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INTRODUÇÂO
Todavia, para isso é preciso que tais intervenções específicas do Estado ampliado
(governo e sociedade civil organizada) e da sociedade difusa (comunidades,
movimentos etc.), isto é, tais serviços, programas e ações de enfrentamento da
exploração sexual citadas sejam articuladas holística, dentro de uma ambiência
sistêmica, ou seja, de um meta-sistema estatal e societário de (1) desenvolvimento de
políticas, (2) de acesso à Justiça4 e (3) de controle social e institucional sobre ambos.
1
Governamentais e (ditas) não governamentais
2
Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública (e outras procuraturas sociais, como a advocacia,
entidades de defesa de direitos humanos, Polícia Judiciária, Polícia Técnica, Conselhos Tutelares (e
outros contenciosos administrativos), etc.
3
Prostituição, tráfico para fins sexuais e pornografia.
4
Aqui em um sentido mais amplo de acesso ao Valor-Justiça e não mera e reducionistamente de acesso
ao Judiciário ou mesmo ao mais amplo Sistema de Justiça (judiciário, ministério público, defensoria
pública, ,p.ex.).
5
Enfrentamento complexo visto ao mesmo tempo como promoção de direitos sexuais e como proteção
desses direitos quando ameaçados ou violados
resultados de qualificação do acesso à Justiça6 - sempre sob as diversas formas de
controle de ações públicas (acompanhamento, monitoramento e avaliação).
Aqui neste texto se quer enfrentar essa questão do tratar o específico (“matriz
institucional dos serviços, programas e ações públicas”), dentro no âmbito geral tanto
da operacionalização das políticas, quanto do acessamento à Justiça; dando-se, todavia
um destaque estratégico à política de direitos humanos. Primeiro pela falta ainda de
clareza com que Estado e sociedade ainda a vêem, no Brasil. E segundo pela real
importância dessa política específica e autônoma, em nosso caso, com seu papel de
mobilização social, de sensibilização de pontos-focais (incidência/advocacy), de
construção de parcerias (articulação/integração), de empoderamento de público-
destinatário e de potencialização de outras macro-estratégias institucionais – advogando
sempre com eficácia/impactos e eficiência/resultados, em favor da garantia efetiva dos
direitos fundamentais constitucionais7 - com absoluta prioridade - de crianças e
adolescentes que sofram ilegítimas e ilegais limitações em seus direitos sexuais e
reprodutivos, no âmbito de todas as demais políticas públicas e no seu acesso á Justiça,
quando necessário for.
Segundo o §7º do art. 227, combinado com o artigo 204, II, ambos da Constituição
Federal (CF), tanto a “formulação das políticas”, quanto o “controle das ações em todos
os níveis” devem contar com a “participação da população”, obedecida a diretriz da
“descentralização política e administrativa”, onde compete a “coordenação e as
normas gerais à esfera federal e a coordenação e execução dos respectivos programas
às esferas estadual e municipal”, bem como às “entidades de atendimento de direitos
da criança e do adolescente” 8, ou melhor, de garantia, promoção e proteção/defesa dos
direitos humanos de crianças e adolescentes
6
Aqui em um sentido mais amplo de acesso ao Valor-Justiça e não meramente de acesso ao Sistema de
Justiça (judiciário, ministério público, defensoria pública, p.ex.), para se incluir também as instâncias e
mecanismos não-estatais (não-institucionais comunitárias, por exemplo) de acesso ao Valor-Justiça, via
círculos restaurativos, espaços de mediação, tribunais arbitrais etc.
7
Direitos humanos positivados numa determinada ordem jurídica nacional
8
Nessa forma a-técnica utilizada no artigo 86 do Estatuto da Criança e do Adolescente ou como política
de garantia, promoção e proteção de direitos humanos de crianças e adolescentes, como posteriormente se
passou a chamar por força de legislação posterior e outras normas administrativas reguladoras (ver atrás a
questão da nomenclatura)
caráter deliberativo9, controlar as ações em todos os níveis. Pouco tempo depois, a lei
federal que criou o Conselho Nacional dos Direitos da Criança - CONANDA, em 1991,
melhor adequando a normativa infraconstitucional a respeito, amplia essa norma-regra
do ESTATUTO, para incluir ao lado da atribuição de controlar ações, igualmente a de
formular políticas, como previsto no dispositivo citado da CF10. E nesse diapasão,
ampliando as atribuições dos conselhos em nível estadual e municipal, as leis locais
correspondente passaram a consagrar a “formulação de políticas’ e o “controle de
ações”, como as duas áreas centrais de incidência do poder deliberativo desses
conselhos públicos, multicitado; ao lado da “mobilização da opinião pública” (art.88,
VII – ESTATUTO, com nova redação dada pela lei federal 12.010/2009).
