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POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS

ACADEMIA DE POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS

PEDOFILIA:
DEFINIÇÕES E PROTEÇÃO
POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS
ACADEMIA DE POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS

PEDOFILIA:
DEFINIÇÕES E PROTEÇÃO

Administração: Dra. Cinara Maria Moreira Liberal


Belo Horizonte – 2020
PEDOFILIA:
DEFINIÇÕES E PROTEÇÃO

Coordenação Geral
Dra. Cinara Maria Moreira Liberal

Subcoordenação Geral
Dr. Marcelo Carvalho Ferreira

Coordenação Didático-Pedagógica
Rita Rosa Nobre Mizerani

Coordenação Técnica
Dr. Helbert Alexandre do Carmo

Conteudista:
Dr. Guilherme da Costa Oliveira Santos
Dra. Isabela Franca Oliveira
Larissa Dias Paranhos

Produção do Material:
Polícia Civil de Minas Gerais

Revisão e Edição:
Divisão Psicopedagógica – Academia de Polícia Civil de Minas Gerais

Reprodução Proibida
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 3

2 A VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES ................... 4

3 CRIMES SEXUAIS CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES ........................... 8


3.1 Crimes previstos no Código Penal Brasileiro ...................................... 8
3.2 Crimes previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente ............ 12
3.3 As redes de exploração sexual de crianças e adolescentes ............ 15

4 A PEDOFILIA....................................................................................................... 17
4.1 O que é a pedofilia? .............................................................................. 17
4.2 Pedofilia é crime? ................................................................................. 18
4.3 O pedófilo criminoso ............................................................................ 19
4.4 Como a pedofilia é tratada pelos tribunais brasileiros ...................... 22

5 AS FORMAS DE ATUAÇÃO DO ABUSADOR ................................................... 24


5.1 A abordagem tradicional ...................................................................... 24
5.2 A abordagem virtual ............................................................................. 27

6 COMO RECONHECER QUE UMA CRIANÇA OU ADOLESCENTE PODE ESTAR


SOFRENDO ALGUM TIPO DE VIOLÊNCIA? ..................................................... 30
6.1 Os sinais da violência sexual .............................................................. 30
6.2 As consequências advindas após a violência sexual ....................... 35
6.3 A Síndrome do silêncio ........................................................................ 37

7 A REDE DE PROTEÇÃO DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES ...................... 39


7.1 A Constituição Federal e demais leis.................................................. 39
7.2 A Lei nº 13.431/2017 e o sistema de garantia de direitos da criança e
do adolescente vítima ou testemunha de violência........................... 41
7.3 Atuação da Polícia Civil de Minas Gerais ........................................... 41
7.4 Atuação do Conselho Tutelar .............................................................. 50
7.5 O papel dos pais na proteção das crianças e adolescentes ............. 52
7.6 Como e onde denunciar ....................................................................... 59

8 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 62

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 63
1 INTRODUÇÃO

As crianças e adolescentes são as principais vítimas de violência em todas as


partes do mundo e, também, no Brasil. Eles são submetidos a mais situações de
vitimização do que outras partes da população, incluindo estupros, exposição à
violência doméstica, castigos corporais, abusos físicos, bullying, entre outras, e tudo
isso se deve, principalmente, à sua condição de vulnerabilidade e dependência.
Neste cenário, os problemas relativos à violência sexual vêm ganhando cada
vez mais visibilidade, devido à sua abrangência e gravidade. O combate a essa triste
realidade e preservação dos direitos e garantias de crianças e adolescentes exige a
ativa participação de todos, incluindo não apenas o Estado e instituições criadas
especificamente para esse fim, mas, em especial, toda a comunidade e as famílias.
Considerando isso, pretende-se, através deste curso, informar, orientar,
sensibilizar e conscientizar as pessoas sobre as principais formas de violência sexual
contra crianças e adolescentes, sobretudo dentro dos próprios lares, e instrui-las para
que procedam a denúncias junto aos órgãos e instituições responsáveis.
Para tanto, serão feitos breves apontamentos históricos acerca das formas de
violência praticadas contra crianças e adolescentes no Brasil e no mundo, bem como
apresentados dados atualizados sobre a prática das várias formas de violência sexual
em âmbito nacional. Somado a isso, para que se compreenda a abrangência desses
atos, serão analisados os crimes relacionados à violência sexual e apresentadas as
principais características dos criminosos sexuais, incluindo suas formas e locais de
atuação. Neste ponto, também será realizada uma análise sobre a pedofilia, o que ela
de fato significa e quais as suas implicações práticas e jurídicas.
Também neste curso, serão analisados os mais relevantes sinais que podem
indicar a ocorrência de violência sexual em diversos ambientes, incluindo o próprio o
lar, lugar que deveria representar um porto-seguro e constituir um ambiente saudável
para o crescimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes enquanto pessoas
e cidadãos. Na sequência, serão expostas as mais comuns consequências
decorrentes da prática da violência sexual. Ao final, considerando todo o exposto, será
feita uma breve abordagem sobre a rede de proteção existente para a salvaguardar
os direitos inerentes a esses pequenos seres humanos em estágio de formação,
incluindo as leis existentes no Brasil, a atuação dos Conselhos Tutelares e da Polícia
Civil de Minas Gerais e o papel dos pais e responsáveis neste cenário (incluindo as
medidas de proteção), pois, como sabemos, a família é o núcleo fundamental da
sociedade e é nela que deve estar o pilar de proteção das crianças e adolescentes.
3
2 A VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

A violência contra crianças e adolescentes é um fenômeno que sempre esteve


presente na história da humanidade, havendo relatos de abandono, mutilação genital,
bárbaras punições, imposição de casamento a crianças do sexo feminino, iniciação
sexual por parentes, oferecimento de crianças virgens em rituais de magia negra, e
outras formas de violência contra menores (PACHECO; CABRAL, 2013).
Apesar de integrarem um grupo assinalado por sua vulnerabilidade, haja vista
constituírem pessoas em pleno estágio de desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, por muito tempo, essa situação foi ignorada e nenhum mecanismo
de proteção foi criado para superar ou, ao menos, minimizar essa fragilidade de
crianças e adolescentes, ainda que de forma parcial.
Certamente, os atos de violência praticados contra o público infantojuvenil,
isto é, a criança, que, de acordo com o art. 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA), é a pessoa até 12 anos de idade
incompletos, e o adolescente (aquele entre 12
e 18 anos de idade), devem ser rechaçados e
punidos com mais eficácia do que os demais e,
neste contexto, a violência sexual em todas as
suas formas merece ainda maior reprimenda.
Acredita-se que a prática da violência sexual contra os meninos e meninas
esteja ligada à própria evolução da sociedade e às suas leis. Em um passado
longínquo, diante da ausência de leis específicas, escassez de informação, baixa
expectativa de vida e aspectos culturais, crianças e adolescentes poderiam estar
intimamente ligados a questões sexuais, mormente praticados entre membros da
própria família (POLASTRO; ELEUTÉRIO, 2016).
Com o desenvolvimento da sociedade e a definição dos direitos humanos, às
crianças e adolescentes foram reconhecidos direitos e garantias, fatores estes que
contribuíram para a evolução da humanidade como um todo. Porém, apesar do
reconhecimento da titularidade de direitos fundamentais, tais como o direito à vida, à
saúde e à dignidade, previstos na Constituição Federal de 1988 (CF/88) e no ECA, a
violência sexual contra crianças e adolescentes ainda é uma realidade.
Em linhas gerais, a violência sexual – que será melhor analisada no próximo
capítulo – consiste em toda atuação (dentro ou fora da família) que constranja o menor
a praticar ou presenciar ato de cunho sexual, incluindo a exposição do corpo em foto
ou vídeo por meio eletrônico. Traduz-se em uma das mais graves violações dos
4
direitos humanos de crianças e adolescentes e “é a mais abjeta, pois submete a
criança a um conjunto de relações e sentimentos para os quais ela não está preparada
[...]” (MPMG, 2010, p. 8). Trata-se de um problema de saúde pública, com altos índices
de prevalência e consequências que podem perdurar por curtos ou longos períodos
das vidas das vítimas e suas famílias (ROVINSKI; PELISOLI, 2020).
Diante deste cenário, para confirmar a importância da luta contra a violência
sexual, a Lei nº 9.970, de 17 de maio de 2000, instituiu o dia 18 de maio como o Dia
Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.

No dia 18 de maio de 1973, Araceli Sanches, de 8 anos de idade, foi sequestrada por membros de uma
<
família do Espírito Santo. A menina foi espancada, drogada, violentada e morta pelos criminosos. Seu corpo foi
encontrado desfigurado por ácido, numa mata em Vitória (CHILDFUND BRASIL, 2016).

Para expor e analisar a situação da violência


sexual no Brasil, exatamente no dia 18 de maio deste
ano, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos realizou uma coletiva online, na qual foi
divulgado um balanço sobre as denúncias feitas ao
Disque Direitos Humanos (Disque 100), cujos dados
de 2019 apontaram o registro de 159 mil denúncias,
dos quais 86,8 mil referem-se a violações de direitos
de crianças ou adolescentes, um aumento de, aproximadamente, 14% em relação a
2018. Dentre os registros, identificou-se que as denúncias de violência sexual
corresponderam a 11%, um total de cerca de 17 mil ocorrências (MMFDH, 2020).
Não obstante esses dados apontem a gravidade da situação, os números
revelam, também, que o assunto violência sexual deve ser tratado com cuidado, já
que, muitas vezes, pode ser silenciosa e as denúncias não correspondam à realidade.
A violência sexual sempre foi, tradicionalmente, subnotificada e essa questão,
impõe-nos uma necessária reflexão, sobretudo em virtude do período de quarentena
devido à COVID-19. Inúmeras escolas e creches ainda não estão funcionando e
muitas crianças e adolescentes, que, antes, ficavam praticamente o dia todo fora de
casa, continuam isolados e esta é uma situação que gera bastante preocupação.
Muito embora o isolamento seja uma medida eficaz para evitar a propagação
e letalidade do vírus, acredita-se que os casos de violência sexual contra menores
aumentaram, seja porque muitos desses atos de violência são praticados dentro da
5
própria comunidade e por pessoas conhecidas dos menores ou porque eles passaram
a estar mais tempo online. Somado a isso, o isolamento interrompeu o principal canal
de denúncias utilizado por essas vítimas para relatar os abusos sofridos: o professor.
O professor, de acordo com a diretora-presidente do Instituto Liberta, Luciana
Temer (apud SOUZA, 2020), é um adulto que tem condições de perceber esse tipo
de situação, seja devido a uma marca física, por
mudança no comportamento ou, inclusive, uma
denúncia da própria criança ou adolescente.
Sem ele, hoje, muitas dessas vítimas estão
impossibilitadas de se encontrarem com uma
pessoa de confiança e fora do ambiente familiar.
Neste cenário, além das omissões, tabus e o medo como fatores para que
denúncias de violência sexual não sejam feitas, as vítimas mais novas têm, até
mesmo, dificuldade de compreender que estão sofrendo um abuso.

Quando a escola fala sobre sexualidade, respeitadas as devidas idades, você cria um gatilho para que a
criança conte a própria experiência. Quando a professora explica o que são as partes íntimas, onde pode
pegar, ela se dá conta da violência que está sofrendo (TEMER apud SOUZA, 2020).

Porém, com a limitação das crianças e adolescentes unicamente ao ambiente


doméstico, houve um rompimento no ciclo de parte das denúncias, com o aumento da
subnotificação, e isso pode ser evidenciado a partir de números. A título de exemplo,
em Minas Gerais, os dados apontam uma alarmante redução no número de denúncias
e ocorrências no período da pandemia. Conforme dados do Armazém SIDS_REDS,
no mês de março de 2019, foram registradas 359 ocorrências relacionadas a crimes
de violência contra crianças e adolescentes, ao passo que, em março deste ano, foram
registradas apenas 230, uma redução de quase 36%. A mesma discrepância foi
observada nos meses seguintes, conforme se verifica no gráfico abaixo:

Crianças e adolescentes vítimas de crimes relacionados a violência sexual -


Minas Gerais Janeiro a Julho 2019/2020
500
383 359
400 323 342 350
304 300 271 300
267 268
300 230 235
199
200
100
0
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho
2019 2020

Fonte: Armazém REDS_SIDS

6
Constata-se que, em todos os meses deste ano, os números de denúncias
foram inferiores aos registrados em 2019, mas a diferença é muito superior nos meses
de confinamento. No total, de janeiro a julho de 2019, foram feitos 4.376 registros de
crimes relacionados à violência sexual contra crianças e adolescentes, contra 3.794
registros no mesmo período de 2020. Dentre esses registros, foram comunicados
2.269 estupros de menores nos seis primeiros meses de 2019 e 1.723 em 2020.
Complementando essas informações, em
âmbito nacional, um levantamento feito pela
Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH)
identificou que 73% dos atos de violência sexual
contra o público infantojuvenil ocorrem na casa da
vítima ou do suspeito e a maioria das violações é
praticada pelo próprio pai ou padrasto da criança
ou adolescente; um total de 40% das denúncias
feitas. Em 87% dos registros, o suspeito é do sexo
masculino e, em 62% dos casos, é adulto, com idade entre 25 e 40 anos. As vítimas,
em 46% das denúncias, são adolescentes do sexo feminino, com idades que variam
entre 12 e 17 anos (MMFDH, 2020).

<

Assista ao vídeo da campanha Maio Laranja da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente (SNDCA), publicado no dia 18 de maio deste ano (Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração
Sexual de Crianças e Adolescentes), disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=3qy871LdwJs#action=share>.

Em síntese, pode-se afirmar que a violência sexual contra as crianças e


adolescentes ocorre, muitas vezes, nas sombras, mas ela ainda está presente em
todos as partes do mundo, independentemente da condição econômica do país ou de
seus cidadãos.
Por outro lado, felizmente, apesar de existir desde os tempos mais remotos,
condutas dessa natureza passaram a ser repudiadas e reprimidas pela sociedade
como um todo. Mas, muito ainda precisa ser feito e, para isso, cabe a nós, em um
primeiro momento, conhecer e compreender quais são as condutas que caracterizam
os crimes relacionados à violência sexual contra crianças e adolescentes. É o que se
pretende no segundo capítulo deste curso.

7
3 CRIMES SEXUAIS CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

A violência sexual pode ser definida como todo ato ou jogo sexual, de natureza
hetero ou homossexual, em que o agressor possui um estágio de desenvolvimento
psicossexual mais avançado do que o da criança ou adolescente vítima. O objetivo
é estimulá-lo(a) sexualmente ou utilizá-lo(a) para satisfação sexual própria ou de
terceiros. Fundamenta-se em relação de poder e pode abranger carícias, manipulação
dos órgãos sexuais, mama ou ânus, voyeurismo, pornografia, exibicionismo e o
próprio ato sexual com ou sem penetração (SÃO PAULO, 2007).
A legislação brasileira criminaliza várias condutas que configuram a violência
sexual contra menores, podendo ser divididas em abuso sexual e exploração sexual.
O ABUSO SEXUAL infantojuvenil é o ato praticado por aquele que usa o menor
para satisfazer o seu desejo sexual, ou seja, “é qualquer jogo ou relação sexual, ou
mesmo ação de natureza erótica, destinada a buscar o prazer sexual com crianças ou
com adolescentes” (MPMG, 2010, p. 25). Essa violência pode ocorrer dentro ou fora
do âmbito familiar, no ambiente virtual ou fora dele.
Já a EXPLORAÇÃO SEXUAL, segundo a
Lei nº 13.431, de 04 de abril de 2017, art. 4º, III, ‘b’,
é o uso da criança ou adolescente em atividade
sexual para obter lucro, ganhos financeiros ou
outra forma de compensação e pode ocorrer de
modo presencial ou virtual. “Ocorre no contexto da prostituição, pornografia, nas redes
de tráfico e no turismo com motivação sexual” (MMFDH, 2020, p. 5).
Basicamente, a principal diferença reside no fator lucro: enquanto no abuso
sexual utiliza-se da sexualidade da criança ou adolescente com o fim de praticar atos
de natureza sexual, na exploração, almeja-se o lucro a partir da prática desses atos.
Considerando isso, façamos uma breve análise sobre os principais desses
crimes, sejam eles praticados no ambiente virtual ou não.

3.1 Crimes previstos no Código Penal Brasileiro

O Código Penal (CP) trata de alguns crimes relacionados à violência sexual em


que a vítima pode ser uma criança ou um adolescente. O primeiro, que constitui uma
forma de abuso sexual, é o ESTUPRO (CP, art. 213, caput1), o qual é cometido pelo

1
Trata-se do enunciado dos artigos de lei. Quando o artigo possui outros elementos, como parágrafos, alíneas e incisos, ao se referir à parte
inicial do artigo, fala-se em “caput” (IBIAPINA, 2014).
8
homem ou mulher que obriga alguém, mediante
violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal
(introdução do pênis na vagina) ou a praticar ou
permitir que com ele se pratique outro ato
libidinoso (sexo anal, oral, masturbação...). Caso
a vítima tenha menos de 18 anos de idade ou mais
de 14, a punição pode variar entre 8 e 12 anos de prisão. Portanto, considera-se
estupro tanto a situação em que o adulto obriga uma adolescente de 15 anos a com
ele manter relação sexual quanto quando ele a obriga a praticar sexo oral nele, ou
ainda, quando pratica forçadamente sexo oral nela.
Se a vítima for menor de 14 anos, fala-se em ESTUPRO DE VULNERÁVEL2 e
a pena varia entre 8 e 15 anos de prisão. A punição é mais severa se da conduta
resultar lesão corporal de natureza grave (10 a 20 anos) – como, por exemplo,
trazer risco de morte para o menor – ou morte (12 a 30 anos) (CP, art. 217-A).

O ESTUPRO DE VULNERÁVEL caracteriza-se independentemente do consentimento da vítima menor de 14 anos


ou do fato de ela já ter mantido relações sexuais antes do crime ou, ainda, da existência de relacionamento amoroso
com o agente. Portanto, QUALQUER PESSOA (com mais de 18 anos) que pratica a conjunção carnal ou outro ato libidinoso com
menino ou menina com menos de 14 anos comete o crime de estupro de vulnerável. Vide CP, art. 217-A, § 5º; Súmula nº 593 do Superior
Tribunal de Justiça (STJ).

Outro crime que pode ser praticado contra o menor é a IMPORTUNAÇÃO


SEXUAL, que é o praticar contra alguém e sem o seu consentimento ato libidinoso
com o objetivo de satisfazer o próprio prazer sexual ou de terceiro (CP, art. 215-
A). Um exemplo ocorre quando um homem ejacula furtivamente em uma adolescente
de 15 anos dentro de um ônibus. A pena é de 1 a 5 anos de prisão, se o ato não
constitui crime mais grave. Assim, por exemplo, caso haja o uso de violência ou grave
ameaça, estará caracterizado o crime de estupro (e não a importunação sexual). Este
crime não se aplica para vítimas com menos de 14 anos.

Sobre a prática de atos libidinosos diversos da conjunção carnal com menos de 14 anos, o STJ tem mantido
o entendimento no sentido de sempre configurar-se o delito de estupro de vulnerável, independentemente de
violência ou grave ameaça ou de eventual consentimento da vítima. Nesse sentido, é a decisão do STJ no Agravo Regimental no
<

Recurso Especial nº 1830026 RJ 2019/0229370-8, disponível em <https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/860006275/agravo-


regimental-no-recurso-especial-agrg-no-resp-1830026-rj-2019-0229370-8?ref=serp>.

