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EDUCAÇÃO FISCAL:
TRIBUTAÇÃO, ORÇAMENTO
E COESÃO SOCIAL

E S TA D O E
TRIBUTAÇÃO
Sumário

1. Introdução............................................................................................................................. 3

2. Estado do Bem-Estar Social: surgimento e evolução......................................................... 5

3. A crise do Estado Social: causas identificadas e momento histórico............................ 19

3.1 O Estado de Bem-Estar passa a ser “vítima” do seu próprio sucesso..................... 23

4. A tributação no período do pós-crise do Estado de Bem-Estar Social........................... 29

5. Os fundamentos constitucionais da tributação no Brasil................................................ 38

5.1 A Constituição do Brasil e a sua estrutura elemental ............................................... 38

5.2 A formalização constitucional do Estado Democrático de Direito Brasileiro.......... 40

6. Referências......................................................................................................................... 51
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Unidade 1 - Do Estado Liberal à contemporaneidade brasileira

1. Introdução
Quando se fala da história e relatam-se fatos, normalmente, esquece-se e
desconsidera-se o alerta feito pelo arqueólogo e historiador francês Paul Marie
Veyne, segundo o qual “o perigo da história é que ela parece fácil, mas não é”. Ou
seja, a complexidade do passado e o poder de quem o relata convivem de uma forma
contraditoriamente harmoniosa, como se a verdade fosse aquela relatada e os fatos
correspondessem à singela descrição perpetuada pelos vencedores, os quais têm como
prêmio “contar a história”.

Quando se fala em Estado e Tributação, tal comparação também parece ser


adequada. Parafraseando Veyne, é possível afirmar que o assunto parece fácil, mas não
é. É certo que a complexidade apenas poderá ser percebida ou desvelada se o Estado e
a Tributação forem pensados dentro da perspectiva de serem instrumentos de produção
da justiça.

Esse risco acentua-se quando aborda-se a evolução, ao longo da história,


assumindo-se o risco do reducionismo histórico com o exame destituído da profundidade
necessária.

Assim, pretende-se examinar como se deu o processo de evolução do fenômeno da


tributação ao longo da história e compreender as razões pelas quais a ideia de Estado
está tão umbilicalmente conectada à ideia de tributação, mediante o elo indissolúvel dos
direitos fundamentais. Tudo isso permeado e harmonizado no verdadeiro contrato social,
denominado “modernamente” de Constituição.

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Unidade 1 - Do Estado Liberal à contemporaneidade brasileira

Para o contemporâneo formato do Estado, é imprescindível


a arrecadação de tributos. Um dos principais deveres inerentes
à cidadania consiste em pagar tributos e, com isso, o Estado
assegurar os recursos necessários para garantir a realização de
programas e políticas direcionadas à obtenção do denominado
bem comum – razão esta da própria existência do Estado. Escola

Ao se examinar o sentido do referido bem comum,


é importante considerar que seus contornos conceituais
não podem ficar à mercê de programas governamentais
unilateralmente elaborados. No Estado Democrático de Direito
– como o vigente no Brasil –, a ideia de “bem comum” está constitucionalmente positivada,
razão pela qual existe uma vinculação e um comprometimento dos três poderes e em
todas as esferas de governo com a sua realização.

Tome Nota
Todavia, não é possível falar do atual formato estatal sem estudar sua trajetó-
ria. Houve um longo caminho, até aqui percorrido, para que este modelo de
Estado pudesse alcançar o atual estágio de sofisticação. Faz-se necessário
examinar como se deu tal percurso, notadamente no sentido de reconhecer a
grandiosidade das ações sem descuidar dos grandes erros e atrocidades
cometidos. Se a história merece ser conhecida, é justamente para não repro-
duzir, no presente e no futuro, tudo aquilo que no passado revelou-se huma-
namente inaceitável.

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2. Estado do Bem-Estar Social: surgimento e evolução


Para examinar o surgimento do que se convencionou denominar de “Estado do Bem-
Estar Social”, é necessário entender que, ao longo da história ocidental, as concepções
acerca da ideia de Estado, Constituição, Direitos Fundamentais e Tributação caminharam
como se estivessem de “mãos dadas” ao longo dos séculos.

Fonte: https://blogdotarso.com/2014/04/13/noruega-um-paraiso-com- muito-estado-social-servicos-publicos-e-impostos/

A Magna Carta Inglesa é aceita como a primeira das constituições de Estado, sendo
que ela surge com o objetivo de limitar o poder do soberano, notadamente o de tributar.
Ela funda os denominados direitos de primeira geração ou dimensão, os quais visam
especialmente a proteger a vida, liberdade e propriedade daqueles que mereciam o rótulo
de cidadão, não obstante esse estivesse restrito a parcela diminuta da população.

Rei João I assinando a Carta Magna em 1215


Fonte: http://www.eduexplica.com/2010/05/como-funciona-o-sistema-politico-na.html

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No campo tributário, ela representa o documento fundante de proteção dos cidadãos


contra o arbítrio estatal, razão pela qual é entendida como fonte de princípios tributários
ainda hoje positivados na maioria das constituições ocidentais, entre elas a Brasileira,
como os princípios da legalidade, segurança jurídica e proibição da utilização de tributos
com efeitos de confisco.1

Saiba Mais

Para saber mais sobre a Carta Magna, acesse os links:

https://www.youtube.com/watch?v=ZkrqIvHykog

https://www.youtube.com/watch?v=GFK8VulBI3I

Com a Revolução Francesa, outro direito adquire o status de condição de cidadania:


o direito à igualdade perante a lei. Esta conquista é de tal forma importante que
transformou dita revolução num marco temporal de ruptura histórica.

O direito a ser tratado pelo Estado em igualdade de condições, independentemente


de classe social, representou uma verdadeira revolução no imaginário e na vida dos
habitantes do século XVIII, mesmo que essa igualdade, num plano prático, também não
se tratasse de algo absoluto.

1
Basta examinar o disposto no artigo 150 da Constituição Brasileira de 1988.

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Pintura do pintor Delacroix – intitulada: A liberdade guiando o povo (1830)


Fonte: http://www.portaldovestibulando.com/2014/10/revolucao-francesa-questoes-de.html

Saiba Mais

Para saber mais sobre a Revolução Francesa, assista ao vídeo


disponível em https://www.youtube.com/watch?v=VgMLv8LwkCU

Se a Revolução Francesa – a conquista da igualdade perante a lei – decorre


reconhecidamente da ascensão social de uma nova classe: a burguesia, deve-se observar
que o surgimento do modelo que posteriormente se convencionou denominar de Estado
do Bem-Estar Social também decorre do surgimento de uma nova classe social – forjada
no âmbito da Revolução Industrial: os trabalhadores.

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REVOLUÇÃO FRANCESA = NOVA CLASSE = A BURGUESIA

Fonte: http://brasilescola.uol.com.br/historiag/surgimento-burguesia.htm

ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL = NOVA CLASSE = OS TRABALHADORES

Quadro Os Operários (1933), de Tarsila do Amaral.


Disponível em: http://www.fashionbubbles.com/wp-content/uploads/2008/08/00operarios1933tarsiladoamaral.jpg

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Fonte: BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História: sociedade & cidadania 8º. ano. ed. reformulada. São Paulo: FTD, 2012. p. 74.

Crianças trabalhando em mina de carvão no condado de Cheshire, Lancashire, Inglaterra, 1842.


Fonte: EDITORA MODERNA. Projeto Araribá: História 8º. ano. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2010. p. 85.

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Crianças trabalhando em tecelagem


Fonte: http://historiaema.blogspot.com.br/2014/03/a-revolucao-industrial_2677.html

Crianças operárias
Fonte: http://www.zun.com.br/fotos/2012/08/Crian%C3%A7as-operarias.jpg

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Fonte: http://nrfacil.com.br/blog/wp-content/uploads/2010/09/rev_3.jpg

Fonte: http://obviousmag.org/archives/uploads/2008/08030406_blog.uncovering.org_hine.jpgng.org_hine.jpg

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Já não bastava que o Estado assegurasse os direitos à vida, à liberdade, à proprie-


dade e à igualdade perante a lei. Fazia-se necessário que este Estado encontrasse meios
de proteção daquela nova classe, cuja vida transcorria em condições, as quais, hoje, não
haveria nenhum exagero em identificá-las como análogas à escravidão.

Importante

O advento do Estado do Bem-Estar Social representou uma


espécie de ruptura significativa com os alicerces que tradicional-
mente fundamentavam o Estado. Esta nova concepção caracte-
rizava-se pela intervenção estatal nos setores econômicos,
sociais e culturais.

As primeiras manifestações
deste modelo de Estado podem ser
percebidas na Alemanha. O modelo
alemão enraíza-se no contrato de
trabalho, inaugurando o seguro
nacional compulsório e organizando
por categorias profissionais os
trabalhadores, contra o risco de
perda da capacidade de gerar renda:
por acidente, doença, invalidez ou
idade.2

Sucessivamente, vários países implantam programas similares e, até a Primeira


Guerra Mundial (1914-1918), quase todos os países da Europa Central já contam com
o núcleo inicial de programas sociais voltados à previdência. Os programas de seguro-
desemprego são instituídos no período seguinte, ainda no primeiro pós-guerra (após
1918), e os benefícios para as famílias generalizam-se apenas no segundo pós-guerra
(após 1945).

2
KERSTENETZKY, Celia Lessa. O estado do bem-estar social na idade da razão: a reinvenção do estado social no
mundo contemporâneo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 5.

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Até 1900, nenhum dos países da Europa Central, exceto Alemanha e Suíça, havia
alcançado a marca correspondente a 3% do Produto Interno Bruto (PIB) destinados ao
gasto social público. Porém, a maioria deles já a tinha alcançado por volta de 1920. O
nível de 5% do produto é ultrapassado por quase todos por volta dos anos 1930.3

Antecendentes históricos do Estado de Bem-Estar Social

ABRANGÊNCIA/CONSEQUÊN-
DATA LOCAL AÇÕES
CIAS

1871 Alemanha Lei para aciden- Previa a responsabilidade, em


tes no trabalho caso de culpa, dos industriais em
acidentes dessa natureza.

1883 Alemanha Lei do seguro- Tornava obrigatório o benefício


-doença para tra- do seguro-doença para os operá-
balhadores rios que recebiam até 2.000 mar-
cos anualmente.

1884 Alemanha Lei que aprova o Institui o regime de seguro social,


Código de seguro criando o Código de Seguro de
obrigatório para Acidentes de Trabalho. Este de-
acidentes de tra- senho de legislação foi a primeira
balho no mundo, e marcou uma mudan-
ça radical, sendo referência para
outras nações.

1889 Alemanha Lei do seguro-in- Aumenta a abrangência das ga-


validez para tra- rantias sociais dos operários/tra-
balhadores balhadores.

1887-1911 Áustria, Norue- Criaram seguro Aumenta a abrangência das ga-


ga, Finlândia, obrigatório contra rantias sociais dos operários/tra-
Itália, Dina- acidentes de tra- balhadores.
marca, Irlanda balho

3
Ibid., p. 16.

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1897 Inglaterra Workmen’s Cria princípios de responsabiliza-


Conpensation Act ção objetiva aos empresários.
– Cria o seguro
contra acidentes
do trabalho

1908 Inglaterra Old Age Pesions Ampliação de direitos para as po-


– proteção na pulações carentes.
velhice

1911 Alemanha Lei que institui o Consolidação do modelo alemão


Código de Se- do contrato de trabalho. Inaugu-
guro-operário rando o seguro nacional compul-
Alemão sório e organizando por catego-
rias profissionais, contra o risco
de perda da capacidade de gerar
renda por acidente, doença, inva-
lidez ou idade.

1913 Suécia Leis que institui a Foi o primeiro país a introduzir a


aposentadoria e aposentadoria universal por idade
assistência social e tempo contribuição, combinan-
para idosos do com a assistência social para
idosos.

1917 México Constituição Me- Foi a primeira a atribuir aos direi-


xicana tos trabalhistas a qualidade de
direitos fundamentais, juntamen-
te com as liberdades individuais e
os direitos políticos. Tratou de di-
reitos como: a limitação da jorna-
da de trabalho, o desemprego, a
proteção da maternidade, a idade
mínima de admissão nos traba-
lhos industriais e o trabalho no-
turno dos menores na indústria.

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1919 Alemanha Constituição de Foi o marco do movimento consti-


Weimar tucionalista que consagrou direi-
tos sociais, de segunda geração
(relativos às relações de produção
e de trabalho, à educação, à cultu-
ra, à previdência) e reorganizou o
Estado em função da sociedade e
não mais do indivíduo.

1921 Áustria Institui o seguro- Ampliação dos direitos às famí-


-desemprego lias carentes e aos desemprega-
dos.

1929 Estado Unidos Queda da bolsa Solução kenesiana: conjunto de


e Mundo de valores ameri- ideias que propunham a interven-
cana ção estatal na vida econômica
com o objetivo de conduzir a um
regime de pleno emprego e políti-
cas de cunho social.

A versão britânica do Estado Social,


denominada de Welfare State, surgiu Economia
com o Plano Beveridge, que, em 1942,
instituía que todas as pessoas em idade de
trabalhar deveriam pagar uma contribuição
semanal ao Estado. Esse dinheiro seria

$
posteriormente usado como subsídio para
doentes, desempregados, reformados e
viúvas.

Os subsídios deveriam tornar-se


um direito dos cidadãos, em troca de
contribuições, em vez de pensões dadas pelo Estado. Assim, podemos dizer que foi a base
da criação de um sistema de seguridade social que apoiasse a população nos momentos

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de maior dificuldade. Este representou o grande salto quantitativo e qualitativo do Estado


Social.4

Vale lembrar, porém, que o termo Welfare State foi originalmente cunhado pelo
historiador e cientista político britânico Sir Alfred Zimmern, nos anos 1930. Estudioso
das relações internacionais, ele visava a registrar terminologicamente a evolução do
Estado britânico, em seu entender positiva, de um Power State (Poder do Estado - Estado
mais rígido) para um Welfare State (Estado de Bem-Estar Social).

Importante

Esta evolução decorre do fato de que o Estado


de Bem-Estar caracteriza-se pelo predomínio
da lei sobre o poder, da responsabilidade sobre
a força, da Constituição sobre a revolução, do
consenso sobre o comando, da difusão do
poder sobre sua concentração, da democracia
sobre a demagogia. Nessa acepção, um Welfa-
re State não se distinguiria muito de um Estado
Democrático de Direito.5

Não obstante o modelo do Estado do Bem-Estar Social adaptar-se às peculiaridades


políticas, econômicas e culturais de cada região e país, é notável a existência de dois
elementos comuns presentes em todos, variando apenas sua intensidade: a busca da
igualdade e a proteção da sociedade. Outra característica semelhante é a intervenção
estatal, presente em todos os modelos implementados no decorrer do século XX.

4
Esteruelas, Cruz Martinez. La Agonía del Estado: ¿un nuevo orden mundial? Madrid: Laxes, S.L. Ediciones. p. 121.
5
KERSTENETZKY, Celia Lessa. O estado do bem-estar social na idade da razão: a reinvenção do estado social no
mundo contemporâneo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 1.

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DIREITOS FUNDAMENTAIS
Geração dos Direitos (Noberto Bobbio, “A Era dos Direitos”)

1ª Geração 2ª Geração 3ª Geração

Momento Revolução Francesa Revolução Industrial Modernidade


Histórico séc. XVIII séc. XIX séc. XX

Direitos de Liberdade: Direitos de Igualdade: Direitos de Fraternidade:


ir e vir, prisão legal, direitos sociais, direitos difusos.
juiz natural, culturais, Direitos do consumidor,
integridade física, econômicos. ambientais, direito à
liberdade de Direitos trabalhistas, paz etc.
Direitos expressão, religiosa direitos coletivos.
Tutelados etc.
Estado deve Fazer:
Direitos negativos: Direitos prestacionais.
Estado deve abster-se
de fazer.

Evolução Estado
Estado Liberal Estado Social
do Estado Social-democrático

Fique Ligado

Quanto aos direitos de primeira geração, é preciso relembrar que foi na Magna
Carta inglesa de 1215 que deles se tratou pela primeira vez.

Entretanto, foram necessários mais de 500 anos de maturação, e somente


com o advento da Revolução Francesa em 1789 é que tais direitos foram
efetivamente reconhecidos.

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O último passo dessa evolução do Estado Social é o chamado Estado Democrático


de Direito, o qual passa a ter como fundamento não só a busca pela igualdade formal,
mas também pela igualdade material, visando a minimizar as desigualdades sociais e os
níveis de pobreza.

6
Importante

Segundo Bonavides6, “o Estado social é Estado produtor de igual-


dade fática. Trata-se de um conceito que deve iluminar sempre
toda a hermenêutica constitucional, em se tratando de estabele-
cer equivalência de direitos”. O Estado está obrigado a prover
prestações positivas e os “meios, se necessário, para concretizar
comandos normativos de isonomia”.

Houve uma perversa combinação de fatores que implicaram a construção de um


consenso de que este modelo estatal estava em crise. Passa-se a questionar o papel que
o Estado estava desempenhando e, de uma forma mais teórica do que fática, chega-se à
conclusão de que a sua manutenção tornou-se inviável.

6
Bonavides, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 11. ed. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 343.

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3. A crise do Estado Social: causas identificadas e


momento histórico

Previamente, constata-se que o advento do Welfare State foi um marco


importantíssimo para a evolução e universalização dos direitos sociais. Esta concepção
exige a garantia de “tipos mínimos de renda, alimentação, saúde, habitação, educação,
assegurados a todo o cidadão, não como caridade, mas como direito político”. Tais
condições mínimas são essenciais para tornar possível a plena liberdade, uma vez que
não há como reconhecê-la presente em condições nas quais a vida desenvolva-se em
situação precária, mesmo porque ninguém é livre numa situação de extrema pobreza.

Fonte das imagens:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Angola
http://www.planodesaude.net/falta-de-saneamento-no-brasil-piora-a-saude
http://radios.ebc.com.br/reporter-nacional/edicao/2014-09/o-mundo-uma-em-cada-nove-pessoas-sofre-de-fome-cronica

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A estrutura do modelo de Estado trazia consigo inúmeros direitos aos cidadãos, a


fim de dissipar as desigualdades sociais existentes e garantir uma vida digna a todos. A
incorporação de novas necessidades a serem providas pelo Estado, o avanço tecnológico,
a globalização e, principalmente, o desemprego em massa e de longa duração não
estavam nos planos do modelo do Estado-providência. Como sustentava Beveridge7, a
política de segurança social só fazia sentido se ligada ao pleno emprego, razão pela qual
a combinação nefasta dos fatores examinados a seguir representa uma forte agressão
ao Estado de Bem-Estar Social.

Observe

Cabe ressaltar que talvez corresponda ao aspecto mais impor-


tante desse período de crescente proteção social, testemunhar
o advento de uma nova revolução: a revolução tecnológica ou
cibernética.

Vive-se um momento sem precedentes na história, no qual, em


um curto período, o conhecimento e a tecnologia avançam
numa velocidade até então nunca vista, dando os primeiros e
decisivos passos para a denominada sociedade do conheci-
mento que atualmente se apresenta.

Diferentemente da Revolução Industrial do século anterior, a nova era cibernética


é tipicamente poupadora de mão de obra, desencadeando, em grande escala, o sintoma
do desemprego em massa e de longa duração. Muitos trabalhadores tornam-se
economicamente pouco úteis, à medida que o ofício laboral para o qual estavam treinados
simplesmente desaparece. Assumem, assim, a condição de “inimpregáveis”.

7
OST, François. O Tempo do Direito. Lisboa: Instituto Piaget, 1999. p. 339.

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Importante

O pós-guerra também assiste a outra revolução: a revolução


feminista. Especialmente a partir de meados dos anos 1960, as
mulheres desencadeiam uma crescente e irreversível reivindica-
ção por igualdade de direitos e oportunidades. Se, durante a
Segunda Grande Guerra, delas foi exigido uma participação no
mercado de trabalho, essa exigência passa a ser entendida não
mais como dever, mas sim como direito.

Não obstante o mercado de trabalho ainda as discrimine – especialmente no que


tange à remuneração –, as mulheres passam a disputar e assumir postos de trabalho
outrora reservados aos homens.

Louise Weiss, juntamente com outras


suffragettes parisienses em 1935; a Propaganda do governo norte-
manchete do jornal diz "A Francesa americano mostrando uma mulher
Deve votar." trabalhando em uma fábrica em Fort
Worth, Texas, Estados Unidos, durante
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ a Segunda Guerra Mundial (1942).
commons/5/57/Louise_Weiss.jpg

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A junção dos dois fatores expostos anteriormente implica uma forte pressão nas
taxas de desemprego, haja vista que, mesmo com uma forte expansão econômica e
prosperidade generalizada, os países centrais da Europa não conseguiram que esse
processo econômico garantisse fontes de renda ao trabalho e níveis reduzidos de taxas
de desemprego.

Outra consequência da forte ascensão das mulheres ao mercado de trabalho é a


necessidade de o Estado dar conta da nova tarefa de proteção aos filhos das trabalhadoras.
Isso se dá mediante fortes investimentos em escolas e creches públicas.

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3.1 O Estado de Bem-Estar passa a ser “vítima” do seu próprio sucesso


Por outro lado, quase
contraditoriamente, pode-se
dizer que o Estado de Bem-Estar
passa a ser “vítima” do seu próprio
sucesso. Uma vez que ele passa
a assegurar níveis de condições
de vida satisfatórias, há um
crescente aumento na expectativa
média de vida da população, o que
implica a ampliação dos ônus a
serem suportados pelo Estado,
desde a óbvia aposentadoria, passando pela assistência social e os custos necessários
à preservação da saúde da população com percentuais crescentes de idade avançada.

Os novos e inéditos riscos sociais que decorrem inclusive do desenvolvimento


tecnológico causam também impacto nas finanças públicas. Entre outros, percebe-se
o risco decorrente da degradação ambiental e exige-se do Estado políticas públicas
que possam garantir um meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado.
Inequivocamente, políticas desta natureza implicam significativo ônus econômico às já
combalidas finanças estatais.

Dessa forma, conforme se verificavam novos riscos sociais, o Estado passou a ter
outras obrigações, além das mínimas, decorrentes dos novos riscos, como o desemprego
de longa duração, meio ambiente e necessidade de políticas públicas tendencialmente
capazes de diminuir as desigualdades sociais.

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Crise do Estado Social: causas identificadas

CAUSA SINTOMA

Poupadora de mão de obra, desencadeando,


Revolução em grande escala, desemprego em massa e de
Tecnológica
Preciso de um
emprego

longa duração.

Revolução Disputa pelas mulheres de postos de trabalho


Feminista outrora reservados aos homens.

A ascensão das mulheres ao mercado de


Necessidade trabalho leva o Estado, para dar conta da nova
de creche e tarefa de proteção aos filhos das
escolas trabalhadoras, a realizar fortes investimentos
em escolas e creches públicas.

Estado de Bem-Estar passa a ser “vítima” do


seu próprio sucesso. Ao assegurar níveis de
Idade condições de vida, o aumento na expectativa de
avançada da vida da população implica a ampliação dos
população ônus do Estado: aposentadoria, assistência
social, preservação da saúde e percentuais
crescentes de idade avançada.

O desenvolvimento tecnológico causa impacto


nas finanças públicas. A degradação ambiental
exige do Estado políticas públicas que possam
Degradação
garantir um meio ambiente saudável e
ambiental
ecologicamente equilibrado, implicando
significativo ônus econômico às já combalidas
finanças estatais.

O debate acerca da crise estrutural, decorrente da emergência de novos riscos


sociais, iniciou-se no final da década de 1960 e aprofunda-se com a crise econômica
internacional da década de 1970, quando passou a ganhar força a crítica ao Estado
de Bem-Estar Social. Tal crise ocorreu após um período – de quase trinta anos – de
inequívoca prosperidade econômica, vivenciada depois da segunda grande guerra.

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No entanto, como já sustentava Rosanvallon8, a crise não está relacionada apenas


com o desequilíbrio econômico entre o que o Estado arrecada e as demandas sociais
que necessitam ser atendidas. O que está em causa é um abalo muito mais profundo,
de forma que as relações da sociedade com o Estado passam a ser questionadas. É
possível afirmar que a fonte da crise é muito mais extensa do que o simples desajuste
das finanças públicas.

O Estado de Bem-Estar, à medida que vai ampliando a concretização de direitos


fundamentais aos seus cidadãos, provoca, de certo modo, um esquecimento acerca dos
deveres de cidadania, especialmente no que se refere à questão da solidariedade. Em vez
de efetivos cidadãos, o Estado acaba por forjar o surgimento de verdadeiros “indivíduos-
clientes”, que exigem, em regra, em proveito exclusivamente próprio, respostas cada vez
mais significativas do Estado. Dá-se, portanto, uma quebra dos vínculos de solidariedade
entre os atores sociais, que deixam de responsabilizar-se pelos efeitos decorrentes da
exposição aos riscos, transferindo ao Estado e dele exigindo o cumprimento integral
dessa tarefa.

8
ROSANVALLON, Pierre. A Crise do Estado-Providência. Trad.: Joel Pimentel de Ulhôa. Goiânia: UFG; Brasília:
UnB, 1997. p. 25.

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Percebe-se, também, uma clara manifestação do individualismo, a partir do qual o


sentimento de coletividade perde-se, e com ele perde-se a concepção e o reconhecimento
da importância da solidariedade social. Para que esse modelo de Estado se sustente, é
fundamental a sobreposição do interesse público ao particular, parafraseando Tocqueville:
“o indivíduo é o pior inimigo do cidadão”.

Saiba Mais

Alexis de Tocqueville (1805-1859),


pensador político e estadista francês.
Foi considerado um dos grandes teóri-
cos sobre a democracia americana.
Especulou sobre a natureza essencial
da própria democracia, suas vanta-
gens e perigos. Publicou sua obra
prima, A Democracia na América
(1835-1840), em quatro volumes, que o
consagrou e abriu-lhe as portas das
mais importantes instituições, entre
elas, a Academia Francesa, em 1841.

Na obra, Tocqueville especulou sobre a natureza essencial da


própria democracia, suas vantagens e perigos. Interpretou o regime
democrático como uma necessidade histórica, resultando inevita-
velmente da difusão da ideia de igualdade. Acentuou os elementos
negativos da democracia, considerava tediosa e alertava que ela
poderia se tornar uma tirania de massas (regime no qual as mino-
rias não têm direitos assegurados).

Fonte imagem: https://commons.wikimedia.org/wiki/File%3AAlexis_de_tocqueville.jpg

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Conforme exposto, os problemas de caixa do Welfare State já estão presentes


na década de 1960, quando os primeiros sinais de que receitas e despesas estão em
descompasso são percebidos. Os anos 1970 irão aprofundá-los, à medida que o aumento
da atividade estatal e a crise econômica mundial implicam um acréscimo ainda maior de
gastos, o que implicará o crescimento do déficit público 9.

Problemas de caixa do Welfare State


1970

1960
Crescimento do déficit público

A crise deste modelo de Estado não foi propriamente financeira, e sim ideológica.
É importante ressaltar que aquela crise não está relacionada apenas à questão da
estrutura de financiamento do Estado Social. Existem outros componentes importantes
nela, notadamente um abalo significativo nos laços de solidariedade que alicerçavam a
concepção de Estado Social de outrora.

Em decorrência da falta de recursos para o Estado Social cumprir seus objetivos


e da crescente variedade de demandas prestacionistas, começou-se a questionar suas
bases ideológicas e a discutir as possibilidades de redução do Estado de Bem-Estar.
Surgem crescentes críticas com relação à implementação das ações positivas, as quais
o Estado havia se obrigado na busca da igualdade de direitos sociais e econômicos.

Importante

Esses abalos todos fizeram ruir as certezas relativamente à razão


da existência, viabilidade e eficácia do Estado Social. Fizeram
com que desmoronasse a crença de que o Estado pudesse ser
um ator privilegiado na construção de uma sociedade menos
desigual e com que a desesperança tomasse de assalto o imagi-
nário coletivo.

9
MORAIS, José Luis Bolzan de. As Crises do Estado e da Constituição e a Transformação Espacial dos Direitos
Humanos. Porto Alegre: Liv. do Advogado, 2002. p. 41/42.

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Nesse cenário relatado anteriormente, foram plantados os alicerces necessários


para que construíssem as razões perfeitas que levassem aos caminhos de superação
do momento histórico. Naquele momento, floresceu o denominado neoliberalismo, com
seus conceitos minimalistas do papel do Estado.

ESTADO MERCADO

Adaptado de: http://geopvs.blogspot.com.br/2013/07/neoliberalismo-e-glogalizacao.html

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4. A tributação no período do pós-crise do


Estado de Bem-Estar Social

Da análise precedente, constata-se que o Estado de Bem-Estar cumpriu relevante


papel no desenvolvimento, tanto econômico como social.

Enquanto havia um acelerado


crescimento da economia e
níveis de emprego satisfatórios, o
Estado Social pôde sofisticar-se,
com serviços públicos cada vez
melhores e proteção mais
abrangente.

No entanto, com a combinação da crise


econômica dos anos 1970 e com a
emergência dos novos riscos sociais
antes abordados, este modelo de
Estado enfrenta o que se convencionou
denominar de crise estrutural. A partir
da eclosão da crise dos fundamentos
que alicerçavam o Estado, em especial
com o abalo do pilar da solidariedade,
estavam presentes as condições
necessárias para o surgimento de uma
nova concepção de Estado, fortemente
influenciada pelo denominado “novo
liberalismo econômico”.

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Vale destacar que o próprio termo neoliberalismo sequer pode ser entendido como
adequado, uma vez que cria a equivocada impressão de que se está diante da reedição
do liberalismo clássico, o qual surgiu como uma afirmação da liberdade e da própria
igualdade formal, ante ao absolutismo reinante 10. Para fins deste curso, será utilizado o
termo que restou consagrado: neoliberalismo.

Para esta concepção, o mercado assumiria o papel, outrora desempenhado pelo


Estado, de regulador das relações econômicas e sociais, sendo que este reduziria seu
tamanho de tal forma que não representasse um ônus significativo àquele. A partir
disso, “o mercado tendeu a ser reabilitado como instância reguladora por excelência das
relações econômicas e sociais no capitalismo contemporâneo”. Caberia ao mercado
determinar, entre outros, “o tipo e a quantidade de investimento da economia, decisão
privada com profundos impactos públicos” 11 .

Importante

O “vácuo teórico e a incapacidade de gestão dos Estados nacio-


nais - fenômenos que se seguiram à crise pós-keynesiana - abri-
ram espaço para os defensores do Estado-mínimo”. A ideia,
segundo a qual o Estado é naturalmente ineficiente, voltou com
toda a força nos discursos mais conservadores, quando se
evidenciaram problemas de financiamento e gestão dos gover-
nos nos países centrais12.

12

10
Como explica Maria Oliveira: “O liberalismo foi um movimento que surgiu no século XVII, com a Revolução Glo-
riosa (1688) da Inglaterra, tendo como seu ápice a Revolução Americana (1776) e a Revolução Francesa (1789).
O liberalismo identificou-se com a luta da burguesia contra os privilégios da nobreza, limitando os poderes do
rei, instituindo um conjunto de ideais defendidas pelos mais diferentes autores, tais como, Locke, Montesquieu,
Kant, Rosseau, Benjamim Franklin, David Ricardo, Jefferson, Bentham, Stuart Mill, Smith, Tocqueville e tantos
outros que influenciaram e subverteram a História da Humanidade”. Souza Oliveira, Maria José Galleno de. A
Globalização da Pobreza. In: Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo – USP, São Paulo, v.
99, 2004. p. 465.
11
DUPAS, Gilberto. Economia Global e Exclusão Social: pobreza, emprego, estado e o futuro do capitalismo. São
Paulo: Paz e Terra, 1999. p. 111.
12
Ibid., loc. cit.

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Há, dessa forma, um rompimento com os fundamentos keynesianos, na medida


em que se passa a negar a legitimidade do Estado de intervir para regular as distorções
produzidas pelo modelo econômico. Em suma, as atividades estatais deveriam ser as
menores possíveis, (re) surgindo assim a concepção do “Estado-mínimo”.

Saiba Mais

John Maynard Keynes (1883-


-1946) foi um economista
britânico cujas ideias mudaram
fundamentalmente a teoria e
prática da macroeconomia,
bem como as políticas econô-
micas instituídas pelos gover-
nos. Ele fundamentou suas
teorias em trabalhos anteriores
que analisavam as causas dos ciclos econômicos, refinando-as
enormemente e tornando-se amplamente reconhecido como um
dos economistas mais influentes do século XX e o fundador da
macroeconomia moderna ou keynesianismo. Defendia a ação do
Estado na economia com o objetivo de atingir o pleno emprego.

Principais características do Keynesianismo:

- Defesa da intervenção estatal na economia, principalmente em

áreas onde a iniciativa privada não tem capacidade ou não


deseja atuar.

- Defesa de ações políticas voltadas para o protecionismo econô-


mico.

- Contra o liberalismo econômico.

- Defesa de medidas econômicas estatais que visem à garantia do


pleno emprego. Este seria alcançado com o equilíbrio entre
demanda e capacidade de produção.

- O Estado tem um papel fundamental de estimular as economias 31


em momentos de crise e recessão econômica.
dos economistas mais influentes do século XX e o fundador da
macroeconomia moderna ou keynesianismo. Defendia a açãoCOFINS do TLP IPTU
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Estado na economia com o objetivo de atingir o pleno emprego.
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Principais características do Keynesianismo:


Unidade 1 - Do Estado Liberal à contemporaneidade brasileira
- Defesa da intervenção estatal na economia, principalmente em

áreas onde a iniciativa privada não tem capacidade ou não


deseja atuar.

- Defesa de ações políticas voltadas para o protecionismo econô-


mico.

- Contra o liberalismo econômico.

- Defesa de medidas econômicas estatais que visem à garantia do


pleno emprego. Este seria alcançado com o equilíbrio entre
demanda e capacidade de produção.

- O Estado tem um papel fundamental de estimular as economias


em momentos de crise e recessão econômica.

- A intervenção do Estado deve ser feita através do cumprimento


de uma política fiscal para que não haja crescimento e descon-
trole da inflação.

* Vale ressaltar que Keynes era contrário à estatização da economia,


como havia ocorrido nos países socialistas após a Revolução Russa
de 1917. Ele defendia o sistema capitalista, porém acreditava que
deveria haver ações e medidas de controle por parte do Estado.

O keynesianismo na atualidade

A doutrina econômica keynesiana enfraqueceu muito nas últimas


décadas em função do avanço do neoliberalismo. O processo de
globalização econômica mundial impôs, de certa forma, aos países,
a adoção de medidas voltadas para a abertura da economia e pouca
interferência estatal. A maioria dos países do mundo segue o neoli-
beralismo, com suas especificidades, como forma de se manterem
ativos neste mundo voltado para a globalização e para a economia
de livre mercado.
Fonte: http://www.suapesquisa.com/economia/keynesianismo.htm
Fonte imagem:https://commons.wikimedia.org/wiki/John_Maynard_Ke-
ynes#/media/File:Keynes_1933.jpg

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Segundo os teóricos neoliberais, “a sobrecarga do Estado levaria impreterivelmente


a ingovernabilidade das democracias”, razão pela qual “fazia-se necessidade urgente
limitar a participação política, distanciar a sociedade e o sistema político e subtrair as
decisões políticas administrativas ao controle público.” 13

Importante

O neoliberalismo constituiu-se em um conjunto de conceitos


políticos e econômicos voltados ao capitalismo. Defende a não
intervenção do Estado na economia com o argumento de que a
livre concorrência gera o crescimento econômico, que, por sua
vez, desenvolverá o país socialmente.14

14

Antes restrito ao meio acadêmico, a concepção ganha enorme importância quando


passa a orientar políticas em dois países de crucial importância: Estados Unidos e
Inglaterra. Como marco histórico, há um consenso que o neoliberalismo transcendeu
sua condição meramente teórica, primeiramente, com a ascensão política de Margaret
Thatcher, na Inglaterra, e depois com a de Ronald Reagan, nos Estados Unidos.

Conforme já abordado, a partir da constatação da existência da crise estrutural,


surgem concepções que preconizam soluções no sentido radicalmente oposto àquele,
a partir do qual foi construído o modelo do Estado de Bem-Estar Social. Como se
todo problema não passasse de uma equação matemática, discute-se se deveria ser
aumentada a carga tributária, ou deveriam ser reduzidas prestações típicas do Estado
de Bem-Estar.

13
Souza Oliveira, Maria José Galleno de. A Globalização da Pobreza. In: Revista da Faculdade de Direito da Univer-
sidade de São Paulo – USP, São Paulo, v. 99, 2004. p. 465.
14
BUFFON, Marciano; MATOS, Mateus Bassani de. Da crise do Estado Social ao Pós-neoliberalismo: uma breve
história entre dois séculos. EOS – Revista Jurídica da Faculdade de Direito/Faculdade Dom Bosco. Núcleo de
Pesquisa do Curso de Direito. – V.V Nº 10 – ANO V (jul./dez. 2011) – Curitiba: Dom Bosco, 2007. p. 63-84. Dis-
ponível em: http://www.dombosco.sebsa.com.br/faculdade/revista_direito/10edicao/index.php. Acesso em: 01
abr 2014.

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Para a concepção denominada de neoliberal, a saída da crise desse modelo de


Estado passa pela redução de tributos concomitantemente com a retirada do Estado
de certos setores da vida pública, com a minimização da proteção social, deixando que
o mercado assuma a responsabilidade pela organização social e pela redistribuição da
riqueza.

Saiba Mais

Como explica Michel Bouvier15, no campo tributário, os americanos


Milton Friedman (Escola de Chicago), J. Buchanan (Escola de Virgí-
nia) e o ultraliberal Murray Rothabard, apesar de seus pontos diver-
gentes, realimentaram o antifiscalismo contemporâneo e pauta-
ram-se pelas regras: cada vez menos impostos, menos Estado e
mais mercado. A escola monetarista de Friedman defendeu o
desenvolvimento livre de uma economia informal ou paralela. Essa
nova concepção significou uma reação a Keynes, na era que se con-
vencionou denominar de pós-moderna, sendo que tal reação, capi-
taneada por F. Hayek, preconiza uma ordem social espontânea.

15

15
Bouvier, Michel. Introduction au Droit Fiscal Général et à la theorie de l’ímpôt. 6. ed. Paris: LGDJ, 2001. p.
202/206.

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Importante

Em outras palavras, percebe-se claramente que essa concepção


aponta na direção do retorno ao Estado-mínimo e o consequente
rompimento com os fundamentos que alicerçavam o Estado
Social, sobretudo o “pilar” da solidariedade. Isso manifesta-se em
diversos campos, com a crescente transferência para a iniciativa
privada de atividades típicas do Estado de Bem-Estar, tornando-
-se visível no modelo tributário construído em vários países, sob
a influência desse paradigma liberal.

Sob a ótica da tributação, assiste-se a um processo de desinte-


gração dos valores e princípios construídos ao longo da história
do Estado do Bem-Estar Social.

Passa-se a questionar a conveniência de princípios de tributação


tidos como inerentes à existência desse modelo de Estado, e
também a questionar a validade de princípios como o da capacida-
de contributiva, até então entendido como dogma de um sistema
tributário justo (adequado ao Estado Democrático de Direito).16

16

No cenário internacional, o atual estágio da maioria dos sistemas tributários


é entendido por Michel Bouvier como o retorno à Idade Média, em face da extrema
diversificação da arrecadação, associada a inúmeras diferenças de estatutos17.
Tal conclusão é obtida a partir do resgate dos marcos fundantes da tributação,
comparativamente aos alicerces sobre os quais a tributação vigente está posta.

