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31/05/2023, 14:06 Direitos Reais sobre coisa alheia e suas garantias

Direitos Reais sobre coisa alheia e suas garantias


Gilberto Fachetti Silvestre

Descrição

Abordagem conceitual e prática dos direitos reais de garantia (propriedade fiduciária, penhor, anticrese e
hipoteca) e do direito real de servidão.

Propósito

Esta é uma das principais matérias das quais resultam demandas discutidas em ações judiciais, sendo,
portanto, um assunto de grande viés prático e de operabilidade para o exercício das profissões jurídicas que
o aluno exercerá no futuro.

Preparação

Para iniciar o estudo deste conteúdo, tenha o Código Civil atualizado em mãos, pois você precisará
consultá-lo para compreender como é a disciplina jurídica.

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Objetivos

Módulo 1

Servidão
Distinguir as principais características da servidão.

Módulo 2

Alienação e propriedade fiduciária


Identificar a relação entre alienação fiduciária e propriedade fiduciária.

Módulo 3

Direito real de garantia


Identificar as modalidades de direito real de garantia.

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Introdução

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Os direitos reais de garantia são instrumentos importantes para o desenvolvimento econômico, pois
contribuem para a concessão de empréstimos e financiamentos, que, por vezes, são aplicados no patrocínio
de atividades econômicas e empresariais.

Daí, a importância de se compreender em detalhes como se dá a constituição da propriedade fiduciária, do


penhor, da hipoteca e da anticrese, pois as consequências sociais e jurídicas que podem advir dessas
situações servem de campo fértil para o desenvolvimento profissional do aluno que está sendo formado.

Paralelamente a isso, um direito real muito comum e nem sempre conhecido é a servidão, que se destina ao
melhor uso de um imóvel, o que favorece a função social da propriedade e ameniza conflitos entre vizinhos.

1 - Servidão
Ao final deste módulo, você será capaz de distinguir as principais características da servidão.

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O direito real de servidão


Neste vídeo, você compreenderá o que é servidão e suas nuances antes de nos aprofundarmos nas regras
peculiares do Código Civil.

Definição e finalidade
A servidão é um tipo de direito real previsto no Código Civil no inciso III do art. 1.225 e dos arts. 1.378 a
1.389. Integra o rol de direitos reais sobre coisas alheias, ou seja, um poder que alguém tem sobre o imóvel
de outra pessoa.

Atenção!

Ao tratar de servidões, o Código Civil refere-se a “imóvel” como “prédio”. Aqui, então, prédio não significa,
necessariamente, uma construção de alguns andares; diz respeito a qualquer tipo de construção e até
mesmo a lotes vazios. Por isso, inclusive, as servidões também são chamadas de “servidões prediais”.

Para entender o que é uma servidão, é necessário estabelecer conceitos preliminares.

Na servidão, sempre haverá dois ou mais imóveis (“prédios”) envolvidos:

Prédio serviente
Um (ou mais) deles é chamado de “prédio serviente”: trata-se do imóvel sobre o qual o proprietário de outro
terá algum poder; este é o imóvel que caracteriza a “coisa alheia” do direito real de servidão.

Prédio dominante

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O outro imóvel é chamado de “prédio dominante”: é o imóvel beneficiado pelo encargo estabelecido sobre o
prédio serviente, ou seja, a servidão é constituída para favorecer este prédio dominante de alguma maneira.

Observe, então, que o prédio serviente é o imóvel que sofre restrições ou se submete a encargos e o prédio
dominante é aquele que se beneficiará das restrições ou encargos sobre o imóvel serviente.

A seguir, um exemplo simples e preliminar para começar a entender o assunto:

X e Y são proprietários de duas casas contíguas (uma ao lado da outra).

X compra um carro, mas não tem espaço suficiente para passar com ele em seu quintal para chegar à
garagem.

X pede a Y uma autorização para passar em um trecho de um metro no quintal de Y todas as vezes em
que precisar retirar e recolocar o carro na garagem.

Y permite e ambos procedem à formalização necessária.

Ilustrando:

Ilustração de uma servidão.

Nesse exemplo, observe que a faixa de um metro do quintal de Y permanece sendo dele, mas X passa a ter
o direito de utilizar, de alguma forma, esse trecho para seu benefício e para melhor uso do seu imóvel (que
não tem passagem para carro). X somente poderá utilizar essa faixa do imóvel de Y para a passagem do
seu carro, e para nada mais (a não ser, talvez, praticar obras de conservação). O imóvel de Y é o prédio
serviente, pois passará a servir ao imóvel de X, que é o dominante.

Observe, também, que o imóvel de Y terá seu uso, de certo modo, parcialmente restringido. Embora a faixa
do terreno permaneça sendo de Y e esta possa até utilizar, haverá uma restrição porque ele terá que tolerar
o uso por X. Ou seja, seu uso não mais será pleno, como antes. Essa situação ilustra a servidão predial:
trata-se de um direito real constituído sobre o imóvel de uma pessoa para garantir o exercício mais útil da
propriedade de outro imóvel.

Esta é definição do Código Civil quanto a este direito real:

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Art. 1.378. A servidão proporciona utilidade para o prédio dominante, e grava o


prédio serviente, que pertence a diverso dono, e constitui-se mediante
declaração expressa dos proprietários, ou por testamento, e subsequente
registro no Cartório de Registro de Imóveis.

(LEI Nº 10.406/2002)

Quando o art. 1.378 diz que a servidão “grava o prédio serviente”, isso significa que a servidão cria uma
obrigação propter rem, ou seja, não recai sobre as pessoas dos proprietários dos imóveis dominante e
serviente. Na verdade, a servidão recai sobre os imóveis. É como se a servidão fosse um direito do prédio
dominante e um dever do prédio serviente, ou seja, são poderes e encargos das coisas, e não dos
proprietários de tais coisas.

Por isso, havendo transmissão da propriedade do prédio serviente, o novo proprietário suportará a servidão,
pois esta não foi constituída sobre o antigo proprietário, mas sobre o imóvel serviente. De igual maneira, se
o proprietário do prédio dominante transferir a propriedade para terceiro, o adquirente recebe o imóvel com
a possibilidade de usufruir da servidão e o proprietário do imóvel serviente deve suportá-lo.

Atenção!

Isso não significa dizer que a servidão será, obrigatoriamente, perpétua. Ela pode ser extinta nas hipóteses
dos arts. 1.387 a 1.389, que inclui a extinção por acordo de vontades.

A servidão predial serve à coisa, e não ao proprietário da coisa, pois o que é gravado com direito real é o
imóvel, e não a pessoa do proprietário. Os exemplos mais comuns são:

Servidão de passagem (de pessoas, de veículos, de cabos, de tubulações etc.).

Servidão de vista (acordo para não edificar acima de determinada altura).

Ventilação (deixar espaço entre construções para aumento da circulação de ar).

Retirada de água (acesso a nascentes e rios em outro imóvel).

Características
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Confira agora as principais características da servidão.

Acessoriedade

A servidão é um acessório do direito de propriedade, pois se destina a melhorar e aperfeiçoar


o exercício da propriedade do imóvel dominante, sem prejuízo do imóvel serviente (apesar
das restrições que serão sofridas, não haverá prejuízo substancial).

Sequelado

A servidão adere à coisa e a acompanha, podendo o proprietário dominante tomar medidas


para garantir a posse sobre a coisa em caso de moléstia.

Inalienabilidade

O imóvel dominante pode ser alienado, ou seja, terceiro pode se tornar novo proprietário
dominante; por ser obrigação propter rem, a servidão permanece aderida ao imóvel dominante
e o novo proprietário poderá utilizá-la. O adquirente recebe a servidão porque ela é alienada
com a propriedade. A inalienabilidade da servidão consiste na impossibilidade de transferir
exclusiva e unicamente a servidão para terceiro, ou seja, não é possível alienar ou transferir
somente a servidão; ela pode ser transferida junto com a propriedade do imóvel dominante,
mas nunca isoladamente.

Perpetuidade

A servidão é constituída para ser perpétua, ou seja, nunca desfeita. Ocorre que a regra
comporta exceções, que são as previstas dos arts. 1.387 a 1.389 do Código Civil.

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Todo direito real constituído ou transmitido sobre coisas imóveis são adquiridos somente
com o registro no Cartório de Registro de Imóveis (arts. 1.245 a 1.247). Essa regra não é
diferente no caso da servidão, conforme art. 1.378 do Código Civil, que diz que a servidão
“constitui-se [...] subsequente registro no Cartório de Registro de Imóveis”. Se existir o título
que confere ao dominante o direito à servidão, mas que não foi registrado, o caput do art.
1.379 do Código Civil permite a aquisição da servidão pela usucapião, desde que haja posse
contínua e aparente por pelo menos 10 anos.

Indivisibilidade

Caso o imóvel serviente ou o imóvel dominante sejam divididos (loteados, p. ex.), a servidão
não será “dividida” em partes tal e qual os imóveis; a servidão se mantém única e as novas
partes resultantes se subordinam à servidão.

Impresuntibilidade

A servidão não é presumida, devendo ser provada de maneira explícita e inequívoca; logo, não
se admitem interpretações extensivas para caracterizar servidão em uma determinada
situação.

