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Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância


Departamento de ciências de educação
Licenciatura em ensino de Português

Dificuldades do processo de integração regional – SADC

Amélia Mairosse

Pemba, 27 de Março de 2020


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Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância


Departamento de ciências de educação
Licenciatura em ensino de Português

Dificuldades do processo de integração regional – SADC

Trabalho de carácter avaliativo recomendado pela cadeira de direito de


integração regional, curso de Direito, 3o Ano.

O docente: Autor:
dr. Alberto Macualo Amélia Mairosse

Pemba, 27 de Março de 2020


iii3

Índice…………………………………………………………………………………….iii
Introdução ...................................................................................................................... 4
1. Conceitualização ......................................................................................................... 5
1.1. A SADC .................................................................................................................. 5
1.2. A visão da SADC .....................................................................................................5
1.3. Parceiro económico ..................................................................................................5
1.4. Integração ................................................................................................................ 5
2. Integração regional...................................................................................................... 5
2.1. Dificuldades do processo de integração regional – SADC ........................................ 6
1. A Supranacionalidade .................................................................................................7
2. Integração jurídica ...................................................................................................... 7
a). Os objectivos de segurança jurídica e judiciária ......................................................... 7
b). As técnicas da integração jurídica .............................................................................. 8
Três técnicas concorrem para a realização da integração jurídica: ...................................8
A harmonização das normas jurídicas ............................................................................. 8
A uniformização das mesmas .......................................................................................... 8
A técnica convencional. ..................................................................................................8
i). A harmonização das normas jurídicas ......................................................................... 8
ii). A uniformização jurídica ........................................................................................... 8
iii). A integração jurídica pela via de convenções internacionais .....................................9
3. A pluridimensionalidade dos objectivos ...................................................................... 9
2.2. A ausência nítida dos pressupostos fundadores da integração ...................................9
i. A ausência de técnicas integrativas ............................................................................ 10
ii. A ausência de uma visão global da integração ........................................................... 10
iii. A SADC: uma organização de cooperação e não de integração ................................ 11
3. O ressurgimento do regionalismo e mudanças na politica Internacional..................... 12
3.1. Inserção da SADC na economia mundial................................................................ 13
3.2. Desafios à integração regional ................................................................................ 14
3.3. Múltipla filiação dos estados membros e seu impacto negativo no desenvolvimento
da SADC. ..................................................................................................................... 14
Conclusões ................................................................................................................... 16
Bibliografia................................................................................................................... 17
4

Introdução
O presente trabalho tem como tema “Dificuldades do processo de integração
regional – SADC ", inserida na cadeira de Direito de integração regional. Vergada por um
conjunto de normas que regulam a comunidade internacional, estabelecendo direito e
obrigações para seus sujeitos, especialmente para os seus estados, sujeitos clássicos de
direito internacional.
Portanto, A SADC é uma comunidade regional que busca garantir para sua
população o bem-estar económico, melhorias da qualidade de vida, liberdade, justiça social,
paz e segurança. Todos esses aspectos serão obtidos mediante a cooperação entre os países
membros.
O principal objetivo da Comunidade da África para o Desenvolvimento é estabelecer
a paz e a segurança na região. Através da integração desses países, pretende-se alcançar o
desenvolvimento económico, desenvolver políticas comuns, proporcionar a consolidação
dos laços históricos, sociais e culturais entre os povos da região.
A região busca o desenvolvimento económico através de factores como a exploração
dos recursos naturais, grande potencial energético (petróleo, carvão, biomassa, energia solar,
energia eólica), infra-estrutura, além da vasta população, proporcionando mão-de-obra e
mercado consumidor.
No entanto, para elaboração do presente trabalho, recorreu-se a consulta de algumas
obras e recurso à fontes electrónicas que consistiu na leitura, analise e finalmente a
compilação das informações cujos autores estão devidamente citados na referencia
bibliográfica como maneira de permitir uma consistência do mesmo e que também foi
delimitado certos objectivos:
Objectivo geral:
 Compreender aspectos relacionados com dificuldades do processo de integração
regional – SADC.

Objectivos específicos:
 Conceituar SADEC e a integração regional;
 Mencionar as dificuldades e limites do processo de integração regional da SADC;
 Descrever os pressupostos da integração regional.

