Docente: Paula Juliana do Nascimento Carlos Pereira
Instituição: UERN Curso: Pedagogia FREITAS, Lorena Rodrigues Tavares de. A má-fé institucional na reprodução da desigualdade escolar no Brasil. In: XVII CONGRESO DE LA ASOCIACIÓN LATINOAMERICANA DE SOCIOLOGÍA, 2009, Buenos Aires. p. 1 - 9.
No presente texto, a autora dá início explanando que segundo Pierre Bourdieu
(1998), a instituição escolar garante a classificação de entrada e de saída dos alunos, estabelecendo a exclusividade escolar, porém não reconhece os critérios de classificação social. Diante disso, a escola trata como dom o que são disposições (BOURDIEU, 2007 apud FREITAS, 2009). Diante disso, a autora analisa o cenário do sistema publico de ensino básico brasileiro. Segundo Freitas, a classe social precarizada ocupa o sistema público massivamente, porém as instituições públicas não detêm as disposições básicas para acolher seus alunos o que resulta no fracasso escolar generalizado (FREITAS, 2009). Adiante é abordado o aspecto social da libertação da classe escrava e agregada do período pós-colonial e que culmina na “ralé estrutural” (FREITAS, 2009). Tem-se portanto, que mesmo havendo propostas de inserção e reestabelecimento dessas classes marginalizadas na sociedade, elas continuam igualmente fadados. Isto posto, nos é conceituado o “habitus primário” que segundo Souza, consiste em um conjunto de características do sujeito produtivo: disciplina, flexibilidade, concentração, autocontrole, responsabilidade por si, cálculo prospectivo. Em seguida é descrito o “habitus precário”, o habitus da “ralé estrutural” que segundo Souza se define por aqueles setores que não foram capazes de uma adaptação objetiva as demandas produtivas e sociais da modernidade. Sem as disposições do “habitus primário”, portando os indivíduos sofrem para desenvolver uma relação qualitativa com escola e posteriormente com o mundo profissional. Desse modo, “por não ter as disposições necessárias, essa classe é condenada a trabalhos marginais, de baixa remuneração, irregulares e nas franjas da produção capitalista, não podendo assim se inserir de maneira completa na estrutura da sociedade inclusiva, nas instituições do mundo urbano e, por meio delas, se disciplinar, adquirir regularidade, bem como absorver suas normas e valores, ou seja, as disposições que essas instituições são capazes de formar.” (FERNANDES, 1978 apud FREITAS, 2009). Essas condições, portanto irão determinar como os integrantes dessa classe irão enxergar a si mesmos e todo mundo social. De acordo com Bourdieu (1998) apud Freitas (2009), a atitude da família a respeito da escola é definida em função das esperanças objetivas de êxito escolar oferecido de acordo com a classe social e intuitivamente apreendida pelos seus membros. Desse modo, constatamos que a ralé estrutural não consegue criar vínculos com o mundo escolar. 1 Nesse sentido a autora caracteriza o conceito de má-fé institucional que foi desenvolvido por Bourdieu em sua obra A Miséria do Mundo (2007). Segundo a autora, Bourdieu consegue compreender todas as práticas executadas pelas instituições do Estado. Ao fazer a conceitualização do primeiro nível, o do poder soberano, percebe- se, portanto que o “habitus primário” no âmbito sociológico é previsto como regra a todos os indivíduos, gerando assim, o processo de desigualdade perante as necessidades das reivindicações de bem-estar. Diante disso, as classes sociais mais baixas, eram privadas da participação efetiva no sistema de ensino, levando em consideração os aspectos citados. No segundo nível, o micro poder é abordado o conceito de Foucault. Para ele, segundo Freitas, para ele, o poder deve ser compreendido como uma propriedade das relações. Com isso, é proposta uma falha na concepção de Foucault que Rocha soluciona com as contribuições de Bourdieu, que seria: “Para Bourdieu, o poder no espaço social é ordenado por estruturas de condicionamento social que ocorrem tanto no nível conjuntural, quanto no nível ontogenético.” (FREITAS, 2009). No nível conjuntural, Rocha (2008, p.13) apud FREITAS (2009), explica que “o condicionamento da ação pelas estruturas do espaço social é dado pelos recursos mobilizáveis por cada agente segundo a sua posição”. Além disso, Rocha (2008, p.14) apud Freitas (2009) leva em conta que a violência institucionalizada contra determinadas classes de pessoas não se deve apenas à incapacidade das técnicas de poder empregadas para gerarem processos efetivos de internalização de normas. A seguir, o conceito de “função latente” é abordado, que se caracteriza como o processo de incluir nas pessoas fadadas ao insucesso escolar devido a seu pertencimento às classes desfavorecidas, o sentimento de serem individualmente responsáveis pelo seu insucesso, o que resulta em conformismo político...(FREITAS, 2009). Portanto, entendemos que a maior parte dos alunos que se encontram nas escolas do Brasil, advém da ralé estrutural. Apesar do Estado declarar programas para a integralização desses indivíduos na educação de qualidade, os processos não oferecem condições objetivas para a universalização da educação. Isto posto, Freitas conclui observando que as condições sociais de produção não são problematizadas. As condições de precariedade das escolas públicas não propiciam o ambiente adequado a sanar as dificuldades das classes pobres. Com isso, os indivíduos se sentem culpados e o motivo da reprodução social do seu destino de classe, tornando esse o maior motivo da funcionalidade não intencional e não declarada da escola um dos principais fatores da desigualdade social brasileira.