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FORMAS DE SOLUÇÃO DOS CONFLITOS E OS

MEIOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DOS


CONFLITOS
EXCESSO DE JUDICIALIZAÇÃO NO BRASIL

Atualmente no Brasil prevalece a cultura da judicialização, em que as


pessoas buscam resolver seus conflitos levando suas contendas para o
Poder Judiciário, muitas vezes sem necessidade, visto que poderiam ser
resolvidas pelos meios adequados de solução de conflitos.

Ademais, a estrutura do Poder Judiciário não dá conta de atender as


demandas que chegam até ele com celeridade, isto quer dizer que o
excesso de judicialização, além de tirar a autonomia das partes, que
poderiam resolver por si só suas questões, abarrota os fóruns e a
lentidão dos julgamentos afasta as demandas e os jurisdicionados da
justiça que tanto se almeja.

Em 2009 o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes


criticou o excesso de judicialização no Brasil, vejamos: "É preciso acabar
com a velha mentalidade de que no Brasil o reconhecimento e
concretização de direitos só se dá por meio judicial”. [...]
Segundo dados do CNJ, o Brasil acumula mais de 100 Na Justiça Estadual
milhões de processos em tramitação. No ano de 2021, o processo pode
o Poder Judiciário concluiu mais de 26 milhões de levar 06 anos e 02
processos, ou seja, quase 30% do total e esse número meses.
ainda teve um aumento de 11% em relação a 2020. O
mesmo estudo, estima ainda que para cada juiz
atuando no judiciário brasileiro, existem 6 mil
processos.

O ano de 2021 terminou com 62 milhões de ações


judiciais em andamento, que é a diferença entre os
77,3 milhões de processos em tramitação e os 15,3
milhões (19,8%), sobrestados ou em arquivo
provisório, aguardando definição jurídica futura. 
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA - Em 2004, através da Emenda
Constitucional nº 45, foi criado o Conselho Nacional de Justiça, nos
termos do artigo 103-B da Constituição Federal, que prevê entre
outras a competência para aperfeiçoar o trabalho do sistema
judiciário brasileiro, controlar a atuação administrativa e financeira,
zelar pela observância do artigo 37 da Constituição Federal,
desenvolver políticas judiciárias para o alcance da efetividade,
orientando-se pelos valores de justiça e paz social.

Por meio da Resolução nº 125/2010, o Judiciário tem a


responsabilidade de formular uma política pública para tratar
adequadamente as amplas e cada vez maiores questões jurídicas e
os conflitos de interesses na sociedade, de forma a se organizar em
âmbito nacional, não apenas no serviços judiciais, mas também é
possível prestar serviços através de outros mecanismos de resolução
de conflitos, especialmente mediação e reconciliação e outros
mecanismos mutuamente acordados.
• CONSIDERANDO que cabe ao Judiciário estabelecer política pública de tratamento adequado
dos problemas jurídicos e dos conflitos de interesses, que ocorrem em larga e crescente escala
na sociedade, de forma a organizar, em âmbito nacional, não somente os serviços prestados nos
processos judiciais, como também os que possam sê-lo mediante outros mecanismos de solução
de conflitos, em especial dos consensuais, como a mediação e a conciliação;
• CONSIDERANDO a necessidade de se consolidar uma política pública permanente de incentivo e
aperfeiçoamento dos mecanismos consensuais de solução de litígios;
• CONSIDERANDO que a conciliação e a mediação são instrumentos efetivos de pacificação social,
solução e prevenção de litígios, e que a sua apropriada disciplina em programas já
implementados no país tem reduzido a excessiva judicialização dos conflitos de interesses, a
quantidade de recursos e de execução de sentenças;
• CONSIDERANDO ser imprescindível estimular, apoiar e difundir a sistematização e o
aprimoramento das práticas já adotadas pelos tribunais;
• CONSIDERANDO a relevância e a necessidade de organizar e uniformizar os serviços de
conciliação, mediação e outros métodos consensuais de solução de conflitos, para lhes evitar
disparidades de orientação e práticas, bem como para assegurar a boa execução da política
pública, respeitadas as especificidades de cada segmento da Justiça;
• CONSIDERANDO que a organização dos serviços de conciliação, mediação e outros métodos
consensuais de solução de conflitos deve servir de princípio e base para a criação de Juízos de
resolução alternativa de conflitos, verdadeiros órgãos judiciais especializados na matéria;
TEORIA DO CONFLITO
O autor Roberto Portugal Bacellar (2012, p.109) fala que “todos os seres
humanos têm necessidades a serem supridas e, motivados a isso, terão conflitos
com outros seres humanos também motivados a satisfazer sua escala de
necessidades”.
A sociedade ainda não sabe como lidar com essa situação, por isso é necessário
desenvolver ideias e o crescimento das pessoas em torno desse tema.
As pessoas costumam ter pensamentos negativos sobre os conflitos. Quando
ficam sabendo dos conflitos, costumam procurar imediatamente as instituições
judiciais para que outros possam resolver os conflitos. No entanto, na maioria
dos casos, a jurisdição traz muitos problemas para as partes, como atrasos
processuais e o risco de julgamentos adversos.
Formas parciais (por ato das próprias partes):

