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POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS

ACADEMIA DE POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS

A MEDIAÇÃO DE CONFLITOS E A PRÁTICA POLICIAL


NO AMBIENTE ESCOLAR

Administração: Dra. Yukari Miyata


Belo Horizonte - 2023
A MEDIAÇÃO DE CONFLITOS E A PRÁTICA POLICIAL NO AMBIENTE
ESCOLAR

Coordenação-Geral
Yukari Miyata

Subcoordenador-Geral
Marcelo Carvalho Ferreira

Coordenação Psicopedagógica
Rita Rosa Nobre Mizerani

Conteudistas:
Pedro Ribeiro de Oliveira Sousa
Eduardo Vieira Figueiredo
Diego Almeida Lopes Mendonça

Revisão e Edição:
Divisão Psicopedagógica - Academia de Polícia Civil de Minas Gerais

Reprodução Proibida
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 4

PARTE 1 ............................................................................................................ 7

2 JUSTIÇA RESTAURATIVA E PREVENÇÃO CRIMINAL – UM APARTE


NECESSÁRIO PARA A COMPREENSÃO DAS RAÍZES DA MEDIAÇÃO ...... 7
2.1 AS PRÁTICAS RESTAURATIVAS NO AMBIENTE ESCOLAR ............. 12

3 MEDIAÇÃO DE CONFLITOS E PRÁTICAS RESTAURATIVAS (MECON) 14


3.1 GESTÃO DE CONFLITO ....................................................................... 15
3.2 CAUSAS DE CONFLITO ....................................................................... 15
3.3 CONTRATOS PSICOLÓGICOS ............................................................ 17
3.4 ABORDAGEM POSITIVA DO CONFLITO............................................. 18
3.5 CONTEÚDOS DO CONFLITO .............................................................. 19

4 FORMAS DE RESOLUÇÃO (COMPOSIÇÃO) DOS CONFLITOS ............. 20

5 CONCEITOS DE MEDIAÇÃO ..................................................................... 24

6 PRINCÍPIOS DA MEDIAÇÃO ...................................................................... 25

7 CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE MEDIAÇÃO ............................. 27

8 OBJETIVOS DA MEDIAÇÃO ...................................................................... 28

9 MODELOS DE MEDIAÇÃO......................................................................... 30
9.1 MEDIAÇÃO SATISFATIVA OU TRADICIONAL .................................... 30
9.2 MEDIAÇÃO CIRCULAR-NARRATIVA ................................................... 32
9.3 MEDIAÇÃO TRANSFORMATIVA .......................................................... 32

10 O MEDIADOR .............................................................................................. 37

11 TIPOS E TÉCNICAS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS .............................. 41


11.1 ALGUNS TIPOS DE MEDIAÇÃO ........................................................ 41
11.2 TÉCNICAS DE MEDIAÇÃO ................................................................. 42
11.2.1 Escuta ativa .................................................................................. 42
11.2.2 Perguntas abertas e fechadas ...................................................... 43
11.2.3 Perguntas diretas e indiretas ........................................................ 43
11.2.4 Perguntas informativas e recontextualizantes .............................. 43
11.2.5 Perguntas circulares e de responsabilização ............................... 44
11.2.6 Perguntas voltadas para o futuro .................................................. 44
11.2.7 Resumos ...................................................................................... 45
11.2.8 Pausas técnicas............................................................................ 46
11.2.9 Caucus (entrevistas individuais) ................................................... 46

12 ETAPAS DA MEDIAÇÃO ............................................................................ 48


12.1 A PRÉ-MEDIAÇÃO.............................................................................. 50
12.2 ABERTURA ......................................................................................... 51
12.3 ENTREVISTAS INDIVIDUAIS ............................................................. 52
12.4 A AGENDA .......................................................................................... 54
12.5 CRIAÇÃO DE OPÇÕES OU BRAINSTORMING SESSION ................ 55
12.2.1 Separando o ato criativo do ato crítico .................................... 55
12.2.2 Procurando por ganhos mútuos ............................................... 56
12.6 AVALIAÇÃO E ESCOLHA DAS OPÇÕES .......................................... 57
12.7 SOLUÇÃO OU ACORDO .................................................................... 58

13 BREVES CONCLUSÕES ............................................................................ 60

ANEXO I: CONTEXTUALIZAÇÃO DOS PROJETOS DE POLÍCIA


COMUNITÁRIA E NÚCLEOS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS NO ÂMBITO DA
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE MINAS GERAIS ......................................... 61

ANEXO II A MEDIAÇÃO DE CONFLITOS COMO PRÁTICA DE POLÍCIA


JUDICIÁRIA EM MINAS GERAIS: MEDIAR – HISTÓRICO E RESULTADOS . 68

ANEXO III: DIRETRIZES PARA FUNCIONAMENTO DOS NÚCLEOS MEDIAR


– EXEMPLO DE REGULAMENTO A SER USADO NO ÂMBITO ESCOLAR... 86

PARTE 2 .......................................................................................................... 90

14 PRÁTICA POLICIAL NO AMBIENTE ESCOLAR ....................................... 90

15 O SISTEMA DE EDUCAÇÃO NO ACOLHIMENTO DA CRIANÇA OU


ADOLESCENTE VÍTIMA DE VIOLÊNCIA EXTERNA ..................................... 92
15.1 FLUXO DE ATENDIMENTO A CRIANÇA E ADOLESCENTE VÍTIMA OU
TESTEMUNHA DE VIOLÊNCIA ................................................................... 95
15.2 OS CRIMES MAIS PRATICADOS CONTRA A CRIANÇA E
ADOLESCENTE ........................................................................................... 97

16 ATUAÇÃO DO SISTEMA DE EDUCAÇÃO NA VIOLÊNCIA ESCOLAR


INTERNA ....................................................................................................... 100
16.1 BULLYING COMO ATO INFRACIONAL ............................................. 102
16.2 ATOS INFRACIONAIS: VIAS DE FATO, LESÃO CORPORAL E RIXA103
16.3 ATO INFRACIONAL EM RAZÃO DO USO DE ARMA........................ 103
16.4 ATO INFRACIONAL ENVOLVENDO DROGAS ................................. 104
16.5 AMEAÇA À ESCOLA .......................................................................... 105

REFERÊNCIAS.............................................................................................. 106
1 INTRODUÇÃO

O ambiente escolar é multifacetado e se funda em diversos pilares: no aspecto


dos corpos docente e discente, que vão guiar os valores a serem reproduzidos,
questionar ou reforçar as estruturas de poder e, eventualmente, buscar avanços
sociais; na comunidade em que a escola está inserida, que pode ter participação ativa
ou passiva diante dos desafios locais; no espaço físico, traduzido pela infraestrutura
e pelo projeto arquitetônico capaz de favorecer mais ou menos a integração ou,
mesmo, no espaço virtual, que mais modernamente tem preenchido lacunas e
ampliado os horizontes de aprendizagem, sendo que a substância que conecta todos
esses aspectos é a convivência interpessoal, ou seja, a conexão e as relações
formadas entre as pessoas.
O espaço escolar, além de um ambiente de instrução (formal e informal), é um
lugar de interação inevitável e essencial entre os diversos atores que o compõem. Por
certo, é desejável que a atmosfera tenha um clima favorável à aprendizagem, projeto
pedagógico de qualidade, professores bem treinados e bem remunerados, atividades
extracurriculares, uso de tecnologia e presença da família em todo o processo. Ocorre
que, permeando todos esses meandros, os intercâmbios entre os indivíduos geram,
além de inúmeros ganhos coletivos, muitos atritos que precisam ser geridos,
preferencialmente, naquele próprio ecossistema.
Válido pontuar, por oportuno, que no aspecto policial uma forma de abordagem
estratégica, largamente utilizada entre os países economicamente desenvolvidos,
principalmente por apresentarem resultados comprovadamente mais eficazes que o
policiamento tradicional na redução dos indicadores de criminalidade, é o policiamento
comunitário. Antes, porém, de ser um mero modelo de atuação, o policiamento
comunitário é uma filosofia de trabalho que visa reorganizar os sistemas de segurança
pública com metodologias de aproximação com a comunidade.
A principal inovação que a polícia comunitária traz é o reconhecimento da
imprescindibilidade da participação da sociedade na preservação da ordem
pública com foco na determinação de questões locais relevantes e na consecução
das alternativas de solução. Constata-se, portanto, a extensão do papel do cidadão no
provimento da segurança geral por meio do trabalho conjunto com a polícia na
identificação dos problemas considerados mais urgentes em cada comunidade e na
busca por estratégias que se mostrem mais eficazes para resolvê-los.
4
Em razão, inclusive, da inevitável conexão entre a filosofia da polícia
comunitária e os meios alternativos de solução de conflitos, durante todo o trabalho,
é feita uma ponte entre a atuação da Polícia Civil e as práticas restaurativas com o fim
de facilitar o entendimento da matéria e inspirar as atuações dentro da Secretaria de
Estado de Educação de Minas Gerais e de outros órgãos que eventualmente possam
se favorecer deste curso.
Nessa esteira, vislumbra-se que a comunidade escolar, que é composta pelo
grupo interno de professores, diretores, alunos e funcionários em geral, e pelo grupo
externo de família, congregações religiosas, estado etc., em muito pode se beneficiar
dos citados mecanismos restaurativos, notadamente, a prática da mediação.
O objetivo central da primeira parte do presente curso é apresentar a mediação
como forma pacífica e extrajudicial de manejo dos conflitos em geral, incluindo-se aí
os escolares, para munir o corpo docente de estratégias já provadas que têm o condão
de:
a) Reduzir a adversidade perniciosa naquele espaço (perniciosa, pois a
contraposição saudável e construtiva deve ser encorajada);
b) Prevenir a escalada dos problemas interpessoais em atos de intimidação e
de violência material;
c) Resolver problemas no seu nascedouro sem a intervenção de outras
instituições ou forças;
d) Criar, em primeira e em última análise, um ambiente de paz em que as
potencialidades de todos os atores possam ser desenvolvidas ao máximo.
Merece registro que este programa não busca necessariamente formar
mediadores, embora este curso seja um primeiro passo importante para a habilitação
de tais profissionais. Ocorre que a formação complementar se faz necessária, com
especial foco nas atividades práticas de preparação, tais como simulações e
acompanhamento de mediações reais. De qualquer maneira, busca-se fornecer
panoramas metodológico, teórico e prático sobre tal método, que poderão inspirar a
implantação de núcleos nas escolas ou práticas afins de solução alternativa e pacífica
de problemas locais.
Em um segundo momento, dada a impossibilidade de se resolverem todas as
questões com o uso do diálogo e da reinterpretação positiva da realidade, serão
apresentados alguns aspectos da prática, no âmbito da Polícia Civil de Minas Gerais,
no que se refere às principais situações de tensão e violências intra e extraescolares
5
que possam impactar o ambiente de aprendizagem, os enquadramentos legais, os
encaminhamentos devidos e as medidas cabíveis no viés judicial.
De qualquer modo, deseja-se que os gestores, professores e demais
colaboradores possam compreender a importância de se pensar além do sistema
tradicional de solução de problemas e de se buscar inovações nos processos internos
com a finalidade de que sejam criados ambientes de verdadeira tranquilidade e
colaboração mútua.

6
PARTE 1

2 JUSTIÇA RESTAURATIVA E PREVENÇÃO CRIMINAL – UM APARTE


NECESSÁRIO PARA A COMPREENSÃO DAS RAÍZES DA MEDIAÇÃO

Para se entender a lógica da mediação e poder aplicá-la em outros âmbitos, é


preciso aprender a ideia da Justiça Restaurativa, que pode ser entendida como um
movimento mundial de ampliação de acesso à justiça criminal recriado nas décadas
de 1970 e 1980 nos Estados Unidos e na Europa. Esse movimento inspirou-se em
antigas tradições pautadas em diálogos pacificadores e construtores de consenso
oriundos de culturas africanas e das primeiras nações oriundas do Canadá e da Nova
Zelândia (ALMEIDA, s/d, p. 01).
Um processo restaurativo significa qualquer processo no qual a vítima, o
ofensor e/ou qualquer indivíduo ou comunidade afetada por um crime participem
juntos e ativamente da resolução das questões advindas do crime, sendo
frequentemente auxiliados por um terceiro investido de credibilidade e imparcialidade.
Ao conceituar Justiça Restaurativa assevera Renato Sócrates Gomes Pinto
(2005, p. 20):

A Justiça Restaurativa baseia-se num procedimento de consenso, em que a


vítima e o infrator, e, quando apropriado, outras pessoas ou membros da
comunidade afetados pelo crime, como sujeitos centrais, participam coletiva
e ativamente na construção de soluções para a cura das feridas, dos traumas
e perdas causados pelo crime.
Trata-se de um processo estritamente voluntário, relativamente informal, a ter
lugar preferencialmente em espaços comunitários, sem o peso e o ritual
solene da arquitetura do cenário judiciário, intervindo um ou mais mediadores
ou facilitadores, e podendo ser utilizadas técnicas de mediação, conciliação
e transação para se alcançar o resultado restaurativo, ou seja, um acordo
objetivando suprir as necessidades individuais e coletivas das partes e se
lograr a reintegração social da vítima e do infrator.

O contraponto da Justiça Restaurativa é o modelo tradicional de Justiça


Retributiva, que foca na constatação da violação ao ordenamento, na culpa daquele
que pratica o delito e na fixação da pena. Por outro lado, na concepção restaurativa
pretende-se reestabelecer, na medida do possível, o status quo ante, o diálogo, a
reparação do dano, restaurando a relação que ficou estremecida entre as partes,
promovendo de fato a composição do conflito e a pacificação social.
Estes escritos não têm por escopo desconstruir o modelo retributivo, pois a
concepção tradicional de Justiça Penal trata-se de um mal necessário, orientada por
7
princípios constitucionais de proteção do indivíduo e destinada a graves e relevantes
lesões de bens jurídicos. O direito penal, em uma concepção retributiva, deve sempre
atuar de forma subsidiária e de ultima ratio (a intervenção do Estado na liberdade do
indivíduo só pode ocorrer nas hipóteses de graves lesões a esses bens vitais para a
convivência pacífica da sociedade).
Na busca de soluções alternativas para a resolução dos conflitos na esfera
penal, especialmente para os delitos de menor potencial ofensivo e os atos
infracionais assemelhados (no caso das infrações perpetradas por menores de 18
anos), pode-se agir com maior flexibilidade e humanização, tendo-se a ideia de Justiça
Restaurativa.
Para além das exigências legais que implicam a participação da vítima (oitiva,
encaminhamento para realização de exames periciais, intimação da sentença,
intimação de cumprimento da pena), é preciso dar a oportunidade para que ela (a
vítima) expresse e valide sua raiva, seu medo e sua dor para fazer do processo
restaurativo uma experiência de justiça (que não se deve confundir com vingança).
Essas respostas permitirão dar início ao processo de recuperação que pode
ser longo, pode até não ressarcir suas perdas materiais, nem aplacar seu luto pela
dor física ou perdas, mas poderá transformar aqueles sentimentos em necessidade
de seguir adiante com alguma sensação de segurança e justiça.
Em termos gerais, o sistema tradicional (no viés estritamente retributivo), na
prática, desencoraja a conciliação em sentido lato e não incentiva o encontro pessoal
entre as partes que, por vezes, são representadas por advogados que formulam seus
pedidos e defesas perante o juiz, o qual decide a lide e impõe sua decisão para
cumprimento.
Por vezes a sentença/decisão judicial não atinge o real interesse do
jurisdicionado, pois abrange apenas as questões juridicamente tuteladas e não seus
interesses reais. O que é tratado no processo judicial nem sempre abarca os fatores
sociais que envolvem o conflito e que são importantes para sua resolução efetiva. É
isso, inclusive, o que difere a lide sociológica (alcançada pelos métodos
autocompositivos) da lide processual (mais restrita e contemplada pela sentença
judicial).
A Justiça Restaurativa é um procedimento que prioriza o diálogo entre os
envolvidos na relação conflituosa e os terceiros atingidos, para que eles construam,
de forma conjunta e voluntária, a(s) solução(ões) mais adequada(s) para a resolução
dos conflitos vivenciados.
8
Os estudiosos Paul Maccold e Ted Wachtel (2003) argumentam que o
postulado fundamental da Justiça Restaurativa é de que o crime causa danos às
pessoas e aos relacionamentos e que a justiça exige que o dano seja reduzido ao
mínimo possível. Dessa premissa basilar, nascem os seguintes questionamentos-
chave:
a) Quem foi prejudicado?
b) Quais as suas necessidades? e
c) Como atender a essas necessidades?
Em suas reflexões, tais autores argumentam (McCOLD; WACHTEL, 2003):

A justiça restaurativa é um processo colaborativo que envolve aqueles


afetados mais diretamente por um crime, chamados de “partes interessadas
principais”, para determinar qual a melhor forma de reparar o dano causado
pela transgressão. (...)
Crimes causam danos a pessoas e relacionamentos. A justiça requer que o
dano seja reparado ao máximo. A justiça restaurativa não é feita porque é
merecida e sim porque é necessária. A justiça restaurativa é conseguida
idealmente através de um processo cooperativo que envolve todas as partes
interessadas principais na determinação da melhor solução para reparar o
dano causado pela transgressão. (...)
Um sistema de justiça penal que simplesmente pune os transgressores e
desconsidera as vítimas não leva em consideração as necessidades
emocionais e sociais daqueles afetados por um crime. Em um mundo onde
as pessoas sentem-se cada vez mais alienadas, a justiça restaurativa procura
restaurar sentimentos e relacionamentos positivos. O sistema de justiça
restaurativa tem como objetivo não apenas reduzir a criminalidade, mas
também o impacto dos crimes sobre os cidadãos. A capacidade da justiça
restaurativa de preencher essas necessidades emocionais e de
relacionamento é o ponto chave para a obtenção e manutenção de uma
sociedade civil saudável.

Feitas essas ponderações o modelo de Justiça Restaurativa trabalha


precipuamente em três dimensões: a) da vítima; b) do ofensor e c) da comunidade.
Na dimensão da vítima, a Justiça Restaurativa procura buscar o seu
empoderamento, na medida em que o conflito compromete o sentido de autonomia.
No sistema tradicional, a vítima é vista apenas como objeto de prova, quando,
em verdade, é a principal atingida pelo conflito (crime) e deveria participar ativamente
de sua resolução. A Justiça Restaurativa oportuniza à vítima essa participação e o
conhecimento das medidas que estão sendo adotadas para reparar o mal sofrido.
Essa dimensão (a da vítima) é essencial no processo restaurativo, ainda que ocorra
de maneira indireta ou simbólica (exemplo: homicídio culposo de trânsito, em que a
vítima é representada pela família).

9
Lado outro, na dimensão do ofensor, busca-se incutir nele o senso de
responsabilização, para que compreenda efetivamente as consequências da sua
conduta e o mal causado e contribua, conscientemente, com a construção de
mecanismos para a reparação desse mal. O agressor, em geral, não se sente
responsável pelo dano quando é condenado a repará-lo por meio de uma decisão
verticalizada. Muitas vezes, sente-se vítima da sociedade quando é condenado a
reparar o dano e não percebe que a sua reparação é uma forma de amenizar o mal.
Trabalha-se também com o ofensor o sentido de pertencimento: para que se sinta
responsável pela resolução do conflito, ele deve se sentir parte da comunidade que
desestruturou com a sua conduta. Assim como a vítima, a presença do ofensor
também pode ser indireta ou simbólica (exemplo: falecimento no curso do processo).
Em terceiro lugar, a dimensão da comunidade (ou dimensão comunitária)
pretende resgatar e fortalecer o senso de coletividade e o sentimento de
corresponsabilidade, no estabelecimento de inter-relações horizontais. Em grande
parte das relações conflituosas, a comunidade na qual a vítima e o ofensor pertencem
é atingida pelo conflito e deve ter a prerrogativa de colaborar na restauração dos
interessados. A participação ativa da comunidade diminui a sensação de impunidade,
que, muitas vezes, decorre do desconhecimento do processo e das medidas
aplicadas. O sentimento de inoperância do Estado leva as pessoas a quererem fazer
“justiça com as próprias mãos”.
Noutro pórtico, a Justiça Restaurativa é sustentada por diversos princípios,
dentre os quais destacam-se os da voluntariedade, do consenso e da
confidencialidade:
a) Princípio da Voluntariedade: a Justiça Restaurativa apenas pode ser
aplicada com a anuência expressa dos interessados, a qual inclusive pode ser retirada
a qualquer tempo durante o procedimento. Na busca do diálogo e da compreensão,
os interessados devem ser esclarecidos sobre seus direitos, vantagens e
consequências, para que, então, com o devido conhecimento, sintam-se preparados
para optar pelas práticas restaurativas e pela construção conjunta da solução para o
conflito;
b) Princípio do Consenso: a Justiça Restaurativa visa à construção conjunta
de um ajustamento entre os sujeitos envolvidos no conflito. Para que haja esse
ajustamento, todos devem estar cientes e de acordo com seus direitos e obrigações.
O consenso aqui tratado não se refere ao acordo eventualmente firmado entre os
10
interessados para a resolução do conflito, mas sim quanto à participação e à condução
da prática. Deve ter uma característica integrativa;
c) Princípio da Confidencialidade: todas as situações vivenciadas são
acobertadas pela confidencialidade e, consequentemente, não poderão – caso não
haja ajustamento entre as partes – serem utilizadas como prova processual. A
confidencialidade é essencial para que os interessados se sintam confiantes para
exporem suas experiências, seus sentimentos e como a relação conflituosa afetou
suas vidas. A regra da confidencialidade é mitigada por autorização expressa das
partes ou violação às leis vigentes.
Compreendidos os princípios e as dimensões da Justiça Restaurativa, cumpre
estabelecer sua finalidade. O principal objetivo da Justiça Restaurativa é restaurar os
envolvidos no conflito e a relação quebrada por ele. Busca-se, por meio do diálogo
entre os interessados, compreensões mútuas e comprometimento, conferir maior
dignidade e consciência de seu papel na sociedade. Como consequência – e não
objetivo – da restauração dos interessados, está a reparação do dano à vítima e a
recuperação social do ofensor.
Existem vários métodos (ou técnicas) para concretização da Justiça
Restaurativa, como por exemplo, a mediação de conflitos, as conferências familiares,
os círculos de pacificação, a constelação familiar e outros. Assim, não ficam dúvidas
de que são variadas as práticas restaurativas.
A Polícia Civil do Estado de Minas optou por iniciar a implementação desse
modelo de justiça no ano de 2006, por meio do programa/projeto de mediação de
conflitos denominado MEDIAR. A mediação de conflitos desenvolvida pela Polícia
Civil tem como escopo a busca por uma forma amigável e colaborativa de resolução
de controvérsias e novos canais de inter-relacionamento e confiança entre a Polícia e
a comunidade, atendendo principalmente às demandas tipificadas como crimes de
menor potencial ofensivo (de acordo com a Lei nº 9.099/1995) e em casos em que os
demandantes apresentam relação continuada1.

1 Como uma primeira noção de mediação pode-se dizer que, além de método, é arte e técnica de
resolução de conflitos intermediada por um terceiro mediador (agente público ou privado) – que tem
por objetivo solucionar pacificamente as divergências entre pessoas, fortalecendo suas relações (no
mínimo, sem qualquer desgaste ou com o menor desgaste possível), preservando os laços de
confiança e os compromissos recíprocos que os vinculam. A mediação, pode-se assim dizer, é uma
das ferramentas de fortalecimento do modelo de policiamento comunitário (filosofia que busca
aproximar o Estado da sociedade) e, por consequência, de ruptura com a atuação policial típica de
regimes autoritários e de distanciamento da comunidade. Trata-se de um importante instrumento de
prevenção à manutenção da ordem social e de minimização de conflitos que, não tratados a tempo,
11
A Justiça Restaurativa pode ser aplicada potencialmente em todas as
demandas, porém a pertinência de sua aplicação deve ser analisada no caso
concreto. Sua aplicação se dará com a utilização de técnicas, processos e métodos
adequados para a resolução de conflitos nos âmbitos criminal, cível, familiar, infância
e adolescência, execução penal, júri ou em quaisquer outras áreas do direito quando
vislumbrada a existência de relações continuadas, de vários vínculos, comunitárias,
interpessoais, interinstitucionais, dentre outras.
Por fim, a Justiça Restaurativa não pretende competir com as várias formas
tradicionais de aplicação do direito, havendo casos que não comportam práticas
restaurativas. Nessas situações, a solução tradicional (retributiva) deve
invariavelmente ser aplicada.

2.1 AS PRÁTICAS RESTAURATIVAS NO AMBIENTE ESCOLAR

A partir da leitura do capítulo anterior, verifica-se que a mediação ou qualquer


outra prática restaurativa precisa ser adaptada ao ambiente escolar. Isso se dá
especialmente em razão das peculiaridades próprias de um espaço de formação, tais
como: a existência de seres humanos com desenvolvimento mental incompleto; a
menoridade constitucional; a diferença de tratamento jurídico entre criança e
adolescente; a possível prática de ato infracional (e não crime, de forma técnica); da
existência de bullying e cyberbullying como práticas atuais e mesmo das dúvidas
acerca dos limites de atuação dos educadores.
Não obstante, as premissas da justiça restaurativa devem permanecer, como
por exemplo: o foco no diálogo; a (re)apropriação do conflito por parte dos
interessados; a existência de terceiros imparciais que possam nortear os
procedimentos; a criação de consciência e de responsabilização de quem é o pretenso
ofensor; o empoderamento da pretensa vítima; o fortalecimento do senso de
coletividade; e a busca por soluções que não sejam meramente verticalizadas e
punitivas, mas sim horizontalizadas e participativas.

podem produzir resultados nefastos e configurar outra sorte de problemas, os quais poderão
desembocar na polícia civil ou no judiciário. Desse modo, o estudo da Mediação de Conflitos, como
método alternativo (e autocompositivo) de solução de conflitos (MASC’s), deve trilhar,
necessariamente, as veredas do Policiamento Comunitário e da Justiça Restaurativa.
12
Merece menção ainda que as relações no ambiente escolar são normalmente
de caráter continuado, ou seja, prolongam-se no tempo, o que promove a maior
existência de conflitos e, consequentemente, um campo fértil para a atuação das
diversas formas não tradicionais de solução de demandas, tal qual a mediação, a
conciliação, entre outras.
Ademais, alerta-se que as menções genéricas a “crimes” ao longo do texto
sejam compreendidas também no prisma de “atos infracionais”, conforme acima
destacado por rigor técnico.
Compreendidos, pois, o histórico, os pontos de contato e de descolamento
entre a atuação policial e a escolar, bem como as premissas da Justiça Restaurativa,
propõe-se inevitavelmente o avanço no estudo da matéria.

