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TEORIA DO CONFLITO,
FORMAS E MÉTODOS
DE TRATAMENTO DOS
CONFLITOS
TEORIA DO CONFLITO,
FORMAS E MÉTODOS
DE TRATAMENTO DOS
CONFLITOS
Secretário-Geral
Carlos Vieira von
Adamek Diretor-
Geral
Johaness Eck
Secretário Especial de
Programas, Pesquisas e
Gestão Estratégica Richard
Pae Kim
2019
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
SUMÁRIO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 5
APRESENTAÇÃO 6
1 . TEORIA DO CONFLITO 7
1.1 O CONFLITO 7
1. 3 ESPIRAIS DE CONFLITO 12
1. 5 COMPETIÇÃO E COLABORAÇÃO 14
1. 6 MAPEAMENTO DO CONFLITO 15
2 2 JURISDIÇÃO 18
2.3 ARBITRAGEM 18
2.4 NEGOCIAÇÃO 19
2.5 CONCILIAÇÃO 20
2 6 MEDIAÇÃO 21
CONSIDERAÇÕES FINAIS 28
REFERÊNCIAS 29
TEORIA DO CONFLITO, FORMAS E MÉTODOS DE SOLUÇÃO DE
DE CONFLITOS
CONFLITOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
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UNIDADE 2
CURSO DE MEDIAÇÃO JUDICIAL
APRESENTAÇÃO
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TEORIA DO CONFLITO, FORMAS E MÉTODOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS
1 TEORIA DO CONFLITO
1.1 O CONFLITO
O conflito, segundo Boardman e Horowitz (1994, p 1-12), pode ser definido como
uma incompatibilidade de condutas, cognições (incluindo metas) e afetos entreindivíduos
ou grupos que podem ou não conduzir a uma expressão agressiva.
Surge a partir de diferentes fatores, como divergências de ideias ou
comportamentos, de objetivos ou modos de vida, de ideologia ou religião, de falta de
informação ou de informação equi- vocada; de pontos de vista diferentes sobre o que é
importante, de interpretações ou avaliações divergentes sobre os mesmos dados, entre
outras razões.
Estabelece-se como uma crise, retratada no desentendimento entre duas ou mais
pessoas sobre um tema de interesse comum Surge da dificuldade de se lidar com as
diferenças, associada a um sentimento de impossibilidade de coexistência de interesses.
Uma compreensão adequada do conflito pode transformá-lo em oportunidade, sob
diversas perspectivas para a retomada do diálogo que em algum momento tornou-se difícil
ou foi bloqueado; para a realização de ajustes necessários à retomada de relações
construtivas, para a identificação de soluções criativas para uma questão comum, para
maior e melhor compreensão da realidade, para o amadurecimento e o fortalecimento de
laços.
O conflito é inerente, inevitável e necessário às relações humanas É expressão de
necessidade É oportunidade de desenvolvimento pessoal e de melhoria de vida É a
diversidade e a diferença de valores É a principal alavanca da transformação social.
O problema não é a presença de conflito, mas o que fazemos quando ele surge e
qual a resposta que oferecemos.
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CURSO DE MEDIAÇÃO JUDICIAL
incompa- tíveis. Em regra, intuitivamente, se aborda o conflito como um fenômeno negativo nas
relações sociais que proporciona perdas para, ao menos, uma das partes envolvidas. Em
treinamentos de técnicas e habilidades de mediação, os participantes frequentemente são
estimulados a indicarem a primeira ideia que lhes vem à mente ao ouvirem a palavra conflito. Em
regra, a lista é composta pelas seguintes palavras:
GUERRA
BRIGA
DISPUTA
AGRESSÃO
TRISTEZA
VIOLÊNCIA
RAIVA
PERDA
PROCESSO
TRANSPIRAÇÃO
TAQUICARDIA
RUBORIZAÇÃO
ELEVAÇÃO DO TOM DE VOZ
IRRITAÇÃO
RAIVA
HOSTILIDADE
DESCUIDO VERBAL
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TEORIA DO CONFLITO, FORMAS E MÉTODOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS
REPRIMIR COMPORTAMENTOS
ANALISAR FATOS
JULGAR
ATRIBUIR CULPA
RESPONSABILIZAR
POLARIZAR RELAÇÃO
ANALISAR PERSONALIDADE
CARICATURAR COMPORTAMENTOS
Diante de tais reações e práticas de resolução de disputas, seria possível sustentar que o
conflito sempre consiste em um fenômeno negativo nas relações humanas?
