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à Criança e ao
Adolescente
Vítima ou
Testemunha de
Violência
Módulo 2
Escuta Especializada
Significado dos Ícones da Apostila
Para facilitar o seu estudo e a compreensão imediata do conteúdo apresentado, ao longo de
todas as apostilas, você vai encontrar essas pequenas figuras ao lado do texto. Elas têm o objetivo
de chamar a sua atenção para determinados trechos do conteúdo, com uma função específica,
como apresentamos a seguir.
Quando vir este ícone, você deve refletir sobre os aspectos apontados, relacionando-
os com a sua prática profissional e cotidiana.
SUMÁRIO
Apresentação e Guia de Estudos do Módulo 2 4
Aula 1: Introdução à escuta especializada de crianças e
adolescentes vítimas ou testemunha de violência 5
Aula 2: Princípios norteadores da execução da escuta
especializada de crianças e adolescentes vítimas ou
testemunhas de violência 12
2.1 A escuta especializada no âmbito do SUAS 12
2.2 Acessibilidade: garantir a escuta especializada de
crianças e/ou adolescentes com deficiência 23
2.3 A Escuta de povos e culturas tradicionais 31
2.4 O ambiente de realização da escuta especializada. 34
2.5 Boas práticas para realização da escuta especializada 37
2.6 Encaminhamento: o compartilhamento de informações
com a rede de atendimento e proteção 44
REFERÊNCIAS E SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS 47
Apresentação e Guia
de Estudos do Módulo 2
Neste módulo, vamos iniciar o estudo da Escuta Especializada pela compreensão de alguns
termos utilizados na Lei 13.431/2017 e que são de fundamental importância para o entendimento
desta prática.
Bons estudos!
4
Aula 1
Introdução à escuta especializada de
crianças e adolescentes vítimas ou
testemunha de violência
Observe que, nos dois conceitos, a revitimização está atrelada às práticas de instituições oficiais
e, por esta razão, pode ser considerada como uma prática de violência institucional. Ora, se um/a
agente da Rede de Proteção realiza um procedimento inadequado e ocasiona uma revitimização,
ele/ela pode ser responsabilizado por ato de violência institucional, afinal de contas, ele/ela é
parte da instituição que deveria garantir a proteção às vítimas ou testemunhas de violência.
1 BRASIL. Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Contras Crianças e Adolescentes. Renato Rorlario
(Coord.) Proteger e responsabilizar: o desafio da resposta da sociedade e do Estado quando a vítima da violência sexual é
criança ou adolescente. Brasília, 2007.
5
Mas, na prática, o que poderia causar um episódio de revitimização no SUAS? Por exemplo,
quando uma criança relata a um/uma profissional não capacitado/a que sofre violência sexual
intrafamiliar e este/esta profissional faz questionamentos desnecessários ou repetitivos sobre
o comportamento da criança com o/a autor/autora da violência, por exemplo. O fato de fazê-la
repetir os fatos muitas vezes ou a forma como as perguntas são colocadas faz com que a vítima
se sinta culpada, responsabilizada e acabe por reviver o trauma, sendo, portanto, revitimizada.
Perguntas do tipo “mas você tem certeza que ele fez isso?”; “será que você não está exagerando?”;
ou “por que você estava sozinha com ele?”, nunca devem ser feitas, pois, além de demonstrar que
o/a profissional põe em dúvida os fatos relatados, podem acarretar sentimento de culpa.
Então, a ausência de capacitação porventura ocorrida com os/as profissionais para lidar com
situações complexas, nem sempre claramente identificáveis, associada às possíveis dificuldades de
integração com a Rede de Proteção, podem ocasionar esses episódios de repetição do relato que
revitimizam a criança ou o adolescente, pois ao serem encaminhados para outros serviços, serão
novamente submetidos a questionamentos. E é por isso que a lei trata com tanta especificidade
essa questão, porque a vítima ou testemunha de violência deve receber a devida assistência e
acolhida nos diferentes órgãos que têm responsabilidades no atendimento às situações de
violência, assim como pelos diferentes serviços do SUAS, mas não devem ser obrigados a relatar
a situação de violência.
Por ora, você deve compreender que a lei instituiu dois procedimentos que deverão ser
implementados pelos órgãos integrantes do SGDCA a fim de se evitar os processos de revitimização.
Um deles é a Escuta Especializada que se configura como um dos elementos mais importantes no
âmbito das políticas de proteção e está expressamente definida no art. 7º da Lei 13.431/2017:
Apesar desta definição, o texto legislativo deixou margem para algumas dúvidas. Afinal, como
será realizada essa entrevista? Qual órgão da rede de proteção e quais os/as profissionais que
realizarão a escuta especializada? Neste sentido, o Decreto 9.603/2018, que regulamenta a Lei
13.431/2017, detalhou um pouco mais essas questões nos artigos 19 ao 21:
Decreto nº 9.603/2018
Art. 19. A escuta especializada é o procedimento realizado pelos órgãos da rede de
proteção nos campos da educação, da saúde, da assistência social, da segurança
pública e dos direitos humanos, com o objetivo de assegurar o acompanhamento da
vítima ou da testemunha de violência, para a superação das consequências da violação
sofrida, limitado ao estritamente necessário para o cumprimento da finalidade de
proteção social e de provimento de cuidados.
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§ 1º A criança ou o adolescente deve ser informado, em linguagem compatível com o
seu desenvolvimento, acerca dos procedimentos formais pelos quais terá que passar
e sobre a existência de serviços específicos da rede de proteção, de acordo com as
demandas de cada situação.
§ 2º A busca de informações para o acompanhamento da criança e do adolescente
deverá ser priorizada com os profissionais envolvidos no atendimento, com seus
familiares ou acompanhantes.
§ 3º O profissional envolvido no atendimento primará pela liberdade de expressão
da criança ou do adolescente e sua família e evitará questionamentos que fujam aos
objetivos da escuta especializada.
§ 4º A escuta especializada não tem o escopo de produzir prova para o processo de
investigação e de responsabilização e fica limitada estritamente ao necessário para o
cumprimento de sua finalidade de proteção social e de provimento de cuidados.
Art. 20. A escuta especializada será realizada por profissional capacitado conforme o
disposto no art. 27.
Art. 21. Os órgãos, os serviços, os programas e os equipamentos da rede de proteção
adotarão procedimentos de atendimento condizentes com os princípios estabelecidos
no art. 2º
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É pensando nesta capacitação e no dia a dia dos/das profissionais do SUAS que destacamos
alguns detalhes da Lei 13.431/2017 e do Decreto 9.603/2018 que servirão como ponto de partida
para a realização de uma escuta especializada cercada dos devidos cuidados. Vejamos:
Na próxima aula, traremos mais detalhes sobre os princípios que norteiam a escuta
especializada e como realizá-la no âmbito do SUAS, buscando inserir casos da rotina de trabalho.
No momento, vamos conhecer outro procedimento que, embora não seja realizado pelos/pelas
profissionais do SUAS, é muito importante no sistema de garantia de direitos da criança e do
adolescente. Trata-se do Depoimento Especial, uma ação que não deve se confundir com a
Escuta Especializada. Mas o que é o Depoimento Especial?