2
Também se considera vulnerável aquele que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato,
ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência (CP, art. 217-A, § 1º). Nesses casos, também há estupro de vulnerável.
9
Também pode ser praticado contra vítima
menor o ASSÉDIO SEXUAL, que é o constranger
(criar situação constrangedora, importunar) alguém
para obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da condição de superior
hierárquico (chefe) ou ascendência inerentes ao
emprego, cargo ou função. Nestes casos, a pena varia de 1 a 2 anos quando a
vítima é adulta e é aumentada em até 1/3 se a vítima for menor de 18 (CP, art. 216-A).
Também viola a dignidade sexual de crianças e adolescentes a CORRUPÇÃO
DE MENORES, que ocorre quando o homem ou a mulher “induzir alguém menor de
14 anos a satisfazer a lascívia (prazer sexual) de outrem” (CP, art. 218). A pena
varia de 2 a 5 anos de prisão. Neste crime, o autor convence a vítima a satisfazer
o desejo sexual de um terceiro. É o crime praticado pelos mediadores e daqueles
que se aproveitam, em geral, da prostituição ou degradação moral.

Assim, por exemplo, poderia o agente induzir a vítima a fazer um ensaio fotográfico,
completamente nua, ou mesmo tomar banho na presença de alguém, ou
simplesmente ficar deitada, sem roupas, fazer danças eróticas, seminua, com
roupas minúsculas, fazer streap-tease etc., pois essas cenas satisfazem a lascívia
de alguém [...] (GRECO, 2018a, p. 105).

Para configurar esse crime, a vítima menor


de 14 anos não pode ser submetida à conjunção carnal ou à prática de qualquer
outro ato libidinoso, pois, neste caso, haverá o estupro de vulnerável (e não a
corrupção de menores).
Também é abuso sexual contra o público infantojuvenil a SATISFAÇÃO DE
LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE, que consiste
em “praticar, na presença de alguém menor de 14 anos, ou induzi-lo a presenciar,
conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de
outrem” (CP, 218-A). A pena é de 2 a 4 anos. Aqui,
o menor não pratica atos de natureza sexual, mas a
sua presença representa uma fonte de prazer sexual
para terceiros. Um exemplo ocorre quando dois
adultos mantêm relações sexuais na frente de uma
criança e veem nisso uma fonte de prazer sexual.
Além dos crimes que constituem abuso sexual, o Código Penal também trata
de condutas que configuram a exploração sexual. Um deles é o FAVORECIMENTO
DA PROSTITUIÇÃO OU DE OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE
10
CRIANÇA OU ADOLESCENTE OU DE VULNERÁVEL (CP, art. 218-B), que consiste
em submeter, atrair ou induzir à prostituição ou outra forma de exploração sexual
qualquer menor3. Também pratica o crime, quem facilita a prostituição ou outra
forma de exploração e aquele que impede ou dificulta que o menor abandone tais
práticas. É autor do crime, ainda, aquele que pratica a conjunção carnal ou outro
ato libidinoso com adolescente prostituído com
idade entre 18 e 14 anos e o proprietário, gerente ou
responsável pelo local em que se verifiquem essas
práticas. A pena varia entre 4 e 10 anos de prisão e
se o crime tiver por fito a obtenção de vantagem
econômica, o agente também deve pagar multa.

Em TODOS os crimes analisados neste capítulo, o autor pode ser um HOMEM ou uma MULHER, assim como
a vítima pode ser uma criança ou adolescente do sexo masculino ou feminino. No mesmo sentido, o crime
pode ocorrer em relação hetero ou homossexual (homem com homem e mulher com mulher).
<

Além disso, TODOS esses crimes têm a pena AUMENTADA se o crime é praticado com a participação (concurso) de duas ou mais
pessoas ou, ainda, se o autor é ascendente (pai ou mãe, avô ou avó...), padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro,
tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela (CP, art. 226, II). A
pena para TODOS esses crimes também é AUMENTADA se do crime resultar gravidez ou se o agente transmitir à vítima doença
sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador [...] (CP, art. 234-A).

Por fim, há o RUFIANISMO, que ocorre quando alguém “tirar proveito da


prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se
sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça” (CP, art. 230). Se a vítima for
menor de 18 e maior de 14 anos, a punição varia de 3 a 6 anos de prisão e multa.

Na PROSTITUIÇÃO, os atos sexuais são negociados em troca de pagamentos, que pode incluir, além do
dinheiro, necessidades básicas (alimentação, vestuário, abrigo) ou o consumo de bens e serviços (hotéis,
restaurantes, bares, shoppings, butiques, diversão). Trata-se de prática pública, visível (ou não) ou semiclandestina, utilizada
<

amplamente e justificada como necessidade da sexualidade humana, principalmente a masculina [...].


A prostituição tem várias formas – garotas(os) de programa, em bordeis, de rua, em estradas –, serviços e preços. Levantamentos
apontam que os menores, em geral, na prostituição de rua (cidades, portos, estradas, articulada com o turismo sexual e o tráfico para
fins sexuais), ou em bordéis (na Região Norte em situação de escravidão). Muitos são moradores de rua, tendo vivido situações de
violência física ou sexual e/ou de extrema pobreza e exclusão, de ambos os sexos, pouco ou não escolarizados. Trata-se de trabalho
extremamente perigoso e aviltante, sujeito a todo o tipo de violência, repressão policial e discriminação, pelos quais crianças e
adolescentes não escolhem, mas são a ele levados pelas condições e trajetórias da vida, induzidos por adultos, por suas carências e
imaturidade emocional, bem como pelos apelos da sociedade do consumo. Neste sentido, não são trabalhadores do sexo, mas
prostituídos, abusados e explorados sexualmente, economicamente e emocionalmente (FALEIROS, 2004, p. 78-79 apud GRECO, 2018a).

3
Também é vítima desse crime a pessoa que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato
(CP, art. 218-B, caput).
11
3.2 Crimes previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente

Tratando-se do ECA, os crimes relacionados à pornografia infantojuvenil estão


previstos nos arts. 240 a 241-E e, neste contexto, é forçoso destacar que as várias
formas de violência sexual contra crianças e adolescentes têm crescido de forma
assustadora e desenfreada nas últimas décadas, sobretudo devido ao fácil acesso à
internet, à modernização dos meios de comunicação e à variedade de equipamentos
e mecanismos para captura de imagens e vídeos criados, tais como os smartphones,
as câmeras fotográficas e as filmadoras. Todos esses fatores têm facilitado, cada vez
mais, a obtenção de fotos e vídeos relacionados à pornografia infantojuvenil.
É certo que a internet faz parte do nosso cotidiano e nos proporciona inúmeros
benefícios, que vão desde o lazer, o entretenimento, a comodidade de fazer compras
e contratar serviços sem sair de casa, a facilidade de realizar operações financeiras
através de um simples celular, a busca de informações, os estudos, etc. Contudo, a
internet também, devido à (falsa) sensação de
anonimato, tornou-se um ambiente fértil para a
prática de muitos delitos (especialmente durante
a pandemia do COVID-19) e, neste cenário, os
crimes relacionados ao abuso e à exploração
sexual de crianças e adolescentes também
ganhou um infeliz destaque. A internet não é um universo sem lei e, por isso, as ações
que violam direitos e são praticadas nesse ambiente também estão sujeitas às
devidas sanções para garantir a máxima efetividade da dignidade humana, incluindo
aí a dignidade sexual de crianças e adolescentes.
Assim, um dos crimes previstos no ECA (art. 240, caput) é a PRODUÇÃO DE
PORNOGRAFIA INFANTOJUVENIL, que consiste em produzir, reproduzir, dirigir,
fotografar, filmar ou registrar cenas de sexo explícito ou pornográfica4 envolvendo
crianças e adolescentes com o objetivo de satisfazer o próprio agressor ou para
comercialização. A pena é de 4 a 8 anos de
prisão e multa, punição esta que também se
aplica a quem agencia, facilita, recruta, coage
ou intermedeia a participação de menores em
cenas de sexo explícito ou pornográfica, ou
ainda quem com eles contracena.

4
Cena de sexo explícito ou pornográfica é, segundo o art. 241-E do ECA, “qualquer situação que envolva criança ou adolescente em atividades
sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente para fins primordialmente sexuais”.
12
Também é crime a VENDA DE PORNOGRAFIA INFANTOJUVENIL (ECA, art.
241), incluindo a comercialização e exposição à venda de fotografias, vídeos ou outros
registros que contenham cenas de sexo explícito ou pornográfica envolvendo
criança ou adolescente. A pena é de prisão de 4 a 8 anos e multa.
Outro crime é a DIVULGAÇÃO DE PORNOGRAFIA INFANTOJUVENIL (ECA,
art. 241-A), praticada por quem oferecer, trocar, transmitir, distribuir, publicar ou
divulgar imagens, vídeos ou outro registro contendo
cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo
menores por qualquer meio, inclusive por meio de
sistema de informática ou telemático. A pena é de
3 a 6 anos de prisão e multa, que será igualmente
imposta àquele que garante os meios ou serviços
para que se proceda ao armazenamento desse conteúdo e/ou assegura o acesso
a ele pela internet.

Divulgar conteúdos contendo cenas de sexo explícito ou pornográficas envolvendo crianças e adolescentes,
ainda que acompanhados de mensagens pedindo ajuda para identificar e localizar os agressores, é CRIME.
Se você compartilha, está ajudando ainda mais a perpetuar essa prática criminosa, além de prolongar o sofrimento de meninos e
meninas e violar os seus direitos fundamentais e à dignidade. Além disso, você pode ser responsabilizado criminalmente por isso.

Também ocorre a violência sexual contra menores quando há a POSSE DE


PORNOGRAFIA INFANTOJUVENIL, que se materializa
no adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio,
fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha
cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo
criança ou adolescente (ECA, art. 241-B). A pena varia
de 1 a 4 anos de prisão e multa.

Manter em smartphones e outros dispositivos fotos e vídeos com cenas de sexo explícito ou pornográficas
envolvendo crianças e adolescentes é o mesmo que armazenar ou possuir e constitui a POSSE DE PORNOGRAFIA
INFANTOJUVENIL. Se algum amigo, parente, conhecido ou até desconhecido envia-lhe materiais dessa natureza para demonstrar sua
indignação ou, até mesmo, com o objetivo tentar ajudar a identificar e localizar os criminosos, apague imediatamente e avise-o(a) de
que esta conduta também configura uma forma de violência sexual (o crime de DIVULGAÇÃO DE PORNOGRAFIA INFANTOJUVENIL). Se
você armazena, também, pratica crime e pode ser responsabilizado por isso.

Ainda em relação à exploração sexual de crianças e adolescentes, pode-se


citar a PRODUÇÃO DE PORNOGRAFIA INFANTOJUVENIL SIMULADA. Trata-se
13
da montagem, isto é, a conduta de “simular a participação de criança ou adolescente
em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem
ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual”
(ECA, art. 241-C). A pena é de 1 a 3 anos de prisão e multa.

Para caracterizar esse crime, não é necessário que o fato ilustrado tenha ocorrido na vida real, pois mesmo
que seja por intermédio de montagem ou edição de imagens há o cometimento do crime previsto no art. 241-C do
ECA. O principal objetivo do legislador é desestimular a produção desse tipo de imagem, de forma a não influenciar outras pessoas a
buscarem esse tipo de conteúdo (POLASTRO; ELEUTÉRIO, 2016, p. 255).

Igualmente ligado à pornografia infantojuvenil praticada no ambiente virtual


está o ALICIAMENTO DE CRIANÇAS, que consiste em “aliciar, assediar, instigar ou
constranger, por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela
praticar ato libidinoso” (ECA, art. 241-D). As
punições para este crime são a pena de 1 a 3 anos
de prisão e a multa, que também são aplicadas a
quem facilita ou induz o acesso da criança a
material pornográfico objetivando com ela
praticar ato libidinoso (ECA, art. 241-D, § 1º, I). Um
exemplo ocorre na situação em que o adulto mostra a pornografia para a criança com
a intenção de despertar nela o interesse sexual e, depois, praticarem atos libidinosos.
Também caracteriza esse crime praticar o aliciamento com o intuito de induzir
a criança a se exibir de forma pornográfica ou sexualmente explícita (ECA, art.
241-D, § 1º, II). É o caso, por exemplo, do criminoso que pede à criança que se exiba
nua ou seminua ou, ainda, em poses eróticas diante de uma webcam (câmera de
internet), ou pessoalmente (MPMG, 2010, p. 19).
O aliciamento de crianças consubstancia-se na conduta conhecida como Child
Grooming, isto é, o assédio sexual pela internet, que se desenvolve através de
“contatos assíduos e regulares desenvolvidos ao longo do tempo e que pode envolver
a lisonja, a simpatia, a oferta de presentes, dinheiro ou supostos trabalhos de modelo,
mas também a chantagem e a intimidação” (MPMG, 2010, p. 19).

É crime a conduta de convidar ou “cantar” uma criança para com ela manter uma relação libidinosa (sexo,
beijos, carícias, etc.). Esse tipo de assédio é muito comum na internet, em salas de bate-papo (chats) ou redes sociais
(Facebook, Instagram, WhatsApp, Telegram, MySpace, entre outros).

14
Por fim, constitui uma forma de violência sexual
a SUBMISSÃO DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE À
PROSTITUIÇÃO OU EXPLORAÇÃO SEXUAL, que é
o “submeter criança ou adolescente à prostituição ou
à exploração sexual (ECA, art. 244-A). A pena é de 4
a 10 anos de prisão e multa, bem como a perda de
bens e valores empregados na prática criminosa em
benefício do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente do respectivo Estado ou
Distrito Federal em que foi praticado o crime, ressalvado o direito de terceiro de boa-
fé. Essas mesmas penas são aplicadas em relação ao proprietário, gerente ou
responsável pelo estabelecimento em que se constate a submissão de criança ou
adolescente às práticas de prostituição ou à exploração sexual. Um efeito
obrigatório da condenação é a cassação da licença de localização e funcionamento
do estabelecimento acima referido (ECA, art. 244-A, §§ 1º e 2º).

Muitas pessoas acreditam que a violência sexual somente acontece quando há contato físico com as crianças e
adolescentes. Contudo, neste capítulo, foi possível perceber que ela ocorre de muitas formas, inclusive quando não
há esse contato. Veja o que pode ser considerado violência sexual:
<

 Forçar ou encorajar a criança a tocar um adulto de modo a satisfazer o seu desejo sexual;
 Fazer ou tentar fazer a criança se envolver em ato sexual;
 Forçar ou encorajar a criança a se envolver em atividades sexuais com outras crianças ou adultos;
 Expor a criança a ato sexual ou exibições com o propósito de estimulação ou gratificação sexual;
 Usar a criança em apresentação sexual como fotografia, brincadeira, filmagem ou dança;
 Tocar a boca, genitais, bumbum, seios ou outras partes íntimas de uma criança com objetivo de satisfação dos desejos;
 Espiar ou olhar a criança se despindo, em momentos íntimos, tomando banho, usando o banheiro, com objetivo de satisfação sexual;
 Mostrar material pornográfico;
 Assediar a criança, fazer comentários erotizados sobre o corpo dela, fazer propostas sexuais, enviar mensagens obscenas por
telefone, bate-papo e outras ferramentas sociais de internet (ARCARI, 2016).

3.3 As redes de exploração sexual de crianças e adolescentes

Hoje, muito se enganam aqueles que acreditam que os casos de abuso sexual
infantojuvenil são sempre independentes e isolados entre si. Na verdade, muitos
criminosos têm o único objetivo de auferir lucros com a exploração sexual de menores.
Em diversas situações, os envolvidos não abusam das crianças e adolescentes, mas
integram organizações que ganham dinheiro com conteúdos dessa natureza. São as
chamadas “Redes de Exploração Sexual”, formadas por grupos de usuários e/ou
organizações que realizam a venda e troca de materiais relacionados ao abuso sexual
de menores. As ações criminosas não se limitam à manipulação de fotos e vídeos

15
contendo cenas de abuso sexual, extrapolando,
muitas vezes, até mesmo, para a realização de
videoconferências com abusos de crianças e
adolescentes em tempo real, intermediação e
venda de “encontros” com os menores e
agenciamento de pacotes de turismo sexual
com eles. Afora as situações de violência
sexual, os crimes podem ter relação com o trabalho escravo, o sequestro, o
constrangimento ilegal e a lavagem de dinheiro (POLASTRO; ELEUTÉRIO, 2016).
Além desses criminosos (que visam lucro com a violência sexual), há outros
que não fazem parte de negócios tampouco lucram com essa atividade. O objetivo
deles é usufruir do fácil acesso proporcionado pela tecnologia para obter materiais de
conteúdo pornográfico envolvendo menores para satisfazer os seus desejos sexuais.

Usuários que inicialmente buscam por fotos e vídeos de pornografia infantojuvenil na internet e sentem
prazer ao ver as cenas contidas nesses materiais são potenciais abusadores que, assim que tiverem a
oportunidade, poderão tentar abusar pessoalmente de crianças e/ou adolescentes. Tais pessoas são
diferentes de curiosos, que eventualmente já tiveram algum contato com esse tipo de conteúdo e não se
interessam em obter mais arquivos dessa natureza (POLASTRO; ELEUTÉRIO, 2016, p. 252).

Em 1997, ocorreu a famosa operação “Cathedral”, que ilustra com bastante clareza a utilização da
pornografia infantojuvenil como negócio. No caso, que ocorreu na Califórnia, uma menina de 8 anos ficou
sozinha com o pai de uma amiga de mesma idade, que registrou e transmitiu as cenas de abuso sexual através de uma webcam “ao
<

vivo” para centenas de usuários conectados em um site. O abusador recebia em tempo real sugestões dos usuários para fazer
determinadas ações com a vítima. Posteriormente, o material gravado era vendido em site especializado, gerando lucros aos envolvidos
no negócio. Um desmembramento dessa operação, em 1998, desmascarou o “Wonderland Club”, que comercializava esse tipo de
conteúdo com pelo menos 1.200 crianças abusadas. Mais de 100 pessoas em diversos países foram presas, devido à ligação com o
esquema, que envolvia o sequestro de crianças para produção dos materiais, entre outros crimes (POLASTRO; ELEUTÉRIO, 2016, p. 252).
Também sobre as “Redes de exploração sexual”, veja a decisão proferida pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em 02 de abril de
2019, na Apelação Criminal nº 0011226-49.2015.4.01.3900, referente à prática de estupro de vulneráveis e corrupção de menores.
De acordo com um trecho da decisão, as provas juntadas ao processo incluem laudos periciais, fotos, vídeos e diálogos de WhatsApp,
que comprovam a prática de conjunção carnal e atos libidinosos entre o autor e crianças e adolescentes menores de 14 anos, em cenas
pornográficas e de sexo explícito. As filmagens e fotos estariam aptas para venda ou troca no mercado da pedofilia. Disponível em:
<https://trf-1.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/890403553/apelacao-criminal-acr-apr-112264920154013900/ementa-890403628?ref=juris-tabs>.

Como se vê, várias são as condutas que configuram os crimes de violência


sexual contra crianças e adolescentes, para cuja prática o menor, nem sempre precisa
sofrer algum tipo de violência física ou ameaça, ou ser submetido a conjunção carnal
ou qualquer ato libidinoso. A simples montagem, assim como a divulgação, posse e
armazenamento de conteúdo caracterizam condutas criminosas, que devem ser
duramente reprimidas. É neste contexto que figuram os chamados pedófilos, sobre os
quais se abordará no próximo capítulo.
16
4 A PEDOFILIA

Ao tratarmos dos crimes de violência sexual contra crianças e adolescentes, é


natural e inevitável fazermos uma relação com a pedofilia, que é, sem dúvida, um dos
temas mais polêmicos neste cenário, sobretudo porque se tornou bastante comum
ouvirmos esse termo em noticiários, casos de grande repercussão e diversas
campanhas contra abusos sexuais de menores.
Mas, o que é a pedofilia? A pedofilia é crime? Todo criminoso sexual é pedófilo?
Como a pedofilia é tratada pelos tribunais brasileiros? Neste capítulo, sem pretender
esgotar o assunto, vamos responder a essas perguntas.

