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RESUMO
O presente artigo tem por objetivo a discussão do financiamento das políticas
públicas destinadas a crianças e adolescentes no Brasil, discutindo qual o papel dos
atores do Sistema de Garantias de Direitos no planejamento, no monitoramento e na
fiscalização dos recursos públicos que, prioritariamente, devem ser destinados a
esta parcela da população. Para tanto, serão expostos: as formas de financiamento
de políticas da infância e juventude no Brasil; os Fundos da Infância e Adolescência,
o papel do Ministério Público, do Conselho de Direitos, do Conselho Tutelar e da
Ordem dos Advogados do Brasil.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO. 2. SISTEMA DE FINANCIAMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
DESTINADAS A CRIANÇAS E ADOLESCENTES. 2.1. Os planos de direitos e as
Leis Orçamentárias. 2.2. Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente. 3. O
PAPEL DOS ATORES DO SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS NA GARANTIA
E NA FISCALIZAÇÃO DOS RECURSOS DESTINADOS A CRIANÇAS E
ADOLESCENTES. 3.1. O papel do Conselho dos Direitos. 3.2. O papel Ministério
Público Estadual. 3.3. O PAPEL DO CONSELHO TUTELAR. 3.4. O PAPEL DA
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. 4. CONCLUSÕES. REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS.
1. INTRODUÇÃO
2
BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente: Lei federal n.º 8069, de 13 de julho de 1990. Rio de
Janeiro: Imprensa Oficial, 2019.
3
BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente: Lei federal n.º 8069, de 13 de julho de 1990. Rio de
Janeiro: Imprensa Oficial, 2019, grifo nosso.
4
BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente: Lei federal n.º 8069, de 13 de julho de 1990. Rio de
Janeiro: Imprensa Oficial, 2019, grifo nosso.
de pesquisas sobre desenvolvimento infantil e sobre prevenção da
violência.5
Assim, resta claro que a regra no Brasil é que crianças e adolescentes tenham
as políticas públicas a elas destinadas previstas e executadas com destinação
privilegiada de recursos públicos e que exista solidariedade, ou seja, que os três
entes federados as cofinanciem na medida de suas corresponsabilidades previstas
em lei.
A diversidade de normas, a transversalidade das ações, a
corresponsabilidade são aspectos que tornam o acompanhamento do ciclo
orçamentário, do planejamento e da execução orçamentária tarefa nada fácil,
mormente diante da necessidade de cumprimento do princípio da prioridade
absoluta e da necessidade de verificar-se a destinação do “máximo de recursos
possíveis” para esta parcela da população. A prioridade absoluta preconizada exige
a efetivação dos direitos fundamentais à infância e adolescência, criando deveres ao
poder público de realizar políticas públicas com ações concretas. 8
De fato, falou-se em prioridade absoluta, mas, também, em uso do “máximo
de recursos possíveis” pois, se em 1988 a Constituição Federal previu a destinação
privilegiada de recursos públicos, no ano seguinte, 1989, a Convenção sobre os
5
Idem, ibidem, grifo nosso.
6
LEPORE, Paulo Eduardo [et al]. Estatuto da criança e do adolescente: Lei n.º 8.069/90 –
comentado artigo por artigo. 10. ed, - São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p. 304.
7
BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente: Lei federal n.º 8069, de 13 de julho de 1990. Rio de
Janeiro: Imprensa Oficial, 2019.
8
AMARAL, Cláudio P., Curso...p. 103.
Direitos da Criança e do Adolescente, adotada pela Organização das Nações Unidas
e ratificada pelo Brasil por meio do Decreto n.º 99.710/90, previu em seu artigo 4.º:
9
https://undocs.org/pdf?symbol=es/A/RES/67/18
10
https://undocs.org/es/A/HRC/RES/28/19
11
Disponível em: http://www.centrodedefesa.org.br/wp-content/uploads/sites/13/2018/07/traducao-
comentario-geral_19_versao-digital.pdf. Acesso em: 19 jul. 2020.
adequada mobilização de recursos financeiros suficientes, os quais devem ser
alocados e gastos de forma responsável, eficiente e transparente.