13
3 MEDIAÇÃO DE CONFLITOS E PRÁTICAS RESTAURATIVAS (MECON)

Contextualmente, grande parte dos conflitos do dia a dia não constituem fato
típico criminal. São conflitos interpessoais que podem resultar em questões de
segurança pública por talvez não terem sido suficientemente trabalhados em razão do
despreparo dos envolvidos ao atuarem nesses contextos. Tais situações, muitas
vezes, levam à sensação de impunidade e à reincidência de condutas, resultando no
sentimento de descrédito da população com relação aos serviços públicos prestados
e na insatisfação, do outro lado da moeda, dos seus prestadores, sejam policiais ou
educadores.
Os meios de resolução pacífica de conflitos e a própria ideia de polícia
comunitária surgem, por um prisma, como um instrumental de auxílio na intervenção
das polícias em momentos em que o confronto não se faça necessário e, por outro
lado, surge como uma forma de integração das ações comunitárias, dos gestores
públicos e dos operadores do direito. Além disso, propiciam o exercício da cidadania
ativa à comunidade, à medida que ela atua na solução dos conflitos interpessoais em
seu nascedouro, evitando a eclosão de episódios de violência e de crime.
A mediação deve ser entendida, nesse contexto, como instrumento para
tratamento de conflitos interpessoais quando as partes podem atuar diretamente na
solução, o que difere da arbitragem e do provimento jurisdicional, porque o mediador
não decide pelas partes, como acontece nas decisões do árbitro e do juiz. A mediação
também se distancia da conciliação porque trabalha mais profundamente os conflitos
interpessoais e não as disputas, não direcionando, não aconselhando, nem sugerindo
saídas.
Existem 03 situações para a aplicação da Mediação de Conflitos:
➢ Conflitos Interpessoais;
➢ Conflitos Interpessoais em contexto de violência;
➢ Conflitos interpessoais em contexto de crime.
Assim, a mediação é uma forma de administração pacífica de conflitos por
intermédio de um terceiro, estranho ao conflito, que atuará como uma espécie de
“catalisador”, e não interferirá na decisão final das partes que o escolheram. A
mediação, portanto, visa à facilitação, por meio de um terceiro imparcial, para que as
partes cheguem a um resultado final construído por elas.

14
3.1 GESTÃO DE CONFLITO

Conflitos representam as dificuldades dos seres em lidar com as diferenças nas


relações e diálogos, associado a um sentimento de impossibilidade de coexistência
de interesses, necessidades e pontos de vista. Os conflitos fazem parte da vida de
todos, podendo estar expressos em opiniões, desejos, atitudes ou ideias. Logo, como
não é possível erradicá-los, eles devem ser socialmente dirimidos.
Naturalmente, os motivos e as condições dos conflitos aumentam em
complexidade ao longo da vida. Conforme Fisher, Patton e Ury (1994, p.15), “o conflito
é uma indústria em crescimento”.
Afinal, o conflito constitui a fonte que alimenta a energia transformadora, que
enseja mudança. O conflito é a antítese da estagnação! Não se trata, pois, de
neutralizá-lo, mas de compreendê-lo como parte integrante das condições de
existência. A direção correta, portanto, quando se trata de conflito, é gestão.
A gestão do conflito é a aplicação de um conjunto de estratégias capazes de
identificá-lo, compreendê-lo, interpretá-lo e utilizá-lo para benefício da “homeostase
dinâmica” (um estado de equilíbrio adaptável) de cada indivíduo, das famílias, dos
grupos sociais, das organizações e, enfim, da sociedade.

3.2 CAUSAS DE CONFLITO

Mudança é toda e qualquer modificação da realidade. Não há conflito sem


mudança. A completa paralisação elimina o conflito, mas também, em última instância,
a vida. Diferentes elementos podem estar envolvidos em uma mudança e,
dependendo de quais são eles e das características pessoais dos envolvidos,
indicarão qual a natureza do conflito. Esses elementos podem ser:
a) Bens, compreendendo patrimônio, direitos, haveres pessoais etc.;
b) Princípios, valores e crenças de qualquer natureza, inclusive políticas,
religiosas, científicas etc.;
c) Poder, em suas diferentes acepções;
d) Relacionamentos interpessoais.
Efetivamente, mais de um desses elementos se encontram normalmente
presentes em um conflito, porque os acontecimentos não são estanques: o exercício
15
do poder inclui a luta pela posse de bens, envolve valores pessoais e coletivos e se
manifesta por meio de relacionamentos interpessoais.
No mínimo, em uma situação de conflito, compreende-se tradicionalmente que
alguém tem que mudar e que alguém deverá pagar um preço por essa mudança: o
que terá de ser modificado, qual deve ser esse preço, como e quando deve ser pago,
são questões cruciais que precisam ser esclarecidas, compreendidas e resolvidas.
A mudança, entretanto, assinala Acland (1993, p.120), origina-se na mente de
uma das pessoas e repercute na mente de outras. Não se podem controlar as mentes,
as percepções que elas originam, mas é possível controlar os processos por meio dos
quais as pessoas tomam contato com as proposições de mudanças.
Portanto, não se trata de impedir os conflitos. A questão é gerenciar os conflitos
por meio do gerenciamento das mudanças.
No campo da mediação, entende-se por conflito, segundo Suares(2002,p.78):

(...) um processo interacional que se dá entre duas ou mais partes, em que


predominam as relações antagônicas, nas quais as pessoas intervêm como
seres totais com suas ações, pensamento, afetos e discursos, que algumas
vezes, mas não necessariamente, podem ser processos conflitivos
agressivos, que se caracteriza por ser um processo co-construído pelas
partes e que pode ser conduzido por elas ou por um terceiro.

Entendendo-se o conflito como um processo, compreende-se que, à medida


que ele evolui e se consolida por meio de múltiplas interações entre as partes, pode
ocorrer um agravamento gradativo, fazendo com que as partes terminem aprisionadas
pelo conflito engendrado por elas mesmas.
Suares (op.cit. p.74) também alerta que, “muitas vezes, o termo ‘conflito’ é
associado a agressão” e que, “sem dúvida, nem todo conflito é agressivo”, embora
seja “uma incompatibilidade entre duas partes(...), uma interação que prima o
antagonismo”.
A mediação possui potencial especial para os conflitos oriundos de relações
continuadas ou cuja continuação seja importante, como as relações familiares ou de
vizinhança, porque permitirá o restabelecimento ou aprimoramento dessas interações.
Nesses casos, a mediação possibilita a compreensão do conflito pelas partes,
para que possam melhor administrá-lo e evitar novos desentendimentos no futuro.
O ser humano sempre esteve e estará em conflito, sendo que a humanidade,
não raras vezes, buscou solucionar seus conflitos utilizando-se da guerra ao diálogo.

16
Mas, o que é o conflito? Segundo Coser, referendado por Moore (1998, p. 29),
os conflitos envolvem lutas entre duas ou mais pessoas com relação a valores ou
competição por status, poder ou recursos escassos. Os mediadores intervêm em
conflitos que diferem segundo seu grau de ordem, as atividades das partes e a
intensidade da expressão das preocupações e das emoções.

3.3 CONTRATOS PSICOLÓGICOS

Antes de entendermos as fases dos conflitos, faz-se necessário abordar sobre


os contratos psicológicos que se constroem muitas vezes sobre expectativas tácitas,
conscientes ou inconscientes que ocorrem nas relações interpessoais. Essas
expectativas dizem respeito sobre o que as pessoas esperam uma das outras na
condução de uma relação, seja essa relação afetiva, de trabalho, familiar, dentre outras.
Segundo Neto (2007, p. 27), a violação nos contratos psicológicos constitui um
conflito comum, já que com o tempo ocorrem mudanças nas expectativas e nos
interesses das pessoas e das organizações. Vale ressaltar que o contrato psicológico,
mesmo quando não explícito, constitui grande fator de influência no comportamento
das pessoas. Para este autor:

A mudança é a causa raiz de todos os conflitos, sejam familiares,


organizacionais, (...). Quando alguém intervém em um sistema, que pode ser
desde um indivíduo até uma sociedade completa, surge uma mudança e em
consequência dela algum tipo de conflito.

Os tipos de conflitos existentes são:


a) o conflito latente, caracterizado por forças implícitas que não foram
reveladas de forma plena e não chegaram a um conflito polarizado (exemplo:
mudanças nos relacionamentos pessoais em que uma parte não tem consciência da
seriedade da discórdia ocorrida, tal como a perspectiva do cônjuge sair de casa);
b) o conflito emergente, que é quando a disputa em que as partes são
identificadas é reconhecida e muitas questões estão claras, entretanto não ocorreu
uma negociação cooperativa ou um processo de resolução de problemas. Tem,
portanto, potencial para crescer (exemplo: disputas entre colegas de trabalho, em que,
ambas as partes reconhecem que há uma disputa, havendo troca áspera de palavras,
mas nenhuma das duas sabe como resolver o problema, que é adiado);

17
c) o conflito manifesto, que é aquele em que as partes envolvidas em uma
disputa ativa e contínua começaram a negociar, mas chegaram a um impasse.
Nos três tipos de conflito, o mediador pode ser chamado a auxiliar os
participantes a identificarem as pessoas que serão afetadas por uma mudança e a
desenvolverem um processo de educação mútua em torno das questões e interesses
envolvidos; a estabelecer o processo de negociação e comunicação e, ainda, a mudar
o procedimento que ora tenha se iniciado por conta dos participantes ou por intermédio
de outro profissional (MOORE, 1998, p. 29 e30).
Em uma classificação sobre os tipos de conflitos, leciona Braga Neto:
a) intrapessoal: é o conflito entre a razão e a emoção, que se dá por meio da
estruturação do sujeito, seus mecanismos de defesa, seus valores e desejos;
b) interpessoal: ocorre de forma comum entre pais, filhos, casais, ambiente de
trabalho, dentre outras relações. São desencadeados frequentemente por influência
dos conflitos intrapessoais;
c) intragrupais: a competição é característica marcante desses conflitos.
Surgem por pessoas que compõem um mesmo grupo, geralmente membros de uma
família, ou trabalhadores de uma empresa;
d) intergrupais: acontecem entre grupos diferentes que, ao se relacionarem,
demonstram posições contrárias, ou então se dão a partir de recursos ou
oportunidades distribuídas de forma desigual na comunidade, gerando discórdia e
competição. Exemplos são os conflitos entre as comunidades e os conflitos
internacionais.

3.4 ABORDAGEM POSITIVA DO CONFLITO

Entre as possíveis vantagens de um conflito, destacam-se:


a) Oportunidade de mudança;
b) Autoconhecimento;
c) Gerar novas ideias;
d) Crescimento pessoal;
e) Investimento no laço relacional;
f) Estabelecer e comprovar os limites entre o possível e o não possível;
g) Busca da resolução de um problema.

18
3.5 CONTEÚDOS DO CONFLITO

Distinguem-se dois tipos básicos de conteúdos de um conflito:


a) O conteúdo manifesto ou posição: aquilo que os participantes de um
conflito manifestam como demanda; e
b) O conteúdo real ou interesse/necessidade: aquilo que motiva as posições
do indivíduo (participante). São as demandas implícitas.
Como se observa, o conteúdo manifesto não se confunde com o conteúdo real
do conflito. Alguns exemplos tornam clara essa diferença:
Exemplo 1: A mãe ou pai que luta pela guarda de um filho (posição) pode estar
de fato interessada (o) no bem-estar da criança – este seria o real interesse. A guarda
poderia ser apenas o meio para atingi-lo.
Exemplo 2: O empregado que luta para obter maior salário (posição) pode
estar, de fato, preocupado em manter seu poder aquisitivo para assegurar que os
filhos continuem a estudar em escola de bom nível (interesse).
Dessarte, para o mediador, é extremamente importante identificar o conflito
manifesto, que é aberto ou explícito, e o conflito real, que (geralmente) é implícito,
oculto ou negado.
Nesta senda assevera Vezzulla (1994, p. 24):

É fundamental para um mediador ter absolutamente clara essa diferença,


pois, normalmente, a escalada de violência, a confusão dos reais interesses
de cada parte, e a confusão entre os verdadeiros problemas e as pessoas
entre as quais esses problemas existem, contêm sempre distorções
originadas na falta de comunicação ou por falhas na escassa comunicação
existente entre as partes. Por isso é importante que o mediador domine os
conceitos da teoria da comunicação e saiba da importância da clareza na
emissão da mensagem e as dificuldades que o ser humano tem de escutar
mensagens tal como foram emitidas.

19
4 FORMAS DE RESOLUÇÃO (COMPOSIÇÃO) DOS CONFLITOS

A gestão de conflitos interpessoais, que podem ser tratados com o auxílio da


Lógica, da História, da Psicologia, da Sociologia e do Direito, não é uma atribuição
exclusiva do Estado. Entretanto, num primeiro momento, a decisão de se delegar para
um terceiro a solução de um conflito parecia ser a maneira mais tranquila e eficaz de
solução dos problemas. Tal qual as crianças fazem com os pais na disputa por uma
bola, o estado – representado pelo Judiciário, pela Polícia ou mesmo pelo sistema
educacional – era, e ainda é visto, como o grande pai que solucionará as disputas que
versam sobre grandes brinquedos.
Contudo, com o passar do tempo, a aparente facilidade na delegação de
problemas a terceiros passou a ser um incômodo, pois a visão de mundo desses
terceiros não é necessariamente a mesma das partes e o tempo dos processos e
inquéritos não é o da vida real.
Atualmente, tem lugar a sensação de impunidade, reincidências, sentimento de
ineficácia dos serviços públicos, sobrecarga de seus prestadores. Como romper esse
ciclo?
Diante dessa realidade e da necessidade de que as controvérsias fossem
resolvidas de forma mais rápida, com a participação das partes e com resultados
satisfatórios para elas, novos métodos foram progressivamente construídos pela
humanidade, ora destinados à administração de conflitos.
Os métodos de resolução de conflitos são, muitas vezes, denominados “meios
de resolução alternativa de disputas” (RAD’s), mas com base na Lei nº 13.140/2015,
será utilizada a denominação de Métodos Autocompositivos para Solução de Conflitos
por meio dos MASC’s (Meios Adequados de Solução de Conflitos) que podem ser
conciliação, mediação e negociação – em contraposição aos métodos
heterocompositivos – via judicial e arbitragem.
O termo autocomposição se refere ao fato de que os métodos utilizados
auxiliam as partes a comporem as pretensões para a solução do conflito. Já a
heterocomposição indica que há a figura de um terceiro imparcial, com autoridade
para impor uma solução para as partes.
Os MASC’s (Meios Adequados de Solução de Conflitos) não devem ser
encarados numa dimensão privatista, substitutiva do Judiciário, nem tampouco como
terapia ou política pública, devotados a resolverem o déficit judiciário pelo lado da
20
demanda. A finalidade dos MASC’s não é diminuir o número de processos! Isso até
pode acontecer, mas o seu alcance é muito mais relevante.
A resolução de conflitos na via judicial relaciona-se à garantia constitucional de
toda pessoa pedir ao Estado, por meio do poder judiciário, que analise o caso concreto
e aplique a norma abstrata (a lei) com o objetivo de sanar ou evitar uma lesão a direito.
Desse modo, a função do juiz é, em linhas gerais, julgar de acordo com o que diz a
lei.
Já a arbitragem é o método pelo qual duas ou mais pessoas (físicas ou
jurídicas) recorrem, de comum acordo, a um terceiro conhecido como árbitro, que irá
intervir no conflito, decidindo-o. O árbitro geralmente é um técnico ou especialista no
assunto. A função do árbitro nomeado é conduzir o processo arbitral de forma
semelhante ao judicial. A decisão arbitral equivale à sentença judicial, ou seja, se não
for respeitada por alguma das partes, poderá ser levada ao judiciário, que irá obrigar
seu cumprimento.
Como visto acima, são métodos autocompositivos: a negociação, a conciliação
e a mediação.
A negociação caracteriza-se por ser uma forma conjunta de se solucionar os
conflitos. Nela, são as próprias partes envolvidas na disputa que tentam chegar a um
acordo. Sem formalidades, as partes tentam solucionar os problemas, barganham e
compõem seus interesses, buscando a solução que melhor lhes convier. Lembrando
que as técnicas de negociação podem ser utilizadas em quaisquer formas de
resolução de conflitos.
Negociar faz parte das nossas relações humanas. Negociar, ainda que sem o
rigor e a sofisticação de técnicas destinadas a otimizar os seus resultados, constitui
expressão cotidiana das relações interpessoais que, de modo pacífico, busca a
composição das pretensões e expectativas de todos nós. A negociação pode ser
conceituada como a arte da persuasão.
O sucesso numa negociação contribui para:
(i) A conduta assertiva das partes;
(ii) O equilíbrio entre emoção e razão;
(iii) A visão do problema pela ótica do oponente ou da outra parte;
(iv) A obtenção do máximo de informações sobre o tema e o contexto do
conflito; e
(v) A confiabilidade do processo.
21
A negociação pode ocorrer isolada, anteriormente ou durante a utilização de
outros meios de resolução de conflitos. Os agentes ativos ou negociadores podem ser
as próprias partes, alguém em seu nome, com ou sem um terceiro facilitador. Na
negociação existem algumas etapas que podem ser seguidas, mas que não
necessitam ser encaradas de forma rígida, sendo apenas um norte para a
sistematização do processo. São elas:
(i) Preparação/ abertura;
(ii) Exploração;
(iii) Clarificação;
(iv) Ação final; e
(v) Avaliação.
Como estratégia, considera-se desejável que o negociador identifique o
objetivo da negociação, separe as pessoas do problema, busque e se concentre nos
interesses das partes e explore alternativas de ganhos mútuos, fixando previamente
prazos e critérios para avaliação. O negociador deverá:
(i) Ter foco na disputa; e
(ii) Operar por critérios de resultado objetivo.
Noutro pórtico, a conciliação é o método pelo qual as partes submetem seu
conflito à administração de um terceiro imparcial. A função do conciliador é aproximar
as partes, aparando arestas, sugerindo e formulando propostas de acordo e apontado
as vantagens e desvantagens de cada ponto apresentado pelas partes. Não se deve
confundir conciliação com acordo entre duas partes, nem com o seu sentido literal de
harmonização de litigantes ou pessoas desavindas que fazem as pazes, nem
tampouco com a negociação. A conciliação é pontual e trabalha na superfície do
problema. Não objetiva uma melhora na qualidade da relação das partes e tem suas
próprias características. Cuida-se de um meio de administração pacífica da disputa
por um terceiro, o conciliador, que tem a prerrogativa técnica de intervir e sugerir um
possível acordo, após uma criteriosa avaliação das vantagens e desvantagens que
sua proposição traria às partes.
Esse instrumento pode ser indicado nos casos em que os envolvidos não se
conheçam, não tenham relações continuadas ou, se as têm, quando não há
possibilidade de uma intervenção mais aprofundada para administração do conflito.
Exemplos típicos são as conciliações judiciais nos Juízos Trabalhistas ou nos
Juizados Especiais Cíveis e Penais (Lei nº 9.099/1995).
22
Por ser objeto principal da disciplina, a mediação de conflitos será estudada
mais a fundo nos tópicos a seguir.

23
5 CONCEITOS DE MEDIAÇÃO

A mediação de conflitos possui várias definições, correntes e teóricos


comprometidos em estudá-la. Para Moore (1998), a mediação é o aperfeiçoamento
do processo de negociação envolvendo a interferência aceita de uma terceira parte
que tem poder limitado e não autoritário, auxiliando as demais partes a chegarem a
um acordo aceitável e voluntário.
Segundo Riskin (2001), a mediação é uma negociação facilitada onde um
terceiro imparcial auxilia as partes a resolverem o conflito ou a planejarem uma
transação. A mediação é um processo autocompositivo que possui três características
fundamentais: voluntariedade, intervenção de um terceiro e sujeitabilidade aos
resultados. Nessas bases, o mediador deve ter neutralidade (diz respeito ao
relacionamento e comportamento entre mediador e participantes) e imparcialidade
(diz respeito à ausência de tendência ou preferência do mediador a favor de um
participante em desfavor do outro).
De acordo com Six (2001, pág. 287), a mediação de conflitos é um
procedimento facultativo que requer o acordo livre e expresso das pessoas envolvidas
de se engajarem em uma ação (a “mediação”) com a ajuda de um terceiro
independente e neutro (o “mediador”), especialmente formado na matéria.
Para Vezzula (1995, pág. 15), a mediação é uma técnica de resolução de
conflitos não adversarial que, sem imposições de sentenças ou laudos e através de
um profissional, mediador, devidamente formado, ajuda as partes em disputa a
encontrarem seus verdadeiros interesses e preservá-los num acordo criativo onde as
duas partes saem vitoriosas.
A mediação de conflitos é um instrumento que favorece a apropriação de
direitos, de acesso a bens e serviços, de inclusão, de fortalecimento e de valorização
de comunidades que se utilizam desta metodologia.

24
6 PRINCÍPIOS DA MEDIAÇÃO

Segundo Neto (2009), são princípios da mediação de conflitos:


a) Princípio da informalidade: O procedimento da mediação é flexível,
extrajudicial, atende as peculiaridades de cada caso e respeita a manifestação da
vontade dos mediados. De acordo com Sales (2003), se for a vontade dos mediados,
os acordos podem adquirir validade jurídica, podendo ser homologados,
transformados em títulos públicos executivos extrajudiciais, ou objetos contratuais;
b) Princípio da imparcialidade (“multiparcial”): o mediador é passivo-ativo,
na medida em que é imparcial, mas catalisa e torna possível ocorrer o processo da
mediação. É imperioso ao mediador que seja dispensado tratamento igual aos
participantes, propiciando-lhes espaço comum e seguro para que os sujeitos da
mediação deliberem acerca da resolução das questões que se apresentam;
c) Autonomia das partes (empoderamento): os mediados têm o poder de
decisão sobre a questão conflituosa, sendo que o acordo não precisa ser a melhor
saída jurídica, mas sim a opção mais adequada eleita pelos envolvidos dentro de uma
lógica de respeito básico aos direitos e garantias postas;
d) Mediador capacitado: o mediador deve ter a capacidade de entender a
dinâmica do conflito, de ser hábil na comunicação, dentre outras competências, sendo
imprescindível que tenha formação técnica.
Além desses, são princípios que fundamentam a mediação de conflitos:
a) Princípio da voluntariedade: sujeitabilidade ao processo autocompositivo:
os participantes fazem a escolha de serem mediados. Caracteriza-se como um
princípio de liberdade, pelo poder de escolherem o meio pelo qual querem resolver o
conflito, e pela decisão sobre a sua resolução. A voluntariedade indica que as partes
não são obrigadas a participar da mediação e são livres para resolver por si mesmas
o conflito em que se envolveram e, consequentemente, não são submetidas a
qualquer tipo de coação ou ameaça;
b) Princípio da confidencialidade: a mediação fundamenta-se na confiança
e o processo é sigiloso. O mediador não deve, fora as possibilidades legais, revelar
fatos que a ele tenham sido informados durante a mediação sem a prévia consulta e
autorização das pessoas envolvidas. Outrossim, o mediador não poderá atuar como
árbitro nem funcionar como testemunha em processos judiciais ou arbitrais pertinentes
a conflito em que tenha atuado como mediador (art. 7º, da Lei nº 13.140/2005);
25
c) Princípio da não-adversariedade: denota que a mediação não comporta
sentimentos de luta, desafio, disputa ou rivalidade, mas cooperação, visando ao
mútuo benefício.

26
7 CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE MEDIAÇÃO

➢ Processo participativo e flexível;


➢ Propõe-se a devolver às pessoas o controle sobre o conflito;
➢ Trabalha a comunicação e o relacionamento das partes;
➢ Trabalha, parte a parte, o problema a ser resolvido pelos próprios envolvidos
(protagonismo);
➢ É confidencial;
➢ Não existe julgamento ou oferta de soluções. As saídas são encontradas em
conjunto pelas partes;
➢ Constitui instrumento formado por técnicas que independem da formação
universitária do mediador, mas que impõe capacitação específica;
➢ Sua aplicação tem se demonstrado relevante em conflitos escolares, familiares,
empresariais, na área penal, nas relações de trabalho, em comunidades, entre
outras.

27
8 OBJETIVOS DA MEDIAÇÃO

O objetivo de se mediar é, acima de tudo, a constituição de capital social para


a minimização de situações de risco e de violência em segmentos populacionais
excluídos. Segundo conclusões da Conferência Regional sobre Capital Social y
Pobreza2, o conceito de capital social seria o conjunto de normas e instituições que
promovem a confiança e a cooperação entre as pessoas, as comunidades e a
sociedade em seu conjunto.
Segundo a tradução e a leitura feita pela professora Miracy Gustin do
documento-síntese da Conferência, são apresentadas quatro utilidades da construção
de capital social e que contribuem para um conjunto de benefícios, sendo eles:
a) Reduz os custos de transação, ao reduzir ou evitar a necessidade de se
firmar contratos, controlar fraudes e os altos custos dos pleitos judiciais;
b) Produz bens públicos ou benefícios para o conjunto da sociedade;
c) Facilita a constituição de organizações produtivas e de gestão efetiva de
base: empresas associativas de todos os tipos;
d) Facilita o surgimento de novos atores sociais e de sociedades civis
saudáveis, nos níveis dos sistemas nacionais. Indiretamente, este processo de
empoderamento é um elemento chave para a superação da pobreza material (CEPAL,
Capital Social, p. 2 apud GUSTIN, 2006, p.16).
Por meio da metodologia da mediação de conflitos com enfoque em uma maior
organização e autonomia social, onde se busca também a prevenção criminal, a
efetivação de direitos, exercício de deveres, resgate dos direitos humanos, combate
à exclusão e à diminuição de risco social, além da pacificação social, poderíamos nos
aproximar efetivamente do estado democrático de direito.
Formar mediadores é um ato de se promover cultura da paz, é multiplicar ações
que favoreçam uma melhor qualidade de vida para a comunidade em que se está
inserido. É um ato de conter a violência que existe diante do conflito, utilizando-se do
diálogo como instrumento transformador, não do conflito, e sim de pessoas.
O papel dos operadores do sistema de defesa social, nesse contexto, é de agir
preventivamente, de forma proativa, antecipando-se aos fatos. Eis o porquê da Polícia
Comunitária, e outras ações similares, enquanto política oficial e ferramenta

2 Disponível em https://repositorio.cepal.org/handle/11362/33039 - Acesso em 13/04/2023.


28
estratégica de prevenção, de mobilização social e promoção da harmonia social. Esta
filosofia é uma resposta, um passo à frente das mazelas sociais que solapam os
valores morais de cidadania e assolam as nossas comunidades.
Percebe-se uma grande singularidade na realização da mediação de conflitos
pela PCMG, haja vista não estar, simplesmente, realizando o procedimento, por si só,
mas em uma prática restaurativa, capitaneada pelo Estado, e validada por uma
Instituição Pública, moldada em uma cultura, até então, eminentemente repressiva.
Dessa feita, tem-se não só a fixação da metodologia a ser observada pelos
mediadores no âmbito da PCMG, mas também de quaisquer servidores que se
prestem a realizar essas importantes funções em seus locais de trabalho,
notadamente nos ambientes escolares. Tem-se como certo que a atividade de
mediação nesses ambientes afeta não só o corpo estudantil, mas também a
comunidade que orbita aquele local de educação, resultando em legitimação e
proximidade com o público, bem como em mecanismos eficientes e eficazes de
prevenção da violência e da criminalidade.

