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Jurisprudência/STJ - Decisões Monocráticas

Processo
TP 3114

Relator(a)
Ministro MARCO BUZZI

Data da Publicação
DJe 01/12/2020

Decisão
PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA Nº 3114 - SP (2020/0298302-2)
DECISÃO
C uida-se de pedido de tutela antecipada de urgência por meio do qual
ENTOURAGE PRODUC OES E EVENTOS LTDA busca a atribuição de efeito
suspensivo a recurso especial, pendente de juízo de admissibilidade
perante a C orte local.
O apelo extremo, a seu turno, foi manejado em face de acórdão proferido
pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, assim ementado:
AGRAVO DE INSTRUMENTO - "AÇÃO DE REVISÃO CONTRATUAL" TUTELA PROVISÓRIA DE
URGÊNC IA - Decisão que indeferiu o requerimento de tutela provisória de
urgência formulado pela autora, que pretendia fosse "determinado o
desconto de 70% (setenta por cento) dos valores pagos aos C ontratos
A18612,A20005 A18490 (são pagos mediante boleto único), durante o período
de força maior causado pela pandemia do C ovid-19, de modo que tal
desconto seja iniciado emJulho/2020 e finalizado em Dezembro/2020"
Ausência dos requisitos para concessão da tutela provisória de
urgênciaArt. 300 do novo C PC Ausência de probabilidade do direito Não é
possível alterar, liminarmente, um contrato bilateral, sem a oitiva do
outro contratante - C alamidade pública atingiu a todos, embora algumas
empresas tivessem sido mais atingidas que outras, incluindo a credora,
que já concedeu redução de 50% (cinquenta por cento) do valor das
prestações, mas continua prestando o serviço contratado em prol da
recorrente - Impossibilidade de se afirmar, com base nas alegações
unilaterais apresentadas pela autora, que a sua proposta seja viável à
empresa ré para que continue prestando integralmente os serviços
contratados - Precedentes do TJSP - Decisão mantida - REC URSO IMPROVIDO.
O ora requerente, então, interpôs recurso especial, alegando violação aos
artigos 317 e 478 do C ódigo C ivil; sustentando, em síntese, que, em
virtude da Teoria da Imprevisão, Onerosidade Excessiva e Força Maior,
deveria ser permitida a revisão contratual para que haja alteração nos

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prazos para pagamento das prestações mensais devidas à recorrida, haja
vista que "a situação do setor de eventos é excepcionalíssima, é o único
setor que não pode trabalhar ainda e não se sabe quando voltará a
trabalhar".
Não houve juízo de admissibilidade do apelo nobre, conforme informado à
fl. 179, e-STJ.
No presente pleito, afirma estarem presentes os requisitos autorizadores
da concessão de tutela antecipada em caráter antecedente, nos termos do
art. 303 do C PC /15.
Defende a plausibilidade das teses do apelo nobre, bem como o perigo na
demora, porquanto "No dia 05/11/2020, recebemos um e-mail da empresa
Recorrida, onde avisa a Recorrente, que até a data de hoje, caso não seja
liquidado todo o valor, terá o contrato cancelado por inadimplência e
terá todo seu sistema bloqueado".
Requer, nesse contexto, "deferimento da tutela cautelar, para assim
suspender os efeitos do Acórdão do Egrégio Tribunal de Justiça de São
Paulo nº 2155028-29.2020.8.26.0000, até ulterior decisão do Recurso
Especial seja apreciado por esta corte, determinando assim que a
recorrida não efetue o cancelamento do contrato ou bem como não realize
qualquer medida de bloqueio do sistema de software utilizado pela
recorrente, até ulterior decisão do Recurso Especial interposto".
É o relatório.
Decide-se.
O pedido de tutela provisória não comporta deferimento.
1. Necessário destacar, desde o início, que a competência deste Superior
Tribunal de Justiça para conhecer de pedido de tutela provisória em
recurso especial somente se instaura após o exercício do juízo de
admissibilidade pelo Tribunal de origem, conforme regra inserta no artigo
1.029, inciso III, do Código de Processo Civil de 2015, in verbis:
Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos
previstos na Constituição Federal, serão interpostos perante o presidente
ou o vice presidente do tribunal recorrido, em petições
distintas que conterão:
[...] § 5º. O pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso
extraordinário ou a recurso especial poderá ser formulado por
requerimento dirigido:
[...] III - ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, no
período compreendido entre a interposição do recurso e a publicação da
decisão de admissão do recurso, assim como no caso de o recurso ter sido
sobrestado, nos termos do art. 1.037.

