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Direitos humanos

Conceito, estrutura e história dos


direitos humanos
Conceito de direitos humanos
“Os direitos humanos consistem em um
conjunto de direitos considerados
indispensáveis para uma vida humana pautada
na liberdade, igualdade e dignidade. Os direitos
humanos são os direitos essenciais e
indispensáveis à vida digna.”
André de Carvalho Ramos
“Os direitos humanos são normas que
reconhecem e protegem a dignidade de todos
os seres humanos. Os direitos humanos regem o
modo como os seres humanos individualmente
vivem em sociedade e entre si, bem como sua
relação com o Estado e as obrigações que o
Estado tem em relação a eles.”
UNICEF
“Os direitos humanos são comumente compreendidos como aqueles
direitos inerentes ao ser humano. O conceito de Direitos
Humanos reconhece que cada ser humano pode desfrutar de seus direitos
humanos sem distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política
ou de outro tipo, origem social ou nacional ou condição de nascimento ou
riqueza. Os direitos humanos são garantidos legalmente pela lei de direitos
humanos, protegendo indivíduos e grupos contra ações que interferem
nas liberdades fundamentais e na dignidade humana. Estão expressos em
tratados, no direito internacional consuetudinário, conjuntos de
princípios e outras modalidades do Direito. A legislação de direitos
humanos obriga os Estados a agir de uma determinada maneira e proíbe
os Estados de se envolverem em atividades específicas.”
ONU
Estrutura dos direitos humanos
• Direito-pretensão – dever
– Art. 208, I, da CF/88 (educação pública)
• Direito-liberdade – ausência de direito
– Art. 5º, VI, CF/88 (liberdade de credo)
• Direito-poder – sujeição
– Art. 5º LXIII, da CF/88 (Assistência da família e
advogado)
• Direito-imunidade – incompetência
• Art. 5º LVI, da CF/88 (prisão)
Conteúdo dos direitos humanos
• São valores essenciais formalmente inscritos
em constituições e tratados, possuindo uma
fundamentalidade formal; ou
• Sendo considerados como parte integrante e
indispensável à dignidade humana, possuindo
uma fundamentalidade material.
Características das normas, princípios e
valores de direitos humanos
• Universalidade
• Essencialidade
• Superioridade normativa
• Reciprocidade
– Titularidade e sujeição passiva
Maneiras de implementação dos direitos
humanos
• Do ponto de vista subjetivo:
– Estado
– Particular
(eficácia horizontal dos direitos humanos)
• Do ponto de objetivo:
– Comissiva
– Omissiva
Conflito de direitos
• “O mundo dos direitos humanos é o mundo
dos conflitos entre direitos, com o
estabelecimento de limites, preferências e
prevalências”
– Direito à vida x direitos reprodutivos da mulher
– Direito de propriedade x direito ao meio ambiente
– Direito de informação x direito à privacidade
Etc.
DIREITO CONSTITUCIONAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO .
LIBERDADE DE EXPRESSÃO. DECISÃO JUDICIAL QUE DETERMINOU A RETIRADA
DE MATÉRIA JORNALÍSTICA DE SÍTIO ELETRÔNICO. AFRONTA AO JULGADO NA
ADPF 130. PROCEDÊNCIA .
1. O Supremo Tribunal Federal tem sido mais flexível na admissão de
reclamação em matéria de liberdade de expressão, em razão da persistente
vulneração desse direito na cultura brasileira, inclusive por via judicial.
2. No julgamento da ADPF 130, o STF proibiu enfaticamente a censura de
publicações jornalísticas, bem como tornou excepcional qualquer tipo de
intervenção estatal na divulgação de notícias e de opiniões.
3. A liberdade de expressão desfruta de uma posição preferencial no Estado
democrático brasileiro, por ser uma pré-condição para o exercício esclarecido
dos demais direitos e liberdades.
4. Eventual uso abusivo da liberdade de expressão deve ser reparado,
preferencialmente, por meio de retificação, direito de respostaou indenização.
Ao determinar a retirada de matéria jornalística de sítio eletrônico de meio de
comunicação, a decisão reclamada violou essa orientação.
5. Reclamação julgada procedente.
Reclamação 22.328/RJ, Informativo do STF n. 893
Sobre a jurisprudência
• Transcendência dos motivos determinantes
1. De início, observo que o pedido impugna decisões publicadas antes de 18.03.2016, de
modo que segue as regras de admissibilidade pertinentes ao regime da Lei nº 8.038/90, e não
do Novo CPC. Naquela sistemática, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal se firmou
no sentido contrário à adoção da teoria da transcendência aos motivos determinantes de
suas decisões, ao menos no que tange ao uso de tese para o fim de ajuizamento de
reclamação constitucional. Como regra geral, limitou-se a eficácia vinculante das decisões à
parte dispositiva da decisão, tal qual nos processos subjetivos. É dizer, a vinculação do
precedente atingia apenas a declaração de constitucionalidade ou inconstitucionalidade de
determinada norma infraconstitucional.
2. Nada obstante, essa linha restritiva tem sido excepcionada justamente quando estejam
em questão temas afetos à liberdade de expressão ou à liberdade de imprensa [...]
3. Essas decisões são indicativas da relevância da liberdade de expressão e da liberdade de
imprensa para o sistema constitucional, na medida em que constituem pré-condições para o
exercício de outros direitos e liberdades, bem como para o adequado funcionamento do
processo democrático. Não é difícil explicar a razão. A liberdade de expressão ainda não se
tornou uma ideia suficientemente enraizada na cultura do Poder Judiciário de uma maneira
geral. Não sem sobressalto, assiste-se à rotineira providência de juízes e tribunais no sentido
de proibirem ou suspenderem a divulgação de notícias e opiniões, num “ativismo antiliberal”
que precisa ser contido
• Método de ponderação de direitos
“[...] 17. Tanto a liberdade de expressão como os direitos de
privacidade, honra e imagem têm estatura constitucional. Vale
dizer: entre eles não há hierarquia. De modo que não é possível
estabelecer, em abstrato, qual deve prevalecer.
18. Em caso de conflito entre normas dessa natureza, impõe-se a
necessidade de ponderação, que, como se sabe, é uma técnica de
decisão que se desenvolve em três etapas: (i) na primeira,
verificam-se as normas que postulam incidência ao caso; (ii) na
segunda, selecionam-se os fatos relevantes; (iii) e, por fim, testam-
se as soluções possíveis para verificar, em concreto, qual delas
melhor realiza a vontade constitucional. Idealmente, a ponderação
deve procurar fazer concessões recíprocas, preservando o máximo
possível dos direitos em disputa. No limite, porém, fazem-se
escolhas. Todo esse processo intelectual tem como fio condutor o
princípio instrumental da proporcionalidade ou razoabilidade.”
• 1ª fase: identificar as normas de direitos
humanos incidentes no caso concreto
• 2ª fase: destacar os fatos relevantes com o uso
do máximo do conhecimento humano
disponível (diálogo das fontes)
• 3ª fase: testar as soluções possíveis e escolher
a que melhor atende ao propósito de
promoção dos direitos humanos com o menor
sacrifício possível dos demais direitos
Direitos humanos na história
• Codificação de Menes (3.100 a.C.)
• Código de Hammurabi (1.792 a.C.)
• Cilindro de Ciro (séc. VI a.C.)
• Confúcio (séc. VI e V a.C)
Herança grega para os direitos humanos

