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4.1. SEGUNDA PARTE – DO ESTADO.

PÁGIN CITAÇÃO
A
CAPÍTULO XVII
Das causas, geração e definição de um Estado.
A condição que o homem se coloca de “guerra de todos contra todos”, ao
114-115 seguir suas paixões naturais (parcialidade, orgulho, vingança..), só poderá ser
controlada através de um poder forte e visível, acima dos homens, para que
assim se estabeleçam os pactos e a leis da natureza (justiça, equidade, modéstia,
piedade..). Dessa forma, a figura do Estado tem como finalidade garantir a
segurança dos seus indivíduos, uma vez que se fôssemos depender das ações de
uma grande multidão, cada indivíduo agiria de acordo com seus interesses
particulares.
115-116 O autor explicita o caso das abelhas e formigas, que vivem em sociedade sem
precisar de um poder coercitivo. A razão da humanidade não conseguir o
mesmo, se dá por alguns motivos: 1. O homem está em constante competição
pela honra e dignidade; 2. O homem almeja apenas o bem individual, relegando
o bem comum e utiliza a comparação para alcançar a felicidade; 3. O homem,
dominado pela razão, tende ao julgamento às administrações comuns. 4. O
homem possui a arte da palavra, razão pela qual há uma subversão em relação
aos conceitos de bom ou mal ou bem ou mau; 5. As criaturas são seres
irracionais, de forma que são incapazes de distinguir o dano do prejuízo e de
ofender suas companheiras. Já o homem tende a vangloriar-se por sua sabedoria
e gosta de sentir-se no controle. 6. A concordância entre essas criaturas é de
forma natural, enquanto o acordo entre os homens se dá de maneira artificial,
qual seja, através de um pacto, sob o controle de um poder maior, coercitivo.

116-117 Esse poder maior seria a única forma de se instituir um benefício comum,
através da entrega do poder e da força individual para um único homem ou uma
assembleia de homens, de forma que cada pessoa abdicaria as suas vontades e
decisões individuais visando uma vontade única. A essência do Estado é
definida pelo autor como “uma pessoa de cujos atos uma grande multidão,
mediante pactos recíprocos uns com os outros, foi instituída por cada um como
autora, de modo a ela poder usar a força e os recursos de todos, da maneira
que considerar conveniente, para assegurara paz e a defesa comum”. Assim,
será SOBERANO, o detentor desse poder soberano, e todos os demais serão
SÚDITOS. São duas as formas pelas quais pode ser adquirido o poder soberano:
por instituição ou por aquisição.
CAPÍTULO XVIII
Dos direitos dos soberanos por instituição
O estado por instituição se dará através do consentimento do povo reunido que
abdicará dos seus atos e decisões individuais para autorizar que um homem ou
assembleia fique responsável por isso. O autor cita as consequências desse ato:
1. A partir do momento em que o pacto é estabelecido, os súditos não poderão
voltar atrás e mudar a forma de governo; 2. Não poderá o poder soberano ser
confiscado; 3. Mesmo os que discordaram da escolha do soberano, deverão se
conformar com a decisão da maioria e passar a consentir com todos os atos do
soberano; 4. Cada indivíduo é autor de tudo aquilo que o soberano fizer, de
117-122 forma que não podem os súditos o acusarem de injustiça; 5. Nada que o
soberano faz pode ser punido pelos súditos; 6. O soberano é juiz dos meios para
a paz e a defesa dos seus súditos, através do seu posicionamento sobre quais são
as doutrinas e opiniões propícias para esse fim; 7. O soberano tem o poder de
determinar as regras sobre o que pertence a cada súdito (propriedade); 8.
Pertence ao soberano a autoridade judicial e a decisão de controvérsias; 9.
Também pertence ao soberano o poder de decisão sobre a guerra e a paz; 10. De
igual modo, caberá ao soberano a escolha dos conselheiros e ministros, tanto da
paz como da guerra; 11. O soberano tem o direito de recompensar com riquezas
e honras os súditos, bem como o de punir (castigos corporais, pecuniários,
ignomínia), inclusive de forma arbitrária, nos casos em que não há lei prévia
estabelecida. 12. O soberano possui o poder da honra e da ordem.

