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Universidade de Caxias do Sul

Professor Pedro Pomnitz


Direito Penal II

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL - TÍTULO VIi


Este Título sofreu profundas alterações em decorrência da aprovação da Lei n.
12.015/2009. Até o nome foi modificado, pois, anteriormente, se chamava “Dos Crimes Contra
os Costumes”. A intenção do legislador quanto a tal alteração, dando relevo à dignidade sexual,
que é corolário natural da dignidade da pessoa humana, bem jurídico tutelado nos termos do
art. 1.º, III, da Constituição Federal, foi a de evitar que a interpretação da lei, realizada com
fundamento no nome do Título, continuasse a se dar com base em hábitos machistas ou
moralismos antiquados e eventuais avaliações dos julgadores sobre estes.
Houve patente evolução na legislação penal, em consonância com a modernização dos
costumes na sociedade. Somente para ilustrar, note-se como era definido o vocábulo costumes,
nas palavras de Nélson Hungria:
“hábitos da vida sexual aprovados pela moral prática, ou, o que vale o mesmo, a
conduta sexual adaptada à conveniência e disciplina sociais. O que a lei penal se
propõe a tutelar, in subjecta materia, é o interesse jurídico concernente à
preservação do mínimo ético reclamado pela experiência social em torno dos
fatos sexuais. [...] costumes aqui deve ser entendido como a conduta sexual
determinada pelas necessidades ou conveniências sociais. Os crimes capitulados
pela lei representam infrações ao mínimo ético exigido do indivíduo nesse setor
de sua vida de relação”.
O que o legislador deve policiar, à luz da Constituição Federal de 1988, é a dignidade
da pessoa humana, e não os hábitos sexuais que porventura os membros da sociedade resolvam
adotar, livremente, sem qualquer constrangimento e sem ofender direito alheio, ainda que, para
alguns, possam ser imorais ou inadequados. Foi-se o tempo em que a mulher era vista como um
símbolo ambulante de castidade e recato, no fundo autêntico objeto sexual do homem.
Pela simples leitura do texto, percebe-se, nitidamente, o interesse em manter, nessa
época, a mulher alheia à vida sexual, sendo sempre o objeto, nunca a condutora dos interesses
ou desejos, razão pela qual era, nesse prisma, difícil ou impossível conceber o “estupro do
homem pela mulher”, o que é perfeitamente possível de ocorrer, tanto assim que há, também,
incriminação em outros países – Argentina, Itália, Uruguai, Venezuela e México. O Código
Penal estava a merecer, nesse contexto, reforma urgente, compreendendo-se a realidade do
mundo moderno, sem que isso represente atentado à moralidade ou à ética, mesmo porque tais
conceitos são mutáveis e acompanham a evolução social. Na atualidade, há nítida liberação
saudável da sexualidade e não poderia o legislador ficar alheio ao mundo real. Portanto, merece
aplauso o advento da Lei 12.105/2009, inserindo mudanças estruturais no Título VI da Parte
Especial do Código Penal.
Ao mencionar a dignidade sexual como bem jurídico protegido, ingressa-se em cenário
moderno e harmônico com o texto constitucional, afinal, dignidade possui a noção de decência,
compostura e respeitabilidade, atributos ligados à honra. Associando-se ao termo sexual,
insere-se no campo da satisfação da lascívia ou da sensualidade. Ora, considerando-se o
direito à intimidade, à vida privada e à honra (art. 5.º, X, CF), nada mais natural do que garantir
a satisfação dos desejos sexuais do ser humano de forma digna e respeitada, com liberdade
de escolha, porém, vedando-se qualquer tipo de exploração, violência ou grave ameaça. Ainda

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assim, poderia a referida lei ter sido mais ousada, extirpando figuras como “mediação para
satisfazer a lascívia de outrem”, “lugar para exploração sexual” ou “ato obsceno”, que poderiam
ser resolvidas de outra maneira, se efetivamente abusivas, sem a necessidade de se valer do
direito penal para tanto.
O respeito à dignidade humana conduz e orquestra a sintonia das liberdades
fundamentais, pois estas são os instrumentos essenciais para alicerçar a autoestima do
indivíduo, permitindo-lhe criar seu particular mundo, no qual se desenvolve, estabelece laços
afetivos, conquista conhecimento, emite opiniões, expressa seu pensamento, cultiva seu lar,
forma família, educa filhos, mantém atividade sexual, satisfaz suas necessidades físicas e
intelectuais e se sente. Decorre, pois, do princípio regente da dignidade da pessoa humana o
novo Título VI da Parte Especial do Código Penal: a dignidade sexual.
É composto de seis Capítulos, mas o Capítulo III, que tratava dos crimes de rapto,
encontra-se integralmente revogado. O crime de tráfico de pessoa para fim de prostituição ou
outra forma de exploração sexual, que integra o nome do Capítulo V, foi expressamente
revogado pela Lei n. 13.344/2016. Referida conduta passou a tipificar crime de “tráfico de
pessoas”, previsto no art. 149-A do Código Penal:
▪ Capítulo I — Dos crimes contra a liberdade sexual;
▪ Capítulo I-A — Da exposição da intimidade sexual;
▪ Capítulo II — Dos crimes sexuais contra vulnerável;
▪ Capítulo III – Do Rapto
▪ Capítulo IV — Disposições gerais;
▪ Capítulo V — Do lenocínio e do tráfico de pessoa para fim de prostituição
ou outra forma de exploração sexual;
▪ Capítulo VI — Do ultraje público ao pudor;
▪ Capítulo VII — Disposições gerais.