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Depreende-se, portanto, nos termos do art. 1029, § 5º, III, do C PC /2015,
ser da competência do Presidente ou do Vice-Presidente do Tribunal de
origem atribuir ou revogar efeito suspensivo a recurso especial no
período compreendido entre a interposição do recurso e a publicação da
decisão de admissibilidade do reclamo.
Incide, nesses casos e por analogia, o enunciado das Súmulas 634 e 635 do
STF, que assim preconizam, respectivamente: "não compete ao Supremo
Tribunal Federal conceder medida cautelar para dar efeito suspensivo a
recurso extraordinário que ainda não foi objeto de juízo de
admissibilidade na origem" e "cabe ao Presidente do Tribunal de origem
decidir o pedido de medida cautelar em recurso extraordinário ainda
pendente do seu juízo de admissibilidade".
Na hipótese em tela, não foi realizado o juízo de admissibilidade pela
C orte local, conforme afirma a própria requerente em sua exordial.
Entretanto, esta C orte Superior tem admitido, em situações excepcionais,
a apreciação de medida cautelar/tutela de urgência que vise à concessão
do efeito suspensivo a recurso especial, condicionando sua procedência à
demonstração da existência de perigo da demora (periculum in mora) e à
viabilidade do apelo (fumus bonis iuris).
In casu, em sede de cognição sumária, verifica-se que a requerente logrou
êxito em demonstrar, nos termos acima exigidos, a presença concomitante
dos requisitos necessários à concessão da tutela de urgência ora
almejada.
1.1. No que concerne ao fumus boni iuris, em uma análise perfunctória do
recurso especial, verifica-se que o acórdão recorrido julgou agravo de
instrumento interposto contra decisão que, em "ação de revisão contratual
", indeferiu pedido de concessão de tutela de urgência formulado pela ora
requerente.
Nesse contexto, o Tribunal de origem julgou o reclamo sob a ótica do
artigo 300 do C ódigo de Processo C ivil, o qual sequer foi apontado como
violado nas razões do apelo nobre, o que caracteriza deficiência na sua
fundamentação.
Outrossim, mister destacar que a pretensão veiculada no recurso especial
encontra óbice na Súmula 735 do STF, aplicada por analogia:
"Não cabe recurso extraordinário contra acórdão que defere medida
liminar.".
Com efeito, o entendimento pacífico do STJ é no sentido de ser incabível,
via de regra, o recurso especial que postula o reexame do deferimento ou
indeferimento de medida acautelatória ou antecipatória, ante a natureza
precária e provisória do juízo de mérito desenvolvido em liminar ou

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tutela antecipada, cuja reversão, a qualquer tempo, é possível no âmbito
da jurisdição ordinária, o que configura ausência do pressuposto
constitucional relativo ao esgotamento de instância, imprescindível ao
trânsito da insurgência extraordinária.
Ademais, restou expressamente consignado no acórdão recorrido, in verbis:
Todavia, como foi bem ressaltado na r. decisão hostilizada:
"[...] A requerente já intentou negociação com a requerida, a qual foi
aceita, ainda que em termos, autorizando o pagamento de somente 50% do
valor da mensalidade de seus serviços por três meses, com a quitação do
saldo residual após 90 (noventa) dias (fls. 6 Parágrafo23 da petição
inicial).
Por certo que a ré possui todo o direito ao pagamento, diante da
prestação de serviços que continua mantida, mesmo neste período de
quarentena. Ainda, mesmo diante de situação nova e imprevisível que
certamente também lhe afetou, anuiu por uma redução em 50% do valor das
mensalidades, o que se revela razoável para o momento.
Portanto, diante das incertezas do cenário epidemiológico nacional, assim
como da precarização da situação financeira de todos, tal acordo se
revela absolutamente razoável e prudente, não onerando demasiadamente a
autora, tampouco sendo extorsivo por parte da ré, que continua prestando
seus serviços integralmente. No mais, ressalte-se que, caso a autora ou a
ré comprovem outras necessidades, as quais se desconhece no momento, a
presente tutela poderá ser alterada, de modo a melhor se adequar à
situação de ambos.
Em que pese a pandemia ainda dever se estender por meses, a situação
demanda cautela, devendo ser reavaliada periodicamente."
Realmente, em que pesem as dificuldades econômicas enfrentadas pela
recorrente, em decorrência da citada pandemia, não é possível acolher, de
plano, as suas alegações unilaterais e alterar, liminarmente, um contrato
bilateral, sem a oitiva do outro contratante.
Vale lembrar que, esta calamidade pública atingiu a todos, embora algumas
empresas tivessem sido mais atingidas que outras, incluindo a credora,
que já concedeu redução de 50% (cinquenta por cento) do valor das
prestações, mas continua prestando o serviço contratado em prol da
recorrente.
[...] Ressalte-se que, os documentos apresentados pela autora demonstram
a existência de relação comercial entre as partes e trazem informações
financeiras sobre a empresa ré. Porém, não é possível afirmar, com base
nas alegações unilaterais apresentadas pela autora, que a sua proposta
seja viável à empresa ré para que continue prestando integralmente os

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serviços contratados.
Nestas condições, não ficou evidenciada, de plano, a probabilidade do
direito da autora, ora agravante, de modo a justificar a antecipação da
tutela pretendida, com base no artigo 300, do C ódigo deProcesso C ivil.
Entretanto, tal pedido poderá ser reexaminado, conforme foi consignado na
r. decisão hostilizada, "caso a autora ou a ré comprovem outras
necessidades, as quais se desconhece no momento".
Dessa forma, em juízo sumário, a análise do preenchimento dos requisitos
autorizadores da concessão de tutela de urgência reclama a reapreciação
do contexto fático-probatório dos autos, notadamente para derruir a
afirmação de que "não é possível afirmar, com base nas alegações
unilaterais apresentadas pela autora, que a sua proposta seja viável à
empresa ré para que continue prestando integralmente os serviços
contratados", providência inviável em sede de recurso especial, ante o
óbice da Súmula 7/STJ.
2. Do exposto, indefere-se liminarmente o pedido de tutela de urgência.
Publique-se.
Intimem-se.
Brasília, 27 de novembro de 2020.
MINISTRO MARCO BUZZI Relator

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