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POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS

ACADEMIA DE POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS

CURSO DE EXTENSÃO NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO A


DISTÂNCIA (EaD)

A REDE DE PROTEÇÃO E O SISTEMA DE


GARANTIA DE DIREITOS DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES

BELO HORIZONTE – 2024


EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
ACADEMIA DE POLÍCIA CIVIL
DE MINAS GERAIS

A REDE DE PROTEÇÃO E O SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS DE


CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Coordenação Geral
Yukari Miyata

Subcoordenação Geral
Marcelo Carvalho Ferreira

Coordenação Didático-Pedagógica
Flávia Portes Teixeira

Coordenação de Recrutamento e Seleção


Robson Silva de Aguiar

Conteudistas
Gleice Messias Cardoso Pamplona
Thalita Almeida Caldeira

Revisão e Edição
Equipe multidisciplinar da Acadepol / MG
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 3
2 CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA ........................ 6
2.1 FORMAS DE VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES ....... 15
3 EVOLUÇÃO NORMATIVA NO BRASIL E NO MUNDO ...................................... 18
4 O SISTEMA DE GARANTIAS DE DIREITOS DAS CRIANÇAS E
ADOLESCENTES ..................................................................................................... 25
4.1 EIXOS ESTRATÉGICOS DE AÇÃO .............................................................. 26
4.1.1 Eixo da defesa dos direitos humanos ................................................ 26
4.1.2 Eixo da promoção dos direitos humanos........................................... 26
4.1.3 Eixo do controle da efetivação dos direitos humanos ...................... 27
4.2 O SISTEMA DE GARANTIAS DE DIREITOS PREVISTO NA LEI 13.431, DE
4 DE ABRIL DE 2017 ............................................................................................. 27
4.3 O SISTEMA DE GARANTIAS DE DIREITOS PREVISTO NA LEI 14.344, DE
2022 33
4.4 O SISTEMA DE GARANTIAS DE DIREITOS PREVISTO NA LEI N. 14.811,
DE 12 DE JANEIRO DE 2024 ................................................................................ 37
5 A REDE DE PROTEÇÃO..................................................................................... 38
5.1 INSTITUIÇÕES QUE COMPÕEM A REDE DE PROTEÇÃO ........................ 39
5.1.1 Conselhos Tutelares ............................................................................. 40
5.1.2 Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional dos direitos da criança
e do adolescente ............................................................................................... 41
5.1.3 Assistência Social ................................................................................ 42
5.1.3.1 Proteção Social Básica ........................................................................ 43
5.1.3.1 Proteção Social Especial ..................................................................... 43
5.1.4 Instituições de saúde ........................................................................... 44
5.1.5 Instituições de ensino .......................................................................... 47
5.1.6 Órgãos de segurança pública e justiça .............................................. 48
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 53
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 55
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1 INTRODUÇÃO

As crianças e os adolescentes encontram-se em estágios cruciais de


desenvolvimento e, conforme estabelecido no Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA), Lei n. 8.069/1990, é responsabilidade compartilhada da família, do Estado e
da sociedade, garantir sua proteção contra qualquer forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder


público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância
pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com
a proteção à infância e à juventude. (BRASIL, 1990)

Devido às particularidades do processo de desenvolvimento de crianças e


adolescentes, a garantia dos seus direitos exige a coordenação de ações tanto
governamentais quanto não-governamentais. Nesse contexto, torna-se essencial
articular e fortalecer a rede de proteção para assegurar a sua proteção integral.
Este curso foi elaborado por Policiais lotadas na Delegacia Especializada de
Proteção e Orientação à Criança e ao Adolescente de Belo Horizonte (DEPCA), com
o objetivo principal de orientar e capacitar servidores da Polícia Civil de Minas Gerais
(PCMG) e público em geral em relação ao Sistema de Garantias de Direitos de
Crianças e Adolescentes, com foco na atuação da rede de proteção.
Durante a ministração do curso, será destacada a importância de se atuar de
forma integrada com outros órgãos e instituições da rede de proteção de crianças e
adolescentes ao enfrentar situações de violência contra essa parcela da população.
Com base na experiência prática, é possível observar uma significativa falta de
conhecimento do público em geral e a necessidade de aperfeiçoamento por parte da
própria Polícia, especialmente no atendimento, abordagem e encaminhamentos
relacionados, tanto no âmbito protetivo quanto persecutório, visando garantir a efetiva

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aplicação dos direitos estabelecidos em nosso ordenamento jurídico brasileiro,


inclusive no ECA.
Será possível perceber que o sistema de garantias de direitos de crianças e
adolescentes já conta com farto instrumental normativo. Sua maior efetividade, no
entanto, requer conhecimento e observância das normativas existentes,
especialmente por parte dos membros da rede de proteção. A aplicação do ECA,
principal referência legal na matéria, continua sendo um desafio em nosso país.
Nos últimos anos, surgiram novas leis que contribuíram para uma maior
regulamentação e consolidação do sistema de garantia de direitos. A Lei n.
13.431/2017, que estabelece o sistema de garantia de direitos para vítimas ou
testemunhas de violência, e a Lei n. 14.344/2022, voltada à prevenção e
enfrentamento da violência doméstica e familiar contra crianças e adolescentes,
fornecem a base legal crucial para orientar esse curso de capacitação.
Destaca-se que a criação de delegacias especializadas representa um grande
avanço. No entanto, é fundamental não apenas a existência dessas unidades, mas
também que o atendimento seja especializado, com equipes capacitadas para
acolher de forma humanizada crianças e adolescentes em situação de violência e
vulnerabilidade.
Além disso, o conhecimento sobre os diversos órgãos e instituições que
integram a rede de proteção de crianças e adolescentes e a compreensão das
atribuições de cada um deles contribuirão para a maior efetividade dos fluxos de
atendimento, evitando a repetição de procedimentos revitimizantes e desnecessários,
bem como a ocorrência de violência institucional.
O art. 70-A do ECA dispõe que a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios deverão atuar de forma articulada na elaboração de políticas públicas e na
execução de ações destinadas a coibir a violência contra crianças e adolescentes.
Dentre as principais ações previstas para atingir esse desiderato encontra-se :

Inciso XI - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da Guarda


Municipal, do Corpo de Bombeiros, dos profissionais nas escolas, dos
Conselhos Tutelares e dos profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas
referidos no inciso II deste caput, para que identifiquem situações em que
crianças e adolescentes vivenciam violência e agressões no âmbito familiar
ou institucional (BRASIL, 1990, artigo acrescentado pela Lei 14.344, de
2022)

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Observa-se que a formação dos agentes de segurança e de outros


profissionais envolvidos nos cuidados de crianças e adolescentes vítimas de violência
é um imperativo legal e deve acontecer de forma permanente, tanto por iniciativas da
União, quanto dos Estados e Municípios.
Nesse contexto, a PCMG tem promovido regurlarmente cursos de capacitação,
direcionados tanto ao público interno quanto externo, visando cumprir essa
determinação legal e assegurar um tratamento adequado a crianças e adolescentes
vítimas ou testemunhas de crimes.
A criança é detentora de direitos fundamentais e direitos especiais inerentes à
sua condição peculiar de indivíduo em processo de desenvolvimento. Precisamos nos
comprometer para garantir a elas uma vida digna e livre de violência.

Quando não tivermos sido capazes de protegê-las integralmente, colocando-


as a salvo de qualquer forma de violência, como nos comprometemos
através de mandamento constitucional, que tenhamos então a clareza de
que podemos minimizar as consequências deste sofrimento, resgatando a
dignidade e o respeito nos procedimentos de abordagem, recolocando a
vítima no seu lugar de destinatárias de cuidados especiais, ofertando-lhes
recursos para que alcancem a superação. (BIANCHINI et al., 2022, p.7)

Nas palavras de Milton Nascimento: “Há que se cuidar do broto,


pra que a vida nos dê flor e fruto”.

Todo o curso será baseado nas principais leis e atos normativos que regem a
matéria, bem como em convenções e tratados internacionais ratificados pelo Estado
brasileiro.

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2 CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

Ao longo da história, as dinâmicas familiares passaram por evoluções


significativas, influenciando a posição das crianças e adolescentes tanto nas
estruturas familiares quanto na sociedade. Condutas anteriormente aceitas em
relação a esse público passaram a ser repudiadas, resultando em novos modelos de
cuidado, uma demanda proveniente tanto da sociedade quanto do Estado.
Na Era Antiga, a concepção predominante sobre a infância associava as
crianças ao pecado original, considerando-as desprovidas de qualquer traço de
inocência. De acordo com Weber et al. (2004), essa visão de que a infância
representava a encarnação do pecado implicava que a redenção deveria ser
alcançada por meio da correção da infância, justificando ameaças e castigos físicos,
como varas e palmatórias.
Segundo Ariès (1981), no contexto Medieval, a arte não representava a
infância, sugerindo, portanto, a ausência de um espaço definido para a criança na
estrutura social daquela época. O autor ainda observa que, na produção artística
medieval, não se identificavam representações específicas da infância; em vez disso,
encontravam-se figuras diminutas, as quais não se destacavam por expressões
infantis, mas sim por serem homens em escala reduzida.
A obra de arte retratada abaixo (Figura 1), criada pelo pintor italiano Lorenzo
de Bicci, exemplifica a representação de crianças na arte no século XIV.

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Figura 1 - Madonna e criança com anjos

Fonte: DI BICCI, Lorenzo, Século XIV

Na Modernidade, período que teve início aproximadamente no final da Idade


Média, entre os séculos XV e XVI, testemunhamos notáveis transformações
relacionadas à infância. Eventos como o Renascimento e a Era das Grandes
Navegações marcaram esse período. Durante essa fase, a família assumiu um papel
central na proteção e no cuidado das crianças, sendo identificada como a principal
responsável por garantir seu bem-estar, conforme discutido por diversos autores como
Ariès (1981), Badinter (1985) e Ferreira (2002).
Quando os colonizadores chegaram no território brasileiro, no século XVI,
depararam-se com uma população nativa cujo estilo de vida divergia
consideravelmente do padrão europeu: os nativos não empregavam métodos de
punição física em relação às suas crianças, evitando abusos e estabelecendo, em seu
lugar, uma relação fundamentada em proteção e acolhimento. A chegada dos jesuítas,
incumbidos da missão de civilizar e catequizar os nativos, marcou a introdução dos

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castigos físicos e psicológicos como meios de disciplina e educação (Ferreira, 2002;


Guerra, 1998).
A estrutura familiar predominante durante o período colonial brasileiro,
compreendido entre os séculos XVI ao XIX, era a família patriarcal, caracterizada pela
presença de pai, mãe, filhos e pessoas escravizadas agregadas. O patriarca detinha
uma autoridade absoluta, demandando obediência e submissão de todos os
membros. Os castigos físicos, aplicados também no contexto da catequização, eram
frequentes na vida familiar, muitas vezes sendo adotados com severidade e com o
respaldo da Igreja (Ferreira, 2002; Felzenswalb, 2006).
Em sua clássica obra Casa-grande & Senzala, Gilberto Freyre discorre:

O domínio do pai sobre o filho menor – e mesmo maior – fora no Brasil


patriarcal aos seus limites ortodoxos: ao direito de matar. O patriarca tornara-
se absoluto na administração da justiça de família, repetindo alguns pais, à
sombra dos cajueiros de engenho, os gestos mais duros do patriarcalismo
clássico: matar e mandar matar, não só os negros como os meninos e as
moças brancas, seus filhos. (FREYRE, 1981 p.68-69)

Os registros da época ignoravam detalhes cotidianos e elementos comuns da


vida e a experiência de crianças em situação de escravidão. Havia uma notável falta
de interesse na descrição de suas vidas. Mesmo quando mencionadas em alguns
relatos sobre locais e situações, era realizada de maneira superficial (Scarano, 1999).
Naquele período, as crianças, de qualquer classe, não eram consideradas
como seres essenciais e suas mortes não eram encaradas como tragédias, pois a
perspectiva era de que outras crianças poderiam nascer para substituir aquelas que
se foram (Scarano, 1999).
Conforme observado por Scarano (1999), os artistas do período representaram,
em suas obras, a realidade das crianças negras compartilhando o mesmo ambiente
que seus proprietários. Essas crianças eram inicialmente tratadas como uma forma
de entretenimento para as senhoras brancas entediadas, sendo tratadas como
brinquedos. No entanto, ao atingirem certa independência, eram posteriormente
direcionadas ao trabalho escravo por seus senhores, frequentemente a partir dos 7
anos de idade. A obra de Debret, ilustrada na figura 2, exemplifica esse contexto. A
população era geralmente considerada adulta aos 15 anos, sendo que as mulheres,
a partir dos 12 anos, já estavam autorizadas a se casar.

