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Bourdieu e Passeron
RESUMO
Este artigo trata da relação entre o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) o sistema
escolar, em um contexto de reprodução das estruturas sociais e hierárquicas vigentes no
Brasil. O objetivo é apresentar, à luz da teoria bourdieusiana, as funções intrínsecas de seleção
e eliminação do ENEM, condição própria dos exames de seleção. Trata-se de uma pesquisa de
revisão e documental. Empregaram-se os aportes teóricos de Bourdieu (XXXX); Bourdieu e
Passeron (XXXX); além da contribuição de autores como: Klitze (XXXX), Valle (XXXX).
Destacam-se, pois, os conceitos e as análises empregados por esse sociólogo francês, dentre
os quais: poder simbólico, habitus cultural e capital cultural. E A METODOLOGIA
EMPREGADA? Ao longo do texto, responderam-se às questões quanto à eventual melhoria
na qualidade do ensino médio ou na democratização do acesso ao ensino superior,
intencionalidades apresentadas para o Exame, ao longo de suas reformulações. Identifica-se
que o sistema brasileiro emprega os seus mecanismos com orientações ideológicas, tão
características da reprodução e da legitimação das desigualdades. Dentre esses mecanismos,
destaca-se o ENEM, cuja função não excede seu papel próprio de exame, operando a seleção
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Doutorando em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). E-mail: 100nilton@gmail.com
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1 INTRODUÇÃO
FALAR DAS ESTRATÉGIAS QUE NÃO SÃO CONSCIENTES, MAS QUE PODEM
SER APROPRIADAS E APLICADAS CONSCIENTEMENTE
É possível que nenhum outro excerto sintetize tão bem os exames de seleção do que o
da epígrafe que abre este artigo. Os exames não apenas compõem como legitimam a seleção
social nos sistemas de ensino, que historicamente reproduzem a cultura dominante, a estrutura
de classes e as desigualdades da sociedade em que estão inseridos.
No Brasil os exames ganharam destaque nas 3 (três) últimas décadas, no fervor das
discussões acerca da universalização e da qualidade da educação básica, cujo contexto é
marcado pela hegemonia global do neoliberalismo e ingerência dos organismos multilaterais
em nações emergentes. Nesse contexto, brotaram os exames em larga escala, dentre os quais o
Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), criado sob a intencionalidade precípua de
subsidiar a melhoria do ensino médio brasileiro e, posteriormente, propalado como um exame
democratizador do acesso ao ensino superior. Assim, sob os fundamentos da sociologia de
Bourdieu e com base nos dados da pesquisa, buscou-se neste artigo responder às questões: O
ENEM melhorou a qualidade do ensino médio e/ou democratizou o acesso ao ensino
superior?
Para melhor compreensão da função desempenhada pelo ENEM desde sua criação –
até mesmo para esclarecer se o Exame de fato cumpriu, ou cumpre, alguma das proposições
indicadas no parágrafo anterior – convém que se desvelem como se reproduzem as
desigualdades no âmbito das estruturas sociais e hierárquicas do Estado em face do processo
de aquisição cultural. Não apenas isso, é igualmente mister apresentar as intencionalidades
desse Exame, frente ao seu desempenho na prática.
Para tal, contribuem para a fundamentação teórica Pierre Bourdieu e Jean-Claude
Passeron, pela pertinência e pela contundência dos conceitos por eles apresentados, coroadas
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francês da época. A classe alta, a média e a baixa têm o acesso e as condições de permanência
e êxito desiguais.
O Estado se faz essencial nesse sistema de legitimação das desigualdades porque
carrega consigo o poder simbólico, que impõe significações sobre as práticas, como estas
fossem legítimas. Assim, não apenas dissimula as relações de força, como soma força aos
grupos privilegiados, favorecendo-os (BOURDIEU, 2012).
Tanto a existência quanto a manutenção das desigualdades não ocorrem por acaso. Há
razões para isso, pois os agentes sociais não agem de forma aleatória ou fortuita.