A resposta da doutrina e dos participantes das citadas formações anteriores é
negativa. Constata-se que, do conflito, podem surgir mudanças e resultados positivos.
Quando questionados sobre aspectos positivos do conflito (i e “O que pode surgir de
positivo em razão de um conflito?”) – ou formas positivas de se perceber o conflito em regra,
participantes de cursos de formação em técnicas e habilidades de mediação apresentam, entre
outros, os seguintes pontos:
GUERRA PAZ
BRIGA ENTENDIMENTO
DISPUTA SOLUÇÃO
AGRESSÃO COMPREENSÃO
TRISTEZA FELICITADA
VIOLÊNCIA AFETO
RAIVA CRESCIMENTO
PERDA GANHO
PROCESSO APROXIMAÇÃO
discurso do advogado de algumas formas distintas: (i) como uma agressão (percebese o conflito
como algo negativo); (ii) como uma oportunidade de demonstrar às partes e aos seus advogados
como se despolariza uma comunicação (percebese o conflito como algo positivo); (iii) como um
sinal de insatisfação com sua atuação como mediador (percebese o conflito como algo negativo);
(iv) como um sinal de que algumas práticas autocompositivas podem ser aperfeiçoadas – e g sua
declaração de abertura poderia ser desenvolvida deixando claro que o processo de mediação
pode se estender por várias sessões e que o advogado pode auxiliar muito as partes ao
permanecer de sobreaviso nos horários das sessões de mediação; (v) como um desafio ou
confronto para testar sua força e domínio sobre a mediação (percebese o conflito como algo
negativo); (vi) como um pedido realizado por uma pessoa que ainda não possui habilidades
comunicativas necessárias (per- cebese o conflito como algo positivo) Na hipótese narrada, o
mediador, se possuísse técnicas e habilidades autocompositivas mínimas necessárias para
exercer esta função, seguramente perceberia a oportunidade que lhe foi apresentada perante
as partes e tenderia a reagir como normalmente se reage perante oportunidade como essa:
TRANSPIRAÇÃO MODERAÇÃO
TAQUICARDIA EQUILÍBRIO
RUBORIZAÇÃO ‘NATURALIDADE
ELEVAÇÃO DO TOM DE VOZ SERENIDADE
IRRITAÇÃO COMPREENSÃO
RAIVA SIMPATIA
HOSTILIDADE AMABILIDADE
DESCUIDO VERBAL CONSCIÊNCIAVERBAL
que o mecanismo de luta ou fuga tende a não ser desencadeado ante a ausência de
percepção de ameaça, o que, por sua vez, facilita que as reações indicadas na coluna da direita
sejam alcançadas.
Note-se que, se o mediador tivesse insistido em ter uma interação caso houvesse
reagido negativamente ao conflito, possivelmente tenderia a discutir com o advogado (e g
“não é minha culpa– são os problemas trazidos pelas partes que precisam de mais tempo”), ou
a julgá-lo (eg “Você sempreteveesse temperamento? Acho que ele não é compatível com a
mediação”), ou a reprimir comportamentos (eg “esse discurso foi desnecessário. O que o Sr.
gostaria não é ”), ou polarizaria a relação(eg “você é que não está sabendo participar de uma
mediação”) Isto é, entre outras práticas (ineficientes) de resolução de disputas na hipótese
citada temos aquelas da coluna da esquerda no quadro a seguir:
Por outro lado, no referido exemplo, o mediador poderia adotar práticas mais eficientes
para atender de forma mais direta seus próprios interesses – como o de ser reconhecido como
um mediador zeloso e que os seus usuários pudessem aproveitar a oportunidade da mediação
para aprender a lidar com o conflito da melhor forma possível e com o mínimo de desgaste
desnecessário. Para tanto, caberia ao mediador adotar algumas das práticas relacionadas à direita
no quadro anterior. Assim, ao ouvir o comentário do advogado, o mediador poderia responder
que: “Dr Tiago, agradeço sua franqueza Pelo que entendi o senhor, como um advogado já
estabelecido, tem grande preocupação com o tempo investido na mediação e gostaria de
entender melhor por quanto tempo estaremos juntos e em quais momentos sua participação
seria essencial Há algum outro ponto na mediação que o senhor gostaria de entender melhor?
