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ESCUTA
ESPECIALIZADA:
Conceitos e Procedimentos
Éticos e Protocolares
GUIA DE
ESCUTA
ESPECIALIZADA:
Conceitos e Procedimentos
Éticos e Protocolares
COORDENAÇÃO DE ENFRENTAMENTO
ÀS VIOLÊNCIAS CONTRA CRIANÇAS E CONSELHO DELIBERATIVO
ADOLESCENTES
Rosana Camargo de Arruda Botelho
Giuliana Hernandes Córes Presidente
EQUIPE
Andrea Ciapina
Coordenadora Administrativo-Financeira
REVISÃO TÉCNICA
Duo Design
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Este Guia contou com a colaboração, interlocução e críticas de diversos profissionais dos órgãos e
instituições do Sistema de Garantia de Direitos da criança e do(a) adolescente vítima ou testemunha de
violência dos diferentes níveis de governo. Agradecemos especialmente ao Coordenador Educacional
Igor Gomes da Silva e aos alunos do Curso de Escuta Especializada da Universidade Corporativa do
Brasil (Ucorp)/Brasília-DF: Fabiele Dalazoana Vieira, Maria Teresa Moreira Marcondes, Daphne de Castro
Fayad, Marce Divina de Paula Costa, Isabel Cristina Feijó. E também aos interlocutores da Oficina Escuta
Especializada Conceitos e Procedimentos Éticos e Protocolares especialmente: Gracielly Alves Delgado;
Caroline Pereira da Cunha Sousa, Helena Maria Tonet, Cristina Mosquetta de Morais que nos enviaram
suas observações sistematizadas.
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Sumário
Apresentação 14
1.2. Diretrizes 19
2.4. Na hipótese de uma revelação espontânea, a criança ou o(a) adolescente deve
ser chamado (a) a confirmar no procedimento de depoimento especial 29
2.6. Todos os profissionais dos órgãos devem ser capacitados para o acolhimento
de uma revelação espontânea e para realizar as interações necessárias com
as crianças e os(as) adolescentes vítimas ou testemunhas de violência 30
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7.2. Suspeita gerada por rumores na escola, unidades de serviços da rede de proteção
e redes sociais da internet 57
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8.3. C
uidados não revitimizantes durante o transporte da criança
ou do(a) adolecente vítima 63
12
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Referências 106
Apêndices 108
Apêndice I - Modelo de relatório do estudo psicossocial 108
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Apresentação
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16 Foto: Shutterstock
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1. Esta seção foi tomada de empréstimo do documento “Proteção em rede: a implantação de Centros de Atendimento Integrado
no Brasil na perspectiva da Lei nº 13.431/2017” (SANTOS; GONÇALVES, 2022).
2. Os documentos jurídicos que albergam princípios são: Constituição Federal de 1988; Convenção dos Direitos da Criança
(Decreto nº 99.710/1990); Protocolo Facultativo à Convenção dos Direitos da Criança (CDC) referente à venda de crianças,
à prostituição infantil e à pornografia infantil (Decreto nº 5.007/2004); Comentário Geral nº 12/2009, do Comitê dos Direitos
da Criança das Nações Unidas; Resolução nº 20/2005, do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas; Lei nº 8.069/1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente); Lei nº 13.431/2017; Lei nº 13.146/2015; Decreto nº 9.603/2018; Convenção dos Direitos
da Pessoa com Deficiência (Decreto nº 6.949/2009); Convenção nº 169, da Organização Internacional do Trabalho (Decreto
nº 5.051/2004); Resolução nº 299/2019, do Conselho Nacional de Justiça; Resoluções nºs 180/2016 e 181/2016, do Conselho
Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.
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opiniões livremente nos assuntos que lhes • Direito a receber tratamento digno e abran-
digam respeito (BRASIL, 1990b, art. 12; BRA- gente (BRASIL, 2017a, art. 5º).
SIL, 1990a, arts. 28, §§ 1º e 100, inciso XII;
• Direito a receber informação adequada à sua
BRASIL, 2018; art. 2º).
etapa de desenvolvimento (BRASIL, 2017a,
• Criança e adolescente devem ser sempre con- art. 5º; NAÇÕES UNIDAS, 2005, itens 19 e 20).
siderados prioridade absoluta na distribuição
• Direito de ser ouvido e expressar seus de-
dos atos de cidadania (BRASIL, 1988, art. 227;
sejos e opiniões, assim como permanecer
BRASIL, 1990a, art. 4º; BRASIL, 2017a, art. 5º).
em silêncio (BRASIL, 2017a, art. 5º; BRA-
• Criança e adolescente possuem o direito de SIL, 2018, art. 2º).
receber proteção integral quando os seus di-
• Direito de ser resguardado e protegido de
reitos forem violados ou ameaçados (BRASIL,
sofrimento durante a tramitação do pro-
1990a, art. 5º; BRASIL, 2018, art. 2º).
cesso (prioridade, celeridade) (BRASIL,
• Criança e adolescente devem ser respeita- 2017a, art. 5º).
dos em razão de suas diversidades sociais,
• Direito a respeito e proteção à dignidade
cabendo aos serviços públicos construírem
individual, necessidades, interesses, priva-
formas de acolhimento e atendimento que
cidade, incluída a inviolabilidade da integri-
sejam adequadas à identidade social de
dade física, psíquica e moral, preservação
cada pessoa atendida, considerando gênero,
da imagem, identidade, autonomia, valores,
sexualidade, raça, pertencimento a povo ou
ideias, crenças, espaços e objetos pessoais
comunidade tradicional, religião, deficiência,
(BRASIL, 2018, art. 2º).
idade, condição pessoal de desenvolvimento
e aprendizagem, condição econômica, am- • Direito à proteção de sua intimidade e das
biente social, região e local de moradia ou condições pessoais quando vítima ou teste-
outra condição que diferencie a pessoa, a fa- munha (BRASIL, 2017a, art. 5º).
mília ou a comunidade em que vive (BRASIL,
• Direito à confidencialidade, sendo vedada a
1988, art. 3º, inciso IV; BRASIL, 1990b, art. 2º;
utilização ou o repasse a terceiro das declara-
BRASIL, 1990a, art. 3º; BRASIL, 2017a, art. 5º;
ções feitas pela criança e pelo(a) adolescente
BRASIL, 2018, art. 2º, inciso VII; NAÇÕES UNI-
(BRASIL, 2017a, art. 5º).
DAS, 2005, itens 15 e 16).
• Direito de receber assistência qualificada
( jurídica psicossocial) que facilite sua par-
Relativos às intervenções ticipação e o resguarde contra comporta-
mento inadequado adotado pelos demais
• Criança e adolescente têm preferência: (1) em órgãos atuantes no processo (BRASIL,
receber proteção em quaisquer circunstân- 2017a, art. 5º).
cias; (2) em receber atendimento em serviços
• Direito à convivência familiar e comunitária
públicos ou de relevância pública; (3) na for-
(BRASIL, 1990a, art. 19; BRASIL, 2017a, art. 5º).
mulação e na execução de políticas públicas;
e (4) na destinação privilegiada de recursos • Direito de ter segurança contra intimidação,
públicos para a proteção de seus direitos ameaça e outras formas de violência (BRASIL,
(BRASIL, 1990a, art. 4º, BRASIL, 2018, art. 2º). 2017a, art. 5º).
• Direito à intervenção precoce, mínima e ur- • Direito de pleitear, por meio do seu represen-
gente das autoridades competentes (BRASIL, tante legal, medidas protetivas contra o autor
1990a, art. 100, BRASIL, 2018, art. 2º). da violência (BRASIL, 2017a, art. 6º).
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IV. planejamento coordenado do atendimento Parágrafo único. Poderão ser adotadas práticas
e do acompanhamento, respeitadas as es- dos PCTs em complementação às medidas de
pecificidades da vítima ou testemunha e atendimento institucional.
de suas famílias;
Art. 18. No atendimento à criança ou ao adoles-
V. celeridade do atendimento, que deve ser reali- cente pertencente a povos indígenas, a Fundação
zado imediatamente – ou tão logo quanto pos- Nacional do Índio (Funai) do Ministério da Justiça
sível – após a revelação da violência; e o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do
Ministério da Saúde deverão ser comunicados
VI. priorização do atendimento em razão da
(BRASIL, 2018, arts. 17 e 18).
idade ou de eventual prejuízo ao desen-
volvimento psicossocial, garantida a inter- Reforça-se aqui que, subjacente aos princí-
venção preventiva; pios, às finalidades e às diretrizes das intervenções,
está a adoção de procedimentos não revitimizan-
VII. mínima intervenção dos profissionais
tes comuns a todos os órgãos destinados, visando
envolvidos; e
à proteção de crianças e adolescentes vítimas,
VIII. monitoramento e avaliação periódica das po- inclusive à redução do número de vezes em que
líticas de atendimento. a criança ou o(a) adolescente fala sobre o fato de
violência ocorrido.
§ 2º Nos casos de violência sexual, cabe ao respon-
sável da rede de proteção garantir a urgência e a O atendimento no contexto da rede de
celeridade necessárias ao atendimento de saúde e proteção possui caráter de acolhimento e acom-
à produção probatória, preservada a confidencia- panhamento, e não necessariamente da confir-
lidade (BRASIL, 2017a, art. 14, §§ 1º e 2º). mação da ocorrência ou não de violência (BRA-
SIL, 2017b, p. 21).
O(s) órgão(s) responsável(s) pelo atendi-
mento também devem observar as diretrizes Os procedimentos não revitimizantes devem
relacionadas às necessidades de envolvimento incluir: 1. Preferência à abordagem de questiona-
de órgãos de políticas para os Povos e Comunida- mentos mínimos e estritamente necessários ao
des Tradicionais (PCTs). No caso do atendimento atendimento; 2. A coleta de informações priorita-
deste segmento, deverão ser respeitadas suas riamente com o familiar ou acompanhante ou ou-
identidades sociais e culturais, bem como seus tras pessoas de referência; 3. O compartilhamento
costumes e suas tradições. de informações já colhidas por outros profissionais
do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do
Adolescente (SGDCA) (BRASIL, 2018, art. 15).
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22 Foto: Shutterstock
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A escuta especializada é um conjunto de in- singularizada para cada caso. Entre as suas fina-
terações com a criança e o(a) adolescente vítima lidades concretas estão a elaboração de estudos
ou testemunha de violência, destinado a coletar psicossociais, desde que conduzida por profissio-
informações para o acolhimento e o provimento nais qualificados, e a elaboração do PAICA.
de cuidados de urgência e proteção integral, de
A escuta especializada é concebida, além de
forma a assegurar a oportunidade de serem ouvi-
um procedimento ético, político e pedagógico,
dos em todos os processos decisórios que os afe-
como uma atitude ontológica3 de reconhecimen-
tem. Este tipo de escuta, conforme estabelecido
to da criança e do(a) adolescente na condição de
no Decreto nº 9.603/2018, “não tem o escopo de
pessoas em si mesmas, em sua igualdade e em
produzir prova para o processo de investigação e
suas diferenças em relação aos adultos, conferida
de responsabilização” (BRASIL, 2018, art. 19, § 4º).
pela situação peculiar de desenvolvimento. Tal
Nessas interações, os profissionais não concepção é um elemento essencial para a ocor-
devem indagá-los sobre os fatos de violência rência da verdadeira e profunda escuta da criança
ocorridos, e elas devem sempre acontecer em um e do(a) adolescente.
contexto de procedimentos preventivos da vitimi-
O conceito de “especializada” distingue-se da
zação secundária, ou seja, em ambientes amigá-
“escuta” para desenho de políticas públicas e da
veis que lhes assegurem condições de privacidade
“escuta terapêutica”,4 e tem como seu fundamen-
e proteção. Os procedimentos devem incluir os
to primeiro o art. 12 da Convenção das Nações
convites à narrativa livre (perguntas abertas), a es-
Unidas Sobre os Direitos da Criança, quando
cuta sem interrupções e o registro por escrito das
garante o direito de elas “expressarem suas opi-
manifestações verbais e comportamentais que,
niões livremente” sobre todos os assuntos a elas
espontânea e voluntariamente, fizer a criança ou
referentes, devendo os países signatários propor-
o(a) adolescente.
cionarem à criança “a oportunidade de ser ouvida
Conquanto seja um conjunto de interações, em todo processo administrativo ou judicial que a
vale ressaltar que a escuta especializada deve ser afete” (ONU, 1989). É o tipo de “escuta” realizada
23
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pelos órgãos que têm o papel de aplicar medidas seu trâmite no Congresso Nacional, podemos
de proteção, prestar os serviços de atenção e cui- afirmar que não se possuía um conceito ama-
dado e, ao mesmo tempo, notificar as situações durecido de “escuta especializada”. O termo foi
de violência às autoridades – Conselho Tutelar, cunhado durante as negociações para distinguir
Unidades de Saúde, Unidades Educacionais, Uni- as interações realizadas pela chamada “rede de
dades da Assistência Social. proteção”, para crianças e adolescentes vítimas
de violência, daquelas realizadas pelos sistemas
Na legislação brasileira, as definições estão
de segurança e justiça na “produção de provas”.
expressas na Lei nº 13.431/2017 e no Decreto nº
Sua adoção na lei foi uma forma de estabelecer
9.603/2018. Contudo, a falta de uma definição
consenso com profissionais que advogavam con-
clara sobre a natureza ou o conteúdo da escuta
tra a participação de determinadas categorias
especializada vem suscitando, nesses últimos
na tomada do depoimento especial, particular-
cinco anos, muitas dúvidas sobre quais atores
mente por não acreditarmos que seu papel ou
devem realizá-la e como realizá-la; vem gerando
função contribua na coleta de evidências que
práticas contraditórias que atenta contra a própria
potencialmente se transformem em provas. Con-
finalidade precípua da Lei nº 13.431/2017, que é a
tudo, a proposta aqui não é retomar as divergên-
prevenção da revitimização de crianças e adoles-
cias daquele momento, mas ressaltar o caráter
centes. Elas continuam narrando inúmeras vezes
estratégico com que o termo “escuta especia-
os fatos de violência ocorridos para diversos ato-
lizada” foi circunscrito na Lei nº 13.431/2017.
res sob terminologias distintas: “escuta especiali-
No Decreto nº 9.603/2018, buscou-se avançar
zada”, “escuta qualificada”, na oitiva das unidades
na definição do termo; contudo, os esforços
policiais e no depoimento especial.
serviram mais ao propósito de distinguir-se do
Como participantes do processo de elabo- depoimento especial do que conceituar a escuta
ração do anteprojeto que deu origem à Lei nº especializada, em razão da falta de maturidade
13.431/2017 e das negociações ocorridas durante empírica do conceito.
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GUIA DE ESCUTA ESPECIALIZADA
Não tem escopo de produzir prova Tem por finalidade a produção de provas
para o processo de investigação (BRASIL, 2018, art. 22).
e responsabilização (BRASIL,
2018, art. 19, § 4º).
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2.1. Embora
a legislação defina entrevista sobre a situação de violência [peran-
“a” escuta especializada como te] [...] órgão da rede de proteção [...]”, com uma
“o” procedimento, ela limitação em seu procedimento ao qual não se
deve ser entendida como um sabe bem a quem se aplica: “[...] limitado o relato
conjunto de procedimentos estritamente ao necessário para cumprimento
de sua finalidade [...]” (BRASIL, 2017a).
Antes mesmo de definir o termo escuta espe-
Do ponto de vista prático, o que se entende
cializada, a Lei nº 13.431/2017, no § 1º do art. 4º,
por “situação de violência”, quando a escuta es-
que define as formas de violência, afirma que “[...]
pecializada não tem a finalidade de produção de
a criança e o adolescente serão ouvidos sobre a
provas? Como entender a expressão “limitado o
situação de violência por meio da escuta especia-
relato”, considerando que quem faz o relato é a
lizada e do depoimento especial”.
criança? Estaria significando que o(a) profissio-
Em vários momentos, a Lei nº 13.431/2017 e o nal deve perguntar somente o estritamente ne-
Decreto nº 9.603/2018 tratam a escuta especializa- cessário para “finalidade de sua intervenção”?
da como procedimento que possui estrutura igual Mas quem determina o que seja “estritamente
ao depoimento especial. Por exemplo, quando a necessário”? Quantas escutas deve haver, se
Lei nº 13.431/2017 define, no art. 7º, como “[...] o cada profissional, de diferentes áreas, deve
procedimento de entrevista sobre a situação de perguntar para a criança ou o(a) adolescente o
violência com criança ou adolescente [...]”; ou “mínimo necessário”? Existe de fato condição
quando estabelece que tanto a escuta especia- de estes vários profissionais que intervêm/inte-
lizada quanto o depoimento especial devem ser ragem com a criança ou o(a) adolescente reali-
realizados em locais apropriados (BRASIL, 2017a, zarem uma “única escuta especializada”, como
art. 10) e por profissionais qualificados (BRASIL, a lei estabelece para o depoimento especial?
