Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Negociação
Um dos problemas dos meios de RAL é saber se a negociação deve ser considerada meio de RAL – a
dúvida coloca-se uma vez que a negociação se insere (faz parte) de outros meios, designadamente
a mediação. Não obstante, existe também de forma autónoma devendo ser considerada um meio
de RAL
Negociação processo de resolução de conflitos através do qual uma ou ambas as partes vão
modificando as respetivas exigências até atingirem um acordo aceitável para ambas.
A negociação corre entre as partes, não sendo necessário um terceiro. As duas partes podem, por
elas próprias, adotar técnicas da mediação não necessitando da intermediação de um terceiro. Em
alguns casos, o que acontece é que a negociação ocorre entre os representantes das partes e não
entre os próprios. Por exemplo, entre o administrador da empresa A e o da empresa B. Isto não
afasta a ideia de que a negociação ocorre entre as partes em litigio, não necessitando da
intervenção de um terceiro, mesmo nestes casos de representação.
Existem, essencialmente, 2 tipos de negociação:
Negociação competitiva (posicional) é baseada no poder negocial e nas posições – o que
interessa são as posições das partes e o objetivo é ganhar a discussão e melhorar o seu
resultado individualmente considerado.
Negociação cooperativa (baseada nos interesses) a base negocial são os interesses das
partes – o que importa na negociação são os interesses das partes e não a posição ocupada
por cada uma, o objetivo não é ganhar, mas sim resolver o problema encontrando um
resultado global satisfatório.
ATENÇÃO – qualquer método de negociação pode ser julgado com alguma precisão mediante três
critérios: i) deve dar origem a um acordo ponderado, se for possível chegar a acordo; ii) deve
melhorar ou pelo menos não estragar a relação existente entre as partes; iii) deve ser eficiente
Neste tipo de negociação as pessoas preocupam-se apenas com as posições negociais – cada uma
assume uma posição, defende-a e faz concessões para chegar a um compromisso que para si seja
vantajoso.
Ao discutir posições os negociadores têm tendência para persistir nessas mesmas posições
quanto mais clarificar a sua posição e a defender contra eventuais ataques mais comprometido fica
– está a autolimitar-se pela posição e vincular-se a ela
O seu ego identifica-se com a posição e agora o seu único interesse é “salvar a face” – conciliando a
ação futura com as posições tomadas anteriormente – inviabilizando cada vez mais a possibilidade
de se chegar a um acordo ponderado, conciliando os interesses iniciais de cada parte.
As partes adotam posições cada vez mais extremas e inflexíveis à medida que o conflito avança,
ocultando as suas verdadeiras intenções e fazendo apenas as concessões necessárias para que a
negociação vá avançando. A parte contrária assume um comportamento idêntico tornando-se
muito difícil encontrar um acordo.
Quanto mais extremas são as posições iniciais e menores as concessões, mais tempo e esforço
serão necessários para descobrir se é ou não possível chegar a acordo.
Negociar com base em posições e poderes demora muito tempo uma vez que cada um vai tentar
atrasar a negociação pois não pretende ceder em vários aspetos – cada cedência é bastante
ponderada e para além disso há ameaças e cria-se dificuldades para atrasar deliberadamente o
processo e cansar a contraparte.
Para além disto, este tipo negocial tende a prejudicar a relação entre as partes – as posições
transformam-se num confronto de vontades e numa disputa. Uma das partes vai sentir-se irritada e
ressentida à medida que julga estar a submeter-se à vontade do outro mais intransigente. O
conflito desgasta ou rompe a relação existente.
Havendo muitos envolvidos a negociação torna-se ainda mais difícil – quantas mais pessoas
estiverem envolvidas mais difícil será chegar a um acordo sobre as concessões a fazer, mas também
será mais difícil tomar uma posição comum.
À medida que se vai dando cada vez mais atenção às posições, diminui o interesse em satisfazer as
preocupações fundamentais entre as partes envolvidas. A relação entre as partes torna-se mais
conflituosa, o problema passa a ser uma disputa.