9
E não “deliberar sobre políticas”, como equivocadamente se tem lido e interpretado o dispositivo do
Estatuto. Mas sim, controlar ações e formular políticas, em caráter deliberativo.
10
Inciso II do artigo 204 - CF
11
Normas suplementares e gerais - §§ 1º a 3º do artigo 24 da CF.
12
O ESTATUTO no seu artigo 88 fala em “deliberar e controlar ações”; etmologicamente já se vê que
no texto legal a conjunção aditiva “e” não permite que se entenda tratar-se de “deliberar ações” (sic) e
“controlar ações”. Em verdade, trata-se realmente de “controlar ações” em caráter deliberativo. Os
regimes dos dois verbos (deliberar e controlar) não permitem outra interpretação. A palavra “política” não
aparece no texto em análise para permitir que se entenda tratar-se de um “deliberar sobre políticas”,
como às vezes se afirma equivocadamente, concessa maxima venia.
13
Considerando-se que a Constituição Federal manda aplicar as diretrizes do seu artigo 204, à proteção da
criança e do adolescente regulada pelo seu artigo 227.
Todavia o Estatuto e suas leis suplementares lembradas14 não fazem distinção entre o ato
deliberativo formal de aprovação final da política e o ato procedimental intermediário
de formulação da política. Nesse caso, deve-se entender, por falta de distinção do
legislador, que os conselhos de direitos da criança e do adolescente são competentes
para a formulação e para a aprovação da política dos direitos humanos para crianças e
adolescentes.
Mas a participação popular não se esgota apenas nas deliberações desses coletivos
mediatizadores; mas também deve se manifestar igualmente na participação proativa da
sociedade, no processo, com outra natureza, através das suas próprias expressões
organizativas, de suas articulações16 e do meio acadêmico17, diretamente em processos
de discussão, indicações e pré-formulações nesses espaços não institucionais da
sociedade.
14
Leis federais, estaduais e municipais de criação de conselhos dos direitos da criança e do adolescente,
conselhos tutelares, fundos para a infância e adolescência, varas da infância e juventude, promotorias e
defensorias públicas e leis específicas sobre execução de medidas socioeducativas, sobre garantia do
direito à convivência familiar e comunitária, sobre programas de proteção a vítimas e testemunhas etc.
15
Diverso do planejamento operacional ou planejamento de gestão, que integra o campo da coordenação
e execução das políticas, fora da área de atuação dos conselhos formuladores e controladores.
16
Fóruns e frentes de entidades sociais, por exemplo.
17
Ver determinações nesse sentido da resolução da ONU que aprovaram os chamados Princípios de Paris,
que dispõem sobre as instituições de defesa de direitos humanos.
seu Estado Democrático de Direito - optou pelo modelo misto de democracia indireta
representativa e direta participativa18.
Mas o Estatuto citado, no caput21 do seu artigo 86 e nos incisos I a V do artigo 87,
estabelece para o efeito dessa lei (isto é, para assegurar a “proteção integral”, na forma
do seu artigo 1º) que será instituída uma mal chamada "política de atendimento dos
direitos da criança e do adolescente" ou política de garantia, promoção, proteção/defesa
de direitos humanos de criança e de adolescentes22, que passou a integrar o âmbito geral
da política nacional de direitos humanos23, quando ela foi mais claramente formulada e
melhor explicitada no Brasil: o artigo 3º do Estatuto diz que crianças e adolescentes
“gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana”, ou seja, de
todos os direitos humanos positivados pela ordem jurídica brasileira. Maior clareza seria
preciso?
18
Artigo 1º - CF
19
Resolução 113 / Conanda
20
“Ambiência sistêmica ou sistema holístico” (NOGUEIRA NETO, Wanderlino) e “sistema autopoiético”
(LUHMANN, Nikil).
