Lima TEMPO E PROCESSO • Necessariamente, consome-se tempo para debelar crises jurídicas e obter a tutela esperada. Nem sempre, embora comumente, o tempo é associado a uma busca de maior certeza na entrega dos resultados. Considerando que a certeza absoluta é uma utopia, é certo, então, que nem se tivéssemos todo o tempo do mundo isso seria suficiente para alcançar a verdade absoluta e muito menos a verdade processual. • Contudo, se por um lado todo o tempo do mundo não é capaz de proporcionar o alcance de uma “certeza absoluta”, por outro lado basta um mínimo de tempo para que uma crise jurídica já existente se torne bem maior. • O tempo é amigo da estabilidade da situação lamentada, ou seja, quanto mais o processo demora para dar e efetivar o resultado pretendido, tanto mais tempo permanecerá de pé a situação injusta, causando danos ao longo do seu curso. São os tais danos marginais derivados da demora na entrega da tutela jurisdicional. Como se já não bastassem esses danos, há que lembrar ainda das situações imprevisíveis, urgentes, que ocorrem no tempo e que são capazes de tornar de ocorrer. • Tutela jurisdicional diferenciada contra os efeitos deletérios do tempo no processo, ou, em palavras mais adequadas, as técnicas processuais que permitem obter a tutela jurisdicional de forma mais célere, cuja função básica é corrigir ou prevenir determinadas situações em que o próprio processo ou o direito por ele tutelado 1 estejam ameaçados de serem engolidos pela ferrugem temporal. • A técnica processual matriz que aninha as tutela de urgência e a tutela da evidência sob o rótulo de tutelas provisórias é a técnica do adiantamento da tutela. • É desta técnica que decorrem consequências lógicas pela sua adoção, tais como, como: (a) sumarização da cognição; (b) técnica de inversão do momento do contraditório, (c) técnica da efetivação imediata dos provimentos antecipados. AINDA O TEMPO: EFETIVIDADE, SEGURANÇA E TÉCNICA PROCESSUAL • Adoção da segurança jurídica, o que se vê, claramente, em dispositivos que protegem a coisa julgada (artigo 5º, XXXVI, da CF/1988); que asseguram o contraditório e a ampla defesa; da proibição da prova obtida por meio ilícito, de que ninguém será privado da sua liberdade e de seus bens até que se esgote o devido processo, o que significa, portanto, o direito constitucional a uma cognição exauriente, entre outros postulados; • Preocupação com a efetividade da tutela jurisdicional a ser prestada por intermédio do processo, ao dizer que todos têm o direito de acesso ao Poder Judiciário contra lesões ou ameaças aos seus direitos. É um direito fundamental de todos obter uma resposta jurisdicional justa e apta a debelar a crise mediante uma tutela cognitiva e também satisfativa, tal como explicitam os artigos 4º e 6º do CPC O TEMPO E O PRINCÍPIO DA IGUALDADE • O princípio da igualdade também deve ser levado em consideração quando se está diante dos problemas causados pelo tempo no processo porque: • Existe a necessidade de distribuir equitativamente o ônus do tempo do processo entre os litigantes de acordo com a situação jurídica de vantagem ou desvantagem que possam ter no processo. • É preciso que o processo efetive a igualdade com paridade de armas aos litigantes, no sentido de que oferte ao jurisdicionado as técnicas processuais adequadas à tutela do direito material, inclusive levando em consideração a questão dos efeitos prejudiciais do tempo. As tutelas provisórias da evidência e da urgência são meios de se concretizar não apenas a efetividade como direito fundamental, mas também devem ser vistas sob o prisma do direito fundamental à igualdade, no sentido de que o direito processual deve excogitar todas as técnicas processuais que deem aos jurisdicionados a igualdade de armas no âmbito do processo, permitindo assim a tutela justa e efetiva. TUTELA DEFINITIVA TUTELA PROVISÓRIA CARACTERÍSTICAS TUTELA PROVISÓRIA TUTELA PROVISÓRIA TUTELA PROVISÓRIA FORMAS DE REQUERIMENTO TUTELA DE URGÊNCIA MOMENTO DE CONCESSÃO DA TUTELA PROVISÓRIA EXECUÇÃO PROVISÓRIA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA TUTELA DE URGÊNCIA S AT I S FAT I VA EM CARÁTER ANTECEDENTE TUTELA DE URGÊNCIA EM CARÁTER ANTECEDENTE TUTELA PROVISÓRIA DE EVIDÊNCIA TUTELA PROVISÓRIA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C DANOS MORAIS E REPETIÇÃO DE INDÉBITO. RECURSO SECUNDUM EVENTUM LITIS. SUSPENSÃO DE DESCONTOS EM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. RMC. PRESENÇA DOS REQUISITOS LEGAIS. TUTELA DE URGÊNCIA DEFERIDA. LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO DO JULGADOR. MULTA COMINATÓRIA. MANUTENÇÃO. VALOR. RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. DECISÃO MANTIDA. 