– Autocomposição: Mediação, Conciliação, Acordo,


Cooperação.

Formas imparciais (por ato de um terceiro, alheio ao litígio):

– Heterocomposição: Arbitragem, Jurisdição (é um método


em que é necessário que um terceiro intervenha (no caso o
juiz), porque as partes não estão dispostas a ceder.
AUTOTUTELA
 
Foi a partir do momento em que os Estados se estabeleceram e
ganharam força, inclusive de coerção sobre os indivíduos, que a solução
dos conflitos de interesses deixou de ser dada pela autotutela. Até então,
eram as próprias partes envolvidas que solucionavam os conflitos, com o
emprego da força ou de outros meios. Quando havia uma desavença, ou
as partes conseguiam chegar a um acordo ou uma delas submetia à força
os interesses da outra. São elementos que a caracterizam:

–           defesa própria,  por si mesmo


–           forma mais primitiva de resolução dos conflitos
–           ausência de autoridade estatal acima dos indivíduos
–           emprego da força
–           lei do mais forte
–           imposição da decisão de uma das partes à outra.
AUTOTUTELA
 
•A autotutela define-se como um método de composição de
litígios determinado pela ausência de um juiz independente e
imparcial e pela imposição da vontade de uma parte sobre a outra.

•O método da autotutela como solução dos litígios era


temporário, uma vez que permanecia a animosidade e, portanto, a
desarmonia social, no que concerne ao bem e ao direito em questão.

•Nas sociedades modernas, o Estado assumiu para si o poder-


dever de solucionar os conflitos. O Estado substituiu-se às partes,
incumbindo a ele a almejada solução para o litígio. Considera-se ilícito
criminal o exercício arbitrário das próprias razões.
DA AUTOCOMPOSIÇÃO: CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO

Representa uma forma mais evoluída de resolução dos conflitos e implica em uma convenção entre as
partes litigantes.
São métodos alternativos de resolução de conflitos, buscando evitar a instauração da demanda judicial ou
a sua continuidade. Evita a judicialização.
A resolução do litígio se dá por obra dos próprios litigantes que exige uma expressão altruísta, pois deriva
de atitude de renúncia ou reconhecimento a favor do adversário.

Na solução pela autocomposição, são três as suas formas tradicionais:


- renúncia ou desistência por parte de quem deduz a pretensão
- submissão ou reconhecimento de quem se opõe à pretensão
- transação, através de concessões recíprocas.

O que todas essas soluções têm em comum? Dependem da vontade de ambas as partes envolvidas.
MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO

Autocomposição: não há envolvimento


de um terceiro
MÉTODOS
ALTERNATIVOS Partes são envolvidas diretamente no
processo

VANTAGENS
A resolução é mais célere
MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO
Vejamos o que traz o Código de Processo Civil acerca dos processos de mediação e conciliação:

Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela
realização de sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de programas destinados
a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição.

§ 1º A composição e a organização dos centros serão definidas pelo respectivo tribunal, observadas as normas
do Conselho Nacional de Justiça.

§ 2º O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior entre as
partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo de constrangimento
ou intimidação para que as partes conciliem.

