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IESDE BRASIL
2020
© 2020 – IESDE BRASIL S/A.
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detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Sushiman/Shutterstock
2 Custo de capital 29
2.1 Definição do custo de capital 30
2.2 Cálculo do custo de capital dos terceiros 34
2.3 Cálculo do custo de capital dos sócios 39
2.4 Cálculo do custo médio ponderado de capital 53
3 Retorno de projetos 59
3.1 Fontes de recursos 59
3.2 Investimentos 66
3.3 Métodos de avaliação 70
3.4 Valor Presente Líquido (VPL) 74
3.5 Taxa Interna de Retorno (TIR) 80
3.6 Payback simples e Payback descontado 88
3.7 Risco 90
4 Administração da liquidez 97
4.1 Liquidez 98
4.2 Demonstração do fluxo financeiro 100
4.3 Fluxo de caixa 105
4.4 Ciclos da empresa 123
10 Finanças Corporativas
Antes de prosseguirmos com a demonstração da importância da
área financeira em qualquer tipo de organização, uma pergunta impor-
tante surge de imediato: qual é o significado de finanças?
12 Finanças Corporativas
•• Recebimentos das vendas a prazo realizadas para os clientes
da empresa, incluindo a cobrança de clientes inadimplentes.
•• Operacionalização das transações relacionadas à captação
de empréstimos para investimento ou para financiamento do
giro da atividade.
•• Aplicação de sobras de caixa no mercado financeiro na
alternativa de melhor relação risco versus retorno.
•• Nas empresas que não têm um staff específico, a área da
Tesouraria também é responsável pela negociação e cálculo
do custo efetivo das operações de financiamento.
b. Controladoria
14 Finanças Corporativas
Diferente da Controladoria, o gestor da Tesouraria está sempre en-
fatizando o momento da entrada e da saída dos recursos financeiros,
independente do resultado econômico demonstrado. Esse conceito de
extrema importância demonstra por que uma empresa pode ter um
resultado econômico favorável (lucro) e não possuir recursos em caixa
para fazer frente a seus compromissos.
16 Finanças Corporativas
tos, dos produtos prontos e mão de obra (colaboradores e terceiriza-
dos, se houver), do prazo de recebimento relativo à venda de produtos
e/ou serviços, do prazo (giro) dos estoques de insumos, produtos em
processo e produtos acabados, e do volume de recursos necessários
ao financiamento do giro da atividade da empresa, conceito denomina-
do necessidade de capital de giro.
Vamos analisar cada uma dessas questões e sua relação com a área
financeira. Com a globalização, as empresas não podem mais ficar res-
tritas a um mercado apenas, ou seja, elas também têm que se globalizar.
O ganho de escala gerado pela globalização dos mercados quanto aos
produtos e serviços passou a ser um fator fundamental para maximizar
o retorno de qualquer tipo de negócio. Nenhuma empresa consegue so-
breviver sem escalabilidade para seus produtos ou serviços.
18 Finanças Corporativas
•• A percepção do valor intrínseco também é completamente dife-
rente. Um bom exemplo disso é a rede de cafés Starbucks. Quan-
do, por exemplo, um consumidor vai a uma loja para tomar café,
o que de fato ele deseja? Café? Internet grátis? Ambiente social?
Tudo isso? Claro que o preço do café refletirá todas essas questões.
•• Com as mídias sociais, um problema ocorrido com um produto
e/ou serviço é imediatamente repassado para milhares e, em al-
guns casos, milhões de consumidores a uma velocidade inimagi-
nável, sem que a empresa tenha qualquer controle.
•• A velocidade com que a informação flui faz com que um pequeno
evento em um país pouco expressivo do ponto de vista econômi-
co tenha repercussão imediata nas bolsas de valores mundiais,
nas taxas de juros, no crescimento econômico e, claro, nos resul-
tados da empresa.
•• O gestor financeiro tem acesso, praticamente em tempo real, a
informações que podem afetar os resultados da empresa a curto, Livro
médio e longo prazo, podendo, no caso de multinacionais, reali-
Christensen apresenta,
zar reuniões virtuais com seus pares em qualquer lugar do mun- na obra O dilema da
do por vídeo via internet para tomar as providências cabíveis. inovação, conceitos sobre
inovações disruptivas
•• A contratação ou a demissão de um presidente de uma grande e a importância dessas
verdadeiras quebras
empresa pode, imediatamente, ser refletida no preço de suas
de paradigma para a
ações nos mercados mundiais. expansão dos negócios e
o crescimento econômico
Tudo isso significa que o gestor financeiro precisa desenvolver a ca- dos países.
pacidade de acessar e analisar uma quantidade cada vez maior de in- CHRISTENSEN, C. M. São Paulo:
MBooks, 2016.
formações em tempo real, a chamada big data, e imediatamente tomar
decisões, tornando-se cada vez mais analítico e menos intuitivo.
Prestação de contas vo- É destinada aos sócios minoritários Visa determinar mecanismos de controle efe-
luntária da atuação como de qualquer tipo de empresa, acio- tivos a fim de evitar que preconceitos, vieses
gestor, em todos os níveis, nistas preferenciais, investidores de ou conflitos de interesse tenham influência
mercado, em especial os institucio- sobre decisões e ações de membros dos con-
assumindo integralmente as
selhos, da alta administração e de gerentes.
consequências de seus atos nais, financiadores e fornecedores
Auxilia a agir segundo padrões de compor-
e omissões perante a institui- de bens e de serviços. Tem como
tamento baseados nos valores e princípios
ção contratante dos seus ser- objetivo garantir acesso rápido e
constitucionais, legais e institucionais, e no
viços, sob a confiança de gerir seguro às informações relevantes código de ética e conduta adotado. Serve de
parte do ativo da empresa. sobre fatos, atos e negócios jurí- exemplo para todos e contribui para a boa
dicos realizados pelas sociedades reputação da organização por meio de boas
empresárias. relações com outras pessoas e instituições.
20 Finanças Corporativas
Além dessa questão de fundamental importância, demonstramos
na Seção 1.2, que a existência de lucro não é garantia de solvabilidade
para a organização, ou seja, uma empresa pode ter lucros e não pos-
suir recursos em caixa para fazer frente a seus compromissos, o que
pode levá-la a uma situação de falência.
Se for pelo passado, como justificar que várias empresas muito gran-
des e lucrativas no passado não existam mais em função, por exemplo,
de processos falimentares? Isso significa que o fato de uma organização
ter sido lucrativa no passado não garante sua existência no presente.
22 Finanças Corporativas
de-se os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário em nível fe-
deral, estadual e municipal) e, portanto, devem ser levados em
consideração.
•• Econômico e financeiro: a consequência de todas as decisões to-
madas pelos gestores é refletida nos resultados econômicos e fi-
nanceiros da empresa, o que impacta diretamente os stakeholders.
•• Social: a satisfação e o bem-estar de colaboradores, clientes, for-
necedores, financiadores e de todos os membros da sociedade
em que a organização se insere devem ser uma preocupação
constante dos gestores.
•• Demográfico: o foco dos processos de comunicação da empresa
não pode deixar de levar em consideração a “idade” de seu pú-
blico-alvo, devendo ser totalmente adaptados para se comunicar
diretamente com ele.
•• Tecnológico: essa é uma questão cada vez mais importante, uma
vez que cada nova tecnologia tem potencial para gerar novos ne-
gócios e destruir toda uma cadeia de negócios, obrigando os ges-
tores a estarem totalmente conectados a esse tópico.
24 Finanças Corporativas
evitados ou atenuados por meio de dois fatores: forças de mercado e
custos de agency.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O gestor financeiro de qualquer tipo de empresa tem um papel fun-
damental no crescimento sustentado da organização. Em primeiro lugar,
ele precisa sempre lembrar que seu objetivo é maximizar a riqueza dos
proprietários e não o lucro do período.
Em segundo, precisa ser capaz de entender as consequências das de-
cisões econômico-financeiras, sociais e políticas do governo e os eventos
ocorridos nos mercados externos, sob esses mesmos pontos de vista,
sobre os resultados futuros da empresa, procurando sempre implantar
medidas proativas a todos esses eventos, lembrando que o conhecimento
necessário para isso não se limita apenas a essas questões.
26 Finanças Corporativas
Uma indagação importante que o gestor não pode esquecer é a es-
sência da sua função: a gestão do dinheiro dos stakeholders. Isso fica ainda
mais claro quando lembramos que todas as decisões tomadas pelos ges-
tores de qualquer área da empresa afetarão de alguma forma a geração
de caixa da empresa. Por esse motivo, insistimos mais uma vez que todos
os profissionais precisam do entendimento financeiro para desempenhar
de maneira eficaz suas atividades.
Na área financeira, normalmente composta pela Controladoria, Tesou-
raria e o staff da diretoria financeira, temos o coração das informações
pretéritas geridas pela Controladoria, com base nos demonstrativos con-
tábeis, e futuras, administradas pela Tesouraria com base no fluxo de cai-
xa. Essas áreas, com foco no tratamento da informação e nos objetivos,
representam a base das informações fundamentais para o processo de
tomada de decisão.
Toda essa geração, administração e tomada de decisões, com base
nas informações produzidas na empresa, precisa estar associada aos efei-
tos da globalização dos mercados e das empresas, à velocidade da evolu-
ção das novas tecnologias em todas as áreas, principalmente na forma de
comunicação entre os mercados, e à necessidade de transparência nas
atitudes e decisões dos gestores para com seus stakeholders.
Finalmente, uma última questão, mas não menos importante para o
gestor, são as relações de agência, que são recorrentes. Ocorrem com
frequência quando os administradores da empresa (agentes) não têm
participação no capital da empresa ou, quando têm, são minoritárias, o
que pode gerar objetivos, perspectivas e necessidades diferentes entre
os gestores e os sócios.
Essas mesmas relações podem ocorrer também entre os investido-
res da empresa (pessoas físicas ou jurídicas com qualquer percentual de
participação no capital social e que emprestam recursos sem prazo para
devolução/pagamento, ficando com todo o risco final do negócio), por
meio da atuação dos agentes e financiadores, fornecedores, colaborado-
res, governo e bancos, ou seja, pessoas físicas ou jurídicas que não detêm
qualquer percentual de participação no capital da empresa, incorrendo
em um risco menor do que os proprietários, sendo essas relações de ex-
trema relevância para a atuação dos gestores.
Se os interesses de todos os stakeholders (investidores, financiadores,
clientes e gestores da empresa) não estiverem alinhados de maneira ade-
quada, ou seja, se estiverem apontando para direções opostas, certamen-
te a empresa não maximizará sua riqueza.
GABARITO
1. Todas as decisões tomadas em todas as áreas da empresa trazem algum tipo de efeito
sobre o caixa, impactando os saldos disponíveis para utilização. Por esse motivo, po-
demos dizer que todas as decisões gerenciais são decisões financeiras.
3. Stakeholders são todas as pessoas físicas ou jurídicas, afetadas de alguma forma pela
atuação da empresa em determinado mercado.
28 Finanças Corporativas
2
Custo de capital
Nas organizações, com ou sem fins lucrativos, todos os investi-
mentos realizados, expressos no Ativo da empresa, precisam ser
financiados pelo Passivo, de acordo com seus respectivos prazos
de maturação e da rentabilidade projetada e, principalmente, com
base nos prazos de pagamento e nos custos incorridos na capta-
ção dos recursos investidos.
Para que esse processo ocorra de maneira saudável, é funda-
mental que os gestores consigam calcular o custo dos recursos
captados para financiar as atividades. Sem o cálculo do custo mé-
dio dos recursos obtidos no Passivo, para financiar os investimen-
tos realizados no Ativo, a empresa perde um referencial da maior
importância: a taxa de retorno necessária à cobertura do custo
dos recursos passivos, ou seja, sua taxa mínima de atratividade.
A estrutura dos recursos passivos é composta pelo capital de
terceiros, constituído pelos créditos de curto e longo prazo (em-
préstimos financeiros e financiamentos diretos) e pelos recursos
captados junto a sócios, por meio da emissão de ações ou de cotas
de capital e lucros reinvestidos, isto é, pela parcela dos lucros não
distribuídos aos seus proprietários ou patrocinadores. Cada uma
dessas fontes tem um custo específico, em função do grau de risco
a ela associado.
Entender como calcular esses custos, chamados de custo de ca-
pital ou custo médio ponderado de capital, e suas implicações para o
valor da empresa é o objetivo deste capítulo.
Custo de capital 29
2.1 Definição do custo de capital
Vídeo A atividade empresarial é totalmente suportada por meio da capta-
ção de recursos oriundos de diferentes tipos de fundos, os quais são
obtidos junto a financiadores e investidores ou gerados no curso nor-
mal das atividades operacionais da empresa. Numa classificação mais
ampla, esses fundos são subdivididos em duas categorias:
•• capital dos sócios, captado quando da abertura da empresa, dos
aumentos de capital subsequentes e do reinvestimento de lucros
realizado pelos sócios da empresa, sejam eles acionistas, cotistas
ou proprietários de firmas individuais;
1 •• capital de terceiros, representado por recursos captados e obtidos
a taxa mínima de retorno que o gestor precisa obter em todas as aplicações realiza-
das no Ativo para cobrir o custo médio das fontes de recursos captadas no Passivo
junto a sócios e terceiros.
