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Escola Superior de Relações Internacionais

Curso de Mestrado em Relações Internacionais e Desenvolvimento

Trabalho em Grupo

Cadeira: Diplomacia e Política Externa

TEMA:
O PAPEL E POSIÇÃO DE MOÇAMBIQUE NAS NAÇÕES UNIDAS

Mestrando:
Morílio Urgente

Docente:
Prof. Dr. Válter Fainda

Maputo, Junho de 2023


INTRODUÇÃO

Nos últimos anos dirigentes mundiais e académicos tem questionado a actual composição
do Conselho de Segurança das Nações unidades com pano de fundo a necessidade de
reformas que conduzam a representatividade de todas regiões naquele Órgão de
Governação Mundial. Com efeito, a candidatura e posterior entrada de Moçambique
colocou o país no centro das atenções a nível internacional, especialmente dos académicos
e políticos.

Assim, a analise do “papel e lugar de Moçambique na Organização das Nações Unidas


(ONU)” se mostra relevante para o Estudo de relações internacionais, especialmente para
a academia moçambicana, tendo em atenção ao facto dos países africanos não ser
expressivos naquele órgão devido a sua condição económica, política e social que
reconduz para a condição de países subdesenvolvidos, fracos e com economia
dependente.

Contexto histórico

A Organização das Nações Unidas foi criada no contexto da segunda guerra mundial que
se configura no resultado da preocupação de vários líderes a nível internacional com o
propósito da criação de um organismo internacional com plenos poderes, respeito e
operacionalidade pelos seus Estados membros. Portanto, entre 1941 e 1944, foram
realizadas quatro conferências nas quais os aliados discutiram o estabelecimento de uma
organização internacional com o mandato de manter a paz e a segurança internacionais
(Hårleman, 2012: 17 e Lopes, 2005: 1).

O período pós segunda guerra mundial é caracterizado pela ocorrência da guerra fria que
por sua vez apresenta uma nova ameaça à paz e segurança internacionais que é a questão
nuclear. Nesse período a Organização das Nações Unidas envidava esforço para evitar o
uso das armas nucleares. Entretanto, no mundo pós-guerra fria novas ameaças surgem
como herança da guerra fria, trata-se das guerras intraestatais que por sua vez
reconfiguraram a noção da segurança. Neste sentido, a importância e actuação da ONU
foi ganhando mais espaço, tal como deixa entender Freire e Lopes (2009: 6) quando
referem que:

“Num ambiente de pós-Guerra Fria, a segurança ganhou novos contornos em que


a manutenção da paz se tornou um elemento central de estabilização. Ainda que

1
no âmbito dos Estudos da Segurança este papel de manutenção da paz seja
essencialmente periférico, uma vez que não é uma questão central na agenda da
segurança internacional, a sua importância crescente enquanto estratégia de
intervenção pacífica no quadro das Nações Unidas (ONU) aumenta o seu
potencial para contribuir para uma cultura de segurança internacional mais
coerente, flexível e estável”.

Perante esse cenário, as operações de paz das Nações Unidas foram diversificando cada
vez mais de modo que a paz fosse alcançada de forma eficaz no mundo. Segundo Prado
e Silva (2021: 1), as operações de paz das Nações Unidas servem como instrumento para
auxiliar países devastados por conflitos a criarem condições para que a paz seja alcançada.
Entretanto, Freire e Lopes (2009: 7) acrescenta ainda que as missões de manutenção da
paz evoluíram ao longo do tempo e as dinâmicas mais recentes sugerem uma tendência
de institucionalização. Esta tendência é o resultado quer de um número crescente de
missões de manutenção da paz das Nações Unidas, o que reflecte uma participação cada
vez maior dos Estados individuais, quer de um maior comprometimento destes actores
em relação a este tipo de missões.

Contudo, é nesse contexto da participação individual dos Estados na prossecução dos


objectivos das Nações Unidas que se aborda do papel e posição de Moçambique nas
Nações Unidas.

Objectivos do Trabalho

Objectivo geral

➢ Compreender o papel e posição de Moçambique nas Nações Unidas.