• Século de Péricles (séc. V a.C) – Democracia


direta ateniense
• Platão em “A República” (400 a.C.) –
fundamentação político-filosófica de
igualdade política e bem comum
• Sófocles em Antígona (421 a.C.) – não se pode
cumprir as leis humanas que se choquem com
as leis divinas
ADPF 187 – “Marcha da maconha”
“A valorização do espaço e do debate públicos assim como a
afirmação de que a realização do homem ocorre com a participação
na vida pública da cidade constituem o que veio a ser rotulado por
Benjamim Constant como “liberdade dos antigos”. Nesse sentido, a
democracia compreende simplesmente a possibilidade de ir a público
e emitir opiniões sobre os mais diversos assuntos concernentes à
vida em sociedade. Embora a versão de democracia de hoje não seja
idêntica à adotada pelos gregos, citada por Constant, o cerne do que
se entende por governo democrático encontra-se, ao menos
parcialmente, contido nessa ideia de possibilidade de participação
pública. E o veículo básico para o exercício desse direito é a
prerrogativa de emitir opiniões livremente.”
• República romana
– Princípio da legalidade
– Lex scripta
– Limitação do poder do Estado
Crise da idade média, início da idade moderna
e primeiros diplomas de direitos humanos

• Idade média
• Magna carta inglesa: estabelecimento de
direitos individuais oponíveis ao Estado
• Renascimento e reforma protestante -
enfraquecimento da aristocracia feudal e
fortalecimento do poder monárquico
– Igualdade dos súditos perante ao rei
• Séc. XIII e Séc. XVII na Inglaterra
– Marga Carta: primeiros passos na limitação do
poder do Estado (limitação do poder o rei em
relação aos nobres)
– A busca por limitação do poder do Estado é
consagrada na petition of Right de 1628
• proibição da cobrança de impostos sem autoriação do
parlamento
• “nenhum homem livre podia ser detido ou preso ou
privado dos seus bens, das suas liberdades e franquias,
ou posto fora da lei e exilado ou de qualquer modo
molestado, a não ser por virtude de sentença legal dos
seus pares ou da lei do país”
– Habeas corpus act (1679): formalização do
mandado de proteção judicial aos que fossem
presos injustamente
– bill of Rights (1689): afirmação da superioridade
da vontade da Lei sobre a vontade do monarca
• “é ilegal o pretendido poder de suspender leis, ou
execução de leis, pela autoridade real, sem o
consentimento do parlamento”
• “devem ser livres as eleições para o parlamento”
• “a liberdade expressão, e debates ou procedimentos no
parlamento, não devem ser impedidos ou questionados
por qualquer tribunal ou local fora do parlamento”
• Revolução Americana
– Declaração de Independência dos Estados Unidos
(4 de julho de 1776)
• “Todos os homens são criados iguais, sendo-lhes
conferidos pelo Criador certos Direitos inalienáveis,
entre os quais se contam a Vida, a Liberdade e a busca
da Felicidade. Que para garantir estes Direitos, são
instituídos Governos entre os Homens, derivando os
seus justos poderes do consentimento dos governados”
• Revolução Francesa
– Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão
• “Todos os homens nascem livres e com direitos iguais”
• A ideia de direitos naturais como fundamento
dos direitos humanos
– Entre os gregos (Aristóteles): busca pela natureza
das coisas
– Entre os medievais (Tomas de Aquino): Leis divinas
dadas ao conhecimento racional do homem
– Entre os modernos: Um direito saído da razão, e
não da fé nem do costume ou da natureza das
coisas; uma base individual que é origem e fim
desse direito natural; um direito de caráter
universal e eterno

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