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MEIOS DE RESOLUÇÃO ALTERNATIVA DE LITÍGIOS

Podem ser definidos como procedimentos de resolução de litígios que são alternativos aos meios
judiciais.

Art. 594º/1 CPC – “Quando a causa couber no âmbito dos poderes de disposição das partes, pode ter lugar,
em qualquer estado do processo, tentativa de conciliação, desde que as partes conjuntamente o requeiram
ou o juiz a considere oportuna, mas as partes não podem ser convocadas exclusivamente para esse fim mais
que uma vez”

O acordo que é obtido entre as partes não é imposto pelo juiz que é externo ao conflito – este
apenas procura que as partes cheguem a acordo.

Negociação judicial  parte da doutrina entende que esta deve ser incluída nos meios de RAL,
apesar de não ser consensual uma vez que gera um acordo por meio judicial.
Os meios de RAL não obedecem a um princípio da tipicidade – não é necessário haver uma previsão
legal a instituir um meio de RAL, tal como, não há necessariamente uma tipologia fechada.
 Há, no entanto, um conjunto de meios de RAL que, por serem já comuns, foram objeto de
consagração legal, ou têm uma estrutura relativamente típica do ponto de vista social:

 Arbitragem
 Mediação
 Conciliação
 Negociação
Uma das distinções que podemos fazer entre estes meios é se são meios voluntários ou
obrigatórios
 Os meios de RAL voluntários são meios a que as partes recorrem por opção própria – não
há qualquer tipo de imposição legal de recurso àquela via para resolver determinado litígio:
está na disponibilidade das partes.
Exemplo: arbitragem voluntária – acordo das partes que determina que, perante um litígio, este irá
ser submetido a arbitragem.

 Meios necessários ou obrigatórios – quando a lei impõe que determinado litígio seja
resolvido através de meios alternativos
Em regra, os meios de RAL são de caráter voluntário, mas há exceções  os casos em que a lei
impõe o recurso a meios RAL são a exceção.
Exemplo: arbitragem necessária na área do desposto ou os casos submetidos obrigatoriamente aos
julgados de paz.
 Lei 74/2013 institui o TAD (tribunal arbitral do desporto). Art. 4º e 5º desta lei remete para
resolução via arbitragem de determinados tipos de conflitos

“Artigo 4.º - Arbitragem necessária


1 - Compete ao TAD conhecer dos litígios emergentes dos atos e omissões das federações
desportivas, ligas profissionais e outras entidades desportivas, no âmbito do exercício dos
correspondentes poderes de regulamentação, organização, direção e disciplina.”

“Artigo 5.º - Arbitragem necessária em matéria de dopagem


Compete ao TAD conhecer dos recursos das deliberações tomadas por órgãos disciplinares das
federações desportivas ou pela Autoridade Antidopagem de Portugal em matéria de violação das
normas antidopagem, nos termos da Lei n.º 38/2012, de 28 de agosto, que aprova a lei
antidopagem no desporto.”

Nestes casos as partes são reconduzidas para a arbitragem necessária, tendo em conta a
especificidade da matéria e também o interesse público associado à mesma.

Discute-se a CONSTITUCIONALIDADE DOS MEIOS NECESSÁRIOS


Discute-se se forçar as partes ao recurso a um tribunal arbitral, impedindo o recurso aos tribunais
judiciais corresponde a uma forma de violação da CRP – nomeadamente, arts. 20º, 268º/4, 13º,
202º, 209º.
 Justifica-se o tratamento diferenciado que é dado às questões em causa?
 Há um impedimento do acesso ao direito?
 A função jurisdicional está reservada apenas aos tribunais judiciais?
ARTIGO 209º CRP – tribunais judiciais não têm o monopólio da administração da justiça  os
tribunais arbitrais também exercer a função jurisdicional.
Este artigo resolve parte das questões uma vez vem equiparar em certa medida os
tribunais arbitrais aos tribunais judiciais.
Em ralação à arbitragem necessária, a questão que se coloca é a de saber se pode haver recurso das
decisões arbitrais para tribunais judiciais  saber se é necessário, para haver conformidade com a
CRP, permitir sempre o recurso para os tribunais judiciais das decisões arbitrais.