29
9 MODELOS DE MEDIAÇÃO

Segundo Sampaio e Neto (2007, pág. 21 e 22), a natureza do conflito e a


capacitação do mediador definem os diferentes estilos de prática da mediação. Assim,
temos o modelo tradicional, que tem como foco o acordo e a satisfação individual
das partes; o modelo transformativo, fundamentado na teoria sistêmica, que busca
antes a transformação das pessoas, a revalorização pessoal e o reconhecimento da
legitimidade do outro (o acordo é apenas consequência); e o modelo circular-
narrativo, que se fundamenta na comunicação e causalidade circular, cuidando-se
dos vínculos e fomentando a reflexão a fim de resultar em uma história colaborativa.
O MEDIAR, da Polícia Civil de Minas Gerais, por exemplo, metodologicamente
adota o modelo de Mediação Transformativa. É necessário conhecer os diferentes
modelos para verificar qual irá se adequar melhor à realidade local.

9.1 MEDIAÇÃO SATISFATIVA OU TRADICIONAL

Segundo Fisher, Ury e Patton3 (1994, pág. 33-113 apud Vasconcellos, 2008,
pág. 73), a prática da mediação, em sua versão moderna, seguiu, inicialmente, os
preceitos da negociação cooperativa baseada em princípios, desenvolvida pela
Escola de Harvard. Ali foram elaborados conceitos e procedimentos, por exemplo,
sobre:
1) “posição” (atitude polarizada e explícita dos disputantes) e “interesses”
(subjacentes e comuns, embora contraditórios ou antagônicos, a serem identificados);
2) técnicas de criação de opções para a satisfação dos interesses identificados;
3) a necessidade de observação dos dados de realidade ou padrões técnicos,
éticos, jurídicos ou econômicos;
4) a importância de separar o conflito subjetivo (relação interpessoal) do conflito
objetivo (questões concretas).
Esses conceitos eram aplicados enquanto técnicas de negociação, priorizando-
se o conflito objetivo ou o problema concreto, com vistas ao acordo negociado. De
acordo com Vasconcellos (2008, pág. 74), esses procedimentos e técnicas,

3FISHER, Roger; URY, William; PATTON, Bruce. Como chegar ao sim. A negociação de acordos sem
concessões (Projeto de Negociação da Harvard Law School). Rio de Janeiro: Imago.
30
desenvolvidos a partir dos anos cinquenta do século passado, destinaram-se,
inicialmente, a contribuir para a superação dos impasses nas negociações da Guerra
Fria entre Estados Unidos e antiga União Soviética. Foram utilizados conceitos de
psicanálise e linguística sobre comunicação e construção do discurso, para uma
melhor compreensão do manifesto e do subjacente.
Ainda de acordo com Vasconcellos (2008, pág.74), a negociação, em seu
sentido técnico, deve estar baseada no princípio da cooperação, pois não tem por
objetivo eliminar, excluir ou derrotar a outra parte. Nesse sentido, ela adota, conforme
a natureza da relação interpessoal, um modelo integrativo ou um modelo distributivo.
O modelo integrativo é aquele adotado nas parcerias, alianças, relações de
interdependência, em que manter ou conseguir um relacionamento de longa duração
é importante (busca-se ampliar, expandir, o campo reconhecido como de interesses
comuns). O modelo distributivo é o adotado nas negociações episódicas, sem
perspectiva de geração de rede ou parcerias, alianças, relações de interdependência
etc. (busca-se dividir ou trocar entre as partes o campo de interesses em disputa).
A mediação seria um terceiro modelo de negociação cooperativa, denominada
negociação com apoio em terceiros, onde se busca em um terceiro, o mediador de
confiança, que possa facilitar uma solução. Na negociação integrativa se prioriza a
análise de problemas e oportunidades para a tomada de decisão. É uma negociação
que tem a característica de um planejamento compartilhado. Na negociação
distributiva os interesses comuns estão subjacentes.
As técnicas de negociação adotadas na mediação satisfativa, segundo
Vasconcellos (2008, pág. 75-78), são:

a) Separar as pessoas do problema;


b) Concentrar-se nos interesses, e não nas posições;
c) Identificar opções de ganhos mútuos;
d) Insistir em critérios objetivos;
e) Conhecer as suas chances de retirada.

A mediação satisfativa adotou todas essas técnicas desenvolvidas pela Escola


de Harvard. Esse modelo focado no acordo e baseado em princípios inspira o
andamento processual de outros modelos, inclusive modelos focados na relação.
Assim, a mediação satisfativa, em seu andamento processual, é paradigma para os
demais modelos de mediação.

31
9.2 MEDIAÇÃO CIRCULAR-NARRATIVA

O modelo foi desenvolvido por Sara Cobb e se trata de todo um processo


criativo decorrente da agregação ao modelo satisfativo ou tradicional, de Harvard, da
contribuição da teoria geral dos sistemas, muito especialmente da terapia familiar
sistêmica, da cibernética, da teoria do observador, da teoria da comunicação, da teoria
da narrativa etc. Nesse modelo, a obtenção do acordo deixa de ser o objetivo
prioritário para se tornar uma possível consequência do processo circular-narrativo.
Parte-se do reconhecimento da importância da arte da conversa, o que nos
possibilita adquirir outros aprendizados e a desenvolver nossa própria arte de
conversar com outros seres humanos. A mediação é concebida como um processo
dialógico que se dá na comunicação. O único material com que se conta neste tipo de
mediação é com o processo conversacional.
Assim, conforme refere Marinés Soares4 (2005, p. 241-242 apud Vasconcellos,
2008, p.81), nossa tarefa como mediadores é “1) desestabilizar as histórias; 2)
possibilitar que se construam novas histórias”.
É nesse sentido que devem ser aplicadas as técnicas, sempre com a
perspectiva de que é mais importante a sua assimilação pelos mediados do que a sua
mera aplicação. De que adianta uma reformulação, uma conotação positiva, se estas
forem rechaçadas pelos mediados?
Ainda de acordo com Soares (Idem, ibidem, pág. 244-304), o conjunto de
técnicas utilizadas no modelo circular-narrativo engloba as microtécnicas (aplicadas
sobre o aspecto inicial das narrativas), as minitécnicas (aplicadas sobre
desdobramentos mais amplos das narrativas, mas ainda não sobre a sua totalidade),
as técnicas propriamente ditas (que permitem a construção da história alternativa
desestabilizadora das histórias prévias) e as macrotécnicas (confluência de todas as
técnicas no encontro de mediação).

9.3 MEDIAÇÃO TRANSFORMATIVA

A mediação transformativa foi buscar nas experiências anteriores alguns dos


seus procedimentos. Na transição para a mediação transformativa deve ser

4SOARES, Marinés. Mediación: conducción de disputas, comunicación y técnicas. 1. ed. 5.reimp.


Buenos Aires: Paidós, 2005.
32
considerada a importante contribuição da mediação sistêmica, que teve seu maior
desenvolvimento na área dos conflitos familiares, a partir da terapia sistêmica de
família ou de casais, conforme se refere Vezzulla5 (2006, p. 87 apud Vasconcellos,
2008, p. 85).
A contribuição mais notável desse modelo se deu em matéria de comunicação,
com a adoção de técnicas para aperfeiçoar a escuta do mediador, a investigação e,
especialmente, o uso da reformulação, por meio da paráfrase e dos questionamentos,
bem como a adoção de resumos que auxiliam o aprimoramento da comunicação e a
modificação dos pontos de vista dos participantes sobre as questões objeto do
conflito. Ela acolhe, portanto, técnicas da mediação satisfativa, aspectos da terapia
sistêmica de família e os elementos do paradigma da ciência contemporânea, tais
como a complexidade, a instabilidade e a intersubjetividade. Reforça a importância da
pré-mediação e dos conceitos e procedimentos em torno de posições, escutas,
questionamentos, apropriações, prevalência do aspecto intersubjetivo do conflito,
resumos, integrações, interesses, opções, dados de realidade e acordos subjacentes.
O modelo de mediação transformativa, desenvolvido por Bush e Folger6 (1996
apud COSTA, 2010, p. 234), busca o crescimento moral dos participantes do processo
de mediação por duas vias: na capacitação, ou seja, no autorreforço que ocorre
quando os participantes se conscientizam de seus próprios objetivos, interesses,
opções e recursos, na sua capacidade para organizar e apresentar argumentos e na
sua capacidade de tomada de decisão consciente; e segundo, no empowerment7
conjugado com o reconhecimento da situação e do outro ou livre reinterpretação da
sua ação. Para Bush e Folger, a mediação transformadora alinha- se com a
emergência de um novo paradigma da sociedade, o mundo relacional, que apela para
o desenvolvimento integrado de dois importantes valores humanos: o
autoatendimento e a empatia.

5 VEZZULLA, Juan Carlos. Mediação de conflitos com adolescentes autores de ato infracional.
Florianópolis: Habitus, 2006.
6 BUSH, R. A. Baruch e FOLGER, Joseph P. La promesa de mediación: cómo afrontar el conflicto

mediante la revalorización y el reconocimiento. Buenos Aires: Granica, 1996.


7 O termo empowerment deve ser entendido aqui, deixando-se de lado as discussões do ponto de vista

linguístico e de classe, como um processo dinâmico onde o sujeito, a partir de suas ações, é parte de
um processo em permanente construção. Empoderar significa muito mais do que “transferir” ou “tomar
posse” de elementos que permitam a estes transitar nos meandros decisórios de sua coletividade, mas
sim, fornecer subsídios a estes para que possam se tornar cidadãos críticos e conscientes de sua
posição enquanto indivíduo histórico, liberto dos diversos tipos de desigualdade. A este respeito,
conferir BAQUERO, 2005.
33
Ainda de acordo com COSTA (2010, p. 234), na medida em que a mediação
de conflitos promove um diálogo voluntário por meio do qual os participantes têm a
possibilidade de compreender as razões do outro e da própria origem do conflito, abre-
se um espaço de reconhecimento mútuo, ao mesmo tempo em que permite
compreender a estrutura desigual e injusta, a qual, muitas vezes, estão ambos
submetidos. Essa percepção pode conduzir a uma igualdade de direitos e deveres
sociais, que se constrói dialeticamente no processo de comunicação não violenta e,
consequentemente, gera a prevenção à violência, à criminalidade e aos processos de
vitimização.
Dentro deste modelo, complementar à visão de Bush e Folger, encontra-se a
perspectiva desenvolvida por Lederach (2003), denominada de Teoria da
Transformação do Conflito, que descreve essa transformação como uma lente e uma
estratégia para abordar o conflito. De acordo com Lederach8 (apud SALES, 2010, p.
12), a transformação de conflitos é mais do que um conjunto de técnicas específicas.
É uma proposta diferente de observação dos fatos a partir de diversas lentes para se
compreender o conflito no âmbito individual e social. Primeiro, são usadas as lentes
para examinar a situação imediata; em seguida, outras lentes são utilizadas para ver
o passado dos problemas imediatos e os padrões das relações que demarcam o
conflito (avaliação aprofundada da situação vivida); e, por último, é utilizada a lente
para encontrar um marco de convergência com o qual se possa criar uma base de
atuação para que os indivíduos envolvidos possam discutir o conteúdo, o contexto e
as estruturas das relações de forma cooperativa - aqui eles começam a buscar
respostas ou soluções criativas (COSTA, 2010, p. 235).
O conceito da transformação de conflitos, de Lederach, compreende a evolução
dos conflitos sociais a partir de mudanças na dimensão pessoal, relacional, estrutural
e cultural da experiência humana. O objetivo é promover processos construtivos de
cada uma dessas dimensões.
Mas como podemos transformar os conflitos? Segundo Costa (2010, pág. 236),
Lederach desenvolve um mapa investigativo da transformação que parte da situação
presente e chega ao futuro desejado, a partir do desenvolvimento de processos de
mudança que ligam estes dois pontos. Não se trata de uma linha reta, mas de um
conjunto de iniciativas dinâmicas que definem os processos de mudança em

8 LEDERACH,John P.Construyendo La Paz: Reconciliacion sostenible em sociedades


divididas.España:Gernika-Gogoratuz/Centro de Investigación por La Paz, 1998, p. 118-119.
34
movimento e criam uma plataforma sustentada para prosseguir a mudança em longo
prazo. O mapa representa o desafio de como terminar algo não desejado e como
construir algo que é desejado.
O mapa investigativo da transformação, desenvolvido por Lederach, fornece
uma lente que nos permite vislumbrar as possibilidades de resposta imediata e de
longo prazo de uma mudança construtiva. Para ele, conforme descrito em Costa
(2010, p. 237), a transformação de conflitos é uma viagem circular com um propósito,
que pode ser desenvolvido a partir das seguintes práticas da abordagem
transformacional:
a) prática 1: desenvolver a capacidade de ver as questões que se apresentam
como em uma janela, ou seja, a capacidade de ver a situação de imediato, sem se
deixar levar pelas exigências em que se apresentam as questões, pela urgência que
nos empurra para soluções rápidas, e pelas ansiedades que muitas vezes elevam o
conflito;
b) prática 2: desenvolver a capacidade de integrar vários quadros de tempo,
ou seja, pensar sobre a mudança sem estar condicionado a uma visão de curto prazo.
A chave é a capacidade de reconhecer que tipo de processos e os prazos podem ser
necessários para lidar com os diferentes tipos de mudança;
c) prática 3: desenvolver a capacidade de representar as energias de conflito
como dilemas. Como podemos abordar “A” e ao mesmo tempo construir “B”? A
capacidade de reformular o conflito desta forma nos permite identificar mais
claramente os objetivos e procurar opções inovadoras para a ação;
d) prática 4: desenvolver a capacidade de fazer da complexidade um amigo, e
não um inimigo. Uma das grandes vantagens da complexidade é que a mudança não
está ligada exclusivamente a uma coisa, ação ou opção. A primeira chave é a
confiança que temos que ter na capacidade dos sistemas em gerar opções e caminhos
para a mudança; a segunda é que devemos buscar as opções que parecem ter a
maior promessa de mudança construtiva e, a terceira, não devemos bloquear
rigidamente uma ideia ou abordagem, pois os caminhos potenciais de mudança
gerados em sistemas complexos são numerosos. É aqui que a atenção cuidadosa à
multiplicidade de opções pode criar novas formas de olhar para velhos padrões;
e) prática 5: desenvolver a capacidade de ouvir e falar a voz da identidade e
do relacionamento. A identidade é uma dinâmica relacional que está sendo
constantemente redefinida – é como as pessoas estão se vendo a si mesmas no
35
relacionamento que tem com os outros (o que é especialmente importante na
formação de jovens no ambiente escolar). É importante estarmos atentos às
percepções das pessoas sobre como a identidade está ligada ao poder e à definição
dos sistemas e estruturas que organizam e regulam as suas relações. De acordo com
Lederach, isto é particularmente importante para as pessoas que sentem a sua
identidade desgastada, marginalizada ou sob ameaça. Quando as preocupações
baseiam-se em identidade, os processos devem se esforçar para compreender as
raízes das percepções das pessoas e combater as mudanças sistêmicas necessárias
para garantir o acesso e a participação respeitosa.

36
10 O MEDIADOR

O mediador exerce a função de “agente de ligação” para os envolvidos no


conflito e é dele a autoridade de referência na gestão do conflito. O mediador deve ser
um sujeito observador, atento às questões de fundo que o relato do conflito apresenta,
para que se possa chegar ao núcleo do problema, a demanda real.
Segundo a professora Miracy Gustin (Pólos de Cidadania/UFMG), a função do
mediador é possibilitar a diminuição das ansiedades e ampliações das possibilidades
de comunicação, sendo um promotor e facilitador de uma ação pedagógica. Deve-se
saber escutar o que está nas entrelinhas, o que o corpo está querendo dizer, devendo
inclusive escutar o próprio silêncio.
É papel do mediador:
a) Nortear, questionar e investigar os reais interesses;
b) Ser imparcial e sigiloso;
c) Não decidir pelas partes;
d) Cuidar da inter-relação das partes;
e) Possibilitar a escuta recíproca;
f) Possibilitar a reconstrução da narrativa; e
g) Resgatar as habilidades das partes para que se sintam capazes de decidir e
manter um relacionamento.

Perfil profissiográfico do mediador de conflitos:


a) Descrição sumária das atividades:
No desempenho de suas atribuições como mediador, o profissional deve:
➢ Contribuir para a construção de uma cultura de pacificação social baseada
nos princípios da mediação, visando à prevenção social da criminalidade, à
garantia de direitos fundamentais e à constituição de capital social.
➢ Auxiliar na identificação das peculiaridades de cada realidade social, no
contexto da unidade na qual presta serviço, bem como as possíveis soluções,
por meio de atendimentos em mediação e orientação individuais e coletivas.
➢ Observar e utilizar a metodologia do fluxo de atendimento da Mediação
de Conflitos (existente ou a ser criado).
➢ Identificar as lideranças e grupos organizados locais, favorecer o
processo de mobilização social, fomentar a rede de apoio e catalisar parcerias,
atuando como agente comunitário de referência;
37
b) Responsabilidades:
➢ Contribuir para a constituição de Capital Social nas áreas ou escolas em
que estejam alocados os Núcleos de Mediação;
➢ Contribuir para a garantia dos direitos fundamentais e para a efetivação
dos Direitos Humanos de dada realidade social;
➢ Realizar atendimentos em mediação e orientação qualificada, de acordo
com a demanda local;
➢ Contribuir, a partir da intervenção local e de acordo com os princípios da
mediação, na diminuição dos índices criminais e na prevenção social da
criminalidade e violência;
➢ Atuar nos conflitos individuais e comunitários antes que o crime
aconteça, bem como intervir, como facilitar do diálogo e mediador de conflitos,
em feitos que versem sobre infrações penais de menor potencial ofensivo ou
atos infracionais, buscando a resolução pacífica das controvérsias;
➢ Implementar a mediação em sua área de atuação, bem como executar
a política pública de prevenção social da criminalidade e contribuir para o
alcance e cumprimento das metas estabelecidas;
➢ Construir e viabilizar soluções conjuntas com o público atendido, de
acordo com os objetivos institucionais, recursos disponíveis e o respeito à
individualidade do participante e/ ou comunidade;
➢ Conceber e levar novas ideias aos gestores locais, atuando como agente
comunitário de referência, captando as demandas sociais quanto à construção
de projetos de prevenção criminal, buscando estabelecer vínculos e a
consecução do objetivo de maior legitimação pública das ações na
comunidade;
➢ Conceber e levar propostas de execução de projetos de interação
comunitária para a Coordenação de Projetos, para o estudo da viabilidade de
execução;
➢ Trabalhar em integração e sintonia no ambiente unidade de ensino em
que esteja alocado o Núcleo de Mediação;

c) Condições de trabalho:
➢ Utilizar-se de informações verbais, visuais, auditivas e escritas;
➢ Nível de atenção difusa;
38
➢ Grande esforço mental;
➢ Trabalho sob pressão psicológica e de tempo;

d) Requisitos do Perfil profissional:


➢ Preferencialmente, formação superior nas Ciências Sociais tais como:
Psicologia, Serviço Social, Direito etc.;
➢ Experiência mínima de um ano em projetos sociais ou em políticas
públicas. (o período de um ano não deve ser um critério rígido, mas um
indicador do interesse e do engajamento do candidato no trabalho social e na
política pública, os quais são critérios mais relevantes);
➢ Conhecimento em Políticas públicas; áreas de exclusão social;
articulação comunitária; conhecer os setores da assistência social ou abertura
para este conhecimento; “abertura” para a prática metodológica em mediação;
interesse pela formulação de projetos locais, com base na prevenção aos
conflitos e à criminalidade que sejam de cunho social ou de inclusão produtiva;
ter conhecimento para trabalhar com grupos comunitários variados, dentre eles
relacionados a questões de violência (intrafamiliar, jovens e outros);

e) Aptidões e habilidades específicas:


➢ Bom relacionamento interpessoal, comunicação, agilidade, visão
sistêmica/visão de contexto social, articulado(a), crítico(a), dinamismo(a),
capacidade de ouvir, ter escuta ativa, saber negociar, trabalhar em equipe e
administrar conflitos, ter organização, disponibilidade, iniciativa, criatividade,
comprometimento e responsabilidade. Histórico pessoal e histórico profissional
(ter trajetória na área social).

Outrossim, cabe ao mediador conduzir o procedimento de comunicação entre


as partes, buscando o entendimento e o consenso e facilitando, assim, a resolução
do conflito.
A atual legislação pátria impõe ao mediador as mesmas hipóteses de
impedimento e suspeição do juiz. De sorte que a pessoa designada para atuar como
mediador tem o dever de revelar às partes, antes da aceitação da função, qualquer
fato ou circunstância que possa suscitar dúvida justificada em relação à sua
imparcialidade para mediar o conflito, oportunidade em que poderá ser recusado por
39
qualquer delas (vide art. 5º, da Lei nº 13.140/2015 – exemplo: ser professora na escola
e também mãe de um dos alunos a serem mediados).
É importante saber que, embora o contexto escolar seja diverso e não demande
normalmente a presença de defensores, de acordo com a legislação, as partes
mediadas podem ser assistidas por advogados ou defensores públicos, sendo que
comparecendo uma das partes acompanhada de advogado ou defensor público, o
mediador suspenderá o procedimento, até que todas estejam devidamente assistidas
(art. 10, § único, da Lei nº 13.140/2015).

40
11 TIPOS E TÉCNICAS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

11.1 ALGUNS TIPOS DE MEDIAÇÃO

A mediação pode ser institucional, atrelada a uma instituição que a mantém, ou


cidadã, em que o mediador é voluntário, desvinculado e com formação técnica
pequena (ou até mesmo inexistente). A mediação tem como objetivo ser criadora,
reparadora, preventiva ou curativa, sendo sempre um processo dialético e facilitador
da comunicação. A mediação pode ser aplicada em diversas áreas: Mediação familiar;
Mediação Penal; Mediação Trabalhista; Mediação Cível; Mediação Empresarial;
Mediação Hospitalar; Mediação Escolar; Mediação Comunitária, Mediação Cultural,
Mediação religiosa, entre outras.
A mediação comunitária busca a resolução dos conflitos, os desejos,
interesses de uma comunidade, como também o estímulo à emancipação e exercício
da democracia. Os mediadores comunitários devem oferecer a escuta, a observação,
o diálogo com os serviços públicos, mediando os interesses da comunidade, e
também orientando quanto às formas de acesso a direitos. O mediador deve promover
a organização da comunidade para que esta seja autossuficiente, não tendo a
proposta de desapropriar, mas sim restituir o saber local:

Entende-se por emancipação a capacidade de permanente reavaliação das


estruturas sociais, políticas, culturais e econômicas de seu entorno, com o
propósito de ampliação das condições jurídico-democráticas de sua
comunidade e de aprofundamento da organização e do associativismo com
o objetivo de efetivação das lutas políticas pelas mudanças essenciais na vida
dessa sociedade para sua inclusão efetiva no contexto social mais
abrangente (GUSTIN, 2006, p.22).

A mediação comunitária tem como ação primordial a mobilização social. Isto


significa reunir pessoas que sabem quais são os seus objetivos, compartilham
sentimentos, conhecimentos e responsabilidades para a transformação da realidade
em que vivem movidas por um acordo em relação a causas de interesses da
comunidade a que pertencem.
A mediação nas escolas, por sua vez, parte do princípio de que o
desenvolvimento cognitivo das crianças é dado de forma dinâmica, atrelado a todas

41
as relações sociais em que está envolvido o educando e os demais atores
comprometidos com o aprendizado. Sales9 argumenta que:

A mediação escolar (...) tem como resultados: desenvolver uma comunidade


na qual os alunos desejem e sejam capazes de praticar uma comunicação
aberta; ajudar os alunos a desenvolverem uma melhor compreensão da
natureza dos sentimentos, capacidades e possibilidades humanas; contribuir
para que os alunos compartilhem seus sentimentos e sejam conscientes de
suas qualidades e dificuldades; possibilitar aos alunos desenvolver
autoconfiança em suas próprias habilidades; e desenvolver no aluno a
capacidade de pensar criativamente sobre problemas e a começar a prevenir
e a solucionar os conflitos (BATTAGLIA10, 2004; SCHABBEL11, 2002).

A mediação é uma abordagem educativa elaborada para a utilização de


métodos que visam a um olhar otimista com luz sobre o potencial do educando, e não
sobre seus fracassos. Esta abordagem não busca unicamente a transmissão do
saber, mas também à sistemática que envolve o aprendizado, em especial no
deslocamento do problema que se manifesta sintomaticamente sobre o aluno.

11.2 TÉCNICAS DE MEDIAÇÃO

11.2.1 Escuta ativa

É uma técnica em que aquele que escuta decodifica as várias mensagens


transmitidas, sejam elas verbais, não verbais ou paraverbais (tom de voz, ritmo do
discurso), com a identificação dos elementos internos intencionais do emissor,
incluindo fatores emocionais expressados na mensagem.
A escuta ativa, como sugere o nome, é a escuta exercida de forma participativa,
onde o entrevistador incentiva e fomenta, a todo o momento, a fala da pessoa com
quem se dialoga.
É um processo ativo que requer atenção à pessoa com quem está se
comunicando. Trata-se de escutar atentamente, sem julgar, interpretar ou concluir.

9 SALES. Mediação Escolar – inclusão e pacificação dos jovens pela comunicação. Disponível em
<http://www.mediacaobrasil.org.br/artigos_pdf/6.pdf>. Acesso em 2 Ago 2011.
10 BATTAGLIA, Maria do Céu Lamarão. Mediação escolar: uma metodologia de aprendizado em

administração de conflitos. Disponível em < https://encontroacp.com.br/textos/mediacao-escolar-uma-


metodologia-de-aprendizado-em-administracao-de-conflito/ >.Acesso em 12/04/2023.
11 SCHABBEL, Corinna. Mediação escolar de pares – semeando a paz entre os jovens. SãoPaulo:

Willis HarmanHouse, 2002.


