Você está na página 1de 16

ESCOLA SUPERIOR DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

ESRI
LICENCIATURA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS E DIPLOMACIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE LICENCIATURA- TCL

Tema:
DINÂMICAS DA COOPERAÇÃO SUL−SUL꞉ UMA REFLEXÃO EM TORNO DA
COOPERAÇÃO BRASIL−MOÇAMBIQUE PARA O DESENVOLVIMENTO
ECONÓMICO DE MOÇAMBIQUE (2011 A 2020).

A Candidata: O Supervisor:
Ercília Buque Prof. Dr.Arnaldo Massangaie

Maputo, Junho de 2023

2
Índice
1. Tema...........................................................................................................................3
1.1. Delimitaçã espacio-temporal..............................................................................3
2. Contextualizaçao........................................................................................................3
3. Justificativa................................................................................................................5
4. Problematização.........................................................................................................5
5. Obectivos....................................................................................................................6
5.1. Obejctivo Geral꞉..................................................................................................6
5.2. Objectivos específicos꞉.......................................................................................6
6. Questoes de pesquisa..................................................................................................7
7. Hipoteses....................................................................................................................7
8. Metodologia de trabalho............................................................................................8
8.1. Quanto a natureza de estudo...............................................................................8
8.2. Quanto aos objetivos...........................................................................................8
8.3. Quanto à forma de abordagem............................................................................8
8.4. Procedimentos técnicos.......................................................................................9
8.5. Técnica de recolha de dados...............................................................................9
8.6. Métodos de pesquisa...........................................................................................9
 Método de abordagem............................................................................................9
 Método de procedimento......................................................................................10
9. Refencial teórico......................................................................................................10
9.1. Teoria................................................................................................................10
9.1.1 Teoria liberal:................................................................................................10
Origem da teoria..........................................................................................................10
9.1.2. Precursores intelectuais......................................................................................11
9.1.3 Pressupostos basicos.....................................................................................12
9.1.4. Aplicabilidade...............................................................................................13
9.2 Teoria da interdependência...............................................................................13
9.2.1 Contexto e Precursores..................................................................................13
9.2.2. Pressupostos..................................................................................................13
9.2.3. Aplicabilidade...............................................................................................14
9.3. Complementaridade entre o Liberalismo e a Teoria da Interdependência.......14
10. LISTA DE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................15

3
1. Tema꞉

Este trabalho pretende fazer um estudo no âmbito das dinâmicas da cooperação


Sul−Sul꞉ reflexão em torno da cooperação Brasil−Moçambique para o Desenvolvimento
Económico de Moçambique, de 2011 a 2020.

1.1. Delimitação espácio-temporal


A delimitação temporal enquadra-se no período entre 2011 e 2020. O ano de 2011 foi
escolhido como marco inicial por ter sido o ano em que iniciou, de forma concreta, a
implementação da iniciativa de cooperação sul-sul entre o Brasil e Moçambique. Ato
marcado com um investimento de USD 32 milhões para fortalecimento e
desenvolvimento de diversos sectores técnicos em Moçambique. No que tange ao marco
final, o ano escolhido é 2020, ano em que o governo de Moçambique anunciou o fim do
ProSavana, um dos pilares incluídos no financiamento Brasileiro.

No que se refere a delimitação no espaço, o trabalho se enquadra no território


Moçambicano, visto que foi neste espaço que os projectos surgidos neste âmbito de
cooperação incluindo o ProSavana, foram implementados.

2. Contextualização
Este estudo se insere no debate sobre a inserção internacional das potências médias
emergentes e o crescimento da cooperação Sul-Sul, aludindo as relações do Brasil com
Moçambique, com destaque ao período pós-Guerra Fria. O fim da bipolaridade foi
marcado por ações unilaterais da potência hegemônica e pela imposição de uma agenda
neoliberal pelos dos países do Norte, a partir da influência destes sobre as instituições
multilaterais globais. Em resposta, países com renda intermediária, porém ainda
considerados periféricos, passam a ambicionar maior participação nos debates centrais
da Política Internacional.