Verifica-se, assim, que o regramento internacional exige que os atores do
Sistema de Garantias de Direitos da Criança e do Adolescente analisem a
destinação e a correta aplicação dos recursos públicos, efetivamente
acompanhando o ciclo orçamentário, monitorando o orçamento público e sua
execução.
Deste modo, a preocupação com a destinação privilegiada de recursos,
expressa pelo art. 4.o do Estatuto da Criança e do Adolescente e por todas as
demais normas aqui já mencionadas demonstra que a prioridade absoluta, para
além de um princípio constitucional, deve ser vista como a única forma de garantir-
se a implementação de políticas públicas para a infância, de garantir direitos
fundamentais a crianças e adolescentes, determinando, assim, o modo de agir do
gestor.
Por absoluta prioridade entende-se que, na área administrativa, enquanto
não existirem creches, escolas, postos de saúde, atendimento preventivo e
emergencial às gestantes, dignas moradias e trabalho, não se deveriam
asfaltar ruas, construir praças, sambódromos, monumentos artísticos etc.,
porque a vida, a saúde, o lar, a prevenção de doenças são mais importantes
que as obras de concreto que ficam para demonstrar poder ao governante 12.
12
LIBERATI apud LEPORE, Paulo Eduardo [et al]. Estatuto da criança e do adolescente: Lei n.º
8.069/90 – comentado artigo por artigo. 10. ed, - São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p. 85.
13
MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade (Coord.). Curso de Direito da Criança e do
Adolescente: Aspectos Teóricos e Práticos. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 66.
14
DIGIACOMO, Murillo José; DIGIACOMO, Ildeara de Amorim. Estatuto da criança e do
adolescente anotado e interpretado. Curitiba. Ministério Público do Estado do Paraná. Centro de
Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente, 2017. 7. ed., p. 10.
O cumprimento deste verdadeiro comando normativo, decorrente do
princípio constitucional da prioridade absoluta à criança e ao adolescente,
exige a adequação dos orçamentos públicos dos diversos entes federados
às necessidades específicas da população infantojuvenil, através da
previsão dos recursos indispensáveis à implementação de políticas básicas
(art. 87, inciso I do ECA), políticas e programas de assistência social (art. 87,
inciso II, do ECA) e programas de prevenção, proteção especial e
socioeducativos (arts. 88, inciso III c/c 90, 101, 112, 129, todos do ECA), com
foco prioritário no atendimento de crianças, adolescentes e suas respectivas
famílias. Os orçamentos dos diversos órgãos públicos (cf. art. 90, §2º, do
ECA) devem contemplar os planos de ação e de aplicação de recursos
destinados à criação, manutenção e ampliação de uma “rede de proteção” à
criança e ao adolescente, nos moldes do que for deliberado pelos Conselhos
de Direitos da Criança e do Adolescente (art. 88, inciso II, do ECA e arts.
227, §7º c/c 204, da CF), de acordo com as demandas e prioridades
apuradas junto aos Conselhos Tutelares (art. 136, inciso IX, do ECA), Justiça
da Infância e da Juventude e demais órgãos de defesa dos direitos
infantojuvenis, bem como aquelas apontadas nas Conferências dos Direitos
da Criança e do Adolescente, periodicamente realizadas.15
15
DIGIACOMO, Murillo José; DIGIACOMO, Ildeara de Amorim. Estatuto da criança e do
adolescente anotado e interpretado. Curitiba. Ministério Público do Estado do Paraná. Centro de
Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente, 2017, p. 10.
Já a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) pode-se dizer que é um
verdadeiro elo entre o planejamento estratégico (PPA) e o planejamento operacional
(LOA), voltada a período de curto prazo, qual seja um ano.
