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AS INFLUÊNCIAS DAS ORIENTAÇÕES DE ORGANISMOS

INTERNACIONAIS NAS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS


PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL
Jucemara Antunes1 - UFSM
Patrícia dos Santos Zwetsch 2 - UFSM
Rosane Carneiro Sarturi3 - UFSM

Eixo – Políticas Públicas e Gestão da Educação


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

O artigo busca inserir-se no debate educacional acerca das políticas públicas para Educação
Básica. Objetiva analisar as influências que as orientações oriundas dos organismos
internacionais exercem na elaboração das políticas públicas para a Educação Básica e quais são
os principais desafios apresentados para a implementação das mesmas no Brasil. Destacam-se
os princípios e diretrizes que vêm balizando as principais reformas para Educação Básica
resultantes das conferências e fóruns mundiais de Educação para Todos examinando
especificamente a Conferencia Mundial de Educação para Todos de Jomtien (1990), o Fórum
Mundial de Educação para Todos de Dakar (2000) e o Fórum Mundial de Educação para
Todos de Incehon (2015). Para proceder-se à análise documental, tomou-se a abordagem
qualitativa e a pesquisa do tipo documental. Realizou-se o mapeamento das principais
políticas públicas no Brasil que foram impulsionadas pelas orientações oriundas dos
organismos internacionais. Ao analisar as principais reformas na Educação Básica foi possível
visualizar alguns reflexos do empenho em investir na Educação Básica, entretanto, o que se
torna um grande desafio para implementar as orientações em todos os países signatários é
capacidade de cada em aplicar as determinações. Conclui-se que os desafios seguem
pertinentes quanto a implementação das propostas delineadas pelos organismos internacionais
no Brasil, especialmente, no que se refere em assegurar a todos o acesso a educação, em
especial as crianças e jovens que vivam em situações de vulnerabilidade social. Ademais,
reconhecem-se os desafios para universalizar a Educação Básica, uma vez que não depende
de estar garantida na legislação educacional e preciso ampliar substancialmente a capacidade

1
Doutoranda em Educação no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa
Maria (PPGE/UFSM). Professora de Ensino Básico Técnico Tecnológico na Unidade de Educação Ipê Amarelo
- UFSM. E-mail: jucemaraantunes@gmail.com.
2
Mestranda em Educação da Universidade Federal de Santa Maria, na Linha de Pesquisa 02: Práticas Escolares
e Políticas Públicas. Professora de Educação Infantil, em uma Escola privada do município de Santa Maria. E-
mail: pathyzwetsch@gmail.com.
3
Professora Associada II da Universidade Federal de Santa Maria no Departamento de Administração Escolar,
Professora no Programa de Pós-Graduação em Educação, do Centro de Educação da UFSM, na Linha de
Pesquisa 02: Práticas Escolares e Políticas Públicas. Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Políticas
Públicas e Gestão Educacional, que abarca os cursos de Especialização em Gestão Educacional e Mestrado
Profissional. E-mail: rcsarturi@gmail.com.

ISSN 2176-1396
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da nação e seus estados em efetivá-la e também garantir a melhoria da qualidade do


atendimento da Educação Básica.

Palavras-chave: Políticas públicas educacionais. Educação Básica. Organismos


internacionais.

Introdução

As políticas públicas constituem, indiscutivelmente, um campo de extrema


complexidade no âmbito nacional e global, em que os interesses políticos e econômicos,
acordos internacionais entre governos e sociedade civil se manifestam de forma homogenia.
Como consequência, as políticas públicas educacionais são pensadas desde esse contexto.
Através desse artigo, objetiva-se analisar as influências que as orientações oriundas dos
organismos internacionais exercem na elaboração das políticas públicas para a Educação Básica
(EB) e quais são os principais desafios apresentados para a implementação das mesmas no
Brasil.
Tomou-se como foco específico de análise, a Conferência Mundial de Educação para
Todos (EPT) de Jomtien (1990), o Fórum Mundial de EPT de Dakar (2000) e o Fórum
Mundial de EPT de Incehon (2015) por considerar que os princípios e concepções oriundos
desses eventos internacionais que vêm balizando as diretrizes das principais políticas públicas
que propuseram as reformas na EB nos últimos anos no Brasil.
Para tanto, elegeu-se a pesquisa documental, com o objetivo de obtermos o
levantamento de referenciais expostos nos documentos legais que orientaram as reformas na
EB no Brasil.
Para Martins (2006), a pesquisa documental se assemelha muito à pesquisa
bibliográfica, porém, a pesquisa documental utiliza-se de materiais que não receberam
tratamento analítico, que não foram editados.
Para complementar utilizou-se a análise documental por se “[...] constituir numa
técnica valiosa de abordagem de dados qualitativos, seja complementando as informações
obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou problema”
(ANDRÉ; LÜDKE, 1986, p. 38).
A análise documental, nesse sentido, consistiu em apreciar os documentos com a
finalidade específica e, nesse caso, buscaram-se as informações contidas nas conferências e
fóruns mundiais para EPT e nas principais políticas públicas educacionais que propuseram as
reformas na EB no Brasil.
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As influencias das orientações de organismos internacionais nas políticas públicas