4.1 O que é a pedofilia?

Pedofilia é uma palavra de origem grega que decorre da junção dos vocábulos
gregos paidós (que denota criança ou menino) e
filia (inclinação, afinidade), indicando “amor por
crianças”, “afinidade com crianças”.
Para a Organização Mundial de Saúde
(OMS), a pedofilia é “um transtorno de preferência
sexual (parafilia) por crianças de ambos os sexos,
geralmente pré-púberes ou no início da puberdade (CID-10, F65.4)” (POLASTRO;
ELEUTÉRIO, 2016, p. 246). No âmbito da Psicologia, o termo pedofilia é usado para
denominar uma parafilia, que se caracteriza pela predileção de adultos por praticar
atos sexuais com crianças. Tratam-se de fantasias sexualmente excitantes,
impulsos sexuais ou comportamentos intensos e recorrentes envolvendo a atividade
sexual com crianças ou adolescentes (ROVINSKI; PELISOLI, 2020).
Nesse sentido, Hartz (apud MPMG, 2010, p. 11-12), psicóloga e bacharela em
Direito, especializada no atendimento a vítimas de abuso sexual, ensina que:

A pedofilia é a parafilia mais frequente e mais perturbadora do ponto de vista humano. É um transtorno de
personalidade, consequentemente um transtorno mental que se caracteriza pela preferência em realizar,
ativamente ou na fantasia, práticas sexuais com crianças ou adolescentes. Pode ser homossexual,
heterossexual ou bissexual, ocorrendo no interior da família e conhecidos ou entre estranhos.

O pedófilo é, portanto, a pessoa que tem um interesse sexual primário por


crianças e adolescentes, seja apenas do sexo masculino ou feminino, ou de ambos.
Trata-se de um transtorno mental e de comportamento, o que não implica dizer que

17
o pedófilo seja um doente mental ou tenha desenvolvimento mental incompleto
ou retardado. A pedofilia, na verdade, é uma doença da vontade e da personalidade
antissocial e constitui um tipo de doença mental que não exclui a culpabilidade5, isto
é, o autor pode ser considerado responsável por seus atos, pois sua inteligência
e vontade não são afetadas (POLASTRO; ELEUTÉRIO, 2016). Assim, em regra, o
pedófilo tem capacidade de entender o caráter ilícito dos seus atos e determinar-
se conforme esse entendimento. Nesse sentido, Hartz (apud MPMG, 2010, p. 11-12):

Embora a pedofilia seja uma patologia, o pedófilo tem consciência do que faz, sendo a prática do abuso
sexual fonte de prazer e não de sofrimento. [...] São pessoas que vivem uma vida normal, têm uma profissão
normal, são cidadãos acima de qualquer suspeita, o famoso “gente boa”, é mais provável um pedófilo ter um
ar normal do que um ar “anormal”. (grifo nosso)

Considerando, então, que o pedófilo tem consciência da ilicitude dos seus atos,
ou seja, de que são contrários às leis, pode-se afirmar que a pedofilia é um crime?

4.2 Pedofilia é crime?

Para entendermos se a pedofilia pode ser considerada um crime, é cogente


analisarmos duas questões. A primeira delas (e já apresentada) é o fato de a pedofilia
constituir o mero interesse sexual de um adulto por crianças e adolescentes.
Trata-se de uma parafilia, um transtorno mental. A segunda questão que deve servir
de base para a análise é o fato de, no Brasil, não existir nenhuma lei que criminalize
a pedofilia em si. Na verdade, no âmbito do nosso Direito Penal, vige o princípio da
legalidade, segundo o qual “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem
prévia cominação legal” (CF/88, art. 5º, XXXIX; CP, art. 1º). Em outras palavras, não
é possível que determinada conduta ou comportamento ou, ainda, um transtorno
mental (como é o caso da pedofilia) seja
considerado crime se não houver lei que assim
o determine. Logo, pode-se concluir que a
PEDOFILIA NÃO É CRIME.
Registre-se, porém, que, apesar de a
pedofilia não ser crime, este termo já foi usado
em diversos documentos oficiais. Assim, por exemplo, o Acordo de Cooperação entre
o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República do Panamá,

5
Culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se realiza sobre a conduta típica e ilícita praticada pelo agente. Em outras palavras, é o juízo
de reprovação pessoal que recai sobre o autor, por ter agido de forma contrária ao Direito, quando podia ter atuado em conformidade com a
vontade da ordem jurídica (GRECO, 2018b).
18
no campo da Luta Contra o Crime Organizado, ao tratar, no item 2, III, do art. 3º, do
intercâmbio de informações e dados e da tomada de medidas conjuntas para o
combate de atividades ilícitas, cita “atividades comerciais ilícitas por meios eletrônicos
(transferências ilícitas de numerário, invasão de bancos de dados, pedofilia e outros)”
(BRASIL, 2006). Também o Decreto nº 4.229, de 13 de maio de 2002, já revogado e
que dispunha sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), previa, no
item 143 do Anexo I, dentre as propostas governamentais, “combater a pedofilia em
todas as suas formas, inclusive através da internet”.
Muito embora a pedofilia não seja crime, a prática de condutas criminosas por
parte de pessoas portadoras desse transtorno – os pedófilos – é bastante comum e
precisa ser combatida. Mas, então, o pedófilo é um criminoso?

4.3 O pedófilo criminoso

Nenhuma pessoa portadora de pedofilia pode, num primeiro momento, ser


considerada criminosa. Tal impossibilidade justifica-se porque é possível que essa
pessoa tenha uma atração sexual por meninos e meninas e nunca pratique crime
algum. A simples atração (desejo, interesse) não pode ser considerada crime. Em
outras palavras, considerando que o pedófilo, em
regra tem plena consciência dos seus atos, ele
pode jamais praticar um ato de violência sexual
contra menores justamente porque sabe ser
errado (ROVINSKI; PELISOLI, 2020). Esse
pedófilo, exatamente por possuir discernimento e
capacidade de autodeterminação, mantém o seu desejo sexual por menores somente
em sua mente, não o manifestando através de condutas criminosas. Em síntese,
nestes casos, o pedófilo não é um criminoso porque não praticou qualquer
conduta ilegal.

A revisão da literatura aponta que os pedófilos podem manter seus desejos em segredo durante toda a vida,
sem nunca compartilhá-los ou colocá-los em prática no mundo real. Porém, quando essa prática da fantasia
acontece passa a existir um fator de risco potencial maior para a repetição da violência sexual. Alguns
pedófilos vão passar a agir somente mediante uma situação de estresse intenso, em que se sintam
fortemente pressionados. Outros não conseguem alcançar níveis adequados de satisfação sexual sem
envolver crianças. Esses últimos [...] são solitários e socialmente inábeis, e vão “mergulhando cada vez mais
profundamente em fantasias pedofílicas” (ROVINSKI; PELISOLI, 2020)

Então, o pedófilo apenas será criminoso a partir do momento em que utiliza


o corpo de uma criança ou adolescente para satisfazer o seu apetite sexual

19
fazendo (ou não) o uso de violência física. Nesse caso, o pedófilo pratica uma ou mais
das condutas criminosas já analisadas no capítulo anterior e descritas no Código
Penal ou no ECA, como, por exemplo, o estupro de vulnerável, o assédio sexual, a
posse de pornografia infantojuvenil, entre outras.
Infelizmente, é comum vermos a associação das agressões sexuais contra
menores à pedofilia. Porém, a literatura permite afirmar que os pedófilos são apenas
parte dos possíveis agressores e, em várias situações, eles podem nem colocar em
prática as suas fantasias sexuais envolvendo o público infantojuvenil (ROVINSKI;
PELISOLI, 2020). Portanto, é preciso desmistificar essa ideia errônea, já incutida na
mentalidade de toda a sociedade, de que pedofilia é crime e de que todo pedófilo é
um criminoso. PEDOFILIA NÃO É CRIME e NEM TODO PEDÓFILO É CRIMINOSO!

Assim, o agente pode ser pedófilo e nunca ter manifestado externamente seu pensamento, chegando, ao
máximo, a presentear com meros brinquedos uma criança que admira, sem manter com ela qualquer relação
sexual. O que se pune, na verdade, são as condutas praticadas pelos agentes, aplicando-se ao caso o direito
penal do fato, e não a mera condição pessoal [...]. Há um grande erro terminológico
empregado no Brasil nos dias de hoje quando se aborda o tema em comento (CASTRO;
BULAWSKI, 2011, p. 14).

Na verdade, existem diferentes tipos de


agressores sexuais de crianças e adolescentes e
o pedófilo pode ser um deles. Nesse sentido, se o
pedófilo é dotado de discernimento e capacidade de autodeterminação, deve ser
punido, conforme assevera a psicanalista Hisgail (apud MPMG, 2010, p. 12):

O fato de a pedofilia ser uma patologia não significa que o pedófilo não deva ser punido. [...] As estatísticas
têm mostrado que 80% a 90% dos contraventores sexuais não apresentam nenhum sinal de alienação
mental. São, portanto, juridicamente imputáveis. [...] Assim sendo, a inclinação cultural tradicional de se
correlacionar, obrigatoriamente, o delito sexual com doença mental deve ser desacreditada. A crença
de que o agressor sexual atua impelido por fortes e incontroláveis impulsos e desejos sexuais é infundada,
ao menos como explicação genérica para esse crime.

Portanto, em síntese, se um pedófilo


mentalmente sadio e capaz de compreender a
ilicitude dos seus atos decide exteriorizar a sua
atração sexual por crianças e adolescentes e
pratica determinada conduta que caracteriza
uma forma de violência sexual contra menores,
será ele evidentemente imputável6 e deverá ser punido na forma da lei.

6
A imputabilidade constitui-se de dois elementos: um intelectual (capacidade de entender o caráter ilícito do fato) e outro volitivo (capacidade
de determinar-se conforme esse entendimento) (BRODT, 1996 apud GRECO, 2018b). Portanto, no Direito Penal, um dos requisitos para que uma
20
<
Veja a decisão do STF no âmbito do Habeas Corpus nº 0087951.45.2020.1.00.0000 PE. Disponível em:
<https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/862022067/habeas-corpus-hc-182485-pe-pernambuco-0087951-4520201000000?ref=serp>.

Há situações, porém, em que pedófilos são doentes mentais que apresentam


problemas psicopatológicos e características alienantes e, nesses casos, em sua
maioria, são enquadrados como juridicamente inimputáveis 7, se o exame médico
feito em um processo judicial, assim os definir, pois não têm eles o discernimento
necessário ou a capacidade de autodeterminação. Na hipótese de esses pedófilos
(doentes mentais) exteriorizarem suas preferências sexuais na forma de estupros de
vulneráveis, corrupção de menores, etc., não poderão ser condenados, devendo ser
a eles aplicada a medida de segurança, conforme determina a legislação penal
brasileira (MPMG, 2010).
Por fim, ainda sobre este assunto, deve-se destacar que é possível e, inclusive,
bastante comum que pessoas não portadoras de pedofilia pratiquem a violência
sexual contra menores, conforme lição de Polastro e Eleutério (2016, p. 246):

[...] uma pessoa que abusa de uma criança nem sempre é um pedófilo, pois pode
se tratar de um abuso de ocasião e essa pessoa pode não ter o diagnóstico de
pedofilia. Pesquisas apontam que menos de 1% das pessoas diagnosticadas com
pedofilia chegam a abusar sexualmente de crianças e que esses abusos são
praticados principalmente por pessoas desprovidas desse distúrbio. (grifo
nosso)

Esses criminosos (não portadores da


pedofilia) praticam crimes sexuais contra crianças e adolescentes de forma ocasional
e por entenderem que suas vítimas são vulneráveis; aproveitam-se de determinada
situação e extravasam a sua libido com um menor, mas fariam mesmo se se tratasse
de uma pessoa adulta.

[...] ainda que comumente uma pessoa que pratica ato sexual com uma criança seja taxada como pedófila,
há, contudo, outras razões que podem levar a tal ato. Alguns dos exemplos citados por estudiosos do assunto
dão conta de que o estresse, problemas no casamento, ou a falta de um parceiro adulto, tal como o estupro
de pessoas adultas pode ter razões não-sexuais. Relata-se que a maioria dos abusadores não possui um
interesse sexual voltado primariamente para crianças, razão pela qual não se emoldariam ao termo clínico
de pedofilia (CASTRO; BULAWSKI, 2011, p. 16).

pessoa seja responsabilizada pelo crime cometido é que ela seja imputável, ou seja, entenda que a sua conduta configura um crime e tenha a
plena capacidade de conduzir a sua vontade de acordo com esse entendimento.
7
Sobre a inimputabilidade, determina o art. 26, caput, do CP, que: É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se
de acordo com esse entendimento (BRASIL, 1940).
21
Outro exemplo de indivíduos não pedófilos que praticam crimes de violência
sexual contra crianças e adolescentes são aqueles que produzem e/ou comercializam
a pornografia infantojuvenil para deleite de pedófilos. Esses “comerciantes” não têm
atração sexual por menores, mas se aproveitam do interesse de pedófilos para auferir
lucros no mercado da pornografia (CASTRO; BULAWSKI, 2011, p. 15). Neste sentido,
podem-se citar, ainda, as pessoas que promovem a prostituição infantojuvenil,
submetendo crianças e adolescentes aos abusos sexuais dos pedófilos criminosos.
Veja-se, portanto, que criminosos podem se aproveitar do interesse sexual de
pessoas portadoras de pedofilia por crianças e adolescentes para obterem lucro e,
sobre isso, cumpre lembrar a existência de redes de crime organizado pela internet
voltadas exatamente para atos dessa natureza, incluindo o abuso, a pornografia e a
exploração sexual de crianças e adolescentes, conforme já assinalado anteriormente.

Não se consegue calcular a soma de dinheiro que elas movimentam no Brasil e exterior, podendo até estar
ligadas a outros crimes, como tráfico de drogas e desvio de dinheiro. As pessoas que praticam esses atos
pela Internet podem ser chamadas de “ladrões da inocência”. Elas trocam informações, negociam imagens
pornográficas infantis, trocam desejos e fantasias sexuais das vítimas de abuso, merecendo por isso atenção
especial das autoridades.
O Brasil é um dos três países que mais utilizam a internet para cometer crimes ligados à pedofilia. Dados
indicam que [...] a quantidade de dinheiro que esses crimes movimentam é maior que a do tráfico de drogas
(MPMG, 2010, p. 27).

Vê-se, portanto, a amplitude dos crimes relacionados à violência sexual contra


crianças e adolescentes e que atentam contra a sua dignidade sexual. A questão é
extremamente grave.

4.4 Como a pedofilia é tratada pelos tribunais brasileiros

Diante de todo o exposto e considerando que os pedófilos, em regra, têm plena


consciência dos seus atos e, portanto, capacidade de compreender o caráter ilícito
dos fatos, os tribunais brasileiros, basilados
em laudos periciais, têm se manifestado pela
condenação desses indivíduos, que devem
responder pelos crimes cometidos.
Nesse sentido, em decisão do Supremo
Tribunal Federal (STF), proferida no Habeas
Corpus nº 0087951.45.2020.1.00.0000 PE, em 25 de março deste ano, a Ministra
Rosa Weber, fazendo referência a uma decisão do juiz de 1º grau, afirmou ser possível
que “o Transtorno de Preferência Sexual (Pedofilia), CID 10-F65.4 esteja presente na
22
quase totalidade dos casos previstos nos artigos 240 e ss da Lei nº 8.069/90 sem que
tal circunstância seja apta a trazer qualquer presunção de inimputabilidade” (BRASIL,
2020). Na sequência, confirmando a plena capacidade de os pedófilos entenderem a
ilicitude e gravidade dos seus atos ilícitos, Rosa Weber, na condição de Relatora,
ressaltou um trecho da decisão da Corte Regional Federal que não reconheceu o
indivíduo sob julgamento como inimputável:

[...] ainda que se reconheça a pedofilia como um transtorno mental, assim classificado pelo Código
Internacional de Doenças (10ª Conferência de Genebra), tal situação, por si só, não conclui a possibilidade de
incidência do previsto no art. 26, e seu parágrafo único, do Código Penal, no caso a pretendida
inimputabilidade do ora paciente.

No mesmo sentido, foi a decisão proferida pelo Desembargador Roberto


Midolla, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, na Apelação Criminal nº
481635.3/8-0000-000, demonstrando o entendimento de que a pedofilia não é vista
como uma doença que afeta a inteligência e a vontade do agente e, portanto, não
cabe inimputabilidade. Veja a decisão:

[...] o laudo pericial concluiu que o apelante era capaz de entender o caráter criminoso, mas sua
determinação é marcada pela compulsão doentia de atividade sexual com crianças, ou seja, a pedofilia.
Ocorre que isso não o beneficia, nos termos do artigo 26 do Código Penal. Tentou dissimular a sua conduta
perante Juízo, mas contou com detalhes no inquérito. Em razão disso, a absolvição pretendida, com medida
de segurança, não merece acolhimento (POLASTRO; ELEUTÉRIO, 2016, p. 246).

Vê-se, portanto, que, apesar de a pedofilia não ser um crime no Brasil, haja
vista não existir lei que assim a defina, os pedófilos que exteriorizam a sua atração
sexual por crianças e adolescentes através de condutas caracterizadoras de violência
sexual são, em regra, devidamente punidos e condenados, não recebendo qualquer
benefício penal.

23
5 AS FORMAS DE ATUAÇÃO DO ABUSADOR

A violência sexual contra crianças e adolescentes tem uma longa história no


Brasil e no mundo, como visto neste curso. Cada vez mais, somos bombardeados
com notícias de menores sofrendo as mais variadas formas de abusos e exploração
sexual em muitos lugares e ocasiões. Inúmeros criminosos (muitas vezes, pessoas
que antes não levantavam qualquer suspeita) são presos por delitos dessa natureza.
Mesmo quando os meios tecnológicos não eram suficientes para permitir a
aproximação de autores e suas vítimas, criminosos sexuais já existiam e utilizavam
suas próprias técnicas para alcançar os seus objetivos. Hoje, sobretudo, diante do
fácil acesso à internet e recursos tecnológicos, como smartphones, tablets e outros,
as formas e meios para praticar a violência sexual são ainda mais amplas.
Considerando isso, neste capítulo, serão apresentados os dois principais tipos
de abordagens realizadas pelos criminosos sexuais para alcançar novas vítimas.

