois, com tratores e com
veículos automóveis durante todo o ano e a todo o tempo;
- a condenação dos réus a reporem o caminho no estado em que se encontrava antes
da respetiva intervenção, apto para o trânsito de tratores agrícolas e quaisquer outros
veículos automóveis.
Em caso de procedência de qualquer dos pedidos formulados, solicitaram ainda os
autores a condenação dos réus a pagarem-lhes as quantias indemnizatórias que
discriminaram, a título de danos patrimoniais e não patrimoniais causados pela
respetiva conduta.
Para a hipótese de improcederem os pedidos formulados relativamente ao caráter
público do caminho e à válida constituição de uma servidão de passagem, os autores
solicitaram a condenação dos réus:
- a reconhecerem que os prédios dos autores se encontram encravados, declarando-
se constituída uma servidão legal de passagem a onerar o prédios dos réus e com a
extensão e traçado que discriminaram, mediante o pagamento de uma indemnização a
computar em quantia não superior a € 1.080,00.

Citados pessoal e regularmente para o efeito, os réus D... e marido E... , F... e esposa
G... apresentaram contestação, em tempo útil, na qual se defenderam por
impugnação, considerando que nunca foi público o caminho invocado pelos autores,
tratando-se, ao invés, de um mero carreiro de pé que os autores utilizaram por mera
tolerância, tanto mais que sempre existiu e continua a existir um caminho mais a
nordeste, esse público. O carreiro em questão nos autos foi, assim implantado em
finais de 2001, por ação do segundo réu e dos seus familiares apenas por mero favor
e por tolerância, tendo sido utilizado pelos autores, que têm acesso para a via pública
de e para os seus prédios, pelo que, a declarar-se constituída por usucapião a dita
servidão de passagem, sempre a mesma deveria ser considerada extinta por
desnecessidade.
Concluíram os réus pugnando pela improcedência da ação e deduzindo reconvenção,
pela qual solicitaram que a servidão, a existir, seja declarada extinta por
desnecessidade.

Os autores apresentaram réplica, pronunciando-se sobre as exceções deduzidas e


sobre a reconvenção, alegando, no essencial, que o alegado caminho de Pias
destinava-se à passagem de pé, nunca serviu os prédios dos autores e dos réus, e
veio a ser substituído por uma estrada municipal que ocupou parcialmente o seu leito.
Mais alegaram os autores que existiu uma passagem transitória e precária, consentida
aos antecessores de ambas as partes, que deixou de ser usada há mais de 35 anos, e
que hoje está intransitável, reiterando a posição assumida na petição inicial. Assim,
solicitando a retificação de lapsos materiais em que haviam incorrido na alegação
efetuada na petição inicial relativamente à aquisição pelos réus dos respetivos prédios,
concluíram que a reconvenção deveria ser julgada improcedente, assim como a
matéria de exceção invocada pelos réus.

Foi agendada uma audiência prévia que não se veio a realizar, atentos os
fundamentos exarados em ata.
Ulteriormente, foi dispensada a realização da audiência prévia, tendo sido proferido
despacho saneador tabelar, no qual se afirmou a validade e a regularidade da
instância.
Foram enunciados o objeto do litígio e os temas de prova por despacho que não
mereceu reclamação.
Realizou-se a audiência de julgamento com observância do legal formalismo, com
recurso à gravação dos depoimentos prestados, finda a qual foi proferida a sentença
de fl.s 469 a 489, na qual se seleccionou a matéria de facto dada como provada e não
provada e respectiva fundamentação e a final se decidiu o seguinte:
“Nos termos expostos, julgo parcialmente procedente a presente ação, instaurada
pelos autores A... , B... , e C... contra os réus D... e marido E... , F... e G... e, em
consequência:
- declaro a autora A... proprietária do prédio identificado nos pontos 5.1 e 5.2 dos
factos provados;
- declaro a autora B... proprietária do prédio identificado no ponto 5.4 dos factos
provados;
- declaro o autor C... proprietário dos prédios descritos nos pontos 5.6 e 5.8 dos factos
provados;
- declaro os réus D... e E... proprietários do prédio identificado no ponto 5.14 dos
factos provados;
- declaro os réus F... e G... proprietários do prédio identificado no ponto 5.16 dos
factos provados;
- declaro constituída sobre os prédios dos réus E... e D... identificado no ponto 5.14
dos factos provados em benefício dos prédios dos autores identificados nos pontos
5.1, 5.2, 5.4, 5.6 e 5.8 uma servidão legal de passagem correspondente à faixa de
terreno implantada no prédio dos primeiros, com uma extensão de 120 metros e uma
largura de 3 metros e com o traçado mencionado nos pontos 5.35, 5.36, 5.26 e 5.27
dos factos provados, pela qual os autores poderão transitar a pé, de carros de bois, de
tratores, e de veículos automóveis;
- condeno os réus a respeitarem e a não estorvarem a servidão legal de passagem
declarada por via da presente decisão;
- condeno os supra identificados autores a pagarem aos proprietários do prédio
identificado no ponto 5.14, a título de indemnização pela constituição da servidão legal
estabelecida por via da presente ação, a quantia de € 1.080,00 (mil e oitenta euros);
- julgo improcedentes os demais pedidos formulados pelos autores contra os réus,
incluindo o pedido indemnizatório, absolvendo estes de tais pedidos.
Julgo improcedente a reconvenção deduzida, absolvendo os supra identificados
autores/reconvindos do pedido reconvencional deduzido pelos réus/reconvintes.
Custas da ação pelos autores e pelos réus, na proporção do respetivo decaimento,
que fixo em 20 % para os primeiros e 80 % para os segundos - cfr. artigo 527º, CPC.
Custas da reconvenção pelos réus/reconvintes – cfr. artigo 527º, CPC.
Inconformados com a mesma, interpuseram recurso os réus, recurso, esse,
admitido como de apelação, com subida imediata, nos próprios autos e com efeito
meramente devolutivo (cf. despacho de fl.s 538), rematando as respectivas
motivações, com as seguintes conclusões:
1. O presente recurso tem por objeto matéria de facto e de direito e a reapreciação da
prova gravada na sessão de audiência e julgamento a razão da discordância dos RR
baseia-se, fundamentalmente, na apreciação que o Tribunal a quo, fez das:
2. Declarações de parte da R. G... , cujo depoimento está gravado em CD no
programa “Habilus MediaStudio” e cuja gravação tem o seu início em 03-06-2016,
pelas 10:05:10 e fim em 03-06-2016 10:26:51 e dos depoimentos das testemunhas:
H... , cujo depoimento está gravado em CD no programa “Habilus MediaStudio” e cuja
gravação tem o seu inicio em 23-05-2016 pelas 12:00:42 e fim em 23-05-2016, pelas
13:00:10; I... , cujo depoimento está gravado em CD no programa “Habilus
MediaStudio” e cuja gravação tem o seu inicio em 27-05-2016, pelas 10:22:23 e fim
em 27-05-2016, pelas 10:44:41; J... , cujo depoimento está gravado em CD no
programa “Habilus MediaStudio” e cuja gravação tem o seu inicio em 27-05-2016,
pelas 11:27:44 e fim em 27-05-2016, pelas 11:50:29.
3. Os RR. Recorrem da Douta Sentença proferida, por discordarem de um único e
absolutamente balizado ponto, que infra se percorrerá, porque no mais, diga-se já e
em abono da mais cristalina verdade, a Sentença não nos merece qualquer censura,
ainda que em desacordo com a posição que os RR trouxeram ao pleito.
4. A ver: Nenhuma dúvida pode ser oposta quanto à exigibilidade de indemnização
pelos prejuízos sofridos pelo prédio que venha a ser onerado com servidão de
passagem, indemnização essa cujo montante haverá de ser fixado tendo em conta as
regras gerais aplicáveis à obrigação de indemnizar [Cfr. P. Lima e A. Varela, CCivil
Anotado, vol. III, 2ª ed., nota ao art. 1554º, pág. 643], - E é esta a pedra de toque do
presente Recurso.
5. O Tribunal considerou provado o facto 5.44: “Os réus, desde junho de 2012, negam
o direito dos autores de transitarem na passagem em questão com veículos, e
procederam à lavoura de uma sua leira com a mesma confinante, levando o arado a
ocupar já parte do leito deste último, apenas respeitando um estreito carreiro que tão
só permite a passagem de pessoas a pé (artigos 63º e 95º da petição inicial e 30º da
réplica);” E dá este facto como provado, assim, tout court.
6. Entendemos pois, que dos depoimentos acima descritos, ouvidos em audiência de
discussão e julgamento, a M. Juíz podia e devia ter retirado a convicção de que os RR
somente negam o direito de passagem dos AA (na medida descrita) porquanto em
tempos foram uma família unida e harmoniosa e a partir de 2012 o deixaram de ser.
7. É inegável a tensão existente entre ambos os lados da família.
8. Poderá o Tribunal não querer conhecer dos reais motivos, porém, dos depoimentos
indicados, ressuma cristalino que a dada altura de 2012, os RR se sentiram ofendidos,
vexados e ressentidos com uma indeterminada atuação dos AA e por esse motivo,
Indignados que estavam, exerceram aquilo que entendiam ser um direito seu, negar a
passagem de carro, pelo caminho em crise nos autos, como forma de retaliação,
9. Tendo em conta que também resulta claro e está dado como provado,
nomeadamente nos pontos 5.38 e 5.39, que o melhoramento do caminho resultou da
vontade do R. F... , que até executou os trabalhos, pelas próprias mãos.
10. No que respeita às declarações de parte da R. G... , cujo depoimento está gravado
em CD no programa “Habilus MediaStudio” e cuja gravação tem o seu início em 03-06-
2016, pelas 10:05:10 e fim em 03-06-2016 10:26:51, apreciadas no seu todo,
entendemos que outro valor lhe havia de ter sido dado, que não, sic “contribuíram para
a contextualização dos termos do litigio, embora não tenham contribuído de forma
significativa para o apuramento da matéria controvertida por ambas, no essencial,
terem reproduzido as posições exaradas nos respetivos articulados.
11. É evidente que é expectável que as declarações da parte primem pela coerência,
tanto mais que a parte pode mesmo ter-se preparado para prestar declarações.
Porém, a R. G... prestou declarações de parte, que no seu todo, demonstram
claramente a coerência como parâmetro de credibilização. Achamos que a parte foi
absolutamente autêntica e não acusou qualquer toque que estivesse a utilizar detalhes
oportunistas em seu favor.
12. Isto, a par de um parâmetro que assume extrema importância e a que a M. Juiz de
certeza terá estado atenta, nas declarações de parte, a começar pela contextualização
espontânea do relato, em termos temporais, espaciais e até emocionais. E que
assume particular relevância, uma vez que é corroborado perifericamente, o que
confirma o teor das declarações da parte.
13. As corroborações periféricas consistem no facto das declarações da parte serem
confirmadas por outros dados que, indiretamente, demonstram a veracidade da
declaração. Esses dados podem provir de outros depoimentos realizados sobre a
mesma factualidade e que sejam confluentes com a declaração em causa. O que
aconteceu.
14. No que, para este Recurso interessa, pelas declarações de parte da Ré G... ,
consideradas no seu todo, entendemos que a M. Juíz a quo, podia ter levado à
factualidade dada como provada, a evidente relação de inimizade das partes, que são
família, que nos RR causou e causa transtorno quase irremediável.
15. Como acima dissemos, as declarações da parte da Ré G... , foram corroboradas
perifericamente, pelo depoimento de testemunhas, que, sobre a mesma factualidade,
foram confluentes, é o caso da testemunha H... , cujo depoimento está gravado em CD
no programa “Habilus MediaStudio” e cuja gravação tem o seu inicio em 23-05-2016
pelas 12:00:42 e fim em 23-05-2016, pelas 13:00:10.
16. Esta testemunha, arrolada pelos AA e com evidente interesse no desfecho da
causa, porquanto é irmão e pai das AA e irmão da Ré D... , desde logo, do texto da
Douta Sentença se lê “com quem está de más relações”, apesar de ter feito um
depoimento escorreito, não conseguiu evitar dizer aquilo que é a verdade dos factos,
mas que a todo o custo tentou escamotear e subverter, não conseguindo, a nosso ver.
17. Só demonstrou o que é evidente, a tensão entre as partes, até pela forma de
quase gozo, com que se refere à situação de confronto das partes.
18. A testemunha I... , cujo depoimento está gravado em CD no programa “Habilus
MediaStudio” e cuja gravação tem o seu inicio em 27-05-2016, pelas 10:22:23 e fim
em 27-05-2016, pelas 10:44:41., que na opinião da M. Juiz a quo, teve um depoimento
“algo comprometido”,
19. Entendemos nós que o poderá ter tido sim, mas somente no que ao caminho em
crise diz respeito. Porque na sua ruralidade e modos um tanto rudes e desnorteados,
foi inteiramente escorreita quando inquirida acerca das relações familiares das partes.
Dizendo indubitavelmente que agora “estão inimigos”.
20. Por fim, a testemunha J... , cujo depoimento está gravado em CD no programa
“Habilus MediaStudio” e cuja gravação tem o seu inicio em 27-05-2016, pelas 11:27:44
e fim em 27-05-2016, pelas 11:50:29, pai da Ré G... , teve o seu depoimento
devidamente validado e acreditado pela M. Juiz a quo, porém, é aqui que mais uma
vez referimos, que a M. Juiz a quo, podia ter ido mais longe e confirmado aquilo que
foi expressa e credivelmente dito pela testemunha e que a nosso ver, devia constar
dos factos provados. Ou seja, as relações extremadas entre as partes, que levaram os
RR a praticar atos que a lei considera abusivos, nunca com essa intenção, outrossim,
com a intenção de “pagar na mesma moeda”, pelo mal que fizeram as primeiros RR,
segundo palavras desta testemunha.
21. Com todo o respeito intelectual que nos merece a Douta Sentença de que se
recorre, neste ponto e só neste ponto, entendemos que existe errada valoração dos
depoimentos supra, má apreciação dos mesmos e julgamento arbitrário da prova.
22. Ou seja, com base nos depoimentos supra, a M. Juíz a quo devia ter dado como
provado o artigo 17º da Contestação,
23. E devia ter respondido aos artigos 38º e 39º da Contestação, dando os mesmos
como provados, porquanto, já abundantemente expressamos, entender que não são
inócuos. Pelo contrário.
24. Ao dar como provado estes artigos e incluir no ponto 5..44, podia e devia ter ido
mais longe e acrescentar a este ponto, o texto que abaixo se sublinha,
25. – “Os réus, desde junho de 2012, negam o direito dos autores de transitarem na
passagem em questão com veículos, e procederam à lavoura de uma sua leira com a
mesma confinante, levando o arado a ocupar já parte do leito deste último, apenas
respeitando um estreito carreiro que tão só permite a passagem de pessoas a pé
(artigos 63º e 95º da petição inicial e 30º da réplica), o que foi determinado, em virtude
das relações familiares das partes se encontrarem extremadas e tal facto ter
influenciado os RR, em virtude do sofrimento em que se encontravam;
26. Após apreciação da prova e respetiva Motivação o Tribunal a quo julgou a Ação
parcialmente procedente, por parcialmente provada, e, em consequência: 1. declarou
a autora A... proprietária do prédio identificado nos pontos 5.1 e 5.2 dos factos
provados; 2. declarou a autora B... proprietária do prédio identificado no ponto 5.4 dos
factos provados; 3. declarou o autor C... proprietário dos prédios descritos nos pontos
5.6 e 5.8 dos factos provados; 4. declarou os réus D... e E... proprietários do prédio
identificado no ponto 5.14 dos factos provados; 5. declarou os réus F... e G...
proprietários do prédio identificado no ponto 5.16 dos factos provados; 6. declarou
constituída sobre os prédios dos réus E... e D... identificado no ponto 5.14 dos factos
provados em benefício dos prédios dos autores identificados nos pontos 5.1, 5.2, 5.4,
5.6 e 5.8 uma servidão legal de passagem correspondente à faixa de terreno
implantada no prédio dos primeiros, com uma extensão de 120 metros e uma largura
de 3 metros e com o traçado mencionado nos pontos 5.35, 5.36, 5.26 e 5.27 dos
factos provados, pela qual os autores poderão transitar a pé, de carros de bois, de
tratores, e de veículos automóveis; 7. condenou os réus a respeitarem e a não
estorvarem a servidão legal de passagem declarada por via da decisão; 8. condenou
os supra identificados autores a pagarem aos proprietários do prédio identificado no
ponto 5.14, a título de indemnização pela constituição da servidão legal estabelecida
por via da ação, a quantia de € 1.080,00 (mil e oitenta euros); 9. julgou improcedentes
os demais pedidos formulados pelos autores contra os réus, incluindo o pedido
indemnizatório, absolvendo estes de tais pedidos. 10. Julgou improcedente a
reconvenção deduzida, absolvendo os supra identificados autores/reconvindos do
pedido reconvencional deduzido pelos réus/reconvintes.
27. Assim sendo e no único ponto que pretendemos ver reapreciado,
28. A M. Juíz declarou constituída sobre os prédios dos réus E... e D... identificado no
ponto 5.14 dos factos provados em benefício dos prédios dos autores identificados nos
pontos 5.1, 5.2, 5.4, 5.6 e 5.8 uma servidão legal de passagem correspondente à faixa
de terreno implantada no prédio dos primeiros, com uma extensão de 120 metros e
uma largura de 3 metros e com o traçado mencionado nos pontos 5.35, 5.36, 5.26 e
5.27 dos factos provados, pela qual os autores poderão transitar a pé, de carros de
bois, de tratores, e de veículos automóveis,
29. Nenhuma dúvida pode ser oposta quanto à exigibilidade de indemnização pelos
prejuízos sofridos pelo prédio que venha a ser onerado com servidão de passagem,
indemnização essa cujo montante haverá de ser fixado tendo em conta as regras
gerais aplicáveis à obrigação de indemnizar [Cfr. P. Lima e A. Varela, CCivil Anotado,
vol. III, 2ª ed., nota ao art. 1554º, pág. 643],
30. No entanto, o elemento legal que acompanha este tipo de servidão, na nossa
opinião encontra-se amplamente desvalorizado, no dispositivo acima descrito.
31. A M. Juiz condenou os supra identificados autores a pagarem aos proprietários do
prédio identificado no ponto 5.14, a título de indemnização pela constituição da
servidão legal estabelecida por via da ação, a quantia de € 1.080,00 (mil e oitenta
euros);
32. Mas bastou-se para tal, numa ação meramente aritmética. Quando é indubitável,
porque legalmente disposto, que deveria ter sido atribuída, nos termos gerais do
direito. Entendemos que a aritmética não chega como elemento, para fundamentar a
decisão.
33. Conforme vimos dizendo, a M. Juíz a quo, podia e devia ter ido mais longe e
esvaziando-se dos m2 que só servem para avaliar transações, deveria ter olhado para
o ónus que impôs sobre o prédio dos RR e ver que este é muito mais do que o preço
do m2.
34. É o ónus de lhe ter sido imposta a passagem de pessoas com quem não
convivem, familiares diretos com quem extremaram posições e que saberemos nós, se
algum dia se apaziguarão!
35. O ónus de saberem que aquele prédio será sempre desvalorizado face a outro nas
mesmas condições, mas sem estar onerado por servidão alguma, muito mais uma
servidão que serve (passando o pleonasmo), pessoas que não lhes merecem perdão.
36. A M. Juíz, se tivesse dado como provado tudo quanto acima se reproduziu, já
podia lançar mão de outros critérios,
37. Não se vai pagar com dinheiro, a amargura dos RR, por verem passar à sua porta
todos os dias, pessoas que um dia lhes foram queridas e que hoje nada trazem de
bom às suas vidas.
38. Só assim, só pensando no ónus para além dos m2 é que a Sentença seria
absolutamente Justa.
39. A Sentença não merece reparo, a não ser na quantia arbitrada pela M. Juiz a quo,
a título de indemnização, indemnização essa que é legalmente imposta, pela
constituição de servidões legais.
40. Violando deste modo os artigos 1550º e 1554º do Código Civil.
41. Somente dado como provados os factos acima descritos, a M. Juiz poderia servir-
nos com uma Sentença absolutamente irrepreensível e de uma justeza cabal.
42. O valor arbitrado nunca paga os males de “vidas”, porém, a ter de o ser, que seja
numa indemnização de valor nunca inferior a € 5.000,00 (cinco mil euros).
Terminam, peticionando a procedência do seu recurso, com a consequente revogação
da sentença recorrida, na parte objecto do presente recurso.