educacionais para a Educação Básica no Brasil

Faz-se necessário antes de iniciar as ponderações acerca do conjunto de orientações de


organismos internacionais para a educação e as influências na elaboração das políticas
públicas para a EB no Brasil, faz-se necessário compreender os mecanismos presentes nesse
processo como o fenômeno da globalização.
São atribuídos diferentes significados para o termo globalização, sendo que:

Para algunos, significa fundamentalmente el sugimiento de instituciones


supranacionales, cuyas deciciones determinan y restringen las opciones políticas de
cualquier estado-nacion en particular; (...) Para otros, significam ante todo el auge
del neoliberalismo como un discurso de política hegemónica; para otros la
globalización significa más que nada el sugimiento de novas formas culturales
globales, médios de comunicación y tecnologias de la comunicación, que modelam
las relaciones de afiliación, identidad e interación dentro y fuera de los marcos
culturales locales (BURBULES; TORRES, 2001, p. 13).

Assim, as organizações internacionais desde o âmbito global vêm difundindo um


conjunto de orientações para a educação, principalmente para os países em desenvolvimento,
como descreve Morrow e Torres:

[...] las organizaciones bilaterales y multilaterales (fundamentalmente el rol em la


educación del Banco Mundial Y la UNESCO) tienen uma fuerte presencia en la
formulación de la política educacional, además de em los contextos de austeridade
financeira y de las reformas estructurales de las economias. (2005, p. 48)

Observa-se que algumas organizações exercem mais domínio nas recomendações para
a educação, entre elas o Banco Mundial (BM) mencionadas anteriormente, além delas a
Organização das Nações Unidas (ONU). Entretanto, necessita-se ressaltar o caráter
homogênio das orientações das organizações internacionais em especifico para os países em
desenvolvimento, como é o caso do Brasil.
Tais orientações iniciaram a partir dos anos 90, com a Conferência Mundial de
Educação para Todos (EPT), realizada em 1990, em Jontiem e é considerada um marco das
políticas educacionais em 1990, teve como objetivo primordial a revitalização do
compromisso mundial de educar todos os cidadãos do planeta.
A Conferência, contou com a presença de representantes de cento e cinquenta e cinco
governos de diferentes países, teve como patrocinadores e financiadores quatro organismos
internacionais: a Organização das Ações Unidas para a Educação (UNESCO); o Fundo das
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Nações Unidas para a Infância (UNICEF); o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD); e o Banco Mundial (BM).
Segundo Torres (2001), a Conferência não foi só uma tentativa de garantir a Educação
Básica para a população mundial, mas uma tentativa de renovar a visão e o alcance da mesma.
Assim, a Educação para Todos serviu de marco para o delineamento e a execução de políticas
educativas durante a década de 90, no mundo inteiro, principalmente em Educação Básica.
É importante destacarmos que a Conferência chamou a atenção mundial para a
importância e a prioridade da educação, em especial a EB.
As reuniões preparatórias e os debates realizados na própria Conferência, entre os dias
5 e 9 de março de 1990, deram origem à “Declaração Mundial sobre Educação para Todos:
Satisfação das necessidades básicas de aprendizagem” e ao “Plano de Ação para Satisfazer as
Necessidades Básicas de Aprendizagem”.
Pode-se fazer uma análise da importância dada à educação básica no referido
documento:

Reconhecendo que uma educação básica adequada é fundamental para fortalecer os


níveis superiores de educação e de ensino, a formação científica e tecnológica e, por
conseguinte, para alcançar um desenvolvimento autônomo; e Reconhecendo a
necessidade de proporcionar às gerações presentes e futuras uma visão abrangente
de educação básica e um renovado compromisso a favor dela, para enfrentar a
amplitude e a complexidade do desafio, proclamamos a seguinte Declaração
Mundial sobre Educação para Todos: Satisfação das Necessidades Básicas de
Aprendizagem (UNESCO, 1998).