§ 3º O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes,
auxiliará aos interessados a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam,
pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios
mútuos.
MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO

Perceba que há diferenças importantes entre as duas:


enquanto a mediação será utilizada principalmente nos
casos em que as partes já têm uma relação anterior
(como, por exemplo, no caso de um divórcio), a
conciliação será empregada em casos em que não há
vínculo entre as partes (é quando você está querendo
entrar com um processo contra uma companhia aérea,
que extraviou sua bagagem, por exemplo, ou quando
você se envolve em uma batida no trânsito com um
desconhecido).
MEDIAÇÃO CONCILIAÇÃO

Partes não têm


Partes já têm
vínculo (ex:
vínculo(ex:
acidente de
famílias)
trânsito)

Escuta qualificada Conciliador,


para a construção dirige, intervém,
de consenso. propõe.
CPC – CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Art. 166. A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da


independência, da imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade,
da oralidade, da informalidade e da decisão informada.
§ 1o A confidencialidade estende-se a todas as informações produzidas no curso do
procedimento, cujo teor não poderá ser utilizado para fim diverso daquele previsto
por expressa deliberação das partes.
§ 2o Em razão do dever de sigilo, inerente às suas funções, o conciliador e o
mediador, assim como os membros de suas equipes, não poderão divulgar ou depor
acerca de fatos ou elementos oriundos da conciliação ou da mediação.
§ 3o Admite-se a aplicação de técnicas negociais, com o objetivo de proporcionar
ambiente favorável à autocomposição.
§ 4o A mediação e a conciliação serão regidas conforme a livre autonomia dos
interessados, inclusive no que diz respeito à definição das regras procedimentais.
Independência – Não vai depender da decisão
arbitrária do juiz, vai depender apenas da
Independência autonomia das partes. Só me submeto a
processo de mediação e conciliação se eu quiser.
Informalidade – Não é um processo judicial. É
uma maneira alternativa de resolução de
Oralidade Informalidade conflitos.
Decisão Informada – As partes serão informadas
de todo aquele andamento do processo de
decisão. Posteriormente o juiz será
posteriormente informado sobre a decisão e irá
Mediação e homologá-la.
conciliação:
Imparcialidade – O mediador e conciliador
Princípios podem tomar partido. O mediador ou conciliador
Confidencialidade
Decisão
informada não pode ser advogado de uma das partes.
Autonomia da vontade – Ninguém é obrigado a
se submeter e nem aceitar a um acordo
Confidencialidade – é um processo confidencial,
não se torna pública, diz respeito apenas entre as
partes
Autonomia
Imparcialidade
da Vontade Oralidade – veja o principio da informalidade – é
uma conversa, a mediação e conciliação ocorre
na forma de uma conversa, na oralidade.
MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO
Há que se observar, ainda, que a mediação e a conciliação não
podem ser aplicadas em toda e qualquer demanda. Vejamos em
quais casos elas são contraindicadas:

Casos em que uma das partes possui qualquer


limitação mental (interditos)

Quando houver significante diferença de grau de


Contraindicações escolaridade entre as partes

Quando houver medidas protetivas em vigor, ou em casos de


violência contra mulher
MEDIAÇÃO
• Como vimos, a mediação é uma técnica de autocomposição de conflitos que
dever ser empregada preferencialmente quando as partes já possuem
algum relacionamento/vinculo anterior. Isso porque o seu objetivo é
justamente buscar a cooperação entre essas partes e o fortalecimento de
seus vínculos.
• O mediador terá como meta fazer com que as partes cheguem a um acordo
acerca de sua disputa. Como o próprio nome sugere, ele apenas medeia, ou
seja, ele apenas faz a ponte, sem tomar partido, sem se posicionar a favor
de um ou outro e sem direcionar a pauta. Ele está ali apenas para ser um
facilitador do diálogo.
PRINCÍPIOS QUE DEVEM NORTEAR A POSTURA DO MEDIADOR
CONFIDENCIALIDADE sigilo sobre as informações coletadas na
mediação
NEUTRALIDADE não pode tomar partido, nem interferir naquilo
que é acordado
VOLUNTARIEDADE não há obrigação de fazer acordo ou de
submeter ao processo de mediação

AUTODETERMINAÇÃO as partes responsabilizam-se pela tomada de


decisão.