Contra-alegando, os autores pugnam pela manutenção da quantia arbitrada a título de


indemnização, com o fundamento em que a matéria de facto que se pretende seja
dada como provada, é inócua, para a respectiva quantificação e porque a quantia
atribuída se mostra justa, equilibrada e conforme com os preceitos legais aplicáveis.

Como resulta do relatório e transcrição das conclusões de recurso que antecedem, os


réus, ora recorrentes, apenas pretendem a alteração/revogação da sentença recorrida,
na parte em que se quantificou a indemnização a que os mesmos têm direito, como
consequência da constituição de uma servidão legal de passagem, a favor dos prédios
dos autores, à custa dos seus.
Alegam que se na sentença recorrida se tivesse em conta o mau relacionamento
existente entre as partes e que, mais referem, motivou a sua conduta, a indemnização
a atribuir seria mais elevada, visando compensar o facto de os réus terem que “ver
passar à sua porta”, pessoas com quem não se relacionam, com quem “andam de
mal”.
Na sequência do que, peticionam, a título de recurso da matéria de facto, que, com
base nos depoimentos que indicam, se dê como provada a matéria de facto alegada
nos artigos 17.º, 38.º e 39.º, da contestação, por a mesma ser relevante para a
quantificação da aludida indemnização.
Pelo que, a título de questão prévia, incumbe-nos averiguar da relevância de tal
matéria de facto, na decisão a proferir, sendo que, desde já se adianta, somos de
opinião, a mesma não tem qualquer reflexo na fixação da mencionada indemnização,
por não se integrar nos critérios legais a ter em consideração, como ao deante, se
procurará explicitar.
É o seguinte o teor dos artigos em referência:
“17.º
Uma vez, que àquela data dos acontecimentos, quando foi aberto o carreiro, as
relações pessoais eram profícuas, entre AA e RR, que são família,
38.º
Os RR não são, nem nunca foram má vizinhança. São pessoas de bem.
39.º
Outrossim, as relações familiares tornaram-se agrestes, tendo AA cortado relações
com os RR.”.
Como consta da sentença recorrida considerou-se como não provado o teor do artigo
17.º da contestação e não se respondeu aos demais, por se considerar tratar-se de
matéria “de direito, conclusiva, inócua para a decisão da causa ou se reconduzir a
mera impugnação”.

Os critérios conformadores da indemnização a atribuir constam do artigo 1554.º do


Código Civil e nos quais, salvo o devido respeito, não cabe a matéria alegada nos
referidos artigos da contestação, como no local próprio se assinalará, para evitar
repetições de argumentação.
Em suma, a matéria alegada é irrelevante para a quantificação da indemnização em
causa, pelo que despiciendo se torna averiguar da sua existência/veracidade.
Efectivamente, o recurso da matéria de facto só assume importância no caso de se
tratar de matéria relevante de acordo com a solução jurídica em causa, o que, reitera-
se, não se verifica no caso em apreço.
Inútil se torna apreciar o recurso de facto, na pretendida vertente, se, mesmo a provar-
se a matéria em causa, a mesma não assume qualquer relevância, à luz dos critérios
legais aplicáveis à solução sub judice.
Pelo que, face ao exposto, se rejeita o recurso, no que concerne à reapreciação da
matéria de facto.

Dispensados os vistos legais, há que decidir.


Tendo em linha de conta que nos termos do preceituado no artigo 635, n.º 4 do CPC,
as conclusões da alegação de recurso delimitam os poderes de cognição deste
Tribunal e considerando a natureza jurídica da matéria versada, a questão a decidir é
a fixação do quantitativo da indemnização a atribuir aos réus, em consequência
da constituição da servidão legal de passagem, declarada constituída na
sentença recorrida.

É a seguinte a matéria de facto dada por provada na decisão recorrida:


5.1 – Existe um prédio composto de casa de habitação de rés-do-chão e andar, com
logradouro, com a superfície coberta de 52 m2 e descoberta de 140 m2, sito no lugar
de Ribeirinha, freguesia de Espadanedo concelho de Cinfães, a confrontar por todos
os lados com herdeiros de M (...) , não descrito na Conservatória do Registo Predial,
inscrito na matriz urbana respetiva sob o artigo nº 767, aí constando como titular do
direito ao respetivo rendimento a autora A... (artigo 1º da petição inicial);
5.2 – Existe um prédio composto de terra lavradia e pastagem, denominada
“Ribeirinha”, sito nos mesmos lugar, freguesia e comarca do prédio mencionado no
artigo anterior, com a área de 4373 m2, a confrontar pelo norte com B... , pelo
nascente com R (...) , pelo sul com C... e pelo poente com Dr. MC(...) , descrito na
Conservatória do Registo Predial de Cinfães sob o nº 750 da dita freguesia, aí se
mostrando registada a sua aquisição em benefício da autora A... por divisão de coisa
comum e mediante a ap. 2 de 2008/08/12, inscrito na matriz respetiva sob o artigo nº
1060 (artigo 1º da petição inicial);
5.3 - Tais prédios foram adquiridos pela autora A... , o primeiro por escritura pública de
habilitação, partilha e doação, outorgada no Cartório Notarial de Cinfães, no dia
5/9/2003, e o segundo por escritura pública de divisão de coisa comum, outorgada no
Cartório Notarial de Cinfães, a 30/6/2008 (artigos 2º e 86º da petição inicial);
5.4 – Existe um prédio composto por terra lavradia, denominada “Ribeirinha”, sito nos
mesmos lugar de Ribeirinha, freguesia de Espadanedo, com a área de 4367 m2, a
confrontar pelo norte e poente com Dr. MC(...) , pelo nascente com R (...) e pelo sul
com A... , descrito na Conservatória do Registo Predial de Cinfães sob o n º 670 da
dita freguesia, aí se mostrando registada a sua aquisição a favor da autora B... , por
divisão de coisa comum mediante a ap. 4 de 2008/08/12, prédio esse que se mostra
inscrito na matriz respetiva sob o artigo nº 1061, prédio que dispõe de uma antiga casa
de apoio agrícola, que se acha hoje restaurada e remodelada, e que é usada como
casa de habitação, embora tal não conste dos ditos documentos (artigo 3º da petição
inicial);
5.5 – Tal prédio foi adquirido pela autora B... por meio de escritura pública de divisão
de coisa comum, celebrada no Cartório Notarial de Cinfães a 30/6/2008 (artigos 4º e
86º da petição inicial);
5.6 – Existe um prédio composto por casa, que antes era de arrumos com corte e
logradouro, mas que se acha hoje restaurada e remodelada, e que é usada como casa
de habitação, com a superfície coberta de 60 m2 e descoberta de 180 m2, que é
denominado “Casa da Eira”, ou “Meio Afonso”, sita no lugar de Ribeirinha, freguesia de
Espadanedo, concelho de Cinfães, a confrontar pelo norte, sul e poente com herdeiros
de M (...) e pelo nascente com herdeiros de M (...) e caminho, não descrito na
Conservatória do Registo Predial de Cinfães mas inscrito na matriz rústica respetiva
sob o artigo nº 967 (artigo 5º da petição inicial);
5.7 - Tal prédio foi adquirido pelo autor C... por meio de escritura pública de
habilitação, partilha e doação, outorgada no Cartório Notarial de Cinfães, no dia
5/9/2003 (artigos 6º e 86º da petição inicial);
5.8 – Existe um prédio composto de terra lavradia denominada “Terra da Mó ou Meio
Afonso”, sito em Ribeirinha, Espadanedo, Cinfães, com a área de 4360 m2, a
confrontar pelo norte com A... , pelo nascente com R (...) e outro, e pelo sul e poente
com M T(...) , descrito na Conservatória do Registo Predial de Cinfães sob o n º 751
da dita freguesia, aí se mostrando a respetiva aquisição por divisão de coisa comum
registada a favor do autor C... mediante a ap. 3 de 2008/08/12, inscrito na respetiva
matriz sob o artigo nº 1059 (artigo 7º da petição inicial);
5.9 – Tal prédio foi adquirido pelo autor C... por meio de escritura pública de divisão de
coisa comum, celebrada no Cartório Notarial de Cinfães 30/6/2008 (artigo 8º da
petição inicial);
5.10 – Os autores, por si e por seus antepossuidores, desde há mais de 40 anos vêm
utilizando, respetivamente cada um de per si, os referidos prédios, deles colhendo e
retirando todos os frutos, produtos e todas as utilidades suscetíveis de aí serem
proporcionadas, praticando todos os atos necessários à sua conservação,
amanhando-os e neles semeando, plantando, colhendo e produzindo todos os
produtos da região, nomeadamente: batatas, cebolas, feijão, fruta (especialmente
citrinos), milho e vinho, ou utilizando-os como apoio às suas atividades agrícolas, isto
por referência aos terrenos e respetivos cómodos, e, em relação às casas: lá
guardando haveres, dormindo, confecionando e tomando as suas refeições, tratando
das roupas, recebendo os seus amigos e familiares, ou utilizando-as para fins
complementares da agricultura, e, quanto a todos os prédios, fazendo neles obras e
pagando as respetivas contribuições e impostos, na séria convicção de que esses
seus prédios, acima referidos, eram e são propriedade exclusiva sua (artigo 11º da
petição inicial);
5.11 – Tais atos são praticados pelos autores e seus antecessores à vista e com o
conhecimento de toda a gente e sem oposição nem impedimento de quem quer que
seja, e de modo ininterrupto há mais de 40 anos, na séria convicção de não estarem a
lesar quaisquer direitos de outrem e com intenção de adquirirem, manterem e
exercerem verdadeiros direitos de propriedade sobre os mesmos prédios (artigos 12º,
13º, 14º e 15º da petição inicial);
5.12 - A autora A... habita na sua descrita casa a todo o tempo e durante todo o ano, e
nela mantém a sua residência habitual e permanente, aí centrando toda a sua vida
doméstica, pernoitando, cozinhando, guardando aí os seus haveres e recebendo
familiares e amigos (artigo 16º da petição inicial);
5.13 – Os autores B... e C... , por sua vez, habitam, respetivamente, nas suas
descritas casas apenas esporadicamente, já que nelas passam os seus fins de
semana, feriados, férias e tempos livres, e nelas mantêm, portanto, segundas
residências, ou de férias, embora aí centrem, quando lá se encontram, ainda assim
com muita assiduidade, toda a sua vida doméstica, pernoitando, cozinhando,
guardando aí os seus haveres e recebendo familiares e amigos (artigo 17º da petição
inicial);
5.14 – Existe um prédio composto de terra lavradia, com vinha e pastagem
denominada “Mó”, sita no lugar do seu nome, na dita freguesia de Espadanedo,
Cinfães, com a área aproximada de 9000 m2, constando a confrontar do norte com
herdeiros de M V(...) , do nascente e sul com A (...) e do poente com M (...) , não
descrito na Conservatória do Registo Predial de Cinfães, inscrito na matriz rústica sob
o artigo 343, constando da respetiva caderneta predial rústica que o titular do respetivo
direito ao rendimento é E... (artigos 18º da petição inicial e 34º da réplica);
5.15 - Os réus D... e marido, E... , adquiriram o prédio referido em 5.14 por compras
celebradas por escrituras públicas outorgadas em 29 de março de 1976, cujas cópias
constam de fls 157 e ss dos autos (artigos 19º e 20º da petição inicial e artigo 4º da
contestação, artigos 5º, 6º, 7º e 8º da réplica);
5.16 – Existe um prédio composto de casa de habitação com terreno envolvente, o
qual se encontra ainda apenas descrito como terreno para construção, sito em
Meijoadas, Espadanedo, Cinfães, denominado Mó, ou “Mozes”, com a área de 2070
m2, a confrontar do norte com D... , do Nascente e sul com caminho e do poente com
O (...) , não descrito na Conservatória do Registo Predial de Cinfães, atualmente
inscrito na respetiva matriz urbana sob o artigo 915º, embora antes correspondesse ao
artigo rústico 1001º, constando da respetiva caderneta predial urbana como titular do
direito ao respetivo rendimento F... (artigo 22º da petição inicial e 34º da réplica);
5.17 –Tal prédio foi adquirido pelos réus F... e mulher, G... , por meio de escritura
pública denominada “Justificação e Doação”, com o teor constante de fls 110 e ss
(artigo 23º da petição inicial e artigo 8º da réplica);
5.18 – Por si e por seus antecessores, desde há mais de 40 anos, os réus vêm
possuindo, respetivamente, os prédios, supra identificados, deles colhendo e retirando
todos os frutos, produtos e utilidades suscetíveis de aí serem proporcionadas,
praticando
todos os atos necessários à sua conservação, amanhando-os, e neles plantando,
semeando, colhendo e produzindo batatas, feijão, cebolas, milho e vinho, quanto ao
rústico, e, em relação ao urbano, construindo a casa de habitação que no respetivo
terreno foi implantada, e lá dormindo, confecionando e tomando as suas refeições,
tratando das roupas, recebendo os seus amigos e familiares, fazendo obras, de ambos
pagando as respetivas contribuições e impostos, na séria convicção de que esses
seus prédios, acima referidos, eram e são propriedade exclusiva sua, o que ocorre à
vista e com o conhecimento de toda a gente e sem oposição nem impedimento de
quem quer que seja (artigos 25º, 26º, 27º e 28º da petição inicial);
5.19 – Os réus agem como descrito no artigo anterior na séria convicção de não
estarem a lesar quaisquer direitos de outrem, e com firme e séria intenção de
adquirirem, conservarem e praticarem um verdadeiro direito de propriedade (artigo 29º
da petição inicial);
5.20 - Todos os prédios atrás descritos, dos autores e dos réus, são entre si próximos
e vizinhos e situam-se na encosta da margem esquerda do Rio Douro, em local de
forte inclinação (artigo 30º da petição inicial);
5.21 - O prédio dos segundos réus, sendo constituído por uma parcela de terreno onde
foi implantada uma casa, foi aos mesmos doado pelos primeiros réus, seus pais e
sogros, e foi destacado e retirado do prédio destes denominado Mó, que estes haviam
adquirido por compra a António Alves Carneiro e mulher (artigo 31º da petição inicial);
5.22 – Por força do descrito no artigo anterior, o prédio original denominado Mó foi
assim desmembrado, de que resultaram duas parcelas, uma de maiores dimensões,
que continuou a pertencer aos primeiros réus, e outra, a dos segundos réus, não
sendo discernível, a partir do seu exterior, a demarcação entre ambos (artigo 32º da
petição inicial);
5.23 – Da caderneta predial do prédio inscrito na matriz urbana da freguesia de
Espadanedo sob o artigo 915º consta que o mesmo, do sul e do nascente, confronta
com caminho (artigo 33º da petição inicial);
5.24 – Pelo prédio dos réus E... e D... mostra-se estabelecida uma passagem, com
inclinação elevada, que liga as localidades de Ribeirinha e Meijoadas a Espio e
Saímes, na freguesia de Espadanedo, provindo de poente, da freguesia de Souselo e
tendo continuidade, para nascente, para a freguesia de Tarouquela, fazendo ligação,
em vários pontos, com outros caminhos, que está cartografada e catalogada em carta
militar (artigos 34º e 35º da petição inicial e 9º da contestação e 27º da réplica);
5.25 – Há mais de 50 anos que, pelo menos os autores e seus antecessores,
utilizavam tal passagem, por ali transitando a pé, levando ou não consigo animais,
soltos, à mão ou à corda, sendo o seu leito constituído por uma faixa de terreno de
chão de terra batida, ou lajeada de pedra em certos locais, cotiada e definida no solo,
perfeitamente delimitada e distinta das demais propriedades circundantes e destinada,
permanentemente, a servir para tal passagem (artigos 36º, 38º e 95º da petição
inicial);
5.26 – Tal passagem tem a orientação genérica de poente para nascente em direção
aos prédios dos autores mas bifurca pouco depois da casa dos segundos réus e ao
atravessar o prédio dos réus E... e D... , seguindo em frente um ramal do mesmo com
direção a umas casas aí existentes, e nascendo aí, à esquerda da referida orientação,
um outro ramal com o sentido de sudoeste para nordeste, o qual vence o declive em
rampa, dirigido aos prédios dos autores, que antigamente era mais estreito que
permitia apenas, anteriormente a 1979, a passagem de pessoas a pé, embora também
com gados e carregos, mas que não consentia a passagem de veículos, por causa
das suas dimensões nessa parte (artigos 39º da petição inicial e 10º da contestação);
5.27 - Há mais de 50 anos, que os autores e seus antecessores, sempre que
necessitavam ou queriam ir e vir da sua residência/prédios passavam e seguiam a pé
posto, com ou sem animais, soltos, à mão ou à corda, de vazio ou com carregos, e a
partir de 1979/1980 também com carros de bois e tratores, através da aludida
passagem, atravessando por meio dele os prédios dos réus E... e D... numa distância
global de cerca de 120 metros, sempre para acederem aos seus prédios, bem como
para transportarem produtos agrícolas como batatas, milho e uvas, assim como
materiais de construção e reparação das casas e dos socalcos integrados nos
terrenos (artigos 40º, 41º, 66º e 94º da petição inicial);
5.28 – No âmbito de diversas obras efetuadas e custeadas pelas autarquias nas
estradas municipais e caminhos da região, sobretudo após a revolução de 25 de abril
de 1974, um troço da via pública situada próximo da passagem em apreço, em local e
medida que não foi possível precisar, foi intervencionado, tendo sito alterada a
respetiva cota de altitude, que baixou (artigo 42º da petição inicial);
5.29 – Em data que não foi possível apurar, próxima de 1980, os autores e seus
antecessores, e os réus, aproveitando o rebaixamento da cota da passagem atrás
referida, procederam, com a colaboração da Junta de Freguesia de então, também ao
seu alargamento, na sua parte mais estreita, por forma a permitir o acesso também
com carros de bois e tratores até às casas e prédios que hoje são dos autores, acesso
esse que se passou, desde então, a fazer com tais veículos (artigos 45º e 46º da
petição inicial);
5.30 - Pelo que os autores e seus antecessores passaram a beneficiar, desde a
referida data, do alargamento do troço final dessa passagem, à custa do terreno dos
réus E... e D... e dos seus antecessores, ali passando desde então e até 2012, sempre
que necessitavam, com tratores e carros de bois, fazendo-o (os autores e seus
antecessores) à vista e com o conhecimento de toda a gente, sem oposição de
ninguém, na convicção e com a intenção de exercerem um direito de passagem que
legalmente lhes assistia, sem lesarem direitos de outrem, a todo o tempo e durante
todo o ano, e ininterruptamente ao longo de todos os anos desde então e até 2012
(artigos 47º e 48º da petição inicial);
5.31 – Foi por aí que passaram, conduzidos por veículos, todos os materiais
destinados às diversas obras que foram realizadas nas várias casas existentes nos
prédios dos autores (artigo 49º da petição inicial);
5.32 - Aliás, os prédios dos autores não dispõem de outro acesso à rede viária pública
da freguesia de Espadanedo (artigos 50º, 75º, 87º da petição inicial);
5.33 - Entretanto, e já posteriormente às intervenções supra mencionadas, as
autarquias procederam a novas obras na via pública, na zona envolvente dos prédios
dos réus e foi então asfaltado o seu leito até um largo mais amplo, situado próximo da
casa dos segundos réus, largo esse aí criado pelas mesmas autarquias e que serve
primordialmente para facilitar manobras de veículos (artigo 51º da petição inicial);
5.34 - Nessa parte asfaltada, e fruto dos melhoramentos efetuados e pagos pelas
autarquias responsáveis, sempre sem oposição dos proprietários confinantes da via,
passam hoje, facilmente, todos e quaisquer veículos automóveis pertencentes ao
público em geral, ligeiros e pesados, para além de pessoas, animais, carros de bois e
tratores, e a via, nessa parte (artigo 52º da petição inicial);
5.35 – Iniciando-se a seguir a esse largo a referida passagem, em terra batida, no
sentido de poente para nascente, ou seja na direção dos prédios dos autores, mas
imediatamente antes de bifurcar, como antes ficou descrito (artigo 53º da petição
inicial);
5.36 - Tal passagem, após o mencionado largo, na parte que ainda se acha em terra
batida, está implantada nos prédios dos réus E... e D... (artigo 54º da petição inicial);
5.37 – Na linha do leito de tal passagem, para além do mencionado largo, e já depois
do início dos prédios dos réus, foi implantado pela E.D.P. um poste de iluminação
pública (artigo 55º da petição inicial);
5.38 - Em conjugação com os melhoramentos atrás referidos, no ano 2000, os autores
e os seus antecessores e os réus combinaram entre si procederem às obras
necessárias em parte da dita passagem, no interior dos prédios dos réus, para que
esta passasse a consentir, até aos prédios e casas dos autores, o trânsito também de
veículos automóveis de passageiros e de mercadorias, tendo procedido ao seu
alargamento, e à regularização e nivelamento do piso (artigos 56º e 58º da petição
inicial);
5.39 – Os réus fizeram essa obra, tendo desbravado e terraplanado o leito da
passagem, utilizando máquinas emprestadas por um empregador do réu F... , mas
também com a participação dos autores, e no interesse destes, tendo H...(...) , pai da
autora B... , contribuído para a mesma com a quantia de 40.000$00 (quarenta contos),
que entregou ao 2 º réu-marido (artigos 57º da petição inicial e 9º e 13º e 27º, 31º da
contestação);
5.40 - Desde esse ano de 2000 e até ao ano de 2012, os autores e quem os
representava, passaram na referida passagem e até às casas e prédios dos autores
com veículos automóveis, incluindo ligeiros de passageiros, e pesados, sendo que nas
épocas de maior pluviosidade, a passagem de tais veículos se fazia com mais
dificuldade, devido à inclinação com que a passagem ainda assim ficou, e à
circunstância de o mesmo ser ainda em terra batida (artigo 59º da petição inicial);
5.41 - Em junho de 2012, os réus colocaram ou mandaram colocar dois pilares de
madeira, cada um em sua berma da dita passagem, unidos por um cabo de aço e por
um cadeado que impede a livre circulação pelos autores, especialmente com veículos,
pilares esses que se situam a cerca de dois metros do local da transição do alcatrão
para a terra batida, mas para o lado desta (artigos 60º da petição inicial e 40º da
contestação);
5.42 – Previamente à colocação de tais pilares, os réus transmitiram a pessoa que
queria passar com um camião, a mando dos autores, que apenas por ali passariam
com ordem expressa dos réus (artigo 60º da contestação);
5.43 - Na sequência do descrito no artigo anterior, foi apresentado nos serviços da
Junta de Freguesia de Espadanedo um documento denominado “petição pública”,
dirigido ao Presidente da Junta de Freguesia de Espadanedo, do qual consta, além do
mais aí exarado: “As pessoas abaixo mencionadas vêm junto de V. Exª com esta
petição solicitar que tome as devidas providências, no sentido de repor aberto um
caminho para o lugar de Ribeirinha, entretanto obstruído por alguns proprietários de
lugares próximos (…)”, no qual se mostram apostas as assinaturas constantes de fls
117 a 120, 124 a 126, uma das quais respeita a pessoa menor de idade (artigos 61º
da petição inicial e 52º da contestação e 24º da réplica);
5.44 - Os réus, desde junho de 2012, negam o direito dos autores de transitarem na
passagem em questão com veículos, e procederam à lavoura de uma sua leira com a
mesma confinante, levando o arado a ocupar já parte do leito deste último, apenas
respeitando um estreito carreiro que tão só permite a passagem de pessoas a pé
(artigos 63º e 95º da petição inicial e 30º da réplica);
5.45 – Por força da atuação dos réus, desde junho de 2012 e até à data presente que
a passagem com veículos se mostra obstruída para os autores, por ali continuando a
processar-se a passagem a pé (artigos 64º, 71º, 90º da petição inicial e 44º da
contestação e 29º, 36º da réplica);
5.46 - Apenas o autor C... , por ter necessitado de proceder a algumas obras no seu
prédio, comunicou, por escrito aos réus que necessitaria de passar com máquinas
pesadas e materiais na referida passagem, durante o verão do ano de 2013 (artigo 65º
da petição inicial e artigos 66º, 67º e 68º da contestação e 26º, 28º, 31º, 32º, 33º da
réplica);
5.47 – O trânsito que os autores e seus antecessores efetuavam pela passagem em
questão era feita de dia ou de noite, a qualquer hora, à vista de toda a gente e com
conhecimento geral, atuando aqueles com a convicção de passarem por direito
próprio, sem qualquer oposição, incluindo dos réus até junho de 2012 (artigos 68º, 69º,
70º da petição inicial);
5.48 – Desde junho de 2012 que os autores, por força da obstrução da passagem
acima referida, têm maior dificuldade no aproveitamento agrícola dos seus prédios
(artigos 77º e 83º da petição inicial);
5.49 - Também o transporte de compras, de víveres, de materiais, e de toda a sorte de
bens para as casas dos autores, acarretou e continuará a acarretar um dispêndio
acrescido de esforço humano e de tempo (artigos 79º e 83ºda petição inicial);
5.50 – Com o comportamento dos réus, os autores sentiram-se afrontados, magoados,
tristes, abatidos, ofendidos e desgostosos, especialmente a primeira autora, que
reside no local permanentemente, e é pessoa doente e já idosa (artigos 81º e 83º da
petição inicial);
5.51 – A autora A... nasceu no dia 29 de outubro de 1951, padece de várias
enfermidades graves (artigos 93º da petição inicial e 16º da contestação);
5.52 – Depois de abandonar os limites dos prédios dos réus E... e D... , a dita
passagem prolonga-se pelos terrenos dos autores, e até às casas destes,
desdobrando-se, aí em pequenos ramais, para permitir acesso a todos os cómodos
dos mesmos prédios dos autores (artigo 96º da petição inicial);
5.53 – O prédio dos réus E... e D... encontra-se afetado a cultura, resultando do Plano
Diretor Municipal a respetiva afetação a “áreas agrícolas”, tendo um valor de € 3,35 o
m2 (relatório pericial de fls 218).
*
6. Factos não provados
Os alegados nos artigos:
- 37º, 43º 62º, 67º, 72º, 78º da petição inicial;
- 11º, 12º, 14º, 15º, 17º, 18, 19º, 20º, 21º, 28º, 29º, 30º, 32º, 33º, 33º, 34º, 35º, 36º, 41º,
42º, 43º, 46º, 47º, 48º, 49º, 50º, 51º, 53º, 54º, 57º, 58º, 59º, 61º, 62º, 63º, 64º, 65º, 82º,
83º, 84º, 87º, 88º, 89º, 90º da contestação;
- 16º, 17º, 18º, 19º, 20º, 21º, 23º da réplica;
*
Não se responde à matéria alegada nos artigos
- 9º, 10º, 21º, 24º, 44º, 73º, 74º, 80º, 82º, 84º, 85, 88º, 89º, 91º, 92º, 97º, 98º, 99º, 100º,
101º, 102º, 103º e 104º da petição inicial;
- 1º, 2º, 3º, 5º, 6º, 7º, 8º, 22º, 23º, 24º, 25º, 26º, 37º, 38º, 39º, 45º, 55º, 56º, 69º, 70º,
71º, 72º, 73º, 74º, 75º, 76º, 77º, 78º, 79º, 80º, 81º, 86º, 91º, 92º, 93ºda contestação;
- 1º, 2º, 3º, 4º, 9º, 10º, 11º, 12º, 13º, 14º, 15º, 22º, 25º, 35º, 37º, 38º, 39º, 40º, 41º, 42º,
43º, 44º, 45º, 46º, 47º da réplica;
Por ser de direito, conclusiva, inócua para a decisão da causa ou se reconduzir a mera
impugnação.

Quantitativo da indemnização a atribuir aos réus, em consequência da


constituição da servidão legal de passagem, declarada constituída na sentença
recorrida.
Como acima já referido, os réus, ora recorrentes, apenas se insurgem contra a
sentença recorrida, na parte em que, nesta, se fixou a indemnização ora em apreço,
na quantia de 1.080,00 €, considerando que deve ser arbitrada a quantia de 5.000,00
€, com o fundamento em que se encontram de relações cortadas com os autores e
têm de os ver a passar na serventia em causa, o que lhes causa sofrimento.
Na sentença recorrida, atribuiu-se, a tal título, a quantia de 1.080,00 €, com base na
fundamentação que se segue:
“8.11 – “Pela constituição da servidão de passagem é devida indemnização
correspondente ao incómodo sofrido” – artigo 1554º CC. Tal indemnização,
correspondente ao prejuízo sofrido, decorre de facto lícito, devendo ser atendidas no
seu cálculo as regras gerais – cfr. artigos 552º CC e Ac RL de 5/5/201624
24 Proferido no processo nº 314/10.1TCFUN.L2-2, disponível em www.dgsi.pt
A servidão, em face da factualidade apurada será estabelecida para um comprimento
de 120 metros e uma largura de 3, adequada ao trânsito de veículos automóveis.
Sendo inequívoco que a constituição de servidão de passagem gera uma
desvalorização do valor da propriedade, julgamos que a indemnização a fixar não
deve efetuar uma ponderação puramente aritmética do valor atribuído ao metro do
terreno dos réus, nos termos seguintes: (120mx3m)x€3,35. Efetivamente, não está em
causa a venda da faixa de terreno por onde se vai estabelecer a servidão, mas apenas
a sua oneração. Certo é que a constituição da servidão legal de passagem
determinará que também os réus a utilizem para o trânsito no respetivo prédio, o que
também terá que ser ponderado no valor indemnizatório a fixar. Assim, julga-se
adequado atribuir ao m2 de terreno que ficará onerado com a servidão o valor de €
3,00. Consequentemente, por estar em causa uma área de 360 m2, fixa-se a
indemnização a pagar pelos autores aos réus E... e D... em € 1.080,00.”.