Muitos são os mecanismos empregados para a reprodução das desigualdades e para
legitimá-las. O discurso da meritocracia é um deles, empregado inclusive pelo sistema
escolar. Aliás, ainda que os estudantes com melhores desempenhos sejam aqueles
privilegiados sobretudo dos capitais econômico, social e cultural – como aponta Nascimento
(2018) –, o discurso em defesa da meritocracia persiste como se de fato representasse a
realidade.
Os estudantes que representam a exceção são apresentados como se correspondessem
à regra. Desse modo, estudantes desprivilegiados dos capitais econômico, social e cultural,
que apresentam bom desempenham, são justificados porque em tese seriam dotados de “dom
natural” ou fariam jus ao esforço que empreenderam para conquistar a posição. Por outro
lado, a maioria dos desprovidos desses capitais não alcançariam bom desempenho porque não
têm “dom natural” ou não se esforçam.
Tanto a ideologia do dom quanto a do esforço ignoram as desigualdades de acesso ao
conhecimento, dissimulando que estas são expressão das distinções sociais, de modo a negar
no processo de aquisição do conhecimento a eliminação social que se opera. Velam e
legitimam, dessa forma, como de fato ocorre o processo de transmissão cultural e os
elementos que desde cedo cooperam a seu favor:
[...] Na realidade, cada família transmite a seus filhos, mais por vias indiretas que
diretas, um certo capital cultural e um certo ethos, sistema de valores implícitos e
profundamente interiorizados, que contribui para definir, entre coisas, as atitudes face
ao capital cultural e à instituição escolar. (BOURDIEU, 2014, p. 46).
superior” o que as classes “superiores” carregam na sua bagagem cultural. Esse arbitrário
cultural era decisivo, uma vez que correspondia em parte ao que os pais já transmitiam aos
filhos nas suas relações.
Grosso modo essa bagagem de conhecimento e habilidades, que é transmitida pela
família, é o que Bourdieu (2012; 2014) chama de capital cultural. Vai desde a aquisição da
linguagem até as práticas e aspirações dos membros da família.
Bourdieu (2014) considera três estados de capital cultural, dentre os quais se destacam
dois: capital cultural no seu estado incorporado e capital cultural no seu estado objetivado. O
primeiro diz respeito ao background familiar que é um dos elementos dos mais decisivos na
definição do sucesso escolar do aluno, uma vez que o domínio da língua culta adquirido no
contexto familiar, as referências culturais, os conhecimentos considerados apropriados e
legítimos (uma espécie de herança cultural) facilitam o aprendizado dos conteúdos e dos
códigos escolares. O segundo diz respeito ao que o capital econômico pode comprar a fim de
melhorar a “bagagem cultural”. Este se evidencia, por exemplo, na compra de livros ou
mesmo na aquisição de serviços de apoio educacional ao estudante, concomitantes às
atividades da escola (cursinhos, aulas particulares, curso de línguas, por exemplo).
Para confirmar sua teoria acerca da influência do capital econômico e do capital
cultural, Bourdieu (2014, p. 46) recorreu um exemplo bastante convincente:
populares. No entanto, as autoras revelam como o acesso ampliado não se traduziu por
democratização do acesso ao ensino superior. Esse é um indicador de que a reprodução das
desigualdades persiste nos níveis mais elevados do ensino brasileiro.
Para justificar esse tipo de desigualdade, o discurso ideológico da meritocracia é
recorrente. É um discurso de falsa igualdade, onde o aluno “fracassado” é identificado como
aquele que não quis. O resultado dessa influência nos níveis mais elevados de ensino é ainda
mais intenso. No ensino superior, por exemplo, o acesso - assim como a permanência e o
êxito - é ainda mais desigual do que no ensino fundamental, por exemplo.
Em um estudo acerca da longevidade escolar, foi observado que o êxito de indivíduos
oriundos de famílias populares era a exceção. A pesquisadora definiu bem as dificuldades na
trajetória desses indivíduos que resistiram até os níveis mais elevados do ensino: “A imagem
de uma embarcação navegando ‘ao léu’ parece-nos extremamente pertinente para ilustrar a
dimensão de imprevisibilidade e aleatoriedade que detectamos nas biografias investigadas”
(VIANA, 2007, p. 233).
