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DIA 6

A CONSTITUIÇÃO DE 1988: PRINCÍPIOS


FUNDAMENTAIS:
FUNDAMENTOS, PODERES, FINS E
RELAÇÕES INTERNACIONAIS DA
REPÚBLICA.

19.02.2019
1
1 FUNDAMENTOS DA REPÚBLICA
1.1 Princípio da soberania
Consiste em um poder insuperável na ordem interna, de
estabelecer comportamentos obrigatórios, incondicionais ao
quais todos tem que se submeter. Já independência se
manifesta na ordem externa ou nas relações com os demais
Estados estrangeiros. A independência é uma relação de
igualdade no tratamento entre os diversos Estados, já que
nenhum deve se submeter ao outro.
1.2 Princípio da cidadania
Confere aptidão de participar da vida política e da promoção
de meios para realizar esses direitos. O cidadão tratado no
artigo 1º difere daquele previsto no artigo 14 da Constituição
Federal, porque mais amplo. Não é apenas o direito de votar e
ser votado. Compreende o direito de, mesmo que não seja
eleitor, participar de um evento público, por exemplo. 2
Alcance do princípio da cidadania no STF

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS


EMPRESAS DE TRANSPORTE RODOVIÁRIO INTERMUNICIPAL, INTERESTADUAL
E INTERNACIONAL DE PASSAGEIROS - ABRATI. CONSTITUCIONALIDADE DA
LEI N. 8.899, DE 29 DE JUNHO DE 1994, QUE CONCEDE PASSE LIVRE ÀS
PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA. ALEGAÇÃO DE AFRONTA AOS
PRINCÍPIOS DA ORDEM ECONÔMICA, DA ISONOMIA, DA LIVRE INICIATIVA E
DO DIREITO DE PROPRIEDADE, ALÉM DE AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DE FONTE
DE CUSTEIO (ARTS. 1º, INC. IV, 5º, INC. XXII, E 170 DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA): IMPROCEDÊNCIA. (...) 3. Em 30.3.2007, o Brasil assinou, na sede
das Organizações das Nações Unidas, a Convenção sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência, bem como seu Protocolo Facultativo, comprometendo-
se a implementar medidas para dar efetividade ao que foi ajustado. 4. A Lei n.
8.899/94 é parte das políticas públicas para inserir os portadores de
necessidades especiais na sociedade e objetiva a igualdade de oportunidades e
a humanização das relações sociais, em cumprimento aos fundamentos da
República de cidadania e dignidade da pessoa humana, o que se concretiza pela
definição de meios para que eles sejam alcançados. 5. Ação Direta de
Inconstitucionalidade julgada improcedente. (ADI 2649, Pleno, julgado em 08/05/2008)

3
Vídeo: origem princípio da dignidade da
pessoa humana

4
1.3 Princípio da dignidade da pessoa humana
“Direito de ter direitos”. (Hannah Arendt)
O ser humano tem um valor em si mesmo, que está
a exigir certas realizações. Não é apenas evitar o
tratamento desumano, mas, também dar acesso à vida,
saúde, educação, cultura, e outros direitos sociais
suficientes para a realização pessoal (direito ao
mínimo existencial. No direito constitucional
alemão: “ (1) A dignidade da pessoa humana é
intangível. Respeitá-la e protegê-la é obrigação de todo
o Poder Público; (2) O povo alemão reconhece, por
isto, os direitos invioláveis e inalienáveis da pessoa
humana como fundamento de toda comunidade
humana, da paz e da justiça no mundo”.
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STF, direito civil constitucional e princípio da dignidade
humana
“3. A família, objeto do deslocamento do eixo central de seu regramento
normativo para o plano constitucional, reclama a reformulação do tratamento
jurídico dos vínculos parentais à luz do sobreprincípio da dignidade humana (art.
1º, III, da CRFB) e da busca da felicidade. 4. A dignidade humana compreende o
ser humano como um ser intelectual e moral, capaz de determinar-se e
desenvolver-se em liberdade, de modo que a eleição individual dos próprios
objetivos de vida tem preferência absoluta em relação a eventuais formulações
legais definidoras de modelos preconcebidos, destinados a resultados eleitos a
priori pelo legislador. Jurisprudência do Tribunal Constitucional alemão
(BVerfGE 45, 187). 5. A superação de óbices legais ao pleno desenvolvimento das
famílias construídas pelas relações afetivas interpessoais dos próprios indivíduos é
corolário do sobreprincípio da dignidade humana. 6. O direito à busca da felicidade,
implícito ao art. 1º, III, da Constituição, ao tempo que eleva o indivíduo à
centralidade do ordenamento jurídico-político, reconhece as suas capacidades
de autodeterminação, autossuficiência e liberdade de escolha dos próprios
objetivos, proibindo que o governo se imiscua nos meios eleitos pelos cidadãos
para a persecução das vontades particulares. Precedentes da Suprema Corte
dos Estados Unidos da América e deste Egrégio Supremo Tribunal Federal: RE
477.554-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, DJe de 26/08/2011; ADPF 132, Rel. Min. Ayres
Britto, DJe de 14/10/2011.