2017a, art. 5º, inciso IX; BRASIL, 2018, art. 20). Como este(a) profissional capacitado(a) toma-
Contudo, esses procedimentos não podem ria conhecimento do “estritamente necessário”
possuir estruturas iguais, sobretudo pela diferen- para cada uma das áreas? O que fazer quando a
ça de suas finalidades: enquanto o depoimento criança ou o(a) adolescente, em uma revelação
especial possui a finalidade de produção de pro- espontânea, oferecer mais detalhes do que o
vas (BRASIL, 2018, art. 22), o decreto é taxativo “estritamente necessário”?
ao dizer que a escuta especializada “[...] não tem A conclusão a que se chega é que, para
escopo de produzir prova para o processo de in-
cumprir os propósitos atribuídos no Decreto nº
vestigação e de responsabilização [...]” (BRASIL,
9.603/2018, a escuta especializada não pode
2018, art. 19, § 4º). Por essa razão, faz sentido a
ser “a entrevista sobre a situação de violência”,
Lei nº 13.431/2017 ter concebido o depoimento
tampouco um único procedimento. O art. 19 do
especial como um “rito cautelar”, regido por pro-
decreto citado apresenta uma definição de es-
tocolos e procedimentos ritualizados.
cuta especializada distinta daquela apresentada
A própria legislação colocou muito mais pela lei: não ratifica a expressão “[...] a entrevista
ênfase no depoimento especial do que na escuta sobre a situação de violência [...]”, e lhe fornece
especializada. Enquanto a lei dedica pratica- um objetivo: “[...] assegurar o acompanhamento
mente todo o seu Título III ao depoimento espe- da vítima ou da testemunha de violência, para
cial, sobre a escuta especializada há apenas uma superação das consequências da violação sofrida
vaga menção sobre sua definição, como “[...] [...]” (BRASIL, 2018).
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Desta maneira, conclui-se que o conteúdo Os artigos não tratam da natureza distinta
da escuta especializada deve ser o acolhimen- entre “revelação espontânea” e “escuta espe-
to de uma revelação espontânea, sondagem cializada”, mas sim da necessidade de confir-
inicial nos casos de suspeitas, obtenção de mação dos fatos revelados. Aqui, mais uma vez,
informações necessárias ao estudo psicosso- os legisladores inadvertidamente equiparam
cial (contexto sociofamiliar) e realização dos dois procedimentos de naturezas distintas. Por
diagnósticos profissionais para elaboração que chamar uma criança ou um(a) adolescen-
do PAICA da criança e do(a) adolescente para te a confirmar atos de violência ocorrida no
o acompanhamento e o monitoramento das procedimento de escuta especializada quando
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GUIA DE ESCUTA ESPECIALIZADA
as informações são, em geral, suficientes para III. o relato espontâneo da criança ou do adoles-
as medidas de proteção e quando ela não tem cente,quando houver; e
finalidade de produção de provas para a investi-
IV. os encaminhamentos efetuados (BRASIL,
gação ou judicialização do caso de violência? E,
2018, art. 28).
quando a criança ou o(a) adolescente, quase que
necessariamente, será chamado(a) para confir- Todos os profissionais devem ser orientados
mar o relatado no depoimento especial? Não a realizar os procedimentos citados anteriormen-
estariam os adeptos deste tipo de interpretação, te e efetuar os registros para serem comparti-
mesmo não intencionalmente, contrariando o lhados com o Conselho Tutelar e as autoridades
espírito da lei, corroborando com a revitimização policiais. Seu conteúdo, juntamente às informa-
das crianças ou dos(as) adolescentes? ções dos adultos de referência ou responsáveis,
deve ser suficiente para a solicitação da produção
antecipada de provas na esfera judicial. Este é o
2.4. N
a hipótese de uma revelação procedimento já estabelecido em lei para que as
espontânea, a criança ou crianças e os(as) adolescentes possam confirmar
o(a) adolescente deve ser os fatos de violência ocorridos.
chamado(a) a confirmar
no procedimento de
depoimento especial 2.5.
Todos os ambientes
do SGD que cuidam de
O art. 11 do Decreto nº 9.603/2018 apresenta crianças e adolescentes
aos profissionais da educação um conjunto de vítimas ou testemunhas
procedimentos sobre como atuar frente a uma de violência devem ser
revelação espontânea de violência contra criança amigáveis e protetivos
ou adolescente, que serve também aos outros
profissionais do SGD: Também na esteira de assegurar ambientes
amigáveis para o depoimento da criança ou do(a)
I. acolher a criança ou o adolescente;
adolescente nos sistemas de segurança e justiça,
II. informar à criança ou ao adolescente, ou ao os legisladores incluíram, de maneira automática,
responsável ou à pessoa de referência, sobre a escuta especializada, como se esta pudesse ser
direitos, procedimentos de comunicação à au- realizada em único local, na forma de um procedi-
toridade policial e ao Conselho Tutelar; mento único inicial, temporalmente mais próximo
aos fatos de violência ocorridos. Esta compreen-
III. encaminhar a criança ou o adolescente,
são tem gerado muitos equívocos e inviabilizado
quando couber, para atendimento emergen-
o estabelecimento dos procedimentos de escu-
cial em órgão do sistema de garantia de direi-
ta especializada.
tos da criança e do adolescente vítima ou tes-
temunha de violência; e No art. 10, a Lei nº 13.431/2017 menciona
o ambiente em que deve ocorrer a escuta es-
IV. comunicar o Conselho Tutelar (BRASIL, 2018,
pecializada e o depoimento especial: “serão
art. 11).
realizados em local apropriado e acolhedor, com
No art. 28, o mesmo decreto indica as linhas infraestrutura e espaço físico que garantam a
para o registro de informações para o comparti- privacidade da criança ou do adolescente vítima
lhamento com o SGD sobre os casos de violência: ou testemunha de violência” (BRASIL, 2017a). O
Decreto nº 9.603/2018 apresenta, no art. 6º, uma
I. os dados pessoais da criança ou do
seção sobre acessibilidade aos espaços de aten-
adolescente;
dimento da criança e do(a) adolescente vítimas
II. a descrição do atendimento; ou testemunha de violência, assegurando:
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Mas vejamos o que dizem estes artigos. No As técnicas e os scripts da escuta especia-
inciso XI, art. 5º do Decreto nº 9.603/2018, entre lizada nunca devem ser empregados como um
os direitos e as garantias às crianças e aos(às) ado- procedimento isolado para atendimento dos pro-
lescentes vítimas ou testemunhas, assegura-se o cessos de investigação e judicialização dos casos.
direito de “ser assistido por profissional capaci- Estes devem ser sempre adotados no bojo de um
tado e conhecer os profissionais que participam conjunto de estratégias protetivas.
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3.2. D
iagnóstico profissional é A oitiva de depoimento especial é a única
diferente de investigação instância que a Lei nº 13.431/2017 e o Decreto nº
policial protetiva 9.603/2018 contemplam para se solicitar à criança
ou ao(à) adolescente informações sobre a manei-
A escuta especializada é um importante ra como o(s) fato(s) de violência ocorreram e sobre
instrumento para que os profissionais da rede as pessoas que participaram. Perguntas do tipo
de proteção (Conselho Tutelar, Saúde, Educação “como, quando, onde e quem” são específicas do
e Assistência Social) realizem seus diagnósticos depoimento especial, o qual só pode ser realizado
profissionais para a atenção e o cuidado da crian- pela autoridade policial ou judicial.
ça ou do(a) adolescente vítima ou testemunha
Dentro do SGD, são os profissionais dos
de violência. Contudo, o compromisso de notifi-
sistemas de segurança e justiça os encarregados
car casos de violência para fins de apuração de
de buscar informações sobre os detalhes da
potenciais atos criminosos não deve obscurecer
violência para verificar se atos praticados podem
a diferença entre um diagnóstico profissional
ser considerados crimes de acordo com a tipifi-
de saúde, educação e assistência – para o esta-
cação da lei, por meio da investigação policial do
belecimento de medidas de atenção, cuidado e
depoimento especial, ou com o auxílio de outros
proteção – e a investigação policial de um poten-
meios e instrumentos de coleta de provas.
cial crime ocorrido.
Vale alertar que, em uma interpretação equi-
vocada, alguns órgãos da segurança pública têm
usado o termo “escuta especializada” para reali-
zar práticas que são características do depoimen-
As interações dos profissionais com
to especial, gerando uma dupla oitiva da criança
a criança ou o(a) adolescente, quan-
ou do(a) adolescente.
do necessárias, devem seguir os pro-
cedimentos da escuta especializada
a partir das orientações de cada ser-
3.3. B
uscar a informação
viço, não devendo de nenhum modo
necessária primeiramente
receber a conotação investigativa.
com acompanhantes ou
O documento “Parâmetros para
adultos de referência e
Escuta Protegida”, do Ministério dos
profissionais da rede
Direitos Humanos (BRASIL, 2017b, p.
28), faz o seguinte alerta:
Considerando as décadas em que todos os
profissionais perguntavam à criança ou ao(à)
adolescente sobre os aspectos relacionados à
violência que sofreram, o tempo de vigência da
Lei nº 13.431/2017 exige uma postura de auto-ob-
servação profissional em se perguntar qual é a
informação estritamente necessária para o cum-
IMPORTANTE: Temas relacionados
primento da finalidade da intervenção – “Qual é
aos fatos de violências ocorridas,
a informação mínima que necessito para apoiar
colhidos com a finalidade de pro-
esta criança ou este(a) adolescente no seu bem-
teção da criança e de produção de
-estar geral, desempenho escolar e cuidados de
provas, são estritamente objetos de
saúde?” – e com quem obtê-las.
depoimento especial, devendo ser
evitados durante a fase de escuta. Uma diretriz central do Decreto nº 9.603/2018
é relacionada com a coleta de informações junto
ao acompanhante da criança ou do(a) adolescen-
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• Utilizar linguagem simples e clara para que • Evitar formas de confortar a criança ou o(a)
a criança ou o(a) adolescente entenda o que adolescente ou expressar solidariedade, por
está sendo dito. Utilize as mesmas palavras meio de toques físicos. A criança ou o(a) ado-
usadas pela criança – por exemplo, para lescente em situação de violência pode, mo-
identificar as diferentes partes do corpo. Se a mentaneamente, não distinguir um toque de
criança perceber que o(a) profissional reluta conforto com os do abuso sofrido. No entanto,
em empregar certas palavras, ela também se a criança ou o(a) adolescente tomar a inicia-
poderá relutar em usá-las. tiva ou demonstrar interesse em receber um
abraço, conforte-o(a) de maneira adequada.
• Confirmar com a criança ou o(a) adolescente
ATENÇÃO!
se você está, de fato, compreendendo o que
ela ou ele está relatando.
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38 Foto: Shutterstock
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4.1. O
rientações para o é uma missão fácil. Em geral, não é fruto de uma
acolhimento de uma decisão racional e planejada; ela ocorre em meio a
revelação espontânea um processo de resistência acompanhada de dú-
vidas, culpa, vergonha, medo... enfim, permeada
A revelação espontânea pode ocorrer em por uma profusão de sentimentos.
casa, na vizinhança, no Conselho Tutelar, na es-
É comum que a revelação realizada dentro
cola, nas Unidades de Saúde ou de Assistência
de casa ocorra em meio a um conflito familiar,
Social. Ainda temos poucas informações siste-
frequentemente desencadeada por discussões e
matizadas sobre como ocorrem as revelações
brigas. Na escola, a revelação ocorre com mais
de situação de violência, para que seja possível
frequência depois de uma palestra, projeção de
determinar os percentuais para cada modalidade.
um filme ou atividades que remetam a situa-
Contudo, sabe-se que a escola é um dos locais
ções de violência, quando a criança identifica o
citados com mais frequência.
que está acontecendo com ela e é estimulada a
A experiência mostra que, em geral, crianças relatar. Nos espaços de assistência social, a reve-
de até 12 anos tendem a revelar com mais frequ- lação pode ocorrer durante a visita domiciliar ou
ência para mãe ou pessoas de confiança da rede atividade em grupo, quando se discutem temas
de parentesco, como avó, tia etc., ou ainda para de cuidado e atos que provocam desconforto.
professores(as). Já os(as) adolescentes costu- Também nas unidades de saúde, a revelação pode
mam relatar com mais frequência para colegas ocorrer durante o atendimento, quando se realiza
ou amigos – grupo de pares –, acompanhados a anamnese ou durante as atividades coletivas no
quase sempre de pedidos para guardar segredo. atendimento de saúde na atenção especializada,
em geral, motivado por outro diagnóstico que não
Termo “revelação espontânea” pode trans-
explicitamente o da violência.
mitir uma ideia de que este é um ato tranquilo e
natural, fruto de uma decisão racional de contar Do ponto de vista legal, o procedimento a
o que se passou ou está se passando. Revelar ser adotado em caso de revelação, previsto na
um episódio ou episódios de violência, particu- comunidade escolar, no art. 11 do Decreto nº
larmente quando são perpetrados por pessoas 9.603/2018, pode ser válido para os demais pro-
familiares ou do círculo social da família, nunca fissionais da rede de proteção:
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ralidade dos acontecimentos, é importante você pode ser ajudada(o). Gostaria de lhe
saber se algum evento tenha ocorrido no dizer que nós, profissionais, temos o dever
prazo de 72 horas para a realização dos pro- de informar à direção da nossa instituição
tocolos de profilaxia. [escola, unidade de saúde, equipamento da
assistência social] e às autoridades o que
está acontecendo ou o que aconteceu com
você, para lhe proteger de tudo isso... O Con-
selho Tutelar, a Polícia e o juiz são as pessoas
que podem ajudá-la(o) para que essas coisas
parem de acontecer. É possível que o juiz lhe
chame para perguntar mais detalhes do que
Deve-se observar se deverão ser reali-
aconteceu ou está acontecendo. Também
zadas as sorologias para Infecções Se-
[nome da criança ou do(a) adolescente],
xualmente Transmissíveis (ISTs), indi-
quero lhe informar que tudo o que você me
cação para gravidez, e as profilaxias.
contou só vai ser repassado para as pessoas
Importante lembrar que a anticon-
que podem ajudá-la(o). Gostaria de lhe falar
cepção de emergência pode ser usada
sobre a importância de você e sua família fi-
até 120 horas após o evento de risco
carem em contato com Conselho Tutelar e o
nas adolescentes que já menstruam.
CREAS [Centro de Referência Especializado
de Assistência Social] para conhecer melhor
seus direitos e para o acompanhamento
familiar. Vou falar isto para seu(sua) respon-
• O(A) profissional pode agregar alguma per- sável de confiança.”.
gunta: “Você pode me dizer mais ou menos
• Sempre é importante registrar se a revelação
quando isso ocorreu?”. Importante destacar
aconteceu na escola ou em outro local que
que vítimas de violência podem apresentar
não a residência da criança ou do(a) adoles-
os fatos de forma não linear, ou seja, uma or-
cente. É fundamental que os profissionais
dem lógica nos acontecimentos. Não se deve
avaliem se o responsável é protetivo ou não
confundir a característica do discurso com
antes de comunicar a revelação. Como as
fragilidade ou veracidade da informação.
situações de violência, muitas vezes, são
Mas, caso sejam mencionados múltiplos epi-
praticadas por membro da família, avisá-la
sódios, é bom saber qual ocorreu por último.
pode colocar a criança ou o(a) adolescente
Vale lembrar que crianças muito pequenas,
em mais risco. Caso se perceba que os res-
menos de 7 anos, possuem noção relativa do
ponsáveis não são protetivos, é preferível que
tempo e pode ser necessário mencionar um
o Conselho Tutelar faça o contato com os res-
evento, como, por exemplo: o dia de escola,
ponsáveis, e não a escola. Na notificação ao
no período da aula, no fim de semana.
Conselho Tutelar, a escola deve pontuar por
• Outra pergunta que pode ser agregada: que avalia que os responsáveis não são pro-
“Alguém mais sabe que isto aconteceu ou tetivos e solicita que ele os notifique. “Mais
está acontecendo?”. uma vez você fez muito bem em dizer ... Você
não teve culpa do aconteceu... Fique bem.”
