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Moçambique.
O candidato O supervisor
____________________ _______________
i
Declaração de autoria
Declaro pela minha honra que o presente trabalho é inteiramente da minha autoria e que
nunca foi anteriormente apresentado para a avaliação.
ii
Agradecimentos
Agradeço ao meu bom Deus em primeiro lugar, pois ele sempre me acompanhou e me
auxiliou na minha caminhada académica, agradeço igualmente aos meus pais que de
forma muito abnegada deram suporte moral, e financeiro para que conseguisse chegar
ao fim do curso.
Agradeço também a todos meus professores por me terem tornado no que sou hoje,
capaz de escrever esta tese, é tudo graças a eles, a capacidade deles de administrar
conteúdos de forma clara e objectiva.
iii
Dedicat
ória
Dedico este trabalho aos meus pais André Zandamela e Albertina Nhancale e aos meus
irmãos Lúcia, Rosalina e André pelo amor incontestável que depositado em mim.as
minhas tias Ermelinda e Fernanda Nhancale pela contribuição incondicional sempre que
precisei, dedico também a todos amigos e colegas que contribuíram para a realização do
trabalho especialmente ao Celso Folege e Celestino Silva, Amaisa Chongola, pelo apoio
moral e material. Dedico também aos meus Pais espirituais Pr. Luís B. Maposse, Mãe
Leonor e Gerson Dimande.
iv
Siglas e abreviaturas
1
Congress for Progressive Change (CPC)
2
Peoples Democratic Party (PDP)
v
Introdução
O presente trabalho tem como tema “Democracia Liberal e Segurança Nacional nos
Estados Africanos: Reflexão sobre o Caso de Moçambique”. Esse tema é estudado na
delimitação temporal entre 1990 e 2013, tem como delimitação espacial, todos os
Estados africanos, particularmente Moçambique.
Em termos de espaço, o nosso trabalho destaca Moçambique como caso de estudo. Essa
menção deve-se ao facto de, durante muitos anos, Moçambique ter sido considerado um
grande exemplo de transição democrática pacífica. Mas desde 2012, atravessa
momentos de insegurança interna, causados de alguma forma por questões ligadas ao
exercício da democracia liberal.
Contexto
Olhando para os mais recentes conflitos internos em África, notamos que tem nas suas
causas, questões próprias da democracia liberal. São exemplos dessa realidade, os
conflitos pós-eleitorais na Costa de Marfim e no Senegal, em 2012; os conflitos para a
1
instauração de liberdades políticas e maior abertura democrática na Tunísia, no Egipto e
na Líbia, em 2011. Os confrontos militares em Moçambique, envolvendo o Governo e a
Renamo junta-se a estes outros que assolam o continente, possivelmente esses conflitos
tenham outras grandes razões e cada um deles com suas especificidades, mas o facto em
comum é de serem apresentadas razões ligadas a processos democráticos, sobretudo
processos eleitorais e liberdades fundamentais.
Justificativa
É pertinente estudar este tema porque a manutenção da paz e controle de ameaças
militares que colocam em causa a segurança nacional, é um assunto de topo de agenda
para quase todos Estados no mundo. Importa ainda estudar a segurança nacional
fazendo uma relação com a democracia liberal, de forma a conhecer os contornos da
2
relação entre esses dois conceitos. Importa ainda conhecer o nível em que essa relação
pode ser positiva levando a segurança, ou negativa levando a insegurança nos Estados
africanos, olhando de forma muito particular o estudo de Moçambique.
Problematização
Muitos teóricos acreditam que as relações entre Estados democráticos liberais tendem a
ser mais pacíficas do que entre Estados não democráticos. Segundo Doyle (1983:34), os
Estados democráticos não se digladiam, ou seja não lutam entre si. Essa afirmação
refere-se à paz a nível internacional, mas não a nível interno, de onde surgem várias
fontes de ameaça a segurança nacional particularmente em Estados africanos.
Olhando para o contexto africano, podemos assumir que a democracia liberal ainda não
é efectivamente implementada, pois notamos que nos últimos anos, em alguns países
como a Nigéria, Zimbabwe, Senegal, Quénia e Costa do Marfim, os processos
eleitorais, tornaram-se fontes de instabilidade e ameaça a valores centrais do Estado
como integridade territorial e unidade nacional. Além desses países, na Libia, no Egipto
e na Tunísia, a segurança nacional foi posta em causa por manifestações violentas com
o intuito de promover e garantir mais liberdades políticas, e mais recentemente, em
Moçambique eclodiu um conflito militar entre as forças da Renamo e as forças
governamentais devido, essencialmente a questões ligadas ao processo eleitoral,
inclusão e igualdade.
3
actores de nível nacional e não fique apenas a mercê de um governante ou de um grupo,
como acontece em sistemas de governação não democráticos. Porém, a possibilidade de
conflitos internos que podem constituir ameaça à segurança nacional persiste.
Portanto, no contexto africano, onde num mesmo Estado temos vários grupos com
posições divergentes, onde a democracia liberal ainda deve ser adaptada às realidades
locais, e onde se verificam casos de conflitos motivados por aspectos próprios da
democracia liberal como eleições e busca por liberdades políticas, questiona-se: Qual é
o impacto da democracia liberal na segurança nacional dos Estados africanos?
Questões de pesquisa
Objectivo Geral
Compreender a relação entre a democracia liberal e a segurança nacional nos
Estados africanos.
