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Resumo: Este trabalho tem o objetivo de analisar a construção de filmes que são baseados em fatos reais,
observando questões pertinentes aos elementos cinematográficos, à espectatorialidade e a forma como se
dá o mecanismo de identificação do público com os personagens ou com a obra fílmica em si.
Trabalhando não só conceitos e definições acerca da cinematografia, mas também ideias filosóficas que
contribuem para a análise fílmica em questão. Apresenta ainda uma análise do filme “Into thle Wild”
(traduzido para o português como “Na Natureza Selvagem), dirigido por Sean Penn, adaptação do livro
homônimo de Jon Krakauer, trabalhando a construção do filme, os elementos utilizados, buscando
reforçar a ideia de que a obra ficcional estruturada com base na realidade, em histórias verídicas, afeta o
espectador de forma diferenciada, gerando uma experiência cinematográfica própria. Trabalha ainda com
o pensamento foulcaultiano com as ideias de resistência, liberdade e subjetividade que podem ser
observadas no filme em questão.
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Trabalho apresentado no GT de ____________________________, integrante do VIII Encontro
Nacional de História da Mídia, 2011.
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Graduada em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda, especialista em
Mercados Emergentes em Comunicação, mestranda em Comunicação e Linguagens pela UTP. Docente
do Departamento de Comunicação Social – UNICENTRO-PR. E-mail: andressarickli@yahoo.com.br
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[...] É a técnica que nos leva para além da semelhança, ao cerne do trompe-
l’oeil da realidade... É preciso que a imagem nos toque por ela mesma, que ela
nos imponha sua ilusão específica, sua língua original, para que algum
conteúdo nos afete. Para que haja transferência afetiva sobre o real, é preciso
haver contratransferência da imagem... É só libertando a imagem do real que
lhe conferimos a sua potência. (p. 143, 148)
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Quando o assunto é cinema não se pode ignorar o fato de que para o espectador
não conta tão somente se o filme é ficção, se é documentário ou se é um híbrido destes
dois gêneros. Há também o prazer em assistir um bom filme, o prazer estético que para
Edgar Morin acontece em função da identificação. Nesse sentido Morin (1956) propõe
que há uma disponibilidade afetiva , que culmina nesse processo de projeção-
identificação advindos do que o autor nomina de “afinidades” entre cinema e magia,
sonho, ilusão. Para ele a identificação constitui a “alma do cinema”, sendo que essa
participação afetiva deve ser considerada “como estado genético e como fundamento
estrutural do cinema”.
Contribui para esta pesquisa também a ideia de Iris Murdoch (1971) sobre o
repertório de experiências não conhecidas do espectador. Segundo a autora, essas
experiências não conhecidas podem ser “vividas” ou experimentadas através da ficção.
Voltando o olhar mais para o “real encenado”, quando da realização de um filme
baseado em acontecimentos, é possível citar Jean Mitry (1963) quando afirma que o
cinema é um dos maiores instrumentos do homem, pois permite ao espectador comparar
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seus modos de ver e avaliar a realidade com os de outras pessoas, projetando novos
significados de volta à realidade, significados esses que necessariamente enriquecem o
mundo em que vivem.
Não se caracteriza aqui a necessidade de analisar tão somente conteúdo, mas
também a forma. Assim como Bordwell (1997) afirma que a forma fílmica é um sistema
geral de relações que percebemos entre os elementos do filme, elementos estes que não
podem ser ignorados em uma análise mais profunda sobre o cinema, pois como evoca o
pensamento deste autor, a forma é central numa obra de arte, uma vez que a experiência
do público com ela segue um padrão e uma estrutura.
protagonista, sobretudo sua irmã, que cumpre a função de situar o telespectador sobre o
perfil de seu irmão, numa forma de mostrar traços de sua personalidade, de relatar
experiências passadas e é através desse histórico construído por essas narrações que a
caracterização dos pais do jovem é feita, fazendo uso do que Jacques Aumont (2003)
diz, quando define a voz “ Como material fônico, a voz caracteriza-se, antes de tudo,
por um timbre, que per mite identificá-la; ela pode ser modulada pela entonação, pela
tônica e pelo ritmo das frases, o que transforma sua expressão de maneira
frequentemente espetacular”.
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Disponível em
http://www.confrariadecinema.com.br/links/filme/into_the_wild/na_natureza_selvagem/na_natureza_selv
agem.jsp
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Esta resistência de que falo não é uma substância. Ela não é anterior ao poder
que ela enfrenta. Ela é coextensiva a ele e absolutamente contemporânea [...]
Para resistir, é preciso que a resistência seja como o poder. Tão inventiva, tão
móvel, tão produtiva quanto ele. (FOUCAULT, 1979, p. 241)
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É nessa possibilidade de liberdade que Chris lança sua perspectiva de vida, seu
ideal, frente a um poder que se exerce e que, através da resistência, possibilita a criação
de algo novo. Nesse sentido contribui os conceitos de Deleuze, quando comenta a
respeito da obra de Foucault sobre essa resistência relacionada com liberdade e vida,
quando diz que:
O que a resistência extrai do velho homem são as forças, como dizia Nietzsche,
de uma vida mais ampla, mais ativa, mais afirmativa, mais rica em
possibilidade. O super-homem nunca quis dizer outra coisa: é dentro do próprio
homem que é preciso libertar a vida, pois o próprio homem é uma maneira de
aprisioná-la. (Deleuze, 1998, p.115)
C O NSI D E R A Ç Õ ES F I N A IS
e estéticos adotados nas obras cinematográficas, não tendo a pretensão de ter, aqui,
esgotado o assunto.
Portanto, se percebe que há a necessidade de buscar dessas fontes a sustentação
para pesquisas que busquem entender como se dá essa disposição emocional do
espectador, que se envolve com a trama, que interpreta, que constrói sentido a partir
dessa realidade, fração de realidade ou “realidade ficcional”.
R E F E R Ê N C I AS
CHATMAN, Seymour. Coming to terms: the rhetoric of narrative in fiction and film.
New York: Cornell University Press, 1990.
MITRY, Jean. The Aesthetics and Psychology of the Cinema. Bloomington: Indiana
University Press, 1997. Tradução de: Esthétique et psychologie du cinéma.
ROSENTHAL, Alan. Why Docudrama? Fact-ficton on film and TV. Southern Illinois
University Press, 1999.
XAVIER, Ismail (Org.). A Experiência do Cinema. Trad. José Lino Grünewald. Rio de
Janeiro: Graal, 1983.
SI T ES
http://www.confrariadecinema.com.br/links/filme/into_the_wild/na_natureza_selvagem/
na_natureza_selvagem.jsp - Acessado em: 05 de março de 2011.