O acordo torna-se menos provável e qualquer acordo irá resultar num compromisso mais irrefletido
de posições finais e não numa solução cuidadosamente planeada para satisfazer os legítimos
interesses de ambas as partes. O resultado é geralmente um acordo menos satisfatório para cada
uma ou nenhum acordo.
→ Discutir posições dá origem a resultados insensatos
→ Discutir posições não é eficaz
→ Discutir posições põe em perigo a relação entre as partes
→ As posições negociais piorar quando há muitas partes envolvidas
A principal consequência do “problema das pessoas” é a relação entre as partes tender a confundir-
se com as suas discussões em substância. Há uma tendência para tratar as pessoas e os problemas
como sendo a mesma coisa.
o A mera constatação de um facto pode ser entendida como um ataque pessoal
o O sentir-se irritado com uma situação pode levá-lo a ser agressivo para com a pessoa que,
no seu entender, está associada à situação
o As pessoas tiram ilações infundadas a partir de comentários sobre os assuntos, ilações essas
que depois encaram como factos reveladores das intenções e atitudes do outro
Os egos vão-se assim envolvendo com as posições substantivas.
→ As posições negociais põem em conflito a relação e a substância
Dar a uma negociação a forma de um confronto de vontades sobre diferentes posições só agrava o
processo de envolvimento.
Uma posição negocial tem em conta os interesses substantivos de um negociador, o seu interesse
numa boa relação, e tentar encontrar um ponto de equilíbrio entre estes dois aspetos. No entanto,
as partes podem dar prevalência ou à manutenção da relação em si, ou a obter o acordo mais
vantajoso, focando-se na sua posição.
Se para a sua empresa é mais importante, a longo prazo, a relação com o delegado
governamental, e muito provável que venha a esquecer o conflito, para preservar a relação;
Se, por outro lado, dá prevalência a solução para si favorável, a ser apreciado ou respeitado
pela outra parte, pode tentar substituir a relação pela substância.
Para se chegar à desejável relação funcional suficientemente boa para se encontrar um acordo
satisfatório – devem ser tidos em conta 3 elementos essenciais que interferem no problema:
Perceções
Compreender o modo de pensar da outra pessoa é útil para ajudar a resolver o problema e, muitas
vezes, é o problema.
Em qualquer negociação, há sempre diferenças entre a nossa maneira de pensar e a dos outros – a
perceção do outro, o ponto de vista do outro não é igual ao nosso e vai influenciar todo o seu
comportamento ao longo da negociação (tal como o nosso nos influencia)
A realidade como cada uma das partes a encara constitui o problema fulcral e identificar isto abre
caminho para se encontrar uma solução.
Não parta dos seus medos para concluir sobre as intenções dos outros
As pessoas têm uma certa propensão para achar que, tudo aquilo que receiam, os
outros acabam por fazer. Mas interpretar negativamente tudo o que os outros dizem
ou fazem afasta qualquer possibilidade de chegar a acordo e ignora ou rejeita subtis
mudanças de posição.
Emoções
As emoções interferem muito com as atitudes da pessoa durante a negociação, interferindo assim
com o acordo. As emoções de uns geram as emoções dos outros; o medo gera irritação e a irritação
gera medo. As emoções podem fazer uma negociação cair rapidamente num impasse.
Comunicação
Sem comunicação não há negociação a negociação é um processo de comunicação recíproco
com o intuito de alcançar uma decisão comum.