A pouca probabilidade de estudantes originários de classes sociais desprivilegiadas
lograrem êxito no ensino superior, sobretudo em cursos com prestígio social, está atrelada às
condições sociais e culturais da família. Mesmo esses estudantes só o conseguem em
condições de extremo risco de fracasso, conforme apresenta Viana (2007, p. 234-235): “[...]
as condições que permitiram esses sucessos escolares – práticas, sentidos e disposições – só
adquiriram existência no próprio processo de escolarização”.
Para que indivíduos das classes populares alcancem esse capital cultural o percurso é
longo, pois é um conhecimento que originariamente não apresenta relação com seu
conhecimento de mundo. Por isso, estudantes oriundos das classes populares e bem-sucedidos
na escola, ao discutirem sobre sua trajetória escolar, recorrem a termos como ‘batalha’,
‘desafio’, ‘transformação’, ‘sacrifício, ‘conquista’, ‘solidão’, ‘desamparo’ e ‘incompreensão’.
Compreende-se, pois, que enfrentar o arbitrário cultural é lidar com uma nova cultura.
É o que os jovens oriundos de classes sociais desprivilegiadas fazem cotidianamente no
sistema escolar brasileiro. Para esses alunos, a dificuldade de aquisição da norma culta, por
exemplo, faz parecer que a língua portuguesa não é sua língua materna.
Ademais, quando jovens de classe baixa alcançam êxito nos estudos, vivenciam um
distanciamento cultural progressivo em relação aos seus familiares mais próximos. Esse
distanciamento gera uma série de sofrimentos tanto para os filhos que alcançaram a
longevidade escolar quanto para seus familiares. Esse é mais um indicador da distância entre
o capital cultural das frações mais pobres e das mais ricas.
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Nesse sentido, a cultura legítima, referendada pelos exames e diplomas, vem a ser
aquela pertencente às classes privilegiadas. O ensino pressupõe implicitamente “um
corpo de saberes, de saber-fazer e, principalmente, de saber-dizer, que constitui o
patrimônio das classes cultivadas”. Assim, o que se estabelece como dom natural
constitui-se geralmente em manifestação de afinidades ligadas a valores sociais bem
determinados e às exigências do sistema escolar. No limite, o privilégio social e as
habilidades adquiridas na família burguesa travestem-se em méritos individuais,
“dons naturais” que o indivíduo possui. Logo, “para os filhos e camponeses, de
operários, de empregados ou de pequenos comerciantes, a cultura escolar é
aculturação. (CATANI, 2002, p. 65, grifo do autor).
A própria Hoffmann (2009) esclarece que a política da não reprovação não pode ser
entendida como banimento da avaliação. Isso porque a função primordial da avaliação não é
aprovar nem reprovar. Na verdade, o que deve mudar é a natureza da avaliação empregada.
Luckesi (2000) é taxativo contra a função dispensada à avaliação atualmente. Aliás,
ele apresenta uma visão bem clara e um tanto contundente acerca do assunto: “A avaliação da
aprendizagem não é e não pode continuar sendo a tirana da prática educativa, que ameaça e
submete a todos. Chega de confundir avaliação da aprendizagem com exames” (LUCKESI,
2000, p. 1).
O habitus pode nos dar pistas importantes acerca do processo educacional, pois os
interesses, aspirações e práticas de cada indivíduo são manifestação do habitus incorporado.
Na prática docente, o habitus permaneceu quase inalterado desde o início do sistema
educacional brasileiro. É, muitas vezes, o professor da atual geração apenas reproduzindo a
prática das gerações que o antecederam.
O outro motivo que também dificulta a mudança do conceitual para o prático é porque,
como também ilustra Bourdieu (2012), o sistema educacional é um dos mecanismos de
reprodução social e, portanto, tende a reproduzir práticas de manutenção da ordem. Daí não
podermos ignorar que a ordem que impera atualmente é a neoliberal, que legitima a
desigualdade por meio de sua orientação mercadológica.