Ora, nos termos do artigo 1554.º do Código Civil:


“Pela constituição da servidão de passagem é devida a indemnização correspondente
ao prejuízo sofrido.”.
Como referem P. de Lima e A. Varela, in Código Civil Anotado, Vol. III, 2.ª Edição
Revista e Actualizada (Reimpressão), Coimbra Editora, 1987, a pág.s 643 e 644, trata-
se de um dos casos em que é devida indemnização, ainda que pela prática de acto
lícito, para fixação de cujo montante valem as regras gerais aplicáveis à obrigação de
indemnizar, abrangendo o dano a considerar tanto o dano emergente como os lucros
cessantes do proprietário do prédio onerado e que abarcam tanto os prejuízos
resultantes da constituição, como os provenientes do exercício da servidão mas,
deixando de fora, não cobrindo, as vantagens ou lucros obtidos pelo proprietário do
prédio dominante com a constituição da servidão.
Como ensinava David Augusto Fernandes, in Lições de Direito Civil (Direitos Reais),
4.ª Edição, Coimbra Editora, 1958, a pág. 369, “só os prejuízos do prédio serviente, a
sua menor valia, devem ser considerados na fixação da indemnização” e em que se
deve integrar “a natural desvalorização do terreno”, causada pela declaração de
constituição da servidão de passagem, mas sem que se compreenda “a transformação
dum encargo num negócio lucrativo”.
Efectivamente, da declaração de constituição de uma servidão de passagem sobre um
prédio, quase, automaticamente, deriva a desvalorização deste, em comparação com
um outro sobre que não seja imposto tal ónus – neste sentido, também, o Acórdão da
Relação do Porto de 03/07/2012, Processo 3696/09.4T2OVR.C1.P1, disponível no
respectivo sítio do itij.
Este condicionalismo foi tido em conta na decisão recorrida, como acima transcrito.
Será que também o facto de as pessoas que são proprietárias dos prédios dominantes
estarem de relações cortadas com os proprietários dos prédios servientes, deve ser
considerado na fixação/quantificação da indemnização a atribuir?
Em teoria, nada afasta a ressarcibilidade dos danos não patrimoniais em casos de
responsabilidade por factos lícitos – cf. Almeida Costa, in Direito das Obrigações, 10.ª
Edição, Almedina, pág. 603.
Efectivamente, alegado e provado que da constituição e/ou exercício do direito de
servidão, derivam perturbações do sossego, descanso, tranquilidade dos proprietários
dos prédios servientes, nada afasta a possibilidade de tais danos serem passíveis de
indemnização.
Mas, in casu, apenas é referido que, não obstante as relações entre as ora partes já
terem sido profícuas, boas, autores e réus estão de relações cortadas, que os réus
não são nem nunca foram má vizinhança e que são pessoas de bem, pelo que
constitui um sacrifício para estes, verem os autores a usufruírem da servidão em
causa.
Nos termos do disposto no seu artigo 496, n.º 1,“Na fixação da indemnização deve
atender-se aos danos não patrimoniais que, pela sua gravidade, mereçam a tutela do
direito”.
Como se colhe do Acórdão do STJ, de 26/6/91, in BMJ 408 – 538, a gravidade do
dano mede-se por um padrão objectivo, tendo em conta as circunstâncias do caso
concreto, sem ater a personalidades de sensibilidade exacerbada e a apreciar em
função da tutela do direito.
Ora, tendo em conta estes critérios e o que, em especial, para a indemnização em
causa, se acha previsto no supra citado artigo 1554.º, somos de opinião que estes
danos – situação de um mau relacionamento entre os proprietários dos prédios
dominantes e servientes – não influem na quantificação da indemnização a atribuir.
Como acima referido, os danos a considerar são os resultantes da constituição da
servidão e os provenientes do seu exercício, independentemente do proprietário do
prédio dominante ser ou não do agrado do proprietário do prédio/prédios serviente(s).
Consequentemente, não vemos motivos, para alterar o montante da indemnização
fixada, atento a que as razões invocadas são apenas as acima referidas, que não
cabem nos critérios legalmente, para tal, definidos.
Assim, improcede o recurso.
Nestes termos se decide:
Julgar improcedente o presente recurso de apelação, em função do que se mantém a
decisão recorrida.
Custas pelos apelantes.
Coimbra, 04 de Abril de 2017.

Relator:
Arlindo Oliveira
Adjuntos:
1º - Emidio Francisco Santos
2º - Catarina Gonçalves

6417/16.1T8LSB.E1.S1

Nº Convencional:1.ª SECÇÃORelator:JORGE DIASDescritores:SERVIDÃO


ADMINISTRATIVA
CÁLCULO DA INDEMNIZAÇÃO
DANOS PATRIMONIAIS
INSTALAÇÕES ELÉCTRICAS
BAIXA DO PROCESSO AO TRIBUNAL RECORRIDO
AMPLIAÇÃO DA MATÉRIA DE FACTO
PODERES DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Data do
Acordão:29/03/2022Votação:UNANIMIDADETexto Integral:SPrivacidade:1 Meio
Processual:REVISTADecisão:CONCEDIDA PARCIALMENTE A REVISTA.
ORDENA-SE A BAIXA AO TRIBUNAL DA RELAÇÃO PARA AMPLIAÇÃO DA
MATÉRIA DE FACTOIndicações Eventuais:TRANSITADO EM JULGADO
Sumário :
I - Uma servidão administrativa só impõe indemnização ao onerado nos casos
previstos na lei e, a lei prevê o direito a indemnização em caso como o dos autos, de
construção de linha elétrica e atravessamento do prédio pela mesma.

II - O art.37º do Decreto nº 43335 de 19 de Novembro de 1960 prevê o direito a


indemnização pelos prejuízos resultantes da construção de linhas elétricas
abrangendo não só os prejuízos resultantes da própria construção (prejuízos diretos
advindos do ato de construção) mas também por todos os prejuízos atuais ou futuros
resultantes da diminuição do valor do prédio derivados da construção ou passagem de
linhas elétricas.

III - A instalação da linha elétrica e colocação do poste na propriedade da autora


desvalorizou o prédio, o que é um dano patrimonial quantificável e indemnizável.

IV - Para obter a justa indemnização há que apurar a diferença entre a situação


patrimonial real antes da constituição da servidão administrativa e a situação que
resultou dessa constituição, ou seja, apurar o correspondente à desvalorização do
bem em consequência da constituição da servidão.

V - O STJ pode, ao abrigo dos n.ºs 2 e 3 do art. 682º do CPC, ordenar ex officio a
ampliação da matéria de facto se existirem factos (principais, complementares e
instrumentais) alegados e contra-alegados de manifesta relevância, carecidos de
investigação, em ordem a constituir base suficiente para a decisão de direito.

Decisão Texto Integral:

Acordam no Supremo Tribunal de Justiça, 1ª Secção Cível.

I. AA, intentou a presente Acção Declarativa, sob a forma de Processo Comum, contra
EDP Distribuição - Energia, S.A., formulando os seguintes pedidos:

a) Ser a R. condenada a pagar à A. a quantia de 120.000,00 euros (cento e vinte mil


euros), a título de compensação/indemnização pela desvalorização do valor de
mercado da “propriedade” da A. (identificada no artigo 1.° da p.i.), decorrente do
atravessamento aéreo sobre a mesma, da Linha eléctrica dos autos (Linha Aérea a 60
KV com 20265 m - LI60-134 P… … - … II a partir da Substação de P… … (SE60-604);
na(s) freguesias de ..., ..., ..., ..., concelho de ..., …), e pela instalação de um poste de
condução de electricidade de Alta Tensão também na sua “propriedade" (apoio n.°
22), acrescido de juros mora, civis, calculados à taxa legal, e contados desde 01 de
Janeiro de 2000 até efectivo e integral pagamento, que, nesta data, ascendem a
89.612,056 (oitenta e nove mil seiscentos e doze euros e cinco cêntimos);

Em alternativa,

b) Deve a R. condenada a pagar à A. a quantia de 120.000,00 euros (cento e vinte mil


euros), a título de indemnização pela constituição de uma servidão administrativa na
“propriedade" da A., melhor identificada no artigo l.° da p.i., decorrente do
atravessamento da Linha eléctrica dos autos (Linha Aérea a 60 KV com 20265 m -
LI60-134 P… - … 11 a partir da Substação de P… (SE60-604); na(s) freguesias
de ..., ..., ..., …, concelho de ..., …) e pela instalação de um poste de condução de
electricidade de Alta Tensão nesta mesma “propriedade ” (apoio n. ° 22), acrescido de
juros mora, civis, calculados à taxa legal, até efectivo e integral pagamento, que, nesta
data, ascendem a 89.612,056 (oitenta e nove mil seiscentos e doze euros e cinco
cêntimos);

Em alternativa,

c) Ser a R. condenada a pagar à A. a quantia de 120.000,00 euros (cento e vinte mil


euros), a título de indemnização pela violação dos seus direitos de personalidade,
designadamente, direito à saúde, ao sossego, e ao repouso e ainda da violação do
seu direito de propriedade, tudo decorrente do atravessamento aéreo sobre a mesma,
da Linha eléctrica dos autos (Linha Aérea a 60 KV com 20265 m - LI60- 134 P…. - …
II a partir da Substação de P… (SE60-604); na(s) freguesias de ..., ..., ..., …, concelho
de ..., …), e pela instalação de um poste de condução de electricidade de Alta Tensão
também na sua “propriedade” (apoio n.° 22), acrescido de juros mora, civis, calculados
à taxa legal, e contados desde 01 de Janeiro de 2000 até efectivo e integral
pagamento, que, nesta data, ascendem a 89.612,056 (oitenta e nove mil seiscentos e
doze euros e cinco cêntimos);

Em alternativa,
d) Deve a R. ser condenada a pagar à A. a quantia de 120.000,00 euros (cento e vinte
mil euros), a títido de enriquecimento sem causa, que resulta do lucro que a R. obtém
pelo atravessamento, na “propriedade” da A., da Linha aérea a 60 KV com 20265 m -
L160-134 P… - … II a partir da Substação de P… (SE60-604); na(s) freguesias
de ..., ..., ..., …, concelho de ..., …, e pela instalação de um poste de condução
também na sua propriedade (apoio n.° 22), acrescido de juros mora, civis, calculados à
taxa legal, e contados desde 01 de Janeiro de 2000 até efectivo e integral pagamento,
que, nesta data, ascendem a 89.612,056 (oitenta e nove mil seiscentos e doze euros e
cinco cêntimos.

Alegou para o efeito, em síntese, que foi implantada na sua propriedade uma linha de
alta tensão (e postes que a suportam) do serviço de electricidade que se encontra
concessionado à R., e que tal linha prejudica a fruição da propriedade, causando
ruído, provocando dor de cabeça e sendo potencialmente lesiva da saúde, tendo
deixado, tal como a sua família, de frequentar a propriedade, à qual antigamente se
deslocavam com grande frequência.

Considerando existir uma desvalorização do imóvel, pretende ser ressarcida dos


danos que para si decorrem dessa conduta da R..

A Ré deduziu Contestação, alegando, a título de excepção, a incompetência absoluta


do tribunal e a prescrição do direito da demandante.

Quanto ao fundo da causa, sustentou que a instalação elétrica em causa cumpre com
todos os requisitos legais relativos à exploração de linhas como aquela a que os autos
se referem. Mais alegou que correu, aquando da instalação da linha, um processo
público, com consulta e possibilidade de reclamação, não tendo existido qualquer
reclamação no âmbito desse procedimento. Ademais, outros proprietários também têm
as suas terras atravessadas por esta linha, não tendo igualmente reclamado de tal
circunstância.

Mais salientou que a A. foi indemnizada pela implantação da linha e colocação de


postes no seu terreno, não lhe assistindo direito de receber qualquer outra quantia.

Impugnou os danos alegados pela demandante e concluiu pela improcedência da


ação.

A Autora deduziu Resposta, pugnando pela improcedência das excepções.

A Autora veio ampliar o seu pedido, no sentido de que o mesmo abrangesse a quantia
de €200.000 pela desvalorização do seu imóvel e € 120.000 por lesão dos seus
direitos de personalidade, passando o pedido a ter os seguintes termos:

a) Ser a R. condenada a pagar à A. a quantia de 200.000,00€ (duzentos mil euros), a


título de compensação / indemnização pela desvalorização do valor de mercado da
“propriedade” da A. (identificada no artigo l.° desta p.i.), decorrente do atravessamento
aéreo sobre a mesma, da Linha eléctrica dos autos (Linha Aérea a 60 KV com 20265m
- LI60-134 P… - … II a partir da Substação de P… (SE60-604); na(s) freguesias
de ..., ..., ..., …, concelho de ..., …), e pela instalação de um poste de condução de
electricidade de Alta Tensão também na sua "propriedade" (apoio n.° 22), acrescido de
juros vencidos e vincendos, calculados à taxa legal em vigor, e contados desde 01 de
Janeiro de 2000 até efectivo e integral pagamento.
b) Ser a R. condenada a pagar à A. a quantia de 120.000,00 euros (cento e vinte mil
euros), a título de indemnização pela violação dos seus direitos de personalidade,
designadamente, direito à saúde, ao sossego, e ao repouso e ainda da violação do
seu direito de propriedade, tudo decorrente do atravessamento aéreo sobre a mesma,
da Linha eléctrica dos autos (Linha Aérea a 60 KV com 20265 m - LI60-134 P… - … II
a partir da Substação de P… (SE60-604); na(s) freguesias de ..., ..., ..., …, concelho
de ..., …), e pela instalação de um poste de condução de electricidade de Alta Tensão
também na sua “propriedade” (apoio n.° 22), acrescido de juros mora, civis, calculados
à taxa legal, e contados desde 01 de Janeiro de 2000 até efectivo e integral
pagamento, que, nesta data, ascendem a 89.612,05€ (oitenta e nove mil seiscentos e
doze euros e cinco cêntimos).

Em alternativa,

c) Deve a R. condenada a pagar à A. a quantia de 200.000,00 euros (duzentos mil


euros), a título de indemnização pela constituição de uma servidão administrativa na
“propriedade" da A., melhor identificada no artigo 1. ° desta p.i., decorrente do
atravessamento da Linha eléctrica dos autos (Linha Aérea a 60 KV com 20265 m -
LI60-134 P… - … II a partir da Substação de P… os (SE60-604); na(s) freguesias
de ..., ..., ..., …, concelho de ..., …) e pela instalação de um poste de condução de
electricidade de Alta Tensão nesta mesma “propriedade" (apoio n.° 22), acrescido de
juros mora, civis, calculados à taxa legal, até efectivo e integral pagamento, que, nesta
data, ascendem a 89.612,056 (oitenta e nove mil seiscentos e doze euros e cinco
cêntimos.

Em alternativa,

d) Deve a R. ser condenada a pagar à A. a quantia de 200.000,00 euros (duzentos mil


euros), a título de enriquecimento sem causa, que resulta do lucro que a R. obtém pelo
atravessamento, na “propriedade” da A., da Linha aérea a 60 KV com 20265 m - LI60-
134 P… - … II a partir da Substação de P… (SE60-604); na(s) freguesias de ..., ..., ...,
…, concelho de ..., …, e pela instalação de um poste de condução também na sua
propriedade (apoio n.° 22), acrescido de juros mora, civis, calculados à taxa legal, e
contados desde 01 de Janeiro de 2000 até efectivo e integral pagamento, que, nesta
data, ascendem a 89.612,056 (oitenta e nove mil seiscentos e doze euros e cinco
cêntimos).

e) De todo o modo, deve a R. ser condenada no pagamento à A. de uma sanção


pecuniária compulsória no valor diário de 5.000,00 euros (cinco mil euros), por cada
dia de atraso no cumprimento devido e na qual for condenada no âmbito dos
presentes autos (cfr. artigo 829. °-A do Código Civil).

Efetuado julgamento foi proferida Sentença, em que se decidiu o seguinte:

“Pelo exposto, o tribunal julga a presente ação parcialmente procedente e condena a


R. a pagar à A. a quantia de € 70.000 (setenta mil euros), sendo € 50.000 a título de
indemnização por danos patrimoniais e € 20.000 a título de indemnização por danos
não patrimoniais, tudo acrescido de juros à taxa lega, contados desde o trânsito da
presente sentença até integral pagamento e sem prejuízo da sanção pecuniária
compulsória devida, nos termos do n° 4 do art° 829°-A do Código Civil.

Absolve-se a R. do demais peticionado.


Custas por A. e R., na proporção do respetivo decaimento, que se fixa em 5/6 para a
A. e 1/6 para a R.”.

Inconformada com tal Decisão, veio a Ré interpor Recurso de Apelação e Autora


interpôs Recurso Subordinado, sendo deliberado e a final proferido acórdão do
seguinte teor:

“Pelo acima exposto, decide-se, na procedência parcial de ambos os Recursos,


revogar parcialmente a Decisão recorrida, e, consequentemente:

a) Condenar a Ré EDP Distribuição Energia, S.A. a pagar à Autora AA, a título de


danos patrimoniais pela desvalorização do seu prédio, a quantia de €197.894,00
(cento e noventa e sete mil, oitocentos e noventa e quatro Euros);

b) Condenar a Ré EDP Distribuição Energia, S.A. a pagar à Autora AA, a título de


danos não patrimoniais, a quantia de €10.000,00 (dez mil Euros);

c) Condenar a Ré EDP Distribuição Energia, S.A. a pagar à Autora AA, a quantia


relativa a juros de mora, à taxa legal, vencidos sobre os montantes indemnizatórios
acima fixados, contados desde a data do presente Acórdão e até integral pagamento.

Custas de ambos os Recursos, por Autora e Ré, na proporção do respectivo


decaimento.

Registe e notifique”.

Inconformada com o decidido pela Relação, interpõe recurso de Revista para este STJ
a ré E-REDES – DISTRIBUIÇÃO DE ELETRICIDADE, S.A., e formula as seguintes
conclusões:

“1. No âmbito dos presentes autos foi proferida, em primeira instância, sentença a
declarar parcialmente procedente a ação interposta pela então A. contra a R., sendo a
segunda condenada nos seguintes termos:

“(…) o tribunal julga a presente ação parcialmente procedente e condena a R. a pagar


à A. A quantia de € 70.000 (setenta mil euros), sendo € 50.000 a título de
indemnização por danos patrimoniais e € 20.000 a título de indemnização por danos
não patrimoniais, tudo acrescido de juros à taxa lega, contados desde o trânsito da
presente sentença até integral pagamento e sem prejuízo da sanção pecuniária
compulsória devida, nos termos do n.º 4 do art.º 829º-A do Código Civil”.