Compreendemos a importância dada à Educação Básica nesse momento, devido à


deficiência que persiste na educação no Brasil e nos demais países de terceiro mundo, o que
vem sendo expresso nos altos índices de evasão escolar e de analfabetismo, como o próprio
documento apresenta:

Mais de 100 milhões de crianças, das quais pelo menos 60 milhões são meninas, não
têm acesso ao ensino primário; mais de 960 milhões de adultos - dois terços dos
quais mulheres são analfabetos, e o analfabetismo funcional é um problema
significativo em todos os países industrializados ou em desenvolvimento; mais de
um terço dos adultos do mundo não têm acesso ao conhecimento impresso, às novas
habilidades e tecnologias, que poderiam melhorar a qualidade de vida e ajudá-los a
perceber e a adaptar-se às mudanças sociais e culturais; e mais de 100 milhões de
crianças e incontáveis adultos não conseguem concluir o ciclo básico, e outros
milhões, apesar de concluí-lo, não conseguem adquirir conhecimentos e habilidades
essenciais (UNESCO, 1998).
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Tais dados apresentam um diagnóstico mundial, que para a UNESCO, entre os demais
organismos internacionais, representam um problema para os países em desenvolvimento.
Para inverter este quadro, compreendemos o Ensino Fundamental como pilar da Educação
Básica, o que justifica os esforços em investir nesse nível da educação. A partir de 1990, com
a Conferência Mundial de Educação para Todos, a elaboração de políticas voltadas para a
Educação Básica foi impulsionada. Pois, considera-se a educação como um elemento central
para o desenvolvimento nacional.
Após dez anos da realização da Conferência Mundial de Educação para Todos
realizada em Jomtien, na Tailândia, em 1990, com o objetivo de avaliar os progressos
alcançados, a UNESCO promoveu esse processo. Assim, no ano de 2000, houve a
convocação do Fórum Mundial de Educação, Dakar, nos dias 26 e 28 de abril.
Mesmo passados dez anos da realização da Conferência Mundial de Educação para
Todos, ainda persistem, após o colapso da educação, com déficits na área como o grande
contingente de analfabetos absolutos e funcionais.
Com o intuito de amenizar tais problemas, foram definidos e aprovados seis objetivos
a serem alcançados até 2015 e para buscar atingi-los, os governos, agências, organizações,
grupos e associações representadas no Fórum de Educação comprometem-se a:

a) mobilizar uma forte vontade política nacional e internacional em prol da


Educação para Todos, desenvolver planos de ação nacionais e incrementar de forma
significativa os investimentos em educação básica; b) promover políticas de
Educação para Todos dentro de marco setorial integrado e sustentável, claramente
articulado com a eliminação da pobreza e com estratégias de desenvolvimento; c)
assegurar o engajamento e a participação da sociedade civil na formulação,
implementação e monitoramento de estratégias para o desenvolvimento da
educação; d) desenvolver sistemas de administração e de gestão educacional que
sejam participativos e capazes de dar respostas e de prestar contas; e) satisfazer as
necessidades de sistemas educacionais afetados por situações de conflito e
instabilidade e conduzir os programas educacionais de forma a promover
compreensão mútua, paz e tolerância, e que ajudem a prevenir a violência e os
conflitos; j) monitorar sistematicamente o progresso no alcance dos objetivos e
estratégias de EPT nos âmbitos internacional, regional e nacional; k) fortalecer os
mecanismos existentes para acelerar o progresso para alcançar Educação para Todos
(UNESCO, 2000, p.7).

