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BÁSICA NO BRASIL
INTRODUÇÃO
O presente texto tem como objetivo analisar através de uma revisão de literatura
as mudanças na Educação básica no Brasil a partir da reestruturação produtiva do
sistema produtor de mercadorias. As alterações no campo econômico advindas por meio
de uma crise estrutural do capital nos anos de 1970 marcaram circunstancialmente
mudanças nas décadas seguintes na educação na América Latina.
Os primeiros sinais da crise do capitalismo nos países centrais nos anos 70 e 80
do século passado representou uma crise estrutural do modus operandi e os limites do
capital em obter taxas vantajosas de lucro. Para retomada de taxas satisfatórias de lucro
era necessário novas fontes de matérias primas, nichos de mercados, e sobretudo, novos
mercados consumidores (HARVEY, 1996).
Diante disso o capital necessitava de uma nova reengenharia tanto no modelo de
acumulação de produção quanto no processo de gerenciamento desse modelo, assim
como na gestão das relações políticas ao qual seu processo produtivo estava inserido.
Depois dos anos 1970 os agentes internacionais representados pelo Fundo
Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial (BM), Organizações das Nações Unidas
1
(ONU), Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Banco
Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) entre outros passaram a
atuar com o pretencioso discurso de ajudar na eliminação da pobreza e desigualdade nos
países ditados de terceiro mundo.
Essas entidades multilaterais produziram relatórios e cartilhas com orientações e
diretrizes de cunho econômico e fiscal para os países que receberiam suas ajudas
financeiras e técnicas. Diretrizes e normas foram produto de indicações de um encontro
que ocorreu em 1989 que ficou conhecido como consenso de Washington 1. Este
encontro pretendia realizar uma série de recomendações visando o desenvolvimento e
ampliação das políticas neoliberais na América Latina no intuito de desregulamentar
suas economias e abrindo espaço para mundialização do capital (HARVEY, 1996).
No ano seguinte em 1990 ocorre a Conferencia Mundial de Educação para
Todos realizada em Jontiem, na Tailândia, que estipulou a seus signatário entre eles o
Brasil cooperação internacional na busca da redução da desigualdade social e pobreza,
buscando a equidade social, tendo como elemento central o foco na educação básica. A
cooperação internacional tinha como objetivo garantir meios sejam financeiros ou
técnicos para a ampliação da educação básica nos países em desenvolvimento na
América Latina.
Para garantir isso uma articulação entre toda comunidade internacional
representado por organismo e entidades intergovernamentais assumiram o pacto e
responsabilidade para o cumprimento de determinadas metas na busca de uma educação
para todos e com equidade social. Da mesma forma estas entidades através de
assessoramento técnico indicou orientações da gestão pública no sentido de torná-la
mais racionalizada, tendo como princípios norteadores a eficiência e eficácia nas suas
políticas públicas e econômicas na busca da “redução de suas dívidas públicas”
elemento que “impedia” o aumento de investimento que essa expansão da educação
para todos demandaria.
O objetivo central da Conferência Mundial sobre Educação para Todos, era
estabelecer compromissos mundiais para garantir a todas as pessoas os conhecimentos
1
Uma síntese das principais orientações estão indicadas a seguir. Quais sejam: 1-equilíbrio
orçamentário, sobretudo, mediante a redução dos gastos públicos; 2- abertura comercial, pela
redução das tarifas de importação e eliminação das barreiras não-tarifárias; 3- liberalização
financeira, por meio de reformulação das normas que restringem o ingresso do capital
estrangeiro; 4- desregulamentação dos mercados domésticos, pela eliminação dos instrumentos
de intervenção do Estado como controle de preços, incentivos etc. 5- privatização das empresas
e dos serviços públicos
2
básicos necessários a uma vida digna, condição insubstituível para o advento de uma
sociedade mais humana e mais justa. O produto final dessa conferência foi a Declaração
Mundial sobre Educação Para Todos. Esse documento ressaltou a necessidades de novas
abordagens no intuito de garantir as necessidades básicas para uma aprendizagem
visando “preparar os alunos à nova sociedade do conhecimento marcada pela introdução
de novas tecnologias em um mundo globalizado”.
Como forma de garantir esses objetivos foram estipulados metas a serem
cumpridas num espaço temporal pelos países signatários. Dessa forma, em seqüência à
Conferência Mundial, os países foram incentivados a elaborar Planos Decenais de
Educação Para Todos, em que as diretrizes e metas do Plano de Ação da Conferência
fossem contempladas.
Como consequência do pacto assumido na Conferência de Jomtien, foi
constituído no Brasil o Plano Decenal de Educação para Todos, cuja meta principal era
assegurar, em dez anos (1993 a 2003), às crianças, jovens e adultos, os conteúdos
mínimos em matéria de aprendizagem que respondessem às necessidades elementares e
básicas da vida moderna. Para isso a universalização da educação fundamental e
erradicação do analfabetismo foram a prioridade do primeiro Plano Decenal de
Educação para Todos (1993 a 2003).