Voluntariedade

Uma servidão é constituída sempre com base em um negócio jurídico (unilateral, como o
testamento, ou bilateral, como um contrato). É possível que você encontre alguns livros
falando em “servidões legais”, que seriam servidões constituídas compulsoriamente por
determinação legal. Na verdade, esses casos existem, mas não são servidões; são questões
de vizinhança ou direito de vizinhança (arts. 1.282 a 1.313 do Código Civil). Além disso,
observe que o art. 1.378 do Código Civil diz que a servidão “constitui-se mediante declaração
expressa dos proprietários, ou por testamento”, ou seja, por atos jurídicos voluntários.

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Usucapibilidade

A servidão pode ser usucapida após 20 anos de posse contínua e aparente, caso o dominante
não tenha título que lhe confere o direito de usar o imóvel serviente.

Tipos
A seguir, você encontra os tipos de servidão.

Quanto ao Tipos

Servidão urbana: o imóvel é urbano, ou seja, localizado em perímetro


urbano.
Ao imóvel serviente
Servidão rural ou rústica: o imóvel encontra-se em zona rural e se
destina a atividades agrícolas, pecuaristas, extrativistas etc.

Servidão positiva: quando o proprietário do imóvel dominante pode


praticar algum ato sobre o imóvel serviente (ex.: passagem por um
beco para ter acesso à rua); depende de uma ação do proprietário
Ao direito
dominante.
concedido
Servidão negativa: quando o proprietário do imóvel serviente fica
impedido de praticar atos sobre o seu imóvel (ex.: construir acima da
laje); depende de uma omissão do proprietário serviente.

À forma de
Servidão aparente ou contínua: é o tipo de servidão que necessita de
exercício
ação humana reiterada para ser exercida e visualizada (ex.: passagem
de cabos de energia elétrica).

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Quanto ao Tipos

Servidão não aparente ou descontínuas: é aquela que o exercício é


imperceptível, pois não pode se visualizada (ex.: não construir acima de
certa altura para garantir vista para a rua.

Tabela: Classificação das servidões.


Gilberto Fachetti.

Dependendo do livro utilizado para aprofundamento do conteúdo, é possível que você encontre outros
nomes para as classificações da tabela. É possível, também, que você encontre mais classificações, as
quais repetirão conceitos de classificações quanto a outros elementos.

Servidão real e servidão pessoal


As servidões real e pessoal possuem conceitos diferentes. Observe a seguir.

Servidão pessoal

Diz respeito aos direitos reais de usufruto, uso e habitação. São pessoais porque dizem respeito ao uso
e ao gozo de bens por parte do usuário, do usufrutuário e do habitante. Aqui, a relação não é entre
prédios, mas entre um terceiro e a coisa.
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Servidão predial (real)

É identificada quando um prédio utiliza algo de outro prédio; não há relação pessoa-coisa, mas coisa-
coisa (isto é, prédio dominante-prédio serviente).

As servidões pessoais estão vinculadas a alguém, embora não sejam transmitidas por herança. Como a
servidão predial é um “direito da coisa”, ela é perpétua e independe de quem sejam os titulares das
propriedades dos prédios envolvidos.

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Apesar do nome, as servidões pessoais não são servidões propriamente ditas, pois estas são somente as
prediais. É um conceito tradicional que precisa ser diferenciado, mas que não se submetem ao regime
jurídico da servidão.

Servidão e passagem forçada


A servidão é constituída voluntariamente entre os proprietários dos prédios dominante e serviente.

Contudo, às vezes, o proprietário de um imóvel precisa de acesso à via pública e não consegue constituir a
servidão de passagem com seu vizinho. Isso acontece, geralmente, naqueles loteamentos ou quadras em
que um terreno ou uma construção não tem acesso à rua.

Se há recusa em constituir uma servidão de passagem e se há necessidade em obter acesso à via pública, o
proprietário do prédio encravado poderá, judicialmente, exercer o seu direito de passagem forçada (art.
1.285 do Código Civil).

Contudo, o direito de passagem pode ser constituído voluntariamente e, à diferença da servidão, não precisa
ser registrado no Cartório de Registro de Imóveis, pois não é direito real. O problema é quando nem o direito
de passagem e nem a servidão podem ser constituídas por desinteresse do proprietário do prédio serviente.

A passagem forçada não é servidão e não é um direito real; é um direito de vizinhança, de caráter pessoal e
constituído judicialmente. Assim, depende de uma ação judicial que determinará que um prédio vizinho ceda
uma parte de seu imóvel para a passagem do proprietário do prédio encravado, que, assim, terá acesso à via
pública.

Observe que o direito de passagem forçada tem lugar nos casos de encravamento em que a constituição de
uma servidão de passagem não ocorreu.

A seguir, algumas distinções:

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Servidão de passagem Passagem forçada

Direito previsto na lei (art. 1.285 do Código Civil) e que


Voluntária
poderá ser constituído coercitivamente por sentença judicial.

Gratuito ou oneroso Oneroso.

Natureza real (direito real) Natureza pessoal/obrigacional (direito de vizinhança).

Constituída pelo registro no


Não é registrada e é constituída por sentença judicial.
Cartório de Registro de Imóveis

Não se submete à usucapião (não existe “usucapião de


Usucapíveis (usucapião de uma
passagem forçada”, mas pode existir usucapião de
servidão)
propriedade).

Perpétua Pode ser revogada se o encravamento deixar de existir.

Tabela: Diferenças entre servidão e passagem forçada.


Gilberto Fachetti.

Constituição e extinção
A servidão pode ser gratuita ou onerosa. Observe a seguir.

Gratuita
O imóvel dominante não remunera o imóvel serviente pela constituição da servidão.

Dominante
O proprietário do imóvel dominante pagará uma remuneração ao proprietário do imóvel serviente.

A onerosidade precisa ser fixada no instrumento que constitui a servidão, pois, do contrário, presume-se que
a servidão é gratuita.

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Uma servidão pode ser constituída a partir de:

Negócio jurídico (inter vivos ou mortis causa)

Usucapião

Sentença judicial

O art. 1.378 do Código Civil admite que a servidão seja constituída por ato negocial, ou seja, um contrato
entre os proprietários dos prédios serviente e dominante (ato inter vivos) ou um testamento do proprietário
do prédio serviente em favor do proprietário do prédio dominante (ato mortis causa).

Porém, como se trata de direito real sobre coisa imóvel, o art. 1.227 do Código Civil exige que a constituição
desse direito seja registrada na matrícula do prédio no Cartório de Registro de Imóveis. Assim, tanto o
contrato quanto o testamento devem ser registrados para que a servidão exista no mundo do Direito.

Sem o registro, o que existe entre os envolvidos é uma relação de confiança, uma promessa de constituir a
servidão, mesmo que o prédio serviente já esteja sendo usado. Haverá, assim, um direito pessoal, e não real.
Para que a situação seja considerada juridicamente uma servidão (direito real) e, consequentemente, possa
produzir seus efeitos perante os envolvidos e os terceiros, dependerá de registro.

E não apenas: se os imóveis envolvidos tiverem valor superior a 30 salários-mínimos, o contrato e o


testamento não podem ser celebrados por instrumento particular; deverão, obrigatoriamente, ser celebrados
em instrumento público (escritura pública feita em Cartório de Notas), conforme o Código Civil:

Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à


validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência,
modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a
trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País

(LEI Nº 10.406/2002)

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O Código de Processo Civil de 1973, ao tratar do procedimento especial da ação de divisão de terras
particulares (arts. 967 a 981), previa a possibilidade de o juiz instituir servidões necessárias quando fosse
decidir a partilha:

Art. 979. Ouvidas as partes, no prazo comum de 10 (dez) dias, sobre o cálculo
e o plano da divisão, deliberará o juiz a partilha. Em cumprimento desta
decisão, procederá o agrimensor, assistido pelos arbitradores, à demarcação
dos quinhões, observando, além do disposto nos arts. 963 e 964, as seguintes
regras: [...]; II - instituir-se-ão as servidões, que forem indispensáveis, em favor
de uns quinhões sobre os outros, incluindo o respectivo valor no orçamento
para que, não se tratando de servidões naturais, seja compensado o
condômino aquinhoado com o prédio serviente; [...]

LEI Nº 5.869/1973

No Código de Processo Civil de 2015, foi mantida a mesma sistemática de instituição de servidões na via
judicial, também no procedimento especial da ação de divisão de terras particulares (arts. 588 a 598):

Art. 596. Ouvidas as partes, no prazo comum de 15 (quinze) dias, sobre o


cálculo e o plano da divisão, o juiz deliberará a partilha. Parágrafo único. Em
cumprimento dessa decisão, o perito procederá à demarcação dos quinhões,
observando, além do disposto nos arts. 584 e 585, as seguintes regras: [...]; II -
instituir-se-ão as servidões que forem indispensáveis em favor de uns quinhões
sobre os outros, incluindo o respectivo valor no orçamento para que, não se
tratando de servidões naturais, seja compensado o condômino aquinhoado
com o prédio serviente; [...]

LEI Nº 13.105/2015

Outra forma de constituição é a que ocorre pela usucapião. Não se trata da usucapião da propriedade de um
imóvel, mas da usucapião específica para o direito real de servidão. Esta previsão se encontra no Código
Civil:

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Art. 1.379. O exercício incontestado e contínuo de uma servidão aparente, por


dez anos, nos termos do art. 1.242, autoriza o interessado a registrá-la em seu
nome no Registro de Imóveis, valendo-lhe como título a sentença que julgar
consumado a usucapião. Parágrafo único. Se o possuidor não tiver título, o
prazo da usucapião será de vinte anos.