2. Tal decisão foi alvo de recurso de apelação por parte da R., e de recurso
subordinado por parte da A.
3. Julgados os recursos pelo Tribunal a quo foram declarados parcialmente
procedentes ambos os Recursos, revogando-se parcialmente a decisão de primeira
instância, decidindo-se nos seguintes termos:

“a) Condenar a Ré EDP Distribuição Energia, S.A. a pagar à Autora AA, a título de
danos patrimoniais pela desvalorização do seu prédio, a quantia de € 197.894,00
(cento e noventa e sete mil, oitocentos e noventa e quatro Euros);

b) Condenar a Ré EDP Distribuição Energia, S.A. a pagar à Autora AA, a título de


danos não patrimoniais, a quantia de € 10.000,00 (dez mil euros);

c) Condenar a Ré EDP Distribuição Energia, S.A. a pagar à Autora AA, a quantia


relativa a juros de mora, à taxa legal, vencidos sobre os montantes indemnizatórios
acima fixados, contados desde a data do presente acórdão e até integral pagamento.”

4. A questão primordial dos presentes autos prende-se com a aplicação do Direito aos
factos estabelecidos, e interpretação jurídica dos mesmos, o que motiva a
apresentação do presente recurso de revista.

5. Designadamente de disposições do Decreto n.º 43335, de 19 de novembro de 1960


(doravante apenas DL 43335), e do Regime da Responsabilidade Civil Extracontratual
do Estado e Demais Entidades Públicas.

6. Bem como tendo em vista a arguição da nulidade do acórdão a quo, nos termos do
disposto nas alíneas b) e c) do n.º 1 do art. 615º do CPC.

Da nulidade do acórdão recorrido

7. Prescreve o art. 615º do CPC que:

“1 – É nula a sentença quando:

a) Não contenha assinatura do juiz;

b) Não especifique os fundamentos de facto e de direito que justificam a decisão;

c) Os fundamentos estejam em oposição com a decisão ou ocorra alguma


ambiguidade ou obscuridade que torne a decisão ininteligível;

d) O juiz deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse apreciar ou conheça de


questões de que não podia tomar conhecimento;

O juiz condene em quantidade superior ou em objeto diverso do pedido.”

8. Em função das alíneas c) e d) do citado preceito, o acórdão ora recorrido está


manifestamente ferido de nulidade.

9. A decisão proferida no acórdão emanado pelo Tribunal a quo, no que concerne ao


particular do quantum indemnizatório a título de danos patrimoniais a atribuir à
Recorrida, diverge fundamentalmente da tomada em primeira distância.

10. Sucede, porém, que tal divergência não tem respaldo nos factos considerados
como provados, nem apresenta fundamentação suficiente.
11. Com efeito, verifica-se que o Tribunal de primeira instância escalpelizou
minuciosamente o enquadramento jurídico para a definição do quantum
indemnizatório, alicerçando-o no leque de factos provados.

12. Sucede que o douto acórdão a quo, no que concerne a este particular, afastou tal
entendimento com parca fundamentação (cfr. 2º e 3º parágrafos da página 34 do
douto acórdão).

13. Efetivamente, sobre este particular o douto acórdão a quo limita-se a discordar do
entendimento da primeira instância sem, no entanto, escalpelizar as razões para o
afastamento, em concreto, de tal entendimento.

14. Acrescendo que, para a fixação de tal montante indemnizatório, e ao invés da


decisão de primeira instância, o douto acórdão a quo olvidou diversos factos
essenciais, designadamente, e a título de exemplo, o uso dado imóvel, como mera
habitação de férias.

15. E, por fim, o douto acórdão a quo define o quantum indemnizatório “tendo em
conta o Relatório da Peritagem de fls. 241 e sgs.”, ou seja, sem qualquer referência ao
leque de factos provados.

16. A douta decisão proferida pelo Tribunal a quo encontra-se, assim, manifestamente
ferida de nulidade, porquanto se encontra em contradição com os factos determinados
como provados, bem como em virtude da falta de fundamentação para o afastamento
da decisão empregue em primeira instância.

17. Como tal, o acórdão ora recorrido é nulo, uma vez que não especifica os
fundamentos de facto e de direito que justificam a decisão, e por oposição entre os
fundamentos e a decisão, nos termos do art. 615º/1/b) e c) do CPC, nulidade essa
cujo reconhecimento se requer a V. Exas., com todos os devidos efeitos legais.

Do Direito

18. O Tribunal a quo alicerça a decisão proferida, fundamentalmente, em


interpretações ao disposto no art. 37º do Decreto n.º 43335, de 19/11/1960 e das
disposições do Regime da Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado e Demais
Entidades Públicas (doravante RRCEEP).

19. Nesse sentido, o douto acórdão a quo alicerça a sua decisão no âmbito da
responsabilidade civil por atos lícitos.

20. Sucede, porém que, no entendimento da ora Recorrente, os pressupostos


hermenêuticos para a aplicação de tal instituto, e para a consequente interpretação do
disposto no art. 37º do DL 43335 encontram-se fundamentalmente errados, e
desfasados daquela que deverá ser a correta interpretação jurídica da matéria sub
judice.

21. Dispõe o DL 43335 na sua Secção V, capítulo II, sob o título “Da execução das
obras”, que:

“Artº 37º - Os proprietários dos terrenos ou edifícios utilizados para o estabelecimento


de linhas elétricas serão indemnizados pelo concessionário ou proprietário dessas
linhas sempre que daquela utilização resultem redução de rendimento, diminuição da
área das propriedades ou quaisquer prejuízos provenientes da construção das linhas”.
22. Sucede que para o apuramento do montante indemnizatório a atribuir pela
constituição de servidão administrativa pela passagem de linhas elétricas não se
poderá partir de danos hipotéticos, futuros e revertíveis, mas sim apenas os
correspondentes à área da faixa de proteção utilizada no prédio, ocupação da base
dos apoios e perda de rendimento florestal à data da constituição da servidão
administrativa.

23. A suposta “desvalorização/depreciação” de um prédio não cabe na previsão do


artigo 37.º do citado DL nº 43.335, ou seja, não é um prejuízo atendível para efeitos de
aplicação desta norma especial.

24. Com efeito, ao invés do entendimento perpetrado no acórdão a quo, na senda de


alguma da jurisprudência invocada, o artigo 37.º do Decreto-Lei n.º 43.335 deve ser
interpretado de acordo com os elementos de interpretação que se afiguram
disponíveis, que se revelam, exclusivamente, no elemento literal e no elemento
sistemático da interpretação.

25. Ao Invés, elemento teológico é inadequado para tal desiderato, porquanto impõe
que se afira qual a racionalidade que motivou a prolação da norma, exercício
especulativo, tendo em conta a antiguidade da mesma.

26. E, mesmo que assim não fosse, sempre seria necessário atender a que a norma
foi proferida numa época em que a maior parte da eletrificação do País ainda se
encontrava em curso, sendo um processo necessário e essencial para o
desenvolvimento das regiões.

27. Motivo pelo qual jamais se poderá figurar como espírito de tal norma impor aos
concessionários da rede pública de distribuição de energia elétrica encargos de tal
forma excessivos com a eletrificação do território, conforme o veio efetuar o acórdão a
quo.

28. Assim, impõe-se a interpretação do artigo 37.º do Decreto-Lei n.º 43.335 no


sentido de que a parte final daquele preceito deve ser entendida como abrangendo
apenas os danos causados pelo desenvolvimento da própria atividade material de
implementação dos bens que integram a rede de distribuição de energia.

29. A eventual “desvalorização/depreciação” do prédio em causa nos autos não se


traduz num prejuízo certo nem atual, nem mesmo previsível por via da possibilidade
de modificação da linha, pelo que não merece a tutela jurídica do artigo 37.º do DL
43.335.

30. E, como tal, tendo por referência que, para a passagem de uma segunda linha
elétrica no local, com características semelhantes à sub judice, a Recorrida aceitou um
valor indemnizatório de € 6.000,00, dispunha o Tribunal a quo de critérios mais
objetivos para estabelecer um montante indemnizatório mais adequado.

31. Tal interpretação do art. 37º do DL 43335 não encontra qualquer obstáculo, ou
colide com qualquer Direito Fundamental.

32. Isto porque, ao contrário do entendido no douto acórdão a quo, na senda da


jurisprudência invocada, uma interpretação literal do preceito não bloquearia o direito
dos Sujeitos afetados pela constituição da servidão administrativa de serem
cabalmente ressarcidos pelos eventuais prejuízos por si sofridos, designadamente
através do instituto da responsabilidade civil por factos lícitos.

33. Porém, apesar de trilhar tal caminho, o douto acórdão a quo concluiu com uma
decisão sem respaldo na letra da Lei.

34. Com efeito, a figura da responsabilidade por atos lícitos encontra-se consagrada
no art. 16º do RRCEEP, nos termos do qual:

«O Estado e as demais pessoas coletivas de direito público indemnizam os


particulares a quem, por razões de interesse público, imponham encargos ou causem
danos especiais e anormais, devendo, para o cálculo da indemnização, atender-se,
designadamente, ao grau de afetação do conteúdo substancial do direito ou interesse
violado ou sacrificado».

35. Ora, o eventual direito indemnizatório que o mesmo gera terá de ter em conta a
natureza da responsabilidade dos factos em causa, designadamente a atividade
desenvolvida e utilidade da mesma.

36. Como tal, o conteúdo da indemnização atribuída ao abrigo de tal instituto não tem
uma natureza punitiva, mas meramente compensatória, porquanto sempre se estará
perante uma conduta lesante que não merece qualquer censura social perseguindo,
ao invés, finalidades de interesse público e em benefício da generalidade da
população.

37. Neste contexto, e com o devido respeito, não tem cabimento as conclusões
alcançadas pelo acórdão a quo, na medida em que condena a ora Recorrente a
indemnizar a Recorrida como se de factos ilícitos se tratassem.

38. Efetivamente, o art. 16º do RRCEEP obriga a que se efetue uma apreciação
equitativa do valor do encargo ou dano e que, desse modo, poderá não corresponder
ao montante económico efetivamente em causa, jamais podendo atingir os valores de
reparação integral, conforme conclui o douto acórdão a quo.

39. Resulta da construção Legal em apreço que o instituto da responsabilidade por ato
lícito trata-se de uma forma de tutela de eventuais prejuízos sofridos pelos Sujeitos
afetados pela constituição de uma servidão administrativa por passagem de linha
elétrica, e não um elemento interpretativo do disposto no art. 37º do DL 43335.

40. Nesse contexto, sendo o art. 16º do RRECEP uma norma de aplicação excecional,
acessória ao art. 37º do DL 43335 tem como pressuposto para a tutela indemnizatória
os danos que, pela sua gravidade, ultrapassem o caráter de ónus natural decorrente
da vida em sociedade.

41. Como tal, e para a aplicação do referido instituto, nos termos empregues pelo
acórdão a quo, sempre se terá de atender a critério financeiro, e de utilidade do facto
“lesante”.

42. Nesse sentido, a obra realizada correspondeu à edificação de uma linha elétrica,
com as evidentes vantagem que daí advêm, designadamente no sentido da
eletrificação do território Nacional, e da qualidade com que tal serviço é prestado.

43. A imposição de encargos como os decorrentes do acórdão a quo, para além de


não respeitar a totalidade dos pressupostos previstos na Lei, conduziria a que,
simplesmente, deixe de existir desenvolvimento tecnológico, designadamente no que
concerne à eletrificação do território Nacional.

44. Por outro lado, com a suposta depreciação do valor do imóvel da Recorrida, em
função da edificação da linha elétrica em causa, aquela jamais se vê privada do real
valor do imóvel, vendo sim, em abstrato, uma limitação à rentabilidade que poderia
obter com uma eventual venda.

45. Ou seja, por outras palavras, o designado gozo standard do imóvel não sofre
qualquer afetação, tanto mais que, como provado, se trata de uma habitação de férias.

46. Pelo exposto, o douto acórdão a quo padece de uma manifesta errada
interpretação jurídica e aplicação do disposto nos arts. 37º do DL 43335 e do art. 16º
do RCEEP.

47. Não existindo qualquer motivo atendível, nem qualquer enquadramento jurídico,
para o agravamento da condenação da Recorrente, nos termos perpetrados pelo
acórdão a quo.

48. Nos presentes autos estamos perante uma servidão administrativa e não uma
expropriação (como bem enquadra a sentença a quo), o âmbito dessa servidão pode
alterar-se a todo o tempo, seja pela modificação do trajeto ou da altura dos condutores
das linhas, designadamente por via da Lei e dos direitos daí decorrentes para os
proprietários dos prédios atravessados (vide artigo 43º e seguintes do Dec. Lei 43335,
de 19/11/1960), seja ainda por qualquer modificação ou mesmo pela remoção operada
pelo concessionário da linha, no interesse deste ou no interesse da própria rede
elétrica em geral.

49. Atenta a natureza precária e não definitiva das servidões de passagem de linhas
elétricas, os prejuízos indemnizáveis correspondem aos danos atuais.

50. Por outro lado, resultou da discussão da causa que, para além da linha elétrica
edificada pela Recorrente, o prédio é atravessado por outra linha de características
semelhantes.

51. E, como supra referido, como indemnização pela passagem de tal linha a A.
considerou-se adequadamente indemnizada no valor de € 6.000,00.

52. Em sede de relatório pericial considerou-se que, para efeitos de cálculo de


desvalorização do prédio, a passagem de uma, ou duas linhas, é irrelevante.

53. Assim, o valor da justa indemnização já foi aceite pela ora Recorrida (€ 6.000,00).

Acresce que,

54. No que respeita às indemnizações devidas pela constituição de servidões


elétricas, o legislador teve em atenção a natureza não definitiva do ónus imposto aos
proprietários dos prédios afetados e à função de interesse público que reveste a
atividade de distribuição de energia elétrica.

55. Ao mesmo tempo que não descurou, nem podia descurar, o facto de o serviço
público de distribuição ser assegurado sob a forma de concessão e das redes elétricas
não pertencerem ao concessionário.
56. Tendo sido com base nestes pressupostos que o legislador fixou os termos das
indemnizações a prestar pelos concessionários aos proprietários afetados com as
servidões que se verifiquem à data da constituição da servidão administrativa.

57. Por conseguinte, não restam dúvidas de que, atenta a natureza precária e não
definitiva das servidões de passagem de linhas elétricas, os prejuízos indemnizáveis
correspondem tão somente aos danos atuais mas já não aos danos que, mesmo que
se entendam como possíveis, ainda não tiveram concretização.

58. Ou seja, o que está em causa nos presentes autos é saber se a passagem das
linhas de alta tensão sobre o prédio da Recorrida lhe confere o direito a indemnização
e em que medida, nos termos do artigo 37º do citado Dec. Lei 43 335 e do art. 16º do
RRCEEP.

59. O apuramento de tal montante não se poderá partir de danos hipotéticos, futuros e
revertíveis, mas sim apenas os correspondentes à área da faixa de proteção utilizada
no prédio, ocupação da base dos apoios e perda de rendimento florestal à data da
constituição da servidão administrativa.

60. Tendo por referência que, para a passagem de uma segunda linha elétrica no
local, com características semelhantes à sub judice, a Recorrida aceitou um valor
indemnizatório de € 6.000,00, dispõe o Tribunal de critérios mais objetivos para,
recorrendo aos juízos de equidade preconizados, estabelecer um montante
indemnizatório mais adequado.

61. Nesse sentido, e com o supra mencionado enquadramento, sempre deverá ser o
acórdão a quo ser revogado, substituindo-se a decisão por uma que condene a
Recorrente ao pagamento de uma valor não superior a € 6.000,00 a título de danos
patrimoniais.

62. Mas mesmo que assim não se entenda, o que apenas se configura por mero
exercício académico, o certo é que o montante indemnizatório a atribuir à Recorrida
sempre terá de ser equacionado ao abrigo das disposições Legais de que deriva,
designadamente do art. 37º do DL 43335 e do art. 16º do RCEEPE.

63. Ora, nesse sentido, e em especial, dita o art. 16º do RCEEPE que o valor
indemnizatório terá de ser enquadrado de acordo com uma apreciação equitativa do
valor do encargo ou dano e que, desse modo, poderá não corresponder ao montante
económico efetivamente em causa, assumindo uma natureza compensatória, e não
indemnizatória.

64. E, nesse sentido, jamais podendo atingir os valores de reparação integral,


conforme conclui o douto acórdão a quo.

65. Nesse sentido, nesse pressuposto académico, e a título subsidiário, sempre terá
cabimento a atenuação do valor indemnizatório nos termos empregues pelo Tribunal
de Primeira Instância, e que o douto acórdão a quo afasta sem fundamentação válida
de toda a argumentação para o efeito.

66. Assim, e subsidiariamente, sempre deverá o acórdão a quo ser revogado,


repristinando-se a sentença proferida em primeira instância, no que concerne à fixação
do montante indemnizatório a título de danos patrimoniais.
67. Salvo melhor opinião, a manter-se a decisão recorrida, resultaria grosseira
violação da norma do artigo 37º do Dec. Lei 43335 e bem assim da Base XX anexa ao
Dec. Lei nº 172/2006, de 23 de Agosto, dos artigos 43º e seguintes do citado Dec. Lei
43335 e do art. 16º da Lei n.º 67/2007 de 31 de dezembro.

NESTE TERMOS, E NOS MELHORES DE DIREITO QUE V.AS EX.AS MUI


DOUTAMENTE SUPRIRÃO, DEVE DAR-SE PROVIMENTO AO PRESENTE
RECURSO E DECLARAR-SE A NULIDADE DO ACÓRDÃO RECORRIDO, NOS
TERMOS DO ART. 615º/1/b) e c) DO CPC.