Para Carvalho (2014) o foco na universalização do ensino fundamental e
erradicação do analfabetismo está ligada diretamente ao processo de reestruturação da
produção no sistema capitalista uma vez que essas mudanças demandaram uma nova
forma de organização da produção, requerendo modelos de formação profissional que
passou a exigir maior grau de escolarização dos indivíduos.
Nesse sentido, a reconfiguração da produção e dos processos organizacionais
tiveram como implicações reformas educacionais, sobretudo, na educação básica. Em
razão disso as reformas educacionais passaram a ter forte ingerência de organismo
internacionais como Banco Mundial, Organização de Cooperação e Desenvolvimento
Econômico, Unesco entre outras que passaram a ver a educação como melhor forma de
qualificar os indivíduos para atender as necessidades do mercado de trabalho, assim
como, um novo nicho de mercado a ser explorado.
Para alcançar os objetivos com finalidades econômicas e mercantil as entidades
internacionais criaram instrumentos a fim de homogeneizar e padronizar os resultados e
perfil dos programas de educação dos países da América Latina. A partir dessa
padronização e homogeneização essas entidades passaram a definir metas a serem
3
alcançadas pelas nações no campo da educação. Dessa forma para cumprir esses
objetivos ferramentas de avaliação foram elaboradas para de produção de parâmetros e
monitoramento na busca de homogeneizar a educação aos novos ditames da produção
globalizada (MAUÉS, 2003).
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principal uma adaptação e controle sobre a formação dos indivíduos ao ethos capitalista
moderno de produção, seja na formação de uma indústria de reserva de trabalhadores,
como na formação de consumidores e garantir um novo nicho de mercado.
No Brasil essas agendas para educação pactuadas internacionalmente desde a
Conferencia para Educação para Todos, em Jontiem, na Tailândia, nos anos 1990, são
implementadas nessa mesma década a partir de planos decenais com metas a serem
alcançada como universalização do ensino fundamental e extinção do analfabetismo.
Ao se referirem às reformas educacionais da década de 1990, Duarte e Ferreira
(2012) nos mostram que estas se fundamentavam em princípios mercadológicos e
gerencialistas:
As reformas da década de 1990 trouxeram consigo instrumentos para a
democratização do espaço escolar, como a possibilidade de eleição de
diretores, implantação de instâncias de decisões como colegiados e
assembleias escolares, a possibilidade de elaboração de projeto político
pedagógico e trouxeram simultaneamente as noções e os princípios
administrativos oriundos da instituição mercantil, com base no modelo
gerencialista (DUARTE e FERREIRA, 2012, p. 233).
5
de princípios mercantis e teve como característica central a redução dos gastos públicos
com a máxima do discurso de eficácia e eficiência (GENTILI, 2000).
6
Podemos observar que há nos contratos de resultados/gestão uma relação de
negociação entre diversos atores e aparelhos do Estado, assim como, entre estes e a
sociedade civil (SARAVIA, 2005). Foi questão de tempo que elementos da reforma
gerencial do Estado, bem como, os contratos de resultados/gestão fossem incorporados
nas gestão pública das demais federações do Brasil, construindo uma nova forma de
governança, uma vez que, ministérios e secretárias poderiam e foram estimuladas a
vincular suas políticas públicas aos contratos de resultados/gestão por terceiros que
prestariam tais serviços públicos cabendo ao Estado o papel apenas de gerenciamento e
regulação alterando qualitativamente a relação entre público/privado no Brasil.
Foi questão de tempo que os princípios privados/mercantis da nova gestão
pública a partir da reforma administrativa do aparelho do Estado como gestão
compartilhada e descentralizada passasse a ser incorporados nas políticas educacionais.
A gestão compartilhada na pratica representava um avanço para educação básica no
Brasil uma vez que abriria espaço para os membros da comunidade escolar
participarem.
No entanto, Esteves (1999) ressalta que o discurso da gestão democrática
apenas legitimou as mudanças em curso na educação brasileira uma vez que as
condições que a escola é assentada no Brasil não permitem uma participação ampla e
concreta dos sujeitos envolvidos nesse processo.
Outro fato a analisar é a compreensão da finalidade da escola brasileira. A escola
brasileira a partir das reformas educacionais dos anos 1990 adquire caráter mercantil
semelhante uma empresa que presta serviços a seus consumidores tendo como máxima
os princípios da eficácia e eficiência. Essa “escola-empresa” não leva em conta as
singularidades da escola e dos sujeitos que a frequentam. Sendo assim, o que, como e
para quem ensinar são modificados, não tendo outra finalidade que não seja a lógica
economicista.
Neste aspecto, a discussão do poder dentro da escola toma dimensão
relevante na identificação do que é exatamente essa instituição escolar. Como
as políticas educacionais mais contemporâneas estabelecem uma lógica muito
reduzida para enxergar o que define a escola (sua cultura, as relações de
poder, sua pedagogia, ...), entendendo-a como uma organização prestadora de
serviços, portanto com todas as condições de ter sua eficácia e eficiência
aumentadas com as políticas de descentralização, o mundo social que é a
escola é ignorado (SOUZA, 2003, p.3).