LEI Nº 10.406/2002

O caput traz a hipótese de uma usucapião ordinária de servidão; e o parágrafo único traz uma hipótese de
usucapião extraordinária. Como toda e qualquer usucapião, estas dependem de exercício contínuo (sem
interrupção) e inconteste (sem dúvidas) da servidão.

Em ambas as hipóteses (caput e parágrafo único), a servidão é exercida sem registro do título constitutivo
no Cartório de Registro de Imóveis. Esse exercício da servidão é aparente (servidão aparente), ou seja, há
exteriorização da relação de serventia entre os prédios dominante e serviente.

O caput do art. 1.379 remete à usucapião ordinária da propriedade do art. 1.242: “Adquire também a
propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por
dez anos. Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido
adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente,
desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse
social e econômico”.

Observe a tabela a seguir:

Usucapião do parágrafo
Usucapião do caput do art. 1.379
único do art. 1.379

Obrigatório. Essa usucapião é para os


casos em que há título (contrato ou
Não é exigido o título,
testamento) que não foi registrado ou
Justo título bastando a aparência de
que foram registrados, porém, esse
servidão ao longo do tempo.
registro foi anulado posteriormente
(relação com o art. 1.242).

Prazo do uso 10 anos 20 anos

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Usucapião do parágrafo
Usucapião do caput do art. 1.379
único do art. 1.379

Obrigatória a declaração de
Obrigatória a declaração de usucapião
usucapião em sentença para
Sentença judicial em sentença para registro no Cartório de
registro no Cartório de
Registro de Imóveis.
Registro de Imóveis.

Tabela: Usucapião de servidão.


Gilberto Fachetti.

Os seguintes motivos levam à extinção de uma servidão, conforme previsto nos arts. 1.388 e 1.389 do
Código Civil:

Renúncia

Pelo proprietário do prédio dominante, ou seja, o titular beneficiado pela servidão.

Fim da utilidade ou comodidade

Que deram causa à constituição da servidão (equivaleria a uma "perda de objeto").

Resgate

Da servidão pelo proprietário do prédio serviente, que consiste em uma resilição unilateral
(art. 473 do Código Civil) pela qual o proprietário pagará ao proprietário dominante um valor
pecuniário para extinguir a servidão (se houver divergências quanto aos valores, a questão
deve ser levada a juízo para decidir).

Resilição bilateral
Di t t ã é hi ót i t
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i i d t 1 388 1 389 é 16/56
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Distrato, que não é uma hipótese prevista nos incisos dos arts. 1.388 e 1.389, mas que é uma
regra geral de extinção de todo e qualquer contrato (art. 472 do Código Civil).

Resolução

Que também não está prevista nos incisos dos arts. 1.388 e 1.389, mas que se aplica aos
casos de inadimplemento da remuneração nas servidões onerosas (art. 475 do Código Civil).

Confusão

Que ocorre quando a propriedade dos prédios serviente e dominante passa a pertencer à
mesma pessoa (toda servidão exige que os prédios envolvidos tenham, obrigatoriamente,
proprietários diferentes).

Supressão das obras

Nas servidões aparentes, ou seja, das ações que permitem perceber que há servidão
constituída sobre um prédio.

Desuso

No período de 10 anos, ou seja, a servidão deixa de ser utilizada durante uma década.

Desapropriação administrativa ou judicial

E i ó i t d l
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Em que os imóveis ou somente um deles passará a pertencer à Administração Pública para a
realização de ações de interesse público.

Perecimento do imóvel

Destruição.

Transcurso de prazo

No caso da servidão constituída por tempo indeterminado.

Direitos e deveres
Os direitos e deveres em uma servidão são recíprocos entre proprietários serviente e dominante. Pode-se
fazer a seguinte sistematização:

Proprietário do imóvel dominante Proprietário do imóvel serviente

Direitos
Usar e usufruir da servidão, Abandonar ao proprietário do
dentro dos limites do fixado prédio dominante, total ou
no ato constitutivo e dentro parcialmente, a propriedade
do necessário para não do imóvel serviente.
causar prejuízos ao Remover a servidão, se
proprietário serviente. necessário, para outro ponto
Realizar as obras necessárias do imóvel serviente.
e ampliar a servidão, se Impedir mudanças no prédio
organizadas pelo proprietário

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Proprietário do imóvel dominante Proprietário do imóvel serviente

necessário, para a sua dominante.


melhor utilidade. Resilir unilateralmente
Resilir unilateralmente (renunciar) a servidão.
(renunciar) a servidão. Declarar extinta a servidão
Remover a servidão, se nas hipóteses de perda e
necessário, para outro ponto extinção.
do imóvel serviente, desde
que não prejudique o uso
deste último.

Conservar a servidão, para


não causar prejuízos ao
imóvel serviente. Não embaraçar o uso da
Não agravar as condições de servidão pelo proprietário
uso para não forçar a dominante.
ampliação da servidão. Permitir as obras
Pagar a remuneração devida necessárias.
nos casos de servidão Se as necessidades da
onerosa. cultura, ou da indústria, do
Deveres
Pagar pelas obras realizadas. prédio dominante impuserem
Pagar as despesas de à servidão maior largueza, o
conservação da servidão. dono do serviente é obrigado
Indenizar o dono do serviente a sofrê-la.
pelo excesso se as Pagar despesas com uma
necessidades da cultura, ou possível remoção por ele
da indústria, do prédio exigida.
dominante impuserem à
servidão maior largueza.

Direitos e deveres na servidão.


Gilberto Fachetti.

Servidão administrava e servidão civil


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Servidão civil

É constituída voluntariamente entre sujeitos particulares, para uso individual pelo prédio dominante.

Servidão administrativa
Decorre do interesse público representado pela Administração Pública. O ente público constitui
forçadamente uma servidão para uso público.

Exemplo

As ruas, as rodovias e as estradas vicinais.

Nosso objeto de estudo, aqui, é a servidão civil; a servidão administrativa é matéria tratada no Direito
Administrativo.

Tutela processual
Além das ações possessórias típicas (reintegração, manutenção e interdito proibitório) de uma possível
ação de usucapião na hipótese do art. 1.379 do Código Civil e do embargo de obras prejudiciais, a servidão
possui duas ações específicas quando ela for a causa de pedir próxima e/ou remota de uma ação judicial,
quais sejam:

Ação confessória expand_more

É proposta tanto pelo proprietário do imóvel dominante quanto do imóvel serviente, com o objetivo
de declarar a existência de uma servidão constituída entre eles; a discussão gira em torna do título
da servidão, se ele é capaz de constituir uma servidão.

Exemplo:

O proprietário dominante propõe a ação para que seja declarada a existência da servidão que está
sendo negada pelo possível proprietário serviente, que está impedindo a prática dos atos típicos da

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servidão.

O proprietário do imóvel serviente propõe a ação para ver declarada a existência de uma servidão,
recusada pelo proprietário dominante, e, assim, exercer seu direito de ser indenizado ou
remunerado.

Ação negatória expand_more

É proposta, tanto pelo proprietário do imóvel dominante quanto pelo proprietário do imóvel serviente,
com o objetivo de declarar a inexistência de uma servidão constituída entre eles.

Exemplo:

O proprietário serviente propõe a ação para negar a existência de uma servidão e, assim, impedir o
uso de parte de seu imóvel por aquele sedizente proprietário dominante.

Alguém tido por “proprietário dominante” recebe uma notificação de um sedizente proprietário
serviente que cobra por obras ou remuneração da servidão, situação em que esse possível
“proprietário dominante” pode propor a ação para negar que exista a relação de servidão entre eles.

Essas ações têm diferenças conceituais e, no final das contas, têm a mesma causa de pedir próxima: a
servidão. Mas não têm, porém, um procedimento especial típico, recaindo no procedimento comum do
Código de Processo Civil.

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Assinale a alternativa que contém uma hipótese de servidão:

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A Locação de imóvel residencial urbano.

B Cessão de lote rural para plantio de café.

C Passagem de cabos de telefone e internet determinada por sentença.

D Passagem de boiada por um terreno para pastagem.

E Divisão de cabos de telefone e internet entre imóveis contíguos.

Parabéns! A alternativa D está correta.

É o caso de uma fazenda (dominante) que utiliza trecho ou faixa de uma outra fazenda (serviente) para
a passagem de rebanho. A utilização é uma restrição à fazenda serviente, que deve suportar a
passagem dos animais. Já a fazenda dominante pode utilizar somente para fins de passagem.

Questão 2

Servidão aparente é aquela:

Constituída por acordo de vontades entre os proprietários, porém nunca foi utilizada
A
pelo proprietário dominante.

Constituída por ato particular, porém nunca foi registrada no Cartório de Registro de
B
Imóveis.

C Exercida ininterruptamente pela ação humana.

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D Caracterizada pela descontinuidade do uso pelo proprietário dominante, que interrompe


de tempos em tempos a utilização da servidão.

E Manifestada por obras exteriores.

Parabéns! A alternativa E está correta.

A servidão aparente é aquela que se manifesta por obras exteriores porque são aquelas visíveis e
permanentes, como a servidão de passagem. A alternativa A é hipótese de desuso, que extingue a
servidão. B não é um tipo de servidão, mas o fator que enseja a usucapião. C é a definição equivocada
de servidão contínua (invertida, pois independente de uma ação humana). A letra D não existe enquanto
tipo de servidão, mas como hipótese de extinção.

