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DIREITOS REAIS DE GOZO OU FRUIÇÃO SOBRE COISA

ALHEIA: SUPERFÍCIE, SERVIDÕES, USUFRUTO E USO.

Bianca Leme Dutra Lôbo,


Alfaunipac-TO, Direito, Direito das Coisas,
Turma: 2, 5º Período, Teófilo Otoni, Brasil.
E-mail: bialobodireito@gmail.com.

1. Introdução

Para introduzir essa temática, vale ressaltar que estamos falando do direito
das coisas, previsto no livro III, parte especial do Código Civil de 2002. Onde trata
primeiramente sobre a Posse e em seguida sobre os direitos reais, sendo o direito
de propriedade o mais importante e completo, todos os outros se desmembram e
são denominados direitos reais sobre coisas alheias, ou seja, direitos reais
menores, estes são regulados nos títulos IV a X do livro III, sendo subdivididos em
direitos reais de gozo ou fruição e direitos reais de garantia.
Neste trabalho iremos falar das subdivisões do direito de gozo ou fruição em
especial da superfície, servidões, usufruto e uso. Vale destacar, que o direito
brasileiro trouxe novamente o direito de superfície, previsto na legislação do Reino
de Portugal aqui aplicado no direito, mas que não era contemplado no diploma de
1.916. Trata-se de um direito real de fruição ou gozo sobre coisa alheia, que surgiu
da necessidade de se permitir nas edificações da sociedade sobre os bens público
que permaneciam no solo em poder do estado.
Nesta época, no direito romano, o estado arrendava as terras para pessoas
particulares e estes se obrigavam ao pagamento de parcelas, com o objetivo
primeiro de manter a posse das terras conquistadas.
Já em se tratando das servidões, vale destacar que se trata da utilização de
vantagens de um prédio alheio, vizinho ou próximo, não indispensável, mas
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necessário vantajosa. ao falarmos do usufruto é o direito de usar uma coisa
pertencente a outrem e de perceber lhes os frutos este conceito clássico foi
originados do direito Romano iremos finalizar este trabalho com a compreensão do
Uso que é considerado um usufruto restrito, pois ostenta as mesmas
características de direito real, temporário e resultante do desmembramento da
propriedade, com a diferença de que o usufrutuário aufere o uso e a fruição da
coisa e ao usuário é concedida a utilização restrita a suas necessidades e de sua
família.
Dessa forma, esperamos com esse trabalho elencar as principais
características de cada subdivisão aqui apresentada proporcionando a todos os
interessados uma maior compreensão dentre os direitos reais no tocante ao gozo
ou fruição.

2. Superfície

O direito de superfície está previsto no artigo 1369 do código civil trazendo o


seguinte texto:
Trata se na realidade de um direito real de fruição ou de gozo sobre uma
coisa onde o proprietário concede a outra pessoa o direito de construir, plantar, por
um determinado tempo, mediante uma escritura pública registrada in cartório de
registro de imóveis, sendo vedado a obra em subsolo, salvo somente em casos
inerentes ao objeto dessa concessão.
Este instituto não impede que mais de uma pessoa possa ser titular do direito
de superfície ou até mesmo que o superficiário construa para alugar ou até mesmo
que hipoteque o imóvel afim de obter condições para realizar a construção.
Vale destacar ainda que, este caso só pode acontecer se o terreno não tiver
nenhuma construção ou plantação, caso contrário, este bem não poderá ser objeto
do direito de superfície.
O direito de superfície tem concessão temporária, devendo ser fixado o tempo
de duração em seu documento e constando ainda, se esse direito será de forma
gratuita ou onerosa, se for onerosa, o pagamento deve ser realizado de uma única
vez ou ao invés disso, se será parceladamente.
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Em consequência da superfície vemos o surgimento de uma propriedade
resolúvel, ou seja, aquela que esta sujeita a ser abolida, destinada a acabar, como
está previsto no artigo 1.359, CC.
Ocorre a extinção do direito de superfície pelo advento do termo, Ou seja
após concluir o tempo estabelecido no contrato, ou em razão de desvio da
finalidade contratual, quando o superficiário der ao terreno destinação diferente
daquela para que foi concedida e pela desapropriação, neste caso, como está
previsto no artigo 1376 do Código Civil a indenização cabe ao proprietário o dono
do terreno e ao superficiais o dono da construção ou plantação, cabendo a cada um
deles o equivalente ao seu valor.
Com a extinção do direito de superfície o proprietário passará a ter a
propriedade plena sobre o terreno, construção ou plantação, independente de
indenização salvo se houverem estipulado em contrato.