30 Finanças Corporativas
que a verdadeira taxa mínima de atratividade da empresa é o custo de
capital ou custo médio ponderado de capital.
Custo de capital 31
3 De acordo com esse conceito, podemos definir duas regras bási-
cas de investimento para todo administrador. Primeiramente, investi-
Refere-se ao valor na data da
decisão (data zero) de uma mentos com rentabilidade superior ao custo das fontes de recursos
alternativa de investimentos. passivos utilizados agregam valor para a empresa. Em segundo lugar,
3
investimentos com Valor Presente Líquido (VPL) positivo, calculado
Atividade 1 com base em uma taxa que reflita o custo médio ponderado dos recur-
sos passivos (custo de capital), agregam valor para a empresa.
Explique por que o custo de
capital é a verdadeira taxa
mínima de atratividade de uma
empresa. 2.1.1 Risco
Uma questão fundamental que o gestor deve sempre considerar
em suas decisões é que a determinação do custo médio ponderado
de capital é totalmente dependente do aspecto risco, uma vez que a
percepção de risco do investidor e do financiador altera completamen-
te sua expectativa de rentabilidade e, consequentemente, o custo de
utilização desses recursos.
Figura 1
Representação do Ativo de um Balanço Patrimonial
BALANÇO
PASSIVOS CIRCULANTES
4
Essa Lei, de 28 de dezembro
de 2007, compatibilizou a 4
(a) As empresas enquadradas na Lei n. 11.638/2007 denominam esse
forma de contabilização das
grupamento de contas de passivo não exigível.
empresas brasileiras às Normas
Internacionais de Contabilidade. (b) Cotas no caso de uma empresa Ltda.
O objetivo da lei é permitir a (c) As empresas enquadradas na Lei n. 11.638/2007 não apresentam essa conta.
comparação dos dados contábeis
de empresas domiciliadas em
Fonte: Elaborada pelo autor.
países diferentes.
32 Finanças Corporativas
Os recursos captados no Passivo têm seu custo básico expresso com
base no efeito imediato de dois tipos básicos de risco: o operacional e o
financeiro. Ambos afetam a percepção relativa dos financiadores e dos
investidores e o custo financeiro dos recursos para a empresa. Esses ris-
cos são de fundamental importância para o cálculo do custo de capital.
Risco operacional
Risco financeiro
Custo de capital 33
2.2 Cálculo do custo de capital dos terceiros
Vídeo Ao tomar a decisão de captar recursos para investimentos em Ati-
vos permanentes ou capital de giro, o gestor, focado na sua principal
função de maximizar o retorno dos proprietários da empresa, precisa
levar em consideração o custo dos recursos captados no Passivo, ade-
quando-o à rentabilidade esperada nas aplicações no Ativo.
8 7
Recursos de terceiros têm custos fixos estabelecidos contratualmente (mes-
Se a empresa estiver enquadrada mo quando definidos por taxas pós-fixadas), os quais, para efeito de tributação,
no regime de lucro real para 4 são dedutíveis na determinação do lucro tributável, proporcionando benefícios
apuração do Imposto de Renda e fiscais para a empresa e seus proprietários por meio da redução do recolhimen-
8
da Contribuição Social, todas as to do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) .
despesas incorridas com finan-
O capital de terceiros torna-se mais protegido das oscilações dos fluxos de caixa
ciadores sem participação no ca-
gerados pelos negócios empresariais, oferecendo menor risco para seus titulares
pital são consideradas dedutíveis 5 se comparado com o capital próprio, que não tem nenhuma garantia e se encon-
para efeito da determinação da
tra completamente vulnerável às oscilações de retorno dos referidos negócios.
base de cálculo do Imposto de
Renda e da Contribuição Social, Fonte: Elaborado pelo autor.
de acordo com as regras fixadas
atualmente pela Receita Federal.
34 Finanças Corporativas
Todos esses elementos nos permitem concluir que o capital dos sócios
tem um custo superior ao custo do de terceiros; isso sem contar, é claro,
que o risco a que os sócios ficam expostos é muito superior ao dos tercei-
ros. É, portanto, bastante razoável supor que a remuneração exigida pelos
proprietários seja maior do que aquela demandada pelos credores.
Custo de capital 35
Sendo assim, dentre os recursos captados junto a terceiros, de-
10
vemos, inicialmente, excluir todo o grupo de recursos que financiam
São os impostos federais,
estaduais e municipais gerados
as operações da empresa, as quais denominamos, genericamente,
10
com base no objetivo social da de contas a pagar ou fornecedores, as obrigações fiscais e as obri-
empresa. gações sociais .
11
36 Finanças Corporativas
Quadro 2
Exemplo de Balanço Patrimonial após ajustes
Custo de capital 37
Importante
Atualmente, o pagamento de Imposto de Renda e Contribuição Social da pessoa ju-
rídica pode ser feito de quatro formas diferentes: simples, lucro presumido, lucro real
e lucro arbitrado. No regime de apuração pelo simples, as empresas enquadradas
nessa modalidade recolhem um valor calculado por meio da incidência de uma alí-
quota, a qual é obtida em função do faturamento dos últimos doze meses e do tipo
13 de serviço prestado (existe uma tabela de enquadramento), sobre o total das receitas
do mês. O pagamento é feito no mês subsequênte.
Esse percentual é diferente para
o cálculo do Imposto de Renda No regime do lucro presumido, é definido um percentual que varia em função do
e para o cálculo da Contribuição segmento da empresa, demonstrando a estimativa do lucro sobre o faturamento 13 .
Social sobre o Lucro Líquido Com esse percentual, o imposto é calculado pela alíquota do imposto, multiplicado
(CSLL).
pelo percentual de lucro presumido e pela receita da empresa do mês. O recolhi-
mento do imposto é trimestral.
14 Já no regime do lucro real, o imposto é calculado sobre o lucro tributável calculado
pela diferença entre a receita e as despesas consideradas dedutíveis 14 . Esse regime
Nem todas as despesas são
permite a apuração trimestral e anual, dependendo dos enquadramentos definidos
dedutíveis para efeito de cálculo
do lucro tributável, existindo pela lei.
limites de dedução mesmo para A quarta e última forma de tributação é o lucro arbitrado. Esse regime é utilizado
aquelas que são consideradas em alguns casos reconhecidos na legislação, desde que a receita bruta seja notória.
como tal.
Dentre esses casos, estão o extravio e perda de documentos contábeis e fiscais, fata-
lidades e fraudes. O cálculo é realizado de modo similar ao do lucro presumido, mas
com um acréscimo de 20%. A apuração é feita trimestralmente.
O custo pago por uma empresa para captar recursos junto a ter-
ceiros pode ser calculado com base no conceito da taxa interna de
retorno (TIR) do fluxo de caixa gerado pelo financiamento. Do ponto de
vista da empresa tomadora, o valor calculado representa o custo ocor-
rido até o vencimento dos fluxos de caixa associados ao débito, antes
do benefício gerado pela dedução dos custos financeiros do Imposto
de Renda a pagar.
kd = i (1 – %IR)
Onde:
kd = Custo efetivo do financiamento
i = Custo efetivo cobrado pela instituição financeira (TIR)
%IR = Alíquota de Imposto de Renda
38 Finanças Corporativas
É importante lembrar que essa equação somente deve ser utilizada
no cálculo do custo dos financiamentos bancários para empresas en-
quadradas no regime do lucro real, para efeito do Imposto de Renda e
da Contribuição Social. Para as demais empresas, o custo final de qual-
quer alternativa de financiamento oneroso é obtido com esta equação:
kd = i
ou
Custo de capital 39
daquele que é meramente um investidor, sem participação nas deci-
sões operacionais e estratégicas do negócio.
Prêmio de liquidez
40 Finanças Corporativas
intrínseco associado ao investimento realizado, ou seja, o recebimento
de um retorno maior ou menor do que o esperado (ou, até mesmo, o
não recebimento da devolução do valor aplicado).
Quanto maior for o risco a que o capital estiver exposto, maior deverá ser o prêmio
de risco ou spread.
Custo de capital 41
Entretanto, existem Ativos ou projetos que não encontram corres-
pondentes com riscos semelhantes no mercado ou cujo risco é difícil de
estimar. Isso ocorre, por exemplo, nos investimentos em novos produ-
tos ou em inovações tecnológicas. Nesses casos, o custo de capital não
pode ser determinado com precisão, devendo ser estimado de acordo
com critérios bastante subjetivos.
Importante
Os conceitos de custo fixo e variável, quando relacionados a aplicações financeiras,
são diferentes daqueles utilizados apenas para desembolsos, lembrando que uma
taxa de retorno para quem aplica significa rentabilidade, já para quem captou os
recursos, significa custo.
Renda fixa ou custo fixo, quando relacionado a aplicações financeiras, compreende
todas as aplicações nas quais sabemos as regras do jogo. Por exemplo, quando apli-
camos em um título que vai nos remunerar com IGP-M acrescido de uma taxa de
juros, ou quando a aplicação é remunerada por uma taxa fixa de juros, sabemos a
regra da aplicação.
Por outro lado, quando aplicamos recursos em bolsa de valores, não sabemos a regra
de remuneração. Assim sendo, podemos receber dividendos e/ou juros sobre capital
próprio sem que saibamos, na data da compra da ação, qual valor será pago pela em-
presa. Podemos, também, receber valorização (diferença entre o preço de aquisição
da ação e preço na data da venda) ou, até mesmo, receber dividendos ou juros sobre
capital próprio e valorização, isso tudo sem que saibamos a priori o que acontecerá.
Esse atributo caracteriza a renda variável
42 Finanças Corporativas
distribuídos pela empresa na forma de dividendos ou juros sobre ca-
pital próprio (no caso das sociedades por ações) ou de retiradas (no
contexto das sociedades por cotas). Os ganhos de capital, por sua vez,
são representados pelas taxas de valorização ou desvalorização das
ações ou das cotas de capital em cada período (aumento de valor no
investimento realizado pelos proprietários, resultante do aumento na
geração de caixa da empresa). Portanto, o retorno proporcionado pelo
capital próprio, a cada período, é igual à soma desses dois ganhos:
Custo de capital 43
D1 D D D D D D D D D Dt
P0 P + 1 2+ + 2 3+ + 3 4+ 4 + 4 5+ 5 + 5 +
(1 0k ) (1 (1k) k )2(1 (k1)2 k )3(1 (k
1)3k ) (1 k 4
(1) k ) (1 k )5 (1 + k)t
Onde:
P0 = Preço da ação ou cota no mercado na data zero
Dt = Rendimentos por ação ou retiradas por cota esperados para a data zero
k = Custo do capital próprio na data zero
44 Finanças Corporativas
2.3.1 Modelo de Gordon-Shapiro
O modelo de Gordon-Shapiro é fundamentado na premissa de que
a tendência de crescimento dos lucros e dos dividendos a longo prazo
pode ser expressa por uma taxa de crescimento constante. De acordo
com esse modelo, o preço de uma ação é definido pela seguinte relação:
D1
P0 =
(ke – g)
Onde:
P0 = Preço líquido de uma ação, na data de sua avaliação (t = 0)
D1= Dividendo por ação esperado para o primeiro período
g = Taxa de crescimento esperada
ke = Taxa de desconto ou custo do capital próprio
ke = (D1 ÷ P0) + g
Custo de capital 45
Repare que o modelo de Gordon-Shapiro demonstra como podemos
estimar o custo do capital próprio sem explicitar o prêmio de risco nele
incluído. Essa abordagem torna desnecessária a medição do risco do in-
vestimento, considerando que essa avaliação está implícita no processo
de negociação dos Ativos e na formação do seu valor de mercado.
Ke = (D1 ÷ P0) + g
46 Finanças Corporativas
Mesmo reconhecendo a inexistência de mercados perfeitos, para os
quais essa hipótese estaria plenamente justificada, é preciso lembrar
que o desenvolvimento da tecnologia e a velocidade com que as in-
formações são difundidas vêm tornando os mercados mais eficientes,
trazendo as premissas básicas de utilização do modelo CAPM cada vez
mais próximas da realidade.
Custo de capital 47
Por esse motivo, fica implícito, no desenvolvimento do modelo, que
o investidor desejará ser recompensado apenas por esse componente
não diversificável do risco do investimento, ou seja, pela parcela sobre
a qual ele não tem qualquer tipo de controle, almejando um retorno
crescente à medida que perceba o crescimento desse risco.
48 Finanças Corporativas
O coeficiente de volatilidade beta, atribuído à carteira de mercado
( m), será sempre igual à unidade, isto é, m = 1. Isso permite que os
Ativos sejam classificados em função de sua medida relevante de risco.