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Figura 2: O jantar: Passatempos depois do jantar

Fonte: DEBRET, Jean-Baptiste (1839)

No século XVII, na Europa, ocorreu a primeira intervenção estatal para limitar


o direito absoluto dos pais sobre seus filhos, caracterizada pela não tolerância ao
infanticídio e pelo surgimento das primeiras instituições de acolhimento para crianças
abandonadas (Badinter, 1985). A partir do final do século XVII e início do XVIII, houve
uma mudança de perspectiva em relação à infância, sendo consideradas como
sujeitos que necessitavam de atenção específica. Nesse contexto, moralistas e
educadores começaram a reconhecer a vulnerabilidade da infância, demandando
simultaneamente sua proteção e disciplina (Ariès, 1981).
Segundo Bianchini et al., 2022, no âmbito internacional, no século XVIII,
observa-se uma sigela evolução no tratamento em relação à infância:

Através do processo de conscientização que partiu do reconhecimento de sua


estrutura física, sua linguagem, suas necessidades e peculiaridades,
alterando-se a percepção e sentimentos dirigidos à criança, percebendo-se
então que a criança deveria ser tratada de forma distinta do adulto, inclusive
nas vestimentas, passado ainda a ter aposentos e alimentação próprios. (p.
24)

Assim, a criança, antes considerada um adulto em miniatura, começa a ser


vista com um ser dotado de características peculiares.
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Enquanto na Europa surgiam crescentes preocupações em relação à qualidade


de vida das crianças, no Brasil persistia uma discrepância significativa, mantendo em
sua realidade a prática do infanticídio, algo já banido há tempos no contexto europeu.
O final do século XVIII e início do século XIX marcam ainda um período em que
a criança passou a ser vista como um potencial recurso econômico e em que a
preocupação com a alta taxa de mortalidade infantil se tornou uma questão social
relevante. Isso levou ao surgimento de iniciativas para estimular as mães a se
sentirem responsáveis pelas suas crianças. Esse movimento incentivou uma
significativa intervenção médica, apoiada pelo Estado, para alterar os cuidados
dispensados aos filhos (Badinter, 1985). Essa transição marcou o surgimento de uma
nova configuração familiar, na qual os pais deixaram de ser vistos como proprietários
dos filhos, assumindo o papel de tutores responsáveis pelo bem-estar das crianças
(Felzenswalb, 2006).
Conforme ilustrado pela figura 3, uma obra de Leon Jean Basile Perrault, as
crianças passam a ser representadas como seres frágeis e que necessitam de um
cuidado especial, principalmente por parte da família, em especial das mães.

Figura 3: Mãe com criança

Fonte: PERRAULT, Leon Jean Basile (1894)

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A Europa foi pioneira na definição clara de fronteiras entre as responsabilidades


dos adultos e das crianças. Em grande medida, as diversas disciplinas desenvolvidas
ou aprimoradas no século XIX, como a pedagogia, psicologia e pediatria,
desempenharam um papel significativo ao caracterizar a infância como um estágio
particularmente delicado, contribuindo assim para essa transformação de mentalidade
(Venâncio, 1999).
Já no Brasil, no final do século XIX, ocorreu uma alteração significativa no
status da criança, deixando de ocupar um papel secundário tanto dentro da estrutura
familiar quanto na sociedade em geral. Passou a ser percebida como um valioso
patrimônio da nação, que tanto pode ser transformado em homem de bem ou num
degenerado (Rizzini, 1997).
Além disso, é relevante destacar que, no contexto da Revolução Industrial no
Brasil, que teve lugar por volta da metade do século XIX, o trabalho infantil, ainda
presente no país, foi amplamente empregado pelas indústrias. Estas, visando explorar
a mão de obra de crianças e adolescentes por um custo reduzido, incentivaram
vigorosamente essa prática laboral (Rizzini, 1997).
A figura 4 apresenta funcionários da Fábrica de Louças Santa Catharina,
localizada em São Paulo, no ano de 1922. Apesar da qualidade inferior da fotografia,
é possível identificar um expressivo número de crianças no ambiente. De acordo com
Souza (2010), a presença significativa de crianças no estabelecimento era observada
ao longo das duas primeiras décadas dos anos 1900. Em 1917, foi instituído um
"Comitê popular de agitação contra a exploração de menores operários" com o
propósito de prevenir os maus tratos sofridos por menores nas fábricas. Nesse
contexto, a idade mínima para admissão de crianças nas fábricas variou entre 10 e 12
anos. A rotina vivenciada por crianças e adolescentes nas fábricas nesse período era
marcada por acidentes de trabalho. Mas, infelizmente, não se limitava a eles,
abrangendo a violência em diversas dimensões (Moura, 2000).

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Figura 4 - Fábrica Santa Catharina

Fonte: SOUZA (2010)

É possível afirmar que a violência dirigida a crianças e adolescentes no cenário


brasileiro persistiu, em certa medida, contando com a conivência estatal. Segundo
Guerra (1998), o Código Penal Brasileiro de 1890 não abordava os abusos de
disciplina cometidos contra esse grupo, sendo o reconhecimento desses eventos
como um problema inserido na legislação somente em 1927, por meio do Código de
Menores. Apesar de ser considerado um marco legislativo inovador para a proteção
desse segmento, esse código ainda apresentava lacunas que possibilitavam a
continuidade da violência contra crianças e adolescentes como uma prática comum
no país.
Nesse período, o Estado assumiu a responsabilidade diante do cenário de
desamparo de crianças e adolescentes, promovendo a internação, assumindo a
responsabilidade pelo abandono e comprometendo-se a implementar medidas
corretivas para combater a delinquência juvenil (Passetti, 2000).
Apesar de, a partir do século XX, a criança passar a ser reconhecida, descrita
e integrada como parte da humanidade, a formalização dos direitos da criança

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aconteceu tardiamente com a criação da Declaração Universal dos Direitos da


Criança, apenas em 1959, durante a Assembleia Geral da ONU (ONU, 1959).
Mesmo com a ratificação da Declaração, no cenário brasileiro, a revisão do
Código de Menores em 1979 não incluiu disposições específicas destinadas às
crianças e adolescentes que sofreram violência, negligenciando a oferta de um
atendimento especializado e agrupando-os junto aos adolescentes que praticaram
atos infracionais sob a denominação "menores em situação irregular" (Ferreira, 2002).

Figura 5: Crianças institucionalizadas na FUNABEM no Rio de Janeiro na década de 1970

Fonte: ALTOÉ, Sônia (2004)

Nos primeiros anos do regime militar no Brasil, não se demonstrava interesse


em revisar as práticas violentas voltadas para crianças e adolescentes, especialmente
aquelas ocorridas no âmbito familiar, dado o enfoque na valorização da família como
pilar fundamental da sociedade (Guerra, 1998). Na década de 1980, surgiram
movimentos pastorais, associações e outras entidades dedicadas à proteção da
infância e adolescência que criticavam a legislação específica para esse grupo no
Brasil, assim como a intervenção estatal (Bazílio & Kramer, 2006; Guerra, 1998).
Nesse contexto, emergiram iniciativas para receber denúncias e encaminhar casos de
violência contra crianças e adolescentes no âmbito doméstico (Ferreira, 2002).

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Figura 6: Manifestação pelos direitos da infância e da juventude nos anos 1980

Fonte: SILVA, 2018.

A situação começa a mudar a partir da Constituição Federal de 1988, quando


a proteção à infância passou a ser prevista no Título II, que trata dos direitos e
garantias fundamentais. Desde então, crianças e adolescentes passam a ser
reconhecidos como sujeitos de direitos em nosso país.
Um avanço significativo desses movimentos foi a promulgação do ECA, que
entrou em vigor a partir de 1990. Este marco legal reconhece a criança e o
adolescente como sujeitos em processo de desenvolvimento e visa protegê-los contra
a violação de seus direitos (BRASIL, 1990).
Assim, torna-se evidente que ocorreram alterações significativas no papel
designado à criança e ao adolescente na sociedade. Enquanto na Idade Média eram
tratados como "adultos imperfeitos" e não recebiam atenção especial, nos dias atuais
são reconhecidos como indivíduos em processo de desenvolvimento, requerendo
cuidados específicos. A Constituição Federal de 1988 e o ECA preconizam a presença
ativa do Estado, velando pelo presente e pelo futuro das crianças e adolescentes por
meio de políticas de proteção, fundamentadas na aplicação das leis vigentes no país.
Entretanto, apesar desse reconhecimento, pesquisas acadêmicas e
estatísticas oficiais produzidas pelos órgãos de Segurança Pública no Brasil
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evidenciam recorrentes violações dos direitos de crianças e adolescentes,


frequentemente ocorridas no seio familiar. Diante desse cenário, surgiram iniciativas
legislativas adicionais ao ECA, as quais serão detalhadas nas próximas seções deste
material.

Clique na imagem para assistir a reportagem Abandono, acolhimento e entrega


voluntária: as histórias e personagens por trás da Vara da Infância, que contra
sobre a evolução do conceito de “infância” e sobre os 100 anos da primeira Vara da
Infância do Brasil.

Para se aprofundar na história da infância no Brasil, recomendamos o livro História


das Crianças no Brasil, organizado pela autora Mary Del Priore.

2.1 FORMAS DE VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Apesar do crescente reconhecimento dos direitos das crianças e adolescentes,


ainda há uma incidência significativa de violência dirigida a esses grupos,
especialmente no âmbito familiar. A violência contra crianças e adolescentes é um
fenômeno complexo, influenciado por diversos fatores.
Geralmente, essa violência é associada às classes economicamente menos
favorecidas. No entanto, é crucial destacar que a violência pode ocorrer em todas as
camadas da sociedade. Camadas mais privilegiadas da sociedade possuem mais
recursos para ocultar essa realidade, conforme observado por Ferreira (2002), que
menciona a capacidade de acessar profissionais para lidar com a situação de maneira
confidencial.
A Lei n. 13.431/2017 representa um avanço significativo na abordagem das
diversas formas de violência dirigidas a crianças e adolescentes no contexto brasileiro.
Essa legislação, em seu artigo 4º, apresenta definições abrangentes sobre as formas
de violência, reconhecendo e abarcando uma variedade de agressões que podem
afetar esses grupos, incluindo:

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• Violência Física: qualquer ação que resulte em dano físico ou lesão à criança
ou adolescente, incluindo agressões corporais diretas, espancamentos, uso de
objetos para causar ferimentos, entre outras formas de agressão física;
• Violência Psicológica:
a) Qualquer conduta de discriminação, depreciação ou desrespeito em relação à
criança ou ao adolescente mediante ameaça, constrangimento, humilhação,
manipulação, isolamento, agressão verbal, xingamento, ridicularização,
indiferença, exploração ou intimidação sistemática (bullying) que possa
comprometer seu desenvolvimento psíquico ou emocional;
b) O ato de alienação parental, assim entendido como a interferência na formação
psicológica da criança ou do adolescente, promovida ou induzida por um dos
genitores, pelos avós ou por quem os tenha sob sua autoridade, guarda ou
vigilância, que leve ao repúdio de genitor ou que cause prejuízo ao
estabelecimento ou à manutenção de vínculo com este;
c) Qualquer conduta que exponha a criança ou o adolescente, direta ou
indiretamente, a crime violento contra membro de sua família ou de sua rede
de apoio, independentemente do ambiente em que cometido, particularmente
quando isto a torna testemunha;
• Violência Sexual:
a) Abuso sexual, entendido como toda ação que se utiliza da criança ou do
adolescente para fins sexuais, seja conjunção carnal ou outro ato libidinoso,
realizado de modo presencial ou por meio eletrônico, para estimulação sexual
do agente ou de terceiros;
b) Exploração sexual comercial, entendida como o uso da criança ou do
adolescente em atividade sexual em troca de remuneração ou qualquer outra
forma de compensação, de forma independente ou sob patrocínio, apoio ou
incentivo de terceiro, seja de modo presencial ou por meio eletrônico;
c) Tráfico de pessoas, entendido como o recrutamento, o transporte, a
transferência, o alojamento ou o acolhimento da criança ou do adolescente,
dentro do território nacional ou para o estrangeiro, com o fim de exploração
sexual, mediante ameaça, uso de força ou outra forma de coação, rapto,
fraude, engano, abuso de autoridade, aproveitamento de situação de

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vulnerabilidade ou entrega ou aceitação de pagamento, entre os casos


previstos na legislação;
• Violência institucional, entendida como a praticada por instituição pública ou
conveniada, inclusive quando gerar revitimização.;
• Violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure
retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus documentos pessoais, bens,
valores e direitos ou recursos econômicos, incluídos os destinados a satisfazer suas
necessidades, desde que a medida não se enquadre como educacional.
No próximo capítulo, será apresentada a evolução normativa dos direitos das
crianças e adolescentes no Brasil e no mundo.

