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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA ARTE


FACULDADE DE CINEMA E AUDIOVISUAL

LUCAS GABRIEL SARDO FIGUEIREDO

Ao infinito e além: Como o público adulto interage às histórias


do estúdio Pixar Animation?

BELÉM-PA
2023
LUCAS GABRIEL SARDO FIGUEIREDO

Ao infinito e além: Como o público adulto interage às histórias


do estúdio Pixar Animation?

BELÉM-PA
2023
1. Problematização

O cinema de animação conquista um público favorável nas suas exibições; é


uma técnica de contar histórias que ganhou o seu espaço no cinema popular, sendo
frequentemente recordista de bilheteria e querida pelo público, em especial pelo
infantil, que as grandes produtoras desses filmes visam atingir. No entanto, os filmes
do estúdio Pixar Animation conseguem de alguma forma satisfazer tanto os mais
novos, com suas histórias e personagens engraçados, cativantes e carismáticos,
quanto os mais velhos, que muitas vezes só entram em contato com os filmes
porque levam crianças para assistí-los.
O universo visual e estético proporcionado pelos filmes do estúdio Pixar é de
qualidade e aclamação tanto entre o público que vai às salas de cinema assistir aos
longas, quanto pela equipe técnica e críticos de cinema. Não é à toa que a empresa
foi uma das grandes difusoras da animação 3D e é uma das maiores investidoras
em tecnologias, sempre com o intuito de aperfeiçoar cada vez mais o primor visual.
No entanto, além dessa característica do plano estético presente nas
animações, o trabalho envolto na narrativa e na escolha meticulosa das histórias a
serem contadas talvez seja o ponto principal que destaca os filmes produzidos pela
marca Pixar dos outros estúdios de animação. O teor narrativo é muito importante
para a empresa, e a recepção e compreensão do público de suas histórias são as
preocupações centrais dos produtores e roteiristas. Para Jim Morris, presidente e
produtor dos estúdios Pixar Animation:

“As histórias da Pixar surgem das experiências de vidas das pessoas que
trabalham em nossos filmes e sempre queremos que esses filmes falem
profundamente com nosso público. Para nós, é essencial que nossa própria
equipe represente todo esse público, por isso nos comprometemos a criar
uma Pixar que inclua todos, faça filmes para todos e, esperançosamente,
permita que todos que vão ver um filme da Pixar vejam um pouco de si
mesmos na tela.” (MORRIS, s.p. tradução livre).

Diante disso, as fórmulas dos filmes de animação da Pixar conseguem


prestígio na área de narrativa; são exemplos disso os diversos temas abordados em
seus filmes, como a poluição e o meio ambiente em Wall-e (2008), o luto e a morte
em Up! Altas Aventuras (2009) e Soul (2020), as relações familiares e parentais em
Os Incríveis (2004) e Procurando Nemo (2003) ou as dores do crescimento e o
choque de gerações em Divertida Mente (2016).
Com narrativas mais elaboradas e complexas, utilizando bastante de
metáforas e subtextos, essas produções despertam no jovem adulto sensações que
a criança pode não perceber, pela temática mais madura que torna aquela
experiência uma aventura nostálgica e agradável para os mais velhos, como os
filmes da saga Toy Story (1994-2019).
O estudo busca analisar, através das teorias literárias e narrativas, como os
filmes de animação do estúdio Pixar conseguem fisgar a atenção dos adultos, de
maneira que os filmes produzidos pela marca não atinjam somente um público
específico, mas que rompe as barreiras de classificação indicativa e atraiam o gosto
de qualquer faixa etária.

2. Referencial Teórico

As diferentes maneiras de recepção do público estão presentes em um


capítulo do livro Teoria Literária (1999) de Jonathan Culler, que será usado como
base para o projeto. Em seus textos, Culler organiza os elementos principais de uma
narrativa clássica e como ela pode ter uma diferente perspectiva de acordo com o
público e intenção do narrador. O autor diz que há certos elementos que precisam
estar em uma narrativa, como viradas de situação e uma resolução que traga uma
mudança significativa para a trama, além de personagens que carregam em si um
arco dramático identificável para o público. O autor afirma que:

[...] a narrativa implicitamente constrói um público através daquilo


que sua narração aceita sem discussão e através daquilo que explica. Uma
obra de um outro tempo e lugar geralmente subentende um público que
reconhece certas referências e partilhas certos pressupostos que um leitor
moderno pode não partilhar. (CULLER, p. 88, 1999)