Assim, Ativos que apresentam:
•• > 1 são considerados mais arriscados do que o mercado;
•• < 1 são considerados menos arriscados do que o mercado;
•• = 1 são considerados tão arriscados quanto o mercado.
Saiba mais
Aceitando esse coeficiente de volatilidade como medida relevante
O termo original para a linha
do risco, o custo do capital próprio poderá ser estimado pela expressão
de mercado de título é security
a seguir, denominada linha de mercado do título ou linha de mercado do market line (SML). A discussão
investimento. completa desse modelo pode ser
encontrada em Sharpe (2000).
kd = r0 + (rm – r0) j
Onde:
kd = Custo do capital próprio investido no Ativo j
r0 = Prêmio de liquidez ou taxa livre de risco
rm = Expectativa de retorno associada a um índice de mercado
j
= Coeficiente de risco sistemático do Ativo j
kd = r0 + (rm – r0) j
O modelo CAPM também pode ser entendido por meio dos compo-
nentes da fórmula com base na seguinte interpretação:
kd = r0 + (rm – r0) j
Custo de capital 49
De acordo com essa forma de interpretação, um investimento
qualquer terá um preço de risco maior ou menor do que a diferença
(rm – r0), conforme o seu risco sistemático ( j) seja maior ou menor do
18 que o risco do mercado, isto é, tenha > 1 ou < 1, respectivamente.
Os Treasury Bonds são títulos de
Os elementos que compõem o modelo CAPM apresentam algumas
dívida emitidos pelo governo
americano, com pagamento definições importantes. Vejamos cada uma delas.
periódico de juros, chamados de
cupons, e devolução do principal Ativo sem risco = rf
no vencimento do título. Os Trea- É considerado um Ativo sem risco aquele que não tem o perigo de
sury Bonds podem ser negociados
livremente antes do vencimento inadimplência do emitente do título representativo do investimento, ou
nos mercados secundários por seja, não há o risco de o emissor não honrar o compromisso no seu
meio de uma taxa de desconto. 18
respectivo vencimento. Regra geral: adota-se a taxa do Treasury Bond
Seus valores de negociação
podem ser encontrados no site: americano, de prazo de 10 anos.
https://www.bloomberg.com/
Taxa de retorno do portfólio de mercado = rm
markets/rates-bonds/govern-
ment-bonds/us. Acesso em: 29 Usualmente, é utilizado como a taxa de retorno do portfólio de mer-
maio 2020.
cado, a rentabilidade das ações pertencentes ao índice medido pelo
19
Standard & Poor’s Composite Index (S&P 500) .
19
20
Risco sistemático = β
Mais informações sobre o S&P
500 podem ser vistas em: O beta é um coeficiente estatístico e representa uma medida da vo-
https://portugues.spindices.
com/indices/equity/sp-500. latilidade do preço da ação quando comparado ao mercado. O que se
Acesso em: 29 maio 2020. quer determinar, por meio do cálculo do beta, é o quanto varia, para
mais ou para menos, a rentabilidade de um investimento, com base na
20 variação do retorno de um indicador que represente o comportamento
O beta indica a inclinação da reta desse tipo de investimento, considerado como o beta do mercado para
21
de regressão entre rm e re. aquele investimento específico . O beta médio ou beta do mercado
tem valor igual a 1,0 (um).
21 A estimativa do risco sistemático β leva em conta o fato de que as
O indicador considerado como ações da empresa avaliada sejam cotadas nas bolsas de valores. Caso
representativo do mercado contrário, é necessária uma pesquisa dentre as empresas do mesmo
é chamado de portfólio de
mercado. setor de atividade, com ações negociadas publicamente, para obter o
beta médio do setor ou o beta específico de alguma delas, que tenha um
modelo de negócio e desempenho semelhante à empresa em análise.
50 Finanças Corporativas
2.3.3 O modelo CAPM no Brasil
Ao ser usado no Brasil, o modelo CAPM deve ser adaptado. Isso
ocorre face à falta de disponibilidade de dados consistentes devido à
elevada inflação passada e ao tamanho e à concentração da bolsa de
valores em nosso país. Para o cálculo do CAPM no Brasil, utilizamos a
seguinte fórmula:
Onde:
ke = Custo de capital próprio
rf = Taxa de retorno de um Ativo sem risco
β = Risco sistemático das ações da empresa
rm = Taxa de retorno do portfólio de mercado
Pp = Prêmio pelo porte
YBr = Prêmio de risco Brasil
D Inf = Diferencial de inflação entre Brasil e EUA
Custo de capital 51
2.3.4 Cálculo do beta
Idealmente, os betas devem ser obtidos por meio das projeções dos
retornos dos Ativos em análise e do indicador utilizado como retorno
do mercado. No entanto, é importante levarmos em conta que, usual-
mente, os betas do mercado se baseiam em dados passados, embora
sejam utilizados para decisões relacionadas ao futuro.
(re – Mre ) ×
ANOS re rm re – Mre rm – Mrm (rm – Mrm)2
(rm – Mrm)
1 40,00 25,00 20,00 10,00 200,00 100,00
(Continua)
52 Finanças Corporativas
(re – Mre ) ×
ANOS re rm re – Mre rm – Mrm (rm – Mrm)2
(rm – Mrm)
6 10,00 10,00 – 10,00 – 5,00 50,00 25,00
Custo de capital 53
quanto menor o risco operacional, menor serão o risco financeiro e o
Livro
custo de capital e, consequentemente, maior será o valor da empresa.
O livro Administração
Financeira apresenta, no A relação básica utilizada para a determinação do custo médio pon-
Capítulo 5, uma aprofun-
dada discussão sobre
derado de capital, baseada na definição demonstrada por Copeland,
os conceitos de risco Koller e Murrin (2001), é obtida pela relação:
e retorno, detalhando
o entendimento sobre
coeficiente de correlação CMPC (WACC) = ke [E ÷ (D + E)] + kd [D ÷ (D + E)]
(medida da linearidade
Onde:
de duas variáveis) e a
covariância (medida da CMPC (WACC) = Custo médio ponderado de capital
força da correlação).
ke = Custo do Patrimônio Líquido
Esses conceitos são ex-
tremamente importantes E ÷ (D + E) = Participação % do Patrimônio Líquido no total do Ativo
para compreender as
técnicas utilizadas na kd = Custo da dívida (líquido do Imposto de Renda)
elaboração de carteiras D ÷ (D + E) = Participação % da dívida no Ativo total
de investimento, também
chamadas de portfólio. O conceito por trás da fórmula do custo médio ponderado de capital
BRIGHAM, E. F.; EHRHARDT, M. C. é simples e intuitivamente atrativo. Se um novo investimento qualquer
São Paulo: Cengage Learning, 2016.
utilizar recursos próprios e de terceiros e for suficientemente lucrativo
para suportar o pagamento dos juros do financiamento – já incluído o
benefício gerado pela dedução das despesas financeiras no Imposto de
Renda (IR) se a empresa estiver enquadrada no regime de tributação
do lucro real – e para gerar uma elevada taxa de rentabilidade para os
investidores, então ele é uma alternativa de investimento que criará
valor para a empresa.
54 Finanças Corporativas
PASSIVO VALOR (R$)
Fornecedores 200.000,00
Salários a pagar 40.000,00
TOTAL 700.000,00
Custo de capital 55
ke = rf + β × (rm – rf) + Pp + YBr + D Inf
ke = 24,5%
4. Cálculo do custo de capital ou custo médio ponderado de capital:
56 Finanças Corporativas
ações negociadas na bolsa de valores. Sem informações consistentes, fica
praticamente impossível realizar esse cálculo, já que não podemos de-
terminar corretamente os custos das fontes passivas e os valores dessas
fontes, a fim de que sejam utilizados como pesos para o cálculo da média.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Toda atividade empresarial, para ser executada, precisa, primeiramente,
da captação de fontes de recursos para suportar as atividades operacionais
e o crescimento da empresa. Essas fontes são obtidas originalmente no Pas-
sivo da empresa, por meio de fundos captados a curto e a longo prazo, de
financiadores sem participação no capital da empresa ou junto a sócios e
oriundos dos investimentos e da reaplicação de lucros adquiridos no período.
Para que os gestores da empresa, conforme suas decisões do dia a dia,
possam atender a seu objetivo maior, que é a maximização da riqueza dos
proprietários, eles precisam investir no Ativo os recursos captados no Pas-
sivo a uma taxa superior à da captação. Essa é uma das etapas primordiais
para a maximização da riqueza dos proprietários da empresa.
Isso significa que, para determinar a rentabilidade das aplicações reali-
zadas no Ativo, o gestor precisa calcular o custo médio dos recursos cap-
tados no Passivo (lembrando que os recursos captados no Passivo são
aplicados no Ativo), tomando esse valor como base para a determinação
da rentabilidade mínima desejada no Ativo.
Chamado de custo de capital, custo médio ponderado de capital ou WACC,
esse cálculo representa a taxa mínima de atratividade para todas as aplica-
ções realizadas no Passivo. Sem ele, a empresa não tem referencial para o
cálculo da efetiva rentabilidade mínima necessária no Ativo.
Esse custo é obtido pelo cálculo do custo dos recursos onerosos –
definidos como os financiamentos obtidos no Passivo, em que o valor
captado é devolvido, acrescido de uma remuneração, para o titular do
recurso – e dos recursos obtidos junto a sócios da empresa, por meio de
investimentos e reinvestimentos de lucros.
Custo de capital 57
Portanto, com a determinação do custo de capital ou custo médio pon-
derado de capital e sua comparação à rentabilidade esperada para os in-
vestimentos realizados no Ativo, os gestores, de qualquer tipo de empresa
e de qualquer segmento de atuação ou tamanho, podem tomar decisões
de investimento voltadas à maximização da riqueza dos proprietários.
REFERÊNCIAS
COPELAND T.; KOLLER T.; MURRIN J. Avaliação de empresas: calculando e gerenciando o
valor das empresas. 3. ed. São Paulo: Pearson, 2001.
DAMODARAN, A. Avaliação de investimentos: ferramentas e técnicas para a determinação
do valor de qualquer ativo. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2010.
SHARPE, W. F. Portfolio theory and capital markets. Nova York: McGraw-Hill, 2000.
GABARITO
1. Para aplicar recursos no Ativo, é necessário primeiramente captar recursos no Passivo.
Sem saber o custo desses recursos passivos, o gestor não tem como verificar se a ren-
tabilidade esperada da aplicação cobre ou não o custo médio dos recursos passivos. Ao
efetuar esse cálculo, chamado de custo de capital ou custo médio ponderado de capital, o
gestor está, em essência, determinando a taxa mínima de atratividade da empresa, ou
seja, o mínimo que ela precisa buscar de rentabilidade em suas aplicações ativas.
3. Existem vários motivos para justificar o custo mais elevado para o capital dos sócios.
Dentre eles, destacamos:
a. O capital dos sócios não tem um prazo predeterminado para sua devolução.
58 Finanças Corporativas
3
Retorno de projetos
O gestor financeiro, em qualquer tipo de organização, indepen-
dente de seu tamanho e segmento de atuação, tem a tomada de
decisões como parte fundamental de sua rotina de trabalho. Os
impactos futuros dessas decisões ocorrem a curto, médio e a lon-
go prazo, relacionados ao crescimento dos negócios e à manuten-
ção do giro das atividades. Trata-se de deliberações fundamentais
para gerar crescimento sustentado aos negócios, tornando mais
perene sua existência no mercado.
Dentre as inúmeras atividades da área financeira, uma das mais
importantes, sem dúvida, é oferecer suporte às decisões organi-
zacionais de todas as demais áreas da empresa, afinal todas as
decisões gerenciais afetam a geração de caixa. Por esse motivo,
o gestor da área financeira precisa dominar os conhecimentos
necessários e estar preparado o tempo inteiro para responder a
dois tipos básicos de decisões que afetarão a própria existência
da empresa. Essas deliberações estão relacionadas às decisões de
investimento e financiamento.
Entender como calcular o retorno de uma alternativa de inves-
timento, entre as várias possibilidades que se apresentam para o
gestor da empresa, descobrir o que significa o resultado obtido
com base nos vários métodos que serão demonstrados, e definir
a prioridade para a melhor alternativa e suas implicações para o
valor da empresa são os objetivos do presente capítulo.
Retorno de projetos 59
seja levado em consideração no processo de tomada de decisão, descon-
siderando esse elemento de fundamental importância.
Plano de produção
Estimativas de compras de
matéria-prima e gastos com
mão de obra
Plano de financiamento
a longo prazo
Estimativas de consumo de
matéria-prima e contratação
de mão de obra Financiamento a
Custos dos produtos/ longo prazo
serviços disponibilizados Plano de investimento
aos clientes de capital
Estimativas de despesas
operacionais Investimentos
de capital
Financiamentos
Demonstrativo de resultado
de longo prazo
projetado
Balanço Patrimonial do Orçamento de caixa
período corrente
Disponível
Duplicatas a receber Investimentos
Balanço Patrimonial
projetado Fornecedores de capital
Impostos a pagar
Retorno de projetos 61
Diante da decisão sobre em qual alternativa deverão ser investidos
os recursos da empresa, o gestor, sempre buscando maximizar o re-
torno dos proprietários, sob o ponto de vista estritamente financeiro,
estará, na realidade, à procura de respostas a algumas questões bási-
cas vistas a seguir:
a. Como obter os recursos necessários para financiar os dispêndios
de capital relativos aos investimentos requeridos por sua
expansão ou pela manutenção de sua participação de mercado?