Porem, espera-se que os conteúdos contidos no presente trabalho venham a


corresponder os objectivos para qual foi elaborado e, tendo-se em conta de trabalho
cientifico a colaboração dos demais poderá ser uma aposta para melhor compreensão.
5

1. Conceitualização
1.1. A SADC
A SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral) é um bloco
económico formado pelos países da África Austral. SADC1, é uma organização inter-
governamental criada em 1992 e dedicada à cooperação e integração socioeconómica, bem
como à cooperação em matérias de política e segurança, dos países da África Austral.

1.2. A visão da SADC


A visão da SADC é a de um Futuro Comum, um futuro dentro de uma comunidade
regional que irá garantir o bem-estar económico, a melhoria dos padrões de vida e qualidade
de vida, a liberdade e a justiça social, e paz e a segurança para os povos da África Austral2.

1.3. Parceiro económico


O principal parceiro económico da SADC é a União Europeia, no entanto, essas
relações comerciais vêm diminuindo bastante3: de 7% na década de 80 para 3% actualmente.
Além disso, diversas medidas estão sendo adoptadas para tentar diminuir a dependência
desses países com as nações desenvolvidas.

1.4. Integração
Integração significa o estabelecer de formas comuns de vida, de aprendizagem e de
trabalho entre pessoas deficientes e não-deficientes. Integração significa ser participante, ser
considerado, fazer parte de, ser levado a sério e ser encorajado, brinquem / aprendam /
trabalhem de acordo com o seu próprio nível de desenvolvimento em cooperação com os
outros"4.

2. Integração regional
O processo de integração regional, é definido como o meio pelo qual se procuram
reunir nações em busca de igual objectivo, visando-se, principalmente, ao crescimento
mútuo5. Neste sentido, a integração regional é também uma cooperação entre países, mas
que pode gerar mudanças e transformações institucionais entre ele, e, portanto, é mais ampla
que uma mera cooperação regional6.

1
Vide, OOSTHUIZEN G.H.
2
Vide, HAAS, (2004).
3
Vide, Battistella, (2014).
4
Steinemann, (1994:7)
5
Resedá, (2002, p. 54).
6
Mariano, (2015)
6

2.1. Dificuldades do processo de integração regional – SADC


A palavra “integração” tem vários significados dependentes das diferentes obras
científicas em que se encontra utilizada7. Assim, os economistas têm uma definição da
“integração”. Por exemplo, no seu célebre trabalho sobre a Teoria Económica da Integração8
BELA BALASSA, define a integração como o processo de eliminação das discriminações
entre diferentes unidades económicas pertencendo a diferentes Estados nacionais9.
Em todo caso, “A escolha da integração económica como ponto de partida
do processo de integração em muitas regiões do mundo não torna o termo
supérfluo como um termo legal nem o estabelece como um conceito
puramente económico”

Como afirma VILAYSOUN LOUNGNARATH: “... O fenómeno da integração


jurídica não deve ser reduzido a sua única dimensão económica”10.

Em Direito, o significado da palavra “integração”, como ensina SENGONDO


EDMUND ADRIAN MVUNGI é diferente:
“Na lei, a integração é entendida como um processo constituinte através do
qual a nova ordem internacional e / ou municipal baseada na união de dois
ou mais estados e seus súditos em um arranjo associativo definido de
acordo com a forma e o estado de união alcançados ou desejados. ser
alcançado a longo prazo ”11.

Por outras palavras, entende-se por “integração”, nesta disciplina científica, o “...
Processo pelo qual dois ou mais estados podem se unir em uma união de natureza
constituinte que estabelece um estado ou autoridade supranacional” 12. ou a “Transferência
de competências estaduais de um Estado para uma organização internacional, dotada de
poderes de decisão e de competências supranacionais”13.
Portanto, o conceito de “integração” articula-se em torno da ideia de:
 Supranacionalidade, que implica instrumentos jurídicos capazes de harmonizar e
unificar o Direito dos Estados membros (b).
 No caso de processo de integração política, o domínio material da organização
deve ser verdadeiramente universal (c).

