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Alienação Parental: mais uma forma de violação dos direitos das mulheres

A partir desta sexta-feira, 10, o Supremo Tribunal Federal (STF) inicia o julgamento sobre a
inconstitucionalidade da Lei 12.318/2010, que dispõe sobre a alienação parental e cuja relatora é a
da ministra Rosa Weber. A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 6273) foi formulada pela
Associação de Advogadas pela Igualdade de Gênero, argumentando que apesar da linguagem
supostamente neutra, a legislação tem servido como mecanismo legal para punir as mulheres que
denunciam seus parceiros em caso de violência doméstica ou de violência sexual praticada contra
seus filhos e filhas.

De acordo com representantes do Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos
das Mulheres (CLADEM Brasil), as denúncias de violência têm aumentado e a falta de sensibilidade
ou incompreensão do sistema de justiça também têm sido um grande desafio, além da ausência da
perspectiva de gênero nos julgamentos que tem causado intenso sofrimento e angústia às mães que
não dispõem de meios e recursos para provar a violência praticada pelos pais.

“Em regra, o Poder Judiciário tem aplicado a lei de alienação parental seguindo padrões sexistas e
discriminatório, com uma abordagem superficial da violência intrafamiliar e reduzindo todos os
problemas como se fossem casos de alienação parental. Além disto, a lei tem sido aplicada no Brasil
em prejuízo das disposições do Estatuto da Criança e do Adolescente e da Lei Maria da Penha”,
afirmou Sandra Lia Bazzo, coordenadora do CLADEM Brasil.

Debate Internacional sobre alienação parental

Nos dias 29 e 30 de novembro, o CLADEM e seu capítulo nacional, CLADEM Brasil, realizaram um
Encontro virtual Internacional com as participações de advogadas, especialistas, pesquisadoras e
juristas de todo o continente americano, em parceria com o Consórcio Lei Maria da Penha, o Grupo
de Pesquisa Direito, Gênero e Famílias da UnB, o Grupo de Pesquisa em Direitos Humanos,
Democracia e Desigualdade da USP, a Associação de Advogadas pela Igualdade de Gênero, e com o
apoio do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e da Equal Measures 2030, caracterizando
a utilização da tese da alienação parental como uma forma de violência de gênero contra as
mulheres.

O Encontro contou com as participações de Susana Chiarotti e Leila Linhares Barsted, integrantes
do MESECVI/CEV/OEA; Stella Furquim, do Grupo de Apoio à Mulher Brasileira no Exterior;
Maricarmen Carrillo Justiniano, especialista de Porto Rico; Diana Arredondo Rodriguez, juíza
aposentada do México; Ana Lima, especialista do Uruguai; Florencia Piermarini, especialistas da
Argentina; e das brasileiras Alessandra Pereira Andrade, do Coletivo Voz Materna, Camila Maria de
Lima Villarroel e Nathálya Oliveira Ananias, pesquisadoras da USP e UNB, respectivamente. As
integrantes do CLADEM, Milena Páramo Bernal, coordenadora regional, Sandra Lia Bazzo, Myllena
Calasans, Tamara Gonçalves e Rúbia Abs Cruz também participaram do encontro.

O debate girou em torno dos prejuízos que a utilização do instituto da alienação parental vem
causando que, pelos relatos das especialistas da região, se constituem um padrão sistemático de
violações dos direitos das mulheres que vivenciam a violência de gênero. Foi consenso entre as
participantes a percepção de que o sistema judicial tem minimizado as declarações das crianças e,
geralmente, atribuído às mães a pecha de “alienadoras”, além de não proporcionar aos seus
integrantes formação e reflexão sobre os direitos das mulheres, sobre os impactos das decisões que
tratam da alienação parental e sobre as violações aos instrumentos de direitos humanos. Os
estereótipos de gênero - negativos em relação às mulheres e as vítimas de violência - têm dificultado
ou impedido o acesso à justiça e favorecem a cultura patriarcal, independente do gênero dos
juristas.

Para a maioria das participantes, fica evidente que a lei é utilizada para frear os avanços das
mulheres e obstar o reconhecimento da violência de gênero.

Serviço:

O quê: Sessão Virtual da Apreciação da Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 62.73/2019

Quando: 10/12/2021, no site do STF https://portal.stf.jus.br/

Para solicitações de entrevistas com integrantes do CLADEM: (61) 98437-7707 (WhatsApp)

Acesse o link do Webinário Internacional:

https://www.youtube.com/c/FaculdadedeDireitodeRibeir%C3%A3oPretoFDRPUSP

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