Vale destacar que a resposta dada ao advogado estabelece que não há necessidade de
se continuar o diálogo como se um estivesse errado e o outro certo. Parte-se do pressuposto
de que todos tenham interesses congruentes – como o de ter uma mediação que se
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CURSO DE MEDIAÇÃO JUDICIAL
desenvolva em curto prazo com a melhor realização de interesses das partes e maior grau de
efetividade de resolução de disputas. O ato ou efeito de não perceber um diálogo ou um
conflito como se houvesse duas partes antagônicas ou dois polos distintos (um certo e outro
errado) denominase despolarização. No exemplo, constata-se que, se o mediador tivesse
despolarizado a interação com o advogado, isso não o colocaria em situação de humilhação ou
inferioridade em relação a este profissional. De fato, percebese que ele apenas assumiu
posição mais confortável na mediação – de legitimidade e liderança – a partir do momento
em que tivesse demonstrado saber resolver bem conflitos.
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TEORIA DO CONFLITO, FORMAS E MÉTODOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS
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1. 5 COMPETIÇÃO E COLABORAÇÃO
No seu processo contínuo de tomada de decisão, a pessoa com frequência se depara com
alguns dilemas. É comum que mais de uma pessoa tenha interesse sobre um mesmo bem, seja
ele um bem material ou imaterial.
Nesse momento, duas atitudes podem surgir, em especial quando não há segurança
quanto à reação dos demais interessados diante de uma suposta escassez, ou seja, de uma
suposta impossibilidade de um mesmo bem satisfazer a todos: pode haver competição ou
pode haver colaboração.
A chamada Teoria dos Jogos nos indica que a melhor opção é a colaboração. Foi
desenvolvida por John Nash, um matemático que ousou questionar as ideias de Adam Smith,
para quem, em uma competição, a ambição individual serve ao bem comum. Nash, partindo do
pressuposto de que se todos competem pelo mesmo bem, todos se bloqueiam e ninguém ganha,
defendeu que o melhor resultado é obtido quando todos no grupo fazem o que é melhor para si
e para o grupo.
A Teoria dos Jogos é o estudo da tomada de decisões entre indivíduos, quando o
resultado de cada um depende das decisões dos outros, em uma interdependência similar
a um jogo. Ela oferece algumas ferramentas para antecipar o movimento do outro
interessado, auxiliando na elaboração de estratégia que antecipe as opções, considerando as
possíveis reações do outro. Essa teoria nos oferece bom fundamento teórico para explicar
quando a solução consensual de um conflito pode apresentar vantagens e desvantagens em
relação à entrega da solução a um terceiro (heterocomposição).
De forma muito resumida – e você poderá aprofundar-se um pouco mais no tema por
meio da leitura do Manual de Mediação do CNJ, a Teoria dos Jogos nos indica que, se todos
fizerem o melhor para si e para os outros, todos ganham.
Trata-se de demonstrar que o elemento-chave para uma estratégia de negociação é a coope-
ração e, não, a competição.
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TEORIA DO CONFLITO, FORMAS E MÉTODOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS
> Dominação: um dos interessados tenta impor seus desejos de forma física ou psicológica;
> Concessão: um dos interessados cede unilateralmente diante do outro;
Nem sempre a posição adotada pelas pessoas em um conflito traduz os seus reais
interesses e necessidades.
O mapeamento do conflito é instrumento que auxilia na busca de elementos para a
formulação de estratégias de atuação pelo terceiro facilitador diante do conflito.
Por meio de algumas perguntas, pode-se obter melhor desenho do conflito,
identificando-se o porquê da sua existência, qual a questão de fundo e quais os reais
interesses e sentimentos envolvidos.
Entre as perguntas que podem ser formuladas pelo terceiro facilitador (conciliador ou
mediador), para si mesmo ou para os interessados, estão:
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TEORIA DO CONFLITO, FORMAS E MÉTODOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS
A doutrina tradicional faz menção a três formas de solução dos conflitos: a autotutela,
a auto-composição e a heterocomposição.
A autotutela significa a solução do conflito por esforço próprio. É conhecida como
fazer justiça pelas próprias mãos e apenas excepcionalmente está autorizada na lei. Um dos
exemplos é o previsto no §1º do art. 1210 do Código Civil, segundo o qual “o possuidor
turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contato que
o façal ogo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à
manutenção, ou restituição da posse”.
Excetuando-se as poucas hipóteses previstas em lei, a autotutela constitui crime e está
tipificada no art. 345 do Código Penal como exercício arbitrário das próprias razões: “Fazer
justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei
o permite: Pena– detenção de 15 dias a 01 mês, ou multa, além da pena correspondente à
violência”.
A autocomposição ocorre quando os próprios litigantes encontram a solução para
o término do conflito. Poderá haver, ou não, a interveniência de um terceiro como facilitador
e estimulador do diálogo, como na conciliação e na mediação. Porém, o terceiro não compõe
o conflito.
