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Análise da Convergência Macroeconómica dos Estados Membros da SADC

Conference Paper · April 2016

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Ibraimo Hassane Mussagy


Universidade Católica de Moçambique
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Artigo Aprovado em 28.04.16 pela Comissão Organizadora da 1ª Conferencia1
Internacional pelo Centro de Economia e Gestão da UEM

Análise da Convergência Macroeconómica dos Estados Membros da SADC


Ibraimo Hassane Mussagy2 (PhD), Professor Associado.
imussagy@ucm.ac.mz
Universidade Católica de Moçambique-Faculdade de Economia e Gestão
Av. Eduardo Mondlane, 149 Ponta-Gêa, PO box 149, Beira

RESUMO
As teorias de crescimento económico tem ajudado a explicar as diferenças na aceleração do
crescimento económico entre as várias economias e regiões. Este trabalho destaca a
existência das teóricas de convergência e aplica a mesma no contexto da integração regional
da SADC. Concretamente, foram extraídos os indicadores de convergência macroeconómica
dos países da região destacados no protocolo específico relativo as Finanças e Investimento
da SADC. O indicador usado para fazer as análises foi o crescimento económico no período
compreendido entre 2000-2013. A análise deste indicador esteve assente no modelo de
convergência desenhado por Barro e Sala-I-Martin (1992). Portanto, usando o produto real
per capita dos 15 Estados membros da SADC, correu-se o modelo empírico e testou-se a
existência ou não de beta-convergência e sigma-convergência. Os resultados encontrados
nos dois casos foi revelador da inexistência da convergência económica entre os países da
SADC, ou seja, os países que detinham inicialmente o produto real per capita baixo,
apresentaram uma média de crescimento mais baixa em relação a média de crescimento dos
países que detinham o produto real per capita elevado no final do período. Conclui-se que as
desigualdades entre os países da região aumentou.
Palavras-chaves: Beta-convergência, Sigma-convergência, Crescimento Económico,
SADC.
ABSTRACT
Economic growth theories have helped to explain the differences on the rate of economic
growth between several economies and regions. This paper highlights convergence theories
and applies these theories in the context of SADC regional integration. Specifically, the
macroeconomic convergence indicators were extracted from the Finance and Investment
Protocol. The paper applies the economic growth indicator to perform the analysis under the
period of 2000-2013. The analysis of this indicator was based on the convergence model
developed by Barro and Sala-I-Martin (1992). Therefore, using the real income per capita of
the 15 Member States of the SADC, the empirical model was estimated and it was tested for
beta-convergence and sigma-convergence. The results in both cases revealed the lack of
economic convergence among SADC countries, that is to say, countries that initially held low
real income per capita, had a lower average growth compared to average growth of countries
held high real income per capita at the end of the period. It concludes that inequalities between
the countries in the region have increased.
Key Words: Beta-convergence, Sigma-convergence, Economic Growth, SADC.

1 Agradeço os comentários dos interveniente da conferencia, mas faço aqui um especial agradecimento aos
comentários feitos pelos Professores José Chichava, Fernando Ferrari Filho, Matias Farahani e Faizal Carsane
com vista a melhorar o paper.
2 É Doutorado em Economia de Desenvolvimento e Coordena o Doutoramento em Economia na Faculdade de

Economia e Gestão e é Subdirector da REID.