122-124 Os direitos suprarreferidos são incomunicáveis e inseparáveis, uma vez que,


segundo o autor, “um reino dividido em si mesmo não se pode manter”.
CAPÍTULO XIX
Das espécies de governo por instituição e da sucessão do poder soberano
Hobbes apresenta três formas distintas de governo, consistente na diferença
quanto ao soberano, quais sejam: 1. Monarquia (um soberano); 2. Democracia
(representada por um governo popular); 3. Aristocracia (assembleia de parte de
124-125 homens).
Os termos Tirania, Anarquia e Oligarquia são, respectivamente, formas
deturpadas das espécies de governo suprarreferidas.
Como para o autor a verdadeira finalidade do governo é garantir a paz e a
segurança da população, esse será justamente o fator determinante que
diferenciará as três espécies de governo, ou seja, através da conveniência e não
propriamente do poder. Assim, Hobbes faz um comparativo entre a monarquia e
as assembleias soberanas, deixando claro o seu posicionamento a favor de uma
126-128 monarquia absoluta, reflexo do contexto político em que o autor vivia na época.
Ele levanta as seguintes questões: 1. Interesse público X Interesse particular em
cada uma das formas de governo; 2. Como se dá o recebimento de conselhos; 3.
Como são dadas as resoluções; 4. As discordâncias em cada forma de governo;
5. O favorecimento de terceiros; 6. A questão do direito de sucessão;

CAPÍTULO XXVII
Dos crimes, desculpas e atenuantes
O autor inicia o capítulo fazendo uma distinção entre pecado e crime. Para
Hobbes, um pecado é qualquer manifestação de desprezo pelo legislador,
englobando assim, tanto uma ação ou omissão, como também a intenção ou
propósito de transgredir. O crime, por sua vez, é um pecado que consiste em
uma ação ou omissão, através de atos ou palavras de algo proibido pela lei, de
187-189 forma que “todo crime é um pecado, mas nem todo pecado é um crime”.
Em relação a lei e ao crime, Hobbes afirma que quando não há lei civil e quando
não há mais poder soberano, não haverá crime.
São considerados três fatores como fonte de todo crime: 1. defeito do
entendimento, ou seja, a ignorância da lei, que poderá ser em relação a lei
propriamente dita, ao soberano, ou a pena; 2. erro de raciocínio, quer dizer, a
opinião errônea; 3. brusca força das paixões humanas.
A ignorância quanto a lei de natureza não pode ser desculpada, bem como a
ignorância sobre o soberano e a pena. Apenas pode ser desculpada em algumas
situações a ignorância da lei civil.
Como possíveis causas do crime, o autor considera os falsos princípios do certo
e do errado. Também são consideradas causas do crime o sentimento de
vanglória, nas palavras de Hobbes: “o insensato sobrestimar do próprio valor”.
Quer dizer, aqueles que acreditam que não serão atingidos pela lei em razão do
190-192 seu poder aquisitivo, por exercerem um cargo alto ou possuírem o nome
poderoso da família.
O autor cita também o ódio, a ambição e a cobiça como sentimentos que fazem
parte da natureza humana, capazes, de igual modo, de desencadear um crime.
Dentre todos os sentimentos, o medo, por vezes, exerce efeito contrário,
considerado como fator limitante para os homens respeitarem as leis.
Um ato deixa de ser crime, ou seja, é desculpado, quando a lei deixa de ser
obrigatória.
“A falta de meios para conhecer a lei desculpa totalmente, porque a lei da qual
não há meios para adquirir informações não é obrigatória.”.
193-194 O autor cita alguns exemplos de quando cessa a obrigação da lei, como quando
um homem encontra-se em cativeiro; se alguém ver-se obrigado por temer a
morte a praticar algum ato que caracterize crime, mas que seja feito em defesa
da manutenção da vida; quando alguém encontra-se privado de alimentos e
outras coisas essenciais a vida ou quando alguém é mandado fazer algo que seja
considerado criminoso, por aquele que é o soberano.
Hobbes classifica os graus de crime em escalas, que são medidos da seguinte
maneira: 1. pela malignidade da fonte ou causa; 2. pelo contágio; 3. pelo
prejuízo; 4. pela concorrência de tempos, lugares e pessoas.
194-198 O autor considera como agravantes de um crime: a presunção de poder e a
premeditação. E como atenuantes: os maus professores, os exemplos de
impunidade e a aprovação tácita do soberano.
Os crimes praticados aos Estados são maiores que os do que os crimes contra
pessoas privadas, pois o prejuízo se estende a todos.