16
Conforme menciona Mizabel Derzi, “Robert Hall e Alvin Rabushka (The Flat Tax) sugerem substituir o imposto de
renda progressivo por um meramente proporcional”. DERZI, Misabel Abreu Machado. Pós-modernismo e Tribu-
tos: Complexidade, Descrença e Corporativismo. In: Revista Dialética de Direito Tributário. São Paulo: Oliveira
Rocha, n. 100, jan. 2004. p. 72. Isso constata-se no Brasil quando significativos atores sociais (políticos, econo-
mistas e tributaristas) sustentam a conveniência e a viabilidade de um Imposto único sobre a movimentação
financeira, ou quando defendem a inexistência de alíquotas progressivas para impostos, inclusive para o próprio
imposto sobre a renda.
17
Bouvier, Michel. Introduction au Droit Fiscal Général et à la theorie de l’ímpôt. 6. ed. Paris: LGDJ, 2001. p. 226.

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Conforme expõe Bouvier18, desde a origem, os impostos correspondiam a um


instrumento de submissão ou de solidariedade entre as classes sociais, sendo que o
bem comumpoderia ser alcançado, mediante a exigência de impostos, por um Estado-
nação unificado e com fronteiras determinadas. Diferentemente disso, o mundo atual é
composto, descrente e desencantado. Reforça-se a ideia do mero imposto-troca, a partir
das concepções individualistas e às teses da fiscalidade mínima, surgidas nos anos 80.
O corporativismo reforça-se, busca e obtém privilégios fiscais, notadamente em direção
aos setores econômico e financeiro, o que transforma a estrutura da fiscalidade nacional
e local em um verdadeiro mosaico.

Bouvier19 conclui que, em tal quadro, o poder fiscal tornou-


se um jogo para os múltiplos centros de decisão públicos
e privados que formam o tecido social, deixando de ser um
atributo de um poder universal, representado até agora pelo
Estado. Os organismos profissionais (sindicatos patronais ou
empregados), as associações profissionais de interesse de tal ou
de parte da população, as coletividades territoriais, as instituições
internacionais, todos intervêm de maneira ativa no processo de
decisão fiscal, reivindicam a fiscalização de certa renda ou o poder de modular a carga
fiscal, criá-la, suprimi-la ou modificá-la.

No cenário internacional, multiplicaram-se exações que se fundamentam na ideia


de que a proporcionalidade (alíquotas idênticas independentemente da base tributável)
seria mais adequada, prática e eficaz do que a lógica da progressividade. Isso significa
um incremento substancial na carga tributária20, não obstante nesse processo seja
desconsiderada a capacidade de contribuir da cada cidadão. 21
18
Ibid., p. 225.
19
Ibid., p. 226.
20
Ainda no que tange à França, Rosanvallon informa que esse implemento na tributação deve-se, basicamente, às
cotizações sociais (contribuições), vez que, em 1959, elas representavam 9,7% do PIB, saltando para 12,7% em
1970 e 20% em 1990, enquanto que a pressão fiscal (demais tributos não vinculados com a seguridade) perma-
necia quase estável (23,1 do PIB em 1959, 23,3% em 1970 e 25% em 1990).

ROSANVALLON, Pierre. A Crise do Estado-Providência. Trad.: Joel Pimentel de Ulhôa. Goiânia: UFG; Brasília:
UnB, 1997. p. 14.
21
Conforme relata Mizabel Derzi: “diversos países, embora mantenham a progressividade inerente aos tempos
intervencionistas, instituem paralelamente tributos proporcionais de bases amplas, com que elevam a arrecada-
ção a patamares antes inusitados. A França cria a Contribution Sociale Généralisée, destinada à manutenção
da assistência social, incidente sobre a receita bruta das famílias e receita de capital, com alíquota meramente
proporcional. [...]. De fato, a criação em França da chamada Contribution Sociale Généralisée obedeceu aos
parâmetros da Flat Tax e vem igualando com alíquota de 7% a arrecadação do imposto sobre a renda (que tem
alíquotas progressivas muito elevadas, de 50%). A partir dela, a arrecadação chegou a mais de 46% do PIB fran-
cês”.

DERZI, Misabel Abreu Machado. Pós-modernismo e Tributos: Complexidade, Descrença e Corporativismo. In:
Revista Dialética de Direito Tributário. São Paulo: Oliveira Rocha, n. 100, jan. 2004. p. 72.

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Tome Nota
Isto tem sido objeto de intensos debates, a partir da crise que se iniciou em
2008 nos Estados Unidos e, paulatinamente, foi contaminando as economias
europeias, sobretudo a Grécia, Espanha, Portugal, Irlanda e Itália. Essa crise,
que ainda não alcançou seu ponto definitivo de superação, está alimentando
discussões no campo da tributação. De um ponto de vista lógico, as soluções
propugnadas devem apontar caminhos diversos daqueles adotados até o
momento, especialmente no sentido de recuperarem-se mecanismos típicos
de um Estado de Bem-Estar Social keynesiano.

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5. Os fundamentos constitucionais da tributação no Brasil


5.1 A Constituição do Brasil e a sua estrutura elemental
O Estado constitui-se de quatro elementos:
povo, território, poder soberano e finalidade.
Esses elementos são “alinhavados” em um
documento chamado Constituição.

É assim chamado porque declara, alinhava


e formaliza os elementos constitutivos do
Estado. “Constituição” significa formação.
Assim, se pudéssemos substituir o nome da Constituição da República Federativa do
Brasil, para melhor explicar o conceito, diríamos que ela é a Lei de Formação da República
Federativa do Brasil.

Veja como a Constituição Brasileira de 1988 é sistematizada:

a) Do art. 1º ao 4º, ela apresenta a República e os seus princípios


República
fundamentais;

b) Do art. 5º ao 17, retoma a concepção de Marshall (1967) sobre cidadania para


descrever os direitos e deveres individuais e coletivos do cidadão. Pinto Ferreira*
Povo (1962. p. 54) diz que POVO é a expressão que designa o coletivo de CIDADÃO.
* FERREIRA. Luis Pinto, Princípios Gerais do Direito Constitucional Moderno, Tomo I, 4ª edição,
SP: Saraiva, 1962.

c) Do art. 18 ao 43, o texto constitucional trata da distribuição


Território política do TERRITÓRIO, distinguindo as ordens NACIONAL,
FEDERAL, ESTADUAL/DISTRITAL e MUNICIPAL.

d) Do art. 44 ao 135, o texto constitucional estrutura os poderes


Poder correspondentes às funções essenciais da República (Legislativa,
Executiva e Judiciária) e os órgãos que lhe são correlatos; e

e) Do Art. 136 ao 144 e do Art. 170 ao 232, o texto legal cuida de


Finalidades relacionar as finalidades para as quais a República foi constituída.

Após esta cuidadosa arquitetura, do art. 145 a 169, a CRFB descreve


Meios de os meios necessários a que tudo se realize, determinando como vai
realização ser planejada a operação do Estado (Orçamento) e como ele vai obter
meios materiais (Arrecadação tributária) para realizá-la.

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Aqui é importante observar que a Constituição Federal da República, embora nomine


textualmente a criação de um Estado Democrático de Direito, adota substancialmente
a forma de um Estado Democrático de Direito Socioeconômico- Cultural (CANOTILHO,
1993) no qual se destacam como instrumentos integrantes do conceito os princípios da
segurança jurídica (Estado de Direito), da participação popular (Estado Democrático), da
solidariedade (Estado Socioeconômico) e da igualdade (Estado Cultural).

Povo
+
Território ESTADO
+
Poder
DEMOCRÁTICO
DE DIREITO
SOCIOECONÔMICO
Finalidade CULTURAL
+
Meios de
realização

Os textos constitucionais tradicionais dos Estados de Direito Liberais (onde impera


a lei), ainda que democráticos (onde a lei que impera é feita segundo a vontade do povo),
são montados segundo a lógica textual:

a) descrição das feições fundamentais do Estado;

b) descrição do elemento subjetivo (povo);

c) descrição da distribuição da ordem jurídica centralizada ou não (território);

d) descrição do elemento político (poder); e

e) descrição do elemento finalístico (finalidade, no caso do estado liberal consiste


na defesa das instituições estatais, da soberania e da ordem).

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5.2 A formalização constitucional do Estado Democrático de Direito


Brasileiro
A Constituição Brasileira de 1988 instituiu formalmente um Estado Democrático
de Direito, cuja implementação fática está condicionada, fundamentalmente, à busca de
uma igualdade substancial, não meramente formal. Ou seja, não basta que todos aqueles
que estejam em situação equivalente sejam tratados de forma igual. Faz-se necessário
que o tratamento desigual, aplicável aos desiguais, tenha como norte a redução das
desigualdades fáticas (sociais e econômicas).

Igualdade não significa Justiça

Isso é Igualdade Isso é Justiça

A Constituição traz, entre seus princípios fundamentais: a soberania, a busca pela


efetivação da cidadania, a Dignidade da Pessoa Humana e dos valores sociais do trabalho,
em paralelo com a livre iniciativa e o pluralismo político. (art. 1º). Também adota como
objetivos fundamentais: a construção de uma sociedade livre, justa e solidária; a garantia
do desenvolvimento social; a erradicação da pobreza e da marginalização e a redução
das desigualdades sociais e regionais, bem como a promoção do bem de todos (art. 3º).

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Com relação aos Direitos Econômicos e Sociais, institui o direito à educação, à


saúde, ao trabalho, à moradia, ao lazer, à segurança, à assistência aos desamparados,
entre outros (art. 6º), referindo, ainda, que a saúde é direito de todos e dever do Estado
(art. 196), assim como a educação (art. 205), a cultura (art. 215), e o desporto (art. 217).

Fonte: Creative Commons - CC BY 3.0 - Precariedade no atendimento leva Defensoria Pública a hospitais no Ceará

Sob a perspectiva da ordem econômica, está esculpido que a República tem por fim
assegurar a todos a existência digna, de acordo com os ditames da justiça social, e, entre
vários princípios, a redução das desigualdades regionais e sociais, como balizamentos
da livre iniciativa (art. 170).

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Importante

Quanto à importância, eficácia e vinculação dos referidos dispo-


sitivos constitucionais, cabe lembrar que a constituição de um
Estado deve ser entendida como algo que constitui, ou seja, dá
existência ao Estado Assim, para que seja eficaz, a Constituição
não pode ser vista como um mero texto programático, não vincu-
lativo.

Muito embora nem todos os preceitos constitucionais tenham o mesmo grau de


concretização, já não cabe falar das constituições como meras declarações programáticas
ou de princípios: toda constituição é uma norma jurídica e como tal goza da qualidade
de exigibilidade e coerção para seu cumprimento. 22 Ou ainda, nas palavras de Gregório
Robles,23 a Constituição “é uma fonte de direito, a de maior grau hierárquico, que, como
o Sol, ilumina os bons e os maus, os felizes e os desgraçados”. Como aduz o referido
autor, “seu papel consiste em integrar todos em convivência, permitindo a estabilidade
do sistema político e, consequentemente, também do sistema global da sociedade”.

O Estado Democrático de Direito Brasileiro, fundado em 1988, difere substancialmen-


te do modelo de Estado até então vigente. Esse novo modelo foi inspirado nas constitui-
ções dirigentes, surgidas na Europa do pós-guerra.24 Conforme explica Gomes Canotilho,
25
uma constituição dirigente “pressupõe que o Estado por ela conformado não seja um
Estado-mínimo, garantidor de uma ordem assente nos direitos individuais e no título de
propriedade, mas um Estado Social, criador de bens coletivos e fornecedor de prestações”.

22
CHULVI, Cristina Pauner. El Deber Constitucional de Contribuir al Sostenimiento de los Gastos Públicos. Madrid:
Centro de Estudios Políticos e Constituionales, 2001. p. 51.
23
ROBLES, Gregorio. Os Direitos Fundamentais e a Ética na Sociedade Atual. São Paulo: Manole, 2005. p. 121.
24
Como explica Bolzan de Morais, ao tratar do conceito de Estado Democrático de Direito: “E é este conceito que,
vindo estampado no texto constitucional (art. 1º) define os contornos do Estado brasileiro, a partir de 1988,
tendo-se presente que o constituinte nacional foi buscá-lo em Constituições produzidas em situações similares
à nossa, como é o caso da Constituição Portuguesa pós-Revolução dos Cravos e da Constituição Espanhola
seguinte à derrubada do regime franquista, ou seja, documentos legislativos produzidos no interior de processos
de redemocratização”. BOLZAN DE MORAIS, José Luis. Revisitando o Estado!: da crise conceitual à crise insti-
tucional (constitucional). In: Anuário do Programa de Pós-Graduação em Direito – Mestrado/Doutorado. São
Leopoldo: Unisinos – Centro de Ciências Jurídicas, 2000. p. 82.
25
GOMES CANOTILHO, José Joaquim. Constituição Dirigente e Vinculação do Legislador. 2. ed. Coimbra: Coim-
bra, 2001. p. 391.

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Importante

Também é certo que esse Estado Democrático de Direito tem


princípios que lhe são peculiares, entre os quais, principalmente,
o princípio da dignidade da pessoa humana, que pode ser enten-
dido como valor-guia do Ordenamento Jurídico de um Estado
dessa natureza e corresponde – em menor ou maior grau – ao
elemento comum dos direitos fundamentais.

Dentre os princípios do Estado Democrático de Direito, destaca-se o da dignidade


da pessoa humana, que pode ser entendido como valor-guia do Ordenamento Jurídico de
um Estado dessa natureza e corresponde ao elemento comum dos direitos fundamentais.
Ingo Sarlet26 – citando Bleckmann – no seu livro “A Eficácia dos Direitos Fundamentais”,
lembra que “é o Estado que existe em função da pessoa humana, e não o contrário, já que
o homem constitui finalidade precípua e não meio da atividade estatal”.

Todos os seres humanos são iguais em dignidade, ninguém pode ser tratado como
mero objeto. A dignidade é essencial à condição humana, é irrenunciável e inalienável,
razão pela qual Ingo Sarlet27 reconhece ser esse princípio o valor-guia constitucional.
Menciona ainda que “na condição de princípio fundamental, a dignidade da pessoa
humana constitui valor-guia não apenas dos direitos fundamentais, mas de toda ordem
constitucional, razão pela qual se justifica plenamente sua caracterização como princípio
constitucional de maior hierarquia axiológico-valorativa”, ou seja, princípio positivado
como de maior expressão no Estado Democrático de Direito.

Embora esse princípio não esteja diretamente relacionado, na mesma intensidade,


com os direitos fundamentais – entendidos estes como “direitos positivados no seio de
um ordenamento constitucional”, pode-se entender que – em maior ou menor grau – tal
princípio constitui elemento comum em um Estado Democrático de Direito.

26
SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. 3. ed. rev. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advo-
gado, 2003. p. 106-107.
27
Ibid., p. 115.

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Importante ressaltar que a ideia de igualdade, num Estado Democrático de Direito,


supera a ideia de igualdade concebida em um simples Estado de Direito do liberalismo
clássico.

Segundo Bonavides, no livro Curso de Direito Constitucional, “Deixou a igualdade


de ser a igualdade jurídica do liberalismo para se converter na igualdade material da
nova forma de Estado”.

Essa nova definição de igualdade exige que o Estado trate os iguais como iguais
e os desiguais como desiguais. Trazendo também o anseio de que as desigualdades
econômicas e sociais sejam combatidas, minimizadas e eliminadas.

Num Estado constituído de acordo com os princípios, a partir dos quais, por exemplo,
foi constituído o Estado Brasileiro de 1988, a ideia da igualdade transcende a clássica
ideia de igualdade formal, que alicerçou a Revolução Burguesa de 1789, na França.28

O tratamento formalmente desigual deve visar à redução das desigualdades fáticas


ou materiais, o que equivale a uma nova concepção de justiça, a qual sempre esteve
intrinsecamente vinculada a ideia de igualdade.29

Nessa nova organização social, o Estado assume um papel decisivo no sentido


de não apenas assegurar a igualdade formal, aquela estabelecida pelas normas
constitucionais, mas principalmente de alcançar a igualdade material, que visa garantir
a concretização da liberdade, como uma das principais ações a efetivação dos direitos
das minorias.

Verificamos que a “Dignidade da Pessoa Humana” é componente próprio,


incontestável e intransferível do ser humano, devendo sempre ser perseguida como
propósito maior do Estado Democrático de Direito.

Esse dever do Estado é incisivamente cobrado por Dworkin30, ao sustentar que


“nenhum governo é legítimo a menos que demonstre igual consideração pelo destino de
28
Segundo Bonavides: “Deixou a igualdade de ser a igualdade jurídica do liberalismo para se converter na igual-
dade material da nova forma de Estado. Tem tamanha força na doutrina constitucional vigente que vincula o
legislador, tanto o que faz a lei ordinária nos Estados-membros e na órbita federal, como aquele que no círculo
das autonomias estaduais emenda a Constituição ou formula o próprio estatuto básico da unidade federada”.
Bonavides, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 11. ed. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 341.
29
Ricardo Lobo Torres (1999) sustenta que: “embora entre igualdade e justiça exista um relacionamento íntimo e
profundo, as mesmas não se confundem. A igualdade, como princípio vazio é medida de justiça, vez que está
se torna impensável sem a igual repartição das cargas fiscais. Todavia a igualdade transcende a justiça, eis que
penetra também em outros valores e pode estar presente na própria injustiça”. Torres, Ricardo Lobo. Tratado de
Direito Constitucional Financeiro e Tributário. v. III: Os Direitos Humanos e a Tributação: imunidades e isonomia.
Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p. 333.
30
DWORKIN, Ronald. A Virtude Soberana: a teoria e a prática da igualdade. Trad.: Jussara Simões. São Paulo: Mar-
tins Fontes, 2005. p. IX.

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todos os cidadãos sobre os quais afirme seu domínio e aos quais reivindique fidelidade”.
O referido autor afirma ainda ser “absurdo que o governo não demonstre consideração
pela vida de seus cidadãos, e imoral que demonstre mais consideração pela vida de
alguns do que pela de outros”.31

O objetivo da construção da igualdade pode e deve ser visado por todos os poderes
constituídos. Assim, no exercício das prerrogativas constitucionalmente estabelecidas,
o Executivo, o Legislativo e o Judiciário devem buscar, incondicionalmente, a concreti-
zação da igualdade, nos moldes consagrados pelo novo modelo de Estado ora vigente.

Importante

A efetivação da igualdade substancial é tarefa inalienável dos


três poderes, isto é, se cabe ao Executivo desenvolver políticas
públicas para reduzir as mazelas sociais, cabe ao Legislativo a
tarefa de legislador no sentido de caminhar na direção aponta-
da pela Carta Magna, e cabe ao Judiciário, juntamente com os
demais poderes, a tarefa de fazer valer os princípios que
alicerçam o Estado Democrático de Direito,32 sobretudo, o
princípio da dignidade da pessoa humanae a consequente
redução das desigualdades econômicas e sociais. Só assim
será possível efetivar a Constituição.33

3233

31
Ibid., p. IX e 172.
32
Ferrajoli é enfático quando trata do papel do Judiciário na democracia substancial: “É nesta sujeição do juiz à
constituição e, portanto no seu papel de garantir direitos fundamentais constitucionalmente estabelecidos, que
reside o principal fundamento atual da legitimação da jurisdição e da independência do Poder Judiciário frente
aos poderes Legislativo e Executivo, embora estes sejam – e até porque são – poderes assentes na maioria. Pre-
cisamente porque os direitos fundamentais em que se baseia a democracia substancial são garantidos incondi-
cionalmente a todos e a cada um, mesmo contra a maioria, eles constituem o fundamento, bem mais do que o
velho dogma juspositivista da sujeição à lei, da independência do Poder Judiciário, que para a sua garantia está
especificamente vocacionado”. FERRAJOLI, Luigi. O Direito como Sistema de Garantias. In: OLIVEIRA JUNIOR
José Alcebíades de (org.). O Novo em Direito e Política. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997. p. 101.
33
Conforme explica Scaff, “a praxis é fundamental para o desenvolvimento do Direito, o que não ocorre apenas
com a instauração de normas. Daí porque não basta a criação de normas – como efetuado através da Constitui-
ção de 1988 -, mas é necessário que a cultura das pessoas também mude, a fim de que tais normas (que por si
só já revelam uma mudança) possam ser por elas implementadas, de conformidade com os novos paradigmas
existentes”. Scaff, Fernando Facury. Responsabilidade Civil do Estado Intervencionista. 2. ed. rev. e ampl., Rio
de Janeiro: Renovar, 2001. p. 159-160.

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Não se pode vislumbrar incompatibilidade entre o princípio da igualdade no Estado


de Direito e o princípio da igualdade que visa à redução dos contrastes econômico-
sociais e à redistribuição da renda, enfim, o princípio da igualdade que serve ao Estado
Social ou a democracia concreta. O conceito é uno, assim como é una a ideia de Estado
Democrático de Direito.34

O conceito de justiça formal, segundo o qual seres de uma mesma categoria devem
ser tratados da mesma maneira, conforme formulou Perelman, 35 também não entra em
conflito com a igualdade material. Esta é possível de ser aferida através de critérios de
comparação, os quais permitem agrupar os seres em iguais e desiguais, conforme os
princípios que norteiam a Constituição.

Dentro dessa nova concepção, a igualdade tributária, por sua vez, deve ser pensada
a partir da ideia de que o Estado Brasileiro só pode ser considerado legítimo se visar a
substancializar a igualdade fática.

Importante

A tributação constitui-se num dos principais instrumentos à


redução das desigualdades sociais e, via de consequência, à
efetivação do próprio (novo) Estado Democrático de Direito.

A igualdade material deve ser vislumbrada como um caminho atual, real e factível
para a concretização/efetivação do Estado Democrático de Direito e, por consequência,
do princípio basilar que o sustenta: dignidade da pessoa humana. Esse novo caminho
pode e deve ser construído a partir da utilização de conhecidos instrumentos, tais como
uma adequada interpretação do princípio da capacidade contributiva e a utilização da
extrafiscalidade como meio de concretização dos direitos fundamentais, entre outros.

34
Neste sentido é o entendimento de Mizabel Derzi ao atualizar a obra de Aliomar Baleeiro. BALEEIRO, Aliomar.
Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar. 7. ed. Atual. Misabel Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro:
Forense, 1997. p. 530.
35
Perelman desenvolveu o conceito de justiça formal, a partir da análise das diversas concepções de justiça histo-
ricamente consagradas, tendo concluído que justiça formal é um princípio de ação, segundo o qual os indivíduos
de uma mesma categoria (por isso, denominada de essencial) devem ser tratados da mesma forma. PERELMAN,
Chain. Ética e Direito. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 26.

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Saiba Mais

Nessa linha, Klaus Tipke36 entende a igualdade tributária como coro-


lário da justiça, razão pela qual o tratamento desigual – a priori
injusto – apenas se fundamenta quando o objetivo visado é a efetiva
busca do bem comum. Neste sentido, afirma que “o princípio da
igualdade é uma decorrência do postulado da justiça”.

Pode-se sustentar que, na Constituição Brasileira de 1988, o “bem


comum”, pensado por Tipke, corresponde aos fundamentos e obje-
tivos positivados no texto da Carta, entre os quais, principalmente, o
disposto nos artigos 1º e 3º, porquanto, em última análise, pode-se
afirmar que tais fundamentos e objetivos constituem a razão da
existência desse Estado.

36

Por outro lado, o tratamento discriminatório não poderá ser arbitrário. Essa
vinculação da igualdade com a proibição da arbitrariedade, como refere Alexy,37 foi
construída pela jurisprudência do Tribunal Constitucional Alemão.

36
TIPKE, Klaus. Sobre a Unidade da Ordem Jurídica. In: Schoueri, Luiz Eduardo; Zilveti, Fernando Aurélio (coords.).
Direito Tributário: Estudos em Homenagem a Brandão Machado. São Paulo: Dialética, 1998. p. 69.
37
ALEXY, Robert. Teoria de Los Derechos Fundamentales. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales,
2003. p. 388.

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Importante

De acordo com o entendimento do referido Tribunal, o tratamento


desigual viola a igualdade quando for entendido como arbitrário.
Por decorrência, conforme explica, o legislador está proibido de
tratar os iguais desigualmente, os essencialmente iguais desi-
gualmente e os essencialmente iguais de uma forma arbitraria-
mente desigual.38

38

Nesse sentido, mostram-se plenamente compatíveis com esse modelo de


Estado as discriminações fundadas na manifestação de diversidade de riqueza, isto
é, discriminações concretizadas mediante a exigência de tributos, de uma forma mais
elevada, em relação aos cidadãos que possuem maior capacidade de contribuir para
com a coletividade, e, via de consequência, um tratamento mais favorável para aqueles
que possuem uma menor capacidade contributiva.

38
Ibid., p. 389/390.

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Outro critério que legitima o tratamento diferenciado reside na extrafiscalidade, isto


é, quando – além do objetivo arrecadatório – o Estado utiliza a tributação para atingir
determinados fins, os quais, sem demagogia, devem necessariamente ser aqueles que
assegurem a concretização dos direitos fundamentais e, por consequência, do princípio
da dignidade da pessoa humana.

Pode-se dizer que, como o denominado Estado Democrático de Direito é financiado,


basicamente, pelo pagamento de tributos não vinculados a uma atuação estatal específica,
sendo que sua própria concepção encerra a ideia de solidariedade, pois acarreta um
dever solidário de contribuir para a manutenção e desenvolvimento da sociedade.

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Isso ocorre mediante a utilização do mecanismo da fiscalidade e da extrafiscali-


dade.

Em relação à primeira, o Estado exige do cidadão o pagamento de tributos não


vinculados (especialmente impostos), tendo por fim precípuo a obtenção de receitas,
sendo que, nessa atividade, dispensa ou concede um tratamento menos gravoso àqueles
cidadãos ou grupos com menor capacidade econômica. Se, por um lado, a ideia de
solidariedade social implica tratamento menos gravoso, por outro, impõe a assunção de
um ônus mais significativo para aqueles cidadãos com maior capacidade econômica,
especialmente pela via da progressividade de alíquotas.

A extrafiscalidade, por sua vez, acontece quando a imposição fiscal não tem por
objetivo direto a obtenção de receitas, mas sim a realização de determinado fim no campo
social, econômico ou cultural. Em relação à extrafiscalidade, a ideia da solidariedade
mostra-se presente – tanto no viés da oneração, como no viés da redução da carga –
mediante a concessão de benefícios fiscais. Seja no caso do agravamento, seja no caso
da desoneração fiscal, a presença da ideia de solidariedade é reconhecida, desde que
o objetivo visado seja constitucionalmente justificável. No primeiro caso, aqueles que
suportam uma tributação mais expressiva estão cumprindo o dever de solidariedade com
o restante da coletividade; no segundo caso, toda sociedade divide o ônus decorrente da
concessão do benefício fiscal respectivo, de uma forma solidária.

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6. Referências
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http://www.dombosco.sebsa.com.br/faculdade/revista_direito/10edicao/. Acesso em:
01 abr 2014.

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Unidade 1 - Do Estado Liberal à contemporaneidade brasileira

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EDUCAÇÃO FISCAL:
TRIBUTAÇÃO, ORÇAMENTO
E COESÃO SOCIAL

E S TA D O E
TRIBUTAÇÃO
Sumário

1. Introdução............................................................................................................................. 3

2. O dever fundamental de pagar tributos............................................................................... 5

2.1. O esquecimento dos deveres e a hipertrofia dos direitos.......................................... 5

2.2. O princípio da solidariedade social como alicerce do dever fundamental de pagar


tributos........................................................................................................................... 14

3. A Cidadania Fiscal no Estado Democrático de Direito..................................................... 20

4. O combate à evasão fiscal como condição de exigibilidade dos deveres de


cidadania............................................................................................................................ 25

5. A Educação Fiscal como elemento construtor da cidadania.......................................... 32

5.1. A educação básica como prioridade......................................................................... 33

5.2. Educação Fiscal no Brasil .......................................................................................... 37

6. Considerações finais.......................................................................................................... 42

7. Referências......................................................................................................................... 45
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Unidade 2 - TRIBUTAÇÃO E FUNDAMENTOS DO ESTADO REPUBLICANO:


cidadania e Educação Fiscal ancoradas no dever fundamental de pagar tributos

1. Introdução

A cidadania e a Educação Fiscal – ancoradas no dever fundamental de pagar


tributos – têm como objetivo principal traçar os contornos de uma concepção
contemporaneamente adequada de cidadania, com foco na fiscalidade. Remete então
à Cidadania Fiscal, a partir de uma compreensão e aceitabilidade do dever fundamental
de pagar tributos, do reconhecimento da sua importância para realização dos direitos
fundamentais e do estímulo à participação social, ou seja, Controle Social, permeado pelo
princípio da solidariedade social que fundamenta a Constituição Brasileira.

Efetivamente, não há como exigir a concretização dos direitos fundamentais


sem que haja, em contrapartida, a contribuição dos cidadãos para que tal objetivo seja
alcançado. Dessa forma, não há como concretizar direitos fundamentais sem que haja o
cumprimento, por parte dos cidadãos, de um dos principais deveres de cidadania: pagar
tributos.

Direitos Deveres

Fica evidente porque a realização dos direitos fundamentais – especialmente


aqueles de cunho prestacional – implica a assunção de um significativo ônus financeiro.
Ocorre que tal encargo social vem sendo “esquecido”, porque uma parcela expressiva da
sociedade restringe a concepção de cidadania apenas à esfera dos direitos, descurando
da faceta obrigacional daquela.

3
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Unidade 2 - TRIBUTAÇÃO E FUNDAMENTOS DO ESTADO REPUBLICANO:


cidadania e Educação Fiscal ancoradas no dever fundamental de pagar tributos

Enfim, não é por acaso que este curso tem como ponto de partida a análise do
dever fundamental de pagar tributos, e não os tradicionais direitos fundamentais dos
contribuintes. Isso ocorre porque, antes de falar em direitos, é importante ter em mente
os deveres. Em suma, não há como sustentar a exigência daqueles sem o cumprimento
destes.
1
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Trad.: Plínio Dentzien. Rio de janeiro: Jorge Zahar, 2001. p.45.

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Unidade 2 - TRIBUTAÇÃO E FUNDAMENTOS DO ESTADO REPUBLICANO:


cidadania e Educação Fiscal ancoradas no dever fundamental de pagar tributos

2. O dever fundamental de pagar tributos

Na parte inicial deste curso, aborda-se a questão dos deveres fundamentais,


especificamente o dever fundamental de pagar tributos, no sentido de examinar as razões
pelas quais os deveres fundamentais caíram em esquecimento, paradoxalmente no
mesmo período histórico de reafirmação consensual dos direitos fundamentais.

Este tópico está subdividido em:

- O esquecimento dos deveres e a hipertrofia dos direitos.

- O princípio da solidariedade social como alicerce do dever fundamental de pagar


tributos.

2.1. O esquecimento dos deveres e a hipertrofia dos direitos


No período pós-guerra, houve uma crescente constitucionalização de direitos, que
passaram a usufruir o status de direitos fundamentais. Isso ocorreu, especialmente, em
relação aos direitos sociais, econômicos e culturais, isto é, os direitos fundamentais
entendidos como de cunho prestacional, os quais passaram a ocupar um importante
espaço dentro de várias constituições democráticas que surgiram naquele período.

Observou-se, então, um fenômeno que pode ser denominado de hipertrofia de direitos


fundamentais, na medida em que as constituições passaram a consagrar, formalmente,
uma expressiva gama desses direitos, sem que houvesse a devida preocupação com a
perspectiva para que se tornassem realidade.

Importante

Esse fenômeno ocorreu de uma forma tão expressiva que autores


como Casalta Nabais,2 provocativamente, defendem “menos direi-
tos fundamentais em nome dos direitos fundamentais”, ou seja,
defendem que haja uma menor quantidade de direitos fundamen-
tais e que estes tenham condições de tornar-se algo real.

2
Como menciona José Casalta Nabais, há constituições de 1ª, 2ª e 3ª linha. As constituições de primeira linha
consagram quatro ou cinco direitos fundamentais, sendo que tais direitos são efetivos e respeitados por todos;

5
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Unidade 2 - TRIBUTAÇÃO E FUNDAMENTOS DO ESTADO REPUBLICANO:


cidadania e Educação Fiscal ancoradas no dever fundamental de pagar tributos

Desde então, houve uma significativa preocupação da doutrina e da jurisprudência no sentido


de desenvolver estudos acerca desses denominados novos direitos. Desenvolveu-se, assim, uma
sólida teoria relacionada aos direitos, sem que houvesse o correspondente aprofundamento
teórico sobre a questão dos deveres sociais. Com isso, dá-se uma validação “histórica da ideia
dos direitos humanos, desvinculada da ideia de dever e de valor, na mentalidade social dos povos
ocidentais”, instalando-se, paradoxalmente, “um processo de desmoralização da vida pública”.3

O que se discute, porém, é se a abundância de novos direitos constitucionalmente


positivados não resultou numa forma de banalização dos próprios direitos fundamentais,
e se isso não tem sido um dos fatores que dificultam a realização daqueles direitos
efetivamente imprescindíveis de serem concretizados, com vistas a assegurar uma
existência digna a todos.4

Não se advoga aqui tese contrária à concretização, na plenitude de suas


possibilidades, dos direitos fundamentais. Todavia, não se pode esquecer que só será
possível concretizá-los se houver o razoável cumprimento do principal dever de cidadania.

Inegavelmente, a centralidade do debate sobre direitos fundamentais relegou para


as constituições de segunda linha consagram quinze a vinte direitos fundamentais e, desses, apenas quatro ou
cinco são respeitados e concretizados e há, por fim, as constituições de terceira linha, aquelas que consagram
uma gama enorme de direitos fundamentais, os quais não passam de promessas que iludem toda sociedade.
(Observação feita em arguição de defesa de tese de doutoramento, ocorrida em 13 de janeiro de 2006 na Univer-
sidade de Coimbra).
3
ROBLES, Gregorio. Os Direitos Fundamentais e a Ética na Sociedade Atual. São Paulo: Manole, 2005. p. 18.
4
Conforme explica Casalta Nabais, “se se pretende evitar o risco da panjusfundamentalização e da consequente
banalização dos direitos fundamentais, impõe-se um esforço maior na concretização da ideia de fundamentali-
dade, ancorado na dignidade da pessoa humana, vinculando-a, por exemplo, à satisfação de necessidades vitais
– materiais e espirituais – constantes do ser humano, e não de meros desejos, mais ou menos conjunturais,
claramente secundários e particulares, que os cidadãos podem satisfazer com base exclusivamente no ordena-
mento ordinário”. NABAIS, José Casalta. Algumas Reflexões Críticas sobre os Direitos Fundamentais: ab uno ad
omnes. 75 anos da Coimbra Editora. Coimbra: Coimbra, 1998. p. 997.

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Unidade 2 - TRIBUTAÇÃO E FUNDAMENTOS DO ESTADO REPUBLICANO:


cidadania e Educação Fiscal ancoradas no dever fundamental de pagar tributos

um plano secundário e, muitas vezes, inexistente o espaço destinado pela doutrina para o
debate acerca dos deveres fundamentais. Ressalta-se que as próprias constituições, que
foram generosas quanto aos direitos, quase não trataram dos deveres ou até mesmo se
silenciaram sobre eles.

Importante

O processo de esquecimento dos deveres fundamentais mostra-


-se “manifestamente visível quando confrontado com o trata-
mento dispensado aos direitos fundamentais que dispõem hoje
de uma desenvolvida disciplina constitucional e de uma sólida
construção dogmática”. Isso explica-se, basicamente, pelo “am-
biente de militantismo antitotalitário e antiautoritário que se vivia
quando da aprovação das atuais constituições”. Trata-se de uma
consequência historicamente identificada com um sentimento
vivenciado após a retomada da democracia, sendo que, nas
constituição respectivamente adotadas, percebe-se uma “preo-
cupação, senão mesmo a quase obsessão, de fazer vingar, de
uma vez por todas, a efetiva afirmação e vigência dos direitos
fundamentais”.5

É inequívoco que houve um cômodo abandono da ideia de dever social, estimulada


pelo marcante individualismo do tempo contemporâneo, que empalideceu e fez tornar-se
obsoleta a imprescindível solidariedade social.

5
NABAIS, José Casalta. O Dever Fundamental de Pagar Impostos. Coimbra: Almedina, 2004. p. 673.

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cidadania e Educação Fiscal ancoradas no dever fundamental de pagar tributos

Atualmente, o sentimento de dever apresenta-se de uma forma tênue e tímida;


enquanto o seu oposto, “o sentimento reivindicativo, alcança as maiores cotas de
intensidade, sob um ponto de vista ético, esse fenômeno traduz-se em um decréscimo da
solidariedade e em uma justificação do hedonismo”.6

Como afirma Robles, “as pessoas se sentem, sentimo-nos, portadores naturais de


direitos que todos devem reconhecer, e, ao mesmo tempo, dificilmente pensamos que
pesam sobre nós mais deveres que aqueles necessários a tornar nossa vida mais cômoda
e interessante”.7

6
ROBLES, Gregorio. Os Direitos Fundamentais e a Ética na Sociedade Atual. São Paulo: Manole, 2005. p. 18.
7
Ibid., p. 23/24.

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cidadania e Educação Fiscal ancoradas no dever fundamental de pagar tributos

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Nem sempre foi assim. Houve um período histórico em que os deve-


res fundamentais ocuparam um posto de significativo interesse, tal
qual se verificava em relação aos direitos. Em Roma, a República era
o reino da virtude, cujo funcionamento dependia do cumprimento,
por parte dos cidadãos, de um certo número de deveres: servir a
pátria, votar, ser solidário, aprender. “Neste sentido, a teoria da cida-
dania republicana implicaria que um indivíduo teria não apenas
direitos mas também deveres”.8

Cabe observar que a Declaração dos Direitos do Homem e do Cida-


dão, de 1789, já consagrava expressamente três do deveres funda-
mentais clássicos: o dever de obediência; o dever de pagar impos-
tos; e o dever de suportar a privação da propriedade em caso de
expropriação por utilidade pública. Tais deveres foram consagrados
na maioria dos documentos constitucionais do modelo de Estado
Liberal.

Acesse o documento da Declaração dos Direitos do Homem e do


8
Cidadão de 1789 na Biblioteca Virtual da USP.

8
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7. ed. Coimbra: Almedina,
2006. p. 531.

9
direitos mas também deveres”.8
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Cabe observar que a Declaração dos Direitos do Homem e do IR Cida- ISS IOF ICMS
dão, de 1789, já consagrava expressamente três do deveres funda-
mentais clássicos:
Unidade o dever deEobediência;
2 - TRIBUTAÇÃO FUNDAMENTOSo dever
DO de pagar REPUBLICANO:
ESTADO impos-
tos; e oe dever
cidadania de suportar
Educação a privação
Fiscal ancoradas no da propriedade
dever emde
fundamental caso detributos
pagar
expropriação por utilidade pública. Tais deveres foram consagrados
na maioria dos documentos constitucionais do modelo de Estado
Liberal.

Acesse o documento da Declaração dos Direitos do Homem e do


Cidadão de 1789 na Biblioteca Virtual da USP.

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cidadania e Educação Fiscal ancoradas no dever fundamental de pagar tributos

A importância dos deveres fundamentais reaparece fortemente nos regimes


nacional-socialista e comunista.9

Regime nazista
No regime nazista, “os
deveres fundamentais
dos cidadãos
convertem-se em
deveres fundamentais
dos membros do povo
(dever de serviço de
poderes, dever de
trabalhar, dever de
defender o povo)”.

No regime soviético,
Regime soviético denominado de
comunista, “os direitos
fundamentais eram
também relativizados
pelos deveres
fundamentais: os
indivíduos tinham direitos
conexos com deveres, o
que, nos quadros políticos
dos ex-países comunistas,
acabou por aniquilar os
direitos e hipertrofiar os
deveres”.