21
Caput (latim) = cabeça
22
Na formulação dada pelos estudos preliminares para a planificação decenal dessa política, para, que se
desenvolvem desde 2009, no âmbito do Conanda, material agora, em 2010, sob consulta pública
23
Cfr. Programa Nacional de Direitos Humanos – I, II e III
Essa política citada, estrategicamente, cortará, de maneira transversal (multidisciplinar,
inter-setorial e multiprofissionalmente), todas as políticas públicas: infra-estruturantes24,
institucionais25, econômicas26 e sociais27). Cabe a ela reforçar a idéia de que a satisfação
das necessidades básicas, dos interesses e dos desejos, por qualquer dessas políticas
públicas, antes de tudo é um direito do cidadão-criança e do cidadão-adolescente e ao
mesmo tempo um dever do Estado, da família e da sociedade.
Essa deverá ser uma política estratégica e não estritamente operacional de atendimento
direto, ou seja, na verdade uma política que desenvolverá ações afirmativas em favor
dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes, incidindo sobre todas as políticas
públicas sem limites de abrangência. E será, além do mais, uma política que
desenvolverá ações de proteção de direitos, quando ameaçados ou violados, facilitando
e qualificando o acesso à Justiça em favor desse segmento infanto-adolescente.
24
Agricultura, Indústria, Comércio, Transporte etc.
25
Segurança Pública, Direitos Humanos, Defesa do Estado etc.
26
Fiscal, Cambial etc.
27
Educação, saúde, previdência social, assistência social etc.
28
Conferir, Emenda Constitucional 45: Conselho Nacional de Justiça e Conselho Nacional do Ministério
Público, como formuladores dessa política judicial e público-ministerial.
29
Monitoramento, apoio institucional, construção de competências (formação), empoderamento,
parcerizações (articulações & integrações)
30
Originalmente pelos conselhos setoriais de políticas públicas e pelos seus órgãos próprios de execução:
por exemplo, Sistema Único de Assistência Social – SUS, Conselho Nacional de Assistência Social -
CNAS e Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS e sua Secretaria de Assistência
Social, em nível federal.
• A terceira linha atua indiretamente, também, através de ações de mobilização
social, de advocacy e de outras ações estratégicas, em favor dos direitos
fundamentais (idem), incidindo sobre a formulação da política judicial e
público-ministerial e sobre a coordenação e execução de seus serviços,
programas e ações, no âmbito do Sistema de Justiça (Poder Judiciário,
Ministério Público etc.).
Em todas essas três linhas, o fulcro central das ações dessa mencionada política de
direitos humanos infanto-adolescentes está, por exemplo, no assegurar que os
paradigmas ético-políticos e os princípios jurídicos dos direitos humanos (genérica e
especificamente) tenham prevalência, ou seja, tenham efetividade sócio-política e
eficácia jurídica: dignidade humana, liberdade, diversidade/pluralidade, igualdade,
universalidade, integralidade, não discriminação, prevalência do superior interesse da
criança, participação proativa da criança, defesa (ou “proteção especial” )31 em casos de
violação de direitos, prioridade no atendimento etc.
Deve ser do escopo dessa política citada, por exemplo, que o princípio do superior
interesse da criança/adolescente (CF, CDC e Estatuto) tenha prevalência, efetividade
política e eficácia jurídica, concretamente, na real e absoluta priorização do seu
atendimento pelo Estado, sociedade e família, por exemplo, no processo de
orçamentação pública (elaboração e execução do Orçamento Público).
Assim também, em outro exemplo: essa citada política de direitos humanos infanto-
adolescentes igualmente deverá desenvolver ações afirmativas em favor da igualdade
material de todas as crianças e adolescentes, promovendo o respeito a sua diversidade
de gênero, raça/cor, etnia, orientação sexual. E além do mais protegendo esse público,
quando submetido às inúmeras formas de discriminação negativa (e de exploração e
violência, decorrentes).
Mais um exemplo, desta vez tocando no coração da nova normativa internacional sobre
direitos da criança (CDC): tal política citada finalmente deverá desenvolver ações em
favor do direito à participação proativa de crianças e adolescentes, isto é, do seu direito
de ser ouvido e de ter sua opinião considerada, na medida do seu grau de maturidade
(cfr. CDC), indo além da mera metodologia do “protagonismo juvenil” para se alcançar
a essência desse princípio jus-humanista.