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Vídeo: valor social do trabalho

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1.4 Princípio dos valores sociais do trabalho e da
livre iniciativa

São valores antagônicos, mas que devem ser conciliados para


assegurar a todos existência digna (CF, art. 170). O trabalho é
um valor e um direito consagrado no texto constitucional que tem
por objetivo permitir o acesso aos bens econômicos da vida.
É pelo trabalho que o ser humano se desenvolve e produz, para
si e para a sociedade, os bens que irão satisfazer os mais
diversos interesses coletivos e individuais. A livre iniciativa
decorre da opção pela economia de mercado, herança do
liberalismo econômico, ou seja, os meios de produção são
privados e os particulares são livres para desenvolver a atividade
econômica. Todavia, conforme o artigo 170 da Constituição
Federal, tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social.
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STF e valores sociais do trabalho e da livre iniciativa

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. MUNICÍPIO:


HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO: ESTABELECIMENTO
COMERCIAL: COMPETÊNCIA MUNICIPAL. SÚMULA 645-
STF. I. - A fixação de horário de funcionamento de
estabelecimento comercial é matéria de competência
municipal, considerando improcedentes as alegações de
ofensa aos princípios constitucionais da isonomia, da
livre iniciativa, da livre concorrência, da liberdade de
trabalho, da busca do pleno emprego e da proteção ao
consumidor. Precedentes. II. - Incidência da Súmula 645-
STF. (...). IV. - Agravo não provido.“ (AI 481886, 2ª Turma,
julgado em 15/02/2005)
Súmula Vinculante 38/STF: “É competente o Município para
fixar o horário de funcionamento de estabelecimento
comercial.” 9
1.5 Princípio do pluralismo político

“A tolerância torna a diferença possível; a


diferença torna a tolerância necessária.”
(Da Tolerância, Michael Walzer)

Coexistência de diversos centros de poder e


de concepções ideológicas diferentes. Impõe
à sociedade e ao Estado um dever de tolerância.
Na jurisprudência do STF é comum analisar o
pluralismo no campo eleitoral, especialmente na
interpretação do artigo 17, CF.
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1.6 STF, Pluralismo Político e Eleições
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI NACIONAL N. 13.107,
DE 24 DE MAÇO DE 2015. ALTERAÇÃO DA LEI DOS PARTIDOS
POLÍTICOS E DA LEI ELEITORAL (LEI 9.096/1995 E 9.504/1997). NOVAS
CONDIÇÕES LEGAIS PARA CRIAÇÃO, FUSÃO E INCORPORAÇÃO DE
PARTIDOS POLÍTICOS. APOIO DE ELEITORES NÃO FILIADOS E PRAZO
MÍNIMO DE CINCO ANOS DE EXISTÊNCIA DOS PATIDOS.
FORTALECIMENTO DO MODELO REPRESENTATIVO E DENSIFICAÇÃO
DO PLURIPARTIDARISMO. FUNDAMENTO DO PRINCÍPIO
DEMOCRÁTICO. FIDELIDADE PARTIDÁRIA. INDEFERIDMENTO DA
CAUTELAR. 1. A Constituição da República assegura a livre criação,
fusão e incorporação de partidos políticos. Liberdade não é absoluta,
condicionando-se aos princípios do sistema democrático-representativo
e do pulipartidarismo. 2. São constitucionais as normas que fortalecem o
controle quantitativo e qualitativo dos partidos, sem afronta ao princípio
da igualdade ou qualquer ingerência em seu funcionamento interno. 3. O
requisito constitucional do caráter nacional dos partidos políticos objetiva
impedir a proliferação de agremiações sem expressão política, que podem
atuar como “legendas de aluguel”, fraudando a representação, base do
regime democrático. 4. Medida cautelar indeferida. (ADI 5311, Pleno, julgado
em 30/09/2015)
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2. PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA
SEPARAÇÃO DOS PODERES