Portanto, usando como parâmetro esse texto, é possível fazer uma


investigação com as estruturas narrativas dos filmes da Pixar, sobretudo
relacionando os personagens com o público, gerando identificação e empatia. Os
personagens dos filmes são adultos,como Joe Gardner em Soul ou Carl Fredricksen
em Up!, ou quando não, são guiados por mentores mais velhos, como Doc Hudson
em Carros (2006) ou Héctor em Viva: A Vida é uma Festa (2017). O fato de um filme
infantil ter importantes personagens adultos, sejam protagonistas ou coadjuvantes,
seria um dos motivos para o público adulto se sentir próximo das animações do
estúdio?
Somado a isso, as estruturas narrativas serem baseadas em um retorno ao
passado, utilizando de artifícios de nostalgia - como o personagem Andy em Toy
Story 3 (2010) ou a construção de mundo em Red: Crescer é uma Fera (2022) -
seriam a chave principal de envolver ainda mais o público adulto em suas histórias?
Culler, em seus textos, reflete bastante sobre a quem as narrativas vão ser
dirigidas; por isso, o autor será útil para analisar por que as narrativas da Pixar têm a
capacidade de atrair diversos espectadores. Dependendo do público receptor, os
entendimentos e pressupostos serão diferentes, a interpretação de pequenos
detalhes e subtextos vão ser totalmente pessoais e relacionados com as
experiências e vivências de cada um, mas, ainda assim, certos vieses se repetem de
acordo com a faixa etária do público.

3. Objetivos e procedimentos
3.1 Procedimentos

Para esse estudo, serão analisados todos os filmes, sejam eles curta ou longa
metragens, dos estúdios de animação Pixar. De preferência, a análise será feita de
acordo com a sua ordem de lançamento, começando pelo primogênito Toy Story
(1994) até o lançamento mais atual Elementos (2023), além de fazer uma varredura
entre a equipe técnica, como diretores e roteiristas que trabalharam nos mesmos
projetos. Tais procedimentos serão necessários para verificar seus temas e
relacionar aqueles que mais se assemelham e conversam entre si, além de criar um
entendimento sobre a visão autoral dos cineastas.
Para exemplificar, o diretor Pete Docter sempre apresenta em seus filmes
temas difíceis de lidar que fazem parte da vida humana, tratando-os como
oportunidades de amadurecimento e crescimento, inspirando o público a lidar com
eles de cabeça erguida. Tanto Up!, quanto Divertida Mente e Soul criam um laço de
relação e identificação ao falarem de problemas que todo ser humano vai passar.
Essas abordagens, embora frequentemente passam despercebidas pelas crianças,
distraídas pelos efeitos visuais, falam intimamente ao público adulto. Ao assistir aos
filmes, poderá ser percebido um parâmetro maior da intensidade narrativa e como
ela se faz presente de forma sucinta na história, para que o público infantil se divirta
e compreenda a camada mais superficial e objetiva do filme, e que o público jovem e
adulto perceba que de alguma maneira aquela história também pode se conectar
com ele, e que o espectador pode aprender algo e tirar bons frutos daquele
momento de lazer.
Além disso, será primordial para a investigação a consulta bibliográfica de
livros, teses e artigos que tratem da questão narrativa, como o já citado Teoria
Literária de Jonathan Culler.. As narrativas podem ter seus direcionamentos e sua
linguagem distinta para grupos de espectadores diferentes, por isso, também serão
úteis os textos de Umberto Eco no livro Lector in Fabula (2002), no qual afirma que a
interpretação e o sentido de uma narrativa depende fortemente do leitor: “Um texto
postula o próprio destinatário como condição indispensável não só da própria
capacidade concreta de comunicação, mas também da própria potencialidade
significativa” (ECO, 2002, p.37). Então, para que uma narrativa faça sentido, é
necessário atribuir sentido a ela; e tal atividade varia de acordo com a vivência de
cada pessoa e de cada grupo social. Dito isso, é como se os filmes Pixar utilizassem
narrativas mistas; uma que conversa facilmente com a criança, que fará com que ela
compreenda o que está sendo mostrado e outra que se comunica com o adulto,
considerando que este tem ideias que ainda não existem na criança, adicionando
uma camada mais complexa de interpretação.
Esses temas mais complexos são diretamente abordados; o fato de eles
passarem “despercebidos” pela criança, ou melhor, de eles não terem na criança o
mesmo impacto que têm nos adultos, não significa que esses temas estão implícitos,
mas que os temas estão envoltos em outras ferramentas cinematográficas – como a
animação divertida e os personagens engraçados e caricatos.