Por fim, essa política de direitos humanos em favor de crianças e adolescentes deveria
ter sua efetividade assegurada e operacionalização qualificada e aperfeiçoada, através de
determinados espaços “governamentais e não governamentais” (ou instâncias públicas)
e de específicos mecanismos de acompanhamento, avaliação e monitoramento, isto é,
através do controle social-difuso (pela sociedade civil organizada, especialmente, via
seus fóruns, comitês e das próprias expressões organizativas do movimento social
isolada e diretamente) e também do controle institucional (pelos Conselhos dos Direitos
da Criança e do Adolescente, pelo Ministério Público, pelo Parlamento, pelos Tribunais
de Contas etc.).
Obviamente, não se trata aqui de nenhuma política setorial, como, por exemplo, as
políticas sociais setoriais básicas (educação, saúde, assistência social etc.). Mas sim de
uma política institucional autônoma, de caráter inter-setorial, a cortar transversalmente
todas as demais políticas públicas sociais (educação, saúde, assistência social, por
exemplo), institucionais (defesa do Estado, relações exteriores, segurança, por
exemplo), econômicas (cambial, crédito, monetária, por exemplo) e infra-estruturantes
(transporte, comunicação social, agricultura, indústria, energia, turismo, portuária,
saneamento básico, por exemplo).
Essa política institucional citada teria o condão – através de suas instituições (instâncias
públicas) de formulação, coordenação, execução e controle (interno) e dos seus
mecanismos político-administrativos – de garantir, defender/proteger e promover, como
direitos constitucionais fundamentais (i.é., direitos humanos geracionais de crianças e
adolescentes), certos direitos reconhecidos de modo geral pela Constituição Federal
(arts. 21 a 24), para fins de sua normatização regulatória: ou seja, direitos consagrados
no campo de quaisquer das políticas públicas. Segundo a Constituição Federal
brasileira, os direitos fundamentais são direitos de hierarquia superior, consagrados em
normas-princípios auto-aplicáveis, acima das normas-regras prevalentes na legislação
infraconstitucional.
Dessa maneira, é realmente absurda a confusão que muitos ainda fazem entre essa
política de garantia, promoção e proteção de direitos humanos ("política de atendimento
dos direitos da criança e do adolescente" - Estatuto e conselhos dos direitos, citados) e
a política de assistência social, por exemplo. Puro ranço de antigas doutrinas científicas
(p.ex., a doutrina da situação irregular, entre nós no cone sul latino-americano), de
revogadas legislações (p.ex., o revogado Código de Menores) e de políticas
assistencialistas-repressoras (p.ex. a do Bem-Estar do Menor, nas quais o tutelarismo
era seu mais importante pilar. Só que a atual política de direitos humanos se firma na
doutrina jus-humanista, também chamada entre nós de “doutrina da proteção integral"
32
. E, ao mesmo tempo, a política de assistência social constrói um novo caminho de
negação do clientelismo, do "primeiro-damismo", do assistencialismo, do focalismo.
Novos paradigmas para ambas, mas, que só confirmam a autonomia de cada uma.
Nas esferas estaduais e municipais, o nicho institucional dessa política dos direitos
humanos (tanto a geral para todos os cidadãos, quanto á especial para
crianças/adolescentes) varia de um lugar para outro. Em uns, está nidificada em
Secretarias de Ação Social, de Desenvolvimento Social, de Solidariedade Humana, de
Assistência Social e até de Educação. Em outros Estados, em Secretarias de Justiça ou
de Segurança Pública – algumas poucas. Em outros raros, diretamente vinculadas ao
Chefe do Poder Executivo – Casa Civil, Gabinete do Governador. E finalmente no caso
do Paraná e do Distrito Federal há uma Secretaria de Estado exclusiva para a área. Esse
quadro é mais predominante na esfera estadual, pois na esfera municipal a situação é
vergonhosa! Os municípios brasileiros, de maneira geral, ignoram redondamente a
promoção e defesa/proteção de direitos humanos, criando-se assim sérias limitações
para que os órgãos federais e estaduais dessa área tenham pelo menos interlocutores
visíveis e minimamente qualificados, para a implementação da política nacional de
direitos humanos.