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3 EVOLUÇÃO NORMATIVA NO BRASIL E NO MUNDO

Como mencionado no capítulo anterior, durante muito tempo, crianças e


adolescentes não eram considerados sujeitos de direitos. Nesse contexto, além de
não gozarem de proteção legal, eram assassinadas, maltratadas e abusadas. Ora
eram consideradas patrimônio do Estado, ora objetos para servir aos interesses dos
pais (Bianchini et al., 2022).
No Brasil Colônia, de 1500 a 1822, vigoraram as leis e as ordens de Portugal.
As Ordenações do Reino Unido dispunham que o pai era autoridade máxima no seio
familiar, com direito a castigar o filho. A partir dos 4 anos de idade, as crianças tinham
que se dedicar a longas jornadas de trabalho. Não existia a ideia de proteção e a
percepção das peculiaridades da infância, e o trabalho infantil era visto como a melhor
escola (Bianchini et al., 2022).
No Brasil Imperial, a Constituição de 1824 não estabeleceu qualquer referência
à proteção da criança ou adolescente (Coelho, 1998).
Na primeira Constituição Republicana de 1891 também não há referência
alguma à proteção à criança. Talvez isso seja devido à própria estruturação da família
dentro da sociedade, baseada no patriarcado, cabendo ao pai o destino e o comando
de todos os elementos dela integrantes (Coelho, 1998).
No âmbito internacional, os primeiros diplomas normativos que tratam da
proteção de crianças e adolescentes são as Convenções da Organização
Internacional do Trabalho de 1919, que trouxeram regras protetivas em decorrência
da exploração de crianças durante a Revolução Industrial (Bianchini et al., 2022).
Após a Primeira Guerra Mundial, a Organização Internacional Salve as
Crianças, criada na Inglaterra, em 1919, com o objetivo de cuidar e abrigar crianças
vítimas da guerra, desenvolve importante trabalho de proteção a essa camada da
população e participa da lei que merece destaque imenso: A Convenção de Genebra,
de 1924, também conhecida como Carta da Liga das Nações sobre criança, que se
tornou um importante marco na história dos direitos da infância, pois passa a
reconhecer as peculiaridades dessa fase do desenvolvimento humano que demanda
proteção especial. A Declaração de Genebra, de 1924, foi a primeira manifestação

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internacional em prol dos direitos das crianças e dos adolescentes (Bianchini et al.,
2022).
No Brasil, em 1926, foi publicado o Decreto n. 5.083, primeiro Código de
Menores, que cuidava dos infantes expostos e menores abandonados, cujo artigo 1°
prescrevia que:
O Governo consolidará as leis de assistencia e protecção aos menores,
adicionado-lhe os dispositivos constantes desta lei, adoptando as demais
medidas necessárias á guarda, tutela, vigilancia, educação, preservação e
reforma dos abandonados e delinquentes, dando redacção harmoniosa e
adequada a essa consolidação, que será decretada como o Código de
Menores. (Bianchini et al., 2022, p. 43)

O Código de Menores representou avanços na proteção das crianças e


determinou a maioridade penal aos 18 anos, o que prevalece até os dias de hoje.
Contudo, veja que os menores “abandonados” e “delinquentes” são agrupados no
mesmo diploma legal. Trata-se da “doutrina da situação irregular”.
A Constituição brasileira de 1934 é a primeira a prever normas de amparo à
criança, criando para a União, Estados e Municípios o dever de amparo à criança,
para o qual estes deveriam destinar 1% de suas rendas. Esse documento também
proibiu o trabalho ao menor de 14 anos. Nessa época, o país passava por seu
processo de industrialização, algo como a revolução industrial na Inglaterra, no século
passado. Assim, ao lado da preocupação com a produção, surge a proteção do
trabalhador (Coelho, 1998).
Já a Constituição brasileira de 1937 criou um Estado intervencionista e protetor,
proclamando que os interesses da coletividade eram mais importantes que os do
indivíduio. Dentro de sua política protetora e intervencionista, o Estado colocou a
infância e a juventude sob sua direta proteção, encarregando-se de assegurar-lhes as
condições físicas e morais de vida sã, possibilitando-lhes pleno desenvolvimento
(Coelho, 1998).
Por seu turno, a Constituição brasileira de 1946 também proíbe o trabalho a
menores de quatorze anos, bem como o trabalho de menores de dezoito anos em
indústrias insalubres e em trabalho noturno e, em seu artigo 164, determinou serem
obrigatórios a assistência à infância e à adolescência, e o amparo às famílias de prole
numerosa (Coelho, 1998).

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DE MINAS GERAIS

Em 1959, a Assembleia Geral das Nações Unidas adota a Declaração dos


Direitos da Criança, tratando-se de uma enumeração dos direitos e das liberdades a
que faz jus toda e qualquer criança. Muitos dos direitos e liberdades contidos neste
documento fazem parte da Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada
pela Assembleia Geral em 1948. Observou-se, no entanto, que as condições
peculiares da criança exigiam uma declaração específica. Em seu preâmbulo, diz a
nova Declaração expressamente que a criança, em decorrência de sua imaturidade
física e mental, requer proteção e cuidados especiais, quer antes ou depois do
nascimento. E prossegue, afirmando que à criança a humanidade deve prestar o
melhor de seus esforços (ONU, 1959).
Na contramão da Declaração de 1959, no Brasil, com o golpe militar de 1964,
foi criada a FUNABEM (Fundação do Bem-Estar do Menor). Em disfarce de discurso
assistencial, aparecem as Fundações Estaduais de Bem-Estar do Menor (FEBEMs)
conhecidas por tratamentos humilhantes a crianças e adolescentes ali internados.
Várias são as denúncias de crimes de violência institucional em tais unidades, tais
como abusos sexuais e outras violências físicas, até hoje infelizmente verificadas
(Bianchini et al., 2022).
A Constituição de 1969 foi a mais autoritária da história constitucional brasileira,
pois, apesar de conter uma longa enumeração dos direitos individuais (art. 153),
detinha poderes de supressão desses mesmos direitos. O artigo 175 preserva lei
especial para proteção à infância e à adolescência: “As condições da família no mundo
de hoje justificam a necessidade do estabelecimento em lei especial de medidas de
assistência à maternidade, à infância e à adolescência”. Todavia, esse artigo da
Constituição, como muitos outros, não foi regulamentado, ficando prejudicada, assim,
sua aplicação (Coelho, 1998).
Após debates em torno do tema, em 1979, foi instituído no Brasil o novo Código
de Menores, que consolidou a “Doutrina da Situação Irregular”. Contudo, permaneceu
a visão da criança e do adolescente como objetos de intervenção do Estado, já que
se propunha a dispor sobre assistência, proteção e vigilância a menores,
considerados em situação irregular, terminologia esta que permitia as mais variadas
interpretações a justificar o desrespeito à natureza da infância e da juventude
(Bianchini et al., 2022).

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DE MINAS GERAIS

Na esfera internacional, a Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC) foi


adotada pela Assembleia Geral da ONU em 1989 e ratificada pelo Brasil em 24 de
setembro de 1990. Em seu artigo 3º, dispõe que:

Todas as ações relativas à criança, sejam elas levadas a efeito por


instituições públicas ou privadas de assistência social, tribunais, autoridades
administrativas ou órgãos legislativos, devem considerar primordialmente o
melhor interesse da criança. (ONU, 1989)

A CDC/ONU traz “o melhor interesse da criança” como orientador das políticas


e ações públicas e privadas que tratem da matéria.
Consoante os artigos 19 e 34 da CDC/ONU, de 1989, os Estados Partes
comprometem-se a proteger a criança contra todas as formas de violência, exploração
e abuso sexual.
Observamos que, apesar de já existirem importantes documentos
internacionais de proteção à infância, no Brasil a situação permanece praticamente
inalterada por muito tempo, com poucas e tímidas normas de proteção a essa parcela
da população.
A situação começa a mudar a partir da Constituição Federal de 1988, quando
a proteção à infância passou a ser prevista no Título II, que trata dos Direitos e
Garantias fundamentais. Desde então, crianças e adolescentes passam a ser
reconhecidos como sujeitos de direitos em nosso país.
Consoante lição de Coelho, 1998, podemos distinguir três correntes que
justificam a proteção destinada à criança, a saber:
a) Doutrina da proteção integral, partindo dos Direitos da Criança reconhecidos
pela ONU, na qual a lei asseguraria a satisfação de todas as necessidades dos
menores de idade, nos seus aspectos gerais;
b) Doutrina do Direito Penal do “Menor”, pela qual o direito só se ocupa do
“menor” a partir do momento em que pratique um ato de delinqüência;
c) Doutrina intermediária da situação irregular, em que os “menores” são
sujeitos de direito quando se encontrarem em estado de patologia social, definida
legalmente.

O mencionado autor complementa que, até a Constituição de 1969, a criança


não era tratada como sujeito de direitos, sendo seguida a teoria da situação irregular,

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contida no Código de Menores, tendência essa rompida com a Constituição de 1988


e complementada com a edição do ECA.
Em seu artigo 227, a Lei Maior inaugura a “Doutrina da Proteção Integral”, ao
dispor que:
É dever da família, da sociedade e do Estado, assegurar à criança, ao
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-lo a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988)

Esse dispositivo constitucional traz ainda a “Doutrina da Prioridade Absoluta”,


que deverá ser observada quando da elaboração de leis, políticas públicas e ações
governamentais e não governamentais.

IMPORTANTE: Os princípios da proteção integral e da prioridade absoluta irão nortear


e orientar todo o sistema de garantias de direitos das crianças e adolescentes em nosso
país.

Nesse contexto de mudanças de paradigmas tanto no cenário internacional


como no nacional, em 13 de julho de 1990, foi aprovado no Brasil o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069/1990, com o compromisso de garantir a
proteção integral com absoluta prioridade às crianças e adolescentes do país, agora
reconhecidos como “sujeitos de direitos”.

No Brasil, temos no Estatuto da Criança e do Adolescente o marco legal


regulatório dos direitos humanos de crianças e adolescentes; que passam a
ser reconhecidos como sujeitos de direitos, a quem os pais, a sociedade e o
Estado devem garantir a proteção integral, mediante efetivação dos direitos
fundamentais relativos à saúde, educação, alimentação, cultura e dignidade.
(Bianchini et al., 2022).