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Ademais, você sabia que o Depoimento Especial só poderá ser repetido se a autoridade competente
julgar extremamente necessário e houver concordância da criança ou do adolescente ou de seu/sua
representante legal? Essa determinação é uma das formas de garantir que, em razão das formalidades
processuais, as crianças e os adolescentes vítimas ou testemunhas de violência não sejam revitimizados
ao repetir sua narrativa desnecessariamente. De acordo com a Organização Childhood2, crianças e
adolescentes vítimas ou testemunhas de violência sexual são ouvidos, em média, oito vezes durante os
trâmites processuais, acarretando, por consequência, a revitimização ou rememoração do trauma sofrido,
além de outros prejuízos.
Além disso, a Lei 13.431/2017 estabelece que quando a criança ou adolescente tiver menos de 7 anos
ou for um caso de violência sexual, o Depoimento Especial obedecerá ao rito cautelar de antecipação
de prova. Vamos entender o que é isso?
Para facilitar ainda mais a compreensão desses dois procedimentos, sem confundir os conceitos,
observe a imagem a seguir:
2 SANTOS, Benedito Rodrigues dos., et al. (Org.) ESCUTA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE
VIOLÊNCIA SEXUAL: Aspectos Teóricos e Metodlógicos. Brasília: EdUCB, 2014, 348p. Disponível em: <https://www.
10 childhood.org.br/publicacao/guia-de-referencia-em-escuta-especial-de-criancas-e-adolescentes-em-situacao-de-
violencia-sexual-aspectos-teoricos-e-metodologicos.pdf>. Acesso em: 14 fev. 2021.
E por que é tão importante conhecer e diferenciar esses dois procedimentos? Porque são
procedimentos com objetivos e finalidades distintos e executados por diferentes unidades/
serviços do Sistema de Garantias e Direitos da Criança e do Adolescente. Sabemos que os órgãos
da Rede de Proteção devem se comunicar, mas não devemos confundir a integração com a troca
de papéis.
O profissional do SUAS deve estar sempre atento para o seu papel dentro da Rede de Proteção
e não assumir atribuições que cabem à autoridade policial, como investigações, e à autoridade
judiciária, como a responsabilização dos autores de violências. É por essa razão que os/as
profissionais do SUAS não realizam e, tampouco, participam do Depoimento Especial.
• Jamais deve assumir qualquer atribuição de investigar a violência que lhe foi
relatada. Este papel é da autoridade policial.
• Durante a Escuta Especializada, não devem interrogar a vítima ou testemunha
de violência. Isso ocasiona episódios de revitimização e o/a profissional pode
ser responsabilizado/responsabilizada por violência institucional.
• Não é função do/da profissional do SUAS fornecer provas, laudos ou pareceres
da situação que lhe foi narrada.
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Aula 2
Princípios norteadores
da execução da escuta
especializada de crianças e
adolescentes vítimas ou
testemunhas de violência
2.1 A ESCUTA ESPECIALIZADA NO ÂMBITO DO SUAS
Como vimos na aula anterior, a escuta especializada é um procedimento de caráter protetivo,
realizado no âmbito da rede de proteção à criança e ao adolescente vítima ou testemunha de
violência e que abarca múltiplos sistemas, equipamentos, instituições e atores. Entretanto, o foco
principal deste módulo é o procedimento de escuta especializada realizado no âmbito do Sistema
Único de Assistência Social (SUAS), tendo em mente que o que estamos propondo são sugestões
de boas práticas e não uma orientação finalizada ou protocolo validado por estudos, consultorias
ou publicações. Nossa intenção é mostrar um caminho para a realização do trabalho in loco, o que
não significa que é o único possível.
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(PAEFI). Na ausência deste equipamento3, o atendimento deve ser realizado pelo/pela profissional
de referência de Proteção Social Especial local (BRASIL, 2004; 2017, 2020). Contudo, é importante
destacar que a inclusão da criança e/ou do adolescente e sua família no PAEFI, não significa que os
mesmos não devem ser atendidos nos demais serviços ofertados pelo SUAS. Dessa maneira, cabe
ao CREAS, mais precisamente ao PAEFI, atender e acompanhar a situação de violência, sendo que
a criança e/ou adolescente e suas famílias podem apresentar outras necessidades que justifiquem
seu atendimento e acompanhamento por outras unidades e serviços. Os casos apresentados no
decorrer dessa aula exemplificam essa situação.
É importante destacar que a escuta especializada está incluída como atribuição do trabalho
social executado nas unidades, serviços, programas e projetos do SUAS. Sendo assim, devem
estar em conformidade com os objetivos da Assistência Social (BRASIL, 2020), dentre os quais
destacamos aqueles presentes na Lei Orgânica da Assistência Social:
3 A legislação brasileira, especialmente, a Lei Orgânica da Assistência Social (Lei 8.742 de 07 de dezembro de
1993) e a Política Nacional de Assistência Social, prevê a municipalização da assistência social, de modo que todo o
município deve ofertar a proteção social básica e especial. Entretanto, municípios de pequeno porte, isto é, de até 20.000
habitantes não, necessariamente, devem possuir o CREAS (unidade de referência da proteção social especial média
complexidade). Desse modo, a legislação aponta que, em caso de inexistência do equipamento, o município deve conter
um profissional de referência da Proteção Social Especial (BRASIL, 2004; 2011a; 2011b).
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Mas, afinal, como as situações de violência envolvendo crianças e adolescentes chegam ao
conhecimento dos/das profissionais do SUAS? Podemos apontar quatro formas: 1) Revelação
Espontânea; 2) Revelação de terceiros; 3) Identificação pelo/pela profissional de sinais de violência
ou suspeita; 4) Encaminhamento de algum equipamento ou instituição. Essas formas serão
explicadas a seguir.
1) Revelação espontânea:
No processo de atendimento e acompanhamento de crianças e adolescentes e suas famílias,
em qualquer unidade e/ou serviço da rede socioassistencial, pode ocorrer que a criança ou o
adolescente revele, de forma espontânea, que vivenciou um episódio de violência4, seja na condição
de vítima ou de testemunha. Ocorrendo, assim, o que chamamos de revelação espontânea da
situação de violência.
Essa revelação pode acontecer para qualquer trabalhador/trabalhadora do SUAS, inclusive para
aqueles/aquelas que não compõem a equipe de referência das unidades e serviços5, pois, muitas
vezes, a revelação espontânea é feita para quem a criança ou adolescente já estabeleceu um vínculo
de confiança (BRASIL, 2020). Dessa forma, torna-se fundamental que todo/toda profissional do
SUAS esteja capacitado/capacitada para identificar e acolher crianças e adolescentes em possível
situação de violência.
4 É importante pontuar que essa revelação espontânea pode ser verbal ou não, devemos considerar a
diversidade de sujeitos e estar atento às formas de comunicação.
5 As equipes de referência das unidades e serviços do SUAS estão previstas na Norma Operacional Básica de
Recursos Humanos do Sistema Único de Assistência Social de 2006. O material se encontra disponível em <http://www.
assistenciasocial.al.gov.br/sala-de-imprensa/arquivos/NOB-RH.pdf> .