Podemos identificar, como espécies de autocomposição a negociação, a mediação e
a conciliação. A primeira não necessitando da interveniência de um terceiro e nas duas
últimas um terceiro intervém para facilitar o estabelecimento da comunicação entre os
interessados e o entendimento.
E, por fim, tem-se a heterocomposição. Dá-se a heterocomposição quando a solução do
conflito é dada por um terceiro. É este terceiro quem estabelece a solução para o litígio, tal como
lhe é apresentado pelos interessados.
São espécies de heterocomposição a jurisdição e a arbitragem.
Duas diferenças entre autocomposição e heterocomposição são marcantes:
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b) na autocomposição, o terceiro é ator coadjuvante, pois que não é ele quem soluciona o
conflito. São os próprios litigantes que encontram a solução do conflito. Diversamente,
na heterocomposição, o terceiro tem um maior protagonismo, substituindo-se à vontade
de cada uma dos interessados, ao apresentar a solução para o conflito.
2 .2 JURISDIÇÃO
2. 3 ARBITRAGEM
A decisão sobre os conflitos não é monopólio estatal Dizer quem tem razão não depende
exclusivamente da intervenção do Poder Judiciário. Embora, nos termos do art 5º, XXXV, da
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TEORIA DO CONFLITO, FORMAS E MÉTODOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS
Constituição, a lei não possa afastar do controle jurisdicional lesão ou ameaça a direito, os
próprios interessados podem, por livre manifestação de suas vontades, convencionar a entrega da
decisão sobre eventual litígio que as envolve a um terceiro.
Segundo Bacellar, a arbitragem pode ser definida como “um processo convencional
(convenção) que defere a um terceiro, não integrante dos quadros da magistratura oficial do Estado,
a decisão a respeito de questão conflituosa envolvendo duas ou mais pessoas” Para que este
processo de tomada de decisão se instaure, é essencial o consentimento dos interessados:
“enquanto o juiz retira seu poder da vontade da lei, o árbitro só o conquista pela submissão da
vontade das partes” (BACELLAR, 2016, p 130).
A sentença arbitral resolve o conflito. E esta sentença, em caso de descumprimento
pelas partes compromissárias, poderá ser executada judicialmente através do processo judicial,
já que a sentença arbitral é título executivo judicial como previsto no inciso VII do art. 515 do
Código de Processo Civil.
A Lei n 9 307/1996, que foi alterada e complementada pela Lei n 13 129/2015,
atualmente regulamenta a arbitragem. Em que pese não haver mais o monopólio estatal para
a resolução dos conflitos, a jurisdição exsurge como última fronteira para a manutenção da
ordem jurídica com amparo no princípio da inafastabilidade do controle pelo Poder Judiciário
de qualquer lesão ou ameaça de lesão a qualquer direito.
2. 4 NEGOCIAÇÃO
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interessados poderão negociar uma solução e requerer ao juiz que homologue o eventual
acordo que obtiverem, pondo fim ao processo.
2 .5 CONCILIAÇÃO
Entre conciliação e mediação, são apontadas outras notas distintivas, em especial quanto
à maior ou menor intervenção do terceiro facilitador na construção da solução para o conflito. A
postura do conciliador é mais ativa que a do mediador, na busca de possibilidades para a
solução do conflito. Sua abordagem é distinta da adotada pelo mediador, de forma que,
eventualmente, ele sugere soluções possíveis para a controvérsia trazida a juízo, na busca,
com os interessados, de possibilidades de solução consensual.
Esta postura mais ativa e focada na facilitação de um acordo, porém deve ser
adotada com cautela. Assim como a mediação, a conciliação é instrumento para a obtenção
de cenários de paz, de forma que o conciliador deve estar atento para identificar sinais de que
o verdadeiro conflito, a chamada lide sociológica pode estar sendo aprofundado com a mera
obtenção de um acordo para pôr termo a um processo. Em casos tais, ele talvez deva adotar
postura menos ativa, fazendo uso mais intenso das técnicas de mediação.
Assim como a mediação, a conciliação pressupõe a livre manifestação de vontade dos
litigan- tes, de forma que em hipótese alguma o conciliador poderá adotar posturas que
possam ser interpretadas como constrangimento para que o acordo seja realizado ou como
intimidação, acaso não ocorra.
A lei processual, no § 4º do art 166, fala em“livre autonomia dos interessados, inclusive
no que diz respeito à definição das regras procedimentais”. Portanto, o conciliador deverá estar
capacitado para perceber que sua atuação tem um limite, qual seja, a vontade dos reais
interessados.