Além disso, a disponibilização dos resultados nos moldes como ocorreram até o ano
de 2016 (notas referentes à edição de 2015) subsidiava a criação de rankings que
classificavam escolas que concentravam estudantes com os melhores índices sócio-
econômicos e desclassificavam aquelas de estudantes com índices sócio-econômicos baixos.
Assim, normalmente se distinguiam as escolas privadas e/ou que se valiam do subtefúrgio da
seleção para ingresso, ao passo que se rebaixavam as escolas públicas, acentuadamente as que
concentravam estudantes oriundos de grupos sociais mais desfavorecidos econômica, social e
culturalmente.
Pela proposta, o ENEM substituiria esses exames vestibulares, que serviam para
“seleção”, enquanto “estabelecimento de mérito”, porque o acesso ao ensino superior é um
“recurso não disponível para todos”. Enfim, nesse primeiro parágrafo está o reconhecimento
oficial, ainda que não “intencional” por parte do MEC, dos principais elementos que
caracterizam o ENEM e os demais exames de seleção, conforme desvela Bourdieu (CITAR
AQUI O ANO EM QUE BOURDIEU FALA DOS EXAMES)
Por sua vez, no ano de 2017, o MEC operou uma mudança significativa nos objetivos
do ENEM, ao publicar a Portaria MEC nº 468/2017, na qual já não aparece a “promoção” da
avaliação das escolas de ensino médio. Essa medida, que abdica de publicizar as notas das
escolas, é o reconhecimento de que, ao contrário do previsto pela Portaria INEP nº 109/2009,
a forma como as notas eram divulgadas favorecia a criação e divulgação de rankings, em
especial pela mídia e pelas escolas que concentram estudantes privilegiados em capitais
econômico, social e cultural.
Dessa forma a portaria retirou do ENEM sua função de classificação e desclassificação
das escolas, que se tornaria função apenas da Prova Brasil, até então sem publicização. Uma
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vez que o Exame deixou também de certificar estudos, tornou-se um exame exclusivamente
de seleção e eliminação para a educação superior. Apesar de o nome conservar “ensino
médio”, esse exame se transformou em um mero, mas enorme, exame vestibular.
Sob o pretexto de avaliar o ensino médio para melhorá-lo, o ENEM se resignou até
2016 a classificar e desclassificar escolas a partir do desempenho dos estudantes. Entretanto,
tais classificações das escolas atestavam muito mais a concentração dos capitais econômico,
social e cultural de seus alunos do que o efetivo trabalho didático-pedagógico dessas
instituições, tal qual desvela Nascimento (2018). Além disso, esse Exame ignorava uma série
fatores cruciais para uma análise própria ao contexto escolar, ignorando-se aspectos
relevantes como: as condições objetivas de cada comunidade escolar, a gestão escolar e o
fazer educativo em sala de aula, dentre outros. (REELABORAR)
Desde o início da década de 1990 houve expressiva ampliação do acesso ao ensino
médio. Em 1991, por exemplo, o Brasil tinha 3.772.698 alunos matriculados no ensino médio;
em 1994 registrava 4.932.552; e em 2004 alcançou o ápice, com 9.169.357. Desde então o
total de matrículas cai ano após ano (à exceção dos anos de 2010, 2011 e 2016), registrando
15
8.133.044 de matrículas no ano de 2016, o contexto da atual reforma dessa etapa da educação
básica. Em 2019, o total de matriculados já havia baixado a patamares de apenas 7.465.891
estudantes (Inep, 2020), perfazendo-se 15 anos desse processo de desconstrução e retrocessos
no ensino médio. (REELABORAR)
REALÇAR QUE BOURDIEU MOSTRA QUE MELHORAR A QUALIDADE DA
EDUCAÇÃO NÃO É O OBJETIVO DOS EXAMES, NEM DE SELEÇÃO NEM DE
CLASSIFICAÇÃO. INCLUSIVE LEMBRAR NO INÍCIO DO TEXTO, E RETOMAR
AQUI, QUE O ENEM EXERCEU A FUNÇÃO DE SELEÇÃO/ELIMINAÇÃO E DE