Para Fingermann (2019:355) estes países não empregam força militar, fazendo uso
apenas do seu peso econômico, demográfico e das capacidades político-diplomáticas
para se projectarem internacionalmente. A ascensão dos emergentes foi acompanhada
de alterações significativas nos padrões de relacionamento entre os países em
desenvolvimento, que atribuem cada vez mais importância à cooperação Sul-Sul como

4
forma de compartilhar soluções para problemas comuns ligados ao desenvolvimento,
bem como para aumentar o seu poder de barganha em negociações internacionais.

A África também passa por uma transição positiva no pós-Guerra Fria, chamada no
meio acadêmico de “renascimento africano”. No âmbito doméstico, muitos países
apresentam melhor desempenho econômico e avançam nos processos de
democratização. No âmbito regional, são lançadas iniciativas inéditas com o objectivo
de ampliar a cooperação, a integração regional e a atração de investimentos para o
continente, como a Nova Parceria
Econômica para o Desenvolvimento Africano (NEPAD), em 2001, e a União Africana
(UA), em 2002, No âmbito global, grande parte dos países africanos amplia as parcerias
internacionais, avançando nos seus projetos de desenvolvimento nacional de maneira
mais autônoma em relação aos tradicionais parceiros do Ocidente (SARAIVA, 2012).

Moçambique se destaca como um país de crescente importância


regional e como um novo polo de atracção de investimentos. O país passou por uma
longa luta de libertação colonial que culminou com sua independência em 1975. Em
1977, reiniciou-se o
conflito que desestabilizou o país por dezasseis anos. Neste período, Moçambique
realiza um processo de modernização de inspiração socialista, apoiado pela URSS, pela
China e por países do leste europeu. A partir de 1987, o país realiza uma série de ajustes
econômicos e políticos, que resultam na liberalização da economia, no fim do conflito e
na realização de eleições multipartidárias. No pós-Guerra Fria, ao perder a importância
estratégica para as duas superpotências, Moçambique se aproxima de novos parceiros
para alavancar o seu
desenvolvimento interno. É neste contexto que as suas relações com o Brasil ganham
maior intensidade, especialmente a partir da década de 2000.

Justificativa

A cooperação Sul-Sul promoveu um grande número de trocas de conhecimentos e


experiências por meio de programas, projectos e iniciativas que ajudaram e/ou ajudam a
resolver problemas específicos nos países do Sul Global. Assim sendo, a escolha do

5
tema em apreço justifica-se por ser um tema de grande importância na área das relações
internacionais.

Como estudante de Relações Internacionais, pretendo buscar novos conhecimentos e


aprofunda-los sobre a Cooperação Sul-Sul, tendo como ponto de análise a cooperação
entre o Brasil e Moçambique, sob escopo de desenvolvimento sustentável. Entretanto,
há interesse em perceber se realmente, a implementação dos diversos programas e
projectos no período em análise credibilizam os eufóricos princípios que norteiam a
cooperação sul-sul.

3. Problematização

A Cooperação Sul-Sul (CSS) para o desenvolvimento, centrada principalmente na


Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento (CTPD), surgiu como uma
forma independente de promover o desenvolvimento entre os países do Sul. Pino
(2014:67) apresenta quatro fatores explicativos para o crescimento dos interesses
dos países desenvolvidos na cooperação Sul-Sul, após décadas de indiferença.
Primeiramente, percebe-se uma “ameaça do Sul”, no sentido de que os emergentes
estariam competindo com
os doadores tradicionais. Em segundo lugar, há um reconhecimento positivo das
iniciativas Sul-Sul. Em terceiro lugar, percebe-se o desconhecimento e a necessidade de
melhor compreensão da cooperação Sul-Sul por parte dos centros de pesquisa dos países
do Norte. Finalmente, há uma preocupação quanto aos efeitos nocivos da crescente
inserção dos “novos doadores” na agenda de eficácia da ajuda ao desenvolvimento da
OCDE (PINO, 2014).1