6 A descrição das etapas do atendimento está sendo realizada com base em: Lei 13. 431 de 2017; Parâmetros de
Atuação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) no Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente
Vítima ou Testemunha de Violência (BRASIL, 2020); e Escuta de Crianças e Adolescentes em Situação de Violência sexual:
Aspectos Teóricos e Metodológicos (BRASIL, 2017); Parâmetros de Escuta de Crianças e Adolescentes em Situação de
14 Violência (BRASIL, 2017).
• Escuta do livre relato: Nesta etapa do atendimento, há dois caminhos possíveis,
dependendo do/da profissional para quem a criança realizou a revelação espontânea:
Sim → O processo de escuta do livre relato deve ser feito em conjunto por ambos
os/as profissionais (profissional de equipe de referência e profissional que acolheu a
revelação).
Não → O/A profissional que acolheu a revelação espontânea deve escutar o relato e,
posteriormente, acionar a equipe de referência. A comunicação à equipe de referência
deve ser feita conforme o protocolo e fluxo local (BRASIL, 2020).
Observação: Caso a escuta do livre relato tenha sido realizada sem a presença de profissional
da equipe de referência, é necessário que este seja acionado para realizar os encaminhamentos
necessários.
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SAIBA MAIS: A Lei 13.431 de 2017 em seu Art. 14 prevê a celeridade do atendimento,
especialmente, nos casos de violência sexual. Você sabe o porquê dessa celeridade
do atendimento? Vejamos: A celeridade do atendimento tem como objetivo garantir
que rapidamente sejam tomadas medidas profiláticas e contraceptivas, de modo, a
proteger integralmente essas vítimas. Além disso, conforme orientação expressa em
Portaria GM/MS nº 1.271, de 6 de junho de 2014, a violência sexual deve ser notificada
imediatamente (24 horas) pela Secretaria Municipal de Saúde. Há ainda a questão da
coleta de provas e vestígios.
Veja mais em: BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas
Estratégicas. PREVENÇÃO E TRATAMENTO DOS AGRAVOS RESULTANTES DA VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA MULHERES E
ADOLESCENTES. Brasília: Ministério da Saúde, 2014, 126p. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
prevencao_agravo_violencia_sexual_mulheres_3ed.pdf>. Acesso em: 02 abr. 2021
Observação: Caso todo esse processo não tenha sido realizado no âmbito do CREAS, há
necessidade de encaminhar a criança ou o adolescente em situação de violência e suas famílias
para esse equipamento e, especialmente, para o PAEFI, tendo em vista a competência do CREAS
em atender situações de violação de direitos.
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REVELAÇÃO ESPONTÂNEA
ACOLHIDA DA O/A PROFISSIONAL DEVE O/A PROFISSIONAL DEVE O/A PROFISSIONAL DEVE
REVELAÇÃO CRIAR UM AMBIENTE DE SE MOSTRAR DISPOSTO A O/A PROFISSIONAL DEVE
CONSULTAR,
ESPONTÂNEA PROTEÇÃO E PRIVACIDADE OUVIR E PASSAR INFORMAR A CRIANÇA OU
SEPARADAMENTE, A
CONFIANÇA ADOLESCENTE E AO SEU
CRIANÇA OU O
RESPONSÁVEL, OS
ADOLESCENTE SE
PROCEDIMENTOS
DESEJAM SER OUVIDOS
FORMAIS QUE SERÃO
DESACOMPANHADOS OU
REALIZADOS
ACOMPANHADOS
O/A PROFISSIONAL
DEVE FAZER APENAS
PERGUNTAS QUE O /A PROFISSIONAL DEVE
O/A PROFISSIONAL DEVE
OBJETIVEM A RESPEITAR O RITMO E
IDENTIFICAR SE O RELATO
CONCLUSÃO DESSA VOCABULÁRIO DA
JÁ FOI FEITO A MAIS
ETAPA DO CRIANÇA OU DO
ALGUÉM
ATENDIMENTO ADOLESCENTE
Fonte: Fluxograma elaborado pelos autores, tendo como referência BRASIL (2017) e BRASIL (2020).
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Em seguida, Cecília tentou contato com profissionais do Centro de Referência da
Assistência Social (CRAS)7 do território em que Carlos Eduardo reside. Entretanto,
não foi possível acionar a equipe de referência naquele momento. Diante dessa
indisponibilidade, retornou para a conversa com Carlos Eduardo e lhe perguntou se
gostaria de estar acompanhado, por algum adulto de sua confiança, para continuar
a conversa. Carlos Eduardo disse que não, pois sua mãe estava trabalhando e seu
padrasto era muito bravo e ele não queria irritá-lo.
Então, Cecília deixou que ele relatasse livremente a situação vivenciada. O menino
contou que fica sozinho, no período da noite dos finais de semana, quando sua mãe
e seu padrasto saem. Ele fica assistindo televisão e, algumas vezes, sua mãe deixa sua
janta pronta, em outras, não. A profissional perguntou se havia muito tempo que isso
ocorria e ele disse que sim. Cecília também perguntou se ele já havia contado isso a
mais alguém e obteve resposta negativa. Questionou se mais alguma coisa acontecia
que o incomodava e Carlos Eduardo disse que às vezes apanhava do padrasto.
Após o relato, Cecília informou à criança que teria de contar essa situação para uma
outra profissional e que ela teria de tomar algumas atitudes, mas que não era para ele
se preocupar, pois ninguém brigaria com ele. Depois de encerrar a conversa com a
criança, Cecília voltou a ligar no CRAS, onde conseguiu agendar uma conversa com um
profissional da equipe de referência, naquele mesmo dia, e comunicou toda a situação
que lhe foi revelada.
Tendo a profissional da equipe de referência tomado
conhecimento sobre o caso, providenciou um relatório para
o Conselho Tutelar da região. Além disso, realizou uma visita
domiciliar onde constatou outras necessidades da família, como
o acesso do padrasto à rede de atenção psicossocial da saúde.
A partir de então, seguindo o fluxo estabelecido localmente, a
profissional, por meio de relatório, encaminhou o padrasto para
o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do município e a criança
e família para o Centro de Referência Especializado de Assistência
Social (CREAS), uma vez que a situação se configurava como
violação de direitos e, portanto, necessitava de atuação do serviço
especializado.
2) Revelação de terceiros:
Uma situação de violência envolvendo criança ou adolescente, também pode ser comunicada
à rede socioassistencial por terceiros, como familiares, vizinhos, professores, etc. Neste caso, cabe
ao profissional do SUAS:
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7 A escolha de Cecília para procurar o CRAS se deve ao fato de que o Serviço de Convivência e Fortalecimento de
Vínculos no qual trabalha é referenciado a essa unidade.
REVELAÇÃO DE TERCEIROS
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3) Identificação pelo/pela profissional de sinais de violência ou suspeita:
No dia a dia no SUAS, pode acontecer do/da profissional que acompanha determinada criança
ou adolescente suspeitar que possam vivenciar algum episódio de violência. Neste sentido, é
importante destacar que a violência é um fenômeno multidimensional e multifacetado, isto é, se
expressa de diversas formas e abarca diferentes dimensões da vida. Assim, identificar uma situação
de violência requer ter clareza de que se trata de um processo complexo, pois suas manifestações
não são excludentes e nunca ocorrem de forma isolada. Por essa razão, o/a profissional deve levar
em consideração o contexto social e familiar da criança ou do adolescente (BRASIL, 2017).