7
Vide, SENGONDO EDMUND ADRIAN MVUNGI, (1994, p. 21).
8
BALASSA B., The theory of Economic Integration, George Allen & Unwin Ltd, London, 1961.
9
Vide, LOPES PORTO M.C. & MVUNGI S.E.A., op. cit., p. 22. Sobre a Teoria da integração e Políticas
Comunitárias, Livraria Almedina – Coimbra, 3.ª ed. 2001.
10
LOUNGNARATH V., “L’intégration juridique dans la zone ALÉNA: un chantier axé sur les processus”, op.
cit., p. 10.
11
Vide, MVUNGI S.E.A., op. cit., p. 22.
12
MVUNGI S.E.A., Idem
13
Vocabulaire juridique (Association Henri Capitant – publicado sob a direcção de GÉRARD CORNU), Paris,
Quadrige/PUF, 7ª. ed., 2005, vide, Intégration.
7

Assim sendo, este processo deve ser claramente distinguido do processo de


cooperação pelo qual os Estados mantêm a sua individualidade e procuram a sua valorização
através de relações com outros Estados14.

1. A Supranacionalidade
A Supranacionalidade é o corolário da integração 15; conformes descrevem alguns autores:
As funções de integração pressupõem que uma entidade não estatal
assegura concorrentemente ou paralelamente aos Estados membros
actividades de que estes últimos têm tradicionalmente o monopólio
(funções quasi-legislativas, executivas e jurisdicionais)16.

O “regionalismo de integração” como tinha chamado (Carreau; Thiébaut e Patrick,


1990), implica a limitação da soberania dos Estados membros, instituindo nas suas relações
mútuas autênticos elementos de federalismo económico17, como ensinam os referidos
autores:
A lógica da integração económica é pois, o federalismo económico, no
qual a criação de um mercado único entre Estados membros exige uma
verdadeira harmonização do conjunto das condições de produção e de
circulação de pessoas, bens e serviços18.

2. Integração jurídica
Não se pode pensar num processo de integração sem o Direito. Alguns estudos
conclui claramente que: “A criação de um ambiente regulatório mais unificado também é
um precursor essencial da integração económica regional”19. Do mesmo modo, as teorias
económicas da integração fundamentaram a convergência dos direitos nacionais20.
Portanto, a integração jurídica implica atingir fundamentalmente:
 Os objectivos de segurança jurídica e judiciária;
 E isto necessita do uso de técnicas apropriadas para concretizar tais objectivos.

a). Os objectivos de segurança jurídica e judiciária


A integração implica uma estratégia global incluindo não só estratégias económicas,
políticas e normas éticas (nomeadamente, as que dizem respeito à luta contra a corrupção),
mas também, a modernização e adaptação do Direito Comercial, bem como a reabilitação da
justiça e a “segurização” dos justiçáveis. Por outras palavras, trata-se de implementar uma

14
GONÇALVES PEREIRA A. e QUADROS (DE) F., Direito Internacional Público, Liv, 3.ª Ed., 1995, p. 421
15
MVUNGI S.E.A., Ibidem
16
NGUYEN QUOC D., DAILLER P. e PELLET A., Droit international public, Paris, LG, 3ª ed., 1987, n.º 398;
BROWNLIE I., Principles of Public International Law, Clarendon Press – Oxford, Fourth Ed., 1990, p. 692;
17
DOMINIQUE CARREAU, THIÉBAUT FLORY e PATRICK JUILLARD
18
CARREAU D., FLORY T. e JUILLARD P., Ibidem. e MERCOSUL, SCAGLIONE M.
19
SEPAC e BRISCOE A., Review of business laws in Southern Africa, op. cit., p. 1.
20
LOUNGNARATH V.,
8

verdadeira “estratégia jurídica e judiciária”21. Nesta perspectiva, a segurança jurídica e a


previsibilidade22, são apresentadas como valores essenciais, afim de favorecer o crescimento
das actividades económicas e a promoção de investimentos23.

b). As técnicas da integração jurídica


Três técnicas concorrem para a realização da integração jurídica:
 A harmonização das normas jurídicas;
 A uniformização das mesmas e;
 A técnica convencional.

i). A harmonização das normas jurídicas


A harmonização jurídica consiste em eliminar as diferenças entre as respectivas
legislações, aproximando-as24. Esta abordagem visa a redução das disparidades existentes,
entre as diversas legislações dos países membros de uma organização.
O Tratado da União Económica e Monetária da África do Oeste (a seguir designada
pela sua sigla francesa UEMOA), contém igualmente um determinado número de
disposições em matéria de aproximação das legislações25. Esta técnica realiza um equilíbrio
entre as competências das instituições supranacionais e o respeito da soberania nacional26.