“Trata-se de uma experiência eterna que


todo o homem que possui poder é
levado a dele abusar; ele vai até onde
encontra limites."
(Montesquieu, O Espírito das Leis)

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2.1 ORIGEM DA TEORIA SEPARAÇÃO DOS PODERES

Para Montesquieu, o primeiro conceito de liberdade é


inevitavelmente associado ao agir de acordo com a
vontade individual (liberdade natural). Porém, o regime
político impõe uma redefinição da liberdade: a liberdade
política, ou seja, "o direito de fazer tudo o que as leis
permitem; e se um cidadão pudesse fazer o que elas
proíbem, ele já não teria liberdade, porque os outros
também teriam este poder".
Para ele, a liberdade política só se encontra nos
governos moderados e, ainda assim, ela “só existe
quando não se abusa do poder”. Outra condição
necessária para a liberdade política: a Constituição deve
limitar o poder através do poder, o que impõe a divisão
funcional e orgânica.
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2.2 Independência e Harmonia entre Poderes

Art. 2º, CF: “São Poderes da União, independentes e


harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.“

Não obstante o poder político seja uno, pode-se dizer que ele
se manifesta em três funções clássicas: legislar, executar as
leis de ofício e julgar os conflitos decorrentes da
aplicação da lei quando provocado. Divisão orgânica e
funcional do poder. Independência significa não
interferência de um poder sobre o outro, conforme a
delimitação constitucional de competências. Harmonia
tem o significado de cortesia e consideração no
tratamento. Direito constitucional dos EUA: doutrina do
check and balances (freios e contrapesos).
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2.3 Funções Típicas e Atípicas dos Poderes
A separação orgânica e funcional não é inflexível. Além de funções
típicas há funções atípicas de cada Poder. Por exemplo: o Poder
Legislativo legisla exerce sua função típica (CF, art. 44). Quando está
julgando, por exemplo, o Presidente da República, no crime de
responsabilidade, está exercendo uma função que não é própria dele, mas
do Poder Judiciário, portanto, uma função atípica. O Poder Executivo (art.
62) e o Poder Judiciário (art. 93) igualmente exercem funções atípicas.
Além disso, a importância crescente da função parlamentar de
fiscalização (arts. 31 e 49, X) e o incremento da jurisdição
constitucional (CF, art. 102) alteraram significativamente a configuração
tradicional da separação dos poderes. De todo modo, a Constituição
estabelece a separação dos poderes como cláusula pétrea (art. 60,
§4º, III).
A competência de cada Poder, decorrente do desenho constitucional da
separação de poderes, é indelegável, ou seja, não pode ser transferida.
Daí, por exemplo, a Constituição de Sergipe, no art. 6º, parágrafo único:
“É vedado a qualquer dos Poderes delegar atribuições, não se
permitindo, salvo nas exceções previstas nesta Constituição, que o
cidadão investido nas funções de um deles exerça as de outro.”
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2.4 STF, Separação de Poderes e a Pílula do Câncer
Notícia: “Como a lei da ‘pílula do câncer’ uniu Congresso dividido e foi
aprovada em tempo recorde” (BBC Brasil, 19.05.2016)
Lei 13.269/2016: “Autoriza o uso da fosfoetanolamina sintética por pacientes
diagnosticados com neoplasia maligna.”
“SAÚDE – MEDICAMENTO – AUSÊNCIA DE REGISTRO. Surge relevante
pedido no sentido de suspender a eficácia de lei que autoriza o
fornecimento de certa substância sem o registro no órgão competente,
correndo o risco, ante a preservação da saúde, os cidadãos em geral.” (STF,
ADI 5501, Pleno, 19/05/2016)
“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – LEI Nº 10.640/1998 DO
ESTADO DE SANTA CATARINA – DIPLOMA LEGISLATIVO QUE
RESULTOU DE INICIATIVA PARLAMENTAR – CONCESSÃO DE VALE-
TRANSPORTE A SERVIDORES PÚBLICOS, INDEPENDENTEMENTE DA
DISTÂNCIA DO DESLOCAMENTO – USURPAÇÃO DO PODER DE
INICIATIVA DO PROCESSO LEGISLATIVO RESERVADO,
NOTADAMENTE, AO GOVERNADOR DO ESTADO – OFENSA AO
PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA SEPARAÇÃO DE PODERES –
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL – AÇÃO DIRETA JULGADA
PROCEDENTE. PROCESSO LEGISLATIVO E INICIATIVA RESERVADA
DAS LEIS.” (ADI 1809, Pleno, 29/06/2017)