Essas desastradas experiências históricas explicam a negligência e o esquecimento


dos deveres fundamentais, na medida em que deram ensejo a uma justificável
desconfiança e receio quanto à amplitude dos poderes conferidos ao Estado para exigi-
los. Por consequência, as constituições surgidas no pós-guerra chegaram ao extremo de
sequer utilizarem o termo dever – como o fez a Lei Fundamental Alemã – ou, quando o
utilizaram, reservaram um modesto tratamento, diferentemente do generoso espaço com
os quais foram contemplados os direitos ditos fundamentais.10
9
Ibid., loc. cit.
10
NABAIS, José Casalta. Algumas Reflexões Criticas sobre os Direitos Fundamentais: ab uno ad omnes. 75 anos
da Coimbra Editora. Coimbra: Coimbra, 1998. p. 986.

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As constituições contemporâneas (especialmente da Itália, Alemanha, Portugal,


Espanha e Brasil) surgiram num período pós-autoritarismo, motivo pelo qual se entende a
“quase-obsessão” por consagrar direitos e negligenciar deveres.

As circunstâncias contemporâneas são outras, e a categoria dos deveres


fundamentais deve ser pensada como parte integrante do Estado Democrático de Direito.
Se não for assim, o debate rumará para o ingênuo, descompromissado e irreal cenário do
“paraíso dos direitos”, no qual se reclamam e, cada vez mais, se reconhecem formalmente
novos direitos, sem que se tenha a devida preocupação com o seu custo social e, portanto,
sem que tais direitos tenham a perspectiva de divorciarem-se da condição de meras
promessas. 11

A questão dos deveres fundamentais não pode continuar ocupando um espaço tão
pouco significativo na teoria constitucional. Seria um pacto de hipocrisia, em que se faz de
conta que se tem direitos – dado que formalmente consagrados – e imagina-se que tais
direitos possam ser assegurados por um ente “sobrenatural” – Estado –, esquecendo-se
de que esse ente nada mais é do que a soma de todos, e não o contraponto da sociedade.

QUANDO O CONTRIBUINTE PAGA O TRIBUTO QUANDO O CONTRIBUINTE NÃO PAGA O TRIBUTO

AL
IT
HO
Es
AL co
la
IT
SP
O
H Esc
ola

11
Uma nota interessante dos movimentos de rua ocorridos no Brasil, em julho de 2013, diz respeito justamente a
isso. De um lado, os manifestantes defendiam “mais saúde e educação” e, por outro lado, pediam a redução dos
impostos. Ou seja, queriam um Estado Social forte e capaz de garantir direitos sociais entendidos como legíti-
mos, todavia, não assumiam o ônus de responder ao questionamento acerca de como financiar “mais saúde e
educação”, para falar apenas de duas das principais reivindicações unissonamente defendidas.

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Com essa postura minimamente comprometida com a realidade, não restará


superado o denominado “dilema típico de nossa época”, segundo o qual todos querem
viver às custas do Estado, mas rejeitam a ideia de que este Estado possa financiar-se
mediante arrecadação de tributos. Desse modo, se esquecem de que é o Estado que vive à
custa de todos.12

Por mais incoerente que possa parecer àqueles que concebem a cidadania apenas
sob a face dos direitos, a própria ideia de dignidade humana está vinculada aos deveres
fundamentais, uma vez que ela “não consiste em cada um exigir seus direitos, mas
sobretudo, consiste em cada um assumir seus deveres como pessoa e como cidadão e
exigir de si mesmo seu cumprimento permanente”.13

Enfim, essa hipertrofia dos direitos fundamentais, paralelamente


ao esquecimento dos deveres fundamentais, causa um nocivo efeito
nas bases estruturais da sociedade. Com ela, a ideia de solidariedade
esvazia-se e, aos poucos, frustram-se as expectativas de concretização
daqueles direitos mais fundamentais, justamente por parte daqueles que
necessitam, substancialmente, que tais direitos deixem de ser apenas
uma parte de uma “bela obra de arte literária” (Constituição).

A partir da crítica relacionada ao menosprezo teórico sobre


os deveres fundamentais, faz-se necessário examinar suas bases
estruturais, dirigindo-se os esforços para uma adequada definição e discussão sobre o
alcance e a eficácia jurídica.

12
Conforme lembra Albano Santos, a partir da questão da evasão fiscal: “De qualquer modo, importa reter que a
indulgência para com a fuga ao imposto contrasta acentuadamente com a prática, muito divulgada, de respon-
sabilizar o Estado por parcelas crescentes da existência dos cidadãos, criando assim, uma incongruência a que
já se chamou o «dilema típico da nossa época»: reclama-se o máximo do Estado mas rejeitam-se as inevitáveis
conseqüências financeiras dessa atitude. Uma tal contradição reconduz, aliás, o fenómeno ao plano ético, uma
vez que só encontra solidez lógica na afirmação de Bastiat de que «todos querem viver à custa do Estado, mas
esquecem que o Estado vive à custa de todos » - o que levou o eminente economista da Escola Liberal ao celebra-
do corolário de que o Estado representa «a grande ficção através da qual toda a gente se esforça por viver à custa
de toda a gente»”. SANTOS, J. Albano. Teoria Fiscal. Lisboa: Universidade Técnica de Lisboa – Instituto Superior
de Ciências Sociais e Políticas, 2003. p. 352.
13
ROBLES, Gregorio. Os Direitos Fundamentais e a Ética na Sociedade Atual. São Paulo: Manole, 2005. p. 123.

13
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2.2. O princípio da solidariedade social como alicerce do dever


fundamental de pagar tributos
Cumpre, primeiramente, analisar as razões pelas quais o dever fundamental de
pagar tributos está intimamente vinculado à ideia de solidariedade social, fazendo-se
necessário um resumo histórico para melhor compreender e colocar a questão.

Cabe reconhecer que, em tempos de individualismo exacerbado, soa estranho


falar em solidariedade, não obstante o considerável risco de se “perder o conceito de
responsabilidade pública”, com a consequente avaria irreparável na consciência dos
cidadãos de “que uma parte de suas vidas deve ser gerida em comum com os outros:
este é o significado real da solidariedade, como ensina a etimologia do termo”. 14

14
SACCHETTO, Cláudio. O Dever de Solidariedade no Direito Tributário: o ordenamento italiano. Trad.: Milene Eugê-
nio Cavalcante Greco e Marco Aurélio Greco. In: Grecco, Marco Aurélio; Godoi, Marciano Seabra (Coords). Solida-
riedade Social e Tributação. São Paulo: Dialética 2005. p. 11.

14
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Quanto à origem do termo, vale lembrar que o substantivo solidum, em latim, significa
a totalidade de uma soma, enquanto o termo solidus tem o sentido de inteiro ou completo,
razão pela qual Konder Comparato afirma que “a solidariedade não diz respeito, portanto,
a uma unidade isolada, nem a uma proporção entre duas ou mais unidades, mas à relação
de todas as partes de um todo, entre si e cada um perante o conjunto de todas elas”.15

A ideia original de solidariedade estava vinculada à existência de mais de um


responsável para a solvência da obrigação. Desse modo, segundo Duvignaud, tratava-
se de “uma questão de números, de reembolso de dívidas, que, através do velho código
de Justiniano, retomado pelas universidades medievais, sugere a origem rigorosamente
individual do direito e da propriedade”.16

Ao longo da história, a ideia de solidariedade teve concepções diversas. A


solidariedade dos antigos correspondia à virtude indispensável na relação com os outros,
dentro de grupos primários (família especialmente); já a denominada “solidariedade dos
modernos” corresponde a um princípio de caráter jurídico ou político, e sua realização
passa pela comunidade estadual, pela sociedade civil ou comunidade cívica.17

A ideia de solidariedade social pode ser entendida como um fenômeno típico da


modernidade, tendo surgido no final do século XIX, com o denominado Estado Social na
Alemanha de Bismarck.

Modernamente, pode ser entendida como fruto de uma reação às privações


suportadas especialmente por trabalhadores no século XIX. Os diferentes movimentos
socialistas da época perceberam que os flagelos sociais não eram cataclismos da
natureza, nem efeitos necessários da organização racional das atividades econômicas.
Tais flagelos nada mais eram do que “produtos necessários do sistema capitalista de
produção, cuja lógica consiste em considerar os trabalhadores e consumidores como
mercadorias, atribuindo-lhes um valor econômico muito inferior ao dos bens de capital”.18

Considerando-se que a ideia de solidariedade está intimamente vinculada à ideia de

15
COMPARATO, Fábio Konder. Ética: direito moral e religião no mundo moderno. São Paulo: Companhia das Letras,
2006. p. 577.
16
DUVIGNAUD, Jean. A Solidariedade: laços de sangue, laços de razão. Trad.: Vasco Casimiro. Lisboa: Instituto
Piaget, 1986. p. 12.
17
NABAIS, José Casalta. Estudos de Direito Fiscal: por um Estado fiscal suportável. Coimbra: Almedina, 2005. p.
85/86.
18
COMPARATO, Fábio Konder, op. cit., p. 579.

15
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comunidade, de pertencer e partilhar obrigações dentro de um grupo ou formação social,


pode-se afirmar, que “a solidariedade pode ser entendida quer em sentido objetivo, em que
se alude à relação de pertença e, por conseguinte, de partilha e de corresponsabilidade
que liga cada um dos indivíduos à sorte e vicissitudes dos demais membros da
comunidade”. Num sentido subjetivo, pode ser entendida como sinônimo de “ética social,
em que a solidariedade exprime o sentimento, a consciência dessa mesma pertença à
comunidade”.19

Ainda pode-se afirmar, na linha de Konder Comparato, que a solidariedade “é o fecho


de abóbada do sistema de princípio éticos, pois complementa e aperfeiçoa a liberdade,
a igualdade e a segurança”. Isso acontece porque, “enquanto a liberdade e a igualdade
põem as pessoas umas diante das outras, a solidariedade as reúne, todas, no seio de uma
mesma comunidade”.20 A ideia de solidariedade “não traz conteúdos materiais específicos,
podendo ser visualizada ao mesmo tempo como valor ético e jurídico, absolutamente
abstrato, e como princípio positivado ou não nas Constituições”. É, sobretudo, uma
obrigação moral ou um dever jurídico, que “informa e vincula a liberdade, a justiça e a
igualdade”.21

Cabe referir, no entanto, que autores como Jean Duvignaud sustentam que está
havendo uma verdadeira banalização da ideia de solidariedade, ao dizer que este termo é
usado por todos, “para confortar a consciência de uns ou para conseguir um esmola da
má consciência de outros”, entendendo que ocorre em relação à ideia de solidariedade
“uma desvalorização que atinge todas as idéias do século passado, sobre cujos destroços
se constroem as interpretações”, as quais ironicamente denomina de “modernistas”.22

Superada essa questão, passa-se a examinar a ideia de solidariedade social dentro


do Estado Fiscal. Para tanto, cabe lembrar, inicialmente, que o Estado é adjetivado de
fiscal, visto que é suportado, fundamentalmente, por tributos unilaterais, isto é, tributos
cuja exigência não implica a realização de uma atuação estatal específica.

19
NABAIS, José Casalta. Estudos de Direito Fiscal: por um Estado fiscal suportável. Coimbra: Almedina, 2005. p. 84.
20
COMPARATO. Fábio Konder. Ética: direito moral e religião no mundo moderno. São Paulo: Companhia das Letras,
2006. p. 577
21
TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional Financeiro e Tributário. v. II: Valores e Princípios Cons-
titucionais Tributários. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. p. 181.
22
DUVIGNAUD, Jean. A Solidariedade: laços de sangue, laços de razão. Trad.: Vasco Casimiro. Lisboa: Instituto
Piaget, 1986. p. 196.

16
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Saiba Mais

É certo que qualquer classificação das espécies tributárias existen-


tes no Brasil implica abertura de um significativo espaço de contes-
tação. Não obstante os verdadeiros “frankenstein” tributários exis-
tentes, pode-se dizer que os tributos bilaterais corresponderiam às
taxas e contribuições de melhoria; os unilaterais, por sua vez,
corresponderiam aos impostos e às contribuições sociais não sina-
lagmáticas, também denominadas de impostos finalísticos (PIS,
COFINS, CPP, CSLL).

Noutros termos, pode-se dizer que como o denominado Estado Fiscal Social é
financiado, basicamente, pelo pagamento de tributos não vinculados a uma atuação estatal
específica, sua própria concepção encerra a ideia de solidariedade, visto que acarreta um
dever solidário de contribuir para a manutenção e desenvolvimento da sociedade.

De todo modo, é preciso recuperar a concepção de solidariedade social como


fundamento da exigência fiscal, pois apenas esta pode justificar a legitimidade de um
modelo de Estado socialmente justo.

Não fossem suficientes as razões de ordem ética e moral expostas, é reconhecível


que um Estado imbuído de tais fins representa uma escolha pragmaticamente mais
acertada, ante a crescente inviabilidade de sobrevivência em um ambiente socialmente
hostil, como se verifica em tantos locais deste país.23

A questão da solidariedade social mostra-se especialmente relevante para garantir


23
Conforme constata Bauman: “Quando a competição substitui a solidariedade, os indivíduos se vêem abandona-
dos à própria sorte, restando-lhes apenas os seus parcos recursos, evidentemente inadequados. A dilapidação e
decomposição dos vínculos coletivos os transformaram, sem o seu consentimento, em indivíduos de jure – mas
circunstâncias poderosas e insuperáveis militam contra a sua ascensão ao modelo postulado dos indivíduos de
fato”. BAUMAN. Zygmunt. Europa. Trad.: Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. p. 101.

17
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que o princípio da dignidade da pessoa humana seja o elemento norteador da tributação.


A viabilidade dessa questão se dará no momento em que a tributação estiver adequada à
efetiva capacidade contributiva do cidadão e quando for utilizada a extrafiscalidade para
a concretização dos direitos fundamentais.

Ao adequar-se a tributação à efetiva capacidade contributiva, deixa-se de tributar


o mínimo vital para existência humana. Nada mais diametralmente oposto à concepção
de dignidade humana do que dispor do indisponível à própria sobrevivência, com vistas a
fazer frente à exigência fiscal.

Por outro lado, ao maximizar a densificação ao princípio da dignidade da pessoa


humana, dá-se a máxima eficácia social aos direitos fundamentais, uma vez que o referido
princípio é reconhecidamente o elemento comum de todos os direitos dessa natureza.

Para que isso aconteça efetivamente, são indispensáveis:

Tributos
a) a exigência de tributos adequados à capacidade
de contribuir daqueles que manifestam tal capacida-
de de uma forma mais expressiva, obtendo-se os re-
cursos necessários para a concretização dos direitos
fundamentais de cunho prestacional;

b) a utilização da extrafiscalidade para estimular ou Políticas públicas


desestimular comportamentos, mediante políticas
Escola

públicas no campo fiscal que tenham como norte a


realização das promessas fundamentais feitas pela
“Constituição Cidadã” de 1988.

18
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cidadania e Educação Fiscal ancoradas no dever fundamental de pagar tributos

Importante

Portanto, o liame da solidariedade é o fundamento que justifica e


legitima o dever fundamental de pagar tributos, haja vista que esse
dever corresponde a uma decorrência inafastável de pertencer-se
a uma sociedade. Faz-se necessário examinar a questão da deno-
minada Cidadania Fiscal em face do dever fundamental de pagar
tributos, uma concepção adequada de cidadania passa pelo reco-
nhecimento de que o cidadão tem direitos, porém, em contraparti-
da, também deve cumprir seus deveres dentro de uma sociedade.

HOMENS E MULHERES
SÃO IGUAIS
EM DIREITOS E OBRIGAÇÕES
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ART. 5º , I.

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3. A Cidadania Fiscal no Estado Democrático de Direito

Numa análise preliminar, pareceria um pouco estranho examinar a questão da


cidadania sob o enfoque que ora se pretende, porquanto a sua concepção mais visível
corresponde à ideia de “direito a ter direitos numa sociedade”. No entanto, a concepção
contemporânea de cidadania não pode implicar a existência de cidadãos que, de uma
forma pouco altruísta, reclamem para si o máximo de direitos e, em contrapartida, se
neguem a contribuir com a sua parcela de esforços para que tais direitos viabilizem-se
num plano fático.

L
ITA
SP
HO

Escola

Assim, não há fórmula viável, nem caminhos factíveis se a ideia de cidadania


restringir-se à ideia de “direito a ter direitos”. Como já examinado, a efetivação
de direitos, especialmente os de cunho social, econômico e cultural, exige uma
gama de recursos por parte do Estado e, tais recursos são obtidos, quase que
exclusivamente, mediante a tributação.

Em relação à face correspondente aos deveres de cidadania, Casalta Nabais menciona


que o dever fundamental de pagar tributos representa um dos principais deveres dentro
de um Estado Social, pois “no atual estado fiscal, para o qual não se vislumbra qualquer
alternativa viável, pelo menos nos tempos mais próximos, os impostos constituem um
indeclinável dever de cidadania, cujo cumprimento a todos nos deve honrar”.24

24
NABAIS, José Casalta. Estudos de Direito Fiscal: por um Estado fiscal suportável. Coimbra: Almedina, 2005. p. 44.

20
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Importante

Sendo assim, é possível afirmar que o dever de pagar tributos é o


principal dever de cidadania, justamente porque, caso tal dever
seja sonegado por parte dos componentes de uma sociedade,
restarão inviabilizadas as possibilidades de realização dos
próprios direitos, especialmente aqueles de cunho prestacional.

Entretanto, se, por um lado, a concepção contemporânea de


“Cidadania Fiscal” implica o dever de pagar tributos, por outro
lado, impõe que esse dever seja exercido nos estritos limites
previstos na Constituição, observados os tradicionais direitos de
defesa que deram ensejo ao liberalismo clássico.

Outra dimensão do dever fundamental de pagar tributos – que decorre diretamente


da ideia de “Cidadania Fiscal” – consiste no direito de participação na tomada de decisões
acerca dos tributos que se está disposto a pagar. Ocorre que tal direito já não pode ser
visto apenas no âmbito da representação parlamentar, pois é quase ingênuo acreditar
que o povo se autotributa, por meio de seus representantes (Legislativo), ideia que serviu
de justificativa para a estrita observância do princípio da legalidade, nos primórdios do
constitucionalismo.

Para Norberto Bobbio, no entanto, há


um importante entrave. Segundo ele,
“tecnocracia e democracia são
antitéticas: se o protagonista da
sociedade industrial é o especialista,
impossível que venha a ser o cidadão
qualquer”. Se, de um lado, a ideia de
democracia “sustenta-se sobre a
hipótese de que todos podem decidir a
respeito de tudo”, por outro, a
tecnocracia “pretende que sejam
convocados para decidir apenas
aqueles poucos que detêm
conhecimentos específicos”.

21
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cidadania e Educação Fiscal ancoradas no dever fundamental de pagar tributos

Há problemas muito mais complexos a resolver nos dias atuais, como inflação,
crise, desemprego, desigualdade social, motivo pelo qual Bobbio entende que a solução
requer conhecimentos científicos e técnicos muito mais profundos para o homem médio
de hoje do que para o homem médio dos primórdios da democracia, apesar de o atual ser
incomensuravelmente mais instruído.25

Importante

É inegável que a questão tributária alcançou um grau de


complexidade que reduz a própria possibilidade de compreensão
por parte de uma parcela muito significativa da sociedade. Para
sanar esse problema, impõe-se a criação de mecanismos de
visibilidade do próprio Estado, especialmente em relação à
transparência da tributação. De qualquer forma, mesmo que
esses mecanismos de visibilidade se verificassem num grau
satisfatório, ainda assim haveria sérias dificuldades de uma
efetiva participação popular na tomada de decisões sobre
aspectos técnicos de uma adequada carga tributária.

Entretanto, não é necessário tamanho aprofundamento da discussão, bastando,


num primeiro momento, que esse debate perpasse pela questão da justiça fiscal, cuja
concepção é facilmente compreendida por todos, independentemente do conhecimento
técnico. Enfim, isso impõe-se porque “os impostos constituem um assunto demasiado
importante para poder ser deixado exclusivamente nas mãos de políticos e técnicos
(economistas)”. Por conseguinte, “todos os contribuintes devam ter opinião acerca dos
impostos e da justiça ou injustiça fiscal que suportam, até porque a idéia de justiça fiscal
não deixa de ser um conceito que também passa pelo bom senso”.26

25
BOBBIO, Norberto. O Futuro da Democracia. 7. ed. São Paulo: Paz e Terra. p. 46.
26
NABAIS, José Casalta. Estudos de Direito Fiscal: por um Estado fiscal suportável. Coimbra: Almedina, 2005. p. 59.

22
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Importante

A outra faceta da “Cidadania Fiscal” (bom senso) assegura aos


membros da sociedade o direito de exigir que todos contribuam
para com a coletividade, conforme sua capacidade econômica.
Por conseguinte, discute-se se seria possível postular judicial-
mente contra o beneficiado ou contra o ente estatal, em decor-
rência do não justificado descumprimento do dever fundamental
de pagar tributos.

É certo que a concessão de benefícios fiscais ou remissões corresponde a um


legítimo mecanismo de intervenção do Estado no campo econômico e social. Todavia, essa
legitimidade apenas estará presente se os objetivos visados forem constitucionalmente
justificáveis, sob pena de tal exoneração afrontar inclusive a ideia de justiça fiscal.

Para uma Cidadania Fiscal, deve-se cumprir, de um lado, com o dever de contribuir,
por outro, resta assegurado ao cidadão o direito de exigir que todos, na proporção da
capacidade econômica, contribuam. No caso específico do Brasil, há instrumentos
adequados para tanto, como a Ação Popular (Lei nº 4.717/65), a Ação Civil Pública (Lei
nº 7.347/85) ou a Ação Direta de Inconstitucionalidade, respeitado, em relação às duas
últimas, o rol dos legitimados para propô-las.

Enfim, a construção de uma concepção adequada de Cidadania Fiscal tem


potencialidades para constituir-se num elemento importante à concretização das
promessas constitucionais não cumpridas (direitos fundamentais sociais especialmente).
Porém, seria ingenuidade afirmar que a mera (re)construção desta ideia poderia dar-se
de uma forma espontânea na sociedade, principalmente naqueles países, como o Brasil,
onde a percepção da atuação do Estado é mínima.

23
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Importante

Em decorrência da visão negativa do papel que o Estado desem-


penha, a evasão fiscal encontra um terreno fértil para sua legiti-
mação perante a sociedade, razão pela qual é preciso encontrar,
pragmaticamente, caminhos viáveis para eficazmente combatê-
-la, pois ela corrói, significativamente, os alicerces da cidadania.

24
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4. O combate à evasão fiscal como condição de


exigibilidade dos deveres de cidadania

Elisão e evasão fiscal são duas formas de se evitar o pagamento de tributos.

A evasão fiscal, também conhecida como


sonegação fiscal, é o uso de meios ilícitos para
evitar o pagamento de taxas, impostos e outros

OS
tributos. Entre os métodos usados para evadir

UT
IB
TR
tributos, estão a omissão de informações, as falsas
declarações e a produção de documentos que
contenham informações falsas ou distorcidas, como
a contratação de notas fiscais, faturas, duplicatas
etc.

A elisão fiscal configura-se num planejamento que utiliza métodos legais para diminuir
o peso da carga tributária num determinado orçamento. Respeitando o ordenamento
jurídico, o administrador faz escolhas prévias (antes dos eventos que sofrerão agravo
fiscal) que permitem minorar o impacto tributário nos gastos do ente administrado.

Diferentemente da evasão fiscal (onde ocorre o fato gerador do tributo e o contribuinte


não paga uma obrigação legal), na elisão fiscal, por meio do planejamento, evita-se a
ocorrência do fato gerador. E, por não ocorrer o fato gerador, o tributo não é devido. Dessa
forma, o planejamento não caracteriza ilegalidade, apenas usa-se das regras vigentes
para evitar o surgimento de uma obrigação fiscal.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Elis%C3%A3o_e_evas%C3%A3o_fiscal

Um elemento de crescente importância dentro do Estado é a questão da evasão


fiscal, haja vista que, cada vez mais, parece ser incontrolável. O fenômeno da evasão fiscal
pode ser explicado, principalmente, pela inexistência de imperativos de ordem moral que
a impeçam e pela incontornável complexidade das relações econômicas e sociais na era
da globalização. 27

27
Em relação ao primeiro fator mencionado, afirma Albano Santos: “De facto, na ausência de imperativos morais
que impeçam a fuga ao pagamento dos impostos devidos, o comportamento dos indivíduos, nesta matéria como
noutras, tende a ser ditado pela ponderação dos custos e dos benefícios em jogo: um hipotético contribuinte
amoral que actue com racionalidade econômica estará disposto a praticar a fraude tributária enquanto o valor
esperado do proveito que daí lhe advem for superior ao valor esperado da penalização em que incorre”. SANTOS,
J. Albano. Teoria Fiscal. Lisboa: Universidade Técnica de Lisboa – Instituto Superior de Ciências Sociais e Políti-
cas, 2003. p. 356/357.

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cidadania e Educação Fiscal ancoradas no dever fundamental de pagar tributos

L
AÍSO
FISCA
BANC
PAR O

Pode-se dizer, inclusive, que há uma aceitação social tácita à evasão fiscal, razão
pela qual não existe, por parte da sociedade, uma reação que tenha por objetivo punir
o infrator. O porque, nas palavras de Gregório Robles, é: “a infração da norma social é
considerada grave quando afeta um valor essencial, de capital importância para o grupo;
para tanto, a reação será severa, contundente”. De outra baila, quando “o valor afetado é
considerado de escassa importância ou de hierarquia inferior, o sentimento de indignação
será leve e difuso, e a reação, caso ocorra, será suave”. 28

28
ROBLES, Gregorio. Os Direitos Fundamentais e a Ética na Sociedade Atual. São Paulo: Manole, 2005. p. 42.

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cidadania e Educação Fiscal ancoradas no dever fundamental de pagar tributos

Importante

Esse sentimento dá-se, especialmente, em face da inexistência


de uma resposta estatal às demandas sociais, bem como em
decorrência da visível e aparentemente incontrolável corrupção e
de desvios de recursos na administração pública. Além do que, o
sentimento de injustiça na repartição da carga tributária (tributa-
ção sem a observância da capacidade contributiva, principal-
mente) traduz-se num componente importante dessa equação.
Não basta que a justiça esteja sendo feita; é fundamental que
haja a percepção de que ela esteja sendo feita. Essa é a condição
de aceitabilidade de qualquer sistema fiscal.

Entretanto, é muito difícil controlar a fraude, especialmente em face da globalização


e da complexidade das relações econômicas, bem como da crescente desmaterialização
do patrimônio. Ou seja, os bens imóveis já não ocupam o espaço de excelência no conjunto
do patrimônio dos cidadãos, uma vez que cederam tal espaço aos bens imateriais (ações,
títulos, direitos de marcas e patentes tecnológicas).

É certo que a ideia de Cidadania Fiscal contraria a aceitabilidade social da evasão.


Conforme alerta Albano Santos: “a fuga ao imposto, quando praticada impunemente
de forma corrente e com uma amplitude significativa, constitui uma fonte inesgotável
de consequências negativas que atingem a sociedade por inteiro”. Um fenômeno desta
natureza “perturba o normal funcionamento da economia, compromete a consecução
dos objetivos prosseguidos pelas políticas econômicas e sociais estabelecidas pelas
autoridades, subverte o princípio republicano da igualdade dos cidadãos perante a Lei”.
Isso tudo, portanto, “acaba por contribuir seriamente para a degradação do sentido cívico
e da moralidade pública”.29

29
SANTOS, J. Albano. Teoria Fiscal. Lisboa: Universidade Técnica de Lisboa – Instituto Superior de Ciências Sociais
e Políticas, 2003. p. 359.

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Os efeitos mencionados são bastante visíveis e estão inter-relacionados, haja vista


que o Estado depende da arrecadação para manter suas contas e executar os objetivos
constitucionalmente consagrados, especialmente a realização dos direitos sociais,
econômicos e culturais.

Importante

Também é importante mencionar que a evasão fiscal causa uma


distorção irremediável na economia, porquanto atenta frontal-
mente contra a lei da livre concorrência. Considerando o peso
que a carga tributária representa no preço final de mercadorias e
serviços, não é difícil perceber que quem tem possibilidades e
opta pela evasão terá condições de competitividade muito dife-
renciadas, comparativamente àquele que se submete ao peso da
carga tributária e, desse modo, necessariamente, embute no
preço o respectivo custo.

No plano da justiça fiscal, o bom contribuinte acaba sendo excessivamente onerado,


já que, em última análise, acaba pagando seu tributo e também aquele que deveria ser
pago por quem o sonegou. É muito difícil sustentar a legitimidade da tributação quando
uma parcela da sociedade consegue de uma maneira eficaz encontrar mecanismos de
burla e fuga fiscal.30

30
Como afirma Albano Santos, “isso resulta numa clara desigualdade perante a tributação e, por conseguinte, im-
plica uma inaceitável sensação de injustiça: Ora, no dizer do Prof. Maurice Duverger, «um dos mais graves golpes
que se podem infligir na igualdade perante o imposto é o de estabelecer uma desigualdade perante a fraude».
Nestas condições, a Justiça Tributária poderá ser gravemente subvertida, com as inevitáveis conseqüências na
aceitação do sistema fiscal pelos cidadãos. De facto, uma situação que oferece a certos grupos ou indivíduos
a cômoda possibilidade de escaparem ao pagamento dos impostos devidos, pelo exemplo que dá, acaba por
representar, forçosamente, um incitamento a outros contribuintes para se subtraírem ao Fisco, com o risco de
gerar uma reacção em cadeia susceptível de provocar sérios danos, não apenas nas tesourarias públicas, mas,
bem mais importante, na própria coesão social”. SANTOS, J. Albano. Teoria Fiscal. Lisboa: Universidade Técnica
de Lisboa – Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, 2003. p. 362.

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ECONOMIA

111001000000

1101010000
00

000
111100000

0000
11010100

GOVERNO CIDADÃOS SONEGADORES

É inadmissível que, especialmente em países como o Brasil, o Estado opte por


solucionar essa questão reduzindo, de um lado, a já mínima proteção social ou, de outro,
instituindo novos tributos ou majorando alíquotas daqueles já existentes, para fazer frente
à diminuição da receita, fruto da evasão fiscal. Ainda que poderosos grupos de pressão
defendam tais soluções, elas provavelmente levariam a uma ampliação das já elásticas
desigualdades sociais, o que seria inaceitável num modelo de Estado cuja tarefa precípua
é combatê-las.

Admite-se, no entanto, que a fraude, embora ilegal e imoral, faz parte do sistema e
que, por mais esforços que sejam empregados, ela não cessará por completo. Isto posto,
deve-se buscar, de uma forma realista, níveis reduzidos e toleráveis da fraude e da evasão,
da mesma forma como ocorre relativamente à questão da corrupção. Isso exigiria uma
postura de incessante enfrentamento da evasão fiscal.31

31
SEGURA, José V. Sevilla. Políticas Y Técnica Tributárias. Madrid: Instituto de Estudios Fiscales – Escuela de la
Hacienda Pública, 2004. p. 162.

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Segundo Sevilla Segura, há três formas de atuação capazes de eliminar a evasão


fiscal, dependendo da variável em que se queira fundamentalmente atuar.

As mais tradicionais procuram reforçar a capacidade coativa da administração


tributária, como recurso para melhorar os níveis de cumprimento das obrigações
pelos contribuintes.

Recentemente, vem consolidando-se um segundo grupo de ações, cujo propósito


consiste em favorecer a aceitação do imposto por parte dos cidadãos, incentivando
o cumprimento voluntário das suas obrigações fiscais.

Finalmente, cabe também reconsiderar a própria estrutura normativa que está sendo
objeto de aplicação, eliminando suas arestas, de forma que resulte em algo mais
compreensível para os cidadãos e mais fácil para a administração.

Deve-se, portanto, insistir na busca de mecanismos eficazes para combater a evasão


fiscal, por exemplo, a ampliação de investimentos em pessoal altamente qualificado, a
informatização das informações, objetivando a existência de um rigoroso cruzamento
de dados, bem como a implementação de mecanismos de controle à corrupção.

Paralelamente, é necessário que as penalidades pelo descumprimento do dever fundamental sejam de


tal modo severas que desestimulem a prática da evasão, para que o raciocínio do “risco/benefício” seja
levado em consideração no momento de, eventualmente, optar-se pela prática delituosa. Para tanto, é
claro que, como qualquer outra penalidade, deve haver um fundado receio/expectativa de que ela venha
a ser aplicada. De qualquer forma, também nesse ponto, deve-se ter uma devida cautela para que a
penalidade imposta não seja desproporcional à infração cometida.

Ainda, para que a fraude seja desestimulada, faz-se necessário que o Estado distribua
equitativamente a carga tributária e, em paralelo, o cidadão possa visualizar claramente os
benefícios sociais oriundos do recolhimento de tributos. Talvez, em países como o Brasil,
seja esse o maior desafio a ser enfrentando no combate à evasão.

Pode-se concluir, assim, que o combate à evasão é um dos importantes elementos


para a construção da Cidadania Fiscal, que passa pela aceitabilidade do dever fundamental
de pagar tributos e pela reconstrução dos mecanismos de solidariedade entre os indivíduos
que compõem uma sociedade.

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É certo que não se trata de um caminho que possa ser percorrido sem agruras
ou dificuldades. No entanto, tomar tal rumo é, inclusive, uma condição para construção
de um modelo tributário mais equitativo, que esteja apto a colaborar decisivamente na
densificação do princípio basilar que norteia a Constituição Brasileira: o princípio da
dignidade da pessoa humana.

Saiba Mais

Clique aqui e saiba um pouco mais sobre sonegação.

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5. A Educação Fiscal como elemento construtor da cidadania

Da análise precedente, constata-se que a


questão da Cidadania Fiscal ocupa um espaço CIDADANIA!

de centralidade entre os múltiplos aspectos EDUCAÇÃO FISCAL


que caracterizam o contemporâneo formato do
Estado Democrático de Direito Brasileiro. Ela
implica um repensar acerca da própria definição
de “cidadania”. Atualmente, tal concepção não
pode restringir-se ao plano dos direitos.

Importante

Quando se afirma que o atual cidadão precisa ter consciência


que a vida em sociedade implica um dever de solidariedade para
com esta e com futuras gerações (transgeracional), parte-se do
pressuposto que a concretização de direitos fundamentais– de
todas dimensões – requer ações no plano individual e estatal, as
quais possam resultar, de uma forma concatenada, na máxima
eficácia daqueles.

Não compete a esse curso tratar das políticas públicas que possam concretizar
os direitos fundamentais, mas sim analisar o financiamento destas políticas mediante
a tributação. Dessa maneira, reconhece-se – num plano teórico –, conforme exposto
largamente até este momento, que o principal dever do cidadão perante o restante da
coletividade, organizada em um Estado, é o dever de pagar tributos.

No entanto, não basta reafirmar que o contemporâneo formato da cidadania não


prescinde do adequado cumprimento do dever fundamental de pagar tributos, se este
dever não for entendido como válido, justo e aceitável. Essa conscientização acerca de um
verdadeiro vínculo obrigacional para com o restante da sociedade tem como pressuposto

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o desenvolvimento da compreensão sobre o modelo de Estado existente e os direitos e


deveres inerentes.

Quando se fala em conhecimento e compreensão, é necessário falar em educação.


A Educação, em sentido mais amplo, pode ser definida como um processo de formação
do ser humano, que visa a prepará-lo para a vida, propiciando-lhe o conhecimento e as
habilidades, que possam fazê-lo capaz de compreender o mundo e agir conscientemente
para modificar a realidade vivida.32

É certo que se trata de um termo com múltiplos significados, além de reconhecer que
o seu conteúdo tem sido utilizado para os mais diversos fins, o que tem colaborado para
o seu próprio esvaziamento axiológico. Por essa razão, faz-se necessário explorar um dos
pilares que alicerçam qualquer sistema educacional, não obstante ainda permaneça em
uma fase embrionária de reconhecimento.

5.1. A educação básica como prioridade


Nas discussões do Brasil do século XXI, invariavelmente, chega-se à conclusão
que o ponto crucial para superar os históricos problemas que assolam a nação reside
na educação. Contudo, é necessário avançar. De que educação se fala? Do acesso ao
conhecimento formal? Da formação de um caráter ético? Ou de treinar alguém para ser
economicamente útil ao mercado de trabalho?

Com a necessária humildade intelectual, é preciso refletir se existe uma mesma


possibilidade de aprendizagem por parte de uma criança que, só ao ingressar no sistema
educacional brasileiro (lá pelos quatro anos de idade), passa a ter os estímulos necessários
a uma adequada formação; comparativamente aquela que, desde os primeiros momentos
da vida, teve o devido estímulo, seja no seio de uma família estruturada, seja mediante
acesso a escolas infantis de qualidade. Ninguém duvida ser este período da existência o
mais decisivo na formação do ser humano, na mais ampla acepção deste termo.

32
RIVILLAS, Borja Díaz; BALTAZAR, Antonio Henrique Lindemberg. Educación Fiscal y construcción de ciudadanía
en América Latina. Disponível em: <http://campus.usal.es/~acpa/sites/default/files/semin_ invest_borja_diaz_ri-
villas_mar-2014.pdf>. Acesso em: 10 mai 2014. p. 11.

33
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Por consequência, é razoável sustentar que o legítimo desejo de uma educação


pública de qualidade passa, necessariamente, por propiciar uma educação infantil
igualmente de qualidade.

Atendimento de qualidade não é


possível em um local no qual as
crianças são apenas deixadas por
suas mães (no mais das vezes por
total necessidade de prover o
sustento da família) para serem
cuidadas por pessoas sem o devido
preparo, comprometidas a
assegurar, tão somente, a satisfação
das necessidades biológicas mais
básicas.

Como uma criança nesta


situação chegará ao primeiro
ano do ensino regular?
Terá – de fato – as mesmas
possibilidades de formação e
aprendizagem?

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É preciso assumir o compromisso de ampliar os investimentos


em educação infantil, e, especificamente, em reches públicas.

Estudos atestam a
importância desses
investimentos iniciais
para tornar os gastos em
educação mais efetivos,
nos níveis avançados, e
para reduzir as
desigualdades
socioeconômicas
intergeracionais.33

33

Ao finalizar este tópico, poderíamos questionar acerca de sua pertinência para a


temática ora abordada, especificamente voltada à tributação, orçamento privado e público,
planejamento, Cidadania Fiscal, Controle Social, Democracia e Democracia Participativa,
enfim, temas sobre a organização e o financiamento do Estado e deveres do cidadão. Em
resposta, é preciso reconhecer que, entre todas as razões para tributar, seguramente, uma
efetiva educação pública de qualidade para todos ocupa o topo das prioridades, sendo
que ela deve ser propiciada, da melhor forma possível, para aqueles que estão dando os
primeiros passos de sua existência.

33
KERSTENETZKY, Celia Lessa. O Estado do Bem-Estar Social na idade da razão: a reinvenção do Estado social no
mundo contemporâneo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 268.

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Caso não se obtenha êxito nesta tarefa, carecerá de legitimidade qualquer tentativa
que se venha a fazer no sentido de conscientizá-los acerca de seus deveres inerentes
à cidadania (pagar tributos em especial), pois restou-lhes inviabilizada as condições
de possibilidade de compreensão, por ter-lhes sido sonegado o mais básico direito de
cidadão: educação formal.

Para falar em Educação Fiscal – como se pretende fazer a seguir – é fundamental


reconhecer previamente que ela tem como pressuposto uma educação básica universal
e de qualidade, desde a primeira infância. Entretanto, isso não impede que os contornos
conceituais, objetivos, organização e abrangência da Educação Fiscal no Brasil não
possam ser examinados.