ii). A uniformização jurídica


A uniformização jurídica é um método mais radical do que a harmonização jurídica,
e consiste em “redigir e aplicar os textos nos mesmos termos e condições de um país para o
outro”27. Ela visa produzir a “identidade jurídica”; como escrevem os autores do
Vocabulaire juridique, esta técnica visa à “Modificação da legislação de dois ou mais países
para instaurar numa matéria jurídica dada uma regulamentação idêntica” 28. Visto desta
forma, a integração jurídica realiza-se pela criação de um corpo de Direito directamente
aplicável aos Estados membros da organização 29 e os seus nacionais30.

21
MASAMBA R., "L’OHADA et le climat d’investissement en Afrique", Rec. Penant n.° 855, p. 137;
22
PERSSON A.H., "A Review of Regional Integration in Southern Africa, 2001;
23
MEYER P., "La sécurité juridique et judiciaire dans l’espace OHADA", Rec. Penant n.° 855, p. 151
24
ISSA-SAYEGH J., "L’OHADA, instrument d’intégration juridique des pays africains de la zone franc",
Revue de jurisprudence commerciale, juin 1999, p. 237;
25
ISSA-SAYEGH J.,"La production normative de l’UEMOA;
26
CEREXHE E., "L’intégration juridique comme facteur d’intégration régionale", Revue burkinabé de droit;
27
ISSA-SAYEGH J., "L’OHADA, instrument d’intégration juridique des pays africains de la zone franc".
28
Vocabulaire juridique, op. cit., vide, Uniformisation.
29
Regulamentos aprovados pelo Conselho no âmbito da UEMOA, ISSA-SAYEGH J.,"La production
normative de l’UEMOA.
30
CEREXHE E., "L’intégration juridique comme facteur d’intégration régionale", op. cit., p. 8.
9

Esta técnica ainda que radical, “apresenta a vantagem de evitar as derivas ou as


distorções entre as leis nacionais produtos de uma mesma norma indicativa (directiva) e
entre os diplomas regulamentares nacionais de execução de uma mesma norma internacional
de alcance geral”31. Todavia, não se pode negar as dificuldades e a relatividade da sua
implementação 32.

iii). A integração jurídica pela via de convenções internacionais


A integração jurídica pela via de convenções internacionais não deve ser
negligenciada, mas ela induz por natureza a alguns limites, nomeadamente, a de se sujeitar
ao Direito Internacional Público33.
Em todo caso, a implementação de um processo de harmonização e de
uniformização, apenas pode se realizar se os Estados membros consentirem as necessárias
transferências de competências, isto é, os necessários abandonos de soberania a favor dos
órgãos da integração económica34.

3. A pluridimensionalidade dos objectivos


A palavra “integração”, evoca um significado muito mais concreto e implicações sobre as
relações humanas, do que a existência de contactos meramente comerciais ou de livre
comércio entre um Estado e os outros35, sobretudo, quando as finalidades da organização em
causa são gerais.
Esta multiplicidade de fins especiais que constitui uma finalidade política lato sensu,
é que dá todo o sentido à palavra “Comunidade”. Uma “Comunidade”, pressupõe
finalidades gerais que por natureza congregam-se na finalidade política da organização.
Assim, uma “Comunidade”, exige a prossecução de vários objectivos em vários domínios de
actuação, como o económico, o social, o cultural, o jurídico sem, portanto, privilegiar um
desses em detrimento dos outros sob pena de esquecer e violentar a sua própria finalidade.