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ESTUPRO – Art. 213

Trata-se de modalidade especial de constrangimento ilegal, praticado com o fim de fazer


com que o agente tenha sucesso no congresso carnal ou na prática de outros atos libidinosos.
Violência diz respeito à utilização de força física, no sentido de subjugar a vítima, para
que com ela possa praticar a conjunção carnal, ou a praticar ou permitir que com ela se pratique
outro ato libidinoso. As vias de fato e as lesões corporais de natureza leve são absorvidas pelo
delito de estupro simples.
A grave ameaça, ou vis compulsiva, pode ser direta, indireta, implícita ou explícita. O
mal prometido pelo agente, para efeito de se relacionar sexualmente com a vítima, contra a sua
vontade, não deve ser, necessariamente, injusto, como ocorre com o delito tipificado no art. 147
do CP. Para a caracterização do crime é preciso que não tenha havido o consentimento da
vítima para o ato sexual, pois, caso contrário, estaremos diante de um fato atípico, desde que
a vítima não seja considerada como pessoa vulnerável.
Trata-se de crime comum (aquele que não demanda sujeito ativo qualificado ou
especial); material (delito que exige resultado naturalístico, consistente no efetivo tolhimento
da liberdade sexual da vítima); delito de forma livre (pode ser cometido por meio de qualquer
ato libidinoso); comissivo (“constranger” implica ação) e, excepcionalmente, comissivo por
omissão (omissivo impróprio, ou seja, é a aplicação do art. 13, § 2.º, do Código Penal);
instantâneo (cujo resultado se dá de maneira instantânea, não se prolongando no tempo); de
dano (consuma-se apenas com efetiva lesão a um bem jurídico tutelado); unissubjetivo (que
pode ser praticado por um só agente); plurissubsistente (como regra, vários atos integram a
conduta); admite tentativa, embora de difícil comprovação.

Os elementos que integram o crime de estupro:


1) constrangimento (forçar) mediante violência física ou grave ameaça;
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2) dirigido a qualquer pessoa, seja do sexo feminino ou masculino;
3) para ter conjunção carnal (cópula vagínica);
4) ou, ainda, para fazer com que a vítima pratique ou permita que com ela se pratique
qualquer ato libidinoso (ato que excita o prazer, a libido ou a sexualidade; ex. sexo
oral).

Qualificadoras:
Os §§ 1º e 2º, do art. 213 CP, elencam as formas qualificadas do estupro, alterando o
mínimo e o máximo das penas previstas em abstrato.
Ao todo são três as qualificadoras: (a) Estupro qualificado pela lesão corporal de
natureza grave (§ 1º, primeira parte); (b) Estupro qualificado pela idade da vítima (§ 1º, última
parte); e (c) Se da conduta resulta morte (§ 2º).
Por lesão corporal de natureza grave devemos entender aquelas previstas nos §§ 1º e 2º
do art. 129 do CP. Ou seja, A expressão lesão corporal de natureza grave foi utilizada em sentido
amplo (considera) as lesões corporais graves e gravíssimas. Eventuais lesões corporais leves
decorrentes da violência empregada ficam absorvidas pelo estupro (crime-fim). Os resultados
que qualificam a infração penal somente podem ser imputados ao agente a título de culpa,
cuidando-se, outrossim, de crimes eminentemente preterdolosos.
Duas correntes se
formaram quando e o resultado
que qualifica o crime ocorrer
antes da consumação do estupro,
a saber:
Se o resultado que agrava especialmente a pena for proveniente de caso fortuito ou força
maior, o agente não poderá ser responsabilizado pelas modalidades qualificadas.
Se a vítima é menor de 18 e maior de 14 anos. Se a vítima for menor de 14 anos, o crime
será o de estupro de vulnerável (art. 217-A CP), independentemente do emprego da violência
ou grave ameaça. Os adolescentes entre 14 (quatorze) e 18 (dezoito) anos de idade merecem
especial proteção. A prática de um ato sexual violento, nessa idade, certamente trará distúrbios
psicológicos incalculáveis, levando esses jovens, muitas vezes, ao cometimento, também, de
atos violentos, e até mesmo similares aos que sofreram.
Deve ser frisado que, mesmo havendo a menor idade da vítima se ocorrer o resultado
morte será aplicado o § 2º do art. 213 do CP, pois as penas deste último são maiores do que
aquelas previstas pelo § 1º do referido artigo.

Especificidades e curiosidades:
▪ Beijo roubado: crime de estupro ou de importunação sexual (art. 215-A CP):
- No REsp 1.611.910-MT, decidido pela 6ª Turma do STJ, foi julgado um caso
no qual "o acusado agarrou a vítima pelas costas, imobilizou-a, tapou a sua
boca e jogou-a no chão, ocasião em que tirou uma blusa de lã que ela trajava e
deu-lhe um beijo, conseguindo inserir a língua na sua boca" No julgado o STJ