Objectivos específicos

➢ Descrever a participação de Moçambique nas Nações Unidas;


➢ Demostrar o papel de Moçambique nas Nações Unidas;
➢ Discutir as perspectivas de atuação de Moçambique como membro não
permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

2
Metodologia

Quanto a metodologia o trabalho baseia-se predominantemente no método histórico, que


consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar
sua influência na sociedade hoje, pois as instituições alcançaram sua forma actual por
meio de alterações de suas partes componentes, ao longo do tempo, influenciadas pelo
contexto de cada época, (Marconi e Lakatos, 1992:81-82). Esse método vai possibilitar
compreender o processo histórico da permanência de Moçambique na ONU assim como
a actuação do mesmo na organização.

Em relação às técnicas de pesquisa recorre-se às técnicas bibliográfica e documental. Na


técnica bibliográfica trata-se de informação já re-trabalhada por autores especialistas na
matéria em questão e analisada ao redor de um suporte teórico segundo uma cadeia de
raciocínio próprio (Lundin, 2016: 147). E a técnica documental é aquela cuja fonte de
colecta de dados está restrita à documentos escritos ou não, constituindo o que se
denomina de fontes primarias (Marconi & Lakatos, 2003:174).

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ACTUAÇÃO DE MOÇAMBIQUE NA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

Relação entre Moçambique e as Nações Unidas

Naquilo que é o quadro dos objectivos das Nações Unidas, reconhece-se que Moçambique
enquanto Estado recém-nascido passou por várias dificuldades relativas a paz e segurança
entre as décadas de 1970 a 1990. A resolução desses problemas deveu-se a actuação das
Nações Unidas como único órgão internacional com o propósito de manter a paz e
segurança internacionais no mundo. Nesta senda, revela-se deveras importante aqui
abordar sobre a relação entre Moçambique e as Nações Unidas nesta sessão. Para
consubstanciar a ideia supramencionada, invoca-se o raciocínio de Bujones (2013: 3) que
ressalta que após a independência de Portugal em junho de 1975, Moçambique passou
por um conflito armado de 16 anos que terminou em 1992. Seguiu-se uma transição bem-
sucedida para a paz, estabilidade política e democracia. A ONU esteve sempre ao lado de
Moçambique, apoiando esta transição. Portanto, Moçambique contou
predominantemente com as Nações Unidas para a sua estabilização interna.

Moçambique é membro das ONU deste 1975, acto que foi consumado logo depois da sua
independência. Com efeito, segundo o site de Organização das Nações Unidas em
Moçambique, a instituição funciona no país com 22 agências especializadas, com
objectivo de transformar o país no lugar melhor para seu povo. Os seus programas estão
orientados para apoio ao Governo e a Sociedade Civil. A ONU tem desempenhado um
papel crucial para o desenvolvimento de Moçambique e para a pacificação1.

É notável que o fim da guerra fria, o desfecho do mundo bipolar abriu espaço para
desanuviamento facilitando por isso, o início da resolução de vários conflitos focalizado
em regiões, com especial enfoque na SADC, onde floresciam conflitos em Angola,
Namíbia e Moçambique. A ONU passou a ser encarada como o actor privilegiado para
apoio aos processos de paz. É assim que se pode compreender as missões de peacekeeping
que se registaram nos anos que se seguiram ao fim da guerra fria e desmoronamento da
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Assim, em Dezembro de 1992, através da Resolução 797 do Conselho de Segurança das


Nações Unidas estabeleceu a ONUMOZ (operação das Nações Unidas para
Moçambique) sigla em Inglês (United Nations operations in Mozambique) com missão

1
Disponível em https://mozambique.un.org/pt/about/about-the-un. Acesso as 00:26 de 30/05/2023.

4
de monitorar, controlar o cumprimento do cessar-fogo, supervisionar a retirada das forças
estrangeiras, facilitar a aplicação do Acordo Geral de Paz (AGP), que pôs fim a guerra
civil dos 16 anos, assinado em Roma entre o governo de Moçambique e a Renamo e
ainda, supervisionar e prestar assistência técnica para o primeiro processo eleitoral
multipartidário de 1994.

Moçambique na qualidade de membro das Nações Unidas é subscritora dos instrumentos


de políticas de governança global. Assim, a título de exemplo é subscritor dos desafios
do milénio entre outros.

Como se pode ver, também, os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável marcam a


continuidade da parceria e cooperação entre as Nações Unidas e o Governo de
Moçambique para o combater a pobreza (ONU-Moçambique: 2023). As questões
climáticas, de comércio, da economia internacional e das políticas sociais encontram
espaço nas relações de parceria e cooperação entre a ONU e Moçambique.