Embora muitos dos sinais de violência sejam de mais fácil percepção para os/as profissionais
da área da saúde, é necessário que, no cotidiano da rede socioassistencial, os/as trabalhadores/
trabalhadoras estejam atentos/atentas aos menores indícios, tais como:
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Durante o atendimento socioassistencial no Centro de Referência Especializado de
Assistência Social (CREAS), a profissional Neide observou que Felipe, uma criança
de 10 anos, com diagnóstico de Transtorno de Espectro Autista (TEA) e que estava
acompanhando a avó naquele atendimento, apresentava hematomas pelo corpo.
A profissional, então, decidiu acompanhar a família com mais frequência e constatou que
a criança residia com os avós e o pai. No decorrer do processo de acompanhamento, a
profissional observou sinais de violência contra a criança como hematomas frequentes,
comportamento introspectivo e uma dinâmica familiar que indicava risco social, já que
o pai era usuário de drogas ilícitas e apresentava comportamento agressivo, conforme
informado pelos avós da criança. A avó disse, também, que, algumas vezes, “dava umas
palmadas” em Felipe porque perdia a paciência com ele e precisava educá-lo.
A partir dessa situação, a profissional pediu à família para levar Felipe ao CREAS, onde,
após conversar com a criança, realizou o processo de escuta na presença do avô,
conforme o desejo de Felipe. A criança contou que, às vezes, era agredido pela avó
quando demorava a comer, a tomar banho ou se negasse a algo que ela pedisse. Disse,
também, que o pai às vezes chegava estranho em casa e que brigava com ele, às vezes
batendo também.
Diante desses elementos, a profissional decidiu comunicar a situação ao Conselho
Tutelar do território e, por meio de relatório, informou a situação aos demais órgãos
do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente Vítima ou Testemunha
de Violência. Também encaminhou o pai para o serviço de atenção psicossocial e, a
fim de manter o acompanhamento e atendimento da família diante da especificidade
da nova situação levantada, a profissional realizou algumas adequações no Plano de
Atendimento e inseriu a família no Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a
Famílias e Indivíduos (PAEFI). Além disso, conversou com a família sobre a existência de
um grupo formado por familiares de pessoas com TEA, que se reúne, semanalmente,
e debate, junto de uma equipe multidisciplinar de profissionais do município, alguns
assuntos pertinentes a essas realidades familiares.
A situação de violência também pode chegar para o/a profissional do SUAS a partir de algum
encaminhamento de outro/outra profissional da Rede de Proteção. Neste caso, o/a profissional do
SUAS deve:
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• Identificar se o procedimento de escuta especializada já foi realizado para evitar que a
criança ou o adolescente tenha de repetir o relato. O objetivo é evitar episódios de
revitimização.
• Identificar, seja através do encaminhamento realizado, contato com o/a profissional que
realizou o atendimento ou através de busca de informações com a família, quais são as
necessidades da criança ou do adolescente e seus familiares. Após essa identificação,
dentro das competências da unidade de atendimento e do profissional, buscar responder às
demandas desses sujeitos.
• Verificar se a família da criança ou o adolescente encontra-se incluída no PAEFI. Caso essa
inserção ainda não tenha acontecido deve ser providenciada.
• Realizar acompanhamento socioassistencial dentro da sua competência.
22
A BUSCA INDIRETA DE INFORMAÇÕES
Como vimos no decorrer desse estudo, em algumas situações é
necessário que o/a profissional do SUAS busque por informações
complementares a fim de qualificar o seu atendimento, tendo como
objetivo assegurar um atendimento integral, isto é, que responda às
necessidades da criança e/ou do adolescente em situação de violência
e sua família. Com o intuito de prevenir a revitimização, essa busca é
feita de forma indireta, ou seja, não envolve diretamente a criança ou o
adolescente. Geralmente, a conversa ocorre com familiares, vizinhanças
e outras pessoas próximas a esses. Como pode ser feito esse processo?
A busca indireta de informações pode ser realizada de diversas maneiras,
a depender do instrumental técnico-operativo do/da profissional, por
exemplo, o mesmo pode escolher realizar uma visita domiciliar, convidar
as pessoas do núcleo familiar da criança para uma conversa na entidade
ou equipamento ou realizar uma entrevista social. O/A profissional deve
ter autonomia para escolher os seus instrumentos e técnicas de trabalho,
de forma que realize um atendimento qualificado e resolutivo.
23
Em outras palavras, podemos dizer que acessibilidade é dar atenção às necessidades especiais
de adaptação das crianças e adolescentes com alguma deficiência que implicam em outra forma
de comunicação, seja por restrições de longo prazo, seja de natureza física, mental, intelectual
ou sensorial, ou questão linguística. Isto é, necessita-se garantir a acessibilidade quando essas
condições em interação com uma ou mais barreiras, interferem de forma significativa no direito de
igualdade de crianças e adolescentes.
Art. 1º: Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo
prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação
com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na
sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas (DECRETO 6. 949
DE 2009).
Com base nesta definição, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146 de
2015) estabelece uma tipologia das deficiências:
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Tipos de Deficiência
Deficiência Física Deficiência Auditiva
Alteração completa ou parcial de um ou Perda bilateral, parcial ou total, de
mais segmentos do corpo humano, quarenta e um decibéis (dB) ou mais,
acarretando o comprometimento da aferida por audiograma nas freqüências
função física, apresentando-se sob a de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz.
forma de paraplegia, paraparesia,
monoplegia, monoparesia, tetraplegia,
tetraparesia, triplegia, triparesia,
hemiplegia, hemiparesia, ostomia,
amputação ou ausência de membro,
paralisia cerebral, nanismo, membros com
deformidade congênita ou adquirida,
exceto as deformidades estéticas e as que
não produzam dificuldades para o
desempenho de funções.
Deficiências Múltiplas
Associação de duas ou mais deficiências.
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Ainda de acordo com a Lei 12.764/2012, as pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo
são consideradas pessoas com deficiência
As crianças e adolescentes precisam ser orientadas sobre seus direitos e deve ser reconhecida
e valorizada sua fala para romper e enfrentar ciclos de violações de direitos fundamentais.
Em se tratando de crianças e adolescentes com deficiência, a lei é mais sucinta e aborda esse
assunto no Artigo 5º da Lei 13.431/2017:
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Mas independente de previsão legal ou normativa para crianças e adolescentes com deficiência,
defendemos que o/a profissional capacitado/capacitada que deseja realizar uma Escuta de
qualidade, antes de mais nada, precisa respeitar a faixa etária da pessoa que será ouvida. Isto
significa que, se for uma criança, devemos tratá-la como criança; se for um adolescente, devemos
tratá-lo como adolescente; independente das limitações ou condições de cada um. O respeito e o
bom senso sempre serão as melhores alternativas.
Vejamos, então, algumas dicas que promovem a acessibilidade com a acolhida dessas crianças
e adolescentes a uma Escuta Especializada, lembrando que são sugestões de boas práticas no
trabalho do SUAS.
• Espera-se que o local de atendimento tenha rampas e/ou outras alternativas de acesso
móvel. Esse é o primeiro requisito para receber uma pessoa com deficiência motora.