2.2. A ausência nítida dos pressupostos fundadores da integração


Apesar da palavra “integração” estar localizada no corpo do Tratado constitutivo da
SADC – mais particularmente, no Preâmbulo, no n.° 2, do Artigo 21.° e no n.° 1, do Artigo

31
ISSA-SAYEGH J., "L’OHADA, instrument d’intégration juridique des pays africains de la zone franc", op.
32
MASAMBA R., "L’OHADA et le climat d’investissement en Afrique", op. cit., p. 3.
33
CEREXHE E., "L’intégration juridique comme facteur d’intégration régionale", op. cit., p. 8.
34
CARREAU D., FLORY T. e JUILLARD P., Droit international économique, op. cit., n.° 58.
35
MVUNGI S.E.A., Constitutional questions in the regional integration process;
10

22.° - ou em alguns protocolos36 e com o objectivo de criar uma união quase total5037, deve
razoavelmente concluir-se que o processo de integração desta organização é, de jure e de
facto, uma “pseudo-integração” que peca, principalmente, por uma dupla ausência de
técnicas integrativas (a) e de uma visão global da integração (b), o que faz com que a SADC,
seja apenas uma organização de cooperação (c). Facto sintomático, o termo "integração" não
está contemplado, formalmente, em alguns protocolos da SADC38.

i. A ausência de técnicas integrativas


O Tratado da SADC, não consagra nenhum instrumento que permita razoavelmente
concluir pela existência de um real processo de uniformização das legislações dos Estados
membros. Neste sentido, conclui claramente o estudo promovido pelo SEPAC, em 1999: “...
A SADC ainda não realizou um programa de harmonização do direito comercial …”39. Pelo
contrário, o objectivo é de “cooperar”, isto é, coordenar a acção dos Estados membros num
domínio determinado. O instrumento privilegiado desta opção é o “Protocolo”40. Assim,
esses acordos entre Estados membros aparecem como instrumentos particularmente
indicados e adaptados para promoção de uma cooperação entre Estados.
Todavia, esses instrumentos não são realmente concebidos para lutar contra a
disparidade das catorze legislações nacionais que constituem um obstáculo pela realização
de um espaço económico e social verdadeiramente integrado.
Porem, concluir-se que por uma ausência total de técnicas jurídicas capazes de
favorecer o processo de integração da SADC. A razão fundamental é de que a escolha dos
protocolos como instrumento de “pseudo-integração” permite evitar riscos de limitação da
soberania dos Estados. É a soberania dos Estados que, de facto, paralisou o processo de
integração. O actual funcionamento da SADC não violenta uma sociedade de justaposição
de entidades soberanas.

ii. A ausência de uma visão global da integração


Os objectivos e as prioridades nos domínios de intervenção da SADC permite
concluir que a visão que foi consagrada é apenas uma visão “economicista” da integração e
facto relevante, é apenas o termo “Economic Integration, que é definido no Glossário que

36
Vide, por exemplo, o Preâmbulo do Protocolo de cooperação no domínio da Energia da SADC de 24 de
Agosto de 1996, o Preâmbulo do Protocolo sobre o Sector Mineiro da SADC de 8 de Setembro de 1997 ou o
Preâmbulo do Protocolo sobre as trocas comerciais na Região da SADC de 24 de Agosto de 1996.
37
Mercado Comum, União Económica e Monetária e Moeda Única.
38
GABRIËL H. OOSTHUIZEN (op. cit., p. 45 e seguintes;
39
SEPAC e BRISCOE A., Review of business laws in Southern Africa, op. cit., p. 69.
40
Artigo 22 do Tratado da SADC.
11

acompanha o referido Plano quando se trata de definir o processo de integração como se


existisse apenas uma única dimensão da integração.
Nesta visão, as prioridades consagradas pelo Plano, são essencialmente - senão
exclusivamente económicas - (harmonizar as políticas macroeconómicas41. Como afirma o
próprio RISDP:
O desafio para a região é criar um ambiente que conduza à obtenção de
taxas altas e sustentadas de crescimento económico e equitativo e redução
da pobreza, superando as restrições de subdesenvolvimento e dependência
de sectores primários de produção, melhorando as condições
macroeconómicas e mantendo um clima condutivo para aumentar a
economia e o investimento42.

Além disso, “Uma análise da lista de objectivos da SADC mostra que não a
integração regional, mas o desenvolvimento económico e político é a principal motivação
por trás da criação da organização”43.
Esta observação resume-se que há cooperação entre os Estados membros, mas não
existe integração nenhuma. Assim, o processo de integração no Tratado da SADC, não foi
pensado na sua globalidade porque as visões jurídicas e políticas44 estão puramente ausentes.

iii. A SADC: uma organização de cooperação e não de integração


A SADC, é uma vasta organização de coordenação45, de harmonização de políticas,
de planos, de programa, de estratégias46 e de projectos47. Esta natureza tem implicações nos
seus métodos de trabalho e na sua estrutura jurídico-organizativa.
Harmonizam-se programas e estratégias. O Protocolo sobre o Sector Mineiro da
SADC, de 8 de Setembro de 1997, constitui um bom exemplo disto48: troca-se
informações83; promovem-se políticas49 e a harmonização de medidas administrativas e
legislativas em matéria penal e civil (este Protocolo nem trata se quer de Direito económico
ou Comercial),50 ou aduaneiras86, mas nenhum desses instrumentos contribuem para uma
verdadeira integração.