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entendeu tratar-se do crime de Estupro, previsto no art. 213-A do CP, pois o
beijo aplicado de modo lascivo ou com fim erótico é considerado um ato
libidinoso (ato de natureza sexual, diverso da conjunção carnal) e com certeza
houve o emprego de violência física.1
▪ Exame de corpo de delito:
- Como regra, o estupro, se houver penetração vaginal ou anal, é uma infração
penal que deixa vestígios, razão pela qual, nos termos do art. 158 do CPP,
haveria necessidade de realização do exame de corpo de delito, direto ou
indireto.
- No entanto, há situações em que tal exame se faz completamente desnecessário,
permitindo a condenação do agente mesmo diante da sua ausência nos autos.
▪ Consumação e tentativa:
- Quando a conduta do agente for dirigida finalisticamente a ter conjunção carnal
com a vítima, o delito se consuma com a efetiva penetração do pênis do homem
na vagina da mulher.
- Quanto à segunda parte do art. 213 do CP, consuma-se o estupro quando o
agente, depois da prática do constrangimento levado a efeito mediante violência
ou grave ameaça, obriga a vítima a praticar ou permitir que com ela se pratique
outro ato libidinoso diverso da conjunção carnal.
▪ Crime único ou concurso de crimes: haja vista que os comportamentos se encontram
previstos na mesma figura típica, devendo ser entendida a infração penal como de ação
múltipla (tipo misto alternativo), aplicando-se somente a pena cominada no art. 213 do
CP, por uma única vez. Contudo, se após a prática de um ato libidinoso, após algum
tempo, o agente vier a praticar outro ato contra a vítima, ocorrerá a continuidade
delitiva, por tratar-se de dois ou mais crimes, praticados nas mesmas condições de
tempo, lugar etc. Assim, praticando o agente mais de um núcleo, dentro do mesmo
contexto fático, não se desnatura a unidade do crime (dinâmica que deverá se analisada
por ocasião da dosimetria da pena - art. 59 do CP). Nesse sentido: “A atual
jurisprudência desta Corte Superior entende que, “como a Lei 12.015/2009 unificou os
crimes de estupro e atentado violento ao pudor em um mesmo tipo penal, deve ser
reconhecida a existência de crime único de estupro, caso as condutas tenham sido
praticadas contra a mesma vítima e no mesmo contexto fático” (AgRg no AREsp n.
233.559/BA, Rel. Ministra Assusete Magalhães, 6ª T., DJe 10/2/2014, destaquei), o que
torna inviável a incidência do concurso material de crimes, previsto no art. 69 do Código
Penal” (STJ: REsp 1288328 / DF, DJe 15/05/2017).
▪ Marido como sujeito ativo do estupro: 1ª corrente: hoje já superada, entendia que,
em virtude do chamado débito conjugal, previsto pelo CC (art. 1.566, II), o marido que
obrigasse sua esposa ao ato sexual agiria acobertado pela causa de justificação relativa
ao exercício regular de um direito. 2ª corrente: o marido somente poderá relacionar-se
sexualmente com sua esposa com o consentimento dela. Em virtude da nova redação
constante do art. 213 do CP, a esposa também poderá figurar como autora do delito de
estupro praticado contra seu próprio marido.
▪ Médico que realiza exame de toque na vítima com intenção libidinosa: Nesse caso,
deverá responder pelo delito tipificado no art. 215 do CP.

1
https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componenteATC&sequencial=65127286&num
_registro=201302492356&data=20161027&tipo=91&formato=PDF
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▪ Agressão a vítima em zonas sexuais, com o fim de humilhá-la: Dependendo da
gravidade do fato praticado pelo agente, seu comportamento poderá ser considerado
típico do delito previsto pelo art. 140, § 2º (injúria real), se era sua finalidade humilhar
a vítima. No entanto, ressalvamos que cada caso merecerá atenção específica.
▪ Estupro com a finalidade de transmitir o vírus HIV: deverá responder em concurso
formal impróprio, por duas infrações penais, ou seja, pelo delito de estupro (consumado)
e pela tentativa de homicídio, enquanto houver sobrevida da vítima, aplicando-se,
outrossim, a regra relativa ao cúmulo material, com a soma das penas correspondentes
às duas infrações penais, nos termos preconizados pela parte final do art. 70 do CP. Caso
a vítima venha a falecer, o agente será responsabilizado pelo homicídio consumado, se
ainda não houver o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.
▪ Destituição do poder familiar: Perderá também por ato judicial o poder familiar aquele
que praticar, contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar, estupro ou outro
crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de reclusão; praticar contra filho, filha
ou outro descendente, estupro, estupro de vulnerável ou outro crime contra a dignidade
sexual sujeito à pena de reclusão.

* A impotência sexual, denominada de “impotência coeundi” (incapacidade do homem de


obter a ereção peniana), o que o impede de praticar os atos de penetração, pode
descaracterizar o delito de estupro e configurar um crime impossível?

* Vejamos os seguintes exemplos: (I) uma pessoa, via webcam, mostra a outra que sua mãe
está em seu poder e, ameaçando matá-la com uma arma apontada para sua cabeça, pede para
que tire sua roupa (do outro lado da tela) com o intuito de satisfazer sua lascívia (desejo sexual),
masturbando-se; (II) um hacker invade o computador de alguém e, com as informações
pessoais importantes e confidenciais (como um vídeo de sexo caseiro) ali contidas, por meio de
ameaças de divulgação do conteúdo, obriga o dono (ou a dona) do material a satisfazer sua
lascívia, também via webcam (mostrando os seios, genitália, masturbando-se…). Estupro
virtual, é crime?2

Causas de aumento:
São identificadas e definidas através das Disposições Gerais nos art. 226 e 234-A, do
Código Penal:

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https://www.conjur.com.br/2020-mar-03/universitario-condenado-tj-rs-estuprovirtual-
crianca
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VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE – Art. 215