3. Servidões

As servidões constituem direito real instituído em favor de um prédio sobre


outro pertencente ao dono distinto. A servidão pode ser predial que nasce da
vontade dos proprietários e a servidão legal, que são os direitos de vizinhança
impostos coercitivamente.
As servidões podem tomar forma de trânsito ou de passagens, de aqueduto,
ou seja, a canalização, servidão de iluminação ou ventilação, servidão de pastagem
e ainda a servidão de não construir a certa altura.
Destarte perceber que os prédios devem ser vizinhos, devendo guardar uma
certa proximidade, que a servidão exerça em efetiva utilidade do prédio dominante.

Características das servidões

Podemos observar algumas características de uma servidão predial como: a


relação entre 2 prédios diferentes, subordinados e dominantes; os prédios devem
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pertencer a donos diferentes; a coisa é a coisa e não o dono; a servidão é
constituída por declaração expressa do proprietário ou por testamento inscrito no
registo predial; deve ser útil para o edifício dominante; é um direito real e de
subordinação, direito real porque incide diretamente sobre bens imóveis, servidão de
subordinação porque assenta sobre um direito real; a servidão é indefinida; uma
servidão é indivisível, só pode ser reivindicada como um todo e não é transferível
porque surge das necessidades do prédio principal.

Classificações das servidões

Temos também algumas classificações das servidões:


Quanto ao modo de seu exercício:
• Servidão contínua quando for exercida autônoma de uma ação
humana;
• Servidão descontínua, quando houver indigência de atos humanos;
• Servidão positiva é a que atribui ao proprietário do prédio dominante o
direito de praticar atos no prédio serviente e,
• Servidão negativa é a que determina abstenção de praticar qualquer
ato de utilização.
Quanto a visibilidade:
• Aparente é aquele que se manifesta por obras externas, visíveis e,
• Não aparente sendo aquelas que não revelam obras externas, como no
caso de não edificar a uma certa altura.
Além dessas classificações, elas podem combinar-se dando origem as
servidões contínuas e aparentes, contínuas e não aparentes, descontínuas e
aparentes, e, descontínuas e não aparentes.
Quanto à localização do imóvel:
• Servidões urbanas, são servidões que recaem sobre prédios urbanos,
como no caso de não poder construir a certa altura, permitir a
passagem de água em seu imóvel, quando assim for necessário etc.,
• Servidões rurais ou rústicas, são as que recai sobre imóveis rurais,

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passagem de gado em terras vizinhas, aqueduto etc.
De acordo com o artigo 1.378 e 1.379 do CC, as servidões podem ser
constituídas de diversas maneiras, ou seja, por ato humano, através de um negócio
jurídico, uma sentença, da usucapião ou destinação do proprietário e através do fato
humano, no caso de servidão de trânsito.
O Código Civil ainda prevê a possibilidade de remoção da servidão, de um
local para outro, pelo dono do prédio serviente e pagando as custas, e se não
houver prejuízo algum ao prédio serviente, como está expresso no artigo 1.384.
Vale ressaltar que os atos favoráveis às servidões são: Confissão, visando ao
reconhecimento judicial da existência da servidão, Negação, visando à obtenção de
sentença declarando a inexistência da servidão, Atos de posse, que dependem da
edificação sendo intimados Proprietários da propriedade principal por
desapropriação ou assédio, execução duma hipoteca e ações de usucapião.
A servidão só pode ser cancelada contra terceiro, exceto no momento da
rescisão, exceto por expropriação, que pode ser por renúncia do titular da servidão,
por perda de utilidade determinando sua composição, por resgate da servidão,
desordem, supressão de obras, e dez anos sucessivos não utilizados.

4. Usufruto

Usufruto seu conceito clássico originário do direito Romano, É o direito de


usar uma coisa que pertence a outra pessoa e os frutos lhe pertencer. Vale
ressaltar que faz parte do direito real de fruir as utilidades e frutos de uma coisa,
sendo que, alguns poderes inerentes ao domínio dessa coisa são transferidos ao
usufrutuário passando a ter direito de uso e gozo sobre a coisa alheia.

Características

Usufruto tem algumas características fundamentais encarado sob o prisma do


usufrutuário como:
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• Temporariedade, pois se extingui com a morte do usufrutuário de
acordo com o exposto no artigo 1410, CC, inciso I ou no prazo de 30
anos se constituído em favor de pessoa jurídica como está instituído no
inciso III desse mesmo artigo.
• Inalienabilidade, sendo esta apontada como a principal vantagem do
usufruto alienação só poderá ocorrer para enfeixar todos os poderes
em mãos de uma só pessoa extinguindo o direito real de usufruto pela
consolidação, sendo permitida a cessão do seu exercício.
• Impenhorabilidade, o direito de usufruto não pode ser penhorado
porque a penhora destina-se a promover a venda forçada do bem em
hasta pública, mas o seu exercício pode ser cedido, dessa forma pode
ser passível de ser penhorar, no entanto o juiz que determinar a
penhora deverá nomear um administrador do imóvel para que os frutos
produzidos e colhidos sirvam para pagar o credor até que extingue
totalmente a dívida. Podemos observar que o usufrutuário, não perderá
o direito de usufruto pede apenas temporariamente o exercício desse
direito. mas se caso a dívida for do proprietário a penhora pode recair
sobre os direitos do usufrutuário.