Caso assim não se entenda,

SUBSTITUIR-SE O ACÓRDÃO A QUO POR OUTRO QUE DETERMINE A


CONDENÇÃO DA R. AO PAGAMENTO DE UM VALOR NÃO SUPERIOR A €
6.000,00 A TÍTULO DE DANOS PATRIMONIAIS.

Subsidiariamente,

DEVE DAR-SE PROVIMENTO AO PRESENTE RECURSO E REVOGAR-SE O


ACÓRDÃO A QUO REPRISTINANDO-SE A DECISÃO PROFERIDA EM PRIMEIRA
INSTÂNCIA, NA PARTE QUE CONCERNE À DEFINIÇÃO DO QUANTUM
INDEMNIZATÓRIO A TÍTULO DE DANOS PATRIMONIAIS”.

Apresenta resposta a autora AA, concluindo:

“A - Quanto à alegada nulidade do Acórdão Recorrido por não especificar os


fundamentos de facto e de direito e, também, por oposição entre os fundamentos e a
decisão recorrida

1.ª: Está provado nos autos que foi a Linha aérea a 60 KV - LI60-134 P… – … II, com
sete fios de alta tensão, que atravessa a propriedade da Recorrida a noroeste desta, e
que se encontra a cerca de 7 metros da casa de habitação, e que ocupa o espaço
aéreo da referida propriedade no comprimento de aproximadamente 230 metros e, na
largura, de cerca de 5 metros, e com um poste instalado a cerca de 50 metros da casa
de habitação, (i) que fez baixar o valor de mercado da propriedade da Recorrida, e (ii)
num valor próximo dos €200.000.

2.ª: A servidão administrativa dos autos tem caráter permanente e de duração


indeterminada.

3.ª: Consta dos autos um Relatório Pericial, elaborado pelo Perito Avaliador BB, que
apurou que a factualidade referida na conclusão 1.ª fez desvalorizar a propriedade em
€197.894,00 euros.

4.ª: O valor provado na 1.ª Instância de desvalorização do imóvel (nas palavras do


Mm.º Juiz, perto dos €200.000,00), teve como referência o Relatório Pericial referido
na conclusão anterior e o depoimento das testemunhas (uma delas agente imobiliária,
que tentou, em vão, vender o imóvel).

5.ª: Para a formulação do seu juízo, o Tribunal da Relação de … teve uma tarefa
simples, pois, os (i) factos dados como provados, (ii) os factos complementares,
concretizadores e instrumentais dos autos, (iii) todos os documentos constantes dos
autos, designadamente o relatório pericial, (iv) a prova testemunhal, (v) a motivação da
sentença proferida pelo Mm.º Juiz de 1.ª Instância, e (vi) demais matéria/elementos
constantes nos autos, são mais do que bastantes e suficientes para que o valor
apurado da desvalorização da propriedade da Recorrida ficasse definitivamente fixado
nos €197.894,00, que mais não é senão um mero anunciar do valor constante dos
autos.

6.ª: O Acórdão só padecia da nulidade invocada pela Recorrente (que teria como
consequência a aplicação do disposto no art.º 669.º, n.º 2, do CPC, ou seja, tinha o
processo que baixar às Instâncias para se apurar, liquidando, o valor exacto da
desvalorização do Prédio da Recorrida) se não houvesse nos autos qualquer elemento
válido para a liquidação definitiva do valor da desvalorização.

7.ª: Porém, no caso dos autos, o Tribunal da Relação de … tinha elementos


quantificadores do prejuízo em apreço mais do que bastantes e suficientes para, de
vez, liquidar o valor dos danos patrimoniais.

8.ª: Efectivamente, não só está provada a desvalorização do Prédio, como se encontra


igualmente provado que tal desvalorização se cifra em perto de €200.000,00 (vide
elenco dos factos provados), para além de que há nos autos elementos bastantes
(Perícia e prova testemunhal) que apuraram o prejuízo (desvalorização do Prédio) ao
cêntimo.

9.ª: Pelo exposto, facilmente se constacta que a nulidade invocada pela Recorrente
não se verifica, não devendo, assim, merecer qualquer acolhimento, devendo
improceder por não provada.

B – Quanto à alegada incorrecta aplicação e interpretação do art.º 37.º do Decreto-Lei


n.º 43335, de 19/11/1960 e das disposições constantes do Regime da
Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado e Demais Entidades Públicas

10.ª: A factualidade dos autos deve ser apreciada por recurso e com fundamento no
disposto no artigo 37.º do Decreto-lei n.º 43335, de 19/11/60, que reveste a natureza
de Lei Especial, que estatui que os proprietários dos terrenos ou edifícios utilizados
para o estabelecimento de linhas electricas serão indemnizados pelo concessionário
ou proprietários dessas linhas sempre que daquela utilização resultem redução de
rendimento, diminuição da área das propriedades ou quaisquer prejuízos provenientes
da construção das linhas.

11.ª: Integra-se na norma em apreço qualquer prejuízo (seja ele qualquer for)
proveniente da construção das linhas eléctricas, sejam eles directos e imediatos sejam
quaisquer outros que possam advir do simples facto da sua existência.

12.ª: Para fazer integrar a desvalorização de um prédio directamente decorrente da


construção de linhas eléctricas no cômputo dos prejuízos previstos no art.º 37.º em
apreço basta uma mera interpretação declarativa para chegarmos a esta conclusão,
pois o normativo do citado art.º 37.º é perfeitamente congruente com o que ali neste
preceito é escrito, ou seja, há uma perfeita correspondência entre o dano patrimonial
sofrido pela Recorrida e entre as palavras do Legislador e o pensamento da Lei
(“quaisquer prejuízos provenientes da construção das linhas”).

13.ª: Na verdade, ao fazer integrar no computo do art.º 37.º em questão o dano


referente à desvalorização da propriedade, é a mera consequência de uma
interpretação lógica, que mais não faz senão confirmar e valorizar a explicação literal
do preceito em questão.
14.ª: Tem sido entendimento unanime da nossa jurisprudência que, à luz do art.º 37 do
Decreto-lei n.º 43335, são indemnizáveis os danos consistentes na mera
desvalorização patrimonial dos terrenos que sejam objecto deste tipo de servidão
administrativa, mesmo que o prejuízo de tal desvalorização da “propriedade” só se
venha a concretizar no futuro, aquando, por exemplo, de uma intenção de venda da
“propriedade” por banda do seu proprietário, pois, mesmo assim, ele é sempre
atendível desde que previsível, como é – conf. art.º 564.º do Cód. Civil.

15.ª: Não ofereceu a mínima dúvida ao Tribunal de 1.ª Instância, bem assim ao
Tribunal da Relação de … que o art.º 37.º do Decreto-Lei n. º 43335, de 19-11-1960,
prevê um direito indemnizatório geral decorrente não só dos prejuízos directos
advindos do acto de construção de linhas eléctricas, mas também de todos os
prejuízos decorrentes da diminuição do actual do valor do imóvel pela construção ou
pela passagem dessas linhas e independentemente do destino que os seus titulares
lhe pretendam dar.

16.ª: Sendo esta a única interpretação que respeita e honra o citado art.º 37.º do
Decreto-Lei n. º 43335, de 19-11-1960.

17.ª: Assim, estando perfeitamente apurado nos autos o prejuízo causado no Prédio
da Recorrida, independentemente do destino que a mesma queira dar ao mesmo, pois
estamos perante um dano real e não hipotético, não há outra alternativa, à luz do
citado art.º 37.º do Decreto n.º 43335, de 19.11.1960, que é uma lei especial, senão
atribuir-se-lhe uma indemnização em tal valor, no caso €197.894,00.

18.ª: No seu recurso de revista, a Recorrente faz uma interpretação bastante restritiva
ao art.º 37.º do Decreto n.º 43335, de 19.11.1960 e que não se coaduna nem com a
letra nem com o espírito da lei, pois o artigo em apreço fala expressamente de
quaisquer prejuízos provenientes da construção, sejam eles directos e imediatos
sejam quaisquer outros que possam advir do simples facto da sua existência.

19.ª: O Tribunal da Relação de …, ao condenar a Recorrente no montante exacto do


prejuízo patrimonial apurado pelas Instâncias (€197.894,00) efectuou um correcto e
perfeito enquadramento fáctivo/jurídico da questão, pelo que não merece qualquer
censura.

20.ª: Qualquer outro entendimento que não o vertido no Tribunal recorrido no que
concerne aos danos patrimoniais seria sempre inconstitucional por violar um direito
constitucionalmente consagrado: O da propriedade privada, prevista no n.º 1 do art.º
62.º da Constituição da República Portuguesa, pois permitiria que um proprietário
fosse coactivamente privado do valor real da propriedade.

21.ª: O pagamento do valor justo e actual traduz-se num princípio geral, ínsito no
princípio do Estado de direito democrático, de indemnização pelos actos lesivos de
direitos e pelos danos causados a outrem.

22.ª: Data Maxima Venia, a Recorrida, uma vez mais, reproduz o Ponto 28. dos factos
provados, que é matéria assente:

O atravessamento aéreo do referido em 1 destes factos provados pela “Linha aérea a


60 KV - LI60-134 P… – … II” e a instalação de um apoio (apoio n.º 22) nas condições
e em que foi colocada, fez baixar o valor de mercado da desta propriedade, sendo que
a Autora e a sua família, ao saberem da implantação da linha, projetaram vender o
imóvel por 400.000 euros, mas inicialmente obtiveram ofertas que não eram
superiores a 200.000 euros e, posteriormente, não vieram a obter mais qualquer
oferta, até a imobiliária “N…”, onde tinham posto a propriedade à venda, ao fim de um
ano sem ofertas, ter desistido de promover essa venda [Em sublinhado a palavra “fez”,
que constitui o nexo de causalidade entre a actuação da Recorrente (instalação das
linhas eléctricas e a colocação do poste) e a desvalorização da propriedade]

23.ª: Antes da instalação das linhas eléctricas dos autos, a propriedade da Recorrida
era sítio edílico, aprazível, sossegado, silencioso, frequentado praticamente todos os
fins de semana pela Recorrida e sua família, valioso e invejado e sem linhas eléctricas
e sem postes de alta tensão. Tudo mudou em 2001 com a instalação das linhas
eléctricas da Recorrente. A partir desse momento, o local passou a ser um verdadeiro
inferno, ruidoso, incomodativo, que causa dores de cabeça à Recorrida, com o espaço
aéreo todo ocupado com linhas de alta tensão, perdeu metade do seu valor e passou
a ser um local vazio de pessoas, pois a Recorrida e a sua família deixaram de a
frequentar. E a Recorrente entregou à Recorrida um cheque (nunca levantado) que
nem chegou ao valor de 25,00 euros (vinte e cinco euros!) para pagar todos os
prejuízos. E ficou provado no processo (vide Ponto 34 da sentença proferida pela 1.ª
Instância) que todos os proprietários afectados pela linha eléctrica da Recorrente (e
que são/foram largas dezenas de proprietários, na sua esmagadora maioria pessoas
de terceira idade) foram indemnizados pela Recorrente com os mesmos critérios
utilizados por esta para indemnizar a Autora, ora Recorrida, ou seja, foram
compensados com meia dúzia de trocos. Há uma palavra que qualifica esta actuação:
Indecência.

24.ª: Assim, não merece qualquer acolhimento a tese da Recorrente, devendo, em


consequência, improceder o recurso de revista também neste particular.

25.ª: Em suma, deverão V. Exas. considerar o Recurso de Revista totalmente


improcedente, mantendo-se integralmente o Acórdão Recorrido.

Termos em que, sempre com o necessário suprimento, deverão V. Exas.,


Excelentíssimos Senhores Conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça, considerar
totalmente improcedente o Recurso de Revista interposto pela Ré nos autos E-REDES
– DISTRIBUIÇÃO DE ELETRICIDADE, mantendo e confirmando-se “in totum” a
decisão recorrida”.

O recurso foi admitido.

Cumpre apreciar e decidir.

Nas Instâncias foram julgados como provados e não provados, os seguintes


factos:
“A) Factos

a) Factos provados

1 - A A. é a dona do prédio descrito na Conservatória do Registo Predial de ... sob o


n.° 807, da freguesia da ..., inscrito na matriz rústica sob o artigo número 24, Secção
AD e na matriz urbana sob o artigo 1532, sito no … - …, ..., o que acontece desde 23
de outubro do ano de 1998, data em que o mesmo lhe foi doado pelos seus pais, CC e
de DD (resposta aos art°s 1°, 2°, 7° e 16° da p.i).

2 - A titularidade da propriedade por parte da A. foi registada na Conservatória do


Registo Predial em 29 de dezembro de 2000, pela AP 15 de 2000/12/29 (resposta aos
art°s 3° e 15° da p.i.).

3 - A área total do prédio referido em 1 destes factos provados é de 9,788 hectares


(resposta ao art° da p.L).

4 - No prédio referido em 1 destes factos provados está edificado um prédio urbano,


destinado à habitação, com uma área de implantação de 188,0000 m2 e área total de
680,0000 m2, composto, desde a conclusão das obras de reconstrução efetuadas a
partir de 1998, por 3 quartos, 1 sala, 1 casa de banho e 1 cozinha, 1 cisterna exterior
no logradouro e 1 divisão de apoio à exploração agrícola (divisão de arrumos), sendo
que na respetiva caderneta predial, o prédio urbano (“casa de habitação”) está, ainda,
descrito como: “prédio urbano de r/clião com 2 divisões e cozinha destinado à
habitação, com 3 divisões apoio à exploração agrícola” (resposta aos art°s 5o e 6o da
p.i.).

5 - O prédio referido em 1 destes factos provados está situado numa zona rural,
próxima de …, no concelho de ..., a cerca de 12 Km desta localidade, a norte da EN
125 e Via do Infante, a cerca de 8 Km e 1 Km, respetivamente, destas duas vias,
próxima do e da estrada Municipal que faz a ligação da EN 152 (no lugar da …) a …
(resposta ao art° 8o da p.i.).

6 - No tempo de vida do avô da A., a casa de habitação existente no prédio referido


em 1 destes factos provados chegou a ser utilizada pela A. para passar férias com
toda a família (resposta aos art°s 11°, 15° e 48° da p.i.).

7 - A partir de outubro de 1998, logo após a escritura de doação referida em 1 destes


factos provados atrás referida, a A. procedeu à reconstrução da casa de habitação,
efetuando na mesma obras requalificação, nas quais investiu dinheiro seu (resposta
ao art° 12° da p.i.).

8 - Depois de concluídas as obras de reconstrução da casa referidas em 7 destes


factos provados, a A., bem como o seu agregado familiar, marido e filhas, passou a
utilizar a propriedade e a casa de habitação, mais vezes do que antes, nomeadamente
aos fins-de-semana (resposta aos art°s 13°, 15° e 48° da p.i.).

9 - Por carta datada de 23 de outubro de 2000, a R. remeteu uma carta a CC, pai da
A., com o seguinte teor:

Assunto: Linha aérea a 60 KV

LI60-134 P… - … II
Exmo. Senhor,

A EDP Distribuição, S.A., com declaração de utilidade pública, vai estabelecer a linha
eléctrica acima referida, a qual atravessa a propriedade de V. Exa., sita na freguesia
de ..., concelho de ..., compreendida entre o apoio n.° 21 e o n.° 23, na qual será
montado o apoio n.° 22 num estrema.

Nos termos de regulamento de licenças para instalações eléctricas os proprietários ou


locatários de terrenos ou edifícios que tenham de ser atravessados por linhas
eléctricas duma instalação declarada de utilidade pública ficam obrigados, logo que
para isso seja avisados pelos respectivos concessionários - o que se está a fazer pela
presente carta - , a permitir a entrada nas suas propriedades as pessoas encarregadas
de estudos, construção, preparação ou vigilâncias dessas linhas, sem prejuízo da
indemnização que seja devida sempre que se verifique redução do rendimento,
diminuição da área das propriedades ou quaisquer prejuízos provenientes da
construção das linhas.

Nestas condições, aguardaremos que, a pós a conclusão dos trabalhos, nos informe
quanto a eventual existência de prejuízos que devam ser objecto de compreensão e,
em caso afirmativo, a sua discriminação e valor de indemnização pretendida, com a
devida justificação.

Sem outro assunto de momento, subscrevemo-nos com os nossos melhores


cumprimentos (resposta ao art° 18° da p.i.).

10 - A A., em resposta, remeteu em 27/11/2000 um fax à R., que esta recebeu, com o
seguinte teor:

V/ referência

Carta 492/00/DIS datada de 23/10/2000

Assunto: Linha aérea a 60 KV

LI60-134 P… - … II

Tendo tomado conhecimento, através da carta em referência, da vossa intenção de


implantar na nossa propriedade um apoio da linha eléctrica em questão, venho
solicitar que me seja enviada carta com a implantação no terreno do referido apoio.

Esta solicitação prende-se, entre outros aspectos, com o facto de em duas das
propriedades em causa (dado que efectivamente se tratam de duas propriedades
contíguas da família), estarem em curso obras de recuperação das casas de
habitação, tendo sido enterradas infraestruturas de água e electricidade, pelo que
haverá necessidade de ser compatibilizada a localização do apoio com as referidas
infraestruturas.