O verbo ter pode ser entendido no sentido de que tanto o homem quanto a mulher podem
praticar o delito em estudo quando a finalidade for a conjunção carnal, desde que estejamos
diante de uma relação heterossexual.
Na modalidade “outro ato libidinoso”, “ao contrário da primeira (ter conjunção carnal),
admite homem com homem e mulher com mulher, sem nenhuma dificuldade linguístico-
dogmática. Em outros termos, tendo como vítima tanto homem quanto a mulher, o que,
convenhamos, trata-se de grande inovação na seara dos direitos e liberdades sexuais”
(BITENCOURT, 2004, p. 65).
A fraude é um dos meios utilizados pelo agente para que tenha sucesso na prática da
conjunção carnal ou de outro ato libidinoso. É o chamado estelionato sexual. A fraude faz com
que o consentimento da vítima seja viciado, pois se tivesse conhecimento, efetivamente, da
realidade não cederia aos apelos do agente.
“A fraude utilizada na execução do crime não pode anular a capacidade de resistência
da vítima, caso em que estará configurado o delito de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP).
Assim, não pratica o estelionato sexual (art. 215 do CP), mas estupro de vulnerável (art. 217-A
do CP), o agente que usa psicotrópicos para vencer a resistência da vítima e com ela manter a
conjunção carnal” (CUNHA, 2009, p. 43).
Além da fraude, o agente pode se valer de outro meio que impeça ou dificulte a livre
manifestação de vontade da vítima. Cuida-se, in casu, da chamada interpretação analógica, ou
seja, esse outro meio utilizado deverá ter uma conotação fraudulenta, a fim de que agente possa
conseguir praticar as condutas previstas no tipo, a exemplo do que ocorre com a utilização de
algum meio artificioso ou ardiloso, nos mesmos moldes previstos para o delito de estelionato.
.
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IMPORTUNAÇÃO SEXUAL – Art. 215-A

A importunação tinha morada no art. 61, do Decreto-lei 3.688/1941 (Lei das


Contravenções Penais): Importunar alguém, em lugar público ou acessível ao público, de modo
ofensivo ao pudor; o qual foi revogado para substituí-lo pelo novo dispositivo.
Similar ao anterior, a consumação ocorre com efetiva prática do ato libidinoso,
admitindo tentativa (como tentar “passar a mão” nos seios de alguém no ônibus e ser impedido
por populares). Aliás, podem ser considerados atos libidinosos, práticas e comportamentos que
tenham finalidade de satisfazer o desejo sexual (apalpar, lamber, tocar, desnudar, masturbar-se
ou ejacular em público, dentre outros).
O núcleo do tipo é o verbo praticar, que tem o sentido de cometer, realizar, levar a efeito.
De acordo com a redação legal, o comportamento do agente é dirigido contra uma pessoa
específica, e sem que esta tenha dado sua anuência.
Importante salientar que os atos são praticados, como regra, pelo agente e nele próprio,
pois caso fossem levados a efeito na vítima o fato se configuraria em outra infração penal, a
exemplo do estupro.
Por ato libidinoso devemos entender aquele que tenha por finalidade saciar a libido do
agente, o seu prazer ou apetite sexual, desde que possua a relevância exigida pelo Direito Penal.
A conduta do agente deve ser dirigida a satisfazer a própria lascívia (luxúria, prazer
sexual) ou mesmo a de terceiro. Aqui também existe uma forma de proxenetismo, onde o agente
pratica os atos contra alguém, para que terceiro, o voyer, se satisfaça, com atos de
contemplação. Nesse caso, ambos responderão pela infração penal em estudo, em concurso de
pessoas, ou seja, tanto aquele que pratica o ato libidinoso, como aquele que ali se encontrava
tão somente para apreciar o agente na sua atuação.

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ASSÉDIO SEXUAL – Art. 216-A

O assédio sexual é um constrangimento feito com o objetivo de obter vantagem (favor)


ou benefício relativo ao sexo. Consuma-se independentemente de ter o agente conseguido esse
favorecimento sexual (crime formal). O núcleo “constranger” deve ter outra conotação que não
a utilização do emprego de violência ou grave ameaça.
No delito de assédio sexual, partindo do pressuposto de que seu núcleo prevê uma
modalidade especial de constrangimento, devemos entendê-lo praticado com ações por parte
do sujeito ativo que, na ausência de receptividade pelo sujeito passivo, farão com que este se
veja prejudicado em seu trabalho, havendo, assim, expressa ou implicitamente, uma ameaça.
No entanto, essa ameaça deverá sempre estar ligada ao exercício de emprego, cargo ou
função, seja rebaixando a vítima de posto, colocando-a em lugar pior de trabalho, enfim, deverá
sempre estar vinculada a essa relação hierárquica ou de ascendência, como determina a redação
legal.
A finalidade do constrangimento é a obtenção de vantagem ou favorecimento sexual.
Para tanto, o agente deve valer-se de sua condição de superior hierárquico ou ascendência
inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. A expressão “superior hierárquico” indica
uma relação de direito público, vale dizer, de Direito Administrativo, não se incluindo nela as
relações de direito privado.
Somente quando o agente for hierarquicamente superior à vítima ou quando houver
ascendência (situação de influência ou respeitoso domínio) da sua posição em seu emprego,
cargo ou função é que poderá ocorrer o delito. O STJ reconheceu que não é possível ignorar
a ascendência exercida pelo professor em relação aos seus alunos, já que devido à sua
posição, pode despertar admiração, obediência e temor nos alunos, e, em virtude disso, tem
condição de se impor para obter o benefício sexual. No caso julgado, o professor havia se
insinuado para uma aluna adolescente – tocando-a, inclusive – porque ela necessitava de alguns
pontos para ser aprovada.3
Em tese, as meras “cantadas” ou um “simples abraço” não configuram assédio sexual.
Porém, pode caracterizar o delito o convite para ir a locais sem qualquer relação com o trabalho;
comentários ousados e insistentes sobre beleza e/ou dotes físicos; toques indesejados (abraços
prolongados); exibição ou envio de fotos pornográficas (nudes); perguntas embaraçosas sobre
a vida pessoal do/da subordinado(a); pedidos para que o(a) trabalhador(a) se vista de forma
provocante ou sensual.
Causa de aumento de pena:

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https://migalhas.uol.com.br/quentes/310546/stj--assedio-sexual-pode-sercaracterizado-entre-professor-e-aluno
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REGISTRO NÃO AUTORIZADO DA INTIMIDADE SEXUAL - Art. 216-B


São quatro os comportamentos que se quer coibir, a saber: a) produzir, que tem o sentido
de criar, levar a efeito; fotografar, que é o ato de se capturar a imagem através de câmera
fotográfica, reproduzir, por processo fotográfico, que pode acontecer através de uma máquina
fotográfica, que possua exclusivamente essa função, ou mesmo telefones celulares,
computadores, etc que também possam capturar as imagens; filmar, que se consubstancia no
ato de gravar, reproduzir as imagens em movimento; ou, por fim, o ato de registrar, por qualquer
meio, vale dizer, qualquer comportamento que importe em captar as imagens da vítima, a
exemplo do que ocorre com os desenhos feitos à mão.
Essas condutas devem ter sido levadas a efeito a fim de produzir, fotografar, filmar ou
registrar, por qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter
íntimo e privado. É preciso que todos esses comportamentos tenham sido realizados sem a
expressa, ou mesmo tácita, autorização dos participantes.
O parágrafo único do art. 216-B determina, ainda, que incorrerá na mesma pena quem
realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio, ou qualquer outro registro com o fim de incluir
pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo.
A pluralidade de verbos nucleares (produzir, fotografar, filmar ou registrar, e realizar
montagem) indica tratar-se de um tipo misto alternativo, de modo que a prática de qualquer dos
verbos caracteriza a infração penal. E, a prática de uma ou mais condutas no mesmo contexto
fático, caracteriza crime único. O elemento subjetivo do tipo é o dolo, não se admitindo culpa.
O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa. entretanto, há que se ponderar que, sendo o sujeito
passivo criança ou adolescente incide o crime específico do art. 240, do ECA (Lei 8.069/90).
Cena de nudez representa a exposição das partes íntimas sem qualquer anteparo à visão
(estando a suposta vítima com trajes íntimos, o crime não se configura). Ato sexual deve ser
entendido como a conjunção carnal. Ato libidinoso é expressão genérica que abrange o ato
sexual. O tipo penal exige para a caracterização do crime que a “cena de nudez ou ato sexual
ou libidinoso”, seja realizada em caráter íntimo e privado, de modo que não haverá o crime
se ato sexual estiver sendo praticado em público. O tipo penal não pune a conduta daquele que
divulga ou publica, sem o consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia, tais
condutas estão tipificadas no art. 218-C CP.

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ESTUPRO DE VULNERÁVEL – Art. 217-A

O núcleo ter, previsto pelo mencionado tipo penal, ao contrário do verbo constranger,
não exige que a conduta seja cometida mediante violência ou grave ameaça. Basta, portanto,
que o agente tenha, efetivamente, conjunção carnal, que poderá até mesmo ser consentida pela
vítima, ou que com ela pratique outro ato libidinoso. Nessa última hipótese, a lei desconsidera
o consentimento de alguém menor de 14 (quatorze) anos, devendo o agente, que conhece a
idade da vítima, responder pelo delito de estupro de vulnerável.
A consumação se dá, dessa forma. com a simples prática de qualquer ato libidinoso ou
4
sexual. Não tem qualquer relevância o consentimento ou a experiência sexual anterior da
vítima, tampouco a existência de relacionamento amoroso entre os sujeitos.5 Atualmente há
uma grande discussão doutrinária e jurisprudencial acerca da possibilidade (ou não) da
relativização do consentimento da vítima e sua liberdade/capacidade sexual.
As condutas previstas no tipo penal do art. 217-A são as mesmas daquelas constantes
do art. 213 do CP, sendo que a diferença existente entre eles reside no fato de que no delito de
estupro de vulnerável a vítima, obrigatoriamente, deverá ser menor de 14 (quatorze) anos de
idade.6 Os núcleos ter e praticar pressupõem um comportamento positivo por parte do agente,
tratando-se, pois, como regra, de um crime comissivo. No
entanto, o delito poderá ser praticado via omissão imprópria,
na hipótese de o agente gozar do status de garantidor, nos
termos preconizados pelo art. 13, § 2º, do CP.