CAPÍTULO XXVIII
Das penas e das recompensas
A pena é “um dano infligido pela autoridade pública, quem fez ou omitiu o que
pela mesma autoridade é considerado transgressão da lei, a fim de que assim a
vontade dos homens fique mais disposta à obediência”.
O direito de punir, provém do Estado, na medida em que os indivíduos
renunciaram os seus direitos para entregar a um soberano, que irá fazer o uso da
maneira que achar melhor.
Sobre o conceito de punição, Hobbes traça algumas considerações sobre aquilo
199- 201 que não é classificado como punição: 1.os danos particulares e as vinganças,
uma vez que não derivam da autoridade pública; 2. recusa de nomeação pelo
favor público; 3. mal infligido pela autoridade pública sem condenação pública
anterior; 4. mal infligido por poder usurpado; 5. mal infligido sem respeito ao
bem futuro; 6. as más consequências naturais; 7. prejuízo infligido menor que o
benefício na transgressão; 8. quando a punição for prescrita pela lei, o excesso
não é punição, e sim hostilidade; 9. dano infligido por fator anterior à lei; 10. o
representante da república não é punível. 11. dano infligido a um inimigo
declarado é um direito de guerra;
De maneira geral, as penas distribuem-se em divinas e humanas. Esta última se
divide em: corporais, pecuniárias, ignomínia, prisão e exílio.
201-203 As punições aplicadas aos súditos inocentes são contrárias as leis da natureza.
Entretanto, “infligir qualquer dano a um inocente que não é súdito, se for para
benefício do estado, e sem violação de nenhum pacto anterior, não constitui
desrespeito a lei de natureza”.
204-205 Ao final do capítulo, Hobbes conceitua a recompensa, que pode ser por dádiva
ou contrato. Chama-se salário ou ordenado, quando for por contrato. Já quando
é por dádiva, será proveniente da graça de quem o confere.
CAPÍTULO XXIX
Das coisas que enfraquecem ou levam à dissolução de um Estado
O autor apresenta as enfermidades de um Estado fazendo uma comparação com
as doenças que atingem o corpo humano, e estabelece algumas possíveis causas:
1. Diz respeito as enfermidades com origem em uma instituição imperfeita.
“Um homem, para obter um reino, contenta-se muitas vezes com menos poder
do que é necessário para a paz e a defesa do Estado”; 2. Enfermidades que
205-206 derivam do veneno de doutrinas sediciosas. “Todo indivíduo particular é juiz de
boas e más ações”. Para Hobbes, essa afirmativa só é verídica se levar em
consideração uma condição de simples natureza, ou seja, quando não existirem
leis civis, pois serão elas a medida das boas e más ações;
3. A ideia de que “é pecado o que alguém fizer contra sua própria consciência”.
Esta afirmação depende do pressuposto de que o homem é juiz do bem e do mal,
o que não acontece pois a consciência do homem e seu juízo são a mesma coisa,
207 e ambas estão sujeitas a equívocos. O que não acontece com as leis civis, onde
as leis do Estado são a consciência pública;
4. A sujeição do detentor do poder soberano às leis civis, uma vez que o
soberano está sujeito somente as leis naturais.
208 5. A ideia de que “todo indivíduo particular tem propriedade absoluta dos seus
bens, a ponto de excluir o direito do soberano”;
6. O pensamento de que “o poder soberano pode ser dividido”, o que levaria
diretamente a dissolução e destruição do Estado.
209 A má influência que a leitura de livros de política e de história dos antigos
gregos e romanos pode exercer.

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