Constituição

Usufruto pode ser constituído por determinação legal, ou seja, aquele


estabelecido pela lei como está disposto no artigo 1.689, inciso I, CC, por ato de
vontade, aquele em que as partes realizam um negócio jurídico e registram no
cartório de registro de imóveis como dispõe os artigos 1.277 e1.391 do CC, em
casos de bens imóveis, pode ser constituído do usufruto bens móveis e através de
testamentos e a última forma de constituição do usufruto é através do usucapião
desde que concorram os requisitos legais.

Espécies

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Quanto a origem:
• Usufruto pode ser legal, instituído pela lei ou convencional, o que
resulta de um negócio jurídico, seja ele bilateral inter vivos ou unilateral
e mortis causa.
Quanto a duração:
• Pode ser temporário com prazo certo de vigência ou vitalício sendo
estabelecido para durar enquanto tiver vida o usufrutuário.
Quanto ao seu objeto:
• O usufruto pode ser próprio tendo por objeto coisas inconsumíveis e
infungíveis ou impróprio quando temos bens consumíveis ou fungíveis.
Quanto aos titulares:
• O usufruto pode ser simultâneo sendo constituído em favor de 2 ou
mais pessoas ou sucessivo em favor de uma pessoa, esse tipo de
usufruto não é permitido em nosso ordenamento jurídico.
Em nosso código civil além de percebermos regras gerais relativa aos direitos
do usufrutuário, traz também as modalidades especiais como está disposto no artigo
1.395, 1.397 1.392 e seus parágrafos, CC, sendo eles usufruto dos títulos de crédito,
usufruto de um rebanho, usufruto de bens consumíveis, usufruto de florestas e
Minas e usufruto sobre universalidade ou quota parte.
Para extinguir usufruto é necessário fazer o cancelamento do registro no
cartório de registro de imóveis pela renúncia ou morte do usufrutuário, pelo termo de
sua duração, pela extinção da pessoa jurídica em favor de quem usufruto foi
constituído ou pelo decurso de 30 anos, pela cessação do motivo de que se origina,
pela destruição da coisa, pela consolidação, por culpa do usufrutuário quando aliena
deteriora ou deixa arruinar os bens não lhes acudindo com os reparos de
conservação ou pelo não uso ou não fruição da coisa em que o usufruto recai.

5. Uso

O uso é considerado um usufruto restrito por compreender as mesmas


características de direito real temporário e resultante do desmembramento da
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propriedade tendo como distinção somente o fato de ou usufrutuário auferir o uso e
a fruição da coisa, enquanto usuário não é concedida se não a utilização aos limites
de sua necessidade ou de sua família.
O direito real de uso confere a seu titular a faculdade de fruir por tempo
determinado, a utilidade da coisa que grava, ou seja, o direito de usar a coisa
alheia, e certa porção dos seus frutos, tanto quanto bastem para suprir a
necessidade da sua família, como está exposto no artigo 1.412, CC.
A extinção do uso se dá pela mesma forma do usufruto, como está previsto
no art. 1.410 CC.

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6. Considerações Finais

O direito real de gozo ou fruição é aquele instituído a um determinado titular


com o direito para usar gozar e fruir de coisa alheia. Os direitos analisados, são os
direitos menores, em comparação a propriedade.
Dessa forma, podemos perceber que o Código Civil de 2002 se preocupou
em contemplar todas as possíveis situações em que alguém disponibiliza o seu
bem em favor de outrem, regulamentou através dos seus artigos, parágrafos e
incisos o que incide para cada sujeito do negócio jurídico, deixando bem claro que
o contrato acordado entre as partes relativos a esses institutos devem ser
registrados em cartório do registro de imóveis, sendo gratuitos ou oneroso e para a
sua extinção deve ser cancelado o seu registro.
Vimos ainda que o usufruto e o uso são institutos muito próximos sendo o uso
considerado como usufruto restrito aos limites de sua necessidade e de sua família.
Portanto, podemos perceber a necessidade do estudo sistemático e atento a
todos os institutos relacionados ao direito de gozo.

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7. Referências Bibliográficas

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil: Contratos em espécie- direito das coisas-v.2/coor. Pedro
Lenza.- 9.ed.Sao Paulo: saraiva Educação,2021.

Disponível em: Direitos reais de gozo - Direitos Reais DIREITOS REAIS DE GOZO DIREITO DE
PROPRIEDADE Está regulado - Studocu Acessado em 21/03/2023.

Disponível em: https://copyspider.com.br/. Acessado em 21/03/2023.

Disponível em: Direito real de gozo - Pesquisar (bing.com) Acessado em 21/03/2023

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