1
1. INTRODUÇÃO

1.1.Convergência Económica
As teorias neoclássicas de crescimento económico tem analisado a evolução
do crescimento económico das economias, partindo de um conjunto de variáveis
endógenas que visam explicar as diferenças na aceleração do crescimento
económico. Ramsey (1928), Solow (1956) e Swan (1956) foram os percursos nesta
área ao conceberem modelos que permitiam ver os efeitos da relação entre a
acumulação de capital e a poupança no crescimento econômico. A principal
conclusão que os modelos neoclássicos chegaram foi a de que, partindo de uma certa
dotação de factores produtivos tendo em conta a função de produção, os níveis de
renda dos diferentes países tende a convergir no médio e longo prazo.
Mesmo olhando para este assunto durante varias décadas, foi durante os anos
de 1980 que o debate sobre a convergência começa a despertar a atenção. Sem
destacar todas as contribuições, o trabalho de Baumol (1986) veio a motivar estudos
com o intuito de examinar a hipótese de convergência a nível internacional. Duma
forma simplória, podemos definir a convergência econômica, como sendo uma
tendência igualitária traçado pelo produto de diferentes economias ainda que estas
partam de situações inicias diferentes iniciais3. Destacam-se aqui que os países de
produto per capita baixo que tendem a desenvolver as suas economias de
conhecimento, em função das práticas das economias desenvolvidas. Isto lhes
permite aproximar dos níveis de prosperidade e desempenho dos países
desenvolvidos.
Xavier Sala-i-Martin (1996)4 apresentam com detalhe os vários tipos de
convergência económica. Note que, aqui nós referimos a um tipo convergência
específica. O termo poderá ser empregue em vários contextos.

1.2.Integração Regional
A convergência económica tem então estado no foco das discussões sobre o
fortalecimento e o cumprimento das metas estabelecidas pela integração regional da
Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC). A SADC foi instituída

3Adoptamos a discussão técnica do conceito de convergência económica mais adiante


4http://www.nes.ru/dataupload/files/science/reset/Sala_i_Martin1996ej.pdf

2
em 1992, quando 12 países da África Austral, reunidos em Windhoek (Namíbia),
assinaram o ato de criação da Comunidade. E hoje ela conta com os seguintes
Estados membros: Angola, Botswana, RD Congo, Lesotho, Madagáscar, Malawi,
Maurícias, Moçambique, Namíbia, Seicheles, Africa de Sul, Swazilândia, Tanzânia,
Zâmbia e Zimbabwe.
O processo de integração da região da SADC foi feito pelos países próximo da
região da Africa Austral onde os mesmos se encontram com diferenças estruturais
ainda marcantes. A facilidade e a proximidade geográfica aparece como uma dos
pilares da integração. Uma das estratégias adotadas Estados membros foi a
estruturação da SADC num esquema em que cada país se responsabiliza por
determinada coordenação setorial, como transportes, recursos hídricos,
telecomunicações, etc.
Em termos concretos, os principais objetivos da Zona de Livre Comércio (ZCL)
da SADC baseiam-se em protocolos de desenvolvimento e crescimento econômico.
Em 24 de Agosto de 1996 em Lesoto, foi assinado o Protocolo Comercial. Os objetivos
deste protocolo são os seguintes:
1. Fomentar a liberalização do comércio intra-regional;
2. Garantir uma produção eficaz dentro da SADC;
3. Contribuir para criação de um ambiente favorável ao investimento;
4. Incrementar o desenvolvimento económico e industrialização da região, e
5. Estabelecer uma ZCL na região da SADC.

Em Agosto de 2004 em Arusha é lançado o Plano Estratégica Indicativo de


Desenvolvimento Regional (RISDP). O RISDP é um plano estratégico de 15 anos
aprovado pelos Estados membros da SADC, em 2003, como um modelo para a
integração e desenvolvimento regional, actualmente em revisão, como parte dos
esforços para realinhar agenda de desenvolvimento da região com a dinâmica global
emergente. As principais metas destacadas, inicialmente, pelo RISDP para a para a
liberalização do comércio foram:
1. Criação da zona de livre comércio em 2008 (o maior passo dado);
2. A criação de uma união aduaneira em 2010;
3. O estabelecimento do mercado comum da SADC em 2015;

3
4. A união monetária em 20165 e a
5. A introdução da moeda única em 2018

Em 31 de Julho de 2001 foi assinado o Memorandum de Entendimento que deu


origem ao programa de convergência Macroeconómica e especificado no protocolo
específico relativo as Finanças e Investimento (FIP) da SADC. Este protocolo criou a
base legal para promover a harmonização das políticas financeiras e de investimento
nos Estados membros da SADC. Refira-se que nem todos os países aderirem
inicialmente o protocolo (Ministério das Finanças, 2008). Porém, as bases para a
operacionalização do FIP da SADC definia os seguintes indicadores e metas de
convergência:

 Indicadores primários: inflação média anual, saldo fiscal em percentagem do


produto e dívida pública em percentagem do produto interno bruto (PIB).
Tabela 1: Metas de Convergências Macroeconómica
Indicadores 2008 2012 2018
Taxa de Inflação 1 Dígito 5% 3%
Défice/PIB ˂5% 3% 3-1%
Divida/PIB 60% 60% 60%
Conta
Corrente/PIB 9% 9% 3%
Fonte: SADC (2004)

 Indicadores secundários: taxa de crescimento do PIB, reservas externas


(meses de cobertura de importação), créditos do Banco Central ao governo,
saldo da conta corrente, poupança interna e investimento interno.
Tabela 2: Outras Metas de Convergências Macroeconómica
Indicadores 2008 2012 2018
Crescimento Económico 7% 7% 7%
Reservas Externas (Meses e cobertura de
importações) 3 6 6

5Ainda que já exista uma sede para o Banco Central da Região, esta meta não foi cumprida e não se
avinha fácil o seu cumprimento.

4
Crédito do Banco Central ao Governo (% de
Receitas) 10% 5% 5%
Poupanças Interno (% PIB) 25% 30% 30%
Investimento Interno (% PIB) 30% 30% 30%
Fonte: SADC (2004)

Ao longo dos 32 anos de sua existência a SADC registou progressos


assinaláveis na criação de plataformas de cooperação regional no domínio de
finanças públicas e do sector financeiro. Contudo, a integração regional não escapou
as críticas pelos insucessos encontrados. Alguns analistas apontavam que a
integração regional somente iria beneficiar os países mais ricos da região. É uma
realidade que nem todos os países atingiram os níveis de crescimento desejados com
a integração regional e que nalguns casos os desequilíbrios se acentuaram. A
persistência dos mesmos fez com que alguns países aderissem alguns protocolos
mais tarde e algumas metas deixaram de ser realizadas. Destacamos aqui a meta
estabelecida pelo RISDP sobre a união monetária em 2016.

1.3.Objectivo do trabalho
Para uma análise mais apurada sobre os efeitos da integração regional da
SADC, torna-se necessária a avaliação dos indicadores primários e secundários
estabelecidos como metas macroeconómicas de convergência no RISDP. Contudo,
neste caso, analisaremos somente um dos indicadores de convergência
macroeconómica. Olharemos para indicador secundário referente a taxa de
crescimento do PIB. Não se trata de fazer uma análise gráfica comparativa das taxas
de crescimento do PIB, trata-se de adoptar o modelo de beta (  ) convergência e
sigma (  ) convergência para verificar se a hipótese de convergência no período em
análise é relaxada nos Estados membros da SADC.
Assim no presente trabalho, adoptamos o modelo proposto por Barro e Sala-I-
Martin (1992) para analisar a convergência absoluta para os Estados membros da
SADC. Portanto, não obstante algumas situações que envolveram alguns Estados
membros, achamos por bem incluir os 15 Estados membros durante o período em

5
análise que vai desde 2000-20136. Com esta opção pensamos encontrar a
representatividade na amostra e ter uma visão mais realística do processo de
convergência económica dos Estados membros da SADC.

2.REVISÃO DA LITERATURA

2.1.Teoria Neoclássica de Crescimento


Em 1956, Solow apresentava o seu trabalho que viria a influenciar a corrente
dos modelos de crescimento. Ele acrescenta que para explicar o crescimento
económico contínuo que se verifica na maior parte dos países, precisamos incluir o
crescimento demográfico e o crescimento tecnológico. Doutra forma, ele considera a
produção como função apenas do estoque de capital e de trabalho e considera que o
progresso tecnológico, constante e exógeno, é a variável que explica o crescimento.