• Olhar para a criança ou o(a) adolescente e
reafirmá-lo(a): “[citar o nome da criança ou Em seguida, deve-se certificar de que a
do(a) adolescente], você fez bem em me criança ou o(a) adolescente esteja bem e acom-
contar o que está acontecendo [ou que já panhá-lo(a) para sua próxima atividade e/ou ao
aconteceu]. Muitas vezes, é preciso cora- encontro com a pessoa autorizada a buscá-lo(a)
gem para contar para alguém. Contando, na escola. No caso de adolescente que volta so-
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CHILDHOOD BRASIL
zinho(a) ou em grupo para casa, deve-se checar Isso indica que ele(a) confiou em todos nós
com ela(e) se você pode fazer algo mais para que que estamos aqui. Por isso, precisamos ter
chegue em casa com segurança. muito respeito, mantendo o sigilo do que nos
contou. O ECA afirma o direito da criança ou
O(A) profissional que acolheu a revelação
do(a) adolescente, vítima ou testemunha de
deve preencher o relatório em sua integralidade,
violência, de ter sua identidade e privacidade
conforme modelo aprovado pela instituição
preservadas. Só devem saber o que aconte-
ou pelo município, e enviá-lo imediatamente,
ceu aqui as autoridades que podem ajudar a
conforme fluxo estabelecido, para as autori-
interromper a violência e responsabilizar a(s)
dades competentes, de preferência por meio
pessoa(s) que a praticaram.
de um sistema de informação ou entrega física
presencial. E-mails e mensagens de WhatsApp Se não ocorreram revelações espontâneas
devem ser evitados ou, havendo necessidade, no coletivo, o(a) profissional pode criar opor-
deve-se observar protocolos de segurança e tunidades para outras formas de manifestação.
preservação da identidade da criança ou do(a) Por exemplo, na escola, uma das estratégias
adolescente e da família. pode ser solicitar aos participantes da atividade
para escreverem ou desenharem sobre o que
aprenderam. Também o(a) profissional poderá
4.1.2. Revelação durante se oferecer para ficar um pouco depois da ati-
atividades coletivas vidade para trabalhar algum desconforto que a
discussão tenha provocado.
Campanhas e discussões de temas de vio-
— Tenho um pequeno aviso: caso alguém
lência sempre podem encorajar crianças ou ado-
queira conversar mais sobre o tema da ativida-
lescentes a revelarem uma situação de abuso. Se
de, posso ficar aqui um pouco mais...
isso ocorrer, o(a) profissional deve interromper a
discussão do conteúdo, reconhecer e acolher a Se ficarem mais de um participante, o(a) pro-
declaração da criança ou do(a) adolescente: fissional pode, primeiro, checar se eles querem
conversar em conjunto ou privadamente. Em se-
— Pessoal, vamos parar a discussão por um
guida, olhando para o participante que ficou para
momento para ouvir a(o) colega.
conversar, afirme: “Diga, [nome do participante].
Depois de ouvir sem interrupção, reafirmar: Estou aqui para ouvir!”.
— Eu agradeço muito pelo fato de ter nos E, na sequência, reitera a acolhida menciona-
contado o que está se passando com você. É da anteriormente.
preciso ter muita coragem para relatar acon-
tecimentos tão sérios. Somos parte da rede de
proteção de crianças e adolescentes de nossa 4.2.
Fluxo de encaminhamento da
cidade e vamos buscar a melhor forma de te criança ou do(a) adolescente
ajudar. Podemos conversar um pouco mais após a revelação espontânea
sobre o que aconteceu com você? Podemos
ir agora a uma sala separada ou podemos • Caso o município possua um Centro de
falar um pouco mais depois da aula. O que Atendimento Integrado (CAI), a criança ou
você acha melhor? o(a) adolescente deve ser encaminhado(a) a
este local para o atendimento inicial e a ela-
O(A) profissional deve trabalhar com os par-
boração do PAICA. Caso não possua, deve ser
ticipantes da atividade o respeito e a confidencia-
encaminhada(o) para o Centro de Referência
lidade do que aconteceu:
Especializada em Assistência Social (CRE-
— [Nome do aluno ou aluna] nos contou AS), e, caso também não possua, ao Centro
um fato muito importante da vida dele(a). de Referência em Assistência Social (CRAS).
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GUIA DE ESCUTA ESPECIALIZADA
5.1. S
cript para conversa
com membros da família
acompanhados de criança
com menos de 12 anos
— O(A) profissional, dirigindo-se para o(a)
acompanhante, oferece ajuda: “O(A) senhor(a)
— O(A) profissional, no caso de iniciar pelo
aceita um copo de água? Então, você tem algo
membro da família – certificando-se de que ele é
para falar comigo? Como posso ajudar? Estou
responsável, de segurança e não abusivo –, deve
aqui para lhe ouvir.”.
se dirigir à criança dizendo: “Gostaria de ouvi-los
em separado ou um de cada vez. Posso começar — Após ouvir atentamente e assentindo,
com seu(sua) responsável? Você se incomoda para demonstrar que está compreendendo, po-
de esperar ali fora, enquanto falo com ela(e)?”. derá perguntar: “Você sabe me dizer quando
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CHILDHOOD BRASIL
isso ocorreu?”, ou “Você se lembra se ela(e) para esclarecer dúvidas, comunicar situações
mencionou quando ocorreu ou desde quando de risco e para o acompanhamento do caso.
essas situações vêm ocorrendo?”. Caso sejam Leve com você os números do Conselho Tute-
mencionados múltiplos episódios, é bom saber lar e do CREAS.”.
qual ocorreu por último. Este dado é importante
para checar a necessidade de medidas profilá-
ticas. Ouça atentamente e, se puder, pedindo
licença, tome nota.
Os profissionais devem orientar
— Prosseguir a escuta, com a seguinte inda- os familiares para que evitem fa-
gação: “Ela(e) mencionou quem é que está pra- zer perguntas para a criança ou
ticando a violência?” (use o termo empregado o(a) adolescente, deixando que
pela criança ou pelo(a) adolescente no diálogo ela(e) fale espontaneamente. Re-
anterior). Caso a mãe ou o acompanhante não te- comendamos também aos pro-
nha fornecido dados para identificar o abusador, fissionais não relatar os fatos na
checar se os possui, como nome, idade aproxima- frente da criança, pois isso pode fa-
da, parentesco e local de moradia. Estas pergun- zer com que a outra pessoa indague
tas são importantes para identificar o acusado e à criança a fim de obter mais infor-
antecipar provas. Ouça atentamente e registre. mações ou sanar sua curiosidade.
Pode também criar falsas memó-
— Continuar a conversa, perguntando: “Você
rias, na medida em que, ao contar
sabe se seu(a) [inserir o relacionamento] falou so-
do seu modo, a criança ou o(a) ado-
bre o que está acontecendo para mais alguém?”.
lescente adote as versões do adulto.
— Prosseguir com “É muito importante
que a família busque ajuda. O(A) senhor(a)
já comunicou o que está acontecendo às au-
toridades?” (Disque 100, Conselho Tutelar,
Unidade Policial).
— Prossiga a conversa: “Agora, se o senhor(a)
— O(A) profissional deve reforçar ao membro não se importa, vou falar um pouco com su-
da família o dever de comunicar o ocorrido às a(seu) filha(o).”
autoridades, mencionar os direitos da criança e
— Chame a criança, ofereça água e deixe-a
do(a) adolescente e informar os próximos passos:
confortavelmente sentada.
“Gostaria de lhe dizer que nós, profissionais,
temos o dever de informar à direção do nosso — Inicie a conversa chamando-a pelo nome:
órgão [escola, unidade de saúde, equipamento “Olha, [nome], já conversei com sua(seu) [res-
da assistência social] e às autoridades o que está ponsável de confiança não abusivo], ele(a) já me
acontecendo ou o que aconteceu com sua(seu) contou muito do que aconteceu com você, mas
filha(o), para que ela(e) seja protegida(o) e para gostaria de saber se você tem algo a me dizer,
que a violação pare de acontecer e não ocorra algo que você queira falar comigo. Se tiver, estou
novamente. O Conselho Tutelar, a polícia e o aqui para lhe ouvir.”.
juiz são as pessoas que podem atuar para que
— Se a criança ou o(a) adolescente quiser falar
essas coisas parem de acontecer com sua(seu)
– avise a ele(a) que, para não esquecer, tomará
filha(o) [ou colocar o parentesco]. É possível que
nota –, ouça atentamente sem interrupção.
o juiz a(o) chame para elucidar mais detalhes do
que aconteceu ou está acontecendo. Sugiro que — Caso as informações permitam identi-
o(a) senhor(a) fique em contato com o Conselho ficar o acusado e a data do ocorrido, cheque a
Tutelar e o CREAS para conhecer os direitos da necessidade de medidas profiláticas e de emer-
criança e do(a) adolescente vítima de violência, gência hospitalar.
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— Importante atentar-se para o fato de que, — Se o(a) adolescente chorar durante a con-
em caso de abuso sexual, a criança ou o(a) ado- versa, o(a) profissional o(a) confortará com um
lescente deverá ser encaminhado(a) para a rede tom sereno e acolhedor, oferecerá água e um guar-
de saúde para a realização das sorologias para as danapo de papel, deixará ele(a) ciente de que não
ISTs e as profilaxias, se indicado. tem culpa do ocorrido e que é corajoso(a) por estar
relatando os fatos. Evitar confortar com contato
— O(A) profissional deverá comunicar à crian-
físico. Expressões como “Isso não foi nada!”, “Não
ça ou ao(à) adolescente, a exemplo do que foi feito
chore!” ou “Não precisa chorar!” jamais deve-
ao membro da família, que ele(a) - o(a) profissional
rão ser utilizadas.
- terá de relatar às autoridades o ocorrido, e que a
criança ou o(a) adolescente poderá ser chamada(o) — Após ouvir atentamente o relato do(a) ado-
pelo juiz para fornecer mais detalhes da violação. lescente, sem interrupções, o(a) profissional deve
perguntar com cuidado se ele(a) comentou com
outras pessoas sobre o caso e se sabem sobre o
5.2. Script para a conversa suposto autor da violência. Explicará com lingua-
com membros da gem simples, de acordo com a faixa etária do(a)
família acompanhados adolescente, sobre seus direitos, as condutas que
de um(a) adolescente serão tomadas, e não fará promessas nem dirá
(acima de 12 anos) que tudo vai ficar bem.
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Caso algum(a) profissional seja procurado(a) está me contando por preocupação com ela(e);
por um(a) colega da criança ou do(a) adolescente do contrário, você manteria este fato em segredo.
que sofreu violência, o(a) acolha, procurando um Contudo, manter isto em segredo não vai ajudar
ambiente reservado e seguro, tendo o cuidado que pare de acontecer. Além disso, nós, profissio-
necessário na abordagem. Para isso, apresenta- nais, temos o dever de comunicar às autoridades
mos uma sugestão: “[Nome da criança ou do(a) fatos como estes. Gostaria de lhe assegurar que
adolescente], como vai? Você tem algo para falar o seu nome não será revelado e o que me disse
comigo? Estou aqui para ouvir!”. só será repassado para aqueles profissionais que
podem atuar e fazer com que isto cesse. Somente o
Após ouvir atentamente, anuindo para de-
Conselho Tutelar, a Polícia e o juiz podem fazer com
monstrar que se está compreendendo, poderá
que as violações parem de acontecer e sua(seu)
perguntar: “Você sabe se seu(a) colega falou o que
amiga(o) ou colega fique protegida(o).”.
está acontecendo para mais alguém? Caso não
tenham sido mencionados dados que possam Continue: “É muito importante que ela(e)
identificar o acusado, checar se ele(a) os possui. mesma(o) ou a família dela(e) busque ajuda.
Ele(a) mencionou quem é que está praticando es- Você poderia encorajá-la(o) a buscar ajuda. Veja
ses atos?” (usar a expressão utilizada pela criança algumas possibilidades:
ou pelo(a) adolescente). Aguarde a resposta.
• Comunicar ao Disque 100. Basta ligar
Realizar mais uma pergunta: “Você se lembra para 100. A denúncia pode ser realizada
se foi mencionado quando ocorreu ou desde de forma anônima.
quando estão ocorrendo os abusos?”.
• Vir aqui falar comigo, se ela(e) quiser... Po-
O(A) profissional deve informar que ele(a) tem demos orientá-la(o) sobre como a escola
o dever legal de comunicar o fato às autoridades pode apoiá-la(o).
e que, para isso, vai comunicar o fato à direção de
• Ligar para o Conselho Tutelar. Leve com
sua unidade. Caso a(o) colega diga que a vítima lhe
você os números...
pediu segredo, o(a) profissional pode argumentar:
“[Nome da colega], entendo que sua(seu) amiga(o) • Procurar alguém da família que ela(e)
tenha pedido para guardar segredo, e que você só tenha confiança.”.
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Caso a criança ou o(a) adolescente vítima seja bilhetes na agenda –, tomar o cuidado para
queira conversar com o(a) profissional da rede de não antecipar motivos ou mencionar aspectos
proteção, o depoimento deve ser tratado como que possam criar situações de pressão sobre
revelação espontânea e adotar os procedimentos a família ou sobre a criança. Pode ser dito algo
apontados anteriormente. como “Senhor(a) [nominar], como tem passado?
É possível o(a) senhor(a) vir até a escola para
Caso o(a) profissional da rede avalie que
termos uma conversa de acompanhamento da
encontra circunstâncias favoráveis para realizar
participação do(a) [nome] nas atividades?”.
a abordagem da criança ou do(a) adolescente, ja-
Se o(a) responsável manifestar aflição, busque
mais deve informar quem realizou o comunicado
acalmá-lo(a): “Não precisa se preocupar. São
e muito menos ir direto no objeto deste comuni-
procedimentos de rotina da escola. Se puder vir
cado. Deve-se evitar, assim, o “Ouvi dizer que você
aqui... [combinar data e horário]”.
está sendo abusado(a)...”. O script recomendado
é: “Olá, [chamar pelo nome], como vai? Pode- Durante a conversa, conduza o diálogo de
mos conversar um pouquinho? Estamos um pou- forma aberta: “[nome do responsável], como o(a)
co preocupados com você [apontar os motivos senhor(a) está passando?”. Utilizar algum “quebra-
desta preocupação]. Está acontecendo algo que -gelo”, como comentário sobre o tempo, oferta de
queira me contar? Posso lhe ajudar em algo?”. um copo d’água ou café. Começar pelos aspectos
positivos: “Seu (Sua) filho(a) é um(a) bom(boa)
Se a criança ou o(a) adolescente relatar algo,
aluno(a) e tem participado muito bem das ativida-
o(a) acolha na modalidade que se é realizada para
des escolares. Contudo, estamos um pouco preo-
a revelação espontânea e limite os questionamen-
cupados com alguns aspectos... Chegou ao nosso
tos ao mínimo necessário.
conhecimento, e não podemos revelar a fonte, de
Se a criança ou o(a) adolescente não relatar, estar acontecendo [relatar o fato, oferecendo o
mas der sinais de tristeza, ansiedade ou medo, mínimo de informação para caracterizá-lo, porém
o(a) profissional pode perguntar: “[Chamar pelo sem oferecer todos os detalhes ouvidos]. O(a) se-
nome], gostaria de conversar com alguém que nhor(a) tem conhecimento de algo?”.
você confie sobre minhas preocupações com
você. Tudo bem, para você?”. Em caso afirmativo,
perguntar: “Com quem eu poderia falar?”.
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Caso o responsável relate alguma situação fique em contato com Conselho Tutelar e o
de violência: “O(a) senhor(a) quer me falar algo CREAS para conhecer os direitos de crianças e
mais sobre o que está acontecendo com ele(a)?”. adolescentes vítimas de violência e para o acom-
Se, após o relato livre, o responsável não tiver panhamento familiar. Uma vez mais, quero dizer
informado dados que permitam identificar o que vocês fizeram muito bem em me contar o
potencial autor da violência, o(a) profissional que aconteceu. Fique bem! Se eu puder ajudar
deve perguntar: “O(A) senhor(a) sabe quem em algo mais, estou sempre às ordens.”.
praticou ou ainda pratica os abusos?”. É sempre
Para comunicar o fato às autoridades, o(a)
importante saber o nome, o local de residência e
profissional deve elaborar um relatório, por escri-
o parentesco com a vítima.
to, com o maior número de detalhes possível, dis-
Se for violência sexual, a data das ocorrên- tinguindo as falas da(o) colega, da própria vítima
cias é importante para fins de profilaxia. Por isso, e do membro da família ou acompanhante, sem
deve-se perguntar: “O(A) senhor(a) sabe quando emitir juízo de valores ou interpretações. De pos-
isso aconteceu?”. Lembre-se de que se for mais de se do comunicado, a direção da unidade reunirá
um episódio, deve-se perguntar a data do último. alguns dados de identificação do potencial agres-
Caso a família ainda não tenha comunicado sor e enviará ao Conselho Tutelar e/ou Unidade
o fato, o(a) profissional deverá encorajá-la a fa- Policial. Lembrando do princípio da celeridade
zê-lo, afirmando: “É importante o(a) senhor(a) nos casos de violência:
comunicar às autoridades o que está ocor- • Se o caso foi trazido por um(a) colega da
rendo. Somente elas podem tomar medidas potencial vítima, o(a) profissional deve ouvir
protetivas e investigar os fatos. Veja algumas atentamente e informá-lo(a) sobre os proce-
possibilidades: dimentos que deverá tomar.