Há três grandes problemas na comunicação:
i) Os negociadores podem não estar a falar uns com os outros, ou pelo menos não de
maneira que se façam entender
ii) O outro não nos ouvir (ou vice-versa)
iii) O que é dito por um pode não ser assim entendido pelo outro – equívocos
Para tentar resolver estes problemas devemos:
Falar para o outro negociador e não para terceiros: o objetivo é encontrar um acordo entre
ambos e não impressionar terceiros
Estar atento ao que o outro diz e demonstrar isso mesmo: reformular o que o outro dia,
confirmar o que o outro disse
Usar linguagem inequívoca, cuidada e objetiva falar com um objetivo, centrar-nos na
questão essencial
Reformular se necessário
Ter em atenção a perceção da contraparte
Falar de nós próprios, do que sentimos e não do outro – de nada adianta estar a acusar o
outro de X ou Y, este vai sentir-se ameaçado e atacar; em vez disso demonstrar o que
sentimos com a atitude
Se as partes comunicarem e partilharem os seus interesses, o porquê das suas posições, podem
encontrar vários interesses em comum e conseguir chegar a soluções:
→ Podem fazer um acordo para dividir os custos da obra: o locatário pode comprar as tintas e
o senhorio proceder à pintura
→ O locatário pode pagar um pouco mais de renda nos meses em que estão a ser feitas as
obras de forma a equilibrar os custos
→ O locatário pode pagar o total da obra e ver esse valor descontado ao longo de 6 meses na
renda (assim o senhorio vai suportando aos poucos em vez de ter de pagar a obra toda de
uma vez)
→ Não dar a entender que os interesses da outra parte não têm importância ou legitimidade:
se o fizermos, a outra parte também não vai dar valor aos nossos e vai procurar diminuir-
nos por se sentir incompreendida e atacada
→ Reconhecer os interesses do outro como parte do problema: as pessoas estão mais abertas
à negociação se se sentirem compreendidas – demonstrar que compreendemos o interesse
da outra parte
→ Colocar o problema antes de dar uma resposta: se começarmos por demonstrar a nossa
posição e solução, a outra parte vai estar a pensar na proposta que lhe vai fazer para lhe
responder; se colocarmos primeiro o problema a outra parte vai estar mais atenta e tentar
perceber o que está em causa
→ Procurar soluções para o futuro e não ficar a debater o passado: estar a procurar
responsabilidades ou discutir o acontecido que levou ao conflito não leva a solução
nenhuma; devemos antes preocupar-nos em perceber no que queremos no futuro e
negociar isso.
→ Ser objetivo, mas flexível: demonstrar o nosso ponto de vista, mas estar aberto a opções.
→ Ser intransigente com o problema e flexível com as pessoas: devemos ser intransigentes a
falar dos nossos interesses (como seríamos a falar das nossas posições), é assim que
podemos levar ao debate as nossas razões e procurar que estes sejam consideradas.
Demonstrar firmeza nos nossos interesses leva a uma maior procura de soluções diversas.
Isto não quer dizer que não possamos ser flexíveis!
Em relação à outra parte devemos ser tolerantes: não reagir mal, não a desrespeitar,
perceber que esta também tem os seus próprios interesses, abordar as pessoas sem as
criticar.
Exemplo – A e B são vizinhos. A tem dois filhos de 6 e 8 anos que, depois da escola, gostam de brincar no
quintal a frente da casa. B sai de casa todos os dias às 7h e só chega perto da hora de jantar, querendo
sempre chegar o mais rápido possível. A hora a que B chega, corresponde com a altura em que os filhos de A
estão a brincar na rua. Pela pressa de chegar a casa, B conduz sempre em grande velocidade. A não gosta
desta atitude porque representa um perigo para os seus filhos.
Perante esta situação, o que deve A fazer?
A deve procurar explicar primeiro que tudo todos estes factos a B, explicar que percebe que este
esteja cansado e quer chegar a casa rapidamente, explicar que tem receio da sua condução por
causa dos seus filhos e perguntar “se tivesse filhos, não teria o mesmo receio?” fazendo com que B
se identifique consigo e se coloque na sua posição. Esta atitude compreensiva, mas firma e objetiva,
levará mais facilmente a um debate de soluções – B reconhece mais facilmente que é um perigo
conduzir desta forma e aceitar ter mais cuidado e reduzir a velocidade quando se aproxima das
casas.