42
A arte de ouvir do mediador é a arte de se esvaziar para ouvir o que os outros
têm para dizer e não o que queremos ouvir. A capacidade de se colocar no lugar dos
outros e perceber suas dores e necessidades sociais. Penetrar no coração psíquico e
desvendar as causas da agressividade, da timidez, da angústia, dos comportamentos
estranhos. Observar o que as palavras não disseram e o que as imagens não
revelaram. Ter a sensibilidade para respeitar as lágrimas visíveis e perceber as que
nunca foram choradas.

11.2.2 Perguntas abertas e fechadas

As perguntas abertas são questionamentos cujas respostas não podem ser:


“Sim” ou “Não”. Servem para possibilitar que o entrevistado fale à vontade. O objetivo
é conhecer os mediados e suas realidades, conhecer o conflito e a inter-relação,
conhecer os interesses, as motivações e as necessidades, bem como descobrir as
emoções.
Já as perguntas fechadas são as usadas para obter respostas como sim ou não
e, geralmente, servem para confirmar situações.

11.2.3 Perguntas diretas e indiretas

As perguntas diretas trazem um componente de precisão à resposta dada e


vão diretamente a um ponto, como nos exemplos dos tipos de perguntas anteriores.
Já as indiretas podem sequer parecer perguntas, pois se assemelham às afirmações,
mas que buscam resposta das pessoas (BENJAMIN, 1994). Abaixo, os exemplos de
perguntas diretas e indiretas, respectivamente:
a) Está difícil a convivência nesta relação em razão de você se sentir sozinho?
b) Não ficou clara a forma como chegou a essa decisão.

11.2.4 Perguntas informativas e recontextualizantes

Essa é uma forma de questionamento que possibilita a coleta de informações,


fatos e/ou opiniões essenciais para a compreensão do problema. Considera-se que,
com esse tipo de pergunta, é possível obter dados importantes sobre a história dos
atendidos que trazem o problema.
43
Tal modalidade de questionamento contempla alguns princípios. Dentre eles,
destacam-se dois que se enquadram na perspectiva da pergunta informativa e valem
ser ressaltados: um dos princípios é a “atitude de curiosidade”, que implica em uma
postura do mediador curioso em saber como funciona a relação dos atendidos, em
que realidade eles vivem, identificando os mecanismos sobre os quais se
movimentam e o que poderia surgir para melhorá-los. O outro princípio denomina-se
“ir além do problema”, que significa passar grande parte do tempo da mediação na
descrição da situação com intuito de ajudar os envolvidos na questão a raciocinarem
sobre seu problema na perspectiva de futuro, e não focar mais tanto naquilo que já se
passou. Exemplos:
a) O senhor está contando que a sua conta de luz veio muito alta este mês. O
que ocorreu para que isso acontecesse?
b) Conte mais sobre o momento em que você discutiu com o seu colega de
classe.

11.2.5 Perguntas circulares e de responsabilização

As perguntas circulares consistem em uma tentativa de ampliação da visão, uma


tentativa de mudar a narrativa e quebrar a visão imaginária. Visa conhecer os
imaginários ou ilusórios nas inter-relações, para que os mediandos expressem o que
nunca disseram um ao outro.
Noutro giro, as perguntas de responsabilização têm lugar quando não se
consegue a sensibilização e, assim, levam-se os participantes a se apropriarem do
problema, sobretudo para quebrar relações em que se consideram vítimas. Exemplo:
a) O que você está fazendo para que isto não aconteça?

11.2.6 Perguntas voltadas para o futuro

Esse tipo de pergunta tem o propósito de ajudar o atendido a direcionar seu


olhar para o futuro, verificando a possibilidade de realização dos seus interesses e
visualizando uma oportunidade de ocorrência desses. As pessoas, quando envolvidas
no conflito, têm dificuldade de se desprenderem daquilo que aconteceu, ou seja, dos
fatores que ocasionaram o conflito. Presos ao passado, os atendidos ficam com maior
tendência a se fixarem em suas posições, oferecendo pouca abertura para verificação
44
dos seus interesses. Assim, quando perguntados sobre a perspectiva de futuro quanto
à questão discutida, abrem possibilidades para o encontro de soluções. Enfim,
promovem a reflexão da transcendência do que está sendo trabalhado. Exemplos:
a) Como gostaria que os seus pais se lembrassem deste momento daqui a
cinco anos?
b) E o que você gostaria de lembrar sobre o que fez para superar essa
situação?

11.2.7 Resumos

Trata-se de uma intervenção muito usada que o mediador se vale depois que
os mediados finalizam suas exposições sobre o assunto, especialmente quando eles
trazem as informações do caso ou no momento em que sugerem alguma solução para
o problema. O mediador deve escutar as colocações dos atendidos e realizar um
resumo daquilo que foi apresentado.
Essa técnica possibilita às pessoas clareza do problema trazido e permite que
se sintam escutadas pelos mediadores. Além disso, também serve como oportunidade
para as pessoas ouvirem o que realmente estão dizendo e organizarem seus
pensamentos. O resumo orienta até o próprio trabalho do mediador, na medida em
que serve para testar o entendimento dele sobre aquilo que foi dito pela pessoa e
possibilita dar uma ordem à discussão.
É importante ressaltar que, para o bom funcionamento dessa técnica, é
necessária a certificação com os atendidos de que o resumo está de acordo com o
posicionamento deles, pois, se isso for realizado, é possível oferecer a oportunidade
às pessoas de fazerem a correção. Outro ponto de relevância é quanto ao término do
resumo: este deve ser finalizado com uma pergunta, a fim de impulsionar a discussão
adiante.
O resumo pode ser linear para ressaltar interesses, reforçar a escuta, limpar a
comunicação, ressaltar novas informações que ampliam a compreensão do conflito e
marcar rumo ao trabalho. E, também, pode ser cooperativo, ressaltar coincidências
ou convergências, depor adversidades, promover cooperação e marcar rumo ao
trabalho.

45
11.2.8 Pausas técnicas

A pausa técnica é uma estratégia usada pelos mediadores para realizar


avaliações. A pausa pode ser aplicada ao longo do processo de mediação a qualquer
momento em que o mediador achar necessário. Assim, são feitos os intervalos, nos
quais os mediadores usam certo tempo para discutirem pontos relevantes com relação
à condução do caso ou do próprio procedimento. Não há um tempo determinado para
que esses intervalos ocorram. Essa definição será realizada entre os mediadores, de
acordo com a necessidade e a complexidade do ponto a ser discutido.
Deve-se sempre lembrar que, nesse momento da pausa, qualquer um dos
mediadores tem que evitar o contato pessoal com qualquer das pessoas sem que a
outra esteja presente, pois há o princípio do sigilo no processo de mediação e, para
que não seja levantada nenhuma dúvida sobre o seu cumprimento, é importante não
haver esse contato. Assim, para melhor organização, os mediadores podem sugerir
que as pessoas permaneçam na sala, enquanto discutem em outro ambiente, ou
podem sugerir que o contrário ocorra. A utilização da pausa possibilita uma
compreensão melhor da relação entre as pessoas, na medida em que os mediadores
podem discutir e obter maior percepção das posições e motivações existentes no
conflito tratado (BRAGA NETO e SAMPAIO, 2007). É uma oportunidade dos
mediadores compartilharem o que estão sentindo do processo naquele momento da
pausa, e, com isso, poderem afinar melhor a condução da facilitação do diálogo entre
os atendidos.

11.2.9 Caucus (entrevistas individuais)

O caucus é um recurso usado no processo de mediação em que são realizados


encontros individuais ou reuniões privadas com os atendidos, que se encontrarão com
os mediadores de forma separada. Para explicitar melhor, esses momentos ocorrem
quando há identificação, por parte do mediador, de necessidade de conversa
individual com os atendidos em mediação. Essas necessidades se referem ao
esclarecimento de percepções ou posições, permissão para exposição de emoções
intensas, identificação de novas propostas ou, ainda, revelação de informações
confidenciais, que os atendidos não podem ou não querem dizer perante o outro
participante do processo.
46
Na doutrina de Braga Neto e Sampaio (2007), o caucus pode ocorrer no início,
no meio ou no fim do processo de mediação. Sendo no início, o caucus pode
possibilitar a expressão de emoções, a identificação de questões ou o planejamento
de procedimentos. No meio da mediação, permite a identificação de interesses, a
geração de alternativas ou a prevenção de um acordo baseado nas posições que
venham a ocorrer de forma prematura. Já no fim do processo, o caucus pode servir
para acabar com os impasses, desenvolver ou avaliar propostas, bem como fazer uma
fórmula de um possível acordo.
Observe-se que o caucus parte de uma proposta do mediador, mas será
realizado somente com o consentimento dos mediandos, havendo autorização de
ambos. Outro fator fundamental é esclarecer que há total confidencialidade do
mediador. Isso ajuda na resistência do atendido quanto ao conteúdo que tem a expor,
pois ele pode desconfiar ou ter medo de uma cumplicidade entre o mediador e o outro
atendido.
Dessarte, o objetivo do caucus é clarificar o que permanece obscuro, permitir a
exposição de emoções, revelar informações não apresentadas e promover maior
conforto.

47
12 ETAPAS DA MEDIAÇÃO12

As etapas da mediação de conflitos são estabelecidas de acordo com o Modelo


de Mediação e a instituição que a está executando. Por exemplo, Adolfo Braga Neto,
presidente do Instituto de Mediação e Arbitragem do Brasil, apresenta as seguintes
etapas da mediação13:

a) Abertura;
b) Identificação do problema;
c) Determinação das necessidades subjacentes;
d) Entrevistas individuais;
e) Busca de opções e implicações;
f) Em direção a um compromisso;
g) Acordo.

As etapas da mediação que são estabelecidas e seguidas pela PCMG se


encontram previstas no art. 7º da Resolução de nº 7.169/2009, da Polícia Civil de
Minas Gerais, que conceitua a mediação de conflitos como uma técnica de gestão
pública à disposição de pessoas que, voluntariamente, solicitam os serviços da Polícia
Civil para a mitigação de problemas que indicam riscos de aumento da violência nas
relações da esfera privada ou social.
Christopher Moore, ao definir critérios para a escolha de quem deve participar
da mediação, indica a participação daqueles que:

(...) têm o poder ou a autoridade para tomar uma decisão; têm capacidade,
se não estiverem envolvidos, de inverter ou prejudicar um acordo negociado;
conhecem e compreendem as questões em disputa; têm habilidade para a
negociação; têm controle sobre suas emoções; são aceitos pelas outras
partes; têm demonstrado compromisso ou estão dispostos a se comprometer
na barganha de boa-fé; têm o respaldo e o apoio de seus constituintes. (1998,
p.130-131).

Esses cuidados e providências devem ser observados na fase de pré-


mediação, que incluirá, também, a análise dos fatos que podem ser objetos do
procedimento. No caso policial, por exemplo, os tipos penais aos quais os mediadores

12 As Etapas da Mediação foram descritas no Manual de Supervisão Metodológica do MEDIAR, pág.


26 a 55. In GAMBOGE REIS, Letícia Baptista e COSTA, Adriana Maria. Agenda Setorial/2011/Sistema
Operacional Defesa Social. Relatório de Execução do Item Projeto MEDIAR. 1ª Entrega Intermediária.
Belo Horizonte, Superintendência de Investigações e Polícia Judiciária/Polícia Civil de Minas Gerais.
Junho de 2011. Relatório. Não citar sem autorização dos autores.
13 Apostila do Curso Teórico e Prático de Capacitação em Mediação de Conflitos. Coordenação: Adolfo

Braga Neto, Instituto de Mediação e Arbitragem do Brasil – IMAB. Belo Horizonte, 15/09 a 01/12/09.
Apostila.
48
policiais devem se atentar correspondem àqueles tratados pela Lei nº 9.099/95, ou
seja, os que são definidos como infrações penais de menor potencial ofensivo, além
dos fatos atípicos (fatos não criminosos, mas com potencial de se tornarem futuros
conflitos e, eventualmente, crimes).
A mediação de conflitos, segundo o parágrafo 3º da Resolução nº
7.169/2009/PCMG, é aplicável mesmo em ambientes de ilícito em tese já consumado,
desde que presentes efetivas condições técnicas e éticas de minimizar os efeitos
subsequentes que apontem para o agravamento de tensões e cometimento de novas
infrações penais entre os implicados e outras pessoas próximas do dissenso.
Segundo a referida Resolução, em seu Art. 7º, as fases da mediação, no âmbito
da PCMG, compreendem:

I – acolhimento oficial da demanda mediante o respectivo registro;


II – encaminhamento do registro, pelo Delegado de Polícia, ao Núcleo de
Mediação de Conflitos;
III – consulta às pessoas abrangidas pelo fato conflituoso sobre a intenção
voluntária de participar da mediação;
IV – reuniões de pré-mediação com os envolvidos; e
V – ciclo de mediação, mediante acordo ou não.

No caso da mediação no âmbito escolar, é importante adaptar as fases à


realidade estudantil e se atentar para os destinatários e aos casos em que vai caber
tal procedimento. Nesse sentido, dependendo da idade e da condição dos envolvidos,
como crianças de 7 anos em conflito pela posse de um bem, é possível aplicar
algumas das técnicas de mediação (escuta ativa, por exemplo) e das etapas acima
mencionadas com as devidas adequações em face da pouca maturidade dos
participantes. Assim, não se faz possível, por exemplo, realizar a assinatura de um
acordo escrito entre as partes que poderia ser executado posteriormente por ausência
de capacidade civil para tanto.
Já em se tratando de jovens de 16 anos, o procedimento poderia se aproximar
cada vez mais do modelo posto, já que os envolvidos possuem melhores condições
de compreenderem suas condutas e de se responsabilizarem por elas. Logo, é preciso
muita sensibilidade e boa técnica dos educadores para poderem amoldar a mediação
ou outras formas alternativas de solução de conflitos à realidade local.
Em tempo, é imperioso reforçar que alguns casos não comportarão a medição,
como acima já tratado, situações essas em que as normativas tradicionais deverão ter
lugar (exemplo de ato infracional análogo ao crime de homicídio, ou seja, um
adolescente que mata o outro dentro da unidade escolar).
49
Por fim, as explicações a seguir seguem a metodologia aplicada na Polícia Civil
de Minas Gerais, devendo ser lidas pelos educadores com a compreensão de que o
modelo foi inicialmente desenhado para a realidade da atuação policial. Assim, é
preciso transportar para a realidade escolar os termos para a correta aplicação, tal
qual ‘policial’ para ‘professor/educador’; ‘REDS’ para ‘registro interno escolar’;
‘Autoridade Policial’ para ‘Diretor’; e assim sucessivamente, permitindo que o
procedimento possa ser incorporado pelas instituições de educação do Estado.

12.1 A PRÉ-MEDIAÇÃO

Dentro da metodologia adotada pelo MEDIAR, a pré-mediação é uma condição


necessária da mediação, vez que os Núcleos de Mediação de Conflitos da PCMG
realizam mediação penal. As entrevistas de pré-mediação contribuem para que os
participantes possam ser iniciados na capacitação dos seus futuros papéis de
protagonistas, responsáveis com maior desenvoltura para a resolução dos seus
conflitos; para que os mediadores possam identificar possível irregularidade que
comprometa a atuação de ambos ou de algum dos sujeitos envolvidos na disputa; e
para que possam recomendar ou proceder ao encaminhamento a outro método
restaurativo, preventivo ou repressivo.
Além disso, as entrevistas de pré-mediação são vantajosas porque as
narrativas, as escutas ativas e as perguntas ajudam na eliminação de equívocos,
aumentam a autoestima e proporcionam a assimilação de novas atitudes e
abordagens por parte dos sujeitos em disputa.
Como ocorre a pré-mediação no âmbito policial? Para início da pré-mediação,
considerar-se-á que o demandante já tenha realizado o Registro de Eventos de
Defesa Social – REDS, ou que tenha procurado espontaneamente o Núcleo de
Mediação de Conflitos. Chegando ao Núcleo, será recebido por um policial civil
Mediador de Conflitos. A metodologia utilizada pelo MEDIAR pressupõe a co-
mediação, ou seja, a participação de 02 (dois) mediadores a cada atendimento.
Todavia, em se tratando da pré-mediação, admite-se que seja realizada por apenas
um mediador policial, haja vista a sua menor complexidade.
Ao receber o demandante, o Mediador procurará criar um clima de confiança e
serenidade, atendendo gentilmente e fazendo a entrevista de pré-mediação a fim de
se verificar se o caso comporta o procedimento de mediação.
50
Na entrevista de pré-mediação14, o Mediador deve, antes de tudo, colocar em
prática a escuta ativa, ouvindo o que o demandante tem a narrar, formulando as
perguntas necessárias a esclarecendo os detalhes do conflito. Em se tratando de fato
em que se aplica a mediação, oferecerá e esclarecerá sobre o procedimento, suas
etapas e possibilidades. Após a concordância do demandante, será feito o convite à(s)
pessoa(s) demandada(s) para igual atendimento.
Caso o demandado compareça, o Mediador o receberá com a mesma gentileza
e imparcialidade, escutando ativamente e realizando a entrevista de pré-mediação,
também para obter esclarecimento sobre o conflito e, do mesmo modo, oferecendo e
explicando o que é mediação.

12.2 ABERTURA

Nesta primeira etapa, o mediador recebe os mediados em encontro(s)


conjunto(s), acolhendo-os, se apresentando de modo sereno e agradecendo a
presença dos participantes e destaca o acerto da opção. Em seguida o Mediador deve
adotar as seguintes providências:
a) Explicar o papel do mediador, qual seja, o de não ter poder de decisão e não
ser juiz; trabalhar como facilitador dos mediados, ajudando-os a examinar e expressar
suas posições e interesses; ser imparcial, ou seja, declarando não ser amigo íntimo
ou parente e que não é ou foi chefe de quaisquer dos participantes; declarando-se
independente e apto a atuar com diligência e isenção;
b) Descrever o processo da mediação como um procedimento informal com
preceitos de igualdade de tratamento e da linguagem na primeira pessoa (linguagem
“eu”); com a revelação de informações aos outros participantes apenas com
autorização de cada parte; com a possibilidade de entrevistas individuais (caucus) e
com a oportunidade de participação de terceiros ou de advogados15 solicitados pelos
participantes. Descrever, ainda, o processo a ser seguido, como o tempo das

14 As entrevistas individuais de pré-mediação poderão ser acompanhadas por terceiros ou advogados


solicitados pelo demandante e pelo demandado. Denominamos de individuais por serem separadas e
confidenciais entre demandante e demandado, ocorrendo em horários diferentes para cada
participante.
15 A participação de advogados é adequada ao procedimento da mediação, desde que respeitados os

princípios da mediação de conflitos. O advogado deverá ser cientificado de que a autoridade que
preside as sessões de mediação dentro dos Núcleos do Mediar é o Mediador de Conflitos, cabendo a
este controlar as participações, inclusive solicitando a retirada de qualquer terceiro quando este estiver
prejudicando o trâmite do procedimento.
51
entrevistas e das sessões, o local, os participantes, as regras de fala e tempo de fala
de cada participante. Informar que o mediador não poderá revelar os assuntos
tratados na mediação, daí por que não poderá testemunhar em favor de ninguém a
respeito dos assuntos tratados na mediação;
c) Assegurar a existência e a manutenção da confidencialidade e explicar as
exceções que poderão advir, nas hipóteses em que os fatos narrados configurem
infrações penais de maior potencial ofensivo, que se processem mediante ação penal
pública incondicionada (que não dependem de manifestação da vítima ou de seus
representantes legais para serem apurados e processados), e que, em face da sua
gravidade e da aplicação do Princípio da Proporcionalidade, exijam a imediata
comunicação à Autoridade Policial;
d) Descrever as expectativas do mediador em relação aos participantes, quais
sejam: de trabalhar conjuntamente para alcançar uma solução; escutar ativamente
tanto o demandante quanto o demandado; esperar o mútuo respeito; deixando claro
que os mediados serão os protagonistas do entendimento; esperar que os
participantes assumam o compromisso de se entenderem em busca de uma solução
amigável para o conflito, de não interferirem na fala do outro e de transmitirem as
mensagens como opinião pessoal; de comparecerem às reuniões de mediação com
pontualidade, nos horários livremente acertados de comum acordo entre eles e o
mediador; de não comentarem com outras pessoas os assuntos que forem resolvidos
nas reuniões de mediação, uma vez que essas conversas são sigilosas.
Após apresentadas todas estas informações a cada demandante ou
demandado em suas entrevistas individuais e, desde que aceitas pelos participantes,
estes deverão assinar o Termo de Esclarecimentos e Adesão ao Procedimento de
Mediação de Conflitos, em conjunto com o mediador.

12.3 ENTREVISTAS INDIVIDUAIS

Esta segunda etapa se inicia após a abertura e a assinatura do Termo de


Esclarecimentos e Adesão ao Procedimento de Mediação de Conflitos. As entrevistas
serão realizadas separadamente com cada um dos participantes. A partir daqui
denominados demandante e demandado. O mediador solicita ao participante que
narre o problema trazido à mediação. Tais narrativas são necessárias, mesmo quando

52
já tenham sido anteriormente efetuadas por cada um dos participantes,
separadamente, em entrevistas de pré-mediação.
Iniciada a narração, o mediador deverá adotar a escuta ativa, observando, sem
julgamentos, e anotando apenas o essencial. O mediador também deve estar atento
aos seus próprios sentimentos, tendo sempre o cuidado de não julgar ou censurar
quaisquer ponderações apresentadas pelos mediados.
Segundo Vasconcelos (2008, p. 93), apesar de o mediador ter seus pontos de
vista pessoais, deve dar-se conta desses sentimentos de julgamento, afastando-se,
conscientemente, de tal julgamento, para não influenciar os pontos de vista e as
escolhas das partes.
Não se recomenda interromper os mediados em suas primeiras intervenções.
Quando o mediando tiver dificuldades na expressão oral, deverá o mediador estimulá-
lo com perguntas. A comunicação a ser adotada pelo mediador deve ser construtiva,
numa abordagem transformativa, acolhendo e encorajando os mediados a lidarem
com os seus conflitos. Os mediadores:

(...) assumem um ponto de vista positivo em relação aos motivos dos


mediandos, inclusive quanto à boa-fé e à decência, independentemente das
aparências. Pois o mediador vê os mediandos, mesmo em seus momentos
mais críticos, como apenas temporariamente incapacitados pelo
egocentrismo (VASCONCELOS, 2008, p. 93).

Por meio desta escuta, bem como de questionamentos levantados pelo


mediador, busca-se dos participantes o esclarecimento sobre suas preferências,
posições e reais interesses, contribuindo, desse modo, para liberá-los da insegurança
e dos apegos. As perguntas levantadas pelo mediador devem estar associadas a
declarações concretas, tendo por objetivo ajudar o mediando a entender porque essas
questões são importantes, quais as escolhas que gostaria de fazer, dentre outros
pontos. Deve o mediador usar de uma linguagem dialética, a fim de que possa, por
exemplo, levar o mediando a enxergar o respeito no desrespeito, o reconhecimento
da identidade do outro no desconhecimento desta mesma identidade, a
responsabilidade no descompromisso etc.
O mediador ainda deve ficar atento ao esgotamento das narrativas por parte
dos mediandos. Mesmo que os mediandos se deem por satisfeitos em suas falas,
cabe ao mediador observar se eles realmente se apropriaram dos respectivos
argumentos - na mediação transformativa busca-se a eliminação de ambiguidades e,
53
portanto, a apropriação de atitudes conscientes e autoafirmativas pelos participantes
– podendo-se formular novas perguntas até que, em não havendo mais o que expor,
o mediador resume o que foi dito, dando início à etapa seguinte da objetivação.
As etapas seguintes, a partir da agenda, serão realizadas com os mediandos
em sessões conjuntas, até se chegar à conclusão.

12.4 A AGENDA

Esta etapa marca o início da fase de objetivação, enquadramento ou


ordenamento das discussões. Corresponde à identificação das questões ou temas a
serem objetos de resolução, à fixação das prioridades e ao consenso com relação ao
momento em que os temas serão debatidos. Como cada participante apresenta uma
série de necessidades e interesses, cabe ao mediador, prospectivamente, levá-los a
pensar quais são, realmente, suscetíveis de serem resolvidos em uma mediação, e
quais representarão o ponto de partida da discussão.
De acordo com o professor de Direito Joseph Stuhlberg, da Ohio State
University College of Law Moritz, uma questão em disputa é uma matéria, prática ou
ação que melhore, frustre, altere ou de alguma forma afete adversamente os
interesses, objetivos ou necessidades de uma pessoa.
Uma questão não é uma matéria em disputa, a ser mediada, quando se
apresenta como necessidade ou posicionamento de apenas um dos participantes, ou
ainda, quando a solução for proposta apenas por um destes ou pelo mediador. O
mediador poderá se basear nos seguintes critérios para identificar a questão ou
interesse a partir do qual deverá iniciar ou programar a agenda de discussões:
a) Interesse comum;
b) Normas comuns;
c) Questões mútuas;
d) Solução viável;
e) Menor espaço de tempo;
f) Concordância mútua inicial;
g) Objetivo comum etc.

Após a definição, com os mediandos, sobre quais questões e a ordem em que


serão tratadas, o mediador passará para a etapa da criação de opções.
54
12.5 CRIAÇÃO DE OPÇÕES OU BRAINSTORMING SESSION

Esta etapa de criação de opções ou brainstorming session, ou ainda sessão de


sugestões livres, refere-se a pactos momentâneos entre os mediandos em que
expressam suas ideias, sem julgamento de validade ou compromisso. Não se trata de
propostas conclusivas, mas sim de busca de alternativas e propostas com criatividade.
O mediador competente é aquele que auxilia os mediandos a inventarem opções
criativas. Para isto, ele precisa separar as invenções e criações das decisões, pois
não se trata aqui de julgá-las, mas de ampliar o leque de opções lançadas à mesa, ao
invés de restringi-las; de buscar benefícios mútuos com as opções; e de criar meios
para facilitar as decisões dos participantes.

