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Universidade Independente de Angola

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Turma: B1 e C1
Sala: AB2/B3.3
Lição nº
Tema: Modalidades
Sumário: Modalidades e natureza jurídica dos direitos reais

O direito real tem uma coisa corpórea por objecto. O escopo legal deste direito está em
providenciar ao titular o aproveitamento dela. Como é evidente, o aproveitamento da
coisa varia em função do conteúdo facultado pelo direito real em causa.

Por força do princípio da tipicidade, no direito real angolano, o aproveitamento das coisas
corpóreas em termos jurídico-reais pode ser dividido em três grandes categorias,
agrupando-se cada direito real numa delas em função do escopo de aproveitamento da
coisa que propicia ao titular (o gozo da coisa, a garantia de cumprimento de uma
obrigação e a aquisição de outro direito).

O conteúdo de um direito real é muitas vezes descrito como integrando vários direitos.
Assim, o artigo 1305.º do CC, preceitua que “o proprietário goza de modo pleno e
exclusivo dos direitos de uso, fruição e disposição…”

Para reter: na verdade, não são direitos reais, constituem situações jurídicas menores, ou
seja, poderes e faculdades, que integram o direito de propriedade.

DIREITOS REAIS DE GOZO

Atribuem o aproveitamento da coisa através da combinação de poderes que


consubstanciam o gozo da coisa. Conferem ao seu titular o poder ou faculdade de utilizar,
total ou parcialmente, a coisa que têm por objecto e, por vezes, também de se apropriar,
total ou parcialmente, dos frutos produzidos.

São direitos que satisfazem a função económica que se encontra na trilogia clássica: ius
utendi (direito de usar, consiste no poder de utilizar a coisa), ius fruendi (direito de fruir,
é o poder de retirar as utilidades que a coisa produz periodicamente, artigo 212.º, n.º 1 e
1287.º do CC) e ius abutendi (direito de dispor, abrange os poderes materiais, como a
transformação e, jurídicos, como: alienar, onerar, renunciar).

São direitos de gozo o Direito de Propriedade, artigo 1305.º do CC, a Propriedade


horizontal artigo 1414.º do CC, o Direito de Usufruto, artigo 1439.º do CC, de Uso e
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habitação, artigo 1484.º, de Superfície, artigo 1524.º, de Servidão predial, artigo 1543.º, e a
Enfiteuse, artigo 1491.º do CC.

DIREITOS REAIS DE GARANTIA

Não atribuem nenhum dos poderes de gozo da coisa, mas apenas, a possibilidade de
realização de um valor em dinheiro pelo produto da venda da coisa, normalmente em
processo judicial executivo. Assim, conferem ao credor o poder ou faculdade de se pagar
pelo valor, ou rendimentos, de certos bens, com preferência sobre os demais credores do
devedor. São, portanto, direitos que visam assegurar a satisfação de direitos de crédito,
colocando os seus titulares numa posição preferencial em relação aos restantes credores
do mesmo devedor, artigo 604.º do CC.

Para reter: o conteúdo fundamental do direito real de garantia, consiste na atribuição ao titular de
uma posição de supremacia quanto aos demais credores do autor da garantia, conferindo-lhes a
preferência na satisfação do seu crédito, através do produto da venda da coisa ou dos rendimentos da
mesma.

Os direitos reais de garantia são: o Penhor, a Hipoteca, os Privilégios creditórios especiais


(os quais são, todos os privilégios imobiliários e certos mobiliários, excluindo-se os
privilégios mobiliários gerais que não constituem direitos reais), o Direito de Retenção e a
Consignação de Rendimentos. Há quem sustente que os direitos reais de garantia não são
verdadeiros direitos reais, mas apenas meros direitos acessórios dos direitos de crédito. E é
por essa razão que os direitos reais de garantia sejam muitas vezes estudados em conexão
com as obrigações na disciplina de direitos das obrigações.

Existem direitos reais de garantia que se encontram no Código Processual Civil, isto, para
evitar que os efeitos de determinados actos processuais resultem frustrados. Inserem-se no
âmbito dos procedimentos cautelares, o direito que decorre do Arresto depois da sua
conversão em Penhora, artigo 402.º e seguintes do CPC, e, no Processo de Execução, o
Direito Real derivado da penhora, artigo 822.º, n.º 1 do CC e 821.º e seguintes do CPC.

