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SERVIDÕES PREDIAIS

Servidão predial é definida como a atribuição ao titular de um prédio (dominante) de


utilidades provenientes de outro prédio (serviente)- Estão previstas no artigo 1543º do Código
Civil.

As características das servidões prediais são:

 A ligação necessária a um prédio- A atribuição da servidão é sempre em função da


titularidade de um prédio dominante, não sendo admitidas as servidões pessoais, em que a
atribuição das utilidades do prédio é feita independentemente de o seu beneficiário ser ou não
titular de outro prédio.
O titular do direito de servidão não é o prédio dominante, mas obviamente a pessoa
que seja seu titular, não necessariamente o proprietário, podendo ser usufrutuário
(art. 1575º) ou superficiário (art. 1529º).
Ligação imprescindível, dado que apenas as utilidades que possam ser suscetíveis de
ser gozadas por intermédio do prédio dominante é que podem ser objeto da
servidão (art. 1544º).

 Atipicidade do conteúdo art. 1544º- constituem direito atípico e o seu objeto pode ser
variado.
É admitido que o proprietário do prédio serviente se obrigue a custear obras, embora
se possa eximir (1567º/4), mas é apenas obrigação propter rem, a título acessório, que
não se confunde com o conteúdo da servidão.
Da classificação romana ficaram as servidões de passagem, de aqueduto, de
aproveitamento de águas, de estilicídio, de apoio do edifício, de introdução de traves,
de varandas, de não perturbação de luz, de não afetação de vista, de vistas, de não
edificação, de limitação em altura, de apascentamento e de retirar bens do prédio
vizinho.

 Inseparabilidade (art. 1545º)- em relação ao prédio sobre que incide, sendo corolário
da regra de que as utilidades do prédio serviente devem ser gozadas através do prédio
dominante.
Pires de Lima e Antunes Varela: Inseparabilidade exige apenas que, em concreto, o
direito a essas utilidades esteja ligado a um prédio dominante, sendo característica
meramente legal da servidão.
Servidão é intransmissível e não pode, per si, ser objeto de alienação ou oneração, não
pode ser destacada de um prédio.
A servidão acompanha o prédio se ele for alienado ou onerado.

 Indivisibilidade (art. 1546º)- Não são suscetíveis de serem repartidas por partes,
incidindo sobre a totalidade do prédio serviente e não sobre apenas uma parte deste, sendo
sempre exercidas por intermédio de todo o prédio dominante e não apenas sobre uma sua
parte.
Mesmo que seja limitado por local, dias ou horas, há sempre uma utilidade total da
servidão.
Divisão dos prédios não implica a multiplicação das servidões e, ou cada fração onde
recaía a servidão se mantém, ou há contitularidade da mesma.
MODALIDADES DAS SERVIDÕES

- Positivas: Atribui ao titular do prédio dominante o poder de realizar certos atos sobre o
prédio serviente. (ex: passagem, apascentamento)

- Negativas: Titular do prédio serviente fica obrigado a abster-se da prática de certos atos, de
forma a incrementar as utilidades do prédio dominante (ex: não edificação, limitação da
edificação em altura).

- Desvinculativas: Ocorre a libertação do prédio de uma restrição legal imposta em benefício


do prédio serviente (ex: escoamento, estilicídio).

- Aparentes: Revelam-se por sinais visíveis e permanentes à existência de uma servidão,


devendo manifestar a servidão erga omnes, podendo não apenas o dono do prédio serviente
mas também qualquer pessoa observar tais sinais.

- Não aparentes: Não se revelam por sinais (1548º/2). Não podem ser adquiridas por
usucapião (art. 1548º/1 e 1293º/1 a), e também não permitem a constituição por destinação
de pai de família (1549º).- Não tem nada a ver com o caráter público ou oculto da posse- pode
haver posse pública em servidões não aparentes (servidão de aproveitamento das águas), e
posse oculta em servidões aparentes (servidão de passagem).

- Contínuas: Aquelas que se exercem permanentemente, independentemente de qualquer


ação do homem (ex: servidão de aqueduto, de estilicídio ou de vistas)

- Descontínuas: Aquelas cujo exercício é intermitente, dependendo de ação humana. (ex:


servidão de passagem, de aproveitamento de aguas ou de apascentamento).- Não se confunde
com a servidão ser aparente ou não.