12.2.1 Separando o ato criativo do ato crítico

Cabe, aqui, separar o processo de concepção de soluções possíveis, do


processo de seleção entre elas. Assim, é necessário criar primeiro para, depois,
decidir. Este processo exige que se pense em coisas novas, mesmo quando parece
impossível, utilizando-se da técnica do brainstorming e produzindo-se uma série de
ideias para a solução do problema, sem se considerar a viabilidade ou validade de
tais sugestões.
O mediador deve encorajar os participantes a explicitarem suas ideias, apesar
de não haver uma maneira correta ou única de conduzir este tipo de sessão. Esta
deverá se adequar às necessidades apresentadas pelos participantes, bem como aos
recursos disponíveis ao mediador.
Podem-se listar algumas sugestões direcionadas ao mediador, para a melhor
condução da brainstorming session:
a) Antes da sessão, o mediador deverá definir o objetivo focado nos problemas
apresentados pelos participantes;
b) O mediador deverá organizar a sessão, de modo que a agenda seja seguida;
c) O mediador deverá procurar modificar o ambiente, dando-lhe uma conotação
mais informal e diferente do habitual já conhecido pelos participantes;
d) O mediador deverá combinar com o co-mediador para que este seja
facilitador da discussão, a fim de que nenhuma ideia se perca;
e) O mediador deverá esclarecer as regras da sessão;
55
f) O mediador deverá registrar as ideias de modo visível aos participantes,
preferencialmente utilizando um quadro branco ou similar;
g) Após o esgotamento das sugestões, o mediador deverá relaxar a regra da
ausência de críticas, para destacar as ideias mais promissoras. Aqui não se está na
etapa da decisão, pelo que se deve destacar as ideias que valem a pena ser melhor
desenvolvidas;
h) O mediador deverá solicitar que os participantes apontem as melhores ideias
e inventar aperfeiçoamentos para elas (“esta ideia ficaria melhor se...”);
i) O mediador deverá resumir as ideias em uma lista seletiva e aprimorada,
marcando um prazo para decidir qual daquelas serão expostas na etapa seguinte e
de que maneira o serão.

12.2.2 Procurando por ganhos mútuos

Teoricamente, a criação de ideias que atendam aos interesses de ambos os


participantes da mediação é vantajosa tanto para um, quanto para o outro. Na prática,
porém, isto não é tão óbvio assim, pois os interesses comuns podem não ser
evidentes, ou parecerem irrelevantes. Além disto, em quase todas as situações, a
satisfação de um dos mediandos depende, até certo ponto, de se fazer com que o
outro participante fique suficientemente satisfeito com um acordo, para desejar mantê-
lo.
Cabe, portanto, ao mediador, fazer com que os participantes, por exemplo,
perguntem a si mesmos:
a) Será que temos um interesse comum em preservar o relacionamento? Quais
são as oportunidades de cooperação e benefício comum adiante?
b) Quais seriam os ônus e bônus caso a mediação fosse interrompida e não se
chegasse a um acordo?
c) Haveriam princípios comuns que ambos possam respeitar?
Assim, os interesses comuns deverão ser explicitados e formulados como uma
meta de ambos os mediandos, ou seja, o mediador deverá ter a habilidade de fazer
algo concreto, quanto a tais interesses, e voltá-los para o futuro.
Da mesma forma, o mediador deverá estar atento aos interesses diferentes,
pois destes também se pode chegar a um acordo criativo. Segundo Fisher, Ury e
56
Patton16 (2005, p. 92), “as diferenças de interesse e crenças tornam possível que um
item traga a uma parte um alto benefício e, ao mesmo tempo, represente um custo
baixo para o outro lado.”
Uma forma de o mediador harmonizar os interesses divergentes consiste em
pegar as diversas opções que foram aceitas por um dos mediandos e perguntar ao
outro quais delas prefere. A partir da resposta, o mediador deverá tomar a opção e
trabalhá-la um pouco mais e, novamente, apresentar outras variantes, indagando aos
atendidos a qual delas prefere. Desse modo, sem que nenhum dos participantes tome
uma decisão, é possível aperfeiçoar as opções de escolha.

12.6 AVALIAÇÃO E ESCOLHA DAS OPÇÕES

Nesta etapa, o mediador deverá auxiliar os participantes a escolherem as


melhores e mais criativas soluções, utilizando-se de padrões e critérios objetivos, e
sempre fazendo uma prospecção futura com relação à aplicabilidade de tais soluções.
A solução deve ser encontrada com base em princípios, não em pressões de um ou
outro mediando, ou, ainda, de situações externas, pois a mediação, baseada em
princípios, produz acordos sensatos, eficientes e amistosos.
A busca por soluções pautadas em critérios objetivos reduz o número de
compromissos que cada um dos participantes precisa assumir e/ou desfazer ao se
encaminharem ao acordo, conforme descrevem Fisher, Ury e Patton (2005, p. 101).
Além disto, os critérios objetivos independem das vontades dos participantes e devem
ser legítimos e práticos. Nas disputas, as partes passam grande parte do tempo
defendendo suas posições, e atacando as do outro. Por outro lado, as pessoas que
usam critérios objetivos tendem a empregar o tempo mais eficientemente.
Para produzir um resultado independente do interesse de cada um dos
participantes, o mediador poderá usar de padrões justos para as questões
substantivas e de procedimentos justos para resolver os interesses conflitantes. Uma
solução baseada em critérios objetivos não significa a exclusividade de um critério,
pois um padrão de legitimidade não exclui a existência de outros. Assim, o que um
dos participantes considera justo, talvez não seja o que o outro acredita sê- lo, e nem

16FISHER, R., URY, W. e PATTON, B. Como chegar ao Sim: a negociação de acordos sem
concessões. Rio de Janeiro, Imago Editora, 2005.
57
mesmo o mediador assim o pense. Então, cabe ao mediador fazer com que cada
participante se coloque no lugar do outro para que juntos e objetivamente decidam a
melhor solução.
Os mediadores deverão se certificar de que os participantes tenham orientação
sobre o que estão a decidir, pois, do contrário, ainda não se encontrarão aptos a
firmarem um acordo. Caso seja necessário, pausas técnicas17 devem ser
proporcionadas aos participantes, para que busquem essas orientações ou mesmo
para que os mediadores possam oferecê-las18.

12.7 SOLUÇÃO OU ACORDO

Entende-se como solução do conflito o desfecho do procedimento, levado a


cabo pelos mediadores e pelos mediandos, em que as etapas anteriores foram
seguidas e entendidas por todos os participantes e foram observados os princípios da
mediação de conflitos. A solução deve atender aos interesses dos mediandos em sua
forma total ou parcial, atentando-se para os aspectos legais das decisões tomadas. É
necessário que o mediador conduza os mediandos a avaliarem conjuntamente se a
solução é justa, equitativa e duradoura.
Dessa feita, a solução poderá redundar em acordo escrito, ou simplesmente
moral, entre os participantes. O acordo moral se dá quando os participantes
estabelecem entre si um pacto, pautado em princípios e valores, que não necessita
de amparo escrito para ser cumprido dada a grande transformação positiva que o
conflito sofreu. Neste caso, os mediadores encerram o procedimento, narrando em
documento próprio o que os participantes acordaram.
No caso do acordo escrito (que, segundo o art. 20, § único, da Lei nº
13.140/2015, trata-se de um título executivo extrajudicial), a sua redação deverá

17As pausas técnicas consistem em interrupções nas entrevistas individuais ou nos ciclos de mediação,
a fim de promover aos mediandos orientações, ou mesmo para que os mediadores possam trocar
ideias, analisar a situação apresentada pelos participantes ou programar a continuidade do
atendimento ou procedimento.
18 As orientações qualificadas consistem em esclarecimentos acerca de fatos, acesso a direitos e

deveres e encaminhamentos à rede parceira. Sua finalidade é promover a responsabilização,


autonomia, empoderamento, emancipação na busca pelos direitos e ao exercício da cidadania.
Qualquer orientação pode ser buscada pelos mediandos a terceiros ou mesmo dada pelos medidores
durante qualquer etapa da mediação. Entretanto, a orientação qualificada será dada pelo mediador aos
participantes mesmo quando não for possível ou não houver interesse pela mediação.
58
respeitar as palavras e desejos dos participantes, além de ser objetiva, clara e
consistente19.
Têm-se como elementos formais do acordo escrito o que foi acordado entre as
partes; o porquê do acordo; a determinação do valor, se houver; o modo de
cumprimento daquilo que foi acordado; o local e data para cumprimento da(s)
obrigação(ões) acordada(s). Além disso, em consonância com o Código Civil
Brasileiro, o Termo de Acordo deverá adequar-se ao cumprimento dos requisitos de
validade do ato jurídico, quais sejam a capacidade das partes, a licitude do objeto, a
forma não defesa em lei, além da legitimação para sua realização. Os participantes
deverão rubricar (ou assinar) e numerar todas as páginas.
Caberá ao mediador submeter à apreciação dos mediandos a viabilidade de
execução das soluções propostas e acordadas, bem como verificar a igualdade dos
termos do acordo; redigir o Termo de Acordo, preferencialmente na presença dos
atendidos, com clareza e especificidade, utilizando-se das informações e linguagem
de ambos os participantes; verificar o entendimento destes quanto ao que foi
acordado; ler o texto para as partes, antes de digitá-lo e oferecê-lo para assinatura, e,
por fim, verificar se todos os participantes assinaram.
Para encerrar a sessão conjunta, o mediador deverá entregar o Termo de
Acordo assinado aos mediandos, bem como explicitar os requisitos para sua
execução.
Ao final, o mediador de conflitos deverá agradecer aos participantes pelo que
fizeram e instá-los a retornarem, caso seja necessário, além de informá-los de que
serão contatados, por telefone ou pessoalmente, para acompanhamento e
monitoramento dos resultados alcançados. Isso posto, tem-se que, em havendo a
adesão ao procedimento de Mediação de Conflitos, todas as etapas analisadas
deverão ser cumpridas, para que, ao final, efetivem-se os seus efeitos.

19Lei 13.105/2015, Código de Processo Civil: Art. 784: São títulos executivos extrajudiciais: II – a
escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; III – o documento particular
assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas; IV – o instrumento de transação referendado pelo
Ministério Público, pela Defensoria Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou
mediador credenciado junto ao tribunal.
59
13 BREVES CONCLUSÕES

O presente curso busca instigar os professores, diretores e educadores em


geral a buscarem novas alternativas para a solução de conflitos dentro das escolas e
demais unidades de ensino. Não se tem dúvidas de que o sistema posto tem
demonstrado falhas no manejo dos atritos e problemas internos, o que pode redundar
em insatisfação do corpo docente e das famílias, desamparo do corpo discente e, em
situações mais extremas, condutas com diversas naturezas violentas: violências
patrimoniais, psicológicas, físicas, entre outras.
Não é demais reforçar que a doutrina apresentada foi originalmente cunhada,
a partir da legislação, da doutrina e dos diversos instrumentos nacionais e
internacionais sobre o tema, para a atuação policial no âmbito da filosofia do
policiamento comunitário. Ocorre que a prática da mediação na Polícia Civil, ao
contrário do que se pode pensar, deve servir de modelo, e não de entrave, com as
necessárias adaptações para a aplicação em larga escala dos ambientes escolares.
Oportuno registrar também que a solução de conflitos pode envolver aluno x
aluno, aluno x professor, professor x professor, pai de aluno x professor, ou quaisquer
outros tipos de atores presentes no dia a dia dos locais de formação, sempre
respeitando a peculiaridade dos envolvidos, as circunstâncias dos eventos ocorridos
e a capacidade técnica dos mediadores.
Sugere-se, ainda, que os núcleos de mediação escolares sejam sempre
compostos por alunos e professores/educadores, na proporção de 1 para 1. Assim,
há o necessário equilíbrio para que as mediações ocorridas em co-mediação aluno x
educador forneçam a legitimidade necessária para que o processo transcorra da
melhor forma possível. Dessa maneira, nenhum dos mediandos ou mediados sentirá
que há violação da parcialidade durante os ciclos.
Ademais, o lançamento de projetos de mediação (ou mesmo de outras formas
de solução alternativa de controvérsias) movimenta a escola, traz curiosidade aos
alunos, permite o direcionamento de lideranças negativas para atividades produtivas,
incentiva a preservação física dos aparelhos escolares, traz senso de
responsabilidade para que todos cuidem do ambiente interno e externo e, finalmente,
robustecem a ideia de que um ambiente pacífico é essencial à fundamentalmente
positivas e transformadoras.

60
ANEXO I: CONTEXTUALIZAÇÃO DOS PROJETOS DE POLÍCIA COMUNITÁRIA E
NÚCLEOS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS NO ÂMBITO DA POLÍCIA CIVIL DO
ESTADO DE MINAS GERAIS

Em 2005, criou-se na estrutura organizacional da Academia de Polícia Civil do


Estado de Minas Gerais (ACADEPOL) o Centro de Referência de Polícia Comunitária
(CRPC), por meio da Resolução nº 6.812 em 19 de julho de 2005, tornando a o
policiamento comunitário uma política oficial da Polícia Civil do Estado de Minas
Gerais (PCEMG).
Sua criação se deu como forma de institucionalizar a filosofia e a prática da
Polícia Comunitária no âmbito da PCEMG em atendimento às diretrizes sobre
policiamento comunitário contidas nos Planos Nacional e Estadual de Segurança
Pública, que apontam para estratégias de recuperação do espaço público e
programas interinstitucionais de enfrentamento ao problema da violência e
criminalidade.
A referida Resolução dispõe que compete ao CRPC fomentar e coordenar os
projetos e programas de polícia comunitária no âmbito das unidades policiais civis do
Estado, bem como de promover a integração com a comunidade e demais órgãos que
participam do Sistema Integrado de Defesa Social.
Posteriormente, diante da necessidade da Polícia Judiciária promover e
proteger os direitos humanos de grupos e indivíduos, quando violados em razão da
violência e da criminalidade, a Superintendência de Investigações e Polícia Judiciária
(SIPJ) criou em sua estrutura a Coordenação de Direitos Humanos, que é responsável
pela coordenação e gestão dos projetos de polícia comunitária no âmbito da SIPJ,
quais sejam:
a) Projeto MEDIAR;
b) Núcleo de Facilitação ao Diálogo (DIALOGAR);
c)Núcleo de Atendimento a Vítimas de Crimes Raciais e de Intolerância
(NAVCRADI)20;
d) Núcleo de Atendimento e Cidadania LGBT (NAC-LGBT).

20O NAVCRADI – Núcleo de Atendimento a Vítimas de Crimes Raciais e o NACLGBT – Núcleo de


Atendimento ao cidadão LGBT foram absorvidos pela DECRIN – Delegacia Especializada em
Repressão aos Crimes de Racismo, Xenofobia, LCBTfobia e Intolerâncias Correlatas.
61
Projeto MEDIAR

O Projeto MEDIAR da Polícia Civil de Minas Gerais teve início com o projeto
piloto do Núcleo de Mediação de Conflitos instalado na Delegacia Regional de Polícia
Civil Leste, em Belo Horizonte, o qual iniciou suas atividades em setembro de 2006,
tendo como objetivo buscar uma forma pacífica e colaborativa para resolução de
conflitos, atendendo principalmente demandas tipificadas como crime de menor
potencial ofensivo e casos em que os demandantes apresentavam relação
continuada. Além disso, o MEDIAR também possui a finalidade de diminuir a
reincidência das ocorrências aportadas nas delegacias e restaurar as relações
afetadas pelo conflito por meio do diálogo.
Sendo assim, em novembro de 2009, a Polícia Civil formalizou a prática da
Mediação de Conflitos por meio da Resolução nº 7.169, definindo os fundamentos e
metodologia a serem implementados nos Núcleos criados.
Atualmente, os núcleos em funcionamento são:
• 2ª DELEGACIA DE POLICIA CIVIL – DRPC/CENTRO (Rua Bernardo
Guimarães, nº 1.571, Lourdes, Belo Horizonte);
• 6ª DELEGACIA REGIONAL POLÍCIA CÍVIL – DRPC/NOROESTE
(Avenida João XXIII, nº 287, Alípio de Melo, Belo Horizonte);
• 3ª DELEGACIA REGIONAL POLÍCIA CÍVIL – DRPC/VENDA NOVA
(Avenida Martinica, nº 69,Santa Branca, Belo Horizonte);
• 4ª DELEGACIA REGIONAL POLÍCIA CÍVILDRPC/LESTE (Rua Pouso
Alegre, nº 417, 3ºandar, Floresta, Belo Horizonte);
• 4ª DELEGACIA DE POLÍCIA CIVIL – DRPC/SUL (Avenida
Jequitinhonha, nº 690, Vera Cruz, Belo Horizonte);
• DELEGACIA ESPECIALIZADA DE ATENDIMENTO AO IDOSO E AO
PORTADOR DE NECESSIDADES ESPECIAIS – DEAIPNE/DIOPF
(Avenida Augusto de Lima, nº 1.942, térreo, Barro Preto, Belo
Horizonte);
• 2ª DELEGACIA DE POLÍCIA CIVIL – DRPC/CONTAGEM (Rua Senegal,
nº 226, Novo Eldorado, Contagem);
• 4ª DELEGACIA DE POLÍCIA CIVIL – DRPC/BETIM (Rua Romualda
Augusta de Melo, nº 217, Centro, Betim);

62
• 1ª DELEGACIA DE POLÍCIA CIVIL – DRPC/SANTA LUZIA (Avenida
Yolanda Teixeira Da Costa, nº 1.850, AISP 56, Palmital, Santa Luzia);
• DELEGACIA DE POLICIA CIVIL – JABOTICATUBAS (Rua Benedito
Quintino, nº 92, Centro, Jaboticatubas);
• 5ª DELEGACIA REGIONAL DE POLÍCIA CIVIL – DRPC/ OURO PRETO
(Avenida Juscelino Kubitschek, nº 63, Bairro Bauxita, Ouro Preto);
• 1ª DELEGACIA REGIONAL DE POLICIA CIVIL – PATOS DE MINAS
(Rua Carajás, nº 461, 2º Andar, Caiçaras, Patos de Minas); e
• 1ª DELEGACIA REGIONAL DE POLICIA CIVIL – CURVELO (Avenida
Dom Pedro II, s/n, Centro, Curvelo).

Núcleo de Facilitação ao Diálogo (DIALOGAR)

A PCMG, através da Divisão Especializada de Atendimento à Mulher, Idoso e


ao Portador de Deficiência de Belo Horizonte – DEMID, criou o Projeto DIALOGAR
em março de 2011 com o intuito de enfrentar e prevenir a violência contra a mulher,
por meio de acolhimento às vítimas e oficinas em grupos de reflexão e convivência no
enfrentamento da violência para os agressores.
O público alvo são mulheres e homens envolvidos em situação de violência
doméstica, familiar, afetiva, de gênero e sexual, podendo ser de forma voluntária,
buscando orientação, apoio e intervenção, a fim de cessar o conflito ou a violência ou,
também, por meio de oficinas de reflexão em que mulheres e homens investigados
em situação de violência contra a mulher são encaminhados compulsoriamente pela
Justiça conforme a Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha).
Os encontros ocorrem somente entre mulheres ou somente entre homens, ou
seja, separadamente, não havendo encontro entre as partes em conflito, pois o
DIALOGAR não é conciliação, não é mediação de conflitos, não é arbitragem e nem
negociação.
Os encontros são compostos por:
a) Entrevistas iniciais; e
b) Oficinas de gêneros.

As oficinas de reflexão, objetivam à valorização da mulher, à conscientização


e à responsabilização do(a) investigado(a).
63
É uma atividade de reflexão em grupo, que permitirá aos participantes
compreenderem como os conflitos foram constituídos e buscarem outra saída para a
solução, que não seja a violência, através do diálogo.
O trabalho de grupo com mulheres e homens é reconhecido, pelos teóricos
da violência contra a mulher, como um método eficaz para coibir, prevenir e reduzir a
reincidência da violência doméstica, familiar e de gênero. Sendo uma prática
regularmente adotada em alguns Juizados do Poder Judiciário.
Além de ser uma ação fundamental para a promoção de Direitos Humanos
e Cidadania, conforme preceitua o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, é
uma Ação de Polícia Comunitária, Prática Restaurativa, Convivência e Valorização da
Vida.
A partir de maio de 2013, o núcleo firmou parceria com o Poder Judiciário do
Estado de Minas Gerais, seguindo as previsões que a Lei nº 11.340/06 (Lei Maria da
Penha), determina, conforme art. 45, parágrafo único: “Nos casos de violência
doméstica contra a mulher, o juiz poderá determinar o comparecimento obrigatório do
agressor a programas de recuperação e reeducação.”
As principais ações do núcleo são: a) acolher, atender, orientar e elaborar as
oficinas reflexivas; b) encaminhar para as redes parceiras (se for o caso); c)
monitoramento dos participantes das oficinas; d) realizar palestras.

Estatísticas e resultados obtidos nos anos de 2013: levantamento estatístico


homens e mulheres (período de parceria com a Justiça: Maio a Dezembro de
201321)
No ano de 2013, foram realizados pelo Projeto Dialogar 613 atendimentos
individualizados, envolvendo crimes e conflitos de violência contra a mulher, sendo:
a) Mulheres voluntárias: 4182;
b) Homens voluntários: 18;
c) Mulheres investigadas encaminhadas pela justiça: 04 (todas participaram
das oficinas);
d) Homens investigados encaminhados pela justiça: 173 (98 participaram das
oficinas).
Resultados:

21 Dados referentes a pesquisa realizada no REDS até a data de julho/2014.


64
a) Das 04 mulheres investigadas não houve reincidência (0%);
b) Dos 98 homens investigados apenas 5 reincidiram (5,10%).
Em 28/07/2014 o “Núcleo de Facilitação ao Diálogo – DIALOGAR” foi
reconhecido e agraciado com o VI Prêmio de Qualidade da Atuação do Sistema de
Defesa Social 2013 – “Gestão do Conhecimento e Informação de Defesa Social” nas
vertentes “Práticas de Informação e Integração” e “Informação e Sociedade”.

Estatísticas e resultados obtidos nos anos de 2014: levantamento estatístico


homens e mulheres (período de parceria com a Justiça: Janeiro a Dezembro de
201422)
No ano de 2014, foram realizados pelo Projeto Dialogar 266 atendimentos
individualizados, envolvendo crimes e conflitos de violência contra a mulher, sendo:
a) Mulheres investigadas encaminhadas pela justiça: 07 (todas participaram
das oficinas);
b) Homens investigados encaminhados pela justiça: 259 (177 participaram das
oficinas).
Resultados:
a) Das 07 mulheres investigadas não houve reincidência (0%);
b) Dos 177 homens investigados apenas 7 reincidiram (3,95%).

Estatísticas e resultados obtidos nos anos de 2015: levantamento estatístico


homens e mulheres (período de parceria com a Justiça: Janeiro a Dezembro de
2015)
No ano de 2015, foram realizados pelo Projeto Dialogar 218 atendimentos
individualizados, envolvendo crimes e conflitos de violência contra a mulher, sendo:
a) Mulher voluntária: 01;
b) Homem voluntário: 01;
c) Mulheres investigadas encaminhadas pela justiça: 04 (todas participaram
das oficinas);
d) Homens investigados encaminhados pela justiça: 212 (161 participaram das
oficinas).

22 Dados referentes a pesquisa realizada no REDS até a data de julho/2015.


65
Núcleo de Atendimento a Vítimas de Crimes Raciais e de Intolerância
(NAVCRADI)

O Núcleo de Atendimento a Vítimas de Crimes Raciais e de Intolerância


(NAVCRADI) surgiu em decorrência de compromissos assumidos pela
Superintendência de Investigação e Polícia Judiciária da Polícia Civil de Minas Gerais
(SIPJ), na 1ª reunião conjunta da Comissão de Segurança Pública e de Direitos
Humanos realizada em 05/06/2013 na Assembleia Legislativa do Estado de Minas
Gerais.
Esta reunião contou, além da Polícia Civil de Minas Gerais, com representantes
do Ministério Público Estadual, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social,
do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial, Federação Israelita do
Estado de Minas Gerais, Instituto Histórico Israelita Mineiro e do Centro Nacional de
Africanidade e Resistência Afro-Brasileira e Câmara Municipal de Belo Horizonte.
Em 28/11/2013, foi implantado o NAVCRADI sendo sua sede adida à Delegacia
Especializada de Atendimento à Mulher, Idoso e Portador de Deficiência e atualmente,
o Núcleo funciona subordinado à Coordenação de Direitos Humanos da SIPJ.
O Núcleo de Atendimento a Vítimas de Crimes Raciais e de Intolerância
(NAVCRADI) atende e orienta às vítimas de crimes raciais que comparecem ao
Núcleo de forma espontânea ou que são encaminhadas por alguma instituição,
através de ofício ou disque 100.
O Núcleo viabiliza procedimentos junto às unidades de Polícia Civil, contata as
Autoridades Policiais alertando-as quanto à ocorrência de crimes raciais no REDS e
os devidos cumprimentos de prazo para que não haja decadência do fato crime.
O NAVCRADI participa de cursos, palestras, ações sociais, reuniões, eventos
e audiências públicas relativas à temática de sua atuação, além de receber e orientar
qualquer cidadão(ã) que deseje informações sobre assuntos raciais.

Núcleo de Atendimento e Cidadania LGBT (NAC-LGBT)

O Núcleo de Atendimento e Cidadania LGBT – NAC-LGBT foi inaugurado em


20 de outubro de 2011 pela Divisão Especializada de atendimento à Mulher, Idoso e
Deficiente (DEAMID). Atualmente, o núcleo realiza seus trabalhos junto à
Coordenação de Direitos Humanos (SIPJ).
66
O núcleo NAC-LGBT surgiu devido a incidência de crimes motivados pela
intolerância à diversidade sexual, como também da necessidade de se realizar ações
que promovam o trabalho desenvolvido pela Polícia Civil de Minas Gerais no que se
refere às ações de polícia comunitária, promoção de cidadania e direitos humanos.
Além da demanda espontânea (pessoas que procuram o núcleo
pessoalmente), são recebidos encaminhamentos de outras unidades policiais, outras
instituições e também denúncias do disque-100 para averiguações e direcionamento
às delegacias de origem. As principais ações do núcleo são:
a) acolhimento e orientação dos envolvidos;
b) orientação sobre os direitos, bem como os serviços disponíveis;
c) aplicação dos Meios de Resolução Pacífica de Conflitos – Mediação de
Conflitos e Facilitação do Diálogo;
d) participação na rede estadual de atendimento e orientação à população
LGBT de Minas Gerais.
Conforme disposto no artigo 41 da Resolução nº 8.004 de 14 de março de 2018
as atribuições do NAVCRADI – Núcleo de Atendimento a Vítimas de Crimes Raciais
e o NACLGBT – Núcleo de Atendimento ao cidadão LGBT foram absorvidos pela
DECRIN – Delegacia Especializada em Repressão aos Crimes de Racismo,
Xenofobia, LGBTFobia e Intolerâncias Correlatas.