2 b. Qual é o custo efetivo total
2
das alternativas de financiamento
O custo efetivo total nas que a empresa pode captar?
operações de financiamento
c. Qual é a rentabilidade líquida, já deduzido o custo efetivo total
bancário é composto da taxa de
juros, cobrada pelo financiador, do financiamento, a ser obtida no projeto?
acrescida de impostos e demais
encargos cobrados (por exem- Exceto quando gerados por reinvestimento ou novos aportes dos
plo: taxa de abertura de crédito, sócios, os recursos para o financiamento de projetos vêm do mercado
seguro, reciprocidades etc.). financeiro. Esse mercado existe para permitir o ajuste de padrões e
preferências temporais de consumo e investimento pelos indivíduos
e empresas. Tal ajuste é realizado por meio da tomada de emprésti-
mos e da aplicação de sobras de caixa pelas pessoas físicas e jurídicas,
explicitado pelas taxas de juros de captação de empréstimos (custo) e
inversão de sobras de caixa (aplicação).
62 Finanças Corporativas
Desconsiderando, por um instante, a alternativa de investi-
mento para seus recursos, mas levando em consideração as op-
ções oferecidas pelo mercado financeiro (tomar empréstimo e
emprestar recursos), a empresa teria três alternativas básicas:
a. Consumir os valores previstos de caixa para o atual e
próximo período nos respectivos exercícios.
b. Aplicar o valor previsto para o período atual e consumir
no próximo exercício, juntamente ao fluxo do segundo
período. Nesse caso, o saldo final de caixa seria:
3
$5 (1 + 0,07)1 + $6 = $11,35 Para consumir no presente, a
empresa precisaria tomar um
c. Utilizar, no período atual, o valor previsto para esse recurso emprestado no período
3
exercício e antecipar o consumo previsto para o próximo atual a uma taxa de juros de
18% que no vencimento fosse
período, obtendo o seguinte saldo de caixa:
igual à previsão de caixa do
$5 + $6 (1 + 0,18)-1 = $10,08 período, ou seja, precisaria
trazer o valor presente pela taxa
de juros, o valor disponível no
Importante
segundo momento.
No regime de juros compostos, utilizamos duas equações básicas:
(1) M = P (1 + i)n
Calcula um valor no futuro (M) com base em um valor no presente (P).
M
(2) P = ou P = M (1 + i)-n
(1 + i)n
Calcula um valor no presente (P) com base um valor no futuro (M).
Aplicar
recursos Inclinação: – (1 + i)
$6,00
Tomar empréstimo
A
Consumo corrente
$ 5,00 $ 10,08
Fonte: Elaborada pelo autor.
Retorno de projetos 63
É importante notar que a empresa pode escolher qualquer combi-
nação de consumo e investimento para os exercícios atual e próximo
ao longo da reta AB, respeitados os limites de seu fluxo de caixa e man-
tidos os níveis das taxas de juros no período.
64 Finanças Corporativas
Importante
Figura 3
Alternativas de consumo
Consumo futuro
$12,14
$11,35
$6,00
Livro
No livro Avaliação de inves-
timentos, encontramos
$ 10,47 de maneira didática as
principais ferramentas
Consumo corrente de cálculo do retorno
$ 5,00 $ 10,08
de uma alternativa de
investimento, inclusive
Fonte: Elaborada pelo autor.
o cálculo do valor da
Ao analisarmos o gráfico, fica claro que a existência do mercado fi- empresa, que nada mais
é do que a soma de
nanceiro permite aos proprietários da empresa ajustarem suas prefe- vários projetos ocorrendo
rências de fluxo de caixa entre consumo presente e consumo futuro, simultaneamente.
independente do critério utilizado para analisar e, por extensão, apro- DAMODARAN, A. Rio de Janeiro:
Qualitymark, 2010.
var ou negar a implementação de um projeto.
Retorno de projetos 65
3.2 Investimentos
Vídeo Até o momento, analisamos alguns conceitos importantes. Em pri-
meiro lugar, vimos que não podemos realizar aplicações sem primeiro
obter uma fonte de recursos. Em segundo, vimos que a existência do
mercado financeiro nos permite aumentar o consumo no futuro ou no
presente. Vale lembrar que esse último conceito está diretamente liga-
do ao spread bancário no momento da decisão gerencial.
66 Finanças Corporativas
•• Novas imobilizações com o objetivo de reduzir custos de
produção: investimentos em edificações, instalações e equipa-
mentos novos para reduzir custos de produção. Nessa alternati-
va, não existe a substituição de equipamento já existente.
•• Ampliação da capacidade produtiva para expandir produtos
e mercados existentes: investimentos em edificações, instala-
ções e equipamentos novos para ampliar a capacidade instalada,
visando atender ao crescimento esperado da demanda no atual
mercado da empresa.
•• Ampliação da capacidade produtiva a fim de expandir para
novos mercados e produtos: investimentos em edificações,
instalações e equipamentos novos com o objetivo de criar uma
nova linha de produtos ou expandir a atual para uma nova re-
gião geográfica.
•• Aquisição de empresas: uma das formas de crescimento mais
rápidas existente. Uma questão fundamental nessa alternativa é
o cálculo das sinergias que possam ser geradas a partir da com-
pra da empresa-alvo. Um exemplo da sinergia gerada por esse
processo está relacionado à redução dos gastos com pessoal
e suporte administrativo. As duas empresas juntas, além de
dispensarem as funções superpostas (contabilidade, finanças,
recursos humanos etc.), permitem a utilização dos sistemas e
métodos mais modernos, entre os utilizados pelas empresas, e
a permanência dos melhores colaboradores para cada função
com superposição.
•• Projetos ambientais: não necessariamente geram receitas di-
retas, mas visam adequar as instalações da empresa às novas
exigências do mercado consumidor, cada vez mais preocupado
e consciente das questões relacionadas ao meio ambiente. Es-
ses projetos procuram, também, atender à legislação ambien-
tal vigente.
Ao analisarmos uma alternativa de investimento, antes de utilizar-
mos qualquer tipo de método para mensuração do possível retorno,
precisamos elaborar um estudo de viabilidade do projeto.
Retorno de projetos 67
•• tecnologia empregada;
•• escala de produção;
•• prazo de construção das instalações e riscos de atraso no crono-
grama (quando o projeto envolver novas instalações);
•• estimativa dos gastos de capital (edificações, instalações, equipa-
mentos, veículos etc.); e
•• localização das matérias-primas, mão de obra, infraestrutura
(energia, comunicação, transporte etc.), logística, impacto am-
biental e mercado cliente.
68 Finanças Corporativas
2. Converter os resultados das alternativas em um
denominador comum
Para podermos comparar corretamente alternativas distintas, é ne-
cessário quantificar todos os resultados em unidades monetárias, já con-
siderando o valor do dinheiro no tempo (Princípio 4, a seguir), para que
possam ser refletidas no fluxo de caixa da(s) alternativa(s) em estudo.
3. Somente as diferenças entre as alternativas são relevantes
As consequências futuras, comuns a todas as alternativas em ques-
tão, não precisam ser consideradas na análise, pois sua inclusão pode
resultar somente no fato de todas as alternativas estarem igualmente
afetadas. Isso equivaleria a somar ou subtrair o mesmo número em
ambos os lados de uma equação. Assim, a igualdade não se altera.
Como consequência direta desse princípio, deduz-se que os custos
passados ou futuros e comuns a todas as alternativas não são relevan-
tes para a escolha de uma delas.
Nesse caso, um custo passado é definido como uma despesa (ou re-
ceita) que já ocorreu antes da decisão atual. Visto que influi igualmente
em todas as alternativas em análise, essa informação não é relevante
para a decisão a ser tomada e pode, portanto, ser ignorada.
4. O valor do dinheiro no tempo deve ser sempre considerado
O dinheiro perde valor ao longo do tempo devido, entre outros mo-
tivos, à inflação. Por isso, ao analisarmos o fluxo de caixa da alternativa
em análise, precisamos refletir sobre as entradas e saídas de caixa ge-
radas, no exato momento em que podem ocorrer e com o valor daque-
la época, sempre de acordo com nossa melhor estimativa. Incorreções
nesse processo podem resultar em erros de avaliação nos projetos ex-
tremamente prejudiciais à empresa.
5. Decisões separáveis devem ser tomadas isoladamente
Separe as decisões sempre que uma possa ser tomada isolada
de outra, visando facilitar a análise e organizar o raciocínio. Isso se
aplica especialmente às decisões de investimento e de financiamen-
to, que devem ser consideradas isoladamente, exceto em alguns
casos particulares.
Retorno de projetos 69
a do investimento. No exemplo, analisaremos a forma como o imó-
vel será adquirido (financiado) apenas após decidirmos pela compra.
Em outras palavras, se não desejamos comprar um imóvel, o modo que
ele pode ser pago é irrelevante.
6. Considerar a incerteza associada às previsões
Todas as decisões de investimento de capital baseiam-se em esti-
mativas do futuro. Como essas estimativas são previsões de eventos
ainda por ocorrer, é possível, e até mesmo provável, que os resulta-
dos reais sejam distintos daqueles previstos inicialmente. O futuro é
incerto e qualquer análise que falhe em levar isso em consideração
está fadada ao erro.
70 Finanças Corporativas
caixa do projeto, elaborado para trazer todas as variáveis quantitativas
a um mesmo denominador comum.
Retorno de projetos 71
Normalmente, os fluxos de caixa estudados, a fim de representar
projetos de investimento, podem ser:
10 10
•• variáveis ;
Quando constantes, são expressos
normalmente em uma moeda •• periódicos;
forte, por exemplo, o dólar.
•• postecipados;
•• finitos.
Figura 4
Representação de fluxo de caixa
0 1 2 3 4 n
+ Entradas de
- Saídas de recursos
recursos
Investimento
inicial
72 Finanças Corporativas
Existem vários métodos para cálculo do retorno a ser obtido em
projetos de investimentos. Eles são baseados no fluxo de caixa do pro-
jeto, elaborado para trazer a um mesmo denominador comum todas
as suas variáveis quantitativas. Antes de apresentarmos esses méto-
dos, precisamos de alguns conceitos básicos:
•• Custo de oportunidade de capital
Sempre que um investidor decide por uma alternativa de investi-
mento, em detrimento das demais opções existentes naquele momen-
to, utiliza implicitamente o critério de optar por aquela que lhe gerará
o maior retorno.
A TMA e o custo de capital ou custo médio ponderado de capital são sinônimos para
o mesmo conceito. Representam a taxa mínima de retorno necessária à cobertura dos
custos médios dos recursos passivos, utilizados para financiar os investimentos reali-
zados no Ativo, de modo a manter inalterado o valor da empresa.
Retorno de projetos 73
3.4 Valor Presente Líquido (VPL)
Vídeo O VPL de um investimento ou financiamento é o valor equivalente,
na data de sua decisão, de todas as entradas e saídas projetadas, cal-
culadas com base em uma taxa representativa do custo de capital da
empresa. Esse método compara todas as entradas e saídas existentes,
projetadas no fluxo de caixa na data em que o projeto teria seu início.
Esses valores futuros são trazidos para a data inicial como se cada en-
trada ou saída do fluxo fosse um montante e quiséssemos calcular o
respectivo valor atual, utilizando para tanto a TMA definida.
Figura 5
Representação de valor presente líquido
E
E E E
tempo
0 1 2 3 4 5 n
S
Qual é o valor hoje dos fluxos
de entradas e saídas de caixa?
I
74 Finanças Corporativas
O critério econômico de aceitação de um projeto, por meio desse
método, tem como base o resultado calculado. Por ser expresso na
mesma unidade monetária utilizada no fluxo de caixa, o valor encon-
trado no cálculo do VPL poderá apresentar três alternativas:
•• VPL positivo (VPL > 0)
Retorno de projetos 75
200 200
150
110
100
500
200 200
150
110
100
1.500
Importante
VPL menor que zero não significa necessariamente uma perda, mas sim um ganho in-
ferior ao mínimo desejado. No entanto, quando essa linear soma das entradas e saídas
de caixa, incluído o valor do desembolso inicial, for negativa, podemos afirmar que o
projeto gera uma rentabilidade negativa.
76 Finanças Corporativas
Importante
1. Ao analisarmos vários projetos com seus respectivos VPL positivos, o escolhido sob
o ponto de vista econômico será o de maior relação VPL ÷ Investimento inicial (esse
indicador é chamado de índice de lucratividade).