41
RISDP, op. cit., p. 26 e seguintes;
42
RISDP, Executive Summary;
43
SHAMS R., Regional Integration in Developing Countries: Some Lessons Based on Case Studies;
44
MAREIKE MEYN ("The Progress of Economic Regionalization in Southern Africa;
45
Declaração de Lusaka intitulada Southern Africa;
46
Vide, OOSTHUIZEN G.H., op. cit., p. 59 e seguintes;
47
RASUL SHAMS: “Integration policy is concentrated on the realization of common projects rather than on
creating an economic community,
48
Vide, o Artigo 6 do Protocolo de cooperação no Domínio da Energia na SADC de 24 de Agosto de 1996;
49
Vide, o n.° 1 do Artigo 7 do Protocolo sobre o Sector Mineiro na SADC de 8 de Setembro de 1997;
50
Alínea i) do Artigo 2 do Protocolo sobre Assuntos jurídicos de 7 de Agosto de 2000.
12

Portanto, a SADC terá muitas dificuldades em se integrar porque esta organização


não dispõe de instrumentos jurídicos para tal. Por outras palavras, a SADC não criou
verdadeiros instrumentos jurídicos que permitissem a substituição das disparidades de
legislações dos Estados membros num regime jurídico harmonizado ou uniformizado.

3. O ressurgimento do regionalismo e mudanças na politica Internacional


A nova configuração geopolítica e econômica que surgiu no pós-guerra fria, no
contexto da globalização, foram caracterizadas não só pela alteração no relacionamento dos
Estados, o que resultou numa maior interdependência entre eles, mas também pela
proliferação de atores não estatais. Segundo Justin Rosenberg (2005:6):
[...] As mudanças sociais no Ocidente combinaram-se com o fim da Guerra Fria
para remover os grilhões das forças transnacionais de todos os tipos; e essas
forças, recém-formadas com as mais recentes tecnologias de comunicação, e
finalmente tiveram uma mão livre para integrar o globo. À medida que as
interconexões transnacionais proliferavam, a soberania do Estado se tornava cada
vez mais impraticável. Em seu lugar, estava emergindo um novo sistema 'pós-
Vestfálico' de governança multilateral do mundo, que cada vez mais consignava as
relações internacionais tradicionais ao passado.

Assim como qualquer organização cujo objectivo é a cooperação internacional51, a


SADC tem um carácter estritamente interestatal e as suas decisões são dirigidas aos Estados
membros. De facto, a SADC institui o que alguns autores chamaram de “regionalismo de
cooperação”52, em que os Estados promoveram um conjunto de solidariedades económicas
com vista a estimular as trocas comerciais. Contudo, este tipo de regionalismo permanece
respeitoso às soberanias dos Estados membros.
A SADC, não impõe nenhuma limitação de soberania aos Estados membros ao
contrário do “regionalismo de integração” que tem outros objectivos53; como escreve JAN
BOHANES: “A integração económica na SADC ainda é parcialmente vista através de uma
lente de soberania nacional e ainda não adquiriu o tipo de“ carácter técnico ”que
permitiria que as disputas relacionadas ao comércio fossem trazidas à tona e“ combatidas
”sem afectar o clima político geral. limitando os esforços de integração ”54.