Objectivos Específicos
Caracterizar a segurança nacional dos Estados africanos durante o processo de
democratização;
4
Conhecer as condições em que a democracia liberal pode constituir ameaça à
segurança nacional dos Estados africanos;
Hipóteses
A democracia liberal pode constituir ameaça contra a segurança nacional dos
Estados africanos quando não são observados, de forma rigorosa, os seus
principais pilares;
Metodologia
Neste trabalho, para alcançar os nossos objectivos de forma coerente e rigorosa, usamos
métodos e técnicas de pesquisa em ciências sociais, concretamente os métodos:
Histórico, Comparativo e Monográfico e também a técnica documental.
Este método foi útil pois, ao longo deste trabalho recorremos a factos do passado para
explicar a dinâmica do modelo democrático liberal nas sociedades africanas,
concretamente em Moçambique, de forma a analisar a sua implicação em questões
ligadas a segurança nacional.
5
eles. Sua ampla utilização nas ciências sociais deve-se ao fato de possibilitar o estudo
comparativo de grandes agrupamentos sociais, separados pelo espaço e pelo tempo
(Marconi e Lakatos, 2009:92).
Usamos esta técnica por ser a base de qualquer trabalho cientifico, acreditamos que as
fontes segundárias dão sustento e cientificidade em todos os preconcietos e crenças que
temos sobre determinadas matérias, esta técnica nos decipa do sensu comum, nos
levando a alicersar a nossa pesquisa em fontes fiavéis para viabilizar a pesquisa.
3
Triviños, Augusto Nibaldo Silva, (1987); Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa
qualitativa em educação. São Paulo.
6
Técnica de entrevista - para Mazzotti (1999:1684), citado por Marconi e Lakatos:
(2009:278), a entrevista é uma conversação efectuada face a face, de maneira metódica,
que pode proporcionar resultados satisfatórios e informações necessárias.
Estrutura do trabalho
O presente trabalho é constituído por cinco partes principais, sendo a primeira a parte
introdutória onde temos o tema delimitado no tempo e no espaço, o contexto e a
problematização do tema, os objectivos, hipóteses e questões de pesquisa. A seguir
temos o primeiro capítulo, intitulado Marco Teórico e Conceptual, onde temos a teoria
liberal explicando a sua formação, precursores, pressupostos, sua aplicabilidade no
trabalho e as suas críticas. Ao longo deste capítulo discutimos igualmente os conceitos
de Democracia, democracia liberal e segurança nacional.
4
Alves Mazzotti, Alda Judith; Geandsznajder, Fernando, (1999) O método em ciências naturais e
sociais: Pesquisas quantitativas e qualificativa, Thoson, 2a ed. São Paulo.
7
CAPITULO 1
O Liberalismo é a teoria escolhida para este trabalho visto que “no liberalismo procura-
se estender o funcionamento doméstico das sociedades a uma escala internacional,
propondo arranjos e mecanismos que possam organizar o relacionamento entre os
Estados da mesma forma que as instituições da sociedade civil o fazem internamente”
(Pecequilo, 2004:140). Nessa óptica podemos entender que os resultados da relação
entre actores domésticos num estado liberal pode se reflectir também nas relações desse
Estado a nível externo.
Uma vez que a democracia prima pelo domínio da lei, uma boa aplicação destas por
parte dos homens pode levar-nos a paz e estabilidade, mas o contrário pode levar-nos a
conflitos e instabilidade.
8
O liberalismo tem precursores do campo político e económico. Para o nosso tema, é
mais relevante a perspectiva política do liberalismo da qual os principais precursores
são: John Locke (1998)5, Jean Jacques Rousseau (2008)6, Immanuel Kant (1795)7 e J.
Stuart Mill (1909)8. Estes deram contributos para formulação de regras de convivência
política, como a igualdade, liberdade e direitos fundamentais, primeiro no Ocidente, e
depois se tornaram valores universalmente aceites no mundo no geral e no continente
africano em particular.
5
Locke, John (1998) Dois tratados sobre o governo, 1ª Ed. Matins Fontes São Paulo.
6
Rousseau, J. (2008), El Contrato Social, Maxtor, Valladolid.
7
Kant, Immanuel, (1795) Perpetual Peace: A Philosophical Sketch
8
Mill, John Stuart (1909), On Liberty, Harvard Classics: Vol. 25, PF Collier & Sons Company, New
York.
9
ecológicos, energéticos, alimentares, comerciais dentre outros (Viotte e Kauppi,
1999: 119).
10
a um pequeno grupo de elites políticas e militares, como o era no passado. Em vez
disso, os líderes teriam de estar preocupados com a opinião pública doméstica, que
agiria como um freio em muitos movimentos rumo à confrontação internacional e ao
surgimento de hostilidades.
Com base nos pressupostos do liberalismo, concluímos que esta é a teoria que melhor
explica o tema deste trabalho porque aborda a interacção a nível doméstico e
internacional. Daí que podemos tirar aspectos valiosos para entender a segurança
nacional em Estados africanos.
Fazemos o uso desta teoria no presente trabalho, pois ela é aplicável a assuntos como
democracia, direito internacional e economia. Sendo assim, olhando para o tema
acreditamos que os pressupostos desta teoria combinam perfeitamente com o assunto
que pretendemos abordar.
Esta teoria é útil também, para o estudo da relação desejável entre a democracia e a
segurança dos Estados, pois o liberalismo assenta na ideia de que a melhor forma de
garantir a segurança a nível internacional e a implantação de democracias. Assim, esta
teoria ajuda a explicar a relação entre a democracia e a segurança nacional em Estados
africanos com enfoque especial para Moçambique.
Conceitos Chave
A Democracia, democracia liberal e a Segurança nacional são os principais conceitos
neste trabalho. Nesta parte do trabalho discutimos as definições desses três conceitos de
forma a enquadrá-los no contexto do nosso trabalho.