O modelo de crescimento de Solow mostra que a taxa de poupança é o


principal determinante de estoque de capital no steady-sate. Países com alta taxa de
poupança tendem a crescer no curto prazo e no longo prazo tendem a convergir para
altas taxas de crescimento do produto per capita.

Usando a função de produção de Cobb-Douglas com rendimento constantes a escala:

Y  K  L
(1)
Onde: Y é função de produção, K é o capital e L o trabalho.  e  a intensidade dos
factores.
Igualando a função de investimento a depreciação, teremos:
K t 1  K t K K
 sf    δ (2)
L L L
Onde: s é a proporção da poupança e  é a depreciação.
A partir desta condição do steady-state, podemos encontrar então o produto
por trabalhado e o capital por trabalhador nesse estado.

6 RD Congo e Seicheles Ractificaram o Protocolo Comercial em 2000 e Madagáscar foi formalmente


readmita a organização em 2014

6
2.2.Convergências Económica
Baumol (1986) desenvolve um trabalho empírico influenciado pela corrente
neoclássica e encontra convergência de renda absoluta entre os países da sua
amostra. Uma das principais razões para isto seria a lei dos rendimentos
decrescentes, que implicaria em uma menor remuneração do capital onde ele fosse
mais abundante. Depois destes feitos, diversas técnicas e aprimoramentos foram
propostos com o intuito de se testar a evolução do produto per capita de países ou
regiões convergiam. Nessas novas teorias, foram surgindo outras características para
além do estoque de capital e de força de trabalho. A convergência do produto per
capita passa a ser analisada condicionalmente, ou seja, cada região convergeria para
o seu próprio steady-state.
Barro e Sala-I-Martin (1992) argumenta que os países iriam convergir no
produto e na produtividade entre as regiões. Uma das causas apontadas para essa
convergência seria a imitação que permitiria as regiões mais pobres alcançassem os
níveis tecnológicos das regiões mais desenvolvidas. Portanto, Barro e Sala-I-Martin
(1992) formalizam que a predição da convergência das diversas economias passaria
a ser realizado essencialmente pela β -convergência e  -convergência.

2.2.1.Beta Convergência

2.2.1.1.Convergência beta-absoluta
Para Barro e Sala-I-Martin (1992) a convergência beta-absoluta determina que
as economias inicialmente mais pobres tendem a manter uma trajetória de
crescimento mais elevado do que as mais ricas. Esta condição é dada pelo
crescimento anual do produto de uma região:
  log( y / y )/T
i, t , t  T i, i  T i, t
(3)

Onde:  representa o crescimento económico anual do produto da economia i, entre


os anos t e t+T.

Dai que, para a construção de um modelo empírico a função (3) é logaritmizada


dando origem a seguinte regressão simples:

7
     log( y )  
i, t , t  T i, t i, t
(4)

No final verifica-se o resultado encontrado no parâmetro ( β ) da regressão. Se,


em um teste econométrico, for encontrado um coeficiente beta maior do que zero,
caracterizará uma situação de convergência absoluta entre o produto real per capita
das economias.

2.2.1.2.Convergência Beta-Condicional
A convergência beta-condicional supõe que as economias diferem, além de em
seus níveis iniciais de capital, também nos seus níveis iniciais de tecnologia, nas suas
propensões a poupar e nas suas taxas de crescimento populacional. Neste caso, a
taxa de crescimento de cada economia está positivamente relacionada com a
distância do seu steady-sate, quanto mais distante, maior será o ritmo de crescimento.
Neste caso, as economias mais desenvolvidas estão próximas do seu steady-state e
consequentemente iriam crescer mais lentamente.
Portanto, aqui percebe-se que os países mais pobres detém menos capital.
Partindo do pressuposto de Barro e Sala-I-Martin (1992), estes iriam crescer mais
rapidamente do que aquelas que detém maiores estoques de capital. Nesse mesmo
sentido, uma forma alternativa de se estudar a convergência do produto de diferentes
economias é pela definição da convergência por clubes, isto é, pela técnica de se
selecionar uma amostra de economias de características semelhantes por hipótese,
com estados estacionários próximos, isto é, com uma estrutura de instituições,
dotações tecnológicas e preferências dos agentes econômicos relativamente
homogênea.