2. Sempre que o VPL for maior que zero, a taxa efetiva de rentabilidade do projeto é
maior que a TMA. Consequentemente, quanto maior a relação VPL ÷ Investimento
inicial, maior será a taxa de retorno do projeto.
3. O VPL de um projeto não permite a mensuração direta da taxa de rentabilidade
do investimento, mas sim o seu resultado em termos de valor monetário na data
de origem.
4. Se um projeto for aprovado pela regra do VPL, ou seja, se tiver VPL positivo e a em-
presa fizer o investimento, seu valor deverá subir pelo VPL do projeto, beneficiando
todos os proprietários.
Figura 6
Relação direta entre VPL e TMA
VPL
i
-1 0
Retorno de projetos 77
n E -S
VPL= (1+i)
j j
j
I
j=1
Onde:
VPL = Valor presente líquido
I = Investimento inicial
E = Entradas de caixa
Dica
S = Saídas de caixa
Caso você não disponha de i = Taxa mínima de atratividade (TMA)
uma calculadora financeira no j = Número de entradas e saídas (fluxos), variando de 1 até n
momento, alguns sites disponi-
bilizam emuladores dela on-line. Por essa relação, o cálculo do VPL se faz trazendo as entradas de cai-
Acesse este link para ter acesso xa a valor presente, deduzidas das saídas de cada período, dividido pela
a uma calculadora financeira e
realizar seus cálculos: http:// TMA mais um elevado ao número de entradas e saídas, somando os va-
www.vichinsky.com.br/hp12c/ lores obtidos e subtraindo o valor do investimento inicial. Outra forma
hp12c.php. Acesso em: 29 maio bastante usual de realização desse cálculo é por meio da calculadora fi-
2020.
nanceira HP-12C. Com ela, o cálculo é feito seguindo estas etapas:
1. Pressione f CLX para apagar os registradores financeiros e de
11 armazenamento de dados.
2. Digite o valor do investimento inicial pressionando CHS
11
Essa tecla chamada de e, em
change sign altera o sinal de seguida, g CFo. Se não houver investimento inicial, pressione 0 g CFo.
um número.
3. Digite o saldo de caixa de cada período. Não se esqueça de, em
caso de saldo negativo, pressionar CHS antes de digitar o valor,
12 12
pressionando a seguir g CFj . Se não houver entrada ou saída no
Havendo entradas e saídas próximo período, pressione 0 g CFj.
no mesmo período, devemos 4. Repita a etapa 3 para o saldo de cada período, até que todos os
digitar a diferença.
fluxos estejam introduzidos.
5. Digite a TMA em percentagem pressionando i.
6. Pressione f NPV (essa função calcula o VPL).
Importante
Se houver, no fluxo de caixa a ser utilizado no cálculo do VPL, entradas ou saídas iguais e
consecutivas, podemos utilizar o seguinte atalho:
1. Digite a primeira repetição do número e, em seguida, pressione g CFj.
2. Digite o número de repetições consecutivas e pressione g Nj (até no máximo 99 repetições).
3. Digite o primeiro número após as repetições consecutivas e pressione g CFj.
4. Terminada a digitação dos saldos de caixa do fluxo, insira a TMA na tecla i e pres-
sione f NPV.
78 Finanças Corporativas
Os exemplos a seguir ilustram o cálculo do VPL utilizando a fórmu-
la de cálculo (Exercício 1), a calculadora financeira sem repetições no
fluxo de caixa (Exercício 2) e com repetições no fluxo (Exercício 3).
1. Vamos supor um projeto com os fluxos de caixa a seguir. Sabendo
que a TMA da empresa é de 10%, vamos calcular o VPL do projeto.
Solução:
20.000 10.000 10.000 15.000 15.000
VPL = – 50.000 + 1
+ 2
+ 3
+ 4
+
(1+0,1) (1+0,1) (1+0,1) (1+0,1) (1+0,1)5
Teclas Visor
f CLEAR REG 0 Todos os registradores são apagados
1000 CHS g CFo 1.000 Introduz o investimento inicial
50 CHS g CFj 50 Introduz o primeiro fluxo de caixa
450 g CFj 450 Introduz o segundo fluxo de caixa
550 g CFj 550 Introduz o terceiro fluxo de caixa
450 g CFj 450 Introduz o quarto fluxo de caixa
500 g CFj 500 Introduz o último fluxo de caixa (valor da venda)
13 i 13 Introduz a TMA
f NPV 236,72 Valor do VPL
Retorno de projetos 79
3. Vamos considerar que uma empresa planeja construir uma
13 13
nova planta industrial a um custo de $5.900,00. Estudos de
Todos os dados apresentados a mercado indicam a possibilidade de venda da nova fábrica
seguir estão e milhares de reais.
de hoje a 10 anos por $1.000,00. Sabendo que o projeto
de construção prevê o fluxo de caixa a seguir e que a TMA
dessa empresa é de 13,5% a.a., vamos verificar se o projeto é
economicamente aceitável.
Teclas Visor
f CLEAR REG 0 Todos os registradores são apagados
5900 CHS g CFo 5.900 Introduz o investimento inicial
300 g CFj 300 Introduz o primeiro fluxo de caixa
200 g CFj 200 Introduz o segundo fluxo de caixa
1000 g CFj 3 g Nj 3 Introduz do terceiro ao quinto fluxo de caixa
90 CHS g CFj – 90 Introduz o sexto fluxo de caixa
900 g CFj 2 g Nj 2 Introduz o sétimo e o oitavo fluxo de caixa
Atividade 2
400 CHS g CFj – 400 Introduz o nono fluxo de caixa
Considere vários projetos, todos 1000 g CFj 1.000 Introduz o décimo fluxo de caixa (valor revenda)
com VPL positivo e de mesmo
13,5 i 13,50 Introduz a TMA
prazo. No caso de só podermos
escolher um deles, qual deverá f NPV – 2.853,50 Valor do VPL em milhares de reais
ser o escolhido?
Como o VPL é negativo, o projeto não deve ser aprovado.
80 Finanças Corporativas
• TIR > TMA: qualquer alternativa de investimento que apresente
essa característica indica que a rentabilidade efetiva do projeto
(TIR) é maior que o mínimo estabelecido pela empresa como
referencial de ganho (TMA). Projetos com essa característica de-
vem ser aprovados.
Importante
1. A comparação da TIR com a TMA somente faz sentido se a TIR for positiva. Caso a TIR
seja um número negativo, indica que a alternativa apresenta um retorno negativo,
não sendo necessário fazer qualquer tipo de comparação com a TMA.
2. Como a comparação somente faz sentido quando a TIR for positiva, projetos com
TIR < TMA indicam que o retorno é inferior à TMA e não que o retorno é negativo.
3. Projetos com TIR = TMA não são indiferentes. Indicam que o retorno esperado é
exatamente igual ao retorno mínimo desejado, devendo ser aprovados, exceto em
situações em que existem dois projetos, um com TIR >TMA e outro com TIR = TMA.
Nesse caso, o projeto com TIR >TMA deve ser selecionado.
4. Analisando várias alternativas de inversão de recursos, entre as que produzirem uma
TIR maior que a TMA, a melhor opção, sob o ponto de vista financeiro, será a de
maior TIR. Economicamente, no entanto, aspectos relativos à macro estratégia po-
derão alterar completamente o ranking das alternativas estudadas por meio da TIR.
n E -S
VPL= (1+i)
j j
j
I = 0
j=1
Onde:
I = Investimento inicial
E = Entradas de caixa
S = Saídas de caixa
j = Número de entradas e saídas (fluxos), variando de 1 até n
i = Taxa interna de retorno (incógnita da equação)
Retorno de projetos 81
Podemos verificar, analisando a fórmula anterior, que a sua aplica-
ção não fornece um resultado direto. Para calcularmos o valor da TIR,
devemos realizar várias tentativas, com aproximações sucessivas, até
obtermos a igualdade acima definida. Esse processo de aproximações
sucessivas é utilizado por todas as ferramentas de cálculo da TIR (calcu-
ladoras financeiras e Excel).
ASSAF NETO A.; GUASTIAN A. F. São Assim, a decisão de investir no projeto acarretaria um adicional de 4,8
Paulo: Atlas, 2019. pontos percentuais (14,8% – 10%) sobre aquilo que já se teria, isto é, a
própria TMA. Para que essa explicação faça sentido, a hipótese básica no
cálculo da TIR é que os recursos liberados pelo projeto possam ser rein-
vestidos a uma taxa igual à TIR, o que, na prática, nem sempre acontece.
82 Finanças Corporativas
Graficamente, a taxa interna de retorno pode ser visualizada da se-
guinte forma:
E
E E
E
tempo
0 1 2 3 4 5 n
S
Qual é a taxa que iguala os
fluxos de entradas aos fluxos
de saídas?
I
Importante
Retorno de projetos 83
3. Por sua própria definição, não existe TIR para um projeto que não tenha investi-
mento inicial.
4. Como o cálculo da TIR é baseado em tentativa e erro, sem auxílio de uma planilha
eletrônica ou calculadora financeira, a determinação da TIR pode se tornar um traba-
lho bastante cansativo.
Teclas Visor
f CLEAR REG 0 Todos os registradores são apagados
8900 CHS g CFo – 8.900 Introduz o investimento inicial
3400 g CFj 3.400 Introduz o primeiro fluxo de caixa
2600 g CFj 2.600 Introduz o segundo fluxo de caixa
2000 g CFj 2.000 Introduz o terceiro fluxo de caixa
300 g CFj 300 Introduz o quarto fluxo de caixa
1000 g CFj 1.000 Introduz o quinto fluxo de caixa
(Continua)
84 Finanças Corporativas
Teclas Visor
2710 g CFj 2.710 Introduz o sexto fluxo de caixa
900 g CFj 2 g Nj 2 Introduz o sétimo e o oitavo fluxo de caixa
350 CHS g CFj – 350 Introduz o nono fluxo de caixa
500 g CFj 500 Introduz o décimo fluxo de caixa (valor de revenda)
f IRR 14,28 Valor da TIR (expresso em percentagem)
1 2 3
VF = $27.330,00
Se, com base nesse valor futuro, calcularmos a taxa média efetiva de
rentabilidade obtida utilizando a HP-12C, obteremos o seguinte valor:
Retorno de projetos 85
•• n=3
•• PV = $– 15.500,00 (o valor negativo, nesse caso, indica uma
saída de caixa referente ao investimento inicial)
•• FV = $ 27.330,00
•• i = ?? = 20,81%
Como a TMA do projeto é 23%, nesse caso, o projeto não deveria ser
aprovado, apesar de apresentar uma TIR maior que a TMA.
Projeto A Projeto B
0 – 1.000.000,00 0 – 500.000,00
1 350.000,00 1 180.000,00
2 400.000,00 2 250.000,00
(Continua)
86 Finanças Corporativas
Projeto A Projeto B
3 480.000,00 3 290.000,00
4 590.000,00 4 380.000,00
5 550.000,00 5 350.000,00
Retorno de projetos 87
3.6 Payback Simples e Payback Descontado
Vídeo O Payback Simples é um dos métodos mais populares para realizar
análise de alternativas de investimento. Consiste em determinar em
qual momento, na linha do tempo, a soma das entradas de caixa é
igual à soma das saídas de caixa, já incluído o investimento inicial.
1 30.000,00 – 70.000,00
2 50.000,00 – 20.000,00
3 20.000,00 0
4 30.000,00 30.000,00
88 Finanças Corporativas
Período Projeto 1 Projeto 2 Projeto 3
0 – 160 – 160 – 160
1 20 60 60
2 30 50 50
3 50 20 20
4 60 30 30
5 40 15 150
Retorno de projetos 89
16
Período Projeto 1 Valor atual
16
3 50 37,57
4 60 40,98
5 40 24,84
3.7 Risco
Vídeo Em várias situações, nos deparamos com determinadas decisões
em que fatores determinísticos (baseados em fatos já ocorridos) não
necessariamente fundamentarão nosso processo decisório. Nossas
decisões, nesses casos, serão baseadas em fatos que ainda ocorre-
rão. Como não sabemos, com certeza, como e de que forma esses
fatores acontecerão, teremos que fundamentar nosso processo de-
cisório nas chances mais prováveis de ocorrência desses fatos e no
respectivo grau de incerteza associado.
90 Finanças Corporativas
Com o passar do tempo, a teoria da probabilidade ultrapassou o res-
trito limite dos jogos de azar, passando a analisar um horizonte maior
de aplicações. Hoje, é utilizada como uma forma de explicação para
praticamente quase tudo em que exista incerteza associada ao futuro.