Democracia
O conceito da democracia caracterizou-se por discussões infindáveis. O termo
democracia significa governo do povo e etimologicamente, nasce na Grécia Antiga,
onde sua prática era então direito exclusivo dos senhores (cidadãos) excluindo assim,
desse direito os escravos e outras categorias de pessoas, como estrangeiros, mulheres,
crianças e idosos (Mendes, 1994:76).
11
Quando falamos de democracia, conforme a definição acima, referimos a uma ideologia
ou forma de estar num Estado, mas o processo para se chegar a esse nível denominado
democracia, chama-se democratização. Nesse âmbito, segundo Pasquinho (2002) citado
por (Dahl, 19979) a democratização resulta da conjugação da liberalização e inclusão,
no que se considera de regimes poliárquicos, pois nenhum grupo está em condições de
exercer qualquer hegemonia sobre o poder político, uma vez encontrando-se distribuído
por toda uma série de detentores.
De acordo com Sousa (2005: 61), a democracia é um regime político em que o poder se
encontra limitado, em que a alternância no governo está eleitoralmente assegurada, em
que os governados mantêm todos os seus direitos cívicos perante os governantes e em
que a liberdade e a competitividade políticas estão presentes. Com essa definição, a
democracia assenta em pilares como a liberdade, a participação política, a alternância na
detenção do poder político e, sobretudo, a limitação no exercício de poder dos
governantes sobre os governados.
Democracia Liberal
Democracia liberal refere-se ao sistema de democracia com base no parlamento, aliado
ao sistema de mercado livre na área de produção económica, baseando-se ainda num
sistema de eleições regulares e competitivas conduzidas com base no sufrágio universal
e igualdade política. A democracia liberal é uma forma de governo democrático que
equilibra o princípio de governo limitado com a ideia de consentimento popular. As
suas características liberais residem num conjunto de mecanismos de verificação
internos e externos governo (check and balances), com vista a garantir a liberdade e a
oferecer aos cidadãos protecção contra o Estado (Sousa, 2005:61).
9
Ahl, R, A. (1997) Poliarquia Participação e Oposição. Editora da Universidade de São Paulo, São
Paulo.
12
pelos mais elementares direitos humanos. Assim, a democracia liberal é um sistema
político marcado não só por eleições livres e justas, mas também pelo estado de direito,
separação de poderes e pela protecção das liberdades básicas de expressão, reunião,
religião e propriedade (Zakaria, 1997: 24). Esta é a visão sobre a qual nos vamos guiar
no presente trabalho.
Segurança Nacional
O conceito de segurança nacional neste trabalho só pode ser entendido partindo da
definição do conceito de segurança no sentido mais amplo. Apenas depois de
conhecermos o conceito de segurança no geral podemos conceptualizar a segurança
nacional e contextualizá-lo.
A segurança nacional pode ser entendida também como a capacidade de um Estado para
garantir a sua sobrevivência através da auto-protecção. É um processo de conjugação de
capacidade ofensiva e defensiva do Estado para prossecução do interesse nacional.
Assume-se que tudo pode ser alvo de segurança desde que se assegure a sobrevivência
do Estado. Relativamente a este fim do Estado, a segurança nacional não implica,
13
exclusivamente, o uso da força mas também o uso de distintos poderes do Estado
(Smouths et al, 2003:451).
A Segurança Nacional designa a ausência de ameaça a valores centrais e que devia ser
absoluta e completa, pois a ameaça é contra os valores importantes e algo supremo que
não importam os meios para garantir a existência do Estado (Evans e Newnham, 1998:
449).
Neste capítulo vimos que o liberalismo é a teoria que melhor se enquadra no presente
trabalho, dada a sua relação com democracia bem como nos estudos sejam eles
abrangentes ou restritos de segurança. A definição dos conceitos democracia,
democracia liberal e segurança nacional, notamos uma relação de complementaridade
entre eles, bem como encontramos neles um suporte inequívoco em termos conceptuais.
Podíamos ter arrolado outras teorias e mais conceitos, mas achamos que dentre vários
estes de forma resumida espelham e nos levam com mais clareza aos nossos objectivos
da pesquisa.
14
CAPITULO 2
A primeira onda da democratização abrange o período entre 1828 e 1926, nessa altura,
de 64 nações independentes, 24 eram democráticas. Entretanto, entre 1922 e 1942,
houve um retrocesso em termos de Estados independentes democráticos, pois as nações
independentes haviam se reduzido a 61, e apenas 12, preservavam o sistema
democrático. Depois desse período de regressão, surgiu a segunda onda de
democratização que transcorreu de 1943 a 1962.
15
O advento da terceira onda de democratização coincidiu com um período de mudanças
na estrutura do Sistema Internacional, como consequência directa do fim da guerra-fria.
Por isso, a terceira onda de democratização é muitas vezes ligada a transições
democráticas após 1989. Segundo Large e Sisk, (2006:50), desde o fim da guerra-fria,
em 1989, já havia cerca de 100 países que fizeram a transição para a democracia desde
os anos 1970, sendo que 40 países haviam transitado para a democracia nos anos 1990 e
os restantes nos anos 2000.
16
aconteceu no caso da Bósnia através dos acordos de Dayton, nos quais estipula-
se uma nova Constituição com uma democracia de partilha de poder. Podem ser
mencionados outros exemplos, como o da Namíbia, Afeganistão e Moçambique.