Observa-se que a comunidade internacional assumiu o compromisso de desenvolver


estratégias e mobilizar os recursos necessários para providenciar apoio efetivo aos esforços nacionais e
de buscar garantir investimentos na área educacional para os países de terceiro mundo
desenvolverem políticas públicas educacionais, ações e avaliações periódicas que venham a
atingir os objetivos que foram propostos no encontro.
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Em 2015, em Incheon, na Coreia do Sul, entre 19 e 22 de maio, foi realizado o Fórum


Mundial de Educação, organizado pela UNESCO. O evento teve a participação de mais de
130 ministros de Educação dos países membros e representantes de organizações da
sociedade civil.
Foi aprovado no fórum a Declaração de Incheon, com objetivos para a educação
inclusiva, igualitária e de qualidade e de aprendizagem ao longo de toda a vida, nos próximos
quinze anos. Servirá de base às metas de educação nos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS).
A Declaração de Incheon aspira assegurar, entre 2015 e 2030, uma educação inclusiva
e equitativa de qualidade e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para
todos; ser transformadora e universal, inspirada por uma visão humanista da educação e do
desenvolvimento com base nos direitos humanos. Abrange, ainda, aspectos relativos à justiça
social, inclusão, proteção, diversidade cultural, linguística e étnica, com responsabilidade e
responsabilização partilhada.
O compromisso coletivo assumido fundamenta-se em sete grandes metas mundiais
para o segmento da Educação. Tais metas, que deverão sem cumpridas mundialmente até o
ano de 2030, pretendem assegurar uma educação de qualidade, equitativa e inclusiva, assim
como a aprendizagem ao longo da vida, para todos. Entre as sete metas destaca-se a educação
na primeira infância: “Desenvolvimento da primeira infância, cuidados e educação pré-escolar
levando a preparação e interface nas escolas” (UNESCO, 2015).
O Fórum Mundial realizado na Coreia em 2015 teve como finalidade acordar a nova
agenda da educação, que irá vigorar entre 2015 e 2030, com os novos objetivos que compõem
o compromisso Educação para Todos, iniciado em 1990, na Conferência de Jomtien, e
reiterado em 2000, no Fórum Mundial de Educação realizado em Dakar.
O Fórum Mundial de Educação de Incheon na Coréia do Sul produziu a Declaração de
Incheon contempla cinco temas, com ações a serem desenvolvidas entre 2015 e 2030, a partir
dos compromissos do movimento Educação para Todos (EPT):

Direito à educação: até 2030, assegurar educação equitativa e inclusiva de qualidade


e aprendizagem ao longo da vida para todos. Equidade na educação: assegurar
acesso e aprendizagem equitativa, particularmente para meninas e mulheres, para o
pleno desenvolvimento do potencial de todas as pessoas. Educação inclusiva
que responda e se adapte a cada estudante, relevante para a sociedade e para o
respeito à cultura. Educação de qualidade, desenvolvida por professores capacitados
e apoiados, como um direito de todas as crianças, jovens e adultos. Educação ao
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longo da vida para toda pessoa, a fim de adquirir conhecimentos e capacidades de


que necessitem para realizar suas aspirações. (UNESCO, 2015)

A Cúpula de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU)


para adotar a Agenda de Desenvolvimento Sustentável 2030, A agenda compreende os 17
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), incluindo o Objetivo 4: “Fornecer
educação de qualidade inclusiva e equitativa em todos os níveis – primeira infância, primária,
secundária, terciária e treinamento técnico e vocacional", frisando que todas as pessoas
"devem ter acesso a oportunidades de aprendizado durante toda a vida". Entre os objetivos
que abarca a educação para 2030 destacam-se:

[...] 4.1 – em 2030 acesso e qualidade aos meninos e meninas à primeira infância e
pré escola. [...] 4.2 Em 2030, garantir que todos os meninos e meninas tenham
acesso e qualidade no desenvolvimento da primeira infância, bem como os cuidados
e educação pré-escolar para os que estão em idade para o ensino primário. (ONU,
2015)

A 38ª Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a educação, a


ciência e a cultura, na sede da organização em Paris, na França (novembro de 2015) ratifica as
sete metas propostas para a Educação para Todos (EPT) com o objetivo: Garantir educação de
qualidade inclusiva e equitativa e educação ao longo da vida para todos até 2030 e a definição
de programas e orçamento da UNESCO.
Paralelo às orientações advindas dos organismos internacionais para a educação,
esboça-se aqui algumas das principais políticas públicas educacionais para a EB no Brasil.
Entre elas destaca-se a elaboração do Plano decenal de educação para todos (PDE)
destinado a cumprir, no ano de 1993 pelo Ministério da Educação (MEC). A finalidade do
plano foi atender as resoluções da Conferência Mundial de EPT no período de uma década
(1993 a 2003). Em seu conjunto, o plano decenal marca a aceitação formal, pelo governo
federal brasileiro, das teses e estratégias que estavam sendo formuladas nos foros
internacionais mais significativos na área da melhoria da EB.
Um ano mais tarde foi aprovado o Plano Nacional da Educação (PNE) pela Lei nº
10.172 (BRASIL, 2001) que definiu diretrizes e metas a serem alcançadas em cada um dos
níveis de ensino, em cada uma das modalidades, assim como às questões de formação de
professores e do financiamento da educação, em um período de dez anos, contados a partir de
2001. Tais metas referem-se às questões de atendimento, infraestrutura, qualidade de ensino,
qualificação profissional e participação da comunidade, entre outras.
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Outra política pública importante no cenário brasileiro corresponde às legislações que