36
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5.2. Educação Fiscal no Brasil


Em tempos de antifiscalismo explícito, nos quais o ônus de viver em sociedade é
rejeitado veementemente, parece que resta pouco espaço para se falar sobre Educação
Fiscal. Sob os mais diversos fundamentos, o dever constitucional de cidadania é entendido
como ilegítimo, obstruindo as possibilidades de que a concepção de Educação Fiscal
encontre um eco de aceitação perante toda sociedade.

Em que pese esse cenário, é notório que o Brasil tem avançado no trato desta
temática, não obstante isto tenha sido capitaneado, quase que exclusivamente, por
instituições estatais. Neste sentido, todo destaque deve ser dado ao Programa Nacional
de Educação Fiscal – PNEF. O denominado PNEF é um programa de âmbito nacional,
que é trabalhado nas três esferas de poder e coordenado pela Escola de Administração
Fazendária – ESAF com a seguinte estrutura:

Grupo de Trabalho de Educação Fiscal – GEF


Ministério da Fazenda:
Escola de Administração Fazendária – Esaf
– Coordenação-Geral
Receita Federal do Brasil – RFB
Secretaria do Tesouro Nacional – STN
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional – PGFN
Grupo de Ministério da Educação
Trabalho de Ministério do Planejamento:
Educação
Coordenador-Geral de Inovação e Assuntos
Fiscal Orçamentários e Federativos
(GEF) Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle:
Coordenador-Geral de Cooperação Federativa
e Controle Social
Representantes da Secretaria de Fazenda e
da Educação nos estados
Representante do Observatório Social do Brasil
Parceiros convidados

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Grupo de Educação Fiscal nos Estados – GEFE

Gestores Estaduais
SEFAZ
Secretarias de Fazenda dos Estados
RFB Receita Federal do Brasil

Grupo de
Educação Fiscal
nos Estados

UC
Secretarias de Educação dos
CGU

Controladoria-Geral da União (GEFE)

SED
Estados
PC

Parceiros convidados

Grupo de Educação Fiscal nos Municípios – GEFM

Gestores Municipais
SEFIN
Secretarias de Finanças dos Municípios
RFB Receita Federal do Brasil

Grupo de
Educação Fiscal
nos Municípios
UC

(GEFM) Secretarias de Educação dos


CGU

Controladoria-Geral da União
SED

Municípios
PC

Parceiros convidados

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O PNEF constitui um instrumento à disposição da sociedade, objetivando:

a b c

levar incentivar o
sensibilizar o
conhecimentos acompanhamento
cidadão para a
aos cidadãos pela sociedade
função
sobre da aplicação dos
socioeconômica
administração recursos
do tributo;
pública; públicos.

Enfim, pode-se dizer que o Programa visa a criar condições para uma relação
harmoniosa entre o Estado e o cidadão. 34

34
Maiores informações sobre o PNEF estão disponíveis em: <http://www.esaf.fazenda.gov.br/educacao_ fiscal/
pnef/sobre-o-programa>. Acesso em: 10 mai 2014.

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O grande objetivo do Programa Nacional de Educação Fiscal é a construção de uma consciência


voltada para o exercício da cidadania solidária e ética, com transparência e responsabilidade, no
sentido de incentivar a participação do cidadão no controle da gestão pública.

Para tanto, o tributo deve ser visto como um instrumento para


promover mudanças e reduzir as desigualdades sociais. Não é um
fim em si mesmo, sendo que o cidadão, consciente da função social
do tributo, é convocado a participar do processo de arrecadação,
35
aplicação e fiscalização do dinheiro público.

Quanto a uma definição propriamente dita de Educação


Fiscal, pode-se dizer que se trata de um processo de ensino
e aprendizagem, que visa a estimular uma cidadania ativa,
participativa e solidária, mediante a compreensão, tanto dos
direitos fiscais – especialmente relacionados a uma gestão
adequada dos gastos públicos pelos governantes – como de
suas obrigações, especificamente do dever fundamental de
pagar tributos.36

Nesta perspectiva, a Educação Fiscal pode ser entendida


como uma nova prática que tem por objetivo o
L

desenvolvimento de valores, atitudes e habilidades


ITA
SP
HO

Escola
destinadas a estimular nos cidadãos um juízo crítico, a
permear sua relação com o Estado e com outros cidadãos
em matéria fiscal e no contexto de uma convivência
democrática. Este novo enfoque fundamenta-se na
conscientização da função socioeconômica dos tributos,
gestão e controles democráticos dos recursos públicos,
vinculação entre educação, trabalho e as práticas sociais,
exercício efetivo da cidadania e dignidade da pessoa
humana.
3536

Como se pode perceber, a ideia de Educação Fiscal está intimamente conectada com
a própria concepção de democracia. Esse fato a torna mais relevante, no momento que
se constata uma inegável crise de legitimidade que afeta as democracias representativas,
a qual mostra sua face mais expressiva nos países de modernidade tardia, onde há um
significativo processo de marginalização e exclusão social. Esta crise relegou ao dito
cidadão o papel de comparecer periodicamente às urnas para escolher seus representantes,
dos quais poucos se lembram, depois de transcorrido determinado tempo.
35
FILHO, Velocino Pacheco. Educação Fiscal, relacionamento Fisco-contribuinte e moralidade administrativa. Dis-
ponível em: <http://www.educacaofiscal.com.br/artigo.do?artigo.id=32>. Acesso em 10 mai 2014.
36
RIVILLAS, Borja Díaz; BALTAZAR, Antonio Henrique Lindemberg. Educación Fiscal y construcción de ciudadanía
en América Latina. Disponível em: <http://campus.usal.es/~acpa/sites/default/files/semin_ invest_borja_diaz_ri-
villas_mar-2014.pdf>. Acesso em: 10 mai 2014. p. 11.

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cidadania e Educação Fiscal ancoradas no dever fundamental de pagar tributos

Pode-se dizer que a Educação Fiscal representa, assim, o caminho a ser


percorrido para que o cidadão conscientize-se que, ao lado dos direitos fundamentais
constitucionalmente positivados, convivem os deveres inerentes à sua condição.

Nesta seara, a Educação Fiscal corresponde a uma das condições de possibilidade


para que a democracia formal (ora reduzida ao seu aspecto eleitoral) possa trilhar um
caminho que a substancialize, mediante uma participação popular efetiva, tanto na
definição dos contornos da carga tributária, como no reconhecimento social de que pagar
tributos é o preço que se paga por viver em sociedade.

Dica
Para conhecer mais sobre o PNEF, clique aqui.

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cidadania e Educação Fiscal ancoradas no dever fundamental de pagar tributos

6. Considerações finais

HINO DA CIDADANIA (CAMARGO DE MAIO & TIJOLO) - YouTube

É necessário reconhecer que, no pós-guerra principalmente, ocorreu um fenômeno


que pode ser denominado de hipertrofia de direitos fundamentais, haja vista que as
constituições passaram a assegurar uma expressiva gama desses direitos, sem que
houvesse a concomitante preocupação acerca das possibilidades de que esses direitos
viessem a tornar-se realidade. Paralelamente, houve um cômodo abandono da ideia de
dever social, estimulada pelo marcante individualismo do tempo contemporâneo, que
empalideceu e fez tornar-se anacrônica a imprescindível solidariedade social.

A questão dos deveres fundamentais não pode continuar ocupando um espaço tão
pouco significativo na teoria constitucional. Seria um pacto de hipocrisia, no qual se faz
de conta que se tem direitos – posto que formalmente consagrados – e, por outro lado, se
imagina que tais direitos possam ser assegurados por um ente “sobrenatural” – Estado –,
esquecendo-se que esse ente, nada mais é, do que a soma de todos, não o contraponto
da sociedade.

Importante

A hipertrofia dos direitos fundamentais, paralelamente ao esque-


cimento dos deveres fundamentais, causa um nocivo efeito nas
bases estruturais da sociedade, dado que a ideia de solidariedade
esvazia-se e, paulatinamente, frustram-se as expectativas de
concretização daqueles direitos mais fundamentais, justamente
por parte daqueles que necessitam, substancialmente, que tais
direitos deixem de ser apenas parte de uma “bela obra de arte
literária” (Constituição).

Da mesma forma como ocorre com os direitos fundamentais,


cabe reconhecer que os deveres fundamentais sofrem evidentes
limitações, posto que eles existem a partir de dispositivos consti-
tucionais que, implícita ou explicitamente, estabelecem-nos.

42
A hipertrofia dos direitos fundamentais, paralelamente ao esque-
cimento dos deveres fundamentais, causa um nocivo
IPVA efeito nas
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IR IOF
bases estruturais da sociedade, dado que a ideia de solidariedadeISS ICMS

esvazia-se e, paulatinamente, frustram-se as expectativas de


Unidade 2 - TRIBUTAÇÃO E FUNDAMENTOS DO ESTADO REPUBLICANO:
concretização daqueles direitos mais fundamentais, justamente
cidadania e Educação Fiscal ancoradas no dever fundamental de pagar tributos
por parte daqueles que necessitam, substancialmente, que tais
direitos deixem de ser apenas parte de uma “bela obra de arte
literária” (Constituição).

Da mesma forma como ocorre com os direitos fundamentais,


cabe reconhecer que os deveres fundamentais sofrem evidentes
limitações, posto que eles existem a partir de dispositivos consti-
tucionais que, implícita ou explicitamente, estabelecem-nos.

É preciso reconhecer que o denominado Estado Fiscal Social é financiado,


basicamente, pelo pagamento de tributos não vinculados a uma atuação estatal
específica, os quais são exigidos do cidadão, simplesmente porque fazem parte da
sociedade. Assim, também se pode reconhecer que a própria ideia de Estado Fiscal Social
encerra, inequivocamente, a ideia de solidariedade, posto que implica um dever solidário
de contribuir para a manutenção e desenvolvimento de toda sociedade.

Por mais paradoxal que seja, submeter-se à tributação corresponde a um imperativo


de liberdade. A tributação corresponde à condição de possibilidade de concretização das
promessas contidas nos direitos fundamentais, especialmente aqueles de cunho social,
sendo que essa, por sua vez, é o que permitirá que se usufrua uma efetiva liberdade.

Refletindo
Se o papel do Estado, dentro de uma concepção social-contemporânea, impli-
ca intervenção regulatória na economia e promoção da justiça social, faz-se
necessário que este Estado disponha de recursos para fazer frente a tal dever
e, numa economia capitalista, tais recursos são originados da arrecadação de
tributos, ou seja, do cumprimento do dever fundamental de pagar tributos.

Pode-se afirmar, assim, que o dever de pagar tributos é o principal dever de cidadania,
justamente porque, caso tal dever seja sonegado por parte dos componentes de uma
sociedade, restarão inviabilizadas as possibilidades de realização dos próprios direitos.

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cidadania e Educação Fiscal ancoradas no dever fundamental de pagar tributos

Se, por um lado, a construção de uma concepção adequada de Cidadania Fiscal


passa pelo reconhecimento do dever fundamental de pagar tributos, por outro lado,
implica o direito de participação efetiva na tomada de decisão acerca da divisão da carga
tributária, bem como assegura o direito de impedir que haja exoneração ilegítima do
referido dever fundamental. Tal concepção tem potencialidades para constituir-se num
elemento importante à máxima concretização possível das promessas constitucionais
(direitos fundamentais sociais especialmente).

Todas estas considerações finais, no entanto, têm em comum um pressuposto:


a Educação Fiscal. Neste contexto, o processo de Educação Fiscal que vem sendo
progressivamente desencadeado em vários países, e no Brasil em especial, representa
um dos elementos centrais à formação do ser humano para vida em sociedade, a qual
implica viver, inexoravelmente, entre direitos e deveres.

Enfim, a educação para cidadania não se limita a propiciar conhecimento e


habilidades. Viver em “com o outro” requer compreender-se como cidadão, sendo que,
para tanto, é necessário renunciar ao sedutor individualismo da atualidade e entender que
todos os demais são iguais em dignidade e merecedores de consideração. Uma espécie
de compromisso de solidariedade que responsabiliza cada qual pelo destino dos demais.

SOLIDARIEDADE SOCIAL

“Dar de si antes de pensar em si”

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7. Referências

BAUMAN. Zygmunt. Europa. Trad.: Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2006.

BOBBIO, Norberto. O Futuro da Democracia. 7. ed. São Paulo: Paz e Terra.

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Unidade 2 - TRIBUTAÇÃO E FUNDAMENTOS DO ESTADO REPUBLICANO:


cidadania e Educação Fiscal ancoradas no dever fundamental de pagar tributos

ROBLES, Gregorio. Os Direitos Fundamentais e a Ética na Sociedade Atual. São Paulo:


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46
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IOF
ICMS

IR

IPTU

ISS
TLP

EDUCAÇÃO FISCAL:
TRIBUTAÇÃO, ORÇAMENTO
E COESÃO SOCIAL

E S TA D O E
TRIBUTAÇÃO
Sumário

1. Introdução  .........................................................................................................................3

2. A desigualdade na América Latina: causas históricas ....................................................5

3. As bases econômicas da tributação na América Latina ...............................................11

4. Composição da carga fiscal no Brasil ............................................................................14

5. Desigualdade e tributação na América Latina: críticas e sugestões de organismos

internacionais ..................................................................................................................24

5.1. CEPAL – mudança estrutural para igualdade.........................................................25

5.2. BID – não basta arrecadar: a tributação como instrumento de


desenvolvimento.........................................................................................................30

5.2.1.O imposto de pessoa física: uma caixa vazia .............................................34

5.2.2.Tributar os recursos não renováveis pensando no futuro..........................37

5.2.3.Tributar os “males” urbanos para proteger os bens públicos....................38

6. Considerações finais e o Capitalismo no século XXI.....................................................41

7. Referências.......................................................................................................................46

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Unidade 3: Tributação, Igualdade e Coesão Social na América Latina

1. Introdução 

Examinar determinados aspectos de uma


região pressupõe a existência de elementos
comuns entre os diversos países examinados,
suscetíveis de submeterem-se a uma análise
conjuntural. Isso – em certa medida – pode ser
entendido como presente em relação aos países
da América Latina e Caribe.

Os países da região, entre outros elementos


comuns, foram colonizados pelos europeus,
tiveram um passado escravocrata, permanecem
com a situação indígena mal resolvida, além de
não terem obtido êxito na tarefa de solucionar
questões como pobreza extrema e desigualdade, tudo permeado por um desenvolvimento
econômico e social incipiente e por democracias embrionárias.

Como ocorre com qualquer outra região, existem, na América Latina e Caribe,
notórias diferenças internas, as quais, porém, não impedem que se faça uma abordagem
a partir de questões que transcendem os limites geográficos da cada nação, entre elas,
especialmente, a questão fiscal.

Nesta perspectiva, teremos por objetivo examinar como a tributação se apresenta


na parte latina da América, com vistas a identificar os elementos comuns existentes entre
os diversos países da região, no sentido de apurar se o modo de tributar influenciou – e
ainda influencia – nos notórios índices de desigualdade econômica e social existentes,
uma vez que estes têm estreita relação com a coesão social almejada.

A questão fiscal tem sido objeto de atenção de organismos internacionais


compromissados com a propositura de sugestões potencialmente úteis para que esta
parte do planeta alcance níveis de desenvolvimento econômico e social semelhantes aos
denominados países que lograram êxito nesta tarefa. Entre eles, em especial, destacam-
se o EUROSOCIAL II, com a criação da Rede de Educação Fiscal, a Organização das
Nações Unidas - ONU – mediante a Comissão Econômica para a América Latina e o
Caribe - CEPAL – e o Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID.

3
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Unidade 3: Tributação, Igualdade e Coesão Social na América Latina

Num primeiro momento, faz-se necessário examinar – nos limites do possível para
um trabalho desta natureza – as causas históricas da desigualdade na América Latina e
como elas continuam influenciando os elevados níveis de desigualdade ainda evidentes
e profundos nesta parte do mundo.

Num segundo momento, examina-se o formato e o modelo de tributação que vem


sendo adotado pelo Brasil e pelos países latino-americanos, visando a verificar se os
fatos econômicos, entendidos como merecedores da incidência fiscal, são efetivamente
manifestações de capacidade contributiva que possam suportar a exigência estatal.
Além disso, verifica-se a possibilidade de que outros fatos, por ora sub ou não tributados,
possam vir a ser alcançados pela incidência fiscal.

Tome Nota
Depois disso, terão sido traçados os contornos que permitirão analisar pontu­
almente os problemas apontados pelos recentes estudos da CEPAL e do BID,
bem como examinar as soluções propugnadas, cuja aplicabilidade em rela­
ção ao Brasil será objeto de discussão, na medida em que a proposição for
examinada.

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Unidade 3: Tributação, Igualdade e Coesão Social na América Latina

2. A desigualdade na América Latina: causas históricas

Quando se fala da história, sempre há risco de que a análise seja um tanto


reducionista, pois, como já exposto, o perigo da história é que ela parece fácil, mas não
é. Ainda assim, pretende-se, nesse momento inicial, examinar os problemas com os
quais a América Latina vem convivendo ao longo de sua existência. Nesta perspectiva, a
desigualdade social ocupa um espaço de notória importância, além de estar no ponto de
partida de várias outras situações sociais e economicamente indesejadas.

É certo que a região se encontra


entre as mais pobres do mundo e que
a pobreza extrema – de uma parte
expressiva da população – representa
um problema crônico, sendo responsável
por tantas outras mazelas. No entanto,
Ajuda
por mais incompreensível que possa
parecer a tantos, este é um problema
passível de solução, não demandando
esforços faraônicos para atingir êxito.

A pobreza extrema é algo que pode ser superado em curto ou médio prazo, bastando
para tanto a implementação de políticas públicas que estejam aptas a assegurar padrões
mínimos de existência aos “deserdados de expectativas”. 1 Neste sentido, os programas
de renda mínima implementados, em maior ou menor grau, por vários países da região,
correspondem a ações estatais direcionadas a este fim, sendo tendencialmente eficazes
no combate à pobreza extrema.

1
No caso do Brasil, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS, se o Bolsa
Família não existisse, haveria 36 milhões de pessoas na zona da pobreza extrema, número que foi significativa­
mente reduzido desde a implantação do referido programa de renda mínima. Dados disponíveis em: <http://bol­
safamilia10anos.mds.gov.br/themes/bolsa/infografico/superando/superando.html>. Acesso em: 15 abr 2014.

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Unidade 3: Tributação, Igualdade e Coesão Social na América Latina

Veja abaixo o quadro com os programas de renda mínima da América Latina e o


número de beneficiados por ano:

País Programas Beneficiários Ano


Argentina Programa Famílias 2.271.528 2007
Bolívia Juancito Pinto 1.200.000 2007
Brasil Bolsa Família 46.000.000 2008
Chile Chile Solidário 1.024.000 2006
Chile Subsídio Unitário Familiar 1.200.000 2006
Colômbia Famílias em Ação 6.800.000 2007
Colômbia Assistência Escolar - Bogotá 10.000 2007
República Dominicana Solidariedade 2.076.507 2008
Equador Bônus de Desenvolvimento Humano 5.000.000 2006
El Salvador Rede Solidária 800.000 2008
Guatemala Minha Família Progride 1.425.000 2008
Honduras Alocação Familiar 1.224.000 2006
Jamaica Saúde e Educação 300.000 2007
México Oportunidades 25.000.000 2006
Nicarágua Atenção à Crise 18.000 2005
Nicarágua Rede de Proteção Social 216.096 2005
Paraguai Tekoporã / PROPAIS II 600.000 2009
Peru Juntos 2.087.586 2008
Total 97.252.717

Fonte: FISZBEIN; SCHADY; CEPAL

A desigualdade social é um problema muito mais complexo, e não passível de ser


resolvido apenas com a aplicação de recursos públicos, como ocorre com a pobreza
extrema.

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Unidade 3: Tributação, Igualdade e Coesão Social na América Latina

A desigualdade existente no continente americano possui causas


históricas que remontam ao longo período em que a escravidão
fazia parte da realidade das colônias europeias. O verdadeiro
“holocausto negro”, que perdurou por mais quase três séculos,
corresponde a uma de suas raízes históricas mais determinantes.

Além deste, a América Latina patrocinou o holocausto da população indígena,


mediante a simples eliminação física ou a adoção de ações políticas e
econômicas que a marginalizaram e, concomitantemente, impediram que
fosse mantido, em regra, seu modo de vida distinto. Aqueles que buscaram ou
foram forçados a integrar-se na vida econômica e social do restante da
população permaneceram em situação de extrema fragilidade social e esta
realidade é comum em quase todos os países da região.

Neste processo de construção de uma sociedade desigual, a divisão da terra


também ocupou um espaço de notoriedade. Os grandes latifúndios que surgiram – e
muitos continuam a existir – foram um fator determinante de concentração da renda
em uma pequena parcela da população, mediante a exploração, num primeiro momento,
do trabalho escravo e, num segundo momento – e até no presente –,de trabalhadores
que labutam em condições análogas à escravidão. Obviamente, em condições dessa
natureza, a renda obtida permite apenas a própria sobrevivência, tanto quanto o
combustível permite apenas que uma máquina funcione.

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Unidade 3: Tributação, Igualdade e Coesão Social na América Latina

Nos grandes centros urbanos, este processo potencializou-se mediante a


ocupação de áreas periféricas (conhecidas no Brasil como favelas), com alta densidade
populacional, sem os requisitos mínimos de saneamento e moradia.

Fonte: http://ridolfirio.com.br/content/uploads/2014/12/favela-pacificate1.jpg

Neste cenário, coexistem trabalhadores que buscam a satisfação de suas


necessidades básicas, com subempregos mal remunerados e insuficientes para
garantir-lhes o mínimo. Trata-se de um cenário perfeito para proliferação da violência e
multiplicação de atividades ilícitas, principalmente o tráfico de drogas. Em locais com tais
características, restam sonegadas as legítimas expectativas de uma existência digna.

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Unidade 3: Tributação, Igualdade e Coesão Social na América Latina

Paralelamente a este cenário, existem, no continente americano, verdadeiros oásis


de riqueza explícita. A parcela da população que ocupa o topo de pirâmide econômica
vive e consome artigos de luxo, cujo principal valor reside justamente no seu preço, ou
seja, o bem não vale pela utilidade que possa ter, mas sim pelo seu próprio custo, pois
é a publicização deste que permite a ostentação perante os demais. Tornam-se, assim,
invejados e, concomitantemente, odiados, criando-se o contexto perfeito para uma
sociedade conflituosa, desigual e, portanto, distanciada da desejável coesão.

Não obstante as causas históricas que


foram aqui trazidas – mediante uma rápida
e superficial análise – é necessário examinar
quais são as causas que colaboram com a
manutenção do status quo da desigualdade ou
que impedem que os índices representativos
sejam, de fato, minimizados – ou quando
minimizados, este processo seja lento (como
é caso do Brasil, que vem obtendo relativo
êxito nesta tarefa). Como dito, há uma série de
causas, mas o aspecto a ser examinado será a
carga fiscal.

Historicamente, a tributação correspondeu a um meio de redução das desigualdades


sociais, em especial depois do advento do denominado Estado de Bem-Estar Social.

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Unidade 3: Tributação, Igualdade e Coesão Social na América Latina

O que cabe analisar aqui é se, na América Latina, esta função essencial da tributação
vem sendo exercida na plenitude de suas possibilidades ou se, ao contrário, a tributação,
além de não reduzir as desigualdades, tem exercido um paradoxal papel de instrumento
de redistribuição de renda às avessas. Noutras palavras, é preciso avaliar se o modo de
tributar nesta parte do planeta corresponde a um meio de distribuição ou de concentração
de renda. Por isso, a partir de agora, o trabalho analisa como se apresenta a tributação e,
efetivamente, quem está suportando seu ônus na América Latina.

É importante frisar que a tendência de países da América Latina é a de tributar com


mais intensidade o consumo.

IMPOSTOS SOBRE A RENDA X IMPOSTOS SOBRE O CONSUMO


COMPOSIÇÃO DA ARRECADAÇÃO (Em %)
Renda Consumo Contribuições Sociais Propriedade Outros

Brasil EUA Reino Unido

44 18 30
Consumo 23 19
26
44 38
6
Renda 12 Renda 12
21
3 3 3

França México Argentina


38 54,5 52
Contr. Sociais Consumo Consumo
25
21
9 16,5
26,3 9
22 1,5 19
6 1,2 2

O gráfico acima, elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
com dados de 2012, demonstra claramente como a carga tributária que incide sobre as propriedades
representa apenas 6% da arrecadação brasileira, enquanto a carga sobre o consumo, 44%. Os efeitos
dessa composição são nefastos, sobretudo, à população mais pobre, uma vez que essa não é
proprietária. Em comparação com os demais países, apenas o México taxa menos a propriedade,
enquanto até mesmo os Estados Unidos onera mais as propriedades com impostos do que o Brasil.

Resumindo, uma reforma tributária que redistribua a composição da arrecadação


brasileira, tornando-a mais justa, é urgente. Imóveis, automóveis, embarcações,
aeronaves e grandes fortunas devem pagar mais impostos do que pagam atualmente,
isso para não entrarmos no mérito das religiões2.
2
Disponível em: <https://umhistoriador.wordpress.com/2015/08/03/radiografia-da-arrecadacao-brasileira-es­
cancara-urgencia-da-reforma-tributaria/>. Acesso em: 29 mar. 2014.

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3. As bases econômicas da tributação na América Latina

Uma das questões mais importantes a examinar-se num


sistema tributário diz respeito à resposta para a singela pergunta:
quem paga a conta? Isto é, embora pareça simplório assim
referir-se, a justiça fiscal somente será alcançada quando aqueles
que estejam obrigados a contribuir tenham efetivamente capacidade
para tal e quando os detentores de maior capacidade econômica
contribuam de acordo com esta capacidade. Nisso, pois, reside a
justiça ou a injustiça no campo fiscal.

Tradicionalmente, as três manifestações de capacidade


econômica aptas a expressar a possibilidade de contribuir para
manutenção da coletividade residem na renda, propriedade e
consumo. Ou seja, os cidadãos cumprem com o dever de pagar
tributos levando-se em consideração a renda obtida, o patrimônio
existente ou o consumo de determinados bens e serviços. É certo
que há outras bases, mas estas cumprem muito mais um papel de
instrumento de intervenção do Estado, como ocorre com os tributos aduaneiros.

Em países que alcançaram melhores índices de desenvolvimento econômico e


social – os nórdicos principalmente –, a renda representa o principal fator de escolha
daqueles que suportarão o ônus fiscal. Não é por acaso que, nestes casos, o imposto
de renda, com uma sistemática progressiva, corresponde a um dos principais meios de
obtenção de receitas derivadas pelo Estado. Segundo levantamento da Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)3, a média da alíquota máxima nos
países com melhor desenvolvimento é de 50%, ou seja, praticamente o dobro da alíquota
máxima do Brasil, de 27,5%, conforme tabela na sequência:

3
Disponível em: <http://www.oecd.org/fr/bresil/>. Acesso em: 29 mar. 2014.

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Taxação do imposto sobre a renda - Pessoas Físicas


País Alíquota máxima
Bélgica 65,0%
França 54,0%
Alemanha 53,0%
Itália 51,0%
Japão 50,0%
Reino Unido 40,0%
Estados Unidos 39,0%
Brasil 27,5%
Fonte: OCDE

Além do fato de, no Brasil, a alíquota máxima do imposto sobre a renda das pessoas
físicas ser de apenas 27,5%, –até 2016 – ressalta-se que o total arrecadado a título
de imposto de renda pessoas físicas e jurídicas corresponde a 26,94% da arrecadação
tributária, enquanto que, em países membros da OCDE, a média é de 34,90% do total
arrecadado 4. Outro fato digno de anotação é o limite de isenção que permanece reduzido
(R$ 22.499,13), para o ano-calendário de 2016, fazendo com que parte significativa da
população recolha imposto sobre uma renda insuficiente para própria subsistência e
afetando, com isso, o denominado mínimo existencial.

Também a existência de patrimônio denota uma clara e manifesta capacidade


de contribuir para com a coletividade. Embora seja fruto da renda acumulada – e,
portanto, já objeto de anterior tributação –, ser proprietário de bens e direitos representa
economicamente uma manifestação de riqueza. A exação fiscal que leva em consideração,
como base de cálculo do tributo, o valor dos respectivos bens, trata-se, nem tese, de uma
imposição fiscal justa, até porque pode atingir bens que tenham sido adquiridos com
rendas ilicitamente sonegadas.

4
SISTEMA TRIBUTÁRIO: diagnóstico e elementos para mudanças. Brasília: Sindicato Nacional dos Auditores-Fis­
cais da Receita Federal do Brasil, 2010. p. 21.

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A terceira grande manifestação de capacidade contributiva diz respeito ao


consumo. Os bens e serviços consumidos pela população representam – também em
tese – uma demonstração de riqueza, especialmente se estes bens forem de luxo. Para
que a tributação do consumo possa estar adequada à lógica da capacidade contributiva,
o sistema fiscal respectivo deve prever mecanismos que evitem a tributação de bens
de primeira necessidade, sob pena de tornar-se regressivo e também aviltar o mínimo
existencial.

Vale lembrar que o mínimo existencial pode ser definido como o valor necessário
para que uma família média possa prover seu sustento, mediante o atendimento de
necessidades básicas, tais como alimentação, moradia, vestuário, transporte, lazer etc.
Um sistema tributário que esteja comprometido com o princípio da dignidade humana
apenas permite que a incidência fiscal atinja a parcela da renda que não comprometa
uma existência minimamente digna, razão pela qual a exigência de tributos indiretos
sobre o consumo de bens relacionados às necessidades descritas anteriormente fere
claramente o referido princípio.

É certo também que a intributabilidade do mínimo existencial não diz respeito


apenas à proibição da incidência de tributos indiretos sobre bens e serviços de primeira
necessidade. Além disso, ela aplica-se em relação aos impostos incidentes sobre a renda
e o patrimônio, motivo pelo qual um sistema tributário que queira estar subordinado ao
princípio da dignidade humana haverá de estabelecer limites satisfatórios de isenção
fiscal em relação à renda e em relação ao próprio patrimônio.

A partir desses pressupostos, examina-se como a tributação no Brasil e na América


Latina e Caribe ora se apresenta, no sentido de verificar se os princípios mencionados
estão sendo observado pelos países da região.

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4. Composição da carga fiscal no Brasil



Quando se examina a composição da carga tributária brasileira, não há como
desconsiderar sua relação com a desigualdade social. No caso específico do Brasil, há
um componente que dificulta a compreensão do problema. Ele diz respeito ao fato de
estar no rol dos países mais desenvolvidos no plano econômico e, concomitantemente,
ocupar o mesmo rol daqueles mais desiguais.

Pobreza X Riqueza

O Brasil compõe a lista das dez economias mais ricas do mundo, mas também está
alocado na lista das dez economias com as piores distribuições de renda, equiparando-
se a países da região do continente africano ao sul do Deserto do Saara, que foi apontada,
em relatório desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento,
como umas das regiões mais miseráveis do mundo.5

A propósito, Pedro Souza, pesquisador brasileiro do Ipea, – que estudou nos


Estados Unidos com Emmanuel Saez, um dos principais parceiros de Thomas Piketty e
também um dos maiores especialistas do mundo em desigualdade e progressividade do
5
SISTEMA TRIBUTÁRIO: diagnóstico e elementos para mudanças. Brasília: Sindicato Nacional dos Auditores Fis­
cais da Receita Federal do Brasil, 2010. p. 12.

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imposto de renda – orientado por Marcelo Medeiros, grande expoente do país nessa área
e Marc Morgan Milá, supervisionado por Thomas Piketty, publicaram trabalhos sobre
desigualdade brasileira que merecem destaque.

Ambos os trabalhos demonstram que a análise da desigualdade a partir de


declarações tributárias leva à conclusão de uma concentração de renda muito maior do
que a registrada nos estudos efetuados a partir de pesquisas domiciliares, como a Pnad.

Os estudos citados anteriormente revelaram que o Brasil é, senão o mais, um dos


países mais desiguais do mundo. Verificou-se que a grande concentração de renda
observada no Brasil de hoje foi, de modo geral, mantida durante os últimos cem anos.

O trabalho de Milá analisou um período de


99%
1933 a 2013 e concluiu que o 1% mais rico do país
detém atualmente 27% de toda a renda, tendo
havido uma concentração média de 25% da renda 75%
nas mãos desse 1% desde o meio da década de 27%
1970. 25% 1%
Isso significa que, nos últimos 40 anos,
apenas 1 centésimo das pessoas dispõe de ¼ de
toda a renda, restando os outros 75% da renda
para ser repartidos entre 99% da população.

Essa concentração de renda é associada diretamente à pouca tributação dos


mais ricos, pois foram encontradas diferenças gritantes entre a concentração de rendas
tributadas e a concentração de renda total, com já indicavam pesquisadores como Sérgio
Gobetti e Rodrigo Orair.

Assista a reportagem sobre a desigualdade de renda no Brasil, de Sérgio


Gobetti e Rodrigo Orair, disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=2PEkIpzq5Yw.

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Outra constatação da pesquisa de Milá foi de que há um paradoxo no Brasil entre


concentração de renda e investimentos. Durante o período pesquisado, quando havia
maior concentração da renda no topo, observava-se uma queda dos investimentos,
demonstrando que o aumento deles pode estar associado a uma melhor distribuição de
renda, pois foi, inclusive, constatado que, em relação a outros países, os ricos brasileiros
investem menos.

O trabalho de Pedro analisou um período de 1928 a 2012 e concluiu que a queda


de desigualdade acontecida nos últimos anos no Brasil se deu apenas na base, ou seja,
houve uma positiva melhora da vida dos mais pobres, porém não se concretizou uma
queda da desigualdade geral devido à contínua concentração da renda nas mãos dos
mais ricos.

Uma justificativa para isso é que se buscou uma maior distribuição de renda por
meio dos gastos do Estado, mas o regressivo sistema tributário brasileiro não realizou o
seu papel de desconcentrar renda na parte de cima da pirâmide.

Pedro e Medeiros concluem que a


concentração de renda tem muita influência
na desigualdade quando ela é alta. Como 2/3
no Brasil, os 10% mais ricos concentram
90%
entre metade e 2/3 de toda a renda do país
desde 1974, os outros 90% terminam tendo 10%
uma influência menor na movimentação da
desigualdade.

Está cada vez mais claro que


a tributação progressiva é capaz de
desconcentrar a renda no topo e que,
portanto, ela é o início do processo de
redução da desigualdade, que se conclui
num gasto estatal capaz de diluir na base
a renda retirada no topo. Tributação e gastos são fundamentais e complementares para
uma economia mais dinâmica.

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Refletindo
Fica, assim, a reflexão de que: “Quanto mais concentração de renda, mais
fraca fica a economia, com menos investimentos e consumo, e mais fraca
fica a democracia, com menos gente possuindo excessivo poder financeiro, o
que possibilita uma maior interferência dessa pequena parcela da população
nas decisões políticas do país”.

Dessa forma, cabe ao Estado decidir que rumos quer escolher para o Brasil: o de
continuar um país subdesenvolvido no qual poucos milhares controlam muitos milhões
ou de se tornar um país com grandeza, desenvolvido, no qual os graus de desigualdade
permitem o desenvolvimento de um maior número de pessoas, aliado a mais consumo e
investimentos.

O coeficiente de GINI, desenvolvido pelo matemático italiano Corrado Gini, é um


parâmetro internacional usado para medir a desigualdade de distribuição de renda
entre os países. O coeficiente varia entre 0 e 1. Quanto mais próximo de zero, menor a
desigualdade de renda num país, ou seja, melhor a distribuição de renda. Quanto mais
próximo de um, maior a concentração de renda. Observe a evolução do índice de GINI
no Brasil, a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – PNAD,
realizada pelo IBGE:

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64,0
63,4

62,0
61,5
61,2
60,2 60,0 60,0
60,1 59,9
60,0 59,8 59,3
59,5 59,4 59,6 59,9 59,4
59,5 58,7
58,9 58,8 58,7 59,2
58,0
58,1 58,0 58,1
56,9 56,6
56,0
56,0
55,2
54,3
54,0
53,9 53,3
52,6
52,7
52,0
1977
1978
1979
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1992
1993
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
Gni Média

Fonte: PNAD, vários anos.

Observa-se que, apesar de estar longe de ser solucionado, no Brasil, o problema


da desigualdade vem recuando. Enquanto em 2002 o coeficiente era de 59,4, em 2012,
estava em 52,6, o que demonstra uma melhora na distribuição de renda. Contudo, muito
embora, na última década, tenha se constatado um quadro de melhora no processo de
distribuição de renda e redução das desigualdades, pode-se facilmente perceber que isso
se deu “apesar da tributação”, pois nesta, poucas mudanças ocorreram no sentido de
utilizar a sua potencialidade redistributiva de renda, notadamente pela via dos ingressos,
fazendo-se necessário analisar a Carga Tributária Brasileira de forma mais acurada.

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IPVA
IR ISS IOF ICMS

Unidade 3: Tributação, Igualdade e Coesão Social na América Latina

Importante

Quando se examina a questão da carga tributária, é importante


saber que qualquer abordagem que pretenda examinar o seu
tamanho só poderá ser realizada mediante sua comparação em
relação ao Produto Interno Bruto – PIB.

A carga tributária é um índice obtido mediante a comparação entre


a totalidade da riqueza produzida em um país e o valor arrecadado
a título de tributos. No caso do Brasil, percebe-se um incremento
na carga tributária a partir da estabilização da moeda em 1994 até
os primeiros anos deste século, sendo que, após isso, houve relati­
va estabilização. Ela subiu de 27,26% no ano de 1995 para 35,80%,
em 2008. Com a crise econômica veio a baixar, em 2009, para
33,08%, e, em 2012, totalizou 35,85% PIB.6

Saiba Mais

Há controvérsia sobre o percentual da carga tributária brasileira.


Clique aqui e saiba mais em comentário de Mansueto Almeida, eco­
nomista e renomado pesquisador brasileiro.

Confira também o Boletim da Secretaria do Tesouro Nacional (STN).

6
Carga Tributária no Brasil 2012. Disponível em: http://idg.receita.fazenda.gov.br/dados/receitadata/estudos-e­
-tributarios-e-aduaneiros/estudos-e-estatisticas/carga-tributaria-no-brasil/carga-tributaria-2012. Acesso em
25 fev. 2014.

19
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Unidade 3: Tributação, Igualdade e Coesão Social na América Latina

Pode-se afirmar que a carga tributária brasileira, com relação ao Produto Interno
Bruto, não é baixa. Contudo, há países em que a carga tributária é significativamente
maior que no Brasil, sobretudo a dos membros da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico – OCDE, conforme gráfico abaixo, elaborado com dados do
ano de 2013.

Fonte: Carga Tributária no Brasil – RFB/MF: http://idg.receita.fazenda.gov.br/dados/receitadata/estudos-e-tributarios-e­

aduaneiros/estudos-e-estatisticas/carga-tributaria-no-brasil

É incontestável que os referidos países – ao contrário do Brasil – são desenvolvidos


e possuem serviços públicos de qualidade para a população, sem que haja necessidade
da procura de serviços privados, entre diversos outros critérios. No entanto, como o
Brasil compõe a lista de países subdesenvolvidos e não houve efetiva implementação
do Estado Social, considera-se de maior importância a análise sobre como estão sendo
cobrados os tributos, porque “muito pior do que ter uma carga tributária elevada é ter uma
carga irracional e injusta”. Assim, torna-se necessário averiguar de qual setor provém a
maior parte da receita derivada do Estado; quem contribui de forma mais elevada para
esse percentual de arrecadação em relação ao PIB; e sobre quais as bases tributárias
está incidindo essa tributação.