2 - Alienação e propriedade fiduciária


Ao final deste módulo, você será capaz de identificar a relação entre alienação fiduciária e
propriedade fiduciária.

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Propriedade fiduciária
Neste vídeo, você compreenderá os conceitos de propriedade resolúvel e propriedade fiduciária.

Para entender a propriedade fiduciária, antes, você precisa entender o que é a “propriedade resolúvel” (arts.
1.359 e 1.360 do Código Civil).

O direito real de propriedade é perpétuo, ou seja, é constituído para existir até a morte do proprietário ou até
que este transfira a coisa para outrem. Mas há uma exceção: é a propriedade resolúvel, caracterizada pelo
fato de que o direito de propriedade tem prazo de existência para um determinado proprietário; após certo
tempo, o titular deixa de ser proprietário da coisa.

Na propriedade resolúvel, há uma condição ou um termo resolutivo que retira de


seu titular a propriedade da coisa. Com a resolução da propriedade, outra pessoa a
adquire.

Definição e características
A propriedade fiduciária é um tipo de propriedade resolúvel, ela resulta de um contrato ou de uma cláusula
de outro contrato. É uma forma do credor ter garantias de que receberá o valor de uma determinada dívida.

A seguir, um exemplo para entender o assunto:

Uma determinada coisa é registrada no nome do credor, que permanece seu proprietário até que o
devedor quite a dívida.

O devedor, enquanto isso, tem a posse da coisa, mas não a propriedade.

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Quitando a dívida, a propriedade é transferida do credor para o devedor (é nesse sentido que se trata de
uma propriedade resolúvel).

Havendo inadimplemento, o credor toma a coisa do devedor (afinal, é seu proprietário), como forma de
quitar a dívida.

A propriedade em nome do credor gera o desdobramento da posse (§ 2º do art. 1.361): o devedor


(fiduciante) terá a posse direta (art. 1.363 do Código Civil); e o credor (fiduciário) terá a posse indireta.

O exemplo mais comum de propriedade fiduciária é a decorrente de uma alienação fiduciária na compra de
veículos, popularmente conhecida como “financiamento”.

Atenção!
A alienação fiduciária não se confunde com a propriedade resolúvel; na alienação existe uma propriedade
fiduciária, mas a alienação é um contrato.

A alienação fiduciária, por exemplo, pode ser para bens móveis e imóveis. Já a propriedade fiduciária incide
somente sobre coisa móvel (caput do art. 1.361 do Código Civil).

Com a quitação da dívida, o fiduciante (re)adquire a propriedade perpétua da coisa e o fiduciário deixa de
ser proprietário e possuidor indireto.

Quanto ao regime jurídico da propriedade fiduciária, tem-se:

Para bens móveis


Arts. 1.361 a 1.368-B do Código Civil

Para bens imóveis


Arts. 22 a 33 da Lei nº 9.514/1997

Requisitos
O objeto da propriedade fiduciária deve ser uma coisa móvel. O Código Civil refere-se à propriedade
resolúvel como sendo para coisas móveis; porém, outras leis admitem que exista propriedade resolúvel em
contratos que envolvam imóveis (Lei nº 9.514/1997).

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Deve ser coisa infungível. Trata-se de bem insubstituível por outro, pois possui características que o tornam
único, ou seja, não pode ser sub-rogado (trocado) por outro semelhante, pois este semelhante não existe.

A causa da constituição da propriedade fiduciária é a garantia de uma obrigação. O


objetivo é constituir uma garantia de pagamento de dívida; a coisa registrada em
nome do credor se torna a garantia de que, se o devedor não pagar, o credor terá
como ser ressarcido dos seus prejuízos.

O contrato ou cláusula que constitui a garantia deve ser formal, ou seja, escrito (instrumento público ou
particular). Para esse contrato, o art. 1.362 traz os elementos obrigatórios:

Valor total ou estimativa da dívida.

Prazo do pagamento.

Taxa de juros, se pactuados.

Descrição da coisa objeto da transferência, com os elementos indispensáveis à sua identificação.

Para ser constituída a propriedade fiduciária, o contrato ou cláusula deve, obrigatoriamente, ser levado a
registro no Cartório de Títulos e Documentos do domicílio do devedor, ou, em se tratando de veículos, na
repartição competente para o licenciamento, fazendo-se a anotação no certificado de registro.

Com a constituição da propriedade fiduciária, o devedor-possuidor direto fica impossibilitado de dispor da


coisa alienada, ou seja, não pode ceder a terceiros.

Consequências em caso de inadimplemento da dívida


garantida
Se a dívida não for paga, ou seja, em caso de inadimplemento, o credor pode tomar a coisa para vendê-la
judicial ou extrajudicialmente a terceiros (art. 1.364).

O credor é obrigado a vender a coisa, pois é nula a cláusula que autoriza o proprietário fiduciário a ficar com
a coisa alienada em garantia, se a dívida não for paga no vencimento (caput do art. 1.365). Porém, o devedor
pode, com a anuência do credor, dar seu direito eventual à coisa em pagamento da dívida, após o
vencimento desta (parágrafo único do art. 1.365).

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Ao alienar a coisa:

O credor deve aplicar o preço no pagamento de seu crédito e das despesas de cobrança.

Se houver saldo, deve entregá-lo ao devedor.

Se o valor obtido com a venda não for suficiente para quitar a dívida, a cobrança prossegue quanto ao
remanescente.

Conforme art. 1.366: “Quando, vendida a coisa, o produto não bastar para o pagamento da dívida e das
despesas de cobrança, continuará o devedor obrigado pelo restante”.

Direitos e deveres das partes envolvidas


Confira no resumo abaixo quais são os direitos e os deveres das partes envolvidas.

Fiduciante (devedor) Fiduciário (credor)

Direitos
Ter a posse direta da coisa. Ter a posse indireta da
Usar e usufruir a coisa. coisa, constituída por meio
Receber o saldo remanescente do registro da alienação
na hipótese de venda pelo no Cartório de Títulos e
credor decorrente de Documentos.
inadimplemento. Reaver a coisa de terceiro
Reaver a coisa de terceiro ou do que, injustamente, possua
credor que, injustamente, ou detenha (ação
possua ou detenha (ação possessória).
possessória). Receber o valor da dívida.
Requerer busca e
apreensão da coisa ou
reivindicá-la.
Praticar atos de
conservação da coisa e
fiscalizar o uso pelo
credor.

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Fiduciante (devedor) Fiduciário (credor)

Vender a coisa para


quitação da dívida.
Oferecer embargos de
terceiros.

Pagar a dívida garantida.


Conservar a coisa garantida
(com isso, o credor tem a
garantia da coisa em sua
integridade para uma possível
Respeitar a posse direta
venda).
do fiduciante.
Reaver a coisa de terceiro que,
Restituir o remanescente
injustamente, possua ou
do saldo da venda da
Deveres detenha (ação possessória)
coisa, se houver.
(observe que este também é um
Transferir a propriedade da
direito do devedor).
coisa para o devedor após
Pagar o débito remanescente se
a quitação da dívida.
o valor da venda da coisa não
for suficiente para saldar a
dívida no todo.
Permitir fiscalização do credor
quanto à conservação da coisa.

Direitos e deveres na propriedade fiduciária.


Gilberto Fachetti.

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

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Questão 1

Sobre o desdobramento da posse no caso de constituição de uma propriedade fiduciária, assinale a


alternativa correta:

Não se admite o desdobramento da posse na propriedade fiduciária, pois o credor tem a


A
propriedade da coisa, mas não tem a posse.

A partir do registro do contrato no Cartório de Títulos e Documentos, o credor torna-se o


B
possuidor direto da coisa, por ser seu proprietário, e o devedor será possuidor indireto.

Não se admite desdobramento da posse porque a propriedade transferida é fictícia e


C
resolúvel.

Há desdobramento da posse, pelo qual o fiduciário se torna o possuidor indireto e o


D
fiduciante se torna o possuidor direto.

Não se admite desdobramento da posse porque o fiduciante está impossibilitado de


E
usar a coisa.

Parabéns! A alternativa D está correta.

Para ter a posse, ninguém precisa ter a coisa consigo; ela é um desdobramento da propriedade. Pelo §
2º do art. 1.361 do Código Civil, com a constituição da propriedade fiduciária, dá-se o desdobramento
da posse, tornando-se o devedor possuidor direto da coisa.

Questão 2

A propriedade fiduciária é um tipo de propriedade:

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A Resolúvel

B Fictícia

C Perene

D Indireta

E Pessoal

Parabéns! A alternativa A está correta.

O próprio caput do art. 1.361 do Código Civil define a propriedade fiduciária como resolúvel: “Art. 1.361.
Considera-se fiduciária a propriedade resolúvel de coisa móvel infungível que o devedor, com escopo de
garantia, transfere ao credor”. As hipóteses das alternativas B, C, D e E são todas fictícias.

3 - Direito real de garantia


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Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as modalidades de direito real de
garantia.

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Direitos reais de garantia: penhor, hipoteca e anticrese
Neste vídeo, apresentaremos a seguir a definição geral de direito real sobre a coisa alheia e sobre o direito
de garantia, lançando conceitos comuns para aprimorar o nosso entendimento sobre o regime jurídico
comum da hipoteca, da anticrese e do penhor.

Os direitos reais sobre coisas alheias


Um direito real de garantia é aquele constituído, em favor do credor, sobre uma coisa pertencente ao
devedor, de modo que, se a dívida não for paga, o credor poderá utilizar o bem dado em garantia para a
quitação da dívida.