0 ≤ Pr(ei) ≤ 1
17
Pr(e1) + Pr(e2) + .... + Pr(en) = 1
17
Essa relação indica que a soma
de todas as possibilidades
Onde: previsíveis no presente é igual
Pr(ei) = Resultado possível de um evento à certeza no futuro, ou seja, a
soma de todas as probabilidades
Retorno de projetos 91
precisaremos associar a cada valor futuro do fluxo do projeto uma me-
dida de risco para determinação de seu VPL.
n FC
VPL= (1+i)j j I
j=1
n
E(VPL)= ∑ VPL j × P(VPL j )
j=1
1/ 2
n
2
2
VPL j × P(VPL j ) E(VPL)
j=1
Onde:
E (VPL) = Valor esperado do VPL
S (VPL) = Desvio padrão do VPL
P (VPL) = Probabilidade de cada valor do fluxo de caixa
FC = Fluxo de caixa de cada período
i = TMA
j = Número de entradas e saídas (fluxos), variando de 1 até n
92 Finanças Corporativas
FC1 P (FC1) FC2 P (FC2)
140 0,65 200 0,55
175 0,20
140 180
VPL2 = + = $276,03 – 200 = $76,03
(1+0,10)1 (1+0,10)2
P (VPL2) = 0,65 × 0,25 = 0,1625
140 175
VPL3 = 1
+ = $271,90 – 200 = $71,90
(1+0,10) (1+0,10)2
P (VPL3) = 0,65 × 0,20 = 0,13
130 200
VPL4 = 1
+ = $283,47 – 200 = $83,47
(1+0,10) (1+0,10)2
P (VPL4) = 0,35 × 0,55 = 0,1925
130 180
VPL5 = 1
+ = $266,94 – 200 = $66,94
(1+0,10) (1+0,10)2
P (VPL5) = 0,35 × 0,25 = 0,0875
130 175
VPL6 = 1
+ = $262,81 – 200 = $62,81
(1+0,10) (1+0,10)2
P (VPL6) = 0,35 × 0,20 = 0,07
Retorno de projetos 93
Utilizando as informações calculadas anteriormente (VPL de cada
18 possibilidade e a respectiva probabilidade) e as fórmulas demonstra-
O VPL esperado leva em consi- das, podemos calcular o VPL combinado de todas as possibilidades,
18
deração todas as possibilidades chamado de VPL esperado , e o respectivo desvio padrão.
para os valores projetados para
cada período do fluxo de caixa. VPLj P (VPLj) E (VPL) ∑VPL2j × P (VPLj)
92,56 0,3575 33,09 3.062,83
E (VPL) = $81,11
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O gestor financeiro de uma empresa, de qualquer tamanho e segmen-
to de atuação, precisa estar sempre preparado para enfrentar o desafio
trazido rotineiramente pelas decisões de investimento e de financiamento,
decisões estas que permitirão à empresa um crescimento de maneira
sustentada ou alcançar o estágio que nenhum gestor ou proprietário de-
seja: a falência do negócio.
Nas decisões de investimento, o gestor precisa determinar os projetos
que serão aprovados, tomando como base o custo dos recursos utilizados
para financiar essa alternativa. Para isso, é necessário determinar a renta-
bilidade das possibilidades de inversão de recursos definidas no planeja-
mento estratégico e mercadológico da empresa, buscando sempre aquelas
com rentabilidade superior ao custo dos recursos empregados, permitindo,
dessa forma, maximizar a rentabilidade dos proprietários da empresa.
94 Finanças Corporativas
É fundamental ter sempre em mente que não é possível aplicar recur-
sos em uma alternativa qualquer de investimento sem, primeiro, captar
uma fonte, ou seja, o Ativo de qualquer tipo de empresa não aumenta
se não houver, primeiramente, a captação de uma fonte de recursos.
E, nessa questão, o mercado financeiro tem um papel fundamental. Além
de ajustar os padrões e preferências temporais de consumo e investimen-
to, por meio da tomada de empréstimos e da aplicação em novos projetos
dependendo do spread bancário, podem ser propiciadas alternativas de
aumento de consumo e investimento no presente e no futuro.
Uma questão muito importante para o gestor nas decisões de inves-
timento é entender seu significado. Investimento, para o processo de
tomada de decisão, pode ser definido como toda aplicação realizada na
empresa que tenha por objetivo aumentar a geração de caixa. Isso pode
ser obtido aplicando recursos no Ativo para aumentar a geração ou redu-
zindo o Passivo, por meio do pagamento da dívida com terceiros nos seus
respectivos vencimentos, pagando essa dívida antes do vencimento e/ou
alterando por outra em melhores condições de custo e prazo de paga-
mento, alternativas que, ao final, aumentarão a geração de caixa.
Ao analisar um projeto, a base da partida, independente do método de
avaliação que será utilizado, é o fluxo de caixa, instrumento que permite
analisar de maneira correta a capacidade de geração de caixa do projeto.
Essa projeção é uma das etapas mais difíceis no processo de tomada de
decisão, demandando, em várias ocasiões, em função da complexidade
do projeto, a participação de especialistas de várias áreas da empresa
para alimentar as premissas necessárias às projeções.
Com base no fluxo de caixa da alternativa e com a TMA (custo de
capital) calculada, o gestor pode utilizar quatro métodos para determinar
o melhor projeto. Esses métodos, como vimos ao longo do capítulo, são:
VPL, taxa interna de retorno, Payback Simples e Payback Descontado.
Ao analisar as decisões de investimento, em muitos momentos, o gestor
se depara com incertezas relacionadas às entradas e saídas de caixa e que
podem alterar totalmente o retorno do projeto, independente do método
utilizado. Por não termos certeza de quais são os fatores e da profundidade
que impactarão o fluxo de caixa, precisamos recorrer a métodos probabilís-
ticos para estimar as chances de esses eventos projetados ocorrerem, cal-
culando valores esperados e a respectiva variabilidade do valor calculado,
medida pelo desvio padrão dos fluxos de caixa.
É a partir dos impactos futuros, a curto e a longo prazo, gerados com
base nas decisões de investimento tomadas pelo gestor, que a empresa
pode crescer de maneira sustentada, com maior ou menor velocidade,
tornando mais perene e rentável sua existência no mercado.
Retorno de projetos 95
REFERÊNCIAS
CASAROTO FILHO, N., KOPITTKE, B. H. Análise de investimentos. São Paulo: Atlas, 2010.
COSTA, L. G. T. A.; PEREIRA, A. S.; COSTA, L. R. T. A. Análise de investimentos. Curitiba: IESDE,
2012.
PEREIRA, A. S. Finanças corporativas. Curitiba: IESDE, 2009.
PEREIRA, A. S.; ABOIM, L. G.; ABOIM, L. R. Cálculo Financeiro e Análise de Projetos. Curitiba:
IESDE, 2010.
GABARITO
1. O mercado financeiro permite ajustar as preferências temporais entre o gasto corren-
te (consumo) e o investimento, tanto no presente quanto no futuro. Além de ajustar
essas preferências temporais, permite também o estabelecimento de parâmetros de
comparação e avaliação para as várias alternativas de investimento com as quais uma
empresa se depara ao longo de sua existência, buscando, por meio da implementação
dessas alternativas, maximizar o valor do investimento de seus proprietários.
2. Sempre que o gestor se encontra frente à decisão de escolha entre vários projetos,
todos com seus respectivos VPL positivos e mesmo prazo de maturidade, a decisão
será realizada com base no projeto de maior índice de lucratividade, calculado com
base na divisão do VPL pelo investimento inicial. Quanto maior o índice de lucrati-
vidade, maior o retorno do projeto.
3. Qualquer alternativa de investimento que apresente TIR > TMA indica que a renta-
bilidade efetiva do projeto (TIR) é maior que o mínimo estabelecido pela empresa
como referencial de ganho, chamado de TMA ou custo de capital. Por outro lado,
projetos com VPL > 0 indicam que a alternativa de investimento apresenta um ga-
nho superior ao mínimo desejado, expresso pela TMA, ou seja, o valor encontrado
demonstra, em unidades monetárias, o valor excedente à TMA. Portanto, podemos
afirmar que projetos com TIR > TMA têm VPL > 0.
96 Finanças Corporativas
4
Administração da liquidez
As empresas precisam investir em seus Ativos para gerar ven-
das, estando ou não em um processo de crescimento. Quando
estão em fase de expansão, também necessitam de mais inves-
timentos para financiar o giro de sua atividade, que resulta, prin-
cipalmente, do aumento de estoques e das contas a receber e,
a depender do grau de utilização de sua estrutura, de novas ad-
missões de colaboradores e novos investimentos em máquinas,
equipamentos e instalações.
O gestor financeiro não pode esquecer que esses novos inves-
timentos no Ativo precisam ser financiados com recursos captados
no Passivo, sejam próprios ou de terceiros, vindo a gerar novas
obrigações em relação ao capital utilizado. Dependendo do custo,
do prazo e da forma como os recursos são captados e investidos,
é possível que esse processo resulte em problemas de liquidez, os
quais podem levar a empresa à falência.
Por isso, uma das atividades mais importantes do administra-
dor financeiro é justamente administrar a liquidez das empresas.
Para que essa função seja desempenhada de modo adequado, o
profissional de finanças dispõe de um dos principais instrumentos
de análise e controle financeiro: o fluxo de caixa.
Entender a importância dos prazos de captação de recursos
para o financiamento das operações da empresa com os prazos
de aplicação nos Ativos é de fundamental importância, além de ser
essencial compreender esse reflexo no fluxo de caixa. O aprofun-
damento, detalhamento e compreensão desse relacionamento e
seu respectivo efeito no fluxo de caixa é o que se objetiva com o
presente capítulo.
Administração da liquidez 97
4.1 Liquidez
Vídeo A palavra liquidez é largamente utilizada pelos gestores das empre-
sas. Dependendo do contexto, várias definições associadas a ela são
empregadas, existindo, inclusive, um grupo de indicadores para men-
surá-la: os índices ou indicadores de liquidez.
98 Finanças Corporativas
empresa representa uma dívida com os sócios e os financiadores sem
participação no capital social. Essas dívidas em sua totalidade são in-
vestidas no Ativo, o que nos permite concluir que o Ativo é pertencente
ao Passivo. Em outras palavras:
Uma pergunta que surge a partir daí é: como verificar se isso está
acontecendo, ou seja, como podemos saber se a empresa tem liquidez?
A resposta a essa pergunta é alcançada analisando o fluxo de caixa.
Tal definição, utilizada por esses gestores, tem base em uma ques-
tão importante. Normalmente, eles são pessimistas com relação às
entradas de caixa e otimistas quanto às saídas, ou seja, as entradas
Administração da liquidez 99
sempre têm uma grande possibilidade de não acontecer, ou ocorrer
em valores menores do que o previsto, devido à inadimplência. Já com
relação às saídas, elas sempre acontecerão nos vencimentos previstos
e, em muitos casos, em valores superiores ao que foi planejado. Essa
maneira de entender o fluxo de caixa é uma forma de proteção para a
gestão financeira da empresa.
Ingresso de recursos
Recebimento de clientes (1)
(–) Pagamento a fornecedores (2)
(–) Pagamento de despesas (3)
(–) Imposto de Renda (4)
= Recursos provenientes das operações
(+) Dividendos recebidos (*)
(+) Resgate de investimentos temporários
(Continua)
Fluxo de caixa
Itens Dia 1 Dia 2 ...... Dia 30
Saldo inicial
Recebimentos à vista
Recebimentos a prazo
Resgate de aplicações
Recebimento de clientes com atraso
Total de entradas
(Continua)
Para que possamos entender por que então isso não ocorre, busca-
mos, na literatura econômica, os três motivos básicos que justificam a
manutenção de recursos financeiros disponíveis (CARVALHO et al., 2015):
1. Transação
Disponibilidade de serviços
1. Análise comparativa
2. Análise temporal
360
Período médio de recebimento (PMR) =
Giro
Compras
Giro das contas a pagar =
Duplicatas a pagar
360
Período médio de pagamento (PMP) =
Giro
360
Período médio das obrigações (PMO) =
Giro
Vendas
Giro do ativo fixo =
Ativo fixo
360
Período médio de produção =
Giro
Giro do ativo total
Compra Recebimento da
matéria-prima (*) venda
Ciclo operacional
Período médio de estoques
Período médio de recebimento
Venda
Período médio
de pagamento (faturamento)
Pagamento de
Ciclo de caixa ou financeiro 13
duplicadas
É importante lembrar que todo
segmento tem produção, mas
Ciclo econômico não necessariamente fabricação,
ou seja, do ponto de vista geren-
Ciclo de cial, produção e fabricação não
produção são necessariamente sinônimos.
13
(*) Início do processo de produção .
Importante
1. Prazo médio de estoques, ciclo
Repare que, ao determinar o ciclo de caixa, implicitamente estamos
econômico e ciclo de produção verificando também os prazos médios de estoques, de pagamento de
têm o mesmo significado e duplicatas e demais encargos operacionais, e de recebimento de ven-
definição.
das a prazo, daí a importância desse conceito.