• Em toda a conversa com criança e adolescente, independente de sua deficiência, procure
sentar-se à sua altura. Esta atitude facilita o contato visual, cria reciprocidade e uma
comunicação afetiva e empática, além de passar ao outro a confiança para expressar o seu
sentimento.
• Se a criança/adolescente estiver na cadeira de rodas, evite apoiar-se ou movimentá-la sem
permissão. Aquele é o espaço dela/e e não deve ser invadido.
• Não tema usar as palavras “correr” ou “caminhar”. As pessoas com deficiência também as
utilizam.
• Se a deficiência não tiver relação com o episódio de violência, evite questionamentos
sobre as causas se a criança/adolescente não der abertura.
• Observe no que aquela deficiência dificultou a defesa da criança e do adolescente diante
da violência denunciada – vale para todas as deficiências
Fonte: Elaboração própria com base em informações contidas em DECRETO Nº 6.949, de 25 de agosto de 2009
27
Criança e/ou adolescente com deficiência auditiva:
• Antes de iniciar a conversa com um deficiente auditivo, procure observar qual tipo de
limitação a pessoa tem e quais intervenções e adaptações serão necessárias: se faz uso
de aparelho auditivo, se será necessário um/uma intérprete de libras ou mesmo o uso de
mímicas, caneta e papel se for alfabetizado.
• Verifique se o seu tom de voz está adequado para a conversa. Evite gritar.
• Procure um lugar com iluminação adequada para facilitar a leitura labial.
• Use frases curtas e de fácil compreensão.
• Fale devagar, mas com naturalidade, articuladamente, sem exageros, movimentando bem
os lábios para facilitar a leitura labial.
• Fale de frente para a pessoa que conversa, mantenha o contato visual, pois se você desviar
o olhar, ela poderá entender que a conversa acabou.
• Se tiver dificuldade para entendê-lo, não tenha receio de pedir que repita.
• Quando o/a surdo/surda estiver acompanhado de intérprete, fale diretamente com a
pessoa surda, não com o/a intérprete.
• Se você souber a Língua Brasileira de Sinais (Libras), utilize-a na conversa, pode facilitar a
comunicação.
• Outra forma de comunicação é por meio da escrita, você pode escrever as perguntas e
estabelecer um diálogo muito proveitoso.
Fonte: Elaboração própria com base em informações contidas em Lobato (2019)
• Ao conversar com pessoas com deficiência visual, haja de forma simples, cumprimente-a
naturalmente e estabeleça um vínculo de confiança.
• Não toque nos braços ou mãos da criança/adolescente como forma de chamar a atenção.
• Você pode usar os termos como “cego”, “ver” e “olhar”. Os/as cegos/cegas também os
utilizam.
28
• Fale mais alto se for solicitado. Lembre-se que a deficiência
em questão é visual, não auditiva.
• Se a criança ou adolescente precisar de ajuda para se
locomover, durante ou após a conversa, pergunte a ela como
você poderá ajudá-la. Não intervenha se sua ajuda não for
solicitada.
Fonte: Elaboração própria com base em informações contidas em BRASIL. MINISTÉRIO
DA ECONOMIA. ESCOLA NACIONAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. PROGRAMA DE
INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA. 2007.)
29
COMO ESTRELAS NA TERRA.
O filme relata a história de uma criança de 9 anos
de idade que sofre de dislexia e que vivencia a
incompreensão dos adultos, dentre eles, seu pai e
professora. Direção de: Aamir Khan. Ìndia, 2007, 165
min. [Classificação livre, não há conteúdo de violência]
Para ilustrar esse tópico, veremos um exemplo de caso concreto que aconteceu em um
atendimento com uma adolescente com deficiência auditiva.
Tainá, (como a chamaremos aqui) era uma adolescente de quinze anos, quando
foi encaminhada para um abrigo após ter sido violentada, supostamente pelo do
padrasto. O hospital que realizou o atendimento fez a denúncia e a adolescente foi
retirada da família biológica e encaminhada para uma família guardiã, mas essa família
também praticava maus-tratos contra ela e, por isso, foi encaminhada para o serviço
de acolhimento institucional.
Tainá tinha deficiência múltipla: auditiva e uma leve deficiência intelectual. Usava
aparelho auditivo, mas não reconhecia nossa linguagem oral, parecia que ouvia apenas
ruídos. Ela fazia leitura labial e os profissionais do serviço de acolhimento tiveram
que aprender a conversar com ela, falar pausadamente e da maneira mais objetiva o
possível. Ela conseguia entender, mas eles não a compreendiam.
Tinham uma percepção do estado emocional dela: quando estava feliz, além do
sorriso, o brilho nos olhos, ela dançava, ela pulava. Por outro lado, quando ela estava
30
nervosa ela gritava, enrijecia os músculos. Muitas vezes ela ficava nervosa porque não
compreendiam o que ela estava dizendo. Sempre se comunicou melhor com os outros
adolescentes e crianças do abrigo que com os adultos.
Durante todo o período que ela ficou no abrigo, a dificuldade sempre existiu. Nunca
conseguiram, de fato, entender a história por completo, porque ficavam sempre sobre
o registro do que as pessoas diziam e, ora ela confirmava algumas coisas, ora ela não
conseguia trazer os detalhes. Ela sofria muito por não conseguir comunicar o que havia
acontecido com ela.
Tempos depois, ela foi para uma escola especializada em trabalhar com pessoas com
deficiência, que tinha linguagem brasileira de sinais (libras). Na escola, ficou mais fácil
para conversar com ela, porque foram aprendendo um pouco com ela a linguagem de
sinais. Ela escrevia um pouco, mas a escrita era muito pontual.
Quem ajudou na comunicação foi o neto da professora de Tainá, que era adolescente
e entendia sobre a linguagem de sinais. Graças a este intermédio, foi possível interagir
melhor com a adolescente e compreender a história que, até então, era contada por
adultos e não pela menina.
A partir da fala da adolescente os profissionais do abrigo conseguiram montar o
quebra-cabeça de sua história, constatar as violências sofridas, ajudá-la na construção
de novos vínculos sociais e familiares e na elaboração de seu projeto de vida, bem
como o sistema de justiça pôde responsabilizar os agressores.
31
O atendimento culturalmente adequado às crianças e
adolescentes de comunidades tradicionais, traz o desafio da
criação de protocolos de atendimentos/escuta especializada
que respeitem algumas práticas da comunidade consideradas
comuns. Sendo assim, a escuta deve ser cuidadosa, pois estão
em evidência, costumes, tradições e modos de vida das pesso-
as. Portanto, a articulação da rede com órgãos indigenistas e
organizações de apoio às comunidades tradicionais é funda-
mental.
Pensando nessas questões, trouxemos um auto-relato de uma assistente social negra, para
exemplificar essas questões:
“Meu nome é Glória, tinha 9 anos e morava com minha mãe, meu pai e meu irmão.
Sempre fui negra, gorda e pobre. Sou bisneta de pai de santo, com muito orgulho,
mas sempre fomos católicos, porque minha mãe achava feio ser “macumbeira”. Tinha
as melhores notas da escola, porém minha mãe era chamada na escola toda semana,
porque eu conversava muito, agitava as aulas e a professora não conseguia trabalhar.