5.1 A abordagem tradicional

Antes da criação da internet e da popularização dos mais diversos meios de


comunicação hoje existentes, os criminosos sexuais de crianças e adolescentes
limitavam-se apenas à região em que viviam. Nesse tipo de abordagem – denominada
‘Abordagem Tradicional’ –, os criminosos, geralmente, utilizam a estratégia de ser um
“amigo secreto”, aquele cuja existência as vítimas não podiam contar para ninguém.
Na visão de meninos e meninas, essa atuação dos criminosos pode não passar
de uma simples “brincadeirinha”, uma aventura secreta. Conforme explicam Polastro
e Eleutério (2016, p. 249), esse tipo de abordagem
pode ocorrer “na frente da escola, em um shopping
ou no parquinho, ou seja, geralmente em lugares
públicos e aparentemente seguros”. É possível,
também, que a abordagem (e o próprio abuso) ocorra
em consultórios médicos, transportes públicos e
particulares. Neste caso, fala-se em abordagem extrafamiliar, isto é, praticada por
pessoas fora do contexto familiar do menor.
Para se aproximarem das vítimas e ganharem a sua confiança, os criminosos
passam a agir conforme a necessidade delas, oferecendo-lhes aquilo que querem,
gostam e precisam. Em regra, para facilitar a aproximação das vítimas, os agressores
sexuais fabricam interesses comuns (brincadeiras e jogos, o gosto por determinados
24
tipos de filmes e músicas); dão presentes (doces, brinquedos, roupas) sem qualquer
motivo; oferecem passeios sem a companhia dos pais; e, aos poucos, criam laços de
amizade e confiança. Nessas abordagens, os criminosos apresentam-se como adultos
alegres, participativos e cooperativos, sempre dispostos a atender as necessidades e
desejos das vítimas, o que, muitas vezes, não é notado pelos pais (MPMG, 2010).
Com o passar do tempo, os abusadores sexuais passam a fazer parte da vida
das crianças e adolescentes, diminuindo a chance de eles se defenderem das
situações de abuso e, até mesmo, de negar seus pedidos, uma vez que passam a se
sentir devedores de toda a ajuda e agrados recebidos.
Depois que conseguem obter a confiança das vítimas, os criminosos sexuais
buscam ficar sozinhos com elas. Muitas vezes, são necessários vários “encontros”
para que eles toquem no assunto desejado, pois somente o fazem depois que os
menores se acostumam com o local para onde
são levados e sentem-se seguros quando
sozinhos com os novos “amigos”. Em dado
momento, o abuso acaba sendo concretizado
(POLASTRO; ELEUTÉRIO, 2016). Nessas
situações em que o agressor é uma pessoa
conhecida da vítima, os atos de violência sexual podem ser acompanhados de
“ameaças verbais e/ou de sedução, fazendo com que a criança ou adolescente
mantenha o silêncio por medo, vergonha ou para se proteger, ou mesmo para proteger
a família ou o próprio agressor” (SÃO PAULO, 2007, p. 16).
Há ocasiões, ainda, em que o agressor é uma pessoa totalmente desconhecida
da vítima do menor. Neste caso, a violência sexual, em regra, ocorre uma única vez,
de forma abrupta e, em regra, o abuso é acompanhado de violência física.

Como há ausência de qualquer vínculo com o agressor, a quebra do silêncio por parte da criança ou do
adolescente e de sua família é impulsionada e, por isso, a denúncia acontece mais facilmente. Acomete mais
frequentemente adolescentes do sexo feminino e a maioria dos casos acontece fora do ambiente doméstico,
sendo comuns as situações em que ocorre penetração vaginal, anal ou oral (SÃO PAULO, 2007).

Somado a isso, infelizmente, esse tipo de


abordagem também ocorre no âmbito intrafamiliar,
ou seja, dentro da própria família da criança ou
adolescente e, nesses casos, a aproximação entre
o abusador e o menor é ainda mais fácil e rápida.
Tradicionalmente, em sociedades patriarcais e
conservadoras, pessoas mais novas são educadas
25
a respeitar os mais velhos, não se limitando a seus pais ou irmãos, mas, também, os
avós, tios e primos. Por este motivo, a aproximação entre agressores e vítimas revela-
se quase imediata e a conquista da confiança dos menores é muito mais fácil. Nesses
casos, o local em que ocorrem os abusos é, geralmente, a própria residência da vítima
ou do parente (POLASTRO; ELEUTÉRIO, 2016).
Os abusadores e agressores sexuais, em regra, não se contentam com apenas
um “encontro”. Em quase todos os casos, eles anseiam continuar encontrando-se com
os menores até quando for possível, sempre com o objetivo de repetir os atos sexuais
e, em troca, oferecem-lhes mais e mais recompensas e presentes. Esses “encontros”,
normalmente, são registrados em fotos e vídeos, que passam a representar “troféus”
para os criminosos (POLASTRO; ELEUTÉRIO, 2016). Geralmente, as situações de
abuso infantojuvenil “começam lentamente, apenas com a prática de “carinhos”,
trocas de presente, brincadeiras íntimas que raramente deixam lesões físicas,
passando mais tarde para outros níveis mais íntimos de contato” (ARCARI, 2016).
As estatísticas brasileiras apontam que a
‘Abordagem Tradicional’ é praticada, com mais
frequência, por adultos do sexo masculino de convívio
da criança ou adolescente, como o pai, padrasto, avô,
um tio, um irmão mais velho, um amigo da família ou
um vizinho, apesar de existirem situações em que os
agressores são mulheres (ROVINSKI; PELISOLI,
2020). Nesses casos, a resistência para a quebra do silêncio é maior.
Diariamente vemos notícias de crianças e adolescentes abusados pelos
próprios familiares, e, quando meninas, em muitas situações, acabam engravidando
e arriscando as próprias vidas em uma gravidez de risco. Há pouco tempo, vimos a
história de uma criança, de 10 anos, que foi abusada durante anos pelo tio, na cidade
de São Mateus, no Espírito Santo. Depois de sentir fortes dores abdominais, a menina,
no dia 07 de agosto deste ano, procurou atendimento em uma unidade médica, onde
foi constatada a gravidez; uma gestação já com pouco mais de 22 semanas. A criança
foi levada para Recife/PE, onde passou por um aborto. O autor foi preso em Betim /
MG (FOLHAPRESS, 2020). Este é um dos muitos casos que, diariamente, chocam a
sociedade brasileira e precisa ser exemplarmente combatido.

<

O Código Penal, no art. 128, II, autoriza o aborto quando a gravidez resultar de estupro, sendo necessário
o consentimento da gestante ou, quando incapaz (como as crianças e adolescentes), do seu representante legal.
26
Infelizmente, grande parte dos abusos sexuais
intrafamiliares ainda se destacam como prevalentes
quando comparados àqueles praticados por pessoas
fora da família e sem vínculos com o menor.
Hoje, o acesso de pessoas não autorizadas e
desconhecidas em escolas está cada vez mais difícil,
sobretudo devido às fiscalizações voltadas para o combate ao comércio de álcool e
drogas e, isso, acaba também inibindo a atuação de criminosos sexuais, que optam
por não abordar as crianças e adolescentes pessoalmente.
Diante desses fatores, aliados à facilidade de acesso à internet e aos novos
meios de comunicação, tem se tornado cada vez mais comum a ‘Abordagem Virtual’.

5.2 A abordagem virtual

A internet, hoje, faz parte do nosso cotidiano. Diariamente, desenvolvemos


inúmeras atividades que estão, de alguma forma, interligadas à Rede Mundial de
Computadores. No entanto, como já apontado neste curso, a internet vem sendo
utilizada para o cometimento de muitas práticas criminosas e, dentre elas, crimes
relacionados à violência sexual contra crianças e adolescentes.
Com a popularização da internet e a implementação de várias facilidades, os
criminosos sexuais depararam-se com uma vantagem: a possibilidade de manterem-
se anônimos nos primeiros contatos com as vítimas. A atuação desses criminosos no
meio virtual, através da ‘Abordagem Virtual’, possibilita que eles alcancem um número
incalculável de vítimas simultaneamente e em quaisquer lugares, inclusive em outros
países, diferente dos criminosos que atuam com base na ‘Abordagem Tradicional’,
que se limitam, basicamente, à sua cidade/região. E, nesse período de distanciamento
social, muitas crianças e adolescentes revelam-se vítimas em potencial.

Durante o distanciamento social, as crianças permanecem mais tempo conectadas, com acesso a aplicativos
com criptografia ponto a ponto, redes sociais, plataformas de live streaming e inúmeras ferramentas que,
sem mecanismos adequados de proteção online, poderá dificultar o controle parental (BARRETO; FONSECA,
2020).

Essas pessoas mal-intencionadas usam todas as artimanhas disponíveis para


conseguir novas vítimas. O primeiro passo, é conquistar a confiança dos menores,
tornando-se, para tanto, seus “amigos virtuais”. Criminosos sexuais utilizam chats e
redes sociais para se aproximarem de suas vítimas e, neste cenário, salta aos olhos
a facilidade propiciada pelos smartphones. Hoje, inúmeras crianças com pouca idade
27
já têm acesso a esses aparelhos e utilizam diversos aplicativos de comunicação
instantânea, como o WhatsApp, Skype, Telegram, Facebook, Likee, TikTok, entre
outros, além das funcionalidades SMS, MMS e telefonia. Tudo isso abre uma gama
de possibilidades de acesso fácil e direto do agressor e abusador com suas vítimas.
Recentemente, a BBC News Brasil publicou uma matéria com o título “Likee: a
rede social ‘moda’ entre crianças que virou alvo de pedófilos”. Na reportagem, afirma-
se que a rede social Likee tornou-se um “refúgio” para crianças brincarem com filtros
divertidos e músicas e, também, um terreno fértil para aproximações suspeitas de
desconhecidos. Segundo consta, é comum encontrar comentários, como “Linda”,
“mora onde?”, “delícia” em vídeos de meninas de 12, 13 anos na rede. Assustadas
com essa situação, familiares têm se utilizado de redes sociais e lojas de aplicativos
para fazerem alertas. Diante das várias situações envolvendo menores, foi adicionado
ao aplicativo, no final de 2019, a função ‘controle dos pais’, que permite que eles
acessem o aplicativo no próprio celular, deixem algum conteúdo postado como
“privado” e o bloqueio de mensagens privadas com desconhecidos (TAVARES, 2020).

Lei a reportagem na íntegra em <https://www.bbc.com/portuguese/geral-53871669> e veja o relato de


<
algumas crianças, adolescentes e pais sobre os fatos ocorridos.

As redes sociais em geral são um terreno fértil para a atuação de criminosos


sexuais e trazem-lhes uma vantagem: os perfis das vítimas têm informações preciosas
sobre suas preferências, como filmes, comidas e passeios favoritos (POLASTRO;
ELEUTÉRIO, 2016). Muitos abusadores aproveitam-se dessas informações para se
aproximarem de crianças e adolescentes, fingindo possuírem gostos em comum.
Durante investigações criminais envolvendo esse tipo de crime, o que se verifica é
que os criminosos sexuais podem estar em todos os lugares: seja em uma rede social
ou salas de bate-papo, acessando jogos online, aplicativos para troca de mensagens
ou quaisquer outros ambientes virtuais que permitam a interação e o relacionamento.
Para a prática dos delitos, os criminosos sexuais enviam mensagens com teor
erótico (texting), solicitam fotos e vídeos que, já no início, podem conter indícios de
erotismo e sexualidade, inclusive mostrando as
partes íntimas (sexting). É comum, também, que os
criminosos solicitem às crianças e adolescentes que
ativem suas webcams ou câmeras do celular para
que suas imagens sejam capturadas. Em outras
28
situações, os criminosos, através de conversas com os menores, conseguem obter
informações particulares sobre suas famílias (endereço, nome dos pais e onde
trabalham, se têm irmãos, a escola em que estudam); enviam presentes; e, depois,
sob ameaças de matá-los ou causar-lhes algum mal grave (ou à família), obrigam-nos
a enviar conteúdo pornográfico. Há casos em que os criminosos marcam encontros
pessoais depois da escola, no cinema ou parque. Esses encontros, infelizmente, são
uma oportunidade para a prática de abusos sexuais e, até mesmo, sequestros.
Esses criminosos sexuais, geralmente, são adultos que utilizam perfis falsos,
passando-se por crianças e adolescentes; conhecem seus hábitos e gostos; sabem
elogiar e agradar; jogam os mesmos jogos e assistem os mesmos filmes e desenhos;
tudo para se aproximarem e ganharem a confiança dos
menores até chegar o momento de seduzi-los, convencê-
los e/ou chantageá-los para que forneçam imagens e
vídeos eróticos e sexuais e inclusive, encontros pessoais.
A violência sexual contra crianças e adolescentes,
como se vê, pode ocorrer de diversas formas, seja mediante contato físico – através
de atos sexuais (oral, anal, vaginal), beijos, carícias nos órgãos sexuais –, ou sem
esse contato – quando há “cantadas” obscenas, exibição dos órgãos sexuais com fim
erótico, pornografia infantojuvenil (poses, fotos e vídeos pornográficos ou contendo
sexo explícito com crianças e adolescentes). É possível que os abusos ocorram com
o emprego de violência física ou graves ameaças ou sem, quando os criminosos
sexuais se utilizam da sedução, persuasão, aliciamento, oferecimento de presentes e
outros agrados. Tratando-se de exploração sexual, os criminosos pedem ou obrigam
os menores a participarem de atos sexuais em troca de dinheiro ou outra forma de
pagamento, como moradia, comida, passeios e presentes (MPMG, 2010).
Diante do exposto, em resumo, as formas de abordagem ‘Tradicional’ e ‘Virtual’
podem ser comparadas no seguinte quadro:

Quadro 1 – Comparação entre as formas de abordagem dos abusadores


FORMA DE ATUAÇÃO ABORDAGEM TRADICIONAL ABORDAGEM VIRTUAL
O abusador já conhece a vítima? Geralmente sim Geralmente não
Parentes próximos e distantes, padrastos
Tipos de abusadores mais comuns Qualquer pessoa
/ madrastas e vizinhos
Local de atuação dos abusadores Região/Cidade em que mora Qualquer lugar
Local mais comum dos abusos sexuais presenciais Residência da criança Qualquer lugar privado
Pessoal, com o uso de presentes, doces e Anônima, com a utilização de ferramentas
Tipos de abordagem inicial
outras formas de recompensa de comunicação
Troca de material como arquivos de foto e vídeos Não Sim
Número de vítimas alcançadas Geralmente uma Várias
Fonte: POLASTRO; ELEUTÉRIO, 2016, p. 251.

29
6 COMO RECONHECER QUE UMA CRIANÇA OU ADOLESCENTE PODE ESTAR
SOFRENDO ALGUM TIPO DE VIOLÊNCIA?

Depois de estudar os tipos de violência sexual contra crianças e adolescentes,


os diversos crimes previstos na legislação brasileira, conhecer um pouco mais sobre
a pedofilia e entender as formas de abordagem realizadas pelos criminosos sexuais,
neste capítulo, serão abordados os sinais que indicam a possibilidade de uma criança
ou adolescente estar sofrendo ou ter sofrido algum tipo de violência, as consequências
advindas após a violência sexual e a chamada Síndrome do Silêncio.
Reconhecer que a criança ou adolescente está sofrendo algum tipo de violência
é essencial para protegê-la, afastá-la da convivência com o agressor, impedir que
novos atos aconteçam, encaminhá-la para o Sistema de Garantia de Direitos e
atendimento com equipes multidisciplinares e realizar a denúncia, que permitirá a
responsabilização do autor pelo crime praticado.
Toda a sociedade deve saber quais sinais servem como alerta de que algum
tipo violência pode estar ocorrendo. Alguns serviços, como assistência social, saúde
e educação, têm um papel ainda mais importante na identificação destas situações.

6.1 Os sinais da violência sexual

Como já estudamos, as maiores vítimas da violência sexual são crianças e


adolescentes do sexo feminino e os autores, em regra, são do sexo masculino e
familiares ou pessoas próximas à vítima. Em razão da representatividade do agressor
na vida desse menor, em muitos casos, a vítima possui uma grande dificuldade de
relatar a violência que sofreu para outra pessoa.
Há situações em que, devido à sua imaturidade
psíquica, a vítima não compreende a violação que
sofrera e demora anos para relatar os fatos a alguém.
Muitas vezes, o agressor apresenta aquele ato sexual
como um ato de carinho e cuidado para com a vítima,
que não tem o discernimento necessário para entender a sua finalidade.
Desta forma, é necessário conhecer e reconhecer sinais que alertam de que
algo não está bem com a criança ou adolescente. As vítimas geralmente apresentam
um conjunto de indicadores e, quase sempre, tentam se manifestar da sua própria
maneira. A avaliação por profissional especializado é essencial para a confirmação da
violência, caso o menor apresente alguns dos sinais que serão objeto de estudo.
30
ATENÇÃO!
Embora exames médicos e psicológicos específicos possam detectar sinais compatíveis com a violência sexual,
este tipo de violência é um fenômeno de difícil constatação, uma vez que o uso de violência física associado ao
abuso sexual está presente em uma parte pequena dos casos notificados e “o impacto psicológico que tal experiência pode causar nas
vítimas envolve uma dimensão muito particular, variável e subjetiva” (WELTER; et al, 2010).

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SPB) traz diversos indicadores de que a


criança ou adolescente pode estar sofrendo algum tipo de violência sexual. São eles:

Mudança de comportamento
O primeiro sinal a ser observado é uma possível mudança no padrão de comportamento das
crianças/adolescentes e costuma ocorrer de maneira repentina e brusca, que também pode se
apresentar com relação a uma pessoa específica, o possível abusador, portanto, de fácil percepção.
Por exemplo, se a criança/adolescente nunca agiu de determinada forma e, de repente, passa a agir;
se começa a apresentar medos que não tinha antes (do escuro, de ficar sozinha ou perto de
determinadas pessoas); ou, então, mudanças extremas no humor (era ‘super extrovertida’ e passa a
ser muito introvertida; ‘era super calma e passa a ser agressiva’). Como a maioria dos abusos
acontece com pessoas da família, às vezes, apresentam rejeição a essa pessoa, ficando em pânico
quando está perto dela, e a família estranha: ‘Por que você não vai cumprimentar fulano? Vá lá!’. São
formas que as vítimas encontram para pedir socorro e a família necessita ficar atenta e identificar
esta situação. Em outros casos, a rejeição não se dá em relação a uma pessoa específica, mas a uma atividade. A criança/adolescente não quer
ir a uma atividade extracurricular, visitar um parente ou vizinho ou mesmo voltar para casa depois da escola ou frequentar a própria escola ou
determinado esporte que tanto gosta (SPB, 2020).

Proximidade excessiva
Apesar de, em muitos casos, a vítima demonstrar rejeição em relação ao abusador, é preciso usar o bom senso para identificar quando uma
proximidade excessiva também pode ser um sinal. A violência costuma ser praticada por pessoas da família na maioria dos casos. Assim, por
exemplo, se, ao chegar à casa de familiares ou conhecidos, a criança/adolescente desaparece por horas brincando com um primo(a) mais
velho(a)/tio(a)/padrinho(a) ou se é alvo de um interesse incomum de membros mais velhos da família em situações em que ficam sozinhos sem
supervisão, é preciso estar atento ao que possa estar ocorrendo. Nessas relações, muitas vezes, o abusador manipula emocionalmente a vítima
que nem sequer percebe estar sendo vítima naquela etapa da vida, o que pode levar ao silêncio por sensação de culpa. Essa culpa pode se
manifestar em comportamentos graves no futuro como autolesões e até ideias suicidas ou o próprio suicídio (SPB, 2020).

Regressão
Outro indicativo de possível violência sexual é o de recorrer a comportamentos infantis, que a criança/adolescente já havia abandonado, mas
volta a apresentar de repente. Coisas simples, como fazer xixi na cama ou voltar a chupar o dedo, ou, ainda, começar a chorar sem motivo
aparente. Se isolar com medo, não ficar perto de amigos, não confiar em ninguém, não
sorrir ou usar roupas incompatíveis com o clima, como mangas longas, capuz (pode ser
sinal de autolesão) ou fugir de qualquer contato físico. A criança e o adolescente sempre
avisam, mas, na maioria das vezes, não de maneira verbal (SPB, 2020).

Segredos
Para manter o silêncio da vítima, o abusador pode fazer ameaças de violência física
e promover chantagens para não expor fotos ou segredos compartilhados pela vítima. É
comum também que usem presentes, dinheiro ou outro tipo de benefício material para
construir a relação com a vítima. É preciso explicar para os filhos que nenhum adulto ou criança mais velha deve manter segredos com ela que
não possam ser compartilhados com adultos de confiança, como a mãe ou o pai (SPB, 2020).