2.2.2.Sigma Convergência
Uma outra forma proposta por Barro e Sala-I-Martin (1992) de analisar a
convergência económica é a de estimar a convergência sigma. Esta hipótese
estabelece que um grupo de economias converge se a dispersão de seu nível de
produto real per capita tende a decrescer ao longo do tempo. Esta hipótese pode ser
apresentada com a seguinte condição:
 t2   t21 (5)

8
Onde: t e t+1, denotam o tempo (antes e depois)

2.2.3.Notas Finais
Podemos afirmar que, quando a correlação parcial entre a taxa de crescimento
da renda real per capita e o nível de renda real inicial é negativo, diz-se que há β -
convergência e quando a dispersão do produto real per capita entre um grupo de
economias se reduz ao longo do tempo, diz-se que ocorre a  -convergência
Teoricamente, a conexão entre β -convergência e a  -convergência se dá
devido aos retornos decrescentes do capital. Havendo tal especificidade, a β -
convergência e a  -convergência necessariamente devem ocorre. A  -convergência,
entretanto, poderia ser violada devido ao que se conhece por polarização ou devido
a fenômenos de curto prazo capazes de levar uma economia, ou grupos de
economias, a sua posição de steady-state de modo mais acelerado do que as demais.
Barro e Sala-I-Martin (1991) sugerem que β -convergência é uma condição
necessária, mas não suficiente, para que ocorra a  -convergência. Entretanto,  -
convergência é somente uma condição suficiente (mas não necessária) para a
existência da β -convergência. Podemos representar da seguinte forma:
  β , mas β 
 
(6)

3.METODOLOGIA

3.1. Beta Convergência

Da discussão emergente até aqui, verifica-se que dois conceitos de


convergência aparecem na literatura clássica. Estas são a β -convergência e a  -
convergência. Dissemos que existe uma convergência absoluta, β -convergência, se
as economias pobres crescem mais rapidamente do que as economias ricas. A
equação original proposta por Baumol (1986) representada o crescimento anual do
produto dos dados em painel e é representado por:

1
T
 
ln( yi ,T )  ln( yi ,t0 )  1   2 ln( yi ,t0 )   i ,t (7)

9
Onde: T é o término do período em observação, t0 é o período inicial, y é o produto

per capita, β1 é a constante da regressão, β 2 é a inclinação da regressão e  o termo


de perturbação da regressão.

Baumol (1986) não utilizou nenhum procedimento analítico para criar a


equação de crescimento. Ele começou por analisar a dispersão dos dados num
gráfico. Portanto, as expressões matemáticas do modelo foram desenvolvidas por
Barro e Sala-I-Martin (1992).
Neste caso, para a construção do modelo empírico, utiliza-se a especificação
(7) logaritmizada dando origem a seguinte regressão simples:

1 y 
log i ,T      log( yi ,t 0 )   i ,t (8)
T  yi ,t 
 0 

Onde:  é a contante da regressão e β é inclinação. Dai que as hipóteses formuladas


para o parâmetro β são dadas por:

 H 0 : β  0 . Esta hipótese simplesmente nos informa que a taxa de crescimento


do produto per capita é independente do seu estado inicial do produto per
capita e se alguma relação for detectada então ai teremos a divergência e não
há convergência económica.
 H 1 : β  0 . A hipótese alternativa nos indica que taxa de crescimento do produto

per capita e o produto per capita são negativamente relacionados dando


origem a convergência económica (convergência absoluta).

As estimativas dos parâmetros da expressão 8 serão calculados usando o método


Panel Ordinary Least Square (POLS).