Muniz (2016:111), refere-se à cooperação técnica implementada pelo Brasil com outros
Países Periféricos ou Semiperiféricos, através da qual se permite o compartilhamento de
experiências e conhecimentos disponíveis nas instituições brasileiras junto a instituições
de países interessados na cooperação com o Brasil. Trata-se da Cooperação Sul-Sul em
que o Brasil figura como transmissor de técnica e conhecimento, que permite promover
o estreitamento de suas respectivas relações em distintas dimensões, dentro do marco de
uma política externa no campo da cooperação para o desenvolvimento.
1
https://www.researchgate.net/publication/341909910_Cooperacao_Sul-Sul. Consultado em 03 de
Junho de 2023.

6
Catsossa (2017:394) afirma ainda que, desde que o ProSAVANA foi tornado público
em Moçambique, foi alvo de críticas por vários segmentos da sociedade moçambicana,
entre eles, acadêmicos, organizações da sociedade civil, associações de camponeses,
movimentos sociais nacionais e estrangeiros. Por outro lado, Mosca e Bruna (2015:15),
nos trazem uma outra dimensão deste projecto, ao afirmarem que os primeiros
documentos do ProSAVANA apontam claramente para a produção da agricultura
integrada em cadeias de valor, a intensificação tecnológica, a produção com base em
agricultores de pequena e média dimensão integrados nos mercados e o pressuposto de
que existem terras não aproveitadas (incluindo as de pousio).

Fingermann (2019:355) afirma que, a aproximação do Brasil com os países africanos,


inclusive Moçambique, faz parte de um amplo projecto que visa inserir o Brasil no
mundo e destacar sua autonomia em relação às tradicionais potências ocidentais. No
primeiro Governo de Lula2, houve uma inovação na relação com o continente africano,
com a ideia de uma aproximação com este continente, visando maior intercâmbio
econômico e estimular multipolaridade nas relações internacionais.

Entretanto, através de parcerias procurou-se incrementar uma maior cooperação com os


países africanos, valorizando, principalmente, a cooperação no interior da Comunidade
dos Países da Língua Portuguesa (CPLP), tal como Angola e Moçambique. Porém, esta
relação veio a sofrer transformações na presidência de Bolsonaro 3, devido ao seu estilo
de governação que indicava um evidente afastamento das iniciativas do sul global, com
possível impacto na área de cooperação Sul-Sul.

Tendo em conta o debate acima apresentado, torna-se pertinente formular a seguinte


questão inicial de pesquisa: quais são as implicações da cooperação Brasil-
Moçambique para o desenvolvimento de Moçambique?

Objectivos
2
O primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva foi de 2003 à 2006, o qual ficou marcado por bons
resultados na economia brasileira, sendo que suas primeiras medidas para a economia foram pragmáticas,
como a decisão de reduzir os gastos do governo.

3
O mandato de Jair Bolsonaro foi de 2019 à 2022, no qual assumiu-se valores conservadores e liberais e
ficou marcado por uma série de polêmicas. Fou um período em que o país apresentou um crescimento
econômico irregular.

7
3.1. Obejctivo Geral꞉
 Reflectir em torno das implicações da cooperação Brasil-Moçambique para o
desenvolvimento económico de Moçambique.

3.2. Objectivos específicos꞉


 Descrever as relações de cooperação entre Moçambique e Brasil;

 Caracterizar os sectores de cooperação entre o Brasil e Moçambique;

 Analisar as implicações da cooperação Brasil-Moçambique para o


desenvolvimento económico de Moçambique.

4. Questões de pesquisa
 Como é a relação de cooperação entre o Brasil e Moçambique no sector da
agricultura?

 Como é que se caracterizam os sectores de cooperação entre o Brasil e


Moçambique?

 Quais são implicações da cooperação Brasil-Moçambique para o


desenvolvimento económico de Moçambique?

5. Hipóteses
 A relação entre Brasil e Moçambique pode ser uma forma que o Brasil
encontrou para se aproveitar dos recursos naturais que Moçambique dispõe a
fim de satisfazer interesses próprios;

 Os sectores de cooperação entre Brasil e Moçambique podem ser


desestruturados, de baixa capacidade financeira e tecnológica, condicionando o
seu desenvolvimento;

 A cooperação entre Brasil e Moçambique pode não contribuir no


desenvolvimento económico de Moçambique.