67
ANEXO II A MEDIAÇÃO DE CONFLITOS COMO PRÁTICA DE POLÍCIA
JUDICIÁRIA EM MINAS GERAIS: MEDIAR – HISTÓRICO E RESULTADOS

Autoras: Adriana Maria Amado da Costa de Andrade e Letícia Baptista Gamboge Reis
Colaboração: Geraldo Franciano P. Andrade

1 Apresentação

O MEDIAR teve início com o projeto piloto do Núcleo de Mediação de Conflitos


instalado na Delegacia Regional de Polícia Civil Leste, em Belo Horizonte, o qual
iniciou suas atividades em setembro de 2006, tendo como objetivo buscar uma forma
amigável e colaborativa de resolução de controvérsias e novos canais de inter-
relacionamento e confiança entre a Polícia e a comunidade atendendo-se
principalmente a demandas tipificadas como crime de menor potencial ofensivo, de
acordo com a Lei nº 9.099/1995, e em casos em que os demandantes apresentavam
relação continuada.
O grande desafio que o MEDIAR buscou enfrentar, que corresponde ao seu
escopo principal, foi o de diminuir o número de reincidência das ocorrências que
aportavam nas Delegacias de Polícia. A reincidência é quando o demandante ou o
demandado retorna à Unidade Policial para relatar outro fato e, às vezes o mesmo
fato, envolvendo o problema e os envolvidos da primeira ocorrência registrada.
A Resolução nº 7.169, de 03 de novembro de 2009, que dispõe sobre a
Mediação de Conflitos na Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, ANEXO 1, em seu
Art. 2º, parágrafo único, Inciso III, representa bem o escopo do MEDIAR ao definir que
os fundamentos da Mediação de Conflitos requerem transformar os problemas e
controvérsias interpessoais ou comunitárias em desafios políticos e pedagógicos das
próprias pessoas ou grupos envolvidos, estimulando soluções criativas do ponto de
vista econômico, político ou moral. Assim, o modelo que se tem buscado desenvolver
nos Núcleos de Mediação de Conflitos MEDIAR e que melhor se adequou ao objetivo
da proposta é o da Mediação Transformativa.
A Mediação de Conflitos Transformativa é o modelo desenvolvido pelos
Mediadores americanos Joseph P. Folger e Robert A. Baruch Busch 23. O modelo,
voltado para a relação, sustenta que o escopo da Mediação é a Capacitação ou
empoderamento das partes para que sejam capazes de compor seus futuros conflitos,

23 BUSH, Robert A. Baruch; FOLGER, Joseph P. The Promise of Mediation: Responding to Conflict
through Empowerment and Recognition. San Francisco: Jossey-Bass, 1994.
68
e o reconhecimento mútuo de interesses e sentimentos objetivando uma aproximação
das partes e a humanização do conflito.
Este modelo busca o crescimento moral dos participantes da Mediação por
duas vias: na capacitação, ou seja, no autor reforço que ocorre quando os
participantes conscientizam-se de seus próprios objetivos, interesses, opções e
recursos, na sua capacidade para organizar e apresentar argumentos, e na sua
capacidade de tomada de decisão consciente; e segundo, no empowerment
conjugado com o reconhecimento da situação e do outro ou livre reinterpretação da
sua ação.
De 2006 aos dias atuais, o MEDIAR passou por três expansões, contando com
13 Núcleos instalados em Belo Horizonte, Região Metropolitana e interior do estado,
além de ter se consolidado como atividade de polícia judiciária por meio da edição da
Resolução nº 7.169/2009 e pelo amadurecimento metodológico alcançado nos cursos,
capacitações e treinamentos a que foram sendo submetida a equipe do MEDIAR, o
que pode gerar o Manual de Supervisão Metodológico e o Manual do Mediador com
a confecção e utilização de instrumentos próprios, a exemplo de Ficha de
Atendimento Individual, Questionário Socioeconômico, Termo de Adesão e
Esclarecimento, Termo de Acordo, entre outros.
Os Núcleos contam com a atuação de servidores policiais civis, em geral em
número de dois por Núcleo, além de receberem supervisão de dois Supervisores
Metodológicos. Estruturalmente, ao longo destes anos, foram instalados em
ambientes próprios à Mediação e equipados com mobiliário e equipamentos de
informática e tecnologia permitindo interface com programas e sistemas utilizados
pela Polícia Civil.
Adiante, passaremos à apresentação do histórico do MEDIAR e resultados
apurados até a presente data.

2 Histórico

O projeto piloto do MEDIAR foi desenvolvido na 5 a Delegacia de Polícia da


Delegacia Regional de Polícia Civil Leste (DRPC/Leste), em Belo Horizonte, no ano
de 2006, contando com a participação de duas servidoras policiais civis e uma
servidora da Polícia Militar de Minas Gerais, cedida para este fim. O projeto teve como
objetivo buscar uma forma amigável e colaborativa de resolução de controvérsias e
69
novos canais de inter-relacionamento e confiança entre a Polícia e a comunidade,
destacando-se como projeto de Polícia Comunitária premiado em 2007 pela Academia
de Polícia Civil de Minas Gerais.
O projeto piloto desenvolvido na DRPC/Leste demonstrou que o método da
Mediação de Conflitos foi eficaz na solução de controvérsias e no atendimento
qualificado de demandantes que, muitas das vezes, eram reincidentes na Delegacia
de Polícia. Durante o período de laboratório, sendo de 01/02/2006 a 01/09/2006 e de
01/10/2006 a 02/05/2007, foi possível identificar a queda no número de Registros de
Evento de Defesa Social (REDS) e de Termos Circunstanciados de Ocorrência (TCO).
Em 2007, no Núcleo MEDIAR da DRPC/Leste foram atendidos 117 casos e, no
ano de 2008, 224, que geraram 672 atendimentos e 113 acordos.
No ano de 2008, foi instalado o Núcleo de Mediação de Conflitos na 36ª
Delegacia Regional de Polícia Civil Barreiro, em Belo Horizonte. O Núcleo iniciou os
atendimentos formalmente após a capacitação das mediadoras policiais, em
novembro de 2008 (Curso de Mediação de Conflitos/Convênio SENASP/2008).

2.1 Primeira Expansão

Aos 09 dias do mês de abril de 2008, o Estado de Minas Gerais, por intermédio
da Secretaria de Estado de Defesa Social – SEDS e a Polícia Civil de Minas Gerais
celebraram o Termo de Cooperação Técnica cujo objeto foi o de viabilizar espaços
físicos nas Delegacias Regionais de Polícia Civil de Belo Horizonte a fim de permitir o
funcionamento do Projeto MEDIAR. O prazo de vigência do Termo foi maio de 2008 a
abril de 2009.
Através do Termo de Cooperação Técnica nº 04/2008 foi possível a criação dos
Núcleos de Mediação de Conflitos nas Delegacias Regionais de Polícia Civil de Belo
Horizonte, a fim de abrigar o Projeto MEDIAR expandindo-o para as demais cinco
Delegacias Regionais de Polícia Civil, a saber: Noroeste, Sul, Centro, Venda Nova e
Barreiro. As atividades, que se iniciaram em maio de 2009, contavam com
atendimentos nos Núcleos, supervisões e capacitação continuada sob orientação
metodológica do Centro de Referência de Polícia Comunitária, na ACADEPOL.

2.2 Segunda Expansão

Na Segunda fase de expansão do Projeto, no período de 2009-2010, foi


prevista a criação de cinco núcleos, por força do Termo de Cooperação Técnica nº
70
004/2008, com a Secretaria de Estado de Defesa Social – SEDS, e por necessidade
diagnosticada pela Coordenação do Projeto de atuação preventiva nos locais
definidos. Seriam instalados dois Núcleos no 2º Departamento de Polícia, nas
Delegacias Regionais de Betim e Contagem; dois Núcleos no 3º Departamento de
Polícia, nas Delegacias Regionais de Santa Luzia e Vespasiano; um Núcleo no
Departamento de Investigação, Orientação e Proteção à Família, na Delegacia
Especializada de Atendimento ao Idoso e ao Portador de Necessidades Especiais; e
um Núcleo no Departamento de Trânsito junto à Delegacia Especializada de
Acidentes de Veículos -DEAV.
O espaço físico nas Delegacias Regionais foi delimitado e todos os Núcleos
receberam mobiliário para implementação das atividades, através do Termo de
Cooperação. Além disto, a Academia de Polícia Civil selecionou Policiais Civis para
comporem minimamente os Núcleos.
Entretanto, em 2010, foram criados os Núcleos de Santa Luzia; da Delegacia
Especializada de Atendimento ao Idoso/DIOPF; de Vespasiano/ACISP Morro Alto e
de Betim, nesta ordem temporária; desses, todos começaram os seus atendimentos,
com exceção de Betim que se iniciou em janeiro de 2011. Infelizmente, naquele
momento não foi possível a instalação do Núcleo de Contagem devido à falta de espaço
físico adequado e de Policias selecionados e capacitados para o atendimento. Com
relação ao Núcleo da DEAV, foram selecionados e capacitados dois servidores em 2009,
sendo ambos do cargo de escrivão e que, somente poderiam executar a atividade de
Mediação, acumulando-se as funções do escrivanato, o que inviabilizou a criação do
Núcleo.
Os estagiários contratados pelo Instituto Elo e cedidos pelo Termo de
Cooperação Técnica estiveram atuando nos seis Núcleos da Capital até o final de
junho de 2010 e os três Técnicos, por sua vez, até o final de dezembro de 2010.
Para dar conta da demanda de atendimentos, a Polícia Civil, por meio da
Academia de Polícia Civil de Minas Gerais, selecionou dezessete Policiais Civis para
comporem o quadro de Mediadores. Entretanto, pela conveniência da administração,
nem todos foram lotados nos novos Núcleos. Diante disso, o MEDIAR buscou outras
formas de compor os Núcleos, lançando mão, com o aval da Superintendência de
Investigações e Polícia Judiciária, de servidores que pudessem ser mais bem
aproveitados, a exemplo daqueles que apresentavam impedimento de saúde para o
escrivanato. No final de dezembro de 2010, os Núcleos encontravam-se com 26
mediadores, dentre Investigadores, Escrivães de Polícia e Auxiliares Administrativos
da PCMG.
71
Com relação às capacitações, a equipe do MEDIAR participou até o final do
ano de 2010, juntamente com a equipe do Programa Mediação de Conflitos (PMC),
da Secretaria de Estado de Defesa Social, duas vezes ao mês, de Capacitação
Continuada Conjunta, ainda por meio do Termo de Cooperação Técnica. O Instituto
de Mediação e Arbitragem do Brasil, por meio do seu Diretor, o Professor e Mediador
de Conflitos Adolfo Braga Neto, esteve junto ao PMC e ao MEDIAR para proferir Curso
de Mediação no ano de 2009. A partir de 2011, a Coordenação do MEDIAR buscou
realizar as capacitações semanais na Academia de Polícia Civil.

3 Resultados alcançados

3.1 Período: 2009 a 2010

O resultado mais alto, alcançado em 2009, foi a edição da Resolução nº 7.169,


da lavra do Senhor Chefe da Polícia Civil, que oficializou a atividade de Mediação de
Conflitos na instituição. A Resolução traz em seu Art. 1º a seguinte definição:

§ 2º Para os efeitos desta Resolução, a Mediação de Conflitos é uma técnica


de gestão pública à disposição de pessoas que, voluntariamente, solicitam os
serviços da Polícia Civil para a mitigação de problemas que indicam riscos de
aumento da violência nas relações da esfera privada ou social.
§ 3º A Mediação de Conflitos é aplicável mesmo em ambientes de ilícito em
tese já consumado, desde que presentes efetivas condições técnicas e éticas
de minimizar os efeitos subsequentes que apontem para o agravamento de
tensões e cometimento de novas infrações penais entre os implicados e
outras pessoas próximas do dissenso.

Além disto, em 2010, foi publicada pelo Senhor Superintendente de


Investigações e Polícia Judiciária, no Boletim Interno de 29/11/2010, as Diretrizes para
Funcionamento dos Núcleos MEDIAR (ANEXO2), que muito contribuíram para
operacionalizar as atividades nos Núcleos e dirimir as dúvidas internas.
Em 2009, de maio a dezembro, foram realizados 1.365 atendimentos nos seis
Núcleos de Mediação de Conflitos da PCMG, sendo que em apenas 26 casos houve
reincidência. Deste total, 379 casos foram encerrados.
De uma amostra de 325 casos encerrados, observou-se que foram realizadas
73 mediações, 113 práticas restaurativas (orientação, encaminhamentos, etc.) e do
total, 139 desistiram do procedimento da Mediação. A avaliação feita pela
Coordenação do Projeto apontou que, mesmo que as pessoas atendidas tenham
optado por outra prática restaurativa ou que não tenham concluindo o ciclo da

72
Mediação, mesmo assim conheceram o procedimento da Mediação e como lidar com
seus conflitos, pois tiveram atendimento e orientação qualificada.
Ainda dos 325 casos encerrados, os atendimentos envolveram 635 pessoas,
sendo 42% do sexo masculino e 58%, feminino. A grande maioria destas pessoas
eram alfabetizadas e a maior parte dos relatos de violência referiam-se à violência
doméstica, seja através de agressões físicas ou psicológicas.
Para entender-se melhor os relatos de violência, analisou-se uma amostra de
196 destes casos encerrados, obtendo-se o seguinte resultado:

Relatos implícitos de violência em 2009

0,51% 6,63% Violência policial

Violência contra criança e


adolescente
25,51% 14,29%
Violência psicológica

16,84% Outros tipos


18,88%
Violência doméstica/gênero
17,35%
Violência em geral (sem
vínculo relacionalaparente)
Violência física

Sobre a relação existente entre os mediados, dos 325 casos encerrados, 32%
tiveram relação de parentesco; 24% de vizinhança; 20% amorosa; 5% de amizade;
6% de trabalho; 7% não possuíam vínculo de convivência e 6% eram de outros tipos.
Aplicou-se um questionário a 466 das pessoas atendidas em 2009, no período
de maio a novembro, para identificar como tomaram conhecimento sobre o Projeto
MEDIAR, obtendo-se a informação de que 59% delas souberam do Projeto porque
foram encaminhadas pela própria PCMG, quando acionaram alguma Delegacia de
Polícia. Isto condiz com o fato de que, quando da implantação do Projeto em 2008,
através do Centro de Referência de Polícia Comunitária, a Coordenação do Projeto
realizou Encontros de Sensibilização com os Policiais Civis do 1º Departamento de
Polícia de Belo Horizonte24, a fim de informar e instruir sobre o funcionamento e
fluxograma dos Núcleos de Mediação, sendo 570 servidores sensibilizados.

24Ver Aviso Nº 57/CRPC/ACADEPOL/2009, publicado no Boletim Interno de 06/03/2009 e Aviso Nº


58/CRPC/ACADEPOL/2009, publicado em 10/03/2009.
73
Os outros resultados deram que 9,5% das pessoas tomaram conhecimento do
Projeto MEDIAR através de outros atendidos; 8,5%, através de divulgação
institucional (PCMG, SEDS); 4% foram encaminhados pela Polícia Militar; 2%, pela
mídia; e 17% de outras formas não relatadas.
Em 2010, os nove Núcleos do MEDIAR, sendo seis Núcleos das seis DRPC do
1º Departamento de Polícia de Belo Horizonte (Leste, Centro, Sul, Venda Nova,
Barreiro, Noroeste); o Núcleo da Delegacia Especializada de Atendimento ao Idoso e
ao Portador de Necessidades, do Departamento de Investigação, Orientação e
Proteção à Família de Belo Horizonte; o Núcleo da DRPC de Santa Luzia e o Núcleo
da Delegacia da ACISP/Morro Alto/Vespasiano realizaram 3.182 atendimentos.
Deve-se observar, entretanto, que o Núcleo da Delegacia Especializada de
Atendimento ao Idoso e ao Portador de Necessidades começou seus atendimentos
em abril; a Delegacia de Santa Luzia em maio e a Delegacia do Morro Alto em
novembro de 2010.
Esse total de atendimento abrangeu 4.988 pessoas, sendo estas atendidas
diretamente ou que foram beneficiadas ou atingidas indiretamente pela Mediação.
Observa-se, aqui, que o MEDIAR demonstrou ter um grande alcance no que diz
respeito à prevenção criminal, pois, mesmo que o indivíduo não tenha sido atendido
no núcleo, ele foi de alguma maneira beneficiado ou então atingido pelos resultados
alcançados na Mediação, o que evita a reincidência, como relatado abaixo, e ainda a
recriminação e revitimização. Além disto, entende-se que, mesmo se o resultado
alcançado não tenha sido o acordo, porque esta não é a meta da Mediação
Transformativa, o indivíduo atendido na Mediação, seja na pré-Mediação ou na
orientação, foi iniciado ou potencializado na prática restaurativa, ou seja, foi inserido
na compreensão do conflito para que possa melhor administrá-lo e evitar novos
desentendimentos em suas relações no futuro.
Dos 3.182 atendimentos, apenas 23 foram reincidentes, ou seja, retornaram
aos núcleos com novos casos para serem mediados, seja porque os acordos foram
descumpridos por uma das partes, seja por necessidade de outras orientações.
Os Núcleos conseguiram durante o ano de 2010 encerrar 1.242 casos. Os
casos encerrados geraram 276 acordos, 466 orientações, 26 aplicações de outras
práticas restaurativas e 345 desistiram ou do procedimento da Mediação ou então da
orientação.
Os Núcleos atenderam 53% de demandas tipificadas como crime, somados a
12% de demandas tipificadas como contravenção. Entretanto, os Núcleos também

74
atenderam as demandas atípicas quando não ocorreu o Registro de Evento de Defesa
Social, correspondendo a 35% das demandas.

A Mediação possui potencial especial para os conflitos oriundos de relações


continuadas ou cuja continuação seja importante, como as relações familiares
ou de vizinhança, porque permitirá o restabelecimento ou aprimoramento
dessas interações (COSTA, 2010).

Os dados a seguir demonstram que a maioria das pessoas atendidas nos


Núcleos apresentaram relação de parentesco ou de vizinhança com o demandante,
sendo 38% e 34% respectivamente. Entretanto, alguns Núcleos apresentaram situação
bem característica da área de atuação:
• Núcleo Idoso e Barreiro: relação de parentesco;
• Núcleo Leste, Venda Nova, Noroeste e Santa Luzia: relação de vizinhança;
• Núcleo Sul: relação de parentesco e vizinhança equitativamente;
• Núcleo Centro: relação de parentesco, vizinhança, de trabalho e sem vínculo
de convivência equitativamente;
• Núcleo Vespasiano: relação de afeto.
Outro dado importante diz respeito à percepção ativa do mediador frente aos
mediados atendidos. Através de sua percepção conseguem verificar os relatos
implícitos de violência e que, algumas vezes, não foi a demanda principal
encaminhada ao Núcleo. Obviamente, estão todos os mediadores capacitados para
cumprir o seu papel policial quando de relatos de crimes incondicionados à
representação, fazendo-se cumprir as formalidades legais.
Assim, foi observado principalmente o relato implícito de violência doméstica.
As demais poderão ser observadas no gráfico abaixo:

Relatos implícitos de violência em 2010

1,42% Violênciapolicial
0,47%
0,12% 5,32% Violênciasexual

6,26% Violência contra criança e


adolescente
Violência em geral (sem vínculo
25,77% relacional aparente) Uso
de álcool e drogas
10,28%
Violência patrimonial
12,17%
21,63% Violência Moral

14,42% Violênciapsicológica

Violência física

Outros tipos

75
No que concerne a cada área de atuação, também podemos verificar as
características específicas de cada Núcleo no atendimento de demandas com relatos
implícitos de maior número de tipo de violência:
• Núcleo Barreiro: violência psicológica e violência física;
• Núcleo Idoso e Santa Luzia: violência doméstica;
• Núcleo Venda Nova: violência psicológica;
• Núcleo Noroeste: violência moral e violência psicológica;
• Núcleo Centro, Leste e Sul: violência física;
• Núcleo Vespasiano: violência psicológica e violência doméstica.

3.1.1 Resultados Externos

O Projeto MEDIAR já foi divulgado pela mídia escrita, televisiva e pelo rádio,
além de ter sido apresentado no Seminário Internacional de Polícia Comunitária, em
novembro de 2008, em Brasília25.
Em 2007, foi alvo de pesquisa da primeira mediadora do MEDIAR26, no Curso
de Pós-Graduação Lato Sensu em Segurança Pública e Direitos Humanos; e, em
2008, também serviu como material para o artigo do mentor do projeto, Delegado
Anderson Alcântara Silva Melo27.
Em agosto de 2009, o Projeto MEDIAR foi selecionado entre 186 experiências
concorrentes de todo o país para participar da Feira de Conhecimento em Segurança
Pública com Cidadania. A Feira de Conhecimento em Segurança Pública com
Cidadania foi realizada no período de 27 a 30 de agosto de 2009, dentro da
programação da 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública– CONSEG, em
Brasília/DF28.
Como resultado da apresentação no Seminário Internacional de Polícia
Comunitária, em novembro de 2008, em Brasília, o Projeto MEDIAR foi um dos quatro
representantes brasileiros no Seminário Internacional de Boas Práticas do Mercosul e
Países Associados, ocorrido em Salvador, em novembro de2009.

25 Cf. site www.acadepol.mg.gov.br/crpc.


26 CARVALHO, Ellen Márcia Lopes Santos de. Mediação de Conflitos em um Distrito Policial: Uma
Estratégia Preventiva de Polícia Comunitária. Escola Superior Dom Elder Câmara, Belo Horizonte,
2007, Monografia de pós-graduação.
27 MELO, Anderson. A., S. A Construção de uma Polícia Democrática no Brasil: Reflexões e

Desafios. Revista IOB de Direito Penal e Processual Penal, São Paulo, ano VIII, n. 48, págs. 131-145,
fev./março 2008.
28 Cf. Boletim Interno da PCMG, do dia 27/08/2009.

76
Em 2009, o MEDIAR foi apresentado em palestra no Seminário de Segurança
Cidadã, no período de 16 a 18/12, em Belo Horizonte, realizado pela Secretaria de
Estado de Defesa Social. Ainda em 2009 e 2010, o MEDIAR foi apresentado pelos
aspirantes da Academia de Polícia Civil nas 1ª e 2ª Feira de Habilidades realizada no
campus e aberta à comunidade.
Ainda em 2009, foi publicado o artigo Mediação de Conflitos e Polícia
Comunitária pelo site <www.novacriminologia.com.br>, de autoria de Adriana M. da
Costa29, então Coordenadora do Centro de Referência de Polícia Comunitária da
ACADEPOL.
Em 2010, o MEDIAR foi apresentado em palestra no 1º Seminário em Mediação
de Conflitos de Minas Gerais: Contextos e Experiências, realizado no período de 19 a
20 de maio de 2010, no Centro Universitário Newton Paiva, pela parceria entre o
Programa Mediação de Conflitos da Secretaria de Estado de Defesa Social, o Centro
de Desenvolvimento da Cidadania e o Centro Universitário Newton Paiva.
Ainda, em 2010, na Semana da Conciliação e Mediação da OAB-MG, realizado
de 23 a 26/08/2010, o MEDIAR foi apresentado através da palestra ministrada
em26/08 intitulada “A prática da Mediação e a Polícia Civil: prevenindo a violência e
restaurando pessoas".
O MEDIAR ainda se fez presente no Seminário de Lançamento do Livro
Mediação e Cidadania - Programa Mediação de Conflitos - 2010, realizado pela
Secretaria de Estado de Defesa Social, no Auditório da OAB/MG, com o artigo
“Mediação: transformando conflitos e prevenindo violências”, de autoria de Adriana
Maria da Costa, membro da equipe do MEDIAR30.
Ainda, no ano de 2010, o MEDIAR foi alvo de estudo de três alunos do Curso
de Pós-graduação em Polícia Comunitária e Segurança Cidadã, da Escola Superior
Dom Helder Câmara, em Belo Horizonte313233, além de uma aluna do Curso de Pós-

29 COSTA, Adriana. M. . Mediação: transformando conflitos e prevenindo violências. In: Comissão


Técnica de Conceitos: Sandra Mara de Araújo Rodrigues; Cíntia Rodrigues de Almeida; Flávia Cristina
Silva Mendes; João Paulo Bernardes Gonçalves; Karina Angélica Brandão Cambrais. (Org.). Mediação
e Cidadania. 1 ed. Belo Horizonte: Arraes Editores, 2010, v. 1, 300 pag.
30 COSTA, Adriana M. Mediação de Conflitos e Polícia Comunitária. Disponível em
<www.novacriminologia.com.br/artigos>. 2009
31 BORONI, Luciano César Gomes. A Polícia Civil de Minas Gerais e o Policiamento Comunitário

- análise da competência sob a ótica da Função Institucional. Belo Horizonte, Escola Superior Dom
Helder Câmara, Especialização em Pós Graduação em Polícia Comunitária e Segurança Cidadã, 2010.
Monografia.
32 INÁCIO, Elialda Costa Araújo. Conhecimento e Identificação da Polícia Civil de Minas Gerais

com o Projeto Mediar. Belo Horizonte, Escola Superior Dom Helder Câmara, Especialização em Pós
Graduação em Polícia Comunitária e Segurança Cidadã, 2010. Monografia.
33 ALÍPIO JÚNIOR, Eudon José. A utilização da razão comunicativa na polícia comunitária:

interação dialógica na mediação de conflitos. Belo Horizonte, Escola Superior Dom Helder Câmara,
77
graduação em Segurança Pública e Sistema de Justiça Criminal, da Fundação João
Pinheiro34.

