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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

DISCIPLINA: ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

Trabalho Final:
Questões de OEB

Amanda Apolonia de Seixas


1 - O que significa dizer que educação é prática social, segundo Carlos
Brandão?

A ideia de educação enquanto prática social é trazida por Brandão em seu


texto “O que é educação”, no qual explica que a educação não é apenas um
processo individual de adquirir conhecimento, mas é intrinsecamente ligada às
dinâmicas sociais, culturais e políticas de uma comunidade.

Nesse contexto, o autor continua dizendo que a educação reflete e


reproduz as normas, valores e estruturas da sociedade em que está inserida.
Além disso, esta instituição desempenha um papel fundamental na formação de
identidades, na transmissão de cultura daquele meio e na preparação dos
indivíduos para participar ativamente na vida social, sendo assim, é a instituição
que molda os jovens e crianças para o que aquela sociedade específica precisa.
No caso do capitalismo, os molta para o mercado de trabalho.

2 - Qual a distinção que Miguel Arroyo faz entre direitos individuais e


direitos coletivos?

Miguel Arroyo critica a ênfase excessiva na visão da educação como um


direito individual em seu artigo “O direito à educação e a nova segregação social
e racial”, argumentando que a visão pautada nos direitos individuais impede o
reconhecimento das diferentes necessidades de diferentes grupos e status
sociais, pois os coloca em pé de igualdade, o que é falso. Por isso defende os
direitos coletivos como capazes de superar a limitação dos direitos individuais,
pois, apenas eles teriam uma abordagem abrangente que considera a hierarquia
social existente, na análise de políticas educacionais. Em resumo, a crítica que
tece em seu texto concentra-se na necessidade de reconhecer e promover os
direitos coletivos, especialmente para grupos historicamente marginalizados.

3 - A nova morfologia do trabalho tem impactos na educação e na vida


emocional das pessoas. Explique esta relação a partir do diálogo entre os
textos de Sennett e Elma Júlia Carvalho.

A nova configuração do trabalho traz impactos emocionais fortes como os


apontados no ensaio de Sennett “A Corrosão do Caráter”, no qual conta como
antes, no pós segunda guerra, a vida profissional era burocrática, o que garantia
aos trabalhadores estabilidade e certeza do futuro, com poucas trocas de
emprego ao longo de toda a vida. Uma vida mais tranquila, mesmo que sem
grandes conquistas. Hoje, por outro lado, os vínculos empregatícios são mais
curtos. Não é mais tão comum trabalhar com um emprego só, mas com projetos
ou por temporada. Vive-se em época de Capitalismo flexível, ou seja, um
momento em que busca-se o tempo todo se superar a cada emprego novo, onde
a instabilidade é mascarada e incentivada como “aceitar novos desafios” e a
dependência nos outros se torna mal vista, mas por conta disso, a troca
interpessoal também se torna menos profunda e previsível do que antes pois
não há tempo suficiente que se passe com colegas de trabalho, com vizinhos e
até mesmo filhos, capaz de construir vínculos profundos, o que distingue também
o caráter do homem de cada época.

Tudo isso será refletido na educação, pois, como Elma traz em seu artigo
“Educar em tempos de incertezas", seu principal foco é mostrar que as relações
familiares e educacionais não são desprendidas de seu meio, na verdade elas
são resultado e reprodutoras das sociedades em que estão inseridas. Por tanto
se antes a educação passada de pais para filhos ou de escola para filhos era de
uma forma diferente, hoje o conflito existente sobre pais que não sabem mais
como educar seus filhos, são resultado das mudanças cada vez mais rápidas
dos modos de reprodução que afetam as relações sociais rapidamente e por
essas mudanças trazerem especificamente mais ansiedade e incertezas.

4 - Comente as características mais interessantes do Ensino Vocacional,


implementado em escolas da rede estadual paulista na década de 1960, que
contribuem para repensar a educação pública na atualidade.

A partir da leitura do texto de Ângela Rabello “Ensino Vocacional:


Formação integral, cultura e integração com a comunidade em escolas estaduais
paulistas na década de 1960” e do documentário “Vocacional-Uma aventura
humana”, é possível fazer uma pequena lista de algumas características
interessantes dos Ginásios Vocacionais.