Portanto, de entre as seis situações em que pode emergir a democracia, existem duas
que caracterizam, especificamente, o continente africano nos últimos anos: negociações
para o fim de guerra-civíl e o derrube do regime vigente. Nesse contexto, a
democratização tem estado associada a momentos de conflitos armados,
consequentemente a ameaças à segurança nacional. Por isso, de seguida abordamos a
transição democrática em África na perspectiva de conhecer os seus contornos
específicos.
Tendo em conta que a construção de muitos Estados africanos deu-se dos anos 1960 a
1990, o processo de democratização em África enquadra-se no período chamado por
terceira onda. Porém, cada Estado teve suas especificidades nesse processo de transição,
o que tornou a transição democrática em África, bastante heterogénea.
Enquanto alguns Estados passaram para um sistema democrático por vias pacíficas, em
outros Estados, a democracia emergiu como consequência de guerras civis, com o
objectivo de criar multiplicidade de ideias políticas, visto que perduravam regimes
mono partidários resultantes dos processos de descolonização.
17
Além de motivações internas, a democratização em África foi também impulsionada por
mutações políticas ocorridas à escala internacional, mormente a queda do muro de
Berlim e o fim da Guerra Fria, que deu mais visibilidade ao processo de
democratização, visto que no período da guerra-fria muitos Estados africanos não
haviam adoptado o regime democrático, principalmente nos moldes de democracia
liberal.
Com efeito, se a polaridade da Guerra Fria tinha permitido a convergência dos sectores
militar, político, económico e cultural, em África, na década de 1990, a supremacia do
poder militar sobre os demais sectores deixava de ser óbvia, sobretudo quando o
desfecho pacífico do confronto bipolar parecia realçar o potencial da interdependência
económica sobre a rivalidade político-militar (Buzan e Hansen, 2010:160). O fim da
guerra-fria foi um momento de viragem para muitos Estados africanos, do mono
partidarismo ao multipartidarismo e da autocracia à democracia.
18
líder ou pesquisador. Assim, para falar da segurança nacional em Estados africanos
dentro do contexto da democratização, temos como principal indicador a existência ou
não de conflitos armados ligados ao processo de democratização em África desde 1990.
A maioria dos casos de conflitos acima mencionados tem relação com processos
eleitorais, visto que “em muitos exemplos em que processos eleitorais são
fragmentados, eles são seguidos de conflitos violentos. A Serra-Leoa, Guiné-Bissau e
República Centro Africana sucumbiram para guerras civis nos anos 1990 devido a
factores relacionados a eleições. As eleições induziram a conflitos que ameaçaram até a
sobrevivência do Estado-Nação” (Kanyinga, Okello e Akech, 2010:2). Assim,
demonstra-se que características próprias dos Estados africanos podem estar na origem
da dificuldade de adequação do modelo democrático liberal no continente.
19
constrangimentos na adequação da democracia liberal à realidade sócio-politica
africana.
Os factores que fizemos referência a cima tem ligação com questões identitárias nota-se
ainda que as razoes de fracasso da democracia em África estão intrinsecamente ligadas
a não observância, ou não respeito, das estruturas, sociais, étnicas e valores culturais
que estes povos tinhas antes do processo de democratização, a que salientar que ao
ignorar estes factores endógenos, já tira de per si o valor deste modelo em termos de
aceitação e identificação dos africanos com esta abordagem.
20
para o alcance, controle e manutenção do poder politico. Isto resulta em conflitos
armados ou não armados, visto que não há um quadro institucional credível e adequado
à nova realidade de democracia liberal no país.
Kanyinga, Okello e Akech (2010:5), citam como maiores exemplos dessa realidade os
casos do Kenya e do Zimbabwe, onde os conflitos em processo eleitorais ocorreram na
sequência de projectos de revisão constitucional falhados. Pode se acrescentar os
conflitos resultantes de tentativas de revisão constitucional visando aumentar os poderes
do Presidente, estender o tempo dos mandatos ou permitir uma recandidatura.
21
ocorre em detrimento da cultura cívica. Embora exista, em muitos casos, a cultura de
participação política, o seu efeito na prestação de contas ou responsabilização no Estado
é menor. Há maior dinâmica da consolidação das identidades em relação a consolidação
do Estado.
Segundo Enra (2009:51), também faz parte das razões da instabilidade política em
democracias africanas, a fragilidade e a quase inexistência da sociedade civil, a
inconsistência da estrutura do Estado e suas instituições e por fim, a ausência da
estrutura económica moderna eficiente.
22
CAPITULO 3
23
estabelecidos e aceites pelo povo no geral; o segundo princípio refere-se aos direitos dos
cidadãos participarem na escolha de suas lideranças através da realização de eleições
livres, transparentes e justas; e finalmente o princípio do reconhecimento e a garantia
jurídica do exercício das liberdades civis e políticas e direitos reconhecidos por
convenções e direito internacional, como parte integrante dos direitos humanos tais
como a liberdade de expressão, tolerância política, liberdade de associação, liberdade de
imprensa, direitos e segurança da pessoa e da propriedade.
24
étnicos como consequência do processo da construção desses Estados que obedeceu as
fronteiras delineadas arbitrariamente pela administração colonial europeia, e também
pela opção da Organização da Unidade Africana (OUA) em manter essas fronteiras para
evitar conflitos. Por outras palavras, vários grupos étnicos foram divididos em termos
de pertença estatal, ocupando alguns deles territórios de dois ou mais Estados vizinhos.
Os tuaregue alegavam que são discriminados pelos seus hábitos e têm sido
negligenciados pelo governo de Bamako. Não tinham acesso a certos serviços e a forma
por eles adoptada foi a insurreição e pretensões separatistas com recurso à violência 11.