ampliaram a obrigatoriedade da educação. A primeira delas foi em 2005, com aprovação da
Lei nº 11.114 (BRASIL, 2005) que tornou obrigatória a matrícula das crianças de seis anos de
idade no ensino fundamental. A segunda, em 2006 com aprovação da Lei nº 11.274
(BRASIL, 2006), que alterou a redação dos Artigos 29, 30, 32 e 87 da Lei nº 9.394/96
(BRASIL, 1996), de 20 de dezembro de 1996 e determinou o ensino fundamental obrigatório,
com duração de nove anos, iniciando-se aos seis anos de idade. A terceira foi no ano de 2009
foi sancionada a Emenda Constitucional nº 59, que, entre outras providências, dá nova
redação aos incisos I e VII do Art. 208, de forma a prever a obrigatoriedade do ensino de
quatro a dezessete anos e ampliar a abrangência dos programas suplementares para todas as
etapas da Educação Básica e a última foi em 2013, a Lei nº 12.796 (BRASIL, 2013), que
normatizou, em seu Art. 4º, a EB é gratuita e obrigatória, dos quatros aos dezessete anos de
idade tornando obrigatória quase a totalidade da EB e ainda estabeleceu prazo limite até 2016
para a sua implementação.
Em 2014, após a realização de conferências municipais e intermunicipais realizadas no
primeiro semestre do ano de 2009, bem como, as conferências estaduais e do distrito federal,
no segundo semestre deste mesmo ano, foi aprovado o segundo PNE pela Lei nº 13.005, de 25
de junho de 2014 (BRASIL, 2014) com vigência de 2014 a 2024 traz vinte metas e duzentas e
cinquenta e quatro estratégias para o desenvolvimento da educação no Brasil.
Dentre as metas estabelecidas é determinado o aumento no investimento na educação
o que representa:

[...] uma vitória da sociedade brasileira, porque legitimou o investimento de 10% do


PIB em educação e adotou o custo-aluno-qualidade. Afinal, a Meta 20 existe para
garantir todas as outras metas que trazem as perspectivas de avanço para a educação
brasileira, nas dimensões da universalização e ampliação do acesso, qualidade e
equidade em todos os níveis e etapas da educação básica, e à luz de diretrizes como
a superação das desigualdades, valorização dos profissionais da educação e gestão
democrática. (BRASIL, 2014, p. 23)

No Brasil, uma das últimas reformas na EB é sancionada pela Lei nº 13.415 (BRASIL,
2017) que estabelece novas diretrizes e bases para o Ensino Médio (EM) determinando que os
conteúdos sejam divididos em duas partes, correspondente a 60% para disciplinas comuns a
todos, a serem definidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e 40% para que o
aluno aprofunde seus conhecimentos em uma área de interesse, entre as opções Linguagens,
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Matemática, Ciências Humanas, Ciências da Natureza e Ensino Profissional. A lei, ainda,


institui a Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo
Integral.
Para buscar compreender as influências dos organismos internacionais no fomento da
elaboração das políticas educacionais para a EB no Brasil organizou-se a Figura 1 com o
recorte dos principais acordos internacionais, resultante do processo da globalização, e por
fim as legislações que promoveram as principais reformas na EB.

Figura 1- Principais acordos internacionais de 1990 a 2015 e as legislações que promoveram as reformas na EB.

Fonte: Elaborado pelas autoras a partir dos documentos de acordos internacionais e as legislações que
promoveram as reformas na EB.