Para Nyusi (2022) os objectivos das Nações Unidas serão alcançados conjuntamente
somente com políticas e acções robustas que garantam a paz, o emprego, as oportunidades
de investimento, inovação, habitação e a protecção social.

Tal como refere a UNICEF (2016), face aos ataques terroristas em Cabo Delgado desde
2017, esta agência da ONU tem vindo a assumir uma abordagem multi-sectorial para dar
uma resposta holística às crianças afectadas por conflito armado. O UNICEF trabalha
com outras agências da ONU, ONG’s e parceiros locais no norte de Moçambique para
aumentar a capacidade da comunidade para compreender, monitorar e informar sobre as
seis violações graves e os direitos da criança. O UNICEF está também a desenvolver uma
abordagem interministerial para reforçar a capacidade das forças de segurança, incluindo
militares e policiais, para melhor proteger as crianças contra estas violações e também
para assegurar uma resposta

Assim, as Nações Unidas e Moçambique estão empenhados na implementação de várias


programas de desenvolvimento em áreas tais como saúde, educação, segurança alimentar,
nutrição, assistência humanitária, protecção e governação.

Papel de Moçambique nas Nações Unidas

Moçambique, com fim da guerra fria, subsequente pacificação do país através de acordo
de Roma, que pôs fim da guerra civil em 1992, tem se notabilizado no apoio a resolução
5
pacífica dos conflitos, no engajamento em missões de paz, muito particularmente, na sua
participação em missões africanas de manutenção de paz, como são os casos no Burundi,
entre 2003 a 2004, com um efectivo de 409 militares, nas missões das Nações Unidas no
Burundi, entre (2003-2006), com 360 militares, nas missões de paz das Nações Unidas
na República Democrática do Congo entre 2003 a 2012, no Sudão, Dalfur, entre 2004 a
2009, Sudão do Sul, Abiyei no período entre 2005 a 2008 e de 2012 a 2014 e, em Timor
Leste, entre 1999 e 2005, com 27 homens, dos quais 20, entre a Polícia e Pessoal militar
e 07 observadores (Bambo: 2023).

Por sua vez Chume (2021), refere que no resultado do envolvimento de Moçambique em
missões de paz, para capacitar e treinar as Forças Armadas de Defesa Moçambique
(FADM), para responder às futuras exigências da ONU foi criado em 2008, com apoio
das Nações Unidas, no distrito de Moamba, província de Maputo, o Centro de Formação
de Operações de Apoio à Paz. Nesta senda, denota-se a participação do então presidente
Armando Guebuza e Francisco Madeira (então Ministro na Presidência) nas negociações
de paz no Burundi ao lado do Nelson Mandela tornaria Moçambique mais visível
internacionalmente como um país hábil na solução pacífica dos conflitos, igualmente, as
participações do ex-presidentes Presidentes Joaquim Chissano em várias mediações de
paz na região destacaram o país como aquele com capacidade para resolução de conflito
com recurso a mecanismos pacíficos.

Moçambique no Conselho de Segurança das Nações Unidas

A presença de Moçambique no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU)


reflecte a sua posição numa perspectiva positiva quer em termos de representação dos
interesses dos Estados africanos, ou em representação de seus próprios interesses. Com
isto, Moçambique actualmente encontra-se numa posição privilegiada dentro das Nações
Unidas. Portanto, essa sessão dedica-se a abordar particularmente sobre a posição de
Moçambique nas Nações Unidas.

Para Bambo (2023) Moçambique nunca manifestou vontade de ocupar cadeiras


reservadas aos membros rotativos do CSNU. Mas, os desenvolvimentos recentes no país
e no mundo caracterizado por alastramento do terrorismo afectando a sua soberania
nacional e pondo em causa a paz e a segurança terão ditado novo posicionamento do país
candidatando-se para um lugar dos membros não permanente do supremo órgão de
governação mundial, o Conselho de Segurança das Nações Unidas, suportando a sua

6
campanha com políticas simples, a vontade de contribuir com a sua experiencia da guerra
civil, conflitos inter-estatais, ameaças marítimas, tráficos dos seres humanos, narcotráfico
e contrabando, entre outras ameaças na arena internacional.

A participação de Moçambique no CSNU é importante pois, este órgão é o espelho das


tensões do mundo do pós-guerra Fria e simultaneamente o palco de importantes
realizações no âmbito da diplomacia multilateral.

