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“CÂMERA ESCONDIDA”
Professora:
Hadija Chalupe da Silva
Alunos:
Alexandre Berçott
Cainã Veiga
João Pedro Friz
Pedro Paulo Santoro
NITERÓI/RJ
2023
CONCEITO DA OBRA AUDIOVISUAL
Outro ponto importante para a estruturação do filme é o som, uma vez que
as personagens são moldadas pelas vozes dos protagonistas — eles, detentores do poder
de contar as histórias daquelas personagens, que, mesmo obviamente falsas, ainda
podem se confundir com o “real” —, fator que implica em uma certa despersonalização
— e também quanto ao coletivo. Essa manipulação do ser e de sua constituição é algo já
explorado bastante na literatura, como em Dom Casmurro, de Machado de Assis, que,
para além do “traiu ou não traiu?”, pode ser enxergado, sobretudo, do ponto de vista do
apagamento da voz de Capitu. Aqui a linguagem trata de silenciar, no sentido literal, as
vozes dessas pessoas, que são substituídas pelas vozes de Caio e Júlia — e a evidente
captação de som de forma não direta. Com essa estrutura de narrativa, as personagens
são transformadas em arquétipos que satisfaçam o olhar do outro, em objetos de desejo
e prazer, onde esse outro detém o poder de seus corpos na realidade fílmica — conceito
de Siegfried Kracauer, que abre margem para as discussões acerca do que é a realidade
e de sua representação na fotografia e no cinema, em consonância, também, com os
estudos e trabalhos de Maya Deren. Com esse poder, as outras personagens somem nas
vozes de Júlia e Caio e quase como que perdem sua existência própria, uma vez que esta
é apropriada por parte dos protagonistas. Ou seja, há uma dissolução dessas pessoas e de
seus corpos nas figuras dos protagonistas, que nunca aparecem — em imagem — no
filme, fator que potencializa esse poder — muito associado, aqui, ao exercício de filmar
o outro, mesmo de modo consensual.