Hábitos
Uma vítima de abuso também apresenta alterações de hábito repentinas. Pode ser desde um mau desempenho escolar, falta de concentração
ou uma recusa a participar de atividades, até mudanças na alimentação (anorexia, bulimia) ou distúrbio do sono, como pesadelos, insônias ou
medo de ficar sozinha ou no modo de se vestir. A mudança na aparência pode ser também uma forma de proteção encontrada pela criança, como
uma menina se vestir como um menino na adolescência para fugir de possíveis violências (SPB, 2020).

31
Questões de sexualidade
As vítimas podem reproduzir o comportamento do abusador em outras crianças/adolescentes. Como, por exemplo, chamar os amiguinhos
para brincadeiras que têm algum cunho sexual ou algo do tipo; ou, a vítima que nunca falou de sexualidade e começa a fazer desenhos em que
aparecem genitais, podendo ser um indicador. Especialmente crianças que, ainda muito novas, passam a apresentar curiosidades excessivas ou
comportamentos como: “Quando ela, em vez de abraçar um familiar, dá beijo, acaricia onde não deveria, ou quando faz uma brincadeira muito
para esse lado da sexualidade”. O uso de palavras diferentes das aprendidas em casa para se
referir às partes íntimas também é motivo para se perguntar onde seu(sua) filho(a) aprendeu
tal expressão (SPB, 2020).

Questões físicas
Há também os sinais mais óbvios de violência sexual que deixam marcas físicas, as quais,
inclusive, podem ser usadas como provas à Justiça. Existem situações em que a
criança/adolescente acaba até mesmo contraindo infecções sexualmente transmissíveis ou
gravidez. Deve-se ficar atento a possíveis traumatismos físicos, lesões que possam aparecer,
roxos ou dores e inchaços nas regiões genitais ou anal, roupas rasgadas, vestígios de sangue ou esperma, dores ao evacuar ou urinar. Dores
inespecíficas como abdominal, cefaleia, em membros, torácica (afastadas as hipóteses biológicas) podem indicar sinais de alerta (SPB, 2020).

Negligência
Muitas vezes, o abuso sexual vem acompanhado de outros tipos de maus tratos que a vítima sofre em casa, como a negligência. Filhos que
passam horas sem supervisão ou que não tem o apoio emocional da família, com o diálogo aberto com os pais, estará em situação de maior
vulnerabilidade a este tipo de abuso ou outros. Crianças e adolescentes que permanecem muito tempo acessando a internet também podem ser
vítimas de apelos sexuais (SPB, 2020).

Sobre esses sinais, a psicóloga clínica Raquel Veloso, em entrevista ao site


Vida e Ação, explica que:

A estratégia é observar, pois os sinais de sofrimento psíquico poderão ser expressos em distúrbios de sono
(terrores noturnos) e alimentação (como anorexia e bulimia), agressividade, crises de choro constantes,
episódios de xixi na cama mesmo após superado anteriormente, baixa autoestima, queda no rendimento
escolar ou dificuldades importantes de aprendizado, isolamento social, além de somatizações no corpo como
constantes dores de cabeça. A criança ainda pode possuir uma importante inquietação ou querer evitar o
contato de determinado sujeito ou situação, como, por exemplo, ir à casa de determinada pessoa. Além disso,
a manifestação de comportamentos hipersexualizados precocemente poderão ser assinaladores que o
infante esteja sendo exposto à violência sexual (COMO..., 2019).

Nesse sentido, o documento Protocolo de Atenção Integral a crianças e


adolescentes vítimas de violência: uma abordagem interdisciplinar na Saúde (PARÁ,
2010, p. 30-33), destinado a profissionais da saúde, traz importantíssimas orientações
para o atendimento de crianças e adolescentes que têm seus direitos violados das
mais diversas formas. Em relação à violência
sexual, o documento divide os sinais em corporais,
comportamentais, quanto aos hábitos, cuidados
corporais e higiênicos, e no relacionamento social,
conforme a seguir:

Sinais Corporais
a) Enfermidades psicossomáticas que consistem em uma série de problemas de saúde
sem causa clínica aparente, como: dor de cabeça, erupções na pele, vômitos e outras
dificuldades digestivas, que têm, na realidade, fundo psicológico e emocional;
32
b) Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST’s, incluindo Aids), diagnosticadas em coceira na área genital, infecções urinárias, odor vaginal,
corrimento ou outras secreções vaginais e penianas e cólicas intestinais;
c) Dificuldade de engolir devido à inflamação causada por gonorréia na garganta (amídalas) ou reflexo de engasgo hiperativo e vômitos (por sexo
oral);
d) Dor, inchaço, lesão ou sangramento nas áreas da vagina ou ânus a ponto de causar, inclusive, dificuldade de caminhar e de sentar;
e) Canal da vagina alargado, hímen rompido e pênis ou reto edemaciados ou hiperemiados;
f) Baixo controle dos esfíncteres, constipação ou incontinência fecal;
g) Sêmen na boca, nos genitais ou na roupa;
h) Gravidez precoce ou aborto;
i) Traumatismo físico ou lesões corporais por uso de violência física (PARÁ, 2010, p. 30-31).

Sinais Comportamentais
a) Medo, ou mesmo pânico, de certa pessoa ou sentimento generalizado de desagrado quando é deixada sozinha, em algum lugar, com alguém;
b) Medo do escuro ou de lugares fechados;
c) Mudanças extremas, súbitas e inexplicadas no comportamento, como oscilações no
humor entre retraída e extrovertida;
d) Mal-estar pela sensação de modificação do corpo e confusão de idade;
e) Regressão a comportamentos infantis, como: choro excessivo, sem causa aparente,
enurese, chupar dedos;
f) Tristeza, abatimento profundo ou depressão crônica. Fraco controle de impulsos e
comportamento autodestrutivo ou suicida;
g) Baixo nível de autoestima e excessiva preocupação em agradar os outros;
h) Vergonha excessiva, inclusive de mudar de roupa na frente de outras pessoas;
i) Culpa e autoflagelação;
j) Ansiedade generalizada, comportamento tenso, sempre em estado de alerta, fadiga;
k) Comportamento disruptivo, agressivo, raivoso, principalmente dirigido contra irmãos e um dos pais não incestuoso;
l) Alguns podem ter transtornos dissociativos na forma de personalidade múltipla (DSMIV – Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
– Fourth Edition);
m) Interesse ou conhecimento súbitos e não usuais sobre questões sexuais;
n) Expressão de afeto sensualizada ou mesmo certo grau de provocação erótica, inapropriado para uma criança;
o) Desenvolvimento de brincadeiras sexuais persistentes com amigos, animais e brinquedos;
p) Masturbar-se compulsivamente;
q) Relato de avanços sexuais por parentes, responsáveis ou outros adultos;
r) Desenhar órgãos genitais com detalhes e características além de sua capacidade etária (PARÁ, 2010, p. 31-32).

Sinais quanto a hábitos, cuidados corporais e higiênicos


a) Mudança de hábito alimentar: perda de apetite (anorexia) ou excesso de alimentação (obesidade);
b) Padrão de sono perturbado por pesadelos frequentes, agitação noturna, gritos, suores, provocados pelo terror de adormecer e sofrer abuso;
c) Aparência descuidada e suja pela relutância em trocar de roupa;
d) Resistência em participar de atividades físicas;
e) Frequentes fugas de casa;
f) Prática de delitos;
g) Envolvimento em situação de abuso e exploração infanto-juvenil;
h) Uso e abuso de substâncias como álcool, drogas lícitas e ilícitas (PARÁ, 2010, p. 32-33).

Sinais no relacionamento social


a)Tendência ao isolamento social, isto é, poucas relações com colegas e
companheiros;
b) Relacionamento entre crianças e adultos com ares de segredo e exclusão
dos demais;
c) Dificuldade de confiar nas pessoas a sua volta;
d) Fuga de contato físico (PARÁ, 2010, p. 32-33).

33
Verifica-se que as crianças e adolescentes podem demonstrar de diversas
formas que algo de errado está acontecendo e estão sofrendo ou sofreram algum tipo
de violência. Por diversas vezes, não conseguem verbalizar e contar o que aconteceu
de forma clara. Cabe aos pais, familiares, professores, profissionais da saúde e outras
pessoas que convivem com aquela criança ou adolescente conseguir identificar estes
sinais e, junto de profissionais qualificados, apurar o que está, de fato, ocorrendo.
Professores devem ficar atentos nos casos de alunos que apresentam queda
injustificada na frequência escolar ou baixo rendimento causado por dificuldade de
concentração e aprendizagem. Outro comportamento importante que deve ser
analisado é a pouca participação em atividades escolares e a tendência de isolamento
social. Sabidamente, a escola é um lugar onde crianças e adolescentes passam boa
parte do dia; têm, em regra, uma relação próxima e de confiança com os professores
e demais funcionários, além de se sentirem seguros para relatar diversas formas de
violência e pedir ajuda. Várias investigações de crimes sexuais praticados contra
crianças e adolescentes tiveram início após a escola notar alterações de
comportamentos de forma atenta e realizar os encaminhamentos necessários.
A criança sempre tem muita dificuldade em falar e, por isso, o seu depoimento
deve ser tomado de forma cautelosa e paciente, sobretudo para que não seja mais
um trauma. Também é importante ressaltar que a criança muitas vezes se expressa
através de brinquedos e/ou desenhos, como os exemplos abaixo (MPMG, 2010):

Observe-se que, no primeiro desenho, a criança representou o abusador


como um monstro (que era mesmo, em sua visão) e, no segundo, distanciado da
família (como ela desejava) e com expressão agressiva. Desenhos como esses são
fortes indícios de que está ocorrendo o abuso sexual e revelam a necessidade de
buscar um profissional de psicologia para investigação do fato (MPMG, 2010).
34
É de suma importância estar sempre atento a todos esses sinais, de modo a
assegurar a proteção de meninos e meninas possíveis vítimas de violência sexual.

SINTETIZANDO...
Os principais sinais que crianças e adolescentes vítimas de violência sexual podem revelar e ser observados pelos
pais e educadores são comportamentais. São exemplos os seguintes:
 Pesadelos, medos inexplicáveis de pessoas ou lugares, mudanças bruscas de humor (extroversão ou agressividade), apatia e
<

afastamento dos amigos;


 Negação para ir/permanecer em determinado lugar (casas de vizinhos e parentes ou a própria casa) ou até fuga de casa;
 Perda dos antigos hábitos de brincar;
 Permanecer muito tempo sozinho e sem supervisão com um familiar ou conhecido;
 Regressão a comportamentos já abandonados (voltar a chupar o dedo, fazer xixi na cama ou cocô nas calças);
 Manter segredos com parentes ou conhecidos e receber presentes, dinheiro ou outro benefício sem motivo aparente;
 Perda do apetite ou compulsão alimentar;
 Diminuição do rendimento escolar, dificuldades de aprendizagem;
 Conhecimento ou comportamento sexual fora do esperado (exceto conceitos básicos e saudáveis de educação sexual);
 Comportamento erotizado;
 Irritação, sangramento, inchaço, dor, coceira, cortes ou machucados na região genital ou anal;
 Doenças sexualmente transmitidas.

6.2 As consequências advindas após a violência sexual

A maior preocupação que todos os profissionais devem possuir em relação ao


combate à violência sexual contra crianças e adolescentes é o fato de ela comprometer
o crescimento e desenvolvimento do menor, deixando sequelas duradouras.
Cada vítima reage à violência de uma forma diferente, visto que algumas
apresentam sequelas mínimas e outras, muito severas. Em geral, o dano psicológico
no abuso sexual da criança pode estar relacionado aos fatores como idade do início
do abuso, duração do abuso, grau de violência ou ameaça de violência, diferença de
idade entre a pessoa que cometeu o abuso e a criança que sofreu o abuso, quão
estreitamente a pessoa que cometeu o abuso e a criança eram relacionadas, a
ausência de figuras parentais protetoras e o grau
de segredo (FURNISS, 1993).
O menor que sofreu algum tipo de violência
sexual pode ter sequelas por toda a vida. As
vítimas podem ter distúrbios do sono, distúrbios
alimentares e problemas com urina e fezes. Baixa
autoestima, depressão, baixa imunidade, dificuldade de socialização, atraso no
desenvolvimento, sentimento de culpa, repulsa pelo corpo, automutilação e até
mesmo tentativas de suicídio são outras consequências que poderão acompanhar a
vítima de violência sexual.

35
O Guia de Referência: Construindo uma Cultura de Prevenção à Violência
Sexual, da Childhood, elenca algumas consequências que as crianças e adolescentes
podem apresentar após serem submetidos a situações de violência sexual:

 Sequelas dos problemas físicos gerados pela violência sexual. Lesões, hematomas e doenças sexualmente
transmissíveis (DSTs) podem interferir na capacidade reprodutiva. As gestações podem ser
problemáticas, aparecendo complicações orgânicas, cujas causas podem ser psicossociais. Esses
problemas são capazes de levar a uma maior morbidade materna e fetal.
 Dificuldade de ligação afetiva e amorosa, originada no profundo sentimento de desconfiança pelo ser
humano em geral, por temor de reedição de experiência traumática ou, ainda, por dissociação entre sexo
e afeto, gerando sentimentos de baixa autoestima, culpa, e depressão prolongada por medo da intimidade.
 Dificuldades em manter uma vida sexual saudável. A dificuldade em estabelecer ligações afetivas pode
estar associada com a questão da sexualidade ou interferindo nela. As pessoas podem evitar todo e
qualquer relacionamento sexual por traumas e/ou fatores fóbicos que bloqueiam o desejo. Podem ainda
vivenciar baixa qualidade nas relações sexuais, com incapacidade de atingir o orgasmo ou demorar
demais para atingi-lo.
 Tendência a sexualizar demais os relacionamentos sociais. Algumas pessoas podem ter reações opostas,
geradas por fatores como incapacidade de distinguir sexo do afeto; confusão entre o amor parental e
manifestações sexuais; compulsivo interesse sexual para provar que são amadas e para se sentirem
adequadas. Isso pode gerar também trocas sucessivas de parceiros.
 Engajamento em trabalho sexual (prostituição). Muitos profissionais do sexo foram abusados quando
crianças. Porém, não se deve estabelecer nenhuma relação mecânica entre abuso sexual e prostituição.
Milhares de crianças abusadas não se tornam trabalhadores do sexo quando adultas. A conexão que
algumas trabalhadoras sexuais fazem entre uma coisa e outra é o fato de que, com a experiência de
abuso, elas aprenderam que a única coisa – ou a mais importante – que as pessoas queriam delas era
sexo. Provendo sexo, elas encontram, paradoxalmente, certo sentimento de valor, uma forma de
mediação. Posteriormente, essa atividade se transforma em estratégia de sobrevivência.
 Dependência em substâncias lícitas e ilícitas. Aqui, vale também ressaltar que qualquer associação
mecânica entre abuso sexual e uso de drogas mais atrapalha do que ajuda. Apesar disso, algumas pessoas
confessam que inicialmente usaram drogas para cuidar de sentimentos, esquecer a dor, a baixa
autoestima e, mais tarde, o uso se tornou um vício incontrolável (SANTOS, 2009, p. 44-47).

Além disso, as vítimas de violência sexual podem apresentar um quadro de


transtorno de estresse pós-traumático, que se manifesta por meio de lembranças,
sonhos traumáticos, comportamento de reconstituição e angústia nas lembranças
traumáticas. A criança pode evitar a lembrança do trauma, apresentando amnésia
psicogênica e desligamento, que é outro sintoma característico do transtorno. As
vítimas podem apresentar excitação aumentada, ou
seja, transtornos do sono, irritabilidade, dificuldades
de concentração e hipervigilância.
No mesmo sentido, o Protocolo de Proteção à
Mulher, Criança e Adolescente Vítimas de Violência
Sexual cita algumas consequências como prováveis
nas relações afetivo-sexuais de crianças e adolescentes que sofreram violência
sexual. São elas:

 Distúrbios ou impossibilidade de assumir uma vida sexual adulta saudável: ausência de desejo sexual,
anorgasmia, frigidez, impotência, ejaculação precoce;
 Dificuldades no desenvolvimento sexual: tendências para a assexualidade ou hipersexualidade;

36
 Desvio do comportamento sexual: promiscuidade, perversões, fetichismo, exibicionismo, voyeurismo,
parafilias – pedofilia (MARINGÁ, 2012, p. 9).

A violência sexual sofrida por uma criança ou adolescente, de acordo com a


psicóloga Veloso (COMO..., 2019), provoca vivências traumáticas e a família tem
papel de extrema importância para o restabelecimento emocional do menor. Somado
a isso, a responsabilização do autor é uma questão que beneficia a evolução da
vítima, contribuindo para que esta seja acreditada em seu sofrimento.
Analisando as possíveis sequelas que crianças e adolescentes podem ter em
razão da violência sexual, é imprescindível o acompanhamento da vítima por
profissionais qualificados, com atendimento médico e psicológico, entre outros, além
do apoio dos familiares e de toda a sociedade, com o intuito de minimizar as
consequências sofridas. Urge mencionar que uma criança que sofreu abuso sexual
deve ser sempre considerada em situação de risco para desenvolvimento de sequelas
a qualquer tempo.

6.3 A Síndrome do silêncio

Neste contexto das consequências advindas da violência sexual praticada


contra crianças e adolescentes, uma das questões que também merece destaque é a
chamada Síndrome do Silêncio, que, em linhas
gerais, é exatamente o fato de não se falar sobre o
que está acontecendo e, dessa forma, contribuir
para que a situação se perpetue.
A principal dificuldade de a criança e/ou
adolescente relatar a violação de direito sofrida
decorre da representatividade da figura do agressor e consequente coerção que
oferece à vítima constantemente, já que, em geral, integra a sua rotina, fazendo com
que a mesma não tenha coragem de narrar o ocorrido.
A ocultação da verdade dos fatos pode ocorrer, também, por parte dos próprios
familiares da vítima (quando cientes), com o intuito velado de manter inalterada a
rotina doméstica. A não revelação, muitas vezes, por grande espaço de tempo, dá-se
pelas mais diversas motivações. Infelizmente, na maioria das vezes, a criança guarda
segredo de tais abusos e o agressor consegue dela isso mencionando a irritação de
outra pessoa (“se você contar isso à mamãe, ela vai ficar muito irritada ou brava com
você”), insinuando que ninguém acreditará nela, usando ameaças e suscitando
sentimentos de culpa (“você arruinará a família se contar a alguém”, “ninguém vai
37
acreditar em você”...), distorcendo a realidade do abuso (como, sugerir que isso faz
parte de um “jogo”, “isso é normal”...), mencionando a separação (“se você contar isso
para alguém vão te mandar embora de casa”). Além da vítima manter o silêncio na
maioria das vezes, também há casos em que a criança ou adolescente noticia a
violação de direito que sofreu, porém, não encontra apoio na família, que mantém o
fato em segredo. Observa-se que é mais fácil a família acreditar no relato da vítima
quando o agressor não é um parente, uma vez que, quando se trata de pessoa da
família, o relato da criança ou adolescente abala a estrutura daquele lar. O silêncio,
além de evitar conflitos e não expor a vítima, mantém o núcleo familiar integrado.
Manter a violência sexual em silêncio traz diversas consequências, dentre elas
o fato de a vítima continuar convivendo com o agressor e pode voltar a ser violentada,
passando a concordar com o abuso, que é transformado em uma situação normal, ou
seja, ela se adapta à vitimização sexual, caso não receba ajuda externa.
Sobre eventuais fatores externos que podem acarretar a Síndrome do Segredo,
é possível listar: a inexistência de evidência médica (a falta de evidência médica do
abuso, em determinados casos, leva a família a não revelá-lo por falta de elementos
para comprová-lo, principalmente quando a
vítima é muito pequena); ameaças contra a
criança abusada e suborno (a vítima ameaçada,
física ou psicologicamente, não revela o abuso
porque teme por si, por sua família e pelo
próprio abusador – que pode ser pessoa de
quem ela gosta –; muitas vezes, a ameaça vem acompanhada de suborno, que
consiste em um tratamento especial dado à criança); a falta de credibilidade da criança
(a crença dos adultos de que as crianças mentem as leva a não relatar o abuso com
medo de serem castigadas pela ‘mentira’); e as consequências da revelação (as
crianças temem as consequências da revelação, pois ameaçadas e com sentimento
de culpa e responsabilidade pelo abuso, que lhes é atribuído pelo abusador, concluem
que o mal prometido irá se concretizar e, por isso, não revelam) (LEITE, 2014).
Diante do exposto, verifica-se que a criança ou adolescente demonstra de
alguma forma que está sendo vítima de violência sexual, cabendo à família e à
sociedade identificar estes sinais, sempre acreditando na palavra do menor, e oferecer
todo o suporte possível, com o objetivo de impedir que novas violências aconteçam e
que a vítima consiga superar o trauma em razão da violação sofrida com o mínimo de
sequelas possível.