Na LDO estão consignadas as ações governamentais que serão priorizadas
na Lei Orçamentária Anual, bem como a revisão das metas, orientando a elaboração
da Lei Orçamentária Anual (LOA).
Por fim, a Lei Orçamentária Anual é a lei que efetivamente autoriza os gastos
que o governo pode realizar durante um exercício fiscal, discriminando
detalhadamente as obrigações que deva concretizar, ou seja, prevendo despesas,
com a previsão concomitante dos ingressos necessários para cobri-las, ou seja,
estimando receitas.
Segundo o artigo 5º da Lei de Responsabilidade Fiscal, primando pelo
planejamento das ações de governo, o projeto de lei orçamentária anual
deve ser elaborado de forma compatível com o PPA e a LDO, guardando
com eles simetria.16
16
BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público. Orientações sobre orçamentos e fundos dos
direitos da criança e do adolescente. Conselho Nacional do Ministério Público. Brasília: CNMP, 2020.
II - as diretrizes orçamentárias;
III - os orçamentos anuais. (…)
§16. As leis de que trata este artigo devem observar, no que couber, os
resultados do monitoramento e da avaliação das políticas públicas previstos
no § 16 do art. 37 desta Constituição.
Como é cediço, por força do art. 204 da CF/88 e art. 88, II e IV, do Estatuto,
os Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente devem ser vinculados
aos Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente do respectivo ente
federado, órgãos formuladores, deliberativos e controladores das
ações de implementação da política dos direitos da criança e do
adolescente, responsáveis por gerir os fundos e fixar critérios de
utilização, conforme plano de aplicação de seus recursos, de acordo com o
disposto no § 2º, do art. 260, da Lei nº 8.069/90. 18 (grifo nosso)
Outro aspecto que deve ser aqui relembrado é que o art. 260, §2.º, da Lei n.º
8.069/90 retoma o art. 227, §3.º, inciso VI, da Constituição Federal e determina que
parte dos recursos captados pelo Fundo Especial para a Infância e Adolescência
deve ser destinada a programas de "incentivo ao acolhimento, sob a forma de
guarda, de crianças e adolescentes e para programas de atenção integral à primeira
infância em áreas de maior carência socioeconômica e em situações de
calamidade", criando, então, uma despesa obrigatória, tal como a prevista no §1. º-A
do mesmo artigo, que trata do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do
Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária e do Plano
Nacional pela Primeira Infância.
Outra despesa obrigatória é a prevista no artigo 31 da Lei n.º 12.594/12 (que
dispõe sobre o SINASE), que prevê:
20
MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade (Coord.). Curso de Direito da Criança e do
Adolescente: Aspectos Teóricos e Práticos. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 485.
21
Idem, ibidem, p. 488.
Os Conselhos de Direitos, nas 3 (três) esferas de governo, definirão,
anualmente, o percentual de recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e
do Adolescente a serem aplicados no financiamento das ações previstas
nesta Lei, em especial para capacitação, sistemas de informação e de
avaliação.
(...) Para tais situações, no entanto, a própria Lei nº 8.069/90 prevê, em seu
art. 86, a co-responsabilidade dos diversos níveis de governo na
implementação (e financiamento) de políticas públicas destinadas à
população infanto-juvenil, sendo perfeitamente cabível a obtenção, junto ao
Estado (ente Federado) e à União, dos recursos complementares que se
fizerem necessários, inclusive pela via judicial, se necessário (valendo
lembrar que o art. 210, da Lei nº 8.069/90 confere legitimidade aos
municípios para ingressarem com ações civis na defesa dos direitos de
crianças e adolescentes, inclusive contra os Estados e a União). 22
22
DIGIÁCOMO, Murilo. O Fundo Especial para a Infância e Adolescência e o Orçamento Público.
Disponível em: http://www.crianca.mppr.mp.br/pagina-313.html. Acesso em: 29 set. 2019.