Tanto judicial quanto extrajudicial, o conciliador haverá de ser imparcial,
independente, probo e estar capacitado para o exercício das técnicas de resolução
consensual de conflitos.
Os interessados podem escolher, de comum acordo, o conciliador, o mediador ou a
câmara privada de conciliação e de mediação. O CPC, no art 168, estabelece algumas
normas sobre esta escolha e recomenda que, sempre que possível, sejam designados mais de
um mediador ou conciliador para conduzir o ato.
2. 6 MEDIAÇÃO
A mediação é um método de resolução de conflito sem que um terceiro
independente e imparcial coordena reuniões conjuntas ou separadas com as partes
envolvidas em conflito. Seu objetivo, entre outros, é o de estimular o diálogo cooperativo
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entre elas para que alcancem a solução dos conflitos em que estão envolvidas (SAMPAIO,
2016, p 444).
Na mediação, a obtenção d oacordo não surge como o alcance de um objetivo
preestabelecido, mas como consequência lógica de um trabalho de cooperação e de
retomada do diálogo entre os interessados, com o auxílio de um terceiro facilitador.
As principais notas distintivas, apontadas pelo legislador, entre mediação e conciliação,
estão no vínculo anterior entre os interessados e na postura do terceiro facilitador. O mediador
atuará preferencialmente “nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes, auxiliará aos
interessados a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam,
pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios soluções consensuais que gerem
benefícios mútuos” (CPC, art 165, § 3º).
Como se percebe, diferentemente do conciliador, que pode adotar uma postura mais
ativa, participando da construção da solução para o conflito, o mediador tem por função auxiliar
no restabelecimento da comunicação, de forma a que os próprios interessados encontrem
caminhos para a eventual superação de suas controvérsias.
A mediação foi sendo introduzida gradativamente no Brasil, inicialmente sem uma
regulamentação específica. Em 2010, o CNJ a institucionalizou com o meio de solução de
conflitos judicializados, por meio da Resolução CNJ nº 125, estabelecendo uma série de
normas, inclusive quanto à formação dos mediadores equantoa os princípios norteadores
de sua atuação. E, porfim, em 2015 entrou em vigor a Lei nº 11 140/2015, Lei da Mediação e,
em 2016, o CPC, que trouxeram para o plano da lei formal este importante método de
resolução de conflitos, estabelecendo seus princípios epressupostos.
A mediação tem como princípios, além daqueles aplicáveis à conciliação e definidos no
art. 166 do CPC (independência, da imparcialidade, da autonomia da vontade, da
confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da decisão informada), a isonomia, a busca do
consenso e a boa-fé, trazidos pela Lei da Mediação, no art 2º.
A mediação processa-se de forma judicial ou extrajudicial e, por meio dela, se estimula o
amadurecimento da sociedade e uma nova cultura, na qual os próprios cidadãos passam a ser
capazes de solucionar seus conflitos, principalmente de forma pré-processual eextrajudicial.
É importante ter presente que a fronteira entre a conciliação e a mediação não é
claramente demarcada. E talvez não deva ser. Como ensina LAGRASTA, embora existam várias
teorias oferecendo critérios para diferenciar os dois métodos, na prática, eles não podem ser
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rigorosamente definidos, pois suas técnicas são praticamente as mesmas e seus conceitos se
interrelacionam, não sendo absoluta a regra que recomenda a conciliação para conflitos
objetivos e a mediação para os subjetivos. A distinção, segundo a autora, é útil apenas para que
o terceiro facilitador reconheça a situação que lhe é apresentada e use as técnicas mais
adequadas para atingir as expectativas das partes com maior ou menor ênfase às questões
subjetivas ou objetivas (LAGRASTA, 2016, p 233-245).
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2 .8 PROCESSOS HÍBRIDOS
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Há, no modelo, a proposta de uma visão sistêmica destinada a ampliar o foco não só nos
conflitos, mas com especial atenção nas pessoas.
Cada pessoa tem sua história de vida, seus valores, suas percepções e relações sociais
de per- tença em relação ao conflito.
Para essa escola ou para essa linha de pensamento, tudo se interrelaciona
reciprocamente e deve ser visto de forma global Nada pode ser visto de maneira isolada. A
linha tem foco tanto nas relações quanto na busca de um acordo.
Como o nome já sinaliza, decorre de uma pesquisa elaborada por Robert Baruch
Bushe Joseph Folger, é orientada e tem por intencionalidade a transformação do conflito.
Formulam uma crítica à mediação orientada para o alcance de acordos que pode o fuscar o
empoderamento das partes e a cooperação.
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