Esse pretexto esteve na origem de instabilidade e insegurança nacional que perdurou até
a intervenção militar da França (ex- potência colonizadora), em 2013.
O Malí não é o único caso em que alega-se haver intolerância política. Podemos citar o
caso de Angola, onde para além dos partidos da oposição, agências noticiosas nacionais
e internacionais, assim como ONGs, reportam frequentemente casos de intolerância
política e de repressão dos direitos e liberdades, principalmente da imprensa e
organizações da sociedade civil.
10
Um povo berbere constituído por pastores semi-nómadas, agricultores e comerciantes que reivindica o
controlo do norte do pais, e apesar de serem tradicionalmente nómadas, constituíram importantes centros
nos países em que estão presentes, como Agadez, no norte do Níger ou então Gao, Kidal e Timbuctu no
Mali (www.noticiasterra.com).
11
http: /../www maliensdelexterieur.gov.ml, (2012). Consultado em 19/07/ 2014.
25
Num contexto geral, a tolerância política, pelo simples facto de pressupor a aceitação de
diferenças, pode ser um instrumento fulcral para o sucesso dos princípios democráticos
e de governação, uma vez que as diferentes sensibilidades que compõem o Estado terão
as suas posições reflectidas na governação, criando assim o sentimento de nação e
unidade nacional, o que reduz a propensão a conflitos internos.
A relação directa das eleições com a democracia foi fortemente impulsionada pelo
liberalismo político do século XVIII e XIX, visto que “nas sociedades liberais,
normalmente, a democracia é concebida como um sistema político onde as decisões são
tomadas mediante deliberação e votação de agentes racionais, limitados pelos direitos
fundamentais, em âmbito institucional, tendo como base a regra da maioria, ou seja, a
regra que prescreve que a decisão de todos é aquela endossada pela maioria dos
cidadãos” (Couto, 2012:63). Nessa concepção, a votação por agentes racionais (povo)
demonstra a manutenção da assumpção central da democracia como governo do povo, e
a observância das liberdades e direitos fundamentais.
26
Podemos com base na variação do número de eleições realizadas nos países africanos
nas últimas décadas, dizer que as eleições já são prática em Estados africanos e essa
cultura foi adoptada como a fórmula adequada para o acesso ao poder político,
repudiando-se assim, todas as outras formas. No contexto actual, os Estados africanos
“reafirmam o seu compromisso em realizar regularmente eleições transparentes, livres e
justas, em conformidade com a Declaração da União relativo aos Princípios que regem
as Eleições democráticas em África” (Carta Africana sobre Democracia, Capítulo VII,
artigo 17).
27
para a manifestação de violência que atingiu dimensões étnicas, ameaçando a unidade e
a segurança nacional.
12
http://old.visaonews.com/index.php?option=com_content&view=article&id=8754:violencia-pos-
eleitoral-na-nigeria-mata-121-pessoas&catid=86:mundo&Itemid=172 – consultado a 08/05/14
28
de tolerância política e acomodação, barganha, compromisso e consenso para a
prevenção de conflitos.
29
das eleições confirmados pela Comissão Eleitoral davam vitória a Mwai Kibaki com
46.4 % dos votos sobre Raila Odinga com 44.1% do total de votos. Logo após o anúncio
dos resultados, gerou-se violência nos bairros de Nairobi e outras grandes cidades,
perturbando-se a ordem pública durante dois meses. Inicialmente, os principais alvos da
violência eram as populações da etnia Kikuyu na qual pertencia o candidato vencedor
Mwai Kibaki, nos bairros de Nairobi e na cidade de Kisumu.
A dimensão étnica do conflito no Kenya surge quando, a alguns meses das eleições,
Mwai Kibaki fundou o seu partido de reeleição, o Partido Para Unidade Nacional
(PNU) e o principal líder do KANU, a oposição, Uhuru Kenyatta, anunciou o seu apoio
à reeleição de Mwai Kibabi, apesar de terem sido adversários nas eleições de 2002. Essa
situação levantou a questão étnica porque Kibaki e Uhuru são da comunidade Kikuyu, e
a atitude de Uhuro foi vista pelos restantes grupos étnicos como uma solidariedade
étnica e “confirmação” de que a elite Kikuyu pretendia ascender e monopolizar o poder
excluindo todos os outros grupos étnicos (Kanyinga e Okello, 2010:12).
Mais uma vez, a questão da inclusão aparece como um facto extremamente sensível
para as democracias liberais africanas. De acordo com Kanyinga e Okello ( 2010:12),
não só a questão étnica influenciou a violência nas eleições no Kenya, mas houve outros
factores como as injustiças no desenvolvimento regional, a alocação de recursos, a
questão da terra e contradições históricas no seio das regiões do país.
30
Segundo Boafo-Arthur (2008:18), muitos factores podem ser levantados para explicar o
sucesso da democracia liberal na garantia da segurança nacional e estabilidade no
Ghana. De entre os quais, destaca-se a experiência do passado de ditadura militar, o
melhoramento das relações civís-militares e o papel das organizações da sociedade civil.
Nesse contexto, surgiu a percepção de que uma má administração civil é melhor que um
regime militar em termos de garantia de liberdades e direitos fundamentais. Olhando
desse modo, vários outros países africanos poderiam ter essa percepção, visto que os
males dos regimes militares sobre os direitos e liberdades individuais eram evidentes
para todos os países. Sendo assim, outros aspectos devem ser encontrados como
motivos para a condução democrática estável no Ghana, como o papel das organizações
da sociedade civil.