Nas férias, sempre ia para a casa de minha avó, ela mora em uma casa pequena, dentro
de uma fazenda grande e muito bonita. Tínhamos o maior orgulho de viver neste lugar
há quase cinquenta anos. Meu tio dormia todos os dias nesta fazenda para tomar conta,
pois, os donos só iam lá para passar os finais de semana. Na casa de minha avó não era
muito bom: não tinha cama pra todo mundo, não tinha banheiro e a comida boa era
sempre para os filhos dos tios que tinham mais dinheiro. Mesmo assim eu gostava de
ficar lá. Um dia eu fui levar almoço para meu tio na casa da fazenda. Ele ficou muito
feliz e me chamou para buscar cambucá no quintal: eu animei, era tempo da fruta e
estava bem docinha. Ele trouxe um balaio cheio, comemos na frente da televisão, na
sala da casa. De repente a porta e a janela foram fechadas, e, mesmo com a televisão
ligada, tudo ficou calado, as risadas foram trocadas por um jeito diferente de me tocar:
ninguém nunca tinha feito aquilo comigo, eu não sabia o que estava acontecendo.
Tudo estava escuro. Eu senti dor. Eu não me lembro de mais nada. Eu dormi. Quando
acordei ele me pediu para não contar a ninguém, pois eu levaria uma surra muito
grande da minha mãe. Eu sabia que não estava certo, que tinha feito algo muito feio.
Dois dias depois aconteceu novamente e, até hoje, eu me lembro com clareza de cada
detalhe: meu irmão gritando fora do quarto, lá dentro, uma lágrima de dor descia
no meu rosto. Foi aí que eu calei: tinha medo de voltar à minha avó. Fiquei quieta na
escola. Na igreja, buscava salvação. Tinha medo até do meu pai. Alguns anos passaram
e nunca disse a ninguém o que aconteceu comigo naquelas tardes. Conversando com
duas primas, me disseram que aconteceu a mesma coisa com elas e que havia suspeita
de uma quarta adolescente. Pelo bem da família, todas calamos. Hoje fui procurada
para escutar uma sobrinha: um tio havia abusado dela e ela queria denunciar o caso. Há
dez anos, fizemos a denúncia ao Ministério Público. Fizemos terapia, quando adultas,
para falar o que aconteceu naquela roça. Até hoje a televisão está ligada e meus “tios”
esperam uma sobremesa depois do almoço.”
33
Independente da diversidade e das necessidades do público atendido, lembre-se: para
possibilitar a construção de uma relação de confiança entre técnicos e usuários, deve haver espaço
para troca de ideias, informações e manifestação de vontades. Por maior que seja a diferença,
lembre-se de que cada pessoa merece ser tratada com respeito e empatia.
Por entendermos que os locais onde se realizam os atendimentos são carregados de valores que
podem interferir nas respostas das vítimas ou testemunhas de violência, a criação de um espaço
de narrativa pode acentuar e até mesmo diminuir as tensões oriundas da situação de violência, ao
propiciar uma narrativa dos fatos de forma espontânea e criativa (LEITE, 2008). E como podemos
constituir um ambiente adequado em nosso local de atendimento?
O primeiro passo será disponibilizar um local para realização dos atendimentos que seja
acolhedor e acessível. Pode ser uma sala, com decoração e elementos que deixem a criança ou
o adolescente à vontade e seguros para expressar suas ideias. Por exemplo, pode-se decorar as
paredes com imagens de paisagens e de animais tranquilos; dispor uma mesa e cadeira confortáveis
com papel, lápis de cor e caneta, caso queiram se expressar por desenhos ou escrita; brinquedos;
livros, revistas; música suave. Se o entrevistado/entrevistada for deficiente visual, pode incluir
material em braile; se for deficiente auditivo deve ter um profissional capacitado em libras, e assim
por diante.
34
Um exemplo prático pode ser tomado da ação coordenada pela Prefeitura Municipal de
Guamaré, no Rio Grande do Norte. Por meio de sua Secretaria de Assistência Social, em parceria
com o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, a Prefeitura de Guamaré
investiu na capacitação dos profissionais envolvidos na Rede de Proteção e inscreveu uma proposta
de atendimento em um programa patrocinado por empresa privada, em 2018. Com os recursos
disponibilizados em 2019 e 2020, investiram em um Complexo de Proteção Social Especial, que
abrigará programas e serviços da Proteção Social Especial do SUAS. Este Complexo terá, entre
outros espaços de atendimento, uma sala exclusiva para Escuta Especializada, idealizada para
acolher crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência.
O projeto desta sala, criado pela Prefeitura de Guamaré, não só atende os requisitos da lei
como, esteticamente, configura um local ideal para realização de atendimentos com crianças e
adolescentes. Mas sabemos que este exemplo, em muitos locais, é uma utopia, pois na imensidão
do Brasil encontramos realidades que são bem distintas do que é idealizado. Até porque, a
orientação da Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais é sobre a oferta de serviços para
todas as situações de violência e para todas as faixas etárias, não há orientação para unidades de
CREAS específicos para crianças e adolescentes. Sabemos, também, que em muitas localidades, os
órgãos e profissionais do SUAS dispõem do básico para realização de suas atividades.
Além disso, como estruturar esse espaço ideal se, é muito comum, as realidades regionais
exigem que o/a profissional se desloque, com frequência, para realizar seu trabalho? Como pensar
em uma sala decorada, acolhedora, quando o/a profissional do SUAS realiza atendimentos em
aldeias indígenas, em comunidades quilombolas, em acampamentos ciganos? São ambientes
culturalmente importantes para essas comunidades e que merecem a nossa atenção.
A assistente social, que aqui chamaremos de Heloísa, foi solicitada pelo Conselho
Tutelar para atender a uma menina cigana, de 08 anos, que havia presenciado uma
agressão com golpes de faca. O grupo de ciganos seminômades demonstrava
desconfiança pelas pessoas que viviam fora de sua comunidade. Heloisa, então, foi ao
acampamento e dirigiu-se à tenda da família para tentar conversar com a garotinha,
mas percebeu que a menina estava constrangida até para falar o seu nome no meio
de tantas pessoas. Então, a assistente social solicitou autorização dos pais e pediu à
menina que a levasse ao local do acampamento que ela mais gostava de brincar. Lá
chegando, elas se sentaram ao ar livre e Heloisa lhe ensinou a brincar de jogo da velha
e adedanha. Em meio às brincadeiras e ao clima de descontração, a assistente social
conseguiu que a menina adquirisse confiança e lhe falasse das suas necessidades e
anseios, como se lhe contasse uma história.
35
Neste caso, a assistente social teve a sensibilidade de criar um espaço de atendimento a partir
da rotina e da cultura daquela criança. Porém, sabemos que o/a profissional do SUAS nem sempre
tem o tempo necessário para se preparar para um atendimento dessa natureza, pois os relatos
podem surgir de forma livre e espontânea ao longo de um atendimento ou acompanhamento.
Lembram da revelação espontânea e do livre relato? Eles podem ocorrer em diferentes contextos,
no órgão de atendimento, em comunidades especiais, na escola ou em domicílio, e o/a profissional
deve estar capacitado/capacitada para reconhecer a situação de violência e oferecer acolhida à
criança ou ao adolescente naquele momento. Acompanhe um outro exemplo, envolvendo um
caso de revelação espontânea.