Para Nóvoa (1998, p.17) “as políticas educacionais tem sido voltadas para o
princípio da descentralização em si mesma onda e escola perde caráter de formação
humana. Para Souza (2003) o papel da descentralização e desconcentração da educação
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é marcado por uma padronização e uniformidade mas reformas educacionais destinados
ao continente americano.
Este padronização tinha como finalidade responder as demandas gerenciais
citada em tela referentes a gestão pública em que o “Estado abandona seu papel de
benfeitor, compensador e articulador dos interesses sociais mais amplos, passando a
favorecer àqueles dos grupos vinculados ao setor privado economia” (RIVAS, 1991, p.
15). Notamos, nesse sentido que a partir das redes de governança com a participação da
sociedade civil, marcada por pessoas jurídicas de direito privado, amplia-se a
participação de entidades privadas na articulação e consultas para políticas de educação
no Brasil desde redes globais como nacionais.
Por meio do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial exerce
influência na política macroenonômica, direcionando e conformando a
política educacional. Esta influência favorece liberdade para as forças de
mercado e para um Estado centrado na aprendizagem, cujos serviços públicos
devem ser gerenciados mais de acordo com os princípios da iniciativa
privada. (LAUGLO, 1997, p. 14)
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uniformidade desses resultados criando assim um sistema de classificação e
ranqueamento de um produto (a educação) a ser oferecido a seus consumidores/
público.
Como as escolas não recebem os mesmos recursos e possuem aspectos distintos
os resultados alcançados são também distintos, colocando a culpa nos sujeitos do
processo escolar alunos/professores. Nesse sentido, a descentralização atua como
ferramenta político ideológica na desburocratização do Estado a fim de prover as
orientações das políticas educacionais.
Representa um aparato político ideológico que vai legitimar o discurso
neoliberal e gerar impactos nas políticas educacionais e trabalho docente:
deve haver mais privatização (e, assim, mais competição entre as escolas);
mais gerenciamento por objetivos e uso de indicadores de desempenho; mais
controle pelos usuários (...). Dentro das escolas, essas reformas seriam mais
exigentes quanto a habilidades de gerenciamento e dariam mais poder aos
diretores. (...) tais reformas também colocariam mais pressão sobre os
professores. (LAUGLO, 1997, p. 24)
Em relação aos docentes segundo Maués (2012), a formação dos professores que
atuariam na educação básica foi a principal preocupação do primeiro plano decenal de
educação (1993-2003). A busca por uma universalização da educação básica e
diminuição do analfabetismo demandou na década de 1990 a profissionalização e
ampliação do número de docentes para atuar na educação básica.
Sobre isso Barreto diz que:
Um marco regulatório decisivo para a formação docente nas últimas décadas
tem sido a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996
(Brasil, 1996). Acompanhando a tendência mundial, ela determina que os
professores de todos os níveis educacionais sejam formados em curso
superior. Não sem motivo, a mesma lei passa a considerar a educação a
distância (EaD) como modalidade de educação formal em todos os níveis de
ensino, o que favorece a expansão da formação docente exigida (BARRETO,
2015, p.681)
9
escolarização adequada. A ênfase em dotar o trabalhador de uma base sólida
de conhecimentos gerais, necessária para sua maior treinabilidade e
adaptação à flexibilidade e às mudanças nos processos produtivos, está
presente nos documentos oficiais reformadores da educação (SCHEIBE,
2004, p.180).
10
instâncias de normatização e recomendação legal e pedagógica, para ensinar
e fazer aprender os conteúdos que melhor podem ancorar a constituição
dessas competências. Os modelos ou instituições de formação docente que
interessam ao país são portanto aqueles que propiciam ou facilitam a
constituição de um perfil de profissional adequado a essa tarefa (MELLO,
2000, p. 8).
11
fundamental do seu território ao sistema nacional de avaliação do rendimento
escolar (BRASIL, 1996).
12
resultados alcançados por alunos e escola (OLIVEIRA, 2010; ASSUNÇÃO, 2003;
CARVALHO, 2014).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Oliveira et. al. (2012), ressalta que as mudanças no mercado de trabalho surgidas
em decorrência da expansão do neoliberalismo, tiveram repercussões regulamentadoras
em vários países, incluindo o Brasil. São mudanças que ocorreram, sobretudo a partir da
década de 1990, provocando mudanças e reformas na educação básica. Mudanças como
descentralização e desconcentração alterando o perfil da gestão da escola que passou a
adotar princípios administrativos da gestão de qualidade oriundos do setor privado para
dentro das instituições e processos escolares. A escola e trabalho docente passou a visar
preparação para determinadas competências e habilidades dos alunos voltando-se ao
ensino reduzido de língua portuguesa e operações matemáticas, notavelmente
correlacionado com a formação dos sujeitos com conteúdo mínimos preparando para o
mercado de trabalho, avaliados por avalições externas de larga como forma de
padronização dos resultados e sujeitos.
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