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ÂMBITO
A necessidade de tutela urgente de um direito implica que, em determinadas
circunstâncias, sejam decretadas medidas cautelares que se revelem adequadas para
proteger ou assegurar a efetividade do direito.
Artigo 362º/1
Sempre que alguém mostre fundado receio de que outrem cause lesão grave ou
dificilmente reparável ao seu direito, pode requerer a providência conservatória
ou antecipatória concretamente adequada a assegurar a efetividade do direito
ameaçado
Esta tutela reveste uma natureza comum, na medida em que se aplica a todas as
situações em que se pretenda acautelar o risco de uma lesão e para as quais a lei não
preveja um procedimento cautelar específico.
O nº2 do artigo refere que o interesse do requerente pode fundar-se num direito já
existente ou num direito emergente de uma decisão a ser proferida em ação
constitutiva, já proposta ou a propor.
REQUISITOS
A concessão de uma providência depende da probabilidade séria da existência do direito
e de se mostrar suficientemente fundado o receio da sua lesão – art. 368º/1
O tribunal decreta a medida se, depois de efetuada uma apreciação sumária e liminar
do direito invocado pelo requerente e da prova por ele produzida, considerar, de forma
fundamentada, que se verifica a séria probabilidade de existência desse direito e de
um perigo que ameace, de forma grave e irreparável ou de difícil reparação, a sua
satisfação.
Para além disso, a medida só pode ser concedida se o requerente não tiver ao seu
alcance um outro meio processual menos gravoso que lhe permita proteger, de forma
igual, o direito que pretende acautelar.
– Proporcionalidade da providência
Meios de prova – pode ser usado qualquer meio de prova legalmente admissível, com
particular destaque para a prova documental e testemunhal (apesar do legislador não o
referir expressamente).
❖ Periculum in mora
A excessiva lentidão dos tribunais e a consequente demora na obtenção de uma decisão
definitiva pode levar à produção de danos graves e irreparáveis ou de difícil reparação.
Nestas situações, a impossibilidade de recurso, em tempo útil, a uma providência
cautelar, destinada garantir a satisfação do direito, implicaria, na prática, que a sentença
que viesse a ser proferida na ação principal se tornasse inútil.
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o Critério objetivo – deve ser aferido em função do tipo de lesão que a situação
de perigo pode vir a provocar na esfera jurídica do requerente, o que significa
que dependerá da natureza do direito alvo da lesão e da sanção jurídica
imposta para a reparação do dano decorrente da lesão. Vai ser admissível o
recurso à tutela cautelar sempre que a reparação da lesão possa implicar a
uma reintegração por sucedâneo.
Exemplo: um dano consubstanciado num prejuízo de natureza financeira não será, por
via de regra, grave e irreparável ou de difícil reparação. Salvo se o mesmo for insuscetível
de integral compensação caso a ação principal seja julgada procedente – isto pode
acontecer devido à situação económica do requerido.
NOTA:
Critérios para apreciar o requisito da irreparabilidade do dano – três posições doutrinárias:
Dano atual
O periculum in mora tem de ser atual e iminente.
Situações em que é admissível o decretamento:
→ Evento danoso já se verificou, mas os seus efeitos prolongam-se no tempo,
agravando a lesão do direito do requerente;
→ O evento danoso ainda não se verificou, mas é previsível que se venha a verificar
mediante um conjunto de indícios que demonstram a iminência da lesão
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para recear que tal sentença venha a ser inútil, por já se ter consumado uma situação
de facto incompatível com ela, ou por se terem produzido prejuízos de difícil reparação
para quem dela deveria beneficiar.
Todavia, atendendo à natureza célere e urgente dos PC, a apreciação do requisito não
deve ser reconduzida a uma certeza inequívoca sobre a verificação da situação de perigo
invocada, sendo antes suficiente que se mostre razoavelmente fundado e preenchido o
pressuposto.
Pode-se concluir que, na apreciação do requisito, o juiz deve efetuar um juízo de
prognose em relação aos seguintes pressupostos:
i) Se as circunstâncias do caso em concreto indicam, com segurança, a
existência de um motivo sério para recear o facto danoso;
ii) Se o facto receado carece de tutela urgente e se é necessário acautelar a sua
proteção pela via provisória
iii) Qual a melhor forma de providenciar a sua proteção, uma vez ponderados os
interesses do requerente e do requerido
❖ Interesse processual
O recurso à tutela cautelar só é admissível quando a ordem jurídica não coloque à
disposição do requerente um outro meio processual menos gravoso que lhe permita
proteger, de modo igualmente eficaz, o direito ameaçado.
Este requisito do interesse processual permite impedir um recurso abuso à tutela
cautelar.
► A proteção cautelar só deve ser concedida nos casos em que esta se revele
imprescindível para salvaguardar um risco de lesão grave e iminente do direito do
requerente.
O deferimento da PC implique que o requerente demonstre um fundado receio de que
outrem cause uma lesão grave e irreparável – ora, só há interesse processual se “houver
fundado receio de que o réu possa obstar, através da sua conduta, à utilidade prática de
uma sentença favorável ao autor. Se esse interesse faltar, a PC não é decretada.”
Em sede cautelar, só haverá interesse processual, se o requerente alegar e
provar, pelo menos de forma indiciária, que é titular de um direito e que esse
direito foi ou está na iminência de ser violado, havendo uma necessidade de
proteção e reintegração do mesmo, ainda que de forma provisória.
❖ Proporcionalidade
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Artigo 368º/2
Para que a PC possa ser decretada, o prejuízo que dela resultará para o requerido
não pode exceder consideravelmente o dano que, com ela, o requerente
pretende evitar.
Trata-te de uma manifestação do princípio da proporcionalidade.
A ponderação da proporcionalidade entre as medidas judiciais a adotar e os interesses
que se pretendem proteger assume particular relevância no domínio das PC,
designadamente pelo facto de não existir um contraditório prévio do requerido e devido
ao exercício da atividade jurisdicional se basear em critérios de mera probabilidade.
A decisão de decretamento ou de indeferimento de uma providência cautelar depende da
formulação de um juízo de proporcionalidade quanto aos efeitos dessa providência,
devendo o julgador procurar a justa medida que permita alcançar a melhor composição
possível dos interesses conflituantes.
A aplicação do principio da proporcionalidade à tutela cautelar implica que, mesmo que se
encontrem preenchidos os requisitos legais de que a lei faz depender o decretamento da
providência, esta não deve ser decretada (pelo menos nos moldes requeridos) quando
conduza a resultados injustos ou irreversíveis, considerando a gravidade dos seus efeitos
na esfera jurídica do requerido, bem como quando o prejuízo poderá advir para o
requerido em consequência do seu decretamento exceda consideravelmente o dano que
o requerente pretende evitar.
O princípio da proporcionalidade permite que o tribunal possa ordenar o levantamento de
uma providência cautelar anteriormente decretada se, ponderada a situação que se
verificava à data em que foi requerido o decretamento da providência e a que se regista no
momento da apreciação da oposição, ou por força de algum facto superveniente, o prejuízo
resultante do seu decretamento tiver, entretanto, excedido consideravelmente o dano
que o requerente pretendia acautelar.
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