2. Se, ao calcularmos o
ciclo de caixa ou financeiro, Para tornar claro esse conceito, imaginemos que o gestor financei-
encontrarmos um resultado ro levantou as informações a seguir, com o objetivo de aprofundar a
positivo, isso significa que a
empresa paga suas obrigações análise do fluxo de caixa da empresa. Essas informações foram obtidas
operacionais primeiro e só utilizando as fórmulas demonstradas.
depois recebe o produto de suas
vendas. Se ocorrer o contrário, •• Prazo médio de estoques (PME) = 30 dias
ou seja, o resultado do ciclo de •• Prazo médio de recebimento (PMR) = 40 dias
caixa for negativo, significa que a
empresa recebe antes de efetuar
•• Prazo médio de pagamento (PMP) = 45 dias
o pagamento de suas obrigações
Partindo dessas informações, podemos calcular:
operacionais.
3. Sempre que o ciclo de caixa •• Ciclo operacional = PME + PMR = 30 + 40 = 70 dias (1)
ou financeiro for positivo, os •• Ciclo de caixa = PME + PMR – PMP = 30 + 40 – 45 = 25 dias (2)
gestores precisam tomar medi-
das corretivas imediatamente, (1) Esse valor indica que a operação da empresa (sua atividade fim) demora 70 dias, isto é, a
para evitar o risco de falência da operação precisa ser financiada por esse prazo.
empresa. Isso só não ocorrerá se (2) O resultado obtido para o ciclo de caixa ou financeiro indica que a empresa paga suas
a margem de lucro do negócio obrigações operacionais (fornecedores, salários, encargos sociais e impostos) e somente recebe o
for muito alta e os proprietários produto de suas vendas 25 dias depois.
reinvestirem automaticamente Uma questão importante ao analisarmos o ciclo de caixa de uma
esse valor.
organização é que os conceitos de ciclo de produção, ciclo econômico
Tempo que decorre desde a produção física de um produto, come- Qual seria o ciclo de caixa ou
financeiro ideal: positivo ou
çando com a compra da matéria-prima, sua transformação em pro- negativo?
duto acabado, até a posterior venda (emissão da nota fiscal de venda)
no mercado.
b. Comércio
Livro
Tempo decorrido entre a compra de um produto e estocagem até
O livro Análise financeira
sua posterior revenda no mercado (emissão da nota fiscal de venda). das empresas apresenta,
de modo detalhado e
c. Empresas de prestação de serviço
bastante aprofundado,
conceitos extremamen-
Tempo que decorre desde o momento em que um ou mais colabo- te importantes para o
radores são alocados para realizar um serviço até o momento em que o gestor financeiro, princi-
palmente aqueles rela-
serviço está pronto ou já foi entregue (realizado) e, consequentemente, cionados aos efeitos de
a empresa emite a nota fiscal de prestação de serviço. suas decisões no capital
de giro e o consequente
Partindo do ciclo de caixa, podemos calcular também um indica- efeito no fluxo de caixa.
dor importante derivado dele: o giro do caixa. Ele representa o nú- SILVA, J. P. São Paulo: Atlas, 2016.
mero de vezes em que o caixa girou no período em análise, utilizando
a mesma conceituação teórica do giro do estoque, das contas a re-
ceber, das contas a pagar e das obrigações sociais e fiscais. Definido
com base no conceito do ciclo de caixa, o giro de caixa é representado
pela seguinte relação:
Período em análise
15
15
Giro do caixa =
Ciclo de caixa Quando os dados utilizados
forem anuais, utilizamos 360,
Quanto maior for o giro do caixa, menor será a necessidade de caixa semestrais, 180, trimestrais,
90, mensais, 30, e assim
para suportar as operações. Do mesmo modo que ocorre com o giro
sucessivamente.
do estoque, o giro do caixa deve ser maximizado, no entanto, sem in-
correr no risco da falta de recursos. Embora precisem ser customizadas
para cada empresa, há algumas formas de maximizar o giro do caixa,
minimizando as necessidades de recursos. Essas alternativas são:
1. Aumentar o giro do estoque por meio de:
Isso significa capacidade ociosa, ou seja, custos que são gerados sem
a contrapartida de receitas, resultando em margens negativas, em au-
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para crescer, todas as empresas precisam investir em ativos. Ao ter
que decidir sobre a aplicação de recursos, a grande questão é como finan-
ciar esse investimento. Devemos utilizar recursos dos sócios ou daque-
les que emprestam fundos para a empresa sem participação no capital,
sabendo que, se esses recursos captados não forem compatíveis, em
termos de prazos e de custos versus rentabilidade, a empresa pode, no
limite, chegar à falência.
Para evitar que isso ocorra e a empresa possa sempre crescer de ma-
neira sustentada, o gestor financeiro precisa administrar adequadamente
a sua liquidez, utilizando, nesse trabalho fundamental, uma das ferramen-
tas mais importantes de gestão: o fluxo de caixa.
Além de ser essencialmente um instrumento de planejamento, o fluxo
de caixa é a ferramenta utilizada pelo gestor para administrar eficazmente
a relação entre a rentabilidade e a liquidez, pois reflete, sob o ponto de
vista financeiro, as entradas de caixa e os pagamentos em seus respecti-
vos vencimentos.
Utilizando essa importantíssima ferramenta, o gestor tem um suporte
fundamental para suas decisões, permitindo que possa, por meio da re-
dução da incerteza e, consequentemente do risco, para os stakeholders,
cumprir seu principal objetivo: a maximização do retorno dos proprietá-
rios da empresa.
Para isso, é necessário que sua administração não seja dissociada das
demais áreas da empresa, o que pode comprometer irremediavelmente
REFERÊNCIAS
CARVALHO, F. J. C. de. et al. Economia monetária e financeira. Rio de Janeiro: Campus, 2015.
GITMAN, L. J.; ZUTTER, C. J. Princípios de administração financeira. São Paulo: Pearson, 2010.
PEREIRA, A. S. Finanças corporativas. Curitiba: IESDE, 2013.
SÁ, A. Fluxo de caixa: a visão da tesouraria e da controladoria. São Paulo: Atlas, 2012.
GABARITO
1. O fluxo de caixa é, essencialmente, uma ferramenta de planejamento, a qual permite
ao gestor a análise da relação entre a rentabilidade da empresa e a sua liquidez. No
fluxo de caixa, estão previstos os recursos financeiros que deverão entrar no caixa
da empresa (sempre incertos) e aqueles que terão que sair, esses últimos com um
grau de incerteza muito menor. Por meio do fluxo de caixa, o gestor financeiro pode
levantar prognósticos das necessidades de captação (quando e quanto) e as sobras de
recursos que permitirão o reinvestimento na operação da empresa para que ela possa
crescer de maneira sustentada.
3. Ciclo de caixa ou financeiro positivo indica que a empresa efetua seus pagamentos
operacionais antes de receber o produto de suas vendas de produtos e/ou serviços.
Por outro lado, se esse ciclo for negativo, representa que os recursos oriundos das
vendas entram no caixa antes do pagamento dos gastos relacionados à operação.
Portanto, o ideal, para qualquer tipo de empresa, é a busca incessante dos gestores
para fazer com que suas empresas tenham ciclo de caixa ou financeiro negativos.
Figura 1
Estrutura do Balanço
Balanço Patrimonial
Passivo exigível
• Passivo circulante
Aplicações Ativo • Passivo não circulante Fontes
de de
recursos recursos
Patrimônio Líquido
Figura 2
Balanço da perspectiva do gestor
Ativo Passivo
Aplicações Fontes
Ativo Passivo
• Bens
• Obrigações
• Direitos
Figura 3
Fontes e aplicações de recursos
Aumento de Aumento de
Ativo Passivo
= Ativo Passivo =
Aplicação Fonte
Aplicações Fontes
Redução de Redução de
Ativo Passivo
= =
Fonte Aplicação
Figura 4
Grupos de contas do Balanço
ATIVO PASSIVO
Aplicações com Captações com
Passivos prazo inferior a
prazo inferior a
Ativos circulantes circulantes 360 dias
360 dias
(*) As aplicações sem prazo definido dentro do Ativo não circulante são compostas basicamente
dos investimentos em máquinas, equipamentos, instalações e investimentos em outras empresas.
Conceitualmente, esses investimentos não têm prazo predefinido para resgate.
Fonte: Elaborada pelo autor.
Passivos
Ativos circulantes circulantes
Capital de giro
positivo
Passivo não
circulante
Ativo não
circulante
Patrimônio
Líquido
Figura 6
Balanço com capital de giro negativo
Figura 7
Balanço com capital de giro nulo
Passivos
Ativos circulantes
circulantes
Capital de giro
nulo
Passivo não
circulante
Ativo não
circulante
Patrimônio
Líquido
Figura 8
Capital de giro pela avaliação das fontes e origens do Balanço
+
Fontes de longo
prazo
Patrimônio Líquido
-
-
Aplicações de
Ativo não circulante longo prazo
= =
Capital de giro
Fonte: Elaborada pelo autor.
Figura 9
Visão gerencia do capital de giro
VISÃO GERENCIAL
Importante
Repare que o capital de giro calculado das duas formas indicadas chega ao mesmo
valor, conforme demonstrado a seguir:
1. Ativo circulante – Passivo circulante = 100 – 60 = 40
2. Exigível a longo prazo + Patrimônio Líquido – Ativo não circulante = 40 +
100 – 100 = 40
Para que esse conceito fique bem claro, vamos tomar como exemplo
as contas a receber. Em qualquer tipo de empresa, só não existirão valo-
res a receber gerados pelas vendas a prazo em duas situações. A primei-
ra ocorre quando, por definição estratégica e mercadológica, a empresa
somente efetua vendas à vista, situação de absoluta excepcionalidade
atualmente. Nesse caso, ao realizar uma venda, o valor recebido iria para
o caixa da empresa e não seria reconhecido como um valor a receber.
Para que isso fique mais claro, suponha que exista nas contas a re-
ceber uma venda feita para o cliente A. Enquanto esse cliente não qui-
tar sua dívida com a empresa, por representar um Ativo, esse valor terá
que ser financiado por um Passivo. Assim que ele fizer o pagamento,
deixa de existir a necessidade de financiá-lo. Se, no entanto, no mesmo
dia, a empresa fizer uma venda a prazo para o cliente B (para simplifi-
car o exemplo, vamos imaginar que seja no mesmo valor), a empresa
terá que “transferir” os recursos captados no Passivo para o financia-
mento do cliente A para, agora, financiar o cliente B.
Uma pergunta que pode ser feita sobre os estoques está relacio-
nada às empresas de prestação de serviços. Nesse tipo de empresa,
o valor dos estoques é muito pequeno e, dependendo do tamanho e do
valor, pode não ser reconhecido como um Ativo, mas sim diretamente
como uma despesa, lembrando que o enfoque utilizado aqui é geren-
cial e não contábil. Ao analisarmos, do ponto de vista gerencial, uma
Para tornar ainda mais claro esse conceito, vamos lembrar que, nas
compras a prazo, é muito comum a existência de condições comerciais
de preço diferentes. Normalmente, encontramos um preço para paga-
mento à vista e outro a prazo. Essas distinções conceitualmente repre-
sentam diferenças relacionadas às características do produto, e não ao
custo financeiro.
O que são contas não cíclicas? adequadamente, tanto do ponto de vista do tempo quanto do prazo,
as aplicações de longo prazo da empresa, expressas nas contas não
cíclicas do Ativo.
Figura 10
Estrutura do Balaço do ponto de vista gerencial
Figura 12
Opções restantes de contas cíclicas do Balanço
Além disso, não podemos esquecer que quanto mais a empresa cres-
ce, mais aumentam suas necessidades de recursos para financiar o giro
das contas operacionais, refletidas nas contas cíclicas do Ativo. É a partir
desse momento que começam as dificuldades das organizações, prin-
cipalmente das pequenas e médias, geralmente incapazes de calcular
quanto realmente necessitam para cobrir seus investimentos no giro.
Além disso, uma NCG com saldo negativo revela que os recursos
estão entrando no caixa da organização antes de sair, ou seja, o ciclo de
caixa ou financeiro da empresa é negativo. Isso representa a situação
ideal da gestão financeira, na qual primeiro recebe e depois paga.
Para que esse conceito fique bem claro, basta lembrar que tudo que
fazemos para reduzir o prazo dos estoques e das contas a receber e
Importante aumentar o prazo de pagamento, objetivando tornar o ciclo de caixa
negativo, significa reduzir o volume financeiro das contas a receber e
Toda empresa que tem ciclo de
caixa negativo (primeiro recebe dos estoques e aumentar o volume das fontes de financiamento obti-
e depois paga) apresenta NCG das junto aos fornecedores, colaboradores e impostos.
negativa (sobram recursos per-
manentes e com custo financeiro Para que entendermos a relação existente entre o conceito do ciclo
zero para o financiamento de sua de caixa ou financeiro e a NCG, vamos utilizar o exemplo a seguir.
operação).
Uma empresa está iniciando seu processo de planejamento finan-
ceiro para o próximo exercício, procurando, nessa fase, determinar
suas necessidades de capital de giro para o primeiro trimestre do ano.
Com base nas informações já projetadas, refletidas a seguir, e sabendo
que o estoque final projetado será igual ao estoque inicial, determine
qual será a NCG necessária ao suporte das atividades previstas para
o primeiro trimestre do próximo exercício social e o ciclo de caixa ou
financeiro para o período.