• Comunicar ao Disque 100 – basta ligar • O relato, em si, pode servir para o comunica-
para 100. A denúncia pode ser realizada do às autoridades.
de forma anônima.
• Caso as circunstâncias recomendem e se te-
• Ligar para o Conselho Tutelar. Leve com nha oportunidade de conversar com a supos-
você os números...”. ta vítima, fazê-lo de acordo com o princípio
A família deverá ser informada pelo(a) pro- do questionamento mínimo e com os scripts
fissional de que ele(a) tem obrigação – por se enunciados anteriormente.
tratar de criança ou adolescente – de comunicar • O(A) profissional deve procurar a família
o ocorrido às autoridades, que elas possuem di-
para conversar sobre os fatos relatados e
reitos especiais e quais serão os próximos passos:
as providências a serem tomadas somente
“Gostaria de lhe dizer que nós, profissionais,
quando tiver certeza de que vai contatar um
temos o dever de informar à direção do nosso
membro protetor.
órgão [escola, unidade de saúde, equipamento
da assistência social] e às autoridades o que • Para o membro da família e para a(o) colega,
está acontecendo com seu(sua) filho(a), para a se for um(a) adolescente, depois de escutar
protegê-lo(a) de tudo isso, para cessar a violação seu relato sem interrupção, o(a) profissional
e para que ela não ocorra novamente. O Conse- pode fazer perguntas para garantir que a in-
lho Tutelar, a Polícia e o juiz são as pessoas que formação esteja completa: tipo de violência,
podem atuar para que essas coisas parem de última vez que ocorreu, potencial agressor,
acontecer. É possível que o juiz lhe chame para relacionamento com a vítima, se moram na
perguntar mais detalhes do que aconteceu ou mesma casa, se a criança ou o(a) adolescente
está acontecendo. Sugiro que o(a) senhor(a) já contou para alguém mais.
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54 Foto: Shutterstock
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7.1. S
uspeita detectada por meio É importante observar que as meninas
de sinais observados podem apresentar sinais diferentes dos meninos,
como também as crianças e os(as) adolescentes
Os profissionais da rede de proteção deve- com deficiência.
rão ser capacitados em métodos e técnicas de
A abordagem sugerida para esses casos é
identificação de sinais de violência praticados
encontrar um momento apropriado em que o
contra a criança ou o(a) adolescente – ver Guia de
aluno esteja sozinho, aproximar-se com postura
Referência da Childhood Brasil (SANTOS; IPPO-
e fala acolhedora.
LITO, 2020) e “Linha de cuidado para a atenção
integral à saúde de crianças, adolescentes e suas Segue uma sugestão de fala: “[Nome da
famílias em situação de violência” (BRASIL, 2010)6 criança], como você está? Notei seu olhar triste
–, tais como: apatia em relação às atividades es- [ou mencionar outros sinais] ... Tem algo te pre-
colares, afastamento dos colegas, indisposição ocupando? Algo que você gostaria de conversar
para brincadeiras, atitudes agressivas, marcas comigo ou com outra pessoa? Ou tem algo que
no corpo, comportamento sexualizado que não eu possa fazer para te ajudar?”.
esteja de acordo com a idade, mudança repentina
Caso a criança ou o(a) adolescente fale sobre
de comportamento, baixo desempenho escolar,
alguma situação de violência, adotar os pro-
dificuldade de aprendizagem, baixa frequência
cedimentos utilizados para os casos de reve-
escolar, baixa estima, perda de apetite, compul-
lação espontânea.
são alimentar, relatos de pesadelos constantes,
demonstração de medo repentino ou sem ex- Caso a criança ou o(a) adolescente não diga
plicação, descontrole da urina ou fezes ou se o que está acontecendo e apresente um compor-
já fugiu de casa. tamento tenso, ansioso ou dê sinais de que está
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7.2. S
uspeita gerada por O diálogo pode seguir na seguinte direção:
rumores na escola, “Senhor(a), boa tarde! Como está passando?
unidades de serviços Me perdoe, mas vou direto ao ponto da nossa
da rede de proteção conversa. Gostaria de manifestar minha preocu-
e redes sociais da internet pação com seu(sua) filho(a) [ou outra relação de
parentesco]. Chegou ao nosso conhecimento...
Caso o membro da comunidade escolar ou [relatar o fato oferecendo o mínimo de infor-
da rede de serviços de saúde ou de assistência mação para caracterizá-lo, porém sem oferecer
social escute rumores sobre violência relacionada todos os detalhes ouvidos]. O(a) senhor(a) to-
a alguma criança ou algum(a) adolescente, deve mou conhecimento desse tipo de comentário?
tomar as seguintes providências: Tem algo que o(a) senhor(a) queira compartilhar
conosco para ajudar a proteger seu(a) filho(a)?”.
• Informar a direção da unidade de serviço da
rede de proteção e combinar estratégias de Se o rumor relativo à criança aparentemen-
encaminhamento do caso em consulta com o te não a coloca em situação de risco, a unidade
Conselho Tutelar e/ou Unidade Policial. de serviços pode contatar os responsáveis pela
criança e realizar a conversa semelhante à men-
• Aproximar-se dele(a), com discrição, a fim de
cionada anteriormente.
observar a existência de outros sinais, agindo
com zelo e cuidado. Ainda sobre esta criança, se ela aparentemen-
te não está em risco, os profissionais da unidade
• Buscar criar uma ambiência de proteção,
de serviço podem checá-la para saber se tem
podendo ser uma atividade transversal que
conhecimento dos rumores, se eles procedem ou
possibilite a abertura ao diálogo e à revela-
não e como a escola pode ajudá-la para fazê-los
ção espontânea, como uma palestra, uma
cessar, ou cessar a violência – caso ela realmente
oficina ou provimento de informações sobre
esteja ocorrendo.
serviços existentes. Essas atividades devem
ser realizadas de maneira cuidadosa, para Observe todas as dicas dadas anteriormente
não representar “mensagens indiretas” para sobre o local da escola e o modo de encaminhar
a suposta vítima. a conversa ou escuta especializada. O diálogo
poderia ser conduzido da seguinte maneira:
• A decisão sobre abordar ou não a supos-
“[Nome], como vai? Como está indo seu semes-
ta vítima e/ou sua família deve ser rapi-
tre e a atividade da qual participa? Me perdoe,
damente avaliada.
mas vou direto ao ponto. Gostaria de manifes-
Se os rumores indicam que a suposta víti- tar uma preocupação sobre uma informação
ma está sendo colocada em situação de risco, que chegou ao nosso conhecimento... [narrar
ameaçando sua integridade física, psicológica, fatos oferecendo o mínimo de informação para
sexual ou moral, é importante entrar em con- caracterizá-lo, porém sem oferecer todos os
tato imediato com os familiares responsáveis, detalhes ouvidos]”. Se o(a) adolescente quiser
tomando o cuidado para não acionar o suposto saber de quem soube e reconhecer a importância
autor da violência. Embora a pessoa que repas- da pergunta, continuar: “Entendo que saber isso
sou o rumor possa se sentir traída, devemos pode ser importante para você. Posso saber por
nos lembrar de que o bem-estar da criança ou quê?”. Se o(a) adolescente não responder e, ainda
do(a) adolescente é mais importante. A lealdade assim, quiser saber quem contou, uma opção é
demonstrada ao priorizar a segurança de uma ser direto: “Infelizmente, não posso revelar, mas
pessoa pode contribuir para reatar o senso de reafirmo que o mais importante é a sua proteção.
confiança entre as partes. Está acontecendo algo que devemos saber?”.
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CHILDHOOD BRASIL
Deve-se sempre lembrar de ouvir sem in- ocorrência de um potencial ato de violência. Os
terrupções, evitar toques físicos, acompanhar procedimentos gerais são os seguintes:
o(a) adolescente até sua próxima atividade e
• Certificar-se de que existe um conjunto de
assegurar que chegue seguro(a) em casa, mes-
sinais que justifiquem uma provável situa-
mo que tenha que solicitar ajuda imediata do
ção de violência – cheque o Guia de Refe-
Conselho Tutelar.
rência (SANTOS; IPPOLITO, 2020). Apenas
Havendo revelação, seja do membro fa- um sinal não é suficiente para indicar a po-
miliar, seja da criança ou do(a) adolescente, tencial violência.
adotar os procedimentos mencionados no item
• Realizar os procedimentos de sondagens da
“revelação”, e mesmo não havendo, os fatos pre-
criança ou do(a) adolescente, mencionados
cisam chegar ao conhecimento das autoridades
anteriormente – manifestando a preocupa-
(Conselho Tutelar, Segurança Pública, Ministério
ção e oferecendo ajuda. Caso a criança ou o(a)
Público etc.), por meio de um relatório detalhado
adolescente revele, utilize os encaminhamen-
entregue pelo entrevistador à direção da unida-
tos previstos para a revelação espontânea.
de de serviço da rede de proteção. A direção da
unidade de serviço da rede de proteção avaliará • Identificar quais são as pessoas de confiança
a situação apresentada no formulário padrão com as quais se possa conversar sobre os
integrado e comunicará oficialmente ao Con- sinais observados.
selho Tutelar, à Delegacia de Polícia, e poderá
• Caso o(a) profissional observe, na criança
acionar o Disque 100.
ou no(a) adolescente, medo, ansiedade ou
nervosismo, pergunte se pode falar com um
adulto de confiança sobre as preocupações
7.3. Sínteses dos procedimentos
que estamos tendo com ela(ele).
a serem adotados
• Buscar conversar com um adulto protetor e
É importante lembrar que suspeitas não de confiança sobre suas preocupações, as-
verificadas podem levar a consequências graves, segurando-se de que ele não seja o potencial
e suspeitas infundadas podem trazer consequên- autor de violência.
cias desastrosas para as pessoas acusadas.
• Elaborar um relatório detalhado, se mantida
A escuta realizada não deve cruzar a barreira a suspeita, distinguindo o que ouviu em cada
do diagnóstico. Todos os profissionais devem ze- uma das escutas, sem manifestar juízo de
lar pela proteção da criança ou do(a) adolescente, valores, e encaminhar ao Conselho Tutelar.
mas o papel de averiguar se o que está acontecen-
• Aplicar medida de proteção imediata – os
do é uma violência tipificada na Lei nº 13.431/2017
Conselhos Tutelares devem ser orientados
e no Código Penal é do sistema de segurança e
a aplicar uma medida de acompanhamento
justiça. As unidades policiais não devem, como
da criança ou do(a) adolescente por uma
primeira medida, indagar à criança ou ao(à) ado-
das unidades do SUAS – CRAS e CREAS. Nos
lescente sobre a suspeita, mas cooperar com o
casos suspeitos de violência contra a criança
Conselho Tutelar, para que ele(a) sejacolocado(a)
ou o(a) adolescente, a situação deverá ser
em uma atmosfera protetiva, e, assim, possa rela-
avaliada sistematicamente. O histórico e a
tar eventuais episódios de violência.
presença de um ou mais sinais de alerta re-
A estratégia geral é colocar de imediato metem a uma avaliação integral da situação,
a criança ou o(a) adolescente em um contexto podendo afastar ou manter a suspeita – ver
protetivo sem realizar perguntas diretas sobre a Guia de Referência da Childhood Brasil (SAN-
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GUIA DE ESCUTA ESPECIALIZADA
TOS; IPPOLITO, 2020) e “Linha de cuidado a rede de proteção e as medidas protetivas per-
para a atenção integral à saúde de crianças, tinentes, incluindo a orientação aos familiares.
adolescentes e suas famílias em situação de As estratégias podem seguir a orientação cita-
violência” (BRASIL, 2010).7 da anteriormente.
Para isso, caso o município conte com Comitê • Iniciar a investigação policial. De posse do
de Gestão da rede colegiada de cuidado e atenção relatório sobre a situação de suspeita de
de criança e adolescentes vítimas ou testemunhas violência, iniciar a investigação policial, com
de violência instalado e atuante, os profissionais adultos de referência – que não sejam os su-
da rede de proteção podem se valer de estudos de postos agressores – e sem ouvir a criança ou
caso no âmbito deste Comitê. Na impossibilidade, o(a) adolescente.
o Conselho Tutelar deve identificar uma pessoa
responsável – que não seja o potencial autor da • Se, durante esse processo, a criança ou o(a)
violência – para conversar, buscar informações adolescente revelar, proceder como nos ca-
adicionais e informar sobre a medida protetiva. sos de revelação espontânea.
Abordar os pais e os responsáveis, seguindo os • Proceder como nos casos de denúncia quan-
padrões éticos do acolhimento. Caso a criança do alguns membros da família prestarem
ou o(a) adolescente esteja acompanhado(a),prio- algum tipo de informação sobre ocorrências
rizar a conversa em separado com os pais ou de situações de violência: (1) registro do BO;
acompanhante e, somente se necessário, realizar (2) solicitação da antecipação de provas; e (3)
o atendimento da criança ou do(a) adolescente,
estabelecimento do inquérito policial.
valorizando o acolhimento, a escuta e o diálogo.
• Ouvir, como último recurso, a criança ou
No decorrer do atendimento, será avaliada a
o(a) adolescente por meio de depoimento
gravidade da situação – a enquadrando nas prio-
especial policial, caso não se tenha obtido
ridades legais e ocorrência no período das últimas
revelação e continuem existindo fortes evi-
72 horas, observando se deverão ser realizadas as
dências de violência.
sorologias para ISTs, indicação para contracepção
de gravidez, e as profilaxias (ver box na seção • Prosseguir com a investigação (inquérito), a
4.1.1). Mantendo-se a suspeita, deve-se acionar denúncia e o procedimento judicial.
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CHILDHOOD BRASIL
60 Foto: Shutterstock
GUIA DE ESCUTA ESPECIALIZADA
Caso o(a) profissional da rede presencie a • Caso haja mais de um(a) profissional pre-
prática de violência contra criança ou adoles- sente, apenas um deles deve se dedicar ao
cente ou tome conhecimento do ocorrido logo contato direto com a criança ou o(a) adoles-
após a prática, deve-se assegurar que ela receba cente, levando-a para um espaço seguro e
proteção imediata. de acolhimento. Os demais devem oferecer
apoio a este(a) profissional, realizando as
demais providências necessárias.
8.1. Acolhimento da criança
• Tendo em vista que a situação de flagrante
e do(a) adolescente em
é um momento de crise e tensão, que pode
momento de flagrante
desencadear comportamentos e emoções
diversas, é importante utilizar técnicas de
Recomendações gerais:
intervenção que auxiliem a vítima a lidar com
• O(A) profissional – técnico(a) ou agente policial o momento, entre elas:
– acolherá a criança ou o(a) adolescente. Sua
1. Iniciar o contato de forma compassiva e
conduta deve ser amigável e o tom de voz
não invasiva.
ameno. Lembrando que é importante evitar
tocar na criança ou no(a) adolescente, uma 2. Prover segurança e conforto físico – neces-
vez que ela(e) pode estar assustada(o) e resis- sidades que requerem satisfação prioritária.
tente a um contato mais próximo de pessoa
3. Estabilizar as emoções da pessoa – escuta
desconhecida, bem como pela necessidade
ativa, aconselhar, distrair, orientar.
de preservar todos os vestígios do ato.