Segundo Bianchini (2022), o ECA verdadeiramente se propôs a promover uma


autêntica mudança de paradigmas, orientando-se por três princípios:
• criança e adolescente como sujeitos de direito – deixam de ser objetos passivos
para se tornarem titulares de direitos.;
• destinatários de absoluta prioridade.;
• respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.

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A partir disso, crianças e adolescentes não mais são vistos como meros objetos
de intervenção do Estado, menores objetos de compaixão, em situação irregular,
abandonados ou delinquentes, mas sim como sujeitos de direitos.
Em conformidade com o artigo 4º do ECA, a garantia de prioridade
compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância
pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com
a proteção à infância e à juventude. (BRASIL, 1990).

Para os efeitos do ECA (art. 2º), considera-se criança a pessoa com até 12
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade.
O Estatuto visa resguardar e proteger a criança e o adolescente de toda forma
de violação ou ameaça de violação de seus direitos, a fim de favorecer seu pleno
desenvolvimento físico, psicológico e social. Nesse sentido, o artigo 5º dispõe que:
Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,
punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus
direitos fundamentais. (BRASIL, 1990)

O ECA é um dos mais relevantes diplomas legais de nosso país, é reconhecido


internacionalmente como uma das melhores leis no trato da matéria. O estatuto
efetivamente prevê orientações, diretrizes e mecanismos para a garantia dos direitos
da infância, contudo a sua plena efetividade ainda é um desafio em nosso país, razão
pela qual foram necessárias complementações ou alterações posteriores por outras
normas.
Assim, podemos afirmar que, após longo processo histórico, acompanhado por
mudanças culturais e legislativas, atualmente, no Brasil, o sistema de garantias de
direitos de crianças e adolescentes conta com farto instrumental normativo, de forma
que sua maior efetividade requer conhecimento e observância das normativas
existentes, pela sociedade, pelas famílias e pelos agentes públicos.

Para se aprofundar nas legislações referentes aos direitos de crianças e


adolescentes, recomendamos o livro Crimes contra Crianças e Adolescentes, da
autora Alice Bianchini e outros autores.

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Clique na imagem para assistir ao adocumentáro História de 30 anos do ECA, no


canal do YouTube Rádio e TV Justiça.

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4 O SISTEMA DE GARANTIAS DE DIREITOS DAS CRIANÇAS E


ADOLESCENTES

O ECA, em seu artigo 88, estabelece as diretrizes da política de atendimento


dos direitos da criança e do adolescente, dentre essas diretrizes está a criação de
Conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da criança e do adolescente.
Em observância a esse dispositivo legal, em 1991, foi criado o Conselho
Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), que é um órgão
colegiado permanente, de caráter deliberativo e composição paritária.
Compete ao CONANDA, dentre outros, elaborar as normas gerais da política
nacional de atendimento dos direitos da criança e do adolescente, fiscalizando as
ações de execução, observadas as linhas de ação e as diretrizes estabelecidas no
ECA e zelar pela aplicação da política nacional de atendimento dos direitos da criança
e do adolescente.

Você sabia? O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente


(CONANDA), é o principal órgão do sistema de garantia e direitos das crianças e
adolescentes no Brasil.

Em 2006, o CONANDA criou a Resolução n. 113, que dispõe sobre os


parâmetros para a institucionalização e fortalecimento do Sistema de Garantia de
Direitos da Criança e do Adolescente (SGDCA).
O artigo 1º da Resolução n. 113/2006, cuidou de definir o sistema de
garantia de direitos da criança e do adolescente, vejamos:

O sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente constitui-se


na articulação e integração das instâncias públicas governamentais e da
sociedade civil, na aplicação de instrumentos normativos e no funcionamento
dos direitos humanos da criança e do adolescente, nos níveis Federal,
Estadual, Distrital e Municipal. (CONANDA, 2006)

Como se vê, a existência e efetivação do SGDCA pressupõem, além de


instrumentos normativos, a articulação e integração das instâncias públicas e da
sociedade civil.

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4.1 EIXOS ESTRATÉGICOS DE AÇÃO

O artigo 5º da sobredita Resolução, por sua vez, estabelece que os


órgãos públicos e as organizações da sociedade civil, que integram esse Sistema,
deverão exercer suas funções, em rede, a partir de três eixos estratégicos de ação:
I- defesa dos direitos humanos;
II- promoção dos direitos humanos; e
III- controle da efetivação dos direitos humanos.
Ressalta-se que, os órgãos públicos e as organizações da sociedade
civil que integram o Sistema podem exercer funções em mais de um eixo.

4.1.1 Eixo da defesa dos direitos humanos

Caracteriza-se pela garantia do acesso à justiça, ou seja, pelo recurso às


instâncias públicas e mecanismos jurídicos de proteção legal dos direitos humanos,
gerais e especiais, da infância e da adolescência, para assegurar a impositividade
deles e sua exigibilidade, em concreto (CONANDA, 2006).
Neste eixo, situa-se a atuação dos seguintes órgãos públicos: judiciais,
especialmente as Varas da Infância e da Juventude e Varas Criminais especializadas;
Promotorias de Justiça, Defensorias Públicas, Polícias Civil e Militar e Conselhos
Tutelares.
Igualmente, situa-se neste eixo, a atuação das entidades sociais de defesa de
direitos humanos incumbidas de prestar proteção jurídico-social, nos termos do artigo
87, V, do ECA (CONANDA, 2006).

4.1.2 Eixo da promoção dos direitos humanos

Esse eixo operacionaliza-se através do desenvolvimento da política de


atendimento dos direitos da criança e do adolescente, desenvolve-se de maneira
transversal e intersetorial, articulando todas as políticas públicas e integrando suas
ações, em favor da garantia integral dos direitos de crianças e adolescentes
(CONANDA, 2006).

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Esse eixo é responsável por elaborar e implementar políticas sociais básicas


para o atendimento à criança e ao adolescente. A comunidade escolar, por exemplo,
realiza o direito à educação.

4.1.3 Eixo do controle da efetivação dos direitos humanos

Esse eixo assegura, monitora e fiscaliza todas as ações dos eixos de promoção
e defesa, de forma que o atendimento às crianças e aos adolescentes esteja sendo
realizado de forma democrática, atendendo aos objetivos propostos e solucionando
problemas para garantir a proteção integral. É formado por órgãos como: Ministério
Público, Defensorias Públicas, Conselhos Tutelares, sociedade civil e Conselhos de
Direitos da Criança e do Adolescente.
Vale ressaltar que o controle social é exercido soberanamente pela sociedade
civil, através de suas organizações e articulações representativas (CONANDA, 2006).
Portanto, os órgãos, os programas, os serviços e os equipamentos das políticas
setoriais que integram os eixos de promoção, controle e defesa dos direitos da criança
e do adolescente compõem o sistema de garantia de direitos e são responsáveis pela
detecção dos sinais de violência.

4.2 O SISTEMA DE GARANTIAS DE DIREITOS PREVISTO NA LEI 13.431, DE 4


DE ABRIL DE 2017

Além de gozarem dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana,


crianças e adolescentes gozam de direitos específicos à sua condição peculiar de
pessoa em desenvolvimento. Quando se trata de vítimas e testemunhas de violência,
existe um sistema de direitos e garantias suplementar. O mesmo ocorre em se
tratando de crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica e familiar, e nos
casos de violência praticada nos estabelecimentos educacionais, como veremos à
frente. Nesse sentido, a Lei n. 13.431, de 4 de abril de 2017, normatiza e organiza o
sistema de garantias de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de
violência, cria mecanismos para prevenir e coibir a violência e estabelece medidas de

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assistência e proteção à criança e ao adolescente em situação de violência. O


mencionado diploma legal foi regulamentado pelo Decreto n. 9.603 de 2018.
O Decreto n. 9.603, de 2018, em seu artigo 3º, dispõe que o sistema de garantia
de direitos intervirá nas situações de violência contra crianças e adolescentes com a
finalidade de:

I - mapear as ocorrências das formas de violência e suas particularidades no


território nacional;
II - prevenir os atos de violência contra crianças e adolescentes;
III - fazer cessar a violência quando esta ocorrer;
IV - prevenir a reiteração da violência já ocorrida;
V - promover o atendimento de crianças e adolescentes para minimizar as
sequelas da violência sofrida; e
VI - promover a reparação integral dos direitos da criança e do adolescente.
(BRASIL, 2018)

Neste artigo, encontra-se a finalidade do sistema de garantia de direitos de


crianças e adolescentes, qual seja, mapear ocorrências, cessar e prevenir a violência
e sua reiteração, promover o atendimento e a reparação.
Aqui se encontra o cerne de toda a nossa atuação enquanto atores da rede de
proteção de crianças e adolescentes e não podemos perder de vista essa diretrizes
básicas.
Em seu artigo 5º, a Lei n. 13.431, de 2017, enumerou os direitos e garantias
das crianças e adolescentes vítimas e testemunhas de violência, prescrevendo que:

Art. 5º A aplicação desta Lei, sem prejuízo dos princípios estabelecidos nas
demais normas nacionais e internacionais de proteção dos direitos da criança
e do adolescente, terá como base, entre outros, os direitos e garantias
fundamentais da criança e do adolescente a:
I - receber prioridade absoluta e ter considerada a condição peculiar de
pessoa em desenvolvimento;
II - receber tratamento digno e abrangente;
III - ter a intimidade e as condições pessoais protegidas quando vítima ou
testemunha de violência;
IV - ser protegido contra qualquer tipo de discriminação, independentemente
de classe, sexo, raça, etnia, renda, cultura, nível educacional, idade, religião,
nacionalidade, procedência regional, regularidade migratória, deficiência ou
qualquer outra condição sua, de seus pais ou de seus representantes legais;
V - receber informação adequada à sua etapa de desenvolvimento sobre
direitos, inclusive sociais, serviços disponíveis, representação jurídica,
medidas de proteção, reparação de danos e qualquer procedimento a que
seja submetido;
VI - ser ouvido e expressar seus desejos e opiniões, assim como permanecer
em silêncio;
VII - receber assistência qualificada jurídica e psicossocial especializada, que
facilite a sua participação e o resguarde contra comportamento inadequado
adotado pelos demais órgãos atuantes no processo;
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DE MINAS GERAIS

VIII - ser resguardado e protegido de sofrimento, com direito a apoio,


planejamento de sua participação, prioridade na tramitação do processo,
celeridade processual, idoneidade do atendimento e limitação das
intervenções;
IX - ser ouvido em horário que lhe for mais adequado e conveniente, sempre
que possível;
X - ter segurança, com avaliação contínua sobre possibilidades de
intimidação, ameaça e outras formas de violência;
XI - ser assistido por profissional capacitado e conhecer os profissionais que
participam dos procedimentos de escuta especializada e depoimento
especial;
XII - ser reparado quando seus direitos forem violados;
XIII - conviver em família e em comunidade;
XIV - ter as informações prestadas tratadas confidencialmente, sendo vedada
a utilização ou o repasse a terceiro das declarações feitas pela criança e pelo
adolescente vítima, salvo para os fins de assistência à saúde e de persecução
penal;
XV - prestar declarações em formato adaptado à criança e ao adolescente
com deficiência ou em idioma diverso do português. (BRASIL, 2017)

Percebemos que grande parte das disposições acima transcritas direciona-se


aos órgãos estatais de assistência, atendimento e/ou responsáveis pela investigação
e persecução penal. Isso porque ao longo dos anos se constatou que crianças e
adolescentes vítimas ou testemunhas de crimes vinham sendo submetidos a
procedimentos inadequados e revitimizantes, tais como a desnecessária repetição de
oitivas e de exames médicos. Assim, para que consigamos alcançar a conduta
adequada, a Lei n. 13.431, de 2017, estabelece protocolos para um atendimento
integrado, humanizado e acolhedor.
Como assevera Bianchini et al., (2022), uma breve análise dos processos
judiciais revelou um panorama de absoluta violação de direitos.:

Historicamente, protagonizamos inúmeras crueldades contra nossas crianças


e adolescentes vítimas de violência, submetendo-os a entrevistas múltiplas,
realizadas de forma açodada e amadora, por profissionais despreparados e
em procedimentos revitimizantes, culpabilizantes e ameaçadores, voltados
principalmente à satisfação das demandas persecutórias, buscando-se o
atendimento da pretensão punitiva do Estado, em detrimento aos interesses
das crianças e dos adolescentes envolvidos. De fato, consta que crianças e
adolescentes são duplamente atingidos, ou seja, pela própria violência
(vitimização primária) e pelo aparato repressivo estatal (violência
secundária), pelo uso inadequado dos meios de controle social, ou mesmo
pela impropriedade dos meios utilizados. (Bianchini et al., 2022, p.306)

Acrescentam as mencionadas autoras que atualmente a Delegacia de Polícia


tem se mostrado local em que ocorrem as mais graves ocorrências de vitimização
secundária. Assim, durante os atendimentos, devemos atuar de forma acolhedora e

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receptiva, sem preconceitos e pré-julgamentos, a fim de se garantir a proteção integral


e se evitar a violência institucional e a revitimização. Por vezes, o Policial será o
primeiro garantidor dos direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes.
Os profissionais envolvidos no sistema de garantia de direitos da criança e do
adolescente vítima ou testemunha de violência primarão pela não revitimização e
darão preferência à abordagem com questionamentos mínimos e estritamente
necessários ao atendimento.
O Decreto n. 9.603/18 definiu a revitimização como sendo:

Discurso ou prática institucional que submeta crianças e adolescentes a


procedimentos desnecessários, repetitivos, invasivos, que levem as vítimas
ou testemunhas a reviver a situação de violência ou outras situações que
gerem sofrimento, estigmatização ou exposição de sua imagem. (BRASIL,
2018)

A revitimização é uma das formas de violência institucional. O mesmo ato


normativo cuidou também de definir a “violência institucional” como:

Violência praticada por agente público no desempenho de função pública, em


instituição de qualquer natureza, por meio de atos comissivos ou omissivos
que prejudiquem o atendimento à criança ou ao adolescente vítima ou
testemunha de violência. (BRASIL, 2018)

Importantíssimo mencionar que crianças e adolescentes vítimas ou


testemunhas de violência somente poderão ser ouvidos por meio de escuta
especializada ou depoimento especial, em local apropriado, acolhedor e que garanta
a sua privacidade, nos termos da Lei n. 13.431, de 2017.
O objetivo da lei não é desencorajar a oitiva de crianças e adolescentes vítimas,
mas sim estabelecer protocolos para que isso seja feito de forma adequada. Como
assevera Bianchini et al., (2022), promover a escuta da criança com o adequado
preparo, de forma responsável, respeitosa, acolhedora e profissional, pode ser o
importante início de um processo terapêutico de superação dos traumas. Falar é
libertador.
Sobre esse tema, a Polícia Civil de Minas Gerais elaborou um “Manual para
escuta protegida de crianças e adolescentes”, que compõe o material complementar
desse curso.

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Qualquer servidor da Polícia Civil poderá realizar a escuta especializada, desde


seja capacitado por meio de curso específico para o desempenho adequado da
função.
Para deflagração das investigações e adoção de providências iniciais, as
informações poderão ser colhidas com o adulto que acompanha a criança ou
adolescente ou profissionais envolvidos no atendimento, a fim preservá-la e para que
ela seja ouvida no momento e local adequados.
Em conformidade com o mencionado manual da PCMG:

Vale lembrar que muitas informações podem ser colhidas com o adulto que
acompanha a criança ou adolescente, preservando-a da necessidade de falar
sobre o assunto repetidas vezes. Haverá momento e local adequados para
que a criança ou adolescente relate sobre a violência vivida ou presenciada
em etapas posteriores ao acolhimento. (PCMG, 2022, p. 19)

Se o questionamento direto à criança ou ao adolescente for indispensável ao


encaminhamento do caso, o profissional da rede de proteção, policial ou não, deve ter
o cuidado de perguntar o mínimo necessário, de maneira delicada e respeitosa.
Cabe mencionar, que a criança ou adolescente vítima ou testemunha de
violência tem o direito de permanecer em silêncio e não poderá de forma alguma ser
forçada ou compelida a fazer seu relato. Contudo:

A experiência tem mostrado que, quando devidamente esclarecida sobre os


procedimentos após a revelação, quando for fortalecida pela conduta de
acolhimento dos profissionais envolvidos com a escuta, quando efetivamente
respeitada em sua condição de vítima, a criança sempre opta por falar e, mais
do que isso, retira desse momento muito da força e resiliência perdidas no
processo abusivo. (Bianchini et al., 2022, p. 323)

Em conformidade com a Lei n. 13.431/2017, art. 7º, a “escuta especializada é


o procedimento de entrevista sobre situação de violência com criança ou adolescente
perante órgão da rede de proteção, limitado o relato estritamente ao necessário para
o cumprimento de sua finalidade”. A escuta especializada não tem finalidade
probatória, mas sim de acolhimento e proteção.
O Decreto n. 9.603 de 2018, no art. 5º, III, definiu acolhimento ou acolhida como
sendo:
Posicionamento ético do profissional, adotado durante o processo de
atendimento da criança, do adolescente e de suas famílias, com o objetivo de
identificar as necessidades apresentadas por eles, de maneira a demonstrar
cuidado, responsabilização e resolutividade no atendimento. (BRASIL, 2018)

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O depoimento especial, por sua vez, é o procedimento de oitiva de criança ou


adolescente vítima ou testemunha perante autoridade policial ou judiciária com a
finalidade de produção de prova. Será sempre realizado perante autoridade judiciária
e seguirá o rito cautelar de antecipação de prova quando a criança ou adolescente
tiver menos de 7 anos e em caso de violência sexual (Decreto n. 9603/2018).

Para compreender mais sobre a Escuta Especializada e o Depoimento Especial,


clique na imagem e assista ao vídeo Depoimento Especial e Escuta Especializada,
do Canal Proteja.

Importante mencionar que a criança ou o adolescente deverá ser resguardado


do contato, ainda que visual, com o suposto autor ou acusado, ou com outra pessoa
que represente ameaça, coação ou constrangimento (Lei n. 13.431/2017).
Ademais, os órgãos policiais envolvidos deverão envidar esforços
investigativos para que o depoimento especial não seja o único meio de prova para o
julgamento do réu (Lei n. 13.431/2017).
Importante ressaltar que a perícia física somente deverá ser realizada nos
casos em que se fizer necessária a coleta de vestígios, devendo ser evitada a perícia
para descarte da ocorrência dos fatos (Decreto n. 9603/2018).
Por fim, devemos lembrar que, no atendimento à criança e ao adolescente
pertencente a povos ou comunidades tradicionais, deverão ser respeitadas suas
identidades sociais e culturais, seus costumes e suas tradições (Decreto n.
9603/2018).
As investigações e os procedimentos administrativos envolvendo crianças e
adolescentes devem tramitar de forma sigilosa. No caso de investigações policiais,
somente terão acesso aos autos do inquérito policial os advogados que estiverem
representando os envolvidos, mediante procuração juntada aos autos.
Além disso, ao sermos procurados pela imprensa, devemos sempre ter o
cuidado de resguardar a identidade e a intimidade das crianças e adolescentes vítimas
e testemunhas e jamais divulgar fotografias ou informações que os identifiquem.
Por fim, ressalte-se que a Lei n. 13.431 de 2017 estabelece que “a criança e o
adolescente vítima ou testemunha de violência têm direito a pleitear, por meio de seu
representante legal, medidas protetivas contra o autor da violência.

32
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As medidas protetivas de urgência foram descritas no artigo 21 da Lei


13.431/2017. Trata-se de rol exemplificativo, podendo ser concedidas pelo Judiciário
outras medidas que sejam pertinentes e indicadas no caso concreto.

4.3 O SISTEMA DE GARANTIAS DE DIREITOS PREVISTO NA LEI 14.344, DE


2022

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 226, §8º, estabelece que: “O


Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram,
criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações”. Note-se que
a criação de mecanismos para o combate à violência no âmbito familiar é mandamento
constitucional e a edição tanto da Lei 11.340, de 2006, Lei Maria da Penha, como da
Lei 14.344, de 2022, Lei Henry Borel, vão ao encontro dessa determinação
constitucional.
A Lei Henry Borel, criou mecanismos para a prevenção e o enfrentamento da
violência doméstica e familiar contra a criança e o adolescente, considerada uma das
formas de violação dos direitos humanos.
Configura violência doméstica e familiar contra a criança e o adolescente
qualquer ação ou omissão que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual,
psicológico ou dano patrimonial, no âmbito do domicílio ou da residência, no âmbito
da família e em qualquer relação doméstica e familiar.
Fazia-se necessária esta lei, pois diariamente são recebidas nas delegacias
denúncias de violência física, verbal, psicológica e sexual praticadas contra crianças
e adolescentes, sendo que, na maioria das vezes, os autores são pessoas que
deveriam cuidar, educar e proteger.
Ademais, ainda é comum que os agressores justifiquem suas ações alegando
finalidade educativa, de correção ou disciplina. Como mencionado anteriormente, por
muito tempo, isso foi aceito e até mesmo naturalizado em nossa sociedade. Hoje não
podemos mais tolerar métodos educacionais baseados em qualquer tipo de violência.
Segundo Cunha e Ávila (2024), a violência doméstica e familiar contra crianças
e adolescentes possui especificidades, sendo que grande parte dos episódios de
maus-tratos estão associados à tolerância social quanto ao uso de castigos físicos na

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correção de crianças e adolescentes, situação que foi legalmente proibida a partir da


Lei Menino Bernardo (Lei n. 13.010, de 26 de junho de 2014).
A Lei n. 13.010, de 26 de junho de 2014, alterou o ECA, ao estabelecer o direito
da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos
físicos ou de tratamento cruel ou degradante. Vejamos:

Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados


sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como
formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos
pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos
agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer
pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.
(BRASIL, 2014)

Frequentemente o público infantojuvenil tem sido alvo de violência doméstica


e familiar por motivo de opinião, expressão, orientação sexual ou crença religiosa. É
importante ressaltar que, como sujeitos de direitos, crianças e adolescentes têm
resguardados os mencionados direitos, ainda quando em divergência com seus pais
ou responsáveis.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023, do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública (FBSP, 2023), 64,4% dos casos de violência sexual
tiveram como autor um familiar da vítima, enquanto 21,6% dos casos envolvem
agressores que são conhecidos da vítima, embora não possuam laços familiares.
Apenas 13,9% das ocorrências foram atribuídas a agressores desconhecidos das
vítimas.
Cunha e Ávila (2024), ressaltam que, no caso de violência sexual contra
crianças e adolescentes, 82% das vítimas são meninas e 87% dos ofensores são
homens. Há, portanto, um claro viés de gênero no abuso sexual intrafamiliar de
crianças e adolescentes, fruto da visão de objetificação sexual das mulheres e de
afirmação da masculinidade através do abuso sexual.
Os mencionados autores acrescentam que, a violência doméstica contra
crianças e adolescentes sempre levanta preocupação especial com a proteção da
vítima e em fazer cessar a cotinuidade da violência. Por todos os dilemas que envolve,
a violência doméstica traz sempre consigo dor e sofrimento, levantando a necessidade
de se promover intervenções especiais de assistência à criança e ao adolescente ou

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ainda aos seus familiares. Assim, a integração da tutela penal com intervenções
psicossociais torna-se imperiosa (Cunha e Ávila, 2024).
Conforme determina o Decreto n. 9.603, de 2018, a criança e o adolescente
devem receber intervenção precoce, mínima e urgente das autoridades competentes
tão logo a situação de perigo seja conhecida. Nesse sentido, a Lei Henry Borel
estabeleceu que, verificada a ocorrência de ação ou omissão que implique a ameaça
ou a prática de violência doméstica e familiar, com a existência de risco atual ou
iminente à vida ou à integridade física da criança e do adolescente, ou de seus
familiares, o agressor será imediatamente afastado do lar, do domicílio ou do local de
convivência com a vítima:
I - pela autoridade judicial;
II - pelo Delegado de Polícia, quando o Município não for sede de comarca;
III - pelo Policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver
Delegado disponível no momento da denúncia.
As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo Juiz, a
requerimento do Ministério Público, da autoridade policial, do Conselho Tutelar ou a
pedido da pessoa que atue em favor da criança e do adolescente.
Via de regra, as medidas protetivas são solicitadas pela vítima ou por seu
representante legal em uma delegacia de polícia, após a lavratura do boletim de
ocorrência.
O registro da ocorrência policial consiste na descrição preliminar das
circunstâncias em que se deram o fato e, sempre que possível, será elaborado a partir
de documentação remetida por outros serviços da rede de proteção, além do relato
do acompanhante da criança ou adolescente. Sempre que possível, a descrição do
fato não será realizada diante da criança ou adolescente (Decreto n. 9603/2018).
O registro da ocorrência policial deverá ser assegurado, ainda que a criança ou
o adolescente esteja desacompanhado (Decreto n. 9603/2018).
Ressalte-se que, para que se possa pleitear as medidas protetivas, não se faz
necessária a existência de um crime, bastando a demonstração de indícios de
existência de alguma das modalidades de violência, seja física, psicológica ou sexual,
ainda que o fato não se amolde a um tipo penal.