O ideal parece ser a nidificação dessa área de direitos humanos nas Governadorias, aos
moldes do modelo federal, pelas razões que justificaram a criação de uma Secretaria de
Direitos Humanos, com status de Ministério, subordinada diretamente ao Presidente da
República (em nível estadual, então, vinculada ficaria ao Governador do Estado) – pelo
menos, em tese.
Não é uma situação social (vulnerabilidade social, carência etc.) que justifica a
intervenção desses programas/serviços previstos no Estatuto e sim uma situação
jurídica: isto é, o não reconhecimento e não-garantia de direitos fundamentais nas áreas
elencadas anteriormente exemplificativamente da educação, da saúde, da assistência
social, da cultura, do lazer, do trabalho, do trabalho.
35
Nova redação dada pela lei federal 12.010 de 2009, incluindo-se os incisos VI e VII.
36
“Programas específicos” - Art.88, III – ESTATUTO
37
Leis orgânicas
38
Nova redação dada pela lei federal 10.012/2009.
Observe-se que o Estatuto dispõe sobre a “proteção integral de crianças e
adolescentes”, como estabelece o seu artigo 1º, editado com base no permissivo do
inciso XV do artigo 24 e no §1º do citado artigo da Constituição Federal que diz
competir à União legislar (concorrentemente com os Estados Federados e com o
Distrito Federal) através “normas gerais” sobre “proteção da infância e juventude”. E a
Constituição Federal faz distinção entre (a) regular direitos, legislando sobre eles
diretamente (artigos 21 e 24 da CF)39 e (b) regular direitos, legislando sobre diretrizes,
bases e a organização em sistemas de determinadas políticas públicas (in ibidem)40
Com uma posterior formulação e normalização dessa política de direitos humanos para
crianças e adolescentes esses serviços, programas e serviços deveriam ser criados
concretamente, ou no bojo dessa política, como forma de atendimento direto ou no bojo
de qualquer outra política, nesse último caso sujeito esta à incidência externa da política
de direitos humanos (direitos fundamentais) para crianças e adolescentes.
39
Direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, do trabalho, tributário,
financeiro, penitenciário, proteção ao patrimônio histórico,
40
Educação, cultura, previdência, seguridade social, defesa, transporte etc.
41
MESQUITA NETO, Paulo de. 2002. "Segundo Relatório Nacional sobre os Direitos Humanos"
Esses serviços e programas específicos deveriam ser, em primeira instância, numa
primeira linha estratégica (mas não única!), a depender da necessidade conjuntural,
como "centros integrados de atendimento inicial" dirigidos à população infanto-
adolescente, numa linha preventiva e de atendimento emergencial, precário e
encaminhador, funcionando inclusive e principalmente como "retaguarda" para os
conselhos tutelares e varas da infância e da juventude (e os órgãos do Ministério
Público, da Defensoria Pública). Seus operadores são basicamente "defensores de
direitos humanos", qualquer que seja sua formação acadêmica e profissional. São esses
serviços e programas de proteção especial os preferenciais "provedores/portais” da rede
de atendimento direto, na ampla ambiência sistêmico-holística do Sistema de Garantia
dos Direitos Humanos, ao lado dos conselhos tutelares e dos órgãos do Ministério
Público. Através deles e após um trabalho integrador e preparatório, as crianças e
adolescentes, adjetivados de alguma forma por suas circunstâncias de vida (explorados
ou abusados sexualmente, em situação de rua, soropositivos, torturados, vítimas de
maus tratos, narcotraficantes, abandonados, drogaditos, explorados no trabalho etc.)
poderão ser encaminhados a serviços e programas das políticas sociais básicas e/ou de
certas políticas institucionais e econômicas, como "sítios-eletrõnicos” de uma "rede
virtual" para a atenção integral à população infanto-adolescente. Nestas características
apontadas, certamente estão a essencialidade e o diferencial dos programas e serviços de
proteção especial, de relação aos serviços e programas das demais políticas públicas que
podem incidir sobre essas crianças e adolescentes credores de direito, concorrente e
superpostamente.