A coisa é vendida a terceiros pelo credor (penhor e hipoteca) ou o credor se apropria dos frutos e dos
produtos produzidos pela coisa (anticrese), mas não pode se apropriar da coisa para si.

O acordo que permitiria ao credor se apropriar da coisa é a chamada “cláusula comissória”, porém ela é nula
de acordo com o art. 1.428 do Código Civil: “É nula a cláusula que autoriza o credor pignoratício, anticrético
ou hipotecário a ficar com o objeto da garantia, se a dívida não for paga no vencimento”.

Para ser constituído, um direito real de garantia deve atender aos seguintes requisitos ou exigências:

Coisa alienável expand_more

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O direito real de garantia somente pode ser constituído sobre uma coisa que pode ter sua
propriedade transmitida a outrem (alienabilidade) (caput do art. 1.420 do Código Civil).

Capacidade e legitimidade para alienar expand_more

O devedor só pode instituir garantia real se tiver capacidade civil e legitimidade para realizar atos de
alienação da coisa alienável (caput do art. 1.420 do Código Civil).

Constituição por negócio jurídico expand_more

Em regra, os direitos reais são constituídos voluntariamente entre credor e devedor, via negócio
jurídico, mas há exceções, como no caso do penhor legal, da hipoteca judicial e da hipoteca legal. De
qualquer maneira, no caso de constituição por negócio jurídico, o instrumento contratual deve ser
escrito (instrumento público ou particular) e detalhar a coisa, para, então, ser levado a registro no
cartório competente. O art. 1.424 determina que o negócio constitutivo tenha, obrigatoriamente, os
seguintes elementos:

Valor do crédito (estimação ou valor nominal)

Prazo fixado para pagamento

Taxa dos juros, se fixada pelas partes

Especificações da coisa dada em garantia

Somente com o registro é que a garantia se torna real e passa a produzir os efeitos típicos de um
direito real.

Publicidade expand_more

No caso dos direitos reais de garantia constituídos sobre imóveis, o art. 1.227 do Código Civil exige o
registro no Cartório de Registro de Imóveis do ato constitutivo. Além disso, caso o imóvel tenha valor
superior a 30 salários-mínimos, o art. 108 do Código Civil exige que o ato constitutivo seja celebrado
em instrumento particular. Este é o caso da hipoteca, que só terá eficácia se for registrada na
matrícula do imóvel.

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Já os direitos reais de garantia constituídos sobre bens móveis (por exemplo: penhor e propriedade
fiduciária) devem ser registrados em Cartório de Títulos e Documentos. Não precisam ser,
obrigatoriamente, constituídos por escritura pública, mas deverão ser constituídos por instrumento
particular porque só assim é possível proceder ao registro.

Feito o registro do ato constitutivo no cartório competente, tem origem o direito real de garantia. Sendo um
direito real, tem eficácia real, um conjunto de efeitos próprios dos direitos reais que configuram a vantagem
de se constituir uma garantia desse tipo.

Os efeitos reais produzidos por esses direitos reais de garantia podem ser assim sistematizados:

Ambulacrariedade (ou ambulatoriedade) expand_more

O direito real adere à coisa e a acompanha onde quer que esteja e com quem quer que esteja.

Sequela expand_more

É o poder do titular do direito de tomar a coisa de quem a tenha para exercer seus poderes.

Excussão expand_more

É o poder do credor hipotecário e do credor pignoratício de levar a coisa dada em garantia à venda,
judicial ou extrajudicialmente (quando esta for cabível); é a possibilidade de promover a execução
judicial da dívida com a tomada da coisa para ser levada à hasta ou a leilão públicos.

Preferência expand_more

O credor anticrético, pignoratício, fiduciário e hipotecário tem preferência em receber os valores da


sua dívida em relação a outros credores que não constituíram a garantia real, ainda que sua dívida
seja mais recente que a dívida de um credor quirografário ou garantido por fiança.

Além disso, existe uma preferência dentro das próprias garantias reais, que é, na verdade, uma
ordem de prioridade: aquele credor que primeiro registrou seu direito real de garantia tem prioridade

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no pagamento da sua dívida em relação a outros credores anticréticos, pignoratícios, fiduciários e


hipotecários que registraram seu direito posteriormente, ainda que sua dívida seja temporalmente
mais recente.

Indivisibilidade expand_more

O pagamento de uma ou mais prestações da dívida não importa exoneração correspondente da


garantia, ainda que esta compreenda vários bens, salvo disposição expressa no título ou na quitação
(art. 1.421 do Código Civil). De igual maneira, os herdeiros do devedor não podem remir parcialmente
o penhor ou a hipoteca na proporção dos seus quinhões, mas qualquer um deles pode remir no todo
(art. 1.429).

Penhor
Primeiramente, não confunda “penhor” com “penhora”. Observe as diferenças de cada um a seguir.

Penhor

É um direito real constituído voluntariamente para garantir uma dívida. No penhor, a venda da coisa é
feita pelo próprio credor.
close

Penhora

É o ato de constrição judicial de bens na execução ou no cumprimento de sentença, ou seja, é um ato


processual de apreensão de bens pertencentes a um devedor a fim de que sejam utilizados para o
pagamento de uma dívida. Na penhora, a coisa é vendida judicialmente.

O penhor é um direito real que incide sobre uma coisa móvel pertencente a um devedor a fim de que tal
coisa seja utilizada para o pagamento da dívida.

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O objeto do penhor é uma coisa móvel, inclusive os semoventes (animais). Podem ser objetos de penhor:

Joias

Veículos

Máquinas

Frutos colhidos

Títulos de crédito

Gado

Eletrodomésticos

Quando se constitui um penhor, diz-se que a coisa objeto do penhor está “empenhada”, ou seja, uma coisa
empenhada é aquela sobre a qual incide um direito real de penhor.

O penhor é criado em um contrato ou em uma cláusula de um contrato e tem como objetivo utilizar o bem
dado em garantia para a quitação da dívida, caso o devedor não a faça. A coisa é vendida e os valores
obtidos são destinados ao pagamento da obrigação. Se houver saldo remanescente, será entregue ao
devedor; e, se o valor da venda não for suficiente para quitar o débito, o devedor continua obrigado a pagar o
saldo devedor.

O credor garantido por um penhor é chamado de “credor pignoratício”; o devedor


que oferece coisa sua para o penhor é designado “devedor pignoratício”.

Existem dois tipos de penhor que podem ser assim sistematizados:

Penhor convencional expand_more

É constituído por meio de um negócio jurídico celebrado entre o credor e o devedor. Deve ser levado
a registro no Registro de Títulos e Documentos.

Essa modalidade se subdivide em duas subcategorias:

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Penhor comum: aquele em que há a transferência da coisa do devedor para o credor.

Penhor especial: são situações específicas nas quais a lei prevê um regime jurídico próprio, com
normas específicas, e nos quais não exige, necessariamente, a entrega da coisa ao credor; é o caso
do penhor de títulos de crédito, rural, industrial, mercantil e de veículos.

Penhor legal expand_more

São situações em que a lei considera determinada pessoa como sendo credor pignoratício,
independentemente de contrato entre tal credor e devedor.

Este caso se dá nas seguintes situações do art. 1.467 do Código Civil, em que serão considerados
credores pignoratícios:

Os hospedeiros, ou fornecedores de pousada ou alimento, sobre bagagens, móveis, joias ou


dinheiro que seus consumidores ou fregueses tiverem consigo nas respectivas casas ou
estabelecimentos, pelas despesas ou consumo que aí tiverem feito.

O dono do prédio rústico ou urbano, sobre os bens móveis que o rendeiro ou inquilino tiver
guarnecendo o mesmo prédio, pelos aluguéis ou rendas.

Nesses casos, o credor poderá tomar em garantia um ou mais objetos até o valor da dívida. Porém, o
credor deve tomar a coisa e imediatamente requerer a homologação judicial do penhor.

De acordo com o caput do art. 1.431 do Código Civil, a regra é que a coisa objeto do penhor fique na posse
do credor: “Constitui-se o penhor pela transferência efetiva da posse que, em garantia do débito ao credor
ou a quem o represente, faz o devedor, ou alguém por ele, de uma coisa móvel, suscetível de alienação. [...]”.

Contudo, o parágrafo único do art. 1.431 estabelece uma exceção a essa regra, ou seja, situações em que a
coisa empenhada permanecerá com o devedor: “No penhor rural, industrial, mercantil e de veículos, as
coisas empenhadas continuam em poder do devedor, que as deve guardar e conservar”.

O credor terá a posse nos casos de penhor comum, de direitos e de título de créditos; já o devedor
permanece na posse da coisa quando o penhor for rural, agrícola, pecuário, veículo, industrial e mercantil.

Ter a posse não significa dizer que o credor pignoratício poderá usar e usufruir da coisa; ele apenas a
guarda e a conserva. O objetivo de dar a posse ao credor é facilitar que este a tenha em mãos para uma
possível venda diante do inadimplemento do devedor. Uma vez paga a dívida, o credor deve restituir a coisa
ao devedor.

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Embora o penhor seja um direito real constituído sobre coisa móvel, o que afastaria a aplicação do art.
1.227, o título que o constitui deve ser registrado no Cartório de Títulos e Documentos, para fins de
publicidade e de salvaguarda de direitos, conforme o art. 1.432: “O instrumento do penhor deverá ser levado
a registro, por qualquer dos contratantes; o do penhor comum será registrado no Cartório de Títulos e
Documentos”.