38
7 A REDE DE PROTEÇÃO DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES

As crianças e adolescentes são as principais vítimas de violência em todas as


partes do Brasil e do mundo e, neste cenário, como visto ao longo deste curso, os
problemas relacionados à violência sexual vem ganhando cada vez mais visibilidade,
devido à sua abrangência e gravidade.
A prática da violência sexual contra meninos e meninas, seja para satisfação
do prazer sexual próprio, produção de material pornográfico ou em redes organizadas
de exploração sexual, representa uma ofensa aos direitos fundamentais de liberdade
sexual, intimidade e, antes de tudo, da dignidade humana. Além disso, há uma
violação dos direitos vinculados ao desenvolvimento físico, psicológico, moral e social.
O combate a essa triste realidade e a
preservação dos direitos e garantias do público
infantojuvenil exige a ativa participação de todos,
incluindo não apenas o Estado e as instituições
criadas especificamente para esse fim, mas, em
especial, toda a comunidade e as famílias.
Considerando isso, neste capítulo, será feita uma abordagem sobre a rede de
proteção das crianças e adolescentes, com especial enfoque no papel dos pais.

7.1 A Constituição Federal e demais leis

O Brasil é um Estado Democrático de Direito e tem como fundamento a


dignidade da pessoa humana, consagrado pela Constituição Federal de 1988. A Carta
Magna traz de forma expressa, em seu art. 227, garantias à criança e ao adolescente:

Art. 227 – É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988).

Dispõe ainda que a lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração


sexual da criança e do adolescente.
Em 1989, a Assembleia Geral das
Nações Unidas adotou a Convenção sobre os
Direitos das Crianças, que foi ratificada por
196 países, incluindo o Brasil, que o fez em
1990. Essa Convenção visa à proteção de
39
crianças e adolescentes de todo o mundo. Estabelece direitos sociais, culturais,
econômicos e civis para todas as crianças e adolescentes e retrata o direito à vida, à
sobrevivência digna, ao desenvolvimento, à dignidade, ao respeito, à liberdade, a não
discriminação, devendo sempre ser levado em consideração o interesse superior da
criança. Além disso, define as obrigações e deveres da família, da sociedade e do
Estado perante as crianças e os adolescentes. O art. 34 traz obrigações ao Estado na
prevenção e enfretamento da violência sexual contra crianças e adolescentes.

Artigo 34

Os Estados Partes comprometem-se a proteger a criança contra todas as formas de exploração e abuso
sexual. Para tanto, os Estados Partes devem adotar, em especial, todas as medidas em âmbito nacional,
bilateral e multilateral que sejam necessárias para impedir:
 o incentivo ou a coação para que uma criança dedique-se a qualquer atividade sexual ilegal;
 a exploração da criança na prostituição ou em outras práticas sexuais ilegais;
 a exploração da criança em espetáculos ou materiais pornográficos (ONU, 1990).

No mesmo sentido, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que


completou 30 anos no dia 13 de julho deste ano, traz diversas garantias e direitos das
crianças e adolescente, reconhecendo-os como sujeitos de direitos. Tem por objetivo
possibilitar uma proteção efetiva e integral de crianças e adolescentes, que estão em
desenvolvimento físico, psicológico, moral e social.
A garantia de prioridade deve ser observada na primazia de receber proteção
e socorro em quaisquer circunstâncias, na precedência de atendimento nos serviços
públicos ou de relevância pública, na preferência na
formulação e execução das políticas sociais
públicas, bem como destinação privilegiada de
recursos públicos nas áreas relacionadas com a
proteção à infância e à juventude.
De acordo com o ECA, é dever de todos
prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente.
O Estatuto cria os Conselhos Tutelares e estabelece obrigações para os órgãos da
rede de proteção dos menores, visando à efetivação dos direitos garantidos a eles.
Somado a isso, como já estudado, no ECA, estão elencados diversos crimes
relacionados à violência e exploração sexual de crianças e adolescentes. Trata-se de
uma das leis mais avançadas no mundo sobre a proteção do público infantojuvenil.
Além da Constituição Federal e do ECA, outra importante legislação
relacionada à proteção de crianças e adolescentes é a Lei nº 13.431, de 04 de abril
de 2017, que estudaremos a seguir.

40
7.2 A Lei nº 13.431, de 04 de abril de 2017, e o sistema de garantia de direitos
da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência

A Lei nº 13.431/2017 prevê que a União, os Estados, o Distrito Federal e os


Municípios desenvolvam políticas integradas e coordenadas visando a garantir os
direitos humanos da criança e do adolescente no âmbito das relações domésticas,
familiares e sociais, de modo a resguardá-los de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, abuso, crueldade e opressão.
Referida lei traz importantes inovações na temática da violência contra o
público infantojuvenil, pois estabelece o
sistema de garantia de direitos da criança e
do adolescente vítima ou testemunha de
violência, medidas de assistência e proteção
aos menores em situação de violência e cria
mecanismos para prevenir e coibir a
violência, bem como formas especiais de escuta dessas vítimas.
A aplicação da lei é obrigatória para todas as crianças e adolescentes vítimas
e testemunhas de violência e facultativa para as pessoas entre 18 e 21 anos de idade,
em conformidade com o parágrafo único do art. 2º da Lei nº 8.069/90.
Além da violência sexual, que já foi estudada e conceituada no início deste
curso, a lei traz outras formas de violência contra crianças e adolescentes, conforme
se verifica em seu art. 4º, caput:

Art. 4º – Para os efeitos desta Lei, sem prejuízo da tipificação das condutas criminosas, são formas de
violência:
I - violência física, entendida como a ação infligida à criança ou ao adolescente que ofenda sua integridade
ou saúde corporal ou que lhe cause sofrimento físico;
II - violência psicológica:
a) qualquer conduta de discriminação, depreciação ou desrespeito em relação à criança ou ao adolescente
mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, agressão verbal e xingamento,
ridicularização, indiferença, exploração ou intimidação sistemática (bullying) que possa comprometer seu
desenvolvimento psíquico ou emocional;
b) o ato de alienação parental, assim entendido como a interferência na formação psicológica da criança ou
do adolescente, promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou por quem os tenha sob sua
autoridade, guarda ou vigilância, que leve ao repúdio de genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou
à manutenção de vínculo com este;
c) qualquer conduta que exponha a criança ou o adolescente, direta ou indiretamente, a crime violento contra
membro de sua família ou de sua rede de apoio, independentemente do ambiente em que cometido,
particularmente quando isto a torna testemunha;
III - violência institucional, entendida como a praticada por instituição pública ou conveniada, inclusive quando
gerar revitimização (BRASIL, 2017).

O Decreto nº 9.603, de 10 de dezembro de 2018, define violência institucional


como a “praticada por agente público no desempenho de função pública, em instituição
41
de qualquer natureza, por meio de atos comissivos ou omissivos que prejudiquem o
atendimento à criança ou ao adolescente vítima ou testemunha de violência” (art. 5º,
I). Traz também o conceito de revitimização, qual seja, discurso ou prática institucional
que submeta menores a “procedimentos desnecessários, repetitivos, invasivos, que
levem as vítimas ou testemunhas a reviver a situação de violência ou outras situações
que gerem sofrimento, estigmatização ou exposição de sua imagem” (art. 5º, II).
O art. 6º da Lei nº 13.431/2017 prevê que a criança ou adolescente vítima ou
testemunha de violência “tem direito de solicitar, por meio do representante legal,
MEDIDAS DE PROTEÇÃO em desfavor do autor da
violência” (BRASIL, 2017).
As medidas de proteção previstas no art. 101
do ECA e arts. 22 a 24 da Lei Maria da Penha – Le
nº 11.340, de 07 de agosto de 2006 –, continuarão
sendo aplicadas em conjunto com as medidas
previstas no art. 21 da Lei nº 13.431/2017 em relação às crianças e adolescentes
vítimas ou testemunhas de violência.
Os menores, independente do sexo, gozam de proteção expressa quando
vítimas ou, até mesmo, testemunhas de infrações, o que não era possível com a Lei
nº 11.340/2006, que restringe sua aplicação às vítimas do sexo feminino.
Acrescenta-se que o art. 4º da Lei 13.431/2020 conceitua alguns atos de
violência que não são necessariamente criminosos, como a alienação parental e o
bullying, sendo possível a utilização e aplicação de medida protetiva de urgência,
buscando torná-la mais efetiva, abrangendo qualquer espécie de violência perpetrada
em desfavor de crianças e adolescentes (BRASIL, 2017).
O art. 21 da Lei nº 13.431/2017 estabelece algumas medidas para proteger a
criança ou o adolescente em risco, conforme dispositivo legal a seguir:

Art. 21 – Constatado que a criança ou o adolescente está em risco, a autoridade policial requisitará à
autoridade judicial responsável, em qualquer momento dos procedimentos de investigação e
responsabilização dos suspeitos, as medidas de proteção pertinentes, entre as quais:
I - evitar o contato direto da criança ou do adolescente vítima ou testemunha de violência com o suposto
autor da violência;
II - solicitar o afastamento cautelar do investigado da residência ou local de convivência, em se tratando de
pessoa que tenha contato com a criança ou o adolescente;
III - requerer a prisão preventiva do investigado, quando houver suficientes indícios de ameaça à criança ou
adolescente vítima ou testemunha de violência;
IV - solicitar aos órgãos socioassistenciais a inclusão da vítima e de sua família nos atendimentos a que têm
direito;
V - requerer a inclusão da criança ou do adolescente em programa de proteção a vítimas ou testemunhas
ameaçadas; e
VI - representar ao Ministério Público para que proponha ação cautelar de antecipação de prova,
resguardados os pressupostos legais e as garantias previstas no art. 5º desta Lei, sempre que a demora
possa causar prejuízo ao desenvolvimento da criança ou do adolescente (BRASIL, 2017).
42
Para fins de conhecimento, segue quadro contendo as medidas protetivas
previstas na Lei Maria da Penha e as medidas de proteção do ECA:

Quadro 2 – Comparativo das Medidas Protetivas


Medidas Protetivas da Lei Maria da Penha Medidas Protetivas do Estatuto da Criança e do Adolescente
• suspensão da posse ou restrição do porte de armas. • encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de
• afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida. responsabilidade.
• proibição de determinadas condutas, entre as quais: aproximação da ofendida, • orientação, apoio e acompanhamento temporários.
de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre • matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial
estes e o agressor; contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por de ensino fundamental.
qualquer meio de comunicação; frequentação de determinados lugares a fim de • inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família,
preservar a integridade física e psicológica da ofendida; à criança e ao adolescente.
• comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação; • inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de
• acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento individual proteção, apoio e promoção da família, da criança e do
e/ou em grupo de apoio. adolescente.
• encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção ou de • requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em
atendimento. regime hospitalar ou ambulatorial.
• recondução ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor. • inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio,
• restituição de bens indevidamente subtraídos. orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos.
• suspensão das procurações conferidas. • acolhimento institucional.
• prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos • inclusão em programa de acolhimento familiar.
materiais. • colocação em família substituta.

No tocante à INTEGRAÇÃO DAS POLÍTICAS DE ATENDIMENTO, o contato


de crianças e adolescentes com a rede de proteção, que é parte do Sistema de
Garantia de Direitos, embora não intencional, pode ser revitimizante. Ainda hoje, há
casos de criança vítima de violência sexual que passa pelo Conselho Tutelar, por uma
Unidade da Polícia, pelo Instituto Médico Legal, por uma Unidade de Saúde e por uma
Unidade de Assistência Social; e, mais tarde, ainda passa pelo Sistema de Justiça.
A falta de integração dos serviços e de preparação específica dos profissionais
para lidar com crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência faz com
que demorem a receber ajuda, tenham que relatar os fatos ocorridos inúmeras vezes
e, ainda assim, recorrentemente, não recebam o cuidado adequado. Esta falta de
integração dos serviços e de capacitação adequada e a repetição dos relatos dos
episódios de violência terminam por revitimizar os menores.
Com o objetivo de evitar essa revitimização, a Lei nº 13.431/2017 estabelece
diretrizes para a integração das políticas públicas de atenção e proteção, mediante a
implantação de centros integrados de atendimento a crianças e adolescentes vítimas
de violência, compostos por multidisciplinares especializadas. Os centros integrados
poderão contar com delegacias especializadas, serviços de saúde, perícia médico-
legal, serviços socioassistenciais, varas especializadas, Ministério Público e
Defensoria Pública, entre outros possíveis de integração, e deverão estabelecer
parcerias em caso de indisponibilidade de serviços de atendimento (BRASIL, 2017).

43
Antes mesmo da referida lei entrar em vigor, algumas cidades, como Brasília,
Rio de Janeiro, Porto Alegre e Teresópolis, já haviam implantado iniciativas nesse
sentido (SANTOS; GONÇALVES, 2017). Reúnem em um mesmo espaço diversos
serviços públicos de áreas como Saúde, Assistência Social, Segurança Pública e
perícia médica, dentre outros. Cada um tem formato
particular, baseado na realidade institucional, social,
cultural e econômica em que estão inseridos.
Nos centros, é ofertado o atendimento integrado,
protetivo e de articulação do Sistema de Garantias de
Direitos, mediante o estabelecimento de fluxos que promovem a integração dos
órgãos, a qualidade e a celeridade dos procedimentos. Em geral, eles concentram o
provimento de serviços de atenção em um único espaço físico, visando evitar
sofrimento adicional aos menores, que, para serem atendidos no modelo tradicional,
têm que percorrer vários locais, o que quase sempre resulta em revitimização.
Em Belo Horizonte, em novembro de 2017, foi inaugurado o Centro Integrado
de Defesa e Proteção à Criança e ao Adolescente, que é formado pela Vara
Especializada de Crimes Contra Crianças e Adolescentes, o Ministério Público, a
Polícia Militar e a Polícia Civil, através da Delegacia Especializada de Proteção à
Criança e ao Adolescente.

SAIBA MAIS!
O art. 14 da Lei nº 13.431/2017 traz as diretrizes para a implementação de centros integrados de
<
atendimento integrado à criança e ao adolescente vítima. Confira na Lei!

No caso de violência sexual, a rede de proteção deve garantir a urgência e a


celeridade necessárias ao atendimento de saúde e à produção probatória, preservada
a confidencialidade.

SAIBA MAIS!
Aprofunde seus conhecimentos e leia o documento Centros de Atendimento Integrado de Crianças e
Adolescentes Vítimas de Violência – Boas Práticas e Recomendações para uma Política Pública de Estado, que
se encontra disponível no material complementar, e aprenda alguns aspectos primordiais a serem observados para a criação de novos
<

centros integrados (páginas 184 e 185). Não deixe de conferir!

Nas cidades de pequeno porte, visando à implementação das determinações


da lei, o documento Centros de Atendimento Integrado de Crianças e Adolescentes
Vítimas de Violência: Boas Práticas e Recomendações para uma Política Pública de
Estado sugere que sejam definidos os procedimentos para esse atendimento
44
integrado, o que deve incluir o desenho de fluxos integrados, os protocolos de escuta
de menores e parâmetros para criação de ambientes amigáveis e para capacitação
dos profissionais da rede de proteção (SANTOS; GONÇALVES, 2017).
A lei prevê a criação de Delegacias Especializadas no Atendimento de Crianças
e Adolescentes Vítimas de Violência, com equipes multidisciplinares, devendo ser as
vítimas encaminhadas à Delegacia Especializada em Temas de Direitos Humanos até
a criação das Unidades Policiais Especializadas. Há a previsão de criar Juizados ou
Varas Especializadas em Crimes contra a Criança ou Adolescente, devendo o
julgamento e execução das causas decorrentes da prática de violência ficar a cargo,
preferencialmente, dos Juizados ou Varas Especializadas em Violência Doméstica.

ATENÇÃO!
A lei inova ao determinar que qualquer pessoa que tiver conhecimento ou presenciar ação ou omissão que
constitua violência contra criança ou adolescente tem o dever de comunicar o fato imediatamente ao serviço de
recebimento e monitoramento de denúncias, ao Conselho Tutelar ou à autoridade policial. O Código de Processo Penal (CPP) – Decreto-
lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941 –, em seu art. 5º, § 3º, dispõe que qualquer pessoa tiver conhecimento da existência de
infração penal em que caiba ação pública poderá comunicar à autoridade policial, sendo, portanto, uma FACULDADE. Com a
entrada em vigor da Lei nº 13.431/2017, caso, qualquer pessoa tenha conhecimento da ocorrência de violência contra criança ou
adolescente deverá, ou seja, está OBRIGADO a comunicar o fato ao Conselho Tutelar, à Autoridade Policial ou ao serviço de
recebimento de denúncias, em atendimento ao princípio da proteção integral.