Como se pode perceber na entrevista da ONU-News de 1 de Janeiro de 2023 com


Embaixador moçambicano nas Nações Unidas, Pedro comissário, onde referindo-se sobre
qual seria o papel de Moçambique respondeu que o país estava no conselho de segurança
para dar a sua contribuição nas questões de segurança internacional nos seguintes termos:

“Vamos tratar muito do terrorismo, mas também vamos tentar trabalhar com
outros Estados para a maior consciencialização sobre a relação que existe
entre mudanças climáticas, a paz e a segurança internacionais. Há ainda duas
questões que importa referir. A primeira é prestar atenção à reforma do
Conselho de Segurança para reflectir as preocupações africanas, região que
sofreu uma injustiça histórica. Não temos nenhum membro permanente no
Conselho de Segurança. Para além disso, vamos tentar reforçar o
multilateralismo, porque é o coração da existência das Nações Unidas”.

Na ocasião manifestou profunda preocupação com aquilo que chamou africanização do


terrorismo por este mal-estar a construir raízes no continente, podendo, por isso,
transformar-se num risco endémico como a fome e conflitos. Ainda para ele, constitui
prioridade de Moçambique a atenção à agenda global de Paz e Segurança Internacional
Para Comissário, Moçambique tem interesse de juntar o consenso internacional para o
combate contra o terrorismo e poder partilhar as experiências acumuladas neste combate.
Moçambique conseguiu arquitetar mecanismos regionais, africanos e internacionais de
combate ao terrorismo.

Ao nível internacional, Moçambique procura junto do conselho mitigar as


vulnerabilidades e ameaças internas, regionais e internacionais, contribuindo com
propostas na solução dos problemas de crise de soberania e integridade territorial dos
pequenos países que sistematicamente tem sido vítimas dos países poderosos (Nyusi.
2022).

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Nyusi (2023), no seu discurso a nação pela ocasião da tomada do acento pelo país o
prestigiado órgão das NU, o Conselho de Segurança, referiu que a participação de
Moçambique assentava na sua política externa que visa afirmar a independência e a
soberania o país e projectar a sua imagem como um Estado internacionalmente
prestigiado, amante da paz e da liberdade dos povos, defensor do multilateralismo em
estrita observância dos princípios e objectivos consignados na Carta das Nações Unidas.

Por seu turno Macamo (2022) entende que as vulnerabilidades nacionais, na região e no
sistema internacional, Moçambique busca no CSNU defender a importância da
manutenção da paz e segurança internacionais, intensificando a cooperação multilateral
com vista ao reforço da prevenção e resolução pacífica de conflitos, participação no
combate a pirataria marítima, tráfico de drogas e de seres humanos, mitigação das
mudanças climáticas, protecção da biodiversidade, assistência humanitária e a equidade
de género.

Desafios de Moçambique no CSNU

Moçambique é pela primeira vez membro do conselho de segurança desde que alcançou
a sua independência em 1975. Por isso, várias vezes, e em manifestação pública, os
políticos referem que a ascensão de Moçambique para aquele órgão é uma honra para o
país. Com efeito, este ingresso longe de ser só honra é igualmente desafio.

O conselho de segurança das Nações Unidas é o órgão mais importante da organização,


com mandato de zelar pela manutenção da paz internacional, adoptar decisões
obrigatórias para todos seus membros. Igualmente, autoriza o uso legítimo da força para
obrigar a execução das suas resoluções em caso de ameaças à paz, ruptura da paz e actos
de agressão, conforme o Capítulo VII da Carta da ONU quando situações específicas o
exigem, e aprova o desdobramento das forças de manutenção da paz (Garcia, 2013: 47)

É neste órgão que, o país vai se esforçar em fazer passar a sua agenda centrada na
resolução de conflitos por via do diálogo, como princípio norteador das relações
internacionais aliada à sua experiência na qualidade de um Estado que passou por
sucessivos conflitos, podendo por isso, aumentar a compreensão do conselho de
segurança para lidar com desafios da paz e segurança.