1. O Agravo de Instrumento consiste em recurso secundum eventum litis, logo, deve o órgão ad quem averiguar, tão somente, a legalidade da decisão agravada, sob pena de supressão de instância. 2. A concessão ou não da tutela de urgência reside no poder discricionário do julgador, observadas as hipóteses previstas no artigo 300 do CPC, motivo pelo qual somente deverá ser reformada a decisão se esta for manifestamente ilegal, abusiva ou teratológica. 3. Presentes, a priori, os pressupostos legais, impõe-se a manutenção da decisão que deferiu a tutela de urgência, para determinar a suspensão dos descontos efetivados no benefício previdenciário da parte autora, referente ao valor de empréstimo sobre RMC (reserva de margem considerável), decorrentes de suposta contratação de cartão de crédito consignado. 4. A cominação de multa para o caso de descumprimento de ordem judicial que imputa obrigação de fazer ou de não fazer, segundo a legislação de regência, afigura-se perfeitamente possível no caso de recalcitrância da parte, já que a penalidade tem por escopo, justamente, garantir a efetividade da prestação jurisdicional e não compelir o litigante ao pagamento do valor fixado, propriamente dito. 5. A quantia de R$500,00 (quinhentos reais), arbitrada a título de multa diária, se mostra razoável e proporcional, sobretudo se observado o porte econômico da instituição financeira agravante. 6. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. • (TJGO, Agravo de Instrumento ( CPC ) 5267269-63.2020.8.09.0000, Rel. Des(a). GERSON SANTANA CINTRA, 3ª Câmara Cível, julgado em 03/08/2020, DJe de 03/08/2020) • AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C REPARAÇÃO DE DANOS. RECURSO SECUNDUM EVENTUS LITTIS. TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO PARA O TRATAMENTO DE NEOPLASIA MALIGNA. PRESENÇA DOS PRESSUPOSTOS AUTORIZADORES PREVISTOS NO ARTIGO 300 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. TERATOLOGIA OU ILEGALIDADE. NÃO CONFIGURAÇÃO. DECISÃO MANTIDA.1. Tratando-se o agravo de instrumento de recurso secundum eventum litis, não se pode pretender que o juízo ad quem conheça de questão alheia à decisão fustigada, sob pena de supressão de instância e violação ao princípio do duplo grau de jurisdição.2. A decisão concessiva ou não de tutela de urgência somente deve ser reformada no juízo ad quem quando demonstrada flagrante abusividade ou ilegalidade, ou, ainda, quando for demonstrada a ocorrência de fato novo. 3. No caso em análise, estando suficientemente comprovada a presença dos pressupostos constante do artigo 300 do Código de Processo Civil, deve ser mantida a decisão proferida pelo magistrado singular que deferiu o pedido de tutela provisória de urgência. 4. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO E DESPROVIDO. • (TJGO, Agravo de Instrumento ( CPC ) 5065365-89.2020.8.09.0000, Rel. Des(a). JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA, 2ª Câmara Cível, julgado em 03/08/2020, DJe de 03/08/2020) COMO CAI EM PROVA? GABARITO COMO CAI EM PROVA? • Você é o advogado constituído do demandante José, em um processo no qual se discute a responsabilidade civil da empresa x, fornecedora de um certo produto y. Após ingressar com a petição inicial contendo a exposição da causa de pedir e do pedido, com provas suficientes para o sucesso da demanda, você descobre que o advogado da empresa ingressou com contestação, alegando que ela não agiu com culpa no caso em tela. • Neste Desafio, José está no seu escritório. Levando em consideração o tópico das tutelas provisórias, explique para ele qual será o seu próximo movimento processual. GABARITO O caso em tela adequa-se com perfeição ao caso de tutela provisória de evidência apresentado no art. 311, I, do Código de Processo Civil: Art. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando: - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da parte. Nesse contexto, cumpre ao advogado peticionar, pedindo ao juiz que conceda uma tutela de evidência, visando à aceleração dos resultados do processo. Mesmo que não seja um caso urgente, na medida em que não há perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, é manifesto que em casos de responsabilidade civil do fornecedor é considerada objetiva no ordenamento jurídico. Desse modo, a questão da culpa não joga qualquer papel relevante no estabelecimento da responsabilidade do fornecedor. Assim, após a concessão da tutela de evidência pelo juiz, será possível antecipar os efeitos pretendidos na petição inicial, sem com isso ter que esperar até a resolução de todos os eventuais recursos protelatórios oferecidos pelo réu.