4
Súmula 593 do STJ: “O crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato
libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua
experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente.”
5
https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1775422&num
_registro=201802712634&data=20181203&formato=PDF
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Não é possível desclassificar crime de estupro de menor de 14 anos para importunação sexual – STJ, REsp
1684167
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No que diz respeito à idade da vítima, para que ocorra o delito em estudo, o agente,
obrigatoriamente, deverá ter conhecimento de ser ela menor de 14 (quatorze) anos, pois, caso
contrário, poderá ser alegado o chamado erro de tipo que, dependendo do caso concreto, poderá
conduzir até mesmo à atipicidade do fato, ou à sua desclassificação para o delito de estupro,
tipificado no art. 213 do CP.
Considera-se vulnerável não somente a vítima menor de 14 (quatorze) anos, mas
também aquela que possui alguma enfermidade ou deficiência mental (critério biológico), não
tendo o necessário discernimento para a prática do ato (critério psicológico, tal como ocorre em
relação aos inimputáveis, previstos pelo art. 26, caput, do CP), ou aquela que, por qualquer
outra causa, não pode oferecer resistência:
▪ Enfermidade mental deve-se compreender toda doença ou moléstia que
comprometa o funcionamento adequado do aparelho mental. Nessa
conceituação, devem ser considerados os casos de neuroses, psicopatias e
demências mentais. Deficiência, porém, significa a insuficiência, imperfeição,
carência, fraqueza, debilidade. Por deficiência mental entende-se o atraso no
desenvolvimento psíquico.
▪ Retardado mental é uma condição de desenvolvimento interrompido ou
incompleto da mente, a qual é especialmente caracterizada por
comprometimento de habilidades manifestadas durante o período de
desenvolvimento, as quais contribuem para o nível global da inteligência, isto é,
aptidões cognitivas, de linguagem, motoras e sociais.
É importante ressaltar que não se pode proibir que alguém acometido de uma
enfermidade ou deficiência mental tenha uma vida sexual normal, tampouco punir aquele que
com ele teve algum tipo de ato sexual consentido. O que a lei proíbe é que se mantenha
conjunção carnal ou pratique outro ato libidinoso com alguém que tenha alguma enfermidade
ou deficiência mental que não possua o necessário discernimento para a prática do ato sexual.
Não importa que o próprio agente tenha colocado a vítima em situação que a
impossibilitava de resistir ou que já a tenha encontrado nesse estado. Em ambas as hipóteses
deverá ser responsabilizado pelo estupro de vulnerável.
Noutro lado, a contemplação lasciva, é considerada como o ato de, sem tocar na
vítima, mesmo à distância, satisfazer a sua libido com a nudez alheia. A conduta de contemplar
lascivamente, sem contato físico, mediante pagamento, menor de 14 anos desnuda em motel
pode permitir a deflagração da ação penal para a apuração do delito de estupro de vulnerável.7

Modalidade qualificada: Seja a lesão corporal de natureza grave (art. 129, §§ 1º e 2º, CP) e/ou
mesmo a morte da vítima, devem ter sido produzidas em consequência da conduta do agente e
entendidos como crimes preterdolosos, vale dizer, derivadas do comportamento que era dirigido
finalisticamente no sentido de praticar o estupro.

7
https://migalhas.uol.com.br/depeso/247514/a-expressao--contemplacao-da-lascivia--e-o-que-o-stj-entende-por-
ela
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CORRUPÇÃO DE MENORES – Art. 218


Vide Lei 13.431/2017, que estabeleceu o sistema de garantia de direitos da criança e do
adolescente vítima ou testemunha de violência (vide Res. CNJ 299/2019, que dispõe sobre o
sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência,
de que trata a Lei 13.431/2017) e alterou a Lei 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente), temos a conduta delitiva de Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a
satisfazer a lascívia de outrem.
Trata-se de uma modalidade especial de lenocínio, em que o agente presta assistência à
libidinagem de outrem, tendo ou não a finalidade de obter vantagem econômica. A nota
diferencial, característica do lenocínio (em cotejo com os demais crimes sexuais), está em que,
ao invés de servir à concupiscência de seus próprios agentes, opera, em torno da lascívia alheia.
Típica de rufiões e traficantes de mulheres: todos atuam ora como mediadores, fomentadores
ou auxiliares, ora como especuladores parasitários.8 Aquele que pratica o lenocínio é conhecido
como proxeneta.
O núcleo induzir é utilizado no sentido não somente de incutir a ideia na vítima, como
também de convencê-la à prática do comportamento previsto no tipo penal. A vítima, aqui, é
convencida pelo proxeneta a satisfazer a lascívia de outrem. Por satisfazer a lascívia somente,
podemos entender aquele comportamento que não imponha à vítima, menor de 14 (quatorze)
anos, a prática de conjunção carnal ou outro ato libidinoso, uma vez que, nesses casos, teria o
agente que responder pelo delito de estupro de vulnerável, em virtude da regra constante do art.
29 do CP, que seria aplicada ao art. 217-A do CP.
Quando a lei penal menciona, na sua parte final, que a vítima deverá ser induzida a
satisfazer a lascívia de outrem, está afirmando, consequentemente, que deverá ser uma pessoa
ou grupo de pessoas determinadas.
E, embora o núcleo induzir nos dê a impressão de que a consumação ocorreria no
momento em que a vítima, menor de 14 (quatorze) anos, fosse convencida pelo agente a
satisfazer a lascívia de outrem, somos partidários da corrente que entende seja necessária a
realização, por parte da vítima, de pelo menos algum ato tendente à satisfação da lascívia de
outrem, cuidando-se, pois, de delito de natureza material. Tratando-se de um crime
plurissubsistente, no qual se permite o fracionamento do iter criminis, torna-se perfeitamente
admissível a tentativa.
Causas de aumento de pena: Vide arts. 226 e 234-A do CP, com as discussões que lhe são
pertinentes, levadas a efeito quando do estudo do art. 213 do mesmo diploma repressivo. Tendo
em vista a limitação contida no tipo penal, pois o menor de 14 (quatorze) anos não poderá
praticar a conjunção carnal ou mesmo outro ato libidinoso com o agente, será de difícil
ocorrência a hipótese em que sejam aplicadas as majorantes constantes do art. 234-A do CP.

8
Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem: Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 1o Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito) anos, ou se o agente é seu ascendente,
descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de
educação, de tratamento ou de guarda: Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
§ 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude: Pena - reclusão, de dois a oito
anos, além da pena correspondente à violência.
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.