3.2. Sigma Convergência

O conceito de  -convergência pode ser definido da seguinte maneira: um


grupo de países converge no sentido de  -convergência se a dispersão do seu
produto per capita tende a diminuir ao longo do período em análise (Barro e Sala-I-
Martin, 1992). Podemos escrever a condição de convergência do período t e t+1 da
seguinte forma:

10
 t2   t21 (9)

Uma das desvantagens que se pode aqui destacar é a forma como se irá
concluir sobre a  -convergência. Neste caso, faz-se a representação gráfica e
intuitivamente se faz a conclusão. Observam-se se as séries se aproximam uma das
outras, caso estejam próximas ai concluímos que há a  -convergência.

3.3. Os Dados da Pesquisa

A variável de intereese é o produto per capita a preços constantes. Os dados


para os anos em analise, 2000-2013, foram extraidos do base de dados do Banco
Mundial, World Development Index (WDI) disponível online em
http://data.worldbank.org/. O produto per capita foi calculados sem as deduções das
depreciações dos activos fabricados ou esgotamento dos recursos naturais. Os dados
estão valorizados aos preços de 2005 e a moeda usada como padrão, para os
Estados membros da SADC, foi o dólar norte-americano.

4. ANÁLISE DE RESULTADOS

O desempenho económico da região tem sido influenciado por muito factores


o que naturalmente compromete seriamente o projecto da integração regional. Ao
longo dos anos 2003-2012, as taxas médias de crescimento real do produto dos
países da região da SADC oscilaram muito. Olhando para os indicadores secundários
e as metas de convergência previstas no protocolo do FIP da SADC para esta variável
macroeconómica, nota-se quem em nenhum dos anos em análise a média do
crescimento económico global dos países da região chegou a meta prevista para a
média da taxa de crescimento de 7% ao ano.
Destacamos aqui as duas descidas acentuadas na evolução deste indicador.
A primeira verificou-se no intervalo entre os anos de 2008-2010 e a segunda, de
menor intensidade, registou-se em 2011-2012 (Figura 1).

11
7.00

6.00

5.00

4.00

3.00

2.00

1.00

0.00
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Figura 1: Taxas médias de crsecimento económico da SADC


Fonte: SADC, 2014

A primeira descida acentuada do crescimento do produto real da SADC está


associada as chuvas irregulares que afectaram a região. De um modo bastante
anormal fortes chuvas se registaram, com maior intensidade, no Malawi,
Moçambique, Zâmbia e o Zimbabwe. Em consequência fatalidades aconteceram
(SADC, 2008). Um vasto número de comunidades deslocadas ocorreu em quatro
Estados membros. Além disso, verificaram-se também imensos danos causados às
propriedades e às infraestruturas. Salienta-se que a região tem sido afectada por
estas chuvas irregulares.
A crise financeira internacional que abalou a economia global no ano de 2007-
2009 também teve reflexos sobre a região. O desempenho económico da região da
SADC foi grandemente influenciado pela desaceleração das economias mais
influentes do mundo, como a União Europeia e os Estados Unidos da América.
Já na segunda descida ligeiramente verificada, no ano de 2011, houveram
pressões inflacionistas na maioria dos Estados membros devido principalmente ao
aumento do preço internacional dos bens alimentares e do petróleo fazendo com que
a média da inflação da região se agravasse de 7,29% em 2010 para 7,71% em 2011.

12
Beta Convergência

A linha de tendência dos dados observados é apresentada na Figura 2. Como


se pode ver a linha de regressão tem uma inclinação positiva, ainda que ligeira,
sugerindo deste modo que as disparidades não foram profundas.

0.8
MOÇAMBIQUE
ANGOLA
0.6 ZAMBIA
TANZANIA MAURICIAS
NAMIBIA
0.4 RDC BOTSWANA
LESOTHO

0.2
MALAWI SEICHELES
RSA
SWAZILANDIA
0
4 5 6 7 8 9 10
MADAGASCAR
-0.2

-0.4
ZIMBABWE
-0.6

Figura 2: β Convergência na SADC entre 2000-2013


Fonte: Cálculos os Autor, 2016

Correu-se o modelo que melhor se adequava a linha de tendência. Este modelo


foi estimado usando os dados em painel que representam a situação dos 15 Estados
membros da SADC no período compreendido entre os anos 2000-2013. A
convergência ou divergência entre os Estados membros da SADC será indicada pelo
sinal apresentado pelo parâmetro β . Revisite as hipóteses formuladas na expressão
número 8.