As mudanças supra-referidas contribuíram para a erosão da soberania ou declínio


relativo do(s) Estado(s). Neste sentido, os Estados foram obrigados a procurar soluções para
os seus problemas na estrutura transnacional global ou regional. Como afirma Gilpin (2001):

51
DREYFUS S., Droit des relations internationales, op. cit., p. 104;
52
CARREAU D., FLORY T. e JUILLARD P., Droit international économique, op. cit., n.° 57;
53
CARREAU D., FLORY T. e JUILLARD P., op. cit., n.° 58;
54
BOHANES J., “A Few Reflections on Annex VI to the SADC Trade Protocol.
13

[…] O colapso da economia de comando soviética, o fracasso da estratégia de


substituição de importações do Terceiro Mundo e o notável sucesso económico da
economia americana na década de 1990 incentivaram a aceitação de mercados
irrestritos como solução para os males económicos da sociedade moderna. Como a
desregulamentação e outras reformas reduziram o papel do Estado na economia,
muitos acreditam que os mercados se tornaram o mecanismo mais importante na
determinação de assuntos económicos nacionais e internacionais e até políticos.

O declino da hegemonia dos EUA e a queda do bloco comunista abriram espaço para o
surgimento do novo regionalismo no contexto da ordem global multilateral55.

3.1. Inserção da SADC na economia mundial


A inserção dos países da SADC na economia internacional tem sido dificultada pelo
fato destes países estarem vinculados ao comércio internacional, como produtores e
exportadores de produtos primários e importadores de bens manufacturados e de capital.
Segundo o Banco Africano do Desenvolvimento (ADB) “[...] a dependência da exportação
de comodities tornou a região vulnerável a choques externos induzidos pela flutuação dos
preços da procura de comodities” (2011:05). Por seu turno, o relatório da SADC de 2006,
demonstra que a integração na região tem sido:
[…] Caracterizada pelo baixo comércio intra-regional registado, forte
dependência do comércio externo, fluxos de capital transfronteiriços
limitados, tamanho económico relativamente pequeno e disparidades
acentuadas nas políticas fiscais, entre outras coisas. Isso também é agravado
pela implementação ineficaz de acordos de integração regional ”.

A integração regional na SADC tem ocorrido num contexto de vários problemas, que
estão relacionados com as assimetrias entre os países15, influência dos atores extras
regionais (sobretudo a União Europeia) e a múltipla filiação dos Estados membros a
diversos blocos regionais.
De forma geral, existem vários factores que têm impacto negativo para a integração
regional, dos quais pode-se destacar os seguintes:
i) a múltipla filiação a vários blocos de integração regional;
ii) pouca complementaridade econômica e existência de assimetrias profundas entre
os Estados da SADC;
iii) Comércio intra-regional menor em relação ao comércio extra-bloco;
iv) forte dependência da exportação de commodities (sobretudo minerais);
v) forte dependência em relação à África do Sul que é a potência regional;
vi) extrema dependência em relação a receitas ou tarifas fiscais.

55
Diferentemente do velho regionalismo que teve lugar no período da guerra fria.
14

3.2. Desafios à integração regional


Os diferentes interesses comerciais dos Estados membros da SADC têm criado
divisões dentro do bloco.
O grupo SADC- EPA é constituído pelos seguintes países: Angola, Moçambique,
Tanzânia e mais quatro países pertencentes à SACU (Botswana, Lesotho, Namíbia,
Suazilândia), com a excepção da África do Sul, que é membro observador56.
O grupo ESA- EPA é constituído pelos países da SADC e da COMESA57. Os países
da SADC que optaram por negociar o acordo neste bloco são: Malawi, Maurícias, Zâmbia,
Zimbabwe.
A negociação dos EPAs pelos referidos grupos tem dificultado as iniciativas de
integração regional na medida em que reduzem a capacidade de negociação do bloco e
exacerbam a divisão do mesmo. Para a OXFAM:
Esse complexo realinhamento de blocos regionais e o ritmo das negociações que a
UE que está forçando suas ex-colónias criará sérias dificuldades para a
harmonização dos calendários de liberalização. Porque os países ACP têm
prioridades diferentes em relação aos sectores que desejam proteger da importação
concorrência e preservar para a geração de receitas tarifárias, é possível que cada
membro de uma EPA seleccione produtos diferentes nos quais liberalizar. Se os
agrupamentos regionais não estiverem suficientemente harmonizados antes de um
TLC lançado, os APE criarão novas barreiras ao comércio intra-regional (2006: 8).

As rivalidades resultantes das disputas comerciais entre Estados membros podem ser
ilustradas pela divisão regional em função da negociação dos EPAs, tendo a destacar os
seguintes casos: a adesão do Zimbabwe ao grupo ESA-EPA em vez do grupo SADC-EPA
bem como a negociação bilateral dos EPAs entre a RSA e a UE.