Esse tipo de situação é muito comum no dia a dia dos/das profissionais que atuam no
SUAS e, como vimos nos dois exemplos, o/a profissional deve estar capacitado/capacitada
para agir repentinamente e com sensibilidade para a realização da Escuta Especializada. Assim,
reconhecemos que ter um local específico para a realização dos atendimentos é o ideal, mas nem
sempre é o mais importante. O fundamental é que o/a profissional esteja preparado/preparada e
atento/atenta para criar um ambiente acolhedor onde quer que esteja realizando o atendimento.
36
2.5 BOAS PRÁTICAS PARA REALIZAÇÃO DA ESCUTA ESPECIALIZADA
Agora que já sabemos o que é uma Escuta Especializada e conhecemos como ela pode
ser realizada no âmbito do SUAS por um/uma agente de proteção9, vamos aprender que o/a
profissional poderá utilizar, em cada um dos casos que lhe será apresentado, técnicas apropriadas
para a dinâmica do atendimento, que pode utilizar-se de entrevista.
Primeiramente, precisamos entender que todo atendimento tem uma finalidade. No caso da
Escuta Especializada, como já estudamos, o objetivo principal é o cuidado e a proteção e não a
coleta de provas. Para tanto, o/a profissional que realizará o atendimento deverá ser capacitado/
capacitada para a escuta, pois é um procedimento que deve ser feito com respeito, ética e cuidado
para não revitimizar a criança ou adolescente.
Para que a Escuta Especializada cumpra com essa finalidade, é fundamental que o/a profissional
conheça a criança ou o adolescente que entrevistará e este processo de conhecimento se dá a partir
de duas maneiras: quando se conhece a situação da criança/adolescente a partir do relato feito
pelos adultos e quando se conhece a situação a partir do relato da própria criança/adolescente.
No primeiro caso, quando o/a profissional toma conhecimento da situação por terceiros, ele/ela
deverá contextualizar a escuta conversando com as pessoas envolvidas e buscando informações
mais precisas, antes de conversar com a criança ou com o adolescente.
Mas quando se toma conhecimento de uma situação a partir do próprio relato da criança
ou do adolescente, é fundamental que o/a profissional compreenda o universo da criança ou
adolescente, o lugar de onde parte essa narrativa.
Mas essa não é uma tarefa fácil. Para se ter uma ideia, Jean Piaget dedicou anos de suas
pesquisas para compreender melhor como uma criança representa seu pensamento, como ela
interage com o meio e como representa o mundo. Piaget acreditava que a criança tem seus
próprios padrões de pensamento e que a construção do pensamento vai evoluindo à maneira
que tem contato com o mundo:
37
É importante salientar que Piaget defendeu que a criança, e aqui estendemos a análise para
os adolescentes também, passa por estágios ou fases de desenvolvimento nos quais se constrói
o conhecimento. A compreensão do mundo e a construção da linguagem não é, portanto, algo
estático ou automático, mas que evolui gradativamente.
Isto significa que as crianças e os adolescentes têm sua própria forma de pensar, que é diferente
do adulto. O pensamento cognitivo evolui segundo a interação com o ambiente e ocorre de
acordo com a fase do seu desenvolvimento. Por isso, algumas normativas chamam a atenção para
o/a profissional levar em consideração o estágio de desenvolvimento de seu/sua entrevistado/
entrevistada.
38
• Estágio operatório concreto (dos 7 aos 11 anos), estágio
marcado pela formação de conceitos pela criança. Nesta fase, a
criança coopera, compreende o ponto de vista de outra pessoa e
começa a buscar solução de problemas concretos com operações
intelectuais, abstraindo dados da realidade. O pensamento sai das
intuições e passa para a lógica das operações.
Ao entrevistar uma criança com idade entre 2 e 4 anos, é preciso entender que ela ainda não
tem a linguagem completamente desenvolvida, pois, neste estágio, ela se comunica melhor
por meio de sua capacidade simbólica, substituindo um objeto ou acontecimento por alguma
representação (BARRETO, 2001, p. 15). Ao entrevistar crianças tão novas, o/a profissional, então,
deve estar atento para as representações
Neste exemplo, podemos entender que a linguagem e os símbolos utilizados não condizem
com a estrutura do pensamento adulto, pois a criança ainda está centrada em si, e “é comum que
ela se tome como referência e transfira para objetos e/ou pessoas seus próprios pensamentos e
sentimentos” (CASTRO 2019, p.63). Na escuta com crianças nesse estágio da vida, é necessário,
então, uma interpretação adequada para não correr o risco de tornar inválida a fala da criança.
39
Vejamos um outro exemplo que Lordello (2020) nos dá:
Neste exemplo, podemos observar que o discurso infantil ora parte da realidade vivida pela
criança, ora é fruto da imaginação.
40
Cabe, então, ao/à profissional, agente de proteção, adequar a linguagem, ficar atento às
perguntas que fará e também às respostas recebidas; considerar a faixa etária da criança ou
adolescente, entendendo que: “o estágio em que o sujeito se encontra é uma possibilidade de
resposta, e não garantia de resposta, pois o conteúdo é uma variante” (SOARES, 2012, p. 96).
SAIBA MAIS:
Os serviços de assistência social podem abordar a prevenção da violência sexual
com orientações para pais, mães, responsáveis para compreenderem conceitos
básicos sobre o corpo, sentimentos, convivência e trocas afetivas, de forma a orientar
suas crianças/ adolescentes para que possam diferenciar toques de amor de toques
abusivos, apontando caminhos para o diálogo e a proteção, pois um fator de proteção
essencial para crianças e adolescentes é que as pessoas em quem confiam lhes dêem
credibilidade, dando importância para o que a criança/adolescente expressa, seja
por meio da fala, ou de sinais e atitudes. Reforçar a importância de supervisionar as
brincadeiras e os momentos de convivência (especialmente quando envolvem crianças
de idades diferentes), para evitar brincadeiras inadequadas.
No enfrentamento à violência sexual, várias devem ser as estratégias preventivas
adotadas. A educação sexual, desde a mais tenra idade, é uma possibilidade
relevante de prevenir a violência e proteger nossas crianças e adolescentes. Para
compreendermos melhor, sugerimos que assistam três séries educativas do Projeto
“Crescer sem violência” criado pelo Canal Futura em parceria com a UNICEF: Que abuso
é esse? Que exploração é essa? Que corpo é esse? E ainda o livro direcionado para
crianças: Pipo e Fifi, que incentiva as famílias a conhecerem também.
2.5.1 A entrevista:
Agora que estamos mais familiarizados com as fases do desenvolvimento e da construção
da linguagem, vamos partir para a entrevista. Antes, porém, é necessário lembrar que a Lei
13.431/2017 deixa a critério dos órgãos de proteção como e quais profissionais realizarão a escuta
especializada, podendo fazer uso de entrevista. Isto significa que apresentaremos uma sugestão
para o atendimento, sendo que o/a profissional pode e deve adaptá-la à sua realidade laboral.
Neste sentido, nossa primeira sugestão é que, se o/a profissional já estiver ciente de que
realizará uma Escuta Especializada, construa um protocolo de entrevista no qual ele tenha certa
flexibilidade durante sua execução, pois um protocolo de entrevista não é uma receita de bolo, é
uma proposta que deve ser reinventada a cada atendimento.