Para além disso gostaríamos de saber que parte das propriedades é sobrepassada
pelo troço da linha aérea em causa, pelo que solicito que o mesmo seja assinalado na
planta que for enviada.

Não podemos deixar de referir que consideramos de toda a conveniência que o


traçado da linha seja implantado pelas extremas das propriedades, já que, pela parte
das proprietárias, e por forma a minimizarem-se os impactos paisagísticos motivados
pela presença deste tipo de infraestruturas, houve o cuidado de enterrar o troço da
linha eléctrica que foi necessário instalar nas propriedades para abastecimento às
habitações.

Mais se informa que as propriedades encontram-se actualmente em nome das filhas


de CC, pelo que agradecemos que os contactos sejam efectuados para o endereço
em cima indicado.

Com os melhores cumprimentos

Coimbra, 17.11.2000

AA (resposta ao art° 20° da p.i.),

11 - Em 14 de dezembro de 2000, a R., respondendo à missiva referida no ponto


anterior destes factos provados, remeteu outra carta à A., com o seguinte teor:

Acusamos a recepção da carta de V. Exa. datada de 17 de Novembro passado, a qual


mereceu a nossa melhor atenção.

Aquando do levantamento topográfico executado pela EDP Distribuição, apurou-se


que o senhor CC era o proprietário de um dos terrenos situados sob a traçada da linha
aérea em assunto.

Foi com base nessa informação que foi enviada a carta 492/00/DIS, de 23.10.2000.

Em complemento à informação prestada nessa carta, e indo ao encontro de que nós


foi solicitado por V. Exa., anexamos uma cópia à escala 1/25000 com a localização da
propriedade de V. Exa., bem como uma cópia da planta da zona em questão, à escala
1/5000, onde estão representados o traçado da linha aérea e a localização do apoio
n.°22, a montar na estrema da sua propriedade e o apoio n.° 23, a montar na
propriedade vizinha.

No que concerne ao estudo de unta eventual alternativa de traçado, como sugerida


por V. Exa. Em contacto telefónico, por forma a que a linha aérea em questão seja
estabelecida pelas estremas da v/ propriedade, encontramos-nos limitados por razões
regulamentares e técnicas, uma vez que uma eventual modificação de traçado não
poderá decorrer em propriedades diferentes daquelas que são atravessadas pelo
traçado da LI60-134, tal como este está licenciado junto do Ministério da Economia.

A fim de limitar a modificação a essas propriedades haveria a necessidade de que o


traçado tivesse inflexões com ângulos muito pronunciados para os quais não
dispomos de solução técnica, (resposta aos art°s 21° e 57° da p.i.).

12 - Em anexo à carta referida em 9 destes factos provados, a R. juntou uma planta à


escala 1/25000, uma planta à escala de 1/5000, ambas referentes ao local em questão
nos autos (resposta ao art° 22° da p.i.).

13 - Em 04 de janeiro de 2001, a A. remeteu outra carta à R., que esta recebeu, com o
seguinte teor:

Relativamente ao assunto em epígrafe (Linha aérea a 60KV - LI60-134 P… - … II) e


tendo presente a carta de V. Exa em referência, não podemos deixar de insistir na
nossa pretensão em que sejam encontradas alternativas por forma a que a linha se
afaste o mais possível da casa de habitação.

Tratando-se de uma propriedade com 10 ha é, como poderão calcular, extremamente


lamentável que a linha venha precisamente passar junto da casa sendo, do nosso
ponto de vista, muito difícil de aceitar o facto e a não existência de alternativas.

Assim, solicitamos que sejam implementadas medidas que possam minimizar a


situação criada, nomeadamente através de alteamento dos apoios, caso não seja de
todo possível a utilização de vértices, o que do nosso ponto de vista seria a situação
mais desejável, pois permitiria afastar a linha sem ser necessário a intervenção em
propriedade de terceiros, (resposta ao art° 23° da p.i.).

14 - A R., por carta datada de 08 de janeiro de 2001, respondeu, argumentando que


não seria possível efetuar a alteração do traçado uma vez que tal solução iria
introduzir ângulos muito pronunciados no traçado existente, para os quais não
dispunha de solução técnica (resposta ao art° 24° da p.i.).

15 - Em 2001, a R., tal como havia comunicado, procedeu ao estabelecimento e à


exploração no prédio referido em 1 destes factos provados da linha elétrica, Linha
aérea a 60 KV com 20265 m - LI60-134 P… - … II a partir da Substação de P…
(SE60-604); na(s) freguesias de ..., ..., ..., …, concelho de ..., …), compreendida entre
o apoio n.° 21 e o n.° 23 e que atravessa a propriedade da A., tendo ainda instalado
na mesma propriedade um poste de condução de energia elétrica, o apoio n.° 22
(resposta ao art° 25° da

16 - Por carta datada de 14 de maio de 2002, a R. remeteu à A. o cheque n.°


1258517616, da C.G.D., no valor de 24,94€, a título de indemnização pelos prejuízos
resultantes da instalação da Linha aérea LI60-134 P… - … II no prédio referido em 1
destes factos provados, entre os apoios 21 e 23, e da instalação do apoio n.° 22
(resposta ao art° 26° da p.i.).

17 - A A., por não concordar com o valor da indemnização calculada pela R., não
depositou nem movimentou o cheque em questão, que ainda tem na sua posse
(resposta aos art°s 27° da p.i. e 41° da contestação).

18 - A linha elétrica “Linha aérea a 60 KV - LI60-134 P… - … II”, que atravessa o


prédio referido em 1 destes factos provados entre os apoios 21 e 23, tem 7 (sete) fios,
atravessa o imóvel da A. a noroeste deste, e encontra-se a cerca de 7 (sete) metros
da casa de habitação, sendo que o apoio n.° 22 está instalado a cerca de 50
(cinquenta) metros da casa de habitação (resposta aos art°s 29°, 30° e 32° da p.i.).

19 - Com a instalação da referida linha aérea foi ocupado o espaço aéreo do prédio
referido em 1 destes factos provados no comprimento de aproximadamente 230
(duzentos e trinta) metros e, na largura, de cerca de 5 (cinco) metros (resposta ao art°
31° da p.i.).

20 - A linha elétrica “Linha aérea a 60 KV - LI60-134 P… - … II” é visível a partir do


interior e do exterior da casa de habitação (resposta aos art°s 33° e 34° da p.i.).

21 - A passagem de corrente elétrica na linha elétrica causa ruído, o que se agrava


nos dias em que faz vento e nos dias de maior humidade, e provoca incómodo a quem
se encontre na casa de habitação (resposta aos art°s 35°, 36°, 38° e 39° da p.i.).
22 - O barulho provocado pela passagem de corrente elétrica na linha que atravessa o
prédio referido em 1 destes factos provados, causa dores de cabeça à A. (resposta
aos art°s 37° e 39° da p.i.).

23 - A linha elétrica existente no prédio referido em 1 destes factos provados causa


ansiedade à A. e seu agregado familiar (resposta ao art° 40° da p.i.).

24 - A A., procurando informar-se sobre os efeitos das linhas elétricas de 60Kv,


consultou o site da “internet” da associação ambientalista QUERCUS,
em http://www.quercus.pt/artigos-radiacoes/625- linhas-de-alta-tensao/2954-as-linhas-
de-altatensao-e-a-saude-das-criancas, do qual consta o respetivo texto:

A SAÚDE OU A DOENÇA

Há ou não risco de se viver, ou estar muito tempo, perto dos circuitos de linhas de alta
tensão? Como referi, a Ciência ainda não conseguiu dar uma resposta definitiva, o que
não quer dizer que o risco não possa existir.

O maior factor de risco é representado pelos campos electromagnéticos gerados pelas


linhas, os quais não podem ser blindados, ao contrário dos meramente eléctricos.

Cientistas de vários sectores têm chamado a atenção para o perigo que estes campos
podem criar - sobretudo nas cidades, em que estão no subsolo -, para a
«estabilidade» do ser humano - não apenas no aparecimento de cancros, abortos
espontâneos (há quem fale num aumento de 5% do total de grávidas), malformações
congénitas e outras doenças, mas também no sono, humor, resistência ao cansaço e
noutras valências que perturbam a qualidade de vida sem serem propriamente
'doenças'.

Numa criança, o efeito pode traduzir-se por tristeza, perturbações do sono (certos
estudos referem baixa da produção de melatonina, a hormona do sono), insucesso na
aprendizagem, entre outras. Alguns estudos referem uma maior taxa de depressão,
outros falam de irritabilidade e agressividade. Mas sendo situações que têm a ver com
factores pessoais e ambientais, tantos e tão vastos, é sempre difícil, se não mesmo
impossível, relacionar directamente as duas coisas em termos de causa-efeito.”
(resposta ao art° 41° da p.i.).

25 - À data da instalação da “Linha aérea a 60 KV - LI60-134 P… - … II”, a A. tinha


duas filhas menores, pelo que, por receio dos efeitos eletromagnéticos das linhas
elétricas de alta tensão, designadamente do receio de contraírem leucemia, a A. e a
sua família deixaram de ter prazer em se deslocar à propriedade referida em 1 destes
factos provados e deixaram de ali se deslocar e de usufruir da mesma (resposta aos
art°s 42°, 43°, 44° e 47° da p.i.).

26 - Por causa do atravessamento da linha elétrica, a A. sente desgosto e tristeza,


pois deixou de fruir com prazer e alegria a sua propriedade (resposta ao art° 45° da
p.i.).

27 - Por causa do atravessamento da “Linha aérea a 60 KV - LI60-134 P… - … II” e da


instalação do apoio n.° 22 na sua propriedade, a A. sente-se frustrada por ver gorado
o sonho que tinha em ter um imóvel que considerava ser aprazível, de grande beleza e
com uma paisagem rural que achava encantadora e equilibrada (resposta ao art° 46°
da p.i.).
28 - O atravessamento aéreo do referido em 1 destes factos provados pela “Linha
aérea a 60 KV - LI60-134 P… - … II” e a instalação de um apoio (apoio n.° 22) nas
condições e em que foi colocada, fez baixar o valor de mercado da desta propriedade,
sendo que a A. e a sua família, ao saberem da implantação da linha, projetaram
vender o imóvel por 400.000 euros, mas inicialmente obtiveram ofertas que não eram
superiores a 200.000 euros e, posteriormente, não vieram a obter mais qualquer
oferta, até a imobiliária “N…”, onde tinham posto a propriedade à venda, ao fim de um
ano sem ofertas, ter desistido de promover essa venda (resposta aos art°s 50°, 51° e
52° da p.i.).

29 - A EDP Distribuição - Energia, S.A. (por assim ter sido determinado no Decreto-Lei
n.° 29/2006, de 15 de fevereiro, e Decreto-lei n.° 172/2006, de 23 de agosto), é
concessionária da distribuição de energia elétrica, por contrato celebrado com o
Estado em média tensão e alta tensão, e das concessões municipais de distribuição
de energia elétrica em baixa tensão, que integram a “Rede Eléctrica de Serviço
Público” (RESP), mediante contrato de concessão celebrado com os municípios,
cabendo à EDP Distribuição a exploração das redes, sendo que é a REN - Rede
Elétrica Nacional e a entidade concessionária da Rede de Transporte de Energia
elétrica (resposta aos art°s 56° e 60° da p.i. e 14° e 15° da contestação).

30 - A “Linha aérea a 60 KV - LI60-134 P… - … II” e apoio 35 (ex-apoio n.° 22) cujo,


estabelecimento atravessa a propriedade da A„ está afeta ao serviço público de
distribuição de energia elétrica (resposta ao art° 25° da contestação).

31 - O respetivo processo de licenciamento foi precedido de trâmites de consulta e


divulgação pública, tendo a respetiva licença de estabelecimento sido emitida por
Despacho de 05.07.2011 do Diretor Regional da DREN (resposta aos art°s 55° da p.i.
e 25° e 26° da contestação).

32 - A “Linha aérea a 60 KV - LI60-134 P… - … II” está estabelecida desde 2001 e


nunca foi apresentada qualquer reclamação sobre a implantação da linha, nem
ocorreu qualquer oposição à data da publicação dos éditos (resposta ao art° 28° da
contestação).

33 - A “Linha aérea a 60 KV - LI60-134 P… - … II”, na propriedade da A. encontra-se


alteada, uma vez que a EDP considerou que tecnicamente não era possível modificar
o traçado, porque os ângulos criados com a modificação do traçado eram demasiado
pronunciados e afetariam o desempenho da linha elétrica (resposta aos art°s 32° e 33°
da contestação).

34 - Os restantes proprietários abrangidos pelo atravessamento da linha foram


indemnizados pela R., com os mesmos critérios utilizados por esta para indemnizar a
A. (resposta ao art° 42° da contestação).

35 - Antes da implantação da linha, e sendo já o traçado da mesma do conhecimento


da Autora, esta, para além da correspondência referida em 10 e 13 destes factos
provados, não apresentou qualquer outra reclamação à Ré, nem solicitou a
Arbitragem, nos termos do Decreto-Lei n.° 43.335, por discordância com o valor
atribuído (resposta aos art°s 54° e 55° da contestação).

36 - A R. vem defendendo a posição de não aceitar que linhas como a “Linha aérea a
60 KV - LI60- 134 P… - … II” criem riscos para a saúde, invocando, designadamente,
documentos publicados pela Organização Mundial de Saúde, como sejam os
acessíveis em:

-http://projectomedeaesa.llmb.eom/Web_documen1s/pesquisa_a.p._14-10-
09_2.pdf2007

ou

-http://www.who.mt/peh-emf/about/WhatisEMF/en/

e informações do site da “internet” do Governo dos Estados Unidos da América sobre


cancro (www.cancer.gov), especialmente num artigo online publicado em:

http://www.cancer.gov/cancertopics/factsheet/Risk/magnetic-fields (resposta aos art°s


63, 64° e 65° da contestação).

37 - A EDP Distribuição efetuou um estudo do campo elétrico e magnético concluiu


que “o afastamento existente ao solo é suficiente para garantir nas linhas de 60KV
campos eletromagnéticos inferiores aos limites definidos na Recomendação do
Concelho da União Europeia n.° 1999/519/CE e que foi ratificada por Portugal através
da Portaria n.01421/2004” (resposta aos art°s 66° e 67° da contestação).

Foi considerada não provada a matéria dos art°s. 9°, 10°, 17° e 28° da p.i.

Não se respondeu à matéria dos art°s 49°, 54°, 58°, 59° e 61° a 76° da p.i., e 9o a 13°,
16° a 24°, 27°, 29° a 31°, 34° a 40°, 43° a 53°, 56° a 62°, 68° e 69° da contestação,
por se considerar o respetivo teor conclusivo.”

Conhecendo:

Sendo o objeto do recurso delimitado pelas conclusões das alegações – artigo 635º do
Código de Processo Civil – as questões a decidir respeitam:

- Nulidade do acórdão recorrido, por falta de fundamentação (montante não justificado


dos danos patrimoniais atribuídos) e, oposição entre os fundamentos e a decisão;

- Interpretação errónea de disposições do Decreto nº 43335 (Regime de


Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado e demais Entidades Públicas).

Interpretação do art. 37º, do Decreto nº 43335:

Em causa o atravessamento do prédio da autora por linha elétrica (Linha aérea a


60KV - LI60-134 P… - … II) e ainda a colocação (no terreno) de um poste que serve
de apoio à mesma.
Saber se esses factos provocam (danos) desvalorização do prédio e em que
montante.

Entendemos como no Acórdão deste Supremo Tribunal de Justiça, de 03-07-2014, no


Processo nº 421/10.0TBAVV.G1.S1: “I - As servidões administrativas são restrições ao
direito de propriedade incidente sobre um imóvel que são comandadas pelo interesse
público e que visam unicamente facilitar a produção da utilidade pública dos bens do
domínio que, estando fora do comércio privado, não têm valor venal, ou de coisas
particulares afectas a um fim público de grande interesse social.

II - A constituição de servidões administrativas só dá lugar a indemnização mediante


disposição legal expressa.

III - A propriedade de imóveis abrange o espaço aéreo correspondente à superfície


com tudo o que nele se contém e não esteja desintegrado do domínio por lei ou
negócio jurídico.

IV - A ocupação do espaço aéreo de uma casa de habitação e logradouro por linhas


aéreas de alta tensão instaladas pela ré configura uma servidão administrativa imposta
por lei, de cariz duradouro e de manifesta utilidade pública.

V - O art. 37.º do Decreto n. º 43335, de 19-11-1960, prevê um direito indemnizatório


geral decorrente não só dos prejuízos directos advindos do acto de construção de
linhas eléctricas, mas também de todos os prejuízos decorrentes da diminuição actual
do valor do imóvel pela construção ou pela passagem dessas linhas e
independentemente do destino que os seus titulares lhe pretendam dar”.

Resulta da matéria de facto provada que, em 2001, a R procedeu ao estabelecimento


e à exploração no prédio (propriedade da autora) referido em 1 destes factos
provados da linha elétrica, Linha aérea a 60 KV com 20265 m - LI60-134 P… - … II a
partir da Substação de P… (SE60-604); na(s) freguesias de ..., ..., ..., …, concelho
de ..., …), compreendida entre o apoio n.° 21 e o n.° 23 e que atravessa a propriedade
da A., tendo ainda instalado na mesma propriedade um poste de condução de energia
elétrica, o apoio n.° 22.