A primeira característica mais interessante do Ensino Vocacional é a


formação do alunado que deveria obrigatoriamente ser formado de, pelo menos,
30% de jovens que correspondessem à estrutura socioeconômica do bairro onde
a escola estava inserida, pois os colégios pretendiam reproduzir dentro do
espaço escolar, a realidade de onde ela estava inserida. O restante das vagas
eram para os demais alunos, independente de classe, visto que o ensino era
público. Assim, os filhos de famílias mais pobres estudavam na mesma escola
onde os filhos das famílias mais ricas estudavam, bem diferente de estruturas de
ensino atuais que visam o agravamento da desigualdade social.

Além disso, outra característica positiva eram os “estudos de campo”. Os


alunos aprendiam todas as matérias de seus currículos, tanto práticas quanto
teóricas, e ao final de cada ano viagens eram realizadas, conectadas com tudo
que aprenderam em sala, com o intuito de pôr em prática e ver como seus
conhecimentos existem no mundo a fora.

Os ginásios Vocacionais eram norteados pelo ideal de educação humana


e democrática, por isso buscavam trazer nas suas disciplinas teóricas e práticas
o sentido do trabalho para além do lucro pessoal, mas como exercício inerente
ao ser humano, com valor de uso e que estrutura a comunidade. Assim o
trabalho era entendido, como antes, para qualificar a mão-de-obra, mas com um
senso de necessidade e possibilidades para a sociedade.

Uma das maiores contribuições que os Ginásios podem ter deixado para
o pensar educação de qualidade atual, seria a forma como sua educação
funcionava integralmente e plenamente, pois não dividiam o âmbito nem os
assuntos escolares das vidas do alunado fora da escola. Eles aprendiam todos
os assuntos entendendo suas necessidades e sua aplicabilidade, e
compreendiam a educação, não para chegar em um fim, mas como bem que o
transformará para a vida toda.

5 - A diversidade de formas de organização do ensino superior, previstas


pela LDB atual, incidem na qualidade da oferta? O que define a
universidade? Explique

Sim, as novas organizações previstas pela LDB atual afetam na oferta,


pois, após baseado no texto “Políticas de expansão da educação superior no
Brasil” de Deise Mancebo, Andréa Araujo do Vale e Tânia Barbosa Martins,
entende-se que, antes da nova LDB, o ingresso a faculdade era muito restrito.
As autoras trazem um dado que ilustra o grande salto graças ao aumento do
número de vagas desde 1995, que aponta um crescimento de 262,52% do
número de matrículas até o ano de 2010. Porém, na mesma medida em que
houve maior democratização do acesso ao ensino, houve também um declínio
na qualidade desta oferta, pela falta de controle de qualidade a partir desse
aumento. Um exemplo disso foi o fato de que maior parte dessas matrículas
foram para o setor privado, em alguns casos, em faculdades não reguladas.

O interesse do setor privado na área da educação também impacta a


qualidade e a forma do ensino, pois os cursos ofertados em maior quantidade
são aqueles que possam produzir mais empregados para as próprias empresas,
colocando certos cursos em posição de privilégio de investimentos,
desvalorizando outras áreas de atuação.

No setor público, as empresas privadas também afetam na qualidade de


certos cursos, visto que, empresas investem em pesquisas de estudantes e
pesquisadores de universidades públicas nas áreas que lhes interessam,
influenciando e direcionando esses estudos de acordo com suas necessidades
mercadológicas.

As universidades tinham, a princípio o dever de ligar os cursos de


graduação a projetos designados para o crescimento e fortalecimento de toda a
sociedade como projeto de extensão e pesquisa, que atendem e ajudam a todos,
porém, como nota-se, cada vez mais as universidades estão ligadas também
aos interesses capitalistas, mais dedicadas ao enriquecimento de grandes
empresas do que a construção de algo para a sociedade.

6 - A educação brasileira, sobretudo na etapa correspondente ao atual


ensino médio, sempre foi caracterizada pela dualidade estrutural. O que
isto significa? Esta questão está superada em nossos dias? Que impactos
a recente reforma, introduzida pela Lei nº 13.415/17, tem na formação
oferecida a estes estudantes? Que interesses representa? Explique.

A dualidade estrutural do novo ensino médio consiste em sua divisão em


duas formas diferentes: o ensino regular e o ensino médio técnico. Em ambos
os casos, disciplinas centradas no estudo da sociedade como Filosofia,
Sociologia, História, etc., perdem sua obrigatoriedade, porém a grande diferença
entre os dois reside na inserção de aulas técnicas, preparatórias para o mercado
de trabalho, ao ensino médio técnico.