CLASSIFICAÇÃO/DESCLASSIFICAÇÃO, DE MODO QUE NÃO OBJETIVAVA A
MELHORIA, ATÉ PORQUE SERIA IMPRÓPRIO PARA ESSA FUNÇÃO. AÍ JÁ TRAGO
O FREITAS (Registra-se que até o ano de 2019 os números de matrícula continuam em
queda, confirmando-se o que Freitas et al já alertavam, que os exames em larga escala são
impróprios para subsidiarem a melhoria da aprendizagem ou a identificação dos reais
problemas educacionais). Falar da inobservância da função desse nível de avaliação, ao passo
que se ignoraram os outros dois três níveis, muito mais próprios para subsidiarem a melhoria
da aprendizagem/qualidade, como ponderam a França (2018) et al.(REELABORAR)
Contudo, uma vez que se trata de um exame, também desempenha sua função de eliminação,
de modo a dissimular a relação entre o sistema escolar e as relações de classe, como lembram
Bourdieu e Passeron (2012; 2015). Na edição de 2017 – a primeira sob a regra prévia de não
divulgação dos resultados para ranqueamento de escolas e também sem a prerrogativa da
diplomação de estudos – registraram-se 6.731.186 inscritos, que concorreram a 239.601
vagas, em instituições de ensino superior (IES) públicas; e a 242.897 vagas, em IES privadas.
Para cada candidato selecionado, o Exame eliminou 12,95 candidatos, de modo que o Exame
tem se notabilizado pela ampla participação, mas também pela alta seletividade/eliminação.
(REELABORAR)
influenciados pelo meio com o qual o indivíduo se relaciona. Sob essa lógica, o ENEM não
eliminaria os candidatos, pois os eliminados é que seriam os responsáveis por sua própria
eliminação, de tal forma que na edição de 2017, por exemplo, o Estado estaria escusado da
demanda reprimida de ensino superior. Trata-se, na verdade, de um artifício neoliberal de
desresponsabilização do Estado. (REELABORAR)
Ora, os exames seletivos de acesso ao ensino superior são necessários apenas nas sociedades
que não democratizaram o acesso a esse nível de ensino. Portanto, sua necessidade testifica o
caráter excludente do próprio sistema escolar, do qual os exames fazem parte. Logo, esse
reconhecimento equivocado por parcela da sociedade brasileira é o que confere legitimidade
aos exames seletivos, uma vez que ignora o caráter excludente desses mecanismos.
Entretanto, o que realmente se faz necessária é a democratização do acesso à educação
superior.
Da mesma forma, aqueles que defendem que os exames são justos se fundamentam
apenas na igualdade formal, a mesma apregoada pelo neoliberalismo. Buscam legitimar,
assim, as desigualdades objetivas no processo de aquisição cultural, no qual os capitais social,
econômico e cultural são deveras relevantes, conforme esclarecem Bourdieu e Passeron
(2012).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
educacional. Assim, elementos como a avaliação não devem servir à orientação neoliberal.
Pelo contrário, deve promover a aprendizagem, ao invés de seleção e consequente exclusão.
Por isso a importância de rejeitarmos a postura ideológica mercantilista.
Conceitos como os que Bourdieu (2012; 2014) apresenta são fundamentais para
fundamentar a construção de uma educação com proposta “contrarreprodutora” e, portanto,
emancipatória. Nesse sentido, é importante compreender que o conhecimento sobre a
organização das estruturas sociais e sua reprodução no sistema educacional não implica
abraçar o determinismo mecanicista. É a postura ante o conhecimento que determina se essa
ordem das coisas se mantém ou se é superada. Por isso, enquanto agentes sociais, ações
dependem do partido que se toma diante da questão: conhecer para se justificar ou conhecer
para superar?
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REFERÊNCIAS
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