Sobre o papel das organizações da sociedade civil, Boafo-Arthur (2008:48), afirma que
a emergência de várias organizações da sociedade civil, think thanks e organizações
não-governamentais, constituiu uma plataforma de participação dos cidadãos nos
processos políticos. Essas organizações “impulsionaram programas educativos,
empenharam-se na análise de assuntos da sociedade com a intenção de manter a
população informada não só sobre eleições mas também sobre questões económicas do
país” (Boafo-Arthur, 2008:49). O resultado imediato desse empenho das organizações
da sociedade civil foi o papel fundamental por elas desempenhado para a realização de
eleições pacíficas em 2000 e 2004.
13
Olukoshi, Adebayo (2001), Towards Developmental Democracy: A Note, United Nations Research
Institute for Social Development, Cape Town
31
Como consequência do envolvimento dos cidadãos na construção de uma cultura
democrática, a aceitação e assumpção da democracia como sistema de relacionamento
entre os governantes e os governados, ultrapassou a dimensão étnica que caracterizou
outros países, ganhando um carácter verdadeiramente nacional.
Em resumo, olhando para as eleições livres e justas como pilares da democracia liberal
que afectam a segurança nacional, com os exemplos da Nigéria e do Kenya nota-se que
apesar de realizarem-se de forma regular, as eleições tem sido manchadas por alguns
factores, estando alguns sob controlo dos Estados e outros não. Por exemplo a aceitação
de resultados estão sob controlo do Estado, bem como os candidatos podem deixar de
instrumentalizar as suas etnias com intuito de ascender ao poder, mesmo sem a
legitimidade que as eleições conferem, através do uso da violência que atenta, em
última instância à segurança nacional.
32
africanos. Existem tantos outros aspectos como a existência e funcionamento correcto
das instituições democráticas e a personificação do poder político, ou regimes neo-
patrimoniais.
No esquema de check and balances, o poder judicial aparece como o mais sensível, uma
vez que prima pelo cumprimento integral das normas de interacção entre os actores
políticos do sistema democrático, principalmente num contexto democrático liberal
onde há pluralismo de expressão e espaço para a participação dos cidadãos. A
fundamentar isso, está a ideia de Boye (1998:41), de que o fracasso no sistema judicial
coloca em risco a obediência da constituição e das demais normas. Assim cria-se espaço
para, por exemplo, haver manipulação dos resultados eleitorais, impunidade e
irresponsabilidade sobre a tolerância e direitos humanos, que no nosso ponto de vista,
em última instância, concorrem para insatisfação e insegurança nacional.
33
difícil assumir que os parlamentares estão no pleno cumprimento do que, em termos
clássicos, seria a sua função, de legítimos representantes do povo. Portanto, no seio do
povo aumenta o sentimento de exclusão dos processos políticos, tirando a legitimidade
dos órgãos no poder.
14
http://www.eisa.org.za/pdf/pb01.pdf - consultado em 20/06/2014
34
na base do pluralismo político e realizam eleições regulares no cumprimento das
recomendações de parceiros internacionais. Entretanto, na realidade, isto é feito como
um meio de consolidação e legitimação da natureza monopolística do poder, pois há
manipulação das eleições entre outros tipos de práticas de acesso ao poder, contrarias à
legitimação popular através do voto” (Boye, 1998:50).
Em segundo lugar, neste capítulo percebemos que a democracia liberal pode constituir
ameaça a segurança nacional dos estados africanos na medida em que não há
observância estrita dos seus pressupostos básicos, como a tolerância política, a inclusão
e a realização de eleições livres justas e transparentes.
35
CAPITULO 4
Na guerra dos 16 anos, procurava-se por parte da Renamo, reverter o sistema político
ora em vigor, ligado ao marxismo-leninismo adoptado por Moçambique, à semelhança
de muitos outros Estados recém-independentes em África. De facto, “com a
independência de Moçambique em 1975, foi adoptada uma Constituição, a qual definia
o papel da Frelimo como força de liderança do Estado e da sociedade, bem como
36
assegurava a legitimação do regime de partido único, eliminando, deste modo, qualquer
forma de pluralismo social” (Lala e Ostheimer, 2003:8). Por isso, o fim da guerra dos
16 anos foi também, o momento do inicio da democratização em Moçambique.
15
Eneas Comiche em Grande Entrevista na STV, 22 de Maio de 2012
37
Se olharmos para a ideia de que a transição democrática em África foi defeituosa por
não ter sido acompanhada por um processo simultâneo de adaptação ou de reformas
económicas e institucionais (Leon, 2010:3), podemos considerar Moçambique, um caso
excepcional pois, obedeceu-se um processo gradual de reformas económicas e sociais.
38
Um dos factores históricos de grande peso na dificuldade de consolidação do Estado de
direito é a “simbiose entre o Estado e o partido Frelimo durante a era socialista e a
retenção do sistema presidencial, que não só fortaleceram a hegemonia do partido no
governo, como também originaram um impacto negativo na independência do sistema
judicial” (ibid.). Assim, quando a independência do judicial é posta em causa,
consequentemente, o princípio de separação de poderes é defeituoso, minando todo o
processo democrático de qualquer país.
Deste modo, com o Estado de direito e a participação política garantidos, pelo menos
em termos normativos e institucionais, o pluralismo de expressão torna-se numa
característica central da democracia liberal e indica um avanço qualitativo da
democracia em Moçambique, visto que “a participação dos cidadãos no processo
político, a sua capacidade de influenciar a formulação das políticas públicas, a
receptividade do governo às demandas da população e a transparência com que trata os
seus assuntos são indicadores da qualidade da democracia” (OSISA, 2009:53).