AC. TC 230/2013 e 781/2013


Ao discutir a questão do recurso, o tribunal acaba por discutir também a questão da
constitucionalidade, em geral, da arbitragem necessária.
 TC defende que a não admissibilidade do recurso seria inconstitucional – para a norma ser
constitucional tem de ser interpretada no sentido de admitir sempre recurso para um
tribunal judicial.

 Voto Vencido | Conselheiro Pedro Machete – entende que, uma vez que não há monopólio
estatual, e à luz dos princípios da tutela jurisdicional efetiva e do princípio da igualdade, não
vê como é que a impossibilidade de recorrer para o tribunal judicial corresponda a uma
inconstitucionalidade.

CLASSIFICAÇÃO DE MEIOS DE RESOLUÇÃO ALTERNATIVA DE LITÍGIOS

Podemos classificar os meios de resolução alternativa e litígios com base naquele que tem o poder
de decidir sobre o litígio:
→ Meios adjudicatórios: o poder de decidir sobre o litígio pertence a um terceiro, como sucede
na arbitragem em que o poder é dado a um árbitro
→ Meios consensuais: nestes meios o poder de decidir sobe o litígio é dado às partes
(mediação – mediador não impõem uma solução às partes; negociação)
Classificação com base no momento determinante para chegar à solução do conflito:
→ Meios de resolução centrados nos interesses: não se preocupa tanto com a posição jurídica
das partes, mas sim com a conciliação e pacificação do conflito, possivelmente até em
detrimento da solução jurídica aplicável.

→ Meios de resolução centrados nos direitos: a solução baseia-se no que o direito determina,
há uma análise jurídica da posição das partes e a solução é apresentada de acordo com isto
(arbitragem)

→ Há ainda um conjunto de meios que não são tipicamente usados em PT e que são híbridos –
não há tipicidade por isso nada impede as partes de recorrer a estes meios, nem de pegar
em elementos dos vários tipos para construir o procedimento que acha mais adequado

o Mini-trial / Summary Jury Trial  é feita uma espécie de julgamento com um


júri em que se faz uma previsão do que é que se irá suceder se forem a
tribunal e só depois é que as partes vão negociar, tendo já esta informação.
Esta forma de resolução permite ouvir a perspetiva da outra parte (apenas
seria ouvida em tribunal se não fosse assim), um especialista neutro sob a
matéria e prever então qual seria, possivelmente, a solução imposta para o
litígio
o Early Neutral Evalution  Mesma lógica do anterior, assentando na ideia de
que as partes devem ter uma noção de qual deverá ser a solução para aquele
conflito caso vão a tribunal. As partes negociam com base na solução que é
provável para aquele conflito. A ideia é arranjar um terceiro independente
que faça uma avaliação antes de se ir a tribunal de modo a que as partes
possam evitar a via judicial.

o Dispute Resolution Board  Esta figura diverge das outras figuras na medida
em que é formado um painel que é constituído no momento da celebração
do contrato. Não é uma solução que surge durante o conflito, mas que se
forma no início (vai-se sistematicamente resolvendo as questões que surgem
no âmbito do contrato para evitar chegar-se a um grande litígio).

JULGADOS DE PAZ
O art 9º determina a competência dos julgados de paz para resolver litígios de determinadas
matérias.
Esta competência é exclusiva ou necessária quanto àquelas matérias?
 Em 2007, o Tribunal Constitucional proferiu um acórdão de uniformização de jurisprudência
em que se pronunciou no sentido de a competência não ser exclusiva, podendo as partes
escolher se pretendem recorrer a julgados de paz ou a tribunais judiciais (AUF 11/2007).
Os julgados de paz formam uma instituição que reúne diversas formas de resolução alternativa de
litígios. A Professora entende que se os meios de resolução alternativa de litígios são formas de
resolução de conflitos que não passam pelo recurso aos tribunais, então os julgados de paz
pertencem de facto àquela categoria.
ARBITRAGEM
A arbitragem deve aproximar-se mais dos meios alternativos ou dos meios judiciais? Aproxima-se
destes últimos por ser um meio adjudicatório, mas sem ser a arbitragem necessária, essa
aproximação é voluntária.

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