3.2 Período: 2011 a 2014

Em 2011, a PCMG possuía onze Núcleos do MEDIAR, sendo seis instalados


em cada uma das Delegacias Regionais do 1º Departamento de Polícia Civil de Belo
Horizonte (Leste, Centro, Sul, Venda Nova, Barreiro, Noroeste); um Núcleo na
Delegacia Especializa de Atendimento ao Idoso e ao Portador de Necessidades, do
Departamento de Investigação, Orientação e Proteção à Família de Belo Horizonte;
um Núcleo na DRPC de Santa Luzia; um Núcleo na 3ª Delegacia de Polícia/DRPC
Vespasiano; um Núcleo na 4ª Delegacia de Polícia/DRPC Betim e um Núcleo na
Corregedoria Geral de Polícia Civil. Em julho de 2012, foi instalado o Núcleo da
DRPC/Contagem e o Núcleo da Corregedoria encerrou suas atividades em setembro
de 2012. Em abril de 2013, por ocorrência da instalação da CEFLAN Leste, o Núcleo
da DRPC Centro foi temporariamente fechado. Em outubro de 2013 inaugurou-se o
Núcleo MEDIAR da DRPC de Ouro Preto e, em novembro, de Patos de Minas. Em
agosto de 2014 foi instalado o Núcleo MEDIAR Central, junto à Assessoria de Direitos
Humanos e Polícia Comunitária/SIPJ. Assim, ao final de 2014, somam-se 13 Núcleos
MEDIAR.
No período de janeiro de 2011 a dezembro de 2014, os Núcleos foram
responsáveis por 19.043 casos, sendo 3.747, em 2011; 2.688, em 2012; 5696, em
2.013 e 6.912, em 2014. Estes 19.043 casos geraram 20.964 atendimentos internos,
dentre Pré-Mediação, Mediação e orientação qualificada. Além disto, os Mediadores
realizaram outros procedimentos como encaminhamento para rede;
acompanhamentos ou monitoramentos dos casos atendidos, muitas das vezes por via
telefônica, internet ou consulta aos sistemas operados pela Polícia; executaram outras
ações fora do Núcleo como Encontros Metodológicos e atividades de polícia
comunitária, totalizando em 31.581 procedimentos realizados.

Curso de Pós-graduação em Polícia Comunitária e Segurança Cidadã, 2010. Monografia.


34 AMORIN, Aline de Oliveira. Mediação Policial: Desafios e Possibilidades. Belo Horizonte,

Fundação João Pinheiro, Pós Graduação em Segurança Pública e Sistema de Justiça Criminal, 2010.
Monografia.
78
ATIVIDADES REALIZADAS PELO MEDIAR ENTRE OS ANOS DE 2011-2014
Nº de atendimentos 2011 2012 2013 2014 TOTAL
Pré-Mediação sem REDS 1209 846 936 750 3741
Pré-Mediação com REDS 2119 1311 2547 4014 9991
Mediação sem REDS 288 185 330 266 1069
Mediação com REDS 370 306 540 624 1840
Orientação sem REDS 265 366 525 390 1546
Orientação com REDS 339 614 1195 1401 3549
SUBTOTAL 1 3747 3628 6073 7516 20964
Outros procedimentos
Encaminhamento para Rede 59 44 164 184 451
Expedientes aguardando 1º atendimento 138 432 2322 1893 4785
Expedientes recebidos e devolvidos 155 99 394 12 660
Acompanhamento/monitoramento 209 325 1553 1415 3502
SUBTOTAL 2 546 900 4433 5879 5879
Nº de atividades extra-atendimentos
Reuniões de discussão de casos 332 406 814 993 2545
Encontros Metodológicos 23 12 12 11 58
Supervisão Metodológica 115 114 118 130 477
Atividades de Polícia Comunitária 99 16 159 31 305
Apoio Operacional às UP’s35 99 140 773 341 1353
SUBTOTAL 3 668 688 1876 1506 4738
TOTAL GERAL 31581

Os Núcleos atenderam a 22.522 pessoas internamente. Observa-se que os


procedimentos que chegaram aos Núcleos por meio de despacho da Autoridade
Policial ou por encaminhamento da Recepção da Unidade Policial foram a maioria.
Isto comprova que o fluxograma de atendimento previsto para os Núcleos tem sido
respeitado.

NÚMERO DE PESSOAS ATENDIDAS PELO MEDIAR ENTRE OS ANOS DE 2011-2014


Nº de pessoas atendidas por caso 2011 2012 2013 2014 TOTAL
Pré-Mediação sem REDS 1005 916 1230 886 4037
Pré-Mediação com REDS 1602 1379 2803 3023 8807
Mediação sem REDS 419 234 389 244 1286
Mediação com REDS 492 364 891 815 2562
Orientação sem REDS 474 421 796 511 2202
Orientação com REDS 451 660 1183 1394 3688
TOTAL GERAL 4443 3974 7292 6813 22522

35Os Mediadores, apesar de serem lotados nos Núcleos, colaboram com as demais atividades nas
Unidades Policiais em que se encontram lotados, exceto em operações policiais na própria área do
Núcleo.
79
A fim de se verificar a característica do público atendido, foi aplicado um
Questionário Socioeconômico a 2.391 pessoas atendidas, em 2011, a 2.040, em
2012, a 3.649, em 2013, e a 4.884, em 2014. Destas, 7.440 foram mulheres e 5.204
homens e a maioria tendo entre 34 a 49 anos, correspondendo a 4.029. Observou- se
que, somente a partir de 2013, é que se começou a computar a orientação sexual
LGBT dos atendidos pelo MEDIAR.

PERFIL DO PÚBLICO ATENDIDO PELO MEDIAR ENTRE OS ANOS DE 2011-2014


Sexo/orientação sexual 2011 2012 2013 2014 TOTAL
Feminino 1383 1101 1897 3059 7440
Masculino 1020 833 1553 1798 5204
LGBT 37 27 64
Não informou 18 106 162 0 286
TOTAL 2391 2040 3649 4884 12994
Faixa Etária 2011 2012 2013 2014 TOTAL
Até 19 anos 75 92 218 421 806
De 19 a 34 anos 718 551 1131 1259 3659
De 34 a 49 anos 821 720 1201 1287 4029
De 49 a 65 anos 470 369 724 795 2358
Acima de 65 anos 261 121 281 245 908
Não respondeu 46 187 94 877 1204
TOTAL 2391 2040 3649 4884 12964

Ainda, por meio do Questionário Socioeconômico, foi possível verificar o tipo


de demanda que aportou nos Núcleos. Assim, no período de 2011 a 2014, os
Mediadores atenderam a 12.699 demandas tipificadas como crime de menor potencial
ofensivo, somadas a 505 demandas tipificadas como contravenção e a 129 demandas
provenientes de outras tipificações. Entretanto, os Núcleos também atenderam as
demandas atípicas quando não ocorreu o Registro de Evento de Defesa Social,
correspondendo 3.686 demandas.
Observa-se que, em 2014, os Mediadores identificaram nos casos atendidos
mais de um tipo de demanda e todos foram tratados adequadamente pela Mediação
ou por meio de outros procedimentos.

TIPO DE DEMANDAS ATENDIDAS ENTRE OS ANOS DE 2011-2014

Demanda Principal 2011 2012 2013 2014 TOTAL


Sem tipificação penal 705 618 962 1401 3686
Crime de menor potencialofensivo 1447 1344 2392 7516 12699
Contravenção 129 59 295 22 505
Outro crime 110 19 0 0 129
TOTAL 2391 2040 3649 8939 17019

80
Os casos reincidentes, ou seja, quando o demandante retorna ao Núcleo para
resolver o caso já encerrado pelos Mediadores - seja porque os acordos foram
descumpridos por uma das partes, seja por necessidade de outras orientações -
totalizaram em 246. Compreende-se que a Mediação realizada nos Núcleos do
MEDIAR tem sido eficaz na solução dos problemas apresentados pelos mediandos,
pois gira em torno de 1,3% os casos atendidos em que houve reincidência. Este dado
é o mais importante a ser observado, levando-se em conta o escopo do Projeto
MEDIAR que, em 2006, inicia as suas atividades justamente para reduzir a
reincidência.

NÚMERO DE CASOS EM QUE HOUVE REINCIDÊNCIA ENTRE OS ANOS DE 2011-2014


ANO Nº CASOS ATENDIDOS Nº CASOS REINCIDENTES %
2011 3.747 27 0,7%
2012 3.628 35 1,0%
2013 6.073 98 1,6%
2014 4.884 86 1,8%
TOTAL 18.332 246 1,3%

Outra informação relevante diz respeito à busca de justiça por parte dos
demandantes ao acessarem os Núcleos de Mediação de Conflitos. Para resolver o
caso levado ao Núcleo, 1.625 pessoas disseram ter acessado outra Delegacia de
Polícia, enquanto 580 disseram ter procurado outros órgãos em busca de solução,
mas que apenas tiveram o seu conflito resolvido através do MEDIAR.

BUSCA DE JUSTIÇA POR PARTE DOS ATENDIDOS ENTRE OS ANOS DE 2011-2014


Acesso à justiça 2011 2012 2013 2014 TOTAL
Número de membros da família, incluindo o 207 505 170 743 1625
demandante, que já acessou uma Delegacia de
Polícia para resolver este caso.
Número de membros da família, incluindo o 75 165 5 335 580
demandante, que já procurou outro órgão para
resolver este caso.

Os casos encerrados nos ciclos de Mediação geraram 1.924 acordos escritos;


499 encaminhamentos pra a rede parceira; elaboraram 2.258 Registros de Eventos
de Defesa Social – REDS; confeccionaram 4.535 Termos Circunstanciados de
Ocorrência – TCO e seu posterior encaminhamento ao Juizado Especial Criminal.
81
Além disto, dentre os 19.651 casos encerrados, houveram 954 desistências do
processo da Mediação e 2.988 não adesões ao processo da Mediação por parte de
um dos participantes, o que, atendendo ao princípio da voluntariedade, inviabilizou o
prosseguimento da Mediação, sem, contudo, prejuízo das demais atividades de
Polícia Judiciária.

RESULTADO DOS CASOS ENCERRADOS ENTRE OS ANOS DE 2011-2014


Resultados (casos encerrados) 2011 2012 2013 2014 TOTAL
Mediação 361 290 512 761 1924
Orientação 813 781 1359 1228 4181
Encaminhamento 97 67 198 137 499
Devolução36 143 83 71 100 397
REDS 94 231 769 1164 2258
TCO 488 766 1428 1853 4535
Desistência do processo de Mediação 222 119 350 263 954
Não adesão ao processo de Mediação 307 302 937 1442 2988
Arquivamento37 177 238 824 1010 2249
TOTAL 2368 2877 6448 7958 19651

O tipo de relação apresentada entre demandante e demandado merece


destaque pelos resultados obtidos. Os dados coletados nos Questionários
Socioeconômicos demonstram que a maioria dos mediandos atendidos nos Núcleos
apresentam relação de vizinhança, seguida pela relação de parentes como
demandante, correspondendo a 34% e 31% respectivamente, das demandas
atendidas. Interessante que, nos anos de 2011, 2012 e 2014 houveram mais
atendimentos envolvendo relações de vizinhança e de parentesco, porém, no ano de
2013, foi o inverso.

TIPO DE RELAÇÃO ENTRE DEMANDADOS ENTRE OS ANOS DE 2011-2014

Relação com a segunda parte 2011 2012 2013 2014 TOTAL


Relação de parentesco 831 600 988 1593 4012
Relação de vizinhança 899 752 932 1803 4386
Relação de amizade 122 82 315 119 638
Relação conjugal 189 170 139 302 800
Relação de trabalho 107 120 201 267 695
Sem vínculo de convivência 134 167 569 577 1447
Outros 109 149 505 223 986
TOTAL 2391 2040 3649 4884 12964

36Devolução do caso para a UP de origem por não comportar o procedimento da Mediação.


37Arquivamento devido ao fato dos atendidos não terem respondido às intimações ou cartas-convites
ou telefonemas dos Mediadores, não sendo possível prosseguir com o procedimento
82
Com relação à percepção ativa do mediador frente aos mediandos atendidos,
podem-se verificar relatos implícitos de violência que, algumas vezes, não foi a
demanda principal apresentada ao Núcleo. Assim, foi observado, principalmente, o
relato implícito de violência psicológica, seguida de violência física, correspondendo a
34% e 19% das observações dos Mediadores.

RELATOS IMPLÍCITOS DE VIOLÊNCIA ENTRE OS ANOS DE 2011-2014


Relatos implícitos de violência 2011 2012 2013 2014 TOTAL
Violência física 209 136 143 286 774
Violência psicológica 225 359 470 332 1386
Violência sexual 5 52 0 0 57
Violência patrimonial 142 248 129 167 686
Violência moral 151 90 0 202 443
Violência doméstica/gênero 61 33 69 75 238
Violência contra criança/adolescente 2 9 2 8 21
Violência policial 39 112 20 0 171
Outra 147 26 101 51 325
TOTAL 981 1065 934 1121 4101

3.2.1 Resultados Externos

O MEDIAR tem sido alvo de inúmeras pesquisas acadêmicas, dentre as quais


podemos citar:

CARVALHO, Monica Welimar de Oliveira. Mediação: Instrumento de Diálogo


com Perspectiva de Redução da Criminalidade e Auxílio da Justiça na
Resolução dos Conflitos Sociais. Belo Horizonte, 2011, Faculdade de Minas
– FAMINAS BH, Curso de Direito. Monografia.

STITT, Mary Ellen. Policing and Participation. New Orleans, Tulane


University, 2013.
DA MATA, Jessica Gomes. A justiça restaurativa e seu relacionamento com
o sistema de justiça criminal tradicional. Programa de Iniciação Científica da
Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 2014.

ANDRADE, Adriana M. Amado da Costa. A Perspectiva Sociológica


daResolução de Conflitos no Estudo do Comportamento frente às
Instituições. Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais, FAFICH,
2014. Tese de Doutorado, 169 pág.

SOUSA, Pamela Alves M. A Pacificação Social: Polícia Comunitária e Projeto


MEDIAR PCMG. Patos de Minas, Faculdade de Direito Professor Damásio
de Jesus, Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Direito Penal e Direito
Processual Penal, 2014.

83
Além disso, outras instituições policiais tem buscado inspiração no MEDIAR
para o desenvolvimento de ações semelhantes, a exemplo da Polícia Civil do
Amazonas, do Sergipe, de Tocantins, do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul.
Representando o MEDIAR, a Subinspetora de Investigação Adriana M. Amado
da Costa de Andrade, membro da equipe MEDIAR, apresentou em 27 de novembro
de 2014, o artigo "A Mediação e seus reflexos nos conflitos de vizinhança", no Global
Mediation Rio, evento que proporcionou a discussão sobre a prática e as metodologias
de resolução alternativas de conflitos38.
O evento foi realizado, entre os dias 24 e 28 de novembro, no Rio de Janeiro,
com a missão de propiciar o debate intercultural e transdisciplinar sobre outras
metodologias na resolução de conflitos e uma reflexão crítico-construtiva do acesso à
justiça e fortalecimento da cidadania. A programação também contou com
apresentações de representantes na área da Mediação de Conflitos de 30 países,
como Argentina, Angola, Colômbia, China, Egito, Estados Unidos, Espanha, França,
Hungria, Irlanda, Itália, México, Paraguai, Portugal, Roma e Suécia.

4. Conclusão

A Mediação de Conflitos, instituída na Polícia Civil de Minas Gerais por meio


da Resolução nº 7.169 é um exemplo de como é possível se estender as práticas
restaurativas nas comunidades em que os Núcleos se encontram instalados. Pelos
dados coletados durante o período de inauguração do projeto até dezembro de 2014
foi possível identificar que a maioria dos atendidos reside em bairros de padrão
popular, dedicando-se a ocupações características da classe trabalhadora ou pobre
e, a despeito de estarem ocupados, o índice de atendimento seja às intimações, seja
às cartas-convite, tem sido bastante significativo.
Observa-se que grande é o número de casos em que os dissidentes chegam à
fase do ciclo de Mediação, sendo 3.848 casos. Destes, 1.924 chegaram a um acordo
escrito, embora não ser este o objetivo principal da Mediação Transformativa, pois
mesmo não havendo um consenso possível ou que não consigam chegar a um
acordo, os participantes tiveram a oportunidade para um aprendizado que será

38Ver em <http://www.intranet.pc.mg.gov.br/noticia/exibir/geral/188066>. Acesso em 03 Dez. 2014 e


<http://www.intranet.pc.mg.gov.br/noticia/exibir/geral/188409>. Acesso em 11 Dez. 2014.
84
valioso, caso decidam buscar seus direitos por meio do sistema judicial, ou mesmo
para prevenir futuras desavenças.
Este é, na verdade, o grande ganho da prática aplicada no nível da
comunidade, pois o seu reflexo foi a diminuição significativa da reincidência nos casos
atendidos, girando em torno de 1,3% durante o período de 2011 a 2014. Os casos
reincidentes no MEDIAR são quando o demandante retorna ao Núcleo para resolver
a mesma demanda já encerrada pelos Mediadores - seja porque os acordos foram
descumpridos por uma das partes, seja por necessidade de outras orientações.
Compreende-se que a Mediação, realizada nos Núcleos do MEDIAR, tem sido eficaz
na solução dos problemas apresentados pelos mediados, pois é insignificante a taxa
de reincidência mantida. Este dado é o mais importante a ser observado, levando-se
em conta o escopo do Projeto MEDIAR que, em 2006, inicia as suas atividades
justamente para reduzi-la.
Assim, diante destes resultados, pretende-se uma quarta expansão do
MEDIAR para mais quatro localidades do interior do estado, desde que obtidos
recursos oriundos da proposta conjunta apresentada pela Polícia Civil de Minas
Gerais e Secretaria de Estado de Defesa Social à Secretaria Nacional de Segurança
Pública, em 201439. O status da demanda foi o aceite da proposta, aguardando
deliberações orçamentárias.

39Refere-se à Proposta SICONV 045182/2014, em que também são partícipes a Polícia Militar de
Minas Gerais e o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais.
85
ANEXO III: DIRETRIZES PARA FUNCIONAMENTO DOS NÚCLEOS MEDIAR –
EXEMPLO DE REGULAMENTO A SER USADO NO ÂMBITO ESCOLAR

Texto: Diretrizes para o funcionamento dos núcleos de mediação de conflitos-


MEDIAR (publicado no Boletim Interno em 29/11/2010)

O Superintendente de Investigações e Polícia Judiciária da Polícia Civil de Minas


Gerais, no uso de suas atribuições e na forma da Lei, com fulcro no disposto na
Resolução nº 6.812, de 19 de julho de 2005, na Resolução nº 7.169, de 03 de
novembro de 2009, e no Artigo 1º, § 1º da Resolução nº 7.299, de 10 de Novembro
de 2010, da PCMG,

RECOMENDA aos Policiais Civis lotados em Unidades em que esteja em


funcionamento o Núcleo de Mediação de Conflitos - MEDIAR, a observância das
diretrizes abaixo descritas:

I - Os objetivos do MEDIAR são a prevenção criminal, a redução da violência e dos


processos de criminalização, bem como a resolução extrajudicial dos conflitos sociais
que envolvam relações de continuidade. Nos termos do Art. 8º da Resolução nº
7.169/09, a Mediação de Conflitos na Polícia Civil se pautará pelos princípios da
voluntariedade, não-adversariedade; autonomia de decisão dos participantes
interessados na resolução do conflito; imparcialidade e neutralidade do mediador;
informalidade; confidencialidade; e gratuidade.

II - A gestão administrativa dos Núcleos de Mediação de Conflitos é incumbência dos


Delegados de Polícia titulares das Unidades Policiais em que estejam alocados,
devendo se ter a observância do fluxo de encaminhamento de ocorrências policiais,
acerca de casos passíveis de Mediação de Conflitos, conforme o constante no Anexo.

III - A gestão metodológica dos Núcleos de Mediação de Conflitos é incumbência da


Coordenação Metodológica do Projeto MEDIAR. A gestão metodológica engloba a
seleção dos Mediadores, sua qualificação e capacitação continuada, além da
realização da supervisão in loco dos Núcleos em funcionamento.

86
IV. O funcionamento dos Núcleos de Mediação de Conflitos se dará em horário de
expediente, devendo ser observado o compromisso com os atendidos. Deverá ser
estabelecida uma escala de permanência para garantir a continuidade do serviço,
inclusive no intervalo de almoço, caso se faça necessário.

V - Compete aos Delegados de Polícia, gestores dos Núcleos de Mediação de


Conflitos, a realização da avaliação periódica de desempenho dos Mediadores que
lhe são subordinados, a partir da verificação das especificidades da atividade de
polícia judiciária por eles executada. Os indicadores da avaliação de desempenho
deverão ser buscados pelos gestores junto à Coordenação Metodológica do MEDIAR.

VI - Os atendimentos de Mediação de Conflitos, no âmbito das Delegacias de Polícia,


deverão se dar através de duplas de Policiais, adotando-se a metodologia da co-
mediação. Quando não for possível o atendimento em dupla, o Mediador ficará
responsável pela triagem de casos, encaminhamentos, pré-mediações, entrevistas
individuais e orientação qualificada.

VII - Sempre que houver demandas de apresentação e representação institucional do


MEDIAR, tanto por órgãos de imprensa, quanto por quaisquer Instituições de Ensino
e Pesquisa, públicas ou privadas, além de quaisquer outros Órgãos, os Delegados de
Polícia gestores dos Núcleos, e os Mediadores deverão fazer o competente
encaminhamento à Coordenação Metodológica, a qual deliberará acerca da
pertinência ou não da solicitação formulada. A apreciação da Coordenação
Metodológica objetiva a garantia da padronização das informações que se referem ao
MEDIAR, como também o sigilo da identidade dos atendidos e evitar-se a eventual
exposição dos Mediadores, ofendendo-se os princípios dispostos no Artigo 10 da
Resolução nº7.169/09.

VIII - As capacitações continuadas em mediação se darão semanalmente, salvo


disposição em contrário. É obrigatória a frequência por todos os Mediadores Policiais,
como atividade de trabalho, sendo aferido o ponto do servidor, relativo ao dia da
capacitação, pela Coordenação Metodológica, havendo à comunicação de eventuais
faltas ao Delegado de Polícia gestor do Núcleo MEDIAR. A capacitação continuada
se justifica pelo fato de que a metodologia da Mediação de Conflitos exige constante
87
aprimoramento, construções teóricas, estudo e discussão de casos, adequando-se à
aplicabilidade da lei penal e da lei processual penal, bem como à rotina policial civil.

IX. É obrigatória a utilização de todos os instrumentos do MEDIAR, quando da


realização da Mediação de Conflitos, conforme a pertinência ao caso atendido. É
necessário o preenchimento da ficha de atendimento, em quaisquer hipóteses,
inclusive de orientação qualificada, encaminhamentos às redes de apoio e
atendimento de outros Órgãos, bem como quando da aplicação de outras práticas
restaurativas.

X - Os documentos/formulários referentes à aplicabilidade do procedimento de


Mediação de Conflitos pela PCMG, denominados instrumentos do MEDIAR, deverão
ser juntados aos Termos Circunstanciados de Ocorrência – TCO's, por ventura
lavrados, para posterior encaminhamento ao Poder Judiciário e adoção das medidas
pertinentes.

XI - Não há qualquer limitação na quantidade de atendimentos realizados pelo


MEDIAR. Caso ocorra demanda superior expressiva, dever-se-á levar à apreciação
da Coordenação Metodológica, para que se proceda as orientações adequadas. O
MEDIAR objetiva o atendimento qualificado dos atendidos, com a consequente
prevenção criminal.

XII - O pleno funcionamento dos Núcleos MEDIAR, é de responsabilidade do


Delegado de Polícia titular da Unidade, o qual deverá providenciar a alocação dos
recursos logísticos necessários, bem como o funcionamento de material deconsumo.
XIII - O policial atuante junto ao Programa de Mediação de Conflitos/MEDIAR, dentro
da perspectiva de policiamento comunitário, nos termos da Resolução nº 6.812, de 19
de julho de 2005, Resolução nº 6.732, de 05 de abril de 2004 e Resolução nº 7.169
de 03 de novembro de 2009, da PCMG, deverá prestar serviços preferencialmente
como Mediador de Conflitos e/ou Policial Comunitário. A preferência se justifica em
razão de que os vínculos estabelecidos entre o atendido e os mediadores se dão
através da confiança que lhes é depositada, para a exposição de fatos de íntima
privacidade, o que lhes confere legitimação pública, a qual não poderá se fragilizada.

88
XIV - Pelo princípio da voluntariedade que inspira o procedimento da Mediação de
Conflitos, o Policial Mediador não deverá trajar vestimenta ou identificação que possa
comprometer o consentimento do atendido.

Quaisquer dúvidas e controvérsias não contempladas pela presente


RECOMENDAÇÃO deverão ser submetidas à apreciação da Coordenação
Metodológica, a quem incumbe dirimi-las.

Registre-se. Publique-se. Cumpra-se.

Superintendência de Investigações e Polícia Judiciária, em Belo Horizonte, 22 de


novembro de 2010.

Gustavo Botelho Neto


Superintendente de Investigações e Polícia Judiciária

89
PARTE 2

14 PRÁTICA POLICIAL NO AMBIENTE ESCOLAR

A Convenção sobre os Direitos da Criança adotada pela Assembleia Geral da


ONU, em 20 de novembro de 1989, a Constituição Federal e a Lei Federal nº 8.069/90,
Estatuto da Criança do Adolescente-ECA, buscam garantir a toda criança e
adolescente o efetivo exercício de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa
humana baseado nos princípios fundamentais da dignidade da pessoa humana da
proteção integral e da prioridade absoluta.
Convenção sobre os Direitos da Criança em seu artigo 3º estabelece que:
1. Todas as ações relativas à criança, sejam elas levadas a efeito por
instituições públicas ou privadas de assistência social, tribunais, autoridades
administrativas ou órgãos legislativos, devem considerar primordialmente o melhor
interesse da criança.
2. Os Estados Partes comprometem-se a assegurar à criança a proteção e o
cuidado que sejam necessários ao seu bem-estar, levando em consideração os
direitos e deveres de seus pais, tutores legais ou outras pessoas legalmente
responsáveis por ela e, com essa finalidade, tomarão todas as medidas legislativas e
administrativas adequadas.
3. Os Estados Partes devem garantir que as instituições, as instalações e os
serviços destinados aos cuidados ou à proteção da criança estejam em conformidade
com os padrões estabelecidos pelas autoridades competentes, especialmente no que
diz respeito à segurança e à saúde da criança, ao número e à adequação das equipes
e à existência de supervisão adequada.
Nessa esteira, o art. 227 da Constituição Federal define que é dever da família,
da sociedade e do Estado garantir com absoluta prioridade o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.
É por causa dessa relação direta entre as diferentes garantias e direitos que o
Estatuto da Criança e Adolescente prevê um Sistema de Garantia de Direitos da
Criança e do Adolescente (SGDCA). Esse sistema foi institucionalizado e fortalecido
90
com a Resolução nº 113, de 19 de abril de 2006, do Conselho Nacional dos Direitos
da Criança e do Adolescente (Conanda). Esta Rede Proteção nada mais é que o
conjunto de entidades, profissionais e instituições que atuam para garantir apoio e
resguardar os direitos de crianças e adolescentes brasileiros.
A Lei nº 13.663, de 14 de maio de 2018, incluiu a promoção de medidas de
conscientização, de prevenção e de combate a todos os tipos de violência e a
promoção da cultura de paz entre as incumbências dos estabelecimentos de ensino.
Desse modo, é responsabilidade da escola promover essas medidas de
conscientização, de prevenção e de combate à violência e estabelecer ações
destinadas a promover a cultura de paz. Para isso, é imprescindível que os
profissionais da instituição saibam como atuar diante de situações de conflito e
conheçam a rede de atendimento e de proteção disponíveis dentro do Sistema de
Garantia de Direitos, o que inclui o Conselho Tutelar, serviços de saúde e de
segurança pública, entre outros.
A violência não é um fenômeno novo na sociedade, revelando-se de forma
complexa e multifacetada, provindo de causas diversas, de natureza social, histórica
e individual. Certamente, no universo escolar, as várias manifestações de violência
igualmente se fazem presentes, cada vez de forma mais acentuada.
A violência escolar pode acontecer dentro da escola, no trajeto casa-escola,
em ambientes externos que acontecem atividades escolares e até mesmo na própria
residência ou na comunidade. Na atualidade, pode extrapolar a localização geográfica
e ocorrer virtualmente.
Assim a comunidade escolar possui papel fundamental na prevenção,
identificação e encaminhamento de casos de violações de direitos de crianças e
adolescentes atuando como um equipamento potente de mobilização da rede de
atendimento, apoio, identificação, encaminhamento e prevenção de violências que
atingem crianças e adolescentes.