A seguinte tabela destina-se a sistematizar as características principais dos penhores especiais:

Tipo de penhor Código Civil Características

É um gênero de penhor que envolve coisas


resultantes de matéria agrícola, pecuária,
extrativista e outras, enfim, atividades tipicamente
Rural Arts. 1.438 a 1.441 do campo. Aqui, o penhor tem um prazo limitado
de dois anos, podendo ser prorrogado por igual
período. As coisas penhoradas ficam na posse do
devedor.

É uma espécie de penhor rural, com disciplina


Agrícola Arts. 1.442 e 1.443 própria. Envolve colheitas, madeiras, frutos,
máquinas e insumos.

Também é uma espécie de penhor rural, com


disciplina própria. Refere-se a animais de criação
de uma propriedade rural (gado de corte e leiteiro,
aves, suínos, outros animais de pastoreio). Caso
ocorra a morte ou o desaparecimento de algum
Pecuário Arts. 1.444 a 1.446
animal no período de vigência do penhor, deve ele
ser substituído no instrumento que foi registrado.
Além disso, a venda de qualquer dos animais pelo
devedor deve ser expressamente consentida pelo
credor pignoratício.

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Tipo de penhor Código Civil Características

É aquele que recai sobre equipamentos de


atividades industriais ou comerciais, inclusive
abrangendo os produtos dessas atividades. Para
Industrial e
Arts. 1.447 a 1.450 a alienação dos bens e dos produtos, o devedor
mercantil
necessita da autorização expressa do credor.
Vendendo ou perecendo a coisa, esta deve ser
substituída por bens semelhantes.

Títulos de crédito são ordens de pagamento


assinadas em documento escrito em favor de
alguém. Os exemplos principais são o cheque, a
duplicata e a nota promissória. É possível que um
Direitos e títulos de desses títulos seja retido pelo credor, o qual
Arts. 1.451 a 1.460
crédito poderá compensá-lo junto ao banco ou ao
devedor do título, como forma de receber os
valores devidos pelo devedor pignoratício. Por
esta razão, nesta modalidade de penhor, o título
fica na posse do credor pignoratício.

Abrange qualquer tipo de veículo automotor, o


qual, antes da constituição do penhor, deve ser
Veículos Arts. 1.461 a 1.466
segurado contra furto e roubo e danos praticados
envolvendo terceiros.

Direitos e deveres no penhor.


Gilberto Fachetti.

Todas essas modalidades precisam ser registradas no Registro de Títulos e Documentos, pois, do contrário,
não produzem a eficácia real típica dos direitos reais, sendo apenas instrumentos de prova da existência do
débito.

Há, ainda, o “penhor de joias”, que é uma modalidade que somente pode ser praticada pela Caixa Econômica
Federal, que detém seu monopólio (Decreto-Lei nº 759/1969 e Decreto nº 7.973/2013).

Quanto aos direitos e aos deveres recíprocos entre o devedor pignoratício e o credor pignoratício, eles estão
previstos nos arts. 1.433 a 1.435 do Código Civil e podem ser assim sistematizados:

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Devedor pignoratício Credor pignoratício

Ter a posse da coisa dada em


penhor (exceto nas hipóteses de
penhor rural, industrial, mercantil e
de veículos);
Exercer direito de retenção da
Ter a coisa restituída,
coisa até a quitação total das
junto dos frutos, em
despesas que teve para a
caso de pagamento
conservação da coisa;
voluntário da dívida.
Vender a coisa ou promover a
Defender a posse da
execução judicial;
Direitos coisa contra moléstia
Apropriar-se dos frutos;
de terceiro.
Promover a venda antecipada,
Defender a coisa em
mediante prévia autorização
caso de má
judicial, sempre que haja receio
conservação pelo
fundado de que a coisa
credor.
empenhada se perca ou deteriore;
Resilir o penhor, ou seja, renunciá-
lo, extingui-lo;
Proceder à proteção possessória
da coisa.

Deveres
Garantir posse pacífica Ressarcir ao dono da coisa pela
da coisa pelo credor. perda ou deterioração de que for
Pagar a dívida. culpado.
Dar compensação ou abatimento
sobre o valor da dívida em caso de
perda ou de deterioração da coisa
de que for culpado, se o devedor
assim preferir.
Defender a posse da coisa
empenhada e dar ciência, ao dono
dela, das circunstâncias que
tornarem necessário o exercício
de ação possessória.
Compensar despesas de guarda e
conservação, juros e capital da
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Devedor pignoratício Credor pignoratício

obrigação garantida ao valor dos


frutos de que se apropriar.
Restituir a coisa quando da
quitação voluntária da dívida pelo
devedor.
Entregar o saldo remanescente, se
houver, em caso de venda da coisa
empenhada.

Direitos e deveres no penhor.


Gilberto Fachetti.

Os arts. 1.436 e 1.437 do Código Civil tratam da extinção do penhor, enumerando as seguintes hipóteses:

Extinção do débito que ensejou o penhor

Se a dívida do devedor for paga, não se justifica a manutenção do penhor; ele é extinto e a
coisa restituída ao devedor.

Perecimento da coisa

Ocorre quando a coisa se deteriora, de modo que deixa de existir ou perde seu valor e sua
utilidade. Se o perecimento ocorreu por culpa do credor, este deverá indenizar o devedor ou,
então, compensar o prejuízo que causou com abatimento do valor da dívida.

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Renúncia pelo credor

É a resilição unilateral do contrato de penhor pelo credor (art. 474 do Código Civil). A renúncia
do credor é presumida quando ele consentir com a venda da coisa, quando restituir a sua
posse ao devedor ou quando concordar com a substituição do penhor por outra garantia.

Confusão

Após a constituição do penhor, por algum motivo, o credor se tornará proprietário da coisa
empenhada (por exemplo: é herdeiro do devedor e, morrendo este, torna-se proprietário dos
bens por ele deixados). Se, porém, essa confusão não for suficiente para saldar a dívida
totalmente, então o penhor não será extinto e seguirá vigente quanto ao resto da dívida que
precisa ser quitada.

Adjudicação judicial, remissão ou venda da coisa empenhada

Feita pelo credor ou por ele autorizada quando a dívida não for paga.

Mas, de acordo com o art. 1.437, a extinção do penhor somente ocorrerá efetivamente (ou seja, produzirá
efeitos) depois de averbado o cancelamento do registro no Cartório de Títulos e Documentos, devendo-se
apresentar a respectiva prova do fato que enseja a extinção.

Hipoteca
A hipoteca é um direito real de garantia que incide sobre bem imóvel (ou bem equiparado por lei a imóvel).
Caso o devedor não pague sua dívida, o credor hipotecário tem o direito de executar judicialmente o imóvel
hipotecado e utilizar o valor obtido na venda judicial para saldar a dívida.

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Já que seu objeto é um imóvel, não há necessidade de a posse da coisa ser entregue ao credor, como
ocorre no penhor e na anticrese (afinal, a coisa sempre estará ali). Evidentemente, essa imobilidade não
existe nas coisas equiparadas a imóveis (por exemplo: aeronaves e embarcações, que podem ser objeto de
hipoteca), mas, mesmo assim, a posse da coisa permanece com o devedor.

A hipoteca tem um prazo máximo de duração, qual seja, 30 anos, conforme art. 1.485 do Código Civil:
“Mediante simples averbação, requerida por ambas as partes, poderá prorrogar-se a hipoteca, até 30 (trinta)
anos da data do contrato. Desde que perfaça esse prazo, só poderá subsistir o contrato de hipoteca
reconstituindo-se por novo título e novo registro; e, nesse caso, lhe será mantida a precedência, que então
lhe competir”. Mas o contrato que cria a hipoteca pode fixar outro prazo, desde que inferior a 30 anos. Esse
prazo é chamado de perempção.

Transcorridos os 30 anos, a hipoteca é extinta e, consequentemente, a dívida não estará mais garantida com
a coisa anteriormente hipotecada. O credor hipotecário, então, torna-se um credor quirografário, ou seja,
sem garantias e que tem apenas um título representativo da dívida. Caso o credor e o devedor queiram
reestabelecer a hipoteca, deverão iniciar todo o processo de constituição novamente.

Existem três tipos de hipoteca:

Hipoteca convencional expand_more

Instituída voluntariamente entre devedor e credor por meio de negócio jurídico, sendo levada a
registro no Registro Geral de Imóveis (RGI).

Hipoteca legal expand_more

São hipóteses em que a lei fixa uma hipoteca de pleno direito. Para produzir efeito, precisa ser
reconhecida judicialmente e registrada mais tarde no RGI. As hipóteses estão previstas no art. 1.489
e são conferidas:

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Às pessoas de direito público interno: sobre os imóveis pertencentes aos encarregados da


cobrança, guarda ou administração dos respectivos fundos e rendas.

Aos filhos: sobre os imóveis do pai ou da mãe que constituírem novo casamento (com outras
pessoas) sem antes fazer o inventário e a partilha do casal.

Ao ofendido ou aos seus herdeiros: sobre os imóveis do ofensor (“delinquente”), para indenização
do dano causado pelo ato ilícito e pelo pagamento das despesas judiciais.

Ao coerdeiro: sobre o imóvel adjudicado ao herdeiro reponente, para garantia do seu quinhão ou
torna da partilha.

Ao credor: sobre o imóvel arrematado, para garantia do pagamento do restante do preço da


arrematação.