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SATISFAÇÃO À LASCÍVIA – Art. 218-A

Para que ocorra o delito em estudo, é necessário que o agente esteja praticando a
conjunção carnal ou outro ato libidinoso na presença de menor de 14 (quatorze) anos.
Inicialmente, podemos concluir que, na primeira hipótese, embora o agente não tivesse
induzido o menor a presenciar o ato sexual que estava sendo realizado, sabia que este a tudo
assistia e, em virtude disso, permite que ali permaneça, pois isso também é uma forma de
satisfazer a sua própria libido ou mesmo a
de outrem. Por outro lado, o artigo
menciona também que o menor de 14
(quatorze) anos, embora não realize
nenhum ato de natureza sexual, é induzido
pelo agente a presenciar, a assistir à
prática da conjunção carnal ou outro ato
libidinoso. O núcleo induzir nos dá a ideia
de que o agente havia convencido o menor
a presenciar os atos sexuais.
Lascívia é sinônimo de sensualidade, luxúria, concupiscência e libidinagem. Assim, o
agente deve ter por finalidade uma dessas características, pois, caso isso não ocorra, isto é,
ausente essa finalidade especial exigida pelo tipo, o fato deverá ser considerado como atípico.

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FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO – Art. 218-B

O art. 218-B traz uma modalidade especial de delito de favorecimento da prostituição


ou outra forma de exploração sexual, com a diferença de que, in casu, a vítima é criança, ou
adolescente, ou alguém considerada vulnerável; foi introduzido no Código Penal, assim como
outros delitos sexuais, pela Lei no 13.431/2017, que estabeleceu o sistema de garantia de
direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência e alterou a Lei
8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).
A partir do I Congresso Mundial contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e
Adolescentes foram definidas quatro modalidades de exploração sexual:

O núcleo submeter nos fornece a ideia de que a vítima foi subjugada pelo agente, tendo
que se sujeitar à prática da prostituição ou outra forma de exploração sexual. Induzir tem o
significado de incutir a ideia, convencer alguém a se entregar à prostituição ou mesmo a outra
forma de exploração sexual; atrair significa fazer com que a pessoa se sinta estimulada à prática
do comércio do corpo ou de qualquer outro tipo de exploração sexual. Também incorre no delito
em estudo aquele que facilita a prostituição ou outra forma de exploração sexual. Aqui é
denominado de lenocínio acessório.
Inicialmente, tratando-se de vítima menor de 18 (dezoito) anos, somente poderá ser
responsabilizado pelo delito em estudo o agente que tiver efetivo conhecimento da idade da
pessoa que por ele fora submetida, induzida ou atraída à prostituição ou outra forma de
exploração sexual, ou que a tenha facilitado, ou mesmo impedido ou dificultado o seu
abandono. O erro sobre a idade da vítima poderá importar na desclassificação do fato para a
figura prevista pelo art. 228 do CP. Embora o tipo penal faça menção somente ao menor de 18
anos, para efeitos de configuração do delito em estudo, a idade mínima da vítima deverá ser de
14 (quatorze) anos, pois, caso contrário, o fato poderá subsumir-se à figura do estupro de
vulnerável, prevista pelo art. 217-A do CP.

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No que diz respeito à vítima que possua alguma enfermidade ou deficiência mental e
que não tenha o necessário discernimento para o ato, somente podemos compreender como tal
aquela que se deixa explorar sexualmente sem que alguém, para tanto, com ela mantenha
conjunção carnal ou outro ato libidinoso.
Isso porque, tratando-se de pessoa vulnerável, prevista pelo art. 217-A do CP, a prática
de um desses comportamentos se configurará como delito de estupro de vulnerável. Assim, para
que o agente responda pelo tipo penal previsto pelo art. 218-B do CP, sua conduta deve ser
dirigida tão somente no sentido de explorar o enfermo ou deficiente mental, que não tenha o
discernimento para o ato, sem que com ele seja praticada qualquer conduta libidinosa.
Cuida-se de tipo misto alternativo, no qual a prática de mais de um comportamento
previsto no caput do art. 218-B importará em crime único.
O tipo penal ainda trás duas condutas e circunstâncias de especial cuidado e controle: o
ato mercenário (§ 1º) e o aquele que realiza ato sexual com a vítima prostituída e quem detém
responsabilidade sob o local:

Quando a lei aponta como vítima do delito em estudo aquele que for portador de
enfermidade ou deficiência mental, e que não tinha o necessário discernimento para a prática
do ato, está se referindo somente à prática de atos que importem em exploração sexual, mas que
não digam respeito à conjunção carnal ou a outro ato libidinoso, pois que, se assim agisse o
agente, deveria ser responsabilizado pelo delito de estupro de vulnerável. Por outro lado, o inc.
I do mencionado parágrafo, visando a evitar a prática da prostituição, bem como qualquer outro
tipo de exploração sexual com os menores de 18 (dezoito) e maiores de 14 (quatorze), pune
com as mesmas penas cominadas pelo preceito secundário do art. 218-B do CP aqueles que
com eles praticam a conjunção carnal ou outro ato libidinoso.
Embora, nos dias de hoje, a prostituição ainda seja um comportamento lícito, tolerado
pelo direito, tratando-se de menores de 18 (dezoito) anos, acertadamente, a nosso ver, deverá
haver a responsabilização penal daquele que com eles praticaram os comportamentos sexuais
previstos pelo inc. I do § 2º do art. 218-B do CP.
Para que o agente responda nos termos do inc. I do § 2º do art. 218-B do CP, deverá,
obrigatoriamente, ter conhecimento da idade da vítima. O erro sobre a idade importará em
atipicidade do comportamento.
Também deverá ser responsabilizado com as penas previstas no caput do art. 218-B do
CP o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas da
prostituição ou outra forma de exploração sexual envolvendo menores de 18 (dezoito) anos ou
alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tenha o necessário discernimento para
a prática do ato.