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Ademais, como as medidas protetivas possuem natureza cautelar-satisfativa,


faz-se necessário analisar a presença dos requisitos gerais das cautelares, quais
sejam, o fumus boni iuris e periculum in mora. Assim, devem estar presentes
pressupostos da materialidade e indícios de autoria, além da existência de um risco
atual ou iminente à vida ou a integridade física ou psíquica da criança e do
adolescente.
Recebido o expediente com o pedido em favor de criança e de adolescente em
situação de violência doméstica e familiar, caberá ao juiz decidir no prazo de 24 (vinte
e quatro) horas.
Vale lembrar que o descumprimento de medidas protetivas previstas na Lei
14.344, de 2022, configura crime tipificado no artigo 25 do mesmo diploma legal e, na
hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá conceder fiança.
A Lei Henry Borel prevê, ainda, que aos crimes cometidos contra a criança e o
adolescente, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei n. 9.099, de
26 de setembro de 1995. Tal dispositivo foi acrescentado ao artigo 226 do ECA e é
alvo de divergência entre os doutrinadores.
A mencionada lei acrescentou que, nos casos de violência doméstica e familiar
contra a criança e o adolescente, é vedada a aplicação de penas de cesta básica ou
de outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o
pagamento isolado de multa.
Como é possível notar, as especificidades da violência doméstica e familiar
contra crianças e adolescentes exigem um tratamento especializado por parte do
sistema de garantia de direitos, incluindo os sistemas policial e judicial. Nesse sentido,
a Lei Henry Borel, inspirada na Lei Maria da Penha, estende à infância e juventude o
regramento protetivo já existente no âmbito da violência doméstica e familiar contra a
mulher, com adaptações pontuais (Cunha e Ávila, 2024, p. 22)
Por fim, a Lei Henry Borel traz em seu bojo diretrizes para a atuação articulada
da rede de proteção, estabelecendo que a assistência à criança e ao adolescente em
situação de violência doméstica e familiar será prestada de forma articulada e
conforme os princípios e as diretrizes previstos no ECA e demais normas de proteção.

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4.4 O SISTEMA DE GARANTIAS DE DIREITOS PREVISTO NA LEI N. 14.811, DE


12 DE JANEIRO DE 2024

A Lei n. 14.811, de 12 de janeiro de 2024, institui medidas de proteção à criança


e ao adolescente contra a violência nos estabelecimentos educacionais ou similares,
prevê a Política Nacional de Prevenção e Combate ao Abuso e exploração Sexual da
Criança e do Adolescente e altera o Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal), e as Leis n. 8.072, de 25 de julho de 1990 (Lei dos Crimes Hediondos),
e 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).
Esta lei estabelece que as medidas de prevenção e combate à violência contra
a criança e o adolescente em estabelecimentos educacionais ou similares, públicos
ou privados, devem ser implementadas pelo Poder Executivo Municipal e do Distrito
Federal, em cooperação federativa com os Estados e a União. Acrescentando que é
de responsabilidade do poder público local desenvolver, em conjunto com os órgãos
de segurança pública e de saúde e com a participação da comunidade escolar,
protocolos para estabelecer medidas de proteção à criança e ao adolescente contra
qualquer forma de violência no âmbito escolar.
A mencionada lei, ainda, criou os crimes de bullying, cyberbullying e de não
comunicação de desaparecimento de criança ou adolescente à autoridade pública.
Além disso, o novel diploma legal estabeleceu, para as instituições sociais,
públicas ou privadas, que desenvolvam atividades com crianças e adolescentes e que
recebam recursos públicos, a obrigação de manter certidões de antecedentes
criminais de todos os seus colaboradores. A mesma obrigação foi imposta a
estabelecimentos educacionais e similares, públicos ou privados, que desenvolvem
atividades com crianças e adolescentes, independentemente de recebimento de
recursos públicos.

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5 A REDE DE PROTEÇÃO

A rede de proteção a crianças e adolescentes é um conjunto articulado de


instituições, órgãos e profissionais que atuam de forma integrada e coordenada para
garantir a defesa e promoção dos direitos desse grupo. Seus objetivos principais são
prevenir situações de violência, negligência, abuso e exploração, além de oferecer
assistência especializada às vítimas, promovendo um ambiente seguro e saudável
para o desenvolvimento integral desses indivíduos.
A articulação da rede é guiada pelos princípios de intersetorialidade,
corresponsabilidade, interdependência, horizontalidade, democracia, cooperação
articulada, finalidade comum e criatividade coletiva (Cunha & Ávila, 2024).
Tanto o ECA quanto as Leis n. 13.431/2017 e n. 14.344/2022, destacam a
importância da rede de proteção, unindo-se na concepção de uma estrutura ativa,
eficaz e dedicada ao bem-estar e à segurança integral de crianças e adolescentes,
como vemos na última lei:

Art. 8º O Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente,


juntamente com os sistemas de justiça, de saúde, de segurança pública e de
assistência social, os Conselhos Tutelares e a comunidade escolar, poderão,
na esfera de sua competência, adotar ações articuladas e efetivas
direcionadas à identificação da agressão, à agilidade no atendimento da
criança e do adolescente vítima de violência doméstica e familiar e à
responsabilização do agressor. (BRASIL, 2022)

Quando aborda a temática da rede de proteção, o ECA estabelece:


• Articulação entre Órgãos e Entidades: estabelecer a cooperação entre
diferentes instituições, garantindo a troca de informações e a atuação conjunta para
oferecer suporte e assistência de forma integral;
• Atendimento Especializado: oferecer atendimento específico e adequado às
necessidades de cada criança ou adolescente, considerando seu contexto familiar,
social e emocional;
• Proteção contra Violência e Exploração: garantir medidas de proteção para
vítimas de violência, abuso, exploração ou negligência, promovendo o acolhimento e
o respeito aos seus direitos;

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• Medidas Preventivas e Educativas: desenvolver ações preventivas e


educativas, visando evitar situações de risco e promover a conscientização sobre os
direitos e deveres das crianças e dos adolescentes.

Para viabilizar a eficácia de um sistema integrado de proteção destinado a


crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência, a Lei n. 13.431/2017,
conhecida como Lei da Escuta Protegida, propõe a organização do atendimento a
esse público por meio dos diversos órgãos que compõem o sistema de garantia de
direitos. A lei fornece as diretrizes essenciais para colocar em prática a rede de
proteção, conforme detalhado em seu artigo 14, § 1º:

I - abrangência e integralidade, devendo comportar avaliação e atenção de


todas as necessidades da vítima decorrentes da ofensa sofrida;
II - capacitação interdisciplinar continuada, preferencialmente conjunta, dos
profissionais;
III - estabelecimento de mecanismos de informação, referência,
contrarreferência e monitoramento;
IV - planejamento coordenado do atendimento e do acompanhamento,
respeitadas as especificidades da vítima ou testemunha e de suas famílias;
V - celeridade do atendimento, que deve ser realizado imediatamente - ou tão
logo quanto possível - após a revelação da violência;
VI - priorização do atendimento em razão da idade ou de eventual prejuízo
ao desenvolvimento psicossocial, garantida a intervenção preventiva;
VII - mínima intervenção dos profissionais envolvidos; e
VIII - monitoramento e avaliação periódica das políticas de atendimento.
(BRASIL, 2017)

O Decreto-Lei nº 9.603/18, em seu artigo 9º, estabelece a obrigatoriedade de


os órgãos, serviços, programas e equipamentos públicos atuarem de maneira
integrada e coordenada. Essa abordagem visa assegurar os cuidados indispensáveis
e a proteção efetiva das crianças e adolescentes que tenham sido vítimas ou
testemunhas de violência (BRASIL, 2018).

5.1 INSTITUIÇÕES QUE COMPÕEM A REDE DE PROTEÇÃO

No ECA, diversas instituições são citadas como componentes da rede de


proteção à criança e ao adolescente, visando garantir a efetivação dos direitos
infantojuvenis. Dentre as principais instituições mencionadas podem ser citadas:
1. Conselhos Tutelares;

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2. Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional dos Direitos da Criança e do


Adolescente;
3. Assistência social;
4. Instituições de saúde;
5. Instituições de ensino;
6. Órgãos de Segurança Pública e Justiça.

É importante destacar que o artigo 13 do ECA prevê que os casos de suspeita


ou confirmação de maus-tratos contra crianças ou adolescentes devem ser
obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar pelos profissionais de saúde,
educação, assistência social, e outros que tenham conhecimento dessas situações no
exercício de suas atividades.
A seguir serão apresentadas algumas das responsabilidades dos órgãos
citados.

5.1.1 Conselhos Tutelares

O ECA destaca os Conselhos Tutelares como órgãos fundamentais na proteção


dos direitos da criança e do adolescente. No que tange a esses conselhos, os artigos
131 e 132 do ECA estabelecem a criação deles em cada município, como órgãos
permanentes e autônomos. Sua missão é zelar pelo cumprimento dos direitos da
criança e do adolescente, conforme as disposições da lei.
O artigo 132 do ECA determina que a composição e funcionamento dos
Conselhos Tutelares serão regidos por legislação municipal específica, garantindo
autonomia para sua organização, desde que esteja em conformidade com as
diretrizes gerais estabelecidas no ECA.
No que diz respeito às atribuições, o artigo 134 do ECA define algumas
responsabilidades dos Conselhos Tutelares, incluindo o atendimento a crianças e
adolescentes e a aplicação de medidas de proteção e outras ações de intervenção
quando os direitos desses jovens são violados ou ameaçados.
Ademais, somente os Conselhos têm competência para apurar os atos
infracionais praticados por crianças, aplicando-lhes medidas específicas de proteção.

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Quanto à gestão, o artigo 136 estipula que os membros dos Conselhos


Tutelares terão mandato de quatro anos, permitindo uma recondução, mediante novo
processo de escolha. Durante o exercício do mandato, é vedado o envolvimento em
atividade político-partidária.