Obs. 1: Reponente é o herdeiro que está obrigado a “repor” a herança que recebeu em excesso sobre
a parte disponível do doador ou do testador.

Obs. 2: À époccmóvel do tutor e do curador, respectivamente, enquanto durar a tutela e a curatela


(art. 1.188); o CPC/2015 não repetiu essa modalidade de hipoteca legal.

Hipoteca judicial ou judiciária expand_more

Constituída pelo juiz na execução de uma dívida, como forma de garantia para o exequente. De
acordo com o art. 495 do Código de Processo Civil, a decisão que condenar o réu ao pagamento de
prestação consistente em dinheiro e a que determinar a conversão de prestação de fazer, de não
fazer ou de dar coisa em prestação pecuniária valerão como título constitutivo de hipoteca judiciária.

O art. 1.473 do Código Civil fixa aqueles que podem ser os bens objeto de hipoteca. Antes de sistematizá-
los, porém, é importante que você saiba que direitos também podem ser objeto de hipoteca. Isso se deve ao
fato de que o inciso I do art. 80 do Código Civil considera bens imóveis, para os efeitos legais, os direitos
reais sobre imóveis e as ações que os asseguram. Então, direitos reais sobre coisas imóveis também são
bens hipotecáveis, conforme observamos a seguir.

Imóveis e acessórios

É o solo e tudo o que a ele adere, como construções e plantações. A hipoteca abrange todas as acessões,
melhoramentos ou construções do imóvel.

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Domínio direto

É a propriedade formal do imóvel, em que o titular se mantém proprietário, porém não usufrui da coisa.

Domínio útil

É aquele que permite a fruição de uma coisa; seu titular tem a plena utilização do bem.

Estradas de ferro

Está prevista nos arts. 1.502 a 1.505 do Código Civil a hipoteca de via férrea. Será circunscrita à linha ou
às linhas especificadas na escritura e ao respectivo material de exploração. Os credores hipotecários
poderão se opor à venda da via ou de suas linhas e de seus ramais. Na execução das hipotecas férreas, a
União ou o estado serão intimados, para, em até 15 dias, remir a estrada de ferro hipotecada, pagando o
preço da arrematação ou da adjudicação (ou seja, basicamente, pagando a dívida e adquirindo a via
férrea).

Recursos naturais a que se refere o art. 1.230

É direito do proprietário do solo explorar os recursos minerais de emprego imediato na construção civil.

Navios

São grandes embarcações para transporte de cargas e passageiros. Não é qualquer embarcação que
pode ser objeto de hipoteca, pois a lei restringe aos navios. Assim, lanchas, barcos de pesca e outros
barcos de pequeno porte não podem ser objeto de hipoteca.

Aeronaves

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São máquinas de voo. Levantam e mantêm voo por seus próprios meios. O conceito inclui aviões, aviões
de turboélices, jatos, helicópteros, planadores etc.

Direito de uso especial para fins de moradia

É a regularização ou a concessão do direito de usar bens públicos para morar. A hipoteca não recai sobre
o bem público, mas sobre o direito de usar um bem público para constituir moradia.

Direito real de uso

É o direito que o proprietário de um imóvel dá a outra pessoa para que esta utilize o bem sem dele
usufruir, ou seja, sem dele retirar os frutos e comercializá-los. Pode-se usufruir o necessário para a
subsistência, mas nunca para fins de lucro (por isso, é chamado de “usufruto anão”). Esse direito que o
usuário adquire sobre a coisa de alguém pode ser levado à hipoteca em favor de um terceiro, no caso, o
credor do usuário em alguma dívida.

Propriedade superficiária

É o domínio útil do superficiário. A obra ou a plantação realizada pelo superficiário, quando da


constituição de um direito real de superfície constitui a propriedade superficiária, a qual pode ser levada a
hipoteca em favor de um credor do superficiário.

Direitos oriundos da imissão provisória na posse

Porém, somente quando concedida à União, aos estados, ao Distrito Federal, aos municípios ou às suas
entidades delegadas e respectiva cessão e promessa de cessão.

Importante destacar que, sendo a hipoteca um direito real (de garantia), ela produz como efeito a sequela.
Por causa disso, caso o devedor aliene o imóvel a um terceiro, o credor hipotecário poderá excutir o bem,
tomando do terceiro e vendendo judicialmente. Não há que se falar em proteção da boa-fé do adquirente,

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pois esse terceiro adquirente tem conhecimento da constituição da hipoteca, uma vez que esta está
registrada no Cartório de Registro de Imóveis (eis a importância da publicidade).

Por isso, nada justificaria proibir a alienação do bem hipotecado:

Primeiro, porque a sequela permitirá que o credor hipotecário alcance seus objetivos normalmente.

Segundo, porque o terceiro assume o risco de perder a coisa, afinal, consegue prevê-la ao tomar
conhecimento da hipoteca registrada no RGI.

Assim, o caput do art. 1.475 estabelece que é nula a cláusula que proíbe ao proprietário alienar imóvel
hipotecado, embora possam as partes convencionar que vencerá o crédito hipotecário se o imóvel for
alienado (parágrafo único).

Agora, pense nas seguintes hipóteses:

Hipótese 1 expand_more

O proprietário de uma casa avaliada em R$50 mil constitui hipoteca por causa de uma dívida R$30
mil (empréstimo bancário). Observe que, diante do inadimplemento, se o credor hipotecário executar
o imóvel, o valor da venda é suficiente para pagar a dívida, as perdas, os danos e os juros, e ainda
haverá, provavelmente, um remanescente a ser entregue ao devedor. Assim, nada impediria que, por
exemplo, o devedor hipotecário constituísse uma segunda hipoteca com um segundo credor para
uma outra dívida, mesmo que esta tenha valor superior a R$20 mil (diferença entre o valor da casa e
o valor da primeira dívida).

Hipótese 2 expand_more

O proprietário de uma casa avaliada em R$100 mil constitui hipoteca por causa de uma dívida de
R$100 mil. Havendo inadimplemento, a casa é levada à venda e a dívida será paga. Mesmo que o
valor do imóvel e o valor da dívida sejam equivalentes, nada impede a constituição de uma segunda
hipoteca com um segundo credor para uma segunda dívida, afinal, pode ser que uma dívida seja
paga voluntariamente e a outra fique garantida pela hipoteca.

Essas situações descritas foram apreciadas pelo legislador, uma vez que o art. 1.476 prevê que o dono do
imóvel hipotecado pode constituir outra hipoteca sobre ele, mediante novo título, em seu favor ou de outro

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credor. Essa situação é conhecida como pluralidade de hipotecas, que consiste na possibilidade de
constituir duas ou mais hipotecas sobre o mesmo bem imóvel.

Havendo pluralidade de hipotecas, haverá uma preferência ou prioridade entre elas a depender da ordem de
registro de título no Cartório de Registro de Imóveis.

Observe o exemplo:

X constitui uma primeira hipoteca em favor do credor Y no dia 01/04/2020.

Em 01/06/2020, constitui uma segunda hipoteca com o credor K.

O credor K registra a hipoteca no dia 15/06/2020.

E o credor Y registra no dia 30/06/2020.

Nesse caso, embora constituída em data posterior, a segunda hipoteca terá preferência e prioridade em
relação à primeira. Isso significa dizer que a segunda hipoteca terá o direito de ser executada antes da
primeira hipoteca, se necessário for.

Uma hipoteca gera efeitos inter pars (entre credor e devedor hipotecários) e erga omnes (perante terceiros).
Confira a sistematização:

Efeitos da hipoteca

O principal efeito é a criação do direito de excussão, ou seja, o poder de


executar o imóvel para saldar a dívida (ou parte dela) com o valor auferido
em venda.
O credor hipotecário tem preferência no recebimento do valor em relação aos
Para o credor
credores quirografários ou com garantia fidejussória, ainda que sua dívida
tenha sido constituída posteriormente àquelas. E entre credores hipotecários,
o credor que primeiro registrou tem preferência em relação aos credores que
registraram posteriormente.

Tem o direito de usufruir da coisa, mas também passa a ter o dever de


conservar o imóvel para garantir a melhor venda possível em caso de
Para o devedor
execução. Assim, deve ser mais diligente para evitar perecimento e/ou
depreciação do bem.

Para terceiros Não pode alegar boa-fé quanto ao desconhecimento de uma hipoteca, pois,
ao negociar sobre o imóvel, tem que ter a diligência de obter as certidões
negativas de ônus real no Cartório de Registro de Imóveis.

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Efeitos da hipoteca

O terceiro que adquire o imóvel em hasta pública tem direito à adjudicação e


à imissão na posse, caso o devedor se recuse a entregar o imóvel
voluntariamente.

Efeitos da hipoteca
Gilberto Fachetti.

A hipoteca será extinta nas seguintes hipóteses (arts. 1.499 a 1.501):

Remissão

É o resgate da hipoteca, que ocorre quando há o pagamento da dívida; também é chamada de


"remir a hipoteca".

Extinção da dívida

Por motivos que não sejam o pagamento.

Resilição

O credor, unilateralemente, extingue a hipoteca.

Perecimento da coisa

Ocorre nos casos dos bens corpóreos e consiste na destruição da coisa, ou seja, a perda da
utilidade e de valor.

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Arrematação ou adjucação

Ocorre na venda em hasta pública.