Outrossim, a Lei nº 13.431/2017 recomenda que o Poder Público realize


campanhas periódicas de conscientização da sociedade, promovendo a identificação
das violações de direitos e garantias de crianças e adolescentes e a divulgação dos
serviços de proteção e dos fluxos de atendimento, como forma de evitar a violência
institucional. Estimula-se a criação de “serviços de atendimento, de ouvidoria ou de
resposta, pelos meios de comunicação disponíveis, integrados às redes de proteção,
para receber denúncias de violações de direitos de crianças e adolescentes” (art. 15).
A lei determina que as denúncias recebidas serão encaminhadas à Autoridade Policial
do local dos fatos, para apuração; ao Conselho
Tutelar, para aplicação de medidas de proteção; e,
ao Ministério Público, nos casos que forem de sua
atribuição específica.
O Estado de Minas Gerais, reforçando o
disposto na Lei nº 13.431/2017, no dia 22 de maio
de 2020 sancionou a Lei nº 23.643, que trata do dever de os condomínios localizados
no território do Estado comunicarem à Delegacia de Polícia Civil e/ou aos órgãos de
segurança pública especializados, por seus síndicos ou administradores, a ocorrência
ou o indício que aponte a existência de atos de violência doméstica e familiar contra
45
criança ou adolescente, trazendo a obrigação de afixar, nas áreas de uso comum dos
condomínios residenciais, placas ou comunicados que informem sobre o disposto na
Lei, além de incentivar os condôminos a notificar o síndico ou o administrador da
ocorrência, ou do indício de ocorrência, de violência doméstica e familiar contra
criança e adolescente.
Outro importante assunto tratado pela Lei nº 13.431/2017 é a ESCUTA DE
CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO
DE VIOLÊNCIA. Pesquisas apontam que os
menores vítimas são ouvidos cerca de 8 a 10 vezes
entre o período que noticia o crime e o término do
processo judicial, precisando repetir e reviver a
situação de violência sofrida para os diversos
órgãos de atendimento, investigação e responsabilização. A criança e o adolescente
são pessoas vulneráveis, visto que são pessoas em condição peculiar de
desenvolvimento físico, psíquico e moral, que se encontram em situação ainda mais
vulnerável após serem vítimas ou testemunhas de alguma violência. Assim, é preciso
haver um mecanismo diferente para se relatar e colher as provas do crime, para não
ferir ainda mais essa criança ou adolescente, uma vez que a simples lembrança e a
mera narrativa do ocorrido já causam a revitimização.
Com o objetivo de mudar esta situação, a Lei nº 13.431/2017 prevê que a
criança e o adolescente serão ouvidos sobre a situação de violência por meio de
escuta especializada e de depoimento especial.
Uma das principais diretrizes da referida lei, juntamente com a integração de
programas e serviços, é a escuta de crianças e adolescentes vítimas de violência, que
deve ser realizada de forma protegida e não revitimizante, obedecendo ao disposto
na legislação. Tais instrumentos de escuta têm por finalidade impedir que o menor
reviva o drama sofrido (o que dificulta a superação da violência e o seu posterior
desenvolvimento), protegendo-a. Permite também combater a impunidade, ao evitar
influências externas ao depoimento da vítima, por vezes promovidas pelo agressor,
bem como que contradições inerentes aos sucessivos depoimentos de uma vítima,
em particular situação de desenvolvimento, sejam utilizadas para impedir a
responsabilização dos agressores.
Vale mencionar que o art. 28, § 1º, do ECA já determinava que o menor, sempre
que possível, seja previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado o seu
estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as implicações da medida,
e terá sua opinião devidamente considerada (BRASIL, 1990). No mesmo sentido, a
46
Convenção Internacional sobre Direitos das Crianças, em seu art. 12, assegura à
criança a oportunidade de ser ouvida em todo processo judicial ou administrativo que
afete a mesma, quer diretamente quer por intermédio de um representante ou órgão
apropriado, em conformidade com as regras processuais da legislação nacional
(ONU, 1989). Considerando isso, antes mesmo da promulgação da Lei nº
13.431/2017, várias comarcas já adotavam o depoimento especial como forma de
escuta das crianças e adolescentes vítimas durante o processo judicial.
Assim sendo, a ESCUTA ESPECIALIZADA
é o procedimento de entrevista sobre situação de
violência com criança ou adolescente perante
órgão da rede de proteção, limitado o relato
estritamente ao necessário para o cumprimento de
sua finalidade (Lei nº 13.431/2017, art. 7º). Trata-
se do procedimento realizado pelos órgãos da rede de proteção nos campos da
educação, saúde, assistência social, segurança pública e direitos humanos, com o
objetivo de assegurar o atendimento da vítima em suas demandas, na perspectiva de
superação das consequências da violação sofrida, inclusive no âmbito familiar. Deve
se limitar estritamente ao necessário para o cumprimento da finalidade de proteção.
O menor será resguardado de qualquer contato, ainda que visual, com o
suposto autor ou acusado, ou com outra pessoa que represente ameaça, coação ou
constrangimento (Lei nº 13.431/2017, art. 9º). A escuta deve ser realizada em local
apropriado e acolhedor, com infraestrutura e espaço físico que garantam a privacidade
da criança ou adolescente vítima ou testemunha de violência (Lei nº 13.431/2017, art.
10). A criança ou o adolescente deve ser informado em linguagem compatível com o
seu desenvolvimento acerca dos procedimentos formais pelos quais terá que passar
e sobre a existência de serviços específicos da rede de proteção, de acordo com as
demandas de cada situação (Decreto nº 9.603/2018, art. 19, §1º).
Já o DEPOIMENTO ESPECIAL é o procedimento de oitiva de criança ou
adolescente vítima ou testemunha de violência perante autoridade policial ou judiciária
(Lei nº 13.431/2017, art. 8º). Busca a apuração da materialidade e autoria dos fatos
criminosos no âmbito de um processo investigatório
e de responsabilização judicial do suposto autor da
violência. A autoridade policial ou judiciária deverá
avaliar se é indispensável a oitiva do menor, dadas
as demais provas existentes, de forma a preservar
sua saúde física e mental e o seu desenvolvimento
47
moral, intelectual e social (Decreto nº 9.603/2018, art. 22, § 2º). Tanto durante a
investigação policial como na instrução criminal, a criança ou adolescente também
deverá ser resguardado de qualquer contato, ainda que visual, com o suposto autor
ou acusado, ou com pessoa que represente ameaça, coação ou constrangimento.
O depoimento especial deverá ser gravado com equipamento que assegure a
qualidade audiovisual. A sala destinada ao depoimento poderá ter sala de observação
ou equipamento tecnológico destinado ao acompanhamento e à contribuição de
outros profissionais da área da segurança pública e do sistema de justiça.
A criança ou o adolescente devem ser respeitados em sua iniciativa de não
falar sobre a violência sofrida. O contato direto com a vítima será feito pelo profissional
habilitado, com expertise na área de atuação (psicólogos e assistentes sociais) e a
Autoridade Judicial terá contato com as informações por meio remoto e terá acesso
posterior às informações colhidas, que serão gravadas por meio de áudio e vídeo.
Por fim, vale citar que a Lei nº 13.431/2017 possibilita à vítima ou testemunha
de violência prestar depoimento diretamente ao juiz. Assim, caso a vítima entenda ser
melhor, poderá ser ouvida no sistema tradicional.

7.3 Atuação da Polícia Civil de Minas Gerais

As atribuições definidas pela Constituição


Federal à Polícia Judiciária envolvem a realização
de investigações, colaborando com o Sistema de
Justiça na coleta de indícios da prática de crimes
contra a criança e o adolescente. Dessa forma, a
atividade da Polícia Judiciária pode ser o marco
inicial para a persecução penal, devendo sua
atuação ser pautada de forma técnica, legal e imparcial.
No caso de relato espontâneo da vítima ou se a Autoridade Policial entender
ser imprescindível a oitiva da criança ou adolescente, esse relato deve ser colhido de
forma ética e humanizada, por profissionais qualificados, em ambiente próprio e
acolhedor, objetivando colher apenas as informações necessárias à investigação.
O Decreto nº 9.603/2018 estabelece que, ao tomar conhecimento da prática de
crime envolvendo criança e adolescente vítima ou testemunha de violência, a
autoridade policial procederá ao registro da ocorrência policial e realizará a perícia
(BRASIL, 2018). Esse registro consiste na descrição preliminar das circunstâncias em
que se deram o fato e, sempre que possível, será elaborado a partir de documentação
48
remetida por outros serviços, programas e equipamentos públicos, além do relato do
acompanhante da criança ou adolescente. A autoridade policial deverá priorizar a
busca de informações com a pessoa que acompanha o menor, de forma a preservá-
lo, observado o disposto na Lei nº 13.431/2017. Ressalta-se que a descrição do fato
não será realizada em lugares públicos que
ofereçam exposição da identidade da
criança ou adolescente e, sempre que
possível, não será realizada diante do
menor.
A Autoridade Policial deverá
assegurar o registro da ocorrência policial,
ainda que a criança ou o adolescente
esteja desacompanhado.
A perícia médica ou psicológica
primará pela intervenção profissional
mínima. Os peritos deverão, sempre que possível, obter as informações necessárias
sobre o fato ocorrido com os adultos acompanhantes da criança ou adolescente ou
por meio de atendimentos prévios realizados pela rede de serviços. A perícia física
será realizada somente nos casos em que se fizer necessária a coleta de vestígios,
evitada a perícia para descarte da ocorrência de fatos.
Além do registro da ocorrência policial e solicitação de perícia da vítima, será
realizada da oitiva criança ou adolescente caso seja necessário, que poderá ser por
meio de escuta especializada ou depoimento especial, conforme já estudado. Será
instaurado o procedimento investigatório, no qual serão ouvidas as testemunhas,
representante legal da vítima e do investigado, solicitação de outras perícias cabíveis,
além de outras diligências que a Autoridade Policial entender necessárias. Ao final da
investigação, o Delegado de Polícia produzirá um relatório detalhado das diligências
realizadas, concluindo pela prática ou não do delito.
A Autoridade Policial poderá representar pela prisão do agressor, bem como
por outras medidas cautelares relacionadas à investigação. Há, também, a
possibilidade de prisão em flagrante delito, que ocorre nos casos previstos no art. 302
do Código de Processo Penal, que assim prevê:

Art. 302 – Considera-se em flagrante delito quem:


I - está cometendo a infração penal;
II - acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça
presumir ser autor da infração;
49
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor
da infração (BRASIL, 1941).

Após concluir a investigação, o procedimento é remetido ao Ministério Público,


que oferecerá a denúncia se estiverem presentes os requisitos. Assim, o investigado
responderá ao processo criminal e poderá ser condenado pela prática do crime.
Além da investigação dos crimes sexuais contra menores, a Polícia Civil de
Minas desempenha importante papel na prevenção de novos crimes, ministrando
cursos e palestras sobre a temática, além da divulgação, junto à imprensa e redes
sociais, de informações sobre os canais de denúncias, como identificar se a criança
ou adolescente está sofrendo algum tipo de violência e a importância da notificação.
Vale mencionar que a Polícia Civil deve atuar de forma integrada e articulada
com os demais órgãos da rede de proteção de cada município, permitindo uma
proteção efetiva e integral da criança e adolescente em situação de vulnerabilidade.

7.4 Atuação do Conselho Tutelar

O Estatuto da Criança e do Adolescente criou o Conselho Tutelar, que é órgão


permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo
cumprimento dos direitos da criança e do adolescente.
Em cada Município haverá, no
mínimo, um Conselho Tutelar como órgão
integrante da administração pública local,
composto de 5 (cinco) membros escolhidos
pela população local para mandato de 04
(quatro) anos, permitida recondução por
novos processos de escolha. Para ser candidato a membro do Conselho Tutelar, a
pessoa deverá ter reconhecida idoneidade moral, idade superior a 21 (vinte e um)
anos e residir no município.
O Conselho Tutelar é integrante do Sistema de Garantia dos Direitos da
Criança e do Adolescente e tem um papel importantíssimo na proteção e garantia dos
direitos de crianças e adolescentes, contra qualquer ação ou omissão do Estado ou
dos responsáveis legais que resulte na violação ou ameaça de violação dos direitos
estabelecidos pelo ECA. De acordo com Digiácomo (2011, p. 9):

Trata-se de uma instituição essencial ao “Sistema de Garantias dos Direitos da Criança e do Adolescente”,
instituído pela Lei nº 8.069/90 com o objetivo de proporcionar, de maneira efetiva, a “proteção integral”
prometida à criança e ao adolescente já pelo citado art. 1º, do citado Diploma Legal. Evidente, no entanto, que
50
agindo de forma isolada, por mais que o Conselho Tutelar se esforce, não terá condições de atingir tal objetivo
e/ou de suprir o papel reservado aos demais integrantes do aludido “Sistema de Garantias”, não podendo
assim prescindir da atuação destes.
Um dos desafios a serem enfrentados pelo Conselho Tutelar, portanto, é fazer com que os diversos órgãos,
autoridades e entidades que integram o referido “Sistema de Garantias” aprendam a trabalhar em “rede”,
dialogando e compartilhando ideias e experiências entre si, buscando, juntos, o melhor caminho a trilhar,
tendo a consciência de que a efetiva e integral solução dos problemas que afligem a população infanto-juvenil
local, é de responsabilidade de TODOS.

O Conselho Tutelar tem diversas atribuições previstas no ECA. Uma importante


função é o atendimento de crianças e adolescentes que tiveram seus direitos
ameaçados por falta ou omissão da sociedade ou Estado, por falta, omissão ou abuso
dos pais ou responsável ou em razão de sua conduta, aplicando as seguintes
medidas, dependendo da gravidade do caso:

 encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;


 orientação, apoio e acompanhamento temporários;
 matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;
 inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família, da
criança e do adolescente;
 requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
 inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e
toxicômanos;
 acolhimento institucional;
 inclusão em programa de acolhimento familiar;
 colocação em família substituta (BRASIL, 1990).

O Conselho Tutelar deve realizar o atendimento de pais ou responsável,


aplicando as medidas de encaminhamento a serviços e programas oficiais ou
comunitários de proteção, apoio e promoção da família; inclusão em programa oficial
ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; encaminhamento a cursos
ou programas de orientação; obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar
sua frequência e aproveitamento escolar; obrigação de encaminhar a criança ou
adolescente a tratamento especializado e advertência.
O órgão pode ainda requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação,
serviço social, previdência, trabalho e segurança, bem como representar junto à
autoridade judiciária nos casos de descumprimento injustificado de suas deliberações.
O Conselheiro Tutelar deve encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que
constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente;
encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência; expedir notificações
e requisitar certidões de nascimento e de óbito de menores quando necessário.
O Conselho Tutelar deve representar ao Ministério Público para efeito das
ações de perda ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de

51
manutenção da criança ou adolescente junto à família natural, além de promover e
incentivar, na comunidade e grupos profissionais, ações de divulgação e treinamento
para o reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e adolescentes.
Se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar entender necessário
o afastamento do convívio familiar, comunicará o fato imediatamente ao Ministério
Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal entendimento e as
providências tomadas para a orientação, o apoio e a promoção social da família.
É importante ressaltar que as decisões do Conselho Tutelar somente poderão
ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de quem tenha legítimo interesse.
O ECA, em seu art. 13, prevê que os casos de suspeita ou confirmação de
castigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos contra criança ou
adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva
localidade, sem prejuízo de outras providências legais. O Estatuto traz, em seu art.
56, a obrigatoriedade de comunicação ao Conselho Tutelar dos casos de maus-tratos
envolvendo os alunos pelos dirigentes de estabelecimentos de ensino. Assim, ao
tomar conhecimento da suspeita ou confirmação de violência contra menores, caberá
ao Conselho Tutelar aplicar as medidas de proteção cabíveis ao caso concreto para
garantir, com absoluta prioridade, a efetivação dos seus direitos. Vale reforçar que o
Conselho Tutelar deve atuar de forma integrada e articulada com os demais órgãos
da rede de proteção de cada município, como Polícia Civil, Polícia Militar, Ministério
Público, Poder Judiciário, além da saúde, educação, assistência social, dentre outros.
Por fim, vale acrescentar que o Conselho Tutelar aplica as medidas de
proteção, mas a execução delas é de responsabilidade do Poder Público, das famílias
e da sociedade civil em geral.

7.5 O papel dos pais na proteção das crianças e adolescentes

Além do Estado (que atua através da Polícia


Civil, do Conselho Tutelar, do Poder Judiciário e
demais órgãos e instituições) e de toda a sociedade,
os pais exercem um papel primordial na proteção
das crianças e adolescentes.
A partir do nascimento de uma criança, os
pais (sejam eles biológicos ou adotivos) tornam-se seus principais modelos de como
se relacionar consigo mesmo e com o mundo e, neste cenário, eles têm um papel
fundamental na educação e proteção do filho.
52
Para exercer essa função, é essencial que haja entre eles uma relação de afeto
honestidade e confiança, baseada no diálogo, que sempre deve estar presente nas
relações familiares – ainda que para tratar de assuntos difíceis, como, por exemplo, a
violência sexual –, pois esta é a maneira mais eficaz de prevenção.
Nesse sentido, é muito importante orientar as crianças desde cedo sobre a
educação sexual infantil, mostrando quais são as partes do corpo, quais partes são
consideradas íntimas e que não devem ser tocadas por ninguém, a importância de
contar para alguém de confiança caso aconteça algo de errado, etc. A criança precisa
conhecer o seu corpo e saber que tem autonomia sobre ele. Com educação
apropriada, as crianças “são muito capazes de entender o que é carinho e o que é
abuso. Quando se despir é normal, por exemplo, quando a criança está na praia com
a família, e quando a pessoa está mal intencionada” (MORI, 2020). Existem livros e
vídeos adequados para cada idade que auxiliam, e muito, nesta conversa.

DICAS DE CONTEÚDO!
A campanha Defenda-se promove a autodefesa de crianças contra a violência sexual por meio de vários
vídeos educativos com linguagem acessível, amigável e preventiva, apropriados para meninas e meninos entre
4 e 12 anos de idade. As histórias apresentam situações do dia-a-dia em que os meninos e meninas têm condições reais de agir
<

preventivamente para sua autodefesa, especialmente pelo reconhecimento dos seus direitos sexuais e de estratégias que dificultam a
ação dos agressores. Acesse o site em <https://defenda-se.com/videos/#pt> e mostre os vídeos para as crianças de sua convivência!
Outra indicação é a série “Que corpo é esse?”, lançada em 2018, através de parceria com a Childhood Brasil e a Unicef Brasil e
disponível em <https://www.childhood.org.br/crescer-sem-violencia>. Os vídeos buscam alertar educadores, crianças, adolescentes
e famílias sobre o conhecimento do próprio corpo, a importância da autoproteção e do respeito ao direito à sexualidade. Os vídeos são
excelentes para conscientizar crianças e adolescentes e prevenir a prática de violência sexual.
Por fim, como sugestão de leitura, indica-se o livro infantil “Pipo e Fifi”, que opera como uma ferramenta de proteção, explicando
às crianças, a partir dos 3 anos de idade, conceitos básicos sobre o corpo, sentimentos, convivência e trocas afetivas. De forma simples
e descomplicada, ensina-se a diferenciar toques de amor de toques abusivos, apontando caminhos para o diálogo e a proteção.

Os pais devem deixar claro para os meninos e meninas a importância de pedir


ajuda caso aconteça algo errado e não guardar segredos que não sejam
saudáveis ou possam lhes trazer perturbação, vergonha e medo. Os filhos devem
ter liberdade e sentirem-se seguros para conversar com os pais e responsáveis.
Além disso, é essencial que os pais sempre
confiem e acreditem na palavra dos filhos, não os
responsabilizando ou culpando caso tenha ocorrido
algum tipo de violência. Crianças e adolescentes
são vítimas e precisam de apoio e proteção. Não
devem, em hipótese alguma, ser questionados ou
responsabilizados por atos praticados por adultos.
Infelizmente, há casos em que a vítima narra uma situação de violência sexual para a
família e, por não acreditarem no relato da criança ou adolescente (sobretudo quando
53
se trata de violência intrafamiliar), os abusos e agressões sexuais acabam se
repetindo por vários anos. A criança ou adolescente sente-se ainda mais culpada, com
medo, vergonha e perde a confiança em outras pessoas, o que traz reflexos
irreversíveis para a vida daquela vítima, como os já analisados neste curso.
Em situações como essa, o responsável legal pela criança ou adolescente
pode ser responsabilizado pelo mesmo crime praticado contra o menor,
justamente em virtude da sua omissão. De acordo com a legislação brasileira, os
pais têm a obrigação de cuidado, proteção e vigilância dos filhos e o Código Penal
(art. 13, § 2º) prevê a possibilidade de responsabilização criminal de pessoa que devia
e podia agir para evitar determinado resultado, no caso, a violência sexual. A título de
ilustração, em uma investigação realizada pela Delegacia Especializada de Proteção
à Criança e ao Adolescente, a genitora foi responsabilizada pelo estupro de vulnerável
em sua forma omissiva, visto que tinha conhecimento das violências sexuais que o
pai praticava contra as três filhas e nada fazia para impedir que as condutas
criminosas continuassem ocorrendo.
Acreditar na palavra da criança e do
adolescente é essencial. Isso faz com que a vítima
se sinta amparada, segura, protegida e consiga
superar o trauma da violência. Como já estudamos, o
menor pode não conseguir falar sobre a violência
sofrida. Se os pais identificarem sinais ou comportamentos analisados no Capítulo
anterior e que sugerem que o menor tenha sofrido violência sexual, devem procurar
ajuda de um profissional, que trará a orientação correta e necessária em cada caso.
Qualquer órgão do Sistema de Garantias de Direitos, como o Conselho Tutelar e o
CREAS, poderá auxiliar os pais e a criança ou adolescente.
A proteção dos filhos contra a violência sexual exige medidas básicas, tais
como sempre procurar saber onde as crianças e adolescentes estão, com quem
estão e o que estão fazendo; ensiná-los a jamais
aceitar convites, dinheiro, comida ou favores de
estranhos, sobretudo em troca de carinho;
acompanhá-los em consultas médicas; e conhecer
os amigos deles, principalmente os mais velhos.
Ainda neste contexto, considerando que, nos dias de hoje, as crianças e os
adolescentes estão, cada vez mais conectados à internet, é importante que os pais
também exerçam o seu papel de proteção nesse ambiente, que, apesar de possuir
inúmeros benefícios, é também cheio de perigos:
54
[...] existem sites, pessoas e redes criminosas que podem enganar, seduzir ou induzir crianças e
adolescentes a acessar conteúdos inadequados, como pornografia, incluindo a infantojuvenil. Elas podem ser
encorajadas a enviar fotos e informações pessoais com propósitos duvidosos. [...] Por meio das ferramentas
de bate-papo, como chats, e-mails ou sites de relacionamento, crianças e adolescentes podem ser
convidados a participar de jogos online ou para encontros no “mundo real”. Essas mensagens podem
esconder intenções de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. Existem casos de crianças e
adolescentes que foram aliciados, cooptados ou raptados para fins sexuais, levados de um local para outro
com falsas ofertas de trabalho, como para se tornarem modelos ou jogadores de futebol (CHILHOOD BRASIL,
2013, p. 15).