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3. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS: OBJETIVOS
CONSTITUCIONAIS DO ESTADO BRASILEIRO (ART. 3º)
O dispositivo é classificado como elemento socioideológico da
Constituição de 88 e conteúdo reflete a opção por um Estado
Social, típico de uma Constituição dirigente.
3.1 Construir uma sociedade livre, justa e solidária
Permite, por exemplo, que o Estado cobre mais tributos de quem
tem maior capacidade econômica para financiar programas
sociais dirigidas à população mais carente que não tem como se
manter. Daí também o regramento constitucional sobre
seguridade social nos arts. 194 e ss.:
Art. 195: “A seguridade social será financiada por toda a
sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei,
mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes
contribuições sociais:”
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3.2 Garantir o desenvolvimento nacional
A sociedade se desenvolve, cresce populacionalmente e o
Estado deve estar atento a essas modificações sociais para
garantir o desenvolvimento econômico que assegure, no futuro, a
existência digna de seus cidadãos. A norma constitucional
impõe, por exemplo, leis que estabeleçam planos econômicos ou
diretrizes para a economia, como previsto no artigo 174 da
Constituição Federal.
Precedentes do STF sobre o desenvolvimento nacional
“Agravo regimental no agravo regimental no agravo de
instrumento. Tributário. IPI. Açúcar. Alíquota máxima.
Essencialidade. Seletividade. Uniformidade geográfica. Artigo 2º
da Lei nº 8.393/91. Constitucionalidade. 1. O Plenário do
Supremo Tribunal Federal assentou a constitucionalidade do art.
2º da Lei nº 8.393/1991, o qual observou os requisitos da
seletividade e da essencialidade, bem como o princípio da
isonomia. 2. A utilização do IPI como instrumento de
promoção do desenvolvimento nacional e de superação das
desigualdades sociais e regionais não caracteriza desvio de
finalidade e não ofende o princípio da uniformidade
geográfica, dada sua função extrafiscal. 3. Agravo regimental
não provido.” (AI 729667, 2ª Turma, 25/08/2017) 18
3.2 Garantir o desenvolvimento nacional
A sociedade se desenvolve, cresce populacionalmente e o
Estado deve estar atento a essas modificações sociais para
garantir o desenvolvimento econômico que assegure, no futuro, a
existência digna de seus cidadãos. A norma constitucional
impõe, por exemplo, leis que estabeleçam planos econômicos ou
diretrizes para a economia, como previsto no artigo 174 da
Constituição Federal.
Precedentes do STF sobre o desenvolvimento nacional
“Agravo regimental no agravo regimental no agravo de
instrumento. Tributário. IPI. Açúcar. Alíquota máxima.
Essencialidade. Seletividade. Uniformidade geográfica. Artigo 2º
da Lei nº 8.393/91. Constitucionalidade. 1. O Plenário do
Supremo Tribunal Federal assentou a constitucionalidade do art.
2º da Lei nº 8.393/1991, o qual observou os requisitos da
seletividade e da essencialidade, bem como o princípio da
isonomia. 2. A utilização do IPI como instrumento de
promoção do desenvolvimento nacional e de superação das
desigualdades sociais e regionais não caracteriza desvio de
finalidade e não ofende o princípio da uniformidade
geográfica, dada sua função extrafiscal. 3. Agravo regimental
não provido.” (AI 729667, 2ª Turma, 25/08/2017) 19
3.3 Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais

A pobreza é um dos fatores que promovem a marginalização e a


profunda desigualdade econômica e social, impedindo o acesso
à saúde, educação, moradia, entre os direitos fundamentais. O
dispositivo tem vínculo estreito com a dignidade da pessoa
humana na perspectiva do mínimo existencial, fundamento
constitucional do Estado brasileiro (art. 1º).
Daí, por exemplo, o artigo 203: “A assistência social será
prestada a quem dela necessitar, independentemente de
contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: (...) V - a
garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa
portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não
possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la
provida por sua família, conforme dispuser a lei.”
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“UFOB – Procuradoria emite parecer favorável a cotas regionais
pelas Universidades
A Advocacia-Geral da União concluiu pela possibilidade válida de
adoção, pelas Instituições federais de Ensino, de políticas de
inclusão regional (sistema de cotas regionais), objetivando
superar as mais diversas distorções socioeconômicas presentes
em determinadas localidades do País.
O parecer técnico favorável, originado na Câmara Permanente de
Interesses das Instituições Federais de Ensino, foi aprovado pelo
Procurador-Geral Federal (PGF). Segundo o documento, a medida
somente é válida se atendidos os requisitos elencados pelo
Supremo Tribunal Federal (STF): a) estabelecer um ambiente
acadêmico plural e diversificado; b) razoabilidade e
proporcionalidade da medida; c) transitoriedade da medida
adotada e, por fim, d) empregar métodos seletivos eficazes.
A peça jurídica que deu origem ao parecer teve a participação na
elaboração do Procurador Federal junto à UFOB, Diego Pereira, e
passa a ter validade imediata.” (Andifes, 10/01/2018)
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3.4 Promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação
Não se admite, com isso, qualquer forma de preconceito que possa
impedir o acesso de maneira igual aos bens da vida. Na Constituição
de Sergipe, o artigo 3º é ainda mais detalhado:
“O Estado assegura por suas leis e pelos atos dos seus agentes, além
dos direitos e garantias individuais previstos na Constituição Federal e
decorrentes do regime e dos princípios que ela adota, ainda os
seguintes:
I - ninguém será prejudicado no exercício de direito, nem privado de
serviço essencial à saúde, à higiene e à educação, por não dispor de
recursos financeiros;
II - proteção contra discriminação por motivo de raça, cor, sexo,
idade, classe social, orientação sexual, deficiência física, mental
ou sensorial, convicção político-ideológica, crença em
manifestação religiosa, sendo os infratores passíveis de punição por
lei;
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Precedentes do STF relacionados ao dispositivo constitucional
“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA CAUTELAR. LEI 13.146/2015.
ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA. ENSINO INCLUSIVO. CONVENÇÃO
INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA.
INDEFERIMENTO DA MEDIDA CAUTELAR. CONSTITUCIONALIDADE DA LEI
13.146/2015 (arts. 28, § 1º e 30, caput, da Lei nº 13.146/2015). (...). 4. Pluralidade e
igualdade são duas faces da mesma moeda. O respeito à pluralidade não prescinde