3.1. O papel dos Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente
23
BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente: Lei federal n.º 8069, de 13 de julho de 1990. Rio de
Janeiro: Imprensa Oficial, 2019.
24
Nesse sentido, são comuns julgados sobre o tema: ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL AÇÃO
CIVIL PÚBLICA ATO ADMINISTRATIVO DISCRICIONÁRIO: NOVA VISÃO. 1. Na atualidade, o
império da lei e o seu controle, a cargo do Judiciário, autoriza que se examinem, inclusive, as razões
de conveniência e oportunidade do administrador. 2. Legitimidade do Ministério Público para exigir do
Município a execução de política específica, a qual se tornou obrigatória por meio de resolução do
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. 3. Tutela específica para que seja
incluída verba no próximo orçamento, a fim de atender a propostas políticas certas e determinadas. 4.
Recurso especial provido (STJ, RESP 493811, 2ª T., Rel. Min. Eliana Calmon, j. 11/11/03, DJ
15/03/04).
Adolescente local, observando, em qualquer caso, o princípio constitucional
da prioridade absoluta à criança e ao adolescente, conforme disposto no art.
4º, caput e parágrafo único, alíneas “c” e “d”, da Lei nº 8.069/90 e art. 227,
caput, da Constituição Federal;
VI - efetuem, em parceria com a Promotoria de Proteção ao Patrimônio
Público (ou órgão equivalente), a permanente fiscalização do Fundo
Municipal/Distrital para Infância e Adolescência, ex vi do disposto no art.
260, §4º, da Lei nº 8.069/90, zelando para que os recursos por estes
captados sejam utilizados de acordo com as prioridades estabelecidas pelo
Conselho Municipal/Distrital de Direitos da Criança e do Adolescente local,
observados os critérios definidos na Lei nº 8.069/90 e as normas e
princípios aplicáveis à gestão dos recursos públicos em geral;
(...)
Sem dúvida para bem exercer sua função na infância e juventude, deve a
Ordem dos Advogados do Brasil acompanhar as reuniões dos Conselhos dos
Direitos da Criança e do Adolescente, na União, nos Estados e em cada um dos
Municípios deste país, lutando pela implementação de políticas públicas efetivas,
garantidoras de direitos humanos, atuando para garantir a destinação suficiente de
recursos públicos.
Se prioridade absoluta é impositivo constitucional, se a democracia
participativa exercida pelos Conselhos dos Direitos é previsão constitucional, cabe à
Ordem dos Advogados do Brasil ocupar ativamente seu espaço perante os
Conselhos dos Direitos.
Assim, quando da elaboração dos planos de direitos, quando do planejamento
orçamentário, deve a OAB estar ao lado dos Conselheiros de Direitos e dos demais
atores do Sistema de Garantias de Direitos, assegurando que os gestores prevejam
e executem o máximo de recursos possíveis para as políticas infantojuvenis.
4. CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HARADA, Kiyoshi. Direito Financeiro e Tributário. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
TORRES, Heleno Taveira. Direito Constitucional Financeiro. São Paulo: RT, 2014.
3. Para as atualizações necessárias, favor usar este arquivo isto porque tomei
a liberdade de fazer algumas correções como, concordância verbal; verbo no
tempo imperfeito (ex.: ver-se-á); pontuação; acentuação; ajustes nos rodapés
(espaçamento simples entre as notas; observar nas notas de rodapé: não tem
este espaço que fica abaixo do traço do rodapé e acima da primeira nota de
cada rodapé, devendo ser colocado espaço simples); ajustamento em
algumas das Referências Bibliográficas, pedindo-se que sejam observados os
destaques em amarelo e as observações em vermelho nas Referências.
6. Desta forma, e para facilitar quando do retorno dos ajustes pela Autora,
peço a gentileza no sentido de que a mesma se utilize deste arquivo para
fazer as correções aqui sugeridas.
Muito obrigada.
Fico à disposição.
Atenciosamente,
Fico à disposição.
Atenciosamente,