O Estatuto, por ser norma nacional e geral de proteção integral de direitos, pouco
detalhou a respeito, apenas rotulando os serviços e programas em questão, deixando,
portanto para que leis federais, estaduais e municipais e suas decorrentes normas
administrativas regulamentadoras (NOB) os criassem, definindo seu campo de atuação e
suas atribuições.
O ideal é se assegurar que ela (como toda política em favor de Direitos Humanos) tem
como missão última o asseguramento do acesso qualificado de seu público a quaisquer
dos serviços e programas de todas as políticas públicas, inclusive das políticas judiciais.
E ao mesmo tempo, para isso atingir como ponto-ômega, essa política aqui em foco
precisa da institucionalização e manutenção dos seus serviços e programas específicos,
quando criados, numa linha nitidamente estratégica.
EM SÍNTESE
43
Relatório apresentado ao Comitê dos Direitos da Criança das Nações Unidas (Genebra), pela ANCED, com a
adesão do Fórum Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – DCA e de outras entidades em 2004 (a
chamada Coalizão da Sociedade Civil Brasileira)
44
Capítulos 1, 4 e 5 – Relatório citado
45
Capítulos 2 e 3 – Relatório citado
46
Europeu, americano, africano, asiático.
É preciso retirar a criança e o adolescente do nicho de sacralização e idealização e da
demonização, no qual muitas vezes nosso discurso e nossa prática os entroniza ou
condena, para lutar mais concreta e criticamente pela retirada deles, portanto dos
círculos do éden ou do inferno a que estão condenados, como anjos glorificados ou
como anjos decaídos. Essa dicotomia perversa mais se acentua quando estamos falando
sobre crianças e adolescentes que sofrem explorações sexuais, isto é, que têm seus
direitos sexuais ameaçados ou violados.
i
O Autor é procurador de justiça aposentado do Ministério Público da Bahia e atualmente membro da
Seção Brasil do Defense for Children International – DCI (Associação Nacional dos Centros de Defesa da
Criança e do Adolescente - ANCED). É graduado em Direito (UFBA) e em Administração (UCSAL),
com mestrado em Direito Econômico (UFBA). Participou de curso de pós-graduação (sentido lato) na
Universidade de Maccerata (Marche – Italia). Estagiou no Centro de Formação para a Proteção Judiciária
da Juventude do Ministério da Justiça (Vaucresson – Paris / França). Anteriormente exerceu a Chefia do
Ministério Público do Estado da Bahia, como Procurador Geral de Justiça (Governo Waldir Pires) e
exerceu mais o cargo de Diretor Geral do Tribunal de Justiça da Bahia e de Secretário Geral do Ministério
Público do Estado da Bahia. Inicialmente foi promotor de justiça, defensor público, curador de menores e
procurador de justiça no Ministério Público da Bahia. Foi jornalista do jornal A TARDE em Salvador –
Bahia. Exerceu as funções de presidente da Associação Baiana do Ministério Público e igualmente as
funções de articulador-nacional da rede de núcleos de estudos sobre a criança e o adolescente e da rede de
centros de defesa da criança e do adolescente (Fórum Nacional DCA), secretário nacional do Fórum
DCA, secretario executivo da ANCED-DCI, coordenador do grupo temático para monitoramento da
implementação da Convenção sobre os Direitos da Criança no Brasil. Foi professor-coordenador do
Núcleo de Estudo Direito Insurgente – NUDIM da Fundação Faculdade de Direito da Bahia e primeiro
presidente (fundador) do CEDECA-BAHIA - Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Yves de
Roussan. Foi professor de Direito Internacional Público no Bacharelado em Direito, na Universidade
Federal da Bahia – UFBA. Integrou como professor-convidado a banca de doutorado na Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (doutoranda Maria Lúcia Leal – “Mobilização da Sociedade Civil no
Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes”) e a banca de mestrado na
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (mestrando José Francisco Razek Filho – “O principio da
prioridade absoluta em favor de crianças e adolescentes no orçamento público”). Foi professor de
Direitos Humanos em 02 dos cursos especiais para advogados da ANCED-DCI e de Direitos Humanos