do respeito ao princípio da igualdade. E na atual quadra histórica, uma leitura focada
tão somente em seu aspecto formal não satisfaz a completude que exige o princípio.
Assim, a igualdade não se esgota com a previsão normativa de acesso igualitário a
bens jurídicos, mas engloba também a previsão normativa de medidas que
efetivamente possibilitem tal acesso e sua efetivação concreta. 5. O enclausuramento
em face do diferente furta o colorido da vivência cotidiana, privando-nos da
estupefação diante do que se coloca como novo, como diferente. 6. É somente com o
convívio com a diferença e com o seu necessário acolhimento que pode haver a
construção de uma sociedade livre, justa e solidária, em que o bem de todos seja
promovido sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação (Art. 3º, I e IV, CRFB). 7. A Lei nº 13.146/2015 indica assumir
o compromisso ético de acolhimento e pluralidade democrática adotados pela
Constituição ao exigir que não apenas as escolas públicas, mas também as
particulares deverão pautar sua atuação educacional a partir de todas as facetas e
potencialidades que o direito fundamental à educação possui e que são densificadas
em seu Capítulo IV. 8. Medida cautelar indeferida. 9. Conversão do julgamento do
referendo do indeferimento da cautelar, por unanimidade, em julgamento definitivo de
mérito, julgando, por maioria e nos termos do Voto do Min. Relator Edson Fachin,
improcedente a presente ação direta de inconstitucionalidade. (ADI 5357, Pleno,
09/06/2016)
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“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.
REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. TEMA 838 DO PLENÁRIO VIRTUAL.
TATUAGEM. CONCURSO PÚBLICO. EDITAL. REQUISITOS PARA O DESEMPENHO DE
UMA FUNÇÃO PÚBLICA. AUSÊNCIA DE PREVISÃO EM LEI FORMAL ESTADUAL.
IMPOSSIBILIDADE. OFENSA AO ART. 37, I, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
REAFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA DA CORTE. IMPEDIMENTO DO
PROVIMENTO DE CARGO, EMPREGO OU FUNÇÃO PÚBLICA DECORRENTE DA
EXISTÊNCIA DE TATUAGEM NO CORPO DO CANDIDATO. REQUISITO OFENSIVO A
DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS CIDADÃOS. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS DA IGUALDADE, DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, DA
LIBERDADE DE EXPRESSÃO, DA PROPORCIONALIDADE E DO LIVRE ACESSO AOS
CARGOS PÚBLICOS. INCONSTITUCIONALIDADE DA EXIGÊNCIA ESTATAL DE QUE A
TATUAGEM ESTEJA DENTRO DE DETERMINADO TAMANHO E PARÂMETROS
ESTÉTICOS. INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 5º, I, E 37, I E II, DA CRFB/88. SITUAÇÕES
EXCEPCIONAIS. RESTRIÇÃO. AS TATUAGENS QUE EXTERIORIZEM VALORES
EXCESSIVAMENTE OFENSIVOS À DIGNIDADE DOS SERES HUMANOS, AO
DESEMPENHO DA FUNÇÃO PÚBLICA PRETENDIDA, INCITAÇÃO À VIOLÊNCIA
IMINENTE, AMEAÇAS REAIS OU REPRESENTEM OBSCENIDADES IMPEDEM O
ACESSO A UMA FUNÇÃO PÚBLICA, SEM PREJUÍZO DO INAFASTÁVEL JUDICIAL
REVIEW. CONSTITUCIONALIDADE. INCOMPATIBILIDADE COM OS VALORES ÉTICOS
E SOCIAIS DA FUNÇÃO PÚBLICA A SER DESEMPENHADA. DIREITO COMPARADO.
IN CASU, A EXCLUSÃO DO CANDIDATO SE DEU, EXCLUSIVAMENTE, POR MOTIVOS
ESTÉTICOS. CONFIRMAÇÃO DA RESTRIÇÃO PELO ACÓRDÃO RECORRIDO.
CONTRARIEDADE ÀS TESES ORA DELIMITADAS. RECURSO EXTRAORDINÁRIO A
QUE SE DÁ PROVIMENTO. (RE 898450, Pleno, 17/08/2016)”