Essa característica tem contribuído para a inclusão que, em última análise, abre espaços
para a tolerância política que é um aspecto bastante sensível nas democracias liberais
africanas e moçambicana em especial, visto que Moçambique não é excepção em
relação aos outros países africanos em termos de diversidade étnica, cultural ou
identitária.
39
institucionais foram criadas, desde 1990, condições para o exercício pleno do Estado de
Direito, da participação política e de liberdades fundamentais. Porém, a prática desses
princípios tem sido dificultada por diversos factores internos e externos ao país.
40
eleitorais. A tensão política característica dos processos eleitorais já deu lugar a alguns
episódios particularmente graves de violência política, resultando num grande número
de mortes, com destaque para o caso de Montepuez, em Outubro de 2000, na sequência
de manifestações promovidas por simpatizantes da oposição que, um ano depois,
protestavam contra os resultados eleitorais das eleições de 1999 (OSISA, 2009:95).
Prova disso é que em todas as eleições já realizadas, apesar de não ter se registado casos
de extrema violência que atentassem a segurança nacional como em outros Estados
africanos, há sempre dificuldades de aceitação de resultados, mas ainda não se pode
afirmar que este pilar da democracia liberal leva a insegurança nacional em
Moçambique.
41
Nos acordos de paz de Roma em 1992, foi acordada a constituição das FDS de
Moçambique tendo em vista a construção de um Estado democrático liberal. Assim, na
alínea b, do número 2 do protocolo IV, atinente as FADM, as partes declararam que as
forças seriam “apartidárias, de carreira, profissionalmente idóneas, competentes,
exclusivamente formadas por cidadãos moçambicanos voluntários, provenientes das
forcas de ambas as partes, servindo profissionalmente o País, respeitando as ordens
democráticas, e o estado de direito, devendo a sua composição garantir a inexistência de
qualquer forma de discriminação racial, étnica, de língua ou de confissão religiosa”.
(Boletim da República, 14 de Outubro de 1992, I serie).
16
Docente de Estudos de Segurança no Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI) entrevistado
no dia 30 de Abril de 2014 no Campus do ISRI.
17
http://www.kas.de/wf/doc/kas_4372-544-1-30.pdf?040415181610
42
4.2.1. Confrontos Militares em Moçambique
Depois de 22 anos de paz em Moçambique, o ano de 2013 foi marcado com o
ressurgimento de confrontações militares entre o Governo e a Renamo. As diferenças
entres essas duas partes já se haviam evidenciado, particularmente em momentos
eleitorais, entretanto, não haviam atingido o nível de recorrência á violência.
O primeiro grande indício de recurso a via militar por parte da Renamo, deu-se quando,
a 17 de Outubro de 2012, Dhlakama, presidente da Renamo, instala uma base militar na
região da Gorongosa, no centro de Moçambique e começa a treinar antigos veteranos,
exigindo uma nova ordem política. O líder da Renamo ameaçou voltar à guerra,
afirmado que só abandonará a base quando o governo da Frelimo enviar emissários ao
local para renegociar o Acordo Geral de Paz (AGP) e a revisão do pacote eleitoral 18. A
Renamo reclamava, de entre outros pontos do AGP, a retirada compulsiva de generais
provenientes da Renamo nas FADM, enquanto os provenientes das antigas FPLM
continuavam no activo.
De acordo com Ivan Mazanga19, “vários pontos constantes no AGP não foram
respeitados, sobretudo, a constituição de forças armadas e policiais apartidárias e
equilibradas e a reinserção social dos antigos guerrilheiros da Renamo”. Dessa forma, o
principal instrumento de fim da guerra dos 16 anos e do inicio pleno da construção de
um Estado democrático liberal em Moçambique era posto em causa.
“Diante dessa situação, a relação tensa foi se agravando a ponto de, em cumprimento de
princípios democráticos liberais tais como a tolerância politica, a liberdade de expressão
e a inclusão, começaram negociações entre o Governo e a Renamo. Nessas negociações,
foram clarificadas as reivindicações da Renamo que viriam a constituir os quatro pontos
levantados para a mesa de negociações, tais como a revisão do pacote eleitoral, as
questões de defesa e segurança, a despartidarização do Aparelho do Estado e questões
económicas20. Olhando para os quatro pontos das reivindicações da Renamo,
percebemos que a questão eleitoral, que tem sido origem de insegurança em alguns
Estados africanos, aparece como ponto central. Entretanto, não é apenas a questão de
18
http://www.dw.de/conflito-em-mo%C3%A7ambique-entre-a-renamo-e-o-governo/a-17175392
19
Ivan Mazanga, Chefe de Programas e Cooperação na Liga Juvenil da Renamo, entrevistado a 14 de
Agosto de 2014, no café continental-Maputo.
20
Ibdem.
43
fraudes e não-aceitação de resultados que cria descontentamento, mas também é o
funcionamento das instituições que gerem o processo eleitoral”.
21
http://www.africa21online.com/artigo.php?a=3843&e=Pol%C3%ADtica – Consultado em 18/07/14
22
http://www.vermelho.org.br/noticia/227464-9
23
Eurico Mavie, Instrutor na Escola de sargentos de Boane e analista politico, entrevistado aos 23 de
Setembro de 2014 na sede do Comité Central da Frelimo as 16 horas.