3.2 Objetivos

A pesquisa tem como objetivo geral analisar e compreender quais os métodos


utilizados nos processos de escrita e narrativa dos filmes de animação da Pixar que
são capazes de captar a atenção e o gosto de uma parcela de espectadores que
não são tão adeptos ao cinema animado; e de que maneira esses filmes feitos para
o público infantil se comunicam de modo tão intrínseco com os mais velhos.
Para os objetivos específicos deste projeto de pesquisa, há o intuito de:
- Identificar as linhas narrativas nos subtextos da trama de determinados
filmes.
- Evidenciar quais caminhos essas produções da empresa utilizam para
se tornar um produto identificável para qualquer faixa etária.
- Verificar como o sentimento de nostalgia e retorno à infância é
introduzido nos filmes da Pixar, e como surte efeito nos espectadores
mais velhos.
REFERÊNCIAS

CULLER, Jonathan. Teoria Literária: Uma Introdução. São Paulo: Beca


Produções Culturais Ltda., 1999.
CARROS. Direção: John Lasseter. Pixar Animation Studios: Estados Unidos:
Walt Disney Pictures, 2006. 116 min. Streaming.
DIVERTIDA MENTE. Direção: Pete Docter. Pixar Animation Studios: Estados
Unidos: Walt Disney Pictures, 2015. 94 min. Streaming.
ECO, Umberto. Lector In Fabula. 2º edição. São Paulo: Editora Perspectiva,
2011.
FERREIRA, Luciana Fagundes Braga. A narrativa cinematográfica
alegórica simbólica no cinema de animação. Dissertação (Pós -
Graduação). Escola de Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo
Horizonte, 216 p. 2007.
LIMA, Felipe Souza Gomes. Os cativantes personagens da Pixar: Um
estudo sobre as técnicas de desenvolvimento de personagens dentro da Pixar
Animation Studios. Monografia (Graduação em Cinema e Audiovisual).
Universidade Federal Fluminense. Niterói, 81 p. 2017.
OS INCRÍVEIS. Direção: Brad Bird. Pixar Animation Studios: Estados Unidos:
Walt Disney Pictures, 2004. 115 min. Streaming.
PIXAR. Pixar: Leadership. Página Inicial. Disponível em:
<https://www.pixar.com/leadership#morris>. Acesso em: 17 de junho de 2023.
PIXAR. Pixar: Feature Films. Página inicial. Disponível em:
<https://www.pixar.com/feature-films-launch/>. Acesso em 24 de junho de
2023.
PROCURANDO NEMO. Direção: Andrew Stanton. Pixar Animation Studios:
Estados Unidos: Walt Disney Pictures, 2003. 101 min. Streaming.
RED: Crescer é uma Fera. Direção: Domee Shi. Pixar Animation Studios:
Estados Unidos: Walt Disney Pictures, 2022. 100 min. Streaming.
SOUL. Direção: Pete Docter. Pixar Animation Studios: Estados Unidos: Walt
Disney Pictures, 2020. 100 min. Streaming.
TOY STORY. Direção: John Lasseter. Pixar Animation Studios: Estados
Unidos: Walt Disney Pictures, 1994. 81 min. Streaming.
TOY STORY 2. Direção: John Lasseter. Pixar Animation Studios: Estados
Unidos: Walt Disney Pictures, 1999. 95 min. Streaming.
TOY STORY 3. Direção: Lee Unkrich. Pixar Animation Studios: Estados
Unidos: Walt Disney Pictures, 2010. 103 min. Streaming.
UP! Altas Aventuras. Direção: Pete Docter. Pixar Animation Studios: Estados
Unidos: Walt Disney Pictures, 2009. 96 min. Streaming.
VIVA: A vida é uma Festa. Direção: Lee Unkrich. Pixar Animation Studios:
Estados Unidos: Walt Disney Pictures, 2017. 104 min. Streaming.
WALL-E. Direção: Andrew Stanton. Pixar Animation Studios: Estados Unidos:
Walt Disney Pictures, 2008. 98 min. Streaming.

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