Sobre esta questão refere o acórdão recorrido:

“O Acórdão do STJ de 03/07/2014, proferido no Proc. n.° 421/10.0TBAW.G1.S1, veio


consolidar a jurisprudência dos Tribunais Superiores quanto ao âmbito de aplicação do
disposto no art.° 37° do Decreto n.° 43335, de 19/11/1960, nos seguintes termos: "O
art. 37.º do Decreto n.° 43335, de 19-11-1960, prevê um direito indemnizatório geral
decorrente não só dos prejuízos directos advindos do acto de construção de linhas
eléctricas, mas também de todos os prejuízos decorrentes da diminuição actual do
valor do imóvel pela construção ou pela passagem dessas linhas e
independentemente do destino que os seus titulares lhe pretendam dar."

O que o citado Acórdão, sustenta, nos seguintes termos: "Dispõe o art.37° do Decreto-
Lei n°43335 de 19 de Novembro de 1960 que: "Os proprietários dos terenos ou
edifícios utilizados para o estabelecimento de linhas eléctricas serão indemnizados
pelo concessionário ou proprietário dessas linhas sempre que daquela utilização
resultem redução de rendimento, diminuição da área das propriedades ou quaisquer
prejuízos provenientes da construção das linhas".
(…)

Em primeiro lugar o artigo em apreço fala de quaisquer prejuízos provenientes da


construção sejam eles directos e imediatos sejam quaisquer outros que possam advir
do simples facto da sua existência. Por outro lado o mesmo artigo prevê um direito a
indemnização sempre que daquela utilização resulte diminuição de rendimento.

O citado art.37° do Decreto-Lei n°43335 de 19 de Novembro de 1960 ao prever


quaisquer prejuízos provenientes da construção das linhas quis estabelecer um direito
indemnizatório geral decorrente não só do facto de existirem prejuízos directos
advindos do acto de construção mas de todos os prejuízos actuais ou futuros
decorrentes de uma diminuição do valor do imóvel pela construção ou passagem de
linhas, in casu, de alta tensão.

Do que podemos retirar, em face da melhor interpretação deste dispositivo, que, para
além dos prejuízos indemnizáveis por via da imposição da servidão administrativa,
resultantes directamente da materialização dessa servidão, existem outros prejuízos
indemnizáveis, por danos indirectos, nomeadamente os resultantes da desvalorização
do prédio por danos na qualidade ambiental do mesmo, ou por danos morais para o
proprietário resultantes da perturbação dos seus direitos de personalidade, como
sejam o direito ao repouso, ao sono, e a usufruir do prédio com tranquilidade”.

Ou seja, a lei permite a imposição de uma servidão a onerar um prédio, mas apesar de
o ser em benefício público não dispensa a compensação do onerado pelos prejuízos
sofridos.

Trata-se de uma servidão administrativa que, conforme refere o acórdão recorrido,


“Acolhendo a definição do Prof. Marcelo Caetano, no seu Manual de Direito
Administrativo, Vol. II, 9ª Ed., a págs. 1052, a servidão administrativa é "o encargo
imposto por disposição da lei sobre certo prédio em proveito da utilidade pública de
uma coisa"”.

Uma servidão administrativa só impõe indemnização ao onerado nos casos previstos


na lei e, a lei prevê o direito a indemnização em caso como o dos autos, de construção
de linha elétrica e atravessamento do prédio pela mesma.

O art. 37º do Decreto nº 43335 de 19 de Novembro de 1960 prevê o direito a


indemnização pelos prejuízos resultantes da construção de linhas elétricas
abrangendo não só os prejuízos resultantes da própria construção (prejuízos diretos
advindos do ato de construção) mas também por todos os prejuízos atuais ou futuros
resultantes da diminuição do valor do prédio derivados da construção ou passagem de
linhas elétricas.

E como anotam P. de Lima e A. Varela na anotação 5 ao seu Código Civil anotado, 2ª


ed., revista e ampliada, anotação ao art 1344º, ““Nos casos em que a lei permite a
ocupação do espaço aéreo para a satisfação de certos interesses de carácter colectivo
(passagem de linhas de alta tensão para transporte de electricidade, instalação de fios
telegráficos ou telefónicos, etc) há, em regra, a atribuição de um direito de
indemnização ao proprietário pelo prejuízo que ele sofre. É mais um tipo de caso em
que a licitude do acto não impede a obrigação de reparar o dano, pela injustiça que
constituiria o sacrifício de uns tantos em proveito de muitos outros”.
Tem, pois, a autora direito a uma justa indemnização pelos danos patrimoniais e não
patrimoniais que lhe resultaram pela imposição da linha elétrica suprarreferida.

Em causa no recurso apenas os danos patrimoniais.

Nos autos está provado:

18 - A linha elétrica "Linha aérea a 60 KV - LI60-134 P… - … II", que atravessa o


prédio referido em 1 destes factos provados entre os apoios 21 e 23, tem 7 (sete) fios,
atravessa o imóvel da A. a noroeste deste, e encontra-se a cerca de 7 (sete) metros
da casa de habitação, sendo que o apoio n.° 22 está instalado a cerca de 50
(cinquenta) metros da casa de habitação (resposta aos art°s 29°, 30° e 32° da p.i.).

19 - Com a instalação da referida linha aérea foi ocupado o espaço aéreo do prédio
referido em 1 destes factos provados no comprimento de aproximadamente 230
(duzentos e trinta) metros e, na largura, de cerca de 5 (cinco) metros (resposta ao art°
31° da p.i.).

20 - A linha elétrica "Linha aérea a 60 KV - LI60-134 P… - … II" é visível a partir do


interior e do exterior da casa de habitação (resposta aos art°s 33° e 34° da p.i.).

21 - A passagem de corrente elétrica na linha elétrica causa ruído, o que se agrava


nos dias em que faz vento e nos dias de maior humidade, e provoca incómodo a quem
se encontre na casa de habitação (resposta aos art°s 35°, 36°, 38° e 39° da p.i.).

28 - O atravessamento aéreo do referido em 1 destes factos provados pela "Linha


aérea a 60 KV -LI60-134 P… - … II" e a instalação de um apoio (apoio n.° 22) nas
condições e em que foi colocada, fez baixar o valor de mercado da desta propriedade,
sendo que a A. e a sua família, ao saberem da implantação da linha, projetaram
vender o imóvel por 400.000 euros, mas inicialmente obtiveram ofertas que não eram
superiores a 200.000 euros e, posteriormente, não vieram a obter mais qualquer
oferta, até a imobiliária "N…", onde tinham posto a propriedade à venda, ao fim de um
ano sem ofertas, ter desistido de promover essa venda (resposta aos art°s 50°, 51° e
52° da p.i.).

Donde resulta que a instalação da linha elétrica e colocação do poste na propriedade


da autora desvalorizou o prédio, o que é um dano patrimonial quantificável e
indemnizável.

O dano patrimonial consiste na perda de valor (total ou parcial) dum bem material,
sendo suscetível de avaliação pecuniária e de indenização ao proprietário, pelo
responsável.

Na indemnização por danos patrimoniais “Rege, quanto a estes, como se sabe, em


primeira linha, o princípio da reposição natural, expresso no art. 562.º do CCP. E
quando esta não for possível, bastante ou idónea (art. 566.º, n.º 1), há que lançar mão
da indemnização em dinheiro, a fixar de acordo com a teoria da diferença (art. 566.º,
n.º 2), segundo a qual a indemnização tem como medida, em princípio, a diferença
entre a situação patrimonial real do lesado na data mais recente que puder ser
atendida pelo tribunal e a situação hipotética que teria nessa data, se não tivesse
ocorrido o facto lesivo gerador do dano” – Cons. Sousa Dinis in Revista Julgar, n.º 9 -
2009.
No caso, para obter a justa indemnização há que apurar a diferença entre a situação
patrimonial real antes da constituição da servidão administrativa e a situação que
resultou dessa constituição, ou seja apurar o correspondente à desvalorização do bem
em consequência da constituição da servidão.

No despacho de audiência prévia se referiu a factualidade a ser sujeita a prova


indicando-se entre outra a apurar, o “Valor da propriedade e valor da desvalorização
causada pela instalação elétrica: linha aérea e o apoio n.º 22”.

Porém, facto apurado é o constante do ponto 28 – “O atravessamento aéreo do


referido em 1 destes factos provados pela "Linha aérea a 60 KV -LI60-134 P… - … II"
e a instalação de um apoio (apoio n.° 22) nas condições e em que foi colocada, fez
baixar o valor de mercado da desta propriedade, sendo que a A. e a sua família, ao
saberem da implantação da linha, projetaram vender o imóvel por 400.000 euros, mas
inicialmente obtiveram ofertas que não eram superiores a 200.000 euros e,
posteriormente, não vieram a obter mais qualquer oferta, até a imobiliária "N…", onde
tinham posto a propriedade à venda, ao fim de um ano sem ofertas, ter desistido de
promover essa venda (resposta aos art°s 50°, 51° e 52° da p.i.)”.

Apenas se referindo que a linha elétrica e o poste de apoio fizeram baixa o valor de
mercado da propriedade, mas não o apuraram.

Projetar vender o imóvel por 400.000 euros não é o mesmo que o imóvel tem o valor
de 400.000,00€.

Obter (inicialmente) ofertas que não eram superiores a 200.000 euros não é o mesmo
que o imóvel passar a valer, com a constituição da servidão, apenas 200.000,00€ e
com desvalorização de igual montante.

E posteriormente não obter mais qualquer oferta não é o mesmo que o imóvel passou
a valer zero.

Há que apurar a desvalorização, sendo que no mesmo despacho da audiência prévia


se refere “Prova pericial. A matéria controvertida e a sua apreciação depende de
conhecimentos especiais, pelo menos quanto às 3 últimas questões.

Por essa razão, determino a realização de prova pericial com o objeto supra referido –
art. 477.º do Código de Processo Civil”.

No acórdão recorrido e sobre o montante a indemnizar nesta sede, apenas se refere:


“Consequentemente, no que diz respeito à indemnização reclamada pela Autora a
título de danos patrimoniais, baseada na desvalorização do valor de mercado do
prédio, no caso de venda, a mesma deve ser calculada atendendo à desvalorização
do valor de mercado do prédio, resultante da situação anómala provocada pela
colocação da linha eléctrica de alta tensão muito perto (7 metros) da casa de
habitação do prédio da Autora, pelo que se fixa, à data de hoje, e tendo em conta o
Relatório da Peritagem de fls. 241 e sgs., a indemnização devida à Autora, a título de
danos patrimoniais pela desvalorização do seu prédio, no montante de €197.894,00”.

Atendeu-se ao meio de prova, ou ao meio de obtenção de prova (que por vezes se


confundem) sem concretizar o facto a provar.
Por isso, questiona a recorrente a nulidade do acórdão recorrido, por falta de
fundamentação (montante não justificado dos danos patrimoniais atribuídos) e,
oposição entre os fundamentos e a decisão.

E tem razão por que para concluir pelo valor da desvalorização do prédio deveria
haver facto correspondente a ser dado como provado.

Nos termos do disposto no art. 662º, nº 2 al. c), do CPC, a Relação, mesmo
oficiosamente, deve anular a decisão da 1ª Instância e mandar ampliar a matéria de
facto.

Podendo a Relação substituir-se à 1ª Instância se dispuser dos elementos


necessários, conforme preceitua o art. 665º, do mesmo CPC.

Constata-se que há factualidade indicada no despacho de audiência prévia, a ser


sujeita a prova, entre outra a apurar, o “Valor da propriedade e valor da desvalorização
causada pela instalação elétrica: linha aérea e o apoio n.º 22” e que não consta dos
factos provados nem dos não provados.

Vem alegado na petição:

“51.º - À data da instalação na “propriedade” da linha eléctrica de alta tensão (Linha


aérea a 60 KV - LI60-134 P… – … II), a “propriedade” tinha um valor de mercado de
aproximadamente 400.000,00 euros.

52.º - Após a instalação do poste eléctrico (apoio n.º 22) na “propriedade” e do


atravessamento aéreo da linha eléctrica de alta tensão sub judice sobre a mesma, a
“propriedade” desvalorizou-se em cerca de 30% (trinta por cento)”.

Temos que são factos alegados pela autora, não constantes dos factos provados, nem
dos não provados. O facto 28 dos provados não responde a esta matéria apesar de no
mesmo tal vir referido.

A resposta do Tribunal a estes factos permitirá concluir qual o montante monetário da


desvalorização do prédio, ou seja, quantificar o dano sofrido pela autora.

Concluiu o Ac. deste STJ de 07-10-2010, no Proc. nº 1364/05.5TBBCL.G1 que, “O


Supremo pode, ao abrigo do n.ºs 2 e 3 do art.º 729.º do CPC [682º do CPC vigente],
ordenar ex officio a ampliação da matéria de facto se existirem factos (principais,
complementares e instrumentais) alegados e contra-alegados de manifesta relevância,
carecidos de investigação, em ordem a constituir base suficiente para a decisão de
direito”.

Pode ler-se nesse aresto: “Em princípio, o Supremo Tribunal de Justiça limita-se a
aplicar «definitivamente o regime jurídico que julgue adequado» aos factos materiais
fixados pelo tribunal recorrido» (art.º 729.º, n.º 1, do CPC). Isto porque «a decisão
proferida pelo tribunal recorrido quanto à matéria de facto não pode ser alterada pelo
Supremo em sede de recurso de revista (seja «por erro na apreciação das provas»,
seja na fixação dos factos materiais da causa), salvo o caso excepcional previsto no
n.º 3 do art.º 722.º (violação de qualquer norma de direito probatório material) - art.º
729.º, n.º 2, do CPC.

O processo só volta ao tribunal recorrido em duas situações: a)- quando o Supremo


entenda que a decisão de facto pode e deve ser ampliada, em ordem a constituir base
suficiente para a decisão de direito»; b)- quando o Supremo entenda que ocorrem
contradições na decisão sobre a matéria de facto que inviabilizem a decisão jurídica
do pleito» (art.º 729.º, n.º 3, do CPC).

Na hipótese vertente – adianta-se desde já - verifica-se a situação contemplada na


alínea a) citada: a decisão de facto pode/deve ser ampliada, já que existem factos
(principais, complementares e instrumentais) alegados e contra-alegados de manifesta
«relevância, carecidos de investigação, em ordem a constituir base suficiente para a
decisão de direito»; daí que - sem pôr em causa os poderes soberanos das instâncias
em sede factual, designadamente o não uso (pela Relação) dos seus poderes de
modificação/alteração da matéria de facto nas diversas hipóteses contempladas no
art.º 712.º do CPC –, este Supremo deva oficiosamente ordenar essa baixa para os
fins propostos”.

Assim que, com estes fundamentos, deve ser revogado o acórdão recorrido, por
necessidade de ampliação da matéria de facto.

Só depois da proposta indagação, do facto suprarreferido (e outros correlacionados


que eventualmente tenham sido alegados e não objeto de pronuncia) poderá vir a
constituir-se base suficiente para uma criteriosa decisão de direito, pelo que, deve o
mesmo ser submetido a julgamento em harmonia com o regime jurídico supra
enunciado, se possível pelos mesmos juízes que intervieram no primeiro julgamento,
conforme o nº 1 do art. 683º, do CPC.

Sumário elaborado nos termos do art. 663º nº 7 do CPC:

I - Uma servidão administrativa só impõe indemnização ao onerado nos casos


previstos na lei e, a lei prevê o direito a indemnização em caso como o dos autos, de
construção de linha elétrica e atravessamento do prédio pela mesma.

II - O art.37º do Decreto nº 43335 de 19 de Novembro de 1960 prevê o direito a


indemnização pelos prejuízos resultantes da construção de linhas elétricas
abrangendo não só os prejuízos resultantes da própria construção (prejuízos diretos
advindos do ato de construção) mas também por todos os prejuízos atuais ou futuros
resultantes da diminuição do valor do prédio derivados da construção ou passagem de
linhas elétricas.

III - A instalação da linha elétrica e colocação do poste na propriedade da autora


desvalorizou o prédio, o que é um dano patrimonial quantificável e indemnizável.

IV - Para obter a justa indemnização há que apurar a diferença entre a situação


patrimonial real antes da constituição da servidão administrativa e a situação que
resultou dessa constituição, ou seja, apurar o correspondente à desvalorização do
bem em consequência da constituição da servidão.

V - O STJ pode, ao abrigo dos n.ºs 2 e 3 do art. 682º do CPC, ordenar ex officio a
ampliação da matéria de facto se existirem factos (principais, complementares e
instrumentais) alegados e contra-alegados de manifesta relevância, carecidos de
investigação, em ordem a constituir base suficiente para a decisão de direito.

Decisão:

Em face do exposto acordam, no STJ e 1ª Secção, em:

Julgar parcialmente procedente o recurso de revista e:

- Decidir pela aplicação, in casu, do disposto no art. 37º do Decreto nº 43335 de 19 de


Novembro de 1960.

- Revogar (ainda que por diferentes fundamentos) o acórdão recorrido e, ordenar a


baixa dos autos ao Tribunal da Relação para que seja providenciado pela ampliação
da matéria de facto nos termos e dentro dos parâmetros sobreditos.

Custas nos termos a decidir a final.

Lisboa, 29-03-2022

Fernando Jorge Dias - Juiz Conselheiro relator

Jorge Arcanjo - Juiz Conselheiro 1º adjunto

Isaías Pádua - Juiz Conselheiro 2º adjunto

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