Veja o script recomendado:
• No caso em que o(a) profissional presencie a
prática delituosa, deve agir imediatamente • A ação imediata, tomada pelo(a) profissional
para que cesse, afastando a criança ou o(a) (agente policial, profissionais da educação,
adolescente do(a) autor(a) e, sempre que conselheiro(a) tutelar ou profissionais de
possível, levando-a(o) para um espaço re- outros segmentos) que primeiro chegar ao
servado e seguro. local do flagrante, deverá ser a contenção
61
CHILDHOOD BRASIL
da crise – seja criança ou adolescente desa- outro, continuar a frase com: “a Polícia e o
companhado(a), seja acompanhado(a) dos Conselho Tutelar [explicar para a criança
responsáveis ou genitores. O(A) profissional ou o(a) adolescente o que é o Conselho
deverá primeiramente estabelecer contato Tutelar, em caso de não saber], pois são os
visual com ele(a) – ficando na mesma altura –, únicos que podem fazer parar o que acon-
evitando toques e indagações sobre o que teceu e tomar as medidas para que isso não
está acontecendo, e imediatamente tentar ocorra novamente.”.
acalmá-lo(a): “Olá! Meu nome é [nome do(a)
*Se o(a) profissional responsável pelo atendi-
profissional]. Estou aqui para te ajudar. Va-
mento for do segmento da Segurança Pública
mos buscar um lugar confortável para você
– agente policial –, completar a frase com: “o
ficar. Você deseja uma água?”.
Conselho Tutelar, que nos ajudará a tomar
Observação: se o(a) profissional estiver as medidas para protegê-la(o) e garantir que
acompanhado(a) de um(a) colega de traba- você tenha o atendimento necessário.”.
lho, ambos devem se apresentar à criança ou
*Se o(a) profissional responsável for do
ao(à) adolescente.
Conselho Tutelar, completar a frase com: “a
• Chegando ao local, confortável e seguro, o(a) Polícia, pois ela irá nos ajudar a tomar medi-
profissional deverá se dirigir diretamente à das para que o que aconteceu com você não
criança ou ao(à) adolescente e acalmá-lo(a): volte a ocorrer novamente.”.
“Gostaria de dizer que você não tem culpa
• Após solicitada a presença dos outros profis-
pelo que aconteceu.”*.
sionais – agentes policiais, conselheiro(a) tute-
*Se a criança ou o(a) adolescente estiver lar e responsável ou genitores, o(a) profissional
desacompanhado(a) de responsável legal ou deverá aguardar e não indagar à criança/ao (à)
genitor, completar dizendo: “Vou ficar com adolescente sobre o ocorrido, distraindo-o(a)
você e vamos esperar juntos uma pessoa e conversando sobre outros assuntos. Se for o
de sua confiança. Qual adulto devo chamar caso, respeite o silêncio dele(a).
para vir ficar com você?”.
• Quando chegarem outros profissionais – agen-
Observação: se a criança/o(a) adolescente te policial ou conselheiro(a) tutelar –, eles
estiver desacompanhado(a), é importante devem conversar com a criança ou o(a) adoles-
chamar mais de um adulto da confiança, cente, colocando-se na mesma altura dele(a).
para evitar a ida da vítima até uma delegacia
de polícia registrar o BO, caso o atendimento
inicial não conte com o serviço sendo ofere-
8.2. O
fluxo dos casos
cido no mesmo local. Se houver mais de um
de flagrantes
responsável, acompanhante ou genitor, o
atendimento inicial prossegue, enquanto um
O(A) profissional deve informar o fato à
dos adultos registra o BO.
direção da unidade em que trabalha, que de-
• Caso a criança ou o(a) adolescente esteja verá imediata e simultaneamente comunicar à
acompanhado(a) de responsável ou genito- autoridade policial local. Em seguida, a direção
res, continuar o diálogo, como a seguir: “Em da unidade deve, também imediatamente, acio-
situações como a que aconteceu com você, nar o responsável ou os genitores da criança ou
somos orientados a te acompanhar até um do(a) adolescente.
atendimento médico e chamar* (...)”.
Em situação de emergência, tendo o caso sido
*Se o(a) profissional responsável pelo aten- comunicado ao Conselho Tutelar ou à autoridade
dimento for do segmento da Educação ou policial, deve-se garantir a proteção da criança ou
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GUIA DE ESCUTA ESPECIALIZADA
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CHILDHOOD BRASIL
• Não trate a criança ou o(a) adolescente como Os casos de flagrante delito são os que a
“coitadinho(a)”. Eles devem ser tratados com autoridade policial pode realizar o depoimento
empatia, dignidade e respeito. especial policial. Ela conduzirá a coleta do de-
poimento especial, que deverá ser gravado em
• Evite frases de consolo e conforto do tipo
mídia para integrar o auto de flagrante delito,
“Isso não foi nada!”, “Não precisa chorar!”.
para fins de controle da legalidade do flagran-
Caso a criança ou o(a) adolescente chore
te, conforme a Lei nº 13.431/2017 e o Decreto
durante a conversa, ofereça-lhe um copo de
nº 9.603/2018, e deverá ter a intermediação de
água e um guardanapo.
um(a) profissional especializado(a).
• Evite confortar a criança ou o(a) adolescente
Após a realização do depoimento especial
tocando-o(a) ou abraçando-o(a). Criança ou
policial, em se tratando de crime de delito que
adolescente, em situação de violência, po-
possua vestígios, será imediatamente expedida
dem ficar confusos entre o chamado toque
guia para o encaminhamento da vítima ao Depar-
bom e o toque ruim. Busque confortá-los,
tamento de Perícia Técnica (DPT), para que se pro-
utilizando um tom de voz sereno e acolhedor.
ceda à realização de exame médico legal. Porém,
a oportunidade de sua realização deverá levar
em conta a proteção à integridade psicológica da
criança ou do(a) adolescente.8
8. “Art. 18. A coleta, guarda provisória e preservação de material com vestígios de violência serão realizadas pelo Instituto
Médico Legal (IML) ou por serviço credenciado do sistema de saúde mais próximo, que entregará o material para perícia
imediatamente, observado o disposto no art. 5º desta Lei” (BRASIL, 2017a).
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GUIA DE ESCUTA ESPECIALIZADA
De outro modo, caso se trate de crime que não Concluído o atendimento, a equipe do CREAS
possua vestígios, inexiste necessidade de encami- ou do Centro de Atendimento Integrado (CAI)
nhamento da vítima ao DPT, sendo evitada a perícia realiza as escutas necessárias com a criança e a
para descarte da ocorrência de fatos (BRASIL, 2018, família, elabora o estudo psicossocial e o Plano
art. 13, § 7º). Dessa forma, concluídas as diligên- de Atendimento Integrado. Estes órgãos também
cias necessárias, o flagrante é lavrado, sendo apoiarão a execução do Plano de Atendimento
remetido os autos para a autoridade judiciária Integrado, inclusive apoiando a família em todas
competente para seu controle de legalidade. suas interações com o Sistema de Justiça.
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O script é semelhante tanto para a recepção sigilo. Assim, se estiver com pessoas externas
de um telefonema quanto para a visita presencial ao órgão, ele deve buscar local reservado
ao órgão de denúncia. Contudo, alguns proce- ou ser discreto para não oferecer elementos
dimentos variam segundo a forma de realiza- que outra pessoa possa conectar fatos
ção da denúncia. que permitam identificar o caso, por meio
de histórias contadas na comunidade ou
Seguem algumas orientações:
noticiários: “Bom, como o(a) senhor(a)
• Ser acolhedor e amigável: “Meu nome é ia me dizendo...”.
[dizer o nome], [dizer a função]. Como
• Anotar enquanto a pessoa está falando
posso lhe ajudar?”.
no instrumento de registro de denúncias.
Quando telefonema, sonde discretamente se Permita o livre relato do denunciante.
o denunciante não está fazendo o comunica-
• As informações necessárias, segundo o
do em frente à criança ou ao(à) adolescente:
Disque 100, são as seguintes:
“Antes de o(a) senhor(a) prosseguir, gostaria
de lhe dizer que toda informação fornecida — Quem sofre a violência? (Vítima: nome,
passará a ser sigilosa. Por isso, gostaria de sexo, idade aproximada.)
saber se há mais pessoas presentes ouvindo
— Qual tipo de violência? (Física, psicológica,
esta ligação?”.
maus-tratos, abandono etc.)
• Caso a criança ou o(a) adolescente esteja por
— Quem pratica a violência? (Quem é
perto, checar se o declarante pode mudar
o suspeito?)
para outro ambiente ou solicitar que vá para
outro ambiente. — Como chegar ou localizar a vítima e
o suspeito?
Por parte do(a) profissional atendente, deve-
se assegurar que o acolhimento da denúncia — Endereço? (Estado, município, zona,
também será realizado em condições de quadra, bairro, rua, número da casa ou
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9. Incorporados do Protocolo Chileno por meio do estudo realizado por Santos (2022).
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10.2. R
ecepção de uma denúncia • Dirija-se à criança ou ao(à) adolescente:
realizada presencialmente “Você quer falar comigo?”. [Aguarde a res-
por criança ou adolescente, posta afirmativa e prossiga]: “Bem, para
com ou sem acompanhante começar, preciso saber algumas informa-
ções sobre você... [pergunte os dados de
Ocorre algumas vezes de a criança ou o(a) identificação necessários para o registro da
adolescente ir desacompanhada(o) ao Conselho denúncia].”. Agradecer: “Muito obrigado(a)
Tutelar ou órgão policial para fazer uma denúncia. pela informação. Vou anotar tudo o que me
Nestes casos, ela(e) será a(o) única(o) declarante. disser, para ver como podemos ajudá-la(o).
Contudo, é muito frequente que membros da O que você veio me contar?”.
família busquem o Conselho Tutelar ou a Unida-
• Registre na íntegra o que a criança ou o(a)
de Policial para fazer uma denúncia de violência
adolescente disse voluntariamente, sem
acompanhados da criança ou do(a) adolescente
interrompê-la(o).
vítima. Os procedimentos vão ser um pouco dis-
tintos se a criança ou o(a) adolescente for o(a) • Lembre-se de que não se deve fazer pergun-
declarante, ou somente um adulto ou ambos. tas sobre os episódios de violência ou sobre
as pessoas que participaram.
A criança, estando ou não acompanhada, é
importante que o serviço a acolha receptivamen- • “Há mais alguma coisa que queira me di-
te. Unidades de serviço que tenham um(a) recep- zer?” [Registro completo].
cionista deve tomar cuidado extra ao realizar as
• “Você tem alguma dúvida?” [Responder com
perguntas para direcioná-la ao atendimento com
linguagem acessível].
o(a) profissional adequado(a), particularmente
se existem outras pessoas esperando na recep- • “As informações que você me passou serão
ção. Por esta razão, quando possível, serviços que úteis para que tomemos as providências
atendem criança ou adolescente devem contar necessárias para ajudá-la(o).” [Informar os
com salas de espera separadas da recepção. próximos passos].
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— Algum órgão foi acionado? evem uma cópia da cartilha sobre os di-
L
Caso seja uma denúncia anônima, colher
— reitos da criança ou do(a) adolescente em
somente o relacionamento do(a) denun- situação de violência.
ciante com a vítima. ais uma vez, obrigado(a) por terem vindo!
M
Tome notas no Formulário de Acolhimento As informações que vocês me repassaram
de Denúncia. serão muito úteis para que tomemos as
providências necessárias para lhe ajudar.”.
Por fim, pergunte: “Vocês já foram atendidos
em outro serviço antes de nos procurar?”. • Se o órgão for a Polícia Civil, prosseguir da
seguinte maneira:
Ouça atentamente, tomando notas.
Chamar a criança ou o(a) adolescente junta-
Uma vez concluídas as escutas, o(a) profis-
mente ao acompanhante e informar: “Agora
sional atendente pode chamar a criança ou o(a)
que eu ouvi o que aconteceu, gostaria de
adolescente e a pessoa que o(a) acompanha.
conversar com vocês algumas coisas. Sou
• Se o órgão for o Conselho Tutelar, prosseguir parte de um grupo de pessoas que traba-
da seguinte maneira: lham para que isto não ocorra com criança
ou adolescente e, se ocorrer, que ela(e) e
“ [Nome da criança ou do(a) adolescente],
sua família sejam atendidas(os) da me-
agora que eu ouvi o que aconteceu com
lhor forma possível.
você, gostaria de conversar com vocês
algumas coisas... que ela(e) contou é suficiente para iniciar-
O
mos os encaminhamentos. Vamos pedir que
ostaria de começar reiterando a importân-
G
o acompanhante já registre aqui BO.”.
cia de terem comunicado o que está ocor-
rendo. Sou parte de um grupo de pessoas e for o caso de realizar o exame de corpo de
S
que trabalha para que isto não mais ocorra delito: “Depois vamos encaminhar você e
com criança ou adolescente, e se ocorrer, sua/seu [acompanhante] para fazer um exa-
que ela(e) e sua família sejam atendidas(os) me das partes machucadas e ir ao hospital
da melhor forma possível. para o atendimento de saúde.
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serão muito úteis para que tomemos as • Prometer sigilo ou fazer outras promessas
providências necessárias para lhe ajudar.”. que não pode cumprir, como, por exemplo,
garantir segurança.
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resposta; se revelar algo, proceder às perguntas específicas sobre a elaboração de relatório sobre
mencionadas a seguir, caso as respostas não te- escuta de familiar ou acompanhante de crianças
nham sido comunicadas no relato livre: ou adolescentes em situação de violência.
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Caso seja possível registrar o BO, informar: mencionou. O juiz provavelmente necessitará
“Para que possamos investigar o caso, o(a) se- escutar a(o) sua(seu) filha(o).”. Explicar breve-
nhor(a), e solicitar medidas protetivas, é neces- mente o procedimento da antecipação de provas
sário registrar o BO.”. Chamar o escrivão e realizar para tranquilizá-lo(a).
as perguntas mencionadas anteriormente.
Em hipótese de confirmação ou não, mas
Caso não seja mencionada nenhuma even- com indícios de evidência, o agente policial
tual violência, a autoridade policial pode utilizar deverá informar o seguinte: “Tenho o dever de
a estratégia de afunilamento: “Recebemos um zelar pela proteção da criança ou do(a) adoles-
comunicado por meio do Disque 100 [ou tele- cente. Portanto, solicitarei ao Conselho Tutelar
fonema direto ao Conselho Tutelar] informando a aplicação de uma medida de proteção para
que [mencionar o fato, sem oferecer detalhes]. que sua(seu) filha(o) [ou outro tipo de relacio-
O(A) senhor(a) pode me dizer se está acontecen- namento] seja acompanhada(o) pelo Serviço de
do algo com [se tiver o nome da criança ou do(a) Proteção e Atendimento Especializado a Famí-
adolescente, tratá-la(o) pelo nome] e se podemos lias e Indivíduos (PAEFI) do CREAS. Ao mesmo
fazer algo para protegê-la(o)?”. Esperar a respos- tempo, nós, da Polícia Civil, vamos continuar
ta; se revelar algo, faça as perguntas a seguir, caso coletando mais informações, checando se a
suas respostas já não tenham sido respondidas criança ou o(a) adolescente não se encontra
no relato livre: em situação de risco e se está protegida(o).
Caso o(a) senhor(a) saiba de algo e queira nos
Quem sofre a violência? (Vítima: nome,
—
contar, pode nos procurar [entregar cartão com
sexo, idade aproximada.)
os números de telefone, WhatsApp e e-mail].
Qual tipo de violência? (Física, psicológica,
— Obrigado(a) pela visita.”.
maus-tratos, abandono etc.)
O agente policial deve fazer um relatório com
— Quem a praticou? (Quem é o suspeito?) os detalhes da conversa e enviar ao Conselho
Tutelar e ao CREAS, para aplicação de medidas
— Como localizar a vítima e o suspeito?
protetivas à criança ou ao(à) adolescente. A au-
Endereço? (Estado, município, zona, quadra,
— toridade policial, fundamentada no depoimento,
bairro, rua, número da casa ou apartamento, ou deve solicitar ao Ministério Público uma audiência
ao menos um ponto de referência específico.) de antecipação de provas.
— Qual o horário?
— Em que local?
ATENÇÃO!
— Como a violência é praticada?
Caso os relatórios feitos pelos
— Qual a situação atual da vítima?
atores da rede de proteção já ve-
— Algum órgão foi acionado? nham com o relato da escuta es-
pecializada, tanto o Conselho Tu-
Caso seja uma denúncia anônima, colher
—
telar quanto a Unidade Policial
somente o relacionamento do(a) denun-
não deverão, novamente, escu-
ciante com a vítima.
tar a criança ou o(a) adolescente,
A família deve ser orientada a registrar o BO. mas poderão chamar as pes-
soas do seu entorno.