Alcançar a proteção desejada não é uma tarefa impossível. Os pais devem


aprender sobre a internet e, sempre incentivando o diálogo aberto, conversar com
os filhos sobre o que eles também sabem. Entender o conhecimento da criança e
adolescente em relação aos acessos à internet permitirá um controle mais efetivo. É
importante conhecer as possibilidades de uso da internet (para o bem e para o
mal), acessando sites, redes sociais, aplicativos de mensageria, jogos virtuais,
filmes, desenhos e demais conteúdos de interesse dos seus filhos e constatar
se realmente possuem conteúdo adequado e oferecem um ambiente seguro.
Essa compreensão, na visão de Barreto e Fonseca (2020), facilitará a tomada
de medidas de segurança e assegurará maior proteção e privacidade para as crianças
e adolescentes. Nesse sentido, os autores citam algumas medidas que podem ser
adotadas quando da utilização dessas plataformas:

 Configuração de privacidade nas redes sociais, especialmente dos dados relacionados com
geolocalização, data de nascimento, telefone, e-mail, nome dos pais e qualquer outro referente a
informações pessoalmente identificáveis;
 Ajustes no WhatsApp para ocultar informações sobre fotos de perfil, permissão para adição em grupos,
compartilhamento de status além de habilitar a configuração em duas etapas para evitar a “clonagem”
do WhatsApp;
 Orientação na postagem de conteúdo;
 Cautela com smart toys e outros devices conectados;
 Cuidados com o acesso remoto de dispositivos, especialmente de webcams. Recomenda-se a utilização
de adesivos ou outro meio que permita sua ocultação quando não estiver em uso e;
 Atenção para os games online e os recursos de configuração de privacidade e segurança (BARRETO;
FONSECA, 2020).

FAÇA VOCÊ MESMO!


COMO ATIVAR A ‘CONFIRMAÇÃO EM DUAS ETAPAS’? Para ativar esse recurso no WhatsApp abra: Configurações (Android) /
Ajustes (iOS) > Conta > Confirmação em duas etapas > ATIVAR. Ao ativar esse recurso, você pode inserir o seu endereço de e-mail.
Caso você esqueça o seu PIN de seis dígitos, o WhatsApp enviará um link a esse e-mail para desativar a ‘Confirmação em duas etapas’.
Isso também ajudará você a proteger sua conta e suas informações.

Quanto mais bem informados os pais estiverem, mais fácil será a conversa com
os filhos, orientando-os sobre os riscos existentes e a supervisão da navegação. Para
realizar essa supervisão, é possível criar filtros nos celulares, tablets e jogos
online. Há várias formas de monitorar ou impedir o acesso a conteúdos
impróprios para crianças e adolescentes. Ative o Controle Parental (ou Controle
55
dos Pais), que “é um conjunto de recursos de segurança disponível em diversos
sistemas operacionais, sites e equipamentos, como roteadores e consoles de jogos.
Também pode ser instalado por meio de aplicativos pagos ou gratuitos” (CERT.BR,
2019, p. 12). Sobre este assunto, Barreto e Fonseca (2020) assinalam que existem
diversos softwares com ferramentas para restrição de acesso, definição de horários e
monitoramento de assuntos a serem acessados
pelas crianças. E adolescentes. Dentre as várias
opções existentes, eles indicam as seguintes: Bark
(www.bark.us), para o monitoramento de redes sociais;
Qustodio (www.qustodio.com), para o controle de
adolescentes; Net Nanny (www.netnanny.com), para o
controle de crianças, e, também, o Kaspersky Safe Kids (www.kaspersky.com/safe-kids), com
funções semelhantes.

DICAS DE CONTEÚDO!
O Ministério da Justiça e Segurança Pública, atentando-se à importância e necessidade de munir os pais e
responsáveis do conhecimento necessário para proteger as crianças e os adolescentes no ambiente virtual,
disponibilizou através do link <https://www.justica.gov.br/seus-direitos/classificacao/Controle-parental> informações sobre como
<

ativar o Controle Parental em diversas plataformas virtuais.

Os menores também devem ser orientados sobre a privacidade, não devendo


divulgar dados pessoais, como nome, endereço, telefone, fotografias, escola e
e-mail em locais públicos da internet, como salas de bate-papo e sites de
relacionamento. Não é recomendado postar fotos com uniformes de escola. Os
mecanismos de segurança de sites ou redes sociais devem ser ativados, uma vez que
há informações que podem ser classificadas como ‘públicas’ e ‘privadas’.
Da mesma forma, deve-se nortear os menores a não conversarem com
estranhos na internet, pois infelizmente há pessoas que se aproximam com más
intenções. As crianças e adolescentes precisam ser orientadas a nunca marcar
encontros com desconhecidos ou pessoas que conhecem apenas na internet. Os pais
podem ainda verificar com regularidade o histórico de acesso dos computadores. A
melhor opção é que “os equipamentos de acesso à rede estejam situados em
locais comuns da casa, onde possa haver supervisão de adultos,
diferentemente do isolamento de um quarto” (BARRETO; FONSECA, 2020)
Somado a isso, é essencial observar o comportamento do menor no uso da internet.

Atitudes como minimizar ou fechar aplicativos, trancar a porta do quarto, bloquear o celular ou tablet
e ficar nervoso quando você está por perto podem indicar que seus filhos estão tentando esconder
56
algo e, possivelmente, correndo riscos. Esse é o momento para tentar conversar e entender o que
está ocorrendo. A relação de confiança é o mais importante. Converse e ouça antes de julgar, para que eles
não tenham medo de relatar algum incômodo (CERT.BR, 2019, p. 9). (grifo nosso)

Por fim, deve-se sempre limitar o tempo de utilização da internet por


meninos e meninas. “O uso excessivo da Internet pode colocar em risco a saúde
física e psicológica dos seus filhos, atrapalhar o rendimento escolar e afetar a vida
social” (CERT.BR, 2019, p. 4). Não é saudável permitir que eles fiquem por longos
períodos em frente ao computador, tablet ou celular. A compra de um celular ou tablet
para crianças deve, inclusive, ser analisada com cautela, verificando se há maturidade
para o uso de tais equipamentos, uma vez que o acesso oferece diversos riscos.
Em síntese, é essencial que os pais orientem seus filhos quanto a uma
navegação segura, de modo a permitir que eles desfrutem das facilidades e
oportunidades do mundo virtual com responsabilidade e as orientações necessárias
sobre como proceder diante de possíveis riscos de
contato com pessoas mal-intencionadas e
conteúdo impróprio. Por isso, é fundamental
estimular o diálogo aberto, contribuindo para
que a criança ou adolescente se sinta
confortável e seguro para compartilhar e tirar
dúvidas com os adultos de sua confiança.
Por fim, em quaisquer hipóteses, se a criança ou adolescente relatar situação
de violência sexual, esteja disponível para ouvi-lo e incentivá-lo a falar devagar o
que aconteceu, sem muitas perguntas e comentários. É muito importante não o
culpar pela situação e sempre oferecer proteção e apoio, assegurando-lhe de que
tomará as providências necessárias, o que deve ser feito o mais rápido possível. De
acordo com a situação relatada, deve-se consultar um médico e um psicólogo e
informar as autoridades competentes, como a Polícia Civil de Minas Gerais.

MEU(MINHA) FILHO(A) FOI VÍTIMA. COMO PROCEDER?

De imediato, 1) Verifique todos os canais por meio dos quais a criança ou adolescente teve contato com o possível criminoso e não
apague nenhuma das conversas e conteúdos (vídeos ou fotos) compartilhados. 2) Se o diálogo se deu em uma rede social, por exemplo,
copie a URL8 (link) do perfil e o nome do usuário (veja como fazer mais adiante). 3) Tire cópia de todas as conversas e demais conteúdos;
salve em um CD ou pendrive, se for preciso. 4) Anote o(s) dia(s), horário(s) e a cidade(s)/UF(s) em que o menor estava durante as conversas
com o suposto criminoso. 5) De posse dessas informações e, se possível, acompanhado do menor de idade, dirija-se à Delegacia mais
próxima e registre um boletim de ocorrência.

8
URL significa Uniform Resource Locator (Localizador Padrão de Recursos) e, neste curso, será utilizada apenas para indicar o endereço ou link
de um site, como, por exemplo, www.policiacivil.mg.gov.br.
57
FAÇA VOCÊ MESMO!
COMO SALVAR A URL (ou LINK) DE UM PERFIL? Uma das primeiras medidas a ser adotada quando ocorre a prática de um crime
em uma rede social é coletar os dados do titular da conta ou perfil. E isso a própria vítima (ou responsável) pode fazer. Tratando-se de
crime praticado no Facebook ou Instagram, por exemplo, deve-se coletar de imediato a URL (ou link) da conta a ser investigada, isto é,
o seu endereço web completo.
Quando o acesso ao Facebook é feito através de um computador, a URL pode ser identificada na barra de endereços do navegador,
conforme imagem abaixo:

Nesse caso, a URL é www.facebook.com/luiza.paranhos.581.


Quando o acesso ao Facebook é feito pelo aplicativo do celular, o procedimento é o seguinte:

No Instagram, quando o acesso é feito a partir do computador, a identificação da URL do perfil opera-se de maneira semelhante,
isto é, a partir da barra de endereços do navegador. Veja:

Esses dados também podem ser coletados no aplicativo do celular:

58
Quando o acesso ao Facebook é feito através de um computador, a URL pode ser identificada na barra de endereços do navegador,
conforme imagem abaixo:
Esse é um procedimento deve ser usado em relação a quaisquer crimes praticados nessas redes sociais. É muito simples e
representa uma ajuda muito importante para a investigação criminal. NÃO SE ESQUEÇA!

DICAS DE CONTEÚDO!
O Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil (CERT.BR), juntamente
Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.BR) e o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.BR),
criaram uma cartilha com o título “Internet segura para seus filhos: sua participação é muito importante”, que dá diversas dicas
<

para os pais sobre como orientar seus filhos a navegarem com segurança na internet, atentando-se para os riscos existentes. Acesse
o conteúdo em: <https://internetsegura.br/pdf/guia-internet-segura-pais.pdf>.
No mesmo sentido é a Cartilha “Navegar com Segurança: por uma infância conectada e livre da violência sexual”, da
CHILDHOOD BRASIL, que dá maior enfoque à proteção das crianças e adolescentes contra as várias formas de violência sexual e pode
ser acessada pelo endereço <https://crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/childhood/navegue_com_seguranca_3ed_2012.pdf>.

7.6 Como e onde denunciar

Diante de todas as informações apresentadas ao longo deste curso, resta-nos,


por fim, apresentar as várias formas e locais em que é possível realizar denúncias de
situações (e, até mesmo, suspeitas) da prática de violência sexual contra crianças e
adolescentes.
Assim, é possível proceder às denúncias junto à POLÍCIA CIVIL DE MINAS
GERAIS (e de outros Estados). Em Belo Horizonte, há uma Delegacia Especializada
em Proteção à Criança e ao Adolescente, localizada na Avenida Nossa Senhora de
Fátima, 217 – Carlos Prates. Esta delegacia apura os crimes sexuais praticados contra
crianças e adolescentes ocorridos na capital e conta com profissionais qualificados
para realizar a escuta dos menores. O atendimento da Especializada também é feito
59
no Centro Integrado de Defesa e Proteção à Criança e ao Adolescente, localizado na
Avenida Olegário Maciel, 515 – Centro, Belo Horizonte / MG.
Os crimes de natureza sexual praticados por meio da internet, por sua vez, são
investigados pelas Delegacias Especializadas em Investigação de Crime Cibernético,
localizadas na Avenida Francisco Sales, 780 – Santa Efigênia, em Belo Horizonte /
MG. Essa Unidade Especializada também possui profissionais capacitados para a
investigação de crimes cujas evidências estão contidas no meio virtual, com a devida
identificação dos autores. A competência para realizar as investigações abrange a
cidade de Belo Horizonte e o suporte técnico é dado a todas as demais Unidades de
Polícia Civil do Estado.
O registro da ocorrência pode ser realizado nas Delegacias Especializadas ou
em qualquer outra Unidade Policial. Após o registro, a Polícia Civil irá apurar os fatos
noticiados através de um procedimento investigatório.
Outra forma de realizar as denúncias é através do DISQUE DIREITOS
HUMANOS – DISQUE 100. Por meio desse serviço, o Ministério da Mulher, da Família
e dos Direitos Humanos recebe, analisa e encaminha aos órgãos de proteção e
responsabilização as denúncias de violações dos direitos de crianças e adolescentes,
pessoas idosas, pessoas com deficiência, população LGBT, população em situação
de rua, entre outros. Funciona diariamente, 24 horas por dia, e qualquer pessoa pode
noticiar violações de direitos humanos.
Se o cidadão tiver o interesse de acompanhar a denúncia, basta ligar para o
Disque 100 e fornecer os dados da denúncia. Além disso, algumas informações são
muito importantes para realizar o registro de qualquer denúncia pelo Disque 100. São
elas:

Quem sofre a violência? (vítima)


Qual tipo violência? (violência física, psicológica,
maus tratos, abandono, etc.)
Quem pratica a violência? (suspeito)
Como chegar ou localizar a vítima/suspeito?
Endereço (estado, município, zona, rua, quadra,
bairro, número da casa e ao menos um ponto de
referência)
Há quanto tempo ocorreu ou ocorre a violência?
(frequência)
Qual o horário?
Em qual local?
Como a violência é praticada?
Qual a situação atual da vítima?
Algum órgão foi acionado?

As denúncias também
podem ser feita na POLÍCIA
60
MILITAR. Nos casos de urgência, a Polícia Militar deve ser acionada através do
número 190, e policiais militares comparecerão ao local dos fatos para a condução
dos envolvidos à Delegacia de Polícia, em estado de flagrante ou lavratura do Boletim
de Ocorrência.
É possível, ainda, fazer as denúncias no CONSELHO TUTELAR. Como
estudado neste capítulo, o Conselho Tutelar é um órgão essencial na proteção de
crianças e adolescentes e pode receber informações de violências praticadas contra
meores, ocasião em que comunicará aos órgãos cabíveis, como a Polícia Civil e o
Ministério Público, além de adotar de forma imediata medidas de proteção.
As unidades de saúde deverão notificar os casos suspeitos ou confirmados de
violência contra crianças e adolescentes no Sinan (setor Saúde) e ao Conselho
Tutelar, de forma obrigatória, conforme previsto no art. 13 da ECA. No mesmo sentido,
as unidades de ensino também deverão notificar ao Conselho Tutelar os casos de
maus tratos envolvendo seus alunos, de acordo com o art. 56 do ECA.
O MINISTÉRIO PÚBLICO, através das Promotorias de Justiça que atuam na
defesa dos direitos das crianças e adolescentes, também está apto a receber
denúncias da prática de violência sexual.
Por fim, é possível realizar denúncias na INTERNET, através da SaferNet
Brasil, cujo site pode ser acessado através do endereço https://new.safernet.org.br/denuncie#.
A SaferNet Brasil oferece um serviço de recebimento de denúncias anônimas de
crimes e violações contra os Direitos Humanos na Internet, contando com
procedimentos efetivos e transparentes para lidar com as denúncias. Caso encontre
imagens, vídeos, textos, músicas ou qualquer tipo de material que seja atentatório aos
Direitos Humanos, faça a sua denúncia.
Vê-se, portanto, que muitos são os canais para proceder à denúncia de crimes
de violência sexual contra crianças e adolescentes, os quais devem ser usados por
todos nós para a proteção dos meninos e meninas em condição de violência e risco.

61
8 CONCLUSÃO

As crianças e adolescentes são as principais vítimas de variadas formas de


violência, praticadas em todas as partes do mundo e, também, no Brasil. Infelizmente,
dentre essas abomináveis práticas, destaca-se a violência de natureza sexual, que
demanda uma reprimenda ainda maior por parte do Estado.
Como visto neste curso, várias são as condutas que caracterizam a violência
sexual contra meninos e meninas, não se limitando, apenas, à própria prática do ato
sexual. Condutas como divulgar material pornográfico e exigir que uma criança se
apresente de forma sensual e erótica é tão grave quanto a prática do estupro, uma
vez que todos, em conjunto, integram uma rede que financia o crime organizado, a
máfia mundial de exploração sexual de crianças e adolescentes e muitos outros
crimes, que, diariamente e de forma violenta, tiram a vida, a integridade e a dignidade
de inocentes meninos e meninas, sem escolha e sem defesa.
A prática de crimes relacionados à violência sexual contra menores constitui,
além da violação, uma verdadeira crueldade à individualidade e à coletividade de
crianças e adolescentes, em tenra idade e pleno estágio de desenvolvimento físico,
moral, psíquico e social, em situação de extrema vulnerabilidade, que, muitas vezes,
são torturadas de forma desumana e degradante. A Constituição Federal impõe
integral, absoluta e especial proteção, conforme se extrai do citado art. 227.
A dimensão e gravidade dos delitos praticados devem ser encaradas com a
devida importância, levando-se em consideração a necessidade de preservar a
dignidade e privacidade de cada menino e menina, brasileiro ou estrangeiro, bem
como o direito humano de que cresçam sem abusos, sem vícios, sem ferimentos na
honra, traumas, maus-tratos, torturas ou violência de qualquer natureza. As crianças
e adolescentes merecem respeito em seus valores mais íntimos e a eles deve ser
ofertado um lar acolhedor, uma família integrada, uma escola e uma sociedade
baseada em princípios sólidos e saudáveis, onde possam estar protegidos de toda
forma desumana de violação de sua integridade corporal, moral e psíquica. Do
contrário, essas crianças e adolescentes estarão fadados a mortes prematuras e,
quando sobreviventes, serão, na grande maioria das vezes, assombrados por marcas
irremediáveis e distúrbios pós-traumas de todas as ordens.
A prevenção é, sem dúvidas, de suma importância para o enfrentamento ao
abuso e à exploração sexual infanto-juvenil, incluindo os cuidados com a internet. O
Estado, a sociedade e os pais têm um papel primordial nessa proteção e todos
devemos fazer, diariamente, a nossa parte. DENUNCIE!
62
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