Essa divisão contribui para o agravamento da desigualdade social do


país, pois os alunos com condições financeiras inferiores irão, provavelmente,
optar pelo ensino técnico graças à possibilidade de ingressar no mercado
de trabalho logo após o ensino médio. Esses jovens então darão mais
importância aos seus empregos, sem estímulos nem tempo para buscar ingresso
em instituições de ensino superior. O resultado desta escolha será uma vida
fadada a cargos que um curso técnico pode proporcionar, ou seja, cargos com
salários baixos e “inferiores” aos de pessoas que seguiram o ensino superior
após o ensino médio.

Por tanto, o novo ensino médio interessa e favorece apenas aos mais
ricos e governantes que visam o empobrecimento intelectual e financeiro da
população, pois seus filhos serão os que poderão seguir para o ensino superior,
alcançando os cargos mais altos, enquanto os outros serão mão-de-obra barata,
pois graças a não-obrigatoriedade das disciplinas citadas anteriormente, não
serão capazes de questionar seus lugares nessa hierarquia.

7 - A educação na atualidade busca se adequar ao paradigma da escola


para todos, da escola acolhedora de todas as diferenças, sem
discriminação de qualquer tipo. Dê um exemplo na legislação educacional
do Brasil de hoje, da educação que contempla a diferença e explique como
é este atendimento.

O Programa Universidade para Todos (ProUni) é uma iniciativa do


governo que busca facilitar o acesso de estudantes de baixa renda ao ensino
superior. O programa foi criado em 2004 por Fernando Haddad, que era o
ministro da educação, e concede bolsas de estudo integrais e parciais em
instituições privadas de ensino superior.

O ProUni atua como uma legislação educacional voltada para a redução


das desigualdades sociais ao proporcionar oportunidades de educação superior
a estudantes que, de outra forma, não teriam condições financeiras para seguir
seus estudos em instituições privadas. Ele beneficia principalmente aqueles que
concluíram o ensino médio em escolas públicas ou em escolas particulares como
bolsistas integrais.

A partir desta legislação educacional, os estudantes podem concorrer a


bolsas integrais, que cobrem 100% das mensalidades, ou bolsas parciais, que
cobrem 50% das mensalidades. Ou seja, cada vez mais, estudantes de baixa
renda que sonham em ingressar em uma universidade podem realizar este
sonho, ocupando espaços que antes eram limitados apenas à uma classe social
específica. Esta iniciativa do governo, portanto, atua significativamente para a
democratização do acesso ao ensino superior, ajudando a diminuir as
desigualdades educacionais e econômicas no país.
8 - Em que consiste a política de ações afirmativas, quais são os seus
objetivos? Discorra sobre 2 argumentos contrários a essa política e
explicite como Flávia Piovesan os refuta.

As ações afirmativas são medidas destinadas a corrigir desigualdades


sociais históricas e exclusão social enfrentadas por grupos específicos,
promovendo a igualdade de oportunidades e buscando superar as disparidades
econômicas e educacionais entre esses diferentes grupos. Porém existem
opiniões contrárias às ações afirmativas, trazidos por Flávia em seu texto “Ações
Afirmativas, direitos humanos”, como a meritocracia e autonomia universitária e
a “‘racialização’ da sociedade brasileira”, que são contestadas pela própria
autora.

Ao trazer a ideia de autonomia universitária e meritocracia, Flávia discorre


em seu texto sobre como, na verdade, a possibilidade de inserção de mais
pessoas negras nas universidades traria muito enriquecimento à própria
instituição de ensino, uma vez que, a diversidade e a troca entre culturas e
crenças viria apenas acrescentar ainda mais os debates acadêmicos. Quanto à
meritocracia, a autora traz dados, retirados do IPEA, que evidenciam que a
população negra brasileira, além de ocupar apenas 2% das universidades,
representa 64% da população pobre do país. Esses dados apenas evidenciam
que por uma estrutura histórica, visto que o Brasil foi o último país a abolir a
escravidão, esses espaços nunca foram de tão fácil acesso á essa minoria
quando foi desde o princípio aos brancos.

Flávia fala que a ideia de que a inserção de ações afirmativas causará


separação e hostilidade entre negros e brancos é contraditória pois, como no
dado trazido para contestar o argumento anterior, apenas 2% da população
negra ocupa os espaços acadêmicos, portanto esses grupos já estão, ou
continuam sendo segregados socialmente. Para que isso acabe, Flávia defende
que a raça e etnia sejam sim levadas em consideração, porém agora para
favorecer esse grupo.

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