Moçambique no conselho de segurança, segundo Comissário (2023), deverá dar primazia


a luta contra o terrorismo, prioridade ligada as suas preocupações de segurança, vai apoiar

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o reforço da cooperação entre ONU e as organizações regionais e sub-regionais e avanço
de posições das questões da União africana, vai maximizar o espaço para abordar as outras
matérias de paz e segurança fora das matérias tradicionais (militares), nomeadamente as
questões de pandemias e alterações climáticas. Recorde-se que nos últimos dez anos
Moçambique tem sido cada vez mais vulnerável a ciclones e inundações, secas.

Com efeito, devido a gestão das vulnerabilidades resultante das alterações climáticas
Moçambique acumulou alguma experiência, que vai partilhar ao nível do órgão mais
importante da governação global.

Ainda, para Bambo (2023) Moçambique inclui nas suas prioridades temáticas as questões
ligadas a paz e segurança, ao porte e uso de armas ligeiras e de pequeno calibre, conflitos
armados, mulheres, criança, direitos humanos e acção humanitária. Igualmente, vai se
interessar por outras áreas relevantes como cultura e turismo, desporto e paz e segurança
para o avanço do desenvolvimento.

No entanto, Moçambique deverá enfrentar a luta por sua afirmação dentro do organismo
supranacional, pois as nações poderosas (membros premente do Conselho de Segurança)
são as que ditam as regras do jogo e tendem a fazer avançar os seus projectos, sobrepondo-
se as agendas dos países menos poderosos. Por isso, pode-se cogitar hipótese segundo as
quais as pretensões de Moçambique podem não avançar se qualquer um dos cinco
membros decidir bloquear.

Alias, como refere Bambo (2023) citando Hwang, Sanford e Lee (2015)2, os países ricos
substituíram a anterior renúncia ao uso da força pela afirmação orgulhosa do direito
militar fora dos casos de legítima defesa. As operações militares feitas em nome da
comunidade internacional, que outrora eram confiadas aos capacetes azuis da ONU,
passaram em muitos casos a ser executadas pelos exércitos regulares de grandes países,
o que pode chocar com as pretensões de Moçambique no que tange o uso de diálogo como
mecanismo de solução de conflito.

É importante considerar que Moçambique entra num órgão desafiador, pois o conselho
de Segurança é notoriamente um lugar para a diplomacia codificada, ritualista, permeada
por artifícios de protocolo, subtilezas de linguagem e tácticas processuais que podem

2
Hwang, Wonjae, Amanda Sanford, Junhan Lee. (2015). Does Membership on the UN Security Council
Influence Voting in the UN General Assembly? London: Politics and International Relations Journals Taylor
Francis, Vol. 41, pp. 256-278.

9
tanto mascarar quanto tornar mais evidente os interesses de seus membros. As posições
nacionais dos Estados não devem ser descontextualizadas da conjuntura. As correlações
de força no âmbito da ONU estão em constante mutação, assim como a dinâmica dentro
do Conselho e as alianças, coalizões e arranjos de ocasião que influenciam o
comportamento de seus membros. Um mesmo Estado, por inúmeras razões, pode ter
posições diferentes com o passar do tempo. Por isso, ao observador externo não convém
ancorar-se a fatalismos de interpretação que somente se aplicam a determinada
circunstância (Garcia: 2013).

Na mesma óptica Moçambique deverá confrontar a arrogância das superpotências que


passaram a ignorar as competências legais que haviam sido conferidas ao CSNU, com
manifesta subalternização da ONU. Assim, nos últimos anos os EUA e a Federação Russa
arrogam-se o direito de actuar com recurso ao uso de força mediante sanções económicas
como se fossem os únicos Estados do Mundo com o poder de impor as preferências dos
outros Estados (Bambo: 2023).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Moçambique tem sido um membro fundamental das Nações Unidas na região Austral,
pelo que, por várias vezes tem se dedicado na promoção e utilização de um dos
mecanismos de resolução de conflitos das Nações Unidas. Na base do desdobramento
bibliográfico utilizado, compreende-se que o papel de Moçambique nas Nações Unidas
pode ser visto em duas vertentes. Primeiro, numa perspetiva de Moçambique como
beneficiário, onde teve o apoio das Nações Unidas para a estabilização interna no âmbito
dos conflitos internos que Moçambique foi enfrentando desde a sua independência e,
agora no âmbito do terrorismo. E por fim, numa perspetiva de Moçambique como
apoiante onde toma-se em consideração o seu trabalho em jeito de intervenção de modo
a pacificar alguns países da África como é o caso de Sudão, Madagascar e Malawi-
Tanzânia (Presidente Chissano) e Burundi (Presidente Guebuza), entretanto,
Moçambique faz o papel de mediador de conflitos na região em reforço às Nações Unidas.