A robustez do modelo foi feita tendo em conta o nível de significância de 5%.


Neste caso, os cálculos envolveram a estatística F, o teste de auto-correlação,
usando o Durbin Watson e o teste de Jarque-Bera, para análise da distribuição dos
resíduos. Uma vez que não estamos na presença e nem na tentativa de prever uma
futura convergência económica para os Estados membros da SADC, a validação foi
feita somente com estes indicadores. Este foi o procedimento também adoptado por
Dvoroková (2013) em seu trabalho sobre a β -convergência e  -convergência nos
países da União Europeia.

13
Portanto, o modelo empírico dos dados em painel apresentou a seguinte
relação de dependência7:

1  PIBi , T 
log   0.1084  0.0265 log( PIBi , 2000)   i ,t
T  PIBi , t 
 0 
(10)

Este resultado aponta para uma situação de divergência económica entre os


15 Estados membros da SADC. Repare que o valor do parâmetro estimado e positivo
β (+0.0265). Este modelo analisa a convergência retrospetiva, olhando para dados

históricos e não pode ser usado para fazer uma análise sobre a futura situação de
convergência económica.

Sigma Convergência

A Figura 3 apresenta a evolução média do produto real per capita dos 15


Estados membros da SADC e a sua respectiva dispersão em relação a média durante
os anos de 2000-2013. A abordagem do  -convergência parece ser mais confortável
pois nos apresenta, duma forma visual, a evolução o produto real per capita ao longo
do tempo. Intuitivamente fazemos a análise do  -convergência.

O exame visual nos permite concluir resultados idênticos aos encontrados


quando estimados os parâmetros de β -convergência (expressão 10). Repare que a
expansão da dispersão é quase que proporcional a tendência de crescimento médio
do produto real per capita. Isto implica que as disparidades dos rendimentos entre os
Estados membros da SADC aumentaram ao longo destes anos ou se mantiveram as
mesmas desde o início do período.

7 Os resultados do modelo foram obtidos usando o Eviws 8.

14
4500
4000
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Média Dispersão

Figura 3: Produto real per capita em USD a preços constantes de 2005.


Fonte: Cálculos os Autor, 2016

Estes resultados estão em linha com os feitos apresentados por Kumo (2011).
Kumo (2011) desenvolveu uma análise de  -convergência para os Estados membros
da SADC excluindo Zimbabwe. Os resultados dos seus dados em painel para o ano
de 1992-2009 mostraram não existir  -convergência, pois, verificou-se que a
dispersão aumentou de 10,058 em 1992 para 18,314 em 2009. No nosso caso
concreto, ainda que em proporções menores, esta dispersão aumentou de 3,183 em
2000 para 4,370 em 2013.

Estas evidências empíricas sobre a inexistência do  -convergência não


significa que os Estados membros não tenham crescido ou não tenham encontrado
os outros indicadores de convergência macroeconómica estabelecidas pelo RISDP.
Ao longo dos anos alguns Estados membros até mostraram ter um desempenho
assinalável.
De acordo com o Banco de Moçambique (2010), Moçambique alcançou em
2008 as metas previstas para a maioria dos indicadores macroeconómicos, com a
excepção da inflação e do crescimento real do produto, que se situaram em 10.3% e
6.8%, respectivamente, contra 9.5% e 7% da meta prevista. O país registou ganhos
com a implementação do Protocolo Comercial da SADC, reflectindo-se no aumento
em termos absolutos das importações provenientes dos Estados membros da SADC.
A título de exemplo o peso das importações de proveniência da SADC passou de
35% em 2008, para 40% em 2010. De acordo com o Banco Nacional de Angola