8
6. Metodologia de trabalho
Metodologia é definida por Marconi e Lakatos (2003) como processo de planeamento,
onde se define um conjunto de métodos científicos a serem utilizados no decorrer da
pesquisa, servindo de instrumentos para o alcance dos objetivos propostos, bem como
ao atendimento de critérios úteis na confiabilidade da informação. Entretanto, a
pesquisa a ser desenvolvida classifica-se em três critérios:

6.1. Quanto a natureza de estudo


Quando a natureza de estudo esta pesquisa é básica. A qual segundo Lundin (2016:120),
esta pesquisa tem como propósito gerar conhecimentos novos, úteis para o avanço da
ciência sem nenhuma aplicação prática prevista, envolvendo normalmente mais
assuntos e interesses globais. No entanto, o propósito desta pesquisa é gerar novos
conhecimentos sobre a cooperação sul-sul e o seu contributo para o desenvolvimento
dos estados do sul, tendo como base a cooperação entre Moçambique e Brasil.

6.2. Quanto aos objectivos


Quanto aos objectivos, é uma pesquisa analítica explicativa, a qual visa identificar os
factores que determinam ou que contribuem para ocorrência dos fenómenos.
Aprofundar os conhecimentos sobre a realidade pois visa explicar a racionalidade dos
processos, dos eventos e das coisas. (Ibid:122)

Neste contexto, nesta pesquisa estão identificados os fatores que levam ao sucesso ou
fracasso da cooperação entre os estados do sul, de modo a explicar a realidade da
mesma no contexto moçambicano.

6.3. Quanto à forma de abordagem


Quanto a forma de abordagem do problema, esta pesquisa qualitativa. Pois se preocupa
com o nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com o
universo de significados, de motivações, aspirações, crenças, valores e atitudes. Esta
forma de abordagem será fundamental para o trabalho em causa uma vez que o uso da
descrição qualitativa procura captar não só a aparência do fenómeno como também suas
essências, procurando explicar sua origem, relacões e mudanças e possíveis
consequências, no entanto será útil para explicar estes aspectos no contexto da
cooperação sul-sul entre Moçambique e Brasil.

9
6.4. Procedimentos técnicos
No que concerne aos procedimentos técnicos, é uma pesquisa bibliográfica, que é
aquela elaborada a partir de documentos já publicados, fontes secundárias, constituídos,
principalmente de livros, artigos de jornais científicos, e artigos publicados em portais
científicos na internet. (Ibid:121).

O trabalho será elaborado com recurso à várias fontes tais como livros, artigos
científicos, portais de internet, entre outros.

6.5. Técnica de recolha de dados


A técnica a ser usada para a realização deste trabalho é a técnica documental, que
segundo Gil (2008:147), é a técnica de recolha de dados que consiste em buscá-los de
forma indirecta usando fontes como livros, jornais, papéis oficiais, registros estatísticos,
fotos, discos, filmes e vídeos. A técnica documental será importante na realização deste
trabalho, pois recorrer a várias fontes como livros, jornais etc, facilitará uma análise
mais profunda da cooperação entre Moçambique e Brasil.

6.6. Métodos de pesquisa


 Método de abordagem
O método de abordagem a ser usado é o método hipotético-dedutivo.

Proper (1935), citado por Lundin (2016:133), afirma que o uso do método hipotético-
dedutivo tem início com um problema, ou uma lacuna no conhecimento científico,
passando pela formulação de hipóteses e por um processo de inferência dedutiva, o qual
testa a predição da ocorrência de fenómenos abrangidos pela referida hipótese. Deste
modo, o trabalho se inicia com um problema, passando pela formulação de hipóteses e
por fim a inferência dedutiva de factores que vão ditar a cooperação entre estes dois
Estados e de seguida ao desenvolvimento económico de Moçambique.