Alguns aspectos, no entanto, podem ser empregados para qualquer entrevistado, de qualquer
faixa etária. Sendo assim, tenha sempre em mente que:
41
• Se for possível, o ambiente deve ser tranquilo e acolhedor.
• Explique ao/à entrevistado/entrevistada que você poderá fazer algumas anotações, mas
que se ele/ela não se sentir bem, você deixará de anotar.
• Não ofereça prêmios ou gratificações. Lembre-se que a criança/adolescente não deve se
sentir obrigado a relatar.
• Busque trazer o cotidiano da criança/adolescente para a conversa. Isso faz com que ele/ela
se sinta mais acolhido.
• Quando a criança/adolescente sentir-se confortável, peça a ele/ela para contar sobre sua
vida, sobre a escola, seus amigos, sua família.
• Faça perguntas simples e objetivas. Muitas vezes as perguntas indiretas confundem o
entrevistado e atrapalham o fluxo de memória.
• Traga elementos que facilitem a conversa, como: hum hum...entendi. Você pode me falar
mais sobre este assunto?
• Dê pausas, respeite os silêncios. O não dito também é informação.
• Procure estar atento/atenta ao relato e absorva o máximo de informações.
• Busque compreender o sentido construído pelo/pela entrevistado/entrevistada, evitando
fazer com que ele/ela repita a informação desnecessariamente.
• Seja solidário/solidária na escuta: valorize os sentimentos da criança/adolescente, mas
mantenha a neutralidade.
• Ao término da conversa, se for necessário realizar encaminhamentos ou, se forem
identificados riscos, informe à criança de que você precisa protegê-la, para isto, será
necessário comunicar outras pessoas da rede de proteção, para que seus direitos sejam
assegurados.
• Finalize o atendimento, agradecendo a partilha da criança/adolescente.
A seguir, trouxemos um roteiro com perguntas que podem ser realizadas, mas destacamos
que é apenas uma sugestão para que você possa construir o seu próprio instrumento. Lembre-se
que, durante a Escuta, você pode mudar o caminho das perguntas e, se sentir necessidade, poderá
dividir suas perguntas para um outro momento.
42
Sugestão de perguntas que podem ser feitas para crianças e adolescentes com o objetivo
de conhecer mais sobre as rotinas, cuidados que recebe, recursos que a família dispõe, entre
outros.
Introdução: Olá, tudo bem com você? Eu me chamo XXX e estou aqui para acompanhar
você. Tenho algumas perguntas para te fazer e não existe resposta certa ou errada. Você
vai responder da forma que você achar melhor, tá bom? E se não quiser responder alguma
pergunta não tem problema. E se quiser parar um pouco é só me falar. Podemos começar?
43
Perguntas Básicas Perguntas Complementares Respostas
Você acha que todas as famílias
Por que sim? Por que não?
são iguais?
Como você gostaria que sua
família fosse daqui pra frente?
Quem ajuda você na hora de Você dorme sozinho?
dormir?
E no almoço?
O que você gosta de comer no
Você come o que a noite?
café da manhã?
Você toma café todos os dias?
Você tem algum dever dentro de Quais?
casa? E quando você não faz, o que acontece?
Tem mais alguma coisa que você
queira falar?
Fonte: Elaboração própria.
Contudo, é importante lembrar que a criança e o adolescente possuem o direito de ter sua
intimidade preservada (Lei 13.431/2017, Art. 5, inciso III) e, portanto, o atendimento a esses
sujeitos é naturalmente revestido de confidencialidade (DIGIÁCOMO; DIGIÁCOMO, 2018). É certo
que o compartilhamento de dados entre os órgãos é fundamental, mas tal procedimento deve ser
realizado de forma a garantir, por um lado, a confidencialidade do atendimento, a privacidade e a
intimidade dos sujeitos; e por outro, a intersetorialidade e a integralidade do atendimento.
Neste sentido, cabe ao poder público, gestores das instituições e dos serviços, programas
e projetos que atendem crianças e adolescentes em situação de violência e aos profissionais
envolvidos, criar mecanismos e estratégias que possibilitem a troca de informações relevantes ao
44
atendimento entre os órgãos do sistema de garantia de direitos (SGD). Ao mesmo tempo, devem
se certificar que somente a Rede de Proteção tenha acesso aos eventos compartilhados, sendo
recomendável a criação de espaços intersetoriais que permita discutir os casos (BRASIL, 2017).
É fundamental mencionar que o/a profissional não tem a obrigação de compartilhar seus
registros e anotações de cunho pessoal, acerca do atendimento, ou qualquer informação de
ordem particular dos atendidos que não tenha relevância para a obtenção da proteção integral.
45
Para finalizar, ressaltamos que não há uma receita pronta de como realizar o compartilhamento
de informações no âmbito da rede de proteção, pois cada território estabelece os seus protocolos
e fluxos específicos. No entanto, há princípios, conforme abordado no decorrer dessa discussão,
que direcionam essa ação, visando assegurar um atendimento confiável e resolutivo. Além disso,
a troca de informações entre os órgãos protetivos caracteriza-se como importante instrumento na
prevenção da revitimização e, portanto, da violência institucional, já que evita a contínua exposição
da vítima ou testemunha. Desta maneira, torna-se pressuposto o atendimento qualificado em
termos da legislação.
46
REFERÊNCIAS E
SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS
NORMAS:
BRASIL. LEI Nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012. Institui a Política Nacional de Proteção dos
Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista; e altera o § 3º do art. 98 da Lei nº 8.112,
de 11 de dezembro de 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2012/lei/l12764.htm>. Acesso em: 21 fev. 2021.
47
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sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova
York, em 30 de março de 2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2009/decreto/d6949.htm>. Acesso em: 21 fev. 2021.
BRASIL. LEI Nº 13.146, de 06 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>. Acesso em: 21 fev. 2021.
BRASIL. LEI Nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012. Institui a Política Nacional de Proteção dos
Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista; e altera o § 3º do art. 98 da Lei nº 8.112, de
11 de dezembro de 1990. Diário Oficial da União de 28 de dezembro de 2012 [online]. Disponível
em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12764.htm >. Acesso em: 20
fev. 2021.
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BRASIL. MINISTÉRIO DOS DIREITOS HUMANOS. Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do
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CESARINO, Rita de Cassia, M.Sc., Universidade Federal de Viçosa, agosto de 2019. Representações
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br/projetos/crescersemviolencia/ >.
51
MINISTÉRIO DA CIDADANIA
Ministro da Cidadania
João Roma
Secretaria Executiva
Luiz Galvão
Equipe técnica:
Gustavo André Bacellar Tavares de Souza
Gustavo Vellozo Barreira
Natália da Silva Pessoa
Equipe técnica:
Deusina Lopes da Cruz
Flávia Renata Lemos de Souza
Elaboração de Conteúdo/Desenvolvimento:
Claudia Gomes de Castro – Pesquisadora do Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável
(IPPDS/UFV)
Rita de Cássia Cesarino - Pesquisadora do Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável
(IPPDS/UFV)
Gabriela Santos Gomes - Bolsista do Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável (IPPDS/
UFV)