5.1.2 Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional dos direitos da criança e do


adolescente

Os Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional dos Direitos da Criança e do


Adolescente são mencionados em diferentes partes do ECA, cada um com suas
respectivas atribuições e composições e fazem parte do eixo de controle da efetivação
dos direitos humanos.
Os conselhos dos direitos da criança e do adolescente deverão acompanhar,
avaliar e monitorar as ações públicas de promoção e defesa de direitos de crianças e
adolescentes, deliberando previamente a respeito, através de normas,
recomendações, orientações. As suas deliberações, no âmbito de suas atribuições e
competências, vinculam as ações governamentais e da sociedade civil organizada
(CONANDA, 2006).
No que diz respeito aos Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do
Adolescente (CMDCA), o artigo 88 do ECA estabelece que eles serão criados em cada
município por meio de lei específica. Sua atuação visa à formulação e controle das
políticas locais de promoção, proteção e defesa dos direitos infantojuvenis.
No caso dos Conselhos Estaduais dos Direitos da Criança e do Adolescente
(CEDCA), o mesmo artigo 88 do ECA prevê a criação desses conselhos. Eles são
responsáveis por articular e fiscalizar as políticas estaduais relacionadas à infância e
adolescência, coordenando a atuação dos municípios em nível estadual.
Quanto ao Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
(CONANDA), o artigo 88 também aborda sua criação. Esse órgão, vinculado ao
Governo Federal, tem a responsabilidade de formular e deliberar sobre políticas
nacionais, estabelecer diretrizes para a atuação em nível nacional e articular a
atuação dos estados e municípios.

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O artigo 90 determina que os Conselhos dos Direitos são órgãos permanentes


e deliberativos, compostos por representantes do governo e da sociedade civil. Eles
são incumbidos de formular, deliberar e controlar as políticas de atendimento e
proteção à infância e adolescência.

5.1.3 Assistência Social

A Assistência Social, integrante da política de Seguridade Social e coordenada


pelos governos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais, deve colaborar
estreitamente com a sociedade civil. O Sistema Único de Assistência Social (SUAS)
garante a prestação adequada de Assistência Social a milhões de brasileiros,
independentemente da idade (BRASIL, 1993).
O artigo 12 do Decreto n. 9.603/18 estabelece que o SUAS deve oferecer
serviços, programas, projetos e benefícios para prevenir situações de vulnerabilidade,
riscos e violações de direitos de crianças, adolescentes e suas famílias, tanto na
proteção social básica quanto na especial. A Assistência Social atua no eixo da
promoção dos direitos humanos.
Dada a diversidade de vulnerabilidades e riscos sociais enfrentados por
famílias e indivíduos, é crucial direcionar serviços, programas, projetos e ações
específicos, adaptados às suas realidades particulares. Algumas famílias necessitam
apenas de apoio, orientação e acompanhamento para fortalecer sua função protetiva,
enquanto outras, cujos direitos são violados e enfrentam situações de risco e
exclusão, demandam intervenções mais substanciais.
Além dessas, o município pode contar com outras unidades, sejam públicas ou
entidades de assistência social, que atendem a diversos públicos, como idosos,
crianças, adolescentes e pessoas em situação de rua. Em caso de dúvida, é
recomendável buscar informações na Secretaria Municipal de Assistência Social ou
na Prefeitura local.
A seguir, serão descritos brevemente os níveis de atuação da Assistência Social
em relação à proteção de crianças e adolescentes.

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5.1.3.1 Proteção Social Básica

A Proteção Social Básica, conforme estabelecido pela Lei Orgânica da


Assistência Social (LOAS), Lei n. 8.742/1993, visa prevenir situações de risco,
fomentando o desenvolvimento de habilidades, conquistas e o fortalecimento dos
laços familiares e comunitários. Essa forma de assistência é destinada à população
em situação de vulnerabilidade social, originada por fatores como pobreza, falta de
renda, limitado acesso a serviços públicos, fragilização de laços familiares e
integração social prejudicada (discriminação por idade, etnia, gênero ou deficiência),
entre outros.

Figura 7: Proteção Social Básica

Fonte: SNAS (2023, p.30)

5.1.3.2 Proteção Social Especial

A Proteção Social Especial tem como objetivo oferecer assistência a grupos


que enfrentam diversas violações de direitos, como abandono, violência, abuso e
exploração sexual, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua,
trabalho infantil, tráfico de pessoas, migração e refúgio, calamidades públicas,
emergências e outras formas de violação de direitos (art. 6º-A, II da Lei n. 8.742/1993).

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É importante ressaltar que cada situação apresenta um nível diferente de


agravamento, exigindo abordagens mais específicas. Dessa forma, a Proteção Social
Especial é organizada em níveis de Média Complexidade e Alta Complexidade para
atender de maneira adequada às diversas necessidades.

Figura 8: Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade

Fonte: SNAS (2023, p.38)

A Lei nº 8.7421 de 7 de dezembro de 1993, conhecida como a Lei Orgânica da


Assistência Social dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá outras
providências.

5.1.4 Instituições de saúde

O ECA considera as Instituições de Saúde como integrantes fundamentais da


rede de proteção à infância e adolescência, assegurando uma atenção especializada
e adequada às necessidades de saúde desses grupos (BRASIL, 1990).

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Embora o ECA não detalhe especificamente quais serviços de saúde devem


ser oferecidos ou quais instituições precisam estar disponíveis, destaca a importância
da presença e atuação das instituições de saúde no contexto da proteção à infância e
adolescência. Essas instituições desempenham um papel crucial no cuidado,
prevenção e promoção da saúde física e mental desses grupos, garantindo atenção
especializada e respeito aos seus direitos.
O Decreto n. 9.603/18, em seu artigo 10, estabelece que a atenção à saúde
das crianças e adolescentes em situação de violência será conduzida por uma equipe
multiprofissional do Sistema Único de Saúde (SUS) em diversos níveis de atenção,
abrangendo acolhimento, atendimento, tratamento especializado, notificação e
seguimento na rede. Nos casos de violência sexual, o atendimento deve compreender
exames, medidas profiláticas contra infecções sexualmente transmissíveis,
anticoncepção de emergência, orientações necessárias, além da coleta, identificação,
descrição e guarda de vestígios, assegurando uma abordagem integral e
especializada diante dessa forma específica de violência.
Com o propósito de proporcionar atendimento emergencial, abrangente e
multidisciplinar no estado de Minas Gerais, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) e
a Secretaria Estadual de Saúde estabeleceram um acordo de cooperação técnica. O
objetivo é assegurar atendimento em conformidade com normativas específicas para
prevenção e tratamento de danos resultantes de violência sexual, incluindo casos
envolvendo crianças e adolescentes. Os principais pontos deste acordo serão
delineados a seguir.

Assista ao vídeo Criação do Sistema Único de Saúde (SUS), da TV Brasil, clicando


na imagem.

5.1.4.1 Acordo de Cooperação Técnica entre Secretaria Estadual de Saúde e


PCMG

O Acordo de Cooperação Técnica entre a Secretaria de Estado de Saúde (SES-


MG) e a PCMG, assinado em 2021, tem como propósito oferecer atendimento
emergencial, integral e multidisciplinar no âmbito do estado. Este documento,

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respaldado por legislações federais e estaduais, busca implementar práticas de


atendimento conforme normativas específicas para prevenção e tratamento de
agravos decorrentes de violência sexual, com foco na implantação do registro de
informações, coleta de vestígios e cadeia de custódia nos serviços credenciados ao
Sistema Único de Saúde (SUS) de Minas Gerais, especialmente em hospitais e
maternidades, visando proporcionar um atendimento humanizado.
Os objetivos específicos do Acordo de Cooperação Técnica incluem contribuir
para a normatização e padronização dos serviços de coleta, estabelecer fluxos
adequados, definir competências, capacitar equipes nos procedimentos, realizar
treinamentos para profissionais da saúde e da Polícia Civil, além de disseminar
informações sobre a realização de perícia médico-legal à comunidade em geral.
A justificativa do Acordo está fundamentada na necessidade de organização
para acolher vítimas de violência sexual, considerando o impacto na saúde física e
psíquica dessas vítimas, e contribuir para o combate à impunidade com a coleta de
material biológico do agressor.
As obrigações da SES-MG incluem garantir participação e custeio de despesas,
oferecer material didático, disponibilizar boletim epidemiológico, elaborar documentos
técnicos, divulgar políticas de prevenção, prestar assistência técnica, capacitar sobre
preenchimento de fichas, comunicar à autoridade policial, e comprar e entregar
material gráfico à PCMG.
A SES-MG, por meio da Coordenação Materno Infantil e de Infecções
sexualmente transmissíveis (IST/AIDS) e Hepatites Virais, possui competências
específicas, tais como listar e pactuar serviços de referência, capacitar no atendimento
humanizado, apresentar propostas à Comissão Intergestores Bipartite (CIB/SUS),
solicitar habilitação federal, e articular a distribuição de anticoncepção de emergência
e teste rápido.
A PCMG, por meio da ACADEPOL, deve capacitar e treinar profissionais,
certificar, estabelecer diretrizes sobre procedimentos técnicos, informar sobre a
atualização do Kit de Sexologia Forense, montar kits pelo IML, recolher e transportar
material coletado. O Acordo destaca a importância da adesão dos municípios para a
capacitação de equipes. O texto ressalta a confidencialidade das informações e
estabelece gestores e fiscais para zelar pela execução, reportando irregularidades.

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Como já mencionado, ao longo dos anos, verificou-se a desnecessária


repetição de procedimentos invasivos e revitimizantes, especialmente quando se
tratava de apuração de violência sexual, pois não havia uma comunicação adequada
e eficiente entre a Polícia, as unidades de saúde e demais órgãos da rede de proteção.
Nesse contexto, esse Acordo entre a PCMG e a SES, com o estabelecimento de
protocolos e fluxos de atendimento, visa a eliminação desse problema.

5.1.5 Instituições de ensino

O ECA reconhece a relevância das instituições de ensino na garantia e


promoção dos direitos da criança e do adolescente, estabelecendo orientações para
a educação e o papel dessas instituições nesse contexto. O artigo 53 assegura o
direito à educação, incluindo o acesso ao ensino fundamental obrigatório e gratuito,
garantindo a progressão nos estudos e condições de permanência na escola. As
instituições de ensino, igualmente, compreendem o eixo de promoção dos direitos
humanos.
Assegurar à criança e ao adolescente educação escolar de qualidade, criando
condições para garantir a frequência escolar, é uma responsabilidade do Estado,
conforme estabelecido pelo artigo 54. Por sua vez, o artigo 55 impõe aos pais ou
responsáveis a obrigação de matricular seus filhos na rede regular de ensino,
assegurando a regularidade na participação escolar.
O dever do Estado em garantir condições para que crianças e adolescentes
possam frequentar a escola é estipulado pelo artigo 56, por meio de políticas sociais
e econômicas. O ECA reforça a importância da educação como um direito
fundamental e um dever do Estado, da família e da sociedade. Este documento
estabelece a obrigatoriedade da frequência escolar e assegura o acesso à educação
de qualidade para todas as crianças e adolescentes.
O Decreto n. 9.603/18 estabelece diretrizes para lidar com casos de violência
contra crianças e adolescentes, especialmente no ambiente escolar. De acordo com
o artigo 11, os profissionais da educação devem acolher a vítima, informar sobre
direitos e procedimentos legais, encaminhar para atendimento emergencial, quando
necessário, e comunicar o Conselho Tutelar. Além disso, destaca-se a
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responsabilidade das redes de ensino em implementar programas de prevenção à


violência, visando proteger o pleno desenvolvimento escolar desses jovens.
Essas disposições visam assegurar não apenas o acesso à escola, mas
também a permanência e a qualidade do ensino oferecido, buscando garantir o pleno
desenvolvimento e a proteção dos direitos desses grupos.