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Unidade 3: Tributação, Igualdade e Coesão Social na América Latina

Segundo dados da Secretaria da Receita Federal, apontados no estudo realizado


pelo SINDIFISCO NACIONAL, mais de 50% do total arrecadado, em 2009 (isso pouco
muda nos anos subsequentes), incidiu sobre o consumo; um percentual pouco relevante,
diante das possibilidades da graduação segundo a capacidade contributiva, sobre a
renda; uma parte irrisória sobre o patrimônio; e o restante, sobre outros tributos da União,
estados, Distrito Federal e municípios, conforme se verifica na tabela a seguir, que vem
acompanhada por um gráfico, justamente para se ter noção da representatividade dos
tributos sobre o consumo em relação ao total arrecado.

Carga Tributária e Variações por Base de Incidência - 2014 x 2013


R$ Milhões % PIB % da Arrecadação
Cód. Tipo de Base Var (p.p. Var (p.p.
2013 2014 Variação 2013 2014 2013 2014
do PIB) da Arrec.)

0000 Total: 1.740419,49 1.847.739,70 107.320,21 33,74% 33,74% - 0,28 100,00% 100,00% 0,00

1000 Renda 315.266,05 332.879,71 17.613,66 6,11% 6,03% - 0,08 18,11% 18,02% - 0,10

2000 Folha de Salários 435.637,87 465.301,80 29.663,93 8,45% 8,43% - 0,02 25,03% 25,18% 0,15

3000 Propriedade 68.510,06 77.077,43 8.567,37 1,33% 1,40% 0,07 3,94% 4,17% 0,24

4000 Bens e Serviços 891.141,93 942.666,55 51.524,62 17,28% 17,07% - 0,02 51,20% 51,02% -0,19

5000 Transações Financeiras 29.162,89 29.819,44 656,55 0,57% 0,54% -0,03 1,68% 1,61% -0,06

9000 Outros 700,69 -5,23 -705,91 0,01% 0,00% -0,01 0,04% 0,00% -0,04

Fonte: Carga Tributária no Brasil – RFB/MF: http://idg.receita.fazenda.gov.br/dados/receitadata/estudos-e-tributarios-e­

aduaneiros/estudos-e-estatisticas/carga-tributaria-no-brasil

Vale ressaltar que estão incluídos, entre os tributos sobre o consumo, o Imposto
sobre Importação – II, sobre Produtos Industrializados – IPI, sobre Operações
Financeiras – IOF, sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS, sobre Serviços –
ISS, Contribuições para o Financiamento da Seguridade Social – Cofins, para o Programa
de Integração Social – PIS, Contribuição Previdenciária Patronal das Empresas – CPP, e
de Intervenção no Domínio Econômico sobre combustíveis – Cide.

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Unidade 3: Tributação, Igualdade e Coesão Social na América Latina

No bolo do consumo, o II, o IPI e o IOF, de competência


TOTAL 54,90%
da União, integram o percentual de 6,36% do total 24,03%
arrecado, a Cofins, o PIS e a CPP somam 24,03% do 2,21%
21,83%
valor arrecadado, o ICMS corresponde a 21,83% da ISS Cofins
arrecadação e o ISS 2,21% do que foi angariado, além ICMS
PIS
de mais 0,47% do total arrecadado a título de
Cide-Combustíveis, totalizando os 54,90% de CPP
participação na arrecadação.

TOTAL 26,94% Com relação à renda, os tributos incidentes sobre a renda


do trabalho somam 10,68% do que foi arrecadado e sobre a
renda do capital 12,40%, sendo composta com mais 3,86%
por tributos incidentes sobre outras rendas, totalizando a
participação de 26,94% na arrecadação.

TOTAL 3,72%
1,27% 0,30% 1,94%
3,83% 10,68%
12,40%
0,05% 0,16%
No tocante ao patrimônio, que participa
3,72% do valor angariado aos cofres públicos,
o ITR participa com 0,05% do total IPTU IPVA
arrecadado, o IPVA com 1,94%, o ITCD com
0,16%, o IPTU com 1,27%, e o ITBI com 0,30%. ITR
ITBI ITCD

14,44%
No que se refere ao percentual de 14,44% da arrecadação, constam outros
tributos federais, estaduais e municipais, bem como taxas e outras
contribuições previdenciárias de entidades filantrópicas, segurados
domésticos e contribuição patronal para a previdência dos servidores.

Já em países mais desenvolvidos, ao contrário do Brasil, a tributação sobre a renda


e o patrimônio constitui o cerne da incidência dos tributos. Nos países-membros da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, por exemplo, os
impostos sobre o consumo representam, em média, 31,90% da tributação total; o imposto
sobre a renda, em torno de 34,90% do total tributado; e sobre o patrimônio, giram na
média de 5,6%. Há outros países em que a tributação sobre o patrimônio ultrapassa 10%,
como no Canadá, na Coreia do Sul, na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos da América.7

7
SISTEMA TRIBUTÁRIO: diagnóstico e elementos para mudanças. Brasília: Sindicato Nacional dos Auditores-Fis­
cais da Receita Federal do Brasil, 2010. p. 14.

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Tributação
total

Imposto sobre
renda 34,90%
Imposto sobre
31,90% consumo

Imposto sobre
5,6%
patrimônio

Em maior ou menor grau, esses elementos que caracterizam o modo de tributar


brasileiro são reproduzidos por outros países da América Latina, razão pela qual a
questão da desigualdade e sua relação com a tributação tem sido objeto de recentes
estudos publicados por respeitados organismos internacionais, com os quais se passa
a ocupar.

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5. Desigualdade e tributação na América Latina:

críticas e sugestões de organismos internacionais

Da análise precedente, constatou-se que


as bases econômicas da tributação na América
Latina privilegiaram o consumo em detrimento da
renda e da propriedade. Houve uma clara opção
por tributar o consumo mediante a incidência
Consumo
de tributos indiretos, sem que tenha havido
uma preocupação com os efeitos regressivos
da adoção desta sistemática, os quais foram
maximizados pela inexistência, ou tímida
utilização, de mecanismos de preservação do
mínimo existencial.
Renda
Reconhecidamente, o Brasil ocupa uma +
posição de destaque na América Latina na esfera Popriedade
política, econômica e social, razão pela qual,
quando se estuda o sistema tributário da região,
é natural que se faça a partir da realidade fiscal brasileira, pois ela corresponde a um
indicativo que acaba influenciando em toda região.

No entanto, pretende-se analisar a questão fiscal em relação a toda América Latina,


no sentido de examinar se esta cumpre sua função de redutor de desigualdades e indutor
de desenvolvimento pautado na sustentabilidade e na coesão social.

Para viabilizar tal intento, este curso utilizar-se-á de estudos e dados apurados
recentemente por dois organismos internacionais voltados para o diagnóstico de
problemas e proposição de soluções para América Latina. São eles:

a) a Comissão Econômica para América Latina e Caribe – CEPAL; e

b) o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID.

24
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5.1. CEPAL – mudança estrutural para igualdade


Ao final de agosto de 2012, ocorreu, em San Salvador, o trigésimo quarto período de
sessões da CEPAL, a partir do qual foi elaborado um documento denominado Mudança
estrutural para Igualdade,8 cuja síntese será objeto de análise a seguir. Tal documento
merece estar no centro das atenções deste estudo, por justamente entender que a busca
da igualdade corresponde a uma condição inescapável para construção de uma América
Latina mais desenvolvida, justa e coesa.

O documento da CEPAL objetiva, mais do que diagnosticar problemas, propor


soluções, sempre levando em consideração as particularidades de cada país da região.
As soluções propugnadas partem do pressuposto de que a busca da igualdade – ou
a redução das desigualdades – corresponde a uma tarefa inadiável e premente para a
América Latina. O estudo amplia propostas apresentadas anteriormente em Brasília/2010,
sintetizadas no título do documento intitulado: A hora da igualdade: brechas para fechar
e caminhos por abrir.

8
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). Mudança estrutural para Igualdade: uma vi­
são integrada do desenvolvimento. Disponível em: <http://www.cepal.org/pses34/noticias/documentosdetraba­
jo/0/47440/2012-ses-34-mudanca_estrutural_sintese.pdf>. Acesso em 15 abr. 2014.

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Unidade 3: Tributação, Igualdade e Coesão Social na América Latina

Observe

Conforme sustenta o estudo, a igualdade como princípio normativo e orienta­


ção impõe que se difunda “ao longo da estrutura produtiva e da trama social,
o desenvolvimento de capacidades, o progresso técnico, plenas oportunida­
des de trabalho e acesso universal a serviços e redes de proteção social”.

A busca pela igualdade corresponde também à “condição da cidadania, de


caráter normativo no campo dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais
e ambientais”, sendo que, para alcançar êxito nesta tarefa, é preciso uma “ordem
democrática deliberativa, com plena participação e voz dos mais diversos atores,
com suas conseguintes tarefas em matéria de promoção, redistribuição, regulação e
fiscalização”.9

A opção por uma mudança estrutural voltada à igualdade implica uma “ruptura com
o paradigma econômico que tem prevalecido na região durante ao menos três décadas”.
O documento reconhece que os países da região obtiveram êxito na adoção de políticas
macroeconômicas, avançando de “forma significativa em algumas frentes, como no
equilíbrio fiscal e no controle da inflação”. Porém, em outras frentes, as políticas estatais
“não avançaram o suficiente e deixaram pendentes temas importantes relacionados
com a igualdade e a mudança estrutural”10. Isso ocorreu, notadamente, em face de uma
insuficiente mudança no campo da tributação.

Não obstante na maioria dos países ter havido uma melhora na arrecadação,
“persistem graves problemas, como a baixa pressão dos impostos em muitos países e o
impacto distributivo regressivo da estrutura tributária”11.

9
Ibid., p. 5.
10
Ibid., p. 40.
11
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). Mudança estrutural para Igualdade: uma vi­
são integrada do desenvolvimento. Disponível em: <http://www.cepal.org/pses34/noticias/documentosdetraba­
jo/0/47440/2012-ses-34-mudanca_estrutural_sintese.pdf>. Acesso em 15 abr 2014.p. 41.

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Unidade 3: Tributação, Igualdade e Coesão Social na América Latina

Importante

O documento reconhece que, na questão da redistribuição da


renda, o gasto público é mais eficaz do que a formatação de um
modelo tributário norteado pela redução das desigualdades. De
qualquer forma, isso não significa que a função redistributiva da
fiscalidade possa ser desconsiderada.

O estudo aponta uma série de fatores pelos quais a fiscalidade na América Latina
não tem cumprido adequadamente com seu papel de indutor redistributivo. São eles:

a) Os países da região enfrentam dificuldades em arrecadar impostos diretos


(potencialmente progressivos), tais como os impostos sobre a renda pessoal e
a propriedade, optando pela cobrança de tributos incidentes sobre o consumo
(tendencialmente regressivos);

b) Há elevados níveis de descumprimento em relação aos tributos diretos –evasão


e elisão – os quais contaminam a equidade horizontal, além de a base de
incidência destes tributos ser muito reduzida;

c) A política fiscal esteve orientada não apenas em gravar o consumo, mediante


a incidência de tributos indiretos, como também se direcionou a gravar
“basicamente as receitas das pessoas jurídicas e, em bem menor medida, as
rendas obtidas por pessoas físicas, o que diminui seu efeito redistributivo”.12

d) “A arrecadação da seguridade social é muito baixa, um sintoma tanto da elevada


informalidade do trabalho como da diversidade de regimes públicos e privados
prevalecentes na região”.13

12
Por exemplo: ao realizar uma comparação com países da União Europeia, onde os impostos diretos e indiretos
ascendem a 16,1 e 11,7% do PIB respectivamente, enquanto na América Latina alcançam 5,4 e 9,6, respectiva­
mente. Na região, os impostos que incidem sobre a renda das pessoas físicas não chegam a representar, em
média, 1% do PIB (no período compreendido entre 2000 e 2008 representaram de fato 0,46% do PIB), enquanto
nos países da OCDE equivalem a 9,1% do PIB. No caso do imposto de renda das sociedades, a diferença também
é significativa, mas bem menor: no período compreendido entre 2000 e 2008, a arrecadação destes impostos
representou, em média, 1,6% do PIB nos países da região e 3,3% do PIB nos países da OCDE. CEPAL, op. cit., p. 41.
13
Ibid., loc. cit.

27
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Unidade 3: Tributação, Igualdade e Coesão Social na América Latina

A partir do diagnóstico dos problemas que afetam a região, o estudo da CEPAL


propõe a adoção de uma política macroeconômica, cujo papel a ser desempenhado por
sua faceta fiscal esteja direcionado: à fiscalidade para igualdade; à atenuação do ciclo
econômico; e à promoção da mudança estrutural.

Em face ao mencionado caráter regressivo da tributação, o qual impede que haja


uma melhora redistributiva da renda na região, o estudo defende que o sistema tributário
seja dotado de maior progressividade, “o que se deve alcançar mediante melhoras na
formulação e na arrecadação do imposto de renda ou ao patrimônio, e na focalização do
gasto”. É notório, contudo, que “existem profundas limitações estruturais, como o tamanho
do setor informal, os níveis baixos de renda média e as debilidades administrativas do
sistema tributário, além das resistências que costumam gerar os impostos diretos”. 14

Importante
Porém, em que pese as referidas dificuldades, “fortalecer o siste-
ma de impostos e sua progressividade é uma condição necessária
não só para promover a igualdade, mas também para construir um
espaço fiscal necessário para que o Estado possa atuar sobre o
ciclo que possa promover a mudança estrutural”.15

Portanto, o estudo da CEPAL identifica, na América Latina, em


maior ou menor grau, os mesmos problemas identificados em
relação ao Brasil, especialmente no que tange à opção pela tributa-
ção indireta, e seu decorrente caráter regressivo. Se a opção for
pela construção de um cenário que esteja voltado à redução das
desigualdades e à busca da coesão social, necessariamente será
preciso dotar os sistemas tributários de um caráter mais progres-
sivo, mediante uma carga tributária incidente, principalmente,
sobre a renda e a propriedade.

15

14
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). Mudança estrutural para Igualdade: uma vi­
são integrada do desenvolvimento. Disponível em: <http://www.cepal.org/pses34/noticias/documentosdetraba­
jo/0/47440/2012-ses-34-mudanca_estrutural_sintese.pdf>. Acesso em 15 abr 2014. p. 62.
15
Ibid., loc. cit.

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Unidade 3: Tributação, Igualdade e Coesão Social na América Latina

Não se pode, contudo, desconsiderar que, entre os países da América Latina, o


Brasil, talvez seja aquele que mais tem exercido o poder de tributar, bastando examinar a
carga tributária comparativamente aos países da região:

Receita tributária total em percentagem do PIB


1990 2000 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Argentina 12,4 18,0 24,7 25,6 26,7 27,6 29,2 30,6 32,2
Bahamas 12,3 15,2 17,2 16,5 16,1 18,9 18,0 17,1 17,5
Barbados 23,2 30,2 31,1 30,5 30,6 32,4 33,1 29,5 30,4
Bolivia 8,1 16,4 25,3 25,9 23,3 26,2 27,6 28,9 28,7
Brazil 25,4 29,5 33,8 32,4 32,4 33,3 33,3 33,6 33,4
C hile 17,0 18,8 21,4 17,2 19,5 21,2 21,5 20,0 19,8
C olombia 9,0 14,6 18,8 18,6 18,0 18,9 19,7 20,0 20,3
C osta Rica 16,1 18,2 22,7 21,2 20,8 21,3 21,3 22,6 22,5
Dominican Republic 7,8 11,7 14,3 12,7 12,3 12,3 13,1 13,9 14,1
Ecuador 7,1 10,1 14,0 14,9 16,3 17,3 19,3 19,2 19,0
El Salvador 10,5 12,1 15,1 14,4 15,1 15,4 16,1 17,0 16,5
Guatemala 9,0 12,4 12,9 12,2 12,4 12,7 12,8 13,0 12,6
Honduras 16,2 15,3 18,9 17,1 17,3 16,9 17,8 18,3 19,8
Jamaica 23,0 22,8 25,0 24,8 25,0 24,5 24,6 25,0 24,2
Mexico 15,5 16,5 20,7 17,2 18,5 19,5 19,5 19,7 19,5
Nicaragua .. 13,0 16,8 16,9 18,0 18,8 19,5 19,9 20,3
Panama 14,7 17,4 17,4 18,0 18,9 18,6 19,4 19,4 18,1
Paraguay 5,4 14,5 14,6 16,1 16,5 16,8 17,7 16,4 17,1
Peru 12,1 14,6 19,0 16,9 17,8 18,5 18,8 18,4 18,8
Trinidad and Tobago 23,4 21,4 29,5 28,4 27,5 26,7 27,4 27,4 28,3
Uruguay 19,6 21,6 26,1 25,8 26,0 26,4 26,7 27,2 27,0
Venezuela 18,1 13,6 14,1 14,3 11,8 13,5 14,2 14,8 18,2

Fonte: OCDEPUBLISHING - Revenue Statistics in Latin America and the Caribbean 2016.
http://www.keepeek.com/Digital-Asset-Management/oecd/taxation/revenue-statistics-in-latin-america-and-the-

caribbean-2016_rev_lat_car-2016-en-fr#page24

Essa maior carga, porém, não tem significado avanços proporcionais ao seu
tamanho, muito provavelmente pelo fato de que, quanto maior for uma carga fiscal
regressiva, mais será reforçado seu conteúdo indutor de desigualdade, o que neutraliza
parcialmente os efeitos de gastos públicos redistributivos.

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5.2. BID – não basta arrecadar: a tributação como instrumento de


desenvolvimento
Como se percebeu no relato anterior, a questão tributária na América Latina vem
despertando interesse e atenção. Não bastasse o estudo realizado pela CEPAL –
organismo vinculado à ONU –, o Banco Interamericano de Desenvolvimento realizou um
profundo estudo da questão fiscal a partir do qual resultou a obra denominada Não basta
arrecadar: a tributação como instrumento de desenvolvimento.16

O estudo do BID está mais voltado


à utilização da tributação como meio Tributação
indutor do desenvolvimento econômico
e social, diferindo, em parte, do estudo da
CEPAL que tem a questão da desigualdade Desenvolvimento
como foco principal. Não obstante isso, econômico e
conforme será examinado, há vários social
pontos do diagnóstico dos problemas
que coincidem com o estudo da CEPAL,
além de outros que são potencialmente úteis à causa propugnada neste trabalho.

Importante

O referido estudo parte do pressuposto de que “os impostos na


América Latina são vistos em grande medida como meio de gerar
receita para manter o funcionamento do governo”, sendo minimi­
zado o potencial como instrumento indutor do desenvolvimento
econômico e social.

Apesar de ter havido uma melhora “notável na qualidade e eficácia das políticas
fiscais na América Latina e no Caribe”, é sabido que “a região ainda tem um longo caminho
16
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Recaudar no basta: los impuestos como instrumento de de­
sarrollo. Disponível em: <http://publications.iadb.org/bitstream/handle/11319/3473/Recaudar%20no% 20bas­
ta%3a%20los%20impuestos%20como%20instrumento%20de%20desarrollo.pdf?sequence=1>. Acesso em: 10
mai 2014.

30
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pela frente e os sistemas da maioria dos países estão longe de exaurir seu potencial de
arrecadação”.

Os principais problemas apresentados pelo estudo são identificados como:

a) arrecadação muita baixa;

b) impostos minimamente progressivos;

c) evasão fiscal generalizada;

d) administrações tributárias excessivamente débeis.17

17

17
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Recaudar no basta: los impuestos como instrumento de de­
sarrollo. Disponívelem: <http://publications.iadb.org/bitstream/handle/11319/3473/Recaudar%20no% 20bas­

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Unidade 3: Tributação, Igualdade e Coesão Social na América Latina

Reconhecidamente, a carga tributária nos países da América Latina e do Caribe


ampliou-se mais do que em qualquer outro lugar do mundo: 2,7 pontos do PIB do começo
da década de 1990 até a segunda metade dos anos 2000 18
. Há, contudo, enormes
deficiências no que tange “a fiscalização das obrigações impositivas, o que ajuda a
explicar as taxas de evasão de impostos de pessoas físicas e jurídicas, que alcançam
cerca de 50% nos dez países para os quais há informações disponíveis”.

A partir do diagnóstico dos problemas, o estudo do BID sustenta que devem ser
realizadas:

a) reformas fiscais que favoreçam os pobres, mediante a


adoção de um imposto de renda mais progressivo, que te­
nha menos isenções, capacidade redistributiva real e que
preserve a renda das famílias mais fragilizadas economi­
camente;

b) que haja sistemas tributários mais simples, com bases


impositivas mais amplas, pois a maioria dos sistemas da
região é excessivamente complexa, sendo que o “resulta­
do, em geral, são impostos que distorcem profundamente
a alocação de recursos e resultam em bases impositivas
limitadas e frágeis”. Segundo o Estudo do BID, a redução
da complexidade, com bases mais amplas, estimularia um
ambiente que incentive a inovação e surgimento de novas
empresas, o que corresponderia a “um dos meios mais
seguros de promover um crescimento com maior produti­
vidade e melhorias sustentáveis do bem-estar e da equi­
dade na região”;

ta%3a%20los%20impuestos%20como%20instrumento%20de%20desarrollo.pdf?sequence=1>. Acesso em: 10


dez 2014. p. 1.
18
Ibid., p. 2.

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Unidade 3: Tributação, Igualdade e Coesão Social na América Latina

c) que as administrações tributárias sejam devidamente


fortalecidas, com vistas a reduzir a evasão fiscal recorren­
te, mediante a “criação de instituições que garantam que
todos os agentes econômicos e cidadãos contribuam com
sua parte para o esforço coletivo são elementos essen­
ciais de coesão social”, pois o estudo reconhece – na linha
da CEPAL – que isso correspondente a um dos principais
“requisitos para a sustentabilidade de qualquer sistema
tributário projetado para apoiar o desenvolvimento”;

d) mediante pactos consensuais, é preciso assegurar que


os governos locais “tenham os recursos necessários para
atuar como agentes do desenvolvimento”.

e) sejam realizadas reformas tributárias pró-desenvolvi­


mento, tendo por objetivo a criação de sistemas tributá­
rios com visão de futuro, pois a região desfruta de uma
extraordinária riqueza natural, a qual vem sendo descon­
siderada na atual sistemática de cobrança de impostos
ambientais ou nos atuais projetos de impostos sobre as
commodities. “Para adaptar o futuro à realidade, os siste­
mas tributários precisam criar incentivos para o uso mais
eficiente de recursos naturais finitos e levar em conside­
ração as necessidades das gerações futuras de latino-a­
mericanos”.19
19

19
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Recaudar no basta: los impuestos como instrumento de de­
sarrollo. Disponívelem: <http://publications.iadb.org/bitstream/handle/11319/3473/Recaudar%20no% 20bas­
ta%3a%20los%20impuestos%20como%20instrumento%20de%20desarrollo.pdf?sequence=1>. Acessoem: 10
dez. 2014. p. 4.

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Unidade 3: Tributação, Igualdade e Coesão Social na América Latina

Os problemas que foram diagnosticados pelo BID podem ser resumidos a seguir e
propiciam que haja um debate acerca da propriedade em apontá-los, bem como sobre
as sugestões apresentadas e ideias defendidas no Estudo. Após a exposição das ideias
defendidas, cabe refletir se tais sugestões são adequadas ou não, mais especificamente,
à realidade brasileira.

5.2.1.O imposto de pessoa física: uma caixa vazia


Segundo o estudo citado anteriormente, o
imposto de renda incidente sobre os rendimentos
Receita dos impostos
das pessoas físicas deveria ser um dos pilares de
1,4% 8,4%
qualquer sistema tributário. Porém, na América
Latina, “seu potencial de arrecadação é em
PIB PIB
grande parte desperdiçado”.

Isso acontece porque a tributação das


Países Países
pessoas físicas da América Latina ocorre apenas latino-americanos desenvolvidos

de forma aparente. Trata-se de um sistema


que foi, na sua essência, esvaziado (por isso da
expressão caixa vazia). Isso ocorreu, em regra,
pela combinação de quatro expedientes:

1) os contribuintes que ganham menos de 1,4 vezes da


renda per capita são excluídos de qualquer obrigação im­
Ganham menos positiva, e apenas aqueles com rendimentos (tributáveis)
de pelo menos 6,5 vezes a renda per capita podem ter par­
1,4 te de sua renda tributada com alíquota máxima;

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Unidade 3: Tributação, Igualdade e Coesão Social na América Latina

2) excessiva generosidade dos benefícios fiscais existen­

50%
tes, os quais correspondem a quase cinquenta por centro
da arrecadação efetiva. Há uma gama de deduções pre­
vista na legislação, concomitantemente a existência de
“isenção mínima relativamente alta, ou faixa de alíquota
zero, que supostamente cumpre essa função”;

Renda capital
3) a renda proveniente do capital tem obtido um tratamen­
to privilegiado;

4) mais de cinquenta por centro da arrecadação potencial


dos impostos de pessoas físicas se perde por evasão.20
+ 50%
20

Uma crítica recorrente em relação à tributação na América Latina diz respeito à


baixa progressividade da tributação. Embora noventa por cento da arrecadação esteja
concentrada nos dez por cento mais ricos, estes restam submetidos às alíquotas efetivas
muito reduzidas (menos de 4%). “Como o imposto de renda arrecada muito pouco, não
tem capacidade de melhorar diretamente a distribuição de renda ou financiar gastos
públicos que poderiam ser redistributivos”.21

20
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Recaudar no basta: los impuestos como instrumento de de­
sarrollo. Disponívelem: <http://publications.iadb.org/bitstream/handle/11319/3473/Recaudar%20no% 20bas­
ta%3a%20los%20impuestos%20como%20instrumento%20de%20desarrollo.pdf?sequence=1>. Acesso em: 10
dez. 2014. p. 6.
21
Ibid., p. 7.

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Unidade 3: Tributação, Igualdade e Coesão Social na América Latina

O estudo relata que o denominado “sistema dual” foi a solução encontrada por
alguns países para ampliar a base impositiva e aumentar a arrecadação do imposto de
renda de pessoas físicas. Sua adoção implica tributar os rendimentos do trabalho com
uma alíquota progressiva e a renda do capital de pessoas físicas com uma alíquota fixa
que seja menor do que a máxima aplicada aos rendimentos do trabalho (e que pode ser
mesmo igual à alíquota mínima).22

Aparentemente, o sistema dual implicaria regressividade. No entanto, o estudo


sustenta que, se houver “um teto de isenção de renda pessoal e uma progressão de
alíquotas que não seja muito íngreme, os rendimentos mais altos do trabalho podem ser
tributados com alíquotas efetivas semelhantes às do capital”.

Se houvesse a tributação da mesma forma de toda renda do capital – com


mecanismos de retenção na fonte – ocorreria uma simplificação do sistema e redução
do risco de evasão e evitar-se-ia a arbitragem fiscal.23

Em relação ao Brasil, a ausência de uma efetiva progressividade no imposto


de renda contrasta inclusive com a norma constitucional que a determina. Há uma
quantidade reduzida de alíquotas e uma alíquota máxima que poderia ser revista para
cima. Além disso, o valor anual da renda das pessoas físicas isentas de imposto para 2016
(R$ 22.499,13) é insuficiente, na medida em que se situa abaixo do mínimo necessário
para sobrevivência de uma família, conforme apurado por órgãos como o DIEESE.

No que tange ao sistema dual propugnado, ele parte do pressuposto de tributar


todas as receitas provenientes do capital, o que no Brasil não ocorre. Neste aspecto, a
legislação brasileira tem conferido um tratamento privilegiado à renda proveniente do
capital. Ocorre aqui a tributação na fonte, com alíquotas menores que as máximas, da
renda obtida nas mais variadas espécies de aplicações financeiras, conforme sugerido
pelo BID. Porém, há importantes rendas desoneradas da tributação, como ocorre com
22
Ibid., p. 8.
23
O Uruguai foi o pioneiro nessa área, introduzindo, em 2006, um tributo com alíquotas progressivas sobre os ren­
dimentos do trabalho e uma alíquota fixa sobre a renda do capital (juros, dividendos, lucros, aluguéis e ganhos de
capital) das pessoas físicas. A maior alíquota para os rendimentos do trabalho é de 25%, que é também a mesma
do imposto de renda das pessoas jurídicas. A renda do capital das pessoas físicas fica em 12%. Existe uma renda
mínima isenta de imposto que deixa cerca de dois terços da população fora do sistema, o que significa que são
necessárias poucas deduções. As receitas aumentaram de 0,9% do PIB, em 2006, para 2,4% em 2008. O imposto
pago pela metade mais pobre da população passou de 12,2% da arrecadação para apenas 3,5%, enquanto a
contribuição do quintil de renda mais alto aumento de 60,4% para 80,5% (e a alíquota efetiva de tributação pas­
sou de 6,2% para 11,2%). Depois da introdução do sistema dual, não ocorreu fuga de capital nem diminuição do
investimento no país, como os críticos da reforma tinham previsto. BID, op. cit., p. 9.

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os valores recebidos a título de distribuição de lucros das pessoas jurídicas, bem como
em relação aos valores pagos a título de juros sobre o patrimônio das pessoas jurídicas
- estes submetidos à alíquota menor de imposto (15%), sendo permitida sua total
dedutibilidade como despesa na apuração do lucro da empresa.

Importante

Quanto à questão da evasão, a realidade brasileira, porém, diverge


daquela corrente no restante da América Latina. A administração
tributária brasileira tem obtido crescente êxito no cerceamento à
evasão fiscal, mediante a adoção de mecanismos reconhecida­
mente eficazes de cruzamento de informações. Já é possível,
inclusive, dispensar a própria entrega da Declaração do Imposto de
Renda Pessoa Física, em alguns casos, pois os dados disponibili­
zados ao Fisco permitem que haja um controle, quase completo,
sobre a renda auferida e despesas pessoais dedutíveis.

5.2.2.Tributar os recursos não renováveis pensando no futuro


O estudo enfrenta a questão atinente à tributação das riquezas naturais não
renováveis lembrando que, se os governos tentarem extrair e tributar toda riqueza no
presente, haverá impacto negativo nos investimentos e nas receitas do amanhã. Nisso
reside o grande dilema da tributação incidente sobre os recursos naturais.24

Outro dilema que se apresenta é: “como extrair a renda máxima e ao mesmo tempo
alterar o mínimo possível às decisões de investimento e produção de um investidor que
está procurando maximizar os lucros totais durante toda a vida projetada do recurso?”

24
Cerca de metade de toda a arrecadação fiscal na Venezuela e em Trinidad e Tobago provém de setores de re­
cursos naturais não renováveis, como petróleo e gás. Mais de um quarto da receita da Bolívia, Chile, Equador
e México deriva desses setores, enquanto a Colômbia e o Peru estão se aproximando desses níveis. Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID). Recaudar no basta: los impuestos como instrumento de desarrollo.
Disponível em: <http://publications.iadb.org/bitstream/handle/11319/3473/Recaudar%20no% 20basta%3a%20
los%20impuestos%20como%20instrumento%20de%20desarrollo.pdf?sequence=1>. Acesso em: 10 dez 2014.
p. 14.

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O estudo do BID lembra que os instrumentos que, até o momento, têm sido utilizados
para tributar o setor correspondem a “uma combinação de royalties tradicionais e
imposto de renda de pessoas jurídicas”. No entanto, essas não seriam as “ferramentas
mais apropriadas para enfrentar o dilema entre a extração de rendas econômicas e a
exploração eficiente de recursos”.25

Tome Nota
Segundo o estudo do BID, “o instrumento ideal de tributação deixaria o retorno
normal do investimento nas mãos do produtor e transferiria todas as rendas
puras para o Estado, sem afetar a produção”. Isso seria apurado levando em
consideração o fluxo de caixa potencial e nos riscos do projeto, calculando-se
uma taxa normal de retorno, sendo que o lucro obtido acima dessa taxa seria
tributado com alíquotas elevadas.26

26

5.2.3.Tributar os “males” urbanos para proteger os bens públicos


Os riscos de danos ambientais e os impostos relacionados com o meio ambiente
podem desempenhar um papel fundamental na melhoria da qualidade do meio
ambiente. Sua principal vantagem é que utilizam o sistema de preços para influenciar no
comportamento de consumidores e produtores, permitindo-lhe interiorizar os custos dos
males que estão produzindo.

O estudo do BID relata uma série de exemplos interessantes de utilização da


tributação como meio de proteção e preservação do ambiente. Quase todos os exemplos
estão relacionados com a denominada extrafiscalidade ambiental.

25
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Recaudar no basta: los impuestos como instrumento de de­
sarrollo. Disponível em: <http://publications.iadb.org/bitstream/handle/11319/3473/Recaudar%20no% 20bas­
ta%3a%20los%20impuestos%20como%20instrumento%20de%20desarrollo.pdf?sequence=1>. Acesso em: 10
dez 2014. p. 14.
26
Ibid., p. 15.

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Refletindo
A crescente preocupação com a questão ambiental não é sem razão de ser.
Ela torna-se maior à medida que se amplia a consciência de que a degrada­
ção do meio ambiente ameaça não só a natureza e o bem-estar social, mas
também a própria manutenção da vida humana.

Em vista disso, a extrafiscalidade (quando a tributação é utilizada como


instrumento de intervenção, visando a um determinado fim) parece ser um
instrumento mais adequado à preservação ambiental, pois permite estimular
ou desestimular comportamentos, tendo como objetivo um meio ambiente
ecologicamente equilibrado.

A utilização de impostos ou contribuições


sociais, visando à defesa do meio ambiente, opera-
se mediante o mecanismo da seletividade, ou
seja, a denominada tributação ambiental pode ser
implementada com a fixação de alíquotas seletivas,
conforme o grau de adequação da atividade,
produtos ou serviços com o objetivo constitucional
de assegurar a todos um meio ambiente
ecologicamente equilibrado.

Dessa forma, a extrafiscalidade seria o instrumento capaz de desestimular certas


atividades, a ponto de ser economicamente mais vantajoso encontrar formas menos
poluentes para o exercício da atividade respectiva. Seria ainda um meio adequado de
estimular comportamentos, atividades ou consumo de determinados produtos, os quais,
sob o ponto de vista ambiental, pudessem ser entendidos como corretos.

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No Estudo do BID, porém, a extrafiscalidade aparece de uma forma muito mais visível
em sua face “punitiva”, pois sustenta que “forçar todos a pagar pelos males que causam à
sociedade deveria ser uma política pública socialmente aceitável”. Isso poderia acontecer
mediante impostos – mecanismo da extrafiscalidade acima explanado – mas também
mediante a cobrança de pedágios ou outros mecanismos de preço. Dessa forma, “os
bens públicos – como qualidade ao ar, segurança rodoviária ou facilidade de transporte
– podem ser protegidos”. Com isso, os governos latino-americanos poderiam “elevar a
arrecadação para ajudar a solucionar os diversos males que corroem a qualidade de vida
nas cidades latino-americanas”.27

27
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Recaudarno basta: losimpuestos como instrumento de de­
sarrollo. Disponívelem: <http://publications.iadb.org/bitstream/handle/11319/3473/Recaudar%20no% 20bas­
ta%3a%20los%20impuestos%20como%20instrumento%20de%20desarrollo.pdf?sequence=1>. Acesso em: 10
dez 2014. p. 18.

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6. Considerações finais e o Capitalismo no século XXI


O conteúdo apresentado até aqui permitiu traçar os contornos que balizam o
modo de tributar na América Latina, não perdendo de vista os traços característicos da
tributação brasileira, os quais se aproximam em muitos aspectos àqueles vivenciados
no restante da região.

É inegável que a desigualdade social é um problema histórico e um dos principais


desafios a serem enfrentados pelos governos latino-americanos, reconhecendo-se que,
nesta questão, as causas históricas que justificam os níveis de desigualdade no restante
da região coincidem em larga escala com as causas da desigualdade social persistente
em “Terrae Brasilis”.

É certo que a questão fiscal corresponde apenas


a uma das causas da desigualdade. No entanto, não

se trata de uma causa que possa ser desprezada.

Tanto em nível nacional como no restante da região,

pode-se afirmar que a tributação, além de não cumprir


seu papel de redutor de desigualdades, foi e continua
sendo uma maneira perversa e eficaz de fazer-se uma
espécie de redistribuição de renda às avessas.

Esse processo deu-se em razão de uma combinação de vários fatores, entre os


quais destaca-se a opção pela tributação do consumo, em detrimento da renda e da
propriedade, resultando em um modelo de tributação altamente regressivo e indutor da
desigualdade. Além disso, a tributação da renda não observa a eficazmente testada regra
da progressividade, mecanismo muito caro, por exemplo, para as sociais democracias
que lograram a construção das sociedades menos desiguais do mundo.

Quando organismos internacionais direcionam seus esforços na compreensão


dos problemas vivenciados na América Latina, acabam constatando estas situações
que, notoriamente, servem de instrumento de produção de desigualdades sociais. Não
obstante vários governos da região tenham obtido êxito com políticas públicas voltadas
ao combate da pobreza extrema – inclusive com reflexos importantes na redução das
desigualdades – é inegável que o avanço teria sido maior se o modo de tributar também
estivesse comprometido com a causa.

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Saiba Mais

As preocupações manifestadas nos estudos da CEPAL e do BID


ganharam importante contribuição, no plano acadêmico, com a
recente publicação da obra do professor francês Thomas Piketty,
denominada: O capitalismo no Século XXI.28

Trata-se de um estudo que condensa uma pesquisa de quinze anos


e examina a questão da desigualdade social a partir de dados cole­
tados em vinte países, com os quais se fundamenta a tese de que o
capitalismo amplia as desigualdades e, diferentemente do que Marx
apregoava, não tende ao colapso, mas sim à sua própria perpetua­
ção. Isso ocorre sempre que o crescimento econômico for inferior à
taxa de retorno do capital, algo que invariavelmente tem se verifica­
do nos últimos trinta anos nos países ocidentais.

28

O estudo não levou em conta dados da maioria dos países da América Latina
(Brasil, em especial). Todavia, tem o mérito de fazer uma análise histórica da questão da
desigualdade e demonstrar que ela vem se ampliando nos últimos anos, em quase todos
os países pesquisados.

28
PIKETTY, Thomas. Le Capital au XXI siècle. Paris: Éditions du Seuil, 2013.

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Fique Ligado
O que chama atenção no extenso estudo são as soluções defendidas ou
caminhos potencialmente úteis para a superação dos efeitos negativos do
capitalismo, já que o autor não defende a extinção deste modelo econômico.
Entre as soluções propugnadas, está a necessidade de se repensar a
progressividade tributária e aplicá-la, de uma forma eficaz, não apenas em
relação aos impostos sobre a renda, mas também sobre a propriedade e
sobre o capital.29

29

O autor relata e exemplifica que os Estados Unidos optaram pela progressividade


tributária dos impostos sobre a renda e o patrimônio, de uma forma efetiva, desde
meados da segunda década do século XX, permanecendo com esta sistemática até o
início dos anos 1980 (com alíquotas máximas superiores a 70% sobre a renda). Sustenta
também que isso colaborou significativamente para a manutenção de níveis reduzidos
de desigualdade neste mesmo período na sociedade americana.30

Num plano internacional, defende a importância de se discutir a instituição de um


imposto mundial sobre o capital. Não obstante o caráter utópico de tal ideia, sustenta
que se trata de uma utopia útil, pois o objetivo de um imposto desta natureza, muito
mais do que financiar o Estado Social, é regular o capital internacional e, com isso, ter
um mecanismo tendencialmente eficaz para evitar crises financeiras e bancárias. Para
contornar os naturais entraves de um imposto sobre o patrimônio, em nível mundial,
sustenta que haja uma transmissão automática das informações bancárias, relativamente
aos ativos, incluindo-se aqueles que se encontram em bancos estrangeiros.31

29
PIKETTY, Thomas. Le Capital au XXI siècle. Paris: Éditions du Seuil, 2013. p. 793/809.
30
Ibid., p. 805.
31
Ibid., p. 836 e 846.