IMPARCIALIDADE o mediador não pode julgar, não pode


influenciar as partes

PROFISSIONALIZAÇÃO mediador precisa ser qualificado, é necessário


que tenha passado por treinamento ou algum
tipo de qualificação.
MEDIAÇÃO
Ainda sobre a conduta do mediador, temos que é necessário:

• - Fazer a adequação da comunicação ao nível cultural e ao grau de escolaridade das


partes.
• - Gerenciar emoções (contornar agressividade, estabelecendo enfoque positivo)
• - Possibilitar um bom rapport (empatia e confiança necessária para a evolução dos
trabalhos)
• - Conduzir o processo ativamente, por meio de perguntas abertas (deixar fluir a
comunicação), circulares (permitir que uma parte perceba a visão da outra) e
reflexivas (que favoreçam a autopercepção).
MEDIAÇÃO

• Ao termino da mediação, é importante que as pessoas sintam que foram ouvidas,


que foram atendidas (mesmo que parcialmente) e que conseguiram resolver um
problema, da melhor forma possível, mesmo quando esta não é aquela
idealizada.
• O foco é na resolução, e não revisitar o passado e entender as causas do conflito.
• No fim do processo, mediador confirma verbalmente o acordo, retomando seus
pontos principais, a fim de validá-lo.
CONCILIAÇÃO
• A conciliação é um pouco diferente: se na mediação as partes se
reconhecem, aqui não há relacionamento anterior. Ademais, o
conciliador busca delimitar o litígio.
• Outra diferença é que aqui a postura é mais diretiva e o conciliador
propõe um acordo entre as partes, tendo uma postura muito mais
resolutiva, sem deixar que as partes falem abertamente e sem buscar
restabelecer vínculos, até porque eles normalmente nem existem
nesta modalidade.
CONCILIAÇÃO
• Dessa forma, a conciliação é muito valorizada no contexto judicial,
justamente porque evita a demanda jurídica. Do ponto de vista
emocional, é muito melhor do que aguardar uma sentença produzida
por um terceiro (juiz);

• Chegando a um acordo, este é reduzido a termo e terá eficácia


pacificadora, tendo mesmo valor que teria se tivesse sido julgado pelo
juiz – (coisa julgada material – título executivo judicial), podendo ser
executado.
ARBITRAGEM
• Arbitragem é o julgamento de um litígio feito por um terceiro
imparcial e escolhido pelas partes: o árbitro. É uma espécie de
heterocomposição de conflitos, desenvolvida em trâmites mais
simplificados e informais do que em um processo jurisdicional.
• A saber, para escolher esse procedimento os envolvidos precisam ser
maiores de idade e capazes. Sua utilização fica a critério das partes,
ou seja, não é compulsória. Além disso, diferente de um 
processo judicial tradicional, o processo arbitral é sigiloso.
• Este é um método privado, em outras palavras, há custos envolvidos,
de acordo com o tipo de conflito e com a câmara escolhida.
ARBITRAGEM
• Arbitragem é o julgamento de um litígio feito por um terceiro imparcial e escolhido
pelas partes: o árbitro. É uma espécie de heterocomposição de conflitos, desenvolvida
em trâmites mais simplificados e informais do que em um processo jurisdicional.
• A saber, para escolher esse procedimento os envolvidos precisam ser maiores de idade
e capazes. Sua utilização fica a critério das partes, ou seja, não é compulsória. Além
disso, diferente de um processo judicial tradicional, o processo arbitral é sigiloso.
• Este é um método privado, em outras palavras, há custos envolvidos, de acordo com o
tipo de conflito e com a câmara escolhida.
• A Lei nº 9.307/96 é a responsável por regular a arbitragem no Brasil. Logo no artigo 1º,
determina que aqueles que têm condições de contratar esse tipo de serviço podem
utilizá-lo para resolver litígios relacionados a direitos patrimoniais.
JUSTIÇA RESTAURATIVA
• Justiça Restaurativa é um método que busca, quando possível e
apropriado, realizar o encontro entre vítima e ofensor, assim como
eventuais terceiros envolvidos no crime ou no resultado dele, com
o objetivo de fazer com que a vítima possa superar o trauma que
sofreu e responsabilizar o ofensor pelo crime que praticou.
• O objetivo de todas as práticas restaurativas é a satisfação de
todos os envolvidos. Busca-se responsabilizar ativamente todos os
que contribuíram para a ocorrência do evento danoso, alcançar
um equilíbrio de poder entre vítima e ofensor, revertendo o
desvalor que o crime provoca. Além disso, a proposta é
empoderar a comunidade, com destaque para a necessidade de
reparação do dano e da recomposição das relações sociais
rompidas pelo conflito e suas implicações para o futuro, como a
não reincidência.

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