 Método de procedimento
O método de procedimento a ser usado é o histórico, que segundo Marconi e Lakatos
(2003:106), consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do passado
para verificar a sua influência na sociedade de hoje, pois as instituições alcançaram sua
forma atual através de alterações de suas partes componentes, ao longo do tempo,
influenciadas pelo contexto cultural particular de cada época. Seu estudo, para uma

10
melhor compreensão do papel que atualmente desempenham na sociedade, deve
remontar aos períodos de sua formação e de suas modificações. Entretanto, a
cooperação entre Moçambique e Brasil possuem uma história longínqua que de certa
forma contribuiu para aquilo que é sua forma actual de cooperação.

7. Referencial Teórico
7.1. Teoria
Tal como afirma Bunge (1980), toda pesquisa, não importa de que tipo seja, propõem-se
a resolver um conjunto de problemas. Neste contexto, é necessário identificar os
conhecimentos ou instrumentos relevantes, dados empíricos, teorias, etc. para tentar
solucionar os problemas, caso a solução não seja satisfatória é necessário a invenção de
novas idéias (hipóteses, teorias ou técnicas) ou produção de novos dados empíricos que
prometam resolver o problema, sendo assim, a teoria cumpre um papel decisivo no
processo de geração de conhecimento científico. Entretanto, as teorias que melhor se
aplicam ao tema sao o liberalismo e a teoria da interdependência, que buscam explicar
as condições sob as quais a cooperação internacional se torna possível.

9.1.1 Teoria liberal:


Origem da teoria
Segundo Nogueira e Messari (2005:57), o Liberalismo é uma grande tradição do
pensamento ocidental que leva em consideração o lugar do indivíduo na sociedade, a
natureza do Estado e a legitimidade das instituições de governo. O liberalismo foi uma
visao de mundo excepcionalmente inovadora para seu tempo, pois defendia a nocao de
que os seres humanos sao tambem todos iguais na medida todos tem por natureza, a
mesma capacidade de descobrir, compreender e decidir como alcancar a propria
felicidade.

O liberalismo tem origem na teoria política idealista-liberal e esteve ligado a várias ilhas
teóricas das relacoes internacionais que em determinados momentos se afirmaram
contra a teoria dominante do realismo, a começar pelo idealismo internacionalista
liberal de entre guerras, tendo como a principal preposição teórica liberal, que percorre
todas as suas variantes, o facto de que as características nacionais dos estados importam

11
e são decisivas para explicar os motivos e razões dos fenómenos internacionais. No
entanto, o liberalismo especializou-se em analisar as variantes do comportamento dos
estados relativamente ao tipo de regime adotado, nomeadamente ao estudo das
preferências e do comportamento de um tipo particular de Estado: o Estado
demoliberal4. Um dos mais importantes desenvolvimentos teóricos do liberalismo diz
respeito ao fenómeno designado por paz democrática. (Mendes, 2019:101)

9.1.2. Precursores intelectuais


No que tange aos precursores da teoria liberal, Viotti e Kauppi (2012:131), destancam
os seguintes:

 Immanuel Kant

O seu contributo esta ligado a ideia de paz perpetua. A paz no mundo pode se alcançar
através da democracia, porque estados democráticos não entram em guerra entre si e
desta forma as suas relações seriam sempre pacíficas. A sua ideia sobre paz perpetua fez
surgir o chamado debate da paz democrática.

 Richard Cobden

A sua contribuição é sobre o liberalismo econômico e político e faz uma relação entre o
comércio ea paz, acreditando que o comércio é uma força promotora da paz. O seu
primeiro argumento é que muitas guerras ocorrem por razões mercantis e ele acredita
que o comércio livre pode levar a prosperidade e a riqueza. Ele diz ainda que, em
qualque guerra que não ocorra por rivalidades comerciais, estados nao querem prejuízo
com interrupção do livre comércio, logo, não vão entrar em guerra. Por fim, ele afirma
que a expansão do comércio vai ajudar a expandir os contactos e comunicações entre
pessoas e isto vai ajudar a promover entendimento e amizade.