- Voluntárias: Exige o consentimento do proprietário do prédio serviente para se poder


constituir.

- Legais: Pode ser constituída sem o consentimento do proprietário do prédio sujeito à


servidão.

– 1547º/2- podem ser obejto de constituição voluntária por NJ ou através de sentença judicial
ou decisão administrativa.

- 1569º/2, 3 e 4- causas de extinção particulares.

(Servidões legais de passagem, servidões legais de águas)- página 104 DNB

CONSTITUIÇÃO, CONTEÚDO E MUDANÇA

Art. 1547º estabelece como podem ser constituídas as servidões prediais:


 Contrato (proprietários acordam em atribuir, por intermédio de um dos prédios
determinadas utilidades ao outro prédio. Deve ser celebrada escritura pública (art. 22º/a) DL
116/2008) e sujeito a registo (art. 2º/1 a) CRPre.
 Testamento: legado de prédio a favor de outrem, constituindo simultaneamente uma
servidão a favor de terceiros. Deve respeitar a forma dos testamentos (art. 2204º).
 Usucapião (art. 1548º)- apenas no caso das servidões aparentes (1548º/1 e 1293º a))
Devido ao facto de as servidões não aparentes não se revelarem por sinais visíveis e
permanentes, estas podem ser exercidas na ignorância do proprietário do prédio
serviente ou são confundidas com atos de mera tolerância.
 Destinação do pai de família (art. 1549º)- ocorre sempre que em dois prédios do
mesmo dono, ou em duas frações de um só prédio, houver sinais visíveis e permanentes,
postos em um ou em ambos, que revelem serventia de um para com o outro.
Existem 4 requisitos:
- dois prédios ou duas frações de um prédio terem pertencido ao mesmo dono- o uso
anterior dos prédios foi por antigo proprietário comum;
- existam sinais visíveis e permanentes reveladores de uma situação estável de
serventia de um dos prédios em relação a outro- sinais inequívocos em relação à
vontade ou consciência do antigo proprietário de criar uma situação estável e
duradoura de afetação das utilidades de um prédio em benefício de outro.
- dois prédios ou frações tenham vindo a ser separados do mesmo domínio;
- não haja documento relativo a essa separação nenhuma declaração contrária à
existência desse encargo- essa figura tem carácter supletivo pelo que as partes podem
dispor em sentido contrário no respetivo documento.
 Sentença judicial ou decisão administrativa- na falta de constituição voluntária pode
ter de se recorrer a esta figura, e sempre que se verifiquem os pressupostos de uma servidão
legal, a mesma deve considerar-se sujeita a esse regime, mesmo que tenham sido constituídas
voluntariamente.
Sentença judicial: sempre que o proprietário do prédio sujeito a servidão legal não
decida voluntariamente constituí-la.
Decisão administrativa: como o caso das águas, ligadas a concessão de águas públicas.

Após a sua constituição as servidões são exercidas, atendendo ao seu conteúdo, nos
termos dos art. 1564º e ss.
- Disposições supletivas tendo em conta que o título constitutivo é o elemento
modelador determinante em relação ao exercício da servidão.

EXTINÇÃO DAS SERVIDÕES – ART 1569º

 Confusão de propriedade- pode ocorrer quando o titular de um prédio adquire o


outro ou quando um terceiro adquire ambos.
 Não uso durante 20 anos- extingue todas as servidões.
 Usucapio libertatis- art 1574º
 Renúncia- que não requer aceitação do proprietário do prédio serviente (1569º/5).
Pode haver renúncia liberatória à servidão para o proprietário de um dos prédios dominantes
se eximir do encargo de custear obras (1567º/2).
Desnecessidade- caso das servidões constituídas por usucapião e as servidões legais.
Remição- no caso das servidões legais de aproveitamento de águas- art 1569º/4.
NATUREZA

Teoria do Direito Real menor- AO, Carvalho Fernandes e ML- Direito real de gozo
incidente sobre coisa alheia, ainda que o gozo que a servidão proporciona incida sobre
coisa diferente daquela que constitui o seu objeto.

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