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(2014), Angola respeitou as metas de convergência, sobretudo as relacionadas ao
défice fiscal, dívida externa e ao saldo da conta corrente da balança de pagamentos.
Olhando para os indicadores primários de convergência macroeconómica, destaca-
se a inflação ou a política monetária. Em 2009, as Maurícias e Moçambique
registaram as metas de inflação em menos do que 5% ao ano.8

5. CONCLUSÃO

O objectivo deste trabalho era o de analisar análise os efeitos da integração


regional nos 15 Estados membros da SADC durante o período compreendido entre
2000-2013. Olhou-se para os indicadores de convergência macroeconómica traçados
pela SADC no seu plano estratégico RISDP.
Foi-se em recurso ao modelo proposto por Barro e Sala-I-Martin (1992), para
se verificar a convergência económica destes países. Aqui fez-se o uso do indicador
secundário referente a taxa de crescimento do produto para se estimar a β
convergência. Feitos os cálculos, confirmou-se a β -divergência no conjunto de dados
em painel para os Estados membros da SADC no período em análise.
Portanto, a hipótese nula do modelo de convergência proposto por Barro e
Sala-I-Martin (1992), foi aceite, ou seja, os países que detinham o produto real per
capita baixo (menos desenvolvidos), apresentaram uma média de crescimento mais
baixa em relação a média de crescimento dos países que detinham o produto real per
capita elevado (relativamente mais desenvolvidos).
Os 8 Estados membros da SADC que apresentaram o produto real per capita
mais baixo foram: Congo RDC, Malawi, Moçambique, Madagáscar, Tanzânia, Zâmbia
Lesotho e Zimbabwe. Portanto, conclui-se que estes não melhoraram o seu produto
real per capita ao longo do período em análise. Refira-se que olhando o  -
convergência, verifica-se também a inexistência da convergência económica. Os
níveis de dispersão do produto real per capita tendem a aumentar. A existência destes
desníveis nas económicas da região tendem a comprometer o projecto de uma
integração efectiva.

8 Para mais exemplo de Estados que conseguiram alcançar algumas metas consulte:
https://www.sadcbankers.org

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Banco de Moçambique (2010). Relatório Anual nº 17 Dezembro. Maputo
Banco Nacional de Angola (2014). Relatório Integrado dos Desenvolvimentos
Económicos Recentes na SADC. Angola.
Barro, R. e Sala-I-Martin, X (1992). Convergente, Journal of Political Economy. Vol.
100, No. 21, p. 223-51.
Base de Dados do Banco Mundial: http://data.worldbank.org/country/mozambique.
Baumol, W. J. (1986). Productivity growth, convergence, and welfare: what the long-
run data show.' American Economic Review, Vol. 76, no. 5 (December), pp. I072-85.

Dvoroková, K. (2013). Sigma versus Beta-convergence in EU28: do they lead to


different results? Department of European Integration. ISBN: 978-960-474-360-5.

Kumo, W. L. (2011). Growth and Macroeconomic Convergence in Southern Africa.


African Development Bank. www.afdb.org
Ministério das Finanças (2008). Integração Regional e Impacto do Desarmamento
Tarifário no Âmbito da Comunidade de Desenvolvimento da ÁFRICA Austral e Acordo
de Parceria Económica com União Europeia. Maputo
Ministério das Finanças (2012). Guião de Palestras Moçambique: Celebrando 32
Anos de Ganhos na SADC. Maputo.
SADC (2003). Regional Indicative Strategic Development Plan. SADC Secretariat,
Gaborone, Botswana.
SADC (2008). Protocol on Finance and Investment. Southern African Development
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SADC (2008). Relatório de Avaliação do Secretário Executivo sobre a actual
Emergência das Cheias no Malawi, Moçambique, Zâmbia e Zimbabwe. Gaberone.
Solow, R. M. (1956). A Contribution to the Theory of Economic Growth. Quaterly
Journal of Economics, v. 70, n. 1, p. 65-94.

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