Resolução da propriedade

Para os casos de propriedade resolúvel; ocorre com o implemento da condição resolutiva ou


do termo final que condiciona a existência da propriedade.

Desapropriação do imóvel

Feita pela Administração Pública.

Confusão

O credor hipotecário ou o devedor hipotecário tornam-se credor e devedor de si mesmo;


ocorre, por exemplo, quando o credor é herdeiro do devedor e a herança terá que pagar a
dívida ao próprio herdeiro.

A extinção, porém, só produz efeitos com a averbação no Registro de Imóveis apresentando a prova da
ocorrência do motivo que levou à extinção da hipoteca.

Anticrese

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31/05/2023, 14:06 Direitos Reais sobre coisa alheia e suas garantias

A anticrese é um direito real que autoriza o credor a receber a posse de uma coisa imóvel pertencente ao
devedor para perceber os frutos e os produtos desse imóvel e abater o valor desses frutos e produtos do
valor da dívida. Essa é a definição do caput do art. 1.506 do Código Civil: “Pode o devedor ou outrem por ele,
com a entrega do imóvel ao credor, ceder-lhe o direito de perceber, em compensação da dívida, os frutos e
rendimentos”.

Por isso, a anticrese também é chamada, por vezes, de “consignação de rendimentos”.

Haverá desdobramento da posse quando:

Devedor/ Proprietário do imóvel

Passa a ter a posse indireta.

Credor/ Usufrutuário dos rendimentos


Passa a ter posse direta e, consequentemente, poderá auferir os benefícios (frutos, produtos e rendimentos)
que o imóvel proporcional.

A anticrese confere ao credor o direito de retenção da coisa até a compensação da dívida (§ 2º do art.
1.507).

Sendo direito real constituído sobre bem imóvel, requer:

Registro no Cartório de Registro de Imóveis (art. 1.227 do Código Civil).

Escritura pública, caso o valor do imóvel seja superior a 30 salários-mínimos (art. 108 do Código Civil).

Na anticrese, o credor anticrético tem direito sobre os frutos e os produtos, e não sobre a coisa principal que
gera os frutos e os produtos. Por isso, nada impede a hipoteca ou a execução da coisa principal, devendo o
credor anticrético se opor à execução.

Pode-se afirmar, então, que a anticrese dá ao credor anticrético o direito de usufruto sobre o imóvel, sendo a
fruição uma forma de pagar a dívida inadimplida.

Exemplo

O devedor cede um imóvel de sua propriedade para o credor e este realiza a locação do imóvel para terceiro.
Os alugueres pagos pelo terceiro são frutos, do tipo civil (rendimentos), e serão apropriados pelo credor. A
cada aluguel recebido o credor desconta o valor do total da dívida. Essa situação não pode perdurar por
mais de 15 anos (art. 1.423).

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Agora, preste atenção ao art. 1.428: “É nula a cláusula que autoriza o credor pignoratício, anticrético ou
hipotecário a ficar com o objeto da garantia, se a dívida não for paga no vencimento”.

O credor anticrético não pode tomar a propriedade do imóvel para si como forma de pagamento. Porém,
isso não significa dizer que ele não possa se apropriar dos frutos e dos produtos. Ou seja, ele nunca poderá
ser dono do imóvel, mas será dono dos frutos quando os perceber. Até porque não faria sentido o credor ter
que providenciar a venda ou a execução judicial de frutas de uma plantação, pois até se realizar a venda as
frutas pereceriam. Então, o credor se apropria das frutas e pode vendê-las por sua conta.

Mas a anticrese não se destina somente ao pagamento da dívida; é possível que seja constituída para
pagamento de juros, seja só para isto ou também para aquilo (§ 1º do art. 1.506). Os seguintes fatores
extinguem a anticrese:

Perecimento da coisa.

Pagamento da dívida.

Resilição unilateral pelo credor anticrético (renúncia).

Quando o credor anticrético não se opõe que outro credor execute o imóvel principal.

Falência do devedor.

Desapropriação administrativa ou judicial do imóvel.

Transcurso do prazo de 15 anos desde a constituição da anticrese (art. 1.423).

Quanto aos direitos e aos deveres recíprocos entre devedor e credor, eles podem ser assim sistematizados:

Devedor Credor

Direitos
Ter a coisa restituída Ter a posse da coisa dada em
em caso de anticrese.
pagamento voluntário Exercer direito de retenção da coisa
da dívida. até a quitação total da dívida, dos
Defender a posse da juros e de outras despesas.
coisa contra moléstia Vender os frutos e os produtos.
de terceiro. Apropriar-se dos frutos.
Defender a coisa em Resilir a anticrese, ou seja, renunciá-
caso de má lo, extingui-lo.
conservação pelo Proceder à proteção possessória da
credor. coisa.

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Devedor Credor

Ressarcir ao dono da coisa pela


perda ou deterioração de que for
culpado.
Dar compensação ou abatimento
Garantir posse sobre o valor da dívida.
pacífica da coisa pelo Defender a posse da coisa
Deveres
credor. empenhada e dar ciência, ao dono
Pagar a dívida. dela, das circunstâncias que
tornarem necessário o exercício de
ação possessória.
Restituir a coisa quando da quitação
da dívida.

Direitos e deveres na anticrese.


Gilberto Fachetti.

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

É direito do credor hipotecário:

A Não autorizar a constituição de uma nova hipoteca sobre a coisa em favor de terceiro.

B Proibir que o proprietário aliene o imóvel hipotecado.

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C Apropriar-se dos frutos da coisa empenhada e que se encontra em seu poder.

Declarar vencido o crédito hipotecário se o imóvel for alienado, caso haja convenção
D
neste sentido no contrato que constituiu a hipoteca.

E Prorrogar a hipoteca por no máximo 20 anos da data do contrato.

Parabéns! A alternativa D está correta.

Na hipoteca, o credor não tem a posse da coisa e a garantia não recai sobre os frutos (neste caso, seria
anticrese). Pelo art. 1.476, o dono do imóvel hipotecado pode constituir outra hipoteca sobre ele,
mediante novo título, em favor do mesmo ou de outro credor, independentemente de autorização. O art.
1.475 diz que é nula a cláusula que proíbe ao proprietário alienar imóvel hipotecado. A alternativa D é
verdadeira por causa do parágrafo único do art. 1.475: “Pode convencionar-se que vencerá o crédito
hipotecário, se o imóvel for alienado”. De acordo com o art. 1.485, o prazo de prorrogação é de 30 anos.

Questão 2

Não é uma garantia real:

A A propriedade fiduciária

B A anticrese

C A hipoteca

D O penhor

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E A penhora

Parabéns! A alternativa E está correta.

A penhora é um ato processual, de execução; não é uma garantia real. A garantia real é um direito real e
é constituído voluntariamente. A penhora é um ato judicial-processual de constrição de bens para
quitação de dívida.

Considerações finais
Este conteúdo foi destinado a demonstrar como devem ser constituídos e quais as consequências da
constituição no que se refere aos direitos reais de servidão, propriedade fiduciária, hipoteca, penhor e
anticrese.

A abordagem realizada teve como objetivo apresentar não somente aspectos teóricos, mas também e,
principalmente, os aspectos práticos.

É preciso ter em mente que as garantias reais são uma das principais matérias discutidas em ações
judiciais. Logo, é um campo fértil de atuação profissional.

headset
Podcast
Ouça, agora, as diferenças clássicas entre os tipos de direitos reais de garantia, destacando suas
repercussões práticas para a atuação do profissional.

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Explore +
Para saber mais sobre os assuntos explorados neste conteúdo, leia os seguintes artigos:

CARRASCOSA, G. L. Z.; FERNANDES, A. C.; CORDAZZO, K. As vantagens da alienação fiduciária em face da


hipoteca. Revista Jurídica Direito, Sociedade e Justiça, vol. 6, n. 8, 2019.

Esse texto apresenta as principais características dos dois direitos e apresenta elementos para a melhor
escolha da modalidade, a depender da situação.

KRIGER FILHO, D. A. Efeitos da hipoteca em face do usucapião. Jurisprudência Catarinense, Florianópolis,


v. 31, n. 108-109, 2005.

O artigo faz uma importante relação entre hipoteca e usucapião, dois institutos muito comuns e cuja relação
pode ser problemática.

PEREIRA, A. G. D. Servidões prediais e obrigações propter rem. Repositório científico da UC. Coimbra,
2003.

Embora seja um texto sobre a servidão no Direito português, o regime jurídico português e brasileiro se
aproximam. Contudo, o mais importante são os conceitos fundamentais que o autor desenvolve.

SOUZA, A. S. R. Anticrese: direito real de garantia ou forma especial de pagamento? Revista da Faculdade
Mineira de Direito - PUC Minas, v. 12, n. 24, p. 22-30, 2009.

Ao discutir a essência da anticrese, o autor aborda vários elementos que demonstram a operabilidade do
instituto.

Atenção: A partir do Código Civil de 2002, a flexão de gênero da palavra “usucapião” é no feminino, e não no
masculino.

https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02393/index.html# 55/56
31/05/2023, 14:06 Direitos Reais sobre coisa alheia e suas garantias

Referências
DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil Brasileiro. Vol. 4 - Direito das Coisas. 34. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.

FARIAS, C. C. de; ROSENVALD, N. Curso de Direito Civil. Vol. 5 - Reais. 17. ed. Salvador: Juspodivm, 2021.

GOMES, O. Direitos reais. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012.

GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro. Vol. 5 - Direito das Coisas. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2021.

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