Se alguma das hipóteses anteriores for con-
firmada, informar para o depoente que: “Vamos
precisar ouvir outros envolvidos que o senhor(a)
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ratorial que será realizado, explicando os proce- ser atendida pela Unidade de APS e realizar os
dimentos. Se a vítima for criança, é recomendável exames de detecção de ISTs/HIV e atualização
que o acompanhante fique presente no exame. do estado vacinal, já no primeiro atendimento,
Contudo, isso dependerá do sexo da vítima e do re- independentemente do tempo decorrido (ver box
lacionamento do acompanhante com ela(e) – por na seção 4.1.1.).
exemplo, uma menina pode ficar constrangida ao
fazer exames ginecológicos na presença do pai ou
padrasto. Em geral, o(a) adolescente prefere ter 12.3.
Abordagem geral do
privacidade nesse momento. acompanhante e da criança
ou do(a) adolescente em caso
Ao retornar com o resultado dos exames, o(a)
de suspeita de violência
profissional de saúde deve dirigir-se à criança ou
ao(à) adolescente e ao acompanhante com os te-
Um lembrete inicial: diante de caso de sus-
mas de cuidado mais geral. Contudo, informações
peita de violência, durante um atendimento mé-
sobre riscos de saúde devem ser tratadas direta-
dico clínico hospitalar, compete ao(à) profissional
mente com o(a) acompanhante.
de saúde prover os cuidados à vítima, registrar os
Caso seja necessária a internação para relatos feitos pela(o) acompanhante, pela vítima,
acompanhamento, os enfermeiros, os plantonis- e preencher as notificações ao Sistema de Infor-
tas, os psiquiatras e os psicólogos devem tomar mações de Agravos de Notificações (SINAN).
conhecimento pelo prontuário e fazer somente
Não fazer acareações entre as versões relata-
perguntas estritamente necessárias para o aten-
das e os sinais físicos. O(A) profissional não tem o
dimento da vítima.
compromisso, nem é sua a competência de apurar
A pessoa em situação de violência sexual, a verdade; portanto, não confundir diagnóstico
após o atendimento emergencial, no hospital, médico com investigação policial.
deverá ser encaminhada para prosseguimento do
Contudo, se percebidas potenciais contradi-
cuidado em uma Unidade de Atenção Primária à
ções, estas devem ser registradas. A seguir, uma
Saúde (APS) ou outro serviço da rede de atenção
abordagem sugerida:
à saúde, conforme a necessidade. Neste contexto,
é importante o atendimento individual e familiar. • Preferencialmente com o acompanhante, e
Entre os atributos da APS estão a longitudinalida- que não seja na presença da vítima: “[Bom
de, a integralidade do cuidado, a focalização na dia, boa tarde, boa anoite]! Meu nome é
família e a orientação comunitária. [citar o nome]. Eu sou [citar nome e função].
Como o(a) senhor(a) se chama? Qual é o
As equipes possuem espaço privilegiado para
seu relacionamento com a criança ou o(a)
a identificação dos casos de violência pela abran-
adolescente?”. Daqui em diante, chamar a
gência de ações nas Unidades de APS e Saúde da
pessoa pelo nome. “Me conta qual o motivo
Família, no domicílio e/ou na comunidade, ou
da sua vinda ao hospital [ou centro de saú-
seja, pelo envolvimento dos profissionais com
de]?”. Ouvir sem interrupções, prosseguir se
as ações de saúde individual e coletiva desen-
estiver claro; se não, perguntar novamente:
volvidas na cidade.
“O que aconteceu mesmo?”. Prosseguir:
Não é possível estabelecer, com exatidão, “Como isso aconteceu? Como ela(e) se
o tempo-limite para a introdução da profilaxia machucou ou contraiu essa enfermidade?
das ISTs não virais em situações de violência Quando isso ocorreu?”. Perguntar sobre os
sexual, ao contrário da profilaxia para infecção sintomas físicos: “O que ele(a) está sentin-
pelo HIV, que é 72 horas. Esta decisão é clínica e do?”. Prosseguir, buscando mais informação
individualmente avaliada. A pessoa que procura para o diagnóstico: “Posso falar com a crian-
atendimento após as 72 horas do abuso deverá ça ou o(a) adolescente? Como é o nome
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10. Definição de cadeia de custódia “(...) o conjunto de todos os procedimentos utilizados para manter e documentar a história
cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu
reconhecimento até o descarte”. (CPP, Art. 158 - A).
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sua requisição deverá ser feita imediatamente, segundo o regimento das exigências legais, com
garantindo o mais breve possível a sua realização equipamentos adequados e condições de arma-
e permitindo a coleta de possíveis vestígios. zenagem de materiais e de descartes de dejetos.
Nos casos de crimes sexuais, o ideal é que a Sempre que houver IML na cidade ou proximi-
perícia médico-legal seja realizada sempre nas dades, o exame de corpo de delito – para constata-
primeiras 24 horas, a fim de que se possa pro- ção de lesão corporal e/ou conjunção carnal e/ou
ceder a coleta de material biológico - secreções atos libidinosos diversos etc. – deverá obrigatoria-
nas regiões vaginal, anal, oral, pele etc. – neces- mente ser realizado por perito oficial, conforme
sária para a realização de exames laboratoriais preconiza o art. 158 do CPP (BRASIL, 1941).
(pesquisas de espermatozoides, pesquisas de
Todas as unidades dos IMLs têm o dever de
antígeno prostático específico e exame genético),
atender crianças ou adolescentes, vítima ou teste-
evitando que os elementos se degradem ou sejam
munha de violência – física, psíquica e/ou sexual – ,
perdidos com a lavagem, o banho ou a limpeza da
devendo, para isso, capacitar suas equipes para
região, pela vítima. Na impossibilidade de realizar
o atendimento, além de, sempre que necessário,
o exame nas primeiras 24 horas, todos os esforços
realizar cursos de reciclagem.
deverão ser concentrados para que o exame seja
efetivado em, no máximo, até 72 horas da ocor- Na cidade onde houver CAI, o IML deverá,
rência do delito. sempre que possível, manter uma equipe para
atendimento das vítimas, in loco, no CAI – já que é
Como as lesões desaparecem com o pas-
um local preparado e que a criança ou o(a) adoles-
sar do tempo ou, em alguns casos, podem
cente estão familiarizadas –, e deverá prover ma-
resultar em cicatrizes que não apresentam
teriais e equipamentos necessários para realiza-
elementos suficientes para se caracterizar a lesão
ção da perícia. O CAI deverá disponibilizar, ao IML,
e consequentemente, definir o agente causador, o
um servidor público de seu quadro, previamente
exame corporal deve ser realizado o mais preco-
treinado pelo IML (e seu eventual substituto), para
cemente possível.
atuar como auxiliar de perícia durante o exame,
Por outro lado, quando a notificação do fato dando suporte ao médico legista e realizando o
ocorrer tardiamente e, ainda assim, a autoridade controle dos materiais.
competente entenda ser necessária a realização
Embora esteja sediado no mesmo espaço
do exame pericial, o ideal é que primeiramente
físico do CAI, o IML deve ser isolado dos demais
seja realizada a escuta especializada, conforme
atendimentos, sendo que somente os funcio-
determina a Lei nº 13.431/2017. Assim, haverá
nários que realizam o exame pericial (médico
um vínculo de confiança entre a criança ou o(a)
legista e auxiliar de perícia) terão acesso às suas
adolescente, seu representante legal e a equipe
dependências. Apesar de a perícia ser realizada
do órgão especializado e, em momento oportuno,
fora das dependências do IML, deverão ser segui-
será realizada a perícia, sempre com agendamen-
das todas as normativas legais e éticas vigentes,
to prévio. Nesses casos, a equipe do órgão deverá
em especial no que tange à cadeia de custódia,
orientar previamente a vítima e seu representante
estabelecidas no CPP.
legal sobre a necessidade de realização do exame
pericial e, em caso de recusa, ela deverá ser regis- Caso não haja possibilidade de deslocamen-
trada em documento para esse fim. to da equipe pericial para atendimento no CAI,
é importante que o IML providencie uma sala
Nos munícipios que possuem Centro de Aten-
ou acesso diferenciado para o atendimento de
dimento Integrado (CAI), é altamente recomendá-
crianças ou adolescentes vítimas de violência,
vel que eles possuam espaços apropriados para a
isolado dos demais periciados, em especial dos
realização dos exames periciais. Esses espaços,
locais onde são realizados exames cautelares
para seu funcionamento, devem ser instalados
(em apenados), de embriaguez e necroscópico.
90
GUIA DE ESCUTA ESPECIALIZADA
O IML deve, ainda, cuidar para que instalações 3. Treinamento de todas as etapas do exame
possam ser amigáveis e adequadas para proteção pericial – descrição adequada das lesões e
da privacidade da criança ou do(a) adolescente, coleta de material biológico.
contando com fontes de água e banheiro. Com
4. Conceitos.
relação à alimentação, o órgão especializado res-
ponsável pelo atendimento da criança ou do(a) 5. Finalidade.
adolescente deverá fornecer um lanche rápido
6. Etapas da cadeia de custódia normatizada
para o atendido.
no CPP, sem a qual pode haver invalidação
Caso o município não possua IML, mas sim da prova pericial, elaboração do laudo médi-
o município vizinho, a rede de proteção deve co pericial etc.
estabelecer no fluxo de encaminhamento para tal
Se o município possuir um CAI, a perícia
município e se responsabilizar pelo transporte da
deve ocorrer preferencialmente nele, com todos
criança ou do(a) adolescente ao IML, e, para seu
os pré-requisitos estabelecidos anteriormente.
imediato atendimento, a vítima deve ser acompa-
Contudo, se não possuir, a autoridade policial do
nhada por ator da rede proteção e por seu repre-
município pode solicitar que um perito ad hoc
sentante legal. Em casos de violência não recente,
realize o exame complementar e a coleta de ma-
a equipe acompanhará a criança ou o(a) adoles-
terial biológico, devendo este respeitar todas as
cente no dia e no horário previamente agendados.
etapas da cadeia de custódia e o material deverá
Deverão ser levados os seguintes documentos:
ser entregue ao IML mais próximo da região, o
requisição de exame, relatório produzido durante
qual ficará responsável por seu processamento e
a escuta especializada e BO, também recomenda-
análise. É prudente e recomendável que o exame
mos o fornecimento de um lanche rápido.
médico seja acompanhado pelo auxiliar de perícia
Nos municípios onde não há IML bem como ou outro(a) profissional da saúde – sempre agente
em sua vizinhança, o delegado de Polícia deverá público – para manutenção da cadeia de custódia.
nomear profissional médico(a) para atuar como
Outros procedimentos a serem observados
perito(a) ad hoc, conforme determinado na le-
na realização da perícia:
gislação brasileira vigente (CPP). Assim, nesses
municípios, é imprescindível que um grupo • A perícia deverá ser acompanhada, preferen-
de profissionais médicos sejam capacitados. cialmente, pelo representante legal ou por
Também é necessário a promoção de cursos de alguém de confiança da criança ou do(a) ado-
reciclagem e recomposição da equipe, sempre lescente, para que ela(e) se sinta segura(o).
que houver necessidade. Em último caso, não De acordo com o parágrafo 8º do Decreto nº
havendo condições para nomeação do perito, a 9.603/2018: “[...] Os peritos deverão, sempre
Lei nº 13.431/2017, no seu art. 18, possibilita que que possível, obter as informações necessá-
a coleta de material seja realizada por médico do rias sobre o ocorrido com o(a) acompanhante
serviço credenciado do sistema de saúde mais da criança ou adolescente ou por meio de
próximo, que também deverá estar capacitado e atendimentos prévios realizados pela rede
cumprir a legislação que trata da cadeia de custó- de serviços” (BRASIL, 2018). O art. 15 esta-
dia (BRASIL, 2017a). belece que: “[...] Os profissionais envolvidos
no sistema de garantia de direitos da criança
Essa capacitação deverá esclarecer, en-
e do adolescente vítima ou testemunha de
tre outros pontos:
violência primarão pela não revitimização
1. A finalidade do exame pericial. da criança ou adolescente e darão prefe-
rência à abordagem de questionamentos
2. As diferenças legais e éticas de se atuar como
mínimos e estritamente necessários ao aten-
médico perito ou médico assistente.
dimento” (Ibidem).
91
CHILDHOOD BRASIL
• O exame exige absoluta privacidade e local nele não houver informações suficientes para
adequado. É importante que a criança ou o(a) a realização do exame pericial, é recomen-
adolescente se sinta segura(o) para realizá-lo dado que ele dirija os questionamentos ao
de forma acolhedora e adequada. Assim, o acompanhante e evite indagar à criança ou
médico perito deve explicar previamente, de ao(à) adolescente sobre o ocorrido.
maneira clara e de acordo com a capacidade
• Após a leitura dos documentos, ele deverá
de entendimento da criança ou do(a) adoles-
avaliar se as informações contidas são sufi-
cente, o passo a passo de cada procedimento.
cientes para a realização do exame pericial,
• O médico perito deverá realizar a inspeção ou se há necessidade de complementá-las.
corporal em busca de lesões, com a vítima
• Somente em último caso, quando o médico
despida, todavia, de preferência de forma
legista julgar necessário, como quando ele
segmentada, cobrindo a região que não
não tiver acesso ao documento da escuta
está sendo examinada, além de proceder
especializada, quando o acompanhante
a análise da região genital e anal, docu-
não tiver conhecimento dos fatos, quando
mentação fotográfica e coleta de material,
perceber que poderá haver perda da chance
quando necessário.
de coletar vestígios etc., é que as informa-
• Sempre que possível, o órgão especializado ções deverão ser fornecidas pela criança
deve encaminhar o Relatório sobre a Situação ou pelo(a) adolescente. Nessa hipótese, o
de Violência contra a Criança e o(a) Adoles- perito deve realizar uma abordagem cuida-
cente, resultante da escuta especializada, dosa, evitando perguntas de detalhamento
previamente ao exame pericial. É fundamen- da violência ocorrida ou outras indaga-
tal que ele estabeleça o fluxo de atendimento ções desnecessárias.
para que todas as instituições tenham aces-
• A abordagem à criança ou ao(à) adolescente
so aos documentos produzidos, evitando
deve ser realizada de maneira calma e aco-
a revitimização.
lhedora desde o início do contato, usando
• Para o agendamento da perícia, o órgão linguagem e terminologia adequadas ao nível
especializado deverá encaminhar, obri- de desenvolvimento e de cultura da criança
gatoriamente, a Requisição de Exame de ou do(a) adolescente.
Corpo de Delito, sem a qual não será pos-
A seguir, seguem scripts para a realização
sível prosseguir com o agendamento e,
deste atendimento, em dois casos: (1) quando
sempre que possível, encaminhar também
a vítima é uma criança (até 12 anos incomple-
o relatório supracitado e o BO. O prévio
tos); e (2) quando a vítima é um(a) adolescente
agendamento de data e horário permitirá
(de 12 a 18 anos).
que o IML possa garantir a prioridade de
atendimento, conforme determina o inciso A(o) médica(o) legista deverá, inicialmente,
II do art. 158 do CPP (BRASIL, 1941), além de apresentar-se à criança e/ou ao(à) adolescente e
garantir maior conforto e menor desgaste explicar o motivo do atendimento e os procedi-
para a criança ou o(a) adolescente, evitan- mentos que serão realizados:
do que fique aguardando o atendimento
“Olá, meu nome é [citar seu nome), sou
por tempo prolongado.
médico(a) legista. Estou aqui para ajudá-la(o). O
• No caso de violência aguda, nem sempre delegado de Polícia solicitou um exame para es-
será possível realizar a escuta especializada, clarecer o que aconteceu com você e para impedir
previamente ao exame pericial. Quando o que aconteça novamente. Vou precisar de sua
médico legista não receber o relatório ou se colaboração. Preciso fazer algumas perguntas e
92
GUIA DE ESCUTA ESPECIALIZADA
depois examiná-la(o). Mas, fique tranquila(o) que “ Para podermos ajudá-la(o), temos que
o exame não dói – não há injeções ou seringas –, recolher todo elemento que possa com-
e, caso sinta qualquer incômodo, basta me falar.”. provar o que aconteceu com você. Por
exemplo, machucados ou sinal da mão de
Após o esclarecimento inicial, caso o(a) pro-
uma pessoa que tocou em seu corpo ou
fissional não tenha recebido o relatório sobre a si-
em sua roupa. Por isso, tenho que te fazer
tuação de violência contra criança ou adolescente
algumas perguntas.”.
ou nenhum outro documento onde conste o ocor-
rido e o(a) acompanhante não souber informar e o relato livre da(o) adolescente não trou-
S
nada, o médico legista irá indagar diretamente à xer elementos que possam guiar o exame, no
criança ou ao(à) adolescente. caso de violência sexual, é importante saber:
93
CHILDHOOD BRASIL
94 Foto: Shutterstock
GUIA DE ESCUTA ESPECIALIZADA
Com a vigência da Lei de Escuta Protegida, toda a rede de proteção precisa se adequar e
promover as ofertas com foco na não revitimização e no atendimento integral à criança ou
ao adolescente vítima ou testemunha de violência a partir de atendimentos acolhedores e
humanizados nos preceitos da Lei nº 13.431/2017 e no Decreto nº 9.603/2018.