Atinente à posição de Moçambique nas Nações Unidas aborda-se numa perspetiva atual,
em que olha-se predominantemente na sua presença no Conselho de Segurança das
Nações Unidas. Estando nesse fórum desejado por todos Estados do mundo, Moçambique
encontra-se numa posição privilegiada, isso porque tem o poder e capacidades de ser e é
a voz da África nesse ambiente, assim como de representar seus interesses particulares
tendo em conta a situação atual que se vive em no país. Não só, Moçambique está numa
posição que lhe confere cada vez mais experiência relativamente a questões de segurança
e paz tendo em conta o seu histórico. No geral, Moçambique tem um papel importante na
Nações Unidas e uma posição que lhe confere capacidades de barganha e desafios à sua
experiência no concernente a paz e segurança.

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REFERENCIAS

1. Bambo. Tome Fernando (2023), Moçambique no CSNU: perspectivas, desafios e


benefícios, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RELAÇÕES
INTERNACIONAIS, Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 18, n. 1. Brasil. Acesso
em 27 de Maio de 2023, Disponível em: https://cartainternacional.org.br.
2. Branco, Luís Castelo (2023), As Missões da ONU na África Austral: Sucessos e
Fracassos, Brasil.
3. Bujones, Alejandra (2013), Mozambique in Transition and the Future Role of the
UN. Center on International Cooperation. New York University. United States of
America.
4. COMISSÁRIO, Pedro (2023), Embaixador moçambicano nas Nações Unidas,
em entrevista com ONU-News de 1 de Janeiro de 2023, Nova York. EUA.
https://news.un.org/pt/story/2023/01/1807482
5. Freire, Raquel e Lopes, Paula (2009), A segurança internacional e a
institucionalização da manutenção da paz no âmbito da ONU: Riscos e
Expectativas. OpenEdition Journals. Coimbra-Portugal.
6. Garcia, Eugénio V. (2013) Conselho de Segurança das Nações Unidas. Fundação
Alexandre de Gusmão, Brasília, Brasil.
7. Hårleman, Christian (2012), Uma Introdução ao Sistema das Nações Unidas:
Orientações para Servir em uma Missão de Campo da ONU. Instituto para
Treinamento em Operações de Paz. Disponível em
https://cdn.peaceopstraining.org/course_promos/intro_to_un_system/intro_to_un
_system_portuguese.pdf. Acesso as 19:53 de 29/05/2023.
8. Lakatos, E. M. e Marconi, M. A (1992), Metodologia Científica: ciência e
conhecimento científico; métodos científicos; Teoria, hipóteses e variáveis. 2ª
Edição, Editora Atlas S. A., São Paulo.
9. Lakatos, E. M. e Marconi, M. A (2003), Fundamentos de Metodologia
Cientifica. 5ª Edição, Editora Atlas: São Paulo.
10. Lopes, Nuno (2005), A Organização das Nações Unidas e a necessidade de
reforma do seu Conselho de Segurança perante o actual sistema internacional.
Universidade Nova de Lisboa. Portugal.
11. Lundin, Irae (2016), Metodologia de Pesquisa em Ciências Sociais. Escolar
Editora: Maputo.

12
12. Macamo, Verónica (2022). Eleição a Moçambique não - permanente do CS.
Moçambique intensifica campanha. Maputo: Jornal Notícias. 10 de Junho de
2022.
13. Nyusi, Felipe (2023), Mensagem alusiva a tomada de posse de Moçambique como
Membro Não Permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Data:
03/01/2023
14. Nyusi, Filipe (2022). Discurso do Presidente da República de Moçambique
alusivo à eleição do país ao CSNU. Maputo: Rádio Moçambique, 21 de Junho de
2022.
15. Prado, Laura e Silva, Lays (2021), Operações de Paz da ONU: Antecedentes e
um Balanço de 2020. Série Conflitos Internacionais. V. 8, n. 1. Disponível em
https://www.marilia.unesp.br/Home/Extensao/observatoriodeconflitosinternacio
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16. UNICEF, (2016), Nações Unidas apoiam a Seca em Moçambique, Maputo,
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https://www.unicef.org/mozambique/historias/na%C3%A7%C3%B5es-unidas-
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