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Conheça o mapa da desigualdade no mundo e a realidade brasileira.

DESIGUALDADE NO MUNDO
1% 80
%
detém detém
apenas
50% 5,5%
da riqueza
da riqueza
DESIGUALDADE NO BRASIL
Adaptado de: OXFAM e RECEITA FEDERAL DO BRASIL

0,2 50
% %
detém detém
apenas
40,8% 2%
da riqueza
da riqueza

Importante

Enfim, se a questão da desigualdade representa um problema


preocupante para países, em sua maioria, desenvolvidos, esta
preocupação deve ocupar um espaço de centralidade na América
Latina, pois em poucos locais deste planeta constata-se uma
divisão da renda e da propriedade tão pouco equitativa. Quando se
reconhece isso, também se admite que a tributação pode ser um
instrumento potencialmente eficaz para reduzir tal desigualdade,
como comprovam estudos como os da CEPAL, BID, bem como a
obra de Piketty, aqui brevemente analisada.

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Por isso, as reformas fiscais que estejam norteadas pela redução das desigualdades
sociais correspondem a tarefas inadiáveis de todos os governos da região, uma vez
que representam o ponto de partida para uma caminhada rumo à construção de uma
América Latina mais justa, igualitária e socialmente coesa para, com isso, ser edificada
uma realidade menos conflituosa e permeada por democracias substanciais e sólidas.

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7. Referências

Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Recaudar no basta: los impuestos


como instrumento de desarrollo. Disponível em: <http://publications.iadb.org/bitstream/
handle/113 19/3473/Recaudar%20no%20basta%3a%20los%20impuestos%20como%20
instrumento%20de%20desarrollo.pdf?sequence=1>. Acesso em: 10 mai 2014.

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PIKETTY, Thomas. Le Capital au XXI siècle. Paris: Éditions du Seuil, 2013.

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RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. 3. ed. São Paulo:
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IPVA COFINS

IOF
ICMS

IR

IPTU

ISS
TLP

EDUCAÇÃO FISCAL:
TRIBUTAÇÃO, ORÇAMENTO
E COESÃO SOCIAL

E S TA D O E
TRIBUTAÇÃO
Sumário

1. Introdução ..........................................................................................................................3

2. A definição e o alcance do princípio da dignidade da pessoa humana..........................5

2.1 O princípio da dignidade da pessoa humana na Constituição Brasileira de 1988.......7

3. Os direitos fundamentais e suas dimensões/gerações ................................................10

4. Os direitos fundamentais de primeira dimensão/geração como limitadores da ação

estatal no campo tributário ............................................................................................15

4.1. Princípios constitucionais tributários decorrentes dos direitos fundamentais de

primeira dimensão .....................................................................................................16

4.1.1. Princípio da legalidade .....................................................................................20

4.1.2. Princípio da anterioridade ................................................................................22

4.1.3. Princípio da irretroatividade.............................................................................26

4.1.4. Princípio da vedação ao confisco....................................................................28


4.1.5. Princípio da liberdade de tráfego.....................................................................28


5. Os direitos fundamentais de ordem social, econômica, cultural e de solidariedade e a

tributação como instrumento de concretização ...........................................................30

5.1. Princípio da igualdade ou isonomia........................................................................32

5.2. Princípio da capacidade contributiva......................................................................32

5.2.1. Princípio da progressividade ...........................................................................34

5.2.2. Preservação do mínimo existencial.................................................................36

5.2.3. Princípio da seletividade (IPI e ICMS) .............................................................37

6. Imunidades.......................................................................................................................39

7. Síntese e considerações finais........................................................................................44

8. Referências.......................................................................................................................47

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aos limites do poder de tributar

1. Introdução

Em maior ou menor grau, o princípio da dignidade da pessoa humana é o alicerce


de todos os direitos fundamentais constitucionais. Por decorrência lógica, à medida que
tais direitos forem concretizados, este princípio alcançará sua máxima eficácia. Dessa
forma, num plano fático, se a tributação respeitar e visar à concretização de tais direitos,
automaticamente potencializará a eficácia do princípio maior da Constituição Brasileira.

Na sequência, examina-se a definição e a classificação dos direitos fundamentais,


tendo como perspectiva a relação destes com a tributação, razão pela qual, após o
estudo daqueles direitos classificados como de primeira geração/dimensão, relaciona-
se os princípios constitucionais tributários deles decorrentes, notadamente aqueles
que limitam o exercício do poder de tributar. Essa sistemática também é adotada em
relação aos direitos fundamentais classificados como de segunda geração/dimensão,
examinando-se em conjunto com os princípios constitucionais que estão mais
intimamente conectados a eles.

É certo que toda e qualquer classificação corresponde ao exercício quase arbitrário


do autor em agrupar determinados elementos em um mesmo conjunto. No entanto, a
opção de abordagem anteriormente explicitada justifica-se, na medida em que sustenta
haver uma intrínseca relação entre os direitos fundamentais e a tributação, notadamente
se colocados em uma relação de subordinação com o princípio da dignidade da pessoa
humana, nos termos constitucionalmente preconizados.

Fonte: https://divulgandoadoutrinaespirita.files.wordpress.com/2015/04/dignidade-da-pessoa-humana.jpg

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Saiba Mais

Assista ao vídeo do Ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux


falando sobre o princípio da dignidade da pessoa humana, disponí­
vel em: https://www.youtube.com/watch?v=YbT9iaEJJbE

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2. A definição e o alcance do princípio da dignidade da


pessoa humana
A primeira grande dificuldade, quando se enfrenta a
questão do princípio da dignidade da pessoa humana, é
a própria definição da amplitude do seu significado e, por
decorrência, de sua eficácia jurídica. Talvez se esteja diante
daqueles conceitos impossíveis de serem formulados sem
que haja um significativo espaço de contestação.

Isso ocorre porque a ideia da dignidade da pessoa


humana, como se verifica, por exemplo, com a própria ideia

de justiça, transcende as possibilidades conceituais e avança para o campo intersubjetivo.

Isto é, embora muitos não saibam formular um conceito de justiça, a maioria das pessoas

consegue identificar quando está diante de uma situação de injustiça.


Ocorre o mesmo com o princípio da dignidade da pessoa humana, porque, embora


seja difícil esgotar as possibilidades de dizer o que representa tal princípio, mostra-
se razoavelmente seguro identificar as situações nas quais esse princípio está sendo
desconsiderado.

De qualquer modo, é fundamental entender que este constitui um conceito aberto,


não podendo ser, previa e absolutamente, estabelecido, porque não seria harmônico com
o pluralismo e a diversidade de valores que se manifestam nas sociedades democráticas
contemporâneas.

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Saiba Mais

Apesar de sua origem remota, o princípio da dignidade da pessoa


humana passou a ser reconhecido expressamente pela imensa
maioria das Constituições apenas a partir da Segunda Guerra Mun­
dial, especialmente após ter sido consagrado pela Declaração
Universal da ONU de 1948. Com o avançar do constitucionalismo
contemporâneo, a importância desse princípio atinge tal magnitude
que é possível afirmar que uma ordem jurídica só será legítima se
assegurar o princípio da dignidade da pessoa humana.

Vale lembrar que a Constituição de Weimar de 1919 já previa a garantia


da uma existência humana digna como objetivo maior da ordem
econômica, bem como previam a Constituição Portuguesa de 1933
(art. 6, nº 3) e a Constituição da Irlanda de 1937 (preâmbulo).

É evidente que o princípio da dignidade da pessoa humana, em face de todas as


suas implicações, dificilmente terá o seu conteúdo normativo perfeitamente demarcado.
Todavia, mesmo que o legislador não possa dizer o que ele é, deve fazer o possível para
que aquilo que seja com ele incompatível possa ser evitado.

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2.1 O princípio da dignidade da pessoa humana na Constituição


Brasileira de 1988
No Brasil, o princípio da dignidade da pessoa
humana constitui um dos pilares de sustentação do
Estado Democrático de Direito, instituído formalmente
pela Constituição de 1988. Pode-se afirmar que, a
partir daí, foi concebida uma nova ideia de bem comum,
que necessariamente passa pela incessante busca da
construção de uma sociedade na qual todos possam
usufruir uma existência digna.

É inegável, contudo, que, no Brasil, houve uma tardia


inserção do princípio da dignidade da pessoa humana. No
âmbito do direito positivo constitucional, apenas com o art. 1º, III, da Constituição de
1988, isso aconteceu.

O princípio da dignidade da pessoa humana torna-se o elemento norteador de


toda a Carta Política expressa pela Constituição, especialmente em relação aos direitos
fundamentais. Desta forma, os direitos fundamentais revelam-se como decorrentes
desse valor maior, sendo que a concretização deles resulta – em maior ou menor grau –
na garantia de eficácia do princípio constitucional.

Com o princípio da dignidade da pessoa humana – constitucionalmente positivado


–, constata-se que é o Estado que existe em função da pessoa humana, e não o contrário,
já que o homem constitui a finalidade primordial, e não meio da atividade estatal. O
Estado tem a função de assegurar ao indivíduo seu direito de existir com dignidade e de
protegê-lo ante eventual ameaça da própria sociedade.

Os órgãos públicos e todas as atividades estatais encontram-se vinculados


ao princípio da dignidade da pessoa humana, impondo-lhes um dever de respeito e
proteção, externado tanto na abstenção pelo Estado de determinadas ingerências na
esfera individual, que sejam insultantes à dignidade, como no dever de protegê-la diante
de agressões de terceiros.

Se esse novo fundamento do Estado brasileiro exerce influência em todo o


Ordenamento Jurídico, obviamente, o Sistema Tributário Nacional não poderia

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permanecer insensível aos efeitos que irradiam do princípio da dignidade da pessoa


humana. A tributação passa a ser compreendida e interpretada em consonância com o
referido fundamento constitucional.

No campo tributário, fica muito fácil perceber a importância desse princípio. Se


pode afirmar que a relação da tributação com o princípio-guia da Constituição pode
revelar-se sob dois aspectos: para justificar as cobranças tributárias visando à captação
de recursos para cobrir os gastos do Estado na proteção da dignidade humana e para
exigir que, na imposição dos tributos, seja resguardado o mínimo necessário à sua
manutenção, ou seja, a intributabilidade do mínimo existencial.

Dessa forma, a imposição tributária deverá estar pautada pelo objetivo maior de
tratar dignamente o cidadão, o que se viabiliza através de uma política social interven-
cionista, na qual o Estado obriga-se a propiciar a todos uma existência digna, com saúde,
educação, habitação, isto é, tudo aquilo que for necessário para uma sobrevivência com
dignidade.

Enfim, há um claro limite ao exercício do poder de tributar, já que é ilegal o Estado


exigir tributo que ofenda a dignidade do cidadão, especialmente quando implicar a
tributação do mínimo vital à sua existência.

A questão primordial deste tópico é a discussão acerca da existência de um


elemento comum, presente nos direitos fundamentais, apto a condensá-los dentro de
um sistema. Embora possa parecer uma conclusão precipitada, esse elemento comum
existe, e reside no princípio da dignidade da pessoa humana.

É certo que tal princípio não se manifesta, uniformemente, em relação a todos os


direitos fundamentais, tendo, portanto, um grau de concretização variado, de acordo
com o direito em questão. Não obstante, é inequívoco que, em maior ou menor grau, a
dignidade humana é o elemento comum de todos os direitos fundamentais, embora em
alguns deles esteja mais visível.

Logo, é possível dizer que o princípio da dignidade da pessoa humana representa


o valor-guia dos direitos fundamentais, conferindo-lhes a característica de conjunto ou
sistema.

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No campo tributário, por exemplo, é possível sustentar que isso ocorre de duas
formas:

a) com a observância dos direitos fundamentais que limitam o exercício do poder


de tributar pelo Estado; e

b) com a utilização da tributação, direta ou indiretamente, como meio de realização


dos direitos fundamentais de cunho prestacional.

Esse princípio traz tal gama de efeitos que – pode-se afirmar – alicerça tanto
os denominados direitos fundamentais clássicos (vida, liberdade, propriedade), como
também os direitos fundamentais sociais, econômicos e culturais, ou seja, o princípio
da dignidade da pessoa humana está na base de todos os direitos constitucionalmente
consagrados, quer dos direitos e liberdades tradicionais, quer dos direitos de participação
política, quer dos direitos dos trabalhadores e dos direitos a prestações sociais.

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3. Os direitos fundamentais e suas dimensões/gerações


1ª Primeira Geração 2ª Segunda Geração 3ª Terceira Geração 4ª Quarta Geração PAZ

Liberdade Igualdade Fraternidade Tecnologia


O jurista brasileiro Paulo
Bonavides, defende que
COMPREENDE OS COMPREENDE OS COMPREENDE O
DIREITOS CIVIS, COMPREENDE OS o direito à paz, que
DIREITOS ECONÔMICOS, DIREITO A UM MEIO
POLÍTICOS E AS DIREITOS DECORRENTES segundo Karel Vasak
SOCIAIS E CULTURAIS AMBIENTE
LIBERDADES CLÁSSICAS EQUILIBRADO, UMA DA ENGENHARIA seria um direito de
QUALIDADE DE VIDA GENÉTICA, DIREITOS terceira geração, merece
Incluem os direitos a SAUDÁVEL, TECNOLÓGICOS, DIREITO uma maior visibilidade,
Inclui os direitos à vida, segurança social, ao PROGRESSO, PAZ, DE INFORMAÇÃO motivo pelo qual
liberdade, segurança, trabalho e proteção AUTODETERMINAÇÃO construiria a quinta
não discriminação racial, contra o desemprego, ao DOS POVOS E OUTROS geração dos direitos
propriedade privada, repouso e ao lazer, DIREITOS DIFUSOS humanos.
privacidade e sigilo de incluindo férias
comunicações, ao remuneradas, a um
devido processo legal, Substituição do
padrão de vida que sistema de proteção
ao asilo face as assegure a saúde e o
perseguições políticas, diplomática dos
bem-estar individual e da direitos humanos por
bem como as liberdades família, à educação, à
de culto, crença, uma proteção
propriedade intelectual, internacional que
consciência, opinião, bem como as liberdades
expressão, associação e tutelasse os direitos
de escolha profissional e dos indivíduos,
reunião pacífica, de sindicalização.
locomoção, residência, independentemente de
participação política, serem nacionais de
Tem por objetivo garantir qualquer Estado.
diretamente ou por outro aos indivíduos condições
meio de eleições. materiais imprescindíveis
para o pleno gozo dos Cenário:
direitos.
Pós segunda
Cenário: guerra mundial
Resoluções em Cenário: Segunda metade
busca de iguldade. Movimentos do Séc. XX
Séculos XVII e XVIII proletários socialistas.
Séculos XIX e início
do Séc. XX

Os direitos fundamentais adquiriram essa condição a partir do momento em que


foram positivados no seio das Constituições respectivas, isto é, os direitos humanos,
quando passaram a pertencer a uma determinada ordem constitucional, foram
denominados de direitos fundamentais.

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Importante

Deve-se ter, no entanto, o devido cuidado com a utilização da


expressão “direitos fundamentais”. Ela não pode significar que os
direitos humanos estejam em um patamar hierárquico inferior,
haja vista que são esses que dão vida e legitimidade àqueles. Os
direitos humanos são inerentes à própria condição humana, em
vista do que eles são mais “fundamentais” que os próprios direitos
fundamentais, sob o aspecto da importância. Ou seja, não se pode
afirmar que os direitos humanos tornam-se fundamentais apenas
se consagrados por uma constituição, evidentemente examinado­
-os sob o prisma do grau de importância e significado.

Quanto ao processo de formalização dos direitos fundamentais, não obstante


a existência de direitos fundamentais formalmente consagrados no âmbito de cada
constituição, há direitos fundamentais, em sentido material, que são incorporados por
tratados internacionais sobre direitos humanos, por exemplo.

Não se pode admitir a existência de direitos fundamentais sem a existência


de um Estado. Apenas uma ordem politicamente organizada está apta a assegurar o
cumprimento dos direitos inerentes à condição humana, os quais foram objeto de
positivação e, portanto, alçados à categoria de direitos fundamentais.

Inicialmente, cabe lembrar que as constituições consagraram os clássicos direitos


humanos, frutos do próprio liberalismo econômico, notadamente, os direitos à vida, à
liberdade, à propriedade e à igualdade perante a lei.

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De todos os documentos medievais, sem dúvida,

na
o que alcançou maior significação na posteridade e
importância no processo de positivação dos direitos a g
humanos é a Magna Carta Inglesa, contrato subscrito M rta
entre o Rei – conhecido com João Sem-Terra – e os Ca
bispos e barões da Inglaterra, em 15 de junho de 1215.

A partir daí, os direitos do homem e do cidadão


passam a ser proclamados na maior parte das
declarações e constituições, sendo considerados como patrimônio do indivíduo em sua
condição pré-social. A liberdade, a igualdade formal, a propriedade, a segurança e a
resistência à opressão passam a ser protegidas do poder do soberano.

Com o advento do Estado Social, as Constituições passaram a consagrar os


denominados direitos sociais, notadamente o direito ao trabalho, à educação, à saúde,
proteção à velhice, entre outros. Tais direitos acolhem as crescentes reivindicações da
classe trabalhadora ante os efeitos produzidos pelo processo de industrialização que
se dá, principalmente, na Europa. É possível observar que a liberdade formal clássica
se mostrou insuficiente para abrandar os conflitos de uma sociedade cada vez mais
economicamente desigual e socialmente injusta.

As constituições, mais recentemente, consagraram os denominados direitos de


solidariedade, por exemplo, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Para
concretizar esses direitos, porém, é preciso uma ação efetiva de toda a sociedade, razão
pela qual resta mais evidente, em relação a eles, a dupla dimensionalidade, uma vez que,
ao mesmo tempo, são direitos e deveres.

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Dimensões ou gerações de direitos fundamentais

Segunda dimensão/geração
Correspondem aos direitos
sociais que visam a assegurar Escola

ao cidadão as condições
mínimas para uma existência
digna.
São ainda denominados
direitos de cunho prestacional,
Primeira dimensão/geração uma vez que exigem do Estado
São os denominados direitos de uma ação específica no sentido
defesa, os quais visam proteger, de realizá-los.
basicamente, a vida, a liberdade e
o patrimônio.

Terceira dimensão/geração
Estão relacionados à existência em
comunidade e, sobretudo, à preservação
do ambiente em que o homem vive.

É fato, porém, que essa classificação serve mais como instrumento pedagógico do
que como elemento apto a fazer uma distinção estanque das ditas dimensões ou gerações
de direitos fundamentais, assim denominadas para que seja possível compreender o
processo histórico e como os direitos fundamentais adquiriram o grau de sofisticação
que ora se constata.

De qualquer maneira, cabe reconhecer as três dimensões dos direitos fundamentais,


porque, no campo tributário, é marcante e visível a presença dos direitos fundamentais
de primeira dimensão como limitadores do poder do Estado, já os de segunda e
terceira dimensão reclamam, para sua concretização, um sistema tributário que esteja
comprometido com eles.

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No campo tributário, os direitos fundamentais podem ser limitadores da ação


estatal e, concomitantemente, constituir-se em objetivos a serem perseguidos pela
tributação. Se a observância dos direitos de defesa e a concretização dos direitos de
cunho prestacional forem elementos norteadores da tributação, automaticamente estar-
se-á trilhando o caminho da densificação do princípio da dignidade da pessoa humana.

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4. Os direitos fundamentais de primeira dimensão/geração


como limitadores da ação estatal no campo tributário
Vale recordar que direitos fundamentais ditos

de primeira dimensão/geração foram concebidos

1ª Geração
a partir do liberalismo econômico e representam

a reação da classe burguesa ascendente contra

o poder absoluto do soberano. Estão fundados,


Liberdade
basicamente, na ideia da preservação da liberdade,

Direitos negativos
da vida e do patrimônio dos cidadãos, direitos
(não agir)
esses que deveriam ser observados pelo soberano e
constituiriam a defesa do cidadão frente à indevida Direitos civis e políticos:
intromissão estatal. liberdade política, de
expressão, religiosa,
Desse modo, os direitos fundamentais comercial
de primeira geração/dimensão constituem um
instrumento imprescindível de defesa da cidadania,
Direitos individuais
na medida em que bloqueiam ação estatal arbitrária

que implique, direta ou indiretamente, desrespeito ao


Estado liberal

direito à vida, à liberdade e à propriedade.


Isto posto, os direitos fundamentais de primeira dimensão encontram no campo


tributário e penal um terreno fértil. Se, em relação à matéria penal, os direitos fundamentais
servem para garantir a vida e a liberdade do cidadão frente ao exercício arbitrário do
poder por parte do Estado; em relação à tributação, os direitos fundamentais visam a
assegurar, principalmente, a liberdade, a igualdade formal e a propriedade do cidadão.

O princípio que talvez sintetize a aplicabilidade dos direitos fundamentais de


primeira dimensão, no campo tributário, é o princípio da segurança jurídica, porque
ele realiza-se por meio da junção, entre outros, dos princípios legalidade (tipicidade),
irretroatividade, isonomia, anterioridade, vedação ao confisco etc.

Os direitos fundamentais de primeira dimensão impedem que a ação estatal seja


exercida em desconformidade com a Constituição, sendo que, no campo tributário, tais
direitos têm uma especial importância, pois visam a assegurar ao cidadão a proteção
contra o exercício arbitrário do poder, relativamente à exigência de tributos.

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Tome Nota
Para a Constituição do Brasil, essa matéria é tratada exaustivamente a partir
do art. 150, na seção denominada de “Das limitações do Poder de Tributar”, na
qual estão contidas as normas que balizam o exercício do poder por parte do
Estado, no que tange à tributação. É certo que essas limitações não se esgo­
tam na mencionada seção constitucional, mas também é certo que, nela,
alcançam seu maior grau de concentração.

4.1. Princípios constitucionais tributários decorrentes dos direitos


fundamentais de primeira dimensão

Princípios Constitucionais Tributários

Federativo

Isonomia ou Legalidade
igualdade

Progressividade Transparência
Preservação Tributária
do mínimo
existencial

Irretroatividade
Seletividade da Lei

Capacidade
Anterioridade
Uniformidade contributiva
da tributação

Vedação ao
Liberdade de
confisco
tráfego

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Progressividade na Constituição - IR (CF, art. 153, § 2º, I), IPTU (CF, art. 156, § 1º) e ITR
(CF, art. 153, § 4º).

A progressividade tributária implica exacerbação da exigência fiscal, à medida que


cresce a capacidade de contribuir para com a coletividade, sendo tal operacionalizado
pela imposição de alíquotas tanto maiores quanto maior a base de cálculo do tributo, isto
é, a grandeza econômica representativa do fato gerador.

Federativo

Os Estados-membros da Federação Brasileira e os Municípios têm autonomia,


caracterizada por um determinado grau de liberdade, referente à sua organização, à
sua administração e ao seu governo, e limitada por certos princípios, consagrados pela
Constituição Federal.

Fonte: http://www.profpito.com/oestatutodafederacao.html

Legalidade - (CF, art. 150, I)

Tem por finalidade garantir os direitos e os deveres individuais e coletivos, uma


vez que, nos Estados democráticos, não apenas os indivíduos são subordinados à lei,
mas também a própria administração pública. A legalidade, como princípio fundamental
do Estado de Direito, não se restringe a vedar ou proibir a tributação sem lei, mas,
fundamentalmente, garantir, a todo cidadão, segurança jurídica, econômica e social.

Transparência Tributária - (CF, art. 150, § 5º)

“A lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca


dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços”. Todos nós somos contribuintes
e temos o direito de saber qual o montante dos tributos que está contido no valor das
mercadorias e serviços que adquirimos. É um direito regulamentado pela Lei nº 12.741/12,
conhecida como lei da nota fiscal.

Irretroatividade da Lei – (CF, art. 150, III, a)

Esse princípio é também um princípio geral de Direito. Visa impedir que determinada
lei produza efeitos sobre fatos ocorridos antes de sua vigência. A lei não retroage, a
menos que seja benigna ao contribuinte.

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Capacidade contributiva - (CF, art. 145, § 1º)

Visa à justiça fiscal e social, exigindo mais de quem tem mais condição econômica
e isentando ou reduzindo a incidência tributária para os contribuintes com menor
capacidade econômica.

Esse princípio atende ao imperativo da redistribuição de renda. Em respeito ao


princípio, a legislação tributária deve aplicar alíquotas diferenciadas e efetuar redução
parcial ou total da base de cálculo, objetivando conformar o tributo o mais próximo
possível da real capacidade de pagamento de cada contribuinte.

Vedação ao confisco - (CF, art. 150, IV)

Busca proteger o contribuinte contra a possibilidade de o ente tributante vir a tomar


totalmente o seu patrimônio ou a sua renda. A análise de cada caso é que permitirá dizer
se há ou não confisco, uma vez que tributos com características diferentes comportam
parâmetros diferentes.

Anterioridade da Lei - (CF, art. 150, III, b e c)

Proíbe a exigência de tributo ou seu aumento “no mesmo exercício em que haja
sido publicada a lei que o instituiu”, a fim de evitar que o contribuinte seja surpreendido
pela majoração da carga tributária. É um corolário do princípio da não surpresa.

Seletividade – ICMS (CF, art. 155, § 2º, II) e IPI (CF, art.153, § 3º I )

O princípio da seletividade abrange uma seleção mínima de impostos, o ICMS e o IPI


(impostos proporcionais). Sua função é variar a alíquota de acordo com a essencialidade
do bem. Significa que, ao se deparar com um bem de maior essencialidade, a alíquota
será menor e, pela lógica, se for o bem de menor essencialidade, a alíquota é maior.

Fonte: http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/171039/que-se-entende-por-principio-
da-seletividade-camila-andrade

Liberdade de tráfego - (CF, art. 5º, XV e LXVIII)

Os tributos não poderão ser utilizados como limitadores do livre trânsito de


pessoas ou bens dentro do território nacional, ressalvada a cobrança de pedágio pela
utilização de vias públicas, conforme dispositivo contido no art. 150, inc. V da CF. Veda-

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se a criação de autênticas barreiras fiscais entre estados ou municípios a fim de coibirem


a livre circulação de pessoas e de bens, estando associado ao princípio da liberdade de
circulação contido nos incs. XV e LXVIII do art. 5º da CF.

Uniformidade da tributação - (CF, art. 151, I)

“É vedado à União instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional
ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a
Município”. A Constituição Federal permite, entretanto, que a União exerça uma política
de incentivos fiscais para promover o equilíbrio entre as regiões do País.

Preservação do mínimo existencial

Não se deve admitir a exigência de tributos nos casos em que capacidade


contributiva não existe, preservando-se o mínimo existencial.

Ou seja, não se deve admitir a exigência de Imposto de Renda sobre salários cujos
valores sejam insuficientes para fazer frente àquelas necessidades básicas, as quais a
própria Constituição determinou que deveriam ser satisfeitas com o salário-mínimo (art.
7° inciso IV).

Isonomia ou igualdade - (Caput do art. 5º da CF)

Trata-se da igualdade de todos perante a lei. Esse princípio aparece no caput do


art. 5º da CF como um dos cinco direitos fundamentais.

Importante

Os doutrinadores de direito tributário, em geral, ao analisarem os


princípios constitucionais tributários, não fazem a interligação de
sua procedência como as gerações de direitos que foram surgindo
dentro do período histórico de conquistas dos direitos fundamen­
tais por parte do homem.

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No entanto, devido à importante amarração dos direitos fundamentais com o


sistema tributário, serão abordados, em seguida, os princípios tributários relacionados
com todas as dimensões dos direitos fundamentais, iniciando-se com aqueles que
limitam o poder de tributar e, portanto, são decorrentes dos direitos fundamentais de
primeira dimensão.

4.1.1. Princípio da legalidade


Os tributos não poderão ser instituídos ou
majorados, senão por meio de lei. A definição de todos
os elementos da hipótese de incidência tributária
deve ocorrer mediante uma “norma geral e abstrata
proveniente do Poder Legislativo”.

O Poder Executivo não está autorizado a exigir


nem aumentar tributos sem que haja uma lei. Caberá
apenas criar elementos/formais que propiciem a
executoriedade da exigência dos tributos. Tudo que influenciar no montante devido e na
definição de quem deve pagar deverá ser objeto de lei. Ao contrário, os elementos que
não influenciam no quantum devido ou na sujeição passiva poderão ser definidos por
outras normas infralegais (Decretos, Portarias, Instruções Normativas etc.).

O princípio da legalidade está previsto no inc. I do art. 150 da Constituição, e veda à


União, estados, Distrito Federal e municípios que exijam ou aumentem tributo sem lei que
assim estabeleça, reiterando o que é posto no art. 5º, inc. II, da Constituição, só que com
ênfase ao Direito Tributário. Tal princípio tem origem histórica na Magna Carta Inglesa
de 1215.

A lei mencionada pela Constituição, em regra, é a lei ordinária, devendo-se entender


que apenas será necessário lei complementar para instituição de tributo quando a
palavra “lei” vier acompanhada do adjetivo complementar, como ocorre, por exemplo, em
relação ao exercício da competência residual da União (art. 154, inc. I), ao imposto sobre
grandes fortunas (art. 153, inc. VII) e para fins de instituição de outras fontes de custeio
da seguridade social (195, § 4º).

Deve ser levado em conta, ainda, que não basta a simples autorização de cobrança
do tributo, é necessário que a lei discrimine todos os aspectos da hipótese de incidência,

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como base de cálculo, fato gerador, alíquota, sujeito passivo etc., não deixando margem
de discricionariedade para o administrador decidir se alguém deve ou não pagar
determinado tributo, o que faz com que alguns denominem-no de princípio da estrita
legalidade, como se infere do art. 97 do Código Tributário Nacional.

Como visto, via de regra, a majoração dos tributos deve ser feita por lei, tomada
como veículo apto a tal propósito, à medida que, quando se está tributando determinada
situação, está interferindo no direito de propriedade do cidadão. Entretanto, há algumas
exceções no texto constitucional no que diz respeito à competência tributária da União.

Consoante o art. 153, § 1º da Constituição, o Poder Executivo Federal tem a faculdade


de alterar as alíquotas do Imposto de Importação, Imposto de Exportação, Imposto
sobre Produtos Industrializados e Imposto sobre Operações Financeiras. Também lhe
é facultado reduzir e restabelecer a alíquota da Contribuição de Intervenção no Domínio
Econômico, com relação às atividades de importação ou comercialização de petróleo e
seus derivados e álcool combustível, conforme se infere do art. 177, § 4º, inc. I, letra “b”
do Texto Cidadão.

Trata-se, em verdade, de uma pseudo-exceção. O Executivo fixa (muda) a alíquota


dentro dos parâmetros estabelecidos pela lei que instituiu o imposto. Isso ocorre devido
à extrafiscalidade, dado que os tributos objeto da dita exceção são eficazes instrumentos
de intervenção do Estado na economia e no campo social. Embora propiciem arrecadação
de recursos para a realização do desiderato do Estado, prevalece em relação a eles a
faceta de verdadeiros tributos reguladores.

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Unidade 4: Tributação e direitos fundamentais: dos direitos sociais


aos limites do poder de tributar

Saiba Mais

Importante ressaltar que não significa que a lei poderá deixar de


definir a alíquota do tributo no momento de sua instituição. A
permissão conferida ao Executivo da esfera federal é de apenas
modificá-la após a sua criação, dentro dos parâmetros e condições
previstos no próprio texto da lei, reforçando-se o caráter de relativa
exceção ao princípio da legalidade.

4.1.2. Princípio da anterioridade


Previsto na alínea “b”, do inc. III, do art.
150 da Constituição, o denominado princípio
da anterioridade veda que sejam cobrados
DOM SEG TER QUA QUI SEX SAB

tributos no mesmo exercício financeiro em


que haja sido publicada a lei que os instituiu ficial
Diário O
ou aumentou. Ou seja, a lei que institui
ou aumenta tributo fica com sua eficácia
suspensa até o início do exercício financeiro
seguinte ao que tiver sido publicada,
produzindo seus efeitos somente a partir de então.

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aos limites do poder de tributar

Tome Nota
No Brasil, o exercício financeiro, que significa o período para que a lei orça-
mentária aprove a receita e a despesa, inicia-se em 1º de janeiro e termina em
31 de dezembro, coincidindo com o ano civil.

Esse princípio distingue-se do princípio da anualidade, consagrado na Constituição


Federal de 1946, o qual exigia a prévia autorização orçamentária para que os tributos
pudessem ser cobrados no ano seguinte, objetivando, à medida em que aumentavam as
despesas previstas futuramente, fossem aumentadas também as receitas.

Tal princípio, bem como o da irretroatividade da lei tributária, reforça a ideia de


segurança jurídica, em razão de ambicionar proteger o contribuinte para que ele não
seja tolhido de surpresa, permitindo-lhe ter conhecimento prévio da carga tributária a
ser suportada para poder planejar suas atividades considerando os tributos incidentes.

Deve-se atentar ao fato de que o referido princípio, por ser decorrência de direitos
fundamentais de primeira dimensão – também conhecidos como direitos de defesa – só
deve ser aplicado quando se institui ou aumenta um tributo, não sendo exigível quando
se tratar de isenção ou redução de tributos, hipóteses em que poderá ser aplicada
imediatamente a lei. Contrário senso, se a lei revogar uma isenção concedida por prazo
indeterminado, entende-se que deverá atender ao princípio da anterioridade, salvo se
constituir-se hipótese de exceção ao mencionado princípio.

Assim como no caso de outros princípios, há também algumas exceções no que


diz respeito ao princípio da anterioridade, conforme a 1ª parte do § 1º do art. 150 da
Constituição. São tributos que não se submetem ao princípio da anterioridade:

a) Empréstimos Compulsórios para atender despesas extraordinárias que decorram


de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência (art. 148, inc. I);

b) Imposto de Importação (art. 153, inc. I);

c) Imposto de Exportação (art. 153, inc. II);

d) Imposto sobre Produtos Industrializados (153, inc. IV);

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e) Imposto sobre Operações Financeiras (153, inc. V);

f) Impostos extraordinários na iminência ou no caso de guerra externa (art. 154,


inc. II);

g) Contribuição de intervenção no domínio econômico em relação à importação ou


comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e
álcool combustível (art. 177, § 4º, inc. I, alínea “b”);

h) ICMS sobre combustíveis e lubrificantes com tributação monofásica previsto em


lei complementar (art. 155, § 4º, inc. IV, “c”);

i) Contribuições Sociais para a Seguridade Social, as quais são submetidas apenas


ao transcurso do prazo de noventa dias entre a publicação da lei que as institui
ou aumenta e o início da cobrança (art. 195, caput e § 6º).

Além do princípio da anterioridade referido supra, foi instituída pela Emenda


Constitucional n° 42/2003, a necessidade de que decorra um prazo de noventa dias
contados da publicação da norma que instituiu ou aumentou o tributo para que haja a
cobrança a partir dela (art. 150, III, “c”), fortalecendo a regra da não surpresa tributária.

Tal limitação na exigência ou majoração dos tributos constitui-se importante


instrumento à proteção dos contribuintes, na medida em que diminuiu as possibilidades
de ser promulgadas leis no final do ano com o intuito de ser exigidas a partir do 1º dia do
ano seguinte, ainda que haja algumas exceções, como será analisado.

Da mesma forma como ocorre com o princípio da anterioridade anual, o prazo de


noventa dias para que a lei que institua ou majore tributos tenha eficácia também traz
consigo algumas exceções. São elas:

a) Empréstimos compulsórios instituídos para atender a despesas extraordinárias,


decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência (art. 148,
inc. I);

b) Imposto de Importação (art. 153, inc. I);

c) Imposto de Exportação (art. 153, inc. II);

d) Imposto de Renda e Proventos de Qualquer Natureza (art. 153, inc. III);

e) Imposto sobre Operações Financeiras (art. 153, inc. V);

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f) Impostos extraordinários na iminência ou no caso de guerra externa (art. 154,


inc. II);

g) Fixação da base de cálculo do Imposto sobre a Propriedade de Veículos


Automotores – IPVA (art. 155, inc. III);

h) Fixação da base de cálculo do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial


Urbana – IPTU (art. 156, inc. III).

Saiba Mais

Saiba mais sobre o Princípio da anterioridade no Direito Tributário:

https://www.youtube.com/watch?v=fKfVmW0MqhA

Saiba mais sobre Direito Tributário. Limitações ao poder de tributar:

https://www.youtube.com/watch?v=HAm-CGf-LEA

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4.1.3. Princípio da irretroatividade

A lei tributária não pode retroagir, isto é, não


pode ser aplicada em relação a fatos geradores
ocorridos antes do início de sua vigência. O princípio
da irretroatividade da lei tributária está descrito
no art. 150, inc. III, alínea “a” da Constituição, que
veda a cobrança de tributos “em relação a fatos
geradores ocorridos antes do início da vigência da
lei que os houver instituído ou aumentado”. Com
tal princípio, coaduna-se o disposto no art. 105 do
Código Tributário Nacional – CTN, segundo o qual
a lei tributária aplica-se imediatamente em relação aos fatos futuros.

É inegável que a redação adotada pelo dispositivo constitucional mostra-se falha,


uma vez que não se deve falar em fato gerador tributário antes da publicação da lei que
estabeleça que aquele fato economicamente relevante passa a ter como consequência
jurídica o nascimento do dever de recolher determinada quantia aos cofres públicos.
Por analogia, significaria dizer que a lei não puniria os crimes praticados antes de a lei
estabelecer que aquela conduta trata-se de um crime. Tal só se pode dizer em relação à
lei que majora os tributos, porque somente nesse caso havia a ocorrência do fato gerador
(concretização da hipótese de incidência) anterior à lei. De qualquer sorte, a norma que
se extrai do texto é que a lei que institui tributo não pode alcançar fatos pretéritos, ou
seja, que tenham ocorrido antes da sua entrada em vigor.

Pode ser observada também a notória semelhança com o art. 5º, inc. XXXIX da
Constituição: “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação
legal”, traduzindo-se em corolário do princípio da segurança jurídica que protege as
situações já consolidadas para que não haja gravames posteriores aos cidadãos.

Assim, nem eventual lei promulgada com o fim de interpretar lei já existente pode
atrever-se a alcançar fatos do passado, só produzindo efeitos a partir da sua vigência e
se não transbordar o seu conteúdo. Se antes não se entendia por tributar determinada
situação abstrata que ao concretizar-se desse ensejo ao nascimento da obrigação
tributária, não será uma norma supostamente interpretativa que permitiria uma evidente
retroatividade da lei no tempo.

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aos limites do poder de tributar

Saiba Mais

Da mesma forma que ocorre na esfera penal, em que “a lei penal não
retroagirá, salvo para beneficiar o réu” (art. 5º, inc. XL da CF), no
campo tributário, a lei mais favorável poderá alcançar fatos pretéri­
tos, como se infere do disposto no art. 106 do CTN, veículo próprio
que autoriza a aplicação da lei em relação a ato ou fato pretérito
quando:

a) ser expressamente interpretativa;

b) se tratar de ato não definitivamente julgado quando:

b.1) deixe de defini-lo como infração;

b.2) deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de


ação ou emissão, salvo se tiver sido fraudulento ou impli­
car em sonegação;

b.3) lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei


vigente à época sua prática.

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4.1.4. Princípio da vedação ao confisco


Previsto no art. 150, inc. IV da Magna Carta, o
denominado princípio da vedação ao confisco proíbe
aos entes políticos que utilizem tributo cuja exigência
absorva parcela expressiva ou total da renda ou do
patrimônio dos contribuintes como modo reflexo de
uma exacerbante carga fiscal, podendo ser constatada
a sua violação pelo exame de alíquotas e bases de
cálculo.