 Joseph Schumpeter

A sua contribuição é sobre expansão do capitalismo e paz mundial. Diz que o


capitalismo é servido pela paz e valores comerciais que substituem o heroísmo, a
bravura, a glória e outros valores obsoletos e orientados para a guerra de um período
pré-capitalista ou feudal anterior. Em suma, o capitalismo democrático leva à paz.

4
. Demoliberalismo – Sistema político herdeiro do Liberalismo da primeira metade do século XIX. Como
ele, valoriza os direitos do indivíduo, a soberania da Nação e a divisão dos poderes.

12
Os argumentos de Kant, Cobden e Schumpeter possuem uma coisa em comum: a
natureza do Estado e da sociedade ou do regime político e econômico e as ideias que os
sustentam que são responsáveis por aumentar ou diminuir a probabilidade de guerra.

9.1.3 Pressupostos Básicos


Viotti e Kauppi (2012:130), afirmam que o liberalismo assenta-se sob as seguintes
premissas:

 Os estados, bem como actores não estatais, são entidades importantes nas relações
internacionais, ou seja, organizações internacionais, organizações não-
governamentais, multinacionais, grupos ambientais desempenham papéis
importantes na política mundial. Entretanto, o estado não é um actor unitário,ele é
composto por diferentes grupos que lutam entre si, discutem entre si, competem
entre si num processo de tomada de decisão;

 Existe uma conexão entre actores e uma multiplicidade de interconexões entre


actores sobre diferentes matérias que produzem interdependência que depois
promove a paz.

 Para os liberais, a agenda da política internacional é extensa. O liberalismo rejeita


a noção de que a agenda da política internacional é dominada apenas por questões
de High Politics. Questões econômicas, sociais e ambientais também são
importantes, permitindo que haja maior interacao entre unidades políticas e
agentes da cooperação internacional;

 O sistema internacional é caracterizado pela interdependência. É fundamental


perceber a influência dos constrangimentos e configurações dos processos de
interdependência internacional na formatação das preferências nacionais e na
determinação do comportamento dos estados e de outros atores não estatais nas
relações internacionais.

9.1.4. Aplicabilidade
A teoria Liberal enfatiza a ideia de estados e actores não estatais como actores das
relações interacionais, daí a sua aplicabilidade ao tema em apresso. Ademais, o
liberalismo dá primazia aos assuntos de low politics, ou seja, não só questões de high

13
politics (questões ligadas à segurança estatal, etc.) dominam a agenda das relações
internacionais, mas também questões econômicas, ambientais, sociais, etc. Neste
contexto esta teoria vai auxiliar na compreensão das implicações que os sectores de
cooperação técnica entre o Brasil e Moçambique trazem para o desenvolvimento de
Moçambique.

9.2 Teoria da interdependência


9.2.1 Contexto e Precursores
Tal como Pecequilo (2004:149), citado por Lundin (2016:195) destaca que tendo como
principais precursores Robert Keohane e Joseph Nye Júnior (1989), a teoria da
Interdependência nasce nos anos 1960 nos inúmeros trabalhos daqueles autores, tais
como Transnational Relations and International Organizations (1974), Power and
Interdependence (1989) e After Hegemon (1984). Keohane e Nye propuseram delimitar
conceitos as reflexoes que trouxeram mais rigor as vertentes liberais, de forma a
converte-las em uma alternativa mais factível ao realismo.

9.2.2. Pressupostos
A teoria da interdependência apoia-se, de acordo com Bedin et al (2003:256-270),
citado por Lundin (2016:196) em quatro pressupostos básicos:

 A crescente interdependência entre as fronteiras nacionais tem forJado múltiplos


canais de contacto entre diferentes sociedades não necesariamente sob o controlo
estatal. Isto implica que uma relação transnacional compreende que os Estados não
são os únicos actores significantes das relações internacionais;
 O advento da interdependência diversifica as principais questões em relações
internacionais. Ou seja, os conjuntos de assuntos próprios das relações
internacionais não dependem mais de temas militares;
 No actual estágio da interdependência, sempre que existirem múltiplos assuntos que
ponham em risco os interesses dos grupos domésticos, sem causar ameaças
explícitas aos interesses da nação, os Estados tenderão a aliar as políticas internas às
demandas internacionais. Desta forma, problemas domésticos e internacionais
cruzam-se mutuamente, envolvendo actores governamentais e não-governamentais;

14
 Múltiplos canais de dependência mútua possibilitam à teoria da interdependência
privilegiar as instituições internacionais como elementos importantes em termos de
barganha.