DIREITOS REAIS DE AQUISIÇÃO

Determinam a afectação de uma coisa à aquisição de um outro direito. Assim, o direito


real de aquisição confere, ao seu titular, a faculdade de, em certos termos, adquirir um
direito real de gozo sobre uma coisa.
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Enquanto direitos de natureza instrumental são os que derivam do Contrato Promessa
com eficácia real, artigo 413.º do CC, ou do Pacto de Preferência com eficácia real, artigo
421.º do CC, e isto tendo em conta a vastidão e diversidade de negócios jurídicos que com
base em ambos, se podem celebrar conforme dispõe o artigo 423.º do CC.

O conteúdo deste direito consiste no poder de fazer valer contra quem quer que seja o
direito à aquisição de um outro direito. Assim, se ficar convencionado a eficácia real no
contrato promessa de compra e venda de um imóvel, o direito real de aquisição permite
ao titular impedir os efeitos de uma venda feita pelo promitente vendedor a terceiro em
violação da promessa.

É importante ressaltar que em qualquer destas situações, o direito real de aquisição só


surge, quando:

1. Ocorra a violação da promessa ou da preferência;

2. Através da alienação a terceiro do direito prometido ou sujeito a preferência na


medida em que, então, o devedor, ou seja, o promitente-alienante, ou o obrigado à
preferência torna definitivamente impossível o cumprimento

PARA RETER: pela noção dessas modalidades podemos inferir que a distinção entre elas
é a função económica do direito real.

Outra classificação importante distingue direitos reais maiores e direitos reais menores. O
direito real maior apresenta uma maior extensão do aproveitamento da coisa. Assim, a
Propriedade é o direito real de maior extensão, pelo que será sempre o direito real maior.
No confronto com ela, todos os outros direitos são direitos reais menores.

Esta relação coloca-se igualmente entre os restantes direitos reais de gozo. O Usufruto é
um direito real maior que o direito de Uso ou direito de Servidão, a Superfície é um direito
real maior que o direito de Servidão, etc.

O direito de propriedade representa um direito sobre a coisa própria. A propriedade


constitui a afectação última de uma coisa a uma pessoa. Em relação a ela, qualquer outro
direito real é ius in re aliena, direito sobre coisa alheia (do proprietário).

Podemos, deste modo, distinguir direitos reais sobre coisa própria (a propriedade,
incluindo a compropriedade) e direitos sobre coisa alheia (todos os outros).
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Natureza jurídica dos direitos reais (TRABALHO INDIVIDUAL)

Teoria clássica ou realista

Segundo a teoria clássica, o direito real consiste num poder directo e imediato (sobre os
sentidos directo e imediato como dois atributos que reforçam a mesma realidade ou
distintos (poder directo, porque atinge a coisa; poder imediato porque prescinde da
colaboração de terceiros) sobre uma coisa certa e determinada, ou seja, não há
intermediário entre o titular e o objecto deste direito, ao invés do que se passa com direito
das obrigações em que em que o objecto só acede ao titular por mediação de outro
indivíduo, que é o devedor.

Existem muitas críticas para esta teoria (trabalho em grupo). Por outro lado, há direitos
reais que não conferem qualquer poder directo e imediato sobre a coisa, como o caso da
hipoteca, e há direitos que, não tendo natureza real, atribuem esse poder, possibilitando
uma actuação jurídica idêntica à que ocorre nos direitos reais ou, pelo menos, em alguns,
como os direitos pessoais de gozo.

Teoria personalista

Esta teoria considera, inspirando-se no pensamento kantiano, que a intersubjectividade é


um elemento essencial da relação jurídica, por isso, vê no direito real um poder atribuído a
uma pessoa de excluir as demais de qualquer ingerência na coisa que constitui o seu
objecto, desde que incompatível como seu conteúdo.

A relação do homem com as coisas é substiuída pela relação do homem com os homens
sujeitos a uma obrigação passiva universal: passiva, porque consiste no dever de
abstenção, non facere, universal, porque incide sobre todas as pessoas não titulares do
direito real.

Teoria eclética ou mista

Esta teoria procura conciliar as teorias clássica e personalista, mostrando que as suas
divergências não irredutíveis. Por isso, considera que há dois lados ou faces nos direitos
reais: o interno, que se traduz no poder directo e imediato sobre a coisa e o externo, que se
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identifica com a relação entre o titular desse direito e as demais pessoas. O lado interno
corresponde ao plano funcional ou instrumental, permitindo distinguir os diversos
direitos reais, o externo, ao plano estrutural ou essencial.

Há quem, dentro desta teoria, acentue a relação universal, referindo vagamente que não se
pode deixar de atender também aos poderes sobre a coisa e quem, ao contrário, acentue
estes poderes, considerando que a relação universal é um mero reflexo da posição do
titular do direito real.

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