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4. Princípios das relações internacionais (art. 4º)
O artigo 4º estabelece os princípios que devem orientar o Brasil
quando se relacionar com outros Estados na ordem internacional.
4.1 Elenco dos princípios: independência nacional (relacionado com
a soberania, fundamento da República), prevalência dos Direitos
Humanos (relacionado com art. 5º, §§ 2º e 3º, e 7º, ADCT),
autodeterminação dos povos (norma dirigida à consolidação do
processo de descolonização da África), igualdade entre Estados,
defesa da paz, solução pacífica dos conflitos (repete o preâmbulo),
repúdio ao terrorismo e ao racismo (na ordem interna: crimes
inafiançáveis e imprescritíveis – art. 5º, XLII e XLII), cooperação entre
os povos para o progresso da humanidade (sujeição ao Tribunal Penal
Internacional – art. 5º, § 4º), concessão de asilo político (relacionado
com o artigo 5º, LII)
4.2 Norma programática (parágrafo único): busca da integração dos
povos da América Latina para formação de uma comunidade de
nações (Embrião: Mercosul, Unasul, OEA...).

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4.3 Agenda 2030 da ONU e princípios fundamentais
das relações internacionais

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4.4 Precedentes do STF

“EXTRADIÇÃO - ATOS DELITUOSOS DE NATUREZA TERRORISTA -


DESCARACTERIZAÇÃO DO TERRORISMO COMO PRÁTICA DE
CRIMINALIDADE POLÍTICA - CONDENAÇÃO DO EXTRADITANDO A
DUAS (2) PENAS DE PRISÃO PERPÉTUA - INADMISSIBILIDADE DESSA
PUNIÇÃO NO SISTEMA CONSTITUCIONAL BRASILEIRO (CF, ART. 5º,
XLVII, "B") - EFETIVAÇÃO EXTRADICIONAL DEPENDENTE DE PRÉVIO
COMPROMISSO DIPLOMÁTICO CONSISTENTE NA COMUTAÇÃO, EM
PENAS TEMPORÁRIAS NÃO SUPERIORES A 30 ANOS, DA PENA DE
PRISÃO PERPÉTUA - PRETENDIDA EXECUÇÃO IMEDIATA DA ORDEM
EXTRADICIONAL, POR DETERMINAÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL - IMPOSSIBILIDADE - PRERROGATIVA QUE ASSISTE,
UNICAMENTE, AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, ENQUANTO CHEFE DE
ESTADO - PEDIDO DEFERIDO, COM RESTRIÇÃO. O REPÚDIO AO
TERRORISMO: UM COMPROMISSO ÉTICO-JURÍDICO ASSUMIDO PELO
BRASIL, QUER EM FACE DE SUA PRÓPRIA CONSTITUIÇÃO,
QUERPERANTE A COMUNIDADE INTERNACIONAL.

(Ext 855, Pleno, 26/08/2004)


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“Extradição: Colômbia: crimes relacionados à participação do extraditando - então
sacerdote da Igreja Católica - em ação militar das Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia (FARC). Questão de ordem. Reconhecimento
do status de refugiado do extraditando, por decisão do comitê nacional
para refugiados - CONARE: pertinência temática entre a motivação do
deferimento do refúgio e o objeto do pedido de extradição: aplicação da
Lei 9.474/97, art. 33 (Estatuto do Refugiado), cuja constitucionalidade é
reconhecida: ausência de violação do princípio constitucional da
separação dos poderes. 1. De acordo com o art. 33 da L. 9474/97, o
reconhecimento administrativo da condição de refugiado, enquanto dure, é
elisiva, por definição, da extradição que tenha implicações com os motivos do
seu deferimento. 2. É válida a lei que reserva ao Poder Executivo - a quem
incumbe, por atribuição constitucional, a competência para tomar
decisões que tenham reflexos no plano das relações internacionais do
Estado - o poder privativo de conceder asilo ou refúgio. 3. A
circunstância de o prejuízo do processo advir de ato de um outro Poder -
desde que compreendido na esfera de sua competência - não significa
invasão da área do Poder Judiciário. 4. Pedido de extradição não
conhecido, extinto o processo, sem julgamento do mérito e determinada
a soltura do extraditando. 5. Caso em que de qualquer sorte, incidiria a
proibição constitucional da extradição por crime político, na qual se
compreende a prática de eventuais crimes contra a pessoa ou contra o
patrimônio no contexto de um fato de rebelião de motivação política.”
(Ext 1008, Pleno, 21/03/2007)

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