9.2.3. Aplicabilidade
Segundo Lundin (2016:196), esta teoria pode ser claramente usada para suportar
assuntos ligados às relacoes económicas, mas aplica-se também a outras esferas de
política internacional (politica, ambiental) que tocam e envolvem necessariamente,
vários Estados. a teoria da interdepêndencia dá primazia à cooperação sul-sul, pois
advoca que a interdependência deve ser vista como dependência mútua que resulta das
transações que ocorrem, e esta interdependência ocorre quando existe uma simetria
recíproca, onde os países são ligados por múltiplos canais e assim, não há uma
hierarquia de interesses, ou seja, os países vão cooperar num fórum onde há igualdade,
neste caso trata-se da cooperação sul-sul, na qual o Brasil e Moçambique se
enquandram.

9.3. Complementaridade entre o Liberalismo e a Teoria da Interdependência


A necessidade de conjugar duas teorias é dada pelo facto de uma teoria não ser
autosuficiente para explicar as variéveis do tema em causa. Isto é, por um lado o
liberalismo propõe a pluralidade de actores e assuntos no sistema internacional. Por
outro lado, a teoria da interdependência vem dar primazia não só a essa questão da
pluralidade, mas também a cooperação sul-sul, na qual o trabalho se enquadra.

10. LISTA DE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


Bunge, M. (1980), Epistemologia: curso de atualização. Tradução de Cláudio Navarra.
2ª ed. São Paulo: T. A. Queiroz: Editora da Universidade de São Paulo.

15
Catsossa, Lucas (2019), ProSAVANA em Moçambique e MATOPIBA no Brasil: a base
para a compreensão da geopolítica da questão agrária mundial na contemporaneidade.
V. 22, Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) – Dourados, Mato Grosso do
Sul, Brasil.

Classen , Sayaka Funada (2013), Análise do Discurso e dos Antecedentes do Programa


ProSAVANA em Moçambique – enfoque no papel do Japão, Tokyo University of
Foreign Studies.

Fingermann, Natália N. (2019) BRASIL E MOÇAMBIQUE NA COOPERAÇÃO SUL-


SUL: ENTRE AVANÇOS E RECUOS

Gil, António Carlos (2002), Como Elaborar Projectos de Pesquisa, Editora Atlas, SA:
São Paulo

Joao, P. Nogueira e Nizar Messari, (2005), teorias das relacoes internacionais:


correntes e debates, rio de janeiro, Elsevier

Lakatos, et al. (2003), Fundamentos de Metodologia Científica, Editora Atlas, SA: São
Paulo.

Lundin, Iraê Baptista, 2016, Metodologia de Pesquisa em Ciências Sociais, escolar


Editora, Maputo

Mosca, Joao e Natacha B. (2015), ProSavana: Discursos, praticas e realidades,


Documento de Trabalho, OMR, Maputo

Mendes, Pedro, (2019), As teorias principais das Relações Internacionais Uma


avaliação do progresso da disciplina.

Peixoto, Gabriela Teles (2020), Cooperação Sul-Sul entre Brasil e Moçambique: Fome,
agricultura e Relações Internacionais. universidade Federal de Uberlandia

Ruda, R. Baptista e Tania L. Muniz (2016), A Influência Invisível do Princípio de


Cooperação Internacional: Reflexões sobre a Política Brasileira de Cooperação Sul-
Sul com Moçambique, Brasília.

Viotti, Paul R. E Mark V. Kauppi (2012), International Relations Theory, 5ª edition,


Longman, Boston.

16

Você também pode gostar