A partir da análise da Figura 1 em que se apresentam, especificamente, os principais


acordos oriundos de organismos internacionais e as políticas públicas que impulsionaram as
reformas na EB no Brasil.
A Conferência de Jomtien e os Fóruns de Dakar e de Incheon propuseram em suas
metas o acesso e universalização da EB para todos e observa-se a influência que tais
orientações exercem na elaboração de políticas públicas para a EB.
Desde a Conferência de Jomtien, em 1990, se buscou como meta que todos tivessem
acesso a Educação Básica, em especial nesse contexto ao Ensino Fundamental e também
enfatizou-se desde então a importância de melhorar a Educação Básica.
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Ao se comprometeram com a educação primária para a população mundial num prazo


de dez anos, ou seja, até o ano de 2000, sob a hipótese de que este nível de ensino seria
satisfatório às necessidades básicas de aprendizagem. Esse marco estratégico impulsionou
algumas das propostas para a educação no Brasil como o PDE com propostas alicerçada em
um conjunto de diretrizes políticas voltadas para a recuperação da escola fundamental no país.
O PDE representou a resposta do Brasil ao compromisso firmado entre os países, organismos
intergovernamentais e não-governamentais, de elaboração de plano de ação destinado a
satisfazer às necessidades básicas de aprendizagem de todas as crianças, jovens e adultos.
A partir de 2000 com a Conferência de Mundial de EPT reafirma-se o forte interesse
dos organismos internacionais em reafirmar a necessidade de todos os países signatários
buscar solucionar os problemas de ordem social e melhorar a qualidade da educação.
Para tanto era necessário mobilizar uma forte vontade política nacional e internacional
em prol da Educação para Todos, desenvolver planos de ação nacionais e incrementar de
forma significativa os investimentos em Educação Básica (UNESCO, 2000).
No Brasil, tal processo se deu no âmbito de uma profunda reforma na Educação
Básica na qual foi atribuída a tarefa de dar acesso a esse nível da educação de modo a
universalizá-la.
Nesse contexto foi elaborado o Plano Nacional de Educação com base nas diretrizes
propostas na Conferência Mundial de Educação para Todos devendo concretizar as suas
recomendações. Também foram incrementadas políticas públicas que ampliaram a
obrigatoriedade da escolarização no Brasil com a determinação do ingresso obrigatório a
partir do seis anos de idade a partir da Lei nº 11.114 e da Lei nº 11.274 que determinou o
Ensino Fundamental para nove anos de duração como base nos dados abaixo:

Conforme recentes pesquisas, 81,7% das crianças de seis anos estão na escola, sendo
que 38,9% freqüentam a Educação Infantil, 13,6% as classes de alfabetização e
29,6% já estão no Ensino Fundamental (IBGE, Censo Demográfico 2000). Esse
dado reforça o propósito de ampliação do Ensino Fundamental para nove anos, uma
vez que permite aumentar o número de crianças incluídas no sistema educacional
(BRASIL, 2004, p. 17).

Embora o acesso à Educação Básica, em destaque o Ensino Fundamental, tinha se


expandido nos últimos anos, ainda era imprescindível a inclusão das crianças de seis anos de
idade. A perspectiva dessas reformas eram abarcar, em especial, os setores populares, devido
ao fato de que as crianças de seis anos da classe média e alta já se encontravam incorporadas
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ao sistema de ensino no Brasil.


Em 2009 com a aprovação da Emenda Constitucional nº 59 (BRASIL, 2009) e da Lei
nº 12.796 (BRASIL, 2013), o governo brasileiro propôs a ampliação da obrigatoriedade da
EB dos quatro aos dezessete anos de idade e determinou em lei a ampliação da abrangência
dos programas suplementares para todas as etapas da Educação Básica.
E por último, no ano de 2014, foi sancionada a Lei nº 13.005 (BRASIL, 2014), que
aprovou o Plano Nacional e Educação - PNE e dá outras providências (PNE-2014/2024).
O PNE constituiu-se em um instrumento base para o planejamento e o aprimoramento
de políticas públicas para a educação em que estão definidos os objetivos e metas para o
ensino em todos os níveis desde a infantil até o ensino superior que devem ser executados nos
próximos dez anos.
O PNE traz dez diretrizes, entre elas a erradicação do analfabetismo, a melhoria da
qualidade da educação, além da valorização dos profissionais de educação, um dos maiores
desafios das políticas educacionais (BRASIL, 2014).
Com vistas a continuar reforçando o direito de todas as crianças, jovens e adultos a
qualidade da educação desenvolvida por professores com habilitados e capacitados, entre os
dias 19 e 22 de maio de 2015, em Incheon, na Coreia do Sul foi realizado o Fórum Mundial
de Educação - World Education Forum - WEF 2015, organizado pela UNESCO que
culminou na elaboração do documento intitulado a Declaração de Incheon - Educação 2030:
rumo a uma educação de qualidade inclusiva e equitativa e à educação ao longo da vida para
todos (ONU, 2015). O documento contempla cinco temas, com ações a serem desenvolvidas
entre 2015 e 2030, a partir dos compromissos do movimento Educação para Todos (EPT):