91
15 O SISTEMA DE EDUCAÇÃO NO ACOLHIMENTO DA CRIANÇA OU
ADOLESCENTE VÍTIMA DE VIOLÊNCIA EXTERNA

A atuação do sistema de educação é parte do fluxo geral do sistema de garantia


de direitos da criança e do adolescente, tendo seu início quando a escola toma
conhecimento de um caso de violência ou abuso contra a criança ou adolescente que
pode ocorrer porque o professor encontrou sinais que evidenciam uma situação de
violência ou abuso, como:
• Mudança de comportamento, alterações de humor entre retraimento e
extroversão, agressividade repentina, vergonha excessiva, medo ou pânico. Essa
alteração costuma ocorrer de maneira imediata e inesperada. Em algumas situações
a mudança de comportamento é em relação a uma pessoa ou a uma atividade em
específico.
• Comportamentos infantis repentinos, a criança ou adolescente volta a ter
comportamentos infantis, já abandonados.
• Mudança de hábitos súbitas: alteração de hábitos repentinos, como falta de
sono ou concentração, aparência descuidada.
• Automutilação: que é a prática intencional de comportamentos agressivos no
próprio corpo, sem a intenção de causar a morte.
• Traumatismos físicos: Os vestígios mais óbvios de violência sexual em
menores de idade são questões físicas como marcas de agressão, doenças
sexualmente transmissíveis e gravidez (importante frisar que se qualquer pessoa
menor de 14 anos estiver grávida ela foi vítima de estupro de vulnerável).
• Enfermidades psicossomáticas: São problemas de saúde, sem aparente causa
clínica, como dor de cabeça, erupções na pele, vômitos e dificuldades digestivas, que
na realidade têm fundo psicológico e emocional.
• Negligência: Muitas vezes, o abuso sexual vem acompanhado de outros tipos
de maus tratos que a vítima sofre em casa, como a negligência. Uma criança que
passa horas sem supervisão ou que não tem o apoio emocional da família estará em
situação de maior vulnerabilidade.
• Frequência escolar: Observar queda injustificada na frequência escolar ou
baixo rendimento causado por dificuldade de concentração e aprendizagem. Outro
ponto a estar atento é a pouca participação em atividades escolares e a tendência de
isolamento social.
92
Ou também vir do relato espontâneo da criança ou adolescente ou ainda pela
denúncia feita por um adulto ou algum colega da vítima.
Nesse sentido, com advento da Lei nº 13.431/17 estabeleceram-se vários
mecanismos de assistência à criança e ao adolescente quando expostos sobretudo a
situações de violência física, psicológica, discriminatória, sexual, institucional e
patrimonial, disciplinando formas especificas de acolhimento.
A referida norma, também conhecida como “Lei da Escuta Protegida” busca
minimizar os danos causados às crianças e aos adolescentes vítimas de violência,
tendo estabelecido um sistema de garantia e direitos quando este público for vítima
ou testemunha de crime, prevendo os procedimentos de escuta especializada e do
depoimento especial durante investigações.
Assim, a mencionada legislação criou um fluxo que busca organizar o
atendimento de crianças e adolescentes.
Vamos agora tratar o fluxo de acolhimento da criança ou adolescente, vítimas
ou testemunhas de todas as formas de violência.
É importante ressaltar que todos os atendimentos que ocorrem ao longo do
fluxo, desde o primeiro contato com a criança ou adolescente, devem seguir os
preceitos da Lei nº 13.431/17 e das diretrizes do Decreto nº 9.603/18, incluindo os
procedimentos para escuta protegida.
Ao realizar o atendimento inicial à criança/adolescente, faz-se necessário que
seja assumida uma postura empática, respeitosa, acolhedora e responsiva, e se
mantenha consciente do importante papel que desempenha como agente de
proteção.
A lei preconiza que se evite fazer perguntas a criança ou ao adolescente a não
ser que sejam indispensáveis ao encaminhamento do caso. Se for imprescindível
deve-se perguntar o mínimo necessário de maneira delicada e nunca fazer invasivas
ou que possam causar constrangimento.
O registro da escuta especializada pode ser feito por meio de relatório, no qual
devem ser registradas as perguntas realizadas pelo profissional, lembre-se quando
elas se fizerem estritamente necessárias ao encaminhamento do caso, bem como as
falas espontâneas da criança ou do adolescente, da forma mais fidedigna possível.
O relatório deve ser inteiramente descritivo, sem manifestação de qualquer tipo
de avaliação, julgamento ou conclusões sobre os fatos ou sobre a criança/adolescente
que foi acolhida. Ele deve ainda conter a descrição de comportamentos observáveis
93
da vítima/testemunha, como: se ela chorou em algum momento; se recusou a
responder algo; características marcantes sobre o desenvolvimento (exemplos:
crianças maiores ainda não alfabetizadas; adolescentes com comportamento
infantilizado, não esperado para a idade; dificuldades de fala ou compreensão; etc.).
Ressalta-se que a Lei da Escuta Protegida, não define a forma para o registro
e a transmissão do procedimento de escuta especializada, lembrando que este ato
não tem como finalidade a produção de prova, devendo ser limitado estritamente ao
necessário para o cumprimento de sua finalidade de proteção social e de provimento
de cuidados.
Vale lembrar que muitas informações podem ser colhidas entre os demais
atores do fluxo de atendimento ou com o adulto que acompanha a criança ou
adolescente, preservando-a assim da necessidade de falar repetidas vezes sobre o
assunto. Haverá o momento e o local adequados para que a criança ou adolescente
faça isso de maneira protegida.
É essencial a observância do cuidado para que não ocorra o compartilhamento
indevido fora da Rede de Proteção das informações reveladas, pois a escola é o local
que a criança ou adolescente continuará a frequentar todos os dias mesmo depois de
a denúncia ocorrer. Por isso é muito importante que ela tenha a sua identidade
protegida com o devido sigilo sobre o seu caso isto garantirá que ela possa retomar a
rotina com seus colegas e professores sem constrangimentos.
Pontualmente irão existir casos de falsas denúncias, ou seja, com relatos da
prática de situações que não ocorreram.
As falsas acusações podem ser feitas pela suposta vítima, por diversos
motivos, como má interpretação, sugestão acidental, delírio, má comunicação infantil,
mentira infantil inocente, falsas memórias espontâneas ou sugeridas, entre outras, ou
podem ser realizadas por outra pessoa em seu nome.
Durante a escuta especializada da criança ou adolescente, em casos de falsas
denúncias, o profissional deve ficar atento a alguns comportamentos.
Quando se trata de falsa denúncia, em regra, a criança ou adolescente não
consegue aprofundar o seu relato, não traz detalhes da situação que teria sido
exposta, bem como de outros fatos que circundam a violência noticiada, mantendo
uma narrativa rasa, com grande dificuldade em trazer mais informações além das
contadas inicialmente.

94
Outra característica que pode estar presente é o uso de palavras não
compatíveis com a faixa etária, sugerindo influência por uma pessoa adulta, ou ainda
a criança ou adolescente pode já começar o relato contando que sofreu a violação de
direito por algum familiar e trazer informações extremamente depreciativas, com
sentimento de ódio em relação ao mesmo.
A falsa denúncia pode também ser fruto de falsas memórias sugeridas de forma
deliberada, ou seja, é uma memória que foi implantada na criança/adolescente por um
dos genitores no processo conhecido como alienação parental. Esta situação é
extremamente sensível uma vez que, após algum tempo, o menor passa a acreditar
que vivenciou aquela experiência.
Por fim, vale mencionar que o protocolo de atendimento deve ser seguido na
íntegra e, caso estejam presentes algumas das circunstâncias acima citadas, estas
devem ser constatadas no relatório de atendimento, sem, todavia, trazer juízos de
valor nem mesmo concluir se a violência ocorreu ou não.
Ante ao exposto, sem prejuízo da adoção das medidas administrativas
inerentes a cada escola, o relatório gerado no educandário deve ser encaminhado
para as autoridades competentes.

15.1 FLUXO DE ATENDIMENTO A CRIANÇA E ADOLESCENTE VÍTIMA OU


TESTEMUNHA DE VIOLÊNCIA

1- Nos casos de flagrante, deve-se acionar a Polícia (Civil, Militar ou até mesmo
a Guarda Municipal) imediatamente.
Importante destacar que o estado de flagrante delito, nos termos do art. 302 do
CPP, ocorre quando:

• O indivíduo é flagrado cometendo a infração penal;


• Acaba de cometê-la, isto é, instantes após o ato;
• É perseguido após situação que faça presumir ser o autor da infração;
• É encontrado, logo após a infração, com elementos que indiquem ser sua a
autoria do fato.

No ambiente escolar, via de regra, o professor avaliar se está diante de uma


situação de flagrante é difícil, assim buscando uma ação diligente e segura, sugere-
se que diante da dúvida a Polícia seja acionada, deixando a cargo do Delegado de
Polícia realizar tal avaliação.
95
2- Em situação de emergência, ou seja, a criança ou adolescente foi alvo de
violência sexual, há menos de 72 horas, ou apresenta lesões corporais extensas a
vítima deverá prontamente ser encaminhada ao sistema de saúde.
A violência sexual impacta, não apenas, na saúde física, como risco de
contaminação por Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), entre elas, o HIV,
até a gravidez indesejada, mas também pode agravar o quadro já traumático, e na
saúde mental da pessoa, com quadros de depressão, síndrome do pânico, ansiedade
e distúrbios psicossomáticos.
No caso de violência sexual, de acordo com a Norma Técnica (Atenção
Humanizada às Pessoas em Situação de Violência Sexual, 2015), o atendimento
a pessoas em situação de violência sexual deve seguir as seguintes etapas:
acolhimento, registro da história, exames clínicos e ginecológicos, coleta de
vestígios, contracepção de emergência, profilaxias para HIV, IST e Hepatite B,
comunicação obrigatória à autoridade de saúde em 24h por meio da ficha de
notificação da violência, exames complementares, acompanhamento social e
psicológico, e seguimento ambulatorial.
Um dos grandes desafios para enfrentar essa violência é a articulação e
integração dos serviços e do atendimento de forma a evitar a revitalização destas
mulheres e, acima de tudo, oferecer o atendimento humanizado e integral.
Neste sentido, a Polícia Civil de Minas Gerais capacitou 44 (quarenta e quatro)
regionais de saúde de todo estado para a realização do para atendimento segundo o
modelo de atendimento integral, emergencial e multidisciplinar, com coleta precoce
de evidências.
Desta forma, os hospitais conveniados irão, além de realizar a sua função
primária, coletar todos os vestígios de interesse pericial para abastecer a investigação
policial e assim evitar que a vítima seja submetida a sucessivos exames que, em
regra, são extremamente invasivos.
Então naquelas localidades que possuem capacitação para este atendimento
humanizado, recomenda-se que a criança ou adolescente seja encaminhado para o
hospital de referência, uma lista com tais unidades será disponibilizada como material
complementar.

3- Nos casos de suspeita ou revelação espontânea, e que não se enquadre nas


situações já elencadas, a escola deve comunicar ao Conselho Tutelar e à Polícia Civil.

96
O Conselho Tutelar é órgão previsto no art. 131 da Lei nº 8.069, de 13 de julho
de 1990 (ECA), que o instituiu como "órgão autônomo, não-jurisdicional, encarregado
de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente".
Ou seja, atuam com o fim de zelar para que as crianças e os adolescentes
tenham acesso efetivo aos seus direitos, tendo o encargo social de fiscalizar se a
família, a comunidade, a sociedade em geral e o Poder Público estão assegurando
com absoluta prioridade a efetivação dos direitos das crianças e dos adolescentes,
cobrando de todos esses que cumpram com o Estatuto e com a Constituição Federal.
Já a Polícia Civil tem a missão de investigar a prática de um crime (evento
descrito em lei penal como sendo uma conduta humana não permitida) recolhendo
provas e dados objetivando determinar a autoria e materialidade delitiva ao Poder
Judiciário.
Assim constatado que a criança ou o adolescente está em risco, A Polícia Civil,
através do Delegado de Polícia, pode representar ao Poder Judiciário, em qualquer
momento da investigação, pela decretação de medidas de proteção de urgência,
como:
- Proibição do contato direto da criança ou do adolescente vítima ou
testemunha de violência com o suposto autor da violência;
- Afastamento cautelar do investigado da residência ou local de convivência,
em se tratando de pessoa que tenha contato com a criança ou o adolescente;
- A prisão preventiva do investigado, quando houver suficientes indícios de
ameaça à criança ou adolescente vítima ou testemunha de violência;
- Solicitar aos órgãos socioassistenciais a inclusão da vítima e de sua família
nos atendimentos a que têm direito;
- Requerer a inclusão da criança ou do adolescente em programa de proteção
a vítimas ou testemunhas ameaçadas; e
- Representar ao Ministério Público para que proponha ação cautelar de
antecipação de prova, resguardados os pressupostos legais e as garantias previstas
no art. 5º desta Lei, sempre que a demora possa causar prejuízo ao desenvolvimento
da criança ou do adolescente.

15.2 OS CRIMES MAIS PRATICADOS CONTRA A CRIANÇA E ADOLESCENTE

Os crimes que a criança e o adolescente estão mais suscetíveis a serem


vítimas são:
97
Estupro de Vulnerável, previsto no art. 217-A do Código Penal, que se constitui
na conduta de “ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14
(catorze) anos”. Aqui para que a conduta seja considerada criminosa, basta que o
indivíduo, seja do sexo masculino ou feminino, tenha praticado alguma conduta sexual
com uma pessoa menor de 14 anos independente se houve ou não consentimento ou
se a vítima já possuía uma vida sexualmente ativa, trata-se de uma proibição objetiva.
Por isso, toda e qualquer pessoa grávida com menos de 14 anos de idade foi
vítima do crime de estupro de vulnerável e deverá ser acolhida nos termos aqui
trabalhado.
A violência sexual contra pessoa menor não se resume ao estupro de
vulnerável, assim, temos no Código Penal os crimes contra a dignidade sexual,
possuindo capítulo específico acerca dos crimes sexuais contra vulneráveis: além do
art. 217-A do CP – estupro de vulnerável; tem-se o art. 218 do CP – mediação de
menor de 14 anos para satisfazer a lascívia de outrem; art. 218-A do CP – satisfação
da lascívia mediante a presença de menor de 14 anos; 218-B do CP – favorecimento
da prostituição ou outra forma de exploração sexual de criança, adolescente ou
vulnerável. O ECA também trata de crimes envolvendo a pedofilia: art. 240 do ECA –
utilização de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica; art.
241 do ECA – comércio de material pedófilo; art. 241-A do ECA – difusão de pedofilia;
art. 241-B do ECA – posse de material pedófilo; art. 241-C do ECA – simulacro de
pedofilia; art. 241-D do ECA – aliciamento de crianças.
Inúmeros tipos penais (crimes) estão englobados dentro do conceito de
violência doméstica os mais comuns são: maus-tratos (art. 136 do Código Penal),
lesão corporal dolosa em contexto de violência doméstica (art. 129, §9º do código
penal).
O crime de “Maus-Tratos” consiste na exposição a perigo da vida ou da saúde
de pessoa sob a autoridade, guarda ou vigilância do agente, para fim de educação,
ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados
indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando
de meios de correção ou disciplina.
Aqui é importante destacar que o Estatuto da Criança de Adolescente, em seu
art. 245, estabelece como obrigação do professor comunicar as autoridades
competentes: “deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de
atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à
98
autoridade competente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou
confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente”.

99
16 ATUAÇÃO DO SISTEMA DE EDUCAÇÃO NA VIOLÊNCIA ESCOLAR INTERNA

Os comportamentos inadequados

A violência na comunidade escolar sofre grande influência dos comportamentos


inadequados dos alunos que são divididos em três categorias: incivilidade, indisciplina
e infrações penais (atos infracionais).
A incivilidade consiste no comportamento que viola as regras de boa
convivência, contudo sem transgredir o regimento interno da instituição ou a lei.
A indisciplina é a transgressão das regras da escola, porém não infringe a lei.
Já o ato infracional, nos termos do art. 103 do ECA, é toda ação ou omissão,
cometida por criança e/ou adolescente, análoga à infração penal (que pode ser um
crime ou contravenção penal).
Tanto a criança quanto o adolescente são considerados inimputáveis em razão
da idade, conforme art. 228 da CRFB e art. 104 do ECA e não respondem por crimes
ou contravenções penais, mas como visto podem cometer atos infracionais, ou seja,
crianças e adolescentes cometem ato infracional, porém as responsabilizações por
seus atos são diversas em razão da idade, justamente devido à condição peculiar
desta fase da vida.
O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece no art. 2º que: “considera-
se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e
adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.”
À pessoa menor de 12 anos que pratique um ato infracional serão impostas,
como consequência de sua conduta, as medidas protetivas elencadas no art. 101 do
ECA, tais como: encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de
responsabilidade; orientação, apoio e acompanhamento temporários; matrícula e
frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; inclusão
em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da
família, da criança e do adolescente; requisição de tratamento médico, psicológico ou
psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; inclusão em programa oficial ou
comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos, dentre
outras.
Já, ao adolescente, pessoa maior de 12 anos e menor de 18, serão impostas
medidas socioeducativas, como: obrigação de reparar o dano; prestação de serviços
100
à comunidade; liberdade assistida; inserção em regime de semiliberdade; internação
em estabelecimento educacional.
O conceito de violência escolar pode ser esquematizado conforme a imagem
abaixo:

40

40 Fonte: Protocolos de Prevenção à Violência Escolar da Rede Municipal de Ensino de Joinville.


Disponível em:
<file:///D:/Downloads/Protocolos%20de%20Prevenc%CC%A7a%CC%83o%20a%CC%80%20Viole%
CC%82ncia%20Escolar%20da%20Rede%20Municipal%20de%20Ensino%20de%20Joinville.pdf>
101
16.1 BULLYING COMO ATO INFRACIONAL

O Bullying é uma palavra de origem inglesa que indica atos de agressão (física
ou psicológica) e intimidação repetitivos contra um indivíduo com o objetivo de causar
incômodo ou prejudicá-lo, via de regra havendo um desequilíbrio de poder entre o
agressor e a vítima.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostra que o Brasil ocupa
o quarto lugar no ranking de países com maior número de casos de bullying. Neste
caminho, a PeNSE, Pesquisa Nacional de Saúde Escolar, de 2019, apontou que 23%
dos quase 188 mil estudantes entrevistados, entre 13 e 17 anos, disseram ter sofrido
bullying na escola, sendo os motivos a aparência do corpo, do rosto, da cor ou da
raça.
Invariavelmente o bullying pode ir além de uma conduta de indisciplina e
configurar-se um ato infracional, tais como o racismo, injúria racial, perseguição,
agressão, lesão corporal, violência psicológica e outros.
Ao tomar ciência do acontecimento de tal situação, a escola precisa agir. É
necessário apurar a situação nos dias que se seguem ao conhecimento dos fatos.
Dentro desse cenário, o educador tem papel importantíssimo, sendo
constatada a prática de bullying, que também seja um ato infracional, deve-se
comunicar à Polícia Civil e ao Conselho Tutelar.
Não se deve minimizar a prática de um delito, ato infracional, minimizando-o
sob a ideia de que é “apenas” um bullying. Não! Se a conduta transgrediu uma norma
penal é imprescindível a atuação do Estado, para que esta situação tenha o seu
dimensionamento real, deixando claro que existe responsabilização pela prática de
tais atos.
A título de exemplo, um bullying entre os alunos que retrate ofensas ligadas a
aspectos físicos, como cor da pele, peso, religião ou a qualquer condição da pessoa
com deficiência, configura-se o ato infracional, ou crime se praticado por pessoa maior
de 18 anos, previsto no art. 140, §3º do Código Penal.
Nesse sentido a prática do bullying, por si só, já se configura uma transgressão
a uma norma penal, ou seja, é um crime ou um ato infracional. O art. 147-A do Código
Penal inserido pela Lei nº 14.132/2021, diz ser crime perseguir alguém de forma
reiterada trazendo-lhe dano à sua integridade física ou psicológica.

102
Se o ato infracional for cometido por adolescente (pessoa de 12 anos até 18
anos de idade incompletos), deve ser apurado pela Polícia Civil, em Belo Horizonte
pela Delegacia Especializada de Apuração de Atos Infracionais- DEAI, que irá
instaurar o procedimento de apuração do ato infracional. Cabendo a esta encaminhar
o caso ao Poder Judiciário, que poderá aplicar medidas socioeducativas previstas no
Estatuto da Criança e do Adolescente, como visto anteriormente.

16.2 ATOS INFRACIONAIS: VIAS DE FATO, LESÃO CORPORAL E RIXA

Vias de fato é a agressão física que coloque em risco a integridade física pela
prática de atos violência contra pessoa, sem que resulte em lesões corporais.
Exemplos: empurrar, sacudir, rasgar ou arrancar roupas, puxar cabelo, dar socos ou
pontapés, arremessar objetos.
A Lesão Corporal é a agressão que ofenda a integridade física, gerando dano,
lesões no corpo da vítima.
A rixa trata-se de uma briga ou desordem que envolve, pelo menos, três
pessoas que se agridem mutuamente. Via de regra, na rixa há uma confusão
generalizada onde não se consegue distinguir grupos de agressores.

• Se o autor for adolescente (de 12 a 17 anos, 11 meses e 29 dias de idade), e


esteja em estado de flagrante (nos termos do art. 173 do ECA e 302 do CPP) o infrator
pode ser conduzido à Polícia Civil, para realização dos procedimentos e apuração do
ato infracional.
• Se o autor for adolescente (de 12 a 17 anos, 11 meses e 29 dias de idade), e
não estejam presentes o estado de flagrante (evento que tenha acontecido a mais
tempo) deve-se oficiar à Polícia Civil informando do acontecimento de tais fatos, para
realização dos procedimentos e apuração do ato infracional
• Se o autor for criança (até 11 anos de idade), o Conselho Tutelar deve ser
acionado.

16.3 ATO INFRACIONAL EM RAZÃO DO USO DE ARMA

De forma genérica arma é todo aquele instrumento, mecanismo, aparelho ou


substância, especialmente preparado ou adaptado, para proporcionar vantagem no
103
ataque e na defesa em uma luta, batalha ou guerra, ou seja, todo objeto criado ou
adaptado para ofender a integridade física de alguém.
Nesse contexto, o art. 19 do Decreto-Lei 3.688/41, estabelece como
contravenção penal portar consigo arma fora de casa. Assim, é passível de punição o
porte de artefatos letais como as armas brancas (estilete, faca, canivete, dentre
outros).
Já arma de fogo é dispositivo que impele um ou vários projéteis através de um
cano pela pressão de gases em expansão produzidos por uma carga propelente em
combustão, e seu uso e porte é regulado pela Lei nº 10.826/03, que proíbe a posse
ou porte de arma de fogo sem autorização ou em desacordo com determinação legal
ou regulamentar.
Considerando as características do ambiente escolar toda pessoa que adentrar
na escola levando consigo alguma espécie de arma, independentemente de ter feito
alguma ameaça, ou de não ter a usado de for ostensiva, já estará praticando crime ou
ato infracional.

16.4 ATO INFRACIONAL ENVOLVENDO DROGAS

O consumo de drogas entre jovens é uma das questões que mais afligem a
sociedade contemporânea. A escola possui um papel extremamente relevante na luta
104
para combater este mal, já que prevenção através da educação, do conhecimento a
respeito do tema apresenta-se como uma das melhores alternativas para o
enfrentamento do consumo de drogas entre estudantes.
Lado outro, a presença de drogas nas escolas ou em suas imediações tem uma
capacidade lesiva maximizada, já que os jovens por serem pessoas em
desenvolvimento são vulneráveis podendo ser facilmente cooptados a ingressarem
no “mundo das drogas”.
Assim, constatada que alguém da comunidade escolar está portando ou
comercializando drogas, as medidas relativas ao acionamento da Segurança Pública
devem ser adotadas.
• Se o autor for adolescente (de 12 a 17 anos, 11 meses e 29 dias de idade), e
esteja presente o estado de flagrante (nos termos do art. 173 do ECA e 302 do CPP)
o infrator pode ser conduzido à Polícia Civil, para realização dos procedimentos e
apuração do ato infracional.
• Se o autor for adolescente (de 12 a 17 anos, 11 meses e 29 dias de idade), e
não estejam presentes o estado de flagrante (evento que tenha acontecido a mais
tempo) deve-se oficiar à Polícia Civil informando do acontecimento de tais fatos, para
realização dos procedimentos e apuração do ato infracional
• Se o autor for criança (até 11 anos de idade), o Conselho Tutelar deve ser
acionado.

16.5 AMEAÇA À ESCOLA

Havendo ameaça à integridade da unidade escolar ou à comunidade escolar,


de forma oral ou escrita, incluindo mensagens em redes sociais, sem prejuízo de
adoção das medidas administrativas de segurança já definidas pela escola, deverá
ser acionado imediatamente a Polícia através de seus canais de urgência, pelo 190,
ou a Guarda Municipal, reunindo a maior quantidade de informações sobre o ocorrido
para municiar a atuação policial. A possibilidade de suspensão das aulas deve ser
deliberada.

105
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