5.1.6 Órgãos de segurança pública e justiça

O ECA atribui responsabilidades específicas aos órgãos de Segurança Pública


e Justiça no que tange à proteção e garantia dos direitos de crianças e adolescentes.
O artigo 129 do ECA assegura que as vítimas de infrações penais ou de
qualquer natureza tenham acesso aos órgãos judiciários e policiais para realizar
denúncias e solicitar proteção. Este dispositivo visa garantir que os afetados tenham
meios adequados para buscar justiça e resolução de seus problemas. Esses órgãos
atuam nos eixos de defesa e controle da efetivação dos direitos humanos.
Já em seu artigo 130, ECA determina que os órgãos de Segurança Pública e
do Sistema Judicial devem comunicar ao Conselho Tutelar situações que indiquem
ameaça ou violação aos direitos da criança ou do adolescente. Essa medida visa
permitir que o Conselho Tutelar tome as providências necessárias para garantir a
proteção desses jovens.
Dispõe o artigo 144 da Constituição Federal de 1988 que, a Segurança Pública,
dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida, entre outros, pelas
Polícias Militar e Civil. Às Polícias Militares cabem a polícia ostensiva e a preservação
da ordem pública. Enquanto às Polícias Civis incumbem as funções de polícia
judiciária e a apuração das infrações penais.
As Polícias Civis têm um papel fundamental na garantia de proteção às vítimas
de violências, pois, além de ser a responsável pela apuração dos crimes praticados
contra crianças e adolescentes, como já delineado durante todo esse curso, como
primeiros garantidores dos direitos fundamentais, os policiais deverão conhecer o
sistema de garantias de direitos de crianças e adolescentes, a fim de oferecer o
atendimento adequado e evitar a revitimização e a violência institucional.

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No atendimento à criança e ao adolescente em situação de violência doméstica


e familiar, a autoridade policial deverá, entre outras providências, conforme a Lei n.
14.344/2022:

I - encaminhar a vítima ao Sistema Único de Saúde e ao Instituto Médico-


Legal imediatamente;
II - encaminhar a vítima, os familiares e as testemunhas, caso sejam crianças
ou adolescentes, ao Conselho Tutelar para os encaminhamentos
necessários, inclusive para a adoção das medidas protetivas adequadas;
III - garantir proteção policial, quando necessário, comunicados de imediato
o Ministério Público e o Poder Judiciário;
IV - fornecer transporte para a vítima e, quando necessário, para seu
responsável ou acompanhante, para serviço de acolhimento existente ou
local seguro, quando houver risco à vida. (BRASIL, 2022)

O artigo 136 do ECA estabelece como dever do Estado, por meio dos
órgãos de Segurança Pública, promover programas específicos de prevenção e
atendimento especializado para crianças e adolescentes em situação de risco. Essa
iniciativa visa mitigar as circunstâncias que colocam esses jovens em perigo,
buscando garantir seu bem-estar.
Por fim, o artigo 143 do ECA assegura que a apuração de ato infracional
atribuído a adolescente siga garantias processuais e procedimentos específicos para
a idade, respeitando seus direitos fundamentais. Esta disposição visa garantir que a
justiça seja aplicada de maneira adequada, considerando a condição peculiar da
adolescência.
Estes artigos do ECA têm por objetivo assegurar o pleno exercício dos direitos
desses grupos, considerando suas peculiaridades e necessidades específicas.
O artigo 201 do ECA enumera várias competências do Ministério Público no
que tange ao SGDCA, dentre elas, intervir, quando não for parte, nas causas cíveis e
criminais decorrentes de violência doméstica e familiar contra a criança e o
adolescente. A Lei Henry Borel (Lei n. 14.344/2022) acrescentou que, ao Ministério
Público caberá, sem prejuízo de outras atribuições, nos casos de violência doméstica
e familiar contra a criança e o adolescente, quando necessário: registrar em seu
sistema de dados os casos de violência doméstica e familiar contra a criança e o
adolescente; requisitar força policial e serviços públicos de saúde, de educação, de
assistência social e de segurança, e fiscalizar os estabelecimentos públicos e
particulares de atendimento à criança e ao adolescente em situação de violência

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doméstica e familiar e adotar, de imediato, as medidas administrativas ou judiciais


cabíveis no tocante a quaisquer irregularidades constatadas.
Ao Poder Judiciário cabe zelar pelo cumprimento dos direitos e garantias
previstos nas leis que compõem o SGDCA, determinando que se faça cumprir as
normas de proteção dos direitos humanos, gerais e especiais, da infância e da
adolescência, para assegurar a impositividade deles e sua exigibilidade, em concreto.

5.1.6.1 Termo de Cooperação Interinstitucional n. 022/2021

Com o objetivo de promover a atuação coordenada entre os órgãos


responsáveis pela defesa e proteção dos direitos de crianças e adolescentes em
Minas Gerais, foi formalizado, no ano de 2021, o Termo de Cooperação
Interinstitucional n. 022/2021. Este documento destaca a importância de respeitar os
direitos desses indivíduos durante processos judiciais, garantindo sua dignidade,
integridade física e psicológica. Reconhecendo a gravidade da violência sexual nessa
faixa etária, preconiza-se um atendimento humanizado e multidisciplinar, visando
reduzir o impacto traumático e agilizar a coleta de provas.
O Termo detalha as responsabilidades dos seguintes órgãos:
• Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG);
• Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG);
• Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais (DPMG);
• Ordem dos Advogados do Brasil (OAB);
• Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG);
• Polícia Civil do Estado de Minas Gerais (PCMG);
• Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais
(SEJUSP);
• Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais (SEDS);
• Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES);
• Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE).
O Termo estabelece diretrizes para a escuta especializada e o depoimento
especial, focando na minimização da revitimização, na ampla defesa do investigado e
no uso do relato estritamente necessário para a finalidade do procedimento. Prevê a
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criação de programas e serviços especializados, formados por equipes


multidisciplinares, para oferecer um atendimento integral e interinstitucional às vítimas
ou testemunhas de violência.
A ênfase está na coordenação entre os órgãos para efetivar as disposições da
lei, assegurar assistência jurídica e psicossocial qualificada, e priorizar a celeridade
processual sem comprometer a qualidade do atendimento. Em síntese, o Termo busca
a cooperação entre diversas instituições para implementar práticas e procedimentos
que protejam e assegurem os direitos de crianças e adolescentes em situações de
violência em Minas Gerais, em conformidade com a legislação federal vigente.
Estabelece atribuições comuns entre os participantes, incluindo cooperação na
criação das condições necessárias para a aplicação do Termo, fortalecimento das
redes de proteção, disseminação das diretrizes da lei, intercâmbio de informações,
capacitação conjunta de profissionais, garantia de recursos para a execução da lei,
integração de políticas de atendimento, promoção de ações articuladas para
humanização do atendimento, elaboração de fluxos e protocolos para a escuta
especializada e depoimento especial, recomendação do cumprimento desses
protocolos, colaboração na formulação de políticas públicas e indicação de membros
para uma Comissão Interinstitucional.
O documento detalha as responsabilidades dos órgãos envolvidos,
estabelecendo a Comissão Interinstitucional em Minas Gerais para implementar a Lei
Federal n. 13.431/17 nas comarcas do estado. A comissão, composta por até três
representantes de cada instituição signatária do Termo e outras que aderirem
posteriormente, se reunirá mensalmente para acompanhar as ações deste Termo e
propor novas medidas para criar políticas públicas voltadas ao atendimento de
crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência. A coordenação será
exercida rotativamente por 12 meses por cada instituição participante.
A seguir, serão delineadas as responsabilidades específicas da PCMG
conforme estabelecido no Termo de Cooperação. A PCMG desempenha diversas
responsabilidades relacionadas à implementação da Lei Federal n. 13.431/2017.
Destacam-se, entre essas atribuições, a organização de cursos e eventos de
capacitação voltados a Delegados de Polícia, Policiais Civis e equipes técnicas, com
o intuito de disseminar o conhecimento sobre a legislação. Além disso, a polícia

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colabora na promoção desses eventos para outras instituições, contribuindo para a


difusão do entendimento sobre a lei.
No contexto da referida lei, a Polícia Civil orienta práticas que evitem a oitiva
direta de crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência, priorizando a
obtenção de informações por outros meios. Também fornece diretrizes para a
realização da escuta especializada, recomendando a atuação de profissionais
qualificados em ambientes apropriados. Adicionalmente, a polícia está autorizada a
representar ao Ministério Público para a produção antecipada de prova, entre outras
medidas legais e procedimentais.
Outra importante incumbência da Polícia Civil é orientar os Institutos Médico-
Legais (IMLs) para se adequarem aos parâmetros estabelecidos pela lei, garantindo
que os procedimentos realizados nesses institutos estejam em conformidade com as
diretrizes da legislação. Além disso, a Polícia Civil desempenha o papel de promover
a integração operacional com os signatários do termo e órgãos de proteção, buscando
uma atuação conjunta e eficaz no âmbito da proteção à criança e ao adolescente.
Fomentar parcerias relacionadas aos objetivos do Termo também é uma
responsabilidade atribuída à Polícia Civil, visando fortalecer a rede de proteção e
atendimento a vítimas de violência. Dessa forma, a atuação da Polícia Civil vai além
da esfera investigativa, abrangendo ações preventivas e colaborativas no contexto da
implementação da Lei Federal n. 13.431/2017.

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6 CONCLUSÃO

Como observado, a história das crianças e adolescentes é marcada pelo


desrespeito à sua condição de seres humanos em desenvolvimento, sendo
caracterizada por um tratamento cruel e degradante, por parte da família e da
sociedade, quanto do Estado. A exploração do trabalho infantil foi amplamente aceita
no Brasil e no mundo, até o século passado, o que nos mostra o quão recente é a
preocupação com a proteção desse público.
Somente a partir do século XIX, começam a surgir documentos internacionais
que reconheciam a infância como fase peculiar do desenvolvimento humano, que
demanda especial proteção.
No Brasil, por influência das declarações internacionais, a Constituição Federal
de 1988 inaugurou a doutrina da proteção integral, reconhecendo crianças e
adolescentes como sujeitos de direitos e destinatários de proteção especial. A partir
desse ponto, foi estabelecido um conjunto de direitos e garantias que devem ser
assegurados por parte da família, da sociedade e do Estado a esta parcela da
população.
Em 1990, a doutrina da proteção integral foi consolidada pelo ECA, um marco
normativo de repercussão mundial, regulatório de direitos e garantias de crianças e
adolescentes.
Desde então, várias outras leis foram sendo criadas no Brasil, consolidando e
regulamentando o sistema de garantias de direitos de crianças e adolescentes.
Apesar desses avanços, as violações aos direitos infantojuvenis continuam
sendo uma realidade em nosso país e as estatísticas são alarmantes. Daí a
necessidade de constante debate em torno do tema, bem como da realização de
capacitação permanente dos profissionais que atuam na rede de proteção. Barreiras
ainda persistem no âmbito doméstico e familiar, bem como na sociedade em geral,
impedindo que as vozes das vítimas silenciadas sejam ouvidas.
Como integrantes da rede de proteção, precisamos atuar também
preventivamente, disseminando informações que contribuam para eliminação de
formas violentas de educação e de todas as demais formas de violência contra
crianças e adolescentes.

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DE MINAS GERAIS

Reconhecendo que a abordagem não esgota o tema, buscamos refletir sobre


a história e o arcabouço jurídico que cercam essa matéria, a fim de que o
conhecimento atue como instrumento capaz de modificar a triste realidade vivida por
uma parcela da sociedade.

Como disse Beto Guedes, “a lição sabemos de cor, só nos resta aprender...”.

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Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir,
Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados
de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo
Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Diário
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criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos
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físicos ou de tratamento cruel ou degradante, e altera a Lei n. 9.394, de 20 de


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Federal e das disposições específicas previstas em tratados, convenções ou
acordos internacionais de que o Brasil seja parte; altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7
de dezembro de 1940 (Código Penal), e as Leis nºs 7.210, de 11 de julho de 1984
(Lei de Execução Penal), 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente), 8.072, de 25 de julho de 1990 (Lei de Crimes Hediondos), e 13.431,
de 4 de abril de 2017, que estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e
do adolescente vítima ou testemunha de violência; e dá outras providências. Diário
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Sexual da Criança e do Adolescente e altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal), e as Leis nºs 8.072, de 25 de julho de 1990 (Lei
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de Minas Gerais, Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social, Secretaria de
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