Geracionais no curso de pós-graduação em Direitos Humanos da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte e do curso de pós-graduação (lato-senso) de Direito Constitucional da Criança na Fundação
Faculdade de Direito da Bahia, em parceria com o UNICEF (escritório zonal em Salvador). Publicou
vários livros da área dos direitos humanos gerais e especiais da infância e adolescência,
preferencialmente, como por exemplo, “Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes” (2005. SDH-
CEDCA-Ceará), “Agenda Criança 2000” (2001. Fortaleza. Ed. ANCED-UNICEF). Publicou mais
especificamente com Maria Lúcia Leal, Maria de Fátima Leal e Otavio Cruz Neto, livro registrando uma
pesquisa nacional e sua análise sobre “Tráfico de crianças e adolescentes para fins sexuais” (“PESTRAF-
2002”), patrocinada pela OEA (College St. Paul – Chicago/EUA e CECRIA – Brasília/Brasil). Integrou
com textos seus algumas coletâneas de ensaios, tais como, por exemplo: “Criança e Adolescente –
Direitos, Sexualidade e Reprodução”, organizada por Maria América Ungaretti (2008. ABMP e WCF),
“Infância, Direitos e Violência – Castigos Físicos” (2010.Salvador. Ed. CESE / MP-BA), “Direitos
sexuais dos adolescentes socioeducandos – visitas íntimas” (Revista Brasileira de Ciências Criminais 81-
2009); “Sistema de Garantia dos Direitos de Crianças e Adolescentes” (1995. BID-CENDHEC. Recife);
“Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente” (2006. Revista Serviço Social &
Sociedade tomo 83. São Paulo. Ed.Cortez); “Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente” –
org. Emílio Garcia et alii. São Paulo. Ed. Malheiros); “Direitos Humanos e Medidas Socioeducativas.
Uma abordagem jurídico-social” (2008. Org. Celina Hamoy. Belém. Ed. ANCED); ”A escuta de crianças
e adolescentes envolvidos em situação de violência e a rede de proteção” (2010. Brasília. Ed. CRP –
Conselho Federal de Psicologia); “A defesa de crianças e adolescentes vítimas de violências sexuais”
(2009. São Paulo. Ed. ANCED); “Justiça Restaurativa” (2009. Org. Vera Leonelli. “Mediação Popular”
- Salvador. Ed. JUSPOPULI / SDH-PR); “Justiça Juvenil” (2007. org. Melisandra Trentin. São Paulo.
Ed. ANCED). Integrou a Comissão de Avaliação do Prêmio Socioeducando 2008 – ILANUD, UNICEF,
ANDI e SPDH. Assessorou a Comissão Parlamentar de Inquérito- CPI da Assembléia Legislativa do
Ceará sobre Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Representou a ANCED-DCI, junto à
REDLAMYC nos encontros ibero-americanos para a infância (Montevidéu-Uruguai e Villarica-Chile) e
coordenou o grupo de representação da Coalizão da Sociedade Civil Brasileira na audiência do Comitê
dos Direitos da Criança da ONU (Genebra) quando defendeu o relatório alternativo elaborado pela
referida coalizão (2004, com os demais membros da delegação brasileira. Foi consultor especial para o
UNICEF (Brasil, Angola, Cabo Verde e Paraguai) na Área de Proteção (Direitos). Exerceu a supervisão
geral de projetos de formação para a Associação Brasileira de Magistrados, Promotores e Defensores da
Infância e Juventude – ABMP. E coordenou 23 Seminários sobre “Justiça Juvenil” em Projeto da ABMP
em parceria com a SPDCA-SDH. Participou como conferencista no III Congresso Mundial contra a
Exploração Sexual de Crianças (Rio de Janeiro - 2008), proferindo palestra sobre “Descriminalização e
Impunidade – Responsabilização dos Agressores Sexuais”, no Painel 02. E com o mesmo tema participou
do I Congresso Brasileiro contra a Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes (Rio de Janeiro –
2008). Participou mais do I Congresso Mundial de Justiça Juvenil Restaurativa (2009. Lima – Peru) e do
I Congresso Brasileiro de Justiça Restaurativa como palestrante (2010. São Luís / Maranhão). Prestou
consultoria e foi palestrante (e/ou moderador) em inúmeros eventos do Comitê Nacional de
Enfrentamento da Violência Sexual, na preparação original e na revisão do Plano Nacional sobre o
mesmo tema. E igualmente para o Fórum Nacional DCA na discussão sobre o Plano Decenal de Direitos
Humanos da Criança e do Adolescente.