Informações financeiras:
Vendas = $25.000
Custo dos produtos vendidos = $10.000
Consumo de matéria-prima = $ 8.000
Mão de obra = $ 2.000
Prazos médios:
Estoques = 60 dias
Recebimento = 90 dias
Pagamento compras = 45 dias
Pagamento mão de obra = 30 dias
2. Estoques
3. Fornecedores
4. Obrigações trabalhistas
iliquidez da empresa.
ST = CDG – NCG
ou
Figura 14
Contas cíclicas, não cíclicas e erráticas
Isso ocorre com mais frequência do que deveria. É muito comum en-
contrarmos empresas com dívidas bancárias de curto prazo, ao mesmo
tempo que mantêm aplicações financeiras em volumes superiores às dí-
vidas. Certamente, nesses casos, os gestores financeiros estão esquecen-
do esses conceitos básicos. Caso se lembrassem deles, não temos dúvida
de que utilizariam as disponibilidades financeiras para quitar as dívidas
bancárias de curto prazo, e não para aplicá-las no mercado financeiro.
Além disso, para tornar a situação ainda pior, uma das condições
fundamentais para que uma dívida seja saudável não está sendo aten-
dida, pois suas necessidades permanentes de financiamento refletidas
nas contas cíclicas do Ativo (circulante não financeiro) estão sendo fi-
nanciadas com recursos bancários de curto prazo, sendo que o prazo
médio dos financiamentos do Passivo não é superior ao prazo médio
das aplicações refletidas no Passivo, ou seja, a empresa está financian-
do necessidades permanentes de recursos com empréstimos de curto
prazo, situação muito comum em pequenas empresas.
reduzir o risco financeiro. É importante frisar que, se o saldo de Tesou- ASSAF NETO, A.; SILVA, C. A. T. São
Paulo: Atlas, 2010.
raria for positivo e elevado, embora a empresa disponha de fundos
que possam ser aplicados momentaneamente no mercado financeiro,
Figura 17
Representação do Efeito Tesoura
$
Necessidade de
capital de giro
EFEITO TESOURA
Capital de
ciro
Tempo
Fonte: Elaborada pelo autor.
Deve ficar muito claro ao gestor financeiro que, para reduzir o risco
de insolvência da empresa, é necessário, em primeiro lugar, empregar
todas as possibilidades existentes para tornar a NCG e, consequente-
mente, o ciclo de caixa ou financeiro negativos. Se isso não for possí- Atividade 3
vel, o gestor deve evitar a dependência de empréstimos de curto prazo
O que é o Efeito Tesoura?
para financiar o saldo positivo da NCG.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O crescimento de qualquer tipo de empresa depende do aumento de
seu endividamento junto aos sócios e aos financiadores sem participação
no capital social. Uma das regras básicas para esse crescimento ocorrer
de maneira saudável é que o prazo médio do Passivo seja superior ao
prazo médio do Ativo, permitindo que a empresa receba o resultado da
venda de seus produtos e/ou serviços antes de efetuar o pagamento das
obrigações assumidas junto ao Passivo.
Para que possa confirmar se esse crescimento está sendo feito da
maneira correta, a empresa tradicionalmente utiliza o conceito do capital
de giro, definido como a diferença entre o Ativo circulante (recebimentos
de curto prazo) e o Passivo circulante (obrigações de curto prazo). Utiliza
também um indicador chamado índice de liquidez corrente, calculado com
base na divisão do Ativo circulante pelo Passivo circulante. Se esse resul-
tado gerar um valor superior à unidade, isso significa que a empresa é
detentora de liquidez.
Normalmente, empresas que apresentam capital de giro superior à
unidade são utilizadas como exemplo de organizações com uma situação
financeira boa. Por essa análise, a recíproca também é verdadeira, ou seja,
se o capital de giro for inferior à unidade, essa empresa seria caracteriza-
da como um exemplo de má situação financeira. Ainda dentro desse tipo
de análise, não devemos esquecer que se o capital de giro for positivo,
o índice de liquidez corrente será superior à unidade. Portanto, se enten-
dermos essa análise como correta, não há necessidade de calcularmos os
dois indicadores, bastando apenas o cálculo de um deles.
A questão fundamental é que a gestão da operação da empresa não
se faz pelo capital de giro, e sim pela NCG. Para utilizar esse conceito, vi-
mos que precisamos primeiramente entender o Balanço da empresa de
REFERÊNCIAS
ASSAF NETO, A.; SILVA, C. A. T. Administração do capital de giro. São Paulo: Atlas, 2010.
BRASIL, H. V.; BRASIL, H. G. Gestão financeira das empresas: um modelo dinâmico. Rio de
Janeiro: QualityMark, 2001.
FLEURIET, M.; KEHDY, R.; BLANC, G. O Modelo Fleuriet: a dinâmica financeira das empresas
brasileiras. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.
FLEURIET, M.; ZEIDAN, R. O modelo dinâmico de gestão financeira. Rio de Janeiro: Alta Books,
2015.
GABARITO
1. São contas existentes no Ativo e no Passivo da empresa que apresentam característica
de existência contínua. As contas cíclicas do Ativo representam aplicações realizadas
continuamente em função de sua atividade, independente dos saldos, que constan-
temente estão aumentando e diminuindo devido aos prazos e que, por esse motivo,
precisam ser consideradas pelo gestor como itens que devem ser financiados com re-
cursos também permanentes. As aplicações de recursos que mais comumente apre-
sentam essa característica são as contas a receber e os estoques.
2. As contas não cíclicas refletem, do lado do Ativo, os investimentos que, para come-
çar a dar retorno, levam um tempo muito superior ao das contas cíclicas e, portanto,
têm que ser financiados com prazos adequados. Do lado do Passivo, representam os
financiamentos obtidos para o crescimento da empresa, captados junto aos sócios e
aos financiadores de longo prazo sem participação no capital social. Do lado da apli-
cação, ou seja, do Ativo, representam os investimentos, principalmente em máquinas,
equipamentos e instalações, e as vendas realizadas a longo prazo.
1
Frequentemente considerado um dos maiores matemáticos de todos os tempos, Arquimedes nasceu na Sicília,
Itália, em 287 a.C. Foi matemático, físico, engenheiro, inventor e astrônomo.
Onde:
MC = Margem de contribuição
RT = Receita total líquida
CV = Custo variável total
Esses custos são gastos que podem oscilar, mas não em função do Importante
volume de produção ou de vendas. Como exemplos desses gastos, po-
Conceitualmente, os custos fixos
demos incluir o aluguel de instalações, os juros e os salários da área não se alteram no total, mas sim
administrativa, itens que ocorrem independente do volume de vendas por unidade, ou seja, os custos
fixos são variáveis por unidade.
ou de produção.
Quanto maior o volume de Uma segunda característica muito importante relacionada aos custos
custos fixos, maior o nível de fixos diz respeito à sua importância com relação à obtenção do resultado
vendas necessário para cobri-los,
uma vez que sua cobertura se final da empresa. Se pensarmos nesse resultado como a diferença entre
faz por meio da margem de a margem de contribuição e os custos fixos, podemos dizer que eles re-
contribuição, diferença entre as presentam o custo mais importante na estrutura da empresa, definindo
receitas totais e o custo variável
total. a capacidade de ela atingir ou não resultados positivos.
PE = CF ÷ (MC ÷ RT)
Onde:
PE = Ponto de equilíbrio
CF = Custo fixo
MC = Margem de contribuição
RT = Receita total
Figura 1
Representação do ponto de equilíbrio
Vendas totais
Vendas
Custos totais
PE
$Y
Custos fixos
X
Capacidade de produção
Fonte: Elaborada pelo autor.
Tabela 1
Desempenho da empresa nos últimos três anos
Tabela 2
Resultados da empresa nos últimos três anos
Premissas Atual
Vendas (unidades) 10.000
Preço unitário $ 2,00
Vendas totais $20.000,00
(–) Custos variáveis operacionais $ 8.000,00
(–) Custos fixos operacionais $ 5.000,00
Tabela 3
Variação em 10% nas vendas para a alavancagem operacional
Tabela 5
Efeito de alavancagem operacional
Tabela 6
Grau de alavancagem operacional
∆% no LAJIR + 34,3%
Premissas Atual
Empréstimos a pagar $80.000,00
Taxa de juros 3%
LAJIR $16.000,00
(–) Despesa com juros $ 2.400,00
(=) Lucro antes do Imposto de Renda $13.600,00
(–) Imposto de Renda (alíquota de 25%) $ 3.400,00
Tabela 7
Variação em 10% nas vendas para a alavancagem financeira
∆% no LAJIR + 10,0%
∆% no LAJIR + 10,0%
∆% no LAJIR + 30,0%
Por outro lado, como nem todas as empresas são financiadas com
recursos onerosos de terceiros, sempre que isso ocorrer, a organização
não apresentará alavancagem financeira. Como a alavancagem combi-
nada só é percebida nas empresas quando a operacional e a financeira
existem, podemos dizer que nem todas as organizações apresentam
alavancagem combinada.
Premissas Atual
Vendas (unidades) 35.000
Preço unitário R$ 2,00
Empréstimos a pagar R$ 100.000
Taxa de juros 2,5%
Vendas totais R$ 70.000
(–) Custos variáveis operacionais R$ 42.000
(–) Custos fixos operacionais R$ 20.000
(=) LAJIR R$ 8.000
(–) Despesa com juros R$ 2.500
(=) Lucro antes do Imposto de Renda R$ 5.500
(–) I.R. (alíquota de 25%) R$ 1.375
(=) Lucro líquido R$ 4.125
∆% nas Vendas
∆% no Lucro líquido
Tabela 11
Variação de 10% nas vendas para a alavancagem combinada
Tabela 13
Efeito de alavancagem combinada
Tabela 14
Grau de alavancagem combinada
Tabela 15
Análise da alavancagem operacional
GAO = < 17,1% > ÷ < 10,0% > = 1,71 – 1 = 0,71 × 100 = 71%
RISCO OPERACIONAL
PE 2 Custos totais
B
PE 1
A
Custos fixos
Capacidade de produção
Fonte: Elaborada pelo autor.
Tabela 16
Análise de alavancagem financeira
GAF = < 11,8% > ÷ < 10% > = 1,18 – 1 = 0,18 × 100 = 18%
Figura 3
Efeito do aumento dos custos financeiros no risco operacional
RISCO FINANCEIRO
PE 1
Despesas
financeiras
Capacidade de produção
(*) Custos variáveis operacionais + Despesas financeiras
Fonte: Elaborada pelo autor.
Tabela 17
Efeito combinado com base no grau de alavancagem combinado (GAC)
GAC = < 50,9% > ÷ < 10,0% > = 5,09 – 1 = 4,09 × 100 = 409%
RISCO COMBINADO
Vendas totais
Vendas
Custos totais
com despesas
PE 2 financeiras
B
Custos totais
sem despesas
PE 1 financeiras
A Custos fixos
+
Despesas financeiras
Custos fixos
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O crescimento de qualquer tipo de negócio ocorre com base nos in-
vestimentos realizados na sua operação. Normalmente, as novas aplica-
ções de recursos na atividade operacional trazem alterações sobre os
custos fixos operacionais. Além disso, para investir, é preciso usar fontes
de recursos dos sócios e dos financiadores sem participação no capital
social. Se a opção utilizada pelo gestor for uma fonte de recursos captada
junto ao capital de terceiros onerosos, essa captação afetará o volume
das despesas financeiras.
Uma consequência do investimento na atividade operacional é a varia-
ção nos custos fixos. Do lado da captação de recursos para financiar os in-
REFERÊNCIAS
GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. São Paulo: Pearson, 2010.
PEREIRA, A. S.; BISPO, P. L. Custos e formação de preços. Curitiba: Iesde, 2019.
SILVA, J. P. Análise financeira das empresas. São Paulo: Cengage Learning, 2016.
GABARITO
1. O ponto de equilíbrio indica a quantidade vendida ou o faturamento, dependendo da
forma de cálculo, necessário à cobertura dos custos fixos e dos custos variáveis exis-
tentes na estrutura da empresa. Sempre que o ponto de equilíbrio aumenta, o valor
do faturamento ou a quantidade vendida fica maior, o que significa que a empresa
precisa vender mais para poder cobrir os custos fixos e variáveis.
2. O GAO mede o quanto o LAJIR pode aumentar, com base em determinado percentual
de crescimento nas receitas, indicando que quanto maior o GAO, maior a possibilida-
de de aumento para o LAJIR.
Por outro lado, se o aumento das despesas financeiras não for acompanhado do cres-
cimento do LAJIR, ocorrerá o oposto. Nesse caso, a empresa alavancará suas perdas,
o que irá impactar diretamente a lucratividade e a rentabilidade. Por esse motivo,
quanto maior o crescimento das despesas financeiras, mais a empresa pode ganhar
se houver um crescimento superior do LAJIR. Mas se isso não ocorrer, a empresa terá
alavancado suas perdas.