95
CHILDHOOD BRASIL
O acolhimento psicossocial tem como objeti- da criança ou do(a) adolescente, devendo inte-
vo avaliar, orientar, oferecer intervenção e situar grar seu prontuário no sistema informatizado.
a vítima como um sujeito que pertence a um
• Ouvir o familiar ou acompanhante responsável.
tempo histórico, pessoal e judicial (COSTA, 2003).
Com eles, deve-se buscar informações sobre
De maneira mais concreta, a intervenção tem por
o entorno familiar, as relações com a criança
objetivo a compreensão do contexto sociofamiliar
ou o(a) adolescente, seu comportamento e
em que a criança ou o(a) adolescente está inserido,
detalhes sobre a violação. A escuta deve se dar
do acesso do núcleo familiar às políticas de edu-
separadamente da criança ou do(a) adoles-
cação, assistência social, esporte, cultura e lazer,
cente. No caso de a vítima pertencer a Povo ou
profissionalização, saúde e justiça; dar início ao
Comunidade Tradicional (PCT), buscar o conta-
entendimento dos impactos da suspeita/revelação
to com a liderança representativa do povo ou
de violência na dinâmica familiar, se geram efeitos
da comunidade, além dos órgãos públicos de
negativos na capacidade de proteção dos cuida-
atuação direta (Fundação Nacional dos Povos
dores e apontar os riscos para outras vitimizações.
Indígenas – Funai, Distrito Sanitário Especial
O estudo psicossocial deve subsidiar o relató- Indígena – DSEI, etc.) para obter informações do
rio sobre a situação de violência, a construção do ocorrido e das práticas tradicionais de proteção
PAICA, incluindo a aplicação de medidas de pro- realizadas ou por realizar, e como associá-las às
teção, investigação policial, prosseguimento do que serão desenvolvidas pelo órgão especia-
caso e demais intervenções dos atores do SGDCA. lizado e demais serviços da rede de proteção.
Tem também a finalidade de prevenir a realização
• Realizar a escuta especializada com a criança
de outras escutas com a família e com a criança ou
ou o(a) adolescente. A escuta especializada,
o(a) adolescente e, observando o devido sigilo,
na unidade de serviço, é um conjunto de
deverá ser compartilhado com membros da rede
interações com a criança ou o(a) adolescente
que contribuirão com a execução do PAICA.
destinada a coletar informações, quando
Os procedimentos a serem adotados são: necessário, para elaboração do estudo psi-
cossocial, do PAICA, e prover os cuidados de
• Iniciar o registro de informações do caso, em
urgência. A criança ou o(a) adolescente deve
primeiro lugar ouvindo o(a) profissional da
ser escutada(o) separadamente do membro
rede de proteção. Caso a criança ou o(a) ado-
da família ou de seu acompanhante.
lescente e o membro da família esteja acom-
panhada(o) por profissional de outro serviço, • De acordo com os preceitos legais, a escuta
como conselheiro(a) tutelar, profissional de especializada se restringirá apenas ao que
saúde, da educação etc., deve-se ouvi-lo(a), for necessário para que a proteção da criança
evitando que a vítima ou seu acompanhante ou do(a) adolescente seja garantida. Não se
repita as informações já compartilhadas. deve fazer perguntas sobre os fatos ocorridos
de violência ou mesmo confirmação de sus-
• Buscar informações com a rede de serviços caso
peitas em razão de que estes serão objeto da
a criança ou o(a) adolescente e sua família men-
entrevista forense no depoimento especial.
cionem atendimentos anteriores. Acatando as
diretrizes do Decreto nº 9.603/2018, deve-se • Uma criança ou um(a) adolescente, que já re-
priorizar a busca de informações acerca da velou a violência sofrida em um dos órgãos da
suspeita ou revelação de violência e das ações rede do SGDCA, não deve ser chamada(o) para
e providências realizadas pelos profissionais confirmar o ocorrido em escuta especializada,
que já tiveram acesso à criança ou ao(à) ado- uma vez que terá que fazê-lo em depoimento
lescente e sua família. Este trabalho pode ser especial. Esse procedimento é indispensável
realizado concomitantemente à entrevista com para práticas não revitimizantes. O(A) profis-
o membro da família, por outro(a) profissional sional responsável pode obter tais informa-
da unidade de serviço ou após o atendimento ções a partir de conversa com o agente de
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GUIA DE ESCUTA ESPECIALIZADA
• Escolher um local confortável para realização “De qual cor você acha que é a sua pele?”
da entrevista/conversa, com alguns materiais
“ Você pertence a alguma comunidade
ou recursos que facilitem a interação entre vo-
tradicional? Como população indíge-
cês, como materiais informativos, livros, jogos,
na ou quilombola?”
brinquedos educativos, vídeos etc. Contudo,
tome o cuidado para não sobrecarregar a sala • Contexto familiar:
a ponto de criar elementos distrativos.
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CHILDHOOD BRASIL
“ Que legal! Você me contou muitas coisas so- Agora, me fale com quais outros familia-
bre você como o que gosta de fazer e outras res você tem contato? Você os visita? Você
mais. Agora eu queria saber mais sobre sua passa férias na casa de algum deles?” (Ob-
família e sua casa. Com quem você mora?” servar se os visita com constância e como é o
“ Me fala mais como é sua rotina no dia a relacionamento.)
dia?” (Observar se a criança ou o(a) adoles- • Escola – atividades extraescolares:
cente traz informação que demonstre ser “ Quero saber também um pouco mais sobre
supervisionada(o) por algum adulto). a sua escola. Me fala sobre ela?”
( Utilizar perguntas de detalhamento sobre “ Legal! Fala um pouco mais sobre o que
a rotina, adaptando a linguagem para as está aprendendo. Me conte sobre seus
diferentes faixas etárias. Crianças menores amigos da escola.”
precisam de estímulos mais concretos.
( Observar se a criança ou o(a) adolescente
Exemplos: traz como é a relação com o professor e com
— Você brinca na sua casa pela manhã? seus pares, se há bullying ou outra vivên-
— Que horas você toma café? cia de violência.)
— Você faz alguma tarefa da casa? “ Se você estiver com algum problema, para
quem você pede ajuda quando está lá?”
( Observar no relato da criança ou do(a)
adolescente se traz questões de gênero no • Atividades extracurriculares:
cuidado com a casa, se ela(e) ajuda ou é a(o) “ Obrigada. Me conte um pouco sobre o que
responsável pelas tarefas domésticas). faz quando não está na escola.”
“ Pensando no seu dia a dia, o que você gosta ( Observar se a criança ou o(a) adolescente
ou não de fazer ou tem que fazer?” está inserida(o) em atividades extracurricu-
“Quem cuida de você?” lares e se tem interesse. Em caso afirmativo:)
“ Me conte como é a convivência na sua “ Você me falou que faz atividades depois
família.” (Observar se a criança ou o(a) ado- da escola. Me fala mais sobre elas? Você
lescente traz vivência de violência contra si ou faz algum curso?”
outros membros da família.)” ( Observar a relação da criança ou do(a) ado-
“ Me fale sobre a hora de dormir: o que lescente com as telas e se tem acesso a estí-
você faz antes de dormir? Você dorme em mulos que não estejam ligados a tablets, ce-
um quarto sozinha(o)? Você divide esse lulares e computadores. Em caso afirmativo:)
quarto com alguém?” “ Além dessa atividade, o que mais faz quan-
“ Que legal! Você falou coisas bem impor- do não está na escola?”
tantes sobre sua casa e sua família. Agora, (Explore o que ela(e) gosta ou não de fazer
gostaria de saber: o que vocês fazem em no contraturno escolar e nos momentos
família – passeiam, brincam?” de lazer.)
“ E o que vocês fazem para se divertir “ Você tem interesse em fazer alguma ativi-
em família?” dade fora da escola que ainda não faz?”
“ Você já me contou com quem você mora, ( Se a criança ou o(a) adolescente não falou
como é a convivência, sobre sua rotina. sobre a atividade de lazer.)
98
GUIA DE ESCUTA ESPECIALIZADA
“ O que faz para se divertir? Com quem gosta atendimento a crianças e adolescentes e os
de estar nesses momentos?” tipos de violência.
( Caso, nas questões anteriores, a criança “ Você sabe o nome deste lugar? Sabe por
ou o(a) adolescente mencione dispositi- que está nos visitando hoje?”
vos eletrônicos.) ( Caso a criança ou o(a) adolescente relate que
“ Você me disse que usa celular, tablet ou com- mantém um relacionamento, procure obter
putador. O que você gosta de fazer neles?” mais informação.)
( Observe qual a interação dela(e) com estes “Me fala sobre seu(sua) namorado(a).”
dispositivos, com que frequência os usa,
“Vocês namoram há quanto tempo?”
se é supervisionada pelos responsáveis e a
quem ele pertence.) “O que fazem juntos?”
“ Você me disse que gosta muito de assistir ví- “A sua família sabe sobre seu namoro?”
deo no celular. Me conta sobre esses vídeos.” “Me fala o que acha sobre o seu namoro.”
( Explorar seus conteúdos, aproveitando para Todas as informações devem ser registradas
levantar questões como violência sexual e no sistema de informação on-line, abastecendo
para averiguar se já assistiu vídeo inapropria- seu banco de dados e possibilitando fácil acesso
do para sua faixa etária.) pelos profissionais da rede que participam ou
“ Me fale sobre as regras da sua casa para o participarão do caso. Com os dados iniciais, será
uso desses aparelhos.” possível elaborar o Relatório de Estudo Psicos-
“ Alguma vez você já viu alguma coisa que social, Relatório sobre a Situação de Violência
você acha que não era para você, para pesso- contra a Criança e o(a) Adolescente e o PAICA, que
as da sua idade... para criança/adolescente?” são necessários para subsidiar as fases posterio-
res do atendimento.
• Autocuidado – noções sobre corpo
e sexualidade: O primeiro é o Relatório de Estudo Psicos-
social, neste deve-se registrar o momento atual
“ Lá no início, você me contou que [citar o
da família, da criança ou do(a) adolescente, seus
nome da pessoa] cuida de você. O que você
condicionantes individuais e coletivos, além de
já sabe sobre os cuidados que deve ter com
incentivar a família e a rede de apoio a buscar
seu próprio corpo?”
alternativas para não reproduzir padrões que
(Para crianças menores, recomenda-se usar facilitam a ocorrência de violência. Quanto mais
material suporte, com ilustrações do corpo, este documento puder captar e descrever a reali-
para auxiliar na identificação das partes ín- dade das vítimas, mais fiel será a identificação dos
timas e para compreender quais atividades riscos presentes em seu entorno e a possível e me-
de autocuidado ela(e) está capacitada(o) lhor proteção a ser incrementada (COSTA, 2003).
a fazer ou quem é o cuidador(a) responsá-
vel por fazê-las.) No Apêndice I, encontra-se um modelo do
primeiro relatório, o Relatório de Estudo Psicos-
“ Me conte sobre a hora do banho, do xixi social, e ele deverá ser compartilhado apenas
e do cocô.” com os serviços que necessitam de informações
( Neste momento, aproveitar para abordar para o cuidado e a proteção da criança ou do(a)
se há toque adequado e/ou inadequado – adolescente e de sua família.
quem pode tocar nas suas partes íntimas e
Os outros documentos são o Relatório
em que contexto.)
sobre a Situação de Violência contra a Crian-
ntes da próxima pergunta, o(a) profissional
A ça e o(a) Adolescente e o PAICA (Apêndices II
explica o que são os órgãos especializados no e III, respectivamente).
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CHILDHOOD BRASIL
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GUIA DE ESCUTA ESPECIALIZADA
• Registre o mais cedo possível tudo o que foi e a ação do(a) profissional diante da criança ou
contado: este relato deve seguir junto com do(a) adolescente pode representar uma opor-
a notificação para ser utilizado em procedi- tunidade única de mudar sua história, alteran-
mentos legais posteriores. do seu rumo. Os eventos negativos podem, em
muitas situações, contribuir com a família para
• No relatório, as declarações devem ser fiéis
a construção de uma nova relação e maneira de
ao que foi contado, não cabendo o registro de
cuidar de seus filhos.
qualquer impressão pessoal. Por ter caráter
confidencial, ele deve ser liberado somente a Uma postura humana aos protocolos não
quem necessite de dados para agir e apoiar a revitimizantes podem ajudar a criança ou o(a) ado-
criança ou o(a) adolescente violada(o) sexu- lescente a superar as situações de violência sofrida,
almente, fisicamente. prevenindo a agudização de traumas que possam
prolongar seus efeitos negativos na vida adulta.
A atitude dos profissionais diante da crian-
ça ou do(a) adolescente que possivelmente O Apêndice II – Relatório sobre a Situa-
esteja em situação de violência conta muito na ção de Violência – é o exemplo de um mo-
forma com que ela(e) relatará os fatos. A atitude delo recomendado.
NÃO REVITIMIZAR!
11. O Decreto nº 9.603/2018 apresenta a seguinte definição de revitimização: “discurso ou prática institucional que submeta
crianças e adolescentes a procedimentos desnecessários, repetitivos, invasivos, que levem as vítimas ou testemunhas a reviver
a situação de violência ou outras situações que gerem sofrimento, estigmatização ou exposição de sua imagem” (BRASIL, 2018).
Casos de revitimização podem ser enquadrados como violência institucional tipificada na Lei nº 13.431/2017 e cujas penas
foram estabelecidas na Lei nº 14.321/2022.
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GUIA DE ESCUTA ESPECIALIZADA
É neste momento que os profissionais po- Os profissionais devem abrir espaço para o
dem realizar a pactuação dos encaminhamentos esclarecimento de dúvidas e checar os níveis de
necessários e medidas de urgência – atendi- risco e proteção da criança ou do(a) adolescente
mento de profilaxia, exame de corpo de delito e de sua família no retorno a seu domicílio.
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GUIA DE ESCUTA ESPECIALIZADA
O CPP, no art. 154, prevê pena de três meses dicina (1988), nos arts. 11, 102 e 105, autoriza
a um ano de detenção, ou multa para aquele que, quebra de sigilo “[...] quando se tratar de fato
sem justa causa, revelar segredo adquirido me- delituoso previsto em lei e a gravidade de suas
diante ofício ou profissão e cuja revelação venha consequências sobre terceiros crie para o médi-
causar danos a outrem (BRASIL, 1941). co o imperativo de consciência de denunciá-lo à
autoridade competente” (CFM, 1988). O Parecer
A Lei nº 13.431/2017 estabeleceu, no seu
nº 815/1997 do CFM enfatiza a quebra de sigilo
art. 24, que “violar sigilo processual, permitindo
nas situações de violência: “O médico tem o de-
que depoimento de criança ou adolescente seja
ver de comunicar às autoridades competentes os
assistido por pessoa estranha ao processo, sem
casos de abuso sexual e maus-tratos configuran-
autorização judicial e sem o consentimento do
do-se como justa causa a revelação do segredo
depoente ou de seu representante legal” é um cri-
profissional” (CFM, 1997).
me cuja pena prescrita é reclusão de um a quatro
anos, e multa (BRASIL, 2017a). Assim como o Código de Ética Médica, as
demais categorias profissionais preveem, em
Ou seja, os profissionais da rede de proteção
seus Códigos de Ética, a quebra de sigilo por justa
terão, por força natural do seu ofício, acesso a in-
causa, conforme segue:
formações íntimas sobre a pessoa atendida. Elas
devem ser preservadas, a não ser em casos que • Código de Ética do Profissional de Enferma-
exijam sua justificada revelação. gem (capítulo II, art. 82): garante sigilo pro-
fissional, “[...] exceto em casos previstos em
Todo e qualquer profissional tem o dever
lei, ordem judicial, ou com o consentimento
legal de fazer a notificação à autoridade compe-
escrito da pessoa envolvida ou de seu repre-
tente quando souber ou tiver fortes indícios de cri-
sentante legal” (COFEN, 2007).
mes tipificados no Código Penal. O(A) profissional
da área de Saúde não pode esquecer que existe • Código de Ética Profissional do Psicólogo
um bem maior em relação ao sigilo profissional (Resolução nº 010/2005): no art. 10, “[...]
a ser preservado: a integridade da vida humana. excetuando-se os casos previstos em lei, o
psicólogo poderá decidir pela quebra de sigi-
A Lei de Contravenções Penais, no seu art. 66,
lo, baseando sua decisão na busca do menor
refere-se ao crime de omissão de comunicação
prejuízo” (CFP, 2005).
de crime. Ela prevê multa para aquele que deixar
de comunicar à autoridade competente delito de • Código de Ética do Assistente Social (Reso-
ação pública, de que teve conhecimento no exer- lução nº 273/1993): no art. 18, “A quebra do
cício de função pública, desde que a ação penal sigilo só é admissível, quando se tratar de
não dependa de representação. situações cuja gravidade possa, envolvendo
ou não fato delituoso, trazer prejuízo aos
De forma clara, para os profissionais da
interesses do usuário, de terceiros e da cole-
saúde, o Código de Ética Médica, aprovado pela
tividade” (CFESS, 1993).