3.3. Múltipla filiação dos estados membros e seu impacto negativo no desenvolvimento
da SADC.

A tendência à múltipla filiação dos países da SADC tem levantado dúvidas acerca do
comprometimento dos países membros com vista à construção do projecto de integração
baseada numa agenda comum na região. A adesão dos países membros da SADC a outros
blocos regionais tem resultado na divisão, sobreposição de agendas e fraco progresso no

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Em 2000, África do Sul negociou, isoladamente, o Acordo de Cooperação, Desenvolvimento e Comércio (TDCA)
com a União Européia. Todavia, devido ao seu peso econômico na SACU e SADC foi convidado como observador
na EPA SADC. Em 2006, o conselho de ministros Europeu decidiu incluir a África do Sul no grupo EPA SADC
(SOKO, 2007:20).
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Grupo formado pelos seguintes países: Burundi, Comoros, Djibuti, DRC, Eritreia, Etiópia, Quênia,
Madagascar, Maláui, Maurícias, Ruanda, Seychelles.
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aprofundamento da integração regional58. A incompatibilidade entre a múltipla filiação e o


aprofundamento da integração regional pode ser explicada da seguinte forma:
 Competição entre os países da SADC resultante da existência de vários arranjos
regionais;
 Diferentes percepções de ganhos;
 Dificuldade de implementação dos acordos regionais e harmonização de políticas.

A múltipla filiação dos Estados membros da SADC tem inviabilizado o processo de


integração regional, pelo fato de que o aprofundamento da integração com vista ao
desenvolvimento regional tem sido incompatível com a existência da sobreposição dos
blocos regionais que dificultam o cumprimento dos objectivos traçados.

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Franke (2007)
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Conclusões
A SADC é uma comunidade regional que busca garantir para sua população o bem-
estar económico, melhorias da qualidade de vida, liberdade, justiça social, paz e segurança.
Todos esses aspectos serão obtidos mediante a cooperação entre os países membros.
O principal objetivo da Comunidade da África para o Desenvolvimento é estabelecer a paz e a
segurança na região. Através da integração desses países, pretende-se alcançar o desenvolvimento económico,
desenvolver políticas comuns, proporcionar a consolidação dos laços históricos, sociais e culturais entre os
povos da região
Integração regional pressupõe que a um determinado momento do processo os
estados membros devem transferir, por exemplo, alguns poderes soberanos para a
organização de integração regional. Sem esta premissa, não há integração alguma. Tudo
quanto se diz não passará de falácia.
O processo de integração regional tem sido caracterizado pela coexistência de duas
perspectivas paralelas de integração regional. Por um lado, a integração de mercados
(comércio e investimentos) e, por outro lado, a perspectiva desenvolvimentista.
Adopção de mercado comum vai requerer a transferência de alguns poderes para
permitir a realização desse mercado comum, como a definição de normas comuns de
harmonização do direito económico e comercial, uniformização de alguns procedimentos
aduaneiros.
Porem, no cume da união económica e monetária, conducente à moeda única, será
inevitável a transferência substancial de poderes de soberania dos estados para a SADC, para
com alguma eficácia construir o processo de integração. É aqui onde se localiza o epicentro
das dificuldades de integração.
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Bibliografia

CISTAC, Gilles (2008) - Como fazer da SADC uma organização regional verdadeiramente
integrada? UEM, Maputo.
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, 1980.
BULGACOV, Sérgio; PREDEBON, Eduardo Angonesi (2011) - Processos de Integração
Regional e Internacionalização.
HAAS, Ernst. The Uniting of Europe: Political, Social, and Economic Forces (1950-1957).
Stanford: Stanford University Press, 1958.
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OXFAM. Unequal Partners. Oxfam International Briefing Note, September 2006.
ROSENBERG, Justin. Globalization Theory: A Post Mortem International Politics. Vol. 42,
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SADC 2002/2004:
_____________ Constraints against Integration in SADC-LDCs.
_____________TODAY. Disponível: WWW. http://www.sardc.net. Acesso: Junho de 2010.
TORRES, Adelino (1993) - Integração regional em África e multilateralismo: Integração re
gional versus GATT. Lisboa.

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