Direito à educação: até 2030, assegurar educação equitativa e inclusiva de qualidade


e aprendizagem ao longo da vida para todos. Equidade na educação: assegurar
acesso e aprendizagem equitativa, particularmente para meninas e mulheres, para o
pleno desenvolvimento do potencial de todas as pessoas. Educação inclusiva
que responda e se adapte a cada estudante, relevante para a sociedade e para o
respeito à cultura. Educação de qualidade, desenvolvida por professores capacitados
e apoiados, como um direito de todas as crianças, jovens e adultos. Educação ao
longo da vida para toda pessoa, a fim de adquirir conhecimentos e capacidades de
que necessitem para realizar suas aspirações. (UNESCO, 2015)

A Declaração de Incheon ratifica, após anos, o movimento mundial de Educação para


Todos (EPT), que teve início em Jomtien, na Tailândia, em 1990, e foi reiterado em Dakar, no
ano 2000. A EPT que tiveram como resultado um progresso significativo, mas muitas de suas
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metas, incluindo o acesso universal à educação básica, permanecem inalcançadas tornando-se


um grande desafio para os países signatários, em especial para o Brasil.

Considerações Finais

Ao analisar as influências que as orientações oriundas dos organismos internacionais


exercem na elaboração das políticas públicas para a EB no Brasil destaca-se o compromisso
dos organismos internacionais em desenvolver estratégias e mobilizar os recursos necessários
para providenciar apoio efetivo aos esforços nos países, em especial, de terceiro mundo como
é o caso do Brasil.
Convém notar a partir da análise de conjuntura das políticas públicas para a EB no
Brasil a consonância com as declarações e conferências mundial e também o:

[...] grau de homogeneidade entre as formulações, diagnósticos, justificativas e


recomendações encontrado nos documentos não surpreende. Não raro, são os
mesmos sujeitos os encarregados de colocar, nos diversos fóruns, os dados e
propostas, disseminando argumentos favoráveis à reforma. (SHIROMA; MORAES;
EVANGELISTA 2004, p. 85)

Influenciado pelas orientações oriundas dos organismos internacionais o Brasil


elaboraram políticas públicas educacionais com vistas a atingir os objetivos que foram
acordados nas conferências e fóruns mundiais. Ressalta-se ao analisar as principais reformas
na EB que é possível visualizar alguns reflexos do empenho em investir na Educação Básica.
Entretanto, o que se torna um grande desafio para implementar as orientações em todos os
países signatários é capacidade de cada em aplicar as determinações.
No caso especifico do Brasil o Estado se vê na condição de implementar políticas
públicas oriundas de orientações internacionais de forma superficial, ou seja, restringindo o
seu papel na formulação de políticas educacionais e tendo de adaptar-se e atender os
interesses que são compartilhados, globalmente, para os países em desenvolvimento e que
muitas vezes carecem de recursos próprios para sua operacionalização.
Encerrando a análise, destaca-se que os desafios seguem pertinentes quanto a
implementação das propostas delineadas pelos organismos internacionais no Brasil,
especialmente, no que se refere em assegurar a todos o acesso a educação, em especial as
crianças e jovens que vivam em situações de vulnerabilidade social.
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Ademais, reconhecem-se os desafios para universalizar a EB, uma vez que não
depende de estar garantida na legislação educacional e preciso ampliar substancialmente a
capacidade da nação e seus estados em efetivá-la e também garantir a melhoria da qualidade
do atendimento da EB.

REFERÊNCIAS

ANDRÉ, Marli; LÜDKE, Menga. A pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São


Paulo: EPU, 1986.

BURBULES, Nicholas C.; TORRES, Carlos Alberto. Globalización y educación. Revista de


Educación, Nº. Extraordinário, 2001. (pp. 13-29)

BRASIL. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da


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________. Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e


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educação nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o ensino fundamental,
com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, 2006.

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