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UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO

FACULDADE DE DIREITO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO
MESTRADO EM DIREITO

DISCIPLINA: Jurisdição Constitucional e Democracia


PROFESSORAS: Prof. Dr. Rogério da Silva

OBRA EM RESENHA:
WARAT, Luís Alberto. Surfando na pororoca: o ofício do mediador. Florianópolis:
Fundação Boiteux, 2004, p.57-67, v.3.

MESTRANDOS RESPONSÁVEIS: Ana Isabel Mendes (Matrícula: 92.615);


Kauany Flores Pinheiro Machado (Matrícula: 189.334);

1) INTRODUÇÃO:

O livro Surfando na Pororoca: o ofício do mediador, de Luis Alberto Warat, trata sobre
a mediação e o papel do mediador, que como o autor define, é o papel de dar amor, estimular
as pessoas a chegarem aonde elas querem estar, estimulando a comunicação, o diálogo e o
entendimento. Para chegar a esse papel ideal, as pessoas – tanto mediador quanto mediandos
- devem qualificar a sensibilidade e a razão dos sentimentos, se ligando com a sua essência,
com o seu eu interior, esvaziando o seu interior do que é supérfluo.
O autor traz que um grande obstáculo para isso é o medo, que aumenta o sofrimento e
não deixa que passemos por ele; outro obstáculo seria a coragem quando é simulada, pois
também impede a pessoa de prosseguir. Assim, o mediador precisa atuar com autenticidade e
verdade, e precisa estar consciente de que não há ninguém ali para ser enganado, deve usar
toda a sua sabedoria para trazer o problema à tona e fazer com que as partes cheguem ao
ponto central do problema para que assim exista a transformação do conflito.
Então, o segredo da mediação é descobrir o que está escondido, aquilo que passa
despercebido até mesmo pelos que estão em conflito. Esse conflito ele nunca acabará apenas
se transformará em algo positivo ou negativo. Com o objetivo de ajudar a transformar o
conflito em algo positivo, o mediador necessita recuperar a sensibilidade das pessoas, para
que elas recuperem o crescimento interior e possam agir na resolução do conflito. Warat
argumenta que esse objetivo não será atingido por meio de técnicas e formalidades, pois para
mediar é preciso estar além das técnicas de comunicação, é preciso ver o problema com os
olhos do amor, compreendendo o valor de não resistir, de não lutar, de não manipular o outro.
A mediação deve atuar em conjunto com o amor, pois o amor, segundo o autor, é um
dos caminhos para se encontrar o crescimento pessoal, e assim chegaremos a uma autonomia
que facilita a solução dos problemas. Quanto ao amor, não há conceito certo, pois é um
sentimento complexo, é vida, é transformação, e junto com nascer e amar, compõe os três
maiores propósitos da vida.
A sensibilidade em conjunto com a mediação é um modo de pensar o lugar do direito na
modernidade: um direito sem o foco na individualidade e na violência, sem julgar e excluir o
outro, mas sim ligada no amor, nos vínculos afetivos, na ética e na sabedoria, buscando uma
melhor qualidade de vida para todos.

2) MEDIAR COM ADVOGADOS: MEDIAR AS OPORTUNIDADES VITAIS

O Autor relata não desejar intervir no que os juristas entendem como mediação, mas
entende que é um procedimento indisciplinado de autocomposição assistida dos vínculos
conflitivos com o outro em suas diversas modalidades, requerendo sempre a presença de um
terceiro. Difere da negociação direta, porque é assistida e estimula as partes para que
encontrem juntos o roteiro que vai tirar da encruzilhada.
Existem formas não judiciais de resolução de conflitos, como a arbitragem. Nesta
forma, o risco da decisão ocorre por meio do árbitro. Na mediação por autocomposição as
partes são envolvidas no conflito, assumindo o risco de suas decisões. Há o exercício da
autonomia, que é uma forma de convivência com a conflitividade. Negocia com o outro a
produção conjunta da diferença, facilitando uma considerável melhora na qualidade de vida.
A mediação diferente da conciliação e a arbitragem, que é semelhante à decisão
judicial, porque aquelas ignoram os motivos do conflito e o conflito de relacionamento
permanece inalterado. A mediação encontra problema no despreparo do mediador, com
postura defensiva e armada em relação ao conflito, característico da advocacia. Entende que a
mediação não trata a causa, mas a consequência. Não existe relação conflituosa se uma das
partes tem seus conflitos internos administrados, por isso a teoria do conflito tem que se mais
psicológica do que jurídica.
O conceito jurídico de conflito é negativo. Os juristas pensam que deve ser evitado e
não como algo que pode gerar satisfação. Falta no direito uma teoria do conflito que mostre
como o conflito pode produzir algo com o outro a diferença como produção do novo.
A mediação se caracteriza pelo terceiro que ajuda. É imparcial. É afetivo, ajudando as
partes na sua conciliação. O juiz ocupa lugar de poder e o árbitro lugar de amor. Não ocupa
posição de imparcialidade, mas de neutralidade. A mediação é a forma ecológica de produção
das diferenças e se ocupa de qualquer tipo de conflito: empresarial, ambiental, etc. Possui a
estratégia educativa, realização política da cidadania, dos direitos humanos e da democracia.
É fundamental trabalhar com os não-ditos, que expressam o conflito com maior grau
de riqueza. A mediação, ainda que seja um recurso alternativo do judiciário, não pode ser
concebida com as crenças e os pressupostos do imaginário comum dos juristas. A mentalidade
dos juristas costuma converter a mediação em conciliação. A mediação é um passo além da
mediação alternativa. Parte dela e a incorpora, a redefine e a rejeita em outras. Ao mediador e
ao ser humano é indispensável desenvolver este potencial.

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