44
Segundo o artigo 203 da CRM, o Governo, sendo o Conselho de Ministros, “assegura a
administração do país, garante a integridade territorial, vela pela ordem pública e pela
segurança e estabilidade dos cidadãos, promove o desenvolvimento económico,
implementa a acção social do Estado, desenvolve e consolida a legalidade e realiza a
política externa do país”. (CRM, 2004: 64). Por seu lado, no artigo 77, “é vedado aos
partidos políticos preconizar ou recorrer à violência armada para alterar a ordem política
e social do país (CRM, 2004: 23). Com essa base legal não cumprida, baseamo-nos da
ideia de que na segurança nacional, as bases legal e institucional devem funcionar em
simultâneo, para afirmar que neste caso havia realmente insegurança nacional.
Depois de feita uma breve análise dos confrontos militares em Moçambique inserindo-
os no contexto democrático liberal, percebemos que realmente, independentemente da
sua magnitude, os sucessivos ataques a população civil e confrontações militares,
principalmente no troço entre o Rio Save e Muxungue os confrontos atentaram a
segurança nacional. A fundamentar isso está o número de vítimas directas dos
confrontos, ou seja, segundo o Primeiro-ministro, Alberto Vaquina, dirigindo-se ao
parlamento, para além de dezenas de mortos, por causa da inseguranca, cerca de 6.727
pessoas foram obrigadas a deslocar-se da região da Gorongosa, província de Sofala, no
centro do país25.
Portanto, podemos dizer que, apesar do número de mortos não ter sido nas proporções
da Nigéria e do Quénia, e de não ter se caminhado para instrumentalização étnica, em
Moçambique, dos finais de 2012 até a actualidade, viveram-se momentos em que a
24
DW África/Correspondentes/LUSA – consultado em 10/05/14
25
http://comunidademocambicana.blogspot.com/2014/03/tensao-politico-militar-aumenta-numero.html -
consultado em 15/07/14
45
segurança nacional foi posta em causa, devido a má aplicacão de alguns principios
básicos da democracia liberal.
46
5. Considerações Finais
Vimos ao longo deste trabalho que o liberalismo seria teoria que melhor se enquadraria
para responder a necessidade de enquadramento teórico, dada a sua relação com
democracia bem como nos estudos sejam eles abrangentes ou restritos de segurança.
47
que se verificaram grandes percentagens de abstenção nas primeiras eleições
multipartidárias em vários Estados africanos.
Neste trabalho foi possível tirar conclusões sobre a aplicação de princípios democrático-
liberais em Estados africanos. Uma das conclusões a que chegamos é que, os pilares da
democracia liberal, não ignorando os seus valores, tornam-se nocivos à segurança
nacional se não forem observados tendo em conta o contexto sócio-politico dos Estados
africanos.
Em segundo lugar, nesta tese percebemos que a democracia liberal pode constituir
ameaça a segurança nacional dos estados africanos na medida em que não há
observância estrita dos seus pressupostos básicos, como a tolerância política, a inclusão
e a realização de eleições livres justas e transparentes.
Para o caso especifico de Moçambique, verifica-se que, não obstante a adopção de uma
nova constituição em 1990, assistia-se ainda uma bipolaridade formada pela Frelimo e a
Renamo, as outras formações não tinham a robustez necessária para servirem de
alternativa para os eleitores.
Podemos considerar neste trabalho que a democracia um processo inacabado, que nos
impõe grandes desafios no sector da segurança, da mesma maneira que a segurança nos
impões grandes desafios para a democratização dos estados africanos. O fortalecimento
da democracia e o cumprimento dos seus valores básicos, pode levar a todos os estados
a segurança no seu lado mais restrito bem como alargado.
48
democrático liberal que implicava mudanças radicais na vida política e social dos
Estados. Mas, trouxe benefícios, através da redução de conflitos inter-estatais e
tendências separatistas.
49
Bibliografia
Abrahamsson, A. Nilson, A., (1994) Moçambique em transição : um estudo da
história de desenvolvimento durante o período de 1974-1992, CEEI-ISRI,
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http://ssrn.com/abstract=1998074
Fontes Primárias
Calton Cadeado, Docente de Estudos de Segurança no Instituto Superior de Relações
Internacionais (ISRI) entrevistado no dia 30 de Abril de 2014 no Campus do ISRI.
Foi pertinente entrevista-lo visto que ele é um académico renomado e respeitado a nível
nacional, tem esperiacia longa e comprovada em estudo da ciência de Relações
Internacionai, Estudos de Paz e Segurança.
Documentos Oficiais
Boletim da República, 14 de Outubro de 1992, I Serie - Imprensa Nacional,
Maputo.
54
Consequências. A experiência de Moçambique, Associação Moçambicana de
Economistas. Maputo
55
56
Índice
Introdução..........................................................................................................................1
Contexto.........................................................................................................................1
Justificativa....................................................................................................................2
Problematização.............................................................................................................3
Questões de pesquisa.....................................................................................................4
Objectivo Geral..............................................................................................................4
Objectivos Específicos...................................................................................................4
Hipóteses........................................................................................................................5
Metodologia...................................................................................................................5
Estrutura do trabalho......................................................................................................7
CAPITULO 1....................................................................................................................8
Conceitos Chave..............................................................................................................11
Democracia..................................................................................................................11
Democracia Liberal......................................................................................................12
Segurança Nacional.....................................................................................................13
CAPITULO 2..................................................................................................................15
A SEGURANÇA NACIONAL NOS ESTADOS AFRICANOS NO PROCESSO DE
DEMOCRATIZAÇÃO....................................................................................................15
iii) Eleições como ocasiões de lutas entre grupos sobre a hierarquia de valores.......21
CAPITULO 3..................................................................................................................23
CAPITULO 4.................................................................................................................36
Considerações Finais...................................................................................................47
Bibliografia......................................................................................................................50
Fontes Primárias..........................................................................................................54
Documentos Oficiais....................................................................................................54