Resolução nº 1.246 do Conselho Federal de Me-
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GUIA DE ESCUTA ESPECIALIZADA
menta a Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017, que NAÇÕES UNIDAS. Conselho Econômico e
estabelece o sistema de garantia de direitos da Social das Nações Unidas. Resolução nº 20/2005.
criança e do adolescente vítima ou testemunha Diretrizes para a justiça em assuntos envolven-
de violência. Diário Oficial da União, Brasília, do crianças vítimas ou testemunhas de crimes.
2018. Disponível em: www.planalto.gov.br/cci- [S.l.]: ECOSOC, 2005.
vil_03/_ato2015-2018/2018/decreto/D9603.htm.
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sobre o sistema de garantia de direitos da criança
SANTOS, B. R.; GONÇALVES, I. B. (Orgs.). Pro-
e do adolescente vítima ou testemunha de violên-
teção em rede: a implantação de Centros de Aten-
cia, de que trata a Lei nº 13.431, de 4 de abril de
dimento Integrado no Brasil na perspectiva da Lei
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BRASIL. Ministério Público. Conselho Nacio- Brasil, SNDCA, 2022.
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SANTOS, B. R.; IPPOLITO, R. Guia de Refe-
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CFESS – CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SO- Educação, 2ª edição, 2020.
CIAL. Lei nº 8662, de 13 de março de 1993. Código
de Ética do Assistente Social. CFESS, 1993.
Bibliografia complementar
CFM – CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA.
Resolução CFM nº 1.246, de 8 de janeiro de 1988.
BRASIL. Ministério da Cidadania. Secretaria
Código de Ética Médica. Brasília: CFM, 1988.
Nacional de Assistência Social. Parâmetros de
CFM – CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. atuação do Sistema Único de Assistência Social
Parecer CFM nº 815/1997. Brasília: CFM, 1997. (SUAS) no sistema de garantias de direitos da
criança e do adolescente vítima ou testemunha
CFP – CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA.
de violência. Brasília: SNAS, 2020.
Resolução CFP nº 010/2005. Código de Ética Pro-
fissional do Psicólogo. Brasília: CFP, 2005. BRASIL. Conselho Nacional das Defensoras e
Defensores Públicos-Gerais. Manual de orienta-
COFEN – CONSELHO FEDERAL DE ENFERMA-
ção para a atuação dos defensores públicos da
GEM. Código de Ética dos Profissionais de Enfer-
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especializada e depoimento especial da Lei nº
COSTA, L. F. E. Quando acaba em malmequer? 13.431/17. Brasília: CONDEGE, 2021.
Reflexões acerca do grupo multifamiliar e da visita
SANTOS, B. R.; GONÇALVES, I. B.; ALVES JÚ-
domiciliar como instrumentos da psicologia clíni-
NIOR, R. T. A. Protocolo brasileiro de entrevista
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forense com crianças e adolescentes vítimas ou
OIT – ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO testemunhas de violência. São Paulo; Brasília:
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SÃO PAULO. Ministério Público do Estado de
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Iorque: ONU, 1989. São Paulo: MPSP, 2020.
107
CHILDHOOD BRASIL
Apêndices
108
GUIA DE ESCUTA ESPECIALIZADA
Naturalidade: Brasília – DF
Telefone: (62) 3333-3333 Cel.: (62) 9 9999-999 (Mãe), (62) 9 8888-8888 (Pai)
E-mail: gabriela@xyz.com.br
CPF: XXX.XXX.XXX-XX
RG: X.XXX.XXX
RESPONSÁVEL 1
CPF: 111.111.111-11
Parentesco: Mãe
E-mail: keila@xyz.com.br
RESPONSÁVEL 2
CPF: 222.222.222-22
Parentesco: Pai
E-mail: carlos@xyz.com.br
109
CHILDHOOD BRASIL
Exemplo de preenchimento:
• Conselho Tutelar (CT) encaminhou a adolescente Gabriela para atendimento neste órgão após
ser notificado pela escola que a adolescente, durante atividade de prevenção à violência física,
revelou que vem sendo agredida fisicamente pelo padrasto de forma rotineira.
• A solicitação de atendimento encaminhada pelo CT a este órgão registra que “foi feito
atendimento com a mãe e com o padrasto da adolescente, que relataram que Gabriela tem
dado muito trabalho, tira notas baixas e não respeita as regras. Que, por vezes, usam de
castigos físicos como forma de correção”.
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GUIA DE ESCUTA ESPECIALIZADA
8º ano do
Gustavo da Silva Santos Irmão 13 Estudante
ensino fundamental
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CHILDHOOD BRASIL
7. Histórico sociofamiliar
• Se conheceram no trabalho, namoraram por 1 ano e ficaram casados por 15 anos. Estão
separados há cerca de 3 anos, por desgastes da relação.
• Após a separação, fizeram acordo de guarda e visitas. Pai participa da rotina dos filhos por
meio de ligações telefônicas e vídeos. Eles o visitam quinzenalmente.
• Gabriela relata que a relação com seu pai é “normal” e o vê quinzenalmente. Com relação
aos outros familiares, diz que frequenta a casa da avó Yasmin e a do seu tio João, e que gosta
muito de “brincar” com seus primos e comer batata frita na casa de sua avó. Diz que gosta
“quase o tempo todo” de ficar em casa, porque nem sempre tem com quem brincar ou fazer
alguma atividade.
• Mãe relata que o desenvolvimento de Gabriela se deu dentro de parâmetros normais e não
pontua fatos marcantes.
• Afirma que a filha sempre apresentou dificuldades na escola, necessitando de aulas de reforço
desde o ensino fundamental. A adolescente, entretanto, só diz ter dificuldade em matemática.
• Mãe e padrasto estão juntos há 2 anos. Mãe acha o relacionamento positivo e não relata
histórico de violência familiar.
• Afirma que filha e padrasto se davam bem, quando a mãe começou a namorar. A mudança do
companheiro para a casa da família trouxe dificuldades na relação deles.
• Afirma que a filha reclama constantemente da conduta do padrasto e a forma que ele intervém
em sua educação, relata que o padrasto “perde a paciência”, “grita de vez em quando” e as
vezes “dá uns tapas pra ensinar”.
• A renda é oriunda do trabalho fixo do padrasto como cozinheiro, com direitos trabalhistas
garantidos. Não acessam a política de assistência social. Mãe saiu do mercado de trabalho no
início do relacionamento com o padrasto.
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HABITAÇÃO
Espécie: urbana
Tipo: apartamento
Número de cômodos: 6
Número de quartos: 3
ESCOLARIZAÇÃO
Turno: Matutino
Observações: Afirma se sentir bem no ambiente escolar, que não falta às aulas e não tem o costume
de “matar aula”. Gosta das aulas de artes e história e manifesta interesse em aprender melhor inglês.
113
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Observações: Participa de atividades esportivas somente na escola e não tem acesso a políticas
de cultura e lazer. Manifesta interesse em fazer musculação, porém, diz não saber onde
fazer gratuitamente.
JUSTIÇA
SAÚDE
Criança/adolescente possui algum problema grave de saúde ou possui necessidades específicas? Não.
Criança/adolescente faz uso de drogas? Sim – Gabriela afirma fazer uso de álcool com os amigos.
Algum familiar possui algum problema grave de saúde ou de incapacitação física? Não.
ASSISTÊNCIA SOCIAL
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DADOS DA REVELAÇÃO
A família relatou episódio de violência? (Se sim, descreva e especifique as datas das últi-
mas ocorrências):
A mãe esteve presente no atendimento neste órgão especializado e informou ter dificuldade
na relação com Gabriela, que às vezes usa de “tapas” para corrigi-la e que o padrasto também,
quando perde a paciência, usa castigos físicos, como o uso do cinto”.
O documento encaminhado pela escola ao CT registra que a adolescente relatou durante a aula,
que: “Meu padrasto sempre me dá uma surra quando faço algo que ele não goste. Ele pega o cinto
e me manda ficar quieta e me bate com o cinto nas minhas pernas e na minha bunda”.
A solicitação de atendimento encaminhada pelo CT a este órgão especializado registra que “foi
feito atendimento com a mãe e com o padrasto da adolescente, que relataram que Gabriela tem
dado muito trabalho, tira notas baixas e não respeita as regras. Por isso, às vezes, usam de castigos
físicos como forma de correção”.
Sim. A adolescente relatou que depois que apanha do padrasto, ela fica com uns “vergões” e
manchas roxas, que depois desaparecem.
115
CHILDHOOD BRASIL
10. Parecer
Orientações de preenchimento:
O(A) profissional não deve manifestar juízo de valor. Também deve apontar os aspectos que podem
contribuir para a solução dos maus tratos e violação de direitos.
Exemplo de preenchimento:
• Como estratégia de pertencimento, tem buscado espaços que o colocam em risco, como o uso
de álcool e compartilhamento de nudes em redes sociais.
• Observou-se também que a adolescente não tem acesso a informações de qualidade acerca de
seus direitos sexuais e reprodutivos
• A relação conflituosa foi manifestada por ambos os lados, os genitores confessaram utilizar atos
que julgam “educacionais”, mas que segundo os parâmetros da lei podem ser entendidos como
violência física. Portanto, há urgência na inserção dos adultos em programas de orientação.
116
GUIA DE ESCUTA ESPECIALIZADA
• Fatores de Risco: a moradia no mesmo local que os supostos autores da violência; uso
inadequado das redes sociais e práticas que podem ser arriscadas (como o compartilhamento
de nudes); uso de redes sociais por tempo extenso e sem supervisão; ausência de espaço
adequado para tratar sobre direitos sexuais e reprodutivos; uso de castigos físicos;
desproporcionalidade entre o erro e o ato reparatório; não intervenção nos conflitos; tendência
deles serem escalados, se repetirem e serem caracterizados como violência física.
• Os fatos narrados, comparado aos parâmetros legais, indicam a ocorrência de práticas análogas
ao da violência física e seus autores necessitam de orientação e responsabilização e a criança/
adolescente, diante do sofrimento e necessidade de reorientação nas ações de seu cuidado, de
suporte e proteção.
Exemplo de preenchimento:
Encaminhamento para a Unidade Básica de Saúde (UBS): realizar exame de avaliação em saúde
física e psíquica da adolescente, para verificar possíveis impactos dos maus tratos físicos e exame
de saúde física e psíquica para a genitora e o padrasto.
Encaminhamento para a escola: fazer gestão junto a escola para avaliação acerca da dificuldade
de aprendizagem.
Responsáveis: Juliana Rodrigues (Assistente Social), Maria Gonçalves (Pedagoga), Juliana da Silva
(Médica), Roberta Moraes (Psicóloga), Francisco de Castro (advogado)
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12. Atualizações dos órgãos da rede de proteção à criança e ao(à) adolescente sobre o caso
Orientações de preenchimento: este espaço é reservado para o registro de dados de eventuais es-
tudos psicossociais realizados por outros órgãos da rede de proteção. Informações mais volumosas
devem ser carregadas no sistema em formato de documento de arquivo.
Observações:
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Naturalidade: Brasília – DF
Telefones: (62) 3333-3333 Cel.: (62) 9 9999-999 (Mãe), (62) 9 8888-8888 (Pai)
E-mail: gabriela@xyz.com.br
Registro civil:
CPF: XXX.XXX.XXX-XX
RG: X.XXX.XXX
RESPONSÁVEL 1
CPF: 111.111.111-11
Parentesco: Mãe
E-mail: keila@xyz.com.br
RESPONSÁVEL 2
CPF: 222.222.222-22
Parentesco: Pai
E-mail: carlos@xyz.com.br
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CHILDHOOD BRASIL
DADOS DA REVELAÇÃO
Orientações de preenchimento:
Atenção! A data e local da violência deve ser indagado apenas para o(a) responsável. Se possível,
deverá constar a data do último contato entre a criança/adolescente e o(s)/a(s) suposto(s)/a(s)
agressor(es) e se residem no mesmo local.
Exemplo de preenchimento:
• O documento encaminhado pela escola ao CT registra que a adolescente relatou durante a aula,
que: “Meu padrasto sempre me dá uma surra quando faço algo que ele não gosta. Ele pega o cinto
e me manda ficar quieta e me bate com o cinto nas pernas e na minha bunda”. E segundo o registro
da escola, a adolescente vem sendo “espancada” pelo padrasto de forma rotineira.
• Durante o atendimento, a mãe da adolescente, ao falar sobre a relação com a filha, relatou
que ela e o padrasto estão tendo dificuldades na educação e relacionamento com ela e que
por isso, dão uns “tapas” e “perdem a paciência.”
Naturalidade: Brasília – DF
Telefone: (62) 3333-3333 Cel.: (62) 9 9999-999 (Mãe), (62) 9 8888-8888 (Pai)
E-mail: gabriela@xyz.com.br
CPF: XXX.XXX.XXX-XX
RG: X.XXX.XXX
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RESPONSÁVEL 1
CPF: 111.111.111-11
Parentesco: Mãe
E-mail: keila@xyz.com.br
RESPONSÁVEL 2
CPF: 222.222.222-22
Parentesco: Pai
E-mail: carlos@xyz.com.br
3. Plano de ação
NECESSIDADES IDENTIFICADAS
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Este espaço é reservado para o registro de informações do atendimento inicial em saúde realizado
no órgão competente e dos encaminhamentos necessários para os órgãos da rede de proteção.
Ao preenchê-lo, o(a) profissional de saúde deverá estar atento(a) a não expor desnecessariamente
a criança ou o(a) adolescente atendido(a), pois o documento – diferente do relatório do
estudo psicossocial e outros instrumentais – ficará também em posse dos familiares/
acompanhantes. Deve-se evitar descrições como: “possui hímen íntegro...”, “... não possui
hematomas”, entre outras.
Exemplo de preenchimento:
Encaminhamentos:
Observações:
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CHILDHOOD BRASIL
5. Avaliação interdisciplinar:
Embora este campo seja destinado à avaliação interdisciplinar, oriunda do estudo de caso feito
entre os profissionais responsáveis pelo atendimento no órgão especializado e a proposição de
ações que visem reparar o direito violado, ele não deve conter informações detalhadas sobre o
caso. Ao preenchê-lo os profissionais devem lembrar que a família levará consigo uma cópia do
Paica, portanto, a linguagem deve ser acessível e suficiente para que compreendam a avaliação e
as providências que serão tomadas, tanto pelos entes públicos quanto pela própria família.
Exemplo de preenchimento:
• Mediante os fatos analisados, também avaliamos como importante que os adultos (genitora
e padrasto) sejam inseridos em programas de orientação de forma que consigam desenvolver
novas habilidades educativas e tenham espaço de diálogo e compartilhamento de experiências
parentais. Ainda avaliamos como imprescindível a inclusão dos adultos em serviços de saúde
física e psíquica.
6. Encaminhamentos:
• Sugerir a adolescente oportunidades de cursos existentes e oferecidos pela Rede que podem ser
de seu interesse.
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Ao CT para:
• Fazer gestão junto à escola para que temas relativos aos direitos sexuais e reprodutivos façam
parte do currículo.
À UBS para:
Ao CREAS para:
À Defensoria Pública:
Observações:
Cada órgão especializado deve possuir uma lista com os serviços disponíveis da rede de
proteção e indicar nesse campo aqueles que foram identificados como responsáveis pelas metas
supracitadas. Deve conter nome do serviço, endereço, horário de funcionamento, contatos
telefônicos e e-mail.
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7. Metas e prazos
Exemplo de preenchimento:
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GUIA DE ESCUTA ESPECIALIZADA
Responsáveis: Juliana (assistente social), Maria (pedagoga), Juliana (médica), Roberta (psicóloga),
Cláudia (agente de polícia), Francisco (advogado).
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