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Cuida-se, na verdade, de uma modalidade assemelhada ao delito de casa de prostituição,
tipificado no art. 229 do CP. No entanto, em virtude da maior gravidade dos fatos, por envolver
a prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável, as penas são duas vezes
maiores do que aquelas previstas no preceito secundário do tipo penal que prevê o delito de
casa de prostituição.
Deve ser frisado, ainda, que o proprietário do local somente será punido pelo delito em
estudo se tiver conhecimento de que, na sua propriedade, é praticada a prostituição ou outra
forma de exploração sexual com as pessoas elencadas pelo tipo penal do art. 218-B do CP.
E, por fim, atribui como efeito obrigatório da condenação, a cassação da licença de
localização e de funcionamento do estabelecimento, o julgador deverá fazer menção a ele em
sua sentença, apontando o estabelecimento onde eram levadas a efeito as condutas previstas
pelo caput do art. 218-B do CP. Sua omissão poderá ser suprida pela via dos embargos de
declaração.

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DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU DE CENA DE ESTUPRO DE


VULNERÁVEL, DE CENA DE SEXO OU DE PORNOGRAFIA - Art. 218-C
A conduta da exposição de fotos íntimas que gerou a edição da Lei 12.737/12,
popularmente conhecida pelo nome da vítima: a atriz Carolina Dieckmann; não previu
legalmente o objetivo “sexual” da invasão e exposição. Não há, de forma exaustiva, no sentido
de punir o agressor, conduta descrita no art. 154-A do CP, acerca da divulgação de conteúdo
íntimo ou pornográfico em si, mas apenas de situações que envolvem invasão de dispositivos
informáticos.

Assim, coube a uma nova edição legislativa, a Lei n. 13.718/18, modificar e incluir tipos
penais que cuidasse detidamente de qualquer conduta que vise divulgar imagem de vítima
(adulta ou vulnerável), ou que incentive qualquer dos crimes sexuais.
As condutas de oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda,
distribuir, publicar ou divulgar já tinham sido previstas quando o fato envolvesse criança ou
adolescente, conforme os arts. 241 e 241-A da Lei 8.069/1990. Todavia, o ECA se restringe às
imagens de crianças e adolescentes em cenas de sexo explícito ou pornográficas, ao passo em
que o objeto do art. 218-C é mais amplo, contemplando fotografia, vídeo ou outro registro
audiovisual que contenha, por exemplo cena de estupro ou de estupro de vulnerável. Deste
modo, a vítima, em qualquer caso, deve ser maior de 18 anos.
Agora, essa proteção não somente se limita às crianças e adolescentes que, se forem
vítimas desses delitos, continuarão sendo protegidas pelos tipos penais acima redigidos. Caso
as vítimas sejam pessoas maiores de dezoito anos, será aplicado o art. 218-C do Código Penal.
O tipo penal, portanto, é dividido
em duas partes:
Se o agente recebeu,
inclusive, da própria vítima as
cenas sexo, nudez ou pornografia,
e não havendo seu consentimento
para divulgação, o agente que a
divulgar incorrerá na prática do
delito em estudo.
Os crimes são formais, consumando-se quando é realizado um dos verbos-núcleo do
tipo, independentemente da ocorrência de qualquer resultado lesivo (v.g., acesso por um
terceiro de um material pornográfico disponibilizado em determinada página da internet).
Existem causadas que agravam a pena, por causaram um dano maior à intimidade e
dignidade sexual da vítima. Tratam-se de condutas específicas com vítimas ou agentes especiais
ou, ainda, com fim específico de humilhar:

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Destaca-se, a conhecida pornografia de vingança (revenge porn) que consiste na


divulgação, por um dos parceiros da relação sexual ou por terceiro, de imagem ou vídeo com
natureza sexual (sex tapes, nudes, etc.), com a intenção de se vingar do outro indivíduo por
ciúmes, rejeição. Para tanto, é necessário a demonstração do elemento subjetivo do tipo (dolo
específico), consistente no fim específico de vingança.
Há, contudo, um situação expressa de exclusão do crime descrita no § 2º, atrelada ao
exercício regular de um direito (informação): Não há crime quando o agente pratica as condutas
descritas no caput deste artigo em publicação de natureza jornalística, científica, cultural ou
acadêmica com a adoção de recurso que impossibilite a identificação da vítima, ressalvada sua
prévia autorização, caso seja maior de 18 (dezoito) anos

i
Referências teóricas:
BITENCOURT, Cezar R. Código penal comentado. São Paulo: Editora Saraiva, 2019. E-book. ISBN
9788553615704. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553615704/
GONCALVES, Victor Eduardo R. Direito Penal: Parte Especial. (Coleção Esquematizado®). Editora Saraiva,
2023. E-book. ISBN 9786553627345. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786553627345/.
GRECO, Rogério. Direito Penal Estruturado. Grupo GEN, 2023. E-book. ISBN 9786559647651. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559647651/.
NUCCI, Guilherme de S. Curso de Direito Penal: Parte Especial: Arts. 121 a 212 do Código Penal. v.2.: Grupo
GEN, 2023. E-book. ISBN 9786559647217. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559647217/.

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