Este princípio está intimamente ligado ao direito fundamental de propriedade pre-


visto no art. 5º, inc. XXII da Constituição, protegendo que ocorra o desapossamento dos
bens do particular. Contudo, como ocorre com qualquer outro dispositivo da Constituição,
sua aplicação não é absoluta, podendo sofrer ponderação se estiver frente à cobrança de
tributo com fins extrafiscais, hipótese em que os fins almejados pela tributação não são
apenas a arrecadação de valores para custear as despesas estatais, mas estimular ou
desestimular determinadas condutas para atingir os objetivos ou fundamentos da Repú-
blica. No caso específico, o princípio da função social da propriedade (art. 5º, inc. XXIII)
representa o principal limite à aplicação da vedação ao confisco, permitindo-se que im-
postos como o IPTU ou ITR tenham alíquotas expressivas, relativamente a imóveis que
não estejam cumprindo sua função social.

4.1.5. Princípio da liberdade de tráfego


Os tributos não poderão ser utilizados como
limitadores do livre trânsito de pessoas ou bens dentro
do território nacional, ressalvada a cobrança de pedágio
pela utilização de vias públicas, conforme dispositivo
contido no art. 150, inc. V da CF. Veda-se a criação de
autênticas barreiras fiscais entre estados ou municípios
a fim de coibirem a livre circulação de pessoas e de bens,
estando associado ao princípio da liberdade de circulação
contido nos incs. XV e LXVIII do art. 5º da CF. A exceção
diz respeito aos pedágios que podem ser cobrados para
fins de manutenção e conservação das respectivas rodovias.

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aos limites do poder de tributar

Como dito anteriormente, há outras limitações ao poder de tributar contidas de


uma forma explícita ou implícita na Constituição. Estudamos aqui apenas aquelas
limitações entendidas como mais relevantes e claramente postas pela Magna Carta,
como decorrências lógicas dos direitos fundamentais de primeira dimensão. No entanto,
não se esgota a abordagem pretendida neste curso, sendo necessário examinar a relação
da tributação com os direitos fundamentais de segunda dimensão.

Em um Estado Democrático de Direito, especificamente em relação à questão da


tributação, não é suficiente apenas que a atividade financeira do Estado seja exercida em
observância aos clássicos direitos de defesa, pois a observância dos direitos fundamentais
de todas as gerações é condição da dignidade. Não basta, portanto, o respeito e proteção
à propriedade, à liberdade e à igualdade. É necessário saúde, educação, trabalho e meio
ambiente ecologicamente equilibrado, mesmo porque, sem eles, os próprios direitos de
defesa restam inviabilizados, uma vez que não há como ser verdadeiramente livre, por
exemplo, não tendo acesso ao conhecimento formal, amparo diante das vicissitudes da
existência ou estando desprovido de fontes de renda.

Importante

Pode-se dizer que, num Estado Democrático de Direito, a atuação


estatal no campo tributário deve ser exercida em estrita observân­
cia aos limites constitucionalmente postos pelos direitos funda­
mentais de primeira dimensão e, concomitantemente, tem por
objetivo primordial a concretização dos direitos fundamentais de
cunho prestacional e dos direitos ditos de solidariedade, nos
termos explicitados a seguir.

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5. Os direitos fundamentais de ordem social, econômica,


cultural e de solidariedade e a tributação como instrumento
de concretização

Os direitos sociais surgem paralela e paulatinamente ao incremento e ao


aprofundamento do Estado Social, pois esse modelo de Estado passou a ter como fim a
proteção do cidadão frente às privações, especialmente aquelas decorrentes do modelo
econômico.

É incontestável que os direitos fundamentais sociais constituem exigência


obrigatória para o exercício efetivo das liberdades e a garantia de uma igualdade
substancial. Assegurar tais direitos é condição para a concretização da promessa de
tratar a todos com igual dignidade, sendo tal promessa requisito para o reconhecimento
de uma democracia substancial e de um modelo de Estado de direito de conteúdo não
meramente formal.

Para examinar essa questão, pode-se pensar na questão do mínimo vital à


existência humana. Como se sabe, há certo consenso de que o direito à vida implica,
por parte do Estado, o fornecimento de prestações mínimas ao cidadão com vistas a
garantir sua subsistência, quando esta, num plano pragmático, encontra-se vilipendiada
pela pobreza extrema. Nessa hipótese, é inegável que há um direito subjetivo ao qual
corresponde um dever do Estado.

É possível afirmar que a tributação, concomitantemente à observância dos clássicos


direitos fundamentais de primeira dimensão, tenha por objetivo a concretização dos
direitos fundamentais sociais, econômicos e culturais (educação, saúde, alimentação,
habitação etc.).

No campo tributário, isso pode ocorrer mediante a combinação de duas fórmulas


básicas, conforme se sustenta neste curso:

a) a observância do princípio da capacidade contributiva;

b) a utilização da extrafiscalidade na realização dos direitos fundamentais.

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aos limites do poder de tributar

À medida que for recuperada a concepção de que a


carga tributária deva estar sujeita à efetiva capacidade
contributiva do cidadão, o direito/dever de submeter-se
a ela será exercido/cumprido de tal forma que o Estado
tenha os meios para assegurar o cumprimento das
prestações positivas que caracterizam os direitos
sociais e, ao mesmo tempo, seja preservado o mínimo
necessário a uma existência digna.

Por outro lado, a tributação pode ser

um fabuloso instrumento a ser

utilizado pelo Estado para estimular ou

desestimular comportamentos que,

direta ou indiretamente, colaboram na

concretização dos direitos sociais,

econômicos e culturais.

Noutros termos, tradicionalmente, o Estado arrecada recursos por meio da


tributação e emprega-os na concretização das prestações positivas – típicas de tais
direitos – com toda a gama de riscos de desvios e malversações. Alternativamente,
mediante políticas tributárias (extrafiscalidade) e sempre em observância dos requisitos
para tanto (objetivo constitucionalmente justificável e observância dos diretos de defesa
principalmente), o Estado pode estimular ações que resultem na máxima eficácia social
dos direitos fundamentais (concretização num plano fático).

Em suma, o Estado pode cumprir uma parte significativa dessa tarefa mediante
o estímulo ou desestímulo de determinadas condutas que tenham como norte a
concretização dos direitos fundamentais.

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5.1. Princípio da igualdade ou isonomia


A lei não poderá instituir tratamento
desigual entre contribuintes que se
encontrem em situação equivalente,
proibida qualquer distinção em razão
de ocupação profissional ou função
exercida (art. 150, II da CF). Logo, poderá
tratar diferentemente aos desiguais na
exata proporção das desigualdades, na
célebre lição de Rui Barbosa.

Em um modelo de Estado como vigente no Brasil, não basta que haja a observância
da igualdade perante a lei – fruto da Revolução Francesa. Faz-se necessário que o
Estado seja um efetivo construtor da igualdade – conforme preconiza Bonavides. Isto é,
não basta tratar aos iguais igualmente e aos desiguais desigualmente.

É necessário que todas as ações estatais estejam voltadas à concretização da


grande promessa da Constituição: a igualdade substancial, mediante a construção de
uma sociedade livre, justa e igualitária, com reduzidos níveis de desigualdade social.
Isso será tendencialmente alcançado se forem concretizados os princípios examinados
a seguir,dado que podem ser entendidos como meios de concretização da preconizada
igualdade substancial.

5.2. Princípio da capacidade contributiva


Numa análise pouco aprofundada, pode-se
afirmar que, em face do princípio da capacidade
contributiva, cada cidadão contribui para a coletividade
de acordo com a sua capacidade de fazê-lo, ou seja, o
ônus tributário será tanto maior quanto maior for sua
capacidade de arcar com tal ônus e, ao contrário, será
tanto menor, ou até mesmo inexistente, quanto menor,
ou nula, for tal capacidade.

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aos limites do poder de tributar

Mediante a imputação do ônus tributário de acordo com a capacidade econômica


de arcar com esse ônus, concretiza-se o princípio da igualdade, tanto no sentido de que
a norma tratará igualmente aqueles com igual capacidade, como no sentido de tratar
desigualmente aqueles com desigual capacidade econômica.

À medida que os cidadãos são assim tributados, restam viabilizadas as


possibilidades de que as desigualdades sejam reduzidas, caminhando-se, desse modo,
no sentido traçado pelos objetivos fundamentais do Estado Democrático de Direito.

Como já referido, esse princípio tem tal importância que é possível sustentar que
o Estado Democrático de Direito (ou Estado Social) apenas concretiza-se, caso seu
sistema tributário for apoiado no princípio da capacidade contributiva. É certo que o
princípio da capacidade contributiva não nasce apenas com o Estado Social (já existia
e era validamente aceito no Estado Liberal). Porém, é possível afirmar que a eficácia
do referido princípio passa a ser condição de possibilidade de concretização do próprio
modelo de Estado Democrático de Direito.

O princípio da capacidade contributiva pode ser entendido como resultado da


justiça fiscal, visto que sua observância implica que a carga tributária seja repartida de
acordo com a possibilidade de cada indivíduo de suportá-la.

A concepção sobre a qual se assenta o princípio da capacidade contributiva está


diretamente relacionada com o princípio da igualdade, já que esta, no campo tributário,
só poderá se entendida como presente quando o ônus da carga fiscal for suportado
proporcionalmente à efetiva capacidade contributiva.

No Estado Democrático de Direito, o princípio da capacidade contributiva sofistica-


se porque passa a ser um instrumento de concretização desse modelo de Estado. Se,
para o Estado Liberal, a tributação deveria ser desigual na medida das desigualdades
econômicas, no novo modelo estatal, esse tratamento diferenciado passa a ter uma
concepção teleológica. Pode-se dizer que no Estado Democrático de Direito agrega-se
um “plus” ao tratamento diferenciado conforme a capacidade contributiva, já que este
passa a ter como finalidade a redução das desigualdades econômicas e sociais. Nesta
perspectiva, pode-se afirmar, também, que o princípio da capacidade contributiva está
intrinsecamente relacionado com ideia de solidariedade que deve nortear uma sociedade.

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Em vista do exposto, tem-se que a tributação segundo a efetiva capacidade


econômica é um instrumento à disposição do Estado Democrático de Direito para
que este possa atingir seus fins. Em se tratando de Brasil, corresponde a um meio de
concretização, principalmente, dos objetivos preconizados no arts. 1° e 3º da Magna
Carta Brasileira.

Importante

Enfim, a aplicação do princípio da capacidade contributiva é um


poderoso instrumento para a construção de uma sociedade livre,
justa e solidária, na qual as desigualdades sociais sejam reduzidas,
e a pobreza e a marginalização erradicadas ou minimizadas. Por
evidência, a tributação é um meio potencialmente eficaz na cons-
trução de uma sociedade fundada na dignidade da pessoa
humana. Um dos mecanismos mais eficazes para uma tributação
de acordo com a efetiva capacidade econômica reside na progres-
sividade fiscal.

5.2.1. Princípio da progressividade

A progressividade tributária
implica exacerbação da exigência fiscal,
à medida que cresce a capacidade de
contribuir para com a coletividade, sendo
tal operacionalizado pela imposição de
alíquotas tanto maiores quanto maior
a base de cálculo do tributo, isto é, a
grandeza econômica representativa do
fato gerador.

Paralelamente, há a progressividade tributária com conotação extrafiscal,


representada pela elevação das alíquotas de um tributo, independentemente da

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capacidade contributiva, para que o Estado possa estimular ou desestimular determinada


situação, desde que esteja em consonância com os fins da existência do próprio Estado.

A primeira hipótese de progressividade está alicerçada no princípio da capacidade


contributiva, constituindo-se numa decorrência lógica desse princípio. Especificamente
no caso do imposto incidente sobre a renda, quanto maior for esta, maior será a alíquota.
Logo, a alíquota varia conforme a capacidade contributiva do cidadão.

Com o princípio da progressividade, a tributação atinge, de uma forma mais


expressiva, aqueles que ocupam o topo da pirâmide social, e menos significativa para
aqueles que estão na base dessa.

Por decorrência, a progressividade tributária é plenamente justificável e, portanto,


compatível com o princípio da igualdade, de acordo com uma concepção mais adequada
ao novo Estado Democrático de Direito.

Saiba Mais

Na Constituição Brasileira, a progressividade está expressamente


prevista em relação ao Imposto de Renda (art. 153, § 2º I), Imposto
Territorial Rural - ITR (153 § 4º) e IPTU art. 156 § 1º. Além disso, o
ITR será progressivo de forma a desestimular a manutenção de
propriedades improdutivas (Lei nº 9.393/96), o IPTU poderá ser
progressivo de forma a promover a adequada utilização do solo
urbano (art. 182 § 4º).

Não obstante a existência das referidas previsões no Texto Constitucional, no


Brasil, a progressividade tributária encontra fundamento no próprio modelo de Estado
constituído em 1988, ou seja, para o Estado Democrático de Direito, o sistema tributário
deve estar fundado no princípio da capacidade contributiva, o que, entre outras, implica
imposição fiscal progressiva.

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Em regra, a progressividade tributária deve ser aplicada em relação a todas as


espécies tributárias, desde que não exista um óbice intransponível para tanto. Esse óbice
pode ser vislumbrado, tão somente, em relação às taxas e contribuições de melhoria,
uma vez que as duas espécies tributárias têm como fato gerador uma contraprestação
estatal, cuja contrapartida exigida do contribuinte não guarda relação com sua capacidade
econômica.

5.2.2. Preservação do mínimo existencial


Se o princípio da capacidade contributiva
constitui o norte que alumia o sistema tributário e Escola

sua adequada compreensão implica o direito/dever


de contribuir conforme a efetiva possibilidade, nada
parece mais lógico, óbvio e natural do que não se
admitir a exigência de tributos nos casos em que
capacidade contributiva não existe, preservando-se
o mínimo existencial.

Desta forma, não se deve admitir a exigência


de Imposto de Renda sobre salários cujos valores

sejam insuficientes para fazer frente àquelas necessidades básicas, as quais a própria

Constituição determinou que deveriam ser satisfeitas com o salário-mínimo (art. 7°

inciso IV).

Tampouco se admite a exigência de tributos que incidam sobre o patrimônio de


valores irrisórios (imóveis urbanos ou rurais, veículos automotores, transmissão de
propriedade via compra e venda, doação ou causa mortis). A titularidade de patrimônio
de valor insignificante denota, em tese, a inexistência de capacidade contributiva, razão
pela qual a exigência de tributos sobre tais bens constituir-se-ia afronta à ideia do
mínimo existencial.

Não se admite, outrossim, a exigência de tributos vinculados (taxas e contribuições


de melhoria, principalmente) daqueles cidadãos cuja renda mensal seja insuficiente para
prover a própria sobrevivência, embora se reconheça que essas espécies tributárias
sejam menos afeitas ao princípio da capacidade contributiva.

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5.2.3. Princípio da seletividade (IPI e ICMS)


Embora existam justificadas restrições
à classificação dos impostos em diretos e
indiretos, entendem-se como diretos aqueles
impostos cujo ônus tributário é assumido
pela pessoa do sujeito passivo (ex: imposto
de renda e imposto de importação); seriam
indiretos, por sua vez, aqueles impostos cujo
ônus é, efetivamente, suportado por um terceiro,
que não corresponde ao sujeito passivo da
obrigação tributária (contribuinte de direito).

Cabe ressaltar que, no caso do Brasil, deve-se falar em tributos indiretos, uma
vez que além dos impostos com tal característica (ICMS, IPI e ISS, principalmente), há
contribuições sociais (impostos finalísticos) que possuem características idênticas,
como ocorre com a Contribuição para o PIS, Cofins e Cide sobre os combustíveis, por
exemplo.

A discussão reside na questão concernente à aplicabilidade do princípio da


capacidade contributiva aos tributos indiretos, uma vez que, em relação aos tributos
assim classificados, o sujeito passivo da obrigação tributária repassa ao preço dos
produtos e serviços o custo respectivo, sendo que, dessa forma, o ônus tributário é
suportado, de fato, pelo consumidor final.

Essa questão pode ser resolvida mediante a aplicação de uma das regras
concretizadoras do princípio da capacidade contributiva: a seletividade. Mediante a
aplicação de alíquotas seletivas, bens indispensáveis à subsistência, poderiam ser
gravados com alíquotas menores ou, até mesmo, não serem gravados; já bens supérfluos
seriam tributados com alíquotas maiores, visto que o consumo corresponde a uma
razoável forma de graduar os tributos indiretos conforme a capacidade econômica do
contribuinte.

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aos limites do poder de tributar

O denominado princípio da seletividade está previsto em relação ao ICMS, no art. 155


§ 2º, II e, em relação ao IPI, no art. 153 § 3º I. Esse princípio também se aplica em
relação ao IPTU, pois suas alíquotas poderão ser diferentes de acordo com a
localização e o uso do imóvel (art. 156 § 1º, inciso II da CF/88, com redação
determinada pela EC 29/2000).

IPTU ICMS

IPI

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aos limites do poder de tributar

6. Imunidades

Consiste na exclusão de competência da União, estados,
Distrito Federal e municípios para instituir tributos relativamente
a determinados atos, fatos e pessoas, expressamente previstas
na Constituição Federal. Objetivam preservar da tributação
valores considerados como de superior interesse nacional.

A Constituição Brasileira não institui tributos, fixando


apenas os parâmetros dentro dos quais estes poderão ser
instituídos pela União, pelos estados e Distrito Federal e pelos
municípios (arts. 153 a 156). No entanto, a própria Constituição
determina que algumas pessoas, situações ou bens não serão alcançados pela tributação
(imunes), tendo como fundamento alguns princípios e direitos fundamentais, conforme o
disposto no inciso VI do art. 150.

Esses impedimentos de incidência da regra tributária almejam o incentivo à


realização dos direitos sociais, econômicos e culturais, conhecidos como direitos
fundamentais de segunda dimensão,1 de modo a cumprir os objetivos fundamentais de
uma república verdadeiramente democrática. Eles incentivam a solidariedade, buscando
alcançar garantias ao desenvolvimento nacional e dando importância aos valores sociais
do trabalho. Tais ideais, apesar de parecerem lógicos para um modelo estatal classificado
como o desse País, foram positivados pelo constituinte originário, consoante se extrai do
art. 1º, inc. IV, e art. 3º, incs. I e II, da Constituição.

É de suma importância as imunidades, tendo em vista que se o Estado não pode


dar efetividade aos direitos sociais de seus cidadãos, ao menos deve incentivar que a
iniciativa privada o faça. Por isso, tais atividades não devem ser “taxadas”. Neste sentido,
segue a doutrina de Sacha Calmon:

1
SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. 7a ed. rev. atual. e ampl. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2007. p. 56/58.

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aos limites do poder de tributar

A imunidade das instituições de educação e assistência social as protege da

incidência dos impostos sobre as suas rendas, patrimônio e serviços, quer


sejam as instituições contribuintes de jure ou de fato. A imunidade em tela

visa preservar o patrimônio, os serviços e as rendas das instituições de


educação e assistenciais porque os seus fins são elevados, nobres, e, de uma
certa maneira, emparelham com as finalidades e deveres do próprio Estado:
proteção e assistência social, promoção da cultura e incremento da educação
lato sensu. (....).2 (grifo nosso) 2

As imunidades ora servem para concretizar direitos fundamentais, ora para


concretizar princípios constitucionais, razão pela qual, tanto quanto ocorre com os
referidos, são entendidas como Cláusulas Pétreas, insuscetíveis de serem modificadas
– via Emenda Constitucional – pelo poder constituinte derivado.

A imunidade recíproca impede que a União, os estados e


os municípios cobrem impostos sobre o patrimônio, renda
e serviços uns dos outros, abrangendo as atividades das
próprias pessoas políticas de direito público (alínea “a”).
Está amparada no princípio federativo, previsto no art. 1º da
Constituição.

A imunidade dos templos evita a exigência de impostos so-


bre as atividades religiosas, estando fundamentada na liber-
dade de culto. Obsta o exercício do poder de tributar também

em relação a imóveis alugados pelas entidades religiosas,

desde que os valores sejam aplicados na atividade-fim da

instituição.

2
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Manual de direito tributário. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 148.

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Imunidade dos partidos políticos, suas fundações, sindica­


tos, instituição de educação e de assistência social. Estas
pessoas jurídicas não sofrerão a exigência dos impostos
sobre patrimônio, renda ou serviços, se não tiverem fina-
lidade lucrativa e atenderem os requisitos da lei, que, nes-
te caso, segundo entendimento doutrinário3, é o art. 14 do
CTN, cuja redação foi modificada pela Lei Complementar nº
104/2001, no sentido de impedir que as pessoas jurídicas
referidas distribuam qualquer parcela de seu patrimônio ou
de suas rendas, a qualquer título. Com esta imunidade, estão
relacionados os direitos fundamentais à educação, à saúde,
à representação sindical, à liberdade dos partidos políticos,
à liberdade associativa.
Conforme sustenta Aliomar Baleeiro, não se pode entender
uma instituição de educação apenas no sentido estrito. O
conceito para classificar uma instituição como educativa
deve ser vasto, compreendendo todas aquelas atividades
voltadas ao desenvolvimento dos cidadãos, preparando-os
para exercer a cidadania e qualificando-os para o mercado
de trabalho, englobando-se cursos, pesquisas, pós-gradua-
ção em sentido amplo, atividades culturais etc4.
34

3
A respeito, ver: COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Manual de direito tributário. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2001. p. 148; AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 14. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 155/156;
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p 209; ÁVILA, Alexan-
dre Rossato da Silva. Curso de direito tributário. 2. ed. rev. ampl. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2006. p. 145.
4
BALEEIRO, Aliomar. Direito tributário brasileiro. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998-2003. p. 137. No mesmo
sentido, o entendimento de Ricardo Lobo Torres. TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de direito constitucional fi-
nanceiro e tributário, vol. III; os direitos humanos e a tributação: imunidade e isonomia. Rio de Janeiro: Renovar,
1999. p. 257.

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Quanto à imunidade dos livros, jornais, periódicos e papel


respectivo objetiva proteger a divulgação de ideias, conheci-
mentos, a livre expressão do pensamento. Mediante a deso-
neração de impostos, torna-se mais facilitada a confecção e
a sua distribuição, independentemente do conteúdo de cada
publicação.

A imunidade às contribuições sociais está prevista no art.


195, § 7º da Constituição, diferentemente das demais, que
estão contidos no art. 150, inc. VI. A Constituição estabelece
que são isentas (na verdade imunes) de contribuição para a
seguridade social as entidades beneficentes de assistência
social que atendam às exigências estabelecidas em lei.

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Saiba Mais

O Supremo Tribunal Federal5 pronunciou-se no sentido de que,


apesar de não estar contida no art. 150, inc. VI, trata-se de verdadeira
hipótese de imunidade. A grande diferença desta para a isenção, é
que a isenção está prevista em lei, estando ao alvitre do legislador, ao
contrário da previsão constitucional que impede a incidência da
norma tributária. A discussão está focada na necessidade de criação
dos requisitos para o gozo da imunidade das contribuições por lei
complementar, sendo que a doutrina majoritária tem se manifestado
pela necessidade da maioria absoluta dos membros do Congresso
Nacional. O STF ainda não se pronunciou, havendo Recurso Extraor­
dinário pendente de julgamento a respeito. De seu turno, a União vem
criando as exigências por Lei Ordinária, sendo que, inicialmente,
estavam contidas no art. 55 da Lei nº 8.212/91, revogada pelo art. 44
da Lei nº 12.101/09, que atualmente trata da matéria.

Além das imunidade genéricas mencionadas, há hipóteses de imunidade específicas


previstas na Constituição, como a imunidade do IPI sobre produtos exportados (art. 153,
§ 3º, inc. III); ICMS sobre mercadorias exportadas (art. 155, inc. X, alínea “a”); ITR sobre
pequenas glebas rurais (art. 153, § 4º); ITBI sobre Imóveis Incorporados ao Patrimônio de
Pessoa Jurídica (art. 156, § 2º, inc. I); e Contribuições Sociais Relativamente às Receitas
Decorrentes de Exportação (art. 149 § 2°, inc. I).
5
Parte do Julgado do Ministro Celso de Mello: “A cláusula inscrita no art. 195, § 7º, da Carta Política - não obs-
tante referir-se impropriamente à isenção de contribuição para a seguridade social -, contemplou as entidades
beneficentes de assistência social, com o favor constitucional da imunidade tributária, desde que por elas preen-
chidos os requisitos fixados em lei. A jurisprudência constitucional do Supremo Tribunal Federal já identificou, na
cláusula inscrita no art. 195, § 7º, da Constituição da República, a existência de uma típica garantia de imunidade
(e não de simples isenção) estabelecida em favor das entidades beneficentes de assistência social”. BRASIL.
Supremo Tribunal Federal. Recurso Ordinário em Mandado de Segurança nº 22192. Recorrente: Associação
Paulista da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Recorrida: União (Fazenda Nacional). Relator: Min. Celso de Mello,
28 de novembro de 1995. Disponível em: <http://redir. stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&do-
cID=115743>. Acesso em: 15 abr. 2014.

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aos limites do poder de tributar

7. Síntese e considerações finais



Corria o ano de 1215, quando a Inglaterra encontrava-se em uma situação
conflituosa. Ao cabo da conflagração, o Rei João Sem Terra é forçado a assinar a
denominada Magna Carta, a qual – entre outras importantes normas – limitava o poder
do soberano e garantia que a cobrança de impostos estava condicionada à aprovação
do Conselho de Barões, que, em última análise, constituiu uma ideia embrionária de
Parlamento.

Reitera-se este fato em face de sua inequívoca relevância histórica, já que ao


mesmo tempo limitou os poderes, garantiu direitos fundamentais de primeira geração
(que protegem a vida, a liberdade e a propriedade) além de instituir a primeira das
Constituições, de tal sorte que ainda hoje o termo Magna Carta é utilizado como sinônimo.

Em terrae brasilis, quase oito séculos passaram-se e esta garantia encontra-


se positivada na Constituição ora vigente. Quando se fala em Constituição, é preciso
entender – de uma forma clara e inconteste – que ela verdadeiramente funda uma nação,
constituiu um Estado e corresponde ao principal meio de proteção do cidadão contra o
arbítrio estatal.

Neste contexto, a Magna Carta Brasileira de 1988 é, sem sombra de dúvidas,


um exemplo a ser seguido, pelo menos no campo formal. Sua aprovação consolidou
o entendimento de que a Carta, embora prolixa, trata-se de um belíssimo diploma
normativo.

No campo tributário, se, de um lado, é reconhecível a existência do dever fundamental


de pagar tributos, por outro, há inequívocos limites a esse dever e, portanto, ao próprio
poder de tributar, na medida em que este só poderá ser validamente exercido nos estritos
limites permitidos pela Constituição.

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Constituição Federal

Leis
Decretos
complementares

Leis ordinárias
Como na Inglaterra do século XIII, a exigência de tributos só poderá ocorrer se
houver lei possibilitando. Quando se menciona o termo “lei”, é imprescindível frisar que
só merece tal rótulo a norma jurídica proveniente do parlamento. Mais do que isso, a
lei deverá definir todos os elementos da denominada hipótese de incidência tributária,
de tal sorte que, tudo que influenciar no montante devido e na definição de quem deve
pagar, deveestar expressamente previsto em lei, salvo as exceções que só a própria
Constituição pode estabelecer.

Essa lei não será aplicada em relação a fatos pretéritos, uma vez que “leis retroativas
só os tiranos as fazem e só escravos as obedecem”. Há também o direito de conhecer-
sepreviamente a carga fiscal, motivo pelo qual, em regra, as normas tributárias que
implicam instituição ou majoração de tributos só passam a produzir efeitos a partir de
1º de janeiro de ano subsequente (princípio da anterioridade), respeitado um período
mínimo de noventa dias da publicação.

A lei não poderá, a pretexto de tributar, ter efeito confiscatório, e isso se materializaria
com a exigência de um tributo cuja cobrança implicasse o próprio esgotamento da fonte
produtora da riqueza. Ainda, a exigência de tributos não pode obstar a livre circulação de

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pessoas ou bens no território nacional, ressalvada a cobrança de pedágios pela utilização


de vias públicas.

Os direitos fundamentais ora mencionados têm reconhecido caráter de “cláusula


pétrea”, e isto significa que não podem ser suprimidos, nem por Emenda Constitucional.
Apenas com a edição de um novo “Contrato Social”, tais direitos poderiam ser suprimidos
e, vale sempre lembrar, que uma nova constituição não pode ficar a mercê de maiorias
ocasionais. Ela, necessariamente, decorre da ruptura de um modelo político e econômico,
como ocorreu às vésperas da convocação da última constituinte. Tais direitos não
representam um rol taxativo. Há muitos outros, implícita ou explicitamente, previstos na
Constituição Brasileira.

Quando se trata de um assunto desses, parece que se está tratando de algo


distante da realidade daqueles que não militam no mundo jurídico. No entanto, estudar e
conhecer a própria constituição é algo tão relevante que não poderia ficar restrito a grade
curricular de um curso de Direito. Conhecer e compreender a Constituição trata-se de
um aspecto tão fundamental à educação e à cultura, que, sem exageros, corresponde ao
ponto de partida para a construção de um país melhor para esta e para futuras gerações.

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aos limites do poder de tributar

8. Referências
AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 14. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2008.

ÁVILA, Alexandre Rossato da Silva. Curso de direito tributário. 2. ed. rev. ampl. Porto
Alegre: Verbo Jurídico, 2006.

BALEEIRO, Aliomar. Direito tributário brasileiro. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998-
2003.

BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar. 7. ed. revisada por


Misabel Abreu Machado Derzi, Rio de Janeiro: Forense, 2011.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Ordinário em Mandado de Segurança nº


22192. Recorrente: Associação Paulista da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Recorrida:
União (Fazenda Nacional). Relator: Min. Celso de Mello, 28 de novembro de 1995. Disponível
em: <http://redir. stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=115743>.
Acesso em: 15 abr. 2014.

BUFFON, Marciano. Tributação e Dignidade Humana: entre direitos e deveres


fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009.

CARRAZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. 28ª. ed. São Paulo:
Malheiros, 2012.

CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

CASALTA NABAIS, José. 2009. Por um Estado Fiscal Suportável - Estudos de Direito
Fiscal, Volume III. Coimbra: Almedina. 2012.

CASALTA NABAIS, José. O dever fundamental de pagar impostos. Contributo para


compreensão do estado fiscal contemporâneo. Coimbra: Almedina. 2009.

COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Manual de direito tributário. 2. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2001.

MAURER, Béatrice. Notas Sobre o Respeito da Dignidade da Pessoa Humana... ou


Pequena Fuga Incompleta em Torno do Tema Central. In: SARLET, Ingo Wolfgang (Org.).
Dimensões da Dignidade: ensaios de filosofia do direito e direito constitucional. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2005.

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Unidade 4: Tributação e direitos fundamentais: dos direitos sociais


aos limites do poder de tributar

MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. Tomo IV – Direitos Fundamentais. 9ª.


ed. Coimbra: Coimbra, 2012.

MOSCHETTI, Francesco. La Capacitá Contributiva, Padova: CEDAM, 1993.

ROBLES, Gregorio. Os Direitos Fundamentais e a Ética na Sociedade Atual. São Paulo:


Manole, 2005.

SACCHETTO, Cláudio. O Dever de Solidariedade no Direito Tributário: o ordenamento


italiano. Trad.: Milene Eugênio Cavalcante Greco e Marco Aurélio Greco. In: GRECCO,
Marco Aurélio; GODOI, Marciano Seabra (Coords). Solidariedade Social e Tributação. São
Paulo: Dialética 2005.

SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. 11ª. ed. Porto Alegre:
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SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na


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STRECK, Lênio Luiz. Jurisdição Constitucional e Hermenêutica: uma nova crítica do


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TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional Financeiro e Tributário. v. II:


Valores e Princípios Constitucionais Tributários. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.

TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional Financeiro e Tributário. v. III: 2ª


Ed. Os Direitos Humanos e a Tributação: imunidades e isonomia. Rio de Janeiro: Renovar,
2000.

VIEIRA DE ANDRADE, José Carlos. Os Direitos Fundamentais na Constituição Portuguesa


de 1976. 5ª. ed. Coimbra: Almedina, 2012.

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IPVA COFINS

IOF
ICMS

IR

IPTU

ISS
TLP

EDUCAÇÃO FISCAL:
TRIBUTAÇÃO, ORÇAMENTO
E COESÃO SOCIAL

E S TA D O E
TRIBUTAÇÃO
Sumário

1. Como o Estado obtém recursos para a sua manutenção ...............................................4

1.1. Tributo, a principal fonte de financiamento do Estado ............................................4

1.2. Princípio da solidariedade e sua relação com o tributo...........................................5

2. Como surgiu o tributo e sua história no Brasil.................................................................7

2.1. História do tributo no Brasil.......................................................................................9

3. Tributo e suas espécies...................................................................................................12

3.1. Tributo e suas espécies ...........................................................................................12

Conceito de tributo .....................................................................................................13

Características dos tributos.......................................................................................14

Classificação dos tributos..........................................................................................15

Espécies de tributos ...................................................................................................17

Empréstimos compulsórios .......................................................................................17

3.2. Imposto: o principal tributo .....................................................................................19

Taxas ...........................................................................................................................21

Contribuição de melhoria ...........................................................................................22

Contribuições especiais ou parafiscais.....................................................................23

4.Como as receitas Tributárias são repartidas? ................................................................24

4.1. Receitas tributárias indiretas...................................................................................25

4.2 Receitas tributárias diretas.......................................................................................26

5. Crimes contra a ordem tributária ....................................................................................27

5.1. Efeitos sociais da pirataria ......................................................................................28

5.2. Combate à pirataria..................................................................................................29

6. Carga tributária e questionamentos sobre o Sistema Tributário Nacional atual.........31

Reflexões: em busca da justiça fiscal ............................................................................33

7. Normas gerais de Direito Tributário................................................................................35

7.1. Obrigação tributária .................................................................................................35

7.2. Fato gerador .............................................................................................................36

7.3. Sujeitos da obrigação tributária ..............................................................................36

8. Crédito tributário ..............................................................................................................38

8.1. Constituição..............................................................................................................38

8.2. Suspensão da exigibilidade .....................................................................................38

8.3. Extinção do crédito tributário ..................................................................................39

Referências...........................................................................................................................42

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

1. Como o Estado obtém recursos para a sua


manutenção

1.1. Tributo, a principal fonte de financiamento do Estado


Para compreender o papel social dos tributos, é importante discorrer sobre as
principais fontes de financiamento de que o Estado pode lançar mão para realizar seus
objetivos traçados na Constituição.

As principais fontes históricas de financiamento do Estado são:

Emissão de moeda: são receitas de senho­


riagem utilizadas como instrumento de
política monetária. A simples emissão de
moeda que não encontre lastro econômi­
co, isto é, que não se faça em proporção ao
crescimento da circulação de bens e servi­
ços no mercado, conduz, inevitavelmente, à
perda de seu valor e, portanto, a processos
inflacionários, que são extremamente in­
justos com a sociedade, em especial com
os mais pobres, afrontando diametralmen­
te princípios fundamentais dispostos na
Constituição.

Emissão de títulos do governo: são receitas


provenientes da política fiscal, o que
gera endividamento público. O processo
de obtenção de recursos públicos via
endividamento deve ter por objeto maior
realizar investimentos na infraestrutura
socioeconômica do país. Por outro
lado, se utilizada para pagar despesas
correntes, pode gerar passivos difíceis
de ser arcados pelas gerações futuras,
comprometendo, em parte, a capacidade
de desenvolvimento de um país.

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

Atividade empresarial do próprio Estado:


receitas provenientes de indústrias,
serviços, agropecuárias e serviços
patrimoniais decorrentes da atuação de
empresas estatais. Esse tipo de receita
está em processo de declínio, tendo em
vista a mudança do papel do Estado na
economia contemporânea, ao reduzir sua
intervenção direta e aumentar seu poder
regulador.

Arrecadação tributária: são receitas


provenientes de recursos obtidos por meio
da cobrança de tributos e de contribuições
do patrimônio dos particulares.

1.2. Princípio da solidariedade e sua relação com o tributo


Para entender o tributo como a principal fonte de financiamento do Estado, deve-se
levar em consideração o princípio que materializa a solidariedade prevista nos objetivos
constitucionais de nossa República, expresso no art. 3º da CF/88:

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do


Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades


sociais e regionais;

IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,se­


xo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (grifou-se)
(BRASIL, 1988).

Perceber a questão tributária


como a primeira forma de a sociedade $
$
exercer a solidariedade, em um país
$
de dimensões continentais como é o $ $
Brasil, conduz à consciência de que $ $ $
os cidadãos contribuem, por meio $
$
do pagamento de tributos, para que
todos possam usufruir dos benefícios $
$
de fazer parte da nação que busca a
justiça, a fraternidade e o acesso aos
$
direitos que proporcionam qualidade
de vida, em condições de igualdade e
de forma sustentável.

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

2. Como surgiu o tributo e sua história no Brasil


O tributo tem origem remota e, quando da criação


das primeiras sociedades, certamente acompanhou a
evolução do homem.

Tempos depois, as contribuições tributárias


passaram a ser compulsórias, quando os vencidos de
guerra eram forçados a entregar parte ou a totalidade
de seus bens aos vencedores, os chamados espólios
de guerra.

Após essa época, os chefes de Estado passaram


a estabelecer uma contribuição pecuniária a ser paga
pelos seus súditos, sob a forma de tributos.

Saiba Mais

O texto mais antigo encontrado sobre a cobrança de tributos na


antiguidade é uma placa de 2.350 a.C., em escrita cuneiforme, que
descreve as reformas empreendidas pelo rei Urukagina na cidade­
-estado de Lagash, localizada na antiga Suméria, entre os rios Tigre
e Eufrates. O documento relata a cobrança de impostos extorsivos e
leis opressivas, a exploração por funcionários corruptos e o confisco
de bens para o rei.

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

A ORIGEM DOS TRIBUTOS E A HISTÓRIA DOS TRIBUTOS NO BRASIL

Quando surgiram os tributos? Será que é algo novo? Que tal reviver um
pouco da história dos tributos?

É impossível estudar a questão do tributo sem considerar seus aspectos históricos,


até porque a tributação acompanhou a evolução do homem.

Estudos indicam ter sido voluntária a primeira manifestação tributária, em forma de


presentes ou ofertas destinadas aos líderes ou chefes, por seus serviços ou sua atuação
em favor da comunidade.

A instituição e a cobrança do tributo sofreram várias modificações: na Grécia, no


século VII a.C., instituiu-se o tributo administrado pelo Estado, como o conhecemos hoje.
À custa do trabalho escravo e dos tributos pagos pelos cidadãos, os gregos construíram
uma das maiores civilizações do mundo antigo.

Na Idade Média, os servos estabeleciam com seus senhores uma relação hereditária
de dependência conhecida como vassalagem. Em troca de proteção, ofereciam seu
trabalho e pagavam pesados impostos.

Durante a Idade Moderna, na vigência do absolutismo, a sociedade estruturava-


se em castas. As classes dominantes eram a nobreza e o clero, que nada pagavam,
enquanto os comerciantes (chamados burgueses) e os trabalhadores sustentavam o
Estado por meio de pagamentos de elevados tributos, o que acabou desencadeando a
Revolução Francesa.

Com as Revoluções Liberais, o Estado passou a ser limitado por normas jurídicas,
que procuram, assim, evitar os excessos. Nos regimes democráticos, como é o caso do
Brasil, a Constituição, que é a Lei Maior de um país, garante os direitos dos contribuintes,
impondo limites ao poder do Estado de tributar.

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

2.1. História do tributo no Brasil


PERÍODO CARACTERÍSTICAS

Descobrimento • Pagamento à coroa Portuguesa de tributo relativo à extra­


1500 -1532 ção do pau-brasil.

Governo-Geral • Tributos cobrados pelos “rendeiros” (cobradores de ren­


1500 -1532 das).

• Prisão de contribuinte com atraso no pagamento do tribu­


to (pago com produtos in natura).

• Inexistência de sistema tributário e organização fiscal.

Tributos divididos da seguinte forma:

• I - Rendas Real do Erário – (Portugal)

a) 10% do valor comercializado de produtos de importação e


exportação;
Capitanias
Hereditárias b) 20% de valor obtido pela extração de metais e pedras pre­
ciosas (quinto);
1532-1548 c) 10% do valor obtido com produtos primários (pescado, co­
lheita de todos os produtos da terra) – dízimo;

• II - Rendas dos donatários –

20% do produto do pau-brasil, especiarias e drogas.

2% da extração de metais e pedras preciosas (dízimo do quin­


to). 1% de todas as rendas da coroa (redizima, ou seja, 10%
da dízima).

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

Corte Portuguesa • Brasil passa a ser sede da monarquia portuguesa. Aumento


e do Reino Unido de despesa para os cofres públicos.
1763 -1822
• Aumento das alíquotas dos tributos já existentes e criação
de novos.

• Aparecimento de nova modalidade de tributo: a taxa.

Brasil • Traçados os limites e fundamentos do Direito Tributário


Independente Nacional. Mudança de competências tributárias.
1822 • Alteração e supressão de tributos.

• Tributos passaram a ser definidos tendo em vista o bem­


-estar social.

• Manutenção da estrutura tributária do império com poucas


modificações.

República Velha ao • Criação do imposto sobre consumo.


final da Era Vargas • Criação do imposto de renda – 1924.
1889 - 1954
• Evolução da estrutura tributária do País com a Constituição
de 1934.

• Estados foram dotados de competência privativa para ins­


tituir e arrecadar o imposto de vendas e consignações.

• O imposto passa a ser utilizado como instrumento de polí­


tica econômica, ou seja, assume uma função extrafiscal.

• Esforço de industrialização do País.


Década de 1950
• Crescimento da despesa sem aumento da receita, resultan­
do em grave crise econômica.

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

• Aumento de arrecadação de impostos para promover o


Ditadura Militar
crescimento acelerado do país.
1964 - 1985
• Reforma da legislação tributária e criação do Código Tribu­
tário Nacional - CTN (1966).

• Advento do conhecido “milagre brasileiro”, mediante incen­


tivos fiscais para o setor produtivo, se sobrepondo à equi­
dade tributária.

A partir da • Ampliou-se e garantiu-se direitos sociais.


Constituição de • Instituição e aumento de tributos.
1988
• Aumento da carga tributária.

• Instituição de Sistema Tributário com competência da


União, dos estados e dos Municípios.

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

3. Tributo e suas espécies


3.1. Tributo e suas espécies
Depois de tratarmos brevemente sobre a legislação tributária, conheça agora o
conceito de tributo e suas características.

Afinal, o que é tributo? Quais são suas características? Quais as espécies


tributárias existentes no Brasil?

O conceito de tributo está previsto no art. 3º, CTN, Lei 5.172/66:

“Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo


valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, insti­
tuída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente
vinculada.”

O conceito legal traz várias informações relevantes que conformam o tributo e


fundamentam sua cobrança.

De acordo com o art. 5º, do CTN, os tributos são impostos, taxas e contribuições
de melhoria. Na Constituição Federal, são previstas duas outras figuras tributárias: os
empréstimos compulsórios (art. 148) e as contribuições especiais ou parafiscais (art.
149).

Dessa forma, caso a interpretação esteja limitada ao CTN, podemos afirmar que
só existem três espécies de tributos no Brasil, mas a partir de um olhar da Constituição
Federal, que é o entendimento da maioria dos autores e do próprio Supremo Tribunal
Federal, são cinco os tributos brasileiros: impostos, taxas, contribuições de melhoria,
empréstimos compulsórios e as contribuições especiais ou parafiscais.

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

Os tributos são devidos a um ente público (União, estado, Distrito Federal ou


município), têm fundamento no poder soberano do ente tributante que é conferido pela
própria Constituição Federal, e a finalidade é de servir de meio para o atendimento às
necessidades financeiras do Estado de modo que este possa realizar sua função social.

Agora vamos relembrar as características principais dos tributos!

Conceito de tributo
De acordo com o Código Tributário Nacional - CTN:

“Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor

nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em

lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.” (Art.

3º. CTN, Lei 5.172/66).

De acordo com o art. 5º, CTN, os tributos são impostos, taxas e contribuições de
melhoria.

O conceito destacado merece mais explicações, não é mesmo? Acompanhe a


seguir os detalhes:

“Toda prestação pecuniária Todo pagamento obrigatório ao Estado.


compulsória.”

“Em moeda ou cujo valor nela se possa O pagamento é efetuado em dinheiro, mas a lei
exprimir.” poderá admitir que ele seja feito por meio de algo
de valor equivalente à moeda ou nela conversível.

“Que não constitua sanção de ato ilícito.” Tributo não é penalidade por infração; multa, sim,
dado que constitui sanção pecuniária decorrente
de ato ilícito.

“Instituída em lei.” Sem lei que o institua, não existe tributo (princípio
da legalidade).

“ Cobrada mediante atividade administrati­ A cobrança deve ser realizada conforme deter­
va plenamente vinculada.” mina a lei, não comportando discricionariedade
do administrador público.

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

Características dos tributos


Saiba Mais

Para saber mais sobre Tributo e Impostos, assista ao vídeo disponí­


vel em: https://www.youtube.com/embed/o-iHb2iu9bU

Conheça as características dos tributos:

• São devidos a um ente público (União, estado, Distrito Federal ou município);

• Têm fundamento jurídico no poder soberano do ente tributante;

• Sua finalidade é servir de meio para o atendimento às necessidades financeiras


do Estado de modo que este possa realizar sua função social.

Saiba Mais

Poder soberano é poder conferido pela Constituição.

Ente tributante é o ente político (União, estado, Distrito Federal e


município) designado pela Constituição com o poder criar e cobrar
impostos.

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

Classificação dos tributos


Existem dois tipos de classificação para os tributos: os vinculados e os não
vinculados.

Tributos vinculados

Os tributos vinculados são aqueles cuja cobrança se justifica pela existência de


uma determinada atividade do Estado, voltada diretamente para o particular que pagou o
tributo, beneficiando-o de alguma forma. Ou seja, exigem uma contraprestação estatal.
São tributos vinculados, as taxas e as contribuições de melhoria.

Exemplos:

Tributos não vinculados

Os tributos não vinculados são aqueles cobrados pelo Estado sem a exigência
da contraprestação de serviços ou obras ao contribuinte em específico. O Estado, pelo
seu poder de império, cobra esse tipo de tributo para obter recursos para financiar suas
atividades.

Exemplos:

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

Saiba Mais

O Poder de Império representa a capacidade de o Estado impor


soberanamente sua vontade com vistas a atender ao interesse
público.

COMPETÊNCIA COMUM TAXAS E

CONTRIBUIÇÃO

Podem ser instituídos por


DE MELHORIA

qualquer ente tributante:


União, Tributos que estão
estados, vinculados a uma
Distrito Federal e prestação de
municípios. serviço concreto.

COMPETÊNCIA PRIVATIVA IMPOSTOS


Cada imposto é de competência
específica de um ente tributante. Tributos que não
Dessa forma, por exemplo, se aos estão vinculados a
estados compete instituir e arrecadar
uma prestação de
o Imposto sobre a Propriedade de
Veículos Automotores - IPVA, a sua serviço específica.
omissão não autoriza a União ou os
municípios a instituí-lo.

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

Espécies de tributos
Observe na tabela a seguir os tipos de tributos e a legislação que ampara cada um
deles:

TRIBUTOS BASE LEGAL

• os impostos; • art. 5º CTN e Art.145, CF/1988


• as taxas;
• as contribuições de melhoria.

• os empréstimos compulsórios • art 148, CF/1988


• as contribuições especiais ou parafiscais • art 149, CF/1988

Empréstimos compulsórios
O aspecto mais relevante e diferenciador desta espécie tributária é ser restituível,
ou seja, o tributo pago deve ser devolvido ao contribuinte. No entanto, também requer
capacidade contributiva e lei complementar que o estabeleça. Observe a seguir uma
síntese dos principais tributos brasileiros, de acordo com a Constituição Federal:

ENTE IMPOSTO FATO GERADOR FUNÇÃO

II - Imposto sobre a Entrada no território Extrafiscal


Importação de Produtos nacional de bens
Estrangeiros. estrangeiros.

IE - Imposto sobre Saída do Brasil de Extrafiscal


DA UNIÃO a Exportação de produtos nacionais ou
Art. 153/CF Produtos Nacionais e nacionalizados.
Nacionalizados.

IR - Imposto sobre a Renda Aquisição de renda Fiscal


e Proventos de qualquer decorrente do capital
Natureza. ou do trabalho.

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

IPI - Imposto sobre Sobre produtos Extrafiscal/


Produtos Industrializados. nacionais ou Fiscal
estrangeiros sujeitos á
industrialização.

IOF - Imposto sobre Operações de crédito, Extrafiscal


Operações de Crédito, câmbio, seguros,
Câmbio, Seguros, ou títulos e valores
DA UNIÃO Relativas a Títulos ou mobiliários.
Art. 153/CF Valores Mobiliários.

ITR - Imposto sobre a Propriedade Rural. Extrafiscal


Propriedade Territorial
Rural

IGF - Imposto sobre Sobre grandes Fiscal/


Grandes Fortunas. fortunas - não Extrafiscal
instituídos.

ICMS - Imposto sobre A circulação de Fiscal


Circulação de Mercadorias mercadorias, a
e Prestações de serviço de prestação de serviços
Transporte Interestadual de transporte
e Intermunicipal e de interestadual e
DOS Comunicação. intermunicipal e de
ESTADOS E comunicação.
DO DISTRITO
FEDERAL IPVA - Imposto sobre a Propriedade de Fiscal/
Propriedade de Veículos veículos automotores. Extrafiscal
Art. 155/CF Automotores.

ITCMD - Imposto sobre Pago por quem recebe Fiscal/


Transmissão Causa Mortis heranças, legados ou Extrafiscal
e Doação de quaisquer doações.
Bens ou Direitos.

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

IPTU - Imposto sobre Sobre a propriedade Fiscal/


a Propriedade Predial e dos imóveis urbanos. Extrafiscal
Territorial Urbana.

ISS - Imposto sobre Sobre a prestação Fiscal


Serviços. de serviços não
DOS
compreendidos na
MUNICÍPIOS
área de incidência do
E DO
ICMS.
DISTRITO
FEDERAL ITBI - Imposto sobre a É um imposto que Fiscal
Transmissão de Bens incide sobre a
Art. 156/CF
Imóveis Inter Vivos. transmissão de bens
imóveis inter vivos,
a qualquer título,
por ato oneroso, ou
seja, decorrente da
operação de compra e
venda.

3.2. Imposto: o principal tributo


Depois dessa trajetória de estudos, você já conseguiria definir o que é um


imposto?

Veja esta definição:


O imposto nada mais é que a quantia em dinheiro legalmente exigida pelo


poder público, que deverá ser paga pela pessoa física ou jurídica a fim de
atender às despesas feitas em virtude do interesse comum, sem levar em
conta vantagens de ordem pessoal ou particular.

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

IMPOSTO DIRETO IMPOSTO PROGRESSIVO

É aquele em que a pessoa que paga O percentual do tributo aumenta de


(contribuinte de fato) é a mesma que acordo com a capacidade econômica
faz o recolhimento aos cofres públicos do contribuinte, por meio de alíquotas
(contribuinte de direito). diferenciadas.

Exemplos: IRPJ, IRPF, IPVA e IPTU. Exemplos: IRPF, IRPJ e IPTU.

IMPOSTO INDIRETO IMPOSTO REGRESSIVO

É aquele em que o contribuinte de fato não O tributo é regressivo em relação à renda


é o mesmo que o de direito. O exemplo do contribuinte quando a proporção entre
clássico é o ICMS. É falsa a ideia de que o imposto a pagar e a renda decresce
o comerciante é sempre quem paga esse com o aumento do nível de renda, ou seja,
imposto; em geral, ele simplesmente não considera o poder aquisitivo nem a
recebe do consumidor e recolhe ao Estado capacidade econômica do contribuinte.
o imposto que está embutido no preço da
A regressividade é uma característica dos
mercadoria vendida.
impostos indiretos, como aqueles que
Exemplos: ICMS, IPI e ISS. incidem sobre o consumo, onde as alíquotas
dos impostos são as mesmas para todos
os indivíduos, independentemente dos
níveis de renda individuais.

Exemplo: ICMS.

Saiba Mais

Contribuinte é aquele que tem relação direta com o fato gerador do


tributo e recolhe o pagamento aos cofres públicos.

Alíquota é o percentual definido em lei para o cálculo do valor do


tributo.

Fato gerador é a situação prevista em lei que, se acontecer, provoca


o nascimento da obrigação tributária.

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

Taxas
As taxas “têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a
utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao
contribuinte ou posto à sua disposição.” (CTN, art. 77). Observe a seguir os tipos de
taxas.

Saiba Mais

Poder de polícia é poder que o Estado tem de fiscalizar e limitar a


liberdade dos particulares tendo em vista o interesse público. Trata­
-se de um poder disciplinador, que lhe permite intervir nas ativida­
des dos seus cidadãos para garantir a ordem e a segurança, de
sorte a tornar viável a vida em sociedade.

O art. 77 do CTN admite a existência de duas modalidades distintas de taxas:

• Taxas de fiscalização: decorrem do exercício do poder de polícia pelo ente estatal.


Exemplo: taxas de publicidade, de localização de estabelecimento comercial e
taxa de licença para construção de imóveis, cobradas pelo município.

• Taxas de serviço: são aquelas que têm como fato gerador a utilização de
determinados serviços públicos. Exemplos: taxa de emissão de passaporte, taxa
de coleta de lixo, taxa para emissão de certidão de bons antecedentes.

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

Contribuição de melhoria
A contribuição de melhoria é instituída para fazer face ao custo de obras públicas
de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e
como limite individual o valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado.

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

Contribuições especiais ou parafiscais


Observe a seguir as espécies de contribuições que existem no Brasil:

ESPÉCIES DEFINIÇÃO

é a fonte de financiamento do sistema de seguridade


social, responsável pelos serviços prestados pelo Estado
em decorrência dos direitos sociais presentes no texto
constitucional (CF, arts. 194 a 195).

PREVIDENCIÁRIA Contribuição de empregados,


empregadores, contribuintes individuais
e segurados facultativos para o
INSS, calculada sobre a respectiva
remuneração.

FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço.

Contribuições Sociais PIS Programa de Integração Social.

Pasep Programa de Formação do Patrimônio


do Servidor Público.

Cofins Contribuição para o Financiamento da


Seguridade Social.

CSLL Contribuição Social sobre o Lucro


Líquido.

São contribuições instituídas no interesse de profissões


Contribuições de legalmente regulamentadas, destinadas a custear as
interesse de categorias atividades de controle, fiscalização e disciplina do exercício
profissionais profissional. Ex.: engenheiros, advogados, médicos, corretores,
contadores, etc.

São contribuições compulsórias cobradas de empregadores


e empregados para o repasse a órgãos de defesa de seus
Contribuições de interesses (sindicatos e entidades de ensino e de serviço
interesse de categorias social - Senai, Sebrae, Sesi, entre outros). Enquadram-se
econômicas nesse conceito a contribuição sindical (Decreto-Lei nº 2.377,
de 8/7/1940), descontada de todo trabalhador e empregador
em favor dos sindicatos respectivos.

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

4.Como as receitas Tributárias são repartidas?



Federalismo Fiscal e Repartição das Receitas Tributárias

O que é o federalismo fiscal? Existe hierarquia entre os entes da Federação?

Como funciona a repartição de receitas tributárias? Será que o federalismo


fiscal vigente contribui para a justiça fiscal?

O federalismo fiscal tem como pontos fundamentais a configuração do sistema


financeiro-tributário, intimamente relacionado à definição da base de tributação e à
competência tributária de cada ente federado, além do estabelecimento de mecanismos
que garantam a distribuição dos recursos arrecadados.

No Brasil, de acordo com a configuração do Sistema Tributário, a União concentra


a maior parte dos tributos arrecadados, seguida pelos estados-membros, mas todos os
entes federados possuem competência tributária para arrecadar tributos próprios. Isto
não significa que a União seja superior aos demais entes federados, trata-se de uma
questão de competência que foi instituída pela própria Lei Maior.

Para arcar com suas responsabilidades e executar políticas públicas de forma


descentralizada, estados e municípios recebem também repasses constitucionais de
recursos, conforme determinação dos artigos 157 a 162 da Constituição Federal que
tratam da repartição das receitas tributárias.

Os repasses ou transferências constitucionais são alvo de acirradas críticas: os


municípios reivindicam ampliação da transferência de recursos para garantir a realização
de suas funções constitucionais, uma vez que a descentralização da execução das
políticas públicas, trazida sobre tudo com a Constituição Federal de 1988, sobrecarregou
os cofres públicos dos governos locais.

Além das transferências constitucionais, outra modalidade de transferência é a


voluntária, por meio da qual os governos locais recebem recursos advindos de convênios,
mas que podem ser originados de favorecimento político.

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

A repartição de receitas tributárias indiretas ocorre quando são formados fundos e


essa repartição depende de critérios previstos na Constituição Federal de 1988 (artigos
157, II, 158, II, III e IV e 159, III).

A repartição de receitas tributárias diretas se dá quando um percentual do imposto


arrecadado pela União ou pelo estado é repartido entre os entes tributantes, ou seja,
não pertence ao ente federado que tem a competência jurídica para instituir o tributo, e
sim àquele expressamente designado pela Constituição como beneficiário direto de um
percentual sobre a arrecadação do tributo.

4.1. Receitas tributárias indiretas


São classificadas como receitas tributárias indiretas: o Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Prestação de Serviços, o Imposto de Exportação e o Imposto sobre
Produtos Industrializados. Confira os percentuais:

• ICMS: 25% do ICMS arrecadado pelos estados pertence aos municípios; o


principal critério para distribuição é o movimento econômico do município.

• IE e IPI: 49% do produto da arrecadação desses impostos pela União é dividido


da seguinte forma (Redação dada pela Emenda Constitucional n° 84, de 2014):

• 21,5% para o Fundo de Participação dos Estados, o FPE, que é dividido entre
as unidades federadas, observando-se critérios da legislação;

• 22,5% para o Fundo de Participação dos Municípios, o FPM, que é distribuído


aos municípios, observados alguns critérios da legislação. Essa constitui a
principal fonte de arrecadação da maioria dos municípios do Brasil;

• 3,0% para os programas de financiamento do setor produtivo das regiões Norte,


Nordeste e Centro-Oeste. Do total que cabe ao Nordeste, 50% é destinado à
região semiárida;

• 1% ao Fundo de Participação dos Municípios, que será entregue no


primeiro decêndio do mês de dezembro de cada ano; (incluído pela Emenda
Constitucional nº 55, de 2007);

• 1% ao FPM, que será entregue no primeiro decêndio do mês de julho de cada


ano; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 84, de 2014).

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

Sobre o IPI, tem-se a seguinte repartição:

• 10% aos estados e ao Distrito Federal, proporcionalmente ao valor das


respectivas exportações de produtos industrializados;

Os estados entregarão aos respectivos municípios 25% dos recursos que foi
arrecadado com o IPI.

4.2 Receitas tributárias diretas


Ocorre quando um percentual do imposto
arrecadado pela União ou pelo Estado é repartido
entre os entes tributantes, ou seja, não pertence
ao ente federado que tem a competência jurídica
para instituir o tributo, e sim àquele expressamente
designado pela Constituição como benefício direto
de um percentual sobre a arrecadação do tributo, por
exemplo:

Tributo Destino

IR Aos estados e municípios cabe o produto da arrecadação do


Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) sobre os rendimentos
pagos, a qualquer título, por eles, suas autarquias e fundações.

ITR 50% do produto de sua arrecadação, que é de competência da União,


cabe aos municípios em cujo território está localizado o imóvel.

IPVA 50% do que o estado arrecadar com esse imposto é repartido com
o município onde foi emplacado o veículo.

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5. Crimes contra a ordem tributária


Aqui temos uma lista de crimes que são cometidos contra a ordem tributária do
país. Observe a seguir:

Sonegação Fiscal
Sonegação fiscal é um crime tributário, definido pela Lei
nº 4.729/1965, que ocorre após o fato gerador do tributo.
Corresponde a uma ação ou omissão dolosa tendente a impedir
ou retardar, total ou parcialmente, a informação que deveria ser
prestada à Autoridade Tributária, com a intenção de eximir-se
do pagamento de tributos.

Contrabando é o comércio internacional de mercadorias


Contrabando
proibidas por lei. É o caso de drogas, armas, medicamentos e
e Descaminho
outros produtos que sejam ilícitos. Já o descaminho consiste
em não pagar total ou parcialmente as obrigações ou impostos
devidos pela entrada e saída de mercadorias do país, ou pelo
consumo daquelas permitidas por lei. Tanto o contrabando
quanto o descaminho são crimes contra a administração
pública, previstos no art. 334 do Código Penal.

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

O termo contrafação é considerado pela doutrina e


jurisprudência como sinônimo de reprodução não
autorizada ou falsificação, comumente aplicado aos crimes
contra a fé pública previsto no Título X do Código Penal
Brasileiro (Decreto-Leinº2.848/1940) e, na sequência,
Contrafação passando a ser estendido aos crimes contra a Propriedade
e Pirataria Intelectual.

O termo pirataria, copiado da atividade dos corsários que


começaram a agir sem a devida «licença» do Estado após
o fim das guerras europeias durante o Renascimento, serve
para definir a ideia de reprodução não autorizada ou abusiva
(cópia), característica própria das violações dos direitos
protegidos pela propriedade intelectual, basicamente
atingindo o direito autoral e a propriedade industrial.

A pirataria é crime, ou seja, é a reprodução de um objeto


original para fins de comércio, sem a autorização do
detentor de sua propriedade.

5.1. Efeitos sociais da pirataria


São extremamente danosas as consequên­
cias da prática da pirataria sobre a sociedade. Po­
demos destacar:

• Redução do número de empregos


formais, gerando sobrecarga no sistema
previdenciário. Cerca de 1,5 milhão de
empregos são eliminados anualmente no
país por causa da pirataria.

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• Fuga de investidores nacionais e internacionais, que sofrem a concorrência


desleal dos que operam à margem da lei. Por exemplo: produção de medicamentos
falsos, gerando danos irreparáveis à saúde.

• Falência de indústrias nacionais que não conseguem competir com o preço dos
produtos piratas.

• Desestímulo à pesquisa e à cultura pela falta de respeito aos direitos autorais.

• Financiamento do tráfico de drogas, de armas e de terrorismo internacional,


estimulando a violência urbana e pondo em risco a segurança do cidadão.

5.2. Combate à pirataria


Para que o país possa garantir eficácia
no combate à pirataria, é importante analisar
as várias dimensões do problema e conjugar
ações, entre elas, a saber:

• Conscientizar a população sobre

as consequências negativas

associadas à prática da pirataria

por meio da realização de debates,


júris simulados e exposições Fonte: http://www.projetoescolalegal.org.br/wp-
content/uploads/2012/04/pirataria-brasil.jpg
demonstrando os efeitos lesivos
desses produtos para a saúde e segurança das pessoas e a economia do país;

• Colocar à disposição instrumentos de ouvidoria para que a população possa


denunciar os processos de importação suspeitos de fraude;

• Ampliar as ações fiscais e policiais para combater os inúmeros ilícitos associados


à prática da pirataria, dentre elas:

√ Instituir mecanismos de monitoramento capazes de identificar indícios da


prática da concorrência desleal e de crimes fiscais correlatos;

√ Definir produtos prioritários a serem fiscalizados, instruindo as unidades de


despacho sobre suas principais características;

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√ Padronizar os procedimentos de apreensão de mercadorias piratas;

√ Desenvolver um sistema que exija a autorização do titular da propriedade


intelectual para a liberação de determinadas mercadorias, como o existente
na Aduana da Argentina;

√ Desenvolver trabalhos conjuntos entre a administração tributária com outros


órgãos e instituições. (Ex: INPI, Polícia Federal, Judiciário, Legislativo e outros
órgãos).

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6. Carga tributária e questionamentos sobre o


Sistema Tributário Nacional atual
Quando o assunto é carga tributária, são muito comuns comentários como
“Nossa carga tributária é elevadíssima e não recebemos serviços públicos de qualidade,
especialmente se comparados com outros países”, ou, ainda, “A enorme carga tributária
inviabiliza o desenvolvimento do país”. Contudo, antes se faz necessário entendermos o
que é carga tributária e como se calcula. Acompanhe o conceito a seguir:

Carga tributária bruta se refere à relação entre o montante total da receita de


natureza tributária, arrecadada em determinado período, e o Produto Interno Bruto (PIB)
nesse mesmo período.

Por Exemplo
Carga Tributária Bruta = Arrecadação Tributária
Produto Interno Bruto
Carga Tributária Bruta = 1.597,02 (R$ trilhão) = 36,27%
4.402,54 (R$ trilhões)
Fonte: IBPT 2012

Saiba Mais

Carga Tributária é a medida do esforço da sociedade para o finan-


ciamento das políticas públicas.

PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos em determi-


nado período de tempo (ano/trimestre).

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QUESTIONAMENTOS
CONSEQUÊNCIAS

O atual Sistema não respeita o princípio da justiça fiscal, pelo


Regressividade e má qual os contribuintes com maior capacidade contributiva
distribuição da carga tributária devam ser mais onerados do que aqueles de menor renda e
patrimônio.

A carga tributária bruta brasileira é semelhante à observada


em países de alta renda. Os bens e serviços oferecidos pelo
Estado à população ficam abaixo do que seria possível obter
Retorno social é baixo em com os recursos arrecadados. Houve melhora nos últimos
relação à carga tributária anos, mas o Estado brasileiro ainda está longe de cumprir
integralmente sua responsabilidade de garantir à população
serviços públicos de qualidade, com acesso pleno e
equidade.

O grande número de tributos no país, com a consequente


Estrutura tributária desestimula as
quantidade de alíquotas e regras, torna o sistema muito
atividades produtivas e a geração complexo e pouco transparente, com elevados custos para
de emprego as empresas e pesada burocracia.

Os contribuintes brasileiros não se percebem como parte


ativa e interessada no processo orçamentário, não
estabelecem relações claras e diretas entre o pagamento de
Cidadania tributária incipiente tributos e a aplicação dos recursos e qualidade dos serviços
públicos e nem exigem informações acessíveis,
transparentes e simples sobre o funcionamento do sistema.
Pode-se considerar, portanto, a falta de cidadania como
causa e consequência das distorções existentes.

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Unidade 5 – Tributo: Definição e Tipologia

Reflexões: em busca da justiça fiscal


Refletindo
Diante do que foi analisado até o momento, levantamos as seguintes pergun­
tas: a carga tributária no Brasil é realmente elevada? O sistema tributário
brasileiro é justo? Estamos finalizando o curso e essas reflexões são muito
importantes!

A função social dos tributos está vinculada ao uso do Sistema Tributário Nacional
como um instrumento efetivo para que o Estado cumpra sua função social de promover
o bem comum, a igualdade e a justiça, por meio do desenvolvimento social e econômico.

É imprescindível que em sua estruturação normativa e em seus


objetivos estejam estabelecidos princípios de igualdade e justiça
social e fiscal. Entretanto, a essência do Direito é a sua aplicação
prática – dever das autoridades públicas. De nada adianta existir todo
um conjunto normativo se ele não é aplicado ou se ele não consegue
efetivar os ditames de igualdade e de justiça.

No Brasil, os tributos pesam efetivamente sobre os ombros da população e, em


especial, dos assalariados e consumidores. Contudo, paradoxalmente, são esses os que
menos conhecem a respeito do intrincado e complexo Sistema Tributário.

Quando o assunto é Carga Tributária, são muito comuns comentários como:


“nossa carga tributária é elevadíssima e não recebemos serviços públicos de qualidade,
especialmente se comparados com outros países”, ou ainda: “a enorme carga tributária
inviabiliza o desenvolvimento do país”.

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Porém, para que se discuta o montante que a sociedade destina ao Estado para
fazer frente às suas funções, são necessárias algumas definições. A primeira delas é
justamente a de carga tributária, que nada mais é que um indicador entre o volume de
recursos pagos a título de tributos e o PIB (Produto Interno Bruto). Este, por sua vez,
representa a soma de tudo o que é produzido no país em um espaço de tempo.

Os principais problemas do atual Sistema Tributário Nacional são:

i. regressividade e má distribuição da carga tributária, tendo em vista que a maior


carga tributária é oriunda da tributação indireta;

ii. o retorno social é baixo em relação à carga tributária, ou seja, não se vê uma
contrapartida efetiva do Poder Público;

iii. a estrutura tributária desestimula as atividades produtivas e a geração de


emprego, o que pode ser visto pela fragmentação legislativa e burocracia dos
Fiscos;

iv. cidadania fiscal incipiente, visualizada pela falta de informação e consciência da


sociedade em relação à função social do tributo.

Se o Sistema Tributário Nacional está repleto de problemas e distorções, é


fundamental sua reforma, de modo a torná-lo mais justo, simples e transparente.

E você? O que pensa sobre isso? Que sugestões você daria para uma refor­
ma tributária efetiva?

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7. Normas gerais de Direito Tributário



Nesta etapa do curso, examina-se as denominadas
normas gerais em matéria de direito tributário, as quais
Código
estão previstas no Código Tributário Nacional – CTN,
Tributário
que foi recepcionado pela Constituição de 1988 como
Nacional
lei complementar, sendo aplicáveis a todos os entes da
Federação. A pretensão aqui é examinar as normas mais
relevantes que servem para fixar os contornos essenciais do
regramento tributário nacional, nos termos que segue.

7.1. Obrigação tributária


A denominada obrigação tributária resulta da ocorrência do fato gerador tributário,
isto é, uma vez materializada – num plano fático – a hipótese de incidência tributária,
nasce um dever jurídico de executar o conteúdo econômico da obrigação dela decorrente.
Será sempre uma obrigação de dar – levando-se em conta a classificação clássica do
direito civil – relativamente ao direito que o sujeito ativo (Estado) possui de exigir o
tributo devido.

É certo que o CTN faz uma classificação entre obrigação principal e obrigação
acessória, reconhecendo-se em relação à primeira seu caráter pecuniário (pagar o tributo
respectivo) e, em relação à segunda, um dever jurídico de fazer, não fazer ou tolerar algo
no interesse da fiscalização, por exemplo, o dever de entregar uma declaração de renda
por parte das pessoas naturais.

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Vale frisar ainda que tanto as obrigações principais como acessórias só
podem ser instituídas mediante norma jurídica válida para tanto, e isto vale
também para as penalidades a serem impostas em face ao inadimplemento.

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7.2. Fato gerador


O Código, em sua tradição positivista, ocupa-se em definir fato gerador em seu art.
114, como “uma situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência”.
Pode-se, noutros termos, afirmar que se trata de um fato jurídico o qual, uma vez ocorrido,
enseja o nascimento da obrigação tributária.

O fato gerador, portanto, distingue-se da hipótese de incidência, pois esta é uma


simples descrição num plano abstrato; enquanto o fato é a concretização desta hipótese.
Por exemplo, a hipótese de incidência do imposto de importação é o fato “importar
mercadoria”, sendo que só haverá fato gerador de tributo quando, no denominado
“mundos dos fatos”, tal evento materializar-se (entrada de mercadoria no território
nacional).

7.3. Sujeitos da obrigação tributária


Como ocorre com todo e qualquer vínculo obrigacional, a relação jurídica tributária
tem, de um lado, um sujeito ativo que é “a pessoa jurídica de direito público titular da
competência para exigir o seu cumprimento” (art. 119 do CTN) e, de outro lado, um sujeito
passivo, que corresponde “a pessoa natural ou jurídica, obrigada a seu cumprimento”
(art. 121 do CTN).

Quanto ao sujeito passivo, ele pode ser o contribuinte ou responsável (art. 121,
parágrafo único do CTN), sendo que o primeiro possui uma relação pessoal e direta com
o fato gerador, enquanto que, em relação ao segundo, seu dever jurídico decorre de uma
escolha legislativa que leva em consideração o interesse da fiscalização.

Vale registrar que a capacidade tributária passiva independe da capacidade civil,


da pessoa estar impedida para o exercício das atividades, da pessoa jurídica estar
regularmente constituída (art. 126 do CTN).

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Quanto à responsabilidade tributária, esta manifesta-se por substituição ou


sucessão, sendo que o critério que define é o momento em que ela surge. Será por
substituição, se ela nascer junto com a ocorrência do fato gerador. Será por sucessão,
se ela surgir por alguma das circunstâncias elencadas no Código Tributário Nacional em
seus artigos 129 a 135.

Na hipótese de substituição tributária, a responsabilidade pela obrigação tributária


é atribuída a terceiro que não praticou o fato gerador, mas tem vinculação indireta
com o real contribuinte, por exemplo, no caso do dever do empregador de recolher as
contribuições previdenciárias devidas pelo empregado, sendo permitido, contudo, que
aquele faça a retenção dos valores respectivos quando do pagamento do salário deste.

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8. Crédito tributário
Pode-se definir crédito tributário como uma relação
jurídica de cunho obrigacional, em vista da qual o Estado

(sujeito ativo) pode exigir, do contribuinte ou responsável, o

pagamento do tributo ou da penalidade pecuniária. O termo

“exigir” significa que o Estado dispõe de uma ação judicial apta


a forçosamente cobrar os valores respectivos (Execução Fiscal
– Lei nº 6.830/80).

8.1. Constituição
O crédito tributário é constituído mediante o lançamento,
Fonte: Adaptado de http://
que corresponde ao procedimento administrativo tendente
siprotaf.org.br/artigos/
a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação
ver/6879/estoque-de-
credito-
correspondente, identificar o seu sujeito passivo, determinar

a matéria tributária e calcular ou por outra forma definir o

montante do crédito tributário, aplicando, se for o caso, a penalidade cabível (art. 142 do
CTN).

Ao efetuar o lançamento, a autoridade administrativa aplicará a seguinte legislação:

a) no que diz respeito à parte substancial (alíquota, base de cálculo e fato gerador),
a legislação vigente quando da ocorrência do fato gerador;

b) em relação às penalidades, a lei mais favorável ao sujeito passivo;

c) quanto aos aspectos formais/procedimentais: a l ei em vigor na data do


lançamento.

8.2. Suspensão da exigibilidade


O crédito tributário, uma vez constituído, torna-se exigível, podendo o sujeito ativo
compelir o sujeito passivo a satisfazê-lo, através dos meios legais. Todavia, existem
determinadas circunstâncias legais que suspendem esta exigibilidade (art. 151 do CTN),
isto é, enquanto verificadas certas hipóteses, o sujeito ativo está impedido de exigir o
crédito tributário. São elas:

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a) moratória: prorrogação concedida pelo credor ao devedor do prazo para


pagamento da dívida, de uma só vez ou mediante parcelamento;

b) depósito: o sujeito passivo pode depositar o valor do crédito tributário, quando


entender o mesmo indevido, optando por discutir sua exigibilidade administrativa
ou judicialmente. Findado o processo (administrativo ou judicial), se a decisão for
favorável ao contribuinte, o montante depositado será levantado pelo mesmo, ao
contrário, o montante depositado será convertido em renda do sujeito passivo;

c) reclamações e recursos: as impugnações e os recursos administrativos enquanto


não julgados impedem o sujeito passivo de exigir o crédito contestado;

d) medida liminar em mandado de segurança: o mandado de segurança é um


processo através do qual os cidadãos buscam proteção de direito líquido e certo,
lesado ou ameaçado por ato de autoridade administrativa. Tal ação é muito
utilizada no direito tributário, sempre que uma lei inconstitucional determinar a
exigência de um tributo e sempre que a autoridade fiscal comete uma ilegalidade.
Neste processo, é possível requerer a concessão de uma liminar (antecipação da
decisão final) se os argumentos forem plausíveis e se existir risco de prejuízos
em vista da demora natural para julgamento do processo. Isso vale também
para a concessão de liminar em uma ação pelo rito ordinário.

8.3. Extinção do crédito tributário


Como ocorre com todo e qualquer vínculo de natureza obrigacional, o crédito
tributário tende ao seu desaparecimento/extinção. Uma vez que seu objeto é uma
obrigação de caráter pecuniário, sua forma mais comum de extinção é o pagamento, que
significa a satisfação do direito creditório. Todavia, há outras formas de extinção abaixo
elencadas e, suscintamente, explicadas:

a) compensação: tendo o contribuinte crédito contra o sujeito ativo decorrente


de pagamento indevido, é possível extinguir o crédito tributário mediante a
compensação com tais valores a receber, nos termos da legislação que rege a
matéria.

b) transação: trata-se da negociação visando à extinção do Crédito Tributário, nos


termos previstos em lei.

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c) remissão: perdão do crédito tributário.

d) decadência: é a extinção do direito de constituir o crédito tributário em vista do


transcurso do tempo (cinco anos). É a perda do direito de constituí-lo.

e) prescrição: é a perda do direito de ação em relação à cobrança do crédito


tributário (cinco anos). Portanto, a perda do direito de exigi-lo.

f) conversão do depósito em renda: ocorre quando o contribuinte venha a perder


um processo, no qual haja valores depositados para suspender a exigibilidade
(art. 151, III), sendo que o montante é convertido em renda para o ente público
litigante, extinguindo o crédito tributário.

g) pagamento antecipado e homologação: nos tributos submetidos ao lançamento


por homologação (ICMS, IPI, COFINS), o contribuinte apura o montante devido e
faz o recolhimento. (art. 150 § 4º), sendo que a homologação ocorre quando a
autoridade administrativa ratifica o agir do contribuinte (expressa) ou em vista
do transcurso do tempo sem que a autoridade tenha ratificado (tácita).

h) consignação em pagamento: quando existir discussão em relação ao montante


devido. O sujeito passivo consigna o valor judicialmente (art. 164 CTN) e se vencer
o processo, o valor consignado considera-se como pagamento, extinguindo o
crédito tributário.

i) decisão administrativa: a decisão administrativa definitiva e favorável ao


contribuinte extingue o crédito tributário, não podendo mais este, em regra, ser
discutido na esfera judicial.

j) decisão judicial: a decisão judicial definitiva e favorável ao contribuinte extingue


o crédito tributário.

k) dação em pagamento de bens imóveis: ocorre quando a lei autoriza a extinção


do crédito tributário mediante a entrega de um determinado bem, ao invés do
pagamento em moeda corrente.

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Enfim, estes são os elementos que caracterizam o tributo, suas espécies e modo
pelo qual o dever fundamental de pagá-los é regulado pelo Ordenamento Jurídico Pátrio.
É certo que cada item aqui abordado foi examinado na profundidade possível para um
trabalho desta natureza, sendo que o objetivo aqui perseguido foi o de apresentar o
arcabouço dogmático que ora regula a tributação no Brasil, sem examinar eventuais
discussões doutrinárias e jurisprudenciais que ainda persistem na cultura jurídica
nacional. O aprofundamento poderá ser realizado mediante a leitura das obras referidas
na bibliografia que serviu de fundamento indireto para a elaboração do texto. Esta foi a
empreitada aqui concluída.

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Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Brasília: Senado Federal,
Subsecretaria de Edições Técnicas, 2000.

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